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Proposta de educação patrimonial para espaço agrário do Município de Gurjão PB, Nordeste do Brasil

Capítulo 1

Proposta de educação patrimonial para espaço agrário do Município de Gurjão PB,

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1. Introdução Nordeste do Brasil

Rita de Cássia Cantalice Farias1

Marcos Barros de Medeiros2

Roberto Ribeiro da Silva3

Thamillys do Nascimento Silva4

Carlos Antônio Belarmino Alves5 (In memoriam) Rogério Alves de Paiva6

Hélder Formiga Fernandes7

Emanuela Gonçalves dos Santos8

Uma das principais ameaças sobre o patrimônio cultural é a falta de conhecimento e que este é o grande obstáculo para a conservação, o inventário dos sítios deve ser entendido como a base do processo de proteção uma vez nele deverá constar as características relevantes para proteção, de uma forma a valorizar a cultura, a terra e as diversas formas de produção existentes no campo e com isso redefinir suas ações, com o modelo de desenvolvimento socialmente justo e ecologicamente sustentável.

Educação Patrimonial constitui-se de todos os processos educativos formais e não formais que têm como foco o Patrimônio Cultural, apropriado socialmente como recurso para a compreensão sócio histórica das referências culturais em todas as suas manifestações, a fim de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e preservação. (IPHAN, 2014). Para Mário Chagas, (2003) patrimônio cultural é um conjunto determinado de bens tangíveis, intangíveis e naturais envolvendo saberes e práticas sociais, a que se atribui determinados valores e desejos de transmissão de um tempo para outro, ou de uma geração para outra geração.

A importância da educação para a proteção do Patrimônio Cultural, de modo que, essa iniciativa só seria possível através de medidas educativas que resultasse na compreensão pelo povo da responsabilidade de todos de cuidar de sua história, de sua

1Graduada em Ciências Agrárias UFPB. -E-mail ritinha_cantalice@hotmail.com. 2Professor Titular do Departamento de Agricultura no Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias, UFPB; E-mail: marcos.barros@academico.ufpb.br 3Professor Associado da CEDUC-UEPB-Campina Grande –PB, E-mail: pb1318113@hotmail.com 4Graduada em Ciências Agrárias UFPB. Mestra em Agronomia UFPB -E-mail thamiinasc@gmail.com 5Professor Associado do Departamento de Geografia UEPB-Guarabira –PB 6Professor Aposentado do DCBS/UFPB -Bananeiras –PB 7Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente UFPB. 8Geógrafa, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente UFPB

cultura e ter consciência de que essa atitude se trata de preservar um patrimônio de grande relevância para esse povo. (FLORÊNCIO, 2004). Num momento em que redescobrimos o valor do patrimônio, como elemento de identidade cultural, torna-se comum a discussão sobre as formas de seu uso, o que leva, lentamente, o interesse do governo federal e até mesmo dos gestores estaduais pelo patrimônio (MENESES, 2004).

A Educação como patrimônio mundial começou só a partir século XVIII, quando, na França, o poder público começou a se preocupar com a proteção aos monumentos de valor para a história das nações, o uso de “patrimônio” ampliou-se para os bens protegidos por lei e pela ação de órgãos especialmente constituídos, nomeando o conjunto de bens culturais de uma nação (CHOAY (2001).No Brasil, a preocupação com o patrimônio histórico iniciou-se efetivamente no século XX, quando o país passou por uma crise de identidade, marcada pelo processo de urbanização no sudeste brasileiro e pela ascensão das elites industriais, a partir do final da década de 1970, verificou-se a valorização do patrimônio cultural como um fator de memória das sociedades, dando uma base cultural comum a todos, embora os grupos sociais e étnicos presentes em um mesmo território fossem diversos. O patrimônio passou, assim, a identificar a representação do passado histórico e cultural de uma sociedade (RODRIGUES, 1999).

Considerando que o Patrimônio Cultural fortalece a relação das pessoas com suas heranças culturais, estabelecendo um melhor relacionamento destas com estes bens, percebendo sua responsabilidade pela valorização e preservação, e demonstrar o papel da educação na formação de indivíduos conscientes do que ocorre no seu entorno e qual ação pode adotar para transformar a realidade e compreender a importância da Educação Patrimonial através de uma abordagem técnico – científica, para preservação e o desenvolvimento sócio – econômico da população no campo conforme os parâmetros de tais recursos pelas Ciências Agrárias.

2. Aspectos histórico e geográficos agrários do Cariri paraibano

O indígena da Borborema cultivava seus próprios alimentos: milho (Zea mays, Gramineae), feijão, (Phaseolus ssp, Leguminosae), e abóbora (Cucurbitaceae) existiam forte indícios que as roças eram em lugares adequados como brejos ou leitos e grotas de rios, além disso os desenhos rupestres mostram, pessoas tirando mel de uma árvore. Peixes também faziam parte do cardápio que era baseado na flora e fauna existente (RIETVELD, 2007).

O município de Gurjão PB está localizado na Mesorregião Borborema do Estado da Paraíba, em uma das áreas consideradas como mais secas do Brasil, o Semiárido nordestino. Está inserido na unidade geoambiental do Planalto da Borborema, na microrregião do Cariri Oriental paraibano (CRPM, 2005). Foi criado em 1962, limita-se ao Norte com os municípios de Juazeirinho e Soledade, ao Sul com o município de São João do Cariri, ao Leste com o município de Boa Vista e ao Oeste com os municípios de Santo André e Parari. O percurso entre Gurjão e a capital paraibana, é de 212 quilômetros. Atualmente o município apresenta área de 343 km2 e população de 3.159 habitantes, distribuídos entre 2.128 na área urbana e 1.031 na área rural (IBGE, 2010). O Cariri Paraibano é formado pelo Bioma Caatinga sendo uma das suas áreas mais secas, encontra-se no sul da Paraíba e é composto por 29 cidades com população de 160 mil pessoas. Trata-se de uma região bastante castigada pela escassez de chuvas, e entre outras questões, apresenta inadequada exploração dos recursos naturais. Diversas espécies vegetais podem ser extintas em razão do desmatamento desordenado e da falta de Educação Ambiental nessa área. (ARAÚJO, 2010). Clima do Cariri Oriental é caracterizado com uma região mais seca do Brasil, o clima é do tipo Bsh, que se caracteriza por elevadas temperaturas medias anuais de em torno de 26ºC, com fracas amplitude térmicas anuais e chuças escassas e irregulares, possuindo baixos índices pluviométricos com medias de 400 a 600 mm/ano (NASCIMENTO E ALVES, 2008). Conforme Pereira Junior (2010), a Caatinga caracteriza-se por sua vegetação predominantemente xerófila, decídua, que permanece verde durante a estação das chuvas e perde suas folhas à medida que se acentua o período de estiagem. A exploração racional dos recursos naturais da Caatinga passa pelo prévio conhecimento de suas características ecológicas, pois se trata de um ambiente formado por ecossistemas frágeis, com grande variabilidade climática, sobretudo com relação a longos períodos de déficit hídrico.

Os longos períodos de estiagem em anos seguidos se configuram como uma das principais dificuldades para produção agrícola no Território do Cariri Oriental. Apesar disso, a agricultura ainda se apresenta como sendo uma as principais atividades que compõem o cenário econômico do Território, com destaque para a produção de alimentos desenvolvida, em grande parte, pelo sistema de agricultura familiar. Historicamente, o desenvolvimento da criação bovina norteou a ocupação e povoamento do Território do Cariri Oriental. Mais com o incentivo que ocorreu nas últimas décadas da caprinocultura atualmente como uma atividade econômica estratégica para o desenvolvimento

sustentável dos municípios que integram o Território do Cariri Oriental paraibano (BRASIL, 2010) A situação hídrica do Cariri Paraibano é o aspecto que mais afeta a vida de seus habitantes. Ainda não há um planejamento eficiente para os períodos de estiagem quando os açudes estão quase todos secos e, em razão disso, é necessário que sejam implantadas medidas de aproveitamento e utilização correta das águas. O avanço referente ao desenvolvimento sustentável desse território tem concorrido para a busca de alternativas de utilização dos recursos hídricos por meio da implantação de uma gestão participativa que visa solucionar a questão da escassez de água. Exemplo disso são a recuperação e preservação das nascentes dos rios e construção de cisternas em quase todas as propriedades rurais, (BRASIL, 2010).

3.Referencial teórico

Veja-se que a Constituição Federal de 1988, no art. 216, classifica como patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se inclui:

I as formas de expressão; II os modos de criar, fazer e viver; III as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Menciona Lemos Júnior (2012) que o conceito de cultura: é o conjunto de atividades e modos de agir, costumes e instruções de um povo, meio pelo qual o ser humano se adapta às condições de existência, transformando a realidade. A cultura diz respeito a tudo o que o homem é capaz de produzir e acumular aquilo que aprendeu transmitindo todo o conhecimento que possui à próxima geração que terá o dever de preservar os bens culturais recebidos. Há dois elementos que tem a função de manter estes bens culturais que são: a memória e a identidade. Cita Bezerra (2006), que o significado o:

O significado da expressão Educação Patrimonial, que é a ação educativa sobre os valores coletivos existentes em um determinado

grupo, consistindo na transmissão de informações sobre os saberes e fazeres de indivíduos antepassados para as gerações atuais. É, portanto, um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização da herança cultural, possibilitando aos indivíduos um melhor usufruto de seus bens e favorecendo a geração de novos conhecimentos num processo contínuo de criação cultural.

[...] educar é um ato político que visa à formação de sujeitos críticos que utilizem o conhecimento construído na escola para lutar pelos seus direitos. Esses direitos que incluem o acesso aos bens culturais são constituintes da cidadania. Isto posto, entendo que a escola forma cidadãos e não agentes do patrimônio cultural. Então, educação patrimonial é educação.

4. Resultados

O levantamento de dados foi realizado através de pesquisa bibliográfica, leitura de livros, revistas e depoimento oral dos moradores, na obtenção de informações sobre a existência de sítios arqueológicos, paleontológico e geológico e cerâmica local.

Utilizando motocicleta para visitar os locais, com o consentimento dos proprietários das áreas onde se encontram os locais de estudo. Foram realizadas observações diretas e mantidas conversas informais com moradores e a fim de contribuir para a execução da pesquisa. As informações foram registradas em diário de campo e realizados a descrição das principais características de cada local, a trena para medir o tamanho do monólito e as distâncias, ao centro do monólito, das pedras soltas ao redor do monólito e relógio para marcar os instantes das duas fotos do monólito, e as imagens registrada com câmera fotográfica digital Fujifim Finepix S2800 HD. Durante as entrevistas os moradores poucos sabem que estes locais foram habitados pelos nativos e que deixaram ao longo do tempo seus vestígios.

5. Sítios para educação patrimonial

No mapa dos sítios em Gurjão que teve a base elaborado por SILVA, (2011) em que estão indicados os sítios, que são de interesse da Educação Patrimonial para fins científicos e turísticos.

(Figura 2). Mapa para Educação Patrimonial referente à zona rural de Gurjão, PB.

5.1 Relógio do Sol

Gaudino (2011), afirma que o fundamento da astronomia reside na evidência de que o homem percebeu, ainda na pré-história, que as variações climáticas – ventos, chuvas, frio, calor – bem como a produção de frutos e o processo de reprodução dos

animais identificavam diferentes estações. Descobriu que os ciclos observados na natureza à sua volta correspondiam a ciclos demarcados nos céus, principalmente por estrelas e constelações. Essa constatação levou-os a registrar os astros cujos ciclos haviam se mostrado de importância para a criação dos calendários. O autor comenta que o homem que descobrisse a periodicidade das estações, das chuvas das secas, das cheias e das geadas, sujeitava-se a perder-se suas colheitas e ver sua comunidade ameaçada pela fome.

No sítio Angicos à margem da Lagoa do Brandão a 9 km da cidade de Gurjão na propriedade de senhor José Souto Ramos agricultor, 75 anos, encontra-se um Relógio do Sol, aparentemente, é um observatório solar, Consiste de um monólito composto por quatro faces talhadas artificialmente, apontando aparentemente para os quatro pontos cardeais. Em volta do monólito há alinhamentos de rochas menores. Germano Bruno Afonso, Doutor em Astronomia e Mecânica da Universidade Federal do Pará, mencionou que: “Observatório solar indígena era usado em rituais de fertilidade e para constatar a chegada das chuvas nas plantações da agricultura ancestral” e analisou esse instrumento através de fotografias e nos ofereceu informações que sobre como utilizá-lo,

Quando o Sol começar a aparecer no horizonte leste tire uma foto do Sol nascendo (com o monólito aparecendo) e, logo a seguir, tire uma foto do monólito de tal maneira que apareça a sombra do monólito projetada pelo Sol (marque os instantes dessas duas fotos). - Espere um minuto e novamente tire uma foto do Sol (com o monólito aparecendo) e, logo a seguir, tire uma foto do monólito de tal maneira que apareça a sombra do monólito projetada pelo Sol (marque os instantes dessas duas fotos). - Meça com a trena o tamanho do monólito e as distâncias, ao centro do monólito, das pedras caídas ao redor do monólito. (AFONSO, 2013).

Durante a visita à Lagoa do Brandão foram realizados registro fotográfico de alguns objetos de indústria lítico que demonstram a permanência dos povos pré-históricos na região e isso foi possível em razão do alto nível de preservação em que se encontra a lagoa.

Figura 3. Imagens de vestígios arqueológicos no sitio angicos – Gurjão – PB. A- Vista geral da Lagoa de Pedra; B- Relógio do Sol;C-Mão de Pilão.

Foto: Rita de Cássia de Cantalice Farias, (2015).

4. 2 Amoladores – indústria lítica

O sitio Arara localiza-se a Norte da sede do município de Gurjão. Para se chegar ao local, no sentido norte percorre-se uma distância de aproximadamente 8 km ao longo PB-176, de propriedade do Senhor Geraldo Martins de Oliveira, agropecuarista de 78 anos. Neste sítio existe a Lagoa de Pedra, este local apresenta importante valor e histórico cultural, faz parte do roteiro seguido por Irineo Joffily, em 1889, quando da realização de uma viagem que teve início na cidade de Campina Grande, no Planalto da Borborema, até o município de Patos, viagem está descrita pelo próprio padre em um relatório denominado “Um passeio de trinta léguas” (RIETVELD, al et. 2009).

Nesse sítio também, foi encontrada resquício da indústria lítica deixada pelos nativos, como machados de pedra polida, lasca arqueológica, ponta de flecha entre outros. Segundo Martin, (2000), a finalidade dos implementos líticos pré-históricos era cortar, raspar, perfurar, talhar, quebrar e esmagar ou moer. Faças, raspadores, buris, furadores, flechas, lanças, moedores e percutores tinham essa função.

A necessidade de caçar e de se defender obrigou o homem a armar suas mãos, desprovidas de garras, para sobreviver, e é a partir da técnica para fabricação desses instrumentos que podemos deduzir o tipo de caça e de pesca que buscava e no avanço dessa técnica deduzir também seus estágios crono-culturais. Foi constatada a ocorrências de amoladores - polidores numa extensão de vários quilômetros. Amaral (1995), os amoladores - polidores fixos seriam, ao mesmo tempo, instrumentos para polir, o trabalho de polimento consiste em alterar superfície por abrasão lenta em pedra, fáceis de serem identificadas como resultado da ação humana e são frequentemente associados a sítios arqueológicos. Estes registros foram catalogados próximo ao rio Timbaúba situado no sítio Arara, podendo ser esses locais centros de produção e dispersão de lâminas de machado polidas em um momento de desenvolvimento de tecnologias especializadas para fabricação de material lítico. Em todo sítio foram encontrados artefatos que indica a presença dos nativos nesta localidade, na Lagoa de Pedra concentra-se o maior número de vestígios arqueológicos, isto indica que possivelmente ter havido uma indústria lítica no local. Ao redor da lagoa há uma cerca de pedras que os tropeiros como ponto de apoio para descanso, servindo a cerca para manter o gado retido no interior da área da lagoa. O cangaço também esteve presente neste local Antonio Silvino assassinou o tenente Alferes Mauricio (Batista1911).

Figura 4. Imagens de vestígios arqueológicos no sitio Arara – Gurjão – PB. A- Vista Geral da Lagoa; B-Ponta de Projétil; C- Amolador; D- Machado de Pedra polida incrustado com turmalina negra.

Foto: Rita de Cássia de Cantalice Farias, (2015).

4.3 Sitio Palenteólogico – Madeira fóssil

A Paleontologia, é a ciência se dedicada ao estudo dos diferentes organismos que habitaram a terra no transcorrer do tempo geológico, mostra-se como uma área de conhecimento diversificada e com diferentes interfaces com outras ciências. (CARVALHO, 2004)

No Sítio Quixaba a 3,5 km a nordeste da cidade de Gurjão, está localizada a Serra

Rasa (IBGE, 1989), de propriedade dos herdeiros de Manoel Nunes. Nesta localidade são encontradas madeiras silificadas que ainda não foram tomadas como material de estudo.

A erosão superficial ocorrida em torno e no topo da serra acaba resultando em afloramentos das madeiras, os troncos petrificados, contem exuberantes anéis de F Ocrescimento, de forma que nessa área existe grande quantidade dessa raridade da T paleobotânica.

O

Além disso, existem rochas compostas de geodos formados, basicamente, por

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: cristais de silicatos, especialmente de quartzo que são formados nas cavidades das rochas. O acesso ao topo da Serra Rasa a quanto se destaca uma mata densa e L a diversificada, mas preservada, de forma que não é fácil o acesso àquele local. g o a

Figura 5. Imagens de vestígios paleontólogo no sitio Quixaba– Gurjão – PB. A- Madeira d a Silificada; B- Vista Geral do Topo da Serra.

P e d r a

Foto: Rita de Cássia de Cantalice Farias, (2015).

4.4 Sitio Água doce

O Sítio Água Doce pertence ao senhor Osman Coutinho Ramos, fazendeiro, 78 anos. Essa área rural se localiza a 6 km da cidade via BR 176. No local há um poço que os populares chamam de Baduíno, por associarem a presença do índio no local. Na face superior da rocha, estão presentes algumas inscrições rupestres. Na base do dique encontram-se pilões que serviu para fabricação e polimento material lítico.

Esse local tem grande evidência de ter sido uma indústria lítica a céu aberto devido ao grande número de artefatos encontrados. Os artefatos e os cacos de cerâmica foram catalogados e guardados.

Segundo Matin et al (2010), a cerâmica foi inventada nas Américas, independente do velho mundo a partir da técnica simples e lógica de modelar pequenos recipientes côncavos ou forrar com argila cestas traçadas que, ao secar, deixava uma marca do traçado no barro, em termos gerais a cerâmica tupi-guarani caracteriza-se por esta confeccionada por técnicas arredondadas, ou seja, pela superposição de roletes ou cordões de barro formando paredes grossas em relação ao tamanho do vasilhame.

O Poço Baduíno é cortado pelo Riacho da Caatinga. Caso se comprove que as inscrições no sítio forem itaquatiaras e pilões para polimentos, as medidas para proteção e conservação devem ser urgente, pois estas estão em condições ambientais vulneráveis à degradação de populares que vão ao local tomar banho, além disso, há lixo poluindo o ambiente.

Figura 6. Imagens de vestígios arqueológicos no sitio Água doce – Gurjão – PB. A- Vista Geral do Poço Baduíno; B- Chopper; C- Polidores; D- Inscrições Rupestres.

Foto: Rita de Cássia de Cantalice Farias, (2015).

4.5 Oficina Lítica Caçadores – Coletores

O Sítio Icó, de propriedade do Senhor José Nóbrega de Araújo, agricultor, 65 anos, com acesso ao leste em terra planada a 5 km da sede é uma das áreas rurais cortadas transversalmente pelo riacho Timbaúba, lá existe um poço que armazena água por um ano inteiro. Há indícios de que no local houve uma oficina lítica por haver muito artefatos no local. Segundo informa alguns moradores, esse local é temido, pois servia de abrigo aos coriscos que caem no mesmo local na época das chuvas através dos relâmpagos. Os artefatos encontrados eram levados para proteger as casas e também usados como amoladores de facas. Há informações de que foi encontrada ossada humana em uma gruta e foi deduzido que se tratava de homens que formavam um bando de cangaceiros que passavam na região. Porém, há a possibilidade da gruta tratar-se de um cemitério indígena.

A localidade visitada é uma oficina a céu aberto, onde se presume que tenha sido um local de ocupação humana de caçadores – coletores. No local foram coletados muitos artefatos e cacos de cerâmicas que foram catalogados e guardados. Vale ressaltar que há referência de (PIRES, 1990), deste local, quando mencionou a luta ocorrida entre Teodósio de Oliveira Ledo contra os Sucurus afirmando que esse evento aconteceu entre os riachos de Timbaúba e Santa Clara.

Figura 7. Imagens de vestígios arqueológicos no sitio Icó – Gurjão – PB. A- Ponta deLança; B- Lasca; C- Raspador; D- Faça.

Foto: Rita de Cássia de Cantalice Farias, (2015).

4.6 Pedra da Tartaruga

No Sítio Santa Rita, de propriedade do senhor Rivaldo Pereira de Araújo, agricultor 62 anos, localizado a 4 km da área urbana do município de Gurjão, encontra- se a Pedra da Tartaruga, é uma formação rochosa em forma de tartaruga que surgiu a partir do processo intemperismo. Por não haver uma educação para preservação do patrimônio geológico na cidade, o proprietário já tentou derrubar a pedra puxando-a com bois. Próximo à Pedra da Tartaruga se encontra o rio Timbaúba que tem uma cachoeira que se forma na época de chuvas, o qual neste sítio foi encontrado material lítico evidenciando a presença dos nativos neste local.

Eventos como o citado acima acerca da tentativa do morador ocorrem em razão da falta de uma legislação vigente que disponha de dispositivos específicos para a proteção do patrimônio geológico, contudo, a Lei Federal 9.985, conforme o Sistema Nacional de Unidade de Conservação SNUC, inclui a possibilidade de preservação/conservação do patrimônio abiótico através da criação de unidades de conservação para proteção das características relevantes de natureza geológica, geomorfológico, arqueológico, espeleológica, paleontológica e cultural. (BRASIL, 2000).

Figura 8. Imagem do Patrimônio geológico d município de GurjãoTartaruga; B- Pedras que forma uma cachoeira. PB; A- Pedra da

Foto: Rita de Cássia de Cantalice Farias, (2015).

4.7 Cerâmica- local

A arte de confeccionar panelas de barro foi transmitida por várias gerações. Atualmente, é considerado nacionalmente como um bem Cultural de Natureza Imaterial e titulado como Patrimônio Cultural Brasileiro. A fabricação de panelas já serviu como meio de subsistência de famílias que se dedicaram a esta atividade.

Dois aspectos estão inseridos nessa situação: a preservação de cultura patrimonial viva e que pode ser perdida senão houver uma forma de transmissão de conhecimento e a utilização dos recursos naturais pelos nativos, no caso o barro que demonstra a necessidade de um estudo pedológico na região. A cultura de fabricação de panela de barro foi uma atividade bastante difundida na cidade Gurjão constituindo famílias de artesãos. Com o passar do tempo, pouco restou dessa cultura, de forma que as gerações atuais pouco sabem sobre a fabricação de panelas de barro. As comunidades, que se utilizam do conhecimento tradicional, desempenham um papel fundamental para a conservação da biodiversidade, uma vez que vários desses recursos tem-se mantido até os dias de hoje, devido às práticas sustentáveis que elas empregam. (ELOY,2014). Em conversas com Manoel da Silva, artesão 63 anos, residente no Sítio Icó, nos informou como é a fabricação da cerâmica local. A fabricação de “loiça” de barros não é uma tarefa de fácil execução e requer bastante paciência. O trabalho passa pela escolha do barro adequado, umedecimento do barro que fica de molho por um período coberto por lona, preparação do barro para moldar as panelas, alisamento da panela pronta, secagem e queima no forno de fabricação artesanal.

Figura 9. Imagens da fabricação de utensílios de barro: AB- Forno Artesanal Senhor Manoel da Silva;

Foto: Rita de Cássia de Cantalice Farias, (2015).

5. Discussão

Este trabalho destacou diversos aspectos do

município de Gurjão que são característicos da região do Cariri paraibano. Verificou-se que os recursos naturais são pouco aproveitados. Essa população se constitui numa região seca em razão da escassez de chuvas e outras características do semiárido brasileiro. A pesquisa evidenciou que a, estrutura física dos sítios para Educação Patrimonial está em boas condições. O papel do profissional em ciências agrárias, agricultores e população são instrumentos eficazes como agente multiplicadores de informações e preservação destes sítios, correlacionados com o patrimônio, os locais abrigam um grande número de monumentos históricos ao qual pertence a esta comunidade e este deve ser mantido para conhecimento das futuras gerações. A ausência de informações e ignorância do povo acerca dos bens culturais disponíveis na região é parte extravagante que leva esse patrimônio a degradação e com isso não há preservação. Uma das informações a que se teve contato em razão da realização dessa pesquisa está na utilização do barro como meio de sobrevivência levando famílias a fabricação de utensílios por várias gerações. Afirma Brito (2008), que as conhecidas “pedras de corisco” tradição em diversos Estados nordestinos e que tem raízes na influência indígena, que o povo paraibano mantém até a atualidade. A implantação da Educação Patrimonial no espaço agrário do município de Gurjão PB faz- se urgente, visto as terras dar informações valiosas a respeito da formação desse povo. Porém, é necessário que haja um processo de difusão da Educação Patrimonial demonstrando a importância desta para se tomar conhecimento da importância do Patrimônio Cultural de uma comunidade, levando-se em consideração a formação da identidade e a valorização do sentimento de pertencer nos grupos ao quais os indivíduos, que foram pauta desse estudo, estão inseridos. Algumas iniciativas por parte dos gestores municipais, universidade e órgãos e identidades (IPHAN), E de toda população são fundamentais para incentivar o conhecimento didático cientifico e o desenvolvimento turístico. Esse estudo é de suma importância pois evidencia o registro de sítios arqueológicos na região e seu conhecimento desta localidade.

6. CONCLUSÃO

A pesquisa evidenciou a discussão sobre a Educação patrimonial na zona rural de Gurjão e sua importância no desenvolvimento rural agrário estimulando a educação e conscientização da população para a preservação destes sítios e patrimônio.

A Educação Patrimonial é a melhor ferramenta para dialogar com as diversas áreas do conhecimento como a Educação Ambiental e as disciplinas curriculares do processo educativo com o propósito de se garantir a preservação do patrimônio cultural e arqueológico existente no Município de Gurjão.Além de proteção, o patrimônio cultural precisa ser compartilhado e socializado, o melhor meio para sucesso desta ação deve ser o da educação em construir conhecimentos específicos a partir da coordenação pedagógica. A nossa pesquisa sugere ao poder local, estadual e órgãos e entidades o fortalecimento da identidade cultural sustentada na memória dos diferentes grupos que compõem e compuseram esta sociedade. A importância da Educação Patrimonial para as Ciências Agrárias está relacionada à conscientização da população para a preservação ambiental. De forma que, a maneira de se efetivar esse processo é através da interação entre comunicação e educação que ocorrerão por meio da inclusão no currículo escolar dessa modalidade educacional. Visto que, o papel da Educação Patrimonial será motivar experiências de preservação do meio ambiente contribuindo para a compreensão da importância em conservar o patrimônio histórico-cultural de um povo a partir dos mecanismos de utilização dos recursos naturais que compõem os diversos ambientes. A elaboração de projetos que enfoque os aspectos históricos e culturais, visando esses pontos de interesses para Educação Patrimonial no campo; capacite moradores e estudantes locais, dando-lhes a oportunidade de atuarem como guias turísticos e disseminadores da educação, desta maneira a proteção e os benefícios idealizados com o uso da paisagem cultural, e promova atividades turísticas que serem utilizados nos mais diferentes aspectos, como o uso da paisagem para a prática de contemplação da natureza, a interpretação e proteção patrimonial e a educação ambiental, procurando encontrar um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental. A partir dessas considerações, acredita-se, que a Educação patrimonial pode levantar reflexões e envolvimento da comunidade local e cientifica onde os pesquisadores possam estudar o modo de vida e costumes desses grupos que viveram na pré - história, e apropriar- desse patrimônio que é de grande importância a valorização da história e memória local, Estadual e Nacional.

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