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GEOGRAFIA SUMÁRIO UNIDADE 1 - TERRA 1.1Espaço geográfico.................................................................................................................................. 03 1.2. Forma e movimentos da Terra ............................................................................................................05 1.3. Movimentos da Lua . ........................................................................................................................... 07 1.4. Coordenadas Geográficas ................................................................................................................... 09 1.5. Fusos horários .................................................................................................................................... 10
UNIDADE 2 - CARTOGRAFIA 2.1. Escala cartográfica ............................................................................................................................... 15 2.2. Projeções cartográficas ...................................................................................................................... 17 2.3. Sensoriamento remoto ...................................................................................................................... 21
UNIDADE 3 - LITOSFERA 3.1. Superfície terrestre.............................................................................................................................. 24 3.2. Tempo geológico ................................................................................................................................ 25 3.3. Deriva continental .............................................................................................................................. 26 3.4. Rochas ................................................................................................................................................ 30 3.5. Geologia do Brasil ................................................................................................................................ 32
UNIDADE 4 - DEMOGRAFIA 4.1. Conceitos e Taxas Demográficas ......................................................................................................... 34 4.2. Teorias Demográficas .......................................................................................................................... 38 4.3. Estrutura Populacional ........................................................................................................................ 40 4.4. Estrutura Etária.................................................................................................................................... 40 4.5. Estrutura Ocupacional ......................................................................................................................... 43 4.6. Índice de Desenvolvimento Humano ................................................................................................. 44 4.7. Migrações ............................................................................................................................................ 46 4.8. Formação do Povo Brasileiro............................................................................................................... 51
UNIDADE 5 - URBANIZAÇÃO 5.1. Urbanização ......................................................................................................................................... 55
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UNIDADE 1 TERRA
1.1. Espaço Geográfico As sociedades humanas desenvolvem, durante sua História, modos próprios de vida. Estes decorreram da combinação de formas de subsistência material - com culturas diversas -, de diferentes métodos de organização social e política e de tipos de ocupação do espaço geográfico. Não é possível pensar em sociedade separada do espaço que ocupa. Segundo o geógrafo Milton Santos, “o espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais, e objetos sociais, e, de outro, a vida que preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento”. O espaço geográfico é apropriado de diferentes formas por diferentes povos em diferentes momentos históricos. Além dos fatores naturais, a ocupação e utilização de um espaço dependem também da construção ideológica de sua sociedade e do momento histórico de determinada sociedade. A questão tecnológica é também outro fator para que possamos entender esse processo, pois determina ou possibilita diferentes formas de se apropriar, ocupar, manter e transformar esse espaço. A história das chamadas relações entre sociedade e natureza é, em todos os lugares habitados, a da substituição de um meio natural, dado a uma determinada sociedade, por um meio cada vez mais artificializado, isto é, sucessivamente instrumentalizado por essa mesma sociedade. Em cada fração da superfície da Terra, o caminho que vai de uma situação a outra se dá de maneira particular e a parte do "natural" e do "artificial" também varia, assim como mudam as modalidades de seu arranjo. Dessa forma, pode-se afirmar que o espaço geográfico é produzido pelas sociedades e substitui o espaço natural. Assim, quanto maior o desenvolvimento técnico de uma determinada sociedade, menor o espaço natural. A análise das imagens noturnas obtidas pelos satélites revelam muito sobre a ação das sociedades no meio natural. Quanto maior a intensidade das luzes de uma região, maior a concentração populacional ou seu nível de desenvolvimento.
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LUGAR O conceito de lugar é relacionado aos espaços que nos são familiares e que fazem parte do nosso cotidiano. Quando falamos em lugar, pensamos em referenciais afetivos que desenvolvemos ao longo de nossa vida, que são carregados de emoções e que dão a sensação de segurança, de pertencimento, de identidade. Durante a vida, podemos mudar de lugar várias vezes. Cada mudança exige que passemos por um processo de adaptação, sem, no entanto, perder nossa identidade, que está ligada ao nosso lugar de origem. Ao recordar passagens de nossa vida, é natural evocar os lugares que fizeram parte dela: a casa onde nascemos à rua onde brincávamos na infância, a primeira cidade para onde viajamos em férias, etc. A princípio, nos familiarizamos com a nossa casa, para mais tarde explorar outros lugares, como a rua onde moramos, o caminho para a escola, para o centro da cidade, para cidades próximas ou mais distantes. Dessa maneira vamos construindo a nossa própria “geografia”. É através dessa geografia dos lugares, do cotidiano, que começamos a estabelecer relações entre os lugares. Isso significa que o conhecimento geográfico não é exclusivo de geógrafos, cientistas e técnicos de planejamento; ele envolve conhecimentos e impressões que vamos construindo e adquirindo à medida que nos relacionamos com os lugares que compõem o espaço que nos rodeia. Não é difícil observar que, embora os lugares apresentem características próprias que os tornam singulares, eles estão também interligados e se relacionam entre si em diversos níveis (local, regional, nacional, global). O nosso lugar não é uma realidade isolada. Ele faz parte de um conjunto de lugares, marcados por diferentes aspectos naturais e sociais, que passaram por vários processos históricos e que fazem parte de uma realidade mais ampla.
PAISAGEM Se estivermos viajando de avião, a uma altitude não muito elevada, teremos ampla visão da porção do espaço que estamos sobrevoando. Em uma região bastante transformada pela ação humana, poderemos perceber, entre outras coisas, campos cultivados, pastagens, cidades grandes, médias ou pequenas, interligadas por uma rede de rodovias e ferrovias. O conjunto de elementos que podemos observar nesse voo hipotético e todos os outros arranjos heterogêneos que observamos diariamente fazem parte do que chamamos de paisagem. A paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. Podemos identificar nas paisagens todos os elementos que fazem parte do espaço em interação: Elementos naturais – relevo, clima, vegetação, rios, oceanos. Elementos culturais – plantações, cidades, estradas, indústrias e outras realizações da sociedade. Saber interpretar os processos naturais, sociais e econômicos que moldam as feições de uma paisagem é o verdadeiro objetivo da geografia.
TERRITÓRIO O conceito de território é classicamente definido como sendo um espaço delimitado. Tal delimitação se dá através de fronteiras, sejam elas definidas pelo homem ou pela natureza. Mas nem sempre essas fronteiras são visíveis ou muito bem definidas, pois a conformação de um território obedece a uma relação de poder, podendo ocorrer tanto em elevada abrangência (o território de um país, por exemplo) quanto em espaços menores (o território dos traficantes em uma favela, por exemplo).
REGIÃO Região é uma área ou espaço que foi dividido obedecendo a um critério específico. Trata-se de uma elaboração racional humana para melhor compreender uma determinada área ou um aspecto dela. Assim, as regiões podem ser criadas para realizar estudos sobre as características gerais de um território (as regiões brasileiras, por exemplo) ou para entender determinados aspectos do espaço (as regiões geoeconômicas do Brasil para entender a economia brasileira). Eu posso criar minha própria região para a divisão de uma área a partir de suas práticas culturais ou por suas diferentes paisagens naturais, entre outros critérios.
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1.2. Forma e movimentos da Terra ROTAÇÃO A Terra gira em torno de si mesma num movimento chamado rotação. Esse movimento dura 24 horas ou, mais precisamente, Coreia do Norte 23 horas, 56 minutos e 4 segundos. Tal movimento é responsável pelos dias e noites: enquanto no lado da Terra que está voltado para o Sol é dia, no outro é noite, interfere na circulação geral da atmosfera e no movimento das correntes marítimas. É também causa o achatamento dos polos e a dilatação equatorial, formato geoide (figura ao lado) Vale e delta do
Rio Nilo
Coreia do Sul
TRANSLAÇÃO É o movimento que a Terra, bem como os demais planetas, executam ao redor do Sol. A trajetória percorrida chama-se órbita e tem forma ligeiramente oval, ou seja, elíptica. Essa órbita é percorrida pela Terra em aproximadamente 365 dias e 6 horas a uma velocidade média de 29,9 km/s. Devido a esta forma, a distância entre o Sol e a Terra varia durante o ano, sendo de 147 milhões de quilômetros quando o planeta encontrase mais próximo ao Sol (periélio), e de 152 milhões de quilômetros quando a Terra está mais distante do Sol (afélio). Embora a Terra se encontre um pouco mais próxima do Sol na condição de periélio, esse fato não tem grande interferência na intensidade de energia recebida pelo planeta.
A principal consequência do movimento de translação é a ocorrência das estações do ano, períodos durante os quais, dependendo da posição da terra em relação ao Sol, os hemisférios Norte e Sul do planeta poderão ser igual ou desigualmente iluminados, o que tem grande influência na vida em geral e também nas atividades humanas em particular. Por que existem as estações do ano? Elas existem por duas razões: 1ª) Os planos do Equador e da órbita terrestre não coincidem, resultando numa inclinação da ordem de 23°27’. Ou seja, o eixo imaginário da Terra está inclinado em relação ao plano da eclíptica. 2ª) Durante a translação, a Terra ocupa diferentes posições em relação ao Sol, expondo sua superfície aos raios solares de maneira diferenciada.
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Só há duas ocasiões em que os dois hemisférios são igualmente iluminados e recebem de maneira equitativa a energia solar. Essas épocas do ano são conhecidas como EQUINÓCIOS (noites e dias iguais). Ocorrem aproximadamente em 21 de março (início do outono no Hemisfério Sul e da primavera no Hemisfério Norte) e em 23 de setembro (início da primavera no Hemisfério Sul e do outono no Hemisfério Norte). Nessas datas, o Sol encontra-se perpendicular (ângulo de 90º), ao meio-dia, sobre a linha do Equador. Os dias e as noites duram exatamente 12 horas cada, pois os dois hemisférios recebem igual insolação. Por volta do dia 21 de março, no Hemisfério Sul, vemos o Sol, ao meio-dia, cada vez mais baixo no horizonte em relação ao Norte (esta direção é a mais iluminada e aquecida no inverno do Hemisfério Sul), até aproximadamente o dia 21 de junho, quando o Sol se encontra na altura do trópico de Câncer. Nessa data, inicia-se o verão no Hemisfério Norte e o inverno no Hemisfério Sul. Está época é conhecida por SOLSTÍCIO, isto é, época em que os hemisférios Norte e Sul da Terra são desigualmente iluminados (a Terra mantém-se inclinada em relação ao plano de sua órbita). O solstício de verão no Hemisfério Sul ocorre próximo a 21 de dezembro, quando o Sol se encontra na altura do Trópico de Capricórnio. Por esta razão, no verão os dias são mais longos e as noites, mais curtas; no inverno, acontece o contrário.
in: http://oquintoelemento.com/?p=1072.
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1.3. Movimentos da Lua A Lua, como o Sol e a Terra, não está parada no céu, ela gira ao redor da Terra, que por sua vez gira ao redor do Sol. A Lua possui muitos movimentos, mas os principais são translação, rotação e revolução. O movimento de translação é o que ela faz em torno do Sol, acompanhando a Terra. Sua duração é de um ano, como o da Terra, portanto, 365 dias. O movimento de rotação é o que ela faz em torno do seu próprio eixo. O movimento de revolução é o que ela faz ao redor da Terra. A rotação lunar e a revolução têm a mesma duração, pois são realizados, em tempos iguais, num período aproximado de 28 dias. Este período de 28 dias, em que a Lua gira ao redor da Terra e ao redor de si mesma se chama mês lunar.O número de dias do mês lunar é diferente do número de dias do mês da Terra. O tempo que a Terra leva para girar ao redor do Sol, que é de 365 dias, se chama ano terrestre, e o tempo que a Lua leva para girar, junto com a Terra, ao redor do Sol, se chama ano lunar.
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ECLIPSES Um eclipse acontece sempre que um corpo entra na sombra de outro. Assim, quando a Lua entra na sombra da Terra, acontece um eclipse lunar. Quando a Terra ĂŠ atingida pela sombra da Lua, acontece um eclipse solar.
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1.4. Coordenadas Geográficas ORIENTAÇÃO Geralmente os pontos cardeais aparecem em provas com seus sinônimos: NORTE = Boreal ou setentrional SUL = Austral ou meridional LESTE = Oriente ou nascente OESTE = Ocidente ou poente
O globo terrestre, como se pode ver nas figuras a seguir, pode ser dividido por uma rede de linhas imaginárias que permitem localizar qualquer ponto de sua superfície. Essas linhas determinam dois tipos de medidas: a latitude e a longitude, que em conjunto são chamadas de coordenadas geográficas. Num plano cartesiano, como você já deve ter aprendido ao estudar matemática, a localização de um ponto é determinada pelo cruzamento das coordenadas x e y; numa esfera, o processo é semelhante, mas as coordenadas são medidas em graus.
LATITUDE É a distancia medida em graus entre um ponto e a linha do Equador (0°), o qual corresponde ao círculo máximo da esfera, traçado num plano perpendicular ao eixo terrestre, o que determina a divisão do globo em dois hemisférios: o Norte e o Sul. A partir do Equador, podemos traçar círculos paralelos que, à medida que se afastam para o norte ou para o sul, diminuem de diâmetro. A distância entre um paralelo e o Equador é a latitude, que pode variar de 0° a 90° tanto para norte quanto para sul. Conhecer apenas a latitude de um ponto, porém, não é suficiente para localizá-lo. Se procurarmos, por exemplo, um ponto 20° ao sul do Equador (20°S), encontraremos não apenas um, mas infinitos pontos situados ao longo do paralelo 20°S. Isso comprova a necessidade de uma segunda coordenada para nos permitir localizar um determinado ponto.
LONGITUDE Para determinar a segunda coordenada, a longitude, foram traçadas linhas que cruzam os paralelos perpendicularmente. Essas linhas, que também cruzam o Equador, são denominadas meridianos. Observe na figura que todos os meridianos têm o mesmo tamanho e se encontram nos dois pólos. Como referência, convencionou-se internacionalmente adotar como meridiano 0° o que passa pelo Observatório Astronômico de Greenwich, nas proximidades de Londres (Inglaterra). Esse meridiano divide a Terra em dois hemisférios: Ocidental (a oeste) e Oriental (a leste). Assim, os demais meridianos podem ser identificados por sua distância, medida em graus, ao meridiano de Greenwich. Essa distância é a longitude e varia de 0° a 180° tanto para leste quanto para oeste.
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1.5. Fusos Horários Por causa de seu movimento de rotação, a Terra apresenta dias e noites. Como consequência, vários pontos da superfície do planeta apresentam diferença de horários. Dividindo-se os 360 graus da esfera terrestre pelas 24 horas de duração do movimento de rotação, resultam 15 graus. Portanto, a cada 15 graus que a Terra gira, passa-se uma hora, e cada uma dessas 24 divisões recebe o nome de fuso horário.
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[Geografia I] Desde a chamada Conferência Internacional do Meridiano, realizada em 1884 em Washington (Estados Unidos), as regiões situadas num mesmo fuso adotam o mesmo horário. Foi também nessa conferência que se convencionou adotar o meridiano de Greenwich como a linha de referência para medir as longitudes e acertar os relógios em todo o planeta. Para tanto, definiu-se o seguinte procedimento: O fuso de referência se estende de 7°30' para leste a 7°30' para oeste do meridiano de Greenwich, o que totaliza uma "faixa" de 15 graus. Portanto a longitude na qual termina o fuso seguinte a leste é 22°30' E (e, para o fuso correspondente a oeste, 22°30' W). Somando continuamente 15° a essas longitudes, obteremos os limites teóricos dos demais fusos do planeta. As horas mudam, uma a uma, à medida que passamos de um fuso a outro. No entanto, como as linhas que os separam cortam várias unidades político-administrativas ao meio, os países fizeram adaptações estabelecendo, assim, os limites práticos dos fusos, na tentativa de manter, na medida do possível, um horário unificado num mesmo país, estado ou província. No caso dos fusos teóricos, bastaria, para determinarmos a diferença de horário entre duas localidades, saber a distância leste-oeste entre elas, em graus, e dividí-Ia por 15, a medida de cada fuso. Porém, com a adoção dos limites práticos, em alguns locais os fusos podem medir mais ou menos que os tradicionais 15°. O mapa de fusos do planeta mostra que as horas aumentam para leste e diminuem para oeste, de qualquer referencial adotado. Isso ocorre porque a Terra gira de oeste para leste. Como o Sol nasce a leste, à medida que nos deslocamos nessa direção, estamos indo para um local onde o Sol nasceu antes; portanto nessa região as horas estão "adiantadas" em relação ao local de onde partimos. Quando nos deslocamos para oeste, entretanto, estamos nos dirigindo a um local onde o Sol nasce mais tarde; portanto nesse lugar as horas estão "atrasadas" em relação ao nosso ponto de partida.
EXEMPLO: Uma partida da Copa do Mundo de Futebol tem início às 15 horas em Brasília (45° oeste), a que horas um alemão em Berlim (15° leste) assiste ao vivo pela TV?
Brasília
Berlim
15°
15°
15°
15°
45°W
30°W
15°W
0°
15°E
15h
16h
17h
18h
19h
Para saber HORAS a partir de longitudes 1º PASSO - calcular a diferença longitudinal. - Mesmo hemisfério: SUBTRAIR - Hemisférios diferentes: SOMAR 2º PASSO - calcular a diferença horária - divide-se por 15º 3º PASSO - pontos a LESTE do referencial SOMAM-SE as horas - pontos a OESTE, SUBTRAEM-SE as horas
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a leste de Brasília = horas adiantadas
[Geografia I] Como estão em hemisférios distintos, somam-se as longitudes. A diferença entre as duas cidades é de 60°, ou 4 horas. Como Berlim está a leste de Brasília apresenta horas adiantadas em relação à capital brasileira. Siga os três passos do cálculo ou lembre-se que a cada 15° para o leste aumenta 1 hora. Portanto, se os relógios marcam 15 horas em Brasília, marcarão 16 horas em 30°W, 17 horas em 15°W, 18 horas em 0° e 19 horas em Berlim.
Brasília 45°W
15h
+ 60° 15° +
4 horas
Berlim 15°E
a leste de Brasília = horas adiantadas
19h
OBSERVAÇÃO Uma das primeiras formas de se contar as horas foi considerando do movimento aparente do sol durante o dia, através dos relógios solares. Porém nem sempre o relógio solar marcará a mesma hora do relógio comum, visto que o ângulo da sombra varia de uma estação para a outra e, também, pelo fato dos relógios solares marcarem a hora a partir da insolação local, enquanto que a hora oficial é definida pelos fusos horários, ou seja, toda faixa de 15° de longitude apresenta a mesma hora legal. Portanto, para se calcular a hora local de um ponto, basta calcular a diferença entre sua hora solar e sua hora legal. Considera-se que cada grau equivalha a 4 minutos. EXEMPLO: Porto Alegre (RS) está situada a 51°W e utiliza hora legal de Brasília (45°W). A capital gaúcha está 6° a oeste da capital nacional, o que equivale a 24 minutos. Logo, sempre que os relógios marcarem 12 horas em Porto Alegre, sua hora solar será 11horas e 36 minutos.
FUSOS HORÁRIOS DO BRASIL Devido a sua extensão, o território brasileiro, incluindo as ilhas oceânicas, possui quatro fusos horários, todos a oeste do meridiano de Greenwich (0°). O primeiro fuso (30° longitude oeste ou W) tem duas horas a menos que o meridiano Greenwich (0°), o segundo (45°W) tem três horas a menos e é a hora oficial do Brasil, o terceiro fuso (longitude 60°W) tem quatro horas a menos, e o quarto (75°W) tem cinco horas a menos. 30°W - Atol das Rocas, Fernando de Noronha, São Pedro e São Paulo, Trindade e Martim Vaz. 45°W - (horário de Brasília): Distrito Federal, regiões Sul, Sudeste e Nordeste; estados de Goiás, Tocantins, Pará e Amapá. 60°W - estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Rondônia e Roraima.
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[Geografia I] 75°W - Acre e porção oeste do Amazonas (município de Tabatinga)
HORÁRIO DE VERÃO Desde 1985, o Brasil adota o horário de verão, no qual os relógios de parte dos estados são adiantados em uma hora num determinado período do ano. No período de outubro a fevereiro, é estabelecido o horário de verão nas regiões Sul, Sudeste e CentroOeste. Nessa época, o Distrito Federal, Goiás, Região Sudeste e Região Sul passam a adotar duas horas a menos do que Greenwich, enquanto que Mato Grosso e Mato Grosso do Sul passam a ficar a menos três horas. Nesses lugares (principalmente nas regiões mais afastadas do Equador), durante o verão, a duração do dia é significativamente maior do que a duração da noite e a mudança de horário possibilita uma redução de 1% do consumo de energia elétrica no chamado horário de pico. Nos demais estados a pequena diferença de duração dos dias e noites não justifica a mudança de horário.
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[Geografia I]
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 1. (PUCRS) Se os relógios dos habitantes de uma cidade localizada a 26° Oeste de Greenwich estiverem marcando 13 horas, que hora solar ou verdadeira será? a) 13 horas. b) 13 horas e 16 minutos. c) 12 horas. d) 12 horas e 4 minutos. e) 12 horas e 44 minutos. 2. (UFRGS) Três internautas (A, B e C) navegam pela rede mundial e visitam a página da BBC de Londres. No momento em que eles acessam a referida página, são 15h (hora local) em Londres (O °Gr). Sabe-se que o internauta A mora numa cidade a 105°L de Gr, o internauta B, a 30° O de A, e o internauta C, a 45° O de Gr. Com base nessas informações, é correto afirmar que as cidades dos internautas A, B e C, no momento em que eles acessam a referida página, têm, como hora local, respectivamente, a) 20h, 18h e 12h. b) 20h, 22h e 18h. c) 22h, 17h e 12h. d) 22h, 20h e 12h. e) 22h, 20h e 18h 3. (UFRGS) Na Copa do Mundo de Futebol 2014, jogaram Japão e Costa do Marfim no dia 14 de junho, às 22 horas (horário de Brasília), na Arena Pernambuco. Em Tóquio, o horário do jogo foi a) às 22 horas do dia anterior. b) às 10 horas do dia anterior. c) às 10 horas do mesmo dia. d) às 10 horas do dia seguinte. e) às 22 horas do dia seguinte. 4. (UCS) Um avião decolou em Porto Alegre (situada a 45 oeste do meridiano de Greenwich) às 19 horas do dia 7 de março, com destino a Lisboa, em Portugal (situada na faixa equivalente a 0 ). A duração do voo foi de 11 horas. Considerando o horário local, em que horário e dia esse avião aterrissou em Lisboa? a) Às 22 horas do mesmo dia. b) Às 9 horas do mesmo dia. c) Às 6 horas do dia seguinte. d) Às 9 horas do dia seguinte. e) Às 22 horas do dia seguinte. 5. (UPF) Por causa do movimento de rotação da Terra, diferentes pontos longitudinais da superfície terrestre têm horários diversos. Tendo por base a estrutura dos fusos horários, é correto afirmar que: a) Se em Fernando de Noronha (PE) são 20 horas do dia 30 de dezembro, em Rio Branco (AC) são 17 horas do dia 30 de dezembro. b) Como as linhas que delimitam os fusos atravessam várias unidades político-administrativas, os municípios fizeram várias adaptações, estabelecendo os limites teóricos dos fusos. c) A partir do Meridiano de Greenwich, as horas vão aumentando para oeste e diminuindo para leste. d) Atualmente, o Brasil tem três fusos horários, e o estado do Maranhão está dividido em dois fusos diferentes. e) Existem 24 fusos no planeta, cada um deles equivalendo a 15 de latitude.
Gabarito dos exercícios de fixação: 1.B | 2.D | 3.D | 4.D | 5.A
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Geografia I [Geografia I]
UNIDADE 1 CARTOGRAFIA
2.1. Escala cartográfica Para a representação da realidade no mapa, é necessário estabelecer uma correspondência entre as dimensões do terreno e as do papel. Essa relação é feita por meio de uma escala, que expressa quanto os elementos do espaço geográfico foram reduzidos para caberem numa folha de papel ou numa tela de computador. A escala é considerada pequena quando se reduzem muito os elementos (imagine quantas vezes o planeta Terra tem de ser reduzido para se produzir um planisfério do tamanho desta folha) e grande quando os elementos não são muito reduzidos. Por exemplo, é impossível encontrarmos uma rua de qualquer cidade num mapa-múndi, porque na escala utilizada nesse tipo de representação até mesmo uma metrópole se torna apenas um ponto. Para representar uma rua, é preciso usar uma escala adequada, como, por exemplo, a escala 1:10.000. Representações em escala pequena mostram áreas muito extensas, com poucos detalhes e são geralmente chamadas de mapas; já representações em escala grande mostram áreas menores, porém com maior grau de detalhamento, e são chamadas de cartas. Representações em escalas muito grandes e com alto grau de detalhamento são chamadas de plantas. Assim, para localizar uma cidade, como Rio de Janeiro, por exemplo, podemos utilizar o mapa do Brasil; entretanto, se quisermos localizar ruas e avenidas, dessa mesma cidade, devemos consultar a planta da cidade para obtermos maior riqueza de detalhes.
TIPOS DE ESCALA Numérica – representada por uma fração Ex.: 1 : 500.000 onde 1cm no mapa corresponde a 500.000 na realidade. (1cm = 5km) Gráfica – representada por uma linha reta dividida em partes iguais.
CLASSIFICAÇÃO DAS ESCALAS Escala Grande - até 1:20.000 - menor denominador - pequena área representada - muita riqueza de detalhes - plantas urbanas e fotografias aéreas Escala Média - entre 1:20.000 e 1:200.000 - cartas topográficas Escala Pequena - mais de 1:200.000 - maior denominador - grande área representada - menor riqueza de detalhes - planisférios e mapas do Brasil Para resolver cálculos escalares basta lembrar da fórmula.
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[Geografia I] E = denominador da escala D = distância real d = distância gráfica
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 1. (PUCRS) A escala é um dos atributos fundamentais de um mapa, pois estabelece a correspondência entre as distâncias representadas e as distâncias reais da superfície cartografada. Dessa maneira, I. na escala numérica, a correspondência é indicada por meio de uma fração. II. em um mapa com escala 1: 50000, cada centímetro no papel corresponde a 5 mil centímetros no terreno. III. na escala gráfica, a relação entre as distâncias reais e a área cartografada é indicada em uma linha graduada. IV. em mapas urbanos representados em grande escala, as informações e os detalhes são mais precisos. Estão corretas apenas as afirmativas a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e III. e) I, III e IV. 2. (Unisc) Entre os diversos elementos que compõem um mapa, encontra-se a escala. Ela pode ser definida como a proporção existente entre as distâncias lineares representadas no “papel” e as existentes na superfície real. No caso das escalas numéricas, a representação é feita por meio de uma fração em que o numerador indica a distância medida no mapa enquanto o denominador informa a distância real. Partindo disso, assinale a alternativa cuja escala indica um maior detalhamento da área representada. a) 1: 10.000 b) 1: 50.000 c) 1: 200.000 d) 1: 300.000 e) 1: 4.000.000 3. (UCS) Considere que a distância real, em linha reta, entre duas cidades seja de 90 km. Isso equivale a 3 cm no mapa. Pergunta-se: em que escala o mapa foi desenhado? a) 1: 30.000 b) 1: 1.500.000 c) 1: 300.000 d) 1: 150.000 e) 1: 3.000.000 9. (UPF) Sobre escala cartográfica, analise as seguintes afirmações. I. Medindo-se uma distância em um mapa, achou-se 44 cm. A escala do mapa é de 1: 50.000, portanto, a distância no terreno medido é de 22 km. II. Em um mapa no qual não há qualquer informação sobre a escala adotada, mediu-se a distância entre duas cidades e encontrou-se 15 cm. Se a distância real entre essas cidades é de 150 km, logo, a escala do mapa é de 1: 150.000. III. A distância entre dois estabelecimentos industriais é de 12 km. No mapa de escala 1: 120.000, essa distância é de 10 cm. IV. O trecho de um rio em um mapa na escala 1: 20.000 é de 7 cm. Ao se ampliar o mapa, esse mesmo trecho do rio fica com 10 cm, logo, a nova escala é de 1: 14.000. É correto apenas o que se afirma em: a) I, II e III. b) I e II. c) II, III e IV. d) II e IV. e) I, III e IV.
Gabarito dos exercícios de fixação: 1.E | 2.A | 3.E | 4.E
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[Geografia I]
2.2. Projeções Cartográficas Uma projeção cartográfica nada mais é do que o resultado de um conjunto de operações que permite representar no plano, por meio de paralelos e meridianos, os fenômenos que estão dispostos na superfície de uma esfera. Quando vista do espaço sideral, a Terra parece uma esfera perfeita; por isso é representada assim nos globos terrestres. No entanto, nosso planeta não é uma esfera perfeita, mas uma figura geométrica denominada geoide. Como a figura do geoide é muito complexa, os cartógrafos fazem seus cálculos utilizando uma figura geométrica chamada elipsoide de revolução. Ao fazerem a transferência de informações, os cartógrafos deparam com um problema insolúvel: qualquer que seja a projeção adotada, sempre haverá algum tipo de distorção, nas áreas, nas formas ou nas distâncias da superfície terrestre. Só não há distorção perceptível em representações de escala suficientemente grande, como é o caso das plantas, nas quais não é necessário considerar a curvatura da Terra.
PROJEÇÃO CÔNICA A projeção cônica é usada principalmente na representação de países e regiões de latitudes intermediárias, embora possa ser empregada para outras latitudes. Ela resulta da projeção do globo terrestre sobre um cone, que posteriormente é planificado. Esse tipo de projeção: apresenta paralelos circulares e meridianos radiais, isto é, retas que se originam de um único ponto; contém, como única linha que apresenta grandezas reais, o paralelo de tangência.
PROJEÇÃO PLANA OU AZIMUTAL A projeção plana é empregada na confecção de mapas especiais, principalmente náuticos e aeronáuticos, além de ser muito utilizada para representar as regiões polares. Ela resulta da projeção da superfície da Terra sobre um plano a partir de um determinado ponto. Esse tipo de projeção: contém paralelos projetados em círculos concêntricos e meridianos projetados em linhas retas; as linhas e proporções deformam-se à medida que se afastam do centro da projeção (ponto de tangência). O caráter estratégico desse tipo de projeção é facilmente percebido no mapa do mundo centralizado no Brasil ou símbolo da ONU.
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[Geografia I]
PROJEÇÃO CILÍNDRICA A projeção cilíndrica possibilita a representação total da Terra, sendo muito utilizada na elaboração de planisférios e na navegação. Ela é feita como se uma luz atravessasse o globo e projetasse os paralelos e os meridianos sobre um cilindro envolvente, que depois é planificado. Nesse tipo de projeção: os paralelos e os meridianos são retos e perpendiculares; como o cilindro é tangente à linha do Equador, ele toca somente essa linha, indicando os únicos lugares que conservam suas dimensões originais; as demais áreas projetadas não guardam as medidas originais; quanto mais perto dos polos, maior a deformação, os países parecem grandes ou esticados.
A projeção cilíndrica é a mais difundida do mundo, contudo, não a livra de polêmicas. É que, por se basearem em parâmetros diferentes, duas das mais famosas projeções cilíndricas representam o mundo de maneira bastante diferenciada. A mais antiga foi criada pelo geógrafo e cartógrafo flamengo Gerhard Kremer, o Mercator, ainda no século XVI. O ponto forte da projeção de Mercator é do tipo conforme (MAPA À ESQUERDA) e mantém a precisão nas distâncias, sendo usada até hoje. Ocorre que esse modelo privilegia as formas dos continentes, mas distorce as áreas. E essa distorção, que cresce conforme aumenta a latitude, acaba resultando em grandes deformações: a Groelândia, por exemplo, que tem cerca de 2,8 milhões de quilômetros quadrados, aparece no mapa com quase o mesmo tamanho da África, com seus mais de 30 milhões de quilômetros quadrados. Ao acusar a projeção Mercator de ser um instrumento dos países ricos, ao norte, para colonizar as nações menos desenvolvidas, ao sul, o alemão Arno Peters apresentou, em 1973, seu modelo, a projeção cilíndrica equivalente (MAPA À DIREITA). Peters optou pela proporção entre as áreas, chegando a uma representação em que os países ao sul ganham mais destaque. Resultado? Estava instalada a polêmica, com debates que perduram até hoje entre partidários de cada modelo.
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[Geografia I]
PROJEÇÃO ELÍPTICA DE MOLLWEIDE Nesta projeção, confeccionada em 1805, os paralelos são linhas retas e os meridianos, linhas curvas. Sua área é proporcional à da esfera terrestre, tendo a forma elíptica. As zonas centrais apresentam grande exatidão, tanto em área como em configuração, mas as extremidades apresentam grandes distorções.
PROJEÇÃO DESCONTÍNUA OU INTERROMPIDA DE GOODE Elaborada pelo estadunidense John Paul Goode, em 1916, sendo do tipo cilíndrico e caracterizada por apresentar um mapa-múndi visivelmente deformado em função de “cortes” existentes em áreas oceânicas. Valoriza as áreas continentais tanto em suas formas quanto em suas áreas. Essa era uma contraposição à projeção elaborada por Mercator, muito utilizada pela navegação por privilegiar as áreas oceânicas. Em razão de seu aspecto, a projeção interrompida é comumente associada a cascas de laranja em pedaços sobre uma área plana.
PROJEÇÃO DE BUCKMINSTER FULLER Desenvolvida e patenteada por Richard Buckminster Fuller, em 1946, é uma projeção montada sobre uma superfície de poliedro (primeiro um cuboctaedro e depois um icosaedro), com ela é possível separarse a superficie da terra numa rede de muitas formas, planificando-a para formar um mapa-múndi bidimensional que retém a maior parte da integridade proporcional relativa do globo. Trata-se de uma projeção centralizada no polo norte, que favorece a manutenção das formas e das proporcionalidades das terras emersas em detrimento dos oceanos, além de não possuir uma direção que “aponte” para cima, ou seja, quebra o que Fuller chamou de enviesamento cultural, pois no mundo não haveria acima ou abaixo, mas sim dentro e fora. A Europa perde sua centralidade relativa e a América, como Asia, África, Antártida e Oceania são apenas continentes dispostos sem hierarquia.
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[Geografia I]
ANAMORFOSE Anamorfose geográfica ou cartográfica é uma forma de representação do espaço geográfico em que há a distorção da proporcionalidade entre os territórios para adequá-los aos temas que norteiam o mapa. Os mapas anamórficos, como são conhecidas essas representações cartográficas, são elaborados a partir da análise de dados quantitativos referentes a uma determinada área. Se o tema escolhido para elaborar o mapa anamórfico for População Absoluta por país, teremos a China com suas dimensões extremamente “exageradas” em relação ao tamanho usualmente representado no planisfério, e a Austrália seria representada por um fino “risco” ao sul do globo. Isso ocorre porque, embora as áreas dos dois países sejam semelhantes, a China tem aproximadamente 57 vezes a população da Austrália. Essa diferença entre os dados pode ser notada visualmente no mapa do tipo anamórfico, que nada mais é do que uma maneira direta de representar uma informação, além de possibilitar comparações.
DISPONIBILIDADE DE ÁGUA
PIB POR ESTADO
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[Geografia I]
2.3. Sensoriamento Remoto
FONTE: SENE, Eustáquio. Geografia Geral e do Brasil. São Paulo, SP: Scipione, 2010
Sensoriamento remoto é o conjunto de técnicas de captação e registro de imagens a distância por meio de diferentes sensores, como equipamentos fotográficos, scanners de satélites e radares. As imagens obtidas podem revelar muitos dos elementos geográficos da superfície terrestre, como florestas, áreas de cultivo e cidades, e da atmosfera, como nuvens ou fumaça de incêndios florestais. As primeiras imagens aéreas da superfície da Terra foram tiradas de balões, ainda no século XIX. Mas o sensoriamento remoto só se desenvolveu a partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), com a utilização de aviões. Nessa época, os interesses militares propiciaram um grande avanço na aerofotogrametria, que consiste em captar imagens da superfície terrestre com equipamentos fotográficos especiais acoplados no piso de um avião. Voando em velocidade constante e em rotas preestabelecidas, o equipamento vai tirando fotografias parcialmente sobrepostas, em intervalos regulares. Depois, para corrigir falhas e imperfeições, as fotos passam por equipamentos chamados restituidores. O material obtido serve de base para a elaboração de mapas.
A utilização de satélites para sensoriamento remoto apresenta outra grande vantagem: a de registrar a seqüência de eventos ao longo do tempo. Imagens de uma mesma região podem ser registradas em intervalos regulares de tempo, o que permite observar e prever a ocorrência de muitos fenômenos. O exemplo mais conhecido é a previsão do tempo. Satélites meteorológicos captam imagens das massas de ar,
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[Geografia I] visíveis por meio das formações de nuvens, em intervalos de horas. Com essas imagens são feitas animações que auxiliam os meteorologistas a prever chuvas, períodos de seca ou furacões. Alguns dados obtidos em estações e balões meteorológicos também ajudam os especialistas na previsão do tempo. Há ainda diversas animações feitas por intermédio de imagens dos satélites, como as que mostram a formação e o deslocamento de um furacão (fundamental para a defesa civil), o uso do solo urbano ou rural (útil no planejamento de intervenção no espaço geográfico) e o desmatamento de florestas (útil para orientar a ação governamental). Os incêndios florestais, a expansão urbana e a poluição das águas são outros fenômenos registrados dessa maneira.
SISTEMA DE POSICIONAMENTO GLOBAL (GPS) O sistema de posicionamento global (GPS) foi desenvolvido no contexto da Guerra Fria. Resultado da corrida armamentista entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética, foi projetado para localizar com precisão um objeto ou pessoa, assim como fornecer sua velocidade (caso esteja em movimento), na superfície terrestre ou num ponto qualquer próximo a ela. Da fusão de dois projetos - Timation (Time Navigation) e 6218, da Marinha e da Força Aérea norteamericanas, respectivamente - nasceu o sistema NAVSTAR/GPS (Navigation Satellitewith Time and Ranging / Global Positioning System). O GPS, como o sistema ficou conhecido, começou a ser desenvolvido pelo Departamento de Defesa (DoD) do governo dos Estados Unidos em 1973 e, em 1978, foi lançado o primeiro satélite. Atualmente esse sistema é composto por 24 satélites (21 deles em operação e 3 de reserva) que giram em torno da Terra em 6 órbitas distintas a 20.200 km de altitude.
Evidenciando seu enorme potencial estratégico-militar, como ficou demonstrado na Guerra do Golfo (1991) e na recente guerra contra o Iraque (2003), os alvos a serem atingidos pelas Forças Armadas norte-americanas, fixos ou móveis, puderam ser localizados com grande precisão pelo GPS. Da mesma forma, os chamados mísseis teleguiados, lançados de aviões ou embarcações de guerra, eram “orientados" por esse sistema de posicionamento. Além de utilizado militarmente, o GPS é empregado para orientar a navegação aérea e a marítima. Os satélites cumprem órbitas fixas e estão dispostos de modo que, de qualquer ponto da superfície terrestre ou próximo a ela, é possível receber ondas de rádio de pelo menos quatro deles. O equipamento que recebe essas ondas chamado de aparelho receptor GPS, ou simplesmente receptor GPS - calcula as coordenadas geográficas do local em graus, minutos e segundos. Além da latitude e longitude, com o GPS obtém-se a altitude do ponto de leitura, o que facilita os trabalhos de campo na confecção e atualização de mapas topográficos. Portanto, além do uso militar, esse sistema de posicionamento tem muitas utilidades civis.
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[Geografia I] Por intermédio de imagens de satélites já é possível saber as variações de fertilidade do solo numa área de cultivo. Utilizando o GPS, um agricultor pode distribuir a quantidade ideal de adubo em cada pedaço da área cultivada, o que proporciona eficácia e economia. Há modernos tratores que já vêm equipados da fábrica com um computador de bordo conectado ao GPS. O alto custo dessa tecnologia, entretanto, limita sua disseminação na agricultura. Nos últimos anos, órgãos governamentais brasileiros vêm utilizando imagens de satélites e o GPS para identificar com precisão os Iimites de fazendas improdutivas a serem desapropriadas para a reforma agrária, para controlar queimadas em florestas, para demarcar limites fronteiriços etc.
SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) Os sistemas de informação geográfica (SIGs) também exemplificam as enormes possibilidades de coletar e processar dados sobre a geografia do planeta, geradas pela utilização da informática. Os SIGs são o resultado da utilização conjunta de mapas digitais, crescentemente elaborados com auxílio do GPS, e de bancos de dados informatizados. Esses sistemas permitem coletar, armazenar, processar, recuperar, correlacionar e analisar diversas informações sobre o espaço geográfico, gerando grande diversidade de mapas e gráficos para necessidades específicas. É um poderoso instrumento para o planejamento urbano e rural, facilitando também a solução de problemas espaciais complexos. Há vários exemplos de aplicação prática dos Sistemas de Informação Geográfica, cada vez mais presentes nas empresas e nos órgãos públicos de gerenciamento territorial, como prefeituras. Os SIGs podem ser utilizados para: • planejar a distribuição e calcular os custos dos serviços prestados pela prefeitura no território municipal, como a coleta do lixo; • planejar investimentos em obras públicas, como um novo viaduto, um hospital, e avaliar seus resultados; • facilitar o levantamento de imóveis para cálculo e controle da arrecadação das taxas e impostos, como o Imposto Predial e Territorial Urbano OPTU) e o Imposto Territorial Rural CITR); • melhorar a qualidade do sistema de transportes coletivos e do tráfego urbano; • cadastrar propriedades, empresas e moradores, com grande número de informações, tornando mais rápidos e eficientes os programas de atendimento etc. Os SIGs também têm sido muito utilizados para a localização e orientação no trânsito das cidades grandes. Com os sistemas, é possível calcular a distância entre dois pontos quaisquer de uma metrópole, identificar rotas alternativas, menos congestionadas, itinerários de ônibus, localizar endereços etc. As empresas que trabalham com pesquisas de opinião, de comportamento, de intenção de voto etc. conseguem resultados muito mais rápidos e precisos com um SIG. As informações coletadas são rapidamente apresentadas em tabelas, gráficos e mapas integrados, servindo de base para as decisões das empresas. Os SIGs também têm sido muito utilizados em apoio ao turismo, seja no planejamento e alocação das atividades de lazer, seja na localização de atrações turísticas na planta de uma cidade, para a orientação dos usuários.
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[Geografia I]
UNIDADE 3 LITOSFERA
3.1. Superfície Terrestre Uma diferença notável entre a Terra e os demais planetas rochosos é a variedade de formas da superfície terrestre. A superfície de Mercúrio parece-se bastante com a da Lua, com extensas planícies cravejadas por crateras. Marte apresenta feição desse tipo em parte de sua superfície, o que se explica pela pequena densidade da atmosfera que o envolve. Vênus é predominantemente recoberto por suaves planícies vulcânicas. Existem algumas grandiosas montanhas em Marte e Vênus, maiores que as do Himalaia, mas não se observa nesses dois planetas o caleidoscópio de formas de relevo que, quase por toda parte, caracteriza o nosso planeta. A estrutura interna da Terra não é conhecida por observações diretas, pois as perfurações mais profundas, realizadas em programas de pesquisa geológica, não ultrapassam 15 quilômetros. O que sabemos sobre a composição interior do planeta deve-se, essencialmente, ao estudo da propagação das ondas sísmicas geradas pelos terremotos. Essas ondas são propagações de energia que produzem vibração na crosta. Por meio de sismógrafos, é possível medir a velocidade de propagação das ondas de energia dos terremotos. O modelo da estrutura interna do planeta distingue três grandes camadas concêntricas: a crosta, o manto e o núcleo. As camadas estão separadas por descontinuidades que são limites definidos por mudanças na densidade e composição dos materiais, como mostra o esquema ao lado. A crosta encontra-se separada do manto pela descontinuidade de Mohorovicic, localizada a profundidades que variam entre Página 2 com Prof. Giba 30 e 70 quilômetros, e o manto está separado do núcleo pela descontinuidade de WiechertGutenberg, localizada a cerca de 2.900 quilômetros de profundidade.
A crosta terrestre é camada sólida, a mais externa, onde vivemos e também chamada de superfície terrestre ou litosfera. Formada principalmente por rochas a base de silício, magnésio e alumínio. Constituída por placas tectônicas, que se encaixam e estão em constante movimento e pode ser dividida em duas camadas: SIAL, segmento de rochas a base de silício e alumínio. Mais leves, portanto, predomina na parte superior da litosfera, e também pode ser chamada de crosta continental; SIMA é a camada rochosa a base de silício e magnésio. Mais densa, predominando na parte inferior da litosfera, no fundo dos oceanos.
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[Geografia I] O manto é formado por materiais silicáticos em estado pastoso, chamado de magma. Ocupa cerca de 80% do volume do planeta e fica logo abaixo da litosfera e chega até a 2900km abaixo da superfície. Sua temperatura varia de 100ºC, na região em contato com a litosfera, até a 3500ºC próximo ao núcleo. Estas diferenças de temperatura são responsáveis pelas correntes de convecção formadas no manto, que vão provocar o movimento das placas tectônicas na superfície terrestre. O núcleo é a camada existente no centro da esfera terrestre, formada principalmente por níquel e ferro, sendo por isso também chamado de NiFe. As temperaturas chegam até a 5000ºC. As pressões exercidas sobre a camada são tão elevadas que, mesmo a altas temperaturas, o núcleo interno se encontra em estado sólido. O núcleo interno é isolado do resto do planeta pelo núcleo externo, o qual se apresenta em estado líquido ou plástico.
PROFUNDIDADE (KM) 30 - 70
2.900 5.100 6.370
AS CAMADAS DA TERRA CAMADA CONSTITUIÇÃO DENSIDADE Crosta superior SIAL 2,7 Crosta inferior SIMA 3 Descontinuidade de Mohorovicic Manto externo Silicatos de ferro e 3,3 Manto interno de magnésio 5,5 Descontinuidade de Wiechert-Gutenberg Núcleo externo 9 a 11 NIFE Núcleo interno 12 a 14
TEMPERATURA (°C) 800 1.000 2.000 3.000 5.000
3.2. Tempo Geológico Considera-se tempo geológico aquele transcorrido através de fenômenos naturais desde a formação da Terra até os dias de hoje, o tempo histórico se inicia com o surgimento dos primeiros ancestrais do ser humano e é muito curto em comparação com o tempo geológico. O tempo geológico tem início com a formação da Terra, há cerca de 4,56 bilhões de anos. Durante esse tempo muitas mudanças ocorreram no nosso planeta, continentes se formaram, surgiram e desapareceram oceanos, o clima se modificou, surgiram e desapareceram várias espécies de animais, etc. As mudanças no decorrer do tempo geológico normalmente não são perceptíveis para algumas gerações de seres humanos, sabemos delas através de evidências científicas. Dentro desse tempo, também temos ocorrências relativamente recentes como o surgimento das grandes montanhas (Andes, Himalaia, Alpes, etc) e a extinção dos dinossauros. Outros eventos são antigos, como a formação das primeiras rochas e o surgimento dos oceanos. O tempo histórico se inicia por volta de 2 milhões de anos quando apareceram os primeiros ancestrais do ser humano. É o tempo no qual os seres humanos, podemos dizer assim, deixou marcas. Ele é muito recente se comparado ao tempo geológico, o ser humano não assistiu grandes alterações no planeta Terra, do ponto de vista geológico. Pois quando ele surgiu a configuração geológica do planeta era praticamente a mesma.
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[Geografia I] Evolução física ou estrutural da Terra Eras
Características gerais
CENOZOICA
Quaternário: aparecimento do homem, glaciações Terciário: mamíferos, formação dos dobramentos modernos (Alpes, Andes, Himalaia, Rochosas)
MESOZOICA
PALEOZOICA
PRÉCAMBRIANA (Proterozoica e Arqueozoica)
AZOICA
Répteis gigantescos, mamíferos e aves Intensa atividade vulcânica Início da separação dos continentes Desenvolvimento do processo de sedimentação Formação das jazidas carboníferas Vida aquática, invertebrados Peixes, anfíbios e vegetação nos continentes Desenvolvimento do processo de sedimentação Formação de jazidas carboníferas Seres unicelulares (algas e bactérias) Formação de escudos cristalinos (rochas magmáticas e metamórficas) Formação de minerais metálicos Formação de rochas mais antigas (magmáticas) e dos dois primeiros continentes Resfriamento da terra, ausência de vida
Acontecimentos no Brasil Quaternário: formação das bacias sedimentares (litoral, Pantanal, Amazônica) Formação das bacias sedimentares terciárias Atividade vulcânica com formação de ilhas oceânicas (Fernando de Noronha, Trindade, etc.) Atividade vulcânica no sul do país (derrames de lavas, formação de petróleo e dos terrenos basálticos que originaram o solo terra roxa) Bacias sedimentares Formação de bacias sedimentares antigas Soterramento de florestas e formação do carvão mineral no sul do país
Formação dos escudos cristalinos (Brasileiro e Guiano) e das principais jazidas de minerais metálicos Formação das serras do Mar e da Mantiqueira
Fontes: LEINS, Viktor e AMARAL, Sérgio Estanislau do. Geologia Geral. p.27 e ALMEIDA, Fernando F. de. Os fundamentos geológicos. I: AZEVEDO, Aroldo de (org). Brasil, a terra e o homem. São Paulo. Nacional. 1968. V. I. p. 55-110.
3.3. Deriva Continental De acordo com determinadas teorias científicas, a crosta terrestre não é uma camada rochosa inteiriça, e sim, fragmentada. A primeira teoria a defender essa tese ficou conhecida como Deriva Continental. Exposta pela primeira vez em 1912 pelo geofísico e meteorologista alemão Alfred Lothar Wegener (1880-1930), a teoria estabelece que continentes e oceanos estariam se deslocando "à deriva". Wegener utilizava como evidência o contorno de continentes, que se encaixavam como um grande "quebra-cabeças", como no caso do litoral do Brasil e da África Ocidental. Para ele, tal fato não era mera coincidência, mas sim a prova de que, em um passado remoto, todas as terras emersas do planeta formaram um único continente, chamado Pangea ("Terra Total"), circundado por um único oceano, denominado Pantalassa ("Mar Total"). Contudo, a comprovação das ideias de Wegener aconteceria somente na década de 1960, por meio de pesquisas realizadas por geofísicos ingleses que analisaram e dataram amostras de rochas e sedimentos recolhidos do fundo oceânico. Esses dados fundamentaram a chamada teoria da tectônica Alfred Lothar global de placas, cuja tese propunha que as partes da crosta, denominadas Wegener placas litosféricas ou tectônicas, "flutuavam" sobre o magma do manto, compreendendo partes de continentes e o fundo de oceanos e mares. Supõe-se que as correntes de convecção (o magma circulante no interior do manto) funcionam como um motor, gerando forças que empurram horizontalmente a crosta e movimentam as placas litosféricas. Detectou-se por meio de vários indícios que, em determinadas regiões do globo, nas chamadas zonas de divergência, as placas afastam-se umas das outras, enquanto em outras partes, nas zonas de convergência, elas encontram-se em processo de colisão. Recentemente, a análise dos resultados de medições periódicas feitas por satélites artificiais em órbita terrestre comprovaram os movimentos das placas litosféricas. Os dados indicaram um processo extremamente lento de colisão ou afastamento, a uma velocidade média de 2 a 3 centímetros por ano.
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[Geografia I]
in: SENE, Eustáquio. Geografia Geral e do Brasil. São Paulo, SP: Scipione, 2010.
Disponível em http://www.apolo11.com/mapas.php?mapa=placas_tectonicas_2
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[Geografia I]
PLACAS DIVERGENTES Nas zonas de divergência, as correntes de convecção provocam o afastamento das placas litosféricas. Como, de maneira geral, essas placas estão localizadas em meio aos oceanos, onde a crosta terrestre é menos espessa, a pressão do magma abre fendas no assoalho oceânico, deixando extravasar grande quantidade de lava. Esse fenômeno, que ocorre há milhões de anos, tem originado novos terrenos na crosta, assim como extensas cadeias montanhosas submersas, chamadas dorsais meso-oceânicas.
in: TERRA, Lygia, ARAÚJO, Regina & GUIMARÃES, Raul. Conexões – Estudos de Geografia Geral e do Brasil – vol. 2. São Paulo, SP: Moderna, 2010.
PLACAS CONVERGENTES Em determinadas regiões, o choque entre duas placas provoca o “mergulho”, ou seja, a subducção de uma delas, em direção ao interior do planeta. Ao ganhar profundidade, a placa subduzida funde-se devidos às altas temperaturas e à proximidade do manto terrestre. A outra placa é pressionada no sentido contrario ao de seu deslocamento, provocando grandes dobramentos em sua borda de contato. As dobras ou dobramentos são formações da crosta decorrentes da atuação de pressões horizontais sobre as rochas, e que dão origem a grandes elevações no terreno, como as cadeias montanhosas. Um dos principais exemplos de cadeias dobradas recentes são os Andes, cordilheira localizada na porção ocidental da América do Sul, como consequência do choque entre as placas Sul-americana (continental) e de Nazca (oceânica).
(in: TERRA, Lygia, ARAÚJO, Regina & GUIMARÃES, Raul. Conexões – Estudos de Geografia Geral e do Brasil – vol. 2. São Paulo, SP: Moderna, 2010.)
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[Geografia I]
PLACAS CONSERVATIVAS Limite conservativo ou transformante é um tipo de limite entre placas tectônicas, em que estas deslizam e roçam uma pela outra, ao longo de uma falha transformante, não havendo geralmente nem destruição nem criação de crosta. O movimento ao longo destas falhas classifica-se como sendo horizontal direito ou esquerdo. A maior parte dos limites transformantes ocorre nos fundos oceânicos onde provocam o movimento lateral de cristas ativas. No entanto, os limites transformantes mais conhecidos situam-se em terra, sendo o exemplo mais famoso a Falha de San Andreas, que se encontra entre a placa do Pacífico e a placa Norte-americana. Dentro de aproximadamente 50 milhões de anos, a parte da Califórnia situada a oeste da falha será uma ilha, próxima do Alasca.
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Foto de San Luis Obispo/Califórnia/EUA (in: TERRA, Lygia & COELHO, Marcos. Geografia Geral – O espaço natural e socioeconômico. São Paulo, SP: Moderna, 2005.)
[Geografia I]
3.4. Rochas As rochas constituem a parte sólida do planeta e são compostas de um ou vários minerais. Os minerais são compostos de elementos químicos. Certos elementos químicos podem ser encontrados na natureza em estado puro, mas em geral eles se combinam formando os minerais. Como existem muitos minerais diferentes, as diversas combinações e agrupamentos dão origem a uma grande variedade de rochas.
ROCHAS MAGMÁTICAS OU ÍGNEAS As rochas magmáticas são formadas a partir da solidificação do magma. Podem se formar lentamente no interior da crosta pela solidificação do magma, sendo chamadas, nesse caso, de rochas magmáticas intrusivas (ou plutônicas, ou abissais). Como se formam em profundidade, apresentam cristais grandes, estruturados num lento processo de resfriamento. São exemplos o granito, o sienito e o gabro. As rochas magmáticas extrusivas (ou vulcânicas, ou efusivas) se consolidam na superfície. Chegam em estado de fusão à superfície através de vulcões ou de fendas na litosfera e, em contato com a atmosfera, resfriam-se mais rapidamente, muitas vezes sem formar cristais visíveis a olho nu. São exemplos o basalto e o riólito. Os metais fazem parte da composição dos minerais. As rochas magmáticas podem conter minerais metálicos, formando jazidas importantes do ponto de vista econômico. O mineral do qual se pode extrair economicamente um ou mais metais é denominado minério.
ROCHAS SEDIMENTARES Qualquer rocha exposta à ação do vento, da chuva, da temperatura passa a sofrer a ação do intemperismo, ou seja, do conjunto de processos mecânicos, químicos e biológicos que provocam a desintegração das rochas. Quando as rochas perdem a coesão, seus sedimentos passam a ser transportados por diferentes agentes, como o vento, a chuva e a gravidade. Esse processo é conhecido como erosão. A deposição desse material em outro ambiente é denominada sedimentação. As rochas sedimentares se formam pela deposição dos detritos de outras rochas, pelo acúmulo de detritos orgânicos ou de precipitados químicos. Esses detritos são consolidados por meio de cimentação natural, compactação por pressão ou reações químicas num processo conhecido como diagênese, que transforma sedimentos inconsolidados em rocha sedimentar.
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[Geografia I] As rochas formadas pelo acúmulo de fragmentos de outras rochas são denominadas rochas sedimentares clásticas ou detríticas. Um exemplo é o arenito, formado pela deposição de areia. As que se formam por meio de processos químicos, como as estalactites e estalagmites de cavernas, são denominadas rochas sedimentares químicas. As que se formam a partir de restos de animais e vegetais, como o carvão mineral, são as rochas sedimentares orgânicas. As rochas sedimentares apresentam camadas ou estratos que se depositam horizontalmente, as mais novas sobre as anteriores. A disposição horizontal das camadas pode ser perturbada por forças internas da Terra. No meio desses estratos podemos encontrar vestígios fósseis de seres vivos, preservados ao longo do tempo, trazendo informações sobre a história geológica e a evolução da vida no planeta. Também podem conter petróleo, gás natural e carvão, fontes de energia essenciais no mundo atual.
ROCHAS METAMÓRFICAS As rochas metamórficas se formam a partir de transformações (metamorfismo) sofridas por qualquer outra rocha, quando submetida a novas condições de temperatura e pressão. Nesse novo ambiente os minerais se modificam, reorientando-se e formando outros minerais. O alinhamento dos cristais dá a essas rochas uma nova característica de orientação de camadas. São exemplos o quartzito, o mármore e o gnaisse, provenientes respectivamente do arenito, do calcário e do granito.
A análise dessas rochas permite identificar condições e eventos que ocorreram no passado. Por exemplo, a deriva dos continentes e sua colisão submeteram parte das rochas a pressões e temperaturas elevadas. As rochas se modificam com o tempo. O chamado ciclo das rochas se refere às diversas possibilidades de formação e transformação de um tipo de rocha em outro. É um processo ininterrupto, que ocorre com os movimentos da crosta terrestre, com o vulcanismo, com o intemperismo, com a erosão etc.
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[Geografia I]
3.5. Geologia do Brasil O território brasileiro é formado, basicamente, por dois tipos de estrutura geológica: os escudos cristalinos (blocos cratônicos) e as bacias sedimentares. As formações serranas originaram-se de dobramentos antigos, constituídos antes da Era Cenozoica. Por exemplo: os dobramentos que originaram a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira remontam à Era Arqueozoica, e os que originaram a Serra do Espinhaço, datam da Era Proterozoica.
ESCUDOS CRISTALINOS
Geologicamente estáveis, os crátons têm grande importância econômica porque abrigam as principais jazidas de minerais metálicos, como ferro, manganês, cobre. Por serem muito antigos, a ação dos agentes externos do relevo (clima, rios, mar etc.) modelou-os, dando origem a formas arredondadas, os planaltos cristalinos. Do território brasileiro, 36% correspondem aos escudos cristalinos, assim distribuídos: • 32% são da Era Arqueozoica. Esses terrenos, os mais antigos do país, são constituídos por rochas magmáticas intrusivas ou internas (como o granito) e metamórficas (como o gnaisse) e formam o chamado Embasamento ou Complexo Cristalino Brasileiro; • 4% são terrenos da Era Proterozoica, em que predominam as rochas metamórficas. Possuem grande importância econômica porque neles se localizam as principais jazidas de minerais metálicos do país. É o caso das jazidas de ferro do Quadrilátero de Ferro (MG), da Serra dos Carajás (PA) e do Maciço de Urucum (MS); das jazidas de manganês da Serra do Navio (AP); da bauxita de Oriximiná (PA); da cassiterita de Rondônia. Podemos também considerar os escudos cristalinos em dois grandes blocos: o Escudo das Guianas, situado ao norte, e o Escudo Brasileiro, que abrange as porções central, leste e sul do país e se encontra subdividido em várias partes denominadas núcleos ou escudos propriamente (Sul-Amazônico, Atlântico, Uruguaio-Sul-Rio-Grandense).
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[Geografia I]
BACIAS SEDIMENTARES
Formação de uma bacia sedimentar
As bacias sedimentares cobrem 64% da área total do Brasil e classificam-se, quanto à extensão, em grandes bacias (Amazônica, do Meio-Norte, Paranaica, São-Franciscana e do Pantanal) e pequenas bacias (do Recôncavo Baiano, de São Paulo, de Curitiba). Quanto à idade, classificam-se em bacias antigas paleozóicas (São-Franciscana e Paranaical e mesozóicas (Meio-Norte e do Recôncavo) - e bacias recentes - cenozóicas terciárias (Central e Costeira) e quaternárias (Amazônica e do Pantanal). As bacias sedimentares são estruturas geológicas de grande importância econômica pelo fato de abrigarem jazidas de recursos minerais energéticos, como o petróleo e o carvão mineral. O petróleo extraído no Brasil é proveniente de bacias sedimentares tanto continentais (por exemplo, a Bacia do Recôncavo Baiano) quanto marítimas (por exemplo, a Bacia de Campos, no Rio de Janeiro). No tocante ao carvão mineral, as principais jazidas e a quase totalidade da produção encontram-se na Bacia Paranaica, a maioria em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Além de formar as reservas energéticas, as bacias também acumulam entre os grãos de suas rochas porosas uma enorme quantidade de água, formando os grandes reservatórios subterrâneos, chamados de aquíferos.
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[Geografia I]
UNIDADE 4 DEMOGRAFIA
4.1. Conceitos e Taxas Demográficas
POPULAÇÃO ABSOLUTA Refere-se ao total de habitantes de um país.
POPULAÇÃO RELATIVA ou DENSIDADE DEMOGRÁFICA Corresponde ao número de habitantes por quilômetro quadrado.
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[Geografia I]
in: SIMIELLI, Maria. GeoAtlas. São Paulo: Ática, 2008.
Vivem mais pessoas dentro desse círculo do que fora dele.
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[Geografia I]
TAXA DE NATALIDADE: É o número de crianças nascidas vivas, numa região, no período básico de um ano. É expressa em unidades por milhar (‰).
Taxa de Natalidade = Nascimento/ano X 1000 População Absoluta
TAXA DE MORTALIDADE: É o número de óbitos, de uma população, ocorridos em uma área definida, no período de um ano. É dividida em mortalidade infantil, juvenil e adulta (‰).
Taxa de Mortalidade = Morte/ano X 1000 População Absoluta
CRESCIMENTO VEGETATIVO: Relação entre as taxas de natalidade e as de mortalidade. Crescimento vegetativo = natalidade – mortalidade
CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO: Além do crescimento natural ou vegetativo, que chamamos de movimento demográfico vertical, a mobilidade horizontal dos povos, ao longo da história (migrações), também influencia o aumento populacional de uma região. Entretanto, como vimos, a principal causa é o crescimento natural. Como as variáveis responsáveis pelo crescimento demográfico apresentam melhor qualidade nos países desenvolvidos, existe uma grande diferença entre esses países e os subdesenvolvidos, quanto ao aumento populacional.
Crescimento demográfico = crescimento vegetativo + saldo migratório (natalidade – mortalidade) + (imigração – emigração)
TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL: É a relação entre o número de crianças que morrem até 1 ano de idade sobre o total de nascimentos (‰). Esta taxa é frequentemente utilizada como indicador de saúde materno-infantil. A taxa mundial é de 49,4 ‰, segunda a ONU.
Taxa de Mortalidade infantil = Morte no 1º ano de idade X 1000 Nascimentos
Mortalidade infantil no Brasil volta a crescer após 26 anos e país cai para a posição 107º no ranking mundial
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[Geografia I]
TAXA DE FERTILIDADE: Capacidade fisiológica que a mulher tem de ter filhos (número de mulheres em idade fértil – 14 a 49 anos)
TAXA DE FECUNDIDADE: Número de filhos por mulher fértil. Se a taxa de fertilidade for igual a 2,1, considera-se que houve reposição populacional, mantendo estável o tamanho da população. No Brasil, a taxa de fecundidade é de 1,77 filhos por mulher.
Taxa de Fecundidade = número de nascimentos mulheres em idade fértil
TAXA DE FECUNDIDADE NO BRASIL 1950 6,2
1980 4,4
2010 1,9
China ratifica reforma da 'Política do Filho Único' Agora, casais poderão ter dois filhos, mas só se um deles for filho único. O governo chinês adotou formalmente neste sábado (28/12/2013) a reforma de sua política do "Filho Único". Até então, os casais poderiam ter apenas um filho. Agora, a nova política permite aos casais ter dois filhos, mas apenas se um dos pais for filho único, informou a imprensa local. Anunciadas em novembro pelas autoridades, essas importantes medidas foram ratificadas e aprovadas em votação do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, o mais importante órgão legislativo do país, de acordo com a agência de notícias chinesa Xinhua. A medida é parte de um plano para aumentar as taxas de fecundidade e aliviar a carga financeira sobre a população chinesa, que está envelhecendo em ritmo acelerado. O gigante asiático com cerca de 1,4 bilhão de pessoas é o país mais populoso do mundo. O governo chinês disse que a política de limitar as famílias a um único filho cobre 63% da população e impediu 400 milhões de nascimentos desde 1980. O comitê permanente da ANP também adotou neste sábado uma resolução que "autoriza os casais formados por ao menos um filho único a ter dois filhos", acrescentou a agência oficial. Isto marca uma clara flexibilização da política chinesa de planejamento familiar, chamada de "política do filho único", adotada há três décadas para frear o crescimento demográfico no país mais populoso do mundo. Atualmente, a lei chinesa proíbe que os casais tenham mais de um filho. No entanto, existiam até agora exceções para os casais compostos por filhos únicos, para as minorias étnicas e para os casais rurais que tiveram primeiro uma filha. As autoridades provinciais "deverão emendar suas regras de controle de nascimentos ou tomar decisões específicas, quando chegar o momento, segundo a avaliação da situação demográfica local e de acordo com a (nova) lei", indica a resolução do comitê permanente da ANP, citada pela Xinhua. Esta modificação das regras de planejamento familiar está destinada a frear o envelhecimento da população chinesa, quando o índice de fecundação no país, de 1,5 filhos por mulher, é muito inferior ao nível que garante a renovação geracional. Adaptado de : http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/12/china-ratifica-reforma-da-politica-do-filhounico.html
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[Geografia I]
4.2. Teorias Demográficas TEORIA MALTHUSIANA Publicada pelo pastor anglicano Thomas Robert Malthus, em 1798, o Ensaio sobre o Princípio da População afirma que a população mundial cresceria em um ritmo rápido, comparado por ele a uma progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16...), e a produção de alimentos cresceria em um ritmo lento, comparado a uma progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6...). Malthus considerava que a população dobraria a cada 25 anos, sendo assim, em um determinado momento, não existiriam alimentos para todos os habitantes da Terra. As maiores contestações a essa teoria são que, na realidade, ocorre grande concentração de alimentos nos países ricos e, consequentemente, má distribuição nos países pobres. Se a teoria se confirmasse e houvesse esse descompasso entre o aumento da população e a falta de alimentos, o resultado seria uma população mundial faminta, vivendo em situação de miséria, o que causaria uma desestruturação na vida social. Portanto, o aumento da população seria a causa, e a miséria, a consequência.
TEORIA NEOMALTHUSIANA Elaborada após a Segunda Guerra Mundial, argumentava que, se o crescimento demográfico não fosse contido, os recursos naturais da Terra se esgotariam em pouco tempo. Foi sugerida uma rigorosa política de controle da natalidade aos países subdesenvolvidos. A contestação a essa teoria é que se deve melhorar a distribuição da renda. Os neomalthusianos analisam essa aceleração populacional segundo uma ótica alarmista e catastrófica. Para conter o avanço populacional, esses teóricos utilizam várias propostas, principalmente a da adoção de políticas visando o controle de natalidade, que se popularizaram com a denominação de Planejamento Familiar. Algumas medidas adotadas por entidades mundiais (ONU, FMI, Banco Mundial, UNICEF, entre outros) nos países subdesenvolvidos, ajustadas a cada população, são exemplos de políticas de controle de natalidade: esterilização em massa de populações pobres (como foi feito na Índia e na Colômbia); distribuição gratuita de anticoncepcionais; assistência médica para uso de dispositivos intrauterinos (DIUs); divulgação de um modelo de família bem-sucedida, com no máximo dois filhos, em programas de televisão, na publicidade e no cinema.
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[Geografia I]
TEORIA ECOMALTHUSIANA Os defensores dessa teoria alertam para os riscos ambientais decorrentes do crescimento exagerado da população a qual exercerá cada vez mais pressão sobre os recursos naturais, particularmente nos ecossistemas equatoriais e tropicais. Uma das formas de colocar em prática a ideia de desenvolvimento sustentável visando a atender às necessidades atuais da humanidade e preservar o meio ambiente para as gerações futuras seria através do controle da natalidade. Como ficou comprovado durante a realização da Rio-92, quem mais degrada o meio ambiente e consome os seus recursos, na atualidade, são os países ricos em virtude de seus padrões de produção e consumo, cujas populações já pararam de crescer e não as populações dos países subdesenvolvidos que continuam aumentando constantemente. Os países ricos possuem pequena população, mas utilizam a maior parte dos recursos naturais disponíveis e são também os maiores responsáveis pela poluição do planeta.
TEORIA REFORMISTA Diverge das teorias malthusianas, os reformistas atribuem aos países ricos ou desenvolvidos a responsabilidade pela intensa exploração imposta aos países pobres ou subdesenvolvidos, que resultou em um excessivo crescimento demográfico e pobreza generalizada. Defendem a adoção de reformas socioeconômicas para superar os graves problemas. A redução do crescimento demográfico seria consequência dessas reformas. Segundo a Teoria Reformista, a fome e o crescimento populacional são consequências do subdesenvolvimento. De acordo com a teoria reformista, se não houvesse pobreza as pessoas teriam acesso a educação, saúde, higiene, etc., o que regularia, naturalmente, o crescimento populacional. Portanto, é exatamente a falta dessas condições o que acarreta o crescimento desenfreado da população. Neste caso, é necessário explicar a origem da pobreza: os reformistas atribuem sua origem à má divisão de renda na sociedade, ocasionada, sobretudo, pela exploração a que os países desenvolvidos submetem os países subdesenvolvidos. Assim, a má distribuição de renda geraria a pobreza - e esta, por sua vez, geraria a superpopulação.
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[Geografia I]
4.3. Estrutura Populacional
(in: http://saberesnet.webnode.pt/disciplinas/geografia/a9%C2%BA%20ano)
(in: TERRA, Lygia & COELHO, Marcos. Geografia Geral – O espaço natural e socioeconômico. São Paulo, SP: Moderna, 2005.)
(in: ROSS, J. (org.). Geografia do Brasil. São Paulo, Edusp, 1996.)
4.4. Estrutura Etária Tecnicamente, ao analisar uma população, consideramos três grupos ou faixas principais: jovens, adultos e idosos. A análise de uma população é importante pelas implicações que a predominância de uma ou outra faixa pode trazer: vantagens ou preocupações para o planejamento econômico de um país.
REGIME DEMOGRÁFICO DE POPULAÇÃO JOVEM Este grupo inclui a maioria dos países pobres não industrializados, ou seja, quase todos os africanos e parte dos países latino-americanos, dos asiáticos e da Oceania. Apesar de o grupo ser bastante heterogêneo, em geral apresenta elevadas taxas de natalidade e mortalidade, o que significa elevado percentual de jovens e grande crescimento vegetativo. As precárias condições de vida resultam em baixa expectativa de vida e uma porcentagem de população idosa relativamente pequena.
[40]
[Geografia I] A pirâmide etária deste regime apresenta base larga (grande quantidade de jovens) e topo estreito (pequeno percentual de idosos e baixa expectativa de vida). Os principais problemas demográficos do grupo estão na necessidade de elevados investimentos com educação, formação profissional dos jovens e ampliação do mercado de trabalho, entre outros. Na figura pode-se observar o exemplo da Tanzânia, cuja população deverá entrar na fase de estrutura madura somente em 2050.
PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS INDUSTRIALIZADOS Passaram por um processo de industrialização, tendo diminuído suas taxas de mortalidade, natalidade e crescimento vegetativo após 1970. Apresentam um percentual de jovens próximo a 20% e o percentual de velhos (mais de 60 anos) está entre 5% e 15%. Fazem parte desse grupo os Tigres Asiáticos, China, Cuba e alguns países de economia de transição, como Armênia, Moldova etc. Comparativamente aos países desenvolvidos com população madura, esses países apresentam taxas percentuais menores de população idosa e menor expectativa de vida.
[41]
[Geografia I]
REGIME DEMOGRÁFICO DE POPULAÇÃO ENVELHECIDA É encontrado nos países desenvolvidos que já realizaram sua transição demográfica, como, por exemplo, Alemanha, França, Reino Unido, Suécia e Japão, que apresentam elevada expectativa de vida (em virtude de melhores condições de vida), baixas taxas de natalidade e mortalidade e, consequentemente, baixo crescimento vegetativo.
Ao analisarmos as pirâmides da estrutura etária de 1980, 2010 e 2030, é possível perceber a evolução da população brasileira nas últimas décadas. Houve uma redução do número de jovens e um aumento do número de idosos, indicando uma transição das características demográficas do país. Porém, essa transição não se apresenta de maneira homogênea no território nacional, visto cada estado apresenta características próprias.
[42]
[Geografia I]
4.5. Estrutura Ocupacional POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA (PEA):
pessoas inseridas no mercado de trabalho; inclusive os "desempregados", por estarem temporariamente desocupados.
POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE INATIVA (PEI):
população não ativa, como os jovens, os aposentados e os "subempregados" que complementam ou obtêm sua renda na economia informal, sem participar diretamente do sistema tributário.
POPULAÇÃO OCUPADA:
Parcela da população que exerce atividade remunerada (não engloba a
população desempregada).
ECONOMIA INFORMAL: De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, consiste no conjunto de atividades organizadas em bases não capitalistas. Abrange o trabalho realizado por conta própria e as pequenas empresas nas quais não existe separação entre o capital do negócio e o patrimônio da família. Na grande maioria das vezes, os empregados não estão amparados pelas leis trabalhistas nem pelos direitos sociais.
Nos países desenvolvidos existe concentração de trabalhadores no setor terciário, que abrange a informática, a mídia, os serviços e o comércio em geral. O setor primário perde cada vez mais funcionários para a mecanização do campo; e o setor secundário está ocupando menor número de trabalhadores, devido ao uso intensivo de máquinas e inclusive de robôs. Nos países subdesenvolvidos industrializados existe um setor terciário "inchado", caracterizado pela economia informal. Os países subdesenvolvidos não industrializados ainda apresentam elevada população economicamente ativa no setor primário.
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[Geografia I] Pelo menos, em um aspecto parece que os países ricos e pobres estão juntos: o desemprego. No entanto, os fatores que levam ao desemprego nesses países são diferentes. Nos países ricos ocorreu uma intensa automatização, progressos tecnológicos e transferência de indústrias para países subdesenvolvidos - processos que eliminaram os empregos no setor secundário, que muitas vezes foram absorvidos pelo setor terciário. Como isso nem sempre aconteceu, esses países enfrentam um fato novo: as elevadas taxas de desemprego. Na maior parte dos países subdesenvolvidos, o processo de urbanização não foi acompanhado pela geração de empregos no setor industrial. Esse fato criou uma grande massa de trabalhadores subempregados (não deixam de ser desempregados), como os camelôs, os vendedores ambulantes, os guardadores de vagas de carros ou os limpadores de parabrisas. Outra grave situação dos países subdesenvolvidos é a do desemprego conjuntural, isto é, quando uma crise econômica implica a demissão de milhares de trabalhadores. Apesar de formar o setor terciário, esses trabalhadores jamais poderão ser comparados com os do setor terciário dos países ricos, pois a renda ou salário, as oportunidades, as qualificações e os avanços tecnológicos dos países em que vivem são extremamente menores.
4.6. Índice de Desenvolvimento Humano Desde 1993, o Programa das Nações unidas para o Desenvolvimento (Pnud) publica anualmente o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o qual mede o bem-estar das populações, juntando à renda indicadores da qualidade de vida em cada nação. Essa qualidade de vida é medida pelo desempenho do país nas áreas de saúde e educação. A média geométrica desses índices dá a cada país um conceito de muito alto, alto, médio ou baixo desenvolvimento humano. Em 2010, o Pnud modificou a metodologia de cálculo do IDH e revisou os valores do passado, pelos novos critérios. ÍNDICES
SAÚDE
EDUCAÇÃO
RENDA
CRITÉRIOS
Baseia-se na esperança de vida ou expectativa de vida. O Pnud considera que um indicador menor igual a 20 anos é o pior possível (valor 0 na escala). A máxima – a melhor possível – é de 83,2 anos (valor 1 na escala)
Média de anos de escolaridade dos adultos e os anos esperados para uma criança na idade que ela entra na escola. O valor mínimo para os dois indicadores é zero. O máximo é de 13,2 anos para os adultos e 20,6 anos de expectativa para as crianças.
Calculado pela Renda Nacional Bruta per capita em dólar PPC (valor corrigido de acordo com a paridade de poder de compra da moeda de cada país em comparação ao dólar). O valor mínimo da escala é US$163,00 por ano e o máximo US$108.211,00.
7,4 anos (adultos) 13,8 anos (esperado)
US$ 9.821,00 hab./ano (2017)
BRASIL
75,5 anos (2016)
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IDH
Os 3 têm peso igual
79º (em 2017)
[Geografia I] Confira o IDH de alguns países selecionados.
MUITO ALTO (0,800 a 1,000) 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º
Noruega Suíça Austrália Irlanda Alemanha Islândia Hong Kong Suécia Singapura Holanda
0,953 0.944 0,939 0,938 0,936 0,935 0,933 0,933 0,932 0,931
12º 13º 19º 22º 24º 41º 44º 47º 49º 59º
Canadá Estados Unidos Japão Israel França Portugal Chile Argentina Rússia Cazaquistão
0,926 0,924 0,909 0,903 0,901 0,847 0,843 0,825 0,816 0,800
China Equador Ucrânia Peru Colômbia MUNDO Líbia Paraguai Moldávia
0,752 0,752 0,751 0,750 0,747 0,728 0,706 0,702 0,700
Timor-Leste Honduras Bangladesh Gana Quênia Zâmbia Angola Paquistão Camarões
0,625 0,617 0,608 0,592 0,590 0,588 0,581 0,562 0,556
ALTO (0,700 a 0,800) 60º 63º 64º 73º 74º 78º 79º 80º 85º
Irã Costa Rica Turquia Cuba México Venezuela Brasil Azerbaijão Argélia
0,798 0,794 0,791 0,777 0,774 0,761 0,759 0,757 0,754
86º 87º 88º 89º 90º 108º 110º 112º
MÉDIO (0,550 a 0,700) 113º 114º 115º 116º 118º 119º 120º 127º 130º
Filipinas África do Sul Egito Vietnã Bolívia Palestina Iraque Guatemala Índia
0,699 0,699 0,696 0,694 0,693 0,686 0,685 0,650 0,640
132º 133º 136º 140º 142º 144º 147º 150º 151º
BAIXO (abaixo de 0,550) 152º 155º 157º 158º 164º 167º 168º 169º 170º
Ilhas Salomão Síria Nigéria Ruanda Senegal Sudão Haiti Afeganistão Costa do Marfim
0,534 0,536 0,532 0,524 0,505 0,502 0,498 0,498 0,492
173º 176º 178º 180º 184º 186º 187º 188º 189º
[45]
Etiópia Rep. Dem. Congo Iêmen Moçambique Serra Leoa Chade Sudão do Sul Rep. Centro-Africana Níger
0,463 0,457 0,452 0,437 0,419 0,404 0,388 0,367 0,354
[Geografia I]
4.7. Migrações
A estrutura das migrações tem mudado muito desde o final do século XX. Vejamos algumas dessas mudanças. A população estrangeira em países mais desenvolvidos aumentou em 23 milhões na década de 1990. Com isso, uma em cada 10 pessoas que vivem nesses países nasceu em outro lugar. A migração clandestina (sem residência legal nos países onde vivem) atingiu níveis sem precedentes: mais de 30 milhões de pessoas em todo o mundo. O aumento nas migrações circulares, que são caracterizadas pela volta das pessoas ao lugar de origem - geralmente depois de um tempo trabalhando em outro país - ou por um novo deslocamento em busca de um terceiro lugar para morar ou trabalhar. Em parte, esse movimento ocorre devido às facilidades atuais de locomoção e de comunicação para fazer contato com outras comunidades. Em muitos países do Golfo Pérsico, como o Catar, as migrações são permitidas por um período de tempo, após o qual os imigrantes devem retomar a seus países de origem. A formação de redes de diáspora, que fornecem ajuda (trabalho, burocracia, abrigo) a novos migrantes, facilita a migração e a vida no país de destino. Por exemplo, 92% dos argelinos que vivem na Europa estão na França, e 81% dos emigrantes gregos estão na Alemanha. As remessas financeiras dos quase 200 milhões de emigrados para seus países de origem geram fontes de divisas importantes para regiões bastante pobres. Em 2005, essas remessas chegavam a quase 230 bilhões de dólares anuais. Em muitos países esse valor ultrapassa o da ajuda externa oficial e proporciona uma das maiores fontes de rendimentos. No México, por exemplo, o recebimento desses valores constitui a segunda fonte de divisas do país, depois do petróleo.
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[Geografia I] Está ocorrendo uma maior feminização do processo migratório. Se no passado as mulheres migravam como membros da família, atualmente é comum mulheres migrarem sozinhas. Em 2005, elas já representavam quase a metade (49,6%) dos migrantes internacionais. Para impedir as migrações ilegais, muitos países desenvolvidos, desde a década de 1990, mantêm suas fronteiras fechadas, sob constante vigilância. A Europa Ocidental, para manter a dimensão atual de sua população, teria de duplicar a quantidade de imigrantes. Mesmo tendo necessidade de novos fluxos de pessoas jovens, em idade de trabalhar, a imigração (principalmente a ilegal) é assunto que preocupa toda a União Europeia. Existe um consenso de que toda a Comunidade Europeia deve ajudar os países-membros que, por sua situação geográfica (proximidade do mar), recebem maior número de imigrantes ilegais, como a Espanha, a Itália e Malta. Os países da UE propõem políticas coordenadas e eficazes entre os Estados-membros para conter a imigração ilegal e sugerem a repatriação dos chamados "sem papel". A UE mantém um sofisticado sistema de vigilância marítima para proteger as fronteiras da imigração africana.
As fronteiras cada vez mais se militarizam e contam com alta tecnologia em matéria de sistemas de vigilância: além de arames, muros, campos minados e controles policiais, há também vigilância eletrônica e térmica. Os Estados Unidos, apesar de necessitarem de mão-de-obra dos migrantes, têm recorrido à força para impedir-lhes a entrada ilegal ao longo dos 3.200 quilômetros de fronteira com o México. Os grandes gastos com a proteção fronteiriça não têm dado os resultados esperados: além de colocar em risco muitas vidas,
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[Geografia I] têm conseguido apenas reduzir a migração feminina. No México, os migrantes pressionados pelo desemprego e crises constantes insistem em ultrapassar as barreiras para chegar ao destino desejado. As políticas de impedimento das migrações ilegais pelo fechamento de fronteiras, que são mantidas sob constante vigilância, ignoram muitas vezes os princípios de direitos humanos, e cercas e muros são comuns em diversos países como nas cidades espanholas na África (Ceuta e Melilla) e no território palestino da Cisjordânia (construído pelo Estado de Israel).
Na globalização, como sabemos, valoriza-se o trabalho especializado. Os países concorrem formando trabalhadores especializados e atraindo pessoas qualificadas. Geralmente os trabalhadores de topo (especialistas em diversas áreas, pesquisadores, peritos em informática e comércio, executivos, administradores etc.) saem dos países periféricos e se dirigem aos países centrais, num movimento migratório conhecido como fuga de cérebros. Entretanto, mesmo esses trabalhadores estão sujeitos a numerosas exigências para obter o visto de permanência. As exigências e o controle sobre a imigração são muito maiores para a mão de obra não qualificada. Os mercados de trabalho nos países desenvolvidos oferecem enormes vantagens: a diferença salarial entre um trabalhador rural africano ou latino-americano e um equivalente europeu chega a ser de 10 para 1. Entretanto, as políticas de imigração limitam as vantagens e o acesso desses trabalhadores ao mercado de trabalho, uma vez que eles tenderão a ocupar a maioria das vagas de emprego e, com isso, as possibilidades de colocação da mão de obra disponível do próprio país serão diminuídas. Embora sejam qualificados enquanto mão de obra, muitos trabalhadores estrangeiros sofrem com atos de discriminação nos países onde residem, sentimento denominado de xenofobia.
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[Geografia I]
TIPOS DE MIGRAÇÃO NOMADISMO: apesar de ser muito rara na atualidade, essa modalidade de migração é caracterizada pela ausência de fixação permanente. As pessoas nômades mudam de lugar periodicamente e não estabelecem moradia fixa em nenhum lugar. PENDULARES: é um movimento populacional regular em que as pessoas viajam da cidade em que residem para outra cidade onde trabalham ou estudam em tempo integral. A rigor, não se trata de uma migração já que o tempo de permanência não é longo e os movimentos definidos como migração são entendidos como movimentos definitivos ou de longa duração. TRANSUMÂNCIA: nesse tipo de migração, um grupo de pessoas muda de cidade, estado ou país por um determinado período, geralmente alguns meses, e continua tendo como referência de moradia o local de origem. É o caso de trabalhadores rurais que vão todos os anos para outros estados trabalhar no corte de cana-de-açúcar, por exemplo, e, encerrado o período de colheita, retornam para seus estados de origem. CAMPO–CIDADE: êxodo rural é o deslocamento de pessoas do campo para as cidades. Essa mudança é permanente e, geralmente, ocorre porque os habitantes do campo buscam na cidade melhores condições de vida. Entretanto, essa migração pode ser involuntária, quando acontece, por exemplo, em decorrência da mecanização do trabalho no campo. CIDADE–CAMPO: êxodo urbano é mais raro de acontecer, mas é o oposto do êxodo rural. A saída da cidade para o campo ocorre devido a fatores que podem estar relacionados a questões econômicas, de disponibilidades de recursos, qualidade de vida, entre tantos outros fatores que levam determinada população se deslocar dos centros urbanos rumo às áreas rurais. CAMPO–CAMPO: migração típica de zonas de expansão de fronteiras agrícolas e frentes pioneiras. Caracteriza-se pela saída de zonas rurais estruturadas onde as terras são valorizadas e chegada em regiões de terras baratas. O principal exemplo desse tipo de migração é o deslocamento de gaúchos para o Centrooeste. REFUGIADOS: são pessoas que estão fora de seus países de origem de maneira forçada, seja por conflito, violência, perseguição religiosa ou outras circunstâncias que perturbam seriamente a ordem pública e que, como resultado, necessitam de “proteção internacional”. As situações enfrentadas são frequentemente tão perigosas e intoleráveis que estas pessoas decidem cruzar as fronteiras nacionais para buscar segurança em outros países, sendo internacionalmente reconhecidos como “refugiados” e passando a ter acesso à assistência dos países, do ACNUR e de outras organizações relevantes. Eles são assim reconhecidos por ser extremamente perigoso retornar a seus países de origem e, portanto, precisam de refúgio em outro lugar. Essas são pessoas às quais a recusa de refúgio pode ter consequências potencialmente fatais à sua vida.
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[Geografia I] Principais países de origem de refugiados, das populações deslocadas e dos requerentes de asilos que dão Proteção ou apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) por país de Origem (2008)
Crise Migratória
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[Geografia I]
4.8. Formação do Povo Brasileiro Com o atual desenvolvimento das pesquisas no ramo da ancestralidade genômica, foi possível estabelecer a contribuição das três matrizes básicas para a formação do povo brasileiro - indígena, europeia e africana. Esses estudos comprovam a riqueza genética da população e a intensa miscigenação, que desde o período colonial tem caracterizado o processo de formação da população brasileira: ainda não foi encontrado um só brasileiro 100% europeu ou 100% africano. A maioria dos chamados brancos brasileiros possui traços de indígenas e de africanos em seu DNA, ou seja, a maior parte da população brasileira é constituída de mestiços. Dentre os mestiços, também chamados de pardos, o grupo mais numeroso é o mulato (mestiço de europeu e africano), devido à elevada miscigenação entre portugueses e africanos, desde o período colonial. Também temos o caboclo ou mameluco (mestiço de europeu e indígena) e o cafuzo (africano e indígena). O IBGE utiliza as denominações preta, branca e amarela para classificar as pessoas de acordo com a cor de pele. Utiliza, também, as denominações parda e indígena. A denominação "parda" terminou sintetizando a intensa mestiçagem ocorrida no Brasil, englobando as expressões cafuzo, caboclo e mulato. Devido à grande entrada de escravizados africanos durante o período colonial, em 1800 a população afro-brasileira correspondia à quase metade da população (47%); os mestiços representavam 30% e os eurobrasileiros, 23%. Em 1880, a população afro-brasileira já estava reduzida a 20%, os eurobrasileiros contavam com 42% e os mestiços, 38% da população total.
No Censo 2000, éramos quase 170 milhões de habitantes no Brasil. Em 2010, esse número aumentou para mais de 190 milhões e, segundo a projeção do IBGE, em 2013 a população brasileira ultrapassou os 200 milhões. A população que vive em áreas rurais é bem menor do que a que vive em áreas urbanas. Mas antigamente não era assim. Em 1950, a população rural era muito maior do que a urbana. Que tal comparar algumas décadas da distribuição da nossa população?
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.
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[Geografia I]
INDÍGENAS NO SÉCULO XXI Fazendo parte não só do passado, mas também do presente da sociedade brasileira, os indígenas que chegaram ao século XXI enfrentam inúmeros problemas para manter seus recursos ambientais, sua cultura e seu modo de vida. De acordo com entidades indigenistas, existem atualmente no Brasil 241 povos indígenas, que, ao todo, falam 180 línguas diferentes. Seja morando em aldeias, seja em agrupamentos mistos ou em reservas indígenas, esses povos vivem em constante disputa por terras com fazendeiros, construtores de estradas, madeireiras, empresas mineradoras e grileiros. Embora muito tenha sido feito para a preservação dessas etnias, ainda persistem indicadores sociais preocupantes. Segundo a ONU (Relatório do desenvolvimento humano 2004), os povos indígenas recebem, muitas vezes, menos cuidados de saúde que o restante da população. Em 2003, o governo brasileiro gastou 7 dólares per capita em cuidados de saúde para a população indígena, contra 33 dólares em média para o país. Em algumas tribos, detectou-se um elevado nível de desnutrição infantil. É o caso, por exemplo, dos indígenas guarani-kaiowá, em Dourados, no Mato Grosso do Sul. A redução de suas terras dificultou a agricultura, obrigando-os a trabalhar em usinas e fazendas da região. Muitos sofrem com o alcoolismo ou se tornaram mendigos em áreas urbanas; no conjunto, os guarani-kaiowá ainda apresentam elevada taxa de suicídio. Todos esses problemas favoreceram a conscientização e organização dos indígenas. Nas décadas de 1970 e 1980 surgiram vários movimentos e entidades nacionais e internacionais de apoio à causa indígena. Um exemplo é o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), criado em 1972. Esse organismo, vinculado à igreja católica, busca favorecer a integração entre aldeias e povos dispersos, promover assembleias indígenas e garantir a diversidade cultural. Em 1992 foi fundada o Capoib (Conselho de Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil), depois da curta experiência de representação nacional da UNI (União das Nações Indígenas), formada em 1980. No entanto, devido à dispersão territorial das sociedades indígenas, a maioria de suas organizações tem um caráter étnico ou uma base local. São exemplos a CGTT (Conselho Geral da Tribo Ticuna) ou o CIR (Conselho Indígena de Roraima). Depois de muito lutarem por seus direitos, lideranças indígenas ingressaram em diversas instituições da sociedade brasileira e passaram a participar dos mecanismos políticos nacionais. Atualmente, diversos indígenas exercem cargos públicos, pois não há qualquer restrição ao indígena em votar e ser candidato, desde que ele seja capaz de se expressar em português.
O NEGRO NO BRASIL Capturados e escravizados na África, os primeiros africanos chegaram ao Brasil na primeira metade do século XVI, possivelmente em 1532. O início dessa vinda forçada é explicado pelos lucros decorrentes do tráfico de escravizados e pela necessidade de força de trabalho para a então nascente economia canavieira. Por vários séculos, o negro africano foi o braço sustentador da economia brasileira. Esteve presente em todas as atividades produtivas fundamentais do país, desde o ciclo da cana-de-açúcar (séculos XVI e XVII), passando pela atividade mineradora (séculos XVII e XVIII em Minas Gerais e na Região Centro-Oeste) até o ciclo do café (séculos XIX e XX na Região Sudeste) e a atividade industrial.
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[Geografia I] - os sudaneses, provenientes de regiões próximas ao Golfo da Guiné, na África Ocidental; mais altos e corpulentos, foram para Salvador e depois para Minas Gerais; - os bantos, originários de Angola, Congo e Moçambique; de menor porte, desembarcaram em Recife, São Luís e Rio de Janeiro. A respeito da quantidade de escravizados que entraram no Brasil, a cifra mais aceita pelos estudiosos oscila entre 3,5 e 4 milhões de pessoas. Esses grupos de origem africana pertenciam a inúmeras etnias, com costumes, crenças e idiomas diferentes. Maioria da população até por volta do início do século XIX, em 1890 os negros estavam reduzidos a menos de 15% do total do país. Para isso contribuíram, principalmente, a proibição do tráfico negreiro, a miscigenação, a elevada mortalidade dos afro-brasileiros e a imigração européia. Em 1999, eles compunham 5,4% da população. Se a proporção de pessoas negras diminuiu de forma marcante, a discriminação contra elas pouco se alterou. A discriminação persiste não apenas no tocante à cor, estendendo-se também ao nível social, à qualidade de vida e à classe social. Segundo dados do Censo 2000, a renda da população negra é menor do que a da branca; há mais negros (14,6%) e pardos (8,4%) no emprego doméstico do que brancos (6,1%), e mais brancos (5,7%) entre os empregadores do que negros (1,1%) e pardos (2,1%). Mesmo após a abolição da escravidão (1888), os afro-brasileiros enfrentaram grandes obstáculos. Competindo em desigualdade com os imigrantes da Europa, que detinham mais conhecimentos técnicos, os afro-brasileiros e pardos ex-escravizados e seus descendentes não puderam incorporar-se ao modelo de desenvolvimento urbano-industrial. Em 1893, os imigrantes já representavam 79% do pessoal ocupado nas atividades manufatureiras e 85% nas atividades artesanais. Excluídos do processo de desenvolvimento socioeconômico do país, desempregados, sem acesso à boa escola e ao mercado de trabalho e com poucas oportunidades, os afro-brasileiros, ao lado de outros grupos (mulatos, índios), engrossaram a imensa parcela de marginalizados. Na economia globalizada, a situação agravou-se: o mercado de trabalho exige mão-de-obra sofisticada e qualificada, afastando ainda mais os afro-brasileiros do processo produtivo. Nem mesmo a tão propalada ideologia da democracia racial, que apregoa a existência de uma convivência harmoniosa entre brancos e não-brancos no país, conseguiu esconder essa dura realidade. Apesar do reconhecimento do racismo, as conquistas desses grupos têm resultado mais da atuação de organismos da iniciativa particular do que de políticas de não-discriminação ativa por parte do poder público. Essas políticas propõem medidas de preferência eletiva a grupos minoritários, visando eliminar as desigualdades. Um exemplo é a adoção de incentivos para empresas que contratam mão-de-obra afrobrasileira ou de outros grupos desfavorecidos.
IMIGRANTES NO BRASIL: HISTÓRICO E CAUSAS O Brasil, país relativamente novo, muito extenso, com regiões pouco povoadas e rico em recursos naturais, tem se caracterizado pela intensidade dos movimentos migratórios, principalmente a imigração e as migrações internas. A imigração para o Brasil pode ser compreendida em três períodos: Primeiro período imigratório (1808-1850). A imigração foi muito pequena, graças principalmente ao desinteresse das pessoas em emigrar para um país de regime escravagista. Entre 1808 (chegada da família real e assinatura do decreto que oficializou a imigração) e 1850, o governo implantou várias colônias, em geral no sul do país, com a finalidade de garantir a posse dessa área, até então despovoada e cobiçada pelos espanhóis. São exemplos a fixação de açorianos no Rio Grande do Sul (1808), que deu origem à cidade de Porto Alegre; a fundação da cidade de Nova Friburgo (1818) por suíços-alemães e de São Leopoldo (1824) pelos alemães no sul do país; a instalação da colônia alemã de Santo Amaro (1829), nas proximidades da capital paulista.
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[Geografia I] Segundo período imigratório (1850-1934). Foi o mais importante e intenso, por causa da proibição do tráfico negreiro (Lei Eusébio de Queirós, de 1850), da rápida expansão da cafeicultura e consequente necessidade de mão-de-obra, do emprego do sistema de trabalho assalariado, dos incentivos por parte do governo e dos fazendeiros de café e, finalmente, da abolição da escravidão em 1888. Nesse período, o Brasil recebeu cerca de 80% do volume total de imigrantes registrados até o início da década de 1980, a maior parte formada por italianos (678 mil) que, em razão da crise econômica e do desemprego na Itália, vieram trabalhar na cultura cafeeira. Terceiro período imigratório (após 1934). Caracteriza-se pela diminuição progressiva da imigração, por causa principalmente da crise da cafeicultura, resultante da quebra da Bolsa de Valores de Nova York (1929), e da criação de leis que restringiram a entrada de imigrantes. Dessas, a Lei de Cotas da Imigração, promulgada em 1934, foi a mais importante. Ela determinava que só poderia vir para o Brasil, por ano, o máximo de 2% do total de imigrantes de cada nacionalidade que entrara no país nos 50 anos anteriores. A Segunda Guerra Mundial e a posterior recuperação econômica da Europa também provocaram uma reorientação dos fluxos migratórios. De acordo com a nacionalidade, os cinco grupos mais numerosos de imigrantes até 1983 foram, pela ordem: portugueses, italianos, espanhóis, alemães e japoneses. Na década de 1990, verificou-se certo afluxo de imigrantes - em especial coreanos, bolivianos, chineses, argentinos e uruguaios - para os grandes centros urbanos do país, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro. Sem a documentação necessária para sua legalização, esses imigrantes ficam sujeitos a condições precárias de subsistência. Constituem mão-de-obra barata e até escravizada, explorada por grupos mais antigos de imigrantes, de quem dependem para obter emprego e moradia. Enfrentam preconceitos, dificuldades de integração e de reconstrução de sua identidade como grupo social. Brasil: Principais grupos de imigrantes (1850 – 1934)
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Alemães (1850-1871) – Pequenos proprietários ocupam colônias de povoamento com cultivo de trigo e policultura Eslavos e italianos (1872-1886) – Eslavos: pequenos proprietários dedicam-se, principalmente, ao extrativismo de madeira no Paraná; Italianos [1ª fase]: pequenos proprietários dedicam-se, principalmente, ao cultivo da uva no RS e em SC. Italianos (1887-1914) – [2ª fase] assalariados da cultura cafeeira em São Paulo e operários nas cidades onde se iniciam as indústrias. Japoneses (1920-34) – pequenos proprietários cultivam chá, banana e hortaliças em São Paulo e norte do Paraná; assalariados do café em São Paulo; pequenos proprietários cultivam pimenta-do-reino e juta na Amazônia.
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UNIDADE 5 URBANIZAÇÃO Quando a população das cidades cresce mais que a das zonas rurais, acontece o fenômeno que chamamos de urbanização. Um país é urbanizado quando sua população urbana ultrapassa a população rural. Mesmo onde a população rural ultrapassa a urbana, as cidades crescem naturalmente (crescimento vegetativo) ou por receber imigrantes. Esse aumento natural da população urbana é chamado crescimento urbano. Urbanização e crescimento urbano estão relacionados e têm como consequência o surgimento de metrópoles, áreas metropolitanas, megalópoles e megacidades.
CARACTERÍSTICAS DA URBANIZAÇÃO • Nos Países Desenvolvidos a urbanização é lenta e gradativa. As cidades se estruturam lentamente: - absorvem migrantes; - há melhora na infra-estrutura urbana; - há aumento gradativo dos fluxos de mercadorias, serviços e pessoas; - o processo de industrialização é descentralizado geograficamente; - resultando numa densa e articulada rede de cidades, bastante organizadas, não apresentando de forma tão grave, os problemas urbanos que atingem os países subdesenvolvidos. • Nos Países Subdesenvolvidos a urbanização é acelerada e desorganizada, devido ao êxodo rural, relacionada: - às péssimas condições de vida na zona rural; - à estrutura fundiária concentrada; - aos baixos salários no campo; - à falta de política agrícola definida;
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METRÓPOLE Grande cidade que se destaca por diversas e variadas funções. (polo de influência)
REGIÃO METROPOLITANA Grupo de cidades integradas socioeconomicamente a um centro maior. No Brasil, as Regiões Metropolitanas são definidas por lei estadual e facilitam a administração/aplicação dos recursos financeiros.
MEGALÓPOLE Grandes centros urbanos resultantes de duas ou mais metrópoles. Os exemplos mais comuns são a BOSWASH no nordeste dos Estados Unidos, a CHIPITTS na região dos Grandes Lagos, também nos EUA. São Paulo e Rio de Janeiro formam a megalópole brasileira.
CONURBAÇÃO Encontro de duas ou mais cidades, em consequência do crescimento horizontal.
GENTRIFICAÇÃO Substituição da população de uma área por outro grupo de maior poder aquisitivo. Um exemplo é a transformação de áreas periféricas das cidades em condomínios de luxo.
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CIDADES GLOBAIS E MEGACIDADES As megacidades, com mais de 10 milhões de habitantes e situadas principalmente em países subdesenvolvidos, são ricas em contrastes: modernidades e arcaísmo, riqueza e pobreza. Muitas possuem boa infra-estrutura, mas são inseguras e violentas, tornando-se pouco atraentes para os grandes grupos empresariais e turismo. As cidades globais são influentes do mundo foram classificadas em Alfa (Londres, Nova Iorque, Paris, Tóquio, Los Angeles, Chicago, Frankfurt, Milão), Beta (São Francisco, Sidney, São Paulo, Cidade do México, Madri) e Gama (Pequim, Boston, Washington, Munique, Caracas, Roma, Berlim, Amsterdã, Miami, Buenos Aires).
HIERARQUIA URBANA
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ESTATUTO DAS CIDADES A partir de outubro de 2001, com a aprovação da Lei 10.257, que ficou conhecida como Estatuto da Cidade, houve regulamentação dos artigos de política urbana que constam da Constituição de 1988. O estatuto fornece as principais diretrizes a serem aplicadas nos municípios, por exemplo: regularização da posse dos terrenos e imóveis, sobretudo em áreas de baixa renda que tiveram ocupação irregular; organização das relações entre a cidade e o campo; garantia de preservação e recuperação ambiental, entre outras.
PLANO DIRETOR É conjunto de leis que estabelece as diretrizes para o desenvolvimento socioeconômico e a preservação ambiental, regulamentando o uso e a ocupação do território municipal, especialmente o solo urbano. O Plano Diretor é obrigatório para municípios que apresentam uma ou mais das seguintes características: • abrigam mais de 20 mil habitantes; • integram regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; • integram áreas de especial interesse turístico; • inserem-se na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional. • onde o poder público municipal queira exigir o aproveitamento adequado do solo urbano sob pena de parcelamento, desapropriação ou progressividade do imposto territorial urbano.
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HIERARQUIA E INFLUÊNCIA DOS CENTROS URBANOS NO BRASIL Dentro da rede urbana, as cidades são os nós dos sistemas de produção e distribuição de mercadorias e prestação de serviços diversos. Elas se organizam segundo níveis hierárquicos distribuídos de forma desigual pelo território. Por exemplo, o Centro-Sul do país possui uma rede urbana estruturada com grande número de metrópoles, capitais regionais e centros sub-regionais bastante articulados entre si. Já na Amazônia, as cidades são esparsas e bem menos articuladas, o que leva centros menores a exercerem o mesmo nível de importância na hierarquia urbana regional que outros maiores localizados no Centro-Sul. Outro fator importante que devemos considerar ao analisar os fluxos no interior de uma rede urbana é a condição de acesso proporcionada pelos diferentes níveis de renda da população. Um morador rico de uma cidade pequena consegue estabelecer muito mais conexões econômicas e socioculturais que um morador pobre de uma grande metrópole. Como a mobilidade das pessoas entre as cidades da rede urbana depende de seu nível de renda, os pobres que procuram e não encontram o bem ou o serviço de que necessitam no município onde moram acabam ficando sem ele. Segundo o IBGE, as regiões de influência das cidades brasileiras são delimitadas principalmente pelo fluxo de consumidores que utilizam o comércio e os serviços públicos e privados no interior da rede urbana. Ao realizar o levantamento para a elaboração do mapa da página seguinte, foi investigada a organização dos meios de transporte entre os municípios e os principais destinos das pessoas que buscam produtos e serviços (mercadorias diversas, serviços de saúde e educação, aeroportos, compra e venda de insumos e produtos agropecuários e outros). Para a elaboração do mapa, o IBGE classificou as cidades em cinco níveis: 1. METRÓPOLES: são os 12 principais centros urbanos do país e foram divididas em três subníveis, segundo o tamanho e a capacidade de polarização: a. Grande metrópole nacional - São Paulo, a maior metrópole do País (19,5 milhões de habitantes, em 2007), com poder de polarização em escala nacional; b. Metrópole nacional - Rio de Janeiro e Brasília (11,8 milhões e 3,2 milhões de habitantes, respectivamente, em 2007), que também estendem seu poder de polarização em escala nacional, mas num nível de influência menor que São Paulo; c. Metrópole - Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre, com população variando de 1,6 milhão (Manaus) a 5,1 milhões (Belo Horizonte), são regiões metropolitanas que têm poder de polarização em escala regional. 2. CAPITAL REGIONAL: neste nível de polarização encontramos 70 municípios com influência regional. É subdividido em três níveis; a. Capital regional A - engloba 11 cidades, com média de 955 mil habitantes; b. Capital regional B - 20 cidades, com média de 435 mil habitantes; c. Capital regional C - 39 cidades, com média de 250 mil habitantes. 3. CENTRO SUB-REGIONAL: 169 municípios com serviços menos complexos e área de polarização mais reduzida, são subdivididos em: a. Centro sub-regional A - 85 cidades, com média de 95 mil habitantes; b. Centro sub-regional B - 79 cidades, com média de 71 mil habitantes. 4. CENTRO DE ZONA: 556 cidades de menor porte que dispõem apenas de serviços elementares e estendem seu poder de polarização somente às cidades vizinhas. Subdivide-se em: a. Centro de zona A - 192 cidades, com média de 45 mil habitantes; b. Centro de zona B - 364 cidades, com média de 23 mil habitantes.
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[Geografia I] 5. CENTRO LOCAL: as demais 4473 cidades brasileiras, com média de 8 133habitantes e cujos serviços atendem somente a população local, não polarizam nenhum outro município, só são polarizados. É importante destacar que o mapa mostra as regiões de influência econômica das cidades sem se preocupar com a classificação das regiões metropolitanas legalmente reconhecidas.
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REGIÕES METROPOLITANAS DO BRASIL (2014)
*Material didático produzido pelo professor Gilberto Allende (Giba), licenciado em Geografia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ministra aulas em escolas e cursos pré-vestibular e ENEM desde 2006.
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