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A Bultaco do Emerson
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mais de 40 anos separam essas duas fotografias. A primeira foi em 1975, logo após o nosso grande e querido piloto Emerson Fittipaldi ter conquistado seu segundo campeonato mundial de Fórmula 1. A outra foi em 2018, na ocasião do aniversário do campeão. Em comum nas duas fotos, além do Emerson, logicamente, a mesma motocicleta Bultaco, que ele ganhou de presente por duas vezes. Conheça a história dessa Bultaco.
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Paulo, Frota, Gabriel e Expedito Marazzi, admirando a Bultaco do Emerson em 1975
Por gabriel Marazzi
Emerson Fittipaldi ganhou essa Bultaco por duas vezes, na conquista de seu primeiro campeonato mundial e em seu aniversário, 45 anos depois
Foi em 1974 que Emerson Fittipadi conquistou o segundo título mundial no campeonato de Fórmula 1, pilotando o McLaren M23. Mas foi por causa do primeiro título, em 1972, com o Lotus 72D, que ele recebeu como presente uma motocicleta Bultaco Pursang 250, com a pintura de seu capacete no tanque, das mãos do próprio Paco Bultó, o fundador da marca espanhola de motocicletas. E aí que começa esta história,
Nos primeiros dias de 1975, pouco depois de conquistar o segundo título, Emerson veio ao Brasil de férias e trouxe a sua Bultaco, atiçando a curiosidade dos jornalistas que acompanhavam o mundo das motocicletas. Foi o que aconteceu com Expedito Marazzi, que trabalhava, na época, para a Editora Bloch, escrevendo sobre competições. E lá iria ele para o Guarujá, ver a motocicleta que estava na casa de Emerson no Jardim Acapulco.
O que acontecia também era que Expedito estava com uma equipe montada para correr nas 24 Horas de Interlagos de 1975, com duas motocicletas e quatro pilotos. Esses pilotos estavam já hávia algum tempo juntos, treinando na pista e na academia, e aquele quente sábado de janeiro estava reser-
Emerson e Paco Bultó, no dia em que ganhou sua Bultaco
vado para a musculação dos pilotos.
É claro que a sessão de treinos foi cancelada, por uma diversão maior, encontrar o nosso novo bicampeão e ver a sua nova motocicleta.
A chegada ao local, a pose para a foto oficial e o almoço com o Emerson correram da melhor forma possível, mas foi a curta viagem de cerca de 100 km, de São Paulo ao Guarujá, no litoral norte paulista, que ficou marcada para sempre. Pelo menos para mim.
O clima era de euforia na academia que meu pai mantinha em casa, para seus pilotos e alunos. A comitiva de quatro eram ele próprio, o Expedito, os pilotos Paulo e Frota, que participariam das 24 Horas com uma Suzuki GT 550, e eu.
Expedito não largava a sua Honda CB 750 Four 1972, a famosa “K”, o Frota estava com sua GT 550 ainda em situação “de rua” e Paulo seguiria com a sua Suzuki GT 250, com a qual ele participava da Taça Centauro. Bem, eu tinha que me contentar com a minha pequena Honda CB 125S, com a qual eu também participava da Taça Centauro.
Guidão tomaseli, números nas laterais, mas era o que eu tinha. Com 15 anos de idade, não poderia querer mais do que isso.
Mas a turma não estava gostando de ter que rodar na estrada no ritmo de uma 125, de forma que meu pai foi buscar sua velha Suzuki T500J e a emprestou ao Paulo. Assim, eu pude acompanhar o grupo com a Suzuki GT 250 dele, também equipada com guidão de corrida.
Para quem conhecia o Expedito, é fácil adivinhar qual era a estrada que usamos para descer a Serra do Mar: o antigo Caminho do Mar, com seu piso de pedras, curvas muito fechadas e mão dupla.
E aquele sábado de manhã estava especialmente quente, em férias de verão, o que fez com que muitos motoristas também escolhessem essa forma de descer ao litoral.
Com uma fila de carros do alto até o pé da serra, sem qualquer espaço entre eles, fomos nós na contra-mão vazia, já que poucos subiriam a serra por lá. Só que, de vez em quando, subia um, e era necessário frear forte e procurar um espacinho entre os carros.
Frear? Isso era o que aquela Suzuki GT 250 não fazia. O freio dianteiro a tambor era o mesmo que quase nada. Muita força para pouco efeito. Mas cheguei vivo lá embaixo, sempre tentando acompanhar aqueles três pilotos audazes. Eu ainda tinha pouca experiência de estrada e estava com uma motocicleta desconhecida.
Apesar dos pesares, tudo correu bem. Voltamos, treinamos, na pista e na musculação, e fizemos a inscrição naquela 24 Horas de Interlagos.
As duas motos do Expedito, a honda 750 e a suzuki 500, emprestada para o Paulo
Minha pequena honda CB 125 ficou e embarquei nessa aventura na suzuki 250 do Paulo
A suzuki 550 do Frota ainda estava original, mas ficaria como no desenho, para as 24 horas
Sim, todos menos eu. Nosso querido Eloy Gogliano barrou minha inscrição, dizendo que eu ainda não estava preparado para uma corrida como essa, mesmo eu alegando que já era “piloto” e que corria nas provas da Taça Centauro.
Santo Eloy, pode ter me salvado de uma situação perigosa. Um moleque como eu não teria o discernimento de um adulto e, realmente, pilotar por 24 horas naquele Interlagos de outrora, com apenas dois pilotos, não era tarefa para qualquer um.
E a Bultaco do Emerson? Nunca mais tive noticia, até que, mais de 40 anos depois, o Paulo Loco me procurou, dizendo que achou a moto e iria restaurá-la, para representear o Emerson em seu aniversário.
Ele queria uma cópia boa da foto em que esse intrépido grupo posou com Emerson e sua Bultaco, no Guarujá. Essa foto da capa.
A festa foi bacana e, atrás da moto, lá estava o enorme poster com a foto que lembrava meus 15 anos, ainda com os cabelos enrolados. E o Emerson lembrou perfeitamente daquele dia.
Então, em comum nas duas situações separadas pelo tempo, não apenas Emerson e sua Bultaco, mas também eu, como testemunha dessa história.z