STUDIO CENTRO DE MOVIMENTO
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA/Arquitetura e Urbanismo TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO/GABRIELA HALL BANKI graduanda RODRIGO GONÇALVES DOS SANTOS orientador 2016
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CONCEITO
PLANTAS
CORTES
O primeiro nome era ESCOLA. Porém, o título escola traz consigo um subconsciente dos modelos tradicionais de ensino, onde o aprendizado é um sistema de mão única. Um ser é esclarecido e detentor do conhecimento, enquanto os outros apenas absorvem aquela informação. O nome STUDIO busca trazer uma abordagem mais ampla, mais fluida, mais plural. Esse Studio é um lugar de troca, de compartilhamento, onde cada um tem algo a oferecer e a acrescentar. É o espaço do todo, onde aprender e ensinar estão intrínsecos a todos que dele fazer parte.
O número vinte e nove é uma homenagem e uma referência ao DIA INTERNACIONAL DA DANÇA, em 29 de abril, estabelecido pela UNESCO. Utilizar esse número é uma forma de celebrar essa data e trazer visibilidade à dança e à sua importância cultural no mundo todo.
É através do MOVIMENTO que as pessoas entendem a si mesmas, entendem o mundo, se expressam, se emocionam e fazem emocionar. O movimento é aquilo que transcende a fala, transcende as relações humanas e é carregado de sentimento.Esse espaço busca não ser só um centro de DANÇA, mas sim um ESTÚDIO DO CORPO, de descoberta da beleza e das possibilidades de movimento de cada indivíduo. Um local onde cada corpo, na sua forma e medida, possa efetivamente caber e se fazer notar, se fazer desabrochar.
O conceito para a espacialização da proposta foi inspirado pelo projeto chamado Tesseract of Time. Esse projeto consistiu em uma apresentação de dança criada a partir da parceria entre o arquiteto Steve Holl e a coreógrafa Jessica Lang. Eles buscaram construir uma mescla entre a arquitetura e a dança no tempo e espaço, apropriando-se das características mais permanentes da arquitetura e da efemeridade de uma performance de dança. O espetáculo é dividido em quatro atos, os quais representam as quatro formas da arquitetura de se relacionar com o espaço: UNDER, IN, ON E OVER. (Algo que poderia ser traduzido como ABAIXO, DENTRO, EM CONTATO E ACIMA). Em cada uma dessas etapas os bailarinos se relacionam de diferentes formas com elementos arquitetônicos, com variações de cores, intensidades e tensões. A partir disso, decidiu-se desenvolver a proposta do projeto com três atos (mesclando IN e ON, os quais tem fortes semelhanças.). Cada ato representa uma parte do projeto, na qual o corpo e o movimento se relacionam de uma forma diferente com a arquitetura. Em cada espaço as atividades são variadas e cada uma representa também uma das três etapas do aprendizado da dança.
A implantação do projeto foi feita buscando um térreo menos denso, com bastante área pública, localizando as construções mais ao leste do terreno. (Destacando que as plantas estão posicionadas com o norte à esquerda da folha. Logo, a fachada direita é a sul, acima é leste e abaixo é oeste). A porção mais a oeste é então uma praça com desenho de linhas simples, voltada à rua principal e se estende como uma continuidade da Praça Nossa Senhora de Fátima. Essa praça se transforma em uma arquibancada de inclinação muito suave, a qual cria um espaço para assistir apresentações. Essas apresentações podem ocorrer tanto no deck de madeira, de forma mais informal, tanto quando o palco do teatro se abre para fora, voltando-se para a praça e criando uma interação dinâmica entre esses dois locais. Foi criado um eixo forte e contínuo que atravessa o projeto no sentido leste-oeste, conectando o bairro com a Beira Mar Continental através do terreno incorporado como pocket park, citado anteriormente. Esse caminho busca ser livre e direto, convidando as pessoas que não conhecem o local a atravessarem por ele, tornando o Studio uma rota de passagem importante. Esse caminho é destacado por ter um piso diferente dos demais e ser acompanhado por um espelho d’água, além de algumas vegetações de maior porte. Ao longo desse percurso, o visitante pode observar apresentações ao ar livre, ter um vislumbre das atividades internas e ir aos poucos descobrindo as funções do edifício. Esse caminho atravessa o pátio central em madeira, o qual é o espaço que une os dois blocos. É nele que as atividades de dança se expandem para o lado de fora.O acesso pela fachada norte do projeto segue um desenho de piso semelhante ao da praça, dando unidade à proposta. Há um jogo de diferentes pisos e vegetações que cria uma arquibancada dinâmica, a qual leva o visitante para o subsolo, onde acontecem as principais atividades do corpo nesse edifício. Há também uma rampa acessível e um caminho direto para acesso do nível térreo. Na descida para o subsolo, o visitante é acolhido primeiramente pela sombra do pavimento em balanço, chegando em um deck de apresentações e apropriações artísticas ao ar livre. Essa fachada é envidraçada e pode ser aberta para ampliar o espaço de apresentações.
UNDER
IN/ON
OVER
O primeiro ato acontece todo nesse bloco. A arquitetura dele busca dar enfoque ao espaço do ABAIXO, situando nesse andar as principais atividades do corpo nesse prédio. Na sua entrada tem-se uma rampa e uma arquibancada que ampliam a chegada para o subsolo, reforçando a importância desse pavimento. Nesse bloco estão as atividades relacionadas à primeira etapa do conhecimento, a qual consiste na compreensão do próprio corpo, no entendimento de suas limitações, no estudo de técnicas, da conscientização corporal, do primeiro contato com a expressividade do movimento. É nesse bloco que o aluno inicia as suas atividades no Studio, com preparo físico, leituras, relaxamentos, desenvolvimento de concentração e entendimento do universo da dança. Essas atividades estão profundamente ligadas com o espaço do abaixo, algo mais isolado e introspectivo.
O segundo ato acontece tanto no pátio público de conexão entre os edifícios quanto nos primeiros pavimentos do bloco maior. Esse ato representa o ENTRE e constrói uma tênue relação entre dentro e fora. É o espaço onde o aluno já se percebe como artista e entende as multiplicidades da arte. Ele desenvolve suas técnicas não só de dança, mas de teatro, música e circo. É também o espaço onde a arte se expande e não se contém nas paredes de uma sala de aula, nem mesmo nas paredes do próprio edifício. A dança toma forma no espaço público e é visível dos mais diversos ângulos. Esse ato é o cerne do projeto, onde o aluno desenvolve a sua autoconfiança e sua capacidade de se expressar e de tocar o outro com sua arte. É o espaço intermediário que é de todos, dos iniciantes aos mais experientes, onde todos se mostram, cada um na sua individualidade. É o espaço das trocas, da colaboração, da interação, da apresentação.
O terceiro ato acontece na porção azul suspensa do bloco maior. Ele representa o final do processo e é nele que se situam as aulas mais técnicas e específicas, num local mais intimista. É um espaço que está no alto para ser observado, para ser de destaque, mas também para ser de apropriação mais íntima dos alunos. É onde já existe a destreza, a confiança, o aumento das habilidades, a capacitação para novos desafios dentro da dança. É onde o aluno já tem plena confiança de si próprio e da beleza que só o seu movimento possui. É o espaço da celebração entre alunos e professores, onde todos fazem parte de um mesmo espetáculo.
Esse bloco busca criar uma dinâmica de volumes, com intersecções de formas, cores e texturas. A parede de pedra e a parede vermelha criam uma continuidade entre o espaço de fora e de dentro, além de conformarem o primeiro local de acolhimento do visitante. O bloco superior de concreto é mais amplo, destacando o nome do Studio nas fachadas de acesso e uma esquadria com vista para as atividades internas. Nas fachadas laterais, há uma brincadeira de cores e ripados, criando movimento e textura. Esse bloco é então atravessado por um bloco azul forte, o qual cria uma quebra com a horizontalidade, inserindo o volume mais elevado da caixa d´água como parte da estética da proposta. O bloco maior (Bloco A) reforça a textura do ripado e cria um volume forte com essa madeira. Desse volume saem dois blocos azuis, os quais representam o teatro e as principais salas de dança. Nos primeiros níveis, existe uma dinâmica de cores e texturas, a qual se relaciona com as fachadas do outro bloco. No primeiro pavimento, um guarda corpo amarelo contorna o edifício, dando destaque ao nome do Studio e criando um fio conector entre os prédios. As bordas desse prédio estão em balanço, criando corredores abertos que contornam o edifício. O acesso sul se dá por esse edifício, onde a cobertura do térreo se estende, criando um espaço de estar ao ar livre, entre a edificação e o ripado. Esse espaço busca recepcionar o visitante antes da entrada no prédio.
A intenção volumétrica da proposta é criar essa sensação de suspensão, intersecção, textura, dinâmica, ritmo, balanço, força, movimento, relacionando a arquitetura à dança.