PUBLICAÇÕES DA FUNDAÇÃO ROBINSON 17

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Publ i c a ç õ e s d a F u n d a ç ão R o b inso n

ISSN 1646-7116

Novos Habitantes | Sociedade Musical Euterpe New Inhabitants | Euterpe Musical Society

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Publ i caçõ e s d a F u n d ação R o b i n s o n

Novos Habitantes | Sociedade Musical Euterpe New Inhabitants | Euterpe Musical Society

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Publicações da Fundação Robinson n.º 17 Robinson Foundation Publications no. 17

A correspondência relativa a colaboração, permuta e oferta de publicações deverá ser dirigida a All correspondence to be addressed to

Novos Habitantes | Sociedade Musical Euterpe New Inhabitants | Euterpe Musical Society Portalegre, Junho de 2012 Portalegre, June 2012

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David Hardisty (inglês) (english), Jorge Maroco Alberto (espanhol) (spanish) revisão editing

Célia Gonçalves Tavares, António Camões Gouveia, Jorge Maroco Alberto, Luís Nogueiro Impressão printed by

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Jorge Maroco Alberto dep. legal 353 280/12 issn 1646­‑7116

Na capa, fotografia do Acervo documental da Sociedade Musical Euterpe Cover photograph from Euterpe Musical Society archives


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Euterpe e Portalegre, uma história de cento e cinquenta anos

Euterpe and Portalegre, a hundred and fifty years history Euterpe e Portalegre, una historia de ciento cincuenta años Presidente do Conselho de Curadores | Chair of the Council of Curators

6 A Banda e a Cidade A História da Sociedade Musical Euterpe da sua Fundação à Actualidade

The Band and the City The History of the Euterpe Musical Society from its Foundation to the Present Day La Banda y la Ciudad La historia de la Sociedad Musical Euterpe de su fundación hasta la actualidad Renato Pistola

52 «Que a voz da cidade não se deixe de ouvir» A «velhinha Euterpe» – uma Banda do século XIX com os olhos postos no século XXI

“Let the voice of the city be heard” “Euterpe the Old Lady” – a nineteenth century philharmonic band with its eyes on the twenty first century “Que la voz de la ciudad no deje de oírse” La “ancianita Euterpe” – una Banda del siglo XIX que mira hacia el siglo XXI Sofia Lopes

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Notas finais

Final remarks

Notas finales Renato Pistola | Sofia Lopes

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Síntese: resumos e palavras­‑chave

Abstracts and key­‑words

Resúmenes y palabras clave


Euterpe e Portalegre, uma história de cento e cinquenta anos Euterpe and Portalegre, a hundred and fifty years history

Maria Adelaide de Aguiar Marques Teixeira presidente da câmara municipal de portalegre e presidente do conselho de curadores da fundação robinson Mayor of the Municipality of Portalegre and Chairwoman of the council of curators of the Robinson Foundation

Publicações da Fundação Robinson 17, 2012, p. 4­‑5, ISSN 1646­‑7116

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Não são todos os Concelhos que se podem orgulhar de ter entre os seus agentes de Cultura um com a idade de 150 anos e com a dimensão humana, mérito institu‑ cional e qualidade musical da Sociedade Musical Euterpe. Por isso, primeiro que tudo, importa deixar aqui os Parabéns, extensíveis a um enorme agradecimento, de toda a Cidade e Concelho alargado aos territórios do Alentejo e transfronteiriços, por todo o esforço, capa‑ cidade criativa e formativa, assim como pela constante integração na comunidade e dedicação centenária à sua melhoria de saber e de gostos musicais. Hoje, no início do século xxi, um novo desafio se apre‑ senta à Sociedade Musical Euterpe, participar e apren‑ der a conviver com outros parceiros, com outras ideias e outros equipamentos de Cultura no Espaço Robinson em construção, ser um Novo Habitante desse Espaço. Apesar de todos os receios que, legitimamente, as mudanças sempre criam e suscitam, estamos certos que a qualidade e a dinâmica cultural que a partir dali se vão gerar, vai trazer ao de cima na Sociedade Musical Euterpe todos os seus atributos centenários numa contribuição crítica e formativa ao crescimento do projecto, em bene‑ fício de todos os Portalegrenses e de todos os Visitantes que cada vez mais nos procurarão.

Not every Council can be proud of having amongst its Cul‑

Portalegre, 1 de Dezembro de 2011, no encerramento da come‑

Portalegre, 1 December 2011, at the closing ceremony to mark the one

moração dos cento e cinquenta anos da Sociedade Musical Euterpe.

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tural bodies one which has existed for 150 years and with the human dimension, institutional merit and musical quality of the Euterpe Musical Society. Therefore, and first and foremost, it is important to record here our deepest congratulations and an enormous vote of thanks, from everyone in the City and the Council extending throughout the Alentejo and neighbouring regions, for all the efforts, creative ability and training, as well as for its constant integration within the community and its century­‑long dedica‑ tion to improving musical knowledge and tastes. Nowadays, at the start of the 21st century, the Euterpe Musical Society faces a new challenge, that of participating and learning to exist with other partners, other ideas and other Cul‑ ture facilities within the Robinson Space which is under con‑ struction, so as to be a New Resident in that Space. Despite all the concerns that changes always justifiably cre‑ ate and nurture, we are certain that the quality and cultural dynamics which being there will engender, will bring out the best qualities in the Euterpe Musical Society which have been present throughout its hundred years to make a critical and informed contribution to the project’s growth, to the benefit of all the inhabitants of Portalegre and all the Visitors who increas‑ ingly seek us out.

hundred and fiftieth anniversary of the Euterpe Musical Society.


A Banda e a Cidade A História da Sociedade Musical Euterpe da sua Fundação à Actualidade The Band and the City The History of the Euterpe Musical Society from its Foundation to the Present Day

Renato Pistola Doutorando em História Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Mestre em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa Investigador, CLEPUL (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias/ Universidade de Lisboa) PHD Student of contemporary History in the Faculty of Letters of the University of Lisbon. Master in Contemporary History by the Faculty of Social and Sciences and Humanities of the New University of Lisbon Researcher, CLEPUL (Center for Lusophone and European Literatures and Cultures/ University of Lisbon)

Publicações da Fundação Robinson 17, 2012, p. 6­‑51, ISSN 1646­‑7116


Conhecemos a Sociedade Musical Euterpe, fundamen‑ talmente, como uma banda e como uma escola de música. Todavia, aquando da sua formação e durante um longo perí‑ odo, a sua história assemelha­‑se ao papel de dois instru‑ mentos musicais que, embora distintos, se complementam na representação de uma sinfonia. Esta realidade, concre‑ tizada no pulsar de uma associação mutualista1 – o Monte Pio Euterpe Portalegrense – e no desenvolvimento de uma banda musical, marca os 150 anos de existência da Euterpe. E entender esta evolução é assistir, primeiro à metamorfose de uma colectividade de recreio para uma associação mutua‑ lista semelhante às mais de 700 surgidas no país na segunda metade do século xix2, e depois na sua cristalização numa Banda e numa escola de música, as mesmas que actualmente ocupam o espaço cultural de Portalegre. A riqueza da documentação encontrada nos arquivos da Euterpe é surpreendente e permitiu­‑nos revelar uma ver‑ tente menos conhecida da Associação na actualidade mas que marcou uma grande parte da sua existência. Referimo­ ‑nos ao facto de ter sido criada como uma associação mutua‑ lista pensada para prestar assistência aos seus sócios.

We know of the Euterpe Musical Society, essentially, as a philharmonic band and as a music school. However, when it was set up and for a long period of time its history took on the role of two musical instruments that, although separate, are complemented within a symphony. The phil‑ harmonic band was given its impulse to form by a mutual‑ istic association1 – the Monte Pio Euterpe Portalegrense – and the Euterpe has now been in existence for 150 years. Under‑ standing this evolution involves witnessing firstly its met‑ amorphosis from a recreational collective to a mutualistic association similar to more than 700 which arose in Portugal in the second half of the 19th Century2, and then its crystalli‑ sation into a Philharmonic Band and a music school, which nowadays form part of the cultural landscape of Portalegre. The wealth of documentation found in the archives of the Euterpe is surprising and has allowed us to reveal a lesser known aspect of the Association during the present day but which marked much of its existence. We are refer‑ ring to the fact that it was set up as a mutual association designed to provide assistance to its members. In this sense, our main goal will be to show how the relationship between the two aspects which the Euterpe

Espólio documental da Sociedade Musical Euterpe.

possessed from the outset – the mutualistic and the cul‑

Euterpe Musical Society archives

tural – and the organization’s umbilical connection with the city of Portalegre, a city which had also undergone major changes in its profile since the mid-nineteenth century, was affirmed in an association that not only survived the many crises it met, and also how it developed along with the city in which it saw the light of day. This was due in great part to the efforts of its governing bodies – who always knew how to adapt the Association to the various problems it encoun‑ tered throughout its existence. One can therefore state, and stress the fact that the Euterpe has, throughout its 150

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Neste sentido, o nosso principal objectivo será mos‑ trar como da relação entre as duas vias que preencheram a Euterpe desde o início – a mutualista e a cultural – e da cone‑ xão umbilical da organização com a cidade de Portalegre, uma cidade que sofreu igualmente grandes transformações no seu perfil desde meados do século xix, se afirmou uma Associação que não só sobreviveu às diversas crises que conheceu, como se desenvolveu na mesma medida da cidade que a viu nas‑ cer. Para isso em muito contribuiu o esforço dos seus corpos dirigentes – que sempre souberam adaptar a Associação aos diversos acasos encontradas ao longo da sua existência. Pode­ ‑se assim afirmar, vincando o facto e descontando­‑se as devi‑ das dimensões, que os anos de existência da Euterpe se con‑ fundem, há 150 anos, com a própria história de Portalegre. E como a Euterpe é também uma banda, com uma histó‑ ria e com pulsar próprio das faculdades da música, elas mere‑ cerão a atenção de Sofia Lopes na segunda parte desta obra.

years of existence, within its own space been interconnected with the development of the history of Portalegre itself. And as the Euterpe is also a philharmonic band with its own history in line with the rhythm of music colleges, they have merited the attention of Sofia Lopes in the second part of this work.

From the Philharmonic to the Montepio (1860-1866)

The history of the Euterpe began on 1 December 1860 when a group of residents of Portalegre founded an associa‑ tion “small in resources”3 to commemorate another anniver‑ sary of the Restoration of Independence for Portugal from Castile on 1 December 1640. Conceived initially as a philharmonic, it came about due to the initial efforts and persistence of Francisco José Perdigão, José Maria Mourato, José Augusto Soares, João

Da Philarmónica ao Montepio (1860­‑1866)

Dionísio Caldeira Serejo, José Maria Malato, Joaquim Pedro Gonçalves, Frederico Augusto Bolou, Joaquim Manuel Dias

A história da Euterpe inicia­‑se a 1 de Dezembro de 1860 quando um grupo de portalegrenses funda uma associação “pequena de recursos”3 para comemorar mais um aniversá‑ rio da Restauração da Independência de Portugal, que tinha sido conseguida face a Castela. Pensada inicialmente como uma filarmónica, a sua cons‑ trução saiu, numa fase inicial, do esforço e da persistência de Francisco José Perdigão, José Maria Mourato, José Augusto Soares, João Dionísio Caldeira Serejo, José Maria Malato, Joaquim Pedro Gonçalves, Frederico Augusto Bolou, Joa‑ quim Manuel Dias Guerra, João Carvalho, Benigno José Lopes e Manuel Marques Pereira. Foram eles que trilharam os caminhos iniciais da jovem associação, à qual se chamou

Guerra, João Carvalho, Benigno José Lopes and Manuel Marques Pereira. It was they who took the first steps of the infant association, which was called the Portalegre Euterpe Philharmonic (Philarmónica Euterpe Portalegrense), and thought of the best way to improve it. But these first steps were not easy, and great persistence was needed to overcome the demands required of a new organization. The group, which would naturally be among the founder mem‑ bers, dedicated themselves to resolving the various prob‑ lems that would arise. First were the simpler gaps of a logis‑ tical nature, with these founder members of the Montepio Euterpe ending up taking their own chairs, tables and other furniture from their house which were needed for the asso‑

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Registo do sócio n.º 1 da Euterpe. Registration of Euterpe member no. 1.

Philarmónica Euterpe Portalegrense, e pensaram na melhor forma de a fazer progredir. Mas os primeiros tempos não apresentaram facilidades, sendo necessária grande persis‑ tência para ultrapassar as exigências inerentes à afirma‑ ção de uma nova organização. O grupo, que viria natural‑ mente a figurar entre os sócios fundadores, empenhou­‑se na transposição dos diversos problemas que iam surgindo. Pri‑ meiro as lacunas mais simples, de carácter logístico, tendo os impulsionadores da Euterpe chegado a levar das próprias casas as cadeiras, as mesas e o restante mobiliário necessá‑ rio ao seu funcionamento. Mais complexas foram as exigên‑ cias de cariz financeiro. Urgia solver as exigências mais pre‑ mentes, tendo­‑se revelado proveitosa nesta fase inicial a representação do drama O Ermitão da Serra de Sintra, cuja receita reverteu para a recentemente constituída Philarmónica. A representação da peça de teatro, sublinhe­‑se, terá certamente constituído um objecto sedutor para o público ilustrado da cidade, cativando­‑o e apresentando­‑lhe a nova Associação cuja vertente musical estava entregue a Fran‑ cisco Perdigão, o mentor e regente da Banda durante um grande período da sua existência4. Apesar deste esforço inicial, e até 1862, a vida da Asso‑ ciação parece ter sido pautada por alguma inactividade. Este facto é referido numa reunião ocorrida a 18 de Maio de 1862 pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Gaudêncio José Rodrigues da Costa. Na mesma sessão, e em consequência dessa mesma inércia, José Maria Mou‑ rato, sócio fundador, afirma a necessidade de se eleger uma nova Direcção. Para a precipitação destas resoluções contri‑ buiu o abandono repentino do anterior Presidente da Direc‑ ção, José Paiva5. Para o novo elenco directivo, formado a 7 de Junho de 1862, saiu eleito Presidente Frederico Augusto Bolou, obtendo 10 votos, enquanto Manuel Marques Pereira 9

ciation to function. More complex were the demands of a financial nature. The more pressing demands needed to be solved urgently, and one profitable means used in this ini‑ tial stage came from the performance of the play O Ermitão da Serra de Sintra, the revenue from which reverted to the recently formed Philharmonic. The performance of the play, it should be noted, would certainly have been an alluring object for the learned public of city, captivating them and presenting the new Association to them, the musical side of which was handed over to Francisco Perdigão, the mentor and conductor of the Philharmonic band during a consider‑ able period of its existence4. Despite this initial effort, until 1862, the Association’s life seems to have been determined by a lack of activity.


foi eleito Vice­‑presidente, João Dionísio Caldeira Secretário e José Augusto Alves Vice­‑secretário, havendo ainda dois Vogais. Neste período, no qual as reuniões da Associação ocor‑ rem quase mensalmente, são escassas, na documentação da Euterpe, as referências à secção filarmónica. Este facto não significa, no entanto, que a Banda se encontre inoperante, até porque se encontram algumas menções na imprensa a concertos realizados pela Euterpe em diversos locais de Por‑ talegre. Na verdade, esta ausência de alusões à Banda pode ser justificada com a preocupação dos sócios em realizar o objectivo maior que terá dirigido a criação da Associação desde o início. De facto, e não obstante a omissão sobre este facto nas fontes consultadas, a Associação poderá ter sido pensada desde o momento da sua fundação não só como uma organização associativa cujo fim único era a actividade musical, mas com um campo de actuação muito mais vasto. Os seus contornos parecem não estar claramente defini‑ dos no seio do grupo fundador. Pensou­‑se, primeiramente, numa associação recreativa. Foi nesse sentido que se cons‑ tituiu, em 1863, uma comissão destinada a elaborar os esta‑ tutos de “uma associação recreativa para as classes laborio‑ sas”6. Esta comissão, composta por Nunes de Paiva, Caetano Silvestre de Almeida e Gaudêncio Costa, Presidente da Mesa da Assembleia Geral na época, apresentou o resultado do seu trabalho a 29 de Novembro de 1863 perante “um grupo de cidadãos da cidade”, de entre os quais se destacava António Joaquim de Campos, o chefe administrativo do Concelho. Mas estes estatutos não constituiriam a versão final que se pretendia fazer aprovar. Na verdade, ainda que não nos seja possível esclarecer ser este um objectivo que já dirigia alguns sócios desde o início, à ideia inicial de se formar uma asso‑ ciação de perfil essencialmente recreativo sobrepôs­‑se, de

This fact was referred to in a meeting held on 18 May 1862 by the Chairman of the General Meeting, Gaudêncio José Rodrigues da Costa. In the same session, and as a result of that inaction, José Maria Mourato, founder member, spoke of the need to elect a new Board. These resolutions were brought to a head by the sudden abandonment of the previ‑ ous Chairman of the Board, José Paiva5. The composition of the new Board was chosen on 7 June 1862, with the Chair‑ man being Frederico Augusto Bolou, with 10 votes, while Manuel Marques Pereira was elected Deputy Chairman, João Dionísio Caldeira Secretary and José Augusto Alves Deputy Secretary, along with two other Board Members. During this period, Association meetings occurred almost at a monthly rate, and there are few references in the Euterpe documentation to the Philharmonic section. This does not mean, however, that the Philharmonic Band was idle, because there are some mentions in the press of concerts given by the Euterpe at various locations in Portalegre. In fact, this lack of references to the Philhar‑ monic Band can be explained as being due to the concerns of the members, who from the outset had been focused on achieving their greater objective, the founding of the Association. In fact, notwithstanding the omission of this fact in the sources consulted, the Association can from the moment of its foundation be conceived not only as an associative organization whose sole purpose was musical activity, but an entity with a much broader field of activity. Its contours did not seem to be clearly defined within this founding group. It was thought of, at first, as a recrea‑ tional association. It was in this sense that in 1863 a com‑ mittee was formed to draw up the statutes for “a recreational association for the working classes.6” This committee, com‑ posed of Nunes de Paiva, Caetano Silvestre de Almeida and

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forma célere, o impulso da criação de uma sociedade de cariz mutualista, seguindo­‑se uma tendência que caracterizava o movimento associativo português em meados do século XIX, onde germinavam diversas associações mutualistas. O percurso para a legalização de uma organização com ‑se, todavia, longo e trabalhoso, esse fim apresentava­ destacando­‑se a obrigatoriedade da realização de estatutos e obedecendo estes a a um quadro legal específico e também à sua aprovação pelo Rei. Mas os fundadores da Euterpe mostravam­‑se decididos. Prova­‑o a celeridade com que foi constituída uma nova comissão, eleita a 25 de Outubro de 1865 para apresentar um projecto de estatutos “que deve‑ riam submeter­‑se à aprovação do Governo de Sua Majes‑ tade”7. Foram nomeados para o efeito, Emílio Larcher, Rochoso Costa e Silva, Rodrigues da Costa e Caetano Silves‑ tre de Almeida. Do seu trabalho resultaram os Estatutos da Associa‑ ção que viriam a ser aprovados pelo Alvará Régio de 29 de Janeiro de 1866, assinado por D. Luís I. Concretizava­‑se, dessa forma, a vertente assistencial da Sociedade Recreativa Euterpe que dava assim lugar, a partir de 1866, ao Monte Pio Euterpe Portalegrense. Refira­‑se que a sua Direcção inte‑ rina foi entregue, até o Montepio estar legalmente consti‑ tuído, a Emílio Larcher, Mouzinho de Albuquerque, José da Costa e Silva e Augusto Firmo Estácio. Como primeira tarefa decidiu­‑se analisar o seu estado financeiro tendo em vista a liquidação de dívidas pendentes. Do conjunto dos sócios que se constituíram como funda‑ dores da Associação Mutualista (ver Anexo 1), e gizando aqui uma breve análise do seu perfil socioeconómico, importa des‑ tacar, sobretudo, que o Montepio surgiu sob o impulso de vários pequenos proprietários das diversas oficinas que pre‑ enchiam as ruas de Portalegre, mas também de carpinteiros, 11

Gaudêncio Costa, Chairman of the General Assembly at the time, presented the results of their work on 29 November 1863 before “a group of citizens of the city”, including, and in particular, António Joaquim de Campos, the administra‑ tive head of the Municipality. However, these statutes would not be the final version that they wished to have enacted. In fact, although it was not possible to clarify whether this was a goal that some members had had from the outset, the ini‑ tial idea of forming an association with an essentially recre‑ ational profile quickly became overlapped with the desire to set-up a mutualistic-oriented society, following a trend that characterized the Portuguese association movement in the mid-nineteenth century, when various mutualistic associa‑ tions had evolved. The steps to legalize an organization of this kind, how‑ ever, were long and laborious, especially the mandatory drawing up of the statutes and encapsulating these within a specific legal framework and also obtaining their approval from the King. But the founders of the Euterpe showed their determination in this area. Proof of this was the speed with which a new committee was formed, elected on 25 October 1865 to present the draft statutes “which were to be sub‑ mitted for the approval of the Government of His Majesty”7. Those nominated to undertake this were Emílio Larcher, Rochoso Costa e Silva, Rodrigues da Costa and Caetano Sil‑ vestre de Almeida. Their work resulted in the Articles of Association that would be approved by Royal Charter on 29 January 1866, signed by D. Luis I. Thus in this way was created the welfare side of the Euterpe Recreational Society which thus, from 1866 onwards, gave way to the Monte Pio Euterpe Portalegrense. It should be noted that its interim direction, until the Montepio was legally constituted, had been handed over to


sapateiros, serralheiros, pedreiros ou domésticas. Mas note­ ‑se que grande parte da classe operária estava enquadrada, porventura, noutras associações mutualistas que existiam na cidade8. Para se entender a emergência e a necessidade de cria‑ ção da Associação Mutualista em meados do século XIX em Portalegre, importa atender a ausência de protecção social que caracterizava as classes trabalhadoras portuguesas no período, até porque o primeiro esboço de previdência esta‑ tal surgiria apenas com a instauração da República, no início do século XX. Neste sentido, estruturar e elevar uma asso‑ ciação mutualista constituía uma forma única das classes mais desfavorecidas, as classes trabalhadoras, procederam à sua própria protecção social em caso de doença e de morte. Pode­‑se assim afirmar que a criação do Montepio Euterpe foi o resultado das preocupações com a assistência, comuns aos trabalhadores das pequenas oficinas que se encontra‑ vam distribuídas pelas ruas da cidade e, ainda que seja difí‑ cil esta diferenciação, a muitos dos proprietários dos mes‑ mos estabelecimentos. Na verdade, o surgimento de mais de 700 associações de cariz mutualista surgidas em Portugal no século XIX, como anteriormente referido, é indissociável da emergência de muitas organizações congéneres constituídas por toda a Europa a partir do final do século XVIII. Estas procuram dar resposta ao crescente problema da pobreza que se propagava em função, sobretudo, do crescimento demográfico e urbano e do modelo de produção industrial que deixava à mercê da miséria largas faixas das classes trabalhadoras. Das diversas organizações desse tipo – as mais difundidas na Europa no período eram as frendly societies – as que conheceram uma maior aprovação e difusão em Portugal foram os monte‑ pios9. A emergência destas organizações relaciona­‑se com a

Emílio Larcher, Mouzinho de Albuquerque, José da Costa e Silva and Augusto Firmo Estácio. As its first task it was decided to analyse its financial status with a view to settling outstanding debts. When considering the members who helped found the Mutualistic Association (see Annex 1), and the brief anal‑ ysis of their socio-economic profile, it is worth emphasis‑ ing, above all, that the Montepio arose as a result of the wishes of many smallholders from the various workshops which filled the streets of Portalegre, along with carpen‑ ters, shoemakers, blacksmiths, masons and housemaids. It should however be noted that much of the working class was by chance involved in other mutualistic associations that existed in the city8. To understand the emergence and need to set up the Mutualistic Association in the mid-nineteenth century in Portalegre, it is important to consider the absence of wel‑ fare cover that characterized the Portuguese working classes in the period, because the first form of any welfare state provision would only appear with the establishment of the Republic in the early twentieth century. In this sense, form‑ ing and creating a mutualistic association constituted a unique way for the lower classes, the working classes, to cre‑ ate their own social welfare in the event of illness or death. We can thus say that the creation of the Montepio Euterpe was the result of concerns about welfare common to work‑ ers in the small workshops that were spread throughout the city streets and, although it is difficult to differentiate this, many of the owners of these establishments. Indeed, the emergence of more than 700 associations of a mutualistic nature in Portugal in the nineteenth cen‑ tury, as previously mentioned, is inseparable from the emer‑ gence of many similar organizations established throughout

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Europe from the late eighteenth century onwards. These

Portalegre, 1888. Fotografias de Paino Perez

sought to address the growing problem of poverty which

Portalegre, 1888. Photos by Paino Perez.

was spreading due mainly to urban population growth and the model of industrial production that left large sections of the working classes at the mercy of misery. Out of sev‑ eral such organizations – the most widespread in Europe in the period being the friendly societies – those that experi‑ enced a greater adoption throughout Portugal were the montepios9. The emergence of these organizations related to the need to look at the problem of poverty from another per‑ spective, to favour the concept of self-help. This idea was closely linked to the affirmation of liberal thought, espe‑ cially the classical economic argument of the concept of sav‑ ing and temperance, considered two routes to prosperity, by limiting vices such as alcoholism and gambling, the capi‑ tal necessary to safeguard the future. Briefly, the passage of the eighteenth century to the twentieth century was over‑ lapped with a prior means of fighting poverty – that of assis‑ tance – the thesis that argued that the lower classes, only joined together to engage in and build their future, could create mechanisms that prevented them falling into pov‑ erty should any negative events befall them. It was believed that the poor were thus responsible for their own destiny and could avoid such hardship through a welfare associa‑ tion. This thinking included many European philanthro‑

necessidade de olhar sob outra perspectiva o problema da pobreza, privilegiando agora o conceito de auto­‑ajuda. Esta ideia estava estritamente ligada à afirmação do pensamento liberal, mormente à defesa pela economia clássica do con‑ ceito de poupança e de temperança, consideradas duas vias para a prosperidade, limitando de vícios, como o alcoolismo e o jogo, o capital necessário para salvaguardar o futuro. Sinteticamente, na passagem do século XVIII ao século XX 13

pists who belonged to the European elites of the eighteenth century, and expanded to Portugal in the nineteenth cen‑ tury through individuals such as Alexandre Herculano, giv‑ ing rise to organizations like the Montepio Euterpe. As such, besides the working classes, who mainly filled the list of members of the Mutualistic Association, the list of members setting up the Montepio also included representa‑ tives of the elite of Portalegre, and given a special member


sobrepõe­‑se à anterior forma de combate à pobreza – a via assistencial – a tese que defende que as classes mais desfa‑ vorecidas, apenas unidas e empenhadas na construção do seu futuro, poderiam criar mecanismos que impedissem a sua queda na miséria em caso de eventualidades negativas. Acreditava­‑se assim que os pobres eram responsáveis pelo seu próprio destino e que podiam despistar a miséria atra‑ vés de um associativismo solidário. Este pensamento mobi‑ lizou, inclusivamente, muitos filantropos europeus que per‑ tenciam às elites europeias do século XVIII, e expandiu­‑se a Portugal no século XIX através de homens como Alexandre Herculano, dando origem a organizações como o Montepio Euterpe. Entende­‑se assim também que além das classes trabalha‑ doras, que preenchem globalmente o quadro dos sócios da Associação Mutualista, na formação do Montepio não dei‑ xem de estar representadas as elites portalegrenses, enqua‑ dradas numa segunda diferenciação de sócios, os sócios protectores. Estes eram escolhidos, como o próprio nome indica, para socorrerem a associação em caso de necessidade.

category – member (patron). These were chosen, as the name indicates, to help the association in case of need. The group of four initial patrons included George William Robinson, the priest Francisco António Barrogueiro and the pharma‑ cist António Ferreira Baptista, and, later, Thomaz Frederick Robinson – brother of George William Robinson and uncle of George Wheelhouse Robinson –, Joaquim de Avillez and the Viscount Reguengo, who were given the status of hon‑ orary member (patron). Besides the founder members and the (honorary) patrons, there were also ordinary/full mem‑ bers, a classification which came into being for members who signed up after the Association had been formed, and who, naturally, became the largest group of members as the Mon‑ tepio grew. It should be noted also that they had a profile completely similar to the founder members with the same recruitment logic being for the most part followed. The main exception was that of members who lived outside the district of Portalegre and who constituted a small minority. The administrative structure of the organization was divided between the General Assembly, consisting of all members of the Association, which dealt with the major deci‑ sions, the Board elected by the General Assembly with func‑

George Robinson, um dos sócios protectores da Euterpe.

tions to manage day-to-day operations of The Euterpe and an

George Robinson, one of the (patron) members of the Euterpe.

Accounts Committee, followed by an Audit Committee to do the accounts and record the minutes of the Board. During the period in which the Mutualistic Association was legalized, the activity of the Philharmonic Band was not recorded very often in the documentation consulted from the Euterpe archives. However, once formed, the Montepio made a more melodious statement of its musical side as part of the cultural activity of Portalegre. This was, however, a path which encountered some resistance. Echoes of these barriers are, as an example, to be found in the minutes of

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Do grupo dos quatro sócios protectores iniciais destaca­‑se George William Robinson, o padre Francisco António Bar‑ rogueiro e o farmacêutico António Ferreira Baptista, tendo surgido posteriormente, Thomaz Frederick Robinson – irmão de George William Robinson e tio de George Whe‑ elhouse Robinson –, Joaquim de Avillez e o Visconde do Reguengo, estes dois últimos já com a designação de sócio protector/honorário. Além dos fundadores e dos protec‑ tores/honorários, havia ainda os sócios ordinários/efecti‑ vos cuja classificação se referia aos membros que se tinham inscrito depois de a Associação estar constituída, os quais, naturalmente, passam a formar o maior grupo de sócios do Montepio à medida que este vai crescendo. Note­‑se ainda que eles têm um perfil em tudo semelhante aos sócios fun‑ dadores obedecendo, em grande parte, à mesma lógica de recrutamento. A principal excepção diz respeito apenas aos sócios que viviam fora do distrito de Portalegre e que consti‑ tuem uma pequena minoria. Já a estrutura administrativa da organização distribuía­ ‑se entre a Assembleia Geral, constituída por todos os sócios da Associação e na qual eram referendadas as principais decisões, a Direcção eleita pela Assembleia Geral com fun‑ ções de dirigir o dia­‑a­‑dia da Euterpe e uma Comissão de Contas, primeiro, e Conselho Fiscal, depois, destinados a escriturar as contas e os actos da Direcção. Durante o período em que se legalizou a Associação Mutualista, a actividade da Banda apresenta­‑se pouco retratada na documentação consultada no arquivo da Euterpe. Mas uma vez constituído, o Montepio promoveu uma mais afincada afirmação do seu ramo musical no quadro cultural de Por‑ talegre. Tratou­‑se, todavia, de um percurso que conheceu algumas resistências. Ecos desses entraves encontram­‑se, a título de exemplo, na acta que reporta à sessão da Assem‑ 15

the General Assembly session of 18 March 1866. The epi‑ sode concerned the warning made to Perdigão by people out‑ side the Association, for the philharmonic band “not to be involved, under penalty of proceedings (...) in a Funeral Pro‑ cession (Procissão do Enterro do Senhor) due to the other phil‑ harmonic band in this city having been invited”10. The epi‑ sode, which earned the indignation of the General Assem‑ bly, was nothing more than a misunderstanding. There was in fact an agreement between the conductor of the Euterpe and the Board of the Philharmonic Band of Infantry Regi‑ ment No. 22, commonly known as Band 22, not to play at an event when the other band had already been invited. The Philharmonic Band marked its territory in the town. However, the relationship between the band and the Board of the Mutualistic Association was not always finely tuned in these early years. Tension arose from an antithesis between the need to establish the credibility of the Monte‑ pio, showing its seriousness in action, and the lighter pro‑ file that characterized the musical groups of the time11. As an example, this was illustrated by the new regulation ”concerning the philharmonic section”12, dated 30 October 1863, and also at the meeting of 9 November 1863, which displayed the Montepio’s desire to discipline the musical side through the Board demanding that the Philharmonic Band not give a concert without its conductor. This ten‑ sion became a thing of the past in 1865. At that time, both the meetings of the Association and the Philharmonic Band rehearsals began to take place in a new location, since the Association had been forced to leave the Portalegre Club, which until then had been its headquarters. The new loca‑ tion, presented at the meeting of 19 October 1865, was the Theatro Portalegrense , with the Board noting that the “pro‑ visional granting of its use seemed to be straightforward”13,


bleia Geral de 18 de Março de 1866. O episódio diz respeito à advertência efectuada junto de Perdigão, por pessoas exte‑ riores à Associação, para a Banda “não concorrer, sob pena de procedimento (...) à Procissão do Enterro do Senhor por ter sido igualmente convidada a outra philarmónica que existe nesta cidade”10. O episódio, tendo merecido a indigna‑ ção da Assembleia Geral, não passou de um mal entendido. Existia, na verdade, um acordo entre o regente da Euterpe e a Direcção da Banda do Regimento de Infantaria 22, vulgar‑ mente conhecida como Banda do 22 para que não concor‑ ressem a um evento quando a outra banda já o tivesse feito. A Banda conquistava o seu espaço na cidade. Mas a relação entre a Banda e a Direcção da Associação Mutualista nem sempre se apresenta afinada nestes primei‑ ros anos. A tensão nasce de uma antítese entre a necessidade de firmar a credibilidade do Montepio, mostrando seriedade na acção, e o perfil mais ligeiro que caracterizava as ban‑ das musicais neste período11. Tal facto é ilustrado, a título de exemplo, no novo regulamento “relativo à secção philar‑ mónica”12, datado de 30 de Outubro de 1863, e também na reunião de 9 de Novembro de 1863, na qual é demonstrado o desejo do Montepio em disciplinar o ramo musical atra‑ vés da exigência da Direcção para que a Banda não fizesse um concerto sem o seu regente. Esta tensão encontrava­‑se já ultrapassada em 1865. Nessa altura, quer as reuniões da Associação quer os ensaios da Banda passam a ocorrer con‑ juntamente num novo espaço, dado que a Associação fora for‑ çada a abandonar o Clube Portalegrense, que tinha sido até aí a sua sede. O novo espaço, apresentado na reunião de 19 de Outubro de 1865, foi o Theatro Portalegrense, sublinhando a Direcção que a “cedência provisória se lhe afigurava fácil”13, embora se aludisse a que o local necessitava de algumas remo‑ delações. Estas seriam efectuadas com o esforço dos artistas

although it alluded to the fact that the place needed some renovations. These would be carried out with the effort of the artists who “would certainly be willing to use their skill and other members with donations corresponding to the specific requirements, all in a healthy proportion for the fin‑ ishings of the aforementioned hall”14. The Euterpe in this way managed to find its headquarters for a number of years.

Under the dominance of the Montepio (1866-1884)

On 8 April 1866, Honório Fiel Lima, one of the most important industrialists of the city, presented, as the Chair‑ man of the General Assembly, the report of the interim Audit Committee, which had finished its work. It particu‑ larly highlighted “the increase in revenues of the society”15. This date also saw the selection of the first Board of the Montepio Euterpe, with the election of Emílio Larcher, José Joaquim Bichoso, Augusto Firmo Estácio, António Bernardo Tavares and José Maria Mourato. Emílio Larcher, it should be noted, was given the task by his colleagues of constitut‑ ing the Montepio Euterpe, and it was proposed that he be nominated Honorary President. The Montepio quickly attained a prominent position in Portalegre society of the period, the season, a relevance mainly achieved through the assistance it provided to its members. Almost all revenues were channelled towards this assistance. These revenues were obtained either from fees or by holding shows. Three brilliant recitals were held on 3, 4 and 5 April 1866 by the musician Francisco Alves da Silva Taborda aimed at increasing the revenue and prosperity of the welfare organization, which received the help and soli‑ darity of most of Portalegre’s artists.

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Livro de Escrituração de Entradas e Saídas. Fundo Permanente. Dual Entry Bookkeeping Ledger. Permanent Fund.

que “de certo se apresentariam de bom grado a concorrer com o seu trabalho e os demais sócios com os donativos nas diver‑ sas espécies precisas, tudo em proporção saudável para o aca‑ bamento do mencionado salão”14. A Euterpe conseguiu assim uma sede para vários anos. Sob a predominância do Montepio (1866­‑1884) A 8 de Abril de 1866, Honório Fiel Lima, um dos mais importantes industriais da cidade, e na qualidade de Presi‑ dente da Assembleia Geral, procedeu à apresentação do rela‑ tório da Comissão de Contas da Direcção interina, que termi‑ nara o seu trabalho. Destaca, sobretudo, “o estado de aumento das receitas da sociedade”15. Nessa data decorreu, igualmente, a escolha da primeira Direcção do Montepio Euterpe, tendo sido eleitos Emílio Larcher, José Joaquim Bichoso, Augusto Firmo Estácio, António Bernardo Tavares e José Maria Mou‑ rato. A Emílio Larcher, sublinhe­‑se, foi atribuída pelos seus pares a iniciativa da formação do Montepio Euterpe, sendo proposto que ele fosse nomeado Presidente Honorário. O Montepio atingiu rapidamente uma posição de desta‑ que no seio da sociedade portalegrense da época, uma rele‑ vância conseguida, sobretudo, através da ajuda prestada aos seus sócios. Para a assistência eram canalizadas quase todas as receitas. Estas eram obtidas quer através da quotização quer através da realização de espectáculos. Enquadram­‑se aí os três recitais abrilhantados a 3, 4 e 5 de Abril de 1866 pelo músico Francisco Alves da Silva Taborda e que pretendiam aumentar a receita e a prosperidade da organização de bene‑ ficência, tendo conhecido a participação e a solidariedade de grande parte dos artistas de Portalegre. Quando olhamos para as formas de sustentação finan‑ ceira do Montepio importa abrir um parêntese. Não é o 17

When we look at the financial support mechanisms of the Montepio it is important to make a parenthetical remark. It is not the aim of this study to carry out a profound analy‑ sis of the accounts of the Mutualistic Association, which can be found in the accounts books of The Euterpe. This docu‑ mentation will deserve greater attention in a more com‑ parative profile study with other similar associations; it is merely important to mention that the capital management of the organization, like other Portuguese mutualistic asso‑ ciations, among which we highlight the Montepio Geral, was carried out through a fund that sought to increase this capi‑ tal through use in various applications, such as government bonds or Portuguese or discounted bills, for example. Despite the need for further study, it is possible to conclude that the capital management of The Euterpe


objectivo deste estudo efectuar uma análise profunda das contas da Associação Mutualista, as quais podemos encon‑ trar nos livros de contas da Euterpe. Essa documentação merecerá uma maior atenção num estudo de perfil mais comparativo com outras associações congéneres; importa expor apenas que a gestão do capital da organização, à seme‑ lhança de outras associações mutualistas portuguesas, de entre as quais destacamos o Montepio Geral, era efectuada através de um fundo que se procurava aumentar através do emprego desse capital em diversas aplicações, como títulos de dívida pública portuguesa ou o desconto de letras, a título de exemplo. Não obstante a necessidade de efectuar um estudo mais aprofundado, é possível concluir­‑se que a gestão do capital da Euterpe é efectuada com alguma indefinição. Sobretudo porque, contrariamente a algumas organizações congéneres, ainda que de dimensões distintas como o Montepio Geral, as Direcções do Montepio Euterpe depararam­‑se sempre com uma grande dificuldade em gerir o equilíbrio entre as receitas e o que seria exigido nas despesas futuras. Esta complicação decorre sobretudo das modalidades assistenciais prestadas pelo Montepio Euterpe, porventura demasiado direccionadas para a assistência na saúde, mormente, na ajuda à obtenção de medicamentos, mas também do financiamento de banhos e da assistência à família em caso de morte, modalidades que estavam assim demasiado sujeitas a conjunturas de crise, sobretudo a surtos epidémicos. Acresce aqui a ausência de cálculos actuariais que permitissem às Direcções da Associa‑ ção Mutualista estruturar a assistência presente e futura em função da receita gerada. Refira­‑se que as organizações con‑ géneres que obtiveram maior sucesso e longevidade, como o Montepio Geral, estabeleciam mecanismos mais precisos de equilíbrio financeiro que passavam, por vezes, pelo repensar

was carried out in an uncertain manner. Especially since, unlike certain other similar organizations, albeit with dif‑ ferent dimensions to the Montepio General, the Boards of the Montepio Euterpe always found it difficult to manage the balance between revenue and expenditure that would be required in the future. This complication arose primar‑ ily due to the forms of assistance provided by the Monte‑ pio Euterpe, perhaps too targeted towards health care, espe‑ cially in helping to obtain medication, but also the financing of baths and assistance to the family in the event of death, forms that were greatly subject to moments of crisis, espe‑ cially epidemic outbreaks. Moreover, there was an absence of actuarial calculations that would enable the Boards of the Mutualistic Association to structure its present and future assistance as a function of the revenue it generated. It should be noted that the similar organizations that had greater success and longevity, such as Montepio Geral, set up more precise mechanisms of financial balance which sometimes led to the rethinking of the forms of assistance offered, although in this case this balance has to be attrib‑ uted in large part to the existence of its Savings Bank16. Thus, the financial situation of the Montepio Euterpe was characterized throughout its existence by several imbal‑ ance crises in its accounts. An example of these difficul‑ ties is evident in a report by the Board dated 6 December 1868 which recognized that “the society has no assets and has struggled with some difficulties because it now has the task as laid down in its statutes to help its members and carry out other acts of kindness”17. The report shows a def‑ icit of 49,697$000 reis “which occurred through having to pay the prescriptions for the Pharmácia Limpo”18. This fact was presented with a degree of alarmism. The Board elected for the year 1869, composed of Manuel Joaquim Costa,

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das modalidades de assistência oferecidas, embora neste caso o equilíbrio se fique a dever em grande parte à existência da sua Caixa Económica16. Assim, a situação financeira do Montepio Euterpe é carac‑ terizada ao longo da sua existência por diversas crises de desequilíbrio nas contas. Um exemplo dessas dificuldades está bem patente num relatório da Direcção datado de 6 de Dezembro de 1868 no qual se reconhece que “a sociedade não possui bens de raiz e tem lutado com algumas dificuldades porque agora tem como encargo segundo os seus estatutos o socorro aos sócios e outros actos de beneficência”17. Há no relatório um défice de 49.697$000 reis “que se contraiu por se ter que pagar receituário na Pharmácia Limpo”18. Esta reali‑ dade era apresentada com algum alarmismo. A Direcção eleita para o ano de 1869, composta por Manuel Joaquim Costa, José Maria Mourato, José da Costa e Silva, João Dionísio Caldeira Serejo e Joaquim António Castelo referiu, inclusive, apenas aceitar o cargo se o amparo aos sócios fosse suspenso por dois meses e se procedesse a uma reforma dos Estatu‑ tos no sentido de se alterar as condições em que essa assis‑ tência era prestada. José Maria Mourato refere, a propósito, “que dessas duas circunstâncias depende a vida ou a morte do Montepio”19. A Assembleia suspendeu os socorros, mas não os prestados aos sócios já doentes, e aprovou também uma alteração dos Estatutos. Mas apesar da percepção de que as modalidades assis‑ tenciais prestadas aos sócios provocavam um desequilíbrio nas contas do Montepio, nunca seria efectuada nenhuma reforma profunda dos Estatutos com o intuito de resolver o problema. Será inclusivamente no desequilíbrio entre a capacidade de aumento de capital e o compromisso de con‑ ceder protecção aos sócios que residirá uma das vias mais decisivas para o declínio do Montepio Euterpe. 19

José Maria Mourato, José da Costa e Silva, João Dionísio Caldeira Serejo and Joaquim António Castelo stated that it would only accept the posts if assistance to members was suspended for two months and if a reform of the Statutes was undertaken in order to change the conditions under which such assistance was provided. José Maria Mour‑ ato mentioned, in regard to this, “that these two circum‑ stances would determine the life or death of Montepio”19. The Assembly suspended assistance, but not that given to members who were already ill, and also approved an amend‑ ment to its Statutes. But despite the perception that the forms of assistance provided to members caused an imbalance in the accounts of the Montepio, no radical reform of the Statutes would ever be carried out in order to solve the problem. The imbal‑ ance between the ability to increase capital and the commit‑ ment to provide assistance to members was one of the key factors which led to the decline of the Montepio Euterpe. If assistance to its members was in fact the main concern of the Board of the Mutualistic Association, one can see how the Philharmonic Band evolved more slowly. It was occasion‑ ally directly affected by the difficulties which formed part of the Montepio. In May 1868, during one of these episodes, the musicians were even stripped of their instruments so that the debts of the Montepio could be paid20. Notwithstanding these difficulties, the Euterpe sur‑ vived the difficulties of the first years of its existence and was able to accompany, from the early 1860s, the transfor‑ mations that Portalegre underwent at that time. The work of António Ventura has been drawn up to provide help with this. The inhabitants of the city rose from 6433 in 1860 to 7039 in 1878 and 10,538 in 1890. Due to these changes, when viewed from one of its highest points, that of the Robinson


Se a ajuda aos sócios constituía de facto a principal pre‑ ocupação da Direcção da Associação Mutualista, percebe­‑se assim que a Banda evoluísse de forma mais lenta. Algumas das vezes chegou a ser prejudicada directamente pelas difi‑ culdades inerentes ao próprio Montepio. Em Maio de 1868, num desses episódios, os músicos foram mesmo despojados dos seus instrumentos para que fossem pagas as dívidas do Montepio20. Não obstante estas dificuldades, a Euterpe sobreviveu às dificuldades dos primeiros anos da sua criação e pôde acompa‑ nhar, desde o início da década de 1860, as transformações que Portalegre sofria nessa altura. Para as conhecer socorremo­ ‑nos da pesquisa de António Ventura. Constatamos que a cidade passou de 6.433 habitantes em 1860, para 7.039 em 1878 e 10.538 em 1890. Em função dessas modificações, quando observada de um dos seus pontos mais elevados, a partir da Fábrica Robinson, Portalegre agrupava nas suas anti‑ gas ruas de traço medieval e nas novas artérias que se foram abrindo, um conjunto de actividades de perfil artesanal com‑ posto por alfaiates, sapateiros, carpinteiros, chocalheiros, ces‑ teiros, entre outros. Com eles cruzavam­‑se os inúmeros ope‑ rários – corticeiros na sua maioria – que trabalhavam e viviam em Portalegre e que, no seu conjunto, “conferiam à cidade um cunho marcadamente industrial”21. O comércio, por sua vez, estendia­‑se pela Rua da Cadeia (actual Rua do Comércio), Pra‑ cinha, Rossio, Rua do Mercado e dos Canastreiros. Muitos des‑ tes “actores” de Portalegre formavam, como vimos, o núcleo de sócios do Montepio. É verdade que a cidade continuava a manter a sua antiga dialéctica entre esta população urbana – que se distribuía, sobretudo, pelo interior do espaço amura‑ lhado – e a população rural, dispersa pelos diversos lugares e povoações que a rodeiam. Esta última dedicava­‑se sobretudo à agricultura. Mas ainda que paulatinamente, a cidade mudara,

Factory, Portalegre could be seen grouped into its ancient streets of medieval origin, as well as new arteries that were opening out, which contained artisanal activity made up of tailors, shoemakers, carpenters, basket weavers, etc. Cross‑ ing these were the countless workers – mostly cork workers – who worked and lived in Portalegre and who, as a whole, “gave the city a distinctly industrial slant”21. Trade, in turn, extended through Rua da Cadeia (the present-day Rua do Comércio), Pracinha, Rossio, Rua do Mercado e dos Canas‑ treiros. Many of these Portalegre individuals made up, as we have seen, the core group of members of the Montepio. It is true that the city continued to maintain its ancient dialectic between this urban population – which was mainly distrib‑ uted inside its walled space – and the rural population spread out over various hamlets and villages that surrounded it. The latter were devoted mainly to agriculture. But even if gradu‑ ally, the city had changed, and it was this demographic and economic growth which was clearly identifiable in 1890 that had generated “a certain worldly and bohemian life”22 that mirrored a particular social and cultural environment which was more urban when compared with the beginning of the 1860s and which certainly established better conditions – that is, more members and a larger public – for the devel‑ opment of the city’s associative movements and the expres‑ sion of cultural activities. It was this urban expansion of Por‑ talegre that would provide sustainability to the Montepio and the Euterpe Philharmonic Band until the 1890s.

From the Montepio to the Philharmonic Band (1884-1908)

The start of the 1890s brought many changes. The Decree of 28 February 1891, referring to the right of associ‑

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e foi este crescimento demográfico e económico já claramente identificável em 1890 que gerou “uma certa vida mundana e boémia”22 que espelhava um determinado ambiente social e cultural de perfil mais urbano face ao início da década de 1860 e criou, certamente, melhores condições, leia­‑se, mais sócios e mais público para o desenvolvimento dos movimentos asso‑ ciativos da cidade e para a afirmação de diversas actividades culturais. É esta expansão urbana de Portalegre que providen‑ ciará a sustentabilidade do Montepio e da Banda Euterpe até à década de 1890.

ation, forced the statutes relating to mutual assistance to be amended and re-submitted for Government approval. These legislative alterations led to a change in the relationship between the Montepio and its musical section, leading to the establishment of a music school to be organized through a specific fund and a special regulation that was approved on 26 December of that year. Indeed, by force of law, this paved the way for a new activity, which would keep its umbili‑ cal connection to the Philharmonic Band: a music school. The new statutes of Montepio were approved, it should be noted, by the Royal Charter of 22 August 1894. The school

Do Montepio à Banda (1884­‑1908)

and the Philharmonic were, respectively, given the name of Escola Musical Euterpe Portalegrense and Filarmónica Euterpe

O início da década de 1890 traz consigo diversas muta‑ ções. O Decreto de 28 de Fevereiro de 1891, referente ao direito de associação, obrigara a que os estatutos de socor‑ ros mútuos fossem alterados e novamente submetidos à aprovação do Governo. Estas mutações na legislação leva‑ ram a que se promovesse uma alteração na relação entre o Montepio e a sua secção musical, impulsionando a cria‑ ção de uma escola musical que deveria ser organizada com um fundo específico e com um regulamento especial que viria a ser aprovado a 26 de Dezembro desse ano. Na ver‑ dade, pela força da lei, aplanou­‑se o caminho para uma nova via cuja ligação umbilical a tornaria inseparável da Banda: uma escola musical. Os novos estatutos do Montepio seriam aprovados, refira­‑se, pelo Alvará Régio de 22 de Agosto de 1894. A escola e a filarmónica ficaram, respectivamente, com a designação de Escola Musical Euterpe Portalegrense e Filarmónica Euterpe Portalegrense. Da direcção das duas ocupou­‑se Francisco Perdigão. A 15 de Dezembro de 1892, contando a Associação Mutualista com 136 sócios, ocorre uma nova mudança de instalações 21

Portalegrense. Francisco Perdigão was on the board of both. On 15 December 1892, the Mutualistic Association, with its 136 members, underwent a change of premises when the Montepio leased from the Municipality of Por‑ talegre, for an annual rent of 12 thousand reis, a space that had belonged to the former Seminary and which would be used for the Philharmonic Band’s rehearsals. The place and the rent were divided with the Montepio Fraternidade, another mutualistic association existing in the city who remained in the same location as the Euterpe for a number of years. This period was not, however, conducive to the expan‑ sion of the Euterpe. With regards to its mutualistic activity, the members of the Montepio between 1895 and 1896 were afflicted by a number of diseases, not managing to avoid the outbreak that affected the entire city. The increased need for assistance by members due to the growing number of cases of influenza, measles and smallpox, in addition to pneumonia, largely overloaded the finances of the Montepio, as stated in a report by the Board dated 3 January 1896, which stated that “the year 1885 was, without doubt, the cruellest of all


Alvará Régio de aprovação dos estatutos do Montepio Euterpe Portalegrense, século XIX. Royal Charter approval of the statutes of Montepio Euterpe Portalegrense, nineteenth century.

quando o Montepio arrenda à Câmara Municipal de Portalegre, por 12 mil reis anuais, um espaço que pertencia ao antigo Semi‑ nário e que se destinaria aos ensaios da Filarmónica. O lugar e a renda foram divididos com o Montepio Fraternidade, outra associação mutualista existente na cidade e que se manteria durante bastantes anos no mesmo espaço da Euterpe. O período não era, todavia, propício à expansão da

that our Monte Pio could remember during its long exist‑ ence (...) since many of our fellow members were dragged through pain into their beds where they remained, tortured by extremely serious diseases”23. The situation appears to have continued and a new report, dated 3 December, men‑ tioned that “the poor sanitary condition of our city contrib‑ uted in a major way to the worsening of our finance which

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Euterpe. Na vertente mutualista os membros do Montepio são afligidos, entre 1895 e 1896, por uma série de doenças, não fugindo ao surto que atingia toda a cidade. O aumento da necessidade de assistência na saúde pelos sócios devido ao crescimento do número de casos de gripe, de sarampo e de varíola, além das pneumonias, vem sobrecarregar, em grande medida, as finanças do Montepio conforme expõe um relatório da Direcção datado de 3 de Janeiro de 1896. Aí é referido que “o ano de 1885 foi, sem a menor contesta‑ ção, o mais cruel de todos quantos o nosso Monte Pio possa contar durante a sua já longa existência (...) pois que a mui‑ tos dos nossos consócios arrastou para o leito de dor onde os conservou torturados por doenças gravíssimas”23. A situ‑ ação parece prolongar­‑se e um novo Relatório, datado de 3 de Dezembro, refere que “o mau estado sanitário da nossa cidade contribuiu de forma poderosíssima para o agra‑ vamento das suas finanças já muito abaladas na anterior gerência”24. Na verdade, o aumento do número de enfermos agravou bastante o estado financeiro da Associação. Neste

were already under great strain during the previous manage‑ ment”24. In fact, the increase in the number of sick consider‑ ably worsened the financial condition of the Association. In that year, 72 of the 141 members requested assistance. They asked, essentially, for assistance with medication. It was the experience of these difficulties which probably led the Mon‑ tepio Board chaired by José Rosa and elected for the year 1896 to take a few extraordinary measures aimed at increas‑ ing the revenues of the Mutualistic Association. The most rel‑ evant consequence for the philharmonic band was certainly the sale of its musical instruments and other objects belong‑ ing to the philharmonic section of the Montepio, a fact that seems to mark a period of change in the preponderance of the Philharmonic Band within the Mutualistic Association. The assets of the Band were also enriched with the pur‑ chase in April of new works for the Philharmonic. The finan‑ cial difficulties that the Montepio went through also caused the Board elected for the year 1898, and chaired by António Sebastião Rodrigues e Silva, to envisage new paths for the Mutualistic Association. A new means of enabling the Mon‑

Anúncio à actividade da Euterpe no jornal O Distrito de Portalegre, 9 de Julho de 1890.

tepio to survive was inaugurated, with the project to set up a

Announcement to Euterpe activity in the newspaper O Distrito de Portalegre, 9 July 1890.

mutualistic pharmacy in Portalegre. During this period, and related to this, negotiations with the Montepio Operário and the Montepio Fraternidade took place to carry out a study to set up a pharmacy in Portalegre run by the three organizations. It was at this time that an important episode concerning the relationship between the Board of the Montepio and the Philharmonic Band took place in May 1898. Perhaps want‑ ing to obtain more available time to solve the problems of the Mutualistic Association, the Board gave Perdigão, the con‑ ductor of the Philharmonic Band, a wide remit “to hereinaf‑ ter accept invitations for the band to attend any acts or func‑ tions, with he being the person most competent to resolve

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ano, 72 dos 141 sócios pediram auxílio. Solicitavam, essen‑ cialmente, a requisição de medicamentos. Terão sido as difi‑ culdades aí sentidas que levaram provavelmente a Direc‑ ção do Montepio liderada por José Rosa e eleita para o ano de 1896 a tomar algumas medidas extraordinárias tendo em vista o aumento das receitas da Associação Mutualista. A consequência mais relevante para a Banda foi, segura‑ mente, a venda dos instrumentos musicais e outros objec‑ tos até aí pertencentes ao Montepio à sua secção filarmó‑ nica, um facto que parece marcar um período de mudança da preponderância da Banda no seio da Associação Mutualista. O património da Banda foi igualmente enriquecido com a compra, em Abril, de novas obras para a Filarmónica. As dificuldades financeiras que o Montepio sentia terão levado também a sua Direcção, eleita para o ano de 1898 e presi‑ dida por Sebastião António Rodrigues e Silva, a perspectivar novos caminhos para a Associação Mutualista. Inaugura­‑se, assim, como nova via de sobrevivência do Montepio, o pro‑ jecto da instalação de uma farmácia mutualista em Porta‑ legre. Foram mantidas, nesse sentido, negociações com o Montepio Operário e com o Montepio Fraternidade para um estudo para estabelecer em Portalegre uma farmácia gerida pelas três organizações. Foi nesta conjuntura que a relação entre a Direcção do Montepio e a Banda conhece, em Maio de 1898, um importante episódio. Querendo, porventura, obter maior disponibilidade de tempo para resolver os pro‑ blemas da Associação Mutualista, a Direcção confere a Per‑ digão, o regente da Banda, amplos poderes “para de ora em diante aceitar os convites para a banda assistir a quaisquer actos ou funções por ser ele o mais competente para resolver quaisquer obstáculos que possam dar­‑se e bem assim esta‑ belecer as gratificações que a banda deve receber, tanto den‑ tro como fora da cidade”25. Foi já com esta autonomia que

any obstacles that may occur as well as determining any financial compensations that the Band would obtain, both inside and outside the city”25. It was with this autonomy that Perdigão would coordinate all the activities carried out at the turn of the nineteenth and the twentieth century. In January 1901, when the Montepio had about 119 members the news‑ paper Distrito de Portalegre declared on its front page that “the people have taken to the streets” for the “Celebrations of the New Century.”26. The Euterpe, as was its tradition, animated the streets of the city. The century had changed but the year followed the normal rhythm of performances and partic‑ ipation in the most important moments of the city. It was mainly marked by the inauguration of electric street light‑ ing in Portalegre that until then used oil. The celebrations were boosted by the Commercial Association of Portalegre, the most significant names of which being George Wheel‑ house Robinson, Boaventura da Costa and António Augusto Niny. Of the various infrastructure created for the event by the artist José Maria dos Santos the new gazebos and vari‑ ous ornamentations stood out, giving life to the party. Two pavilions were also erected, the Pavilion House of the Indus‑ tries of the Robinson House and the Bazaar Pavilion. The lat‑ ter functioned as the true centre of the party. Five philhar‑ monic bands were invited, which marched through the city streets. Along with the Euterpe, on 12 September 1901, were the 22 Infantry Band, the Band of Marvão, the Band of Gáfete and the Band of the 41st Infantry of Badajoz. The inauguration of electric lighting itself occurred at six o’clock in the afternoon, when the bazaar was also opened. Then, at night, before “a light that was lively, clear, without any flick‑ ering”27, the Euterpe played on the bandstand of the Public Park while the band of the 22 Infantry and the Marvão band played on the bandstands that flanked the Bazaar pavilion.

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Perdigão terá coordenado todas as actuações efectuadas na viragem do século XIX para o século XX. Em Janeiro de 1901, quando o Montepio contava com cerca de 119 sócios o jornal Distrito de Portalegre coloca na primeira página que “o povo sai à rua” para os “Festejos do Novo Século”26. A Euterpe, como é tradição, animou as ruas da cidade. O século mudou mas o ano seguiu o ritmo normal nas actuações e na participação nos momentos mais impor‑ tantes da cidade. Foi marcado, sobretudo, pela inauguração da iluminação eléctrica de rua em Portalegre que até aí era efectuada a petróleo. Os festejos foram impulsionados pela Associação Comercial de Portalegre que era composta, nos nomes mais relevantes, por George Wheelhouse Robinson, Boaventura da Costa e António Augusto Niny. Das várias infra­ ‑estruturas criadas para o evento pelo artista José Maria dos Santos destacavam­‑se os novos coretos e as diver‑ sas ornamentações que deram vida à festa. Construíram­ ‑se, igualmente, dois pavilhões, o Pavilhão das Indústrias da Casa Robinson e o Pavilhão do Bazar. Este último funcionava como o verdadeiro centro da festa. Foram convidadas cinco bandas que percorreram as ruas da cidade. Acompanhavam a Euterpe, em 12 de Setembro de 1901, a Banda de Infanta‑ ria 22, a Banda de Marvão, a Banda de Gáfete e a Banda do 41 da Infantaria de Badajoz. A inauguração da iluminação eléctrica propriamente dita ocorreu às seis da tarde, altura em que também é aberto o bazar. Já à noite, perante “uma luz que se mostra viva, clara, sem oscilações”27, a Euterpe toca no coreto do Jardim Público enquanto a banda de Infantaria 22 e a de Marvão tocam nos coretos que ladeiam o pavilhão do bazar. Os festejos, refira­‑se, continuaram nos dias 13, 14, 15 e 16. Acontecimentos igualmente marcantes terão sido a par‑ ticipação nas comemorações do 15.º aniversário da subida 25

The festivities, as already mentioned, continued on the 13th, 14th, 15th and 16th. Events equally significant were its participation in the celebrations of 15th Anniversary of the election of Pope Leo XIII, in March 1902, and the expressions of appreciation prepared for the visit of King D. Carlos to Marvão railway station in December of the same year. In the following year, in January, George Wheelhouse Robinson threw a party at the former Fábrica Real to celebrate the coming of age of his son George Milner Robinson. At the event, attended by 1600 guests, the band carried out a street procession from its headquarters, in Rua do Seminário until the Fábrica Real, with the key moment being when Perdigão offered George Milner Robinson an anthem written by him, in front of the Robinson’s residence. Some months earlier, in June 1901, Francisco Perdigão had informed the Board of the Montepio that the Associ‑ ation was going to move premises to a place “which until recently had housed an official boys’ primary school from the Parish of S. Lourenço. The Philharmonic and the Mon‑ tepio could be located there without any obligation to pay rent until 31 December 1904 when the current town coun‑ cil would terminate its term of office”28. He also mentioned that there was space available for the Montepio Fraternidade Portalegrense. The day-to-day operations of the Euterpe in the early twentieth century thus did not undergo any major changes. The Philharmonic Band work was filled with a succession of rehearsals and concerts alternating with special occasions at the level of the city and even the country. These included the acclamation of the new king, D. Manuel, in 1908. For the occasion, Francisco Perdigão conducted a Te Deum celebrated in the Cathedral. Also in June of the same year, the Euterpe


Participação da Euterpe nas festas de inauguração da iluminação eléctrica em Portalegre. O Distrito de Portalegre, n.º 851 (18 de Setembro de 1901). Euterpe participation in the inauguration of the electric street lighting in Portalegre. O Distrito de Portalegre, no. 851, (18 September 1901).

Participação da Euterpe nas comemorações da maioridade de George Milner Robinson. O Distrito de Portalegre, n.º 1012 (11 de Janeiro de 1903). Euterpe participation in the celebration of the coming of age of George Milner Robinson. O Distrito de Portalegre, no. 1012 (11 January 1903).

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de Leão XIII a Papa, em Março de 1902, e nas manifestações de apreço preparadas aquando da passagem do rei D. Car‑ los pela estação de Marvão, em Dezembro do mesmo ano. Já no ano seguinte, em Janeiro, George Wheelhouse Robin‑ son deu uma festa na antiga Fábrica Real para comemorar a maioridade do seu filho George Milner Robinson. No aconte‑ cimento, presenciado por 1600 convidados, a Banda fez uma arruada desde a sua sede, na Rua do Seminário até à Fábrica Real, destacando­‑se o momento em que Perdigão ofereceu a George Milner Robinson, em frente da habitação dos Robin‑ son, um hino de sua autoria. Alguns meses antes, em Junho de 1901, Francisco Per‑ digão comunicara à Direcção do Montepio que a Associação iria mudar de instalações para a casa “em que até há pouco funcionava a escola primária oficial do sexo masculino da Freguesia de S. Lourenço. Para ali se instalarem filarmónica e montepio sem obrigação de pagamento de renda até 31 de Dezembro de 1904 quando terminar a regência da actual vereação”28. Refere também que há espaço disponível para o Montepio Fraternidade Portalegrense. O dia­‑a­‑dia da Euterpe não conhece assim, no início do século XX, grandes alterações. A Banda mantém­‑se preen‑ chida pela sucessão de ensaios e concertos que são alterna‑ dos, em momentos singulares, por eventos de maior dimen‑ são da cidade ou até do país. Conta­‑se aí a aclamação do novo rei, D. Manuel, em 1908. Para a ocasião, Francisco Per‑ digão dirige um Te­‑Deum celebrado na Sé. Ou em Junho do mesmo ano, quando a Euterpe irrompe nas ruas da cidade com a alvorada que inaugura as festividades comemorativas dos 100 anos da expulsão dos franceses aquando das Inva‑ sões Francesas. O cenário, instalado no Passeio Público para o concerto da Euterpe, da Banda de Infantaria 22 e da Filar‑ mónica dos Bombeiros pretende sublinhar o perfil festivo do 27

performed in the city streets on the dawn opening the fes‑ tivities to commemorate the 100th anniversary of the expul‑ sion of the French during the Napoleonic wars. The scenery mounted on the Public Promenade for the concert involv‑ ing the Euterpe, the 22 Infantry Band and the Fire-fighters Philharmonic sought to emphasize the festive nature of the event, especially in its composition, with a triumphal arch with blue and white electric lamps forming the letters VIP, meaning “Long live the independence of Portugal” (“Viva a Independência de Portugal” and the cascade that showed VP at the bottom, to spell out “Viva Portugal”. Despite this regu‑ lar daily routine, the period was actually one of profound changes both for the Philharmonic Band and for the Monte‑ pio. At that time the latter had about 100 members and had, despite its difficulties, survived the difficult years of the last decade of the nineteenth century.

Setbacks, Perseverance and Regeneration: the turn of the Philharmonic Band (1908-1926)

The work carried out by Perdigão during the years of his Management, both in terms of his directorship, and his training of many musicians certainly prevented a feeling of abandonment upon his death on 21 January 1909. There was thus no inactivity and new items of news about the phil‑ harmonic band appeared in the Portalegre press soon after‑ wards in September 1909. The pretext was the contest to mark the first anniversary of the Fire-fighters of the Rob‑ inson Corporation and Robinson and this would have been one of the first major public appearances of the Philhar‑ monic Band with their new conductor, José Augusto Lavara, who had taken up his post in March. Despite these changes, 1910 was for the Euterpe a year


evento, destacando­‑se, na sua composição, um arco triunfal com lâmpadas azuis e brancas de luz eléctrica com as letras VIP, significando “Viva a Independência de Portugal” e na cascata que se mostrava ao fundo VP, significando “Viva Portugal”. Não obstante este quotidiano regular os tem‑ pos eram, na realidade, de profundas mudanças quer para a Banda, quer para o Montepio. Este contava nessa data com cerca de 100 sócios e tinha, não obstante as dificuldades, sobrevivido aos anos difíceis da última década do século XIX.

filled with performances. In April it participated in the entry into the city of the new Bishop António Moutinho and in the centennial celebrations of Alexandre Herculano, playing the anthem dedicated to this author through the streets of the city. But this year was marked mainly by the celebrations of the 50th anniversary of the Association. The festivities took place, as always, on 1 December. The winter’s day did not stop the wintry dawn celebration taking place in the Munic‑ ipal Hall nor the traditional street procession of the band to play the anthem of the Restoration, as always, by marching

Contrariedades, Perseverança e Regeneração: a vez da Banda (1908­‑1926)

through the streets of the city. The celebrations were also marked by the holding of a solemn commemorative session entitled “The Golden Anniversary of the Euterpe”. The only

O trabalho desenvolvido por Perdigão ao longo dos mui‑ tos anos na sua Direcção, quer na regência, quer na for‑ mação de muitos músicos impediu, certamente, um senti‑ mento de orfandade aquando da sua morte, a 21 de Janeiro de 1909. Não houve assim qualquer período de inactividade e novas notícias sobre a Banda surgem na imprensa porta‑ legrense logo em Setembro de 1909. O pretexto foi o con‑ curso efectuado por ocasião do primeiro aniversário dos Bombeiros da Corporação Robinson e terá marcado uma das primeiras grandes aparições públicas da Banda com o seu novo regente, José Augusto Lavara, que tinha sido escolhido desde Março. Apesar destas mutações, 1910 constitui para a Euterpe um ano preenchido de actuações. Em Abril participa na entrada na cidade do novo bispo D. António Moutinho e nas comemorações do centenário de Alexandre Herculano, tocando o hino dedicado a este autor pelas ruas da cidade. Mas este ano ficou marcado, principalmente, pelas comemo‑ rações dos 50 anos da Associação. Os festejos ocorrem, como sempre, a 1 de Dezembro. O dia invernoso não impediu a

surviving found member at that time, João Dionísio Serejo offered a painting which included all the founder members, in the room of the headquarters of the Euterpe. The ses‑ sion included speeches from the patron and member George Wheelhouse Robinson, the same individual who had in the month before offered protection to the Euterpe by helping it when it had lost the location for its headquarters, helping it to lease new premises, at the home of the teacher of the city’s high school. In 1910 Portalegre got to know, along with the rest of the country, the news of the official proclamation of the Republic. But in Portalegre the festive procession only took place, as reported in the Distrito de Portalegre “after the rep‑ resentatives of the people had made, in the Constituent Assembly (...) their cry for freedom.”29. The Euterpe partici‑ pated, alongside the 22 Infantry Band and the Band of Vol‑ unteer Fire-fighters, by playing A Portuguesa and A Maria da Fonte. It should be noted that the Philharmonic Band hence‑ forth started to participate in the commemorative events held annually to celebrate the establishment of the Republic.

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In 1910 the Town’s Festivities were held on 13, 14, 15

Partituras do acervo documental da Euterpe.

and 16 September, a date which served to inaugurate the

Sheet music from the Euterpe Musical Society archives

town council’s water services. Some changes took place in this period in the cultural and sporting areas. Above all there was the emergence of the importance of football and cycling, or, rather, the “bicycle races”, as mentioned in the programme of festivities for that year. Portalegre thus assimilated the changes occurring in activities that filled the cultural and recreational time of the Portuguese, many of these driven by the new Republican regime. The Euterpe, as usual, resisted and survived these changes, adapting to its new requirements. A trend does stand out, however, in this adaptation: the streets of Portalegre as a privileged point of activity. The Mutualistic Association, as opposed to its band, was passing through less brilliant times. The year 1910 had started well enough. On 29 November 1910 the Distrito de Portalegre announced that the pharmacy of the three mon‑ tepios, Euterpe, Fraternidade and Operário Artístico Portalegrense, would finally open in the city, finalizing a project that, as we have seen, had been thought of as far back as 1898. It was to be called the “Pharmácia Mutualista”. Notwithstand‑ ing this episode, the importance of the Montepio in the city was decreasing. In fact, the Montepio reflected the difficult times that the Country was experiencing with, for example, the number of its members decreasing. In 1912 there were

alvorada ocorrida nos Paços Municipais nem a tradicional arruada, com a Banda a entoar o Hino da Restauração, como sempre, fazendo uma arruada pelas ruas da cidade. As cele‑ brações ficaram igualmente marcadas pela realização de uma sessão solene comemorativa intitulada “As bodas de Ouro da Euterpe”. O único fundador vivo na altura, João Dioní‑ sio Serejo ofereceu, na sala da sede da Euterpe, um quadro 29

in fact only 78 members. It continued to also suffer due to the increasing expenditure on the provision of mutual aid for the various diseases afflicting the population of Portalegre during this period. The situation was becoming worse and in December 1913 a group of 15 members, headed by Manuel Eduardo Semedo and José Cara d’Anjo Júnior presented a proposal in the General Assembly to wind up the Montepio


onde figuravam todos os seus fundadores. Na sessão toma‑ ram a palavra, entre outras personalidades de Portalegre, o sócio protector George Wheelhouse Robinson, ele que pre‑ cisamente no mês anterior protegera a Euterpe prestando­ ‑lhe socorro quando esta ficou sem a sua sede, ajudando­‑a no arrendamento das suas novas instalações, a casa do pro‑ fessor do liceu da cidade. Em 1910 Portalegre conhece, juntamente com o resto do país, a notícia da proclamação oficial da República. Mas em Portalegre o cortejo festivo só decorre, conforme relata o Distrito de Portalegre, “depois dos representantes do povo afirmarem, na Assembleia das Constituintes (...) o grito e liberdade”29. A Euterpe participa, ao lado da Banda da Infan‑ taria 22 e da Banda dos Bombeiros Voluntários, tocando A Portuguesa e A Maria da Fonte. Sublinhe­‑se que a Banda passa a participar, doravante, nas comemorações realizadas anualmente para celebrar a implantação da República. Em 1910 as Festas da Cidade realizaram­‑se a 13, 14, 15 e 16 de Setembro, uma data que serviu de inauguração dos serviços municipalizados da água. Neste período algumas mudanças ocorrem no campo cultural e desportivo. Destaca­ ‑se, sobretudo, a emergência da importância do futebol e do ciclismo, ou melhor, das “corridas de bicicletas”, conforme a referência no programa das festas desse ano. Portalegre assi‑ mila assim as transformações ocorridas nas actividades que preenchiam o quadro recreativo e cultural português sendo muitas delas, refira­‑se, impulsionadas pelo novo regime repu‑ blicano. A Euterpe, como habitualmente, resiste e sobrevive a estas transformações, adaptando­‑se às novas exigências. Nesta adaptação destaca­‑se, todavia, uma tendência: as ruas de Portalegre como local privilegiado de actuação. A Associação Mutualista, ao invés da sua Banda, conhe‑ cia tempos de menor brilhantismo. O ano de 1910 até come‑

Euterpe Portalegrense. The city was scared of the idea of los‑ ing its Philharmonic Band and the Mutualistic Association. The Distrito de Portalegre of 7 December mentioned in this respect, “our heart trembles for a resolution and Portalegre, our land, trembles at so much shame. They do not wish this!”30. The proposal was, in fact, a form of pressure since the Montepio had stopped its financial subsidy and the con‑ tinuity of the Philharmonic Band was not in question here. But for the Montepio this was merely the prelude to the end. Moreover, it should also be added, as already noted, that these years marked the establishment in Portugal of a social security system sponsored by the state, a competitive real‑ ity to the mutualistic associations which endangered their existence. The harshness of this period would be accentuated in the city. The Distrito de Portalegre on 2 April 1916 ran the headline “To the People of Portalegre. The Patriotic Com‑ mission hereby announces the entry of Portugal into the Great War”, stating that it had learnt of Portugal’s entry into the First World War. This started another difficult period for the Euterpe and Portalegre. Even so, in May, on the occasion of the entrance into the city of its new bishop, D. Manuel Mendes da Conceição Santos, it still tried to break what the local press called the ”sad monotony of the city”31, with the holding of the Flower Festival. But until the end of the war, and then throughout the 1920s, a period marked by severe economic difficulties and major political crises , the Philharmonic Band and the Montepio Euterpe resigned themselves to surviving with‑ out any especial vitality. In the Montepio, the imbalance of the accounts which we have already referred to, persisted throughout the second half of the 1920s. On 15 March 1926, at a meeting of the General Assembly, it was decided to alter

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the value of the subscriptions due to “the large number of sick individuals who have lately been taking advantage of the Montepio”32. But in the Philharmonic Band the deterioration of the instruments, the calling up of the musicians for mili‑ tary service and the hardness of the times did not prevent it continuing to be present at the key moments that occurred in Portalegre.

Under the sign of Corporatism (1926-1960)

On 5 June 1928 the Philharmonic Band participated in the reception given by the city to the President of the Republic, General Carmona, the leader of the Military Dic‑ tatorship established in 1926. With the military dictator‑ ship the path was levelled for the establishment of the Estado Novo of Salazar. This system, which was officially inaugurated in 1933, had created a new perspective on association life and welfare in Portugal, constructing con‑ trol mechanisms over many associations that had previ‑ ously existed. The corporatism of the Estado Novo actually followed paths which the associations should have trod‑ den. And the new path contradicted the profile of many Portuguese associations of this period, especially those guided from a perspective of freedom. As far as mutual‑ ism was concerned, the pretext given by the new regime to take greater control over these associations and to wind up many of them was to compel the associations with a reduced dimension to merge into larger organizations. As it was, both the autonomous route that had char‑ acterised the Montepio Euterpe Portalegrense, and its small number of members, and a situation exacerbated by its poor financial state, led to the path to its extinction being a short

Participação da Euterpe nas Festas da Cidade de 1910.

one.

Participation in the Town’s Festivities, 1910.

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çara bem. A 29 de Novembro de 1910 o Distrito de Portalegre anuncia, finalmente, que vai abrir a farmácia dos três montepios existentes na cidade, Euterpe, Fraternidade e Operário Artístico Portalegrense, concretizando­‑se um pro‑ jecto que já vinha sendo pensado desde 1898, como vimos. Designar­‑se­‑á “Pharmácia Mutualista”. Não obstante este episódio, a importância do Montepio na cidade vai dimi‑ nuindo. Na realidade, o Montepio reflecte os tempos difíceis que marcavam o país diminuindo, por exemplo, o número dos seus sócios. Em 1912 estes eram apenas 78. Continuava a sofrer, igualmente, com o aumento da despesa com a pres‑ tação de socorros mútuos em função das diversas doen‑ ças que afligiam a população portalegrense neste período. A situação foi­‑se agravando e em Dezembro de 1913 um grupo de 15 sócios, encabeçados por Manuel Eduardo Semedo e José Cara d’Anjo Júnior apresenta, em Assembleia Geral, uma proposta para extinguir o Montepio Euterpe Por‑ talegrense. A cidade assusta­‑se com a ideia de perder a sua Banda e a Associação Mutualista. O Distrito de Portalegre de 7 de Dezembro refere a este respeito, “o nosso coração estre‑ mece pela resolução e Portalegre, a nossa terra, treme de tal vergonha. Não queiram!”30. A proposta constituía, na ver‑ dade, uma forma de pressão dado que o Montepio deixara de pagar o subsídio pecuniário e a continuidade da Banda não esteve aqui em causa. Mas para o Montepio foi apenas o prelúdio para o fim. Acresce também, como já referimos, que estes anos marcam a instalação em Portugal de um regime de previdência social patrocinado pelo Estado, uma reali‑ dade concorrencial às associações mutualistas e que fazia perigar a sua existência. ‑se acentuando na cidade. A dureza deste período ia­ O Distrito de Portalegre, a 2 de Abril de 1916, e sob o título “Ao Povo de Portalegre. A Comissão Patriótica anuncia a

The solution presented by the Estado Novo to the Montepio Euterpe Portalegrense forced it to merge with the Montepio Fraternidade, and the Montepio Operário Portalegrense, the most important mutualistic association in the city. The reports by J. Rose in the Distrito de Portalegre tell us of the pressure exerted to achieve this end. On 14 October 1934 he wrote that “by not being able to continue having an independent existence, it appears to us that the Montepios Euterpe and Fraternidade will merge with the Montepio Operário. We find this to be optimal idea, especially as the former two Montepios have not yet fallen in line with the current law in force and therefore need to carry out this merger”33. J. Rosa, it was mentioned, had been the leader of the Montepio Operário and argued, in the “Mutualistic Week” held in Lisbon, organized by the “O Século” newspaper in the early 1930s, that the Montepio Euterpe and the Montepio Fraternidade should merge with the Montepio Operário so that “in the lands of the province, in particular, there would be only one Association providing Mutual Support, for its greater vitality and common interest”34. It can also be seen that he congratulated himself on the pages of the Distrito de Portalegre of 4 November 1934 due to that same merger hav‑ ing become a reality. With the mutualistic association hav‑ ing disintegrated, the Philharmonic and The Euterpe Por‑ talegrense School – - the name by which the Association was called after the extinction of the Montepio, with the name later being changed to the Euterpe Musical Society (Sociedade Musical Euterpe) – a month later, on 1 December 1934, celebrated its 74th anniversary with a concert in the society’s hall and a ball for members and their families. The Philharmonic Band during this period had around 40 members (see Appendix 2), and it was led by Luís Pathé. Henceforth, during the whole period of the Estado Novo, the

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entrada de Portugal na Grande Guerra”, anuncia que teve conhecimento da entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial. Inaugura­‑se mais um período difícil para a Euterpe e para Portalegre. Ainda assim, em Maio, por ocasião da entrada na cidade do novo bispo, D. Manuel Mendes da Conceição Santos, ainda se tenta quebrar o que a imprensa local chama de “triste monotonia da cidade”31, com a realização da Festa da Flor. Mas até ao final da guerra, e depois durante toda a década de 1920, um período marcado por grandes dificul‑ dades económicas e por profundas crises políticas, a Banda e o Montepio Euterpe resignam­‑se a sobreviver sem grande vitalidade. No Montepio, o problema do desequilíbrio das contas a que já fizemos referência, persiste na segunda metade da década de 1920. A 15 de Março de 1926, em reu‑ nião da Assembleia Geral, decide­‑se alterar o valor das quo‑ tas devido “ao elevado número de doentes que ultimamente se tem aproveitado do Montepio”32. Mas na Banda a degra‑ dação dos instrumentos, a captação dos músicos para o ser‑ viço militar e a dureza dos tempos não impediram que con‑ tinuasse a estar presente nos principais momentos que ocorriam em Portalegre.

band would be reduced in its importance when compared with the corporate institutions of the regime. The 80th Anniversary was, in this sense, a paradigmatic example of the new reality that was the Euterpe’s. The day of the anni‑ versary, 1 December, corresponded to the Youth Festivals (Festas da Mocidade) in Portalegre. Instead of the traditional dawn procession through the streets of the city, the Philhar‑ monic Band joined in with these celebrations following, in a secondary fashion, a path determined by the Portuguese Youth (Mocidade Portuguesa). Corporatism thus ran the cul‑ tural life of the city for a number of years. As an illustration of this reality, the opening on 5 June 1944 of the Exhibition of the Corporate Life of the Portalegre District can be noted. It was held at the Fábrica Real and one of the high points was its reception, including the presence of Trigo de Negrei‑ ros , Under Secretary of State for Corporations and Social Security. In a festive atmosphere, as testified to by the var‑ ious representatives of the press, the lively elements of the town were present. The party was enlivened by two philhar‑ monic bands from the city, the Euterpe Band and the Band of the Volunteer Fire-fighters, besides the bands of Castelo de Vide and Alegrete. This period also saw an attempt to transform the pro‑

Sob o signo do Corporativismo (1926­‑1960)

file of festivals held in the municipality of Portalegre. The Diocese of Portalegre held control and drew up its “Rules

A 5 de Junho de 1928 a Banda participa na recepção feita pela cidade ao líder da Ditadura Militar instaurada em 1926, o Presidente da República, General Carmona. Com a Dita‑ dura Militar estava aplanado o caminho para a instauração do Estado Novo, de Salazar. Este regime, oficializado em 1933, elevou uma nova perspectiva sobre o associativismo e sobre a previdência em Portugal, construindo mecanismos de controlo sobre muitas associações que existiam anterior‑ 33

for festivities for the Diocese of Portalegre from 1 August 1944”, which was published in the Distrito de Portalegre of 29 July 1944. Henceforth, the festivities had to be “purely reli‑ gious, and so when parish priests request a licence for some event they must declare that no folk festival or other form of profane amusement will take place as part of the same fes‑ tivity”. Furthermore, “it is forbidden to incorporate music bands into any procession, with the exception of dos Passos


mente. O corporativismo do Estado Novo trilhava, na ver‑ dade, as vias para onde as associações deveriam prosseguir. E o novo caminho contrariava o perfil de muitas associações portuguesas deste período, sobretudo as que eram pautadas por um perfil de liberdade. No quadro do mutualismo, o pre‑ texto apresentado pelo novo regime para efectuar um maior controlo sobre estas associações e para a extinção de mui‑ tas foi o de obrigar as associações de reduzida dimensão a fundirem­‑se em organizações maiores. Ora, quer o percurso de autonomia que marcara a exis‑ tência do Montepio Euterpe Portalegrense, quer a sua pequena dimensão em número de sócios, quer uma situação agravada pelo seu mau estado financeiro levaram a que fosse curto o percurso até à sua extinção. A solução apresentada pelo Estado Novo ao Montepio ‑o a fundir­ ‑se, conjunta‑ Euterpe Portalegrense obrigou­ mente com o Montepio Fraternidade, no Montepio Operá‑ rio Portalegrense, a associação mutualista mais importante da cidade. Da pressão efectuada nesse sentido conhece‑ mos os relatos de J. Rosa no Distrito de Portalegre. A 14 de Outubro de 1934 escreve que “por não terem condições de vida para continuarem independentes, consta­‑nos que vão fundir­‑se com o Montepio Operário os Montepios Euterpe e Fraternidade. Achamos óptima a ideia, tanto mais que os dois últimos Montepios não estão já em conformidade com a lei vigente e necessitam, por isso, de efectuar a respectiva fusão”33. J. Rosa, refira­‑se, tinha sido dirigente do Monte‑ pio Operário e defendeu, na “Semana Mutualista” realizada em Lisboa e organizada pelo jornal “O Século” no início da década de 30, que o Montepio Euterpe e o Montepio Frater‑ nidade deveriam fundir­‑se com o Montepio Operário para que “nas terras da província, em especial, houvesse uma só associação de Socorros Mútuos, para sua maior vitali‑

and do Enterro do Senhor, in which, however, only funeral marches can be performed”35. Despite the impositions brought in by the Estado Novo with regard to the Philharmonic Band for the duration of the regime, it was a period of some tranquillity. There were still, however, some difficulties. In the financial area, as reported by Portilheiro to the Distrito de Portalegre on the occasion of the 92nd Anniversary of the Philharmonic Band, despite the number of members having increased, “revenue from subscriptions only allows for extraordinary expenses”, which essentially involved the repair and pur‑ chase of new instruments from the Casa Custodio Cardoso Pereira, the expenses for which amounted to 25,600 escudos, the making of new uniforms to the amount of 3,500 escudos or the works carried out in the hall which totalled 10,500$00 escudos. One of the problems mentioned by Portilheiro relates to the non-professional status of the musicians, almost all workers, a situation that was diffi‑ cult to manage. On 1 December, for example, the celebra‑ tions could not be performed to their fullest extent since many of the musicians “have to work” and as such “per‑ haps will not be playing at dawn through the streets of the city.” Notwithstanding these difficulties, stated Portil‑ heiro, “as long as I have a breath of life in my body I shall work for the Euterpe Philharmonic Band”36.

From Vitality to Uncertainty (1960-1974)

In the following years, the city and the Philharmonic Band were gradually changing. In 1960, the year celebrat‑ ing the centenary of the Euterpe, it was decided to cre‑ ate a campaign for the admission of new members called the “1st Century Membership Campaign”, which promoted

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Convite do 74º aniversário da Banda Euterpe. Invitation for the Euterpe Musical Society 74th anniversary.

dade e comum interesse”34. Percebe­‑se assim que se congra‑ tule nas páginas do Distrito de Portalegre de 4 de Novem‑ bro de 1934 por essa mesma fusão vir a ser uma realidade. Desmembrada a associação mutualista, passaram a trilhar o seu futuro sozinhas a Banda e a Escola Euterpe Portale‑ grense – nome pelo qual se ficou a designar a Associação depois da extinção do Montepio, sendo posteriormente o nome alterado para Sociedade Musical Euterpe – que um mês depois, a 1 de Dezembro de 1934, festejou 74 anos com um concerto no salão da sociedade e um baile para sócios e familiares. A regência da Banda que contava aí com cerca de 40 ele‑ mentos (ver Anexo 2), pertenceu neste período a Luís Pathé. Doravante, durante todo o domínio do Estado Novo, a Banda surge menorizada perante as instituições corporativas do regime. O 80.º aniversário apresenta­‑se, neste sentido, como paradigmático da nova realidade que a Euterpe conhecia. O dia de aniversário, a 1 de Dezembro, correspondia às Festas da Mocidade em Portalegre. Ao invés da alvorada e da tradi‑ cional arruada pela cidade, a Banda incorporou­‑se nestas comemorações seguindo, secundarizada, um percurso defi‑ nido pela Mocidade Portuguesa. O corporativismo dirige assim e durante diversos anos a vida cultural da cidade. Sublinhe­‑se, ilustrando esta realidade, a inauguração a 5 de Junho de 1944 da Exposição da Vida Corporativa do Dis‑ trito de Portalegre. Decorreu na Fábrica Real e teve na recep‑ ção a Trigo de Negreiros, sub­‑secretário de Estado das Cor‑ porações e Previdência Social, um dos pontos altos. Num ambiente festivo, testemunhado pelos diversos represen‑ tantes da imprensa, estiveram presentes os elementos vivos da cidade. A festa foi alegrada pelas duas bandas da cidade, a Euterpe e a Banda dos Bombeiros Voluntários, além das bandas de Castelo de Vide e de Alegrete. 35

an inscription fee waiver and a monthly membership fee of 2$50 escudos. The campaign was based around a flyer that presented the organisation as being “in danger of dis‑ appearing” given that “the uniforms and some musical instruments need replacing as they are outdated and have fallen into disrepair (...) so we would request you to join as an assisting member (...) the minimum membership fee is 2$50 a month”37. To improve the financial situation, it was also decided to have a prize draw in February entitled “Prize draw for the first centenary of the Euterpe Band”, the first prize for which being a selected car, a Goggomobil T700. The draw would be held in 20 sessions where three prizes were won each session, the last session culminating with the drawing of the winning ticket for the car with the luck of the draw decided by the Euterpe. The sale of books of tickets for the raffle was carried out by several bands in Portugal. The plan to increase funds continued by sending official and private entities a letter requesting funds for the centennial celebration. One letter was also addressed to the President of the Republic.


Neste período assiste­‑se, igualmente, a uma tentativa de transformar o perfil das festas realizadas no concelho de Por‑ talegre. Idealiza­‑se, conforme mostra o “Regulamento das festas para a Diocese de Portalegre a partir de 1 de Agosto de 1944”, publicado no Distrito de Portalegre de 29 de Julho de 1944, o controle da Diocese de Portalegre sobre “todas as fes‑ tividades”. Doravante, as festas deverão ser “puramente reli‑ giosas e, por isso, quando os párocos supliquem licença para alguma deverão declarar que não se realiza arraial ou qualquer outro divertimento profano a propósito da mesma festa”. Sendo que, “é proibido incorporarem­‑se bandas de música em qualquer procissão, com excepção das dos Passos e do Enterro do Senhor, nas quais, aliás, só poderão executar mar‑ chas fúnebres”35. Apesar das imposições trazidas pelo Estado Novo à Banda durante a duração desse regime, o tempo é de alguma tran‑ quilidade. Há, ainda assim, algumas dificuldades. No campo financeiro, conforme é referido por Portilheiro ao Distrito de Portalegre por ocasião do 92.º aniversário da Banda, ape‑ sar do número de sócios ter aumentado, “a receita das coti‑ zações apenas permite fazer face às despesas extraordi‑ nárias”36, que se traduzem essencialmente na reparação e aquisição de novos instrumentos à Casa Custodio Cardoso Pereira, cujas despesas se elevam a 25.600$00 escudos, pela feitura de novos fardamento no valor de 3.500$00 escu‑ dos ou pelas obras realizadas no salão e que importaram 10.500$00 escudos. Um dos problemas referidos por Porti‑ lheiro prende­‑se com a não profissionalização dos músicos, quase todos operários, uma situação que era difícil de gerir. No dia 1 de Dezembro, a título de exemplo, as comemora‑ ções não se puderam realizar na sua plenitude dado que muitos dos músicos “têm que trabalhar” sendo que “talvez não se toque a alvorada pelas ruas da cidade”. Não obstante

The programming of the celebrations continued in November with a request to the Robinson Recreational Company to grant the use of their ballroom so that the Euterpe could hold a ball there, on 1 December. It also asked for the use of its Cinetheatre to hold a formal sitting. The idea of organizing an evening for workers was also thought up and help was sought from the FNAT and the National Institute of Labour and Welfare, to achieve this purpose. The aim, as proposed by the delegate of that institute, was to bring to Portalegre the folkloric ranchos of Vila Franca de Xira and the Casa do Povo de Casa Branca. However, the Board of the Euterpe refused, due to the high price of renting the Cinetheatre. The preparations continued. At the meeting of 17 November a resolution was passed to offer a popular

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A renovação do instrumental era sempre uma das maiores dificuldades da Banda. Recibo de compra de instrumentos, 1956. Replacing the instruments was always one of the greatest difficulties the Philharmonic had. Proof of purchase of instruments.


estas dificuldades, refere Portilheiro, “enquanto eu tiver um sopro de vida trabalharei pela Banda Euterpe”37.

snack to members and other guests which received a pos‑ itive response from the Robinson Recreational Society. At the meeting of the following week it was reported that the

Da Vitalidade à Incerteza (1960­‑1974)

Gulbenkian Foundation, similar to what was happening with the other philharmonics in Portugal, would financially

Nos anos seguintes, sopro a sopro, a cidade e a Banda vão paulatinamente mudando. Em 1960, no qual se comemorou o centenário da Euterpe, decidiu­‑se criar uma campanha de admissão de sócios denominada “Campanha do Sócio do 1.º Centenário”, promovendo­‑se a isenção de jóia e sendo a cota mensal para os novos associados de 2$50 escudos. A cam‑ panha estava alicerçada num folheto que apresentava a ins‑ tituição como estando “em risco de desaparecer” dado que “necessita de substituição, porque antiquados e em mau estado, dos fardamentos e de alguns instrumentos musi‑ cais (...) solicitamos a sua instrução como sócio auxiliar (...) a cota mínima é de 2$50 mensais”38. Também para melho‑ rar a situação financeira, foi decidido fazer em Fevereiro um sorteio a que se chamou “Sorteio pró primeiro centenário da Banda Euterpe” e para o qual o primeiro prémio escolhido foi um carro, um Goggomobil T700. O sorteio realizou­‑se em 20 extracções e atribuiu três prémios por sessão, culminando a última sessão com a atribuição do automóvel que caberia em sorte à própria Euterpe. A venda das cadernetas para o sor‑ teio foi realizada por entre diversas bandas do país. O plano para o aumento das receitas prosseguiu com o envio às enti‑ dades oficiais e particulares de uma carta pedindo verbas para a celebração do centenário. Foi endereçada, inclusive, uma carta ao Presidente da República. A programação das comemorações continuou em Novem‑ bro com o pedido à Sociedade Recreativa Robinson para esta ceder o salão de festas para aí a Euterpe realizar um baile, a 1 de Dezembro. Solicitou­‑se também a cedência do cinetea‑ 37

help the Euterpe in 1961. The opening day of the centenary celebrations was rainy. Of note from the official programme was the formal sitting on 1 December in the ballroom of the Escola do Magistério Primário. Also of note are the details. The tables were decorated with flowers and red damask tablecloths. In the middle the banner, held in place. The session was chaired by the Secretary-General of the Civil Government on behalf of the Civil Governor, in the presence of various official and private entities. The speakers, in addition to Portilheiro, were the teacher Ângelo Monteiro and Father Joaquim Mil‑ heiro Valente, teacher at the Seminário Maior. The festivities continued with dances for members and guests which were simultaneously held in the Philharmonic’s and the Robinson Recreational Society’s ballrooms with the Ideal and Ferrugem orchestras38. On the second day the highlight was the draw‑ ing of the prize ticket for the car. On the third day the Ferrugem animated the ball for members in the Philharmonic’s ballroom and on the last day, as usual, a Mass was celebrated in the Cathedral, and tribute was offered at the cemetery to the deceased members, and, lastly, there was a friendly lunch for the Board with the musicians and friends of the Philharmonic Band. In the restaurant, on the right hand side, near Portilheiro, sat João de Assunção Jorge, Luís de Alegria Pathé, Joaquim Pathé, teacher at the Escola Industrial e Comercial of Portalegre, and the member Joaquim Trin‑ dade, a proprietor, who was introduced as a close friend of the Philharmonic Band. On the left side of the director sat


tro para a realização de uma sessão solene. Pensou­‑se, igual‑ mente, organizar um serão de trabalhadores e recorreu­‑se ao apoio da FNAT e do Instituto Nacional do Trabalho e Pre‑ vidência para o efeito. O objectivo, por proposta do dele‑ gado deste instituto, seria trazer a Portalegre os ranchos fol‑ clóricos de Vila Franca de Xira e o da Casa do Povo de Casa Branca. Mas a Direcção da Euterpe recusa, dado o elevado preço de arrendamento do cineteatro. Os preparativos con‑ tinuam. Na sessão do dia 17 de Novembro deliberou­‑se ofe‑ recer um lanche popular a associados e outros convidados e recebeu­‑se a resposta positiva da Sociedade Recreativa Robinson. Na sessão da semana seguinte foi comunicado que a Fundação Gulbenkian, à semelhança do que ocorre com outras filarmónicas no país, irá ajudar financeiramente a Euterpe durante o ano de 1961. Esteve chuvoso o dia inaugural das comemorações do centenário. Do programa oficial destaca­‑se a sessão solene que ocorreu, no dia 1 de Dezembro, no salão de festas da ‑se aos pormeno‑ Escola do Magistério Primário. Atente­ res. As mesas estavam decoradas com flores e com toalhas de damasco vermelho. No meio o estandarte, segurado por um executante. A sessão foi presidida pelo Secretário­‑Geral do Governo Civil em representação do Governador Civil, estando presentes diversas entidades oficiais e particula‑ res. Os conferentes, além de Portilheiro, foram o professor Ângelo Monteiro e o Padre Joaquim Milheiro Valente, pro‑ fessor do Seminário Maior. As festividades prosseguiram com os bailes para sócios e convidados que se realizaram, simultaneamente, no salão da Banda e na Sociedade Recreativa Robinson com as orquestras Ideal e Ferrugem39. No segundo dia o ponto alto foi o sorteio do automóvel. No ter‑ ceiro dia a Ferrugem abrilhantou o baile para sócios no salão da Banda e no último dia celebrou­‑se, como de costume,

Convite para baile. Orquestra Ideal. Ball invitation. “Ideal” orchestra.

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uma missa na Sé, a homenagem prestada no cemitério aos sócios já falecidos e, por fim, um almoço de confraterniza‑ ção da Direcção com os executantes e amigos da Banda. No restaurante, no lado direito, perto de Portilheiro, sentaram­ ‑se João de Assunção Jorge, Luís de Alegria Pathé, Joaquim Pathé, professor da Escola Industrial e Comercial de Portale‑ gre, e o sócio Joaquim Trindade, proprietário e apresentado como grande amigo da Banda. Do lado esquerdo do director sentaram­‑se Manuel Barata Silvério, director da escola do Magistério Primário, o padre Joaquim Milheiro Valente, o professor Ângelo Monteiro e ainda o padre Joaquim Cabral e Manuel Trindade, chefe da Secretaria do Grémio do Comér‑ cio. Encerram­‑se assim as comemorações do centenário. A importância das festividades, símbolo da vitalidade da Euterpe no período, foi reportada largamente pela comuni‑ cação social, mormente pelos jornais A Rabeca, o Distrito de Portalegre, O Século, Diário de Noticias, Diário Popular, Diário Ilustrado, Novidades e República. Ainda o Jornal de Notícias, o Comércio do Porto e o Primeiro de Janeiro. A Euterpe, agora já velhinha Euterpe, mostrava a sua vitalidade. Também para essa energia concorreu de forma decisiva a Câmara Municipal de Portalegre (CMP). A título de exem‑ plo da estreita relação entre a CMP e a Euterpe, e ainda que a instituição não tenha contribuído para as comemorações do centenário porque “os apoios das CMP só existem ape‑ nas na concessão de subsídios às filarmónicas dos conce‑ lhos com o fim de educar a juventude”40, a CMP atribuiu desde 1962 um subsídio anual de 4.000$00 escudos para auxiliar a manutenção da escola musical. Em função do sub‑ sídio foi acordado que a Banda daria 5 concertos nos jardins públicos. Como consequência do maior desafogo financeiro con‑ seguido através desta cooperação e para estimular e melho‑ 39

Manuel Barata Silvério, headmaster of the Escola do Magistério Primário, father Joaquim Milheiro Valente, the teacher Ângelo Monteiro and also father Joaquim Cabral and Manuel Trindade, head of the Guild Department of Trade. Thus the centenary celebrations were closed. The impor‑ tance of the festivities, symbol of the vitality of the Euterpe in the period, was widely reported by the press, especially the newspapers A Rabeca, the Distrito de Portalegre, O Século, Diário de Noticias, Diário Popular, Diário Ilustrado, Novidades and República. And also the Jornal de Notícias, the Comércio do Porto and the Primeiro de Janeiro. The Euterpe, now the old woman Euterpe, had shown its vitality. The Portalegre Municipality (Câmara Municipal de Portalegre – CMP) also made a decisive contribution to this vitality. As an example of the close relationship between the CMP and the Euterpe, was that although the former did not contribute to the centenary celebrations, given that “the support of the CMP was only in regard to the granting of subsidies to the philharmonics of municipalities in order to educate the youth”39, from 1962 the CMP provided an annual subsidy of 4,000$00 escudos to help with the upkeep of the music school. In return for the subsidy it was agreed that the Philharmonic Band would give five concerts in pub‑ lic parks. As a consequence of the greater financial relief achieved through this cooperation and to stimulate and improve attendance at rehearsals, the Board of the Philharmonic Band decided to pay the musicians 4 escudos per rehearsal, for which a special fund was created and to which the CMP contributed 1000 escudos, with the Band in return offering musical concerts subsidized by the CMP. The sponsorship provided by various entities to the Portuguese associative movement during this period was,


rar a assiduidade aos ensaios, deliberou a Direcção da Banda gratificar os executantes com 4$00 escudos por ensaio, para o que se criou um fundo especial para o qual a CMP contri‑ buiu com 1.000$00 escudos, compensando a Banda com a realização dos concertos musicais subsidiados pela CMP. O mecenato prestado por várias entidades ao associa‑ tivismo português neste período constituíam, na verdade, uma importante fonte de rendimento para muitas organiza‑ ções culturais, situação para a qual as Direcções da Euterpe estavam atentas. Sublinhe­‑se, como exemplo, o subsídio que pede a Direcção da Banda à Fundação Gulbenkian, em 1963. Nesse mesmo ano o Grémio do Comércio de Portale‑ gre atribui­‑lhe um subsídio de 500$00 escudos. Já em 1864 a Junta Distrital de Portalegre atribui­‑lhe, igualmente, um valor de 1.000$00 escudos. Apesar do sucesso das comemorações do centenário e das verbas conseguidas com as ajudas de diversas organi‑ zações, a saída intempestiva e sem pré­‑aviso do tesoureiro em exercício em 1964 deixa a Banda em situação financeira difícil. Esta realidade é confirmada num Relatório de 1965 em que se diz que a “a situação financeira é alarmante, defi‑ citária”41. Para acentuar a incerteza, em Abril desse ano a Direcção reúne­‑se pela última vez sob a Direcção de Porti‑ lheiro. O regente, que seria substituído por Ernesto de Car‑ valho Oliveira em Maio, viria a falecer a 2 de Agosto de 1966, depois de 15 anos a dirigir a Banda. Por esta altura, conforme revela um Relatório de uma Direcção bem poste‑ rior, em 1989, as dificuldades eram grandes e espelhadas no reduzido número dos seus elementos, referindo­‑se que “quando saía não reunia mais do que 20 músicos mal farda‑ dos e alguns indisciplinados”42. Até 1970, segundo o Presidente da Assembleia Geral, José Maria Raimundo numa reunião ocorrida a 16 de Maio,

in fact, an important source of income for many cultural organizations, a situation which the various Boards of the Euterpe were aware of. Of note, for example, was the grant request made by the Board of the Philharmonic Band to the Gulbenkian Foundation in 1963. That same year the Por‑ talegre Guild of Commerce awarded it a grant of 500 escu‑ dos. In 1864 the District Board of Portalegre awarded it an amount of 1,000 escudos. Despite the success of the centennial celebrations and the funds obtained with the aid of various organizations, the untimely departure without notice of the Treasurer in office in 1964 left the Philharmonic Band in a difficult financial situation. This reality was confirmed in a 1965 Report which stated that “the financial situation shows an alarming deficit”40. To accentuate the uncertainty, in April of that year the Board met for the last time under the Directorship of Portilheiro. The director, who would be replaced by Ernesto de Carvalho Oliveira in May, would pass away on 2 August 1966, after 15 years managing the Philharmonic Band. By this time, as a much later Board report would show, in 1989, the difficulties were great and mirrored in the reduced number of members, and it men‑ tioned that “there were no more than 20 musicians pre‑ sent who were badly turned out with some being unruly”41. By 1970, according to the Chairman of the General Assem‑ bly, José Maria Raimundo, at a meeting held on 16 May, disinterest in the Philharmonic Band seems to have taken hold of the members. On that date, out of the more than 300 members of the Euterpe, the General Meetings were attended by a reduced number, leading the Chairman to conclude that “the people are not embracing the philhar‑ monic”42. In fact, while the tougher financial moments seemed to have disappeared, times were rough for the

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o desinteresse pela Banda parece ter­ ‑se apoderado dos sócios. Nesta data, apesar dos mais de 300 sócios da Euterpe, as Assembleias Gerais são frequentadas por um reduzido número, o que leva o dirigente a concluir que “a população não acarinha a banda”43. Na verdade, ainda que os momen‑ tos financeiramente mais duros pareçam ter desaparecido, os tempos são difíceis para a Euterpe. O momento encontra­‑se espelhado num relatório da Direcção datado de 16 de Maio de 1970 no qual é referido que “é notório as dificuldades de toda a ordem porque passamos neste quinquénio da nossa administração”44. A solução passou por se acentuar o esforço de obtenção de subsídios junto de algumas entidades. Mas a Direcção posterior, liderada por Francisco Próspero dos San‑ tos, que tomou posse a 20 de Maio de 1970 voltou, por exem‑ plo, a pedir ajuda à Gulbenkian. A Banda viveu assim com algum sobressalto o período anterior a 1974, porventura já acossada pelas mutações que no quadro cultural seriam impulsionadas pelo surgimento de novos meios de comuni‑ cação, como a televisão, e até a paulatina afirmação da socie‑ dade de consumo e as transformações que estas vinham pro‑ vocando desde a década de 1960.

Euterpe. The moment was mirrored in a Board report dated 16 May 1970 in which it was stated that “difficulties of all kinds have been noticeable during the five years of our administration”43. The solution was to increase efforts to obtain subsidies from various bodies. A later Board, led by Francisco Próspero dos Santos, who took office on 20 May 1970, once more, for example, asked the Gulbenkian for help. The Philharmonic Band lived through the period prior to 1974 with the occasional shock, possibly already beset by the changes in the cultural context motivated by the emergence of new media such as television, and the gradual assertion of the consumer society and the changes that these had been causing since the 1960s.

Innovation and Rejuvenation (1974-2004)

The second half of the 1970s was, however, marked by a great vitality. The society grew from 351 to 1200 enrolled members, with an amount of around 140,000$00 escudos in subscriptions. The first consequence of this was the ordering of a new uniform. The fabric, it should be noted, was purchased from Francisco Fino, Lda. and

Inovação e Rejuvenescimento (1974­‑2004)

run up at Rodrigues e Rodrigues in Lisbon. There were also improvements in the ballroom, including the purchase of

A segunda metade da década de 1970 seria, no entanto, já marcada por uma grande vitalidade. A sociedade passou de 351 para 1200 sócios inscritos que conferem cerca de 140.000$00 escudos em quotas. Como primeira consequên‑ cia foi mandado fazer um novo fardamento. O tecido, refira­ ‑se, foi adquirido à empresa Francisco Fino, Lda. e executado na Rodrigues e Rodrigues em Lisboa. Houve, igualmente, melhoramentos no salão, nomeadamente com a compra de um lote de 50 cadeiras e 10 mesas, cortinados novos, mon‑ 41

a batch of 50 chairs and 10 tables, new curtains, a new stage being mounted and an extension to the rehearsal area. On 14 May 1976 the Chairman of the Board, José Maria Raimundo, confirmed the positive balance that had been achieved in the final years of his leadership. The main innovation to be highlighted was the creation of the School of Music Education which began operating on 28 October 1975, and which was attended by 120 students divided into three classes. The Euterpe, as we have seen,


tagem de um palco novo e uma ampliação da casa de ensaio. Em 14 de Maio de 1976 o Presidente da Direcção, José Maria Raimundo, confirma este bom momento no balanço que efectuou dos últimos anos da sua liderança. Como prin‑ cipal inovação destaque­‑se a criação da Escola de Educação Musical que começou a funcionar a 28 de Outubro de 1975, sendo frequentada por 120 alunos divididos em três turmas. À Euterpe, como vimos, esteve sempre associado o ensino da música. A criação da Escola de Educação Musical mate‑ rializava e formalizava, por assim dizer, uma função que se encontrava intimamente ligada à Associação e proporcio‑ nava, na perspectiva da sua Direcção, uma importante fonte de receita. Relevante também, neste período, foi a cedência de ins‑ trumentos pelo Inatel e a mudança de instalações para o espaço deixado vago pela Sociedade Recreativa Robin‑ son que se extinguira por falta de verbas. Uma das inova‑ ções de maior relevo refere­‑se à formação, por iniciativa do Presidente da Direcção, de um grupo de sócios cujo objec‑ tivo era ajudar a associação a trilhar um melhor futuro. Foi assim criada a Comissão de Amigos da Euterpe. Formavam­ ‑na, entre outros, os sócios Armindo Santana, Severiano Contente, António Candeias da Purificação, Joaquim Mão de Ferro e Miguel Carriço. A estes acrescem outros nomes como João Ferreira Morais que já tinha sido trompetista em Alter do Chão e Calisto Lopes, ex­‑executante e que tocou na banda na época de Portilheiro. A Comissão, de onde saíram muitos dos elementos que constituiriam a Direcção depois de 1976, é a responsável por muitas das profundas altera‑ ções que sofreu a Associação até ao final da década de 1980, procurando uma maior modernização e revitalização. O esforço foi no sentido de adaptar a Euterpe às novas exigências desse período, mormente aos novos gostos tra‑

was always linked to the teaching of music. The setting up of the School of Musical Education took place and formal‑ ized, so to speak, a function that had been closely linked to the Association and which provided, from the Board’s per‑ spective, an important source of revenue. Also important in this period was the concession of instruments by Inatel and the change in premises to the space vacated by the Robinson Recreational Society which had been wound up due to a lack of funds. One of the most significant innovations was the formation, at the initia‑ tive of the Chairman of the Board, of a group of members whose aim was to help the association embark on the path to a better future. The Committee of the Friends of the Euterpe was thus created. The group of members form‑ ing this group included Armindo Santana, Severiano Con‑ tente, António Candeias da Purificação, Joaquim Mão de Ferro and Miguel Carriço. Other names were added such as João Ferreira Morais who had been a trumpeter in Alter do Chao and Calisto Lopes, a former performer who had played in the band at the time of Portilheiro. The Commit‑ tee, which produced many of the members which would make up the Board after 1976, was responsible for many of the major changes that the Association underwent at the end of the 1980s, seeking further modernization and revitalization. The effort made was to adapt the Euterpe to the new demands of the period, especially to the new tastes brought in by the greater freedom granted by the democratic regime. It was in this context that the Euterpe Musical Ensemble was created, a partnership between the Board of the Asso‑ ciation and other musicians – the Salgueiro brothers – the purpose of which was to function as an additional source of revenue. A contract was signed on 5 January 1976.

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zidos pela maior liberdade concedida pelo regime democrá‑ tico. Foi nesse contexto que foi criado o Conjunto Musical Euterpe, uma parceria entre a Direcção da Associação com outros músicos – os irmãos Salgueiro – cujo objectivo era funcionar como mais uma fonte de receita. O contrato seria assinado a 5 de Janeiro de 1976. A mesma situação globalmente positiva é referida no almoço comemorativo dos 124 anos da Euterpe, em 1984, pelo Secretário da Direcção, Normando José Ferreira Pimenta de Castro, começando por sublinhar as 12 actua‑ ções que renderam à sociedade a importância de 106 contos. E o financiamento continuava a ser, naturalmente, a principal preocupação da Direcção. Nesse ano as receitas têm origens repartidas entre o curso de regentes de ban‑ das que a Euterpe organizou, rendendo 164 contos, entre as actuações da Banda – que proporcionaram 106 contos –, as actuações do conjunto musical, que renderam 120 contos, e a quotização, que contribuiu com 77 contos. Destacavam­ ‑se, igualmente, os subsídios das entidades oficiais, que per‑ fazem 195 contos. No total, as receitas contabilizaram, em 1984, 663 contos. Já as despesas foram de 428 contos, divi‑ didas por contas de manutenção, como água, luz e renda da casa, transportes, pagamento ao regente, a compra da apa‑ relhagem e a aquisição de novos instrumentos. Foi esta a realidade que encontraram os corpos gerentes eleitos a 25 de Abril de 1985 para os anos de 1985 e 1986. Para Presi‑ dente da Assembleia Geral foi escolhido Francisco Barrocas. Já Normando José Pimenta de Castro ficou a dirigir a Direc‑ ção enquanto João Pacheco Mouzinho foi eleito Presidente do Conselho Fiscal. Numa das primeiras reuniões da nova Direcção, realizada em Novembro, discute­‑se, essencialmente, a necessidade de substituir o regente, o Sr. Pires, que pedira a demissão. 43

The same positive situation was mentioned in 1984 at the lunch commemorating 124 years of the Euterpe, by the Secretary to the Board, Normando José Ferreira Pimenta de Castro, who started his speech by emphasizing the 12 per‑ formances that had created 106 contos in revenue for the society. And the funding was still, of course, the main concern of the Board. That year revenues came from the course for conductors of philharmonic bands that the Euterpe had organized, which yielded 164 contos, the performances of the philharmonic band – which yielded 106 contos – the performances of the musical group, which yielded 120 contos, and the subscriptions that provided 77 contos. Of note also were the subsidies from official bodies, totalling 195 contos. In total, revenues in 1984 amounted to 663 contos. Expenses were 428 contos, including utility bills such as water and electricity, and rent, transport, payment to the conductor, the purchase of equipment and the purchase of new instruments. This was the financial situation inherited by the governing body which was elected on 25 April 1985 for the years 1985 and 1986. Francisco Barrocas was cho‑ sen as the Chairman of the General Assembly. Normando José Pimenta de Castro was running the Board when João Pacheco Mouzinho was elected as Chairman of the Fiscal Committee. In one the first meetings of the new Board, held in November, the main topic involved a discussion cen‑ tred around the need to replace the conductor, Sr. Pires, who had resigned. Consideration was given to the former conductor, Armando Reigota, but the matter remained unresolved. In 1985 the Euterpe celebrated 125 years of exist‑ ence. Norman Ferreira José Pimenta de Castro, Chair‑


Pensa­‑se no ex­‑regente, Armando Reigota, mas o assunto ficou por resolver. Em 1985 a Euterpe comemorou 125 anos. Normando José Ferreira Pimenta de Castro, Presidente da Direcção sublinha, por ocasião das comemorações, a capacidade de renovação da Banda que “nunca deixou de ser uma sociedade activa, cul‑ tural e cheia de juventude, como nos seus primeiros anos de existência”45. Na verdade, dos cerca de 40 elementos que a constituíam nessa altura, metade eram jovens. A renovação ocorre também ao nível do instrumental, com a entrega pela Secretaria de Estado da Cultura, a 1 de Abril de 1985, de ins‑ trumentos novos, apresentando­‑se assim o ano de 1985 como “de oiro da sociedade musical Euterpe”. De facto, até finais de 1984 o instrumental era ”na sua maioria velhíssimo, obsoleto e iníquo”46, sendo que os poucos instrumentos novos tinham sido adquiridos pela comissão de amigos. No final da década de 1980, a situação financeira da Banda encontrava­‑se, por assim dizer, bem afinada. Beneficiava de importantes verbas que obtinha através da quotização bruta que perfazia nesse período cerca de 80 contos, de um subsí‑ dio atribuído pela CMP com o valor de 42.500$00 escudos, de um subsídio do Governador Civil e de uma contribuição de 80 a 90 contos das freguesias da Sé e de S. Lourenço. E até o Con‑ junto Musical Euterpe que demorava a cristalizar a sua com‑ posição, já tinha pago, em 1989, todo o material adquirido aquando da sua formação e tinha comprado uma carrinha destinada à deslocação para os concertos. Também a Associa‑ ção, presidida em 1987 por Normando Ferreira Pimenta de Castro adquirira um Renault. Contudo ficava por resolver o problema das deslocações da Banda. Em 1989, contanto a Sociedade com cerca de 700 sócios, José Carlos Carvalho de Castro é eleito novo Presidente da Direcção. Efectua­‑se, nesta altura, um balanço do traba‑

man of the Board, and on the occasion of the celebrations, underscored the ability of the Philharmonic Band to renew itself and that it had “never ceased to be an active and cul‑ tural society, full of youth, as if in its first years of exist‑ ence”44. In fact, out of the approximately 40 musicians of the Philharmonic at the time, half were young. Renewal also occurred at the instrumental level, with delivery by the Ministry of Culture on 1 April 1985 of new instru‑ ments, thus making 1985 a “golden one for the Euterpe musical society.” In fact, by the end of 1984 the instru‑ ments were “mostly very old, obsolete and off-key”45, and the few new instruments had been purchased by the com‑ mittee of friends. In the late 1980s, the financial position of the Phil‑ harmonic Band was, so to speak, well tuned. It benefitted from important funding that it obtained from the gross sub‑ scriptions that in this period amounted to about 80 contos, a grant awarded by the CMP with a value of 42,500$00 escudos, a grant from the Civil Governor and a contribution of 80 to 90 contos from the parishes of the Sé and S. Lourenço. And even the Euterpe Musical Ensemble, which had taken some time to decide on its composition, had by 1989 already paid for all the material purchased during its formation and had bought a van to travel to concerts. Furthermore, the Asso‑ ciation, chaired in 1987 by Normando Ferreira Pimenta de Castro, also purchased a Renault. But the problem of the Philharmonic travelling to the places where it was going to perform remained unresolved. In 1989, the Society had approximately 700 members and José Carlos Carvalho de Castro was elected the new Chairman of the Board. A balance of the work carried out by the outgoing Board was made at this time. Of note, accord‑ ing to the 1989 statement of accounts which was presented

44


lho realizado pela Direcção cessante. Destaca­‑se, de acordo com o relatório de contas de 1989 que foi apresentado a 15 de Julho, o importante papel desenvolvido pela Comis‑ são de Amigos. Da renovação efectuada, a abertura do bar ‑se como uma das inovações mais importan‑ apresenta­ tes dado que possibilitou quer um aumento no número de sócios, quer no volume de cobranças. Foi possível adquirir assim novos fardamentos – de Verão e de Inverno – o que permitiu que os músicos passassem a estar sempre todos fardados da mesma forma. Importa vincar que da fácil adaptação da Banda às novas exigências que lhe vão sendo colocadas ao longo da sua exis‑ tência parece residir a chave para a sua longevidade pro‑ vada na comemoração do 140.º aniversário em 2000. Os festejos ecoam nas páginas do Distrito de Portalegre de 8 de Dezembro desse ano. A Banda é chamada para a primeira página com o título “A Euterpe faz o 140.º aniversário”. A Banda cumpre o programa habitual das suas comemorações, empenhando­‑se na arruada, homenageando os seus sócios já falecidos e abrindo, no almoço comemorativo, as vias para o percurso futuro. Uma importante parte desse futuro seria desbravado em 2004, a 24 de Julho, quando o Presi‑ dente da CMP, Mata Cáceres, informou a Banda, então diri‑ gida pelo novo regente que substituiu Henrique Santana, Manuel Henrique Ruivo, que teria de abandonar o espaço onde se encontrava. A CMP sugeriu aos sócios e ao Presi‑ dente da Direcção, Jacinto Freire, a instalação provisória na Igreja de São Francisco, sendo que os sócios colocaram a hipótese do Teatro Portalegrense. O local escolhido seria, todavia, a antiga escola primária onde actualmente a pode‑ mos encontrar, sendo que a Banda se instalará, num futuro próximo, no Espaço Robinson, de onde certamente sairá no 1.º de Dezembro de cada ano para animar Portalegre. 45

on 15 July, was the important role played by the Commit‑ tee of Friends. With the renovation having been carried out, the opening of the bar was one of the most important inno‑ vations since it allowed both an increase in the number of members, and the volume of income collected. It was thus possible to purchase new uniforms – for Summer and Win‑ ter – which enabled the musicians to all be dressed in the same uniform. It should be stressed that the easy adaptation of the Philharmonic to the new demands placed on it throughout its existence seems to have been the key to its longevity, as proved by the commemoration of its 140th anniversary in 2000. The celebrations echoed in the pages of the Distrito de Portalegre of 8 December of that year. The Philhar‑ monic Band was named on the first page with the headline “The Euterpe has its 140th Anniversary”. The Band met its usual programme of celebrations by engaging in a proces‑ sion through the streets of the city, honouring its deceased members and opening, over a celebratory lunch, the routes to its future path. An important part of that future was opened up in 2004, on 24 July, when the Mayor of CMP, Mata Cáceres, informed the Philharmonic Band, then led by the new conductor who had replaced Henrique Santana, Manuel Henrique Ruivo, that they would have to abandon their current premises. The CMP suggested to the mem‑ bers and the Chairman of the Board, Jacinto Freire, that they temporarily locate to the Church of São Francisco, and the members suggested the Teatro Portalegre. The venue would, however, be a former primary school where we are currently able to meet, and the Philharmonic Band will in the near future move to the Robinson Space, from where it will surely emerge on 1st December each year to animate Portalegre.


Notas

1

2

4 3

5

7 8 6

9

11 10

13 14 15 16 12

18 19 20 21 17

Veja­‑se, para uma melhor compreensão do que é o mutualismo, a obra de ROSENDO, Vasco – O Mutualismo em Portugal: dois séculos de História e suas origens, Lisboa: Multinova, 1996. Veja­‑se, por exemplo, a formação da Sociedade Euterpe Alhandrense, sur‑ gida no mesmo espaço temporal da Euterpe Portalegrense em AMARAL, Cristina Maria Fonte – Os Sons da Memoria. Notas sobre o percurso histórico e envolvimento social da Sociedade Euterpe Alhandrense 1862­‑1962. Lisboa: Tese de Mestrado em História Regional e Local apresentada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2006. Cf. Relatório de 22 de Novembro de 1884. Para uma melhor percepção da importância de Francisco Perdigão para a afirmação da Banda Euterpe atente­‑se ao texto de Sofia Lopes. O tema é apresentado na Acta da Assembleia Geral de 18 de Maio de 1862, não explicando os motivos da saída do anterior presidente. Acta da Assembleia Geral de 29 de Novembro de 1863. Acta da Assembleia Geral de 25 de Outubro de 1865. Veja­‑se, para um melhor conhecimento do movimento associativo de Porta‑ legre no período, VENTURA, António – Entre a República e a Acracia. O pensamento e a acção de Emílio Costa (1897­‑1914). Edições Colibri: Lisboa, 1995. Para um melhor conhecimento da emergência do conceito de auto­‑ajuda e das organizações que lhe estavam associadas veja­‑se, por exemplo, GUES‑ LIN, André – L’Invention de l’économie sociale. Idées, pratiques et imaginaires coopératifs et mutualistes dans la France du XIXe siècle. Paris: Economica, 1998; CORDERY, Simon – British Friendly Societies, 1750­‑1914. London: Palgrove Macmillan, 2003; ROSENDO, Vasco – O Mutualismo em Portugal: dois séculos de História e suas origens. Lisboa: Multinova, 1996. Acta da Assembleia Geral de 18 de Março de 1866. O perfil genérico das bandas musicais neste período pode ser consultado no texto de Sofia Lopes. Acta da Assembleia Geral de 30 de Outubro de 1863. Acta da Assembleia Geral de 19 de Outubro de 1865. Conforme refere o sócio das duas associações Rodrigues da Costa. Acta da Assembleia Geral de 8 de Abril de 1866. Veja­‑se para um maior conhecimento do Montepio Geral, NUNES, Anabela; BASTIEN, Carlos; VALÉRIO, Nuno – Caixa Económica Montepio Geral – 150 anos de História 1844­‑1994. Lisboa: Montepio Geral, 1994. Relatório da Direcção do Montepio de 6 de Dezembro de 1868. Relatório da Direcção do Montepio de 6 de Dezembro de 1868. Acta da Assembleia Geral de 6 de Dezembro de 1868. A história será desenvolvida no texto de Sofia Lopes. Veja­‑se, para um melhor conhecimento da história de Portalegre no período, VENTURA, António – Entre a República e a Acracia. O pensamento e a acção de Emílio Costa (1897­‑1914). Lisboa: Edições Colibri, 1995.

Notes

1

For a better understanding of what mutualism is, see the work by ROSENDO, Vasco – O Mutualismo em Portugal: dois séculos de História e suas origens (Mutualism in Portugal: two centuries of its History and Origins), Lisbon: Multinova, 1996.

See, for example, the constitution of the Sociedade Euterpe Alhandrense, which took

2

place during the same period as that of Euterpe Portalegrense, in AMARAL, Cris‑ tina Maria Fonte – Os Sons da Memoria. Notas sobre o percurso histórico e envolvimento social da Sociedade Euterpe Alhandrense 1862-1962. (The Sounds of Memory: Notes on the historical path and social involvement of the Euterpe Alhandrense Society 1862-1962). Lisbon: Master’s Thesis in Regional and Local History carried out at the Faculty of Letters of the University of Lisbon. 2006.

Cf. Report, 22 November 1884.

3

4

The text by Sofia Lopes provides a better understanding of the importance of Francisco Perdigão in the affirmation of the Euterpe Band.

The issue was raised in the Minutes of the General Assembly, 18 May 1862, with‑

5

out any explanation of the reasons for the departure of the former Chairman.

Minutes of the General Assembly, 29 November 1863.

Minutes of the General Assembly, 25 October 1865.

6 7

8

For a better understanding of the Portalegre associative movement during the period, see VENTURA, António – Entre a República e a Acracia. O pensamento e a acção de Emílio Costa (1897-1914). (Between the Republic and Acracia. The thought and action of Emílio Costa (1897-1914). Edições Colibri: Lisbon, 1995.

For a better understanding of the emergence of the concept of self-help and asso‑

9

ciative organisations, see, for example, GUESLIN, André – L’Invention de l’économie sociale. Idées, pratiques et imaginaires coopératifs et mutualistes dans la France du XIXe siècle. Paris: Economica, 1998; CORDERY, Simon – British Friendly Societies, 1750-1914. London: Palgrove Macmillan, 2003; ROSENDO, Vasco – O Mutualismo em Portugal: dois séculos de História e suas origens. (Mutualism in Portugal: two cen‑ turies of History and its origins). Lisbon: Multinova, 1996.

Minutes of the General Assembly, 18 March 1866.

The generic profile of musical bands of this period is given in the text by Sofia

10 11

Lopes.

Minutes of the General Assembly, 30 October 1863.

Minutes of the General Assembly, 19 October 1865.

As indicated by Rodrigues da Costa, member of the two associations.

Minutes of the General Assembly, 8 April 1866.

For a greater understanding of the Montepio Geral organization, see NUNES,

12 13 14 15 16

Anabela; BASTIEN, Carlos; VALÉRIO, Nuno – Caixa Económica Montepio Geral – 150 anos de História 1844-1994.(Caixa Económica Montepio Geral – 150 years of His‑ tory 1844-1994) Lisbon: Montepio Geral, 1994.

Report of the Montepio Board, 6 December 1868.

Report of the Montepio Board, 6 December 1868.

Minutes of the General Assembly, 6 December 1868.

This event is described in more detail in the text by Sofia Lopes.

17 18 19 20

46


idem, ibidem. Relatório da Direcção de 3 de Janeiro de 1896. 24 Relatório da Direcção de 3 de Dezembro de 1896. 25 Actas Sessão da reunião da Direcção de 6 de Maio de 1898. 26 Distrito de Portalegre, n.º 854 (3 de Janeiro de 1901). 27 idem, ibidem. 28 Acta da Direcção do Montepio de 1 de Julho de 1903. 29 Distrito de Portalegre, n.º 1875 (21 de Junho de 1911). 30 Distrito de Portalegre, n.º 2132 (7 de Dezembro de 1913). 31 Distrito de Portalegre, n.º 2487 (17 de Maio de 1917). 32 Acta da Assembleia Geral de 15 de Março de 1926. 33 Distrito de Portalegre, n.º 3358 (14 de Outubro de 1934). 34 Distrito de Portalegre, n.º 3361 (4 de Novembro de 1934). 35 Distrito de Portalegre, n.º 3861 (29 de Julho de 1944). 22

21

Distrito de Portalegre, n.º 4282 (29 de Novembro de 1952).

Costa (1897-1914). (Between the Republic and Acracia. The thought and action of Emílio Costa (1897-1914). Lisbon: Edições Colibri, 1995.

idem, ibidem.

Report of the Board, 3 January 1896.

Report of the Board, 3 December 1896.

Minutes of the Meeting of the Board, 6 May 1898.

Distrito de Portalegre, No. 854 (3 January 1901).

idem, ibidem.

Minutes of the Montepio Board, 1 July 1903.

Distrito de Portalegre, No. 1875 (21 June 1911).

22 23 24 25 26 27 28 29

Distrito de Portalegre, No. 2132 (7 December 1913).

30

Distrito de Portalegre, No. 2487 (17 May 1917).

Minutes of the General Assembly, 15 March 1926.

Distrito de Portalegre, No. 3358 (14 October 1934).

Distrito de Portalegre, No. 3361 (4 November 1934).

Distrito de Portalegre, No. 3861 (29 July 1944).

Distrito de Portalegre, No. 4282 (29 November 1952).

Cf. Promotional pamphlet on the centenary of the Band.

31

36

32

38 39

33

Distrito de Portalegre, n.º 4282 (29 de Novembro de 1952). Cf. Folheto promocional do centenário da Banda. A informação sobre as bandas que nasceram em colaboração estreita com a Euterpe são analisadas no texto de Sofia Lopes. 40 Carta do Presidente da Câmara Municipal de Portalegre (8 de Novembro de 1960). 41 Relatório da Direcção de 1965. 42 Relatório da Direcção de 1989. 43 Acta da Assembleia Geral de16 de Maio de 1970. 44 Relatório da Direcção 16 de Maio de 1970. 45 Discurso de Normando José Ferreira Pimenta de Castro (Presidente da Direcção) no almoço comemorativo dos 125 anos da Sociedade Musical Euterpe. 46 Relatório e Contas da Sociedade Musical Euterpe (15 de Julho de 1989). 37

For a better understanding of the history of Portalegre at that time, see , VENTURA, António – Entre a República e a Acracia. O pensamento e a acção de Emílio

23

34 35 36 37

38

Information about the bands which were formed following close collaboration with the Euterpe are analysed in the text by Sofia Lopes.

Letter from the Mayor of the Portalegre Municipality (8 of November 1960).

Report of the Board, 1965.

Report of the Board, 1989.

Minutes of the General Assembly, 16 May 1970.

Report of the Board, 16 May 1970.

39 40 41 42 43

44

Speech by Normando José Ferreira Pimenta de Castro (Chairman of the Board) at the lunch to commemorate 125 years of the Euterpe Musical Society.

45

Financial Statements of the Sociedade Musical Euterpe (15 July 1989).

Notas Bibliográficas

Bibliographic Notes

Publicações Periódicas: Distrito de Portalegre. A Plebe. A Rabeca.

Periodicals:

Arquivo da Sociedade Musical Euterpe: Livro de Matrículas de Sócios (1866-1902). Livro de Actas da Assembleia Geral do Montepio Euterpe (1862-1869). Livro de Actas da Assembleia Geral (1948-2005). Livro de Actas da Direcção do Montepio (1895-1906). Livro de Actas da Direcção do Montepio (1907-1931). Livro de Actas da Direcção da Banda (1948-1960).

From the Euterpe Musical Society Archives:

47

Distrito de Portalegre. A Plebe. A Rabeca.

Book of Member Registration (1866-1902). Book containing the Minutes of the General Meeting of Montepio Euterpe (1862-1869). Book containing the Minutes of the General Meeting (1948-2005). Book containing the Minutes of the Montepio Board (1895-1906). Book containing the Minutes of the Montepio Board (1907-1931). Book containing the Minutes of the Board of the Philharmonic Band (1948-1960).


Livro de Actas da Direcção da Banda (1960-1993). Livro do Conjunto Musical Euterpe. Livros Registo de Sócios (1943-1954). Livros de Registo de Sócios (1955-1964). Livros de Registo de Sócios (1965-1975). Livros de Registo de Sócios (1975-1990). Livros de Registo de Sócios (1990). Livro dos Instrumentos Distribuídos (1937). Livros de Registo do Conselho Fiscal (1895-1906). Livro de Relatórios da Direcção (1884-1898). Livro de Escripturação de Entrada e Saída (1898-1908). Bibliografia Geral: AMARAL, Cristina Maria Fonte – Os Sons da Memoria. Notas sobre o percurso histórico e envolvimento social da Sociedade Euterpe Alhandrense 1862-1962. Lisboa: Tese de Mestrado em História Regional e Local apresentada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 2006. CORDERY, Simon – British Friendly Societies, 1750-1914. London: Palgrove Macmillan, 2003. GUESLIN, André – L’Invention de l’économie sociale. Idées, pratiques et imaginaires coopératifs et mutualistes dans la France du XIXe siècle. Paris: Economica, 1998. NUNES, Anabela; BASTIEN, Carlos; VALÉRIO, Nuno – Caixa Económica Montepio Geral – 150 anos de História 1844-1994. Lisboa: Montepio Geral, 1994. ROSENDO, Vasco – O Mutualismo em Portugal: dois séculos de História e suas origens. Lisboa: Multinova, 1996. VENTURA, António – Entre a República e a Acracia. O pensamento e a acção de Emílio Costa (1897-1914). Lisboa: Edições Colibri, 1995. VENTURA, António – Publicações Periódicas de Portalegre (1836-1974). Por‑ talegre: Câmara Municipal, 1991.

Book containing the Minutes of the Board of the Philharmonic Band (1960-1993). Book of the Euterpe Musical Ensemble. Books containing the Registry of Members (1943-1954). Books containing the Registry of Members (1955-1964). Books containing the Registry of Members (1965-1975). Books containing the Registry of Members (1975-1990). Books containing the Registry of Members (1990). Distributed Instruments Book (1937). Books of the Financial Committee Records (1895-1906). Book Containing Reports of the Board (1884-1898). Dual Entry Bookkeeping Ledger (1898-1908). General Bibliography: AMARAL, Cristina Maria Fonte – Os Sons da Memoria. Notas sobre o percurso histórico e envolvimento social da Sociedade Euterpe Alhandrense 1862-1962. (The Sounds of Mem‑ ory: Notes on the historical path and social involvement of the Euterpe Alhand‑ rense Society1862-1962). Lisbon: Master’s Thesis in Regional and Local History carried out at the Faculty of Letters of the University of Lisbon. 2006. CORDERY, Simon – British Friendly Societies, 1750-1914. London: Palgrove Macmillan, 2003. GUESLIN, André – L’Invention de l’économie sociale. Idées, pratiques et imaginaires coopératifs et mutualistes dans la France du XIXe siècle. Paris: Economica, 1998. NUNES, Anabela; BASTIEN, Carlos; VALÉRIO, Nuno – Caixa Económica Montepio Geral – 150 anos de História 1844-1994. (Caixa Económica Montepio Geral – 150 years of his‑ tory 1844-1994) Lisbon: Montepio Geral, 1994. ROSENDO, Vasco – O Mutualismo em Portugal: dois séculos de História e suas origens. (Mutual‑ ism in Portugal: two centuries of its History and Origins) Lisbon: Multinova, 1996. VENTURA, António – Entre a República e a Acracia. O pensamento e a acção de Emílio Costa (1897-1914). (Between the Republic and Acracia. The thought and action of Emílio Costa (1897-1914) ) Lisbon: Edições Colibri, 1995. VENTURA, António – Publicações Periódicas de Portalegre (1836-1974). (Portalegre Periodi‑ cals, 1836-1974) Portalegre: Câmara Municipal, 1991.

48


Anexo 1 | ANNEX 1 Sócios Fundadores e Protectores do Montepio Euterpe Portalegrense (1866-1902) Founder Members and Patrons of the Montepio Euterpe Portalegrense (1866-1902 Profissão / Profession

Tipologia / Category

José Maria Malato

Nome / NAME

1

Barbeiro / Barber

Sócio Fundador / Founder Member

Vasco José Martins

2

Alfaiate / Tailor

Sócio Fundador / Founder Member

Silvestre da Cruz Ceia

3

Carpinteiro / Carpenter

Sócio Fundador / Founder Member

Francisco dos Santos Gonçalves

4

Carpinteiro / Carpenter

Sócio Fundador / Founder Member

José Maria Martins

5

Carpinteiro / Carpenter

Sócio Fundador / Founder Member

Augusto César da Rosa

6

Tipógrafo / Typographer

Sócio Fundador / Founder Member

Manuel Joaquim Costa

7

Serralheiro / Locksmith

Sócio Fundador / Founder Member

Boaventura de Jesus Costa

8

Serralheiro / Locksmith

Sócio Fundador / Founder Member

João Victor Gesteiro

9

Sapateiro / Shoemaker

Sócio Fundador / Founder Member

Francisco Marques

10

Barbeiro / Barber

Sócio Fundador / Founder Member

Miguel de Abreu da Silva Lobo

11

Empregado CMP / Town Hall employee

Sócio Fundador / Founder Member

José Maria Bolou

12

Sapateiro / Shoemaker

Sócio Fundador / Founder Member

José Maria Nogueira

13

Tipógrafo / Typographer

Sócio Fundador / Founder Member

António Maria de Deus

14

Carpinteiro / Carpenter

Sócio Fundador / Founder Member

Joaquim Dias Festa

15

Fabricante / Manufacturer

Sócio Fundador / Founder Member

Francisco Pedro Malato

16

Barbeiro / Barber

Sócio Fundador / Founder Member

Francisco António Trindade Júnior

17

Serralheiro / Locksmith

Sócio Fundador / Founder Member

António Alberto Ramalhete

18

Fabricante / Manufacturer

Sócio Fundador / Founder Member

António Rafael Carvalho

19

Sapateiro / Shoemaker

Sócio Fundador / Founder Member

António Cesário da Cunha

20

Fabricante / Manufacturer

Sócio Fundador / Founder Member

Justina Rosa Cardoso

21

Serviço Doméstico / Housemaid

Sócio Fundador / Founder Member

João Cordeiro

22

Serralheiro / Locksmith

Sócio Fundador / Founder Member

Francisco Jorge de Almeida Castanho

23

Advogado / Lawyer

Sócio Fundador / Founder Member

Joaquim Pedro Maduro

24

Professor / Teacher

Sócio Fundador / Founder Member

George Robinson

25

Proprietário / Proprietor

Sócio Protector / Member (Patron)

José Maria Vaz

26

Alfaiate / Tailor

Sócio Fundador / Founder Member

Joaquim Maria Gomes

27

Estalajadeiro / Innkeeper

Sócio Fundador / Founder Member

José Maria Rodrigues

28

Lojista / Shopkeeper

Sócio Fundador / Founder Member

Francisco Augusto Castelo

29

Carpinteiro / Carpenter

Sócio Fundador / Founder Member

Sebastião António Rodrigues Silva

30

Lojista / Shopkeeper

Sócio Fundador / Founder Member

José Mariano Botto

31

Fabricante / Manufacturer

Sócio Fundador / Founder Member

Cristóvão Filipe Neves

32

Fabricante / Manufacturer

Sócio Fundador / Founder Member

Mariano Augusto Canhão

33

Funileiro / Tinsmith

Sócio Fundador / Founder Member

António Manuel de Matos

34

Escriturário / Clerk

Sócio Fundador / Founder Member

Gregório Vicente

35

Sócio Fundador / Founder Member

Francisca Romana Afonso

36

Costureira / Seamstress

Sócio Fundador / Founder Member

Joaquim Maria Lopes

37

Sapateiro / Shoemaker

Sócio Fundador / Founder Member

Odorica José

38

Sócio Fundador / Founder Member

Carolina Rosa Gomes

39

Serviço Doméstico / Housemaid

Sócio Fundador / Founder Member

Josefa Carlota Milhinhos

40

Fabricante / Manufacturer

Sócio Fundador / Founder Member

Manuel Joaquim Varandas

41

Hortelão / Market gardener

Sócio Fundador / Founder Member

Miguel Augusto de Carvalho

42

Funileiro / Tinsmith

Sócio Fundador / Founder Member

49

N.º / NO.


Profissão / Profession

Tipologia / Category

Joana Rita Pereira

Nome / NAME

N.º / NO. 43

Serviço Doméstico / Housemaid

Sócio Fundador / Founder Member

Antónia Gertrudes Taveira

44

Serviço Doméstico / Housemaid

Sócio Fundador / Founder Member

João António Ribeiro

45

Fabricante / Manufacturer

Sócio Fundador / Founder Member

Narcisa Rosa Maçãs

46

Serviço Doméstico / Housemaid

Sócio Fundador / Founder Member

Domingos do Sacramento Castelo

47

Fabricante / Manufacturer

Sócio Fundador / Founder Member

Maria Vivência

48

Criada de serviço / Servant

Sócio Fundador / Founder Member

Augusto César de Andrade Reynaud

49

Empregado Público / Civil Servant

Sócio FundadorvFounder Member

Henriqueta Calado

50

Fabricante / Manufacturer

Sócio Fundador / Founder Member

José da Rocha Neigo

51

Sapateiro / Shoemaker

Sócio FundadorvFounder Member

João José Mendes Varandas

52

Tipógrafo / Typographer

Sócio Fundador / Founder Member

Ana Rita Marques

53

Serviço Doméstico / Housemaid

Sócio Fundador / Founder Member

Pedro de Alcântara

54

Alvanéu / Mason

Sócio Fundador / Founder Member

Doroteia Maria Fernandes

55

Fabricante / Manufacturer

Sócio Fundador / Founder Member

João Dos Santos Pinto

56

Alvanéu / Mason

Sócio Fundador / Founder Member

Francisco Maria da Rosa

57

Carpinteiro / Carpenter

Sócio Fundador / Founder Member

Narcisa Rosa Barbosa

58

Costureira / Seamstress

Sócio Fundador / Founder Member

José Augusto Soares

59

Caixeiro / Shop assistant

Sócio Fundador / Founder Member

José Joaquim Ribeiro da Silva

60

Vendedor de pentes / Comb salesman

Sócio Fundador / Founder Member

Manuel António Panasco e Silva

61

Escriturário / Clerk

Sócio Fundador / Founder Member

Maria António Antunes

62

Criada de Serviço / Servant

Sócio Fundador / Founder Member

Mariana José Madeira

63

Serviço Doméstico / Housemaid

Sócio Fundador / Founder Member

Amélia Augusta Lopes Malato

64

Serviço Doméstico / Housemaid

Sócio Fundador / Founder Member

Manuel Calado

65

Alvanéu / Mason

Sócio Fundador / Founder Member

Joaquim José Curinha

66

Alvanéu / Mason

Sócio Fundador / Founder Member

Catarina Luísa Ceia

67

Serviço Doméstico / Housemaid

Sócio Fundador / Founder Member

Lucrécia da Luz Morais

68

Serviço Doméstico / Housemaid

Sócio Fundador / Founder Member

Ana do Carmo Caldeira

69

Criada de serviço / Servant

Sócio Fundador / Founder Member

Mateus José Serra

70

Carpinteiro / Carpenter

Sócio Fundador / Founder Member

Padre Francisco António Barrogueiro

94

Padre / Priest

Sócio Protector / Member (Patron)

Thomaz Frederick Robinson

80

Proprietário / Proprietor

Sócio Protector / Member (Patron)

António Ferreira Baptista

81

Farmacêutico / Pharmacist

Sócio Protector / Member (Patron)

Luís Augusto Viana Salvado

174

Guarda-fiscal / Coastguardsman

Sócio Honorário / Honorary Member

Duque de Loulé

1

Sócio Honorário / Honorary Member

Francisco Eduardo Solano de Abreu

Advogado / Lawyer

Sócio Honorário / Honorary Member

Joaquim de Avillez

195

Proprietário / Proprietor

Protector/honorário / Patron/honorary

Visconde do Reguengo

172

Protector/honorário / Patron/honorary

Fonte: Livro de matriculas de sócios (1866-1902) | Source : Membership registration book (1866-1902)

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Anexo 2 | ANNEX 2 Músicos da Banda Euterpe em 1937 Euterpe Band Musicians in 1937 Músico / Musician

Estado Civil / Marital Status

Residência / Residence

Instrumento / Instrument

Carlos Almeida

Solteiro / Single

Portalegre

Trompeta / Trumpet

José Biquinhas

Casado / Married

Portalegre

Baixo / Double Bass

Francisco Bicho

Casado / Married

Portalegre

Bombardino / Bombardon

João Cabecinha

Casado / Married

Portalegre

Baixo / Double Bass

Manuel Lança

Casado / Married

Portalegre

Bombo / Bass Drum

Germano Guerra

Solteiro / Single

Portalegre

Trompete / Trumpet

António Mendonça

Solteiro / Single

Portalegre

Cornetim / Cornet

Francisco Santos

Solteiro / Single

Portalegre

Clarinete / Clarinet

Mário Lopes

Solteiro / Single

Portalegre

Flauta / Flute

José Júlio Correia Rainho

Solteiro / Single

Portalegre

Requinta / E-flat clarinet

Américo Bolou

Solteiro / Single

Portalegre

Saxofone / Saxophone

António Maria Guerra

Solteiro / Single

Portalegre

Clarinete / Clarinet

José Maria Reynaud

Solteiro / Single

Portalegre

Clarinete e Saxofone / Clarinet & Saxophone

Florimundo Garção

Solteiro / Single

Portalegre

Saxofone Tenor / Tenor Saxophone

Manuel Biquinhas

Casado / Married

Portalegre

Pratos / Cymbals

António Mão de Ferro

Solteiro / Single

Portalegre

Clarinete / Clarinet

José Lacerda

Solteiro / Single

Portalegre

Clavicórnio / Clavicorn

Pepe

Solteiro / Single

Portalegre

Clavicórnio / Clavicorn

Vintém

Solteiro / Single

Portalegre

Trombone / Trombone

Batista

Solteiro / Single

Portalegre

Cornetim / Cornet

Motaco

Solteiro / Single

Portalegre

Cornetim / Cornet

José Cara d’Anjo

Solteiro / Single

Portalegre

Clarinete / Clarinet

Alcide Caldeira

Solteiro / Single

Portalegre

Clarinete / Clarinet

Carrapiço

Solteiro / Single

Portalegre

Clarinete / Clarinet

Rôlo

Solteiro / Single

Portalegre

Trombone / Trombone

António Atanázio

Solteiro / Single

Portalegre

Caixa e Baixo / Snare Drum & Double Bass

Manuel Canâna

Solteiro / Single

Portalegre

Caixa / Snare Drum

Miguel Moreno

Solteiro / Single

Portalegre

Caixa / Snare Drum

Manuel Mendonça

Solteiro / Single

Portalegre

Trombone / Trombone

Ramalho

Solteiro / Single

Portalegre

Saxofone Alto / Alto Saxophone

Júlio Marques

Solteiro / Single

Portalegre

Cornetim / Cornet

Trombone / Trombone

Madeira

Clarinete / Clarinet

Príncipe

Flautim / Piccolo

Gaspar

Clarinete / Clarinet

Rainho

Cornetim / Cornet

Batista Ruivo

Clarinete / Clarinet

Luís Alberto

Saxofone / Saxophone

Olímpio Semedo

Clavicorneo / Clavicorn

José Laranjo

Trompete / Trumpet

Jorge

Caixa / Snare Drum

Grenho

Caixa / Snare Drum

Modesto Ferreira

Clarinete / Clarinet

Fonte: Livro dos Instrumentos Distribuídos (1937) | Source: Book of Distributed Instruments (1937)

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«Que a voz da cidade não se deixe de ouvir» A «velhinha Euterpe» – uma Banda do século XIX com os olhos postos no século XXI “Let the voice of the city be heard” “Euterpe the Old Lady” – a nineteenth century Phylarmonic Band with its eyes on the twenty first century

Sofia Lopes Aluna do Mestrado em Ciências da Musicais – Etnomusicologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa Student on the Masters in Musicology - Ethnomusicology Faculty of Social and Sciences and Humanities of the New University of Lisbon Institute of Ethnomusicology – Centre for the Study of Music and Dance, Faculty of Social and Sciences and Humanities of the New University of Lisbon

Publicações da Fundação Robinson 17, 2012, p. 52­‑103, ISSN 1646­‑7116

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O agrupamento hoje designado em Portugal por “Banda Filarmónica”, cuja configuração e funções se foi alterando significativamente ao longo de mais de dois séculos foi, durante muito tempo, o único instrumento de divulgação e de aprendizagem da música no país fora dos centros urbanos e acessível a todas as classes sociais (Lourosa, 20091).

The group nowadays known in Portugal as the “Philhar-

Quem chegar a Portalegre e pretender encontrar a Sociedade Musical Euterpe, necessita de “fugir” um pouco do centro da cidade e percorrer o Bairro Ferreira Rainho até chegar à antiga escola primária da Serra. No entanto, é esperado que dentro de pouco tempo esta Banda Filar‑ mónica com mais de cento e cinquenta anos de existên‑ cia mude as suas instalações para o futuro espaço cultu‑ ral, sedeado na antiga fábrica de cortiça Robinson, onde vai partilhar a casa com as demais associações culturais da cidade de Portalegre. Apesar desta concentração de asso‑ ciações num mesmo local, está previsto que cada uma delas possua o seu próprio espaço de ensaio com instala‑ ções modernas e devidamente equipadas, de forma a que cada uma mantenha a sua identidade própria, mas privi‑ legiando a interacção entre as associações. A distância que separa a actual sede social da Filarmónica, o edifício de uma antiga escola do primeiro ciclo, das futuras instalações não é muita. São escassos os metros que os cerca de cinquenta músicos desta Banda terão de percorrer no momento da mudança, não sendo esta uma preocupação muito pre‑ sente nos discursos, tanto dos Directores como do Maes‑ tro ou dos músicos da Sociedade. Na verdade esta é apenas mais uma das muitas mudanças a que alguns dos músicos já estão habituados, uma vez que nem sempre os ensaios, que no presente decorrem com uma frequência semanal, tiveram lugar no local onde hoje decorrem. Durante a sua

Those who arrive in Portalegre, and wish to find the

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monic Band”, the configuration and functions of which has changed significantly over more than two centuries was, for a long time, the only source of learning and dissemination of music in the country outside the urban centres which was accessible to all social classes (Lourosa, 20091).

Euterpe Musical Society, need to “escape” somewhat from the city centre and walk through the Ferreira Rainho neigh‑ bourhood until they reach the former primary school of Serra. However, it is expected that within a short time this Philharmonic Band, with over one hundred and fifty years of existence, will change its premises to the future cultural space located in the former Robinson cork factory, which it will share with the other cultural associations of the city of Portalegre. Despite this concentration of associations in one place, it is expected that each of them will have their own rehearsal space, with suitably equipped modern facilities, so that each can retain its own identity, while interacting with the other associations. The distance of the current regis‑ tered location of the Philharmonic - a former primary school building - from its future premises is not much. Few are the steps that around fifty musicians in this Band will have to traverse at the time of change and this is certainly not a con‑ cern for the Board, the Musical Director or the Musicians in the Society. In fact, this is just one of many changes that some of the musicians have come to expect, since rehears‑ als, which currently take place once a week, have not always been held where they currently take place. Throughout its existence, the Euterpe has met in various rehearsal spaces, which were offered or rented to them, and there are several members of this band who still remember going to rehearse


Actual sede da SME. Current SME headquarters.

existência, a Euterpe conheceu diversos espaços de ensaio, cedidos ou alugados, e vários são os membros desta banda que ainda se lembram de ir ensaiar nas instalações onde hoje funciona a Câmara Municipal, uma antiga fábrica de lanifícios fundada pelo Marquês de Pombal e que, após a sua desactivação e durante muitos anos, albergou a sala de ensaios e a própria sede da Euterpe. Aqui a Banda possuía uma sala que não só acolheu os ensaios como também aco‑ lheu os bailes organizados por esta Sociedade que, tal como era hábito das associações filarmónicas durante grande parte do século XX, serviu como espaço de recreio da popu‑

in the premises where the Town Hall is now located, an old woollen mill founded by the Marquis of Pombal which, after its closure, housed the rehearsal room and head office of the Euterpe for many years. Here the band had a room that was not only used for rehearsals but also hosted the dances organized by this Society which, as was customary for philharmonic associations during much of the twentieth century, served as a recreational space for the population of Portalegre. In this space there was also the traditional Association Bar that for a while only functioned on dance nights but which also became a common meeting place for

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lação portalegrense. Neste espaço existia também o tradi‑ cional bar da Associação que durante algum tempo funcio‑ nou apenas para servir de apoio aos bailes mas que passou também a servir como local de encontro frequente entre os músicos e os associados desta Banda. Esta mudança ocor‑ reu há pouco mais de cinco anos e desde então estes músi‑ cos conheceram várias salas de ensaio até se instalarem no edifício que hoje ocupam. É interessante verificar a apa‑ rente despreocupação dos músicos e da Direcção quando o assunto diz respeito à mudança para as novas instalações, referindo que não serão umas instalações mais modernas ou mais bem equipadas que farão a diferença no traba‑ lho realizado pela Euterpe. Tal como refere Miguel Mon‑ teiro, actual Presidente da Direcção da Sociedade Musical Euterpe e também ele músico da Banda há muitos anos, “o objectivo da Sociedade Euterpe é fazer o melhor traba‑ lho possível com os recursos que temos”2. As mudanças de instalações quase que já vêm sendo um hábito. Começando por ensaiar no espaço do Clube Portalegrense, em 1865 a Euterpe foi forçada a abandonar esta sede para se insta‑ lar no Theatro Portalegrense, “cuja cedência provisória se lhe afigurava fácil, por parte da respectiva direcção”3. O local necessitava de algumas remodelações que foram efectua‑ das com o esforço dos músicos que “de certo se apresen‑ tariam de bom grado a concorrer com o seu trabalho e os demais sócios com os donativos nas diversas espécies pre‑ cisas, tudo em proporção saudável para o acabamento do mencionado salão”4. É sabido que na maioria das vezes estas associações filar‑ mónicas apresentam grandes dificuldades, em termos eco‑ nómicos, para manterem a sua actividade e proporcionarem não só uma frequência livre de custos para os músicos como também um ensino musical gratuito. Desta forma, muitas 55

the musicians and the members of the Philharmonic. This change occurred a little over five years ago and since then these musicians had used various rehearsal rooms until they settled in the building that they now occupy. It is interesting to note the apparent lack of concern of the musicians and the Board concerning the change to the new premises, as they state that the more modern and better equipped facil‑ ities will not make a difference to the work carried out by the Euterpe. As Miguel Monteiro, current Chairman of the Board of the Euterpe Musical Society and also a musician in the Band for many years, stated “the purpose of the Euterpe Society is to do the best job possible with the resources we have”2. Changes of premises have almost become a habit. The Euterpre started rehearsing at the Clube Portalegrense in 1865 and were forced to abandon this location and relo‑ cate to the Theatro Portalegrense, “the temporary assignment of which was facilitated by the respective board”3. The place needed some alterations, which were carried out through the efforts of the musicians who “would certainly be will‑ ing to use their skills along with other members who would make the specific donations required for the finishings of the aforementioned hall”4. It is common knowledge that most of these philhar‑ monic associations had major economic difficulties in keeping their activities not only free of cost for the musi‑ cians but also offering free musical education. Thus, many associations have had to rely not only on municipal grants, which often do not cover necessary expenses, but also proceeds from their performances, which not infre‑ quently are free, or revenues from other activities, such as the aforementioned bars which, in addition to providing a place for musicians, other association members and others to interact, also provide an important source of income.


sociedades têm de recorrer não só a subsídios camarários, que muitas vezes não conseguem cobrir as despesas neces‑ sárias, como também a receitas provenientes das suas actu‑ ações, que não raras vezes são gratuitas, ou a receitas rela‑ tivas a outras actividades, como por exemplo os já referidos bares que, para além de proporcionarem um local de con‑ vívio entre músicos, sócios e demais população, proporcio‑ nam também uma importante fonte de rendimento. Assim, a Sociedade Musical Euterpe não foge à regra e enquadra­‑se perfeitamente no perfil traçado por Paulo Lameiro quando este refere que “a maioria das Bandas Filarmónicas são inte‑ gradas no movimento associativo. (…) A sua sobrevivên‑ cia no país foi garantida através da participação nas festas religiosas tradicionais e, na falta destas, de alguns contra‑ tos autárquicos e apoios pontuais do INATEL”5. Também esta sociedade musical de Portalegre sobrevive com o apoio camarário (que muitas vezes se cingiu ao apoio à escola de música), com alguns rendimentos provenientes de actua‑ ções, com a ajuda de alguns “amigos” da Euterpe (a Comis‑ são de Amigos da Euterpe) e com a ajuda material da Fede‑ ração de Bandas Filarmónicas do Distrito de Portalegre e do INATEL que, depois de 1974, tem disponibilizado às ban‑ das suas associadas não só ajuda material (é atribuído a cada banda, por ano, um instrumento), como também ajuda ao nível da formação, tanto dos músicos como dos próprios maestros, desenvolvendo várias acções de formação ao longo do ano. Ao longo da sua história, são vários os episódios ocorri‑ dos devido aos problemas financeiros pelos quais a Euterpe passou e são igualmente diversas as formas como as direc‑ ções encontram uma solução. Num desses episódios os músicos foram mesmo despojados dos seus instrumen‑ tos, uma vez que em Maio de 1868 a Direcção da associação

As such, the Euterpe Musical Society was no exception and fits perfectly within the profile outlined by Paulo Lameiro when he states that “most of the Bands form part of the associative movement. (...) Their survival in the coun‑ try was ensured through participation in traditional reli‑ gious festivals and, failing that, various municipal con‑ tracts and occasional support from INATEL”5. This musical society from Portalegre also survived with support from the Town Hall (which was often linked to support for the Music School), with some income from performances, with the help of some “friends” of Euterpe (the Committee of Friends of Euterpe) and with material help from the Feder‑ ation of Philharmonic Bands of the District Portalegre and INATEL which, after 1974, provided not only material help (each band was given one instrument a year), but also help in terms of training, both for musicians and Musical Direc‑ tors, in carrying out various training sessions throughout the year. Throughout its history, financial problems led to vari‑ ous problems for the Euterpe which also had to be resolved in a variety of ways by its Boards of Directors. In one of these episodes the musicians even had their instruments taken away from them, when in May 1868 the Board of the association was surprised by the arrival of a prosecutor from the Banco Aliança do Porto which had paid the bills of the Casa de Pavia Botelho which, in turn, had donated some of the instruments and which were on the list of assets drawn up to meet the debt. After having discussed the matter at the General Meeting of 21 May 1868, and having sought for a legal way of not returning the instruments, it voted they that they should be handed over to the bank, declining the possibility of purchasing them due to a “lack of means given the financial situation of the society” which “considered it

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Estandarte. Banner.

foi surpreendida por um procurador do Banco Aliança do Porto que havia liquidado as contas da Casa de Pavia Botelho a qual, por sua vez, havia doado alguns instrumentos que agora se encontravam na lista de bens para fazer face à dívida. Depois de se ter discutido o assunto na Assembleia Geral de 21 de Maio de 1868, procurando­‑se vias legais para a não devolução dos instrumentos, votou­‑se que estes deve‑ riam ser entregues ao banco, declinando­‑se a possibilidade de os adquirir por “falta de meios em que se achava a socie‑ dade” os quais “devem convenientemente ser aplicados, com maior proveito, aos socorros dos sócios enfermos”6. Em conversa com o Sr. António Carrapiço, este salientou igualmente a importância do Dr. António Portilheiro, Pre‑ sidente da Direcção da Euterpe até 1966 e veterinário com actividade no concelho, que muitas vezes conseguiu alguns fundos para a Sociedade Euterpe em troca do seu serviço enquanto veterinário nos grandes latifúndios da região, sendo muito importante o papel da Direcção nesta compli‑ cada gestão orçamental. A Euterpe e o seu papel social Chegados às instalações da Sociedade Musical Euterpe de Portalegre, podemos verificar que esta antiga escola do primeiro ciclo é, como muitas outras construídas em Portu‑ gal em meados do século XX, composta por quatro salas de aula, distribuídas por dois pisos, ligadas duas a duas através de uma escadaria, com instalações sanitárias no exterior e com um pátio em redor. Contando há cerca de quatro anos com este local para desenvolver a sua actividade, a Euterpe aproveitou o espaço da melhor forma que pôde. Numa das salas do piso térreo encontra­‑se o bar da Associação, que mesmo antes da mudança de instalações era já um impor‑ 57

more advantageous to apply its resources to aid sick mem‑ bers”6. In conversation with Sr. António Carrapiço, he also stressed the importance of Dr. António Portilheiro, Chair‑ man of the Board of Euterpe until 1966, who worked as a vet in the district, who often managed to obtain funds for the Euterpe Society in exchange for his veterinary services on the large estates in the region, showing the very impor‑ tant role of the Board of Directors in the tricky management of its budget.


tante meio para angariar alguns recursos monetários, tal como é referido pelos músicos mais antigos. No presente ainda há alguns persistentes que se encontram nesta sala para conversar ou jogar às cartas, uns por conveniência, outros por amizade à Banda; no entanto, este meio de ren‑ dimento já não tem o peso que teve em outras alturas. Nor‑ malmente as associações filarmónicas têm a preocupação de manter os seus bares em funcionamento por percebe‑ rem a importância que estes têm para a manutenção dos laços entre os músicos e também para o fortalecimento dos laços entre os demais associados, sendo inclusivamente um importante meio de projecção destas associações para o exterior, salientando o seu papel social, tal como é referido no próprio website da Associação, quando se menciona que a Sociedade Euterpe “está vocacionada não só para desen‑ volver a cultura, mas também funciona como uma escola para a vida, em todos os seus aspectos”7. Assim, podemos encontrar neste bar um local de interacção entre os músi‑ cos fora dos momentos de ensaio onde os laços são quase de carácter “profissional”. Tal como podemos observar atra‑ vés dos discursos dos próprios músicos, não é só o “gosto pela música” ou a “vontade em aprender a tocar um instru‑ mento”, mas em grande medida o facto da Banda ser “um bom local de convívio”8 que garantem a permanência destes quarenta e nove músicos na Euterpe. São os momentos de lazer entre os músicos que proporcionam a criação de laços de amizade que muitas vezes permanecem durante vários anos e que fazem com que muitos, apesar das suas diferen‑ tes actividades profissionais, continuem a frequentar os ensaios e actuações da “sua” Banda Filarmónica, podendo ser estes momentos tanto a confraternização no bar da Associação durante os intervalos dos ensaios como as via‑ gens de deslocação da Banda para os locais de actuação.

The Euterpe and its social role

On arriving at the premises of the Euterpe Musical Soci‑ ety, we can see that this old primary school was built in the same way as so many others in Portugal in the mid-twenti‑ eth century, with four classrooms, arranged over two floors, connected in pairs through a staircase, with outside toilets and a yard around the building. Having been in this place for about four years, the Euterpe has used the space as best as it could. One of the ground floor rooms houses the bar of the association, which even before the change of prem‑ ises was an important source of revenue, as mentioned by the older musicians. In the present-day there are still some diehards who meet in this room to talk or play cards, some because it suits them, and others due to their friendship towards the Band, although this source of income no longer has the importance it had at other times. Normally philhar‑ monic associations are concerned to keep their bars in oper‑ ation as they realise the importance that they have in main‑ taining ties between the musicians and also the strength‑ ening of ties among the other members, including being an important means of projecting their associations to the out‑ side, emphasizing their social role, as is mentioned on the Association’s own website, which mentions that the Euterpe Society “is dedicated not only to developing culture, but also functions as a school for life, in all its aspects”7. Thus we can see that this bar is a place for interaction between the musi‑ cians when they are not rehearsing where the exchanges are mainly of a “professional” nature. As we can see from the words of the musicians themselves, it is not only the “love for music” or the “wish to learn to play an instru‑ ment”, but mainly because of the fact that the band is “a good place to hang out”8 that ensures the presence of these

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Este papel social das bandas filarmónicas, que vai para além do seu papel enquanto agente cultural, não é só salien‑ tado pelos discursos dos dirigentes e Maestro da Socie‑ dade Euterpe como também é realçado nos vários estudos que se debruçam sobre este universo associativo. É o caso do estudo dirigido por Graça Mota e publicado em 2009 onde os autores são peremptórios na afirmação do impor‑ tante papel que este tipo de associações tem na constru‑ ção de identidades, principalmente para os jovens portu‑ gueses. A Sociedade Musical Euterpe de Portalegre não é uma excepção, tal como é facilmente verificável nos discur‑ sos dos próprios músicos que salientam a importância do “espírito familiar”9 que aqui se desenvolve. Vestir a farda de uma banda é, na maioria das vezes, um acto de grande carácter simbólico e não apenas sinónimo de interesse pela música. Tal como muitos dos músicos da Euterpe mencio‑ naram nos questionários distribuídos, o seu interesse pela Banda passa também pelo relacionamento interpessoal que aqui é proporcionado, sendo este interesse demonstrado na resposta à questão referente às razões que os levaram a integrar e que os levam ainda a permanecer na Sociedade Musical Euterpe. Assim, é esclarecedora a resposta de um dos músicos que refere que a razão principal para continuar na Banda é o “relacionamento entre músicos/amigos”10, enquanto outro músico afirma que a razão principal para a sua entrada na Euterpe se deve à possibilidade de “conhe‑ cer novas pessoas que também apreciam música”11. No seio destas associações nascem muitas vezes laços que vão para além da sala de ensaios, mantendo­‑se durante muito tempo a ligação entre músicos de uma mesma banda, sendo também fácil encontrar em Bandas Filarmónicas com lar‑ gos anos de actividade a permanência de músicos de várias gerações, muitos deles familiares. Na Sociedade Euterpe de 59

forty-nine musicians in the Euterpe. It is the moments of leisure among the musicians which create the friendships ties that often last for several years and lead to many of them, despite their different professional activities, contin‑ uing to attend the rehearsals and performances of “their” Philharmonic Band, as well as the socializing in the Associ‑ ation bar during the rehearsal intervals and the band trips to places where they perform. This social role of the philhar‑ monic bands, which goes beyond its role as a cultural agent, is not only highlighted in the interviews with the board and the Musical Director of the Euterpe Society, as well as also highlighted in several studies that focus on this asso‑ ciative space. This is the case with the study led by Grace Mota and published in 2009 where the authors are adamant in affirming the important role that such associations have had in the construction of identities, especially for young Portuguese individuals. The Musical Society of Euterpe Por‑ talegre is no exception to this, as was easily verifiable in the interviews with its musicians who stress the importance of the “family spirit”9 that is developed here. Wearing the uni‑ form of a band is, most of the time, a major symbolic act and not just synonymous with an interest in music. For many of the Euterpe musicians mentioned in the questionnaires handed out, their interest in the Band also involves the interpersonal relationships that are created here, and this interest is shown in response to the question concerning the reasons that led them to join and still remain in the Euterpe Musical Society. As such there is an illuminating answer from one of the musicians who stated that the main reason to continue in the Band is the “relationship between musi‑ cians/friends”10, while another musician stated that the main reason he joined the Euterpe was due to the possibil‑ ity of “meeting new people who also enjoy music”11. Within


Portalegre o caso é bastante curioso: nesta sala de ensaios não convivem apenas duas gerações mas, na verdade, três. Avó, mãe e filha, três gerações de uma mesma família que ocupam os lugares de percussionista, trompista e oboísta, respectivamente, e que partilham a sua experiência den‑ tro e fora da Euterpe. “A minha mãe e a minha avó toca‑ vam na banda e parecia ser divertido”12, refere o elemento mais novo desta família que confirma que as suas motiva‑ ções para a entrada na Sociedade Euterpe passaram princi‑ palmente pelo laço familiar já existente. Na resposta dada por outro músico é possível verificar que o “gosto forte pela música por parte do pai e consequente influência de gera‑ ção”13 foram decisivos para a sua entrada no grupo. Anali‑ sando os questionários distribuídos, é possível verificar que mais de metade dos músicos afirmam que têm ou já tiveram familiares na Sociedade Euterpe. Esta influência por parte de familiares ou amigos é bastante comum nesta Sociedade e nas várias associações filarmónicas do país que, em mui‑ tas localidades se afiguraram como uma das poucas pos‑ sibilidades dos jovens ocuparem os seus tempos livres ao mesmo tempo que têm a possibilidade de aprender música e conviver com pessoas de meios sociais diferentes. Na aná‑ lise aos questionários distribuídos, é possível verificar que a maioria dos músicos que responderam afirmam ter ou ter tido algum familiar na Euterpe, sendo na maioria das vezes irmãos, primos, pais, filhos, netos ou cônjuges.

these associations relations are often established that go beyond the rehearsal room, with a connection being main‑ tained between musicians in the same band, and it is also easy to find Philharmonic Bands which contain musicians with many years of playing who have stayed in the band, of various generations, and who are often family members. In the Euterpe Society of Portalegre the situation is quite curi‑ ous: this rehearsal room not only has two generations coex‑ isting but actually three. Grandmother, mother and daugh‑ ter, three generations from the same family who occupy the positions of percussionist, horn player and oboist, respec‑ tively, and who share their experience inside and outside the Euterpe. “My mother and my grandmother played in the band and it seemed to be fun”12, mentioned the young‑ est member of this family who confirmed that her motiva‑ tions for joining the Euterpe Society were mainly because of the existing family ties. In a reply given by another musi‑ cian it is possible to verify that the “strong taste for music in my father and the subsequent generational influence”13 were decisive factors in entering the group. Analysing the questionnaires collected, we can see that more than half of the musicians say they have or have had family members in the Euterpe Society. This influence from family or friends is quite common in this Association and the various phil‑ harmonic associations in Portugal that in many places have seemed to be one of the few opportunities for young peo‑ ple to occupy their free time while they have the chance to

A Banda, as suas actuações e o seu papel económico

learn music and socialize with people from different social backgrounds. In analysing the questionnaires handed out,

Ao sairmos da sala que hoje alberga o bar, encontra‑ mos as escadas que nos conduzem ao primeiro andar. Ao longo destas escadas podemos ver alguns retratos de rostos que fazem parte da história da Sociedade Musical Euterpe

we can see that most musicians who responded say they have or have had a family member in the Euterpe, most fre‑ quently brothers, cousins, parents, children, grandchildren or spouses.

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desde a sua fundação, há já mais de cento e cinquenta anos. Quando chegamos ao primeiro andar é difícil não reparar na quantidade de galardões e lembranças que atestam os diver‑ sos intercâmbios e concertos que esta Banda fez ao longo da sua existência. Muitas destas recordações permanecem apenas na memória de alguns dos antigos músicos enquanto que outras já foram passadas, via oral, para a nova geração. A verdade é que muita documentação e objectos que ates‑ tavam os primeiros anos de existência da Sociedade Musi‑ cal Euterpe já não existem, mas aqueles que nos chegam demonstram que os primeiros anos da Associação Philarmónica Euterpe Portalegrense foram preenchidos por concer‑ tos realizados em diversos locais da cidade de Portalegre, destacando­‑se as diversas festividades religiosas, os con‑ certos em espaços públicos e, por vezes, as cerimónias ofi‑ ciais, algo que se tem mantido ao longo dos seus 150 anos de história. Quanto à importância dos intercâmbios entre a Euterpe e outras bandas, ela não se prende apenas com a sua quanti‑ dade, mas fundamentalmente com o seu papel tanto a nível musical como a nível social. Para os músicos, esta é uma oportunidade de contactar com outras bandas filarmóni‑ cas e outras formas de trabalhar e também para conhecer novos locais, dentro e fora do país, bem como para conhe‑ cer novas pessoas que partilham o interesse pela activi‑ dade filarmónica, uma vez que as várias actuações que esta Banda faz ao longo do ano não se cingem apenas à cidade de Portalegre, mas realizam­‑se igualmente nas diversas fre‑ guesias do Concelho e na maioria das localidades do Dis‑ trito, sendo frequentes também as suas deslocações a loca‑ lidades da Estremadura espanhola para a realização de concertos. Em média, a Sociedade Euterpe realiza por ano cerca de catorze actuações, entre serviços religiosos, con‑ 61

The band, its performances and its economic role

Upon leaving the room that now houses the bar, we can find the stairs that lead to the first floor. Going up these stairs we can see some pictures of the faces that have formed part of the history of the Euterpe Musical Society since its formation, more than a hundred and fifty years ago. When we reach the first floor it is hard not to notice the number of awards and mementos that attest to the var‑ ious exchanges and concerts that this Philharmonic Band have given throughout its existence. Many of these memo‑ ries only still remain in the minds of some of the older musi‑ cians while others have been passed down orally to the next generation. The truth is that a lot of documentation and objects attesting to the early years of the Euterpe Musical Society no longer exist, but those that have come down to us show that the early years of the Associação Philarmónica Euterpe Portalegrense were filled with concerts held in various locations around the city of Portalegre, in particular the var‑ ious religious festivals, public open air concerts and, some‑ times, official ceremonies, something that has stayed con‑ stant throughout its 150-year history. Regarding the importance of exchanges between the Euterpe and other bands, this does not just concern the num‑ ber of such exchanges, but primarily their role both musi‑ cally and socially. For musicians, this has been an opportu‑ nity to come into contact with other philharmonic bands and other ways of working and also to get to know new places inside and outside Portugal as well as meeting new people who share an interest in the band’s activity, since the various performances that this band carry out throughout the year are not confined only to the city of Portalegre, but also take place in different parishes within the Council and most parts


certos e cerimónias oficiais; no entanto, este número pode aumentar nos meses de Verão, nos quais abundam as fes‑ tas populares. Como é hábito neste tipo de sociedades, as actuações realizadas noutras localidades com outras ban‑ das, são normalmente retribuídas pela Sociedade Euterpe que recebe em Portalegre as bandas que a acolheram. Tam‑ bém esta Banda organiza desde 2004 o seu próprio Festi‑ val de Bandas, contando já com oito edições anuais e com a presença de outras bandas do país, como é o caso da vizi‑ nha Sociedade Recreativa Musical Alegretense, da Banda da Sociedade Filarmónica Amizade Visconde de Alcácer ou da Banda Filarmónica Simão da Veiga da Casa do Povo de Lavre, entre outras. Segundo o anúncio do Festival de Ban‑ das realizado em Setembro de 2009, “este festival será um encontro de pessoas, jovens, idosos, trabalhadores, estu‑ dantes e profissionais, que desfrutam de uma rara igual‑ dade no processo de fazer música juntos”14. Assim, este Fes‑ tival tem como principal objectivo o encontro de músicos oriundos de várias regiões, fomentando a partilha de gos‑ tos e valores em comum, tais como “a amizade, o respeito e principalmente o amor pela música”15. As actuações da Sociedade Musical Euterpe de Portale‑ gre podem ocorrer em concertos em salas destinadas para o efeito, em festas populares, em procissões, arruadas, touradas, cerimónias oficiais ou nos encontros de bandas, sendo a esmagadora maioria destas actuações realizadas gratuitamente, sem quaisquer custos para o público. Para os músicos deste agrupamento, estas actuações são uma oportunidade para apresentar o seu trabalho ao público e são também uma possibilidade de conhecer pessoas com interesses em comum, sendo muitas vezes este um dos principais factores para a sua entrada e permanência na banda. Apesar de não terem sofrido grandes alterações,

of the District, including frequent trips to places in Extrema‑ dura in Spain to give concerts. On average, the Euterpe Soci‑ ety gives around fourteen performances every year, includ‑ ing religious services, concerts and official ceremonies. How‑ ever, this number may increase in the summer months, when there is an abundance of popular feast days. As is usual in such societies, the activities performed with other bands in other locations are usually reciprocated by the Euterpe Soci‑ ety in Portalegre as they host the philharmonic bands that in turn hosted them. This band has also since 2004 organized its own Festival of Philharmonic Bands, which has already been held eight times on an annual basis and which has included other Portuguese philharmonic bands, including the neighbouring Musical Recreational Company of Alegrete, the Band of the Amizade Visconde de Alcácer Philharmonic Society and the Simão da Veiga da Casa do Povo de Lavre Phil‑ harmonic Band. According to the publicity for the Festival of Philharmonic Bands held in September 2009, “this festival is a gathering of people - young, old, workers, students and pro‑ fessionals, who enjoy a rare equality in the process of making music together”14. Thus, this Festival has as its main objec‑ tive the gathering of musicians from various regions, foster‑ ing the sharing of their tastes and values in common, such as “friendship, respect and above all a love of music”15. The performances of the Portalegre Euterpe Musical Society may take place in concert hall rooms intended for that purpose, in festivals, in processions, rallies, bullfights, official ceremonies or meetings of philharmonic bands, with the overwhelming majority of these performances free and held at no cost to the public. For the musicians, these perfor‑ mances are an opportunity to present their work to the pub‑ lic and are also a chance to meet people with common inter‑ ests, and this is often a major reason for joining and stay‑

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Arruada da Banda Euterpe, 2010. Euterpe Music Society parade, 2010.

os contextos onde esta Banda realiza as suas actuações e alguns pormenores respeitantes à logística mudaram ao longo destes cento e cinquenta anos. Hoje a Euterpe desloca­‑se para as suas actuações em autocarros cujos cus‑ tos normalmente estão a cargo da Direcção; no entanto, durante muitos anos, as deslocações dos músicos para localidades mais perto de Portalegre eram feitas a pé ou não raras vezes de carroça o que demorava várias horas e que implicava um esforço extra para os músicos, mas que ao mesmo tempo correspondia a mais uma oportunidade para poderem conviver. 63

ing with the philharmonic band. Although they have under‑ gone major changes, the contexts in which this Band carries out its performances and some of the details regarding the logistics of these have changed over the course of a hundred and fifty years. Today the Euterpe travels to the locations where it is going to perform using coaches, the cost of which is normally borne by the Board. However, for many years, the musicians travelled to locations closer to Portalegre on foot or by wagon, which often took several hours and which meant extra effort for the musicians, but at the same time represented another opportunity to socialize.


Actuações da Banda Euterpe, 1892–1980 Euterpe’s Musical Society Performances, 1892–1980 1892 21-22 Agosto / August

Festas de Nossa Senhora da Piedade, Portalegre / Festas (Festivities) of Nossa Senhora da Piedade, Portalegre

1893 Abril / April

Romarias à capela da Senhora da Penha / Pilgrimages at the chapel of Senhora da Penha

Agosto / August

Arraial de São Bartolomeu / Arraial (Folk Festival) of São Bartolomeu

1896 Março / March

Procissão do Nosso Senhor Jesus Cristo / Procession of Nosso Sr. Jesus Cristo

Abril / April

Procissão da Quinta-Feira Maior no Arraial da Divina Pastora / Procession of Quinta-Feira Maior at the Folk Festival of the Divine Shepherd

Maio / May

Arraial de São Pedro / Folk Festival of São Pedro

Junho / June

Procissão e arraial de São Sebastião / Procession and Folk Festival of São Sebastião

Julho / July

Arraial de São Cristóvão / Folk Festival of São Cristóvão Arraial de Santana / Folk Festival of Santana Arraial da Senhora da Graça / Folk Festival of Senhora da Graça Arraial de São Bartolomeu / Folk Festival of São Bartolomeu

Setembro / September

Arraiais da Nossa Senhora da Alegria / Folk Festivals of Nossa Senhora da Alegria

Dezembro / December

Arraial de Senhor do Bonfim / Folk Festival of Senhor do Bonfim

1900 Abril /April

Procissão do Senhor dos Paços / Procession of Senhor dos Paços Procissão da Quinta-Feira Maior / Procession of Quinta-Feira Maior Procissão da Divina Pastora / Procession of the Divine Shepherd Procissão do Corpo de Cristo / Procession of Corpus Christi Procissão da Sé / Procession of the Sé

Maio / May

Arraial do Senhor dos Aflitos / Folk Festival of Senhor dos Aflitos Arraial Senhora da Penha / Folk Festival of Senhora of Penha

Junho / June

Arraial Santo António / Folk Festival of Santo António Arraial da Nossa Senhora do Bom Despacho / Folk Festival of Nossa Senhora do Bom Despacho Arraial da Nossa Senhora da Graça / Folk Festival of Nossa Senhora da Graça Arraial de Santana / Folk Festival of Santana Arraial de São Cristóvão / Folk Festival of São Cristóvão Arraial da Senhora da Luz / Folk Festival of Senhora da Luz Tourada / Bullfight

Setembro / September

Procissão de São José e de São Lourenço / Procession of São José and São Lourenço Arraial de São Lourenço / Folk Festival of São Lourenço Arraial de São Pedro / Folk Festival of São Pedro Arraial de Nossa Senhora da Alegria / Folk Festival of Nossa Senhora da Alegria Tourada em Estremoz / Bullfight in Estremoz Tourada no Senhor dos Aflitos / Bullfight in Senhor dos Aflitos

Dezembro / December

Procissão da Bula da Santa Cruzada / Procession of Bula da Santa Cruzada

1904 21-22 Agosto / August

Festas da cidade, com as bandas de Marvão e Nisa / Festivities of the city, with the bands from Marvão and Nisa

1905 21 actos remunerados / 21 remunerated activities

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1906 Festival de bandas, na Avenida D. Carlos, com a Banda Regimental de Infantaria 22 / Festival of the bands on Avenida D. Carlos, with the Regimental Band of the 22nd Infantry. 1909 Setembro / September

Concurso por ocasião do primeiro aniversário dos Bombeiros da Corporação Robinson / Competition to celebrate the first anniversary of the Robinson Corporation Fire-fighters

1910 Abril / April

Participa na entrada na cidade do novo bispo, D. António Moutinho / Participation in the entry into the city of the new bishop, D. António Moutinho Comemorações do centenário de Alexandre Herculano (execução do hino dedicado a este autor pelas ruas da cidade) / Commemorations to mark the centenary of Alexandre Herculano (playing of the anthem dedicated to this author through the streets of the city)

1 Dezembro / December

Comemorações dos 50 anos da associação / Commemorations to mark the 50th anniversary of the association

1918 Fevereiro / February

Festa de São Sebastião, em Alegrete / Festival of São Sebastião, in Alegrete

Março / March

Concerto a favor da Sopa Económica / Concert for Sopa Económica Enterro do Senhor, na Sé de Portalegre / Enterro do Senhor, at the Portalegre Cathedral

Maio / May

Festividade do Senhor dos Aflitos / Festivity of Senhor dos Aflitos Garraiada / Garraiada (bullock fight)

Junho / June

Festas de São João / Festivities of São João Festas de São Sebastião / Festivities of São Sebastião Garraiada / Garraiada Procissão do Senhor dos Passos / Procession of Senhor dos Passos

Julho / July

Arraial de São Cristóvão / Folk Festival of São Cristóvão

Agosto / August

Arraial da Senhora de Santana / Folk Festival of Senhora de Santana

Setembro / September

Festas do Reguengo dos Fortios / Festivities of Reguengo dos Fortios

Outubro / October

Procissão do Senhor do Bonfim / Procession of Senhor do Bonfim

Festas da Ribeira de Nisa / Festivities of Ribeira de Nisa

1944 5 Junho / June

Inauguração da Exposição da Vida Corporativa do Distrito de Portalegre em conjunto com a banda dos Bombeiros Voluntários, as bandas de Castelo de Vide e de Alegrete / Inauguration of the Exhibition of the Corporate Life of the District of Portalegre along with the band of the Voluntary Fire-fighters, and the bands of Castelo de Vide and Alegrete

1 Dezembro / December

Aniversário da Banda e Festas da Mocidade organizadas pela Mocidade Portuguesa / Anniversary of the Band and Youth Festivities organized by Portuguese Youth

1948 27 Fevereiro / February

Comemoração da tomada de posse da nova direcção da Euterpe: dois bailes abrilhantados pela banda de jazz Os Lisos e pela orquestra Jazz A Maia / Commemoration to mark the taking of office of the new Board of Euterpe: two brilliant balls by the jazz band Os Lisos and the Jazz orchestra A Maia

1950 1 Dezembro /December

Comemoração do 90.º aniversário com concerto no Jardim Público / Commemoration of the 90th anniversary with a concert in the Public Garden

1952 1 Junho / June

Organização de uma “tarde festiva” e de um cortejo até ao Sanatório / Organization of a “festive afternoon” and a procession to the Sanatorium

Década de 1980 / 1980s Deslocações a Cáceres / Trips to Cáceres

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É possível então verificar que as associações filarmóni‑ cas do nosso país se assumem como um importante meio para que pessoas dos mais variados meios sociais e económi‑ cos possam desenvolver uma actividade em conjunto, assim como são também um importante local para que pessoas com menores recursos económicos possam ter a oportuni‑ dade de aprender e tocar um instrumento e contactar com diferentes realidades culturais. Importante é igualmente o papel económico da Sociedade Musical Euterpe, uma vez que, tal como é hábito na maioria destes agrupamentos, tanto os instrumentos como todo o material consumível (palhetas ou óleos para os instrumentos de metal), as repa‑ rações dos instrumentos, as partituras e o fardamento são fornecidos pela própria Banda, assim como todas as despe‑ sas relativas à deslocação e alimentação dos músicos no con‑ texto das actuações. Esta particularidade no funcionamento destes agrupamentos afigura­‑se como uma das suas princi‑ pais características e uma filosofia que se mantêm desde a sua fundação até aos dias de hoje, uma vez que é dada ao músico a oportunidade de aprender música, de tocar um ins‑ trumento e de actuar com o grupo sem quaisquer gastos da sua parte. Tal como em agrupamentos homólogos, a esma‑ gadora maioria dos instrumentistas não possui instrumento próprio, tocando desde o momento de aprendizagem e, mui‑ tas vezes, ao longo de várias décadas com o instrumento for‑ necido pela banda filarmónica. Foi o que aconteceu com o ex­‑músico, o Sr. António Carrapiço que fez parte da S.M.E. por mais de setenta anos e que sempre utilizou um instru‑ mento fornecido pela Banda (na carta de despedida o Sr. Carrapiço refere que o dinheiro que tem a receber das actu‑ ações por ele realizadas ficará para a reparação do instru‑ mento com o qual tocou na Euterpe durante vários anos16). Também a grande maioria dos músicos que responderam

It is thus possible to verify that the philharmonic asso‑ ciations in Portugal provide an important opportunity for people from many different social and economic levels to carry out an activity together, as well as also being an impor‑ tant place for people with fewer economic resources to have the opportunity to learn and play an instrument and come into contact with different cultural realities. The economic role of the Euterpe Musical Society is also important, since, as is customary in most of these groups, both the instru‑ ments as well as any consumable material (reeds or oils for the brass instruments), instrument repairs, scores and uni‑ forms are provided by the Philharmonic Band, as well as all expenses for travel and food related to the musicians’ performances. This peculiarity in the functioning of these groups seems to be one of its main features and a philos‑ ophy that has remained from its formation until the pre‑ sent day, since the musicians are given the opportunity to learn music, play an instrument and perform with the group without incurring any expenses on their part. Just like sim‑ ilar groups, the overwhelming majority of musicians do not possess their own instrument, and they play with an instru‑ ment supplied by the philharmonic band from the learn‑ ing period onwards and keep this as the years and decades go by. This is what happened to the former musician, Sr. António Carrapiço, who was part of the S.M.E. for over sev‑ enty years and who always used an instrument provided by the Philharmonic Band (in his farewell letter Sr. Carrapiço states that the money received for his performances always went on the repair of the instrument with which he played in the Euterpe throughout those years16). The vast major‑ ity of the musicians who replied to the distributed question‑ naires stated that they do not use their own instrument: out of thirty-two musicians who responded to the ques‑

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aos questionários distribuídos afirma não utilizar instru‑ mento próprio: em trinta e dois músicos que responderam ao questionário, do total de quarenta e nove, apenas quatro músicos afirmam tocar com instrumento próprio. Muitas vezes, estes músicos das bandas filarmónicas acabam por frequentar o Conservatório sem nunca comprar um instru‑ mento próprio, acontecendo em algumas ocasiões que, por falta de recursos monetários, frequentam o ensino superior de música ainda com o instrumento que a banda lhes for‑ nece, dando apenas como contrapartida a regular frequên‑ cia nos ensaios e actuações da “sua” filarmónica.

tionnaire, out of the total of forty-nine, only four musicians stated that they play with their own instrument. Musicians from philharmonic bands often end up attending the Con‑ servatory without ever buying an instrument, as sometimes a lack of financial resources means that they frequent musi‑ cal higher education playing the instrument that the band has provided them with, and in return they regularly attend the rehearsals and performances of “their” Philharmonic.

“A question of gender”: the entry of female musicians into the band and the subsequent change in behaviour

“Uma questão de género”: a entrada de elementos femininos na banda e a consequente mudança de comportamentos

In a concert hall, the Euterpe Society wears its usual uniform: dark-blue jacket and skirt or pants, white shirt and red tie, complemented with a military-style hat that is used

Numa sala de concertos, a Sociedade Euterpe enverga a sua habitual farda: casaco e saia ou calça azul­‑escuro, camisa branca e gravata encarnada, complementada com um cha‑ péu de modelo próximo ao militar que é utilizado quando a Banda realiza arruadas ou procissões. Mas em cento e cin‑ quenta anos de história nem sempre o fardamento da Socie‑ dade Euterpe foi assim. Ao longo da sua existência, esta Banda já assistiu a várias mudanças de fardamento, seguindo sempre uma linha de carácter militar, como é habitual neste tipo de associações. Tal como é referido por Susana Bilou Russo17, a questão da utilização de um uniforme por parte das Sociedades Filarmónicas está directamente relacionada com factores sociais, permitindo a uniformização de todos os músicos, qualquer que seja o seu estatuto social, dando um “carácter de distinção à banda” durante as suas actua‑ ções e funcionando como um “factor de distinção”, confe‑ rindo também ao músico um “certo estatuto”. Mas aos pou‑ 67

when the Philharmonic Band takes part in rallies or proces‑ sions. But over the hundred and fifty years of its history the uniform of the Euterpe Society has not always been like that. Throughout its existence, the Band has seen several changes of uniforms, always following a military style, as is usual for this type of association. As stated by Susana Bilou Russo17, the question of the use of a uniform by the Philhar‑ monic Societies is directly related to social factors, as it ena‑ bles the uniformization of all the musicians, whatever their social status, giving a “character of distinction to the band” during its performances and acting as a “distinguishing fac‑ tor”, and also endowing the musician with a “certain sta‑ tus”. Even so, this Philharmonic Band gradually abandoned its stripes and the military trappings of its uniform to adapt to the passing of time. However, one of the biggest changes was possibly the addition of a skirt to the uniform of the Euterpe Society, the result of the joining of female musi‑


cos, esta Banda Filarmónica foi abandonando os galões e muito do que aproximava a sua farda a um uniforme militar para se adaptar à passagem do tempo. No entanto, possivel‑ mente uma das maiores mudanças foi a inclusão de uma saia no uniforme da Sociedade Euterpe, fruto da integração de elementos do sexo feminino durante os anos setenta do século XX. “Este momento foi fundamental, até pela forma como o próprio público vê as Bandas, agora já não apenas como formações essencialmente constituídas por homens, mas como uma instituição formadora de um espírito salutar de convivência e divulgação artística, em que a barreira de género se vai progressivamente diluindo”18. Esta integração das mulheres nas Bandas Filarmónicas não se verificou ape‑ nas na Sociedade Musical Euterpe de Portalegre, mas na maioria das associações filarmónicas do país, fruto de uma mudança de mentalidades gradual e, em muitos casos, fruto de uma escassez de recursos humanos. A entrada de mulhe‑ res nestas sociedades contribuiu não só para a mudança da forma como o público vê as bandas mas também para um gradual rejuvenescimento de muitas que durante a década de 1970 passaram por sérias dificuldades pela falta de músi‑ cos devido à saída de muitos jovens para a Guerra Colonial ou para o estrangeiro. Algo que continuaria a acontecer até meados da década de 1980, o que levaria Normando de Cas‑ tro a referir que “não se pode dizer que neste momento a banda está famosa pois, motivos alheios à nossa vontade e impossíveis de evitar, fizeram com que alguns elementos, por diversos motivos (serviço militar, estudos, doença) dei‑ xassem de fazer, esperemos que temporariamente, parte das nossas fileiras”19. Assim, a integração de elementos femi‑ ninos alterou a Banda enquanto instituição social ao mesmo tempo que provocou mudanças expressivas no comporta‑ mento dos seus elementos, modificando vários requisitos

cians during the nineteen seventies. “This moment was cru‑ cial to the way the public viewed the Philharmonic Bands, now not only as formations essentially made up of men, but as an institution forming a spirit of healthy living and the dissemination of art, in which the gender barrier was grad‑ ually diminished”18. Women joining Philharmonic Bands were not just to be found in the Euterpe Musical Society of Portalegre, but in most of the philharmonic associations in Portugal, the result of a gradual change in attitude and, in many cases, due to a shortage of human resources. Women joining these associations contributed not only to chang‑ ing the way the public saw these bands but also to a grad‑ ual rejuvenation of many that during the 1970s had experi‑ enced serious difficulties because of the lack of players due to the departure of many young people to the Colonial War or abroad. This was something that would continue to hap‑ pen until the mid-1980s, leading Normando de Castro to note that “it cannot be said that at this moment the band is well-known since, for reasons beyond our control and which are unavoidable, some members, for various reasons (mil‑ itary service, studies, illness) have had to leave, hopefully temporarily, our ranks”19. Thus the integration of feminine members changed the Philharmonic Band as a social insti‑ tution while at the same time causing significant changes in the behaviour of its members, by modifying certain of the requirements necessary for their performances20. The entry of women into the philharmonic bands was gradual. How‑ ever, is curious to note that there were female members pre‑ sent in the Montepio Portalegrense when it was founded. Nevertheless, for about a century, there were no female musicians in the Band. According to Sr. António Carrapiço, the first women to enter the Euterpe Society were the wives or daughters of some of the musicians in the Philharmonic

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A Banda Euterpe em concerto, 2010. Euterpe Music Society performance, 2010.

necessários à performação20. A entrada das mulheres nas bandas filarmónicas foi gradual; no entanto, é curioso verifi‑ car que estavam presentes elementos do sexo feminino entre os sócios do Montepio Portalegrense à data da sua fundação. Apesar disso, durante cerca de um século de exis‑ tência, nunca se verificou a presença de mulheres enquanto executantes da Banda. Segundo o Sr. António Carrapiço, as primeiras mulheres a entrar na Sociedade Euterpe foram as esposas ou filhas de alguns dos então músicos da Banda, sendo muitas vezes também acompanhada pela entrada de elementos mais jovens, muitas vezes os próprios filhos. No entanto, em conversa com o actual Maestro, Manuel Henri‑ que Ruivo, este afirma que uma parte significativa desta mudança na constituição da Banda e consequentemente no seu comportamento só se verificou já no século XXI, à data 69

Band, often also accompanied by younger members joining, who were frequently their own children. However, in con‑ versation with the present Musical Director, Manuel Hen‑ rique Ruivo, he stated that a significant part of this change in the make-up of the Band and consequently their behav‑ iour only occurred in the 21st century, when he took over the musical direction of the Euterpe Musical Society, since one of his main objectives was to rejuvenate the Portalegre Phil‑ harmonic Band, and gradually make a number of changes so as to modify the functioning of the philharmonic band and its external image. This concern by the Musical Director to modify some of the behaviour of the Band is still present within the musical group so as to obtain the “confidence” of the people of Portalegre, by taking actions that captivate the young and therefore their families to become more involved


da sua entrada para a regência da Sociedade Musical Euterpe, uma vez que um dos seus grandes objectivos passou pelo rejuvenescimento da Banda de Portalegre, operando gradu‑ almente várias alterações de forma a modificar o funciona‑ mento da banda e a imagem deste grupo para o exterior. Foi então preocupação deste Maestro modificar alguns compor‑ tamentos que ainda prevaleciam no seio da Banda de forma a captar a “confiança” da população portalegrense, desenvol‑ vendo acções que cativassem os jovens e, consequente‑ mente, os seus familiares para um maior envolvimento nas actividades da Sociedade. No ano em que a Sociedade Musi‑ cal Euterpe completou cento e cinquenta anos, a faixa etária com maior número de músicos situava­‑se entre os onze e os vinte anos de idade21, contrariamente ao que durante mui‑ tos anos se verificou. Nos oito anos de regência deste Maes‑ tro, o número de músicos tem vindo a aumentar significati‑ vamente, sendo uma aposta desta Associação a formação de jovens músicos. Desta forma, a imagem que era muitas vezes passada para o exterior, a de um grupo de homens adultos com hábitos desregrados que se juntavam para actuar em festas populares, tem vindo a ser alterada. Hoje em dia esta é uma imagem que não corresponde à realidade, uma vez que em todo o país se tem assistido a uma crescente preocu‑ pação na integração de jovens e mulheres e na gradual mudança de comportamentos. Durante várias décadas, as bandas filarmónicas eram constituídas principalmente por músicos já em idade adulta que viam na banda não só um passatempo como também uma forma de obter um rendi‑ mento complementar. Em conversa com o Sr. António Car‑ rapiço, antigo clarinetista, entre muitas histórias dos seus mais de setenta anos de permanência na Sociedade Euterpe, podemos perceber que, apesar de ser muito pequena a quan‑ tia que cabia a cada músico por actuação, esta era uma ajuda 70


Antes da entrada das mulheres, 1979. Before the entry of women, 1979.

Depois da entrada das mulheres, 1981. After the entry of women, 1981.

para alguns músicos com menores recursos económicos. Assim, ao Maestro cabia dez por cento do total recebido, complementando o seu salário mensal, sendo o restante dividido pela Direcção e pelos executantes que não raras vezes beneficiaram de uma recompensa monetária prove‑ niente de um fundo criado para o efeito, numa tentativa da Direcção para combater o absentismo aos ensaios. “Para estímulo e melhor assiduidade aos ensaios, deliberou­‑se gra‑ tificar com 4$00 por ensaio, os executantes para o que se criou um fundo especial para o qual a câmara contribuiu”, segundo o referido numa carta datada de Julho de 1962 e endossada ao então Presidente da Câmara. Foi também o Sr. Carrapiço que nos chamou a atenção para os vários agru‑ pamentos musicais que se formaram com alguns dos ele‑ mentos da Euterpe, na altura denominados de “conjuntos”. A partir desta Sociedade formaram­‑se em meados do século XX vários grupos, como o caso da “Troupe de Jazz Os Lisos”, do Conjunto “Ideal”, do “Conjunto Musical Euterpe” (1975) e da “Ferrugem”, que confirmam o que é afirmado por Paulo Lameiro na Enciclopédia da Música em Portugal no século XX: “Enquanto grupos aglutinadores de recursos musicais (músicos, instrumentos, repertório, etc.), proporcionam frequentemente formações mais pequenas – como o cavali‑ nho e o grupo designado jazz – vocacionadas para eventos específicos”22. Para a Sociedade Euterpe, estes grupos permi‑ tiram muitas vezes que a própria Banda se mantivesse em funcionamento, tal como é referido no relatório da Assem‑ bleia Geral de Abril de 1985, onde é salientado o papel do “Conjunto Musical Euterpe” para que “(…) a Banda não mor‑ resse (…) pois sabemos todos muito bem que a Banda estava em agonia”23, sendo referido que “(…) cumpriu sempre os fins para que foi criado (contribuir com as receitas das suas actuações para a melhoria do património da Sociedade). Foi 71

in the activities of the Society. In the year in which the Euterpe Musical Society completed one hundred and fifty years of existence, the age group with the largest number of musicians was that between eleven and twenty years of age21, contrary to what had occurred for many years. In the eight years of his conducting the Philharmonic Band, the number of musicians has increased significantly, with the Association focusing on the training of young musicians. In this way, the external image that was frequently por‑ trayed of a group of adult men with unruly habits who gath‑ ered to perform at feast days has been changed. Nowadays this is an image that does not correspond to reality, since across the country there has been a growing concern to inte‑ grate young men and women along with a gradual change in behaviour. For several decades, the philharmonic bands consisted mainly of adult musicians who saw the band not only as a hobby but also a way of obtaining an additional income. In conversation with Sr. António Carrapiço, former clarinettist, hearing the many stories he related from his more than seventy years of belonging to the Euterpe Soci‑ ety, it could be understood that despite being a very small amount that each musician was given for each performance, this was a help for some musicians with fewer economic resources. The Musical Director receives ten per cent of the performance fee, which is supplemented by his monthly sal‑ ary, with the remainder divided by the Board and the per‑ formers who often receive payment from a fund created for that purpose, in an attempt by the Board to combat absen‑ teeism during rehearsals. “To encourage and improve better attendance at rehearsals, the decision was taken to pay 4$00 per rehearsal, for which a special fund has been created and to which the town hall has helped”, as stated in a let‑ ter dated July 1962 and endorsed by the then Mayor. It was


also Sr. Carrapiço who drew attention to the various musi‑ cal groups which formed containing musicians from the Euterpe, known at the time as “groups”. Several groups were formed from this Society in the mid-twentieth century, such as the “Jazz Troop Os Lisos”, the “Ideal” Group, the “Conjunto Musical Euterpe” (1975) and “Ferrugem”, which con‑ firms Paul Lameiro’s statement in the Encyclopaedia of 20th Century Music in Portugal: (Enciclopédia da Música em Portugal no século XX) “As collective groups of musical resources (musicians, instruments, repertoire, etc.), they often create smaller groupings – such as the cavalinho and the so-called jazz group – created for specific events”22. For the Euterpe Society, these groups often enabled the Philharmonic Band itself to continue to play, as stated in the report of the Gen‑ eral Assembly of April 1985, where the role of “Euterpe Musical Group” is emphasized so that “(...) the Philhar‑ monic Band would not die (...) because we all know too well that the band was in agony”23, and it was mentioned that “(...) it had fulfilled the purpose for which it was created (to help with the revenue from their performances to improve the patrimony of the Society). This revenue was used for work on their premises, changing some of the furniture, purchasing new instruments and uniforms and finalising payment of the equipment at its disposal”. According to Sr. Carrapiço, these groups were also a means used not only by

com essas receitas que se fizeram algumas obras na sede, modificando­‑se mobiliário, adquirindo bom fardamento e instrumentos novos e procedendo ao pagamento total da aparelhagem de que dispunha”. Segundo o Sr. Carrapiço, estes grupos eram também um meio utilizado, não só pela própria Banda como pelos músicos, como forma de comple‑ mentar os seus rendimentos, realizando actuações em loca‑ lidades nas imediações de Portalegre, normalmente nos bai‑

the Philharmonic Band but also the musicians as a way of supplementing their income by performing in nearby local‑ ities around Portalegre, usually dances on feast days. This former musician also stated that, afraid that the musicians might miss the performances of the Euterpe Society as they had been playing with their “band” until dawn, he often went to meet them on their way back in order to “convince them” not to miss their Euterpe commitment.

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Troupe Jazz “Os Lisos”. Jazz band Os Lisos.


les das festas populares. Este antigo músico também relata que, com receio de que os músicos faltassem às actuações da Sociedade Euterpe por terem actuado com o seu “conjunto” até de madrugada, muitas vezes ia ao encontro destes no caminho de regresso de forma a “convencê­‑los” a não falta‑ rem ao compromisso com a Euterpe.

Repertoire and performance formats

When we enter the room which houses the facilities of the Society’s Board, it is hard to ignore the number of cup‑ boards filled with sheet music. Looking at these cupboards, it is easy to perceive the passage of time and is also easy to check the recent concern in the purchasing of music from

O repertório e os formatos performativos

the repertoire written specifically for this type of musical group. This is a concern not only of the Musical Director of

Quando entramos na sala que alberga as instalações da Direcção da Sociedade, é difícil ignorar a quantidade de armários repletos de partituras. Ao observar estes armários, é fácil perceber a passagem do tempo e é fácil também verifi‑ car a recente preocupação na aquisição de repertório escrito especificamente para este tipo de agrupamento musical. Esta é uma preocupação não só do Maestro da Sociedade Musi‑ cal Euterpe de Portalegre, mas também de uma nova geração de maestros que têm vindo a assumir a direcção artística de várias bandas filarmónicas do país, sendo uma alteração fun‑ damental que permite atrair novos músicos, fazendo corres‑ ponder este novo repertório aos interesses da população mais jovem. É salientada pelo Maestro Manuel Henrique Ruivo a sua atenção na escolha do repertório, tanto pela sua adapta‑ ção à constituição instrumental da Banda como pela familia‑ ridade que se pretende que os músicos tenham ou venham a ter com as obras executadas. Assim, quando no dia 8 de Julho de 2010 entrámos pela primeira vez na sala de ensaios da Sociedade Euterpe, pudemos verificar que no concerto que se iria realizar dez dias depois em Olivença, Espanha, a Banda iria tocar várias obras compostas especificamente para este tipo de grupo, como a obra Dakota de Jacob de Haan ou êxi‑ tos do famoso cantor Michael Jackson. Tal como o próprio Maestro refere, estas obras foram escolhidas não só pela sua 73

the Euterpe Musical Society of Portalegre, but also of a new generation of Musical Directors who have taken charge of the artistic direction of several philharmonic bands in the country, a key change which has allowed them to attract new musicians, matching this new repertoire to the interests of a younger generation. The Musical Director, Manuel Hen‑ rique Ruivo, highlighted his attention to the choice of rep‑ ertoire, both in terms of its adaption to the instrumental make-up of the Philharmonic Band as well as its familiar‑ ity which it is intended that the musicians have or will have with the works that are performed. So, when on 8 July 2010 we went in to the rehearsal room of the Euterpe Society for the first time, we could observe that in the concert that would take place ten days later in Olivença, Spain, the Band would play several works composed specifically for this type of group, such as the work Dakota by Jacob de Haan or hits from the well-known singer Michael Jackson. As the Musi‑ cal Director mentioned, these works were chosen not only because they have been specially arranged for groups of wind instruments but also for the familiarity that the musi‑ cians and audiences have with the music of this performer. According to Manuel Henrique Ruivo, beyond the impor‑ tant musical work which he is careful to develop with these young musicians, it is critical that these instrumentalists


escrita musical própria para agrupamentos de instrumentos de sopro, como pela familiaridade que os músicos e o público têm com os temas deste intérprete. Segundo Manuel Henri‑ que Ruivo, para além do importante trabalho a nível musi‑ cal que tem o cuidado de desenvolver com estes jovens músi‑ cos, é fundamental que estes instrumentistas tenham prazer em tocar o repertório, tal como é importante que a Banda apresente obras diferentes do habitual. Para isso é necessá‑ rio dedicar bastante tempo na pesquisa de novas composi‑ ções e fazer diversas encomendas a editoras estrangeiras, nomeadamente holandesas, pela sua tradição na publicação de material original para agrupamentos compostos por ins‑ trumentos de sopro. Como o próprio refere, é importante que a Sociedade Euterpe tenha uma “identidade própria” no que diz respeito ao repertório executado. Para além de arran‑ jos de êxitos da música pop e rock internacional, este Maes‑ tro procura também encontrar arranjos de bandas sonoras de blockbusters do cinema, não só pelo seu interesse musical como também por ser uma forma de cativar o público e os próprios músicos. É também salientado pelo Maestro e pela própria Direcção o cuidado em atrair não só o público habi‑ tual dos concertos da Banda como também a preocupação em ganhar novos públicos, envolvendo toda a população. No entender de Manuel Henrique Ruivo, apesar da normal preo‑ cupação na sua estreia enquanto Maestro da Sociedade Musi‑ cal Euterpe de Portalegre, a reacção do público ao novo Maes‑ tro e, consequentemente, ao novo repertório foi bastante positiva, sendo possível então, ao longo do tempo, assistir a uma renovação do público. O anterior repertório da Euterpe era o normalmente executado por este tipo de agrupamen‑ tos até à década de 1980, nomeadamente as marchas, tanto marchas de concerto como marchas de rua ou de procissão, muitas vezes compostas pelos próprios maestros, os hinos

have pleasure in playing their repertoire, just as it is impor‑ tant that the Philharmonic Band presents works different from the usual. To do this it is necessary to devote a lot of time searching for new compositions and place a number of orders with foreign publishers, particularly Dutch, due to its tradition of publishing original material for groups composed of wind instruments. As he himself points out, it is important that the Euterpe Society has its “own iden‑ tity” in relation to the repertoire it performs. In addition to arrangements of international pop and rock music hits, this Musical Director is also looking to find arrangements of soundtracks from blockbuster movies, not only because of their musical interest but also as a way to captivate the pub‑ lic and the musicians themselves. Both the Musical Direc‑ tor and the Board underline their care in attracting not only their usual public to the Philharmonic Band’s concerts but also their concern in gaining new audiences, encompassing the entire population. According to Manuel Henrique Ruivo, despite the normal concerns he had on his debut as conduc‑ tor of the Euterpe Musical Society of Portalegre, the pub‑ lic reaction to the new Musical Director and, subsequently, the new repertoire, was quite positive, which can then, over time, lead to a renewal in the public. The previous reper‑ toire of the Euterpe was normally performed by such groups until the 1980s, including marches, both concert marches and street processional marches, often composed by the musical directors themselves, anthems and arrangements of popular songs as well as the usual arrangements of works from the classical repertoire, often unsuitable for the availa‑ ble instrumentation within these groups. Quite often, until the mid-twentieth century, the Philharmonic Band of the Euterpe Society also participated in religious celebrations, performing works from the liturgical repertoire, which is

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ou alguns arranjos de canções populares, bem como os habi‑ tuais arranjos de obras do repertório erudito, muitas vezes desadequadas à constituição instrumental destes grupos. Com bastante frequência, até meados do século XX, a Banda da Sociedade Euterpe participava também em celebrações religiosas, executando repertório de carácter litúrgico, o que está directamente relacionado não só com a habitual prática destes agrupamentos, como também com o facto de o seu primeiro Maestro, Francisco José Perdigão, ter sido também organista na Sé de Portalegre e ter composto algumas obras para a Banda como é, por exemplo, o caso da obra composta por ocasião do 25.º aniversário da subida de Leão XIII a Papa, tal como é referido no Jornal Distrito de Portalegre de 2 de Março de 1902. Como seria de esperar, a Euterpe apresenta diferentes tipos de repertório adaptáveis à ocasião. Segundo o que se pode ler na imprensa regional no início do século XX, em concertos no coreto da cidade ou no passeio público, esta Banda apresentava pasodobles, aberturas, valsas, excertos de óperas, fantasias, marchas de concerto e zarzuelas, enquanto em cerimónias oficiais, este agrupamento apresentava vários hinos como o Hino da Restauração que ainda hoje toca. Uma outra preocupação da Direcção e do Maestro deste agrupamento é também a possibilidade de desenvolver con‑ certos que se afigurem como uma novidade na programação musical portalegrense. Assim, ao longo dos últimos anos, a Sociedade Euterpe tem organizado actuações em colaboração com figuras importantes no panorama musical português, tal como foi o caso do concerto de comemoração do 146.º aniversário no qual esta Banda contou com a colaboração do Maestro António Victorino d’Almeida num concerto didáctico­‑pedagógico onde “(…) o Maestro abordou vários conteúdos da disciplina de Educação Musical, procurando fomentar junto dos jovens o gosto pela música e tentando 75

directly related not only with the usual practice of these groups, but also with the fact that its first musical director, Francisco José Perdigão, had also been the organist at the Portalegre Cathedral and had composed some works for the Philharmonic Band such as, for example, was the case with the work composed to mark the occasion of the 25th anni‑ versary of the election of Pope Leo XIII, as reported in the newspaper Distrito de Portalegre on 2 March 1902. As was to be expected, the Euterpe presented different types of rep‑ ertoire adaptable to the occasion. From what we can read in the regional press in the early twentieth century, in band‑ stand concerts in the city or promenade concerts, this Phil‑ harmonic Band performed pasodobles, overtures, waltzes, opera excerpts, fantasies, concert marches and zarzuelas while for official ceremonies, the group performed a num‑ ber of anthems such as the Restoration Anthem (Hino da Restauração), which it still performs today. Another concern of the Board and the Musical Direc‑ tor of this group is also the possibility of holding concerts of a new kind within the musical range of activities in Por‑ talegre. As such, over the past few years, the Euterpe Soci‑ ety has organized performances in collaboration with lead‑ ing figures in the Portuguese music scene, as was the case with the concert commemorating its 146th Anniversary which the Philharmonic Band celebrated with the coopera‑ tion of the Conductor António Victorino d’Almeida in a ped‑ agogic concert where “(...) the Conductor dealt with various aspects of the subject of Music Education, seeking to foster in young people a love for music and trying to demystify, in an interactive and fun manner, the secrets of music”24, or the concert held in 2006, “Love Stories”, in collaboration with the Lisbon Dance Company, as well as concert involv‑ ing soloists from the Choir of the S. Carlos National The‑


desmistificar, de forma interactiva e divertida, os segredos da música”24, ou o concerto realizado no ano de 2006, “Estó‑ rias de Amor”, com a colaboração da Companhia de Dança de Lisboa, assim como o concerto realizado com os solistas do Coro do Teatro Nacional de S. Carlos, em 2008. A Socie‑ dade Euterpe realiza também concertos com a colaboração de outras associações culturais da cidade, como os concer‑ tos corais e instrumentais realizados com o Orfeão de Porta‑ legre. Em localidades onde a oferta cultural não é muita, as bandas filarmónicas têm o importante papel de actuar como agente activo na dinamização da cultura local, sendo este o caso da Sociedade Euterpe, assim como de outras socieda‑ des filarmónicas que, observando as mudanças sociais e as consequentes mudanças nos gostos do público tentam adap‑ tar a sua oferta musical, trabalhando muitas vezes com o objectivo de proporcionar à população novas experiências culturais. Desta forma, a actividade musical da Sociedade Euterpe vai de encontro aos objectivos expostos no seu website quando esta afirma que a Sociedade se assume “(…) cada vez mais como um verdadeiro pólo de dinamização cultural e formação didáctico­‑pedagógica”25. Nas conversas que tive‑ mos com o Presidente da Direcção e com o Maestro foi tam‑ bém referido que há um especial cuidado na divulgação da actividade da Sociedade Euterpe nas escolas do ensino regu‑ lar da cidade de Portalegre de forma a que os alunos destas escolas possam ter contacto com a Banda e com os também jovens executantes deste agrupamento.

atre in 2008. The Euterpe Society has also organized con‑ certs in collaboration with other cultural associations in the city, like the instrumental and choral concerts performed with the Portalegre Orphanage. In localities where not many cultural activities take place, the brass bands have an important role to act as an active agent in boosting local culture, which is the case with the Euterpe Society, as well as other philharmonic societies which, observing the social changes and the resulting changes in public taste, have tried to adapt their musical output, often working with the aim of offering the people new cultural experiences. In this way the musical activity of the Euterpe Society has met the objectives set out in its website where it states that the Society has become “(...) more and more a true hub of cul‑ tural promotion and didactic and pedagogic training.25” In the conversations we had with the President of the Board and the Musical Director it was also mentioned that there is a special care in spreading the activity of the Euterpe Soci‑ ety into mainstream schools in the city of Portalegre so that the students of these schools may come into contact with the Philharmonic Band and also with the young perform‑ ers in this group.

The importance of the Euterpe within the amateur musical circuit: rehearsals and the makeup of the Philharmonic Band

In another room on the ground floor is the rehearsal

A importância da Euterpe no circuito musical amador: ensaios e constituição da Banda

room. On entering, we can find the usual arrangement of chairs in a semicircle, pointing to where every Friday the Musical Director takes “command” of almost fifty musi‑

Na outra sala do piso térreo fica a sala de ensaios. Quando aqui entramos, encontramos a habitual disposição das cadei‑

cians. However, it is interesting to note the absence of the wooden pallet which the conductors normally use to take a

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ras em semi­‑círculo, direccionadas para o local onde o Maes‑ tro, todas as sextas­‑feiras, assume o “comando” dos quase cinquenta músicos; no entanto, é interessante verificar a ausência do estrado de madeira onde normalmente os maes‑ tros assumem uma posição mais elevada perante o grupo. Como o próprio Maestro explicou, este pretende criar com os músicos uma maior proximidade, assumindo­‑se como um companheiro de trabalho e não como um líder inquestioná‑ vel. A sala não é muito grande, mas aqui cabem, para além das quase cinquenta cadeiras e estantes onde os músicos colocam as suas partituras, os vários instrumentos de per‑ cussão, desde a bateria de jazz, aos tímpanos ou à marimba. Sem músicos esta é uma sala bastante silenciosa, mas é fácil imaginar que entre as 21 e as 24 horas de sexta­‑feira o silên‑ cio não é a principal característica deste local. Num dia nor‑ mal de ensaio, os músicos vão chegando às instalações da Sociedade Euterpe antes das 21 horas e vão­‑se sentando nos seus lugares. Enquanto “aquecem” os seus instrumen‑ tos, ouvem­‑se escalas, pequenos excertos das peças que se irão tocar durante o ensaio e tentativas de encaixar os rit‑ mos entre os diferentes instrumentos de percussão. A con‑ fusão do aquecimento termina com a entrada do Maestro que, ao chegar à sua estante, pede aos músicos que toquem uma escala maior, primeiro com um ritmo lento e depois com a repetição das notas, procedendo só então à afinação de cada instrumento. Nem sempre se conseguem juntar os quarenta e nove músicos no mesmo ensaio uma vez que, tal como acontece em todas as bandas filarmónicas do país, a maioria destes músicos não fazem da música a sua activi‑ dade profissional. Uma das poucas excepções é o actual Pre‑ sidente da Direcção e saxofonista da Banda há mais de uma década que dedica a sua vida profissional não só ao ensino na Sociedade Musical Euterpe como também à actividade 77

higher position in front of the group. As the Musical Direc‑ tor himself explained, he wishes with this to create a greater proximity, and become a co-worker rather than an unques‑ tionable leader. The room is not very big, but they can all fit in, with the nearly fifty chairs and music stands where the musicians put their sheet music, the various percus‑ sion instruments, from jazz drums, to the timpani and the marimba. Without musicians this is a rather quiet room, but it is easy to imagine that between 9:00 p.m. and midnight on Fridays silence is not the main feature of this place. On a normal rehearsal day, the musicians will arrive at the prem‑ ises of the Society Euterpe before nine p.m. and will be sit‑ ting in their seats. While they “are warming up” their instru‑ ments, scales are heard, along with snatches from the pieces they will play during the rehearsal and attempts to sort out the rhythms among the different percussion instruments. The confusion of the warm up ends with the entrance of the Conductor who, upon reaching his place, asks the musi‑ cians to play a longer scale, first at a slow pace and then with repeated notes, only then proceeding to the tuning of each instrument. It is not always possible to have the forty-nine musicians present at the same rehearsal, as happens with all the philharmonic bands in the country, as most of these musicians are not professional musicians. One of the few exceptions is the current Chairman of the Board and saxo‑ phonist of the Band for over a decade, who devotes his pro‑ fessional life not only to teaching at the Euterpe Music Soci‑ ety but also to activities as a professional musician. Nowa‑ days, and in keeping with what has been the case through‑ out its history, the Euterpe consists of very different ele‑ ments, whether in terms of age, or social, economic, or edu‑ cational level, bringing together apprentice musicians, ama‑ teurs and professionals26. These groups, who are normally


enquanto músico profissional. No presente, e tal como foi acontecendo ao longo da sua história, a Euterpe reúne ele‑ mentos muito diferenciados, tanto do ponto de vista etário como do ponto de vista económico, educacional ou social, integrando da mesma forma músicos aprendizes, amadores ou profissionais26. Estes agrupamentos que normalmente se apresentam em concertos ou em desfiles pelas ruas são, na maioria dos casos, constituídos por músicos amadores no sentido em que estes não fazem da música a sua carreira profissional. No entanto, é de notar que encontramos mui‑ tas vezes músicos profissionais a tocar nas bandas filarmó‑ nicas, uns por “amor à camisola”, tocando frequentemente na banda onde iniciaram os seus estudos musicais, outros contratados para reforçar a banda em determinados con‑ certos, recebendo uma quantia pelo seu serviço. Embora se tenha terminado com a compensação monetária aos músi‑ cos da Euterpe, ao longo dos últimos anos pôde assistir­‑se a um aumento do número de músicos da Banda, bem como à entrada de músicos cada vez mais jovens, fruto do traba‑ lho de formação da Escola de Música da Sociedade Euterpe. Tal como é muitas vezes referido pelo actual Maestro, uma das suas principais preocupações é a renovação dos recursos humanos da Banda. Para isso, Manuel Henrique Ruivo tem o cuidado de desenvolver actividades que chamem a aten‑ ção da população mais jovem, bem como dos seus familia‑ res, cujo envolvimento na Banda é fundamental. Esta pre‑ ocupação com o envolvimento das famílias nas actividades da Euterpe foi também salientada pelo Sr. Carrapiço na sua carta de despedida da Banda Euterpe, em 2005, referindo que procurou “sempre estabelecer laços de amizade com as famílias dos elementos da Banda por serem fundamentais para o bem estar da sociedade”27. Observando os resultados provenientes dos questionários distribuídos, é possível veri‑

present in concerts or street parades consist, in most cases, of amateur musicians in the sense that they do not make music their career. However, it is noteworthy that we often find professional musicians playing in brass bands, some for “the love of the shirt”, often playing in the band where they began their musical studies, others hired to strengthen the band at certain concerts, and receiving a financial pay‑ ment for their services. While financial payment to the musicians of the Euterpe has been done away with, over the past few years there has been an increase in the number of musicians in the Philharmonic Band, as well as the entry of increasingly younger musicians, the fruit of the training car‑ ried out by the Music School of the Euterpe Society. As was often mentioned by the current Musical Director, one of his main concerns has been to renew the human resources of the Philharmonic Band. To do this, Manuel Henrique Ruivo

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Em ensaio, 9 Julho 2010. In rehearsal, 9 July 2010.


ficar que a preocupação do actual Maestro em trazer novos músicos para a Euterpe, apostando na sua formação musi‑ cal de base, tem dado frutos. Dos trinta e dois músicos que responderam aos questionários, 70% apresenta idades com‑ preendidas entre os 12 e os 20 anos, enquanto que os res‑ tantes músicos apresentam idades entre os 21 e os 45 anos. Apenas dois músicos se encontram em faixas etárias mais elevadas, posicionando­‑se apenas um no escalão dos 61 aos 65 anos e outro no dos 71 aos 75. É curioso observar que o músico mais velho desta Banda foi também ele Maestro da mesma, o Sr. António Manuel Fandango, o 13.º Maestro da Euterpe. Consequência desta baixa média de idades é o facto de a grande maioria dos músicos desta Banda ainda serem estudantes. Confirmando uma das principais características das bandas filarmónicas, nesta convivem também pessoas com profissões bastante variadas que aqui desenvolvem a sua actividade musical amadora, sendo possível encontrar pessoas já reformadas, técnicos de vendas, donas de casa ou funcionários públicos. A distribuição instrumental da S.M.E. é igual às demais bandas filarmónicas; no entanto, a aquisição de alguns ins‑ trumentos, como o clarinete baixo ou o saxofone barítono, foi gradualmente acontecendo de forma a enriquecer a sono‑ ridade da Banda e ao mesmo tempo poder corresponder às obras adquiridas recentemente. Assim entre os quarenta e nove músicos que constituem a Sociedade Euterpe, encontra‑ mos: uma flauta piccolo (uma flauta transversal mais pequena e mais aguda, transpositora uma oitava acima, normalmente denominada por flautim que, curiosamente, nesta Banda é tocada pela executante mais nova), seis flautas transver‑ sais, um oboé (instrumento ainda bastante raro no universo das bandas filarmónicas28), doze clarinetes sopranos em sib (distribuídos por três vozes com funções musicais diferen‑ 79

is careful to carry out activities that attract younger mem‑ bers of the public, as well as their family members, whose involvement in the Philharmonic Band is crucial. This con‑ cern with the involvement of families in the activities of the Euterpe was also emphasized by Sr. Carrapiço in his farewell letter to the Euterpe Band, in 2005, stating that he always sought to “establish friendships with the families of mem‑ bers of the Band because they are fundamental to the wellbeing of the society”27. Looking at the results from the dis‑ tributed questionnaires, it can be seen that the concern of the present Musical Director in bringing in new musicians to the Euterpe, focusing on their musical base, has borne fruit. Of the thirty-two musicians who responded to the questionnaires, 70% were between 12 and 20 years of age, while the remaining musicians were between 21 and 45 years of age. Only two musicians are in older age groups, with just one aged between 61 and 65 years of age and another aged between 71 to 75 years of age. It is curious to note that the oldest musician in this Band was also one of its former Conductors, Sr. António Manuel Fandango, the 13th Conductor of the Euterpe. A consequence of this low average age is the fact that the vast majority of musicians in the Band are still students. Another major feature of brass bands could also be confirmed, namely that this group con‑ tained a variety of professions within the individuals carry‑ ing out their amateur musical making activities here, includ‑ ing retired individuals, salesmen and women, homemakers and civil servants. The instrumental makeup of the E.M.S. is the same as the other philharmonic bands. However, the acquisi‑ tion of some instruments, such as the bass clarinet or bar‑ itone saxophone, has gradually enriched the soundscape of the Band and at the same time created the instrumen‑


tes), um clarinete baixo (clarinete também afinado em sib, mas de grandes dimensões, sendo também um instrumento ainda muito pouco utilizado nas bandas filarmónicas, princi‑ palmente devido ao seu tamanho e ao seu elevado custo), um fagote (mais uma vez, um instrumento bastante raro nes‑ tas bandas, possivelmente pela sua dificuldade de execução e pelo facto de ainda muitas bandas não possuírem uma escola de música com professores especializados nos diferentes ins‑ trumentos), quatro saxofones alto, quatro saxofones tenor, um saxofone barítono (este é um dos instrumentos que inte‑ grou a constituição das bandas recentemente, sendo ainda difícil de encontrar na maioria das bandas portuguesas), três trompetes, quatro trompas de harmonia, dois trombones de varas, um eufónio (vulgarmente denominado de bombardino que, neste caso, é tocado pelo músico mais velho da Euterpe), duas tubas e vários instrumentos de percussão, como a bate‑ ria de Jazz, a marimba, os tímpanos, o bombo, a caixa de rufos e os acessórios como o triângulo, o reco­‑reco ou as maracas, distribuídos por seis instrumentistas que combinam entre si a melhor forma de fazer com que não haja nenhuma falha na componente rítmica desta Banda. Nas suas apresenta‑ ções públicas em contexto de concerto, a Euterpe, tal como as restantes bandas do país, apresenta­‑se sentada em semi­ ‑círculo, com todas as cadeiras orientadas para o local onde o Maestro se posiciona para a dirigir, ficando os instrumen‑ tos mais agudos como o flautim ou as flautas transversais na primeira fila, enquanto que os clarinetes se posicionam do lado esquerdo do Maestro, ficando a primeira voz mais à frente enquanto que as segunda e terceira vozes ocupam as restantes filas. Já do lado direito do Maestro encontramos os saxofones, ficando os saxofones alto na segunda fila e os saxofones tenor e barítono na terceira. Em frente ao Maes‑ tro, na terceira fila, encontram­‑se as trompetes e trompas de

tation required for the recently acquired works. The fol‑ lowing instruments are thus to be found among the fortynine musicians who make up the Euterpe Society: a pic‑ colo flute (a smaller, higher flute, transposed an octave higher, commonly known as a piccolo which, curiously, is played in this band by the youngest performer), six flutes, an oboe (an instrument which is still quite rare in philhar‑ monic bands28), twelve Bb soprano clarinets (spread over three voices with different musical functions), a bass clar‑ inet (also tuned as a Bb clarinet, but larger and also an instrument infrequently used by philharmonic bands, mainly due to its size and its high cost), a bassoon (once more, an instrument quite rare in these bands, possibly due to its playing difficulty and the fact that many bands still do not have a music school with teachers special‑ ized in different instruments), four alto saxophones, four tenor saxophones, a baritone saxophone (this is one of the instruments that philharmonic bands have added recently, though still hard to find in most Portuguese philharmonic bands), three trumpets, four French horns, two valve trom‑ bones, one Euphonium (which in this case is played by the oldest musician in the Euterpe), two tubas and various per‑ cussion instruments, such as jazz drums, the marimba, the tympani, the bass drum, the snare drum and accessories such as the triangle, the reco-reco and the maracas, shared among six musicians who work together in the best way to ensure there are no gaps in the rhythm section of the Band. In their public performances the Euterpe, like the other bands in Portugal, sit in in a semicircle, with all chairs pointed to where the Conductor is positioned in order to conduct, with the treble instruments such as the piccolo or flutes in the first row, while the clarinets are located on the left side of the Conductor, with the first voice further in

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harmonia, ficando os trombones de varas e as tubas ligeira‑ mente para o lado direito e na fila de trás. À percussão cabe a última fila deste conjunto onde os instrumentos são arruma‑ dos de forma a que os músicos se possam movimentar e tocar todos os instrumentos. Outra história curiosa contada pelo Sr. António Carrapiço, que em setenta anos de clarinetista foi durante quinze Tesoureiro da Direcção desta Banda, diz respeito à compra do primeiro trombone de varas da Socie‑ dade Euterpe, em 1993. Numa carta disponibilizada pelo Sr. Carrapiço, podemos ler um agradecimento dos então Directores da Banda que, em nome da Sociedade Musical Euterpe e da sua Direcção agradecem a este Tesoureiro “(…) a oferta de um Trombone de Varas que com a sua dedicação e AMOR por esta Colectividade se dignou a oferecer”29. Foi durante o exercício das suas funções que se conseguiu adqui‑ rir este instrumento que até então não fazia parte do ins‑ trumental desta Banda, sendo durante muitos anos substituído pelo trombone de pistões, instrumento que, apesar de ser utilizado por todas as bandas filarmónicas durante

front while the second and third voices occupy the remain‑ ing rows. On the right side of the Conductor sit the saxo‑ phones, with the alto saxophones in the second row and the tenor and baritone saxophones in the third. Opposite the Conductor in the third row are the trumpets and French horns, with the trombones and tubas slightly to the right side and in the back row. The percussion is located in the last row of the band where the instruments are arranged so that the musicians can move and play all the instruments. Another curious story told by Sr. António Carrapiço, is that in his seventy years as a clarinettist he was the Treas‑ urer for the Board of the Band for fifteen of them, and the story concerns the purchase of the first trombone for the Euterpe Society in 1993. In a letter made available by Sr. Carrapiço we can read a thank you from the Board of Direc‑ tors of the Philharmonic Band at the time who, on behalf of the Euterpe Musical Society, thank this Treasurer for “(...) the offer of a Sliding Valve Trombone which he has deigned to offer this Collective through his dedication and LOVE”29.

Fotografia do acervo documental da Sociedade Musical Euterpe.

It was during the course of his duties that it managed to

Photo from Euterpe Musical Society archives.

acquire this instrument that until then had not formed part of the instrumentation of the Band, with a piston valve trombone having been used for years, an instrument that, despite being used by all the philharmonic bands dur‑ ing the nineteenth century and for more than half of the twentieth century, is now in disuse, not even being taught in any school of music. The preference for the piston trom‑ bone for so many years was due to its technique being very similar to the other brass instruments such as the trumpet or the euphonium, with the trombonist being able to play any other brass instrument or any other instrumentalist, such as the trumpeter or tuba player, being able to play the trombone, with a constant rotation taking place depend‑

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o século XIX e durante mais de metade do século XX, hoje se encontra em desuso, não sendo sequer leccionado em nenhuma escola de música. A preferência durante tantos anos pelo trombone de pistões devia­‑se à sua técnica muito semelhante à dos restantes instrumentos de metal, como a trompete ou o eufónio, podendo o trombonista tocar qual‑ quer outro instrumento de metal ou qualquer outro instru‑ mentista, como o trompetista ou o tubista, podia tocar trom‑ bone, havendo uma rotatividade consoante as necessidades da banda. Com a entrada de muitos músicos das bandas filar‑ mónicas nos conservatórios, estes agrupamentos a pouco e pouco foram substituindo todos os trombones de pistões por trombones de varas, aproximando desta forma a sua cons‑ tituição instrumental à constituição da orquestra sinfónica. Assim, podemos verificar que ao longo do tempo não muda‑ ram apenas o fardamento ou os próprios instrumentistas da Banda, mas mudou significativamente a constituição ins‑ trumental da Sociedade Musical Euterpe. Mais uma vez em conversa com o Sr. Carrapiço, foi possível verificar que esta mudança se foi operando ao longo da sua permanência na Banda, enquanto trabalhou com onze maestros diferentes. Segundo o que este antigo músico relatou, aquando da sua entrada na Sociedade Euterpe em 1933 existiriam cerca de quatro flautas, cerca de nove clarinetes, quatro saxofones alto, cerca de seis cornetins, dois melofones (habitualmente chamados de clavicornes, usados em vez de trompas de har‑ monia, pela sua maior facilidade de execução e por possuí‑ rem três pistões em vez de quatro válvulas como actualmente a trompa de harmonia possui), um ou dois eufónios, um con‑ trabaixo (tuba de menor dimensão e mais aguda, habitual‑ mente usada nas filarmónicas) e apenas uma caixa de rufos, um bombo e um par de pratos, no que diz respeito à percus‑ são. Segundo Miguel Monteiro, Presidente da Direcção, ao

ing on the needs of the band. With many musicians from the philharmonic bands getting in to conservatories, these groupings led to the replacement of all piston trombones with valve trombones, and in this way the instrumental makeup of the philharmonic band nowadays more closely resembles that of a symphony orchestra. Thus, we can see that over time that not only did the uniforms or the instru‑ mentalists change in the Philharmonic Band, but that there were also significant changes in the instrumental makeup of the Euterpe Musical Society. Again in conversation with Sr. Carrapiço, it was found that this change had taken place throughout his membership in the Band, while working with eleven different conductors. According to the report of this former musician, upon joining the Euterpe Society in 1933 there were about four flutes, about nine clarinets, four alto saxophones, about six cornets, two mellophones (commonly called clavicorns, used instead of French horns, as being easier to play with three pistons instead of four valves, as is the case with the French horn), one or two euphoniums, a bass (a smaller tuba higher in range, usually employed in philharmonic bands) and just a snare drum, bass drum and cymbals, as far as percussion was concerned. According to Miguel Monteiro, President of the Board, over the years it has been a priority of the Board to enrich the instrumentation of the Band, not only with the purchase of instruments that were already part of the makeup of this group but which needed replacement, but also the purchase of instruments that did not form part of the instrumenta‑ tion of the Society, as was the case with the purchase two Bb tubas, tuned in this way to replace the basses then in use, and the purchase of a bass clarinet, an oboe, a bassoon and various percussion instruments, with the aim of enlarging this section of the Band.

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longo dos anos foi uma prioridade da Direcção o enrique‑ cimento do instrumental da Banda, não só com a compra de instrumentos que já faziam parte da constituição deste grupo mas que precisavam de substituição, como também com a compra de instrumentos que até então não integra‑ vam o instrumental desta Sociedade, como foi o caso da com‑ pra de duas tubas afinadas em sib, de forma a substituir os contrabaixos então utilizados, e da compra de um clarinete baixo, um oboé, um fagote e vários instrumentos de percus‑ são, com o objectivo de alargar este naipe. Ao longo dos seus mais de cento e cinquenta anos de existência, a S.M.E. de Portalegre conheceu dezasseis maes‑ tros diferentes, continuando dois deles completamente des‑ conhecidos, possivelmente pela perda de documentação e por já não existir ninguém que ateste a sua presença no “comando” da Banda Euterpe. A face mais visível da filarmó‑ nica nos seus primeiros anos de existência é o Maestro Fran‑ cisco José Perdigão30. Natural de Portalegre, nascido a 24 de Julho de 1840, e com menos propensão para o estudo, foi convidado por um padre “para lhe ensinar a arte musical”31. O padre Benigno terá ouvido cantar o jovem Perdigão “para os lados de S. Vicente” tendo ficado fascinado pela sua “mag‑ nífica voz, e chamou­‑o a si, passando a ensinar­‑lhe música e cantochão”32. Ao longo da sua vida, Perdigão foi, como já referido, Mestre de Capela e Organista da Sé, compositor de música sacra, professor de música no antigo Seminário de Portalegre e fundador da Sociedade Euterpe Portalegrense. Foi, na verdade, o grande sustentáculo da filarmónica nos primeiros anos da sua existência, não só assumindo a regên‑ cia da banda desde a sua formação, como impulsionando o ensino dos elementos que a compunham, formando suces‑ sivas gerações de músicos. A par da necessidade de provi‑ denciar os instrumentos e de proceder à formação dos músi‑ 83

Throughout its more than one hundred and fifty years of existence, the S.M.E. of Portalegre has witnessed sixteen different conductors, two of them completely unknown, possibly due to the loss of documentation and the fact that there is nobody who witnessed their taking “command” of the Euterpe Band. The most visible face of the Philharmonic in its first years of existence was the Conductor Francisco José Perdigão30. From Portalegre, he was born on 24 July 1840, and not very prone to study, was invited by a priest “to teach him the art of music”31. Father Benigno would have heard the young Perdigão singing “at the sides of S. Vicente” and was fascinated by his “magnificent voice, and called him to himself, starting to teach him music and chanting”32. Throughout his life, Perdigão was, as already mentioned, Chapel Master and Cathedral Organist, composer of sacred music, music teacher at the former Seminary of Portalegre and founder of the Sociedade Euterpe Portalegrense. He was, indeed, the great buttress of the Philharmonic in the early years of its existence, not only taking on the musical direc‑ tion of the band from its formation, boosting the teaching of the instruments which composed it, and training succes‑ sive generations of musicians. Alongside the need to provide the instruments and training of the musicians, the organiza‑ tion and maintenance of discipline in the Band would have also occupied a lot of his time, especially as the Euterpe went through some crises caused by “by disagreements between members”33. In one of the Reports of the Board of Monte‑ pio, dated 22 November 1886, it is possible to read “that this important part was rather disorganized in the early days of our management (...) we found ourselves in the unpleas‑ ant situation of having to suspend, and in fact temporarily carry out the suspension of the aforesaid band”34. Curiously, this was done with the agreement of Perdigão and was to


cos, a organização e a manutenção da disciplina na Banda terão ocupado igualmente grande parte do seu tempo, sobretudo porque a Euterpe passou por algumas crises pro‑ vocadas “por desinteligências entre os associados”33. Num dos Relatórios da Direcção do Montepio, datado de 22 de Novembro de 1886, é possível ler “que correu bastante desordenada esta importante secção nos primeiros tem‑ pos da nossa gerência (...) vendo­‑nos na desagradável situ‑ ação de termos de suspender, como de facto suspendemos, temporariamente, a sobredita banda”34. Esta situação teve, curiosamente, o acordo de Perdigão e viria a durar um mês. A gravidade de não poucos desentendimentos e a indis‑ ciplina de alguns músicos chegou a provocar, inclusive, o abandono temporário de Perdigão da Banda, fixando­‑se em Nisa, onde teve um estabelecimento comercial “ao mesmo tempo que regia a filarmónica daquela vila”35. Estas crises foram sendo ultrapassadas, algumas vezes com a melhoria das condições oferecidas aos músicos. Ainda sob a direcção deste Maestro, a importância da Banda na cidade de Porta‑ legre aumenta, sendo uma constante as suas aparições no coreto do Passeio Público, as quais mereceram os elogios da imprensa local, ou nas diversas festas religiosas que ani‑ mam o concelho e que preencheram grande parte das actu‑ ações da Euterpe durante largos anos. Exemplo desse dina‑ mismo foi o concerto realizado em 1886 pela ocasião dos dez anos da inauguração do coreto do Jardim Público. A respeito do arraial da Festa da Nossa Senhora da Graça, a 10 de Agosto, o Distrito de Portalegre, refere que a banda “tocou as mais ricas e variadas peças do seu notável repor‑ tório. O público ouviu extasiado: lindas moças, Manuel, ó que zumba, malhão, choradinho... delirantes salvas de pal‑ mas aplaudiram a Euterpe”36. A participação da Banda quer nas festas religiosas, quer nos principais acontecimentos

last a month. The seriousness of not a few misunderstand‑ ings and the indiscipline of some musicians even led to the temporary abandonment of Perdigão from the Band, and he settled at Nisa, where he had a business “while at the same time musically directing the Philharmonic of that town”35. These crises were overcome, sometimes by improving the conditions offered to the musicians. Still under the musical direction of this Conductor, the importance of the Philhar‑ monic Band to the city of Portalegre increased, with their constant public appearances in the Promenade bandstand, which earned praise from the local press, or the various reli‑ gious festivals that enlivened the religion and formed a large part of the performances of the Euterpe for many years. An example of this dynamism was the concert held in 1886 to mark the tenth anniversary of the inauguration of the Pub‑ lic Garden Bandstand. With regard to the folk festival for the Feast of Our Lady of Grace, on 10 August, the Distrito

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Fotografia do acervo documental da Sociedade Musical Euterpe. Photo from Euterpe Musical Society archives.


extraordinários ocorridos em Portalegre quase que fundem a história da Euterpe com a evolução da própria cidade. Por várias vezes a sua fama passa para além das muralhas da cidade. É de destacar a inauguração do caminho­‑de­‑ferro da Beira Baixa, ocorrido em Castelo Branco, a 6 de Setembro de 1891. Neste dia de gala, a família real chegava à cidade pelas quatro da tarde, transportada pela grande novidade do perí‑ odo: o comboio. As cerimónias ocorridas após o desembar‑ que tiveram lugar na Sé de Castelo Branco, ouvindo­‑se um Te Deum executado pela Euterpe. Este facto não passou des‑ percebido em Portalegre, sendo notícia no Distrito de Portalegre que refere: “sendo a música e canto executados pela orchestra regida pelo Sr. Perdigão (...) o desempenho foi magistral, nunca ouvimos à orchestra uma execução tão maravilhosa (...) a alguém, perito talvez, ouvimos afirmar que nunca em Castelo Branco tinha havido orchestra melhor”37. No entanto, o primeiro sinal de mudança no seio da Banda ocorre em 1908 quando numa reunião da Assembleia Geral “alguns sócios filarmónicos” propõem “que seja nomeado um novo regente indicando para esse lugar Eduardo de Car‑ valho Serra e José Silvestre de Sousa ou qualquer outro que convenha à Direcção”38. O pedido de saída do regente de sempre resulta em grande medida do debilitado estado de saúde de Perdigão que lhe impossibilita o cumprimento das suas funções. Todavia, a Direcção recusou­‑se a demitir Per‑ digão, justificando que não se deveria agravar, com bruscas notícias, a saúde bastante precária do regente. O estado de saúde de Francisco Perdigão veio, no entanto, a agravar­‑se e este viria a falecer a 21 de Janeiro de 1909, em Elvas, quando estava a ensaiar uma marcha fúnebre que a sua Banda deve‑ ria executar a favor das vítimas de um terramoto que asso‑ lara o sul de Itália. A obra realizada na Euterpe e na dimen‑ são maior de Portalegre transformaram Perdigão numa das 85

de Portalegre remarked that the band “played the richest and most varied pieces from its remarkable repertoire. The pub‑ lic listened in rapture: Beautiful girls, Manuel, O that zumba, malhão, choradinho... delirious bursts of applause greeted the Euterpe”36. The participation of the Philharmonic Band both in religious festivals and the major one-off events which took place in Portalegre almost blended the history of the Euterpe into the evolution of the city itself. Its fame often went beyond the city walls. Of note was the opening of the railway from Beira Baixa, which took place in Castelo Branco on 6 September 1891. On this gala day, the royal family arrived in the town at four in the afternoon, transported by the great novelty of the period: the train. The ceremonies took place after they alighted at the Castelo Branco Cathe‑ dral, and heard a Te Deum performed by the Euterpe. This fact did not go unnoticed in Portalegre, and the news item was reported in the Distrito de Portalegre stating: “with the music and singing being performed by the orchestra con‑ ducted by Sr. Perdigão (...) The performance was master‑ ful, and we have never heard the orchestra play so wonder‑ fully (...) someone, perhaps an expert, was heard to say that never in Castelo Branco had there been a better orchestra ”37. However, the first sign of change within the Band occurred in 1908 when at a General Assembly meeting “some mem‑ bers of the Philharmonic” proposed “the appointment of a new musical director, suggesting Eduardo de Carvalho Serra and José Silvestre de Sousa or any other suitable individual in the opinion of the Board ”38. The request for the musical director to depart stemmed largely from the weakened state of health of Sr. Perdigão which made it impossible for him to carry out his duties. However, the Board refused to dis‑ miss Perdigão, explaining that the precarious health of the musical director should not be prejudiced by such sudden


figuras na cidade com maior notoriedade, sendo que no seu funeral, realizado a 23 de Janeiro, a cidade prestou­‑lhe uma grande homenagem. Como refere o Distrito de Portalegre o cortejo fúnebre saiu da Sé pelas 12h30 e constituiu “uma das maiores manifestações de pesar que se têm visto nesta cidade”39. Depois de Perdigão, a regência da banda ficou a cargo de Lavara que cedeu o seu lugar a D. Segundo Salvador que procedeu à estruturação da banda dando­‑lhe um novo fôlego. Assim, a 18 de Julho de 1920 o Distrito de Portale‑ gre diz, precisamente, que “há muito tempo (...) que a banda Euterpe não ouvia como no domingo passado (...) sempre tivemos, e agora mais do que nunca, a esperança de que, den‑ tro de seis meses, a Banda Euterpe portalegrense (...) já com elementos absolutamente seus, se poderá colocar a par das melhores filarmónicas do país”40. A nova alma da Banda é premiada de forma célere, recebendo diversos convites para actuações não só na região de Portalegre, como em Espanha. Esta regeneração não é acompanhada, o entanto, pelo Mon‑ tepio. De facto, uma acta da Assembleia Geral de Julho de 1922 refere a convocação de uma Assembleia Geral extraor‑ dinária devido ao facto de “em vista da enorme carestia que atingiram os medicamentos e da necessidade de se remu‑ nerarem condignamente os serviços clínicos (...) se resolver sobre a elevação das mensalidade conforme faculta o decreto n.º 8187 de 8 de Junho de 1922 visto que com o valor das mensalidades em corrente seria absolutamente impossível à associação satisfazer os seus grandes e pesados encargos”41. Em conversa com o Sr. António Carrapiço ficámos a saber que o primeiro Maestro que conheceu, com os seus dez anos de idade e após esse período conturbado, em 1933, foi o Maestro Guerra, mas pouco mais ficámos a saber acerca deste Maestro, uma vez que a memória do antigo músico já só lhe traz à lembrança o Maestro Luís Pathé que durante vinte

news. The state of health of Francisco Perdigão, however, worsened and he died on 21 January 1909 in Elvas, when he was rehearsing a funeral march that his Band would perform for the victims of an earthquake that had devastated south‑ ern Italy. The work he carried out in the Euterpe and, on a wider scale, in Portalegre would transform Perdigão into one of the figures of the city with the greatest reputation, and at his funeral, which was held on 23 January, the city paid him great homage. As the Distrito de Portalegre remarked, the funeral procession left the Cathedral at 12:30 and was “one of the greatest expressions of grief that has ever been seen in this city”39. After Sr. Perdigão, the musical directorship of the Band was encharged to Sr. Lavara who made way for D. Segundo Salvador who organised the band so as to endow it with new life. As such, on 18 July 1920 the Distrito de Portalegre actually stated that “it has been a long time (...) since the Euterpe band has been heard as it was last Sunday (...) we have always hoped, and now more than ever, that within six months the Euterpe Band from Portalegre (...) already with musicians exclusively its own, could be placed alongside the best Philharmonic Bands in the country”40. The new soul of the Band was swiftly acknowledged, receiving numerous invitations for performances not only in the region of Por‑ talegre, but also in Spain. This regeneration was not accom‑ panied, however, by the Montepio. In fact, the minutes of the General Meeting of July 1922 mention the convening of an extraordinary general meeting due to the fact that “in view of the high cost of medicines and the need to reimburse clinical services in a dignified manner (...) it was hereby resolved that there would be an increase in the monthly fee as allowed by decree No. 8187 of 8 June 1922 since with the current monthly fee it would be absolutely impossible for the association to meet its large and heavy burdens”41.

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e um anos dirigiu a Sociedade Euterpe (de 1938 a 1959). A este Maestro o Sr. Carrapiço aponta a importância na for‑ mação de novos músicos que possibilitou a continuação do funcionamento da Banda, uma vez que, segundo a memó‑ ria do Sr. Carrapiço, no momento da sua entrada, era consti‑ tuída por cerca de dezassete instrumentistas. Na verdade, as mudanças operadas por Pathé são impulsionadas por alguns conflitos internos que concedem ao regente, Luís Pathé o impulso para proceder a remodelações, admitindo novos colaboradores e afastando alguns membros da Banda. Toda‑ via, as divergências acabariam ultrapassadas sem que os músicos abandonassem a Banda, sendo inclusivamente defi‑ nidos alguns incentivos. É o caso do fundo criado em 1958 para premiar a presença dos executantes nos ensaios, a que já aludimos. Para fazer face às novas exigências, a Direcção realiza um pedido de auxílio para “a velhinha simpática de 97 anos (...) que vem há muito carecendo de recursos finan‑ ceiros para se manter a cumprir a sua honrosa missão”42. O tom dramático do folheto visava, sobretudo, sensibili‑ zar os portalegrenses para participarem num sorteio que a banda realizaria. Um ano depois, em Junho, o executante João David Pascoal assume, temporariamente, o lugar do regente até ao final da época musical, em Setembro. Luís Pathé terá adoecido gravemente. Para resolver o problema da substituição do regente a Direcção da Banda, obedecendo às regras cooperativas impostas pelo Estado Novo, solici‑ tou ao delegado distrital do Sindicato Nacional dos Músi‑ cos para proceder à sua substituição. Em Setembro de 1959, Luís Pathé anuncia a sua demissão definitiva. Em Outubro despede­‑se e entrega o material em sua posse, na presença dos músicos mais velhos. Luís Pathé assumira a regência a 21 de Agosto de 1938. Para o seu lugar surgiu José Antó‑ nio Baptista. 87

In conversation with Sr. Anthony Carrapiço we learned that the first Conductor he met, in 1933 at the age of ten and after that troubled period, was the Musical Director Guerra, but little more is known about this Musical Director, since this former musician only remembers the Musical Director Luis Pathé who for twenty-one years led the Euterpe Society (1938 to 1959). Sr. Carrapiço stated that this Musical Direc‑ tor considered the training of young musicians to be impor‑ tant and this made the continued operation of the band pos‑ sible, since, according to the memory of Sr. Carrapiço, when he joined, there were around seventeen musicians. In fact, these changes carried out by Pathé were driven by certain internal conflicts that provided an impetus for the Conduc‑ tor, Luis Pathé, to renovate the Band, admitting new mem‑ bers and dismissing other members of the Band. However, the disagreements were eventually resolved without the musicians having to leave the Band, with some incentives being drawn up. That was the case with the fund created in 1958 to reward attendance by the performers at rehearsals, which has already been alluded to. To meet the new require‑ ments, the Board made a request for help to be given to “the nice 97-year-old lady (...) that has long lacked finan‑ cial resources to keep on undertaking its honourable mis‑ sion”42. The dramatic tone of the leaflet was mainly aimed at sensitizing the people of Portalegre to in order to partic‑ ipate in a lottery that the band was organizing. A year later, in June, the performer João David Pascoal temporarily took on the role of musical director until the end of the musical season, in September. Luís Pathé had become seriously. To solve the problem of replacing the conductor the Board of the Band, obeying the rules on cooperatives imposed by the Estado Novo, asked the district commissioner of the National Union of Musicians for a replacement. In September 1959,


Luís Pathé definitively resigned. In October he said goodbye and handed over the material in his possession, in the pres‑ ence of the older musicians. Luís Pathé had become musi‑ cal director on 21 August 1938. His place was taken by José António Baptista. According to this former musician, of the eleven con‑ ductors whom he had known in the Board of the Euterpe Society, the vast majority were professional soldiers. This is an important feature of these groups: their affinity with military counterparts that existed in many urban centres of the country, where the vast majority of the conductors who took on the musical direction of these brass bands were

Segundo este antigo músico, dos onze maestros que conheceu na Direcção da Sociedade Euterpe, a grande maio‑ ria era militar de carreira. Esta é uma característica impor‑ tante destes grupos: pela sua afinidade com grupos congé‑ neres militares que existiam em muitos centros urbanos do país, a grande maioria dos maestros que assumia a direcção musical destas bandas filarmónicas eram músicos ou maes‑ tros de bandas militares. A preferência das bandas filarmó‑ nicas por maestros com carreira militar devia­‑se principal‑ mente ao prestígio que daí advinha, uma vez que, durante muito tempo, os Conservatórios não eram acessíveis nem a qualquer pessoa nem em qualquer local, sendo então a “escola militar” um sinónimo de qualidade. Assim, mui‑ tas vezes os músicos que recebiam a sua primeira forma‑ ção musical na banda filarmónica da sua terra, aproveita‑ vam a entrada no serviço militar para integrar a banda ou fanfarra do seu regimento e continuar a sua carreira mili‑ tar enquanto músico. Aqui, continuavam também a forma‑ ção musical e ganhavam algum prestígio. Desta forma, para uma banda filarmónica, a presença de um maestro militar possibilitava­‑lhe aumentar a sua qualidade e, consequente‑

musicians or conductors of military bands. The preference of philharmonic bands for conductors with a military back‑ ground was mainly due to the prestige stemming from this since, for a long time, the Conservatories were not accessi‑ ble to just anyone from anywhere, and at that time the “mili‑ tary school” was a synonym for quality. As such, it was often the case that musicians who had received their initial musi‑ cal training with their local philharmonic band took advan‑ tage of admission to military service to join the band of their regiment and continue their military career as a musi‑ cian. Here, they also continued their musical education and gained a certain amount of prestige. Thus, for a philhar‑ monic band, the presence of a military conductor allowed it to increase its quality and hence its prestige. Due to the importance given to military musicians their presence in a band was also invariably a synonym for quality. Sr. Carrapiço stated that, on many occasions, the Euterpe Society bene‑ fited from the presence of the barracks of the Regimento Militar de Portalegre, today belonging to the Republican National Guard, since many prominent musicians assigned to Por‑ talegre took advantage of their free time to be able to play in

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Fotografia do acervo documental da Sociedade Musical Euterpe. Photo from Euterpe Musical Society archives.


mente, o seu prestígio. Devido à importância dada aos músi‑ cos militares era também quase um sinónimo de qualidade a presença destes numa banda. O Sr. Carrapiço afirma que, em muitas ocasiões, a Sociedade Euterpe beneficiou da presença do quartel do Regimento Militar de Portalegre, hoje per‑ tença da Guarda Nacional Republicana, uma vez que muitos músicos destacados para Portalegre aproveitavam os seus tempos livres para poder tocar na S.M.E.. No entanto, ape‑ sar da constante presença de músicos militares, a Euterpe teve de contar, muitas vezes, apenas com os músicos que ali eram formados. O Sr. Carrapiço conta então com orgu‑ lho que numa deslocação a Tomar (a memória deste músico já não consegue precisar em que data), após a actuação da Sociedade Euterpe à qual assistiam vários músicos da Banda do Regimento de Infantaria de Tomar, um destes militares, elogiando o trabalho do Maestro e a qualidade dos músicos da Euterpe, pergunta ao Maestro quantos músicos militares tocavam na Banda para que fosse possível realizar um tra‑ balho de tal qualidade, pergunta à qual o Maestro responde: nenhum. Este reconhecimento continua ainda na memória do antigo músico, sendo um grande motivo de orgulho. Tal como refere Graça Mota, “[verifica­‑se] em muitos casos a associação de determinadas emoções a factos especialmente significativos da vida da Banda e que constituem hoje um património de memórias biográficas em cujo cerne se cons‑ titui também a identidade do indivíduo”43 e é exactamente isto que acontece quando falamos com este músico que durante setenta e dois anos, com uma interrupção apenas de três anos para o cumprimento do serviço militar, tocou na Sociedade Euterpe. A sua vida mistura­‑se com a vida da Banda e é muitas vezes difícil distinguir entre o António Carrapiço músico, o Tesoureiro da Direcção da Euterpe ou o contínuo do antigo Liceu de Portalegre (a sua profissão). 89

the S.M.E. However, despite the constant presence of mil‑ itary musicians, the Euterpe often had to rely on only the musicians it had trained. Sr. Carrapiço tells with some pride of a trip to Tomar (his memory can no longer be sure of the data), where after the performance of the Euterpe Soci‑ ety attended by several musicians from the Tomar Infan‑ try Regiment Band, one of the soldiers, praising the work of the Conductor and the quality of the musicians of the Euterpe, asked the Conductor how many military musicians were playing in the Band in order to be able to perform at a level of such quality, to which the Conductor replied: none. This story still remains in the memory of the former musi‑ cian, and is a source of great pride. As Grace Mota mentions, “[there is] in many cases the association of certain emotions to facts especially significant in the life of the Band and which today constitute a heritage of biographical memories in the heart of which also resides the identity of the individ‑ ual”43 and this is exactly what happens when we talk to this musician who for seventy-two years, with only a break of three years for military service, played in the Euterpe Soci‑ ety. His life was mixed in with the life of the Band and it is often difficult to distinguish between António Carrapiço the musician, the Treasurer of the Board of the Euterpe or the employee of the former Portalegre Liceu (his profession). To sum up, the S.M.E. almost always relied on musical direction from military conductors, with one of the most recent exceptions being the Conductor Armindo Santana who, despite having a career that was in no way linked to any musical activity, took “command” of the Philharmonic Band in which he was a musician for a few years. In 2003, this Musical Director was replaced by the current Conductor, Manuel Henrique Ruivo, again a military musician (trom‑ bonist of the Air Force Band) but who trained at the Conserv‑


A S.M.E. contou então quase sempre com a direcção musical de maestros militares, sendo uma das mais recen‑ tes excepções o Maestro Armindo Santana que, apesar de ter uma carreira profissional que não estava de maneira nenhuma ligada à actividade musical, por ter sido músico na Euterpe assumiu o “comando” desta Banda durante alguns anos. Em 2003, este Maestro foi substituído pelo actual, Manuel Henrique Ruivo, mais uma vez um músico militar (trombonista da Banda da Força Aérea) mas com forma‑ ção no Conservatório e numa escola profissional de música. Sem qualquer ligação à cidade de Portalegre e apesar da sua experiência enquanto músico militar e músico filarmónico, este Maestro teve na Sociedade Euterpe a sua estreia na direcção musical de uma banda filarmónica. Há cerca de oito anos, no momento da sua estreia enquanto Maestro desta Banda, Manuel Henrique Ruivo deparou­‑se com algumas dificuldades, sendo as principais a elevada média de idades dos músicos, a grande maioria sem muita formação musi‑ cal de base e com alguns comportamentos que, para este Maestro, não cativavam a confiança da população de Porta‑ legre e que impediam que se fizesse um trabalho de melhor qualidade, impedindo também que se renovasse a Banda com a entrada de músicos mais jovens. Para este Maes‑ tro, o espírito de grupo, que afirma ser uma das principais condições para o bom funcionamento de um agrupamento deste género, não existia. Gradualmente Manuel Henrique Ruivo foi tentando alterar alguns comportamentos que não considerava adequados a uma banda filarmónica que se pre‑ tendia afirmar como um dos principais dinamizadores cul‑ turais da cidade. Desta forma, em oito anos de actividade deste Maestro, foram operadas algumas alterações no fun‑ cionamento da Sociedade Euterpe. Com Manuel Henrique Ruivo os músicos deixaram de receber a pequena quantia

atory and at a professional school of music. Without any con‑ nection to the city of Portalegre and despite his experience as a military and philharmonic musician, his musical lead‑ ership of the Euterpe Society marked his debut as the con‑ ductor of a philharmonic band. About eight years ago, at the time when he made his debut as the Conductor of this Band, Manuel Henrique Ruivo encountered some difficulties, the main ones being the high average age of the musicians, the vast majority without a great deal of basic musical training and with some habits which, for this Conductor, did not lead to the expression of confidence in the band by the people of Portalegre and which prevented him from doing a better job, and which also prevented him from renewing the Band with the entry of younger musicians. For this Conductor, team spirit, which is one of the most important factorings deter‑ mining the successful functioning of a group of this kind, simply did not exist. Manuel Henrique Ruivo has gradually tried to alter certain habits not considered suitable for a phil‑ harmonic band that wishes to assert itself as one of the major cultural movers and shakers in the city. Thus, during the eight years in which this Conductor has been the musical director, some alterations in the functioning of the Euterpe Society have been carried out. Manuel Henrique Ruivo has changed things so that musicians no longer receive the small sum they used to receive when they performed, as that money is now allocated for the overheads of the Band. For Ruivo, one of the main focuses of attention of the Euterpe Society has been a more solid training of musicians, and he is one of the three teachers in the Euterpe Musical School (the Teacher for Musi‑ cal Training and Brass Instruments), and introducing teach‑ ing methods more appealing to younger people is considered as being important. A further focus of this Conductor and the current Board is the dissemination of the Band’s activ‑

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ity and the music itself in the schools of the district, by hold‑

Fotografia do acervo documental da Sociedade Musical Euterpe.

ing educational concerts for students. These educational con‑

Photo from Euterpe Musical Society archives.

certs are also held outside schools, aimed at the general pub‑ lic. According to the Musical Director of the Euterpe, these groups are of paramount importance for amateur musical activity and are thus important for the proper working envi‑ ronment and cooperation and friendship between the musi‑ cians, with the social component considered as an essential factor in boosting the musical component.

“Euterpe the Old lady” a matter of longevity

For the Board, musicians and former musicians of the S.M.E. its long history and its uninterrupted activity of more

que recebiam quando faziam actuações, ficando esse valor para os gastos gerais da Banda. Para Ruivo, uma das gran‑ des apostas da Sociedade Euterpe passa por uma melhor e mais sólida formação dos músicos, sendo ele próprio um dos três professores da Escola de Música da Euterpe (Professor de Formação Musical e Instrumentos de Metal), conside‑ rando importante a implementação de métodos de ensino mais apelativos para os mais jovens. É também uma aposta fundamental deste Maestro e da actual Direcção a divulga‑ ção da actividade da Banda e da própria música nas escolas do ensino regular do concelho, realizando concertos didácti‑ cos para os alunos. Estes concertos de carácter didáctico são também realizados fora das escolas, dirigindo­‑se ao público em geral. Na opinião do Maestro da Euterpe, estes grupos são de suma importância para a actividade musical amadora sendo, desta forma, importante o bom ambiente de traba‑ lho e a cooperação e amizade entre os músicos, conside‑ rando fundamental a componente social para que seja pos‑ sível então dinamizar a componente musical. 91

than one hundred and fifty years is a great source of pride, something very present in the speech of Sr. António Carra‑ piço, who for several years was the oldest musician in this Band. He fondly calls the Euterpe as “Euterpe the Old Lady”, writing in his farewell letter that this is the “most important heirloom of Portalegre”44. As such, the Euterpe Musical Soci‑ ety can consider itself as the oldest cultural institution in the city and one of the oldest in the country, carrying out inter‑ rupted musical activity, as highlighted in the celebrations of its 125 years, with it being mentioned that “during this cen‑ tury and a quarter of existence it has never stopped being an active cultural society, full of youth, just as in its first years of existence”45. This historical antiquity often serves as a form of legitimation and is also very present in the discourses of several Portuguese philharmonic bands claiming for itself the status of the country’s oldest band. If after visiting the rehearsal room we wish to climb to the first floor, we are almost forced to notice the num‑ ber of photos that are placed along the stairs that lead to the


A “Velhinha Euterpe”: uma questão de longevidade

upper floor. These photographs show us many hundreds of faces that have been part of the Euterpe Society throughout

Para a Direcção, músicos e antigos músicos da S.M.E. é um grande motivo de orgulho a sua longa história e a sua ininterrupta actividade de mais de cento e cinquenta anos, algo bem presente no discurso do Sr. António Carrapiço, que por vários anos foi o músico mais antigo desta Banda, quando este carinhosamente trata a Euterpe por “Velhinha Euterpe”, afirmando na sua carta de despedida que esta é a “mais importante relíquia de Portalegre”44. Desta forma, a Sociedade Musical Euterpe afirma­‑se como a instituição cul‑ tural mais antiga da cidade e uma das mais antigas do país, desenvolvendo uma actividade musical sem interrupções, tal como foi salientado nas comemorações dos 125 anos, sendo referido que “durante este século e um quarto de existência nunca deixou de ser uma sociedade activa, cultural e cheia de juventude, como nos seus primeiros anos de existência”45. Esta antiguidade histórica serve muitas vezes como uma forma de legitimação e está também muito presente nos dis‑ cursos de várias bandas filarmónicas portuguesas que recla‑ mam para si o estatuto de banda mais antiga do país. Se depois de visitarmos a sala de ensaios quisermos subir para o primeiro piso, somos quase obrigados a reparar na quantidade de fotografias que estão colocadas ao longo das escadas que nos conduzem ao andar superior. Nestas foto‑ grafias aparecem­‑nos largas centenas de rostos que passaram pela Sociedade Euterpe ao longo da sua história, envergando a sua farda, também esta um meio de transmitir ao exterior a identidade da filarmónica. São fotografias que atestam a passagem dos anos por esta Sociedade e que atestam tam‑ bém alguns momentos altos da Banda. Entre os momen‑ tos altos da história da Banda está a presença e obtenção do segundo lugar no concurso “À Volta do Coreto” organizado

its history, wearing its uniform; this also a way to convey to the outside world the identity of the Philharmonic. They are photographs that attest to the passage of years within this Society and which also attest to key moments of the Band. Among the highlights in the history of the band is their par‑ ticipation and their coming runner up in the contest “Around the Bandstand”, organized in 1996 by RTP which provided the Association with a greater national projection. However, as we have seen, during its long existence, the Band has gone through moments of great difficulty, not only due to the lack of monetary resources that often made it impossible to buy new instruments and new uniforms, but also due to the lack of human resources in times like World War I, as was attested by the Distrito de Portalegre of 26 July 1917, where it stated that “the Euterpe, which had not been heard for some time because some of its members had been mobilized and oth‑ ers departed as labourers to France, has had its restrictions, which proves the will driving its restricted number of per‑ formers. These nice boys should therefore keep on the path they have embarked on, so as not to lose a society which brings so much lustre to Portalegre.” However, right after the Armistice, on 22 June 1919, the Distrito de Portalegre stated that the Band played at the Public Promenade with “a limited number of performers, which are currently available with the Euterpe, and you could not want for more”46.

The importance of the Euterpe for musical education

In the room on the first floor, above the rehearsal room, the School of Music of the S.M.E. gives lessons to its musi‑

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em 1996 pela RTP que permitiu a esta Associação uma maior projecção a nível nacional. No entanto como vimos, durante a sua longa existência, esta Banda passou por momentos de grande dificuldade, não só pela falta de recursos monetários que muitas vezes impossibilitaram que se comprassem novos instrumentos ou novos fardamentos, mas também pela falta de recursos humanos em momentos como a Primeira Guerra Mundial, tal como é atestado pelo Jornal Distrito de Portalegre de 26 de Julho de 1917, onde se refere que “a Euterpe, que há tempos se não fazia ouvir em virtude de terem sido mobilizados alguns dos seus membros e outros terem partido como operários para França, houve­‑se com muita correcção, o que prova a vontade de que está animado o seu restricto número de executantes. Continuem, pois, esses simpáticos rapazes na senda encetada, não deixando perder uma corpo‑ ração que tanto lustre dá a Portalegre”. No entanto, já depois do Armistício, a 22 de Junho de 1919, o Distrito de Portalegre refere que a Banda tocou no Passeio Público com “um limi‑ tado número de executantes com que conta actualmente a Euterpe, mais não se pode desejar”46.

cians. Those who wish to attend these classes do so free of charge, since according to the philosophy of this and many other Portuguese Philharmonic Bands, musical education is free. As such, and just like around 700 other philharmonic bands operating in Portugal47, the Euterpe Musical Society of Portalegre has played an important role in the teaching and dissemination of music in their city and region. Despite the work of the Band always having implicitly involved the teaching of music, usually carried out by the Musical Director, in 1975 the then President of the Board created the School for Initial Musical Training, in which he him‑ self would be the teacher, which started with 120 enrolled pupils, with the students divided into three classes accord‑ ing to age groups, and carried out with the support of INA‑ TEL. However, the school would only work in this financial manner until the middle of the following year, due, interest‑ ingly, to its great success, that is, the excessive number of students who flocked to it, a situation for which the organ‑ ization of the school was not prepared. As such, as early as 1978, given the large number of enrolments and the possi‑ ble increase in the number of musicians in the band (which

A importância da Euterpe no ensino musical

could go up to forty), the Board decided to use three or four helpers for the various instruments. Nowadays, the school

Na sala do primeiro piso, por cima da sala de ensaios, decorrem as aulas que a Escola de Música da S.M.E. ministra aos seus músicos. Os que pretenderem frequentar estas aulas não têm quaisquer encargos, uma vez que segundo a filoso‑ fia desta e de muitas outras bandas filarmónicas portuguesas, o ensino musical é gratuito. Assim, tal como as cerca de 700 bandas filarmónicas em funcionamento em Portugal47, tam‑ bém a Sociedade Euterpe de Portalegre tem desempenhado um papel relevante no ensino e na divulgação da música na sua cidade e região. Apesar do funcionamento da Banda 93

has three Teachers who teach more than twenty students, covering all of the instruments in the Philharmonic Band, from flute to percussion. The Music School, which thus had started some years before, replaced the old method of teach‑ ing which prevailed for many years in the philharmonic soci‑ eties and which still remains in many of them, a method centred on the person of the Musical Director who individ‑ ually teaches music theory and technique for all the instru‑ ments in the band. This method remained in operation for many years in the philharmonic bands in Portugal, mainly


implicar sempre o ensino musical, normalmente a cargo do Maestro, em 1975 o então Presidente da Direcção cria uma Escola de Iniciação Musical onde ele próprio seria o profes‑ sor, contanto na sua abertura com 120 inscrições, sendo os alunos divididos em três turmas, segundo as faixas etárias, e contando com o apoio do INATEL. No entanto, a escola nes‑ tes moldes funcionaria apenas até meados do ano seguinte, curiosamente, devido ao seu grande sucesso, ou seja, ao excessivo número de alunos que a ela afluíram, situação para a qual a sua organização não estava preparada. Porém, já em 1978, atendendo ao grande número de inscrições e ao possí‑ vel aumento do número de executantes na Banda (que deve‑ ria chegar aos quarenta), a Direcção decide então passar a contar com mais três ou quatro monitores dos diversos ins‑ trumentos. Hoje em dia, esta escola tem três Professores que dão aulas a mais de vinte alunos, contemplando todos os ins‑ trumentos da Banda, desde a flauta transversal à percussão. A Escola de Música iniciada nestes moldes há alguns anos veio substituir o antigo método de ensino que durante mui‑ tos anos imperou nas sociedades filarmónicas e que ainda permanece em muitas delas, um método centrado na pessoa do Maestro que ensina individualmente o solfejo e a técnica de todos os instrumentos da banda. Este método permane‑ ceu em funcionamento durante muitos anos nas filarmónicas do país, principalmente devido à falta de recursos económi‑ cos destas associações, ficando então a cargo de uma só pes‑ soa as funções de Maestro e Professor de Música. As dificul‑ dades financeiras da Banda foram muitas vezes extensíveis à escola de música, quando, por exemplo, em 1926 é referido que a situação da escola de música é agravada pelo facto do “estado do instrumental da escola ser péssimo, pois a maior parte do mesmo estar quase deteriorado e os recursos do Montepio não permitirem que para aquele fim se destine a

due to a lack of economic resources in such associations, who were therefore dependent on a single person to carry out the functions of Conductor and also Music Teacher. The financial difficulties of the Band often extended to the music school, where, for example, in 1926 it was stated that the situation of the music school was exacerbated by the fact that the “the school’s instruments were really bad, because most of them had deteriorated and the resources of the Montepio meant that no money could be put aside for the necessary instrumental repairs”48. The problem was men‑ tioned in the Distrito de Portalegre on 27 May 1928, where it was written that the Band “currently requires a nice effec‑ tive contribution from all of us. The situation is that its instruments have deteriorated and is in need of resources to purchase new instruments”49. The solution found was to hold a benefit festival at the musical school and a fete which took place on 23 and 24 June, at its main premises at the time, the Fábrica Real.

Fotografia do acervo documental da Sociedade Musical Euterpe. Photo from Euterpe Musical Society archives.

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verba que seja necessária para o conserto do mesmo instru‑ mental”48. O problema é referido pelo Distrito de Portalegre de 27 de Maio de 1928, que escreve que a Banda “necessita pre‑ sentemente dum contributo de eficiente simpatia de todos nós. É o caso que se acha empobrecida de conveniente instru‑ mental e carenciada de recursos próprios para adquirir ins‑ trumental novo”49. A solução encontrada passou pela realiza‑ ção de uns festejos em benefício da escola musical e por uma quermesse que ocorreu nos dias 23 e 24 de Junho, na sua sede da altura, na Fábrica Real. Agora, na Euterpe os alunos que pretendem ingressar na Banda têm formação musical ao nível teórico, com o recurso tanto aos métodos mais antigos, como o habitual método de solfejo elaborado pelo compositor Freitas Gazul no século XIX, como com o recurso a métodos mais apelativos para os alu‑ nos que pertencem a uma faixa etária muito baixa, tendo em consideração recentes pesquisas a nível pedagógico­‑musical. Como foi referido pelo actual Director da Sociedade Euterpe, tem havido uma tentativa de implementar o método Suzuki, normalmente utilizado no ensino dos instrumentos de corda, uma vez que este faculta aos alunos a possibilidade de apren‑ der a prática instrumental ao mesmo tempo que aprendem a componente teórica, começando quase de imediato a tocar algumas peças mais simples, o que para os alunos mais novos é fundamental para se sentirem motivados e continuarem a sua aprendizagem. Com a formação teórica adquirida através de aulas individuais e da leitura de exercícios de solfejo, os alunos adquirem a indispensável capacidade de leitura musical que irão necessitar quando já tocarem com o restante grupo. Num grupo como a banda filarmónica é importante, entre outras competências, uma grande destreza a nível da leitura musical de forma a que os músicos possam integrar mais facilmente a banda e possam acompanhar o nível de exigência das obras 95

Now the Euterpe students wishing to join the Phil‑ harmonic Band had had a musical training at the theoret‑ ical level, both making use of older methods, such as the usual solfeggio method developed by the composer Freitas Gazul in the nineteenth century, as well as more appealing methods for students of a younger age group, taking into account recent research into the teaching of music. As was mentioned by the current Musical Director of the Euterpe Society, there has been an attempt to implement the Suzuki method, usually employed in the teaching of string instru‑ ments, since this provides students with the opportunity of learning instrumental technique while learning the theo‑ retical component at the same time, starting almost imme‑ diately with the playing of some simpler pieces, which for younger students is essential to feel motivated and con‑ tinue their learning. With the theoretical training acquired through individual lessons and the reading of solfeggio exercises, students acquire the necessary reading skills they will need when they play with the rest of the group. In a group like the philharmonic band it is important, among other skills, to possess considerable skill in reading music so that musicians can more easily integrate into the band and can follow the level required for the works which are performed. It is important to note that the philharmonic associations have throughout their history provided thou‑ sands of young people with a free musical education, and continue to do so today and which, apart from the method used, is the only musical training that has been given to many Portuguese and others which has given them the bases and encouragement to continue their musical stud‑ ies. These associations have provided musical instruction, often with limited financial and human resources, in the most diverse Portuguese regions, in places where it would


executadas. É importante referir que as associações filarmó‑ nicas proporcionaram ao longo da sua história e continuam ainda hoje a proporcionar a milhares de jovens um ensino musical gratuito que, à parte do método utilizado, facultou a única formação musical a muitos portugueses e a outros deu­ ‑lhes as bases e o incentivo para continuarem os seus estudos musicais. Estas associações facultaram o ensino musical, mui‑ tas vezes com poucos recursos económicos e humanos, nas mais variadas regiões portuguesas em locais onde muito difi‑ cilmente haveria outro meio de ensino musical; no entanto, em muitas ocasiões o método utilizado que passava apenas pela pessoa do Maestro e que muitas vezes obrigava a vários meses de formação de solfejo sem que o músico tivesse qual‑ quer contacto com o instrumento que iria tocar, provocava alguma desmotivação. Tendo consciência das necessidades dos alunos actuais, os professores da Euterpe perceberam que o contacto com o instrumento musical e a experiência prática devem ser feitos mais cedo. Assim, os alunos têm também a possibilidade de experimentar desde o início a prática instru‑ mental, tendo aulas individuais de instrumento que recorrem aos vários métodos normalmente usados no ensino minis‑ trado no Conservatório, onde são trabalhadas as várias com‑ ponentes musicais, tais como a técnica instrumental, a sono‑ ridade ou a expressividade. Também de forma semelhante ao que ocorre noutras bandas filarmónicas, a escolha do instru‑ mento por parte dos alunos tem de obedecer à disponibilidade do instrumental da Banda e às necessidades desta; Todavia, apesar desta condicionante, o aluno tem a possibilidade de escolher entre os vários instrumentos e tem também a opor‑ tunidade de os poder experimentar, escolhendo o que preferir. São muito raros os alunos que aqui chegam já com um instru‑ mento próprio e assim a Associação fornece de forma gra‑ tuita não só o ensino musical como também os instrumentos

be difficult to provide any other form of musical educa‑ tion. However, on many occasions the only method used involves that of the Conductor and often has required sev‑ eral months of solfeggio training without the musician hav‑ ing had any contact with the instrument they would play, leading to a certain level of demotivation. Being aware of the needs of current students, the teachers at the Euterpe realised that contact with the musical instrument and prac‑ tical experience should be offered sooner. In this way stu‑ dents also have the opportunity to try out and practise their instrument from the beginning, with individual instru‑ ment classes that utilise various methods commonly used in teaching at the Conservatory, where the various musi‑ cal components are worked on, such as instrumental tech‑ nique, sound or expressiveness. In addition, and similar to what happens in other philharmonic bands, the instrument chosen by students has to match the availability of instru‑ ments and the needs of the band. However, despite this con‑ straint, the student has the possibility of choosing between different instruments and also has the opportunity to try them out, and choose what they prefer. Very few students come here already with their own instrument and thus the Association provides not only free teaching but also musi‑ cal instruments and all the other material, and the mainte‑ nance of these instruments also falls to Euterpe, which con‑ stitutes a major investment by the Band. The decision as to when is the right time for the student to move from individ‑ ual classes to Band rehearsals is agreed between the Teach‑ ers of the School of Music and the Conductor who verifies that the student’s ability to read and his or her instrumen‑ tal technique matches what is required. Thus, going from the enrolment of future musicians in the School of Music to their total integration into the Band involves several steps:

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e todo o material, ficando também a cargo da Euterpe a manu‑ tenção destes instrumentos, o que constitui um grande inves‑ timento por parte da Banda. Também a decisão de quando será o momento certo para o aluno transitar das aulas indivi‑ duais para os ensaios da Banda é acordada entre os Professo‑ res da Escola de Música e o Maestro que atestam se a capaci‑ dade de leitura e a técnica instrumental do aluno corresponde ao pretendido. Assim, desde a entrada do futuro músico para a Escola de Música até à sua total integração na Banda, o per‑ curso passa por várias etapas: depois de escolhido/atribuído o instrumento e das consequentes aulas teóricas e práticas, o aluno passa a poder participar apenas nos ensaios semanais da Banda, começando então por tocar a terceira ou segunda voz (conforme os instrumentos). Nesta fase, o apoio dos cole‑ gas, não só dos que tocam o mesmo instrumento como tam‑ bém dos restantes membros do grupo, é fundamental para a integração do novo músico. Agora este aprendiz necessita de conhecer como na verdade funciona a banda filarmónica. São então os colegas que indicam o que fazer a cada gesto do Maestro e são estes que indicam na partitura o local onde a Banda está a tocar quando este, na tentativa de acompanhar o grupo, mas traído pela sua falta de prática, atrapalhado com os dedos ou com a embocadura, se perde e fica sem saber onde tocar. A insegurança inicial por parte do novo músico é bas‑ tante comum, passando com a prática e com a frequência nos ensaios, bem como pelo estudo individual. Após a fase em que os novos músicos apenas tocam nos ensaios, estes, demons‑ trando capacidades musicais para tal, podem então pas‑ sar a integrar a Banda em todos os concertos, sendo esta a última etapa na sua integração enquanto músico da Sociedade Euterpe. Em todas as etapas, a relação entre os músicos não é de todo uma relação meramente profissional, sendo criados com a passagem do tempo, como vimos, laços de amizade e 97

after having chosen/being assigned the instrument and the ensuing theoretical and practical lessons, the student is then able to participate in the weekly rehearsals of the Band, by then starting to play third or second voice (depending on the instruments). At this stage, the support of colleagues, not only those who play the same instrument but also the other members of the group, is crucial for the successful integration of the new musician. Now this apprentice needs to know how a philharmonic band actually works. It is thus his or her colleagues who show what to do for every gesture of the Conductor and it is they who show where in the score the band is playing when, in an attempt to follow the group, but betrayed by a lack of practice, he or she fumbles with the fingers or mouth, gets lost and does not know where to play. The initial uncertainty on the part of a new musician is quite common, but this passes with practice and attendance at rehearsals, and by private study. After the phase where new musicians only play at rehearsals, those who show the musical ability to do so, may then become part of Band dur‑ ing its concerts, which is the last step in their integration as a musician of the Euterpe Society. At all stages, the relation‑ ship between the musicians is not just a purely professional relationship, but, as we have seen, with the passage of time bonds of friendship and camaraderie are created among the musicians, ties which make the musicians, who are often far away from their city, for academic or professional reasons, still contribute to the Euterpe Society by playing in rehears‑ als and concerts whenever they can.

The “family Spirit”: the cultural and the social

The social role is as important as the cultural role for a philharmonic band. For many, it is an important means


camaradagem entre os músicos, laços estes que fazem com que muitas vezes os músicos que se encontram longe da sua cidade, por razões académicas ou profissionais, sempre que possam, dêem o seu contributo à Sociedade Euterpe e toquem nos dias de ensaio e concerto. O “Espírito familiar”: o cultural e o social Numa banda filarmónica, o seu papel social é tão ou mais importante que o seu papel cultural. Para muitos, este local é um importante meio para estabelecer e cultivar amizades entre pessoas provenientes de diversos meios socioculturais, amizades que se estabelecem não só entre os músicos da pró‑ pria banda como também com músicos de outras bandas. É também através da banda que vários músicos têm a oportu‑ nidade, tal como os próprios salientaram, “de conhecer pes‑ soas novas e lugares novos”50. Estas associações são também instituições sociais de carácter local, que constituem impor‑ tantes espaços de socialização e de representação tanto social como política51. Segundo os resultados apurados após a aná‑ lise dos inquéritos distribuídos, a grande maioria dos músi‑ cos afirma que a Euterpe significa para si em primeiro lugar um importante espaço de convívio, ficando em segundo lugar tanto o seu papel enquanto meio para conhecer novas pes‑ soas e novos locais, assim como o seu papel enquanto impor‑ tante meio de ensino e aperfeiçoamento musical. Para os últimos lugares ficaram as respostas que salientam a impor‑ tância desta Banda enquanto espaço de fruição musical e enquanto meio de projecção social52. Já outros músicos apre‑ sentam algumas respostas bastante curiosas no que diz res‑ peito ao significado que a Banda tem para si e que possivel‑ mente muito dependem da idade de quem responde: “para conhecer como uma Banda funciona e como todos os sons

of establishing and cultivating friendships between people from different cultural and social environments, friend‑ ships that are established not only among the musicians of the band itself but also with musicians from other bands. It is also through the band that the musicians have the opportunity, as they themselves emphasized, “to meet new people and get to know new places”50. These asso‑ ciations are also institutions of a social nature, and con‑ stitute important spaces for socialization and social as well as political representation51. According to the results obtained after analysing the surveys which were handed out, most of the musicians state that the Euterpe is above all an important social space, with the chance to meet new people and get to know new places coming in second place, alongside its role as an important means of musical teaching and improvement. Answers that highlighted the importance of this Philharmonic Band as a place for musi‑ cal enjoyment and as a means of social projection were placed in the final places52. Some musicians gave some

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Fotografia do acervo documental da Sociedade Musical Euterpe. Photo from Euterpe Musical Society archives.


e notas se misturam para criar música”53; ou “espírito fami‑ liar”54; ou “a música é um bom caminho para tudo”55. Apesar de muitos dos músicos que passaram pela Sociedade Euterpe desde a sua fundação em 1860 não terem prosseguido os seus estudos musicais e não terem ingressado numa car‑ reira profissional ligada à música, estas associações continuam a constituir um importante circuito musical amador, dando uma oportunidade quase única a músicos amadores de conti‑ nuarem com a sua actividade musical. Tal como refere Helena Lourosa56, “nos últimos anos tem­‑se acentuado uma tendência “eruditizante” na constituição e funções das filarmónicas, que tentam aproximar o seu repertório e actividades às orquestras na procura de uma certa afirmação artística. Também por esse motivo a sala de concerto é cada vez mais utilizada e há grupos que começaram a adoptar alguns instrumentos de corda”. Ape‑ sar de em muitas bandas se observar esta tendência tanto por parte das Direcções como dos maestros, aproximando­‑as mui‑ tas vezes do funcionamento de agrupamentos profissionais, há quem defenda afincadamente a permanência destes agru‑ pamentos como grupos unicamente dedicados à actividade musical amadora, uma vez que em Portugal e talvez nos res‑ tantes países ocidentais as oportunidades para músicos ama‑ dores tocarem um instrumento de sopro em grupo são muito escassas. Desta forma, também um dos músicos da Sociedade Euterpe confirma a importância deste local enquanto espaço privilegiado para os músicos amadores, referindo que uma das razões que o leva a permanecer na Sociedade Euterpe é o facto de “poder tocar em grupo”57. Como forma de complementar a actividade musical dos instrumentistas da S.M.E., foram criados vários pequenos grupos de música de câmara que desenvolvem a sua actividade tanto em concertos partilhados com a Banda como em con‑ certos individuais ou em pequenas apresentações nas esco‑ 99

very curious answers with regard to the meaning that the Band has for them, with this possibly depending to a large extent on the age of the respondent: “to get to know how a Band works and how all the sounds and notes blend together to create music”53; or “a family spirit”54; or “music is a good path for everything”55. Although many of the musicians who have passed through the Euterpe Society since its founding in 1860 have not pursued their musical studies or had a professional career in music, these associations remain an important amateur musical circuit, giving an almost unique opportu‑ nity to amateur musicians to continue their musical activ‑ ity. As Helena Lourosa stated56, “in recent years a ‘classical’ trend has been emphasized in the makeup and functions of the philharmonics, trying to bring their repertoire and activ‑ ities in line with orchestras in the search for a certain artis‑ tic statement. It is also for this reason that the concert hall is increasingly used and there are groups that have begun to include some stringed instruments”. While this trend can be observed in many bands both on the part of their Boards and also their musical directors, with them almost becoming professional groups, there are those who argue for the permanence of such groups as groups solely dedi‑ cated to amateur musical activity, since in Portugal and per‑ haps in other Western countries the opportunities for ama‑ teur musicians to play a wind instrument in an ensemble format are very scarce. In this way, one of the musicians of the Euterpe Society confirmed the importance of this place as a privileged space for amateur musicians, noting that one of the reasons that led him to remain in the Euterpe Society was the fact of “being able to play in a group”57. In order to supplement the musical activity of the S.M.E. musicians, several small chamber music groups were


las, de forma a divulgar a actividade da Sociedade Euterpe. Estes grupos são um incentivo ao trabalho dos músicos que aqui podem tocar outro tipo de repertório em conjunto com os seus colegas de naipe. Os grupos de música de câmara são formados a partir dos naipes das flautas transversais e dos clarinetes da Banda, podendo, a partir daqui, formar­‑se duos, trios ou quartetos. Segundo o Presidente da Direcção, está prevista a compra de duas novas flautas transversais de forma a completar os vários registos deste instrumento, sendo elas uma flauta alto e uma flauta baixo. É necessário também salientar que, apesar de realizar um trabalho ímpar a nível não só cultural, mas principalmente a nível social na cidade de Portalegre, a Sociedade Euterpe se assemelha em grande medida a outras associações filarmóni‑ cas do país. Embora seja uma grande preocupação não só a continuação do trabalho feito há uma centena e meia de anos como também a tentativa de apresentar trabalhos de carácter inovador, a Euterpe não está sozinha. Também outras bandas filarmónicas, tentando sobreviver à passagem do tempo e às consequentes mudanças de mentalidades e das necessidades da população jovem, têm a preocupação de se renovar, não só ao nível dos seus recursos humanos, como também ao nível do repertório e do formato das suas actuações, mantendo, no entanto, parte da sua filosofia inicial: a possibilidade de pro‑ porcionar o ensino musical e a actividade musical amadora a pessoas dos mais variados meios sociais, económicos e com as mais variadas formações académicas e actividades profis‑ sionais, bem como o seu papel enquanto pólo dinamizador da cultura em regiões onde a oferta cultural é escassa. É desta forma que a Sociedade Musical Euterpe de Portalegre tem como objectivo principal para o futuro a aposta numa “dinâmica massa jovem” cuja “vitalidade” e “dina‑ mismo”58 são absolutamente necessários para a continuação

established which perform both in joint concerts with the Band as well as in individual concerts or small presenta‑ tions in schools, so as to spread the activities of the Euterpe Society. These groups are an incentive for the work of the musicians who can play another type of repertoire together with their colleagues in their grouping. The chamber music groups are formed from the groupings of flutes and clari‑ nets of the Band and may form duos, trios or quartets. According to the Chairman of the Board, they are expect‑ ing to purchase two new flutes in order to complete the vari‑ ous registers of this instrument, with one being an alto flute and one a bass flute. It is also necessary to emphasize that despite having done an incomparable job not only culturally, but mainly socially in the city of Portalegre, the Euterpe Society largely resembles the other philharmonic associations in Portugal. Although it is a major concern not only to con‑ tinue the work of its hundred and fifty years but also to attempt to present innovative works, the Euterpe is not alone. Other philharmonic bands trying to survive the pas‑ sage of time and the consequent changes in attitudes and needs of young people, are also concerned with renewing themselves, not only in terms of their human resources, but also in terms of their repertoire and the format of their performances, while keeping, however, part of their initial philosophy: the possibility of providing musical education and amateur musical activity to people from many differ‑ ent social and economic backgrounds, as well as diverse academic levels and professions, as well as its role as a key culture promoter in regions where there is a lack of cul‑ tural events. This is the Euterpe Musical Society of Portalegre’s main goal for the future, betting on this “dynamic young mass”

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e enriquecimento do trabalho feito até agora por esta associa‑ ção com cento e cinquenta anos de existência. A Euterpe, tal como as restantes bandas filarmónicas do país, onde pode‑ mos encontrar pessoas de todos os estratos sociais e com os mais diversos backgrounds, é ainda hoje um meio fundamen‑ tal não só para a construção da identidade dos jovens porta‑ legrenses como também se afirma enquanto espaço privile‑ giado para a actividade musical amadora, sendo ao mesmo tempo um local de grande importância para a divulgação cul‑ tural e para a formação musical em Portalegre.

whose “vitality” and “dynamic”58 are absolutely essential for

Notas

Notes

LOUROSA, Helena – A polissemia da performance. Dimensões performativas da Banda Filarmónica a partir da análise musical e da história social deste agrupamento: Um estudo de caso. Aveiro: Comunicação apresentada no Performa’09, Maio de 2009. 2 Citação retirada dos dados provenientes da entrevista realizada a Miguel Mon‑ teiro no dia 8 de Julho de 2010, nas instalações da Sociedade Musical Euterpe de Portalegre. 3 Acta da Assembleia Geral de 19 de Outubro de 1865. 4 Cf. refere o sócio Rodrigues da Costa. 5 LAMEIRO, Paulo ­‑ Bandas Filarmónicas. In Castelo­‑Branco, Salwa (Ed.) Enciclopédia da Música em Portugal no Séc. XX. Lisboa: Temas e Debates e Círculo de Leitores, 2010. 6 Acta da Assembleia Geral de 21 de Maio de 1868. 7 Website da Sociedade Euterpe consultado a 27 de Julho de 2010 (www.smeu‑ terpe.com). 8 Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário dis‑ tribuído aos músicos da Sociedade Musical Euterpe de Portalegre, respondida por uma saxofonista do sexo feminino, com idade compreendida entre os 16 e os 20 anos. 9 Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário, respondida por um saxofonista do sexo masculino, com idade compreendida entre os 36 e os 40 anos. 10 Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário, res‑ pondida por um tubista do sexo masculino, com idade compreendida entre os 26 e os 30 anos. 11 Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário, respondida por uma clarinetista do sexo feminino, com idade compreendida entre os 11 e os 15 anos. 12 Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário, res‑ pondida por uma oboísta do sexo feminino, com idade compreendida entre os 11 e os 15 anos. 1

101

the continuation and enrichment of the work done so far by this association in its one hundred and fifty years of exist‑ ence. The Euterpe, like the other brass bands in the coun‑ try, where we can find people from all walks of life and the most diverse backgrounds, is still today a key resource in not only building the identity of the young people of Portalegre but also as a special locus of amateur musical activity, while being a place of great importance for cultural dissemination and musical training in Portalegre.

LOUROSA, Helena – A polissemia da performance. Dimensões performativas da

1

Banda Filarmónica a partir da análise musical e da história social deste agrupamento: Um estudo de caso. Aveiro Paper presented at Performa’09, May 2009. (The polysemy of performance. Performative dimensions of the Philhar‑ monic Band using a musical and social historical analysis of the group: A case study), Aveiro: Paper presented at Performa’09, May 2009.

Quotation taken from the interview with Miguel Monteiro on 8 July 2010

Minutes of the General Assembly of 19 October 1865.

Cf. this was referring to the member Rodrigues da Costa.

LAMEIRO, Paulo - Bandas Filarmónicas (Philharmonic Bands). In Castelo-

2

on the premises of the Euterpe Musical Society of Portalegre. 3 4 5

Branco, Salwa (Ed.) Enciclopédia da Música em Portugal no Séc. XX. (Encyclo‑ paedia of Twentieth Century Portuguese Music), Lisbon: Temas e Debates e Círculo de Leitores, 2010.

Minutes of the General Assembly of 21 May 1868.

Website of the Euterpe Society accessed on 27 July 2010 (www.smeuterpe.

Quotation taken from the reply given to question number eleven of the

6 7

com). 8

questionnaire distributed to musicians from the Euterpe Musical Society of Portalegre, answered by a female saxophone player, aged between 16 and 20 years of age.

Quotation taken from the reply given to question number eleven from the

9

questionnaire, given by a saxophonist, male gender, aged between 36 and 40 years of age.

10

Quotation taken from the reply given to question number eleven from the questionnaire, given by a tuba player, male gender, aged between 26 and 30 years of age.

11

Quotation taken from the reply given to question number eleven from the questionnaire, given by a clarinet player, female gender, aged between 11 and 15 years of age.


Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário, respondida por um percussionista do sexo masculino, com idade compreen‑ dida entre os 16 e os 20 anos. 14 Citação retirada do website www.guiadacidade.pt, consultado a 25 de Agosto de 2010. 15 Idem. 16 Carta de despedida gentilmente cedida por António Carrapiço (Outubro de 2005). 17 RUSSO, Susana Bilou – As Bandas Filarmónicas enquanto Património: um estudo de caso no Concelho de Évora (Dissertação de Mestrado em Antropolo‑ gia, Património e Identidades. Instituto Superior do Trabalho e da Empresa), 2007. 18 MOTA, Graça (ed.) – Crescer nas Bandas Filarmónicas – Um estudo sobre a construção da identidade musical dos jovens portugueses. Porto: Edições Afronta‑ mento, 2009. 19 Relatório apresentado pelo Tesoureiro Normando José Ferreira Pimenta de Castro no almoço comemorativo dos 124 anos da Sociedade Musical Euterpe. 20 LAMEIRO, Paulo – idem. 21 Estas referências são fruto da análise dos questionários distribuídos aos músicos da Sociedade Musical Euterpe a 8 de Julho de 2010. 22 LAMEIRO, Paulo – idem. 23 Segundo a acta da Assembleia Geral Ordinária de 28 de Abril de 1985. 24 Artigo referente à comemoração do 146.º aniversário da Sociedade Euterpe, disponível em http://www.bandasfilarmonicas.com/documentos/noticias/ portalegre.pdf. 25 Website da Sociedade Euterpe consultado a 27 de Julho de 2010 (www.smeu‑ terpe.com). 26 LAMEIRO, Paulo – idem. 27 Carta de despedida gentilmente cedida por António Carrapiço (Outubro de 2005). 28 Para um estudo quantitativo acerca da constituição instrumental das ban‑ das filarmónicas do Norte e Centro português, consultar o estudo de André GRANJO – The wind band movement in Portugal: praxis and conditionalities (Dis‑ sertação apresentada no Advanced Vocational Music Education Program: Har‑ monie, Fanfare and Brass­‑Band Conducting course. Zuid­‑Nederlandse Hoges‑ chool vorr Muziek, 2006). 29 Citação retirada da carta enviada a 27 de Agosto de 1993 a António Carra‑ piço pelos então Directores da Sociedade Musical Euterpe de Portalegre. 30 Veja­‑se, para um mais aprofundado conhecimento da biografia de Francisco Perdigão o artigo do jornal Distrito de Portalegre, n.º 4290 (24 de Janeiro de 1953) “Francisco José Perdigão e a Banda Euterpe”. 31 idem, ibidem. 32 idem, ibidem. 33 idem, ibidem. 34 Relatório da Direcção do Montepio de 22 de Novembro de 1886. 35 Distrito de Portalegre, n.º 4290 (24 de Janeiro de 1953). 36 Distrito de Portalegre, n.º 333 (10 de Setembro de 1890). 37 Distrito de Portalegre, n.º 388 (9 de Setembro de 1891). 38 Acta da Assembleia Geral de 4 de Maio de 1908. 39 Distrito de Portalegre, n.º 4287 (3 de Janeiro de 1952). 13

12

Quotation taken from the reply given to question number eleven from the questionnaire, given by an oboe player, female gender, aged between 11 and 15 years of age.

13

Quotation taken from the reply given to question number eleven from the questionnaire, given by a percussionist, male gender, aged between 16 and 20 years of age.

14

Quotation taken from the website www.guiadacidade.pt, accessed on 25 August 2010.

Idem.

15

16

17

Farewell letter kindly supplied by António Carrapiço (October 2005). RUSSO, Susana Bilou – As Bandas Filarmónicas enquanto Património: um estudo de caso no Concelho de Évora (The Philharmonic Bands as Patrimony: A Case Study in the District of Évora – Master Dissertation in Anthropology, Patri‑ mony and Identities. Instituto Superior do Trabalho e da Empresa), 2007.

18

MOTA, Graça (ed.) – Crescer nas Bandas Filarmónicas – Um estudo sobre a construção da identidade musical dos jovens portugueses. (Growing up in the Philhar‑ monic Bands – A Study into the construction of the musical identity of Portu‑ guese young people) Porto: Edições Afrontamento, 2009.

Report submitted to the Treasurer Normando José Ferreira Pimenta de Cas‑

LAMEIRO, Paulo – idem.

19

tro at the lunch to mark the 124th anniversary of the Euterpe Musical Society. 20

21

These references come from the analysis made of the questionnaires handed out to the musicians of the Euterpe Musical Society on 8 July 2010.

LAMEIRO, Paulo – idem.

According to the minutes of the General Assembly Meeting of 28 April 1985.

Article referring to the commemorations to mark the 146th anniversary of the

22 23 24

Euterpe Society, available at http://www.bandasfilarmonicas.com/documen‑ tos/noticias/portalegre.pdf

Website of the Euterpe Society accessed on 27 July 2010 (www.smeuterpe.com).

LAMEIRO, Paulo – idem.

25

26

Farewell letter kindly supplied by António Carrapiço (October 2005).

For a quantitative study concerning the instrumentation of the Philharmonic

27 28

Bands of the North and South of Portugal, consult the study by André GRANJO – The wind band movement in Portugal: praxis and conditionalities (Dissertation presented on the Advanced Vocational Music Education Program: Harmony, Fanfare and Brass-Band Conducting course. Zuid-Nederlandse Hogeschool vorr Muziek, 2006).

29

Quotation taken from the letter sent on 27 August 1993 to António Carrapiço by the Board of Directors of the Euterpe Musical Society of Portalegre.

30

For a more detailed biography of Francisco Perdigão, see the article from the newspaper Distrito de Portalegre, No. 4290 (24 January 1953) “Francisco José Perdigão e a Banda Euterpe”.

idem, ibidem

idem, ibidem

idem, ibidem

Report from the Board of the Montepio, 22 November 1886.

Distrito de Portalegre, No. 4290 (24 January 1953)

Distrito de Portalegre, No. 333 (10 September 1890)

Distrito de Portalegre, No. 388 (9 September 1891)

Minutes of the General Assembly of 4 May 1908

Distrito de Portalegre, No. 4287 (3 January 1952)

31 32 33 34 35 36 37 38 39

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42 43 44 40 41

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55

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Distrito de Portalegre, n.º 2665 (18 de Julho de 1920). Acta da Assembleia Geral de Julho de 1922. Cf. um folheto promocional da Euterpe datado de 12 de Junho de 1958. MOTA, Graça – idem. Carta de despedida gentilmente cedida por António Carrapiço (Outubro de 2005). Documento relativo às comemorações dos 125 anos da Sociedade Musical Euterpe de Portalegre. Distrito de Portalegre, n.º 2609 (22de Junho de 1919). CASTELO­‑BRANCO, Salwa e LIMA, Maria João – Práticas Musicais Locais: Alguns Indicadores Preliminares. OBS 4 Revista do Observatório das Actividades Culturais. Lisboa: Observatório das Actividades Culturais, 1998. Acta da Assembleia Geral de 15 de Março de 1926. Distrito de Portalegre, n.º 2665 (27 de Maio de 1928). Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário, res‑ pondida por uma clarinetista do sexo feminino com idade entre os 11 e os 15 anos. LAMEIRO, Paulo – idem. Estas referências são fruto da análise dos questionários distribuídos aos músi‑ cos da Sociedade Musical Euterpe a 8 de Julho de 2010. Citação retirada da resposta dada à questão número doze do questionário, res‑ pondida por uma oboísta do sexo feminino, com idade compreendida entre os 11 e os 15 anos. Citação retirada da resposta dada à questão número doze do questionário, respondida por um saxofonista do sexo masculino, com idade compreendida entre os 36 e os 40 anos. Citação retirada da resposta dada à questão número doze do questionário, res‑ pondida por uma percussionista do sexo feminino, com idade compreendida entre os 60 e os 65 anos. LOUROSA, Helena – idem. Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário, res‑ pondida por um clarinetista do sexo masculino com idade compreendida entre os 41 e os 45 anos. Website da Sociedade Euterpe consultado a 27 de Julho de 2010 (www.smeu‑ terpe.com).

Distrito de Portalegre, No. 2665 (18 July 1920)

Minutes of the General Assembly of July 1922

Cf. a promotional pamphlet from the Euterpe dated 12 June 1958.

MOTA, Graça – idem.

Farewell letter kindly supplied by António Carrapiço (October 2005).

Document concerning the commemorations to mark 125 years of the

Distrito de Portalegre, No. 2609 (22 June 1919).

CASTELO-BRANCO, Salwa and LIMA, Maria João – Práticas Musicais

40 41 42 43 44 45

Euterpe Musical Society of Portalegre. 46 47

Locais: Alguns Indicadores Preliminares. (Local Musical Practices. Some Preliminary Indicators) OBS 4 Revista do Observatório das Actividades Culturais. Lisboa: Observatório das Actividades Culturais, 1998.

Minutes of the General Assembly of 15 March 1926.

Distrito de Portalegre, No. 2665 (27 May 1928).

Quotation taken from the reply given to question number eleven of the

48 49 50

questionnaire, answered by a clarinet player, female gender, aged between 11 and 15 years of age.

LAMEIRO, Paulo – idem.

These references come from the analysis made of the questionnaires

Quotation taken from the reply given to question number eleven of the

51

52

handed out to the musicians of the Euterpe Musical Society on 8 July 2010. 53

questionnaire, answered by an oboe player, female gender, aged between 11 and 15 years of age.

54

Quotation taken from the reply given to question number eleven of the questionnaire, answered by a saxophone player, male gender, aged between 36 and 40 years of age.

55

Quotation taken from the reply given to question number eleven of the questionnaire, answered by a percussionist, female gender, aged between 60 and 65 years of age.

LOUROSA, Helena – idem.

Quotation taken from the reply given to question number eleven of the

56 57

questionnaire, answered by a clarinet player, male gender, aged between 41 and 45 years of age.

58

Website of the Euterpe Society accessed on 27 July 2010 (www.smeuterpe. com).


Notas finais Final remarks

Renato Pistola Sofia Lopes

Publicações da Fundação Robinson 17, 2012, p. 104­‑109, ISSN 1646­‑7116


Quando começámos a estudar a História da Euterpe esperávamos encontrar uma documentação escassa e desor‑ ganizada, enfim, um puzzle de informação descontínua que só uma enorme minúcia poderia reconstituir. Foi então com agradável surpresa que entrámos no arquivo da Euterpe e deparámo-nos com o cenário oposto, ou seja, encontrámos um manancial de documentação vasta e rica que nos per‑ mitiu uma aproximação segura à evolução da Banda desde o século XIX aos nossos dias. Importa destacar, em pri‑ meiro lugar, a documentação que se refere à vertente admi‑ nistrativa da Associação, mormente os livros de Actas da Assembleia Geral, da Direcção e do Conselho Fiscal. Tam‑ bém merecem um realce os livros de Relatórios e Contas cuja informação optámos por não incluir no nosso trabalho evitando levar o leitor para áreas demasiado específicas da gerência da Associação, mas os quais pretendemos empre‑ gar na investigação mais extensa que levamos a cabo sobre os montepios em Portugal. Neste sentido, este trabalho não deve ser entendido como uma História final e decisiva da Euterpe mas como uma introdução, uma sinopse das vivên‑ cias da Banda, para que Portalegre conheça melhor a sua filarmónica e os principais episódios da sua existência. Amplamente relevante também, é a informação respei‑ tante à secção musical da Associação, o seu coração actual, por assim dizer, com as suas pautas, os instrumentos, o far‑ damento e, uma parte muito importante, as histórias conta‑ das oralmente, quer por quem as presenciou quer por quem delas ouviu falar de mais perto. Felizmente, tudo fica numa memória que permanece nas sucessivas gerações de euterpianos que se vão sucedendo. Em função da riqueza da informação disponível, para dar a conhecer o que é a Euterpe impunha­‑se prosseguir por duas vias interligadas entre si. Por um lado revelar a evo‑ 105

When we began to study the history of the Euterpe we expected to find sparse and disorganized documentation – in fact, a puzzle of discontinuous information that only minutious work could hope to reconstitute. It was thus a pleasant surprise upon entering the Euterpe archives to dis‑ cover the opposite scenario, i.e. we found a wealth of vast and rich documentation that allowed us to safely document the evolution of the Philharmonic Band from the nineteenth century until the present day. It is important to highlight, firstly, that the documentation refers to the administrative side of the Association, especially the books of Minutes of the General Assembly, the Board and the Audit Committee. Also worthy of note is the information from the Accounts books which we chose not to include in our work to avoid the reader having to deal with areas which are too specific in terms of the management of the Association, but which we intend to employ in more extensive research carried out on Portuguese montepios. In this sense, this work should not be understood as a final and decisive history of the Euterpe but as an introduction, an overview of the experiences of the Philharmonic Band, so that Portalegre can get to know the Philharmonic and the principal events of its existence. Completely of relevance, as well, is the information concerning the musical side of the Association, its current heartbeat, so to speak, with its staves, its instruments, its uniforms, and a very important part, the stories told orally, by those who witnessed them or were told to them by peo‑ ple close to the events. Fortunately, all remains in a mem‑ ory which will remain for successive generations of euterpianos still to come. Due to the wealth of information available, to make known what the Euterpe is enabled us to proceed in two interconnected ways. Firstly, to show the historical develop‑


lução histórica da Associação, que trilhos foram percorri‑ dos até chegar à forma como a conhecemos hoje; por outro lado, dar a conhecer as principais questões específicas de uma banda, não só ao longo do tempo, mas sobretudo nos anos mais recentes. Foi esta dualidade presente na existên‑ cia da Euterpe que exigiu positivamente uma parceria entre a metodologia própria da História e os saberes mais espe‑ cíficos da Musicologia. O investigador procurou construir, essencialmente, a linearidade das opções tomadas desde a formação da Banda e do Montepio até ao tempo presente, relatando os factos principais, a relação da Associação com Portalegre e com as suas gentes, em suma, a evolução histó‑ rica da Associação, procurando enquadrá­‑la na vivência glo‑ bal da História do país. A musicóloga, por sua vez, analisou essencialmente o passado recente e o presente, enquadrando a Banda no quadro mais geral das bandas filarmónicas. Da dualidade complementar do nosso trabalho esperamos que se destaque, essencialmente, uma harmonia cristalina. O resultado final traduz­‑se assim numa primeira parte da obra que versa sobretudo sobre a evolução geral da existên‑ cia da Euterpe, enquanto a segunda parte se debruça par‑ ticularmente sobre as especificidades de uma filarmónica, quer no seu passado, quer no tempo presente. Sobre a evolução histórica da Associação enquanto tal, acreditamos que o essencial está referido. Resta apenas uma palavra para sublinhar a necessidade de preservar e organi‑ zar, seguindo os desígnios da arquivística, um arquivo rico como é o da Euterpe Portalegrense que o futuro não gostaria com certeza de perder. Sobre a vertente estritamente musi‑ cal, importa olhar agora essencialmente para o futuro. E, consequentemente, uma pergunta impõe­‑se: face às mudan‑ ças sociais que se têm vindo a assistir em Portugal, que em grande medida também afectam as bandas filarmónicas,

ment of the Association, the paths of which were traversed to reach the form we know it as today; secondly, to get to know the main issues specific to a philharmonic band, not only over time, but especially in more recent years. It is this duality of existence of the Euterpe that actively demanded a partnership between the methodology of history itself and the more specific knowledge of Musicology. The researcher has sought to essentially construct the linearity of the choices made since the setting up of the philharmonic band and the Montepio until the present day, reporting the main facts, the relationship of the Association with Portalegre and its people; in short, the historical evolution of the Asso‑ ciation, trying to fit it within the overall experience of the country’s history. The musicologist, in turn, essentially examined the recent past and the present, contextualis‑ ing the Band within the wider framework of philharmonic bands. The complementary duality of our work hopefully has become as a crystalline harmony. The final result is thus a first part of the work which deals mainly with the general evolution of the existence of the Euterpe, while the second part focuses particularly on the specifics of a philharmonic, both in terms of its past, and its present. As regards the historical evolution of the Associa‑ tion as such, we believe that what is fundamental has been described. There only remains a word to emphasize the need to preserve and organize, following the stand‑ ard archival practices, an archive as rich as that of the Por‑ talegre Euterpe that the future would certainly not want to lose. On the strictly musical side, it is important now to look essentially to the future. And, consequently, a ques‑ tion must arise: given the social changes that we have been witnessing in Portugal, which have also greatly affected the philharmonic bands, how are these groups going to sur‑

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como poderão estes agrupamentos sobreviver? Desde a sua criação que as filarmónicas portuguesas se têm visto obriga‑ das a acompanhar os interesses da população em geral e, em particular, daqueles que as integram, enfrentando inúme‑ ros desafios para manter a sua actividade. A Euterpe, como vimos, não foi excepção. Até meados do século XX as ban‑ das filarmónicas ocupavam o papel principal na dinamização musical das suas localidades, não só se afigurando como um importante pólo de dinamização da prática musical de carác‑ ter amador, como realizando concertos em espaços abertos ou sendo a principal atracção musical de uma festa religiosa. A rua vinha sendo o local natural para a actuação de uma banda com as características da Euterpe. Mas actualmente as exigências são outras e a adaptação destas associações ao tempo presente tem sido feita no sentido de adaptar o seu repertório aos gostos de quem as ouve e de quem as integra e aos espaços onde se realizam as suas actuações. Neste sen‑ tido, as bandas filarmónicas têm conhecido uma tendência para abandonar a rua, o seu anterior palco natural, para ocu‑ par um lugar cada vez mais presente nas salas de concerto. No mesmo sentido, esta mutação afasta­‑as igualmente do perfil das suas congéneres militares e, igualmente, da forte ligação que tinham às práticas religiosas. E a mudança por‑ que passam actualmente as filarmónicas leva também a pro‑ mover profundas alterações nos seus repertórios, procu‑ rando fincar a sua sobrevivência, por vezes sofregamente, na satisfação dos gostos no quadro social português que, natu‑ ralmente, se vão alterando. Percebe­‑se assim que hoje estas bandas prefiram um repertório escrito especificamente para agrupamentos com as suas características, adaptando para isso a sua constituição instrumental e apostando no ensino musical como via de captação de músicos e de capitais de que necessitam. Mas será este o caminho a seguir? 107

vive? Since their inception, the Portuguese philharmon‑ ics have been obliged to follow the interests of the popu‑ lation in general and, in particular, those that form part of them, facing numerous challenges to maintain their activ‑ ity. The Euterpe, as we have seen, was no exception. Until the mid-twentieth century philharmonic bands occupied the leading role in the musical promotion of their locali‑ ties, not only being seen as an important centre for pro‑ moting musical activity at an amateur level, but also per‑ forming concerts in the open air or being the main musi‑ cal attraction at a religious festival. The street has been the natural concert hall for a performance by a philharmonic band with the characteristics of the Euterpe. But nowa‑ days needs are different and the adaptation of these asso‑ ciations to the present day has been carried out in terms of adapting their repertoire to the tastes of those who lis‑ ten to them and those to be found in the spaces where they perform their concerts. In this sense, the philharmonic bands have seen a tendency to abandon the street, their previous natural stage, to occupy and be increasingly pre‑ sent in the concert hall. Likewise, this mutation has also distanced them from the profile of their military counter‑ parts and, also, the strong ties that they had to religious practices. And the change currently happening to the phil‑ harmonics is leading them to make fundamental changes to their repertoires, seeking to ensure their survival, some‑ times eagerly, to satisfy the tastes of the Portuguese social framework which is of course undergoing change. It can be seen how these bands nowadays prefer a repertoire writ‑ ten specifically for groups with their features, adapted to their musical makeup and investing in musical education as a means of attracting the musicians and the capital they need. But is this the way forward?


O exemplo da Euterpe parece sugerir que estes agrupa‑ mentos só poderão sobreviver mantendo uma idiossincrasia muito próxima daquilo que sempre foram, ou seja, desenvol‑ vendo um importante papel enquanto espaço privilegiado para a actividade musical amadora e mantendo a sua fun‑ ção de pólo dinamizador da actividade musical dentro das localidades onde se inserem. Na verdade, é importante não o esquecer, foi uma singular reunião de pessoas das mais varia‑ das idades, proveniências, actividades profissionais, habili‑ tações e, porventura, gostos, que deram forma à Euterpe. Sobretudo porque se encontravam unidas pela amizade, pelo espírito de companheirismo e de grupo e, essencial‑ mente, pelo gosto em comum pela música que permitiu que a Euterpe fosse ultrapassando os mais diversos obstáculos. Neste sentido, não obstante a atracção em se adaptar às exi‑ gências correntes, importa à Euterpe compreender a melhor forma de o conseguir não esquecendo que, tal como no pas‑ sado, a sua sobrevivência dependerá sempre da capacidade em manter único o seu espaço de existência por entre todas as sensibilidades existentes em Portalegre. Neste sentido, a mudança para o Espaço Robinson representa simultane‑ amente um desafio e um novo incentivo para que a Euterpe, gozando de condições únicas para o seu funcionamento, saiba construir com sucesso uma nova etapa da sua já longa existência continuando a estar presente nos momentos mais importantes da vida dos portalegrenses. Resta­‑nos agradecer a simpatia com que fomos recebidos pelos músicos, maestro e corpos directivos, que se mostra‑ ram sempre disponíveis para colaborar na construção desta obra que só seria possível graças à sua disponibilidade e aos seus testemunhos. Agradecemos especialmente a simpatia do Sr. António Carrapiço, que amavelmente recorreu às suas memórias e nos contou o seu percurso de mais de 70 anos

The example of the Euterpe seems to suggest that these groups can only survive by keeping an idiosyncrasy very close to what they have always been, i.e., developing an important role as a privileged space for amateur musi‑ cal activity and maintaining their function as a centre pro‑ moting musical activity within the places where they are located. In fact, it is important not to forget that it was a unique gathering of people of various ages, backgrounds, occupations, qualifications and, perhaps, tastes, which gave rise to the Euterpe. Especially since they were united by friendship, by the spirit of fellowship and the group and, ultimately, the common love of music which ena‑ bled the Euterpe to surpass its many and diverse obsta‑ cles. In this sense, despite the attraction to adapt to cur‑ rent demands, it is important for the Euterpe to under‑ stand the best way to achieve this without forgetting that, just as in the past, its survival will always depend on the ability to keep its space of existence unique among all the other sensibilities existing in Portalegre. In this sense, the move to the Robinson Space represents both a chal‑ lenge and a new incentive for the Euterpe, so that as it enjoys the unique conditions provided for its operation, it knows how to build a successful new phase in its long existence, continuing to be present at the most impor‑ tant moments in the life of the people of Portalegre. It remains for us to express our thanks for the kind man‑ ner in which we were received by the musicians, the con‑ ductor its managerial bodies, who were always available to help us in the construction of this work which has only been possible thanks to their availability and their testi‑ monies. We would especially like to thank Sr. António Car‑ rapiço or his kindness, in kindly drawing on his memories and telling us his journey of over 70 years as a member of

108


na Euterpe, disponibilizando os seus documentos. Os nos‑ sos agradecimentos vão igualmente para a equipa da Funda‑ ção Robinson com a qual sempre contámos e também pela oportunidade que oferece ao estudo do universo musical das bandas filarmónicas em Portugal. Agradecemos também à Câmara Municipal de Portalegre todo o apoio concedido ao longo da realização desta obra.

109

the Euterpe, making available his documents. Our thanks go also to the Robinson Foundation team which we have always been able to count on and also for the opportunity this offers for the study of the musical universe of phil‑ harmonic bands in Portugal. We would also like to thank the Municipality of Portalegre for all the support granted throughout the completion of this work.


Resumos e palavras­‑chave Abstracts and key­‑words Resúmenes y palabras clave

Publicações da Fundação Robinson 17, 2011, p. 110­‑111, ISSN 1646­‑7116

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PORTUGUÊS

e n glis h

espa ñ ol

Novos Habitantes Sociedade Musical Euterpe

New Inhabitants Euterpe Musical Society

Nuevos Habitantes Sociedad Musical Euterpe

Há mais de 150 anos que a “velhinha” Euterpe,

For over 150 years the “old lady” Euterpe, founded

Hace más de 150 años que la “anciana” Euterpe,

fundada a 1 de Dezembro de 1860, dá música à

on 1 December 1860, has provided the city with

fundada el 1 de diciembre de 1860, pone música a

cidade e participa no seu quotidiano, pautando‑

music and participated in its daily life, in terms of

la ciudad y es partícipe de su cuotidiano, paután‑

-o com som e com mestria. O seu nascimento e

its sound and mastery. Its birth and development

dolo con sonido y maestría. Su nacimiento y desa‑

desenvolvimento estão indelevelmente ligados à

are indelibly linked to the mutualistic association

rrollo están indeleblemente conectados a la asocia‑

associação mutualista Montepio Euterpe Portale-

Montepio Euterpe Portalegre, where the Philhar‑

ción mutualista Montepío Euterpe Portalegrense,

grense, na qual a filarmónica representava uma

monic represented a cultural and recreational side

en la que la filarmónica representaba una vertiente

vertente cultural e recreativa que acabou, no

which, however, ended up asserting itself and con‑

cultural y recreativa que acabó, sin embargo, por

entanto, por se afirmar e por se manter mesmo

tinuing on after the winding up of the association

afirmarse y mantenerse incluso después de la extin‑

após a extinção da associação, em 1934. O impor‑

in 1934. The important Euterpe documentary col‑

ción de la asociación, en 1934. El importante acervo

tante acervo documental da Euterpe e outras fon‑

lection and other documentary sources from Por‑

documental de Euterpe y otras fuentes documenta‑

tes documentais de Portalegre permitem-nos

talegre have enabled us in this study to follow the

les de Portalegre nos permiten seguir en ésta inves‑

acompanhar neste estudo a evolução da Banda

evolution of the Philharmonic Band throughout

tigación la evolución del grupo musical a lo largo de

ao longo de século e meio, uma História que a

a century and a half, a history that the Euterpe

siglo y medio, una Historia que Euterpe comparte

Euterpe partilha com a sua cidade.

shares with its city.

con su ciudad.

palavras­‑chave História Música Associação mutualista Portalegre Montepio Euterpe Portalegrense Sociedade Musical Euterpe

keywords History Music Mutualistic association Portalegre Montepio Euterpe Portalegrense Sociedade Musical Euterpe

Palabras clave Historia Música Asociación mutualista Portalegre Montepío Euterpe Portalegrense Sociedad Musical Euterpe

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