Projetos Experimentais - Revista Webdesign 42

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Webdesign

junho 2007 :: ano 4 :: nº 42 :: www.revistawebdesign.com.br

junho 2007 :: ano 4 :: nº 42 :: www.revistawebdesign.com.br

E D I T O R A

R$ 9,90 I SSN 1806 - 0099

9 771806 009009

00042

Projetos experimentais Um exercício para o seu processo de criação Agências digitais: qual seria o modelo ideal de negócios? Wikis: quando, por que e como utilizar dentro de um site Ousadia: ela já se disseminou pela web?


4 :: quem somos

Editorial

Levantando os principais temas das mensagens que recebemos mensalmente de nossos leitores, constatamos que muitos deles costumam pedir dicas de exercícios que os ajudem na tarefa de evoluir seus processos de criação.

Direção Geral Adriana Melo Direção Executiva Sergio Melo Direção de Redação Luis Rocha Criação, Diagramação e Ilustração Camila Oliveira Leandro Camacho Beto Vieira

Parece que a melhor resposta para esta solicitação esteja

Publicidade Débora Carvalho

p re s e n t e n a p ro d u ç ã o d e p ro j e t o s e x p e r i m e n t a i s . P e n s a n d o

Desenvolvimento Web Cadu Sant'Anna

nisso, nesta edição preparamos um material especial, contando a experiência e o retorno que alguns profissionais/ agências tiveram ao apostarem na realização de trabalhos neste segmento, além das metodologias e os materiais a s e re m u t i l i z a d o s . O tema experimentação serviu ainda como base para a produção das matérias publicadas nas seções Debate e Estudo de Caso. Na primeira, investigamos como anda a ousadia em projetos interativos. Na segunda, apresentamos algumas das inovações presentes na campanha publicitária on-line do novo carro da Ford. Boa leitura e um grande abraço!

Financeiro Cristiane Dalmati Atendimento Luanna Chacon Atendimento aos assinantes atendimento@arteccom.com.br Redação redacao@arteccom.com.br Anuncie publicidade@arteccom.com.br A Arteccom é uma agência especializada na criação de sites e responsável pelos seguintes projetos: Revista Webdesign :: www.revistawebdesign.com.br Concurso Peixe Grande :: www.arteccom.com.br/ webdesign/peixegrande Encontro de Web Design :: www.arteccom.com.br/encontro Fórum Internacional de Design e Tecnologia Digital :: www. arteccom.com.br/find Projeto Social Magê-Malien :: www.arteccom.com.br/ong

Criação e edição www.arteccom.com.br

Produção gráfica

Luis Rocha.

www.prolgrafica.com.br

Distribuição www.chinaglia.com.br

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:: A Arteccom não se responsabiliza por informações e opiniões contidas nos artigos assinados, bem como pelo teor dos anúncios publicitários. :: Não é permitida a reprodução de textos ou imagens sem autorização da editora.

Exercite sua criação!

Equipe


menu :: 5

apresentação pág. 4 quem somos pág. 5 menu

matéria de capa pág. 22 entrevista: Agências digitais pág. 30 reportagem: Projetos experimentais

contato pág. 6 emails pág. 6 fale conosco

e-mais pág. 38 debate: Ousadia pág. 44 e-mais: Nova geração

fique por den tro

pág. 51 estudo de caso: Exigentes ao extremo

pág. 8 métricas e mercado

pág. 56 tecnologia na web: Wikis

pág. 10 direito na web

pág. 60 tutorial: Actionscript - Parte 3

pág. 11 post-it com a palavra portfólio

pág. 64 internacional: Julius Wiedemann

pág. 12 agência: Ginga

pág. 66 usabilidade: Marcia Maia

pág. 18 freelancer: Rogério Lionzo

pág. 68 marketing: René de Paula Jr.

pág. 20 ilustração: Rubens LP

pág. 70 publicidade on-line: Ricardo Figueira pág. 72 webdesign: Luli Radfahrer


30 :: projetos experimentais

Projetos Experimentais em busca das novas idĂŠias


projetos experimentais :: 31

Responda com sinceridade: se um amigo pedir para você

projeto experimental mais interessante, mais rico em experi-

criar um site com alta carga de inovação, porém com uma

ências e mais bem-sucedido, tendo conquistado mais de 30

verba beirando ao zero, a proposta seria aceita? Na balança,

destaques internacionais em diretórios importantes. Enfim, não

certamente as questões envolvendo o tempo para produção

foi lucrativo financeiramente (e nem era o objetivo), mas ganhei

e o custo e benefício pesam em demasia. No entanto, em de-

uma verdadeira fortuna em matéria de experiência. E claro, foi

terminadas situações, é preciso avaliar como um projeto deste

ótimo ver o reconhecimento internacional. Sites experimentais

pode render frutos no futuro.

são sites estratégicos, em todos os sentidos”.

Quem apostou nisso foi o artista plástico e designer free-

Fugindo dos clichês

lancer Ronaldo Gazel. “Em 2006, criei um site para um amigo,

Antes de conhecermos as características que envolvem os

o maestro Ruben Di Souza (www.discopraise.com.br/rubinho).

trabalhos experimentais, precisamos definir quais são os aspec-

Aproveitei a experiência para trocar alguns paradigmas. Vá-

tos que marcam a originalidade e a inovação de um projeto.

rios deles. O primeiro seria a maneira de apresentar o menu.

Pensar no inusitado e no surpreendente é o primeiro caminho

Pensei: ‘vamos fazer um menu invisível e integrado ao design,

para descobrirmos tais fatores.

para que a criação prevaleça e não seja afetada pelas letras e

“É fundamental fugir de soluções óbvias, dos ‘clichês’.

símbolos do menu’. Dito e feito: criei um menu auto-ocultável

Também é interessante tirar um elemento de um contexto óbvio

com máscaras independentes, que são completamente integra-

e deslocá-lo para um lugar onde ele não é normalmente visto.

dos à interface. E que teve mais de cinco versões diferentes,

Os irmãos Campana utilizam este recurso ao criarem mesas com

durante o processo. Só para fazer o menu, foram mais de 40

ralos de pia ou cadeiras com bichos de pelúcia, por exemplo”,

horas. Se não fosse um projeto experimental, provavelmente

diz o designer e ilustrador Carlo Giovani (www.carlogiovani.

eu não teria esse tempo e ainda ouviria o cliente dizendo: ‘o

com). “Acho que quando o usuário consegue participar da ex-

usuário não vai conseguir usar isso”.

periência on-line e a cada clique ele descobre algo novo e isso

Conforme o andamento do projeto, Gazel se deparou

o impulsiona para um outro clique, já fica estabelecido a marca

com uma série de desafios envolvendo a criação. “Outra expe-

da originalidade. Alguns críticos dizem que a originalidade é

riência foi a de criar um tutorial que fosse absolutamente cria-

um conceito discutível. Acho que a originalidade é usar um

tivo e exprimisse, logo ali, os valores que nos quais o usuário

elemento de uma forma que ainda não foi usada, mesmo que

estaria preste a imergir, entrando no site propriamente dito.

os outros ingredientes continuem o mesmo”, completa André

Para isso, contei com a ajuda de vários storyboards, muitos

Matarazzo, sócio da agência Gringo (www.gringo.nu).

deles pintados em papel, com tinta acrílica, e alguns bons

Neste debate, não podemos nos esquecer que a percep-

três dias apenas planejando as idéias. Fomos para o estúdio

ção de originalidade e de inovação vai variar de pessoa para

e capturamos as cenas. Depois disso, foi só fazer a sincronia

pessoa e de projeto para projeto. “A minha maneira de definir

com a trilha sonora, repleta de efeitos e que também é um

‘originalidade’ é transformar um experimento inédito em uma

diferencial do projeto, pois foi desenvolvida exclusivamente

boa idéia. Ou seja, pegar uma ação, idéia que estava sendo

para o site - o que raras vezes vemos acontecer nos projetos

desenvolvida de forma incubada (e eu diria até descompromis-

do dia-a-dia. Poderia falar de várias outras boas experiências,

sada), que se transforma até se tornar algo aplicável no mercado

como o uso de tipografias inclinadas e gigantes (um cliente

como uma idéia nova que surgiu da ousadia, da experimentação,

diria: tá tudo torto!), com máscaras líquidas; pesquisa extensa

sem moldes iniciais. Acho que inovação é arrumar uma maneira

de cor (cada uma das cinco seções possui uma paleta própria

diferente de navegação através de um script que você nunca viu

e cuidadosamente calculada), e até do logotipo - criado a

ninguém usar, ou mesmo não ter medo de jogar um punhado

partir das formas gráficas do site - algo que também não havia

de tinta em cima de uma tela”, explica Ludmilla Rossi, diretora

ocorrido comigo até então, que sempre criei os sites depois

da Mkt Virtual (www.mktvirtual.com.br).

dos logotipos, e não o contrário”, afirma.

Metodologia para experimentação

No final, a experiência deu tão certo, que hoje ele atesta

Durante apresentação no Fórum Internacional de Design

a validade de se investir em projetos deste porte. “Foi o meu

e Tecnologia Digital (FIND), realizado em setembro de 2006, o


32 :: projetos experimentais

designer Stefan Sagmeister (www.sagmeister.com) abordou o

tamos a alguns profissionais se o briefing representava um limite

período de sua carreira no qual apostou na criação de projetos

à criação ou um desafio a ser vencido. Segundo André Braz,

experimentais. Segundo ele, uma de suas principais dificuldades

gerente de design da Globo.com, “trabalhos experimentais sem

no início foi trabalhar sem limitações, sem uma orientação para

briefing são excelentes, mas têm outro papel: abrem a cabeça

o seu trabalho. Dessa forma, existiria algum método para se

e exercitam a pensar fora da caixa. O profissional que tem este

trabalhar com experimentação?

hábito, tempo e recursos para fazê-lo sempre cresce, como ao

“Experimentar não significa criar sem limites, direções. Mesmo em um projeto pessoal, sem um briefing de cliente, é

ler um novo livro. Deve-se apenas tomar cuidado para que isto não vire uma fuga do compromisso com resultados”.

importante que determinemos o caminho a seguir, um rotei-

Pensando nisso, alguns fatores podem ajudar o profissional

ro, ou mesmo um esboço do que pretendemos desenvolver.

na hora de inserir a experimentação dentro de seu cotidiano.

Dentro dessas limitações, então, passamos a experimentar

“Penso que podemos ter duas situações. A primeira, onde o

uma série de possibilidades pertinentes ao projeto proposto.

designer exercita a experimentação no ambiente de trabalho; e

Iniciar um trabalho sem saber o que se pretende, é, ao meu

a segunda, onde ele exercita a experimentação no seu horário

ver, um erro”, diz Carlo.

de lazer. No ambiente de trabalho deve existir abertura para

Segundo os especialistas, a metodologia de experimenta-

esse tipo de produção e entendimento da importância desse

ção para uma peça de design visual se assemelha muito ao traba-

processo para oxigenar a prática de criação. O profissional que

lho do artista. “Sendo assim, o designer cria a partir da intuição e

faz uso do seu horário de lazer para a produção de linguagem

toma decisões de acordo com suas preferências pessoais, criando

experimental, acredito que tenha a necessidade de dizer algo

um objeto destituído de função e não tendo o cliente para interfe-

a mais do que seu cotidiano permite, ele gosta de se expres-

rir e prazo final. A partir desse contexto, o designer, conhecendo

sar além dos limites impostos pelo trabalho cotidiano e tem a

as regras de composição visual, passa a fazer associações visuais

necessidade de colocar algo para fora reforçando a tendência

livres chegando ao que entendo por experimentação. Cultivar

artística desse profissional. Agora, vale ressaltar que sempre

outras atividades de produção de linguagem visual é uma boa

tem o negócio do método de trabalho, cada empresa trabalha

estratégia para oxigenar prática profissional de um designer”,

de uma forma, assim como cada profissional também tem o seu

afirma Gustavo Lassala (www.gustavolassala.com), professor das

estilo. Portanto, concordo que, no cotidiano de trabalho, esse

universidades São Judas e UNIFIEO.

hábito pode ajudar como atrapalhar. Cada profissional deve

Assim, nada melhor do que a prática para que o profissio-

refletir sobre seus resultados e analisar constantemente sua

nal determine qual caminho deverá seguir. “O empirismo pode

produção a fim de avaliar se esse processo ajuda ou atrapalha

ser doloroso, mas é um aprendizado que você sente ‘na carne’.

o seu desempenho”, orienta Gustavo.

Isso não significa que, para aprender de verdade, devemos nos

Para Fabio Couto, sócio do Estúdio Colletivo de Design

atirar no campo minado, sem ao menos observar as pegadas de

(www.colletivo.com.br), a experimentação pode ser muito mais

quem já passou por ali ileso. Eu mesmo já passei algumas vezes

simples do que se imagina. “O simples fato de manter a mente

por esse campo minado e fui, aos poucos, desenvolvendo uma

aberta a novas soluções em tudo que se faz já abre espaço para

metodologia própria, chamada de ‘10 passos criativos’. Envolve

que a experimentação seja inserida na rotina. Testar novas fórmu-

uma série de atitudes, práticas e mentais, para que todo pro-

las, pensar em outras apresentações mesmo fora do briefing são

jeto tenha seu potencial criativo devidamente explorado pelo

opções que você pode apresentar a um cliente como sugestão.

webdesigner, que passa a se posicionar também como artista

Demonstram interesse e bom gosto. O briefing não deve ser visto

- a marca dos grandes designers. Por artista, consideremos

como limitador e deve ser sempre discutido com o cliente. Por

a pessoa que não se contenta com as respostas estéticas do

isso, discutimos tudo e tentamos sempre recriar as referências que

mundo, lutando incansavelmente por uma nova expressão, por

são apresentadas nas reuniões de briefing, justamente porque o

uma dialética constante e enriquecedora”, aponta Gazel.

trabalho tem que ter uma expressão própria”.

Experimentação no cotidiano profissional Na edição de março de 2007, na seção “Debate”, pergun-

Ou seja, tais projetos ajudam o profissional a buscar novos caminhos para o seu processo de criação. “A criatividade é um


projetos experimentais :: 33

músculo que precisa de exercício, e muito! Projetos experimentais

“Eu mesmo fiz uns dez trabalhos que

são a malhação e só tem a ajudar no processo de criação de qual-

julguei experimentais pelo prazer de

quer profissional”, ressalta Daniel Edmundson, diretor de criação do estúdio mooz (www.mooz.com.br). “Noto que, de tempos em

fazê-los no começo da minha carreira.

tempos, há saturação e homogeneização nas soluções gráficas

Não fiquei esperando para que o meu

adotadas no nosso mercado. Elementos, formas, métodos de execução acabam se tornando generalizados e repetidos até o esgotamento. A experimentação tem valor chave nesse quesito,

diretor de criação viesse e me desse permissão” (André Matarazzo)

pois com ela se é possível alcançar novos patamares e novos métodos de execução de trabalhos: apresentando ao público

Além disso, a pesquisa deve ser considerada aspecto

maior diversidade de linguagens estéticas, interessantes soluções

importante para se trabalhar com experimentação. “Descubra

criativas mesmo não seguindo uma tendência e desse modo des-

tudo sobre os conceitos definidos do projeto, veja imagens, ouça

tacando trabalhos do lugar comum”, complementa o designer

música, leia, transporte-se para o universo conceitual no qual ele

gráfico e ilustrador Dan Fervin (www.danfervin.com).

se insere, pense como as pessoas pensavam naquele momento

Pesquisa e materiais a serem utilizados

em particular. Depois volte e analise tudo com seu ponto de

Então, se você está decidido a produzir algum tipo de

vista. A partir daí se começa a experimentar, misturando coisas.

projeto experimental, a boa notícia é que todo tipo de material

É um processo que não acaba nunca. Não teria a menor graça se

pode ser utilizado. “Não há limite, desde que se obedeça a

acabasse, o desenvolvimento é contínuo”, diz Fabio.

uma coerência com as necessidades do projeto. Já desenvolvi

E para que este processo possa ajudar no rendimento do

ilustrações com comida, lego, metal, sucata de computador, ar-

projeto, a organização vai ser fundamental. “Já dizia o saudoso

gila, tecido, papel, roupas, além das técnicas convencionais com

Chico Science que ‘eu desorganizando, posso me organizar. Que

bico de pena, grafite, tinta, colagens e técnicas digitais. Tudo

eu me organizando, posso desorganizar’. Ainda que seja um cara

depende do que está sendo proposto no projeto”, enumera

bagunceiro como eu (risos), precisa encontrar a sua maneira de se

Carlo. “Especialmente em design, aqui na Mkt Virtual, usamos

organizar, com o seu jeito, com o seu estilo, para que a pesquisa

papel, tinta, sucata, fotos amadoras, livros... E qualquer coisa

seja realmente uma ferramenta. Usar um método standard que

que esteja ao alcance na hora da criação e possa gerar uma boa

já se mostrou falho, é organização falsa, que não vai entrar em

idéia”, completa Ludmilla.

sintonia com o resto do processo criativo”, ressalta Gazel.

Nesta etapa, o computador funcionará como uma ferra-

Experimentação dentro das agências

menta para agilizar o processo de manipulação. “Ele serve como

Em entrevista recente (http://tinyurl.com/oh8eg), Sag-

ferramenta para unir tudo numa área só e deixar a manipulação

meister ressaltou ainda que “os trabalhos experimentais (que

mais fácil, e é claro, municiar com uma das maiores invenções da

não fazem parte da programação de uma agência) têm uma

era moderna: os vetores”, relata Dan. Outros elementos tecno-

tendência a serem relegados por trabalhos mais ‘urgentes’,

lógicos também podem ajudar no processo de experimentação.

simplesmente pelo fato de eles terem um prazo de entrega

“Já fotografamos marabus, escaneamos misturas de tintas,

definido”. Então, qual seria a realidade nas agências brasi-

desenhamos por cima, fotografamos texturas, escaneamos

leiras? Elas abrem espaço para os profissionais trabalharem

de novo... E por aí vai. Fundamental: tenha um bom scanner

com experimentação?

e uma boa máquina digital. Essas ferramentas ajudam você a

“Isso é raro, muitíssimo raro. Mas conheço agências que,

capturar o trabalho com qualidade para todo tipo de projeto,

no seu planejamento, incluem projetos em longo prazo, que

seja impresso, web ou motion”, orienta Fabio.

permitem que haja mais debates e análises sobre o tema. Sábias,

Outra dica é guardar sempre todos os materiais que

estas últimas. Porque o experimental é muito mais do que um

foram produzidos. “Deixe um acervo de fácil acesso, você vai

simples projeto, ele é um exercício de criação, de análise, de

acabar usando pedaços, desenhos e conceitos em algum outro

autocrítica. Planejando projetos experimentais ou pelo menos

trabalho seu”, destaca Daniel.

dando abertura para que eles se façam presentes, é uma ótima


34 :: projetos experimentais

maneira de manter alto o estímulo do designer, evitando que

uma estrutura organizada e baseados apenas na “via-

ele caia na mesmice do dia-a-dia”, afirma Gazel.

gem criativa”. Quais foram as principais etapas envolvi-

Assim, mesmo que o espaço não seja o ideal, a atitude

das na concepção do Projeto 404?

deve partir sempre do profissional. “Esse tipo de trabalho tem

Suzana :: O projeto era experimental, porque ele trans-

que ser feito extracurricularmente pela realidade de muitas

gredia todas as regras de usabilidade naquela época: era

agências. A não ser que haja uma aplicação imediata, é difícil

inteiro em Flash, tinha um tempo de duração enorme e uma

ter um tempo grande para correr atrás de idéias puras. Acho

navegação intuitiva, pouquíssimo funcional (propositalmente).

lindo quando isso acontece. Quando um designer quer avançar

Mas apesar dele ter essa estética experimental, ele tinha

e quer criar algo totalmente sem barreiras, ele tem que fazer um esforço extra e trabalhar sozinho, arranjar um grupo, fazer coisas no fim de semana - se virar. Eu mesmo fiz uns dez trabalhos que julguei experimentais pelo prazer de fazê-los no começo da minha carreira. E esses trabalhos me deram muito prazer e visibilidade. Não fiquei esperando para que o meu diretor de criação viesse e me desse permissão. Essa é a diferença entre ter o tesão de ir além e tomar o seu destino nas suas mãos e ficar no papel de vítima que ninguém te entende e ninguém te dá a tão sonhada liberdade artística”, finaliza Matarazzo.

objetivos de comunicação muito claros. Não podíamos correr o risco da mensagem ficar confusa. E, para garantir isso, esse projeto foi desenvolvido com a mesma disciplina e método que usávamos para fazer qualquer job. Aliás, por ser experimental, ele abriu espaço para várias tentativas e erros, o que demandou ainda mais disciplina e processos. Ele envolveu criar o conceito, escrever os roteiros de cada episódio, filmar, experimentar várias formas de navegação para ver qual ficava mais interessante, achar uma cantora que tivesse o clima “noir” que desejávamos, e,

Projeto 404: a experimentação dentro da AgênciaClick Bate-papo: Suzana Apelbaum, na época, diretora de criação de AgênciaClick. Atualmente, é diretora de criação da Africa Publicidade (www.africa.com.br) Wd :: Como surgiu a idéia de criar o Projeto 404 (www.agenciaclick.com.br/404)?

naturalmente, testar o site para ver se o caráter experimental estava no ponto certo - ou seja: estava inovador, mas não a ponto de comprometer o entendimento da peça. Wd :: Quais benefícios o 404 trouxe para a AgênciaClick? Suzana :: Esse projeto foi um jeito totalmente novo de se autopromover. No lugar de falar de casos de sucesso, falamos de casos de fracasso. Isso trouxe para a

Suzana :: A AgênciaClick estava fazendo 10 anos

agência uma imagem de inovação, ousadia, e de ser, de

de mercado e queríamos divulgar e ressaltar esse dife-

fato, a agência mais experiente e preparada do mercado.

rencial - a importância de se trabalhar com uma empresa

E, se não me engano, ganhamos alguns prêmios interna-

experiente. A idéia veio da constatação de que 100% das

cionais com essa peça.

agências de internet se vendia a partir de seus casos de

Wd :: Hoje, existe espaço para a experimentação

sucesso. Quando, na verdade, um dos fatores determi-

dentro das agências? Por que elas devem investir nes-

nantes para uma agência de internet ser eficiente é a sua

tes tipos de projetos?

capacidade de lidar com erros e fatores inesperados. E

Suzana :: De modo geral, existe pouco espaço,

só as agências que têm muita experiência é que podem,

por conta do volume e caos constante de jobs. Mas é

garantidamente, se sair bem nisso. Mostrando a quanti-

fundamental investir nesse tipo de projeto, porque

dade de erros que podem surgir num projeto, mostramos

ele estimula a pesquisa de novas linguagens, amplia o

como estávamos preparados para fazer casos de sucesso.

leque de linguagens, faz repensar processos e ajuda a

Wd :: Existe um certo mito envolvendo a experimentação, no qual estes projetos seriam feitos sem

trazer novas idéias.


projetos experimentais :: 35

Exemplos de experimentação pela web - Dimitre Lima

- Oculart

“É um designer que pesquisa pro-

“Site do surrealista Geoff Lille-

gramação, vídeo, tipografia, música

mon. A estranheza da navegação

e aplica isso no seu trabalho e na

e dos trabalhos leva o usuário a

apresentação dele.” (Carlo Giovani)

questionamentos sobre padrão de

www.dmtr.org

www.oculart.com

- Emiliano Rodriguez

www.emilianorodriguez.com.ar

estética e usabilidade da internet.”

(Dan Fervin)

“Surpreende pela idéia inusitada de

- Sofake

se navegar no portfólio por meio do

“Destaco pela forma de navegação.

corpo do criador. Faz um ótimo uso

Faz uso do Flash de modo diferen-

de música e tem uma navegação

ciado. Realmente se desprende do

diferenciada com transições e sons

adequados ao visual.” (Gustavo Lassala)

sistema de navegação por barra de www.sofake.com

rolagem ou o simples clique no bo-

tão esperando carregar a próxima página.” (Gustavo Lassala) - FAQ Magazine “Revista em formato digital, que

- Yugo Nakamura

chama ilustradores para criarem

“É o tipo do cara que sempre inovou

desenhos a partir de um tema.”

dentro de sua especialidade, que é

(Daniel Edmundson)

tecnologia/arte aplicada. Ele fez seu

www.faqmagazine.net

nome e sua carreira experimentando www.yugop.com

- Heiwa Alpha “Explorar uma linda colagem com motion, interativa, enfim, esse é um bom caminho para recriar o conceito do visitante de ‘realidade’ no meio www.heiwa-alpha.co.jp

sozinho, devagar, uma novidade por

vez. Note que a maioria dos projetos que ele faz, e que são de cair o queixo, são totalmente novos. Ele tem o dom de focar em uma solução nova por vez. Pequenos passos - sempre na direção certa.” (André Matarazzo)

digital.” (Fabio Couto)

- WM Team “Site de uma agência alemã com

- Makibishi Comic

ótimas ilustrações e animações. A

“Esse é novo. E muito bom.”

navegação e interação são tão diver-

(Fabio Couto)

tidas que você se sente jogando um www.wmteam.com

videogame. Penso que sites como

esses começam a trazer definitivamente a tão esperada linguahttp://comic.makibishi.co.jp

gem de comunicação e interação que a tecnologia da internet - Misprintedtype “Projeto experimental do ilustrador/ designer Eduardo Recife, que disponibiliza para baixar gratuitamente lindas fontes grunges.” (Daniel Edmundson)

www.misprintedtype.com/v3

permite.” (Gustavo Lassala)


36 :: projetos experimentais

“O experimental é muito mais do que um simples projeto, ele é um exercício de criação, de análise, de autocrítica” (Ronaldo Gazel)

Sem medo de errar

jeto. No começo, as atualizações eram pequenas, somente

Bate-papo: Daniel Santiago, criador da revista

indicação de novos sites, alguns artigos. Já nesta última

experimental Monovolume (www.monovolume.com.br)

versão, onde o texto é o principal do site, o desenvolvi-

Wd :: Como surgiu a idéia de criar o Monovolume?

mento exigiu um tempo maior. Por isso, optei por dividir

Daniel :: Sempre tive o hábito de visitar portais sobre

em edições, onde cada uma pode ser elaborada com um

design - nacionais e internacionais - em busca de referên-

pouco mais de prazo. Para conciliar o tempo entre a ela-

cias, novos estilos, conceitos, contato com outros profis-

boração das matérias e o trabalho do dia a dia, não tem

sionais. Mas só isso não era o suficiente. Como sempre

mistério, são as famosas madrugadas, finais de semana.

tive paixão por história da arte, música, cinema, e não

Atualmente, tenho a ajuda da designer Cibele Gomes

encontrava isso associado a webdesign, resolvi criar a pri-

(www.cibelegomes.com), responsável por algumas maté-

meira versão do Monovolume em 2003.

rias e a revisão geral do site. O Monovolume está aberto

O conceito do site sempre foi a união entre design, arte, música e comportamento. Ao longo desse tempo, o Monovolume teve mais quatro versões, onde pude experimentar outros formatos de conteúdo, diagramação e sen-

a novos colaboradores, quem se identificar com os assuntos abordados e quiser participar é só entrar em contato. Wd :: Que tipo de retorno o Monovolume já trouxe para a sua carreira?

tir as necessidades que esse tipo de projeto necessitava.

Daniel :: Antes mesmo de ter um portfólio on-line

Nesta última versão, acredito que chegamos o mais pró-

com meus trabalhos como designer, o Monovolume já

ximo da idéia inicial, porém, mas moderna e atual.

existia. Ele é, de certa forma, meu cartão de visita para

Acredito que a principal característica de qualquer

o mercado. Através dele, tive o prazer de conhecer inú-

projeto experimental é a ousadia, não se pode ter medo

meros profissionais da área, além de propiciar excelen-

de errar. Não vejo problema em colocar lado a lado no

tes oportunidades de trabalho. Mas o retorno maior que

Monovolume uma entrevista com uma banda nova que

o Monovolume traz atualmente é o desafio e o prazer de

está agitando a cena independente aqui em São Paulo e

se fazer algo interessante sobre os assuntos que eu mais

uma matéria sobre um grande cineasta sueco e suas obras

gosto. Acredito que qualquer que seja o elemento ligado

existencialistas. O mais importante é que o assunto seja

à cultura, ele será de profunda inspiração para seus traba-

interessante e ligado à cultura/comportamento.

lhos como designer. Vá ao cinema, exposições, ouça muita

Wd :: De que forma você conciliou o tempo a ser destinado na criação e no desenvolvimento do Monovolume? Daniel :: Esse é um dos grandes desafios desse pro-

música, leia livros, revistas, ande pela rua e, no tempo que sobrar, navegue na internet. Cultura nunca é demais.


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