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Vivek Bommi

Não nos podíamos sentar com Vivek Bommi em dia mais incerto. A guerra na Ucrânia chegava ao décimo quinto dia, e apenas uma hora mais tarde estava prevista a reunião do Banco Central Europeu, a primeira comunicação ao mercado desde que estalou o conflito. É um contexto de mercado que requer agilidade; flexibilidade. E sobretudo temperança. Se há algo que Bommi tem claro é que a resolução deste conflito não será fácil nem rápida, pelo que há que ter em mente a ideia de um cenário de menor crescimento global. Mas a volatilidade não é algo que inquiete o gestor. “No final de contas, somos gestores ativos por PARTNER algo”, sentencia. ER NT PAR

DIRETOR DE OBRIGAÇÕES EUROPEIAS E DIRETOR DE CRÉDITO EUROPEU E GLOBAL

ivemos tempos incertos. É uma frase que V parece que perdeu um pouco do valor tendo em conta que em apenas dois anos temos vivido uma pandemia com a sua consequente crise económica. Mas a verdade é que agora nos encontramos imersos noutro acontecimento que marcará os livros de história. Uma guerra. Uma guerra na Europa, para além disso, que é algo que não víamos desde os anos 80. E não é o único eco que nos chega do passado. Os níveis de inflaçãonos países desenvolvidos também nos transportam para os anos 70. Neste contexto de muito mais perguntas do que respostas, sentamo-nos com Vivek Bommi, responsável pelas estratégias de obrigações europeias da AllianceBernstein.

Assim, a pergunta sobre o cenário central em que se move é mais complexa do que nunca. “Inclusive se o conflitoterminasse rápido, algo que é pouco provável, mas não descartável, não ficaclaro que as sanções impostas à Rússia seriam levantadas de imediato”, reconhece Bommi. Isso significaque há que trabalhar com um cenário de menor crescimento. Porque o gestor também não vê fatores que voltem a baixar os preços da energia. Ao fime ao cabo, o crude e outras matérias primas já se encontravam numa senda de subida, inclusive antes do conflito.

E se o cenário macroeconómico mudou, também terá que adaptar-se o discurso dos bancos centrais. Sim, outra vez. “Há dois meses esperava-se que o Banco Central Europeu se desligasse das subidas de taxas que estava a encarar a Reserva Federal. Colocou-se no preço um BCE mais agressivo e restritivo. E agora? Agora talvez tenham de pivotear de novo. A reflexãoque temos de fazer como gestores é sobre o que implica passar de uma subida de taxas em 2022 para nenhuma”, interpreta Bommi.

Mas, se o BCE optar por uma senda de normalização monetária, isso implica que no médio prazo terão que ser mais agressivos? Na opinião do gestor, não necessariamente. “Há que perguntar: para que é que um banco central sobe as taxas de juro? Para desacelerar uma economia. De certo modo, a própria inflaçãojá é também um travão no crescimento”, diz o gestor. “Uma subida de taxas não trava a inflação.É mais uma consequência secundária. Se sobem as taxas, trava-se a procura, e isso, por sua vez, esfria as subidas dos preços”, acrescenta.

A inflaçãocontinua a ser a grande incógnita para os mercados. Para além de como se desenvolvem os eventos exógenos, como é o caso da geopolítica. Por exemplo, soam cada vez mais os temores de um cenário de estagflação como os vividos nos anos 70. Ou seja, um ciclo de elevada inflação,mas com um crescimento débil. O gestor não acredita que estejamos nesse ponto. “O aumento dos preços do crude nos anos 70 deveu-se a um choque na oferta. Agora não estamos nessa situação. O petróleo que a Rússia produz não desapareceu do mercado”, argumenta.

AGILIDADE

E como se traduz tudo isto numa carteira de obrigações? Em primeiro lugar, tudo requer muita agilidade. Em questão de semanas as carteiras tiveram que se adaptar a um cisne negro. Mas isso não é algo que inquiete Bommi. “A volatilidade não nos assusta. No finalde contas, somos gestores ativos por algum motivo”, sentencia o gestor.

O que se pode fazer é extrair algumas lições destas jornadas de volatilidade. A principal: que um ativo refúgio não se valoriza até que seja verdadeiramente necessário. Falamos, claro, das obrigações governamentais. “Antes de ter estalado a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o apetite por governamentais estava em mínimos, mas quando chegou o pico de volatilidade os ativos refúgio voltaram a aportar valor”, defende. Por isso, o gestor vê valor em estabelecer um equilíbrio entre obrigações corporativas e sobe-

“A VOLATILIDADE NÃO NOS ASSUSTA. NO FINAL DE CONTAS, SOMOS GESTORES ATIVOS POR ALGO”

UMA VISÃO 360º DAS OBRIGAÇÕES EUROPEIAS

Vivek Bommi é diretor de obrigações europeias e diretor de crédito europeu e global na AllianceBernstein. O gestor lidera as equipas da AB de obrigações europeias/britânicas, obrigações europeias, obrigações euro high yield, crédito finaneiro e crédito global. Conta com mais de 20 anos de experiência em investimentos, com expertise tanto em investigação como na gestão de carteiras.

ranas. Na verdade, a sua alocação a obrigações de governos rondava os 35% a meio de março. Quanto à sua exposição a crédito, estão a enfocar-se na parte de maior qualidade de crédito dentro do high yield. Por sua vez, estão a reduzir a posição em obrigações triplo C.

É o posicionamento que Bommi está a aplicar a várias das estratégias que gere. Entre elas, o AB European Income Portfolio. Este fundo de obrigações europeias com orientação para a geração de rendimentos tem o duplo objetivo de maximizar o retorno atual enquanto preserva capital. Para o conseguir mantém uma carteira diversificadade títulos de obrigações com uma classificaçãode grau de investimento e inferior ao grau de investimento, emitidas por empresas e governos europeus. Também tem flexibilidadepara investir em alguns emitentes não europeus. Assim, a equipa gestora aplica um enfoque multisetorial em busca das melhores oportunidades. O resultado é uma carteira que compensa de forma dinâmica os ativos de obrigações high yield denominados em euros com as obrigações de dívida pública de baixo risco, para obter rentabilidade de diversas fontes.

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