Revista A Bordo - Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho 20ª Edição

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A BORDO

PROJETO VIVA O PEIXE-BOI-MARINHO

Nasce primeiro peixe-boi-mariNho de fêmea reiNtroduzida Na paraíba

Campanha nas redes sociais elege o nome do filhote da peixe-boi “Mel”

Professores da Paraíba participam de curso de formação em educação socioambiental

Fundação Mamíferos Aquáticos lança campanha “Adote um peixe-boi”

REVISTA
Fundação Mamíferos Aquáticos Parceria:
EDIÇÃO 20 FOTO ISIS CHAGAS ACERVO FMA

Investindo esforços em prol da conservação do peixe-boi-marinho no Brasil.

FOTO
LUCIANO CANDISANI ACERVO FMA

Esta revista é uma produção integrada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba.

EDIÇÃO 20 MAI/2023

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capa

Nasce primeiro peixe-boi-marinho de fêmea reintroduzida na Paraíba

10 especiaL

Campanha nas redes sociais elege o nome do filhote da peixe-boi “Mel”

12 educaÇÃo ambieNtaL

Forró do Peixe-Boi agita a Barra de Mamanguape no mês de janeiro

14 formaÇÃo

Professores e gestores da rede municipal de ensino de Rio Tinto e Marcação participam de curso de formação em educação socioambiental

16 coNserVaÇÃo mariNha

Filhote de peixe-boi-marinho é resgatado no litoral sul da Paraíba

18 diÁrio de bordo

Por Daniel Assis

re V ista a bordo

Jornalista responsável Karlilian Magalhães design gráfico Giovanna Monteiro

revisão técnica João Carlos Gomes Borges

TAMBÉM COLABORARAM PARA ESTA EDIÇÃO:

20 coLuNa cieNtífica

“Análise espaço-temporal das atividades antrópicas na área de ocorrência do peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) e as consequências para a espécie” – por Iara Medeiros, João Carlos Gomes Borges e Alexandre Schiavetti

24 pesQuisa

“Internet das Coisas (IoT) como dispositivos tecnológicos destinados ao monitoramento dos peixes-bois-marinhos (Trichechus manatus)”

Por João Carlos Gomes Borges

29 foto refLexÃo

30 fma

Fundação Mamíferos Aquáticos lança campanha “Adote um peixe-boi”

32 Gps

34 iLustraÇÃo

Por Paula Franca e Renata Franca

coluna científica Iara Medeiros, João Carlos Gomes Borges e Alexandre Schiavetti

diário de bordo Daniel Assis

pesquisa João Carlos Gomes Borges

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EDITORIAL

A Revista A Bordo é o periódico de comunicação e informação científica do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a PETROBRAS por meio do Programa Petrobras Socioambiental. O objetivo desta publicação quadrimestral é levar informação e sensibilizar os leitores sobre a importância de se conservar os mamíferos aquáticos, seus habitats e o meio ambiente.

Na sua 20ª edição, a Revista traz como matéria de capa o nascimento do primeiro peixe-boi-marinho proveniente de uma fêmea reintroduzida na Paraíba. É o filhote da peixe-boi “Mel”, bastante conhecida no litoral norte paraibano, sobretudo na região de Cabedelo. Uma campanha online foi realizada para ajudar a escolher o nome dele. Saiba também como foi a edição 2023 do Forró do Peixe-Boi que agitou a Barra de Mamanguape no mês de janeiro.

O Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho segue realizando cursos de formação, desta vez na área de educação socioambiental para professores e gestores da rede municipal de ensino dos municípios de Rio Tinto e Marcação. Confira ainda nesta edição como foi o resgate do filhote de peixe-boi-marinho encontrado encalhado no litoral sul da Paraíba, que agora passa por processo de reabilitação na Ilha de Itamaracá (PE). Veja também: Fundação Mamíferos Aquáticos lança campanha a “Adote um peixe-boi”.

Na Coluna Científica, os pesquisadores Iara dos Santos Medeiros, João Carlos Gomes Borges e Alexandre Schiavetti apresentam a análise espaço-temporal das atividades antrópicas na área de ocorrência do peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) e as consequências para a espécie. Já a seção Pesquisa traz o artigo “Internet das Coisas (IoT) como dispositivos tecnológicos destinados ao monitoramento dos peixes-boismarinhos (Trichechus manatus)”, elaborado pelo pesquisador Dr. João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho e professor do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba.

Quem assina a coluna Diário de Bordo desta edição é o biólogo Daniel Assis, técnico ambiental do Núcleo dos Efeitos Antropogênicos nos Recursos Marinhos da Fundação Mamíferos Aquáticos e do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho. Na seção ilustração, trazemos uma ilustração feita pelas irmãs Paula Franca e Renata Franca para o vídeo de animação “Um verdadeiro Astro”, inspirado no conto homônimo da escritora Marcela Franca. Confira também as indicações de livros, filmes e a agenda de eventos científicos previstos para 2023 nas áreas de Biologia, Medicina Veterinária, Ecologia, Meio Ambiente e afins.

Karlilian Magalhães, assessora de comunicação do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho.

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FOTO EDSON ACIOLI ACERVO FMA

Nasce primeiro peixe-boi-mariNho de fêmea reiNtroduzida Na paraíba

“Mel”, uma fêmea de peixe-boi-marinho reintroduzida, que entre novembro e dezembro de 2021 foi vista na praia do Bessa em comportamento de acasalamento, agora é mamãe. Durante monitoramento de campo realizado no dia 24 de dezembro de 2022, os técnicos do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho e da Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape/ICMBio avistaram “Mel” com o seu filhote na praia do Poço, litoral de Cabedelo (PB). Um verdadeiro presente de Natal bastante comemorado pelas equipes. Numa primeira avaliação dos animais, os técnicos observaram que o filhote, um

macho saudável, estava bem, sendo amamentado por “Mel”, e a cada dia vem se desenvolvendo mais. Considerando que nas primeiras semanas os filhotes são mais vulneráveis, a equipe do Projeto está realizando o monitoramento dos animais diariamente.

Este registro representa o primeiro nascimento no estado da Paraíba de um filhote de peixe-boi-marinho proveniente de uma fêmea reintroduzida, sendo um dos principais indicadores de sucesso do Programa de Reintrodução da espécie no Brasil. Uma notícia muito animadora e que vem ratificar

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a importância de anos de pesquisa e trabalho pela conservação da espécie no país. O litoral da Paraíba é um dos poucos lugares no Brasil onde é possível avistar peixes-bois-marinhos em ambiente natural, tanto nativos quanto aqueles que foram reabilitados e posteriormente soltos.

Os pesquisadores pedem atenção redobrada e colaboração da população para proteger “Mel” e seu filhote. Atenção para as orientações: Ao encontrar os peixes-bois-marinhos, apenas admire de longe; não toque, não alimente e nem forneça bebida aos animais. O melhor a fazer é manter distância, respeitando a área de uso dos animais, e apenas admirá-los de longe. Se perceber que um peixe-boi está em perigo, machucado ou encalhado, entre em contato com o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho pelos telefones: (83) 99961-1338/ (83) 99961- 1352 (whatsapp).

“A aproximação, o toque e a oferta de alimentos podem causar uma dependência desses animais a estas ocasiões e trazer dificuldades para a adaptação deles à vida livre. Além disso, existem doenças que podem ser veiculadas nestes contatos, entre as pessoas e os peixes-bois. Ademais, determinadas tentativas de interação, além de importunar, podem machucar os animais”, explica o médico veterinário João Carlos Gomes Borges.

Uma outra preocupação constante dos pesquisadores é a circulação intensa de embarcações motorizadas na região, sobretudo em épocas de feriados e finais de semana, já que o local fica próximo a uma marina, um porto e ao atrativo turístico de Areia Vermelha. Aos condutores de embarcações motorizadas (barcos, lanchas, jet skis e afins), o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho alerta: Antes de acionar o motor, olhe ao redor e verifique se tem peixe-boi marinho próximo. A hélice em movimento pode

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FOTO ISIS CHAGAS ACERVO FMA

machucar e matar o animal. Só ligue o motor se tiver certeza que o animal não está por perto; Se estiver navegando e avistar o animal nas proximidades, reduza a velocidade ou desligue o motor para evitar colisões e atropelamentos.

SOBRE A PEIXE-BOI “MEL” - Foi encontrada encalhada ainda filhote na praia de Ponta Grossa, em Icapuí (CE), em 2004, sendo logo em seguida transferida para o Centro Mamíferos Aquáticos/ICMBio, localizado na Ilha de Itamaracá (PE), onde permaneceu por cinco anos em processo de reabilitação. Em 2008, “Mel” foi transferida para o cativeiro de readaptação em ambiente natural localizado na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape (PB) e, em março de 2009, quando apta, foi solta do estuário da região, onde permaneceu por muitos anos. Em 2019, “Mel” se deslocou para o litoral de Cabedelo, e desde então está vivendo nesta região. Todos estes esforços ocorreram de maneira

integrada mediante a colaboração do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho/Fundação Mamíferos Aquáticos, APA da Barra do Rio Mamanguape/ICMBio, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape/ICMBio e o Centro Mamíferos Aquáticos/ICMBio.

O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental – é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas. Conta com o apoio da APA da Barra do Rio Mamanguape/ ICMBio, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape/ICMBio e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (PPGEMA - UFPB).

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FOTO SEBASTIÃO SILVA ACERVO FMA

campaNha Nas redes sociais escoLhe o Nome do fiLhote da peixe-boi “meL”

O filhote da peixe-boi “Mel”, famosa no litoral norte da Paraíba, sobretudo na região de Cabedelo, já tem nome. É “Favo”, uma referência ao nome da mãe, no caso “Favo de Mel”. O nome foi escolhido por meio da campanha digital “Ajude a escolher o nome do filhote de Mel”. De 13 e 31 de março, o público votou nas enquetes disponíveis nos stories do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho e Fundação Mamíferos Aquáticos para escolher o nome deste que é o primeiro filhote proveniente de uma fêmea reintroduzida

na Paraíba. Dentre os nomes para votação estavam “Favo”, “Rapadura”, “Irapuã” e “Porã”. Foram quase 2.500 votos. E o grande campeão foi “Favo”, com 1.073 votos.

“Gostaríamos de agradecer a todos que participaram. Foi uma campanha muito bonita, que mobilizou a sociedade, instituições governamentais e não-governamentais, empresas. Teve uma ótima repercussão, uma boa resposta, um bom engajamento. O

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FOTOS ISIS CHAGAS ACERVO FMA

público votou bastante, acompanhou a história de “Mel” e seu filhote e se envolveu com a causa. Certamente, a campanha sensibilizou muitas pessoas para a importância da conservação da espécie no Brasil, que foi um dos objetivos que pensamos quando criamos a ideia da votação”, ressalta João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, cuja equipe segue monitorando “Mel” e “Favo” diariamente em ambiente natural, com auxílio de tecnologia satelital.

É sempre importante lembrar que, para o bem dos animais e segurança de todos, ao encontrar os peixes-bois-marinhos, o correto a fazer é manter distância, respeitando a área de uso dos animais. Apenas admire de longe. Não toque, não alimente, não forneça bebida. Se perceber que um peixe-boi está em perigo, machucado ou encalhado, entre em contato com o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho pelos telefones: (83) 99961-1338/ (83) 999611352 (whatsapp). Aos condutores de embarcações motorizadas (barcos, lanchas, jet skis e afins), antes

de acionar o motor, olhe ao redor e verifique se tem peixe-boi marinho próximo. A hélice em movimento pode machucar e matar o animal. Só ligue o motor se tiver certeza que o animal não está por perto; Se estiver navegando e avistar o animal nas proximidades, reduza a velocidade ou desligue o motor para evitar colisões e atropelamentos.

O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental – é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas. Conta com o apoio da APA da Barra do Rio Mamanguape/ ICMBio, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape/ICMBio e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (PPGEMA - UFPB).

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forró do peixe-boi aGita a barra de mamaNGuape No mês de JaNeiro

O “Forró do Peixe-Boi 2023” aconteceu nos dias 14 e 15 de janeiro, na comunidade da Barra de Mamanguape, em Rio Tinto, litoral norte da Paraíba. Uma festa bem raiz, pra lá de animada e com muita conscientização ambiental. A ideia foi celebrar o verão, as águas claras, a natureza, as comunidades da Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape e a presença dos peixes-bois-marinhos na região.

Na programação: shows musicais com Côco da Barra, Erivan Estigado, Luciano Xote Show & Banda, Da-

nillo Wagner e Banda e som do DJ Radiola Jamaicana, além das apresentações culturais da Lapinha e do Toré, Cine Peixe-Boi, concurso de forró, corrida de remo, regata, torneio de futebol (sub-15, feminino e masculino) e de voleibol. E como cenário para esta celebração especial: as lindas paisagens da Barra de Mamanguape.

A festa foi realizada pelo Projeto Viva o Peixe-BoiMarinho em conjunto com a comunidade local para sensibilizar a sociedade sobre a importância da con-

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servação da espécie que está ameaçada de extinção no Brasil. O litoral norte da Paraíba é um dos poucos lugares onde ainda é possível avistar os animais em ambiente natural, a região possui atributos ecológicos que propiciam a existência da espécie.

Os peixes-bois-marinhos estão classificados como “Em perigo” de extinção no país e isto muito se deve aos impactos ambientais provocados pelos seres humanos como a poluição de mares e rios, circulação

intensa de embarcações motorizadas nos locais de ocorrência da espécie que ocasionam atropelamentos dos animais, degradação dos manguezais e da mata ciliar, construções desordenadas em praias e estuários, perda de habitats (estuários e áreas costeiras), captura acidental em redes de pesca. O Projeto acredita que com a sensibilização social é possível reverter esta situação.

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FOTOS NAZA CANTANHÊDE E ISIS CHAGAS ACERVO FMA

professores e Gestores da rede muNicipaL de eNsiNo de rio tiNto e marcaÇÃo participam de curso de formaÇÃo em educaÇÃo

socioambieNtaL

A educação é o melhor caminho para adquirir conhecimento e uma grande aliada na sensibilização da sociedade em prol da conservação do meio ambiente e de espécies ameaçadas. É na escola, com os professores, que as crianças adquirem informações importantes para a vida inteira. O Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho promoveu, entre os dias 21 e 23 de março, o Curso de Formação para Educadores e Gestores da Rede de Ensino de

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Rio Tinto e Marcação, ambas cidades do litoral norte da Paraíba, onde há ocorrência de peixes-bois-marinhos. Foram priorizados educadores que trabalham com a primeira infância.

Cerca de 40 profissionais da educação destes dois municípios participaram do curso, ministrado pela equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho/Fundação Mamíferos Aquáticos, por analistas ambientais do ICMBio e por um consultor especialista em Comunidades Indígenas/Povo Potiguar Monte-Mor. Foram dois módulos de curso, com aulas teóricas e práticas, utilizando instrumentos de educação ambiental. Os professore e gestores puderam adquirir conhecimento sobre a importância das Unidades de Conservação, a relevância dos povos Indígenas, comunidades tradicionais e a conservação de espécies ameaçadas, com ênfase para o peixe-boi-marinho.

As atividades foram realizadas no espaço do Centro de Visitantes da Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape/ICMBio e na aldeia indígena de Camurupim. Nas aulas práticas, os educadores foram a campo e participaram de trilhas no manguezal para observar a abundância da flora

e fauna local, acompanhados por representantes do povo Potiguara para reforçar os temas de territorialidade e conservação da natureza.

Pedro Eduardo Pereira (Pedro Aguaçu Potiguara) é indígena, potiguara, coordenador pedagógico das escolas indígenas do município de Marcação e levou os professores para participar do curso. “Foi bom juntar o conhecimento indígena com o conhecimento científico. O que me chamou interesse ao curso é trabalhar com o tema animais mamíferos como o peixe-boi que está sempre aqui nos visitando nos mangues, um animal dócil, que a gente sempre teve contato no rio, na maré. Então foi muito importante saber como lidar com esse animal e continuar a preservação dele aqui no nosso habitat natural”.

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FOTOS ACERVO FMA

fiLhote de peixe-boi-mariNho é resGatado No LitoraL suL da paraíba

Na tarde do dia 15 de março, as equipes do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho e da Área de Proteção

Ambiental da Barra do Rio Mamanguape/ICMBio foram acionadas para atender a um encalhe de filhote de peixe-boi-marinho vivo na praia de Gramame, litoral sul da Paraíba. Ao chegar ao local, as equipes constataram que de um macho, recémnascido, ainda com resquícios de cordão umbilical. Imediatamente iniciaram os primeiros atendimentos e já conduziram o animal para o Centro Mamíferos

Aquáticos/ICMBio, localizado na Ilha de Itamaracá, litoral norte de Pernambuco. O filhote apresentava aproximadamente 37 quilos e 1,30 metros e ficará sob os cuidados da equipe do CMA/ICMBio durante o processo de reabilitação, que dura em média quatro anos. Ele recebeu o nome de “Biruca”, uma homenagem ao servidor da APA da Barra do Rio Mamanguape/ICMBio, Geraldo de Brito (Seu Biruca), que há mais de 30 anos trabalha em prol da conservação da espécie no Nordeste do Brasil.

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coNserVaÇÃo mariNha
FOTOS CAROL MONTE ACERVO FMA

“Em se tratando de peixe-boi-marinho, sobretudo no Nordeste, hoje a principal causa de ameaça à espécie são os encalhes de filhotes. E esses filhotes encalham em diferentes locais do litoral, alguns são áreas urbanas, com maior frequência de pessoas e aí mais fácil de serem encontrados, e outros muitas vezes encalham em praias remotas, onde sobretudo nessas ocasiões os pescadores têm um papel determinante na vida desses animais ao acionarem as equipes de resgate. Em se tratando de filhotes, considerando que esses animais passam em torno de dois anos em processo de amamentação, eles são transferidos para uma unidade de reabilitação, hoje localizada em Itamaracá, que tem condições apropriadas para receber esses filhotes”, explica o pesquisador e médico veterinário João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o PeixeBoi-Marinho.

Os encalhes podem acontecer por diversos motivos: os animais podem estar doentes, intoxicados ou nadando em locais desconhecidos; pode acontecer ainda de eles serem capturados acidentalmente em redes de pesca ou serem atropelados por embarcações; há casos, também, de ocorrer encalhe de filhotes de peixes-bois-marinhos, pois geralmente as fêmeas procuram ambientes mais calmos, como mangues e estuários, para o nascimento de seus bebês. Devido à degradação desses lugares por desmatamentos e construções indevidas, elas são obrigadas a parir no mar, suscetíveis a maior intensidade de correntes marinhas, ondas, entre outros fatores ambientais adversos, de modo que os filhotes nem sempre conseguem nadar e acabam encalhando.

A eficiência do resgate deste filhote no litoral sul paraibano foi fruto dos esforços integrados dos colaboradores locais, Instituto Parahyba de Sustentabilidade, Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho/FMA, APA da Barra do Rio Mamanguape/ICMBio e Centro Mamíferos Aquáticos/ICMBio.

CASO ENCONTRE UM PEIXE-BOIMARINHO ENCALHADO VIVO, ATENÇÃO PARA AS ORIENTAÇÕES:

1. Aproxime-se devagar e fale baixo para não assustá-lo;

2. Observe se o animal está respirando e se mexendo;

3. Comunique imediatamente às instituições ambientais atuantes na região. Na Paraíba, em Sergipe e litoral norte da Bahia, entre em contato com o Projeto Viva o PeixeBoi-Marinho/Fundação Mamíferos Aquáticos pelos telefones: (83) 99961-1338/ (83) 99961- 1352 (whatsapp)/ (79) 99130-0016.

4. Proteja do sol: faça uma sombra, cubra com panos claros ou toalhas e molhe a pele sempre, tomando cuidado para não cobrir as narinas;

5. Cuidado para não jogar água nas narinas, quando estiverem abertas;

6. Afaste os curiosos. Se precisar, chame os policiais e bombeiros (ligue 190 ou 193);

7. Não devolva o animal para o mar;

8. Não alimente.

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diÁrio de bordo

POR DANIEL ALVARES SILVEIRA DE ASSIS

Biólogo, Mestre em Ecologia e Conservação pela UFS e Doutor em Ecologia pela UFBA. Técnico ambiental do Núcleo dos Efeitos Antropogênicos nos Recursos Marinhos da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) e do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho

FOTO ACERVO FMA 18 www.vivaopeixeboimarinho.org

Minha paixão pela Biologia e os oceanos começou em 2001, aos 12 anos, quando assisti e me impressionei com o documentário da BBC “The Blue Planet”. A partir dali a semente da Biologia começou a germinar em mim. Dois anos depois, fiz um curso de mergulho, que aflorou ainda mais a paixão que eu tinha pela vida marinha. E, em 2007, decidi tentar fazer dessa paixão a minha carreira e ingressei na Biologia na Universidade Federal de Sergipe. Dentro da universidade, percebi que não havia oportunidades na Biologia Marinha, e, em 2009, com a entrada do Profº Marcelo Brito, pude começar na Ictiologia (ciência que estuda os peixes) e me aproximar um pouco mais do meu sonho, pois estudava peixes de água doce. Permaneci na Ictiologia até o fim do meu doutorado, em abril de 2019, quando três meses após minha defesa, recebi uma proposta de ser o coordenador de monitoramento de um projeto da Fundação Mamíferos Aquáticos.

Entrar na FMA foi a realização de um sonho, pois estava trabalhando com aquilo que eu sempre quis, sendo concretizado na primeira soltura de uma tartaruga marinha reabilitada pela equipe que participei. Esse, com certeza, foi o momento que mais me marcou dentro da instituição. Do mesmo modo, a soltura dos peixes-bois-marinhos Vitória e Parajuru, em novembro de 2019, que também foi o meu primeiro contato com um peixe-boi-marinho, o que me encantou por perceber a dimensão do nosso trabalho e como fazíamos a diferença para essa espécie.

Em 2020, permaneci na instituição como técnico ambiental, e, juntamente com a pandemia, veio o pior momento na instituição para mim, com muitas incertezas, ausência de editais, lockdown. Porém, apesar dos percalços, sobrevivemos a essa pandemia, nos unimos muito como equipe, e, abro um

parêntese aqui para destacar a equipe de Sergipe, sempre formada por pessoas maravilhosas, digo isso, pois até para carregar e montar uma exposição no shopping de madrugada, estávamos sempre com um sorriso no rosto, pois ali todos se davam muito bem e o ambiente transbordava alegria e descontração, o que acontece até hoje.

Em 2021, entrei para a equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho (PVPBM). Dentro do projeto, realizei monitoramentos de peixes-boi e vivi a chegada de novos animais (Tinga e Tupã) às águas sergipana, que por muito tempo só teve Astro como representante da espécie. Uma outra vertente do projeto, a educação ambiental, é o que mais faz parte da minha rotina, foram inúmeras exposições e eventos; e o resultado foi sempre recompensador. Atualmente, coordeno uma ação de pesquisa dentro do projeto onde investigamos o impacto do derramamento de óleo de 2019 na fauna e flora de estuários da Barra do Mamanguape (PB), do rio Vaza-Barris em Aracaju (SE) e em Mangue Seco (BA). Esse projeto está permitindo uma aproximação maior de integrantes da Paraíba e da Bahia, o que enriquece muito a troca de saberes e as relações interpessoais.

Dentro do projeto, participo também de reuniões da gestão pública do meio ambiente, sendo conselheiro suplente do Conselho Municipal de Meio Ambiente em Aracaju, sou suplente também na representação da FMA no Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Japaratuba e no Movimento ODS Sergipe. Trabalhar em um projeto como o PVPBM me engrandece muito profissionalmente, como pessoa, e, além disso, realiza o sonho que sempre foi almejado. E, por estar aqui, agradeço muito a Rodolfo, Jociery e João, que permitiram viver essa trajetória até agora.

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POR IARA DOS SANTOS MEDEIROS JOÃO CARLOS GOMES BORGES

E ALEXANDRE SCHIAVETTI¹

1.Universidade Estadual de Santa Cruz;

2. Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho. Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA);

3. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental, Universidade Federal da Paraíba;

4. IUCN Species Survival Commission Specialist Group;

A ordem Sirênia é composta pelas famílias Dugongidae e Trichechidae, as quais possuem quatro espécies viventes: dugongo (Dugong dugon), peixeboi-marinho (Trichechus manatus), peixe-boi-daAmazônia (Trichechus inunguis) e o peixe-boi-africano (Trichechus senegalensis) (Marsh et al., 2012).

O peixe-boi-marinho é um mamífero aquático que habita áreas costeiras e estuarinas, as quais constituem ambientes com disponibilidade de alimento, águas quentes, rasas, refúgios e fontes de águas doces (AQUASIS, 2016). Os indivíduos desta espécie são considerados animais de vida longa (Hartman, 1979), baixa taxa reprodutiva (Marmontel, 1995) e hábitos costeiros (AQUASIS, 2016).

No Brasil, a espécie distribui-se de modo descontínuo desde o estado do Amapá até Alagoas, com espécimes reintroduzidos utilizando o litoral de Sergipe e a Bahia (Alves et al., 2015; IUCN, 2020). Ao longo desta área de distribuição, estão situadas duas ecorregiões marinhas, contendo um conjunto característico de comunidades naturais que compartilham a grande maioria de suas espécies, dinâmicas ecológicas e condições ambientais.

Neste estudo as ecorregiões presentes na área de

ocorrências do peixe-boi-marinho são: ecorregião marinha Amazônia, classificada em primeiro lugar no ranking de áreas prioritárias para conservação e ecorregião nordeste do Brasil, classificada em quarto lugar no mesmo ranking (LIFE, 2015). Esta última comtempla ainda aos estados mais citados no Plano de Ação Nacional (PAN) para Conservação do Peixe-boi-marinho, em ações que visam a conservação da espécie e seus habitats.

Por ser uma espécie costeira, com preferência por áreas naturalmente abrigadas, como enseadas, baías e estuários, o peixe-boi-marinho sofre com a ocupação destes locais por cidades, portos, marinas, estaleiros, salinas, fazendas de camarão, os quais ocasionam impactos aos ambientes essenciais à espécie (AQUASIS, 2016).

Segundo Gerling et al. (2016), todas as atividades humanas concentradas nas aglomerações urbanas da zona costeira exercem pressão sobre a flora, fauna e outros recursos naturais. As alterações causadas pelo homem têm descaracterizado, degradado e destruído os ambientes em larga escala, levando muitas espécies, e até mesmo comunidades inteiras, à extinção (Amaral & Jablonski, 2005).

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coLuNa cieNtífica
aNÁLise espaÇo-temporaL das atiVidades aNtrópicas Na Área de ocorrêNcia do peixe-boimariNho (Trichechus manaTus) e as coNseQuêNcias para a espécie

Para se estudar tais recursos naturais e sus impactos as espécies, principalmente em áreas extensas, a utilização das geotecnologias constitui poderosas ferramentas. Santos et al. (2015) relataram que as geotecnologias compõem uma nova ciência que foi criada com o propósito de analisar o espaço geográfico através de técnicas computacionais em parceria com a cartografia, fotogrametria, sensoriamento remoto, geoprocessamento, sistemas de informações geográficas, entre outras.

Diante disto, este estudo tem como objetivo identificar os principais impactos antrópicos na área de ocorrência do peixe-boi- marinho e as consequências desses impactos para a espécie.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

Os limites geográficos da área de estudo se estendem do estado do Amapá, na região norte do país, até o município de Jandaíra, localizado no extremo norte do estado da Bahia, região nordeste do Brasil, correspondendo a área de ocorrência dos peixes-bois-marinhos. Estão incluídas ainda, duas ecorregiões marinhas: Amazônia e Nordeste do Brasil (Figura 1).

Coleta e análise dos dados

Para realizar a identificação dos impactos socioeconômicos aos sirênios no mundo, será realizado um levantamento teórico e conceitual sobre o tema de forma sistemática, identificando quantos trabalhos existem sobre processos humanos para essas espécies nos últimos 20 anos (2001 a 2021), para identificar como está a conservação dos sirênios no mundo frente as ameaças, e posteriormente será feita uma comparação entre os países.

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Figura 1. Área de ocorrência do peixe-boi-marinho e as ecorregiões que compreendem esta área.

Para identificar os principais impactos socioeconômicos na área de ocorrência do peixe-boi-marinho no Brasil, será utilizado imagens de satélite dos últimos 20 anos (2001 a 2021), disponíveis gratuitamente no sítio eletrônico da United States Geological Survey (USGS, 2020) as quais serão analisadas por meio dos softwares QGIS e ArcGIS. Adicionalmente, será utilizado o banco de dados do Mapbiomas Brasil. Tais dados possibilitaram identificar e perda de habitat como expansão urbana e carcinicultura.

Para identificar os impactos do tráfego de embarcação para fins de atividades turísticas e de pesca, será realizado o contato com as secretarias de turismo e pesca dos estados que compreendem a

área de estudo bem como a busca por bibliografias sobre o referido assunto.

As consequências aos peixes-bois-marinhos serão avaliadas por meio das informações de encalhes, se o animal encalhou vivo ou morto, se era adulto ou filhote, se apresentava interação de pesca ou alguma patologia. Por fim, estes impactos serão separados por ecorregião marinha, com foco para as áreas de reintrodução e áreas protegidas, as quais serão comparados, a fim de identificar qual possui mais ou menos impactos; e por meio de atividades de campo (Figura 2) nos locais de reintrodução de Peixes-bois-marinhos, em conjunto com atores sociais locais, propor uma técnica que contribua com a redução destas consequências a espécie.

Os dados coletados nesta pesquisa serão analisados por meio de técnicas de geoprocessamento e análises estatísticas.

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Figura 2. Avaliação das áreas focais durante as atividades de campo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Amaral, A. C. Z. & Jablonski, S. Conservação da Biodiversidade Marinha e Costeira no Brasil. Megadiversidade.1, 2005.

AQUASIS - Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (2016). Peixeboi-marinho Biologia e Conservação 1 ed. Bambu Editora e Artes Gráficas, São Paulo - SP.

Gerling, C., Ranieri, C., Fernandes, L., Gouveia, M.T.J. & Rocha, V. (2016). Manual de Ecossistemas: Marinhos e Costeiros para Educadores. Santos-SP: Comunnicar.

IUCN – International Union for Conservation of Nature’s (2020) The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2020-2. Disponível em: https://www.iucnredlist.org Acesso em: 26 agosto 2020.

LIFE – Instituto Lasting Initiative For Earth. ECORREGIÕES DO BRASIL - Prioridades Terrestres e Marinhas, Série Cadernos Técnicos - Volume III, 2015.

Marsh, H., O’shea, T. J., & Best, R. C. (1986). Research on Sirenians. A Journal of the Human Environment–AMBIO, 15(3), 177–180.

Marmontel, M. (1995). Age and reproduction in Female Florida Manatees. In: O’Shea, T. J., Ackerman, B. B. & Percival, H. F. (eds.), Population Biology of the Florida Manatee. (pp.98–119). Florida, USA: National Biological Service Information and Technology.

Santos, A. R., Ribeiro, C. A. A. S., Peluzio, J. B. E., Peluzio, T. M. O., Santos, G. M. A. D.A., Moreira, G, L., Magalhães, I. A. L. (2015). Geotecnologias & análise ambiental: aplicações práticas. Alegre, ES: CAUFES.

USGS - United States Geological Survey (2020). Earth Explorer. https://earthexplorer.usgs.gov/ Accessed online 07 January 2020

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A cada edição, a Revista A Bordo traz artigos e resumos científicos relacionados à conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats. Confira agora um artigo científico elaborado pelo pesquisador e médico veterinário Dr. João Carlos Gomes Borges, mestre em Ciência Veterinária e doutor em Ciência Animal Tropical pela UFRPE, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho e professor do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba

Autores: João Carlos Gomes Borges , Raphael Dantas Círiaco , Ryan Emerson Gomes dos Santos , José Eduardo Mantovani , Sebastião Silva dos Santos¹, Iara dos Santos Medeiros¹, Isis Chagas de Almeida , Miriam Marmontel , Thalma Maria Grisi Velôso , Jociery Einhardt Vergara-Parente , Jean Paul Dubut .

1. Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho. Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA);

2. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental, Universidade Federal da Paraíba;

3. Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos (GPMAA). Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá;

4. IUCN Species Survival Commission Specialist Group;

5. Nortronic – Sistemas Eletrônicos do Nordeste;

6. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE);

7. NGI Mamanguape. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade;

1. INTRODUÇÃO

As reintroduções dos peixes-boi marinhos apresentam-se como uma das ações prioritárias na estratégia nacional de conservação da espécie (Normande et al., 2015) e seguindo os protocolos existentes, estes procedimentos devem ser realizados com sistemas VHF ou satelital (Lima et al., 2007).

No sistema VHF, os equipamentos são leves e de baixo custo, porém oferecem recursos limitados. O mais restritivo é que necessitam que o pesquisador esteja em campo para efetuar o rastreamento e operam somente em curtas distâncias. Já a tecnologia satelital, baseada em dispositivos transmissores

mais sofisticados com a integração de GPS, emitem informações remotamente. São equipamentos mais pesados e com valores de comercialização mais expressivos.

Em alternativa aos transmissores VHF e satelitais utilizados no monitoramento dos peixes-bois-marinhos e diante o crescimento da Internet das Coisas (IoT), vem surgindo uma nova tecnologia, denominada LoRa. Assim, este trabalho teve por objetivo desenvolver transmissores IoT/LoRa destinados ao monitoramento dos peixes-bois-marinhos.

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Internet das coisas (IoT) como dispositivos tecnológicos destinados ao monitoramento dos peixes-boismarinhos (Trichechus manatus)
pesQuisa

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O transmissor LoRa foi arquitetado com base nos módulos transceiver RN2903, com antena associada, controlado por uma plataforma microcontrolada. Adicionalmente, os componentes eletrônicos contam com um módulo GPS integrado e dotado de processador com capacidade para 77 canais, baixo consumo de energia, provisão para turn-off e antena integrada (Figura 1).

Os pontos coletados foram processados e armazenado na memória do microcontrolador. As recepções dos sinais emitidos ocorreram por meio de duas estações fixas (gateways) implantadas na Barra do Rio Mamanguape, Paraíba. O gateway foi arquitetado sobre um módulo com dois transceivers, controlado por uma plataforma microcontroladora, operando na faixa 902-928 MHz e concentrador de dados. Contou com um painel fotovoltaico, regulador de carga e bateria, integrados num gabinete estanque (Figuras 2 e 3).

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Figura 1. Transmissor LoRa destinado para o monitoramento dos peixes-bois-marinhos.

Para teste dos equipamentos, os transmissores foram mantidos em pontos conhecidos dentro do estuário. Posteriormente, os transmissores foram mantidos em embarcações que percorreram transectos previamente definidos. Após estes testes iniciais, a equipe técnica realizou a marcação de um peixe-boi-marinho (Figura 4). Todos os dados recebidos pelas estações foram disponibilizados aos usuários via Internet, sendo estes salvos na plataforma IoT Tago.IO.

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Figura 4. Primeiro equipamento de tecnologia IoT (Internet das Coisas) utilizado em peixes-bois-marinhos. Figura 2. Torre de transmissão instalada com a sua estrutura de fixação. Figura 3. Instalação do gateway na Base da Fundação Mamíferos Aquáticos..

3.RESULTADOS

A partir das estações receptoras, os sinais foram captados até 5 km de distância. O animal marcado foi monitorado por 43 dias, com transmissões diárias (2.780 coordenadas geográficas), conforme a programação definida. As duas estações de recepção, possibilitaram a cobertura da maior parte das áreas de uso conhecida para os peixes-bois-marinhos que utilizam o estuário do rio Mamanguape. De forma inédita, foi possível conceber uma nova alternativa tecnológica, de baixo custo, destinada ao monitoramento dos peixes-bois-marinhos.

4.AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação Mamíferos Aquáticos, ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental (PPGEMA) da Universidade Federal da Paraíba; APA Barra do Rio Mamanguape; ao CEPENE/ICMBio e a Nortronic- Sistema Eletrônicos do Nordeste. Os autores agradecem ainda ao Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Lima, R. P., Alvite, C. M. C., & Vergara-Parente, J. E. (2007). Protocolo de Reintrodução de Peixes-bois -marinhos no Brasil (2.ed.; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, ed. 62 p.). São Luis - MA: IBAMA.

Normande, I. C., Luna, F. D. O., Malhado, A. C. M., Borges, J. C. G., Viana Junior, P. C., Attademo, F. L. N., & Ladle, R. J. (2015). Eighteen years of Antillean manatee Trichechus manatus manatus releases in Brazil: Lessons learnt. Oryx, 49(2), 338–344. doi: 10.1017/ S0030605313000896.

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foto refLexÃo

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O período de gestação do peixe-boi-marinho dura de 12 a 14 meses. Em geral, nasce apenas um filhote por vez com cerca de 1,26 m e peso aproximado de 34 kg. É raro o nascimento de gêmeos, mas acontece. Nas primeiras semanas é a mãe quem ensina o filhote o comportamento de respiração, deslocamento e alimentação. A fêmea amamenta o seu filhote por cerca de dois anos. Para engravidar novamente demora um tempo considerado, o intervalo entre partos chega a quatro anos. Nos primeiros dias de vida, o filhote alimenta-se exclusivamente do leite da mãe, fundamental para o seu desenvolvimento. Com o passar do tempo, ele começa a imitar a alimentação da matriarca e passa a ingerir algas-marinhas e capim-agulha. A fêmea comunica-se com seu filhote por meio de pequenos “gritos” chamados vocalizações, sendo capaz de reconhecê-lo em meio a muitos outros apenas pela vocalização.

Peixes-bois-marinhos são animais costeiros, vivem no mar (próximos às praias), estuários e manguezais. Para assegurar a saúde e vida desses mamíferos aquáticos, é fundamental manter esses ambientes conservados, livres de poluição, degradação e tráfego desordenado de embarcações. Caso encontre um peixe-boi-marinho, mantenha distância do animal e apenas admire de longe. Não alimente, não toque, não forneça bebida. Aos condutores de embarcações motorizadas, cuidado para não atropelar e machucar os animais. Se avistá-los nas proximidades, desligue o motor para evitar acidentes. Se perceber que um peixe-boi está em perigo, machucado ou encalhado, entre em contato com o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho: (83) 99961-1338/ (83) 99961- 1352 (whatsapp) / (79) 99130-0016.

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FOTO DE FÊMEA COM FILHOTE REGISTRADA EM PORTO DE GALINHAS POR MAITÊ BARATELLA / REEF IMAGENS
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fuNdaÇÃo mamíferos aQuÁticos LaNÇa a campaNha “adote um peixe-boi”

Muita gente pergunta como pode ajudar financeiramente as ações de conservação do peixe-boi-marinho e de seu habitat. Pensando nisso, a Fundação Mamíferos Aquáticos abriu uma seção especial no site novo do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho chamada “Adote um peixe-boi”. Lá é possível conhecer um pouco mais sobre os animais reintroduzidos monitorados pela instituição e os interessados vão poder apadrinhá-los simbolicamente por meio de planos semestrais.

Com a adoção simbólica, quem adotar um peixeboi vai poder contribuir para a conservação da espécie e acompanhar o trabalho de monitoramento dos animais. Os valores arrecadados com os planos serão destinados a diversas iniciativas voltadas para a conservação da espécie: desde pesquisa, cuidados veterinários, monitoramento à tecnologia, ações socioambientais e educativas.

A campanha está ganhando cada vez mais adeptos, como Fabrícia Carvalho, de Brasília (DF), que conheceu o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho pelo Instagram e viu no “Adote um peixe-boi” uma oportunidade de ajudar a espécie. “Eu sempre fui amante da natureza, em especial da vida marinha, e achei muito interessante essa oportunidade de poder ajudar na prevenção, no cuidado, nas pesquisas. Tem sido uma experiência muito bacana”, ressalta Fabrícia. Para saber mais sobre a campanha, acesse o site vivaopeixeboimarinho.org e conheça a seção “Adote um peixe-boi”.

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INDICAÇÕES

21 LIÇÕES PARA O SÉCULO 21

Como podemos nos proteger de guerras nucleares, cataclismos ambientais e crises tecnológicas? O que fazer sobre a epidemia de fake news ou a ameaça do terrorismo? O que devemos ensinar aos nossos filhos? Em 21 lições para o século 21, o historiador Yuval Noah Harari explora o presente e nos conduz por uma fascinante jornada pelos assuntos urgentes da atualidade. O livro trata sobre o desafio de manter o foco coletivo e individual em face a mudanças frequentes e desconcertantes. Seríamos ainda capazes de entender o mundo que criamos?

Autor: Yuval Noah Harari

Este filme foi lançado em 2012, mas é inspirador até os dias de hoje. É baseado em fatos reais. Em 1989, uma família de baleias fica presa sob o gelo do Ártico e o repórter Adam Carlson não se conforma com a situação. Disposto a mudar essa realidade, ele começa uma verdadeira batalha ao lado de Rachel Kramer, ativista do Greenpeace, para salvar os animais da espécie baleia-cinzenta. Juntos, eles conseguem mobilizar pessoas de variados grupos, como os nativos da região, funcionários de empresas petrolíferas e até americanos e russos, históricos inimigos durante a Guerra Fria. Uma narrativa emocionante que desperta a reflexão sobre o respeito à natureza, uma história na qual seres humanos se mobilizam e se unem para salvar os animais.

Direção: Ken Kwapis

Roteiro: Jack Amiel, Michael Begler

Elenco: John Krasinski, Drew Barrymore, Kristen Bell

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O GRANDE MILAGRE

Programe-se para os eventos técnico-científicos previstos para 2023 nas áreas de Medicina Veterinária, Biologia, Ciências Biológicas, Ecologia e campos afins.

LATIN AMERICA AND CARIBBEAN FISHERIES CONGRESS

Data: 15 a 18 de maio de 2023

Local: Cancun – México

https://lacfc.fisheries.org/

42º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA

Data: 24 a 26 de maio de 2023

Local: Fortaleza – CE

https://www.anclivepa2023.com.br/

XI CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO

Data: 25 a 27 de maio de 2023

Local: Recife – PE

https://institutomvc.org.br/site/index.php/xiconferencia/

XI SIMPOSIO DE LA SOCIEDAD LATINOAMERICANA E CARIBEÑA DE HISTORIA AMBIENTAL 2023

Data: 19 a 24 de junho de 2023

Local: Morelia – México

https://ciessencia.com/eventos/xi-simposio-de-la-sociedad-latinoamericana-e-caribena-de-historia -ambiental-2023/

XI ENCONTRO NACIONAL DA ANPPAS

Data: 12 a 15 de setembro de 2023

Local: Universidade Federal do Paraná | Curitiba – PR

https://www.even3.com.br/xienanppas2023?utm_source=plataforma&utm_medium=recomendacao&utm_campaign=241944-260501&even3_orig=recommendation_hotsite

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E
v ENTOS

Em todas as edições, a Revista A Bordo traz ilustrações que abordam o universo dos animais aquáticos e de seus habitats, como forma de reflexão sobre a importância da conservação do meio ambiente. Nesta edição, trazemos ilustrações feita pelas irmãs Paula Franca e Renata Franca para o vídeo de animação “Um verdadeiro Astro”, inspirado no conto homônimo da escritora Marcela Franca. O vídeo está disponível na seção infanto-juvenil do site do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho (www.vivaopeixeboimarinho.org/secao-infantojuvenil ).

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iLustraÇÃo
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Para saber mais sobre o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, acesse: www.vivaopeixeboimarinho.org @vivaopeixeboimarinho FUNDAÇÃO MAMÍFEROS AQUÁTICOS Sítio Barra do Mamanguape, s/n Zona Rural - Rio Tinto – PB (83) 99961.1338 | (83) 99961-1352 | (79) 99130-0016 www.mamiferosaquaticos.org.br @mamiferosaquaticos

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