NEWSLETTER FMVG N.º 15 JUL-SET 2018 | CULTURA ALGARVE

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Design grรกfico do FLIQ: Susana Leal

newsletter n.ยบ 15, Jul. - Set./ 2018


NOTA PRÉVIA

PALAVRAS DITAS A Fundação Manuel Viegas Guerreiro convoca para a edição n.º 15 da newsletter FMVG os meses de Julho, Agosto e Setembro. Este é o período em que esta Instituição assinala no calendário de actividades o seu evento âncora: o FLIQ Festival Literário Internacional de Querença. Este ano, a 3.ª edição cumpriu-se nos dias 3, 4 e 5 de Agosto sob o lema “Literatura e Ilustração”. Destaque, na abertura, para a obra de António Fernando Santos, Tóssan, no centenário do seu nascimento. No mesmo dia, e em estreia absoluta, as incursões de Manuel Viegas Guerreiro em África integraram o programa através de uma projecção de slides comentada. O Património e a Interculturalidade fizeram a agenda de jovens imigrantes, convidados a participar no FLIQ, com a marca Poesia do Mundo. Gastão Cruz, poeta, tradutor, ensaísta e encenador, foi o escritor distinguido no segundo dia da edição de 2018. Além de uma conferência e exposição documental, de leituras e encontros com o autor, o FLIQ e Querença foram palco da atribuição da Medalha de Mérito Cultural a Gastão Cruz, pelo ministro da Cultura, o embaixador Luís Filipe de Castro Mendes. No terceiro dia, ergueram-se pontes entre a Literatura, a Ilustração e as Artes Plásticas, com a presença de escritores

e cartunistas nacionais e estrangeiros de prestígio internacional. Guilherme d’Oliveira Martins, coordenador nacional do Ano Europeu do Património Cultural (2018) encerrou o FLIQ invocando nomes como Maria Keil, Bernardo Marques, José Carlos Fernandes e Luís Guerreiro que, nas suas palavras, “é ainda alma deste Festival”. Colocado abaixo - o cartaz do FLIQ 2018 - será sempre indício do que foi partilhado e vivenciado em Querença mas, para complementá-lo, a newsletter n.º 15 reúne todas as entrevistas concedidas pelos participantes, no âmbito da cobertura audiovisual efectuada. Porque só alguns minutos de cada uma farão parte da edição final desse filme, considera-se pertinente registar a versão integral desses testemunhos gravados em vídeo. Fazemos notar que, apesar de significativo, este conjunto de entrevistas representa apenas uma parte das intervenções. O mosaico justo da terceira edição será apresentado futuramente no Catálogo FLIQ 2018, prolongando a Celebração do Livro e da Leitura, como é matriz deste Festival. Para já: as Palavras Ditas em comunhão com o Outro, com a Poesia, com a Arte, com a Cultura. Marinela Malveiro

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GABRIEL GUERREIRO GONÇALVES PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO MANUEL VIEGAS GUERREIRO

De que importância se revestiu esta edição do FLIQ? Além da homenagem ao grande escritor Gastão Cruz, com a presença do ministro da Cultura na sede do FLIQ - a Fundação Manuel Viegas Guerreiro - o Festival também se realizou por homenagem ao seu mentor. O FLIQ é uma ideia do Luís Guerreiro e nós queremos naturalmente respeitar a sua memória no ano em que ele nos falta pela primeira vez. Que balanço faz do Festival? Acho que foi altamente positivo. Por aquilo que me é dado perceber e pelas pessoas com quem tenho contactado, acho que este foi um Festival gratificante para todos. O FLIQ foi variado, é um Festival diferente dos outros que existem no Algarve. Numa altura em que há muita oferta, conseguimos ter sala cheia nos três dias o que mostra que as pessoas aderiram e que

continuam a aderir cada vez mais a esta iniciativa da Fundação. Sente que o FLIQ colocou Querença no mapa cultural português? Sim. O FLIQ já consegue atingir público do país inteiro e, sobretudo no Verão, porque muitas pessoas estão de férias no Algarve, optam por visitar-nos. Outras há que se vão informando e cada vez mais esta onda vai crescendo. Para isso também contribuirá o apoio que temos tido de todos os que nos acompanham. Naturalmente, da Câmara Municipal de Loulé, sem a qual o FLIQ não seria o mesmo e de todos Os que participaram. Os conferencistas fizeram-no de forma desinteressada, não podemos omiti-lo. O interesse deles é o interesse pela cultura e também pela imagem do nosso patrono, o professor Manuel Viegas Guerreiro.

Atribuição de certificados de participação na acção Poesia do Mundo no Jardim Sensorial da FMVG. Mais de uma dezena de crianças e jovens leu poesia de países tão distantes como Nepal, Venezuela ou Cabo Verde. A leitura de poemas inéditos de Casimiro de Brito e de Teresa Rita Lopes, escritores homenageados nas anteriores edições do FLIQ, abriu a edição deste ano.

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HOMENGAEM

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newsletter n.º 15 Jul.-Set./2018

Gastão Cruz, escritor homenageado no FLIQ 2018, com Miguel Casado, tradutor da sua obra para espanhol e a escritora Lídia Jorge, moderadora do painel Palavras Justas

LÍDIA JORGE E SCRITORA O que mais gostou no FLIQ 2018? Gostei de ir ao encontro de um grande poeta contemporâneo que é Gastão Cruz e ver que tanta gente é capaz de fazer uma síntese magnífica daquilo que tem sido o seu contributo como poeta, como “criador de coisas novas”, tal como disse o Fernando Cabral Martins. Gostei de ver como o poeta tem pensado a poesia e criado elementos para que outros possam também expressar a poesia. Gastão Cruz é um poeta total. Foi muito emocionante perceber ao vivo como ele se fez poeta. Foi um momento magnífico aquele em que fez a revisão da sua infância e adolescência e acabou por mostrar como a poesia se foi depositando ao longo dos anos na sua vida. Explicou de que forma é que quis ser um poeta que ultrapassasse a tradição, aquilo que lhe tinha sido ensinado. Esse percurso foi maravilhoso de ouvir. Além do facto de constatar o significado que Gastão Cruz tem para grandes ensaístas e grandes poetas como é o caso de Miguel Casado ou de António Carlos Cortez. Para mim, foi revisitar um dos grandes poetas da minha geração e isso não tem preço. Que importância tem, na sua opinião, o FLIQ realizar-se na casa de Manuel Viegas Guerreiro? O FLIQ está a encaminhar-se para ser um local modesto mas de celebração da poesia e tem público. Saber que a poesia não reúne um público muito grande e que aqui se reúnem pessoas para ouvir falar de poesia é muito importante. Temos de compreender que a poesia não é para grandes auditórios. Eu acho que este é o espaço certo para a ambição certa.

Gostaria de acrescentar algo mais? Sim. Dizer que oxalá que o FLIQ continue a ser o local que homenageie ano após ano a poesia, os poetas, e que a partir dessas homenagens se expanda uma espécie de escola de leitura de poesia. O Algarve é uma zona que tem falhas culturais muito intensas ao nível da leitura e há um grande esforço para inverter esse caminho, mas está a ser muito difícil. Não sabemos se estamos a ganhar ou a perder leitores. É um momento de grande perplexidade e eu desejo que Querença seja um exemplo de tenacidade no sentido de apostar na modificação dos cidadãos através da leitura, da poesia que engrandece as pessoas e as torna distintas e diferentes. Esta edição também foi uma forma de homenagear Luís Guerreiro… Luís Guerreiro deixou uma marca fundamental e é difícil encontrar meios que permitam dar a ver aos que o não conheceram, a pessoa que era. Ele era uma memória viva, alguém que detinha uma sabedoria história e episódica extraordinária, e ao mesmo tempo um criador de acontecimentos. Não se tratava de alguém que apenas olhasse para a História de modo estático. Luís Guerreiro pretendia, com a sabedoria colhida do estudo do passado, compreender o presente e construir uma proposta de futuro. Esta iniciativa de Luís Guerreiro, em particular, toca-me profundamente. Ela vem ao encontro daquilo que considero ser uma aspiração importante, uma tentativa de criar leitores, de dar a ler livros literários. Como tal, agradeço-lhe por ter tido esse sonho, por ter existido, e lamento, enquanto estiver viva, que tenha partido tão cedo.

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LUÍS FILIPE DE CASTRO MENDES

GASTÃO CRUZ E SCRITOR

Que balanço faz do FLIQ? O FLIQ é importante. Além desta homenagem a Gastão Cruz inclui a apresentação de cartunistas, de cartunistas que estiveram exilados e por isso é um Festival importante, que saúdo. Mas queria sublinhar sobretudo a importância da poe-

Como tem sido revisitar a sua vida e obra a partir desta homenagem? Estes momentos são sempre uma oportunidade para falarmos das nossas ideias sobre determinado assunto, neste caso, a poesia, e desenvolver um pouco os nossos pontos de vista. No fundo, dar a nossa visão daquilo que fizemos e da maneira como o encaramos. Como é que o poeta está a viver o FLIQ? Acho óptimo. Considero que estas iniciativas são muito úteis e a assistência foi bastante numerosa. Esperemos que mais pessoas continuem a vir ver a exposição. Foi uma experiência positiva. Como vê a poesia actualmente? O que gostaria que esta alcançasse? Eu diria que é muito importante pensar a poesia e que cada poeta tem de pensar a poesia sozinho. Cada um tem de descobrir a sua forma de fazer, a elaboração da sua escrita. Primeiro a descoberta e depois a consolidação de uma voz pessoal. Se as criações não forem absolutamente originais e inconfundíveis, acabarão por ser irrelevantes. Como foi para si constatar que a sua poesia toca tantas pessoas? Julgo que o número de leitores de poesia é menor do que parece, pelo menos o número de leitores atentos. O Herberto Helder costumava dizer que é quase tão difícil encontrar um bom leitor de poesia como encontrar um bom poeta.

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MINISTRO DA CULTURA

Atribuição da Medalha de Mérito Cultural a Gastão Cruz

sia de Gastão Cruz. Quis associar-me a esta homenagem que o Algarve, que Querença lhe faz, trazendo a Medalha de Mérito Cultural do Governo português. Tive um grande gosto em vir aqui prestar este tributo ao grande poeta que é Gastão Cruz. E não resistiu a ler alguns poemas… Claro, porque eu gosto sempre de ler poesia. Li três poemas do Gastão Cruz que me pareceram representar bem determinadas fases da evolução poética dele e voltarei certamente mais vezes aqui, à Fundação.

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Momentos da Homenagem a Gastão Cruz na FMVG

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newsletter n.º 15 Jul.-Set./2018

NUNO BICHO

ARQUEOLOGIA DA UNIVERSIDADE DO ALGARVE E DIR. DO ICAREB - INTERDISCIPLINARY CENTER FOR ARCHAEOLOGY AND EVOLUTION OF HUMAN BEHAVIOUR

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PATRIMÓNIO

PROFESSOR DE

mostra uma visão que não era muito frequente na altura. Em Portugal, não era de todo e a nível mundial não era muito frequente existir. Aquela visão de conjunto que lhe permitiu viajar e tocar em meia dúzia de pontos na África Austral é absolutamente fundamental para aquilo que nós sabemos hoje. Qual é para si a importância deste Festival? Este Festival mostra a capacidade aglutinadora que a Fundação tem e que é de realçar sem dúvida nenhuma, porque dá oportunidade a um conjunto muito diverso de pessoas, umas com mais experiência e outras mais jovens, de mostrar que fazem parte da cultura do Algarve e desta região em particular.

“A

INTERVENÇÃO DE MANUEL VIEGAS GUERREIRO NO NOSSO PASSADO FOI MAIS IMPORTANTE DO QUE APARENTEMENTE CONHECÍAMOS ”

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O que destacaria da apresentação que fez dos slides captados por Manuel Viegas Guerreiro em África? Talvez que a intervenção de Manuel Viegas Guerreiro no nosso passado foi mais importante do que aparentemente conhecíamos. Tivemos oportunidade de ver isso através da colecção de slides que ele tirou, entre 1957 e 1960, a um conjunto de jazidas arqueológicas em África que vão desde Angola, em tor no da África Austral até chegar à zona de Cabo Delgado, a Moçambique. Informação que tem estado mais ou menos escondida até agora. O que trouxeram de novo as incursões de MVG em África? Manuel Viegas Guerreiro conseguiu mostrar um conjunto muito diverso de pinturas rupestres. Algumas já se conheciam, outras não, mas o total mostra uma diversidade que é muito importante na pré-História africana. Há algum pormenor científico que queira destacar? Não há nenhum caso em especial. Este é o conjunto que

Projecção de slides comentada por Nuno Bicho: Arte Rupestre em África e Grutas das Solestreiras, Querença

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GUILHERME D’ OLIVEIRA MARTINS ADMIN. EXECUTIVO DA FUNDAÇÃO

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CALOUSTE GULBENKIAN E COORDENADOR NACIONAL DO ANO EUROPEU DO PATRIMÓNIO CULTURAL 2018

cia de artistas plásticos que deram o seu testemunho e, simultaneamente, a própria literatura clássica, a ilustração e a invocação de artistas como Tóssan, Bernardo Marques e Maria Keil: algarvios que se afirmaram ao longo do séc. XX como figuras que associaram sempre a Literatura e a Ilustração. Salientou também o papel de Luís Guerreiro no FLIQ e o patrono desta Fundação... Naturalmente que não podemos esquecer antes de tudo uma figura que admiro muito, que conheci pessoalmente, o professor Manuel Viegas Guerreiro, patrono desta Fundação e quando eu referi que o FLIQ de 2018 anuncia já o FLIQ dos próximos anos não pude deixar de invocar aqui a sementeira deixada pelo nosso querido e saudoso Luís Guerreiro que está bem presente na nossa memória, que não esquecemos e que é ainda alma deste Festival. Em suma, o FLIQ 2018 ligou várias memórias e invocou especialmente a importância deste Ano Europeu do Património Cultural e da Convenção de Faro do Conselho da Europa sobre o valor do Património Cultural na sociedade contemporânea.

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Qual a importância desta edição do FLIQ? Este FLIQ 2018 começa por ser uma homenagem justíssima a Gastão Cruz. Não podemos esquecer que é uma das grandes referências da nossa literatura e da nossa cultura e que a Poesia 61 nasceu aqui no Algarve, tendo como referência óbvia António Ramos Rosa e todos aqueles que constituíram essa equipa. Lembrámos Gastão Cruz e foi algo de muito emocionante que aqui tivemos, com a presença do Sr. Ministro da Cultura, o embaixador Luís Filipe de Castro Mendes. O FLIQ ligou este ano Literatura e Ilustração. Ligou afinal aquilo que é a 9.ª arte que se soma à 7.ª que é o cinema, à 8.ª que é a fotografia. A 9.ª que é o cartoon e, neste aspeto, não podemos esquecer a imagem de marca do FLIQ que é a ilustração de José Carlos Fernandes. Falar de José Carlos Fernandes é falar de um artista de projeção internacional que é no entanto daqui, de Querença, onde vive e onde faz questão de se manter com a sua modéstia mas - repito - é um artista de projeção internacional. Tivemos intervenções de grande qualidade, em vários registos. A questão da liberdade criadora, designadamente com a referên-

João Paulo trouxe o Boneco e o Jeremias a Querença e ao FLIQ 2018

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Desenho de José Carlos Fernandes em Querença durante o FLIQ 2018


Como é usar a Magia de un Lapiz como intervenção política? novas gerações desenhar a nova construção da Venezuela. No meu caso, a caricatura é um poder, uma responsabilidade, Que importância tem para si o FLIQ? Estar aqui e partilhar a um número infinito de possibilidades de combinar a criativida- sua experiência? de e a inteligência com a realidade de um país ou do mundo, Estou muito agradecida pelo espaço, pelo convite, por poder ao nível internacional. É o simplificar num quadro e o poder partilhar com todas as pessoas do Festival, porque definitivaconseguir essa cumplicidade entre os leitores e o caricaturista. mente o mais importante para os povos é criar cultura, para É uma forma de traduzir o mundo, de desenhar esse quadro possibilitar que uma criança possa entender que um lápis tem que representa a vida quotidiana e as notícias. a magia da criação. Há crianças que antes de terem um lápis Pode contar a sua experiência na Venezuela? na sua mão têm uma arma de destruição e há muitos países Trabalho há muitos anos como editorialista, caricaturista que estão a viver esse processo. Somente com a Cultura popolítica. Trabalhei 19 anos na Venezuela, num dos princidemos dar esses pequenos passos e mudar o mundo. pais jornais diários do país, traduzindo todo este processo político, esta transformação de uma democracia em ditadura, numa narco-ditadura mais concretamente e que não tem sido boa para o nosso país. A minha experiência tem sido de muita aprendizagem, nunca pensei que iria desenhar sobre a destruição de muitos valores tão importantes do meu país. É uma experiência que fortalece a vida civil e também as ideias e a responsabilidade de termos de trabalhar com a opinião no dia a dia, porque as opiniões nos países totalitários têm um preço que nem sempre é agradável. No meu caso, fui ameaçada, expulsa e tive que sair do meu país. Que desenhos fez que a levaram à expulsão? Foi um conjunto de cartoons como a Paciência e a Ditadura, criados com a assinatura do defunto presidente [Hugo] Chavez nos quais criticava o estado de saúde na Venezuela. Não há medicamentos. As pessoas morrem por não ter antibióticos, diálise. Isto é uma forma de genocídio, de matar a população e, no meu trabalho, expressei tudo isso. O governo CARTUNISTA não concordou que o meu trabalho deveria prosseguir e nesse ano, em 2014, o jornal foi comprado por um consórcio fantasma representado pelo governo, tornando-se o meu trabalho muito mais desagradável para eles, muito mais perigoso ao ser um espelho, uma representação gráfica do quotidiano. Pode falar-nos de alguns dos seus desenhos? Sim. Tocou-me muito desenhar a personalidade do presidente defunto Chavez. Todo o seu narcisismo, todo o totalitarismo que se gerou, as mudanças na Constituição. A economia, que veio deteriorar as condições sociais. Também a resistência do povo venezuelano perante um Estado que tem muito poder. As famílias que tentam proteger-se dentro de um sistema complicado. Trata-se de dar um certo ânimo e apoio aos verdadeiros valores venezuelanos que têm que ver com aqueles que nasceram em democracia. Eu nasci em democracia e a minha mente está estruturada democraticamente, portanto custa-me muito mais entender que já não se possa fazer certas coisas, que ser jornalista implica ser valente, ser alvo de golpes em manifestações. Não só os que fazem cartoons mas os que tiram fotografias e que escrevem. Havia uma série enorme de atropelos que é o que consiste em desmontar a democracia e que me tocou a mim desenhar. Espero que em algum momento me caiba a mim e às VP

ILUSTRAÇÃO

newsletter n.º 15 Jul.-Set./2018

RAYMA SUPRANI

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“SOMENTE COM A CULTURA

MUNDO ”

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PODEMOS MUDAR O

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CRISTINA SAMPAIO

O que tenta passar através do seu traço, dos seus desenhos? Eu tenho uma visão sobre o mundo que nos rodeia e os meus desenhos tentam dar a minha visão crítica sobre essas temáticas, seja a dos refugiados, do aborto, liberdade de expressão, ambiente, violência doméstica. Uma imagem vale mais do que mil palavras? Não sei. Penso que a imagem pode ser universal no sentido em que não precisa de uma Língua. No entanto, há cartoons com legendas, com texto, mas os cartoons sem palavras são de facto universais. Apesar da imagem poder ser entendida por povos diferentes, acho que a escrita tem um papel muito importante que não é substituído pela imagem. Pressuposto que não retira importância ao cartoon, desde o séc. XIX, altura em que começam a aparecer os primeiros jornais e também os artistas e desenhadores com uma visão irónica e provocadora. O cartoon tem um papel muito especial porque tenta obrigar a pensar de maneira diferente dando uma imagem que não é a imagem convencional sobre as coisas. Como é que foi para si esta experiência no FLIQ, de juntar o tema da Literatura e da Ilustração em Querença? Parece-lhe importante? Foi importante assistir à comunicação da Rayma. Já conhecia o seu trabalho, no entanto, foi a oportunidade de ver esse resumo da sua actividade e do papel dos seus cartoons, assim como os da Cécile e, naturalmente, apresentar o meu. Digamos que o tema Literatura esteve um pouco desviado. Quando pensamos em ilustração e literatura julgo que se pensa mais em ilustração infantil, ligada directamente aos livros, mas considero que foi uma iniciativa muito boa. O convite endereçado aos cartunistas foi interessante porque é uma forma diferente de abordar o assunto. Também acho importante destacar o facto de serem sido escolhidas três mulheres. Normalmente são os homens que opinam à esquerda e à direita!

CARTUNISTA

De que forma é que tenta abordar os temas mais polémicos? Recordo-me daquele que retrata o novo aeroporto de Lisboa. A minha linguagem do cartoon tenta encontrar um pequeno detalhe humorístico que faça sorrir. No caso do novo aeroporto de Lisboa, até já tinha feito um desenho sobre o tema (e quando este se repete até se torna um pouco mais complicado.) Mas quando se falou no facto do aeroporto ser no Montijo, do lado de lá do rio, lembrei-me do facto de haver uma imagem forte. Acho que é uma ginástica que nós temos e que também se pratica.

“ DETALHE

HUMORÍSTICO QUE FAÇA SORRIR ”

Lembrei-me que o Cristo Rei poderia ser um controlador aéreo, com os protectores auriculares, ironizando. Mas o exemplo não evidencia a minha posição em relação ao aeroporto: o facto de ser no Montijo, numa reserva natural, a falta de estudos nessa matéria… Nesse sentido, este cartoon é mais lúdico, poderemos dizer. Num exemplo mais recente - o da chupeta feita de arame farpado - represento toda a violência da separação das crianças dos seus pais, como estava a acontecer na fronteira com o México por ordem de [Donald] Trump. Creio que a chupeta com a imagem da bandeira dos Estados Unidos é elucidativa… o colocar de arame farpado para calar a criança.

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CÉCILE BERTRAND CARTUNISTA O que significa para si desenhar o mundo? Eu diria que quanto mais anos tenho, mais difícil considero desenhar o mundo, porque tudo o que fazemos é visível em tempo real. Cada desenho que fazemos pode viajar pelo mundo inteiro e é por isso que há problemas, porque podemos ofender pessoas, porque não podemos conhecer todas as culturas. Já o disse várias vezes: antigamente eu trabalhava para um jornal que era lido pelos belgas, ponto final. Hoje os meus desenhos são vistos em todo o mundo o que me parece particularmente difícil. Considero que foi isso que fez com que houvesse tanta polémica com caricaturas controversas. O que é aconteceu com essas caricaturas? Foram instrumentalizadas por alguém num determinado meio e foi assim que tudo começou. Pode contar-nos um pouco da sua experiência com o desenho religioso? Na Bélgica é difícil desenhar sobre a religião, entre outros motivos, porque o meu jornal é de base católica. Por isso, para um redactor-chefe, é difícil ser crítico sobre a religião. Também é preciso que se diga que houve muitos problemas com a religião e a pedofilia e eu não podia deixar de desenhar sobre esses temas. É verdade que fui muito censurada sobre essa temática. Que importância atribui ao cartunista? Penso que temos uma certa qualidade, que é enorme. Temos um desenho que resume uma situação. É como um editorial que pode não ser lido por ser demasiado longo. O desenho é a primeira coisa que se vê num jornal, por isso acho que temos uma importância sagrada. É um pouco o quarto poder da Comunicação Social, mas em imagem… Sim. É o que toda a gente procura: o que o desenhador fez hoje, sobre aquilo que se passou ontem. Que memórias irá guardar deste FLIQ?

“ FUI

MUITO CENSURADA SOBRE ESSE TEMA”

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Muito calor, muita hospitalidade. Fomos verdadeiramente muito bem recebidos. Gostei imenso do piano e do artista que desenhava no grande ecrã. Achei que a ligação entre a música, a literatura e o desenho esteve verdadeiramente perfeita. A literatura e a ilustração. É importante trazê-las a uma pequena aldeia? É sempre importante, mas não tenho a certeza se será fácil para os portugueses virem cá, sobretudo com o calor que se fez sentir. Penso que seria importante ter mais FLIQ por todo o Portugal (é engraçado porque, em francês, FLIQ com C quer dizer policiais). Seria bom que se pudessem multiplicar!

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EFÉMERO

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EDUARDO SALAVISA

DESENHADOR DO QUOTIDIANO

O que é Desenhar o Mundo? Desenhar o Mundo é muito simples. Gosto de uma frase de Siza Vieira em que ele diz que gosta de viajar sem mapa, no sentido em que não leva ideias pré-concebidas, simplesmente anda e desenha o que aparece. É como se ele fosse um descobridor. Eu também faço isso, andar sem planos, o mínimo de planos. Claro que também é bom saber alguma coisa sobre o sítio, senão há muitas coisas que nos passam ao lado. Quando desenha cria vários pontos de vista. É importante mostrar nos seus desenhos que está ali? Há uma coisa que é muito importante, que é desenhar sem a ideia de mostrar aos outros, de fazer o desenho perfeito, aquele que se põe na parede e com o qual se faz uma exposição. Considero esse um bom princípio. Dá-nos uma liberdade incrível. Podemos fazer o que quisermos, enganarmo-nos as vezes que quisermos, o que faz com que, na minha opinião, os

desenhos tenham mais força e mais densidade. Que importância teve a conferência Como Desenhar o Mundo, com todas as diferentes opiniões e experiências para dar a conhecer a realidade? Acho incrível os cartunistas fazerem esse olhar crítico. Tal como uma pessoa da assistência estava a dizer, há sempre uma censura e as pessoas auto censuram-se mas, ter a coragem de dar a opinião… é preciso ter essa coragem, porque há tantas outras pessoas que não vão concordar com essa expressão, com essa opinião. Qual a importância da realização de festivais com esta natureza numa aldeia como Querença? Acho da máxima importância e é muito interessante terem conciliado a literatura, a ilustração e a música. Estes festivais são incríveis e muito importantes para as pequenas localidades. Às vezes, a arte é tida como um pequeno acessório quando deve ser um impulsionador das localidades.

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ANTÓNIO JORGE GONÇALVES, PERFORMER DIGITAL & FILIPE RAPOSO, PIANISTA Como foi ter a Fundação como cenário e palco a 4 mãos? António Jorge Gonçalves - É uma inspiração muito própria. Para mim é sempre muito caro estar em espaços abertos e espaços exteriores como este. Até para as pessoas que estão cá fora, porque um espaço aberto é um espaço público, é um espaço de que nós nos apropriamos e que sentimos como nosso. Às vezes, quando estamos dentro de um auditório ou dentro de uma sala há uma série de convenções sociais, uma certa intimidação que nós temos enquanto público. Se estamos a comportarmo-nos bem, se é isto que as pessoas esperam que estejamos a fazer nesse espaço. No espaço exterior, há uma grande democracia e foi isso que sentimos esta noite. Não só uma certa informalidade mas também a disponibilidade de todos os que cá estiveram - no exterior - a assistir ao espectáculo. Filipe Raposo - Nós partimos como o desenhador começa, com uma folha em branco e é precisamente a tela em branco que o António tem que é, para mim, a partitura em branco. O que acontece é que nós vamos construindo esta partitura, este encadear de imagens sonoras e visuais que vão formando uma narrativa que é sempre inesperada, que nunca se repete. É engraçado porque muitas destas histórias resultam também da viagem que nós vamos fazendo até aqui. Coisas de que vamos falando durante o dia e o que acontece aqui é sobre essas partilhas. Este trabalho resulta verdadeiramente da partilha. É uma partilha da amizade, da relação, mas também uma partilha artística muito grande. Tentaram passar alguma mensagem especial no FLIQ? AJG - Nós não pensamos premeditadamente. Como este trabalho é de composição espontânea, como o Filipe estava a dizer, todos os assuntos são convocados. Muitas vezes não me lembro de muitas coisas que acontecem no espectáculo mas lembro-me, por exemplo, da surpresa do início. Tudo indicaria que ia começar com uma certa calma, de uma forma pacífica mas, de repente, fui impelido inconscientemente para cores quentes e não pude deixar de “ver” o fogo. Há um incêndio muito grande a não muita distância daqui e tudo isso nos traz, não só a memória do ano passado mas também deste ano. Não viemos para aqui deliberadamente a pensar:

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“vamos falar disto ou daquilo”, mas é verdade que houve temas que foram convocados como o Filipe diz, que nós temos discutido, questões existenciais, factos que estão a acontecer, também algumas questões políticas. A ideia é que nós, neste tipo de atitude e de disponibilidade para o improviso,

“ENCONTRO

DA CULTURA, DA SENSIBILIDADE E DA REFLEXÃO ”

estejamos abertos para convocar o mundo todo que exista neste momento para aqui. Reconhece esta como uma actuação especial por ter acontecido no FLIQ, em Querença, no interior do Algarve? FR - O facto de estarmos num Festival Literário é um motivo de grande alegria, ou seja, estes festivais congregam também público sensível para aquilo que nós estamos a fazer e estabelece-se uma espécie de comunhão. Nós sentimos verdadeiramente essa ligação. Eu senti, particularmente a partir do momento em que essa primeira imagem é gerada, que o primeiro som é gerado. No fundo, é a ideia de criação e de estarmos todos a assistir a essa criação, num acto de comunhão absoluta... AJG – … e este espaço sente-se. Sentimo-lo desde que chegámos ontem. É um espaço que nos predispõe, em que sentimos que houve um investimento de pessoas, de construir um sítio de encontro da cultura, da sensibilidade e da reflexão e isso é especial. Eu não gosto de apresentar espectáculos em todo o tipo de locais mas aqui sentimos, desde o primeiro minuto, que havia um foco e um contexto, o que para nós é óptimo, é fantástico.


LEITURAS

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PALAVRAS

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Oficina Artesanal de Composição Gráfica dinamizada por Susana Calado e Marco Santos

MARCO SANTOS BARROCA, PRODUTOS

CULTURAIS E TURÍSTICOS A Oficina Artesanal de Composição Gráfica decorre ao longo do FLIQ. Pode descrever-nos o projecto? Estamos a dinamizar uma oficina não só de carimbos mas também de pintura, porque é esse o trabalho que temos vindo a desenvolver em Querença e um pouco por todo o barrocal, no âmbito dos caminhos da cal e do barro. O nosso material de eleição é a cal, uma tradição que desapareceu e que queremos, não reavivar mas, não perder a memória. Escolhemos uma abordagem menos convencional, ou seja, fazer os carimbos com tintas de cal.

Como constatámos que não estava a resultava da melhor forma, optámos por outros materiais naturais, também cá existentes, neste caso, o azeite. Como estão a decorrer as actividades? Primeiro explicamos aos jovens que antes da escrita digital as palavras eram compostas como estão a ser feitas aqui. Têm que usar tipos para compor as palavras, colocadas ao contrário e só quando as transportam para o papel é que elas ficavam na posição correcta. O nosso objectivo é mostrar-lhes também como a partir de coisas simples podemos fazer actividades muito divertidas. Técnicas simples mas que são seculares. Quando perguntamos às gerações mais jovens o que é a cal, eles não sabem. Temos que passar à pergunta seguinte: “o que é o calcário?”

e dizer que é a partir deste que se faz a cal. Como já poucos usam a cal, muito do nosso trabalho passa por aí, pela sensibilização patrimonial. Os miúdos gostam da experiência? Não temos tido muitas reclamações (risos). Os miúdos gostam porque é diferente. Na maior parte das oficinas usam-se tintas convencionais, guaches ou acrílicos e aqui eles fazem uma tinta de raiz com produtos naturais: terra, cal, água, azeite, óleo de linhaça. Além de trabalharmos com produtos de confiança, que não causam alergias. Eles têm achado divertido e sempre extravasa um pouco aquilo que é usar a tinta que já está preparada na embalagem, colocar no papel, deslizar o pincel e está feito. Aqui têm que a criar e isso tem sido divertido.

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Abertura do FLIQ 2018: Poesia do Mundo reuniu jovens imigrantes em torno da leitura de poemas. Nepalês, crioulo (de Cabo Verde e da Guiné Bissau) e castelhano estiveram entre os idiomas escutados.

NELSON HORTA PROJECTO LOULÉ SEM FRONTEIRAS FUNDAÇÃO ANTÓNIO ALEIXO

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O que têm em comum as oito nacionalidades aqui representadas por mais de 10 jovens? Este projecto com diferentes nacionalidades tem em comum o amor pelo livro. E têm aqui uma forma de trocarem experiências e culturas diferentes… Precisamente. Este é um encontro de imigrantes,

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nacionais de países terceiros que optaram por residir em Loulé. Saíram do seu país pelas mais variadas razões e o nosso objectivo é fomentar a integração destes agregados de imigrantes a

todos os níveis. Hoje é mais um exemplo em que estão juntos mas pela língua literária. Neste caso, poesia: Poesia do Mundo por várias nacionalidades e foi este o resultado final: brilhante!


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PERE FERRÉ

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SÍNTESE

PROFESSOR CATEDRÁTICO UNIVERSIDADE DO ALGARVE E MEMBRO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA FUNDAÇÃO MVG

já fez com que - só por esse instante este festival ficasse na história dos festivais até agora organizados. Destaco, também a extrema diversidade que presidiu a esta edição. Foram feitas pontes entre a imagem, a palavra escrita e a voz, para além, claro, da presença da música. Em três dias tentou-se fazer muita coisa, o que às vezes dificultou a presença de todos quantos queriam participar e poder assistir a ca-

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Que balanço é que faz do 3.º FLIQ? Faço um balanço francamente positivo. Considero que este foi, dos três festivais já realizados, um dos melhor conseguidos. Teve evidentemente um momento muito elevado, sem desprimor para as restantes intervenções que ouvimos durante estes dias: o acto em que se homenageou um dos maiores poetas vivos da língua portuguesa, Gastão Cruz. Esse momento alto, como dizia,

da evento. Contudo, repito, como nota final, este foi por ventura o melhor dos festivais até agora organizados e portanto, desta maneira, creio que a Fundação rendeu homenagem também ao que foi até há pouco tempo o seu Presidente, infelizmente já falecido, o Eng.º Luís Guerreiro que a nossa memória conserva e que este Festival evocou.

VÍTOR ALEIXO

PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE LOULÉ

Gabriel Guerreiro Gonçalves, presidente da FMVG e Vítor Aleixo, presidente da CML

Qual o balanço que faz desta edição do FLIQ? Esta edição, a 3.ª, colocou mais uma vez Querença e a Fundação Manuel Viegas Guerreiro, sede do FLIQ, na vida cultural do país por tudo aquilo

que aqui aconteceu, desde a homenagem ao poeta algarvio e farense Gastão Cruz aos vários debates e reflexões com a presença de críticos literários e poetas. Ao longo de três dias houve acontecimentos bastantes

que tornaram esta terceira edição do FLIQ um acontecimento muito importante e motivador para continuarmos a pensar em próximas edições. ´ A presença do Ministro da Cultura terá sido marcante… (Cont. pág. 19) www.fundacao-mvg.pt


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(continuação pág. 18) Diria que foi o momento mais importante do FLIQ, com o reconhecimento e a atribuição da Medalha de Mérito Cultural ao poeta Gastão Cruz na presença do Sr. Ministro da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes. Também é bom que se fale da grande homenagem àquele que é um poeta, um ilustrador, um gráfico, um humorista, um homem absolutamente fantástico e que tive o privilégio de conhecer, o Tóssan. Foi aqui apresentada uma monografia com as suas ilustrações, foi mostrado um filme do Rui Sena e penso que esse também foi, para mim e do ponto de vista

Aleixo, meu avô, mas foi muito mais do que isso e esse é um trabalho que está ainda por fazer, mas que a Fundação e a Câmara Municipal de Loulé irão com certeza honrar no futuro. Quer destacar outros momentos? Tivemos a presença de vários críticos literários, professores universitários, actores. Essencialmente é importante que a literatura seja tratada, no concelho de Loulé, no Algarve, e que seja divulgada. Que os nossos poetas e escritores possam ser o centro destes encontros literários e que nós também possamos cada vez mais colocar a tónica do trabalho autárquico nesta questão da cultura e, muito particularmente, da literatura. Eu considero isso muito importante porque é isso ENHO UMA CONVICÇÃO que deixa marca. É isso que se inscreve na consENORME DO BEM QUE ciência das pessoas, sobretudo dos jovens e eu PODE TRAZER À VIDA tenho uma convicção enorme do bem que pode trazer à vida da nossa comunidade, a cultura dos DA NOSSA COMUNIDADE valores literários. A CULTURA DOS Na exposição documental dedicada a Gastão VALORES LITERÁRIOS Cruz, o escritor é visto como um agitador de pensamento. O FLIQ poderá ser um agitador do penafectivo, um momento de exaltação da sua perso- samento e das artes? nalidade e criatividade. Acho que podemos fazer Eu penso que toda a literatura tem essa vertente. muito mais, até porque ele é ainda relativamente A literatura trata a vida com a criatividade e a ori-

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não consigo dissociar essa minha convicção da minha acção como autarca. O município de Loulé valoriza tanto esta disciplina como tudo o que gravita em torno da si: a poesia, a banda desenhada, que o Professor Guilherme d’Oliveira Martins classificou no encerramento deste Festival como a 9.ª arte. Para concluir, acho que estamos perante um acontecimento que ainda tem muito para dar no futuro e nós vamos investir neste FLIQ, quem sabe se num conceito mais lato, mas quanto a isso estamos ainda a reflectir. Provavelmente, iremos ter novidades relativamente à literatura e à forma como este concelho celebra a literatura e os escritores. Este FLIQ foi também pensado por Luís Guerreiro, através da invocação de Tóssan, a homenagem a Gastão Cruz. Sente que estava aqui muito daquilo que ele pensava e que dava à Fundação? Acho que sim. Acho que o Luís Guerreiro está sempre presente. Ele era meu amigo, falávamos sobre os projectos da Fundação, também relativamente à personalidade do António Fernando Santos. Sempre entendemos que o Tóssan era um ilustre desconhecido na sua terra e que tínhamos a responsabilidade de fazer muito mais pela sua memória porque era um homem de grande valor.

desconhecido do país e da região da qual era natural. Os algarvios têm que conhecê-lo porque é uma personalidade deslumbrante. Tóssan é muito conhecido pelo papel importante que teve na colaboração e na amizade que ao longo da sua vida manteve com o poeta António

+351 289 422 607

ginalidade dos escritores que reflectem, que transfiguram a realidade, que interrogam. É uma ferramenta de conhecimento absolutamente extraordinária, tão importante como as disciplinas científicas. A literatura é também uma disciplina para o Conhecimento, riquíssima. Do meu ponto de vista,

O Luís Guerreiro que está indissociavelmente ligado a este Festival Literário, portanto, é também uma forma de prestarmos homenagem à sua personalidade e à sua memória em cada edição e muito concretamente nesta em que o Tóssan foi tema central.


MM

FOME EM QUERENÇA

MC

OUTROS EVENTOS

TEATRO MUSICAL NA FUNDAÇÃO

Karl Valentin Kabarett na Praça da Fundação MVG

Gustavo Tuti e um voluntário no espectáculo de Querença

Cerca de 300 pessoas estiveram na Praça da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, Querença, nas noites de 16 e 17 de Agosto, para assistir ao teatro musical Karl Valentin Kabarett, com textos do dramaturgo alemão Karl Valentin, considerado um dos grandes mestres da comédia do século XX, e encenação do quarteirense Ricardo Neves-Neves. O espectáculo reuniu 16 peças curtas do autor, cruzadas com repertório musical popular alemão, tendo sido protagonizado por 11 actores/cantores.

Querença foi palco do FOMe - Festival de Objectos e Marionetas & Outros Comeres. A tarde de 22 de Setembro encheu as medidas de várias gerações em Querença. Arte, humor e amor caracterizaram o espectáculo de marionetas de Gustavo Tuti Nuñe, prestigiado artista argentino, em Un Elefante Con Hambre. Ao longo do final da tarde desse sábado todos foram chamados a participar, transformando a actuação de Gustavo Tuti num espectáculo único e de grande proximidade com o público.

PRÓXIMA LEITURA DE POESIA DE GASTÃO CRUZ COM LUÍSA MONTEIRO, ESCRITORA E ENCENADORA: 27 DE OUTUBRO | 18H | FMVG

FICHA TÉCNICA | Edição: Fundação Manuel Viegas Guerreiro • Entrevistas: Patrícia Caetano • Textos e edição de entrevistas: Marinela Malveiro

Paginação: Marinela Malveiro • Fotografia: Margarida Correia, Marinela Malveiro e Vítor Pina • Desenho: Eduardo Salavisa Secretariado: Fátima Marques • Impressão: Gráfica Comercial Arnaldo Matos Pereira, Lda. Zona Industrial de Loulé Lt. 18, Loulé, Faro | T. 289 420 200


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