outubro 2006 :: ano 3 :: n 34 :: www.revistawebdesign.com.br
outubro 2006 :: ano 3 :: nº 34 :: www.revistawebdesign.com.br
DESIGN & ARTE
Ampliando suas fontes de inspiração
Webdesign
Reportagem: Conheça as transformações ocorridas no design para web Estudo de caso: A era dos sites como estratégia de branding Especial: Cobertura do Fórum Internacional de Design e Tecnologia Digital
R$ 8,90 I SSN 1806 - 0099
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00034
E D I T O R A
4 :: quem somos
Editorial “Vamos lá, Picasso, essa tela é pra ontem!!!”
Equipe Direção Geral Adriana Melo adriana@arteccom.com.br
Nossa última reunião de pauta aqui na Arteccom foi bastante rica e estimulante: falaríamos sobre arte nesta edição! É um assunto
Direção de Redação Luis Rocha luis@arteccom.com.br
Criação e Diagramação Camila Oliveira
C o m o C a ro l i n a L e s l i e , d a A g ê n c i a C l i c k ( p á g i n a 3 9 ) , e x p l i c a bem que a arte não tem que agradar nenhum público e a função do designer é justamente encontrar soluções ou, simplesmente, “agradar” este mesmo público, por que design e arte estão tão próximos, andam tão juntos? A ponto do designer, numa agência de
camila@arteccom.com.br
Leandro Camacho leandro@arteccom.com.br
Ilustração Beto Vieira beto@arteccom.com.br
Publicidade Bruno Pettendorfer Débora Carvalho
publicidade, ser chamado de “diretor de arte”? Na minha cabeça, fico imaginando um diretor de arte mais ou menos assim: - “Vamos lá, Picasso, essa tela é pra ontem, viu?” Brincadeiras à parte, acho que um designer deve, ao invés de
publicidade@arteccom.com.br
Gerência de Tecnologia Fabio Pinheiro fabio@arteccom.com.br
Financeiro Cristiane Dalmati cristiane@arteccom.com.br
se sentir um artista, conhecer muito de arte e interpretá-la como f o r m a s d e e x p re s s ã o . U m a r t i s t a , n o s e u m o m e n t o d e c r i a ç ã o ,
Atendimento e Assinaturas Luanna Daumas luanna@arteccom.com.br
chora, ri, sofre, sente angústia e, finalmente, encontra uma maneira de extravasar seus sentimentos, através de formas, cores, sons, ocupação do espaço... Um designer também pode chorar, sorrir, sofrer, se o objetivo for encontrar soluções inovadoras para seus clientes. Ou seja, a
A Arteccom é uma empresa de design, especializada na criação de sites e responsável pelos seguintes projetos: Revista Webdesign :: www.arteccom.com.br/webdesign Curso Web para Designers :: www.arteccom.com.br/curso Encontro de Web Design :: www.arteccom.com.br/encontro Portal Banana Design :: www.bananadesign.com.br Projeto Social Magê-Malien :: www.arteccom.com.br/ong
arte deve servir apenas como uma grande fonte de inspiração. E, com esse objetivo, preparamos várias páginas para a sua imersão
Criação e edição www.arteccom.com.br
no mundo da arte. Produção gráfica
Boa leitura.
www.prolgrafica.com.br
Adriana Melo
Distribuição www.chinaglia.com.br
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interessante e essencial.
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fique por den tro pág. 8 métricas e mercado pág. 10 direito na web pág. 11 post-it
portfólio pág. 12 agência: Cappuccino/HZTA pág. 18 freelancer: Renato Loose
matéria de capa pág. 20 entrevista: Design e arte pág. 28 reportagem: Design na web
e-mais pág. 38 debate: Adaptar-se pág. 44 e-mais: Virais na web pág. 48 especial: FIND pág. 51 estudo de caso: Bicmusic pág. 54 tecnologia na web: CSS Hacks pág. 56 tutorial: Caminhando pelo HTML - Parte 5
com a palavra pág. 58 mercado de trabalho: Cesar Paz pág. 60 marketing: René de Paula Jr. pág. 62 bula da Catunda: Marcela Catunda pág. 64 webdesign: Luli Radfahrer
20 :: entrevista - design e arte
Design e arte são campos distintos do conhecimento humano. Porém, nada impede que ambos sejam utilizados em harmonia para a construção de representações que ajudem a tornar mais compreensíveis e sofisticados os objetos e a maneira na qual vivemos em sociedade. Nesta entrevista, Ronaldo Gazel, artista plástico, designer e diretor de arte na BHTEC e:house (www.bhtec.
vai usar. E é aí que nos encaixamos na história, e passamos a fazer parte dela.
com.br), fala como as referências fora do mundo tecnológico
Por outro lado, no que se entende por design hoje,
podem contribuir na construção de ambientes digitais mais
dentro de uma ótica artística, é plenamente possível
criativos e funcionais, além de ressaltar a importância da
desenvolver projetos de utilização alternativa, que podem
história da arte como base para o trabalho do designer.
ser altamente subjetivos e próximos até do antiuso. Nesse
Wd :: Por que e como o conhecimento da história
cenário se enquadram os experimentalistas, que buscam
da arte serve como base para trabalho de um designer
um tipo de reação mais sensorial, de semânticas totalmente
na internet?
específicas, heterogêneas, dentro de universos distintos,
Gazel :: A arte reflete o tempo em que é produzida. Conhecer a história da arte, ainda que apenas alguns pontos
sejam eles culturais, comerciais, didáticos, humanistas, matemáticos, psicológicos, estéticos.
dela, é fundamental para entendermos os questionamentos
O designer que pára de olhar o mundo com o olhar difuso,
e paradigmas que permearam as épocas e as respostas
amplo, capaz de compreender várias realidades, corre o risco
que o homem/artista deu (e ainda dá) a elas. Na verdade,
de virar uma engrenagem na linha de produção de sites, no
a história da arte, estando intimamente ligada à literatura,
melhor estilo “corte e costura” de HTML. Vai passar a apertar
à filosofia, à antropologia, à história, à religião, enfim, a
um parafuso, ao invés de compreender toda a engrenagem.
um sem-número de expressões humanas, acaba tendo
E é por isso que devemos, além de estudar a história da arte,
uma importância fundamental na vida de todas as pessoas.
firmar nossa posição como artistas designers - mentes capazes
Quanto mais longe da arte, mais perto do controle, do
de compreender as expressões artísticas não apenas como
sistema, do pensar “massificado”, pasteurizado.
uma superficialidade decorativa ou bela, e sim, uma interface
É preciso entender a história do design, para ser um
capaz de comunicar utilizando modelos não-usuais, linguagens
designer mais completo, mais consciente, mais coerente. É
não-verbais, fora do “logos”, da razão cotidiana; capazes de
preciso saber como surgiu o movimento do design; saber
questionar o que não se quer questionado; de propor o que
como o relacionamento dos objetos e do ser humano foi se
não se quer proposto; de causar o estranhamento, dando lugar
sofisticando com o passar do tempo. É importante porque
ao controverso. Enfim, capazes de compreender o mundo
uma interface é uma superfície de trabalho, de uso. E é
pictórico muito além da forma.
por isso que somos designers da web, projetamos, como
Wd :: Ao longo do tempo, os movimentos artísticos
um designer projeta um espremedor de suco, ou uma
vêm exercendo uma grande influência na produção do
cadeira, interfaces que um grupo de pessoas certamente
design. Em termos de internet, talvez um dos melhores
entrevista- design e arte :: 21
exemplos esteja no site das Havaianas (www.havaianas.
qualquer situação. Veja que paradoxo, digamos quase
com.br) e algumas campanhas on-line da Coca-Cola na
zen-budista: o artista busca gerar um reflexo altamente
França (www.coca-colablak.fr e http://secure.coca-cola.
pessoal; uma linguagem, uma “poiesis” própria, buscando
fr). Quando a arte deve ser aplicada em benefício do
o coeficiente de “arte” em um trabalho artístico, seja ela
design na web?
um vídeo, uma pintura, uma performance, um website
Gazel :: A arte pode trazer enormes benefícios para o
- linguagem essa que, apesar de desuniversalizada na
design na web, sendo uma linguagem não-verbal, capaz de
origem, tende a se comunicar com o senso-comum, tanto
despertar naquele que tem contato com ela, percepções e
na aceitação, quanto no estranhamento.
diálogos muito mais sofisticados (ou simples, diretos!) do
Já o designer normalmente trabalha com fins
que as narrativas e approachings das interfaces focadas em
utilitários extremamente bem definidos, e por isso a
percepções utilitárias puras. E o maior desses benefícios
pressão por coerência artística passa a ser mínima, em
se chama coerência estética. Essa coerência pode ser
favor de uma adequação máxima aos padrões estéticos
percebida no excelente site das Havaianas, evidenciando o
aceitos por um grupo majoritário - ou pseudomajoritário;
fato de que a ousadia em termos de linguagem, da difusão
padrões estéticos que são verdadeiros “lugares comuns”.
de valores semióticos sutis, fora do padrão midiático
Então, voltamos à história da “doxa”, do “ouvi dizer”, da
tradicional de informação, dispostos juntos a uma feliz
informação não-questionada e não-questionável. Quanto
combinação de fatores estéticos e expectativas sensoriais
menos vontade de reavaliar os valores e conceitos tidos
(revertidas de alguma forma em resultados positivos),
como inexoráveis, mais subvalorizada será a profissão de
transforma o lugar-comum dos pressupostos, das “doxas”
design, pois a pressão que passa a se exercer sobre nós,
pictóricas, dos pré-conceitos estabelecidos todos os dias.
designers, acaba sendo a mesma que um carregador de
Por isso mesmo, sites como esse, que felizmente têm
caixas: produção braçal, e não mental.
surgido em número cada vez maior, fazem tanto sucesso:
Wd :: A interação homem-computador é considerada
eles mostram que o caminho da arte no design na web é
por especialistas mais fria e distante, além de criar um
muito promissor, e dá resultados.
sentimento individualista entre as pessoas. Buscar
Wd :: Sobre a interação entre design e arte, podemos
referências nos movimentos artísticos pode ser um
afirmar que a principal diferença entre estes dois campos
caminho para proporcionar emoção e afinidade dentro
do conhecimento seja o compromisso com o público, ou
de um projeto digital?
seja, o designer tem compromisso com o público e o artista vive sem a necessidade e a pressão de fazer concessões? Gazel :: O perfil do artista hoje não pode ser traçado de modo simples, porque na pós-modernidade - período no qual vivemos, e que resgata todas as motivações e contradições do passado recente (movimentos modernos) em um timing assombrosamente rápido - há uma tal especificidade de propostas, conceitos e estéticas que permite ao artista, virtualmente, qualquer tipo de relação com o público, inclusive compromisso e descompromisso. Mesmo que uma proposta, em princípio, nos conduza a uma percepção romantizada do artista, como se ele não estivesse se importando para o público, não sofresse qualquer tipo de pressão, isso na verdade pode mostrar o contrário: a adequação do artista a nichos de mercado preparados para receber/consumir as suas características sui-generis, ou seja: para o artista, há um mercado em
22 :: entrevista - design e arte
Gazel :: Um cão, um cavalo, um boi são incapazes de
Gazel :: O cubismo representa o atonal, um universo
realizar gestos e ações que não sejam voltadas para a sua
no qual o simbolismo é completamente descartado,
própria existência física, sua preservação. Já o ser humano
cujas formas não remetem ao mundo e a seus símbolos,
é capaz de observar, gestualizar, modificar a natureza
mas sim à personalidade pura do geométrico. Alexander
pelo simples prazer estético, pela necessidade natural de
Calder (http://tinyurl.com/fbqu9), com seus mobiles, foi
mimese, sem qualquer relação com a sobrevivência.
o artista que mais conseguiu se aproximar desse ideal
Quando a interface digital (homem-computador)
cubista, na minha opinião: suas esculturas remetem a um
passa a desconsiderar ações e reações menos utilitárias,
mundo absolutamente próprio, que não dá margens a
aumentando o caráter prático em detrimento do
interpretações baseadas nas questões do cotidiano.
nos
O site internacional da Leo Burnett, apesar de gerar
robotizarmos, perdendo a habilidade de questionar, de
uma ótima sensação de profundidade, não tem uma
trocar pontos-de-vista, de negar o utilitário e promover o
influência cubista acentuada, já que, cognitivamente, ele
puramente estético/existencial. Por isso, sim, é louvável
é permeado por símbolos e letras, para a compreensão do
buscarmos referências nos movimentos artísticos para
conteúdo. Um site genuinamente cubista haveria de ser
criarmos interfaces um pouco mais humanas, que tornem
muito abstrato, com o mínimo de textos e imagens reais.
o ato de interagir um processo cada vez mais semelhante
Ainda que fosse em uma camada específica da interface,
ao agir natural do homem.
separando a arte cubista do conteúdo publicitário.
sensorial,
não-prático,
corremos
o
risco
de
Wd :: No livro “Vanguarda Européia e Modernismo
Wd :: Considerando o contexto político-econômico
explica
atual, permeado por guerras, intolerância religiosa
que a técnica da pintura cubista procurava
e injustiças sociais, é possível imaginar um resgate de
“apresentar a realidade através de estruturas
conceitos aplicados pelo movimento Dadaísta como
Brasileiro”,
Gilberto
geométricas,
Mendonça
desmontando
Teles
os
objetos
referência para projetos interativos?
para que, remontados pelo espectador,
Gazel :: Se analisarmos bem, todos os períodos da
deixasse transparecer uma estrutura
história foram permeados por esse tipo de acontecimento.
superior, a forma plástica essencial e
Sempre houve muitas guerras, muita intolerância - e
verdadeira da beleza”. De que forma
para cada época, uma contestação própria. Os artistas
esta técnica pode ser utilizada
modernistas eram naturalmente “engajados”.
pelo design na web? O site
Mas, nos dias de hoje, na dita pós-modernidade, tudo
internacional da Leo Burnett
é fragmentado - inclusive a crítica social. Encontram-se
( w w w. l e o b u r n e t t . c o m )
vários exemplos de movimentos de caráter contestador
pode ser apontado como
intrínseco, que fazem a crítica dentro de cenários
um exemplo?
específicos, quase nunca universais. O artista pode não falar da guerra como fez Picasso ao pintar “Guernica” até porque o impacto de uma pintura como guernica, nos dias de hoje, seria outro (afinal, muita água passou desde então) - mas ele critica a seu modo, uma crítica que se desuniversalizou desde a pop art, mas que se mantém viva em movimentos como o “sticker art” ou o “street bombing” - a arte urbana que envolve tantos artistas de diferentes áreas, que pintam, grafitam pela cidade, em superfícies autorizadas (ou não!), levantando questões urbanas ou simplesmente rasgando o cinza das ruas com cores vivas, intensas, volumes e tipografias sui-generis. Na internet, se houvesse um “street bombing”, seria
entrevista - design e arte :: 23
algo como uma área completamente livre dentro das interfaces (ou invadida!), que pudesse ser preenchida com arte. E, de certa maneira, eles também escandalizam, ao seu modo, como pretendiam os dadaístas. A diferença é que o engajamento é desnecessário, o mais importante é desenvolver a linguagem. Quanto ao resgate do Dadaísmo em projetos interativos, sim, é sempre uma ótima idéia! Afinal, Dadaísmo é sempre bem-vindo em qualquer situação, justamente para nos deslocar da linearidade dos ponteiros do relógio, do logos, do racionalismo. Ele é um movimento absolutamente atual, contestador em essência, e seus “jogos”, experiências
E se descobriu, findando-se a modernidade, que nenhum
como o “cadáver delicioso” (http://tinyurl.com/mrbgf)
dos movimentos estava mais ou menos próximo de uma
- espécie de colcha de retalhos de palavras, frases e
“verdade” artística - justamente porque essa “verdade”,
desenhos, ajudam-nos a reconstruir o pensar e o perceber.
ao ser encontrada, logo estaria superada.
Um “cadáver delicioso” é um ótimo ponto de partida para a criação de um projeto interativo digital dadaísta.
Podemos, então, conhecendo as características, as razões estéticas de cada movimento moderno, entender
Wd :: Acessando o site da agência Modernista!
suas circunstâncias, seus cenários - não simplesmente
(www.modernista.com), somos remetidos aos anos
reviver aquilo - mas criar uma relação entre uma questão
20, período no qual o mundo assistiria ao ápice do
atual vista sob aquela ótica. Essa é a receita para se
surrealismo (http://tinyurl.com/kurew), considerado
beber da fonte moderna e criar algo novo. E é por isso
um dos últimos movimentos de arte moderna. Como a
que não basta ter o conhecimento “dóxico”, superficial,
aplicação do inconsciente pode ajudar no processo de
sensorial, sobre uma época (apesar disso ser fundamental),
criação de uma interface digital?
entender sua picturalidade, suas formas, seu movimento,
Gazel :: Esse site da Modernista! é um bom exemplo
sua disposição, seu equilíbrio. É preciso conhecer a história
de como se comporta a arte nos dias de hoje, tanto no
da arte e ver que nenhum estilo surgiu ao acaso, mas sim
meio internet, quanto em qualquer outro. É perfeitamente
possuem origens claras - e desdobramentos que chegam
possível voltar no tempo e fazer uma releitura dos valores
até os dias de hoje, conseqüentemente. A partir desse
peculiares que formam o cerne de cada “manifesto” do
estudo fica muito fácil associar um projeto conceitualizado
período moderno. A diferença é que, naquela época, havia
hoje a uma estética moderna, seja qual for o movimento:
a nítida impressão de que o universalismo das propostas
cubismo, surrealismo, expressionismo etc.
poderia ser percebido e vivenciado como uma verdade, uma
No caso do surrealismo, é preciso mergulhar de cabeça
razão, sem prever suas contradições, sua transformação em
na psicanálise, e estar pronto para ir além da linguagem
outras verdades, tão efêmeras quanto o próprio homem.
comum, das percepções concretas, sensibilizando-se para
No período da modernidade, havia uma visão
os reflexos do inconsciente como feedback emocional para
romantizada, de um mundo inteiro para ser conquistado
a interface - o que parece bem subjetivo, porém plenamente
pela arte, ainda que por caminhos completamente
possível com interesse e muito estudo.
opostos, como os futuristas italianos, que traziam
Wd :: No livro “Iniciação à História da Arte”, da
o fascismo como uma grande virtude, um caminho;
Martins Fontes Editora, H.W.Janson e Anthony F.Janson
e o cubismo, que desconsiderava qualquer valor do
apontam que “ao contrário do Dadaísmo, a Pop Art não
mundo real, auto-suficiente em sua atonalidade. Eles
é motivada pelo desespero ou animosidade contra a
não poderiam existir sozinhos como verdade maior, como comprovou o tempo, mas foram absolutamente fundamentais, como todo movimento dentro da história.
24 :: entrevista - design e arte
civilização atual; considera a cultura comercial sua matériaprima, uma fonte inesgotável de material pictórico, mais do que um mal a ser combatido”. O uso da cultura de massa, tão emanada pelos seguidores da Pop Art, é uma linha conceitual que pode ajudar a aproximar os ambientes digitais de seu público-alvo? Gazel :: A Pop Art foi o último dos grandes movimentos modernos, e sua contribuição mais importante para a história da arte, ao meu ver, foi a mudança de percepção a respeito da apropriação e transformação de “memes” coletivos, ícones de massa, considerando uma “cultura pop”. A cultura pop, por sua vez, surgiu graças aos métodos industriais de criação e produção pictórica, a prevalescência da imagem de massa, em detrimento do conteúdo (também de massa, no entanto, de segunda ordem). Os clássicos exemplos “lata de sopa campbells” e as interferências na Marilyn Monroe e Mao Tse Tung demonstram isso com perfeição. É o início da era do consumo de imagens, à maneira industrial. Que vivemos até hoje, como num “pop” transgênico e muito acelerado. Poderíamos incluir aqui o kitsch e o neopop, mas seriam apenas categorizações para as transgenias diversas pelas quais passa a Pop Art até hoje. Continuamos consumindo o pop, construindo e desconstruindo sua forma e conteúdo de forma compulsiva, caótica, de modo cada vez mais veloz. Os ícones pop surgem e morrem quase no mesmo instante. O que mais me atrai na Pop Art é sua possibilidade de “cheating art”, ou seja, de fazer uma arte “trapaceando”, através dos meios de massa - inclua-se nessa categoria o sampling e a intervenção sobre todo tipo de imagem “lugar-comum”, desde logotipos conhecidos por todo o mundo até personagens (humanos ou não) pop extremamente regionalizados. A identificação com os “memes” acaba por facilitar a transmissão do que está agregado a ela - no caso, a arte. E é justamente nisso que vejo a grande possibilidade de se trabalhar o pop dentro dos ambientes digitais, aproveitar essa identificação quase insuperável (felizmente, quase) para se fazer ouvir. Uma espécie de comensalismo. Wd :: Segundo a Wikipédia (http://tinyurl. com/go7pj), o minimalismo representa uma série de movimentos artísticos e culturais ocorridos durante o século XX. Analisando a parte conceitual do movimento (“jogo de volumes e formas que esteja reduzido às suas configurações não mais que essenciais as suas
entrevista - design e arte :: 25
funções”), é certo dizer que a criação e o desenvolvimento
que precisa se ater a objetivos e regras já
de sites focados na usabilidade segue a mesma linha de
muito bem estabelecidas pela publicidade
pensamento?
(ou pela gerência de TI), sim. É quando a
Gazel :: De certa maneira sim, o movimento pró-
interface precisa ser o mais racional possível,
usabilidade busca enxergar e remover qualquer tipo
controlável, categorizada, sistemática. Isso
de ruído dentro da interface, com objetivo de chegar a
pode ser visto com mais intensidade nas
um coeficiente mínimo ideal de uso. É uma ótima causa.
interfaces unicamente funcionais, que de tão
O problema é que, assim como o próprio movimento
sistematizadas, acabam por virar “monstros”
Minimalista (e todos os demais movimentos modernos),
de organização, desumanizando ao máximo a
o movimento pró-usabilidade, na minha percepção,
linguagem entre o usuário e a interface.
acaba por acreditar (pela força da doutrina e do hábito)
A habilidade do designer em compreender
que só existe a realidade do uso, desconsiderando
os princípios dos quais a interface pode - e
o contraditório - que seria, nesse caso, a corrente
deve - se utilizar, sem se ater a regras gerais,
experimentalista, e que, na publicidade, poderíamos
“doxas” incontestáveis, clichês pictóricos - que
encontrar dividida em vários sub-movimentos, sendo o
normalmente nos levam a uma pasteurização das
mais importante deles o da “inversão de expectativa”
interfaces - é que vai fazer a diferença na hora de
- modo menos traumático de apresentar estéticas
conceitualizar a proposta.
pouco usuais a um público heterogêneo, abrangente,
A partir do conceito certo, sem subestimar
valendo-se de um gradiente entre o antiuso e o próprio
e nem superestimar o público (e a própria
uso, deixando o espectador/consumidor transtornado
interface), encontraremos o caminho mais
sensorialmente, abalado por alguns instantes, para,
interessante, mais adequado aos objetivos
no melhor estilo catártico, trazê-lo de volta ao mundo
(práticos e subjetivos) - pautando-se, dessa
cartesiano. Pronto, fez-se a mágica.
forma, por diversos valores semióticos e também
O mundo está girando numa velocidade espantosa,
por necessidades utilitárias, cada qual com sua
enquanto escrevo esse texto. Nós também, nossa
maneira de ser avaliada - ainda que o resultado
mente, nossos gostos, nossos paradigmas estão prontos
disso
para mudança, a cada instante. Acreditar numa linha
abstrato, uma subjetividade irritante (aos olhos do
unidirecional, em relação ao ideal do design na web, é
ser cartesiano), contrária aos critérios universais de
pura ilusão. É preciso considerar o antiuso, os reflexos da
avaliação atuais.
seja,
esteticamente,
um
picturalismo
própria frustração e a transformação que ela gera. Existem
Se esse for o caminho encontrado, é preciso
também sites que não têm qualquer relação com uma boa
encará-lo de forma corajosa. Isso porque nenhum
usabilidade (no sentido atual a que esse termo remete),
sistema de análise de interfaces que conheço
mas que usam a estética minimalista de modo primoroso,
consegue sair da esfera racional, do empirismo
cada qual a seu modo.
utilitário, até mesmo para lidar com os valores mais
Wd :: A Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais revela que “a liberdade de experimentação, o retorno
sensoriais, menos racionais - quando tratam destes, fazem-no de modo rasteiro.
às intenções expressivas e o resgate da subjetividade”
Tenho em mente que devemos mudar nossa
são algumas das principais linhas de pensamento do
opinião a cada instante, girar em torno da idéia
Neoconcretismo (http://tinyurl.com/gtnad). Diante de
inicial pelo menos uma dezena de vezes antes de nos
sua experiência na área, você acredita que os projetos
definirmos pelo conceito final. Assim, por exemplo,
experimentais on-line ainda são um campo pouco
se optamos por usar a simplicidade da forma básica,
explorado? Quais conceitos do Neoconcretismo poderiam
dos planos geométricos simples, podemos pesquisar o
ser aplicados no design na web?
cubismo ou o neoconcretismo. O importante é saber o
Gazel :: Em se tratando de design na web comercial,
porquê da escolha.