newsletter n.º4, Ago./2017
EXCLUSIVO CASIMIRO DE BRITO edita Poesia Completa pela IMPRENSA NACIONAL p.3-7
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CASIMIRO DE BRITO edita Poesia Completa pela IMPRENSA NACIONAL p.2-4
CENTRO DE ESTUDOS ALGARVIOS NO “PRELO” DO MUSEU DA IMPRENSA p.9-12 MEDIA DESTACAM FMVG Fundação com visibilidade em jornais como o Público, Correio da Manhã, Barlavento e revista Visão. p.2
VOTAÇÃO PARA OPP NA ALDEIA FMVG promove Hemeroteca Digital do Algarve e formação junto da comunidade de Querença. p.15-16
FMVG APOIA 530 ANOS DE LIVRO impresso no Algarve ao lado de UNL, DRCAlg, Município de Faro e Diocese do Algarve. p.12-14
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ABERTURA
FUNDAÇÃO MVG NA IMPRENSA
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A Fundação MVG orgulha-se de ter cativado o espaço da imprensa nacional e regional ao longo do mês de Julho. O seu presidente, Luís Guerreiro gerou três páginas no P2, Caderno do Público, como um dos “Sete Historiadores Amadores”, nome de um dossier temático encartado no jornal diário. Idálio Revez assina a peça que inclui, entre vários testemunhos, um texto da escritora Lídia Jorge. Na revista Visão, a Fundação é indicada como local de visita em
Querença, integrando assim o roteiro estival da publicação. A realização do Colóquio “Pentateuco: Comemoração dos 530 anos de livro impresso em Portugal” mereceu publicação no Correio da Manhã e no Barlavento, em suporte papel e digital. Surge profusamente no online: Sul Informação, Região Sul, Algarve Primeiro, Mais Algarve e Planeta Algarve são só alguns dos sites onde se pode ler a notícia sobre o anúncio do Museu de www.fundacao-mvg.pt | +351 289 422 607
Imprensa no Algarve e o alegado furto do Pentateuco da cidade de Faro, hoje preservado no British Museum. A candidatura da Hemeroteca Digital do Algarve ao Orçamento Participativo de Portugal também captou a atenção do Sul Informação que divulgou a natureza do projecto e o modo de votação, a decorrer até 15 de Setembro.
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ENTREVISTA A CASIMIRO DE BRITO ARTISTA E ARTESÃO DAS PALAVRAS Em primeira mão, Casimiro de Brito revela publicação da Obra Completa em Janeiro de 2018 pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Fala-nos do último livro e, tal como na sua poesia, responde-nos de forma depurada. A voz de Casimiro de Brito.
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Começamos por uma curiosidade: Há cerca de um ano foi homenageado pela FMVG, na edição de estreia do Festival Literário Internacional de Querença. Lembra-se de algum momento desse dia de Agosto ou o passado não o revisita? Tenho várias vidas. A do “agora” (a que mais me ocupa por ser resumo de todas as outras) mas também a do “passado”, passados seria melhor dito. Pois eles vão e vêm. Acontece que nesse dia foram tantos os momentos altos que não consigo distinguir uns dos outros, de tão rodeado por amigos me senti. E por aquelas terras onde passei alguns dos mais belos momentos da minha infância. Nessa homenagem, Maria João Cantinho enalteceu a sua poesia pobre, no sentido de que o que fica nos seus versos é o residual, o estritamente necessário. É também essa a sua leitura da
Casimiro de Brito em Querença, onde tem raízes por parte da mãe
poesia de Casimiro de Brito? A minha obra é enorme e, depois de ter editado milhares de páginas, tenho ainda por publicar mais de 20 livros. Mas procuro, a cada momento e desde sempre, aproximar-me do essencial, da arte pobre, do “pouco de pouco” (título de um dos meus livros mais raros), da depuração o mais rigorosa possível. É - tem sido o trabalho de uma vida. www.fundacao-mvg.pt | +351 289 422 607
Também se diz que a sua poesia “é feita de demora e de paciência”, no entanto, Casimiro tem uma obra vastíssima. Como define esse tempo necessário à transformação do mundo em palavras tão depuradas? Escrevo desde sempre. E aprendi muito cedo que a depuração, ainda que se tenha uma mente múltipla, é o caminho. Mas, mais do que um
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caminho ou um rio, é um não mais acabar de veredas e afluentes. Ainda hoje, para lhe dar um exemplo, trabalhei em três livros diferentes: no romance Uma Lágrima que Cega, no próximo volume de poemas e numa coisa que nunca ninguém fez (que eu saiba) em parte alguma: no meu “Dicionário Pessoal” que, neste momento, se aproxima das 800 páginas. Sente-se um artesão de palavras? Sim. Artista e artesão. Não acredito que o artista possa existir sem a mão cuidadosa do artesão. E o artesão sem arte (sem invenção) é coisa que não existe nesta lide que é a minha. O que mais o atrai? O fragmento ou a complexidade? Desde sempre, desde os meus 8 ou 9 anos, fui um admirador da síntese: e o meu primeiro mestre foi o António Aleixo. Quando um rio nasce (vi o Tejo nascer na serra de Guadarrama) é uma gota de água, uma série de gotas de água. Chamarei a isso fragmentos de água. Assim a poesia. Começa por ser um quase nada (isso a que chamam de “inspiração”) que depois se multiplica e se transforma, por vezes, num objecto muito complexo. Assim trabalho: atento à gota que nasce para depois a transformar, se possível, em rio ou, por que não, em
Casimiro de Brito durante a homenagem no FLIQ/16
gotas sem mais (os meus fragmentos, e vão milhares deles escritos). E, de entre os elementos da natureza, como explica a relevância da água que não raras vezes desagua na sua poesia? Bom, eu sou do Algarve e sempre amei esta realidade da nossa terra: a serra ao fundo e o mar a meus pés. A morte também se faz presente na sua escrita. É uma necessidade ou uma coincidência? A ideia da morte domina a minha obra literária mas, e desde sempre, sob a ideia (que se tornou obsessão) de uma morte feliz, já que “a morte não existe / tudo é canto e sexo”. E não é por acaso que o primeiro tomo da minha poesia completa (que terá mais de 800 páginas) se intitulará www.fundacao-mvg.pt | +351 289 422 607
Negação da Morte. O segundo terá por título Livro das Quedas e onde a ideia de morte, ainda e sempre feliz, naturalmente, campeará. A “morte eufórica”, que foi título de um dos meus livros de ficção. Casimiro de Brito já viveu em todos os continentes. Essa experiência e conhecimento são facilitadores do processo de purga do mundo que carrega em si para alcançar o rigor e a simplicidade dos seus versos? Sim. Quanto mais vivo, quanto mais amo, quanto mais viajo mais me aproximo do essencial que habita na diversidade. Como se, entrando nesses mundos, os trouxesse para dentro de mim - onde o espaço, sendo embora elástico, exige síntese, existe uma continuada depuração.
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"A poesia é uma flor volátil com raízes no mais profundo chão" poeta durante o seu período de actividade na banca? Digamos que consegui unir o que parecia impossível: um trabalho profissional árduo (mas extremamente inventivo já que, também enquanto bancário, inovei bastante e tive a sorte de me terem compreendido) sem deixar afundar-se a minha vocação poética: Foi talvez por isso que me habituei a escrever tudo o que ia pensando em papelinhos que depois trabalhava em casa. Num dado momento tive problemas políticos e o meu Banco manteve a confiança em mim, e
de tal modo que me promoveu a Director e me encarregou de abrir um Banco em Dusseldorf, na Alemanha. Sobre a importância de escutar o mundo e a relevância da música na sua vida, retemos aqui os seus versos: “A música derrama-se / no corpo terroso / da palavra. Inclina-se / no mundo em mutação / do poema.” Que músicas se ouvem nos seus poemas? A música deles, se forem poemas. Por isso se diz que os poetas cantam. O que se ouve é a fusão (jamais terminada) entre a música do mundo e a sua apreensão. Em que outros poetas “bebe” o Casimiro de Brito-leitor? Costumo dizer (aprendi com Jorge Luis Borges) que leio tudo: livros há (e autores) de que basta
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Fazemos agora a sua travessia pelo Oriente: Pode dizer-se que existe uma poesia britiana antes de conhecer a poesia japonesa e outra após conhecer o professor que lhe mostrou esse “mundo”? Sim. Ao tomar conhecimento da poesia japonesa, aos 20 anos, em Londres, entrou em mim um mundo novo. Ou, talvez: a descoberta de um mundo (o da essência, multiplicando-se; o da diversidade, tornando-se essência) que já existia em mim, latente. Mas também na nossa poesia, essencialmente nas maravilhosas “cantigas de amigo”, que o Prof. Stephen Reckert considera uma das quatro formas poéticas mais importantes de todos os tempos. Como conviveram o Casimiro bancário e o Casimiro
Durante a inauguração da exposição ENTRE MIL ÁGUAS: VIDA LITERÁRIA DE CASIMIRO DE BRITO, agora em "digressão" pelo país
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ler um poema (ou até um só verso, disse-me Borges, em Marraqueche) para ficar tudo lido, e passar adiante. E há os outros, os “meus” poetas, que se lêem sempre pela primeira vez. Ainda hoje estive a ler Jorge de Lima (um dos maiores poetas de língua portuguesa, ele é brasileiro) e foi como se tivesse mergulhado pela primeira vez nas águas da sua Invenção de Orfeu. Ou Rumi, um poeta afegão, do século XIII, autor de “rubayat”, que leio há 30 anos, mas sempre pela primeira vez. Ou o chinês Li Bai. Ou Ovídio, que leio desde sempre. Ou Shakespeare. Ou Homero. Ou Rilke. Ou Rimbaud. Em poesia bebo muito mas os meus álcoois são de primeiríssima água. Se a poesia é um mundo em mutação, de que forma esse mundo muda aquele em que vivemos, esse Mundo maior?
"O primeiro volume da minha poesia completa sairá em Janeiro de 2018, quando a editora faz 250 anos e eu 80"
A poesia é uma flor volátil com raízes no mais profundo chão. Ela começa por ser uma aparição que nos encandeia mas depois entramos nela, cada um à sua maneira, e é então que “o amador - como deixou dito Camões - se transforma na coisa amada” e o leitor se torna, ele também, uma outra espécie de poeta.
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Lembrando umas das questões levantadas durante o FLIQ/17, perguntamos: Que importância tem a poesia como “arma” contra a violência? A poesia é sempre uma arma contra a violência, umas vezes mais, outras vezes menos, o que depende também da apreensão do leitor, de cada leitor. Nos tempos do fascismo a minha poesia esteve sempre presente nessa luta e, por isso, tive livros meus proibidos pela censura de péssima memória. E eu próprio paguei o meu preço - mas sempre pude dar-lhe a volta. Mas a luta
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não acabou e agora (que temos mais informação) lidamos todos os dias com o perigo à escala global. Talvez a arte - a poesia, a música, a arte das imagens - nos ajude um pouco. E o Amor, tantas vezes por si “cantado”, deixará um dia de ser um enigma para si? Quando não há enigma não há amor. O amor é um arco-íris ilimitado ou então não é de amor que estamos a falar. Sendo a mais pobre das artes ela é também a mais nobre. Amor é quando não há passado nem futuro: amar é agora. Um animal de duas cabeças que buscam o fogo sagrado. E não se esgota: Ao amor falta sempre mais e mais amor. Enigma, disse? O enigma, em sânscrito, quer dizer: o real. Assemelha-se à poesia (ou a poesia ao amor) que, tal como o amor, é uma arte da respiração. Reconhecido internacionalmente, já recebeu diversos prémios, entre eles, o Grande Prémio de Poesia Associação Portuguesa de Escritores, o Prémio Versília, de Viareggio, para a "Melhor Obra Completa Estrangeira" e o Prémio de Poesia do P.E.N. Clube. Qual o significado que lhes atribui?
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Retrato tirado no FLIQ/16
Muito pouco. O meu melhor prémio é sentir que estou a ser lido porque há quem se reconheça na poesia que escrevo. Uma coisa próxima e não nas estrelas. Escrevendo poesia lembro o futuro. Música Nua é o seu mais recente livro. Depois de mais de 70 livros publicados, em mais de 30 línguas, o que representa para si este lançamento? É mais uma gota de água do meu rio, esse que tão generosamente me tem sido oferecido. Como descreve este livro? É o quarto volume do Livro das Quedas. Comecei a escrevê-lo no dia em que nasceu a minha filha Diana, há 21 anos.
É um canto - por enquanto em constante recomeço - da vida, essa que, sendo aqui e agora, é por igual eterna sempre que a nossa percepção se alarga para além do nosso pequeno espaço. “Um homem / vai no seu corpo / e subitamente / cai”, assim começa essa obra onde se canta de mil maneiras que o homem (e as p.2-4 outras coisas) cai para se levantar e continuar a cair e levantar-se ad aeternum. Casimiro de Brito recebeu recentemente um convite que lhe traz uma nova luz inspiradora: a publicação da sua obra completa. Pode falar-nos um pouco sobre como se deu esse feliz encontro? É uma coisa extraordinária essa de publicar na mais importante editora do país, a Imprensa Nacional, essa que só edita obras completas de poetas de longos em longos anos. Repare só quem foram os últimos em mais de 50 anos: Camilo Pessanha (o melhor poeta português), Fernando Pessoa (o maior), AlmadaNegreiros, José Régio, Vitorino Nemésio, Alexandre O’Neill. E Camões, claro. De algarvios só editaram dois autores: o poeta João Lúcio e o grande TeixeiraGomes. O primeiro volume da www.fundacao-mvg.pt | +351 289 422 607
minha poesia completa sairá em Janeiro de 2018, quando a editora faz 250 anos e eu 80. Para terminar: o que é para si escrever? Deixe-me citar um bocadinho do meu “Dicionário Pessoal”, há pouco referido:
ESCREVER Amo, logo escrevo. Arrancar uma certa música ao silêncio do corpo. Escrever é divagar por caminhos que não conheço. Escrevo como quem traduz de uma língua desconhecida. Escrevo devagar como se a morte não existisse. Não é uma missão mas não tenho mais nenhuma. Para quem escrevo não sei. Nem para quem respiro. Quando escrevo sou uma criança deslumbrada com o mundo.
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CASIMIRO DE BRITO
EXPOSIÇÃO
TV
TERESA RITA LOPES: Uma Paisagem de Mim
A Homenagem ao poeta algarvio está disponível na publicação da FMVG: Festival Literário Internacional de Querença: Catálogo 2016. Maria João Reynaud, Zlatka Timenova, Mateja Rozman e João Barrento são alguns dos especialistas que aí poderá ler. Inclui o catálogo da exposição Entre Mil Águas – Vida Literária de Casimiro de Brito. Poderá encomendar através de: Povo de Querença 8100-129 Loulé T. +351 289 422 607 fundacao.mvg@gmail.com Preço de capa : €5
Está patente na Biblioteca da FMVG a exposição que homenageia a cidadã de causas e militâncias, a escritora algarvia e professora universitária, referência internacional no estudo da obra de Fernando Pessoa. O percurso pela sua vida faz-se através de 15 vitrines, dezenas de retratos e cartazes. Poemas e documentos narram as suas três "cidades" natais: Cacela, Lisboa e Paris. Contam os seus regressos e metamorfoses. Pode ler-se num excerto dos seus poemas: “Cá estou de novo no meu segundo berço. Volto às vezes ao primeiro / e também ao terceiro / à procura dos baguinhos de milho que por lá / espalhei..." Os painéis dedicados à sua infância no Algarve, à juventude estudantil em Lisboa, ao exílio em Paris e ao inquestionável contributo no estudo e divulgação da obra pessoana, garante da pertença nacional da arca de Fernando Pessoa, transportam-nos pela simples e grandiosa
escrita poética, dramatúrgica e ensaística que qualifica a autora. A sua tese de doutoramento apresentada à Université de la Sorbonne Nouvelle em 1975, Fernando Pessoa et le Drame Symboliste: héritage et création, é uma das peças que poderá conhecer, a par com outros títulos mais recentes como Os Dedos os Dias as Palavras (1987), Por Assim Dizer (1994), Cicatriz (1996, Prémio Eça de Queirós) e O Sul dos meus Sonhos (2009). Destaque ainda para a recriação da fachada de uma casa algarvia na Biblioteca e para uma vitrina que expõe, num pequeno manto de areia da praia, molduras elaboradas pela autora e versos que espelham a influência do mar na sua vida. “Falar desta homenagem atrapalha-me imenso porque apesar de toda a minha vida me interessar por e escrever para teatro não sou de me pôr no palco, mas fico muito sensibilizada. Muito obrigada por se terem lembrado!”, disse Teresa Rita Lopes por altura da homenagem em Maio.
O caminho para um melhor conhecimento das qualidades de Teresa Rita Lopes, humanas e intelectuais, pode ser percorrido até dia 12 de Setembro, de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 17h00.
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CENTRO DE ESTUDOS ALGARVIOS Centro de Estudos Algarvios da Fundação MVG integra projecto de museu da tipografia União. Fundo bibliográfico integrará catálogo de produção da oficina.
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Sala destinada ao sistema off-set: máquina Heidelberg MO 48x65
A viagem já começou, reunindo parceiros, chamando à mesa de negociação as entidades responsáveis pelo projecto de revitalização da tipografia União, propriedade da Diocese do Algarve. Direcção Regional de
Cultura do Algarve e Município de Faro subiram a bordo, lado a lado com a História, já que não é possível conceber um Museu sem a complexa componente de investigação e divulgação científica. Patrícia de Jesus www.fundacao-mvg.pt | +351 289 422 607
Palma, investigadora integrada no CHAM-Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (CHAM/FCSH-UNL) surge assim como dinamizadora da iniciativa cultural, em linha com
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tipografia, constituída em 1909 pela Diocese do Algarve, inserese numa autêntica cidadela do conhecimento, uma cidadela espiritual que pode ser percorrida através deste património e destas memórias.» – explicita a investigadora. As portas da tipografia União queremse também p.2-4 abertas a escolas e universidades. A oficina poderá voltar a funcionar no âmbito da formação e da publicação de livros de autor, pela mão de antigos tipógrafos. A maioria destas máquinas estão operacionais e algumas são únicas no país. No conjunto, revelam a evolução dos equipamentos de artes gráficas, da composição à impressão e desta à encadernação e venda. Ciência e tecnologia permitirão
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a pesquisa que tem vindo a ser realizada pelo grupo de trabalho “Leitura e Formas da Escrita”, daquele Centro, coordenado pelo presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Artur Anselmo. Em conjunto, as várias entidades tentam agora encontrar o melhor molde para imprimir o plano de gestão, funcionamento e sustentabilidade do novo espaço cultural: «Deve ter uma construção colectiva, interinstitucional e multidisciplinar. Acredito que reunimos no Algarve uma oportunidade única para a musealização da tipografia União. Além do parque gráfico há um importante espólio documental que nos conta a história da imprensa. Esta
Vistas parciais da tipografia União
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percorrer - no espaço da tipografia farense - a história da imprensa nacional, dos primórdios à actualidade. Desta forma, o Museu da Imprensa no Algarve constitui um projecto que merece toda a atenção da FMVG, já que grande número dos livros que integram o Centro de Estudos Algarvios foram impressos nesta oficina, o que constituirá um sólido contributo para a reconstituição do catálogo da produção da oficina. Este catálogo permitirá incluir o importante espólio da Fundação numa fonte documental única de investigação, permitindo a sua valorização e divulgação junto da comunidade científica e público em geral. A Fundação, que persegue a ideia de digitalizar todos os periódicos impressos no
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Abertura do Colóquio "Pentateuco: comemoração dos 530 anos de livro impresso em Portugal"
Algarve desde 1833 (através do projecto Hemeroteca Digital do Algarve, com votação online aqui), observa várias pedras de toque com este projecto que pretende criar uma infra-estrutura digital analítica de acesso universal da produção literária impressa no Algarve durante os séculos XIX e XX. O anúncio As reuniões de trabalho sobre o projecto de musealização da União proposto por Patrícia de Jesus Palma à Diocese do Algarve decorrem desde Outubro de 2016 mas o seu anúncio só foi feito no passado dia 14 de Julho, durante o Colóquio que assinalou o início da imprensa nacional em Faro.
A instituição de um Museu da Imprensa no Algarve contribui indiscutivelmente para o entendimento do sistema de produção impressa em Portugal, para o enriquecimento, valorização e salvaguarda do património cultural da região. Uma visão abrangente do projecto que é partilhada por Alexandra Gonçalves, directora regional de cultura: «Não sabemos o futuro sobre as tecnologias no suporte à escrita mas a escrita como meio de comunicação tem um passado a relembrar em Faro e no Algarve. Este modelo pode significar uma nova centralidade na dinâmica da vida cultural e intelectual do Algarve», afiança. www.fundacao-mvg.pt | +351 289 422 607
O presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau, salienta que a iniciativa é tão mais importante porque comprova que o Algarve não é uma região subalterna do ponto de vista cultural: «A Câmara está disponível para colaborar em tudo aquilo que estiver ao seu alcance, nomeadamente na arquitectura e especialidades e também com a museologia», garante. A ideia de um Museu de Imprensa no Algarve foi igualmente bem recebida pelo CHAM. «Temos todo o interesse em que haja um trabalho de musealização, seja para divulgar seja para recolher e conservar o material que existe.» - conclui João Luís Lisboa, subdirector do CHAM/FCSH-UNL, que evidencia as ligações entre a Academia nacional e as estrangeiras: «A nível internacional há conhecimento sobre o que tem vindo a ser feito em Portugal. Temos vários laços e iniciativas conjuntas, nomeadamente com o Brasil, França, Itália e Espanha.» Já Alves Dias, que lidera em Portugal um grupo científico dedicado ao material tipográfico dos séculos XVI e XVII, deixa a
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provocação: «Faro foi um dos pólos da Tipografia, segundo aquilo que os livros contam e portanto, acreditando que os livros não nos estão a pregar nenhuma mentira, é muito importante salientar isso.» Artur Anselmo, um dos pais da História do Livro, sumariza: «para se fazer, temos que fazer bem feito».
Colóquio "Pentateuco: comemoração dos 530 anos de livro impresso em Portugal"
COLÓQUIO
530 ANOS DE LIVRO IMPRESSO
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O Pentateuco - primeiro livro impresso em Portugal – saiu de uma tipografia de Faro em 1487 e foi roubado pelos ingleses em 1596. Verdade ou suposição? Especialistas estiveram reunidos no Algarve e dizem que a História pode ser outra.
Artur Anselmo, presidente da Academia de Ciências de Lisboa
A Fundação vai continuar a acompanhar o desenvolvimento deste projecto que promete mais novidades em 2018, quando se completarem os 210 anos sobre a reintrodução da tipografia no Algarve.
«O livro mente. O papel contanos muitas mentiras.» Quem o diz é João Alves Dias, historiador e professor da Universidade Nova de Lisboa. No passado dia 14 de Julho esteve em Faro, a par com outros conferencistas convidados para o evento “Pentateuco: comemoração dos 530 anos de livro impresso em Portugal”. O Colóquio foi organizado por Patrícia de Jesus Palma, investigadora do CHAM-Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da www.fundacao-mvg.pt | +351 289 422 607
Universidade Nova de Lisboa (CHAM/FCSH-UNL) e colaboradora da FMVG. No Salão Nobre da Câmara Municipal, o investigador que tem vasta obra publicada no âmbito da história medieval e moderna, paleografia e diplomática, história do livro e vida quotidiana quinhentista, mostrou aquela a que chamou “a primeira banda desenhada de Jesus”: «Na história do séc. XVI, está a nascer o Protestantismo, os problemas anglicanos de outra
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Igreja para a Inglaterra, os problemas com o Papa, mas tudo se quer voltar seguindo o princípio de Erasmo e de Lutero à religião pura. Foi uma mensagem subtil de fazer essa transmissão da religião pura: deixemos o profano, que era o que aparecia antes e vamos pôr temas religiosos de A a Z, ora arrumando a vida de Jesus, ora contando a estória da Bíblia ou contando outras estórias que ainda vou descobrir.»
Entre o público atento ao Colóquio, há quem se interrogue:
a História é uma sucessão sucessiva de pilhagens que se sucedem sucessivamente sem cessar. E se nós vamos reclamar o que foi pilhado, nunca mais paramos. Portugal pilhou em montes de sítios, portanto acho que se iria abrir uma tampa infindável. Com as Invasões Francesas foi muito pior, os museus franceses estão cheios de coisas portuguesas. Como é que se recupera isso? Com o acesso a elas e mesmo aí é questionável se será muito interessante ter acesso a estas obras ou não. São tratados em latim, de teologia, de direito canónico, de filosofia, hoje ninguém lê isso. Os manuscritos, sim, devem
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O descaminho do Pentateuco «Havia a noção de que o Pentateuco poderia estar ligado ao furto dos livros pelo Conde de Essex em Faro, mas não há nenhuma documentação nem
trabalho é o livro ter sido levado por alguém, algum judeu que tenha emigrado, obrigado ou por vontade própria e acabar por ir lá parar. Pode ser verosímil!». Rui Loureiro, do Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes e CHAM/FCSH-UNL lançou o debate que muita tinta já tem feito correr sobrep.2-4 o alegado furto do primeiro livro impresso em Portugal. A obra escrita em hebraico e que espelha a vitalidade da cultura algarvia de Quatrocentos, coloca Faro como cidade berço da imprensa nacional, fazendo hoje parte do acervo do British Museum.
Debate e conhecimento fizeram a jornada sobre os 530 anos de técnicas tipográficas em Portugal
na Bodleian Library nem no resto da literatura que associe o Pentateuco a este conjunto de livros. Uma hipótese de
«Será que se tivéssemos o Pentateuco ele ainda existiria?» Rui Loureiro responde com a lengalenga: «Costumo dizer que www.fundacao-mvg.pt | +351 289 422 607
ser fac-similados porque são documentos únicos.», conclui.
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Debate e conhecimento fizeram a jornada sobre os 530 anos de técnicas tipográficas em Portugal
O(s) caminho(s) do Livro A matriz da imprensa nacional foise completando ao longo do dia, com questões ligadas à tipografia, dos caracteres móveis aos computadores. Artur Anselmo, um dos pais da História do Livro também presente, colocou a tónica na tintagem: «Temos lá na Academia das Ciências a Bíblia impressa por Gutenberg e fico maravilhado com a tintagem daquelas folhas. Quando vejo os livros de hoje fico horrorizado com o preto da tinta, muitas vezes cinzento. Custa a ler! Estamos a andar para trás, todos os dias. A própria imprensa nacional, que devia ser o modelo destas áreas. Eu já não vejo bem, por isso uso óculos mas, preto preto, é o de Gutenberg!», indigna-se Artur Anselmo que tem já 40 anos de trabalho publicado, primeiro em França e só depois em
Portugal. É um dos precursores da plataforma de conhecimento internacional em rede que o CHAM/FCSH-UNL integra. A par da evolução das técnicas de impressão, segue o fenómeno da contrafacção que atravessa toda a História do Livro, do século XVI aos nossos dias. «Na altura, havia formas de censura aplicadas pela Inquisição, com o Índex e uma das coisas que acontecia era tentar publicar textos indicando outro impressor, outro local de impressão, outra data, para que o texto e a própria edição não tivessem que ser novamente submetidos ao controlo da censura.» José Jorge Gonçalves, investigador especializado em História do Livro e Paleografia, explica que a contrafacção é uma forma consciente de contornar um problema e aplica os argumentos à história recente: «Não nos
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podemos esquecer que há quarenta e poucos anos, nós tínhamos censura prévia em Portugal. A partir do momento em que o livro saía do armazém, que era vendido, era difícil recuperá-lo. Podemos imaginar que alguém o tirou do armazém e disse que tinha vendido a edição. Portanto, os livros continuam a existir, estão disponíveis mas já não estão onde estavam. Pode ser uma técnica! As técnicas podem variar um bocadinho e a imaginação humana é bastante fértil…». O Colóquio “Pentateuco: Comemoração dos 530 anos de livro impresso em Portugal” foi uma iniciativa conjunta do CHAM/FCSH-UNL e do Município de Faro. Contou com o apoio da Direcção Regional de Cultura do Algarve, Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes e FMVG.
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FORMAÇÃO
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VERÃO AGUARELA Querença tem sido palco de acções de formação. A formadora Maria Viegas coloriu as manhãs de Julho com ateliers de pintura em aguarela junto da comunidade da aldeia. A água da nascente do maior aquífero do Algarve (Querença-Silves) tem proporcionado imagens intensas e luminosas onde dominam os tons verdes e castanhos. A acção, promovida MM Maria Viegas e algumas formandas numa aula de pintura a aguarela
pela FMVG tem continuidade prevista para o mês de Agosto. Todo o material de pintura necessário é fornecido gratuitamente. Preço por sessão: €15. Para mais informações e inscrições, pode dirigir-se à Fundação, Povo de Querença ou contactar através de: T. 289 422 607 e fundacao.mvg@gmail.com. (ver video aqui) www.fundacao-mvg.pt | +351 289 422 607
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PROJECTOS
VOTAÇÃO NA ALDEIA Porque a internet e as ferramentas digitais ainda não são tão globais como desejávamos, a FMVG tem desenvolvido várias acções de sensibilização, apelando ao voto no projecto da HEMEROTECA DIGITAL DO ALGARVE.
A D. Rosa, o Sr. Mário e tantos outros ilustres de Querença a votarem pela salvaguarda dos periódicos algarvios desde 1833
A proposta ao Orçamento Participativo de Portugal é da autoria de Luís Guerreiro, rosto da Fundação. A última acção realizou-se em plena aldeia de Querença. Ao longo de um dia a Fundação explicou que a Hemeroteca Digital pretende
a salvaguarda de todos os periódicos produzidos na região desde 1833 e facilitou a votação, disponibilizando um computador com internet. A Fundação agradece a todos os que entenderam a dimensão e importância do projecto e que simpatizaram com a
abordagem em plena praça. A D. Rosa, o Sr. Mário e tantas outras personalidades da aldeia já votaram. Muitos dos que visitaram Querença durante a acção também. Só falta o seu voto. Basta ir aqui e deixar o seu número de BI ou CC.
FICHA TÉCNICA: Edição Textos e Paginação: Marinela Malveiro Fotografia: Marinela Malveiro, Samuel Mendonça, Telma Veríssimo e Vasco Célio/Stills As fotografias da tipografia União, da autoria de Samuel Mendonça, foram cedidas pelo jornal Barlavento.
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