Caio Marcolini Job Sรกnchez Noemi Iglesias Barrios
O que deixou a alegria florescer
Caio Marcolini Job Sรกnchez Noemi Iglesias Barrios
O que deixou a alegria florescer
PT Caio Marcolini | Job Sánchez | Noemi Iglesias Barrios
O que deixou a alegria florescer Caio Marcolini (1985), Job Sánchez (1979) e Noemi Iglésias Barrios (1987), são artistas provenientes de diferentes lugares, residentes temporários em múltiplos países, com formações muito distintas, meios e processos de produção artística muito diversos que, contudo, pela sua obra se aproximam pela presença de formas orgânicas, vivas, desde as flores de porcelana de Noemi às geometrias desdobradas em avanços sucessivos das formas circulares em madeira ou papel de Job ou aos arames entrelaçados de forma padronizada que formam a base estrutural dos organismos de Caio. Um denominador comum parece ser a predominância da forma circular e a mutabilidade real (ou sugerida) em todas as obras. Citando Caio Marcolini, acerca do seu trabalho “… o arame maleável é então usado para formar sistemas que se assemelham a rizomas e a outras estruturas orgânicas como os complexos labirintos do interior dos formigueiros. Por sua própria natureza de quase bordado, a trama de metal assemelha-se a um emaranhado de linhas e as esculturas parecem por vezes criar um lugar fronteiriço entre o bi e o tridimensional, como se a linha do desenho tivesse se descolado do plano e saltado para o espaço …”. A instalação variável das obras realça a sua natureza ambígua e mutável. Noemi, sobre o seu trabalho agora apresentado, flores em porcelana diz “…que faz uma critica à actual mercantilização do enamoramento e das relações afectivas onde os padrões emocionais são socialmente assumidos como ícones de consumo na produção de uma utopia romântica onde as experiências sentimentais se expressam através de produtos fabricados por industrias especificas, aproveitando emoções para desenvolver estratégias consumistas…”; e que dizer, neste contexto, da coincidência, do “acaso” de Caio Marcolini dividir o seu trabalho entre o design de jóias (por tradição, os objectos de luxo que são símbolos materiais e duradouros da expressão e assunção dos afectos) e a produção das suas esculturas? Job apresenta também obras de configuração escultórica mas sempre ligadas à parede, que insistem em continuar com a prática da pintura, ora materializada sobre relevos de madeira, ora sugerida pelo uso de cartolinas coloridas, explorando a forma circular que se desdobra de modo incessante ao longo das obras que constrói. Assim, a reunião entre estes três artistas nesta exposição “O que deixou a alegria florescer” será certamente, mais que um acaso, um encontro entre rectas paralelas.
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EN Caio Marcolini | Job Sánchez | Noemi Iglesias Barrios
What did let joy to blossom O que deixou a alegria florescer
Caio Marcolini (1985), Job Sánchez (1979) and Noemi Iglésias Barrios (1987), are artists originally from different places, temporary residents in multiple countries, with very different backgrounds, means and very different artistic production processes. Their work is approached by the presence of organic, living forms, including the porcelain flowers of Noemi, the geometries unfolded in successive advances of the circular shapes in wood or paper of Job as well the wires interlaced in a standardized way that form the structural basis of Caio's organisms. A common denominator seems to be the predominance of the circular shape and the real (or suggested) mutability in all works. Quoting Caio Marcolini, about his work “… malleable wire is then used to form systems that resemble rhizomes and other organic structures such as the complex labyrinths inside the anthills. By its own nature of almost an embroidery, the metal weave resembles a tangle of lines. Sometimes, the sculptures seem to create a border between the bi and the three-dimensional, as if the line of the drawing had detached from the plane and jumped into space ... ”. The variable installation of the works highlights its ambiguous and changeable nature. When talking about her work porcelain flowers, now presented, Noemi says “… I am making a critique to the current commercialization of falling in love and affective relationships where emotional patterns are socially assumed as icons of consumption in the production of a romantic utopia, where sentimental experiences are express themselves through products manufactured by specific industries, taking advantage of emotions to develop consumerist strategies… ”; and what to say, in this context, of the coincidence, of Caio Marcolini's “chance” of dividing his work between jewelery design (by tradition, luxury objects that are material and lasting symbols of expression and assumption of affections) and the production of your sculptures? Job also presents works of sculptural configuration but always linked to the wall, which insist on continuing with the practice of painting, now materialized on wooden reliefs, or suggested by the use of colored cardboards, exploring the circular shape that unfolds incessantly throughout of the works he builds. Thus, the meeting between these three artists in this exhibition “O que deixou a alegria florescer” (What did let joy to blossom) will certainly be, more than by chance, a meeting between parallel lines.
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Caio Marcolini Job Sรกnchez Noemi Iglesias Barrios
O que deixou a alegria florescer
Galeria | Gallery
Caio Marcolini
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ORG73, da série Colónia - 2018 - trama em arame de latão, 120x65x30cm ORG73, Cologne series - 2018 - brass wire weft, 120x65x30cm 8
ORG80, da série Parazoa - 2019 - trama em arame de latão, 50x35x23cm ORG80, Parazoa series - 2019 - brass wire weft, 50x35x23cm 9
ORG85, da série Híbridos - 2020 - trama em arame de latão, 45x60x25cm ORG85, Hybrids series - 2020 - brass wire weft, 45x60x25cm 10
ORG98, da série Híbridos - 2020 - trama em arame de latão oxidado, 55x55x25cm ORG98, Hybrids series - 2020 - oxidized brass wire weft, 55x55x25cm 11
ORG99, da série Colónia - 2020 - trama em arame de latão oxidado, 180x50x30cm ORG99, Cologne series - 2020 - oxidized brass wire weft, 180x50x30cm 12
ORG101, da série Híbridos - 2020 - trama em arame de latão , 80x80x30cm ORG101, Hybrids series - 2020 - brass wire weft, 80x80x30cm 13
ORG102, da série Híbridos - 2020 - trama em arame de latão , 180x140x30cm ORG102, Hybrids series - 2020 - brass wire weft, 180x140x30cm 14
ORG108, da sĂŠrie HĂbridos - 2020 - trama em arame de ferro galvanizado, 110x65x30cm ORG108, Hybrids series - 2020 - galvanized iron wire weft, 110x65x30cm 15
ORG110, da sĂŠrie HĂbridos - 2020 - trama em arame de ferro galvanizado, 160x80x40cm ORG110, Hybrids series - 2020 - galvanized iron wire weft, 160x80x40cm 16
Job Sรกnchez
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Sem tĂtulo #1, da sĂŠrie Creciente - 2019 - cartolinas recortadas e coladas sobre papel de algodĂŁo, 40x30cm Untitled #1, Creciente series - 2019 - cardboards cut and glued on cotton paper, 40x30cm 18
Sem tĂtulo #2, da sĂŠrie Creciente - 2019 - cartolinas recortadas e coladas sobre papel de algodĂŁo, 40x30cm Untitled #2, Creciente series - 2019 - cardboards cut and glued on cotton paper, 40x30cm 19
Sem tĂtulo #3, da sĂŠrie Creciente - 2019 - cartolinas recortadas e coladas sobre papel de algodĂŁo, 40x30cm Untitled #3, Creciente series - 2019 - cardboards cut and glued on cotton paper, 40x30cm 20
Sem tĂtulo #4, da sĂŠrie Creciente - 2019 - cartolinas recortadas e coladas sobre papel de algodĂŁo, 40x30cm Untitled #4, Creciente series - 2019 - cardboards cut and glued on cotton paper, 40x30cm 21
Sem tĂtulo #5, da sĂŠrie Creciente - 2019 - cartolinas recortadas e coladas sobre papel de algodĂŁo, 40x30cm Untitled #5, Creciente series - 2019 - cardboards cut and glued on cotton paper, 40x30cm 22
Sem tĂtulo #6, da sĂŠrie Creciente - 2019 - cartolinas recortadas e coladas sobre papel de algodĂŁo, 40x30cm Untitled #6, Creciente series - 2019 - cardboards cut and glued on cotton paper, 40x30cm 23
Sem tĂtulo #7, da sĂŠrie Creciente - 2019 - cartolinas recortadas e coladas sobre papel de algodĂŁo, 40x30cm Untitled #7, Creciente series - 2019 - cardboards cut and glued on cotton paper, 40x30cm 24
Sem título #8, da série Creciente - 2019 - madeiras recuperadas, peças de MDF e pintura, 28x14x2cm Untitled #8, Creciente series - 2019 - woods recovered, MDF pieces and paint, 28x14x2cm 25
Sem título #9, da série Creciente - 2019 - madeiras recuperadas, peças de MDF e pintura, 28x14x7cm Untitled #9, Creciente series - 2019 - woods recovered, MDF pieces and paint, 28x14x7cm 26
Sem título #10, da série Creciente - 2019 - madeiras recuperadas, peças de MDF e pintura, 28x14x7cm Untitled #10, Creciente series - 2019 - woods recovered, MDF pieces and paint, 28x14x7cm 27
Sem título #11, da série Creciente - 2019 - madeiras recuperadas, peças de MDF e pintura, 28x14x7cm Untitled #11, Creciente series - 2019 - woods recovered, MDF pieces and paint, 28x14x7cm 28
Sem título #12, da série Creciente - 2019 - madeiras recuperadas, peças de MDF e pintura, 17,5x14x3cm Untitled #12, Creciente series - 2019 - woods recovered, MDF pieces and paint, 17,5x14x3cm 29
Sem título #13, da série Creciente - 2019 - madeiras recuperadas, peças de MDF e pintura, 20,5x14x7cm Untitled #13, Creciente series - 2019 - woods recovered, MDF pieces and paint, 20,5x14x7cm 30
Sem título #14, da série Creciente - 2019 - madeiras recuperadas, peças de MDF e pintura, 28x15x4cm Untitled #14, Creciente series - 2019 - woods recovered, MDF pieces and paint, 28x15x4cm 31
Sem título #15, da série Creciente - 2019 - madeiras recuperadas, peças de MDF e pintura, 28x14x7cm Untitled #15, Creciente series - 2019 - woods recovered, MDF pieces and paint, 28x14x7cm 32
Sem título #16, da série Creciente - 2019 - madeiras recuperadas, peças de MDF e pintura, 28x14x4cm Untitled #16, Creciente series - 2019 - woods recovered, MDF pieces and paint, 28x14x4cm 33
Sem título #17, da série Creciente - 2019 - madeiras recuperadas, peças de MDF e pintura, 21x14x8cm Untitled #17, Creciente series - 2019 - woods recovered, MDF pieces and paint, 21x14x8cm 34
Sem título #18, da série Creciente - 2019 - madeiras recuperadas, peças de MDF e pintura, 14x7x5,5cm Untitled #18, Creciente series - 2019 - woods recovered, MDF pieces and paint, 14x7x5,5cm 35
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Noemi Iglesias Barrios
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Hua Dan #1 - sem data - porcelana Artika e cobalto, 15x15x6cm Hua Dan #1 - undated - Artika porcelain and cobalt, 15x15x6cm 38
Hua Dan #2 - sem data - porcelana Artika e cobalto, 15x15x6cm Hua Dan #2 - undated - Artika porcelain and cobalt, 15x15x6cm 39
Hua Dan #3 - sem data - porcelana Artika e cobalto, 15x15x6cm Hua Dan #3 - undated - Artika porcelain and cobalt, 15x15x6cm 40
Hua Dan #4 - sem data - porcelana Artika e cobalto, 15x15x6cm Hua Dan #4 - undated - Artika porcelain and cobalt, 15x15x6cm 41
Hua Dan #5 - sem data - porcelana Artika e cobalto, 15x15x6cm Hua Dan #5 - undated - Artika porcelain and cobalt, 15x15x6cm 42
Hua Dan #6 - sem data - porcelana Artika e cobalto, 15x15x6cm Hua Dan #6 - undated - Artika porcelain and cobalt, 15x15x6cm 43
Hua Dan #7 - sem data - porcelana Artika e cobalto, 15x15x6cm Hua Dan #7 - undated - Artika porcelain and cobalt, 15x15x6cm 44
Hua Dan #8 - sem data - porcelana Artika e cobalto, 15x15x6cm Hua Dan #8 - undated - Artika porcelain and cobalt, 15x15x6cm 45
Hua Dan #9 - sem data - porcelana Artika e cobalto, 15x15x6cm Hua Dan #9 - undated - Artika porcelain and cobalt, 15x15x6cm 46
Hua Dan #10 - sem data - porcelana Artika e cobalto, 15x15x6cm Hua Dan #10 - undated - Artika porcelain and cobalt, 15x15x6cm 47
Hua Dan #11 - sem data - porcelana Artika e cobalto, 15x15x6cm Hua Dan #11 - undated - Artika porcelain and cobalt, 15x15x6cm 48
Hun Yin #1 - 2018 - porcelanas chinesa e japonesa, 16cm diâmetro x 8,5cm altura Hun Yin #1 - 2018 - Chinese and Japanese porcelain, 16cm diameter x 8.5cm height 49
Hun Yin #2 - 2018 - porcelanas chinesa e japonesa, 10cm diâmetro x 9,5cm altura Hun Yin #2 - 2018 - Chinese and Japanese porcelain, 10cm diameter x 9,5cm height 50
Hun Yin #3 - 2018 - porcelanas chinesa e japonesa, 9,5cm diâmetro x 9cm altura Hun Yin #3 - 2018 - Chinese and Japanese porcelain, 9,5cm diameter x 9cm height 51
Hun Yin #4 - 2018 - porcelanas chinesa e japonesa, 10,5cm diâmetro x 7cm altura Hun Yin #4 - 2018 - Chinese and Japanese porcelain, 10,5cm diameter x 7cm height 52
Rebel Heart #2 - sem data - porcelana Artika com pigmento vermelho de alta temperatura, 17x16x7cm aprox. Rebel Heart #2 - undated - Artika porcelain with high temperature red pigment, 17x16x7cm nearly 53
Rebel Heart #6 - sem data - porcelana Artika com pigmento vermelho de alta temperatura, 15,5x16x7cm aprox. Rebel Heart #6 - undated - Artika porcelain with high temperature red pigment, 15,5x16x7cm nearly 54
Rebel Heart #7 - sem data - porcelana Artika com pigmento vermelho de alta temperatura, 15,5x16x7cm aprox. Rebel Heart #7 - undated - Artika porcelain with high temperature red pigment, 15,5x16x7cm nearly 55
Rebel Heart #8 - sem data - porcelana Artika com pigmento vermelho de alta temperatura, 17,5x16x7cm aprox. Rebel Heart #8 - undated - Artika porcelain with high temperature red pigment, 17,5x16x7cm nearly 56
Everlasting #4 - 2019 - porcelana, 22x12x12cm Everlasting #4 - 2019 - porcelain, 22x12x12cm 57
Everlasting #5 - 2019 - porcelana e pigmento vermelho, verde e roxo de alta temperatura, 22x12x12cm Everlasting #5 - 2019 - porcelain and high temperature red, green and purple pigment, 22x12x12cm 58
O que deixou a alegria florescer
Exposição | Exhibition
Caio Marcolini Job Sánchez Noemi Iglesias Barrios
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O que deixou a alegria florescer
Biografias | Biographies
PT
Caio Marcolini Niterói, 1985 Vive e trabalha no Porto, Portugal. Caio Marcolini é artista plástico, formado em Desenho Industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 2012) e técnico em Ourivesaria pelo SENAI (Rio de Janeiro, 2007), ambos no Brasil. A sua investigação situa-se entre o material e o etéreo, e está endereçada à elaboração de objectos cuja estrutura em fio de metal é concebida por meio de ferramentas desenvolvidas pelo próprio artista. Participou em exposições colectivas como Coletiva70, Casa70 Lisboa (Lisboa, Portugal, 2020), Trama, na Inthependant Gallery (Porto, Portugal, 2019), Arte de Bolso (Coimbra, Galeria Sete, Portugal, 2018), Nunca fuímos nada - Primeira Bienal de Arte rechazado (Galeria Los14, México, 2018), Ases & Trunfos (Galeria Sete, Coimbra, Portugal, 2018), SP Arte – Festival Internacional de Arte de São Paulo (OÁ Galeria - Arte Contemporânea e Jackie Shor Arte, São Paulo, Brasil, 2018), 42° Salão de Arte de Ribeirão Preto (2017); 45° Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto (Santo André, SP, 2017); 5° SOAL – Salão de Outono da América Latina (Memorial da América Latina, São Paulo, 2017); e Através da Trama , com curadoria de Marcus Lontra (HAG – Home Art Gallery, São Paulo, 2016). Foi aluno da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, com orientação do artista e curador Franz Manata (Desenvolvimento de protejo, 2016), e de Charles Watson (Processo Criativo, I, II, III, 2015). O trabalho artístico de Caio Marcolini confunde-se com o seu ofício e formação em ourivesaria, artes e desenho industrial. Se por um lado é possível imaginar as contradições e particularidades entre tais campos, a partir de suas lógicas distintas de pensamento e produção, o que Caio faz é justamente confundir fronteiras, ao deslocar o seu constructo entre esses espaços discursivos. Pensar o fazer escultórico na contemporaneidade é resgatar um ofício que remonta à própria História da Arte, para então, actualizá-lo. Existe, portanto, uma herança da tradição da escultura que Caio exercita na sua prática artística. Ali investiga o material, testa, desenvolve técnicas e ferramentas, adaptando o conhecimento adquirido sobre o universo da escultura, do desenho e da artesania para suas próprias necessidades. Sua prática é nutrida e nutre-se pelo gesto do movimento: a ideia move-se à feitura do objecto, uma trama maleável de infinitos elos, e toma forma, reconstrói-se, tanto quanto permita o ensejo do seu criador. Também podemos percorrer as delicadas construções que elabora o artista pegando emprestado conceitos arquitectónicos; uma vez que entre ritmo, repetição e harmonia, podemos buscar solidez, funcionalidade e beleza, características de uma boa construção segundo Vitruvius. Há nessa busca construtiva um embate directo entre artista e matéria, é de tanto observá-la que pode finalmente tensionar e expandir, mudar de direcção. É interessante notar como o artista entende cada peça de forma autónoma, mas 87
PT igualmente pertencente a um conjunto maior que denomina colónia. Assim, os organismos, que possuem características que podem remeter à constituição celular, se alastram, se reorganizam, em um pulsar contínuo que é o da própria vida. Como observou Jean Genet, ao conceituar a relação entre obra e observador(1), cada objecto cria o seu espaço infinito, o que nos faz concluir que cada obra produz o seu próprio universo de interpretação. E é com as pistas que nos dá o artista que encontramos a chave para desvendar as suas motivações e condições de criação, e apreender, como continua o autor, na sua solidão simultaneamente essa imagem e o objecto real que ela representa. Assim, o papel do artista não é o de criar situações ou objectos para solucionar os problemas do mundo, mas viver imbricado nessa tensão entre desejo e realidade, respondendo com suas próprias ferramentas às inquietudes do que o rodeia. Nesse sentido, pode o artista deslocar-se entre diversas funções e labores, pouco importa a razão, uma vez que falamos de demandas pessoais e individuais. Outra coisa acontece quando é o trabalho que se move entre contextos. É possível pensar que cada vez que se infiltram em novos ambientes, as colónias de Caio assumem conotações também sempre mutantes: enganam os olhos distraídos em meio à urbe, flutuam pelo espaço expositivo, escorrem pelas paredes e vestem corpos, contaminando e sendo contaminadas por seus receptáculos e espectadores. Jean Genet. O ateliê de Giacometti. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2000.
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Texto de Clara Sampaio
Veja mais informação em: https://www.galeriasete.com/artistas/caio-marcolini/
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EN
Caio Marcolini Niterói, 1985 Lives and works in Porto, Portugal. Caio Marcolini is a plastic artist, graduated in Industrial Design from the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ, 2012) and a goldsmith technician from SENAI (Rio de Janeiro, 2007), both in Brazil. His research is located between the material and the ethereal, and is aimed at the elaboration of objects whose structure in metal wire is conceived using tools developed by the artist himself. Participated in collective exhibitions such as Coletiva70, Casa70 Lisboa (Lisbon, Portugal, 2020), Trama, at the Inthependant Gallery (Porto, Portugal, 2019), Pocket Art (Coimbra, Galeria Sete, Portugal, 2018), Nunca fuímos nada (We never did anything) - First Bienal de Arte rechazado (Galeria Los14, Mexico, 2018), Ases & Trunfos (Galeria Sete, Coimbra, Portugal, 2018), SP Arte - São Paulo International Art Festival (OÁ Galeria - Arte Contemporânea and Jackie Shor Arte, São Paulo, Brazil, 2018), 42 ° Ribeirão Preto Art Salon (2017); 45th Salon of Contemporary Art Luiz Sacilotto (Santo André, SP, 2017); 5th SOAL - Latin American Autumn Salon (Memorial da América Latina, São Paulo, 2017); and Via da Trama, curated by Marcus Lontra (HAG - Home Art Gallery, São Paulo, 2016). Caio Marcolini was a student at the School of Visual Arts of Parque Lage, Rio de Janeiro, under the guidance of the artist and curator Franz Manata (Development of protection, 2016), and Charles Watson (Creative Process, I, II, III, 2015). Caio Marcolini's artistic work is misguided by his craft and training in jewellery, arts and industrial design. If, on the one hand, it is possible to imagine the contradictions and particularities between such fields, based on their distinct logics of thought and production, what Caio does is to cross borders, by shifting his construct between these discursive spaces. To think about sculptural practice in contemporary times is to rescue a craft that goes back to the History of Art itself, and then update it. Therefore, there is a legacy of the sculpture tradition that Caio exercises in his artistic practice. There, he investigates the material, tests, develops techniques and tools, adapting the knowledge acquired about the world of sculpture, drawing and craftsmanship to his own needs. Caio Marcolini’s practice is nourished and nourished by the gesture of movement: the idea moves to the making of the object, a malleable fabric of infinite links, and takes shape, reconstructs itself, as much as the opportunity of its creator allows. We can also go through the delicate constructions that the artist elaborates by borrowing architectural concepts; since between rhythm, repetition and harmony, we can look for solidity, functionality and beauty, characteristics of a good construction according to Vitruvius. In this constructive search there is a direct clash between artist and material, it is so much to observe that it can finally tense and expand as well to 89
EN change direction. It is interesting to note how the artist understands each piece autonomously, but it also belongs to a larger group called a colony. Thus, the organisms, which have characteristics that can refer to the cellular constitution, spread, reorganize, in a continuous pulse that is that of life itself. As Jean Genet observed, when conceptualizing the relationship between work and observer (1), each object creates its infinite space, which makes us conclude that each work produces its own universe of interpretation. And it is with the clues that the artist gives us that we find the key to unveil his motivations and conditions of creation, and to apprehend, as the author continues, in his solitude simultaneously that image and the real object that it represents. Thus, the artist's role is not to create situations or objects to solve the world's problems, but to live intertwined in this tension between desire and reality, responding with his own tools to the concerns of those around him. In this sense, the artist can move between different functions and tasks, regardless of the reason, since we speak of personal and individual demands. Another thing happens when work moves between contexts. It is possible to think that every time they infiltrate new environments, the colonies of Caio assume connotations which also always changes: they fool the distracted eyes in the middle of the city, float through the exhibition space, run down the walls and dress bodies, contaminating and being contaminated by their receptacles and spectators. (1)
Jean Genet. O ateliê de Giacometti. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2000. Text by Clara Sampaio
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PT
Job Sánchez Job Sánchez nasceu em Ares (Corunha, 1979), mas atualmente reside e desenvolve o seu trabalho em Gijón. É formado em Belas Artes pela Universidade de Salamanca e possui mestrado em Gênero e Diversidade pela Universidade de Oviedo. Embora o seu trabalho seja essencialmente plástico, ele tem um grande interesse em tudo relacionado à cultura visual. Desenvolveu trabalhos em vários campos relacionados a isso, como design, ensino, crítica de arte e gestão cultural. Laboratório doméstico é o nome dado ao conjunto de séries em que tenho trabalhado nos últimos anos. É um projeto paralelo à minha pesquisa de doutorado. A tese se concentra nas práticas artísticas em ambientes domésticos, como locais de exibição e produção; configurar uma estratégia possível dentro da arte atual. A série Novos Códigos é composta por pinturas que brincam com um número limitado de sinais (todos começando com a transformação do círculo, triângulo e quadrado). Eles se combinam para criar mensagens visuais enigmáticas. Aqui, é levantada a possibilidade de uma nova linguagem universal em termos de estrutura formal, mas que, como qualquer processo de comunicação, não está livre de interferências. Além disso, nasce com consciência de sua imperfeição; tornando-se evidente na impossibilidade de criar imagens compactas. O formato reduzido e as técnicas não tóxicas transformam essas pinturas em uma espécie de exercícios cromáticos mais próximos do campo do artesanato (padrões ou ritmos do design de cerâmica ou têxtil). Em Creciente, é feita referência ao momento preciso de um ciclo, quando a idéia está amadurecendo e se desenvolvendo dentro de suas próprias possibilidades. Parte do círculo como um elemento modular que dobra, divide e gira para abrir; ocupando o espaço que a sua área permite. Mas sempre conectado à parede, com a clara intenção de verificar se essas peças são o resultado de experimentação plástica derivada da prática pictórica. O título dá nome a uma fase da lunação, o que nos leva a inscrevê-lo em um processo cíclico. Mas essa trajetória não é necessariamente orientada para terminar no mesmo lugar em que começa; limitando apenas um período de me tornar um artista. Este projeto é materializado em relevos de madeira e papelão pintados, apresentando uma aparência simples; cujo objetivo é conectar o público aos processos, através do uso de materiais e recursos acessíveis e reconhecíveis (típicos de bricolage ou artesanato). Finalmente, Après MB tenta, através de um jogo de ironia e reparação, fazer uma série de pequenas pinturas dialogar com a história geral da arte. Essas tábuas, pintadas com óleo à base de água e encáustica, são nutridas pelo imaginário e pela estética da vanguarda do século XX. De uma perspectiva atual, reflito sobre o esgotamento da pintura e a necessidade de continuar com essa disciplina: da qual não paramos de proclamar sua morte e para a qual devemos ressuscitar constante91
PT mente. A desculpa ou ponto de partida é a pintora María Blanchard como uma vanguarda de destaque, embora menos conhecida do que outros artistas masculinos contemporâneos. Todos esses trabalhos vêm do meu próprio laboratório particular: uma pequena sala dentro da sala de estar. Dessa forma, a prática artística se torna mais uma atividade diária - como comer ou descansar - e, portanto, desprofissionalizada; adicionando ao grande paradoxo que define a arte hoje.
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Job Sánchez Job Sánchez was born in Ares (Corunna, 1979) and is currently living and developig his work in Gijón. He has a degree in Fine Arts from the University of Salamanca and a master's degree in Gender and Diversity from the University of Oviedo. Although Job Sánchez work is essentially plastic, he has a strong interest in everything related to visual culture and developed works in various fields related to this, such as design, teaching, art criticism and cultural management. Laboratório doméstico (home laboratory) is the name given to the series of series I have been working on for the past few years. It is a parallel project to my doctoral research. The thesis focuses on artistic practices in domestic environments, such as exhibition and production sites; configure a possible strategy within the current art. The series Novos Códigos (New Codes) consists of paintings that play with a limited number of signs (all beginning with the transformation of the circle, triangle and square). These signs are combined to create enigmatic visual messages. Here, the possibility of a new universal language is raised in terms of formal structure, but which, like any communication process, is not free from interference. Furthermore, it is born with an awareness of its imperfection; becoming evident in the impossibility of creating compact images. The reduced format and non-toxic techniques transform these paintings into a kind of chromatic exercises closer to the field of handicrafts (patterns or rhythms of ceramic or textile design). In Creciente, reference is made to the precise moment of a cycle, when the idea is maturing and developing within its own possibilities. Part of the circle as a modular element that folds, divides and rotates to open; occupying the space that your area allows. The circle is always connected to the wall, with the clear intention of verifying whether these pieces are the result of plastic experimentation derived from pictorial practice. The title gives name to a phase of the lunation, which leads us to inscribe it in a cyclical process. However, this trajectory is not necessarily oriented to end in the same place where it begins; limiting only one period of becoming an artist. This project is materialized in painted wood and cardboard reliefs, presenting a simple appearance; whose objective is to connect the public to the processes, through the use of accessible and recognizable materials and resources (typical of DIY or crafts). Finally, Après MB tries, through a game of irony and repair, to make a series of small paintings dialogue with the general history of art. These boards, painted with water-based and accoustic oil, are nourished by the imagery and aesthetics of the avant-garde of the 20th century. From a current perspective, I reflect on the exhaustion of painting and the need to continue with this discipline: from which 93
EN we keep proclaiming his death and for which we must constantly be resurrected. The excuse or starting point is the painter MarĂa Blanchard as a prominent avant-garde, although less well known than other contemporary male artists. All of these works come from my own private laboratory: a small room inside the living room. In this way, artistic practice becomes more of a daily activity - like eating or resting - and, therefore, unprofessional; adding to the great paradox that defines art today.
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Noemi Iglesias Barrios Noemi lglesias Barrios (Astúrias 1987), uma artista que se define trabalhando com médios esculturais e formatos de performance de longo prazo, é um exemplo claro de nomadismo contemporâneo: desde 2009 Noemi vive e trabalha na Grécia, Inglaterra, Finlândia, Itália e Hungria. O seu trabalho representa a actual mercantilização da paixão/enamoramento e como os padrões emocionais são socialmente assumidos como ícones de consumo na produção de uma utopia romântica onde experiências sentimentais são apresentadas através de produtos fabricados por indústrias específicas, transformando padrões emocionais em estratégias de consumo. Em 2019, ela obteve um mestrado em porcelana da Universidade Nacional das Artes de Taiwan, onde estudou práticas contemporâneas de cerâmica graças ao ROC Taiwan Grant do governo de Taiwan. Recentemente, o seu trabalho foi visto no Museu Gimhae Clayarch na Coréia, no Museu EI de Arte Contemporânea e no Museu de Cerâmica Yingge em Taipei, no Museu de Cerâmica de Alcora, na Bienal de Cerâmica de Vendrell, na Galeria Mumu em Taiwan, no Concurso Cerâmica Internacional CERCO e na JustMad Fair em Madrid e na Academia de Artes e Design de Xangai, onde participará como artista convidada. Noemi está actualmente realizando uma residência na fábrica de Porcelana Vista Alegre em Portugal, onde projecta uma linha de produtos funcionais para a marca.
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Noemi Iglesias Barrios Noemi lglesias Barrios (Asturias 1987), is an artist who defines herself by working with sculptural mediums and long-term performance formats. She is a clear example of contemporary nomadism: since 2009 Noemi has lived and worked in Greece, England, Finland, Italy and Hungary. Noemi’s work represents the current commercialization of passion / falling in love and how emotional patterns are socially assumed as icons of consumption in the production of a romantic utopia, where sentimental experiences are presented through products manufactured by specific industries, transforming emotional patterns into consumption strategies. In 2019, Noemi earned a master's degree in porcelain from the National University of Arts in Taiwan, where she studied contemporary ceramic practices thanks to the Taiwan Government's ROC Taiwan Grant. Recently, her work was seen at the Gimhae Clayarch Museum in Korea, the EI Museum of Contemporary Art and the Yingge Ceramics Museum in Taipei, at the Alcora Ceramics Museum, at the Vendrell Ceramics Biennial, at the Mumu Gallery in Taiwan, in CERCO International Ceramics Contest and the JustMad Fair in Madrid and at the Shanghai Academy of Arts and Design, where she will participate as a guest artist. Noemi is currently doing a residency at the Vista Alegre Porcelain factory in Portugal, where she designs a line of functional products for the brand.
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Exposição Exhibition O que deixou a alegria florescer What did let joy to blossom Artistas Caio Marcolini Job Sánchez Noemi Iglesias Barrios
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19 Maio 2020 May 19, 2020 26 Junho 2020 June 26, 2020 Produção Production Galeria SETE Galeria SETE Colaboração Collaboration Galeria Espacio Liquido - Espanha Espacio Liquido Gallery - Spain Concepção e Coordenação de Montagem Design and Mounting Coordination Galeria SETE Galeria SETE Texto Text Galeria SETE Galeria SETE Traduções Translations Sílvia Luís Gomes Sílvia Luís Gomes Concepção gráfica Graphic design Joana Soberano Joana Soberano
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