73 minute read
Saúde e segurança de agricultores em perímetros irrigados do Alto Sertão Paraibano
from PROCESSOS SOCIOHISTÓRICOS PRÁTICAS EDUCACIONAIS E TECNOLOGIAS AGROAMBIENTAIS NO NORDESTE DO BRASIL
Capítulo 9
Saúde e segurança de agricultores em perímetros irrigados do Alto Sertão Paraibano
Advertisement
Francisco Guimarães Lopes¹
Mateus Gonçalves Silva²
Danielle Maria do Nascimento³
Mayslane de Sousa Gomes4
Joserlan Nonato Moreira5
1. INTRODUÇÃO
A saúde e segurança de trabalhadores rurais são fatores fundamentais e essenciais para o andamento e desenvolvimento das atividades agrícolas. O trabalho árduo e pesado na agricultura expõe os agricultores a ambientes e/ou tarefas desgastantes. O trabalhador está exposto a perigos ergonômicos (levantamento de peso excessivo, movimento repetitivos), agentes físicos (ruídos, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações), químicos (poeiras, fumaça, névoas, neblinas, gases, vapores) e biológicos (bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus) que podem ser absorvidos por via respiratória e/ou através da pele.A utilização de agrotóxicos nas plantações tem consequências graves para saúde dos agricultores. Entre os principais sintomas relatados estão as dores de cabeça, estômago e tonturas, seguidos de ânsias de vômito.Esses sinais são mais destacados em episódios de intoxicação aguda cujo quadro sintomatológico é forte (PERES, et. al., 2005).
As intoxicações subagudas ocorrem por exposição moderada ou pequena a produtos com características de alta ou mediana toxidade e seus efeitos podem aparecer em alguns dias e/ou semanas. As intoxicações crônicas têm como característica o surgimento tardio dos sintomas, que podem ocorrer após meses e/ou anos depois através
_________________________________________ ¹Graduado em Agroecologia-Instituto Federal da Paraíba-Email:fco.guimaraes86@gmail.com ²Prof. Dr. em Fitotecnia/Orientador da pesquisa-Instituto Federal da ParaíbaEmail:joserlan.moreira@ifpb.edu.br ³Mestre em Horticultura Tropical-Universidade Federal de Campina GrandeEmail:danielle.agroecologia@gmail.com 4Tecnóloga em Segurança do trabalho-Mestre em Sistemas Agroindustriais-UFCG- Email: mayslane.prof.ifsousa@hotmail.com 5Mestrando em Sistemas Agroindustriais-UFCG-Email: matheus.goncalves2102@gmail.com
da exposição a agrotóxicos de baixa e moderada toxidade (LONDRES, 2011). Dados do sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas registram, aproximadamente, 10 mil casos de intoxicações por agrotóxicos nos últimos 5 anos (SINITOX, 2009). O Ministério da Saúde faz estimativas médias de que, para cada caso notificado e/ou registrado, há outros 50 não notificados e/ou registrados, o que elevaria esse número para aproximadamente 500 mil (PERES; MOREIRA, 2003). SANTANA et al., 2012, relatam aumentos, de incidências de intoxicações ocupacionais no Brasil, da ordem de 1,27/1000 para 2,88/1000 trabalhadores (aumento de 127% entre os anos de 2007 a 2011, chamando a atenção o aumento, entre as mulheres, de178% no período, 35,65% ao ano). O uso de agrotóxicos na agricultura é intensivo, multiquímico e várias publicações têm apontado as intoxicações por agrotóxicos como um grave problema de saúde, especialmente entre trabalhadores rurais. Contudo, ainda são escassos os estudos brasileiros de índices de base populacional que registre e relate características do uso ocupacional e/ou sobre as suas diversas intoxicações ocasionadas pelo uso de agrotóxicos e derivados. O trabalho teve por objetivo diagnosticar os aspectos e/ou hábitos relacionados a saúde e segurança dos agricultores no Perímetro Irrigado de São Gonçalo (PISG) e Perímetro Irrigado das Várzeas de Sousa (PIVAS) na Paraíba.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Os Perímetros irrigados PISG e PIVAS estão situados no município de Sousa, zona fisiografica do sertão paraibano (Latitude: 06º 45' 33" S e Longitude: 38º 13' 41" W) (GEOGRAFICOS, 2017).
A pesquisa totalizou 210 agricultores entrevistados, entre os meses de julho a agosto de 2017, sendo, 164 e 46 agricultores do PISG e PIVAS, respectivamente. O critério de escolha foi aleatório e voluntário (conforme termo de consentimento), respeitando a legislação e preservando a identidade dos entrevistados, não importando o sexo, raça, nível de escolaridade e idade dos agricultores.
Para coleta de dados e averiguação dos aspectos relativos a utilização de agrotóxicos, bem como a exposição dos agricultores aos impactos causados pelos agroquímicos, foi construído um instrumento de trabalho (questionário) do tipo semiestruturado aplicado através de visitas in loco aos colonos dos referidos perímetros. Após coleta, os dados foram copilados, tabulados e analisados através dos métodos de
distribuição de frequência e posteriormente discutidos por procedimentos de estatística descritiva.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O perfil de gênero do PISG é, em sua totalidade (97%), representado por agricultores do sexo masculino. No PIVAS, a relação de gênero também é semelhante, 87% dos homens lideram a frente de trabalho no campo. Os dados evidenciam a desigualdade de condições de acesso no que tange a determinação do aspecto gênero, a formação do sertão paraibano retrata a tradicional dominação masculina do homem no campo. Porém, pode-se observar, o estabelecimento de uma autonomia das mulheres camponesas no PIVAS (13%). Resultados semelhantes foram observados por Boni (2005) e Lusa (2013) em estudos de relações de gênero no campo. A idade média dos agricultores entrevistados apresentou variâncias entre os perímetros irrigados em estudo (Tabela 1). Os dados evidenciam que o PISG, criado na década de 70 para satisfazer as necessidades de exportação e consumo das grandes cidades que necessitavam de suprimentos periódicos de alimentos, ao longo das décadas, não formou a renovação de sua transferência de conhecimento, produção e/ou tecnologia, haja visto que 28% dos agricultores apresentam idade acima de 70 anos. A não renovação e/ou fixação da mão de obra familiar local põe em risco as atividades futuras do perímetro. O PIVAS foi inaugurado em 2016, e entregue a aproximadamente 200 famílias de agricultores cadastrados na região, consta em sua maioria (30%) com agricultores na faixa etária de 50 a 60 anos (Figura 2).
Tabela 1. Faixa etária média dos agricultores entrevistados no PISG e PIVAS, IFPB, Campus Sousa, PB, 2019.
PISG PIVAS
Idade em anos
20|---30
30|---40
40|---50 3
9
19 13
15
20
50|---60
60|---70
Acima de 70 22
19
28 30
22
0
Total: 100 100
Para o grau de escolaridade dos agricultores entrevistados nos perímetros, os dados inferem altos índices de analfabetismos 26% e 22% no PISG e PIVAS, respectivamente (Figura 1). A falta de oportunidades, atrelada a árdua jornada de trabalho no campo, ao longo dos anos, forma os principais motivos relatados pelos agricultores entrevistados, seguido da ausência de incentivos e iniciativas governamentais de criação e fixação de escolas no campo. Segundo Domingues et al. (2004), a baixa escolaridade dos trabalhadores rurais dificulta a compreensão e favorece o uso inadequado de substâncias químicas, acarretando consequências negativas para a saúde e o meio ambiente. Este fato torna a população altamente suscetível aos riscos de acidente com agrotóxicos.
Figura 1.Grau de escolaridade dos agricultores entrevistados no PISG (A) e PIVAS (B), IFPB, Campus Sousa, PB, 2020.
Os agricultores dos perímetros, em sua maioria, somam mais de 40 anos dedicados a lida no campo (Figura 2). No transcorrer dos anos trabalhos, os dados apontam índices de uso dos agroquímicos sob contato direto com a pele nas ordens de 63% e 59%, no PISG e PIVAS, respectivamente (Figura 3).Os agricultores relatam, na pesquisa, para a identificação, ao longo dos anos, de problemas ocasionados pelo uso
(saúde pessoal e meio ambiente). Em pesquisa semelhante, Dejours et al. (1994), relatam que os trabalhadores reconhecem como perigosa a atividade de uso de agrotóxicos. Porém, é importante avaliar que as atitudes de desprezo ao risco podem ser compactuadas como elementos de ideologia defensiva frente ao ambiente/processo de trabalho injurioso, onde o trabalhador imagina dominar o perigo.
Figura 2. Dados médios de tempo de trabalho (em anos) dos agricultores entrevistados no PISG (A) e PIVAS (B), IFPB, Campus Sousa, PB, 2019.
Figura 3. Dados médios de tempo de contato direto do uso de agrotóxicos dos agricultores entrevistados no PISG (A) e PIVAS (B), IFPB, Campus Sousa, PB, 2019.
Para o uso de equipamentos de proteção individual (EPI's) completo no ato de preparar e/ou aplicar as formulações e/ou diluições de agrotóxicos, apenas 10% e 20% dos agricultores do PISG e PIVAS, respectivamente, fazem uso (Figura 4). Os relatos apontam para o uso irregular e esporádico de parte da vestimenta adequada e recomendada (botas, chapéu, camisa de roupa longa e máscaras). Os agricultores, de
ambos os perímetros, ainda não internalizaram a necessidade do uso de EPI's como função de proteção a curto, médio e longo prazo. Os equipamentos de proteção podem evitar contaminações e danos à saúde (NETO, 2009). Monquero et al. (2009), em sua pesquisa, relatam a necessidade de esclarecimento para uso de EPI's, de forma a conscientizá-los para uso em virtude de seus elevados riscos. Os dados expressos nesse parâmetro estão ligados aos índices de escolaridade expressos na Figura 1.
Figura 4. Dados médios de uso de EPI's pelos agricultores entrevistados no PISG (A) e PIVAS (B), IFPB, Campus Sousa, PB, 2019.
Atrelado ao uso de EPI's está a ação asséptica (higienização) do corpo após o contato com o uso de agrotóxicos. No PISG e PIVAS, 85% e 80% dos agricultores, respectivamente, afirmam ter o hábito de realizar a prática. A falta de assepsia, pós aplicação, compromete a eficiência de EPI's, tornando-os fontes de contaminações. Os produtos químicos deixam resíduos que impregnam nas vestimentas e quanto maior o tempo de contato do agricultor, maior será a probabilidade de contaminação (SILVA, 2013). Após o uso, os EPI's devem ser lavados e mantidos em local apropriado e o agricultor realize suas ações de assepsias. No ato da aplicação de agrotóxicos, os agricultores devem estar atentos a execução da tarefa, porém 63% e 37% dos entrevistados no PISG e PIVAS, respectivamente, afirmam praticar ingestão de alimentos (líquido ou sólido) ou fumar. Esse comportamento pode acarretar riscos a saúde do aplicador. Estudos realizados por Monquero et al. (2009), também identificaram práticas de ingestão de alimentos e fumo (14%), no ato da pulverização.
Para as características e/ou reações de percepção de mal-estar, por parte dos agricultores, 65% e 52% do PISG e PIVAS, respectivamente, afirmam e descrevem sintomas (dores de cabeça, tontura e ânsia de vomito, irritação da pele, falta de apetite), após aplicação de agrotóxicos (Figura 5). Nascimento et al. (2014), em pesquisas, verificaram índices de contaminação, após aplicação, da ordem de 50%.
Figura 5. Dados médios de percepção de mal estar após aplicação de agrotóxicos pelos agricultores entrevistados no PISG (A) e PIVAS (B), IFPB, Campus Sousa, PB, 2019.
Os agricultores do PISG (99%) e PIVAS (96%) são conscientes das consequências que o uso indiscriminado dos agrotóxicos ocasionam, no entanto, justificam a manutenção de aplicações para manutenção da produção no combate de pragas e doenças. Resultados semelhantes são observados por Waichman et al. (2006), Rangel et al. (2011), e Rodrigues et al. (2014), onde, 83,2%, 97,5% e 98%, dos agricultores, respectivamente, mencionam a necessidade de manutenção das pulverizações, assumindo conhecer o risco humano e ambiental.
Para a identificação de doenças na família e/ou vizinhança, 87% e 61% dos agricultores do PISG e PIVAS, respectivamente, relatam influência do uso de agrotóxicos ao longo dos anos (Figura 6). Segundo Bombardi (2011), as intoxicações por agrotóxico devem ser compreendidas como mais um elemento de violência no campo, mesmo que de forma silenciosa.
Figura 6. Dados médios de percepção de doenças após aplicação de agrotóxicos pelos agricultores entrevistados no PISG (A) e PIVAS (B), IFPB, Campus Sousa, PB, 2019.
5. Considerações finais
Os agricultores têm contato direto com os produtos aplicados e não fazem uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPI's).
6. Referências
BOMBARDI, L.; Intoxicação e morte por agrotóxicos no Brasil: a nova versão do capitalismo oligopolizado. Boletim Data Luta, v. 45, p. 1-21, 2011
DEJOURS, C.; ABDOUCHELI, E.; JAYET, C.; Contribuições da escola Dejourianaá Análise da Relação Prazer, Sofrimento e Trabalho. Tradução de Maria Irene StoccoBetiol. São Paulo. Editora Atlas, 1994. 114p.
DOMINGUES, M. R.; BERNARDI, M. R.; ONO, E. Y. S. e ONO, M. A. Agrotóxicos: risco à saúde do trabalhador rural. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 25, p. 45-54, 2004.
GEOGRAFICOS:
Coordenadas
Geográficas. Disponível em: <www.geografos.com.br/cidades-paraiba/sousa.php>. Acesso em: 01/07/2017.
LONDRES, Flávia. Agrotóxicos no Brasil: um guia para a defesa da vida. Rio de Janeiro: AS-PTA – Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, 2011.
MONQUERO, P. A.; INÁCIO, E. M.; SILVA, A. C. Levantamento de agrotóxicos e utilização de equipamento de proteção individual entre os agricultores da região de Araras. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v. 76, n. 1, p. 135-139, 2009.
NASCIMENTO, D. M.; RODRIGUES, M. H. B. S.; LOPES, F. G.; SILVA, S. N.; SIQUEIRA, E. C.; Avaliação do conhecimento dos agricultores (as) quanto aos riscos dos
agrotóxicos e os cuidados com o seu uso: O caso do assentamento Nova Vida I no
município de Aparecida-PB. In: Seminário de Agroecologia e Tecnologia Sustentáveis. Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias. Campos III - Bananeiras/PB, 2014.
NETO, A. J. L.; NUNES, J. C.; MELO, D. R. M.; FERNANDES, D.; JÚNIOR, E. S. N.; Uso de Agrotóxicos e Utilização de Equipamento de Proteção individual por produtores no sertão paraibano, Revista Verde, v.4, n.4, p. 107 – 114, 2009.
PERES, F.; MOREIRA, J. C. (org). É veneno ou é remédio? Agrotóxicos, saúde e ambiente. Rio de Janeiro: Editora Fiocruuz, 2003. 384p.
PERES, F.; OLIVEIRA-SILVA, J. J.; DELLA-ROSA, H. V.; LUCCA, S. R. Desafios ao estudo da contaminação humana e ambiental por agrotóxicos. Ciênc. saúde coletiva v.10, 2005.
RANGEL, C. F.; ROSA, S. C. A.; SARCINELLI, N. V. Uso de agrotóxicos e suas implicações na exposição ocupacional e contaminação ambiental. Cad. Saúde Colet. v.19, n.4, p.435-42. 2011
RODRIGUES, M. H. B. S.; FERNANDES, J. B. R.; ANDRADE, F. E. de; NASCIMENTO, D. M. do; HAFLE, O. M. Diagnóstico do uso de agrotóxicos e perspectivas
agroecológicas por produtores rurais do assentamento Acauã no município de
Aparecida-PB. In: Seminário de Agroecologia e Tecnologia Sustentáveis. Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias. Campos III Bananeiras/PB, 2014.
SANTANA, V. S.; MOURA, M. C. P.; FERREIRA, F.; LISBOA, M. C. Acidentes de trabalho devido à intoxicação por agrotóxicos entre trabalhadores da agropecuária 2000-2011. Boletim epidemiológicodos acidentes do trabalho, Salvador, v. 2, n. 4, p. 1-6, 2012.
SILVA, B. B.; Braga, A. C.; BRAGA, C. C.; OLIVEIRA, L. M. M.; GALVÍNCIO, J. D.; MONTENEGRO, S. M. G. L. Evapotranspiração e estimativa da água consumida em perímetro irrigado do Semiárido brasileiro por sensoriamento remoto. Revista Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v.47, n.9, p.1218-1226, 2012.
SILVA, R. P. Análise e implicação do uso de agrotóxico em coqueiro no Perímetro Irrigado de São Gonçalo, Sousa – PB. 2012. 100f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) — Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Mossoró – RN, 2012.
SINITOX, Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. Evolução dos casos registrados de intoxicação humana por agente toxico, Brasil 2007. Publicado em 2009. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/sinitox_novo>. Acessoem: 12 /07/ 2017.
WAICHMAN. A.V., EVE. E, NINA. N.C.S.; Do farmers understand the information displayed on pesticide product labels? A key question to reduce pesticides exposure and risk of poisoning in the Brazilian Amazon. Crop Protection. v.26,
Capítulo 10
Agricultura familiar no Semiárido brasileiro: Suportes e possibilidades
1. Introdução
Patricio Rinaldo dos Santos1
Ivonete Ferreira da Silva2
Valdilene Valdice de Santana3
SisgoRachithAcuña Chinchilla4
Ana Celia Saraiva de Moura Garcia5
A sociedade contemporânea nos últimos tempos tem enfrentado grandes transformações ambientais, em razão da significativa pressão ocasionada aos recursos naturais. A medida que os tempos se passam os indivíduos de diversas classes sociais sentem a necessidade de se pensar no bem-estar social, no valor dos recursos naturais para a garantia dos mesmos e das futuras gerações. Partindo dessas considerações o uso do termo sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável tem-se tornado cada vez mais usual entre os povos modernos.
O desenvolvimento do ser humano no planeta, evidenciado pelos avanços tecnológicos, intensificou-se ao longo dos últimos 200 anos. Nesse período, o homem buscou veemente controlar a natureza (SOUZA; ARMADA, 2017). O termo sustentabilidade denota, na maioria das vezes, apenas sentidos voltados às questões ambientais. Contudo, a sustentabilidade constitui-se num conceito dinâmico que leva em conta as necessidades crescentes das populações, num contexto mundial em constante expansão (STOFFEL; COLOGNESE, 2015a). Sustentabilidade refere-se aos cuidados outrora ou presentemente adotados em prol da sociedade e dos recursos que os rodeiam.
Todas essas variações de definições sobre este termo convergem para uma definição onde a sustentabilidade implica uma rentabilidade de médio e longo prazo, bem como práticas agrícolas com impactos ambientais sustentáveis. A conscientização pública sobre os impactos negativos da atividade humana em nosso meio ambiente é sempre alta e, de acordo com as previsões dos especialistas, não há mais tempo (LAMONTAGNE et al., 2019; FONSECA, et al., 2020).
1 Gestor Ambiental (IFPE), Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPE) 2 Orientadora do Curso de Especialização Lato Sensu em Educação Ambiental Interdisciplinar (SEaD/UNIVASF) 3 Geografa (UPE), Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPE) 4 Mestre em Engenharia Agrícola (UFRPE), Docente da Universidade de Costa Rica (UCR) 5 Gestora Ambiental (UNOPAR), Mestra Profissional em Gestão Ambiental (IFPE)
É importante refletir se a sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável deve ser impulsionado pelo contundente fato de que, se não preservamos o planeta, as gerações futuras serão prejudicadas, ou deva ser pautado, em uma tomada de consciência de que o ser humano é o veículo da degradação ou o coadjuvante da vida no planeta (AUDINO, 2017, p. 18). O presente estudo justifica-se em virtude de que se percebe ainda por parte de comunidades campesinas do semiárido brasileiro ineficiências na adoção de tecnologias sustentáveis por parte, sobretudo, dos agricultores da região e empenho do poder público no incentivo e implantação destes artifícios.
Alternativas sustentáveis ou suportessão viáveis e promissores para o efetivo convívio com as limitações existentes no semiárido em virtude dos intensos prolongados períodos de estiagem. Deste modo, objetivou-se com este estudo delinear as probabilidades para que se possa alcançar a sustentabilidade na agricultura familiar no semiárido do nordeste brasileiro.
2. Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo literário ou revisão bibliográfica pela qual são expostas possíveis técnicas a serem seguidas para a aquisição da sustentabilidade no âmbito da agricultura familiar no semiárido do Nordeste do Brasil. A referida investigação quanto aos seus procedimentos e objetivos foi pautada em coleta e levantamento de dados bibliográficos, desenvolvida a partir de material já elaborado sobre a temática em destaque como monografias, dissertações, artigos científicos disponíveis em bases de periódicos, etc., com abordagem de caráter qualitativo.
Foi elaborado a partir de estudos propostos por Gerhardt; Silveira (2009, p. 31), os quais relatam que na pesquisa qualitativa, o cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de suas pesquisas. Além disso, foi realizada uma breve abordagem acerca das tecnologias sustentáveis que podem ser inseridas no âmbito da agricultura familiar.
3. Resultados e Discussões
3.1 Paradigmas e inovações tecnológicas sustentáveis para a agricultura familiar no semiárido brasileiro
A organização produtiva
e a diversidade alimentícia do sertanejo foram um dos sustentáculos do equilíbrio nutricional dos homens e mulheres que habitavam o sertão, garantindo-lhes, inclusive, a convivência com o semiárido e o enfrentamento da política da seca (SILVA; MENEZES, 2019). Primeiramente levando em apreço o aporte hídrico
inteiramente desestabilizado em virtude dos altos índices de evapotranspiração, como uma das alternativas para alcance da sustentabilidade em relação as atividades agrícolas, Araújo; Araújo (2019a) relatam que, com o objetivo de atender às múltiplas demandas da população dessa região, principalmente na agricultura, algumas ações foram efetivadas nos últimos anos. Uma delas é o projeto de transposição das águas do rio São Francisco, projeto este que divide opiniões políticas e de especialistas.
Ainda de acordo com Araújo; Araújo (2019b) um dos principais desafios no que tange o desenvolvimento sustentável da agricultura do semiárido é o de possibilitar melhorias técnicas que superem, mesmo que de forma lenta, os entraves políticos e particularidades ecológicas dessa região. O uso de tecnologias sociais e ambientais, conforme anteriormente exposto, se apresentou como soluções viáveis e eficientes em prol da sustentabilidade na gestão racional dos recursos hídricos (ARAÚJO; ARAÚJO, 2019c). Contudo, é necessário reconhecer os desafios da transição de um modelo para outro, que envolve a dimensão econômica, tecnológica, social e cultural (SANTOS, et. al., 2014).
Em relação as tecnologias sociais motivadamente inventariadas e implementadas para a convivência no semiárido, Souza et al., (2016) tratou de divulgar e esclarecer através de pesquisa de cunho bibliográfico a funcionalidade de algumas dessas tecnologias voltadas a agricultura familiar, com enfoque na disponibilidade de água potável dentre as quais o autor aponta o destilador solar, fossas sépticas, cisternas, barragens subterrâneas, bioágua familiar. Outrora, Costa; Silva (2012) também trabalhando com tecnologias alternativas pode averiguar que entidades como o Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA) com sede no Estado de Pernambuco tinha produzido no ano de 2010 cerca de 6 tecnologias para beneficiar de tal forma o homem do campo, como as seguintes, a seguir: i. Galinheiro móvel; ii. Cata-vento artesanal; iii. Bomba rosário; iv. Cultivo em Treliças; v. Desfiador de garrafa PET; vi. desidratador solar (COSTA; SILVA, 2012). Conforme argumentos de Silva et al. (2019) O Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA) também desenvolve outros tipos de tecnologias como a Horta Pinga-Pinga, tecnologia para produção de horta orgânica com pouca água. Lago de Pneu, reaproveitando pneu é possível fazer um lago para produção de alimentos, para flores ou para ervas medicinais, além de ficar lindo esteticamente. O Lago de Tela de Cimento e a cisterna bola são alternativos de baixo custo para armazenamento de água para período de estiagem, além de não precisar de mão de obra especializada (SILVA, et al., 2019).
Já no que diz respeito a pesquisas cientificas voltadas para os terrenos campesinos do semiárido, Dantas et al., (2019), por exemplo, verificou em pleno Sertão do estado de Pernambuco, Brasil, que a irrigação com esgotos domésticos tratados proporcionou aumentos em todas as variáveis analisadas em relação à água de abastecimento. Enquanto, Lima et. al., (2019) avaliando a contribuição da nutrição de potássio (K) e a aplicação de profundidades de águas residuais para o desempenho agronômico de algodão colorido evidenciou o potencial de águas residuais para este tipo de algodão, principalmente para o seu crescimento. Porém, Chinchilla et. al., (2018) recomenda que ao utilizar efluentes de águas residuais tratadas para irrigação em sistemas por gotejamento é preciso uma primeira avaliação antes de 7 horas úteis, para implementar procedimentos de correção adequados para reduzir o entupimento e, consequentemente, manter a qualidade do processo.
Azevedo et. al., (2019) mediante pesquisas com dois tipos distintos de água, concluiu que a água de ar condicionado é indicada para a produção de mudas de gravioleira e o efluente agroindustrial afeta de forma negativa no crescimento de mudas desta mesma planta em virtude dos elevados teores de sódio e cloreto. Mediante o exposto, Leal (2015) aponta que o importante é tentar viabilizar meios em que os recursos da região sejam extraídos de forma harmônica com o meio ambiente, de forma a permitir a sustentabilidade na região.
Para Sabourin (1999) a preservação dos recursos naturais (vegetação, solo, água) e a reposição da fertilidade dos espaços cultivados constituem, normalmente, prioridades técnicas e agronômicas para qualquer agricultor familiar. Como um dos sustentáculos para agricultura familiar no semiárido, Medeiros; Souza (2017a), defendem com rigor que,
A diversificação de produtos, proporciona uma maior segurança alimentar, renda e sustentabilidade ambiental, tudo isso faz dos sistemas agroflorestais uma fantástica alternativa para a agricultura familiar. Com base nessas preposições, um SAF bem esquematizado pode permitir colheitas a partir do primeiro ano de implantação, de tal forma que o agricultor obtenha rendimentos originados de culturas anuais com ciclo curto, enquanto aguarda a amadurecimento e o desenvolvimento de espécies florestais e frutíferas de ciclo mais longo (MEDEIROS; SOUZA, 2017b).
Crispim et al., (2016), por outro lado, apontam que o planejamento ambiental na região semiárida é o ponto inicial no debate sobre sustentabilidade ambiental nesta região. No entanto, é necessário desmistificar as condições climáticas como um fator aos problemas ambientais presentes na contemporaneidade, e sim a ausência de um planejamento ambiental. Com o intuito de tornar o ambiente agrícola cada vez mais sustentável, uma prática que é tendência, mas que ainda não é bem difundida é o uso de biofertilizantes para controle e combate a pragas e doenças nas culturas agrícolas. Neste contexto, Araújo; Araújo (2019d) descrevem que, faz parte desse desafio possibilitar caminhos que conduzam a uma agricultura familiar com alternativas técnicas e tecnológicas, acesso a crédito e assistência técnica com afinco nos pressupostos ambientais. De acordo com Stoffel; Colognese (2015b) a capacidade dos agricultores familiares de gerar novidades, inovações endógenas, vem sendo, em grande medida, negligenciada. Os autores em destaque ainda relatam que é na agricultura familiar que se mantém a capacidade de geração de novidades, e essas não podem ser desprezadas, pois adequadamente utilizadas são capazes de gerar formas de organização produtivas e tecnologias abrangentes para serem utilizadas em diferentes escalas e nos mais diferentes subsistemas dos agroecossistemas (STOFFEL; COLOGNESE, 2015c).
O novo modelo agrícola, que surge em meio às preocupações ambientais, revela a busca por uma agricultura sustentável que procura inserir esse novo paradigma, e demonstra como possível saída a agroecologia (SANTOS; CÂNDIDO, 2013), uma vez que conforme argumentos exitosos de (SANTOS, et al., 2014a), a agroecologia é um caminho que concilia a agricultura familiar e a sustentabilidade para o espaço rural.
A conquista de uma agricultura mais sustentável requer mudança de paradigma no ensino, na pesquisa, na extensão e no relacionamento com agricultores. A agroecologia, pelas características de matriz multidisciplinar, forte conteúdo ético e enfoque holístico e sistêmico, pode ser o caminho adequado para essa mudança de paradigma (SARANDÓN, 2014; SABINO; AMARAL 2015), bem como a adoção de estratégias e práticas de educação ambiental com agricultores familiares também pode ser uma
alternativa para fins de contribuição para alcance da sustentabilidade ambiental.
Neste sentido, observa-se quão importante a adoção de práticas agrícolas sustentáveis para o desenvolvimento produtivo do Semiárido, tendo-se em vista a deficiência de sistemas hídricos eficazes, de solos férteis e de políticas públicas adequadas a essa região. Além disso, a implementação de tais práticas contribui para o
manejo sustentável dos recursos da Caatinga, amenizando os impactos de degradação e de consequente desertificação (BARROS; PORDEUS, 2016).
3.2 Breves relatos sobre possibilidades para sustentabilidade na agricultura familiar
Artifícios hábeis como adoção do sistema de gotejamento em detrimento aos métodos tradicionais de irrigação como os sistemas por inundação e sulcos também se estabelecem como uma das formas sustentáveis de gerenciamento dos recursos hídricos para a agricultura familiar na região semiárida. Tais procedimentos são capazes de reduzir significativamente os impactos de degradação sobre os solos como a salinização desencadeada pelo uso exorbitante de água na agricultura irrigada que provoca por conseguinte empobrecimento dos terrenos agricultáveis.
Diante do exposto, pode-se ter a certeza de que é possível produzir e manter um ambiente sustentável, porém toda essa responsabilidade está nas mãos dos agricultores, pois suas práticas na maioria das vezes sem acompanhamento e auxilio técnico afetam diretamente o ambiente. Desse modo, a implantação de sistemas agroflorestais (SAFs) anteriormente destacado neste documento por Medeiros; Souza (2017c), se constituem como uma opção de grande valia unindo de modo sustentável a produção de espécies agrícolas com espécies florestais nativas. Trata-se de uma conciliação de plantas com espécies arbóreas, arbustivas, frutíferas, herbáceas e outras proporcionando a conservação ambiental e produção alimentar com segurança e geração de renda para pequeno agricultor.
Além disso, a produção de biomassa e resíduos orgânicos provenientes da serapilheira das plantas que compõem os SAFs são de expressiva importância podendo serem reaproveitadas como adubo natural, como fonte de matéria orgânica para melhor produtividade e proteção do solo. O principal apego de se efetivar o uso desse material é poder aproveitar o solo, manter a fertilidade do mesmo e sobretudo, ter uma alta produção, mas com um diferencial que é o de não usar fertilizantes químicos e agrotóxicos e com isso podemos manter a qualidade da água usada para irrigar e qualidade na produção, uma vez que são isentos de produtos químicos, assim conseguese minimizar e eliminar os impactos que podem ser causados pela produção rural, respeitando a fauna e flora e todos os seres que precisam da natureza para sobreviver.
Na agricultura familiar é comum o uso de produtos que tem como objetivo aumentar a produção e consequentemente ter maior lucratividade, e é justamente esse o objetivo do uso de insumos orgânicos para nutrição das culturas agrícolas. Neste seguimento,
Rodrigues et al., (2019) conta que agriculturas mais sustentáveis não se referem apenas à substituição de insumos químicos e práticas depredadoras de recursos naturais. Tratase da necessidade de caminhar em direção ao redesenho dos agroecossistemas segundo princípios ecológicos e inúmeras variáveis sociais, culturais e políticas.
Outras tecnologias alternativas, também comumente chamadas de tecnologias sociais que visam a utilização, aproveitamento e conservação dos recursos hídricos ou águas das chuvas também podem ser implementadas com mais rigor no semiárido, conforme aponta Leal (2015), citando as cisternas-calçadão, cisternas-aprisco, cisterna enxurrada, barragem subterrânea, tanque de pedra ou caldeirão e o banheiro trincheira. Contudo, o armazenamento de água no semiárido é indispensável, pois estes garantem o suprimento e a demanda dos recursos hídricos durante o período de seca que assola todas a comunidades do Semiárido Nordestino.
O Uso de tecnologias sofisticadas de pequeno custo como o Guia InNat inventariados, propostos e disponibilizados por instituições privadas e públicas como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para detecção de pragas e insetos nas culturas agrícolas também se apresenta como um fator importante no campo da agricultura familiar. O Guia InNat além de ser uma tecnologia de fácil acesso (software) que pode ser instalado em telefones celulares ou Smartphones, contribui significativamente na melhoria salutar das culturas, diminui os custos com produtos para combate às pragas e acrescenta lucros em termos de geração de oportunidades e renda. Para Santos et. al., (2016) o aproveitamento das tecnologias não deve ser feito visando apenas dimensão econômica de um determinado grupo social, mas também visando a sua sustentabilidade de uma forma mais ampla.
Com o intuito de contribuir com esforços para provocar transformações coerentes e viáveis para fins de aquisição de melhores qualidades de vida em campos agrícolas do semiárido do Nordeste brasileiro incrementados de desafios, algumas políticas emergenciais outrora e atualmente são praticadas através de entidades que buscam a sustentabilidade ambiental. Segundo Costa (2011) são entidades produtoras, adaptadoras e difusoras de tecnologias para a agricultura familiar, dentre as quais pode-se citar as seguintes:
A Agência Mandalla; Associação Maranhense para a Conservação da Natureza (AMAVIDA); Associação do Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense (APACO); Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA); Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa
(AS-PTA); Banco de Tecnologia Social; Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas (CAATINGA); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA); Instituto de Tecnologias Sociais (ITS); Centro de Desenvolvimento Agroecológico (SABIÀ); Serviço de Tecnologia Alternativa (SERTA); REDE de Intercâmbio de Tecnologias alternativas; RTS – Rede de Tecnologias Ambientais [...] (COSTA, et al., 2011).
Contudo, é preciso ter sempre cautela no que se refere a implantação de quaisquer ações ou atividades que venha a trazer benefícios ou até mesmo, sobretudo, prejuízos a agricultura familiar em regiões de terras secas devendo-se acatar os critérios expostos nas normas e instrumentos legislativos vigentes instituídas para este fim. Neste contexto, é preciso ressaltar que antes de tudo é indispensável ter conhecimento sobre o que de fato é agricultor familiar. Neste seguimento, Wienke (2017) descreve que, em suma, o tamanho da propriedade é o primeiro critério estabelecido pela lei para a identificação do agricultor familiar. O critério, embora não uniforme, impõe uma relação entre agricultura familiar e pequena propriedade rural. Contudo, o agricultor familiar não se restringe ao proprietário da terra.
Dentre esses instrumentos normativos que norteiam esta temática, podemos citar: 1. A Política Agrícola (Lei nº 8.171/1991) destinada a estimulo aos investimentos rurais para produção, extrativismo não-predatório, armazenamento, beneficiamento e instalação de agroindústria; não obstante, podemos falar também da 2. Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais (Lei nº 11.326/2006), anteriormente citado; 3. O Programa de Aquisição de Alimentos - PAA, criado pelo art. 19 da Lei nº 10.696, de 02 de julho de 2003, que possui dois desígnios basilares: i) promover o acesso à alimentação; ii) incentivar a agricultura familiar, dentre outros.
Para adoção de um conceito amplo de agricultura familiar a legislação brasileira apresentou um evidente objetivo de propiciar a elaboração de políticas públicas que possibilitem o combate ao déficit de justiça social tanto do ponto de vista da distribuição, como do reconhecimento cultural (WIENKE, 2017). Com isso, é possível advertir que todos os conhecimentos relativos a esta temática são de suma importância para incremento de quaisquer medidas que venham a serem tomadas.
4. Considerações finais
A agricultura familiar no semiárido brasileiro se constitui como de extrema importância para a melhoria da qualidade socioambiental, salutares e econômica das populações residentes em áreas campesinas, perímetros urbanos e irrigados. Trata-se de uma da estratégia pela qual pode-se melhor produzir, viabilizar e gerenciar a cultivo de alimentos sem o uso abusivo de fertilizantes e agrotóxicos, e principalmente dos recursos naturais imprescindíveis para satisfação das necessidades e sobrevivência das presentes e futuras gerações.
A legislação vigente que involucra a produção agrícola e agricultura familiar de um modo geral e as técnicas ambientalmente sustentáveis tem que ser mais difundida e\ ou discutida entre os grandes, médios e pequenos agricultores em harmonia com ações e atividades de educação ambiental nas mais diversas comunidades campesinas do semiárido para que todos se beneficiem dos progressos exitosos advindos dos serviços ecossistêmicos prestados pela natureza.
A adoção hábil de alternativas ambientalmente sustentáveis como a implantação e adoção de tecnologias sociais e programas de educação ambiental formais e não-formais eficientes direcionados aos pequenos agricultores rurais e outros artifícios se fazem possíveis e imprescindíveis para utilização coerente dos recursos naturais existentes, sendo que para que isso se possa ser de fato incrementado também é necessário cooperação e união social entre sociedade civil, agricultores, entes da iniciativa privada e órgãos públicos nas mais diversificadas esferas do poder.
5. Referências
AUDINO, V. Elaboração de um instrumento sobre a percepção ambiental da população urbana para a sustentabilidade de cidades.149 f. Dissertação (Mestrado em
Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental)
-Núcleo de Pesquisa e PósGraduação de Recursos Hídricos, Universidade Federal de Ouro Preto. Recife. 2017.
ARAÚJO, A.C.; ARAÚJO, A. C.Limites e perspectivas no manejo dos recursos naturais na agricultura do semiárido brasileiro. Semiárido Brasileiro. Belo Horizonte: ed.Poisson, v. 3, 2019.
AZEVEDO, P. R. L.; JUNIOR, E. B. P.; MOREIRA, J. N.; BEZERRA, D. E. L.; FILHO, P. L. Reuso de água e efluente agroindustrial na produção de mudas de gravioleira. Revista
Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. Pombal, v. 14, n.4, out.-dez, p.491-496, 2019. DOI: 10.18378/rvads. v14i4.6393.
BARROS, J. D. S.; PORDEUS, A. V. Agricultura no semiárido brasileiro: Desafios e potencialidades na adoção de práticas agrícolas sustentáveis. In: I Congresso
Internacional da Diversidade do Semiárido, 2016, Campina Grande - PB.
BRASIL. Lei n° 8.171, de 17 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a Política Agrícola. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 1991. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=77AF761C32 CC5E66707E09FCE550B4EE.proposicoesWebExterno2?codteor=368729&filename=Legi slacaoCitada+-PL+6493/2006. Acesso em: 27 mai. 2020.
BRASIL. Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006.Estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2006. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4080268&disposition=inline. Acesso em: 27 mai. 2020.
BRASIL.
Lei no 10.696, de 2 de julho de 2003.Dispõe sobre a repactuação e o alongamento de dívidas oriundas de operações de crédito rural, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2003. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=A3EDFA1E45 A30D5DB3255B5B6CCFB382.node1?codteor=727660&filename=LegislacaoCitada+PL+6680/2009. Acesso em: 27 mai. 2020.
CRISPIM, A. B.; SOUZA, M. J. N.; QUEIROZ, P. H. B.; SILVA, E. V. A questão da seca no semiárido nordestino e a visão reducionista do estado: a necessidade da desnaturalização dos problemas socioambientais. AMBIENTE & EDUCAÇÃO. Rio Grande. v. 21, n.2, p. 39-59, 2016.
CHINCHILLA, S.R. A.; SILVA, E. F. F.; ALMEIDA, C. D. G. C.; SILVA, A. O.; SANTOS, P. R. Statistical Process Control in the Assessment of Drip Irrigation Using Wastewater. ENG AGR-JABOTICABAL. v. 38, p. 47-54-54, 2018.
COSTA, S. I. R. B. Impactos da utilização de tecnologias alternativas agrícolas no
desenvolvimento ambientalmente racional da agricultura familiar no Semiárido
Pernambucano. 177 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco. Recife. 2011.
COSTA, S. I. R. B.; SILVA, M. M. A racionalidade ambiental na construção de tecnologias alternativas para a agricultura familiar: o caso do Serviço de Tecnologia Alternativa –SERTA. Desenvolvimento e Meio ambiente. Curitiba. n. 25, p. 167-186, jan./jun. 2012.
CUNHA, M. DAS G. C. Campesinato brasileiro: origens e ressignificações de um modo de vida tradicional. Anais do II Colóquio Cidade e Região: urbanidades e ruralidades contemporâneas, Montes Claros, MG, Brasil. 2012.
DANTAS, D. C.; SILVA, E. F. F. E. ; ROLIM, M. M. ; SILVA, M. M. ; MORAIS, J. E. F.; LIRA, R. M. . Production components of sunflower plants irrigated with treated domestic wastewater and drinking water in semiarid region. REVISTA CERES, Viçosa. v. 66, p. 3440, 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/0034-737x201966010005.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Guia InNat Guia para o reconhecimento de inimigos naturais de pragas agrícolas. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produtoservico/5236/guia-innat---guia-para-o-reconhecimento-de-inimigos-naturais-de-pragasagricolas?link=inicial.
FONSECA, E. P. R.; CALDEIRA, E.; RAMOS, H. S.; OLIVEIRA, L. B.; PEREIRA, A. C. M.; VILELA, P. S. Agro 4.0: a Data Science-basedInformation System for SustainableAgroecosystem Management. Journal Pre-proof. Preprint submitted to Simulation Modelling Practice and Theory January 11, 2020. DOI:
https://doi.org/10.1016/j.simpat.2020.102068.
Gerhardt, Tatiana Engel.; Silveira, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. 1. Ed.Porto Alegre: UFGRS, 2009.
Gil, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. Ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LAMONTAGNE, J. R.; REED. P.M.; MIRANGONI, G.; KELLER, K.; GARNER, G. G. Robust abatement pathways to tolerable climate futures require immediate global action, Nature Climate Change. DOI: https://doi.org/10. 1038/s41558-019-0426-8.
LEAL, A. K. T. B. Uso de tecnologias sociais de captação de água da chuva para a convivência com o semiárido brasileiro. 127 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão Ambiental) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco. Recife, 2015.
LIMA, B. L. C.; SILVA, E. F. F.; BEZERRA, J. R. C..; SILVA, G. F.; CRUZ, F. J. R.; SANTOS, P. R.; CAMPECHE, L. F. S. M.Agronomic performance of colored cotton influenced by irrigation with treated domestic sewage and potassium fertilization in semiarid region of Brazil. Revista DYNA, 86 (210), pp. 74-80, July - September 2019. DOI: http://doi.org/10.15446/dyna.v86n210.77022.
MEDEIROS, C. M.; SOUZA, E. S. Forma sustentável de convivência com o semiárido: estudo em agroflorestas no sertão do rio Pajeú.In:III Workshop Internacional sobre Água no Semiárido Brasileiro, 2017, Campina Grande/PB.
RODRIGUES, L. C.; KOSOP, R. J. C.; SOUZA-LIMA, J. E.; SCHAFFRATH, V. R. Campesinato e sementes crioulas: indícios de decolonialidade. Guaju Revista Brasileira de Desenvolvimento Territorial Sustentável, Matinhos, v. 5, p. 33-57, 2019.
SABINO, S. M.; AMARAL, A. A. O papel da educação ambiental na mudança de postura dos agricultores frente ao paradigma da agroecologia. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 147-163. 2015.
SABOURIN, E. P. Meio ambiente e sustentabilidade da agricultura familiar no semiárido nordestino. Raízes -Revista de Ciências Sociais e Econômicas, Campina Grande, v. 19, p. 132-143, 1999.
SANTOS, C. F.; SIQUEIRA, E. S.; ARAÚJO, I. T.; MAIA, Z. M. G. A agroecologia como perspectiva de sustentabilidade na agricultura familiar. Ambient. soc. vol.17 no.2 São Paulo Apr/June 2014. DOI: https://doi.org/10.1590/S1414-753X2014000200004.
SANTOS, J. G.; CÂNDIDO, G. A. Sustentabilidade e agricultura familiar: Um estudo de caso em uma associação de agricultores rurais. RGSA -Revista de Gestão Social e
Ambiental.
São Paulo. v. 7, n. 1. p. 70-86, jan./abr. 2013. DOI:
https://doi.org/10.24857/rgsa.v7i1.528.
SARANDÓN, S. J. La Agroecología: integrando la enseñanza, la investigación, la extensión y los agricultores. Cadernos de Agroecologia, v. 9, n. 1, 2014.
SILVA, J. N. G.; MENEZES, S. S. M. Reorganização dos sistemas agroalimentares cultiváveis no município de Porto da Folha/SE. Geosul, Florianópolis, v. 34, n. 71- Dossiê Agronegócios no Brasil, p. 786-808, abril. 2019. DOI: http://doi.org/10.5007/19825153.2019v34n71p786.
SILVA, R. P. As especificidades da nova ATER para Agricultura Familiar. Revista NERA. Presidente Prudente. Ano 16, nº. 23. pp. 150-166. Jul.-dez./2013..
SOUZA, M.C. S. A.; ARMADA, C.A.S. desenvolvimento sustentável e sustentabilidade: evolução epistemológica na necessária diferenciação entre os conceitos.Revista de Direito e Sustentabilidade. Maranhão | v. 3 | n. 2 | p. 17 – 35 | Jul/dez. 2017.
STOFFEL, J. A.; COLOGNESE, S. A. A sustentabilidade na agricultura familiar: Indicadores e índices socioeconômicos e sociais de avaliação. Revista Tempo da Ciência. Cascavel. v. 22, nº. 44. p. 47-59. 2015.
WIENKE, F. F. A noção de agricultura familiar no direito brasileiro: uma conceituação em torno de elementos socioeconômicos e culturais. JURIS, Rio Grande, v. 27, n. 1, p. 225245, 2017. DOI: https://doi.org/10.14295/juris.v27i1.6966.
Capítulo 11
Educação ambiental na reserva biológica de Pedra Talhada, em Alagoas e Pernambuco - Brasil
Valdilene Valdice de Santana1 Leandro Ferreira de Melo2 Eugênia Veríssimo Pereira3 Patrício Rinaldo dos Santos4 Dammyres Barboza de Santana Silva5
1. Introdução
A Educação Ambiental é praticada desde os tempos remotos, recebendo diversas definições ao longo da história. Encontros promovidos pela Organização das Nações Unidas pela Educação, Ciência e Cultura – UNESCO, como a Conferência de Estocolmo, onde foi concebido o Plano de Ação Mundial e, apresentadas diretrizes para um Programa internacional de Educação Ambiental em 1972, pela primeira vez, a educação ambiental foi reconhecida como essencial para solucionar a crise ambiental internacional, enfatizando a necessidade de se reordenar as necessidades básicas de sobrevivência na Terra. A Carta de Belgrado, resultado do Encontro Internacional de Educação Ambiental, na Iugoslávia em 1975, internacionalizou o termo Educação Ambiental. A partir do século XIX a discussão sobre as questões ambientais vem sendo motivo de preocupação, porém, a educação ambiental, a partir da conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental realizada em Tsibilisi (EUA), em 1977, iniciou um relevante processo em nível global proporcionando reflexões no sentido de tomar consciência sobre o valor dos bens naturais e reorientar a produção de conhecimento baseada nos métodos de interdisciplinaridade e nos princípios da complexidade. De acordo com Reigota (2009), a Educação Ambiental é uma educação política, visto que a mesma está comprometida com a ampliação da cidadania, da liberdade, da autonomia, e da intervenção direta dos cidadãos na busca de soluções e alternativas que permitam uma convivência digna e voltada para o bem comum.
1 Professora Tutora do curso de Licenciatura em Geografia, Instituto Federal de Pernambuco (IFPE/EAD), Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPE), 2 Graduando do curso de LicenciaturaPlena em Geografia, Instituto Federal de Pernambuco (IFPE/EAD) 3 Especialista em Metodologia do Ensino da Geografia pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci –UNIASSELVI 4 Gestor Ambiental (IFPE), Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPE) 5 Graduanda em Biomedicina (UFPE)
O documento produzido a partir da Conferência internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade, realizada em Tessalônica (Grécia), destacou a necessidade de implementar ações de educação ambiental fundamentada nos preceitos de ética e sustentabilidade, identidade cultural e diversidade, mobilização, participação e práticas interdisciplinares, (BARROS, 2014). Educar é uma atividade complexa caracteriza-se pela dedicação na busca de criação de projetos de ação, lavando em consideração conceitos teorias, construção e reconstrução do conhecimento (TRAVASSOS, 2001). A educação ambiental compõe-se de conhecimentos teóricos e práticos com o objetivo de proporcionar à compreensão e o despertar da reflexão sobre as práticas dos indivíduos. Ou seja, implementar práticas voltadas para a conservação ambiental em beneficio da coletividade (BARROS; SILVA, 2010).
No Brasil, essa nova prática de fazer educação vem conquistando espaço crescente devido às necessidades crescentes de conservar os recursos naturais, tendo em vista as necessidades de reverter o quadro de degradação ambiental. Através da efetivação de práticas socialmente justa, ecologicamente correta e economicamente viável, colocando em prática os preceitos do desenvolvimento sustentável, através da compreensão e da busca de novos padrões de desenvolvimento, procurando suprir as necessidades da atual geração sem comprometer as gerações futuras. A falta de mais ações de educação ambiental em lugares preservados e o aumento da fragmentação de habitats constitui nos dias atuais uma das principais causas de perda de biodiversidade no planeta. Entre as principais causas antrópicas desta fragmentação estão o turismo, a extração de madeira, queimadas, a caça ilegal, expansão das atividades agropecuárias, substituição de florestas nativas por espécies exóticas, crescimento urbano desordenado, entre outras. O resultado disso são as extinções, que atualmente ocorrem centenas de vezes mais rápidas do que as registradas na história. A partir de definições, de responsabilidades e das diretrizes voltadas para a avaliação de impacto ambiental e a salvaguarda dos recursos naturais, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) destaca o papel do papel da educação ambiental como instrumento para a conservação da biodiversidade, em benefício das gerações atuais e futuras. Em sintonia aos órgãos colegiados e entidades vinculadas à política ambiental, o MMA constitui mecanismos de gestão para subsidiar políticas,planos,programas e projetos de contabilidade e valoração econômica dos recursos naturais, remuneração dos
serviços ambientais, promoção da inovação do setor produtivo e estímulo ao consumo sustentável (BRASIL, 2013). Para conter o avanço das ações antrópicas e seus resultados desastrosos uma das principais estratégias tem sido a educação ambiental em a áreas naturais protegidas como as Unidades de Conservação. Segundo Milano (2001), a conservação in situ é a estratégia mais eficaz e segura para a manutenção da biodiversidade, e as unidades de conservação são o pilar central desse processo. Além disso, essas áreas proporcionam uma série de benefícios à sociedade. A criaçãode áreas protegidas, e a prática de educação ambiental nas mesmas configura-se como uma das mais eficientes estratégias adotadas por vários países que almejam a conservação e preservação da natureza. As áreas protegidas são espaços territorialmente demarcados cuja principal função é a conservação e a preservação de recursos, naturais e culturais, a elas associados (MEDEIROS, 2003). As primeiras áreas protegidas surgiram nos Estados Unidos, no século XIX, e foram criadas para proteger a vida selvagem (wilderness) ameaçada pelos efeitos devastadores da civilização urbano-industrial (DIEGUES, 1996). Com a virada do século XX, parques e reservas com características semelhantes foram sendo criados em vários países (VALLEJO, 2002). No Brasil o estabelecimento de áreas protegidas apenas foi efetivado parcialmente em 1896 com a criação do Parque Estadual de São Paulo. Só em 1937 foi criado o primeiro Parque Nacional, o Parque Nacional de Itatiaia (LEAL, 2004). Existem diversos tipos de áreas protegidas, cada uma delas com objetivos completamente diferentes e sua nomenclatura pode variar conforme o país - parque nacional, reserva natural, reserva nacional, etc. (SCHERL et al, 2006). A classificação da União Internaciona para a Conservação da Natureza e dos Recursoso Naturais, IUCN para áreas protegidas permite a comparação em nível global a fim de possibilitar uma melhor compreensão da natureza e do grau de proteção aplicado (IUCN, 2013).O Sistema Nacional de Unidades de Conservação SNUC, criado pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000 , é a principal referência na criação e gestão de áreas protegidas no Brasil (BRASIL, 2000). O SNUC adotou um sistema único de classificação das áreas protegidas, reunindo essas categorias em dois grandes grupos, as de proteção integral e as de uso sustentável. A tarefa de execução do SNUC cabe ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBIO e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA (BRASIL, 2011).
As Unidades de Proteção Integral
foram criadas como intuito de assegurar a preservação da natureza, restringindo, desse modo, o uso de seus recursos de forma direta, ou seja, o uso que não envolve o consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais existentes. Já as Unidades de Uso Sustentável possuem a finalidade de contribuir com a conservação da natureza com o uso sustentável de parte dos recursos naturais existentes. (BRASIL, 2000). As Unidades de Conservação de Proteção Integral e de Uso sustentável são subdivididas em importantes categorias quanto a sua delimitação, uso e ocupação. As de proteção integral são subdvididas em 5 categorias (BRASIL, 2000): A Estação Ecológica que é de posse e de domínio público; Reserva Biológica é de posse e domínio público; O Parque Nacional (que pode ser municipal, estadual ou federal)e é de posse e domínio públicos; O Monumento Natural, é de domínio público; e por fim, tem-se o Refúgio da Vida Silvestre que é de domínio público também assim como as demais supracitadas. As Unidades de Conservação de Uso Sustentável são subdivididas em 7 categorias: Área de Proteção Ambiental e é constituída por terras públicas ou privadas; Área de Relevante Interesse Ecológico, esta é constituída por terras públicas ou privadas; Floresta Nacional é de posse e domínio público; a Reserva Extrativista que é de domínio público com seu uso concedido às populações extrativistas tradicionais. Tem-se ainda, a Reserva de Fauna que é de posse e domínio públicos; a Reserva de Desenvolvimento Sustentável que é de domínio público; e por fim a Reserva Particular do Patrimônio Natural: É uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica. Cada categoria de UC possui uma prescrição, prevista no SNUC, quanto à possibilidade ou não de visitação pública.” Nas Estações Ecológicas e Reservas Biológicas a visitação pública é proibida, exceto quando com objetivo educacional’, (BRASIL, 2006, p.289). “Nas demais categorias de UCs de Proteção Integral, a visitação pública é permitida, porém está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e aquelas previstas em regulamento’’, (BRASIL, 2006, p. 291). As Unidades de Conservação, de forma geral, foramcriadas com o objetivo de preservar a biodiversidade da ação predatória humana e promover a sustentabilidade local.Atualmente, esses espaços vêm ganhando cada vez mais importâncias em atividades voltadas ao ensino, à cultura e, principalmente, a práticas voltadas à educação
ambiental. O saber ambiental é uma epistemologia política que busca dar sustentabilidade á vida. Através do conhecimento ambiental se produz novas significações sociais, o mesmo constrói estratégias de reapropriação do mundo e da natureza. O saber ambiental é construído de forma solidaria de uma política do ser, da diversidade e da diferença, (LEFF, 2009). As Unidades de Conservação (UCs) no Brasil foram criadas a partir da década de 1930, com o intuito de, sobretudo, promover a conservação da biodiversidade, dos ecossistemas e das paisagens da ação predatória antrópica (BRASIL, 2000). Com o passar dos anos, as UCs distribuídas no território brasileiro foram buscando atender a outros objetivos além dos supracitados, e no ano de 2000 o SNUC, englobou antigas e
novas áreas. No sentido de promover a educação ambiental, em 1985 é fundada a Associação Nordesta Reflorestation&Educationna cidade de Genebra/Suíça, com o objetivo de preservar o meio ambiente e melhorar as condições de vida das populações rurais inicialmente do Nordeste brasileiro, atuando em cerca de 14 estados brasileiros. Esta associação é formada pela soma das ações de pessoas da sociedade civil apoiada por diversas entidades privadas de países europeus, e com parcerias públicas na Europa e no Brasil. A percepção de que a preservação ambiental só pode ser realizada efetivamente e de forma duradoura com a participação das comunidades locais, sempre permeou a origem desta associação e de seus projetos, caracterizando-a como um agente de educação e preservação ambiental. O seu primeiro projeto no Brasil foi à dedicação exclusiva e o total apoio à criação da Reserva Biológica de Pedra Talhada, devido ao potencial biológico que esta possui e as espécies raras em extinção na lista vermelha. Desde meados da década de 1980, em paralelo a criação da reserva, os trabalhos de educação ambiental vêm sendo realizado na região através de palestras, diversas reuniões, passeatas, eventos educacionais, além de projetos sociais e de reflorestamento chegando a plantar 1.000.000 mudas de árvores em áreas desmatadas no município de Quebrangulo/AL, (GUIMARÃES; STUDER; TRIVELLATO, 2014). A Reserva Biológica de Pedra Talhada objeto de estudo desta pesquisa, é uma Unidade de Conservação Federal, tem uma área de aproximadamente4.469 hectares, localizada entre os Estados de Pernambuco e Alagoas, mas especificamente nas cidades de Lagoa do Ouro /PE, e Quebrangulo/AL. A reservatem como objetivo a preservação
integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais. A Reserva Biológica é de posse e domínio públicos. É proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo educacional, de acordo com regulamento específico. De acordo com o SNUC, a reserva é uma área de preservação integral criada legalmente no dia 13 de dezembro de 1989, pelo decreto presidencial n°98.524. O interesse em garantir a proteção da área por meio da criação de uma Unidade de Conservação teve sua origem em 1980, com as pesquisas da Dra Anita Studer, à época pesquisadora convidada da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Desde então, a história da atual Reserva Biológica é permeada de exemplos da interação entre pesquisa e mobilização para a conservação – uma das bases para a consolidação do SNUC. A mobilização para a proteção da área da Reserva Biológica foi desencadeada pelo “Estudo ecológico do maciço florestal da Serra das Guaribas e da Serra do Cavaleiro – Apelo para salvar a floresta” (Studer, 1985) e pelo relatório redigido pela Companhia de Saneamentode Alagoas (CASAL) sobre a importância das nascentes de água da floresta. Oestudo, assinado pelos prefeitos dos cinco municípios abrangidos pela água da represade carangueja e da CASAL, juntamente com o relatório, foi fundamentalpara o início da proteção da área – já demonstrando uma percepção da necessidadede preservação de serviços ecossistêmicos como o provimento de águavinculado à conservação da biodiversidade, (STUDER; NUSBAUMER; SPICHIGER, 2015). Na década de 1980,começou a luta para queaquele pedaço de mata se tornasse uma reserva, de início como parque estadual de Pedra Talhada,mas não foi muito a frente, depois de muitas batalhas foi criada em 1989 a Rebio.De 1989 até 2007, a reservafoi gerida pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente IBAMA, a partir de 2007, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ICMBioassumiu a responsabilidade pela Unidade de Conservação. A reserva sofre impactos com os dematamentos, caça ilegal eas queimadas, que atualmente é o impacto mais agravante. Nos últimos 08 anos foram queimados mais de 800 hectares de mata que chega a quase 20% do seu território. Sendo assim, se faz urgente a conscientização e sensibilização de uma Educação Ambiental, voltada para a preservação da Reserva Biológia de Pedra Talhada. Segundo Loureiro (2002), a
Educação Ambiental é um eficiente processo educativo capaz de fornecer os elementos instrumentais e racionais, necessários para a conscientização de indivíduos e a concretização do ideal de uma sociedade sustentável em múltiplas escalas. Diante do exposto, a presente pesquisa tem como objetivo descrever a importância dos projetos/programas de Educação Ambiental desenvolvidos pela Associação Nordesta Reflorestation&Education para a preservação da biodiversidade na Reserva Biológica de Pedra Talhada.
2. Material e Métodos
A Reserva Biológica de Pedra Talhada, está localizada na divisa dos Estados de Alagoas e Pernambuco, na Região Nordeste do Brasil, no interior do continente, a 90km da costa.Abrange parcelas dos municípios de Quebrangulo e de Chã Preta em Alagoas, e de Lagoa do Ouro em Pernambuco, figura 01. As coordenadas são inseridas entre as longitudes oeste de 36°22’ a 36°28' e entre as latitudes sul de 9°11' à 9°16'. O relevo apresenta-se acidentado, variando a altitude entre 459m e 883m (UFRPE 1991). O nome da unidade deve-se às formações rochosas talhadas pela erosão hídrica e eólica.
Figura 01: localização da Rebio de Pedra Talhada.
Fonte:Studer et al, (2015). A maior parte da área da Reserva, cerca de 60%, está inserida no município de Quebrangulo. De acordo com o IBGE (2010), esse município de característica rural possui 320km2, altitude média em torno de 350m. A economia local tem como base a atividade agropecuária, principalmente com a criação extensiva de bovinos e de pequenos cultivos como o da batata-doce. Pertencente a mesorregião do Agreste Alagoano e a microrregião
de Palmeira dos Índios, a sua história revela que os primeiros habitantes foram os Índios Xucurus, que estabeleceram aldeias ao redor de Palmeira dos Índios, e também os Cariris, provenientes de Pernambuco, que lá se estabeleceram ao fugirem das terríveis secas do sertão, nos anos 1740. A cidade de Quebrangulo, que se chamava Vitória, foi criada oficialmente no ano 1928. Este nome seria devido a um chefe quilombola (Quilombo é o nome de uma comunidade negra, descendente de escravos), (STUDER; NUSBAUMER; SPICHIGER, 2015). A pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa. Segundo Gil (2008), a pesquisa qualitativa tem interesse na aplicação, utilização e consequências práticas do conhecimento gerado em uma determinada realidade. Foram realizadas consultas a literatura especializada no tema da pesquisa, consultas documentais in loco em sites oficiais referentes a criação de Unidades de Conservação e registros das ações realizadas pela Associação Nordesta Reflorestation&Education, na Reserba Biológica de Pedra Talhada.
3. Resultados e Discussão
Propostas de conscientização e sensibilização implantadas em atividades de educação ambiental em UCs, são marcadas por uma visão que afirma como verdade o princípio segundo o qual nos desdobramos na história por meio de determinações essenciais. Com isso, a ação prática não tem sentido condicionante e nem a realidade histórica pode ser alterada pela atividade de nossa espécie (LESSA, 2001). Logo, o que temos a fazer é, através da educação ambiental, ajustar os nossos comportamentos para garantir o bom funcionamento da relação homem e natureza. A educação ambiental, nesse contexto, é condição prévia para a cidadania, qualidade social de uma sociedade organizada sob a forma de direitos e deveres majoritariamente reconhecidos, (DEMO, 1996). Para Meyer (1991), a educação é definida como "um processo de aprendizagem de conhecimento e exercício de cidadania que capacita o indivíduo para uma visão crítica da realidade e uma atuação consciente no espaço social. Educar para o uso do meio ambiente é, portanto, condição para iniciativas duradouras e para a repartição de benefícios, (IRVING,2005). A Rebio de Pedra Talhada inclui em seu território áreas públicas e privadas que contém uma abundante riqueza de fauna e flora, tendo também inúmeras nascentes que
servem de abastecimento para muitos moradores locais e até de outras regiões, foram 169 nascentes catalogadas na década de 1990, que atende quase 300 mil habitantes. Ao todo são 06 seis cidades distritos e povoados que recebem água desta reserva; Lagoa do Ouro e Correntes em Pernambuco; Quebrangulo, Paulo Jacinto, Estrela de Alagoas e principalmente a cidade de Palmeiras dos Índios em Alagoas com mais de 80 mil habitantes. A Reserva é um dos mais importantes fragmentos de Mata Atlântica do Nordeste brasileiro. Apesar de ser uma unidade relativamente pequena abriga uma grande diversidade de plantas e animais. Desde o início da década de 1980, Dra Anita Studer e a Fundação Nordesta Reflorestamento tem se dedicado à conservação da Reserva, sensibilizando a população da região por meio de educação ambiental e fomentando alternativas mais sustentáveis às atividades produtivas locais. Ao longo dos anos a Nordesta disponibilizou recursos financeiros, humanos e logísticos, realizou pesquisas, instalou infraestrutura, entre outras ações fundamentais para a existência e manutenção da Unidade e de seus recursos naturais. A Rebio enfreta grandes desafios. Entre os maiores, estão as ações voltadas a ampliar a área vegetada no entorno da Reserva, de modo a mitigar o máximo possível o isolamento ao qual ela está submetida, garantindo viabilidade às populações das espécies ocorrentes, muitas delas ameaçadas. Também é de extrema importância o aprimoramento das ações voltadas à comunidade, como o fomento a atividades econômicas que não comprometam a conservação ambiental, a melhoria da articulação com as autoridades locais para incrementar as ações de proteção e a sensibilização para a necessidade de conservação da floresta, das espécies que ela abriga e dos recursos hídricos, (STUDER; NUSBAUMER; SPICHIGER, 2015). A Agenda 21 e a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) fazem parte deste conjunto de medidas. Bem antes da introdução dessas convenções internacionais, o Estado e a Cidade de Genebra se envolveram na proteção do meio ambiente apoiando programas de proteção, conservação e de reabilitação do meio ambiente desenvolvidos dentro e fora do continente europeu. Foi assim que o projeto da Associação Nordesta, criado e dirigido com dedicação por Anita Studer, há mais de 30 anos, beneficiou-se do apoio da Cidade e do Cantão de Genebra desde os anos de 1980. Além de uma contribuição financeira substancial e regular, eles colaboraram com a Nordesta para inventariar a flora e a vegetação da Reserva de Pedra Talhada. Para convencer as
autoridades brasileirasna décads de 1980 da necessidade de proteger integralmente essa floresta, foi necessário provar que ela se constitui em um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica brasileira e que o seu desaparecimento causaria a perda de um precioso ecossistema. (STUDER; NUSBAUMER; SPICHIGER, 2015).
Atualmente a reserva conta apenas com dois funcionários terceirizados: um em Penambuco e outro em Alagoas.Em parceria com aAssociação NordestaReflorestation&Education, um dos funcionários realiza o projeto de Educação ambiental chamado, “Corredores Florestais”, com o objetivo de conscientizar e sensibilizar a sociedade civil paraa urgente necessidade da preservação da biodiversidade na UC. Dentre as ações realizadas pelo projeto estão:palestras nas escolas e comunidades circunvizinhas á Rebio figura 2A, caminhadas ecológicas, figura 2B e passeatas nas cidadesque ficam no entorno da UC. Figura 2C. Realizam também um programasemanal na rádio Victória FM, figura 2D em Quebrangulo intitulado: “Nordeste e Nascentes”, levando informações sobre a Rebio e propagando as ações do projeto.
Figura 02: ações de educação ambiental realizadaspela Associação Nordesta Reflorestation&Education.
Fonte: arquivo pessoal dos autores, (2018).
Uma das estratégias importantes dentro do programa de educação ambiental são as atividades de campo. Pois possibilitam o contato de forma direta do estudante, tornando-o mais sensibilizado com os problemas ambientais de determinados lugares. Além disso, surgem as reflexões sobre o tema em questão ocasionando mudanças no comportamento e nas atitudes (Carvalho, 1998). Segundo Colom (2004), a educação ambiental com a realização de caminhadas ecológicas para o aprendizado é extremamente importante, pois proporciona a interação entre o sujeito e o meio ambiente juntamente com a percepção da realidade do local que é percebida como algo externo. Tal fato, mostra ao visitante que durante uma caminhada em uma unidade de conservação através do contato direto com os novos elementos pode-se perceber de acordo com a capacidade de interpretação pessoal a problematização do meio. Muitas espécies de aves ou de primatas não podem sobreviver sem a cobertura florestal. Contudo é mais difícil imaginar que com o desaparecimento da floresta, desaparece também uma imensa diversidade animal, vegetal, fúngica e microbiológica de essencial importância ecológica. Cada elemento dessa diversidade desenvolve o seu papel no equilíbrio do ecossistema florestal e, consequentemente, deve ser preservado. Portanto, numa visão mais antropocêntrica, a maioria dos elementos dessa diversidade contém compostos úteis e indispensáveis à sobrevivência do Homo sapiens no planeta, em longo prazo. Sensibilizada com essas ameaças, a comunidade internacional tenta reagir regulamentando a exploração dos recursos naturais em geral, e das florestas em particular, por meio de pactos e acordos, definindo prioridades e normas de aplicação, (STUDER; NUSBAUMER; SPICHIGER, 2015). A educação ambiental articulada com as práticas sociais favorece a produção sistêmica de conhecimentos, envolvendo um conjunto crescente de atores sociais, potencializando o engajamento na conservação ambiental. Em uma busca constante de alternativas sustentáveis para o desenvolvimento socioambiental (JACOBI, 2003). As
propostas de Educação Ambiental promovidas Associação Nordesta
Reflorestation&Education.
pela visam implementar ações prática no processo de transformação da realidade sócio ambiental. Promovendo melhorias na formação da cidadania na junção de atividades coletivas gerando mobilizações para a edificação e construção de uma sociedade sustentável.
A Rebio de Pedra Talhada é uma ilha frágil em meio a grandes áreas totalmente desmatadas. A educação ambiental precisa continuar com ações de curto, médio e longo prazo, tanto na área de desenvolvimento socioambiental em prol da população local, quanto na preservação e no desenvolvimento da Reserva propriamente dita, figura 03. É importante conscientizar e sensibilizar a população do entorno da Reserva com ações informativas e, sobretudo, por meio de participação ativa em programas que visem a manutenção e o aumento da área florestal para garantir a sobrevivência da rica biodiversidade e a proteção das inúmeras nascentes que fornecem água para os municípios do entorno.
Figura 03:ações para preservação da biodiversdiade na Rebio de Pedra Talhada.
Fote: arquivo pessoal dos autores, (2018).
De acordo com o Instituo Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade–ICMBio, existe nessa unidade de conservação seis espécies de animais ameaçadas protegidas, são elas: Gavião-pomba-Leucopternislacernulatus; SabiazinhaConopophagalineata; Formigueiro-de-cauda-ruiva Myrmecizaruficauda; Uru-do-nordeste
Odontophoruscapueiraplumbeicollis; Pica-pau-anão-dourado
Picumnusexilispernambucensis; e Cara-pintada Phylloscartesceciliae, dentre outras,
(GUIMARÃES; STUDER; TRIVELLATO, 2014). O pequeno tamanho da superficie da reserva é uma das preocupações dos ciêntistas que estudam a sua fauna e flora. As interações genéticas entre espécies são limitadas o que poderia, cedo ou tarde, gerar um colapso da biodiversidade. Os trabalhos de reflorestamento e de criação de corredores florestais ao longo dos rios, iniciados em 1989, devem continuar com o objetivo de reduzir o isolamento da Reserva e permitir a abertura de novas vias de circulação da fauna e da flora, (GUIMARÃES; STUDER; TRIVELLATO, 2014). A reserva possui uma sede própria que fica á 13 km da cidade de Quebrangulo/Alagoas e uma subsede localizada no sitio Serra Grande que fica á 11 km de Lagoa do Ouro/Pernambuco, todas doadas pela Nordesta Reflorestamento, que até os dias atuais continua com seu tema principal que é elevar o nível de educação ambiental para todas as comunidades que ficam no entorno da reserva. Um dos principais objetivos da Nordesta é a implementação dos corredores floretais, ou seja, ligar a reserva até os mananciais, para isso semanalmente levam os estudantes das escolas circuvizinhas a reserva, para visitação ao viveiro de muda, compostopor cerca de 80 espécies diferentes.A associação Nordesta distribui aos professores materiais didáticos a fim de ajudar no conhecimento das espécies de fauna e flora existentes na reserva, como forma de aprimorar seus conhecimentos para sensibilizar estudantes. Os materiais didáticos são elaborados com base de dados pesquisados e distribuídos asescolas, estimulando ações de sensibilização da comunidade em geral, como o desenvolvimento de atividades realizadas em datas importantes no calendário ambiental, ações de conscientização ambiental, trabalhos de pesquisas educacionais, caminhadas ecológicas e outros eventos voltados a preservação da reserva. Nos materiais didáticos encontram-se ilustrações de animais em extinção que ainda habitam na reserva, como também descrições com ilustrações de árvores nativas da flora brasileira de importância ecológica, das nascentes que abastecem as barragens que fornecem água para as cidades do entorno dentre outros dados de fundamental importância para o conhecimento sócio-educativo da comunidade como um todo. De acordo com Garay e Becker (2006), a percepção humana do meio ambiente se dar em função dos laços entre estímulos sensoriais, a estruturação cognitiva da informação e as modulações culturais, produzindo experiências e valores relativos a este
meio ambiente. Existem ainda os processos psicológicos, as tradições sociais e valores culturais que afetam profundamente a percepção dos indivíduos em relação às espécies de um dado ecossistema. A história brasileira retrata a percepção da natureza e do meio ambiente enquanto nascente de recursos infinitos, pois não se tem uma cultura ou anseio de preservação. Desse modo, a educação ambiental deve ser recriada, avaliando-se a convivência coletiva e a afinidade da sociedade perante o mundo, ou seja, deve-se analisar a educação ambiental como um conjunto de conexões sociais que produzem a dinamicidade do mundo (ARAÚJO; SILVA, 2006).
4. Conclusão
A Rebio de Pedra Talhada é um marco histórico para aregião. Desde as lutas para sua criação até os dias atuais, a pesquisadora AnitaStuder e a Nordesta Reflorestamento se fazem presente, buscando formas de proteger e dar sustentabilidade a UC. Os órgãos ambientais de fiscalização nãosão frequentes na UC, geralmente aparecem duas ou três vezes por ano, facilitando impactos ambientais como:caça ilegal criação de pássaros em gaiola e corte seletivo de madeira, queimadas, dentre outros. A parceria com a Ong NordestaReflorestamento por meio das ações do projeto de Educação Ambiental Corredores Florestais visa atende essa deficiência por meio da conscientização e sensibilzação ambiental. As partir das experiências práticas de educação ambiental vivenciadas na Rebio, chegamos a conclusão da necessidade urgente de que sejam adotadas políticas educacionais abrangentes, através de maisações que ampliem valores, habilidades, aptidões; fomentem a capacitação técnica e moral que possibilite a preparação de um código comportamental de acordo com as leis da natureza. E com isso consigam solucionar problemas ambientais e melhorar a qualidade de vida,o objetivo da educação ambiental é fazer com que os cidadãos apresentem consciência do meio ambiente e se preocupem por ele porque se sentem parte dele. De acordo com a Política Nacional de Educação Ambiental – Lei n 9.795/1999, a Educação Ambiental faz o indivíduo e a coletividade construírem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Desde o início dos anos DE 1980, até os dias atuais,
Dra Anita Studer e a Fundação Nordesta tem se dedicado à conservação da Reserva, sensibilizando a população da região por meio de educação ambiental e fomentando alternativas mais sustentáveis às atividades produtivas locais.A reserva sofre com os efeitos dramáticos das ações antrópicas, o desaparecimento da biodiversidade não é dos menores. As florestas abrigam uma rica diversidade de vida e se constituem em ecossistemas ao mesmo tempo frágeis e eficientes.
5. Referências
ARAÚJO, S.M.S. de; SILVA, E.L.
Ecoturismo, desenvolvimento sustentável
eplanejamento: política brasileira e potencialidades do Sertão Paraibano.Caderno Virtual de Turismo, v. 6, n. 3, p. 64-72, 2006.
BARROS, J.D.S.; SILVA, M.F.P. Educação Ambiental na educação de jovens e adultos em Cachoeira dos Índios-PB. Educação Agrícola Superior, v. 25, p. 79-83, 2010.
BARROS, J. D. S. Educação ambiental no ecoturismo: potencialidades e estratégias de conservação dos recursos naturais. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 8, n. 1, p. 42-49, 2014.
BRASIL. IBAMA -
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação- SNUC. no 9.985, de 18 de julho de 2000.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente.
Plano Estratégico Nacional de Áreas
Protegidas: Decreto nº 5.758, de 13 de abril de 2006. Ministério do Meio Ambiente. –Brasília: MMA/SBF, 2011.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente.
Plano Estratégico Nacional de Áreas
Protegidas. Ministério do Meio Ambiente. – Brasília: MMA/SBF, 2011.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Governança ambiental, 2013. Disponível em: https://www.mma.gov.br/governanca-ambiental.html.
CARVALHO, I. C. M. Em direção ao mundo da vida: interdisciplinaridade e educação ambiental. (Cadernos de Educação Ambiental) Brasília: IPÊ - Instituto de Pesquisas
Ecológicas, 1998.
CAVALCANTI, L. S. Geografia, escola e construção de conhecimentos. 13. ed. Campinas: Papirus, 2010. COLOM, A. J. A (des) construção do conhecimento pedagógico: novas perspectivas para a educação. Porto Alegre: Artmed, 2004.
DEMO, P. Participação é conquista: noções de política social participativa. Paulo, SP; Cortez 1996. São
DIEGUES, A. C. O mito moderno da natureza intocada.Sao Paulo: HUCITEC, 1996.
GARAY, I. E.G, BECKER, B.K. As dimensões humanas da biodiversidade: O desafio de novas relações sociedade-natureza no século XXI. Petrópolis: Editora Vozes, 2006.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GUIMARÃES, J. R. A.; STUDER, A.; TRIVELLATO, C. Educação Ambiental no Entorno da Reserva Biológica de Pedra Talhada. Periódico Eletrônico Fórum Ambiental da Alta Paulista, v. 10, n. 6, 2014.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cidades: informações sobre municípios brasileiros, censo demográfico de 2010.
IRVING, M. Revisitando significados em sustentabilidade no planejamento turístico. Caderno Virtual do Turismo vol.5, n° 4, 2005.
IUCN. Governance of protected areas. From understanding to action.IUCNWCPA’s Best PracticeProtectedAreaGuidelines. 2013.
JACOBI, Pedro. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. In: Cadernos de Pesquisa. Fundação Carlos Chagas. vol. 118. Março 2003.
LEAL, I. O. J..Avaliação do processo de gestão participativa de recursos hídricos na bacia do rio Itapicuri: O caso da microrregião de Jacobina – Bahia. Brasília: 2004.
LEFF, E. Complexidade, racionalidade ambiental e diálogo de saberes. São Paulo: revista Educação & realidade, v. 34, n. 3, 2009.
LESSA, S. Lukács e a ontologia: uma introdução.Revista Outubro, São Paulo, n. 5, p. 83-100, 2001.
LOUREIRO, C.F. B. Educação ambiental e movimentos sociais na construção da cidadania ecológica e planetária. In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo.2002.
MEDEIROS, R. A Proteção da Natureza: das Estratégias Internacionais e Nacionais às demandas Locais. Tese (Doutorado em Geografia) Rio de Janeiro: UFRJ/PPG. 2003.
MEYER, M. Educação Ambiental: uma proposta pedagógica. Em Aberto, Brasília, v.10, n.49, p 41-45, 1991.
MILANO, M. S.
Unidades de Conservação
Técnicas, Lei e Ética para a
Conservação da Biodiversidade. In: BENJAMIN, A. H. (Coord.). Direito ambiental das áreas protegidas: o regime jurídico das unidades de conservação. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.
REIGOTA, M. O que é a Educação Ambiental. 2°ed. São Paulo: Brasiliense, 2009.
SCHERL, L. M.; WILSON, A.; WILD, R.; BLOCKHUS, J.; FRANKS, P.; MCNEELY, J. A.; MCSHANE, T. O. As áreas protegidas podem contribuir para a redução da pobreza? Oportunidades e limitações. IUCN, 2006.
STUDER, A.; NUSBAUMER, L.; SPICHIGER, R. Biodiversidade da Reserva Biológica de Pedra Talhada Alagoas, Pernambuco-Brasil. Boissiera: mémoires des Conservatoire et Jardin botaniques de la Ville de Genève, 2015.
TRAVASSOS, E.G.
A educação ambiental nos currículos: dificuldades e
desafios.Revista de Biologia e Ciência da Terra, v. 1, n. 2, P. 1-11, 2001. UFRPE. 1991. Reserva Florestal de Pedra Talhada. Mapa topográfico e de uso atual.
1:10.000. Associação Nordestina De Preservação Da Natureza & Universidade
Federal Rural de Pernambuco, Departemento de Agronomia. Área de solos. Recife.
Capítulo 12
Fertirrigação da bertalha (Basella Alba L.)cultivada sob manejo orgânico utilizando água residuária de bovinocultura de leite
Tawata Iracema Pereira da Silva1
Rafaela Silva Corrêa2
Marcos Filgueiras Jorge3
Leonardo Duarte
Batista da Silva4
1. INTRODUÇÃO
As hortaliças são plantas de suma importância para o fornecimento principalmente de vitaminas, sais minerais e fibras. Entretanto, especificamente com relação às hortaliças não- convencionais, são aquelas com distribuição limitada, restrita a determinadas localidades ou regiões, que exercem influência na alimentação e na cultura de populações tradicionais, a redução no cultivo e consumo é mais evidente ainda, verificando-se sua substituição por hortaliças de maior apelo comercial. Esta redução vem causando perdas econômicas, sociais e culturais. Ações que visem a incentivar o consumo e a produção de hortaliças e, particularmente, de variedades locais são importantes para a riqueza da dieta daspopulações e perpetuaçãodebonshábitosalimentares,visandoàpreservaçãodabiodiversidadebrasileira, os benefícios nutricionais, além de ser fonte de renda para os pequenos agricultores. Trata-se de uma questão de segurança e de soberania alimentar estimular a produção e o consumo das hortaliças não-convencionais, emvista de suas características nutracêuticas e da sua rusticidade de cultivo (BRASIL 2010 a; VIANA et
1 Discente do curso de Graduação em Licenciatura em Ciências Agrícolas, tawatairacema@yahoo.com.br 2 Engenheira Agrônoma pela UFRRJ 3 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Inovação em Agropecuária da UFRRJ, filgueiras_jorge_marcos@hotmail.com 4 Professor Associado do Instituto deTecnologia da UFRRJ, irriga@ufrrj.br
al.,2015). Abertalha (Basella alba L.) é originária do sudeste da Ásia, pertence a família das Basellaceae é uma hortaliça não convencional folhosa, e tem vários aspectos importantes quanto ao seu potencial produtivo, sendo de fácil cultivo e de ciclo vegetativo curto, sua produção é contínua durante o ano todo, tem alto poder de
regeneração após o corte e de grande valor nutritivo (CAMPOS etal.,2012). O Brasil possui rebanho bovino com cerca de 212,3 milhões de cabeças em 2014 segundo IBGE. O aumento da demanda por produtos de origem animal, tem seu consumo estimulado pelas autoridades de saúde, tem provocado exploração intensiva de animais que são agrupados em grande número, produzindo grande volume de dejetos, gerando problemas tanto para o seu tratamento e disposição, quanto de poluição ambiental. Assim o destino final de águas residuárias, provenientes da criação de animais como da bovinocultura de leite, pode ocasionar sérios impactos ao meio ambiente, caso sejam manejadas inadequadamente (BATISTA et al.,2014). Dessa maneira, a utilização de águas residuárias de bovinocultura de leite tratadas ou parcialmente tratadas na fertirrigação na agricultura, tem mostrado uma maneira efetiva dedisposição e reaproveitamento de águas residuárias de bovinocultura de leite, ao invés de descarregá-las em cursos de água, tem-se tornado alternativa promissora, além da rápida e recente expansão (PINTO et al.,2012). Dada à relevância e atualidade dessa temática, o objetivo desse trabalho foi avaliar os efeitos na cultura da Bertalha (Basella alba L.), fertirrigada com diferentes lâminas de água residuária de bovinocultura de leite (50%, 100%, 150% e 200% de N).
2. Material e Métodos
O trabalho
foi realizado na área do Sistema Integrado de Produção Agroecológica (SIPA) também conhecido como Fazendinha Agroecológica do km 47. SIPA é uma iniciativa conjunta da Embrapa Agrobiologia, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Localizada na cidade de Seropédica-RJ, ocupa uma área de aproximadamente 70 ha. As coordenadas geográficas do local são 22°48’00’’ de latitude Sul e 43° 41’00’’ de longitude Oeste. Apresenta altitude de aproximadamente 33m. Segundo a classificação de Köppen, o clima é Aw, com temperaturas elevadas e chuvas no verão e um inverno seco com temperaturas amenas. As chuvas se
concentram no período novembro a março com precipitação média anual de 1.213mm e temperatura média anual de 24,5° C (CRUZ,2005). O experimento foi realizado em condições de campo com o cultivo da hortaliça não convencional Bertalha (Basella alba L) em dois canteiros, sendo cada canteiro possui área de 32m2(32m de comprimento x 1 m de largura). O ciclo de cultivo desta hortaliça teve duração de 30 dias após o transplantio. Os valores dos parâmetros analisados na água residuária da bovinocultura de leite utilizada no experimento foram adquiridos pela empresa Grenn Brasil Serviços Ambientais, através do relatório de ensaio 6230/15 realizado pelo laboratório subcontratado CRL 0171 CCL 021050 (Tabela 1).
Tabela 1:Valores dos parâmetros da água residuária da bovinocultura de leite, obtidos pela Empresa Grenn Brasil Serviços Ambientais.
PARÂMETRO Condutividade
Cor
DBO
UNIDADE
μS.cm-1
uH
mg.L-1
LQ
0,10
10,0
3,00
RESULTADO
2220,00
1890,00 0
141,89
DQO
Fósforo Total
Nitrogênio Amoniacal
pH
Oxigênio Dissolvido
Escherichia Coli
Coliformes Totais
Potássio
Nitrato
Nitrito mg.L-1
mg.L-1
mg.L-1
upH
mg.L-1
NMP.100ml-1
NMP.100ml-1
mg.L-1
mg.L-1
mg.L-1 37,00
0,05
0,04
0,01
1,80
1,80
0,07
10,00
0,02 514,40
23,50
78,00
7,20
1,14
540000,00
540000,00
88,58
<10,00
<0,02
Nitrogênio Kjeldahl
Nitrogênio Total LQ= Limite de quantificação. mg.L-1
mg.L-1 0,18
0,18 89,00
90,00
O sistema de tratamento da ARB, utilizada no experimento é consistido por uma estação piloto que é composta por: tanque de sedimentação, filtro orgânico, biodigestor, sistema de alagado construído (wetland) e painel solar. Para a determinação da dose de nitrogênio necessária para atender a demanda nutricional da Bertalha, neste trabalho foi adotada a demanda de nitrogênio da cultura da alface, visto que não existe na literatura a demandas nutricional da hortaliça não convencional utilizada neste estudo, ou seja, aBertalha. Os tratamentos consistiram de 4 doses de nitrogênio fornecidas por meio da fertirrigação orgânica com ARB: Tratamento 1= 50% de N(da dose de N recomendada foi fornecida por meio da fertirrigação com ARB; Tratamento 2= 100% de N(da dose de N recomendada foi fornecida por meio da fertirrigação com ARB; Tratamento 3= 150 % de N(da dose de N recomendada foi fornecida por meio da fertirrigação com ARB; e Tratamento 4 =200 % de N. Assim sendo, cada canteiro recebeu quatro tratamentos com diferentes doses de nitrogênio(N) provenientes de água residuária. Sendo que cada tratamento recebeu 4repetições. A aplicação das diferentes dosagens da ARB no solo cultivado com Bertalha foi realizada com o sistema de irrigação por gotejamento. De modo a quantificar a lâmina de ARB aplicada nos tratamentos, adotou-se o Nitrogênio como nutriente de referência na fertirrigação do cultivo da Bertalha. O Nitrogênio foi escolhido por apresentar-se em maior proporção em relação aos demais nutrientes. As lâminas necessárias à aplicação das diferentes doses de nitrogênio foram calculadas por meio da Equação de MATOS,2007.
Canteiro 1
Canteiro 2
Figura 1. Croqui do experimento, demostrando uma parcela, que foi subdividida em 4 subparcelas e para a coleta das quatro plantas centrais.
Para realização da colheita e amostragem, cada parcela foi dividida em quatro subparcelas, coletando-se as quatro plantas centrais de cada subparcela, totalizando 16 plantas coletadas por parcela. Portanto foram avaliadas 64 plantas por tratamento. Primeiramente foram medidos os parâmetros comprimento e número de folhas e posteriormente o diâmetro, de cada planta coletada O experimento foi realizado segundo um delineamento inteiramente casualizado (DIC), sendo 4 tratamentos e cada tratamento constituído por4repetições.Dessa maneira as parcelas experimentais foram distribuídas nos dois canteiros em um arranjo inteiramente casualizado. Sendo 64 plantas/repetição, totalizando 512 plantas por canteiro e total de 1024 plantas no experimento. Os valores médios obtidos na avaliação de diâmetro, comprimento e número de folhas foram submetidos à análise de variância, sendo as médias dos tratamentos comparadas entre si pelo teste de Tukey a
5% de probabilidade. As análises estatísticas foram realizadas empregando-se o Sistema de Análise Estatístico WinStart versão1.0.
3. Resultados e discussão
Na Tabela 2 são apresentados os resultados do teste de Tukey ao nível de 5% de significância para comparação das médias do comprimento da haste principal (cm), diâmetro do colo (mm) e número de folhas entre os tratamentos. De acordo com os resultados obtidos pelo teste de Tukey, verifica-se que não houve efeito significativo das doses de água residuária de bovinocultura de leite em relação à comprimento e diâmetro, enquanto número de folhas apresentou diferença estatística. Diferentemente do estudo desenvolvido por Juchen et al., (2013) com produção de alface fertirrigada com águas residuárias de agroindústrias de processamento de carne e leite, onde constatou uma diferença significativa para a altura e diâmetro das amostras entre os tratamentos fertirrigados e a testemunha e não encontraram diferença significativa para o número de folhas.
Tabela 2: Resultados do teste de Tukey ao nível de 5% de significância para comparação das médias do comprimento da haste principal (cm), diâmetro do colo (mm) e número de folhas entre os tratamentos.
Tratamento T1-50% de N
T2-100% de N
T3-150% de N
Comprimento (cm)
23,68NS
21,51
25,38
Diâmetro (mm)
14,97 NS
14,34
16,05
T4-200% de N 23,86 15,22
Nota: NS -Não significativo ao nível de 5% de probabilidade.
Número de folhas
17,61 ab
18,48 a
19,03 a
14,10 b
Pode-se observar que os maiores valores médios de comprimento e diâmetro foram obtidos no T3 e T4 que corresponde a 150% e 200% respectivamente de N fornecido pela ARB. E os menores valores no T1 e T2 que correspondem a 50% e 100% respectivamente de N fornecido pelaARB. Provavelmente, a não significância das doses de nitrogênio fornecidos através da
ARB nos parâmetros comprimento e diâmetro, pode estar relacionada a uma boa disponibilidade de nutrientes já existentes no solo, principalmente os macronutrientes, uma vez que no local onde o experimento foi instalado já houve aplicação de água residuária de bovinocultura de leite no cultivo de outras culturas. Silva (2010) afirma que a aplicação de águas residuárias no solo, durante longos períodos, pode resultar em acúmulo de nutrientes, excedendo as exigências da planta. Ainda, de acordo com a tabela 6 podemos observar que nos parâmetros: comprimento, diâmetro e número de folhas foi encontrado o maior valor no tratamentoT3, que corresponde a terceira maior dose de nitrogênio, (150 %) fornecido através da ARB. Assim, mesmo ocorrendo ausência de resposta significativa na aplicação das 4 doses nos parâmetros comprimento e diâmetro, o tratamento T3 foi superior, o que pode indicar que esta dose é eficiente ematender as exigências nutricionais da Bertalha, além de poder aumentar suaprodução. Além do fato de que indica que através da fertirrigação com água residuária de bovinocultura de leite somente, pode ser capaz de suprir as necessidades nutricionais das plantas em macro e micronutrientes devido à elevação da disponibilidade dos mesmos, além de proporcionar melhoria das condições físicas do solo, tornando esses elementos disponíveis aos vegetais. Resultados encontrados por Cabral et al., (2011), que utilizou água residuária de suinocultura na cultura do capim elefante, verificaram que a aplicação da ARS contribuiu para o aumento do magnésio e do fósforo e a redução do alumínio no solo, entretanto, não ocorreu efeito significativo das doses de água residuária nos
parâmetros: altura das plantas e massa
seca, enquanto a relação folha/colmo apresentou diferença estatística. Do mesmo modo, Pinto et al., (2012), constataram que as diferentes lâminas de água residuária da suinocultura não influenciaram a produção, peso médio e comprimento dos frutos da pimenta malagueta, somente encontrando diferença estatística no parâmetro diâmetro dos frutos. A análise estatística para as médias do número de folhas ao nível de 5% aplicando o teste de Tukey (Tabela6) mostrou que os tratamentos T2 e T3 diferem do tratamento T4,sendo que o T4 não difere estatisticamente doT1. Os números médios de folhas foram maiores nos tratamentos T3 e T2, sendo seguidos por T1 e T4. Os dados mostraram que houve efeito dos tratamentos, obtendose, dessa forma, menor valor no número médio de folhas, com a aplicação da dose da
ARB com maior concentração de nutrientes (o que corresponde ao T4= 200% de N), sugerindo que esta mesma dose pode ter influenciado negativamente o desenvolvimento da cultura. No trabalho desenvolvido por Bortoni (2016) onde foi analisado um solo previamente fertirrigado com água residuária de bovinocultura de leite (ARB) utilizando o rabanete (Raphanus sativus) como bioindicador, sendo que para o tratamento com maior concentração de ARB residual (300% ARB) foi observado um decréscimo dos parâmetros comprimento da parte aérea, diâmetro do bulbo, massa seca da parte aérea e raiz, desempenho da cultura em estudo. O autor propõe como possível causa, aumento das concentrações de sódio no solo. Assim, de modo geral, segundo o autor a aplicação de doses de ARB que suplantam expressivamente a demanda nutricional das culturas podem acarretar o aumento expressivo dos níveis de sódio no solo e com isso,proporcionar a diminuição do desempenho das culturas, pois este micronutriente em elevadas concentrações no solo pode acarretar estresse hídrico, salino, desequilíbrio nutricional e toxicidade àcultura.
4. Considerações finais
A partir dos resultados obtidos no experimento com Bertalha fertirrigada com ARB, pode-se concluir que: Considerando os parâmetros agronômicos avaliados-comprimento e diâmetro do coleto, verificou-se que não houve efeito significativo das doses de água residuária de bovinocultura de leite, enquanto número de folhas apresentoudiferença; Os valores médios de comprimento, diâmetro e número de folhas foram encontrados os maiores valores no tratamento T3, (150 % de N) fornecido através da ARB; e
Os resultados obtidos demonstram a possibilidade do uso de água residuária de bovinocultura de leite no cultivo da Bertalha sob manejo orgânico, como fonte de nutrientes para as plantas, substituindo as adubações com fertilizantes químicos e diminuindo os custos de produção.
5. Referências
BATISTA, R. O.; BATISTA, R. O.; FIA, R.; DOMINGUES, R. R. Manejo de águas residuárias da bovinocultura de leite para uso em cultivo de plantas. Boletim TécnicoUniversidade Federal de Lavras/MG - n.º 100 - p. 1-29 ano 2014.
BRASIL. Manual de hortaliças não-convencionais. Brasília: MAPA/ACS, 2010 a. 5, 6,35, 36 p.
BORTONI, S. F. Efeito Residual da fertirrigação com água residuária de bovinocultura na qualidade de um solo. Trabalho de Conclusão de CursoUniversidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2016, 1 p.
CABRAL, J. R.; FREITAS, P. S. L. d.; REZENDE, R.; MUNIZ, A. S. BERTONHA, A. Impacto da água residuária de suinocultura no solo e na produção de capim-elefante. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental- Campina Grande, PB, v.15, n.8, p.823–831, jun. 2011.
CRUZ, F. A. DA. Instalação e calibração de lisímetro de pesagem e determinação da evapotranspiração de referência para a região de Seropédica-RJ. 2005. 65 p., (Dissertação, mestrado em Fitotecnia), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica-RJ, 2005.
JUCHEN, C. R.; SUSZEK, F. L.; BOAS, M. A. V. Irrigação por gotejamento para produção de alface fertirrigada com águas residuárias agroindustriais. Irriga, Botucatu, v. 18, n. 1, p. 243-256, abril-junho, 2013.
MATOS, A.T. de. Disposição de águas residuárias no solo. Viçosa, MG: AEAGRI, 2007. 140p. (Caderno Didático, 38).
PINTO, C. M. F.; PINTO, F. A.; OLIVEIRA, R. A. D.; BATISTA, R. O. ; Silva K. B. d. Efeito da fertirrigação com água residuária de suinocultura na produção de pimenta malagueta. Revista ACSA: Agropecuária Científica no Semiárido – Campina grande,
v.8, n. 3, p. 112-117, jul. 2012.
SILVA, J. G. D. Fertirrigação do capim Mombaça com diferentes lâminas de efluente tratamento primário de esgoto sanitário estabelecidos com base na dose aplicada de sódio. Dissertação Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Viçosa, 2010.
VIANA, M.M.S.; CARLOS, L.A.; SILVA, E.C.; PEREIRA, S.M.F.; OLIVEIRA ,D.B.;ASSIS, M.L.V. Composição fitoquímica e potencial antioxidante em hortaliças não convencionais. Horticultura Brasileira, v. 33, n. 4, p. 504-509, 2015.