O Coliseu do Porto

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O Coliseu do Porto Contributos para um melhor entendimento dos projetos de José Porto e Cassiano Branco FUNDAÇÃO MARQUES DA SILVA 19 DEZEMBRO 2017


O Coliseu do Porto Contributos para um melhor entendimento dos projetos de José Porto e Cassiano Branco

A 19 de dezembro de 1941, por iniciativa da companhia de seguros Garantia, a cidade do Porto festejava a inauguração do seu Coliseu. Na memória descritiva, Cassiano Branco faz questão de destacar que “O alçado principal do edifício “Coliseu do Porto” (sob a rua Passos Manoel) constitue um elemento de arquitectura de feição especial: o seu aspecto inteiramente moderno pretende expressar permanentemente um espectáculo de formas arquitectónicas, de luz e de publicidade. O partido da forma arquitectónica adoptado, foi também nas consequências racionaes e soluções técnicas dos materiais de construção moderna, no espírito das coisas que nos cercam e que somos fatalmente forçados a sentir, a interpretar, a construir, em conclusão a reproduzir a vida humana que evolue e que tem como uma das suas projecções - a arquitectura.” (excerto da memória descritiva entregue à direcção geral de espectáculos integrada na licença de obra nº 615/1940, p102). Cassiano Branco, 1937

A Fundação Marques da Silva acaba de restaurar um belíssimo desenho de Cassiano Branco, oferecido por Alexandre Alves Costa, assinado pelo autor e datado de 4 de setembro de 1939, sendo esta efeméride o pretexto ideal para o noticiar.

Mas a Fundação Marques da Silva recebeu também, recentemente, a doação do acervo de José Porto, arquiteto que assina um projeto para este mesmo local da cidade, então denominado “Teatro-Circo”, desenvolvido em 1937 e submetido pelos Engenheiros Reunidos à Câmara Municipal do Porto e à Inspeção Geral dos Espectáculos em 1938. Ocupando a totalidade do lote previa ter capacidade para 4504 lugares e dotar a sala de grande flexibilidade, acolhendo “...teatro propriamente dito, de circo, cinematógrafo, concertos sinfónicos, manifestações desportivas tais como box, luta etc.etc. [...podendo vir a] comportar sob o tapete da pista uma espécie de piscina, destinada a espectáculos náuticos, como já se realizam em circos estrangeiros...” (excerto da memória descritiva entregue à direcção geral de espectáculos, p2-7).


José Porto, 1938

Cassiano Branco, 1939

Defendia então José Porto que a “A fachada principal é sem dúvida a

O desenho de Cassiano Branco que acaba de ser restaurado está datado,

parte duma sala de espectáculos que mais nos deve impressionar. O

como referido, de Setembro de 1939 e responde a um convite lançado

seu fim é estabelecer entre o público e a sala o primeiro contacto. Ela

em agosto do mesmo ano. A celeridade com a qual é desenvolvido

constitue um elemento de publicidade permanente e a sua função

pode por sua vez ser explicada pelo facto de não representar a primeira

psicológica é inegável. Ela tem por fim fazer penetrar no espírito daquele

abordagem deste arquiteto ao projeto. Já em 1937, Cassiano Branco

que passa, que por detraz dela qualquer cousa de grande, de belo,

apresentara uma proposta para o Teatro Passos Manuel, destinado a

de agradavel ou divertido se passa...” (idem, p9). Por isso propõe uma

cinema, circo, ópera e variedades. O projeto será mesmo publicado na

fachada monumental, pelo desenho e pela materialidade, a destacar-

revista “ A Arquitectura Portuguesa e Cerâmica e Edificação Reunidas”.

se da envolvente próxima, constituída por uma grande moldura em

A proposta de 39, que tem como ponto de partida o projeto entretanto

mármore polido que realça um vitral recuado e seccionada por bandas

desenvolvido e parcialmente construído de Júlio de Brito, veio resolver o

horizontais metálicas onde é inserida iluminação artificial através de

impasse sobre a configuração do corpo para a rua Passos Manuel. Ainda

tubos néon. Uma varanda cobriria ainda a entrada principal a prolongar

que não deixe de constituir uma revisitação da ideia inicial, o projeto

o foyer para o exterior.

final apresenta uma linguagem diferenciada para o corpo dos escritórios (mais tarde transformados em residencial), mostrando uma adequação

André Eduardo Tavares, doutorando da FAUP e investigador da obra de José Porto, sublinha que a proposta dos “Engenheiros Reunidos” parece não ter sido apenas mais um estudo ou hipótese. A leitura dos elementos submetidos a licenciamento, confirmando a informação que o próprio José Porto teria transmitido ao arquiteto Abílio Mourão, leva a crer que esta proposta era para ser construída: foi requerida licença

desta solução à topografia da cidade e em particular à rua Passos Manuel. A fachada principal viria a ser determinante para a construção de uma imagem e identidade do Coliseu e da sua relação com a cidade. O edifício que hoje podemos admirar contou na sua fase final com o contributo de Mário de Abreu, que assume a conclusão da obra após o afastamento de Cassiano Branco, em finais de 40.

para construção de fundações e para ocupação de via pública. A quebra do vínculo de José Porto com a empresa promotora e o surgimento das

Sugere-se ainda, a todos os interessados na história do Coliseu do Porto

propostas subsequentes de Jan Wills e mais tarde de Júlio de Brito,

uma visita à exposição patente ao público, no átrio do edifício dos Paços

igualmente abandonadas, permanece ainda por explicar.

do Concelho, concebida para celebrar os 75 anos de atividade desta emblemática casa de espectáculos. Aí podem ser observadas algumas

É importante informar que a Fundação Marques da Silva tem já disponível para consulta em arquivo, cópia digital do projeto de José Porto para o Coliseu do Porto, depositado no IGAC.

das propostas para a arquitetura do edifício.



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