SAPO LIFESTYLE - "Bullying" na Fundação Rui Cunha.

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ALUNOS DA ESCOLA PORTUGUESA DE MACAU SIMULAM JULGAMENTO DE CASO DE BULLYING Alunos da Escola Portuguesa de Macau simularam hoje um julgamento de um caso de ‘bullying’, no âmbito de um programa da Fundação Rui Cunha para sensibilizar os jovens para a vivência em sociedade.

AFP/MARTIN BUREAU

O caso de Leonardo foi levado à barra do tribunal por estudantes de 16 e 17 anos. O aluno introvertido, imigrante do Peru e recém-chegado à escola, foi vítima de “frases pouco simpáticas” no Facebook e WeChat e de agressão – dois murros no olho esquerdo e no estômago –, pelo colega Simão, com nota 20 a Educação Física e dos mais populares da turma. O ‘bullying’ foi o tema proposto no âmbito do programa Fazer Justiça III, “porque, quando acontece, dá-se no meio estudantil, e por isso poderia despertar interesse entre os participantes”, justificou Rui Cunha, presidente da fundação homónima. Escolhido o tema, os alunos criaram as personagens e as provas, sendo a vertente prática e intensiva acompanhada por Filipa Guadalupe, da Fundação Rui Cunha, e pelo juiz Carlos Carvalho, do Tribunal Judicial de Base. “Os alunos vêm de uma preparação de três meses. Tudo isto deve despertar neles outro entusiasmo e aqueles que queiram seguir Direito sentir-se-ão muito entusiasmados por já terem feito uma defesa ainda antes de irem estudar”, afirmou. A “defesa aguerrida”, como descreveu o advogado Rui Cunha, foi representada por Francisca


Paiva Mourão, aluna de Ciências do 11.º da Escola Portuguesa de Macau, que – ao contrário do procurador (Francisco Menano) – não pensa em seguir Direito, mas que já soma a segunda participação numa iniciativa do género. No primeiro julgamento, Francisca foi testemunha, no de hoje encarnou a defesa. “É uma boa iniciativa. (…) Ajuda-nos a crescer a nível académico”, resumiu a aluna, que aceitou o desafio lançado pelo professor de filosofia. Com a toga vestida e o guião na ponta da língua, alguns estudantes desempenharam os papéis da defesa, do Ministério Público, e de juiz. Outros deram corpo ao arguido e vítima e a várias testemunhas arroladas no processo. Uma delas – o médico Manuel Cristóvão, de 47 anos – foi chamado a descrever o quadro clínico do aluno que assistiu no hospital público em Macau, mas, como falava cantonês, teve de recorrer à tradução, que gerou dúvidas por parte da defesa. “É médico há tantos anos e nunca viu uma situação tão grave? Dois hematomas?”, questionou a advogada. O esclarecimento fez-se na voz do tradutor: “Em casos semelhantes nunca vi uma situação tão grave”. O público – na maioria alunos e professores da EPM – acompanhava atentamente, por vezes entre risos e comentários em surdina. “O tribunal pede que a audiência mantenha a ordem”, repetia a juíza interpretada por Catarina Furtado. A questão da tradução é uma realidade com que os tribunais de Macau lidam diariamente. Nesse sentido, Rui Cunha avançou, à margem do julgamento, a ideia de numa próxima edição do programa Fazer Justiça, a audiência ser conduzida parcialmente em chinês, aproveitando o facto de alguns alunos dominarem a língua. No caso em tribunal na Fundação Rui Cunha, o arguido ainda pediu desculpas: “O ‘bullying’ não é uma coisa bonita, mas na realidade não foi isso que aconteceu. Estava de cabeça quente”, argumentou Simão nas alegações finais. O facto de o arguido ser primário e de ter confessado, fez com que lhe fosse aplicada a sentença de 140 dias de multa pelo crime de ofensa à integridade física simples. No total, Simão foi condenado a pagar 9.800 patacas (cerca de 1.140 euros, ao câmbio de hoje). artigo do parceiro: Nuno Noronha


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