Organizadores: Isaac Araújo Gomes Érik Serafim da Silva Marcos Barros de Medeiros Hélder Formiga Fernandes Weverton Pereira de Medeiros Bruno Emanuel Souza Coelho Virginia Maria Magliano de Morais Luzimar Joventina de Melo Natanaelma Silva da Costa
Editora & Eventos Científicos
ABORDAGENS TECNOLÓGICAS E SOCIAIS NO NORDESTE BRASILEIRO
Volume 1
Organizadores: Isaac Araújo Gomes Érik Serafim da Silva Marcos Barros de Medeiros Hélder Formiga Fernandes Weverton Pereira de Medeiros Bruno Emanuel Souza Coelho Virginia Maria Magliano de Morais Luzimar Joventina de Melo Natanaelma Silva da Costa
ABORDAGENS TECNOLÓGICAS E SOCIAIS NO NORDESTE BRASILEIRO
Editora & Eventos Científicos
Bananeiras – PB
2020
© 2020 por Isaac Araújo Gomes, Érik Serafim da Silva, Marcos Barros de Medeiros, Weverton Pereira de Medeiros, Hélder Formiga Fernandes, Bruno Emanuel Souza Coelho, Virginia Maria Magliano de Morais, Luzimar Joventina de Melo, Natanaelma Silva Costa (Org.) © 2020 por Vários Autores Todos os direitos reservados. Edição Gráfica e Capa Érik Serafim da Silva Conselho Editorial Marcos Barros de Medeiros (UFPB) Christopher Stallone de Almeida Cruz (UFCG) Elizandra Ribeiro de Lima Pereira (UFPB) Francisco Lucas Chaves Almeida (UNICAMP) Maria Verônica Lins (UFCG) Natanaelma Silva Costa (UFPB) Weverton Pereira de Medeiros (UFCG)
Índice para catálogo sistemático: 1. Ciências Agrárias 630 2. Ciências Agrárias 630 Agricultura e tecnologias relacionadas O conteúdo desta obra, inclusive sua revisão ortográfica e gramatical, bem como os dados apresentados, são de responsabilidade de seus participantes, detentores dos Direitos Autorais. Esta obra foi publicada pela Gepra Editora & Eventos Científicos em outubro de 2020.
Apresentação
A coletânea de e-books ABORDAGENS TECNOLÓGICAS E SOCIAIS NO NORDESTE BRASILEIRO foi produzida com o intuito de promover a produção científica e de tecnologias sociais em diferentes áreas do conhecimento, por meio da interação entre pesquisadores e estudantes de âmbito nacional e a realização de atividades que promoveram debates referentes a sustentabilidade agrícola, incentivando a comunidade acadêmica, setores da sociedade e agricultores rurais a pensarem o Semiárido Brasileiro baseado na cultura da sustentabilidade.
“É no Semiárido que a vida pulsa, é no Semiárido que o povo resiste!”
SUMÁRIO Cap. 1 - A CONCEPÇÃO SOBRE O USO DE AGROTÓXICO POR AGRICULTORES NO MUNICÍPIO DE TEXEIRA – PB..........................................................................................05 Cap. 2 - AGRICULTURA FAMILIAR E REVOLUÇÃO VERDE: IMPLICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS DO USO DE AGROTÓXICOS...........................................................15 Cap. 3 - ANÁLISES FÍSICAS E FÍSICO-QUÍMICAS DO TOMATE CEREJA (LYCOPERSICUM ESCULENTUM. CERASIFORME) EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO....................................................................................................28 Cap. 4 - AS VERTENTES DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA: IMPACTOS E AVANÇOS NA NATUREZA..........................................................................................................................37 Cap. 5 - ASPECTOS BIOMÉTRICOS E GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Operculina alata (Ham.) Urban CLASSIFICADAS PELO TAMANHO.................................................43 Cap. 6 - AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE MUDAS DE Moringa oleífera Lam. EM DIFERENTES SUBSTRATOS NA REGIÃO DO CARIRI PARAIBANO..........................55 Cap. 7 - AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE CHUVA DISTRIBUÍDA NO INSTITUTO NACIONAL DO SEMIÁRIDO.......................................................................62 Cap. 8 - AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS LEITES PASTEURIZADOS DE DIFERENTES ESPÉCIES ANIMAIS...................................................................................70 Cap. 9 - AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE LINGUIÇAS FRESCAIS COMERCIALIZADAS EM POMBAL – PB.....................................................78 Cap. 10 - AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DO DOCE CRISTALIZADO DE ABÓBORA........................................................................................88 Cap. 11 - AVALIAÇÃO DE GENÓTIPOS DE MANJERICÃO PARA TOLERÂNCIA AO ESTRESSE SALINO UTILIZANDO ÍNDICES DE TOLERÂNCIA AO ESTRESSE............................................................................................................................96 Cap. 12 - AVALIAÇÃO DE TINTURAS HIDRO-ETANOICAS DE PLANTAS SOBRE A BIOECOLOGIA DA MOSCA FITÓFAGA Ceratitis capitata Wied. (Diptera: Tephritidae)..........................................................................................................................105 Cap. 13 - AVALIAÇÃO DO EFEITO DO USO DE EXTRATOS BOTÂNICOS HIDROETANÓLICO EM Chromacris speciosa L..............................................................111 Cap. 14 - AVALIAÇÃO DO EFLUXO DE DIÓXIDO DE CARBONO (CO2) EM TRÊS SISTEMAS DE USO E MANEJO DO SOLO.....................................................................119 Cap. 15 – AVALIAÇÃO DO POTENCIAL BIOINSETICIDA DE UMA ESPÉCIE VEGETAL DA CAATINGA SOBRE Nasutitermes corniger (Motschulsky,1855)............126
Cap. 16 - AVALIAÇÃO DO ÍNDICE DE QUALIDADE DA ÁGUA DA BARRAGEM DE ACAUÃ-PB.........................................................................................................................132 Cap. 17 - AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE CARNES MOÍDAS VENDIDAS EM SUPERMERCADOS NA CIDADE DE POMBAL-PB.......................................................143 Cap. 18 - AVALIAÇÃO SENSORIAL DE IOGURTE CASEIRO ELABORADO COM CAFÉ TORRADO E MOÍDO..............................................................................................151 Cap. 19 - BIOMETRIA E QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE Myracrodrun urundeuva Allemão COLETADAS NA REGIÃO DO CARIRI PARAIBANO......................................................................................................................157 Cap. 20 - Bowdichia virgilioides KUNTH: POTENCIAIS DE USOS, CONSERVAÇÃO E MANEJO SUSTENTÁVEL................................................................................................165 Cap. 21 - CAPIM TIFTON 85 IRRIGADO COM ÁGUAS CINZAS E ADUBAÇÃO NITROGENADA................................................................................................................178 Cap. 22 - CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE SALSINHA (PETROSELINUM CRISPUM) IN NATURA....................................................................................................186 Cap. 23 - CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE GELEIA DE KIWI COM CHÁ DE CAPIM SANTO...................................................................................................................194 Cap. 24 - CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE BOLOS COMERCIALIZADOS EM POMBAL/PB.........................................................................205 Cap. 25 - CARACTERIZAÇÃO MORFOAGRONÔMICA DE ACESSOS DE FEIJÃO GUANDÚ PARA O ESTUDO DA DIVERSIDADE GENÉTICA EM REGIÃO DO CARIRI PARAIBANO......................................................................................................................213 Cap. 26 - CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DE FRUTOS E SEMENTES DE Moringa oleifera Lam. (MORINGACEAE).........................................................................222 Cap. 27 - CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DE MÉIS MULTIFLORAIS COMERCIALIZADOS EM DUAS CIDADES DO SERTÃO CENTRAL DO CEARÁ................................................................................................................................230 Cap. 28 - CHIPS DA CASCA DE MELÃO NEVE (Cucumis melo L.): TEMPERATURA DE SECAGEM, MODELAGEM MATEMÁTICA E COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL..................................................................................................................235 Cap. 29 - CINÉTICA DE SECAGEM SOLAR DE CEBOLA ‘IPA 11’ ORGÂNICA.........243 Cap. 30 - COMO SE TEM AVALIADO A QUALIDADE DE ÁGUA PARA DESSEDENTAÇÃO ANIMAL? UMA AVALIAÇÃO CIENCIOMÉTRICA...................252
Capítulo 01 A CONCEPÇÃO SOBRE O USO DE AGROTÓXICOS POR AGRICULTORES NO MUNICÍPIO DE TEIXEIRA – PB MEDEIROS, Jaislany da Siva Graduanda em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba jaislanymedeiros@gmail.com SANTOS, Mônica Soares dos Graduanda em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba monnica.soares@hotmail.com GOMES, Isaac Araújo Pós-graduando em Biotecnologia Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI) isaacbiomed1@gmail.com MEDEIROS, Weverton Pereira de Mestre em Sistemas Agroindustriais Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) weverton_cafu@hotmail.com.br ANDRADE, Romário Oliveira de Doutor em Engenhara de Processos (UFCG) Universidade federal de Campina Grande romaioandradeufpb@gmail.com
RESUMO Agrotóxicos são produtos químicos que afetam e alteram a fauna e a flora devido a sua composição e intuito de evitar doenças, insetos ou que plantas daninhas prejudiquem as plantações. O objetivo é avaliar a concepção dos agricultores sobre os riscos que o uso dos agrotóxicos pode causar a saúde foram utilizado para este trabalho trinta e cinco questionário no município de Teixeira-PB contendo dez perguntas abordando temas como pratica de higiene, local de armazenamento, saúde do produtor e meio ambiente, kit de proteção individual. Os dados obtidos foram o uso do EPIS, conforme se pode avaliar usam de forma parcial a vestimenta mínima necessária e obrigatória por lei para a proteção contra intoxicações, o local de armazenamento dos produtos são guardados em galpões, em casa ou até mesmo na floresta nas atividades econômicas, muitos trabalhadores são expostos ou potencialmente expostos a essas substâncias afetando a saúde. Visita de fiscalização acontece através do técnico agrônomo onde realizam a compra dos agrotóxicos, relação à forma de como promovem o descarte das embalagens vazias dos produtos os produtores rurais, tomam cuidados parciais quanto aos procedimentos adotados para descarte das embalagens realizarem o procedimento de lavagem, a guarda em depósitos cobertos ou ate mesmo realizar a queima nas embalagens nunca jogando a céu aberto. São necessárias decisões urgentes para o esclarecimento e conscientização dos agricultores, instruindo e alertando a população sobre os riscos eminentes de toxidez outro fato que deve chamar atenção é a forma de descartes das embalagens dos produtos químicos. PALAVRAS-CHAVE: agricultores; concepção; saúde.
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1. INTRODUÇÃO Agrotóxicos são produtos químicos que afetam e alteram a fauna e a flora devido a sua composição e intuito de evitar doenças, insetos ou que plantas daninhas prejudiquem as plantações. A utilização dos agrotóxicos iniciou-se na década de 60 onde se chamou revolução verde que foi um movimento pela modernização da utilização de produtos como agrotóxicos, sementes modificadas, máquinas tudo isso com há finalidade de aumentar o número da produção. Os controles contra pragas e doenças onde afetam a atividade agropecuária e florestal começaram a partir do desenvolvimento dos produtos sintéticos e onde aconteceu uma ampla divulgação dessa tecnologia em todos os países, que motivou debate sobre os reais prejuízos e benefícios dos agrotóxicos. Os agrotóxicos começaram a ser estudados por pesquisadores como armas químicas mais só se deu início para serem utilizado na primeira guerra mundial durante a chamada "revolução verde” para combater a fome deixada após a guerra. Primeiro composto químico dessa classe, onde foi denominado de DDT, fabricado em 1874 por Othomar Zeidler; Mas em 1939 que Paul Muller mostra suas propriedades inseticidas. No Brasil só veio desembarcar durante a revolução no ano de 1960. Segundo a ANVISA, um terço dos alimentos consumidos diariamente por nós, brasileiros, está contaminado e dentre esses alimentos contaminados, 28% apresentam componentes não autorizados ou em quantidade que excede o limite autorizado. O Brasil possui uma lei que regulamenta a utilização de agrotóxicos, chamada Lei de Agrotóxico nº 7.802/1989. Essa lei é considerada bastante permissiva se comparada a leis de outros países, como a da União Europeia, por exemplo. Isso significa que, por aqui, a utilização desses produtos é muito maior e mais livre que nos países europeus. (CARVALHO, 2018). Os agrotóxicos são divididos em dois grupos herbicidas e inseticidas: Os herbicidas são Paraquat, clorofenoxois e dinitrofenóis já os inseticidas são divididos em três grupos organoclorados, os organofosforados e carbamatos. O Brasil é considerado o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, existem 14 variedade de agrotóxicos que estão banidos de outros países até então são utilizados na produção de lavouras, estes produtos químicos proibidos em outros países que são exportados por causa de serem proibidos esses produtos: são os Forato Tricolfon, Thiram, Abamectina, Carbofuran, Acefato, Cihexatina, Fosmete, Lactofen e Parationa Metílica; devido isto alguns pesquisadores chegam a chamar o Brasil de bomba atômica preste a explodir porque leva a mesa dos agricultores estes alimentos altamente tóxicos causando um grande risco a saúde humana. Objetivou-se com a realização desta pesquisa, avaliar a concepção dos agricultores sobre os riscos que o uso dos agrotóxicos pode causar a saúde.
2. MATERIAL E MÉTODOS Esta seção do artigo apresenta objeto do estudo, sua caracterização e os procedimentos metodológicos utilizados para sua execução.
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2.1 OBJETO DO ESTUDO Para esse estudo, a população alvo será composta por 30 agricultores que, especificamente, produzam hortaliças na zona rural do no município de Teixeira, no estado da Paraíba.
2.2 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO O presente estudo é categorizado como social-empírico e, segundo sua tipologia, enquadrase em uma pesquisa aplicada (DORNELLES, 2006). O instrumento para coleta de dados será elaborado em modo de entrevista estruturada, com perguntas fechadas e abertas anexo 1, no período de setembro a outubro de 2018 conduzidas pelo observador. Tal abordagem da realidade caracteriza a origem dos dados como fonte primária (KERLINGER, 1980). Foram entrevistados 30 produtores de forma aleatória com perguntas abertas e de múltipla escolha, iniciando com perguntas mais gerais sobre a pessoa e questões mais específicas de maneira que facilite o entendimento. Esse questionário estruturado terá o intuito de verificar a percepção dos produtores sobre o ponto de vista social e ambiental do uso de agrotóxicos na produção local. As perguntas que foram executadas buscaram compreender a importância que esses consumos terão na vida do entrevistado, questionar sobre sua percepção com benefícios à sua saúde como também o impacto com o meio ambiente. Também serão investigados como o entrevistado descreveria essa feira e esses produtos para alguém que não a conhece, além de informações como escolaridade, renda familiar e região da residência. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Quando questionado se os agricultores sabem o que é agrotóxico falam que sim como mostra na (figura 1), 100% afirmaram que sabem que são produtos de origem química e biológica para que serve onde auxilia na prevenção ou extermínio de pragas e doenças das culturas agrícolas (fungicidas, herbicidas, inseticidas, pesticidas); agroquímico, defensivo agrícola. De acordo com Soares (2010), o despertar para o reconhecimento dos efeitos nocivos dos produtos agrotóxicos se deu a partir de 1962, com a obra “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, que trouxe à tona os efeitos adversos da utilização dos pesticidas e inseticidas químicos sintéticos, particularmente sobre o uso do DDT o qual penetrava na cadeia alimentar e acumulavase nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem, aumentando o risco de causar câncer e danos genéticos. Figura 1. Você sabe o que é agrotóxico.
Fonte. Autoria própria 2018
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Como mostra a figura 2, 100% dos entrevistados afirmam não colocarem placa avisando sobre a aplicação dos agrotóxicos em sua propriedade alegando o fato de apenas eles entravam na propriedade onde não havia a visita de visitantes. O desconhecimento do Período de Reentrada faz com que 96,3% dos agricultores familiares entrevistados não se atentem à necessidade de disposição de placas de advertência sobre o período em que a entrada na área de cultivo sem EPIs deveria ser evitada. No entanto, mesmo com a colocação de avisos, a proteção da saúde através desta medida de segurança é questionável devido à proximidade das residências com as áreas de cultivo (ABREU 2014).
Figura 2. Colocam aviso indicando o período em que não se deve entrar na área onde os agrotóxicos foram aplicados.
Fonte. Autoria própria 2018
Quando perguntados sobre os procedimentos que adotam, conforme demonstrado na figura 3, a grande parte dos produtores rurais, 94%, declararam que fazem o uso de Equipamentos de Proteção Individual, os EPI`s, porém conforme se pode avaliar, estes usam de forma parcial a vestimenta mínima necessária e obrigatória por lei para a proteção contra intoxicações, portanto, denotando que utilizam mesmo que inconscientemente de uma forma equivocada. Pode-se inferir também sobre esta questão é que, pior do que utilizar de forma equivocada, ou seja, parcialmente, é não fazer qualquer uso de Equipamento de Proteção Individual, conforme os 6% dos produtores rurais que declararam nunca utilizarem qualquer vestimenta visando sua proteção quando das atividades de manuseio e aplicação dos agrotóxicos. Com base na autoproteção a partir da utilização de EPI’s nas aplicações de agroquímicos, 82% não utilizam EPI completo e 18% utilizavam, desses agricultores, constatou-se que 12% usavam botas, short e chapéu e 6% usavam macacão e bota e apenais 1% usavam máscara (RIBEIRO, SANTOS, RAFAEL, ARAÚJO, CABRAL 2015). .
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Figura 3. Vocês têm o kit de equipamentos de proteção individual pra cada agricultor utilizar: Máscara, Luvas, Roupa, Bota, Avental, Boné árabe, Chapéu.
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Fonte. Autoria própria 2018
Questionados quanto à higiene feita após a aplicação dos 86% dos entrevistados realizam a pratica de higiene se banhando e alegou que também adotaram tratamento especial evitando a contaminação das roupas do restante da família, promovendo as lavagens separadas das outras roupas. Outra parte 14% informou que dispensar o tratamento às roupas utilizadas após as aplicações dos agrotóxicos, ou seja, a lavagem da mesma, que lavam juntamente com demais roupas dos familiares não acreditando na contaminação. É nesta atividade que fica evidente a exposição direta de mulheres aos agrotóxicos, na agricultura familiar de Lavras-MG. Em 81,5% das unidades produtivas visitadas, elas são as responsáveis por lavar tanto as roupas comuns, utilizadas pelos agricultores que não utilizam os EPIs durante o preparo e a aplicação dos agrotóxicos, quanto às roupas de proteção. Segundo os manuais de “uso seguro”, o local de realização da atividade não só deveria ser distante da residência e da circulação de pessoas desprotegidas como também deveria ser em tanques de utilização exclusiva para roupas contaminadas por agrotóxicos, contendo encanamento destinado para fossa séptica de tratamento de resíduos químicos. Estas exigências, que não levam em consideração o contexto econômico e estrutural da agricultura familiar, não são observadas nas unidades produtivas visitadas para a realização deste trabalho. Nestes casos, a inexistência de tanque exclusivo para as roupas e EPIs contaminados corresponde à exposição das roupas pessoais a resíduos de agrotóxicos e o despejo da água contaminada em locais que não as fossas sépticas corresponde à contaminação direta das pessoas, animais, solo, lençóis freáticos e fluxos de água. (ABREU, ALONZO2013). Em relação ao local de armazenamento dos produtos, 89% dos produtores relataram que tem um local com segurança longe das casas e onde os trabalhadores descansam sendo esse local um galpão distante e sem grandes acesso a outra parte 11% não tem um local de segurança para o armazenamento dos produtos estes sendo guardada em casa no convívio da família ou na floresta próxima a plantação. Importante medida de segurança para a saúde de trabalhadores rurais e para o meio ambiente, o armazenamento “correto” de agrotóxicos não foi observado, de forma geral, nas simples estruturas e instalações das unidades produtivas visitadas e no contexto de desinformação e falta de apoio institucional da agricultura familiar em Lavras (MG). A maior parte dos agricultores familiares cita que suas propriedades não possuem local de armazenamento que atende aos requisitos de segurança. Nestes dados se observa que, mesmo quando relatam armazenar os agrotóxicos exclusivamente em estrutura independente da residência, os
agricultores familiares não estão necessariamente seguros. Não é plausível, portanto, responsabilizar os agricultores familiares por não construírem, espontaneamente, novas estruturas que mantenham distância “segura” das residências, sendo que estes agricultores vivem em situação de limitação de renda e de informação. (ABREU, ALONZO 2013). Como a utilização de agrotóxicos é bastante diversificada nas atividades econômicas, muitos trabalhadores são expostos ou potencialmente expostos a essas substâncias. Visando reduzir os impactos negativos à saúde,100%, dos trabalhadores conhecem os efeitos dos agrotóxicos na saúde onde os trabalhadores devem observar os seguintes cuidados: Uso dos Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva (EPI e EPC) indicados para cada tipo de agrotóxico; Não guarde os EPI/EPC junto aos agrotóxicos; Evitar circular nas áreas que receberam aplicação de agrotóxicos recentemente; Lava as mãos e tome banho com sabão e água corrente após a utilização de agrotóxicos; Sempre lave as roupas do trabalho antes de reutilizálas. Utilize luvas durante a lavagem; Não lave as roupas do trabalho junto com as da família; Não utilize quantidades superiores às indicadas no rótulo, pois as doses indicadas já são suficientes para matar as pragas. Quantidades maiores apenas aumentarão o risco de intoxicação e desperdício de produto; Não utilize agrotóxicos destinados a uma finalidade específica para combater outros tipos de praga; Não fume coma ou beba enquanto estiver manipulando agrotóxicos; Não tente desentupir bicos com a boca. Você poderá ingerir agrotóxico acidentalmente; Na prática agropecuária, siga as orientações do agrônomo e do receituário. Os agrotóxicos podem afetar a sua saúde de várias maneiras, tais como: Intoxicações agudas; Intoxicações crônicas; Alergias; Dor de cabeça; Problemas na pele; Vários tipos de câncer; Debilitam o organismo por bloquear a absorção de nutrientes; Hipertensão; Paralisias; Depressão; Aumento do stress; Problemas na tireoide; Diminuição da quantidade de espermatozoides; Mal formações genéticas em fetos; Mutações genéticas. Paradoxalmente a esta naturalização, a grande maioria dos informantes respondeu acreditar que os agrotóxicos podem fazer mal a sua saúde. Suas razões e algumas falas representativas sobre esta questão são apresentadas no. A primeira categoria apresentada reflete a opinião da minoria dos agricultores, demonstrando uma negação do risco, já que as opiniões mostram claramente que para estes o agrotóxico é prejudicial à saúde, mas estariam por alguma razão “protegida deste mal”. As categorias 2 e 3 referem–se a agricultores que consideram os agrotóxicos prejudiciais à saúde, porém as respostas da categoria 3 ainda demonstram algumas ressalvas para o efeito danoso: o agrotóxico pode fazer mal se o organismo da pessoa não aceitar, senão aplicar contra o vento... Já a categoria 2 mostra a opinião da maioria dos participantes do estudo: um entendimento de que o uso de agrotóxicos é prejudicial à saúde, inclusive através da exposição crônica ( BRITI,ALBURQUERQUE,CÃMARA 2008). Não existe praga na agricultura, o que existe são animais e vegetais indesejáveis a determinada cultura agrícola. 100% dos agricultores afirmaram conhecerem os efeitos dos agrotóxicos ao meio ambiente onde os agrotóxicos contaminam as águas dos rios, lagos, etc., e também, as águas de poços subterrâneos que depois retornam para a torneira de nossas casas. Os venenos causam doenças ou exterminam aves, peixes, crustáceos e vários outros animais e plantas. Agrotóxicos podem contaminar reservatórios de água, rios, recursos hídricos e bacias fluviais, podendo interferir nos organismos vivos aquáticos. Algumas substâncias já proibidas há décadas no País, como é o caso do Hexaclorociclohexano (HCH), ainda estão sendo detectadas em amostras de águas, poços e mananciais. Lagos urbanos, como um localizado na cidade de Cascavel, no Paraná, com intensa atividade agrícola, apresentaram contaminação recente por organofosforados. Situação semelhante foi encontrada em Fortaleza, onde foram detectadas as substâncias cipermetrina e malationa em dois rios da região metropolitana26. Até mesmo na água da chuva, em regiões de produção de soja, foi detectada a presença de diferentes agrotóxicos.
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Alguns agrotóxicos muito utilizados na agricultura brasileira, como a cipermetrina, a lambdacialotrina e o tiametoxam, podem ser prejudiciais ao desenvolvimento de insetos, como o Telenomus podisi, e áreas com uso de alguns inseticidas podem alterar a biodiversidade local de insetos (LOPES, ALBURQUERQUE 2018 pagina 5,6). Quando perguntados se recebem assistência técnica ou qualquer orientação pertinente ao uso de agrotóxicos ou quanto à forma correta para sua utilização, conforme figura 4, os produtores rurais responderam em sua maioria, 91% deles, a firmam que tem visita de um técnico é o da loja onde compram os produtos essa loja localizada em seu município na cidade de Teixeira-PB informaram que sempre que precisam de uma visita se locomovem de sua propriedade ou se comunicam via internet para agendar o horário da visita. Entre os agricultores familiares entrevistados em Lavras que tiveram avaliação de um Engenheiro Agrônomo na primeira aquisição e na compra de novos tipos de agrotóxicos, respectivamente 51,3% e 59,3% afirmaram que o profissional consultado era funcionário do local de comercialização desses produtos. Quando perguntados sobre a aquisição de agrotóxicos utilizados na rotina de trabalho, ou seja, a compra dos produtos utilizados regularmente, os 92,6% dos agricultores familiares que afirmaram sempre ou às vezes usar a receita agronômica recebem este instrumento de segurança do Engenheiro Agrônomo funcionário do estabelecimento comercial. (ABREU 2014).
Figura 4. Tem um responsável técnico, fazer um planejamento da lavoura, tais como: época de plantio, rotação de culturas, escolha de semente adequada e de boa procedência, análise completa do solo, adubação equilibrada, levantamento do histórico da área em relação a plantas daninhas, inseto e fungos para seguir as boas práticas agrícolas no uso de agrotóxicos.
Fonte. Autoria própria 2018
Com relação à forma de como promovem o descarte das embalagens vazias de agrotóxicos, através do questionário aplicado junto aos produtores rurais, foi possível diagnosticar conforme mostra a figura 5, que na sua grande maioria, os entrevistados 43%, tomam cuidados parciais quanto aos procedimentos adotados para descarte das embalagens, ou seja, podem até realizar o procedimento de lavagem, a guarda em depósitos cobertos, mas na grande maioria 57%, dos entrevistados queimam onde evidencia-se não providenciarem a devida guarda de forma isolada até a devolução das embalagens em centrais de recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos.
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Há que se salientar, porém, que não houve declarações de produtores dentre os entrevistados que realizam descarte de embalagens vazias de agrotóxicos no meio ambiente, demonstrando assim, que houve grande evolução no nível de conscientização da comunidade estudada ao longo dos anos. Parte dos produtores entrevistados, alegaram que recebem informações através das divulgações feitas em jornais, mural das cooperativas e revendas e ainda nos anúncios postados nas rádios locais, informando as datas previstas e locais de recolhimento (BARBOSA 2014).
Figura 5. O que é feito com as embalagens vazias dos produtos.
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Fonte. Autoria própria 2018
A maioria dos agricultores tem um responsável técnico para inspeção 80% relatarão ter um fiscal que é o técnico da Casa do Agricultor no município de Teixeira-PB onde compram os produtos nesse galpão e o técnico que passa os agrotóxicos fazem a visita de inspeção nos produtos químicos Há outra parte 11% falaram que não tem e nunca tiveram a visita de um responsável onde fiscalizasse seus produtos tóxicos. A falta de fiscalização se deve, em parte, à grande extensão territorial a qual abrange diversos municípios, sendo que a maior parte das lavouras se encontra em localidades cujos acessos não são pavimentados. Seria necessário ter maior número de fiscais, bem como maior disponibilidade de recursos (veículos, combustível, manutenção, dentre outros fatores), o que prejudica e, muitas vezes, impossibilita os servidores de realizarem uma fiscalização periódica tanto no sentido de orientação aos produtores, quanto na observação do cumprimento da legislação vigente. (RITTER, SILVA, RUSSINE 2018). Ainda em relação ao tema, ao serem questionados se alguém da família já necessitou de atendimento médico relacionado a sintomas de intoxicação por agrotóxicos, 100% dos produtores rurais declararam que até então, nunca alguém da família sofreu intoxicação por agrotóxicos. Em relação às ocorrências de intoxicações causadas pelo uso inadequado de agrotóxicos em decorrência da exposição nas atividades de rotina, dos produtores rurais que foram indagados, 18% deles declararam que já passaram por algum tipo de atendimento médico em decorrência da suspeita de intoxicação, já 82% dos produtores rurais entrevistados mencionaram que nunca sofreram qualquer tipo de intoxicação por agrotóxicos. Os 18% dos produtores que necessitaram atendimento médico declararam que o atendimento se deu em decorrência da inalação de gases desprendidos no ato da mistura do agrotóxico com a água e homogeneização para produzir a calda dos agrotóxicos, devido à falta de uso de EPI`s, especificamente de máscara e luvas, mesmo tendo entendimento de que é necessário e obrigatório seu uso (BARBOSA 2014).
4. CONCLUSÕES A partir dos dados analisados nesta pesquisa, é possível constatar que o conhecimento agricultores de Teixeira-PB, referente aos aspectos relacionados à concepção sobre uso de agrotóxicos por agricultores os agrotóxicos tem origem química, biológica que serve no auxilio da prevenção ou extermínio de pragas e doenças das culturas agrícolas. O uso do EPIS é de fundamental importância para os agricultores evitando consequências que futuramente venham prejudicar o agricultor, o local de armazenamento terá de fica distante das nascentes de água. Os pesticidas são substâncias tóxicas a fim de combatem as pragas que podem afetar as plantações mais seu uso pode causar intoxicação aguda pode ocorrer de forma leve, moderada ou grave, dependendo da quantidade de veneno absorvido. O acompanhamento e aconselhamento técnico adequados, aliados ao baixo nível de instrução dos produtores ao desconhecimento de outras técnicas produtivas, são fatores que contribuem para os atuais níveis de contaminação à saúde humana e ao meio ambiente. São necessárias decisões urgentes para o esclarecimento e conscientização dos agricultores, instruindo e alertando a população sobre riscos eminentes de toxidez outro fato que deve se chamar atenção é a forma de descartes das embalagens dos produtos.
REFERÊNCIAS ABREU, Pedro Henrique Barbosa de; ALONZO, Herling Gregorio Aguilar. O agricultor familiar e o uso (in)seguro de agrotóxicos no município de Lavras/MG. In: ABREU, Pedro Henrique Barbosa de; ALONZO, Herling Gregorio Aguilar. O agricultor familiar e o uso (in)seguro de agrotóxicos no município de Lavras/MG. Larvas-mg: Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 2016. p. 1-12. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbso/v41/2317-6369-rbso-41-e18.pdf>. Acesso em: 28 set. 2018. BARBOSA, Luiz Renato. USO DE AGROTÓXICOS E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE HUMANA E AO MEIO AMBIENTE: um estudo com agricultores da microbacia hidrográfica do Ribeirão Arara no Município de Paranavaí, PR. In: BARBOSA, Luiz Renato. USO DE AGROTÓXICOS E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE HUMANA E AO MEIO AMBIENTE: um estudo com agricultores da microbacia hidrográfica do Ribeirão Arara no Município de Paranavaí, PR. Paranaiva-pr: Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2014. p. 1-42. Disponível em: <http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/4523/1/MD_GAMUNI_2014_2_9.pdf>. Acesso em: 28 set. 2018. ABREU, Pedro Henrique Barbosa de. O AGRICULTOR FAMILIAR E O USO (IN)SEGURO DE AGROTÓXICOS NO MUNICÍPIO DE LAVRAS, MG. In: ABREU, Pedro Henrique Barbosa de. O AGRICULTOR FAMILIAR E O USO (IN)SEGURO DE AGROTÓXICOS NO MUNICÍPIO DE LAVRAS, MG. Larvas: Unicamp, 2014. p. 1-205. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312706/1/Abreu_PedroHenriqueBarbosa_M. pdf>. Acesso em: 27 set. 2018. RITTER, Juliano; SILVA, Fernando da; RUSSINI, Alexandre. Uso de agrotóxicos. A falta de fiscalização e ética profissional aumentam os problemas. In: RITTER, Juliano; SILVA, Fernando da; RUSSINI, Alexandre. Uso de agrotóxicos. A falta de fiscalização e ética profissional aumentam os problemas. Rio Grande do Sul: Revista Ihu On-line, 2018. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/576733-falta-de-fiscalizacao-e-de-eticaprofissional-aumentam-os-problemas-no-uso-de-agrotoxicos-entrevista-especial-com-julianoritter-fernando-da-silva-e-alexandre-russini2>. Acesso em: 01 dez. 2018.
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Capítulo 02 AGRICULTURA FAMILIAR E REVOLUÇÃO VERDE: IMPLICAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS DO USO DE AGROTÓXICOS
BRANDÃO, Gabriella Henrique Graduanda em Agroecologia Universidade Estadual da Paraíba – UEPB gabriellabrandao77@gmail.com SOUZA, Bruna dos Santos Graduanda em Agroecologia Universidade Estadual da Paraíba - UEPB souza.brusbs@gmail.com BARROSO, Vitória Saskia Ferreira Graduanda em Agroecologia Universidade Estadual da Paraíba - UEPB vitoriasaskia17@gmail.com GOMES, Joyce Lorenna Pinto Graduanda em Química Universidadade Federal de Campina Grande - UFCG joycelorennag@gmail.com BEZERRA, Sidinéia Camilo Graduanda em Agroecologia Universidade Estadual da Paraíba – UEPB sidineiacamilobezerra@gmail.com
RESUMO Os avanços proporcionados pela ascensão da Revolução verde trouxeram uma série de mudanças para o setor agrícola, entre elas pode-se destacar o crescente e constante uso de agrotóxicos para fins fitossanitários, logo, a agricultura familiar caminhou para uma situação de dependência de insumos químicos externos e de insegurança alimentar. A pesquisa de caráter qualitativo, foi realizada entre os dias 11 e 25 de fevereiro de 2020 na cidade de Marizópolis, localizada no Sertão paraibano, optou-se por utilizar a entrevista através de um questionário semi-estruturado com 10 perguntas destinadas a 18 agricultores, os relatos foram escritos e analisados através da interpretação textual em união ao auxílio de trabalhos bibliográficos sobre o assunto em questão. Diante do que foi exposto, foi possível notar que os agricultores entrevistados utilizam herbicidas e inseticidas de alto nível toxicológico, não usam proteção adequada para fazer as aplicações, além de não receberem as informações e recomendações necessárias para fazer o uso dos agrotóxicos, também foi possível perceber que os agricultores possuem um conhecimento limitado acerca da Agroecologia, logo, o uso de agrotóxicos na Agricultura familiar pode trazer sérios danos no que diz respeito à saúde, soberania, segurança alimentar e preservação do meio ambiente. PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, Biodiversidade, Preservação da natureza.
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INTRODUÇÃO A revolução verde trouxe consigo inúmeras mudanças para o setor agrícola, dentre elas destaca-se a intensificação da mecanização e a utilização de produtos químicos para fins fitossanitários, os chamados agrotóxicos. Com o passar dos anos, notou-se uma série de alterações tanto no ciclo da natureza, quanto na saúde de quem utilizava ou tinha certa proximidade desses produtos químicos. A agricultura familiar representa a postura de um resgate da biodiversidade, soberania e segurança alimentar, esta foi profundamente lesada pela presença dos agrotóxicos (SERRA et al., 2016). Um estudo realizado por Ruths, Rizzoto e Machineski (2019) relacionou a ocorrência de câncer com a exposição dos agricultores aos agrotóxicos, sem a proteção adequada, observou-se que os agrotóxicos têm capacidade de se ligar ao DNA e também estimular a divisão celular de uma célula cancerígena, atuando como promotores de tumores. Diante do que foi dito, a agricultura familiar se adequar a tais modelos e pacotes tecnológicos constitui um risco para a segurança, saúde e soberania alimentar. O descarte correto das embalagens de produtos fitossanitários é tema de destaque e importância, os órgãos de saúde recomendam que as embalagens não sejam reutilizadas de outras formas, assim, a falta de informação e de assessoria sobre usos e descarte correto pode levar o agricultor familiar a não excluir de forma correta as embalagens de agrotóxicos e armazenar itens de uso pessoal em tais recipientes ou acabar jogando em rios e lagos, o que implica em um sério risco de contaminação e prejuízos para os agricultores, suas famílias, para a população e o meio ambiente (RUTHS; RIZZOTO; MACHINESKI, 2019). A necessidade constante de um receituário de uso para cada agrotóxico, torna o agricultor familiar dependente de assessoria, que muitas vezes está fora de seu alcance financeiro, o que o coloca em crescente dependência de insumos externos e a mercê da utilização de produtos de alto risco toxicológico, que podem acarretar distúrbios para a saúde humana e para o meio ambiente (LIMA et al., 2019). Diante de um cenário moldado pela revolução verde, subentende-se que como guardiões da biodiversidade, sustentabilidade, segurança e soberania alimentar, os agricultores familiares precisam do auxílio e suporte de um modelo de produção agrícola alternativo ao convencional, a Agroecologia é uma ciência multidisciplinar que tem por principais objetivos o resgate da segurança e soberania alimentar através da valorização do saber popular, da não-utilização de agrotóxicos, do respeito pela biodiversidade e sustentabilidade e das práticas agrícolas que objetivam aproximar o agricultor de sua propriedade e dos recursos existentes ali, de modo que o mesmo se torne cada vez menos dependente de insumos externos (SERRA et al., 2016). Em relação ao que foi exposto, foi realizada uma pesquisa qualitativa na região do Sertão, na cidade de Marizópolis, foram entrevistados 18 agricultores que já fizeram e fazem uso de agrotóxicos, a fim de conhecer as implicações e consequências do modelo agrícola convencional imposto pela revolução verde na vida dos agricultores familiares e suas famílias, analisando os riscos, percepções e situações cotidianas presentes em seus cenários de trabalho.
MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa realizada é de caráter qualitativo e aconteceu entre os dias 11 a 25 de fevereiro de 2020, na cidade de Marizópolis, localizada no Sertão paraibano. Para a coleta dos dados, optouse por utilizar a entrevista através de um questionário semi-estruturado, com tópicos referentes a
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quais agrotóxicos os agricultores já utilizaram ou utilizam, o valor dos produtos, orientações recebidas para o uso dos agrotóxicos, quais as causas combatidas no campo, se conhecem alguma alternativa agroecológica ao uso dos agroquímicos, se notaram alguma alteração em sua saúde e de suas famílias após contato com os produtos químicos e sobre qual a forma de proteção utilizada por eles na hora de fazer a aplicação dos agrotóxicos. Foram entrevistados 18 agricultores, estes residentes no assentamento tal, as respostas foram escritas e depois analisadas seguindo a metodologia de Georgin et al., (2015), que baseiase na interpretação textual e de elementos presentes na fala, a fim de propor discussões e conclusões. Para representar o depoimento de cada agricultor, foi utilizada a expressão “AGRI” seguida do número correspondente ao agricultor entrevistado.
17 RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo Serra et al. (2016), a revolução verde constitui um paradigma tecnológico que pode derivar de conhecimentos da química e da biologia, o que definiu um caminho baseado na intensificação do uso de agrotóxicos e outros insumos químicos. A Tabela 1 faz referência às respostas dos agricultores entrevistados em Marizópolis sobre quais agrotóxicos mais utilizavam em seu trabalho de campo.
Tabela 1. Respostas dos agricultores entrevistados em Marizópolis sobre quais agrotóxicos mais utilizavam: AGRI 1:
“Roundup, Agritoato.”
AGRI 2:
“Agritoato.”
AGRI 3:
“Agritoato.”
AGRI 4:
“Agritoato, Roundup e veneno da folha larga.”
AGRI 5:
“Agritoato.”
AGRI 6:
“Roundup.”
AGRI 7:
“Roundup, Agritoato.”
AGRI 8:
“Roundup.”
AGRI 9:
“Roundup.”
AGRI 10:
“Roundup.”
AGRI 11:
“Agritoato.”
AGRI 12:
“Roundup, Agritoato.”
AGRI 13:
“Agritoato.”
AGRI 14:
“Folidol.”
AGRI 15:
“Agritoato.”
AGRI 16:
“Roundup, Agritoato.”
AGRI 17:
“Roundup, Agritoato.”
AGRI 18:
“Roundup.”
Fonte: Agricultores entrevistados na cidade de Marizópolis.
De acordo com Bridi et al. (2017), o Glifosato é um dos herbicidas mais utilizados, podendo ser usado sozinho, porém é comumente aplicado como ingrediente ativo do Roundup, este possui adjuvantes que podem causar uma toxidade desconhecida, além disso, sua aplicação pode trazer prejuízos para a saúde dos consumidores, aplicadores e para o meio ambiente ao contaminar o solo e a água. O Agritoato é um inseticida sistêmico organofosforado que pertence ao grupo 1B (Extremamente tóxico), que causa a superestimulação das terminações nervosas, tornando inadequada a transmissão de seus estímulos às células musculares, glandulares e do Sistema Nervoso Central (AGRITOATO, 2017). Um estudo realizado por Holliver (2017), mostrou um exemplo da dimensão letal do Folidol, onde o agricultor guardava uma garrafa do inseticida há mais de dez anos e que por acidente veio a quebrar e entrar em contato com um novilho, que acabou morrendo mesmo com o auxílio de remédios. Diante dos resultados, pode-se observar que os agricultores entrevistados fazem uso de herbicidas e inseticidas de alto nível toxicológico, o que pode acarretar em sérios danos para a saúde deles, de suas famílias, dos consumidores e para o equilíbrio do meio ambiente. De acordo com Serra et al., (2016), o uso de agrotóxicos pode causar danos tanto à natureza (lixiviação, erosão, infertilidade, contaminação do solo e das águas, perda da diversidade e biodiversidade) quanto aos consumidores e agricultores que utilizam os produtos em suas plantações, os prejuízos podem ser relacionados com a memória e movimentos, sistemas nervoso, respiratório e endócrino, podendo propiciar o surgimento de câncer, esterilidade, entre outros problemas para a saúde. Os agricultores da cidade de Marizópolis foram questionados sobre a eficácia dos produtos químicos utilizados, e foi possível observar que a grande maioria deles disse que os agrotóxicos foram eficazes, somente o “AGRI 8” e o “AGRI 17” responderam que os produtos não tiveram a ação esperada. Segundo Lima et al. (2019), a agricultura brasileira está caracterizada como um modelo químico-dependente, em que as práticas de uso constante de agrotóxicos e o crescente avanço na aprovação de produtos já proibidos em outros países fizeram do Brasil um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. Em análise ao cenário de respostas dos agricultores, pode-se perceber que a maioria disse que o agrotóxico foi eficaz na resolução do problema, o que indica uma situação de dependência química e de insumos externos. Um estudo realizado por Ruths, Rizzoto e Machineski (2019), relacionou a exposição a agrotóxicos a ocorrência de câncer em trabalhadores, mostrando que entre os principais fatores que influenciam na toxidade dos agrotóxicos estão a duração da exposição, a frequência, a via de exposição e a utilização de proteção adequada na hora da aplicação dos produtos químicos. A Tabela 2 faz referência às respostas dos agricultores quando questionados em quais horários
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aplicavam os agrotóxicos e o que utilizavam para se proteger de possíveis contaminações ou acidentes com os produtos.
Tabela 2. Respostas dos agricultores quando questionados sobre como aplicavam, em quais horários e o que utilizavam para se proteger dos agrotóxicos: AGRI 1:
“Aplicação de manhã cedo. Não utilização de roupas específicas, mas as vezes o uso de máscaras.”
AGRI 2:
“Aplicação pela manhã, sem equipamentos de proteção.”
AGRI 3:
“Pela manhã, sem equipamentos de proteção.”
AGRI 4:
“Pela manhã, sem equipamentos de proteção.”
AGRI 5:
“Aplico pela manhã, cedo. Não utilizo proteção.”
AGRI 6:
“Aplicação pela manhã, cedo. Utilizava botas e calça.”
AGRI 7:
“Aplicação pela manhã cedo. Não utilização de roupas específicas.”
AGRI 8:
“Aplicação pela manhã cedo. Utilização de calça e botas.”
AGRI 9:
“Aplicação começava pela manhã e se estendia para a tarde. Sem equipamentos de proteção.”
AGRI 10:
“Aplicação de manhã cedo, utilização de botas, luvas, máscara, camisa de mangas longas.”
AGRI 11:
“Aplicação pela manhã, utilização de calça, botas e camisa de manga longa.”
AGRI 12:
“Pela manhã, sem equipamentos de proteção.”
AGRI 13:
“De manhã, não utilização de roupas específicas.”
AGRI 14:
“Aplicação de manhã, uso de um pano no nariz, botas, calça e camisa de mangas compridas.”
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AGRI 15:
“Aplicação pela manhã, uso de botas e pano no rosto.”
AGRI 16:
“Aplicação começa de manhã e se estende até a tarde, sem equipamentos de proteção.”
AGRI 17:
“Aplicação de manhã e de tarde, não utilização de proteção.”
AGRI 18:
“Pela manhã, não utilização de proteção.”
Fonte: Agricultores entrevistados na cidade de Marizópolis.
20 Diante das respostas dos agricultores entrevistados na cidade de Marizópolis-PB, pode-se observar que a totalidade deles fazem a aplicação dos agrotóxicos pela manhã e que grande parte deles utiliza pouca ou nenhuma proteção para a realização de tal atividade, também é possível perceber que nenhum deles relatou utilizar a proteção adequada e recomendada para a aplicação dos produtos, o que possibilita dizer que tais práticas ameaçam a saúde dos trabalhadores e de suas famílias, podendo trazer uma série de distúrbios a longo e curto prazo (RUTHS; RIZZOTO; MACHINESKI, 2019). Segundo Lima et al. (2019), em um modelo agrícola denominado como químico dependente, além do uso crescente e constante de agrotóxicos de alto nível toxicológico, algumas práticas podem se disseminar entre os agricultores, uma delas é a mistura de ingredientes ativos visando uma possível melhora na eficácia dos produtos, tal ação constitui um grande risco para a segurança dos agricultores e suas famílias, visto que o ato pode trazer consequências não previstas e de alto risco toxicológico. O 4º questionamento traz os relatos dos agricultores quando foram perguntados se já teriam misturado algum produto e se já houve algum acidente com o uso dos agrotóxicos, dos 18 agricultores entrevistados, 15 responderam que não possuem o hábito de misturar agrotóxicos, sendo que o “AGRI 9” respondeu: “Já misturei alguns produtos, mas não houve nada grave, o “AGRI 10” respondeu: “Já utilizei cola para agrotóxicos, para a chuva não escoar o veneno e perder a eficácia.” e o “AGRI 18” disse: “Utilizo vinagre para diminuir o pH da água, nunca aconteceu nenhum acidente em relação aos agrotóxicos”. Ao analisar as respostas dos agricultores entrevistados, pode-se perceber que a grande maioria disse não ter o hábito de misturar agrotóxicos, porém o “AGRI 9” disse já ter misturado alguns produtos, porém não aconteceu nada grave e o “AGRI 10” relatou ter utilizado cola para agrotóxicos, visando manter a eficácia do produto diante de uma ocasião de clima chuvoso e o “AGRI 18” relatou uma técnica que utiliza, alegando que nunca houve nenhum acidente com agrotóxicos. Diante do que foi exposto, pode-se inferir que o ato de misturar ou unir ingredientes ou princípios ativos de diferentes agrotóxicos constitui um ato de alto risco toxicológico, e que a maioria dos agricultores entrevistados no município de Marizópolis não faz uso de tal técnica. Ao buscar entender quais as causas e motivos que levam os agricultores a utilizar os agrotóxicos como forma de combate para pragas e doenças presentes nos cultivos, pode-se citar e ressaltar o cenário agrícola atual marcado pelas práticas químico-dependentes, que visam o combate do que é considerado indesejável ao ser humano e aos seus objetivos econômicos, travando uma espécie de guerra com a natureza. Logo, tal forma de lidar com os recursos naturais acarreta em danos diversos para o equilíbrio do ecossistema, o que pode incentivar a evolução
natural das espécies, o que pode ocasionar uma resistência da “praga” ao agrotóxico, o que os torna inviáveis não só pelo contexto ambiental, mas também pelo social e econômico (SERRA et al., 2016). A Tabela 3 mostra as respostas dos agricultores quando questionados sobre seus objetivos com o uso dos agrotóxicos.
Tabela 3. Respostas dos agricultores entrevistados em Marizópolis quando questionados sobre o que objetivaram com o uso dos agrotóxicos: AGRI 1:
“Acabar com a lagarta e matar o mato.”
AGRI 2:
“Acabar com as lagartas.”
AGRI 3:
“Acabar com as lagartas e aumentar a colheita.”
AGRI 4:
“Acabar com as lagartas e com o fungo do feijão, matar o mato.”
AGRI 5:
“Acabar com a lagarta.”
AGRI 6:
“Matar o mato e trabalhar menos.”
AGRI 7:
“Acabar com a lagarta e matar o mato.”
AGRI 8:
“Acabar com o mato.”
AGRI 9:
“Matar o mato.”
AGRI 10:
“Matar o mato e diminuir o trabalho.”
AGRI 11:
“Matar o inseto do feijão.”
AGRI 12:
“Acabar com a lagarta e matar o mato.”
AGRI 13:
“Matar a lagarta.”
AGRI 14:
“Acabar com a lagarta.”
AGRI 15:
“Acabar com a lagarta.”
AGRI 16:
“Acabar com a lagarta e matar o mato.”
AGRI 17:
“O Agritoato para acabar com a lagarta e o Roundup para matar o mato.”
AGRI 18:
“Matar o mato.”
Fonte: Agricultores entrevistados na cidade de Marizópolis.
Ao fazer a análise das respostas dos agricultores em relação aos seus objetivos com o uso dos agrotóxicos, é possível notar a presença de uma postura de exclusão como resolução dos problemas enfrentados, fazendo alusão ao modelo agrícola químico-dependente mencionado por Lima et al. (2019), observa-se o uso dos agrotóxicos como única e principal alternativa para combate de espécies não desejadas, em contrapartida, um estudo realizado por Lourenço et al. (2017), mostrou a utilização de adubos verdes para supressão de plantas espontâneas, onde
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percebeu que o plantio de adubos verdes associados a práticas sustentáveis de manejo influenciou diretamente no desenvolvimento das plantas espontâneas, o que constitui uma prática agroecológica e sustentável para solucionar o problema relatado pelos agricultores. De acordo com Rodrigues, Fernandes e Carvalho (2019), têm-se utilizado de forma constante os inseticidas químicos, sendo que estes em curto prazo favorecem a redução de pragas agrícolas, porém a longo prazo podem ocasionar a resistência dos insetos e acarretar em um desequilíbrio ambiental. A 6º questão traz as respostas dos agricultores quando foram questionados sobre a percepção de mudanças na saúde deles provindas do uso de agrotóxicos, dos 18 agricultores entrevistados, apenas 3 relataram ter notado alguma diferença em sua saúde após a aplicação dos produtos, o “AGRI 7” relatou: “Mal estar ao aplicar”, o “AGRI 12” disse: “Após a aplicação sinto tontura e dor de cabeça.” e o “AGRI 13” respondeu: “Intoxicação”. Em análise aos relatos e segundo Lourenço et al. (2017), a agricultura familiar se enquadra em situação de insegurança e alto risco ao se adequar ao modelo agrícola imposto pela revolução verde. A 7º pergunta faz referência para as respostas dos agricultores quando questionados sobre o custo dos agrotóxicos mais utilizados por eles em seu trabalho de campo e os 18 agricultores relataram que os produtos utilizados podem variar entre 19 a 50 reais. Segundo Lima et al. (2019), os agrotóxicos fazem parte da realidade de muitas famílias camponesas, o que aponta para uma subordinação da renda da terra e do trabalho familiar a partir do momento em que estes agricultores se tornam clientes e adotam os pacotes tecnológicos oferecidos pelas corporações agroquímicas. A Tabela 4 traz relatos dos agricultores sobre o questionamento sobre quais foram as recomendações recebidas dos vendedores dos agrotóxicos.
Tabela 4. Respostas dos agricultores entrevistados quando questionados sobre quais as recomendações recebidas dos vendedores dos produtos. AGRI 1:
“Não recebi orientação.”
AGRI 2:
“Não recebi recomendação.”
AGRI 3:
“Não recebi recomendação.”
AGRI 4:
“Recomendou a utilização de máscaras, tomar leite depois da aplicação e trabalhar no sentido contrário ao vento.”
AGRI 5:
“Não recebi recomendações.”
AGRI 6:
“Não recebi orientações.”
AGRI 7:
“Não recebi orientações.”
AGRI 8:
“Não recebi recomendações.”
AGRI 9:
“Sim, sobre a utilização de vestimentas adequadas.”
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AGRI 10:
“Explicaram o modo de uso e sobre a utilização dos equipamentos de segurança.”
AGRI 11:
“Não recebi recomendações.”
AGRI 12:
“Não recebi orientações.”
AGRI 13:
“Sim, sobre como usar os produtos.”
AGRI 14:
“Sim, sobre o modo de uso dos agrotóxicos.”
AGRI 15:
“Sobre a utilização correta dos produtos.”
AGRI 16:
“Não recebi recomendações para utilizar os produtos.”
AGRI 17:
“Recebi orientações sobre o modo de uso.”
AGRI 18:
“Não recebi orientações.”
Fonte: Agricultores entrevistados na cidade de Marizópolis.
Diante dos resultados, é possível perceber que grande parte dos agricultores relatou não ter recebido orientações ou recomendações e outros receberam informações limitadas sobre o produto, seu modo de uso e acerca da proteção adequada para realizar a aplicação dos agrotóxicos, o que revela um cenário de insegurança e riscos para a saúde dos agricultores, suas famílias, os consumidores e o meio ambiente. A adoção de pacotes tecnológicos disponibilizados pela revolução verde e as corporações agroquímicas, levam o agricultor familiar a uma situação de dependência de insumos externos e químicos, tornando-o cliente do modelo agrícola químico-dependente (LIMA et al., 2019). A falta de orientações ou a precariedade de informações sobre produtos de baixo, médio e alto nível de toxidade, pode acarretar em contaminações e acidentes, assim como o agravamento e surgimento de novas doenças em consumidores e agricultores (RUTHS; RIZZOTO; MACHINESKI, 2019). A Tabela 5 traz as respostas dos agricultores quando questionados sobre quem os orientou a utilizar os agrotóxicos.
Tabela 5. Respostas dos agricultores quando questionados sobre por quem foram orientados a utilizar os agrotóxicos: AGRI 1:
“Comecei a utilizar por conta própria.”
AGRI 2:
“Sempre usei, não lembro quem recomendou.”
AGRI 3:
“Comecei a usar porque vi todo mundo usando.”
AGRI 4:
“Os vizinhos de roça.”
AGRI 5:
“Desde sempre vi meu pai usando.”
23
AGRI 6:
“Comecei a utilizar porque sempre viu os outros usando.”
AGRI 7:
“Comecei a usar porque os vizinhos usavam.”
AGRI 8:
“Comecei a utilizar por conta dos vizinhos.”
AGRI 9:
“Me espelhei em meus vizinhos.”
AGRI 10:
“Comecei a usar por conta própria, depois que vi os vizinhos utilizando e tendo bons resultados.”
24 AGRI 11:
“Recomendações dos vizinhos que também plantam e usam.”
AGRI 12:
“Fui orientado por meus vizinhos.”
AGRI 13:
“Comecei a usar por conta própria.”
AGRI 14:
“Fui orientado por meu vizinho que é técnico agrícola.”
AGRI 15:
“Orientado por vizinhos.”
AGRI 16:
“Orientado pelos vizinhos.”
AGRI 17:
“Não fui orientado, apenas vi os vizinhos usando.”
AGRI 18:
“Recebi orientação de meus vizinhos que já utilizavam.”
Fonte: Agricultores entrevistados na cidade de Marizópolis.
Diante dos resultados, é possível notar que as respostas podem ser divididas em duas formas: os agricultores que começaram a utilizar os agrotóxicos através de incentivo de seus vizinhos e aqueles que começaram a usar por conta própria. As respostas apontam para uma tendência comum entre os agricultores, que é utilizar práticas através da observação de pessoas próximas seguida da experimentação das técnicas (LOURENÇO et al., 2017). A análise das respostas também aponta para um ponto de partida na propagação de práticas agroecológicas entre os agricultores da cidade de Marizópolis, que consiste na experimentação de técnicas de base agroecológicas, visando a observação e propagação de práticas ecológicas e sustentáveis entre os agricultores. A Tabela 6 mostra as respostas dos agricultores acerca de seus conhecimentos sobre alternativas agroecológicas para combater pragas e doenças.
Tabela 6. Quando questionados se conheciam alternativas agroecológicas para o combate de pragas e doenças. AGRI 1:
“Solução com folha de Nim.”
AGRI 2:
“Não conheço.”
AGRI 3:
“Conheço, mas não uso.”
AGRI 4:
“Solução de pimenta e fumo.”
AGRI 5:
“Solução com folha de Nim e detergente.”
AGRI 6:
“Campinadeira.”
AGRI 7:
“Para o mato a enxada, para a lagarta não conheço.”
AGRI 8:
“Campinadeira e enxada.”
AGRI 9:
“Enxada e campinadeira.”
AGRI 10:
“Cultivador e enxada.”
AGRI 11:
“Não conheço.”
AGRI 12:
“Para o mato a enxada, para a lagarta não conheço.”
AGRI 13:
“Não conheço.”
AGRI 14:
“Solução com folha de Nim.”
AGRI 15:
“Solução com folha de Nim.”
AGRI 16:
“Para combater o mato, a enxada. Para combater a lagarta não conheço.”
AGRI 17:
“Solução com folha de Nim para a lagarta e para o mato a enxada.”
AGRI 18:
“Trabalhar com a enxada.”
Fonte: Agricultores entrevistados na cidade de Marizópolis.
Diante do que foi exposto, é possível observar que alguns agricultores disseram não conhecer alternativas agroecológicas para combater pragas e doenças e outros mostraram informações limitadas sobre o que para eles seriam técnicas de base agroecológica, assim é notória a dependência dos insumos químicos e o conhecimento limitado sobre a Agroecologia por parte dos agricultores entrevistados. Segundo Lourenço et al. (2017), os pacotes tecnológicos oferecidos pela revolução verde além de tornar o agricultor familiar cada vez mais dependente de insumos químicos externos,
25
acarreta em desequilíbrios para a saúde das pessoas e do meio ambiente, alguns desse danos podem ser irreversíveis, ameaçando também a segurança e soberania alimentar.
CONCLUSÕES Através dos resultados obtidos, foi possível conhecer e analisar as mudanças ocasionadas pela revolução verde na vida dos agricultores familiares da cidade de Marizópolis, Paraíba. Diante do que foi exposto, pode-se perceber que os agricultores entrevistados utilizam herbicidas e inseticidas de alto nível toxicológico, além disso, não utilizam a proteção adequada durante a aplicação, nem receberam as recomendações e orientações necessárias para o uso de tais produtos. Também foi possível notar que os agricultores têm um limitado conhecimento sobre as práticas agroecológicas e são dependentes de insumos químicos externos, os chamados pacotes tecnológicos oferecidos pela revolução verde. Logo, pode-se concluir que tais práticas constituem uma série de ameaça para a saúde, segurança e soberania alimentar, e apresentam elevado potencial para causar desequilíbrios para os ecossistemas. Assim, torna-se viável a propagação, experimentação e observação de práticas agroecológicas na cidade de Marizópolis, visando contribuir e incentivar o conhecimento e prática da Agroecologia na região.
REFERÊNCIAS
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26
cancer occurrence in workers of two municipalities of West Paraná. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 18, n. 2, p.1-8, 17 jul. 2019. SERRA, L. S.; MENDES, M. R. F.; SOARES, M. V. de A.; MONTEIRO, I. P. Revolução Verde: reflexões acerca da questão dos agrotóxicos. Revista do CEDS: Revista Científica do Centro de Estudos em Desenvolvimento Sustentável da UNDB, v. 1, n. 4, p.1-25, jul. 2016. Semanal.
27
Capítulo 3 ANÁLISES FÍSICAS E FÍSICO-QUÍMICAS DO TOMATE CEREJA (LYCOPERSICUM ESCULENTUM. CERASIFORME) EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO
LIMA, Jordana Sobreira de Graduanda em Tecnologia em Alimentos Faculdade de Tecnologia do Cariri jordanasobreira626@gmail.com SILVA, Wellyson Jorney dos Santos Graduando em Tecnologia em Alimentos Faculdade de Tecnologia do Cariri wellney1046@gmail.com QUEIROZ, Renata Bruno de Oliveira Braz Graduanda em Tecnologia em Alimentos Faculdade de Tecnologia do Cariri rtbraz.lopes@gmail.com SILVA, Maria Roseli Alves da Graduanda em Tecnologia em Alimentos Faculdade de Tecnologia do Cariri ra951686@gmail.com LISBOA, Cicera Gomes Cavalcante de Doutorado em Engenharia Agrícola Faculdade de Tecnologia do Cariri liviagocali@gmail.com
RESUMO Dentre os vários tipos de tomates, o cereja (Lycopersicon esculentum. cerasiforme) pertence a um novo grupo de cultivares para mesa, que vem crescendo em importância nos mercados das grandes cidades, possui sabor adocicado, cor vermelha intensa, firmeza e um valor nutricional que difere quando comparado a de outros cultivares. O trabalho teve como objetivo acompanhar as mudanças físicas e físico-químicas sofridas pelo tomate cereja até seu estágio de maturação sob diferentes condições de armazenamento. Os frutos foram levados ao Laboratório de Processamento de Origem Vegetal da Faculdade de Tecnologia do Cariri - FATEC CARIRI, onde passou por um processo até a realização das análises. As etapas do processo foram: recepção dos frutos, seleção, lavagem das frutas com detergente neutro, sanitização, seguindo com a montagem do experimento e as análises físicas e físico-químicas no dia da montagem e a cada 2 dias. Os frutos que estavam sob refrigeração sem plástico filmem apresentaram melhores condições de amadurecimento, mantendo suas características adequadas para o consumo; estes apresentaram maior valor de sólidos solúveis totais, consequentemente está associado a maior doçura, pois o °Brix está relacionado a quantidade de açúcar presente no fruto. O sabor do tomate está relacionado à presença de diversos constituintes químicos, destacando-se os açúcares, ácidos e suas interações. Concluiu-se que a melhor forma de acondicionar a fruta é em temperatura de refrigeração sem plástico filme, pois, sob esta condição os frutos tiveram sua vida útil prolongada até chegar no estágio de senescência sendo uma excelente forma de acondicionamento no setor industrial de produção de tomates cerejas. PALAVRAS-CHAVE: maturação, refrigeração, condições
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1. INTRODUÇÃO Dentre os vários tipos de tomates, o acereja (Lycopersicon esculentum. cerasiforme) pertence a um novo grupo de cultivares para mesa, que vem crescendo em importância nos mercados das grandes cidades (VIEIRA, 2014). No Brasil, dentre a gama de olerícolas cultivadas, o tomate se destaca como o mais significativo, se avaliado a demanda de consumo, geração de emprego, renda e participação expressiva no agronegócio (ANDRADE, 2018). O tomateiro é cultivado nos cinco continentes com produção voltada para diferentes mercados e públicos. Seu consumo generalizado, tanto por consumidores de alto como baixo poder aquisitivo, se deve à sua versatilidade culinária, valor nutricional e variabilidade genética (COSTA et al., 2018; FILGUEIRA, 2013). O tomate tipo cereja possui sabor adocicado, cor vermelha intensa, firmeza e um valor nutricional que difere quando comparado a de outros cultivares. Ainda, se tem a presença de licopeno, que é um carotenoide encontrado em elevada concentração na sua composição, possuindo uma importante função antioxidante, atuando na prevenção de doenças como o câncer (GODOY, 2019; ROCHA et al, 2009). Variedades de tomate cereja como a Carolina se mostram promissoras comercialmente, com uma boa média de produção de frutos comerciais e disponibilidade de fornecedores de sementes (GUILHERME, 2014). Sendo um fruto climatérico, o tomate-cereja amadurece rapidamente após a colheita devido à transpiração e respiração, sendo facilmente danificado e contaminado por microrganismos (MONTEIRO, 2018; FAGUNDES et al., 2014). O rendimento de frutos do tomateiro é determinado pelo balanço entre crescimento vegetativo e reprodutivo para um determinado fornecimento de assimilados. A alocação dos assimilados para os frutos e, consequentemente, o rendimento da planta do tomateiro, dependem principalmente do número de frutos existentes na planta (DE Q ROCHA, 2010). Em relação ao armazenamento pós-colheita, existem várias outras razões para seu estudo, considerando-se o custo final da produção, um menor período de tempo, aperfeiçoar a produção e manter contínua a demanda de mercado de sementes. Outro fator que ocasiona a desuniformidade na qualidade de sementes de hortaliças são as condições ambientais, afetando a semente durante seu ciclo. Assim o armazenamento pode uniformizar a produção de sementes, dependendo da cultura (ROCHA, 2018; GEORGE, 1985). O padrão de qualidade das hortaliças comercializadas no Brasil, geralmente, não é satisfatório, devido à falta de técnicas de póscolheita adequadas (DE ARAUJO, 2018). O trabalho teve como objetivo acompanhar as mudanças físicas e físico-químicas no tomate cereja acompanhando seu estágio de maturação classificado como maduro, sob diferentes condições de armazenamento.
2. MATERIAL E MÉTODOS Os frutos foram levados ao Laboratório de Processamento de Origem Vegetal da Faculdade de Tecnologia do Cariri - FATEC CARIRI, onde passou por um processo até a realização das análises. As etapas estão descritas no fluxograma da figura 1.
29
Figura 1. Fluxograma com etapas de processamento dos frutos.
30
Fonte: Autores (2019)
Recepção dos frutos: Os tomates cereja foram comprados no comércio local de Juazeiro do Norte, trazidos em embalagens de polietileno, para o laboratório de processamento, da Fatec Cariri. Seleção: As frutas foram selecionadas pela cor e pelo o tamanho, descartados os que não estavam de acordo com os parâmetros de seleção, sendo no total 25 frutos escolhidos (Figura 2 ). Figura 2. Frutos passando por seleção.
Fonte: Autores (2019)
Lavagem: As frutas foram lavadas cuidadosamente em água corrente e com detergente neutro, e enxaguados. Sanitização: As frutas foram colocadas em um recipiente, contendo água e hipoclorito de sódio 50 ppm. Em seguida foram enxaguados em água corrente e secados com papel toalha e enumerados de 1 a 25 (Figura 3).
Figura 3. Tomates cerejas no processo de higienização.
31
Fonte: Autores (2019)
Montagem do experimento: procedeu- se da seguinte maneira: Na primeira bandeja foram acondicionadas os tomates sem plástico filme em temperatura ambiente, na segunda bandeja foram acondicionadas os tomates com plástico filme em temperatura ambiente, na terceira bandeja foram acondicionadas os tomates sem plástico filme sobre refrigeração e na quarta bandeja foram acondicionadas os tomates com plástico filme sobre refrigeração (Figura 4).
Figura 4. Frutos organizados em bandejas de poliestireno
Fonte: Autores (2019).
Os tomates cereja foram analisados quanto aos parâmetros físicos: peso (g), com auxílio de balança semi-analítica, diâmetro longitudinal e transversal (cm), com auxílio de um paquímetro e ph medido em phmetro, seguindo a metodologia do Instituto Adolfo Lutz (BRASIL, 2008) e quanto aos parâmetros físico-químicos de acidez total titulável (mg/100g), pelo método da titulação e sólidos solúveis totais (ºBrix), com auxílio de um refratômetro tipo ABE, seguindo a metodologia do Instituto Adolfo Lutz, (BRASIL, 2008), nas diferentes condições de armazenamento, citadas anteriormente. Essas análises foram realizadas no dia da montagem do
experimento e a cada 2 dias, durante 7 dias de armazenamento, a fim de verificar a perda ou ganho da massa, bem como o desenvolvimento das características físicas e bioquímicas durante o armazenamento.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1, estão apresentados os resultados das análises físicas e físico-químicas dos frutos armazenados sem plástico filme e em temperatura ambiente.
Tabela 1. Caracterização física e físico-química de armazenamento em bandeja em PS sem plástico filme e acondicionado em temperatura ambiente. Tempo
ATT %*
0
3,5539
2
SST
PH
D. L. *
D. T. *
Peso (mg)
7
4
22,40
26,8
6,98
5,4897
9
3,87
20,11
25,48
6,22
4
1,1438
8
3,9
21,34
26,02
6,93
7
5,1017
8
4,5
21,77
25,55
7,31
(°BRIX)*
*ATT- acidez total titulável; SST- sólidos solúveis totais; DL-diâmetro longitudinal; DT- diâmetro transversalmente Fonte: elaborada pelos autores, 2019.
Para as análises físico-químicas, os valores de PH variaram de 4 a 4,5; o teor de brix passou de 7 para 8 e acidez entre 3,55 no tempo 0 de análises a 5,10 no tempo final das análises. Para as análises físicas, o DL reduziu o tamanho, passou de 22,4 para 21,77 ocorrendo o mesmo para o DT que passou de 26,8 para 25,5 sendo explicado pala atividade respiratória que envolve a decomposição oxidativa de constituintes orgânicos e perdas das reservas alimentares (amido, ácidos orgânicos e açúcares) e essas mudanças ocasionam principalmente a perda da matéria fresca. O peso inicial do fruto nessa condição era de 6,98 e encerrou o experimento com o peso de 7,31. Na Tabela 2, tem-se os resultados das análises físicas e físico-químicas dos frutos armazenados com plástico filme e em temperatura ambiente. Tabela 2. Caracterização física e físico-química de armazenamento em bandeja em PS com plástico filme e acondicionado em temperatura ambiente Tempo
ATT%*
0
3,5539
2
SST
PH
D. L.*
D. T.*
Peso (mg)
7
4
22,40
26,80
6,98
4,8258
8
3,88
23,19
25,96
7,48
4
7,0939
8
4,37
21,38
24,4
6,55
7
6,2100
7
3,85
22,08
24,82
7,2
(°BRIX)*
*ATT- acidez total titulável; SST- sólidos solúveis totais; DL-diâmetro longitudinal; DT- diâmetro transversalmente
32
Fonte: elaborada pelos autores, 2019.
Na segunda condição, na qual os frutos se encontravam, para as análises físico-químicas, os valores de pH variaram de 4 a 3,85; o teor de sólidos solúveis totais variou entre 7 e 8º Brix e acidez total titulável aumentou de 3,55 a 6,21. De acordo com Pfaffenbach (2003), a maturidade a acidez decai e há um aumento nos teores de açúcares solúveis, tornando os frutos doces. A ocorrência de aumento dos teores de sólidos solúveis juntamente com um decréscimo dos teores de acidez titulável, resulta num aumento da relação entre sólidos solúveis e acidez titulável (relação Brix/acidez). Esta relação é um importante índice para identificação do ponto de maturação dos frutos e, consequentemente, para o sabor da fruta. Para as análises físicas, o DL apresentou um leve aumento de 22,40 para 22,8 enquanto que o DT reduziu seu tamanho de 26,80 para 24,82. O peso inicial do fruto era de 6,98 e encerrou o experimento com o peso de 7,2. Essa variação de peso pode ser explicado pelo aumento da temperatura e diminuição da umidade relativa onde, consequentemente aumenta a taxa respiratória do fruto fazendo com que as reações oxidativas dos compostos orgânicos sejam transformadas em água, conferindo peso ao fruto. Na Tabela 3, apresenta-se os resultados das análises físicas e físico-químicas dos frutos armazenados sem plástico filme e acondicionados sob refrigeração. Tabela 3. Caracterização física e físico-química de armazenamento em bandeja em PE sem plástico filme e acondicionado sob refrigeração. Tempo
ATT%*
SST (°BRIX)*
PH
D. L.*
D. T. *
Peso (mg)
0
3,5569
7
4
22,40
26,80
6,98
2
4,3544
7
3,95
22,94
27,16
7,73
4
4,0427
8
3,8
21,4
24,2
6,18
7 4,7183 8 4,16 21,41 26,35 6,95 *ATT- acidez total titulável; SST- sólidos solúveis totais; DL-diâmetro longitudinal; DT- diâmetro transversalmente Fonte: elaborada pelos autores, 2019.
Para os frutos acondicionados em bandejas de isopor com plástico filme em refrigeração, as análises físico-químicas apresentaram PH de 4 a 4,16, considerado inalterado, o mesmo ocorreu com o valor do SST com teores oscilando entre 7 e 8, o que demonstra a conversão dos açúcares para substâncias de forma mais lenta. A acidez iniciou com 3,55% e terminou apresentando 4,71% de acidez, essa variação é desejável em grande parte dos frutos e marcante no processo de amadurecimento. Na análise física, o deu DL que inicialmente era de 22,40, encerrou-se com o valor de 21,41; o DT era de 26,80 foi para 26,35 e o peso inicial de 6,98 foi para 6,95, não havendo grande perda do peso. A qualidade de um fruto, para consumo fresco ou processado, está diretamente relacionada com o estádio de maturação do fruto, pois é ele que define o momento da colheita (De Araújo, 2018; Ferreira et al.,2004; Chitarra & Chitarra, 2005 ). Na Tabela 4, apresentam-se os resultados das análises físicas e físico-químicas dos frutos armazenados com plástico filme e acondicionados sob refrigeração.
33
Tabela 4. Caracterização física e físico-química de armazenamento em bandeja em PE com plástico filme e acondicionado sob refrigeração. Tempo
ATT %*
SST (°BRIX)*
PH
D. L.*
D. T.*
Peso (mg)
0
3,5569
7
4
22,40
26,80
6,98
2
3,8482
8
3,43
22,22
25,33
6,78
4
4,9311
8,5
4,14
20,90
24,78
6,55
7 5,0167 9 4,19 21,81 24,99 6,66 *ATT- acidez total titulável; SST- sólidos solúveis totais; DL-diâmetro longitudinal; DT- diâmetro transversalmente Fonte: elaborada pelos autores, 2019.
Nesta última condição de acondicionamento do frutos estes apresentaram o seguinte comportamento para as análises físico-químicas; o pH antes era 4 e encerrou com um pequeno aumento para 4,19; o SST que no início apresentou 7° brix na sua escala, no final aumentou para 9° brix e a acidez total titulável que iniciou com 3,55%, passou para 5,01%. Quando analisado as características desses frutos, eles sofreram mudanças perceptíveis de tamanho e peso. O DL que iniciou com 22,40 terminou com 21,81; o DT apresentou uma redução de 26,80 para 24,99 e o peso que inicialmente era 6,98 diminuiu para 6,66. Os frutos que estavam sob refrigeração, armazenados sem plástico filme foram os que mais se enquadraram nos critérios de consumo, diferente dos frutos que estavam armazenados nas demais condições. Estes, presentaram maior teor de sólidos solúveis totais, onde consequentemente está associado a maior doçura. O sabor do tomate está relacionado à presença de diversos constituintes químicos, destacando-se os açúcares, ácidos e suas interações. Os teores de açúcar e ácidos podem variar de acordo com a cultivar, nutrição da planta, manejo da cultura e condições do ambiente (COSTA, 2018). A acidez nos produtos hortícolas é atribuída aos ácidos orgânicos e as substâncias de caráter ácido presentes nos vacúolos das células, que podem se apresentar de forma livre, ou então combinada com sais, ésteres e glicosídeos (NUNES, 2015). Souza et al. (2007) verificaram que os frutos da mangabeira apresentaram acidez média elevada de 1,77% oscilando entre 1,52 e 2,07% quando comparadas com outras literaturas que apresentam os valores de acidez dos frutos da mangabeira que, juntamente com um teor de sólidos solúveis, também alto confere, ao fruto, um sabor agridoce excelente proporcionando propriedades para sua conservação e industrialização. Isto indica a correlação dos teores de acidez total titulável encontrados na tabela 3, que apresenta frutos sem plástico filme e acondicionado sob refrigeração, onde sua oscilação foi pequena quando comparadas aos frutos sobre outras condições de armazenamento. A perda de massa do produto na pós-colheita está relacionada com a perda de água para o ambiente pelo processo de transpiração. Quando esta perda é expressiva, o fruto apresenta sinais visíveis de murchamento, perdendo assim, massa não só no peso final comercializável, mas também no preço final unitário pela perda de qualidade (NUNES, 2015). Os frutos apresentados na condição de acondicionamento em temperatura de refrigeração sem plástico filme, não obtiveram grande perda da massa (peso).
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4. CONCLUSÕES As frutas que estavam armazenadas em temperatura ambiente com plástico filme tiveram maior perda com uma média de 0,91 cm de diâmetro longitudinal, 1,08 cm de diâmetro transversal e 0,30 de gramas. As frutas que estavam armazenados em temperatura ambiente sem plástico filme tiveram um perca com média de 0,8 cm de diâmetro longitudinal, 0,79 de diâmetro transversal e 0,25 de gramas. As frutas que estavam armazenados em temperatura de refrigeração dentro da geladeira com plástico filme tiveram média de perda de 0,40 cm de diâmetro longitudinal, 0,50 cm de diâmetro transversal e 0,07 de gramas As frutas que tiveram menor perda foram os que estavam armazenadas em temperaturas de refrigeração dentro da geladeira sem plástico filme com média de apenas 0,30 cm de diâmetro longitudinal, 0,49 cm diâmetro transversal e 0,05 gramas. Conclui-se que a melhor forma de acondicionar a fruta tomate cereja é acondicionado em temperatura de refrigeração sem plástico filme, pois, sob esta condição os frutos demoram a chegar no estágio de senescência sendo um excelente forma de acondicionamento no setor industrial de produção de tomates cerejas. REFERÊNCIAS ANDRADE, J. V. Estudo comparativo de adubação orgânica e química no cultivo de Tomate Cereja. 2018. ARAUJO, D. L. Efeitos de armazenamento em embalagens plásticas local refrigerado e temperatura ambiente na qualidade de tomate. Anuário Pesquisa e Extensão Unoesc São Miguel do Oeste, v. 3, p. e 17537-e 17537, 2018. COSTA, E. S. P.; SANTOS, C. A.; ROCHA, M . C.; CARMO, M. G. F. Caracterização física, físico-química e morfoagronômica de acessos de tomate cereja sob cultivo orgânico. Revista de Ciências Agrárias Amazonian Journal of Agricultural and Environmental Sciences, v. 61, 2018. GODOY, F.; SEGATTO, A.; BATISTA, C. B.; SOUZA, R. R.; FEHNDRICH, S. P.; ETHUR, L. Z. Avaliação de caracteres agronômicos de tomate tipo cereja sob diferentes substratos em cultivo protegido. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 10, n. 2, 2019. GUILHERME, D. O.; PINHO, L.; CAVALCANTI, T. F. M.; COSTA, C. A; ALMEIDA, A. C. Análise sensorial e físico-química de frutos tomate cereja orgânicos. Revista Caatinga, v. 27, n. 1, p. 181-186, 2014. MONTEIRO, S. S.;MONTEIRO, S. S.; SILVA, E. A.; MARTINS, L. P. Maturação fisiológica de tomate cereja. Revista Brasileira de Agrotecnologia, v. 8, n. 3, p. 05-09, 2018. NUNES, Eduardo Fernandes. Sensores sem fio para gerenciamento de qualidade pós-colheita de tomate cereja. 2015. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Agrícola, Campinas, SP.
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PFAFFENBACH, L. B. Uso de embalagens plásticas na conservação pós-colheita e qualidade de mangas Haden 2h, Palmer Etommy Atkins. São Paulo, Brasil. 2003. 85 p. Dissertação de Mestrado - Instituto Agronómico de Campinas, Campinas, 2003. ROCHA, M. Q.; PEIL, R. M.; COGO, C. M. Rendimento do tomate cereja em função do cacho floral e da concentração de nutrientes em hidroponia. Horticultura Brasileira, v. 28, n. 4, p. 466471, 2010. ROCHA, R. G. L.; RIBEIRO, M. C. C.; SILVA, F. D. B. Maturação fisiológica e armazenamento pós-colheita de frutos e sementes de tomate cereja em transição agroecológica. Agropecuária Científica no Semiárido, v. 14, n. 1, p. 36-41, 2018. SOUZA, F. G.; FIGUEREDO, R. W.; ALVES, R. E.; MAIA, G. A.; ARAUJO, I. A. Postharvest quality of fruits from different mangabeira clones (Hancornia speciosa Gomes). Ciência e Agrotecnologia, v. 31, n. 5, p. 1449-1454, 2007. VIEIRA, D. A. P.; Cardoso, K. C. R.; Dourado, K. K. F.; Caliari, M.; Júnior, M. S. S. Qualidade física e química de mini-tomates Sweet Grape produzidos em cultivo orgânico e convencional. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v 9. , n. 3 , p. 100-108, 2014.
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Capítulo 4 AS VERTENTES DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA: IMPACTOS E AVANÇOS NA NATUREZA
QUEIROZ, José Flávio Ramos de Pós-graduado em Ciências da Educação Assessoria e Consultoria Educacional Programa de Pós-Graduação, ESL, Brasil. jose.flavio2013@homail.com DE MORAIS, Virginia Maria Magliano M.Sc. Professora de Economia da Educação-Centro de Educação Universidade Federal da Paraíba virginiammoraes@gmail.com
RESUMO O escopo deste trabalho baseia-se na perspectiva em que a produção agrícola desenvolveu-se em duas vertentes: impactos e avanços perante a natureza. Tendo como objetivo mostrar o conceito de produção agrícola, a inserção da tecnologia nessa e um levantamento dos impactos e avanços que essa inserção desencadeia na natureza. A metodologia usada neste trabalho é de cunho bibliográfico, passando por conceitos de autores que corroboram nas analises da produção agrícola em âmbito nacional e mundial. Os autores que aqui foram citados elucidam, de forma sucinta, a grande ambigüidade entre a chegada da tecnologia no meio da agricultura, assim como a maneira como qual essa consegue perpassar a categoria de somente desenvolvimento à degradação de territórios naturais. Chega-se na crucial perspectiva de que, os impactos econômicos influenciam na demanda da procura dos subsídios naturais e esses desencadeiam em diversos fatores que não somente desenvolvem financeiramente a questão da produção, mas, em contrapartida a natureza e o próprio produto a ser cultivado sofrem danos ecológicos. De modo que, para uma grande produção, são usados subsídios para acelerar o resultado desta produção. No entanto, essa questão não somente é discutida nesse trabalho, mas, em outros âmbitos de defesa ambiental, ao passo de que conscientize não somente o consumidor, mas aqueles que fazem parte do processo de produção. Portanto, essa pesquisa, dar-se como fonte de reflexão às práticas da produção agrícola a fim de que se possa pensar em maiores alternativas que resultem em maior qualidade de vida humana e manutenção e preservação da natureza. PALAVRAS-CHAVE: Natureza, Tecnologia, Produção.
INTRODUÇÃO A escolha desse tema tem caráter pertinente a atual conjuntura dos processos de Produção Agrícola – uma vez que essa trata-se de uma prática genuinamente antiga. Ou seja, a partir do momento em que o homem utiliza-se da natureza para sua sobrevivência, dar-se variados modos de agir perante esta. Nesta perspectiva, trabalharemos autores que conceituam a temática “Produção Agrícola”, assim como, demonstram as diferenciações em circundam às demandas dessas produções. A exemplo o avanço das tecnologias no âmbito agrário para facilitação das plantações e colheitas.
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Os objetivos desse trabalho são, além de apresentar os contrapontos levantados sob a temática, conseguir levantar uma abordagem de reflexão sob a ótica de como os almejos da financeiros influenciam como impactos na vida humana e na própria natureza.
MATERIAL E MÉTODOS
A maneira como deu-se esse estudo foi de cunho bibliográfico, através de livros, artigos de revistas e periódicos – buscou-se através dos embasamentos dos autores dados que demonstrasse não somente os pontos positivos da mecanização na produção agrícola, mas ressaltar os malefícios à natureza em si e ao homem. Usou-se de uma reflexão que perpassou pelo capitalismo e lógica da mercadoria, para compreender o quão determinadas técnicas são aversas ao necessário e genuíno uso dos meios naturais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao recorrermos ao conceito de produção agrícola, vemos que esta trata de uma área da economia que diz respeito aos produtos e, portanto, aos benefícios que as atividades como conseqüências podem gerar. Entende-se que o conceito de trabalho usado por Marx (1818-1883) em que diz que trabalho é o processo que se dá entre o homem e a natureza – o homem necessidade para a sua existência de se apropriar dos meios naturais para manter vivo. Tão logo o processo de trabalho esteja em alguma medida desenvolvido de todo, necessita ele de meios de trabalho já trabalhados. Nas cavernas humanas mais antigas encontramos instrumentos de pedra e armas de pedra. Ao lado da pedra, madeira, osso e conchas trabalhados, o animal domesticado e, portanto, já modificado pelo trabalho, desempenha no início da história humana o papel principal do meio de trabalho (MARX, 1983, p. 150).
Como na citação, é crucial para que o desenvolvimento de uma produção se desenvolva, que aja instrumentos necessários para que o desempenho da atividade seja de fato eficaz à produção. Ora, sob essa perspectiva, encontramos a necessidade em que o homem esteve imerso de obter da plantação e da pecuária como fontes de uma sobreviver com mais segurança - a isso, deu-se o nome de agricultura. A produção agrícola em seu início dava-se para fim familiar, o que reforça as observações acima de que o homem apropriou-se da natureza para existência. Todavia, esse quadro mudou, quando a produção agrícola passou a ter caráter comercial, o que resultou na necessidade de uma diversificação de produtos e em contrapartida os agricultores mais jovens saem de suas terras e nessas permanecem apenas os mais velhos. Adentremos então na presença da tecnologia nas produções agrícolas – muito bem sabe-se que a mecanização nessas práticas, trouxe consideráveis impactos à natureza, estando o ser
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humano, como consumidor, incluso. Ora, para o aumento da produtividade e a redução de perdas, alternativas foram usadas para ressarcir esses problemas, o que por outro lado tente a uma agressão significativa do meio ambiente e dos recursos naturais. É forçoso dizer que a produção agrícola, sob essa perspectiva, baseia-se apenas na rentabilidade. Na antiguidade, predominava o sistema de associação das culturas de cereais e criação de gado, com baixa produtividade. Na idade média permanece o sistema de consórcio, mas o uso de novas tecnologias gerou aumento de produção e de excedentes. Na modernidade criou-se sistemas de culturas de cereais e forrageiras sem pousio, com aumento considerável da produção e de excedentes comercializáveis, bem como houve o fortalecimento da integração cultura com criação de gado (SANTILLI IN BRASÍLIA, 2009).
Como cita a autora, percebemos como antigamente denominava-se a agricultura através do cultivo de cereais e criação de gado. Ao passo de que na idade médio não modificou-se muito esse aspecto. No entanto, foi na modernidade que as tecnologias desencadearam em um desenvolvimento considerável de produção, e consequentemente, de rentabilidade. O grande questionamento que circunda os aspectos apresentados é: até onde essas produções emergiram na natureza e na qualidade de vida do ser humano. Sabendo que alternativas de para que a consolidação dessa expansão fosse dada. O uso de aditivos, para o fortalecimento e crescimento da produção, de maneira crucial, não poderia trazer benefícios ao meio ambiente e ao ser humano – fato esse em que nos dias movimenta-se uma grande luta para que a qualidade de vida dos seres humanos, e não somente eles, mas os animais que são consumidos seja de maneira qualitativa, não somente rendável. No final da década de 1950 e início da de 1960, o modelo agrícola passou a se caracterizar pela asso- Custos de Produção Agrícola: A Metodologia da Conab 12 ciação de insumos químicos, mecânicos e biológicos, promovendo uma intensa padronização das práticas agrícolas e artificialização do ambiente natural. Esse sistema ficou conhecido como “revolução verde”. Nos anos de 1990, houve a introdução da biotecnologia no sistema de cultivo e as mudanças tecnológicas operadas ocorreram pela evolução do conhecimento científico e pela estratégia de valorização de ativos (SANTILLI IN BRASÍLIA, 2009).
Ora, como visto, o próprio meio ambiente passou-se a ser modificado afim de torná-lo cada vez mais fértil. É o chamado pela autora de “artificialização do ambiente natural”. No entanto, cabe-nos pensar até onde a lógica capitalista de consumo tende a nos favorecer sem nos tirar a vitalidade que outrora encontrava-se nos antigos povos. Se antes a exploração do homem sob a natureza determinava não somente a sua sobrevivência, mas seu bem estar, acreditase que hoje, a estimativa de vida tenha caído justamente pela não perpetuação das práticas comumente vistas na antiguidade. Pensando na perspectiva internacional e nacional, vê-se um crescimento abrangente no mercado de importação e exportação.
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O cenário agrícola internacional dos últimos quinze anos tem sido caracterizado pela ocorrência de acentuadas mudanças nas políticas agrícolas e macroeconômicas no Brasil e demais países emergentes, o mesmo sendo observado com menor intensidade nos países da OCDE. Essas transformações, fortemente orientadas para o mercado, resultaram em ganhos de eficiência, aumento de produção e crescimento da renda nas economias emergentes, promovendo mudanças importantes no comércio agrícola mundial. O dinamismo, o porte e a elevada competitividade da agricultura têm assegurado ao Brasil expressivo crescimento no mercado internacional e uma posição de destaque como potência agrícola. (RODRIGUES, 2005, p. 3)
Mais uma vez, se analisarmos pela lógica do mercado, lê-se capitalismo, vemos que o Brasil teve um considerável crescimento, tendo, portanto uma posição de destaque no mercado
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agrícola. Nos últimos quinze anos, a economia brasileira passou por uma transformação radical. Após abandonar políticas de substituição de importações no final dos anos oitenta, o governo adotou uma ampla série de reformas. Essas incluíram a estabilização macroeconômica, reformas estruturais e liberalização comercial. A estabilização macroeconômica foi alcançada na metade dos anos noventa quando, após vários planos de estabilização mal sucedidos, o Plano Real aplicou o controle orçamentário para o controle da inflação. Reformas estruturais incluíram a privatização de empresas estatais, a desregulamentação dos mercados domésticos e o estabelecimento de uma união aduaneira, o Mercosul, com outros países da América do Sul. As mudanças na política incluíram profundos cortes tarifários e a eliminação de barreiras nãotarifárias ao comércio. (TANGERMANN, 2005, p. 6)
Pensemos então diante desse cenário, na grandiosidade em que as terras brasileiras trazem desde que fora explorada pelos portugueses. O Brasil na sua posição, agora, de potência agrícola, emerge um aparato de responsabilidades, quando além do valor econômicos que seus produtos tenham, está inserido na qualidade no produto e na vida do consumidor. Se partirmos somente para a questão alimentícia, vemos: Os alimentos básicos, fonte de carbohidratos e de proteínas são basicamente os mesmos, sejam de origem vegetal (grãos, raízes e tubérculos, oleaginosas e frutas) ou animal (carnes de suínos, aves e bovina, leite, ovos e peixes). Os mais importantes são os grãos (principalmente arroz, trigo, milho, centeio, sorgo, cevada, milheto e triticale) que ocupam uma grande área de cultivos, responsáveis por 66% da alimentação mundial e largamente produzido em vários países, desde os tempos mais remotos. Dos alimentos raízes e tubérculos o mais importante é a mandioca, com área colhida mundial de mais de 18 milhões de hectares. Das oleaginosas utilizada na alimentação, tanto humana como animal, as mais importantes são soja, dendê, girassol, algodão e coco. Os alimentos de origem animal, principais fontes de proteína na dieta alimentar são as carnes (suína, bovina e de aves), peixes, leite e ovos. (DANTE, p.4)
Isso implica dizer que, sob o âmbito mundial, os alimentos citados acima estão em grande em grande escala a serem produzidos, logo, a serem consumidos. Todavia, outra grande questão a ser citada é: se em escala mundial, temos subsídios para essas produções, por que cada vez menos o ser humano tem qualidade de vida.
A resposta talvez esteja em nossas primeiras afirmações, quanto ao uso de aditivos, mas não somente – os produtos industrializados estão a cada dia mais tomando o espaço dos produtos naturalmente produzidos – tratam-se de artificiais que nada tende a substituir o consumo dos verdadeiros alimentos naturais. atualmente existe um impasse, pois, é preciso gerar emprego e renda e, para isso, necessita-se de mais consumo, que gera mais produção, que gera uma utilização maior dos recursos naturais, que gera mais renda do trabalho e novamente se amplia o consumo. A introdução da gestão ambiental nessas áreas é imperativa para a manutenção do meio ambiente aliada a técnicas modernas de produção que sejam adaptadas ao tipo de solo, topografia e que procure respeitar e otimizar a cultura da sociedade regional. (GOMES, JR, KNEIPP, ZAMBERLAN, ZAMBERLAN, 2014, p. 99)
É notório pela fala dos autores que, a lógica do capitalismo é cíclica, quanto a necessidade de consumo, o que gera a necessidade de produção e deste modo, a maneira como se perpassa a maneira de dominar os meios naturais para ceder a esse consumo, torna-se algo nitidamente cabível. Muito embora tenha-se que analisar os meios que as áreas que serão exploradas, sejam de fato utilizadas para produção, sem que isso as prejudique.
CONCLUSÕES Concluímos a partir das questões levantadas no presente estudo que, embora a produção de alimentos, criações de animais entre outros produtos que sejam de origens agrícolas sejam de um todo necessárias para o desenvolvimento humano e em geral da sociedade, vimos também os impactos que essas produções ocasionam na natureza e na qualidade de vida humana. Na perspectiva de criar novas propostas para a utilização das técnicas usadas no manejo e no próprio processo de produção dos alimentos, vemos que a discussão abrange-se para além do âmbito da agricultura. Mas, para uma retomada governamental, a fim de demonstrar a preocupação com o meio ambiente. De qualquer forma, esses impactos são muito mais suaves do que aqueles induzidos pelas mudanças do mercado, incluindo o crescimento da demanda global e o declínio dos preços agrícolas reais. Na realidade, é importante não confundir todo o aumento de oportunidades para os exportadores, ou o estresse de ajustamento enfrentado pelos produtores (geralmente operando em pequena escala) cuja produtividade não consegue acompanhar o declínio dos preços, com os impactos mais limitados das reformas multilaterais. (TANGERMANN, 2005, p. 14)
Portanto, vê-se que a grande questão que circunda essa temática, está justamente na demanda do mercado global nos interesses agrícolas. Uma vez que, quanto mais busca-se a compra, mas requer a produção a baixo busco e em condições não necessariamente favoráveis aos produtores, à natureza e consequentemente aos consumidores.
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REFERÊNCIAS
Companhia Nacional de Abastecimento. Custos de produção agrícola: a metodologia da Conab. Brasília : Conab, 2010. DANTE, D. G. Scolari. Produção agrícola mundial: o potencial do Brasil. p. 04. MARX, Karl. (1983, Tomo I, 1985, Tomo II) O capital. Vol I. São Paulo, Abril Cultura. Revista de política agrícola. Ano 1, n. 1. Fev. 1992. Brasília : Secretaria Nacional de Política Agrícola, Companhia Nacional de Abastecimento, 1992. WEDEKIN, I. A política agrícola brasileira em perspectiva. Revista de Política Agrícola. Ano XIV. Edição Especial. p. 17 -32.Outubro de 2005.
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Capítulo 5 ASPECTOS BIOMÉTRICOS E GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Operculina alata (Ham.) Urban CLASSIFICADAS PELO TAMANHO
ARAUJO NETO, Aderson Costa Doutor em Agronomia Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) adersoncaneto@gmail.com ARAÚJO, Paulo Costa Doutor em Agronomia Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pauloaraujo85@hotmail.com ALVES, Edna Ursulino Professora do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais Universidade Federal da Paraíba (UFPB) ednaursulino@cca.ufpb.br MEDEIROS, José George Ferreira Professor da Unidade Acadêmica de Tecnologia do Desenvolvimento Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) jose.george@ufcg.edu.br INÔ, Claudiney Felipe Almeida Discente do curso de Tecnologia em Agroecologia Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) claudineyfelipe27@gmail.com
RESUMO Operculina alata (Ham.) Urban, conhecida popularmente como batata-de-purga amarela é uma planta medicinal comum no Nordeste do Brasil, que vem sendo utilizada como purgativa e laxativa. O conhecimento dos aspectos biométricos de frutos e sementes e a sua influência na germinação são importantes para a produção e características de espécies nativas. Neste sentido, objetivou-se caracterizar biometricamente frutos e sementes de Operculina alata, bem como avaliar a influência do tamanho das sementes sobre a sua germinação e vigor. Para tanto, foram tomados aleatoriamente 200 frutos e igual número de sementes, determinando-se o comprimento, largura, espessura e massa fresca dos frutos e o comprimento, diâmetro e massa fresca das sementes. Com base no comprimento (C) e diâmetro (D), as sementes foram classificadas quanto ao tamanho em pequenas (C = 8,8-9,5 mm e D = 8,4-8,9 mm), médias (C = 9,6-10,3 mm e D = 9,0-9,5 mm) e grandes (C = 10,4-10,9 mm e D = 9,6-10,1 mm) e, em seguida, submetidas a testes de germinação e vigor. Avaliaram-se a porcentagem, primeira contagem e índice de velocidade de germinação, além da porcentagem de plântulas anormais, sementes mortas e o comprimento e massa seca das raízes e do hipocótilo de plântulas normais, em delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro repetições de 25 sementes. Constatou-se que os frutos apresentaram maior variação nas dimensões em relação às sementes. O tamanho das sementes de Operculina alata influenciou significativamente na sua germinação e vigor, com o melhor desempenho observado nas sementes grandes. PALAVRAS-CHAVE: batata-de-purga amarela, biometria, classes de tamanho.
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1. INTRODUÇÃO Operculina alata (Ham.) Urban (Convolvulaceae), conhecida popularmente como batatade-purga amarela, é uma espécie anual com grande potencial farmacológico e muito comum no Nordeste do Brasil, cuja planta é uma trepadeira de aspecto ornamental que produz flores amarelas e frutos de forma estrelada, contendo de uma a quatro sementes duras e de cor creme (MATOS, 2000), cujas raízes são tuberosas, grandes, amiláceas e lactescentes, motivo de grande comércio para fins medicinais (LORENZI; MATOS, 2002). O comportamento vegetativo e reprodutivo, bem como os padrões biométricos de espécies vegetais podem ser influenciados pelo meio biofísico ao qual estejam submetidas. Assim, a caracterização biométrica criteriosa de frutos e sementes constitui uma ferramenta importante para detectar a variabilidade genética dentro de populações de uma mesma espécie, e as relações entre esta variabilidade e os fatores ambientais, fornecendo importantes informações para a caracterização dos aspectos ecológicos como o tipo de dispersão, agentes dispersores e estabelecimento das plântulas (SANTANA et al., 2013). Neste sentido, a biometria de frutos e sementes fornece subsídios para a conservação e exploração da espécie, permitindo incremento contínuo na busca racional, uso eficaz e sustentável (BEZERRA et al., 2014). As variações de tamanho de sementes existentes na própria planta são decorrentes dos efeitos do ambiente durante o seu desenvolvimento (LEISHAMAN et al., 2000) e, essas variações podem interferir na qualidade fisiológica das sementes (OLIVEIRA et al., 2009). O tamanho pode ser um indicativo da qualidade fisiológica das sementes para muitas espécies e, geralmente, nesses casos, as pequenas apresentam menores valores de germinação e vigor quando comparadas com as de tamanho médio e grande (FLORES et al., 2014). No entanto, Vanzolini e Nakagawa (2007) relataram que geralmente as sementes menores germinam mais rapidamente, porém as sementes maiores originam plântulas de maior tamanho e massa, pois de acordo com Carvalho e Nakagawa (2012) as sementes de maior tamanho geralmente foram mais bem nutridas durante o seu desenvolvimento, possuindo embriões bem formados e com maior quantidade de substâncias de reserva, sendo, consequentemente, as mais vigorosas. As sementes de maior tamanho têm sido correlacionadas com maiores taxas de crescimento inicial de plântulas, o que aumentaria a probabilidade de sucesso durante o estabelecimento destas, uma vez que o rápido crescimento de raiz e parte aérea possibilitariam à planta aproveitar as reservas nutricionais e hídricas do solo e realizar a fotossíntese (BIRUEL et al., 2010). A classificação das sementes por tamanho ou peso é uma estratégia que pode ser utilizada para uniformização da emergência de plântulas e obtenção de mudas com tamanhos semelhantes ou com maior vigor (CARVALHO; NAKAGAWA, 2012). A separação das sementes por classes de tamanho para determinação da qualidade fisiológica, através de testes de germinação e vigor tem sido bastante empregada, visando encontrar a classe ideal para multiplicação das diversas espécies vegetais (ABUD et al., 2010). A influência do tamanho das sementes na sua qualidade fisiológica tem sido pesquisada com certa intensidade para espécies de potencial agrícola, principalmente soja (PÁDUA et al., 2010), girassol (OLIVEIRA et al., 2011), milho (VAZQUEZ et al., 2012), cenoura (GOMES et al., 2012) e feijão (NUNES et al., 2016); contudo, esse aspecto vem sendo pouco pesquisado com espécies herbáceas medicinais nativas do Brasil, sobretudo com a batata-de-purga amarela, que por ser uma espécie de destaque na medicina popular na região Nordeste, explorada através do extrativismo predatório, predispondo-a ao risco de extinção, o que tornam relevantes estudos que explorem aspectos relacionados a propagação e dispersão dessa espécie.
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Diante do exposto, objetivou-se caracterizar biometricamente os frutos e sementes de Operculina alata, bem como avaliar a influência do tamanho das sementes sobre a sua germinação e vigor.
2. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado no Laboratório de Análise de Sementes, pertencente ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, Areia, PB, em abril de 2016, com frutos de Operculina alata secos de coloração castanho-clara, colhidos diretamente de plantas nativas ocorrentes no município de Lagoa de Velhos (latitude 6º0’26’’S, longitude 35º51’28’’W e altitude média de 161 m), microrregião do Potengi, semiárido do Rio Grande do Norte. Segundo classificação climática de Köppen, o clima da região é do tipo As’, ou seja, tropical com estação seca no verão. Após a homogeneização, tomou-se de maneira aleatória uma amostra de 200 frutos aparentemente sadios e inteiros para a caracterização biométrica, determinando-se o comprimento (dimensão entre a base e o ápice do fruto), largura (dimensão mais larga em contraposição ao comprimento), espessura (dimensão mais larga em contraposição a largura) e massa fresca. Posteriormente, os frutos foram beneficiados manualmente para obtenção das sementes, utilizando-se uma amostra de 200 unidades para as análises biométricas (comprimento, diâmetro e massa fresca). Para a mensuração das dimensões dos frutos e sementes utilizou-se um paquímetro digital (0,01 mm), e o auxílio de uma balança analítica (0,001 g) para a determinação da massa fresca. Após a caracterização biométrica, as sementes foram classificadas de acordo com o comprimento (C) e diâmetro (D) em três classes de tamanho: sementes pequenas (C = 8,8-9,5 mm e D = 8,4-8,9 mm), médias (C = 9,6-10,3 mm e D = 9,0-9,5 mm) e grandes (C = 10,4-10,9 mm e D = 9,6-10,1 mm); e, em seguida, submetidas à escarificação mecânica para quebra de dormência por fricção manual com lixa d’água número 30 até o desgaste do tegumento no lado oposto ao da micrópila (MEDEIROS FILHO et al., 2002). Posteriormente, as sementes foram submetidas aos seguintes testes de germinação e vigor: a) Teste de germinação: quatro repetições de 25 sementes foram semeadas em rolos de papel germitest umedecidos com água destilada na quantidade equivalente a 2,5 vezes a massa do substrato seco e mantidos em germinador tipo Biochemical Oxigen Demand (B.O.D.) regulado a temperatura alternada de 20-30 °C com fotoperíodo de 8/16 horas de luz e escuro, respectivamente. As sementes foram consideradas germinadas quando haviam emitido a raiz primária e a parte aérea e se encontravam aparentemente sadias (BRASIL, 2009), com os resultados expressos em porcentagem. b) Primeira contagem da germinação: realizada simultaneamente com o teste de germinação, sendo a porcentagem acumulada de plântulas normais no quinto dia após a semeadura, considerando-se como normais as plântulas com as estruturas essenciais perfeitas (BRASIL, 2009). c) Índice de velocidade de germinação (IVG): determinado mediante contagens diárias, no mesmo horário, das plântulas normais, sendo o índice calculado pela fórmula proposta por Maguire (1962).
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d) Plântulas anormais: porcentagem de plântulas que não demonstraram potencial para continuar seu desenvolvimento e não originaram plantas normais, mesmo crescendo em condições favoráveis (BRASIL, 2009). e) Sementes mortas: porcentagem de sementes que no final do teste não tinham germinado, não estavam duras, nem dormentes e, geralmente, encontravam-se amolecidas, atacadas por microrganismos e que não tinham nenhum sinal de início de germinação (BRASIL, 2009). f) Comprimento da raiz primária e hipocótilo: no final do teste de germinação, a raiz primária e o hipocótilo das plântulas normais de cada repetição foram medidos com o auxílio de uma régua graduada em milímetros, sendo os resultados expressos em centímetros por plântula. g) Massa seca das raízes e hipocótilo: ao final do teste de germinação, as raízes e o hipocótilo das plântulas normais foram acondicionados em sacos de papel do tipo Kraft® e postos em estufa com circulação de ar forçada, regulada a 65 °C até atingir peso constante, em seguida o material foi pesado em balança analítica com precisão de 0,001 g, sendo os resultados expressos em gramas por plântula.
Os dados biométricos foram analisados em planilha eletrônica Excel, classificados por meio de distribuição de frequência e plotados em histogramas de frequência (OLIVEIRA et al., 2000). Para cada característica foram calculados a média, mediana, variância, mínimo, máximo e o desvio padrão conforme Araújo Neto et al. (2002). A análise estatística dos dados da germinação foi realizada utilizando-se o delineamento experimental inteiramente ao acaso, em quatro repetições para cada tratamento. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (Teste F), e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade através do programa estatístico Sisvar.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas Figuras 1 e 2 são apresentados os dados biométricos dos frutos e sementes de Operculina alata. A maior parte dos frutos analisados apresentava comprimento em torno de 22,826,3 mm, largura de 21,44-25,3 mm, espessura de 15,5-18,4 mm e massa fresca de 0,209-0,298 g, atingindo nesses intervalos percentuais de frequência da ordem de 92, 88, 90 e 89%, respectivamente (Figuras 1A, 1B, 1C e 1D), de forma que o valor do desvio padrão e da variância das dimensões e massa fresca foi relativamente baixo, indicando baixa heterogeneidade da amostra (Tabela 1). Figura 1. Frequência do comprimento (a), largura (b), espessura (c) e massa fresca (d) dos frutos de Operculina alata.
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Tabela 1. Valores médios, medianos, mínimos, máximos, desvio padrão e variância do comprimento, espessura e massa fresca dos frutos de Operculina alata. Comprimento Parâmetros
Largura
Espessura
------------------------------- mm -------------------------------
Massa fresca (g)
Média
24,59
23,80
16,88
0,240
Mediana
24,80
23,20
16,95
0,237
Mínimo
20,90
19,50
13,90
0,164
Máximo
26,30
25,30
18,40
0,298
Desvio padrão
1,05
1,02
0,99
0,028
Variância
1,1
1,05
0,98
0,001
As variações nas dimensões dos frutos podem ser atribuídas à variabilidade genética, aos fatores ambientais (bióticos e abióticos), bem como a interação genótipo-ambiente, conforme citado para a espécie medicinal nativa Operculina macrocarpa (L.) Urban (ARAÚJO et al., 2012). Para as sementes constatou-se menor variação de tamanho quando comparadas aos frutos, pois os valores de variância e de desvio padrão dessa característica foram menores (Tabela 2). Entretanto, a massa fresca das sementes teve maior variação em relação à dos frutos. Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Santana et al. (2013) na caracterização biométrica de frutos e sementes de Momordica charantia L. Para Magonia pubescens ST. Hil, Macedo et al. (2009) também verificaram que os frutos têm grande variação nas dimensões e as sementes apresentam menor variação.
Tabela 2. Valores médios, medianos, mínimos, máximos, desvio padrão e variância do comprimento, diâmetro e massa fresca das sementes de Operculina alata. Comprimento Parâmetros
Diâmetro
-------------------------- mm --------------------------
Massa fresca (g)
Média
10,0
9,47
2,155
Mediana
10,1
9,55
2,251
Mínimo
8,8
8,4
1,199
Máximo
10,9
10,1
2,703
Desvio padrão
0,40
0,40
0,354
Variância
0,16
0,16
0,126
Em relação à análise biométrica das sementes (Figuras 2A, 2B e 2C), registraram-se maiores percentuais de frequência nos intervalos de comprimento de 9,6-10,3 mm (74%), diâmetro de 9,0-10,1 mm (88%) e massa fresca de 1,701-2,703 g (89%). Tais resultados estão de acordo com Oliveira et al. (2000) quando sugeriu que a relativa uniformidade das dimensões e massa fresca das sementes sejam caracteres determinados geneticamente para a espécie. Além disso, os resultados aqui obtidos podem indicar quais seriam as dimensões das sementes a serem coletadas na microrregião do Potengi, semiárido Norte-rio-grandense.
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Figura 2. Frequência do comprimento (a), diâmetro (b) e massa fresca (c) das sementes de Operculina alata.
48
O tamanho das sementes influenciou significativamente a germinação das sementes de Operculina alata (Tabela 3), sendo os maiores valores obtidos com as sementes grandes seguidas pelas médias, provavelmente devido a maior quantidade de reservas para a retomada do crescimento do eixo embrionário. Carvalho e Nakagawa (2012) relatam que sementes de maior tamanho possuem, geralmente, embriões melhor formados e maior quantidade de reservas, em relação aos de tamanhos menores. Assim, potencialmente, apresentam maior vigor, mas que em determinadas situações podem não ser as mais vigorosas. De maneira similar, o tamanho das sementes de Caesalpinia leiostachya (Benth.) Ducke (BIRUEL et al., 2010), Melanoxylon brauna Schott. (FLORES et al. 2014) e Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) Penn. (SILVA et al., 2015) também influenciou a germinação, com melhor desempenho observado nas sementes de maior tamanho.
Tabela 3. Germinação (G), primeira contagem de germinação (PC), índice de velocidade de germinação (IVG), plântulas anormais (PA) e sementes mortas (SM) de Operculina alata em função do tamanho. G
PC
Classes de tamanhos
PA
SM
IVG -------------- % --------------
-------------- % -------------
Pequenas
084 c
82 b
5,1 b
8b
8b
Médias
094 b
94 a
6,2 a
6b
0a
Grandes
100 a
97 a
6,2 a
0a
0a
CV (%)
1,2
3,21
2,42
22,87
0,00
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
No entanto, resultados distintos foram constatados em sementes de Mimosa caesalpiniifolia Benth. (ALVES et al., 2005), Copernicia hospita Mart. (OLIVEIRA et al., 2009) e Carthamus tinctorius L. (ABUD et al., 2010), cujo tamanho das mesmas não afetou a germinação. Na primeira contagem de germinação (Tabela 3), as maiores porcentagens ocorreram nas sementes médias e grandes, embora não diferindo estatisticamente entre si. Da mesma forma, Martins et al. (2000) observaram que em Euterpe espiritosantensis Fernandes a germinação foi mais rápida em sementes de maior tamanho, sendo, portanto, estas sementes consideradas as de melhor qualidade fisiológica, pois segundo Carvalho e Nakagawa (2012), a melhor qualidade das sementes de maiores tamanhos está relacionada à maior quantidade de reservas e assim originam plântulas mais vigorosas. Quanto ao índice de velocidade de germinação (Tabela 3), os maiores valores também foram obtidos com as sementes grandes e médias, o que está de acordo com Marcos Filho (2015), quando relatou que a germinação e o vigor das sementes pequenas é menor que o das médias e grandes, porém discordam de Vanzolini e Nakagawa (2007) ao relatarem que as sementes menores geralmente germinam mais rapidamente, o que segundo Krzyzanowski et al. (1999) pode ser explicado pelo fato de as sementes menores necessitarem de menor quantidade de água, de forma que são as primeiras a germinar. Para Mesua ferrea L. (ARUNACHALAM et al., 2003), Schizolobium amazonicum (Huber) Ducke (GHISOLF et al., 2006) e Caesalpinia leiostachya (Benth.) Ducke (BIRUEL et al., 2010), o índice de velocidade de germinação das sementes maiores também foi superior ao daquelas de menor tamanho. A velocidade de germinação das sementes médias e grandes de Bactris gasipaes Kunth. foi maior em relação às pequenas (LEDO et al., 2002), enquanto, Alves et al. (2005) observaram que a velocidade de germinação tendeu a diminuir com o aumento do tamanho das sementes de Mimosa caesalpiniifolia Benth. Em contrapartida, em Acacia Senegal (L.) Willd. (FERREIRA; TORRES, 2000), Copernicia hospita Mart. (OLIVEIRA et al., 2009) e Artocarpus heterophyllus Lam. (SILVA et al., 2010), a velocidade de germinação não foi afetada pelo tamanho das sementes. As plântulas anormais foram originadas a partir de sementes pequenas e médias, enquanto que ao final do teste de germinação constatou-se que apenas sementes pequenas morreram (Tabela 3). Segundo Barros et al. (2020), a menor qualidade das sementes de menores tamanhos possivelmente está relacionada à maior porcentagem de sementes mal formadas, fato que, provavelmente, justifica o maior percentual de sementes mortas e plântulas anormais oriundos das sementes pequenas. Para o comprimento da raiz primária não houve diferença estatística entre os diferentes tamanhos de sementes, provavelmente pelo fato das reservas das sementes serem suficientes para um bom desenvolvimento das raízes, independentemente do tamanho das mesmas (Tabela 4). Por outro lado, Alves et al. (2005) verificaram maiores valores de comprimento da raiz primária de plântulas de Mimosa caesalpiniifolia Benth. originadas de sementes grandes.
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Tabela 4. Comprimento do hipocótilo (CH), massa seca do hipocótilo (MSH), comprimento da raiz primária (CRP) e massa seca da raiz primária (MSRP) de plântulas de Operculina alata oriundas de sementes de diferentes tamanhos. CH
CRP
MSH
MSRP
Classes de tamanhos ----------------- cm ---------------
------------------ g -----------------
Pequenas
2,66 b
5,06 a
0,008 c
0,007 c
Médias
3,21 a
4,81 a
0,027 b
0,021 b
Grandes
3,16 a
5,05 a
0,071 a
0,062 a
CV (%)
8,01
6,39
10,20
9,44
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Os maiores valores de comprimento do hipocótilo foram obtidos quando as plântulas foram originadas a partir das sementes médias e grandes, não diferindo estatisticamente entre si (Tabela 4). Resultados semelhantes foram observados para Tamarindus indica L. (PEREIRA et al., 2008) e Hymeneae courbaril L. (PAGLIARINI et al., 2014), em que sementes maiores originaram plântulas mais vigorosas em relação às menores. As plântulas de Sideroxylon obtusifolium também foram influenciadas pelo tamanho das sementes, observando-se maior desenvolvimento inicial daquelas oriundas a partir de sementes grandes, quando comparadas às demais classes de tamanho (SILVA et al., 2015). A importância do tamanho da semente baseia-se no fato de que aquelas maiores produzem plântulas mais vigorosas, presumivelmente porque possuem mais material de reserva, maior nível de hormônio e maior embrião (SURLES et al., 1993). Segundo Carvalho e Nakagawa (2012), sementes maiores dispõem de maior quantidade de substâncias de reserva para o desenvolvimento do eixo embrionário. Os maiores valores de massa seca do hipocótilo e da raiz primária foram obtidos com as plântulas oriundas de sementes grandes, seguidas por sementes médias e por último, pelas sementes pequenas (Tabela 4). A maior diferenciação do vigor das sementes, pelo teste de massa seca das plântulas se baseia no princípio de que esse é um teste com capacidade de detectar pequenas diferenças de vigor de sementes devidas ao genótipo, de tamanho da semente e ao local de produção, entre outros fatores (BARROS et al., 2020). As sementes de Clitoria fairchildiana R. Howard (SILVA; CARVALHO et al., 2008), Dyckia goehringii Gross & Rauh (DUARTE et al., 2010) e Artocarpus heterophyllus Lam. (SILVA et al., 2010) de maior tamanho originaram plântulas com maior acúmulo de massa seca, em relação às obtidas a partir de sementes menores, concordando com os resultados obtidos neste estudo. No entanto, em Carthamus tinctorius L., Abud et al. (2010) não verificaram influência do tamanho das sementes sobre o conteúdo de massa seca da parte aérea das plântulas. De maneira geral, a classificação pelo tamanho melhora a qualidade do lote de sementes de Operculina alata. Para propagação dessa espécie sugere-se a utilização de sementes grandes (C = 10,4-10,9 mm e D = 9,6-10,1 mm), visto que a variação do tamanho influencia na germinação e no vigor. As sementes de menor tamanho (C = 8,8-9,5 mm e D = 8,4-8,9 mm) são de baixa qualidade fisiológica e devem ser descartadas do lote. Portanto, a seleção e classificação das
50
sementes é uma técnica que deve ser recomendada na avaliação da qualidade fisiológica de sementes de O. alata.
4. CONCLUSÕES Os frutos e sementes amostrados de Operculina alata apresentaram baixo grau de heterogeneidade para as características biométricas e de massa fresca. Os frutos de O. alata apresentaram maior variação nas dimensões em relação às sementes, no entanto, a massa fresca das sementes teve maior variação do que a dos frutos. O tamanho das sementes de O. alata influenciou significativamente na sua germinação e vigor, com o melhor desempenho observado nas sementes grandes. As sementes grandes de O. alata originaram plântulas mais vigorosas em relação às demais classes de tamanho.
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Capítulo 6 AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE MUDAS DE Moringa oleífera Lam. EM DIFERENTES SUBSTRATOS NA REGIÃO DO CARIRI PARAIBANO
SANTOS, Danilo Silva dos Graduando no Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia Universidade Federal de Campina Grande dannilosilva040@gmail.com OLIVEIRA, Isaak Geronimo de Graduando no Curso Superior de Engenharia de Biossistemas Universidade Federal de Campina Grande isaakgeronimo95@gmail.com JUNIOR, Osmar António da Silva Graduando no Curso Superior de Engenharia de Biossistemas Universidade Federal de Campina Grande ao.antonioosmar@gmail.com SOUSA, José Hugo Simplicio de Graduando no Curso Superior de Engenharia de Biossistemas Universidade Federal de Campina Grande hugosimplicio123@gmail.com DORNELA, Carina Seixas Maia Professora adjunta Universidade Federal de Campina Grande cacasmd@yahoo.com.br
RESUMO A moringa (Moringa oleífera Lam.), pertencente à família Moringaceae, é uma hortaliça arbórea que apresenta grande variabilidade nutricional e medicinal, assim são considerados de grande importância tecnologias para produção de mudas, para a inserção desta espécie em diferentes regiões. Portanto, este trabalho objetivou analisar o melhor substrato para produção de mudas de moringa, para produção de forragem e garantia de um banco de proteína para os agricultores do cariri paraibano. O experimento foi desenvolvido na área didática de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), localizada no Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (CDSA), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Sumé PB. O delineamento foi inteiramente casualizado com 3 tipos de combinações de substratos e cinco repetições. Os substratos utilizados foram: Areia + Terra (T1); Areia + Terra + Esterco Caprino (T2); e Areia + Terra + Composto Orgânico (T3). Foram avaliados os seguintes parâmetros: Teor de umidade, Emergência, Índice de Velocidade de Emergência, comprimento de plântulas (CP) e diâmetro de plântulas (DP). Com isso foi possível constatar que os adubos orgânicos, estatisticamente não influenciaram no desenvolvimento inicial das plântulas de moringa. Porém, a adição de compostos orgânicos nos substratos proporciona o desenvolvimento de uma planta saudável e equilibrada. PALAVRAS-CHAVE: Fitotecnia, Semiárido, Sustentabilidade.
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1. INTRODUÇÃO A região nordeste possui um clima semiárido e decorrente deste fato, tem sua vegetação característica, sendo 50% do seu território coberto por vegetação xerófita. As chuvas ocorrem de forma irregular, tanto espacial quanto temporal, com exceção da presença de fenômenos, como por exemplo, o El Niño. A temperatura média fica sempre superior a 18 °C, variando de acordo com a topografia da região e a distribuição pluviométrica anual, se dá de forma bastante variada tanto espacialmente quanto temporal (PAULO e DJAIL, 2017). Assim, devido às características da região nordeste, surge à necessidade de cultivar culturas mais adaptadas as condições de aridez, tanto para a produção de forragem, para o fornecimento aos animais no período de estiagem, quanto culturas que fixam nitrogênio no solo e combatem a desertificação das áreas exploradas pela agropecuária (SILVA et al., 2003). A Moringa oleífera Lam., pertencente à família Moringaceae, ordem Papaverales, possui apenas um gênero Moringa, é uma hortaliça arbórea podendo chegar até 8 metros de altura. Tem como origem a Índia, sendo considerada pelos botânicos e biólogos, o milagre da natureza, devido a sua grande variabilidade nutricional e medicinal. Em uma única grama de moringa desidratada pode ser encontrada 25 vezes a quantidade de ferro que contém no espinafre, 17 vezes a quantidade de cálcio disponível no leite, 15 vezes a quantidade de potássio que contém em uma banana, 10 vezes a quantidade de vitamina A de uma cenoura, 9 vezes a quantidade de proteína do iogurte, 0.5 vezes a quantidade de vitamina C da laranja (ABEL et al., 2013). No Brasil, a introdução da árvore limitou-se a objetivos de ornamentação nos parques públicos (BRANDÃO JOLY, 1977). Mas, hoje vem sendo difundida por ser uma espécie, considerada como uma ótima alternativa, tanto para produtores familiares como para grandes agricultores, levando em consideração, sua finalidade, como ótima forragem contendo aproximadamente 22% de proteína, utilizada na alimentação humana seja como farinha, in natura, chá ou suco, também utilizada na purificação de água, produção de fármacos e a extração de óleos de suas sementes (SANTOS, 2010). Por se tratar de uma espécie arbórea, em muitos casos, a produção de mudas normalmente tem sido realizada em viveiros destinados a formação de mudas de espécies nativas, obedecendo a técnicas tradicionais para estas espécies. Para o sucesso no desenvolvimento de tecnologias para produção de mudas, a utilização do substrato adequado é de grande importância, todavia, no Brasil existem poucos estudos agronômicos relacionados à moringa. Lima et al. (2009), afirma que o uso de substratos é uma das alternativas que mais proporciona rendimentos, quando comparados aos métodos de uso tradicionais, devido induzir menor possibilidade de contaminação por fitopatógenos, precocidade, menor gasto de sementes, além de possibilitar condições favoráveis no desenvolvimento do sistema radicular das plântulas. Portanto a aplicação de resíduos naturais sendo de origem animal ou vegetal, com destino a realização de substratos orgânicos, está se tornando uma atividade sustentável de grande importância Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi analisar o melhor substrato para produção de mudas de moringa, para produção de forragem e garantia de um banco de proteína para os agricultores do cariri paraibano.
2. MATERIAIS E METODOS O presente trabalho foi desenvolvido na área didática de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), localizada no Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (CDSA), da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Sumé-PB. As sementes foram coletadas de matrizes adultas e com boas características sanitárias, na área experimental do CDSA, posteriormente foram submetidas a uma secagem a sombra,
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passaram por triagem, sendo retirada as sementes quebradas, trincadas e condicionadas em recipientes plásticos, a temperatura média de 30°C ± 2, no Laboratório de Tecnologia de Sementes e Produção Vegetal, até a execução do experimento. Para semeadura das sementes foram utilizados dois tipos de substratos com adubação orgânica e um sem adubação orgânica (Figura 1). Figura 1. Preparação dos substratos para semeadura das sementes.
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Fonte: Arquivo do Pesquisador
Os tratamentos foram organizados conforme a Tabela 1. A semeadura, das sementes, foi realizada no dia 11 de fevereiro de 2020. A irrigação foi realizada diariamente e de forma manual, onde os tratamentos receberam água até a saturação, garantindo assim que o fator água não interferisse nos resultados do experimento. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com três tratamentos (substratos) e cinco repetições (Figura 2). Tabela 1. Descrição dos substratos avaliados para a produção de mudas da Moringa. Tratamento 1 (T1) – Barro (30%) + Areia (70%) Tratamento 2 (T2) – Barro (20%) + Areia (50%) + Composto Orgânico (30%) Tratamento 3 (T3)– Barro (20%) + Areia (50%) + Esterco Caprino (30%) Figura 2. Emergência de sementes de
M. oleífera Lam.
Fonte: Arquivo do Pesquisador
Foram avaliados os seguintes parâmetros: Teor de Umidade, obtido utilizando 10 sementes, antes do plantio, através do método gravimétrico com a utilização de estufa a 105ºC (BRASIL, 2009); Emergência - O número de plântulas emersas está sendo registrado a partir do surgimento das primeiras plântulas até a estabilização das mesmas. O critério utilizado foi o de plântulas com os cotilédones acima do substrato, sendo os resultados expressos em porcentagem. Índice de velocidade de emergência (IVE) que foi determinado com a contagem diária das plântulas emergidas, no período de 15 dias calculado pela fórmula proposta por MAGUIRE, (1962): IVE = G1/ N1 + G2/ N2 +... + Gn /Nn; Onde: IVE = Índice de velocidade de emergência E1, E2, En = Número de sementes emergidas computadas na primeira contagem, na segunda contagem e na última contagem n: N1, N2, Nn = Número de dias da semeadura à primeira, segunda e contagem n); O diâmetro do caule das plântulas (DCP) – foi mensurado após 15 dias da primeira germinação, com auxílio de um paquímetro posicionado na base da planta obedecendo sempre a mesma altura em relação ao solo; O comprimento das plântulas (AP) – foi coletado, também, após 15 dias da primeira germinação, com auxílio de uma régua graduada, do colo até o ponto de inserção do folíolo terminal. Os dados foram submetidos à análise de variância e a comparação entre as médias, conforme Ferreira (2000), foi realizada pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. O software utilizado foi o SISVAR versão 4.0, desenvolvido pela Universidade Federal de Lavras. Os gráficos foram construídos no Excel para melhor entendimento.
3. RESULTADOS E DISCUSÃO As sementes de M. oleífera Lam. recém-coletadas e, sem tratamentos pré-germinativos apresentaram teor médio de água de 5,1 %. O teor médio de água obtido está de acordo com os relatos de Bradbeer (1988), em que a maioria das sementes ortodoxas apresenta cerca de 5 a 25% de água com base em sua massa fresca. Quanto à porcentagem de emergência verificou-se que os diferentes tratamentos utilizados não diferiram estatisticamente (Figura 3). Assim os substratos Areia+Terra+Composto orgânico (T3), Areia+Terra (T2) e Areia+Terra+Esterco caprino (T1), proporcionaram resultados com valores de 85, 80 e 79% respectivamente. Segundo Ramos et al (2002), um bom substrato é aquele que objetiva proporcionar condições adequadas à germinação e/ou ao surgimento ou ainda ao desenvolvimento do sistema radicular da muda em formação. A emergência só ocorre dentro de determinados limites de temperatura, sendo considerada a temperatura ótima aquela que possibilita a máxima emergência em um menor período de tempo (BRASIL, 2009), assim provavelmente os substratos utilizados proporcionaram valores de temperatura ideais permitindo que as sementes de M. oleífera Lam., iniciasse o seu processo germinativo em condições não controladas.
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Figura 3. Emergência de sementes de M.
oleífera Lam. em diferentes substratos.
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Fonte: Dados da Pesquisa
Os dados referentes ao índice de velocidade de emergência (IVE) encontram-se na Figura 4, onde verifica-se que os diferentes substratos Areia+Terra+Composto orgânico (T3), Areia+Terra (T2) e Areia+Terra+Esterco caprino (T1) não diferiram estatisticamente. Assim, constata-se que quando as sementes são submetidas ao substrato terra aumenta a área de contato da semente com o substrato, permitindo uma maior velocidade de absorção de água, promovendo um maior aumento na velocidade de emergência. Figura 4. Índice de Velocidade de Emergência de plântulas de Moringa (Moringa Oleífera) em diferentes substratos.
Fonte: Dados da Pesquisa
A caracterização física é considerada uma ferramenta fundamental para a avaliação da adequação e escolha dos substratos, sendo considerados os ideais aqueles que retêm mais água e melhor aeração. Segundo Faccini et al (2008), o rendimento de uma espécie depende da utilização do substrato mais conveniente para a obtenção de mudas saudáveis e de boa qualidade. Para os dados de comprimento e diâmetro de plântulas (Figura 5 A,B), observou-se o mesmo comportamento, onde os substratos utilizados não diferiram entre si. No estudo de Silva (2019) em relação ao desenvolvimento de mudas de moringa com análises de comprimento e
diâmetro aos 15, 30, 45 e 60 dias, foi observado um valor crescente, considerável, ou seja, apresentando um desenvolvimento vegetativo bastante expressivo ao longo das avaliações. Assim, as médias obtidas aos 15 dias, após a emergência, são maiores que os valores observados por Silva (2019), pois o comprimento aos 15 dias no tratamento Areia+Terra (T2) foi superior 13,8, como também o diâmetro que com valores de 2,5 mm (Figura 5). Figura 5. Comprimento (A) e diâmetro (B) de plântulas de M. Oleífera em diferentes substratos.
A
B Fonte: Dados da Pesquisa
Assim, segundo Miranda et al (1998), a qualidade do substrato para o abastecimento de bandejas depende de sua estrutura física, devendo ser leve, absorver e reter adequadamente a umidade, reunir nutrientes cujos teores não ultrapassem determinados níveis, afim de evitar efeitos fitotóxicos
4. CONCLUSÃO Os substratos que foram utilizados não influenciaram na emergência, no índice de velocidade de emergência, no comprimento e diâmetro de plântulas de M. oleífera, em condições não controladas na região do cariri paraibano.
5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Coordenadora geral do Laboratório de Educação em Solos (LASOL), Prof., Adriana Meira Vital, pelo fornecimento das sementes de moringa (Moringa Oleífera), como também a coordenadora do Laboratório de Ecologia e Botânica (LAEB), Prof., Alecsandra Vieira de Lacerda, pelos substratos fornecidos e encarecidamente a professora Carina Seixas pela orientação do trabalho.
REFERÊNCIAS ABEL, NIKOLAS, EMILLE, PAMELLA, SAMANTA. Cultivo da Moringa Oleífera. Dossiê Técnico. Julho de 2013. Disponível em: <http://www.respostatecnica.org.br/dossietecnico/downloadsDT/Mjc2ODU= >. Acessado em 02/03/2020. ALMEIDA NETO, M. A. Uso da semente do gênero moringa, 2003. Disponível em: <www.cpatsa.embrapa.br/catalogo/doc/posters/12_1_Mario_Augusto.doc>. Acessado em 03/03/2020. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes. Brasília, DF: Mapa/ACS, 2009. 399p. FACCINI, C. S. et al. Influência da salinidade dos substratos na germinação das sementes de fumo (Nicotiana tabacum). Pesq. Agrop. Gaúcha, Porto Alegre, v. 14, n. 1, p. 21-25, 2008.
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FERREIRA, D.F. Análises estatísticas por meio do Sisvar para Windows versão 4.0. In... REUNIÃO ANUAL DA REGIÃO BRASILEIRA DA SOCIEDADE INTERNACIONAL DE BIOMETRIA, 45, 2000. Anais... São Carlos, SP: SIB, p. 255-258, 2000. LIMA, C. J. G. et al. Avaliação de substratos organicos na produção de mudas de tomate cereja. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v. 40, n. 1, p. 123-128, 2009. MAGUIRE, J.D. Speed of germination-aid in selection and evaluation for seedling emergence and vigor. Crop science, v.2, n.1, p.176-177, 1962. MIRANDA, S. C. et al. Avaliação de substratos Alternativos para Produção de Mudas em Bandejas. Brasília, Embrapa, 1998. P. 1-6. CNPAB, n. 24. PACHECO, M. V. et al. Efeito de temperaturas e substratos na germinação de sementes de Myracrodruon urundeuva Fr. All. (Anacardiaceae). Revista Árvore, Viçosa, v. 30, n. 3, p. 359367, 2006. PAULO E DJAIL. Climatologia do Estado da Paraíba. 2017. Disponível em: < https://portal.insa.gov.br/images/acervolivros/Climatologia%20do%20Estado%20da%20Paraiba%20editora.pdf >. Acessado em 02/03/2020. PEREIRA, K. T. O.; SANTOS, B. R. V. dos; BENEDITO, C. P.; LOPES, AQUINO, E. G.; G. S. M. GERMINAÇÃO E VIGOR DE SEMENTES DE Moringa oleifera Lam. EM DIFERENTES SUSTRATOS E TEMPERATURAS. Revista Caatinga, Mossoró, v. 28, n. 2, p. 92 – 99, abr. – jun., 2015. RANGEL. M.S.A. Moringa oleifera; uma planta de uso múltiplo. Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros. 1999. 41p. (Embrapa-CPATC. Circular Tecnica, 9). SANTOS, A. R. F. Desenvolvimento inicial de Moringa Lam. Sob condições de estresse. 2010. 77f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas), Universidade Federal de Sergipe, São Cristovão, Sergipe, 2010. SILVA, P. D. S. E.; RODRIGUES, N. da S.; ARAÚJO, D. B. AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INICIAL DE MUDAS DE MORINGA (Moringa Oleifera L.).In: Congresso Nacional de Pesquisa e Ensino em ciências, IV, 2019, Campina Grande. Anais... Campina Grande, PB, 2019. SILVA, R. M. A. Entre dois paradigmas: combate a seca e convivência com o Semiárido. Sociedade e estado, v. 18, n.1/2, p. 361-385, 2003.
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Capítulo 7 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE CHUVA DISTRIBUÍDA NO INSTITUTO NACIONAL DO SEMIÁRIDO
SIMÕES, João Paulo de Oliveira Mestre em Engenharia Ambiental Pesquisador do Instituto Nacional do Semiárido - PCI/CNPq joao.simoes@insa.gov.br MENDONÇA, Ana Maria Gonçalves Duarte Doutora em Engenharia de Processos Pesquisadora do Instituto Nacional do Semiárido - PCI/CNPq ana.mendonca@insa.gov.br ARAÚJO, Ana Beatriz Alves Doutora em Manejo de Solo e Água Pesquisadora do Instituto Nacional do Semiárido - PCI/CNPq ana.araujo@insa.gov.br MEDEIROS, Salomão de Sousa Doutor em Engenharia Agrícola Pesquisador do Instituto Nacional do Semiárido - PCI/CNPq salomao.medeiros@insa.gov.br
RESUMO Uma forma de conservação e preservação dos escassos recursos hídricos disponíveis em nossa região semiárida é a utilização de fontes alternativas de água, como o aproveitamento da água de chuva. No que tange a qualidade da água, a mesma depende da sua composição química, física e microbiológica. Para o consumo humano, necessita-se que a água seja potável, livre de cor, gosto, odor, e de qualquer substância que possa produzir efeito fisiológico prejudicial à saúde do homem. Objetivou-se com este estudo avaliar a qualidade da água de chuva distribuída no Instituto Nacional do Semiárido - INSA. O monitoramento da qualidade da água de chuva foi realizado por meio da caracterização físico-química (turbidez, sólidos totais dissolvidos, pH e teores de cloro residual) e microbiológica (coliformes totais e E. coli). As coletas para análise foram realizadas mensalmente por um período de 08 meses seguidos, de maio/2019 a dezembro/2019. Com base nos resultados obtidos, é possível concluir que a água de chuva consumida no INSA atende aos padrões exigidos pela legislação específica, a Portaria de Consolidação n° 05/2017, do Ministério da Saúde, que estabelece o padrão de potabilidade da água para o consumo humano. PALAVRAS-CHAVE: águas pluviais, potabilidade, consumo humano.
1. INTRODUÇÃO O crescente aumento populacional vem impactando diretamente a disponibilidade dos recursos hídricos no Brasil e no mundo. Diante desse cenário, a disponibilidade hídrica vem sendo afetada, tanto sob o ponto de vista qualitativo quanto quantitativo. No nordeste brasileiro, tal situação é potencializada pelos elevados índices de evaporação e distribuição irregular das chuvas. Jatobá et al., (2017), mostram que a costa oriental do nordeste apresenta uma pluviometria média anual de chuvas de 2000 mm ou mais, ao passo que áreas de depressão sertaneja (região semiárida) apresentam precipitações médias anuais da ordem de 400 mm.
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Estratégias de convivência com o semiárido envolvem prioritariamente o acesso aos recursos hídricos e às tecnologias para sua captação, armazenamento e usos sustentáveis adaptados às condições da região. A água de chuva, com médias anuais de 800 mm no semiárido brasileiro é uma fonte de fácil acesso para a população difusa sem acesso à água. É armazenada em cisternas, reservatórios, açudes, entre outros e usada na época seca para diversos fins, entre eles o consumo humano, a dessedentação animal e a irrigação.
Uma forma de conservação dos recursos hídricos é utilizar fontes alternativas de água, como o aproveitamento imediato da água de chuva (ABDULLA e AL-SHAREEF, 2009; KHASTAGIR e JAYASURIYA, 2010; PALLA et al., 2012). A adoção de reservatórios para armazenamento imediato da água da chuva é uma prática já disseminada em muitos países e ganhou destaque como ferramenta de convivência com o semiárido no Brasil. A captação de água de chuva é uma tecnologia social que inicialmente foi adotada por comunidades rurais para atender os diferentes usos no núcleo familiar, inclusive a ingestão humana. Entretanto, diante dos sérios problemas hídricos enfrentados em diferentes regiões, que afetam diretamente o abastecimento público, esse tipo de tecnologia vem adentrando o setor urbano como uma alternativa complementar ao sistema de abastecimento. No que tange a qualidade da água, a mesma depende da sua composição química, física e microbiológica. Para o consumo humano, necessita-se que a água seja saudável, livre de cor, gosto, odor, e de qualquer substância que possa produzir efeito fisiológico prejudicial à saúde do homem, o que se denomina de água potável (LIBÂNIO, 2010). A proteção sanitária do sistema de captação e da água captada depende do risco sanitário, e o risco depende, principalmente: das condições de uso; das condições da superfície de captação; da exposição a contaminantes; das condições epidemiológicas da região; e da operação e manutenção do sistema. Andrade Neto (2013) ressalta que os requisitos de qualidade estão diretamente relacionados com o uso da água. Como as alternativas de uso são incontáveis, podem-se utilizar águas de chuva captadas de diversas formas, armazenadas sob várias condições e com diversos graus de qualidade. Nessa perspectiva, o Instituto Nacional do Semiárido (INSA) vem realizando estudos sobre a captação e o armazenamento, bem como técnicas de tratamento para adequar as águas aos parâmetros de qualidade preconizados na Portaria de Consolidação n° 05/2017, do Ministério da Saúde. A referida portaria estabelece requisitos, procedimentos e responsabilidades, relativos ao controle e à vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, a serem atendidos pelos responsáveis do abastecimento. Diante disso, esse estudo teve como objetivo realizar um monitoramento qualitativo da água de chuva captada e armazenada no INSA por meio da caracterização físicoquímica e microbiológica e, sua análise confrontada com as diretrizes descritas pela Portaria nº 05/2017, do Ministério da Saúde. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Caracterização da área de estudo
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No Instituto Nacional do Semiárido - INSA, localizado no município de Campina Grande - PB, funciona uma unidade de pesquisa com realização de estudos sobre a captação, armazenamento e aproveitamento das águas pluviais. Para que tal atividade seja realizada, as áreas cobertas (telhados) dos setores foram adaptadas para receber os dispositivos hidráulicos. Desse modo, as instalações receberam calhas para coleta das águas; tubos verticais e horizontais para direcionamento das águas; e tubulações para o desvio das primeiras chuvas com capacidade de descarte do primeiro milímetro. O Sistema de Aproveitamento de Água de Chuva, localizado no INSA, é composto por 34 caixas de 20 m³ cada, com um aporte de 680 m³, uma cisterna de 20 m³ e uma caixa d’água elevada de 32 m³, totalizando um potencial de armazenamento de 732 m³, em uma área de captação de 5.268 m². A Figura 1 apresenta o layout do Sistema de Aproveitamento de Água de Chuva do Instituto Nacional do Semiárido - INSA.
Figura 1. Layout do Sistema de Aproveitamento de Água de Chuva, INSA.
Fonte: Próprio autor.
2.2 Sistema de abastecimento de Água O sistema de abastecimento de água do INSA é composto por dois sistemas que funcionam de forma interligada: o Sistema Convencional de Abastecimento de Água - SCAA, que fornece água através do sistema público urbano; e o complementar, proveniente do Sistema de Aproveitamento de Água de Chuva - SAAC, conforme já apresentado na Figura 1. Assim, na ausência de uma das fontes a outra é acionada. A rede de distribuição externa fornece água através do sistema público de abastecimento. Sendo assim, possui um hidrômetro externo para registrar o consumo mensal, enquanto que o sistema interno possui hidrômetros em todos os pontos de consumo, os quais são submetidos às leituras mensais.
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A água de chuva armazenada passa por um tratamento simplificado, constituído por uma unidade de filtração seguida de uma etapa de desinfecção, onde a água é clorada e direcionada aos reservatórios de distribuição. A partir de então, a água tratada é distribuída para todas as instalações, sendo utilizada para diversos fins, como por exemplo: usos em banheiros, refeitórios, laboratórios, limpeza em geral, exceto para o consumo humano.
2.3 Monitoramento qualitativo do Sistema de Aproveitamento da Água de Chuva O monitoramento da qualidade da água de chuva foi realizado por meio da caracterização físico-química (turbidez, sólidos totais dissolvidos, pH e cloro residual) e microbiológica (coliformes totais e E. coli), seguindo os critérios de coleta, amostragem e periodicidade das análises. As coletas para análise foram realizadas mensalmente por um período de 08 meses, compreendido entre maio/2019 a dezembro/2019. Os parâmetros selecionados foram analisados conforme procedimentos analíticos descritos no Standard Methods For The Examination Of Water And Wastewater (APHA, 2012). No monitoramento, foram avaliados os parâmetros selecionados em conformidade com as diretrizes da Portaria de Consolidação n° 05/2017, do Ministério da Saúde, seguindo os critérios de coleta, amostragem e periodicidade das análises. Para esse acompanhamento, foram selecionados pontos de coleta de água em diferentes locais do sistema de captação: caixas de armazenamento (água bruta - AB); cisterna e ponto de consumo direto (água tratada - AT).
2.4 Dados pluviométricos Os dados de precipitação pluviométrica foram coletados na estação climatológica automática (HOBO U30) instalada nas proximidades da sede do Instituto Nacional do Semiárido - INSA, no município de Campina Grande - PB, mesorregião geográfica do Agreste Paraibano, no Planalto da Borborema. A Figura 2 mostra a variabilidade das precipitações para 2019.
Figura 2. Distribuição das precipitações mensais (mm) em 2019.
Fonte: Próprio autor.
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2.5 Áreas das superfícies de captação As informações das áreas das superfícies de captação foram extraídas dos projetos arquitetônicos (planta baixa). A Tabela 1 apresenta a área de coberta de cada uma das instalações (prédios) que fazem parte do sistema de captação de água de chuva.
Tabela 1. Áreas das superfícies de captação do INSA. Instalações
Área (m²)
Setor administrativo Setor técnico I e II / laboratório/ refeitório Auditório / biblioteca / salas de treinamento Garagem / casa do trabalhador Área total de coberta
982 1.879 1.275 1.132 5.268
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores médios obtidos para os parâmetros físico-químicos (estabelecidos como parâmetros sentinelas no monitoramento) são apresentados na Tabela 2, a seguir. É possível observar que todos os parâmetros físico-químicos estão dentro dos padrões exigidos pela Portaria de Consolidação n° 05/2017 (Anexo 20), do Ministério da Saúde, que trata do padrão de potabilidade da água para consumo humano.
Tabela 2. Avaliação físico-química e microbiológica da água de chuva captada e armazenada no INSA durante o período do monitoramento qualitativo. Pontos de Coleta Cisterna Parâmetros
Unidade (AT) (1)
Ponto de consumo
VMP (2)
(AT) (1)
pH
-
7,2
7,4
6,0 - 9,5
Turbidez
UNT
0,0
0,0
≤ 5,0
SDT
mg/L
34,5
42,0
≤ 1000
Cloro livre
mg/L
1,9
1,45
0,2 - 2,0
Coliformes Totais
NMP/100 mL
0,00
0,00
Ausência
E. coli
NMP/100 mL
0,00
0,00
Ausência
Legenda: (1) - Médias dos dados obtidos durante o período monitorado; (2) - VMP: Valor Máximo Permitido; (AT) Água Tratada; pH - potencial hidrogeniônico; SDT - Sólidos Dissolvidos Totais; E. coli - Escherichia coli; UNT Unidades Nefelométricas de Turbidez; NMP - Número Mais Provável.
Os valores de pH dos pontos amostrados ficaram dentro da faixa recomendada pela legislação, de 6,0 a 9,5. O valor do pH indica a condição de acidez e alcalinidade da água. Já a
turbidez, que representa o grau de alteração à passagem da luz através da água, apresentou, em seus pontos amostrados, valores nulos. Ressalta-se que os valores de SDT aumentam no ponto de consumo, em relação à cisterna, devido ao provável acúmulo de material sólido (biofilme) nas caixas de armazenamento e nas tubulações de adução da água, dados que corroboram para a relevância da contínua manutenção e limpeza dos reservatórios de armazenamento, conforme já ressaltado por Andrade Neto (2013). Os valores do cloro residual livre, conforme tabela acima, permaneceram dentro dos limites estabelecidos pela Portaria de Consolidação supracitada, obedecendo a faixa de valores permissíveis de 0,2 - 2,0 mg/l. O cloro foi utilizado como agente desinfetante químico no tratamento da água. Possuindo baixo custo, o cloro é eficaz como germicida contra vários microrganismos patogênicos, permanecendo como residual até sua chegada aos pontos de consumo, sendo facilmente aplicado na água. O cloro ainda é conhecido por desempenhar o papel de: oxidante - agindo na oxidação de ferro e manganês; eliminação do H2S; e controle de cor, odor, sabor e algas. Os dados microbiológicos também estão apresentados na Tabela 2, e podem ser descritos da seguinte maneira: (a) para os pontos identificados como cisterna e consumo direto (água tratada - AT) foi atribuído o valor zero 0,0 (ausência total), referente a todo o período avaliado (oito meses) em que houve a ausência total de bactérias do grupo Coliformes e E. Coli, esta última se configura como um indicador de contaminação fecal. A ausência de tais microrganismos patogênicos foi alcançada por intermédio do tratamento químico – com utilização do agente desinfetante cloro – realizado na unidade de abastecimento de água do Instituto, bem como no aumento e controle do tempo de contato deste com a água. Esses dois aspectos de controle operacional foram determinantes para manter a ausência das bactérias ao longo do período de monitoramento. É importante ressaltar que, o monitoramento do sistema de abastecimento com água de chuva continua sendo realizado, de modo a garantir o controle da eliminação desses microrganismos e o padrão de potabilidade da água distribuída.
A Figura 3 apresenta a distribuição mensal do consumo de água no período analisado (2019), com utilização exclusiva das águas pluviais. Figura 3. Distribuição mensal do consumo de água de chuva (m³) em 2019.
Fonte: Próprio autor.
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Devido as boas recargas de chuva, observadas nos primeiros meses do ano (ver Figura 02), foi possível manter o consumo durante 10 meses seguidos, suprido exclusivamente pela água de chuva. Portanto, à medida que as águas foram captadas, estas eram armazenadas, tratadas e destinadas ao sistema de distribuição para o consumo.
4. CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos, é possível concluir que a água captada e distribuída no INSA, após tratamento químico simplificado, atende aos padrões exigidos pela Portaria do Ministério da Saúde em questão, podendo ser utilizada inclusive para fins potáveis. Contudo, reitera-se a necessidade de um acompanhamento analítico ainda mais extensivo para que tal uso possa ser implementado. Para um controle e monitoramento eficaz as unidades de armazenamento necessitam de frequente limpeza e manutenção para a garantia da qualidade higiênico-sanitária da água. Os sistemas de aproveitamento de água de chuva são, sem dúvida, uma alternativa viável do ponto de vista ambiental, técnico e econômico para as condições do semiárido brasileiro, sendo uma forma de conservação e preservação dos recursos hídricos disponíveis em nossa região. Existe um amplo conhecimento tecnológico que deve ser utilizado de forma mais competente com vistas ao aproveitamento imediato da água de chuva para diversos usos, sobretudo para maximizar a relação benefício/custo, aumentar a segurança sanitária dos sistemas e, assim, assegurar a distribuição e qualidade da água.
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SILVA, C. V.; HELLER, L.; CARNEIRO, M. Cisternas para o armazenamento de água de chuva e efeito na diarreia infantil: Um estudo na área rural do semiárido de Minas Gerais. Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental, v.17, n.4, p.393-400, 2012. JATOBÁ, L.; SILVA, A. F.; GALVÍNCIO, J. D. A dinâmica climática do semiárido em Petrolina - PE. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 10, n. 1, p. 136-149, 2017.
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Capítulo 8 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS LEITES PASTEURIZADOS DE DIFERENTES ESPÉCIES ANIMAIS
SANTOS, Rebeca Morais Silva Mestranda em Engenharia e Gestão dos Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande rebecamoraiscg@gmail.com SOUSA, Francisca Moisés de Mestranda em Engenharia e Gestão dos Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande fran_moyses@hotmail.com MELO, Mylena Olga Pessoa Mestranda em Engenharia e Gestão dos Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande mylenaopm@gmail.com SILVA, Virgínia Mirtes de Alcântara Doutoranda em Engenharia e Gestão dos Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande virginia.mirtes2015@gmail.com SANTOS, Newton Carlos Doutorando em Engenharia Química Universidade Federal do Rio Grande do Norte newtonquimicoindustrial@gmail.com
RESUMO No Brasil, há um controle rigoroso quanto à qualidade do leite, determinada por legislação específica, a qual regulamenta parâmetros e requisitos de qualidade pelos quais é realizado o controle para garantir a segurança do leite e identificar fraudes. Considerando a necessidade da segurança na produção do leite de acordo com os requisitos de qualidade determinados pela legislação brasileira, o presente estudo tem como objetivo realizar uma avaliação dos parâmetros de qualidade dos leites pasteurizados das diferentes espécies animais: vaca, cabra é búfala, provenientes das cidades circunvizinhas de Campina Grande, no estado da Paraíba. As amostras de leite foram analisadas quanto aos parâmetros: teor de gordura, densidade, proteínas, pH, sais minerais, lactose, ponto de congelamento, extrato seco desengordurado e condutividade térmica. Foi realizada para os dados experimentais em triplicata e os resultados foram submetidos à análise de variância de fator único (ANOVA) de 5% de probabilidade. Para todos os parâmetros avaliados, o leite de pelo menos uma espécie diferiu significativamente dos demais, a 5% de significância pelo Teste de Tukey. Através da avaliação realizada no presente estudo, foi possível constatar que os leites pasteurizados de diferentes espécies animais apresentaram boa qualidade, com parâmetros dentro do esperado e requisitos de acordo com a legislação brasileira, não sendo identificado nenhum tipo de fraude. Foi verificado que o leite de cada espécie apresenta suas particularidades, havendo diferenças em relação aos demais, devido as suas diferentes composições, de modo que todos os resultados encontrados se mostraram de acordo com a literatura. PALAVRAS-CHAVE: Segurança alimentar, Controle de qualidade, Laticínios.
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INTRODUÇÃO Por seu elevado potencial nutricional e sua essencialidade à saúde humana, o leite está presente na alimentação dos brasileiros, sendo o seu consumo realizado em sua forma natural ou como derivados lácteos, além disso, o leite apresenta grande importância no setor produtivo e econômico do país. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil ocupou a terceira posição de maior produtor mundial de leite em 2017, sendo verificado um crescimento de 271% da produção no período de 1974 a 2017. No último ano deste período, os maiores produtores nacionais foram Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Santa Catarina, os quais foram responsáveis por 71% da produção nacional (EMBRAPA, 2019). De acordo com Vilela (2015), a estimativa da produção brasileira de leite para 2025 será de 47,5 milhões de toneladas. Leite é o produto oriundo da ordenha completa, ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e descansadas (BRASIL, 2011). A composição do leite é complexa e pode apresentar variação devido a fatores como a raça, alimentação, idade, número de parições e tempo de lactação do animal, além de variações climáticas e até devido ao tratamento no qual o mesmo é submetido (ABRANTES et al., 2014). No Brasil, há um controle rigoroso quanto à qualidade do leite, determinada por legislação específica, a qual regulamenta parâmetros e requisitos de qualidade pelos quais é realizado o controle para garantir a segurança do leite e identificar fraudes (BRASIL, 2011). O leite bovino é um líquido complexo que contém água, glicídios (basicamente lactose), gorduras, proteínas (principalmente caseína), minerais e vitaminas em diferentes estados de dispersão (WALSTRA & JENNESS, 1987). Já o leite de búfala apresenta algumas peculiaridades em comparação ao leite bovino, destacando-se o sabor adocicado e a coloração branco opaca provocada pela ausência de pigmentos carotenóides (ANDRIGHETTO, 2011). O leite de cabra apresenta características físicas, químicas e organolépticas diferenciadas quando comparado ao leite de vaca, sendo importante citar a sua maior digestibilidade (LAGUNA & EGITO, 2006). Considerando a necessidade da segurança na produção do leite de acordo com os requisitos de qualidade determinados pela legislação brasileira, o presente estudo tem como objetivo realizar uma avaliação dos parâmetros de qualidade dos leites pasteurizados das diferentes espécies animais: vaca, cabra é búfala, provenientes das cidades circunvizinhas de Campina Grande, no estado da Paraíba.
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MATERIAL E MÉTODOS Coleta das amostras As amostras de leites bovino, caprino e bubalino foram provenientes de criações situadas nas cidades circuvizinhas de Campina Grande – PB. Os leites foram transpotados em recipientes térmicos até o Laboratório de Tecnologia do Frio, pertencente à Unidade Acadêmica de Engenharia de Alimentos, da Universidade Federal de Campina Grande, Campus I, onde o leite foi submetido a pasteurização lenta: à temperatura de 65 ºC, durante trinta minutos, sob constante agitação, e em seguida resfriado entre 4 ºC a 5 ºC. Em seguida, foram realizadas as análises.
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Métodos Analíticos O teste do teor de gordura foi realizado utilizando o método do butirômetro, após adição do ácido sulfúrico e do álcool isoamílico ao leite dentro do butirômetro de Gerber o mesmo foi centrifugado a uma rotação de 1200rpm durante 5 minutos e em seguida levado a banho-maria por 5 minutos para então leitura do teor de gordura na parte inferior do menisco. O resultado é expresso em porcentagem (IAL, 2008). Para a análise da densidade relativa foi determinada através de termolacto densímetro com correção de temperatura a 15ºC, com resultados expressos em 15/15°C g/mL O2 (IAL, 2008). Proteínas - realizado através da quantidade de nitrogênio da amostra, por digestão Kjeldahl. As três etapas importantes para a determinação de proteínas são: digestão, onde a amostra é submetida a altas temperaturas juntamente com a mistura catalítica em um digestor; destilação realizada em destilador com Hidróxido de Sódio concentrado e, por fim, titulação, onde o nitrogênio é transformado em amônia, resultando em g de protídios e se aplicando um fator de 6,25. pH - pHmetro microprocessador digital de bancada da marca QUIMIS, previamente calibrado e em condições favoráveis de uso (IAL, 2008). Sais minerais - Quantificado por gravimetria após incineração em mufla a 550 0C. O método de baseia na perda de peso que ocorre quando o produto é incinerado a 550 0C, com destruição da matéria orgânica (IAL, 2008). Lactose, ponto de congelamento, extrato seco desengordurado, e a condutividade térmica - Foram determinadas em um analisador rápido para leite de marca comercial Master Complete®.
Análise estatística Foi realizada para os dados experimentais em triplicata e os resultados foram submetidos à análise de variância de fator único (ANOVA) de 5% de probabilidade, e as respostas qualitativas significativas foram submetidas ao teste de Tukey adotando-se o mesmo nível de 5% de significância. Para o desenvolvimento das análises estatísticas foi utilizado o software STATISTICA versão 10.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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As médias dos parâmetros de qualidade dos leites bovino, caprino e bubalino pasteurizados encontram-se na Tabela 1, onde é possível verificar que em todos os parâmetros avaliados, o leite de pelo menos uma espécie diferiu significativamente dos demais, a 5% de significância pelo Teste de Tukey. TABELA 1: Médias dos parâmetros de qualidade dos leites bovino, caprino e bubalino pasteurizados Bovino Caprino Bubalino CV (%) Gordura (%)
3,29±0,01 b
3,35±0,05 b
5,33±0,00 a
0,85
Extrato Seco Desengordurado (%)
9,31±0,06 b
8,44±0,13 c
9,73±0,005 a
0,92
Densidade (g/mL)
1,0326±0,007 a
1,0299±0,005 b
1,0333±0,00 a
1,70
Proteína (%)
3,39±0,03 b
3,09±0,051 c
3,51±0,00 a
1,04
Lactose (%)
5,25±0,03 a
4,63±0,05 b
5,28±0,00 a
1,02
Sais Minerais (%)
0,68±0,01 b
0,75±0,01 a
0,69±0,00 b
1,25
Índice Crioscópico (ºH)
-0,6023±0,004 b
-0,5366±0,01 a
-0,6550±0,00 c
1,16
Condutividade (m.S/cm)
4,76±0,05 a
4,70±0,00 a
4,40±0,00 b
0,72
pH
6,62±0,02 b
6,50±0,02 c
6,68±0,01 a
0,30
Média ± desvio padrão. Letras iguais na mesma linha não diferem estatisticamente (P 0,05) de acordo com o Teste de Tukey a 5% de significância. CV% = Coeficiente de variação em %.
Os valores encontrados para o teor de gordura mostraram-se adequados quanto à legislação vigente (BRASIL, 2011), pois apresentam-se acima do teor mínimo de gordura presente no leite integral (3g/100g), e variaram entre 3,29 e 5,33%. Apenas o leite bubalino apresentou diferença significativa em relação aos demais, representando o maior teor encontrado. O leite de búfala destaca-se em relação aos demais devido a sua elevada qualidade nutricional, com alto teor gordura e maior valor calórico, conferindo-lhe alto potencial na produção industrial de derivados lácteos (MODESTO JR. et al., 2016). Em relação ao leite bovino, valores aproximados foram encontrados por Santos et al. (2016), ao avaliarem leites pasteurizados comercializados na cidade de Campina Grande -PB (3,0 a 3,2%). O valor
encontrado para o leite caprino está dentro da faixa encontrada por Coelho et al. (2018), ao avaliarem leite de cabra produzido em Petrolina-PE (2,75 a 5,79%). Os resultados de extrato seco desengordurado apresentaram diferença significativa entre as três espécies, e variaram entre 8,44 e 9,73%, encontrando-se dentro do padrão determinado pela IN 62/11, que é de no mínimo 8,4% (BRASIL, 2011). Os valores máximo e mínimo para este parâmetro foram encontrados nos leites bubalino e caprino, respectivamente. Uma faixa deste parâmetro foi encontrada por Coelho et al. (2018) para o leite de cabra (8,43 a 9,26%), a qual compreende o teor encontrado no presente estudo. Ao estudarem a composição química do leite de búfala, Zanela et al. (2011) encontraram valor superior do teor de sólidos desengordurados (10,16%). É natural que o leite de búfala apresente valores mais altos para este parâmetro, em vista dos seus elevados conteúdos de gordura e sólidos totais. Andrade (2015) relata este comportamento quando ao conteúdo de extrato seco desengordurado, ao comparar leites de vaca (7,97%) e de búfala (8,21%). Quando à densidade, apenas a o leite caprino apresentou diferença significativa em relação aos demais, com o menor teor verificado (1,0299 g/mL). Figueiredo (2017), ao avaliar leite de cabra cru estocado por sete dias em tanques de expansão, encontrou uma faixa de densidade entre 1,029 e 1,031 g/mL. O leite de búfala apresentou 1,0333 g/mL, com leve excedente quando comparado ao leite de vaca (1,0326 g/mL), estando as três amostras avaliadas dentro da faixa determinada pela legislação brasileira vigente, compreendida entre 1,028 e 1,034 g/mL (BRASIL, 2011). Através da análise de densidade, é possível avaliar a relação entre os sólidos e o solvente contidos no material, portanto, o resultado superior identificado no leite de búfala está relacionado com o seu maior teor de sólidos. Nos teores de proteína houve diferença significativa entres os leites das três espécies avaliadas, variando entre 3,09 e 3,51%, estando ambas de acordo com o padrão determinado pela legislação brasileira (mínimo 2,9%). O menor teor de proteína foi verificado no leite de cabra, encontrando-se próximo à faixa verificada por Coelho et al. (2018), a qual variou de 3,10 a 3,40%. O maior teor de proteína foi encontrado no leite bubalino, que já é conhecido por sua alta qualidade, seu elevado teor de proteína e por conter mais aminoácidos essenciais (MODESTO JR. et al., 2016). Em relação ao teor de lactose, foi verificada diferença significativa apenas no leite caprino em relação aos demais. Os resultados variaram entre 4,63 e 5,28%, sendo o leite caprino o de menor conteúdo proteico. Valores superiores para o leite de cabra foram encontrados por Pádua et al. (2019), com variação de 4,94% a 5,0%. Já Figueiredo (2017) identificou uma faixa inferior de teor de lactose (entre 3,39% e 4,45%), ao avaliar leite de cabra armazenado por sete dias em condições laboratoriais. De acordo com Pádua et al. (2019), a lactose representa um dos componentes mais estáveis do leite, sendo também o principal componente osmótico, que promove a atração de
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água para dentro dos alvéolos, de modo que a produção do leite aumenta com o aumento do teor de lactose, com diminuição na concentração dos demais componentes. Quanto aos sais minerais, foi encontrada uma faixa entre 0,68 e 0,75%, em que apenas o leite de cabra apresentou diferença significativa em relação aos demais, representando o maior teor encontrado. Barros et al. (2019), ao analisarem leites caprinos comercializados em Monteiro - PB, encontraram faixa com variação de 0,70 a 0,77 g/ 100g, compreendendo o valor identificado no presente estudo. Para o índice crioscópico, foi identificada diferença significativa entre todas as amostras, com variação entre -0,6550 ºH e -0,5366 ºH, sendo que o leite de búfala e o leite de cabra apresentaram o menor e o maior valores identificados, respectivamente. Apenas o leite de cabra se apresentou dentro da faixa determinada pela legislação brasileira, que varia entre - 0,530ºH a -0,550ºH; já os demais leites avaliados se apresentaram abaixo desta faixa. O índice crioscópico corresponde à depressão do ponto de congelamento do leite em relação ao da água, sendo um parâmetro essencial na detecção de fraude no leite por adição de água, pois esta prática provoca o aumento da temperatura de congelamento do leite fazendo com que esta se aproxime com a da água (0 ºC), devido à diluição das concentrações originais dos componentes do leite, como lactose e sais minerais (BRASIL, 2011).. Ainda que os leites de vaca e de búfala avaliados neste estudo tenham se apresentado abaixo da faixa de crioscopia determinada pela legislação brasileira, os resultados encontrados não estão relacionados com adição de água, visto que não houve aumento deste parâmetro, pois os valores encontrados se distanciaram de 0ºC (ponto de congelamento da água), podendo estes resultados estarem associados com a variação dos componentes solúveis, que pode ocorrer devido a fatores como raça, período de lactação, alimentação, entre outros (BRASIL, 2011). A faixa de condutividade elétrica dos leites avaliados neste estudo foi de 4,40 a 4,76 m.S/cm, sendo o leite de búfala a única amostra que apresentou diferença significativa entre as demais, com o menor valor encontrado. A condutividade elétrica do leite é um parâmetro utilizado na detecção de mastite no animal, doença que altera a carga iônica do leite aumentando a concentração de sódio e cloro, e a redução nos níveis de potássio e lactose na composição do leite, com isso, ocorre o aumento da condutividade elétrica, pois a corrente elétrica fluirá mais facilmente através do leite infectado (MOURA, 2016). De acordo com Barros et al. (2019), a faixa de condutividade elétrica em animais saudáveis pode variar entre 4 a 5,5 mS/cm. Contudo, as variações identificadas entre as amostras de leites avaliadas no presente estudo se dão pelas diferentes composições próprias de cada espécie. Quando ao pH, todas as amostras apresentaram diferença significativa entre si, variando entre 6,50 e 6,68, sendo os leites caprino e bubalino detentores dos valores mínimo e máximo, respectivamente. A faixa verificada encontra-se dentro do padrão determinado pela legislação, que varia de 6,6 a 6,75 (BRASIL, 2011), indicando que os leites avaliados apresentam boa qualidade. Leites com pH muito abaixo dessa faixa merecem atenção, pois o ponto isoelétrico
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do leite ocorre quando o pH atinge 4,6, no qual acontece a precipitação da caseína, fenômeno que resulta na coagulação do leite (MELO, 2016). A análise de pH pode identificar a ocorrência de fraudes no leite, pH muito elevado pode indicar a adição de substâncias no intuito de mascarar anormalidades no produto.
CONCLUSÕES Através da avaliação realizada no presente estudo, foi possível constatar que os leites pasteurizados de diferentes espécies animais apresentaram boa qualidade, com parâmetros dentro do esperado e requisitos de acordo com a legislação brasileira, não sendo identificado nenhum tipo de fraude. Foi verificado que o leite de cada espécie apresenta suas particularidades, havendo diferenças em relação aos demais, devido as suas diferentes composições, de modo que todos os resultados encontrados se mostraram de acordo com a literatura.
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Capítulo 9 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE LINGUIÇAS FRESCAIS COMERCIALIZADAS EM POMBAL – PB
COSTA, Glória Louine Vital da Graduanda em Engenharia de Alimentos Universidade Federal de Campina Grande glouine95@gmail.com OLIVEIRA, Gleyson Batista de Graduando em Engenharia de Alimentos Universidade Federal de Campina Grande gleysonbatista35@gmail.com MEDEIROS, Weverton Pereira de Mestre em Sistemas Agroindustriais Universidade Federal de Campina Grande weverton_cafu@hotmail.com SILVA, Elaine Juliane da Costa Mestrando em Sistemas Agroindustriais Universidade Federal de Campina Grande elainejuliane300308@gmail.com ARAÚJO, Alfredina dos Santos Doutora em Engenharia de Processos Universidade Federal de Campina Grande alfredina@ccta.ufcg.edu.br
RESUMO Os produtos frescais, são ditos como alimentos condimentados embutidos em envoltório natural ou artificial, sua elaboração emprega carne de bovinos, suínos ou aves, bem como pode conter suas vísceras, podendo ser cozido ou não, curado, maturado e dessecado, como linguiças. Objetivou-se com a realização deste trabalho avaliar a qualidade microbiológica de linguiças bovinas do tipo frescal comercializadas em frigoríficos na área urbana do município de Pombal – PB, através de análises de coliformes totais e termotolerantes, Escherichia coli, Salmonella sp./25g, contagem total de aeróbios mesófilos, contagem total de aeróbios psicrotróficos, contagem de fungos filamentosos e leveduriformes e Staphylococcus coagulase positiva. As amostras foram codificadas como L1, L2, L3 e L4. Logo após a obtenção das amostras foram realizadas as análises microbiológicas. As análises físico-químicas realizadas foram: pH; acidez total titulável, umidade e cinzas. Os resultados de pH das amostras variaram entre 5,05 e 5,48. A acidez variou de 0,37 a 0,68%. Os resultados de umidade variaram de 63,47 a 74,02%. O teor de cinzas variou de 1,10 a 3,85% entre as amostras. Para os parâmetros microbiológicos de coliformes totais e termotolerantes, E. coli, contagem total de aeróbios mesófilos, contagem total de aeróbios psicrotróficos e fungos filamentosos e leveduriformes, todas as amostras avaliadas se encontraram de acordo com a legislação vigente. Já para os parâmetros de Salmonella sp./25g, na amostra L4 houve a presença deste microrganismo e para o parâmetro de Staphylococcus coagulase positiva todas as amostras apresentaram-se fora dos padrões exigidos pela legislação. PALAVRAS-CHAVE: Embutidos, microrganismos indicadores, condições higiênico-sanitárias.
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INTRODUÇÃO Os produtos frescais, são ditos como alimentos condimentados embutidos em envoltório natural ou artificial, sua elaboração emprega carne de bovinos, suínos ou aves, bem como pode conter suas vísceras, podendo ser cozido ou não, curado, maturado e dessecado, como linguiças (MARQUES et al., 2006). A matéria-prima, a cura e a condimentação dos embutidos crus frescais são semelhantes às dos embutidos crus. Diferem em alguns pontos: os frescais não são maturados nem dessecados sob qualquer forma e são lançados no mercado ou na mesma forma em que são produzidos ou com os gomos envoltos em material plástico (PARDI, 1993). As linguiças do tipo frescal são produtos de origem animal que apresentam alta umidade (70%), por ser manipulados e não submetidos a tratamentos térmicos, podem ser contaminados com micro-organismos patogênicos, e, ser envolvidas em vários surtos de toxinfecções alimentares (BARBOSA et al., 2010). Por seu próprio mecanismo de produção, comercialização e composição química, este tipo de linguiça possui alto risco de contaminação por agentes microbianos, devendo ser acondicionada em ambientes higiênicos e sob refrigeração (RODRIGUES et al., 2000), que podem ser oriundos de matéria prima não inspecionada, ou pelos manipuladores durante a elaboração. Logo o processo produtivo requer um controle higiênico-sanitário rigoroso, porque, a linguiça não passa por tratamento térmico para diminuir a contaminação microbiana do produto final (ALMEIDA, 2005). A presença de bactérias nos alimentos, além de favorecer a deterioração e/ou redução da vida útil desses produtos, possibilita a veiculação de patógenos, acarretando potenciais riscos à saúde do consumidor. Assim, a higiene correta dos alimentos é necessária para garantir a segurança e a sua salubridade em todos os estágios de sua elaboração até o produto final, minimizando a preocupação para a saúde pública (CORTEZ, 2003). Para avaliar as condições higiênicas, limpeza e sanificação, realiza-se a contagem de coliformes, que podem se diferenciar em dois grupos: os coliformes totais e os coliformes termotolerantes que são indicadores de contaminação fecal (SIQUEIRA, 1995). Dentre os microrganismos patogênicos que potencialmente podem estar presentes no produto destacam-se Salmonella sp., Staphylococcus aureus e Escherichia coli (HOFFMANN et al., 1996). Sendo assim, em função da presença destes agentes, produtos cárneos podem constituir sérios problemas para a saúde pública, uma vez que estas bactérias são causas comuns de toxinfecções alimentares (PARDI et al., 1993). Segundo a International Commission on Microbiological Specifications for Food - ICMSF (1984), o número de microrganismos aeróbios mesófilos encontrado em um alimento tem sido um dos indicadores microbiológicos da qualidade dos alimentos mais comumente utilizados, indicando se a limpeza, a desinfecção e o controle da temperatura durante os processos de tratamento industrial, transporte e armazenamento foram realizados de forma adequada. Os microrganismos psicrotróficos que predominam nas carcaças podem multiplicar-se, mesmo que lentamente, em temperaturas iguais ou inferiores a 0º C e são responsáveis por grande parte das alterações dos produtos, o que faz com que a vida comercial das carnes dependa tanto da conservação quanto do número de microrganismos presentes após a sua obtenção (VIEIRA & TEIXEIRA, 1997). Bolores e leveduras são importantes indicadores da eficiência de práticas de sanitização de equipamentos e utensílios durante a produção e beneficiamento de alimentos. Além disso, podem
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estar associados à produção de metabólitos tóxicos e deterioração de alimentos (FRANCO; LANDGRAF, 2008). Diante disso, objetivou-se com a realização deste trabalho avaliar a qualidade microbiológica de linguiças bovinas do tipo frescal comercializadas em frigoríficos na área urbana do município de Pombal – PB, através de análises de coliformes totais e termotolerantes, Escherichia coli, Salmonella sp./25g, contagem total de aeróbios mesófilos, contagem total de aeróbios psicrotróficos, contagem de fungos filamentosos e leveduriformes e Staphylococcus coagulase positiva (ECP).
MATERIAL E MÉTODOS As amostras de linguiça bovina frescal foram adquiridas no mês de junho de 2019, em frigoríficos de pequeno porte da cidade de Pombal-PB. As análises microbiológicas e físicoquímicas foram realizadas no Centro Vocacional Tecnológico (CVT) do Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar (CCTA) da Universidade Federal de Campina Grande, campus Pombal. As amostras foram codificadas como L1, L2, L3 e L4. Logo após a obtenção das amostras foram realizadas as análises microbiológicas. Para cada amostra de linguiça, realizou-se as análises de coliformes totais e termotolerantes, Escherichia coli, Salmonella sp./25g, contagem total de aeróbios mesófilos, contagem total de aeróbios psicrotróficos, contagem de fungos filamentosos e leveduriformes e Staphylococcus coagulase positiva (ECP). Para as análises de coliformes totais e termotolerantes utilizou-se a técnica dos tubos múltiplos. Transferiu-se 1 mL das diluições 10-1, 10-2 e 10-3 da amostra para uma série de 3 tubos contendo, aproximadamente, 10 mL de caldo verde brilhante bile a 2% (CVBB) e tubos de Durham invertidos, os quais foram incubados a 35 ± 2°C entre 24-48 horas. Os tubos considerados positivos passaram para a análise de coliformes termotolerantes. Em seguida, foram repicados em caldo EC, com incubação a 44,5 ± 1°C, durante 24-48 horas (APHA, 1992). Para verificar a presença ou ausência de E. coli nas amostras, utilizou-se o Ágar Eosin Methylene Blue (EMB), as alíquotas foram inoculadas através da técnica de semeadura em placas com o auxílio de alça de platina. As placas foram incubadas a 35 ± 2°C durante 18-24 horas. Para a análise de Salmonella sp. utilizou-se a metodologia de plaqueamento em superfície (Spread Plate) em placas de Petri estéreis contendo o ágar Salmonella Shigella sólido. Semeouse 3 gotas da diluição 10-1 nas placas que foram inoculadas com auxílio da alça de Drigalski, e posteriormente, incubadas a 35 ºC por 48 horas (APHA, 2001). As análises de contagem total de aeróbios mesófilos e psicrotróficos foram realizadas de acordo com a Association American Public Health Association (APHA, 2001). Utilizou-se a metodologia de plaqueamento em profundidade (Pour Plate), em que foi adicionado 1,0 mL das diluições 10-1, 10-2 e 10-3 em cada placa, e em seguida, o meio ágar Padrão de Contagem (PCA) foi colocado. Foi feita a homogeneização do ágar com o inóculo nas placas e foram deixadas em superfície plana para solidificar. Após a solidificação, as placas para a contagem de aeróbios mesófilos foram incubadas a 35°C por 48 horas e as placas destinadas a contagem de aeróbios psicrotróficos foram incubados entre 6 a 10°C por 5-7 dias.
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A contagem de fungos filamentosos e leveduriformes foi realizada pela técnica de Spread Plate. Semeou-se 3 gotas de cada diluição nas placas de Petri contendo o ágar Batata Dextrose (BDA), previamente acidificado com ácido tartárico 10%. As placas foram incubadas a temperatura ambiente por 5 dias (BRASIL, 2003). Para a contagem Staphylococcus coagulase positiva, inocularam-se alíquotas de 0,1 mL das diluições em placas estéreis, contendo Ágar Baird-Parker, e com auxílio de alça de Drigalsky espalharam-se os inóculos na superfície do meio. As placas foram incubadas a 35º C por 48 horas. Considerando-se como típicas as colônias negras brilhantes com anel opaco, rodeadas por um halo claro ou transparente (BRASIL, 2003). As análises físico-químicas realizadas foram: pH em pHmetro, previamente calibrado com as soluções tampões de 4,0 e 7,0; Acidez total titulável (ATT), expressos em gramas de ácido por 100g da amostra; Umidade por secagem em estufa a 105ºC por 24 horas até peso constante; e Resíduo mineral fixo (Cinzas) por incineração em mufla a 550ºC por 4 horas até peso constante (IAL, 2008).
RESULTADOS E DISCUSSÃO A média das análises físico-químicas para as amostras de linguiça frescal estão expressas na Tabela 1. Tabela 1. Resultados obtidos para os parâmetros físico-químicos das linguiças.
Amostras
Parâmetros físicoquímicos
L1
L2
L3
L4
pH
5,05±0,08*
5,48±0,06
5,31±0,08
5,31±0,03
Acidez (%)
0,53±0,05
0,38±0,01
0,68±0,04
0,37±0,02
Umidade (%)
69,11±0,74
63,47±2,50
74,02±0,81
69,88±0,87
Cinzas (%)
1,61±0,00
2,66±0,19
1,10±0,11
3,85±0,31
* Média ± desvio padrão.
Os resultados encontrados nas amostras L1, L3 e L4 de linguiça frescal, em relação ao pH se apresentaram-se fora da legislação vigente que é de 5,4 a 6,2, somente a amostra L2 apresentouse dentro dos padrões. Segundo Mantovani et al. (2011), que realizaram uma avaliação higiênicosanitária de linguiças tipo frescal, em uma das suas amostras, os valores de pH encontrados apresentaram valores abaixo do estabelecido, de 4,9 podendo indicar a possibilidade de contaminação do produto por bactérias fermentadoras. Mata (2017), que elaborou linguiça frescal de carne da tilápia, obteve que uma de suas amostras diferiu das demais formulações, com valores de pH entre 6,09 e 6,63, teores próximos da neutralidade. Essa variação pode estar relacionada com a composição das formulações desenvolvidas, já que as concentrações de pescado foram diferentes entre as mesmas. A acidez das amostras se apresentou relativamente semelhantes, tendo as amostras de L2 e L4 quase iguais, porém, as amostras L1 e L3 apresentaram maior teor de acidez se comparadas
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as demais. Segundo Silva (2010), que avaliou as características físico-químicas e microbiológicas de linguiça frescal resfriada em diferentes embalagens plásticas, a acidez aumentou consideravelmente em todas as amostras, obteve resultados de 1,5% a 7%, porcentagem superior ao teor encontrado neste trabalho. Provavelmente esse aumento ocorreu devido ao processo de rancidez hidrolítica e a consequente produção de ácidos orgânicos (EVANGELISTA, 2001). A umidade tem grande influência na qualidade da carne, contribuindo para textura, suculência, cor, sabor e principalmente para sua estabilidade físico-química e microbiológica (ALMEIDA, 2005). Os resultados encontrados para o parâmetro de umidade permaneceram dentro da legislação vigente que é de no máximo 70%, porém, a amostra L3 se encontrou superior ao que é determinado, com isso, apresentará uma atividade de água relativamente alta, podendo facilitar o desenvolvimento de microrganismos Sleder (2015) desenvolveu três formulações de linguiça frescal de tambaqui e encontrou para umidade valores entre 68,82 a 72,73%, valores próximos do encontrado nesta pesquisa. Segundo o autor com aumento da concentração de gordura adicionado às formulações, diminuiuse a quantidade de carne, o que possivelmente explicaria a redução do teor de umidade, comportamento semelhante aos resultados da presente pesquisa. Os teores de cinzas encontrados nas amostras de linguiça frescal, se apresentaram semelhantes, contudo, a amostra L4 teve um teor de cinzas maior comparado às demais. De acordo com Mata (2017) que elaborou linguiça frescal de carne da tilápia, obteve resultados de 3,69%. Já para Nascimento et al. (2011), que elaboraram linguiças frescais com carne de avestruz, as formulações mistas com carne de avestruz apresentaram maiores teores de cinzas que a formulação pura. Valores muito altos de minerais nos alimentos podem ser decorrentes da sua composição natural dos ingredientes ou pela adição de aditivos Os resultados obtidos para as análises microbiológicas das linguiças frescais estão expressos na Tabela 2. Tabela 2. Resultados obtidos para os parâmetros microbiológicos das linguiças.
Amostras Parâmetros Microbiológicos L1
L2
L3
L4
Coliformes totais (NMP/g)*
3,6x10¹
>1,1x10³
>1,1x10³
>1,1x10³
Coliformes termotolerantes (NMP/g)
3,6x10¹
>1,1x10³
>1,1x10³
>1,1x10³
E. coli
Ausente
Ausente
Ausente
Ausente
Salmonella sp./25g
Ausente
Ausente
Ausente
Presente
2,04x104
1,02x10³
5,45x10²
5,0x104
1,07x104
6,0x103
1,26x103
2,0x103
5,0x10²
6,0x10²
2,0x10¹
1,4x10³
Contagem total de aeróbios mesófilos (UFC/g)** Contagem total de aeróbios psicrotróficos (UFC/g) Fungos Filamentosos e leveduriformes (UFC/g)
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Staphylococcus coagulase positiva (UFC/g)
1,42x105
1,68x104
2,04x104
1,5x105
* Número mais provável por grama de linguiça. ** Unidade formadora de colônia por grama de linguiça.
A presença de coliformes totais em linguiças, apesar de não classificá-las como impróprias ao consumo, é indicativo de condições higiênicas inadequada, manipulação incorreta, condições indevidas de armazenamento e falta de procedimentos de boas práticas de fabricação (BPF) (SALOTTI et al., 2006), o que evidencia risco à saúde dos consumidores (MARQUES et al., 2006; SOUZA et al., 2014). A legislação vigente estabelece que para embutidos frescais, como a linguiça, o número de coliformes termotolerantes deve-se apresentar menor do que 5x103 (BRASIL, 2001). Todas as amostras avaliadas encontraram-se abaixo do valor determinado pela legislação, estando dentro dos padrões de qualidade. Alberti e Nava (2014) obtiveram resultados semelhantes para coliformes totais, 100,0% das amostras de linguiças frescais independentemente do tipo de carne, apresentaram coliformes totais. No entanto, Cortez et al. (2004) obtiveram resultados menores para coliformes termotolerantes, 73,6% das amostras de linguiça frescal frango coletadas no estado de São Paulo apresentaram coliformes termotolerantes, enquanto que Chaves et al. (2000) verificaram esses microrganismos em 75,0% de amostras suínas obtidas no estado do Rio de Janeiro. Todas as amostras apresentaram ausência de E. coli, mesmo havendo a presença de coliformes termotolerantes. Segundo Jay (2005), os coliformes termotolerantes, especificamente, englobam a maioria das culturas de E. coli e algumas linhagens de Citrobacter e Klebsiella, o que justifica o fato de que houve a presença de coliformes termotolerantes, porém em ágar EMB a E. coli apresentou-se ausente. Para o parâmetro Salmonella sp./25g, observou-se que em 75% das amostras o microrganismo apresentou-se ausente, e somente na amostra L4 houve a presença deste microrganismo, estando fora dos padrões exigidos pela RDC nº 12 (BRASIL, 2001) que estabelece a ausência de Salmonella sp para embutidos frescais. Salmonella sp. tem sido um dos principais microrganismos envolvidos em surtos de toxinfecção alimentar em todo o mundo. A contaminação por este microrganismo demonstra que há risco à saúde pública, evidenciando a necessidade de maior controle de matérias-primas e processos envolvidos na fabricação de linguiça frescal. A contagem de colônias para aeróbios mesófilos variou entre 5,45x10² UFC/g e 5,0x104 UFC/g, pertencentes as amostras L3 e L4, respectivamente. Embora não haja limites estabelecidos para estes microrganismos, a contagem elevada deste grupo é indicadora de qualidade higiênico sanitária deficiente, de indícios de deterioração, de perda da qualidade sensorial e nutricional do alimento, e de que os produtos poderiam causar algum dano à saúde do consumidor, uma vez que a maioria das bactérias consideradas patogênicas de origem alimentar são mesófilas (FRANCO & LANDGRAF, 2008; PIGARRO, 2008). Resultados semelhantes foram obtidos por Nogueira et al. (2015) que avaliou a qualidade microbiológica em amostras de linguiças comercializadas no município de Sobral–CE., e obtiveram valores entre 102 e 104 UFC/g. De acordo com o Centro de Alimentación y Nutrición de Majadahonda, o valor máximo permitido para bactérias aeróbias mesófilas é de 105UFC/g para linguiças, estando todas as amostras dentro do exigido. A contagem de aeróbios mesófilos detecta o número de microrganismos tanto na forma vegetativa quanto na forma esporulada,
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tornando-se um importante parâmetro para avaliar a qualidade microbiológica de alimentos (HAYES, 1995; SIQUEIRA, 1995). Para a contagem total de aeróbios psicrotróficos, os resultados obtidos variaram entre 1,26x103 e 1,07x104. Sendo relativamente parecidos com os encontrados por Carvalho et al. (2005) que avaliou a presença de microrganismos mesófilos, psicrotróficos e coliformes em diferentes amostras de produtos avícolas, sendo um destes a linguiça apresentando se entre 6,6x103 e 3,5x106 UFC/g. Segundo a ICMSF (1984), os microrganismos podem ser classificados em dois grupos: microrganismos que não oferecem risco direto à saúde e microrganismos que oferecem risco baixo ou indireto á saúde. Os aeróbios mesófilos e psicrotróficos estão inseridos no primeiro grupo. A RDC nº 12, legislação vigente no Brasil, não estabelece parâmetros para a contagem padrão em placas de microrganismos heterotróficos aeróbios, mesófilos e psicrotróficos, tornando todas as linguiças avaliadas aptas para o consumo em relação a estes parâmetros. A presença de bolores e leveduras em índices elevados nos alimentos fornece informações sobre condições higiênicas deficientes nos equipamentos e utensílios, matéria-prima contaminada, falha no processamento ou na estocagem (VELD, 1996). Os resultados obtidos neste estudo, expressos na Tabela 2, apresentaram variação de 2,0x10¹ a 1,4x10³, correspondentes as amostras L3 e L4, respectivamente. Indicando má condições higiênico-sanitárias em maior grau no frigorífico em que foi adquirido a amostra L4. A legislação vigente estabelece o valor máximo para Staphylococcus aureus de 5x103 UFC/g. Dessa forma, os valores encontrados neste estudo foram de 1,68x104 a 1,5x105, estando todas as amostras fora dos padrões estabelecidos. Verificou-se resultados semelhantes aos encontrados por Barbosa et al. (2003), que ao avaliarem 22 amostras de linguiças frescais de carne suína comercializadas no município de Sete Lagoas (MG), Os autores constataram que todas as amostras apresentaram níveis de contaminação por Staphylococcus coagulase positiva superior à concentração estabelecida pela legislação vigente. Marques et al. (2006) verificaram que 35% das amostras de linguiça tipo frescal adquiridas em Lavras e Três Corações encontravam-se impróprias para o consumo, podendo oferecer riscos à saúde do consumidor quanto à presença de Staphylococcus coagulase positiva, resultados menores aos obtidos neste estudo. Segundo Lancette e Tatini (1992), o crescimento de Staphylococcus aureus em alimentos representa um sério risco para a saúde, pois várias cepas desta bactéria produzem enterotoxinas termorresistentes que causam intoxicação alimentar quando ingeridas, e entre os alimentos essencialmente associados com intoxicação estafilocócica, está a carne bovina.
CONCLUSÕES Diante dos resultados obtidos, conclui-se que nenhuma das amostras analisadas atendeu a todos os parâmetros exigidos pela legislação. As amostras analisadas apresentaram elevado nível de contaminação por coliformes termotolerantes e Staphylococcus coagulase positiva podendo trazer riscos à saúde. Alimentos produzidos artesanalmente possuem maior vulnerabilidade a contaminações por serem muitas vezes manipulados incorretamente, ou também pela falta de controle das condições
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ideais do processo de fabricação. A carência de boas práticas na fabricação de produtos frescais, bem como matéria prima de qualidade higiênico sanitária insatisfatória torna-se um risco a saúde do consumidor, sendo necessário uma fiscalização da fabricação e comercialização destes produtos que devem seguir padrões mais rigorosos.
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Capítulo 10 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DO DOCE DE CRISTALIZADO ABÓBORA SILVA, Izabel Cristina Oliveira da Mestre em Engenharia de Alimentos Universidade Federal do Vale do São Francisco izabel.silva@univasf.edu.br LANZA, Marcelo Dr. em Engenharia de Alimentos Universidade Federal de Santa Catarina mlanza@enq.ufsc.br NETO, Acácio Figueiredo Dr. em Engenharia Agrícola Universidade Federal do Vale do São Francisco acacio.figueiredo@univasf.edu.br COELHO, Bruno Emanuel Souza Mestrando em Agronomia – Produção Vegetal Universidade Federal do Vale do São Francisco souza.coelho.18@gmail.com GALVÃO, Laura Cardoso Graduando em Engenharia Agronômica Universidade Federal do Vale do São Francisco laahcardoso8@gmail.com
RESUMO A abóbora é uma hortaliça da família da Cucurbitaceae, se destaca por ser rica em substâncias como a provitamina A, zinco, fósforo, cálcio e ferro, além de ter grande potencial de expansão no mercado de vegetais. O presente trabalho tem como finalidade avaliar a cristalização da polpa da abóbora de variedades diferentes (moranga e jacarezinho), e avaliar a qualidade microbiológica em diferentes tempos de armazenamento. Os doces foram armazenados durante 45 dias em temperatura ambiente a 25 °C e 30 % de UR e em local refrigerado com 10 °C ± 1 °C e 50 % de UR. As análises microbiológicas foram realizadas na abóbora in natura e nos doces cristalizados no dia do processamento (dia 0), 15,30 e 45 dias de armazenamento. Os doces elaborados, manteve-se em boas condições microbiológicas nas duas condições durante todo o tempo de armazenamento. Os produtos elaborados apresentaram-se aptos, do ponto de vista microbiológico, para o consumo, não apresentando riscos à saúde do consumidor, mostrando que houve a utilização das boas práticas de fabricação na elaboração dos mesmos. PALAVRAS-CHAVES: Cucurbitaceae; Boas Práticas de Fabricação; Salmonella spp; coliformes.
1. INTRODUÇÃO Cada vez mais o consumidor se preocupa com a alimentação e como esta pode afetar sua qualidade de vida. Entretanto, o maior desafio da indústria para atender a essa exigência dos consumidores é produzir alimentos que apresentem características nutritivas próximas dos produtos naturais, sensorialmente agradáveis e que apresentem estabilidade durante seu armazenamento (SILVA et al., 2011)
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A produção mundial de abóbora em 2013 foi de aproximadamente 24,68 milhões de toneladas, numa área de 1,79 milhão de hectares, com produtividade média de 13,73 toneladas por hectare (FAO 2013). Os maiores produtores mundiais de abóbora são China, Índia, Russa, Irã e Estados Unidos. O Brasil ocupa o 52° lugar em relação à produção mundial de abóbora, com produção de aproximadamente 41 mil toneladas, área colhida de 88.203 hectares e produtividade média de 4,4 t ha-1. O valor da produção é de 1,52 milhão de reais, cultivada em mais de 127 mil estabelecimentos agropecuários (AGRIANUAL, 2014; IBGE, 2012). Sendo que, as variedades Cucurbita moschata e Cucurbita máxima são as duas mais cultivadas no território nacional (PROPRI et al., 2010). Dados do IBGE (2012) revelam que o consumo per capita de hortaliças no Brasil foi de 27,08 kg no período, sendo a participação das abóboras e morangas de 1,19 kg. Os maiores consumos são registrados no Nordeste, com 1,14 kg, destacando-se o Piauí, com 2,62 kg. Além do valor econômico e alimentar, o cultivo de cucurbitáceas no Brasil, em especial as abóboras, tem grande importância social na geração de empregos diretos e indiretos, pois demanda grande quantidade de mão-de-obra, desde o cultivo até a comercialização (RAMOS, 2017). Os Estados brasileiros têm rica diversidade de tipos e formas dessas espécies, uma vez que elas estão diretamente associadas à história da colonização brasileira, que incluiu imigração significativa dos povos africanos, os quais introduziram amostras de plantas pertencentes a diferentes espécies dessa família (MOURA et al., 2005; SANTOS et al., 2011) As abóboras e morangas são hortaliças-fruto de fácil colocação no mercado, o que as tornou ao longo dos anos culturas bastante populares. Fazem parte da dieta básica de populações de várias regiões brasileiras. São utilizadas para diversos fins, como industriais, alimentícios e medicinais, o que representa uma importante fonte de empregos diretos e indiretos, pois demanda mão de obra desde o cultivo até a comercialização (REZENDE et al., 2013). Neste aspecto, a produção de doce cristalizado utilizando a abóbora como matéria-prima contribui como uma alternativa para minimizar as perdas pós-colheita, agregando valor agroindustrial, social e econômico, uma vez que melhora a renda do pequeno e médio produtor, e aumentando consequentemente seu consumo. O presente trabalho tem como finalidade avaliar a qualidade microbiológica do doce de abóbora de variedades diferentes (moranga e jacarezinho), em diferentes tempos de armazenamento.
2. MATERIAL E METODOS Abóboras maduras do tipo moranga (Cucurbita maxima Duchesne) e abóboras da espécie Jacarezinho (Cucurbita maxima), provenientes da região de Juazeiro – BA foram préselecionadas quanto ao tamanho, cor da casca, além da ausência de injúrias. Figura 3 – Abóboras das variedades moranga (a) e jacarezinho (b).
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Depois de selecionadas, as abóboras foram levadas ao Laboratório de Armazenamento de Produtos Agrícolas da Universidade Federal do Vale do São Francisco, campus Juazeiro/BA, onde foi feito uma lavagem inicial com água corrente e detergente, para retirada de sujidades grosseiras. Após a lavagem, os frutos foram imersos em solução com 200 ppm de cloro ativo, para uma desinfecção inicial, os frutos permaneceram por 10 min.
2.1 Elaboração dos doces Os doces cristalizados foram elaborados seguindo as etapas de acordo com o fluxograma apresentado na (Figura 4). Os frutos foram cortados em cubos, com, dimensões médias de 3,0 cm x 3,0 cm x 3,0 cm. As sementes da “cabeça” foram retiradas. Após o corte, os pedaços sofreram uma lavagem com água destilada, com finalidade de retirar o suco celular extravasado durante o corte, para que este não interfira na etapa de sanitização. Posteriormente, os pedaços foram submersos em uma solução com sanitizante, utilizando uma concentração de 200 ppm de cloro ativo, durante 3 minutos. Em seguida, os pedaços foram enxaguados através da imersão dos mesmos em água destilada, para a remoção do excesso de cloro. Figura 4 – Fluxograma de processamento do doce cristalizado de abóbora.
Após o exangue, os pedaços foram submetidos ao branqueamento imersos em solução de Óxido de Cálcio por 4 horas, a fim de tornar o doce cristalizado crocante por fora e macio por dentro. Os cubos foram cozidos em calda de açúcar a 85% por 30 min, tempo suficiente para cozimento dos cubos, e após o cozimento, os cubos foram drenados em peneira para retirada do excesso de calda e ficaram em repouso por 4 h. Após a drenagem, foram colocados ao sol para secagem natural por 9 h, visando aprimorar o processo em escala artesanal, e logo depois passado em açúcar cristal. O produto final (doce cristalizado) foi acondicionado em bandejas de poliestireno expandido, cobertos com filme de policloreto de vinila (PVC) com 12 µm de espessura em porções de 200 g (Figura 5).
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Figura 5 – Doce de abóbora cristalizado e embalado
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Os doces foram armazenados durante 45 dias em temperatura ambiente a 25 °C e 30 % de UR e em local refrigerado com 10 °C ± 1°C e 50 % de UR. As avaliações microbiológicas foram realizadas na abóbora in natura e nos doces cristalizados no dia do processamento (dia 0), 15,30 e 45 dias de armazenamento. A microflora contaminante do doce cristalizado de abóbora foi avaliava pelo número mais provável (NMP) de coliformes totais e fecais e presença ou ausência de Salmonella, conforme a RDC nº 23 da ANVISA, tendo como parâmetro a RDC nº 12 de 2 de janeiro de 2001 da ANVISA (BRASIL, 2001).
2.2 Determinação do NMP, Coliformes totais e fecais no doce As análises para o NMP de coliformes foram efetuadas em porções de 25 g de doce para cada repetição, que foram medidas assepticamente e colocadas em erlenmeyers contendo 225 mL de água peptonada 1% (Merck) estéril, constituindo a diluição 10-1. Da diluição de 10-1, obtevese a diluição de 10-2, pipetando-se 1 mL da solução 10-1 e colocando em 9 mL de água peptonada (0,1%) esterilizada e a partir da diluição de 10-2, obteve-se a diluição de 10-3 pelo mesmo processo. Os coliformes totais e fecais foram determinados pelo método do NMP, através da técnica de Tubos Múltiplos. A técnica de Tubos Múltiplos possui duas etapas distintas: 1) teste presuntivo, onde se busca detectar a presença de microrganismos fermentadores de lactose e onde é possível recuperar células injuriadas; 2) teste confirmativo, através do qual pode se determinar a população real de coliformes totais e fecais. Para o teste presuntivo foram utilizadas duas séries de três tubos de ensaios, os quais continham cada um, um tudo de Durham (invertido) e 10 mL de Caldo Lactosado (CL), um meio cuja fonte de carbono é a lactose que é fermentada pelas bactérias do grupo coliforme, com produção de ácido e gás. Na primeira série, colocou-se 1 mL da diluição 10-1 (anteriormente citada) em cada um dos 3 tubos de ensaio, sendo realizado o mesmo procedimento para as outras séries de tubos com as diluições de 10-2 e 10-3. Os tubos foram incubados em estufa termostatizada entre 35 e 37°C, por 24 e 48 horas. Após 24 e 48 horas de incubação verificou-se a positividade dos resultados. Os tubos positivos apresentaram o esvaziamento dos tubos de Durham, devido à produção de gás pelas bactérias do grupo coliforme ao fermentarem a lactose. Em caso de positividade do teste presuntivo, alíquotas destes tubos foram transferidas para o teste confirmativo, verificando-se, assim, se realmente tratava-se de bactérias do grupo coliforme. Utilizando-se alça de níquel-cromo, foram inoculados tubos de Caldo Verde Brilhante
Lactose Bile (CVBLB), em concentração simples, e tubos de Caldo EC correspondentes aos tubos positivos da fase anterior. Os tubos de CVBLB foram inoculados em estufa termostatizada à temperatura de 35 a 37 °C durante 24 a 28 h, sendo verificada, após esse período, a formação ou não de gás nos tubos de Durham. A formação de gás em CVBLB confirma a presença de bactérias do grupo coliforme, podendo ser de origem fecal ou não, e são denominadas coliformes totais. Os tubos de EC, uma vez inoculados, foram incubados em banho-maria termostatizado à temperatura de 45 °C por 24 h. Após o período de incubação, a formação de gás em EC confirma a presença de coliformes a 45 °C. A partir do número de tubos positivos em cada série de ambos os meios, consultando-se seus valores correspondentes na tabela da Associação Brasileira de Normas Técnicas MB 3463, obteve-se o NMP de coliformes totais (CVBLB) e coliformes a 45°C (Caldo EC), por grama de doce cristalizado.
2.3 Detecção de Salmonella spp no doce Para detecção de Salmonella, foi feito um pré-enriquecimento de cada amostra analisada, colocando-se 25 g do doce em um erlenmeyer contendo 225 mL de água peptonada tamponada esterilizada 1% (Merck). Os erlenmeyers foram incubados em estufa termostatizada, a 35 °C por 24 h. O pré-enriquecimento é possível pela exigência de ausência de Salmonella em 25 g de qualquer alimento para consumo humano analisado. De modo que, se a bactéria estiver presente no alimento, não importando o número de bactérias, o alimento é considerado impróprio para consumo humano. Com o pré-enriquecimento, a multiplicação da bactéria é favorecida, facilitando a detecção na análise, uma vez que tal patógeno encontra-se normalmente em níveis baixos nos alimentos. Decorrido o período de incubação, do pré-enriquecimento, 1 mL da amostra enriquecida foi colocado em tubos (cinco tubos para cada repetição), para 10,0 mL de caldo Tetrathionate Broth Base (Acumedia). Os tubos foram incubados a 35 °C, e após 24 h, utilizando-se alça de níquel, foi realizado o plaqueamento seletivo diferencial em Agar Rambach (Merck). As placas foram incubadas a 35 °C e após 24 h foi realizada identificação bioquímica de colônias características de Salmonella spp de acordo com as especificações do fabricante.
2.4 Análise dos resultados Para avaliação dos aspectos microbiológicos os resultados foram expressos em NMP/g para coliformes totais e presença ou ausência de Salmonella spp. em 25 g de doce.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com as Tabelas 1 e 2, pode-se verificar que não foi detectada presença de Salmonella, bem como o crescimento de coliformes a 45 °C em nenhum dos tratamentos e em nenhuma das condições de armazenamento, durante o período analisado. Estes resultados estão dentro do limite estabelecido pela resolução RDC nº 12 de 02 de janeiro de 2001 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) do Ministério da Saúde, que estabelece a ausência de Salmonella (em 25g de produto) e permite um máximo de 103 NMP de coliformes a 45 °C/g, em hortaliças secas, desidratadas ou liofilizadas, visando a preservação da saúde pública.
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Tabela 1 – Resultados de coliformes (NMP/g) e Salmonella spp. para o doce cristalizado de abóbora moranga.
Tratamento Abóbora in natura 0 15 30 50 0 15 30 50
Coliformes totais Coliformes fecais Salmonella spp. <3,0 0 Ausente Temperatura ambiente (25 ºC) 6,4 0 Ausente 6,4 0 Ausente 15,0 0 Ausente 16,1 0 Ausente Temperatura refrigerada (-10 ºC) 6,4 0 Ausente 8,2 0 Ausente 8,3 0 Ausente 12,1 0 Ausente
Como não foram observadas presenças de coliformes a 45 °C e Salmonella nas amostras analisadas, a eficácia dos cuidados higiênico- sanitários tomados durante as etapas do processamento do produto ficou evidenciada. A presença desses microrganismos indica contaminação durante ou depois do seu processamento. Silva et al. (2019) em seu estudo ao avaliarem a qualidade do doce de banana em massa comercializada na cidade de Pombal/PB foi observado resultados semelhante a este, ausência de Salmonella, coliformes fecais a 45°C (Tabela 1 e 2). Sasaki (2005) também obteve resultados semelhantes em abóbora minimamente processada. A autora observou a ausência de coliformes fecais e Salmonella spp. durante todo o período de armazenamento. Tabela 2 – Resultado de coliformes (NMP/g) e Salmonella spp. para doce cristalizado de abóbora jacarezinho.
Tratamento Abóbora in natura 0 15 30 50 0 15 30 50
Coliformes totais Coliformes fecais Salmonella spp. 9,3 0 Ausente Temperatura ambiente (25 ºC) 6,4 0 Ausente 0 Ausente 17,5 23,5 0 Ausente 0 Ausente 27,5 Temperatura refrigerada (-10 ºC) 6,4 0 Ausente 12,1 0 Ausente 14,2 0 Ausente 19,0 0 Ausente
Além disso, os resultados confirmam que mesmo com a implantação de boas práticas de fabricação (BPF) e do sistema de análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC), a análise microbiológica do produto final é um instrumento essencial de validação e verificação das condições higiênico-sanitárias de processamento de alimentos. A presença de coliformes em alimentos indica manipulação inadequada durante o processamento, uso inadequado de equipamentos em más condições sanitárias ou ainda utilização de matéria-prima contaminada. Quanto maior o número de microrganismos em um alimento, maiores são as probabilidades de presença de patógenos e/ou deterioradores (CARUSO; CAMARGO, 1984).
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4. CONCLUSÕES Os doces elaborados, manteve-se em boas condições microbiológicas nas duas condições durante todo o tempo de armazenamento. Os produtos elaborados apresentaram-se aptos, do ponto de vista microbiológico, para o consumo, não apresentando riscos à saúde do consumidor, mostrando que houve a utilização das boas práticas de fabricação na elaboração dos mesmos.
REFERÊNCIAS BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) n. 12, de 02 de janeiro de 2001. Aprova o Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, 10 de janeiro, 2001. Seção 1, p.45-53. CARUSO, J. G. B; CAMARGO, R. Microbiologia de alimentos. In: CAMARGO, R. (Ed.). Tecnologia dos produtos agropecuários- alimentos. São Paulo: Nobel, 1984. p. 35-49. FAO - Food And Agriculture Organization of The United Nations. Agricultural production, primary crops. 2012. Disponível em: <http://www.fao.org> Acesso em: 15 jan. 2017. AGRIANUAL - Anuário da Agricultura Brasileira. São Paulo, FNP. 353p, 2014. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção Agrícola Municipal. 2012. Disponível em <www. sidra.ibge.gov.br> Acesso em: 15 de mai. de 2013. MOURA, M. C. C. L.; ZERBINI, F. M.; DA SILVA, D. J. H.; DE QUEIROZ, M. A. Reação de acessos de Cucurbita sp. ao Zucchini yellow mosaic virus (ZYMV). Horticultura Brasileira, v.23, n.2, p. 206-210, 2005. NICK, C.; BORÉM, A. Abóboras e morangas do plantio à colheita. Viçosa, MG: UFV, 2017. 203p PRIORI D; BARBIERI R. L; NEITZKE R. S; VASCONCELOS C. S; OLIVEIRA C. S; MISTURA C. C; COSTA F. A. Acervo do Banco Ativo de Germoplasma de Cucurbitáceas da Embrapa Clima Temperado - 2002 a 2010. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 37p, 2010. RAMOS, G. V. Validação de um método para análise de cucurbitacina B por clae-uv/dad em abóboras (Cucurbita sp.) 2017. 87p. Dissertação apresentada ao Programa de (Pós Graduação em ciências aplicadas a produtos para a saúde) Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2017. REZENDE, G. M.; BORGES, R. M. E.; GONÇALVES, N. P. S. Produtividade da cultura da abóbora em diferentes densidades de plantio no Vale do São Francisco. Horticultura Brasileira, v. 31, n. 3, p. 504-508, 2013. SANTOS, F. F. B.; RIBEIRO, A., SIQUEIRA, W. J.; MELO, A. M. T. Desempenho agronômico de híbridos F1 de tomate de mesa. Horticultura Brasileira, v.29, p.304-310, 2011. SASAKI, F. F. Processamento mínimo de abóbora (Cucurbita moscata Duch.): alterações fisiológicas, qualitativas e microbiológicas. 2005. 145f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2005. SILVA, L. P. F. R.; ARAÚJO, A. S.; RODRIGUES, L. M. S.; VIEIRA, A. F.; ALMEIDA, R. D.
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Avaliação Microbiológica e de Textura de doce de banana em massa comercializada na cidade de Pombal - PB. Revista Brasileira de Agrotecnologia, v.7, n.2, p. 233-236, 2017. SILVA, K. S.; CAETANO, L. C.; GARCIA, C. C.; ROMERO, J. T.; SANTOS, A. B.; MAURO, M. A.. Osmotic dehydration process for low temperature blanched pumpkin. Journal of Food Engineering, v.105, n.1, p. 56-64, 2011.
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Capítulo 11 AVALIAÇÃO DE GENÓTIPOS DE MANJERICÃO PARA TOLERÂNCIA AO ESTRESSE SALINO UTILIZANDO ÍNDICES DE TOLERÂNCIA AO ESTRESSE
GONDIM FILHO, Helio Doutorando em Ciências Agrárias Universidade Federal do Recôncavo da Bahia helio.gondim91@hotmail.com PEREIRA, Monikuelly Mourato Doutora em Engenharia Agrícola Universidade Federal do Recôncavo da Bahia monikuelly@hotmail.com OLIVEIRA, Francisco Eder Rodrigues de Mestre em Solos e Ecossistemas Universidade Federal do Recôncavo da Bahia ederigt@yahoo.com.br SILVA, Raimundo Jackson Nogueira da Universidade Federal de Campina Grande raimundojackson@hotmail.com GHEYI, Hans Raj Prof. Dr. Visitante Titular Universidade Federal do Recôncavo da Bahia hgheiy@gmail.com
RESUMO A salinidade é um dos fatores abióticos que reduz a produção agrícola. A seleção de cultivares com desempenho adaptado ao estresse salino tem sido objetivo de vários estudos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a tolerância ao estresse salino de três genótipos de manjericão,‘Alfavaca Basilicão’, ‘Grecco a Palla’ e Toscano Folha de Alface, sob condição de estresse salino. A avaliação consistiu no desempenho das linhagens de acordo com seis índices de tolerância à seca utilizando a variável massa seca da parte aérea (MSPA) obtida na condição de controle (Yp) e de estresse salino (Ys). Foram realizadas as análises de correlação e componentes principais. Os índices GMP, DTI e MP apresentaram alta correlação com Ys e Yp sendo considerados os melhores indicadores da produção em ambas as condições. O genótipo ‘Alfavaca Basilicão’ apresentou a maior estabilidade na produção e juntamente com o genótipo ‘Grecco a Palla’ foi o mais tolerante ao estresse salino. O genótipo ‘Toscano Folha de Alface foi o mais sensível à salinidade. Os índices foram eficientes na discriminação dos genótipos quanto a tolerância ao estresse salino. PALAVRAS-CHAVE: Ocimum basilicum L., plantas medicinais, hidroponia
1. INTRODUÇÃO O gênero Ocimum pertence a família Lamiaceae e inclui vários arbustos e ervas que são comuns nos trópicos e subtrópicos da América, África e Ásia. O manjericão, Ocimum basilicum L. é a espécie mais importante do gênero. Por ser uma planta medicinal e aromática, tem
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despertado grande interesse econômico em função da crescente demanda por produtos naturais. Pode ser comercializado como erva seca ou fresca e é cultivado pela agroindústria para produção de óleo essencial. Na medicina tradicional é amplamente usado como tônico digestivo e como tratamento para verrugas, inflamações, resfriados e dores de cabeça (BERNSTEIN; KRAVCHIK; DUDAI, 2010; NGUYEN; KWEE; NIEMEYER, 2010; CALISKAN et al., 2017). Os solos afetados por sais são abundantes nas regiões semiáridas e áridas do mundo. A salinização dos solos ocorre através de processos naturais, incluindo evaporação da água subterrânea salina, infiltração da água do mar nas águas subterrâneas costeiras, sais da água do mar no vento e chuva, bem como processos induzidos pelo homem, como irrigação com água marginal. Isso resulta no acúmulo de sais dissolvidos no solo e na água a ponto de restringir o crescimento das plantas e a produção agrícola (BERNSTEIN, 2019). As espécies e variedades de plantas diferem na tolerância à salinidade e na capacidade de sustentar funções fisiológicas e a produtividade sob estresse (SCAGEL; LEE; MITCHEL, 2019). Vários índices de estresse foram desenvolvidos e utilizados para a seleção de genótipos tolerantes ao estresse, medindo o desempenho das plantas sob estresse e levando em consideração as condições normais (EKBIC et al., 2017). O manjericão é considerado moderadamente tolerante à salinidade, no entanto, a maioria dos trabalhos relacionados à tolerância ao estresse salino desta cultura baseia-se em parâmetros morfológicos e fisiológicos. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar a tolerância ao estresse salino de três genótipos de manjericão sob condição de estresse salino.
2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Localização
O experimento foi conduzido no período de novembro a dezembro de 2016 em casa de vegetação, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/UFRB, no campus de Cruz das Almas (12º40’19” de Latitude Sul, 39º06’23” de Longitude Oeste e altitude média de 220 m). Conforme classificação de Alvares et al. (2013), o clima local é tropical quente úmido, tipo Af com médias anuais de precipitação pluvial, temperatura e umidade relativa de 1.224 mm, 24,5 °C e 80%, respectivamente 2.2 Delineamento experimental O experimento foi conduzido em delineamento de parcelas subdivididas (níveis salinos no bloco principal e genótipos nas parcelas ao acaso), em esquema fatorial 6x3, com três repetições, totalizando 54 parcelas. Foram aplicados seis níveis de salinidade (0; 2,2; 4,2; 6,2; 8,2 e 10,2 dS m-1 de NaCl) na solução nutritiva, em três genótipos de manjericão: Alfavaca Basilicão (Ocimum basilicum L. var. Genovese), Grecco a Palla (Ocimum basilicum minimum) e Toscano Folha de Alface (Ocimum basilicum L. var. Crispum), perfazendo um total de 18 tratamentos com três repetições, sendo cada unidade experimental composta por 21 plantas (sete plantas de cada genótipo) com espaçamento de 0,25 m, cultivadas na parte central do tubo.
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2.3 Manejo da solução nutritiva A composição da solução nutritiva e fertilizantes utilizados, foi baseada na recomendação de Furlani et al.(1998). Visando estabelecer os níveis de salinidade da solução nutritiva, conforme os tratamentos, foram acrescidas quantidades adequadas de NaCl para obtenção das concentrações desejadas conforme o tratamento, resultando nas seguintes condutividades elétricas da solução nutritiva (CESol): 2,45; 4,32; 6,38; 8,36; 10,37 e 12,27 dS m-1. A frequência de circulação da solução nutritiva no sistema hidropônico ocorreu em um intervalo de 15 minutos durante o dia e uma vez à noite (15 minutos ligado). O controle da aplicação da solução foi realizado com auxílio de um temporizador analógico. Foram realizadas as medidas da condutividade elétrica (CE) e do pH da solução nutritiva a cada 2 dias, e quando houve necessidade foram ajustadas mantendo o padrão (pH entre 5,5 e 6,5) e a CE dentro da faixa de 10% do valor original.
2.4 Avaliação da tolerância a salinidade Os índices de tolerância foram calculados utilizando a massa seca da parte aérea das plantas do controle, 2,45 dS m-1, (Yp) e as submetidas ao nível de salinidade de 12,27 dS m-1 (Ys) por meio das seguintes equações:
Produtividade geométrica média (GMP)
GMP = (Yp × Ys) 0,5 (FERNANDEZ, 1992) (1) Índice de tolerância ao estresse hídrico (DTI)
(Yp × Ys) (FERNANDEZ, 1992) (Yp)2
DTI =
(2)
Produtividade média MP =
(Yp + Ys) (ROSIELLE; HAMBLIN, 1981) 2
Susceptibilidade (SUS) SUS = Yp - Ys (HOSSAIN et. al, 1990) (4) Índice de susceptibilidade ao estresse (DSI) Ys 1 - Yp Ys DSI = , onde SI = 1 (FISCHER; MAURER, 1978) Yp 1 - SI
(5) Índice de estabilidade da produção (YSI)
YSI = (6)
Ys (BOUSLAMA; SCHAPAUGH, 1984) Yp
(3)
98
2.5 Análise estatística Os dados referentes aos índices de tolerância ao estresse, assim como Yp e Ys de cada variável foram submetidos à análise de correlação e de componentes principais. As análises foram realizadas pelo programa estatístico R (R CORE TEAM, 2019) utilizando os pacotes PerformanceAnalytics (PETERSON et al., 2014) e factoextra (KASSAMBRA; MUNDT, 2017).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise de correlação entre os índices de tolerância à seca e a MSPA dos genótipos de manjericão é apresentada na Figura 1. Observa-se que houve alta correlação entre Yp e Ys (0,99), indicando que Yp é um bom indicador para prever o comportamento desta variável sob condições de estresse salino. GMP, DTI, MP, apresentaram alta correlação positiva (p<0,05) com a produção dos genótipos em ambas as condições de cultivo, o que indica que genótipos com altos valores destes índices possuem maior estabilidade na produção. Foi registrada alta correlação positiva entre os índices GMP, DTI e MP (0,99 a 1,00) e negativa entre DSI e YSI (-1,00). Os índices MP, DTI e GMP estão associados ao maior valor da característica agronômica, independentemente da tolerância ao estresse hídrico. Podem ser usados para detectar genótipos com baixa demanda de água e/ou que sofrem menor redução de rendimento por falta de água durante seu período de crescimento, sendo indicado o cultivo dos mesmos em regiões com recursos hídricos limitados, a fim de aumentar a área cultivada e a eficiência da produção. Em contrapartida, YSI, SUS e DSI estão associados à tolerância ao estresse hídrico, independentemente da produção dos genótipos (FARD; SEDAGHAT, 2013; OLIVEIRA et al., 2017).
Figura 1. Correlação de Pearson entre a MSPA de três genótipos de manjericão e os índices de tolerância à seca.
99
100
A análise de componentes principais (PCA) foi realizada considerando Yp e Ys e os índices de tolerância, sendo submetidos à análise biplot para obtenção da relação entre esses índices e os genótipos de manjericão (Tabela 1).
Tabela 1. Análise de componentes principais da produção de genótipos de manjericão cultivados sob salinidade em sistema hidropônico. Componente PC1 PC2 7,40
0,60
Variância (%)
92,55
7,45
Variância acumulada (%)
92,55
100,00
Yp
98,38
17,94
Ys
99,99
1,35
GMP
99,67
8,16
DTI
99,65
8,31
MP
99,26
12,14
SUS
93,54
35,35
DSI
-87,85
47,77
YSI
90,46
-42,63
Correlação com cada componente (%)
Autovalores
Fonte: Autor.
Os dois primeiros componentes principais explicaram toda a variância encontrada entre os genótipos de manjericão. O primeiro componente (PCA1) explicou 92,55 % da variância total apresentando alta correlação positiva com todos os índices (exceto DSI). O segundo componente principal (PCA2) explicou 7,45 % da variação total e baixa correlação com todos os índices estudados (Tabela 1 e Figura 2). Estes resultados indicam que genótipos com altos valores no PCA1 tendem a possuir maior uniformidade na produção nas duas condições de cultivo (controle e estresse salino). A partir dos resultados observa-se que o genótipo ‘Alfavaca Basilicão’ possui a maior estabilidade na produção em ambas as condições de cultivo. Os genótipos mais tolerantes foram: ‘Alfavaca basilicão’, maior valor de YSI e menor de DSI, e ‘Grecco a Palla’, menor valor de SUS. A variabilidade relacionada à tolerância à salinidade utilizando índices de tolerância à seca também foi observada por Hefny et al. (2013), no sorgo, Singh et al. (2015) no trigo, Askari et al. (2016), cevada e Ekbic et al. (2019) na melancia. A determinação da tolerância das culturas à salinidade é um aspecto importante no contexto da utilização de águas salinas, pois as respostas ao estresse salino variam amplamente em função da espécie e do genótipo da planta, além de outros fatores tais como manejo da irrigação, tipos de sais e condições climáticas (GONDIM FILHO, 2016). Munns (2002) destaca que o grau de tolerância de uma espécie vegetal pode ser expresso em termos da porcentagem de biomassa produzida em relação à condição não salina ou da percentagem de sobrevivência
Figura 2. A)-Análise de componentes principais e de agrupamento de três genótipos (GEN) de manjericão(A -‘Alfavaca Basilicão’, G – ‘Grecco a Palla’ e T – ‘Toscano Folha de Alface’) para MSPA e os índices de tolerância à seca. (B) – Valores médios da MSPA(Yp e Ys) e dos índices de tolerância de cada genótipo. GMP – Produtividade média geométrica; DTI – Índice de tolerância à seca, MP – Média geométrica; SUS – Susceptibilidade; DSI – Índice de susceptibilidade à seca; YSI – Índice de estabilidade
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da produção.
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4. CONCLUSÕES Os índices de tolerância à seca foram eficientes na seleção dos genótipos de manjericão quanto à tolerância a salinidade em cultivo hidropônico. A salinidade reduziu a produção dos genótipos de manjericão e os resultados indicaram variabilidade genética suficiente para discriminá-los em relação à tolerância ao estresse salino. Baseado na análise de correlação e de componentes principais, os índices GMP, DTI e MP são os melhores indicadores da produção em ambas as condições de cultivo pois apresentaram alta correlação com Yp e Ys. O genótipo ‘Alfavaca basilicão’ apresenta o maior potencial produtivo em ambas as condições de cultivo. Considerando apenas a condição de cultivo sob salinidade, os genótipos ‘Alfavaca basilicão’ e ‘Grecco a Palla’ são os mais tolerantes e o genótipo ‘Toscano Folha de Alface’ o mais sensível.
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Capítulo 12 AVALIAÇÃO DE TINTURAS HIDRO-ETANOICAS DE PLANTAS SOBRE A BIOECOLOGIA DA MOSCA FITÓFAGA Ceratitis capitata Wied. (Diptera: Tephritidae)
SANTOS, Léticia Waléria Oliveira dos Graduanda Licenciatura em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba leticiawaleriaoliver123@gmail.com ARAUJO, Claudia Marques Graduanda em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba claudiamarquesaa@gmail.com MELLO, Matheus Eduardo Silva Graduando em ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba matheusesmello@hotmail.com COSTA, Natanaelma Silva da Doutoranda em Biotecnologia Universidade Federal da Paraíba ampnatanaelma2@yahoo.com.br MEDEIROS, Marcos Barros de Departamento de Agricultura do CCHSA Universidade Federal da Paraíba mbmedeir2016@gmail.com
RESUMO As Ceratitis capitata Wied. (Diptera: Tephritidae) conhecida como Mosca-das-frutas ou Mosca do Mediterrâneo afetam os pomares no Brasil e causando danos às plantações citrícolas. Por estas razões objetivou-se analisar a ação inseticida de extratos alcoólicos das plantas frutíferas goiabeira e laranjeira sobre o estádio larval L3 e na viabilidade da fase de Pupa das moscas-da-fruta. A hipótese desse estudo é que os extratos afetarão o desenvolvimento da C. capitata, durante a fase larval L3 e Pupa. Os tratamentos avaliados foram: extratos alcoólicos de folhas frescas na proporção de 30% p/v de goiabeira e laranjeira. Para avaliação inseticida dos extratos alcoólicos das frutíferas foram realizados dois experimentos: um para avaliar o efeito dos extratos sobre a fase larval (L3) e o outro sobre as pupas de C. capitata. Os bioensaios foram conduzidos no Laboratório Clinica Fitossanitária do CCHSA/UFPB, Campus III, no Município de Bananeiras – PB. Foi realizado oito tratamentos: seis extratos vegetais alcoólicos e dois controles (sem adição de extrato – apenas a água e outro apenas o álcool (solvente utilizado na obtenção dos extratos) e seis dosagens (R1 30%; R2 15%; R3 7,50%; R4 3,75%; R5 1,87%; R6 0,93%), com um total de seis repetições. Cada repetição teve 10 larvas L3 ou 10 pupas, as quais serão emergidas em 1 mL das proporções do extrato. A avaliação foi realizada a cada 24 horas durante 3 dias para larvas e 10 dias as pupas. Não foi observado interferência dos extratos na faze larval da mosca, porém a pupa o álcool foi eficiente na diminuição na emergência de moscas. PALAVRAS-CHAVE: Controle alternativo, Extratos alcoólicos, Insetos fitófagos.
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INTRODUÇÃO A Ceratitis capitata (Wiedemann) (Diptera: Tephritidae) é considerada uma das principais espécies-praga na fruticultura mundial (KIBIRA et al., 2010). As moscas-das-frutas reduzem a produtividade e qualidade dos frutos através da oviposição da fêmea e desenvolvimento larval no interior dos frutos. Essas larvas se alimentam da polpa dos frutos e com isso facilitam a entrada de organismos saprófitos, provocando a queda prematura dos frutos, inviabilizando-os para consumo in natura. Esses insetos, por sua vez, causam danos diretos a importantes culturas de exportação, com perdas entre 40% a 80% da produção dependendo da localidade, variedade e estação do ano (KIBIRA et al., 2010). A presença da espécie nos frutos limita o acesso aos mercados internacionais decorrentes das barreiras quarentenárias impostas pelos países importadores e ao processamento para o mercado de frutas frescas (KORIR et al. 2015; SILVA et al., 2015). O manejo e controle das populações de C. capitata é tradicionalmente realizado por meio de pulverizações de inseticidas químicos, seja por métodos de iscas (inseticidas misturados com um atrativo) ou em spray de cobertura (ROS et al., 2002). Tais aplicações contaminam os alimentos agrícolas, impactam o ambiente, atingem os organismos não-alvos, trabalhadores rurais e até o consumidor. Os efeitos negativos do uso indiscriminado dos inseticidas químicos têm despertado o interesse da comunidade cientifica no desenvolvimento de novas técnicas de controle e manejo que sejam eficazes, viáveis e ecológicas (VONTAS et al., 2011; WAN et al., 2015). Os extratos de plantas estão recebendo considerável atenção em todo o mundo, porque oferecem uma ampla gama de substâncias químicas bioativas (NAVARRO-SILVA et al., 2009), além de gerar mínimos impactos ambientais e aos seres vivos, comparado ao uso de inseticidas químicos (MAZHAWIDZA; MVUMI, 2017; ISMAN, 2017). Estudos sobre os compostos bioativos nos vegetais relevaram efeitos no metabolismo, desenvolvimento, reprodução, longevidade e oviposição de moscas-das-frutas como C. capitata (SILVA et al., 2015; PAPANASTASIOU et al., 2017). O uso de extratos vegetais no manejo e controle de insetos-praga era amplamente utilizado até a Segunda Guerra Mundial, mas entraram em declínio com o aumento do uso de inseticidas químicos, mais persistentes e menos seletivos, e volta a ser utilizado novamente no presente (RAMPELOTTI-FERREIRA et al., 2017). De tal forma, que diversos estudos têm buscado descobrir as espécies de vegetais e as partes do vegetal com maiores propriedades inseticidas, caracterizando o perfil fitoquímico, identificando e isolando os compostos ativos que melhor desempenham papel de inseticidas naturais (SILVA et al., 2017). A toxicidade dos extratos vegetais contra as moscas-das-frutas está relacionada aos aspectos quantitativos e qualitativos de compostos ativos encontrados no vegetal (MEDEIROS, 1990; PAPANASTASIOU et al., 2017). A letalidade das moscas-das-frutas foi constatada em doses médias do composto ativo limoneno, encontrado em frutas cítricas (Rutaceae) (PAPANASTASIOU et al., 2017); além de compostos como mentol, mentona, isomentônica e pulegona em plantas de Mentha pulegium (MIGUEL et al., 2010). Entretanto, ainda se considera escassas as informações sobre o efeito de diferentes concentrações de bioextratos de algumas plantas sobre fases imaturas de C. capitata, uma vez que as estratégias de controle em uma área infestada de mosca-das-frutas têm sido direcionadas a fase adulta do inseto. Neste sentido visando a contribuição para o conhecimento sobre as concentrações mais adequadas em que os extratos vegetais apresentaram eficiência inseticida no controle de larvas e pupas das moscas-da-fruta, uma vez que nesses estádios são estratégicos para o controle das populações desses insetos, objetivou-se analisar a ação inseticida de extratos alcoólicos das plantas frutíferas, goiabeira e laranjeira, sobre o estádio larval L3 e na viabilidade da fase de Pupa das moscas-da-fruta.
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MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado na Universidade Federal da Paraíba, Campus III, no Município de Bananeiras – PB, situada na Microrregião do Brejo Paraibano. Os bioensaios foram conduzidos no Laboratório Clinica Fitossanitária do CCHSA/UFPB, Campus III, no Município de Bananeiras – PB. Para a montagem dos experimentos foram utilizados espécimes de Ceratitis capitata provenientes da criação já estabelecida na Clínica Fitossanitária do CCHSA. A criação foi mantida em condições controladas de temperatura de 26 ± 2°C, umidade relativa de 70 ± 10% e fotofase de 12 horas, segundo metodologia proposta por Brito (2007). Em laboratório, as pupas foram acondicionadas em placas de Petri no interior da gaiola (armação de varão de aço soldado em oito esquadros por 50cmx70cmx50cm) de criação do adulto e, após a emergência, os adultos foram alimentados diariamente com uma solução de agua e mel a 20%, fornecida através de um chumaço de algodão colocado na parte superior da gaiola. Está parte da gaiola apresenta uma declividade, que durante o período de oviposição, onde é possível realizar a coleta de ovos, os mesmos caem em uma bandeja com água destilada que fica próximo a declividade e por decantação os ovos são coletados, esse processo é realizado diariamente com auxílio de um pincel. Os ovos coletados são distribuídos em bandejas plásticas contendo dieta artificial a base de cenoura crua (80g), levedura seca de cerveja (80g) e Nipagin (antifúngico) (4g) para a alimentação das larvas. Após o período de 8-10 dias da inoculação dos ovos, as larvas ao final do 3º ínstar (pré-pupa) saltam da dieta artificial e acondicionadas em bandejas plásticas contendo areia esterilizada para obtenção das pupas. Posteriormente, as pupas foram acondicionadas em placas de Petri e colocadas no interior das gaiolas para emersão dos adultos reiniciando uma nova geração. As Larvas em estádio L3 e as Pupas de interesse foram coletadas cuidadosamente com o auxílio de pinça entomológica para que possam ser inseridas nos recipientes de bioensaios. As espécies vegetais utilizadas na obtenção dos extratos: goiabeira (Psidium guajava) e laranjeira (Citrus sinensis) foram coletadas no projeto “Farmácia Viva”, da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Campus III, Bananeiras, que visa o cultivo de plantas com propriedades medicinais, inseticidas e repelentes. Para obtenção dos extratos, foram colhidos 300g de folhas frescas coletadas nas primeiras horas da manhã, em seguida esse material vegetal foi macerado a mão, diluído na proporção de 30% p/v (peso do vegetal seco /volume de álcool), acondicionadas em garrafas de âmbar e deixados em repouso durante 21 dias, sendo misturados a cada 24h durante este período. Após esse tempo, os extratos foram filtrados e acondicionados novamente em garrafas de âmbar e em um ambiente climatizado (25 ± 2°C, sem fotofase). Para a avaliação dos extratos, preparados de folhas frescas sobre larvas e pupas de C. capitata, quanto a sua ação inseticida ou larvicida dois experimentos (Bioensaios) foram realizados: um para avaliar o efeito dos extratos sobre a fase larval (L3) e o outro sobre as pupas de C. capitata, os quais foram conduzidos em esquema fatorial 4x6, com quatro tratamentos sendo: dois extratos vegetais alcoólicos e dois controles (água destilada e o álcool) e seis dosagens de cada extrato alcoólico e controles (R1 30%; R2 15%; R3 7,50%; R4 3,75%; R5 1,87%; R6 0,93%) com 4 repetições. Cada unidade amostral foi constituída de copos plásticos descartáveis (250ml) com papel filtro no interior desde recipiente e incluindo 10 larvas no final do terceiro instar ou 10 pupas. Larvas e pupas foram colocas no interior dos copos plásticos e serão realizadas borrifamento de 1mL do extrato alcoólico nas diferentes proporções citadas acima sobre as larvas e pupas até umedecer. Os experimentos foram mantidos em câmara climatizada (26 ± 2°C, 70 ± 10% de umidade, fotofase de 12 horas). A avaliação foi realizada a cada 24 horas durante 3 dias para larvas e 10 dias as pupas, contando-se o número de larvas mortas e adultos com deformação.
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Figura 1. Passo a passo da metodologia.
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Fonte: Arquivo pessoal
RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados obtidos em relação ao efeito dos estratos sobre as pupa no decorrer do trabalho foram submetidos a análise de variância (ANOVA) como pode ser observado na Tabela 1. Tabela 1. Análise de variância da emergência das moscas. Efeito dos extratos sobre as pupas de C. capitata FV GL SQ QM
F
Fator1 (F1)
3
16,75
5,58
3,82*
Fator2 (F2)
5
2,58
0,52
0,35ns
Int. F1xF2
15
11,00
0,73
0,50ns
Tratamentos
23
30,33
1,32
0,90ns
Resíduo
72
105,00
1,46
TOTAL
95
135,33
Fator1= tratamentos Fator2= concentrações ** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < .01) * significativo ao nível de 5% de probabilidade (.01 =< p < .05) ns não significativo (p >= .05)
A análise de variância realizada demostrou resultado significativo para Fator1 (P>0,05), sendo assim, a depende do extrato a quantidade de moscas a eclodir será superior ou inferior. Observou-se que o Fator2 não ouve interação, deste modo que não é observado inibição da emergência a decorrer dos níveis de concentração dos extratos utilizados. Pelo teste de fatorial não se observou interações entre os resultados, não sendo significativos a (P>0,05).
A médias de emergências de moscas-das-frutas expostas aos quatro tratamentos aqui testados foram submetidas ao teste de comparação de médias de Tukey ao nível de 5% de probabilidade e estão expressas na tabela 2.
Tabela 2. Número de moscas emergidas em diferentes extratos. Tratamentos
Média de moscas
Goiaba
8,12ab
Laranja
8,54a
Água
8,50a
Álcool
7,50b
*Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,05)
No tratamento utilizado o álcool diminuiu a emergência das moscas, significativamente a (P>0,05). O extrato de laranja e a água foram os piores tratamentos em relação a diminuir a emergência das moscas, enquanto o extrato de goiaba não foi observado diferença, entre os demais tratamentos. Diferente dos resultados de Leandro (2019) os extratos de goiaba e laranja não apresentaram resultados significativos, na inibição das larvas e pupa, o álcool apresentou resultados semelhante ao encontrado no trabalho.
CONCLUSÕES Para a fazer larval não foi observado diferença estatística, para os diferentes extratos da utilizados, nas diferentes concentrações. Na fazer de pupa o álcool mostrou- se mais eficiente, inibindo significativamente, enquanto a outras não influenciaram na emergência das moscas.
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Capítulo 13 AVALIAÇÃO DO EFEITO DO USO DE EXTRATOS BOTÂNICOS HIDROETANÓLICO EM Chromacris speciosa L.
MELLO, Matheus Eduardo Silva de Graduando em licenciatura em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba matheusesmello@hotmail.com COSTA, Natanaelma Silva da Doutoranda em Biotecnologia Universidade Federal da Paraíba ampnatanaelma2@yahoo.com.br ARAÚJO, Claudia Marques de Graduanda em licenciatura em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba claudiamarquesaa@gmail.com SILVA, Nadiane França da Graduanda em Agroecologia Universidade Federal da Paraíba ndnfranca@gmail.com MEDEIROS, Marcos Barros de Departamento de Agricultura do CCHSA Universidade Federal da Paraíba mbmedeir2016@gmail.com DE MORAIS, Virginia Maria Magliano M.Sc. Professora de Economia da Educação-Centro de Educação Universidade Federal da Paraíba virginiammoraes@gmail.com
RESUMO A agricultura é a atividade que se destaca pela importância na produção de alimento, porém a presença de problemas fitossanitários, como a atividade de insetos, que pode comprometer a quantidade e a qualidade da produção. Um dos métodos de controle de insetos é a utilização inseticidas botânicos em substituição aos inseticidas sintéticos. Nesse sentido se destaca a Caatinga, um bioma exclusivo do Brasil, que apresenta grande biodiversidade de vegetais com compostos potencialmente bioativos no controle de insetos. Diante disso objetivou-se com essa pesquisa analisar a ação dos extratos vegetais de Mimosa tenuiflora e a Croton sonderianus sobre gafanhoto soldado (Chromacris speciosa L.), as plantas utilizadas passaram por processos de higienização, desidratação, transformado em pó até chegar na forma de extrato hidroetanolico, os extratos foram formulados a partir das folhas das plantas citadas. Durante o experimento foi observado que os insetos expostos ao extrato obtiveram uma queda no consumo da folha de Berinjela (Solanum melongena), sendo essa folha servindo de alimento aos insetos durante o experimento, porém, não houve significância em relação a mortalidade dos insetos. Observou-se que o extrato obtido através da Jurema Preta se sobressaiu nos resultados, causando uma queda maior no consumo das folhas de Beringela. Palavras chave: Metabólitos secundários, Gafanhoto soldado, Consumo.
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INTRODUÇÃO A agricultura industrial ou convencional, praticada na atualidade, busca aumenta a produtividade utilizando alta tecnologia, mecanização, variedade de alta resposta, baixa diversidade genética nos cultivos e condiciona a produção a utilização de fertilizantes químicos (ROEL, 2016). A medida em que surgem novas áreas de cultivo, crescimento e desenvolvimento de certas culturas, nota-se o surgimento de diversos problemas sanitários (Hafle, et al. 2014). A Embrapa e a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” apresentam dados que mostram perdas anuais de produção causadas por insetos, com prejuízos chegando a US$ 2,2 bilhões para a renda agrícola (RENGEL, 2015). O crescimento desenfreado da população, seguido das políticas de preservação do meio ambiente, apresentam que é necessário encontrar novas alternativas produtivas racionais e menos prejudiciais ao ambiente (MEDEIROS, 2018). As alternativas encontradas resultarão na diminuição de descartes nocivos para a atmosfera a ao meio ambiente (MEDEIROS, 2018). Na produção agrícola convencional os insetos que se alimentam de plantas encontram alta disponibilidade de alimentos sem a presença dos inimigos naturais e o controle desses insetos fitófagos geralmente é realizado com inseticidas sintéticos, que provocam o ressurgimento de insetos que passam a adquirir resistência (ROEL, 2016). Alguns desses insetos fitófagos que causa danos a diversas espécies de plantas cultivadas são os gafanhotos. Os gafanhotos constituem um dos maiores, e possivelmente o mais dominante, grupo de insetos herbívoros da terra características que os tornam insetos especialmente importantes para o sistema de defesa fitossanitário visando à proteção das plantas cultivadas. Apesar de 95% das espécies de gafanhotos não serem pragas, aquelas que são causam danos econômicos expressivos (GANGWERE et al. 1997, apud GUERRA et al. 2012). No início do século as infestações de gafanhotos passaram a ser recorrentes na Argentina, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Brasil e o controle dessas infestações foram realizados majoritariamente com o uso de inseticidas químicos (FERNANDES e PÁDUA, 2017). Levando também em consideração que os gafanhotos (Chromacris speciosa L.) causam sérios danos as plantas de algumas culturas como, o estresse causado pela perda de folhas e ramos e as deformidades na planta em decorrência do ataque à região apical, que comprometem o seu rendimento(LUNZ et al, 2008). O controle desse e de outros insetos geralmente é conduzido utilizando inseticidas quimicamente sintetizados. Esse método causa inúmeros problemas ambientais, na saúde de animais e seres humanos, assim como na indução de resistência nos insetos alvo com isso o estudo e o uso de métodos alternativos tem aumentado consideravelmente, a exemplo do controle biológico, pós e extratos vegetais, óleos essenciais que possam apresentar maior seletividade, repelência, alteração nos hábitos alimentares ou até letalidade (GUIMARÃES, et al, 2014). A utilização de extrato vegetal pode ser a alternativa para alcançar o objetivo de controle e proteção de plantas e evitar os efeitos prejudiciais causados pelos produtos químicos (MACHADO, 2007). Um ambiente que pode disponibilizar uma diversidade enorme de recursos vegetais com potencial atividade sobre a biologia de insetos danosos à agricultura é a Caatinga brasileira. O bioma da Caatinga é formado por um ecossistema que existe somente no Brasil. Esse bioma é formado por uma grande diversidade de espécies endêmicas (Forzza et al., 2012). A Caatinga se encontra em grande parte do Nordeste, correspondendo cerca de 80% do território da região e 11% do território nacional (Santos et al., 2012). Essa região passa por períodos de seca, o que pode provocar estresse hídrico nas espécies vegetais presentes (Centro..., 2014; GUTIÉRREZ et al., 2014). Os recursos vegetais da Caatinga são usados para diversos fins, o estudo de Tavares (2018) realizado no município de Queimadas na Paraíba apontou que os agricultores locais utilizam a flora desse bioma como fonte de energia no cozimento de alimentos,
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em construções e na comercialização de madeira. Mas ainda podemos listar o intenso uso medicinal e de forma mais modesta no controle de insetos. O uso de extratos vegetais como inseticida é um método de baixo custo e está ao alcance do agricultor. Além disso possui ação seletiva, não irá apresentar ação residual prolongada e tem eficácia no controle de vários insetos-praga (Brito et al., 2008). Alguns trabalhos mostram que a utilização de produtos alternativos, como exemplo do extrato vegetal, pode causar a mortalidade significante de insetos em culturas (Jesus et al., 2013). Como exemplo de espécie vegetal pioneira, pode-se apresentar a Jurema Preta (Mimosa tenuiflora), espécie nativa da região semiárida do Nordeste. Essa planta atribui tanto importância econômica como na medicina popular da região (ALBUQUERQUE, 2002). A Jurema Preta é uma planta arbustiva, chegando a altura média de 4,5 metros de altura, além disso vai apresentar alto grau de resistência á seca (MAIA, 2004) de modo que essa planta floresça no período de seca com déficit hídrico (CALIXTO JÚNIOR et al., 2011; MAIA-SILVA et al., 2012). A Jurema Preta possui outras características vegetativas, é uma planta decídua, heliófila, suas raízes são capazes de penetrar em solos compactados, o que permite uma maior resistência a estresse hídrico (FORMIGA et al., 2011). Outra planta que pode se destacar com potencial efeito sobre a biologia de insetos é o Marmeleiro (Croton sonderianus). O Marmeleiro é uma planta encontra no bioma da caatinga e possui importância econômica pois é utilizada na medicina popular (DE OLIVEIRA, 2018). O C. sonderianus é um exemplo de planta melífera, pois produz néctar, que serve para a produção do mel das abelhas e condução de colmeias, o que é importante para a fauna e flora da região (DUARTE, et al. 2019). Estudos realizados em algumas regiões da Caatinga, no Cariri para ser mais específico, mostrou que a C. sonderianus é a espécie com maior número de indivíduos na região estudada isso de acordo com Andrade et al. (2005) e além disso possui um grande nível de importância em alguns municípios no estado da Paraíba Tendo em vista que a utilização indiscriminada de agroquímicos é uma forma de controle mais recorrente e que gera inúmeros problemas (MCAGNAN, et al. 2016). Vale ser pontuado que segundo Costa et al (2007) o uso indiscriminado de agrotóxicos pode ocasionar a destruição de insetos úteis, ressurgência de pragas secundárias, riscos de intoxicação dos usuários, contaminação ambiental, e dos alimentos e resistência de pragas. Diante do exposto a utilização dessas duas espécies vegetais nativas e o estudo de sua ação sobre a biologia do gafanhoto soldado (Chromacris speciosa L.) torna-se uma interessante área de pesquisa. A partir desse pressuposto objetivou-se com essa pesquisa analisar a ação dos extratos vegetais hidroetanólicos de Mimosa tenuiflora e a Croton sonderianus sobre gafanhoto soldado (Chromacris speciosa L.).
METODOLOGIA O experimento foi conduzido na Clínica Fitossanitária do Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias (CCHSA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus III, no município de Bananeiras no estado da Paraíba, Brasil. As espécies vegetais utilizadas para a formação do extrato vegetal hidroetanolico foram coletados em áreas de vegetação típicas da Caatinga, na região que transita entre Brejo e Curimatau paraibano, na zona rural do município de Solanea-PB. As espécies coletadas foram Marmeleiro (Croton sonderianus) e Jurema Preta (Mimosa tenuiflora) ambos os extratos foram produzidos a partir das folhas das plantas. O Material vegetal coletado foi submetido a um processo de higienização, sendo utilizado água e detergente neutro e posteriormente a isso foi realizado a primeira pesagem. Em seguida foi iniciado o processo de desidratação conduzido em estufa de circulação de ar forçada, à uma
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temperatura de 45°C por um período de 48 horas. Sequentemente foi feita a obtenção do pó vegetal com a utilização do moinho de facas tipo Willy. Ao término da produção do pó vegetal realizou-se outra pesagem para avaliação do rendimento do material vegetal. O calculo de rendimento foi obtido com a fórmula: Re = (Pext /Pfolhas) x 100. Onde: Re = Rendimento total do extrato (%); Pext = Peso do extrato seco (g); Pfolhas = Peso das folhas frescas ou secas (g) (RODRIGUES, et al, 2011). A obtenção do extrato hidroetanólico ocorreu a partir da adição de 20g de cada pó vegetal em 100mL de álcool 70%. A mistura foi homogeneizada a cada 24h em um período de 72h, para que fosse extraído o máximo possível de metabólitos secundários presentes nas plantas. Quando a substância já se encontrava na forma totalmente homogenia, foi então realizada uma filtragem com a utilização de um papel filtro. Foi utilizado um béquer de 500ml para armazenar o extrato após a filtragem, um funil que foi colocado sobre o béquer para que fosse realizada a filtragem. O papel filtro foi colocado em forma de funil sobre o funil de vidro utilizado em laboratório para que fosse possível a filtragem. Após a filtragem formou-se uma substância mais liquida e menos concentrada, porém ainda era possível visualizar pequenos pedaços de restos vegetais e alguns sinais de pó. Por isso foi realizada outra filtragem da mesma forma que a anterior, só que no lugar do papel filtro foi utilizado chumaço de algodão formando uma substância sem presença de sólidos. Com o termino da filtragem a solução foi submetida a um processo de separação (solvente/soluto) no rotevaporador do tipo RE-52A à um vácuo de -600 e a 45°C. Após esse processo foi realizado uma última pesagem do produto final. Foi então armazenada a substância resultante em placa de Petri, devidamente envolta por papel alumínio para que o extrato permanecesse protegido da luz e acondicionado no refrigerador à uma temperatura média de 6 a 10°C. O experimento de determinação da ação dos extratos hidroetanólicos de Mimosa hostilis e de Croton sonderianus sobre o Chromacris speciosa L. foi realizado no período de 6 dias, contando com 3 tratamentos (Jurema Preta, Marmeleiro e o controle) e com 4 repetições. Em cada repetição foi colocado 3 insetos, sendo eles 1 macho e 2 fêmeas, totalizando 36 gafanhotos. O Experimento foi conduzido em um esquema fatorial (2x2) que considerou como Fator 1 o Tempo (6 dias) e Fator 2 os tratamentos (T1 -Testemunha, T2- Marmeleiro e T3 – Jurema Preta). As arenas experimentais foram organizadas em 12 depósitos de polietileno contendo perfurações na tampa para garantir a circulação do ar no ambiente. Foi fornecida folhas de Berinjela (Solanum melongena) como alimentação diária aos insetos. As folhas foram coletadas diariamente da horta do Setor de Agricultura do CCHSA/UFPB e distribuídas uma por repetição. A aplicação dos extratos foi realizada com a ajuda de uma pipeta de 10ml e o extrato hidroetanólico foi aplicado em papel filtro e em seguida o papel filtro foi colocado no fundo do pote, de forma que o extrato alcançasse todo a região plana do pote. Foi realizada a aplicação de 1mL de cada extrato em cada repetição, com exceção das testemunhas. Para que os gafanhotos Chromacris speciosa não sofressem pela falta de luz ou tivessem seu desenvolvimento interrompido o experimento contou com o auxílio de uma lâmpada de 110w, de forma que todos os insetos recebessem quantidade de luz por igual, sendo submetidos à um fotoperíodo de 12h. Foram observados durante o ensaio experimental o comportamento alimentar e reprodutivo dos insetos e mortalidade. As médias obtidas foram submetidos ao teste de Tukey ao nível de 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÕES Em relação ao rendimento dos extratos de plantas da Caatinga obteve-se após a primeira pesagem que a planta Mimosa tenuiflora apresentou o peso de 206,90g, já a planta Croton
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sonderianus obteve-se com o peso de 462,20g. Após a conversão em pó vegetal a Mimosa tenuiflora apresentou 136,55g e o Croton sonderianus pesou 181,44g. Com a utilização de 20g de cada pós vegetal para produção dos extratos hidroetanólicos e após a separação do solvente a Mimosa hostilis passou a pesando 3,29g e a Croton sonderianus 2,50g. Com isso o rendimento dos extratos foram avaliados nessas duas circunstâncias as folhas frescas e a produção do pós vegetal e o pós vegetais e extrato bruto rotaevaporado. Pode ser observado de acordo com os dados de rendimento (Re%) que a mimosa hostilis apresentou um maior rendimento tanto na produção do extrato em forma de pó vegetal quanto na obtenção do extrato bruto (Tabela 1). Tabela 1 – Rendimento dos extratos vegetais de Croton sonderianus e Mimosa hostilis. Re1 o Rendimento do Extrato (Pó Vegetal) e Re2 Rendimento do Extrato Bruto rotaevaporado Tratamentos Re1 (%) Re2(%) Croton sonderianus 39,25 12,50 Mimosa hostilis 65,99 16,45
Sobre os hábitos alimentares dos C. speciosa expostos à ação dos extratos naturais testados pode-se afirmar que houve uma diminuição do consumo de folhas fornecidas ao longo dos dias avaliados. Foi observado que no tratamento 1 (testemunha) o consumo foi mais elevado em relação aos demais tratamentos, demonstrando pontos positivos ao uso dos extratos hidroetanólicos de Marmeleiro e Jurema Preta que apresentaram como resultados a diminuição no consumo da berinjela. Observou-se que a utilização do extrato de folhas Jurema Preta se sobressaiu em relação ao consumo dos insetos tratados com Marmeleiro. Para avaliar o efeito de letalidade dos extratos avaliou-se a mortalidade dos insetos tratados com cada planta. Inicialmente os dados foram submetidos à uma análise de variância que apontou que houve diferença significativa entre os fatores isoladamente, porém não houve eficiência de interação entre os dois fatores analisados (Figura 1) Tabela 1- Quadro de Análise de variância de ação fitoprotetora de extratos hidroetanólicos no controle do gafanhoto
FV Tempo (F1) Tratamentos (F2) Int. F1xF2 Tratamentos Resíduo Total
GL 5 2 10 17 54 71
SQ 11.61111 9.69444 4.47222 25.77778 27.50000 53.27778
QM 2.32222 4.84722 0.44722 1.51634 0.50926
F 4.5600 ** 9.5182 ** 0.8782 ns 2.9775 **
** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < .01) * significativo ao nível de 5% de probabilidade (.01 =< p < .05) ns não significativo (p >= .05)
Após a ANOVA os dados foram submetidos ao teste de comparação de médias que comparou as médias de mortalidade durante os dias de exposição dos insetos aos extratos hidroetanólicos das plantas nativas avaliadas. Como pode ser observado na tabela 2 os dias iniciais se destacaram mais em relação à mortalidade dos insetos. Tabela 2 – Fatorial de alimentação do Chromacris speciosa ao longo do tempo (dias) Tempos (dias) Médias * ±DP 1 1.75a 0,43 2 1.66a 0,62 3 1.25ab 0,72 4 1.00ab 0,81 5 0.75b 0,92
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6 0.75b 0,92 *Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,05)
No dia 1 e no dia 2 os resultados significativos em relação a queda do consumo do gafanhoto sobre a folha de Berinjela (Solanum melongena), enfatizando que nos dois primeiros dias o consumo da folha foi mais elevado quando comparado com os dia 5 (D5) e o dia 6 (D6), quando o consumo dos gafanhotos sobre as folhas foi quase nulo. Os dias 3 (D3) e 4 (D4) não foram significativos. Tabela 3 – Comparação do consumo de folha de Beringela enfatizando a presença dos extratos vegetais no tratamento. Tratamentos Médias * ±DP T1 –Testemunha (sem aplicação) 1.70a 0,61 T2 - Croton sonderianus 1.00b 0,85 T3 - Mimosa hostilis 0.87b 0,80 *Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,05)
Foi observado que no tratamento 1 o consumo foi mais elevado que nos demais tratamentos, demonstrando pontos positivos ao uso dos extratos hidroetanólicos de Marmeleiro (Croton sonderianus) e Jurema Preta (Mimosa tenuiflora) que apresentaram resultados como queda no consumo da berinjela (Solanum melongena) realizado pelos gafanhotos (Chromacris speciosa L.). Observou-se também que a utilização do extrato de folhas Jurema Preta (Mimosa hostilis) se sobressaiu em ralação ao resultado encontrado, existindo uma diferença pequena quando comparada com a outra concetração utilizada. Houve copulação durante a maior parte dos dias do ensaio experimental, contudo os extratos não pareceram interferir nesse quesito. Em relação a mortalidade também não foi significativa, apenas um inseto morreu, no ultimo dia do ensaio expermental no tratamento de Jurema Preta. CONCLUSÃO Os resultados encontrados permitem tirar as seguintes conclusões: A utilização dos extratos vegetais oriundos das folhas Jurema Preta (Mimosa hostilis) e de Marmeleiro (Croton sonderianus) causam uma queda significante no consumo da folhas de Berinjela (Solanum melongena) realizados pelo gafanhoto (Chromacris speciosa L.) tendo em algumas repetições o consumo nulo da folha. Ensaios futuros serão necessários para avaliar outras potenciais interferências.
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Capítulo 14 AVALIAÇÃO DO EFLUXO DE DIÓXIDO DE CARBONO (CO2) EM TRÊS SISTEMAS DE USO E MANEJO DO SOLO
FONSECA, Weleson Barbosa Graduando Em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias welesonbarbosa@homail.com BARROS, Emerson Serafim Graduando em ciências agrárias Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias emersonserafim997@gmail.com
RESUMO O solo é um dos maiores emissores e receptores de carbono do sistema terra, as mudanças na paisagem, os diferentes usos do solo, causados pela ação antrópica provocam significativas alterações nos ambientes naturais, estudos de cinética da respiração edáfica, pode ajudar a explicar processos biológicos do solo. O objetivo do trabalho foi avaliar a evolução do CO2 a cada duas horas em período diurno, pela cinética da respiração edáfica, em três sistemas com diferentes formas de uso, na região do brejo no município de Bananeiras, Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrarias (CCHSA), Campus III, da Universidade Federal da Paraíba. Para realização da cinética de respiração edáfica foram selecionados três sistemas com diferentes formas de uso, com área padrão de aproximadamente 0,4 ha, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado: Mandala, pastagem e Floresta, cada área constituída de três unidades ou parcelas com seis recipientes (repetições) com a solução coletora KOH totalizando 54 amostras. A quantidade de CO2 evoluído do solo foi determinado por meio de duas equações e avaliados pela análise de regressão polinomial e teste de Tukey a 0,05% de probabilidade. A evolução de CO 2 apresentou uma tendência a ser maior em altas temperaturas na mandala e pastagem, não diferindo estatisticamente, em todas as áreas o CO2 mostrou uma tendência a acompanhar o aumento da temperatura. A taxa de CO2 apresentou tendência à maior liberação no final da tarde. Em decorrência da importância da temperatura do solo nos inúmeros biológicos. PALAVRAS-CHAVE: Respiração edáfica, Cinética, CO2 do solo. INTRODUÇÃO O solo é um sistema natural vivo e dinâmico que regula a produção de alimentos, fibras e o balanço global do ecossistema (PINHEIRO, 2011), sendo necessária atenção especial no que se refere a práticas de manejo que favoreçam a preservação da matéria orgânica e evitem o declínio da fertilidade. O uso de práticas que visem esses cuidados vem motivando uma série de estudos e reflexões que reconheçam a importância da matéria orgânica como condicionadora do solo e fornecedora de nutrientes (ALCÂNTARA, 1998). Para Cianciaruso et al. (2006), a produção e a decomposição de serapilheira são processos fundamentais para a manutenção da ciclagem de nutrientes, sendo este o aspecto mais estudado e geralmente associado com a quantificação dos nutrientes que retornam ao solo pela decomposição. Scheer (2008) descreveu que a decomposição da serapilheira resulta no acúmulo da matéria orgânica do solo, na liberação de seus nutrientes para a biota e na dissipação de parte
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do carbono, como dióxido de carbono, sendo um processo que mantém a fertilidade e a produtividade do sítio. A transformação do carbono no solo compreende duas fases, a fase de fixação de CO2 atmosférico pelos organismos fotossintéticos com a síntese de compostos hidrocarbonados e a fase de regeneração que corresponde as etapas de decomposição onde os microrganismos oxidam os compostos orgânicos que retornam ao solo fornecendo energia para os mesmos e liberando CO2 para a atmosfera (PULROLNIK, 2009). A atividade microbiana ou respiração edáfica do solo é o CO2 liberado do solo pelos microrganismos, estudos de Cinética da respiração edáfica ajudam a explicar processos que ocorrem no solo, é uma das ferramentas indicadas para avaliar a recuperação de áreas degradadas, pelo baixo custo e eficiência (ARAUJO et al., 2016). A atividade biológica do solo inclui todas as reações metabólicas celulares de modo que há grande interação entre os microrganismos do solo e os organismos da macro e mesofauna edáfica na decomposição da matéria orgânica, pode ser avaliada por meio de vários parâmetros, dentre os quais se destacam o da respiração, a quantidade de CO2 liberada, decorrente da respiração de microrganismos e raízes é um dos métodos mais utilizados para avaliar a atividade microbiana que influenciada entre outros fatores principalmente pela temperatura (ARAUJO et al., 2016). Vários fatores incluindo temperatura, umidade, profundidade do solo, aeração e populações microbianas determinam a taxa de fluxo de CO2 para a superfície do solo (Silva et al., 2006). O preparo do solo em combinação com outras práticas de manejo e com a ação da temperatura e umidade influenciam a taxa de emissão de CO2 para a atmosfera (Franzluebbers et al., 1995). A atividade biológica do solo depende de fatores abióticos, como temperatura, água e nutrientes, e fatores bióticos como, principalmente, adição de carbono para sua atividade e desenvolvimento (Vezzani et al., 2003). Considerando-se que a maior intensidade de atividade biológica ocorre na camada superficial do solo, conclui-se que a sua exposição aos processos erosivos, com remoção de materiais devido ao uso e/ou manejos inadequados, irá acarretar em redução de sua qualidade (Habte, 1989). A mesorregião do agreste da Paraíba, em particular a microrregião dos brejos paraibanos, possuem poucas informações sobre estudos e identificação de indicadores de alterações químicas, físicas e biológicas edáficas, em especial os que têm como referência o solo sob condições naturais (SILVA et al., 2015), com isso, estudos desse tipo possuem grande importância, visto o número de dados que podem servir como referência para processos de monitoramento, avaliação e seleção de indicadores de qualidade edáfica em diferentes sistemas locais de cultivo e manejo do solo (MIRANDA, 2018). Nesse sentido o objetivo do trabalho foi avaliar a evolução do CO2 a cada duas horas em período diurno, pela cinética da respiração edáfica, em três sistemas com diferentes formas de uso, na mesorregião do Agreste da Paraíba, município de Bananeiras, Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrarias (CCHSA), Campus III, da Universidade Federal da Paraíba.
MATERIAL E MÉTODOS Área de implantação das unidades experimentais para captura do CO2 foram implantadas em três sistemas localizadas na Universidade Federal da Paraíba CCHSA/UFPB, Campus III
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Bananeiras. Situado na Latitude: -6.75105, Longitude: -35.6334 6° 45′4″ Sul, 35° 38′ 0″ Oeste. Onde estar inserido um importante remanescente de Floresta, situada na microrregião de Brejo Paraibano na Cidade de Bananeiras- PB, (OLIVEIRA et al., 2017) . Para realizar a implantação da cinética de respiração edáfica foram selecionados três sistemas com diferentes formas de uso, com área padrão de aproximadamente 0,4 ha, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, composto por três parcelas por sistema com seis repetições cada área, Mandala (Sistema mandala de produção orgânica de hortaliças, existente há aproximadamente 12 anos), Mata (Fragmento de mata nativa ombrófila semidecídua em estado secundário de regeneração) e pastagem (utilizada para a criação de ovinos no campus III), representadas por três unidades em cada área com seis baldes cada uma, com recipientes com solução de hidróxido de potássio (KOH) 0,5N. A cinética foi realizada no dia 10 de outubro de 2019, período seco. Foram adicionados 10 ml da solução coletora KOH em cada um dos recipientes, incluindo os dois controles que se mantiveram no laboratório, e conduzido para o campo hermeticamente fechados, os baldes cobriram uma área de 697,46 cm², foram dispostos aprofundando-se as bordas 3 cm de profundidade afim de evitar trocas gasosas com a atmosfera, aferiu-se a temperatura a 10 cm de profundidade do solo, com uso de termômetro Espeto, Instrutherm® - TE-400, a cada 2 horas durante as 12 horas de coletas em período diurno de 5 h as 17 horas. Após a coleta, foram levados para o laboratório de Pôs colheita da UFPB Campos III, e feitas as titulações com o ácido clorídrico (HCL) 0,1N, utilizando-se dois indicadores químicos, a fenolftaleína e alaranjado de metila (metilorange), utilizando o método proposto por Grise (1978). Os dados de CO2 foram avaliados pela análise de Regressão polinomial univariada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Com os dados obtidos, constatou-se que a evolução de CO2 nos tratamentos, apresentou variação em função das horas e da temperatura, a mandala (Gráfico 1) a presentou um maior índice de aumento da liberação de CO2 em relação com o aumento da temperatura, as 7 horas a massa de CO2 foi de 14,95 mgCO2 m- ² h¹ a temperatura de 24,3°C, e aumentou até as 17 horas obtendo máxima liberação de CO2 114,49 mgCO2 m-² h-¹ a temperatura de 28,7°C, ou seja a Mandala recebe maior insolação e estar constantemente sendo manejado, não havendo uma cobertura vegetal, então possivelmente os microrganismos estão adaptados a uma maior temperatura especifica.
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Gráfico 1: Evolução do CO2 em função do tempo e da temperatura do solo
2
(Mandala) y = 0,6404x - 5,4547x + 21,073 R² = 0,9788 2
(Temperatura) y = -0,1246x + 3,545x + 5,4988 R² = 0,7684
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A Floresta por ser uma sistema com mata mais densa (Gráfico 3), apresenta temperatura mais baixas, porem mantendo-as por maior tempo por toda manhã, com um aumento gradativo e lento, esse fato possivelmente fez com que a floresta tivesse uma menor atividade nos horários da manhã, com mínima liberação de CO2, as 7 horas de 12,38 mgCO2 m-² h-¹ a 21,6°C e 97,20 mgCO2 m-² h-¹ a 22,8°C as 17 horas.
Gráfico 2: Evolução do CO2 em função do tempo e da temperatura do solo
(Floresta) y = 0,4746x2 - 3,1837x + 12,723 R² = 0,9967 (Temperatura) y = -0,01x2 + 0,3636x + 19,561 R² = 0,9533
A pastagem foi uma das áreas que também teve uma maior liberação de co2 e com a maior temperatura em comparação com as outras áreas de estudos (Gráfico 4), às 7 horas com 16,10 mgCO2 m-² h-¹ a temperatura 25,9ºC e as 17 horas com 108,9 mgCO2 m-² h-¹ a temperatura 31,0ºC, os microrganismos mostram-se mais eficientes ao aumento da temperatura, o que se observa-se na área de mandala e pastagem.
Gráfico 3: Evolução do CO2 em função do tempo e da temperatura do solo
2
(Pastagem) y = 0,7854x - 10,351x + 52,188 R² = 0,9649 2
(Temperatura) y = -0,1329x + 3,8712x + 4,7096 R² = 0,8671
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Na análise estatística das médias de CO2 (Tabela 1), os tratamentos não apresentaram estatisticamente diferença na quantidade de CO2 liberados, nos diferentes sistemas avaliados. Tabela 1. Analise das médias de CO2 Tratamentos
Medias
Mandala
55,29 nda
Floresta
48,40 nda
Pastagem
50,23 nda
Trabalhando-se com respiração edáfica em diferentes sistemas de uso Miranda (2018) constatou que a alta quantidade de CO2 estar relacionada com o período chuvoso. Fatores como umidade e temperatura se correlacionam favorecendo o aumento do efluxo de CO2 nos diferentes ambientes. De acordo com Paul e Clark (1996), a menor atividade dos microrganismos, resultando em decréscimos de CO2 liberado em função de baixas temperaturas, está associada à adaptabilidade dos microrganismos a diferentes extremos de temperatura. Desse modo, a estabilização do CO2 nas horas de temperaturas extremas possivelmente tenha resultado de inibição da atividade microbiana, sendo uma resposta dos microrganismos às condições reinantes do ambiente. Áreas mais antropizadas com ausência de cobertura permite uma maior incidência de raios solares aumentando a mineralização da matéria orgânica e consequentemente maior atividade microbiana e maior liberação de CO2, em primeira ordem a atividade microbiana, responsável pela produção de CO2 é controlado pela temperatura e conteúdo de água no solo, se não apresentar uma temperatura favorável dentre os limites fisiológicos envolvidos a atividade poderá ser interrompida (ARAUJO et al., 2016).
Essas variações nas emissões de CO2 decorreram de variações no conteúdo de água do solo e da temperatura, com tendência a maiores perdas nos horários mais quentes. Isso é devido ao fato de a maioria dos microrganismos do solo se adaptar bem a temperaturas mais elevadas (TREVISAN et al., 2002), característica peculiar da região semiárida. De acordo com Souto et al. (2009), há indicativo de que os microrganismos aumentam sua atividade entre 40 e 45 ºC na região semiárida, e quando alcançam valores próximos aos 50 ºC há inibição da atividade microbiana e, consequentemente, menor produção de CO2.
CONCLUSÕES A evolução de CO2 aumenta ao longo do dia em comparação a temperatura nos quatros sistemas estudados, à medida que a temperatura se eleva a atividade microbiana cresce, evidenciando a especificidade e adaptação dos microrganismos a temperaturas mais altas, a taxa de CO2 apresenta tendência à maior liberação no final da tarde em decorrência da importância da temperatura do solo e do ar nos processos que ocorrem no solo.
REFERÊNCIAS ARAUJO, Kallianna Dantas et al. Cinética de evolução de dióxido de carbono em área de caatinga em São João do Cariri-PB1. Revista Árvore, Viçosa-mg, v. 35, n. 5, p.1099-1106, 02 maio 2016. CIANCIARUSO, M.V.; PIRES, J.S.R.; DELITTI, W.B.C.; SILVA, E.F.L.P. Produção de serapilheira e decomposição do material foliar em um cerradão na Estação Ecológica de Jataí, município de Luiz Antônio, SP, Brasil. Acta Botânica Brasílica. v.20, n.1, p.49-59, 2006. FRANZLUEBBERS, A.J.; HONS, F.M. & ZUBERER, D.A. Tillage-induced seasonal changes in soil physical properties affecting soil CO2 evolution under intensive cropping. Soil Till. Res., v.34, p.41-60, 1995. GRISI, B. M. Método químico de medição de respiração edáfica: alguns aspectos técnicos. Ciência e Cultura, v. 30, p. 82-88, 1978. HABTE, M. Impact of simulated erosive on the abundance and activity of indegenous versiculararbuscular mycorrhizal endophytes in as oxissol. Biology and Fertility of Soils, Heildelberg, v.7, p.164-167, 1989. MIRANDA, Alexandre Amadeu Cerqueira de. Relação entre indicadores de qualidade de solo sob diferentes sistemas de manejo. 2018. 68 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado em Ciências Agrarias, Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, Bananeiras-pb, 2018. Cap. 2. OLIVEIRA, Ivan Sérgio da Silva et al. Regeneração Natural de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Fabaceae em Brejo de Altitude em Bananeiras, Paraíba. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, [s.l.], v. 12, n. 4, p.680-686, 1 out. 2017. Grupo Verde de Agroecologia e Abelhas. http://dx.doi.org/10.18378/rvads.v12i4.4990. PAUL, E. A.; CLARK, F. E. Soil microbiology and biochemistry. London: Academic Press, 1996. 340p. PINHEIRO, Sebastião. CARTILHA DA SAÚDE DO SOLO E INOCUIDADE DOS ALIMENTOS: CROMATOGRAFIA DE PFEIFFER. Rio Grande do Sul: Sales, 2011.
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Capítulo 15 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL BIOINSETICIDA DE UMA ESPÉCIE VEGETAL DA CAATINGA SOBRE Nasutitermes corniger (Motschulsky,1855)
ARAUJO, Claudia Marques Graduanda em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba claudiamarquesaa@gmail.com SILVA, Nadiane França da Graduanda em Agroecologia Universidade Federal da Paraíba ndnfranca@gmail.com SANTOS, Letícia Waléria Oliveira dos Graduanda em Agroecologia Universidade Federal da Paraíba leticiawaleriaoliver123@gmail.com COSTA, Natanaelma Silva da Doutoranda em Biotecnologia Universidade Federal da Paraíba ampnatanaelma2@yahoo.com.br MEDEIROS, Marcos Barros de Departamento de Agricultura do CCHSA Universidade Federal da Paraíba mbmedeir2016@gmail.com
RESUMO O bioensaio foi realizado na Clínica Fitossanitária do Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias (CCHSA), Campus III da Universidade Federal da Paraíba, localizada no município de Bananeiras, estado da Paraíba - Brasil. Este trabalho teve como objetivo testar o potencial bioinseticida do pó de jurema preta (Mimosa hostilis beth) sobre os cupins (Nasutitermes Corniger) avaliando suas respectivas dosagens;1g;0,75g;0,50g;0,25g e 0,0g sendo esta última vindo a representar o tratamento controle. Primeiramente realizou-se a coleta do material vegetal, folha de Jurema Preta (Mimosa hostilis Benth) foram coletadas em área de transição do Curimataú na zona rural no município de Solânea também no estado da Paraíba – Brasil. Em seguida, para a obtenção dos pós vegetais a partir da jurema preta, foram realizadas algumas etapas tais como: a higienização do material coletado a partir de duas lavagens distintas, depois cortou-se o material vegetal. Posteriormente este mesmo elemento foi acondicionado em estufa de circulação de ar forçada sob temperatura de 45°C por um tempo de 48 horas. Depois, o material vegetal foi levado ao moinho de facas tipo Wiley TE-648 e convertido em pó vegeta, logo após, realizou-se a pesagem do pó de jurema preta, em seguida os insetos foram acondicionados em recipientes de polietileno, nos quais foram expostos à distintas quantidades de pós vegetais, aos recipientes adicionou-se papel filtro, umedecido a cada 48h com água destilada (0,5 mL) Com este trabalho percebeu-se que o pó da jurema preta(Mimosa hostilis Benth)teve efeito significativo sobre os cupins(NasutitermesCorniger)vindo a representar alta taxa de mortalidade dos mesmos quando expostos ao pó desta referida planta.
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PALAVRAS-CHAVE: bioinseticida, dosagens, efeito
INTRODUÇÃO O bioma caatinga representa um ecossistema exclusivamente brasileiro, com um abrangente número de espécies endêmicas (FORZZA et al., 2012) ou seja, encontradas apenas no Brasil. Historicamente estigmatizou-se que a vegetação da Caatinga era pobre e limitada em número de espécies, porém o enfrentamento a essa visão tem se dado a partir de estudos e pesquisas científicas apontando ampla diversidade e endemismos (VASCONCELOS, 2019). Porém muitas espécies ainda não foram investigadas quanto à sua composição e efeitos e formas de uso nos diversos setores de interesse. Nos últimos anos a caatinga tem sido alvo de atividades de bioprospecção, visando maior conhecimento sobre as espécies nativas e a bioconservação desse importante bioma do Brasil (SILVA, 2016). Esses estudos visam subsidiar o uso racional e a preservação desses recursos genéticos. Uma das áreas de pesquisa e utilização das substâncias botânica extraídas da Caatinga é o controle alternativo de insetos. Uma vez que se tem ampliado o interesse pela utilização de inseticidas botânicos em alternativa ao uso de inseticidas sintéticos (agrotóxicos). Diante disso e mesmo havendo uma grande variedade de plantas com potencial inseticida já comprovado pelo uso popular, tornam-se necessários estudos voltados para a caracterização e avaliação do potencial biológico desses produtos (OLIVEIRA 2018). O uso de espécies vegetais no controle de insetos vem sendo pesquisado a bastante tempo. Isso devido aos danos ocasionados por algumas espécies de insetos que podem afetar negativamente a saúde humana e animal, sendo vetores de algumas doenças, a economia, uma vez que podem dizimar produções agrícolas, ou ainda a estrutura de árvores ou edificações como no caso dos cupins. Visto que Nasutitermes, os cupins, afetam diversas madeiras podendo atacar ocasionalmente plantas vivas, provocando danos consideráveis, destacando-se espécie Nasutitermescorniger (Motschuls) da família. Termitidae que ocorre em quase todo o Brasil. Algumas espécies de cupins constroem seus ninhos em árvores, que se conectam com o solo, por meio de túneis que descem pelo tronco da árvore em que o ninho foi construído (MELO FILHO;1996). O controle de cupins assim como de muitos insetos é conduzido majoritariamente com agroquímicos visando através do contato atingir toda a colônia (ALMEIDA et. al., 1994; 1998). Contudo se tem buscado alternativas para o controle químico desses insetos. Soares et al (2008) testaram Nim e Citronela sobre Nasutitermescorniger, ensaios que concluíram que o óleo de Citronela apresentou maior eficiência de mortalidade sobre os insetos alvo. Nessa perspectiva podemos apontar a possibilidade de pesquisa sobre a (Mimosa hostilisBenth), conhecida popularmente como Jurema Preta é da família Mimosaceae, do gênero Mimosa e espécie Mimosa hostilisBenth. É uma arvoreta de 5 a 7 m de altura, de porte arbustivo (CAMPANHA; 2010). Alguns autores abordam a utilização dessa planta, como por exemplo; Gonçalves et al. (2005) que obteve bons resultados em relação a função fungicida e bactericida, com a atividade antimicrobiana do extrato. Tendo estudos desenvolvidos também por Santos (2016) que fez uso de extratos aquosos de plantas, dentre as utilizadas estava a Mimosa hostilisBenthno controle do inseto Thripstabaci, e que demonstrou efeito significativo sobre larvas,mesmo não diferindo da testemunha, umas das indagações de Santos (2016), foi a questão da dosagem que não foi suficiente, dessa forma requerendo mais estudos sobre a espécie.
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A mesma já é bastante estudada para várias finalidades, como; lenha e carvão, recuperação de áreas degradadas, construção civil, forragem, medicinalmente entre outros. Por apresentar elevado potencial e ser largamente explorada nas áreas naturais da Caatinga, são necessários mais estudos que verifiquem e aprimorem as potencialidades dessa espécie. (CHAGAS et al., 2017). Isso torna evidente que alguns estudos vêm sendo conduzidos objetivando conhecer mais profundamente as espécies nativas e suas potencialidades. Contudo é notório ainda crescente demanda por esses estudos em face da carência de informações sobre características e composição desses vegetais. Diante disso objetivou-se com esse trabalho testar a capacidade de controle da planta Mimosa hostilisBenth sobre os cupins (Nasutitermescorniger) avaliando a taxa de mortalidade dos mesmos diante da utilização do pó dessa planta como controle.
128 MATERIAL E MÉTODOS O bioensaio foi realizado na Clínica Fitossanitária do Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias (CCHSA), Campus III da Universidade Federal da Paraíba, localizada no município de Bananeiras, estado da Paraíba - Brasil. Os cupins (nasutitermes corniger) utilizados no ensaio experimental foram coletados no Setor de Agricultura (1ª Chã) do referido centro universitário. O material vegetal, folha de Jurema Preta (Mimosa hostilisBenth) foi coletado em área de transição do Curimataú na zona rural no município de Solânea também no estado da Paraíba - Brasil. Para a obtenção dos pós vegetais a partir da jurema preta, foram realizadas algumas etapas tais como: a higienização do material coletado a partir de uma primeira lavagem com detergente e uma lavagem posterior utilizando uma solução de água e hipoclorito de sódio à 5%. Logo após a retirado do excesso de água na superfície vegetal o material foi cortado, com o intuito de reduzilo em partículas menores para facilitar a etapa seguinte, o processo de desidratação. Em seguida as folhas de Jurema Preta (Mimosa hostilisBenth) foram acondicionadas em estufa de circulação ar forçada, expostas a uma temperatura de 45°C por um tempo de 48 horas. Ao fim da desidratação o material vegetal foi levado ao moinho de facas tipo Wiley TE648 e convertido em pó vegetal. Após isso, realizou-se a pesagem do pó vegetal utilizando-se balança analítica, seguido de bioensaios para avaliar seu efeito sobre a sobrevivência dos cupins. Para a montagem do bioensaio experimental os insetos foram acondicionados em recipientes de polietileno, nos quais foram expostos à distintas quantidades de pós vegetais. No centro dos recipientes foram adicionados círculos de papel filtro, que foi umedecido a cada 48h com água destilada (0,5 mL), para a manutenção da umidade do ambiente, durante o período de avaliação (Figura 1). Figura 1 – A - Ambiente experimental para bioensaio de controle de Nasutiterme sutilizando Mimosahostilis Benth. B – Visão dos cupins antes de serem expostos ao pó vegetal de Jurema Preta
Fonte: Equipe de pesquisa (2020)
As folhas da Jurema Preta tiveram seu efeito avaliado em diferentes doses: 1g, 0,75g, 0,50g, 0,25g, 0,0g, aqui nomeadas, respectivamente, de Dose 1, Dose 2, Dose 3, Dose 4, Dose 5, sendo essa última o tratamento controle. Adotou-se um Delineamento experimental Inteiramente Casualizado (DIC), tendo cada tratamento (dosagens) quatro repetições, contendo 10 insetos cada, totalizando 200 indivíduos operários adultos. As avaliações foram realizadas a cada 24h no decorrer de dois dias. Os dados foram ainda submetidos ao cálculo de correção de mortalidade de acordo com Henderson-Tilton (Fórmula 1), onde n = número de insetos na população, T = tratamento, Co = Controle ou testemunha. Fórmula 1 – Fórmula de correção de mortalidade de Henderson-Tilton
129 n no Co antes do trat * n no T depois do tret Correção de mortalidade % = (1 -
)*100 n no Co depois trat * n no T antes trat
Fonte: Software tocalculateprobitanalyses, 1971
RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados foram submetidos a análise de variância (ANOVA) e o resultado da análise pode ser observado na Tabela 1. Tabela 1 – Análise de variâncias dos dados de mortalidade de Cupins (Nasutitermescorniger) tratados com MimosahostilisBenth VF GL SQ QM Dosagens 4 202.00000 50.50000 Resíduo 15 29.75000 1.98333 Total 19 231.75000 ** significativo ao nível de 1% de probabilidade (p < .01)
F 25.4622 **
* significativo ao nível de 5% de probabilidade (.01 =< p < .05) ns não significativo (p >= .05) Como pode ser observado, o valor de F apresentou-se significativo ao nível de 1% de probabilidade, com isso as médias dos tratamentos foram submetidos ao teste de Tukey a 5%. Os resultados do teste de média estão expressos na tabela 2, assim como seus respectivos desvios padrão
Tabela 2 – Médias, desvio padrão e coeficiente de variação do efeito de mortalidade de diferentes dosagens do pó de Jurema Preta sobre cupins Dosagens 1g 0,75g 0,50g 0,25g
Médias ±DP 9,50 a ± 0,58 9,50 a ± 0,58 10,00 a ± 0 8,25 a ± 2,36
Correção de Mortalidade (%)* 94,12 94,12 100 79,41
0,0g 1,50 b ± 1,91 CV% 18,17 As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade *Correção de mortalidade (%) pela fórmula de Henderson-Tilton Com os dados obtidos, é possível notar significância em todas as doses testadas, o que indica a possível utilização da planta como um inseticida, com base nos resultados, pode ser indicada para uso a dosagem 0,50g, em que demonstrou o menor desvio padrão, assim como também a melhor taxa de correção de mortalidade. Esse estudo corrobora com o trabalho desenvolvido por Santos (2016) que obteve bons resultados com MimosahostilisBenthno controle do inseto Thripstabaci, e que demonstrou efeito significativo sobre larvas, sendo indicado realizar mais estudos com a espécie. Como também, abordado na pesquisa de De Melo (2014), o uso do pó de diferentes espécies vegetais para avaliar o potencial inseticida no Callosobruchusmaculatus, em que foi utilizada também a Mimosa hostilisBenth, e que foi observados resultados positivos. Com isso, é perceptível que o pó da Mimosa hostilisBenth mostraram bons resultados. A partir de trabalhos realizados pode-se dizer que essas plantas, além de capacidade inseticida comprovada, ainda possuem diversos princípios ativos e características que podem ter funcionalidades desalojantes, atraentes e repelentes, entre outras variadas características podendo vir a ser utilizadas no controle de pragas na no espaço da agricultura(NAVARRO et al., 2009). Utilizando a fórmula de mortalidade corrigida (%) de Henderson-Tilton obteve-se uma porcentagem total de eficiência de mortalidade dos tratamentos utilizados de 73,53%. Que evidencia alta eficiência das dosagens do pó de Jurema Preta sobre Cupins arbóreos
CONCLUSÕES Com este trabalho foi possível perceber que o pó da jurema preta (Mimosa hostilis Benth) teve efeito significativo sobre os cupins (Nasutitermes Corniger )testados, sendo que as respectivas dosagens;1g;0,75;0,50g;0,25g analisadas demonstraram capacidade bioinseticida desta planta sobre cupins, o tratamento controle;0,0g diferiu dos demais, a partir deste trabalho notou-se também a alta taxa de mortalidade destes insetos quando expostos ao pó desta referida planta.
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Capítulo 16 AVALIAÇÃO DO ÍNDICE DE QUALIDADE DA ÁGUA DA BARRAGEM DE ACAUÃ – PB
SILVA, Érik Serafim Pós-graduando em Biotecnologia Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI) erik.silva26@escola.pb.gov.br GOMES, Isaac Araújo Pós-graduando em Biotecnologia Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI) isaacbiomed1@gmail.com MEDEIROS, Weverton Pereira de Mestre em Sistemas Agroindustriais Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) weverton_cafu@hotmail.com.br COSTA, Natanaelma Silva da Doutoranda em Biotecnologia Universidade Federal da Paraíba (UFPB) natanaelma2@gmail.com MEDEIROS, Marcos Barros de Professor do Departamento de Agricultura Universidade Federal da Paraíba (UFPB) mbmedeir2016@gmail.com
RESUMO A barragem de Acauã é utilizada para o abastecimento de algumas cidades do Vale do Paraíba. Objetivou-se avaliar o índice da qualidade da água da barragem de Acauã no município de IngáPB. Os parâmetros físico-químicos após analisados mostraram-se dentro dos limites permitidos pela Portaria do Ministério da Saúde, indicando que a água captada, tratada e oferecida pelo sistema municipal de abastecimento do Município de Ingá-PB está dentro dos padrões estabelecidos em cor aparente, turbidez, pH, condutividade elétrica, temperatura, sólidos totais dissolvidos (STD), alcalinidade, dureza total, dureza em cálcio, dureza em magnésio, cloretos, sulfatos e amônia. A presença de coliformes 35º, 45º e Bactérias Heterotróficas foram registrados na cidade em apenas uma residência ao qual pode estar atrelado ao armazenamento inadequado e na barragem com maior incidência. Os dados foram comparados com a Portaria de nº 2.914 de 12 de dezembro de 2011 do Ministério da Saúde. Conclui-se que a água da barragem de Acauã está fora dos padrões estabelecidos, porém a água pós tratamento mostrou-se dentro dos limites permissíveis, garantindo assim que a água tenha uma boa qualidade, esteja livre de microorganismo patogênicos e que a rede de distribuição não sofra com corrosões ou incrustações.
PALAVRAS-CHAVE: abastecimento da água; potabilidade; análises microbiológicas.
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1. INTRODUÇÃO A água é um dos fatores abióticos mais relevantes para a manutenção da vida não só humana, como também das demais espécies. Age como dispersor de materiais de origem orgânica e inorgânica, sendo imprescindível ao desenvolvimento de reações bioquímicas, promovendo o fluxo de substâncias entre os meios intra e extracelular. No organismo humano, a água exerce importante função nos processos de anabolismo, especificamente na síntese de proteínas e também na excreção de todos os tipos de metabólitos prejudiciais à saúde.
BATISTA (2012) destaca que a água uma substância de fundamental importância para existência dos seres vivos, conhecer o seu papel nos processos vitais, climáticos e suas propriedades físicas e químicas, despertaria a consciência para que se aproveite de forma racional esse recurso, uma vez que de toda a água existente no planeta apenas 2,493% é doce e menos de 1% é de fácil acesso para o consumo humano. Em 14 de junho de 1999, o governo do Estado da Paraíba iniciou a construção da Barragem de Acauã, no rio Paraíba, divisa entre os municípios de Aroeiras, Itatuba e Natuba. A obra foi concluída em agosto de 2002. Denominada Argemiro de Figueiredo, a barragem de Acauã tem como objetivo principal o abastecimento de água de nove cidades da região: Salgado de São Félix, Itabaiana, Pilar, Ingá, Itatuba, Mogeiro, São Miguel de Taipu, Aroeiras e Fagundes, além do reforço no sistema de abastecimento de Campina Grande, Boqueirão, Queimadas e Caturité (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2019). Sua capacidade é de 250 milhões de metros cúbicos, de acordo com a Comissão Internacional de Grandes Barragens (Icold), Acauã encontra-se enquadrada na categoria das barragens de grande porte, pois, sua capacidade é superior a três milhões de m³ de água. A construção da barragem, cuja represa ocupa uma bacia hidráulica de 1.725 hectares, provocou o deslocamento de aproximadamente 4,5 mil pessoas (cerca de 800 famílias) que viviam às margens do rio e dali tiravam seu sustento. As águas atingiram as zonas rurais das cidades, inundando completamente esses povoados. A obra, orçada em aproximadamente 55 milhões de reais, foi 90% financiada pelo governo federal e 10% pelo governo estadual (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2019). A cidade de Ingá está localizada a 95 km da capital João pessoa e a 34 km de Campina Grande, no planalto da Borborema, a cidade tem seu clima semiárido e está as margens do Rio Ingá de Bacamarte. Atualmente de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística possui uma população de 18.234 habitantes (censo 2010). Segundo o IBGE quase 80% de sua população é abastecida pelo sistema adutor da barragem de acauã que está localizada na cidade de Itatuba, cerca de 21 Km de distância. Além disso, a água é necessária à execução da maioria das atividades humanas como irrigação, transporte, produção de alimentos, higiene pessoal além de uma infinidade de aplicações. Por constituir elemento essencial à vida, a água torna-se o item de maior consumo humano, quando comparada aos alimentos. Devido a isso, a possibilidade de aquisição de doenças através da ingestão de água é um fator que deve ser considerado. A análise e o monitoramento da qualidade da água destinada ao consumo humano, são de grande relevância. A ineficácia da garantia de qualidade da mesma sugere possibilidade de contaminação por micro-organismos patogênicos, no entanto, não há monitoramento microbiológico e/ou físico-químico da água utilizada por diversas cidades circo vizinhas. Assim como as propriedades microbiológicas da água é importante que as propriedades físico-químicas não se encontrem alteradas, pois quando isso ocorre configura-se um quadro de risco para a população (GOBIRA; DUARTE, 2018, p. 08).
133
Objetivou-se avaliar o índice de qualidade da água da barragem de Acauã-PB, levando em consideração as propriedades físico-químicas das amostras coletadas em cor aparente, turbidez, pH, condutividade elétrica, temperatura, sólidos totais dissolvidos (STD), alcalinidade, dureza total, dureza em cálcio, dureza em magnésio, cloretos, sulfatos e amônia. Para a análise das propriedades microbiológicas em coliforme totais, coliformes termotolerantes e bactérias heterotróficas. Posteriormente verificar se os valores obtidos estão de acordo com a portaria do Ministério da Saúde, indicando se o mesmo atende os padrões de potabilidade para consumo humano. 2. MATERIAL E MÉTODOS As coletas foram realizadas na Barragem Argemiro de Figueiredo – Acauã a qual abastece diversas cidades, dentre elas a cidade de Ingá no estado da Paraíba que também é objeto de investigação para análises da qualidade da água para consumo. Para realizar as análises foi utilizado os laboratórios da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Campus III – BananeirasPB, sendo que para as análises Físico-químicos foi utilizado o Laboratório de Química e para realização das análises microbiológicas o Laboratório de Microbiologia. Ambas as análises foram realizadas, seguindo a metodologia Standard Methods For The Examination Of Water And Wastewater. Para avaliar a potabilidade da água, os resultados das análises foram comparados com os valores máximos permissíveis (VMP). Nas análises físico-químicas, foram avaliados a qualidade da água nos parâmetros: Cor aparente, turbidez, pH, condutividade elétrica, temperatura, sólidos totais dissolvidos (STD), alcalinidade, dureza total, dureza em cálcio, dureza em magnésio, cloretos, sulfatos e amônia. A caracterização microbiológica da água foi realizada através da análise dos parâmetros coliformes totais 35ºC e 45ºC. A avaliação da qualidade microbiológica e química da água foram comparadas com a Portaria de nº 2.914 de 12 de dezembro de 2011 do Ministério da Saúde.
2.1 Pontos de coleta A coletas de amostras de água foi realizada durante mês de outubro de 2019, foram definidos previamente, quatro pontos de coleta na barragem para as análises microbiológica (Figura 1), 03 pontos no município de Ingá-PB (Figura 2). As coletas para análises físico-químicas foram coletadas em dois pontos, um deles perto da bomba de captação na barragem e um ponto residencial mais próximo da estação de tratamento. Figura 2 - Pontos de coleta na Barragem de Acauã
Fonte: Google Earth (2019)
Figura 1 - Pontos de coleta cidade de Ingá-PB
Fonte: Google Earth (2019)
134
Para obtenção das Coordenadas foi utilizado um aplicativo de GPS (C7 GPS Dados) criado pelo professor Enio Giotto, do Departamento de Engenharia Rural da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
FISICO-QUÍMICAS
Descrição
Coordenadas (S)
Coordenadas (W)
P1
Ponto de referência, local que marca o início do rio Paraíba com a barragem.
7º 27’5,118”
35º37’21,91”
P2
Localizada em um ponto a direita da bomba de captação da água da companhia de abastecimento.
7º27’1,394”
35º36’11,344”
P3
Localizada no ponto da bomba de captação da água da companhia de abastecimento.
7º27’2,088”
35º36’14,284”
P4
Localizada em um ponto a esquerda da bomba de captação da água da companhia de abastecimento.
7º27’1,669”
35º36’12,586”
P5
Ponto na cidade mais longe da Estação de Tratamento.
7º17’24,416”
35º36’58,33”
P6
Ponto na cidade intermediário da Estação de Tratamento.
7º17’12,033”
35º36’46,12”
P7
Ponto na acidade mais próximo da Estação de Tratamento
7º17’18,974”
35º36’16,04”
P3
Localizada em um ponto mais próximo a bomba de captação da água da companhia de abastecimento.
7º27’1,421”
35º36’11,454”
P7
Ponto residencial mais próximo à Estação de Tratamento da cidade localizada a 21 KM da barragem.
7º17’18,974”
35º36’16,04”
MICROBIOLÓGICAS
MICROBIOLÓGICAS
Tabela 1 - Coordenadas dos pontos de Coleta
Pontos
135
2.2 Coletas A coleta das amostras de água nos dois ambientes: na barragem e em residências no município foram conduzidas seguindo alguns procedimentos específicos. Para a realização da análise dos parâmetros físicos e químicos, as amostras foram coletadas em garrafas Pet com capacidade de 2 litros, as garrafas foram devidamente higienizadas com sabão e autoclavadas. Já para a análise dos parâmetros microbiológicos foram utilizados sacos estéril com tiossulfato de sódio de 120 mL, todas analisadas antes de serem completadas 24 horas de armazenamento.
3. RESULTADOS E DISCURSÕES Os resultados obtidos com a realização das análises Microbiológicas estão apresentados na Tabela 2. Os dados foram confrontados com os Valores Máximos Permissíveis da Portaria de nº 2.914 de 12 de dezembro de 2011 do Ministério da Saúde. Tabela 2 - Resultado das análises Microbiológicas Método: Standard Methods For The Examination Of Water And Wastewater 23Ed, Rodger B
AMOSTRA
COLIFORMES 35º
COLIFORMES 45º
Bactérias Heterotróficas UFC/ mL
P1 – Barragem
Presente
Presente
9,7x10²
P2 – Barragem
Presente
Presente
6,6x10²
P3 – Barragem
Presente
Ausente
5,3x10²
P4 – Barragem
Presente
Presente
7,2x10²
P5 - Cidade
Ausente
Ausente
4,8x10²
P6 - Cidade
Ausente
Ausente
3,8x10²
P7 - Cidade
Presente
Presente
9,1x10²
136
Com relação as análises microbiológicas para coliformes a 35º os resultados (Figura 3) de acordo com a portaria do Ministério estabelece que a água de consumo humano deva apresentar ausência total dessas bactérias, visto que todas as análises realizadas nas águas coletadas da barragem o resultado presuntivo deu positivo indicando presença dessas bactérias. A desconformidade pode estar relacionada com a precariedade do ambiente onde ocorre a captação, onde estão sujeitas ao acúmulo de resíduos orgânicos e inorgânicos, criação de animais nas propriedades ribeirinhas, podendo influenciar nessa contaminação. Segundo, PEZENTE (2009) a água destinada ao consumo humano e animal deve ser isenta de contaminantes químicos e biológicos, além de apresentar certos requisitos de ordem estética. Entre os contaminantes biológicos são citados organismos patogênicos compreendendo bactérias, vírus, protozoários e helmintos, que veiculados pela água podem, através da sua ingestão, parasitar o organismo humano ou animal. Os pontos na cidade apenas um deles indicaram presença, foi levado em consideração que os domicílios estudados recebem a água do abastecimento e armazenar em caixas d’águas que posteriormente e distribuída para as redes hídricas da residência, essa questão também pode colocar em risco a qualidade da água, uma vez que seu local de armazenamento pode estar vulnerável a qualquer interferência.
Figura 3 - Análises coliformes Totais
137 Fonte: Acervo pessoal (2019)
Resultado semelhante foi obtido por Souza Neto (2013), que avaliaram a qualidade da água utilizada para consumo humano em dois reservatórios da Barragem do Rio do Canto e do Engenho Mazagão, que abastecem de água o município de Areia-PB. A presença de Coliformes Totais indica que houve um crescimento de bactérias na água. Ao observa a tabela 2 e possível notar que, para o parâmetro Escherichia coli(45º) também houve variação significativa com relação a sazonalidade, sendo essas mais significativas nas análises realizadas nas águas da barragem, levando em consideração que o P1 foi realizado no Rio Paraíba antes de entrar em contato com a barragem, sendo assim como o mesmo já indicou presença dessas bactérias, esse presença pode estar atrelada a diversos fatores como animais nas proximidades da barragem, esgotos residências e industriais que no curso do rio são despejados clandestinamente, podendo assim alterar a qualidade da água ou potencializar sua contaminação. Nas áreas residências como só em apenas uma delas apresentou inconformidade, como dito anteriormente pode estar relacionado ao seu armazenamento vulnerável. Como demostrado na Tabela 2 a maior concentração de bactérias heterotróficas foi no P1 na barragem de acauã com 9,7x10² e no P7 com 9,1x10² que está localizada em uma residência na cidade, apenas duas das sete análises estão dentro dos valores máximo permissíveis, dado alarmante principalmente na amostra que é posterior a água tratada, pois sua presença pode indicar problemas de contaminação na água fornecida ou na forma de armazenamento. Após realizadas as análises físico-químicas, foi possível determinar os resultados e compará-los com os padrões de potabilidade requeridos pela portaria nº 2914/11 do MS como disposto na Tabela 3.
Tabela 3 - Resultados e parâmetros das análises Físico-químicas
RESULTADOS Parâmetro Cor aparente Turbidez pH
Unidade
Método
Barragem Cidade
VPM$
Mg Pt-Co/L
Colorimétrico
261
51
15
NTU
Nefelométrico
45
10,2
5
-
Potenciométrico
8,62
7,07
6–9
Condutividade Elétrica Temperatura Sólidos Totais Dissolvidos (STD)* Alcalinidade Dureza Total Dureza em Cálcio Dureza em Magnésio Cloretos Sulfatos Amônia
μS/cm
Condutivimétrico
1424
1546
500
ºC
Termômetro
25,1
25,1
-
mg/L
Condutivimétrico
911,36
989,44
1000
mg/L
Titulométrico em H2SO4
194,0
140,7
-
(CaCO3) mg/L
Titulométrico em EDTA
329,6
323,4
500
(CaCO3) mg/L
Titulométrico em EDTA
115,4
131,8
-
(CaCO3) mg/L
Titulométrico em EDTA
214,2
191,6
-
mg/L
Titulométrico em AgNO3
460,2
489,9
250
Qualitativo
Precipitação em BaCl2
A
A
250
Qualitativo
Reativo de Nessler
A
A
1,5
* A estimativa do valor de STD obedece o método proposto por Metcalf e Eddy (1991), tendo como parâmetro de cálculo os valores de condutividade elétrica. P = Presente; A = Ausente; I = inconclusivo. $ Valores Máximos Permissíveis (MS Portaria n° 2914/2011).
Para o parâmetro cor, nas amostras coletadas e analisadas, ambas apresentaram variações acima do que rege a Portaria n° 2914/2011 do MS, sendo que a maior distorção foi o ponto da coleta da barragem próximo ao ponto de captação da rede de abastecimento. Os valores, na barragem, estão bastantes elevados em comparação com o da cidade, onde, respectivamente, houve variações de 51 a 261 uH. Vale ressaltar que, a cor da água e consequência das substancias em solução. Diante disso, a aparência das águas pode ser influenciada por duas vertentes. No caso de águas não poluídas no caso da cidade, a cor e determinada pela presença de ácidos húmicos/fulvicos e compostos de ferro, visto que as tubulações em algumas partes ainda são de ferro, mas, quando poluídas, já a barragem pode derivar de uma variedade de compostos orgânicos. A turbidez se origina de partículas que geram uma aparência turva na água, impedindo a passagem da luz (RENOVATO et al., 2013). Para esse parâmetro a Portaria do Ministério da Saúde determina o valor máximo de 5,0 uT, onde nas análises realizadas houve uma variação bem acima do permissível, com maior incidência nas águas da barragem com 45 e 10,2 uT na cidade, normalmente a turbidez está mais ligada a estética do que questões sanitárias. Nas amostras examinadas verificou-se que o pH apresentou conformidade nos dois casos para barragem e cidade, a Portaria n° 2.914/2011 (MS), para que a água seja considerada própria para consumo, com relação ao pH, os valores devem ser de 6,0 a 9,0.
138
Para SANTOS et al. (2002), no caso do semiárido nordestino, cuja precipitação é menor que a evaporação, e comum encontrar valores de pH superiores a oito. Nota-se que na época seca, os valores chegam a quase 8,0 devido a menor concentração de água, o que justifica o pH da barragem de Acauã com 8,62. Após análises de condutividade encontramos os valores de 1424 µS/cm na barragem e 1546 µS/cm na cidade (Tabela 3). Estes valores encontram-se bem acima dos valores definidos para uma água potável (50 a 500 µS/cm). Não é possível relacionar diretamente a condutividade e a concentração de sólidos totais dissolvidos nestas águas, uma vez que não se trata de uma solução simples. Porém, observando as condições já citadas da barragem, pode -se supor alta presença de sais minerais, cloretos e outros íons dissolvi dos no meio. Compostos orgânicos e inorgânicos também podem influenciar na condutividade elétrica. Quanto à temperatura dessas amostras de água a variação é aceitável, visto que pode ser influenciada pelo ponto de coleta e tempo de armazenamento em determinados ambientes aos quais as amostras estavam submetidas anteriormente as análises. Araújo et al. (2011) observaram que as temperaturas das amostras de água para consumo humano variaram de (19,2 a 30,1 °C), sendo próximos os valores do presente estudo. Para Sólidos Totais Dissolvidos de acordo com os dados obtidos através das análises notase a partir da (Tabela 3) que os parâmetros não ultrapassaram os valores Máximos Permissíveis que rege a Portaria no 2914/2011 do MS, que é de 1000 mg/L de sólidos totais para águas para consumo humano, sendo considerado apta ao consumo ao se tratar desse parâmetro. Os resultados correspondentes a alcalinidade total variou de 194,0 na barragem e a 140,7 mg.L na cidade como disposto na tabela 3, contudo a Portaria n° 2.914/2011 em consonância com a Portaria de Consolidação n° 05/2017-MS (BRASIL, 2017) não estabelece limite mínimo e máximo para esse parâmetro. Apesar disto é importante quantificá-lo para uma avaliação físicoquímica completa, principalmente quando diz respeito à água tratada, uma vez que ela possui a presença de íons de hidróxido, carbonato e bicarbonato (APHA, 2017). -1
A Dureza Total foi analisada também para Cálcio e Magnésio que de acordo com a média dos cálculos realizados e dispostos na (Tabela 3), pôde-se verificar que a dureza total da água na barragem que foi de 329,6 mg/L, sendo que 115,4 mg/L de Ca2+ e 214,2 mg/L de Mg+, e na cidade foi de 323,4 mg/L, sendo 131,8 mg/L de Ca2+ e 214,2191,6 mg/L de Mg+ ambas estão de acordo com a Portaria n° 2.914/2011 do MS que permite até 500 mg/L. Sendo de acordo com a classificação, considerada água boa para consumo doméstico. Para o controle de potabilidade das águas consumidas pela população a Portaria 2.914/2011 determina para o cloreto um valor máximo permissível de 250 mg/L. Nas análises das amostras de água, foi possível diagnosticar a desconformidade desse parâmetro na barragem com um valor de 460,2 mg/L e na cidade 489,9 mg/L. Elevadas concentrações de cloretos nas águas podem estar relacionadas os esgotos das cidades onde o rio paraíba passa, bem como ao baixo volume da barragem e o aumento de matéria orgânica e defecações de animais. Nas análises de Sulfato e Amônia que foram realizadas qualitativamente ambas as amostras se mostraram ausentes dessas substâncias, no caso de Sulfato quando encontrada pode estar relacionada a contaminação do rio através de esgotos domésticos e industriais, para água tratada pode considerar o emprego de algum coagulante no tratamento da água. No caso das análises para detecção de amônia apesar de ter dado negativa, caso detectadas pode levar em consideração a decomposição de matéria orgânica em estado avançado, visto que, a barragem encontra-se com volume extremamente baixo.
139
4 CONCLUSÃO
Considerando os locais de coletas e os métodos utilizados nessa pesquisa permite-se concluir que os resultados obtidos nas análises microbiológicas na barragem todas apresentaram presença de coliformes totais e termotolerantes, além de índices além do permitidos para bactérias heterotróficas, indicando incidência de contaminação fecal e micro-organismos patogênicos. No entanto, os dados do presente nesse trabalho foram pontuais indicando que nos locais de coleta, e no mês avaliado, principalmente ao que se referisse a água distribuída mostraram-se de acordo com a portaria do Ministério da Saúde, isso demonstra eficiência no processo de tratamento e distribuição. O P7 que acusou presença de coliformes por se tratar do ponto mais perto da estação de tratamento e posteriormente averiguado que a água é armazenada em uma caixa d’água de forma irregular e vulnerável a contaminação para posteriormente ser distribuída para a rede de abastecimento da casa, podendo causar interferência em sua qualidade. Os parâmetros físico-químicos analisados estão dentro dos limites permitidos pela Portaria nº 2.914/11 do Ministério da Saúde, indicando que a água captada, tratada e oferecida pelo sistema municipal de abastecimento do Município de Ingá-PB estão dentro dos padrões estabelecidos, não acarretando em risco a saúde, sendo essencial que os mesmos se encontrem dentro dos parâmetros exigidos pela legislação, garantindo assim que a água tenha uma boa qualidade, esteja livre de micro-organismo patogênicos e que a rede de distribuição não sofra com corrosões ou incrustações. Assim, permitindo constatar que dentro desse estudo realizado verificou-se que apesar da água bruta da barragem está com seus padrões alterados, o tratamento da água realizado pela companhia de abastecimento de água da cidade de Ingá-PB mostrou-se eficaz para os parâmetros da portaria do Ministério de Saúde.
REFERÊNCIAS
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–
Acauã.
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Capítulo 17 AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE CARNES MOÍDAS VENDIDAS EM SUPERMERCADOS NA CIDADE DE POMBAL-PB
FREITAS, Francisco Bruno Ferreira de Graduando em engenharia de alimentos Universidade Federal de Campina Grande brunoferreirafrei@outlook.com DANTAS, Celsulla Maria de Oliveira Graduanda em engenharia de alimentos Universidade Federal de Campina Grande celsdant@gmail.com GARCIA, Maria de Fatima de Medeiros Graduanda em engenharia de alimentos Universidade Federal de Campina Grande fatimamedeiros004@gmail.com MEDEIROS, Weverton Pereira de Mestre em sistemas agroindustriais Universidade Federal de Campina Grande weverton_cafu@hotmail.com.br ALENCAR, Elaine Juliane Mestranda em sistemas agroindustriais Universidade Federal de Campina Grande elainejuliane300308@gmail.com
RESUMO Rica em nutrientes, a carne moída torna-se um verdadeiro meio de cultura para o crescimento de bactérias deteriorantes e patogênicas, uma vez que a fragmentação dos tecidos com liberação de suco celular propicia a proliferação desses agentes. Teve como objetivo o estudo da avaliação microbiológica de carnes moídas vendidas em supermercados na cidade de Pombal-PB. Realizouse analises de coliformes a 35ºC e a 45ºC, Escherichia coli, Salmonella sp./25g, contagem de aeróbios mesófilos, contagem de aeróbios psicrotróficos, contagem de fungos filamentosos e leveduras e Staphylococcus sp, de três amostras. As três amostras apresentaram contaminação microbiológica, com destaque para as análises de Salmonella sp , onde, duas das três amostras apresentaram presença da bactéria, e Staphylococcus sp que obteve altos valores de contaminação. Os resultados demonstram a importância da higiene do manipulador de alimentos e dos equipamentos dentro de um estabelecimento alimentício, além da matéria-prima. PALAVRAS-CHAVE: contaminação; microrganismos; condições sanitárias. INTRODUÇÃO O consumo de carne bovina como fonte de proteína animal é um hábito tão consolidado no Brasil que segundo os dados da ABIEC (2018), em quase uma década, o montante gerado pela cadeia produtiva da pecuária de corte aumentou mais de 80%, incluindo desde os insumos utilizados na produção do gado, passando pelo faturamento da venda dos animais, até o total comercializado pelas indústrias e varejo.
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Portanto, para que toda esta riqueza gerada durante a produção destes animais não seja desperdiçada, deve ser dispendida especial atenção para as etapas do processamento e destino até o consumidor final, último elo da cadeia (CARRERO et al., 2015). O processo produtivo consistindo no fracionamento e diminuição dos tecidos cárneos em tamanho reduzido pela moagem torna a carne moída um produto mais exposto e passível à contaminação. Este processo de fracionamento ocasiona uma maior superfície de contato, aumentando a probabilidade de se tornar um veiculador de microrganismos patogênicos, comprometendo a segurança do produto e trazendo doenças ao consumidor. Sua contaminação em geral pode decorrer por falhas em quaisquer etapas do processamento da cadeia produtiva. Dentre essas, a obtenção da matéria prima, o transporte, o acondicionamento em temperaturas inadequadas e a má higiene favorecem a multiplicação bacteriana. Portanto, estas falhas resultam na diminuição do prazo de validade comercial do produto, devido a deterioração da qualidade físico-química pelos microrganismos (REIS,2019). A carne, por suas características intrínsecas, como composição química, elevada atividade de água e pH próximo à neutralidade, é um ótimo meio para a multiplicação de microrganismos (FONTOURA et al., 2010). Por isso, um excelente meio de cultura e frequentemente está envolvida na disseminação de microrganismos patogênicos causadores de enfermidades ao homem e a outros animais (BRASIL, 1999). Dados do Ministério da Saúde descrevem que nos últimos 10 anos a carne bovina in natura, processados e miúdos foram o sexto principal alimento identificados isoladamente relacionados às DTA’s, sendo responsáveis por 5,3% dos casos (BRASIL, 2019). A manipulação e o armazenamento inadequados, a aquisição de carne de origem desconhecida ou duvidosa (sem identificação, prazo de validade e data de embalagem) são fatores responsáveis por surtos de origem alimentar que trazem risco à saúde do consumidor (OLIVEIRA et al., 2008). A carne moída apresenta um potencial de contaminação destacável por ser, muitas vezes, proveniente de retalhos de outras carnes e sofrer grande manipulação em seu processamento, além de, comumente, permanecerem em temperatura ambiente por longos períodos (NASCIMENTO et al., 2014). Quando proveniente de vários cortes, frequentemente, apresenta uma contagem microbiológica maior que aquela proveniente de grandes cortes. Isso porque essa carne sofre maior manipulação e, um único pedaço contaminado pode espalhar sua microbiota para todo o restante. Também os moedores e os utensílios de corte dos estabelecimentos comercializadores de carnes são importantes fontes de contaminação, pois geralmente não passam por limpeza e sanitização com a frequência necessária (FERREIRA; SIMM, 2012). Desse modo, objetivou-se o estudo da avaliação microbiológica de carnes moídas vendidas em supermercados na cidade de Pombal-PB.
MATERIAL E MÉTODOS As amostras de carne moída foram adquiridas no mês de junho de 2019, em supermercados da cidade de Pombal-PB. As análises microbiológicas e físico-químicas foram realizadas no Centro Vocacional Tecnológico (CVT) do Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar (CCTA) da Universidade Federal de Campina Grande, campus Pombal. Para as amostras de carne moída foi realizado as análises de coliformes a 35ºC, coliformes a 45ºC, Escherichia coli, Salmonella sp./25g, contagem total de aeróbios mesófilos, contagem
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total de aeróbios psicrotróficos, contagem de fungos filamentosos e leveduras e Staphylococcus sp. Inicialmente pesou-se 25 gramas das amostras de carne moída em recipientes estéreis, e adição dessa a 225 mL de solução salina peptonada 0,1%. A partir da diluição 10-1 foram efetuadas as diluições 10-2 e 10-3 em 9 mL da solução salina peptonada 0,1%. Para as análises de coliformes totais e termotolerantes utilizou-se a técnica dos tubos múltiplos, onde, transferiu-se 1 mL da amostra para uma série de 3 tubos contendo, aproximadamente,10 mL de caldo verde brilhante bile a 2% e tubos de Durham invertidos, os quais foram incubados a 35 ± 2°C entre 24-48 horas. Os tubos considerados positivos passaram para a análise de coliformes termotolerantes. Em seguida, foram repicados em caldo EC, com incubação a 44,5 ± 1°C, durante 24-48 horas (APHA, 2001).
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Para verificar a presença ou ausência de Escherichia coli nas amostras, utilizou-se o Ágar Eosin Methylene Blue (EMB), as alíquotas foram inoculadas através da técnica de semeadura em placas com o auxílio de alça de platina. As placas foram incubadas a 35 ± 2°C durante 18-24 horas. Para a análise de Salmonella sp/25g. Utilizou-se a metodologia de plaqueamento por superfície em placas de Petri estéreis contendo o ágar Salmonella Shigella sólido, e posteriormente, incubadas a 35 ºC por 48 horas (APHA, 2001). As análises de contagem total de aeróbios mesófilos e psicrotróficos foram realizadas de acordo com a Association American Public Health Association (APHA, 2001). Utilizou-se a metodologia de plaqueamento em profundidade e em seguida, as placas contendo o meio e as alíquotas para a análise de bactérias mesófilas, foram incubadas a 35°C por 48 horas e as placas destinadas a contagem de aeróbios psicrotróficos foram incubados entre 6 a 10°C por 5-7 dias. A contagem de fungos filamentosos e leveduras foram realizadas pela técnica de plaqueamento em superfície. As placas foram incubadas a temperatura ambiente por cinco dias (BRASIL, 2003). Para a contagem Staphylococcus sp., inocularam-se alíquotas de 0,1 mL das diluições em placas estéreis, contendo Ágar Baird-Parker, e com auxílio de alça de Drigalsky espalharam-se os inóculos na superfície do meio. As placas foram incubadas a 35 C por 48 horas. Considerandose como típicas as colônias negras brilhantes com anel opaco, rodeadas por um halo claro ou transparente (BRASIL, 2003).
RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos para as análises microbiológicas das carnes moídas estão detalhados na tabela 1. Tabela 1: Resultados obtidos para os parâmetros microbiológicos das carnes moídas
PARÂMETROS
AMOSTRAS
MICROBIOLOGICOS
I
II
III
Coliformes a 35ºC (NMP/g *)
> 1,1x103
> 1,1x103
> 1,1x103
Coliformes a 45ºC (NMP/g)
> 1,1x103
> 1,1x103
> 1,1x103
Escherichia coli
Presente
Presente
Presente
Salmonella sp./25g
Presente
Ausente
Presente
Fungos filamentosos e Leveduriformes
0,97x103
0,678x103
0,115x103
0,5x103
1,82x103
0,13x106
5,51x103
6,03x103
4,64x103
2,09x104
1,42x104
5,2x104
(UFC/g **) Contagem total de aeróbios psicrotróficos (UFC/g) Staphylococcus sp. Contagem total de aeróbios mesófilos (UFC/g) * Número mais provável por grama de carne moída. ** Unidade formadora de colônia por grama de carne moída.
A legislação vigente (Resolução ANVISA nº12/2001), (Brasil, 2001), não estabelece limites para o número mais provável de coliformes totais e termotolerantes na carne bovina moída in natura, no entanto nesta pesquisa foram adotados os limites preconizados para carnes resfriadas ou congeladas, in natura, de aves (carcaças inteiras, fracionadas ou cortes). Para as análises de coliformes a 35ºC e a 45ºC é possível observar que todas as amostras de carne moída apresentaram valores altos de contaminação, valores acima de 1,1x103NMP/g. Esses resultados são preocupantes, a cerca de que, provavelmente essa contaminação ocorreu no abate do animal, segundo Silva et al. (2010) o local natural de habitação deste microrganismo é o trato intestinal de animais de sangue quente. Essa contaminação também pode ter sido decorrente até mesmo do corte e moagem das carnes, já que foi observado ao visitar os supermercados que a manipulação dos alimentos era inadequada. Para a análise de confirmação e presença de E. coli, 100% das amostras apresentaram presença da bactéria patogênica, provavelmente oriunda da má manipulação desde o abate do animal. Almeida et al. (2018) avaliando as condições higiênico-sanitárias da carne moída de 20 açougues, encontram em 100% das amostras a presença de coliformes totais e em 85% a presença de coliformes fecais, relatando que a grande quantidade deste último é reflexo de precariedade nos processos de manipulação e armazenamento do produto. Hangui et al. (2015), em seu estudo encontraram em 100% das amostras coletadas coliformes totais, onde 37,5% delas apresentaram valores alarmantes, acima de 103 NMP/g. Já para coliformes termotolerantes, 100% das amostras apresentaram valores abaixo do padrão indicado na literatura que é de 103 NMP/g, números um pouco distantes do encontrados no nosso trabalho. Para o parâmetro Salmonella sp./25g, observou-se somente na amostra II houve a ausência deste microrganismo e que nas amostras I e III o microrganismo apresentou-se presente, estando fora dos padrões exigidos pela RDC nº 12 (BRASIL, 2001) que estabelece a ausência de Salmonella sp para carnes moídas. Reis. (2019) em seu trabalho sobre a análise de onze carnes moídas comercializada na cidade de Manaus, AM, encontrou em sete a presencia de Salmonella
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sp. Já Oliveira et al. (2017) em seu trabalho, encontraram 100% das amostras livres da bactéria patogênica, obedecendo assim a legislação vigente. Para fungos filamentosos e leveduras, foi possível observar valores acima de 103 em todas as amostras de carne, dos três supermercados. Não existe na legislação vigente um limite máximo para esse tipo de microrganismo, porém, sua quantificação é importante, já que números elevados levam a deterioração da carne e caracteriza-se por alterações na coloração e superfície viscosa, pegajosa (BRASIL, 2001; FRANCO; LANDGRAF, 2008). Todas as amostras apresentaram contaminação por bactérias psicotroficas, com valores acima de 103, com destaque em especial para a amostra do supermercado III, que obteve um valor de contagem acima de 106, a legislação brasileira não determina limites para esse tipo de bactéria contaminante. Entretanto, a legislação europeia determina valores de até 5,0 x 10 6 UFC/g (BRASIL, 2001; UNIÃO EUROPÉIA, 2005), logo, os valores para as amostras I e II encontramse dentro dos parâmetros europeus, porém a amostra III encontra-se em um nível rejeitado por ultrapassar os valores permitidos. Dentre os psicrotróficos que afetam a qualidade e a vida útil desse alimento, destaca-se Pseudomonas spp, que são Gram-negativos, aeróbios, proteolíticos e lipolíticos relacionados com a deterioração de carnes frescas (ANJOS, 2013). Dos resultados obtidos, percebe-se a presença de Staphylococcus sp. em 100% das amostras analisadas com valores médios superiores a 103, essa contaminação possivelmente está relacionada ao processo de manipulação das carnes moídas, uma vez que, segundo Iglesias (2010), o Staphylococcus sp. tem como habitat natural vias aéreas superiores, mãos, cabelos e pele dos seres humanos, isto faz com que o manipulador se torne uma potencial fonte de contaminação. A legislação brasileira preconiza valores de 5,0x103, apenas a amostra III apresentou valores abaixo do determinado pela legislação, porém, vale ressaltar que foi um valor muito próximo ao preconizado pela lei, para a contagem de Staphylococcus sp, valores muito altos desse microrganismo, podem prejudicar a saúde do consumidos e causar alterações indesejáveis ao produto. Reis 2019 encontrou valores acima de 105 no seu estudo, valores muito acima da legislação e contagens muito altas em comparação ao encontrados no presente trabalho. Medeiros 2017, também encontrou em seu trabalho valores de Staphylococcus sp. acima do previsto na legislação, porém valores próximos ao encontrado no nosso trabalho, variando de 5,35x103 a 6x103. Na análise de contagem de mesofilos, todas as amostras de carne moídas, apresentaram-se contaminadas pelo microrganismo, com valores acima de 104, a amostra do supermercado III apresentou um maior valor, 5,2x104. Segundo a Resolução RDC, nº 12, (BRASIL, 2001) de 2001 da ANVISA, para este grupo de microrganismos, é tolerável até 104 UFC/g em produtos cárneos considerados frescos, logo, as amostras retiradas dos três supermercados estão inapropriadas para o consumo, por estarem acima do descrito na RDC nº 12. O grande número de bactérias aeróbias mesófilas em alimentos indica que existem materiais excessivamente contaminados, bem como a limpeza, a produção e conservação dos alimentos está sendo realizada de forma inadequada. Para Franco et al. (2008), a presença desse grupo de microrganismos significa que houve condições para o crescimento de patógenos, pondo em risco a saúde do consumido. Corroborando com outros estudos realizados, Medeiros 2017, encontrou em suas análises que suas amostras de estudo também apresentaram altos teores de contaminação por bactérias
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mesófilas, sendo que em 100% das amostras foram identificadas com contaminação, os valores de unidades formadoras de colônias (UFC/g) encontradas variam entre < 2,5x101 UFC/g. à > 2,5x107 UFC/g., mínimo e máximo, respectivamente. Reis 2019 encontrou resultados para contagem de bactérias mesófilas acima da faixa de 107 valores acima do encontrado no presente trabalho e acima da legislação brasileira. Os resultados avaliados demonstraram a importância da higiene do manipulador de alimentos e dos equipamentos dentro de um estabelecimento alimentício, que também podem ser veiculadores de coliformes, além da matéria-prima, sobretudo no que diz respeito ao processo de abate. CONCLUSÕES Conclui-se que as três amostras de carnes moídas vendidas na cidade de Pombal-PB, estão em total desacordo com a legislação apresentando altos índices de contaminação microbiológica, podendo ser um risco para a população que consome esse alimento na cidade. Dando destaque para as contagens de Salmonella sp. estando presentes em duas das três amostras analisadas, a presença desse microrganismo é de completa preocupação para a saúde pública por ser responsáveis por diversa infecções e causar até mesmo a morte. Ocorre a necessidade da aplicação de boas práticas de fabricação nos estabelecimentos da cidade, assim como o cumprimento das normas realizarem implantação de procedimentos eficientes de higienização e sanitização e um monitoramento eficaz por parte de auditorias internas por técnicos dos próprios estabelecimentos e auditorias externas pelos órgãos de fiscalização, podendo assim diminuir os riscos potenciais de uma contaminação generalizada pelo consumo de carnes moídas contaminadas.
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Capítulo 18 AVALIAÇÃO SENSORIAL DE IOGURTE CASEIRO ELABORADO COM CAFÉ TORRADO E MOÍDO SOARES, Wisla Kívia de Araújo Engenheira de Alimentos Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) wisla-kivia@hotmail.com FEITOSA, Bruno Fonseca Engenharia de Alimentos Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) brunofonsecafeitosa@live.com FERNANDES, Jayuri Suzy de Araújo Mestre em Sistemas Agroindustriais Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) XAVIER, Leidiana Elias Mestranda em Sistemas Agroindustriais Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) leidiana_elias@hotmail.com OLIVEIRA, Emanuel Neto Alves de Docente do Curso Técnico em Alimentos Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) emanuel.oliveira16@gmail.com
RESUMO O iogurte é um tipo de produto fermentado, que é amplamente consumido, especialmente devido a adição de complementos e saborizantes, que proporcionam sabor, cor e aroma característicos. Por exemplo, o café apresenta benefícios, como estímulo do sistema nervoso central, mantém a atenção e o humor. Neste contexto, objetivou-se elaborar um iogurte caseiro adicionado de café comercial torrado e moído, bem como avaliar sua aceitação sensorial, intenção de compra e Índices de Aceitabilidade. O produto foi elaborado e avaliado quanto a aceitação sensorial dos atributos cor, aroma, consistência, sabor e impressão global, bem como quanto o detalhamento da intenção de compra e Índices de Aceitabilidade. Observou-se que os parâmetros cor e aroma obtiveram médias iguais (7,59). O tributo sabor indicou nota média de 7,48, valor respectivo entre “gostei moderadamente” e “gostei muito”. A maioria das notas obtidas para a intenção de compra do iogurte caseiro elaborado com café torrado e moído foi atribuída ao termo hedônico “possivelmente compraria o produto” (25). Além disso, evidencia-se que todas os parâmetros apresentaram bons Índices de Aceitabilidade, visto que os percentuais calculados estão superior a 75%. Infere-se que o produto foi classificado como satisfatório do ponto de vista da aceitabilidade pelo consumidor, apresentando-se como uma opção para diversificação no mercado e alternativa de consumo para um público que almeja o efeito do consumo de café. PALAVRAS-CHAVE: Coffea spp., consumidores, leite fermentado.
INTRODUÇÃO O iogurte é um tipo de produto fermentado, que é amplamente consumido devido seus benefícios à saúde (LOVEDAY et al., 2013; FEITOSA et al., 2020). Comumente, é produzido a partir da fermentação do leite, através do emprego de microrganismos específicos, como Streptococcus thermophillus e Lactobacillus bulgaricus (BEZERRA et al., 2019).
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O processo fermentativo atribui uma caracterĂstica espessa e levemente ĂĄcida, devido a atividade metabĂłlica das BactĂŠrias Ă cido-lĂĄcteas (BAL), que desenvolvem-se e aprimoram as propriedades fĂsicas, quĂmicas e sensoriais (BRASIL, 2007). A textura do iogurte ĂŠ muito apreciada pelos consumidores, sendo influenciada principalmente por dois fatores, a adição de sĂłlidos e o tratamento tĂŠrmico (BEZERRA et al., 2019). Os produtos fermentados permitem a adição de complementos e saborizantes, que proporcionam sabor, cor e aroma caracterĂsticos, por exemplo ao iogurte (SANTOS, et al., 2018). Poucos produtos foram tĂŁo estudados nos Ăşltimos anos como o cafĂŠ (Coffea spp.), sendo o Brasil o maior exportador mundial (COSTA, 2020). O consumo do cafĂŠ provoca no organismo o estĂmulo do sistema nervoso central, mantĂŠm a atenção e o humor, ajudando na respiração e na digestĂŁo, entre outros benefĂcios. Por ser composto especialmente pela cafeĂna, o cafĂŠ apresenta-se como um dos alimentos e suplementos mais consumidos no mundo (MCLELLAN et al., 2016). Assim, este trabalho visou elaborar um iogurte caseiro adicionado de cafĂŠ comercial torrado e moĂdo, bem como avaliar sua aceitação sensorial, intenção de compra e Ă?ndices de Aceitabilidade.
MATERIAIS E MĂ&#x2030;TODOS A presente pesquisa foi desenvolvida no LaboratĂłrio de AnĂĄlise de Alimentos, do Instituto Federal de Educação, CiĂŞncia e Tecnologia do Rio Grande do Norte, campus Pau dos Ferros-RN. Os materiais e ingredientes utilizados foram cedidos pela referida instituição. Para elaboração do produto, utilizou-se iogurte natural como fonte de microrganismos fermentadores, o qual foi misturado com o leite pasteurizado integral, na proporção de 800 g de iogurte natural e 3 L de leite. Posteriormente, deixou-se a mistura em repouso por 12 h. para ocorrer a fermentação. ApĂłs o processo fermentativo, adicionou-se gradativamente 242 g de açúcar e 8 g de cafĂŠ, misturados entre si. Em seguida, o iogurte foi envasado em garrafas de polietileno de 100 mL, previamente sanitizadas (200 ppm/ 15 min.), e armazenado sob refrigeração (4 Âą 2 °C). Para avaliação da aceitação sensorial, utilizou-se uma ficha especĂfica (ANEXO 1), de acordo com a metodologia descrita por Dutcosky (2013), que foi aplicada a 49 provadores nĂŁo treinados, de ambos os sexos, com faixa etĂĄria mĂŠdia de 19 anos. Os atributos sensoriais avaliados foram cor, aroma, consistĂŞncia, sabor e impressĂŁo global, utilizando-se escala hedĂ´nica de nove pontos: 1 - desgostei extremamente, 2 - desgostei muito, 3 - desgostei moderadamente, 4 - desgostei ligeiramente, 5 - nem gostei, nem desgostei, 6 - gostei ligeiramente, 7 - gostei moderadamente, 8 - gostei muito e 9 - gostei muitĂssimo (DUTCOSKY, 2013). Foi avaliada tambĂŠm a intenção de compra, atravĂŠs da escala hedĂ´nica de cinco pontos: 1 - certamente nĂŁo compraria o produto, 2 - provavelmente nĂŁo compraria o produto, 3 - talvez comprasse, talvez nĂŁo comprasse, 4 - provavelmente compraria o produto e 5 - certamente compraria o produto (DUTCOSKY, 2013). O Ă?ndice de Aceitabilidade (IA) foi calculado, utilizando-se a Equação 1 (GULARTE, 2009). đ?&#x2018;&#x20AC; (1) đ??źđ??´ (%) = â&#x2C6;&#x2014; 100 đ?&#x2018; Em que: M - nota mĂŠdia geral obtida pelo atributo e N - nota mĂĄxima adquirida pelo atributo.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos na aceitação sensorial do iogurte caseiro elaborado com café torrado e moído estão expressos na Tabela 1. Tabela 1. Aceitação sensorial do iogurte caseiro elaborado com café torrado e moído. Atributos
Nota média
Cor
7,59
Aroma
7,59
Consistência
6,89
Sabor
7,48
Impressão global
7,73
Intenção de compra
4,18
Para os parâmetros cor e aroma, ambos obtiveram médias iguais. Logo, também foi possível observar uma classificação correspondente aos termos hedônicos entre “gostei moderadamente” e “gostei muito”. Andrade et al. (2017) avaliaram iogurte artesanal simbiótico e perceberam que o atributo cor foi o mais aceito pelos julgadores, no qual foram atribuídas notas superiores a 7,0, demostrando que os mesmos gostaram moderadamente. Ribeiro et al. (2017), ao analisar iogurte sabor café com adição de 0,1 % de extrato de café, observaram que o atributo cor obteve maior frequência de nota 8 (gostei muito), com 47% das respostas. No que diz respeito à consistência, esta é a principal característica percebida pelo tato, mas também percebida pela boca, através dos receptores mecânicos, táteis e, eventualmente, pelos receptores visuais e auditivos (GODOI, 2017). O iogurte de café obteve uma nota média pelos consumidores, que classificou esse atributo entre “gostei ligeiramente e “gostei moderadamente”. Santos et al. (2017), ao desenvolverem um iogurte com sementes de chia, observaram quanto a textura que as pontuações variaram entre 6,10 e 6,44, equivalendo a “gostei ligeiramente”, independente da adição de se mentes de chia. Enquanto Luz et al. (2019), ao elaborarem iogurte sabor sapoti, observaram que “a formulação elaborada com leite integral foi melhor avaliada no atributo textura”, com nota média de 8,17. O sabor é um atributo complexo, definido como uma experiência mista, mas unitária de sensações olfativas, gustativas e táteis percebidas durante a degustação. Ainda há um conjunto de elementos que influenciam na percepção do sabor, tais como: temperatura, pressão, adstringência, pungência e picância (DUTCOSKY, 2013). A partir disso, os provadores classificaram o iogurte caseiro elaborado com café torrado e moído com nota média de 7,48, valor respectivo entre “gostei moderadamente” e “gostei muito”. Akamatsu et al. (2019), ao avaliarem iogurte de kefir sabor maçã verde, obtiveram notas médias para o atributo sabor entre 6,66 e 6,96, correspondendo aos termos hedônicos “gostei ligeiramente” e “gostei moderadamente”. O atributo sensorial impressão global tende a refletir a opinião geral do provador. Este parâmetro obteve a melhor avaliação pelos provadores, apresentando uma nota média de 7,73. Essa nota média indica termos hedônicos entre “gostei moderadamente” e “gostei muito”. Fernandez (2013) desenvolveu um iogurte de cappuccino com 3 formulações, o qual obteve média inferior a esta pesquisa no atributo impressão global, com 6,83. Ribeiro et al. (2017) analisaram iogurte sabor café com adição de 0,1 % de extrato de café e obtiveram nota média de 7,8 para o atributo aceitação global. Para o parâmetro intenção de compra, o iogurte caseiro elaborado com café torrado e moído recebeu uma substancial média de 4,18. Dessa forma, o resultado ficou acima da faixa de “possivelmente compraria o produto”. Já Akamatsu et al. (2019), ao avaliarem iogurte de kefir sabor maçã verde, obtiveram notas médias variando entre os termos hedônicos “talvez comprasse, talvez não comprasse” e “provavelmente compraria o produto”.
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Santos et al. (2017) desenvolveram iogurte com sementes de chia e inferiram que a intenção de compra das formulações com maior concentração de chia receberam uma maior quantidade de notas correspondentes ao temo “provavelmente compraria”. Os resultados da presente pesquisa apresentam um grande potencial de mercado, visto que obtiveram resultados satisfatórios quanto aos níveis de aceitação sensorial e intenção de consumo. Fernandes et al, (2013), ao avaliarem iogurte sabor café com 3 formulações, inferiram que houve maior aceitação sensorial pelo iogurte com menor concentração de café solúvel (0,2%). Logo, quanto menor a quantidade de café, maior a sua aceitação sensorial. Segundo Garmus et al. (2016), os iogurtes enriquecidos com farinha de linhaça “foram aceitas pelos provadores, pois apresentaram notas entre 7 e 8 na escala hedônica, o que significa gostei regularmente (nota 7) e gostei muito (nota 8)”. Na Figura 1 está apresentado o detalhamento das notas obtidas para a intenção de compra. Figura 1. Detalhamento das notas obtidas na intenção de compra do iogurte caseiro elaborado com café torrado e moído.
Observa-se que a maioria das notas obtidas para a intenção de compra do iogurte caseiro elaborado com café torrado e moído foi atribuída ao termo hedônico “possivelmente compraria o produto” (25), seguida do termo “certamente compraria” (17). A menor quantidade de notas foi atribuída ao termo hedônico “possivelmente não compraria” e nenhuma nota ao termo “certamente não compraria o produto”. Luz et al. (2019) elaboraram iogurte sabor sapoti e obtiveram na intenção de compra resultados favoráveis para as duas formulações, sendo que a formulação com leite integral obteve maior percentual de “certamente compraria” (81%). Os Índices de Aceitabilidade do iogurte caseiro elaborado com café torrado e moído para cada atributo sensorial encontram-se apresentados na Figura 2. Figura 2. Índices de Aceitabilidade iogurte caseiro elaborado com café torrado e moído para cada atributo sensorial.
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Ao desenvolver um novo produto, um dos pontos fundamentais é avaliar sua aceitabilidade, a fim de predizer seu comportamento frente ao mercado consumidor (MOSCATTO et al., 2004). Segundo Gularte (2009), para que o produto seja considerado aceito em termos de suas propriedades sensoriais, é necessário que este obtenha um Índice de Aceitabilidade (IA) de, no mínimo, 70%. Assim, observa-se que todas os parâmetros apresentaram bons IA, visto que os percentuais calculados estão superior a 75% para todos os atributos. Marques (2012) elaborou uma bebida láctea, com 11 concentrações diferentes de adição café. Em seu estudo, o maior IA que o autor obteve foi de 74,73%, sendo inferior ao menor percentual encontrado nesse estudo. Andrade et al. (2017), ao avaliar iogurte artesanal simbiótico, afirmaram que foram obtidos índices de aceitabilidade acima de 70%, evidenciando índices satisfatórios. Conforme Oliveira et al. (2019), ao desenvolverem iogurtes de tapioca, observaram que os iogurtes padrão e o formulado com 7% de tapioca obtiveram Índices de Aceitabilidade superiores a 70%. CONCLUSÃO O iogurte de café caseiro foi classificado como satisfatório do ponto de vista da aceitabilidade pelo consumidor. Os resultados apresentam um grande potencial de mercado, visto que os níveis de aceitação sensorial e intenção de consumo foram satisfatórios. Levando em consideração a porcentagem da aceitabilidade geral do produto de 82,84%, o iogurte caseiro de café apresenta-se como um produto para diversificação no mercado e pode ser uma alternativa de consumo para um público que almeja o efeito do consumo de café.
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Capítulo 19 BIOMETRIA E QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE Myracrodrun urundeuva Allemão COLETADAS NA REGIÃO DO CARIRI PARAIBANO
SANTOS, Danilo Silva dos Graduando no Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia Universidade Federal de Campina Grande - UFCG dannilosilva040@gmail.com SIQUEIRA, Daiane Florêncio Graduando no Curso Superior de Tec. em Agroecologia Universidade Federal de Campina Grande - UFCG florenciodayany@gmail.com OLIVEIRA, Isaak Gerônimo de Graduando no Curso Superior de Engenharia de Biossistemas – UFCG isaakgeronimo95@gmail.com LOPES, Adriano Salviano Mestrando em Agronomia Universidade Federal da Paraíba – UFPB adrianolopes5656@gmail.com DORNELAS, Carina Seixas Maia Professora adjunta Universidade Federal de Campina Grande – UFCG cacasmd@yahoo.com.br
RESUMO A Myracrodrun urundeuva Allemão, pertence à família Anarcadiaceae, é conhecida pelos nomes populares: almecega, arindeuva, aroeira, aroeira-d’água, aroeira-da-serra. É uma espécie com grande potencial socioeconômico e cultural, atualmente sua população vem diminuindo devido atividades extrativistas inadequadas, ocasionando problemas tanto ao meio ambiente, como em bancos de sementes. Sabe-se que, a semente é a principal propagadora da diversidade genética e perpetuação das espécies nos sistemas naturais. Portanto, este trabalho objetivou analisar a relação biométrica da semente de aroeira na sua emergência e vigor. O trabalho foi conduzido em casa de vegetação, com sombreamento à 50%, a qual, pertencente ao Laboratório de Ecologia e Botânica – LAEB do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido da Universidade Federal de Campina Grande em Sumé, PB. As sementes, para o estudo, foram coletadas de matrizes do município de Camalaú – PB, após o beneficiamento foi analisado as características biométricas das sementes (espessura, largura e peso), teor de umidade. O trabalho foi constituído por um tratamento com quatro repetições de 25 sementes, totalizando 100 sementes, o semeio foi feito em bandeja plástica com areia lavada e posteriormente coletados dados diariamente para computação da emergência e índice de velocidade de emergência do lote de sementes. Os resultados mostram que as sementes de aroeira estudadas apresentaram um teor de água de 11,3%, quanto à porcentagem de emergência, apresentaram no teste um total de 36%, já os dados de espessura e largura, onde observou-se uma variação de 3,168 a 3,336 mm e de 3,37 a 3,54, respectivamente. Foi possível constatar que o lote está inviável para produção vegetal. PALAVRAS-CHAVE: Vigor de Sementes, Fitotecnia, Sustentabilidade.
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INTRODUÇÃO O Bioma Caatinga é considerado um bioma exclusivamente brasileiro, o que torna seu patrimônio biológico único no planeta. Tem uma área de 844 mil km2 (aproximadamente 11% do território nacional) a Caatinga abrange os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e o norte de Minas Gerais. Possui vegetação do tipo xerófila com média anual de chuva entre 250 a 1000 mm (DRUMOND, 2000; BRASIL, 2010). É o ecossistema menos conhecido da América do Sul, tendo em vista, o pequeno número de pesquisas realizadas no mesmo, em decorrência da sua desvalorização (BRASIL, 2010). Para Alves et al. (2009), os aspectos climatológicos tornam a Caatinga uma formação complexa do ponto de vista espacial, onde sua fisionomia varia bastante dentro do Semiárido, tornando-a difícil de enquadramento numa classificação universal. A Caatinga apresenta uma extraordinária riqueza genética, no entanto, se encontra em avançado estado de degradação. Castro e Cavalcante (2010) e Pessoa et al. (2008) destacam que 80% do Bioma Caatinga sofreram ao longo de 400 anos, alterações devido à exploração predatória do homem, o qual tem reduzido significativamente a biodiversidade, dificultando a existência da vida, inclusive humana. Em função desta dinâmica de desequilíbrios ecológicos, ocasionados pelos processos de degradação cada vez mais intensos, aumentam os riscos da perda de diversidade genética, extinção de espécies, comprometimento evolutivo em função da perda de variabilidade genética e a redução da capacidade das populações naturais se adaptarem às mudanças ambientais (MELO JUNIOR et al., 2004; PINTO et al., 2004). A aroeira, Myracrodrun urundeuva Allemão, pertence à família Anarcadiaceae, é conhecida pelos nomes populares: almecega, arindeuva, aroeira, aroeira-d’água, aroeira-da-serra, aroeira-do-campo, aroeira-do-cerrado, aroeira-do-sertão, aroeira-preta, orindeuva, pandeiro, urindeuva, urundeuva (CARVALHO, 2003; LORENZI, 2008). É uma espécie nativa, mas não endêmica do Brasil, ocorrendo no continente americano desde o México até a Argentina (MAIA, 2004). No Brasil ocorrem nas regiões Norte (Tocantins), Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe), Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso), Sudeste (Minas Gerais, São Paulo) e Sul (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina) (FLORA DO BRASIL, 2017). Esta espécie como as demais do bioma caatinga, com grande valor socioeconômico e cultural, vem sofrendo um alto índice de desmatamento para uso de seus componentes, como a madeira para fabricação do carvão, não somente no Cariri paraibano como em todas as outras regiões de que tem sua incidência, tornando-se assim um dos principais fatores para a diminuição da população desta espécie. Também é muito comum, práticas de extração de cascas para fins medicinais e curtimento de couro, de forma incorreta, comprometendo ao longo do tempo o comportamento fisiológico da planta. Com isso, a planta passa a apresentar aspectos de estabelecimento e crescimento baixo e lento, respectivamente, e atrelado a essas atividades insustentáveis, a tendência é o desaparecimento da espécie nos habitats naturais. Assim, estudos vêm sendo impulsionados acerca do comportamento da espécie frente às atividades antrópicas. Sabe-se que, a semente é a principal propagadora da diversidade genética e perpetuação das espécies nos sistemas naturais. Então muitos pesquisadores já constataram que a classificação por tamanho tem sido o ponto inicial para designar a qualidade fisiológica, não só da semente, mas também o vigor da planta que a mesma pode gerar, não sendo diferente para as sementes de aroeira. Segundo Carvalho e Nakagawa (2000), as sementes de maior tamanho geralmente foram mais bem nutridas durante o seu desenvolvimento, possuindo embriões bem formados e com maior quantidade de substâncias de reserva, sendo, consequentemente, as mais vigorosas.
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Estudos referentes a influência do tamanho, germinação e vigor de sementes de espécies florestais nativas ainda são escassos na literatura, havendo a necessidade de pesquisas sobre o assunto. Diante do exposto, o trabalho teve como objetivo analisar a relação biométrica da semente de aroeira na sua emergência e vigor.
MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido em casa de vegetação, com sombreamento à 50%, a qual, pertence ao Laboratório de Ecologia e Botânica – LAEB do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido da Universidade Federal de Campina Grande em Sumé, PB (Figura 1). Figura 1 - Imagem da localização do Viveiro do Laboratório de Ecologia e Botânica, pertencente ao Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido.
Fonte: LIMA et al. (2018).
As sementes foram coletadas de matrizes adultas e com boas condições fitossanitárias, localizadas no município de Camalaú – PB. Após a coleta e beneficiamento, as sementes foram acondicionadas em recipiente plástico e levadas ao Laboratório de Tecnologia de Sementes e Produção Vegetal (CDSA/UFCG). As características biométricas analisadas, nas sementes de aroeira, foram: - Dimensões - (comprimento, largura (cm): determinados através de medições diretas com auxílio de um paquímetro manual, onde foram realizadas mensurações de 100 sementes. Os resultados foram expressos em milímetros; - Peso: foi realizado utilizando uma balança analítica de precisão, onde foram pesadas 100 sementes. Após isso, foi realizada a semeadura utilizando bandejas plásticas contendo areia lavada, com quatro repetições de 25 sementes (figura 2). As irrigações foram realizadas diariamente, utilizando 250 ml para manutenção da umidade do substrato.
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Figura 2 – Teste de emergência de sementes de aroeira (M. urundeuva All).
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Fonte: Arquivo do Pesquisador
Para obtenção dos dados foram analisadas as seguintes variáveis: Teor de umidade – obtido utilizando 100 sementes, através do método gravimétrico com a utilização de estufa a 105ºC (BRASIL, 2009); Emergência (E) = (N/A) x 100 Onde N = número de plântulas no final do teste; A= número de sementes semeadas; Índice de velocidade de emergência (IVE) = E1/N1 + E2/N2 +... + En/Nn Onde: E1, E2, En = número de sementes emergidas computadas em cada contagem; N1, N2, Nn = número de dias, em relação à data da semeadura; Para organização dos dados coletados e construção dos gráficos foi-se utilizado o Excel, como ferramenta auxiliadora do processo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Incialmente as sementes de aroeira apresentaram um teor de água de 11,3%, em estudos de armazenamento, Guedes (2012), constatou que as sementes de aroeira, apresentam um teor de água, em torno de 7,96%. Araújo (2012) trabalhando com sementes de aroeira em Boa Vista – PB, encontrou valores semelhantes de umidade (11%). Nas sementes ortodoxas, o teor de água é um dos fatores mais importantes para a manutenção da viabilidade ao longo do tempo. A redução no teor de água das sementes causa diminuição da atividade metabólica, o que prolonga a viabilidade (FOWLER, 2000). Quanto à porcentagem de emergência (Figura 3), verificou-se que as sementes de aroeira colhidas no município de Camalaú-PB, apresentaram no teste um total de 36 %, no total, ou seja, valores de 8, 52, 40 e 44%, respectivamente, por repetição. Esses dados, são considerados inferiores quando comparados com os trabalhos de Araújo (2013), que trabalhando com sementes de aroeira em Boa Vista-PB e Soledade-PB, encontrou valores de emergência em torno de 100% e 60% respectivamente. A perda de viabilidade e redução drástica da velocidade de germinação das sementes de M. urundeuva All., em ambiente natural, pode está relacionado, ao teor de óleo em suas sementes, pois é considerada uma espécie oleaginosas, podendo ocorrer uma diminuição rápida do poder germinativo.
Figura 3. Emergência (%) de plântulas de Aroeira (M. urundeuva All).
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Fonte: Dados da Pesquisa.
Os resultados de índice de velocidade de emergência (IVE), encontra-se na figura 4, distribuído por repetição, assim observa-se valores em torno de 0,2 a 2 de Índice. Quanto mais rápido ocorrer a germinação das sementes e a imediata emergência das plântulas, menos tempo as mesmas ficarão sob condições adversas, passando pelos estádios iniciais de desenvolvimento de forma mais acelerada (MARTINS; NAKAGAWA; BOVI, 1999). Figura 4. Índice de Velocidade de Emergência de plântulas de Aroeira (M. urundeuva All).
Fonte: Dados da Pesquisa.
Em relação à média dos pesos das sementes de aroeira (Figura 5), verificou-se que houve uma variação entre 0,013788 a 0,016176 g. Segundo Fenner (1985), o peso da semente está relacionado com o estágio sucessional da espécie e quanto maior o peso da semente, melhor será a germinação e o vigor.
Figura 5. Médias dos Pesos (g) de sementes de Aroeira de Aroeira (M. urundeuva All).
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Fonte: Dados da Pesquisa.
Na figura 6 (A e B) estão os dados de espessura e largura das sementes de aroeira, onde observou-se uma variação de 3,168 a 3,336 mm e de 3,37 a 3,54, respectivamente. Figura 6. Espessuras (mm) (A) e largura (mm) (B) de sementes de Aroeira (M. urundeuva All).
Fonte: Dados da Pesquisa.
Lopes, Dias e Pereira (2005) estudando a dimensão dos frutos de Tibouchina granulosa Cogn. Verificaram que o comprimento não foi um bom indicador foi um bom indicador para auxiliar na determinação do ponto de maturação fisiológica desta espécie.
CONCLUSÃO As sementes de aroeira, M. urundeuva All, apresenta valores de emergência de 36%, sendo possível constatar que o lote está inviável para produção vegetal, peso que variou de 0,013 a 0,0161, largura de 3,379 a 3,54 mm e espessura de 3,168 a 3,336 mm.
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Capítulo 20 Bowdichia virgilioides Kunth: POTENCIAIS DE USOS, CONSERVAÇÃO E MANEJO SUSTENTÁVEL
OLIVEIRA, Thereza Marinho Lopes de Oliveira Graduanda em Engenharia Florestal Universidade Federal do Rio Grande do Norte thereza_marinhol@hotmail.com PIMENTA, Jéssica Maia Alves Pós-graduando em Ciências Florestais Universidade Federal do Rio Grande do Norte jessica.alves.pimenta@gmail.com FAJARDO, Cristiane Gouvêa Doutora em Ecologia Universidade Federal do Rio Grande do Norte genegoista00@gmail.com VIEIRA, Fábio de Almeida Doutor em Engenharia Florestal Universidade Federal de Lavras vieirafa@gmail.com
RESUMO Bowdichia virgilioides Kunth é uma essência florestal nativa que não se encontra na lista de espécies ameaçadas de extinção. Contudo, o seu monitoramento é necessário para que não seja incluída em breve. Neste estudo, objetivou-se indicar pesquisas científicas que possam melhorar o arcabouço teórico existente sobre a B. virgilioides, a fim de promover a adoção do manejo florestal sustentável da espécie, bem como programas de conservação in situ e ex situ dos seus recursos genéticos. O presente estudo foi conduzido a partir da compilação e síntese de descrições morfológicas, ecológicas e potencialidades de uso da B. virgilioides. A revisão bibliográfica realizada mostrou que a espécie possui uma ampla variedade de produtos florestais não madeireiros. Entretanto, observa-se a existência de lacunas na pesquisa científica sobre aspectos ecológicos, biológicos e genéticos de populações naturais da B. virgilioides. Estes estudos são importantes para a construção de diretrizes para o manejo sustentável dos seus recursos florestais e como subsídios para os programas que visam a conservação da espécie. PALAVRAS-CHAVE: sucupira, planta medicinal, manejo florestal não madeireiro
INTRODUÇÃO As florestas possuem serviços ecossistêmicos essenciais para a manutenção da vida e os seus recursos são meio de subsistência para muitas populações tradicionais (MACDICKEN et al., 2015). No entanto, segundo resultados apresentados por Martinelli e Moraes (2013) no Livro Vermelho da Flora do Brasil, nota-se que muitas espécies florestais estão categorizadas em risco de extinção na natureza, devido ao extrativismo indiscriminado dos produtos florestais, madeireiros e não madeireiros, e por causa do alto impacto ambiental das atividades antrópicas.
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Nesse sentido, observa-se que o extrativismo predatório dos recursos florestais (KAMADA et al., 2009) e a fragmentação de habitats (GONÇALVES et al., 2014) ameaçam a variabilidade genética de espécies de interesse econômico. A manutenção da diversidade genética é importante, pois influencia na capacidade das espécies de se adaptarem às mudanças ambientais naturais e antrópicas (YAO et al., 2012). Portanto, observa-se a necessidade de estudos que gerem subsídios para a exploração responsável, por meio do manejo florestal sustentável. Outrossim, torna-se imprescindível impulsionar o conhecimento técnico-científico sobre os potenciais econômicos e biotecnológicos das espécies florestais. Bem como, investigar o uso dos seus princípios ativos na fabricação de alimentos, fármacos e cosméticos. De modo que esse compilado de informações somado à prática do manejo sustentável permitam a conservação dos recursos genéticos, diminuam a pressão sob plantas muito exploradas e previnam a extinção das espécies de interesse econômico. A Bowdichia virgilioides Kunth (Fabaceae), popularmente conhecida como sucupira-preta ou paricarana, não está contemplada na lista de espécies ameaçadas de extinção (IUCN, 2019). Contudo, por possuir potencial econômico e apresentar declínio populacional analisado ou projetado, é uma das espécies que necessitam de monitoramento (MARTINELLI; MORAES, 2013). Dados etnobotânicos levantados por Rocha et al. (2019) em uma comunidade quilombola no estado da Paraíba corroboram com a necessidade de haver pesquisas que subsidiem o manejo e programas de conservação para a espécie. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é indicar pesquisas científicas que possam melhorar o arcabouço teórico existente sobre a Bowdichia virgilioides Kunth, a fim de promover a adoção do manejo florestal sustentável da espécie, bem como programas de conservação in situ e ex situ dos seus recursos genéticos.
MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi produzido a partir da revisão bibliográfica referente a pesquisas que tiveram como espécie alvo de estudo a B. virgilioides. Realizou-se a síntese de descrições morfológicas, ecológicas e potenciais usos da espécie, encontradas em artigos científicos e livros. Para a compilação dos trabalhos, foi empregado o nome científico da espécie como palavra-chave no “Google Acadêmico” e na base de dados “Web of Science”. Durante a pesquisa, visando analisar todos os trabalhos já realizados, não houve restrição por ano de publicação. No entanto, priorizou-se a descrição dos resultados publicados mais recentemente, entre os anos de 2010 e 2020.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Características morfológicas e ecológicas A Bowdichia virgilioides Kunth, espécie pertencente à família Fabaceae, é nativa da América do Sul (ILDIS, 2005) e apresenta ampla distribuição geográfica. No Brasil, encontra-se distribuída desde o Norte até o Sul do país, ocorrendo nos domínios fitogeográficos da Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal (CARDOSO, 2020). A espécie possui crescimento relativamente lento, podendo atingir a altura de 16 m e diâmetro de até 50 cm (LORENZI, 2016). Segundo Lorenzi (2016), a B. virgilioides pode ser descrita como uma planta heliófita e seletiva xerófita. Em relação ao grupo ecológico, pode ser considerada desde pioneira (LORENZI, 2016) a secundária inicial (MARANGON et al., 2010).
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Outro aspecto ecológico da B. virvigilioides é ser decídua, com desfolhamento sincrônico à floração e maturação dos frutos (LOCATELLI; MACHADO, 2004). O seu padrão de floração é do tipo cornucópia e anual (DA SILVA et al., 2011). Contudo, alguns indivíduos podem apresentar padrão supra-anual, como demonstra o estudo realizado por da Silva et al. (2011). A inflorescência é do tipo paniculada, as flores possuem corola papilionácea, pétalas violáceas e são hermafroditas (DA SILVA et al., 2011). A B. virgilioides oferece néctar como recurso floral, que atrai principalmente abelhas, borboletas e beija-flores (DA SILVA et al., 2011). A espécie é considerada apícola. Além do néctar, o pólen também é um recurso floral forrageado pelas abelhas (LOPES et al., 2016). Em relação à biologia reprodutiva, a espécie é autocompatível, preferencialmente autógama e pode produzir frutos apomíticos (DA SILVA et al., 2011). A fenologia reprodutiva de uma espécie pode diferir de acordo com as variáveis edafoclimáticas de cada região (DA SILVA et al., 2011). No entanto, segundo a literatura consultada é possível inferir que o período de floração e frutificação da B. virgilioides sempre ocorrem durante a estação seca (LOCATELLI; MACHADO, 2004; BULHÃO; FIGUEIREDO, 2002; DA SILVA et al., 2011). Para o manejo de espécie florestais, o período reprodutivo é importante por permitir o planejamento de coleta dos frutos e das sementes, além de influenciar no período de coleta da casca (FILIZOLA; SAMPAIO et al., 2015). Os frutos da B. virgilioides são do tipo legume samaroide, secos, indeiscentes, compridos e elípticos (DE ALBUQUERQUE et al., 2015). De acordo com as características morfológicas do diásporo, a síndrome de dispersão da espécie é do tipo anemocórica (MARANGON et al., 2010). Encontra-se em média três sementes por fruto. As sementes são elipsoides e achatadas (DE ALBUQUERQUE et al., 2015) e são ortodoxas (CARVALHO et al., 2006). Ademais, as sementes possuem dormência tegumentar (SMIDERLE; SCHWENGBER, 2011), devido a quantidade de cutícula presente na semente (LIMA et al., 2018). Dessa forma, torna-se necessário o uso de métodos de superação de dormência com a finalidade de obter um maior índice de germinação e um resultado mais rápido e homogêneo. Segundo Smiderle e Sousa (2003), o método mais eficiente é a escarificação química com ácido sulfúrico. Devido a toxicidade do ácido sulfúrico e por ser um material oneroso, a superação de dormência também pode ser realizada por meio da imersão das sementes em água a 100 °C por 10 segundos (SMIDERLE; SCHWENGBER, 2011). Gonçalves et al. (2008) observaram uma maior porcentagem de germinação quando após a escarificação química as sementes foram embebidas em água por 48 h. Em relação ao substrato para germinação, Cruz et al. (2012) afirmaram que a vermiculita nas temperaturas constantes de 25 ° e 30 °C e o papel toalha na temperatura de 30 °C são eficientes. Os mesmos pesquisadores observaram em seu estudo que o crescimento completo das plântulas só acontece em ambientes com luminosidade (CRUZ et al., 2012). Para a produção de mudas vigorosas recomenda-se a seleção de matrizes e definição de locais de coletas de sementes. Dentre os conhecimentos necessários para essa etapa, estão os fornecidos pelas análises de distribuição espacial da espécie e pelos estudos de estrutura e dinâmica de populações (TONETTO et al, 2013). Em pesquisas de distribuição espacial, encontrou-se que a B. virgilioides apresenta padrão agregado (DUARTE et al., 2016; DA COSTA et al., 2019). Assim, Duarte et al. (2016) recomendam que nas espécies com esse padrão de distribuição deve ser feita a colheita de sementes em poucos indivíduos em um maior número de populações ou subpopulações, com a finalidade de aumentar a diversidade genéticas das sementes adquiridas. Entretanto, os padrões de distribuição são influenciados por variáveis ambientais e processos ecológicos de cada bioma (CAPRETZ et al., 2012). Portanto, observa-se a necessidade
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de haver a análise do padrão de distribuição espacial para cada sítio de ocorrência que se deseja manejar e/ou conservar a espécie. Em relação à produção de mudas, outra estratégia para a propagação e preservação genética da B. virgilioides é a micropropagação vegetativa (DE MOURA et al., 2014). No entanto, não foram encontrados estudos sobre outros métodos de propagação vegetativa, como a estaquia, a enxertia, a mergulhia e a alporquia para a B. virgilioides. Estas informações são relevantes para as equipes técnicas dos projetos de manejo e conservação da espécie, pois permitem a avaliação do melhor método de propagação a ser adotado, de acordo com os recursos técnicos, institucionais e financeiros disponíveis. Usos e potencialidades A B. virgilioides é indicada na recuperação de áreas degradadas (LORENZI, 2016) e para fins fitoterápicos (MACHADO et al., 2018), mas também possui aptidão para o uso paisagístico, por apresentar floração com características ornamentais (LORENZI, 2016). No entanto, a B. virgilioides não possui apenas potencial para o extrativismo de produtos florestais não madeireiros, sendo sua madeira também um recurso explorado (LORENZI, 2016). A madeira da B. virgilioides é considerada moderadamente densa, e pode ser aplicada na confecção de mobiliário de luxo, laminados decorativos, assoalhos, molduras, dormentes, postes (CAMPOS FILHO; SARTORELLI, 2015), fabricação de carvão, construção de vigas e portas (ROCHA et al., 2019). A análise da durabilidade natural é um dos fatores que contribuem na decisão sobre o emprego adequado de espécies madeireiras, principalmente, em relação ao uso em ambientes externos (CORASSA et al., 2014). Em ensaio de deterioração realizado por Corassa et al. (2019), a B. virgilioides foi sucessiva a ataque leve ou superficial de térmitas, porém não houve comprometimento de sua resistência. A resistência natural da madeira da B. virgilioides ao ataque de cupins pode estar relacionada com a presença de metabólitos secundários que possuem atividade antitermética (SANTANA et al., 2010). A indicação do uso da B. virgilioides em projetos de recuperação de áreas degradadas está relacionada com as suas características ecológicas. Dentre os atributos atrativos, estão a capacidade de colonizar ambientes abertos (KANEGAE et al., 2000) e o de se desenvolver em terrenos secos e pobres (LORENZI, 2016). Segundo Gris et al. (2012), espécies pioneiras são importantes nas fases iniciais de projetos de recuperação, por favorecer o desenvolvimento de espécies pertencentes a outros estágios sucessionais. Este argumento é corroborado pelos resultados encontrados por Arantes et al. (2015), os quais indicam que por promover mudanças bióticas e abióticas no ambiente, a B. virgilioides facilita a colonização de novas espécies em uma área de Cerrado sentido restrito. Além dessas possibilidades de uso, a espécie é conhecida por suas funções terapêuticas na medicina popular. De acordo com Gomes et al. (2008), a intensa comercialização dos recursos da espécie para fins fitoterápicos em feiras livres nos municípios do Nordeste brasileiro é preocupante, pois a espécie pode estar sendo submetida ao extrativismo predatório. Diversas partes da planta são utilizadas para os tratamentos fitoterápicos, como a casca, a entrecasca e as sementes. A casca da B. virgilioides é comumente usada para os seguintes tratamentos: depurativo do sangue, anemia, verminoses, inflamações, dor de barriga e inchaço (BOTINI et al., 2015). Além da casca, suas sementes também são utilizadas para tratar diversas infecções e amigdalite (DA CONCEIÇÃO et al., 2011). A B. virgilioides também é citada para o tratamento de dores nas costas, diabetes (ROCHA et al., 2019), dores de cabeça, gripe (FRANCO; BARROS, 2006), cólicas menstruais, inflamações ovarianas, uterinas e vaginais (SOUZA et al., 2014).
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Nesse sentido, diversos estudos foram realizados com a finalidade de investigar a bioatividade da B. virgilioides e assegurar o uso tradicional da espécie. Os seguintes resultados já foram relatados: A casca retirada de seu caule possui potencial cicatrizante (AGRA et al., 2013), antimicrobiano (ASSIS et al., 2018), anti-inflamatório (BARROS et al., 2010), ansiolítico (VIEIRA et al., 2013), antimalárico (DEHARO et al., 2001), antioxidante (DOS SANTOS et al., 2014) e anti-hiperglicêmico (SILVA et al., 2015). Segundo Thomazzi et al. (2010), as folhas dessa espécie também podem ser utilizadas para fins farmacêuticos por possuir propriedades antinociceptivas, anti-inflamatórias e antioxidantes. Além disso, o óleo essencial extraído das folhas apresenta potencial antimicrobiano (ALMEIDA et al., 2006) e o retirado das sementes atividade antibacteriana (RODRIGUES et al., 2009). Ademais, ensaios bioquímicos com a casca da B. virgilioides também identificaram a presença de muitas substâncias que apresentam potencial farmacológico. Entre elas é possível elencar os taninos, flavonoides (LEITE et al., 2014; ASSIS et al., 2018), alcaloides (LEITE et al., 2014), lupeol (PEREIRA BESERRA et al., 2018), grupos fenólicos, terpenóides e saponinas (ASSIS et al., 2018). Em bioensaios realizados por Silva et al. (2019), conseguiu-se isolar substâncias do caule com significativa ação inibitória para a catepsina V, enzima que atua na progressão do câncer (NIWA et al., 2012). Dessa forma, é possível inferir que essas pesquisas científicas validam a potencialidade do uso da B. virgilioides na obtenção de fármacos. Além do uso medicinal, pesquisas realizadas com a espécie apresentam a eficiência da planta como indutora de amadurecimento de bananas da variedade pacovan (DA COSTA NASCIMENTO et al., 2019) e agente larvicida contra Aedes aegypti (BEZERRA-SILVA et al., 2015). Nesse sentido, é necessário que se investigue de forma sistêmica os componentes químicos encontrados na B. virgilioides, os quais são responsáveis por esses efeitos biológicos e que podem ter potencial para outros fins nas indústrias químicas, cosméticas, fitoterápicas e farmacêuticas. Constata-se também a importância de pesquisas que identifiquem métodos de extração eficientes e acessíveis economicamente, assim como as possibilidades de usos desses princípios ativos em produtos de interesse comercial (GIULIETTI et al., 2004). Manejo Florestal Sustentável e Conservação
Devido a versatilidade de usos encontrados para a B. virgilioides, a espécie apresenta potencial para ser utilizada preferencialmente em planos de manejo florestal não madeireiro (ALMEIDA et al., 2012). Esta indicação é favorável à sua conservação em florestas nativas, pois o corte para fins madeireiros pode apresentar uma ameaça, visto a baixa porcentagem de germinação de suas sementes devido a dormência tegumentar. Além disso, torna-se uma alternativa econômica para as populações extrativistas. Diante desse contexto, é importante destacar o papel dos técnicos extensionistas como difusores desses múltiplos usos da B. virgilioides. No entanto, como a exploração predatória dos produtos florestais não madeireiros pode trazer impactos ecológicos (BRITES; MORSELLO, 2016), necessita-se investimento em estudos científicos que aportem a produção sustentável. Principalmente, na investigação de tecnologias de baixo impacto ambiental, pois muitas práticas tradicionais de extrativismo são predatórias e comprometem a capacidade regenerativa da espécie (MACHADO et al., 2008). Dessa forma, observa-se a importância de analisar como os recursos florestais da B. virgilioides podem ser extraídos de forma sustentável a longo prazo. Dentre as possibilidades de uso da espécie, nota-se um maior destaque para a exploração dos seus fitoativos, principalmente aqueles que possuem efeitos terapêuticos. De acordo com as
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pesquisas científicas compiladas neste trabalho, é possível inferir que a casca é a parte da B. virgilioides que possui maior potencial farmacológico. Em relação a exploração desse recurso, estudos revelam que o seu extrativismo desordenado e predatório pode levar a mortalidade de indivíduos (GUEDJE et al., 2001) e causar impactos na dinâmica da população (GUEDJE et al., 2003). Nesse sentido, observa-se a importância de estudos técnicos que possam subsidiar a construção de um manual de manejo específico para a B. virgilioides, que contemple diretrizes para a extração sustentável de sua casca, visto que o manejo do extrativismo varia conforme as características biológicas e ecológicas da espécie. Segundo Filizola e Sampaio et al. (2015), os métodos de coletas de casca podem ser classificados como indiretos (recolhimento de troncos, galhos caídos e material serrado) e diretos (poda de galhos, corte das cascas no tronco, corte da árvore). As técnicas de extração e as ferramentas utilizadas são essenciais para um manejo florestal não madeireiro eficiente, sendo informações fundamentais para compor o guia de boas práticas da espécie. Portanto, ressalta-se a necessidade de estudos para verificar a espessura da casca externa e da entrecasca e as características de crescimento, capacidade de regeneração e de rebrota da espécie, pois influenciam nas diretrizes de coleta (FILIZOLA; SAMPAIO et al., 2015). Observa-se também a necessidade de determinar o melhor período para a coleta da casca, conforme a fenologia reprodutiva e vegetativa da espécie (FILIZOLA; SAMPAIO et al., 2015). De acordo com a revisão sistemática realizada por Brites e Morsello (2016), a extração da casca pode causar efeitos sobre a população explorada. Dessa maneira, o estudo da dinâmica da população manejada torna-se uma ferramenta de monitoramento imprescindível na avaliação dos impactos do extrativismo (MACHADO, 2008). Ademais, estudo realizado por Rocha et al. (2004) indica a importância de se analisar a estrutura, dinâmica e a densidade das populações da espéciealvo, com a finalidade de avaliar se o manejo sustentável é possível. Em suma, esses estudos precisam ser realizados antes e durante as atividades extrativistas com as populações da B. virgilioides. Além disso, visando a conservação da B. virgilioides em seu ambiente natural, outras boas práticas de manejo devem ser adotadas. Sabe-se que a coleta de sementes é uma das etapas essenciais na produção de mudas, as quais podem ser destinadas para o paisagismo, reflorestamento de áreas degradadas e para a conservação ex situ da espécie. Nesse sentido, a fim de garantir a regeneração natural das espécies florestais, não se deve coletar todos os frutos de um único indivíduo e é recomendado que sejam adotadas técnicas que não danifiquem as matrizes (NOGUEIRA, 2007). Diante do potencial biotecnológico da B. virgilioides apresentado nesta revisão bibliográfica, observa-se urgência na adoção de estratégias que conciliem o uso racional dos seus recursos naturais com a conservação do patrimônio natural, genético e cultural vinculados à espécie. Principalmente, por estar categorizada em “quase ameaçada” de extinção pelo Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), que evidencia a necessidade de monitorar as subpopulações da B. virgilioides a fim de garantir sua variabilidade genética (CNCFlora, 2012). Este controle é importante, pois o risco de extinção de uma espécie é diminuído ou intensificado de acordo com seu nível de diversidade genética (BRZOSKO et al., 2011). Portanto, é imprescindível manter o alto grau de variabilidade genética em espécies categorizadas como ameaçadas de extinção ou que pertencem a domínios fitogeográficos vulneráveis (BITTENCOURT et al., 2019).
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Além disso, o conhecimento da diversidade genética populacional torna-se importante como subsídio para programas de conservação (BRZOSKO et al., 2011), por permitir a determinação de estratégias de manejo dos recursos genéticos da espécie alvo. Devido a essas informações, por exemplo, é possível definir diretrizes para a coleta de sementes para a construção de bancos de germoplasma (BANDEIRA et al., 2010) e indicar as populações que são prioritárias para conservação (FREIRE et al., 2019). Outro fator de estudo importante para a conservação e manejo das espécies é a determinação do sistema de reprodução (SILVA et al., 2017). Sobretudo para a B. virgilioides, visto que a espécie é apomítica e preferencialmente autógama. A autofertilização gera endogamia (CARVALHO et al., 2010), cujos principais efeitos deletérios são a redução na frequência de genótipos heterozigotos e a depressão endogâmica (HARTL; CLARK, 2010). Nesse sentido, para a promoção da conservação in situ e ex situ dos recursos genéticos da B. virgilioides, observa-se a relevância de pesquisas científicas que tenham como objetivo o estudo da diversidade genética populacional e seu sistema reprodutivo, cujos trabalhos foquem principalmente nas populações inseridas em biomas ameaçados.
CONCLUSÕES As pesquisas científicas sobre a Bowdichia virgilioides Kunth. apontam que a espécie possui alto potencial biotecnológico. Diante disso, observa-se que essa essência florestal pode ser utilizada preferencialmente em planos de manejo florestal não madeireiro. Contudo, para atingir uma produção sustentável, necessita-se que as diretrizes para o manejo dos recursos florestais da espécie sejam subsidiadas por estudos que abordem aspectos ecológicos, biológicos e genéticos de populações naturais da espécie. Por consequência, a conservação dos recursos genéticos da B. virgilioides será promovida. Devido à dificuldade de propagação via seminal da espécie, observase também a necessidade de pesquisas científicas que investiguem as possibilidades de propagação vegetativa da espécie buscando ampliar os métodos de produção de mudas.
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Capítulo 21 CAPIM TIFTON 85 IRRIGADO COM ÁGUAS CINZAS E ADUBAÇÃO NITROGENADA
BATISTA, Yanka Beatriz Gonçalves Graduanda em Engenharia de Biossistemas UFCG-CDSA, Sumé yankabeatriz7@gmail.com SILVA, Matheus Cavalcante da Graduando em Engenharia de Biossistemas UFCG-CDSA, Sumé matheuscavalcantedasilva.2015@gmail.com BORBOREMA, Lucyelly Dâmela Araújo Graduanda em Engenharia de Biossistemas UFCG-CDSA, Sumé lucyellyd@gmail.com SANTOS, Joelma Sales dos Professora do Curso de Engenharia de Biossistemas UFCG-CDSA, Sumé joelma@ufcg.edu.br GONÇALVES,Ranoel José de Sousa Professor do Curso de Engenharia de Biossistemas UFCG-CDSA, Sumé ranoel@ufcg.edu.br
RESUMO Em virtude dos baixos índices pluviométricos na Região Nordeste do país, a irrigação se torna necessaria para a produção agrícola e o reúso pode ser uma mola prepulsora para o desenvolvimento da agricultura. A presente pesquisa teve como objetivo avaliar o desenvolvimento do capim Tifton 85 irrigado com águas cinzas e adubação nitrogenada a base de uréia. Para tanto, foram cultivadas plantas do capim em vasos preenchidos com solo classificado como sendo Luvissolo Crômico Órtico Típico em condições de ambiente protegido distribuídos em delineamento experimental inteiramente casualizado, em esquema fatorial de 5x2, com três repetições. Os tratamentos foram constituídos de cinco doses de nitrogênio (0, 75, 150, 225 e 300 Kg ha-1), divididas em três aplicações, uma após cada corte, sob a forma de uréia, em cobertura e duas qualidades de água de irrigação (água de abastecimento e águas cinza). Foram transplantadas quatro mudas da gramínea em cada vaso, sendo cada uma delas composta por estolões enraizados. As plantas foram submetidas a três cortes que aconteceram a cada 20 dias a partir do corte de uniformidade das mudas. Foram avaliadas as seguintes variáveis: altura das plantas, massa verde e massa seca. Os maiores valores de altura da planta foram obtidos na ocasião do segundo corte, quando as unidades experimentais foram adubadas com 75 Kg ha-1. Já para a massa seca o maior valor foi obtido para as doses de 225 e 300 Kg ha-1. Os resultados indicam que o somatório da irrigação com a adubação nitrogenada foi essencial no cultivo de capim Tifton 85 nas condições semiáridas. PALAVRAS-CHAVE: Cynodon, Pastagem, Doses de Nitrogênio.
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1. INTRODUÇÃO O Brasil é um país que apresenta vasta extensão territorial e um clima privilegiado para o crescimento de plantas forrageiras, cujas condições são propícias para um bom desenvolvimento da pecuária (Dias-Filho, 2011), no entanto, em virtude das variações climáticas que ocorrem no país, a produção das forragens é limitada, necessitando de irrigação no intuito de aumentar a produtividade da cultura. A região semiárida sofre com suas características climáticas e deficiência hídrica (Silva, 2008) uma vez que resulta elevada taxa de evapotranspiração e irregularidades na distribuição das chuvas, levando ao decréscimo de produção. Portanto, como a pecuária destaca-se como uma das principais atividades econômicas do país é fundamental o estudo de plantas forrageiras tropicais (SILVA, 2009). Na busca por alternativas para aumentar a produtividade de pastagens, destacam-se forrageiras do gênero Cynodon por sua elevada produtividade e alto valor nutritivo (QUARESMA, 2011). A forrageira Tifton 85 é um cultivar híbrido da grama bermuda (Cynodon dactylon (L.) Pers.) com a grama estrela africana (Cynodon nlemfuensis Vanderyst), com bastante potencial para produzir forragem em quantidade e com qualidade (OST, 2010). Cultivares e híbridos do gênero Cynodon possuem elevada produtividade com bons valores nutricionais. Contudo, assim como outras pastagens, o Tifton 85 apresenta sazonalidade de produção (CASTAGNARA et al., 2012). Em pastagens a irrigação ainda é utilizada sem caráter científico, precisando de melhores alternativas de manejo que aumentem a produtividade. Assim, além de condições climáticas favoráveis, as forragens necessitam de uma nutrição mineral adequada para se obter um bom rendimento e desenvolvimento. Diante disso, o capim Tifton 85 além de se destacar entre as gramíneas do mesmo gênero pelo elevado potencial de produção e alto valor nutritivo (Liu et al., 2011), é também uma forrageira bastante exigente em fertilidade do solo, necessitando de práticas de reposição de nutrientes minerais para manter uma produtividade satisfatória (REIS et al., 2005). O nitrogênio é o nutriente mais importante entre todos os nutrientes minerais necessários para o crescimento das plantas, por ser essencial para os processos bioquímicos, como a fotossíntese, sendo componente de compostos como aminoácidos, ácidos nucléicos e clorofila (REIS et al., 2005). Além disso, Martin et al. (2011) afirmam que o nitrogênio é fundamental para plantas por atuar na fotossíntese, na produção e translocação de fotoassimilados, formação das raízes, taxa de crescimento foliar e produção de matéria seca. Diante desse contexto, o trabalho teve como objetivo avaliar o crescimento e produção do capim Tifton 85 (Cynodon) quando submetido à irrigação com águas cinzas e adubação nitrogenada com o intuito de proporcionar alternativas de produção visando à sustentabilidade ambiental da atividade.
2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em ambiente protegido pertencente à Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Sumé, Paraíba, situado nas seguintes coordenadas: 7° 40’ 18” Latitude Sul e 36° 52’ 54” Longitude Oeste e a altitude média é de 518 m. Segundo classificação de Köppen o clima da região é do tipo Bsh (Semiárido quente com chuvas de verão).
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O delineamento experimental utilizado foi disposto em blocos inteiramente casualizados, num esquema fatorial de 2x5, com três repetições totalizando 30 unidades experimentais. Os tratamentos foram constituídos de cinco doses de nitrogênio (0, 75, 150, 225 e 300 Kg ha -1), divididas em três aplicações, após cada corte, sob a forma de uréia, em cobertura e duas qualidades de água de irrigação (água de abastecimento e águas cinzas). As unidades experimentais foram compostas por vasos plásticos com capacidade para 8 kg de solo, preenchidos com brita zero, para facilitar a drenagem, solo e as doses de nitrogênio na forma de uréia conforme os tratamentos. O solo utilizado para preenchimento dos vasos foi coletado da camada 0 – 20 cm no Campus de Sumé da Universidade Federal de Campina Grande, em seguida esse solo foi peneirado e posteriormente levado para análise onde foram determinados os parâmetros físicoquímicos, Tabela 1.
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Tabela 1. Análise físico-química do solo utilizado no preenchimento dos sacos plásticos que compõem as unidades experimentais. pH
MO g kg-1
6,7
11,35
P K -- (mg dm-3) -13,5 377,5 6 3
Ca 7,65
Mg Al H + Al Na SB CTC ------------------------- (cmolc dm-3) ----------------5,28
0,00
1,65
0,30
14,50
16,15
Areia Silte Argila --------------- (%) ----------61,53
27,05
Fonte: Autoria própria
As mudas do capim Tifton 85 foram provenientes de uma propriedade rural localizada no município de Sumé, PB. Após a coleta foram transplantadas quatro mudas em cada vaso, sendo cada uma delas composta por estolões enraizados. O corte de uniformização do capim deixou as mudas com 0,10 m do solo. A irrigação foi realizada manualmente e diariamente, com base nos dados do Tanque Classe A da estação experimental localizada na área experimental do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido, colocado próximo ao ambiente protegido. Usando duas qualidades de águas caracterizadas como sendo: água de abastecimento público do município de Sumé e águas cinzas proveniente das residências universitárias (masculina e feminina) do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido a fim de fazer o comparativo no crescimento e desenvolvimento do capim Tifton 85. Foi feito a caracterização dos seguintes parâmetros da águas cinzas: pH = 5,24, CE = 0,45 dS m , Ca = 4,29 mmolcL-1, Mg = 3,74 mmolcL-1, Cl- = 3,74 mmolcL-1. -1
O capim Tifton 85 foi cultivado por um período de 90 dias, sendo as avaliações realizadas a cada 20 DAT (dias após o transplantio). A altura da planta (AP), foi feita utilizando uma régua graduada em centímetros, tendo como base o nível do solo; Teor de Massa Verde (MV), após os cortes o material foi pesado em balança analítica e Teor de Matéria Seca (MS), que com o material obtido dos cortes e condicionados em sacos de papel, serão pesados e levados à estufa de ventilação forçada de ar, com temperatura de 65 °C durante 72 horas conforme metodologia de Silva e Queiroz (2002). A avaliação estatística dos dados foi realizada no software Assistat 7.7 Beta (Silva e Azevedo, 2016) e os dados obtidos serão submetidos à análise de variância, pelo teste F. Para a comparação entre médias foi utilizado o teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
11,42
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os resultados encontrados na Tabela 2 referente a altura do capim Tifton 85, anterior a cada uma das três épocas de cortes realizados nas plantas, percebe-se que houve diferença significativa em relação as doses de nitrogênio aplicadas ao solo no primeiro corte e no segundo corte, 1% e 5% de probabilidade, respectivamente, já no terceiro corte não houve diferença significativa. Em função da água de irrigação verificou-se diferenças significativas (p<0,01) em todas as épocas de cortes realizados no capim. A interação entre os fatores doses de nitrogênio e qualidade das águas de irrigação não apresentação efeito significativo em nenhum dos cortes realizados. Tabela 2. Resumos da análise de variância referente às alturas do capim Tifton 85 nos três cortes em função das doses de Nitrogênio e da qualidade de água de irrigação. Fonte de Variação Doses de Nitrogênio (A) Tipo de água (B) AxB Resíduo Total CV (%) Doses de Nitrogênio (Kg ha-1)
GL 4 1 4 20 29
1º Corte 70,93583** 480,80033** 5,94783ns 13,21800 11,10
Quadrados Médios 2º Corte 32,77667* 201,76133** 9,69300ns 8,86800 9,08 Médias das alturas 2º Corte 33,0333ab 35,31667a 31,61667ab 34,55000ab 29,48333b
3º Corte 2,54167ns 164,26800** 10,3798** 4,39233 6,54
1º Corte 3º Corte 0 38,68333a 31,43333a 75 31,65000b 32,71667a 150 30,3000b 32,4500a 225 30,5500b 31,2500a 300 32,56667ab 32,31667a Fonte de água Água abastecimento 28,74667b 30,20667 b 29,69333b Águas cinzas 36,75333a 35,39333 a 34,37333a *,**, ns: significativo a 5%, 1% e não significativo, respectivamente pelo teste F; Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, GL: Graus de liberdade; CV: Coeficiente de variação. Fonte: Autoria própria
De forma geral a dose de 75 N ha-1 foi a que apresentou maior destaque para os valores de altura das plantas de capim, seguida das doses 0 e 225 N ha-1 primeiro e segundo cortes, respectivamente. Os valores obtidos nesta pesquisa para altura variaram de 29,48 a 38,68 cm, para as doses de 0 e 300 N ha-1, respectivamente, menores do que os observados por Quaresma et al. (2011), cultivando o capim Tifton 85 adubado com cinco doses de nitrogênio na forma de uréia, aplicadas após cada corte em cobertura, obtendo alturas que variaram de 36,85 a 49,40 cm em função das doses de nitrogênio de 0 e 240 Kg ha-1. Já para as águas de irrigação, as médias de altura máxima e mínima de 36,75 e 34,37 cm para o capim irrigado com água residuária doméstica tratada e 30,21 e 28,75 cm quando a irrigação foi com água de abastecimento, respectivamente, indicando a primeira como sendo a que promoveu maior crescimento ao Tifton 85. Silva (2012) analisando a altura de três cultivares de Cynodon em três frequências de corte nas quatro estações do ano, obtiveram médias de altura máxima e mínima do Tifton 85 de 28,2 e 8,8 cm para 42 e 14 dias entre cortes, respectivamente. Em todos os cortes realizados no capim Tifton 85 a qualidade de água apresentou diferenças estatísticas, no entanto, verifica-se uma redução no crescimento a cada corte realizado, o que pode ter acontecido em função da idade do capim. Fato semelhante foi observado por
181
Nascimento et al. (2017) onde os autores associaram a diminuição da altura do capim a quantidade de nitrogênio que foi aplicado ao solo via adubo orgânico, que aconteceu apenas na ocasião do transplantio. Já Pereira et al. (2012) falam que plantas forrageiras mais jovens têm maior capacidade fotossintética e, consequentemente, maior taxa de crescimento relativo e, à medida que as plantas envelhecem, ocorrem redução na capacidade da eficiência fotossintética e de sua taxa de crescimento relativo. Verifica-se que em todos os cortes realizados na gramínea, as águas cinzas proporcionaram maior crescimento do Tifton 85, tal fato pode ter ocorrido em virtude da composição química da água. Fato semelhante foi observado por Nascimento, et al. (2017) cultivando o Tifton 85 nas mesmas condições de ambiente protegido e irrigando as plantas com água residuária doméstica tratada. Na Tabela 3 são apresentados os resumos da análise de variância e valores médios de produção de massa seca do capim Tifton 85 nas diferentes épocas de cortes em resposta a irrigação com águas cinzas e água de abastecimento e aplicação de diferentes doses de nitrogênio a base de uréia.
Tabela 3. Resumos da análise de variância referente massa seca do capim Tifton 85 nos três cortes em função das doses de Nitrogênio e da qualidade de água de irrigação.
Fonte de Variação Doses de Nitrogênio (A) Tipo de água (B) AxB Resíduo Total CV (%) Doses de Nitrogênio (Kg ha-1)
GL 4 1 4 20 29
Quadrados Médios 1º Corte 2º Corte 99,64417** 245,44417** 102,67500** 109,82533* 6,25417ns 2,49786ns 8,77967 18,56733 16,18 1º Corte 25,25000a 18,03333b 17,61667b 15,13333b 15,5500b
3º Corte 236,10967** 73,63333* 14,44500ns 11,34133
23,04 Médias das massas secas 2º Corte 13,66667c 22,38333ab 13,6000c 28,16667a 28,16667a
18,20 3º Corte 13,2000b 14,18333b 25,81667a 14,45000b 24,88333a
0 75 150 225 300 Fonte de água Água de abastecimento 16,46667b 16,78667b 16,9400b Águas cinzas 20,16667a 20,61333a 20,07333a *,**, ns: significativo a 5%, 1% e não significativo, respectivamente pelo teste F; Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, GL: Graus de liberdade; CV: Coeficiente de variação. Fonte: Autoria própria
Na Tabela 4 são apresentados os resumos da análise de variância e valores médios de produção de massa verde do capim Tifton 85 nas diferentes épocas de cortes em resposta a irrigação com águas cinzas e água de abastecimento e aplicação de diferentes doses de nitrogênio a base de uréia. Verifica-se, nas tabelas 3 e 4, que para as doses de Nitrogênio aplicadas ao solo tanto a massa seca quanto a massa verde apresentam comportamento semelhantes. Em todos os cortes, para as duas variáveis, verifica-se diferença significativa (p<0,05) de probabilidade em todos os
182
cortes, exceto no primeiro corte para a massa verde que teve efeito de 1% de probabilidade estatística. Já em função da qualidade da água de irrigação no segundo e no terceiro corte a massa verde apresentou 5% de probabilidade estatística, enquanto para os demais cortes para as duas variáveis houve efeito a 1% de probabilidade. Já em relação a interação dos fatores doses de nitrogênio x qualidade de água não houve efeito significativo para nenhuma das variáveis nos cortes realizados. A maior média de massa seca do capim Tifton 85 foi encontrada no segundo corte e o valor foi o mesmo, 28,16 cm para as plantas adubadas com 225 e 300 Kg ha -1. Já para a massa verde as maiores médias foram verificadas na maior dose de nitrogênio aplicada no solo (300 Kg ha-1) e a maior média, 64,75 cm, determinada no terceiro corte. De acordo com Poczynek (2015) a produção de massa de uma gramínea forrageira refere-se à sucessivas emissões de folhas e perfilhos, fator significativo para a recuperação da área foliar sob diferentes condições. No entanto, diversas características relacionadas a qualidade da gramínea podem ser afetadas pela idade de corte e pelas condições do ambiente.
Tabela 4. Resumos da análise de variância referente massa verde do capim Tifton 85 nos três cortes em função das doses de Nitrogênio e da qualidade de água de irrigação. Fonte de Variação Doses de Nitrogênio (A) Tipo de água (B) AxB Resíduo Total CV (%) Doses de Nitrogênio (Kg ha-1)
GL 4 1 4 20 29
1º Corte 145,32883* 393,85633** 86,75383ns 33,99133 14,68
Quadrados Médios 2º Corte 1016,25533** 727,17633** 39,97800ns 59,57800
3º Corte 1562,41083** 856,53633** 26,75050ns 56,26700
18,98 18,79 Médias das massas verdes 2º Corte 3º Corte 28,40000b 25,10000c 41,76667a 28,60000c 26,41667b 46,75000b 53,06667a 34,38334bc 53,66667a 64,75000a
1º Corte 0 47,15000a 75 35,76667b 150 36,98333b 225 36,33333b 300 42,38334ab Fonte de água Água abastecimento 36,10000b 35,74000b 34,57333b Águas cinzas 43,34667a 45,58667a 45,26000a *,**, ns: significativo a 5%, 1% e não significativo, respectivamente pelo teste F; Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, GL: Graus de liberdade; CV: Coeficiente de variação. Fonte: Autoria própria
Ainda foi possível observar que de modo geral o segundo corte foi o que apresentou as melhores médias de produção de massa seca e massa verde do capim Tifton 85, mostrando também diferenças significativas nesse corte para os fatores envolvidos. Diferentemente, em trabalho conduzido por Taffarel et al. (2014) avaliando os efeitos de cinco doses de nitrogênio e de três etapas do processo de fenação, obtiveram produção média do Tifton 85, em torno de 50% inferior no segundo corte em relação ao primeiro corte. Para as duas variáveis de produção, massa verde e massa seca, os maiores valores de médias foram obtidos para as plantas de capim irrigadas com água de reuso, o que pode estar relacionado ao incremento de nutrientes disponíveis em tais águas, associado as doses de
183
nitrogênio aplicadas ao solo. Comportamento semelhante foi observado por outros autores, como Silva (2007), que avaliando massa seca da parte aérea do capim Tifton 85 em função de doses de nitrogênio no segundo ciclo, obteve efeito linear. Silva et al. (2011) também analisando a produção de massa seca da parte aérea do capim Tifton 85, em função de doses de NK e número de cortes, observaram que a produção de massa seca não foi afetada pelos cortes, mas foi afetada pelas doses promovendo um acréscimo significativo.
4. CONCLUSÃO A qualidade da água de irrigação não afetou o crescimento e a produção de massa seca e verde das plantas de capim Tifton 85. A interação entre as doses de nitrogênio e a água de irrigação afetou, apenas, a altura das plantas observadas no terceiro corte.
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185
Capítulo 22 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE SALSINHA (PETROSELINUM CRISPUM) IN NATURA
SILVA, Wellyson Jorney dos Santos Graduando em Tecnologia em Alimentos Faculdade de Tecnologia do Cariri - FATEC CARIRI wellney1046@gmail.com SANTOS, Maria Gorete Araújo Graduando em Tecnologia em Alimentos Faculdade de Tecnologia do Cariri - FATEC CARIRI gorete21maria@hotmail.com LISBOA, Cícera Cavalcante de Doutorado em Engenharia Agrícola Faculdade de Tecnologia do Cariri - FATEC CARIRI liviagocali@gmail.com
RESUMO A salsa (Petroselinum crispum) é uma hortaliça folhosa, é um condimento muito utilizado como tempero no preparo de alimentos, as características de qualidade das ervas frescas incluem a aparência, uniformidade da cor das folhas, características de aroma e flavor, e a ausência de defeitos, tais como sintomas de deterioração e amarelecimento. O objetivo deste estudo foi avaliar a composição físico-química das folhas de salsa frescas, direcionado a quantidade de minerais presentes na erva. As análises foram realizadas no laboratório de análises físico-química de alimentos –LAFIQ da Faculdade de Tecnologia do Cariri - FATEC CARIRI, seguindo as seguintes metodologias: pH determinado pelo método potenciômetro; sólidos solúveis totais determinados pelo refratômetro; umidade pelo método de estufa a 105°C por 24 horas; acidez total titulável; cinzas determinada pela incineração da matéria orgânica em mufla por 6 horas a 550° C, resultando na matéria inorgânica; cálcio por titulação; ferro e fósforo foi obtido por leitura em espectrofotômetro e a determinação de vitamina C por titulação ; e determinação de fibras .A salsa apresentou alta quantidade de umidade 85,13%; cinzas resultou em 3.72%; 0,31% de acidez; sólidos solúveis totais foi de 2.0° brix, indicando baixo teor de açúcar; 2,28% de fibras; os minerais, quando comparados aos disponíveis na TACO, obtiveram valores divergentes, encontrando-se bem abaixo, apresentando 0,08 mg/100, 0,36 mg/100 e 0,11 mg/100 de ferro, cálcio e fósforo respectivamente. Pode concluir que a salsa apesar de apresentar valores relativamente significativos em alguns parâmetros analisados, apresenta valores baixos de minerais. PALAVRAS- CHAVE: análises, minerais, nutricional.
1. INTRODUÇÃO As plantas condimentares, também chamadas de “especiarias” ou “temperos”, tiveram grande influência na história mundial, sendo alvo da atenção de muitos povos, com importante papel inclusive nos grandes descobrimentos dos séculos XV e XVI (PEREIRA, 2016).
186
As hortaliças classificam-se de acordo com a parte comestível da planta, folhas: acelga, agrião, aipo, alface, couve, espinafre, repolho e rúcula; sementes: ervilha, milho verde, vagem; raízes e tubérculos: beterraba, cenoura, mandioquinha, rabanete, batata, cará , inhame e batatadoce; bulbos: alho, cebola, alho-poró; flores: alcachofra, brócolis, couve-flor; frutos: abóbora, abobrinha, berinjela, chuchu, jiló, pepino, pimentão, quiabo, tomate e maxixe; caules: aipo, aspargo e palmito (PHILIPPI, et al.,2006; PEREIRA, 2016). Frutas e hortaliças são importantes fontes de vitaminas, minerais, fibras, e outros compostos bioativos, além de apresentarem baixa densidade energética, fazendo de seu consumo em níveis adequados um importante fator protetor para morbidade (doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes e alguns tipos de câncer) e mortalidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015; CANELLA, 2018). A salsa (Petroselinum crispum) é uma hortaliça folhosa de origem europeia e pertencente à família botânica das Apiáceas, cujo potencial aromático é bastante conhecido (figura 1). Apresenta em sua composição química as vitaminas A e C; niacina e riboflavina, vitaminas pertencentes ao complexo B; e minerais como cálcio, potássio, fósforo, enxofre, magnésio e ferro (OLIVEIRA, 2016; FACTOR et al., 2008).
Figura 1. Salsa (Petroselinum crispum)
Fonte: Internet
É um condimento muito utilizado como tempero no preparo de alimentos como carnes, sopas, saladas e molhos (FRANZ, 2015 et al. GIACOMETTI, 1989). Seu consumo é muito antigo e generalizou-se pelo mundo. Chegou ao Brasil junto com os primeiros colonizadores portugueses. Os benefícios da salsa estão mais além do que um simples condimento na culinária e na composição de outros produtos alimentícios. Esta planta pode representar um aliado à nossa saúde, pois demonstra possuir ação diurética (CAMPOS, 2009). Por ser folhosa essa hortaliça, possui baixa longevidade após a colheita, dependendo, principalmente, das condições a que é submetida. O rápido declínio da qualidade das folhas de salsinha, devido à senescência pós-colheita, frequentemente causa sérias perdas comerciais. As características de qualidade das ervas frescas incluem a aparência, uniformidade da cor das folhas,
187
características de aroma e flavor, e a ausência de defeitos, tais como sintomas de deterioração e amarelecimento. (ALVARES,2006). Quanto aos elementos minerais, sabe-se que são largamente distribuídos na natureza e exercem importantes funções no organismo humano (KINUPP, 2008). Segundo Pestana (2017), os níveis elevados de alguns minerais no organismo provenientes da ingestão de vegetais, podem ser perigosos, em função disso, volta para a importância de se estudar sobre a composição desses vegetais fazendo-se necessário a determinação dos teores de umidade, de cinzas e de minerais, no intuito de comprovar suas propriedades terapêuticas e garantir a segurança de seu uso. O ferro (Fe) é um microelemento e um dos minerais mais citados, popularmente, como importante na alimentação (KINUPP, 2008). A deficiência em longo prazo pode levar a complicações maiores como, anormalidade nos ossos longos, alteração na função da glândula tireoide e um aumento da capacidade de absorção de metais pesados (MACHADO, 2018). Considerando-se os poucos estudos desenvolvidos para informações sobre a extração de nutrientes das hortaliças, o objetivo deste estudo foi avaliar a composição nutricional das folhas de salsa (Petroselinum crispum), direcionado a quantidade de minerais presentes na erva.
2. MATERIAL E MÉTODOS Processamento da matéria – prima A salsa (Petroselinum crispum) foi colhida na horta orgânica do Instituto Federal do Ceará - Campus Crato (figura 2). Foram levadas ao Laboratório de processamento da Faculdade de Tecnologia do Cariri - FATEC CARIRI, onde passou por uma higienização em água corrente para retirar resíduos de terra e insetos, retirando as folhas murchas e amareladas, desprezando as raízes e selecionando apenas as folhas sadias, em seguida as folhas foram separadas dos talos (figura 3). Figura 2. Obtenção da salsa em horta orgânica do Instituto Federal do Ceará campus Crato.
Fonte: Autoria própria.
188
Figura 3. Separação das folhas e dos talos
189
Fonte: Autoria própria.
Em seguida, as folhas de salsa foram levadas ao laboratório de análises físico-química de alimentos –LAFIQ da Faculdade de Tecnologia do Cariri - FATEC CARIRI, onde foram procedidas as análises físico-químicas. As análises foram realizadas conforme as seguintes metodologias: pH determinado pelo método potenciômetro diluindo a amostra em água destilada e realizando a leitura em equipamento previamente calibrado; sólidos solúveis totais determinados pelo refratômetro, onde foram maceradas com auxílio de um pistilo e almofariz, aproximadamente 2g da amostra dissolvidas em uma pequena quantidade de água destilada, em seguida colocou algumas gotas da amostra no refratômetro e fez-se a leitura direta no equipamento, o teor de umidade foi determinado usando-se estufa com circulação de ar a 105ºC por 24 horas; acidez total titulável foi medida por titulação da amostra dissolvida em 50ml de água destilada com NaOH 0,1 N padronizado e os resultados expressos em mL de NaOH gastos na titulação; cinzas determinada pela incineração da matéria orgânica em mufla por 6 horas a 550° C, resultando na matéria inorgânica e álcio por titulação com EDTA 0,01 M, utilizando uma pequena quantidade de calcon como indicador e agitando frequentemente, até que a coloração da solução da amostra mude para cor azul intenso, conforme metodologia descrita pelo Instituto Adolfo Lutz, (BRASIL, 2008). Ferro e fósforo foi obtido por leitura em espectrofotômetro, a determinação de vitamina C pelo método titulométrico, utilizando 2,6 diclorofenol indofenol seguindo a metodologia da AOAC. A determinação de fibras realizada submetendo as amostras à digestão ácida, com solução de ácido sulfúrico 1,25%, seguida por digestão alcalina com hidróxido de sódio 1,25%, seguindo a metodologia de Pearson (1971).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores médios da caracterização físico-químicas das amostras testadas encontram-se na tabela 1. Esses dados obtidos correspondem às médias de resultado de triplicatas realizadas no laboratório.
Tabela 1. Análises físico-químicas da salsa in natura. Parâmetros
Salsa fresca
Umidade (%)
85.13
Cinzas (%)
3.72
Acidez (%)
0.31
Ph
6.2
Sólidos Solúveis Totais (brix°)
2.0
Vitamina C (mg/100)
490,8593
Fibras (%)
2.28
Fonte: Autoria própria.
A salsa apresentou alta quantidade de umidade 85,13%, isto se dá pela presença de água que a erva possui. No estudo realizado por (VARGAS et al., 2016) as folhas de ora-pro-nobis apresentaram alto teor de umidade, chegando a 85,54%, mostrando que os valores são condizentes com o estudo em questão, uma vez que se trata de produtos semelhantes. Observa-se a partir do teor de umidade que trata -se de uma hortaliça que possui uma grande quantidade de água. A umidade fora das recomendações técnicas pode causar grandes perdas na estabilidade química, deterioração microbiológica ou alterações na qualidade geral do alimento (IAL, 2008; CÂMARA, 2019). O teor de substâncias inorgânicas (cinzas), apresentou-se menor e próximo aos encontrados pela determinação realizadas por CÂMARA (2019), onde os valores de cinzas encontrados foram de 2,52 g/100g para as folhas in natura da M. oleífera. A análise de cinzas da salsa analisada resultou na porcentagem de 3.72%, valor relativamente aproximado aos do coentro analisados por SANTOS (2012), que obteve 2,25% de cinzas. Para a análise de acidez, a salsa apresentou o valor de 0,31%, sendo este teor próximo ao encontrado na couve analisada por PEREIRA (2016), com 0,30% de acidez, demostrando uma baixa acidez. A acidez indica sabor ácido ou azedo dos frutos, o que é representado pela presença de ácidos orgânicos nos vegetais (AROUCHA, 2010). O teor de sólidos solúveis totais é normalmente obtido a partir de avaliações do Brix° (MACHADO FILHO, 2018). Neste estudo, o valor de sólidos solúveis totais foram de 2,0 ºBrix, o que pode indicar um baixo teor de açúcar. A vitamina C é uma das vitaminas hidrossolúveis mais importantes para a saúde humana, conhecida por sua alta atividade antioxidante (DA FONSECA ANTUNES, 2017). A quantidade obtida de ácido ascórbico foi de 490,8593 mg/100, tal teor indica que a salsa é uma hortaliça rica em vitamina C. A fibra é um nutriente que exerce várias funções benéficas ao organismo humano e os vegetais são ótimas fontes desse nutriente. Neste estudo, o teor de fibra das amostras analisada foi de 2.28%, sendo um valor pequeno quando comparados aos valores obtidos por De Almeida et al (2014) onde as amostras de ora-pro-nobis (P. aculeata), apresentou teor de fibra alimentar total de 21,60%. Na tabela 2 encontram-se os valores com as médias da caracterização de minerais das amostras da salsa in natura. Esses dados obtidos correspondem às médias de resultado de triplicatas realizadas no laboratório.
190
Tabela 2. Avaliação do perfil de minerais da salsa in natura. Mineral (mg/100) Cálcio
0.1155
Ferro
0.0869
Fósforo
0.3620
Fonte: Elaborada pelos autores, 2019.
A nutrição mineral de hortaliças pode influenciar no desenvolvimento vegetal com subsequentes efeitos na qualidade (DA MOTA, 2008). Os minerais, quando comparados aos disponíveis na TACO, obtiveram valores divergentes, encontrando-se bem abaixo. Na análise realizada o valor de ferro foi de 0,08 mg/100 sendo que na TACO, o valor do mineral para a salsa crua foi de 3,2 mg/100. O valor encontrado demonstra que a hortaliça não pode ser considerada fonte de ferro por conta da pequena quantidade presente do mineral. De acordo com Gonçalves (1992), o fósforo tem seu metabolismo intimamente ligado ao do cálcio, sendo elemento essencial aos ossos, dentes e sistema nervoso. O estudo apresentou a quantidade de 0,36 mg/100 para o fosforo, quando comparado ao presente na TACO, o valor foi de 49 mg/100, resultando numa enorme divergência de valores. Tal diferença de valores pode ser justificada segundo (NASCIMENTO, 2017), para a produção de hortaliças possam obter um bom desenvolvimento, deve-se observar as plantas dependem de fatores relacionados às condições edafoclimáticas que dentre eles está a riqueza do solo em nutrientes. A ingestão ideal de cálcio é aquela que conduza a um pico de massa óssea de quado na criança e adolescente, mantenha-o no adulto e minimize a perda na senilidade (BUENO, 2008; GRUDTNER VS, 1997). O percentual encontrado para o cálcio foi 0.11 mg/100, valor este bem abaixo da média encontrada por Korndorferk et al (2015) para o espinafre orgânico cultivado no mês de agosto, sendo 10,70 mg/100 a média do teor do mineral presente.
4. CONCLUSÕES Pode-se concluir que a salsa, apesar de apresentar valores relativamente significativos em alguns parâmetros analisados, apresenta valores baixos de minerais, visto que a salsa não é uma hortaliça rica em nutrientes e que seu consumo não está ligado a ingestão de minerais. O uso da salsa como tempero está presente na cozinha de vários países e conduz inúmeros benefícios que entre eles estão: a diversidade de sua utilização, que pode ser utilizada de muitas maneiras, conferindo sabor exclusivo as preparações; a salsa pode ser encontrada fresca em todas as épocas do ano na maior parte dos supermercados e feiras livres, e outro benefício é seu intenso aroma. Apesar da qualidade nutricional das hortaliças, ricas em vitaminas, sais minerais, fibras e fitoquímicos, as hortaliças ainda não fazem parte da dieta da maioria dos brasileiros. Acredita-se que com a difusão da qualidade nutricional da salsa, o seu consumo cresça e que cada vez mais faça parte do cardápio da população em geral.
191
REFERÊNCIAS
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193
Capítulo 23 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE GELEIA DE KIWI COM CHÁ DE CAPIM SANTO NASCIMENTOS, Amanda Priscila Silva Doutoranda em Engenharia de Processos Universidade Federal de Campina Grande amandapriscil@yahoo.com.br BARROS, Sâmela Leal Doutoranda em Ciências e Tecnologia dos Alimentos Universidade Federal do Ceará samelaleal7@gmail.com MELO, Mylena Olga Pessoa Mestranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais mylenaopm@gmail.com SANTOS, Rebeca Morais Silva Mestranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande rebecamoraiscg@gmail.com SANTOS, Newton Carlos Doutorando em Engenharia Química Universidade Federal do Rio Grande do Norte newtonquimicoindustrial@gmail.com
RESUMO O objetivo deste estudo foi a elaboração e a avaliação de geleias de kiwi aromatizadas com chá de capim-santo, verificando a influência das variáveis independentes (concentrações de açúcar, polpa e maltodextrina) sobre as variáveis respostas (características físico-químicas, assim como também as interações entre elas). As geleias de kiwi foram processadas utilizando-se o método de planejamento fatorial 23 com 3 repetições no ponto central, resultando em uma matriz com 11 experimentos. Os efeitos das variáveis independentes sobre as variáveis dependentes foram avaliados mediante análise estatística, utilizando-se o programa computacional Statistica® versão 7.0. As análises físico-químicas realizadas foram: umidade, sólidos totais, cinzas, proteínas, sólidos solúveis totais, acidez total titulável, relação SST/ATT (ratio), pH, lipídeos, carboidratos, atividade de água, açúcares (não redutores, redutores e totais) e ácido ascórbico. As variáveis independentes que mais influenciaram na formulação das geleias foram: percentual de açúcar, polpa e a interação entre o percentual de açúcar, polpa e maltodextrina. Verificou-se que o aumento no percentual de polpa e de maltodextrina, proporcionou o aumento teor de umidade, sólidos totais, carboidratos e vitamina C. O experimento G2 apresentou os menores valores de umidade e atividade de água, e maiores teores de carboidrato e sólidos totais, no qual foi formulada com a concentração de açúcar (-1) e de polpa e maltodextrina (+1). Verificou-se a viabilidade da utilização do kiwi e capim-santo na elaboração de geleia e constatou-se que todas as amostras estão de acordo com os padrões de qualidade estabelecidos pela legislação brasileira, apresentando desta maneira potencial de comercialização. PALAVRAS-CHAVE: Actinidia deliciosa, Cymbopogon citratus, Processamento.
194
INTRODUÇÃO O kiwi (Actinidia deliciosa) é uma fruta que possui grande importância econômica, principalmente na China, Itália e Nova Zelândia, que são seus principais produtores. Possui em sua composição alto teor de vitamina C e compostos bioativos, como os compostos fenólicos, fibra insolúvel, carotenóides, flavonóides e minerais. A qualidade nutricional e o sabor atraente são responsáveis pela boa aceitação do kiwi em todo o mundo e apesar das inúmeras qualidades descritas anteriormente, o kiwi é uma fruta que apresenta grande perecibilidade, devido a sua sensibilidade a danos mecânicos e elevado teor de água, que possibilita o desenvolvimento de microrganismos e a ocorrência de reações bioquímicas que provocam sua rápida deterioração e consequentemente muitas perdas nas etapas de pós-colheita (LYU et al., 2018; MÓRAN et al., 2018).
O processamento tem como objetivo aumentar a estabilidade do produto, permitir o seu armazenamento por um longo intervalo de tempo, possibilitando o seu consumo no período de entressafra. As geleias constituem-se como uma importante alternativa para o processamento de frutas e é definido como sendo o produto obtido a partir da cocção de frutas, polpa ou suco, misturados ao açúcar, água e outras matérias primas opcionais, como a pectina e acidulantes. A estabilização das geléias é obtida através do tratamento térmico aplicado, associado ao aumento do teor de sólidos solúveis, aumento da acidez e diminuição do teor de água. Estes parâmetros são responsáveis pela inibição do crescimento dos microrganismos e atividade enzimática, além de serem de suma importância para a textura, estrutura e qualidade geral dos doces de frutas, já que a gelificação adequada de pectinas de alto teor de metoxilação ocorre apenas em faixas estreitas de pH (2,8 a 3,5) e alto teor de açúcar (600 a 800 g/kg), possibilitando assim a obtenção de um produto com alto valor agregado, fácil manipulação e maior estabilidade. O produto final deve apresentar consistência semi-sólida e ser acondicionado de forma a garantir sua perfeita conservação (OLIVEIRA et al., 2014; GARRIDO et al., 2015; SOUSA et al., 2015; SILVA et al., 2018). Durante o processo de produção de geleias, o tratamento térmico é aplicado até que se atinja o teor de sólidos solúveis almejado por meio da evaporação da água. A concentração da mistura viabiliza a redução da atividade de água, propiciando maior estabilidade microbiológica ao produto e redução da carga microbiana, o que possibilita o aumento da vida de prateleira. Além da segurança microbiológica, devem ser considerados outros aspectos de qualidade na produção de geleias, como cor, textura e parâmetros físicos e químicos que podem ser afetados durante o armazenamento, tornando-se necessário o estudo da estabilidade química e física de novos produtos alimentícios à base de frutas, para que se torne possível a otimização do processo e a obtenção de um produto bem aceito no mercado e seguro ao consumidor (OLIVEIRA et al., 2014). Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo a elaboração e avaliação de geleias de kiwi aromatizadas com chá de capim-santo, verificando a influência das variáveis (polpa, açúcar e maltodextrina) sobre as suas propriedades físico-químicas.
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MATERIAL E MÉTODOS Para a realização desta pesquisa, os frutos de kiwi cv. Hayward (Actinidia deliciosa) e o capim-santo (Cymbopogon citratus) foram adquiridos no comércio local do município de Campina Grande – PB. Planejamento experimental As geleias de kiwi foram processadas utilizando-se o método de planejamento fatorial 23 com 3 repetições no ponto central, resultando em uma matriz com 11 experimentos (Tabela 1), com a finalidade de avaliar a influência das variáveis independentes (concentrações de açúcar, polpa e maltodextrina) sobre as variáveis respostas (características físico-químicas, assim como também as interações entre elas). O efeito das variáveis independentes sobre as variáveis dependentes foi avaliado mediante análise estatística, utilizando-se o programa computacional Statistica® versão 7.0. Tabela 1. Matriz de planejamento para elaboração das geleias de kiwi com chá de capim-santo, com suas respectivas variáveis independentes e seus níveis reais e codificados. Variáveis independentes Experimentos Açúcar (%) Polpa (%) Maltodextrina (%) G1 +1(50) +1 (70) +1 (15) G2 -1 (30) +1 (70) +1 (15) G3 +1(50) -1(50) +1 (15) G4 -1 (30) -1(50) +1 (15) G5 +1(50) +1 (70) -1 (5) G6 -1 (30) +1 (70) -1 (5) G7 +1(50) -1(50) -1 (5) G8 -1 (30) -1(50) -1 (5) G9 (C) 0 (40) 0 (60) 0 (10) G10 (C) 0 (40) 0 (60) 0 (10) G11 (C) 0 (40) 0 (60) 0 (10) Nota: G1, G2 ...G11: Geleia kiwi com chá de capim-santo; (C) Ponto central. Fonte: Própria (2019).
Elaboração das geleias Inicialmente os frutos foram lavados em água corrente e sanitizados em solução de hipoclorito de sódio a 200 ppm por 15 min. Posteriormente, os kiwis foram descascados com auxílio de uma faca de aço inoxidável e processados em liquidificador para obtenção da polpa. Para elaboração do chá de capim-santo, foi utilizada a proporção 1:1 (capim-santo:água), a água após entrar em ebulição foi colocada sobre o capim-santo e deixada em infusão até que houvesse o resfriamento da mistura. Em seguida, a mistura foi peneirada e o chá obtido foi utilizado na elaboração das geleias. Misturou-se a polpa de kiwi com o açúcar cristal e a maltodextrina, em seguida a mistura foi levada para cocção em tacho aberto sob aquecimento com agitação manual contínua. Para tornar possível a formação do gel, nas formulações, foi utilizado 1% de pectina com alto teor de metoxilação, durante a cocção a mesma foi adicionada previamente dissolvida no chá de capimsanto e o pH da mistura foi corrigido para 3.2 através da adição de ácido cítrico. Quando as geleias atingiram teor de sólidos solúveis superior a 65 ºBrix, o processo de cocção foi concluído, em seguida foram envasadas a quente em recipientes de vidro previamente esterilizados (100 ºC/30 min) e armazenadas sob refrigeração à 5 °C até o momento das análises.
196
Caracterizações físico-químicas As geleias produzidas foram submetidas, em triplicata, as seguintes análises físicoquímicas: umidade e sólidos totais em estufa à vácuo a 70 °C até massa constante; Cinzas por incineração em mufla; Teor de proteínas total foi quantificado pelo método de Micro-Kjeldahl, que consistiu na determinação do nitrogênio total; Sólidos Solúveis Totais (SST) em refratômetro; Acidez Total Titulável (ATT) determinada por titulometria; Relação SST/ATT (ratio); pH medida direta em potenciômetro digital de acordo com a metodologia descrita por Brasil (2008); O teor de lipídeos foi determinado pelo método de Bligh e Dyer (1959); O teor total de carboidratos foi calculado por diferença para obter 100% da composição total (FAO, 2003); A atividade de água (Aw) foi determinada usando o dispositivo Decagon® Aqualab CX-2T a 25 °C. Os açúcares não redutores (ANR), açúcares redutores (AR) e açúcares totais (AT) foram determinados pelo método descrito por Lane & Eynon (1934); O teor de ácido áscorbico (Vitamina C ) foi determinando de acordo com a metodologia propostas pelo Instituto Adolfo Luttz (BRASIL, 2008) sendo os resultados expressos em mg/100g.
197
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 2 apresenta os valores médios das variáveis respostas para as características físico-químicas das geleias de kiwi com chá de capim-santo.
Tabela 2. Resultados das análises físico-químicas das geleias de kiwi com chá de capim-santo. Respostas Teor de Experimentos
Aw
ATT (%ácido cítrico)
pH
SST(°Brix)
Ratio
ANR (%)
umidade (%)
AR (%)
G1
35,45
0,829
0,617
3,59
63,33
97,75
46,69
36,31
G2
32,55
0,805
0,495
3,49
62,67
104,70
44,69
34,08
G3
35,81
0,822
0,682
3,47
64,33
79,74
40,57
29,55
G4
34,49
0,815
0,649
3,50
68,33
105,24
38,44
28,95
G5
35,11
0,819
0,637
3,56
65,33
87,00
44,91
35,29
G6
33,64
0,818
0,540
3,57
66,33
117,31
44,17
21,91
G7
36,79
0,857
0,862
3,53
63,33
61,91
39,69
27,91
G8
33,90
0,818
0,655
3,51
64,33
105,24
40,18
25,80
G9
34,57
0,809
0,682
3,50
72,33
98,30
39,76
22,15
G10
34,62
0,809
0,696
3,49
72,67
104,38
40,31
21,23
G11
34,34
0,807
0,693
3,49
72,33
104,45
40,35
21,17
Respostas
Lipídeos Experimentos
AT (%)
ST (%)
Cinzas (%)
Vit C1
(%)
Carboidratos (%)
Proteínas (%)
G1
83,00
64,55
0,25
0,35
63,64
0,31
20,24
G2
79,98
67,45
0,23
0,29
66,61
0,32
14,04
G3
70,13
64,19
0,24
0,36
63,23
0,36
18,77
G4
66,36
65,51
0,20
0,29
64,71
0,31
20,03
G5
78,99
64,89
0,22
0,37
63,98
0,33
17,68
G6
76,07
66,36
0,24
0,28
65,56
0,29
15,54
G7
68,64
63,21
0,22
0,36
62,25
0,37
20,46 198
G8
65,98
66,10
0,24
0,25
65,32
0,29
18,05
G9
61,91
65,43
0,25
0,17
64,63
0,38
17,84
G10
61,54
65,38
0,24
0,17
64,58
0,39
17,92
G11
61,52
65,66
0,24
0,17
64,86
0,40
17,82
Nota: 1 Resultado expresso em mg/100g. Fonte: Própria (2019).
O teor de umidade das geleias de kiwi com chá de capim-santo variou de 32,55 (G2) a 36,79% (G7), valores reduzidos deste parâmetro foi observado nos experimentos no menor nível (-1) de polpa e de maltodextrina. Pode-se afirmar também que os valores de teor de umidade obtidos, apresentam-se de acordo com o padrão de qualidade estabelecido pela legislação brasileira (BRASIL, 1978), na qual indica que o teor de umidade máximo para geleias de frutas deve ser inferior a 38%. Com relação a atividade de água (Aw) houve uma variação de 0,805 a 0,857, este parâmetro apresentou comportamento semelhante ao observado com relação ao teor de umidade, em que valores inferiores foram observados em amostras contendo menor percentual de polpa. De acordo com Barros et al. (2019a), valores reduzidos de teor de umidade e de atividade de água indicam maior estabilidade do produto durante o armazenamento e alimentos que possuem teor de umidade superior a 20% e atividade de água superior 0,60 estão sujeitos a processos de deterioração provocados por bolores e leveduras. Os valores de acidez total titulável (ATT), expressos em ácido cítrico variaram de 0,495 (G2) a 0,862% (G7). Estes percentuais são semelhantes aos observados por Oliveira et al. (2019) em geleias de achachairu (0,500 a 0,690%) e por Barros et al. (2019a) em geleias de abacaxi com canela (0,47 a 0,99% ácido cítrico), os autores afirmaram que apesar da legislação não indicar a faixa de ATT adequada para as geleias, valores inferiores a 0,3% ou superiores a 0,8% podem ocasionar perda na elasticidade da geleia devido a hidrólise da pectina. O potencial hidrogeniônico (pH) das amostras variou de 3,47 (G3) a 3,59 (G1), as amostras apresentaram-se adequadas a legislação brasileira para produtos de frutas (BRASIL, 2005), na qual estabelece que o limite máximo para este parâmetro é de 4,5. Teles et al. (2017) ao desenvolverem geleia de graviola com pimenta obtiveram valores de pH próximos ao do presente estudo (3,69 a 3,93), contudo Garcia et al. (2017) afirmaram que a faixa de pH ideal para que ocorra a formação de gel é de 3,0 a 3,2. Enquanto que para Bolzan e Pereira (2017), a faixa de pH ideal para a formação de gel é de 3,0 a 3,5.
As geleias apresentaram teor de sólidos solúveis totais (SST) que variaram entre 62,67(G2) a 72,67 °Brix (G10) e estão de acordo com a legislação, que estabelece um teor de SST mínimo para geleia comum de 62 ºBrix (BRASIL, 1978). Valores semelhantes aos obtidos por Oliveira et al. (2016) em geleias de laranja enriquecidas com aveia (62 a 66°Brix). Altos teores de sólidos solúveis totais (SST) associados a baixos teores de água e de pH, são capazes de minimizar o desenvolvimento de microrganismos e podem favorecer a formação de cristalização da sacarose, que é responsável pela melhoria da viscosidade e textura do produto (Oliveira et al., 2019; Barros et al., 2019a). Com relação ao parâmetro Ratio foi observada uma variação de 61,91(G7) a 117,31 (G6), indicando que a amostra G6 possui maior grau de doçura. Pois, de acordo com Sousa et al. (2018), o parâmetro Ratio é um índice tecnológico utilizado para indicar a relação entre SST e ATT do produto e é capaz de avaliar o sabor do produto, indicando também o grau de doçura. O teor de açucares redutores obtido entre as amostras variou de 21,17(G11) a 36,31%(G1) e o teor de açúcares não-redutores variou de 38,44 (G4) a 46,69% (G1), como esperado, os maiores valores foram verificados nas amostras que possuem maior percentual de açúcar. O teor de açúcares totais obtidos no presente estudo apresentou variação de 61,52 (G11) a 83% de glicose (G1), valores superiores ao observado por Martins el al. (2015) em geleia mista de casca de abacaxi e polpa de pêssego (44,56%). Com relação ao teor de sólidos totais foi observado uma variação de 63.21 (G7) a 67,45 % (G2), os valores obtidos foram diretamente proporcionais ao percentual de maltodextrina e polpa de kiwi utilizados nas formulações, valores semelhantes foram obtidos por Barros et al. (2019b) em geleia de amora-preta. As geleias de kiwi com chá de capim-santo apresentam baixos valores de proteínas (0,20 a 0,25%) e são ligeiramente inferiores ao verificado por Silva et al.(2018) em geleia de bocaiuva (0,58 a 0,62%). As geleias apresentaram também baixo teor lipídico (0,17 a 0,37%), sendo levemente superior ao encontrado por Souza et al. (2015) em geleias de amora preta (0,09 a 0,15%). Com relação ao teor de carboidratos foi observada uma variação de 62,25 a 66,61%, valores semelhantes ao observado por Souza et al. (2018) em geleia de umbu e mangaba (67,29 a 70,03 %). Com relação ao teor de cinzas foram observados baixos valores (0,29 a 0,40%), assim como verificado por Oliveira et al. (2019) em geleia de achachairu (0,28 a 0,80%). O teor de vitamina C (ácido ascórbico) variou de 14,04 a 20,46 mg, constatou-se que este parâmetro apresentou correlação com o percentual de açúcar e maltodextrina utilizados. Estes valores são semelhantes aos quantificados por Azevedo et al. (2018) em geleias de manipuçá (7,40 a 14,19 mg). Na Tabela 3 é apresentado a análise de variância (ANOVA) e o teste F com 95% de confiabilidade somente para as variáveis que foram significativas e/ou preditivas (umidade, vitamina C, sólidos totais e carboidratos) no processamento da geleia de kiwi com chá de capimsanto.
199
Tabela 4. Análise de variância (ANOVA) para umidade, sólidos totais, carboidratos e vitamina C das geleias de kiwi com chá de capim santo.
Fonte de variação
Soma quadrática
GL
Média Quadrática(MS)
Fcal
Ftab
Fcalculated/
R2
Ftabulated
Umidade Regressão
12,735
7
1,819
Resíduos
0,1391
3
0,0463
Falta de ajuste
0,0922
1
0,0921
Erro puro
0,0469
2
0,0234
Total
12,874
10
39,24 (1)
6,16(3)
6,37
3,93(2)
19(4)
0,21
39,241(1)
6,16(3)
6,37
3,931(2)
19(4)
0,21
27,524(1)
6,16(3)
4,47
7,736(2)
19(4)
0,41
119,341)
6,16(3)
19,373
41,39(2)
19(4)
2,18
98,92
200
Sólidos totais Regressão
12,734
7
1,819
Resíduos
0,1391
3
0,0463
Falta de ajuste
0,0922
1
0,0921
Erro puro
0,0469
2
0,0234
Total
12,874
10
98,92
Carboidratos Regressão
13,890
7
1,984
Resíduos
0,2162
3
0,0721
Falta de ajuste
0,1718
1
0,1718
Erro puro
0,0443
2
0,0222
Total
14,106
10
99,69
Vitamina C Regressão
37,575
7
5,3678
Resíduos
0,1349
3
0,0449
Falta de ajuste
0,1287
1
0,1287
Erro puro
0,0062
2
0,0031
Total
37,709
10
Nota: (1) MSRegressão/MSResiduo; (2) MS Falta de ajuste/MSErro Puro; (3) F95%, 7,3; (4) F95%, 1,2. Fonte: Própria (2019).
A partir da análise dos resultados obtidos com relação aos parâmetros de umidade, vitamina C, sólidos totais e carboidratos, verificaram-se que os coeficientes de determinação foram superiores a 98%, indicando ótimo ajuste aos dados experimentais.
99,64
Para todos os parâmetros estudados, o Fcalculado foi superior ao Ftabelado para a regressão. O inverso ocorreu para a falta de ajuste, exceto para o parâmetro de vitamina C. Estes dados evidenciam a significância estatística dos modelos. Os efeitos individuais das variáveis independentes (açúcar, polpa e maltodextrina) tal como da interação entre elas sobre as variáveis de respostas (análises físicas, químicas e texturais) apresentaram modelo estatisticamente significativo (Fc≥Ftab). Pode-se verificar nos diagramas de pareto (Figura 1) os fatores que apresentaram maior influência no processamento da geleia. Figura 1. Diagrama de Pareto para influência dos fatores concentração de açúcar, polpa e maltodextrina para os parâmetros: a) Umidade; b) Sólidos totais; c) Carboidratos; d) Vitamina C
201
(b)
(a)
(c)
(d) Fonte: Própria (2019).
A partir dos gráficos de pareto com um nível de significância de 95%, foi possível observar que o percentual de açúcar, polpa e a interação entre o percentual de açúcar, polpa e maltodextrina, foram os fatores que mais influenciaram significativamente nas variáveis respostas (umidade, sólidos totais, carboidratos e vitamina C). Verifica-se ainda, que a porcentagem de maltodextrina só apresentou efeito significativo para o teor de vitamina C. Estão representados na Figura 2, as superfícies de respostas obtidas para as análises físicas e químicas (variáveis respostas) que apresentaram modelos estatisticamente significativos (Fc ≥ Ftab).
Figura 2. Superfícies de resposta para os parâmetros de: a) umidade; b) sólidos totais; c) carboidratos; e d) Vitamina C das geleias de kiwi com capim-santo, em função das porcentagens de açúcar, polpa e maltodextrina.
202
a)
b)
c)
d) Fonte: Própria (2019).
De acordo com os gráficos das superfícies de respostas, é possível inferir que na medida em que as variáveis percentual de polpa e de maltodextrina aumentam, os parâmetros de umidade, sólidos totais, carboidratos e vitamina C tendem a crescer.
CONCLUSÕES Por meio do presente estudo, verificou-se a viabilidade da utilização do kiwi e capim-santo na elaboração de geleia, que é um produto de elevada qualidade nutricional. Constatou-se que todas as amostras estão de acordo com os padrões de qualidade estabelecidos pela legislação brasileira, apresentando desta maneira potencial de comercialização. As variáveis independentes que mais influenciaram na formulação das geleias foram: percentual de açúcar, polpa e a interação entre o percentual de açúcar, polpa e maltodextrina. Verificou-se que o aumento no percentual de polpa e de maltodextrina, proporcionou o aumento teor de umidade, sólidos totais, carboidratos e vitamina C. O experimento G2 apresentou os menores valores de umidade e atividade de água, e
maiores teores de carboidrato e sólidos totais, no qual foi formulada com a concentração de açúcar (-1) e de polpa e maltodextrina (+1).
REFERÊNCIAS
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204
Capítulo 24 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE BOLOS COMERCIALIZADOS EM POMBAL/PB
OLIVEIRA, Gleyson Batista de Graduando em engenharia de alimentos Universidade Federal de Campina Grande gleysonbatista35@gmail.com NETO, Juvêncio Olegário de Oliveira Graduando em engenharia de alimentos Universidade Federal de Campina Grande juvencio_oliveira12@hotmail.com MEDEIROS, Weverton Pereira de Mestre em Sistemas Agroindústrias Universidade Federal de Campina Grande weverton_cafu@hotmail.com.br SILVA, Elaine Juliane da Costa Programa de pós-graduação em sistemas agroindústrias Universidade Federal de Campina Grande elainejuliane300308@gmail.com ARAUJO, Alfredina dos Santos Doutoranda em engenharia de processos Universidade Federal de Campina Grande alfredina@ccta.ufcg.edu.br
RESUMO Os bolos são um dos produtos mais consumidos e aceitos comercializados em padarias, posicionando-se como o segundo mais consumido. Essa alta demanda aumenta também a preocupação com a qualidade nutricional e microbiológica dos produtos. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade higiênico sanitária de bolos tipo fofo, comercializados em panificadoras do município de Pombal-PB. Foram selecionadas 4 amostras, cada uma proveniente de um estabelecimento, avaliadas quando a parâmetros físico-químicos e microbiológicos. Observou-se a ausência de contaminação na maioria dos parâmetros microbiológicos segundo a legislação brasileira vigente, além disso os valores da físico-química foram muito positivos, semelhantes a literatura pesquisada. Portanto, os resultados permitem concluir que os bolos comercializados no município se encontram dentro dos padrões de qualidade exigidos, tornando-os aptos para o consumo. PALAVRAS-CHAVE: Segurança alimentar; produtos de confeitaria; controle higiênicosanitário.
INTRODUÇÃO Define-se bolo como uma mistura de farinha de qualquer tipo, adicionada de ovos, açúcar e gordura assado em forno (GOMENSORO, 1999). Esses produtos são um dos mais consumidos
205
e aceitas pelas mais diversificadas fixas etárias, com destaque para idosos e crianças, pela sua consistência macia que facilita a degustação, o que o posiciona como o segundo produto de panificação mais consumido, atrás somente do pão (APLEVICZ, 2013). O comércio de alimentos prontos para o consumo, tais como os bolos é uma tendência no mercado nacional e a cada dia torna-se mais comum a realização de refeições fora de casa, principalmente nas grandes cidades, onde podemos encontrar facilmente produtos para consumir na hora como padarias, confeitarias e lanchonetes. Nesses locais há uma diversificação nos produtos comercializados, objetivando ampliar a competitividade e atender a demanda. Com à expansão dos produtos comercializados por estes estabelecimentos, surge também a preocupação dos órgãos de vigilância visando garantia da qualidade higiênico-sanitária dos produtos comercializados, pois com o aumento deste ramo de atividade traz o risco de contaminações e toxinfecções (SILVA et al., 2010). A correria da vida moderna coloca as pessoas em situações que recorrem cada vez mais a meios externos para obter sua alimentação, como no caso das padarias, presentes em grande quantidade nas cidades, abastecendo as pessoas de pães, bolos, tortas e outros produtos. O setor da panificação é um dos que mais crescem no ramo alimentício, junto com esse forte consumo, aumenta-se também a preocupação com a qualidade nutricional e microbiológica dos produtos, que devem estar isentos de microrganismos patogênicos, que possam deteriorar o alimento, ou até gerar problemas a saúde provocando as chamadas DTAs- Doenças transmitidas por alimentos (FAZZIONI, 2013). Define-se bolo como produto assado preparado à base de farinhas ou amidos, incluindo açúcar, fermento químico ou biológico, podendo conter leite, ovos, manteiga ou gordura vegetal e substâncias flavorizantes alimentícias, que os diferem em sabor e aroma. Os bolos caracterizamse por suas elevadas quantidades de açúcar, gordura e ovos, que quando comparado a outros produtos de panificação, são mais úmidos, com textura mais fina e doce (BRASIL,1978). Os sabores sortidos, propriedades nutricionais e a grande variedade de bolos no mercado, favorecem o consumo destes produtos pela população brasileira. Além desses, outros fatores podem ser considerados responsáveis por essa forte demanda, como as alterações na composição, sabores novos, e enriquecendo com outros produtos com o objetivo de oferecer nutrientes ou componentes especiais (POLETTO et al., 2015). A taxa das doenças transmitidas por alimentos no Brasil para os casos de preparações mistas, como os bolos úmidos e com recheio, ainda é pouco conhecida, pois somente alguns estados e municípios dispõem de estatísticas e dados sobre os casos mais comuns. Assim, é de grande importância avaliar a qualidade higiênico-sanitária dos produtos comercializados e a realização constantes inspeções rotineiras prevenir e evitar possíveis surtos de DTA (MONASTIER et al., 2013). A contaminação de produtos de panificação, como os bolos, provém principalmente por meio de seus manipuladores, hábitos precários de higiene levam a um produto não seguro para o consumidor. A contaminação por microrganismos pode ocorrer em qualquer parte da cadeia produtiva do alimento, da produção até a comercialização, dentre os quais os microrganismos podem estar presentes nos recheios ou até na massa. Os microrganismos mais comumente encontrados decorrentes de uma manipulação inapropriada de alimentos em produtos doces de confeitaria são o Staphylococcus aureus, Salmonella sp., Bacillus cereus e Listeria monocytogenes. (PEIXOTO et al., 2009). A legislação brasileira estabelece, através da Resolução RDC nº12 de 02 de janeiro de 2001 (BRASIL,2001) critérios para os padrões microbiológico de produtos de confeitaria, no qual
206
encaixa-se os bolos. Nessa legislação contém que o produto deve apresentar o máximo de 10² UFC/g de Coliformes a 45°C, para Staphylococcus aureus, o máximo de 10³ UFC/g, para Bacillus cereus, o máximo de 10³ UFC/g e ausência de Salmonella sp., em 25g.Diante do exposto, o presente estudo teve por objetivo avaliar a qualidade higiênico sanitária de bolos tipo fofo, comercializados em panificadoras do município de Pombal/PB, por meio de avaliações físicoquímica e microbiológicas dos mesmos.
MATERIAL E MÉTODOS Foram coletadas 4 amostras de bolos, no período de junho de 2019, em diferentes pontos de vendas na cidade de Pombal – Paraíba, entres padarias localizadas na extensão do município. Os procedimentos foram executados nos laboratórios do Centro Vocacional Tecnológico (CVT), situado no município de Pombal, dando procedência as análises. As metodologias empregadas nas análises microbiológicas foram as de Silva et al. (2007). Para a pesquisa realizada foram codificadas as amostras como B1, B2, B3 e B4 e posta a quantificação da presença dos tais microrganismo: coliformes totais e coliformes termotolerantes, fungos filamentosos e leveduriformes, contagem total de aeróbio mesofilos, contagem total de aeróbio psicrotrófico, Staphylococcus aureus, Salmonella sp/25g. Para a determinação dos coliformes totais/termotolerantes utilizou-se da técnica de Número Mais Provável (NMP/25g). Foram transferidos 1ml da diluição correspondente para seus respectivos tubos, a qual se encontra com os tubos de Durham de forma invertida. Incubou-se à faixa de temperatura de 35 ± 2ºC, por intervalo de tempo de 24-48h. Após o tempo determinado foi observado o desenvolvimento de turvação e/ou presença de formação de bolhas ou gases no interior dos tubos de Durham. Determinando seu respectivo valor de acordo com a tabela de NMP/25g. Após a determinação de sua presença, os mesmos dado como positivos, são repicados para o caldo EC, incubados a 44,5 ± 1ºC por 24-48h observando os mesmos comportamentos para a determinação de presença conforme o parâmetro anterior. A análise de Salmonella sp/25g (presença ou ausência) foi utilizado o método de plaqueamento. Recebe 1mL da amostra e posteriormente decorreu a inoculação e foram colocadas a 35°C por 48h e obteve-se os resultados através da contagem das colônias presentes. Para fungos filamentosos e leveduriformes foram utilizadas a técnica de plaqueamento, com a colocação de três gotas da amostra, até a absorção do meio. Incubando a temperatura ambiente por cinco dias. As análises para a contagem total de aeróbios psicrotróficos e mesófilos utilizou-se o método de plaqueamento em profundidade. A contagem de aeróbios psicrotróficos foram incubados entre 6 a 10°C por 5-7 dias, enquanto que as placas para a contagem de aeróbios mesófilos foram incubadas a 35°C por 48h, usando 1mL da diluição para cada placa, até esperar sua completa solidificação. Para a análise de Staphylococcus aureus, foram inoculados 0,1 mL de cada diluição. Após a inoculação, as placas foram incubadas a 35ºC por 48 horas. Considerando-se como típicas as colônias negras brilhantes com anel opaco, rodeadas por um halo claro ou transparente (BRASIL, 2003). De acordo com as normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz (2008) foram submetidas à análise dos seguintes parâmetros físico-químicos: Teor de umidade (através da secagem em estufa
207
à 105ºC), cinzas (com a incineração da parte inorgânica em mufla a temperatura de 550ºC até atingir peso constante), Acidez Total Titulável (ATT) e leitura do pH pelo uso do peagametro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DOS BOLOS Verifica-se na tabela 1, os resultados obtidos na avaliação microbiológica dos bolos comercializados de diferentes estabelecimentos quanto aos parâmetros de coliformes totais, coliformes termotolerantes, Salmonella sp/25g, Staphylococcus aureus, contagem total de aeróbios mesófilos, contagem total de aeróbios psicotrópicos, fungos filamentosos e leveduriformes.
Tabela 1 - Número Mais Provável (NMP/g) para coliformes e identificação de salmonela e demais parâmetros em amostras de bolos em diferentes estabelecimentos da cidade de Pombal-PB. AMOSTRAS
PARÂMETROS MICROBIOLÓGICOS
B1
B2
B3
B4
<1,8
<1,8
<1,8
<1,8
<1,8
<1,8
<1,8
<1,8
Salmonella sp/25g
Ausência
Ausência
Ausência
Ausência
Staphylococcus aureus (UFC/mL)**
1,68x102
1,66x102
1,66
1,86x102
0
3x101
6,66
2,16x101
0
0
0
0
1,66
5,5x101
3,53x102
3,41x102
Coliformes totais (NMP/mL)* Coliformes
termotolerantes
(NMP/mL)
Contagem
total
de
aeróbios
de
aeróbios
mesófilos (UFC/mL) Contagem
total
Psicotrópicos (UFC/mL) Fungos
filamentosos
leveduriformes (UFC/mL)
e
* Número Mais Provável ** Unidade Formadora de Colônia
Das 12 amostras totais analisadas, todas para coliformes totais (35ºC) e coliformes termotolerantes (45ºC), apresentaram contagem de NMP/g inferiores à do estabelecido pela resolução RDC n°12/2001 (Brasil, 2001), a qual regulamenta para produtos de confeitaria, lanchonetes, padarias e similares, doces e salgados – prontos para o consumo, um máximo de 102 NMP/g. Destarte, evidencia-se que as amostras se encontra livres de ambos os tipos de contaminação.
208
De acordo com a tabela 1, com as análises os resultados microbiológicos para a Salmonella sp/25g deram ausentes, estando também em conformidade com a resolução RDC n°12/2001 (Brasil, 2001) que determina que haja ausência dessa bactéria. Desse modo, esses dados demonstram que as condições higiênico-sanitárias é satisfatória nos estabelecimentos bem como, houve um manuseio eficiente das amostras de bolos. Em estudo realizado por Peixoto et al. (2009), os autores também verificaram a ausência de Salmonella em 29 amostras de tortas, bolos, doces e similares a base de creme em diferentes pontos de venda da cidade de Ribeirão Preto-SP. Conforme a tabela 1, pode-se observar a contagem de Staphylococcus aureus variou de 1,66 até 1,86x102, mostrando que de acordo com a legislação vigente a RDC nº 12 de 2 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001) o limite estabelecido para a sua presença em bolos é de 103, indicando que apesar da formação de colônias a quantidade de microrganismos é considerada dentro dos padrões permitidos, evitando graves problemas a saúde humana com seus respectivos sintomas. Segundo estudos realizados por Veit, et al. (2012) a presença de Staphylococcus aureus em bolos de cenoura apresentaram-se dentro dos padrões determinados pela legislação, indicando sua presença, porém, sem causar sérios danos à saúde do consumidor. Tendo em vista a contagem de fungos filamentosos e leveduriformes as amostras B3 e B4 apresentaram contagem que obteve certo grau de variação em significância, quando comparado a outras amostras, a qual indica falhas na higiene-sanitária antes/durante/após a elaboração do produto. A presença de bolores e leveduras em excesso (contagem acima de a 106 UFC/g) indica manipulação inadequada, podendo ser decorrente de falhas na limpeza da matéria-prima, ou no manuseio realizado em condições insatisfatórias (MANSKE, C. et al., 2011). Observa-se nas amostras analisadas que a B2 e B4 apresentaram valores superiores aos demais, denotando que no alimento, em condições adequadas, os microrganismos podem se desenvolver causando alterações na qualidade do produto, conferindo ao mesmo características não desejáveis. Com relação às bactérias mesófilas, quando sua contagem também for superior a 106 UFC/g, podem levar a alteração sensorial e redução do tempo de prateleira, indicando insalubridade do produto (FRANCO, B. D. G. M.; LANDGRAF, M., 1996). Para análise de contagem total de aeróbios psicrotrófico não foi encontrado nenhuma formação de colônia, indicando a total ausência de microrganismos que se desenvolvem em baixas temperatura. Assim como não foi possível encontrar em literaturas e legislações os limites estabelecidos para a presença deste tipo de microrganismos em panificados como bolo. Sabendose que a presença de tais microrganismos é normalmente encontrada em alimentos de origem animal como leite cru, carnes etc. justifica-se para o não aparecimento/formação de colônias.
ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DOS BOLOS Observa-se, na Tabela 2, os resultados obtidos para a caracterização físico-química dos bolos comercializados no município de Pombal. É importante registrar que não há legislação específica que rege a composição físico química de bolos.
Tabela 2 – Caracterização físico-química dos bolos comercializados no município de Pombal. Amostras
B1 (%)
B2 (%)
B3 (%)
B4 (%)
Média(%)
DMS
209
Umidade(%)
27,92
35.06
28.51
34.15
31.41
3.21
Cinzas (%)
1,49
1,20
0,93
0,55
1,04
0,40
Acidez (%)
1,30
1,41
1,53
1,51
1,43
0,10
pH
6,48
6,72
6,71
6,57
6,62
0,11
DMS-Desvio médio simples.
Houve uma grande diferença entre os resultados para umidade, sendo a amostra B2 a com maior teor, 35,06%. Essa diferença entre as amostras pode ser resultada de armazenamentos inadequados nas padarias, em condições que favorecem a absorção de umidade do ambiente. Valores semelhantes de umidade foram vistos por Novello et al. (2014) ao avaliar a umidade de bolos de maçã produzidos pelos mesmos. As cinzas representam o conteúdo de matéria inorgânica presente no produto, as amostras obtiveram valores próximos entre si, no entanto a amostra B4 mostrou resultados mais discrepantes, com um teor de 0,55%, muito inferior as demais amostras avaliadas. O teor de cinzas presentes nos bolos está diretamente relacionado com a farinha de trigo presente em sua composição, uma vez que a farinha de trigo possui um teor de cinzas de 0,8 g/100g (TACO, 2011). Santos et al. (2014) ao avaliar o teor de cinzas em bolos de aveia obteve uma percentagem de cinzas levemente superior de 1,11%. Os valores de acidez são muito importantes para os alimentos pois influenciar cor, sabor, aroma e estabilidade. No que diz respeito a esses parâmetros, os bolos apresentaram uma baixa acidez, variando entre 1,30 (B1) a 1,53(B3). O pH é um parâmetro importante para a conservação do produto, uma vez que vai determinar o crescimento de micro-organismos no meio. Os bolos possuíram um pH médio de 6,62 com pouca variação entre as amostras, o que permite classifica-los segundo Gava et al. (2009) em alimentos pouco ácidos (>5,0).
CONCLUSÕES As amostras de bolo comercializadas no município de Pombal apresentaram-se dentro dos padrões microbiológicos exigidos pela legislação brasileira e resultados da avaliação físicoquímica semelhantes a literatura vigente. A amostra B3, apesar de dentro dos padrões apresentaram os maiores índices de contaminação, a qual indica falhas na higiene-sanitária antes/durante/após a elaboração do produto. Os bolos avaliados encontram-se aptos para o consumo humano, no entanto o número de estabelecimentos avaliados fora poucos, se comparados a quantidade de padarias/confeitarias presentes no município, o que não garante a qualidade total de todos os bolos comercializados. Portanto deve-se proceder novas avaliações em outros estabelecimentos, de modo a intensificar a fiscalização para garantir produtos com qualidade nutricional e segurança alimentar.
210
REFERÊNCIAS
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Capítulo 25 CARACTERIZAÇÃO MORFOAGRONÔMICA DE ACESSOS DE FEIJÃO GUANDÚ PARA O ESTUDO DA DIVERSIDADE GENÉTICA EM REGIÃO DO CARIRI PARAIBANO BORBOREMA, Lucyelly Dâmela Araújo Graduanda em Engenharia de Biossistemas Universidade Federal de Campina Grande lucyellyd@gmail.com@gmail.com GONÇALVES, Ranoel José de Sousa Doutor Professor do Magistério Superior, UFCG-CDSA Universidade federal de Campina Grande ranoel@ufcg.edu.br SANTOS, Joelma Sales dos Doutora, Professora do Magistério Superior, UFCG-CDSA Universidade federal de Campina Grande joelma@ufcg.edu.br SILVA, Matheus Cavalcante da Graduando em Engenharia de Biossistemas Universidade Federal de Campina Grande matheuscavalcantedasilva.2015@gmail.com BATISTA, Yanka Beatriz Gonçalves Graduanda em Engenharia de Biossistemas Universidade Federal de Campina Grande yankabeatriz7gmail.com
RESUMO O presente trabalho objetivou caracterizar e verificar a existência de diversidade genética entre acessos de feijão guandu, com base em descritores quantitativos e qualitativos em banco de germoplasma formado por acessos coletados na região do cariri paraibano. Todos os 22 acessos do banco de feijão guandu foram submetidos às avaliações. O delineamento inteiramente casualizado (DIC) com três repetições foi utilizado para os caracteres quantitativos, sendo a parcela constituída de uma planta por vaso. Foi realizado para estes caracteres, também, o teste de agrupamento de médias, segundo Scott e Knott propuseram em 1974, a 5% de probabilidade. Existe ampla variabilidade genética entre os acessos de feijão guandu, e facilmente identificada por meio de caracteres morfoagronômicos. Existe grande probabilidade dos acessos G-LI/10-F18 e G-CON/11-F18 serem duplicados, que deve ser confirmado molecularmente. Os caracteres relacionados às sementes permitem fácil identificação da diversidade genética morfológica. Nove cruzamentos foram identificados como os mais promissores, sendo eles: G-CA/18- M18 x (GSU/02-J18, G-ZA/05-J18, G-OV/22-M18, G-MO/04-J18, G-PA/16-M18 e GSJ/09-F18); GPA/16-M18 x (G-SJ/09-F18 e G-AM/19-M18) e o cruzamento entre o acesso G-SB/14-F18 e GAM/19-M18. PALAVRAS-CHAVE: Cajanus cajan, Melhoramento vegetal, Variabilidade Genética.
213
INTRODUÇÃO Originária da índia e introduzida no Brasil desde os períodos da escravatura, o feijão guandu (Cajanus cajan (L.) Millspaugh), é uma leguminosa autógama diploide (2n = 2x = 22), e que dependendo da região onde é cultivado, tanto a campo quanto em quintais, pode também, ser conhecido por “andu”, “guandu” e “guando” (SOUZA et al., 2007). Em direta relação ao aumento do interesse por leguminosas no Brasil a partir da última década, tem crescido o uso em larga escala do feijão guandu como adubo verde, alimentação humana, alimento para ruminantes, tanto em pastagens exclusivas e consorciadas como em forma de forragem verde, feno e componente de mistura de silagem, além de sua utilização em sistemas de recuperação de solos e/ou pastagens degradados (SOUZA et al., 2007). O grande número de ovinos e caprinos observados em regiões como o cariri paraibano, sendo esta, por exemplo, a região responsável pela maior produção de leite de caprinos no Brasil, proporciona uma demanda maior de alimentos que venha a suprir as necessidades alimentícias destes animais. Neste tocante, frente às limitações edafoclimáticas destas regiões, além das características próprias dos agricultores e ou produtores, é cada vez maior a procura por espécies vegetais que venham a produzir satisfatoriamente nessas regiões. Assim, o feijão guandu, pode ser uma ótima alternativa para atender tal demanda, além de possibilitar o atendimento do crescente consumo humano desta leguminosa que vem ocorrendo nas regiões semiáridas do nordeste brasileiro. Poucas informações são disponíveis acerca de genótipos de feijão guandu mais adaptados às condições particulares dos produtores de determinada região, face à escassez de pesquisas inerentes, fato este, também observado para região do cariri paraibano. No entanto, atualmente é possível inferir que se tenha considerável diversidade genômica desta espécie, nas diversas regiões produtoras do Brasil, oriunda principalmente de introduções de plantas provenientes de outras localidades. Em etapas iniciais dos programas de melhoramento de qualquer espécie vegetal, a caracterização de cada genótipo é de fundamental importância para que a possível variabilidade existente possa ser utilizada de forma eficiente no desenvolvimento de novas cultivares, e de acordo com as características das regiões para as quais serão destinadas. E ainda, em programas de melhoramento envolvendo a seleção de genótipos superiores, é necessário, além de dispor de informações a respeito do germoplasma a ser utilizado, saber também de suas potencialidades genéticas e de parâmetros genéticos intrínsecos às características que serão melhoradas. O estudo da diversidade genética entre acessos de uma espécie, além de possibilitar a identificação de materiais genéticos muito próximos ou duplicados, indica aqueles genótipos mais distantes geneticamente, os quais poderão ser recomendados para futuros programas de policruzamentos no desenvolvimento de cultivares melhoradas (SCAPIM et al., 1999). Guedes et al. (2017), em estudo sobre feijão guandu, comenta que a variabilidade existente para caracteres quantitativos pode ajudar a definir a aptidão agrícola do genótipo, e ainda, com a identificação dos acessos adaptados a região e de possíveis duplicados, além da existência da grande variabilidade entre eles, pode permitir a formulação de populações base de melhoramento, por meio de cruzamento direcionados entre os genótipos com ideótipo de planta desejável tanto para produção de forragem (alimentação animal) nas suas diversas formas de uso, produção de grãos (alimentação humana), quanto para aptidão dupla. Com o intuito de favorecer uma maior divulgação e implementação dessa cultura para todo o cariri paraibano, o Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (CDSA) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), iniciou um programa de melhoramento
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genético de feijão guandu para fins forrageiros, alimentação humana e também para utilização em sistemas de recuperação de solos e/ou pastagens degradados. Por, possivelmente, estes acessos coletados reunirem constituições genéticas de diferentes origens, as atividades de caracterização são importantes pontos de partida para o conhecimento da variabilidade, e fornece informações essenciais para condução do programa de melhoramento genético da espécie. Além disso, possibilita a identificação da existência de duplicatas, reduzindo assim, tempos consideráveis em cruzamentos de acessos iguais. Assim, foram coletados 22 acessos de feijão guandu em diferentes cidades do cariri paraibano e o presente trabalho teve a finalidade de caracterizar esses 5 acessos, permitindo a identificação da existência de possíveis duplicatas, por meios de caracteres morfológicos quantitativos e qualitativos.
MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em ambiente pertencente ao Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido – CDSA, da Universidade de Federal de Campina Grande - UFCG, no município de Sumé - PB, cujas coordenadas geográficas são: 7° 40’ 18” Latitude Sul e 36° 52’ 54” Longitude Oeste e a altitude média é de 518 m. Possui precipitação média anual de 538 mm, temperatura média de 22,9 °C e segundo a classificação de Köppen o clima da região é do tipo Bsh (Semiárido quente com chuvas de verão). Foi utilizada casa de vegetação pertencente ao CDSA. No total foram submetidos à avaliação todos 22 acessos de feijão guandu pertencentes ao banco de germoplasma da espécie do CDSA, em delineamento inteiramente casualizado (DIC) com três repetições, sendo a parcela constituída de uma planta por vaso (Delineamento aplicado para realizar a análise de variância para os caracteres quantitativos). A semeadura foi efetuada manualmente com três sementes por vaso cuja capacidade é de 15 litros, foi realizado o desbaste em cada 6 vasos, deixando apenas uma única semente. A irrigação foi realizada duas vezes ao dia, uma pela manha logo cedo e outra ao final da tarde, sendo a umidade no solo presente nos vasos monitorada com o auxílio do tensiômetro digital modelo AMT – 300. O substrato utilizado para preenchimento dos vasos foi resultado da mistura de solo e esterco de ovino/caprino adquiridos de criadores da região. O solo foi coletado da camada 0 – 20 cm no Campus de Sumé da Universidade Federal de Campina Grande, em seguida esse solo foi destorroado, peneirado e posteriormente homogeneizado juntamente com o esterco curtido com auxílio de uma betoneira. A homogeneização foi no sentido de deixar em cada vaso a proporção de 2 (duas) partes de solo para 1(uma) parte de esterco curtido. Os 22 acessos pertencentes ao banco de germoplasma, foram coletados em diferentes cidades localizadas no cariri paraibano. Sendo estes obtidas em feiras livres e/ou em propriedades de agricultores/produtores da região. Os acessos ao entrarem no banco de germoplasma receberam um código, onde todos se iniciam com as letras G (guandu), em seguida por duas e/ou três primeiras letras da cidade onde foi coletado, e posterior ordem de entrada no banco, e por último a primeira letra do mês, seguida do ano de coleta, exemplo: G-SU/01-J18 (Acesso coletado na cidade de Sumé - PB, teve a numeração de 01, pois teve a 1ª entrada no banco de germoplasma e foi coletado no mês de janeiro do ano 2018) (Tabela 1).
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Tabela 1. Número do tratamento no experimento (trat), acessos de feijão guandu e respectivos locais de coleta, referente as cidades localizadas no cariri paraibano. Trat.
Acesso
Procedência
Trat.
Acesso
Procedência
12
G-COX/12-F18
COXIXOLA
2
G-SU/01-J18 G-SU/02-J18
SUMÉ SUMÉ
13
G-SB/13-F18
SERRA BRANCA
3
G-MO/03-J18
MONTEIRO
14
G-SB/14-F18
SERRA BRANCA
4
G-MO/04-J18
MONTEIRO
15
G-SJC/15-F18
SÃO JOÃO DO CARIRI
5
G-ZA/05-J18
ZABELÊ
16
G-PA/16-M18
PARARI
6 7
PRATA TAPEROÁ TAPEROÁ
17 18
8
G-PR /06-J18 G-TA/07-F18 G-TA/08-F18
19
G-SA/17-M18 G-CA/18-M18 G-AM/19-M18
SANTO ANDRÉ CAMALAÚ AMPARO
9
G-SJ/09-F18
SÃO JOSÉ DOS CORDEIROS
20
G-GU/20-M18
GURJÃO
10
G-LI/10-F18
LIVRAMENTO
21
G-OV/21-M18
OURO VELHO
11
G-CON/11-F18
CONGO
22
G-OV/22-M18
OURO VELHO
1
Fonte: Próprio autor
Para os caracteres quantitativos foi realizado o teste de agrupamento de médias, segundo Scott e Knott (1974) a 5% de probabilidade. Este procedimento tem por finalidade dividir o grupo original de médias em subgrupos, em que as médias não difiram estatisticamente entre si. Para caracterização morfológica, foram utilizados os descritores adaptados de International Board for Plant Genetic Resources (IBPGR) e International Crop Research Institute for the Semi Arid Tropics (ICRISAT) em três grupos de caracteres, sendo eles: - Caracteres Quantitativos: AP altura de plantas (m), DC – diâmetro do caule (cm), APR – altura do primeiro ramo (cm), NDF – número de dias para florescimento; - Caracteres qualitativos da Planta: CC – cor do caule (roxo – 1, verde – 2 e verde cinza - 3), HC – hábito de crescimento (prostrado – 1, semiprostrado – 2 e ereto - 3), FF – forma do folíolo (lanceolado - 1; elíptico largo – 2 e elíptico estreito - 3), CTA – cor do talo da flor/vagem (verde – 1 e roxo - 2), CPF – cor primária da flor (amarelo - 1, amarelo alaranjado – 2 e roxo - 3), CSF – cor secundária flor (amarelo – 1 e amarelo alaranjado - 2) e os caracteres qualitativos das sementes: CBS – cor básica da semente (creme - 1, marrom - 2, roxo preto – 3 e marrom alaranjado - 4), CSS – cor secundária da semente (creme - 1, marrom - 2, roxo claro – 3 e cinza claro - 4), MH – marca no canto do hilo (ausente – 1 e presente - 2) - CVHS cor em volta do hilo das sementes (creme - 1, creme marrom - 2, branco – 3 e esverdeado - 4), FS - forma das sementes (oval - 1, redonda - 2, quadrada – 3 e alongada - 4). Todas essas características foram adaptadas de IBPGR e ICRISAT (1993).
RESULTADOS E DISCUSSÃO Foi observado efeito altamente significativo pelo teste F a 1% de probabilidade, para a fonte de variação “genótipos”, em todos caracteres quantitativos, indicando assim, haver variabilidade genética entre eles (Tabela 2). As estimativas dos coeficientes de variação ambiental (CV) foram de 7,89%, 10,41%, 8,50 e 25,55%, para número de dias para o florescimento (NDF), altura de plantas (AP), diâmetro de caule (DC) e altura do primeiro ramo (APR), respectivamente. Os valores da razão b= CVg/CV e só superou 2,0 para o NDF (3,02), sendo neste caso, possível inferir que não somente há alta variabilidade entre os genótipos de feijão guandu, mas também uma situação bastante favorável para a seleção de clones resistentes. As estimativas de herdabilidade no sentido amplo (ha2) foram altas (superiores a 80%) para todas variáveis analisadas (Tabela 2), possibilitando inferir que a maior parte da variabilidade fenotípica foi de
216
natureza genética, indicando que a seleção baseada nessas características poder ser realizada com eficiência. Pelo teste Scott-Knott a 5% de probabilidade foi possível observar a formação de 4 grupos distintos para as variáveis número de dias para o florescimento – NDF e para o diâmetro do caule - DC, 3 para a altura de plantas - AP e 2 grupos distintos para altura do 1º ramo – APR. Para o NDF, foi observado que 11 genótipos ficaram presentes num agrupamento mais tardio, com uma variação de 169,33 a 190,00 dias para o florescimento, outro grupo composto pelos genótipos G-ZA/05-J18 e G-OV/21-M18 tiveram variação de 146,67 a 160,00 dias, 4 genótipos ficaram agrupados naqueles que tiveram uma variação de 118,00 a 140,67 dias e um último grupo, também composto por 4 genótipos, que ficaram num agrupamento mais precoce com relação aos dias para o florescimento (81,33 a 99,67 dias) (Tabela 2). Na variável altura de planta - AP, verificou-se a formação do grupo de menor altura, tendo este uma variação de 1,72 a 1,98 m (GSU/01-J18, G-COX/12-F18,N G-CA/18-M18 e GOV/20-M18), a formação de um grupo de altura intermediária, com variação de 2,10 a 2,28 m (G-TA/08-F18, G-SB/14-F18, G-PA/16-M18, GSA/17-M18 E G-OV/22- M18) e os 13 genótipos restantes ficaram agrupados naquele com maior variação de AP (2,33 a 2,88 metros) (Tabela 2). Para o DC, foi observado que 10 genótipos ficaram presentes num grupo com maior DC (1,55 a 1,77 cm), outro grupo composto pelos genótipos G-ZA/05-J18, G-TA/08-F18, G-SB/13-F1, G-AM/19-M18 e G-OV/21- M18 tiveram presente no agrupamento com variação de 1,39 a 1,50 cm, 2 genótipos 9 ficaram agrupados em um terceiro grupo, composto pelos genótipos G-PA/16-M18 e G-AS/17-M18, com diâmetro de caule de 1,27 e 1,34 cm, respectivamente. Por fim, para a variável APR, foi possível observar que houve a formação de um agrupamento composto por aqueles genótipos com menor altura, variando de 0,29 e a 0,55 cm (10 genótipos) e aqueles que ficaram presente no agrupamento de maiores APR, com variação entre 0,77 a 1,20 cm (12 genótipos) (Tabela 2). A percepção da variabilidade existente para esses caracteres pode contribuir para definir a aptidão agrícola do genótipo de feijão guandu. Por exemplo, para a utilização do guandu como planta forrageira anual, é desejável que as plantas fossem relativamente baixas, entre 90 a 130 cm, florescimento precoce, entre 70 a 90 dias e colmo menos espesso, uma vez que esse ideótipo facilita os tratos culturais mecanizados, além da possibilidade de consorciação com outras culturas anuais como milho, sorgo e milheto, para produção de feno ou silagem. Assim, nenhum dos acessos avaliados apresentou essas três qualidades simultaneamente para serem classificadas como aptidão de forrageira anual, principalmente pelo fato de não ter sido possível verificar acessos com alturas menor que 1,76 metros. Destaca-se o acessos G-SU/01-J18, G-COX/12-F18, G-CA/18-M18 e GGU/20-M18 que não diferiram, pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade, ficando presentes no agrupamento de menor porte, ou seja, menor altura de planta - AP, estes, também, foram os que ficaram presentes no agrupamento referente aos acessos com florescimento precoce (81,33 a 99,00 dias para o florescimento), e os mesmos, juntamente com o acesso G-SB/14-F18, estão presentes no agrupamento com caule menos espesso (Tabela 2). Por outro lado, plantas de porte alto, caule espesso, maior número de ramos, florescimento contínuo, grãos claros e perenicidade, são desejáveis para implementação como bancos de proteínas forrageiro, além de fornecimento de grão para alimentação humana. Nesse sentido, para a seleção destes ideótipos de planta para cada tipo de aptidão, será necessário recombinar os acessos promissores para reunir as características de interesse em um único genótipo.
217
Tabela 2. Resumo das análises de variância para caracteres quantitativos e agrupamento de médias de 22 acessos de feijão guandu coletados no cariri paraibano.
Genótipos G-SU/01-J18 G-SU/02-J18 G-MO/03-J18 G-MO/04-J18 G-ZA/05-J18 G-PR /06-J18 G-TA/07-F18 G-TA/08-F18 G-SJ/09-F18 G-LI/10-F18 G-CON/11-F18 G-COX/12-F18 G-SB/13-F18 G-SB/14-F18 G-SJC/15-F18 G-PA/16-M18 G-SA/17-M18 G-CA/18-M18 G-AM/19-M18 G-GU/20-M18 G-OV/21-M18 G-OV/22-M18 F (genótipos) MÉDIA CV (%) b = CVg/CVe 2 h (%) a
NDF 95,67 d-2 177,33 a 172,33 a 190,00 a 146,67 b 181,00 a 179,67 a 140,67 c 179,67 a 169,33 a 170,00 a 98,33 d 122,67 c 99,00 d 183,67 a 118,00 c 134,67 c 81,33 d 176,33 a 99,67 d 160,00 b 188,00 a 136,36**
Caracteres Quantitativos-1 AP DC APR 1,76 c 1,08 d 0,35 b 2,33 a 1,69 a 0,84 a 2,33 a 1,55 a 1,02 a 2,74 a 1,65 a 1,20 a 2,53 a 1,42 b 0,55 b 2,52 a 1,77 a 1,00 a 2,46 a 1,64 a 1,00 a 2,17 b 1,39 b 0,50 b 2,61 a 1,67 a 0,93 a 2,73 a 1,62 a 0,77 a 2,71 a 1,61 a 0,79 a 1,92 c 1,07 d 0,37 b 2,41 a 1,39 b 0,45 b 2,14 b 1,10 d 0,33 b 2,74 a 1,66 a 1,00 a 2,10 b 1,27 c 0,41 b 2,28 b 1,34 c 0,48 b 1,88 c 1,00 d 0,29 b 2,43 a 1,50 b 0,85 a 1,72 c 1,16 d 0,36 b 2,25 b 1,44 b 0,79 a 2,88 a 1,67 a 1,06 a 0,0597** 0,0150** 0,0318**
148,36 7,89 3,02 97
2,35 10,41 1,23 82
1,44 8,50 1,86 91
0,70 25,55 1,53 88
1 AP:
Altura de plantas (m); DC: Diâmetro do caule (cm); APR: Altura do 1º ramo (cm); NDF: número de dias para florescimento. 2 Médias
seguidas pelas mesmas letras nas colunas pertencem ao mesmo grupo pelo teste ScottKnott (P < 0,05); ** Significativo
a 1% de probabilidade pelo teste F;
ns Não-Significativo
a 1% de probabilidade pelo teste F. Fonte: Próprio autor.
Na tabela 3 estão explicitados os resultados de caracteres qualitativos, referente a planta, dos 22 acessos de feijão guandu, sendo possível observar, que para todos caracteres se detectou variabilidade fenotípica. Para os caracteres cor do caule – CC, cor do talo da flor/vagem – CTA, cor secundária da flor – CSF e cor primária da flor – CPF verificou-se a presença de todos fenótipos esperados. Já para forma do 11 folíolo – FF e hábito de crescimento – HC, apenas dois
218
tipos de fenótipos foram observados para cada caractere. Para HC, por exemplo, dos três hábitos de crescimento encontrados entre genótipos de guandu, apenas os tipos eretos e semiprostrados foram encontrados entre os acessos avaliados. Resultados semelhantes aos obtidos por Godoy et al. (2003) que encontraram apenas os dois tipos (ereto e semiprostrado) entre as linhagens avaliadas (Tabela 3).
Tabela 3. Caracteres qualitativos de planta, em 22 acessos de feijão guandu coletados no cariri paraibano: CC: Cor do caule; HC: Hábito de crescimento; FF: Forma do folíolo; CTA: Cor do talo da flor/vagem; CPF: Cor primária da flor; CSF: Cor secundária da flor.
Genótipos G-SU/01-J18 G-SU/02-J18 G-MO/03-J18 G-MO/04-J18 G-ZA/05-J18 G-PR /06-J18 G-TA/07-F18 G-TA/08-F18 G-SJ/09-F18 G-LI/10-F18 G-CON/11-F18 G-COX/12-F18 G-SB/13-F18 G-SB/14-F18 G-SJC/15-F18 G-PA/16-M18 G-SA/17-M18 G-CA/18-M18 G-AM/19-M18 G-GU/20-M18 G-OV/21-M18 G-OV/22-M18
HC E E E E E E E E E E E E E E E E E SP SP SP E E
CC V V R VC VC R V VC VC V V R VC V VC R V VC R V VC VC
CTA V R R V R R R V V V V R R R V V V R R V V V
CSF A A A A AL AL AL AL A AL A A AL AL A AL A A A A A AL
CPF A A R R R R R R AL R R A R R A R A AL A AL R R
FF EL-E 219 EL-E EL-E EL-E L L L EL-E EL-E EL-E EL-E EL-E EL-E EL-E EL-E EL-E EL-E EL-E EL-E EL-E L L
V: Verde, VC: Verde Cinza, R: Roxo; A: Amarelo, AL: Amarelo Alaranjado; E: Ereto, SP: Semiprostrado; El-E: Elíptica estreita, L: Lanceolado. Fonte: Próprio autor.
Os acessos G-SU/01-J18 e G-AS/17-M18, em todos caracteres relacionados a planta, apresentaram o mesmo fenótipo, podendo ser um indicativo que não seria interessante cruzamentos entre os dois, caso fosse considerado apenas estes caracteres (Tabela 3). Nove acessos apresentaram caule em tom verde cinza, oito a cor verde e nos demais a cor foi roxa. Três acessos apresentaram hábito de crescimento do tipo semiprostrado e os demais, hábito de crescimento do tipo ereto. Com relação a cor do talo da flor/vagem, foi possível observar que 12 acessos apresentaram a cor verde e os demais roxos. Para a cor secundária da flor, 13 apresentaram-se na cor amarelo e nove apresentaram a cor amarelo alaranjado. Na cor primaria da flor, houve a presença de seis acessos com cor amarelo, três amarelos alaranjados e os demais roxos. Por fim, para o caractere forma de folíolos, quatro com folíolos lanceolados e os demais
com a forma elíptica estreita (Tabela 3). Assim como para caracteres relacionados a planta, todos os caracteres relacionados as sementes apresentaram variabilidade fenotípica (Tabela 4). Tais variações podem estar relacionadas ao ambiente e/ou a diferenças genéticas. Como a avaliação desses caracteres foi comparativa usando as sementes remanescentes usadas para o plantio com as sementes colhidas de cada acesso que floresceu, não foi observado nenhuma variação entre essas gerações quando se considerou o mesmo acesso. Dessa forma, esses resultados mostram que é interessante coletar dados de sementes, pois são fontes de variabilidade genética de fácil mensuração em feijão guandu.
Tabela 4. Caracteres qualitativos de semente, em 22 acessos de feijão guandu coletados no cariri paraibano: CBS: Cor básica da semente; CSS: Cor secundária da semente; MH: Marca no hilo; CVHS: Cor em volta do hilo da semente; FS: Forma da semente .
Genótipos G-SU/01-J18 G-SU/02-J18 G-MO/03-J18 G-MO/04-J18 G-ZA/05-J18 G-PR /06-J18 G-TA/07-F18 G-TA/08-F18 G-SJ/09-F18 G-LI/10-F18 G-CON/11-F18 G-COX/12-F18 G-SB/13-F18 G-SB/14-F18 G-SJC/15-F18 G-PA/16-M18 G-SA/17-M18 G-CA/18-M18 G-AM/19-M18 G-GU/20-M18 G-OV/21-M18 G-OV/22-M18
CBS MA MA RP C MA M MA C MA MA MA MA MA MA C RP C C C MA MA MA
CSS C C RC CC C M C CC C C C M M M CC RC CC CC CC M M M
MH PR PR PR PR PR PR PR PR PR AS AS PR PR PR PR AS PR AS AS OS AS AS
CVHS C C E CM C C C E BR BR BR C C C BR BR E E E BR E E
M: Marrom, C: Creme, E: Esverdeado, CM: Creme Marrom, RP: Roxo Preto, RC: Roxo Claro, MA: Marrom Alaranjado, CC: Cinza Claro, BR: Branco; AS: Ausente, PR: Presente; RD: Redonda, QD: Quadrada, OV: Oval. Fonte: Próprio autor
CONCLUSÕES Existe ampla variabilidade genética entre os acessos de feijão guandu, presentes no banco de germoplasma, e facilmente identificada por meio de caracteres morfoagronômicos. Existe grande probabilidade dos acessos G-LI/10-F18 e G-CON/11-F18 serem duplicados, que deve ser confirmado molecularmente. O número de dias para o florescimento foi o caractere que mais
220 FS OV OV RD RD QD RD RD RD OV OV OV RD QD OV OV OV RD RD RD OV OV OV
contribuiu para diversidade entre os caracteres morfológicos quantitativos. Os caracteres relacionados às sementes permitem fácil identificação da diversidade genética morfológica. Nove cruzamentos foram identificados como os mais promissores, sendo eles: G-CA/18-M18 x (GSU/02-J18, G-ZA/05-J18, G-OV/22-M18, G-MO/04-J18, G-PA/16- M18 e G-SJ/09-F18); GPA/16-M18 x (G-SJ/09-F18 e G-AM/19-M18) e o cruzamento entre o acesso G-SB/14-F18 e GAM/19-M18.
REFERÊNCIAS CRUZ, C. D.; REGAZZI, A. J.; CARNEIRO, P. C. S. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento genético. 4. ed. Viçosa, MG: UFV, 2012. 514p. CRUZ, C. D. Programa Genes - versão Windows. Editora UFV. Viçosa, MG. 2008. 278p. GUEDES, F. L. et al. Variabilidade genética de feijão guandu adaptado para regiões de fotoperíodo neutro. Comunicado Técnico 166. Sobral – CE: Embrapa Caprinos e Ovinos, 2017. Disponível em: Acesso em: 02 mar. 2020. GODOY, R. et al. Caracterização de linhagens puras selecionadas de guandu (Cajanus cajan (L.) Millsp). Revista Brasileira de Zootecnia, v. 32, n. 3, p. 546-555, 2003. International board for plant genetic resources e international crop research institute for the semi arid tropics. Descriptors for pigeon-pea (Cajanus cajan(L.) Millsp.) Rome: IBPGR; Patancheru, Índia: ICRISAT: 1993. 31p. MORAIS, O.P.; SILVA, J.C.; CRUZ, C.D. et al. Divergência genética entre os genitores da população de arroz irrigado CNA-IRAT 4. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.28, p. 150-158, 1998. MIRANDA, J.E.C.; CRUZ, C.D.; PEREIRA, A.S. Análise de trilha e divergência genética de cultivares e clones de batata-doce. Rev. Bras. Genet., 11(4):881-892, 1988. SCAPIM, C.A.; PIRES, I.E.; CRUZ, C.D.; Amaral Júnior, A.T.;Braccini, A.L.; Oliveira, V.R. Avaliação da diversidade genética em Eucalyptus camaldulensis Dehnh, por meio da análise multivariada. Rev. Ceres, 46(266):347-356, 1999. SCOTT, A. J.; KNOTT, M. A. A cluster analyses method for grouping means in the analyses of variance. Biometrics, Raleigh, v. 30, n. 3, p. 507-512, 1974. SOUZA, F. H. D.; FRIGERI, F.; MOREIRA, A.; GODOY, R. Produção de sementes de guandu. Documentos 69. 1ª Edição. São Carlos - SP: Embrapa Pecuária Sudeste, 2007. Disponível em: . Acesso em: 02 mar. 2020.
221
Capítulo 26 CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS DE FRUTOS E SEMENTES DE Moringa oleifera Lam. (MORINGACEAE)
AGUIAR, Fabrício da Silva Pós-graduando em Ciência Animal Universidade Federal de Campina Grande fabricio.aguiar18@hotmail.com SILVA, Danilo Dantas Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia Universidade Federal da Paraíba danilo20silva@hotmail.com LUNA, Ítalo Roberto Gomes Graduando de Medicina Veterinária Universidade Federal de Campina Grande lunaitalo18@gmail.com PINTO, Maria do Socorro de Caldas Professora Doutora do Departamento de Agrárias e Exatas Universidade Estadual da Paraíba caldaspinto2000@yahoo.com.br
RESUMO A descrição das características morfológicas de frutos e sementes é um fator importante na identificação de espécies. Este trabalho teve como objetivo avaliar as características morfológicas externas de frutos e sementes de Moringa oleifera Lam. Para descrição dos frutos foram observados: formato, coloração, deiscência, comprimento, largura, peso e número de sementes. Da semente foram descrito: a cor, comprimento, largura, espessura e peso unitário. O fruto é do tipo cápsula loculicida, com três valvas, seco, deiscente e de cor castanho. O comprimento médio é de 32,24 cm; largura de 1,88 cm; peso de 9,04 g e em média 13 sementes globosas, com três alas e de coloração castanho-médio. A semente apresenta comprimento de 1,15 cm; largura media de 0,87 cm e peso unitário de 0,18 g. O peso de mil sementes é 186,42 g, correspondendo a 5.364 sementes.kg-1. Existe correlação positiva e significativa entre o comprimento do fruto e número de sementes (rS=0,326). Os parâmetros morfológicos de frutos e sementes apresentam variabilidade e fornecem subsídios que facilitam a identificação da espécie
PALAVRAS-CHAVE: Análise de sementes, Biometria, Espécie florestal.
INTRODUÇÃO
A Moringa oleifera Lam. é uma planta perene, rústica, de crescimento rápido e tolerante a seca, introduzida no Brasil por volta de 1950 e encontrada nos estados da região Nordeste, principalmente Ceará, Piauí e Maranhão (SOUZA & LORENZI, 2008). Silva et al. (2010), confirmam a importância de culturas adaptadas a regiões semiáridas como uma alternativa para promover uma agricultura sustentável, sendo a moringa utilizada principalmente na alimentação animal e tratamento de água doméstica.
222
A espécie se propaga por sementes que podem ser coletadas dos frutos quando iniciam a abertura espontânea. Nesse aspecto, o conhecimento das características morfológicas de sementes fornecem subsídios importantes para identificação das espécies e dos mecanismos de dispersão (ALMEIDA JUNIOR et al., 2010). Esse conhecimento ainda é insipiente no Brasil, com trabalhos escassos desta natureza, apesar da grande importância para a preservação das espécies (SILVA et al., 2014). Para Araújo et al. (2014), um fator importante na descrição de uma espécie é a biometria dos frutos como um instrumento capaz de detectar variabilidade genética dentro de populações. Já a classificação de sementes por tamanho e peso pode ser uma estratégia para uniformizar a emergência das plântulas e selecionar sementes com maior vigor. Contudo, tornando-se necessários novos estudos que possam facilitar a identificação e a diferenciação de espécies (LEMES et al., 2011). Em vista do exposto, o trabalho teve por objetivo avaliar as características morfológicas externas de frutos e sementes de Moringa oleifera Lam. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado no Laboratório de Análise da Qualidade de Produção Vegetal da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campus de Catolé do Rocha - PB (6º20’38’’S e 37º44’48’’W). Os frutos maduros de Moringa oleifera Lam. foram coletados e, em seguida, acondicionados em saco plástico e conduzidos ao laboratório. Para a obtenção dos valores biométricos foram descartados frutos danificados e, posteriormente, separado uma amostra ao acaso de 100 unidades. Os aspectos externos considerados para caracterização do fruto foram: formato, coloração, deiscência, dimensões (comprimento e largura), peso e número de sementes. O comprimento foi medido da base até o ápice e a largura mensurada na porção mediana dos frutos. O número de sementes foi determinado pela contagem direta no momento da abertura dos frutos. Para as sementes foram observados: cor, dimensões (comprimento, largura e espessura) e peso unitário. O comprimento foi medido da base até o ápice, enquanto que a largura e espessura foram medidas na porção mediana das sementes. As determinações biométricas foram aferidas com auxílio de um paquímetro digital (MK-DC-150 mm) e régua graduada em centímetros. O peso foi obtido em balança analítica com 0,001 g de precisão. Determinou-se o peso de mil sementes, obtido com oito subamostras de 100 sementes (BRASIL, 2009). Para determinar o número de sementes por quilograma, foi utilizada regra de três: Número de sementes Kg-1 = (1000/peso de mil sementes) x 1000 g. Os valores das variáveis biométricas foram submetidos à análise estatística descritiva e calculados a média, erro padrão, mínimo, máximo, desvio padrão e coeficiente de variação. Os dados foram classificados mediante distribuição de frequência e representados graficamente em histogramas, sendo o número de classes e intervalos de classe determinados pela equação de Sturges (ARANGO, 2005). O coeficiente de correlação não paramétrico de Spearman (rS) foi calculado ao nível de 5% significância entre as variáveis. As análises estatísticas foram realizadas no programa BioEstat (AYRES, 2007).
223
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Moringa oleifera Lam. pertence à família Moringaceae, o fruto é do tipo cápsula loculicida, com três valvas, seco, deiscente e de cor castanho quando atinge a maturação. A deiscência do fruto ocorre lateralmente expondo as sementes globosas, com três alas e de coloração castanho-médio (Figura 1 A-C). Sementes aladas facilita que sejam disseminadas pelo vento, aumentando a distância de dispersão da planta-mãe e estando relacionada com a adaptação à dispersão anemocórica de espécies em que o diásporo é a semente (CÓRDULA et al., 2014). Figura 1. Morfologia externa do fruto (A-B) e semente (C) de Moringa oleifera Lam.
A
224
Fruto
Valvas Sementes
B C
Os frutos não apresentam uniformidade para o comprimento (26,10 a 40,50 cm), largura (1,71 a 2,33 cm), peso (7,10 a 13,20 g) e número de sementes por fruto (10,00 a 17,00 sementes). Variações nas dimensões e peso de frutos podem ser promovidas tanto por fatores ambientais, durante o florescimento e o desenvolvimento, ou também, pode representar indícios de alta variabilidade genética dentro de uma população (SANGALLI, 2008). Na Tabela 1 estão apresentados os valores médios referentes a comprimento (31,24 ± 0,40 cm), largura (1,88 ± 0,01 cm), peso (9,04 ± 0,17 g) e número de sementes por fruto (13,00 ± 0,23 sementes).
Tabela 1. Estatística descritiva das dimensões biométricas dos frutos de Moringa oleifera Lam.
Característica
Média ± Mínimo
CV(%)
Erro padrão
Desvio padrão
Máximo
Biometrica Comprimento (cm)
26,10
40,50
31,24 ± 0,40
4,07
13,04
Largura (cm)
1,71
2,33
1,88 ± 0,01
0,11
6,32
Peso (g)
7,10
13,20
9,04 ± 0,17
1,77
19,59
N° Sementes (fruto)
10,00
17,00
13,00 ± 0,23
2,37
18,07
CV: Coeficiente de Variação
Os dados biométricos dos frutos de M. oleifera indicaram que a amostragem tomada ao acaso representa a população com precisão, uma vez que, o erro padrão para as características analisadas foi baixo. Os valores de coeficiente de variação remetem à maior homogeneidade para a largura (6,32%) e comprimento (13,04%) do fruto. Já o número de sementes por fruto (18,07%) e peso (19,59%), foi observado maiores variações em relação ao valor médio, podendo ser decorrente de variabilidade genética ou de plasticidade fenotípica existente. A distribuição em histogramas de frequência (Figura 2 A-D) evidenciou que 54% dos frutos possuem comprimento de 26,10 a 31,90 cm; 76% largura entre 1,71 a 1,94 cm; e 39% peso entre 7,10 a 7,88 g, sendo que 42% dos frutos possuem entre 12 e 15 sementes.
225 Figura 2. Frequência do comprimento (A), largura (B), peso (C) e número de sementes por fruto (D) de Moringa oleifera Lam.
A
B
C
D
O peso de mil sementes é de 186,42 g, correspondendo a 5.364 sementes.kg-1 (Tabela 2). Ramos et al. (2010), obtiveram valores semelhantes para a massa de mil sementes de moringa, na amplitude de 192,25 a 199,75 g. O coeficiente de variação entre as amostras, abaixo de 4%, enquadra-se com as recomendações das Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009).
Tabela 2. Valores médios do peso de mil sementes e número de sementes kg1 de Moringa oleifera Lam.
Parâmetros Média
Variância
Desvio padrão
C.V (%)
186,42 ± 2,22
39,51
6,28
3,37
Variáveis Peso de mil sementes (g) Número de sementes. Kg-1
5.364
CV: Coeficiente de Variação
Como observado nos frutos, às sementes também apresentaram variação no comprimento (0,84 a 1,80 cm), largura (0,72 a 1,26 cm), espessura (0,81 a 1,28 cm) e peso (0,13 a 0,29 g). Para a classificação proposta por Pimentel Gomes (1985), o comprimento (18,17%) e largura (12,50%), são classificados como de média variação (entre 10 e 20%). A espessura (9,56%) apresenta baixa variação (inferior a 10%), ou seja, indica maior homogeneidade nessa variável. Na Tabela 3 encontram-se as médias do comprimento (1,15 ± 0,020 cm), largura (0,87 ± 0,010 cm), espessura (0,94 ± 0,009 cm) e peso das sementes (0,18 ± 0,004 g).
Tabela 3. Estatística descritiva das dimensões biométricas das sementes de Moringa oleifera Lam.
Característica Mínimo
Máximo
Média ± Erro padrão
Desvio padrão
CV(%)
Comprimento (cm)
0,84
1,80
1,15 ± 0,020
0,20
18,17
Largura (cm)
0,72
1,26
0,87 ± 0,010
0,10
12,50
Espessura (cm)
0,81
1,28
0,94 ± 0,009
0,09
9,56
Peso (g)
0,13
0,29
0,18 ± 0,004
0,03
20,26
Biometrica
CV: Coeficiente de Variação
Em estudo conduzido com sementes de moringa no município de Pombal-PB, o comprimento médio foi de 1,09 cm (variando de 1,01 a 1,71 cm) e a espessura média de 1,04 cm (variando de 0,98 a 1,08 cm) segundo Cavalcante et al., (2018). As variações no tamanho de sementes podem estar relacionadas a condições ambientais, antropização, fatores edafoclimáticos, idade da planta e diferenças genéticas. Os resultados indicaram que a classe mais representativa para o comprimento foi de 0,97 a 1,11 cm (36%). Para largura, a maior parte das sementes (33%) pertence à frequência de 0,79 a 0,86 cm. A espessura de 53% das sementes analisadas encontrava-se na faixa de 0,87 a 0,99 cm e o peso de 46% variaram de 0,13 a 0,17 g. Os histogramas de frequência da ocorrência de sementes são apresentados na Figura 3 A-D.
226
Figura 2. Frequência do comprimento (A), largura (B), espessura (C) e peso (D) das sementes de Moringa oleifera Lam.
227
Na Tabela 4 são apresentados os coeficientes de correlação não paramétrico de Spearman (rS). Houve correlação positiva e significativa entre as variáveis comprimento do fruto e numero de sementes (rS=326; p<0,05), ou seja, o tamanho do fruto é linearmente proporcional ao número de sementes. O mesmo foi observado para a correlação entre o comprimento do fruto e peso do fruto (rS=0,211).
Tabela 4. Correlação de Spearman (rS) entre as variáveis biométricas de frutos e sementes de Moringa oleifera Lam.
Variáveis
CF
LF
PF
N°S
CS
LS
ES
PS
CF
-
0,160ns
0,211*
0,326*
-0,363*
-0,121ns
-0,033ns
0,087ns
-
0,091ns
-0,059ns
-0,120ns
-0,221*
-0,050ns
0,325*
-
-0,002ns
-0,031ns
0,025 ns
0,017ns
0,001ns
-
-0,220*
0,025ns
-0,176*
-0,022ns
-
0,088ns
0,145ns
0,046ns
-
-0,040ns
0,088ns
-
-0,123ns
LF PF N°S CS LS ES OS
-
CF (comprimento do fruto); LF (largura do fruto); PF (peso do fruto); N°S (número de sementes); CS (comprimento da semente); LS (largura da semente); ES (espessura da semente); PS (peso da semente). * significativo (P<0,05); ns não significativo.
As correlações entre comprimento do fruto e comprimento da semente; largura do fruto e largura da semente; número de sementes e comprimento da semente; comprimento da semente e espessura da semente, mostrou-se negativa e significativa, entretanto houve pequena associação. Quando a correlação entre parâmetros biométricos não é tão alta, isso pode indicar que outros fatores contribuem no processo de desenvolvimento morfométrico dessas variáveis (ARAÚJO et al., 2013).
CONCLUSÕES Os parâmetros morfológicos de frutos e sementes de Moringa oleifera Lam. apresentam variabilidade e fornecem subsídios que facilitam a identificação da espécie. As características biométricas apresentam baixa correlação significativa.
REFERÊNCIAS ALMEIDA JUNIOR, E. B.; LIMA, L. F.; LIMA, P. B.; ZICKEL, C. S. (2010). Descrição morfológica de frutos e sementes de Manilkara salzmannii (Sapotaceae). Floresta, v. 40 n. 3, p. 535-540, 2010. ARANGO, H. G. Bioestatística – Teórica e Computacional. Editora Guanabara Koogan, 2ª edição, 2005, Rio de Janeiro - RJ. ARAÚJO, A. M. S.; TORRES, S. B.; NOGUEIRA, N. W.; FREITAS, R. M. O.; CARVALHO, S. M. C. Caracterização morfométrica e germinação de sementes de Macroptilium martii BENTH. (Fabaceae). Revista Caatinga, Mossoró, v. 27, n. 3, p. 124-131, 2014. ARAÚJO, L. H. B.; PINTO, M. G. C.; SILVA, A. C. F.; NÓBREGA, C. C; SOUTO, J. S. Biometria de sementes e frutos de catingueira. IV Congresso Nordestino de Engenharia Florestal. Anais... Vitória da Conquista, BA. 2013. 6f. AYRES, A. A. S. BioEstat: aplicações estatísticas nas áreas de ciências biométricas. Versão 5.3. Belém: Sociedade Civil Mamirauá, MCT-CNPq, 2007. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para Análise de Sementes. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Brasília, DF: MAPA/ACS, 2009. 399p. CAVALCANTE, J. A.; LOPES, K. P.; EVANGELISTA, N. A; PINHEIRO, R. M; SEDREZ, F. S. Morfologia de sementes e plântulas de moringa (Moringa oleifera Lam) Moringaceae. Magistra, v. 29, n. 3/4, p. 290-297, 2018. CÓRDULA, E.; MORIN, M. P.; ALVES.M. Morfologia de frutos e sementes de Fabaceae ocorrentes em uma área prioritária para a conservação da Caatinga em Pernambuco, Brasil. Rodriguésia, v. 65, n. 2, p. 605-616, 2014. LEMES, E. M.; MACKOWIAK, C. L.; BLOUNT, A.; MAROIS, J. J.; WRIGHT, D. L.; COELHO, L.; DATNOFF, L. E. Effects of silicon applications on soybean rust development under greenhouse and field conditions. Plant Disease, v. 95, p. 317-324, 2011.
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229
Capítulo 27 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DE MÉIS MULTIFLORAIS COMERCIALIZADOS EM DUAS CIDADES DO SERTÃO CENTRAL DO CEARÁ
SOUSA, Layanne Maria Lima de Tecnólogo em Alimentos Faculdade de Tecnologia Centec – FATEC Sertão Central layanne-sousa@hotmail.com LIMA, Natália Duarte de Professor do Eixo de Produção Alimentícia Faculdade de Tecnologia Centec – FATEC Sertão Central nataliaduartelima@gmail.com ROCHA, Francisca de Oliveira Tecnólogo em Alimentos franciscarocha@bol.com.br
RESUMO O mel possui diferentes propriedades físicas e químicas por ser produzido a partir do néctar das plantas e por isso a sua produção depende da abundância e da qualidade das flores existentes no raio de coleta das abelhas. Este produto pode ser definido como o resultado da desidratação e da transformação química do néctar um produto fluido viscoso, aromático e doce elaborado por abelhas a partir do néctar e/ou exsudatos sacarínicos de plantas. Objetivando caracterizar amostras de méis do Sertão Central do Ceará, foram coletadas quatorze amostras de méis (250 ml), diretamente dos apicultores em duas cidades do Sertão Central do Ceará. As amostras foram conduzidos ao Laboratório de Bromatologia da Faculdade de Tecnologia CENTEC, Quixeramobim-CE, para avaliação dos parâmetros de umidade, acidez total e açúcares redutores. A avaliação estatística revelou diferenças significativas entre as amostras nos parâmetros avaliados com resultados de 21%, 100% e 0%, respectivamente para umidade, acidez e açúcares redutores estão de acordo com as especificações da Instrução Normativa n°11/2000 (BRASIL, 2000). Conclui-se que as amostras avaliadas apresentaram diferenças significativas entre si e valores fora do especificado pela legislação vigente, exceto para açúcares redutores. PALAVRAS-CHAVE: características químicas, mel, qualidade. INTRODUÇÃO O mel é considerado um dos alimentos mais puros da natureza, apreciado pelo homem por seu sabor característico e considerável valor nutritivo, elaborado por abelhas a partir do néctar das flores, é coletado e transformado por meio de processo físico, evaporação da água e químico, adição de enzimas (ALMEIDA-MURADIAN, BERA, 2007; SILVA et al., 2011). Mel é definido como o resultado da desidratação e da transformação química do néctar, portanto a quantidade da substância elaborada a partir de uma determinada planta varia com os fatores que influenciam a produção e a concentração de néctar, com a concentração e as proporções de seus carboidratos, com a quantidade de flores da área e com o número de dias em que as flores estão secretando néctar (CRANE, 1975). O Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel, define-o como um produto fluido viscoso, aromático e doce elaborado por abelhas a partir do néctar e/ou exsudatos sacarínicos de plantas, principalmente de origens florais, os quais, depois de levados para a colméia pelas abelhas, são amadurecidos por elas e estocados no favo para sua alimentação (BRASIL, 2000).
230
Quando se trabalha com mel, é comum encontrar variações na sua composição física e química, tendo em vista que variados fatores interferem na sua qualidade, como condições climáticas, estádio de maturação, espécie de abelha, processamento e armazenamento, além do tipo de florada (SILVA et al., 2004). Com base nisso o trabalho teve como objetivo avaliar dois parâmetros (acidez e umidade) de determinados méis de dois municípios do sertão central, Pedra Branca e Mombaça. Na composição do mel a água constitui o segundo componente em quantidade, geralmente variando de 15 a 21%, dependendo do clima, origem floral e colheita antes da completa desidratação. O conteúdo de água no mel é, sem dúvida, uma das características mais importantes, por influenciar na sua viscosidade, peso específico, maturidade, cristalização, sabor, conservação e palatabilidade (SEEMANN e NEIRA, 1988 apud MARCHINI et al., 2004). O mel é um alimento muito higroscópico, e pode facilmente absorver água, conforme as condições de armazenamento, manejo e região. Méis com teores mais elevados de umidade fermentam com certa facilidade (RODRIGUES, 1998). O mel deve apresentar no máximo 20 g de umidade/ 100g de mel analisado (BRASIL, 2000). A origem da acidez no mel deve-se à variação dos ácidos orgânicos, causada pelas diferentes fontes de néctar, pela ação da enzima glicose – oxidase sobre a glicose que origina o ácido glicônico. A ação desta enzima se mantém mesmo durante o armazenamento, pois permanece em atividade no mel mesmo após o processamento (NOGUEIRA–NETO, 1997). Pela ação das bactérias durante a maturação do mel e, ainda, a quantidade de minerais presentes no mel (SILVA & BESERRA, 2001). Os ácidos orgânicos do mel representam menos que 0,5% dos sólidos, tendo um pronunciado efeito no flavor, podendo ser responsáveis, em parte, pela excelente estabilidade do mel em frente a microorganismos (PEREIRA, et al., 2003). A legislação aceita acidez máxima de 50 mEq/Kg de mel (BRASIL, 2018).
MATERIAL E MÉTODOS Amostras de méis foram coletadas diretamente com os apicultores após a etapa de decantação, no período de maio a julho de 2018 em duas cidades da região Sertão Central do Ceará. Sendo de Pedra Branca (05 amostras), Mombaça (09 amostras). Os méis coletados em vasilhames de 250 ml, foram conduzidos ao Laboratório de Bromatologia da Faculdade de Tecnologia CENTEC, Quixeramobim-CE, para posterior análises. Foram avaliados os parâmetros para: acidez (titulação), umidade (refratômetro ABBE de bancada) e açúcares redutores (titulação) realizados de acordo com a metodologia proposta pelo Instituto Adolfo Lutz (2005). Todas as determinações analíticas foram realizadas em duplicata e o tratamento estatístico ANOVA e teste de Tukey foram realizados utilizando o programa Statistica 7.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 estão apresentados médias e desvio padrão das 14 amostras de méis multiflorais provenientes de duas Pedra Branca e Mombaça – CE. Pode-se verificar que 21%, 100% e 0%, respectivamente para umidade, acidez e açúcares redutores estão de acordo com as especificações da Instrução Normativa n°11/2000 (BRASIL, 2000). Tabela 1. Determinação de umidade, acidez e açúcares redutores em amostras de méis multiflorais.
Amostras
Umidade (%)
Acidez (milleq./Kg) Açúcares Redutores (g/100g)
231
A
21,20±0,28cd
28,60±0,00def
37,00±0,70a
B
21,20±0,07a
34,55±1,34bcdef
43,50±13,43a
C
21,75±0,07bc
27,20±0,70ef
48,00±24,04a
D
22,10±0,14ab
30,60±1,41cdef
55,00±1,41a
E
21,00±0,00c
45,45±5,58ab
53,00±28,28a
F
20,10±0,14de
31,10±2,12cdef
44,50±6,36a
G
19,70±0,14ef
39,05±4,87abcd
43,00±2,28a
H
20,10±0,14de
41,95±0,56a
37,00±4,24a
g
41,95±4,87
abc
33,00±8,48a
I
17,30±0,14
J
19,40±0,00f
44,95±3,46ab
20,50±2,12a
K
20,15±0,07de
23,70±1,41f
31,50±9,19a
L
20,10±0,14de
27,20±0,70ef
24,00±8,48a
M
20,20±0,00df
46,95±3,46a
23,00±5,56a
N
22,15±0,07ab
47,00±1,41abcde
18,00±1,41a
Legenda: Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença significativa pelo teste de Tukey (p < 0,05). Fonte: Pesquisa (2019).
A umidade do mel é influenciada pela origem botânica, pelo clima, pela época de colheita e pelo grau de maturação, sendo este um fator importante durante o armazenamento do produto (CARVALHO et al., 2005). Observou-se que entre as amostras, A, B, D, I e J houve diferença significativa (p < 0,05). A umidade é uma das características mais importantes por influenciar nas características de viscosidade, peso específico, maturidade, cristalização e sabor dos méis. A umidade pode ser alterada após a retirada do mel da colmeia, em função das condições de armazenamento logo após a extração (SILVA, 2013). De acordo com a legislação brasileira o teor de umidade não deve ser superior a 20% (BRASIL, 2000). Um alto teor de umidade no mel aumenta o risco de possíveis contaminações a partir da proliferação de microrganismos. Silva et al., (2018) ao avaliar oito amostras de méis multiflorais de cidades do Sertão Central do Ceará encontraram valores oscilando entre 17 a 21% de umidade, com apenas duas amostras fora do padrão estabelecido. Quanto a acidez, todas as amostras analisadas apresentando valores inferiores a a 50 m.e.q./Kg (BRASIL, 2000). Diversos fatores como a variação dos ácidos orgânicos causada pelas diferentes fontes de néctar, atividade enzimática da glicose-oxidase, ação das bactérias durante a maturação e os minerais presentes na sua composição, determinam a sua presença no mel (MENDES, 2009; SILVA, 2013). Verifica-se que as amostras E, G, H, I, J, M e N não apresentaram diferença entre si ao nível de 5% de significância. Percebe-se também que entre as amostras provenientes da cidade de Pedra Branca-CE (A, B, C, M e N) não houve diferença entre A, B e C e entre M e N.
232
Quanto aos açúcares redutores, os valores encontrados no presente estudo foram muito variáveis e abaixo do especificado pela legislação que é mínimo de 65% de açúcares redutores (BRASIL, 2000). Valores inferiores a isto poderiam indicar uma possível fraude devido à utilização de sacarose no produto ou pode ser um indicio de que o mel ainda não estava maduro quando foi realizada a colheita do mesmo. (SILVA, 2013; MENDONÇA et al. 2008). A quantidade e os tipos de açúcares (como frutose, glicose, maltose, tetralose) são responsáveis por vários fatores como a viscosidade, cristalização, densidade, entre outros. CONCLUSÕES Conclui-se que as amostras avaliadas apresentaram diferenças significativas entre si e valores fora do especificado pela legislação vigente, exceto para açúcares redutores. Sugere-se acompanhamento com os apicultores através de treinamentos teóricos e práticos a fim de intensificar a busca pela qualidade nos méis produzidos.
REFERÊNCIAS ALMEIDA-MURADIAN, L. B. de. BERA, A. Propriedades físico-químicas de amostras comerciais de mel com própolis do estado de São Paulo. 2007. 52 f. Monografia (Especialização) - Curso de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Unicamp, Campinas, 2007.
MENDONÇA, K.; MARCHINI, L. C.; SOUZA, B. A. ANACLETO, D. A.; MORETI, A. C. C. C. Caracterização físico-química de amostras de méis produzidas por Apis mellifera L. em fragmento de cerrado no município de Itirapina, São Paulo. Ciência Rural, Santa Maria, v. 38, n. 6, p. 1748-1753, 2008. BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Instrução Normativa 11, de 20 de outubro de 2000, Regulamento técnico de identidade e qualidade do mel. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/das/dipoa/anexo_intrnorm11. htm. Acesso em: 02 de fev. de 2020. SILVA, R. E. O da; LIMA, N. D; FONTENELE, R. M; PAULINO, C. G.; BARBOSA A. V de O; SILVA, M. A. M da. Qualidade físico-química de méis multiflorais de cidades do Sertão Central do Ceará. In: IV Encontro Nacional da Agroindústria, 2018, João Pessoa. Anais eletrônicos... Campinas, GALOÁ, 2018.
CARVALHO, C. A. L; SOUZA, B. A; SODRÉ, G da S; ALVES, R. M. O. Mel de abelha sem ferrão: contribuição para a caracterização físico-química. Cruz das Almas: Universidade Federal da Bahia/SEAGRI-BA, 2005. MENDES, C. G.; SILVA, J. B. A.; MESQUITA, L. X.; MARACAJÁ, P. B. As análises do mel: Revisão. Revista Caatinga, v. 22, n. 2, p. 07-14, 2009. SILVA, C. V. Características Físico-químicas de mel de capixingui e silvestre da região de Ortigueira-PR. Trabalho de Conclusão de Curso, Londrina, 2013. CRANE, E. Bees and beekeeping: science, practice and world resources. Oxford: Heinemann Newnes, 1990. In. CRANE, E. Honey: a comprehensive survey. London: Heinemann, 1975. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz: Métodos Físicoquímicos para análise de alimentos. 4 ed., p 329 – 343, 2005.
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234
Capítulo 28 CHIPS DA CASCA DE MELÃO NEVE (Cucumis melo L.): TEMPERATURA DE SECAGEM, MODELAGEM MATEMÁTICA E COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL
MOURA, Ialy Aparecida Angelo de Graduanda em Eng° Agronômica Instituto Federal de Alagoas (IFAL) ialyangello@gmail.com SILVA, Ranniele Luiza Ventura da Graduanda em Eng° Agronômica Instituto Federal de Alagoas (IFAL) agrorluiza@gmail.com SANTOS, Magna Pereira dos Graduanda em Eng° Agronômica Instituto Federal de Alagoas (IFAL) magnasantos322@gmail.com FEITOSA, Regilane Marques Pós-doutorado em Engenharia de Processos Instituto Federal de Alagoas (IFAL) regilanemarques@hotmail.com PRATES, Fabiano Barbosa de Souza Dr. em Agronomia - Ciência do solo Instituto Federal de Alagoas (IFAL) fabiano.prates@ifal.edu.br
RESUMO Com a crescente preocupação com a alimentação saudável e o uso de subprodutos como cascas e sementes para complementar dietas carentes, o presente trabalho objetivou investigar a composição química da casca de melão neve in natura e processada em forma de chips em diferentes temperaturas, afim de apontar a temperatura ideal para garantir os chips com bons valores nutricionais. As cascas foram secas em estufa de ventilação forçada nas temperaturas de 45 °C, 55 °C e 65 °C, os dados da cinética de secagem foram ajustados aos modelos de Logarítmico, Logistic e Page. Analisou-se: Teor de água ou umidade, sólidos totais, cinzas, acidez, pH, e teores de flavonoides, proteínas, fósforo e potássio. Os resultados das análises foram submetidos ao teste de Tukey a 5 % de probabilidade. O modelo de Page foi o que melhor se ajustou aos dados experimentais da secagem dos chips da casca de melão neve, apresentando R² superior a 99% e menor distribuição de resíduos. As temperaturas de 45 e 65 °C promoveram maior concentração de teores nutricionais aos chips. Porém, a secagem a 65 °C pode gerar vantagens econômicas, pois ocorre de maneira mais rápida. No entanto, novos estudos devem ser realizados para uma melhor observação dos parâmetros testados, como por exemplo uma análise sensorial, para melhor definir a utilização e produção dos chips. PALAVRAS-CHAVE: Compostos bioativos, resíduos, desidratação.
INTRODUÇÃO O melão neve (caipira, pepino, coalhada, etc.) é uma espécie criola, presente em quase todo o território brasileiro, se destaca por sua facilidade de produção e pela sua reduzida capacidade de prateleira, abrindo-se facilmente no campo ao atingir seu pico de maturação. Alguns estudos demostram que as cascas e sementes de espécies dessa família possuem alto valor nutritivo.
235
Conforme Mallek-Ayadi (2017) as cascas de frutas são uma fonte rica de compostos bioativos e sua utilização pode ser economicamente benéfica. Gondim et al. (2005) também afirmam, que as cascas das frutas apresentam elevados teores de nutrientes e, portanto, deveriam ser utilizadas na manufatura de alimentos (Carvalho, 2008; Paiva, 2008; Borges, 2004), transformando-os em benefícios financeiros e minimizando impactos ambientais. De fato, a produção sustentável de alimentos está se tornando um dos mais importantes desafios a serem enfrentados pela indústria de alimentos em todo o mundo, e deve basear-se na redução de custos, no aumento da diferenciação de produtos e na satisfação das necessidades dos consumidores (SILVA et al., 2018). Entre os diferentes mecanismos que buscam a conservação de alimentos, a secagem é uma operação unitária da qual consiste em retirar a umidade do alimento por meio do provimento de calor, efetuando a evaporação da água contida em seu interior, podendo ser de forma convencional ou em larga escala (SILVA et al., 2015). Celestino (2010) afirma que a secagem possibilita algumas vantagens como: prolongamento da vida de prateleira do produto, redução significativa das perdas dos alimentos pós-colheita e fácil comercialização e transporte dos produtos. Os resultados deste estudo podem abrir novas perspectivas para a valorização das cascas do melão como produto nutricional e até mesmo para produção de chips crocantes desidratados, os quais podem ser facilmente armazenados, transportados e comercializados. Até o presente momento, são escassos trabalhos sobre as características químicas e nutricionais das cascas de melão na literatura quando comparados com os demais constituintes do mesmo. Diante disso, o presente trabalho objetivou investigar a composição química da casca de melão neve in natura e processada em forma de chips em diferentes temperaturas, afim de apontar a temperatura ideal para garantir os chips com bons valores nutricionais.
MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi conduzido nos Laboratórios de Processamento e Físico-química de Alimentos, do Instituto Federal de Alagoas, Campus Piranhas, Piranhas, AL. Foi utilizada como matéria-prima a casca do melão neve (Cucumis melo L.). Os melões foram adquiridos na feira livre da cidade de Piranhas-AL e Canindé de São Francisco-SE, encaminhados ao Laboratório de processamento de Alimentos, foram lavados em água corrente e sanitizados (hipoclorito de sódio 10% e água), em seguida, a casca foi separada da polpa e sementes e acondicionadas em sacos de polietileno sob refrigeração até a secagem. No processo de secagem, realizado em triplicata, as cascas foram postas em bandejas e secas em camada fina em estufa de ventilação forçada em três temperaturas: 45 °C, 55 °C e 65 ºC. Adotou-se o método de secagem contínua, conhecendo-se previamente as massas iniciais, sendo este tipo de secagem caracterizada pelo monitoramento da massa em frequência acumulada. As bandejas com as cascas, foram pesadas contados 2 min após a introdução das mesmas na estufa, a pesagem ocorreu até a obtenção de massa constante (GONELI et al., 2009). Após a estabilização, as amostras foram levadas para estufa a 105ºC para a obtenção da massa seca, de acordo com a metodologia descrita no manual do Instituto Adolfo Lutz (2008). Assim, com os dados das umidades em base seca foram calculados os valores da razão de umidade (Equação 1).
236
XXe RX (1) Xi Xe em que: RX – razão de umidade do produto (adimensional); X – teor de umidade do produto em determinado tempo (b. s.); Xi – teor de umidade inicial do produto (b. s.); e Xe – teor de umidade equilíbrio do produto (b. s.).
Os modelos matemáticos (Tabela 1) foram ajustados aos dados experimentais utilizando o software Statistica 6.0 por regressão não linear afim de melhor explicar o processo de secagem da casca do melão neve. Tabela 1. Modelos matemáticos utilizados para ajustar os dados de secagem das cascas de melão Modelo
Expressão matemática
Logarítmico
RU = a.exp(-k.t) + c (2)
Logistic
RU = a0/(1.a.exp(k.t)) (3)
Page
RU = exp(-k.
237
) (4)
RU – razão de umidade (adimensional); k, n, a, b = constantes do modelo; t = tempo (min.).
Para avaliar qual modelo produziu o melhor ajuste foram utilizados, como parâmetros, o coeficiente de determinação (R²) e o desvio quadrático médio (Equação 5) e a distribuição dos resíduos.
(5) RX RX DQM 2 pred exp
n
em que: DQM – desvio quadrático médio; RXpred – razão de água predito pelo modelo; RXexp – razão de água experimental; n – número de observações.
A caracterização físico-química das cascas in natura e dos chips foram obtidas ao final do processamento de secagem nas três temperaturas. Foram analisadas em relação aos teores de umidade, cinzas, sólidos solúveis totais, à acidez total titulável (% de ácido cítrico), e o pH (pHmetro da marca MS-TECNOPON / modelo – LUCA -210) segundo a metodologia descrita no Instituto Adolf Lutz (2008). O percentual de proteínas e as quantidades de minerais (fósforo e potássio) pelo método de Kjeldahl (IAL, 2008). A determinação dos teores de flavonoides foi baseada na metodologia de Francis (1982) para tanto, adotou-se a equação: mg Fd Abs Flavonoide s (6) 100 g 76 , 6
As análises de caracterização foram realizadas com cinco repetições para cada parâmetro testado, em delineamento inteiramente casualizado e posteriormente, submetidos ao teste de Tukey a 5% de probabilidade (p<0,05) utilizando o software SISVAR 5.6 (FERREIRA, 2011).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 2 tem-se os tempos necessários para os chips atingirem a umidade constante, para cada temperatura aplicada. Vê-se que com o aumento da temperatura ocorreu, como esperado, uma redução significativa do tempo de secagem. Tabela 2. Médias do tempo (em minutos) de secagem dos chips de melão neve a 45 °C, 55 °C e 65 °C. Chips
Amostra
Temp. 45 °C
Temp. 55 °C
Temp. 65 °C
CASCA
245
195
185
Para melhor compreender o processo de secagem foi aplicado três modelos matemáticos empíricos da literatura (Tabela 3), nos dados obtidos, e pode-se observar que na mesma tabela encontram-se os valores do coeficiente de determinação, desvio quadráticos médios e distribuição dos resíduos. Batista (2016) aponta que, os modelos matemáticos são utilizados com o objetivo de representar a perda de umidade em função do tempo de secagem. Tabela 3. Valores do coeficiente de determinação (R²), desvio quadráticos médios (DQM) e distribuição do resíduo (DR) para os modelos matemáticos obtidos com a secagem da casca do melão neve a 45 °C, 55 °C e 65 °C. Parâmetros R2 DQM DR MODELO SECAGENS A A0 C K n
Page
45°C
0,044280 0,905143 0,99724
0,016173
T
55°C
0,076503 0,911321 0,99774
0,127173
T
65°C
0,027409 1,105034 0,999
0,011521
A
45°C
0,965022
-0,01626
0,028819
0,99826
0,012971
T
Logarítimico 55°C
0,967592
-0,003019 0,056323
0,99746
0,015679
A
65°C
1,035251
-0,02473
0,037041
0,99874
0,011682
T
45°C
0,056058 0,053370
0,029938
0,99805
0,013744
T
55°C
0,109298 0,105532
0,056792
0,99745
0,015725
T
65°C
0,072925 0,074171
0,039348
0,99816
0,015506
T
Logistic
Em que: T = tendencioso; A = aleatório.
Embora várias teorias tenham sido propostas para predizer o comportamento da secagem de grãos e sementes, na maioria das vezes, as relações semi-empíricas e empíricas têm-se mostrado como melhores opções para predizer o processo de secagem (RESENDE et al., 2010). Ao comparar os ajustes dos modelos aos dados experimentais é possível observar que todos apresentaram R² superior a 99 %, no entanto esse parâmetro isoladamente não pode representar com confiança o ajuste, os desvios quadráticos médios devem ser os menores possíveis e conforme GONELI (2011) a distribuição de resíduos deve-se apresentar de forma aleatória. Com isso é possível observar que apenas o modelo de Page e Logarítimico apresentaram DR aleatório, sendo que, o modelo de Page foi o que melhor se ajustou a curva de secagem dos chips de melão neve apresentando na temperatura de secagem de 65 °C o menor DQM, 0,011521, maior R² 0,99900 e DR aleatório. Gonçalves et al. (2016) ao utilizarem modelagem matemática observaram que o modelo de Page apresentou bons ajustes aos dados experimentais da secagem da casca de banana verde (Musa acuminata) em estufa de circulação de forçada nas temperaturas de 55 °C a 75 °C observado R² acima de 99 %. Santos et al. (2010), constataram que a secagem da carambola em secador de bandejas nas temperaturas de 50, 60 e 70°C também apresentaram bons ajustes ao modelo de Page, com R² ≥ a 99%. A Figura 1 apresenta o ajuste do modelo de Page nas curvas de secagem dos chips de melão neve para as três temperaturas testadas.
238
Figura 1. Percentual de umidade em função do tempo de secagem dos chips de melão neve nas temperaturas de 45 °C, 55 °C e 65 °C ajustadas ao modelo de Page. 1,2 45 °C
55 °C
65° C ------Page-----
Percentual de umidade (b.u.%)
1,0
0,8
0,6
239
0,4
0,2
0,0
-0,2 0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
260
Tempo (min)
Martins et al. (2014), estudando a secagem da casca de mulungu (Erythrina velutina) nas temperaturas de 40 °C, 50 °C, 60 °C e 70 °C, aplicando modelagem matemática aos dados obtidos, observaram que Page apresentou melhor ajuste aos dados experimentais com R2 ≥ 0,99 e DQM ≤ 0,03. As características físico-químicas da casca do melão neve, representadas na Tabela 4, foram submetidas ao teste de Tukey a (p > 0,05) e avaliadas quando a sua integridade frente ao processo de secagem. Tabela 4. Médias das análises físico-químicas das cascas do melão neve in natura e chips a temperatura de 45 ºC, 55 ºC e 65 ºC. CHIPS VARIÁVEIS
IN NATURA
Temp. 45 °C
Temp. 55 °C
Temp. 65 °C
Umidade %
89,10 a
4,87 b
4,68 b
4,16 b
Sólidos Totais %
9,82 b
48,75 a
48,81 a
48,93 a
Cinzas (%)
5,90 a
4,99 b
5,44 ab
6,17 a
Acidez Total Titulável (%)
0,089 b
0,68 a
0,796 a
0,569 a
pH
5,12 a
4,94 b
5,04 ab
5,11 a
Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey considerando o valor nominal de significância de 5%.
Percebe-se na Tabela 4 que a umidade dos chips apresentou uma redução significativa quando comparado a casca in natura, ou seja, com a aplicação da secagem ocorreu a redução da água presente nas cascas, impedindo a degradação e perda nutritiva das mesmas, aumentando a vida de prateleira ao torná-la chips. Porém, quanto ao efeito da temperatura sobre os chips não se observa nenhuma diferença significativa, indicando que a temperatura de secagem não influencia neste parâmetro. Storck et al. (2013) ao estudarem a composição centesimal do melão (Cucumis melo L. var. inodorus Naud), encontraram valores de umidade para a casca de 89,8 %, resultado similar ao deste estudo,
Gondin et al. (2005) quantificaram na casca de melão (Cucumis melo) teor de umidade de 93,23%. Os sólidos totais aumentaram significativamente com a aplicação de calor, fenômeno esperado, uma vez que, a redução no teor de umidade propicia a concentração desse componente. Não foram detectadas diferenças significativas entre as temperaturas analisadas. A quantidade de cinzas dos chips se manteve semelhante a casca in natura quando submetido a secagem nas temperaturas de 55 e 65 °C. Storck et al. (2013) apontam que os valores de cinzas quantificados na casca de melão (Cucumis melo L. var. inodorus Naud) foram de 1,19 %, no entanto, este trabalho quantificou valores superiores a 5%, para tal variável, resultado que sugere uma quantidade relevante de minerais na casca de melão neve. Ao observar os resultados da análise de acidez total titulável é perceptível um incremento significativo desse componente com processo de secagem dos chips, não apresentando diferenças significativas (p>0,05) entre as temperaturas testadas. Conforme a classificação de Cecchi (2003) as cascas e os chips de melão neve podem ser caracterizadas como sendo de baixa acidez. Quanto aos valores correspondentes ao pH percebe-se que as cascas não foram afetados ao aplicar as temperaturas de 55 e 65 °C. Ao analisarem o pH da casca de melancia Tarazona et al. (2010), encontraram valores de 5,10 a 5,37, valores similares aos encontrados neste trabalho. Tabela 5. Componentes e minerais presentes na casca do melão neve in natura e chips processados a temperatura de 45 ºC, 55 ºC e 65 ºC. CHIPS VARIÁVEIS
IN NATURA
Temp. 45 °C
Temp. 55 °C
Temp. 65 °C
Flavonoides (mg/100g)
64,95 b
213,86 a
177,88 a
183,61 a
Proteína (%)
16,00 c
44,65 a
20,55 bc
33,59 ab
Fósforo (g/Kg P)
0,70 c
1,46 b
1,56 b
1,73 a
Potássio (g/Kg K)
0,32 d
0,93 b
0,66 c
2,50 a
Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey considerando o valor nominal de significância de 5%.
Ao observar a Tabela 5 verificou-se que o teor de flavonoides nos chips, apresentou diferença significativa com o processo de secagem quando comparados com as cascas in natura, proporcionando uma concentração desse componente a partir da aplicação de calor; com o aumento da temperatura de secagem os valores se mantiveram sem diferença significativa. MALLEK-AYADY et al., (2017) relataram valores de 95,46 mg/100 g de flavonoides em cascas de melão (maazoun cultivar). O teor de proteína quantificado nas cascas in natura e nos chips, caracteriza-o conforme a RDC n° 54 de 12 novembro de 2012 (BRASIL, 2012) como um alimento altamente proteico. A secagem nas temperaturas de 45 e 65 °C se descaram estatisticamente para esse nutriente. Não apresentando diferença significativa entre a temperatura de 55 °C e a casca in natura. Nyam et al. (2013), analisando a casca de abobrinha quantificaram teores de 23,89 % de proteínas, resultado próximo ao relatado para a casca in natura e chips a 55 °C. Farias et al. (2018) ao analisar a casca do noni (Morinda citrifolia Linn) observaram teores de proteínas de 0,96 %, valor muito inferior ao quantificado nas cascas e chips de melão neve. Quanto aos teores de minerais, constatou-se que a aplicação de calor aumentou de maneira significativa sua quantidade, e que a temperatura de 65 °C apresentou melhores resultados. O teor de fósforo nos chips de melão neve foram significativamente maiores
240
do que o constatado na casca in natura, tendo sua máxima expressão na temperatura de 65 °C, no entanto, a temperatura de 55 °C não diferiu estatisticamente da secagem a 45 °C. O melhor resultado em relação a quantidade de potássio nos chips foi observado na secagem realizada a 65 °C, apresentando diferenças significativas quando comparada com os demais tratamentos.
CONCLUSÕES O modelo de Page foi o que melhor se ajustou aos dados experimentais da secagem dos chips da casca de melão neve, apresentando R² superior a 99% e menor distribuição de resíduos. As temperaturas de 45 e 65 °C promoveram maior concentração de teores nutricionais aos chips. Porém, a secagem a 65°C pode gerar vantagens econômicas, pois ocorre de maneira mais rápida. No entanto, novos estudos devem ser realizados para uma melhor observação dos parâmetros testados, como por exemplo uma análise sensorial, para melhor definir a utilização e produção dos chips.
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241
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242
Capítulo 29 CINÉTICA DE SECAGEM SOLAR DE CEBOLA ‘IPA 11’ ORGÂNICA
ALMEIDA, Ana Cecilia dos Santos Pós-graduanda em Horticultura Irrigada Universidade do Estado da Bahia (Uneb) cecilia.santos0912@gmail.com ARAÚJO, Samuel Gonçalves de Graduando em Engenharia Agronômica Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) samueladj@hotmail.com COELHO, Bruno Emanuel Souza Pós-graduando em Agronomia/Produção Vegetal Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) souza.coelho.18@gmail.com SOUSA, Karla dos Santos Melo de Dra. em Engenharia Agrícola Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) Karla.smsousa@univasf.edu.br MACHADO, Neiton Silva Dr. em Engenharia Agrícola Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) neiton.machado@univasf.edu.br
RESUMO
A cebola (Allium cepa L.), é uma hortaliça de alto valor comercial, sendo consumida por uma boa parte da população mundial e produzida principalmente pela agricultura familiar. Entretanto, conservar o excedente da produção tem sido um dos maiores desafios dos produtores, e principalmente quando não se consegue comercializar bulbos considerados “fora do padrão”. O desenvolvimento de secadores de baixo custo que utilizam como fonte energética a irradiação solar, são de suma importância, por ser uma alternativa para os pequenos produtores que não têm acesso aos secadores convencionais que operam com energia elétrica que têm elevado custo de aquisição. Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo descrever o processo de secagem de cebolas ‘IPA 11’ produzidas sob sistema orgânico em secador solar de baixo custo, e de exposição direta. Os bulbos de cebola foram recepcionados e beneficiados, e submetidos a secagem solar por exposição direta a radiação solar. O processo de secagem perdurou um tempo de 480 minutos, com teor de umidade final de 6,28%, conferindo estabilidade ao produto final, e atendendo a legislação brasileira vigente. Dentre os modelos testados, o de Midilli com quatro parâmetros, foi o que resultou nos melhores ajustes com maiores coeficientes de determinação e menor desvio quadráticos médio. PALAVRAS-CHAVE: Allium cepa; agricultura familiar; temperos; Midilli.
INTRODUÇÃO A cebola (Allium cepa L.), é uma hortaliça de alto valor comercial, participando de transações comerciais em diferentes partes do mundo, e por possuir atributos sensoriais atrativos.
243
É consumida por uma boa parte da população mundial, e apresenta-se como cultura de importância para a agricultura familiar (TADA et al., 2014). Segundo dados do IBGE, até outubro de 2017, o Brasil produziu 1,7 milhão de toneladas de cebolas, o que representa cerca de 2% da produção mundial, classificando-o como 7° maior produtor (IBGE, 2017).
Ao mesmo tempo, conservar o excedente da produção tem sido um dos maiores desafios dos produtores em regiões de clima tropical, pois esses nem sempre podem armazenar o que produzem para comercializar quando o mercado oferecer preços mais atraentes, ao mesmo tempo, quando não se consegue comercializar bulbos considerados “fora do padrão” (BARBOSA et al., 2018). Tendo em vista que que é necessário o uso de tecnologias para o aproveitamento dos excedentes de produção, a secagem é uma alternativa, pois a cebola desidratada tem como foco a elaboração de pratos, como sopas instantâneas, embutidos de carne e enlatados, podendo ser consumida também em molhos e temperos. A secagem ou desidratação consiste basicamente baseia-se em operações unitárias que são responsáveis por transferir a umidade que está em um sólido para a forma gasosa não saturada, de modo a reduzir o teor de água do produto, e consequentemente reduzir a atividade microbiana, oxidativa e enzimática (BARBOSA; LOBATO, 2016). É uma operação bem vantajosa, pois conserva o produto por mais tempo, resultando em maior disponibilidade para o mercado consumidor, eliminando a sazonalidade, comum entre produtos agrícolas, além de resultar em economia de energia, transporte e armazenamento, por dispensar o uso da refrigeração (SANTOS et al., 2010; ARRUDA et al., 2009). A secagem ou desidratação, pode ser realizada de forma natural e artificial. O método de secagem e o uso de secadores dependem em geral dos níveis de produção e da qualidade do produto que se deseja obter. De acordo com Santos et al. (2014), o Brasil dispõe de um grande potencial para uso de energia solar, principalmente em regiões de clima semiárido, como o Vale do São Francisco, que dispõe de períodos longos de incidência de radiação solar o ano todo, pouca nebulosidade e baixa umidade relativa do ar, o que torna favorável o uso da energia solar para a secagem de cebolas. O desenvolvimento de secadores de baixo custo que utilizam como fonte energética a irradiação solar, são de suma importância, por ser uma alternativa para os pequenos produtores que não têm acesso aos secadores convencionais que operam com energia elétrica que têm elevado custo de aquisição. Além disso, esses equipamentos usam fontes de energia livres e renováveis, e apresentam custos operacionais mais baixos do que a secagem elétrica (FERREIRA et al., 2008; BARBOSA et al., 2018). Para assegurar a qualidade do processo e dimensionamento de equipamentos, a descrição da cinética de secagem (PEREIRA et al., 2017). O estudo pode ser feito pelo emprego de modelos matemáticos teóricos, empíricos e semi-empíricos (OLIVEIRA et al., 2014). Esses modelos se baseiam em variáveis externas ao produto, como temperatura do ar de secagem e temperatura relativa umidade (SILVA et al. 2013). Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo descrever o processo de secagem de cebolas ‘IPA 11’ produzidas sob sistema orgânico em secador solar de baixo custo, e de exposição direta.
244
MATERIAL E MÉTODOS O ensaio experimental foi realizado no laboratório de Agroindústria na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), campus Ciências Agrárias (CCA), localizada em Petrolina – PE. O clima local da região é classificado como BSh (Semiárido), segundo a classificação de Köppen, com precipitação inferior a 500 mm, com chuvas concentradas no verão, com temperaturas variando de 21,9 a 32,5 °C (KÖPPEN; GEIGER, 1928). Foi utilizado como matéria-prima cebolas cultivar IPA 11, produzidas sob sistema orgânico, no setor experimental de Olericultura e Agroecologia da Univasf- CCA. Os bulbos foram colhidos 110 Dias Após o Plantio.
Secagem solar da cebola IPA 11 O equipamento utilizado para secagem das fatias foi um secador solar, desenvolvido em parceria com o Laboratório de Construções Rurais da Univasf – CCA. Foi construído à partir de uma chapa metálica curva pintada de preto fosco (tambor de 200L cortado ao meio), com vidro de 4 mm de espessura apoiado sobre a mesma (Figura 1). Nos secadores obtidos das partes do tambor, foram instaladas ventoinhas de 100 mm de diâmetro na parte frontal para remoção do ar interno, sendo alimentadas por energia elétrica.
Figura 1. Protótipo de secador solar de baixo custo utilizado para a secagem de cebolas ‘IPA 11’
Fonte: Autor (2020).
Em uma das laterais foi adaptada uma porta para permitir a entrada e saída do material. No interior do secador existem cantoneiras de metal para apoiar a tela que recebe o material para desidratação. Todo o tambor foi pintado de preto fosco visando aumentar a temperatura no interior do mesmo. Os bulbos foram lavados com água corrente para a retirada da sujidade, sanificados com hipocolorito de sódio à 30 ppm por 20 minutos, e em seguida foram lavados novamente para retirada do excesso de cloro. Por fim, estes foram cortados em rodelas finas e uniformes, as quais foram pesadas e em seguida, dispostas em bandejas e direcionados a secagem (Figura 2).
245
Figura 2. Bulbos de cebolas ‘IPA 11’ fatiados em rodelas e dispostos em bandejas antes da secagem.
246 Fonte: Autor (2020).
A temperatura interna do secador solar foi monitorada utilizando termômetro digital de pistola a laser. Sendo que a temperatura média durante o processo foi de 43,32 ºC. A secagem ocorreu no dia 01/11/2019, nesse período, a precipitação pluviométrica foi de 0,0 mm e a umidade relativa do ar média de 37,2%. A secagem foi realizada entre 08:30 e 16:40 h, com temperatura média do ambiente de 30,8 ºC, e radiação solar global de 28,9 MJ/m².dia. Os dados agroclimáticos foram fornecidos pela Estação Meteorológica Automática do Laboratório de Meteorologia da Univasf, com coordenadas de -9°19'28''S e -40°33'34''W.
Cinética de secagem e ajuste de modelos matemáticos Para construção da cinética de secagem, a matéria-prima foi avaliada quanto ao teor de umidade por secagem direta em estufa com circulação de ar forçado a 105°C, até atingir peso constante (IAL, 2008). E para avaliação da taxa de secagem, as fatias foram retiradas do secador solar em intervalos regulares de tempo para determinação da massa das amostras utilizando uma balança analítica com precisão de 0,01 g. Os dados foram utilizados para avaliar a razão de umidade em função do tempo de secagem, que foi finalizada quando houve equilíbrio de umidade (% b.s.), e a partir dos dados obtidos, foram expressos na forma de razão de umidade (Eq. 1).
RU=
(U-Ue) (Ui-Ue)
(1)
Em que: RU – razão de umidade (adimensional); U – umidade contida no tempo t (% base seca); Ue – Umidade de equilíbrio (% base seca) e Uo – Umidade inicial (% base seca).
Os modelos semi-teóricos (Tabela 1) de Aproximação da difusão, Dois Termos, Handerson e Pabis, Midilli, e Page foram utilizados para ajustar às curvas de secagem (Tabela 1). Aplicou-se ao ajuste dos dados experimentais, os modelos matemáticos apresentados na Tabela 1. Os modelos foram ajustados às curvas da cinética de secagem, utilizando o software estatístico R, versão 3.4.1, e os gráficos foram elaborados no programa Sigma Plot 10.0.
Tabela 1. Modelos matemáticos utilizados para predizer o processo de secagem Modelo Matemático
Equação
Referência
Aproximação da difusão
RU= a exp(-kt) + (1 - a) exp(-kbt)
Hacihafizoglu et al. (2008)
Dois termos
RU = a exp(-k0t) + b exp(-k1t)
Faria et al. (2012)
Handerson e Pabis
RU = a exp(-kt)
Sousa et al. (2011)
Midilli
RU = a exp(-ktn)+ bt
Midilli et al. (2002)
Page
RU = exp (-ktn)
Page (1949)
247
Em que: RU, razão de umidade, adimensional; t, tempo de secagem, k, k0, k1, constantes de secagem específica para o modelo, s-1; e a, b, c, n – coeficientes do modelo.
Para avaliar qual modelo produziu os melhores resultados, utilizou-se como parâmetros o Coeficiente de Determinação (R2) e o Desvio Quadrático Médio (Equação 2) Σ(RUpred-Ruexp)² n
DQM= √
(2)
Em que: DQM – desvio quadrático médio; RUpred – razão de umidade predito pelo modelo; RUexp – razão de umidade experimental e n – número de observações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO A secagem solar da cebola ‘IPA 11’, perdurou durante um total de 480 min (Figura 3). Barbosa et al. (2018), ao estudarem avaliação do processo de secagem da cebola cortadas transversalmente, utilizando um secador solar de exposição direta de baixo custo, também em condições de clima semiárido, constataram que, o processo de exposição ao sol durou 9 horas.
No início do processo, ou seja, nos primeiros 240 minutos de secagem, ocorreu uma diminuição acentuada da umidade e, em seguida, esta foi reduzida moderadamente, estabilizando-se ao final do processo. De acordo com Coelho et al. (2019), é possível notar que a curva de secagem apresentou-se de forma bem definida, indicando uma condição de homogeneidade, diminuindo o teor de umidade com o decorrer do tempo, e sem oscilações nos pontos da curva.
Figura 3. Curva de secagem solar de bulbos de cebolas ‘IPA 11’.
Razão de umidade (adimensional)
1,0 0,9 0,8 0,7 0,6
248
0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0
60
120
180
240
300
360
420
480
Tempo de secagem (minutos)
O tempo total da secagem solar durou 480 min. De acordo com Xavier et al. (2019), isso é esperado, visto que trata-se de uma hortaliça, e em seus estudos com secagem de cebolinha, constatou-que, a perda do conteúdo de umidade é bem rápida. A umidade final da cebola ‘IPA 11’ foi em média 6,28% (% U.bu). O valor está abaixo da umidade máxima estipulada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para produtos vegetais secos ou desidratados, que é de 12% (BRASIL, 1978). Ainda, esse baixo teor de umidade desfavorece a atividade microbiana e bioquímica, e isso favorece o armazenamento do produto por um período prolongado de tempo e contribuindo para a segurança alimentar (CAVALCANTE et al., 2017). Observa-se que todos os modelos testados podem representar o processo de secagem em razão de terem apresentado altos coeficientes de determinação (R²) sendo todos superiores a 0,99 e desvios quadráticos médios inferiores a 0,03 (Tabela 2). Tabela 2. Parâmetros dos modelos ajustados aos dados de secagem das fatias de cebola ‘IPA 11’ produzidas em cultivo orgânico. Modelo
Parâmetros a
b
k
k0
k1
n
R2
DQM
Aproximação da difusão Dois termos
0,2488
0,0803
0,1139
-
-
-
0,9956
0,0230
0,8298
0,1702
-
0,0102
7,5988
-
0,9911
0,0340
Midilli
0,9970
-0,0001
0,0564
-
-
0,6618
0,9947
0,0262
Page
-
-
0,0489
-
-
0,7087
0,9923
0,0297
Em que: RU, razão de umidade, adimensional; t, tempo de secagem, min; k, k0, k1, constantes de secagem específicas para o modelo, min-1; a, b, e n, coeficientes do modelo; R2 - Coeficiente de determinação; DQM - Desvio quadrático médio.
Dentre os modelos testados, o de Midilli com quatro parâmetros (Tabela 2), foi o que resultou no melhor ajuste com maior coeficiente de determinação e menor desvio quadráticos médio, com valores de R² ≥ 0,99 e DQM ≤ 0,03 (MADAMBA et al., 1996). Figura 4. Curva de secagem solar de bulbos de cebolas ‘IPA 11’ ajustada pelo modelo de Midilli.
Razão de umidade (admensional)
1,0 0,9 0,8
249
0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0
60
120
180
240
300
360
420
480
540
Tempo de secagem (minutos)
Observa-se que a curva de secagem solar da cebola ‘IPA 11’ ajustada pelo modelo de Midilli passam próximos aos pontos experimentais, indicando bom ajuste do modelo matemático (Figura 4). Miranda et al. (2015) ao estudarem o processo de desidratação de cebola utilizando um secador solar convectivo do tipo bandeja nas temperaturas de 60, 80, 100 e 110 °C verificaram que, os modelos de Midilli e Page poderiam ser utilizados para descrever o processo, com valor de R² superior a 0,99.
CONCLUSÕES O processo de secagem perdurou um tempo total de 480 minutos, com teor de umidade final de 6,28%, conferindo estabilidade ao produto final, e atendendo a legislação brasileira vigente. Dentre os modelos testados, o de Midilli com quatro parâmetros, foi o que resultou nos melhores ajustes com maiores coeficientes de determinação e menor desvio quadráticos médio.
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Capítulo 30 COMO SE TEM AVALIADO A QUALIDADE DE ÁGUA PARA DESSEDENTAÇÃO ANIMAL? UMA AVALIAÇÃO CIENCIOMÉTRICA
NERY, Gleydson Kleyton Moura Pesquisador do Núcleo de Recursos Hídricos Instituto Nacional do Semiárido - INSA Mestre em Ecologia e Conservação Universidade Estadual da Paraíba gleydson.nery@insa.gov.br NERY, Janiele França Pesquisador do Núcleo de Recursos Hídricos Instituto Nacional do Semiárido - INSA Doutora em Ciências Ambientais Universidade Estadual de Maringá janiele.nery@insa.gov.br MEDEIROS, Salomão de Sousa Pesquisador do Núcleo de Recursos Hídricos Instituto Nacional do Semiárido – INSA Doutor em Engenharia Agrícola Universidade Federal de Viçosa – UFV
RESUMO O uso dos recursos hídricos devem garantir usos múltiplos sendo prioritariamente ao abastecimento humano e dessedentação animal, contudo a avaliação da qualidade do recurso tem sido subestimada sendo necessários observar as formas de avaliação desta qualidade, sendo assim este estudo objetivou-se com base na produção acadêmica sobre qualidade de água para dessedentação, os principais parâmetros de avaliação da qualidade de água e as suas possíveis lacunas. Para análise cienciométrica utilizou-se a base de dados Scielo, usando-se os termos “Dessedentação*”, “Qualidade de água*”, “Livestock*”, “water quality*” e “animal drinking water* como palavras chaves dos artigos científicos listados na plataforma. Foram publicados 16 artigos dos quais apenas 11 tratavam sobre o tema, publicados entre 2001 e 2017, os trabalhos trataram de recursos superficiais, subterrâneos e alguns não identificados os quais são avaliados a partir de parâmetros (i) parâmetros físicos, como pH, temperatura, turbidez (NTU), sólidos totais dissolvidos (TDS), sólidos totais suspensos (TSS), condutividade elétrica (CE) e oxigênio dissolvido (OD); (ii) parâmetros químicos, separados em metais (As, Cr, Cu, Co, Fe, Mg, Mo, Mn, Ni, Pb, Se, V e Zn); íons como cloreto, fluoreto e sulfato; e nutriente: fosforo (PT), nitrogênio (NT), nitrito (NO2-), nitrato (NO3-) e amônia (NH3) e por fim (iii) parâmetros biológicos, sendo coliformes totais, coliformes termotolerantes, Escherichia coli, Clostridium perfringens¸ Enterococcus sp, microrganismos mesófilos e cianobactérias. Desta forma, torna-se notorio que a dessedentação ainda é considerada como uma subutilização dos recurso hídrico no que se diz a disponibilidade e qualidade hídrica, sendo avaliada de forma particionada e insuficiente. PALAVRAS-CHAVE: Produção científica, parâmetros de qualidade, saúde animal.
252
INTRODUÇÃO A disponibilidade hídrica prevista na política Nacional de Recursos Hídricos, PNRH (BRASIL, 1997) define que se deve garantir o uso múltiplo da água sendo seus usos prioritários o abastecimento humano e a dessedentação animal. Contudo, a importância em relação a esta disponibilidade tem sido constantemente subestimada, onde a quantidade e qualidade para os rebanhos tem levantado preocupação por diversos fatores sendo desde a quantidade de animais por unidade de área, a ocorrência de secas, conflitos por usos de água e também o saneamento urbano e rural precários (PARELHAS et al., 2012; CAMPOS et al., 2014). A necessidade por manutenção da qualidade de água para este fim é importante não só pela saúde animal, mas também visando garantir a saúde humana e favorecer a economia na produção de derivados de origem animal (CAMPOS et al., 2014). No Brasil, regulamentação do uso de corpos aquáticos para dessedentação é regida pela resolução do CONAMA nº 357, de 17 de março/2005, onde este corpos são divididos em classes que determinam seus usos, para a dessedentação, utilizando-se de corpos aquáticos de classe 3, os quais apresentam uma série de parâmetros para avaliação da qualidade. Porém, como a regulamentação tem sido organizada para acomodar diferentes usos na mesma classe de qualidade, isto faz-se com que não haja uma definição especifica da avaliação para fins de dessedentação de animais, o que não acontece em outros países. Muitos valores-limite da Classe 3 estão relacionados ao uso para abastecimento humano ou a outros usos da água, mas não para a dessedentação (CAMPOS et al., 2014). Sendo assim, para compreensão da realidade sobre a avaliação de recursos hídricos no que se diz ao uso na dessedentação e seus principais parâmetros de avaliação, o uso de apontadores cienciométricos cumprem a finalidade de apontar resultados e os respectivos efeitos do esforço destinado a ciência, constituindo assim indicadores eficientes da produção acadêmica (MUGNAINE et al., 2004), deste modo objetivou-se com este estudo, avaliar, com base na produção acadêmica sobre qualidade de água para dessedentação, os principais parâmetros de avaliação da qualidade de água e as suas possíveis lacunas.
MATERIAL E MÉTODOS Para análise quantitativa das publicações referente a avaliação da qualidade de água tendo como objetivo o suprimento hídrico de animais utilizou-se da base de dados SCIELO (Scientific Electronic Library Online) acessada através da plataforma Periódico CAPES (Disponível em: <https:\\www.periodicos.capes.gov.br\>). A busca foi realizada com uso das palavras-chave “Dessedentação*”, “Qualidade de água*” para trabalhos publicados em português e utilizou-se “Livestock*”, “water quality*” e “animal drinking water*” para os publicados em inglês, tendo os trabalhos sido publicados na base de dados até 2020. Usamos estes termos tendo como objetivo encontrar palavras-chave, títulos e resumos correlacionados. O uso do asterisco garantiu que os termos fossem encontrados, independentemente do sufixo que possa ter sido usado. Para cada artigo, foi descrito quando possível, os seguintes dados: a) o periódico o qual foi publicado, b) qualis & fator de impactos, c) ano da publicação, d) país onde foi realizado o trabalho, e) tipo de recurso hídrico utilizado e f) os parâmetros utilizados na avaliação da qualidade hídrica. Na análise dos dados, utilizou-se de estatística descritiva, onde elaborou-se um banco de dados (Microsoft Excel 7.0), permitindo a análise das variáveis em uma serie temporal. A caracterização dos artigos foi feita por meio da leitura dos seus resumos e consulta do texto integral quando necessário, selecionando assim aqueles pertinentes ao tema abordado.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao utilizar as palavras-chave foram encontrados 16 artigos, contudo entre estes apenas 11 tratavam sobre a avaliação da qualidade de água visando a dessedentação e o bem estar animal, publicados entre 2001 e 2017. O primeiro artigo, foi realizado visando identificar aspectos microbiológicos no intuito da qualidade higiênico-sanitária assim como a demanda de cloro para tal higienização do recurso (Amaral, et al., 2001). Mas só a partir de 2010 o número de publicações sobre a temática aumentou e, em 2017 observou-se o maior número de publicações (Figura 1). Pode-se observar que trabalhos sobre a avaliação da qualidade de água visando a segurança hídrica na dessedentação animal ainda são pouco explorados e subestimados, deixando grandes lacunas no que se refere a segurança do bem estar animal e por sua vez na segurança do fornecimento alimentar e da saúde humana, sendo a maior parte da alimentação baseada na origem animal (CAMPOS et al., 2014).
Figura 1. Distribuição da publicação anual de artigos sobre qualidade de água para dessedentação e bem-animal.
100
% artigos
80 60 40
20 0 2017
2015
2014
2012
2010
2001
Fonte: Autor com base em SCIELO.
A distribuição de trabalhos voltado a temática centram-se principalmente no Brasil (64%) seguido da Argentina (18%) e por fim México e Chile (9% cada), isso justifica-se devido a caracterização alimentar no Brasil, onde desde o período pré-colonial a alimentação baseia-se principalmente no consumo da proteína animal (SOUZA & HARDT, 2002), além da disponibilidade espacial e hídrica, uma vez que, o país apresenta uma grande área de pastoreio e uma disponibilidade hídrica dependente da região do país, contendo bacias hidrográficas de grandes dimensões ao fornecimento de água a exemplo do estado do Tocantins que é um grande produtor pecuarista (ALMEIDA et al., 2017). Apesar da baixa produção cientifica referente ao conteúdo, observa-se uma determinada qualidade nas publicações, uma vez que, os periódicos escolhidos para publicação encontram-se classificados pelo sistema de avaliação brasileiro (Qualis CAPES) no espectro entre A2 e B4, nas principais áreas de atuação das pesquisas Medicina Veterinária e Ciências Agrárias. Além, dos
254
periódicos apresentarem Qualis também contém fator de impacto, sistema no qual classifica-se internacionalmente os periódicos (Scimago – SJR), estando este entre 0,31 e 0,19 (Tabela 1). Com exceção para duas revistas que não apresentam grande impacto de circulação a Investigación Veterinária (InVet) e Ecosistema y recursos agropecuários.
Tabela 1. Classificação dos periódicos com publicação acerca do tema, a nível nacional – Qualis CAPES e internacional – Scimago SJR. Periódicos
Qualis CAPES
Fator de Impacto
M. veterinária
C. Agrárias
Scimago-SJR
Engenharia Sanitaria e Ambiental
B3
B1
0,198
Ecosistemas y recursos agropecuarios
-
-
-
Ciencia del suelo
-
B2
0,197
Pesquisa Veterinária Brasileira
A2
B1
0,26
InVet
-
-
-
Revista Ambiente & Água
B4
B1
0,229
Revista chilena de infectología
B2
-
0,228
Ciência Rural
B1
B1
0,319
Brazilian Journal of Poultry Science
B1
B2
0,3
Fonte: Autor.
Os trabalhos relacionado apresentaram estratégias de utilização dos mais diversos tipos de águas: (i) pluvial, (ii) superficial (lênticos e lóticos), (iii) subterrânea e também alguns (iv) não informaram a origem do recurso, mas que nos leva a pensar que decorrem do suprimento de águas superficiais, tentando tornar formas alternativa dos seus diferentes tipos como também alternativas que tornem mais seguro o usos de determinadas fontes de água. A exemplo de águas superficiais, onde o animal bebe diretamente do manancial, tendo de se considerar as modificações nas propriedades físicas e químicas da água como os sólidos em suspensão na água e a microbiológicas pela contaminação, por fezes e urina do recurso (ALMEIDA et al., 2017).
255
Figura 2. Principais tipos de água utilizados nos trabalhos sobre avaliação da qualidade de água para dessedentação.
256
Chuva
Superifical
Subterrânea
Não Informada
Fonte: Autor.
Diante disso, observou-se entre as publicações que os parâmetros utilizados na avaliação da qualidade podem ser separados em três grupos: (i) parâmetros físicos, como pH, temperatura, turbidez (NTU), sólidos totais dissolvidos (TDS), sólidos totais suspensos (TSS), condutividade elétrica (CE) e oxigênio dissolvido (OD); (ii) parâmetros químicos, separados em metais (As, Cr, Cu, Co, Fe, Mg, Mo, Mn, Ni, Pb, Se, V e Zn); íons como cloreto, fluoreto e sulfato; e nutriente: fosforo (PT), nitrogênio (NT), nitrito (NO2-), nitrato (NO3-) e amônia (NH3) e por fim (iii) parâmetros biológicos, sendo coliformes totais, coliformes termotolerantes, Escherichia coli, Clostridium perfringens¸ Enterococcus sp, microrganismos mesófilos e cianobactérias. Entre os trabalhos publicados, apenas 18% realizou uma análise mais adequada dos parâmetros de avaliação, compreendendo os físico, químicos e biológicos, sendo estes publicados para o Brasil e México (Figura 3). Considerando a resolução nº 357, que regulariza a classificação dos corpos hídricos bem como suas finalidades de uso para o Brasil, os parâmetros de qualidade para a dessedentação preconizam como parâmetros biológicos a avalição de clorofila a e densidade de cianobactérias, os quais apenas 9% dos trabalhos apresentaram avaliação destes parâmetros, mesmo que de forma isolado aos demais parâmetros necessários para avaliação, enquanto que, os demais trabalhos (36%), voltaram-se para análise de coliformes, E. coli entre outros microrganismos, sendo apenas os parâmetros de coliformes e E. coli exigidos na legislação..
Figura 3. Distribuição dos principais parâmetros utilizados na avaliação da qualidade de água para dessedentação entre os trabalhos publicados entre 2001 e 2017.
100
% artigos
80 60
40 257 20 0
Biológicos
Fisico-quimicos
Biológicos e Fisicoquímicos
Fonte: Autoria do Autor.
Isto devido, a predominância na contaminação microbiológica da água de dessedentação animal por microrganismos devido à introdução de material fecal toda vez que os animais ingeriam água, sejam em casos de bebedouros ou no próprio ambiente de pastagem (PINTO et al., 2010). Além do fato que, há uma preocupação maior pelo o efeito da inoculação de E. coli por via oral apresentar maior colonização intestinal e por períodos mais longos, tornando-a assim mais patogênica (ANDREATTI FILHO et al., 1993) Quanto a avaliação dos demais parâmetros de avaliação, dos 69 parâmetros físicos e químicos da água que constam na resolução CONAMA 357, apenas 24 destas estão contempladas nos trabalhos com dessedentação. Sendo, o pH e sólidos totais dissolvidos os mais encontrados assim como a análise de nutriente como fosforo e compostos nitrogenados (NO2-, NO3- e NH3). Apenas 36% dos trabalhos trazem a análise de metais e íons. Isto devido a serem parâmetros básicos e sentinelas da qualidade ambiental, a exemplo dos TDS que se comporta como um indicador importante, pois esses são potenciais carreadores de elementos poluentes (PALHARES et al., 2012). Enquanto que os nutrientes, podem além de caracterizar o índice de trófia do corpo hídrico, o que implica na colonização por algas e por muitas vezes cianobactérias, as quais apresentam potencial tóxico, também podem indicar a capacidade de toxicidade e efeitos deletérios a saúde animal e humano, a exemplo do nitratos, os quais pela ação dos microrganismos do estômago, podem formar nitrosaminas e nitrosamidas, compostos potencialmente cancerígenos (VALENZUELA et al.,2012).
CONCLUSÕES Observa-se que a dessedentação ainda é considerada como uma subutilização dos recursos hídricos, no que se diz em relação a disponibilidade e qualidade hídrica, uma vez que, a maior parte dos trabalhos realizam analises simplificadas, condicionada a parâmetros sentinelas ou parciais, sem avaliar a periculosidade total da exposição destes animais a águas potencialmente
contaminadas. Deste modo, sugere-se a necessidade de investimentos em estudos que adequem a avaliação do recurso para esta finalidade, principalmente quando consideramos que uma boa porcentagem do recurso fornecido a dessedentação é superficial e muitas vezes ocorre sem tratamento prévio, promovendo risco não só a saúde animal mas também humana. Tão como, nota-se uma falha na legislação a qual determina os parâmetros para a avaliação, de forma que, mostra-se necessário uma revisão da mesma voltada para cada uso, em especial dessedentação.
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Outubro 2020
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