Revista A Bordo - Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho - 3ª Edição

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PESQUISA aVALIA qualidade hídrica do estuário da Barra do Rio Mamanguape Levantamento aéreo estima número de peixes-bois marinhos no litoral nordestino

Jovens paraibanos participam de oficina de documentário visando conservação ambiental

EDIÇÃO 3

FOTO EDSON ACIOLI

Fundação Mamíferos Aquáticos | Patrocínio: Petrobras

Na Barra, moradores criam plano de ação para desenvolvimento comunitário


Há 17 anos investindo esforços em prol da conservação do peixe-boi marinho.

FOTO LUCIANO CANDISANI


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EDUCAÇÃO AMBIENTAL Jovens participam de oficina de documentário na Barra de Mamanguape

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CAPA

18 PESQUISA Levantamento aéreo de peixes-bois, golfinhos e tartarugas marinhas no nordeste do Brasil: correlações com feições costeiras e atividades humanas

25 FOTO REFLEXÃO

Pesquisa avalia qualidade hídrica da Barra do Rio Mamanguape

12 COLUNA CIENTÍFICA Maravilhosos manguezais e peixes-bois: unidos pela vida

14 SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

26 FMA

Monitoramento de praias: preservação ambiental e oportunidade acadêmicocientífica

29 GPS

Moradores criam plano de ação para desenvolvimento comunitário

16 DIÁRIO DE BORDO

31 ILUSTRAÇÃO

Larissa Molinari Jung

REVISTA A BORDO

Jornalista responsável Karlilian Magalhães Design gráfico Giovanna Monteiro Revisão técnica João Carlos Gomes Borges e Maria Elisa Pitanga TAMBÉM COLABORARAM PARA ESTA EDIÇÃO:

Jornalismo Raquel Passos Coluna Científica Clemente Coelho Júnior Diário de Bordo Larissa Molinari Jung Resumo Científico Maria Danise de Oliveira Alves GPS Maria Elisa Pitanga

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EQUIPE PROJETO VIVA O PEIXE-BOI MARINHO

João Carlos Gomes Borges (Coordenador executivo do Projeto/ Diretor-presidente da FMA) Maria Elisa Pitanga (Coordenadora técnica do Projeto) Jociery Vergara-Parente (Coordenadora científica e Diretora vice-presidente da FMA) Daniela Araújo (Técnica de Inclusão Social) Maíra Braga (Assessora técnica de Inclusão Social) Gisela Sertório (Educadora ambiental) Jaqueline Said Said (Oceanógrafa) Larissa Molinari Jung (Médica veterinária do Projeto) Karlilian Magalhães (Jornalista) Giovanna Monteiro (Estagiária - Design Gráfico) Patrícia Menezes (Gerente Administrativa e Financeira) Genilson Geraldo (Agente de campo) Sebastião Silva (Colaborador - Ecólogo Universitário)


FOTO LUCIANO CANDISANI

EDITORIAL A Fundação Mamíferos Aquáticos estará completando este ano o seu 25° aniversário. Ao longo destes anos, vem contribuindo ativamente em diversas ações voltadas para a conservação dos peixes-bois marinhos, por meio de iniciativas estratégicas no âmbito da geração de conhecimento científico, desenvolvimento comunitário, sensibilização ambiental e políticas públicas. Ainda assim, muitos esforços precisam ser incorporados na estratégia de conservação do mamífero aquático mais ameaçado de extinção do Brasil, o que torna imprescindível compartilhar as informações existentes na busca de sensibilizar novos aliados. Disseminar informações relacionadas aos peixes-bois marinhos é um dos objetivos da “Revista a Bordo”, a qual, em sua terceira edição, apresenta as ações desenvolvidas com os jovens da Barra de Mamanguape durante a Oficina de Documentário, as informações preliminares das pesquisas que estão avaliando a qualidade hídrica do estuário da Barra do Rio Mamanguape, os esforços dos moradores locais na perspectiva de elaboração do Plano de Ação para o desenvolvimento comunitário e o olhar do Prof. Dr. Clemente Júnior sobre a relação entre os manguezais e os peixes-bois marinhos. Compartilhamos também nesta edição, os resultados das pesquisas relacionadas à distribuição dos peixes-bois marinhos no litoral nordestino e apresentamos a médica veterinária do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, Larissa Molinari. A todos os leitores, desejamos uma boa leitura. Embarquem conosco nesta nova edição! João Carlos Borges Gomes, Diretor-presidente da Fundação Mamíferos Aquáticos.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Jovens da Barra de Mamanguape participam de oficina de documentário A sétima arte aliada à conservação ambiental. Nos dias 13, 14 e 15 de junho, jovens de comunidades da APA da Barra do Rio Mamanguape (PB) participaram da Oficina Realização de Documentário, ministrada pelo cineasta paraibano Leandro Cunha. O objetivo foi incentivar a produção audiovisual do Projeto Cine Peixe-Boi, desenvolvido por jovens ambientais da região. A ideia é que estes jovens possam adquirir conhecimento para realizar, com equipamentos simples, documentários e vídeos ficcionais sobre temas sociais e eco educativos voltados para a preservação do meio ambiente. A ação partiu de uma articulação entre o cineasta e o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela PETROBRAS, através do Programa Petrobras Socioambiental – para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil.

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Leandro Cunha possui uma vasta experiência na produção audiovisual, além de ter formação em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Paraíba e pós-graduação em Fotografia pelo SENAC São Paulo. No conteúdo programático, os alunos tiveram acesso a informações sobre introdução ao documentário, documentário brasileiro e paraibano, produção, modos de abordagem, introdução à câmera, noções sobre objetivas, movimentos de câmera e operação. As aulas teóricas foram ministradas na unidade da Fundação Mamíferos Aquáticos, na Barra de Mamanguape, nos períodos da manhã e da tarde. As aulas práticas foram realizadas no estuário da Barra do Rio Mamanguape. Além do conteúdo apresentado, o cineasta promoveu sessões gratuitas de cinema durante a noite, na Pousada Luar nas Dunas, o que empolgou ainda mais os alunos.


“Estas articulações são muito importantes para multiplicar os sonhos. Achei essa vivência muito saudável. Eu vim pra cá muito aberto, não sabia direito o que encontraria. Fiquei muito emocionado com o lugar, com o estilo de vida. Vocês têm um belíssimo lugar, com pessoas belíssimas e um projeto muito bonito”, disse Leandro Cunha aos alunos, no encerramento da Oficina. “Este curso foi até mais do que a gente esperava, recebemos muitas informações, que despertaram várias ideias. A oficina veio contribuir para que o nosso sonho dê mais um passo. Acho que dá para fazer um vídeo, mostrar o lugar que vivemos, ajudar a protegê-lo e até ganhar prêmios em festivais”, disse o aluno Adriano Felipe, um dos idealizadores do Cine Peixe-Boi. Cine Peixe-Boi - Foi criado, em 2013, durante a Oficina de Agentes Ambientais do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, com o objetivo de promover exibições itinerantes de filmes com temas ecológicos, culturais e socioambientais nas comunidades localizadas na APA da Barra do Rio Mamanguape e entorno. A ideia é sensibilizar o público sobre a importância da conservação do peixe-boi marinho e do meio ambiente, levando a cultura do audiovisual a comunidades, distantes dos grandes centros urbanos, que não possuem acesso a cinema. O Cine Peixe-Boi já realizou quatro apresentações públicas este ano.

FOTOS KARLILIAN MAGALHÃES

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CAPA

Sai resultado parcial da pesquisa que avalia qualidade hídrica do estuário da Barra do Rio Mamanguape FOTO EDSON ACIOLI

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Os resultados preliminares da pesquisa desenvolvida pelo Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) apontam a presença de indicadores de contaminação aquática em alguns trechos do estuário da Barra do Rio Mamanguape, Área de Proteção Ambiental propícia à existência de peixesbois marinhos, localizada no litoral norte da Paraíba. Nestes trechos, os dados destacam, sobretudo, a presença de coliformes fecais, ainda que em quantidades mínimas, o que permite a prática da pesca, o banho e atividades recreativas, porém a água destes trechos não está indicada como bebida para consumo humano. Também foi registrada a presença, ainda que pequena, de metais pesados, entretanto é importante destacar que o índice está abaixo do limite estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

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A pesquisa faz parte da atividade “Diagnóstico dos Indicadores de Contaminação Aquática no estuário da Barra do Rio Mamanguape (PB)”, inserida no Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, que está sendo executado pela FMA na região para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil. O projeto é patrocinado pela PETROBRAS, através do Programa Petrobras Socioambiental, o que vem possibilitando o desenvolvimento destas pesquisas. Desde junho de 2013, amostras de água do estuário estão sendo coletadas e submetidas a análises de três indicadores de contaminação: coliformes fecais, pesticidas e metais pesados. No resultado parcial, nenhum dos trechos onde a água foi coletada apresentou registro de pesticidas.


Os dados foram apresentados pela pesquisadora Luciana Ghinato, doutoranda do Programa de PósGraduação em Ciência Animal Tropical da UFRPE, que está desenvolvendo a pesquisa intitulada “AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA EM ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL, LOCAL DE OCORRÊNCIA DOS PEIXES-BOIS MARINHOS (Trichechus manatus) LINNAEUS, 1758”. “Estudos desta natureza são de extrema importância tendo em vista que o aumento da população humana gera impactos nos ecossistemas aquáticos, como poluição ambiental, degradação e perda da área natural e fragmentação de habitats. Estes impactos afetam a saúde e a qualidade de vida não só dos peixes-bois marinhos, mas também de todas as pessoas e animais que utilizam estas áreas”, diz João Carlos Gomes Borges, diretor-presidente da FMA e coordenador executivo do Projeto, justificando a importância desta ação para a localidade. A pesquisa ainda não foi concluída. Outras amostras de água serão analisadas. Para um diagnóstico eficaz sobre a qualidade hídrica do Rio Mamanguape, são necessárias coletas em diferentes locais e períodos. A cada coleta, a equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, formada por pesquisadores da Fundação Mamíferos Aquáticos e do Laboratório de Doenças Parasitárias da Universidade Federal Rural de Pernambuco, percorre de barco cerca de 16 km do Rio Mamanguape. Em seguida, as amostras são encaminhadas para análises na UFRPE. Ao final do Projeto, será apresentado um diagnóstico sobre a qualidade da água do estuário da Barra de Mamanguape, que é de fundamental importância para a qualidade de vida e a saúde do peixe-boi marinho, de outros animais aquáticos e da comunidade que habita a região.

Nas imagens, amostras de água coletadas no estuário da Barra do Rio Mamanguape passam por análises laboratoriais na Universidade Federal Rural de Pernambuco. FOTOS KARLILIAN MAGALHÃES

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COLUNA CIENTÍFICA

Maravilhosos manguezais e peixes-bois: unidos pela vida POR CLEMENTE COELHO JÚNIOR Biólogo, mestre e doutor em Oceanografia Biológica. Diretor-Presidente do Instituto BiomaBrasil e professor da Universidade de Pernambuco.

O Manguezal é um ecossistema costeiro da zona do entremarés, que pode apresentar feições distintas: lavado, bosque de mangue e apicum. O “lavado” é a feição exposta à maior frequência de inundação, apresentando substrato lodoso sem vegetação vascular. O “mangue” apresenta cobertura vegetal típica, constituída por espécies arbóreas que lhe conferem fisionomia peculiar. A feição “apicum” limita-se à feição mangue, e é atingida nas preamares de sizígia, equinociais ou em virtude de eventos meteorológicos, podendo apresentar-se nos períodos escassos de chuva com acúmulo de sal no sedimento. Esta última feição é muito comum no nordeste brasileiro. Os manguezais dominam os habitats costeiros de regiões tropicais e subtropicais, e caracterizam boa parte dos estuários, do Amapá a Santa Catarina, e são importantes transformadores de matéria orgânica em biomassa animal e vegetal, impulsionando uma complexa e importante cadeia alimentar, na qual se destacam diversas espécies de importância econômica e algumas ameaçadas de extinção. Dentre tais espécies, o peixe-boi marinho possui uma íntima ligação com os manguezais nordestinos. As condições do meio são propícias para a espécie, como área de abrigo e proteção, alimentação e reprodução. Sabe-se que as árvores de mangue não representem a maior parte da dieta da espécie, entretanto, as folhas e as tenras raízes aéreas que se projetam dos troncos sobre os estuários complementam a sua alimentação e servem como adstringentes, devido a grande concentração de tanino.

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Os bosques auxiliam ainda na captação de água das chuvas, que escorrem pelas folhas, fornecendo um verdadeiro bebedouro natural. Mas a relação não para por aí. Os manguezais protegem a linha de costa atenuando os efeitos erosivos das marés e ainda aprisionam sedimento de forma eficaz no seu emaranhado de raízes e troncos, evitando o assoreamento dos rios. As margens dos estuários e os diversos canais mareais internos aos bosques são utilizados pelos peixes-bois e suas crias para abrigo e descanso. Graças ao ecossistema manguezal há água limpa e tranquila para a espécie. Porém, este maravilhoso habitat é um dos mais vulneráveis aos efeitos deletérios do crescimento econômico e da expansão desordenada dos núcleos urbanos, impondo severas alterações na qualidade das águas estuarinas, baías, lagunas e lagoas costeiras. Recentemente, com a aprovação do Novo Código Florestal, em substituição à Lei Federal 4771/65, projeta-se cenários preocupantes, uma vez que a nova lei garante o uso de 35% dos manguezais nordestinos para a carcinicultura (criação de camarão marinho). Em suma, vem aí mais ameaça ao habitat dos maravilhosos peixesbois marinhos.


FOTO ANDRÉ D’ELIA

Leitura recomendada:

1. Coelho-Jr, C.; Almeida, R. & Corets, E. (org). Guia Didático Os Maravilhosos Manguezais do Brasil. 2. ed. Vitória: Papagaya Editora, 2008. v. 1. 266p. 2. Schaeffer-Novelli, Y.; Rovai, A. S.; Coelho-Jr, C.; Menghini, R. P.; Almeida, R. Alguns impactos do PL 30/2011 sobre os Manguezais brasileiros. In: Código Florestal e a Ciência: O que nossos legisladores ainda precisam saber. Sumários executivos de estudos científicos sobre impactos do projeto de código florestal. Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável. Brasília, DF. 2012. p. 18-27 3. Coelho-Jr, C.; Schaeffer-Novelli, C.; Tognella, M. Manguezais. 1. ed. São Paulo: Editora Ática, 2001. v. 1. 48p . www.mamiferosaquaticos.org.br

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SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Moradores criam plano de ação para desenvolvimento comunitário na APA da Barra do Rio Mamanguape Ampliar as possibilidades de desenvolvimento e de geração de renda de forma coletiva e compartilhada. Este é o objetivo do plano de ação elaborado por um grupo comunitário formado por moradores da Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape (PB) que realizam atividades produtivas e que pretendem melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem na região. Este plano é resultado da Oficina de Desenvolvimento Comunitário, promovida, no primeiro semestre de 2014, pelo Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – conduzido pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela PETROBRAS, através do Programa Petrobras Socioambiental. A APA da Barra do Rio Mamanguape é uma região propícia à existência de peixes-bois marinhos. “A gente se aproxima muito mais da nossa missão quando se possibilita falar em promover geração de trabalho e renda nas áreas de ocorrência da espécie. Esse grupo foi formado por pessoas que desenvol-

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vem habilidades manuais e serviços e que necessitavam de uma motivação para poder se organizar. A oficina foi conduzida de forma que esse grupo se articulasse e pensasse uma estratégia coletiva que contemplasse todos os produtos feitos e todos os serviços gerados na comunidade. Este plano de ações engloba pensamentos, sonhos possíveis, antigos desejos sendo compartilhados e vários esforços feitos ao longo da caminhada de cada um”, diz Daniela Araújo, técnica de Inclusão Social do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. Durante a Oficina de Desenvolvimento Comunitário, os participantes puderam trocar conhecimentos sobre desenvolvimento pessoal, liderança, economia solidária, gestão de negócios sociais e trabalhos em grupo. O objetivo desta iniciativa foi articular a comunidade para o desenvolvimento local, reunindo os moradores num processo de reconhecimento e resgate da identidade e valorização das potencialidades da região. Agora, nesta nova fase, a equipe


FOTO KARLILIAN MAGALHÃES

do Projeto está acompanhando o grupo, por meio de reuniões estratégicas de orientações e rodas de conversa, para que este plano seja colocado em prática. O processo também conta com a parceria do SEBRAE da Paraíba, que está auxiliando o grupo na busca por um modelo de gestão e um plano de negócios. Estas ações fazem parte da área de sustentabilidade, cidadania e inclusão social do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, que está atuando no litoral paraibano, desde o início de 2013, numa estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção do peixe-boi marinho no nordeste do Brasil.

Matériaprima

Espaco

Objetivos

Trabalho coletivo

Capacitaçao

Recursos

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Diário de Bordo POR LARISSA MOLINARI JUNG

Médica Veterinária do PVPBM Pós-graduada em Medicina de Animais Silvestres FOTO KARLILIAN MAGALHÃES

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Eu sou de São Paulo (SP) e durante toda minha formação acadêmica e profissional sempre quis trabalhar com animais marinhos. Estava procurando por trabalho nessa área, então surgiu a seleção da FMA e foi assim que vim parar na Paraíba e no Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. Eu não tinha uma relação tão próxima com o peixe-boi marinho, pois sou do Sudeste e não temos esse animal por lá. Já tinha visto imagens e achava lindo, um bicho grande e tranquilo. E agora, trabalhando com ele, é impossível não se apaixonar por esse animal, por tudo que ele representa no meio ambiente, ainda mais quando você vive no mesmo lugar que ele e quer que ele tenha uma qualidade de vida melhor. Eles são doces e únicos, estar perto deles é especial. Quero vê-los cada vez mais e em mais quantidade, nadando muito, longe das ameaças antrópicas, em um meio ambiente preservado. Minha função mais especifica no Projeto é ficar atenta aos encalhes de animais na região, principalmente de peixes-bois marinhos. Caso algum animal morto encalhe, nós realizamos a necropsia para tentar identificar a causa de sua morte. Saio, também, em monitoramento com os agentes da APA, dos quais somos parceiros, para verificar como estão os animais reintroduzidos na região. Nestas saídas também coletamos fezes de peixes-bois, sempre que encontramos. E como o nosso projeto é multidisciplinar, temos também as campanhas de sensibilização, importantes para criar uma rede de colaboradores e termos notícias dos encalhes na região, então participo dessa atividade também junto com a Educação Ambiental, que é um dos vieses do PVPBM. Já no nosso escritório, realizo trabalhos burocráticos como relatórios, organização dos materiais, também leio, faço pesquisas, busco novos artigos científicos que me dão suporte para a prática. Gosto bastante de exercer minha profissão aqui, além de ser uma super oportunidade trabalhar em um projeto socioambiental em prol da conservação do peixe-boi marinho, realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos, que é muito comprometida. Além de trabalhar como veterinária, ainda tenho um aprendizado de lidar com uma equipe multidisci-

plinar. Manter um projeto desse bem alinhado com todos nossos ideais como pessoas e profissionais é muito legal e ter contato com pessoas mais experientes e que compartilham de seu conhecimento, no meu caso da área Veterinária, é muito importante. Temos nossos desafios diários em correr atrás do que ainda não temos tanta experiência, mas isso também motiva a querer ser melhor como profissional e crescer como pessoa. Acho que esse Projeto como um todo tem vários momentos marcantes. Vê-lo crescendo, por exemplo, desde a base sendo pintada e reformada, ir adquirindo os materiais, ir crescendo nas atividades e vendo tudo tomar forma, ir se adequando ao trabalho e ao lugar, superando as dificuldades, tanto pessoais como profissionais, ganhando a confiança da comunidade (importantes atores para o nosso trabalho) e ainda ser responsável por um animal tão especial... Acho que é tudo muito marcante. Para quem vem de uma cidade grande do Sudeste, com todas as facilidades que isso proporciona, chegar a um estado novo e especificamente na Barra de Mamanguape, em um trabalho novo, é um pouco demorado para assimilar tudo o que isso engloba. Contei com a sorte de ter apoio da família e namorado sempre, pois a adaptação é gradativa mesmo. Estamos longe dos conhecidos, aqui é bem afastado, quase não tem sinal de celular, a casa onde eu moro é diferente do que estava acostumada... Mas quando a gente, mesmo com as dificuldades, trabalha no que gosta, isso ajuda muito. E acabamos pesando os prós dos contras... Aqui não tem trânsito, respira-se bem... Ao chegar à Barra pela primeira vez, quando você avista o estuário de um lado e o mar do outro, em um belo dia, não tem como não pensar “que lugar é esse ?!”. E o melhor é ver essa “cena” outras tantas vezes e ter a oportunidade desse contato bem diferenciado, sem contar que é a casa do nosso querido peixe-boi. Acaba que além de experiência profissional ainda soma sendo uma experiência de vida mesmo.

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PESQUISA A cada edição, a Revista A Bordo trará artigos e resumos científicos relacionados à conservação do peixe-boi marinho e seus habitats. Confira agora o resumo científico elaborado por Maria Danise de Oliveira Alves, pós-doutoranda da Universidade Federal Rural de Pernambuco, e coautores.

Levantamento aéreo de peixes-bois, golfinhos e tartarugas Marinhas no nordeste do Brasil: correlações com feições costeiras e atividades humanas Maria Danise de Oliveira Alves¹ , ² Ralf Schwamborn¹, João Carlos Gomes Borges² , ³, Miriam Marmontel4 , Alexandra Fernandes Costa5, Carlos Augusto França Schettini¹, Maria Elisabeth de Araújo¹ 1. Universidade Federal de Pernambuco 2. Fundação Mamíferos Aquáticos 3. Universidade Federal Rural de Pernambuco 4. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá 5. Universidade Federal do Pará

1. INTRODUÇÃO Mamíferos e tartarugas marinhas são considerados organismos-chave para a conservação marinha em diversas partes do mundo (Chatwin, 2007). Muitas populações destes animais ocorrem em áreas costeiras intensamente povoadas por pessoas, tornando-os vulneráveis ou ameaçados de extinção (IUCN, 2012). As Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) surgiram como essenciais ferramentas para a proteção desses organismos e seus ecossistemas (Hooker & Gerber, 2004). Estudos em larga-escala que determinem quantitativamente as correlações entre a presença de espécies ameaçadas e os tipos de habitats e ações humanas são raros. No nordeste do Brasil, as mais importantes ameaças à biodiversidade costeira são as atividades pesqueiras e o desenvolvimento urbano, tornando esta região uma das mais vulneráveis da América do Sul (Chatwin, 2007). Pesquisas aéreas são consideradas uma técnica padrão para avaliar a distribuição, a abundância e as características dos habitats dos mamíferos e tartarugas marinhas do mundo (ex.: Preen, 2004; Edwards

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et al., 2007; Witt et al., 2009; Langtimm et al., 2011; Secchi et al., 2001; Andriolo et al., 2006). Na costa nordeste do Brasil, apenas um censo aéreo de peixes-bois marinhos (Trichechus manatus manatus) foi realizado, em escala local, no estado do Ceará (Costa, 2006). Portanto, o objetivo deste estudo foi quantificar e analisar a distribuição em larga-escala espacial de peixes-bois, golfinhos e tartarugas marinhas na região nordeste do país, em relação as características dos habitats, as atividades humanas e a importância das AMPs para a conservação das espécies. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Área de estudo O limite norte da área de estudo foi a desembocadura estuarina do Delta do Rio Parnaíba, na Ilha das Canárias, estado do Piauí. O limite sul foi a boca do Rio São Francisco, no estado de Alagoas. Existem nesta área quatro relevantes Áreas de Proteção Ambiental (APAs): Delta do Rio Parnaíba, Recifes de Corais, Barra do Rio Mamanguape e Costa dos Corais, sendo esta última a maior APA marinha do Brasil) (Figura 1).


O método de amostragem escolhido foi o transecto de faixa (strip transect), assumindo que todos os animais dentro da faixa rastreada (321,7 m de cada lado) são detectados e contados (Jolly, 1969). O padrão da linha do transecto foi em ziguezague, a 1,5 milhas náuticas da costa, com ângulo de abertura de 40°. As áreas sobrevoadas se estenderam nas desembocaduras estuarinas, especialmente para avistar os peixes-bois (Figura 1B). Os voos ocorreram a 150 m de altitude e 140 km/h de velocidade. Os censos aéreos foram conduzidos durante a estação seca, entre janeiro e abril de 2010. A equipe foi composta por dois observadores independentes, localizados em cada lado da parte posterior da aeronave, e um registrador ao lado do piloto (Figura 3).

Figura 1. Mapa da área de estudo, localizada entre os estados do Piauí e Alagoas, no nordeste do Brasil (A), apresentando as principais Áreas Marinhas Protegidas (DP – Delta do Rio Parnaíba, RC – Recifes de Corais, BM – Barra do Rio Mamanguape, CC – Costa dos Corais) e cidades consteiras (quadrados pretos). Destaque para os transectos aéreos em padrão de ziguezague, com maior extensão nas desembocaduras estuarinas (ex.: APA do Delta do Rio Parnaíba) (B).

2.2. Levantamentos aéreos Os levantamentos aéreos foram conduzidos após um estudo piloto no norte de Alagoas (Alves et al., 2013). Foi utilizada uma aeronave Cessna 172, com asas altas para facilitar a visualização da superfície do mar, e janelas-bolha, que aumentam o ângulo de visão dos observadores (Figura 2). A

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Figura 3. Organização da equipe de levantamento aéreo no interior da aeronave, destacando-se a presença de janelas-bolha.

Figura 2. Aeronave Cessna 172, com asas altas (A) e janelasbolha (B), para facilitar a visualização da superfície do mar e aumentar o ângulo de visão dos observadores, respectivamente.

A identificação taxonômica dos animais baseou-se em características morfológicas e comportamentais diagnósticas. Em casos de avistagens duvidosas ou contagens imprecisas, um voo circular ao redor do ponto de avistagem foi efetuado para a confirmação (Langtimm et al., 2011).

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Aproximadamente 1.500 km de linha costeira foram sobrevoados, totalizando 4.026 km amostrados em ziguezague (Figura 1). A área de cobertura total foi de 2.590,2 km², em 11 dias de monitoramento e esforço amostral de 27 horas. Um total de sete parâmetros ecológicos e humanos foram examinados para posterior correlação: (1) abundância de animais, (2) padrão de ocupação da zona costeira (carcinicultura, salinas e portos náuticos), (3) atividades pesqueiras e turísticas (barcos de arrasto de camarão, embarcações a motor, a vela e a remo), (4) APAs (Delta do Rio Parnaíba, Recifes de Corais, Barra do Rio Mamanguape e Costa dos Corais), (5) Tipos de formações recifais (beach rocks, recifes de franja, recifes lineares) (Castro & Pires, 2001), (6) tipos de desembocaduras estuarinas (complexos, com manguezais preservados, parcialmente obstruídos por barreiras arenosas/pequenos, médios e grandes), e (7) centros urbanos costeiros (pequenos, médios e grandes). 3. RESULTADOS 3.1. Distribuição das avistagens Um total de 320 avistagens de mamíferos e tartarugas marinhas foram registradas durante a pesquisa. Destas, 36 foram de peixes-bois marinhos (41 animais), 28 de golfinhos (Delphinidae, 78 espécimes,

sendo 10 identificados como Sotalia guianensis) e 256 avistagens de tartarugas marinhas (Cheloniidae, 286 indivíduos) (Figura 4). Os mamíferos e as tartarugas marinhas foram registradas ao longo de toda a área sobrevoada, exceto no trecho de aproximadamente 130 km de linha de costa, a oeste do estado do Rio Grande do Norte (dentro da Bacia Potiguar), onde apenas uma tartaruga marinha foi avistada (Figura 4). Peixes-bois e tartarugas marinhas foram frequentemente avistados solitários (86,1% e 88,3%, respectivamente), ou em grupos de dois adultos. Uma mãe e um filhote de peixe-boi marinho foi avistado na praia de Barreta, no Rio Grande do Norte. Golfinhos foram geralmente vistos em grupos (64,3%) de dois até oito indivíduos. As avistagens dos três táxons foram concentradas dentro da faixa de 2 a 10 m de profundidade. Peixes -bois foram claramente o grupo mais concentrado em áreas rasas e costeiras, com profundidade máxima de 14,8 m e distância média de somente 1,2 km, se comparada ao valor de 2.1 km para golfinhos e tartarugas marinhas. Os maiores valores de profundidade e distância da costa foram registrados para as tartarugas marinhas, com 18,5 m e 5 km, respectivamente (Figura 4).

Figura 4. Distribuição espacial de peixes-bois, golfinhos e tartarugas marinhas entre os estados do Piauí e Alagoas, nordeste do Brasil. As Áreas de Proteção Ambiental estão indicadas pelos retângulos cinzas (DP: Delta do Rio Parnaíba, RC: Recifes de Corais, BM: Barra do Rio Mamanguape, CC: Costa dos Corais). Retângulos brancos: área com avistagens escassas. A única avistagens de mãe e filhote está destacada no círculo, e os espécimes de Sotalia guianensis na cor azul clara. Linhas pontilhadas: divisão dos estados.

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A análise de correlação de Spearman mostrou que peixes-bois foram positivamente relacionados com as tartarugas marinhas (p = 0,032), enquanto os golfinhos não apresentaram correlação com nenhum dos táxons. 3.2. Correlações das feições costeiras e atividades humanas Foram detectadas várias correlações significativas dos habitats costeiros e das atividades humanas com a densidade de peixes-bois, golfinhos e tartarugas marinhas. Destacou-se a correlação positiva das avistagens de peixes-bois e de tartarugas marinhas com os recifes beach rocks (p = 0,0089 e p = 0,0041, respectivamente), de peixes-bois com manguezais preservados (p = 0,027) e de golfinhos com desembocaduras estuarinas grandes e manguezais preservados (p = 0,027 e p = 0,023, respectivamente). Os peixes-bois se correlacionaram positivamente com a presença de cidades médias (p = 0,034) e embarcações a motor (p = 0,011), e as tartarugas marinhas com o total de embarcações (p = 0,030) e barcos motorizados (p = 0,0017). 3.3. Áreas de Proteção Ambiental (APAs) As correlações positivas com as APAs foram registradas para peixes-bois, golfinhos e tartarugas marinhas, e variou consideravelmente entre os grupos taxonômicos e as áreas. Os peixes-bois foram os únicos que apresentaram densidade significativamente alta dentro das quatro APAs, se comparadas as avistagens fora delas. Quando consideradas as APAs individualmente, os animais apresentaram uma maior densidade nas duas APAs estuarinas (Delta do Rio Parnaíba e Barra do Rio Mamanguape), com seis e cinco animais, respectivamente. Golfinhos apresentaram uma maior densidade na APA Costa dos Corais (24 animais), enquanto as tartarugas marinhas predominaram na APA Recifes de Corais (41 espécimes). 4. DISCUSSÃO Os dados gerados para quantificar e correlacionar a distribuição da megafauna marinha costeira no nordeste do Brasil renderam importantes avanços para a conservação no Brasil. A Bacia Potiguar, área com raras avistagens, apresenta características hidrográficas específicas, sendo considerada uma das regiões

marinhas mais oligotróficas (pobre em nutrientes) do país, com baixa influência estuarina (Júnior et al., 2010). Além disso, a intensa exploração e degradação dos recursos vem persistindo ao longo de décadas, com atividades da indústria petrolífera, salinas e carcinicultura (Silva & Amaro, 2008), como observadas durante os censos aéreos. A coexistência de peixes-boi e tartarugas marinhas também foi registrada em vários outros locais do mundo (Fertl & Fulling, 2007), estando relacionada ao compartilhamento de recursos ambientais, como áreas abrigadas e de alimentação. Um alarmante resultado foi a associação dos grupos com barcos motorizados e cidades costeiras, uma questão conservacionista relevante, causando um elevado risco de colisão, captura acidental em redes de pesca e destruição do habitat, principalmente pelos barcos de arrasto de camarão (Borges et al., 2007; Meirelles, 2008; Guebert-Bartholo et al., 2011). 4.1. Distribuição espacial 4.1.1. Peixe-boi marinho O peixe-boi marinho é o mamífero aquático mais ameaçado de extinção do Brasil (ICMBio, 2011). Estudos sobre a distribuição da subespécie no Brasil foram realizados desde os anos 80, com base em informações de pescadores e dados de encalhe (Parente et al., 2004; Luna et al., 2008; Lima et al., 2011), sendo este estudo aéreo um método favorável à detecção dos animais. No entanto, algumas dificuldades foram encontradas, como: (1) o hábito solitário da subespécie, (2) sua exposição pouco visível na superfície, e (3) sua coloração acastanhada similar as águas turvas dos estuários. Essas limitações podem tornar a contagem e a identificação imprecisas (Edwards et al., 2007). A presença de peixes-boi em águas costeiras rasas, com até 14,8 m profundidade, parece estar relacionada com a disponibilidade de alimento (OliveraGómez & Mellink, 2005; Rodas-Trejo et al., 2008;. Langtimm et al., 2011). Estudos anteriores no nordeste do Brasil registraram profundidades entre 0,4 e 5,6 m (Borobia & Lodi, 1992; Paludo & Langguth, 2002; Costa, 2006), valor muito inferior à freqüência entre 6 e 8 m observada neste estudo. Esta diferença deve-se provavelmente a maior cobertura em águas mais profundas neste levantamento aéreo.

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4.1.2. Golfinhos A identificação dos golfinhos foi dificultada por seus movimentos rápidos em oposição à velocidade da aeronave, mesmo em condições ideais de transparência da água e a formação de grupos. As pequenas variações morfológicas de alguns delfinídeos também não beneficiou a identificação das espécies (Preen, 2004), exceto de S. guianensis. Grupos com 2 a 8 botos-cinza encontrados neste estudo são comumente observados no nordeste do Brasil (Araújo et al., 2001, 2008). A maior frequência de golfinhos em águas profundas (até 17,1 m) e distantes da costa (até 4,4 km) é semelhante a descobertas de estudos anteriores no país, com até 16 m de profundidade e 4 km distantes da costa (Bazzalo et al., 2008; Wedekin et al., 2010). A ocorrência de golfinhos perto de estuários pode indicar a busca de alimentos associados a este ambiente, como crustáceos e peixes, tanto para espécies residentes como migratórias (Blaber, 2000). No Brasil, S. guianensis ocorre freqüentemente em áreas estuarinas e seus arredores (Flores, 2002; Araújo et al., 2008), sugerindo que muitos espécimes não identificados são provavelmente desta espécie. 4.1.3. Tartarugas marinhas Este foi o primeiro levantamento aéreo das tartarugas marinhas realizados no Brasil, uma metodologia importante para avaliar a abundância dessas populações, especialmente em áreas de forrageio ou desova (Cardona et al., 2005; Roos et al., 2005; Witt et al., 2009). As tartarugas marinhas foram as mais abundantes neste estudo. A detecção dos espécimes, em condições médias de visibilidade, ocorreu por meio da exposição total do corpo e da turbulência na superfície da água provocada pelas nadadeiras durante o mergulho, podendo revelar o número de animais (McClellan, 1996). No entanto, a altitude de voo, a velocidade da aeronave e o comportamento de fuga, causado pelo ruído da aeronave, dificultaram a identificação a nível de espécie, como observado em outros estudos (Shoop & Kenney, 1992; McClellan, 1996).

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O elevado número de tartarugas marinhas solitárias sugere a não amostragem das principais áreas reprodutivas, uma vez que o acasalamento ocorre em grandes grupos (Hirth, 1980). No Brasil, agrupamentos de tartarugas-verdes (Chelonia mydas) podem ser avistados durante o período reprodutivo de setembro a março, o que inclui o período de estudo. No entanto, esta espécie utiliza, em especial, ilhas oceânicas para o acasalamento (Marcovaldi & Marcovaldi, 1999), não estando nenhuma inserida dentro da área de estudo. Levantamentos aéreos e subaquáticos para estimar a abundância de tartarugas-verde, em áreas de forrageio, identificaram pequenos grupos de 4 a 5 indivíduos, que, aparentemente, foram distribuídos aleatoriamente (Roos et al., 2005). Portanto, é provável que a área de estudo seja utilizada principalmente para alimentação. 4.2. Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) A alta densidade de peixes-boi nas APAs Delta do Rio Parnaíba e Barra do Rio Mamanguape destaca a importância dessas áreas para a proteção desta subespécie e seus habitats. Essas áreas são compostas principalmente por um manguezais bem preservados e recifes costeiros adjacentes, permitindo a ocorrência de grupos de peixes-bois em áreas abrigadas para a reprodução e o repouso (Borobia & Lodi, 1992; Olivera-Gómez & Mellink, 2005; RodasTrejo et al., 2008; Lima et al., 2011). Em muitos outros estuários pesquisados neste estudo, o desmatamento do mangue foi visível, devido à expansão da carcinicultura, salinas e urbanização. Isto propicia o assoreamento das desembocaduras estuarinas, dificultando o acesso dos peixes-boi (Lima et al., 2011). A ocorrência de golfinhos e tartarugas marinhas em APAs com recifes costeiros lineares pode garantir áreas abrigadas para forrageio e descanso. A APA Recifes de Coral, com um elevado número de avistagens de tartarugas marinhas, possui recifes costeiros de franja com algas marinhas inscrustadas, o que provavelmente representa um fonte de alimento para estes animais (Guebert-Bartholo et al., 2011). Na APA Costa dos Corais, a configuração de uma barreira recifal, em grande escala, permite uma maior disponibilidade de alimento e facilita estratégias de captura de peixes pelos golfinhos. No Brasil, o boto-cinza se alimenta preferencialmente em baías, barreiras recifais e estuários, onde pode dire-


cionar os cardumes de peixes para águas mais rasas (Araújo et al., 2001; Rossi-Santos & Flores, 2009). Essas áreas são amplamente encontrados no MPA Costa dos Corais (FAO, 2011). Os resultados do presente estudo não pode ser utilizado para testar se a existência de zonas marinhas protegidas aumenta a densidade de espécies em vias de extinção, como em outros estudos (Witt et al., 2009; Panigada et al., 2011; Knip et al., 2012). Ao invés de demonstrar o efeito das AMPs, a elevada densidade desses organismos mostra a importância vital de proteger e gerenciar adequadamente os ecossistemas presentes nessas áreas, para garantir um futuro sustentável às populações de espécies ameaçadas. 5. CONCLUSÕES A distribuição espacial de peixes-boi, golfinhos e tartarugas marinhas evidenciou os diferentes tipos de comportamento dessas espécies e a variedade de ecossistemas utlizados ao longo da costa, com uma preferência pelos habitats preservados para fins de forrageio e descanso. No nordeste do Brasil, o monitoramento aéreo em áreas de ocorrência de mamíferos e tartarugas marinhas, que são suscetíveis à perda de habitat, pode incentivar o desenvolvimento de programas de gestão, recuperação e conservação ambiental. O diagnóstico e o monitoramento de ecossistemas são essenciais para a sobrevivência da biodiversidade marinha, com destaque para o papel das AMPs para a protecção dos ecossistemas e espécies. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) pelo apoio à pesquisa; Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa de doutorado concedida ao primeiro autor; Centro Mamíferos Aquáticos (CMA) pelo apoio inicial à pesquisa; PhD. Paul Gerhard Kinas, pelo apoio metodológico; e a equipe de táxi aéreo NVO, pelas adaptações da aeronave às necessidades da pesquisa. Este estudo é parte da tese de doutorado do primeiro autor.

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Este trabalho traz os principais resultados do artigo científico “Aerial survey of manatees, dolphins and sea turtles off northeastern Brazil: Correlations with coastal features and human activities” publicado na revista Biological Conservation, em 2013. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0006320713000633


FOTO REFLEXÃO

FOTO BRUNO J. M. DE ALMEIDA

De volta pra casa Este lobo-marinho (Arctocephalus tropicalis) foi resgatado em agosto de 2013, na praia do Mosqueiro, em Aracaju (SE), com artefatos de pesca presos ao pescoço, leves escoriações e sinais de cansaço. A equipe da Fundação Mamíferos Aquáticos prestou o atendimento e os cuidados necessários ao animal e depois o levou para uma praia segura, longe da área urbana, onde permaneceu em observação por cerca de 92 horas. Após a reabilitação, de forma natural, ele voltou para o mar e seguiu viagem...

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FMA

Fundação Mamíferos Aquáticos realiza monitoramento de praias no Nordeste POR RAQUEL PASSOS FOTOS ACERVO FMA

Há quatro anos, a Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) executa a atividade de monitoramento de praias para o Programa Regional de Monitoramento de Encalhes e Anormalidades (PRMEA), cumprido pela Petrobras como medida de mitigação exigida pelo licenciamento ambiental federal, conduzido pelo IBAMA. Todos os dias são realizados monitoramentos na área compreendida entre o extremo sul de Alagoas e o extremo norte da Bahia, representando um total de 275 km de extensão – sendo 254 km de

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área continental monitorados diariamente, sem considerar os 21 km que fazem parte do percurso com características geomorfológicas que inviabilizam o acesso. Para realização da atividade, sete profissionais percorrem toda essa extensão para monitorar a biota marinha, mamíferos aquáticos, aves e tartarugas marinhas, com o intuito de verificar as possíveis influências de atividades de exploração e produção de petróleo e gás nesse ambiente, bem como sobre os animais e seus habitats. O monitor responsável por


cada trecho é o responsável pelo registro e pelos primeiros procedimentos junto ao animal encontrado, e, caso necessário, contam com apoio de veterinários presentes em uma de nossas bases, localizadas em Aracaju (SE), Pirambu (SE), Piaçabuçu (AL) e Jandaíra (BA). Nos casos em que o animal encontrado necessite de alguma intervenção clínica, o mesmo é encaminhado para as Unidades de Reabilitação, sendo em seguida iniciado o tratamento. Nestas ocasiões, quando necessário, para auxiliar no diagnostico, diversos exames laboratoriais são realizados. CONTRIBUIÇÃO ACADÊMICOCIENTÍFICA O escopo de organização dos trabalhos do monitoramento de praias serve, ainda, para que a execução de sua atividade promova oportunidades, principalmente relacionadas com a produtividade acadêmico-científica, tais como: aprimoramento das análises de encalhes com a incorporação das amostragens provenientes das atividades de monitoramento de bordo; aprimoramento técnico-metodológico relacionado com a realidade disposta ao longo dos projetos de monitoramento; realização de cursos e eventos para profissionais relacionados à área de

monitoramento ambiental. Nesse sentido, a FMA atua como fonte de obtenção de dados da biota e seus habitats, visando à produção de conhecimento a partir do fomento de estudos e pesquisas, a exemplo de monografias, iniciação científica, trabalhos de pós-graduação (mestrado e doutorado), entre outros. EQUIPE A gerência do projeto supervisiona o trabalho de uma equipe multidisciplinar, composta por gestor ambiental, engenheiro de pesca, veterinários e biólogos. A equipe conta ainda com o suporte de estatístico para a análise dos dados e geógrafo para a elaboração de mapas, e também é acompanhada por um conselho gestor formado por gerentes administrativo, executivo, técnicos e de equipe que atuam diuturnamente no intuito de cumprir com a missão da FMA, a de promover a conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats, visando a sustentabilidade socioambiental.

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CURIOSIDADES AVES No transcorrer dos quatro anos, 1.699 aves foram registradas, contemplando 35 espécies, de modo que grande parte destas tratava-se, em geral, de animais fracos devido à longa migração. QUELÔNIOS Para os registros não-reprodutivos de quelônios, foram registrados 3.729 animais, pertencentes a quatro espécies. Nas necropsias realizadas, dentre os achados que podem ter causado a morte de tartarugas marinhas, foram relatadas interações com pesca, anzóis ou fragmentos de rede resultando em afogamento ou em lesões propositais graves atribuídas à pesca, presença de grande quantidade de plásticos no trato digestivo, ingestão de óleo, septicemia e caquexia. Além destes achados, obser-

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vou-se a presença de ovos em diversos indivíduos, confirmando se tratar de animais adultos que muito possivelmente utilizam a região durante o período reprodutivo. MAMÍFEROS AQUÁTICOS Entre os mamíferos marinhos, foram registrados 158 encalhes nos quatro anos de execução do PRMEA. Entre os registros foram constatados seis espécies de cetáceos, lontras (Ordem Carnivora), peixes-boi marinhos Trichechus manatus (Ordem Sirenia) e lobo-marinho Arctocephalus sp. (Ordem Pinnipedia). Em todos os anos, houve amplo predomínio de Sotalia guianensis, entre as espécies atendidas.


GPS

INDICAÇÕES A ECONOMIA DA NATUREZA O livro traz as ideias, dados e instruções mais recentes da ecologia moderna, mostrando as inter-relações frequentemente complexas entre os organismos e os seus ambientes. Nesta edição, foram acrescentados novos capítulos sobre genética de populações, biodiversidade e biogeografia. A nova seção de aplicações ecológicas aborda a extinção, conservação, ecologia global e desenvolvimento, com exemplos práticos. Foi ampliado também o capítulo sobre sexo, família e sociedade, apresentando um quadro mais didático. Encarte com 53 ilustrações coloridas. Destinado a estudantes e profissionais de biologia, engenharia florestal e áreas afins. Autores: Ricklefs, Robert E.

INTRODUCTORY OCEANOGRAPHY A 10 ª edição deste livro oferece um excelente embasamento científico, examinando o vasto corpo de conhecimento oceânico. Abrangendo as disciplinas de geologia, química, física e biologia, permite que os leitores tenham uma compreensão fundamental de como os oceanos funcionam. O livro traz centenas de fotografias, ilustrações, exemplos do mundo real e aplicações que o fazem um material relevante, acessível e divertido. Bem organizado e com linguagem clara, o material aborda questões científicas e um olhar histórico no estudo da oceanografia; as origens da vida, a terra e os oceanos; placas tectônicas; ambientes marinhos; sedimentos marinhos; água e água do mar; interação oceano-atmosfera; movimento do oceano; ondas, marés e litorais; produtividade biológica e o habitat marinho; recursos marinhos; e as preocupações ambientais. Este livro se destina a ajudar os leitores em sua busca para descobrir mais sobre os oceanos. Pelo seu escopo abrangente e excelentes recursos materiais, também pode servir como uma excelente obra de referência para aqueles envolvidos em oceanografia. Autores: Harold V. Thurman, Alan P. Trujillo

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eventos Programe-se para os eventos técnico-científicos previstos para 2014 nas áreas de Medicina Veterinária, Biologia, Ciências Biológicas, Ecologia e campos afins:

XIII ENBRAPOA - ENCONTRO BRASILEIRO DE PATOLOGISTAS DE ORGANISMOS AQUÁTICOS Data: 15 a 18 de setembro de 2014 Local: Universidade Tiradentes – UNIT (SE) www.octeventos.com/xiiienbrapoa/ IV SIMPÓSIO DE ANIMAIS SILVESTRES: ECOTURISMO E PRESERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (IV SIMAS) Data: 29 de setembro a 01 de outubro de 2014 Local: Universidade Federal Rural de Pernambuco www.ivsimas.webnode.com X CONGRESSO DE FICOLOGÍA DE LATINOAMÉRICA Y EL CARIBE / VIII REUNIÓN IBERAMERICANA DE FICOLOGÍA Data: 05 a 10 de outubro de 2014 Local: México www.congreso.sofilac.com/1ercircular.pdf ADVANCED TOPICS IN ETHNOBIOLOGY Data: 06 a 10 de outubro de 2014 Local: Universidade Federal Rural de Pernambuco www.ateschool.com XI CONGRESO LATINOAMERICANO DE BOTÁNICA /LXV CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA Data: 19 a 24 de outubro de 2014 Local: Salvador (BA) www.65cnbot.com.br

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IV CONGRESSO BRASILEIRO DE OCEANOGRAFIA (CBO) Data: 25 a 29 de outubro de 2014 Local: Itajaí (SC) www.cbo2014.com/site A CONFERÊNCIA DA TERRA: FÓRUM INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE Data: 12 a 15 de novembro de 2014 Local: João Pessoa (PB) www.conferenciadaterra.com IV CONGRESSO COLOMBIANO DE ZOOLOGIA Data: 01 a 05 de dezembro de 2014 Local: Colômbia www.congresocolombianozoologia.org/ 1º CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO DO MAR Data: 03 a 05 de dezembro de 2014 Local: Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo www.direitointernacional.org


ILUSTRAÇÃO

A cada edição, a Revista A Bordo trará ilustrações que abordem o universo do peixe-boi marinho e de seu habitat, como forma de reflexão sobre a importância da conservação do meio ambiente. Aproveite!

Caranguejo-Uçá. Por Giovanna Monteiro


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