E-BOOK - ABORDAGENS TECNOLÓGICAS E SOCIAIS NO NORDESTE BRASILEIRO - Vol. 2

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Organizadores: Isaac Araújo Gomes Érik Serafim da Silva Marcos Barros de Medeiros Weverton Pereira de Medeiros Hélder Formiga Fernandes Virginia Maria Magliano de Morais Bruno Emanuel Souza Coelho Luzimar Joventina de Melo Natanaelma Silva Costa Mateus Gonçalves Silva

Editora & Eventos Científicos

ABORDAGENS TECNOLÓGICAS E SOCIAIS NO NORDESTE BRASILEIRO

Volume 2


Organizadores: Isaac Araújo Gomes Érik Serafim da Silva Marcos Barros de Medeiros Weverton Pereira de Medeiros Hélder Formiga Fernandes Virginia Maria Magliano de Morais Bruno Emanuel Souza Coelho Luzimar Joventina de Melo Natanaelma Silva Costa Mateus Gonçalves Silva

ABORDAGENS TECNOLÓGICAS E SOCIAIS NO NORDESTE BRASILEIRO

Editora & Eventos Científicos

Bananeiras – PB

2020


© 2020 por Isaac Araújo Gomes, Érik Serafim da Silva, Marcos Barros de Medeiros, Weverton Pereira de Medeiros, Hélder Formiga Fernandes, Bruno Emanuel Souza Coelho, Virginia Maria Magliano de Morais, Luzimar Joventina de Melo, Natanaelma Silva Costa, Mateus Gonçalves Silva (Org.) © 2020 por Vários Autores Todos os direitos reservados. Edição Gráfica e Capa Érik Serafim da Silva Conselho Editorial Marcos Barros de Medeiros (UFPB) Christopher Stallone de Almeida Cruz (UFCG) Elizandra Ribeiro de Lima Pereira (UFPB) Francisco Lucas Chaves Almeida (UNICAMP) Maria Verônica Lins (UFCG) Natanaelma Silva Costa (UFPB) Weverton Pereira de Medeiros (UFCG)

Índice para catálogo sistemático: 1. Ciências Agrárias 630 2. Ciências Agrárias 630 Agricultura e tecnologias relacionadas O conteúdo desta obra, inclusive sua revisão ortográfica e gramatical, bem como os dados apresentados, são de responsabilidade de seus participantes, detentores dos Direitos Autorais. Esta obra foi publicada pela Gepra Editora & Eventos Científicos em outubro de 2020.


Apresentação

A coletânea de e-books ABORDAGENS TECNOLÓGICAS E SOCIAIS NO NORDESTE BRASILEIRO foi produzida com o intuito de promover a produção científica e de tecnologias sociais em diferentes áreas do conhecimento, por meio da interação entre pesquisadores e estudantes de âmbito nacional e a realização de atividades que promoveram debates referentes a sustentabilidade agrícola, incentivando a comunidade acadêmica, setores da sociedade e agricultores rurais a pensarem o Semiárido Brasileiro baseado na cultura da sustentabilidade.

“É no Semiárido que a vida pulsa, é no Semiárido que o povo resiste!”


SUMÁRIO Cap. 01 - COMPARAÇÃO DA QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE Ceiba speciosa St. Hil COMO MÉTODO PARA SELEÇÃO DE ÁRVORES MATRIZES.....................................................................................................................06 Cap. 02 - CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DA CARNE MOÍDA BOVINA DE FRIGORÍFICOS DO MUNICÍPIO DE POMBAL-PB..............................................13 Cap. 03 - CONTAGEM DE BOLORES E LEVEDURAS DAS FARINHAS DE MANDIOCA COMERCIALIZADAS NO MUNCIPIO DE CODÓ-MA.......................22 Cap. 04 - CONTROLE ALTERNATIVO NA QUALIDADE DE SEMENTES DE ALGODOEIRO ..............................................................................................................31 Cap. 05 - CRESCIMENTO, SOLUTOS ORGÂNICOS E RELAÇÕES HÍDRICAS DE CULTIVARES DE AMENDOIM SOB DEFICIÊNCIA HÍDRICA NO SOLO...............................................................................................................................40 Cap. 06 - DESALINIZADOR SOLAR COMO ALTERNATIVA AO ACESSO DE ÁGUA POTAVEL NO CARIRI PARAIBANO..............................................................53 Cap. 07 - DESEMPENHO DE GOTEJADORES OPERANDO COM LIXIVIADO DE ATERRO SANITÁRIO...................................................................................................61 Cap. 08 - DESENVOLVIMENTO DE MAQUETES PARA ORIENTAÇÃO SOBRE EROSÃO DO SOLO........................................................................................................72 Cap. 09 - DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE IOGURTE TIPO GREGO COM GELEIA DE PALMA FORRAGEIRA (Opuntia fícusindica Mill) ......................................................................................................................80 Cap. 10 - DIAGNOSTICO DO MANEJO NUTRICIONAL DE EQUINOS ATLETAS PARA VAQUEJADA......................................................................................................88 Cap. 11 - DIAGNÓSTICO DE RÓTULOS DE ALIMENTOS E PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES NO MUNICÍPIO DE APODI-RN...................................................99 Cap. 12 - DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITAS GASTRINTESTINAIS EM RUMINANTES......................................................................................................108 Cap. 13 - DIAGNÓSTICO QUANTIQUALITATIVO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS EM UMA PREFEITURA DO SEMIÁRIDO PARAIBANO.....................118


Cap. 14 - EFEITO DE CIANOTOXINAS NA GERMINAÇÃO DE Coriandrum sativum...........................................................................................................................130 Cap. 15 - EFEITO DE MORTALIDADE DE DIFERENTES ESTRUTURAS DE PLANTAS NATIVAS SOBRE Nasutitermes coniger (Motschulsky, 1855).................138 Cap. 16 - ELABORAÇÃO DE BLENDS DE FRUTAS TROPICAIS: AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA, MICROBIOLÓGICA E SENSORIAL.........................................144 Cap. 17 - ELABORAÇÃO DE FERMENTADOS ALCOÓLICOS DE UMBU-CAJÁ (Spondias tuberosa X S. mombin)..................................................................................153 Cap. 18 - ESTUDO DO EFEITO DA MODIFICAÇÃO DE ATMOSFERAS NO ARMAZENAMENTO DE ALHO NEGRO (Allium sativum)......................................164 Cap. 19 - FATORES NÃO GENÉTICOS QUE AFETAM A CURVA DE LACTAÇÃO DE CAPRINOS LEITEIROS........................................................................................171 Cap. 20 - INFERÊNCIAS DE BIOESTIMULANTE SOBRE TEOR DO ÁCIDO ASCÓRBICO EM SUCO CONGELADO DE ACEROLEIRAS, CULTIVADAS EM PETROLINA-PE...........................................................................................................179 Cap. 21 - INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE PROBIÓTICOS E PREBIÓTICOS NA MATURACÃO DE SALAMES MISTOS DE CARNE SUINA E OVINA..................186 Cap. 22 - INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA COMPOSIÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE FATIAS DE PÊSSEGO CV. HUBIMEL.................................................................194 Cap. 23 - INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA COMPOSIÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E BIOATIVA DE GRÃOS DE ARROZ PRETO...........................................................202 Cap. 24 - INSETOS-PRAGAS EM MUDAS DE Hylocereus spp. (Cactaceae) NA PARAÍBA......................................................................................................................210 Cap. 25 - LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO ACERCA DO CONHECIMENTO SOBRE Tropaeolum majus L. COM OS ALUNOS DA UEPB – CAMPUS II..............217 Cap. 26 - MODELAGEM MATEMÁTICA APLICADA A CINÉTICA DE SECAGEM DA POLPA DO NONI (MORINDA CITRIFOLIA L.).................................................226 Cap. 27 - MODELOS NÃO LINEARES PARA DESCREVER O CRESCIMENTO DE COELHOS DA RAÇA NORFOLK...............................................................................235 Cap. 28 - O STATUS QUO DAS PUBLICAÇÕES ENVOLVENDO A ERGONOMIA E O TRABALHO NA AGRICULTURA FAMILIAR (AF): UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA............................................................................242


Cap. 29 - OS CAMINHOS DO LIXO: UM RELATO SOBRE A CIDADE DE IGARACY – PB.............................................................................................................255 Cap. 30 - PERCEPÇÃO DOS PRODUTORES HORTÍCOLAS SOBRE O CONSUMO DE ALIMENTOS ORGÂNICOS NO MUNICÍPIO DE TEIXEIRA – PB....................263 Cap. 31 - CAPRINOS DE ORELHAS RUDIMENTARES: HISTÓRICO, CONSERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DE CAPRINOS LANDI.................................274


Capítulo 01 COMPARAÇÃO DA QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE Ceiba speciosa St. Hil COMO MÉTODO PARA SELEÇÃO DE ÁRVORES MATRIZES

SILVA, Francisco Eudes Pós-graduando em Ciências Florestais Universidade Federal do Rio Grande do Norte eudesssylva@gmail.com PEREIRA, Márcio Dias Doutor em Fitotecnia Universidade Federal do Rio Grande do Norte marcioagron@yahoo.com.br NICOLAU, Josefa Patrícia Balduino Pós-graduanda em Ciências Florestais Universidade Federal do Rio Grande do Norte patricia.balduino@hotmail.com BURITI, Francisca Janekely Pós-graduanda em Ciências Florestais Universidade Federal do Rio Grande do Norte janikellyburiti@hotmail.com RAMOS, Amanda Karoliny Fernandes Graduanda em Engenharia Agronômica Universidade Federal do Rio Grande do Norte amanda.fernandes169@gmail.com

Resumo A Ceiba speciosa St. Hil (Malvaceae) é uma espécie arbórea com grande potencial para a produção comercial de madeira. Devido a estes aspectos econômicos, a atividade extrativista tende a gerar grandes riscos de extinção para a espécie. Nesse sentido, faz necessário estudos voltados para classificação e marcação de matrizes com alto percentual de qualidade, para multiplicação e perpetuação da espécie em ambientes de conservação e produção comercial. Nesse sentido, este estudo teve como objetivo avaliar e comparar diferentes lotes de sementes de C. speciosa coletadas de árvores matrizes distintas. As sementes foram submetidas as análises de grau de umidade; germinação e velocidade de germinação. Os dados obtidos demonstraram haver diferenciação estatística da qualidade em apenas um dos lotes avaliados. Assim, se faz necessário o emprego de novas metodologias, capazes de diferenciar de forma mais precisa, matrizes ideias para os projetos de conservação e para uso comercial. PALAVRAS-CHAVE: germinação, vigor, maturação.

1. INTRODUÇÃO A Ceiba speciosa St. Hil (Malvaceae) é uma espécie que tem apresentado risco de extinção nas últimas décadas, o que tende a se acelerar, devido à exploração irracional de sua madeira. Em função de sua importância ambiental e de seu potencial para a produção comercial de madeira, a demanda por sementes e mudas de qualidade tem aumentando consideravelmente (MARTINS, 2011).

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Nesse sentido, o conhecimento acerca da produção e tecnologia de sementes florestais assume importância fundamental no processo de manejo, conservação e melhoramento genético das espécies arbóreas, levando em consideração que boa parte das espécies arbóreas se propagam de forma sexuada, restringindo assim a sua multiplicação em condições de estresse abióticas ao essencial para o seu desenvolvimento (NETO, 2014). A qualidade de uma semente pode ser determinada pelos seus aspectos genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários (MARCOS FILHO, 2015). Do ponto de vista fisiológico, a qualidade pode ser determinada a partir do teste de germinação e análises de vigor, realizados em laboratório, exigindo muito tempo e um trabalho exaustivo do analista, que precisa também realizar as avaliações, muitas vezes, de forma subjetiva (JAVORSKI et al., 2018). Um exemplo de teste de vigor muito utilizado é o teste de desempenho de plântula (NAKAGAWA, 1999), no qual as plântulas devem ser medidas individualmente, com uma régua graduada, para determinar o comprimento do hipocótilo e da raiz primária, considerando mais vigorosas as sementes que produzirem plântulas maiores e com todas as estruturas completas. Outra importante análise que é bastante empregada na análise de sementes florestais, é a determinação da condutividade elétrica. Está permite avaliar os solutos liberados pelas sementes em processo de deterioração, mostrando como ocorre a lixiviação dos constituintes celulares das sementes embebidas em água devido à perda da integridade dos sistemas de membranas celulares (SILVA, 2017). Nesse sentido, Paulo e Neto (2017), ressalta que: A semente é o principal meio de multiplicação das espécies arbóreas e, por isto, o conhecimento sobre produção e tecnologia de sementes florestais assume importância fundamental no processo de manejo, conservação e melhoramento genético dessas espécies. Desta forma, a escolha de plantas matrizes sadias, com boa capacidade de produção de sementes, associada a um monitoramento adequado do processo de produção e coleta de sementes, são fundamentais para garantir sementes de alta qualidade (HIGA; SILVA, 2006).

Nesse sentido, em função da necessidade de estudos que envolvam abordagens metodológicas mais precisas na determinação da qualidade de sementes, este trabalho tem como objetivo avaliar e comparar diferentes lotes de sementes de C. speciosa coletadas de árvores matrizes distintas.

2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Laboratório de Sementes da Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias/Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UAECIA/UFRN). Utilizaram-se para o experimento quatro lotes de sementes de C. speciosa, colhidas de quatro árvores matrizes da praça vegetativa do município de São Rafael, localizado na mesorregião do Vale do Açú, Rio Grande do Norte (figura 1).

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Figura 1. Localização geográfica do município de coletas de sementes das arvores matrizes de C. speciosa.

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Fonte: (WILKIMEDIA, 2011).

Após as coletas dos frutos, as sementes foram retiradas e beneficiadas, selecionando-se aquelas sadias e bem formadas, eliminando assim as chochas, danificadas e infestadas por insetos. Em seguida, as sementes de todos os lotes foram avaliadas por meios dos testes discriminados a seguir. Grau de umidade das sementes: a partir de duas repetições contendo 50 sementes, submetidas ao método da estufa a 105 ± 3 ºC por 24 h, conforme descrito nas Regras para Análise de Sementes - RAS (BRASIL, 2009), cujos resultados estão expressos em porcentagem. Germinação: determinada utilizando-se 200 sementes (quatro repetições de 50 sementes por lote) em substrato rolo de papel (Germitest), umedecidos com água destilada em quantidade equivalente a 2,5 vezes a massa do papel seco. Os rolos foram colocados dentro de sacos plásticos e, em seguida, mantidos em câmara do tipo Biochemical Oxigen Demand (B.O.D.) a 27 °C, por dez dias, quando determinou-se o percentual de plântulas normais (NETO, 2017). A primeira contagem foi realizada ao sétimo dia após a semeadura e os resultados expressos em porcentagem de plântulas normais (BRASIL, 2013). Velocidade de germinação: realizou-se a contabilização diária de sementes germinadas após a semeadura, levando-se em consideração a emissão de 2mm de raiz, sendo os resultados utilizados para calcular o índice de velocidade de germinação, como proposto por Maguire (1962). Condutividade elétrica: quatro repetições de 40 de sementes por lote, pesadas com precisão de três casas decimais e colocados em copos plásticos com capacidade de 200 ml, contendo 75 ml de água destilada, acondicionados dentro de um germinador regulado a 25°C, por 24 horas conforme recomendações básicas de Vieira e Krzyzanowski (1999). O resultado foi apresentado em µS. cm-1.g-1 de sementes. Delineamento experimental – O trabalho aportou-se do Delineamento Inteiramente Casualisado (DIC). Para a comparação entre lotes, os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, e ao se verificar efeito significativo, suas médias foram comparadas pelo teste de


Tukey a 5% de probabilidade. Para todas as análises, utilizou-se o programa estatístico SAS® (SAS Institute, 2000).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As sementes de C. speciosa apresentaram grau de umidade de 7,5 a 10,5%, baixos grau de umidade auxiliam na viabilidade das sementes armazenadas por períodos longos, por se tratar de sementes ortodoxas, como descrito por Carvalho et al. (2006). Para Oliveira et al. (2013) a preservação da viabilidade e aumento do poder germinativo das sementes está diretamente associada a manutenção do grau de umidade. Quando comparados os lotes de sementes C. speciosa, pelo teste de germinação, verificouse que os valores obtidos em porcentagem apresentaram diferença significativa estatisticamente entre os lotes 1 e 2; 1 e 3; 1 e 4. Não havendo diferença significativa a partir do teste Tukey entre os lotes 2, 3 e 4 ao nível de 5% de probabilidade (figura 2).

FIGURA 2. Percentual germinativo de sementes de Ceiba speciosa em função da diferenciação de árvores matrizes.

Germinação (%)

100 y = -5,125x2 + 32,575x - 3,375 R² = 0,9997

80 60 40 20 0 0

1

2

3

4

Diferenciação de lotes Mesmo as sementes de C. speciosa serem consideradas ortodoxas, percebe-se que ao tempo em que elas foram coletadas e armazenadas, o período influenciou na expressão da germinação dos lotes. Silva (2013), relata que as sementes de C. speciosa, apresentaram o mesmo comportamento em seu estudo, podendo assim ser revisto a classificação dela entre ortodoxas ou recalcitrante, havendo assim a necessidade de um estudo voltado para análise de armazenamento após a maturação das sementes da espécie. Considerado um ser vivo, a semente mesmo após a colheita continua respirando, necessitando de condições ideais para que essa respiração seja a menor possível, para não prejudicar sua qualidade durante o tempo de vida útil (SILVA, 2017). Quando analisado o percentual de plântulas normais, verificou-se que as sementes aparentemente com maior deterioração da estrutura externa, facilitou a liberação das plântulas e da emissão da raiz, possibilitando um maior estabelecimento em condições adequadas (figura 3).

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Figura 3. Disposição de plântulas normais de Ceiba speciosa.

10 Fonte: Acervo pessoal (2019).

Em pesquisas realizadas com moringa, foi verificado que plântulas anormais estavam relacionadas a pequenas alterações na formação dos cotilédones, ou ainda, a presença de fungos, paralelo ao que se determina pelas regras para análise de sementes, que descreve que as plântulas normais devem conter estruturas com comprimento quatro vezes maior que sua semente e sem anomalias em seus cotilédones, epicótilo e hipocótilo (NORONHA et al., 2018). Para o Índice de Velocidade da Germinação (IVG), comprovou-se que os lotes se apresentam bem uniformes, e que a medida em que acontece a deterioração das sementes, a um pequeno aumento da velocidade da germinação até um certo período (figura 3).

FIGURA 3. Índice de Velocidade da Germinação de sementes de Ceiba speciosa em função da diferenciação de matrizes. 8

y = -0,955x2 + 6,215x - 2,58 R² = 0,9931

7 6

IVG

5 4 3 2 1 0 0

1

2

3

4

Diferenciação de lotes

Esta limitação da velocidade germinativa, pode ser justificado pela presença de uma espessura densa de mesocarpo que envolve toda a superfície da semente, inibindo a entrada de água para o processo pré-germinativo.


Uma vez comparado os valores expressos na análise de condutividade elétricas dos lotes comparados pela pesquisa, nota-se que não houve diferença estatísticas entre os lotes, de modo que o valores expressaram em média de 0,057 e 0,087 µS.cm-1.g-1. Justificasse a não diferenciação dos lotes, devido a semente apresentar uma estrutura com muitos envoltórios, o que restringe a perda destes solutos.

O desenvolvimento desses envoltórios nas sementes ocorre por meio de integumentos do óvulo, resultantes dos tegumentos tégmen (barreira interna) e testa (barreira externa) composta de uma camada de células paliçádicas de paredes espessas, denominadas macroesclereídeos, dispostas de forma alongada perpendicularmente à superfície da semente (MATOS et al., 2015). Elevados valores médios para a condutividade elétrica podem estar relacionados ao modo de armazenamento adotado e ao aumento do tempo de EA, podem estar também relacionados ao volume de água destilada do meio de embebição adotado no trabalho (ATAIDE et al., 2012).

4. CONCLUSÕES O condicionamento e a época de coleta das sementes de matrizes de C. speciosa, afetam diretamente a viabilidade e propagação das sementes da espécie, sendo necessários novas técnicas metodológicas, para a diferenciação de matrizes com maior qualidade genética, fisiológica e sanitária para os sistemas de produção florestais e comercial.

REFERÊNCIAS ATAÍDE, G.M.; FLÔRES, A.V.; BORGES, E.E.L.; RESENDE, R.T. Adequação da metodologia do teste de condutividade elétrica para sementes de Pterogyne nitens Tull. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, Recife, v. 7, n. 4, p.635-640, dez. 2012. BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instruções para análise de sementes de espécies florestais, Brasília: MAPA, 2013. 98p. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes. Brasília: Mapa/ACS, 2009. 399p. CARVALHO, Leticia Renata; SILVA, Edvaldo Aparecido Amaral; DAVIDE, Antonio Claudio. Classificação de sementes florestais quanto ao comportamento no armazenamento. Revista Brasileira de Sementes, Lavras – MG, v. 28, n. 2, p. 15-25, 2006. JAVORSKI, Maicon et al. Image analysis to evaluate the physiological potential and morphology of pearl millet seeds. Journal of Seed Science, v. 40, n. 2, 2018. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/jss/v40n2/2317-1545-jss-40-02-127.pdf>. Acesso em 15 de Out de 2018. KRZYZANOWSKI, F. C. VIEIRA, R. D. Teste de condutividade elétrica. In: KRZYZANOWSKI, F. C.; VIEIRA, R. D.; FRANÇA-NETO, J. B. (Ed.). Vigor de sementes: conceitos e testes. Brasília: ABRATES, 1999. p. 4.1-4.26. MAGUIRE, J. D. Speed of germination aid in selection and evaluation for seedling emergence and vigor. Crop Science, Madison, v. 2, n. 2, p.176-77, 1962. MARCOS-FILHO, J. Fisiologia de sementes de plantas cultivadas. Londrina: Abrates. 2015. 660p.

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MARTINS, João Paulo Rodrigues et al. Crescimento e aspectos sintomatológicos na aclimatização de ipê-roxo. Cerne, v. 17, n. 4, 2011. MATOS, A. C. B. et al. Physiological, physical and morpho-anatomical changes in Libidibia ferrea ((Mart. ex Tul.) LP Queiroz) seeds after overcoming dormancy. Journal of Seed Science, Viçosa, MG, v. 37, n. 1, p. 29-32, 2015. NAKAGAWA, J. Testes de vigor baseados no desempenho das plântulas. In: Krzyzanowski, F.C.; Vieira, R.D.; França Neto, J.B. (Eds.). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: Abrates, 1999. p. 2-1-2-24. NETO, A. R., & de PAULA, R. C. Variabilidade entre árvores matrizes de Ceiba speciosa St. Hil para características de frutos e sementes. Revista Ciência Agronômica, v. 48, n. 2, p. 318-327. 2017. NETO, Antonio Roveri. Divergência genética entre árvores matrizes de ceiba speciosa st. Hil. Para características de frutos e sementes. 2014. Dissertação (Mestrado em Agronomia) Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2014. NORONHA, B. G., MEDEIROS, A. D., & PEREIRA, M. D. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE Moringa oleifera Lam. Ciência Florestal, v. 28, n. 1, p. 393-402. 2018. OLIVEIRA, S. A. G. et al. Estimation of genetic parameters of Plukenetia volubilis L. seed germination. Revista de Ciências Agrárias, v. 56, p. 49-54, 2013. SAS Institute. Statistical analysis system: getting stared with the SAS learning. Cary: SAS, 2000. 81p. SILVA, Priscilla Fernandes da. Determinação da qualidade fisiológica de sementes de Ceiba speciosa (A. St.-Hil.) Ravenna armazenadas através do teste de envelhecimento acelerado. 2017. Monografia (Graduação em Engenharia Florestal) – Universidade de Brasília, 2017. SILVA, V. N. et al. Acca sellowiana O. Berg seed morphology evaluation by image analysis. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 35, n. 4, p. 1158-1169, 2013. WIKIPÉDIA. Mapa geográfico de São Rafael – Rio Grande do Norte. Disponível em: < https://commons.wikimedia.org/wiki/File:S%C3%A3o_Rafael_(RN)_e_munic%C3%ADpios_li m%C3%ADtrofes.svg>. Acesso em: 10 Mar 2020.

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Capítulo 02 CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DA CARNE MOÍDA BOVINA DE FRIGORÍFICOS DO MUNICÍPIO DE POMBAL-PB

SANTOS, Edilayane da Nóbrega Mestra em Tecnologia Agroalimentar Universidade Federal da Paraíba layane.nobrega@hotmail.com MATIAS, Emily Karolinne Albuquerque Engenheira de Alimentos Universidade Federal de Campina Grande emilly2235@hotmail.com LEITE, Iago Felipe da Silva Engenheiro de Alimentos Universidade Federal de Campina Grande iagofelipeeng3@gmail.com MORAIS, Evênia Fátima Fernandes Engenheira de Alimentos Universidade Federal de Campina Grande eveniamorais@gmail.com FEITOZA, João Vitor Fonseca Mestre em Tecnologia Agroalimentar Universidade Federal da Paraíba joaovitorlg95@hotmail.com

RESUMO O consumo de carne moída bovina é um hábito de muitos brasileiros, esse produto é mais prático e na maioria das vezes mais barato, ocupa boa parte do consumo diário da classe média do país, onde elaboram-se vários tipos de pratos como cachorros-quentes e hambúrgueres. Os locais de venda de carnes moídas geralmente apresentam condições higiênico-sanitárias precárias, principalmente em cidades do interior, onde a fiscalização é escassa. Em função disso, procurouse verificar as condições de higiene dos estabelecimentos de venda. Objetivou-se realizar um levantamento das condições higiênico-sanitárias de três frigoríficos do município de Pombal PB, aferindo o seu grau de contaminação microbiológica e dispondo-se a realizar melhorias em apenas um frigorífico. As amostras de carnes moídas foram coletadas e transportadas em material estéril e sob refrigeração para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos e para o Centro Vocacional Tecnológico da UFCG, campus de Pombal - PB. Foram realizadas análises de coliformes totais e termotolerantes, Escherichia coli, Salmonella sp., contagem de bactérias mesófilas e estafilococos coagulase positiva. As análises microbiológicas das carnes moídas quando comparadas a legislação vigente mostraram um nível elevado de contaminação evidenciando condições higiênico-sanitárias deficientes. Após a aplicação do curso de boas práticas em manipulação de alimentos no frigorífico selecionado, foi observado ausência de Escherichia coli e Salmonella sp., como também redução nos demais parâmetros. Contudo, ainda são necessárias ações de fiscalização que busquem minimizar ainda mais a contaminação deste tipo de alimento. PALAVRAS-CHAVE: Contaminação, patógenos, qualidade microbiológica.

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1. INTRODUÇÃO Em 2016 o Brasil foi o segundo maior produtor (16,3%), o segundo maior consumidor (13,7%) e o segundo maior exportador (19,2%) mundial de carne bovina, atrás apenas dos Estados Unidos (19,2%), (20,2%) e Índia (20,2%), respectivamente (DEPEC, 2018). Com base nesses dados, observa-se que a carne é um alimento muito consumido e que está muito presente, mesmo que em pequenas quantidades, na alimentação das populações de diversas regiões do mundo, pois, além de ser rico em proteínas, vitaminas e minerais (SILVA et al., 2015; FERREIRA; SIMM, 2012), possui um sabor muito agradável. Devido principalmente à sua variada composição química, elevada atividade de água (Aa) e pH próximo da neutralidade, a carne é um excelente meio para a proliferação de microrganismos que, quando não são bem controlados podem causar tantos prejuízos de ordem econômica quanto à saúde do consumidor (FERREIRA; SIMM, 2012). A carne pode ser comercializada de forma muito diversificada, inclusive moída. Segundo a Instrução Normativa n° 83, de 21 de novembro de 2003, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que aprova os regulamentos técnicos de identidade e qualidade de carne bovina em conserva (corned beef) e carne moída bovina), entende-se por carne moída o produto cárneo obtido a partir da moagem de massas musculares de carcaças de bovinos, seguido de imediato resfriamento ou congelamento (BRASIL, 2003). Essa carne, em especial, oferece maior risco de contaminação microbiológica, pois apresenta uma maior superfície de contato pela fragmentação dos tecidos responsáveis pela liberação de suco celular, além de sofrer maior manipulação e exposição ao ambiente (FERREIRA; SIMM, 2012; SILVA et al., 2015). A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 12, de 02 de janeiro de 2001, do Ministério da Saúde que aprova o regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos (BRASIL, 2001), define como parâmetro de qualidade microbiológica da carne moída a ausência de Salmonella sp. em 25 gramas de amostra, tendo em vista que essa bactéria está envolvida em diversos surtos alimentares em todo o mundo, provocando danos graves a saúde. Por ser uma commodity de risco, uma vez que a carne bovina moída é proveniente de diferentes carcaças, fornecedores e lotes de produção, se alguma destas fontes for contaminada durante o processamento, também pode ocorrer contaminação cruzada significativa durante a mistura e moagem (YEH et al., 2018). Estudos recentes têm investigado a ocorrência de contaminações microbiológicas ligadas a microrganismos patogênicos em carne moída, incluindo bactérias do grupo dos coliformes termotolerantes como a Escherichia coli e têm apontado mecanismos de prevenção para tais contaminações que são constantemente causadoras de doenças, (NEKOUEI et al., 2018; TALEBI et al., 2018; TORO et al., 2018; YEH et al., 2018). Em grande parte das vezes a deterioração deste alimento não está visível, não permitindo que o consumidor perceba quando a carne moída está imprópria para o consumo (FERREIRA; SIMM, 2012; SILVA et al., 2015).

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Por ser um alimento de consumo diário por grande parte da população brasileira, é importante conhecer os níveis de contaminação por microrganismos e a identificação dos mesmos para que haja uma avaliação das possíveis causas, dos riscos à saúde de quem consome e a tomada de medidas preventivas, no sentido de garantir a segurança alimentar dos consumidores (NUNES et al., 2003). Inspeções rotineiras são necessárias para averiguar os estabelecimentos que manipulam este tipo de alimento, averiguando e comparando sempre pelas resoluções que estabelecem os padrões de produção, conservação, manipulação, distribuição, entre outros. Logo, objetivou-se avaliar a qualidade microbiológica da carne moída comercializada em três frigoríficos do município de Pombal – PB e disseminar a importância das boas práticas de manipulação, propondo adequação técnica e estrutural para produção com qualidade higiênico-sanitária da carne moída.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Para a execução deste estudo, foram coletadas amostras de carne moída de três frigoríficos da cidade de Pombal-PB, identificados como F1, F2 e F3. As amostras foram coletadas em recipientes previamente esterilizados em autoclave a 120 ºC durante 15 minutos e transportadas sob refrigeração em bolsa térmica para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos (LMA) e para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos do Centro Vocacional Tecnológico (CVT), da Universidade Federal de Campina Grande, campus de Pombal- PB, onde foram realizadas as análises microbiológicas. As análises foram divididas em quatro lotes, sendo os dois primeiros antes do curso de boas práticas de manipulação de alimentos e os outros dois últimos lotes após o curso (para verificar se houve alteração na quantidade de microrganismos antes e depois da capacitação dos manipuladores), onde estes últimos lotes foram utilizados apenas de um frigorífico. As amostras foram submetidas à análise de qualidade higiênico-sanitárias, avaliando os parâmetros de coliformes totais e termotolerantes (NMP/g), em triplicata; Escherichia coli e Salmonella sp/25 g (presença ou ausência), contagem total de bactérias mesófilas e estafilococos coagulase positiva, em duplicata, conforme metodologia descrita pela APHA (2001). Todo o material a ser utilizado e os meios de cultura necessários foram previamente preparados e esterilizados. As bancadas e as mãos foram higienizadas com álcool a 70%, sendo que todos estes procedimentos foram tomados a fim de evitar contaminações externas à amostra. Os resultados obtidos para Salmonella sp. foram comparados com os limites estabelecidos na Resolução RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001). As amostras coletadas foram analisadas individualmente.

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Determinação de microrganismos do grupo coliformes totais, coliformes termotolerantes e Escherichia coli Homogeneizou-se 25 g das amostras com 225 mL de água peptonada a 0,1 % (10-1). Alíquotas de 1 mL foram inoculadas em outros dois tubos cada, contendo 9 mL de água peptonada a 0,1 % (10-2 e 10-3). 1 mL de cada diluição (10-1, 10-2 e 10-3) foram inoculadas em três tubos contendo 9 mL de Caldo Lauryl Sulfato Triptose e incubados a 35 ± 2 °C/24 - 48 horas. Os tubos que apresentaram resultado positivo foram submetidos ao teste confirmativo no Caldo Verde Bile Brilhante, incubados a 35 ± 2 °C/24 - 48 horas. Os tubos positivos foram submetidos ao teste confirmativo pelo caldo Escherichia coli para determinação de coliformes termotolerantes, onde foram incubados em banho-maria a 44,5 ± 2 ºC /24 - 48 horas. Para a quantificação foi utilizada a técnica do Número Mais Provável por grama da amostra (NMP/g). Para determinação da presença de Escherichia coli, utilizou-se o método em superfície no meio de cultura Ágar Eosina Azul de Metileno (EMB), incubadas a 35 ± 2 ºC /48 horas.

Determinação de Salmonella sp/25 g, total de bactérias mesófilas e estafilococos coagulase positiva A contagem total de bactérias mesófilas e estafilococos coagulase não são de análise obrigatória pela Resolução RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001), contudo, entende-se que sua identificação é essencial para atestar a qualidade do produto. Para determinação, utilizou-se o método em superfície nos meios de cultura Ágar Ramback (30 ± 1 ºC por 48 horas), Ágar Nutriente e Ágar Manitol, respectivamente, incubadas a 35 ± 2 ºC por 48 horas.

Aplicação do chek list e curso de boas práticas de manipulação de alimentos Para a aplicação do check list foram realizadas visitas e observações visuais nos frigoríficos. O check list aplicado continha 24 itens de verificação elaborados de acordo com itens específicos de estabelecimentos tipo frigorífico. O curso de boas práticas em manipulação de alimentos foi elaborado de acordo com as não conformidades encontradas na análise do check list, sendo o conteúdo de todo curso baseado na Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004 (BRASIL, 2004).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dos dois primeiros lotes (lotes obtidos antes da capacitação dos manipuladores) das análises das carnes moídas dos três frigoríficos estão dispostos na Tabela 1.

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Tabela 1 – Resultados dos dois primeiros lotes (antes da capacitação dos manipuladores) de carne moída de três frigoríficos da cidade de Pombal – PB. Parâmetros Coliformes totais (NMP/g)

Coliformes termotolerantes (NMP/g)

F1

>1,10 x 103

2,80 x 10

F2

2,40 x 102

2,40 x 102

F3

>1,10 x 103

2,10 x 102

F1

>1,10 x 103

>1,1 x 103

F2

>1,11 x 103

1,1 x 103

F3

>1,10 x 103

>1,1 x 103

Frigo rífico s

Escher Salmone ichia lla sp/25 coli g

Contagem total de bactérias mesófilas (UFC/g)

Estafilococos coagulase positiva (UFC/g)

Present Presente e Present Presente e Present Presente e

2,58 x 105

4,84 x 104

4,23 x 104

1,51 x 102

2,53 x 103

3,39 x 103

Present Presente e Present Presente e Present Presente e

9,85 x 103

1,19 x 104

9,64 x 102

7,70 x 102

2,43 x 102

1,19 x 104

Prime iro lote

Segu ndo lote

Padrã Ausente o* NMP/g – Número Mais Provável por grama; UFC/g – Unidade Formadora de Colônia por grama. *Conforme RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001).

Segundo a RDC nº 12 (BRASIL, 2001) somente é exigida análise para Salmonella sp/25g, o que inviabiliza uma comparação para os demais grupos. Segundo Chouman et al. (2010) coliformes totais e termotolerantes compreendem um grupo de bactérias indicadoras de contaminação utilizadas na avaliação da qualidade higiênico-sanitária de alimentos prontos para consumo. Nas amostras analisadas de coliformes totais, os resultados variaram de 2,40 x 102 (F2 no primeiro lote) a >1,1 x 103 em todos os frigoríficos no segundo lote. Para coliformes termotolerantes, variaram de 2,8 x 10 (F1 no primeiro lote) a >1,1x103 (no segundo lote), o que evidencia que havia contaminação do alimento com material de origem fecal. Resultados semelhantes foram encontrados por Ferreira e Simm (2012), Damer et al. (2014) e Silva et al. (2015) em carnes moídas comercializadas em açougues dos municípios de Pará de Minas - MG e Campina Grande - PB, respectivamente. Houve presença de Escherichia coli e Salmonella sp. em todas as análises, logo as carnes moídas comercializadas estavam impróprias para venda. A presença desses microrganismos em alimentos direcionados ao consumo humano é inaceitável, tendo em vista os riscos à saúde que causam (ABRANTES et al., 2014). Segundo Bezerra et al. (2012), produtos como este devem apresentar condições apropriadas de consumo, entretanto, a manipulação a que são submetidos propicia contaminação pela falta de aplicação das boas práticas.

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Para contagem total de bactérias mesófilas e estafilococos coagulase positiva, é notório valores altos de unidades formadoras de colônias por grama de carne moída, evidenciando a necessidade de adequações que contribuam para minimizar os riscos de DTA’s (Doenças Transmitidas por Alimentos). O manuseio direto do produto em mercados públicos contribui para o acréscimo nas contagens de estafilococos coagulase positiva. Esse microrganismo está presente nas mãos, pele e fossas nasais do homem e nem sempre os manipuladores cultivam hábitos higiênicos adequados (FREITAS et al., 2004). As bactérias do gênero Staphylococcus, principalmente aquelas produtoras de coagulase, como Staphylococcus aureus, são as mais frequentemente envolvidas nos casos de intoxicação alimentar, resultante da produção de enterotoxinas relativamente resistentes ao calor e às enzimas proteolíticas. Os sintomas da intoxicação são náuseas, vômitos, cólicas abdominais e diarreias, que surgem entre duas a quatro horas após a ingestão do alimento contaminado (CHOUMAN et al., 2010). A contaminação da carne moída também pode ocorrer durante a moagem, uma vez que nesta etapa os cortes já têm sido bastante manipulados, o que facilita sua contaminação. Depois do processo da moagem, a carne possui maior área de contato para ação dos microrganismos, e, mesmo sendo armazenada sob refrigeração, microrganismos deteriorantes podem continuar a se desenvolver (JAY, 2005; DAMER et al., 2014). Após identificação da contaminação, foi escolhido somente o frigorífico 3 para interferências. Na Figura 1 podemos observar os resultados para os itens conformes e não conformes obtidos pela aplicação do check list.

Figura 1. Itens conformes e não conformes verificados no check list aplicado no F3.

Fonte: Autoria própria (2019).

Pode-se observar que os itens não conformes (58%) foram superiores aos conformes (42%), demonstrando que o estabelecimento não atende a maioria dos itens analisados, necessitando de adequações imediatas para redução dos riscos de possíveis fontes de contaminação para os alimentos comercializados no estabelecimento.

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Com base nesses resultados e a análise de cada item não conforme, foi realizado no estabelecimento o curso de boas práticas em manipulação de alimentos, onde foram abordados assuntos como correta higienização de utensílios, armazenamento das carnes e conscientização da importância de uma estrutura correta as necessidades diárias da demanda do estabelecimento e dos produtos comercializados. A Tabela 2 apresenta os resultados após o curso de boas práticas de manipulação de alimentos no F3. Tabela 2 – Resultados dos dois últimos lotes (após a capacitação dos manipuladores) de carne moída do F3 após o curso de boas práticas de manipulação de alimentos. Parâmetros Frigo Coliformes Escheri Estafilococos rífico Coliformes Salmonel Totais de bactérias totais termotolerantes chia coagulase s la sp/25 g mesófilas (UFC/g) (NMP/g) (NMP/g) coli positiva Terceiro lote F3

9,30 x 10

4,30 x 10

Ausente

Ausente

1,81 x 102

1,16 x 10

Quarto lote F3 5,10 x 10 3,10 x 10 Ausente Ausente 4,43 x 10 1,89 x 10 Padrã Ausente o* NMP/g – Número Mais Provável por grama; UFC/g – Unidade Formadora de Colônia por grama. *Conforme RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001).

É possível verificar diminuição dos índices de contaminação em todos os parâmetros microbiológicos analisados. Coliformes totais passou de >1,10 x 103 NMP/g, valor máximo verificado nos primeiros lotes, para 5,10 x 10 NMP/g e coliformes termotolerantes passou de >1,10 x 103 NMP/g, valor máximo verificado nos últimos lotes, para 4,30 x 10 NMP/g, evidenciando uma grande redução dos grupos de coliformes. Observa-se ausência de Escherichia coli e Salmonella sp., bem como redução de totais de bactérias mesófilas e estafilococos coagulase positiva, indicando de forma clara que os manipuladores do F3 atenderam aos itens abordados no curso de boas práticas em manipulação de alimentos, demonstrando a correta higienização das mãos e dos utensílios que entram diretamente em contato com a carne moída.

4. CONCLUSÕES Após a capacitação dos manipuladores de alimentos do frigorífico selecionado, constatouse que os resultados obtidos foram satisfatórios, pois houve redução dos microrganismos nos dois últimos lotes, em comparação com os dois primeiros lotes e para o único parâmetro de análise microbiológica estabelecido na legislação vigente para carne moída, foi observado sua ausência após a capacitação, o que comprova que os manipuladores utilizaram as boas práticas de manipulação de alimentos.

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REFERÊNCIAS APHA – AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Committee on Microbiological for Foods. Compendium of methods for the microbiological examination of foods. 4.ed. Washington: American Public Health Association, 2001. 676p. ABRANTES, M. R.; SOUSA, A. C. P.; ARAÚJO, N. K. S. de; SOUSA, Ê. S. de; OLIVEIRA, A. R. M. de; SILVA, J. B. A. da. Avaliação microbiológica de carne de charque produzida industrialmente. Arquivos do Instituto Biológico, v. 81, n. 3, p. 282–285, 2014.

20 BEZERRA, M.V.P.; ABRANTES, M.R.; SILVESTRE, M.K.S.; SOUSA, E.S.; ROCHA, M.O.C.; FAUSTINO, J.G.; SILVA, J.B.A. Avaliação microbiológica e físico-química de linguiça toscana no município de Mossoró, RN. Arquivo Instituto Biológico. v.79, n.2, p.297- 300, 2012. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 12, de 02 de Janeiro de 2001. Aprova o Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da União. Poder Executivo, 2001. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa nº 83, de 21 de novembro de 2003. Aprova os regulamentos técnicos de identidade e qualidade de carne bovina em conserva (corned beef) e carne moída bovina. Diário Oficial da União. Poder Executivo, 2003. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Diário Oficial da União. Poder Executivo, 2004. CHOUMAN, K.; PONSANO, E. H. G.; MICHELIN, A. F. Qualidade microbiológica de alimentos servido sem restaurantes self-service. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v. 69, p. 261266, 2010. DAMER, J. R. S.; DILL, R. E.; GUSMÃO, A. A.; MORESCO, T. R. Contaminação de carne bovina moída por Escherichia coli e Salmonella sp. Revista Contexto & Saúde, v. 14 n. 26, p. 20-27, 2014. DEPEC – Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos. Pecuária. Disponível em: < https://www.economiaemdia.com.br/EconomiaEmDia/pdf/infset_pecuaria.pdf>. Acessado em: 08 set. 2018.


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Capítulo 03 CONTAGEM DE BOLORES E LEVEDURAS DAS FARINHAS DE MANDIOCA COMERCIALIZADAS NO MUNCIPIO DE CODÓ-MA

SOUSA, Núbina Fernanda Carvalho Pós-graduando em Agropecuária sustentável Instituto Federal do Maranhão - Campus Codó/MA nubinafernanda@hotmail.com COSTA, Ticiana Leite MSc Engenharia Agrícola Instituto Federal do Maranhão – Campus Codó/MA ticiana.costa@ifma.edu.br BONFIM, Livia Oliveira MSc Alimentos e nutrição Instituto Federal do Maranhão – Campus Codó/MA livia.bonfim@ifma.edu.br Gonçalves, Claúdio Paulino MSc Tecnologia de Alimentos Instituto Centro de Ensino Tecnológico Centec- FATEC Sertão Central claúdiogoncalvespaulino@gmail.com

RESUMO A mandioca é uma raiz que tem papel fundamental na alimentação humana, seu maior consumo se dá na forma de farinhas. As farinhas são produzidas em sua maioria por pequenos produtores em estabelecimentos de infraestrutura inadequadas e comercializadas em feiras livres sob condições de armazenamento também inadequadas. Os fungos estão entre os microrganismos que podem contaminar os produtos derivados da mandioca e assim ocasionar deterioração do produto e danos à saúde do consumidor. O trabalho teve o objetivo de realizar a contagem de bolores e leveduras em farinhas de mandioca comercializadas no município de Codó/MA, a fim de avaliar a segurança do seu consumo. Para a contagem de bolores e leveduras, foram adquiridas 17 amostras de farinha de 1kg, provenientes de diferentes comerciantes de feiras livres. As amostras foram acondicionadas em sacos plásticos, levedas ao laboratório Multidisciplinar do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, Campus Codó, onde foram submetidas as análises, conforme a metodologia descrita por Silva et al., 2010. Verificou-se que 100% (17 amostras), das amostras indicaram contaminação por fungos com uma elevada contagem, sendo que em 100% (17 amostras) foi possível identificar a presença do gênero Aspergillus e em 41,17% (7 amostras) a presença do gênero Penicillium, o que pode ser um risco aos consumidores. Conclui-se que a farinha comercializada no município de Codó/MA, está fora dos padrões microbiológicos estabelecido pela legislação que recomenda o limite de 104 UCF/g e por tanto, constituindo-se como um potencial risco a saúde dos consumidores. PALAVRAS CHAVE: Análises microbiológicas; comércio; Manihot esculenta Crantz.

1. INTRODUÇÃO A mandioca é considerada a maior fonte mundial de carboidratos para a alimentação e pode ser aproveitada em sua totalidade, ou seja, desde as folhas às raízes. As raízes ganham maior valor, pois é a parte rica em carboídratos, o que as torna uma fonte importante de energia (CASTRO; MOREIRA, 2016). O cultivo da mandioca se dá principalmente por pequenos

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agricultores em mais de 100 países, de clima tropicais e subtropicais, obtendo grande participação na geração de emprego e renda (GOMES; MARINHO, 2017). Nos anos de 1990 a 2017 as regiões Norte e Nordeste (34,6% e 37,4%, respectivamente) do Brasil, possuíam as maiores áreas plantadas de mandioca. Em relação a produção, a região Norte é a principal produtora com 36,1% da safra nacional, seguida pela região Nordeste com 25,1% e pela região Sul, representado a terceira força produtora com 22,1% da produção nacional. As regiões Sudeste e Centro-Oeste possuem as menores produções, com respectivamente 10,9% e 5,8% no ano de 2017 (IBGE, 2017). O Maranhão, a Bahia, e o Ceará são os maiores produtores da região nordeste e o Pará é o principal da região norte (GROXKO, 2012). Nestas regiões, a maior parte da produção é destinada para o consumo humano em forma de farinha, goma, beiju e tapioca (FEITOSA; LEITE; BARROS, 2015). A farinha é o principal produto oriundo da mandioca, classifica em grupos, classes e tipos. A divisão em grupos é feita de acordo com o processo tecnológico empregado na produção, para tanto, existe três classificações: A seca, a d'água e a bijusada. As classes das farinhas são definidas de acordo com a granulométria, podendo ser fina, média ou grossa, quanto ao tipo, pode ser definido em 3 tipos ou tipo único de acordo com os parâmetros estabelecidos na normativa n° 52 de 8 de novembro de 2011. Esta mesma normativa também estabelece as farinhas fora do tipo, que por não se enquadrarem nos parâmetros, podem ser comercializadas desde que esteja implícito na embalagem. As farinhas que apresentarem morfo ou aspecto de fermentação, odor estranho, mau estado de conservação e presença de inseto, são consideras impróprias para o consumo (BRASIL, 2011). A produção de farinhas, se dá nas chamadas “casas de farinhas”, sob o modo artesanal de fabricação, em que cada produtor tem o seu próprio método. É devido a este fator, que as farinhas de mandioca são consideradas um produto heterogêneo quanto aos parâmetros de qualidade, e ainda, que o modo de fazer artesanal possibilita uma grande contaminação microbiana durante o processo, consequência da má infraestrutura do local e da falta das Boas Práticas de Fabricação (DÓSEA et al, 2010). São nas feiras livres aonde a maior parte da produção é tradicionalmente comercializada, no entanto, em virtude da forma inadequada em que os sacos de farinhas de mandioca são expostos e das condições higiencossanitárias do local, é que as farinhas podem ser contaminadas. Para Matos et al., (2015), as feiras livres apresentam condições higiênicas de comercialização insatisfatórias, constituindo-se como um importante fator no processo de contaminação e proliferação de doenças de origem alimentar, devendo haver medidas corretivas, a fim de reduzir os riscos nesses alimentos.

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Os fungos comumente provocam deterioração de grãos e cereais armazenados além de produzirem micotoxinas causando perdas econômicas e tornando esses alimentos impróprios para o consumo. É comum detectar em alimentos como farinhas e grãos o desenvolvimento da microbiota fúngica constituída em sua maioria por bolores do gênero Aspergillus e Penicillium, conhecidos por serem fungos de armazenamento, e são comumente associados a produção de micotoxinas. Assim, a formação de micotoxinas pelos fungos micotoxigênicos deve ser evitada, através do controle dos parâmetros de armazenamento, tais como temperatura e umidade relativa e a presença desses fungos em alimentos é indicativo de falhas durante as etapas de processamento e armazenamento (PINTO; LANDGRAF; FRANCO, 2018; SILVA et al., 2009; MAZIEIRO; BERSOT, 2010). Dada a importância do consumo da farinha de mandioca pelos brasileiros e a preocupação com a contaminação de origem fúngica, esse trabalho teve como objetivo realizar a contagem de bolores e leveduras em farinhas de mandioca comercializadas em feiras livres da cidade de Codó/MA. 2. MATERIAL E METODOS A pesquisa foi realizada na cidade Codó/MA, nos meses de dezembro a fevereiro de 2020, nos períodos matutino e vespertino. As análises microbiológicas foram realizadas conforme metodologia de Silva et al., 2010. Para contagem de bolores e leveduras, inicialmente foram coletadas 17 amostras de farinhas de mandioca, contendo 1kg, provenientes de diferentes comerciantes de feiras livres da cidade de Codó/MA, após as amostras foram previamente acondicionadas em sacos plásticos de 1kg e levadas ao laboratório multidisciplinar do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão- campus Codó/MA. Para a realização da contagem de bolores e leveduras nas amostras de farinha, foram pesadas 10g da amostra e diluídos em 90ml de água peptonada 0,1% previamente esterilizada, em seguida foi homogeneizada, e logo obteve-se a primeira diluição (10-1), seguindo com a sequência de diluições seriadas, onde repassou-se 1ml das diluições para tubos de ensaio esterilizados contendo 9ml de água peptonada 0,1%, assim obteve-se as diluições 10-2 e 10-3. Em seguida, utilizou-se o método de plaqueamento em superfície para inoculação das placas. Para isso, utilizou-se placas de Petri previamente esterilizadas contendo meio Ágar Batata Dextrose (BDA), onde foram retiradas com o auxílio de uma alça de platina, 0,1ml das diluições e realizado a estriagem nas placas em duplicata. Após a inoculação, as placas foram encubadas em estufa, sem serem invertidas, durante 5 dias em temperatura de 28°C. Após o período, realizou-se a contagem das colônias, para isso, foi selecionado as placas contendo entre 20 a 300 colônias e em seguida fez-se o cálculo do UFC/g (Unidades formadoras de colônias por grama), onde multiplicou-se o número de colônias pelo inverso da diluição e por dez conforme Silva et al., 2010).

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Para identificação dos fungos filamentosos dos gêneros Aspergillus e Penicillium foi observada as características macroscópicas das colônias, que avalia as características visíveis a olho nu, e microscópicas, na qual verifica-se a presença de microestruturas somáticas e reprodutivas típicas de gêneros de fungos, para tanto, retirou-se pequenas partes das colônias para serem observadas em um microscópico óptico. 3. RESULTADOS E DISCUSÕES Na Tabela 1 observam-se os resultados da contagem padrão de bolores e leveduras das farinhas de mandioca comercializadas no município de Codó/MA. Verificou-se nas amostras analisadas que as contaminações variaram de 102 a 106 UFC/g. Mesmo que a atual legislação RDC N° 12 (BRASIL, 2001) não estabeleça limites para a contagem de bolores e leveduras, a antiga portaria da ANVISA, n° 451 (BRASIL, 1997), estabelecia limites de 10 4 UFC/g para amidos, féculas, fubá e farinhas. Considerando este padrão, as farinhas F1, F3, F4, F5, F6, F7, F8, F9, F10 e F17 encontram-se acima do limite, com contagens de 105 e 106 e por tanto, apresentam um potencial risco a saúde dos consumidores. Nas feiras livres do município de Codó, foi possível observar a falta de práticas adequadas durante as etapas embalagem, armazenamento e comercialização do produto. Nas condições de acondicionamento e armazenamento, as farinhas comercializadas na feira-livres eram acondicionadas em sacos de ráfia, armazenadas sob o chão ou sob esteiras de madeira, em condições higiênicas inadequadas. Para a comercialização os comerciantes expõem os sacos de farinhas abertos, em locais ao ar livre durante o dia inteiro, muito próximos de vias de acesso e esgoto, o que pode contribui para a elevada contaminação das farinhas. Souza, Figueiredo e Santana (2015), obteve resultados diferentes aos encontrados no estudo ao analisarem a qualidade microbiológica da farinha de mandioca comercializada na região sudoeste da Bahia, onde obtiveram resultados inferiores ao limite de 104 UCF/g, estando assim, dentro do padrão. No entanto, os autores ressaltam que apesar das amostras de farinhas de mandioca analisadas estarem dentro do padrão, a presença desse microrganismo representa um perigo à saúde pública, pois alguns gêneros de fungos filamentosos produzem micotoxinas que podem ocasionar doenças graves.

Tabela 1. Resultado da contagem de bolores e leveduras das farinhas de mandioca comercializadas em feiras livres no município de Codó/MA. Amostras

Bolores e leveduras UFC/g

F1

1,4 x 105

F2

4,9 x 104

F3

1,02 x 105

F4

4,16 x 106

F5

4,19 x 106

25


F6

5,25 x1 06

F7

2,4 x 105

F8

2,23 x 106

F9

2,14 x 105

F10

1,35 x 106

F11

2,6 x 103

F12

8 x 102

F13

9,5 x 102

F14

1,05 x 104

F15

1,4 x 104

F16

7,2 x 103

F17

2,7 x 105

Fonte: Próprio autor, 2020.

Mundim (2014) e Rodrigues et al., (2015), afirmam que na etapa de armazenamento ocorre o maior risco de contaminação, devido a inadequação da armazenagem, pois a comercialização da farinha ocorre em sacos abertos em contato direto com o ar, além do agravante clima quente e úmido, que contribui significativamente para o desenvolvimento de microrganismos, tais como os fungos, que podem se desenvolver em alimentos com baixa, umidade e baixa atividade de água, como a farinha de mandioca. Jesus et al., (2018), ao analisarem a qualidade microbiológica de farinha de mandioca comercializadas em feiras livres no município de Cruzeiro do Sul/Acre, obtiveram níveis de contaminações dentro do limite de 104 UFC/g, resultados também diferentes aos encontrados nesta pesquisa. Os fungos estão entre os principais contaminantes dos produtos derivados da mandioca, sobretudo os filamentosos que são produtores de micotoxinas (PONTES, 2012). As micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por fungos filamentosos e frequentemente encontrados em produtos como amendoim, nozes, milho, trigo, arroz e vários outros cereais e alimentos. As toxinas podem apresentar atividade carcinogênica, hepatotóxica, nefrotóxica, imunossupressora e/ou mutagênica (PRADO, 2017). Os estabelecimentos produtores de farinhas, também contribuem para a contaminação do produto, pois a maior parte deles possui uma estrutura rústica, sem a mínima infraestrutura e condições higiênicossanitárias adequadas, deixando a qualidade deste produto a desejar (BONFIM; DIAS; KUROZAWA, 2013). Em uma pesquisa realizado por Cereda e Vilpoux (2010), em unidades de fabricação de farinha, foi constatado a presença de animais nos locais, ausência de limpeza dos equipamentos e processamento em locais sem revestimento de piso, que em grande parte delas, o piso é feito de terra e não há paredes. Na figura 1 observa-se a ilustração de diferentes colônias de fungos em amostras de farinhas comercializada em feiras livres da cidade de Codó/MA. Verificou-se o crescimento de vários tipos de colônias de fungos filamentosos com aspectos macroscópico de micélios algodonosos e aveludados, apresentando pigmentos variados de preto, verde, amarelo e laranja, além de apresentarem formas também variadas. Quanto aos aspectos macroscópicos das colônias de leveduras, observou-se semelhante diversidade de forma e cor.

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Figura 1 - Ilustração de diferentes colônias de fungos em amostras de farinhas de mandioca comercializadas em feiras livres da cidade de Codó/MA.

27 Fonte: Próprio autores, 2020.

Lima et al., (2020), ao analisarem a qualidade microbiológica de farinhas de mandioca em Recife/Pernambuco, obtiveram resultados semelhantes aos encontrados no estudo, pois também observaram a presença de colônias variadas, ressaltando que resultados semelhantes apresentam um indício de contaminação por vários gêneros de fungos. Na figura 2, observa-se estruturas microscópicas dos fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium presentes em amostras de farinhas de mandioca comercializados em feiras livres da cidade de Codó/MA. Verificou-se a partir das colônias de fungos filamentosos observadas, através de um estudo macro e microscópico de suas estruturas, a presença dos gêneros Aspergillus em 100% (17) das amostras e Penicillium em 41,17% (07) das amostras. Figura 2 - Estruturas microscópicas dos fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium presentes em amostras de farinhas de mandioca comercializados em feiras livres da cidade de Codó/MA.

A) conídios característicos de espécies de fungos do gênero Aspergillus; e B) do gênero Penicillium. Fonte: Próprio Autores, 2020.

Os gêneros Aspergillus e Penicillium também foram encontrados em amostras de farinhas de mandioca em trabalhos realizados ao realizarem a identificação de fungos filamentosos em amostras de farinhas de mandioca, por Mesquita, Araújo e Pereira (2017) em amostras de farinhas de mandioca vendida em feiras do produtor na cidade de Macapá/AP e por Mundim (2014), em


amostras de farinhas de mandioca da região Amazônica. Resultados preocupantes, pois entre os fungos filamentosos o mais envolvidos na produção de micotoxinas são os do gêneros Aspergillus spp. que produzem a aflatoxina; Fusarium spp. produtores de fusariotoxina; Aspergillus alutaceus produtores de ocratoxinas e outros pertencentes ao gênero Penicillium, que ao serem ingeridas, provocam distúrbios gastrointestinais e o desenvolvimento de neoplasias (LEE et al., 2011).

4. CONCLUSÃO Conclui-se que todas as farinhas se encontravam contaminadas por fungos, considerada fora dos padrões microbiológicos estabelecido pela legislação que recomenda o limite de 104 UCF/g, por tanto impróprias para o consumo. Essas condições podem ser decorrentes das erradas práticas de colheita, processamento, embalagem, transporte, armazenamento e/ ou exposição dos produtos.

REFERÊNCIAS BONFIM, D. L.; DIAS, V. L. N.; KUROZAWA, L. E. Perfil higiênico-sanitário das unidades de processamento da farinha de mandioca em municípios da microrregião de Imperatriz, MA. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.15, n.4, p.413-423, 2013. BRASIL. Instrução Normativa Mapa 52/2011, de 8 de novembro de 2011. Estabelecer o Regulamento Técnico da Farinha de Mandioca. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 8 novembro. 2011. Disponível em: < http://www.cidasc.sc.gov.br/classificacao/files/2012/08/INM00000052.pdf >. Acesso em: 23/05/ 2019. BRASIL. Portaria n° 451 de 19 de setembro de 1997. Regulamento Técnico Princípios Gerais para o Estabelecimento de Critérios e Padrões Microbiológicos para Alimentos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 22 de setembro de 1997. Disponível em:< http://oads.org.br/leis/1337.pdf>. Acesso em: 23/05/2019. BRASIL. Resolução RDC n°12 de 02 de janeiro de 2001. ANVISA. Regulamento técnico sobre os padrões microbiológicos para alimentos. Disponível em:< http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2001/res0012_02_01_2001.html>. Acesso em: 23/05/2019. CASTRO, J. E. G de.; MOREIRA, C. A. L. Aspectos econômicos e sociais da cadeia produtiva da mandioca no Brasil. Rev. Cientifica FACPED, v.2 n.2, jan/dez 2016. CEREDA, M. P.; VILPOUX, O. Metodologia para divulgação de tecnologia para agroindústrias rurais: exemplo do processamento de farinha de mandioca no Maranhão. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional. v. 6, n. 2, p. 219-250, mai-ago/2010. DÓSEA, R. R.; MARCELLINI, P. S.; SANTOS, A. A.; RAMOS, A. L. D.; LIMA, A. S. Qualidade microbiológica na obtenção de farinha e fécula de mandioca em unidades tradicionais e modelo. Rev. Ciência Rural, Santa Maria, v.40, n.2, p.441-446, fev, 2010.

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Capítulo 04 CONTROLE ALTERNATIVO NA QUALIDADE DE SEMENTES DE ALGODOEIRO

SILVA, Edcarlos Camilo Pós-graduando em Agronomia Universidade Federal da Paraíba edcarloscamilo@bol.com.br SILVA, Hilderlande Florêncio Pós-graduando em Agronomia Universidade Federal da Paraíba hildafs@hotmail.com NASCIMENTO, Luciana Cordeiro Programa de Pós-Graduação em Agronomia Universidade Federal da Paraíba luciana.cordeiro@cca.ufpb.br

RESUMO A semente é um dos principais insumos agrícolas e sua qualidade é fator determinante para obtenção de plantas uniformes, vigorosas e sadias, refletindo diretamente no rendimento das culturas. Diante do exposto, objetivou-se avaliar a qualidade sanitária e fisiológica de sementes de algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) submetidas à tratamentos alternativos. As sementes utilizadas foram da cultivar BRS Rubi, as quais foram submetidas aos seguintes tratamentos: testemunha (sementes não tratadas), fungicida dicarboximida (240 g/100 kg de sementes), Amino Plus® (1,5 mL/L), Agrosilício® (3 g/L) e Fosfito de Potássio® (30 mL/10 L). As sementes foram submetidas aos testes de sanidade e germinação em delineamento experimental inteiramente casualizado. O tratamento com Agrosilício® mostrou-se eficiente na redução de Aspergillus sp., em sementes de algodoeiro cultivar BRS Rubi. Houve influência negativa do tratamento com Amino Plus® sob a qualidade fisiológica das sementes. PALAVRAS-CHAVE: Gossypium hirsutum L, Patologia de sementes, Vigor.

INTRODUÇÃO O algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) tem grande relevância na economia brasileira e mundial, principalmente por ser a principal fonte de matéria-prima das indústrias têxteis (CARVALHO et al., 2015). Contudo, para obtenção de maior produtividade, é necessário além de técnicas adequadas de cultivo, a utilização de sementes de alta qualidade, expressa pelo conjunto de atributos genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários (ROSSI et al., 2017). A qualidade sanitária das sementes pode ser reduzida com a presença de microrganismos em todas as etapas de produção. Os fungos são os principais responsáveis pela redução da qualidade fisiológica, podendo ser disseminado a longas distâncias através de sementes infectadas e serem transmitidos via semente-plântulas (SANTOS et al., 2016).

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Dessa forma, o tratamento de sementes é primordial para garantir a sanidade, tendo em vista que possíveis infecções podem resultar no aumento progressivo de uma determinada doença no campo, causando perdas significativas na produtividade, além de promover a contaminação do solo com patógenos radiculares, podendo no futuro, inviabilizar áreas de produção (PEREIRA et al., 2015). A eliminação ou redução desses patógenos tem sido eficientemente alcançada por tratamentos químicos (DOMENE et al., 2016), porém, a procura por alternativas para tratamento de sementes tem merecido destaque no manejo de doenças, por causarem menos danos ao meio ambiente e à saúde humana (COPPO et al., 2017). Diversos produtos alternativos contendo moléculas indutoras de resistência ou similar já foram desenvolvidos, por exemplo: Bion®, Actigard®, Messenger®, Elexa®, Milsana®, Oxycom®, Ecolife®40, Agro-mos®, dentre outros constituídos de fosfitos e silicatos foram estudados (JUNQUEIRA et al., 2011). Diante disso, objetivou-se com este trabalho avaliar a qualidade sanitária e fisiológica de sementes de algodoeiro submetidas à tratamentos alternativos.

MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Laboratório de Fitopatologia (LAFIT) pertencente ao Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais (DFCA) do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus II, Areia - PB, com sementes da cultivar BRS Rubi, adquiridas no município de Remígio - PB. As sementes foram submetidas ao processo de deslintamento químico por via úmida com ácido sulfúrico (H2SO4), na proporção de 7 kg de sementes para 1 litro de ácido concentrado (p.a.), durante 5 minutos, sendo posteriormente lavadas em água corrente (GABRIEL et al., 2015). Após secagem em temperatura ambiente 25 ± 2 °C, sementes malformadas e infestadas por pragas foram descartadas, e em seguida, acondicionadas em sacos de papel Kraft até a realização do experimento. Para o teste de sanidade foram utilizadas 200 sementes por tratamento, distribuídas em vinte repetições de dez sementes cada. As mesmas foram submetidas à assepsia com hipoclorito de sódio (1%) durante três minutos e dupla lavagem em água destilada esterilizada (ADE), em seguida imersas nos tratamentos por cinco minutos, utilizando um becker com excipiente ADE totalizando 100 mL de solução. Os tratamentos utilizados foram: testemunha (sementes não tratadas), fungicida dicarboximida (240 g/100 kg de sementes), Amino Plus ® (1,5 mL/L), Agrosilício® (3 g/L) e Fosfito de Potássio® (30 mL/10 L).

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Após a aplicação dos tratamentos, as mesmas foram incubadas em placas de Petri (90 x 15 mm) contendo dupla camada de papel filtro esterilizado, umedecido com ADE e mantidas em incubação a temperatura ambiente de 25 ± 2 °C por um período de sete dias. A identificação dos fungos associados às sementes foi realizada com o auxílio de microscópio estereoscópico óptico em comparação com literatura especializada (SEIFERT et al., 2011) e os resultados expressos em percentagem de sementes infetadas para cada fungo identificado. No teste de germinação foi utilizado papel Germitest® esterilizado em autoclave a 120 °C por 2 h e umedecido com ADE na proporção 2,5 vezes o seu peso seco, sendo dividido em quatro repetições de 50 sementes por tratamento. As sementes foram incubadas em câmara de germinação do tipo B.O.D (Biochemical Oxygen Demand) regulada à temperatura de 25 °C ± 2 e fotoperíodo de 12 horas. As avaliações foram realizadas do 4° ao 12° dia após a semeadura, de acordo com os critérios estabelecidos por Brasil, (2009). As variáveis analisadas foram percentual de germinação (GE), primeira contagem de germinação (PCG) determinada com base na percentagem de plântulas normais no quarto dia após a instalação do experimento e índice de velocidade de germinação (IVG), calculado pela fórmula proposta por Maguire (1962). IVG = G1/N1+ G2/N2+...+ Gn/Nn Em que, G1, G2 e Gn = número de plântulas normais germinadas a cada dia; N1, N2 e Nn = número de dias decorridos da semeadura a primeira e última contagem. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado. Os dados foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Para a análise da variável incidência de fungos os dados foram transformados para √y+1. O programa para a análise dos dados foi o software estatístico R® (R Core Team, 2019).

RESULTADOS E DISCUSSÃO O maior percentual de incidência de fungos associados as sementes de algodoeiro, foi representado por Aspergillus sp. (26,5%) e de menor expressão pelos fungos Penicillium sp. (6,0%), Cladosporium sp. (4,0%), Aspergillus niger (3,0%), Trichoderma sp. (3,0%), Nigrospora sp. (2,0%), Chaetomium sp. (1,5%), Botrytis sp. (1,0%) e Rhizopus sp. (0,5%) (Figura 1). A presença de fungos nas sementes, independentemente de sua transmissão, pode promover redução da qualidade fisiológica e a emergência desuniforme, levando a perda parcial ou total da produtividade, além do aumento significativo do custo de produção (PARSA et al., 2016).

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Rhizopus sp. Botrytis sp. Chaetomium sp. Nigrospora sp. Trichoderma sp. Aspergillus niger Cladosporium sp.

34

Penicillium sp. Aspergillus sp.

0

5

10

15

20

25

30

Percentual de incidência

Figura 1. Incidência de fungos em sementes de algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) cultivar BRS Rubi proveniente do município de Remígio, Paraíba.

Em relação a incidência de Aspergillus sp., observou-se que as sementes tratadas com fungicida apresentaram os menores percentuais (0,5%), diferindo significativamente dos demais tratamentos. O tratamento com Agrosílicio promoveu redução significativa de Aspergillus sp. (11,5%), quando comparado com Amino Plus (26,5%) e testemunha (23,5%), não diferindo do tratamento com Fosfito de Potássio (18,5%) (Figura 2). O silício tem por finalidade potencializar os mecanismos de defesa das plantas contra patógenos, atuando na formação de barreira física por meio do reforço celular, mediante resistência bioquímica ativada por enzimas de defesa, e a nível molecular, regulando a expressão de genes responsáveis nas respostas de defesa (WANG et al., 2017). Para a redução de Penicillium sp., apenas o tratamento com fungicida foi eficaz, constatando um controle de 100% quando comparado com os demais tratamentos. A maior incidência de Cladosporium sp. (4,0%) e Trichoderma sp. (3,0%) foram observadas no tratamento com Fosfito de Potássio, diferindo estatisticamente da testemunha e fungicida (Figura 2). MÜLLER (2015), relata efeito positivo dos fosfitos na redução da incidência de Chaetomium spp., Colletotrichum truncatum, Fusarium semitectum, Aspergillus sp., Penicillium spp., Mucor spp., e Nigrospora spp., em sementes de soja (Glycine max). Fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium são responsáveis por vários danos, podendo causar perda do poder germinativo, apodrecimento e aquecimento da massa de sementes, ocasionando aumento da taxa respiratória e produção de micotoxinas (CARVALHO; NAKAGAWA, 2012; CONCEIÇÃO et al., 2016). Espécies de Trichoderma têm sido


amplamente utilizadas no controle biológico, por ser um antagonista eficaz contra uma gama de fitopatógenos associados a sementes e ao solo, além de promover benefícios no crescimento de várias plantas agrícolas (CARVALHO et al., 2015; JUNGES et al., 2016; FARIAS et al., 2019). 30 a

Incidência de fungos (%)

25

a

20

ab

15 b

35

10 5

a

a

a a

ab ab

a

a

ab ab

c b b b

b b

Amino Plus Fosfito de Potássio Fungicida

Testemunha

0 Agrosilício

Tratamentos Aspergillus sp.

Penicillium sp.

Cladosporium sp.

Trichoderma sp.

Figura 2. Fungos associados às sementes de algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) cultivar BRS Rubi, tratadas com produtos alternativos. Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05).

Em relação ao índice de velocidade de germinação (Figura 3), observou-se que as sementes tratadas com Amino Plus apresentaram menor velocidade de germinação em relação às demais, não diferindo estatisticamente do tratamento com Agrosilício. No entanto, não foi possível constatar diferença significativa entre os tratamentos com Fosfito de Potássio, Fungicida, Testemunha e Agrosilício, evidenciando que esses tratamentos não influenciam na velocidade de germinação das sementes. O produto comercial Amino Plus, a base de aminoácidos, interferiu negativamente no vigor das sementes de algodoeiro (Figura 3). Este resultado pode ser ocasionado ao efeito fitotóxico que o produto pode causar as sementes em função da concentração utilizada. Efeito semelhante foi observado por Radke et al. (2015) ao avaliarem o desempenho fisiológico de sementes de cenoura (Daucus carota L.) tratadas com diferentes doses de aminoácido e constataram que a qualidade fisiológica é afetada negativamente para doses superiores a 400 mL por 100 kg de sementes. Por outro lado, Oliveira et al. (2016) avaliando diferentes lotes de sementes de milho hibrido Agrisure® verificaram que a utilização de Amino Plus, promoveu aumento significativo no vigor das sementes.


100 a 80

a

a

ab b

IVG

60

40

36

20

0 Agrosilício

Amino Plus Fosfito de Potássio

Fungicida

Testemunha

Tratamentos

Figura 3. Índice de velocidade de germinação de sementes de algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) cultivar BRS Rubi, tratadas com produtos alternativos. Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05).

Quanto ao percentual de germinação e primeira contagem (Figura 4), semelhante ao resultado do índice de velocidade de germinação, as sementes tratadas com Amino Plus apresentaram as menores médias, com valores de 65% para primeira contagem e 66% para germinação, não diferindo estatisticamente do tratamento com Agrosilício, com valores de 75% para primeira contagem e 76% para germinação. Radke et al. (2017) avaliando o desempenho fisiológico de lotes de sementes de melancia (Citrullus lanatus) tratadas com diferentes concentrações de Amino Plus, constataram que o tratamento influenciou na primeira contagem, apresentando resultados significativos no ponto de máxima na dose de 354 mL/100 kg de sementes para o lote L3 e 345 mL/100 kg para o lote L5. Quanto ao percentual de germinação, foi possível observar o ponto de máxima para o L3 400 mL/100 kg e para L5 563 mL/100 kg. Segundo os autores, os lotes se comportaram de maneira semelhante em relação a aplicação do produto, evidenciando que as características de desempenho da qualidade fisiológica sofrem alteração em função das concentrações utilizadas. Peske et al. (2012) destacam que o vigor das sementes é constituído por um conjunto de processos fisiológicos mediados por sinalizadores químicos, que envolvem a síntese, hidrólise, translocação e alocação de assimilados para o embrião.


100

a 80

ab

a a

ab b

a

a

a

b

%

60

40

37 20

0 Agrosilício

Amino Plus

Fosfito de Potássio

Fungicida

Testemunha

Tratamentos Primeira contagem de germinação

Germinação

Figura 4. Atributos fisiológicos de sementes de algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) cultivar BRS Rubi, tratadas com produtos alternativos. Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05).

CONCLUSÕES O tratamento com Agrosilício® mostrou-se eficiente na redução de Aspergillus sp., em sementes de algodoeiro cultivar BRS Rubi. Houve influência negativa do tratamento com Amino Plus® sob a qualidade fisiológica das sementes.

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Capítulo 05 CRESCIMENTO, SOLUTOS ORGÂNICOS E RELAÇÕES HÍDRICAS DE CULTIVARES DE AMENDOIM SOB DEFICIÊNCIA HÍDRICA NO SOLO

GRACIANO, Erika Socorro Alves Pesquisadora do Programa Capacitação Institucional Instituto Nacional do Semiárido erikagraciano@gmail.com LIMA, Danubia Ramos Moreira de Pós Graduação em Ciência do Solo Universidade Federal Rural de Pernambuco danubiaramosm@hotmail.com LADISLAU, Cinthya Mirella Pacheco Pós Graduação em Ciência do Solo Universidade Federal Rural de Pernambuco cinthya.m.pacheco@gmail.com SANTOS, Hugo Rafael Bentzen Pós Graduação em Ciência do Solo Universidade Federal Rural de Pernambuco hugobentzen@hotmail.com NOGUEIRA, Rejane Jurema Mansur Custódio Profª. Titular, Departamento de Biologia Universidade Federal Rural de Pernambuco rjmansur1@gmail.com

RESUMO Objetivou-se avaliar o efeito de diferentes disponibilidade hídrica do solo no crescimento, solutos orgânicos e nas relações hídricas de cultivares de amendoim (BR1 e BRS Havana). O experimento foi realizado em casa de vegetação com os seguintes tratamentos hídricos: disponibilidade hídrica diária (controle), disponibilidade hídrica a cada cinco dias e suspensão de disponibilidade hídrica, com período experimental de 43 dias. Os diferentes níveis de disponibilidade hídrica influenciaram negativamente o desenvolvimento das cultivares de amendoim BR1 e BRS Havana, causando reduções significativas no número de folhas, diâmetro da haste e altura das plantas. O que por consequência diminuiu toda produção de biomassa, sendo verificado um aumento na razão raiz/parte aérea. Os menores teores de solutos orgânicos tanto nas raízes como nas folhas, foram observados na BRS Havana, assim como os potenciais mais positivos, o que indica um ajustamento osmótico menos eficiente quanto a cultivar BR1; que apresentou altas concentrações de solutos e baixo potencial hídrico foliar, que favorece o movimento de água para dentro das células vegetais. Dessa forma foi constatado que a cultivar BR1 é mais adaptada para plantio em condições de deficiência hídrica no solo. PALAVRAS-CHAVE: Alocação de biomassa, potencial hídrico foliar, prolina.

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INTRODUÇÃO O amendoim (Arachis hypogaea L.) é uma oleaginosa, nativa da América do Sul de grande importância socioeconômica e alimentar, cultivada mundialmente em diferentes condições de clima e solo. Os maiores produtores mundiais de amendoim são a China, Índia e Estados Unidos com produção de 17,5, 6,5 e 3,3 bilhões de toneladas, respectivamente, na temporada de 2017/2018 (Sá et al., 2020). No Brasil, a produção de amendoim tem sido estimada em 575.700 toneladas, sendo a região Sudeste a maior produtora (547.600 t), seguida pelas regiões Sul (16.500 mil t), Centro-Oeste (7,9 mil t) e Nordeste (2,2 mil t) (CONAB, 2019). A alta produtividade de amendoim na região Sudeste está vinculada ao uso de tecnologias apropriadas com otimização de maquinários e insumos agrícolas, além da utilização de cultivares adaptadas. Na região Nordeste, a baixa produtividade pode está relaciona ao processo de produção da cultura que é realizada, na maioria, por pequenos e médios agricultores (Silva et. al., 2018) que vivem da agricultura familiar sem o uso de tecnologias avançadas. Apesar desse cenário, o cultivo de amendoim tem sido recomendado como uma alternativa agrícola para o Nordeste, devido a sua tolerância as condições climáticas adversas, fácil manejo e, principalmente, a grande demanda do mercado. A maior parte do Nordeste brasileiro está inserido na zona semiárida, caracterizada por apresentar condições climáticas com baixos níveis pluviais, alta variação temporal e espacial, temperaturas elevadas e altas taxas de evaporação (Santos et al., 2019), que favorecem períodos de seca com deficiência hídrica no solo durante grande parte do ano. A deficiência hídrica é considerada como um dos principais estresses abióticos mais recorrente das regiões semiáridas (Jacinto et al., 2019), que limita o crescimento e a produção de amendoim (Hu et al., 2016), provocando prejuízos socioeconômicos na região (Silva et al., 2014). A utilização de cultivares adaptadas a condição de deficiência hídrica nesta região é indispensável para manutenção e expansão das áreas cultivadas de amendoim com menor risco de safra. Neste aspecto, a seleção de cultivares mais tolerantes a deficiência hídrica tornou-se fundamental para obter uma cultura viável em regiões sujeitas a seca (Júnior et al., 2019). As plantas sob deficiência hídrica respondem conforme a intensidade do estresse de água no solo, o genótipo, o estágio de desenvolvimento e o tipo de órgão e célula considerados (Kelling et al., 2015). Alguns autores relatam que as plantas adaptadas desenvolvem processos morfológicos, fisiológicos e bioquímicos para reduzir os efeitos do estresse (Azevedo Neto et al., 2010; Pereira et al., 2012). A resposta mais evidente das plantas a deficiência hídrica é o decréscimo na área foliar, o que afeta diretamente a fotossíntese, além de outras respostas, como o fechamento dos estômatos, a aceleração da senescência e a abscisão das folhas (Taiz et al., 2017). A habilidade das plantas em manter o status hídrico, acumulando solutos orgânicos de baixo peso molecular no citosol, promovendo o ajustamento osmótico, também, é considerado uma resposta da planta a condições de deficiência hídrico no solo como estratégia adaptativa. Mudança na concentração de solutos orgânicos, como carboidratos solúveis, aminoácidos livres, proteínas solúveis e prolina, no tecido das folhas e raízes podem promover a manutenção do potencial hídrico e da turgescência celular a nível adequado, preservando os processos metabólicos e contribuindo para o crescimento em condições de deficiência hídrica (Pereira et al., 2012). O conhecimento das expressões fisiológicas e bioquímicas de cultivares de amendoim indicadas para a região Nordeste é de grande contribuição para o planejamento adequado de manejo e dessa forma assegurar maiores rendimentos na produção. Assim, o trabalho objetivou avaliar respostas morfofisiológicas e bioquímicas, em relação ao crescimento, acúmulo de solutos orgânicos osmoticamente ativos e relações hídricas, de duas cultivares de amendoim submetidas à diferentes disponibilidades hídricas no solo.

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MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa de vegetação do Laboratório de Fisiologia Vegetal, do Departamento de Biologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Recife-PE, Brasil. As cultivares de amendoim avaliadas foram BR1 e BRS Havana, fornecidas pela Embrapa Algodão, Campina Grande-PB. As cultivares foram semeadas em bandejas contendo um substrato composto por uma mistura de solo, pó de coco e esterco animal, na proporção de 1:1:1 (v/v/v). Após a germinação e emissão do primeiro par de folhas definitivas, as plântulas foram transferidas para vasos de polietileno, contendo 9 kg de solo, onde foram mantidas em capacidade de pote por cinco dias para aclimatação. A capacidade de pote (CP) para manter o nível de água no solo foi determinada de acordo com o método gravimétrico descrito por Souza et al. (2000). O nível de água no solo foi monitorado a partir de pesagem diária dos vasos e, juntamente, procedeu à reposição da água perdida por evapotranspiração, de modo a manter a umidade do solo no nível considerado para CP. Após o período de aclimatação procedeu-se a diferenciação dos tratamentos. Os tratamentos hídricos utilizados foram: disponibilidade hídrica diária (DHD), considerado como controle, onde o solo foi mantido a 100% da capacidade de pote; disponibilidade hídrica a cada cinco dias (DH5D) e suspensão de disponibilidade hídrica (SDH). O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado com arranjo fatorial 2 x 3 (cultivares x tratamentos hídricos) e seis repetições. Durante o período experimental, as amplitudes de temperatura do ar (Tar) e da umidade relativa do ar (UR) no interior da casa de vegetação foram monitoradas com um termohigrômetro, as quais apresentaram variação de 24,3 a 31°C e de 50,2 a 75%, respectivamente. As avaliações de crescimento das plantas foram realizadas a cada sete dias durante o período experimental (43 dias). A altura das plantas foi medida com trena a partir da base da haste principal até a última gema do meristema apical; o diâmetro da haste principal foi mensurado com um paquímetro digital (precisão de 0,002 mm), sempre na região de 1 cm acima da base da haste, e o número de folhas foi determinado por método de contagem direta das folhas totalmente expandidas. No final do experimento foram avaliados o acúmulo dos solutos orgânicos, as relações hídricas e a produção de biomassa seca da parte aérea e radicular da planta. Os solutos orgânicos osmoticamente ativos foram determinados em amostra de tecido de folha e raiz. Para isso foram coletadas amostras de 1 g de tecido do limbo foliar e da raiz, as quais foram maceradas em tampão fosfato de potássio 0,1 M, pH 7,0 contendo EDTA a 0,1 mM. Em seguida, as amostras foram centrifugadas a 3000 x g por 15 minutos e o sobrenadante foi coletado para determinações dos teores dos carboidratos solúveis, proteínas solúveis, aminoácidos livres e prolina. Os carboidratos solúveis totais foram determinados pelo método de fenol-ácido sulfúrico (Dubois et al., 1956), utilizando D-(+)-glucose como padrão. As proteínas solúveis foram determinadas pelo método de Bradford (1976), utilizando-se albumina sérica bovina como padrão. Os aminoácidos livres totais foram analisados pelo método da ninhidrina (Yemm & Cocking, 1955), utilizando-se glicina como padrão. A prolina livre foi determinada pelo método da ninhidrina ácida e tolueno (Bates, 1973), utilizando a prolina como padrão. As relações hídricas das plantas foram avaliadas a partir da mensuração do potencial hídrico foliar e do conteúdo relativo de água, para tanto, o potencial hídrico foliar (Ψw) foi determinado em folhas maduras e completamente expandidas, localizadas no terço superior da planta às 4 e 12 horas de acordo com a metodologia descrita por Scholander et al. (1965).

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Enquanto que o conteúdo relativo de água foliar (CRA) foi realizado às 12 horas seguindo método descrito por Weatherley (1950). Para determinação da biomassa seca, as plantas foram coletadas e tiveram seus órgãos (folhas, hastes e raízes) separados, acondicionados em sacos de papel, secos em estufa de circulação forçada a 65ºC e, em seguida, foram pesadas para obtenção da biomassa seca. De posse desses dados calculou-se a alocação de biomassa das folhas, hastes, raízes e a relação raiz/parte aérea, segundo Benincasa (2003). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% probabilidade. Para a análise estatística o número de folhas foi transformado em x  0,5 .

43 RESULTADOS E DISCUSSÃO A diminuição da disponibilidade hídrica no solo influencia significativamente o crescimento das cultivares BR1 e BRS Havana, ocasionando redução na altura da planta, diâmetro do caule e número de folhas (Tabela 1). Redução da altura da planta e diâmetro do caule das cultivares BR1 e BRS Havana pode ser verificada a partir de 15 dias de aplicação dos tratamentos. Nesse tempo, a BR1 quando submetida a SDH apresentou redução da altura de 37,1 % e a BRS Havana quando submetida a DH5D e SDH de 53,4 e 60,4 %, respectivamente, e o diâmetro do caule da BR1 e BRS Havana submetidas a SDH reduziu 7,2% e 10,4%, respectivamente, em relação ao controle (DHD). A redução do número de folhas foi verificada na BR1 quando submetida a SDH a partir de 8 dias, com redução de 29,9 %, e a BRS Havana quando submetida a DH5D e SDH a partir de 15 dias, com redução de 22,8 e 29,8 %, respectivamente, em relação ao controle. As cultivares BR1 e BRS Havana apresentam comportamento semelhantes sobre altura, diâmetro do caule e número de folha com fornecimento de DHD, no entanto, com DH5D a BR1 diferiu significativamente da BRS Havana, sendo menos sensível a deficiência hídrica nesses parâmetros. Arruda et al. (2015) avaliando o crescimento de cinco genótipos de amendoim submetidos a déficit hídrico, em condições de campo, relatam que o déficit hídrico causa alterações fisiológicas nas plantas de amendoim, provocando redução na altura da planta. Fasolin et al., (2019), avaliando a variação fisiológica do amendoim cultivado sob diferentes regimes hídricos, verificaram redução da altura da haste em cultivar de amendoim com a redução severa da disponibilidade hídrica. Dias et al. (2019) avaliando a eficiência do uso da água pela cultura do amendoim submetida a diferentes níveis de irrigação, constataram redução no número de folhas ocasionado pelo déficit hídrico. Embora o amendoim demonstre ser uma cultura adaptada a ambientes secos, a disponibilidade de água para seu pleno desenvolvimento é de extrema importância, uma vez que sua deficiência pode refletir diretamente no desenvolvimento da mesma (Nogueira; Távora, 2005).

Tabela 1. Altura da planta, diâmetro da haste e número de folha das cultivares BR1 e BRS Havana de amendoim submetidas à disponibilidade hídrica diária (DHD), disponibilidade hídrica a cada cinco dias (DH5D) e suspensão de disponibilidade hídrica (SDH). Números de dias Cultivar Trat° Hídrico

1

8

15

22

29

36

43


Altura da planta (cm) BR1

DHD

1,00 aA

3,55 aA

5,88 bA

11,58 aA

20,73 aA

27,28 aA

29,47 aA

DH5D

1,18 aA

3,87 aA

8,42 aA

11,17 aA

11,90 bA

14,45 bA

14,50 bA

SDH

1,02 aA

3,3 aA

3,70 bA

4,08 bA

4,02 cA

6,45 cA

6,58 cA

BRS

DHD

0,97 aA

2,02 aA

4,47 aA

9,95 aA

20,17 aA

31,07 aA

33,55 aA

Havana

DH5D

0,95 aA

1,48 aA

2,08 bB

2,67 bB

3,03 bB

4,43 bB

5,20 bB

SDH

0,92 aA

1,27 aA

1,77 bB

1,93 bA

2,05 bA

2,17 bA

2,65 bA

44 Diâmetro da haste (mm) BR1

DHD

2,53 aA

3,05 aA

3,47 aA

3,99 aA

5,13 aA

5,42 aA

5,77 aA

DH5D

2,61 aA

3,00 aA

3,5 abA

3,82 aA

4,42 bA

4,79 bA

5,11 aA

SDH

2,49 aA

2,90 aA

3,22 bA

3,3 bA

3,47 cA

3,43 cA

3,38 bA

BRS

DHD

2,7 aA

2,95 aA

3,27 aB

4,04 aA

4,93 aB

5,82 aA

6,03 aA

Havana

DH5D

2,5 aA

2,78 aA

2,9 abB

3,27 bB

3,77 bB

4,03 bA

4,08 bB

SDH

2,48 aA

2,69 aA

2,93 bB

3,07 bA

3,21 cB

3,21 cA

3,27 cA

Número de folha BR1

DHD

1,77 aA

3,4 abA

4,55 aA

5,98 aA

6,62 aA

8,28 aA

8,62 aA

DH5D

1,87 aA

3,55 aA

4,42 aA

5,99 aA

5,89 bA

6,51 bA

6,56 bA

SDH

1,82 aA

2,9 bA

3,19 bA

3,74 bA

3,15 cA

3,82 cA

4,01 cA

BRS

DHD

1,82 aA

2,99 aA

4,25 aA

5,52 aA

6,55 aA

8,53 aA

8,89 aA

Havana

DH5D

1,87 aA

2,64 aB

3,28 bB

4,18 bB

4,93 bB

5,77 bA

6,01 bB

SDH

1,87 aA

2,79 aA

2,98 bA

3,51 bA

3,43 cA

3,61 cA

2,77 cB

Médias seguidas de letras iguais, minúsculas entre tratamentos hídricos dentro de cada cultivar e maiúsculas entre cultivares dentro de cada tratamento hídrico, não diferem pelo teste de Tukey (P<0,05).

Na Tabela 2 estão as médias obtidas da área foliar e produção de biomassa seca da folha (BSF), haste (BSH) e raiz (BSR) das cultivares BR1 e BRS Havana. Entre essas variáveis, apenas a área foliar apresentou interação significativa (P<0,05). A BRS Havana apresentou maior área foliar quando em condições de DHD, diferenciando-se da BR1 significativamente, no entanto, quando submetidas a DH5D e SDH a BRS Havana apresenta redução da área foliar de 89,1 e 97,9%, respectivamente, em relação com controle. A produção de BSF, BSH e BSR foi semelhante entre as cultivares BR1 e BRS Havana, entretanto, entre os tratamentos hídricos o SDH proporcionou, significativamente, a maior redução de BSF e BSH, com valores de 94,8 e 94,7%


respectivamente, quando comparados com o controle, o que indica a sensibilidade dos órgãos folha e haste à deficiência hídrica. A produção de BSR apresentou resultado semelhante para ambas variedades nos tratamentos DH5D e SDH, reduzindo a valores de 60 e 69%, respectivamente, quando comparados ao tratamento controle. Fasolin et al., (2019), avaliando a variação fisiológica do amendoim cultivado sob diferentes regimes hídricos, contataram redução na área foliar, massa seca da parte aérea e raiz da cultivar IAPAR 25 Tição com a redução severa da disponibilidade hídrica. Redução da área foliar e massa seca das cultivares BR1 e BRS Havana foi constatada, também, por Arruda et al. (2015) quando avaliaram o crescimento de cinco genótipos de amendoim submetidos a déficit hídrico aos 35, 47, 54 e 70 dias após emergência. Alvarez et al. (2005) avaliando o crescimento de duas cultivares de amendoim em diferentes épocas de cultivo observaram maior redução da área foliar no cultivo de verão, época com menor disponibilidade hídrica. Correia; Nogueira (2004), consideraram a redução da área foliar como estratégia de sobrevivência do amendoim a deficiência hídrica para diminuir a área disponível a transpiração. Segundo Neto et al. (2012) a redução da área foliar e a regulação da transpiração do amendoim, proporcionam às plantas maior tolerância à seca. A redução da interface entre a superfície da planta e o ar atmosférico pode favorecer a redução da transpiração foliar, porém essa redução pode ter efeito prejudicial na assimilação de CO2, influenciando negativamente a taxa fotossintética e, posteriormente, a produção de biomassa. Por outro lado, com a área foliar reduzida e diminuição da transpiração, a água limitada no solo é conservada por um tempo maior (Taiz et al., 2017). Dessa forma, pode-se considerar a redução da área foliar das cultivares BR1 e BRS Havana como uma resposta à deficiência hídrica, pois a potencialidade de produção de biomassa seca dos respectivos órgãos folha, haste e raiz decresceu, tendo sido mais intensa no tratamento SDH, que lhe proporciona tolerância a essa condição por 43 dias. Tabela 2. Área foliar (AF) e biomassa seca da folha (BSF), haste (BSH) e raiz (BSR) das cultivares BR1 e BRS Havana submetidas à disponibilidade hídrica diária (DHD), a cada cinco dias (DH5D) e suspensão de disponibilidade hídrica (SDH) no solo. Tratamentos hídricos Média Cultivares DHD DH5D SDH ---------------- AF (cm2) ----------------BR1

2616,57 aB

520,65 bA

112,54 bA

1084,25 B

BRS Havana

6799,68 aA

740,82 bA

142,17 bA

2560,89 A

4709,63 a

630,73 b

Média

127,36 b -1

------------ BSF (g.planta ) ------------BR1

6,23

2,58

0,38

3,06 A

BRS Havana

6,49

1,38

0,27

2,72 A

6,36 a

1,98 b

0,33 c

Média

------------ BSH (g.planta-1) ------------BR1

8,74

2,83

0,44

4,00 A

BRS Havana

9,04

1,49

0,49

3,68 A

8,89 a

2,16 b

Média

0,47 c -1

------------ BSR (g.planta ) ------------BR1

0,95

0,45

0,31

0,57 A

45


BRS Havana Média

1,05

0,36

0,32

1,00 a

0,40 b

0,31 b

0,58 A

Médias seguidas de letras iguais nas colunas, minúsculas entre tratamentos hídricos e maiúsculas entre cultivares dentro de cada tratamento hídrico, não diferem pelo teste de Tukey (P<0,05).

A alocação de biomassa das folhas (ABF), hastes (ABH) e raízes (ABR) e a relação Raiz/Parte aérea apresentaram efeito significativo entre os tratamentos hídricos e as cultivares de amendoim apresentaram comportamento distintos nas variáveis ABF e ABR (Tabela 3). A ABF e ABH decresceram com a redução da disponibilidade hídrica, sendo mais expressiva no tratamento SDH. Na ABR houve aumento significativo quando as cultivares foram submetidas à SDH de 280 e 348% para BR1 e BRS Havana, respectivamente, em relação ao controle. A relação raiz/parte aérea (R/PA), também, apresentou aumento quando as cultivares foram submetidas à SDH de 428%. Tabela 3. Alocação de biomassa da folha (ABF), haste (ABH), raiz (ABR) e relação raiz/parte aérea (R/PA) de cultivares de amendoim submetidas à disponibilidade hídrica diária (DHD), a cada cinco dias (DH5D) e suspensão de disponibilidade hídrica (SDH). Tratamentos hídricos Média Cultivares DHD DH5D SDH ------------ ABF (%) ------------BR1

39,19

45,27

32,15

38,87 A

BRS Havana

39,20

38,64

27,46

35,10 B

Média

39,19 a

41,96 a

29,80 b

------------ ABH (%) ------------BR1

54,89

48,52

46,72

50,04 A

BRS Havana

53,97

46,91

44,32

48,39 A

Média

54,43 a

47,72 b

45,52 b

------------ ABR (%) ------------BR1

5,92

6,22

22,52

11,55 B

BRS Havana

6,83

12,76

30,66

16,75 A

Média

6,37 b

9,49 b

26,59 a

-------------- R/PA --------------BR1

0,06

0,07

0,31

0,15 A

BRS Havana

0,07

0,15

0,45

0,22 A

Média

0,07 b

0,11 b

0,37 a

Médias seguidas de letras iguais, minúsculas nas linhas entre os tratamentos hídricos e maiúsculas nas colunas entre as cultivares, não diferem pelo teste de Tukey (P<0.05).

Aumento na relação raiz/parte aérea de amendoim com a redução da disponibilidade hídrica foi verificada, também, por Fasolin et al., (2019). Pinto (2006) analisando respostas morfológicas e fisiológicas de três espécies oleaginosas a ciclos de deficiência hídrica, também, observou aumento da relação raiz/parte aérea para amendoim. A relação R/PA é uma correlação de desenvolvimento, expressando o fato de que o crescimento no sistema radicular pode afetar o desenvolvimento da parte aérea e vice-versa (Correia; Nogueira, 2004). Essa relação expressa um balanço funcional entre

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a fotossíntese e absorção de água pelas raízes, que em condições ditas normais apresenta certo equilíbrio (Taiz et al., 2017). Larcher (2006) afirma que a limitação do crescimento foliar acontece antes e de forma mais intensa que as trocas de CO2 em plantas sob condições de deficiência hídrica, o que pode resultar em excesso de assimilados fotossintéticos para a raiz. Bianchi et al. (2016) relata que enraizamento rápido e profundo das plantas é considerado como medida morfológica de tolerância a dessecação. Segundo Correia; Nogueira (2004), a alocação de biomassa nos determinados órgãos da planta revela estratégia adaptativa diferenciada à medida que o estresse for intensificado. Contudo, pode se constatar neste trabalho que a parte aérea das cultivares avaliadas é afetada com a redução da disponibilidade hídrica, essa resposta pode ser considerada um mecanismo adaptativo a condição de deficiência hídrica no solo, visto que as plantas alocam mais biomassa no sistema radicular quando submetidas a baixa disponibilidade hídrica, provavelmente, para aumentar a área de absorção de água e nutrientes no solo. Deste modo, cultivares capazes de manter menores reduções da parte aérea e aumento do sistema radicular podem apresentar maior capacidade de tolerância à deficiência hídrica. Os solutos orgânicos osmoticamente ativos avaliados nas folhas e raízes das duas cultivares de amendoim foram influenciados com os diferentes níveis de disponibilidade hídrica no solo (Tabela 4). Ambas cultivares quando submetidas ao tratamento SDH apresentaram acréscimo significativo nos teores dos solutos orgânicos tanto nas folhas quanto nas raízes quando comparados com o controle. Contudo, na cultivar BR1 foi verificado o aumento mais significativo nas concentrações dos mesmos, alcançando valor de 93,8% nas folhas e 230,1% nas raízes para os teores de carboidratos solúveis; 173,2% nas folhas e 114,7% nas raízes para os teores de proteínas solúveis e 217,2% nas folhas e 113,1% nas raízes de aminoácidos livres, em relação ao controle. Destaque para elevação na concentração de teores de prolina, uma vez que nas folhas no tratamento SDH, esse aumento foi de mais de 84 vezes para a BR1 e quase 90 vezes para a BRS Havana quando comparamos ao controle. Enquanto nas raízes o aumento no tratamento SDH foi de 29 e 4 vezes para as cultivares BR1 e BRS Havana, respectivamente, quando comparadas ao controle. Alves et al. (2016), estimando a variabilidade genotípica de linhagens de amendoim submetidas a estresse hídrico moderado por 15 dias, constataram acréscimo de proteínas solúveis, aminoácido, prolina e carboidratos nas linhagens de amendoim submetidas a estresse hídrico (suspensão total de rega). Pereira et al. (2012), estudando a atividade de alguns descritores bioquímicos e genótipos de amendoim submetidos ao déficit hídrico, também, constataram aumento do teor de carboidratos solúveis e prolina livre nas folhas da cultivar BR1 quando submetida à estresse hídrico. Azevedo Neto et al. (2010), avaliando amostras de folhas e raízes de cinco genótipos de amendoim submetidos a estresse hídrico por 20 dias, verificaram acúmulo de carboidratos solúveis, aminoácidos, proteínas solúveis e prolina nas folhas e nas raízes, sendo menos expressivo nas folhas. O aumento dos teores de carboidratos solúveis totais nas cultivares de amendoim pode estar relacionado à finalidade de manter o nível de hidratação das folhas e induzir o ajustamento osmótico na planta, visando o equilíbrio das células (Kerbauy, 2004). O acúmulo acentuado de aminoácidos livres, sobretudo sob deficiência hídrica mais sevara, ocorre devido paralisação do crescimento e da síntese de proteínas, associado a hidrólise destas (Pimentel, 1999). Alves et al. (2016) referenciam a prolina como uma característica bioquímica mais adequada para seleção de genótipos de amendoim

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tolerantes ao estresse hídrico. Lima et al., 2004 relatam a importância no acúmulo de prolina para a tolerância à deficiência hídrica, por esse soluto possuir propriedades de proporcionar ajustamento osmótico sem causar injúrias aos tecidos vegetais. Tabela 4. Teores de carboidratos solúveis totais, proteínas solúveis, aminoácido livres e prolina em folhas e raízes de cultivares de amendoim submetidas à disponibilidade hídrica diária (DHD), a cada cinco dias (DH5D) e suspensão de disponibilidade hídrica (SDH). Tratamentos hídricos Cultivares Média DHD DH5D SDH ------------ Carboidratos folhas (mmol.g-1) ------------BR1

17,01 b

26,28 ab

32,98 a

25,43 A

BRS Havana

14,51 b

14,79 ab

21,14 a

16,81 B

---------------- Proteínas folhas (mg.g-1) --------------BR1

286,40 cA

598,77 bA

782,35 aA

555,84 A

BRS Havana

248,91 bA

290,69 bB

600,72 aB

380,07 B

------------- Aminoácido folhas (µmg g-1) ------------BR1

367,19 bA

323,59 bA

1164,71 aA

618,50 A

BRS Havana

374,92 bA

376,43 bA

788,46 aB

513,27 A

---------------- Prolina folhas (µmol.g-1) --------------BR1

1,37 cA

49,34 bA

116,56 aA

55,76 A

BRS Havana

0,59 bA

3,13 bB

53,59 aB

19,11 B

------------ Carboidratos raízes (mmol.g-1) ------------BR1

8,31 b

9,58 b

27,43 a

15,11 A

BRS Havana

7,25 b

10,82 b

16,44 a

11,51 A

---------------- Proteínas raízes (mg.g-1) --------------BR1

206,19 c

324,55 b

442,77 a

324,51 A

BRS Havana

154,85 c

219,33 b

361,70 a

245,29 B

------------- Aminoácido raízes (µmg g-1) ------------BR1

333,07 bA

441,94 bA

709,84 aA

494,95 A

BRS Havana

193,67 bB

378,75 aA

386,45 aB

319,63 B

--------------- Prolina raízes (µmol.g-1) --------------BR1

17,35 bA

20,95 bA

526,19 aA

188,16 A

BRS Havana

19,24 bA

32,49 bA

97,45 aB

49,73 B

Médias seguidas de letras iguais, minúsculas nas linhas entre os tratamentos hídricos e maiúsculas nas colunas entre as cultivares, não diferem pelo teste de Tukey (P<0.05).

As relações hídricas das cultivares de amendoim foram significativamente influenciadas pela a deficiência hídrica, reduzindo o potencial hídrico foliar e o conteúdo relativo de água foliar nas plantas submetidas à SDH (Figura 1 e 2). O potencial hídrico foliar (Ψw) reduziu nos horários avaliados, chegando a valores de -1,21 e -0,21 MPa às 4 horas e de -4,0 e -3,25 MPa às 12 horas nas cultivares BR1 e BRS Havana, respectivamente, quando submetidas à SDH. A BR1 submetida à SDH apresentou o Ψ w mais negativo, correspondendo a redução de 5,8 e 1,23 vezes maior em relação a BRS Havana, nos horários de 4 e 12 horas, respectivamente. O conteúdo relativo de água foliar (CRA) da BR1 submetida a DH5D apresentou redução de 19,6%, em relação ao controle,

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diferenciando, significativamente, dos demais tratamentos hídricos e da cultivar BRS Havana. Figura 1. Potencial hídrico foliar (ψw) às 4 (A) e 12 horas (B) das cultivares BR1 e BRS Havana de amendoim submetidas à disponibilidade hídrica diária (DHD), disponibilidade hídrica a cada cinco dias (DH5D) e suspensão de disponibilidade hídrica (SDH) no solo. Médias seguidas de letras iguais, minúsculas entre tratamentos hídricos dentro de cada cultivar e maiúsculas entre cultivares dentro de cada tratamento hídrico, não diferem pelo teste de Tukey (P<0.05).

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Figura 2. Conteúdo relativo de água (CRA) nas folhas das cultivares BR1 e BRS Havana de amendoim submetidas à disponibilidade hídrica diária (DHD), disponibilidade hídrica a cada cinco dias (DH5D) e suspensão de disponibilidade hídrica (SDH) no solo. Médias seguidas de letras iguais, minúsculas entre tratamentos hídricos dentro de cada cultivar e maiúsculas entre cultivares dentro de cada tratamento hídrico, não diferem pelo teste de Tukey (P<0.05).

De acordo com Reddy et al. (2003), plantas de amendoim com disponibilidade de água frequente pode apresentar valores do Ψw entre -1,2 a -1,3 MPa e quando sob estresse hídrico o Ψw pode apresentar valores entre -3,0 a -5,0 MPa. Azevedo Neto et al. (2010), estudando o comportamento fisiológico e bioquímico de cinco genótipos de amendoim após 20 dias de deficiência hídrica, também, constataram redução do potencial hídrico foliar para todos os genótipos. Fasolin et al., (2019) constataram redução do CRA em amendoim aos 30 dias de sob déficit hídrico modero e severo e aos 60 dias de déficit


hídrico severo, no entanto, aos 75 dias de aplicação dos tratamentos hídricos não houve mudança do CRA. A perda de turgescência celular das plantas sob deficiência hídrica parece ser o primeiro acontecimento, que desencadeia uma sequência de eventos adaptativos complexos, para reduzir o potencial osmótico no tecido (Oliveira et al., 2006). A redução do Ψw encontrada neste trabalho pode estar relacionada ao aumento dos teores de carboidratos solúveis, proteínas solúveis, aminoácidos livres e prolina para manter o conteúdo relativo de água nas células suficiente para evitar a perda da turgescência celular e manter o crescimento da planta. CONCLUSÕES

50 A cultivar BR1 é mais adaptada às condições de deficiência hídrica, por apresentar mecanismos fisiológicos capazes de acumular mais solutos orgânicos osmoticamente ativos e reduzir o potencial hídrico, e por apresentar menores alterações no crescimento.

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Capítulo 06 DESALINIZADOR SOLAR COMO ALTERNATIVA AO ACESSO DE ÁGUA POTAVEL NO CARIRI PARAIBANO

Rebeca Noemi de Oliveira Bezerra Graduanda no Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia Universidade Federal de Campina Grande – UFCG n.rebeca123@gmail.com Danilo Silva dos Santos Graduando no Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia Universidade Federal de Campina Grande - UFCG dannilosilva040@gmail.com Dayany Florencio Siqueira Graduanda no Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia Universidade Federal de Campina Grande - UFCG florenciodayany@gmail.com Valéria Bezerra de Freitas Graduanda no Curso Superior de Tecnologia em Agroecologia Universidade Federal de Campina Grande - UFCG valeriebezerra@gmail.com Fabiana Pimentel Macêdo Farias Docente, Unidade de Tecnologia do Desenvolvimento Universidade Federal de Campina Grande - UFCG fabipimentelf@gmail.com

RESUMO Tecnologia Social é todo produto, método, processo ou técnicas criadas para solucionar diversos problemas de cunho social, atendendo as demandas do simples, barato, de fácil aplicabilidade e impacto social comprovado. Um exemplo dessas tecnologias sociais é a utilização do dessalinizador solar que apresenta baixo custo de construção, baixa manutenção, não utiliza eletricidade, nem elementos filtrantes e livres de produtos químicos, trazendo benefícios socioambientais como o fornecimento de água potável às comunidades rurais com escassez de água para consumo humano. Em muitos casos, a única fonte de água usada pelos agricultores decorre de poços artesianos e apresentam elevado teor de sal. Assim, por meio de uma tecnologia simples, e aproveitando o potencial de energia solar disponível na região do cariri paraibano, é possível criar meios de convivência com a seca, além de maximizar a renda da família evitando gastos com despesas na compra de água. Diante disso, o objetivo deste trabalho aborda a aplicação de uma tecnologia social, especificamente, um dessalinizador solar de baixo custo, demonstrando a sua eficiência quanto a obtenção da água potável para uso doméstico e em outras atividades, afirmando a possível convivência e autonomia das comunidades rurais do semiárido paraibano em períodos de seca. PALAVRAS-CHAVE: Tecnologia social, semiárido, energia solar.

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INTRODUÇÃO O semiárido brasileiro é caracterizado por precipitação pluviométrica média anual igual ou inferior a 800 mm, índice de aridez de Thornthwaite igual ou inferior a 0,50, percentual diário de déficit hídrico igual ou superior a 60%, considerando todos os dias do ano. É composto pelos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais (SUDENE, 2017). Ao longo dos anos do século XXI, o semiárido brasileiro enfrentou um prolongado período da seca e estiagem, a ausência de níveis mais elevados de precipitação, ou mesmo sua instabilidade, afetam diretamente os agricultores da região, principalmente os agricultores familiares que dependem de suas plantações para gerar sua economia, no plantio de feijão, milho, mandioca e na criação de alguns pequenos rebanhos (bovino, caprino, ovino, suíno etc.) (ANDRADE e MAQUES, 2017). Diante as limitações da escassez de água no semiárido brasileiro, criou-se o Programa Água Doce (PAD), o qual tornou-se o maior programa de dessalinização vigente no país, utilizando-se da técnica por osmose reversa. Contudo, se viu um grande aumento na perfuração de poços artesianos, de águas salinas, o que levou a amenizar a carência hídrica e, consequentemente, o abastecimento de pequenas comunidades na região nordeste (MARINHO, et al., 2015). No entanto, esse processo por osmose reversa implica na geração de rejeitos, uma água residuária do processo e de elevada concentração iônica, ou seja, ao se dessalinizar a água salobra, transformando-a em água doce, gera-se um outro tipo de água, mais salina que a própria água salobra e, por conseguinte, com risco de contaminação ambiental elevado. Um outro problema é o aumento do custo operacional desse processo, uma vez que a formação de incrustações decorrente da osmose da gera uma maior demanda de energia (pelo aumento da pressão de operação), diminui os intervalos entre as limpezas químicas e reduz significativamente o tempo de vida útil das membranas (elementos filtrantes) utilizadas. Uma maneira alternativa pela qual pode-se fazer a dessalinização de águas salobras é a utilização de dessalinizador solar. Este, além de baixo custo de implantação e construção (materiais: areia, brita, canos, zinco, vidros, lonas enceradas), tem baixo custo de manutenção, não utiliza elementos filtantes, não faz uso de produtos químicos e tem capacidade de geração de água potável sem uso de eletricidade. Dessa forma, o dessalinizador solar tem sido uma alternativa viável para as famílias do semiárido da Paraíba, que enfrentam longos períodos de estiagens e sofrem com escassez de água de boa qualidade. Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo relatar o uso de uma tecnologia social, especificamente, a implantação de dessalinizadores solares para obtenção de água potável em uma propriedade rural na cidade de Caraúbas, Cariri Oriental. A implantação dessa tecnologia social trouxe melhorias socioambientais e dignidade a população rural, a qual agora se permite sobreviver e ter autonomia por um longo período de seca.

METODOLOGIA Uma visita técnica dos discentes do curso superior de Tecnologia em Agroecologia do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido da Universidade Federal de Campina Grande - Campus Sumé, proporcionada pela disciplina Tecnologias Sociais para o Desenvolvimento do Semiárido, ao Sítio Luiz Gomes, localizado no município de Caraúbas, na microrregião do Cariri Oriental Paraibano, foi possível conhecer o funcionamento de algumas tecnologias socias aplicadas na propriedade.

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A propriedade foi contemplada pelo projeto “Dessalinizador Solar” apoiado pelo Banco Itaú, e apresentado a família por meio da Universidade Estadual da Paraíba, com alguns dessalinizadores solares no ano de 2016. Desde a implantação foram realizadas pesquisas em relação a qualidade da água para constatar a viabilidade para uso humano. Nos dias atuais a propriedade é assistida por alguns programas de desenvolvimento rural com apoio de instituições governamentais e não governamentais, para o fortalecimento e permanência do homem no meio rural. Algumas tecnologias sociais foram implantadas para que isso venha a acontecer, tais como: fossa séptica biodigestora, dessalinizador solar, cisterna calçadão, viveiro de mudas e produção de hortaliças, tanto para consumo diário como fornecimento para feiras locais. E além disso, há ainda a tentativa de manutenção de animais nativos, resistentes a intemperes do semiárido, para procriar e socializar com a comunidade. Dessa forma, na propriedade Sítio Luiz Gomes, foram construídas 10 dessalinizadores solares (Fig, 1), com custo médio de R$ 900,00, incluindo os materiais necessários até a construção. Para a confecção dos mesmos, foram necessários alguns materiais básicos de construção civil como: cimento, areia, brita, canos PVC, vidros transparentes, lonas enceradas, zinco e caixa d’água PVC. Na construção do dessalinizador solar observa-se que placas de concreto são cobertas com vidros transparentes (Figura 1), semelhante a forma de um telhado de casa permitindo a passagem da radiação solar, e uma lona encerada é colocada em sua superfície inferior com uma camada bem fina de água salobra. O processo (Figura 2) então inicia-se quando a partir da passagem da radiação solar pelo vidro há um aumento da temperatura no interior do dessalinizador ocorrendo a evaporação dessa água, que por sua vez entra em contato com a superfície superior (vidro), que está com a temperatura mais baixa, havendo a condensação e retornando ao seu estado líquido. Esse condensado, agora sem sais e sem microrganismos patógenos, causadores de possíveis doenças, é coletado através de tubulações até uma caixa d’água (Figura 3).

Figura 1- Dessalinizadores solares (Sítio Luiz Gomes). Fonte: autores.

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Figura 2- Processo de dessalinização solar. Fonte: Adaptado de Desalination Methods for Producing Drinking Water

56 Todo o sal residual, (figura 4) fica retido na lona, sendo removido após 30 dias, realizando a limpeza da lona. Com a implementação dessa tecnologia social foi possível obter cerca de 150 litros de água por dia. Uma vez armazenada a água potável ela é distribuída para a residência, para uso pessoal, contemplando também as atividades domésticas, as atividades de irrigação e, ainda, saciar a sede dos animais da propriedade. Figura 3- Caixa d´agua. Fonte: Autores


Figura 4- Sal residual. Fonte: Autores

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RESULTADOS E DISCUSSÃO Após serem implantas os dessalinizadores solar na propriedade rural Sítio Luiz Gomes, a residência passou a ter água potável para realização das atividades básicas, como cozinhar e “matar a sede”, uma vez que a única fonte de água para consumo era oriunda de um poço com elevado teor de sal. De acordo com Bimestre et al. (2019) o dessalinizador solar é uma tecnologia que vem sendo aderida por muitas famílias brasileiras, pois vivendo em condições precárias no quesito saúde e saneamento básico é natural que famílias procurem novas alternativas para sanar o devido problema. Por ser uma tecnologia social, mais aberta à sociedade e fácil, tem proporcionado inúmeros benefícios como por exemplo: socioeconômicos, ambientais e sustentabilidade. Sendo uma tecnologia de fácil construção, favorece sua disseminação social, o que possibilita seu uso individual ou coletivo não causando impactos ambientais. A implantação dos dessalinizadores trouxeram variados benefícios. Em forma de relato, o proprietário do Sítio Luiz Gomes, afirma que os dessalinizadores contribuiram também para a economia de água na propriedade, já que havia compra de carros pipa, e no retorno financeiro familiar, pois com as águas dessalinizadas foi possível ampliar o cultivo das hortaliças em canteiros econômicos (figura 5), alavancar as criações de animais de campo, como porcos, cabras e bois. Silva (2017) diz que desde muito tempo, a escassez hídrica causada pelo clima semiárido brasileiro tem fomentado árduas realidades para as famílias locais que convivem com a falta de água, especialmente a de boa qualidade. Gaio (2016), em estudos sobre tecnologias sociais, constatou que a técnica de dessalinização tem sido uma alternativa viável de acesso a água potável no semiárido brasileiro.


Figura 4 –Canteiro econômico, com a água obtida do dessalinizador solar. Fonte: Autores

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Além do uso das águas dessalinizadas pela família residente da propriedade, outras pessoas da comunidade fazem uso dessas águas para consumo próprio em suas propriedades como forma de colaboração comunitária para beneficiar outros moradores do entorno. Muitas dessas famílias beneficiadas por essa colaboração comunitária conseguiram dobrar a produtividade rural e retorno econômico vendendo o que plantam na feira da cidade. O dessalinizador reflete nestes vastos benefícios para as comunidades que sofrem com escassez de água potável. Mas o rejeito que é gerado no final do processo, o sal, pode acarretar grandes problemas ambientais, já que a maioria das vezes não sabem qual o melhor destino que podem dar. Estudos recentes estão fazendo várias descobertas como dar destino ao coproduto e podendo ser uma fonte de renda. Em estudos, Matos et al. (2016), defenderam a utilização do concentrado proveniente da dessalinização de águas como meio de cultivo alternativo de algas para a produção de biocombustíveis. Bezerra (2018) realizou uma pesquisa sobre a produtividade diária de uma casa dessalinizadora, observando que em 5 dias conseguiu obter 196 litros de água potável, ou seja, uma média de 39,2 litros/dia. No caso da propriedade estudada, foi possível a obtenção de cerca de 150 L por dia, um rendimento muito exitoso, visto a quantidade de dessalinizadores implantados.

CONCLUSÕES Portanto é possível afirmar, diante do exposto, que a implantação do dessalinizador solar, de tecnologias simples e aproveitando o potencial de energia solar disponível na região do Cariri, é possível criar meios de convivência com a seca para obtenção de água potável. Isto foi de grande importância na propriedade estudada pois possibilitou economia, já que se fazia uso da compra de água por meio de carros pipa para as diversas atividades, inclusive domésticas, como também auxiliou na produção vegetal de horta, fruteiras, plantas medicinais e uso doméstico. Garantiu, ainda, água de boa qualidade aos animais durante longos períodos de estiagem.


Isto posto, é notório que esta tecnologia social simples propicia a permanência do homem no campo, zona rural, com água boa e que atenda às suas necessidades para a sua sobrevivência.

AGRADECIMENTOS Agradecemos a família do Sr. Reginaldo Bezerra de Lima, proprietário do Sítio Luiz Gomes, por tem recebido os discentes da Uni verdade Federal de Campina Grande, possibilitando a troca de experiência/vivência, com. Ao CDSA/UFCG por possibilitar esta visita.

REFERÊNCIAS BEZERRA, A. L. Analise da produção e qualidade da água ofertada por dessalinizadores solar no município de Remigio – PB. (Monografia: Semiarido, Dessalinisadores solar, temperatira/, Universidade Estadual da Paraíba 2018. 35p. BIMESTRE, T. A.; SANTOS, R. O. B.; HONORATO, L. F. F.; GOMES, L. O.; PRADO, P. H. C.; OLIVEIRA, F. H. A.; Desenvolvimento de um protótipo de dessalinizador solar para uso residencial e pequenas empresas. Revista EDUCAmazônia - Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humait, Amazonas, Brasil, v. XXIII, n. 2, p.474-488, 2019. SUDENE. Conselho Deliberativo da SUDENE. Delimitação do Semiárido, 2017.

MARINHO, F. J. L.; UCHOA, T. R.; LEITE, S. F.; AGUIAR, R. L.; NASCIMENTO, A. S. Dessalinizador solar associado a coletor de águas de chuvas para fornecer água potável. Enciclopédia Biosfera, Centro Cientifico Conhecer - Goiânia, v.11, n.20, p. 68. 2015. MISNISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA. Programa Água Doce: Documento Base 2012. Brasília, 2012. Disponível em: http://aguadoce.mdr.gov.br Acesso em: /26 de março de 2020. SILVA, J. A. L.; MEDEIROS, M. C. S.; LIMA, V. L. A.; MARINHO, F. J. L.; AZEVEDO, P. V.; UCHÔA, T. R.; OTONI, L. C. P.; Obtenção de água potável a partir do uso da energia solar disponível na região do semiárido paraibano. Revista Epacios, v. 37, n. 32, p. 9, 2016. ANDRADE, C. M.; MARQUES. L. S.; Semiárido brasileiro: alguns desafios. Diversitas Journal, v. 2, n. 2, p279-283, 2017. SILVA, J. A. L.; Dessalinizador solar com condensador acoplado para produção de água potável no semiárido brasileiro. 2017. 87 p. Tese de Doutorado (Doutorado em Recursos Naturais) - Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, 2017. GAIO, S. S. M.; Produção de água potável por dessalinização: tecnologias, mercado e análise de viabilidade económica. 2016. 90 p. Dissertação de Mestrado (Mestrado Integrado em Engenharia da Energia e do Ambiente) - Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, 2016. PAULINO, R. V.; ARAÚJO, O. J.; PORTO, E. R. Cultivo de tilapia rosa (Oreochromis sp) utilizando-se rejeito de dessalinização de água salobra subterrânea. In: CONGRESSO

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BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE PESCA, 13, 2003, Porto Seguro. Anais... Porto Seguro: AEP-BA, 2003. 1CD ROM.

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Capítulo 07 DESEMPENHO DE GOTEJADORES OPERANDO COM LIXIVIADO DE ATERRO SANITÁRIO

Francisco de Oliveira Mesquita Doutor em Manejo de Solo e Água Pesquisador do Instituto Nacional do Semiárido – PCI/CNPq mesquitaagro@yahoo.com.br Rafael Oliveira Batista Professor Associado I Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) E-mail: rafaelbatista@ufersa.edu.br Ana Beatriz Alves de Araújo Doutora em Manejo de Solo e Água Pesquisadora do Instituto Nacional do Semiárido – PCI/CNPq beatrizufersa@gmail.com Fabiana Xavier Costa Doutora em Recursos Naturais Pesquisadora do Instituto Nacional do Semiárido – PCI/CNPq fabyxavierster@gmail.com Emanoel Lima Martins Doutor em Ciência do Solo Pesquisador do Instituto Nacional do Semiárido – PCI/CNPq emanoel.martins@insa.gov.br

RESUMO Com a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil, espera-se que o número de aterros sanitários aumente, ao longo dos anos, e com isso a necessidade do desenvolvimento de técnicas de tratamento e, ou aproveitamento dos percolados. Objetivou-se, com este trabalho, analisar o efeito da aplicação de percolado de aterro sanitário diluído sobre a vazão nominal dos gotejadores das unidades de irrigação por gotejamento após 160 horas de funcionamento. O experimento foi conduzido sob delineamento inteiramente casualizado no esquema de parcelas subdivididas, tendo nas parcelas os tipos de gotejadores (G1 - 1,6 L h-1; G2 - 2,0 L h-1, G3 - 4,0 L h-1 e G4 - 8,0 L h-1) e nas subparcelas os tempos de operação (0, 20, 40, 60, 80, 100, 120, 140 e 160 h), com quatro repetições. A vazão do sistema (Q) foi obtida a cada 20 h de operação do sistema, até completar 160 h de funcionamento em todas as unidades de irrigação. Houve diferença estatística dos níveis de obstrução do gotejador G1 (não autocompensante) em relação aos demais, indicando menor suscetibilidade ao entupimento dos gotejadores G2, G3 e G4 (autocompensantes). Os valores de Q aprontaram o gotejador G1 como o mais sensível ao entupimento. PALAVRAS-CHAVE: percolado, emissores, membranas.

INTRODUÇÂO Os resíduos sólidos urbanos despertam grande preocupação ambiental na sociedade moderna, devido às grandes quantidades geradas e as formas inadequadas de disposição no ambiente, que podem causar sérios problemas como a geração de odores, poluição ambiental e a

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proliferação de insetos e roedores transmissores de doenças ao ser humano (SETIYANTO et al., 2012; ALMEIDA et al., 2018). Os lixiviados de aterros de resíduos sólidos urbanos são resultados da interação entre o processo de biodegradação da fração orgânica desses resíduos e da infiltração de águas pluviais que percolam e solubilizam componentes orgânicos e inorgânicos (RENOU et al., 2008). O lixiviado apresenta composição temporal e espacial variável e depende das características físicas do local de disposição dos resíduos (GOMES et al., 2018). Segundo Celere et al. (2007), o resíduo sólido urbano possui composição bastante variada, resultante, principalmente, das características ambientais e socioeconômicas da população que o gera. Fatores como clima, variações sazonais, grau de educação, poder aquisitivo, hábito e costumes influenciam na sua composição. Dentre as tecnologias adotadas para a disposição final dos resíduos sólidos urbanos, o aterro sanitário se destaca por coletar e tratar o lixiviado e o gás metano gerados nas células do aterro, durante o período de operação e desativação deste empreendimento (SOLIANI et al., 2019). Os lixiviados de aterros sanitários são resultantes da interação entre o processo de biodegradação da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos e da infiltração de águas pluviais que percolam e solubilizam componentes orgânicos e inorgânicos (MATOS et al., 2013; GOMES et al., 2018). O manejo adequado dos resíduos sólidos é uma importante estratégia de preservação do meio ambiente, assim como de promoção e proteção da saúde, visto que estes resíduos podem comprometer a qualidade do solo, da água e do ar, por serem fontes de compostos orgânicos voláteis, pesticidas, solventes e metais pesados, entre outros (Lo MONACO et al., 2009; UEHARA et al., 2019). Mesmo utilizando tecnologias apropriadas, o manejo de resíduos sólidos ainda enfrenta sérias limitações. A disposição no solo, mesmo que em aterros sanitários com captação de gases e efluentes esbarra no esgotamento de áreas físicas apropriadas para esse fim (JACOBI & BESEN, 2011; KLEIN et al., 2018), principalmente nos grandes centros urbanos, implicando no deslocamento desses resíduos por longas distâncias, com os consequentes transtornos associados ao transporte (poluição, acidentes e outros). A irrigação localizada se destaca para aplicação de águas residuárias pela elevada eficiência de aplicação do efluente, minimização do escoamento superficial e da percolação, redução dos teores de sais próximo ao sistema radicular das plantas e prevenção da formação de aerossóis (HERMES et al., 2020). No entanto, a grande vulnerabilidade da aplicação de águas residuárias pela irrigação localizada, consiste na alta suscetibilidade ao entupimento dos gotejadores em função do nível de tratamento do efluente (COSTA et al., 2019) e das características internas dos emissores (BATISTA et al., 2018). Como consequência do entupimento dos gotejadores tem-se a alteração da vazão e a redução da uniformidade de aplicação (SILVA et al., 2019), resultando na perda de eficiência do sistema de irrigação, aumento do custo operacional e redução da produtividade do cultivo agrícola (ONG et al., 2017). O entupimento dos emissores reduz a vazão e, consequentemente, diminui a uniformidade de aplicação de efluentes de sistemas de irrigação localizada (BATISTA et al., 2018). O grande problema associado à utilização de águas residuárias em sistemas de irrigação localizada consiste na modificação da vazão pelo entupimento parcial ou total dos gotejadores e como esta afeta a uniformidade de distribuição de água (FERNANDES et al., 2014; BATISTA et al., 2018). O entupimento dos emissores de sistemas de irrigação ou até a sensibilidade ao problema de entupimento varia com as características do gotejador, qualidade da água relacionada aos aspectos físicos, químicos e biológicos (SILVA et al., 2019). Puig-Barguéset et al. (2010) analisaram o desempenho de três unidades de irrigação por gotejamento, dotadas de gotejador não-autocompensante com vazão nominal de 1,9 L h-1 e operando com esgoto doméstico tratado. Dois sistemas de irrigação, um com filtro de discos e outro com filtro de tela, ambos de 130 μm, foram abastecidos com esgoto doméstico secundário. Do ponto de vista ambiental, os sistemas de irrigação por gotejamento são os mais sustentáveis para a disposição de águas residuárias. Isso é consequência da elevada eficiência de aplicação desses sistemas, do baixo risco de contaminação do produto agrícola e de operadores

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no campo, da minimização dos riscos de escoamento superficial, percolação e acumulação de sais próximo ao sistema radicular e da prevenção de aerossóis (CUNHA et al., 2017). Diante o exposto, analisar o efeito da aplicação de percolado de aterro sanitário diluído sobre a vazão nominal dos gotejadores das unidades de irrigação por gotejamento após 160 horas de funcionamento.

MATERIAL E MÉTODO Este trabalho foi realizado no período de 21 de agosto a 10 de outubro de 2016, na Unidade Experimental de Reuso de Água (UERA), da Universidade Federal Rural do Semi - Árido (UFERSA), em Mossoró-RN. O experimento foi montado em esquema de parcelas subdivididas, tendo, nas parcelas, os modelos de gotejadores (G1, G2, G3 e G4) e, nas subparcelas, os períodos das avaliações (0, 20, 40, 60, 80, 100, 120, 140 e 160 horas), com quatro repetições (cada linha lateral representou uma repetição), conforme a metodologia proposta por Mesquita et al. (2016). Para a realização dos ensaios experimentais montou-se uma bancada constituída por um reservatório de 0,5 m3 para armazenamento do percolado de aterro sanitário (PAS), um reservatório de 10 m3 para armazenamento da água da rede de abastecimento (AA), um reservatório de 5,0 m3 para armazenamento da mistura do PAS e da AA e uma plataforma construída em alvenaria e concreto, nas dimensões de 2,0 m de largura por 8,0 m de comprimento, tendo piso impermeabilizado uma canaleta lateral para recirculação do efluente, como apresentado na Figura 1.

Figura 1. Esquema da bancada experimental, destacando todos os seus componentes para armazenamento, condução e recirculação do percolado de aterro sanitário diluído.

Fonte: Arquivos do pesquisador (2016).

Na linha de derivação foram instalados 16 conectores com borracha de vedação, onde foram inseridas quatro linhas laterais por tipo de gotejador (cada linha lateral representou uma repetição). Em cada linha lateral foram marcados nove gotejadores para avaliação do desempenho hidráulico, totalizando 144 gotejadores avaliados nas quatro unidades de gotejamento, a cada 20

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h até completar o tempo de operação de 160 h. As linhas laterais, com 8 m de comprimento, foram instaladas em nível sobre o piso da plataforma (Figura 2). Figura 2. Plataforma da bancada experimental e sistemas de irrigação operando com percolado de aterro sanitário.

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Fonte: Arquivo do pesquisador (2016).

No interior da plataforma foram montadas quatro unidades de gotejamento, composta por um conjunto motobomba de 1,0 cv, um hidrômetro de 1,5 m3 h-1, um filtro de tela com aberturas de 130 μm, uma de linha de derivação com diâmetro nominal de 32 mm de PVC e PN 40 e 16 linhas laterais de polietileno, com diâmetro nominal de 16 mm, dotadas de quatro tipos de gotejadores, conforme apresentado na Figura 3. Figura 3. Imagem dos quatro tipos de gotejadores (G1, G2, G3 e G4) utilizados nos ensaios experimentais do desempenho hidráulico dos gotejadores aplicando percolado de aterro sanitário diluído em água de abastecimento.

Fonte: Arquivo do pesquisador (2017).

Os quatro tipos de gotejadores utilizados nos ensaios experimentais foram escolhidos por serem os mais comercializados em Mossoró-RN e região, para a realidade do estado do rio Grande do Norte-RN, Brasil. Nesse sentido, este trabalho tem como foco principal o uso adequado da irrigação de diversos cultivos agrícolas e com o tipo de emissor ou gotejador adequado às realidades do semiárido brasileiro, principalmente, em parques recreativos, jardins e forragens. Na Tabela 1, estão apresentadas as principais informações técnicas dos gotejadores utilizados nos ensaios experimentais.


Tabela 1. Gotejadores (G) utilizados nos ensaios experimentais, destacando o fabricante (F), o dispositivo de autocompensação (DA), a vazão nominal (Q), o coeficiente de vazão (k), o expoente da vazão que caracteriza o regime de escoamento (x), a årea de filtragem (A), o comprimento do labirinto (L), o coeficiente de variação de fabricação (CV f), a faixa de pressão recomendada (P) e o espaçamento entre emissores (EE). Q* A L CVf* P* EE* G F DA* k* x* (L (mm2) (mm) (%) (kPa) (m) h-1) G1

Plastro Hydrodrip NĂŁo Super

1,65

0,53

0,48

4,0**

37**

Âą5

60 150

0,30

0,80

G2

Netafim PCJCNJ

Sim

2,00

2,00

0,00

2,0*

35*

Âą7

50 - 400

G3

Netafim PCJ-CNJ

Sim

4,00

4,00

0,00

2,0*

35*

Âą7

50 400

65 0,80

G4

Netafim PCJ-CNJ

Sim

8,00

8,00

0,00

2,0*

35*

Âą7

50 400

0,80

Nota: * e ** informaçþes obtidas nos catĂĄlogos dos fabricantes e informaçþes medidas com auxĂ­lio de um parquĂ­metro digital com precisĂŁo de 0,01 mm, respectivamente. CNJ - sistema anti-drenante. Fonte: Arquivos do Pesquisador Nota: * e ** informaçþes obtidas nos catĂĄlogos dos fabricantes e informaçþes medidas com auxĂ­lio de um paquĂ­metro digital com precisĂŁo de 0,01 mm, respectivamente. PCJ – este mantĂŠm uma vazĂŁo uniforme mesmo sob diferentes pressĂľes de entrada, assegurando uma distribuição exata da ĂĄgua e nutrientes, alĂŠm disto, o emissor possui amplas seçþes de passagem da ĂĄgua e constante atuação do mecanismo de autolimpeza, que aumentam a sua resistĂŞncia ao entupimento. CNJ - sistema anti-drenante.

O percolado (PAS) foi transportado de um reservatório superficial, situado no aterro sanitårio do município de Mossoró-RN, próximo ao local do experimento, por meio de um recipiente plåstico com capacidade armazenadora para 1 m3. Enquanto que a ågua de abastecimento (AA) foi oriunda da Companhia de à guas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN). O efluente foi armazenado em um reservatório de alvenaria com a capacidade måxima de 10 m3. Durante o período experimental, o PAS foi diluído em AA, na proporção de 1:3, no reservatório de 5,0 m3, para ser aplicado nas quatro unidades de gotejamento, quatro horas por dia, atÊ completar 160 h. Em cada linha lateral das unidades de irrigação foram fixados nove gotejadores, espaçados a cada 0,80 m e 0,30 m entre as linhas laterais, totalizando 144 gotejadores em todo sistema, para a avaliação do desempenho hidråulico. A cada 20 h de operação das unidades de gotejamento mediu-se a vazão dos 144 gotejadores fixados por linha lateral. Na medição da vazão dos gotejadores utilizaram-se coletores plåsticos de 200 mL e proveta de 100 mL. Quantificou-se o volume aplicado de efluente pelos gotejadores, durante três minutos, conforme recomendado pela NBR ISO 9261 (ABNT, 2006). O cålculo da vazão (Q) foi obtido empregando-se a Equação 1. Q=

đ?‘˝ đ?&#x;?đ?&#x;Žđ?&#x;Žđ?&#x;Ž đ?’™ đ?’•

. 60

(1)

em que: Q - vazão do gotejador, L h-1; V - volume de efluente coletado, mL; t - tempo de coleta do efluente, min. A pressão de serviço foi mantida, diariamente, no valor de 140 kPa, utilizando-se um manômetro analógico de glicerina, graduado de 0 a 400 kPa, com classe de exatidão de ¹1% de fundo de escala conforme procederam tambÊm, Mesquita et al. (2016) e Batista et al. (2018). No período experimental, realizaram-se vårias determinaçþes das características físicoquímicas e microbiológicas do percolado de aterro sanitårio diluído e da ågua de abastecimento, inerentes ao risco de obstrução de gotejadores e inclusive a cada 20 horas de operação o indicador


de desempenho hidráulico (Q). Para isto, as amostras foram coletadas a cada 20 h, após o sistema de filtragem, sendo posteriormente armazenadas em recipientes esterilizados, à temperatura de 4ºC em caixa isotérmica com gelo, até o momento da realização das análises em laboratórios da UFERSA. Com a finalidade de minimizar os níveis de entupimento nos quatro tipos de gotejadores, a pressão de serviço das unidades de gotejamento foi mantida no valor de 140 kPa por meio de manômetro, seguindo as recomendações de Coelho et al. (2015) para operação de unidade de gotejamento operando com percolado de aterro sanitário. A pressão de serviço foi medida, diariamente, com um manômetro de glicerina graduado de 0 a 400 kPa, tendo precisão de 10 kPa. Na análise de relação entre as variáveis do desempenho hidráulico e as características físicoquímicas e microbiológica do percolado de aterro sanitário diluído em água de abastecimento, utilizou-se o teste de correlação de Pearson a 5% de probabilidade. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA), empregando-se o teste F a 5% de probabilidade. Para o fator qualitativo tipo de gotejadores, as médias foram comparadas, utilizando-se o teste Tukey, a 5% de probabilidade. Para o fator quantitativo tempo de operação, os modelos de regressão simples e múltipla foram escolhidos com base na significância dos coeficientes de regressão, aplicando-se o teste t num nível de até 10%, no coeficiente de determinação (≥60%) no processo em estudo (FERREIRA, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÂO Na Tabela 2, encontra-se o resumo da análise de variância (ANOVA) da variável resposta vazão (Q) das unidades gotejadoras G1, G2, G3 e G4, ao longo de 160 horas de funcionamento do sistema de irrigação. Tabela 2. Resumo da análise de variância obtidas da variável dependente Q, no esquema de parcelas subdivididas avaliados com 160 horas de operação do sistema. GL Vazão do sistema

Fontes de variação

Q (L h-1)

Tipo de gotejador (G)

3

289,99**

Resíduo (a)

9

0,685

Tempo de avaliação (T) GxT Resíduo (b) CV (%) parcelas

8 24 99 -

0,0491* 0,0742** 0,0194 7,07

-

3,77

CV (%) subparcelas ** *

ns

, e significativo a 1 e 5% e não significativo a 5% de probabilidade pelo teste F, respectivamente. GL – graus de liberdade. CV - coeficiente de variação.

Os valores médios de Q nas unidades gotejadoras, para os tempos de funcionamento inicial (0 h) e final (160 h), foram de 1,79 e 1,09 L h-1 no gotejador G1, de 1,87 e 1,88 L h-1 para o gotejador G2, de 3,86 e 3,70 L h-1 no gotejador G3 e de 8,15 e 7,40 L h-1 para o gotejador G4, como apresentado na Figura 1. Apresentam-se, na Tabela 3, as médias da vazão dos quatro gotejadores (Q) em função do tempo de avaliação. Os valores médios de Q dos gotejadores G2 e G3 não diferiram estatisticamente ao longo do período experimental, indicando maior resistência ao entupimento. Enquanto, os gotejadores G1 e G4 apresentaram diferenças estatísticas: a) com apenas 40 h de operação, os níveis de entupimento do gotejador G1 começaram a afetar o seu desempenho; e b) com apenas 20 h de funcionamento, o entupimento alterou o valor médio de Q das unidades gotejadoras G4.

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Tabela 3. Valores médios do Q das unidades gotejadoras para o fator emissor dentro de cada nível de tempo de avaliação. Tipo de gotejador Tempos de avaliação (horas) G1 G2 G3 G4 0 1,75a 1,86a 3,75a 7,84ab 20 1,76a 1,86a 3,78a 7,44c 40 1,31b 1,78a 3,79a 7,77abc 60 1,51ab 1,86a 3,80a 7,94a 80 1,46ab 1,85a 3,78a 7,59abc 100 1,28b 1,84a 3,80a 7,69abc 120 1,47ab 1,94a 3,66a 7,54bc 140 1,48ab 1,85a 3,57a 7,88ab 160 1,45ab 1,92a 3,77a 7,52bc * Médias seguidas de pelo menos uma mesma letra nas colunas, não diferem entre si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

No trabalho realizado por Silva et al. (2012), o gotejador G1 (1,65 L h-1) não autocompensante, apresentou reduções nos valores de Q de 42, 1 e 6% nas pressões de serviço de 70, 210 e 280 kPa, respectivamente, quando aplicou água residuária do processamento da castanha de caju durante 160 h. Busato et al. (2012) constataram reduções de Q de 26,13 e 27,40% em dois tipos de gotejadores M1 (2,2 L h-1) e M2 (2,6 L h-1), respectivamente, aplicando água ferruginosa. Batista et al. (2011), estabelecendo comparações entre os tempos de operação de 0 e 500 h, notaram que houve redução de Q das unidades gotejadoras de 62, 22 e 61% para águas residuárias domésticas sem tratamento, secundária e terciária, respectivamente. Evidenciou-se reduções nos valores médios de Q de 39,11% para o gotejador G1; de 4,14% para o gotejador G3, e 9,21% para o gotejador G4; exceto para o gotejador G2, que apresentou sensível aumento de vazão de 0,53%, após 160 h de operação com percolado de aterro sanitário diluído. No tempo de operação 140 h (Figura 4), houve uma drástica redução na vazão do modelo G3 causada provavelmene pela redução parcial de vazão dos emissores. Figura 4. Valores médios e erro padrão de Q, durante 160 h de operação do sistema, nas unidades gotejadoras dotadas dos quatro tipos de emissores (G1-A, G2-B, G3-C e G4-D).

A

G1

1,9

B

2,1 Q (L h-1)

Q (L h-1)

1,7

G2

2,2

1,5 1,3

1,1

2,0

1,9 1,8 1,7

0,9

0

20 40 60 80 100 120 140 160 Tempo de operação (horas)

0

20 40 60 80 100 120 140 160 Tempo de operação (horas)

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C

G3

4,0

D

8,2

3,8

Q (L h-1)

Q (L h-1)

3,9

G4

8,5

3,7

3,6

7,9 7,6 7,3

7,0

3,5 0

20

40

60

80 100 120 140 160

Tempo de operação (horas)

0

20 40 60 80 100 120 140 160 Tempo de operação (horas)

O entupimento dos gotejadores reduz a eficiência dos sistemas de irrigação, afetando suas características de operação e exigindo manutenções mais frequentes. Geralmente, a obstrução altera a vazão dos gotejadores e, consequentemente, diminui a uniformidade de aplicação de água e a eficiência dos sistemas de irrigação localizada (DAZHUANG et al., 2009; DURAN-ROS et al., 2009). Comparando situação experimental semelhante, Costa et al. (2019) constatou redução significativa nos valores da Q do gotejador G1 (1,65 L h-1) não autocompensante de 6,01% na unidade gotejadora abastecida com percolado de aterro sanitário diluído e submetida à pressão de 140 kPa. Silva et al. (2014) ao trabalharem com unidades gotejadoras aplicando água residuária tratada da indústria da castanha de caju sob pressões de serviço, notou-se que após 160 h de operação não é recomendada o uso de gotejadores de baixa vazão nominal (≤ 1,6 L h-1) e maior comprimento de labirinto (≥ 58 mm). Entretanto, Morata et al. (2014), obtiveram resultados contrastantes, pois não foi detectado efeito significativo do tempo de operação na redução da vazão dos gotejadores, após 320 h de aplicação de esgoto doméstico. Na unidade gotejadora G1, o modelo quadrático foi o que se ajustou aos dados de Q em função de T, tendo valores de R2 de 0,60; 0,82; 0,85, 0,85; 0,60; e 0,60, respectivamente (Tabela 4). Aplicando a primeira derivada neste modelo obteve-se: o valor mínimo de Q (1,36 L h-1) no tempo de operação de 106 h. Tabela 4. Equações de regressão ajustadas às variáveis Q (L h-1), em função do tempo de operação (T), das unidades gotejadoras para os tipos de gotejadores (G) e respectivos coeficientes de determinação (R2). Variável Q Gotejadores Equações de regressão R2 G1

Q̂  1,764  0,00764 * T  0,000036 * T 2

G2

Q̂  Q  1,862

-

G3

Q̂  Q  3,393

-

G4 *

Nota: e

**

0,60

Q̂  Q  7,691 Significativo à 1 e 5% de probabilidade pelo teste “t”. T - tempo de operação, em h.

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CONCLUSÃO A vazão do sistema (Q) foi obtida a cada 20 h de operação do sistema, até completar 160 h de funcionamento em todas as unidades de irrigação. Houve diferença estatística dos níveis de obstrução do gotejador G1 (não autocompensante) em relação aos demais, indicando menor suscetibilidade ao entupimento dos gotejadores G2, G3 e G4 (autocompensantes). Os valores de Q aprontaram o gotejador G1 como o mais sensível ao entupimento.

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Capítulo 08 DESENVOLVIMENTO DE MAQUETES PARA ORIENTAÇÃO SOBRE EROSÃO DO SOLO

SANTOS, Maria Paloma Alves Graduando em Engenharia de Biossistemas Universidade Federal de Campina Grande mariapalomaalves2018.1@gmail.com LUCENA, Willian Deyvison Santos Graduando em Engenharia de Biossistemas Universidade Federal de Campina Grande deyvisonwillian60@gmail.com QUIRINO JUNIOR, João Bosco Graduando em Engenharia de Biossistemas Universidade Federal de Campina Grande joaobosco1998@gmail.com LIMA, Vanessa Íris dos Santos Graduanda em Engenharia de Biossistemas Universidade Federal de Campina Grande vanessa2453@live.com VITAL, Adriana de Fátima Meira Professora orientadora Universidade Federal de Campina Grande vital.adriana@gmail.com

RESUMO As perdas de solo por erosão têm avançado, comprometendo seriamente e a capacidade produtiva dos solos dos agroecossistemas, segurança alimentar e a qualidade ambiental. As atividades didáticas que promovam a construção do conhecimento sobre erosão e conservação do solo para estudantes do ensino básico auxiliam na sensibilização para o cuidado ambiental e possibilitam uma formação significativa e contextualizada. Acadêmicos de Engenharia de Biossistemas ao longo da disciplina de Gênese e Morfologia do Solo desenvolveram maquetes para popularizar o entendimento do assunto, durante a VII Feira do Solo, evento organizado pelo Projeto Solo na Escola/UFCG, em homenagem ao Dia Mundial do Solo. O objetivo do trabalho é apresentar a construção de maquetes como metodologia lúdico-pedagógica para promover o envolvimento de acadêmicos com alunos do ensino básico, discutindo o tema erosão do solo. Diversas maquetes foram construídas enfatizando as formas de erosão antrópica e as práticas conservacionistas para minimizar as perdas de solo e foram apresentadas na visitação dos alunos de escolas do município de Sumé (PB) e região. As explicações dos acadêmicos permitiram troca de conhecimentos, despertando o interesse dos alunos visitantes. Conclui-se que o uso de estratégias pedagógicas como maquetes são uma forma de complementar os conhecimentos adquiridos em sala de aula, estimulando os discentes a buscar ampliar os conteúdos e permitindo a interação com alunos do ensino básico, de modo a possibilitar uma maior vivência com a prática pedagógica, proporcionando uma visão integrada dos problemas ambientais e permitindo a interdisciplinaridade do tema que amplia a formação profissional dos acadêmicos.

PALAVRAS-CHAVE: Educação em Solos, Material didático, Conservação do solo.

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INTRODUÇÃO A erosão do solo tem avançado por toda parte e as preocupações com a conservação do solo de modo a combater os danos da erosão, são tão antigos quanto atuais. O termo proveniente do latim “erodere” pode ser definido como um conjunto de processos pelos quais os materiais terrosos e rochosos da crosta terrestre são desagregados, desgastados ou dissolvidos e transportados pela ação dos agentes erosivos como água, vento e gelo (IPT,1986). Esse processo ocorre naturalmente na superfície terrestre ao longo do tempo geológico, sendo responsável pela esculturação do relevo da terra. Entretanto, alguns terrenos possuem uma configuração da paisagem com maior ou menor suscetibilidade erosiva. Essas suscetibilidades podem ser potencializadas pela maneira como o homem utiliza estes terrenos (SALOMÃO, 1999). Segundo Bertoni e Neto (1990) a erosão é o processo de desprendimento, arraste e deposição de partículas do solo causado pela água e pelo vento, que, mesmo sendo um processo natural, passa a ser acelerado pelo uso antrópico, especialmente aqueles sem adoção de práticas adequadas. Nessa linha a erosão ocorre em ambientes rurais e urbanos, tendo diferentes tipos e intensidades, com isso faz-se necessário a sua análise em escalas temporal e espacial. O recurso natural solo, componente vital do planeta, fundamental para muitos aspectos das ciências agrárias, é intensamente afetado pela erosão sobretudo antrópica, e pelos processos associados, como urbanização, avanço dos espaços impermeabilizados, sobrepastejo, desmatamentos para expansão agrícola, etc, que tendem a alterações drásticas das características morfológicas, físicas, químicas e biológicas do solo (DALMOLIN et al., 2006; BREVIK et al., 2015). A fertilidade do solo é reduzida através da degradação ocasionada pela erosão que o torna mais denso e fino, impossibilitando que as raízes se penetrem com mais facilidade impedindo o escoamento superficial da água (ARAÚJO et al., 2012). A degradação do solo por erosão promove sérias perdas na fertilidade e produtividade dos meios de subsistência especialmente nos ambientes semiáridos onde os solos com pouca ou nenhuma cobertura vegetal estão expostos a eventos de precipitação torrencial ou a incidência dos fortes raios solares, por isso esse processo continua a ser um dos maiores problemas ambientais em todo o mundo, ameaçando países desenvolvidos e em desenvolvimento (FAO, 2014). E como a gravidade da erosão varia ao longo do tempo e em diferentes localizações na superfície do solo, dependendo das combinações das ações do clima, escoamento superficial, composição do solo, topografia, cobertura vegetal, manejo do solo e práticas de conservação (MONTENEGRO et al., 2013) esta se torna uma ameaça ambiental generalizada, sendo importante o seu conhecimento para a manutenção dos ecossistemas terrestres. Em zonas tropicais e subtropicais a perda anual de solo por erosão varia entre 0,28 e 113 t ha1 , dependendo da precipitação anual, da paisagem e do uso da terra (GUO et al., 2015). Nesse sentido, Guerra (1994) considera a erosão dos solos um problema político, econômico e social, que pra ser resolvido deve envolver sensibilização, diagnóstico das áreas e programas de recuperação dos solos. Quando o solo é protegido por cobertura vegetal densa e com sistema radicular abundante, o processo erosivo é menos intenso, afirma Cassol (1981), por evitar o efeito splash, que é gerado pelas gotas de água da chuva diretamente no solo, com a intensificação desse efeito erosivo no

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solo, pode ocasionar problemas maiores, podem ser evitados por meio de cobertura vegetal de vários tamanhos. Nas áreas urbanas a erosão está associada à falta de planejamento adequado, que considere as particularidades do meio físico, as condições socioeconômicas e as tendências de desenvolvimento da área urbana. Este desenvolvimento amplia as áreas construídas e pavimentadas, aumentando substancialmente o volume e velocidade das enxurradas e, desde que não dissipadas, concentra os escoamentos, acelerando os processos de desenvolvimento de ravinas e voçorocas, com perdas significativas para a população e o poder público local (ALMEIDA FILHO, 1998). As estradas rurais não-pavimentadas são responsáveis cerca de 70% dos processos erosivos, devido principalmente a falta de manutenção e implantação de estruturas (bacias de captação, canais de derivação e terraços). (ZOCAL, 2007) A erosão hídrica é uma das principais formas de degradação do solo, e com isso são incontáveis os prejuízos de ordem ambiental, econômica e social. As erosões se classificam quanto à forma como surgiram, e podem se dividir em dois grupos: a erosão natural ou geológica e a erosão antrópica ou acelerada, sendo a geológica ocasionada por fatores naturais, enquanto a antrópica esta relacionada a ação humana. Para complementar o processo de ensino-aprendizagem, a produção de materiais didáticopedagógicos, sintetizaram a relação da educação ambiental com os solos (VAZ; ANJOS, 2009). Assim, é fundamental a utilização de atividades que facilitem o entrosamento dos discentes em relação aos conteúdos de solos, pois, assim com o devido esclarecimento sobre os diferentes temas, é possível trabalhar a aprendizagem significativa e contextualizada, promovendo reflexões para buscar prevenir danos ambientais, como os causados pela erosão do solo. Considerando a importância de elaborar materiais didáticos de fácil entendimento no processo de ensino dos solos, com ênfase na erosão, e buscando ampliar as habilidades dos acadêmicos de Engenharia de Biossistemas, realizou-se a elaboração das maquetes, abordando o processo de degradação do solo, com os temas referentes a erosão e conservação. O objetivo do trabalho é apresentar a construção de maquetes como metodologia lúdicopedagógica para promover o envolvimento de acadêmicos com alunos do ensino básico, discutindo o tema erosão do solo.

MATERIAL E MÉTODOS

As maquetes foram idealizadas e elaboradas pelos discentes do curso de Engenharia de Biossistemas da Universidade Federal de Campina Grande, do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido para serem apresentadas na visitação da Feira do Solo, evento que acontece no município de Sumé – PB, em 05 de dezembro, em homenagem ao Dia Mundial do Solo e que é organizada pelo Projeto Solo na Escola/UFCG. Nessa edição de 2019 o tema foi “Pare a erosão do solo, salve nosso futuro”. No local houve exposições de maquetes para popularizar os conteúdos de solos, ficando a sala temática “Erosão do Solo” sob os cuidados da turma da disciplina de Gênese e Morfologia do Solo, do curso de Engenharia de Biossistemas.

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O objetivo era transmitir a importância da conservação do solo e o processo de sua formação, assim evidenciando que existe duas características distintas de como se proporciona a erosão. Sendo forma natural (efetuada por ação da natureza) ou forma antrópica (efetuada por intervenção humana). Os materiais utilizados nas confecções das maquetes apresentadas no evento foram: tintas, bandeja plástica, amostras dos solos, madeiras, pinceis, argilas, sobras de compostos orgânicos, pequenos fragmentos de rochas, areias, canudo plástico, papel crepom, cola, palito roliço de madeira, palito de churrasco, bombril, papel – folha A4, caixas de papelões, estilete, régua, lápis, borracha, água e garrafas plásticas. As maquetes exibidas foram produzidas com objetivo de oportunizar aos cidadãos o entendimento e a importância da prática e conservação do solo. Com o propósito de orientar toda a comunidade acadêmica e a população Sumeense em diferentes idades, gêneros e classes sociais. Com isso, apresentando métodos de como empenhar-se para redução da erosão do solo, com finalidades de minimizar impactos negativos, resultando um solo menos erosivo e mais fértil.

RESULTADOS E DISCUSSÃO A maquete como um método convencional de estudo para uma melhor visualização de algo específico, onde pode-se expressar com mais detalhes algo que não podemos visualizar por fotos ou até mesmo em paisagens, sendo de uma enorme importância, não só para o aprendizado, mas, para um melhor desenvolvimento e entendimento, pois, ela é feita de forma simples e objetiva. Em nosso caso, visamos a elaboração de maquetes que demostrem alguns tipos de erosão do solo. Como não podemos analisar as erosões do solo em grandes áreas, fizemos as maquetes para mostras simbolicamente a população, e a nós mesmos, como se dá alguns dos tipos de erosão aqui no nosso país, quando bem trabalhadas, elas podem expressar em sua totalidade as erosões detalhadamente, onde fica mais fácil e rápido para se analisar, para que seja feito um processo de recuperação do solo em uma devida área. Com ideias simples e criativas, pode-se fazer boas maquetes, onde fica bem explicito o tipo da erosão e para um fácil e rápido entendimento de alguém que procura aquele conhecimento, pois, ver em prática trás uma melhor aprendizagem, ao invés de apenas ler sobre. Com os conhecimentos adquiridos, repassamos ao demais o que podemos fazer para se ter uma boa conservação do solo, para que o mesmo seja fértil, pois é dele que vem o nosso alimento, dele que vivemos e somos responsáveis por sua degradação, além do tempo, temos uma grande parte da culpa em seu processo erosivo. Podemos, e devemos, nos conscientizar e cuidar melhor do nosso solo, da Terra, aqui vivemos e como sempre buscamos uma vida saudável para nós, por quê não cuidar de nosso solo, que nos abastece?

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O que vem do solo, retorna a ele em forma de adubo, ao invés de descartar, junte tudo que seja de material vegetal que vá jogar fora e dê a alguém que trabalhe com o solo, ou até mesmo, faça algo em sua casa, pois, essa matéria é rica em nutrientes que fertilizam o solo, o deixando mais forte e saudável. Com pequenas atitudes e contribuições nossas, podemos fazer o solo cada vez mais forte, pois, utilizamos muito dele e não cuidamos na mesma forma e intensidade, só absorvemos o que eles nos fornece e cada vez mais buscamos produzir, sem que seja feita uma conservação, o que não é adequado, assim ele não vai produzir tanto e a qualidade não será a ideal, pode até mesmo não produzir, por isso que devemos cuidar do nosso solo como cuidamos também da nossa saúde, se ele está forte e saudável, vai nos propor alimentos saudáveis e consequentemente, teremos uma saúde e um corpo fortes. Com a intenção de sensibilizar para o cuidado com o solo como recurso natural finito, que demora para ser formado, construiu-se a maquete que promovia o entendimento dos fatores de formação do solo (Figura 01).

Figura 01. Maquete da formação do solo.

Fonte: Próprios Autores.

Os materiais didáticos pedagógicos promovem mais estímulo a compreensão do meio ambiente, segundo Frason e Werlang (2010) que trabalharam a elaboração de diferentes metodologias para o estudo de Ciências. Na tentativa de possibilitar aos alunos a compreensão sobre erosão e seus agentes como processos naturais que podem ser acelerados com a intervenção de caráter antrópico, afetando diretamente e indiretamente o equilíbrio dinâmico dos processos naturais e resultando em áreas degradadas, elaborou-se a maquete da erosão eólica (Figura 02).

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Figura 02. Maquete da erosão eólica.

77 Fonte: Próprios Autores.

A construção da maquete que possibilita pensar práticas de conservação do solo, como curvas de nível e terraceamento (Figura 03) buscou mostrar aos visitantes uma alternativa para o controle de erosão, por meio de métodos simples de conservação do solo que apresenta fácil execução e baixo custo.

Figura 03. Maquete de erosão hídrica.

Fonte: Próprios Autores.

Para Silva et al (2015) a construção de maquetes didáticas sobre conservação do solo, contribuiu para o processo de ensino e aprendizagem de alunos do ensino fundamental, tornando a aula mais prática e lúdica com a participação dos alunos tanto na elaboração das maquetes, quanto na construção do conhecimento.


CONCLUSÕES A utilização de maquetes para uso didático e como instrumento de Educação em Solos, promoveu o entendimento da importância da conscientização com relação à degradação do solo, demonstrando que os materiais didáticos-pedagógicos contribuem de forma positiva no ensino dos solos, pois os alunos visitantes puderam compreender e dialogar com os acadêmicos de forma lúdica sobre a complexidade do solo. Por outro lado, a atividade de construção das maquetes e de integração com alunos do ensino básico permitiu aos acadêmicos do curso de Engenharia de Biossistemas ampliar suas potencialidades e habilidades junto a comunidade, abordando temas de sala de aula e ampliando a discussão sobre a necessidade de desenvolver técnicas mais eficazes de redução da erosão e da adoção de práticas conservacionistas.

REFERÊNCIAS BREVIK, E. C.; CERDÀ, A.; MATAIX-SOLERA, J.; PEREG, L.; QUINTON, J. N.; SIX, J.; VAN OOST, K. The interdisciplinary nature of soil. Soil, v. 1, p. 117–129, 2015. BRITO, D. O. Estudos da Erosão no ambiente urbano, visando planejamento e controle ambiental no Distrito Federal. 2012. Dissertação de Mestrado (Engenharia Florestal). Universidade de Brasília, 2012 CASSOL, E.A. A experiência gaúcha no controle da erosão rural. In: SIMPÓSIO SOBRE O CONTROLE DA EROSÃO, 2., São Paulo. Anais... p.149-81. 1981. DALMOLIN, R. S. D.; AZEVEDO, A. C.; PEDRON, F. A. Solos & Ambiente, II Fórum. Santa Maria: Orium, 2006. FALCONI, S. Produção de Material didático para o ensino de Solos. 2004. Dissertação de Mestrado (Geografia). Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2004. FAO. Evolution of Crop Production. FAOSTAT, Country Profile CVPAvailable, 2014. FRASSON, V. da R.; WERLANG, M. K. Ensino de solos na perspectiva da educação ambiental: contribuições da ciência geográfica. Geografia: Ensino & Pesquisa, v. 1 4, n. 1, p. 94- 99, 2010. GUO, Q.; HAO, Y.; LIU, B. Rates of soil erosion in China: A study based on runoff plot data, Catena, v. 124, p. 68–76, 2015. MONTENEGRO, A.A.A.; ABRANTES, J.R.C.B.; LIMA, J.L.M.P.; SINGH, V.P. & SANTOS, T.E.M. Impact of mulching on soil and water dynamics under intermittent simulated rainfall. Catena, v. 109, p. 139-149, 2013. SANTOS, J. P. O. Avaliação da Qualidade da Água e do Sedimento em Reservatórios de Abastecimento Público na Bacia do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil. 2017. 44 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) –Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2017. SANTOS, J. P. O.; SILVA, E. V. L.; SOUZA, A. L.; EL-DEIR, S. G. Economia circular como via para minimizar o impacto ambiental gerado pelos resíduos sólidos. In: SANTOS, J. P. O.; SILVA, R. C. P.; MELLO, D. P.; EL-DEIR, S. G. (Org.). Resíduos Sólidos: Impactos Socioeconômicos e Ambientais. 1.ed. Recife: EDUFRPE, 2018. 579p.

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SANTOS, J. P. O.; XAVIER, M. A.; SILVA FILHO, J. A.; BATISTA, M. C.; ROLIM NETO, F. C. Potentialities of the Use of Agroforestry Systems in the Brazilian Semi-Arid Region. Colloquium Agrariae, v. 14, n. 2, p. 163-171, 2018. SILVA, T. R. da; SILVA, J. V. F.; CORREIA, L.; MIYAZAKI, P. A utilização de maquetes didáticas nos estudos de conservação e degradação dos solos no ensino fundamental. In. XI Fórum Ambiental da Alta Paulista, v. 11, n. 4, pp. 169-180. 2015. SILVA, R. C. P.; SANTOS, J. P. O.; MELLO, D. P.; EL-DEIR, S. G. (Org.). Resíduos Sólidos: Tecnologia e Boas Práticas de Economia Circular. 1ed.Recife: EDUFRPE, 2018, v. 1, p. 8-17. VAZ, A. J.; ANJOS, R. M. Como trabalhar a educação ambiental através do estudo do Solo em aulas de geografia. In: Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geografia, 10, Porto Alegre/RS. 2009.

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Capítulo 09 DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE IOGURTE TIPO GREGO COM GELEIA DE PALMA FORRAGEIRA (Opuntia fícus-indica Mill)

GONÇALVES, Laíza Soliely Costa Graduanda de Bacharelado em Agroindústria Universidade Federal da Paraíba laizasolielyc@gmail.com CAVALCANTI, Maria Luíza Coelho Pós-graduando em Energias Renováveis Universidade Federal da Paraíba marialuizacoelhocavalcanti@gmail.com COSTA, Maria Luíza Mendes da Graduanda em Agronomia Universidade Federal da Paraíba maluaccordeon@gmail.com FALCÃO, Breno Marinho Leite Graduando de Bacharelado em Agroindústria Universidade Federal da Paraíba brenofalcao93@gmail.com BELTRÃO, Fabiana Augusta Santiago Eng. Agrônoma. Professora DGTA/CCHSA Universidade Federal da Paraíba fasb.15@hotmail.com

RESUMO Este trabalho teve como objetivo utilizar a geleia da palma forrageira (Opuntia fícus indica Mill) em iogurte tipo grego, visando avaliar a qualidade microbiológica do produto final. O desenvolvimento do iogurte foi realizado no Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de produtos laticínios e as análises microbiológicas no Laboratório de microbiologia em alimentos ambos na UFPB campus III. Foram realizadas análises microbiológicas no intuito de observar a qualidade higiênica e sanitária nos parâmetros para presença Salmonella spp., Estafilococus coagulase positiva, coliformes a 35° e a 45°C e mesófilos, conforme exige APHA (2001), Brasil (2000) e Brasil (2001). Diante disso, observou-se que o produto está dentro dos padrões exigidos pela legislação, e que os resultados deste para presença de mesófilos deve ser estudado detalhadamente sobre os tipos de bactérias mesófilas existente. Conclui-se que é possível a utilização da palma forrageira na obtenção de produtos com qualidade higiênica sanitária satisfatória e que esse estudo pode auxilia posteriores trabalhos para o desenvolvimento de novas formulações e novas análises, visando atender melhor às exigências do mercado consumidor. PALAVRAS-CHAVE: Beneficiamento de palma, qualidade higiênico sanitária, produto do semiárido.

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INTRODUÇÃO A região semiárida tem um grande potencial de biodiversidade, apesar do regime de escassez de chuvas e temperaturas elevadas, está longe de ser uma zona estéril, pois diversas pesquisas realizadas pelo Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA). buscam desenvolver cada vez mais o incentivo aos estudos do semiárido com aplicações de atividade agropecuárias e agrícolas, para tornar o semiárida uma região produtiva e manter o aumento de produtividade, estimulando o conhecimento ao produtor rural (EMBRAPA, 2013). Apesar que ainda os sistemas agrícolas diversificados pela base familiar, são de baixa eficiência e exploração da produção. A palma forrageira é uma planta vegetal da família das cactáceas, muito utilizada na alimentação de ruminantes. Tendo sua origem marcada no México, porém introduzida no Brasil no final do século XIX (FAO, 2001). A Palma gigante é uma das variedades dessa família, e uma das bastantes plantas usadas como alternativa para plantio em regiões de clima semiárido, devido ser uma planta com alta resistência as adversidades climáticas. Sendo utilizada como alimento para animais, devido ao seu alto valor energético e nutricional, contendo proteína, vitaminas, minerais, folato e compostos bioativos (BASTOS et al., 2009; SILVA et al., 2015). Além da boa aceitação pelos animais pela sua palatabilidade e também para alimentação humana, fato esse visto através de pesquisas dos autores, trazendo benefícios a saúde humana. Logo é uma planta que se demostra com uma boa alternativa socioeconômica para produtores de regiões semiáridas, visando utilização tanto para alimentação animal quanto para humana (BRASIL et al., 2018). Os vegetais são boas fontes nutricionais, como Bastos et al. (2009) e Silva et al. (2015) relataram, na palma forrageira esses nutrientes são encontrados nos cladódios, que são a parte área da planta, também conhecidos como broto ou nopal. A viabilidade do processamento dos cladódios se dar pelo seu beneficiamento, onde os cladódios sofrem um processo agroindustrial transformando-se em sucos, geléias, géis, adoçantes líquidos, picles, doces, molhos entre outros produtos de consumo humano (SÁENZ, 2000; MORENO–ÁLVAREZ et al., 2009). Decorrente de dificuldades ligadas ao crescimento de zonas áridas e escassas de recursos hídricos, alguns tipos de cactáceas vem se configurando e ganhando importância no uso alimentar (STINTZING; CARLE, 2005). Estudos mais recentes frente aos componentes químicos e valores nutricionais presentes em cactos, vem atraindo a atenção de pesquisadores em um leque de áreas cientificas (FERNÁNDES-LOPEZ et al., 2010). É através do beneficiamento de frutas e hortaliças que se gera a dinâmica de matéria-prima em produto, resultando na economia em áreas rurais, pois ocorrem beneficiamento ou transformações, que agregam valores aos produtos alimentícios primários (NASCIMENTO; FREITAS; ARAUJO, 2010). Os cladódios da palma podem ser inseridos grupo de produtos primários, isso devido seu potencial nutricional e de caráter funcional, decorrente das fibras presentes, estimulando o seu uso como matéria-prima na alimentação humana (SILVA et al., 2015). Contudo, ainda segundo aos autores, Silva et al. (2015), com os resultados encontrados em seu trabalho, a palma vem sendo promissora como fonte vegetal e se faz necessário haver uma melhor caracterização para uso no processamento de alimentos, para garantir um melhor estudo sobre os seus atributos nutricionais, tecnológicos e funcionais. A utilização de frutas e plantas aromática em produtos lácteas é uma forma de inovação e agregação de sabor ao produto final, por exemplo, no iogurte grego que é um alimento de crescente consumo nos últimos anos, sendo incluído cada vez mais na dieta alimentar de muitos brasileiros, tem propriedades nutricionais diversas, como a presença de proteína, vitaminas e minerais, apresentando uma textura bastante cremosa quando comparado ao iogurte tradicional, devido ao seu processo de dessoramento, no qual ele é submetido (RAMOS et al., 2009;

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GONÇALVES et al., 2018). Segundo Brasil (2007), a instrução normativa nº 46 de 23 de outubro de 2007, preconizada pelo mapa define o iogurte grego o produto oriundo da fermentação lática, ele difere do tradicional pelo seu tempo de fermentação das bactérias láticas e sua textura mais concentrada. Para obter um produto de qualidade com características higiênico-sanitária satisfatório perante a legislação para alimentos (BRASIL. 2001). A matéria-prima deve sofrer por cuidados higiênicos desde da recepção, processamento até o produto final, evitando as possíveis contaminação como pelo contato em meios de solo, água, ar e contato físico, mecânico ou manual (SOUZA et al., 2004). Com isso a qualidade do alimento é definida do controle de qualidade analítico, ou seja, as análises de inspeção durante o processamento até a execução de testes físicoquímicos, químicos e microbiológicos no produto final (LIMA et al, 2007). O parâmetro higiênico-sanitário é aceito para determinar a qualidade microbiológica alimentar, através da avaliação de microrganismos indicadores, a presença desses microrganismos em produtos processados indica, possivelmente, contaminação posterior ao processamento (BLOOD; CURTIS, 1995), além de suposto uso de práticas inadequadas de manipulação e higiene (SOUZA et al., 2003). Diante do contexto abordado, o objetivo desse trabalho foi fazer a utilização da geleia de palma forrageira, da variedade gigante (Opuntia fícus indica Mill) em iogurte tipo grego, visando avaliar a qualidade microbiológica do produto final, como verificação da qualidade higiênico sanitária. Além de obter como uma nova opção de produto lácteo utilizando uma planta de região semiárida, incentivando seu beneficiamento para uso em alimentação humana, valorizando uma potencialidade da região semiárida.

MATERIAL E MÉTODOS A elaboração do iogurte tipo grego com geleia de palma, foi realizada no Laboratório de Desenvolvimento de Produtos em Laticínios-PDLAT, a geleia foi obtida de um experimento do PIBIC/EM, em quer a geleia foi produzida utilizando a variedade de palma gigante, sendo escolhida a concentração de 10% e as análises microbiológicas foram realizadas no Laboratório de microbiologia em alimentos, ambos em Bananeiras PB, campus III, da Universidade Federal da Paraíba-UFPB. Foram utilizados para a elaboração do iogurte tipo grego com geleia de palma, os ingredientes descritos na tabela 1 e o desenvolvimento do iogurte grego com geleia de palma descrito na figura 1.

Tabela 1: Ingredientes para elaboração de iogurte tipo grego com geleia de palma INGREDIENTES

PROPORÇÃO

Leite bovino in natura

2 litros

Açúcar cristal Monte Alegre®

12%

Leite em pó integral Itambé®

26%

Cultura lática comercial liofilizada (Direct Vat Set – DVS)

50:2

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Geleia de Palma

10% Elaborado pelo autor

Figura 1: Fluxograma de produção do iogurte tipo grego com geleia de palma adição do açúcar (12%) e leite em pó (26%)

leite in natura (2l)

Recepção

Incubação 24 h/24-25ºC

Adição da cultura lática 50:2

Resfriamento 45ºC

Pasteurização 85ºc/30m

Dessoragem 16h/10ºC

Adição da geleia de palma (10%)

Homogeneização

envase/ armazenamento 10ºC

homogeneização

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Elaborado pelo autor

O leite foi obtido de ordenha mecânica, de vacas sadias e descansadas do setor de bovinocultura da UFPB/CCHSA Bananeiras PB. Submetido ao transporte em latões higienizados conforme as boas práticas de fabricação (BRASIL, 2001), para o PDLAT, onde foi realizada as análises de plataforma na recepção do leite, teste de alizarol e dornic, para confirmar a qualidade adequada do leite quando a acidificação, após a confirmação, seguiu para o setor de processamento do PDLAT, onde foi adicionado ao leite o açúcar (12%), feita a homogeneização, visando agregar sabor doce ao produto, seguindo para filtragem, após adicionou o leite em pó (26%), para melhorar a textura e concentração do produto final, posteriormente foi feita a pasteurização lenta, 85ºC por 30 minutos, afim de eliminar o percentual de flora microbiana, logo em seguida ocorreu o resfriamento até a temperatura de 45ºC. Seguindo para a inoculação da cultura lática de Direct Vat Set – DVS, ou seja, de aplicação direta ao leite, na proporção 50:2, por incubação de 24 horas em temperatura ambiente, logo após foi realizada a dessoragem 16h/10ºC, visando a concentração do iogurte para formação do tipo grego. Ao final do processo foi adicionada a geleia de palma na concentração de 10% e homogeneização, afim de obter um produto padrão seguindo para o armazenamento 10ºC e posteriores análises. ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS Com o objetivo de avaliar a qualidade higiênico-sanitária, foram realizadas as análises microbiológicas avaliando o iogurte e a geleia de palma. As análises microbiológicas obedeceram as metodologias propostas por APHA (2001), por Brasil (2000), Instrução Normativa nº 62 de 26 de agosto de 2000 e aos padrões exigidos pela RDC n° 12, de 12 de janeiro de 2001, Brasil (2001), para os seguintes parâmetros avaliativos: presença de Salmonella spp., Estafilococus coagulase positiva, coliformes à 35° e à 45°C e mesófilos. RESULTADOS E DISCUSSÃO


Para obter informação sobre as condições higiênicas e sanitárias em que o iogurte sofreu durante todo o processamento de fabricação e armazenamento, afim de identificar todos os perigos relacionados à segurança do iogurte, foi necessário avaliar a qualidade microbiológica do produto. Logo os resultados obtidos nas análises microbiológicas das amostras encontram-se na Tabela 2. TABELA 2: Composição microbiológica do iogurte grego com geleia de palma Iogurte com geleia de Palma

Geleia de Palma

Ausência

Ausência

1,0x101

1,0x101

Coliformes a 35°C

2,1x101

2,3x101

Coliformes a 45°C

2,3x101

2,3x101

Mesófilos

3,20x104

1,0x103

PARÂMETROS Salmonella spp. Estafilococus positiva

coagulase

Conforme se observa na Tabela 2, não foi detectada a presença de Salmonella spp. em todas as amostras de iogurte com geleia de palma e da geleia de palma analisadas, indicando que o produto não teve contaminação e que utilizou das boas práticas de fabricação-BPF, se encontrando dentro dos padrões da RDC nº. 12/2001 (BRASIL, 2001). Quanto a presença de Estafilococus Coagulase Positiva, que é uma bactéria patógena e indicadora sobre a existência da pré-produção de enterotoxina em alimentos, pela sua multiplicação, que produz a toxina que causa a intoxicação alimentar, essa produção de toxina indica que o alimentos foi submetido a um ambiente de conservação (no armazenamento) com temperaturas inadequadas (BERGDOLL, 2000; SÃO PAULO, 2013). No iogurte foi observado que a sua presença onde o padrão é 10¹, estava dentro do preconizado pela legislação (BRASIL, 2001). A presença de coliformes a 35º e a 45º são indicadores da fermentação da lactose em respectivas temperaturas, ou seja, essas bactérias se reproduzem nessas temperaturas, e consome a lactose, no caso em leite. Além que essas bactérias coliformes em geral se originam no intestino de animais de sangue quente. Quando comparado o valor obtido na análise com a legislação, que o padrão é <3, para ambos, todos estavam dentro dos padrões (BRASIL, 2001). Para a presença de bactérias mesófilas, ele que é um indicador geral, que não diferencia os tipos de bactérias mesófilas, serve para obter informações gerais sobre a qualidade do produto, devido o processamento, a manipulação e o shef life. No iogurte demostrou ter a presença de 3,20x104, observou que o valor é alto, porém isso ocorreu devido a concentração de mesófilo ser alta em produtos fermentados, como o iogurte (UEMURA, 2018). Já na geleia não foi encontrado legislação referente ao parâmetro. Pelos poucos trabalhos feitos com processamento de palma para uso diretamente com o iogurte, nossa comparação foi com os resultados de Santos (2018) para geleia de palma, e em confronto com os parâmetros estabelecidos na legislação para geleias de frutas (BRASIL, 2001). Devido ser o produto mais similar.

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CONCLUSÃO O iogurte tipo grego com adição de geleia de palma possui parâmetros como cremosidade diferenciado do iogurte batido. A produção de iogurte tipo grego é de boa qualidade, quando avaliado pelos parâmetros microbiológicos. A partir dos resultados obtidos pode-se concluir que o desenvolvimento de iogurte com adição de geleia de palma é possível e que seus parâmetros se apresentam dentro da legislação. Entretanto, são necessários mais estudos voltados para utilização dessa variedade de palma na alimentação humana, como análise físico-química e sensorial, para assegurar a qualidade alimentar, principalmente na alimentação humana, além de ser um trabalho que traz uma ideia para o desenvolvimento de novos produtos agroindústrias, voltados a cadeia láctea e valorizando o que a região semiárida tem a oferecer.

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Capítulo 10 DIAGNOSTICO DO MANEJO NUTRICIONAL DE EQUINOS ATLETAS PARA VAQUEJADA

MARQUES, Thays Maria de Sousa Graduanda em Ciências Biológicas Universidade Federal da Paraíba (UFPB) thaysmarquesbq@gmail.com MUNIZ, Ataliba Junior Graduado em Zootecnia Universidade Federal da Paraíba (UFPB) atalibazootec@hotmail.com DANTAS, Leonilson da Silva Mestre em Zootecnia Universidade Federal da Paraíba (UFPB) leodantaszoo@hotmail.com MUNIZ, Ana Jaqueline Cavalcante Doutora em Zootecnia Universidade Federal da Paraíba (UFPB) jaquezootec@hotmail.com COSTA, Maria Lindomarcia Leonardo Professora do Departamento de Zootecnia/CCA Universidade Federal da Paraíba (UFPB) lindomarcia@cca.ufpb.br

RESUMO Objetivou-se com essa pesquisa avaliar o manejo nutricional, variedades e quantidades de alimentos fornecidos pelos criadores aos cavalos atletas na região do Cariri Paraibano. A pesquisa foi realizada nos municípios de Queimadas, Caturité e Boqueirão. O método de aquisição das informações foi com base em entrevistas. Os questionários foram semiestruturados com perguntas relacionadas ao manejo nutricional geral dos equinos. Foram realizadas 50 entrevistas com criadores de cavalos atletas. Os dados obtidos foram avaliados através da estatística descritiva pela frequência de participação de cada resposta apresentada pelos criadores. Dos 50 entrevistados, apenas (46%) recebem algum tipo de acompanhamento técnico, os cavalos, apresentaram em média 7,5 anos, sendo considerados animais com boa faixa de idade. A grande maioria dos animais (96%) recebem água a vontade, (54%) alimentam-se de ração comercial própria para cavalos, sobre a suplementação mineral apenas (22%) dos entrevistados oferecem sal mineral. Todos os animais pesquisados recebem feno como volumoso e concentrado, sendo que (8%) recebe concentrado misturado com volumoso. No manejo alimentar durante as provas de vaquejada (86%) dos entrevistados fornecem concentrado para os cavalos e todos fornecem volumoso à vontade (70%), a água é em intervalos de tempo durante o repouso, com os dados obtidos conclui-se que o manejo alimentar dos equinos da região estudada apresenta resultados satisfatórios, porem há uma falta de assistência técnica com profissionais qualificados para melhorar o manejo diário dos animais de vaquejada dentro e fora da propriedade. PALAVRAS-CHAVE: alimentação, cavalos, esporte

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INTRODUÇÃO O Brasil corresponde ao maior produtor de equinos da América Latina e em comparação mundial atinge a terceira posição, possuindo um somatório, incluindo muares e asininos, de aproximadamente de 8 milhões de cabeças, o que envolve uma movimentação financeira equivalente à 7,3 bilhões de reais anualmente (VIEIRA et al., 2015). Não restando dúvidas que o complexo do Agronegócio do cavalo seja de importância para o país. O cavalo é um animal domesticado há séculos pelo homem, dentre as inúmeras utilizações do cavalo, uma das mais populares e difundidas no Nordeste é a vaquejada. Nascida na década de 1940, como forma de extensão das atividades do manejo do gado pelo vaqueiro sertanejo (Câmara Cascudo, 1993), com o passar do tempo a prática profissionalizou-se. Por causa disso, as montarias, basicamente formadas por cavalos nativos, foram sendo substituídas por animais de melhor linhagem para utilizarem em provas de vaquejada, assim se tornando mais exigente nos quesitos manejo e nutrição. Nas provas de vaquejada, os cavalos são extremamente exigidos eles realizam um esforço físico de alta intensidade, mas de curta duração, que se reflete em rápida largada, mudanças de direção e paradas abruptas, além de exigir elevada força física durante a derrubada do boi. Alguns cavalos chegam a disputar várias provas em uma mesma competição, todos os fins de semana e na maioria das vezes durante quase toda a semana, (Xavier, 2002). E para tal é de suma importância o manejo nutricional adequado para animais desta categoria. De acordo com Ribeiro(2019) A nutrição inicial do cavalo atleta deve começar com a equilibrada nutrição da égua em gestação, especialmente no terço final, fase em que ocorre o maior desenvolvimento fetal, para que resulte num potro bem formado visto que antes no período gestacional e no pós nascimento é o meio único de alimentarmos o potro. A alimentação deve ser baseada em volumosos de melhor qualidade, à vontade, complementada com 0,5 a 0,8 kg, de ração concentrada por 100kg de peso, ou 2,5 kg a 4,0 kg de ração para uma égua de 500 kg de peso vivo (CINTRA, 2016). O segmento de cavalos de esporte tem diversas modalidades, como enduro, provas de trabalho, rédeas, hipismo clássico graças, em parte, aos ótimos resultados obtidos pelos nossos atletas no exterior e mesmo em modalidades nem tão tradicionais como adestramento e no Hipismo Paraolímpico em que o Brasil vem ganhando medalhas tanto individual como por equipes na Paraolimpíadas Equestre (CINTRA, 2014). A principal diferenciação na alimentação dos cavalos comuns e os atléticos está na quantidade energia e proteína necessárias na alimentação. Para os cavalos atletas é necessário uma quantidade maior de energia na ração (CEOLA, 2017). Entretanto alimentação equina deve ser adequada a cada tipo de modalidade que o cavalo deve enfrentar como: corrida, provas de força máxima, ou até mesmo lida de gado dentro de sua propriedade. Por isso é importante a atenção para o esforço do cavalo e qual alimentação deve ser usada de forma que venha a nutri-lo (Cintra, 2014). Ao instituir um programa de nutrição, é importante buscar o equilíbrio entre o requerimento nutricional que varia de acordo com o peso, idade, tipo e intensidade do esforço físico realizado, a raça, sexo e a disponibilidade de nutrientes presentes nos alimentos concentrados, volumosos e suplementos. O objetivo dessa pesquisa foi investigar o manejo nutricional, tipos e quantidades de alimentos fornecidos pelos criadores aos cavalos atletas da região do Cariri Paraibano. MATERIAL E MÉTODOS Esta pesquisa foi realizada nos municípios de Queimadas, Caturité e Boqueirão, situados na microrregião do Cariri Oriental que compõe a mesorregião da Borborema no Estado da

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Paraíba. A Microrregião do Cariri Oriental da Paraíba apresenta vegetação de Caatinga, com clima semi-árido, com precipitação pluviométrica em torno de 400 mm/ano (AESA, 2015). As propriedades foram escolhidas nos diferentes municípios para representar a diversidade dos sistemas de produção, considerando-se: localização geográfica, estrutura física, importância relativa da atividade, organização do trabalho. O método de aquisição das informações foi com base em entrevistas realizadas com os proprietários ou responsáveis pelo manejo dos animais, as entrevistas foram semi- diretiva em que apenas lança-se uma questão, deixando o produtor responder. Os questionários foram semiestruturados com perguntas relacionadas ao manejo nutricional geral dos equinos. Foram realizadas no total 50 entrevistas, 20 no município de Boqueirão, 15 em Queimadas e em Caturité, respectivamente. Os animais foram todos observados no momento da entrevista, com auxílio de uma fita métrica, obteve-se o diâmetro torácico dos animais especificando o peso, e mensurando também a altura com a utilização da fita métrica. Foi realizado a observação da condição de escore corporal sendo determinada com base na escala de 1 a 9. Foram avaliados 32 cavalos castrados, 16 éguas e 2 Garanhões. Os dados obtidos foram avaliados através da estatística descritiva pela frequência de participação de cada resposta apresentada pelos criadores. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação ao perfil dos animais avaliados no quesito idade, apresentaram em média 7,5 anos. (Tabela 1), sendo considerados animais com boa idade e que vão competir por muitos anos, apresentaram uma média de peso de 428 kg, e altura em média de 1,50m, que é a média do padrão racial da raça quarto milha, com escore corporal de 5,5. Segundo McManus et al. (2010), o escore adequado para cavalos é 5, baseado na escala de 0 à 9, apresentando assim um escore considerado moderado, sendo animais considerados robustos, fortes e musculosos por se tratar de animais atletas que precisam de uma boa performance corporal para as provas de vaquejadas. A maioria dos animais avaliados são machos com (68%). Perfil dos Animais

Médi as

Idade

7,5

Peso (kg)

428

Altura (M)

1,5

Escore

5,5

Sexo (%)

68

Macho Fêmea

32 Tabela 1. Perfil dos equinos atletas estudados na região do cariri paraibano.

90


A tabela 2 mostra os resultados relacionados ao manejo nutricional dos equinos. A grande maioria dos animais (96%) recebem água a vontade o que é crucial para saúde desses animais, tendo o restante recebendo água em intervalos de tempo. Com relação a água fornecida, esta deve ser limpa e fresca, sempre disponível para o consumo, visto que os cavalos consomem grande quantidade de água durante o dia, sendo em média 30 a 45 litros por dia, para um cavalo em repouso em um ambiente fresco. Podendo variar seu consumo de acordo com a necessidade do animal, a temperatura do ambiente e a dieta fornecida (GOBESSO, 2017). Dos entrevistados (54%) ofertam ração comercial própria para cavalos, os demais (46%) oferecem algum tipo de farelo preparado na propriedade sem orientações técnicas. Esses produtores possuem o hábito de misturar os farelos nas rações já balanceadas, visto isso em (16%) dos entrevistados. Observou-se que dos (46%) que oferece o farelo preparado na propriedade, oferece milho moído + o farelo de trigo (27%), utilizado em maior quantidade seguido pela mistura de milho + soja + farelo de trigo (13%), e em menor quantidade só o milho (6%). Em todas as misturas o milho moído é utilizado em maior quantidade (52%) quando comparado aos demais tipo de milho. Santos (2001) relatou que os concentrados industrializados formulados para equinos são alimentos balanceados; não havendo necessidade em adicionar outro tipo de concentrado na ração, assim, apesar da diminuição do custo em relação à associação dos farelos com o concentrado industrializado, deve-se ter cuidado com essa associação para não haver desequilíbrio na alimentação desses animais e gerar sérios problemas para os cavalos como falta de minerais e excesso de energia. Tabela. 2. Manejo nutricional dos equinos atletas estudados na região do Cariri Paraibano, obtidos por médias Variáveis

Total (%)

Fornece água à vontade? Sim

96

Não

4

Oferece concentrado comercial? Sim Não

54 46

Adiciona Farelo a ração comercial? Sim

29

Não 71

91


Qual Tipo de Mistura Realizada na propriedade? Milho + Trigo

27

Apenas milho 6 Milho + Soja + Trigo 13 Qual tipo do milho utilizado? Milho em grão

15,38

Farelo de milho

10,25

Milho moído

64,10

Rolão

10,25

Oferece concentrado quantas vezes ao dia?

2X

64

3X

32

4X

4

Quantos kg por refeição em média?

2,5

Oferece sal mineral? Sim

22

Não

78

Qual Frequência? À vontade Na ração

30 70

Sobre a frequência de oferta de concentrado a maioria dos entrevistados oferece duas vezes ao dia (64%), Três vezes (32 %) e a menor quantidade (4%) oferece quatro vezes ao dia. Todavia, (Lewis 1985), relata que o fornecimento de farelo deve ser de pelo menos duas vezes ao dia, pois a anatomia do estômago do equino não suporta grandes quantidades de alimento em curto espaço de tempo, podendo provocar posteriormente excesso alimentar nesses animais. Todos os entrevistados oferecem em média 2,5 kg de concentrado por refeição. Já na suplementação mineral apenas 22% dos entrevistados oferecem sal mineral, sendo 30% à vontade e a maior parte (70%) adicionado na ração. A oferta de sal mineral especificamente a vontade é importante para o equilíbrio da relação cálcio:fósforo. Segundo Lewis (1985), a deficiência de sal mineral provoca falta de apetite e consequentemente resulta em perda de peso. Logo, o tipo de sal

92


mineral utilizado na alimentação dos equinos deve ser o recomendado para a espécie, de modo a promover equilíbrio na dieta desses animais, proporcionando, maior aproveitamento no consumo de alimento e consequentemente melhorando o escore corporal dos animais. O fornecimento de feno como volumoso (tabela 3) para os equinos atletas é realizado pela maioria dos entrevistados (78%.) Esse tipo de manejo é de suma importância, pois mostra a preocupação dos criadores com seus animais, possivelmente na época seca, onde existe a escassez de forragem e, portanto, tornando-se necessária a suplementação do volumoso. Contudo, a produção de feno é altamente dependente das condições climáticas as quais são frequentemente instáveis no período de sua produção (Vilela, 2010). A grande maioria dos entrevistados produzem seu próprio feno em suas propriedades, sendo (45%), a grande maioria de Tifton que totaliza (94%). A escolha por este tipo de gramínea do gênero dos cynodon se dá pela alta produção de matéria seca e alta digestibilidade (Burton et al., 1993), quando produzida em condições adequadas. Rápida taxa de crescimento e boa relação lâmina/colmo, quando comparado aos outros cultivares do gênero Cynodon. Os demais entrevistados eles optam pela compra do feno por falta de água para utilizar em irrigação. Tabela 3- Fornecimento de volumoso para equinos atletas estudados na região do Cariri Paraibano (%) Variáveis

Total (%)

Fornece feno? Sim

78

Não

22

Compra

33

Produz

45

De que é feito o feno? Tifton

94

Brachiaria

2,56

Nativo

2,56

Usa capim moído Sim

26,53

Não

73,46

Tem capineira? Sim

60

Não

40

Qual? Sorgo

33

Tifton

50

Elefante

16,66

93


Oferece silagem? Sim

64

Não

36

De que é a silagem? Milho Sorgo

16,12 83,87

Os cavalos tem acesso ao pasto? Sim

74

Não

26

Qual o horário que os cavalos pastejam? Noite

74

Dia e noite

27

Qual o tipo de forragem disponível nos pasto? Nativa

83

Tifton

17

Em quais épocas do ano tem pastagens disponíveis? Inverno

62

Verão

11

Durante todo o ano

27

Apenas 3% dos entrevistados oferecem feno de Brachiaria, ou feno de alguma forrageira nativa, por ser tratar de uma alternativa mais barata em locais mais próximos ao rio. Os entrevistados afirmaram também utilizar capim moído em (27%) como principal fonte de volumoso, a grande maioria (73%) não fornece capim moído. Dos entrevistados, (60%) possuem campineira em sua propriedade nas quais estão incluída três variedades, onde (33,33%) das propriedades possuem uma área de sorgo, seguido pelo tifton (50 %) e na menor porcentagem o capim elefante (16,66 %), dos quais, capim elefante e sorgo são oferecidos moídos no cocho, devendo-se ter atenção especial com as sobras que podem fermentar e predispor os animais à cólicas. Se o capim elefante for oferecido muito passado do ponto vai estar com quantidade elevada de ligninas diminuindo o valor nutricional do mesmo. Dos entrevistados, (64,58%) fornecem silagem para os animais. A silagem é considerada excelente forma de conservação de volumoso, dependendo da forragem de que é produzida e assim, representa uma alternativa para diminuir custos de manutenção das propriedades, especialmente na época da seca quando o feno alcança preços muito elevados. Apesar de ser encarado com desconfiança por muitos criadores e proprietários, este alimento é utilizado com certa frequência por muitos criadores na região estudada sem prejuízo nenhum aos animais, desde que produzido com cuidado e fornecido adequadamente fracionando várias vezes ao dia. A maioria da silagem ofertada para os cavalos no presente estudo é de sorgo (83%) em seguida de milho (17%0). A maioria (26%) dos cavalos pesquisados não tem acesso ao pasto nas propriedades onde (64,00%) permanecem no pasto no período da noite, já (74,28%)

94


permanecem dia e noite, o que lhe permite estar em contato com o seu ambiente natural; porém por se tratar de animais atletas não é recomendado deixar os animais exclusivamente no pasto pois corre um risco maior de se machucarem. Segundo Victor (2011) a pastagem atua na manutenção do equilíbrio psíquico do cavalo e serve para o relaxamento muscular. Apesar de ser no campo que os cavalos se sentem mais felizes, eles podem se tornar um animal que pode sofrer variações de peso ao longo do ano; algo indesejável para os cavalos atletas que precisam manter seu o escore ideal para as competições. Segundo, De Oliveira, (2016), deixar um cavalo demasiado tempo no estábulo pode provocar o aparecimento de vícios, comportamentos indesejáveis e por vezes prejudiciais, que dificilmente são eliminados, Em relação as forragens disponíveis nas pastagens das propriedades, a nativa é a que mais se observa com (83%), seguido pelo Tifton com (17%). Com maior disposição na época do inverno em (62%) das propriedades, (27%) produz o ano todo com irrigação e (11%) na época do verão. Todos os animais recebem como primeiro alimento do dia o concentrado (Tabela 4), sendo que (8 %) recebem misturado com volumoso. O fornecimento de volumoso e concentrado juntos favorecem a passagem rápida do concentrado pelo trato gastrintestinal sem que haja absorção eficiente dos nutrientes. Contudo, (84,00%) dos produtores esperam o animal consumir para depois oferecer o volumoso. Tabela 4. Manejo alimentar diário dos equinos atletas na região do Cariri Variáveis Qual primeiro alimento do dia? Concentrado

100

Oferece concentrado misturado com volumoso? Sim

8

Não 92 Espera algum tempo após o concentrado para fornecer o volumoso? Sim

84

Não 16 Já perdeu algum animal por cólica? Sim Não

4 96

95


Esses resultados mostram que os animais da pesquisa, na sua grande maioria recebem um bom manejo nutricional diário refletindo na porcentagem de morte por cólicas de animais na região onde a maioria alegaram não perder nenhum animal por cólica. A cólica não é uma simdrome específica e sim, um conjunto de múltiplas condições conseqüentes a determinadas disfunções de vísceras intra-abdominais, sendo responsável por grandes perdas econômicas devido a gastos com tratamento (Traub-Dargatz et al., 2001), tempo de afastamento do eqüino de suas atividades normais, perdas decorrentes de infecções e abortos em éguas e morte. Na tabela 5, estão os dados do manejo alimentar dos equinos durante as provas de vaquejada, (86%) dos produtores fornecem concentrado para os cavalos e todos fornecem

96

volumoso à vontade, (70%) fornecem água nos intervalos da vaquejada e durante o repouso, (62%) dos entrevistados deixam seus cavalos soltos. Variáveis

Total%

Fornece concentrado?

86

Sim Não

14

Volumoso a vontade? Sim

100

Não Agua? Á vontade

30

Intervalos de tempo na vaquejada

70

Durante o repouso os animais ficam? Amarrados

38

Soltos

62 Tabela 5- Manejo alimentar dos equinos atletas nas provas de vaquejada

Na Tabela 6, estão os dados relacionados ao manejo sanitário dos animais da pesquisa, as vitaminas são oferecidas em (22%) dos animais, ficando a grande maioria sem atenção para essa suplementação, porém (92%) dos animais são vermífugados, as vitaminas são nutrientes fundamentais para o equilíbrio orgânico uma vez que são responsáveis por manter o equilíbrio metabólico e celulares dos animais em perfeito funcionamento. Situações como: idade, sexo, raça, perfil genético e estado fisiológico e carga de exercício determinam alterações de requerimento nutricional a quais não são atendidas pelo aumento da quantidade de alimento oferecida


diariamente. Isso justifica a necessidade de fazer a suplementação nutricional especifica para cada ocasião. Total%

Variáveis Oferece vitaminas e fortificantes? Sim

22

Não

78

Vermífuga os animais? Sim

92

Não

8 Tabela 6- Manejo sanitário dos equinos atletas.

Tendo em vista seus hábitos alimentares, de acordo com Merial, (2005), os cavalos, herbívoros por natureza, são muito susceptíveis ao parasitismo interno. Tais parasitas são sérios fatores de risco à saúde dos cavalos, afetando diretamente a performance de animais atletas, além de causar diversas doenças e até mesmo a morte. A presença de parasitismo nos equinos implica em consequências como cólicas; diminuição do apetite; anemia; diarréias ou constipações e retardo de crescimento. Podem causar doenças como: aneurisma verminótico; gastroenterite; dermatites e outras alterações cutâneas e pneumonias.

CONCLUSÃO O manejo alimentar dos equinos da região estudada apresenta resultados satisfatórios, porém há uma falta de assistência técnica com profissionais capacitados para melhorar ainda mais o manejo diário dos animais de vaquejada dentro e fora da propriedade.

REFERÊNCIAS BURTON, G. W., GATES, R. N., HILL, G. M. Registration of Tifton 85 bermudagrass. Crop Science, Madison, v. 33, n. 3, p. 644-645, May/June 1993. CÂMARA CASCUDO, L. Dicionário do folclore brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia, 1993. p. 783-785 CINTRA, A.G.C.O Cavalo: características, manejo e alimentação. Reimpr. São Paulo. Roca. 363 p. 2014. CINTRA, A.G.C. Suplementação para equinos atletas da gestação ao adulto, Revista online André Cintra, nutrição e interacionismo,2016.

97


CEOLA, Claudia; Alimentação é o Principal Fator Para Alta Performance De Cavalos Atletas. 14 de Fevereiro de 2017. DE OLIVEIRA, J,N; PEREIRA, A T; NATH, J L. INTERRELAÇÃO ENTRE AS INSTALAÇÕES, COMPORTAMENTO SOCIAL E SEUS EFEITOS SOBRE O BEMESTAR EM CAVALOS DOMÉSTICOS. Salão do Conhecimento, v. 2, n. 2, 2016. GOBESSO, A. A. de O. (2017) A importância da água para os equinos. Revista Horse. 102: 5051; LEWIS, L.D. 1985. Alimentação e Cuidado do Cavalo. Roca LTDA, São Paulo, p. 16.

98 Merial Saúde Animal. 2005. Criadores de eqüinos: Guia de vermifugação. Capturado em 04 jan 2018. Online. Disponível em < http://br.merial.com/criadores_equinos/ guia_vermifugacao /guia_vermifugacao9.asp > Acesso: 04 mar. 2020. Ribeiro, Ana Carolina Brito. Tópicos em nutrição do cavalo atleta. /Ana Carolina Brito Ribeiro; Rio Verde Goiás ,2019. 19p. : il. Monografia (Graduação) – Instituto Federal GoianoCâmpus Rio Verde,2019çlm SANTOS, S.A.; SILVA, R.A.M.S.; AZEVEDO, J.R.M.; MELLO, M.A.R.; SOARES, A.C.; SIBUYA, C.Y.; ANARUMA, C.A. Serum electrolyte and total protein alterations in Pantaneiro horse during long distance exercise. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.53, n.3, 2001. TRAUB-DARGATZ, J.L. et al. Estimate of the national incidence of and operation-level risk factors for colic among horses in the United States, spring 1998 to spring 1999. Journal of American Veterinary Medical Association, v.219, n.1, p.67-71, 2001. VIEIRA, Verônica; Manejo e nutrição de cavalos atletas, Revista online InfoEquestre, 1ºEdição, 2016 VILELA, H. Série gramíneas tropicais: gênero cynodon (bermuda - capim). Disponível em: em: <http://www2.dracena.unesp.br/eventos/sicud_2010/anais/monogastricos/090_2010.pdf >Acesso em: 14 mar. 2020 VICTOR, R.P.; ASSEF, L.C.; PAULINO, V.T. forrageiras para equinos. disponível em: http://www.iz.sp.gov.br/artigos.php?=2011. Acesso em: 18/01/2018. XAVIER, I. L. G.de S. Detecção de enfermidades do aparelho locomotor através do exame físico em equinos de vaquejada. Monografia (Graduação em Medicina Veterinária) – Escola Superior de Agricultura de Mossoró, Mossoró, RN, 2002.


Capítulo 11 DIAGNÓSTICO DOS RÓTULOS ALIMENTÍCIOS COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE APODI - RN E PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES

OLIVEIRA, Amanda Rayane Gama Técnica em Agropecuária Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte aninha.argo@hotmail.com BATISTA JUNIOR, Leonilson Técnico em Agropecuária Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte leonilsonjr10@hotmail.com ALBUQUERQUE, Glênio da Silva Técnico em Agropecuária Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte glenioalbuquerque1@gmail.com FEITOSA, Bruno Fonsêca Bacharelando em Engenharia de Alimentos Universidade Federal de Campina Grande brunofonsecafeitosa@live.com FEITOZA, João Vitor Fonseca Professor Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte joaovitorlg95@hotmail.com

RESUMO A rotulagem é toda informação presente na embalagem do alimento, que expressa dados importantes, a partir da origem até sua composição nutricional. A adequação dos rótulos de alimentos às normas legislativas vigentes geralmente é prejudicada pela falta de fiscalização frequente dos órgãos competentes e fornecimento de instruções técnicas aos fabricantes, principalmente em cidades do interior do Rio Grande do Norte. Por isso, objetivou-se diagnosticar rótulos de alimentos comercializados na cidade de Apodi-RN, bem como avaliar a percepção dos consumidores quanto a importância da rotulagem. O diagnóstico foi realizado a partir de 63 diferentes tipos de alimentos, em pontos comerciais. Utilizou-se um check list com 28 itens quanto aos critérios “Conforme”, “Não conforme” e “Não se aplica”. Quanto a percepção dos consumidores, os dados foram coletados aplicando-se um questionário avaliativo, sendo ainda calculado o tamanho da amostra e os resultados foram utilizados para geração de figuras e tabelas. Verificou-se que nenhum dos rótulos estavam 100% conformes e que existem diversas não conformidades presentes, principalmente em produtos, como molhos, bolos e bolachas. O questionário demonstrou que 23,62% dos consumidores não possuem o costume de ler os rótulos dos alimentos. Contudo, concordam que a correta rotulagem é importante para a população. Portanto, embora os rótulos sejam importantes canais de comunicação entre o produto e o consumidor no momento da compra, muitos deles ainda apresentam diversos requisitos que não estão em conformidade com a legislação vigente. Evidencia-se a necessidade de uma intensa fiscalização por parte dos órgãos responsáveis.

PALAVRAS-CHAVE: Consumidor, Legislação, Rotulagem de alimentos.

99


INTRODUÇÃO

Nos municípios do interior do Rio Grande do Norte, mais precisamente em Apodi-RN, existe o comércio interno, que é regido a partir do que é produzido na agricultura familiar. Os pequenos produtores e criadores têm como princípio de geração de renda a criação de animais e obtenção de alimentos, como o leite, a carne e seus derivados, além de inúmeras áreas de plantio (FEITOZA et al., 2020). É perceptível que a maioria dos produtos alimentícios, se não todos, que estão disponíveis nas prateleiras do comércio têm uma boa qualidade quanto a sua composição nutricional. Porém, paralelo a isso, percebe-se que muitos desses produtos não dispõem do rótulo de maneira adequada, com todas as informações a respeito do alimento e sua composição nutricional. Os rótulos são como uma importante ponte de comunicação entre o produto e o consumidor, sendo utilizados no momento da compra de um produto para eficiência do mercado e bem-estar dos consumidores (MACHADO et al., 2006). A partir do conceito de rótulo, percebese a importância dos alimentos rotulados para garantir a compra de produtos de qualidade e saudáveis (FEITOZA et al., 2020). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) busca assegurar que os produtos expostos nas prateleiras do comércio possuam rótulos com as informações adequadas. A obrigatoriedade das informações é assegurada principalmente a partir das Resoluções de Diretoria Colegiada, às RDC's, que por lei impõem aos produtores e comerciantes à presença dos rótulos nos alimentos como veículos das informações (FEITOZA et al., 2020). Logo, o objetivo foi diagnosticar rótulos de alimentos comercializados na cidade de ApodiRN, bem como avaliar a percepção dos consumidores quanto a importância da rotulagem.

MATERIAL E MÉTODOS

Diagnóstico dos rótulos de alimentos A pesquisa exploratória foi realizada no mercado local varejista da cidade de Apodi, no Rio Grande do Norte, com estimativa de 36.323 habitantes, em 2017. Foram visitados pontos comerciais, como mercadinhos, mercados, mercearias e supermercados, sendo diagnosticados 63 diferentes tipos de alimentos. Utilizou-se um check list com 28 itens quanto aos critérios “Conforme”, “Não conforme” e “Não se aplica”, elaborado especificamente para este estudo. A verificação e preenchimento foram procedidos, através da comparação com os rótulos e averiguação com o exigido pelas principais legislações vigentes no Brasil. Entre as principais legislações estão:  RDC nº 259/2002: Denominação de venda, lista de ingredientes, conteúdos líquidos, identificação de origem, identificação do lote, prazo de validade, marca, data de fabricação, modo de conservação, sem identificação terapêutica ou informações que induzam ao erro;  Portaria INMETRO 157/2002: Peso drenado;  RDC nº 359/2003: Contém a indicação da porção em ml ou g;

100


 RDC nº 360/2003: Tabela de informação nutricional, medida caseira, valor energético por porção em Kcal e Kj, carboidratos por porção em g, proteínas por porção em g, gorduras totais por porção em g, gorduras saturadas por porção em g, gorduras trans por porção em g, fibras alimentares por porção em g, sódio por porção em mg;  Lei de 10.674/2003: Expressão "Contém Glúten" ou "Não Contém Glúten";  RDC nº 26/2015: Informa os componentes que causam alergias alimentares;  RDC nº 136/2017: Informa se contém ou não lactose;  Outros itens analisados: nome da empresa, endereço completo e CNPJ.

Percepção dos consumidores quanto a rotulagem dos alimentos Durante o mês de novembro de 2019, o estudo foi realizado com potenciais consumidores da cidade de Apodi-RN. Os dados foram coletados por entrevistadores treinados e as entrevistas foram realizadas nos dias úteis da semana, nos turnos manhã, tarde e noite. Aplicou-se um questionário avaliativo, com adaptações ao proposto por Cassemiro et al. (2006), Cavada et al. (2012) e Machado et al. (2013).

Os entrevistados foram abordados aleatoriamente e de acordo com o interesse em participar da pesquisa. Foi calculado o tamanho da amostra, considerando a população da cidade, a variável normal, a real probabilidade do evento e o erro amostral, estimando-se um total de 381 pessoas, conforme a Equação 1.

(1)

Em que: n: amostra calculada;

N: população de 36.323 habitantes. Z: variável normal de 1,95; p: real probabilidade do evento de 95%; e: erro amostral de 5%.

Todos os resultados foram tabulados no programa Microsoft Excel 2013, no qual foram geradas figuras e tabelas.

101


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diagnóstico dos rótulos de alimentos Conforme relatado por Feitoza et al. (2020), na cidade de Apodi - RN são comercializados diferentes tipos de alimentos, provenientes de diversas cidades da região. Relataram ainda que essa cidade apresentou a maior quantidade de alimentos avaliados, com 41,27% (n = 26); seguida por Mossoró, com 30,16% (n = 19); Pau dos Ferros, com 9,52% (n = 6); Felipe Guerra, com 7,94% (n = 5); Severiano Melo, com 6,35% (n = 4); Governador Dix-Sept Rosado, com 3,17% (n = 2); e Caraúbas, com 1,59% (n = 1). Na Figura 1 estão apresentados os resultados do check list (28 itens) quanto aos critérios “Conforme”, “Não conforme” e “Não se aplica”, no que se referem aos alimentos comercializados na cidade de Apodi-RN e em cidades vizinhas. Observou-se que o alimento “Colorífico” apresentou máxima porcentagem de conformidades, com 89,29%. As menores porcentagens de conformidades foram observadas nos alimentos “Pãozinho” e “Doce de caju”, que ambos apresentaram 21,43%. Percebeu-se que muitos dos rótulos analisados apresentaram não conformidades frente às legislações vigentes. A porcentagem máxima de desconformidades encontrada nos rótulos foi de 71,43% (Bolo caseiro 1, Bolo caseiro 2 e Bolo caseiro 3) e a porcentagem mínima foi de 3,57% (Milho de pipoca e Colorífico). As menores porcentagens no critério “Não conforme” foram de produtos com rótulos fabricados por grandes empresas, que possuem conhecimentos e praticam a legislação nos rótulos dos alimentos. As maiores porcentagens no critério “Não conforme” representam rótulos de pequenos produtores, que fabricam seus alimentos e elaboram os rótulos sem todos os conhecimentos da legislação necessários e apoio técnico adequado. As menores porcentagens de "Não se aplica" foram de 3,57%, incluindo alimentos como “Bolo caseiro 1”, “Bolo caseiro 2”, “Bolo caseiro 3” e “Tareco”, sendo a maior porcentagem obtida pelo alimento “chia” (42,85%). O critério "Não se aplica" refere-se a alimentos em que nem todos dos 28 itens, que foram analisados nos rótulos, eram obrigatórios. Por exemplo, o alimento “chia”, por ser de origem vegetal, não necessariamente precisa conter itens, como: "contém ou não lactose" e "peso drenado".

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Figura 1. Critérios “Conforme”, “Não conforme” e Não se aplica” dos alimentos comercializados na cidade de Apodi-RN e vizinhos.

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Na Figura 2 podem ser observadas muitas inadequações presentes nos rótulos de alimentos, principalmente quanto às informações nutricionais apresentadas. Essas inadequações resultam, em sua maioria, da falta de fiscalização dos órgãos competentes e não da ausência de leis. É evidente a contribuição das normas e leis sobre a rotulagem no Brasil, todavia, são necessárias ações mais eficazes para o seu cumprimento nas indústrias de alimentos (CÂMARA et al., 2008).


Figura 2. Rótulos de produtos comercializados na cidade de Apodi-RN.

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A

B

C

A: Tabela nutricional de tempero de garrafa com unidades de medidas inconformes; B: Bolacha com letra pequena e ausência de informações obrigatórias; C: Ausência de informações obrigatórias.

Percepção dos consumidores quanto a rotulagem dos alimentos Na Tabela 1 estão apresentadas as características e as respostas de percepção dos consumidores entrevistados na cidade de Apodi-RN. O questionário aplicado aos 381 (n = 100%) consumidores mostrou que a maior parte da população amostral é composta por cidadãos do gênero feminino, com exatos 47,24% (n = 180) dos entrevistados do sexo masculino e 52,75% (n = 201) do sexo feminino. Cassemiro et al. (2006) reportaram que a maior parte dos entrevistados do seu estudo com rotulagem nutricional eram principalmente mulheres, casadas, com mais de 40 anos, com nível superior de estudo e poder aquisitivo acima de 3 salários mínimos, em Umuarama, no estado do Paraná. Os consumidores de Apodi-RN, em sua maioria 44,62% (n = 170), é composta por pessoas com idade entre 16 e 30 anos. Cerca de 3,67% (n = 14) tinham idades entre 0 e 15 anos, bem como 6,56% (n = 25) tinham idade com mais de 60 anos. Logo, a população é composta majoritariamente por pessoas jovens. Observa-se que 31,23% (n = 119) dos consumidores possuem o costume de ler os rótulos dos alimentos, mas uma quantidade substancial não se importa em ler os rótulos, de 23,62% (n = 90). Cerca de 45,14% (n = 172) afirmaram ler apenas as vezes, o que demonstra a grande necessidade de conscientizar a população da cidade, através das práticas extensionistas. Diversos estudos dizem que a população, quando ler o rótulo, busca mais informações sobre a data de validade, pois consideram o item mais importante (CASSEMIRO et al., 2006; CAVADA et al., 2012; MACHADO et al., 2013). Isso corrobora com o relatado nas conversas informais com os consumidores deste estudo, apesar de não ter sido quantificado.


Tabela 1. Percepção dos consumidores de Apodi – RN quanto a rotulagem de alimentos (n = 381). Características

n

%

Masculino

180

47,24

Feminino

201

52,75

0 a 15 anos

14

3,67

16 a 30 anos

170

44,62

31 a 45 anos

105

27,56

46 a 60 anos

67

17,58

Acima de 60 anos

25

6,56

Gênero

Faixa etária

Você costuma ler os rótulos dos alimentos? Sim

119

31,23

Não

90

23,62

As vezes

172

45,14

Você entende o que está escrito nos rótulos dos alimentos? Sim

89

23,35

Não

124

32,55

As vezes

168

44,09

Você já identificou algum erro nos rótulos dos alimentos? Sim

98

25,72

Não

283

74,27

Você concorda que a correta rotulagem dos alimentos é importante para o consumidor? Sim

355

93,17

Não

26

6,82

No estudo de Cassemiro et al. (2006), cerca de 68,5% dos entrevistados afirmaram consultar os rótulos nutricionais dos alimentos. Além disso, o que mais chama a atenção ao

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comprar um alimento são os atributos de qualidade, sabor, valor nutricional, preço, embalagem e, com a menor importância, a marca. Quando questionados se entendem o que está escrito nos rótulos, os resultados mostraramse preocupantes: 44,09% (n = 168) dos entrevistados disseram entender as vezes; 32,55% (n = 124) disseram não entender; e apenas 23,35% (n = 89) disseram entender. Isto é, uma grande quantidade de pessoas, cerca de 76,64% (n = 292), não compreendem completamente o que leem. Isso demonstra que a maioria não consegue identificar ou nunca identificaram erros nos rótulos, 74,27% (n = 283). Apesar desses resultados, 93,17% (n = 355) dos entrevistados disseram que a correta rotulagem dos alimentos é importante para os consumidores e apenas 6,82% (n = 26) disseram o contrário. Logo, precisa-se conscientizar a parcela que ainda não compreende a importância das informações e da leitura dos rótulos e que, mesmo lendo, não compreendem o que está escrito. Alguns itens é dever das empresas modificar, como o tamanho da letra que, muitas vezes, é muito pequena para serem lidas, principalmente por pessoas com dificuldade visual, como os idosos.

CONCLUSÃO Os rótulos de produtos comercializados em Apodi-RN apresentam diversas inconformidades com a legislação especifica. Os consumidores em sua maioria não possuem o hábito de ler os rótulos dos alimentes. Porém, reconhecem a sua importância. Evidencia-se a necessidade de um comprometimento das indústrias frente as legislações de rotulagens impostas para cada produto. Além disso, uma intensa fiscalização dos órgãos responsáveis pode garantir que a rotulagem de alimentos seja realizada de acordo com as normas vigentes, evitando consequências aos consumidores.

REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 259, de 20 de setembro de 2002a. Aprova o Regulamento Técnico sobre Rotulagem de Alimentos Embalados. Diário Oficial da União; República Federativa do Brasil, Brasília, 23 set. 2002. BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 359, de 23 de dezembro de 2003a. Aprova o Regulamento Técnico de Porções de Alimentos Embalados para Fins de Rotulagem Nutricional. Diário Oficial da União; República Federativa do Brasil, Brasília, 26 set. 2003. BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 360, de 23 de dezembro de 2003b. Aprova o Regulamento Técnico sobre Rotulagem Nutricional de Alimentos Embalados, tornando obrigatória a rotulagem nutricional. Diário Oficial da União; República Federativa do Brasil, Brasília, 26 nov. 2003. BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 26, de 02 de julho de 2015. Dispõe sobre os requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares. Diário Oficial da União; República Federativa do Brasil, Brasília, 03 jul. 2015. BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 136, de 08 de fevereiro de 2017. Estabelece os requisitos para declaração obrigatória da presença de

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lactose nos rótulos dos alimentos. Diário Oficial da União; República Federativa do Brasil, Brasília, 09 fev. 2017. BRASIL, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial. Portaria INMETRO nº 157, de 19 de agosto de 2002b. Aprova o Regulamento Técnico Metrológico, em anexo, estabelecendo a forma de expressar o conteúdo líquido a ser utilizado nos produtos pré-medidos. Diário Oficial da União; República Federativa do Brasil, 2002. BRASIL. Lei nº 10.674, 16 de maio de 2003c. Obriga a que os produtos alimentícios comercializados informem sobre a presença de glúten, como medida preventiva e de controle da doença celíaca. Diário Oficial da União; República Federativa do Brasil, Brasília, 2003. CÂMARA, M. C. C.; MARINHO, C. L. C.; GUILAM, M. C.; BRAGA, A. M. C. B. A Produção acadêmica sobre rotulagem de alimentos no Brasil. Revista Panamericada de Salud Pública/Pan American Journal of Public Health, v. 23 n.1, p: 52-58, 2008. CASSEMIRO, I. A.; COLAUTO, N. B.; LINDE, G. A. Rotulagem nutricional: quem lê e por quê? Arquivo Ciência Saúde UNIPAR, v. 10, n. 1, p. 9-16, 2006. CAVADA, G. S.; PAIVA, F. F.; HELBIG, E.; BORGES, L. R. Rotulagem nutricional: você sabe o que está comendo? Brazilian Journal of Food Technology, IV SSA, p. 84-88, 2012. FEITOZA, J. V. F.; OLIVEIRA, A. R. G.; JUNIOR, L. B.; ALBUQUERQUE, G. S.; SANTOS, E. N.; FREITAS, H. F. S. Avaliação da rotulagem dos alimentos comercializados no município de Apodi-RN. Revista Brasileira de Gestão Ambiental, v. 14, p. 28-32, 2020. MACHADO, C. B.; NOGUEIRA, S. E.; BRIANCINI, T. P.; TOBAL, T. M. Avaliação do hábito de leitura e entendimento dos rótulos dos alimentos: um estudo em um supermercado na cidade de Santa Fé do Sul-São Paulo. Revista Funec Científica-Nutrição, v. 1, n. 1, 2013. MACHADO, S. S.; SANTOS, F. O.; ALBINATI, F. L.; SANTOS, L. P. R. Comportamento dos consumidores com relação à leitura de rótulo de produtos alimentícios. Alimentos e Nutrição, v. 17, n. 1, p. 97-103, 2006.

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Capítulo 12 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE PARASITAS GASTRINTESTINAIS EM RUMINANTES

GOMES, Isaac Araújo Pós-graduando em Biotecnologia Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI) isaacbiomed1@gmail.com SILVA, Érik Serafim Pós-graduando em Biotecnologia Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI) erik.silva26@escola.pb.gov.br MEDEIROS, Weverton Pereira de Mestre em Sistemas Agroindustriais Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) weverton_cafu@hotmail.com.br COSTA, Natanaelma Silva da Doutoranda em Biotecnologia Universidade Federal da Paraíba (UFPB) natanaelma2@gmail.com MEDEIROS, Marcos Barros de Professor do Departamento de Agricultura Universidade Federal da Paraíba (UFPB) mbmedeir2016@gmail.com

RESUMO As infecções gastrintestinais têm causado prejuízos significativos em relação a criação de ruminantes ocasionando perda de peso, baixo consumo de alimentos, baixa produção de leite e em casos mais graves, os índices de mortalidade sobem. A pesquisa visou evidenciar parasitoses gastrintestinais em bovinos localizados em propriedades rurais da cidade de Boa Vista/PB. A coleta de amostras em campo foi conduzida em três propriedades rurais: Fazenda São Luis, Fazenda Riachão e Fazenda Samambaia. Para identificação de possíveis parasitoses nas amostras coletadas dos animais, foram utilizados dois métodos laboratoriais (sedimentação e direto). Após as análises das 41 (100%) amostras de fezes, estratificadas em 31 (76%) provenientes de fêmeas e 10 (24%) de machos, o quantitativo que apresentaram resultado positivo para infecção foi de 16 (39%) amostras, sendo 11 (69%) de animais fêmeas e 5 (31%) de machos, houve uma maior prevalência (75%) de ovos de Trichostrongylus axei, por meio do método de sedimentação e de Trichuris sp. (38%) por meio do método direto, além de ser possível a visualização de larvas de Cooperia sp. Pode-se concluir que foi confirmado casos de parasitoses gastrintestinais em bovinos diagnosticadas por meio da realização de exames parasitológicos de fezes, considerandoas em sua maioria com grau de infecção parasitária alta e máxima. O período de estiagem favorece o aumento de parasitas no trato gastrointestinal desses animais, motivado pelo grande índice de ingestão de larvas presentes nas pastagens no período chuvoso anterior, dessa forma, sendo a seca a época mais indicada para a vermifugação, o chamado controle estratégico. PALAVRAS-CHAVE: infecções; nematódeos; verminoses.

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INTRODUÇÃO O parasitismo interno de ruminantes constitui um dos principais entraves à produção animal em sistema de pastagens em diversas regiões do Brasil, em muitos casos, a verminose é a principal causa de mortalidade, principalmente de animais jovens. O Brasil segundo estimativa recente, possui cerca de 217,4 milhões de Bovinos, sendo o País como um dos maiores rebanhos comerciais do mundo (FAO, 2014). Quando nos referimos ao abate para consumo, a produção de carne bovina no Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial de países produtores, sendo precedido pelos Estados Unidos segundo dados do IBGE (2017). No nosso país maior parte da criação de ruminantes ainda é feita no regime extensivo ou semi-intensivo, o que ocasiona constantes infecções por parasitas que estão presentes nas pastagens (PADILHA, 1996; ANUALPEC, 2003). Entretanto, animais sujeitos a criação mais extensiva são forçados a se alimentar sem muita seletividade e próximos aos bolos fecais, com isto, acabam adquirindo cargas maiores de vermes, o que junto ao fator nutricional, ocasiona a uma queda em seu sistema imunológico e maiores aumento nos índices de mortalidade. As infecções gastrintestinais tem causado intensos prejuízos significativos em relação a criação de ruminantes, nesses animais, doenças parasitárias resultam em grandes perdas econômicas decorrente do crescimento retardado, além da perda de peso, baixo consumo de alimentos, baixa produção de leite e em casos de infecções mais graves, os índices de mortalidade sobem (ALVES; SANTILIANO; DE ALMEIDA, 2016).A elevada prolificidade, adaptabilidade e resistência a diversas condições climáticas, fazem com que tanto ecto quanto endoparasitas tenham ampla distribuição geográfica e alta prevalência, tanto em regiões com clima temperado como clima tropical (COSTA; SIMÕES; CORREA, 2009). Segundo Molento (2005) cada parasita possui uma série de combinações ecológicas que favorecem o seu desenvolvimento em determinada região e não em outra. Em qualquer sistema de exploração, alguns indivíduos são mais suscetíveis seja devido ao sexo, idade, exposição prévia, fase do ciclo reprodutivo, comportamento, predisposição genética ou sensibilidade a parasitos. Por outro lado, devido às diferenças no que tange a patogenicidade das espécies parasitárias, a carga parasitária necessária para causar doença varia consideravelmente (SOUZA, 2013). Para Craig (2008), os parasitas nematoides que acometem ruminantes e se alojam no trato gastrintestinal, possuem na maioria das espécies, uma evolução semelhante no meio ambiental, entretanto, diferenciam-se quanto aos efeitos causados sobre o hospedeiro. O parasitismo gastrintestinal é um importante fator econômico responsável pela baixa produção, sendo considerado um sério problema de saúde na criação de pequenos ruminantes, promovendo uma série de sintomas, a depender do grau de parasitismo e hábitos alimentares dos helmintos envolvidos (BUZZULINI et al., 2007; SILVA et al., 2008). Apenas os sinais clínicos do animal não são suficientes para que se possa fechar o diagnóstico, para isso é necessário a realização do exame parasitológico que verifica a presença de ovos e cistos dos parasitas em uma amostra fecal, existem diferentes métodos que possam confirmar a presença da infecção. As infecções parasitárias normalmente são mistas e compreendem diversas famílias e gêneros (VIVEIROS, 2009). Os nematoides pertencentes ao gênero Trichostrongylus spp. são pequenos e não ultrapassam sete milímetros de comprimento quando adultos. Nos bovinos, a espécie mais relevante é Trichostrongylus axei., Oesophagostomum spp. são parasitos do intestino grosso de ruminantes e suínos e as principais espécies são Oesophagostomum columbianum e Oesophagostomum radiatum (DURO, 2010).

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Objetiva-se então, com essa pesquisa, evidenciar casos de parasitoses gastrintestinais em bovinos oriundos de três propriedades rurais do município de Boa Vista/PB por meio de dois métodos laboratoriais de diagnóstico, visando quantificar os achados positivos e traçar medidas profiláticas que visem minimizar futuras infestações.

MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa caracterizou-se do tipo exploratória e experimental. A coleta de amostras em campo foi conduzida em três propriedades rurais: Fazenda São Luis localizada no sítio São Joãozinho, Fazenda Riachão situada no Riachão dos Batistas e Fazenda Samambaia no sítio Poço de Pedras no município de Boa Vista, estado da Paraíba na região Nordeste do Brasil. O município de Boa Vista (PB) está localizado na região metropolitana de Campina Grande e incluso na delimitação do Semiárido pelo Ministério da Integração Nacional em 2005 levando em consideração o seu baixo índice pluviométrico e seu índice de aridez, apresenta um clima com média pluviométrica anual de 418,8 mm. As amostras foram coletados em período de estiagem, clima na qual encontra-se menor incidência de larvas nas pastagens e também diminuição da disponibilidade dessas, divido ao baixo índice pluviométrico da região, que tem uma precipitação em torno de 6,6mm durante o mês de outubro (mês que foi realizado as coletas e análises) conforme dados do departamento de ciências atmosféricas, da Universidade Federal de Campina Grande expressos na tabela 1, período esse na qual existe uma maior concentração de parasitas no trato gasto entérico dos bovinos. Tabela 1. Dados climatológicos em Boa Vista

Fonte: DCA/UFCG (2018)

No primeiro contato com os produtores rurais, foi apresentado o projeto de pesquisa expondo os fatos e explicado o propósito do mesmo, após a autorização para realização das coletas nos animais, foi agendado uma data junto ao proprietário das fazendas para que fossem realizadas as coletas. Na Fazenda São Luis, as coletas ocorreram no dia 06 de outubro de 2019, na fazenda havia 16 bovinos (animais de interesse da pesquisa), dentre estes, 13 fêmeas e 3 machos. Realizou-se a coleta do material biológico de sete animais, sendo seis fêmeas e um macho. As análises parasitológicas foram realizadas no dia seguinte a coleta. Na Fazenda Riachão, as coletas foram realizadas no dia 08 de outubro de 2019, vale ser dito que esta propriedade rural se destaca por ser uma das maiores do município, atualmente conta com 52 bovinos, entre adultos e bezerros, sendo 43 fêmeas e 9 machos. Foram coletas vinte e uma

110


amostras biológicas, sendo dezesseis de fêmeas e cinco de machos. As amostras foram analisadas no mesmo dia. A coleta do material biológico na Fazenda Samambaia ocorreu no dia 24 de outubro de 2019, a propriedade conta com um rebanho de 31 bovinos, onde 26 são fêmeas e 5 machos. Foram realizadas treze coletas, destas, nove foram de fêmeas e quatro de machos. As análises foram realizadas no dia 25 de outubro de 2019. Como critério de seleção dos animais foi levado em consideração à presença de sintomas ou sinais de tristeza parasitária, além do histórico do animal em relação às verminoses. Após a coleta, a população total de indivíduos amostrados para a pesquisa foi de 41 bovinos adultos, distribuídos em machos e fêmeas. Em seguida da escolha dos animais, foi realizada a coleta do material fecal diretamente na cavidade retal, massageando a região do cólon descendente e armazenando as fezes em recipiente térmico, logo em seguida sendo encaminhadas ao laboratório de parasitologia do Centro Universitário Maurício de Nassau Campus Campina Grande para proceder com as análises. Para identificação de possíveis parasitoses nas amostras coletadas dos animais, foram utilizados dois métodos laboratoriais (sedimentação e direto) com auxílio de visualização microscópica para cistos, ovos e larvas de nematódeos. O primeiro método foi o direto (FERREIRA, 2012), na qual as amostras foram maceradas em água, colhido uma gota com a pipeta de Pasteur e posta em lâmina e sobre ela uma lamínula, levando-as ao microscópio visualizando nas objetivas de 10x e 40x. O segundo método foi o de sedimentação (HOFFMAN; PONS; JANER, 1934), inicialmente as amostras foram maceradas em água e com o auxílio de gases cirúrgicas filtradas o macerado em um cálice parasitológico, deixando em repouso por 40 minutos e depois disto desprezando o sobrenadante e completando-o de água novamente (repetindo por 3x esse processo), finalizando, colhe-se uma gota do sedimento com o auxílio de uma pipeta de Pasteur e colocando-a sobre uma lâmina, adicionando uma gota de lugol e pondo por cima uma lamínula, levando-as também ao microscópio visualizando nas objetivas de 10x e 40x, na ocasião foi possível observar diferentes ovos de parasitas que estavam acometendo o trato gastrointestinal dos bovinos alvos do estudo. Após todo o processamento de coleta e análise das amostras, foi realizado o agrupamento dos resultados e em seguida organizados e sistematizados em gráficos e tabela a fim de facilitar o entendimento sistêmico dos dados submetidos a análises quantitativa e qualitativa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Após as análises das 41 (100%) amostras de fezes bovinas coletadas, estratificadas em 31 (76%) provenientes de fêmeas e 10 (24%) de machos, o quantitativo de amostras que apresentaram resultado positivo para infecção parasitária foi de 16 (39%) amostras, sendo 11 (69%) amostras de animais fêmeas e 5 (31%) de machos. Foi confirmada a existência de parasitose na referida população levando em consideração o que preconiza SAMPAIO (2002), admitindo-se 36% (0,36) de prevalência de animais com presença de ovos de helmintos gastrintestinais nas fezes. Das 16 amostras que apresentaram resultado positivo através do método de Sedimentação, 6 (38%) possuíam ovos de Oesophagostomum spp., 12 (75%) foram encontrados ovos de Trichostrongylus axei, em 8 (50%) foram possível observar ovos de Cooperia sp., e 7 (44%) amostras possuíam ovos de Strongyloides spp. Em um estudo anterior, Santiago e colaboradores

111


(1975) evidenciaram a prevalência desses mesmos parasitas em experimento realizado, demonstrando uma maior incidência também de Trichostrongylus axei e Cooperia sp. Já Torres et al., (2009) observaram em sua pesquisa que os níveis de Cooperia sp. foram superiores as presenças de Oesophagostomum spp., e Strongyloides spp. Para Giudici et al., (1999) existe uma maior diversidade entre as espécies de nematódeos quando os bovinos compartilham a pastagem com ovinos, o que pode ser levado em consideração na presente pesquisa, haja visto que os bovinos em estudo eram criados em sistema extensivo junto com caprinos e ovinos. Araújo e Madruga (2001) também relata que as infecções parasitárias do rebanho são na maioria dos casos mistas e os efeitos patológicos causados pelos nematoides gastrintestinais são variados.

Figura 1. Dinâmica populacional dos gêneros de parasitas encontrados por propriedade rural por meio do método de sedimentação. 8 7 7 6 5 4

4

4

4 3 3 2

2

2

2

2 1

1

1

1 0 Fazenda São Luis Oesophagostomum spp

Fazenda Riachão Strongyloides spp

Cooperia sp.

Fazenda Samambaia Trichostrongylus axei

Fonte: Autores (2019)

De Carli (2011), recomenda sobre a necessidade de utilização de pelo ou menos dois métodos quantitativos em inquéritos epidemiológicos cercando assim, todas as possibilidades de um resultado falso-negativo. Considerando a necessidade da realização de outro método parasitológico para confirmar as infecções na população em estudo, foi realizado em todas as amostras o método de análise direta. Utilizando o método direto (FERREIRA, 2012) foi possível observar em 4 (25%) amostras, larvas de Cooperia sp., fato esse que evidencia o aumento no nível de infecção na estação chuvosa, provocada principalmente por este gênero, dessa forma havendo um aumento no número de larvas no trato gastro entérico dos animais assim como preconiza Bailey (1949). Melo e Bianchi (1977) por sua vez, também observaram que o número de vermes adultos foi mais alto no período seco. Foi possível através desse método, visualizar também ovos de Trichuris sp., em amostras de 5 (32%) bovinos e ovos de Trichostrongylus axei, em 3 (19%). Catto (1982) por sua vez, em seu experimento também verificou uma menor expressividade dessa espécie. Em uma pesquisa realizada no estado do Espírito Santo, Repossi Júnior e colaboradores (2006)

112


evidenciaram a prevalência de parasitoses gastrintestinais em bovinos de 12 propriedades rurais e observaram que Trichuris sp., foi diagnosticado em 50% dessas propriedades.

Figura 7. Dinâmica populacional dos gêneros de parasitas encontrados por propriedade rural por meio do método direto.

Fazenda Samambaia

113 Fazenda Riachão

Fazenda São Luis

0

2

Trichostrongylus axei

4 Trichuris sp.

6

8

Larvas de Cooperia sp.

Fonte: Autores (2019)

Para medir o grau de infecção dos bovinos, foi elaborado a tabela acima considerando o quantitativo de ovos encontrados por amostra, baseando-se com os parâmetros utilizados por Crespo (1992) e tendo em vista também o que preconiza Pires (2010) na qual relata que a determinação de parâmetros populacionais para detecção do nível de infecções causadas por parasita baseia-se na contagem de ovos.

Tabela 2. Classificação para medir grau de infecção

Grau da infecção

Simbologia

Quantidade de ovos

1

+

<10

2

++

>10 <25

3

+++

>25 <50

4

++++

>50

Fonte: Autores (2019)


No que se refere à verificação quanto ao grau das infecções, das 16 (100%) amostras positivas, 4 (26%) apresentaram grau máximo (++++) e 6 (38%) demostram-se como de baixo grau (++), no entanto, as outras 6 (38%) amostras foram classificadas como grau alto (+++) de infecção (Tabela 3), estando relacionado ao alto índice de vermes adultos presentes no trato gastrointestinal desses bovinos. Equação utilizada para quantificar os ovos totais Σ = (C1 + C2 + C3 + C4 + C5) * *C = Campo visualizado Tabela 3. Distribuição do grau de infecção nas amostras positivas

Identificação das

No de ovos

amostras positivas

encontrados

Grau de infecção

Procedência da coleta

Faz. São Luis

(Σ=5C) 03

51

++++

05

32

+++

06

53

++++

07

11

++

14

12

++

17

27

+++

21

29

+++

22

11

++

25

41

+++

26

59

++++

28

62

++++

33

13

++

36

14

++

38

44

+++

39

30

+++

41

12

++ Fonte: Autor (2019)

Faz. Riachão

Faz. Samambaia

114


Contrariando, Levine (1963) considerou que a prevalência não é satisfatória para avaliar a importância de um determinado parasita numa região, haja vista que uma alta prevalência não necessariamente significa uma alta infecção. Roberts (1957) concluiu que a contagem de ovos nas fezes pode ser razoável índice da população de vermes adultos durante o período de susceptibilidade, mas é de valor duvidoso quando o animal adquiriu ou está adquirindo resistência. Isso significa dizer que segundo os referidos autores, enquanto uma contagem numerosa de ovos nas amostras significa um resultado confiável para infecção de alto grau, uma baixa contagem não implica necessariamente dizer que haja poucos vermes ou que a infecção seja baixa. A epidemiologia, como a patologia e as práticas de controle dos nematódeos gastrintestinais nos ruminantes, têm sido objeto de estudado em vários países, entretanto, os conhecimentos científicos sobre essa temática são relativamente escassos.

CONCLUSÃO Foi possível confirmar casos de parasitoses gastrintestinais em ruminantes (bovinos) por meio da realização de exame parasitológico de fezes (sedimentação e método direto) em três diferentes fazendas, considerando-as em sua maioria com grau de infecção parasitária alta e máxima. Apesar deste se tratar de um estudo preliminar e com uma amostragem consideravelmente pequena, foi notória a diversidade de parasitas encontrados, sendo de grande importância esse levantamento de dados por parte dos produtores para que se haja uma produção tranquila em seu rebanho.

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Capítulo 13 DIAGNÓSTICO QUANTIQUALITATIVO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS EM UMA PREFEITURA DO SEMIÁRIDO PARAIBANO

COSTA, Fabiana Xavier Doutora em Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande fabyxavierster@gmail.com SILVA, Josivan Pimenta da (in memoriam) Graduado em Ciências Agrárias Universidade Estadual da Paraíba josivanpimenta2010@hotmail.com MESQUITA, Francisco de Oliveira Pós-doutor em Agronômia Universidade Federal do Ceará mesquitaagro@yahoo.com.br ARAÚJO, Ana Beatriz Alves de Araújo Doutoranda em Manejo de solo e água Universidade Rural do Semiárido beatrizufersa@gmail.com MEDEIROS, Salomão de Sousa Doutor em Recursos Hídricos e Ambientais Universidade Federal de Viçosa salomao.medeiros@insa.gov.br

RESUMO Objetivou-se, com este trabalho, realizar um levantamento quantiqualitativo dos resíduos sólidos de uma prefeitura do semiárido paraibano, buscando um incentivo a sustentabilidade. O trabalho foi realizado no período de novembro a dezembro de 2014, em dois momentos: sensibilização dos funcionários e separação do lixo, coleta e pesagem diária dos resíduos, em cada setor por semana. Os setores com maior produção de resíduos foram o Departamento de Finanças (6,152 Kg/semana), a cozinha (5,78 Kg/semana) e a Secretaria Municipal de Saúde (5,68 Kg/semana). Nos setores Secretaria Municipal de Saúde, Departamentos de Administração, de Finanças, Pessoal e Chefia Gabinete, o papel foi o resíduo com o maior percentual (78,2 %, 46 %, 72,4 %, 53,85 % e 53,66 %, respectivamente). No setor Departamento Arquivo Geral o lixo de aterro, que são os resíduos contaminados, não passível de reciclagem, como por exemplo, o papel higiênico usado, obteve 67,25 % do lixo gerado, enquanto que, na cozinha, o lixo orgânico (68,94 %) foi o mais produzido. Não houve produção dos resíduos vidro e orgânico nos setores, com exceção da cozinha que produziu o orgânico. Não sendo produzidos resíduos vidros em nenhum dos setores avaliados. O resíduo mais produzido foi o papel (49 % do total) e o menos produzido foi o metal (1%). Para um meio mais sustentável, faz-se necessário e imprescindível a implantação de um projeto de coleta seletiva na prefeitura municipal de Riacho dos Cavalos – PB.

PALAVRAS-CHAVE: educação ambiental, coleta seletiva, desenvolvimento sustentável

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INTRODUÇÃO Atualmente, um dos maiores problemas ambientais é a produção de resíduos sólidos urbanos, que cada vez mais vem se tornando um grande desafio para a sociedade. Diariamente são produzidas quantidades excessivas de lixo, contendo materiais como papéis, vidros, latas, restos de comidas, dentre outros que, em muitos casos, são depositados livremente na natureza. Diretamente ligado a esses fatores está o acelerado crescimento da população juntamente com os avanços tecnológicos, causando um aumento na produção de bens de consumo. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) classifica os resíduos conforme sua origem e periculosidade. Quanto à origem os resíduos podem ser: domiciliares, de limpeza urbana, urbanos, estabelecimentos comerciais ou prestadores de serviço, serviços públicos de saneamento básico, industriais, serviços de saúde, construção civil, agrossilvopastoris, serviços de transporte e mineração. Com relação à periculosidade os resíduos podem ser não perigosos e perigosos, ou seja, que possuem características de inflamabilidade, toxicidade, corrosividade, reatividade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentando um significativo risco ambiental e a saúde pública (BRASIL, 2010). Ao discutir os problemas relacionados à forma de apropriação e destruição da natureza no processo de desenvolvimento econômico vivenciado por diversas nações, é perceptível a necessidade de analisar um dos grandes problemas da atualidade, qual seja, o aumento da geração de resíduos sólidos urbanos e os problemas decorrentes da falta de um gerenciamento adequado destes (PEREIRA e CURI, 2013). O aumento da geração de resíduos sólidos urbanos teve sua geração acentuada a partir da Revolução Industrial. As indústrias passaram a utilizar grande quantidade de recursos naturais para abastecerem suas 150 fábricas e atenderem as exigências do mercado que se tornou cada vez mais consumista, como resultado da ideologia vigente de fomentar o consumismo como forma de aumentar a produção e riqueza do país. De acordo com Pereira e Curi (2013) a presença dos “lixões”, nos centros urbanos, ocasiona diversos problemas, tanto para o meio ambiente como para a sociedade, dentre eles, destaca-se a inserção de uma parcela da população, que sem outras perspectivas, busca nos resíduos seu alimento e sua fonte de renda, esta proveniente da venda dos materiais recicláveis lá encontrados. Nesse sentido, a coleta seletiva na fonte deve ser incentivada, e o máximo aproveitamento dos resíduos sólidos deve ser feito antes deles chegarem aos “lixões” ou aterros sanitários, de forma que a aberração em que se constitui a permissão de que famílias inteiras, incluindo crianças, usem de coleta de resíduos em “lixões” como meio de vida seja extinta de forma permanente. A estas famílias deve ser concedida prioridade de emprego em empresas de coleta seletiva de resíduos urbanos. Para o caso brasileiro o gerenciamento e a gestão de resíduos sólidos devem seguir a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos (BRASIL, 2010). De forma similar é a estratégia europeia para a gestão de resíduos, que impõe a seguinte hierarquia e ordem de prioridade: prevenção; preparação para a reutilização; reciclagem; outras formas de valoração (como por exemplo a recuperação de energia); e disposição final (LOMBARDI; CARNEVALE; CORTI, 2015). Com exceção do aproveitamento energético, que no Brasil ainda é uma atividade incipiente como demonstra as pesquisas realizadas em algumas capitais (FUGII; VASCONCELOS; SILVA,

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2013). Mas que atrai o interesse de muitos países europeus e o Japão (TANIGAKI; ISHIDA; OSADA, 2015). Edjabou et al. (2015) defendem que para o planejamento e avaliação ambiental da gestão de resíduos, bem como a recuperação de recursos são necessários dados precisos e confiáveis sobre as características e a composição dos resíduos para o desenvolvolvimento de um sistema e a melhora de tecnologias. Dados e informações próximos da realidade acabam contribuindo para o desenvolvimento de toda a cadeia de resíduos, além de servir como indicadores da atual situação. Uma gestão inadequada compromete a infraestrutura e serviços essenciais de saneamento básico (JACOBI; BESEN, 2011), além de colaborar com a manutenção de equipamentos obsoletos e danificados, pessoal inadequado, baixa arrecadação, comprometendo os poucos recursos mal aplicados (MARCHI, 2015). As consequências são negativas, ocasionando diversos problemas ambientais como a degradação do solo, dos corpos d’água e mananciais, poluição do ar, enchentes e proliferação de vetores causadores de doenças, o que afeta diretamente a sociedade (JACOBI; BESEN, 2011), colaborando também com o aquecimento global e as mudanças climáticas (JACOBI; BESEN, 2011; GOUVEIA, 2012). A falta de conscientização da população relacionada à problemática que envolve a destinação desses resíduos torna-se preocupante, pois, conforme aumenta à demanda de bens e produtos, o ser humano vai gerando resíduos em alta escala, mediante os quais, se dispostos em destinos inadequados gera problemas significativos ao meio ambiente. Como solução para amenizar o acúmulo de tanto lixo, tem-se a reciclagem, ou seja, utilizar produtos descartados para outros fins renováveis. A reciclagem é o reaproveitamento de materiais na fabricação de novos produtos, podendo ser artesanal ou industrial. A primeira é quando o processo passa por poucas modificações, enquanto que a segunda é mecanizada, dando origem a produtos industrializados em larga escala (MATOS, 2009). A coleta seletiva antecede a reciclagem, consistindo na separação dos resíduos sólidos conforme sua natureza na fonte gerada, aproveitando materiais como papel, vidro, plástico e metal, e utilizando o lixo orgânico na produção de adubos por meio da compostagem (CRUZ, 2009). Os trabalhos de educação ambiental devem ser direcionados aos desequilíbrios ecológicos diretos ou indiretamente ligados à atuação humana consumista que, ao mesmo tempo em que supre suas necessidades, gera desperdícios, dificultando a sua sobrevivência e das gerações futuras, necessitando da implantação de um modelo que vise à sustentabilidade, ou seja, garantir a qualidade de vida para as atuais e futuras gerações, sem destruir o meio ambiente. Na visão de Cavalcante (2008), o desenvolvimento sustentável visa o equilíbrio entre crescer e produzir com um ambiente saudável e equilibrado, surgindo efeitos positivos tanto para o meio quanto para a população sem comprometer a qualidade de vida, para isso torna-se necessária mudança no modo de produzir e consumir. Diante do entendimento de que a conscientização é a solução para toda essa problemática e que é por meio de ações preventivas de reduzir, separar, reciclar e reutilizar com a ajuda da educação ambiental contínua e permanente que se pode garantir um meio ambiente digno para as atuais e futuras gerações, contemplando o desenvolvimento sustentável, faz-se necessário à adoção desta ideia entre as pessoas da comunidade.

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Mediante a preocupação com essa realidade, objetivou-se com este trabalho realizar um levantamento quantiqualitativo dos resíduos sólidos que são produzidos em uma prefeitura do semiárido paraibano, visando analisar o destino final e trabalhar a sensibilização da equipe de funcionários da mesma, despertando o interesse para a adoção da coleta seletiva e promovendo um incentivo ao desenvolvimento sustentável.

MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho foi realizado a partir de um resultado de pesquisa, a qual foi realizada na prefeitura municipal de Riacho dos Cavalos, localizada na então cidade do Sertão da Paraíba, com uma população, de acordo com o IBGE (2010), de 8.314 habitantes (Figura 1). Possui área territorial de 264,03 Km2, coordenadas geográficas 6° 26´8´´ Sul e 37° 38´ 53´´ Oeste, Latitude 6.43562, Longitude -37.6481. A instalação do projeto foi na Prefeitura Municipal de Riacho dos Cavalos, localizada na Rua Dr. Antônio Carneiro, nº. 58, no centro da cidade, Paraíba. Sua estrutura física é composta de um prédio central com térreo e primeiro andar (Figura 2), estando entre os pontos de referência da cidade, construído no ano de 1979.

Na atual administração, a Prefeitura Municipal de Riacho dos Cavalos conta com uma equipe de vinte funcionários atuando nas secretarias de Administração, Finanças e Saúde, atendendo de segunda a sexta em horário das 07:00 as 13:00 horas. Nesse estabelecimento funcionam os setores Secretaria Municipal de Saúde, Departamento de Administração, Departamento de Finanças, Departamento Pessoal, Chefia Gabinete e Arquivo Geral. O presente trabalho foi desenvolvido no período de 14 de novembro a 23 de Dezembro de 2014 em seis Setores: secretaria municipal de saúde (7 funcionários), departamento de administração (2 funcionários), departamento de finanças (6 funcionários), departamento pessoal (2 funcionários), chefia gabinete (1 funcionário) e arquivo geral (1 funcionário). Nesses setores, o lixo foi coletado e pesado, diariamente, sendo os resíduos da cozinha da prefeitura também coletados. A pesquisa se deu em duas etapas: primeiro, após conhecer a destinação final dos resíduos da prefeitura, foi desenvolvido a sensibilização dos funcionários quanto à problemática do lixo e

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a importância da coleta seletiva, através da educação ambiental. Segundo, foi trabalhado um levantamento quantiqualitativo dos resíduos sólidos produzidos, por meio da coleta e pesagem diária, em cada setor semanalmente. Para conhecer o destino final do lixo da cidade, em especial o da Prefeitura, foram realizadas observações nos locais geradores e no destino dado ao mesmo, sendo o mesmo depositado em um lixão (Figura 3).

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Figura 3- Lixão da cidade de Riacho dos Cavalos - PB. .

Para a sensibilização dos funcionários foi realizada uma palestra tendo como título a Educação Ambiental, por meio de apresentação de slides em data show, realizada no dia 08 de novembro de 2014 (Figura 04).

Figura 4- Trabalho de Educação Ambiental com os funcionários da Prefeitura.

Foram abordados assuntos como sustentabilidade, os resíduos sólidos e sua problemática nas cidades, coleta seletiva e reciclagem. A equipe do projeto apresentou a padronização de cores dos baldes coletores ao tipo de lixo gerado, para o papel foi utilizado o balde azul, para o metal o balde amarelo, para o plástico o balde vermelho, para o vidro o balde verde, para o orgânico o balde marrom e para o lixo de aterro - resíduos contaminados, não passível de reciclagem, como por exemplo, o papel higiênico - usado o balde cinza, despertando a conscientização no conhecimento da importância de separá-los e no destino ecologicamente correto (Figura 04). Trata-se do espaço que permite contar com a ajuda do pessoal da limpeza no momento da separação dos resíduos para pesagem. Os materiais didáticos utilizados foram folder explicativo, fardamento padrão de educação ambiental e datashow.


Por ser uma pesquisa que exige a abordagem de dados, realizou-se um levantamento quantiqualitativo para identificar as características dos resíduos sólidos dos setores da Prefeitura Municipal de Riacho dos Cavalos – PB. A seleção dos resíduos sólidos foi executada no final do expediente (Figura 5). A pesagem para quantificar foi realizada diariamente, durante cinco dias por semana por setor, no período de 14 de novembro a 23 de dezembro de 2011, sempre no início da manhã do dia posterior a seletividade, antes do início do expediente, em uma balança eletrônica digital (Figura 6).

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Para o desenvolvimento da pesquisa, fez-se necessário, por um lado, o empenho da equipe no processo de sensibilização e na coleta dos dados, por outro, a conscientização e o apoio dos funcionários.

RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com os parâmetros ecológicos, os resíduos sólidos produzidos na Prefeitura Municipal de Riacho dos Cavalos possuem destino ecologicamente inadequado. Todo lixo que é gerado pela população da cidade é disposto em coletores de zinco espalhados pelas ruas, de onde é recolhido pelos funcionários de limpeza pública que se encarregam de levá-lo até o lixão da cidade, através de um veículo com caçamba. Os resíduos da Prefeitura são recolhidos pela funcionária auxiliar de serviços, depositados em sacos plásticos e destinados também para o lixão, o qual está localizado próximo a cidade. Chegando nele, o papelão e os metais são separados por alguns moradores que os destinam à reciclagem, utilizando como renda extra para a família. Os demais são carbonizados como tentativa de reduzir a poluição, entretanto, apesar da queima solucionar a questão do acúmulo, o solo é poluído com os dejetos, e a atmosfera com a fumaça. Há quem pense que a solução para o acúmulo de lixo é a queima do mesmo, quando na verdade agrava a situação. Segundo Fernandes (2007) a queima dos resíduos tem consequências preocupantes, pois, na tentativa de resolver os incômodos trazidos pelo lixo, a sua queima libera gases nocivos na atmosfera, afetando os seres vivos e o meio ambiente. Partindo desse pressuposto, fica claro que, em termos de sustentabilidade, a cidade de Riacho dos Cavalos


necessita de uma maior atenção na destinação do lixo, isso porque, apesar dos lixões serem um meio de vida de alguns catadores, é prejudicial à saúde das pessoas que moram próximo a ele. Os resultados obtidos na caracterização dos resíduos sólidos estão descritos na Tabela 01, conforme os setores, Secretaria Municipal de Saúde (SS), Departamento de Administração (DA), Departamento de Finanças (DF), Departamento Pessoal (DP), Departamento Chefia Gabinete (DCG), Departamento Arquivo Geral (DAG) e cozinha (COZ).

Tabela 1 – Produção de resíduos sólidos gerados na Prefeitura Municipal de Riacho dos Cavalos – PB, 2011. OBS.: (SS): Secretaria Municipal de Saúde, (DA): Departamento de Administração, (DF): Departamento de Finanças, (DP): Departamento Pessoal, (DCG): Departamento Chefia Gabinete, (DAG): Departamento Arquivo Geral e (COZ): cozinha. Riacho dos Cavalos – PB, UEPB. Setor (kg/semana)

Material

Total

SS

DA

DF

DP

DCG

DAG

COZ

Papel

4,442

1,010

4,454

1,564

2,288

0,085

-

13,843

Plástico

0,188

0,280

0,508

0,344

0,504

0,411

0,749

2,984

Metal

0,050

0,044

0,040

0,102

-

0,062

-

0,298

Vidro

-

-

-

-

-

-

-

-

Orgânico

-

-

-

-

-

-

3,985

3,985

Aterro

1,000

0,860

1,150

0,894

1,472

1,146

1,046

7,568

Total

5,680

2,194

6,152

2,904

4,264

1,704

5,780

28,678

% lixo/semana

Material

Total

SS

DA

DF

DP

DCG

DAG

COZ

Papel

78,20

46,00

72,40

53,85

53,66

4,99

-

48,27

Plástico

3,31

12,80

8,25

11,84

11,82

24,12

12,96

10,41

Metal

0,88

2,00

0,65

3,51

-

3,64

-

1,04

Vidro

-

-

-

-

-

-

-

-

Orgânico

-

-

-

-

-

-

68,94

13,90

Aterro

17,61

39,20

18,70

30,8

34,52

67,25

18,10

26,39

Total

100

100

100

100

100

100

100

100,00

Analisando a produção de lixo em cada setor da Prefeitura Municipal de Riacho dos Cavalos, percebe-se maior produção de resíduos nos setores Departamento de Finanças, gerando 6,152 kg/semana de lixo, a cozinha, com 5,78 kg/semana e Secretaria Municipal de Saúde, com uma produção de 5,68 Kg/semana (Tabela 1). Em análise aos dados da Tabela 01, no setor de Secretaria Municipal de Saúde o resíduo com maior índice de produção foi o papel, com percentual de 78,2 %. Esse valor deve-se ao uso contínuo de papel e o seu descarte por parte dos funcionários, além disso, no dia 14 de novembro foi recebida uma entrega de mercadorias em caixas de papelão, as quais foram descartadas, contribuindo para esse alto índice de geração.

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Cruz (2009), trabalhando com coleta seletiva de resíduos sólidos na Universidade Estadual da Paraíba, Campus IV, Catolé do Rocha – PB, verificou porcentagem de papel 31%, resultado com diferença de 47,2 % do trabalho em questão. No trabalho de Silva (2009), com caracterização quantitativa e qualitativa dos resíduos sólidos na Escola Agrotécnica do Cajueiro em Catolé do Rocha – PB, verificou resultado de 57,1% de papel coletado, evidenciando que o consumo de papel faz parte do cotidiano das pessoas e como consequência tem-se a busca por sua matéria prima, a madeira, aumentando os índices de desmatamento. Dos resíduos coletados nesse setor, não houve geração de vidro e orgânico pelo fato de não ocorrer uso e descarte desses materiais. A produção do metal foi de apenas 0,88 %, devido ao pouco uso de grampos no período de coleta, os quais foram responsáveis por esse percentual. No setor Departamento de Administração (Tabela 1), por ser um local que tramita muita fotocópia de documentos, a geração de papel ficou em 46 %, um pouco a frente da produção de lixo de aterro, o qual foi 39,2 %, percentual esse resultante do descarte de copos descartáveis, principal componente, utilizado para tomar água e café pelos funcionários. Um trabalho com resíduos sólidos na Escola Municipal Lafayete Cavalcante na cidade de Campina Grande - PB realizado por Medeiros (2005), constatou um total diário de 18,4 % de papel (1,3 Kg). Parte desse papel coletado é utilizado em oficinas de reciclagem para confecção de cartões e outros materiais para comercialização, convertendo em lucro para a escola, além do incentivo a sustentabilidade. O metal foi o menos produzido neste setor, apenas 2 % do total gerado, sua produção se deve ao descarte de grampos, o qual apresenta maior índice de uso e menor de descarte. Não houve geração dos lixos orgânico e vidro. Em análise aos dados do setor Departamento de Finanças na Tabela 1, verificou-se o maior percentual de resíduos para papel com 72,4 %, o que se deve ao fato desse setor trabalhar com maior utilização de papel em impressões e fotocópias de documentos. Cruz (2009) verificando a produção de resíduos gerados no Centro de Ciências Humanas e Agrárias da Universidade Estadual da Paraíba no Campus IV, de 12,595 Kg de Lixo por semana, 31 % era papel, devido a utilização e descarte por parte dos alunos e do departamento, o que tornase necessário atenção especial ao consumo desse material em alta escala. De todos os resíduos produzidos no setor em questão o que foi menos gerado foi o metal, compreendendo apenas 0,65 %, devido ao pouco descarte de grampos, material responsável por esse percentual. Nos Departamentos Pessoal e Chefia Gabinete foram gerados, respectivamente, 2,904 e 4,264 Kg de resíduos sólidos por semana (Tabela 1). Desse total, 53,85 % era papel no Departamento Pessoal, apresentando uma diferença mínima entre o Setor Chefia Gabinete, o qual produziu 53,66 % de papel. Esses percentuais são resultados do trabalho realizado nesses locais que exige bastante papeis, e consequentemente há alguns descartes dos mesmos. No Departamento Pessoal obteve-se 30,8% de lixo de aterro, ficando um pouco atrás do Chefia Gabinete, em termos de quantidade geradas desse material, que foi de 34,52 %, estabelecendo assim, o aterro como sendo o segundo tipo de resíduo mais produzido nesses setores. O Departamento Pessoal produziu 3,51 % de metal, resultante do descarte de grampos que são retirados das despesas a serem organizadas e arquivadas, enquanto que no Departamento

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Chefia Gabinete não houve produção de metal. Em ambos os setores não se obteve produção de vidro e lixo de aterro. Conforme se observa na Tabela 1, o tipo de resíduo com maior percentual no Departamento Arquivo Geral foi o Lixo de Aterro, compreendendo 67,25 %, é resultado do uso de copos descartáveis e papel higiênico, e lenços, máscaras e luvas de procedimentos utilizados pelo responsável do Arquivo na busca de documentos solicitados na administração. Em trabalho semelhante, Cruz (2009) constatou 75% de lixo de aterro gerados na lanchonete do Campus IV, UEPB em Catolé do Rocha. Da mesma forma que acontece no setor Arquivo Geral esse resíduo possui destino ecologicamente inadequado, uma vez que é queimado, pelo fato de não possuir aterro sanitário. Divergindo dos outros setores, a produção de plástico foi superior aos demais, 24,12 %, isso se deve ao descarte de garrafas pets e embalagens plásticas. Ao contrário do resultado dos outros departamentos, a produção de papel teve uma queda brusca, ficando com apenas 4,99 %. A resposta a esse fator é devido não haver muito descarte desse material, e sim o acúmulo como forma de suporte de documentos. O menor índice de produção foi do metal, constatando 3,64 % do total, isso devido ao pouco uso de grampos, material responsável por esse percentual. Em observação a Tabela 01, verifica-se que no setor cozinha houve produção de 5,78 Kg de resíduos sólidos por semana, desse total, 68,94 % foi lixo orgânico, maior índice cujo resultado é evidenciado pelo fato do descarte de restos de comidas e pó de café, material responsável por esse percentual. Esse tipo de lixo tem o destino ecologicamente inadequado, pois ele é levado ao lixão da cidade, ao invés de ser aplicado em compostagem para então ser utilizado como adubo orgânico. Cruz (2009), analisando a produção de resíduos sólidos no Centro de Ciências Humanas e Agrárias, restaurante universitário e lanchonete do Campus IV na UEPB de Catolé do Rocha, constatou também uma grande geração de resíduos orgânicos. De 98,220 Kg de lixo por semana 75,73% era orgânico, os quais boa parte era aproveitada para alimentação dos suínos daquela instituição. O plástico ficou como segundo material mais gerado nesse setor, compreendendo 12,96 %, isso devido a garrafas pets e embalagens plásticas dos produtos consumidos no local. Na Cozinha funciona a preparação de lanches, café e chá, oferecidos aos funcionários, o excedente é depositado no lixo, o qual corresponde a esses resultados obtidos. O tipo de resíduo menos produzido foi o lixo de aterro (18,1%), provenientes de copos descartáveis e lenços. Não foram gerados os lixos papel, metal e vidro, sendo o único setor a não produzir papel como lixo, devido à natureza das atividades desenvolvidas nele. Os resultados implicam na necessidade da implantação de um sistema definitivo da coleta seletiva de lixo não apenas na Prefeitura Municipal de Riacho dos Cavalos – PB, mas também nos pontos referenciais da cidade, visando à sustentabilidade e preservação do meio ambiente. Porém, exige questões a ser analisada, isso porque não adianta separar sem ter um destino ecologicamente correto. Os dados em porcentagem com a produção total dos resíduos sólidos gerados na Prefeitura Municipal de Riacho dos Cavalos estão dispostos na figura 7.

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Papel

26% Plástico

49%

Metal

14% 1%

10%

Orgânico Aterro

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Figura 7- Produção total dos resíduos sólidos gerados na Prefeitura Municipal de Riacho dos Cavalos – PB.

De acordo com a figura 08, nota-se que, o resíduo mais gerado durante o período de coleta foi o papel, com um percentual de 49% de todo o lixo produzido. Caso houvesse usinas de reciclagem na cidade, esse material poderia ser destinado à reutilização, diminuindo as derrubadas de árvores e contribuindo para a sustentabilidade. Esses resultados se assemelham a pesquisa realizada por Silva (2009), com percentual de 43% de papel do total de resíduos gerados. Por outro lado, o metal constatou-se como o material menos produzido, com percentual de 1 %, resultante do pouco uso de produtos contendo esse material, sendo que o mais utilizado é o papel, por ser a principal fonte de material de trabalho daquele estabelecimento. O lixo de aterro apresentou-se como sendo o segundo mais gerado, com percentual de 26 % do total. Não houve geração do resíduo vidro. No trabalho de Silva (2009), teve-se o mesmo percentual do metal, diferenciando um pouco do trabalho em questão, apenas o lixo de aterro, 37 % do total.

CONCLUSÕES A educação ambiental despertou a consciência dos funcionários do ambiente de trabalho, possibilitou maior aceitação e realização da coleta seletiva. O resíduo mais gerado durante o período de coleta foi o papel, com um percentual de 49% de todo lixo produzido. O metal foi o material menos produzido, com percentual de 1%, resultante do pouco uso de produtos contendo esse material. Durante o período da pesquisa, houve produção de resíduos papeis, plásticos, metais, orgânicos e aterro – resíduos contaminados, não passível de reciclagem - na Prefeitura Municipal de Riacho dos Cavalos/PB. De acordo com a necessidade de um meio mais sustentável, faz-se necessário e imprescindível a implantação de um projeto de coleta seletiva na Prefeitura Municipal de Riacho dos Cavalos – PB.


REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da União República Federativa do Brasil, Brasília, DF. CAVALCANTE, J. L. S. Licenciamento Ambiental nos Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte: Aplicabilidade da Resolução Conama nº 237/97. Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, UFPB. João Pessoa, 2008. CRUZ, E. B. S. Coleta seletiva de resíduos sólidos e educação ambiental: sustentabilidade no semiárido paraibano. 2009. 72 f. il – color. Trabalho Acadêmico Orientado (Graduação em Ciências Agrárias) – Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, Centro de Ciências Humanas e Agrárias, Catolé do Rocha, 2009. EDJABOU, Maklawe. E. et al. Municipal solid waste composition: Sampling methodology, statistical analyses, and case study evaluation. Waste Manag. V.36, p. 12–23. 2015. FERNANDES, M. Coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos: um estudo da gestão dos programas de Florianópolis/SC, Belo Horizonte/MG e Londrina/PR. (Dissertação de Mestrado) Universidade do Vale do Itajaí, Campus Biguaçu, 2007. GOUVEIA, Nelson. Resíduos sólidos urbanos: impactos socioambientais e perspectiva de manejo sustentável com inclusão social. Ciência Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 17, n. 6, Jun. 2012. HAMMES, V. S. Planejamento Ambiental. In: HAMMES, V. S. (Ed. Técn.). Proposta metodológica de macroeducação. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2002. p. 29-31. IBGE. Resultados do Censo 2010 na Paraíba. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/tabelas_pdf/total_populacao_pa raiba.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2012. JACOBI, Pedro R.; BESEN, Gina R. Gestão de resíduos sólidos em São Paulo: desafios da sustentabilidade. Estud. av., São Paulo, v. 25, n. 71, abr. 2011. LOMBARDI, Lidia; CARNEVALE, Ennio; CORTI, Andrea. A review of technologies and performances of thermal treatment systems for energy recovery from waste. Waste management, v. 37, p. 26-44, 2015. LIRA, W. S. et al. Desenvolvimento sustentável: conceitos e controvérsias. In: LIRA, W. S. et al. (Orgs). Sustentabilidade: um enfoque sistêmico. Campina Grande: EDUEP, 2007. p. 19-36. MANUCCI, M. Sociedade Sustentável. In: HAMMES, V. S. (Ed. Técn.). Proposta metodológica de macroeducação. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2002. p. 23-25. MATOS, T. Lixo: uma Alternativa Sustentável. 1 ed. Recife-PE: Soler Edições Pedagógicas, 24 p. il, 2009. MARCHI, Cristina M. D. F. Novas perspectivas na gestão do saneamento: apresentação de um modelo de destinação final de resíduos sólidos urbanos. Revista Brasileira de Gestão Urbana, Curitiba, v. 7, n.1, abr. 2015. PEREIRA, SS., and CURI, RC. Modelos de gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos: a importância dos catadores de materiais recicláveis no processo de gestão ambiental. In: LIRA,

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Capítulo 14 EFEITO DE CIANOTOXINAS NA GERMINAÇÃO DE Coriandrum sativum

NERY, Janiele França Doutra em Ciências Ambientais Instituto Nacional do Semiárido janiele.nery@insa.gov.br NERY, Gleydson Kleyton Moura Mestre em Ecologia e Conservação Instituto Nacional do Semiárido gleydson.nery@insa.gov.br MAGALHÃES, Adriana Guedes Doutora em Engenharia Agrícola Instituto Nacional do Semiárido adriana.magalhaes@insa.gov.br MEDEIROS, Salomão de Sousa Doutor em Recursos Hídricos e Ambientais Instituto Nacional do Semiárido salomao.medeiros@insa.gov.br

RESUMO As cianobactérias tóxicas são conhecidas como uma ameaça ambiental emergente podendo hoje em dia ser encontradas por todo o mundo, quer em água doce como salobra ou até mesmo salgada, causando a sua contaminação e desta forma representando um sério risco para a saúde pública, visto que, além dos perigos relacionados a ingestão de água podem ser bioacumuladas em plantas e animais constituindo rotas potenciais para contaminação humana e da biota. Diante disto, este trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos potenciais de cianotoxinas (microcistina e saxitoxina) sobre a germinação de coentro (Coriandrum sativum). Foram realizados bioensaios de germinação com padrões de microcistina-LR e Saxitoxina em três concentrações, durantes 7 dias, sendo avaliado porcentagem de germinação; (ii) índice de velocidade de germinação; (iii) tempo médio de germinação; (iv) velocidade média de germinação. As cianotoxinas afetam a porcentagem, tempo e velocidade de germinação, sendo os efeitos da saxitoxina, mesmo em menores concentrações que microcistina-LR, mais deletérios, o que pode acarretar prejuízos potenciais ao cultivo de Coriandrum sativum. PALAVRAS-CHAVE: Microcistina, saxitoxina, agricultura, coentro.

INTRODUÇÃO No semiárido brasileiro, florações permanentes de cianobactérias têm sido frequentemente reportadas (MOURA et al., 2018) e são favorecidas pelo baixo volume de água dos reservatórios, altas temperaturas, elevado tempo de retenção da água e eutrofização artificial dos reservatórios (WILK-WOZNIAK et al., 2015).

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Florações de cianobactérias são uma questão de saúde pública, uma vez que estes organismos são potencialmente produtores de cianotoxinas, e além dos perigos relacionados a ingestão da água (BITECONOURT-OLIVEIRA et al., 2014), as cianotoxinas também podem ser bioacumuladas nos tecidos vegetais e animais, o que provoca riscos a ingestão de hortaliças irrigadas com águas contaminadas (CORDEIRO-ARAÚJO et al., 2017) bem como consumo de pescado e outros animais aquáticos (MENDES et al., 2016). As cianotoxinas podem ser acumuladas em produtos aquáticos através de alimentos contaminados, contato direto com água contaminada (ambiente vivo) e biomagnificação através da cadeia alimentar (LEE et al., 2017). As plantas geralmente não são mortas pela concentração ambientalmente relevante, mas seu crescimento e rendimento das culturas são afetados (NERY et al., 2020). Além disso, o solo pode reter toxinas quando a água flui e pode bioacumular toxinas durante as épocas sem florações (CORBEL et al., 2014). O tipo mais comum de intoxicação envolvendo cianobactérias é ocasionado por hepatotoxinas, que apresentam uma ação mais lenta, podendo causar morte num intervalo de poucas horas a poucos dias. As microcistinas (MCs) são as hepatotoxinas de maior dispersão no meio aquático a nível global. As MCs são heptapéptidos monocíclicos com um aminoácido especifico, ADDA (ácido 3-amino-9-metóxi-2,6,8-trimetil-10-fenildeca-4,6-dienóico) e dois aminoácidos variáveis. A principal diferença entre as várias variantes está nos dois L-amino ácidos na posição 2 e 4 e na desmetilação do ácido D-eritro-β-metil aspártico e/ou Nmetildehidroalanina na posição 3 e 7. MCs apresentam um peso molecular entre os 900 e os 1100 Daltons (HUANG & ZIMBA, 2019). De entre todas as variantes de MCs (LA, RR e YR, entre outras), a MC-LR ) com os aminoácidos leucina (posição 2) e arginina (posição 4), é a mais frequente e a mais tóxica, sendo considerada a MC mais comum a nível mundial. As neurotoxinas produzidas por cianobactérias podem ser divididas em três sub-grupos: anatoxina-a, anatoxina-a(s) e saxitoxinas. Essas toxinas agem em vertebrados através de diferentes mecanismos fisiológicos, entretanto, todas levam a morte por parada respiratória . Essas neurotoxinas inibem a condução nervosa por bloqueio dos canais de sódio e cálcio, afetando a permeabilidade ao potássio, levando o individuo a óbito de minutos a poucas horas (HUANG & ZIMBA, 2019). O mecanismo de ação da saxitoxina é o bloqueio reversível dos canais de sódio nos neurônios, levando a potenciais de ação prejudicados, paralisia dos músculos e parada respiratória. É reconhecida como uma das cianotoxinas mais potentes, com uma dose letal para camundongos de cerca de 10 μg/kg por injeção intraperitoneal. Sinais e sintomas em humanos podem variar de formigamento, dormência, dores de cabeça, fraqueza e dificuldade em respirar. Em casos de ingestão letal, a parada respiratória e a morte podem ocorrer em 3-4 horas. Microcistinas e as saxitoxinas podem causar efeitos tóxicos nas plantas terrestres, assim, o significado do uso de águas superficiais contaminadas com cianotoxinas para fins agrícolas é um campo de interesse crescente. Além disso, para os possíveis efeitos no crescimento e desenvolvimento das plantas, essa questão pode suscitar preocupações com a segurança alimentar, se a possível absorção de toxinas pelas plantas puder levar à sua bioacumulação nos tecidos comestíveis (MACHADO et al., 2017). No Brasil, o coentro é amplamente consumido como condimento. É provável que, em valor de mercado, seja a segunda hortaliça folhosa em importância para o Brasil, perdendo somente para a alface. Em geral, é cultivado durante todo o ano e por muitos produtores, exercendo um

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papel social importante, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil (BERTINI et al., 2010). Os produtores dessa olerícola visam à produção de folhas e frutos, onde as folhas servem como condimento em sopas e outros alimentos e os frutos podem ser utilizados em pastelarias e confeitarias, além de fazer parte da composição de bebidas alcoólicas. Alguns tipos varietais são utilizados para extração de óleos essenciais de alto valor agregado, empregados nas indústrias de flavorizantes, cosméticos e medicamentos (BERTINI et al., 2010). Neste contexto, este trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos potenciais de cianotoxinas (microcistina e saxitoxina) sobre a germinação de coentro (Coriandrum sativum).

MATERIAL E MÉTODOS Delineamento experimental

Para avaliação dos efeitos de microcistina e saxitoxina na germinação de C. sativum foram desenvolvidos três tratamentos: controle – água deionizada; MC – padrão de microcistina-LR (Abraxis); SX- padrão comercial de saxitoxina (Abraxis). Foram utilizados três concentrações de microcistina -LR -M1, M2, M3, e três de saxitoxina, S1, S2 e S3, os quais estão abaixo do recomendado para consumo pelas legislações vigentes.

Bioensaio de germinação de sementes

Os experimentos de bioensaio de germinação de sementes foram realizados no Laboratório de Ecotoxicologia do Semiárido, no Instituto Nacional do Semiárido. Foram utilizadas sementes comerciais de C. sativum. Para cada tratamento, realizou-se cinco repetições de 10 sementes, semeadas aleatoriamente em placas de petri transparentes, tendo como substrato duas folhas de papel de filtro tipo mata borrão, as quais foram saturadas com 2 ml das soluções dos tratamentos. As placas foram levadas para câmara de germinação com condições constantes de luz e temperatura de 20°C por sete dias. No quarto dia de avaliação, as folhas de papel de filtro de todos os tratamentos foram reumedecidas com 1,0ml de água deionizada esterilizada. A contagem de germinação foi realizada diariamente, tendo como critério a protrusão radicular com 2mm de comprimento.

Análise de dados

Para avaliação da germinação de C. sativum as variáveis calculadas foram: (i) porcentagem de germinação; (ii) índice de velocidade de germinação; (iii) tempo médio de germinação; (iv) velocidade média de germinação, determinados de acordo com as indicações de Carvalho & Carvalho (2009). As diferenças no padrão de distribuição das variáveis entre tratamenrtos foram analisadas através de ANOVA one-way (Statística 7).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO A germinação das sementes de coentro iniciou no 3º dia de experimento para o tratamento controle. Nos tratamentos com microcistina e saxitoxina a germinação iniciou no 4º e 7º dia de experimento, respectivamente. A porcentagem de germinação das sementes apresentou diferenças significativas, tanto para as concentrações de microcistina quanto saxitoxina (Figura 1), ocorrendo menor germinação nos tratamentos com saxitoxina. Os efeitos as cianotoxinas em plantas variam em função da concentração, tempo de exposição, e características das espécies (CORBEL et al., 2014). Os efeitos de microcistina e saxitoxina nas sementes de coentro são contrários aos observados em sementes de alface e rúcula. Estudos de Bittencourt-Oliveira et al., (2015), apontaram efeitos na germinação das sementes em elevadas concentrações de microcistina, o que ratifica a necessidade do estudo de culturas específicas para avaliação dos efeitos de cianotoxinas.

Figura 1.: Variação da Porcentagem de Germinação de sementes de C. sativum expostas a microcistina e saxitoxina.

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A velocidade média de germinação apresentou maiores valores para os tratamentos com microcistina, ocorrendo diferenças significativas entre os tratamentos e o controle (Figura 2).

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Figura 2.: Variação da Velocidade Média de Germinação de sementes de C. sativum expostas a microcistina e saxitoxina. O índice de velocidade de germinação das sementes, apresentou-se semelhante a velocidade média de germinação, ocorrendo diferenças significativas entre o controle e os tratamentos, bem como maiores valores nos tratamentos com microcistina (Figura 3).


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Figura 3: Índice de Velocidade de Germinação de sementes de C. sativum expostas a microcistina e saxitoxina. A possibilidade dos vegetais terrestres, especialmente os inclusos na dieta humana, entrarem em contato com cianotoxinas via irrigação, com água contaminada tem levado os pesquisadores a avaliarem os efeitos desses compostos, nestes organismos. Estudos de Nery et al., (2020) apontaram bioacumulção de microcistina em folhas e caule de coentro irrigados com águas do açude Epitácio Pessoa-PB, contendo microcistina, o que consiste em riscos potenciais a saúde humana. Apesar dos efeitos sobre a germinação do coentro observados, novos estudos são necessários para avaliar os mecanismos de ação das cianotoxinas sobre o processo de germinação. No entanto, independente dos mecanismos, considerando a perspectiva da saúde humana, o


controle floração de cianobactérias em águas de usos múltiplos precisam de medidas de gestão para evitar riscos. Produtos agrícolas contaminados são uma rota emergente de exposição a cianotoxina e mesmo em baixas concentrações.

CONCLUSÕES As cianotoxinas afetam a porcentagem, tempo e velocidade de germinação o que pode acarretar prejuízos potenciais ao cultivo. Saxitoxinas, mesmo em menores concentrações que microcistinas, são mais tóxicas para germinação de C. sativum.

136 REFERÊNCIAS BERTINI, C. H. M., PINHEIRO, E. A. R, NÓBREGA, G. N., DUARTE, J. M. L. Desempenho agronômico e divergência genética de genótipos de coentro. Revista Ciência Agronômica, v. 41, n. 3, p. 409-416, 2010. BITTENCOURT-OLIVEIRA, M.C, PICCIN-SANTOS, V., MOURA, A.N., ARAGÃOTAVARES, N.K.C.; CORDEIRO-ARAÚJO, M.K. Cyanobacteria, microcystins and cylindrospermopsin in public drinking supply reservoirs of Brazil. Anais. Academia. Brasileira de Ciências, v. 86, p. 297–309, 2014. BITTENCOURT-OLIVEIRA, M. C., HEREMAN, T. C., MACEDO-SILVA, I., CORDEIROARAÚJO, M. K., SASAKI, F. F. C., & DIAS, C. T. S. Sensitivity of salad greens (Lactuca sativa L. and Eruca sativa Mill.) exposed to crude extracts of toxic and non-toxic cyanobacteria. Brazilian Journal of Biology, v. 75, n. 2, p. 273-278, 2015. CARVALHO, D. B. D., & CARVALHO, R. I. N. D. Qualidade fisiológica de sementes de guanxuma sob influência do envelhecimento acelerado e da luz. Acta Scientiarum. Agronomy, p. 31, n. 3, p. 489-494, 2009. CORBEL, S., MOUGIN, C., & BOUAÏCHA, N. Cyanobacterial toxins: modes of actions, fate in aquatic and soil ecosystems, phytotoxicity and bioaccumulation in agricultural crops. Chemosphere, v. 96, p. 1-15, 2014. CORDEIRO-ARAÚJO, M. K.; CHIA, M. A.; BITTENCOURT-OLIVEIRA, M. C. Potential human health risk assessment of cylindrospermopsin accumulation and depuration in lettuce and arugula. Harmful Algae, v. 68, n.117-223. 2017. HUANG, I. S., & ZIMBA, P. V. Cyanobacterial bioactive metabolites—A review of their chemistry and biology. Harmful algae, v.86, p.139-209, 2019. LEE, J., LEE, S., & JIANG, X. Cyanobacterial toxins in freshwater and food: important sources of exposure to humans. Annual review of food science and technology, v. 8, p.281-304, 2017. MACHADO, J., CAMPOS, A., VASCONCELOS, V., & FREITAS, M. Effects of microcystinLR and cylindrospermopsin on plant-soil systems: A review of their relevance for agricultural plant quality and public health. Environmental research, v. 153, p.191-204, 2017. MENDES, C. F.; BARBOSA, J. E. L. ; NERY, J. F. Microcystin Accumulation and Potential Depuration on Muscle of Fishes of Fish Farm: Implications to Public Health. International Journal of Innovative Studies in Aquatic Biology and Fisheries, v. 2, p. 1-10, 2016.


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Capítulo 15 EFEITO DE MORTALIDADE DE DIFERENTES ESTRUTURAS DE PLANTAS NATIVAS SOBRE Nasutitermes coniger (Motschulsky, 1855)

FRANCA, Nadiane da Silva Graduanda em Agroecologia Universidade Federal da Paraíba ndnfranca@gmail.com MELLO, Matheus Eduardo Silva Graduando em Licenciatura em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba mellomatheus106@hotmail.com SANTOS, Léticia Waléria Oliveira dos Graduanda Licenciatura em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba leticiawaleriaoliver123@gmail.com COSTA, Natanaelma Silva da Doutoranda em Biotecnologia (RENORBIO) Universidade Federal da Paraíba ampnatanaelma2@yahoo.com.br MEDEIROS, Marcos Barros de Departamento de Agricultura do CCHSA Universidade Federal da Paraíba mbmedeir2016@gmail.com

RESUMO A diversidade da flora brasileira vem sendo utilizada para diversos fins ao longo dos anos, com destaque à plantas encontradas no bioma Caatinga. Contudo muito das potencialidades biotecnológicas desses vegetais nativos encontram-se obscuras aos pesquisadores e a sociedade o que torna necessário estudos que investiguem desde a composição até as formas de utilização dessas plantas. Diante disso, objetivou-se com esse trabalho utilizar diferentes estruturas vegetais de Croton sanderianus Mul Arg e avaliar seu efeito quanto à mortalidade de Nasutitermes coniger (Motschulsky, 1855). A pesquisa foi realizada na Clínica Fitossanitária da Universidade Federal da Paraíba - Campus II - Bananeira-PB. O material vegetal (folha e caule) de Marmeleiro (Croton sonderianus Muell. Arg.) foi higienizado, particionado e desidratado em estufa de circulação de ar forçada, à uma temperatura de 45°C por 48 horas, sendo triturado em moinho de facas tipo Willer para a obtenção dos pós vegetais. Foram conduzidos dois bioensaios em DIC, avaliandose folhas e o caule de C. sonderianus em diferentes doses: 1g, 0,75g, 0,50g, 0,25g, 0,0g. Adotouse um número de quatro repetições, com 10 cupins operários adultos cada, totalizando 200 insetos. As avaliações ocorreram à cada 24h durante quatro dias. Observou-se que o pó de folhas de Marmeleiro apresentam efeito significativo de mortalidade de cupins em todas as doses em comparação com a testemunha e o pó de caule de marmeleiro apresentou maior efeito de mortalidade nas maiores dosagens. Com isso foi verificado potencial uso inseticida o pó das folhas e caule de C. anderianus Mul Arg nas doses avaliadas.

PALAVRAS-CHAVE: Cupim arbóreos, Marmeleiro, Letalidade

138


INTRODUÇÃO A Caatinga constitui um bioma rico em biodiversidade e exclusivamente brasileiro, com grande diversidade de espécies e alta ocorrência de endemismo. Conta com uma diversidade de espécies vegetais bastante utilizados pelas populações rurais, especialmente na fitoterapia (CORDEIRO et al., 2014). São várias as espécies vegetais existentes no Brasil, algumas delas endêmicas, ou seja, encontradas apenas em regiões brasileiras, algumas dessas estão presentes na Caatinga e são usadas como plantas medicinais e segundo Gomes (2008) pouco se sabe sobre o uso, os efeitos terapêuticos e seus princípios ativos desses recursos. Sendo as plantas organismos que tem coevoluido com insetos e microorganismos ao longo dos anos elas tornaram-se fontes naturais de substâncias inseticidas e antimicrobianas. Dessa forma os inseticidas naturais, como pós e extratos vegetais e óleos essenciais extraídos de plantas, podem ser utilizados como alternativa para o controle de insetos e fitopatologias (MARANGONI, DE MOURA e GARCIA, 2013) A Caatinga apresenta uma flora ainda pouco explorada quanto ao seu potencial bioinseticida, contudo nos últimos anos a caatinga tem sido alvo de atividades de bioprospecção, visando maior conhecimento sobre as espécies nativas e a bioconservação desse importante bioma do Brasil (SILVA, 2016). Uma grande variedade de trabalhos estão sendo desenvolvidos com base em plantas nativas e seus metabólitos secundários visando o controle alternativo de insetos indesejáveis na lavoura, como por exemplo Araújo (2018) que analisou a ação inseticida do extrato aquoso de Croton sanderianus Mul Arg sobre Sitophilus zeamais, obtendo resultados positivos quanto a sua eficiência. A espécie Croton sonderianus, conhecido pelo nome popular de marmeleiro preto, é encontrado na região nordeste e apresenta ação larvicida, antiinflamatória, antinociceptiva, entre outras (BARBOSA, 2019). São várias as formas de confecção de possíveis inseticidas sustentáveis, como extrato aquoso, óleos essenciais ou até o Pó vegetal de plantas, que foi utilizado no caso de Leite (2016) que fez uso em seu trabalho o pó vegetal de plantas medicinais para avaliar o efeito repelente e inseticida no controle de Callosobruchus maculatus em grãos e que apresentaram bons resultados de repelência e letalidade. Sendo assim, observando o potencial já identificado de Croton sanderianus Mul Arg no controle de insetos e diante da demanda por pesquisas voltadas para o reconhecimento e valorização da vegetação nativa, e pensando na proposição de formas de utilização de recursos vegetais que favoreçam os métodos de produção sustentáveis e que sejam de fácil acesso e confecção para produtores, como o uso de pó vegetal de uma planta nativas, pesquisar a eficiência de plantas da Caatinga sobre insetos danosos torna-se um campo de pesquisa promissora. Dessa forma objetivou-se com esse trabalho utilizar diferentes estruturas vegetais de Croton

139


sanderianus Mul Arg e avaliar seu efeito quanto à mortalidade de Nasutitermes coniger (Motschulsky, 1855).

MATERIAL E MÉTODOS O bioensaio foi conduzido na Clínica Fitossanitária do Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias (CCHSA), Campus III da Universidade Federal da Paraíba, localizada no município de Bananeiras, estado da Paraíba - Brasil, à 141 km da capital João Pessoa. Os cupins utilizados no ensaio experimental foram coletados no Setor de Agricultura (1ª Chã) do referido centro universitário. O material vegetal, folha e caule de Marmeleiro (Croton sonderianus Muell. Arg.), foi obtido através de coleta em campo no município de Guarabira também no estado da Paraíba - Brasil. A obtenção dos pós vegetais foi conduzida a partir da higienização do material coletado com uma lavagem preliminar com detergente e uma lavagem posterior com uma solução de água e hipoclorito de sódio à 5%. Feito isso o material foi particionado, afim de diminuir suas dimensões e facilitar o processo de desidratação. Após isso as folhas e o caule do Marmeleiro foram colocados, separadamente, em sacos de papel, devidamente fechados e identificados, e levados à estufa de circulação de ar forçada, submetidos à uma temperatura de 45°C por 48 horas. Ao fim da desidratação o material vegetal foi levado ao moinho de facas tipo Wiley TE648 e convertido em pó vegetal (Figura 1). Após isso os pós foram pesados em balança analítica e realizados bioensaios para avaliar seu efeito sobre a sobrevivência dos cupins.

Figura 1 – Visão superior dos pós vegetais de C. sonderianus. A – Pó vegetal de folhas de C. sonderianus. B- Pó vegetal de caule de C. sonderianus

Fonte: Equipe de pesquisa (2020)

140


Os insetos foram mantidos em recipientes de polietileno, onde foram expostos às diferentes quantidades de pós vegetais. No centro dos recipientes foram adicionados círculos de papel filtro, que foi umedecido com água (0,5 mL), para manutenção da umidade do ambiente, à cada 48h durante o período de avaliação. Foram conduzidos dois bioensaios que avaliaram duas estruturas vegetais distintas: as folhas e o Caule de C. sonderianus quanto ao seu efeito de mortalidade sobre os cupins. Em cada ensaio experimental foram avaliadas diferentes doses: 1g, 0,75g, 0,50g, 0,25g, 0,0g (Controle), sendo esses os tratamentos testados e aqui nomeados, respectivamente, de Dose 1, Dose 2, Dose 3, Dose 4, Dose 5. Adotou-se um número de quatro repetições contendo 10 insetos cada, totalizando 200 indivíduos operários adultos por bioensaio. As avaliações foram conduzidas à cada 24h sendo realizadas leituras quatro dias. Utilizou-se dois delineamentos inteiramente casualizados. Adotou-se um delineamento estatístico inteiramente Casualizado (DIC) e as médias obtidas foram submetidos ao teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. A porcentagem de mortalidade corrigida por parcela tratada (% RC) de Nasutitermes coniger expostos ao produto testado foi obtida pela fórmula de Schneider-Orelli (1981).

RESULTADOS E DISCUSSÃO Após o procedimento experimentais observou-se que os pós vegetais das folhas do Marmeleiro apresentam significância em todas as doses em comparação com a testemunha. Com o uso da forma de mortalidade corrigida por parcela (%RC) de Schneider-Orelli, conseguiu - se a porcentagem de mortalidade pó vegetal das folhas de C. sonderianus sobre Nasutitermes coniger (Tabela1).

Tabela 1. Médias e desvio padrão (±DP) do efeito do pó vegetal da folhas de C. sonderianus , em diferentes doses, sendo; Dose 1: 1g; Dose 2: 0,75g; Dose 3: 0,50g; Dose 4: 0,25g; Dose 5: 0,0g Doses

Médias

±DP

Mortalidade Corrigida (%RC)* 34.07 32.97 32.97 20.88 -

1 10.0a 2,88 2 9.75a 2,76 3 9.75a 2,71 4 7.00a 2,11 5 2.00b 1,75 CV% 27.14 As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. *Porcentagem de mortalidade corrigida de acordo com a fórmula de Schneider-Orelli

141


Estatisticamente as médias das dosagens não diferiram sendo assim a menor dosagem (0,25g) mostrou-se eficiente, dessa forma podendo ser utilizada no controle de cupins arbóreos. Como também, obteve a maior taxa na correção de mortalidade corrigida por parcela, sendo de 34.07 %. Estudos realizados por Trindade (2014), sobre as espécies úteis da família Euphorbiaceae no Brasil, mostraram que o gênero com maior número de espécies com indicação de uso foi Croton com 58, com várias utilizações principalmente medicinal, foi descoberto também o uso do Croton tetradenius Baill, sendo utilizado como inseticida nos estados de AL, BA, CE, PB, PE, RN e SE. Sendo uma indagação relevante sobre o gênero estudado que obteve bons resultados, e que leva a uma variedade de possibilidades de uso de outras espécies desse

142

gênero. Em relação ao pó vegetal do caule do Marmeleiro é notória uma diferenciação das médias onde a dose 1 com 1g e 2 com 0,75g, obtiveram melhores resultados em comparação com as outras utilizadas, não deixando de ser expressivas, tendo uma taxa de correção de mortalidade por parcela de 33.33% e 35.42 %, respectivamente. (Tabela 2).

Tabela 2. Comparação das médias do efeito do pó vegetal do Caule de C. sonderianus , em diferentes doses, sendo; Dose 1: 1g; Dose 2: 0,75g; Dose 3: 0,50g; Dose 4: 0,25g; Dose 4: 0,0g Doses

Médias

DP

Mortalidade Corrigida (%RC)* 33.33 35.42 30.21 29.17 -

1 10.0a 2,70 2 9.50a 3,44 3 8.25ab 2,77 4 5.50 b 1,59 5 1.00c 0,68 CV% 24.65 As médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. *A correção da mortalidade foi obtida de acordo com a fórmula de Schneider-Orelli

Assim como os resultados positivos de Araújo (2018) com o extrato aquoso de Croton anderianus Mul Arg, o trabalho em questão obteve resultados satisfatórios quanto a sua eficiência, como também o método de confecção do inseticida que seria o pó vegetal de plantas medicinais como sendo abordado na pesquisa de Leite (2016). Com isso, é perceptível que o pó do marmeleiro tanto feito com as folhas quanto do caule mostraram bons resultados tendo destaque para as folhas que obtiveram significância em todas as dosagens, com isso, pode-se ser mais propício o seu uso na dosagem menor do pó vegetal aqui tratado.


CONCLUSÃO Destacou-se com potencial inseticida o pó das folhas de Croton anderianus Mul Arg em todas a doses utilizadas, sendo indicado para uso a menor dosagem de 0,75g, assim como, realizar outros estudos partido da menor dose testada para avaliar uma menor. Tendo bons resultados também, com o pó do caule do marmeleiro na dosagem de 1,0g e na de 0,75g. Necessitando de mais estudos com espécies vegetais da Caatinga.

REFERÊNCIAS

143

ARAÚJO, H. M. de. Eficiência inseticida de croton sonderianus muell sobre sitophilus zeamais: contribuição para o desenvolvimento sustentável. 2018. 19 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação de Ciências Biológicas) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2018. BARBOSA, A. J. C., et al. Composição química dos óleos essenciais de Croton sonderianus do agreste paraibano. 4º Congresso Nacional de Ensino e Pesquisa em Ciências - CONAPESC. 2019. CORDEIRO, J.M.P.; FÉLIX, L.P. Conhecimento botânico medicinal sobre espécies vegetais nativas da caatinga e plantas espontâneas no agreste da Paraíba, Brasil. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.16, n.3, supl. I, p.685-692, 2014. GOMES,

E.

C.

et

al.

Plantas

da

caatinga

de

uso

terapêutico:

levantamento

etnobotânico. Engenharia Ambiental: Pesquisa e Tecnologia, v. 5, n. 2, 2008. LEITE, Camila Maria Formiga. Atividade repelente e inseticida do pó de plantas medicinais sobre o caruncho do Feijão-caupi. 2016. 43f. (Dissertação de Mestrado Profissional), Programa de Pós-graduação em Sistemas Agroindustriais, Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar, Universidade Federal de Campina Grande – Pombal – Paraíba – Brasil, 2016. MARANGONI, Cristiane; DE MOURA, Neusa Fernandes; GARCIA, Flávio Roberto Mello. Utilização de óleos essenciais e extratos de plantas no controle de insetos. Revista de ciências ambientais, v. 6, n. 2, p. 92-112, 2013. SILVA, Maira Honorato de Moura. Óleos essenciais de Croton adamantinus Müll. Arg. e C. grewioides Baill.(Euphorbiaceae): composição química e atividades antibacteriana e antioxidante.2016. 64f. (Dissertação de Mestrado) Programa de Pós-graduação em em Ciências Biológicas - Universidade Federal de Pernambuco, Recife .2016. TRINDADE, MJ de S.; LAMEIRA, O. A. Espécies úteis da família Euphorbiaceae no Brasil. Embrapa Amazônia Oriental-Artigo em periódico indexado (ALICE), 2014. Revista Cubana de Plantas Medicinales, v. 19, n. 4, 2014.


Capítulo 16 ELABORAÇÃO DE BLENDS DE FRUTAS TROPICAIS: AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA, MICROBIOLÓGICA E SENSORIAL

CHAGAS, Wellison Cruz Graduando em Bacharelado em Agroindústria Universidade Federal da Paraíba wellison.chagas@gmail.com CASSIANO, Silvana Nascimento Bacharel em Agroindústria Universidade Federal da Paraíba silvanacassianon@gmail.com SILVA, Felipe Moreira Graduando em Bacharelado em Agroindústria Universidade Federal da Paraíba felipe-moreiradasilva@hotmail.com ALMEIDA, Francisco Lucas Chaves Universidade Estadual de Campinas lu.caschaves@hotmail.com ALMEIDA, Elisandra Costa Universidade Federal da Paraíba elisandracosta.ufpb@gmail.com

RESUMO A mudança dos hábitos alimentares nos últimos anos tem proporcionado um aumento de consumo de sucos uma vez que estes são consideradas, do ponto de vista nutritivo, complemento dos alimentos básicos. Assim, este estudo teve por objetivo elaborar blends de frutas tropicais em diferentes concentrações e avaliar as suas características físico-químicas, microbiológicas e sensoriais. Para isso, foram elaboras 7 formulações de blends sendo elas: 3 controles - 100% de abacaxi (F1), 100% de acerola (F2) e 100% de maracujá (F3), e 4 combinações entre as matrizes - 33,3 abacaxi + 33,3 acerola + 33.3 maracujá (F4); 50 abacaxi + 40 acerola + 10 Maracujá (F5); 60 abacaxi + 35 acerola + 5 maracujá (F6) e 50 abacaxi + 45 acerola + 5 maracujá (F7). Posteriormente, realizou-se a caracterização físico-química, microbiológica e análise sensorial das bebidas elaboradas. A análise microbiológica realizada apresentou excelentes resultados dentro dos padrões estabelecidos pela legislação, indicando que as amostras elaboradas estavam aptas para o consumo. Todos os tratamentos atenderam à legislação vigente no que se refere às características físico-químicas, mostrando-se que não houve diferenças estatísticas para Sólidos Soleveis, variando entre 10,03 a 11 °Brix, enquanto para acidez, houve uma variação significativa de 0,07% a 1,07%. Os resultados para a análise sensorial, evidenciam melhor aceitação pelos julgadores o tratamento F6. Portanto, conclui-se que os resultados deste estudo confirmam o

144


potencial tecnológico dos sucos de frutas tropicais para a elaboração dos blends, e sua viabilidade de produção e comercialização para o consumo.

PALAVRAS-CHAVE: bebidas mistas, Ananas comosus, Malpighia emarginata, Passiflora edulis

INTRODUÇÃO A fruticultura é um dos setores de maior destaque do agronegócio brasileiro. Através de uma grande variedade de culturas produzidas em todo o país e em diversos climas, a fruticultura conquista resultados expressivos e gera oportunidades para os pequenos negócios brasileiros (SEBRAE, 2015). O Brasil, depois da China e da Índia é o maior produtor mundial no setor frutícola, com um volume de 40,5 milhões de toneladas (IBGE, 2016) e participação de 4,6% na produção de fruticultura mundial (FAO, 2016). A fruticultura brasileira reúne atrativos e condições favoráveis para produção e exportação diversificadas de frutas ao longo do ano. É crescente a demanda por frutas na dieta dos consumidores uma vez que estas são consideradas, do ponto de vista nutritivo, como complemento dos alimentos básicos e, consequentemente o Brasil por ter uma diversidade de frutas tropicais exportou mais frutas frescas e derivados em 2017 (ANUÁRIO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 2018). A utilização de frutas para elaboração de sucos possibilita maior diversificação na oferta das mesmas e é uma alternativa para a utilização dos excedentes de produção, logo o interesse pelo consumo de frutas se estende também aos produtos de frutas processados, tais como néctares e sucos (MAIA et. al., 2009). Os sucos de frutas são consumidos e apreciados em todo mundo, não só pelo seu sabor, mas também por oferecerem nutrientes naturais (CARDOSO et al., 2015). Segundo Rochel (2015), esses sucos naturais servem como opção para a substituição de frutas, pois possuem menos fibras e podem ser mais calóricos, pela adição do açúcar. As frutas da estação (safra) são ótimas escolhas, pois têm maior qualidade e são mais baratas. Bebidas mistas têm sido usadas para aproveitar certas frutas, que individualmente tem dificuldades no processamento, como é o caso da banana, cujos derivados na elaboração de bebidas têm sido afetados pelo alto teor de pectinas, tendência ao escurecimento e formação de colóides (GARCIA, 2014). Além disso, o processamento de frutos tropicais em forma de blends é uma alternativa de minimizar os excedentes na época de safra e agregar valor aos frutos da região. Os blends pouco explorado no Brasil e com características nutricionais relevantes, oferecem ao mercado

145


competitivo, novos produtos, com melhores propriedades do fruto in natura e maior aproveitamento de suas propriedades funcionais (GADELHA, 2019). Neste contexto, este trabalho tem por finalidade desenvolver blends de frutas tropicais abacaxi (Ananas comosus), acerola (Malpighia emarginata) e maracujá (Passiflora edulis) em diferentes

formulações,

quantificando-os

em

relação

aos

aspectos

físico-químicos,

microbiológicos e sensoriais.

MATERIAL E MÉTODOS

146 Aquisição das matérias-primas e elaboração dos blends Para a obtenção dos blends foram obtidas as polpas de frutas no mercado de Solânea-PB em bom estado de conservação e apta para o consumo. Os produtos foram elaborados no LDPFH (Laboratório de Desenvolvimento de Produtos Fruto-Hortícolas) da Universidade Federal da Paraíba, Campus III, Bananeiras – PB. Para a elaboração dos blends foi tomada como base os sucos de abacaxi (Aba), acerola (Ace) e maracujá (Mar) que foram utilizados como matrizes e, com base neles, foram elaborados as seguintes formulações: 3 controles - 100% de abacaxi (F1), 100% de acerola (F2) e 100% de maracujá (F3), e 4 combinações entre as matrizes - 33,3 abacaxi + 33,3 acerola + 33.3 maracujá (F4); 50 abacaxi + 40 acerola + 10 Maracujá (F5); 60 abacaxi + 35 acerola + 5 maracujá (F6) e 50 abacaxi + 45 acerola + 5 maracujá (F7), conforme descrito na Tabela 1.

Tabela 1. Formulações dos blends com frutas tropicais. Polpa (%) Formulações

Açúcar(g)

Água (mL)

Abacaxi

Acerola

Maracujá

F1

100

-

-

207

100

F2

-

100

-

230

100

F3

-

-

100

207

100

Açúcar (g)

Água (mL)

Percentual de Suco (%) Abacaxi

Acerola

Maracujá

F4

33,33

33,33

33,33

172,5

100

F5

50

40

10

138

100


F6

60

35

5

149,5

100

F7

50

45

5

138

100

Caracterização físico-química e microbiológica dos blends Após formulados os blends, foram analisados quanto a teor de açúcares totais, pH, sólidos solúveis (ºbrix), acidez titulável e vitamina C. As mesmas foram realizadas em triplicata, no Laboratório de Análise Físico-Química (LAFQ) da UFPB Campus III Bananeiras - PB, de acordo com as normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz (2008). Além disso, foram também submetidas às análises microbiológicas de Coliformes totaise Salmonella spp., conforme RDC n°.12 de 02 de janeiro de 2001, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). As análises microbiológicas foram realizadas no Laboratório de Análise Microbiológica de Alimentos (LAMA) da UFPB, Campus III, Bananeiras-PB. Utilizouse a metodologia APHA (2001). As mesmas foram realizadas em duplicata para todas as formulações.

Análise sensorial dos blends As amostras foram avaliadas no Laboratório de Desenvolvimento de Produtos e Análise Sensorial, da Universidade Federal Da Paraíba Campus III de Bananeiras - PB, em cabines individuais. Foi realizado um teste de aceitação utilizando uma escala afetiva de nove pontos, variando de 1 (desgostei muitíssimo) a 9 (gostei muitíssimo), através dos atributos: sabor, cor, aroma, textura e qualidade global. Foi realizado também um teste de intenção de compra das quatro formulações (F4, F5, F6, F7) do produto elaborado de sucos de frutas, utilizando uma escala hedônica estruturada de 5 pontos, variando de 1 (certamente não compraria) a 5 (certamente compraria). Para a verificação desta análise foram reunidos 70 avaliadores não treinados, do quadro de docentes, discentes e funcionários com diferentes idades, da Universidade Federal da Paraíba, que avaliaram quatro amostras do produto elaborado. Entre a degustação de cada amostra, foi solicitado que os provadores tomassem água e comessem biscoito para a retirada do sabor residual. As amostras foram servidas em copo plástico, identificado com números de três dígitos.

147


Delineamento experimental e análise estatística O delineamento experimental utilizado foi o Delineamento Inteiramente Casualizados (DIC). As amostras foram distribuídas em sete tratamentos com três repetições. O tratamento estatístico empregado na análise dos resultados foi efetuado nas comparações entre as médias das variáveis quantitativas, empregando-se a ANOVA e o teste de comparações de médias de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Todos os cálculos estatísticos foram efetuados com o auxílio do programa

148

ASSISTAT, versão 7.6 beta.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados das análises físico-química para vitamina C, sólidos solúveis (°brix), pH e acidez da elaboração de blends de frutas tropicais (abacaxi, acerola e maracujá) estão expressos na Tabela 2.

Tabela 2. Avaliação Físico-química de blends de Frutas Tropicais (médias e desvio padrão) Parâmetros

F1

F2

F3

F4

F5

F6

F7

Vitamina C (mg/100mL)

2,19±0,07 ab

59,23±0,04a

4,43±0,03b

88,01±0,08ab

238,88±0,03b

111,55±0,02b

149,04±0,03b

SST (°Brix)

11,00±1,15a

11,00±1,15a

10,03±0,50a

11,00±1,15a

10,40±0,65a

11,00±1,15a

11,00±1,15a

pH

3,03±0,00c

3,08±0,01b

2,74±0,01f

2,96±0,02d

2,88±0,01e

3,16±0,01a

3,02±0,00c

Acidez (%)

0,07±0,00a

0,17±0,00ab

0,98±0,01a

1,05±0,04b

1,07±0,02b

0,59±0,00b

0,25±0,00b

Letras iguais na mesma linha, mostra que não existe diferença significativa entre as amostras a 5% do teste de Tukey; Letras diferentes na mesma linha, mostra que existe diferença significativa entre as amostras a 5% do Teste de Tukey. SST - Sólidos Solúveis Totais. F1 – 100% abacaxi, F2 – 100% acerola, F3- 100% maracujá. F4- abacaxi (33,3%) + acerola (33,3%) + maracujá (33,3%), F5- abacaxi (50%) + acerola (40%) + maracujá (10%), F6- abacaxi (60%) + acerola (35%) + maracujá (5%), F7- abacaxi (50 %) + acerola (45%) + maracujá (5%).

Os teores de vitamina C encontrados nos blends a base de frutas tropicais variou entre 2,19 mg.100mL (F1) a 238,88 mg.100mL (F5) tendo como os maiores índices as formulações: F2 59,23 mg.100mL (100% acerola) e F5 238,88 mg.100mL (abacaxi 50%, acerola 40% e maracujá 10%), conforme a Tabela 3.


Pode-se observar que de acordo com os valores listados na Tabela 3, só a F5 obteve um melhor índice, devido principalmente ter uma boa quantidade de acerola que é rica em vitamina C, assim como Gadelha (2019) descrever que ao avaliar o teor de ácido ascórbico em polpas de acerola obteve resultado de 315,29 mg.100g-1 Os teores de sólidos solúveis revelaram variação no intervalo mínimo de 10,03 ºBrix e máximo de 11.00 ºBrix, estando de acordo com a legislação, e, notou-se que não houve diferença significativa a 5% do teste de tukey, em estudo de Moura (2014), foram encontrados valores superiores ao do presente trabalho, com variações entre 13 a 14 °Brix. Ao observar a Tabela 3, é notório que houve variações significativas de pH, variando entre 2,74% (F3) a 3,16% (F6), superior ao encontrado por Barbosa-junior (2019), que relatou variação entre 2,89 a 2,98 de pH. Os valores baixos de pH são preferidos para produtos na indústria alimentícia, por conter condições desfavoráveis areações enzimáticas e desenvolvimento de microrganismos (GADELHA, 2019). Em relação a acidez, percebe-se uma variação de 0,07% (F1) a 1,07% (F5) e diferiram significativamente a 5% pelo teste de Tukey, Chagas (2019) em estudo de blends isotônico a base frutas, relata a alternância de valores entre 2,51 a 3,46 em diferentes concentrações e período de estocagem. Isto já era esperado por se tratar de blends com diferentes concentrações de sucos e pelas matérias-primas utilizadas apresentarem naturalmente acidez diferentes. Os resultados das análises microbiológicas para coliformes a 45ºC e Salmonella spp.dos blends de frutas tropicais estão dispostos na Tabela 3. Tabela 3. Análises microbiológicas de blends de frutas tropicais. Microrganismo

F1

F2

Salmonella spp. (UFC/25g)

Aus. Aus. Aus. Aus. Aus. Aus. Aus.

Coliforme a 45°C (NMP/mL)

<3

<3

F3

<3

F41

<3

F5

<3

F6

<3

F7

<3

UFC - Unidades Formadoras de Colônias, NMP – Número Mais Provável; Aus. - Ausência F1 – 100% abacaxi, F2 – 100% acerola, F3- 100% maracujá. F4- abacaxi (33,3%) + acerola (33,3%) + maracujá (33,3%), F5- abacaxi (50%) + acerola (40%) + maracujá (10%), F6- abacaxi (60%) + acerola (35%) + maracujá (5%), F7- abacaxi (50 %) + acerola (45%) + maracujá (5%).

Os resultados das análises microbiológicas avaliadas nas sete formulações de blends de frutas tropicais, encontraram-se dentro dos padrões da legislação segundo a resolução - RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001, que aprova o regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos (ANVISA, 2001), indicando que as formulações elaboradas estão aptas para o consumo. Este fato pode ser atribuído aos cuidados tomados durante a manipulação, higienização

149


da matéria-prima e dos equipamentos utilizados durante o processamento para a obtenção dos blends. A adoção de medidas higiênico-sanitárias no manuseio e processamento e demais atividades no setor de produção de alimentos são medidas importantes que contribuem para a redução dos níveis de contaminação e prevenção de introdução de patógenos (VEIT et al., 2011). Os resultados da análise sensorial para os parâmetros de sabor, aparência, cor, acidez, doçura, textura, impressão global e intenção de compra estão expostos na Tabela 4. Vale salientar que a análise sensorial foi realizada somente para os blends.

150 Tabela 4. Resultados da análise sensorial dos blends de frutas tropicais. Parâmetros

F4

F5

F6

F7

Sabor

5,94

5,48

7,32

5,34

Aparência

7,30

7,05

6,87

6,67

Cor

7,37

6,04

6,81

7,12

Acidez

5,31

5,34

6,64

5,51

Doçura

6,02

5,34

7,40

5,58

Textura

6,75

6,70

7,00

6,57

Impressão global

6,60

6,52

6,94

6,21

Intenção de compra

3,32

2,94

3,94

3,01

F4- abacaxi (33,3%) + acerola (33,3%) + maracujá (33,3%), F4- abacaxi (50%) + acerola (40%) + maracujá (10%), F6- abacaxi (60%) + acerola (35%) + maracujá (5%), F7- abacaxi (50 %) + acerola (45%) + maracujá (5%).

Em relação ao atributo sabor, verificou-se que a F6 foi a mais aceita pelos provadores. Acredita-se que isso está atrelado ao aumento de abacaxi e a diminuição da acerola e o maracujá, com isso as notas mostraram que os provadores gostaram moderadamente de blends que tende a ser mais doce, portanto, a característica do sabor destas frutas influenciou positivamente em um dos principais atributos dos blends elaborados com frutas tropicais. Nota-se que no atributo aparência de acordo com as médias de F4 e F5, tiveram a mesma aceitação dos provadores próximo ao quesito gostei moderadamente e a F6 e F7 os provadores gostaram ligeiramente. Já para o atributo cor, as notas atribuídas pelos provadores com relação as suas formulações para o F4 e o F7 foram bem aceitas, pois os provadores gostaram moderadamente e a F5 e F6, gostaram ligeiramente.


Para o atributo acidez, os provadores gostaram ligeiramente da F6 e nem gostaram/nem desgostaram das demais formulações. Em relação ao atributo doçura, a F6 novamente foi mais aceita pelos provadores que gostaram moderadamente devido ter mais abacaxi e menos acerola e maracujá. No atributo textura os provadores atribuíram uma maior nota para a F6, afirmando que gostaram moderadamente e para F4, F5 e F7 que gostaram ligeiramente. De acordo com a média para o atributo impressão global, houve as mesmas aceitações pelos provadores que afirmaram que gostaram ligeiramente das 4 formulações.

151 Para o parâmetro intenção de compra, três das formulações (F4, F6, F7) obtiveram notas que significava talvez comprasse/talvez não comprasse. Apenas F5, apresenta uma média (Tabela 4) caracterizando que possivelmente não compraria.

CONCLUSÕES De acordo com os resultados obtidos, os blends a base de frutas sofreu influências em todos os parâmetros analisados, mas que todas obtiveram resultados satisfatórios em relação as análises físico-químicas, microbiológicas e sensoriais, mas todas as formulações atenderam à legislação vigente. A formulação F6 presentou melhor aceitação sensorial pelos julgadores. Portanto, os resultados deste estudo confirmam o potencial tecnológico das frutas tropicais para a elaboração dos blends e sua viabilidade de produção e comercialização para consumo humano por trazer várias vantagens para os consumidores que buscam praticidade e boas características nutricionais.

REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. RDC Nº 12, DE 02 DE JANEIRO DE 2001. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/a47bab8047458b909541d53fbc4c6735/RDC_12_ 2001.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em: 20 de novembro. 2019. ANUÁRIO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA 2018. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta, 2018. 11 p. APHA. American Public Health Association. Compendium of Methods for the Microbiological Examination of Foods. 4th ed., Washington, 2001. BARBOSA JUNIOR, L. G.; SILVA, F. M.; CHAGAS, W. C.; SILVA. J. G.; NASCIMENTO, S..; ALMEIDA, E. C. desenvolvimento de blends de acerola e morango: avaliação da estabilidade durante armazenamento. V Encontro Nacional de Agroindústria, novembro de 2019.


CHAGAS, W. C.; SANTIAGO, L. L. C.; BARBOSA JUNIOR, L. G.; SILVA, F. M.; ALMEIDA, E. C.; NASCIMENTO, S. Elaboração, caracterização e estudo do armazenamento de blends isotônicos a base de frutas. V Encontro Nacional de Agroindústria, novembro de 2019. FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Production, 2016. Disponível em: < http://www.fao.org/faostat/en/#data/QC>. Acesso em: 23 jan. 2018. GADELHA, M. R. A.; GOMES, J. S.; SILVA, A. K.; ALVES, M. J. S.; SANTOS, A. F. Blends de frutos tropicais à base de tamarindo. Revista Verde. v. 14, n.3, jul.-set, p.412-419, 2019. IBGE. Banco de Dados Agregados. Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA, 2015. Disponível em: http://www2.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=1613&z=t&o=11. Acesso em: 11 nov. 2016. INSTITUTO ADOLFO LUTZ - IAL. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz. 2.ed. São Paulo, 2008. v. 4, versão digital. MAIA, G. A.; SOUZA, P. H. M.; LIMA, A. S.; CARVALHO, J. M. FIGUEIREDO, R. W. Processamento de Frutas tropicais. Fortaleza: Editora UFC, 2009. 277p. MOURA, R. L.; FIGUEIRÊDO, R. M. F.; QUEIROZ, A. J.M. Processamento e caracterização físico-química de néctares goiaba-tomate. Revista Verde (Pombal - PB - Brasil), v 9. , n. 3 , p. 69 - 75, jul-set, 2014. ROCHEL, T. C. Determinação e avaliação da atividade antioxidante em polpas de frutas de açaí, acerola e cupuaçu. 2015. 38 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnologia em Alimentos) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Londrina, 2015. SEBRAE. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Agronegócio – Fruticultura. Boletin de Inteligência. Outubro de 2015. Disponível em: < http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/64ab878c1 76e5103877bfd3f92a2a68f/$File/5791.pdf>. Acesso em: 12 de junho, 2018. SILVA, F. A. S.; AZEVEDO, C. A. V. Versão do programacomputacionalAssistat para o sistemaoperacional Windows. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande-PB, v. 4, n. 1, p. 71-78, 2002. VEIT, J. C. Caracterização centesimal e microbiológica de nuggets de mandi-pintado (Pimelodusbritskii). Revista de Ciências Agrárias, v. 32, p.1041-1048, 2011.

152


Capítulo 17 ELABORAÇÃO DE FERMENTADOS ALCOÓLICOS DE UMBU-CAJÁ (Spondias tuberosa X S. mombin)

DANTAS, Adrian Bessa Graduando em Medicina Universidade Federal da Paraíba (UFPB) adrianbessa@hotmail.com OLIVEIRA, Emanuel Neto Alves de Docente do Curso Técnico em Alimentos Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) emanuel.oliveira16@gmail.com FEITOSA, Bruno Fonsêca Graduando em Engenharia de Alimentos Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) brunofonsecafeitosa@live.com

RESUMO O elevado nível de desperdício de frutas, como o umbu-cajá, pode ser reduzido, quando considerada a alternativa de desenvolvimento de novos produtos, a exemplo das bebidas alcoólicas fermentadas. Assim, objetivou-se com esta pesquisa elaborar bebidas alcoólicas fermentadas de umbu-cajá, variando as concentrações de sólidos solúveis totais, bem como avaliar a cinética de fermentação e características físico-químicas das bebidas. Para esse propósito, foram elaboradas duas formulações de bebidas (F1 – 13 ºBrix e F2 – 18 ºBrix), variando a concentração de sólidos solúveis totais. Foram submetidas ao acompanhamento da cinética de fermentação (sólidos solúveis totais, pH e acidez titulável total), bem como a análises físicoquímicas da matéria-prima (umidade, cinzas, pH, acidez total titulável, sólidos solúveis totais, Ratio, açúcares redutores, açúcares não redutores, açúcares totais, ácido ascórbico) e das bebidas elaboradas (cinzas, pH, acidez, sólidos solúveis totais, açúcares totais, teor alcoólico, acidez fixa, acidez volátil, extrato seco, extrato seco reduzido e relação álcool/extrato seco reduzido). A matéria-prima apresentou-se conforme as normas legislativas vigentes. As bebidas apresentaram composição físico-química adequada aos padrões de identidade e qualidade estabelecidos pela legislação para a maioria dos parâmetros estudados, sendo que a bebida F2 indicou melhor atividade de fermentação, rendimento e produtividade. Portanto, concluiu-se que o umbu-cajá demonstrou ser boa alternativa para a elaboração de novas bebidas alcoólicas. PALAVRAS-CHAVE: bebidas, cinética de fermentação, fruta tropical.

INTRODUÇÃO A elevada produção brasileira de frutos atingiu cerca de 40 milhões de toneladas colhidas anualmente. Associada aos altos índices de desperdício (VASCONCELOS & MELO FILHO, 2010; ABF, 2015), muito tem contribuído para o avanço de pesquisas nos ramos da conservação (SILVA et al., 2015), reaproveitamento (SOUZA et al., 2016) e desenvolvimento de novos alimentos (LEITE et al., 2013). As frutas representam um dos mais relevantes recursos para a formulação de produtos (COELHO et al., 2015), destacando-se as frutas de origem tropical (DUARTE et al., 2010;

153


JAGTAP & BAPTA, 2014). Diversas pesquisas tem estudado esse potencial para a produção de bebidas alcoólicas fermentadas, a exemplo da banana (LEITE FILHO et al., 2015), abacaxi (PARENTE et al., 2014) e acerola (SEGTOWICK et al., 2013). As bebidas alcoólicas fermentadas de frutas são definidas pelo Decreto nº 6.871, de 04 de junho de 2009, como “a bebida [...] obtida pela fermentação alcoólica do mosto de fruta sã, fresca e madura de uma única espécie, do respectivo suco integral ou concentrado, ou polpa, que poderá nestes casos, ser adicionado de água” (BRASIL, 2009). Segundo Venturini Filho (2010), este tipo de produto pode agregar valor as matérias-primas regionais e garantir seu aproveitamento, evitando o desperdício vinculado ao não consumo imediato. Os frutos do umbu-cajazeira, o umbu-cajá (Spondias tuberosa X S. mombin), são tipicamente regionais, apresentando variadas denominações a depender da região do Brasil. Segundo Moreira et al. (2012), o umbu-cajá apresenta concentrações significativas de compostos bioativos, como fenólicos totais, flavonoides e taninos condensados, desempenhando significativa atividade antioxidante. Comumente, sua peculiaridade nos atributos sensoriais destaca o apreço pelo consumo in natura, bem como na forma de suco, doce, picolé e sorvete. O elevado consumo no Nordeste, aliado ao desconhecimento do umbu-cajá nas demais regiões brasileiras, chama a atenção para o uso na produção fermentados alcoólicos. Com o processamento, torna-se possível uma maior agregação de valor, aumento da vida útil da fruta e expansão das alternativas socioeconômicas para pequenos produtores (SANTOS et al., 2010). Objetivou-se com esta pesquisa elaborar bebidas alcoólicas fermentadas de umbu-cajá, variando as concentrações de sólidos solúveis totais, bem como avaliar a cinética de fermentação e características físico-químicas das bebidas.

MATERIAL E MÉTODOS Os frutos de umbu-cajá foram coletados no município de Taboleiro Grande-RN, selecionados, sanitizados (solução clorada a 200 ppm/15 min.), despolpados e armazenados em sacos plásticos, a 5 ºC. Posteriormente, quanto ao desenvolvimento das bebidas alcoólicas fermentadas, realizouse os procedimento, a seguir:

 

 

Centrifugação: Centrifugou-se a polpa (4000 rpm/ 8 min.) para reduzir a concentração de pectina e desfavorecer a formação de metanol durante a fermentação. Correção do pH: Adição pausadamente de NaOH (1,0 mol.L-1) até a faixa de 4,5 - 5,0, a qual permite a fermentação alcoólica rápida e inibe a proliferação de bactérias indesejáveis. Sulfitação: Utilização de metabissulfito de sódio a 10% (m/v) para desinfecção da polpa e evitar reações oxidativas; Chaptalização: Verificação dos sólidos solúveis totais inicial (F1 – 13 °Brix) e adição de sacarose até a correção respectiva (F2 – 18 ºBrix), visando atingir uma graduação alcoólica específica. Inoculação/Fermentação: Inoculação dos microrganismos Saccharomyces cerevisiae, contidos em fermento biológico comercial (20 g.L-1), em massa seca, seguida de fermentação em reator. O reator foi construído a partir de garrafas PET (5 L), com adaptação de torneira para facilitar a tomada de amostras durante a cinética de

154


fermentação e mangueira na parte superior, ligando o reator a um recipiente com H2O. Assim, foi facilitada a saída de CO2 produzido durante a fermentação, mas sem entrada de oxigênio no sistema. O sistema foi acondicionado em incubadora de Demanda Bioquímica de Oxigênio (BOD), a 35°C, durante todo o processo de fermentação até a estabilização e consumo dos açúcares fermentescíveis pelas leveduras, através da determinação dos sólidos solúveis totais; Trasfega: Centrifugou-se a bebida alcoólica fermentada (4000 rpm/ 10 min.) para remover as partículas sólidas em suspensão e leveduras decantadas (biomassa adicionada); Armazenamento: Acondicionou-se as bebidas em recipientes de vidro fechados e estéreis, a 5 ºC até a caracterização.

155 Após o armazenamento final, calculou-se o rendimento, através da Equação 1; sendo que a concentração de etanol real produzido foi determinada em função da densidade do destilado a 20 ºC. Calculou-se ainda a produtividade, por meio da Equação 2.

(1)

Em que: QEXP = Concentração de etanol experimental = 0,7895 (g/mL) × (°GL/100) × 1000 (mL/L); QTEO = Concentração de etanol teórico = Quantidade de açúcares consumidos × 0,511 (Fator determinado pela estequiometria da reação).

(2)

Em que: QEXP = Concentração de etanol experimental = 0,7895 (g/mL) × (°GL/100) × 1000 (mL/L); t = Tempo de fermentação (h);

Durante o processo de fermentação, traçou-se a cinética de fermentação do mostro para produção das bebidas, no que se refere aos parâmetros de sólidos solúveis totais (SST), pH e Acidez Titulável Total (ATT), conforme a metodologia do Instituto Adolfo Lutz (2008). Considerou-se os tempos de fermentação e coleta: 0; 1; 2; 3; 4; 5; 6; 7,5; 8,5; 9,5; 19,5; 21,5 e 24 hrs. As bebidas alcoólicas fermentadas e a polpa de umbu-cajá foram analisadas, em triplicata, quanto aos parâmetros de cinzas (método 018/IV), pH (método 017/IV), sólidos solúveis totais (SST) (método 315/IV) e açúcares totais em glicose (método 040/IV) (IAL, 2008).


A polpa de umbu-cajá foi avaliada em relação à umidade (método 309/IV), Acidez Titulável Total (ATT) (método 310/IV), Ratio (SST/ATT) (método 316/IV), açúcares redutores em glicose (método 038/IV), açúcares não redutores em sacarose (método 039/IV) (IAL, 2008) e ácido ascórbico (método 967,21) (AOAC, 2016). As bebidas alcoólicas fermentadas ainda foram avaliadas, segundo o Instituto Adolfo Lutz (2008), quanto ao teor alcoólico a 20 ºC (método 217/IV); acidez titulável total (método 221/IV), acidez fixa (método 222/IV) e acidez volátil em ácido acético (método 223/IV); extrato seco (método 238/IV); extrato seco reduzido (método 242/IV); e relação álcool/extrato seco reduzido (método 243/IV). Os dados das análises físico-químicas foram submetidos à análise de variância (ANOVA), em Delineamento Experimental Inteiramente Casualizado. Utilizou-se o programa computacional Assistat versão 7.7 beta (SILVA & AZEVEDO, 2016) e as médias foram comparadas entre si pelo Teste de Tukey em nível de 5% de significância (p<0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização físico-química da matéria-prima Os resultados obtidos na caracterização físico-química da polpa de umbu-cajá estão contidos na Tabela 1. Na Instrução Normativa nº 01, de 07 de 01 de 2000, que regulamenta os padrões de identidade e qualidade para polpa de fruta, não existem especificações para polpa de umbu-cajá. Assim, considerou-se as informações para polpa de cajá.

Tabela 1. Resultados da caracterização físico-química da polpa de umbu-cajá. Parâmetros Polpa de umbu-cajá Umidade (%)

87,62 ± 0,24

Cinzas (%)

0,38 ± 0,08

pH

2,71 ± 0,01

Acidez Total Titulável (%)

1,62 ± 0,03

Sólidos Solúveis Totais (°Brix)

13,00 ± 0,00

Ratio (SST/ATT)

8,04 ± 0,18

Açúcares redutores em glicose (%)

8,21 ± 0,08

Açúcares não redutores em sacarose (%)

3,54 ± 0,04

Açúcares totais (%)

11,93 ± 0,06

Ácido ascórbico (mg/100g)

9,45 ± 0,08

O teor de umidade da polpa de umbu-cajá de 87,62% apresentou-se inferior aos percentuais indicados pela Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos, a TACO (2011), e Paula et al. (2012), ao caracterizarem polpa de umbu (respectivamente, 90,20 e 89,48%). Para o teor de cinzas

156


da polpa de umbu-cajá foi obtido o valor de 0,38%, sendo inferior ao valor obtido por Santos et al. (2010), de 0,99% também para polpa de umbu-cajá. Quanto ao pH e ATT foram obtidos 2,71 e 1,62%, respectivamente, para polpa de umbucajá. A legislação preconiza o pH mínimo de 2,20 e ATT de 0,90% para polpa de cajá (BRASIL, 2000), logo os valores obtidos encontram-se conforme os valores estabelecidos. O pH do umbu de 2,47 (Paula et al., 2012) ou umbu-cajá de 2,40 (Santos et al. 2010) também apresentaram-se conforme ao recomendado pela legislação. Quanto aos valores de SST, a presente pesquisa obteve 13 ºBrix para a polpa de umbu-cajá. Tal valor apresentou-se conforme ao mínimo exigido pela legislação para polpa de cajá, no mínimo 9 ºBrix (BRASIL, 2000). Foram obtidos resultados inferiores por Gomes et al. (2010) e Paula et al. (2012), caracterizando polpa de umbu, 10 e 6,47 ºBrix, respectivamente. O Ratio da polpa de umbu-cajá (8,04) apresentou-se próximo ao resultado obtido por Santos et al. (2010), ao estudarem a qualidade de frutos de umbu-cajá (7,57), demonstrando semelhante sensação de doçura, decorrente do balanço de ácidos orgânicos e açúcares naturais da fruta. O teor de açúcares redutores obtido foi de 8,21% e 3,54% para açúcares não redutores. Para os açúcares totais foi obtido o valor de 11,93%, estando em conformidade com a legislação de polpa de cajám que estabelece o máximo de 12% (BRASIL, 2000). Quanto ao teor de ácido ascórbico para polpa de umbu-cajá foi obtida a concentração de 9,45 mg/100g. Esse valor foi superior ao obtido por Santos et al. (2010), de 8 mg/100g para polpa de umbu-cajá, e inferior ao obtido por Paula et al. (2012), com 24,97 mg/100g, avaliando polpa de umbu.

Cinética de fermentação das bebidas alcoólicas fermentadas de umbu-cajá Verifica-se na Figura 1 os resultados dos Sólidos Solúveis Totais (SST) em função do tempo, durante o processo de fermentação das bebidas alcoólicas de umbu-cajá.

Figura 1. Valores de Sólidos Solúveis Totais durante a cinética de fermentação (F1 -  e F2 - ).

Ambas as formulações (F1 e F2) permaneceram com os valores de SST constantes durante a 1ª hora de fermentação, tempo considerado de fase lag de adaptação e reconhecimento das condições pelas leveduras. As leveduras começam o processo de multiplicação e consumo dos

157


açúcares fermentescíveis presentes nos SST, provocando a redução brusca dos valores de SST entre os tempo 2 e 10 horas de fermentação (inicia-se a fase log ou crescimento exponencial). Entre as 10 e 21 horas de fermentação, o consumo de açúcares pelas leveduras e conversão dos mesmos em etanol e CO2 já é reduzido, tendendo a estabilização dos valores de SST devido à redução e ausência de substrato no mosto necessários ao metabolismo das leveduras para produção de etanol. Após ás 21 horas de fermentação ocorre a estabilização dos valores de SST (fase estacionária), em que os valores ficaram constantes próximo a 7 ºBrix (F 1) e 8 ºBrix (F2). Devido ao equilíbrio estabelecido durante a fermentação, evidencia-se uma melhor atividade de fermentação no mosto para a produção da bebida F2. Na Figura 2 estão expressos os resultados da correlação entre pH e Acidez Total Titulável (ATT) em função do tempo, durante o processo de fermentação das bebidas alcoólicas de umbucajá.

Figura 2. Correlação entre pH e Acidez Total Titulável durante a cinética de fermentação (F1: pH -  e ATT - ; F2: pH -  e ATT - ).

Os valores de pH (F1 – 4,5; F2 - 4,52) e ATT (F1 – 0,41%; F2 – 0,38%) dos mostos se mantiveram estáveis durante a 1ª hora de fermentação sem alteração em relação ao tempo inicial. A partir das 2 horas de fermentação, os valores de pH e ATT apresentaram comportamento continuo inversamente proporcionais, em que os valores de pH apresentaram comportamento decrescente e os valores de ATT comportamento crescente acelerado até as 10 horas de fermentação. Entre as 10 e 21 horas de fermentação, os valores de pH e ATT continuaram a reduzir e aumentar, respectivamente, mas com menos intensidade, sendo que, a partir das 21 horas de fermentação os valores de pH (F1 – 4,21; F2 - 4,11) e ATT (F1 – 0,68%; F2 – 0,77%) tornaram-se constantes.

Caracterização físico-química das bebidas alcoólicas fermentadas de umbu-cajá O rendimento das bebidas F1 (77,21%) e F2 (82,28%) evidenciam melhor aproveitamento na produção da bebida alcoólica fermentada de umbu-cajá a partir de 18 ºBrix. Em consonância ao rendimento, foram obtidos os resultados da produtividade (F1 – 1,35 g/L.h e F2 - 2,30 g/L.h).

158


Tais resultados de produtividade e rendimento da bebida F2 foram superiores aos encontrados, respectivamente, por Parente et al. (2014), de 1,55 g/L.h, ao desenvolver fermentado alcoólico de abacaxi, e Carmo et al. (2012), de 48,77%, ao produzir fermentado da polpa comercial de umbu. Nas Tabelas 2, 3 e 4 estão apresentados os resultados encontrados na caracterização físicoquímica das bebidas alcoólicas fermentadas de umbu-cajá. Os parâmetros analisados apresentaram efeito significativo ao nível de 1% de probabilidade, segundo o Teste F da ANOVA. Apenas o parâmetro de acidez fixa não apresentou diferença significativa entre as bebidas, segundo o Teste de Tukey a 5% de significância. Tabela 2. Valores obtidos na caracterização físico-química das bebidas alcoólicas fermentadas de umbucajá. Parâmetros Fermentados ES (%) ESR (%) Relação (álcool/ESR) Cinzas (%) F1 (13ºBrix)

56,74b

20,58a

1,59b

2,06b

F2 (18ºBrix)

58,25a

18,75b

2,99a

2,10a

-

Mín. 7,0

-

-

MG

57,54

19,66

2,29

2,08

CV (%)

0,22

0,05

0,44

0,48

234,22**

50233,50**

29400,00**

24,00**

Legislação***

F cal.

***(BRASIL, 2008). ES (Extrato Seco) e ESR (Extrato Seco Reduzido). MG (Média Geral), CV (Coeficiente de Variação) e F cal. (F calculado ANOVA: **Significativo ao nível de 1% de probabilidade; *Significativo ao nível de 5% de probabilidade). Médias seguidas na coluna pela mesma letra não diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey a 5% de significância.

Quanto ao teor de ES, a formulação F2 apresentou maior resultado (58,25%) do que a F1 (56,74%), o que indica menor percentual de umidade em sua composição. Paula et al. (2012) também obtiveram menor quantidade de ES (44,90%), analisando fermentado de umbu. Os teores de ESR obtidos nesse estudo estão conforme o mínimo previsto pela legislação de 7%, na Portaria nº 64, de 23 de abril de 2008 (BRASIL, 2008). A relação álcool/ESR (Tabela 2), equilíbrio entre os constituintes voláteis e os fixos, evidenciou que as bebidas alcoólicas fermentadas de umbu-cajá estão abaixo do limite máximo estabelecido pela legislação Brasil (1988), que sugere o máximo de 4,8 para vinhos tintos, de 6,0 para vinhos rosados e 6,5 para vinhos brancos. Segtowick et al. (2013) encontraram resultados abaixo do limite máximo permitido para vinhos rosados (média 3,48), avaliando fermentado do suco da acerola. A bebida formulada com 18 ºBrix (F2) apresentou maior teor de cinzas 2,10%, o que já era esperado por conter maior concentração de SST. A baixa quantidade de resíduo inorgânico presente em ambas as bebidas é proveniente de uma etapa tecnológica aplicada aos produtos, chamada de sulfitação do mosto.

159


Tabela 3. Valores obtidos na caracterização físico-química das bebidas alcoólicas fermentadas de umbucajá. Parâmetros Fermentados AF (meq/L) AV (meq/L) ATT (meq/L) pH F1 (13ºBrix)

63,94a

12,42b

49,00b

4,21a

F2 (18ºBrix)

63,94a

24,00a

56,00a

4,11b

Mín. 30,0

Máx. 20,0

Mín. 50,0 / Máx. 130,0

-

MG

63,94

18,21

0,52

4,16

CV (%)

0,02

0,05

1,90

0,24

0,00**

2011446,00**

73,50**

150,00**

Legislação***

160 F cal.

***(BRASIL, 2008). AF (Acidez Fixa), AV (Acidez Volátil) e ATT (Acidez Titulável Total). MG (Média Geral), CV (Coeficiente de Variação) e F cal. (F calculado ANOVA: **Significativo ao nível de 1% de probabilidade; *Significativo ao nível de 5% de probabilidade). Médias seguidas na coluna pela mesma letra não diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey a 5% de significância.

Foram obtidos valores de acidez fixa de 63,94 meq/L para ambas as bebidas. Na legislação vigente, o valor mínimo de acidez fixa é 30 meq/L (BRASIL, 2008), assim observa-se conformidade com esta pesquisa. Semelhantemente, Paula et al. (2012) obteve valor de 42,8 meq/L, ao analisarem fermentado de umbu. O máximo exigido pela legislação para a acidez volátil (20,0 meq/L) e o mínimo de 50 meq/L para ATT, conforme a Brasil (2008), evidenciam conformidade somente para a bebida F2 (24,0 e 56,0 meq/L, respectivamente). As leituras de pH obtidas por Leite et al. (2013) e Segtowick et al. (2013), analisando fermentado alcoólico de caju e umbu-cajá (4,0) e fermentado de acerola (3,69) estão semelhantes aos valores da presente pesquisa, que variou na faixa de 4,11 (F2) a 4,21 (F1). Tabela 4. Valores obtidos na caracterização físico-química das bebidas alcoólicas fermentadas de umbucajá. Parâmetros Fermentados SST (°Brix) AT (g/L) Teor alcoólico (% v/v) F1 (13ºBrix)

7,20b

37,27b

4,10b

F2 (18ºBrix)

8,30a

39,53a

7,00a

Legislação***

Mín. 4,0 / Máx. 14,0

MG

7,75

38,40

5,55

CV (%)

0,13

0,03

0,18

18150,00**

76613,99**

126150,00**

F cal.

***(BRASIL, 2008). SST (Sólidos Solúveis Totais) e AT (Açúcares Totais); MG (Média Geral), CV (Coeficiente de Variação) e F cal. (F calculado ANOVA: **Significativo ao nível de 1% de probabilidade;


*Significativo ao nível de 5% de probabilidade). Médias seguidas na coluna pela mesma letra não diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey a 5% de significância.

Considerando os resultados encontrados por Parente et al. (2014) e Leite et al. (2013) para SST, de 4,50 (fermentado de abacaxi) e 5,90 ºBrix (fermentado de caju e umbu-cajá), verifica-se percentuais inferiores aos obtidos no presente estudo para ambas as formulações. De forma semelhante, os percentuais de açúcares totais de 33,0%, obtido por Leite et al. (2013), também foram menores do que a presente pesquisa (37,27% – F1 e 39,53% - F2). Em relação ao teor alcoólico, a pesquisa encontrou média geral de 5,55% (v/v) de uma variação para as formulações de bebidas alcoólicas fermentadas de umbu-cajá de 4,10 (F1) a 7,00% (v/v) (F2). Os valores obtidos encontram-se em conformidade com a variação legislativa de no mín. 4,0 % e máx. 14,0% (BRASIL,2008). Esse resultado foi inferior ao obtido por Parente et al. (2014), de 5,90%, para fermentado de abacaxi.

CONCLUSÕES A polpa de umbu-cajá utilizada para elaboração das bebidas alcoólicas fermentadas se apresentou conforme os padrões físico-químicos exigidos pela legislação vigente, demonstrandose boa alternativa para o aproveitamento no excedente de safras. Na cinética de fermentação, constatou-se melhor atividade de fermentação na bebida com 18º Brix, a qual obteve percentuais físico-químicos adequados às normas legislativas. Ambas as bebidas evidenciaram-se como potenciais para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras, que reduzem os desperdícios de frutas e podem fornecer sabores diferenciados para o mercado de bebidas alcoólicas.

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161


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163


Capítulo 18 ESTUDO DO EFEITO DA MODIFICAÇÃO DE ATMOSFERAS NO ARMAZENAMENTO DE ALHO NEGRO (Allium sativum)

SILVA, Felipe Moreira Graduando em Agroindústria Universidade Federal da Paraíba felipe-moreiradasilva@hotmail.com ALMEIDA, Francisco Lucas Chaves Doutorando em Bioenergia Universidade Estadual de Campinas lucascchsa@gmail.com POLLARI, Isabelle de Lima Brito Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos Universidade Federal da Paraíba isa_limab@hotmail.com CHAGAS, Wellison Cruz Graduando em Agroindústria Universidade Federal da Paraíba wellison.chagas@gmail.com ALMEIDA, Elisandra Costa Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos Universidade Federal da Paraíba elisandracosta.ufpb@gmail.com

RESUMO O alho negro (Allium sativum) é um produto obtido por fermentação enzimática do alho in natura, em estufa com temperatura controlada, sendo necessários cuidados durante armazenamento para garantia das qualidades nutricionais. O presente trabalho teve como objetivo estudar o armazenamento do alho negro, acondicionados em embalagens de polietileno, com e sem vácuo. O trabalho foi realizado no Laboratório de Análises Físico-Químicas de Alimentos do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba. Para isso, efetuou-se análises de umidade, atividade de água, pH, acidez titulável, açúcares totais, redutores e não redutores, carboidratos, lipídeos, proteínas, cinzas e cor (L*, a*, b* e c*) a cada 15 dias durante 45 dias de armazenamento. Para atividade o teor de água, hoje variação significativa nas duas embalagens (26,97 a 23,98% e 23,87 a 27,46 embalagens com e sem vácuo, respectivamente) assim como aumento da atividade de água 0,7548 para 0,7655 com o emprego de vácuo. Para os demais parâmetros, não foi observada variação estatística. No tocante a proteínas na embalagem com vácuo (T1 14,38; T2 19,41 e T3 16,33), os três tempos diferiram. Os resultados de cor obtidos no armazenamento apresentaram baixa luminosidade e tendência para as cores verde e amarelo, entretanto, todas as variações não afetaram a qualidade do produto. Assim, pode-se concluir que é possível o armazenamento do alho negro em embalagens de polietileno, com e sem o emprego de vácuo. PALAVRAS-CHAVE: Fermentação, Estocagem, Controle de qualidade.

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INTRODUÇÃO O alho (Allium sativum L.) é um vegetal que possui um excelente valor nutricional, utilizado como condimento na culinária e como suplemento alimentar devido as suas propriedades terapêuticas e benéficas a saúde (PIRES, 2014). De acordo com Botrel (2012) o alho é uma espécie rica em compostos fitoquímicos com ação nutracêutica, responsáveis pela prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e hipertensão. A qualidade do alho é expressa pela composição química e conteúdo de compostos bioativos, que são altamente dependentes das condições pós-colheita (MARTINS et al., 2016). A partir do alho in natura pode-se obter o alho negro, que é um produto de coloração escura, devido a formação de melanoidinas através de reação de Maillard. De acordo com Toledano-Medina et al. (2005) o alho negro é fabricado mantendo o alho in natura em temperatura e umidade controladas por determinados dias, sendo as mudanças no comprimento do processamento depende principalmente da temperatura. Em estudo feito por Ha et al. (2015) a ingestão adequada de alho negro pode ser benéfico na prevenção de hiperlipidemia e hiperglicemia causadas por uma dieta rica em gordura. Assim, como a maioria dos condimentos, o alho negro também passa por processo de armazenamento, principalmente nos locais de consumo, antes de ser utilizado nas preparações culinárias. Segundo Oliveira et al. (2004), o armazenamento, em condições atmosféricas é muito utilizado para as culturas de alho, permitindo aos produtores a comercialização escalonada do produto. Considerando o processo de obtenção do alho negro, faz-se necessário que o produto seja armazenado em condições ideais para garantir a sua disponibilidade e qualidade. Neste processo então, é de extrema importância o uso de embalagem e atmosferas corretas, para garantir a manutenção da qualidade do produto. Assim, torna-se extremamente importante o desenvolvimento de pesquisas relacionadas a formas de obtenção desse produto, e estudos sobre sua estabilidade durante armazenamento, para assim garantir sua disponibilidade no mercado. Neste contexto, o presente trabalho objetivou valiar o efeito do emprego de embalagem de polietileno com atmosfera modificada nas características físico-químicas do alho negro durante armazenamento.

MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido no Laboratório de Análises Físico-Química de Alimentos (LFQA) do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias (CCHSA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em Bananeiras/PB. Para obtenção do alho negro, utilizou-se alhos da cultivar Allium sativum L., adquiridos no comércio local da cidade de Guarabira/PB, e transportados até o LFQA/CCHSA/UFPB. No processo de obtenção, preparou-se uma solução saturada de cloreto de sódio a 40 %, e 800 mL da mesma foi transferida para recipientes de vidro de 4,5 L contendo um suporte feito com tela de arame galvanizado sobreposta sobre um cano de Policloreto de Vinila (PVC). Em seguida, os recipientes contendo a solução e 5 bulbos de alhos, foram lacrados e armazenados em estufa a 72ºC ± 2ºC por 30 dias, para fermentação. Após a retirada da estufa, os alhos foram dispostos em superfície plana forrada com papel absorvente, para o processo de secagem durante sete dias. O processo de secagem aconteceu à temperatura ambiente sem controle de umidade e/ou quaisquer outros fatores ambientais. Após a secagem os alhos foram

165


descascados e acondicionados em embalagens de polietileno com e sem o emprego de vácuo e armazenados em temperatura ambiente por 45 dias. Durante o armazenamento, foram realizadas análises físico-químicas a cada 15 dias para verificar a eficiência das atmosferas na conservação e manutenção das características do produto. Os tempos foram identificados como T1 (15 dias de armazenamento); T2 (30 dias de armazenamento) e T3 (45 dias de armazenamento). Para a caracterização físico-química foram realizadas as análises de teor de água (012/IV); atividade de água;(017/IV) pH; (016/IV) acidez total titulável; (040/IV) açúcares totais, (038/IV) redutores e (039/IV) não redutores; carboidratos (BRASIL, 2005); (354/IV) lipídeos; (036/IV) proteínas e (018/IV) cinzas, segundo as metodologias do Instituto Adolfo Lutz (2008). Ainda realizou-se também a determinação de cor em Colorímetro marca Delta Color modelo d.8, com o sistema CIELAB, com resultados expressos em valor de L* (luminosidade), a* (negativo = verde, positivo = vermelho) e b* (positivo = amarelo, negativo = azul), c* (Croma). Os resultados obtidos para os parâmetros físico-químicos analisados foram submetidos ao teste fatorial 2x3 (2 atmosferas x 3 tempos), utilizando o programa ASSISTAT. Utilizou-se o teste de Tukey (P<0,05) para os tratamentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Observa-se na Tabela 1 os valores para as análises físico-químicas do alho negro durante o armazenamento com o emprego de embalagem com atmosferas diferentes. No tocante ao teor de água, percebe-se que na embalagem com vácuo houve um decréscimo após o T1, sendo significativo nos primeiros 15 dias de armazenamento, sem diferiram estatisticamente no T2 e T3. E, considerando a embalagem sem emprego de vácuo, verificou-se que houve um aumento do teor de água T1 (23,87%) para T2 (25,05%) e T3 (27,46%) no mesmo período, com diferença significativa entre as amostras ao final do armazenamento. Em seu trabalho, Choi; Cha, & Lee (2014) constatou valor de 29,55% também para alho negro, sendo superior ao desse trabalho; mas, isso pode estar relacionado ao tempo (14 dias) empregado na fermentação, concentração da solução utilizada, e também, temperatura (75°C) durante o processo. Analisando os resultados de atividade de água, percebe-se que na embalagem com vácuo não houve diferença significativa nos 30 primeiros dias de armazenamento; entretanto, com pequena variação se comparado T1 e T3. E no alho em embalagem sem vácuo, não houve diferença estatística nos três tempos. Confrontando os resultados obtidos para este parâmetro nas duas atmosferas, a embalagem com vácuo diferiu da sem vácuo no T1 e T2, apresentando valores superiores. Isso pode ter acontecido devido a absorção de água pelo alho na embalagem sem vácuo inicialmente, e, com o passar do tempo, percebeu-se que a embalagem com vácuo foi obtendo a perda desse vácuo, o que pode também ter possibilitado esse leve acréscimo de aW, fazendo com o que o valor tornar-se estatisticamente igual ao da embalagem sem vácuo. Observa-se para os parâmetros de pH que na embalagem com vácuo, houve um aumento do T1 (4,01) para o T2 (4,57); contudo, na embalagem sem vácuo, não houve diferença significativa durante armazenamento. Na comparação das duas atmosferas, houve diferença estatística no T2 obtendo-se valores de 3,85 (embalagem sem vácuo) e 4,57 (embalagem com vácuo), sendo o da embalagem sem vácuo inferior ao outro valor. Os demais tempos permaneceram estatisticamente iguais. Os valores obtidos de pH, podem está ocasionados a

166


reações de hidrólise de ácidos do próprio alho, uma vez que, na literatura, alguns autores relatam que o alho negro apresenta uma grande concentração de ácidos, principalmente a alicina. Em suas pesquisas You et al. (2011), obteviram resultados para pH de 3,9 (Namhae e Changnyung) a 4,0 (Uiseng), próximos aos resultados obtidos neste estudo. Analisando os resultados de acidez total, os três tempos não diferiram estatisticamente em ambas as atmosferas, mostrando assim, estabilidade para as duas embalagens. You et al. (2011), constataram resultados de acidez titulável superiores ao deste trabalho, sendo que a acidez do alho negro Namhae foi de 2,2 %; a do Changnyung de 3,0 % e a de Uiseng 3,6 %.

Tabela 1- Caracterização físico-química do alho negro durante o armazenamento

PARÂMETROS

Teor de água (%)

aW

pH

Acidez total (%)

AT (%)

AR (%)

ANR (%)

Carboidratos (%)

Lipídeos (%)

Proteínas (%)

Cinzas (%)

167

Armazenamento

Embalagem T1

T2

T3

Com vácuo

26,97aA

23,56bA

23,98bB

Sem vácuo

23,87bB

25,05abA

27,46aA

Com vácuo

0,7548bB

0,7603abB

0,7655aA

Sem vácuo

0,7681aA

0,7732aA

0,7691aA

Com vácuo

4,01bA

4,57aA

4,29abA

Sem vácuo

4,00aA

3,95aB

4,17aA

Com vácuo

2,10aA

1,07aA

1,64aA

Sem vácuo

2,15aA

1,28aA

1,83aA

Com vácuo

22,84aA

20,40aA

12,27aA

Sem vácuo

22,29aA

20,01aA

12,79aA

Com vácuo

11,26aA

9,7aA

5,98aA

Sem vácuo

10,79aA

9,78aA

6,25aA

Com vácuo

11,00aA

10,12aA

5,98aA

Sem vácuo

10,93aA

9,73aA

6,22aA

Com vácuo

50,49abA

47,78bA

54,46aA

Sem vácuo

52,71aA

50,66aA

50,06aB

Com vácuo

0,29aA

0,67aA

0,27aA

Sem vácuo

0,29aA

0,50aA

0,39aA

Com vácuo

14,38cA

19,41aA

16,33bA

Sem vácuo

14,49bA

14,64abB

15,26aA

Com vácuo

7,65aA

8,58aA

4,95aA

Sem vácuo

9,63aA

9,15aA

6,83aA

Legenda: T1 - 15 dias de armazenamento, T2 - 30 dias de armazenamento e T3 - 45 dias de armazenamento; AT Açúcares Totais, AR - Açúcares Redutores, ANR - Açúcares Não Redutores. Nota: As médias seguidas pela mesma letra minúscula na mesma embalagem em tempos de armazenamento diferente, e as médias seguidas pela mesma letra maiúscula no mesmo tempo de armazenamento em embalagens distintas, não diferem estatisticamente entre si no teste Tukey ao nível de 5% de significância.

Observa-se para os valores de açúcares totais que estatisticamente os resultados se mantiveram iguais em ambas embalagens a nível de 5 % para o teste de Tukey. Quanto aos


açúcares redutores e não redutores, é possível observar que em ambas as embalagens os dois parâmetros também não mostraram diferença estatística nos três tempos em que foram analisados. De acordo com Pires (2014), os açúcares redutores podem ser formados por hidrólise dos açúcares não redutores presente no alho in natura. A mesma autora relata ainda que o sabor adocicado do alho negro está associado ao conteúdo de açúcares presentes no próprio alho, que devido à desidratação ocorre à permanência ou aumento na concentração de açúcares. No tocante ao teor de carboidratos totais, é possível observar que o T1 (50,49 %) da embalagem com vácuo se manteve igual ao do T2 (47,78 %), mas que houve um aumento no T3 (54,56 %), diferindo estatisticamente do T2, mas não do T1. Na embalagem sem o emprego de vácuo, não houve diferença estatística entre nenhum dos tempos. É importante citar também que no T2 houve uma diminuição no teor de carboidratos totais e um aumento no teor de proteínas, já no T3 acontece o inverso, uma queda no teor de proteínas e aumento no teor de carboidratos. Um estudo feito por Sasaki et al. (2007), mostrou que os teores de carboidratos encontrados foram de 47 %, próximos aos obtidos nesta pesquisa. Para o parâmetro de lipídeos, os três tempos em ambas as embalagens não diferiram em nenhum momento estatisticamente a nível de 5% para o teste de Tukey. Sasaki et al. (2007), observaram que os seus resultados de lipídeos foram de 0,3 %, sendo assim, próximos aos resultados deste trabalho, que variaram de 0,27 (T3) a 0,67 % (T2). Relacionado as proteínas, verifica-se que houve uma oscilação tanto entre os tempos na mesma atmosfera, como se comparadas atmosferas diferentes no mesmo tempo. Estes resultados demonstram que não há ligação direta entre o tempo de estocagem ou a atmosfera de embalagem do percentual de proteínas apresentado no alho negro, acredita-se que esses percentuais estejam ligados a composição das próprias amostras, tendo em vista que pode haver variação de um bulbo para o outro. Sasaki et al. (2007) perceberam valores de 9,1 % para o teor de proteínas, e com isso, percebe-se que há uma variação no tocante a composição desse produto. Analisando os resultados de cinzas, nota-se que não houve mudanças nos tempos das embalagens com vácuo e também permaneceram iguais nas embalagens sem vácuo, estatisticamente a nível de 5% para o teste de Tukey. Com base nos dados e uso da estatística, pode-se perceber ainda que há uma grande variação numérica no tocante aos valores, e que, esses muitas vezes não conseguem se relacionar entre si em parâmetros diferentes, isso por sua vez pode se dar devido à variação presente entre os dentes do mesmo bulbo, e também principalmente entre os dentes de bulbos diferentes. Assim, a variação devido o tempo e embalagem poderia acontecer de forma diferente tendo em vista esses fatores. Na Tabela 2 pode-se perceber os resultados encontrados para os parâmetros de cor do alho negro durante o armazenamento nas duas atmosferas estudadas. Observa-se na Tabela 2 valores de 1,94 (T1); 1,00 (T2) e 8,46 (T3) na embalagem sem vácuo, e 3,43 (T1), 7,05 (T2) e 8,22 (T3), na com vácuo, para o parâmetro de Luminosidade (L*), mostrando assim que o alho negro apresentou uma baixa luminosidade, o que já era esperado, uma vez que, da coloração branca inicial, o alho passou para uma coloração escura que tendia ao preto, devido principalmente à formação de melanoidinas durante a reação de Maillard e fermentação enzimática. Entretanto, para as cromaticidades a* e b*, respectivamente, os resultados demonstram que os alhos tenderam para cor verde, e que estavam mais próximos da cor amarelo, mas não tão distante do azul. Para o croma (C*), contata-se que não houve variação com o passar tempo. Em

168


sua pesquisa Choi et al. (2008), encontraram resultados de 22,52 (L*), valores numericamente diferentes, mas que tenderam para a mesma cor, 2,86 (a*) e 3,19 (b*), sendo que esses resultados diferiram numericamente deste trabalho, ficando mais distante da L*, uma vez que esses tenderam para uma cor diferente a dessa pesquisa.

Tabela 2. Médias para análise de cor durante o armazenamento do alho negro. PARÂMETROS

Armazenamento

Embalagem T1

L*

a*

b*

c*

aA

T2 7,05

T3

aA

8,22aA

Com vácuo

3,43

Sem vácuo

1,94aA

1,00aA

8,46aA

Com vácuo

0,29aA

0,31aA

-5,16aA

Sem vácuo

0,35aA

-0,10aA

-5,37aA

Com vácuo

0,69aA

0,55aA

2,01aA

Sem vácuo

1,11aA

0,89aA

2,17aA

Com vácuo

0,93aA

0,69aA

5,54Aa

Sem vácuo

1,17aA

1,01aA

5,80Aa

Legenda: L* - Luminosidade, a* - negativo (verde), positivo (vermelho), b* - positivo (amarelo), negativo (azul) e c* - 60 (cor pura), 0 (impura). T1 - 15 dias de armazenamento, T2 - 30 dias de armazenamento e T3 - 45 dias de armazenamento. Nota: As médias seguidas pela mesma letra minúscula na mesma embalagem em tempos de armazenamento diferente, não diferem estatisticamente entre si no teste Tukey ao nível de 5% de significância.

CONCLUSÃO Conclui-se que foi viável armazenar o alho negro em embalagens de polietileno com e sem vácuo, havendo pouca variação nos parâmetros físico-químicos durante o período de armazenamento de 45 dias, sendo importante ressaltar que, por se tratar de um produto desidratado, deve-se observar que o alho negro embalado a vácuo pode estar mais propício a perder teor de água para o ambiente durante o período de armazenamento, enquanto o alho embalado sem vácuo apresenta maior possibilidade de absorver teor de água durante esse período.

AGRADECIMENTOS Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq pelo consentimento da bolsa de iniciação científica júnior, por meio da Pró-Reitora de PesquisaPROPESQ da Universidade Federal da Paraíba-UFPB, para o financiamento da pesquisa.

REFERÊNCIAS BOTREL, N.; OLIVEIRA, V. Cultivares de cebola e alho para processamento. A horticultura. Disponível em: <http://www.abhorticultura.com.br/eventosx/trabalhos/e-v_6/PAL4.pdf>. Acesso em: 20/02/2018.

169


BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária-ANVISA. Rotulagem nutricional obrigatória: manual de orientação às indústrias de Alimentos. 2º Versão. Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2005. CHOI, D. J.; LEE, S. J.; KANG, M. J.; CHO, H. S.; SUNG, N. J.; SHIN, J. H.. Physicochemical characteristics of black garlic (Allium sativum L.). Journal of the Korean Society of Food Science and Nutrition, v. 37, n. 4, p. 465-471, 2008. CHOI, I.; CHA, H.; LEE, Y. Physicochemical and antioxidant properties of black garlic. Molecules, v. 19, n. 10, p. 16811-16823, 2014. HA, A. W.; YING, T.; KIM, W. K. The effects of black garlic (Allium satvium) extracts on lipid metabolism in rats fed a high fat diet. Nutrition research and practice, v. 9, n. 1, p. 30-36, 2015. IAL - INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas, métodos químicos e físicos para análises de alimentos. 4ª ed. 1ª ed. Digital,1020p., São Paulo, 2008. Martins, N.; Petropoulos, S.; Ferreira, Isabel, C.F.R. Chemical composition and bioactive compounds of garlic (Allium sativum L.) as affected by pre-and post-harvest conditions: A review. Food chemistry, v. 211, p. 41-50, 2016. OLIVEIRA, C. M.; SOUZA, R. J. de; YURI, J. E.; MOTA, J. H.; RESENDE, G. M. de. Época de colheita e potencial de armazenamento em cultivares de alho. Horticultura Brasileira, v. 22, n. 4, p. 804-807, 2004. PIRES, L. de S. Processamento do alho negro. 2014. 131 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Alimentos) - Instituto de Biociencias, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, São José do Rio Preto, 2014. SASAKI, J.; LU, C.; MACHIYA, E.; TANAHASHI, M.; HAMADA, K. Processed black garlic (Allium sativum) extracts enhance anti-tumor potency against mouse tumors. Medicinal and Aromatic Plant Science and Biotechnology. p. 278-281, 2007. TOLEDANO-MEDINA, M. A.; PÉREZ-APARICIO, J.; MORENO-ROJAS, R.; MERINASAMO, T. Evolution of some physicochemical and antioxidant properties of black garlic whole bulbs and peeled cloves. Food chemistry, v. 199, p. 135-139, 2016. YOU, B. R.; KIM, H. R.; KIM, M. J.; KIM, M. R. Comparison of the quality characteristics and antioxidant activities of the commercial black garlic and lab-prepared fermented and aged black garlic. Journal of the Korean Society of Food Science and Nutrition, v. 40 n. 3, p. 366-371., 2011.

170


Capítulo 19 FATORES NÃO GENÉTICOS QUE AFETAM A CURVA DE LACTAÇÃO DE CAPRINOS LEITEIROS

COSTA, Tamiris Matias da Graduanda em Licenciatura em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba tamiris2022@gmai.com LOPES, Josarc Vidal Graduando em Licenciatura em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba josarclopes001@gmail.com MACÊDO, Fabrício Santos Francelino de Graduando em Licenciatura em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba fabriciomacedo66@gmail.com ALMEIDA, José Afonso Cordeiro de Graduando em Licenciatura em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba Joseafonsocordeiro03@gmail.com CRUZ, George Rodrigo Beltrão da Doutor em Zootecnia Universidade Federal da Paraíba georgebeltrao@hotmail.com

RESUMO O conhecimento da produção de leite durante a vida produtiva de uma cabra é uma das características mais importantes para a eficiência dos sistemas de produção de leite. Objetivou-se com este trabalho estudar os efeitos não genéticos que afetam a lactação de caprinos leiteiros avaliando os componentes da curva de lactação indicando critérios de seleção com bases em produções parciais, em substituição a produção de leite total. Foram utilizados controles referentes a lactações de caprinos das raças Saanen e Alpina, oriundos de um rebanho localizado Bananeiras (PB) criados em regime intensivo. O controle leiteiro foi realizado a cada sete dias, em duas ordenhas diárias. Para ajustar as lactações, tanto para a curva média como para as lactações individuais foi utilizado a função Gama Incompleta. Os parâmetros da função foram estimados por meio de técnicas não lineares, usando-se o método modificado de Gauss-Newton. A qualidade do ajuste da função foi testada de acordo com o Coeficiente de determinação ajustado, gráfico de distribuição dos resíduos e pelas estimativas dos componentes da curva de lactação. Verificou-se que cabras Saanen apresentam-se mais produtivas que cabras Alpinas. O modelo de regressão utilizado no presente trabalho ajustou adequadamente a curva média de lactação tanto para cabras Saanen como para cabras Alpinas. As estimativas dos componentes da curva de lactação levam a sugerir que o pico de produção já ocorre no início da lactação, com produções iniciais próximas ao pico de produção. O modelo gama incompleto não foi eficiente na estimativa da produção de leite total. PALAVRAS-CHAVE: Caprinocultura, Modelagem, Produção de leite

171


INTRODUÇÃO A pecuária de caprinos apresenta-se como atividade promissora no panorama atual de desenvolvimento econômico brasileiro desempenhando um importante papel socioeconômico, principalmente nas regiões semiáridas, por proporcionar renda direta, além de representar uma excelente fonte alimentar. Na América do Sul o país que se apresenta mais preparado em rebanho com aptidão leiteira é o Brasil, representando excelentes perspectivas para o crescimento de vendas internacionais. O Brasil aparece com uma produção estimada superior a 140 milhões de litros de leite anual. Mesmo com esta modesta contribuição, nos últimos anos, houve um aumento considerável na produção de leite de cabra no Brasil. Isto ocorreu provavelmente devido a introdução de genótipos especializados na produção de leite e através de programas de melhoramento genético bem-sucedidos. O conhecimento da produção de leite durante a vida produtiva de uma cabra é uma das características mais importantes para a eficiência dos sistemas de produção de leite. A descrição detalhada da curva de lactação de um rebanho é de grande utilidade para introdução de práticas de manejo e melhoramento genético em caprinos leiteiros nos diversos sistemas de produção. No melhoramento genético animal, a utilização de dados longitudinais, comparando-os a dados pontuais, apresenta algumas vantagens: permite melhor utilização das informações disponíveis, já que todas as medidas do animal são utilizadas, com potencial aumento na acurácia de seleção; permite quantificar fatores específicos de cada dia em que o animal foi mensurado, refletindo em maior precisão no controle dos efeitos de ambiente; dispensa o uso de fatores de ajuste ou projeção de lactações parciais para produção na lactação, pois estes pressupõem a mesma curva de lactação para todos os animais, com consequente a eliminação de alguma variação genética entre os animais; concorre para a diminuição de viés na estimação dos componentes de variância e, consequentemente, na predição dos valores genéticos e aumenta o ganho genético por unidade de tempo, uma vez que animais com poucas medidas podem ser avaliados mais precocemente. A medida padrão de produção de leite para avaliação genética era a produção total na lactação ou a produção acumulada até 305 dias de lactação (P305). A utilização da produção de leite no dia do controle em substituição a P305 em avaliações genéticas é recente (Ferreira et al., 2002). Anteriormente, os controles de produções eram utilizados apenas para se calcular a produção total na lactação. Atualmente a PLDC, metodologia também denominada “test-day model” (TDM), tem sido utilizada em substituição à produção total nas avaliações genéticas. A utilização deste método permite que animais com poucos controles possam ser avaliados, não sendo necessário aguardar o término da lactação, acelerando o processo de avaliação genética (Sarmento et al., 2006). Além da diminuição dos custos com o controle leiteiro, outras vantagens estariam relacionadas ao melhor detalhamento na modelagem de efeitos que influenciam diretamente a produção de leite em fases específicas de uma lactação como número de ordenhas, duração do período seco, duração do período de serviço, prenhez e doenças, os quais não podem ser considerados quando a produção total é utilizada. Ferreira et al., (2002), afirmam que a confiabilidade dos valores genéticos de reprodutores avaliados pela PLDC tem sido maior do que a obtida usando-se a P305, devido ao aumento do número de filhas com produção. Segundo El Faro e Albuquerque (2003) o TDM mais simples é o modelo de repetibilidade, que assume estrutura uni característica com variâncias homogêneas entre todos os controles e correlações genéticas entre eles iguais à unidade.

172


Ultimamente, muitos modelos para definir e explicar a curva de lactação tem sido usado. A maioria destes modelos tem por finalidade melhorar os modelos clássicos propostos por Nelder (1966) e Wood (1967) incluindo cálculos para a determinação de parâmetros genéticos para fatores que descrevem a forma da curva de lactação, porém, o uso destes fatores para programas de seleção não tem apresentado efeitos práticos conhecidos. De acordo com Ptack e Schaeffer (1993), os modelos de produção de leite no dia do controle (PLDC) apresentam nítidas vantagens sobre o modelo tradicional de análise da produção total na lactação. Os modelos de PLDC permitem quantificar fatores específicos de cada dia de controle, os quais podem mudar entre os animais e de um controle para outro, além de controlar o efeito de ambiente com maior precisão. Ptack e Schaeffer (1993) afirmam que as variâncias residuais são menores quando a PLDC é usada para grupos contemporâneos em vez de rebanhoano-estações. Estes autores enfatizaram que a extensão de registros poderia ser evitada e as matrizes poderiam se agrupar em diferentes grupos contemporâneos dentro de rebanho de acordo com a fase de lactação, aumentando assim a precisão de avaliações. El Faro e Albuquerque (2005) afirmam que outra vantagem de uso dos modelos de PLDC é o fato destes dispensarem o uso de projeções de lactações parciais para a produção total. Assim, evitam-se subestimações da produção nos animais com maior persistência de lactação e superestimações naqueles com menor persistência de lactação. Swalve (1995) cita que outro ponto importante é a diminuição de viés na estimação dos componentes de variância e na predição dos valores genéticos. Assim, os objetivos com este trabalho foi estudar os efeitos não genéticos que afetam a lactação de caprinos leiteiros avaliando os componentes da curva de lactação indicando critérios de seleção com bases em produções parciais, em substituição a produção de leite total.

MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados controles referentes as 174 lactações de caprinos das raças Saanen e 76 lactações de caprinos da raça Alpina, totalizando 250 lactações, pertencentes ao rebanho do setor de Caprinocultura e Ovinocultura da Universidade Federal da Paraíba, do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, localizado no município de Bananeiras, Estado da Paraíba, microrregião do Brejo Paraibano. A altitude local é de 552 m, situando-se entre as coordenadas geográficas 641'11’’ de latitude sul e 3537'41’’ de longitude, a Oeste de Greenwich, com clima quente e úmido. A temperatura da região varia entre a máxima de 36 0C e a mínima de 18 0C com precipitação média anual de 1300 mm (IBGE, 2010). Os animais são criados em regime intensivo, alimentando-se de capim elefante (Pennisetum purpureum Schum) e concentrado proteico. O sal mineral é fornecido à vontade em cochos. Utiliza-se o aleitamento artificial e o desmame é feito aos sessenta dias de idade. Utilizase o sistema de monta controlada, com duas estações de monta durante o ano. O controle sanitário é sistemático. O controle leiteiro foi realizado a cada sete dias, em duas ordenhas diárias, com intervalo aproximado de 10 horas entre as ordenhas. A produção de leite foi anotada em fichas individuais contendo dados referentes à vida reprodutiva de cada animal. A partir das fichas de produção e reprodução foi editado um arquivo contendo o número da cabra, número da mãe, número do pai, data de nascimento, data de parto, produção de leite diária e a data do controle leiteiro. Foram eliminados do arquivo animais com número de controles inferior a quatro e aqueles com grupos contemporâneos com menos de dois animais.

173


Para ajustar as lactaçþes, tanto para a curva mÊdia como para as lactaçþes individuais foi utilizado a função Gama Incompleta (Wood, 1967).

đ?‘Œ = đ?‘Ž0 đ?‘‹ đ?‘Ž1 đ?‘’ −đ?‘Ž2đ?‘Ľ

O ajuste para a curva mÊdia foi realizado usando-se a mÊdia diåria de produção de leite em cada estågio da lactação e usando-se todas as produçþes em cada estågio. Para as lactaçþes individuais, o ajuste foi realizado considerando a produção de leite em dias. Para esta função, Y representa a produção de leite (kg); a0, a1 e a2 são parâmetros da curva a serem estimados e x Ê o estågio da lactação. Os parâmetros da função serão estimados por meio de tÊcnicas não lineares, usando-se o mÊtodo modificado de Gauss-Newton disponível no PROC NLIN (SAS, 2012). A qualidade do ajuste da função foi testada de acordo com: a) Coeficiente de determinação ajustado: Segundo Afifi e Clark (1984); Draper e Smith (1981)

R R

2 a



n  1 R2  p n  p 1

2

Em que a = coeficiente de determinação ajustado; p= número de parâmetros do modelo; n= número de observaçþes; R2= coeficiente de determinação;

b) Gråfico de distribuição dos resíduos: Verifica a dispersão dos resíduos em função do tempo. Se os resíduos se apresentam distribuídos aleatoriamente em relação à variåvel classificatória t, Ê indicativo de um bom ajuste (Ribeiro, 1997).

c) Desvios entre as produçþes de leite totais observadas (PL) e estimadas (PLE): A produção total observada serå obtida pelo mÊtodo escada corrigido (Bianchini Sobrinho, 1988) de acordo com:

PL  Y 1 X 1  ďƒĽ y

i

x Y X i

n

n

Em que: Y1 = produção diåria de leite no primeiro controle; X1= amplitude do intervalo entre o início da lactação e o primeiro controle; n = número de dias em lactação no último controle; yi= produção diåria de leite no i-Êsimo controle; xi= amplitude do intervalo entre controles; Yn= produção diåria de leite no último controle; Xn= amplitude do intervalo entre o último controle e o final da lactação. As produçþes totais estimadas pelas funçþes serão obtidas pela somatória das produçþes estimadas em cada dia de lactação, sendo os desvios dados por:

174


Desvio%  

PL  PLEx100 PL

d) Estimativas de tempo de pico (TP), produção no pico (PP) e persistência de lactação (S): As funções dos parâmetros como tempo de pico (TP), produção no pico (PP) e persistência de lactação (S) serão estimadas de acordo com: TP=

a1 a2 175

PP= a0(

a1 a –a )1e 1 a2

S =-(a1+1)ln a2;

As variáveis a0, a1 e a2 são parâmetros da curva estimados pelo modelo de regressão não linear utilizado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO São apresentados na Tabela 1 os valores referentes as produções de leite (kg), real e estimada pelo modelo de regressão não linear de cabras das raças Saanen e Alpinas de acordo com o estágio de lactação (dias). Observou-se que cabras Saanen são mais produtivas que cabras Alpinas em todas as fases de lactação. Avaliando as estimativas de produção pelo modelo de regressão verificou-se uma maior estabilidade para a lactação de cabras Saanen. Este fato deve estar ligado ao maior número de controles observados para esta raça. Tabela 01. Produção de leite (kg), real e estimada pelo modelo de regressão não linear de cabras das raças Saanen e Alpinas de acordo com o estágio de lactação (dias) Saanen

Alpina

Produção (Dias)

Controles

Média Real

Média

(kg)

Estimada (kg)

Controles

Média

Média

Real (kg)

Estimada (kg)

P1

174

1,82

1,80

76

1,60

1,60

P35

166

1,72

1,70

76

1,53

1,50

P63

161

1,46

1,54

73

1,27

1,35

P91

143

1,48

1,39

69

1,23

1,17


P119

133

1,34

1,26

66

1,14

1,08

P147

103

1,08

1,13

57

0,92

0,97

P175

90

1,03

1,02

53

0,82

0,87

P203

74

0,93

0,92

44

0,80

0,77

P231

70

0,82

0,83

41

0,66

0,69

PL

174

420,44

306,41

76

397,71

265,45

DL

174

182,62

-

76

197,97

-

176 Na tabela 2 sĂŁo apresentados Parâmetros estimados pela equação gama incompleta, coeficiente de determinação ajustado (đ?‘…đ?‘Ž2 ), componentes da curva de lactação e equaçþes considerando a raça. O parâmetro Îą0 relaciona-se as produçþes iniciais. Observa-se que os valores estimados pelo modelo de regressĂŁo para este parâmetro, para as duas raças, sĂŁo praticamente iguais aos valores reais observados. Isto demonstra a eficiĂŞncia deste modelo na descrição da curva mĂŠdia de lactação tanto para cabras Saanen como para cabras Alpinas. Tabela 02. Parâmetros estimados pela equação gama incompleta, coeficiente de determinação ajustado (đ?‘…đ?‘Ž2 ), componentes da curva de lactação e equaçþes considerando a raça Raça

Îą0

Îą1

Îą2

đ?‘…đ?‘Ž2

Equação

Saanen

1,8065

0,0203

0,0038

0,79

đ?‘Œ = 1,81đ?‘‹ 0,0203 đ?‘’ −0,0038đ?‘Ľ

Alpina

1,6094

0,0214

0,0042

0,82

đ?‘Œ = 1,61đ?‘‹ 0,0214 đ?‘’ −0,0042đ?‘Ľ

Avaliando a qualidade do ajuste para a curva mÊdia na lactação de Cabras Saanen e Alpinas observou-se (Tabela 02) que o modelo apresentou ajuste satisfatório, principalmente para a curva mÊdia de lactação de cabras Saanen. Este dado corrobora com os valores apresentados na Tabela 01 e pode ser observado quando se compara os valores reais observados e os estimados. Na tabela 03 são apresentadas a matriz de correlação entre os parâmetros estimados pelo modelo de regressão para cabras Saanen e Alpina. Verificou-se elevadas correlaçþes entre os parâmetros ι0 e ι1 (0,89) e ι1 e ι2. O parâmetro ι2 representa a taxa de declínio da produção leiteira. Tabela 03. Matriz de correlação entre os parâmetros estimados pelo modelo de lactação considerando a raça (diagonal inferior raça Saanen; diagonal superior raça Alpina) Parâmetro ι0 ι1 ι2 ι0

1

-0,89

-0,53

Îą1

-0,89

1

0,82

Îą2

-0,52

0,81

1

Na Tabela 04 são apresentados os dados referentes aos Componentes da curva de lactação e equaçþes considerando todas as lactaçþes e as lactaçþes por raça. Observou-se que o tempo de pico foi atingido, para as duas raças, jå na primeira semana de lactação. A produção no pico foi estimada próximo aos valores reais observados no primeiro controle. Esses valores são coerentes,


tendo em vista que em ambientes tropicais os animais apresentam pico de lactação no início da mesma, o que foi observado no presente estudo. Tabela 04. Componentes da curva de lactação e equações considerando todas as lactações e as lactações por raça Raça

TP

PP (kg)

S

PL (kg)

PLE

Desvio (%)

Saanen

5,26

1,63

5,67

420,44

306,41

27,12

Alpina

5,14

1,83

5,60

397,71

265,45

33,25

TP: tempo de pico; PP: produção no pico, S: persistência de lactação; PL: produção total observada; PLE: produção total estimada

Avaliando a persistência de lactação (Tabela 04), este componente apresentou praticamente a mesma magnitude para as duas raças. Com relação a estimativa de produção total de leite, observou-se que o modelo subestimou este componente. Esse subestimativa foi maior para cabras Alpinas. Este fato deve estar relacionado com a diminuição de controles ao longo das lactações. Espera-se que ao se padronizar geneticamente um rebanho as estimativas dos componentes da curva de lactação possam apresentar uma maior acurácia. Estudando lactações em cabras mestiças no Cariri Paraibano Ribeiro et al. (2004) relataram estimativas utilizando o modelo gama incompleto de produção inicial de 1,83 kg/dia, produção no pico de 1,90 kg/dia e tempo de pico de 4,64 dias. Em outro estudo Ribeiro e Pimenta Filho (1999) relataram pico de lactação ocorrendo 24 e 42 dias após o parto e persistência variando entre 5,84 e 6,66. Esses valores são mais próximos aos encontrados neste estudo.

CONCLUSÕES Cabras Saanen apresentam-se mais produtivas que cabras Alpinas. O modelo de regressão utilizado no presente trabalho ajustou adequadamente a curva média de lactação tanto para cabras Saanen como para cabras Alpinas. As estimativas dos componentes da curva de lactação levam a sugerir que o pico de produção já ocorre no início da lactação, com produções iniciais próximas ao pico de produção. O modelo gama incompleto não foi eficiente na estimativa da produção de leite total.

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EL FARO, L.; ALBUQUERQUE, L. G. Estimação de parâmetros genéticos para produção de leite no dia do controle e produção acumulada até 305 dias, para as primeiras lactações de vacas da raça Caracu. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.2, p.284-294, 2003. EL FARO, L.; ALBUQUERQUE, L. G. Predição de valores genéticos para a produção de leite no dia do controle e para a produção acumulada até 305 dias. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.2, p.496-507, 2005. FERREIRA, W. J.; TEIXEIRA, N. M.; TORRES, R. A. et al. Utilização da produção de leite no dia do controle na avaliação genética em gado de leite – uma revisão. Arch. Latinoam. Prod. Anim., v.10, n.1, p.46-53, 2002. IBGE – Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Instituto de Geografia e Estatística, João Pessoa, PB, v. XVII, 1990. PTACK, E.; SCHAEFFER, L. R. Use of test day yields for genetic evaluation of dairy sires and cows. Livestock Production Science, v.34, p.23-34, 1993. NELDER, J. A. Inverse polynomials, a useful group of multi-factor response functions. Biometrics, 22:128, 1966. RIBEIRO, M.N. Estudo da curva de lactação de um rebanho caprino no estado da Paraíba. Jaboticabal: FCAV/UNESP, 1997. 91p. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/Universidade Estadual Paulista, 1997. RIBEIRO, M. N.; EL FARO, L., PIMENTA FILHO, E. C. P.; ALBUQUERQUE, L. G. Modelos matemáticos para o ajuste da curva de lactação de cabras mestiças no Cariri Paraibano. ARS veterinária, V. 20, n. 3, 276-282, 2004. RIBEIRO, M.N; PIMENTA FILHO, E.C. Estudo de Efeitos Ambientais que Influem na Forma da Curva de Lactação de Cabras Mestiças no Estado da Paraíba. Revista Brasileira de Zootecnia, V. 28, n. 4, p.868-874, 1999. SARMENTO, J. L. R.; REIS FILHO, J. C.; ALBUQUERQUE, L. G. et al. Avaliação genética de caprinos da raça Alpina utilizando-se a produção de leite no dia do controle. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.2, p.443-451, 2006. SAS Institute Inc. SAS/STAT User’s guide. Cary, North Caroline: SAS Institute Inc., 2012. SWALVE, H. H. The effect of test ay models on the estimation of genetic parameters and breeding values for dairy yields traits, Journal of Dairy Science, v.78, n.4, p.929-938, 1995. WOOD, P. D. P. 1967. Algebraic model of the lactation curve in cattle. Nature, 216:164, 1967.

178


Capítulo 20 INFERÊNCIAS DE BIOESTIMULANTE SOBRE TEOR DO ÁCIDO ASCÓRBICO EM SUCO CONGELADO DE ACEROLEIRAS, CULTIVADAS EM PETROLINA-PE

SILVA, Laurenielle Ferreira Moraes Graduanda em Agronomia Universidade Federal do Vale do São Francisco laura_nielle01@hotmail.com MOURA, Franciele Miranda Pós-graduando em Produção Vegetal Universidade Federal do Vale do São Francisco agromiranda@yahoo.com.br SÁ, Cícero Henrique Graduando em Agronomia Universidade Federal do Vale do São Francisco cicero_sa@live.com CAVALCANTE, Ítalo Herbert Lucena Doutorado em Agronomia / Produção Vegetal. Universidade Federal do Vale do São Francisco italo.cavalcante@univasf.edu.br SOUSA, Karla dos Santos Melo Doutorado em Engenharia Agrícola Universidade Federal do Vale do São Francisco karla.smsousa@univasf.edu.br

RESUMO A acerola é uma fonte rica de ácido ascórbico, antioxidante matéria prima de vários setores industriais. Por causa disso, o objetivo do trabalho foi testar um bioestimulante comercial (10% Ca, 0,1% B, 2% Mg, 5% K, 10% N e L-α-aminoácidos) para elevar os teores de ácido ascórbico em suco congelado de frutos verdes e maduros das aceroleiras ‘Flor Branca e ‘Junko’ para cada pulverização a dose de 1,5 L/ha-1 em função de 5 aplicações no pomar experimental da UNIVASF em Petrolina-PE. Os quatro primeiros tratamentos foram dos frutos de ‘Flor Branca’ T1- verdes, sem bioestimulante; T2- verdes com bioestimulantes; T3- maduros, sem bioestimulante; T4 maduros com bioestimulante e o T5, T6, T7 e T8 de ‘Junko’ seguindo a mesma sequência adotada para a variedade anterior. Para determinação de Vitamina C a solução padrão de iodo a 0,03 mol.L-1 para titulação e a solução de amido a 1% como indicador. Não houve efeito do bioestimulante sobre o teor de Vitamina C independente da maturação dos frutos para ‘Flor Branca’, já para a ‘Junko’ nos frutos maduros em até três pulverizações na dose utilizada pode ser utilizado como estratégia.

PALAVRAS-CHAVE: Malpighia emarginata; Flor Branca; Junko

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INTRODUÇÃO A acerola pertence à família Malpighaceae (Malpighia emarginata), planta típica de países de clima tropical. O fruto da aceroleira, possui elevados teores de ácido ascórbico (Vitamina C), com média de 2.000 mg/100 g de polpa acerola. Apresenta um teor entre 30 a 50 vezes maior do que o encontrado nas laranjas, implicando que 1 a 2 frutos de acerola são suficientes para suprir o requerimento humano diário dessa vitamina (PELEGRINE et al, 2015). Todos estados brasileiros são produtores de acerola, com destaque maior para região do Nordeste, onde concentra a maior produção dessa frutífera (DIAS, 2017). Por apresentar elevados teores de vitamina C, houve uma crescente comercialização de frutos verdes para a indústria farmacêutica (FURLANETO E NASSER, 2015). A vitamina C tem uma alta eficácia na ação antioxidante, agindo diretamente no ao retardo do envelhecimento celular, diminuindo, também, incidência de doenças degenerativas, como o câncer, as doenças cardiovasculares, inflamações, disfunções cerebrais e diversas outras, como por exemplo o escorbuto. Devido aos benefícios, tem-se aumentado proporcionalmente o uso da vitamina C (VIDAL e FREITAS, 2015; REIS et al, 2015). Diante disso, o objetivo deste trabalho foi avaliar o bioestimulante comercial descrito adiante, como estratégia para aumentar o teor de ácido ascórbico (Vitamina C) nos frutos de acerolas verdes e maduros das aceroleiras ‘Flor Branca’ e ‘Junko’.

MATERIAS E MÉTODOS O ensaio foi realizado no pomar experimental irrigado localizado no Setor de Fruticultura, Campus de Ciências Agrárias da UNIVASF, munícipio de Petrolina-PE mais precisamente, latitude: 09º19'28"S, longitude: 40º33'34"W e altitude: 393m. O clima na região é classificado por Koppen como BSwh. Segundo Dias (2017) as aceroleiras ‘Junko’ e ‘Flor Branca’ foram transplantadas em 2015, com porta-enxerto ‘Junko’, implantadas no espaçamento adensado 4 x 3m (833 plantas/ha-1). O objeto do estudo foi um bioestimulante comercial, o qual apresenta 10% Ca, 0,1% B, 2% Mg, 5% K, 10% N e L-α-aminoácidos na dose 1,5 L/ha-1 por pulverização. O ensaio foi conduzido em delineamento inteiramente ao acaso, com arranjo em esquema fatorial triplo (2x2x2), as fontes de variação foram: os estádios de maturação dos frutos verdes ou maduros, sem ou com o bioestimulante para as duas variedades supracitadas em função de 5 aplicações, entre outubro e dezembro de 2019. Entretanto, as plantas de cada variedade que não receberam as aplicações do bioestimulante foram protegidas da deriva, por meio de lona de polietileno durante cada aplicação, realizada manualmente com pulverizador costal, bico jato cônico e adjuvante, nos horários de temperatura mais amena ou no início da manhã ou no final da tarde. O pomar apresentava ao norte e a leste plantas de cana-de-açúcar como quebra-vento. Mais precisamente, os tratamentos: T1- Verdes, sem bioestimulante; T2- Verdes com bioestimulante; T3- Maduros sem bioestimulante; T4- Maduros com bioestimulante todos da ‘Flor Branca’, seguindo a mesma sequência para ‘Junko’ T5, T6, T7, T8. Os quais eram levados imediatamente para o Laboratório de Agroindústria do Campus, para o preparo do suco e congelamento. Para determinação dos sólidos solúveis (ºBrix) através da refratômetria, utilizou-se um refratômetro digital, já a acidez titulável foi determinada por volumetria ácido-base, empregando

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bureta automática com solução alcalina de NaOH a 0,1 mol.L-1 e a solução alcoólica de fenolftaleína a 1% como indicador e expressa em ácido málico. Já para ácido ascórbico, utilizouse o método descrito por Baccan (1995) por iodometria com bureta automática, com a solução padrão de iodo a 0,03 mol.L-1 para titulação e a solução de amido a 1% como indicador. Os dados foram submetidos a análise de variância pelo Teste F (p≤ 0,01) e análise de regressão para o teor de ácido ascórbico em função das aplicações de bioestimulante no mesmo nível de significância, com o software SIVAR (5.7) foi utilizado para análise estatística.

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Figura 1: Plantas que não receberam as aplicações do bioestimulante protegidas da deriva por lona.

Figura 2: Planta em plena produção


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Figura 3: Flor Branca em diferentes estádios de maturação.

Figura 4: Junko em diferentes estádios de maturação.


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Figura 5: Amostras de Junko e Flor Branca

Figura 6: Polpas de Junko e Flor Branca para anรกlise.


RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve efeito significativo (Tabela 1), para as variedades sólidos solúveis, pH, acidez titulável e ácido ascórbico para as variedades Junko e Flor Branca. As interações duplas e triplas não foram significativas.

Tabela1. F-valores da análise de variância do suco congelado das aceroleiras ‘Flor Branca’ e ‘Junko’ cultivadas em Petrolina, entre outubro e dezembro de 2019.

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Observa-se que o teor de sólidos solúveis (SS) para cv Flor Branca foi maior, sendo encontrado 8,56 °Brix e para cv Junko 7,63 °Brix. Os teores obtidos para variedade ‘Junko’, está de acordo com o que relata Santos (2016). O pH também obteve valores maiores para cultivar Flor Branca, com 3,43 para 3,39. Os valores determinados por Santos (2016) para cv Junko foram menores (3,21). A variedade ‘Junko’ obteve maiores teores para os fatores acidez titulável (AT) e ácido ascórbico (Vitamina C), quando comparada com a cv Flor Branca. Observa-se que acidez titulável determinada para cv Junko (1,44), foi inferior ao obtido por Santos (2016), para o mesmo tipo de fruto, 1,91. E superior ao valor encontrado por Dias (2017), 1,26 no primeiro ciclo e 1,27 no segundo. A vitamina C do fruto da acerola foi inferior ao valor encontrado por Dias (2017), de 2820,09 mg/100g. Nos estádios de maturação (M) verde e maduro, houve efeito significativo para sólidos solúveis para o estádio maduro com maior teor, enquanto o verde apresentou maior pH, acidez titulável e ácido ascórbico (vitamina C). Com maior destaque para a vitamina C, com valor de 3056,36 mg/100g no estádio verde maior quando comparado com o estádio maduro de 1718,67 mg/100g. Esse resultado é compreensível, pois à medida que o fruto avança no estádio de maturação, há perda de ácido ascórbico. Quando comparado ao trabalho de Santos (2016), os teores de vitamina C foram inferiores com diferença de 528,89 mg/100g no fruto verde e de 1112,58 mg/100g.


Não houve efeito significativo para a utilização do bioestimulante para os fatores sólidos solúveis, pH, acidez titulável e ácido ascórbico.

CONCLUSÃO O bioestimulante comercial na dose 1,5L/ha-1 não interfere no teor de ácido ascórbico dos frutos de aceroleira ‘Flor Branca’ e ‘Junko’ em Petrolina-PE independente do estádio de maturação.

REFERÊNCIAS BACCAN, N. Química analítica quantitativa elementar. Edgar Blucher, São Paulo, Brasil. 308p, 2011. DIAS, D. N. Substâncias húmicas na fertirrigação nitrogenada da aceroleira. 2017. Dissertação de Mestrado (Pós-Graduação em Agronomia-Produção Vegetal) Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina, 2017. EMBRAPA. A cultura da acerola. Embrapa Informação Tecnológica. v.3, p.144, 2012. FURLANETO, F. P. B.; NASSER, M. D. Panorama da cultura da acerola no estado de São Paulo. Pesquisa & Tecnologia, n.12, v.1, p.6, 2015. PELEGRINE, D. H. G.; ANDRADE, M. S.; NUNES, S. H.; Elaboração de geleias a partir de misturas binárias compostas pelas polpas de laranja e acerola. Ciência e Natura, v.37 n.1, 2015, jan.-abr. p. 124 – 129. REIS, R. C. et al. Compostos bioativos e atividade antioxidante de variedades melhoradas de mamão. Ciência Rural, Santa Maria, v.45, n.11, p.2076-2081, nov, 2015. SANTOS, R. O. Avaliação físico-química de acerola cv. junko cultivada em Petrolina – Pe. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) - Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia do sertão pernambucano campus Petrolina zona rural, 2016. VIDAL, P. C. L.; FREITAS, G.; Estudo da antioxidação celular através do uso da Vitamina C. Revista UNINGÁ, Vol.21, n.1, pp.60-64, 2015.

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Capítulo 21 INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE PROBIÓTICOS E PREBIÓTICOS NA MATURACÃO DE SALAMES MISTOS DE CARNE SUINA E OVINA

GONÇALVES, Cláudio Paulino MSc Tecnologia de Alimentos Instituto Centro de Ensino Tecnológico Centec - FATEC Sertão Central claudiogoncalvespaulino@gmail.com MONTE, Antônia Lucivânia de Sousa DSc. Em Zootecnia Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará lucivania@ifce.edu.br COSTA, Ticiana Leite MSc Engenharia Agrícola Instituto Federal do Maranhão - Campus Codo - MA ticiana.costa@ifma.edu.br DOS SANTOS, Sandra Maria Lopes DSc em Engenharia Química Instituto Centro de Ensino Tecnológico Centec - FATEC Sertão Central anisulivan@gmail.com DAMACENO, Marlene Nunes DSc em Ciencia y Tecnología de Alimentos Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará marlene@ifce.edu.br

RESUMO Os salames são embutidos maturados que têm se sobressaído devido à sua praticidade de preparação, versatilidade de uso e facilidade de conservação. Tais produtos são designados de acordo com a granulometria de moagem da carne, o tipo de processo ao qual é submetido, os parâmetros que vão determinar o final da fabricação (umidade, atividade de água), entre outros fatores. O trabalho objetivou avaliar a influência da adição de probiótico e prebiótico nos salames a afim de avaliar a contribuição destes ingredientes funcionais no processo de maturação. Foram aplicados quatro tratamentos com e sem a adição de ingredientes com alegações funcionais, a saber, (F0) - produto sem adição de ingredientes com alegações funcionais, (F1) - produto elaborado com o probiótico Lactobacillus casei, (F2) com adição do prebiótico lactulona (F3) produto elaborado com a lactulona e o Lactobacillus casei. Para determinação da umidade utilizou-se o método gravimétrico segundo os procedimentos analíticos da AOAC (1995). Na determinação da atividade de água (Aw) das amostras foram avaliadas em aparelho medidor de Aw (marca Aqualab) por medida direta nas amostras. A avalição da cor (Sistema CIE L*a*b*) foi determinada mediante leituras, utilizando-se um colorímetro conforme González e Vicente (2007). Conclui-se que o tratamento F3, em que foi adicionado Lactobacillus casei juntamente com a fibra lactulona, apresentou melhores resultados em comparação aos demais tratamentos, contribuindo para a redução no tempo do processo de maturação.

PALAVRAS CHAVE: Embutidos, Lactobacillus casei, lactulona.

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INTRODUÇÃO O consumo de carne ovina ainda é limitado, em comparação ao de outras espécies como bovina, suína, aves e peixes, entretanto, vem se destacando na dieta humana devido às suas qualidades sensoriais. Algumas estratégias vêm sendo adotadas como forma de incentivar seu consumo, como, por exemplo, por meio do processamento da carne e elaboração de produtos como os embutidos. Os probióticos são conceituados como microrganismos vivos que, quando consumidos em quantidades adequadas, são capazes de conferir benefício à saúde do hospedeiro (FAO/WHO, 2002). Os Lactobacillus casei tem grande valor comercial devido à vasta diversidade de alimentos que podem ser introduzidos, conferindo aroma, sabor, textura e ainda auxiliando na bioconservação dos alimentos pelo processo de acidificação. Os prebióticos designa um componente alimentar não vivo, que confere um benefício à saúde do hospedeiro associado com a modulação da microbiota. Também neste encontro foi estabelecido que prebióticos consistem de fibras, mas as fibras não são necessariamente prebióticos (PINEIRO et al., 2008). Denominam-se fibras alimentares os compostos que não são digeríveis pelas enzimas digestivas humanas, que são capazes de serem fermentáveis pelas bactérias do cólon e que têm sua origem na parede celular vegetal (COSTA; ROSA, 2010). A lactulose tem sido acrescentada em fórmulas infantis como um fator bifidus por muitos anos. Atualmente, é usada em fórmulas farmacológicas para tratar encefalopatia hepática e constipação, também sendo uma substância alimentar considerada específica para uso como substância bioativa na saúde (SAARELA et al., 2003; SCHUMANN, 2002; SEKI; SAITO, 2012). Este trabalho buscou desenvolver e caracterizar embutido fermentado misto de carne ovina e suína com e sem adição de Lactobacillus casei e/ou lactulona (xarope) para estudar a contribuição destes ingredientes funcionais no processo de maturação e padronização do salame, como também incentivar a produção e o consumo de produtos elaborados com carne ovina afim de contribuir para o aumento da diversificação na indústria produtos cárneos.

MATERIAL E METODOS A pesquisa foi realizada nos Laboratórios de Bromatologia, Química de Alimentos e Planta Piloto de Processamento de Carnes e Pescados do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará Campus Limoeiro do Norte. Na elaboração dos salames os ingredientes utilizados foram: carne suína, carne ovina, toucinho, sal (cloreto de sódio), sacarose, glicose, alho em pó, pimenta branca, noz moscada, nitrito, nitrato, fixador (acelerador de cura), cultura starter comercial, xarope de lactulose (prebiótico) e cultura de Lactobacillus casei (probiótico). Foram adicionadas à massa padrão ingredientes com alegações funcionais, a saber, (F0) - produto sem adição de ingredientes com alegações funcionais, (F1) - produto elaborado com o probiótico Lactobacillus casei, (F2) - com adição do prebiótico lactulona e, (F3) - produto elaborado com a lactulona e o Lactobacillus casei. Foram conduzidas três repetições para cada tratamento. Foi utilizado a lactulona pelo fato de o Lactobacillus casei fermentar esse tipo de prebiótico. Para determinação da umidade utilizou-se o método gravimétrico com aquecimento em estufa a 105 ºC até peso constante segundo os procedimentos analíticos da AOAC (1995). Na determinação da atividade de água (Aw) das amostras foram avaliadas em aparelho medidor de Aw (marca Aqualab) por medida direta nas amostras previamente trituradas e mantidas à temperatura ambiente de 25 °C, utilizando uma amostra de carvão ativado como branco. Os procedimentos para determinação de pH, acidez titulável e atividade de água foram procedidos de acordo com o preconizado pela AOAC (2005).

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A avalição da cor (Sistema CIE L*a*b*) foi determinada mediante leituras, utilizando-se um colorímetro portátil miniScan EZ (HunterLab) com as coordenadas de L* (referente à luminosidade, podendo variar do preto ao branco), a* (medida do croma no eixo vermelho-verde) e b* (medida do croma no eixo amarelo-azul). A partir destas, foram calculadas a cromaticidade (C*), ângulo de tonalidade (H°) (Equações 1 e 2), conforme González e Vicente (2007).

(1)

(2)

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Onde: C* corresponde a cromaticidade; H° corresponde a tonalidade.

RESULTADOS E DISCUSÕES Os percentuais médios de umidade dos salames mistos de carne suína e ovina com e sem adição de Lactobacillus casei durante a etapa de maturação podem ser observados na Tabela 1. Verificou-se que, aos 35 dias do período de fermentação e secagem todas as formulações encontravam-se maturadas. Os tratamentos F1, F2 e F3, em que foram adicionados Lactobacillus casei e/ou lactulona, diferiram (p > 0,05) do tratamento controle (F0) não diferindo entre si (p ≤ 0,05), apresentando valores médios de umidade que variaram de 27,4 ± 0,7 (F3) a 30,0 ± 1,0 (F0). Pode-se observar que, aos 28 dias do período de fabricação, o tratamento com Lactobacillus casei e lactulona apresentou menor percentual de umidade em relação aos demais tratamentos e ao controle, podendo inferir que o Lactobacillus casei com lactulona contribuiu para a perda de umidade. Tabela 1 - Umidade (%) dos salames mistos de carne suína e ovina com e sem adição de Lactobacillus casei, durante a etapa de maturação Tempo (dia) F0 F1 F2 F3 1

61,3b ± 0,2

60,5ab ± 0,3

60,8ab ± 0,9

59,8ª ± 0,1

7

58,6ª ± 0,4

58,0a ± 0,7

57,9ª ± 0,1

58,8ª ± 0,3

14

55,1c ± 1,0

51,9ª ± 0,9

49,4b ± 0,5

52,5ª ± 0,6

21

49,4c ± 0,5

45,7ab ± 0,6

47,3bc ± 2,0

43,8ª ± 0,7

28

38,6ª ± 0,9

45,6b ± 0,1

45,0b ± 1,9

36,5ª ± 0,9

35

30,0b ± 1,0

29,4ª ± 0,7

27,4ª ± 0,7

27,8ª ± 0,6

42

25,7ª ± 2,4

27,3ª ± 0,9

27,6ª ± 0,1

26,6ª ± 1,3

Médias seguidas do desvio padrão (±) na mesma linha com letras iguais não diferem entre si (p ≤ 0,05) pelo teste de Tukey. F0 (sem adição de Lactobacillus casei e lactulona); F1 (com adição de Lactobacillus casei); F2 (com adição de lactulona); F3 (com adição de Lactobacillus casei e lactulona). Fonte: Próprio autor (2019).

Os salames alcançaram uma umidade inferior a 35% aos 35 dias de processamento. O decaimento da umidade é algo esperado durante a fabricação de embutidos fermentados, assim


diversos outros trabalhos apresentaram a redução linear do conteúdo de água nestes produtos (MACEDO et al., 2008; MENDES, 2013; ROSELINO, 2016). Este é um parâmetro que mede o teor de água presente num alimento, sendo considerado crítico quando se deseja determinar o final do processo de fabricação dos salames, ou seja, quando estes são considerados prontos para o consumo, segundo a legislação brasileira (< 35 %) (BRASIL, 2000). O decaimento linear da umidade dos salames fabricados pode ser observado na Figura 1, não havendo diferença estatística (p ≤ 0,05) aos 42 dias de fabricação.

Figura 1 - Regressão linear da perda de umidade dos salames mistos de carne suína e ovina com e sem adição de Lactobacillus casei durante a etapa de maturação 65

(F0: R2 = 0,96, p ≤ 0,001, y = 62,862 - 0,8413.X;

60

F1: R2 = 0,94, p ≤ 0,001, y = 63,2594 - 0,8387.X; 55

F2: R2 = 0,95, p ≤ 0,001, y = 62,2556 - 0,8825.X; 50

F3: R2 = 0,97, p ≤ 0,001, y = 62,4455 - 0,8814.X)

45

40

35

30

25

20 1

7

14

21

28

35

42

F0 F1 F2 F3

Maturação (dia)

F0 (sem adição de Lactobacillus casei e lactulona); F1 (com adição de Lactobacillus casei); F2 (com adição de lactulona); F3 (com adição de Lactobacillus casei e lactulona). Fonte: Próprio autor, 2019.

Na Figura 2 observa-se os percentuais médios da atividade de água dos salames mistos de carne suína e ovina com e sem adição de Lactobacillus casei durante a etapa de maturação. Verificou-se que todos os produtos acabados apresentaram valores de Aw abaixo do limite máximo de 0,90 (Figura 2), estipulado pela legislação brasileira para salame (BRASIL, 2000) garantindo, portanto, a estabilidade dos produtos quanto à multiplicação de microrganismos patogênicos (LEISTNER; RÖDEL, 1975; LÜCKE, 2000; MACEDO et al., 2008; ROSELINO, 2016).

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Figura 2 – Regressão linear da atividade de água dos salames mistos de carne suína e ovina com e sem adição de Lactobacillus casei durante a etapa de maturação 1,00 0,98 0,96 0,94 0,92 0,90 0,88 0,86 0,84 0,82

(F0: R2 = 0,81, p ≤ 0,001, y = 0,9938 - 0,0034.X;

190

0,80 F1: R2 = 0,76, p ≤ 0,001, y = 0,9991 - 0,0039.X;

0,78

F2: R2 = 0,80, p ≤ 0,001, y = 1,0037 - 0,0045.X;

0,76

F3: R2 = 0,89, p ≤ 0,001, y = 0,9954 - 0,0044.X)

0,74 0,72 -5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

F0 F1 F2 F3

Tempo (dia)

F0 (sem adição de Lactobacillus casei e lactulona); F1 (com adição de Lactobacillus casei); F2 (com adição de lactulona); F3 (com adição de Lactobacillus casei e lactulona). Fonte: Próprio autor, 2019.

Aos 35 dias, todos os tratamentos encontraram-se maturados com teores de umidade de acordo com o que preconiza a legislação brasileira (< 35%) e neste mesmo período de tempo, observando a Figura 2, não houve efeito (P > 0,05) entre os tratamentos para os valores de atividade de água (Aw) dos produtos, podendo ser observada sua redução linear ao longo do tempo de fermentação e secagem, com resultados de Aw de 0,86 ± 0,01 para os tratamentos F1 e F2, 0,86 ± 0,02 para o tratamento F0 e 0,87 ± 0,03 para o tratamento F3. A atividade de água, assim como a umidade, também é considerada um parâmetro crítico para a fase final da fabricação do embutido em questão. Este fator, associado com a redução dos valores de pH, com os sais de cura adicionados e com os compostos antimicrobianos produzidos pelas bactérias (ácidos, entre outros) durante o processo fermentativo dos salames é que garantem sua segurança (ROSELINO, 2016). Na Tabela 3 observa-se as médias dos índices de cor dos salames mistos de carne suína e ovina com e sem adição de Lactobacillus casei durante a etapa de maturação. Verificou-se que a adição de probiótico e/ou de prebiótico nas formulações de salames mistos de carne suína e ovina adicionados ou não de Lactobacillus casei e lactulona proporcionou diferenças significativas (p > 0,05) nos índices de cor instrumental entre os tratamentos (Tabela 11). Os valores de L* variaram entre 44,10 ± 0,42 a 50,26 ± 0,16, respectivamente, F3 e F1. O tratamento com adição apenas de Lactobacillus casei apresentou menor tendência para a coloração vermelha (10,83 ± 0,12), diferindo estatisticamente (p > 0,05) de F0, F2 e F3. O tratamento F2 apresentou menor tendência para a coloração amarela diferindo (p > 0,05) dos tratamentos F0 e F3 e não diferindo de F1. A maior saturação (C*) foi observada por F0 que diferiu (p > 0,05) das demais formulações (F1, F2 e F3). A formulação F1 apresentou maior tonalidade (54,30 ± 0,06) diferindo (p > 0,05) das demais.


Tabela 3 – Médias (± desvio padrão) dos índices de cor dos salames mistos de carne suína e ovina com e sem adição de Lactobacillus casei durante a etapa de maturação Parâmetros F0 F1 F2 F3 L*

47,90c ± 1,30

50,26d ± 0,16

45,60b ± 0,39

44,10ª ± 0,42

a*

15,21b ± 1,44

10,83c ± 0,12

13,28ª ± 0,20

13,70ab ± 0,28

b*

15,42ª ± 0,55

15,07ab ± 0,20

13,99b ± 0,63

15,75ª ± 0,86

C*

21,66b ± 1,39

18,56ª ± 0,23

18,76ª ± 1,23

18,88ª ± 0,57

44,56ª ± 0,28

54,30c ± 0,06

45,65ª ± 2,66

48,95b ± 1,12

Médias seguidas do desvio padrão (±) na mesma linha com letras iguais não diferem entre si (p ≤ 0,05) pelo teste de Tukey. F0 (sem adição de Lactobacillus casei e lactulona); F1 (com adição de Lactobacillus casei); F2 (com adição de lactulona); F3 (com adição de Lactobacillus casei e lactulona); L* (luminosidade), a* (índice de vermelho); b* (índice de amarelo); C* (saturação); e H° (ângulo de tonalidade - grau). Fonte: Próprio autor, 2019.

A formulação F0, neste estudo, apresentou características como baixa luminosidade (L* = 47,90), tonalidade (H° = 44,56) tendendo para o vermelho e com baixa pureza na cor (C* = 21,66). F1 apresentou características como média luminosidade (L* = 50,26), tonalidade (H° = 54,30) tendendo para o amarelo e com baixa pureza na cor (C* = 18,56). Já a formulação F2 apresentou características como baixa luminosidade (L* = 45,60), tonalidade (H° = 45,65) tendendo para o amarelo e com baixa pureza na cor (C* = 18,76). E a formulação F3, nesta pesquisa, apresentou características como baixa luminosidade (L* = 44,10), tonalidade (H° = 48,95) tendendo para o amarelo e com baixa pureza na cor (C* = 18,88). Os valores de L*, a* e b* dos salames mistos estão de acordo com o encontrado em outros na literatura (faixa de 40 a 60, para L*; de 10 a 25, para a* e de 5 a 15 para b*), para embutidos fermentados com adição de probióticos (DALLA SANTA, 2008; MACEDO, 2005; ROSELINO, 2016). Lima (2016) adicionou lactulose e Lactobacillus paracasei em produtos dessecados de ovino e não constatou diferença nos índices de cor entre os tratamentos. Dalla Santa (2008), ao avaliar salames controle e adicionados de probióticos (Lactobacillus plantarum 503 e Lactobacillus plantarum 341), encontrou valores dos índices de cor (L*, a* e b*) dentro das faixas anteriormente mencionadas e, não constatou diferença entre nenhum dos três tratamentos avaliados ao final do período de fabricação. Mendes (2013), ao produzir salames tipo Milano, no tratamento controle, obteve valores dos índices L* e b* dentro da faixa comumente encontrada para salames (54,02 e 9,62, respectivamente). Já o valor de a* se encontrou abaixo (7,08) da faixa anteriormente mencionada. Por outro lado, Macedo (2005) encontrou diferença, após 28 dias de maturação, entre o valor de L* de dois tratamentos avaliados (controle e adicionado de Lactobacillus paracasei), porém ambos os valores se encontraram dentro da faixa observada para salames. Já os índices a* e b* não apresentaram diferença entre os tratamentos avaliados e também se encontraram dentro da faixa mencionada.

CONCLUSÃO Concluiu-se que, a formulação F1, em que foi adicionado Lactobacillus casei, apresentou melhor resultado para o desenvolvimento da cor vermelha em comparação às demais formulações, não diferindo para umidade e atividade de água, aos 35 dias de maturação, entre as formulações F2 e F3.

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REFERÊNCIAS ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS - AOAC. Official methods of analysis of the Association of the Analytical Chemists. 16 th Edition. Washington, 1995. ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS. Official methods of analysis of the Association of the Analytical Chemists.18th ed. Gaithersburg, 2005. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 22, de 31 de julho de 2000. Aprova o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Salames. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília, 03 ago, p. 1518. 2000. COSTA, N. M. B.; ROSA, C. de O. B. Alimentos Funcionais - Componentes Bioativos e Efeitos Fisiológicos. 1.ed. Rio de Janeiro, Editora Rúbio, 2010. p. 560. DALLA SANTA, O. R. Avaliação da qualidade de salames artesanais e seleção de culturas starter para a produção de salame tipo italiano. 2008. 133 f. Tese (Doutorado em Tecnologia de Alimentos). Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2008. FAO/WHO, JOINT. Food and Agriculture Organization of the United States/World Health Organization. Working Group Report on Drafting Guidelines for the Evaluation of Probiotics in Food. Guidelines for the Evaluation of Probiotics in Food. London, Ontario, Canadá, 30 April - 1 May. 2002. GONZÁLEZ, A. M.; VICENTE, I. El color en la industria de los alimentos. Havana, Cuba, Editorial Universitaria, p.95, 2007. LEISTNER, L.; RÖDEL, W. The significance of water activity for microorganisms in meat. In: Duckworth, R.B. (Ed.). Water reactions of foods. London: Academic Press, p. 309-323, 1975. LIMA, Í. A. Produtos cárneos curados e dessecados da carne ovina adicionados de ingredientes funcionais. 2016. 138 p. Tese (Doutorado em Ciência dos Alimentos) Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2016. LÜCKE, F.-K. Utilization of microbes to process and preserve meat. Meat Science, v. 56, p. 105-115, 2000. MACEDO, R. E. F. de; PFLANZER JR., S. B.; TERRA, N. N.; FREITAS, R. J. S. de. Desenvolvimento de embutido fermentado por Lactobacillus probióticos: características de qualidade. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 28, n. 3, p. 509-519, 2008. MENDES, A. C. G. Salames tipo Milano adicionados de subprodutos da elaboração de vinhos. 2013. 143 p. Dissertação (Mestrado em Ciência dos Alimentos) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2013. PINEIRO, M.; ASP, N. G.; REID, G; MACFARLANE, S.; MORELLI, L.; BRUNSER, O. e TUOHY, K. FAO Technical meeting on prebiotics. Journal of Clinical Gastroenterology, v. 42, Suppl 3, p. S156-159, 2008. ROSELINO, M. N. Desenvolvimento de um embutido cárneo fermentado, com teores reduzidos de gordura e sais de cura, através da utilização de culturas probióticas. 2016. 197 f. Tese (Doutorado em Alimentos e Nutrição) - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Araraquara, 2016. SAARELA, M.; HALLAMAA, K.; MATTILA-SANDHOLM, T.; MÄTTÖ, J. The effect of lactose derivatives lactulose, lactitol and lactobionic acid on the functional and technological properties of potentially probiotic Lactobacillus strains. International Dairy Journal, v. 13, n. 4, p. 291-302, 2003. SCHUMANN, C. Medical, nutritional and technological properties of lactulose. An update. European Journal of Nutrition, v. 41, n. 1, p. i17-i25, 2002.

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Capítulo 22 INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA COMPOSIÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE FATIAS DE PÊSSEGO CV. HUBIMEL BARROS, Sâmela Leal Doutoranda em Ciências e Tecnologia dos Alimentos Universidade Federal do Ceará samelaleal7@gmail.com RIBEIRO, Victor Herbert de Alcântara Doutorando em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande victor_herbert@hotmail.com SANTOS, Newton Carlos Doutorando em Engenharia Química Universidade Federal do Rio Grande do Norte newtonquimicoindustrial@gmail.com MONTEIRO, Shênia Santos Mestranda em Engenharia Agrícola Universidade Federal de Campina Grande shenia-monteiro@hotmail.com SILVA, Virgínia Mirtes de Alcântara Doutoranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande virginia.mirtes2015@gmail.com

RESUMO As frutas são amplamente utilizadas na alimentação humana, sendo reconhecida como fonte de vitaminas e minerais essências para nutrição humana. No entanto, os frutos de pêssego são altamente perecíveis e apresentam rápida deterioração da qualidade. Uma alternativa para conservação pós-colheita desses frutos é a secagem, que dentre os vantagem do processo, tem-se a redução da atividade de água, aumentando a vida de prateleira desses produtos. Diante disso, o objeto desse trabalho foi avaliar os efeitos da temperatura de secagem nas características físicoquímica do produto seco. O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Secagem da Universidade Federal de Campina Grande. Foram utilizados pêssegos da cultivar Hubimel, fatiados em fatias com espessura de 0.6 mm. A secagem foi realizada em estufa de circulção de ar com velocidade do ar de 1,5 m.s-1, nas temperaturas de 60, 70 e 80 ºC. As fatias de pêssegos in natura e desidratadas foram carcaterizadas em triplcatas quanto aos seguintes parâmetros: teor de umidade, sólidos totais, cinzas, pH, acidez total titulável (ATT), sólidos solúveis totais (SST), ratio (SST/ATT), atividade de água e vitamina C. Os resultados das análises foram submetidos a tratamento estatístico por meio de delineamento inteiramente casualizado com teste de comparação de médias. O processo de secagem resultou na redução de todos os parâmetros analisados, comparado a composição físico-química do produto in natura com o seco. Sendo visto que a temperatura de 80 °C propiciou uma secagem mais efetiva das fatias de pêssego, apresentando o menor teor de água. PALAVRAS-CHAVE: Prunus persica L., Secagem, Vitamina C

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INTRODUÇÃO As frutas são fontes de muitos compostos biológicos, de sabor e aroma, de interesse para a saúde e a indústria, constituindo uma parte importante da dieta humana, desempenhando um papel importante na prevenção primária e secundária de doenças transmissíveis, isso porque as frutas fornecem vitaminas essenciais, minerais e vários fitoquímicos que conferem benefícios significativos à saúde (CHANG, ALASALVAR e SHAHIDI, 2016). O pêssego (Prunus persica L.) é uma das frutas mais importantes da dieta humana, devido ao seu sabor único e nutriente abundantes. No entanto, os frutos de pêssego são altamente perecíveis e apresentam rápida deterioração da qualidade à temperatura ambiente (HUAN et al., 2019). Segundo Sun et al. (2019) os pêssegos geralmente são colhidos durante o verão quente e úmido, e são suscetíveis à deterioração devido ao crescimento de fungos após a colheita, o que ocorreria dentro de três a cinco dias depois que a fruta fosse mantida à temperatura ambiente, resultando em rápida mudanças no seu sabor e textura. Quando armazenados em ambiente refrigerado, possuem vida útil de aproximadamente vinte dias de armazenamento. Após esse período, ocorrem elevadas perdas de massa e firmeza, e aumenta a suscetibilidade a podridões (SEIBERT et al., 2010). Além dessas perdas, ocorrem também a redução dos teores de fitoquímicos na polpa dos frutos (SOARES, 2017). A maioria das frutas frescas são processadas por diversas técnicas para que possam ser consumidas ao longo do ano, uma vez, que a maioria das frutas comuns são produzidas sazonalmente e, portanto, pode não ser disponível em condições frescas durante o ano (CHANG, ALASALVAR e SHAHIDI, 2016). Por apresentarem alta perecibilidade pós-colheita, segundo Defraeyer e Radu (2018), a secagem é uma tecnologia fundamental para sua preservação, pois ao secar, aumentamos a disponibilidade desta fruta fora da sua estação e seu conteúdo nutricional é assegurado, além de reduzir os desperdícios pós-colheita. A conservação pela secagem baseia-se no fato de que tanto os microrganismos como as enzimas e todo o mecanismo metabólico necessitam de água para suas atividades. Com a redução da quantidade de água disponível, serão reduzidas a atividade de água e a velocidade das reações químicas e, como consequência, o desenvolvimento de microrganismos, conferindo ao produto uma maior qualidade por maior período de tempo, aumentando-se, assim, a vida de prateleira (OLIVEIRA et al., 2015). Umas das principais preocupações no processo de secagem é fornecer condições ideais para obtenção de produtos de qualidade, uma vez, que a secagem pode causar alterações nas propriedades dos alimentos, sejam desejáveis como alterações no sabor, ou indesejáveis como alterações na cor e aroma e na aparência. A melhoria de alimentos desidratados pode serem alcançadas através da utilização de condições de processamento específicos, como a temperaturas do ar de secagem. Assim, o processo de secagem para as fatias de pêssego surge como uma alternativa para aumentar a sua vida pós-colheita, pois proporciona redução na quantidade de água, resultando em maior vida útil com diminuição da atividade microbiana. Portanto, o presente trabalho teve como objetivo, realizar a secagem de fatias de pêssegos nas temperaturas de 60, 70 e 80 °C e avaliar o efeito da temperatura na sua composição físico-química.

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MATERIAL E MÉTODOS Os Pêssegos (Prunus persica L.) cv. Hubimel foram adiquiridos no comércio local da cidade de Campina Grande, Paraiba, Brasil. Os mesmos foram selecionados, higienizados e cortados manualmente em fatias (0,6 mm), com auxílio de uma faca doméstica e paquímetro, conforme fluxograma da Figura 1. O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Secagem da Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, Brasil.

Figura 1. Fluxograma de elaboração de fatias de pêssego desidratadas.

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Fonte: Própria (2020).

Secagem das fatias A secagem foi realizada em estufa de circulção de ar com velocidade do ar de 1,5 m.s-1, nas temperaturas de 60, 70 e 80 ºC, nas quais as fatias de pêssego com espessura de 0,6 mm foram distribuídas uniformemente em bandejas e permaneceram expostas a temperatura de secagem até obter massa constante. Caracterizações físico-químicas As fatias de pêssegos in natura e desidratadas foram carcaterizadas em triplcatas quanto aos seguintes parâmetros: teor de umidade, sólidos totais, cinzas, pH, acidez total titulável (ATT), sólidos solúveis totais (SST), ratio (SST/ATT) conforme metodologia do Instituto Adolfo Lutz (BRASIL, 2008). A atividade de água das amostras foi determinada em Aqualab 3TE (Decagon,


Devices USA) sob temperatura ambiente (25 °C). O teor de vitamina C foi determinado por meio da reação do ácido ascórbico com o 2,6-diclorofenol indofenol (DCFI), conforme procedimento descrito por Brasil (2008), e os resultados foram expressos mg/100g.

Análise estatística Os resultados das análises foram submetidos a tratamento estatístico por meio de delineamento inteiramente casualizado com teste de comparação de médias, utilizando-se o software Assistat versão 7.7 beta (SILVA; AZEVEDO, 2016).

197

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A qualidade nutricional de um produto pode ser representada pela sua composição inicial. Sendo necessário a determinação de sua composição para julgar o efeito de variáveis do processo no produto final, desta forma na Tabela 1 estão expressos os valores obtidos para as fatias de pêssego in natura. Tabela 1. Caracterização físico-química das fatias de pêssego in natura Parâmetros In natura Umidade (%)1

89,66 ± 0,36

Sólidos totais (%)

10,34 ± 0,36

Aw

0,946 ± 0,25

pH

6,66 ± 0,14

Acidez titulável (% ácido cítrico)

0,47 ± 0,05

Sólidos Solúveis Totais (°Brix)

12,5 ± 0,19

Ratio (SST/ATT)

26,60 ± 0,61

Vitamina C (mg/100g)

88,63 ± 0,64

Cinzas (%)

0,59 ± 0,02

Nota: 1 base úmida. Fonte: Própria (2019).

As análises físico-químicas realizadas no pêssego fresco, mostra que é uma fruta de alto teor de água (89,66%) e atividade de água (0,946), com teor de sólidos totais de 10.34%. Tais condições está relacionada a estabilidade dos frutos, uma vez que, um maior conteúdo de água, propicia a proliferação de microrganismo deteriorantes. Tais valores de teor de água e atividade de água são próximos aos encontrados por Dermesonlouoglou et al. (2019), cujos valores foram de 87,99% e 0,9815, respectivamente. Os valores de pH, acidez titulável, sólidos solúveis totais e ratio encontrados (Tabela 1), revela que a fruta tem característica pouca ácida, sensorialmente adocicada, devido principalmente a maiores teores de açucares totais, que confere características sensorial preferidos para o consumo direto e industrialização (GONÇALVEZ et al., 2017).


Valores inferiores de pH foram encontrados por Dermesonlouoglou et al. (2019) e Ullah et al. (2016), com valores de 3,7 e 3,57, respectivamente. O mesmo foi constatado para o teor de vitamina C, onde os valores encontrados foram superiores aos apresentados por Mir et al. (2018), cujo valor inicial foi de 10 mg/100g para cultivar Shan-e-Punjab. Enquanto que Sousa et al. (2018), encontrou valores próximos aos encontrados neste trabalho, pH e vitamina C de 6,7 e 110 mg/100g, respectivamente para a cultivar Rubimel. Mostrando que a variação entre as características físico-químicas encontradas neste trabalho, e as observadas nas literaturas citada podem ser em virtude das diferenças entre as cultivares, estádio de maturação, sistema e local de produção. O resíduo mineral fixo (cinzas) médio da fruta fresca é semelhante ao apresentado na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO, 2011), cujo valor é 0,5% para pêssego aurora.

Todos os parâmetros físico-químicos analisados para as fatias de pêssego desidratados (Tabela 2), foram estatisticamente significativos (p > 0,05), para o efeito das temperaturas de secagem. Tabela 2. Caracterização físico-química das fatias de pêssego desidratadas. Secagem convectiva Parâmetros 60 °C

70 °C

80 °C

Umidade (%)1

11,0a

10,03b

9,22c

Sólidos totais (%)

89,0c

89,97b

90,78a

Aw

0,409a

0,379b

0,358c

pH

6,52a

Acidez titulável (% ácido cítrico)

1,26c

1,59b

1,82a

Sólidos Solúveis Totais (°Brix)

13,0b

13,67a

14,17a

Ratio (SST/ATT)

10,32a

8,61b

7,78c

Vitamina C (mg/100g)

70,85a

64,42b

51,45c

Cinzas (%)

0,66b

0,71a

0,72a

6,43b

6,32c

Note: 1 base seca; Letras iguais sobrescritas na mesma linha não diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade. Fonte: Própria (2019).

Com o processo de secagem foi observado uma modificação das características físico-químicas das fatias de pêssego, comparado ao fruto in natura, uma vez, que o teor de umidade nas fatias foi reduzido, concentrando os nutrientes no produto seco, especialmente como o aumento da temperatura do ar de secagem. O teor de umidade foi menor (9,21%) quando se teve um aumento da temperatura de secagem (80 °C), sendo inversamente proporcional a concentração de sólidos totais (90,78%). Mostrando maior eficiência do processo de secagem na temperatura de 80 °C. Comportamento este, comprovado pelo parâmetro de atividade de água (Aw), que variou entre 0,409 a 0,358, nas temperaturas de 60 °C e 80 °C, respectivamente. Tais valores são condizentes com os dados apresentados por Zhang et al. (2017), que encontrou valores de

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atividade de água variando entre 0,327 e 0,376, para secagem de cilindros de pêssegos afetados pelo pré-tratamento osmótico. O pH das fatias de pêssego desidratados diminuiu de 6,52 para 6,32 no processo de secagem e ao aumentar a temperatura de secagem. Inversamente proporcional ao pH, a acidez titulável aumentou nas fatias desidratadas, variando de 1,26 a 1,82% de ácido cítrico, nas temperaturas de 60 °C e 80 °C, respectivamente. Os dados da acidez titulável são condizentes com os relatados por Zhang et al. (2017), no estudo com o pêssego jiubao. O teor de sólidos solúveis totais teve um aumento de até 1.67 °Brix quando comparada as fatias frescas (Tabela 1) em relação as fatias desidratadas, com o aumento da temperatura de secagem. Esse comportamento resulta do menor teor de água, e concentração dos sólidos. A relação ratio (SST/ATT), diminuiu, comparado com a fruta fresca. A diminuição da relação ratio, deve-se ao aumento da acidez após o processo de desidratação, nas temperaturas analisadas. Segundo Brasil (1996), essa relação é utilizada como indicação do grau de maturação da fruta, evidenciando qual o sabor predominante na mesma, se doce ou ácido, ou ainda se há equilíbrio entre eles. A vitamina C, apresentou uma perda variando de 17,78% a 37,18%, nas temperaturas de 60 e 80 °C, resultado esperado, uma vez que, as condições de secagem das fatias de pêssegos afetam grandemente a retenção da vitamina C no produto desidratado. Segundo Shewale e Hebbar (2017), a degradação do ácido ascórbico depende de vários fatores, que incluem o oxigênio, a catálise de íons metálicos, a luz, a temperatura e o teor de umidade. A retenção de vitamina C, foi maior do que os valores encontrados em estudos de secagem de fatias de kiwi (PHAM et al., 2018), e maçãs secas por diferentes processos (SHEWALE; HEBBAR, 2017), o qual observou uma perda média de 56,23 % da vitamina C, comparado a fruta seca, para o sistema de secagem convencional por ar quente. O teor de cinzas aumentou proporcionalmente ao aumento da temperatura de secagem, uma vez que, com o aumento da temperatura, aumentou a eficiência do processo de desidratação da fruta. Os valores obtidos no presente estudo estão dentro da faixa sugerida pelo Instituto Adolfo Lutz (BRASIL, 2008), que sugere o teor de cinzas em alimentos, tais como frutas desidratadas variando de 0,3 a 2,1%.

CONCLUSÕES As fatias de pêssego in natura apresentam alto teor de água e atividade de água e o efeito da secagem ocasionou diferenças significativas em todos os parâmetros físico-químicos analisados, causando redução nos parâmetros de umidade, atividade de água, pH, ratio e vitamina C; e aumento nos parâmetros de sólidos totais, cinzas, sólidos solúveis totais e acidez total titulável. O aumento da temperatura do ar de secagem das fatias de pêssego resultou no aumento da taxa de secagem observando o menor teor de água nas fatias desidratadas na temperatura de 80 °C, porém, nesta temperatura foi visto o menor conteúdo de vitamina C, com uma redução de aproximadamente 37,01% comparado a fruta in natura.

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Capítulo 23 INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA COMPOSIÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E BIOATIVA DE GRÃOS DE ARROZ PRETO

SANTOS, Newton Carlos Doutorando em Engenharia Química Universidade Federal do Rio Grande do Norte newtonquimicoindustrial@gmail.com SILVA, Virgínia Mirtes de Alcântara Doutorando em Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande virginia.mirtes2015@gmail.com BARROS, Sâmela Leal Doutoranda em Ciências e Tecnologia dos Alimentos Universidade Federal do Ceará samelaleal7@gmail.com ALMEIDA, Raphael Lucas Jacinto Doutorando em Engenharia Química Universidade Federal do Rio Grande do Norte rafaelqindustrial@gmail.com NASCIMENTO, Amanda Priscila Silva Doutoranda em Engenharia de Processos Universidade Federal de Campina Grande amandapriscil@yahoo.com.br

RESUMO O presente estudo teve como objetivo verificar a influência da temperatura do ar de secagem nas propriedades físico-químicas e bioativas do arroz preto desidratado. A secagem foi realizada em estufa com circulação do ar de 1,5 m/s e temperaturas do ar de secagem que variaram de 40 a 80ºC. As amostras foram caracterizadas com relação aos seguintes parâmetros físico-químicos: umidade, atividade da água, cinzas, teor total de proteínas, pH, acidez total, lipídios, carboidratos, antocianinas totais, flavonóides, compostos fenólicos totais e atividade antioxidante. Os dados experimentais obtidos foram avaliados estatisticamente através do teste de Tukey, utilizando o programa Assistat 7.7. O acréscimo da temperatura do ar de secagem propiciou redução no teor de umidade, de atividade de água e de proteínas das amostras. Foi verificado também o aumento na concentração de cinzas, lipídeos e carboidratos. Não houve diferença estatística significativa com relação ao pH e acidez das amostras. A temperatura de 60 °C garantiu ao produto valores superiores de compostos bioativos. PALAVRAS-CHAVE: Secagem convectiva, métodos de conservação, Oryza sativa L.

INTRODUÇÃO O arroz (Oryza sativa L.) é considerado um alimento básico por grande parte da população mundial (PAPILLO et al., 2018). Nos últimos anos, grãos de arroz pigmentados como o preto ganharam atenção devido o mesmo apresentar benefícios para a saúde em virtude destes pigmentos bioativos que estão localizados na sua camada de farelo, apresentando um maior

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conteúdo de compostos fenólicos (PAIVA et al., 2014; VARGAS et al., 2018). Além dos corizodiol e da vitamina E, também existem alguns pigmentos solúveis em água que são responsáveis pela sua cor e propriedades antioxidantes. (HOU et al., 2013; NORKAEW et al., 2017). O arroz preto também contém um teor lipídico superior ao do arroz não colorido e vermelho, tornando-o mais saboroso e atrativo (CHOI et al., 2019). De acordo com Ding et al. (2018), a atividade enzimática pode aumentar durante o período de armazenamento, causando aceleração na degradação lipídica como também reduzindo a qualidade sensorial do arroz. Portanto a aplicação de técnicas pós-colheita como o processo de secagem que envolve a redução do teor de água da semente até atingir um nível seguro, pode ser aplicada garantindo a preservação da qualidade fisiológica e físico-química do produto a ser armazenado durante um longo período de tempo (SOUSA et al., 2016). No entanto, muitas das propriedades dos produtos agrícolas são afetadas pelas condições de secagem (DEHGHANNYA et al., 2016). A seleção das condições adequadas para a operação de secagem deve ser efetuada através de analises físico-químicas que permitem a observação da influência do binômio (tempo x temperatura) sobre a qualidade nutricional do produto, possibilitando assim o desenvolvimento de novos produtos com elevado valor nutricional e redução nos custos de operação (FIGUEIREDO et al., 2017; RIBEIRO et al., 2019). Portanto, o presente trabalho teve como objetivo realizar a secagem do arroz preto em cinco diferentes temperaturas de ar de secagem e avaliar o efeito da temperatura do ar de secagem sobre a sua qualidade físico-química e compostos bioativos.

MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado no Laboratório de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas (LAPPA) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campus Campina Grande, estado da Paraíba (PB), Brasil. Os grãos de arroz preto utilizados foram adquiridos no comércio local da cidade de Campina Grande, Paraíba, sendo então selecionados visualmente para uniformidade de amostragem. Secagem dos grãos de arroz As secagens dos grãos de arroz preto foram realizadas em triplicata, utilizando estufa de secagem com circulação de ar forçado ajustado para operar nas temperaturas de 40, 50, 60, 70 e 80 ºC e com velocidade do ar de 1,5 m/s, nas quais as amostras foram distribuídas uniformemente em bandejas de tela de aço, formando uma camada fina. Caracterizações físico-químicas e de compostos bioativos dos grãos in natura e desidratados Os grãos de arroz preto in natura e ao final de cada secagem foram caracterizados fisicoquímicamente e em relação aos compostos bioativos quanto aos seguintes parâmetros físicoquímicos: umidade por secagem em estufa a 105 °C até peso constante; Atividade de água (Aw) foi determinada usando o dispositivo Decagon® Aqualab CX-2T a 25 °C; Cinzas por incineração em mufla; O teor de proteína total foi quantificado pelo método de Micro-Kjeldahl, que consistiu na determinação do nitrogênio total. Para converter o resultado em proteína, utilizou-se o fator 5,95 recomendado para proteínas cereais, de acordo com a metodologia descrita por Brasil (2008);

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pH com leitura direta no medidor de pH digital, a acidez total determinadapor titulometria, segundo Brasil (2008) e lipídeos pelo método modificado de Blig e Dyer (1959); O teor total de carboidratos foi calculado por diferença para obter 100% da composição total (FAO, 2003). O teor de antocianinas totais e flavonoides seguiram o método pH único descrito pro Francis (1982). O método consiste em uma transferência quantitativa de uma alíquota do extrato concentrado para um recipiente e então essa alíquota é diluída com uma quantidade de solução Etanol – HCl a 1,5 mol.L-1 tendo assim um volume de extrato diluído. Os compostos fenólicos totais foram quantificados a partir do método de Folin-Ciocalteau descrito por Waterhouse (2006), utilizando ácido gálico como padrão. Os cálculos realizados para a determinação dos compostos fenólicos foram baseados em uma curva padrão com ácido gálico, e as leituras realizadas em espectrofotômetro a 765 nm, com os resultados expressos em mg.100g-1 de ácido gálico. A atividade antioxidante foi determinada pelo método proposto por Re et al. (1999), com modificações feitas por Rufino et al., (2007).

Análise estatística Os dados experimentais foram analisados em triplicata e os resultados submetidos à análise de variância de fator único (ANOVA) de 5% de probabilidade e as respostas qualitativas significativas foram submetidas ao teste de Tukey adotando-se o mesmo nível de 5% de significância. Para o desenvolvimento das análises estatísticas foi utilizado o software Assistat 7.7 (Silva & Azevedo, 2016).

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos para caracterizações físico-químicas e dos compostos bioativos dos grãos de arroz preto antes do processo de secagem estão descritos na Tabela 1. Tabela 1. Caracterização físico-química e bioativa dos grãos de arroz preto antes da secagem. Parâmetros Média e Desvio padrão Umidade (%, b.u)1

12,75±0,63

Atividade de água (Aw)

0,648±0,02

pH

6,50±0,07

Acidez total (%)

0,030±0,01

Cinzas (%)

1,97±0,15

Proteínas (%)

8,66±0,12

Lipídeos (%)

2,93±0,06

Carboidratos (%)

73,69±0,30 -1

Antocianinas totais (mg.100g ) -1

70,20±0,69

Flavonoides (mg.100g )

38,48±0,84

Compostos fenólicos totais (mgGAE.100g-1) Atividade antioxidante2 (µmol Trolox.g-1)

289,93±1,12 209,20±0,98

Nota. 1base úmida. 2ABTS+. Fonte: Própria (2019).

O arroz preto apresentou um teor de umidade de (12,75%), sendo este valor próximo ao obtido por Ziegler et al., (2017) para o arroz preto (13,7%) e superior ao obtido por Becker-algeri et al. (2017) para o arroz integral (10,7%). Segundo Matos (2014), grãos de arroz pigmentados

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tendem a apresentar diferenças nas características em relação ao arroz sem pigmentos, como por exemplo, um maior teor de umidade e de proteínas. Além disso, obtivemos valor de 0,648 para atividade de água, sendo considerado um grão de umidade intermediária. Oliveira et al. (2016) classifica como produtos de umidade intermediária aqueles que apresentam atividade de água entre 0,6 e 0,85. Valores próximos de pH (6,67) e acidez total (0,05%) foram verificados por Alencar et al. (2017) ao caracterizarem os grãos de arroz preto. A partir dos valores de proteínas, lipídeos e carboidratos conforme observado na Tabela 1, os grãos de arroz preto podem ser considerados como um grão de alto teor proteico com valor próximo aos obtido também para o arroz preto por Paiva et al. (2014) e Ziegler et al., (2017), respectivamente de 8% e 9,8%. Ziegler et al., (2017), ao também avaliar o teor de lipídeos e de carboidratos dos grãos de arroz preto, obtiveram teores de lipídeos (4,4%) superiores ao do presente estudo e valor inferior de carboidratos (70,5%), porém também próximo ao do obtido no presente estudo, evidenciando assim que os grãos de arroz preto são altamente ricos em fibras totais, uma vez que na análise de carboidratos totais estão inclusos os teores de fibras. O teor de antocianinas totais foi de (70,2 mg.100g-1) e o teor de flavonoides de (38,38 mg.100g-1). Abedel aal et al. (2018) estudando grãos de trigo roxo obtiveram uma variação de 13,7 – 57,4 mg.100g-1 de antocianinas, evidenciando o potencial tecnológico dos grãos de arroz preto. Os grãos de arroz preto apresentram teor de compostos fenólicos de (289,93 (mgGAE.100g1 ) e atividade antioxidante de (209,20 µmol Trolox.g-1). Valores próximos de compostos fenólicos totais foram obtidos por Min et al. (2012) que variarem de (240 a 540 mg eq. ácido gálico. 100g1 ) e inferior aos obtidos por Chen et al. (2012) que variaram de (400 a 650 mg eq. ácido gálico. 100g-1) ambos para grãos de arroz preto, contudo essas variações podem estar relacionadas as diferenças de cultivo dos grãos, bem como as diferenças nos métodos de extração. Os resultados obtidos nesse estudo evidenciam que os grãos de arroz preto apresentam teores significativos de compostos fenólicos totais com elevada atividade antioxidante. Segundo Braga et al. (2013) durante o processo de secagem ocorreram mudanças nos parâmetros de qualidade. A secagem com ar quente leva à diminuição dos valores nutricionais, além de alterar a textura, cor e provocar uma reidratação lenta ou incompleta do material (NASCIMENTO et al., 2018). Portanto, os resultados das análises físico-químicas e bioativas nas temperaturas de 40, 50, 60, 70 e 80 ºC de ar secagem estão descritos na Tabela 2. Tabela 2. Caracterização físico-química e bioativas dos grãos de arroz preto após cada secagem Temperaturas de secagem Parâmetros

40 ºC

50 ºC

60 ºC

70 ºC

80 ºC

Umidade (% b.u) Atividade de água (Aw) Ph Acidez total (%) Cinzas (%) Proteínas (%) Lipídeos (%)

11,55 a 0,321 a 6,69 b 0,029 a 3,83 d 7,35 a 2,95 d

8,17 b 0,183 b 6,70 ab 0,027 a 4,64 c 6,99 a 3,05 d

6,54 c 0,165 c 6,72 a 0,028 a 5,68 b 5,87 b 3,22 c

4,68 d 0,156 d 6,70 ab 0,028 a 6,51 a 4,67 c 3,61 b

3,23 e 0,121 e 6,70 ab 0,029 a 6,88 a 3,21 d 3,89 a

Carboidratos (%) Antocianinas (mg.100g-1) Flavonoides (mg.100g-1) Compostos fenólicos totais (mgGAE.100g-1)

74,32 e 67,19 a 29,98 a 268,55a

77,15 d 65,62 b 29,66 b 258,87 b

78,69 c 64,33 c 29, 42 c 244,23 c

80,53 b 63,19 d 29,29 d 233, 67 d

82,79 a 62,01 e 29,14 e 231,14 d

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Atividade antioxidante2 (µmol 178,80 a 142,16 b 117,12 c 73,32 d 50,92 e Trolox.g-1) Nota. Letras minúsculas iguais na mesma linha não diferem significativamente entre as temperaturas estudadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. 1base úmida. 2ABTS+. Fonte: Própria (2019).

Foi notório a redução do teor de umidade dos grãos de arroz preto a medida em que se elevou a temperatura. Sendo esperando, pois à medida que os grãos foram submetidos ao calor ocorreu a evaporação da água livre, com variação de 11,55 (40 ºC) a 3,23 (80 ºC). Este mesmo parâmetro apresentou diferença estatística significativa, quando comparadas as temperaturas de secagem. Para assegurar o tempo de conservação e garantir qualidade é preciso ter conhecimento em relação à atividade de água, os grãos de arroz preto apresentaram comportamento semelhante aos teores de umidade, apresentando diferença significativa, com maior valor de (0,321) para a temperatura de 40 ºC e menor valor (0,121) para a temperatura de (80 ºC). Os valores obtidos para pH são valores próximos a neutralidade (pH=7,00) no qual variaram entre 6,60 e 6,72. Os valores para as temperaturas de 40 e 60 ºC apresentaram diferença estatística significativa, no entanto para as temperaturas de 50, 70 e 80 ºC não houve diferença estatística a um nível de 5% de probabilidade. Em relação à acidez total dos grãos de arroz preto os valores obtidos para todas as temperaturas aplicadas não apresentaram diferença significativa, sendo assim havendo apenas uma pequena variação de até 0,002% entre os tratamentos não apresentando influência da temperatura para este parâmetro. O teor de cinzas não apresentou diferença significativa entre as temperaturas de 70 e 80 ºC. O aumento deste teor foi proporcional ao aumento da temperatura, sendo a amostra submetida à secagem na temperatura de 80⁰C com a maior quantidade de cinzas (6,88%). Quando se comparado o teor de cinzas dos grãos in natura (Tabela 1) com os desidratados (Tabela 2), observa-se um ganho de sais minerais de até 4,91%. No entanto, para o teor de proteínas foi observado uma condição contrária à obtida para o teor de cinzas, onde o aumento da temperatura ocasionou uma degradação das proteínas, os grãos submetidos nas temperaturas de 40 e 50 ºC não apresentaram diferença estatística, porém os grãos submetidos nas temperaturas de 60, 70 e 80 ºC apresentaram diferença significativa a um nível de probabilidade de 5%. Consequentemente, o menor teor proteico foi obtido para os grãos submetidos à secagem à 80 ºC (3,21%), onde houve redução de 5,45% quando se comparado com os grãos que não foram submetidos ao processo de secagem. Assim como ocorrido para o teor de cinzas, também ocorreu para o teor de lipídeos, porém a medida em que se aumentou a temperatura de secagem houve um pequeno aumento do teor lipídico dos grãos. Visto na Tabela 2 que os grãos das temperaturas de secagem de 40 e 50 ºC estatisticamente não apresentaram diferença entre si, mas na medida em que houve um aumento da temperatura os grãos tiveram um aumento do teor lipídico de até 0,96% quando se comparado aos valores para os grãos da Tabela 1. Os carboidratos foram determinados por diferença dos demais constituintes e, dessa forma, a redução da umidade proporcionou automaticamente o aumento de carboidratos em até 8,47% entre as temperaturas aplicadas. No entanto, os valores obtidos para cada tratamento apresentaram diferença significativa quando comparadas entre si. Com relação aos teores de antocianinas e flavonoides pode-se verificar que houve uma diferença significativa entre as temperaturas aplicadas, ocorrendo uma redução desses pigmentos de até 5,18 mg.100-1 para o teor de antocianinas e de até 0,84 mg.100-1 para o teor de flavonoides. Segundo Modesto Júnior et al. (2016), vários fatores interferem na estabilidade das antocianinas, incluindo pH, ação de oxigênio, enzimas, variação de temperatura e incidência de luz. Os compostos fenólicos totais não apresentaram diferença significativa entre aos grãos submetidos às temperaturas de 70 e 80 ºC. Contudo, diferiram dos grãos submetidos às temperaturas de 40, 50 e 60 ºC. Em relação a esse mesmo parâmetros foram obtidos valores que

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variaram de 231,14 a 268,55 mgGAE.100g-1 sendo estes respectivamente, referentes as temperaturas de 80 e 40 ºC. Para atividade antioxidante pode-se observar que as diferentes temperaturas aplicadas promoveram uma degradação desses compostos, que por se tratarem de compostos naturais instáveis sofreram alterações significativas. A atividade antioxidante dos grãos sofreu redução devido ao aumento da temperatura do ar de secagem, sendo para temperatura de 60 ºC observado uma redução de até 158,91 µmol Trolox.g-1 quando comparados com a atividade antioxidante dos grãos in natura (Tabela 1).

CONCLUSÕES Valores reduzidos de teor de umidade e de atividade de água foram obtidos na temperatura de 80 °C, indicando que o produto apresenta maior estabilidade no armazenamento. O aumento da temperatura do ar de secagem proporcionou o aumento nos teores de cinzas, carboidratos e lipídeos das amostras, porém houve maior desnaturação das proteínas que apresentaram valores reduzidos em temperaturas superiores. Não foi observada diferença estatística significativa com relação ao pH e acidez das amostras, contudo houve diferença significativa entre as temperaturas utilizadas em relação aos parâmetros físico-químicos e de compostos bioativos, sendo a temperatura de 60 ºC a que apresentou melhor relação tempo de secagem e preservação das caracteristicas dos grãos de arroz preto.

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Capítulo 24 INSETOS-PRAGAS EM MUDAS DE Hylocereus spp. (Cactaceae) NA PARAÍBA

FERREIRA, Thiago Costa Dr. em Agronomia Pesquisador PCI - Instituto Nacional do Semiárido thiago.ferreira@insa.gov.br SOUZA, José Thyago Aires Dr. em Agronomia Pesquisador PCI - Instituto Nacional do Semiárido jose.aires@insa.gov.br SILVA, Fábia Shirley Ribeiro Agroecoóloga Mestranda em Ciências do Solo (UFRPE) fsrsilva@gmail.com PEREZ-MARIN, Aldrin Martin Dr. em Agronomia Pesquisador Titular do Instituto Nacional do Semiárido jose.aires@insa.gov.br

RESUMO Plantios de Hylocereus (Cactaceae) tem sido cada vez mais encontrado no semiárido brasileiro, pois apresentam adaptabilidade ecológicas da região e alto valor comercial. Pragas nesta cultura agrícola em áreas do estado da paraíba têm sido visualizadas e este trabalho tem como objetivo a sua identificação. Para tal foram coletadas plantas com tais injúrias e seus causadores em um viveiro de mudas, situado no Instituto Nacional do Semiárido (Campina Grande-PB), para a classificação destes insetos foram utilizados material bibliográfico e microscopia. Foi constatado a primeira ocorrência de Schistocerca pallens (Thunberg) (Orthoptera: Acrididae) e Diaspis echinocacti (Bouché, 1833) (Hemiptera: Diaspididae) causando tais injúrias em plantas de Hylocereus spp. no estado da Paraíba (Brasil). A partir desta evidência, trabalhos para melhorar as condições de manejo desta praga desta cultura podem ser realizados levando em consideração as informações descritas neste manuscrito. PALAVRAS-CHAVE: Semiárido Brasileiro, Cactacea, Entomologia.

INTRODUÇÃO Espécies vegetais pertencentes ao gênero Hylocereus spp. (Cactaceae), conhecida como pitaya, têm sido cultivadas comercialmente por conta de um emergente mercado que favorece a venda das frutas e derivados industrializados desta espécie. Sendo, na atualidade, as espécies mais conhecidas e cultivadas: pitaya roxa (H. polyrhizus) e a pitaya branca (H. undatus) (NASCIMENTO et al., 2019).

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Tratando sobre o aporte econômico que tal cultura agrícola apresenta grande mercado e suas possibilidades de plantio na área do semiárido brasileiro são imensas, pois esta área apresenta características favoráveis a esta cultura em termos ecológicos (NUNES et al., 2014). Segundo Froés Júnior et al. (2019), a produção desta cultura no país foi em 2017 cerca de 1,5 mil toneladas de frutas in natura, com a probabilidade de serem expandidas as áreas de cultivos haja vista a crescente demanda comercial pelos frutos e derivados destes por parte dos brasileiros. Normalmente, a introdução de uma cultura agrícola em uma determinada região pode ser alvo de pragas que já estejam atuando nestas regiões, principalmente quando são abundantes vegetais classificados como próximo, em termos genéticos, as culturas agrícolas recém implantadas. Nesse sentido, pode-se exemplificar que em áreas com crescente produção de pitaya estão sendo descritos muitos problemas fitossanitários como a ocorrência de Tylenchorhynchus agri como parasita desta cultura na China (ZANG et al., 2018) e insetos fitófagos no Vietnam (HOA et al., 2018). Sendo assim, uma área como o semiárido brasileiro (SAB), que apresenta, de maneira geral, um clima caracterizado pela ocorrência de altos índices de evaporação e temperaturas e pela presença de espécies vegetais, nativas ou exóticas, com carácter xerófilo, como cactáceas (FERNANDES E QUEIROZ, 2018), podendo ser ser um local onde pragas que ocorrentes nesta região possam ser pragas emergentes para a cultura da pitaya nesta localidade (MEDEIROS et al., 2018). São descritas muitas pragas para a cultura da palma forrageira (Opuntia spp. e Nopalea spp.) cultivada no semiárido brasileiro, por exemplo, e muitas destas podem migrar para a emergente lavoura de Hylocereus spp. que tem sido estabelecida na região. Para tais achados fitossanitários, cabe a comunidade em geral, científica ou em geral, visualizar e diagnosticar corretamente o aparecimento de pragas em lavouras em fase de implantação a fim de que medidas de trabalho coerentes e sustentáveis sejam tomadas em relação à problemática apresentada, permitindo que esforços sejam realizados, segundo Froés Júnior et al. (2019). Conceito este que pode ser útil para a implantação de um melhor manejo para a cultura de lavouras de Hylocereus spp. na região semiárida brasileira, por exemplo. Logo, este documento tem como objetivos a identificação de pragas já presentes na região em cultivos de Hylocerus spp. no estado da Paraíba, Brasil.

METODOLOGIA Para tal foram vistoriados plantios de Hylocereus spp. (fase de mudas) na área do Viveiro de Essências Florestais do Semi Árido, pertencente ao Instituto Nacional do Semiárido (INSA) situado no município de Campina Grande-PB (7º16’47”S; 35º58’34”W), conforme pode ser visualizado na Figura 1. Logo amostras de H. polyrhizus e H. undatus, em fase de mudas, com

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a presença de injúrias nos cladódios e insetos associados a tais problemas foram coletadas e analisadas de acordo com as metodologias propostas por Gallo et al. (1988), Lima e Gama (2001), Batt et al. (2018) e Kilpatrick et al. (2019), em laboratório. Os dados obtidos foram cruzados com informações descritas nas bases Agrofit (2020), GBIF (2020) e similares.

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Figura 1 Plantio de mudas de Hylocereus spp. no INSA. Fonte: Ferreira, T.C. (2019)

RESULTADOS E DISCUSSÕES Pode ser constatado que as mudas de Hylocereus spp. estavam sendo injuriadas po POR Diaspis echinocacti e Schistocerca pallensAssim, para Diaspis echinocacti (BOUCHÉ, 1833) (Hemiptera: Diaspididae) [sinonímia: D. cacti, D. calyptroides, D. opuntia e Aspidiotus echiniocacti] (Figura 1). Suas principais características são: carapaça cerosa, são sésseis quando adultos (fêmeas), machos alados, as fêmeas possuem o aparelho bucal ativo e os machos atrofiados, seu ciclo dura em média 35 dias, com três fases de ninfas e hemimetabolia, passam a ser adultos próximo dos 11 e 12 dias apresentam uma grande especificidade de hospedeiros, também são pragas de espécies de Opuntia spp. e Nopalea spp. (Lima e Gama, 2001). Esta espécie de inseto tem hábito polifago, se instala nos indivíduos quando jovem, se alimenta dos cladódios Figura \* ARABIC 4 Cladódio de Hylocereus e ainda pode ser fatorSEQ de Figura transmissão de viroses e outras enfermidades as cactáceas spp. com injúria. Fonte: Ferreira, T.C. (2019) (KILPATRICK et al., 2019). Além disto se instala nos indivíduos quando jovem por dispersão anemocórica, se alimenta da seiva das plantas e ainda pode ser fator de transmissão de viroses e outras enfermidades a espécies vegetais dos grupos das cactáceas (Dantas et al., 2019).


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Figura 2 Injúrias em mudas de Hylocereus spp. causadas por Diaspis echinocacti. Fonte: Ferreira, T.C. (2019)

O controle de D. echinocacti pode ser realizado das seguintes maneiras: aplicação de extrato de neem (20%), segundo Nhaga e colaboradores (2018); inimigos naturais como Coccinellidae, segundo Japoshvili e colaboradores (2010). Não havendo registro de inseticida para esta praga no sistema Agrofit (2020). Também foi visualizada a presença de Schistocerca pallens (Thunberg) (Orthoptera: Acrididae) (Figuras 3 e 4), suas principais características são (Silveira et al., 1998; Souza et al., 2020): O adulto mede cerca de 45 a 50 mm de comprimento, respectivamente, para macho e para a fêmea. A coloração é marrom avermelhada, asas anteriores são marrons-avermelhadas e as posteriores são amarelo claras ou róseas. A fêmea realiza a postura no solo. O controle de S. pallens pode ser realizado das seguintes maneiras: aplicação produtos formulados à base de Metarhizium flavoviride (SILVEIRA et al., 1998) e Beauveria spp. (SOUZA et al., 2020). Existem registros de piretróides para o controle deste inseto no sistema Agrofit (2020), porém não são direcionados a cultura da pitaya.


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Figura 3 - Schistocerca pallens (Thunberg) (Orthoptera: Acrididae) Fonte: Gbif. (2019).

Figura SEQ Figura \* ARABIC 4 Cladódio de Hylocereus spp. com injúria. Fonte: Ferreira, T.C. (2019) Figura 4 Injúrias em mudas de Hylocereus spp. causadas por S. pallens . Fonte: Ferreira, T.C. (2019) No país não existem produtos fitossanitários registrados para a cultura da pitaya segundo o Agrofit (2020). Com estas evidências, estudos mais apurados podem ser realizados sobre a temática da disseminação, parasitismo e controle destas pragas melhorando as condições de cultivo de Hylocereus spp. no nordeste brasileiro podem ser realizadas a fim de melhor possibilitar o manejo da referida cultura agrícola. Figura SEQ Figura \* ARABIC 4 Diaspis echinocacti (BOUCHÉ, 1833) (HEMIPTERA: DIASPIDIDAE) parasitando Hylocereus spp. (CACTACEAE) na Paraíba


CONCLUSÕES Foi constatado a primeira ocorrência de Schistocerca pallens (Thunberg) (Orthoptera: Acrididae) e Diaspis echinocacti (Bouché, 1833) (Hemiptera: Diaspididae) causando tais injúrias em plantas de Hylocereus spp. no estado da Paraíba (Brasil). A partir desta evidência, trabalhos para melhorar as condições de manejo desta praga desta cultura podem ser realizados levando em consideração as informações descritas neste manuscrito.

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REFERÊNCIAS Agrofit:

Pitaya.

Disponível

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Capítulo 25 LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO ACERCA DO CONHECIMENTO SOBRE Tropaeolum majus L. COM OS ALUNOS DA UEPB – CAMPUS II

SOUZA, Bruna dos Santos Graduanda em Agroecologia Universidade Estadual da Paraíba souza.brusbs@gmail.com BARROSO, Vitória Saskia Ferreira Graduanda em Agroecologia Universidade Estadual da Paraíba vitoriasaskia17@gmail.com BRANDÃO, Gabriella Henrique Graduanda em Agroecologia Universidade Estadual da Paraíba gabriellabrandao77@gmail.com COSTA, Deibson Teixeira Graduando em Agroecologia Universidade Estadual da Paraíba deibsondrums@gmail.com NASCIMENTO, Rivaildo da Costa Graduando em Agroecologia Universidade Estadual da Paraíba rivaagro10@gmail.com

RESUMO Os hábitos alimentares podem mudar de acordo com a percepção da população sobre alimentos saudáveis e seus benefícios. A procura por uma vida saudável leva a sociedade a buscar um novo modelo de alimentação, considerando-se sua finalidade e sustentabilidade. Foi realizada uma pesquisa quantitativa com os alunos do Campus II da UEPB, localizado no município de Lagoa Seca, com objetivo de conhecer a percepção deles sobre as Plantas Alimentícias não Convencionais, especificadamente a Tropaeolum majus L., tendo a finalidade de propagar conhecimento dessa planta pouco conhecida entre os estudantes do Campus. Essa pesquisa realizou-se entre os meses de outubro e novembro de 2019. Os resultados do questionário demonstram que é necessário investimentos e pesquisas sobre a manipulação dessa planta e acrescentá-la na alimentação diária das pessoas. O presente trabalho constitui um ponto de partida para a possibilidade de mais informações sobre a Capuchinha dentro do Campus II da UEPB. PALAVRAS-CHAVE: Capuchinha, PANCs, Desenvolvimento Sustentável, Soberania Alimentar.

INTRODUÇÃO Uma das opções por uma alimentação saudável é o consumo de alimentos não industrializados, isto é, uma alimentação constituída por carboidratos, fibras, proteínas, vitaminas, entre outros. O baixo potencial nutritivo dos produtos alimentícios industriais, a contaminação

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por agrotóxicos e a ausência de soberania alimentar comprometem a saúde humana, entretanto, as Plantas Alimentícias não Convencionas, ou simplesmente PANCs, são uma excelente fonte nutricional e bastante uteis para a alimentação humana (LIBERATO; TRAVASSOS; SILVA, 2019). As PANCs são aquelas plantas que não estão organizadas em cadeias produtivas, ou não são utilizadas comercialmente e não são encontradas facilmente em centros comerciais, mas que ajudam de forma positiva na alimentação e nutrição do ser humano (BRASIL, 2010). É uma questão de segurança e de soberania alimentar incentivar a produção e o consumo dessas plantas, considerando-se os seus benefícios nutricionais. No Brasil, as Plantas Alimentícias não Convencionais apresentam uma grande diversidade para consumo alimentar, sendo consumidas in natura, refogadas, em formas de doces, cocadas, dentre outros. Contudo, ainda são poucos os estudos sobre o uso e produção destas plantas (PROENÇA et al., 2018). As PANCs estabelecem autonomia para o ser humano que pretende buscar os nutrientes que precisa e os sabores que mais lhe agradam. É fundamental salientar o papel dessas plantas como alimentos funcionais em nosso organismo por meio de vitaminas essenciais, antioxidantes, fibras, sais minerais, que nem sempre são encontradas em outros alimentos (KELEN et al., 2015). Segundo Barros e Souza (2018), a capuchinha (Tropaeolum majus L.) tem se tornado uma das principais hortaliças destacadas como PANCs, pois apresentam características bem peculiares e o seu cultivo torna-se versátil pelos diversos tipos de solo e clima e floresce durante quase todo o ano. A capuchinha (Tropaeolum majus L.) é uma planta de porte herbáceo pertencente à família Tropaeolaceae, com flores que variam da cor branca, amarela, laranja e vermelha, as folhas são redondas e planas, além de medicinal e ornamental, é utilizada na alimentação (DURAN, 2017). A espécie tem altos valores de vitamina C, óleos essenciais, mirosina, glucotropaeolina, resinas, açúcares e sais minerais (EMBRAPA, 2006). As flores tem um sabor delicioso e refrescante, quando é acompanhado com hortaliças como rúcula e alface, e também contribuem para a beleza do prato culinário (BRASIL, 2010). A Capuchinha é, por conseguinte, uma planta multifuncional, com grande capacidade de atingir diversos públicos alvo e nichos de mercado, podendo ser uma fonte de renda para pequenos produtores. Segundo Panizza (1997), essa planta é de fácil cultivo e rusticidade, sendo, portanto, um dos motivos que fazem com que a capuchinha tenha essa característica cosmopolita, encontrada em várias regiões do mundo. Na Índia, todas as partes da planta são utilizadas na alimentação; na França, utilizam suas flores, folhas e frutos em uma culinária requintada e sofisticada. Já no Brasil, o uso da capuchinha é utilizada e reconhecida por seus atributos fitoterápicos. As plantas alimentícias não convencionais, apesar de serem disponíveis a baixo custo, ainda não são bastante conhecidas. Através do presente trabalho, buscou-se conhecer as percepções dos estudantes do Campus II da UEPB sobre a capuchinha (Tropaeolum majus L), com o intuito de promover o conhecimento sobre essa cultura e promover um ciclo de informações sobre a espécie, a fim de contribuir para torná-la um item presente na alimentação das pessoas.

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MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa de abordagem etnobotânica, é de caráter quantitativo, no qual envolveu na preparação de um questionário estruturado com doze perguntas, que foi destinado aos alunos da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA), Campus II, localizado no município de Lagoa Seca, Paraíba, Brasil. O município de Lagoa Seca (Latitude 7 º 09 S, Longitude 35 º 52 W e altitude 634 m) localiza-se na região Nordeste no estado da Paraíba e pertencente à microrregião de Campina Grande e mesorregião do Agreste paraibano. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2019), a população de Lagoa Seca é de 27.503 habitantes, distribuídos em 107,603 km² de área. Apresenta as seguintes características climáticas: temperatura média máxima 26,0 ºC e média mínima 18,20 ºC, precipitação média anual 950 mm e evapotranspiração média anual de 1100mm.

Os discentes foram abordados com os seguintes questionamentos: “Você sabe o que são Plantas Alimentícias não Convencionais (PANCs)?”, “Você conhece a Capuchinha?”, “Você acha que a Capuchinha é...”, “Você utiliza a Capuchinha na sua alimentação?”, “Você acha que a Capuchinha tem uma possibilidade de comércio e geração de renda?”, “Você já teve acesso à informações sobre a Capuchinha na universidade?”, “Caso tenha consumido a Capuchinha, como a obteve?”, “Você gostaria de conhecer mais sobre a Capuchinha na alimentação?”. Para a elaboração do questionário foi utilizada a plataforma online Survio, um meio de instrumento aplicado para pesquisas. Refere-se de uma ferramenta de fácil manuseio, oferecendo o resultado rápido na mensuração das respostas (SURVIO, 2012). Essa pesquisa ficou disponível nas redes sociais por quatro semanas do mês de outubro a novembro de 2019. Todos os dados recolhidos após a pesquisa foram computados e analisados pelo programa Survio, que nos permite acesso aos dados com as suas devidas porcentagens.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistados 104 alunos, 51,9% do sexo feminino e 48,1% do sexo masculino, as idades variam entre 15 a 59 anos, 62,5% moram na Zona Urbana e 37,5% moram na Zona Rural. Dentre os entrevistados, 76,9% estão matriculados em Bacharelado em Agroecologia, 14,4% Técnico em Agroindústria e 8,7% Técnico em Agropecuária. De acordo com a figura 1, 70,2% dos estudantes responderam que as Plantas Alimentícias não Convencionais são plantas pouco consumidas na alimentação e são fáceis de serem encontradas, 16,3% determinaram que as PANCs são plantas que possuem uma ou mais partes comestíveis, no entanto, 11,5% dos alunos não fazem a menor ideia do que sejam Plantas Alimentícias não Convencionais, 1% disseram que são alimentos industrializados e 1% ressaltaram que são plantas não comestíveis. Dessa forma, os resultados obtidos através do questionário sobre o conhecimento dos alunos em relação as PANCs, são de extrema importância para o desenvolvimento e o uso desses alimentos inseridos no cotidiano. Sendo assim, os dados em questão são de suma importância, visto que, as pessoas estão à procura de alimentos provindos de práticas menos impactantes e livres de agrotóxicos (KINUPP; BARROS, 2004).

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Figura 1: Percepção dos estudantes da Universidade Estadual da Paraíba (Campus II) sobre as PANCs.

Você sabe o que são Plantas Alimentícias não Convencionais (PANCs)? 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% São plantas pouco São plantas que Não faço a menor consumidas na possuem uma ou ideia alimentação e são mais partes fáceis de serem comestíveis encontradas

São alimentos industrializados

São plantas não comestíveis

Em relação a pergunta “Você conhece a Capuchinha?”, 56,7% dos entrevistados responderam que não tem conhecimento sobre a Capuchinha, porém um percentual significativo de 43,3% disse que conhece a planta, o que implica dizer que é fundamental a propagação dessa espécie dentro do Campus universitário. Quando indagados sobre o que eles acham da Capuchinha (Figura 2), percebe-se que 82% tem o conhecimento que a Capuchinha é considerada uma Planta Alimentícia não Convencional, 16,3% responderam que é uma planta medicinal e 12,5% ressaltaram que é uma planta ornamental. Segundo Barros e Souza (2018), o consumo comercial dessa cultura começou a ganhar força a partir de divulgações nas mídias, programas culinários e medicinais. A capuchinha é conhecida como fonte de alimento, planta ornamental e plantas medicinais. A eficácia medicinal dessa planta vem crescendo cada vez mais através de estudos realizados. Além do sabor picante, a Tropaeolum majus L. é atrativa por possuir ácido ascórbico, carbonato, é rica em carotenoide que combate a catarata e degeneração muscular. Nos últimos cem anos, a capuchinha foi cruzada com outras do mesmo gênero, resultando em cultivares de maior florescimento, com flores mais duráveis e de coloração diversificada, sendo bastante utilizadas como ornamentais, compondo diversos tipos de jardins (CORRÊA, 1984; BREMNESS, 1993).

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Figura 2: Concepções dos alunos do Campus II da UEPB sobre a utilização da capuchinha.

Você acha que a capuchinha é... 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20%

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10% 0% Planta Alimentícia não Convencional

Planta medicinal

Planta ornamental

Em relação ao uso da Capuchinha na alimentação, 80,8% responderam que não consomem essa planta, porém não sabem explicar o motivo, 7,7% marcaram que não utilizam a capuchinha na alimentação, pois tem medo de ter compostos tóxicos nas folhas, frutos e sementes, 5,8% ressaltaram que consomem a capuchinha na alimentação, pois ela é ótima em fonte nutricional e funcional para a alimentação humana e 5,8% disseram que consomem, mas não sabem explicar o motivo. Os dados em questão, implica dizer que o conhecimento e a propagação do uso de alimentos não convencionais são fundamentais para garantir a segurança alimentar para as gerações atuais e futuras, visando apresentar alternativas saudáveis para uma produção agrícola, resgatando hábitos alimentares, como as Plantas Alimentícias Não Convencionais (VIDAL; HELLO; MADEIRA, 2018). Referente a pergunta “Você acha que a Capuchinha tem uma possibilidade de comercio e geração de renda?” (Figura 3), 33,7% disseram que sim, pois além de apresentar baixo custo de produção, a capuchinha é comestível e tem rápido crescimento, 27,9% ressaltaram que não, porém não sabem explicar o motivo, 26,9% marcaram sim, porém não sabem explicar o motivo, 7,7% marcaram que não, pois a capuchinha e seus produtos são de difícil comercialização e 3,8% responderam que a capuchinha tem o custo de produção elevado e o retorno financeiro é baixo. Ao analisar as respostas em relação ao que foi referido, observa-se que a capuchinha é considerada uma excelente possibilidade de cultivo para pequenos agricultores, por apresentar um baixo custo de produção e gerar aumento de renda para sua família. Porém, essa hortaliça ainda não possui uma produção significativa para que possa ser explorada comercialmente (SILVA et al., 2018).


Figura 3: Possibilidade de comércio e geração de renda na percepção dos alunos da UEPB do Campus II.

Você acha que a Capuchinha tem uma possibilidade de comercio e geração de renda? 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Sim, pois além de Não, porém não sei apresentar baixo explicar o motivo custo de produção, a capuchinha é comestível e tem rápido crescimento

Sim, porém não sabe explicar o motivo

Não, pois a Não, pois a capuchinha e seus capuchinha tem o produtos são de custo de produção difícil elevado e o retorno comercialização financeiro é baixo

Ao questionar se já tiveram acesso à informações sobre a capuchinha na universidade (Figura 4), 65,4% disseram que nunca tiveram acesso às informações, 22,1% já ouviram alguns alunos do Campus comentando sobre a planta e 12,5% ouviram professores abordando sobre o assunto. Conhecer a percepção dos estudantes auxilia na elaboração de estratégias para apresentar conceitos sobre as PANCs, segurança alimentar e preservação ambiental. O desconhecimento da soberania alimentar é um fato que existe na sociedade, a dificuldade de diversificar a alimentação é um desafio que devemos focar para garantir uma alimentação saudável (DIAS et al., 2018).

Figura 4: Acesso à informações sobre a capuchinha no Campus II da UEPB.

Você já teve à informações sobre a capuchinha na universidade? 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Nunca tive acesso às informações sobre a planta

Sim, já ouvi professor abordando sobre o assunto

Sim, já ouvi alguns alunos do Campus comentando sobre a planta

Os dados obtidos mostram que 86,5% nunca consumiu a Capuchinha, 5,8% já consumiu a planta através do vizinho, 4,8% em feiras livres e uma pequena parcela de discentes (2,9%) consome através da sua própria produção (Figura 5). No entanto, a produção de plantas alimentícias não convencionais representa como possibilidade para diversificar e melhorar o valor nutricional da dieta de populações de baixa

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renda, pois são de fácil cultivo, resistentes, boa produtividade e, podem ser cultivados em seus domicílios ou em pequenas hortas comunitárias (DIAS et al., 2018).

Figura 5: O consumo da capuchinha através dos discentes da UEPB do Campus II.

Caso tenha consumido a capuchinha, como a obteve? 100% 90% 80% 70%

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60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Nunca consumi

Vizinho

Feiras livres

Na minha própria produção

Quanto ao questionamento “Você gostaria de conhecer mais sobre a capuchinha na alimentação?” (Figura 6), 57,7% disseram que sim, pois sabem muito pouco sobre a planta, 35,6% responderam que sim, pois é a primeira vez que escutam sobre a capuchinha na alimentação e uma pequena porcentagem de 6,7% não tem interesse sobre o tema. A proposta de promover conhecimento acerca dessa PANC dentro do Campus II da UEPB, traz benefícios, pois permite a possibilidade de mudanças nos hábitos alimentares, resgatando práticas alimentares que não sejam do nosso cotidiano, plantas estas com alto teor nutricional. O resgate por essas plantas somente será possível por meio de informações permanentes e contínuas, socializando e conscientizando os alunos sobre o consumo das plantas alimentícias não convencionais, esclarecendo seus benefícios, vantagens e formas de consumo (DIAS et al. 2018). Figura 06: Obtenção de mais conhecimento sobre a capuchinha na alimentação.

Você gostaria de conhecer mais sobre a capuchinha na alimentação? 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Sim, pois sei muito pouco sobre a Sim, pois é a primeira vez que planta escuto sobre a capuchinha na alimentação

Não tenho interesse sobre o tema


CONCLUSÕES Através dos resultados foi possível identificar que uma parcela considerável dos estudantes da Universidade Estadual da Paraíba do Campus II, tem compreensão sobre as PANCs, porém uma quantidade significativa demonstrou desconhecimento em relação a Capuchinha. Diante do que foi exposto e considerando as potencialidades nutricionais e medicinais da Tropaeolum majus L., é necessária uma maior divulgação de informações sobre a referida planta, visando promover o incentivo de mais pesquisas sobre a Capuchinha e seus diversos potenciais.

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225


Capítulo 26 MODELAGEM MATEMÁTICA APLICADA A CINÉTICA DE SECAGEM DA POLPA DO NONI (MORINDA CITRIFOLIA L.)

SOUSA, Francisca Moisés de Mestranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande fran_moyses@hotmail.com SANTOS, Rebeca Morais Silva Mestranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande rebecamoraiscg@gmail.com ALMEIDA, Renata Duarte Doutora em Engenharia de Processos Universidade Federal de Campina Grande renatadual@yahoo.com.br ANDRÉ, Anastácia Mikaella Campos Nóbrega Doutora em Engenharia de Processos Universidade Federal de Campina Grande anastaciamikaella@gmail.com MELO, Mylena Olga Pessoa Mestranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais Universidade Federal de Campina Grande mylenaopm@gmail.com

RESUMO O noni (Morinda citrifolia L.) é um fruto de origem asiática, o qual é muito consumido não só na Ásia, mas também nos Estados Unidos. No Brasil o seu consumo tem se expandido rapidamente em todas as regiões. Considerando que o teor de água das frutas e a temperatura de armazenamento são influenciadores diretos na deterioração dos produtos, a secagem apresenta uma importante contribuição para atenuar essa taxa de deterioração, uma vez que, é responsável por reduzir o teor de água. Diante destes aspectos, o presente trabalho tem como objetivo realizar a cinética de secagem da polpa do noni em diferentes temperaturas e ajustar modelos matemáticos aos dados experimentais. Os frutos foram adquiridos no mercado local de Campina Grande –PB, higienizados, cortados em finas fatias e submetidos a cinética de secagem sob as temperaturas de 60, 70 e 80 °C. Aos dados experimentais foram ajustados os modelos de Page, Henderson & Pabis, Exponencial de Dois termos, Logarítmico, Midili, Lewis, Cavalcanti Mata e Parry. Ao realizar o estudo da cinética de secagem da polpa do noni, observou-se que a constante k apresentou um aumento proporcional ao aumento da temperatura em todos os modelos e considerando o maior parâmetro de ajuste (R2) e o menor desvio quadrado médio (DQM), o modelo Logarítimico foi o que melhor se ajustou aos dados.

PALAVRAS-CHAVE: Secagem, armazenamento, modelagem matemática.

226


INTRODUÇÃO A Morinda citrifolia L. também denominada como Noni Taiti, é o fruto de uma pequena árvore da família das Rubiaceae, originária do Sudoeste da Ásia e foi difundida pelo homem através da Índia e do Oceano Pacífico até as ilhas da Polinésia Francesa. A partir do consumo da Morinda citrifolia L. pelos polinésios atribuía-se a ela os resultados obtidos relacionados à atividade antibacteriana, antiviral, antifúngica, antitumoral, anti-helmíntica, analgésica, antiinflamatória, hipotensora e imune estimulante (MATOSO et al., 2013; SILVA, et al., 2012; SOLONOMON, 1999). Segundo Brito (2008), a planta apresenta flores e frutos durante todo o ano, sendo as flores pequenas e brancas; os frutos contêm muitas sementes, e tem um forte odor, quando colhida. O fruto é oval e atinge 4 a 7 cm de tamanho, sendo inicialmente verde, mudando para amarelo e por fim, quase branco, época em que o fruto é colhido. Embora o Noni seja bastante consumido na Ásia e há muitos anos utilizado como suplemento alimentar nos Estados Unidos, ainda é pouco conhecido no Brasil. No entanto, o seu consumo deste tem se expandido rapidamente em todas as regiões brasileiras, não apenas por ser uma rica fonte de nutrientes, mas principalmente pelas propriedades fitoterápicas atribuídas ao fruto (FARIAS et al., 2018). Além disto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária proibiu a comercialização de qualquer alimento contendo o fruto da Morinda citrifolia L., através da RDC nº. 278/2005, por julgar que a fruta não apresenta histórico de consumo no Brasil e, portanto, não devem ser comercializados como alimento até que os requisitos legais que exigem a comprovação de sua segurança de consumo sejam atendidos. O teor de água das frutas e a temperatura de armazenamento são características cruciais para a interação de fatores bióticos e abióticos que promovem a deterioração dos produtos. A secagem reduz o teor de água, atuando diretamente na diminuição do metabolismo, podendo contribuir para atenuar a taxa de deterioração e aumentando o período em que as frutas podem ser armazenadas, sem perda da qualidade do produto (OLIVEIRA et al., 2016). Atualmente, existe um grande número de modelos matemáticos que podem representar as cinéticas de secagem. Esses modelos são classificados como teóricos, semi-empíricos e empíricos. Aqueles que são baseados na cinética da monocamada, multicamada e camada condensada encontram-se dentro dos modelos teóricos, onde seus parâmetros são funções das propriedades físicas do material, fornecendo informações úteis na avaliação das operações unitárias onde são encontrados os fenômenos de transferência de massa e calor (LIMA et al., 2017). Portanto, o presente trabalho tem como objetivo realizar a cinética de secagem da polpa do noni em diferentes temperaturas e ajustar modelos matemáticos aos dados experimentais.

MATERIAL E MÉTODOS Obtenção das amostras Os nonis (Morinda citrifolia L.) foram adquiridas em uma feira central localizada na cidade de Campina Grande – PB, em seguida foram transportadas para posterior análise. As análises foram realizadas no Laboratório de Secagem, pertencente à Unidade Acadêmica de Engenharia Alimentos, da Universidade Federal de Campina Grande, PB.

227


CinĂŠtica de secagem Os nonis (Morinda citrifolia L.) foram adquiridas foram higienizados e cortados manualmente em fatias finas, em seguida, o teor de ĂĄgua inicial do produto foi determinado de acordo com a metodologia proposta pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2018). As amostras foram colocadas em bandejas de aço inoxidĂĄvel, e uniformemente espalhadas, formando uma camada fina. Para iniciar o experimento, as bandejas foram colocadas em um secador com circulação de ar com velocidade de ar de 1,5 m/s, para a realização das cinĂŠticas de secagem nas temperaturas de 60, 70 e 80 °C atĂŠ atingirem o equilĂ­brio higroscĂłpico. No final das secagens foram determinadas as massas secas e calculados os teores de umidade de acordo com IAL (2008). Os dados experimentais foram expressos em termos de razĂŁo de teor de ĂĄgua (RX), dada pela relação entre as diferenças de teores de ĂĄgua no tempo, t, e teor de ĂĄgua de equilĂ­brio (X – Xe) e teores de ĂĄgua inicial e de equilĂ­brio (X0 – Xe). Como descrito na Equação (1):

RX 

X  Xe X0  Xe

(1)

Em que:

RX - Razão de teor de ågua (adimensional); Xe - Teor de ågua de equilíbrio (base seca); X - Teor de ågua (base seca); Xo - Teor de ågua inicial (base seca). Os modelos de Page, Henderson & Pabis, Exponencial de Dois termos, Logarítmico, Midili, Lewis, Cavalcanti Mata, Parry cujas equaçþes estão descritas na Tabela 1, foram ajustados aos dados experimentais de secagem utilizando-se o software STATISTICA 7.0, utilizando-se a anålise de regressão não-linear, pelo mÊtodo Quasi-Newton. Os modelos foram selecionados tomando-se como parâmetro a magnitude do coeficiente de determinação (R2) e do desvio quadråtico mÊdio (DQM) (Equação 2).

DQM 

ď€¨ďƒĽ RX

 RX pre 

2

exp

(2)

N

RXexp - Razão de teor de ågua obtida experimentalmente; RXpre - Razão de teor de ågua predita pelo modelo matemåtico; N - número de observaçþes ao longo da cinÊtica de secagem. Tabela 1. Modelos matemåticos empregados Modelo

Equação

Page

đ?‘…đ?‘‹ = đ?‘’ −đ?‘˜.đ?‘Ą

Henderson & Pabis

đ?‘…đ?‘‹ = đ?‘Ž. đ?‘’ −đ?‘˜đ?‘› .đ?‘Ą

Exponencial de Dois Termos

đ?‘…đ?‘‹ = đ?‘Ž. đ?‘’ −đ?‘˜đ?‘Ą + (1 − đ?‘Ž)đ?‘’ −đ?‘˜đ?‘Žđ?‘Ą

đ?‘›

228


LogarĂ­tmico

đ?‘…đ?‘‹ = đ?‘Ž. đ?‘’ −đ?‘˜đ?‘Ą + đ?‘?

Midili

đ?‘…đ?‘‹ = đ?‘Ž. đ?‘’ −đ?‘˜đ?‘Ą + đ?‘? đ?‘Ą

Lewis

đ?‘…đ?‘‹ = đ?‘’ −đ?‘˜đ??ż .đ?‘Ą

đ?‘›

đ?‘…đ?‘‹ = đ?‘Ž1 đ?‘’ −đ??ľđ?‘Ą

Cavalcanti Mata

đ?‘Ž2

+ đ?‘Ž3 đ?‘’ −đ??ľđ?‘Ą

đ?‘Ž4

+ đ?‘Ž5

đ?‘…đ?‘‹ = đ?‘Ž. đ?‘’ −đ?‘˜đ?‘› .đ?‘Ą + c

Parry

Em que: RX - RazĂŁo de teor de ĂĄgua, adimensional; t - Tempo, min; a e n - constantes do modelo; K constante de secagem.

RESULTADOS E DISCUSSĂƒO

229 Na Tabela 2 encontram-se expressos os valores dos parâmetros obtidos para os modelos matemåticos de Page, Henderson & Pabis, exponencial de dois termos, logarítmico, Midili, Lewis, Cavalcanti Mata, Parry ajustados aos dados experimentais das cinÊticas de secagem do noni, para a temperatura de 60, 70 e 80°C. Tabela 2. Parâmetros de ajuste dos modelos matemåticos utilizados na predição da cinÊtica de secagem do pimentão verde nas temperaturas de 60, 70 e 80 °C. Modelos

T (°C)

Parâmetros k

n

60

0,0028

1,154344

70

0,0048

1,085621

80

0,0048

1,085621

a

k

60

1,0422

0,0063

70

1,0285

0,0075

80

0,9745

0,0090

a

k

60

0,9998

0,0059

70

0,9998

0,0071

80

0,5075

0,0131

Page

Henderson & Pabis

Exponencial de Dois termos

a

k

c

60

1,0417

0,0063

0,0006

70

1,0293

0,0075

-0,0011

80

0,9733

0,0090

0,0018

LogarĂ­tmico

Midili

a

k

n

b

60

1,0086

0,0029

1,1463

1,12x10-5

70

1,0124

0,0054

1,0634

3,81x10-6


0,9891

80

0,0115

0,949426

-1,46x10-6

k 60

0,0059059

70

0,0071584

80

0,0093996

Lewis

Cavalcanti Mata

a1

k

a2

a3

a4

a5

60

-0,1229

0,0028

0,0937

0,9961

1,1595

0,1338

70

0,6825

0,0045

1,1412

0,3262

1,0258

-0,0015

80

0,4830

0,0117

0,9461

0,5087

0,9461

-0,0021

a

k

c

60

1,0418

0,0063

0,0006

70

1,0293

0,0075

-0,0010

80

0,9733

0,0090

0,0018

Parry

Em que: RX - Razão de teor de água, adimensional; t - Tempo, min; a e n - constantes do modelo; K - constante de secagem. De acordo com a Tabela 3, observa-se que o parâmetro k é proporcional ao aumento da temperatura em todos os modelos aplicados. Contudo, observa-se que a temperatura não apresentou influência com relação ao parâmetro n. Justi et al. (2017) em seus estudos, verificou que o parâmetro k é influenciado pela temperatura e umidade inicial do produto e oparâmetro n pela velocidade do ar de secagem e da umidade inicial. Evidencia-se, portanto, a alta afinidade do modelo aos dados experimentais da cinética de secagem do noni. Na Tabela 3 observam-se os valores do coeficiente de determinação (R2) e do desvio quadrático médio (DQM) obtidos da secagem do noni, para a temperatura de 60, 70 e 80°C. Tabela 3. Valores do coeficiente de determinação (R2) e desvio quadrático médio (DQM) para os modelos matemáticos da secagem do pimentão verde nas temperaturas de 60, 70 e 80 °C.

Modelos

60 °C

70 °C

80 °C

R2 99,91

DQM 9,89x10-4

R2 99,96

DQM 5,34x10-4

R2 99,96

DQM 3,23x10-4

Henderson & Pabis

99,82

3,93x10-5

99,94

7,187x10-5

99,94

1,91x10-4

Exponencial de Dois Termos

99,62

1,03x10-3

99,85

5,65x10-4

99,92

5,95x10-4

Logaritmo

99,82

1,86x10-12

99,94

1,17x10-12

99,95

4,17x10-13

Midili

99,939

1,23x10-4

99,971

6,51x10-5

99,97

5,72x10-5

Lewis

99,62

1,01x10-3

99,854

5,55x10-4

99,85

3,24 x10-4

Cavalcanti Mata

99,95

3,90x10-7

99,979

3,76x10-11

99,97

1,61x10-12

Page

230


Parry

99,82

1,31x10-7

99,944

8,40x10-8

99,95

2,12 x10-8

Analisando os dados expressos na tabela 3, observa-se que todos os modelos apresentaram valores acima de 99% para o R2 e valores de DQM relativamente baixos. Deste modo, o modelo que mais se adequou aos dados experimentais da secagem da poupa do noni, foi o modelo de Logaritmo, que apresentou valor de R² superiores a 0,99 e de DQM mais baixo, entre 1,86 x 10 12 e 4,17x 10-13, observa-se ainda que na secagem à 80°C foi constatado valor mais baixo deste parâmetro 4,17x10-13. Segundo Almeida (2006) as equações podem ser utilizadas como modelo de ajuste das curvas de secagem quando apresentam valores de R2 superiores a 91%. Salienta-se que apenas o coeficiente de determinação não constitui um bom critério para a seleção de modelos não lineares tornando imprescindíveis avaliações de outros parâmetros (MAMDAMBA et al., 1996). Os resultados obtidos corroboram com os encontrados em alguns estudos relacionados a secagem de polpa de frutas assim como DIONELLO (2009), que em seu estudo com abacaxi, avaliou os modelos de Page, Henderson Pabis e Lewis, e encontrou valores de R2 superiores a 96%. Tsuda et al. (2014), relataram que o modelo de Page apresentou melhor ajuste aos dados experimentais com (R2) superior a 0,996, estudando secagem convectiva de fatias de berinjela em diferentes condições de temperatura. Gonçalves et al. (2016) ao realizarem a secagem da casca e da polpa de banana verde nas temperaturas de 55, 65 e 75ºC, concluíram que dentre os modelos estudados, para a casca da banana verde cozida foram os Lewis, Page, Henderson e Pabis, Midilli, Aproximação da Difusão e para polpa da banana verde in natura foram Page, Wang e Singh e Midilli. Porém o modelo de Page foi selecionado para representar o fenômeno de secagem devido a simplicidade de aplicação. Feitosa et al. (2017) em seus estudos realizaram a secagem da polpa de murta em temperaturas que variaram entre 50 à 90 °C e concluíram que o modelo matemático que melhor se ajustou aos dados experimentais foi o de Midili. Como se pode verificar na figura 1 abaixo, o aumento da temperatura do ar de secagem favorece a elevação das taxas de remoção de água do produto, diminuindo o tempo necessário para a polpa atingir o equilíbrio. Estes resultados estão em concordância com diversos outros pesquisadores que consideram a temperatura do ar de secagem como o parâmetro que exerce maior influência na cinética de secagem de alimentos, dentre eles, Gouveia et al. (2002), Almeida et al. (2006) e Leite et al. (2015) que trabalharam com secagem de caju, acerola e banana da terra, respectivamente. Na figura 1 estão o valores experimentais da razão de umidade em função do tempo ajustados para o modelo Logarítmo, pois foi o que melhor se ajustou aos dados experimentais.

231


Figura 1. Curvas de secagem dos dados experimentais do noni, submetida à secagem nas temperaturas de 60, 70 e 80°C, pelo modelo matemático Logarítmico. 1,0 60°C 70°C 80°C 0,8

0,6

0,4

232

0,2

0,0 0

200

400

600

800

1000

1200

Segundo Sousa (2017), no início de todos os processos de secagem há uma intensa perda de água devido à rápida evaporação e intenso transporte de água livre contida na superfície do produto, proveniente do interior do produto para sua superfície. Após este período de taxa de secagem o processo ocorre de forma mais lenta demonstrando a dificuldade de se retirar água do produto até atingir o equilíbrio entre o produto e o ar de secagem. Nesse período a resistência interna ao transporte de água se torna maior que a resistência externa, podendo o transporte de água ocorrer por escoamento capilar, difusão de líquido ou/e difusão de vapor. Fatos estes que correspondem com a análise das curvas de secagem provenientes deste estudo.

CONCLUSÕES O estudo sobre a secagem da polpa do noni, demonstrou que com o aumento da temperatura ocorreu a redução do tempo de secagem, em consequência a isso as curvas que representam a cinética de secagem se mostram mais acentuadas. Dentre os modelos estudados para a cinética de secagem, o modelo de Logarítimico foi o que apresentou o melhor parâmetro de ajuste e o menor DQM, podendo ser considerado como o modelo que melhor se ajustou aos dados da cinética em estudo.

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234


CapĂ­tulo 27 MODELOS NĂƒO LINEARES PARA DESCREVER O CRESCIMENTO DE COELHOS DA RAÇA NORFOLK

COSTA, JoĂŁo Batista Filgueira Mestrando em Biometria e EstatĂ­stica Aplicada Universidade Federal Rural de Pernambuco jfilgueiracosta@gmail.com DOS SANTOS, AndrĂŠ Luiz Pinto PĂłs-doutorando em InformĂĄtica Aplicada Universidade Federal Rural de Pernambuco andredefensor@hotmail.com FIGUEIREDO, Marcela Portela Santos de Doutoranda em Biometria e EstatĂ­stica Aplicada Universidade Federal Rural de Pernambuco portela.marcela.producao@gmail.com FERREIRA, Tiago Alessandro EspĂ­nola Prof. Dr. Do Departamento, de Biometria e EstatĂ­stica Aplicada Universidade Federal Rural de Pernambuco taef.first@gmail.com MOREIRA, Guilherme Rocha Prof. Dr. Do Departamento, de Biometria e EstatĂ­stica Aplicada Universidade Federal Rural de Pernambuco guirocham@gmail.com

RESUMO Objetivou-se, neste estudo, analisar modelos nĂŁo lineares para descrever o crescimento de coelhos da raça Norfolk. Foram utilizados dados de peso corporal medidas semanalmente atĂŠ a idade de 119 dias de coelhos da raça Norfolk oriundos do artigo de Curi, Nunes e Curi. Os modelos nĂŁo lineares utilizados foram: Santos, Von Bertalanffy e LogĂ­stico. A qualidade de ajuste dos modelos foi medida pelo coeficiente de determinação (đ?‘…2 ), desvio mĂŠdio absoluto (DMA) e critĂŠrio de informação de Akaike (AIC). O modelo Santos foi o que apresentou o melhor ajuste para o conjunto de dados de acordo com a metodologia e condiçþes em que foi desenvolvido o presente estudo. PALAVRAS-CHAVE: Peso assintĂłtico, Maturidade, Santos.

INTRODUĂ‡ĂƒO A produção brasileira de coelhos atinge aproximadamente 179 mil cabeças de animais, com maior concentração na regiĂŁo Sul do paĂ­s (FAO, 2017). O estado com maior contribuição foi o Rio Grande do Sul, seguido por Santa Catarina e ParanĂĄ, totalizando 40,9%; 18,3% e 16,5% de toda a produção nacional, respectivamente, sendo 75,7% sĂł na regiĂŁo Sul (PELLECHIA; SERAFIM, 2017).

235


O crescimento dos animais influencia diretamente com a qualidade da carne que Ê produzida. Portanto, estudos relacionados a curvas de crescimento vêm sendo aplicado em programas de melhoramento genÊtico, alÊm de auxiliar na definição de critÊrios de seleção quanto à precocidade de acabamento e à velocidade de ganho de peso (SILVA et al., 2011). Na literatura, vårios modelos não lineares são citados para descrever o crescimento animal (SILVEIRA, 2010). Segundo Silva et al. (2010) cinco desses modelos têm sido mais utilizados. São eles: Richards, Logística, Von Bertalanffy, Brody e Gompertz. PorÊm, questiona-se qual desses modelos Ê o mais apropriado para descrever o crescimento corporal de uma população de coelhos. Os avaliadores da qualidade de ajuste são metodologias estatísticas empregadas para comparar os diferentes modelos e indicar o melhor modelo, quando ajustados a um mesmo conjunto de dados (DIAS, 2014). O coeficiente de determinação Ê o mais comumente utilizado como critÊrio de seleção de melhor modelo na maioria dos estudos sobre curvas de crescimento animal. Entretanto, outros critÊrios para selecionar o melhor modelo de crescimento têm sido utilizados em diversos trabalhos (DOS SANTOS et al. 2019a; DOS SANTOS et al. 2019b; YILMAZ et al., 2018; DOS SANTOS et al., 2018; MAKOVICK� et al., 2017; NASCIMENTO et al., 2017). Quanto maior o número de critÊrios considerados, mais segura Ê a indicação dos melhores modelos (TEIXEIRA NETO et al., 2016). PorÊm, quando se utiliza um número grande de avaliadores, a escolha dos modelos pode tornar-se um processo difícil (SILVEIRA et al., 2011). Dessa forma o presente estudo, objetivou-se comparar os modelos Logístico, Santos (2018) e Von Bertalanffy, a fim de identificar o modelo que melhor descreve o crescimento de coelhos da raça Norfolk.

MATERIAL E MÉTODOS Modelo Para descrever o padrão mÊdio de crescimento dos animais, foram testados três modelos de regressão não lineares, são eles: Logístico (NELDER, 1961), Santos (DOS SANTOS et al., 2018) e Von Bertalanffy (VON BERTALANFFY, 1957) representados pelas seguintes expressþes:

LogĂ­stico: đ?‘Œđ?‘Ą = đ?›ź(1 + đ?‘’ −đ?‘˜đ?‘Ą )−1 + đ?œ€

đ?‘˜đ?‘Ą

(1)

Santos: đ?‘Œđ?‘Ą = đ?›ź (1 + đ?›˝đ?‘’ đ?›žđ?‘’ ) + đ?œ€

(2)

Von Bertalanffy: đ?‘Œđ?‘Ą = đ?›ź(1 − đ?›˝đ?‘’ −đ?‘˜đ?‘Ą )3 + đ?œ€

(3)

em que đ?‘Śđ?‘Ą ĂŠ o peso do animal, t ĂŠ a variĂĄvel independente (idade em dias), Îą, β, Îł e đ?‘˜ sĂŁo parâmetros a serem estimados e đ?œ€ ĂŠ um erro aditivo. Estes parâmetros sĂŁo definidos como: Îą ĂŠ o peso assintĂłtico, β e Îł sĂŁo constantes de integração e đ?‘˜ ĂŠ a taxa de maturidade pĂłs-natal um indicador da velocidade com que o animal atinge o valor assintĂłtico. Para a estimação dos

236


parâmetros dos modelos foi utilizado o mÊtodo de Gauss Newton modificado para resolver o problema de mínimos quadrados não lineares atravÊs do Software livre R versão 3.3.1, (2016).

CritĂŠrio para seleção de modelo Os critĂŠrios estatĂ­sticos utilizados para selecionar o modelo de melhor ajuste a curva de crescimento foram: o coeficiente de determinação (đ?‘… 2 ) - calculado como o quadrado da correlação entre os pesos observados e estimados, desvio mĂŠdio absoluto (DMA) e critĂŠrio de informação de Akaike (AIC) (AKAIKE, 1972), calculados pelas seguintes equaçþes:

237

đ?‘†đ?‘„đ?‘… đ?‘… =1− đ?‘†đ?‘„đ?‘‡đ?‘? 2

đ??ˇđ?‘€đ??´ =

(4)

∑đ?‘›đ?‘–=1|đ?‘Śđ?‘– − đ?‘ŚĚ‚đ?‘– | đ?‘›

(5)

đ??´đ??źđ??ś = −2 log(đ??ż) + 2đ?‘?

(6)

em que, SQR ĂŠ a soma de quadrados do resĂ­duo e đ?‘†đ?‘„đ?‘‡đ?‘? ĂŠ a soma de quadrado total corrigida para o n Ăşmero de parâmetros do modelo, đ?‘› ĂŠ o tamanho da amostra, L a função de verossimilhança, đ?‘? ĂŠ o nĂşmero de parâmetros livres, đ?‘Śđ?‘– ĂŠ o valore observado e đ?‘ŚĚ‚đ?‘– ĂŠ o valore estimado. Quanto menor o valor de DMA e AIC e maior đ?‘… 2, melhor o ajuste aos dados reais.

Dados Neste trabalho utilizaremos uma base de dados originalmente apresentado no artigo de Curi; Nunes; Curi, (1985) Tabela 1. Os autores aplicaram os modelos não lineares Logístico e Gompertz a dados de peso de coelhos Norfolk, do primeiro atÊ 119 dias de idade. Os ajustes obtidos com a utilização da função de Gompertz por esses autores foram mais eficientes que os obtidos com a função logística.

Tabela 1: Peso corporal de coelhos Norfolk.

Idade dos Animais 1 7 14 21 28 35 42 49 56 63 70 77

Peso 73,53 175,32 281,23 397,95 623,75 930,25 1215,90 1471,77 1674,15 1928,46 2206,00 2417,00


84 91 98 105 112 119

2620,00 2804,00 3007,00 3148,00 3356,67 3363,33

RESULTADOS E DISCUSSĂƒO Uma coelha poderĂĄ produzir cerca de 50 filhotes por ano. Podendo cada coelho em crescimento possuir ganho de peso mĂŠdio diĂĄrio de 40 g de peso vivo por dia, sendo abatidos entre 75 e 80 dias de idade, pesando cerca de 2,5 kg, fornecendo 1,3 kg de carcaça (MACHADO; FERREIRA, 2011). Entretanto, a raça Chinchila apresenta peso mĂŠdio de 3 a 4,5 kg. É uma raça rĂşstica, bastante precoce e produtiva, possuindo capacidade de gestar de 6 a 10 coelhos por parto (MOURA, 2011). O modelo que apresentou a maior estimativa de peso Ă maturidade (Tabela 2) foi o Von Bertalanffy (4417,00), seguido dos modelos Santos (3499,25) e LogĂ­stico (3496,00). Coelhos da raça Norfolk tĂŞm peso a maturidade (A) superiores a coelhos da raça Nova Zelândia como observados em trabalhos de Santos et al. (2018), onde o peso a maturidade đ?›ź para os modelos Von Bertalanffy e LogĂ­stico alcançaram valores de (2187,85 e 1975,66 kg), respectivamente. Um outro parâmetro importante ĂŠ o đ?‘˜, que representa a velocidade de crescimento para atingir o peso a maturidade. O modelo LogĂ­stico (0,05) foi superior aos demais modelos Santos (0,02) e Von Bertalanffy (0,02). Esses resultados sĂŁo semelhantes aos obtidos por De Almeida Ferreira et al. (2019) em coelhos da raça Nova Zelândia com valores de (0,05) LogĂ­stico e (0,02) Von Bertalanffy. Todos os modelos estudados obtiveram 100% de convergĂŞncia, e os demais avaliadores de qualidade de ajuste estĂŁo apresentados na (Tabela 1). Comparando-se trĂŞs modelos, aquele com menor valor de AIC deve ser o adotado (FLORIANO; MULLER; FINGER; SCHNEIDER, 2006). Com base no đ?‘… 2 (Tabela 2), todos os modelos apresentaram bons ajustes em relação aos coeficientes de determinação, porĂŠm, observa-se uma pequena superioridade para o modelo Von Bertalanffy seguido dos modelos Santos e LogĂ­stico com valores de (0,999; 0,998 e 0,995), respectivamente. Com base na DMA e no AIC, menores mĂŠdias foram observadas para Von Bertalanffy seguido dos modelos Santos e LogĂ­stico. No entanto, a coerĂŞncia biolĂłgica deve ser levada em consideração durante a avaliação desses modelos. PorĂŠm, o modelo de Von Bertalanffy superestimou o valor de peso Ă maturidade. Assim, os modelos de melhor ajuste Ă resposta biolĂłgica encontrada nos dados observados (figura 1) foram o Santos, seguido pelo LogĂ­stico. Na literatura consultada, observou-se variação quanto aos modelos indicados para ajustar a curva de crescimento. Teleken et al. (2017), propuseram o modelo de Von Bertalanffy como o mais adequado para a curva de crescimento das raças Nova Zelândia e Norfolk. JĂĄ Curi et al. (1985), identificaram o modelo Gompertz adequado para descrição do crescimento de coelhos das raças Norfolk. Santos et al. (2018) descreveram o modelo de Gompertz como o de melhor ajuste para o crescimento de coelhos Nova Zelândia. De Almeida Ferreira et al. (2019), apontaram o modelo logĂ­stico e o proposto como os de melhores ajustes para os dados de coelhos da raça nova Zelândia.

238


Tabela 2: Estimativa dos parâmetros: peso assintĂłtico (đ?›ź), constantes de integração (đ?›˝ đ?‘’ đ?›ž) taxa de maturidade (k), e avaliadores de qualidade de ajuste: coeficiente de determinação đ?‘… 2, desvio mĂŠdio absoluto (DMA) e critĂŠrio de informação de Akaike (AIC) dos modelos estudados.

Estimativa dos parâmetros

Avaliadores de qualidade

Modelos �

đ?›˝

k

LogĂ­stico

3496,00

16,63

0,05

Santos

3499,25

-1,32

0,02

Von Bertalanffy

4417,00

0.79

0,02

�

-0,27

R2

DMA

AIC

0,995

69,06

216,81

0,998

38,12

200,18

0,999

27.80

186.08

Fonte: PrĂłpria (2019).

As curvas de crescimento obtidos a partir dos dados observadas e ajustadas de coelhos da raça Norfolk para os três modelos podem ser vistas na Figura 1.

Figura 1: Estimativa do peso em função da idade, ajustado pelos modelos Logístico, Santos e Von Bertalanffy.

Fonte: PrĂłpria (2019).

239


CONCLUSÕES Nas condições do presente estudo, e de acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que o modelo não lineare, Santos foi o mais indicado para representar a curva de crescimento de coelhos da raça Norfolk.

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240


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Capítulo 28 O STATUS QUO DAS PUBLICAÇÕES ENVOLVENDO A ERGONOMIA E O TRABALHO NA AGRICULTURA FAMILIAR (AF): UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA

BARROS, Rubenio dos Santos Mestrando em Design Universidade Federal de Santa Catarina rubeniobarros@hotmail.com MERINO, Giselle Schmidt Alves Diaz Doutora em Engenharia de Produção Universidade Federal de Santa Catarina gisellemerino@gmail.com MERINO, Eugenio Andrés Díaz Doutor em Engenharia de Produção Universidade Federal de Santa Catarina eugenio.merino@ufsc.br

RESUMO

Este artigo visa identificar publicações envolvendo o trabalho na agricultura familiar e a Ergonomia por meio de uma revisão integrativa de teses e dissertações. O estudo caracteriza-se como básico, qualitativo, exploratório e descritivo. Os resultados indicam o foco nos aspectos físicos, sendo os cognitivos e organizacionais pouco explorados. Apontam ainda uma integração limitada do Design nos processos de pesquisa e desenvolvimento de soluções. Em suma, observase o uso de ferramentas de trabalho inadequadas, a baixa incorporação de tecnologia, a carência de treinamento, além da sobrecarga física e mental do agricultor familiar, o que contribui para a ocorrência de acidentes, intoxicações, DORTs e também para o êxodo rural. PALAVRAS-CHAVE: condições de trabalho, design, panorama.

INTRODUÇÃO A produção agrícola familiar brasileira é um importante elo no sistema de abastecimento de alimentos e possui tamanho impacto na economia que por si só daria ao Brasil o oitavo lugar entre os maiores produtores de alimentos mundiais, movimentando cerca de US$ 55,2 bilhões anualmente. Suas atividades são responsáveis ainda pela renda de mais de 70% dos brasileiros economicamente ativos no campo. Assim, apesar de ocupar menos de 1/4 da área cultivada no país, a Agricultura Familiar (AF) emprega 3/4 dos trabalhadores agrícolas (BRASIL, 2018, 2017, 2016; EMBRAPA, 2018; ABRAHÃO, TERESO, GEMMA, 2015). Segundo a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (SEAD), a AF produz o correspondente a 50% dos alimentos de cesta básica. Envolve ainda 4,4 milhões famílias agricultoras, sendo que 84% dos estabelecimentos rurais existentes são dessa modalidade e cerca de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes tem como base da economia a AF (BRASIL, 2014, 2017, 2018). Mas ao mesmo tempo em que a AF tem uma importante contribuição na produção de alimentos, ela também envolve um trabalho que se caracteriza como sendo de elevado esforço

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físico, cognitivo e organizacional, o que pode acarretar em reflexos na saúde dos agricultores. Assim, a compreensão do trabalho agrícola familiar necessita de reflexões, pois pode apresentar riscos ocupacionais com gravidade variável. A Ergonomia inserida nesse contexto tem o intuito de melhorar as condições de trabalho do agricultor, sendo responsável pela identificação dos fatores de risco e oportunidades de melhoria (BASTOS; BIFANO, 2017; CUNHA; MERINO; MERINO, 2015). O estudo ergonômico é importante porque mesmo uma atividade aparentemente simples pode cobrar do trabalhador um exercício físico e mental considerável para o funcionamento do sistema produtivo. Além disso, inadequações nas condições de trabalho podem afetar a saúde, a produtividade, e a segurança do trabalhador (BARBOSA, 2013; SALA, 2015). Para Guimarães e Brisola (2013) a Ergonomia favorece o conhecimento sobre as atividades de trabalho no meio rural, e a apropriação de tais conhecimentos pode contribuir para ampliação das capacidades dos agricultores, impactando na produção e na qualidade dos produtos. É preciso ressaltar que, além dos aspectos da esfera física/biomecânica do trabalhador, outros elementos do trabalho podem se beneficiar do envolvimento da Ergonomia em investigações mais apuradas, de modo a ser capaz de identificar aspectos do trabalho que vão além da esfera física (tais como as implicações da variabilidade das tarefas, das tomadas de decisão, do gerenciamento dos problemas, suas correlações, etc.) que também têm impacto sobre a saúde e bem-estar daqueles envolvidos na realização das atividades rurais. Na esfera organizacional, o trabalho agrícola também exibe particularidades que direcionam à consideração da Ergonomia para melhor adequar as condições de trabalho às capacidades dos trabalhadores, permitindo reduzir os problemas de saúde, e consequentemente, impactando positivamente na produtividade e nos ganhos das famílias agricultoras (GUIMARÃES; BRISOLA, 2013; ABRAHÃO; TERESO; GEMMA, 2015; CUNHA; MERINO; MERINO, 2015). Assim, o conhecimento acerca das pesquisas que relacionam a Ergonomia e a AF contribui para compreensão dos desafios no trabalho agrícola. Nesse sentido, objetiva-se com esta pesquisa a realização de um levantamento de publicações sobre AF e a Ergonomia a partir de um processo de Revisão Integrativa de Literatura (RIL).

MATERIAL E MÉTODOS Pode-se caracterizar a pesquisa como sendo de natureza básica, com objetivos exploratório e descritivo. Sobre os procedimentos técnicos, classifica-se como estudo bibliográfico e a abordagem adotada é qualitativa, envolvendo a análise dos documentos e a construção da síntese do conteúdo (SILVA; MENEZES, 2005). Foi realizada uma Revisão Integrativa de Literatura (RIL) utilizando as diretrizes propostas por Mendes, Silveira e Galvão (2008). A RIL busca e sintetiza os resultados sobre um tema ou questão de maneira sistemática, ordenada e abrangente, sendo o mais amplo dentre os métodos de revisão, o que é considerado uma característica vantajosa. A sintetização gerada pela RIL pode reduzir obstáculos da utilização do conhecimento científico, tornando os resultados de pesquisas mais acessíveis, uma vez que em um único estudo tem-se o acesso a diversas pesquisas já realizadas. O seu produto final gera um panorama acerca do estado atual do conhecimento do tema investigado, bem como auxilia na identificação de lacunas que podem nortear novas pesquisas (ERCOLE; MELO; ALCOFORADO, 2014; MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). A RIL envolve: a) identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa; b) estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos na amostragem; c) definição das

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informações a serem extraídas dos estudos; d) avaliação dos estudos incluídos na revisão; e) interpretação dos resultados; e f) apresentação da revisão/síntese do conhecimento (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). Seguindo método, inicialmente foi definida a questão de pesquisa: considerando que as atividades da AF envolvem o uso de ferramentas, maquinários e sistemas que podem ser relacionados com o Design, sendo um fator de importante contribuição para o desempenho dos processos produtivos do agricultor familiar, de que forma os estudos na pós-graduação em Design investigam e associam a Ergonomia e a AF? Acerca dos critérios de seleção, a busca abarcou teses e dissertações nacionais e internacionais produzidas num intervalo de 10 anos (2008 – 2018). A âmbito nacional, os estudos foram levantados nos repositórios, bibliotecas digitais e bancos de teses e dissertações das Instituições de Ensino Superior (IES) que possuíam programas de pós-graduação em Design, com áreas e/ou linhas de pesquisa envolvendo a Ergonomia. Assim, as IES selecionadas foram: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Universidade Estadual Paulista (UNESP), e as universidades federais de Campina Grande (UFCG), do Maranhão (UFMA), de Pernambuco (UFPE), Rio Grande do Norte (UFRN) e de Santa Catarina (UFSC). Somadas a isso, foram feitas buscas na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações – BDTD (IBICT, 2018) e no Catálogo de Teses & Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES, 2018). A busca nos repositórios e bibliotecas digitais de IES específicas se justifica pela tentativa de contornar uma eventual defasagem na indexação nas grandes bases nacionais. Para o levantamento de títulos internacionais, foi feita a busca na base ProQuest Dissertations & Theses Global (PQDTGlobal), que é o maior repositório de teses e dissertações do mundo, com mais de 4 milhões de trabalhos de 88 países (PROQUEST, 2018). Sobre a estratégia de busca, primeiramente foi feita a investigação nos repositórios e bibliotecas digitais das IES selecionadas, a partir da string "("family farming" OR "family agriculture") AND (ergonomics OR "human factors") AND (design)". A inclusão do termo design na string teve como objetivo a consonância com a delimitação de busca estabelecida junto aos programas de pós-graduação em Design, identificando como esses programas estudavam o tema. Em seguida, nas mesmas bases, foi feita a busca com a string "("family farming" OR "family agriculture") AND (ergonomics OR "human factors")", sem restrições quanto a área. Em ambos os casos foi mantido o critério de intervalo temporal. Outros critérios foram a inclusão da string no texto completo e, quando feita a busca na base PQDTGlobal, foram incluídos apenas de documentos publicados em português, inglês e espanhol. Os documentos foram selecionados considerando sua aderência ao tema pesquisado, baseando-se na análise do título, palavras-chave e resumo. Não houve, durante a seleção, limitações quanto aos domínios de especialização da Ergonomia. Subsequente à varredura de todas as bases selecionadas, foi feita a remoção de documentos duplicados. Após a exclusão dos documentos que não tinham relação com o tema e dos duplicados, foi realizada a leitura das teses e dissertações na íntegra. Durante a análise dos textos selecionados, foram feitos o agrupamento e a sintetização dos dados com o auxílio dos softwares Microsoft® Excel 2015, versão 15.3.3, para a construção dos quadros, e Adobe Illustrator Creative Cloud, versão 2015.0.0, para elaboração das figuras. Foi

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elaborada uma matriz no Excel com as principais informações de identificação, caracterização e procedência do documento, além de correlacioná-los com informações levantadas acerca do conceito do curso ao qual estão vinculados, com base na avaliação da CAPES. Em seguida, com o auxílio de recursos gráficos do Adobe Illustrator, foi feita a sumarização, culminando em um infográfico sobre os principais pontos identificados. Junto a isso, as palavras-chaves dos documentos foram reunidas e foi registrada a recorrência dos termos. Posteriormente, os termos foram analisados quanto a sua relação com a área do Design. Os estudos foram organizados em uma segunda matriz com as informações identificadas acerca das abordagens, focos e objetivos, examinados de acordo com a afinidade entre as abordagens da Ergonomia que apresentavam, e seus resultados foram submetidos a análise crítica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO O primeiro levantamento foi realizado no dia 20 de novembro de 2018 e a busca inicial incluindo o termo design na string teve como retorno 55 documentos, sendo 30 da PQDTGlobal, 19 da UNESP, 2 da UFSC, 2 do Catálogo CAPES, 1 da UFRN e 1 da BTDT. Nas demais instituições não houve retorno para a busca. Com a remoção dos documentos duplicados, restaram 52 estudos, que em seguida foram filtrados por meio da leitura dos títulos, resumos e palavraschave. Nesse filtro, foram descartados 49 documentos que não tinham relação com o foco da revisão. Assim, foi feito o download dos 3 documentos restantes para leitura dinâmica na íntegra. Com a leitura, foi decidido que os três, sendo duas teses e uma dissertação, seriam incorporados à revisão. A segunda busca (Figura 1), realizada no dia 19 de dezembro de 2018 e com a string sem o termo design, resultou em 58 documentos: 29 para a PQDTGlobal, 18 da UNESP, 4 da BTDT, 4 da UFSC, 2 do Catálogo de Teses e Dissertações, 1 da UFRN e nenhum resultado para as demais bases e repositórios. A partir da leitura dos títulos, resumos e palavras-chave, chegou-se a 10 documentos (FILTRO 1). Com a eliminação dos duplicados (FILTRO 2), definiu-se o portfólio em 5 teses e 2 dissertações. Figura 1. Processo de seleção dos documentos.

Fonte: elaborado pelos autores.

Como esperado, visto que a parte da estrutura inicial que antecedia os termos “AND (design)" não foi alterada, a segunda estratégia de busca abarcou todos os documentos

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encontrados a partir da primeira string, além de ter ampliado os resultados. Um fato a ser destacado foi que, mesmo com a consideração do design tanto na string quanto na escolha das bases de buscas, nenhum dos documentos selecionados era de um departamento ou curso do Design. O Quadro 1 apresenta os estudos selecionados: autores, títulos, instituições vinculadas, ano de publicação, tipo do trabalho, curso, local de realização dos estudos, o conceito do curso na Plataforma Sucupira1 e as bases onde foram encontrados. Quadro 1. Teses e dissertações selecionadas.

Autor

Título

IES

Ano

Tipo

Curso

Local da pesquisa

Conceit o

Base

Capes (1)

UNICAMP

201 3

Tese

Eng. Agrícola

Santo Antônio do Amparo (MG)

4

BTDT

Movimento Corporal dos Trabalhadores na AF do CARVALHO JÚNIOR, G. A. Vale do Bananal de Salinas

UFRRJ

200 8

Dissertação

Educação Agrícola

Salinas (MG)

3

BTDT

Ergonomia e projeto: contribuições no (3) projeto de ferramentas manuais para AF com FERNANDES, ênfase nos reflexos físicos C. A. na extração manual de mandioca

UFSC

201 4

Tese

Eng. de Produção

Biguaçu (SC)

5

Repositório UFSC

AF: uma perspectiva da qualidade de vida do produtor rural orgânico da Paraíba

UFRN

201 4

Tese

Psicologia

Lagoa Seca (PB)

5

UFRN

Processo de trabalho e saúde mental de trabalhadores agrícolas familiares da microrregião de Ituporanga

UFSC

200 9

Tese

Eng. de Produção

Ituporanga (SC)

5

Repositório UFSC

5

Repositório UFSC, BTDT, Catálogo CAPES

5

Repositório UFSC, BTDT, Catálogo CAPES

BARBOSA, M. A. G.

Caracterização da carga física de trabalho na cafeicultura do sul de MG

(2)

(4) PESSOA, Y. S. R. Q. (5) POLETTO, Â. R.

(6) SALA, S. M. F.

(7) VEIGA, R. K.

Ergonomia aplicada a ferramentas manuais: o caso da ferramenta manual para descascamento de raízes de mandioca Aspectos ergonômicos de motocultivadores na cultura da cebola da microrregião de Ituporanga

UFSC

201 5

UFSC

201 7

Dissertação

Eng. de Produção

Florianópolis (SC)

Tese

Eng. de Produção

Ituporanga (SC)

Fonte: Elaborado pelos autores.

Identificou-se que, quanto as áreas do conhecimento científico relacionadas aos estudos, as engenharias foram responsáveis por 72% dos trabalhos produzidos. Apesar da estratégia de buscas ter priorizado os repositórios e bancos de dados dos programas de pós-graduação em Design com áreas ou linhas em Ergonomia, nenhum dos documentos foi produzido em um curso de Design. 1

A Plataforma Sucupira é um portal de consulta às atividades realizadas pelos Programas de Pós-Graduação (PPGs), além de ser uma ferramenta que coleta informações, realiza análises e avaliações e funciona como base de referência do Sistema Nacional de Pós-Graduação (SNPG) (BRASIL, 2015; MEC, 2014).

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O curso que apresentou maior recorrência nos resultados foi a Engenharia de Produção da UFSC, com 4 documentos. O ano com mais publicações foi 2014, com duas publicações nesse período. Sobre os locais de realização das pesquisas, três estudos (1, 2 e 4) foram desenvolvidos em municípios fora dos estados das instituições aos quais os pesquisadores estavam vinculados, enquanto que dois estudos (5 e 7) foram realizados no mesmo município (Biguaçu). Além da Engenharia de Produção, os cursos encontrados foram Educação Agrícola (UFRRJ), Engenharia Agrícola (UNICAMP) e Psicologia (UFRN), com 1 estudo cada. Acerca dos conceitos obtidos pelos cursos na Plataforma Sucupira (CAPES, 2016), maioria dos estudos (72%) são advindos de cursos com conceito 5 (UFSC e UFRN) que, de acordo com a CAPES (2007), são considerados como "muito bom”. Essa investigação das notas de avaliação atribuídas pela CAPES é válida pois é um indicador e uma referência para outras instituições acerca da qualidade dos programas e da produção dos cursos de pós-graduação. Assim, a averiguação do conceito neste estudo visa correlacionar as produções analisadas com o desempenho de seus respectivos programas, o que pode interferir na percepção da relevância das pesquisas. A Figura 2 sintetiza as informações de procedência dos estudos. Em relação às palavras-chave, como esperado por se tratar dos principais temas dos estudos, os termos mais recorrentes foram "agricultura familiar”, encontrados em quatro estudos (CARVALHO JÚNIOR, 2008; FERNANDES, 2014; PESSOA, 2014; POLETTO, 2009) e "ergonomia”, presente em três (CARVALHO JÚNIOR, 2008; FERNANDES, 2014; SALA, 2015). A maioria dos outros termos (39%) estava relacionada com a Ergonomia, podendo ser citadas as palavras-chave “análise ergonômica da atividade”, "carga física de trabalho” e “DORT”. Dentre os documentos, apenas um (SALA, 2015), utiliza o termo design entre suas palavras-chave, estabelecendo assim uma relação com a identificação do estudo com o Design, mesmo sendo uma pesquisa desenvolvida na Engenharia de Produção. A Figura 2 sintetiza as informações de procedência dos estudos. Figura 2. Síntese das informações de procedência.

Fonte: elaborado pelos autores.

Sobre a abordagem metodológica adotada nos estudos, três (CARVALHO JÚNIOR, 2008; PESSOA, 2014; SALA, 2015) utilizaram um viés qualitativo, enquanto que 4 (BARBOSA, 2013; FERNANDES, 2014; POLETTO, 2009; VEIGA, 2017) foram descritos como qualiquantitativos. O Quadro 2 descreve a abordagem, o foco e os objetivos gerais de cada estudo.

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Quadro 2. Apresentação da abordagem, foco e objetivo geral de cada estudo. Autor

Abordagem

Foco

Qualiquantitativa

Aspectos físicos

Caracterizar a carga física de trabalho na cafeicultura familiar a partir da análise de parâmetros fisiológicos, biomecânicos e psicofísicos.

Qualitativa

Aspectos físicos

Investigar os movimentos laborais dos trabalhadores na agricultura familiar no Vale do Bananal no município de Salinas.

Qualiquantitativa

Aspectos físicos

Identificar os requisitos ergonômicos necessários ao projeto de ferramentas manuais para AF, especificamente para o caso da atividade de extração de raízes de mandioca, com ênfase na Ergonomia física.

(1) BARBOSA, M. A. G.

Objetivos

(2) CARVALHO JÚNIOR, G. A. de (3) FERNANDES, C. A. (4) PESSOA, Y. S. R. Q.

Qualitativa

Qualidade de Analisar a qualidade de vida do agricultor familiar orgânico, vida após mudança no manejo agrícola.

(5)

Qualiquantitativa

Aspectos Identificar os fatores relacionados ao processo de trabalho que cognitivos/ podem contribuir para a ocorrência de problemas de saúde psicológicos mental de trabalhadores agrícolas familiares de Ituporanga.

POLETTO, Â. R. (6)

Qualitativa SALA, S. M. F.

(7) VEIGA, R. K.

Qualiquantitativa

Aspectos físicos

Identificar os requisitos para o projeto de uma ferramenta manual destinada ao descascamento de raízes de mandioca, tendo como base a Ergonomia e o foco centrado nas mulheres da AF.

Aspectos Identificar condições ergonômicas do motocultivador no físicos (foco processo de trabalho agrícola na cultura da cebola da principal) e microrregião de Ituporanga. cognitivos

Fonte: elaborado pelos autores.

Quanto ao foco de estudo, quatro (estudos 1, 2, 3, 6) focaram nos aspectos físicos da Ergonomia, enquanto que o estudo 7 (VEIGA, 2017) optou por analisar tantos os aspectos físicos quanto cognitivos. Já Poletto (2009) priorizou os aspectos cognitivos, mais especificamente a saúde mental dos agricultores familiares, e Pessoa (2014) abordou questões de qualidade de vida (QV), sendo, portanto, mais abrangente ao considerar os domínios físicos, psicológicos, as relações sociais e ambientais. Sobre a análise quanto à relação com o Design, durante a observação dos procedimentos metodológicos, foi identificado que apenas Sala (2015) e Veiga (2017) se utilizaram de metodologias do Design em suas pesquisas. Enquanto que Sala (2015) utilizou uma metodologia para o desenvolvimento de projetos (GODP – Guia de Orientação para o Desenvolvimento de Projetos, MERINO, 2014) durante o projeto de uma ferramenta manual ergonômica, Veiga (2017) fez uso do método Usa-Design (MERINO et al., 2012) para a avaliação de usabilidade de motocultivadores. Fernandes (2014) e Sala (2015) direcionam suas análises para os requisitos ergonômicos no projeto de ferramentas manuais, estando ambos vinculados à produção de mandioca. Contudo, enquanto que a pesquisa de Fernandes (2014) estuda o processo de colheita da mandioca, Sala (2015) se insere no beneficiamento da matéria-prima, tendo como público alvo as mulheres que realizam a tarefa de descascamento.

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Sobre a caracterização da AF, os estudos afirmam que o trabalho executado é complexo, com a realização de múltiplas atividades, e que há a constante adaptação à imprevistos durante a produção (CARVALHO JÚNIOR, 2008; POLETTO, 2009; BARBOSA, 2013; FERNANDES, 2014; PESSOA, 2014; SALA, 2015; VEIGA, 2017). Pessoa (2014) afirma que, durante os levantamentos realizados em seus estudos, todos os agricultores trabalhavam diretamente na produção e na administração, assumindo vários papéis e atividades. O autor complementa que o trabalho na AF é caracterizado pela variabilidade, exigindo do trabalhador vigilância permanente para gerir os problemas que aparecem. Já Sala (2015) caracteriza o trabalho agrícola familiar como sendo de baixa mecanização, com emprego de trabalho predominantemente manual. Todos os estudos analisados, em algum momento, destacam a grande demanda de esforço físico e a adoção de posturas corporais extremas nas tarefas da AF. Para Pessoa (2014), são desconhecidos dados consistentes da situação de trabalho na AF, e que é ainda mais desconhecida a relação que o agricultor tem com trabalho e os meios que dispõe para realizá-lo. O autor reforça que conhecer esses processos auxilia na compreensão do trabalho, na QV e no posicionamento do agricultor diante de sua atividade laboral. Esse entendimento sobre a realização do trabalho e quais são seus agravantes permitirá o pensamento de meios para transformá-lo, sendo necessário antes de implementar melhorias, conhecer as condições e os espaços laborais. Uma preocupação constante nos estudos é o êxodo rural da população jovem para os centros urbanos (CARVALHO JÚNIOR, 2008; POLETTO, 2009; BARBOSA, 2013; FERNANDES, 2014; PESSOA, 2014; SALA, 2015; VEIGA, 2017). Os estudos direcionam ao entendimento de que a promoção de melhores condições de trabalho e de QV, mais especificamente tendo a Ergonomia como um dos mecanismos para alcançar esses objetivos, possa contribuir para a permanência da população jovem no campo. Fernandes (2014) chega a apontar que a cada ano há uma diminuição no número de trabalhadores que permanecem nessa atividade em Santa Catarina, enquanto que Poletto (2009) identificou relatos nos quais a migração da população jovem chega a impossibilitar a continuidade das atividades, forçando o agricultor familiar a abandonar o campo. Um ponto a ser destacado é que, na população analisada por Poletto (2009), a média de filhos era de 3,16 por família, mas apenas 0,82 dos filhos auxiliavam nas atividades agrícolas, tendo uma parcela considerável migrado para centros urbanos. Sobre os desafios para a saúde do agricultor, Barbosa (2013) identificou que as principais manifestações de desconforto no trabalhador são as regiões dos ombros, pescoço, dorso médio e dorso inferior. Carvalho Júnior (2008) ao investigar sobre Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), detectou na população sob análise dores nas costas, joelhos, pernas e membros superiores devido a permanência diária prolongada numa mesma posição, com relatos de dor entre 90% dos indivíduos. O autor ressalta ainda a ocorrência de situações de trabalho que excedem a capacidade física do agricultor devido a necessidade de se conseguir sustento para a família, onde o trabalhador executa suas atividades doente ou em constante postura inapropriada. Assim, prioriza-se o lucro ao invés da saúde, o que também foi observado por Veiga (2017). No trabalho de extração manual de mandioca, Fernandes (2014) identificou que os maiores índices de queixa se localizavam na coluna lombar, cervical, ombros, braços, punhos e dedos, dificultando o desempenho das atividades. Já Pessoa (2014) identificou câimbras e fadiga nas pernas devido a posturas inadequadas. Os estudos de Poletto (2009) também apresentam esses constrangimentos, como a grande repetitividade de movimentos e demanda física. Na pesquisa

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de Veiga (2017), as partes do corpo relatadas com desconforto foram: quadril/coxa, lombar, dorsal e punho/mão/dedo. Percebe-se nos estudos que os diversos desconfortos, lesões e patologias são sentidos por todo corpo do trabalhador, apresentando variações de acordo com as especificidades das tarefas, as ferramentas e maquinários utilizados, a matéria-prima cultivada, as posturas adotadas, o tempo de exposição, dentre outros fatores (CARVALHO JÚNIOR, 2008; POLETTO, 2009; BARBOSA, 2013; FERNANDES, 2014; PESSOA, 2014; SALA, 2015; VEIGA, 2017). Para Pessoa (2014), esse desgaste é resultante dos processos adaptativos exigidos do agricultor. Um fator que contribui para o surgimento de doenças e desconfortos é a improvisação ou a não utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) no trabalho, mesmo ao manipular agrotóxicos e produtos químicos. Foi identificado ainda que os EPIs utilizados na AF foram concebidos para condições que não correspondem à realidade e que há uma frequência na ocorrência dos acidentes, sendo a falta de proteção adequada uma das principais causas. Foi percebido ainda que as situações de risco são ignoradas pelos trabalhados, pois as consideram parte da rotina de trabalho (POLETTO, 2009; VEIGA, 2017). Carvalho Júnior (2008) destaca que na maioria dos casos, as ferramentas utilizadas para no trabalho não são ergonomicamente apropriadas, o que contribui para posturas inadequadas. Já Fernandes (2014) reforça a necessidade de equipamentos que incorporem os requisitos ergonômicos para reduzir as condições extenuantes às quais o agricultor familiar está exposto. Nesse sentido, Barbosa (2013) destaca a importância de investimentos em tecnologia na AF para o aumento da QV, apontando uma carência de estudos para o projeto de equipamentos tecnológicos de auxílio no trabalho físico dessa população. Sala (2015) também indica a carência na renovação tecnológica do setor, onde a mecanização pode não ser acessível a todos os produtores. Complementa que o agricultor familiar, por trabalhar com capital financeiro mais baixo, utiliza ferramentas rústicas e inadequadas que causam danos e lesões, sendo que existem diversas ferramentas agrícolas que apresentam incompatibilidades ergonômicas passíveis de melhorias, o que também foi observado por Veiga (2017) e Fernandes (2014). Sobre as competências dos agricultores, Barbosa (2013) e Carvalho Júnior (2008) apontam a carência de informações e conhecimento, o que pode contribuir para o aumento dos efeitos nocivos à saúde. Veiga (2017) observou a ausência de treinamento formal para utilização segura do maquinário agrícola, limitando a transferência de conhecimento sobre a operação dos equipamentos a instruções verbais passadas pelos pais ou irmãos. O conhecimento acerca das atividades executadas é tão importante que Pessoa (2014) coloca a educação como um elemento decisivo no horizonte profissional de qualquer pessoa na AF. O conhecimento adequado e suficiente sobre o trabalho é benéfico sob diversas óticas, mas principalmente quando o agricultor faz uso dessa informação para a segurança e preservação da saúde. Enquanto Pessoa (2014) afirma que o campo é qualificado para uma melhor qualidade de vida, Poletto (2009) enfrenta essa visão ao buscar desmitificar a noção de que os trabalhadores agrícolas vivem em ambientes saudáveis, visto que existem diversos fatores nocivos no desempenho das atividades que afetam a saúde mental. A percepção de Poletto apresenta-se mais condizente com a realidade, uma vez que os agricultores familiares apesar de não necessariamente vivenciarem os mesmos obstáculos impostos a outras atividades econômicas e estruturações de trabalho, também enfrentam outros desafios característicos do campo que podem comprometer a qualidade de vida, como já identificado pelos autores. Acerca da esfera cognitiva abordada por Poletto (2009), os elementos que contribuem para o agravo da saúde mental dos agricultores são: o trabalho sazonal e a carga de trabalho, as

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condições climáticas, o isolamento e suporte social (sua ausência), os problemas financeiros, o uso de agrotóxicos, as intoxicações, os problemas de saúde e acidentes. Entre as características sociodemográficas, as variáveis mais importantes quando se analisa a saúde metal foram o sexo, a idade e o tempo de moradia na propriedade. Em relação à variável sexo, as mulheres têm mais chances de ter problemas de saúde mental. Em relação à idade, observa-se que quanto maior a idade, maiores as chances de surgirem problemas de saúde mentais, mas esta tendência é menos acentuada. Já análise do tempo de moradia indica que quanto maior o tempo de residência na propriedade, menor as chances de problemas de saúde mental. Acerca das carências no cuidado da saúde e QV, Carvalho Júnior (2008) afirma que o agricultor familiar não tem a sua disposição profissionais que possam minimizar os efeitos nocivos causados pelo trabalho exaustivo realizado. Poletto (2009) também aponta a ausência de assistência à saúde mental. Seu estudo foi capaz de estabelecer conexões significativas entre o uso de agrotóxicos, as intoxicações e a prevalência de doenças mentais. A autora vê na Ergonomia um auxílio para integração e organização do trabalho, minimizando as consequências negativas para a saúde física e mental. Dentre as recomendações para melhoria nas condições de trabalho na AF, Pessoa (2014) apresenta a necessidade da criação de grupos de discussão sobre a QV do agricultor, de modo a valorizar o conhecimento tácito desse trabalhador e colocá-lo em contato com os saberes científicos, a fim de fortalecer a AF. O autor recomenda também a articulação dos órgãos públicos para a formulação de ações voltadas para a saúde e segurança no trabalho do agricultor, envolvendo assistência, vigilância e informação. Poletto (2009) sugere o desenvolvimento de iniciativas de promoção da saúde na AF, destacando a necessidade de inclusão de profissionais como médicos e psicólogos, para que haja a superação das barreiras existentes e seja realizado o cuidado da saúde desta população. Recomenda ainda a criação de padrões específicos de segurança nas situações de trabalho visando a melhora da capacidade laboral, o desenvolvimento de medidas para minimizar os agravos à saúde mental e a melhoria dos parâmetros para concepção de ferramentas e máquinas agrícolas para uso coletivo, considerando as diferenças individuais. Essa última recomendação dialoga com o que foi proposto por Sala (2015) também aponta a necessidade da criação de mecanismos que conscientizem e informem de forma simples e intuitiva sobre o uso correto das ferramentas agrícolas. Apesar dos desafios, Pessoa (2014) afirma que há por parte dos agricultores pensamentos positivos sobre seu trabalho, onde de acordo com os próprios agricultores, 76% afirmaram que, caso reiniciassem sua vida laboral, novamente escolheriam a profissão de agricultor. O estudo de Poletto (2009) complementa a discussão ao identificar que o que contribui para o apreço dos agricultores pela profissão é a liberdade de que dispõem no seu trabalho.

CONCLUSÕES A partir da RIL, pode-se observar abordagens diversas para a consideração da Ergonomia nos estudos de pós-graduação acerca das atividades da AF, indo desde as análises com foco nos utensílios utilizados e seus impactos para a saúde do agricultor, até as implicações psicológicas decorrentes do uso de agrotóxicos, mostrando um campo vasto para análises e proposições de melhorias a partir do viés ergonômico.

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As publicações abordaram as condições de trabalho, especialmente sobre os aspectos físicos que envolvem a AF, como por exemplo as posturas adotadas, os movimentos executados e os equipamentos utilizados, sendo nítida a necessidade de ações que busquem levar mais QV ao agricultor, como a incorporação de tecnologias que possam facilitar as atividades no campo. Todos os estudos analisados, em maior ou menor grau, reforçaram o entendimento de que a AF exige grande esforço físico e expõe o agricultor a cargas exaustivas e posturas extenuantes. Contudo, apenas um estudo dedicou o foco aos aspectos cognitivos/psicológicos, ao suscitar questões resultantes da dinâmica e da carga de trabalho, da ocorrência de acidentes, dos problemas financeiros e fatores estressantes que podem ser cumulativos e que podem comprometer a saúde mental do agricultor. Ressalta-se que, mesmo com a adoção de uma estratégia que priorizasse o Design durante as buscas, não foram encontrados estudos diretamente vinculados à programas de pós-graduação em Design e apenas dois dos estudos analisados se utilizaram de métodos e metodologias do Design em algum momento no desenvolvimento das pesquisas. Entretanto, ao se analisar as recomendações dos estudos, é possível estabelecer relação com a necessidade de consideração das competências do Design, como é o caso da elaboração de parâmetros para a concepção de ferramentas e o desenvolvimento de mecanismos intuitivos de uso das ferramentas agrícolas. Assim, é percebida a relevância da maior exploração do Design no desenvolvimento de soluções ergonômicas na AF, de modo que o Design auxilie e fomente o desenvolvimento de ferramentas e novas formas de organização do trabalho que sejam mais condizentes com as características dos agricultores e com as necessidades produtivas, impactando positivamente no desempenho das atividades. Recomenda-se ainda uma maior colaboração do Design com outras áreas que investigam a temática, como por exemplo a Engenharia de Produção, para que surjam novos estudos e proposições de melhorias, sendo que as oportunidades de estudo residem não apenas nos aspectos físicos como comumente observado, mas também nos aspectos organizacionais e sobre os riscos cognitivos/psicológicos enfrentados na AF, que ainda são pouco explorados. Dada a quantidade ainda reduzida de teses e dissertações sobre o tema e a limitação geográfica de abrangência dos locais de estudo, destaca-se que seria interessante o desenvolvimento de pesquisas nas outras regiões do país nas quais não foram encontradas pesquisas e a expansão das investigações nas áreas já observadas. Isso seria interessante por possibilitar uma análise mais profunda sobre o cenário nacional, além de permitir identificar e considerar especificidades de cada região, o que pode contribuir para soluções mais ajustadas.

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Capítulo 29 OS CAMINHOS DO LIXO: UM RELATO SOBRE A CIDADE DE IGARACY – PB PEREIRA, Jocimário Alves Mestrando em Química Universidade Federal Rural de Pernambuco mario.alves_@hotmail.com SILVA, Tiago Vieira da tiagoiga@gmail.com

RESUMO O mundo vem sofrendo sérias transformações degradáveis devido as ações e consumo excessivo do homem globalizado. Entre os principais fatores desordenados que o ser humano exerce sobre a natureza, está aquele proveniente dos meios, muito embora nem sempre, que ele necessita para sobreviver: o lixo – principal contribuinte para o alagamento das grandes metrópoles e um dos mais importantes reagentes em favor da poluição e degradação ambiental. Não muito diferente das grandes cidades, a pequena Igaracy, localizada no sertão da Paraíba, também enfrenta problemas com o lixo, principalmente na sua maneira de coleta e despacho. A cidade não dispõe de coleta seletiva, muito menos de destino adequado para depor a sujeira gerada pela a mesma. Diante dessas diretrizes, por meio de pesquisas bibliográfica e de campo, este trabalho tem como objetivo radiografar a consciência de seus moradores e oferecer uma possível mudança na consciência dessas pessoas, expectando um poder público mais preocupado com a limpeza e saúde pública, proporcionando assim, um ambiente mais salubre e sustentável.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, Impacto, Sustentabilidade

INTRODUÇÃO As quantidades alarmantes de lixo, produzidas pelos seres humanos e destinadas a lugares inadequados, vêm preocupando ambientalistas do mundo inteiro no que diz respeito a preservação do meio ambiente. Esses atos irresponsáveis realizados pela sociedade, vêm provocando a contaminação da superfície, não só do solo como também das águas. Sem falar que a grande quantidade de chorume produzida pelos “lixões”, pode contaminar também os lençóis freáticos e produzir vários tipos de gases – principais poluentes do ar atmosférico. Outro fator relacionado a produção e adequação do lixo é a conscientização das pessoas. De acordo com Gonçalves (2003), o lixo é uma questão a ser abordada de forma complexa, contemplando os aspectos econômico, político, sociológico, psicológico, sanitário, afetivo, mitológico e ambiental. O modo de vida urbana produz uma diversidade cada vez maior de produtos e de resíduos que exigem sistemas de coleta e tratamento diferenciados após o seu uso e uma destinação ambientalmente segura. No manejo de resíduos sólidos, desde a geração até a disposição final, existem fatores de riscos para a população exposta (OLIVEIRA, 2018). Com o objetivo de amenizar os transtornos relacionados à heterogeneização do lixo e de saúde pública, a coleta seletiva pode ser vista como uma ferramenta de redução e controle adequada. Contudo, não basta selecionar e coletar o lixo de maneira rigorosa, é preciso que haja também uma área destinada e adequada a esse propósito. O lixo pode ser a causa de doenças como diarreias infecciosas, amebíases e parasitoses. Ele serve ainda como abrigo e\ou fonte de alimentos para insetos, roedores, aranhas e escorpiões.

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Dentre os insetos, as moscas, mosquitos, baratas e formigas são potenciais transmissores de doenças como dengue, febre amarela e contaminações em geral. Já dentre os roedores, os ratos podem transmitir a leptospirose e a peste (SILVA; RIBEIRO; ROSSI, 2014). Diante dessas diretrizes, esse trabalho tem por objetivo de levanta informações para conscientização da população de Igaracy – PB, bem como o poder público local, sobre os incômodos que o lixo uniforme pode desencadear.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA LIXO

256 No início dos tempos, os primeiros homens eram nômades. Moravam em cavernas, sobreviviam da caça e pesca, vestiam-se de peles e formavam uma população minoritária sobre a terra. Quando a comida começava a ficar escassa, eles se mudavam para outra região e os seus "lixos", deixados sobre o meio ambiente, eram logo decompostos pela ação do tempo (SOUZA, 2001). À medida em que foi "civilizando-se" o homem passou a produzir peças para promover seu conforto: vasilhames de cerâmica, instrumentos para o plantio, roupas mais apropriadas. Começou também a desenvolver hábitos como construção de moradias, criação de animais, cultivo de alimentos, além de se fixar de forma permanente em um local. A produção de lixo consequentemente foi aumentando, mas ainda não havia se constituído em um problema mundial (SOUZA, 2001). Rodrigues e Cavinatto (2003) ressaltam que, foi a partir da Revolução Industrial, no século XVIII, que as fábricas começaram a produzir objetos de consumo em larga escala e a introduzir novas embalagens no mercado, aumentando consideravelmente o volume e a diversidade de resíduos gerados nas áreas urbanas. O lixo é responsável por um dos mais graves problemas ambientais de nosso tempo. Seu volume vem aumentando nos grandes centros urbanos, atingindo quantidades impressionantes. As cidades vêm crescendo, reduzindo o tempo disponível dos cidadãos e os produtos industrializados passaram a fazer parte do nosso cotidiano. Com isso, são geradas quantidades imensas de embalagens, sacos plásticos, caixas, isopor, sacolas, latas, garrafas e muitos outros materiais que demoram muito para se decompor, quando conseguem. (GONÇALVES, 2018). A verdade é que os adjetivos relacionados a falta de higiene não acabam quando jogamos o lixo na lata, como pensa a maior parte da população do planeta. Muito pelo contrário, é justamente esse, o ponto inicial, onde todos os problemas relacionados ao lixo começam a aparecer. COLETA SELETIVA Coleta seletiva de lixo nada mais é do que a separação dos materiais que serão descartados. Por esse motivo, para os programas de reciclagem, ela é vista como um importante instrumento de apoio. A Coleta Seletiva é um importante instrumento de iniciação para a aquisição do conhecimento das interações ambientais, estimulando o desenvolvimento de uma maior consciência ambiental e dos princípios de cidadania pela população. (RISSATO et. al., 2018). O lixo pode ser uma fonte de renda, com o direcionamento cento e um projeto a longo prazo os benefícios são muito valiosos e valorosos. Começaria com a Coleta Seletiva Seria base desse direcionamento, pensando em organização, satisfação social e ambiental, dando fortalecimento a toda uma indústria que economizaria matéria prima e energia (BESEN et al., 2016)


O processo de coleta seletiva pode ser iniciado nas casas, bem como em escolas, escritórios, lojas, restaurantes ou outro tipo de estabelecimento que queira participar de uma campanha dessa natureza. Contudo, não adianta fazer a coleta seletiva se a cidade não tiver infraestrutura adequada para armazenar e comercializar os produtos. (LIMA, 2017). Conforme o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a necessidade de tratamento do lixo surge devido a fatores como: escassez de áreas para a destinação final do lixo; disputa pelo uso das áreas remanescentes com as populações da periferia; valorização dos componentes do lixo como forma de promover a conservação de recursos e inertização de resíduos sépticos. Através da RESOLUÇÃO Nº 275 de 25 abril de 2001, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), estipulou no seu Art. 1º a separação dos resíduos sólidos através das cores padrão, conforme estão descritas na tabela abaixo.

257 Tabela 1: cores padrão para separação de resíduos sólidos Vidros Verde Vermelho

Plásticos

Amarelo

Metais

Azul

Papéis

Preto

Madeiras

Laranja

Resíduos perigosos

RESÍDUOS AMBULATORIAIS E DE SERVIÇOS DE SAÚDE Roxo

Materiais radioativos

Marrom

Resíduos orgânicos (lixo úmido)

Cinza

Resíduos gerais não recicláveis ou misturados, ou misturados não possíveis de separação.

Fonte: Resolução Nº 275 do CONAMA (2001)

A separação do lixo em nossas residências deve ser encarada como uma tarefa de fácil realização, bastando para tal, recipientes adequados e dispostos organizadamente. Atitudes como esta, nos faz cumprir nosso papel de cidadão, além de contribuir com a saúde pública e sustentabilidade do planeta. O DESTINO DO LIXO NA MAIORIA DAS CIDADES Segundo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT): lixão é uma forma inadequada de disposição final de resíduos sólidos, que se caracteriza pela simples descarga do lixo sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. O mesmo que descarga de resíduos a céu aberto. No lixão (ou Vazadouro, como também pode ser denominado), não existe nenhum controle quanto aos tipos de resíduos depositados e quanto ao local de disposição dos mesmos. Nesses casos, resíduos domiciliares e comerciais de baixa periculosidade são depositados juntamente com os industriais e hospitalares, de alto poder poluidor. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a partir de agosto de 2014 não será mais permitido o descarte de lixo à céu aberto. E diz mais, todo o material reciclável deve ser coletado separadamente e aquele que não deve ser aproveitado deve ser levado a aterros sanitários. A Lei que tramitou por quase vinte anos no Congresso é clara quando diz que todo lixão deve ser erradicado. Resta saber e testemunhar se isso realmente vai acontecer – aliás, isso está próximo, muito próximo.


MATERIAL E MÉTODOS A realização deste trabalho se deu através de pesquisa bibliográfica e de campo. Assim, convém ressaltar que este tipo pesquisa é caracterizado como exploratória, tendo em vista um maior número de informações à respeito do campo de estudo. Para levantamento de dados foi elaborado um questionário, visando enriquecer as informações e os resultados. Com intuito de aprimorar a imagem deste trabalho, foram feitas ainda, observações diretas em diversas áreas da cidade de Igaracy – PB, alvejando situações inadequadas de transporte e depósito de lixo. Em vanguarda a essas situações, foram feitos registros fotográficos para ampliar a qualificação da análise. A tabulação dos resultados, foi realizada por meio da ferramenta de cálculos da Microsoft. O universo pesquisado compreendeu 38 (trinta e oito) famílias do município de Igaracy – PB, escolhidas com penas um descrito residir no município. O anonimato foi preservado, uma vez que, do contrário, isso poderia alterar a ética do trabalho. Igaracy situa-se no interior do estado da Paraíba, há aproximadamente 430 km da capital João Pessoa. Sua área territorial é de 192,260 km² e, segundo o IBGE (2010) – Instituto brasileiro de Geografia e Estatística, em 2013 sua população foi estimada em 6.210 habitantes, distribuídos em 1733 domicílios (IBGE, 2019). O dia de sua emancipação data-se pela Lei Nº 2.631 de 22 de dezembro de 1961. Sua economia é liderada pelo comércio, pecuária, funcionários públicos, pensionistas e agricultores aposentados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com o levantamento, verifica-se que 26% dos entrevistados concluiu o Ensino Médio, enquanto 11% ainda estão concluindo ou abandonaram seus estudos no meio do caminho; 24% dos questionados concluiu o Ensino Superior, já 21% deles iniciaram essa modalidade, mas ainda não chegaram a concluir ou abandonaram os estudos; 5% dos entrevistados já fez algum curso técnico; apenas 3% deles já concluiu o Ensino Fundamental e 10% está realizando o mesmo ou, por algum motivo, deixou de estudar ao iniciar essa fase. O percentual de 26% dos questionados ter concluído o Ensino Médio e 24% ter concluído o Ensino Superior pode ser encarado como algo bom, pois a visão e a atitude dessas pessoas podem ajudar numa maior cobrança junto ao setor público na tomada de providências relativas ao lixo. No que diz respeito ao tempo de moradia na cidade de Igaracy, 89% dos entrevistados disseram morar na cidade à mais de oito anos; 8% deles entraram na categoria dos que residem na cidade entre cinco e oito anos e 3% deles moram ou residem em Igaracy na faixa de dois a quatro anos. O fato de quase todos os entrevistados morarem em Igaracy há mais de oito anos é importante porque esses moradores têm uma visão mais ampla sobre a infraestrutura local, uma vez que ele pode avaliar a administração de mais de um gestor, e assim, fazer comparações. Os resultados relacionados ao número de pessoas presente em cada residência. Dos que foram questionados, 53% têm de três a cinco pessoas em casa; 42% de uma a três pessoas e 5% marcaram ter mais de cinco pessoas em casa. Nenhum dos percentuais amostrados demonstram maior importância em relação ao outro, pois todos eles serão levados em consideração, em um outro momento, na hora de calcular o lixo que cada um pode produzir durante determinado espaço de tempo. Levando em consideração a área abrangente e a economia do campo estudado, 100% dos questionados afirmaram ganhar de um a cinco salários mínimos mensal, reconhecendo os valores de programas sociais, agricultura, pecuária e renda fixa enquadradas nesta margem.

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Questionados sobre o conceito de lixo, quase todos os inquiridos disseram que lixo é como algo que se joga “fora” por não ter mais utilidade. Já alguns deles, se referiram ao lixo como aquilo que realmente não pode ser reciclado ou reaproveitado de alguma maneira. Apenas uma pequena parcela dos investigados não quis ou não soube responder. No que se refere ao tipo de matéria presente no lixo de sua residência, deve-se considerar que cada um dos questionados poderia marcar mais de uma alternativa e portanto, esses resultados ficam assim apresentados: 1% para lixo hospitalar, como seringas, luvas e agulhas; 7% para metal; 8% para pilhas e baterias usadas; 18% para vidro; 21% para restos de comida; 21% para plástico, e, liderando esse ranking com 24% de presença no lixo das residências de Igaracy, encontra-se o papel. Diante da apresentação dos percentuais, percebe-se que no lixo das residências de Igaracy está presente uma grande variedade de resíduos, inclusive material hospitalar e radioativo, elevando o risco de contaminação dos moradores e do meio ambiente, sobretudo, porque esse lixo é armazenado homogeneamente e, da mesma forma, ele é recolhido e depositado sobre o solo. A forma de armazenamento de lixo pelo morador, corresponde a 55% dos investigados guardam o lixo em uma lixeira com tampa e que tem saquinho plástico; 13% guardam em uma lixeira com tampa, mas sem saquinho plástico; 5% guardam esse lixo em uma lixeira sem tampa; apenas 3% das pessoas guardam o seu lixo em caixas e 24% marcaram usar outros meios para armazenamento do lixo em casa, como sacolas plásticas e sacos de nylon. O percentual de 55% dos moradores guardar seu lixo numa lixeira que tem saquinho plástico aponta duas características, sendo uma a positiva e uma negativa. A positiva é que com o saquinho, após retirar o lixo, a lixeira já estará limpa para receber a próxima demanda de lixo; a negativa é que esse mesmo saquinho será um item a mais presente no lixo, o que é pior, porque o plástico demora muito tempo para se decompor na natureza. Em relação a consciência dos moradores de Igaracy a respeito da separação do lixo, 42% deles afirmaram que sim, ou seja, têm consciência de separar os descartes, contudo, 58% deles marcaram não ter essa visão. Ou seja, para um universo em que 26% das pessoas indagadas concluíram o Ensino Médio e 24% delas terminaram o Ensino Superior, é possível compreender, sem dúvida, que esse é um resultado lamentável. A informar, os questionados passaram para a questão seguinte, cuja qual lhes pedia o seu ponto de vista sobre coleta seletiva de lixo. Mais de 50% dos indagados, mostraram saber conceituar, a seu modo, o referido termo, contudo, os demais não fazem ideia do que seja isso, ou, não quiseram responder. A frequência de como é feita a coleta de lixo nas ruas de Igaracy. Do total pesquisado, 52% afirma que na sua rua a coleta é feita uma vez por semana; já 45% diz que na sua rua essa coleta é realizada duas vezes por semana; apenas 3% denota que na sua rua a coleta é realizada a cada quinze dias. Assim, a visão de como é realizada a coleta de lixo em Igaracy. Segundo 87% dos moradores investigados a coleta é feita em todas as casas; 8% deles disseram que tal coleta é feita de outra forma: um caminhão passa recolhendo o lixo; e 5% desse alvo denotou haver uma caçamba próximo da sua residência para coletar o lixo delas. Em observações feitas no campo de pesquisa, foi possível constatar que a coleta é realizada por um caminhão basculante, cujo qual, passa recolhendo os restos residuais de todas as casas. Um dado importante, diagnosticado durante a pesquisa, está relacionado ao lixo do matadouro público: os restos dos animais abatidos são depositados diretamente no caminhão que recolhe o lixo daquela rua, estrategicamente escalado para a quarta-feira – dia de abatimento dos animais. Em se tratando do tempo que o lixo é colocado para fora antes da realização da coleta, 50% dos moradores questionados indicaram que colocam o seu lixo à ser coletado menos de uma hora antes; já 26% dessa margem expõem seu lixo quatro horas antes da coleta, aumentando o risco de

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contaminação às pessoas e animais; 16% antepõem o lixo duas horas antes e 8% dos questionados enunciaram que seu lixo é sobreposto três horas antes da realização da coleta. Quanto ao transporte desse lixo até o seu destino, a resposta atestada pelos moradores interpelados também foi unânime, ou seja, todos eles certificaram que esse transporte é feito por um veículo aberto (Figura 1), correndo o risco de dispersão desse lixo pelas ruas e avenidas da cidade, aumentando, dessa forma, a sujeira e o risco de contaminação. Figura 1: carro que coleta o lixo da cidade

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Fonte: Própria (2014)

Em relação ao destino desse lixo, a Figura 2 mostra um parecer claro e preciso às respostas dos moradores entrevistados. Todo o lixo produzido pela cidade é depositado em um “lixão” a céu aberto que fica próximo à cidade, onde é possível observar partes de animais que foram trazidos do matadouro e demais tipos de resíduos. Essa população não sabe ou ignoram, mas essa sujeira uniforme pode provocar sérias doenças as pessoas e animais, inclusive a degradação do solo. Se no Brasil as leis fossem cumpridas isso estaria perto de acabar, pois aquela que tramitou por mais de vinte anos no Congresso foi finalmente sancionada e os municípios têm pouco tempo para se adequarem as mudanças que rege a Lei ou serão punidos. Contudo, os gestores não demonstram preocupação alguma a tudo isso e continuam a ignorar o fato tão grave. Figura 2: local de depósito de todo o lixo da cidade – lixão

Fonte: Própria (2014)


Finalmente, quando inquirido se ele (o morador) já tinha pensado em alguma forma de reaproveitar o lixo, 47% proferiram que sim, porém, quase todo esse percentual não souberam ou não quiseram mostrar como fazer isso, exceto três pessoas que citaram o processo de reciclagem como método de reaproveitamento, porém, na cidade não há nenhum ponto de coleta de materiais recicláveis; os outros 53% nunca pensaram em reaproveitar o lixo. O levantamento de dados realizado in situ, constatou que a cidade de Igaracy – PB não dispõe de coleta seletiva de lixo, muito menos depósito adequado para o seu armazenamento. Em observações diretas, foi possível precisar que o garis e coletores não fazem uso de qualquer equipamento de proteção individual, também chamados de EPI. Contudo, o fato principal e mais impressionante que foi diagnosticado por esta pesquisa, é que a população local, apesar de ser bem instruída, não tem a percepção de separar, nem de reaproveitar o lixo, ou seja, são pessoas que sabem dos riscos, das consequências desses hábitos, mas não têm a mínima consciência. Sabe-se que até agosto de 2014 todo lixão deveria ter sido extinto, porém os gestores demonstram está pouco preocupado com isso. A cidade em questão até tem um projeto para construção de um aterro sanitário, no entanto, ainda não dispõe de nenhuma proposta de conscientização popular, muito menos de recursos.

CONCLUSÕES Ao acessar este estudo, que visou radiografar a consciência da população do município de Igaracy – PB, sobre a problemática do lixo por ela gerado, conclui-se que parte de seus moradores não têm a mínima preocupação com a sua saúde e bem estar, o que contribui com o poder público a arquivar todo e qualquer projeto de adequação de coleta seletiva de lixo para o município em questão, necessitando urgentemente de um plano de conscientização à esta massa cidadã. Esperamos haver continuidade de trabalhos que fiscalizem e informe a sociedade sobre problemas sociais, assim como propicie conhecimento para entendimento de problemas políticos administrativos e da ação do poder público para que se cumpra as leis de forma coerente e satisfatória.

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Capítulo 30 PERCEPÇÃO DOS PRODUTORES HORTÍCOLAS SOBRE O CONSUMO DE ALIMENTOS ORGÂNICOS NO MUNICÍPIO DE TEIXEIRA – PB

SANTOS, Mônica Soares dos Graduanda em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba Monnica.soares@hotmail.com MEDEIROS, Jaislany da Siva Graduanda em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraíba jaislanymedeiros@gmail.com SILVA, Érik Serafim Pós-graduando em Biotecnologia Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI) erik.silva26@escola.pb.gov.br MEDEIROS, Weverton Pereira de Mestre em Sistemas Agroindustriais Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) weverton_cafu@hotmail.com.br ANDRADE, Romário Oliveira de Doutor em Engenhara de Processos (UFCG) Universidade federal de Campina Grande romaioandradeufpb@gmail.com

RESUMO A busca por alimentos saudáveis e mais nutritivos aumenta a cada dia, devido aos grandes benefícios a saúde, e preservação ao meio ambiente, fazendo com que muitos consumidores se rendam a alimentos livres de qualquer química. O objetivo dessa pesquisa foi avaliar a percepção dos produtores sobre o consumo de alimentos orgânicos no município de Teixeira – PB. Foram utilizados para o presente estudo, 35 questionários compostos de 09 questões entre fechadas e de múltipla escolha que abordavam temas como faixa etária, gênero, nível de escolaridade, percepção sobre produtos orgânicos, frequência do consumo, A facilidade em encontra-los, quais os tipos de hortaliças mais consumidas, entre outros itens abordados. As perguntas que foram executadas buscaram compreender a importância que o consumo tem para a população, questionando sobre sua percepção com benefícios à sua saúde como também o impacto com o meio ambiente. Ao final, a pesquisa permitiu obter resultados satisfatórios, apesar da maioria dos consumidores terem facilidade de comprar os produtos orgânicos, tem poucas opções de pontos de venda para atender toda a população Teixeirense. Podendo concluir que os preços não interferem na comercialização dos produtos, mas a disponibilização de locais de venda dos mesmos. PALAVRAS-CHAVE: Alimentos; Produtos orgânicos; Saúde.

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INTRODUÇÃO A busca por alimentos mais nutritivos e saudáveis a cada dia ganha mais adeptos, por causa da preocupação com a saúde e a preservação do meio ambiente, e isso tem contribuído para impulsionar o consumo de alimentos orgânicos, cujo mercado cresceu em torno de 20% ao ano, nos últimos anos (HOEFKENS et al., 2009; SCIALABBA, 2005; FAO, 2011). Com o aumento da procura por este tipo de produto cresce também a produção. Segundo a Coagre (2017), houve um salto de 6.700 mil unidades (2013) para aproximadamente 15.700 (2016). Ou seja, em apenas três anos, foi registrado mais do que o dobro de crescimento deste tipo de plantio em solo brasileiro. Os alimentos orgânicos são provenientes de sistemas de produção agrícola que, visam manejar, de forma equilibrada, o solo e os demais recursos naturais como água, vegetais, animais, macro e microrganismos, procurando minimizar os impactos ambientais dessa atividade graças à eliminação do uso de agrotóxicos e de quaisquer adubos minerais de alta solubilidade nas práticas agrícolas, conservando-os em longo prazo e mantendo a harmonia desses elementos entre si e com os seres humanos (ORMOND et al., 2002). A produção de alimentos orgânicos no Brasil conta com apoio de várias ações como programa de aquisições de alimentos (PAA) e o programa nacional de alimentação escolar (PNAE). O sistema de compras institucionais do ministério do desenvolvimento social e agrário (MDSA) em que os produtos orgânicos podem ter um acréscimo de até 30% em seu valor, teve um aumento muito grande de pessoas buscando a produção orgânica, isso porque não só melhora para eles em termo de qualidade de vida no campo, quanto melhora a questão econômica, por apresentar maior rentabilidade, além de não se utilizar agrotóxicos na produção de alimentos orgânicos deve ser feita de forma que conserve os recursos naturais, garantindo a biodiversidade, evitando impactos ao meio ambiente. A Associação de Agricultura Orgânica define a produção como um processo produtivo comprometido com a organicidade e sanidade da produção de alimentos vivos, para garantir a saúde dos seres humanos, utilizando tecnologias apropriadas á realidade do local de produção. O processo de produção orgânica não utiliza agrotóxico e promove a restauração e manutenção da biodiversidade. Além disso, a agricultura orgânica utiliza fertilizantes naturais, com adubação através de leguminosas fixadoras de nitrogênio, adubo orgânico proveniente de compostagem, monocultura, manejo de vegetação nativa e rotatividade de culturas, uso racional de água e outras técnicas que sejam adaptáveis á realidade do local. Suas principais vantagens são: Os alimentos são mais saudáveis, pois são livres de agrotóxicos, hormônios e outros produtos químicos; São mais saborosos; sua produção respeita o meio ambiente, evitando a contaminação de solo, água e vegetação; a produção usa sistemas de responsabilidade social, principalmente na valorização da mão de obra. E a única desvantagem, no momento, é que são mais caros do que os convencionais,

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pois são produzidos em menor escala e os custos de produção também são maiores. Porém, com o aumento da produção, futuramente os preços dos orgânicos poderão ficar mais baixos.

MATERIAL E MÉTODOS Para esse estudo, a população alvo foi composta por agricultores que, especificamente, produzissem hortaliças e participassem da feira livre, que ocorre no município de Teixeira, no estado da Paraíba.

CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO Para esta pesquisa, foi utilizada a técnica de entrevista estruturada para a coleta de dados. De acordo com Gil (2007), a entrevista estruturada se desenvolve a partir de uma relação fixa de perguntas. Esta técnica consiste em fazer uma série de perguntas a um informante, conforme roteiro preestabelecido, onde esse roteiro pode constituir-se de um formulário/questionário que será aplicado da mesma forma a todos os informantes/sujeitos da pesquisa. Para a coleta de dados foi elaborado um questionário composto por 09 questões fechadas. Segundo Malhotra (2006), “[...] questões estruturadas oferecem a vantagem de reduzir a interferência do entrevistador, além de facilitar o preenchimento do questionário”.

RESULTADOS E DISCURSÕES Em relação ao gênero dos consumidores entrevistados, pode-se observar conforme os resultados apresentados na (Figura 1), que as mulheres são bem mais representativas (54%), que os homens (46%). Esse motivo justifica-se pelo papel realizado, em diversas vezes, devido ser mulher a realizar a compra dos mantimentos nos lares, sendo, portanto, responsável pela decisão de quais alimentos serão consumidos pela família (SILVA et al., 2008). Relativo à faixa etária dos consumidores, o resultado encontra-se entre 29 a 69 anos de idade. Brandenburg (2002) explica que esta é uma faixa de idade onde as doenças relacionadas ao consumo de alimentos, como colesterol alto, diabetes e pressão alta costumam a aparecer, confirmando a preocupação com a saúde destes indivíduos.

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Figura 2. Gênero dos entrevistados.

Fonte: Autoria própria (2018).

Quanto ao grau de escolaridade, pode-se verificar que do total de entrevistados, 14 possuem ensino fundamental incompleto, 10 ensino médio completo, 5 são analfabetos, 3 possuem o ensino fundamental completo e 3 tem ensino superior (Figura 2). O perfil aqui obtido não se assemelha ao obtido por Cerveira; Castro (1998) em estudo realizado em São Paulo/SP e por Cuenca et al. (2007) no Rio Grande do Norte e ao Francisco et al. (2009) em estudo realizado em São Paulo onde observou que a maioria dos entrevistados possuam nível superior completo ou pósgraduação. Figura 3.Nível de escolaridade dos respondentes.

Fonte: Autoria própria (2018).

Na pesquisa realizada na feira livre em Teixeira- PB, ao serem questionados sobre o conhecimento de produto orgânico, 89% dos entrevistados afirmaram que sim, relatando saberem que são os alimentos “sem veneno”, ou seja, livres de agrotóxicos, hormônios e fertilizantes e

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11% responderam negativamente demonstrando não saberem o que é um produto orgânico (Figura 3). Dados semelhantes foram obtidos por Momesso et al. (2009) em seis bairros de Campo Grande/MS os quais identificaram que 54,4% dos entrevistados responderam que sabem o que é produto orgânico e 29,6% não sabem. Figura 4. Conhecimento dos entrevistados sobre alimento orgânico.

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Fonte: Autoria própria (2018).

Em relação à frequência de consumo de produtos orgânicos (Figura 4), em primeiro lugar, estão aqueles que consomem muito frequente (10); porém, em segundo lugar, já aparecem aqueles que consomem “às vezes” (8); em terceiro estão os que consomem raramente (7); frequentemente (5); por último, aqueles que nunca consumiram tais produtos (4). Estes resultados são diferentes aos encontrados por Pimenta et al. (2009), onde 33,3% dos entrevistados responderam que consomem alimentos orgânicos com frequência e 28% responderam que não consomem. Figura 5. Frequência do consumo de produtos orgânicos pelos respondentes.

Fonte: Autoria própria (2018).


Observa-se que a maioria dos consumidores de produtos orgânicos também consomem produtos convencionais. Assim, embora sejam fiéis aos produtos naturais, eles não dispensam o consumo de produtos tradicionais. O motivo desse tipo de opção não se deve tanto à preferência pelo produto convencional, mas sim pela falta de opção de produto similar orgânico, pois ao longo da realização das entrevistas, vários consumidores lastimaram a falta de maior variedade de hortaliças e frutas orgânica. De acordo com o exposto na (Figura 5), onde os entrevistados tinham que apontar apenas “sim” ou “não” quanto à facilidade de acesso à compra de produtos orgânicos, 57% afirmaram que sim, há facilidade. Diante deste resultado, verifica-se que apesar da maioria dos consumidores afirmarem ter facilidade de compra desses produtos, há uma certa preocupação, pois tem poucos pontos de venda na cidade. Então, se fosse ampliada a oferta de pontos de venda e regularidade desses produtos nos supermercados, mercearias, feiras etc., poderia ampliar esse comércio e assim, dar opções mais saudáveis a população. Brunini et al. (2011), em um levantamento conduzido junto a consumidores de São Joaquim da Barra – SP, debatia em uma das questões, a facilidade/dificuldade no acesso à compra de produtos orgânicos, dos entrevistados, 43,24% responderam que acham fácil a aquisição dos produtos orgânicos; 40,54% difícil esta aquisição; 16,32% não souberam responder. Os entrevistados destacaram também que, para encontrar produtos orgânicos é preciso acordar cedo pra ir à feira, porque é o único lugar que encontrar os alimentos fresquinhos, principalmente as hortaliças e frutas. Figura 6. Acesso para compra de produtos orgânicos pelos entrevistados.

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Fonte: Autoria própria (2018).

Conforme a (Figura 6), foi apresentada uma relação de produtos para que os respondentes escolhessem até três, que mais consumiam, conforme segue: hortaliças,

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frutas, milho e feijão. Destaca-se que, a opção com maior aceitabilidade foi às hortaliças com 37%; na sequência, as frutas com 23%, milho com 21% e por último o feijão, com 19%. Wander et al. (2007), em seu questionário, perguntou quais produtos específicos eram mais consumidos pelos respondentes e obteve: 84,29% consomem hortaliças; outros produtos que também aparecem nas preferências de compra de alimentos orgânicos são as frutas, leite e feijão. Figura 7. Tipos de produtos orgânicos consumidos pelos respondentes.

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Fonte: Autoria própria (2018).

Esta questão foi elaborada para verificar, especificamente, as hortaliças de maior consumo, caso o respondente escolhesse, na questão anterior (Figura 6), tal opção. Em relação à preferência pelas hortaliças (Figura 7), a Alface se destacou, tendo sido escolhida 24 vezes; tomate 16 vezes, cenoura 8 vezes; pimentão 6 vezes. Por último ficou a batata inglesa com 4 escolhas. Os resultados encontrados são semelhantes ao encontrado por Zakabi (2012), que avaliaram que as hortaliças orgânicas mais consumidas forma: alface, coentro, cebolinha, tomate, pimentão e cenoura.


Figura 8. Hortaliças orgânicas que os entrevistados mais consomem.

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Fonte: Autoria própria (2018).

Com relação ao que os entrevistados acham do preço dos produtos orgânicos (Figura 8), 86% disseram achar os produtos livres de defensivos agrícolas mais caro que os produtos similares cultivados com agrotóxicos. Com a falta de opção e o maior acesso do produto convencional concluem o fato de que os produtos orgânicos poderiam estar mais presente na vida dos consumidores, pois muitos aspectos negativos dificultam a realidade das pessoas em aceitar um estilo de vida distinto. Já os 14% que afirmaram não ser mais caros, é porque na feira da cidade os preços dos alimentos orgânicos são iguais aos não orgânicos. A afirmação de que o "consumidor acha que os produtos orgânicos são mais caros que os convencionais" é semelhante a pesquisas realizadas em outros estados, como a do Paraná feita por Darolt (2002), que, apesar da maioria (62,7%) afirmar que considera os preços mais altos em relação aos tradicionais, o consumo continua crescendo.


Figura 9. Se os entrevistados acham o valor a pagar pelos produtos orgânicos mais elevados que os convencionais.

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Fonte: Autoria própria (2018).

CONCLUSÃO A comercialização de produtos orgânicos e suas características são positivas para o município de Teixeira-PB, porém há muita falta de opção e viabilidade. São consumidores que pagariam mais por um produto de qualidade, sem dúvidas, pois o fator preço, nessa pesquisa, foi de pouca relevância. Porém, muitas vezes, as opções, os pontos de venda e o acesso restringem tais consumidores. Como os produtos orgânicos ainda é um mercado relativamente novo, seu espaço ainda não foi ocupado totalmente. Desta forma, se fosse ampliada a oferta de pontos de venda e regularidade desses produtos nos supermercados, mercearias, feiras etc., aumentaria o consumo de orgânicos, dando opções mais saudáveis à população.

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Capítulo 31 CAPRINOS DE ORELHAS RUDIMENTARES: HISTÓRICO, CONSERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DE CAPRINOS LANDI

SILVA, Renata Costa da Licenciada em Ciências Agrárias Universidade Federal da Paraiba renata_costa_sl@hotmail.com SANTOS, Severino Guilherme Caetano Gonçalves dos Pesquisador no Núcleo Sistemas de Produção Animal Instituto Nacional do Semiárido – INSA severino.santos@insa.gov.br GOMES, Isaac Araújo Pós-graduando em Biotecnologia Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI) isaacbiomed1@gmail.com ARAÚJO, Alexandre Eduardo de Professor Associado do departamento de agricultura Universidade Federal da Paraíba alexandreeduardodearaujo@hotmail.com

RESUMO No estado da Paraíba é comum encontrar rebanhos caprinos oriundos de cruzamento sem manejo adequando e com uma seleção natural, surgindo vários caprinos locais. A raça de caprinos Landi ou Nambi tem rusticidade e boa adaptação ao clima semiárido brasileiro, sendo criados em sistema de baixa tecnologia, adquiriram resistência a doenças já encontradas na região. Os caprinos têm grande contribuição sociocultural na região, são um símbolo de resistência da cultura nordestina. As famílias que são criadoras da raça Landi se consideram suas guardiãs, mostraram grande interesse de uma busca histórica das características dos animais que possuem a orelha rudimentares. O objetivo deste trabalho é realizar o levantamento de informações que subsidie estudos prospectivos sobre o resgate e a conservação de caprinos Landi na região do Cariri Oriental do Estado da Paraíba. O estudo é do tipo exploratório e analítico, na qual foi desenvolvida uma revisão bibliográfica realizada a partir da seleção de materiais clássicos, publicados em revistas, livros e bases eletrônicas em língua inglesa e portuguesa, os procedimentos para a coleta de dados foram à utilização dos descritores: caprinocultura (goatbreeding), caprinos Nambi, La Mancha, short-earsgoats, smalleargoats, separadamente ou em conjunto. Observa-se a descrição da chegada dos caprinos no território brasileiro, sua evolução até chegar aos caprinos que hoje são conhecidos como caprinos localmente adaptados. Considera-se ainda que apenas estudos com o objetivo de conservação não garantem por muito tempo a existência das raças que estão em risco de extinção, é preciso compreender mais sobre o potencial produtivo e econômico, os novos mercados para tais produtos oriundos desses animais, como o mercado orgânico que pode ajudar na economia das famílias do campo. PALAVRAS-CHAVES: agricultura familiar, caprinos locais, conservação genética, rusticidade.

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INTRODUÇÃO A evolução dos animais domésticos tem sido moldada pelo homem ao longo das gerações, como por exemplo, a expansão das espécies seguiu com a rota migratória e o estabelecimento do ser humano nas mais diversas regiões (EGITO, A.; MARIANTE, A.S.; ALBUQUERQUE 2002). As espécies de animais hoje consideradas domesticadas como os bovinos, caprinos, ovinos, aves, abelhas, peixes e suínos, dentre outros, foram selecionadas através do tempo por seleção natural e artificial. As espécies de animais seguiram a evolução dos seres humanos sendo distribuídas em vários habitats sendo submetidos a manejo, climas e condições sanitárias diferentes sendo expostos a agentes virais e bactérias a cada local em que eram realocados assim com a seleção natural surgiram diferentes raças localmente adaptadas ou naturalizadas em determinada região. A espécie caprina (Capra hircus) é a mais vastamente distribuída no mundo, sendo a primeira espécie leiteira a ser domesticada (DOMINGUES, 1968) possivelmente no Oriente Médio (HEISER JUNIOR, 1977). Os rebanhos existentes no Nordeste do Brasil são compostos por raças exóticos como Saanen, Anglonubiana, Alpina e Boer, as raças locais Canindé e Moxotó, além dos grupos genéticos Marota, Repartida, Azul e Graúna. No entanto, a maioria dos caprinos existentes nessa região é considerada sem padrão racial definido (SPRD) (MACHADO et al., 2000). No Nordeste brasileiro, há um grande número de caprinos Sem Padrão de Raça Definida (SPRD), onde são criados sem intervenção tecnologia para controlar a reprodução dos animais, acontecendo assim de uma forma natural, surgindo assim vários ecótipos locais. Neste cenário destacam-se as raças locais, que apresentam características de adaptação particulares às condições edafoclimáticas do Semiárido brasileiro, prevalecendo principalmente na produção familiar (NOGUEIRA FILHO, 2003). Dentre os animais consideradas crioulo, encontra-se o grupo genético denominado localmente de Landi em algumas regiões podem ser denominadas de Nambi, Muvô, Zurê ou Muquila. As famílias de produtores rurais que criam essa raça se consideram como suas guardiãs, buscando preservar suas características, pois elas são importantes para as famílias enquanto fonte de renda e de alimentos. Apresenta uma característica única da raça, orelhas rudimentares, o que permite que os animais tenham uma facilidade de se locomover na caatinga e permite que predadores, como cachorros, tenham dificuldades no momento de aprisionar as presas. O nome dado a cabras com orelhas rudimentares, Nambi, significa orelha em tupi-guarani. A característica principal do caprino chamada Nambi, é ter orelha rudimentar (SANTOS, 1987; BARROS, 1987). Vale destacar, que existem poucos estudos a respeito de caprinos de orelhas rudimentares no mundo, por exemplo, os da raça Landi ou Nambi que foram feitos por Araújo et al. (2008) e Castelo Branco (2010).

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Os Landi que são animais que se adaptaram tão bem ao semiárido formando rebanhos na Paraíba e Piauí, tais animais ganharam a simpatia dos criadores por serem dóceis, isto facilita o manejo, conquistaram muita a atenção das crianças que demonstram muito interesse pelos animais que tem a orelha pequenina. Criados nessa regiões a mais de 30 anos ganharam mais resistência a o clima quente e com pouco volumoso. Visto que esses animais possuem grande valor histórico e social para as populações do semiárido e contribui para alimentação das famílias com a produção de leite e o consumos de carne, o presente estudo tem como objetivo realizar o levantamento de informações para subsidiar estudos prospectivos sobre o resgate para a conservação e levantamento histórico de caprinos Landi na região do Cariri Oriental do Estado da Paraíba.

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METODOLOGIA O trabalho é do tipo exploratório e analítico, na qual foi desenvolvida uma revisão bibliográfica a partir da seleção de materiais clássicos e atuais, publicados em revistas e periódicos nacionais e internacionais, livros, dissertações, teses, sites, buscando detalhes sobre indicadores populacionais e produtivos, conservação e uso de caprinos de orelhas rudimentares no Brasil e no mundo. O método utilizado para coleta de informações foi por meio do uso de descritores ou palavras chaves em português e inglês, como por exemplo: caprinocultura 10 (goatbreeding), rudimentar e aredgoats, caprino Nambi, La Mancha goats, separadamente ou em conjunto. Esta pesquisa não estabeleceu restrições ao ano de publicação dos artigos, teses dissertações e outros publicações. Após a classificação e organização do material bibliográfico, as publicações foram analisadas e extraídos os principais resultados. Com a utilização dos descritores acima foi possível chegar as principais características do grupo de caprinos locais Landi citados em sua maioria nos artigos como Nambi assim a revisão em questão tratara de uma resgate da formação desse grupo de animais no mundo até achegada no nordeste brasileiro, buscando assim estabelecer as descrições das características dos Landi no Cariri Oriental da Paraíba (Figura 1).Os procedimentos metodológicos adotados no decorrer da pesquisa foram: Estudo documental e bibliográfico; A fim de buscar as referências necessárias para o desenvolvimento do trabalho, a primeira etapa constituiu-se de um levantamento bibliográfico por meio de pesquisas em artigos, monografias e relatórios que abordassem sobre o contexto em estudo nesse trabalho. Assim, a revisão possibilitou organizar um quadro teórico que serviu de alicerce para verificar as constatações, opiniões e variáveis oriundas de estudos anteriores associados à avaliação da conservação de caprinos Landi.


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RESULTADOS E DISCUSSÃO Conservação de recursos genéticos Ao longo dos anos a FAO vem desenvolvendo projetos visando à conservação dos recursos genéticos dos animais tanto domésticos como silvestres, por isso cada país tem por obrigação mostrar relatórios sobre as tendências e situação de conservação dos recursos genéticos sua contribuição para agricultura e famílias. Com as medidas tomadas por cada nação buscando a preservação tem conseguido manter a conservação de raças que estão em risco de extinção, claro que ainda há grandes desafios a enfrentar 13 como aceitação dos populares de cada região a gostarem e preserva determinada espécies. As prioridades estratégicas para a ação, incluídas no presente Plano de Ação Mundial para os Recursos Genéticos Animais, propõem ações específicas destinadas a reverter as tendências atuais de erosão e de subutilização dos recursos genéticos animais. A implantação das prioridades estratégicas para a ação constituirá uma contribuição significativa para com os esforços internacionais de promovera segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável, além de mitigar a pobreza, em conformidade com as Metas de Desenvolvimento do Milênio e outros compromissos internacionais (FAO, 2007). A maioria dos estudos realizados no Brasil são de aptidão produtiva principalmente de animais exóticos. Porém, também se faz necessário a conservação dos tipos naturalizados, que apresentam características genéticas produtivas compatíveis com o ambiente da região (MEDEIROS, 2003). Os programas de conservação de recursos genéticos animais devem conter


essas principais etapas. Fazer a identificação pelo meio de levantamento numérico da população ou rebanhos de animais em uma determinada região que possam está em risco de diluição genética. Realiza caracterização morfométrica dos animais quanto às características qualitativas, utilizando-se

ferramentas

diversas:

RestrictionFragmentLengthPolymorphism(RFLP);

AmplifiedFragmentLengthP olymorphism(AFLP); Radon Amplified Polymorphic DNA (RAPD); micros satélites e etc., mensurando-se as diferenças entre e dentro das populações e por fim, a avaliação do potencial produtivo dos rebanhos, com dados de produção de carne, leite, pele e pêlos (MARIANTE et al., 1999). No estado da Paraíba e comum a utilização de raças Anglonubiana e Bôer, advindas da África, introduzidas na região do cariri visando o melhoramento genético para a produção de carne, tais animais trazidos de um clima muito semelhante ao brasileiro é a principal via alternativa para o melhoramento genético das raças locais de regiões pobres contribuindo para alimentação das famílias, este fator contribui para a substituição muito elevada das raça locais como Landi,enquanto estas se encontram em franco processo de diluição genética (OLIVEIRA et al., 2001). Dentre as justificativas apresentadas, destaca-se a importância desses animais como recurso biológico, por serem dotados de grande variabilidade genética, além do seu valor histórico e social (RIBEIRO et al., 2006). Nessa linha de raciocínio os sistemas de produção tradicionais, ecológicos e no âmbito da agricultura familiar, são beneficiários da utilização de recursos genéticos caprinos com características de rusticidade, pela agregação de valor social e ambiental aos produtos originários de caprinos nativos (CASTELO BRANCO 2010). Os caprinos Landi, e as demais raças nativas e SPRD, são animais com uma grande carga de importância para região do Cariri Oriental da Paraíba tem recebido a atenção de produtores e de instituições ligadas a conservação de raça como e o caso do Instituto Nacional do Semiárido (INSA) com a ajuda dos produtores foi feito levantamento histórico sobre os Landi na região buscando entender como se sucedeu sua chegada.E levantamento realizado junto a técnicos da caprinocultura brasileira no início dos anos 1990 mostrou que eles conheciam apenas indivíduos, mas não rebanhos inteiros assim caracterizados (MACHADO, 1995).

Formação das características de rusticidade dos caprinos no semiárido. Há indícios históricos que nos leva a acreditar que a maior parte das raças de caprinos que hoje constitui o plantel brasileiro foi introduzida no período colonial no ano de 1535. No Brasil, o rebanho nacional de caprinos é de aproximadamente 10 milhões de cabeças, onde mais de 90% do rebanho encontra-se na região Nordeste, sobretudo, em zonas semiáridas, com a maioria dos rebanhos de caprinos formado por animais considerados “Sem Padrão de Raça

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Definida (SPRD)” ou “crioulos”, produto de cruzamentos indiscriminados entre raças exóticas e nacionais. MACHADO (2000). A seleção natural das características peculiares desses animais ocorre de forma livre com animais sendo criados no sistema semi-extensivo soltos na Caatinga durante o dia e recolhidos a noite, enquanto a seleção artificial é feita por intervenção humana onde vai selecionar as características que pretende preservar. Este processo de seleção das características de interesse é extremamente lento e gradual, os humanos selecionaram raças com base em características físicas e produtivas para atender às suas necessidades e requisitos (GHOTGE & RAMDAS, 2003). A caracterização é a principal ferramenta para conservar raças que estão em risco de extinção, esses animais perderam suas particularidades seja de produção ou de rusticidade devido a seleção natural ou a introdução de animais exóticos visando a produção.Outros grupos genéticos adaptados em maior estado de pureza encontram-se em vias de extinção, mas poderão assumir papel preponderante no desenvolvimento dessa região, em razão das suas características peculiares (ARAÚJO et al., 2006). Por serem animais de fácil adaptação a climas diferentes e com uma boa aceitação a diversas plantas da Caatinga, os animais locais, mais especificamente os Landi, apresentam rusticidade ao ambiente semiárido, podendo suportar longos períodos de falta de volumoso em quantidade adequada, como capim consumindo as plantas nativas da região, mais mantendo sua produção de leite, carne e peles em termos mais baixos por falta de uma alimentação mais rica em fibras. No Nordeste brasileiro é comum utilização da figura dos caprinos como patrimônio histórico e cultural, sendo elemento central de grandes festas anuais promovidas pelas cidades, com a utilização de comidas típicas derivadas da carne caprina e de seus subprodutos, dando vazam as peles em artesanatos e os produtos derivados do leite dos animais. Um grande exemplo é a festa do Bode Rei em Cabaceiras- PB é um evento de repercussão internacional, nos mostra que os caprinos na região Nordeste têm sua formação sendo construída durante os séculos passados contribuído para identificação da região.

Caprinos de orelhas rudimentares no Brasil e no Mundo Estudos existentes registrarão que as cabras-do-nabal são as ancestrais das demais raças que possuem a orelha rudimentar, sendo a primeira espécie a ser catalogada com essa característica na antiga Pérsia tais animais possuem a orelha menos que os padrões da época para as demais raças que ali coexistiram, as cabras Ealessde La Mancha, Espanha, hoje conhecida mundialmente como Espanhol Murciana foi a primeira raça de orelha rudimentar a chegar nos EUA, sendo a principal raça na contribuição genética da La Mancha Americana. Pra chegar na originalidade da raça La Mancha Americana foi feita uma agregação dos genes das raças La Mancha Espanhola ou Espanhol Murciana com diversas raças como a ALPINA: Denominada

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Parda Alpina Origem: Região dos Alpes Francês e Suíço. Também for agregado ao genes da La Mancha a raça TOGGENBURG:Vale Toggenburg ao norte da Suíça, e a NUBIANA: Origem: Sudão, numericamente a mais importante cabra leiteira na Europa. As orelhas reduzidas são também o principal traço de identificação da raça caprina La Mancha; formada na Califórnia, EUA, a partir de cabras espanholas introduzidas através do México (MASON, 1988). MANCHA AMERICANA :Sua pelagem devido a sua origem apresenta grande variedade de cores. Tem perfil reto ou ligeiramente sub-côncavo e orelhas atrofiadas. Produzem entre 500 e 750 kg por lactação. As fêmeas pesam mais de 58 kg, enquanto que os machos superam os 76 kg (SILVA, 2015). Podendo também apresentar corpo: dorso lombar reta e bastante peluda: cernelha seca; peito largo e profundo; abdômen amplo, profundo e desenvolvido e pescoço mais compacto no macho. As orelhas rudimentares das cabras Landi é provinda do gene autossômico de dominância incompleta. Isso nos diz que o indivíduo heterozigoto tem orelhas de tamanho intermediário. O lócus é denominado 'earlenght' ou 'EL' e os seus alelos 'Reduced' e 'wild'', representados por 'R' e '+', respectivamente (COGNOSAG, 1986). Com o passar do tempo ocorrendo seleção natura das raças locais, os animais com a característica de orelha rudimentar ou pequena se tornaram altamente adaptados a região do semiárido paraibano mais precisamente na região do Cariri Oriental onde esta sendo feito um estudo sobre sua adaptação e levantamento de dados sobre suas características fenotípicas, história e economia por parte da população, foi encontrado rebanhos nas cidades de Boqueirão e Caraúbas, as famílias produtoras da raça Landi se transformaram em guardiãs desses animais buscando preserva a raça pois esses animais são de extrema importância, contribui para alimentação das famílias quando falta alimento e uma fonte de renda com a venta do leite, carne e pele.

O projeto realizado pelo Instituto Nacional do Semiárido com o titulo Caracterização fenotípica de caprinos da raça Landi na região do Cariri Oriental busca, por meio da pesquisa-ação, conhecer os sistemas de produção onde são criados esses animais, características morfoestruturais da raça

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Landi visando sua conservação e uso pelas famílias agricultoras; Com a utilização de câmeras de vídeos realizaram entrevistas com as famílias guardiãs da raça Landi, os populares mais antigos relataram que nos anos noventas foram introduzido animais com o gene característico da orelha rudimentar se destacaram das outras raças por terem uma facilidade para adaptação ou clima quente do semiárido e uma boa aceitação a plantas xerófilas constituídas de arbóreos, arbustivo e herbáceas. (Relato feito no O Candeeiro, Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas. Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba.Guardiões das cabras Landi no Cariri Oriental: a experiência de Reginaldo e Rosinete. Ano 2016.) Os caprinos Landi são criados na região do Cariri Oriental no estado da Paraíba nos municípios de Boqueirão e Caraúbas onde são criados com a finalidade para produção de leite e mais pra carne tais produtos são distribuídos em cooperativas na região que são captadoras desses derivados, e também contribui para alimentação das famílias principalmente de crianças, com o surgimento do artesanato as peles dos animais são muito requisitadas. Os fenótipos desses animais tem bastante variação de uma cidade pra outra, a cor da pelagem varia entre branco, castanho e preto, podendo ou não apresentar brincos e chifres, isso se dar por conta da introdução de animais exóticos no estado e com os cruzamentos dessas raças com as locais, o peso das fêmeas varia entre 40 a 57 quilos, os machos são mais pesados ficando em torno de 57 a 58 quilos. O principal descritor é o tamanho reduzido da orelha podendo assim toma como Landi os caprinos com orelha do tamanho de 2 cm ou um pouco maior que isso chegando a 9cm ainda sendo considerados Landi por conta do cruzamento natural entre os animais haverá essa discrepância. A orelha reduzida das cabras tem comprimento de cerca de dois centímetros, 12 cm na Moxotó, 13 cm na Canindé e 22 cm, em média, nas cabras tidas como 'de orelhas longas' entre as sem raça definida do Ceará (MACHADO, 1995).

CONCLUSÃO Devido a exploração das raças exóticas, por conta de sua alta produtividade, houve uma perda de interesse dos criadores em continuar criando as raça nativas de uma forma geral, desta forma ocorreu perda dos recursos genéticos desses animais.Nesse contexto é importante informar a população sobre o nicho de mercado que as raças locais têm no mundo, visado assim sua preservação e posteriormente impedir sua extinção. A criação dos Landi é feita por pessoas com tradição nessa cultura, com conhecimentos passados de geração em geração, mas não convém afirmar que seja um sistema de boa qualidade pois os animais são criados em um sistema de baixa tecnologia o manejo reprodutivo e alimentar e feito de forma natural pelos animais fazendo uso do que esta mais acessível a suas necessidades, pois o manejo sanitário e precário pois as vacinas e vermifugação que deveriam acontecer periodicamente no tempo certo não são realizados de forma correta pois a maioria das medicações são vendidas para grandes lotes e os produtores as vez não tem tanta condições de adquirir a medicação.

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