Safra

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Bruno Pedry

GAZETA DO SUL • Sábado e domingo, 27 e 28 de fevereiro de 2016

3.480 quilômetros

nos caminhos do tabaco Em iniciativa multimídia inédita, Gazeta rodou do Sul do Rio Grande ao Oeste do Paraná para mostrar as diferentes realidades da produção de tabaco e como os fumicultores avaliam a safra que está chegando ao fim.


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A produção

que une o Sul do Brasil Expedição Os caminhos do tabaco realizada pela Gazeta Grupo de Comunicações revela as histórias, desafios e inovações adotadas nas principais regiões produtoras

C

om presença e força históricas nos três estados do Sul do Brasil, o agronegócio sempre foi uma das grandes vitrines da região para o País e o mundo. Um produto, em especial, aproxima, garante o sustento e enche de orgulho produtores de diferentes recantos e culturas: o tabaco. É no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná que estão 98% das plantações de fumo do País, o segundo que mais produz e, há duas décadas, o que mais exporta a folha para mais de cem destinos nos cinco continentes. São pouco mais de 600 municípios produtores, 114 mil propriedades e 600 mil pessoas envolvidas na atividade primária. Os números do setor que somente no campo movimenta pelo menos R$ 5 bilhões a cada safra realmente impres-

sionam. Mas nada como pegar a estrada durante seis dias para conhecer de perto a rotina, os avanços e os desafios enfrentados pelos produtores. Foi com esse propósito que a Gazeta Grupo de Comunicações realizou, na primeira semana de fevereiro, uma ação multimídia inédita: a expedição Os caminhos do tabaco. A bordo de um Jeep Renegade, repórter e fotógrafo rodaram exatos 3.480 quilômetros pelas principais zonas produtoras para montar uma radiografia da safra que chega ao fim. Foram 52 horas de estrada e mais de duas dezenas de entrevistas. Quase 50 boletins para as emissoras de rádio do grupo, vídeos e relatos no site www.portaldotabaco.com.br e uma coluna na Gazeta do Sul serviram de diário de bordo. Este suplemento, porém, traz em detalhes as principais histórias, além de um olhar das lideranças do setor sobre a safra 2015/2016. Boa leitura e bem-vindo a bordo.

Atenção A expedição Os caminhos do tabaco foi realizada pela Gazeta Grupo de Comunicações com apoio da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Prefeitura de Santa Cruz do Sul, Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco), Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Associação dos Municípios Produtores de Tabaco (Amprotabaco) e CityCar Veículos.

Fotos: Bruno Pedry

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Números*

565 mil toneladas deve ser a produção total de tabaco nos três estados do Sul durante o ciclo 2015/2016. A projeção inicial indicava que seriam colhidas mais de 610 mil toneladas.

88% do total produzido é da variedade virgínia, que deve chegar a 497 mil toneladas.

697,6 mil toneladas foi a produção total de tabaco no Sul do Brasil na safra 2014/2015, ou seja, na atual serão pelo menos 130 mil toneladas a menos.

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38,5 mil lavouras foram atingidas por granizo ao longo da safra, 6,2 mil a mais que na anterior.

R$ 121,1 milhões é o valor total das indenizações que já estão sendo pagas pela Afubra aos atingidos por granizo.

R$ 9,80 é o preço médio do quilo do tabaco virgínia comercializado nas últimas semanas no Vale do Rio Pardo. O valor é 34% superior à média praticada na safra passada, que teve qualidade inferior e mais produto no mercado.

114 mil propriedades cultivam tabaco no Sul do Brasil. A atividade envolve 614 mil pessoas. (*) Estimativas da Associação dos Fumicultores do Brasil


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Perdas e ganhos no clima de El Niño

Aumento nas ocorrências de granizo reduziu o volume total produzido em 7,3%. Apesar disso, qualidade superior das folhas de tabaco fez a remuneração obtida pelo produtor crescer em relação ao ciclo anterior

O

produtor de tabaco encontrou pedras no caminho durante a safra que está chegando ao fim. E isso não é força de expressão: nunca caiu tanto granizo nas lavouras como no período entre setembro e novembro de 2015. O resultado só não foi desastroso porque, apesar da queda na produtividade provocada pelas granizadas e o excesso de chuva, típicos do fenômeno El Niño, a qualidade superou as expectativas e a balança ficou equilibrada. As indústrias estão comprando tabaco virgínia por até 34% a mais em relação ao preço do ano passado. A remuneração média pelo quilo no Vale do Rio Pardo passou de R$ 7,31 para R$ 9,80. Para a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra),

essa foi a safra do granizo. O setor de mutualidade registrou 38,5 mil ocorrências, 6,2 mil a mais que no ciclo anterior. As indenizações, que começaram a ser pagas na última terça-feira, chegarão a R$ 121,1 milhões, um recorde. Segundo o presidente Benício Albano Werner, o prejuízo médio calculado pelos agricultores dos três estados do Sul foi 29,5% maior que na safra 2014/15. Líder em produção, o Vale do Rio Pardo foi a região mais prejudicada, puxando para cima a média do Rio Grande do Sul. Das 38,5 mil plantações atingidas, 21 mil eram em solo gaúcho. “Em duas semanas foram 27 mil lavouras danificadas, muitas totalmente”, recorda o presidente da Afubra. Venâncio Aires foi um dos municípios mais castigados e, pela primeira vez,

deverá perder para Canguçu o posto de maior produtor de tabaco do Brasil. “Nossa sorte é que o Sul do Estado foi menos atingido pelos temporais. Caso contrário, as perdas teriam sido ainda maiores”, afirma. O dirigente explica, porém, que ao mesmo tempo o clima ajudou a salvar a safra. “Tivemos excesso de umidade na maioria das regiões, o que é ruim para a produtividade, pois a folha não ganha peso. No entanto, o mesmo excesso de umidade reforça a qualidade. A média está muito boa”, comemora. Benício Werner torce agora para que a qualidade do tabaco brasileiro associada à queda na produção em países como Estados Unidos e Zimbábue garanta um bom desempenho das exportações ao longo do ano.

Menos quantidade, mais qualidade O excesso de chuvas prejudicou produtores de quase todas as regiões produtoras de tabaco no Sul do Brasil. No Paraná, há casos em que a quebra de safra ficou em 50%. O excesso de umidade impediu que as folhas ganhassem peso, comprometendo a produtividade. A constatação é a mesma em Irati. Airton Mudre, 48 anos, que plantou quase 300 mil pés do tipo virgínia, calculou que seriam

necessárias 42 estufadas para a cura da safra, mas na prática foram 34. “Deu menos quantidade, mas pelo menos conseguimos uma boa qualidade”, conforma-se. O primo dele, Antônio Carlos Mudre, 44, avalia a safra como positiva. Ele plantou 350 mil pés. “Nossa produtividade caiu um pouco, mas no geral a qualidade está muito boa. Espero que a avaliação na indústria seja boa também”, comenta.

Embarque imediato O Brasil exportou mais fumo no ano passado em relação a 2014. Segundo relatório do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco) elaborado com base em números oficiais, 517 mil toneladas foram embarcadas para 97 países ao longo de 2015. No ano anterior, o total havia sido de 476 mil toneladas. Considerando somente os três estados do Sul do País, as exportações saltaram de 473 mil toneladas em 2014 para 514 mil no ano passado. O presidente do Sinditabaco, Iro Schünke, pondera que apesar do aumento no volume comercializado, o valor em dólares ficou menor de um ano para o outro. “Em 2014 o Sul do Brasil exportou o equivalente a 2,4 bilhões de dólares e, no ano passado, 2,1 bilhões de dólares”, resume

o dirigente. Os principais compradores do tabaco brasileiro – Bélgica, China, Estados Unidos, Rússia e Holanda, pela ordem – aumentaram os volumes, mas pagaram menos, em média. Ainda sem dados atualizados, Iro Schünke diz que as indústrias trabalham para continuar fazendo do Brasil o maior fornecedor global do produto. “Pela qualidade do nosso tabaco somos altamente competitivos, o que pode oscilar é o preço”, ressalta. O dirigente reforça que, além disso, uma série de gargalos desafia o setor. Entre eles está a falta de fiscais do Ministério da Agricultura; a deficiência estrutural do Porto de Rio Grande, por onde sai 75% do tabaco exportado; a precariedade da malha rodoviária e as elevadas tarifas portuárias.

OS DESAFIOS Na opinião do presidente do Sinditabaco, Iro Schünke, dois grandes temas pautarão os debates durante o ano. O primeiro deles é o contrabando, que cresce cada vez mais e afeta diretamente o setor. No início do mês, a Souza Cruz disse que o crescimento do mercado ilegal de cigarros pesou na decisão de fechar a fábrica de Cachoeirinha. O outro tema é a COP 7, conferência que reunirá na Índia, em novembro, representantes dos países signatários da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco para discutir novas restrições ao consumo de cigarros.

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A esperança

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que brota depois do granizo Após ter boa parte da plantação devastada pelas pedras de gelo, família de Venâncio Aires usou a criatividade e conseguiu reverter as perdas e assegurar tabaco com qualidade

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enâncio Aires foi, segundo a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), um dos municípios do Sul do País mais atingidos pelas granizadas e os temporais da safra que chega ao fim. Na localidade de Estância Mariante, porém, uma história de superação chamou a atenção dos avaliadores da entidade, acostumados a calcular prejuízos. Com a ajuda de técnicos e orientadores agrícolas, o produtor Elton Volmir Doerr, 47 anos, fez do limão uma limonada – ou do granizo, uma nova safra. Em 14 de outubro, ele teve 30 mil pés de tabaco destruídos por pedras de gelo quando faltavam poucos dias para a colheita. A

perda foi total e, para não depender somente do dinheiro da mutualidade, Doerr, a esposa Márcia e o filho Marcos decidiram arriscar. Fizeram brotes nos pés devastados e, 45 dias depois, já estavam colhendo. “Nossa mão de obra foi dobrada, afinal tivemos, na prática, duas safras. O custo ficou um pouco maior também, mas valeu a pena. A qualidade ficou acima do esperado”, comemorou Doerr enquanto classificava as folhas no galpão. Ele conta que quase 100% dos brotes vingaram e somente as folhas do baixeiro ficaram menores e com qualidade inferior. “As demais até enganam”, brin-

cou, aprovando a experiência mas, ao mesmo tempo, torcendo para que ela não se repita. “Se ficássemos parados, a safra terminaria bem ruim para nós, pois os custos au-

mentaram bastante em relação ao ano anterior. Mas decidimos tentar e contamos com apoio técnico para isso, o que foi muito importante”, destacou.


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Se não cai do céu, água vem pela mangueira

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A partir da fertirrigação, produtores passam a colher tabaco de maior qualidade e aumentam a receita de suas lavouras. Além disso, tecnologia relativamente simples reduz a demanda por mão de obra nos tratos culturais

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lavoura verde e parelha, com folhas bem encorpadas, contrastava com os pés de tabaco judiados pela falta de chuva no interior de São Lourenço do Sul (RS) no início do mês, quando a expedição passou por lá. O segredo do produtor Arnildo Müller, 42 anos, estava no chão, rente aos pés de fumo: a irrigação. Em um preocupante cenário de deficit hídrico, ele foi um dos primeiros de São Lourenço a investir no sistema, dois anos atrás. Na safra 2015/2016, a chamada fertirrigação – que leva água e fertilizante à lavoura – já cobriu 55 mil dos 90 mil pés cultivados, em um investimento de aproximadamente R$ 35 mil.

E valeu a pena, assegura Arnildo Müller. “No ano passado colhi, em média, uma tonelada a mais por hectare onde tinha irrigação. O resultado foi bom e ampliei o sistema para esta safra. Na próxima, quero investir um pouco mais. Considerando o aumento de produtividade, em menos de três anos estarei com tudo pago”, calcula. O sistema é simples e foi contratado na região mesmo, com ajuda da fumageira. Do açude com cerca de 7 milhões de litros, a água é bombeada por um motor a diesel para uma pequena central, onde o produtor acrescenta o fertilizante conforme a necessidade, filtra e monitora a pressão da água. Quase tudo automático.

Canos maiores alimentam os registros espalhados pela lavoura, em terreno acidentado. Pequenas mangueiras gotejam água nos pés de tabaco por cerca de meia hora por dia, tempo suficiente para manter a planta em condições ideais de desenvolvimento. Dependendo da umidade do solo, a irrigação é feita dia sim, dia não. Além do incremento financeiro, Müller e a família ganharam tempo com a irrigação. Aplicar fertilizante de forma manual na lavoura demandava dois dias de trabalho de duas pessoas. Hoje, com o produto misturado à água, a operação de preparo leva menos de meia hora. “É uma maravilha. Vale muito a pena investir nisso”, assegura.

No ano passado colhi, em média, uma tonelada a mais por hectare onde tinha irrigação. O resultado foi bom e ampliei o sistema para esta safra. Na próxima, quero investir um pouco mais. Considerando o aumento de produtividade, em menos de três anos estarei com tudo pago Arnildo Müller Produtor de São Lourenço do Sul que investiu em irrigação para o tabaco


A soja

entrou na jogada Atentos às possibilidades, produtores gaúchos investem nve estem e em m culturas complementares e colhem bons resultados. ado os. Mesm Mesmo mo assim, tabaco ainda assegura um bom retorno financeiro nanceiro

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oi-se o tempo em que a soja era produto para grandes fazendeiros, donos de terra a perder de vista e de galpões lotados de máquinas com tecnologia de ponta. Rentável, o grão ocupa cada vez mais espaço nas pequenas propriedades – inclusive de fumicultores. No interior de Canguçu (RS), tabaco e soja dividem espaço na paisagem. Produtores como Udo Albrecht, 42 anos, tentam cada vez mais investir nas duas culturas para potencializar os lucros. Casado e pai de três filhos, ele planta tabaco há mais de duas décadas. A soja veio depois. Nesta safra serão colhidos 90 mil pés de fumo e 17 hectares de soja. “Parte do tabaco foi prejudicada pelo clima. Faltou chuva em janeiro e as folhas não ganharam peso, vai dar pouco BO1 (fumo de melhor qualidade). Já a soja está indo muito bem”, avaliou ele no início do mês.

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Albrecht não nega que já pensou em largar o fumo e ficar só com a soja, mas financeiramente não é interessante. “Apesar das oscilações de uma safra para outra, o tabaco nos dá um bom retorno”, comemora, contando que aderiu à chamada safra escalonada. Começou a transplantar as mudas para a lavoura em setembro e só encerrou a etapa dias antes do Natal. A manobra otimiza a mão de obra familiar, dispensando a contratação de pessoal. O agricultor diz que é preciso buscar alternativas para driblar os custos em alta e também a escassez de trabalhador que entenda de fumo. Tem ainda o gargalo de infraestrutura: a rede de energia é fraca, impedindo que as duas estufas sejam acionadas ao mesmo tempo. “O jeito então é organizar a safra para que não seja necessário curar mais fumo do que minha capacidade”, conforma-se.


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1 milhão

de pés com a brisa do mar Dono de uma lavoura de 56 hectares e atento às novidades para o setor, jovem produtor do litoral sul de Santa Catarina alcança resultados surpreendentes, com uma produção de 2,5 mil quilos por hectare

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ão é apenas pelos quase dois metros de altura que Felipe Francisco, 29 anos, pode ser considerado um grande produtor de tabaco. Natural de Araranguá, filho e neto de fumicultores e técnico agrícola de formação, em 2010 ele decidiu iniciar a própria lavoura. Arrendou cerca de 60 hectares no município de Jaguaruna, também no litoral sul de Santa Catarina, e hoje produz, em média, 1 milhão de pés do tipo virgínia a cada safra. Tudo na propriedade é exagerado se comparado com a realidade do Vale do Rio Pardo. Para produzir as mudas são necessários cem canteiros, dispostos em duas fileiras de 50. As lavouras somam 56 hectares e, de uma ponta a outra, são dois quilômetros e meio. Estufas são 16, de 280 grampos cada. O número de funcionários beira os 30 no pico da safra, sendo que quatro deles são permanentes. O consumo de lenha chega a 1,3 mil metros cúbicos. Na sede da propriedade, que conta com alojamento, vestiário e refeitório, é preciso ter até empilhadeira para organizar os galpões. Para alcançar a produção desejada – média é de

2,5 mil quilos por hectare –, Francisco precisa fazer duas safras. A primeira é plantada em abril e colhida a partir de julho. Já a segunda começa em junho e vai quase até o fim do ano. Para colher toda essa quantidade de fumo – cerca de 500 mil pés na safrinha e outros 500 mil no ciclo principal –, ele utiliza um sistema pré-mecanizado desenvolvido por um tio que também planta bastante tabaco. Um trator puxa o reboque onde vão, sentadas, as pessoas responsáveis por apanhar as folhas. “Elas vão na sombra e a altura do assento é regulável, o que torna o trabalho menos cansativo”, explica. E as particularidades da produção de Felipe Francisco não param por aí. De uma das lavouras é possível avistar a bela lagoa de Arroio Corrente e, mais adiante, as dunas da praia. Em linha reta, os últimos pés de fumo ficam a menos de um quilômetro do mar, proximidade que vira tentação no verão. A brisa ajuda a amenizar o calor. “A partir de novembro, já com horário de verão, trabalhamos até por volta das 19 horas. Depois o pessoal vai à lagoa tomar um banho ou então dar uma voltinha na beira da praia”, confessa.

PERFIL

1 milhão de pés do tipo virgínia cultivados em 56 hectares a cada safra

16 estufas de 280 grampos cada são usadas para a cura do tabaco

30 funcionários são contratados no pico da produção. Quatro atuam de forma permanente na propriedade de Felipe Francisco


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Quando o tabaco vira complemento de renda

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ortemente estimulada pelo setor e até por protocolos oficiais, a diversificação está diminuindo o peso do tabaco na composição da renda das pequenas propriedades. Pesquisa da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) aponta que na safra 2005/2006 o produto respondia por 73% dos ganhos, percentual que caiu para 52% no ciclo 2014/15. Não é raro encontrar agricultores que tiram do tabaco o dinheiro extra do início do ano. É o caso de Waldir Oberherr, 54 anos, do município de Pinhalzinho, no oeste catarinense. A soja é o carro-chefe da propriedade onde são cultivados cinco hectares de fumo burley e aproximadamente 200 de soja, milho e trigo. “Nenhum outro produto agrícola dá o mesmo resultado financeiro por hectare que o tabaco. Não podemos abrir mão dessa

fonte de renda”, resume Oberherr, que depois da colheita do fumo aproveitou a terra para plantar um pouco mais de soja, porém com ciclo curto. Com orgulho, ele e o filho Cássio Henrique, 23, contam que, graças ao tabaco, conseguiram comprar uma colheitadeira de grãos nova. “Alguns anos atrás, compramos a máquina e o preço da soja e do milho caiu muito. Por sorte, o fumo foi bem naquele ano e com o dinheiro da safra consegui pagar uma parcela bem significativa da colheitadeira”, recorda Waldir Oberherr. Ele é um dos poucos do caminho entre Pinhalzinho e Saudades que continuam no tabaco. “Muitos vizinhos foram tão bem na diversificação que acabaram migrando totalmente para outras atividades, mas para isso contaram com os bons resultados do fumo”, garante.

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A partir de programas de incentivo, culturas alternativas se multiplicam nas regiões fumageiras, assegurando mais recursos para as famílias. Mas a atividade ainda segue como uma das que mais geram riqueza no agronegócio

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IMPACTO

52% da renda das propriedades resultou do tabaco no ciclo 2014/2015. Esse volume chegou a ser de 73% no período de 2005/2006.


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MĂĄquina

francesa ajuda a colher no ParanĂĄ Fotos: Bruno Pedry

Tecnologia tem se tornado uma importante ferramenta para os produtores de burley, que conseguem reduzir o tempo de trabalho na colheita e, com isso, podem ampliar o nĂşmero de safras ou se dedicar a outras atividades

Em vĂ­deo ✓ O funcionamento da colheitadeira de tabaco que vem sendo utilizada pelos produtores paranenses demonstra como a atividade pode se tornar mais prĂĄtica e, com isso, possibilitar que os agricultores se dediquem a outras atividades rurais. Em um vĂ­deo disponĂ­vel no Portal do Tabaco (www.portaldotabaco.com.br) ĂŠ possĂ­vel acompanhar o funcionamento do sistema.

A

cena característica da colheita do tabaco que se vê com facilidade no Vale do Rio Pardo estå ganhando contornos tecnológicos pelo Sul do Brasil. Na região oeste do Paranå são vårios os produtores que jå utilizam måquinas para colher fumo, principalmente o burley que, ao contrårio do virgínia, Ê arrancado inteiro da lavoura. No interior do município de Marechal Cândido Rondon o produtor Ivo Al-

berto Bartzen, 52 anos, cultiva 85 mil pĂŠs da variedade comum e 40 mil de burley. As lavouras ficam Ă s margens do lago da Usina HidrelĂŠtrica de Itaipu, de onde capta ĂĄgua para irrigação. Ele foi o primeiro a utilizar uma colheitadeira de burley importada da França para testes, em 2011. â€œĂ‰ uma maravilha, ganhamos tempo e dinheiroâ€?, sorri o gaĂşcho de Bom PrincĂ­pio que foi ainda criança para o ParanĂĄ. Em Capanema, tambĂŠm no oeste pa-

ranaense, o casal Marcelo e Ana Paula Brandenburg, 30 e 29 anos, respectivamente, possui o mesmo modelo testado de forma pioneira por Ivo Bartzen. O equipamento importado fica bem guardado no galpĂŁo, junto da colheitadeira de grĂŁos e do trator. “Contamos com a ajuda da empresa para fazer um financiamentoâ€?, conta Marcelo, que avalia ter tomado a decisĂŁo certa. “Nos livramos do trabalho mais pesadoâ€?, comemora. Segundo o fumicultor, a mĂĄquina Kirpy, de cor amarela, jĂĄ estĂĄ no terceiro ano de uso. “Puxada por um trator comum, ela corta o pĂŠ, prende em uma espĂŠcie de

grampo e leva para uma carreta basculante que anda ao lado, puxada por outro trator. Quando a carreta enche, basta levar atĂŠ o local desejado, descarregar a plataforma e começar tudo outra vez. É muito simples e rĂĄpidoâ€?, resume Ana Paula, filha de venâncio-airenses. O investimento – cujo valor nĂŁo foi divulgado pelo casal – ĂŠ justificado pelo ritmo intenso de produção. Os Brandenburg fazem trĂŞs safras por ano: a primeira de abril a agosto, a segunda de junho a outubro e a terceira de agosto a dezembro. Menos rigoroso, o inverno ĂŠ muito aproveitado pelos fumicultores daquela regiĂŁo.

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Fotos: Bruno Pedry

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Muito mais

que lenha para secar o tabaco Fontes alternativas para a geração de calor nas estufas, como o pallet, podem representar uma alternativa mais em conta para os produtores e ainda reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera

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az mais de uma década que o produtor Fábius Marcos Jung, 41 anos, de Travessão Schoenfeldt, no interior de Candelária, não sabe o que é comprar lenha para a cura dos cerca de 100 mil pés de tabaco que produz. Criativo e empreendedor, primeiro trocou a lenha por serragem, incentivado por um amigo dono de uma olaria. Depois migrou para cavaco, maravalha e até para casca de arroz. Desistiu dessa opção porque gerava muita cinza. “Foi o único combustível alternativo que me deu problema. Os demais são muito bons, principalmente a serragem.” Em parceria com o Centro de Pesquisas Florestais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),

na safra que está terminando ele usou o chamado pellet, espécie de serragem compactada que até lembra ração animal. O produto mostrou-se eficiente e será novamente utilizado na safra 2016/2017, mas aí com ajustes no forno para melhorar os resultados. “O pellet é uma ótima opção. Para manter a estufa funcionando por sete dias são necessários 60 sacos de 15 quilos, o que me custa bem menos que a lenha”, compara. Além da queda nos custos com combustível para as estufas, Jung ajuda o meio ambiente ao reduzir a emissão de CO2. Quem também está de olho em

alternativas para tocar as estufas é Ézio Oliveira Francisco, 60, do interior de Araranguá (SC). Ele e os sócios possuem 19 estufas e duas delas usam gás liquefeito de petróleo (GLP). Instalados ao lado das estufas, os cinco botijões de 190 quilos cada chamam atenção. “Cada fornada leva uma semana para ficar pronta e consome dois botijões e meio de gás”, informa o produtor, dizendo que atualmente o GLP está inviável devido ao alto custo. “O gás subiu 30% de um ano para o outro enquanto a lenha ficou 9% mais cara”, compara, destacando que o gás torna a cura limpa do ponto de vista ambiental.

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Tecnologia

deixa trabalho mais prático Aplicativo e portal na internet concentram informações que auxiliam os produtores de tabaco nos cuidados com suas plantações e fornecem dados relacionados ao mercado, cotações e contratos com as empresas

U

m recurso voltado ao gerenciamento da propriedade começa a ser difundido entre os fumicultores. Lançado pela Philip Morris Brasil (PMB), o Portal do Produtor (www.produtorphilipmorris. com.br) reúne dados acerca das principais etapas relacionadas ao cultivo e pode ser acessado por computador ou pelo aplicativo disponível nas plataformas iOS, Android e Windows Phone. A página tem o conteúdo dividido em áreas de acesso aberto, com informações sobre a empresa, cotação das principais commodities, previsão do tempo, produção e sustentabilidade na lavoura de tabaco e uma central de notícias. Outras seções do portal foram desenvolvidas exclusivamente para os produtores que possuem contratos com a PMB. Essas áreas são acessíveis por login e senha e funcionam como uma extensão dos serviços que hoje já são prestados pelos orientadores agrícolas da empresa.

Assim, o fumicultor pode acessar remotamente os dados do seu contrato, consultar a tabela de preço do tabaco e insumos, verificar a agenda da propriedade e receber orientação técnica por meio do envio de mensagens para os orientadores agrícolas. Em breve, estarão disponíveis notificações automáticas do aplicativo, enviadas para celulares cadastrados, que informarão sobre questões como a agenda do programa “Mais Campo”, previsão do tempo e dia da visita do orientador agrícola. “Essas novas ferramentas certamente vão estreitar os laços da Philip Morris Brasil com os produtores, em especial aqueles que possuem contratos com a empresa. Além de oferecer um conteúdo relevante sobre o tabaco e as práticas de sustentabilidade utilizadas pela empresa, estamos entregando soluções que facilitarão o dia a dia do fumicultor”, afirma Gerson Assmann, diretor de Tabaco da PMB.

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Saiba mais O lançamento do Portal do Produtor da Philip Morris Brasil junta-se a outras inovações que vêm sendo introduzidas pela empresa desde o início de suas atividades de produção integrada de tabaco em 2010, com o objetivo de garantir a sustentabilidade do setor, difundir boas práticas agrícolas e simplificar as atividades na cadeia produtiva. Conheça algumas delas:

✓A implantação de estufas de

✓ O projeto de mecanização

ar forçado permite a cura sem a necessidade de formação de manocas, gerando economia de 30% de tempo, além de melhorar a uniformidade do tabaco.

da lavoura da PMB está em andamento em cidades do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, ao mesmo tempo em que são desenvolvidas parcerias para nacionalizar a fabricação das colheitadeiras e reduzir seus custos. Recentemente, também foram realizados testes de utilização de uma linha mecanizada, em dois núcleos de produtores: Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires. Os resultados preliminares de um plantio de 54 mil mudas, realizado em uma área de 2,8 hectares, mostraram maior rendimento operacional, de 10% em horas-homem de trabalho, e redução do tempo de transplante na ordem de 27%, quando comparados com o plantio manual.

✓ O Programa de Boas Práticas Agrícolas tem como foco a informação do produtor sobre pontos que garantam a sustentabilidade da atividade. A partir do contato com os orientadores da PMB, os fumicultores que possuem contratos com a empresa são treinados a respeito de questões como erradicação do trabalho infantil e condições seguras de trabalho, proteção do meio ambiente, além de conscientização sobre qualidade e rendimento do tabaco. A estação móvel do Programa Mais Campo, lançado em 2015, atua de maneira itinerante.


Carlos Nyland/ULT/Divulgação/GS

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Recompensa

para quem cuida das águas Apresentado há cinco anos como um projeto-piloto, o Protetor das Águas evoluiu e se tornou um programa permanente que vai remunerar famílias de Vera Cruz que adotam práticas voltadas à conservação ambiental

Resultados positivos

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o mesmo tempo em que se dedicam à agricultura, famílias moradoras do interior de Vera Cruz desempenham um importante papel como agentes da conservação do meio ambiente e ainda asseguram receita para suas propriedades. Essa é a proposta do programa Protetor das Águas, que a partir deste ano entra em uma nova fase. Desenvolvida inicialmente de forma experimental, a iniciativa ganhou reforços importantes no final de 2015. A partir de agora, o município será o responsável pela condução do programa, que evoluiu do projeto-piloto de experimentação do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) como instrumento para promover a recuperação e preservação ambiental.

Com a marca “Programa Protetor das Águas”, a ação se tornou permanente, com renovação anual, e a Estação de Tratamento de Água (ETA) do município absorveu o legado do projeto-piloto realizado sob coordenação técnica da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). A proposta inovadora de PSA envolveu 62 produtores rurais da sub-bacia do Arroio Andréas, em ações de proteção das nascentes e recompensa financeira por isso. Mesmo com a mudança recente, as instituições parceiras continuam sendo a Universal Leaf Tabacos (ULT) e a Fundación Altadis (entidade pertencente à empresa britânica Imperial Tobacco), que são responsáveis por prover os recursos para pagamento do PSA. Os produtores envolvi-

Entenda Serão beneficiadas as propriedades dos 62 produtores de água, somando 144,48 hectares. Os recursos públicos serão para atividades a serem implementadas durante 36 meses e incluem educação ambiental, capacitação para operadores de máquinas e equipe técnica, plantio direto e cultivo mínimo em 50 hectares, readequação de 20 quilômetros de estradas rurais e adequação de taludes do Arroio Andréas. O principal objetivo das novas ações é promover a conservação do solo para melhorar a infiltração que contribui na recarga do lençol freático e dos mananciais hídricos que abastecem a cidade.

dos continuarão recebendo parcelas anuais conforme a área disponibilizada para proteção. Além disso, em 2015 passaram a ter a isenção na tarifa de água, concedida pela Prefeitura mediante aprovação de lei que isenta a tarifa mínima de água aos integrantes do projeto, além de proprietários de áreas onde se localizam poços, fontes, pontos de captação e reservatórios do Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto (Semae). A medida foi tomada como mais uma forma de incentivo e compensação pelo serviço ambiental na preservação das nascentes e garantirá a economia de R$ 414,00 ao ano para os produtores que pagarão apenas o consumo excedente. Também haverá continuidade de todas as atividades que tiveram sua eficácia comprovada em prol da proteção dos recursos hídricos, como manutenção do monitoramento da qualidade da água (20 pontos de coleta) e o monitoramento hidrológico (quantidade da água). E o incremento nas ações se dará graças à aprovação de um projeto da Prefeitura de Vera Cruz junto à Agência Nacional de Águas (ANA), pelo qual a União repassará R$ 654.076,50, que se somará à contrapartida do município de R$ 13.348,50 (2%) para conservação de solos e água nas áreas do Protetor das Águas.

A melhoria da qualidade da água do Arroio Andréas evidencia o bom resultado do Projeto Protetor das Águas. Levando em conta os parâmetros do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), as análises laboratoriais mostraram evolução significativa. As classes de uso 1 e 2, correspondentes a classes de água de boa qualidade, passaram de 43,8% em 2012 a 70,5% em 2013 e 75,84% em 2014. Já no caso das classes 3 e 4, menos nobres, cujo índice era de 56% no início do projeto, houve redução para 24,16%, em 2014, após implantação da maioria das ações previstas no projeto.


GAZETA DO SUL • Sábado e domingo, 27 e 28 de fevereiro de 2016

de vida cresce entre os fumicultores

Pesquisa do Instituto Vox Populi revela que patrimônio das famílias produtoras de tabaco cresceu a partir do aumento na receita da produção

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ma nova realidade começa a ser vista nas regiões produtoras de tabaco. Embora a atividade centenária sempre tenha se destacado na geração de riqueza, nos últimos anos o perfil de quem se dedica a ela mudou rapidamente. E para melhor. A partir do incentivo das empresas, os fumicultores passaram a adotar uma visão mais estratégica em torno do negócio, que muitas vezes vem passando entre gerações das famílias. Planejamento, investimentos em tecnologia e um olhar atento à economia são alguns dos fatores que contribuíram para tamanha mudança, comprovada a partir de pesquisa realizada pelo Vox Populi entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015, junto a 1,6 mil produtores de tabaco da Região Sul do Brasil. Conforme o instituto, o incremento no patrimônio e na qualidade de vida caracteriza 99% dos produtores como integrantes da classe média brasileira. Em 2009, esse percentual era de cerca de 82%. O estudo encomendado pela Souza Cruz, num comparativo com levantamentos anteriores feitos pelo mesmo Instituto – de acordo com a Classificação Socioeconômica Critério Brasil, da Associação Brasileira de Em-

presas de Pesquisa – mostrou um avanço das classes sociais B1 e B2 de 7,6% em 2009 para 82,3% em 2015 (66,2% classe B2 e 16,1% classe B1). Já a classe C reduziu de 73,7% em 2009 para 16,8% em 2015. Nos extremos, as Classes D e E com 0,1% em 2015 e a Classe A, com 0,9%. A pesquisa ainda mostrou uma grande evolução na aquisição de bens de consumo dos produtores integrados de tabaco, comprovando que 100% dos entrevistados possuem energia elétrica e equipamentos variados em suas residências rurais, como aparelhos de rádio, TV e geladeira, além de percentuais elevados (mais do que 60%) que possuem TVs por assinatura e computadores. O acesso à internet também é cada vez mais difundido, o que caracteriza um salto na qualidade de vida dos agricultores. “Mais de 85% dos produtores entrevistados possuem trator ou microtrator e carreta para auxiliar nas atividades agrícolas”, ressalta o gerente nacional de Produção Agrícola da Souza Cruz, Helio Moura. Outros índices que impressionam são relacionados aos bens duráveis: 91,8% têm ao menos um automóvel na propriedade e 62,7% possuem ao menos uma motocicleta.

EVOLUÇÃO

✓ Os números levantados pela pesquisa mostram o efeito do trabalho realizado pela Souza Cruz nos últimos anos com a Plataforma Produtor Rural Sustentável, focada em oferecer ferramentas e capacitação aos seus fumicultores integrados para aprimorarem os sistemas produtivos (buscando maximizar a eficiência através dos ganhos de qualidade e produtividade) e a gestão das propriedades no seu todo, com ênfase no desenvolvimento sustentável, planejamento de atividades, gestão financeira e respeito às questões socioambientais. ✓ Nesse sentido, o uso de tecnologias como manejo sustentável do solo e de variedades mais produtivas – sem maior necessidade de insumos – é um bom exemplo desse avanço. “Técnicas de manejo de solo, como o camalhão alto de base larga usado por 85% dos produtores da empresa e a inserção de novas variedades, proporcionaram um avanço de mais de 20% na produtividade em quilos por hectare nos últimos anos”, frisa o executivo. Atualmente, a produtividade média dos produtores integrados da Souza Cruz é de mais de 2,5 mil kg/ha. Conforme dados da empresa, mais de 90% dos produtores integrados empregam uma ou várias práticas de manejo sustentável do solo, como camalhão alto de base larga, cultivo mínimo (plantio direto), adubação verde de inverno ou verão, plantio em curvas de nível, entre outros.

Exemplo em Passo do Sobrado Na localidade de Passo da Mangueira, em Passo do Sobrado (RS), o agricultor Itamar Rogério Pereira Konzen é um exemplo de evolução de renda e de qualidade de vida. Produtor integrado da Souza Cruz há 15 anos, ele deixou o trabalho na iniciativa privada para se dedicar integralmente ao cultivo de tabaco na sua propriedade de 7 hectares. Hoje, apresenta números que superam a média de produção, o que gera uma renda maior e, consequentemente, garante qualidade de vida melhor para a sua família. Em 2,2 hectares, Konzen cultiva 36 mil pés de tabaco, com uma produtividade de 3 mil quilos por hectare. O tabaco garante 70% da renda da propriedade, mas o produtor tem outras fontes, como a criação de gado (16,7%) e caprinos (10%). Ele ainda cultiva milho para o consumo dos animais. Um pequeno açude rende algum vaFotos: Junio Nunes/Divulgação/GS

Qualidade

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lor com a venda de peixes. O produtor, que conta com uma estufa LL para a cura do tabaco, é integrante do Programa Propriedade Sustentável, usado como uma ferramenta para auxiliar nas decisões sobre a gestão. “Tenho uma área pequena de terras, portanto preciso de uma cultura que tenha uma boa rentabilidade como o tabaco”, argumenta Konzen. A evolução da renda familiar proporcionou uma ampliação da residência, com a mesma qualidade de vida de uma casa na cidade. TV com antena parabólica, ar-condicionado, computador, notebook e internet deixam a casa mais confortável, mesmo distante 12 quilômetros do Centro. O smartphone é utilizado por Konzen para facilitar os acessos rápidos à internet. A família também tem carro e moto. O produtor é casado com a professora da rede municipal Tatiana Fagundes de Queiroz Konzen, 29 anos, com quem tem duas filhas, Elisa, 3, e Taila, de um ano.


GAZETA DO SUL • Såbado e domingo, 27 e 28 de fevereiro de 2016

Novas

estratÊgias no mercado Adequaçþes realizadas pela Alliance One em sua base territorial e de logística nos municípios catarinenses de Pinhalzinho, Lontras e Canoinhas visam agilizar os processos e racionalizar custos

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m setor dinâmico e que movimenta milhþes de dólares a cada ano, de tempos em tempos, exige adequaçþes para manter a competitividade. Em função disso, empresas reveem suas estratÊgias e adotam mudanças que visam tornar os processos adequados às novas necessidades. Neste cenårio, uma das iniciativas mais recentes Ê da Alliance One Brasil. Para ficar mais próxima de sua base produtiva, a companhia realizou o reposicionamento de operaçþes. Focada na racionalização dos custos e no aumento da eficiência dos processos, novas unidades entraram em funcionamento para compra de tabaco em Santa Catarina (SC). Na cidade de Pinhalzinho, haverå faturamento de insumos para a safra 2017. Jå a nova unidade de compra de tabaco fica no município de Lontras. Destaca-se, tambÊm, a nova unidade de compra de tabaco e faturamento de insumos de Canoinhas. Para que esse projeto de reposi-

cionamento fosse possĂ­vel, a empresa encerrou suas operaçþes em Rio do Sul e Palmitos, ambas em SC. Segundo o diretor de operaçþes da Alliance One Brasil, Fernando Limberger, as novas estruturas estĂŁo alinhadas Ă s demandas regionais da empresa em solo catarinense. “Com estes novos investimentos, buscamos nos aproximar ainda mais do produtor contratado e aperfeiçoar nossas atividades no Estadoâ€?, projeta. Com duas unidades fabris, localizadas em Venâncio Aires e AraranguĂĄ (SC), alĂŠm das unidades de compra e faturamento de fertilizantes, a Alliance possui ĂĄrea total prĂłpria de 356.631,58 metros quadrados nos trĂŞs estados da regiĂŁo Sul do PaĂ­s. AtravĂŠs da geração de emprego e renda, desenvolvimento de diversos projetos sociais e preocupação com questĂľes ambientais e prĂĄticas sustentĂĄveis, a empresa busca a excelĂŞncia em inovação, competitividade, vanguarda tecnolĂłgica e responsabilidade social.

EXPEDIENTE Edição: Dejair Machado dejair@gazetadosul.com.br Textos: Igor Mßller, Four Comunicação, Otimiza Comunicação e assessorias Diagramação: Rodrigo Sperb Mapa: Gabriel Fabres

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Junio Nunes/Divulgação/GS

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