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newsletter n.º 14, Jun./2018
Loulé homenageia Luís professores, crianças 2 500 4 Guerreiro com placa e jovens juntos pela Água em Querença
toponímica
na FMVG: 7 Acontece Exposições e ateliers de pintura
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PARCERIAS
H2O POUPA-ME!
relógio marca 13h18 e o termómetro 29 graus. José Guerreiro protege-se do calor à mesa do café. Faz-lhe companhia o Sr. Mário Miguel. Habitués no estabelecimento da D. Rosa têm hoje um cenário diferente: dezenas de crianças e jovens cruzam o adro da igreja. Uns correm em direcção à R. Manuel Viegas Guerreiro, outros sobem ofegantes a mesma rua, do Pé da Cruz ao Pólo Museológico da Água, de mapa na mão e na expectativa de cumprirem o desafio proposto. Fazem parte de um grupo de perto de 500 alunos de Loulé, Quarteira, Salir, Alte e S. Brás de Alportel que, por um dia, repovoaram Querença. Também compareceram 25 professores àquele que foi o culminar de um percurso formativo promovido pelo Centro de Formação de Professores de Loulé. Juntamente com os alunos, as docentes apresentaram um trabalho colectivo no qual a aprendizagem se desenhou através da arte: “Foi num ambiente de co-construção e com base em metodologias activas que as formandas exploraram a interdisciplinaridade e a transversalidade do currículo escolar, projectando actividades e recursos pedagógicos que potenciassem o acesso a formas de expressão e comunicação diversificadas.” Objectivo cumprido, garante a professora Olga Ludovico. A ”invasão” Pouco passava das 9h30 quando começaram a estacionar em Querença oito autocarros com cerca de 55 lugares cada, mais uma carrinha de nove. Os alunos do pré-escolar ao 3.º ciclo tinham a Fundação Manuel Viegas Guerreiro como palco das apresentações. Dois textos deram o mote à acção: O Rio Brenhas, da autoria de Idalina Valente e A Menina Gotinha de Água,
Leocádia Quaresma no lançamento do seu livro na FMVG MM
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A mensagem foi dita, cantada, dançada e ilustrada. O Jardim Literário da FMVG voltou a florir e centenas de gotinhas de água, alunos do pré-escolar ao 3.º ciclo, reflectiram conhecimentos e comportamentos amigos do ambiente
Conversas à fresca no café da D. Rosa
de Papiniano Carlos, obra de literatura infantil que integra o Plano Nacional de Leitura. Performances e cenografia emolduraram a mensagem sobre a poupança de água, ou não fosse H2O Poupa-me! o nome do projecto. À hora do almoço os trabalhos estavam apresentados e como formigas em carreiros, os alunos percorreram incessantemente os corredores da Fundação e as ruas da aldeia. Os mais velhos palmilharam o território em busca de pistas, constituindo a prova de orientação preparada pela Divisão de Desporto da Câmara Municipal de Loulé, outro ponto alto de interacção e entre-ajuda. Encontro intergeracional “É como antigamente!” – comenta José
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Guerreiro como se estivesse a assistir a um filme da sua infância. “Mas nós éramos mais!”, prossegue na contagem. “Enchíamos o largo da igreja… e nem vinham os dos Corcitos e da Amendoeira porque lá havia escolas. Aqui éramos 80 para duas salas de aula.” Mário Miguel reconta: “E eu ainda me lembro de ir à escola fazer o exame da 3.ª classe com uns sapatos emprestados. Era umas dores nos pés que não aguentava. É que os sapatos não eram meus e de casa até à escola, ali, onde é agora o Pólo da Água, andei mais de meia hora, uns 40 minutos a andar bem, do Cerro da Corte até Querença. Ora os meus pés estavam habituados a andar descalços, assim, com os dedos abertos”, demonstra com os das mãos em forma de tesoura. “Oh! Descalcei-os assim que saí da
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escola. Eram uns sapatos de cardas, com umas tachas para as solas não se gastarem tão facilmente. Nunca mais me esqueci.” José acrescenta: “Antes era assim, andava-se descalço, de Verão e de Inverno e os sapatos tinham de durar um ano! Eu por acaso nunca andei descalço, mas na minha sala havia uns 15 que não os tinham.” Um século volvido, foi com os pés calçados e sem dor que os alunos percorreram o património natural e cultural da aldeia do barrocal algarvio. Partilharam conhecimento, experiências e emoções. Alegres e irreverentes, provavelmente como o Sr. José e o Sr. Mário, que hoje observaram bem de perto a geração Z. Os anfitriões mais pequeninos também fizeram a festa: “Os meninos adoraram. Não só recebe-
ram alunos de outras escolas na sua, como se divertiram na apresentação que decorreu no auditório da Fundação. Estiveram atentos, riram e gostaram de conviver com crianças de outras escolas”, descreve Cátia Santos, assistente técnica na escola EB1/JI de Querença. Sentimentos que deram forma e cor a uma gota gigante na Praça da Fundação, corporizada por alunos e professores e legendada com o lema da poupança de água. Uma mensagem sentida e vivida por miúdos e graúdos, visitantes e moradores.
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HOMENAGEM
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RUA LUÍS GUERREIRO
Inauguração da placa toponímica com o nome do “Engenheiro das Letras” pelo filho, Gonçalo Guerreiro e pelo presidente da CML, Vítor Aleixo Cristina Guerreiro está à direita do autarca e a filha Catarina à esquerda do irmão
Algarvios da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, Leocádia Quaresma no lançamento do seu livro na FMVG que reúne a colecção particular de Luís Guerreiro, com mais de dois mil títulos. No acto solene, o presidente da Câmara Municipal de Loulé evocou o bibliófilo e profundo conhecedor da história local e regional, mas também o profissional autárquico e amigo: "Recordo a pessoa generosa, um homem que vivia ao ritmo dele, não ao desta vida louca que nos devora a todos. Um homem que cultivava nas suas con-
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Cerca de 200 pessoas marcaram presença no descerrar das placas toponímicas em homenagem a duas personalidades de Loulé falecidas em 2017: Luís Guerreiro e Joaquim Guerreiro. Foram ambas inauguradas no passado dia 10 de Maio, feriado municipal, na Urbanização Boa Entrada, Loulé. Colegas, admiradores, amigos e familiares estiveram presentes no gesto que ajuda a fixar o nome do responsável pelo Centro de Estudos
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versas a memória dos bons momentos." Vítor Aleixo também frisou: "É impossível esquecer aquilo que ele foi como amigo, como profissional e portanto considero que esta homenagem é justa, merecida e ainda bem que foi feita hoje, no Dia do Município.” Outro “homem bom” que a autarquia quis honrar neste dia foi Joaquim Guerreiro: político, vereador da Câmara de Loulé e grande impulsionador de eventos como o Festival MED e a Noite Branca.
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BIODIVERSIDADE
QUERENÇA
Inserida na Rede Natura 2000, Querença é local de interesse para arqueólogos, espeleólogos, biólogos, botânicos e amantes da Natureza. Assinalando o dia 22 de Maio, Dia Internacional da Biodiversidade, a FMVG dá a conhecer o excerto de um documento que regista uma expedição conduzida por investigadores britânicos, no séc. XIX.
“This year I visited the caves near Querença in July (…) There being no other accommodation, we established ourselves in the antechamber of the south-eastern cave, and, considering that we never left the caves for longer than an hour, to take a bath down below in the Rio Secco, and that we lived there for 7 days and 7 nigths, we may well be said to have played the Troglodytes. Our provisions consisted of some tinned sardines and tunny fish in oil, and a daily supply from our cave-lord of wine, bread, eggs, pig-butter, i.e. dripping, cucumbers, onions, and once for a treat twenty small potatoes. Our water supply was fetched from a powerful spring in the bed of the river; although apparently good, we seemed it advisable always to run it through one of Lipscombe’s small military filters (…) There, on the treeless and shrubless plains, it was still hotter for us, one day 135°[Fahrenheit] without any wind and all day long on mules’ back. During the heat of the day no life is visible; the very insects sit still below the plants and stones or are hidden in the cracks of the bark of the trees. The lizards and geckos have likewise vanished, and the only sound is now and then the shrill noise made by the “Cigarra” (Cicada) in the dense foliage of the locust tree, the only plant which seems really to enjoy the Algravian summer, finding ways and means in the baked hard soil of the hills to keep up the dark green colour of its pretty leaves and to grow its numerous pendant beans. All the other vegetation was shriveled up or wore the dusky greenish-grey garb of the olive tree. Only along the banks of the river and in the stagnant pools taking its place during the hot season, is there life and rich luxurious vegetation. The pools abound with snakes, fishes, frogs and small tortoises. The river itself was partly dry, but here and there were springs and pools, the water being dammed up by dykes and carefully saved for irrigating the rich groves of vines, melons and Indian corn.”
Este ano visitei as grutas perto de Querença em Julho. (…) Não havendo outra acomodação, instalámo-nos na antecâmara da gruta localizada a sudeste e, considerando que nunca saímos das grutas por mais de uma hora, para tomar um banho lá em baixo no Rio Seco, e que lá residimos durante sete dias e sete noites, bem podemos dizer que vivemos como trogloditas. As nossas provisões consistiram de algumas sardinhas enlatadas e atum em óleo e de fornecimento diário, pelo nosso senhorio da caverna, de vinho, pão, ovos, banha de porco, pepinos, cebolas e, numa ocasião especial, de vinte batatas pequenas. O nosso fornecimento de água provinha de uma poderosa nascente no leito do rio que, apesar de aparentemente boa, achámos aconselhável filtrá-la através de um dos pequenos filtros militares do Lipscombe (…) Lá, nas planícies sem árvores nem arbustos, ainda era mais quente para nós. Um dia registámos 57° [Celcius] sem qualquer vento e passámos o dia todo às costas de uma mula. Durante o calor do dia, nenhuma vida era visível; os próprios insectos escondiam-se debaixo das plantas e das pedras ou nas rachas da casca das árvores. Os lagartos e as osgas também desapareciam, sendo o único som, ocasional, o do barulho estridente das cigarras na folhagem densa da alfarrobeira, a única planta que parece realmente aproveitar o Verão algarvio, encontrando no solo duro e cozido das colinas, meios de manter a cor verde escura das suas bonitas folhas e de fazer crescer as suas numerosas vagens pendentes. Durante a estação quente só havia vida e vegetação luxuriante ao longo das margens do rio e nos charcos estagnados. A restante estava murcha ou usava o traje cinzento esverdeado escuro da oliveira. Os charcos estavam repletos de cobras, peixes, sapos e pequenas tartarugas. O próprio rio estava parcialmente seco mas, aqui e ali, encontravam-se nascentes e poços, a água sendo captada por diques e cuidadosamente reservada para irrigar as luxuriantes plantações de videiras, melões e milho da Índia. www.fundacao-mvg.pt | +351 289 422 607
Parte de um mapa incluído no mesmo artigo científico
GADOW, Hans (1886) - On some Caves in Portugal. Proceedings of the Cambridge Philosophical Society, University Press, Vol. V, p. 381-391
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Um dos trabalhos realizados nos ateliers OFICINA DOS SENTIDOS Autoria: Fernando Carminho
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ATELIERS
Graffitis e cartazes do PREC Período Revolucionário em Curso de 25 Abril de 1974 a 1977
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EXPOSIÇÕES
Diogo Margarido assina a autoria das 20 fotografias expostas na Biblioteca da FMVG. Natural de Montemor-o-Novo, dedicou toda a sua vida à fotografia, apesar de ter desenvolvido a sua actividade principal na indústria química (grupo CUF). Foi membro de júri em Salões nacionais e internacionais de fotografia, participou em perto de meia centena de exposições colectivas dentro e fora de Portugal e assina mais de 30 mostras individuais. Tendo sido presidente da Associação Portuguesa de Arte Fotográfica (1975-1885), regista vários trabalhos publicados. Actualmente com 86 anos, dedica-se à fotografia na área digital. A exposição pode ser visitada até ao final do mês de Junho, de 2.ª F a 6.ª F, entre as 9h30 e as 17h00. ENTRADA LIVRE.
Colorir Abril Uma dezena de painéis espelham as comemorações do 44.º Aniversário do 25 de Abril na FMVG. Dezenas de pessoas assinalaram o Dia da Liberdade em Querença e participaram nas actividades artísticas dinamizadas ao longo da manhã, centro das atenções para famílias portuguesas e estrangeiras, agora a residir no concelho de Loulé. Nepal, Índia,
República Dominicana, Venezuela, Cabo Verde e Guiné foram só alguns dos países representados e que encontraram no desenho e na pintura o pretexto para a troca de experiências multiculturais. Decorreu ainda a Tertúlia sobre aquele a que Sophia de Mello Breyner Andresen apelidou de “o dia inicial inteiro e limpo”. Os painéis podem ser vistos na Fundação até ao final de Junho. ENTRADA LIVRE.
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PRÓXIMAS DATAS: 16 e 25 de Junho No dia 16 de Junho, o atelier realiza-se entre as 10h30 e as 13h00. No dia 25, porque coincide com uma segunda-feira, o horário fixa-se entre as 14h30 e as 17h00. Alguns dos painéis executados por jovens e famílias, agora expostos na FMVG
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Dinamização: Maria Dulce Margarido. Inscrições através do T. 962 910 811.
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FICHA TÉCNICA Edição: Textos e Paginação: Marinela Malveiro Tradução: Fátima Marques Revisão científica: Frederico Tátá Regala Fotografia: Marinela Malveiro Ilustração: Fernando Carminho Secretariado: Fátima Marques Impressão: Gráfica Comercial Arnaldo Matos Pereira, Lda. Zona Industrial de Loulé Lt. 18, Loulé, Faro | T. 289 420 200
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