E-BOOK - OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DOS AGROTÓXICOS: Segurança alimentar e alternativas

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Organizadores: Marcos Barros de Medeiros, Francisca Tatiana de Oliveira Souza, Gabriela Torres Costa Lima, Jair Batista de Souza, João Batista Tavares Junior, Thamillys do Nascimento Silva, Virgínia Maria Magliano de Morais

OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DOS AGROTÓXICOS: Segurança alimentar e alternativas para a construção de uma agricultura sustentável

Editora & Eventos Científicos

Bananeiras 2020


Organizadores: Marcos Barros de Medeiros Francisca Tatiana de Oliveira Souza Gabriela Torres Costa Lima Jair Batista de Souza João Batista Tavares Junior Thamillys do Nascimento Silva Virgínia Maria Magliano de Morais

OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DOS AGROTÓXICOS: Segurança alimentar e alternativas para a construção de uma agricultura sustentável

Editora & Eventos Científicos

Bananeiras 2020


© 2020 por Marcos Barros de Medeiros, Francisca Tatiana de Oliveira Souza, Gabriela Torres Costa Lima, Jair Batista de Souza, João Batista Tavares Junior, Thamillys do Nascimento Silva, Virgínia Maria Magliano de Morais (Org.) © 2020 por Vários Autores Todos os direitos reservados. Edição Gráfica e Capa Érik Serafim da Silva

Conselho Editorial Dr. Christopher Stallone de Almeida Cruz - CISCE - Doutor em Engenharia Agrícola - UFCG Dra. Elizandra Ribeiro de Lima Pereira - SEE/GRE-MATA NORTE/PE - Doutora em Biotecnologia UFPB Lic. Érik Serafim da Silva - Mestrando em Ciências Agrárias (Agroecologia) - UFPB Bel. Francisco Lucas Chaves Almeida - Doutorando em Bioenergia - FEA/UNICAMP Bel. Isaac Araújo Gomes - Pós-graduando em Biotecnologia - FAVENI M. Sc. Josevandro Barros Nascimento - Mestre em Ciências, Modelagem Matemática e Computacional - UFPB Lic. Luzimar Joventina de Melo - Mestranda em Ciências Agrárias (Agroecologia) - UFPB Dr. Marcos Barros de Medeiros - Doutor em Entomologia ESALQ/USP - DA/UFPB Dra. Maria Verônica Lins - Doutora em Engenharia de Processos - UFCG M. Sc. Natanaelma Silva Costa - Doutorado em Biotecnologia - RENORBIO/UFPB M. Sc. Thamillys do Nascimento Silva - Mestrado em Agronomia - UFPB M. Sc. Weverton Pereira de Medeiros - Doutorando em Biotecnologia - UFES Ficha Catalográfica elaborada na Seção de Processos Técnicos Biblioteca Setorial de Bananeiras - UFPB/CCHSA Bibliotecária-Documentalista: Bruna Morais – CRB 15/813 I34 Os impactos socioambientais dos agrotóxicos: segurança alimentar e alternativas para a construção de uma agricultura sustentável / Organizadores: Marcos Barros de Medeiros... [et al]. – Bananeiras: Gepra Editora e Eventos Científicos, 2020. Recurso digital: v.1: il. ISBN: 978-65-992707-2-7 Formato: E-book. 1. Sistemas agrícolas. 2. Sustentabilidade ambiental. 3. Defensivos naturais. I. Medeiros, Marcos Barros de, org. II. Souza, Francisca Tatiana de Oliveira, org. III. Lima, Gabriela Torres Costa, org. IV. Souza, Jair Batista de, org. V. Tavares Junior, João Batista, org. VI. Silva, Tamillys do Nascimento, org. VII. Morais, Virgínia Maria Magliano de, org. VIII. Universidade Federal da Paraíba. IX. Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias. X. Título.

UFPB/CCHSA/BS

CDU 631

DOI: http://doi.org/10.36599/gepra-2020_ed-0002 Índice para catálogo sistemático: 1. Ciências Agrárias 630 2. Ciências Agrárias 630 Agricultura e tecnologias relacionadas O conteúdo desta obra, inclusive sua revisão ortográfica e gramatical, bem como os dados apresentados, são de responsabilidade de seus participantes, detentores dos Direitos Autorais.

Esta obra foi publicada pela Gepra Editora & Eventos Científicos (CNPJ: 37.446.814/0001-64) em outubro de 2020.


Autores

Marcos Barros de Medeiros Doutor em Entomologia - Esalq/USP, Professor titular do Departamento de Agricultura Campus III - CCHSA/UFPB, Bananeiras-PB. André Luis Pereira dos Santos Mestrando

do

Programa

de

Pós-Graduação

em

Ciências

Agrárias

(Agroecologia) – PPGCAG, (UFPB), Bananeiras-PB. Elisângela de Freitas Mariano Bacharel em Agronomia, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias (Agroecologia) – PPGCAG, (UFPB), Bananeiras-PB. Francisca Tatiana de Oliveira Souza Tecnóloga em Agroecologia, Esp. em Gestão dos Recursos Ambientais do Semiárido, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias (Agroecologia) – PPGCAG, (UFPB), Bananeiras-PB. Gabriela Torres Costa Lima Engenheira Agrônoma, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias (Agroecologia) – PPGCAG, (UFPB), Bananeiras-PB. Ivanildo Luiz Vieira da Silva Mestrando

do

Programa

de

Pós-Graduação

em

Ciências

Agrárias

(Agroecologia) – PPGCAG, (UFPB), Bananeiras-PB. Jair Batista de Souza Bacharel em Medicina Veterinária, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias (Agroecologia) – PPGCAG, (UFPB), Bananeiras-PB.


João Batista Tavares Júnior Bacharel em Agroecologia, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias (Agroecologia) – PPGCAG, (UFPB), Bananeiras-PB. José Wellington de Medeiros Estrela Mestrando

do

Programa

de

Pós-Graduação

em

Ciências

Agrárias

(Agroecologia) – PPGCAG, (UFPB), Bananeiras-PB. Joseilson Moreira de Araújo Aluno Especial do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias (Agroecologia) – PPGCAG, (UFPB), Bananeiras-PB. Roberto Balbino da Silva Aluno Especial do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias (Agroecologia) – PPGCAG, (UFPB), Bananeiras-PB. Victor Herbert Alcântara Ribeiro Bacharel em Agroecologia, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias (Agroecologia) – PPGCAG, (UFPB), Bananeiras-PB. Thamillys do Nascimento Silva Licenciada em Ciências Agrárias, Especialista em Agricultura Familiar Camponesa e Educação do Campo- Residência Agrária (UFPB) BananeirasPB, Mestra do Programa de Pós-Graduação em Agronomia– PPGAgro, (UFPB), Areia-PB. Virgínia Maria Magliano de Morais Mestre em Serviço Social – UFPB, Professora de Economia da Educação no Centro de Educação – UFPB, Campus I, João Pessoa-PB.


Apresentação

A construção de uma agricultura sustentável perpassa pela reflexão do que a revolução verde representou para o desenvolvimento agrícola no Brasil. O movimento de transformação da agricultura esteve amparado no tripé: motomecanização, agroquímicos e manipulação genética. Esses elementos foram necessários para emergência de uma agricultura industrial. Desse modo, foi possível inserir países em desenvolvimento no mercado mundial através da exportação de seus produtos agrícolas com baixo custo, esses mesmos países passam a importar os produtos industrializados. A produtividade na agricultura, que se caracterizou como um dos principais objetivos da revolução verde, foi alcançada, de modo que foi possível atender as demandas mercadológicas externas. No entanto, é essencial perceber que esse processo nunca esteve entrelaçado ao desenvolvimento social e a construção de emancipações no campo. De maneira contraditória, esse movimento serviu para desconstrução das formas de agricultura camponesa prevalecentes no solo brasileiro até a década de 1960. Do ponto de vista social, a construção do agronegócio exportador contribuiu para o fortalecimento das desigualdades e miséria no campo. Na medida que são percebidas as relações de disputa, entre os territórios camponês e o território da grande propriedade. Na

perspectiva

ambiental,

é

possível

perceber

que

as

altas

produtividades, da agricultura moderna, culmina com avanço das monoculturas nos biomas brasileiros, a exemplo do cerrado e da Amazônia. Também são relatados a perda da biodiversidade (sementes, plantas alimentícias não convencionais e convencionais) em função do manipulação genética, e do mais recente processo biotecnológico de transgenia. Outros aspectos a serem constados, refere-se a intoxicação de animais, comunidades aquáticas, aves e seres humanos, bem como, poluição do solo e da água, resultado do uso de agrotóxicos e de fertilizantes.


Do ponto de vista econômico, a agricultura moderna significou lucro para proprietários dos meios de produção e para empresas que dominam o mercado das sementes, agrotóxicos, fertilizantes e organismos vivos para fins de biocontrole de pragas e doenças. É essencial, que se compreenda que dependência

produtiva

das

grandes

corporações

não

implica

em

sustentabilidade agrícola, de modo que a busca de novas alternativas que garantam acesso à terra, alimentos de qualidade e ambiente natural em equilíbrio são necessárias. A agroecologia emerge numa perspectiva inovadora, buscando associar as demandas sociais, ambientais e econômicas, para estabelecer um novo paradigma

para

as

sociedades

rurais

e

urbanas,

promovendo

a

sustentabilidade. A ciência agroecológica está pautada nas demandas contemporâneas e detém do aporte técnico-científico para atender as questões do mundo contemporâneo. Nessa concepção, esse livro reúne reflexões sobre o impactos de agrotóxicos em organismos não-alvo, em microrganismos e nos seres humanos, em um segundo momento se discute sobre a qualidade dos alimentos e por último são discutidas sobre técnicas, amparadas nos princípios da

agroecologia,

que

possibilitam

o

desenho

de

agroecossistemas

sustentáveis.

Os Autores


Sumário

Capítulo 1 Impactos dos agrotóxicos na saúde humana........................................... 4 Victor Herbert de Alcântara Ribeiro João Batista Tavares Junior Ivanildo Luiz Vieira da Silva Joseilson Moreira de Araújo Marcos Barros de Medeiros Capítulo 2 Impactos dos agrotóxicos nas plantas e nos organismos não alvos ..... 15 Roberto Balbino da Silva Francisca Tatiana de Oliveira Souza Elisângela de Freitas Mariano Victor Herbert Alcântara Ribeiro Capítulo 3 Impacto dos agrotóxicos sobre insetos alvos e não alvos ..................... 26 Francisca Tatiana de Oliveira Souza Elisângela de Freitas Mariano Roberto Balbino da Silva Victor Herbert de Alcântara Ribeiro Thamillys do Nascimento Silva Capítulo 4 Efeito do uso de agrotóxicos em comunidades de fungos micorrízicos e bactérias fixadoras de nitrogênio...................................................................... 43 Elisângela de Freitas Mariano André Luís Pereira dos Santos


Gabriela Torres Costa Lima José Wellington de Medeiros Estrela Joseilson Moreira de Araújo

Capítulo 5 Importância dos alimentos orgânicos para a segurança alimentar ........ 54 Gabriela Torres Costa Lima João Batista Tavares Junior José Wellington de Medeiros Estrela Marcos Barros de Medeiros Thamillys do Nascimento Silva Capítulo 6 As rochas na agricultura ........................................................................ 63 João Batista Tavares Junior Ivanildo Luiz Vieira da Silva Joseilson Moreira de Araújo André Luis Pereira dos Santos Capítulo 7 Utilização

da

gliricídia

(Gliricidia

sepium

(Jacq.)

Steud.)

para

fitorremediação de solos degradados pelo processo de desertificação ........... 73 Joseilson Moreira de Araújo João Batista Tavares Junior Elisângela de Freitas Mariano José Wellington de Medeiros Estrela

Capítulo 8 Caldas fito e fert protetoras.................................................................... 79 José Wellington de Medeiros Estrela Joseilson Moreira de Araújo


João Batista Tavares Junior Gabriela Torres Costa Lima Marcos Barros de Medeiros

Capítulo 9 Uso, preparos e benefícios de biofertilizantes líquidos no manejo agroecológico de solos e plantas ..................................................................... 85 Ivanildo Luiz Vieira da Silva André Luis Pereira dos Santos José Wellinton de Medeiros Estrela Marcos Barros de Medeiros Thamillys do Nascimento Silva Capítulo 10 Compostagem no manejo agroecológico do solo .................................. 97 André Luis Pereira dos Santos Elisângela de Freitas Mariano João Batista Tavares Junior Virgínia Maria Magliano de Morais Capítulo 11 Uso de plantas no tratamento de enfermidades animais ..................... 111 Jair Batista de Souza Francisca Tatiana de Oliveira Souza Elisângela de Freitas Mariano Gabriela Torres Costa Lima


9

Capítulo 1

Impactos dos agrotóxicos na saúde humana Victor Herbert de Alcântara Ribeiro João Batista Tavares Junior Ivanildo Luiz Vieira da Silva Joseilson Moreira de Araújo Marcos Barros de Medeiros

Resumo: Com o advento da Revolução Verde, pacotes tecnológicos foram impostos para os mais diversos tipos de agricultores. Vendendo-se a ideia de que tais pacotes seriam necessários para obter incremento na produção de alimentos, incluíam-se neles métodos que não levavam em consideração os impactos ambientais e sociais que, em breve, viriam a ser presenciados. Os impactos

causados

à

saúde

humana

podem

ser

observados

no

desenvolvimento de vários tipos de enfermos, estes com características crônicas ou agudas. Visando isto, se faz necessário uma retomada no histórico da utilização desses agroquímicos para melhor compreensão. Foi realizado uma breve pesquisa na Feira da Prata na cidade de Campina Grande, PB visando analisar os impactos da utilização dos agrotóxicos nos produtores entrevistados. Maioria dos entrevistados já utilizaram agrotóxicos em algum momento, e as intoxicações mais presenciadas foram a de caráter agudo, como "Mal-estar", "Dor de cabeça" e "Fraqueza". Apesar disto, impactos crônicos como "Câncer" e "Depressão" também foram presenciados pelos entrevistados.

Palavras-chave: Agroquímicos, Carcinogênicos, Segurança Alimentar.

1. Introdução

O modelo predominante de desenvolvimento e produção de alimentos vem sendo alvo de críticas há várias décadas devido ao seu caráter predatório que põe em risco o meio ambiente, o desenvolvimento sustentável e a saúde


10 humana. Esse modelo foi impulsionado em vários países no período pósguerra, e teve sua maior abrangência durante as décadas de 60 e 70 - período em que se iniciou a Revolução Verde e que ditou-se os modos de produção com pacotes tecnológicos. Além da aplicação desses pacotes, a utilização dos recursos naturais vem trazendo grandes impactos socioambientais que não se limitam às áreas de aplicação. Estudos prévios têm sugerido uma associação entre exposição a agrotóxicos e diferentes tipos de câncer em crianças (MEINERT et al., 2000).Em 1997, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (International Agency for Researchon Cancer – Iarc) classificou 26 agrotóxicos com indícios suficientes de potencial carcinogênico em animais e 19 com indícios limitados em animais (ZAHM & WARD, 1998).Existem diferentes grupos de risco que são classificados com base na exposição que esses determinados grupos tem aos agrotóxicos. Contudo, como são sistêmicos, esses insumos químicos trazem riscos desde o produtor até o consumidor final. Os agrotóxicos de uso agrícola são responsáveis por 36,4% dos óbitos registrados no país, em 1999, para todas as faixas etárias, ocupando o primeiro lugar na lista de agentes tóxicos (SINITOX, 1999). O Brasil é o líder em consumo de agrotóxicos, além de que cada brasileiro consome em média 5,2 litros de agrotóxicos por ano. Estes são dados alarmantes visto que os riscos à saúde, e ao meio ambiente são iminentes. Com um longo histórico de utilização de agroquímicos, o Brasil tem um grande desafio com a produção de alimentos orgânicos e compromisso com a segurança alimentar.

2. Histórico da utilização dos agrotóxicos

Embora a agricultura seja praticada pela humanidade há mais de dez mil anos, o uso intensivo de agrotóxicos para o controle de pragas e doenças das lavouras existe há pouco mais de meio século. Ele teve origem após as grandes guerras mundiais, quando a indústria química fabricante de venenos então usados como armas químicas encontraram na agricultura um novo mercado para os seus produtos (LONDRES, 2011).


11 A popularização dos agrotóxicos se deu justamente no período pósSegunda Grande Guerra, onde os insumos químicos, que antes possuíam objetivos de guerra, foram direcionados ao ambiente agrícola. O DDT foi um dos agroquímicos mais popularizados neste período devido ao seu baixo custo, porém sua utilização foi iniciada sem a quantidade necessária de estudos sobre o seu impacto ambiental. A popularização do DDT teve como consequência o aparecimento de outros insumos químicos com os mais diversos tipos de objetivos - herbicidas, fungicidas e adubos químicos. O crescimento do uso desses insumos químicos, somados a outras ferramentas tecnológicas, ficou conhecido como a “revolução verde” (BULL; HATHAWAY, 1986). Segundo Moreira (2000), no Brasil, a Revolução Verde se desenvolveu prioritariamente nos anos 60 e 70 e tinha como prioridade o subsídio de créditos agrícolas para estimular a grande produção agrícola, as esferas agroindustriais, as empresas de maquinários e de insumos industriais para uso agrícola – como tratores, herbicidas e fertilizantes químicos –, a agricultura de exportação, a produção de processados para a exportação e a diferenciação do consumo – como de queijos e iogurtes. O aumento momentâneo da produção durante a Revolução Verde serviu para mascarar todos os impactos ambientais e sociais que foram causados a curto e a longo prazo. Desde 2008, o Brasil lidera o ranking mundial como o país que mais importa agrotóxicos no mundo, sendo responsável por 86% do total consumido na América Latina. Somente no ano de 2010, a taxa de crescimento das vendas no país foi de 190%, enquanto, no resto do mundo, foi de 93%2, ocupando, assim, um lugar de destaque no cenário internacional como o mais importante nicho para o crescimento econômico das empresas transnacionais produtoras desses insumos químicos (FERREIRA, 2016). O modelo hegemônico do agronegócio e o uso intensivo de agrotóxicos geram diversas externalidades negativas, ou seja, impactos sociais, ambientais e à saúde que não são incorporados pela cadeia produtiva e são pagos pela sociedade como um todo através de gastos públicos e, mais importante, doenças e mortes que poderiam ser evitadas (PORTO, 2011). “Levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag),


12 ambos de 2009, apresentam o crescimento de 4,59% da área cultivada no período entre 2004 e 2008. Por outro lado, as quantidades vendidas de agrotóxicos, no mesmo período, subiram aproximadamente 44,6%. E os números não levam em conta a enorme quantidade de agrotóxico contrabandeado para o país.” (Carneiro, F. e Soares, V., 2010).

Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) revelam que em 2012 foram notificados mais de 9 mil casos de intoxicação por agrotóxicos, e de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para cada caso confirmado estima-se outros 50 sub-notificados, resultando assim, em 450 mil casos. Somado a esses dados acrescenta-se os acidentes de trabalho por intoxicação quem em 2011 foram 126,77% a mais do que em 2007. As intoxicações na maioria dos casos ocorrem em indivíduos do sexo masculino entre 20 e 34 anos de idade. Estudos realizados na região do baixo Jaguaribe no Ceará apontam o crescimento das empresas multinacionais, modificando o estilo de vida da população, assim como, o perfil de mortalidade das pessoas. Neste três municípios (Limoeiro do Norte, Russas e Quixeré) evidenciaram um número maior de internações por neoplasia do que nos outros 11 municípios da região, isso devido à exposição dos agricultores familiares e dos convencionais, concluindo que 97% estavam expostos a agrotóxicos que apresentavam 25 grupos químicos diferentes, sendo os fungicidas de classes toxicológicas I e II (extremamente e altamente tóxicos), como os mais demasiados. As pessoas mais expostas aos perigos da contaminação pelos agrotóxicos são aquelas que têm contato com eles no campo. Há os aplicadores, preparadores de caldas e responsáveis por depósitos, que têm contato direto com os produtos, e há também os trabalhadores que têm contato indireto com os venenos ao realizar capinas, roçadas, colheitas etc. (LONDRES, 2011). Outros estudos indicam também que águas subterrâneas estão sendo contaminadas, colocando em risco a saúde de populações que se abastecem de poços em regiões de grande produção agrícola (RIGOTTO et al, 2010). "Os inseticidas da classe dos organofosforados, bem como os carbamatos, atuam

no

organismo

humano

inibindo

uma

enzima

denominada

acetilcolinesterase. Essa enzima atua na degradação da acetilcolina, um neurotransmissor responsável pela transmissão dos impulsos no sistema


13 nervoso (central e periférico). Uma vez inibida, essa enzima não consegue degradar a acetilcolina, ocasionando um distúrbio chamado de “crise colinérgica”, principal responsável pelos sintomas observados nos eventos de intoxicação aguda por esses produtos" (PERES & MOREIRA, 2007).

Foram constatados vários tipos de câncer em agricultores, entre eles: câncer no pênis, leucemia e câncer nos testículos. Além disso, os agricultores por não terem outra opção utilizam as águas do canal por onde passa a água na região e são nesses locais que são lavados os equipamentos usados na pulverização dos agrotóxicos, aumentando o risco de intoxicação. Outro estudo, realizado em Limoeiro do Norte com trabalhadores rurais produtores de banana, concluiu que a exposição crônica aos agrotóxicos levou à ocorrência de alterações cromossômicas em células da medula óssea. De 35 amostras viáveis, 11 apresentaram importantes alterações cromossômicas, sendo elas: deleções dos cromossomos 5, 7 e 11; monossomia do TP53 e a amplificação do TP53. As anormalidades encontradas são semelhantes às alterações descritas

em

doenças

clonais

da

medula

óssea,

como

síndromes

mielodisplásica e leucemias mielóide agudas (FERREIRA, 2016). Ainda perante esta região Alexandre (2009), realizou um estudo epidemiológico considerando negados os seus saberes e direitos, levando--os à exposição direta aos agrotóxicos cada vez mais frequentes. Tal negação dos direitos e a subestimação do saber existe entre os trabalhadores estão relacionadas à desigualdade social a que se encontram submetidos, enfatizando pela baixa renda, pouca oferta de emprego, cultura de dominação, entre vários fatores que colaboram para este aumento de vulnerabilidade. "Alguns pontos são determinantes da situação do trabalho rural face ao uso de agrotóxicos. Primeiro, a carência educacional e de formação dos agricultores da região realidade esta nada diferente de outras regiões do país contribui para a dificuldade da correta interpretação de informações sobre saúde e segurança no manuseio de agentes químicos perigosos, como os agrotóxicos. Segundo, a maioria da informação disponível ao agricultor sobre os agrotóxicos provém da própria indústria química, e é disseminada por técnicos ligados ao comércio de insumos agrícolas, o que compromete sua isenção e qualidade. Terceiro, a carência de políticas governamentais voltadas ao acompanhamento e fiscalização das atividades do homem do campo afastam, ainda mais, estes indivíduos dos saberes disponíveis sobre as práticas de proteção de lavouras e combate às pragas. Soma-se a esses


14 fatores a forte influência das políticas de incentivo à produção agrícola, quase todas fortemente associadas ao aumento do consumo de agentes químicos, em particular agrotóxicos." (PERES & MOREIRA, 2007)

Um fato agravante perante a região da Chapada do Apodi é enfatizado por Pessoa & Rigotto (2012), quando apresenta em seu trabalho um das principais formas de aplicações destes agroquímicos, a pulverização aérea. A comunidade como um todo é imposta a aceitar e conviver com aviões despejando literalmente toneladas deste agrotóxicos sobre seus pratos e cabeça, não distinguindo área muito menos suas consequências que são nulas perante aquele povo julgados dependentes. Podendo ser questionado sobre o conhecimento sobre dados científicos que apontam a correlação entre a exposição destes produtos com os humanos a possíveis problemas de saúde, como aumento de alguns tipos de câncer de mama, trato reprodutivo, redução da fertilidade masculina, anormalidades no desenvolvimento sexual, entre vários outros (MEYER et al., 1999). Crianças e adolescentes também são grupos de risco, principalmente na fase de desenvolvimento do feto. Cerca de 70% de defeitos de desenvolvimento não têm causa conhecida, e alguns podem estar relacionados à exposição a químicos, cujos efeitos podem ser agravados quando combinados a fatores nutricionais ou genéticos (TILSON, 1998). “O feto e a criança são particularmente sensíveis e frequentemente mais susceptíveis a toxinas químicas que alteram a estrutura ou o funcionamento do cérebro, embora a susceptibilidade possa variar em função do agente tóxico. Exposições precoces a neurotoxinas têm sido associadas a doenças neurológicas e retardo mental. A exposição a agrotóxicos merece uma atenção especial, visto que a maioria desses agentes se destina à produção de efeitos neurotóxicos em pestes, o que não exclui o ser humano.” (PERES & MOREIRA, 2003).

De acordo com Londres (2011), existem várias formas de se intoxicar por agrotóxicos, com seus sintomas tendo características agudas, subagudas ou crônicas: 

Intoxicação aguda: é aquela cujos sintomas surgem rapidamente,

algumas horas após a exposição ao veneno. Normalmente trata-se de exposição, por curto período, a doses elevadas de produtos muito tóxicos (os casos de intoxicação que chegam a ser notificados são, basicamente, deste


15 tipo). Os efeitos podem incluir dores de cabeça, náuseas, vômitos, dificuldades respiratórias, fraqueza, salivação, cólicas abdominais, tremores, confusão mental, convulsões, entre outros. A intoxicação aguda pode ocorrer de forma leve, moderada ou grave, dependendo da quantidade de veneno absorvida. Em muitos casos pode levar à morte. 

Intoxicação subaguda ou sobreaguda: esta ocorre por exposição

moderada ou pequena a produtos alta ou medianamente tóxicos. Os efeitos podem aparecer em alguns dias ou semanas. Os sintomas podem incluir dores de cabeça, fraqueza, mal-estar, dor de estômago, sonolência, entre outros. 

Intoxicação crônica: caracterizam-se pelo surgimento tardio. Aparecem

apenas após meses ou anos da exposição pequena ou moderada a um ou vários produtos tóxicos. Os sintomas são normalmente subjetivos e podem incluir perda de peso, fraqueza muscular, depressão, irritabilidade, insônia, anemia, dermatites, alterações hormonais, problemas imunológicos, efeitos na reprodução (infertilidade, malformações congênitas, abortos), doenças do fígado e dos rins, doenças respiratórias, efeitos no desenvolvimento da criança, entre outros. Normalmente o diagnóstico da intoxicação crônica é difícil de ser estabelecido. Os danos muitas vezes são irreversíveis, incluindo paralisias e vários tipos de câncer.

3. Utilização de agroquímicos e seus efeitos em agricultores Em uma pesquisa realizada na Feira da Prata em Campina Grande – PB, no dia 16 de Julho de 2017, buscou-se constatar a utilização de agroquímicos e seus efeitos (intoxicação aguda, subaguda e crônica) nos produtores. A metodologia adotada ocorreu de forma participativa, através da aplicação de um questionário semi-estruturado com os produtores, dentro da abordagem estudada. Para a aplicação do questionário semi-estruturado aos produtores, foi elaborado um roteiro com perguntas de caráter fechado, coletando-se informações de forma não induzida. Através da pesquisa aplicada a um total de 16 produtores, observa-se que maioria já utilizou agroquímicos em algum momento em suas propriedades e que todos conhecem alguém que já utilizou em propriedades próximas. Dos


16 impactos mais sentidos à saúde humana, observou-se que os de nível agudo foram mais presenciados, visto que "Dores de cabeça", "Fraqueza" e "Malestar" foram os mais denunciados pelos produtores. Tabela 1 - Dados obtidos através do questionário aplicado. Variáveis

Nº de entrevistados Já utilizou algum agroquímico? Sim 14 Não 2 Utiliza Agroquímicos atualmente? Sim 4 Não 12

Conhece alguém que utiliza agroquímicos atualmente? Sim 16 Não 0 Quais sintomas já sentiu/conhece alguém que sentiu ao utilizar o Agroquímico? Dor de cabeça 13 Diarreia 5 Tontura 11 Fraqueza 14 Mal-estar 15 Dor de estômago 10 Câncer 3 Depressão 2 Vômito 12 Confusão mental 0 Utiliza ou utilizou EPI durante a aplicação dos produtos? Sim 3 Não 13 Gostaria de ter uma alternativa além da utilização de agroquímicos? Sim Não

16 0

Apesar da maioria dos entrevistados serem vítimas de intoxicação aguda e terem presenciado em outros produtores, os impactos de nível crônico também foram observados, visto que "Depressão" e "Câncer" também foram presenciados por parte dos produtores.

4. Considerações finais

Nesta discussão, abordaram-se como os agrotóxicos ganharam popularidade ao redor do mundo e no Brasil, e como são utilizados até hoje


17 devido a essa influência e os seus níveis de intoxicação. Sendo um dos maiores produtores de alimentos no mundo, o Brasil, infelizmente, também se caracteriza como o maior consumidor de agrotóxicos. Ao afetar diversas camadas da sociedade, o combate a utilização exacerbada desses insumos se faz necessária, porém é um desafio considerável: a utilização destes produtos está enraizada, sendo, por maioria das vezes, vista como necessária ou obrigatória. Mesmo que um indivíduo não tenha contato direto com essas substâncias, a contaminação pode ocorrer em pequenas doses e gerar uma doença crônica, como um câncer, além dos fatores de risco para crianças e gestantes. Na pesquisa realizada, pôde-se observar quais foram os principais níveis de intoxicação presenciados, que são os de caráter agudo, e também percebe-se que todos entrevistados gostariam de uma alternativa além da utilização de agroquímicos na produção. É necessário investir em políticas de educação e saúde visando o homem do campo – produtor e a sociedade civil no geral para que a discussão sobre alimentos orgânicos e segurança alimentar alcance um maior patamar. O processo de produção de alimentos precisa ser revisto e reformado, com base em alternativas mais saudáveis à população em geral.

5. Referências bibliográficas

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FERREIRA, M. J. M., VIANA JÚNIOR, M. M."A expansão do agronegócio no semiárido cearense e suas implicações para a saúde, o trabalho e o ambiente." Interface-Comunicação, Saúde, Educação ahead (2016): 0-0.


18 LONDRES, F.;Agrotóxicos no Brasil – Um Guia para ação em Defesa da Vida, Rio de Janeiro, 2011. MEINERT, R. et al. Leukemia and non-Hodgkin’s lymphoma in childhood and exposure to pesticides: results of a register-based case-control study in Germany.Am J Epidemio, 151(7):639-646, 2000.

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MOREIRA, R. J. Críticas ambientalistas à revolução verde. Estudos Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro, n. 15, p. 39-52, 2000.

PERES, F.; MOREIRA, J. C. Saúde e ambiente em sua relação com o consumo de agrotóxicos em um pólo agrícola do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Health, environment, andpesticide use in a farmingarea in Rio de Janeiro State, Brazil. Cad. Saúde Pública, v. 23, n. Sup4, p. S612-S621, 2007.

PERES, F.; MOREIRA, J. C. É veneno ou é remédio? Agrotóxicos, saúde e ambiente [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2003. 384 p. ISBN 857541-031-8. PESSOA, V. M., RIGOTTO, R. M. "Agronegócio: geração de desigualdades sociais, impactos no modo de vida e novas necessidades de saúde nos trabalhadores rurais." Revista Brasileira de Saúde Ocupacional 7.125 (2012).

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19 Capítulo 2

Impactos dos agrotóxicos nas plantas e nos organismos não alvos Roberto Balbino da Silva Francisca Tatiana de Oliveira Souza Elisângela de Freitas Mariano Victor Herbert Alcântara Ribeiro

Resumo: O resultado da política agrícola adotada desde 1970 proporcionou o avanço do agronegócio que concentra a terra e exige cada vez mais altas quantidades de produtos químicos para garantir a produção em escala industrial e o resultado foi que enquanto em âmbito mundial o mercado de agrotóxico cresceu 93% e no Brasil 190%, dentre os vários impactos da cadeia produtiva do agronegócio, os de maior relevância para a saúde e ambiente são as poluições e intoxicações agudas e crônicas relacionadas aos agrotóxicos. Neste processo agroquímico dependente, os fazendeiros contaminam a lavoura, o ambiente, os trabalhadores rurais e a população do entorno com o objetivo de atingir o alvo ou as “pragas” da lavoura (inseto, fungo ou erva daninha). O processo de aplicação de inseticida ultrabaixo volume (UBV) para controlar os mosquitos adultos gera gotículas de aerossol que podem aderir à poeira e construir uma fonte de contaminação do ar. Fatores climáticos, como ventos e chuvas, podem influenciar no transporte e na movimentação dos inseticidas a longas distancias. Gotículas muito pequenas, formadas nas aplicações em UBV, têm baixa velocidade de sedimentação, o que possibilita o deslocamento por grandes distâncias antes de atingirem o solo. A contaminação do solo tem provocado grandes variações nas populações de organismos não-alvo, principalmente aqueles que degradam a matéria orgânica e melhoram a fertilidade.

Palavras-chave: Agroquímicos, Meio Ambiente, Impacto Ambiental.


20 1. Introdução

O Brasil, desde 2008, é o país que mais usa agrotóxico no planeta, chegando em 2009, à marca de mais de um bilhão de litros de agrotóxicos aplicados, dando o equivalente a um consumo médio de 5,2 kg de agrotóxicos por habitante (LONDRES, 2011). Desde a década de 70, exatamente no ano 1976, o governo criou um plano nacional de defensivos agrícolas. Dentro do modelo da Revolução Verde, onde os países produtores desses agroquímicos pressionaram os governos, através das agências internacionais, para facilitar a entrada desse pacote tecnológico. Em 1976, o Brasil criou uma lei do plano nacional de defensivos agrícolas na qual condiciona o crédito rural ao uso de agrotóxicos. Assim, parte desse recurso captado deveria ser utilizada em compra de agrotóxicos, que eles chamavam, com um eufemismo, de defensivos agrícolas. Então, com isso os agricultores foram praticamente obrigados a adquirir esse pacote tecnológico (GIRALDO, 2011). Corroborando a citação anterior (FLORES, 2004), vai mais além ao mostrar a irresponsabilidade do governo brasileiro ao ceder às pressões internacionais e obrigar os agricultores a adotar tecnologia desnecessárias que não condizia com a realidade e necessidade da agricultura. Os produtos fitossanitários, denominados de agrotóxicos ou pesticidas, são formulações comerciais e umas das tecnologias agrícolas mais utilizadas para “preservar” as culturas agrícolas contra os ataques negativos dos organismos vivos alvos e chegam também a atingir os nãos alvos. Segundo Rose (2001), o controle químico com inseticidas, de origem orgânica ou inorgânica continua sendo uma das táticas mais adotadas de manejo sustentável de pragas, inclusive no controle de vetores de doença em saúde pública. As formulações comercias contêm ingredientes ativos tóxicos e ingredientes inertes. Os ingredientes ativos são compostos químicos organossintéticos em sua maioria e inorgânicos em sua minoria. Os ingredientes ativos tóxicos são sintetizados e rigorosamente selecionados durante o período de 8 a 10 anos, em condições de laboratório e de campo, para serem registrados e comercializados legalmente nas formulações comercias.


21 As aplicações dos agrotóxicos podem atingir os organismos que habitam as áreas aplicadas, os animais, as pessoas do entorno, os trabalhadores expostos e os consumidores dos produtos colhidos, que possam conter algum resíduo. Uma vez que, esses compostos orgânicos que atuam sobre o sistema nervoso, como os inseticidas organofosforados, carbonatos ou piretroides, atualmente, são os mais utilizados no controle de vetores e doenças (PALCHICK, 1996). Estes compostos atuam inibindo a ação da enzima acetilcolineste (Ache), que desempenha importante função nas sinapses colinérgicas. Este processo causa o acúmulo de acetilcolina nas terminações e, consequentemente, provocando sua morte (MADDRELL,1980). Portanto, com a política agrícola adotada desde 1970 ocorreu o avanço do agronegócio que concentra a terra e exige cada vez mais altas quantidades de produtos químicos para garantir a produção em escala industrial e o resultado foi que enquanto em âmbito mundial o mercado de agrotóxico cresceu 93 %, no Brasil são cerca de 190 %, conforme dossiê divulgado pela Associação Brasileira da Saúde Coletiva – ABRASCO (CARNEIRO, 2012).

2. Impactos dos agrotóxicos sobre o Meio Ambiente

Dentre os vários impactos da cadeia produtiva do agronegócio, os de maior relevância para a saúde e ambiente são as poluições e intoxicações agudas e crônicas relacionadas aos agrotóxicos. Neste processo agroquímico dependente,

os fazendeiros

contaminam

a

lavoura,

o

ambiente,

os

trabalhadores rurais e a população do entorno com o objetivo de atingir o alvo ou as “pragas” da lavoura (inseto, fungo ou erva daninha), tratam-se de poluições internacionais e não “deriva” que culpa o clima ou o pulverizador (CARNEIRO, et al. 2013; AUGUSTO, et al 2012; RIGOTTO, et al. 2012). O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos, mas é o maior consumidor mundial de agrotóxico e usou 828 milhões de litros (produto formulado) em suas lavouras em 2010 (IBGE, 2011; INDEA, 2011; SINDAG, 2011). Diante de várias situações de prejuízo ao Meio Ambiente, flora e fauna, e a saúde humana, devermos fiscalizar melhor e sempre cobrar das


22 autoridades

competentes

uma

fiscalização

mais

rigorosa

sobre

a

comercialização e aplicação de agrotóxico para que use de modo racional e respeitando a vida.

2.1 Efeitos ambientais adversos dos resíduos dos agrotóxicos que atingem as plantas, solo e água

Além dos perigos que representam aos seres humanos nos aspectos ocupacionais, alimentares e de saúde pública, sabe-seque os resíduos de agrotóxicos no ambiente podem provocar efeitos ecológicos indesejáveis, como a alteração da dinâmica biológica natural pela pressão de seleção exercida sobre os organismos, e ter como consequência mudanças na função do ecossistema (SPADOTTO et al., 2010. Pág. 7). Uma vez inserido no ambiente o agrotóxico até ser desativado ou degradado passa por um caminho bastante complexo e segundo (SPADOTTO, 2003 pág. 11) o destino de agrotóxico no ambiente é governado por processo de retenção (sorção, absorção), de transformação (degradação química e biológica) e de transporte (deriva, volatilização e carreamento superficial), e por interações desses processos. O agrotóxico ao atingir a planta tem como objetivo “protege-la contra ação do patógeno ou insetos”, mas, porém, este mesmo pode favorecer o aparecimento de novas pragas e doenças. O pesquisador francês Chaboussou (1980) em sua obra – plantas doentes pelo uso de agrotóxicos mostra inúmeros trabalhos realizados por ele e outros pesquisadores, onde comparava o aparecimento de muitas doenças e pragas associado ao uso de determinados agrotóxicos. Nessa obra o pesquisador procura demonstrar que o aparecimento de muitas pragas e doenças não pode ser explicado apenas pela destruição de seus inimigos naturais como normalmente é colocado; e por analogia da mesma forma que determinadas afecções vegetal o mesmo pode ocorrer em relação ao uso de agrotóxicos que podem ter uma incidência positiva no desenvolvimento de várias doenças fúngicas, viróticas e bacteriana e na multiplicação de pulgões, ácaros, lepidópteros e outros. Para Chaboussou (1980):


23 Tudo se passa como se, por sua ação nefasta sobre o metabolismo da planta, os agrotóxicos rompessem a sua resistência natural. O agrotóxico mesmo não provocando queimaduras ou fenômenos de fito toxicidade aparente pode mostra- se tóxico para a planta, com todas as consequências que isto pode causar sobre a resistência a seus agressores, seja eles fungos, bactérias, insetos ou mesmo vírus.

Segundo Yamada, (2007) o herbicida “glifosato afeta a nutrição mineral das plantas, além de torna-la mais suscetível às doenças” e o mesmo observou Cakmak (2007, pág. 5) em regiões com uso extensivo do glifosato: Reduções no crescimento e na produtividade das culturas; aumento nos problemas de doenças; aumentos no uso de inseticidas e fungicidas; inibição da fixação biológica de nitrogênio; aumento no uso de fertilizantes foliares com micronutrientes; sintomas de deficiências de micronutrientes. O pesquisador (CHAIM 2003, pág. 294) vem corroborar o que já foi levantado por (CHABOUSSOU 1980) e outros pesquisadores: A contaminação do solo tem provocado grandes variações nas populações de organismos nãoalvo, principalmente aqueles que degradam a matéria orgânica e melhoram a fertilidade. Muitas vezes, essas perdas são responsáveis por desequilíbrios favoráveis ao aparecimento de novas doenças. O solo contaminado pode ser levado pela água da chuva para rios, açudes e lagos, colocando em risco não só aquelas populações que vivem nesses sistemas, mas também as espécies que utilizam essa água para sua sobrevivência, como os animais e o próprio homem. Conforme o pesquisador francês Chaboussou, (1980) cita como consequência que a maioria desses compostos que entram no ecossistema do solo, podem afetar os processos de decomposição. Também coloca que os fungicidas sistêmicos inibem certos organismos saprófitos do solo e as micorrizas e aponta que o uso prolongando de fungicidas cúpricos leva a esterilização do solo e a destruição das minhocas pelos ditiocarbomatos e os inseticidas especialmente os (clorados “têm a influência inibidora sobre a atividade dos fungos (especialmente os actinomicetos) e bactérias que participam da amonificação, e sobre osnitrobacter que participam da transformação dos nitritos em nitratos” (CHABOUSSOU, 1980, pág. 129) . Dessa forma o pesquisado (SPADOTTO et al., 2003) também assinala impactos bastante relevantes que essas substâncias podem provoca nos


24 microrganismos presentes no solo que são sensíveis aos agrotóxicos, impactando todo o equilíbrio, biodiversidade e a quantidade total desses organismos tão necessários para a manutenção da fertilidade e saúde do conjunto solo e planta. Um estudo realizado pelo Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daep) em parceria com um grupo de pesquisadores publicado no portal (ECO DEBATE, 2011) detectou a presença de traços de dois agrotóxicos usados comumente na cana-de-açúcar no Aquífero Guarani no município de Ribeirão Preto e Rio Pardo – SP. Apesar das substâncias encontradas estarem abaixo do limite considerado perigoso, pesquisadores alertam que se nada for feito a tendência é piorar e comprometer o abastecimento de água.

2.2 Efeito dos inseticidas utilizados no controle do mosquito da dengue (Aedes aegypti) para o organismo não-alvo

Nas aplicações dos vários inseticidas para o controle de larvas e de mosquito adultos, pode ocorrer a contaminação ambiental do ar, solo e águas, e principalmente com os ingredientes ativos de maior período residual (CHAIM, 1989; SOARES, 2011). O principal larvicída utilizado é o temefós, que pode ter longo período residual em função do material do recipiente. Por exemplo, o controle de larvas com temefós pode ser de até 105 dias após a aplicação em potes de barros (CHEN; LEE, 2006). Já para o inseticida Diflubenzuron (DFB), constatou-se que após aplicação da concentração de 0,4 mg.L -1 do composto em água, o mesmo manteve-se estável até o sétimo dia após a aplicação, não sendo mais detectado a partir do décimo dia. Por outro lado, o inseticida malathion, aplicado para o controle de mosquitos adultos, tem meia-vida de uma hora a 107 dias, dependendo do meio que se encontra (ROCHA, 2011). Para evitar a ocorrência de intoxicação de animais domésticos e de pessoas, os domicílios devem ser higienizados logo após a aplicação do malathion para o controle do mosquito da dengue. Durante e após a aplicação, os inseticidas podem ser degradados, depositados ou dispersos no ambiente, volatilizados no ar e atingir locais distantes da aplicação. A volatilização representa a maior taxa de perda do


25 composto (SOARES, 2011). Em locais mais quentes, a volatilização dos agrotóxicos é um processo físico de dissipação muito importante para a contaminação atmosférica. O processo de aplicação de inseticida ultrabaixo volume (UBV) para controlar os mosquitos adultos gera gotículas de aerossol que podem aderir à poeira e construir uma fonte de contaminação do ar. Fatores climáticos, como ventos e chuvas, podem influenciar no transporte e na movimentação dos inseticidas a longas distancias. Gotículas muito pequenas, formadas nas aplicações em UBV, têm baixa velocidade de sedimentação, o que possibilita o deslocamento por grandes distâncias antes de atingirem o solo (CHAIM, 1989). Quando no solo, além de degradar, o inseticida pode escoar superficialmente, ser absorvido, ou ainda infiltrar-se por lixiviação e contaminar as águas superficiais e subterrâneas. A lixiviação é maior em solos com maior teor de areia, a sorção depende, além das características do composto em questão (SOARES, 2011). Após o processo de erosão, o escoamento superficial com as águas de chuvas, os resíduos dos inseticidas podem ser transportados para a rede hidrográfica local. Nos diversos pontos do ambiente, os inseticidas podem entrar em contato com os organismos não alvos, serem absorvidos e causar intoxicação,

serem

acumulados

ou

decompostos.

Podem,

ainda,

ser

fotodecompostos quando em contato com a superfície do solo e da água e/ou suspensos no ar (SOARES, 2011). A água é muito importante no processo de carregamento de compostos químicos, e o solo constitui-se como fonte de resíduos que podem ser disponibilizados para a atmosfera, águas subterrâneas e organismo, que podem utilizar esses compostos como fonte de carbono (RIBEIRO; VIANA, 2010) Atualmente, o DFB, o temefós e o malathion os inseticidas mais utilizados nos programas de saúde pública para o controle de larvas e adultos do mosquito A. aegypti. Esses inseticidas com mecanismo de ação específicos também podem ser empregados na agricultura para o controle de insetos nocivos para as plantas cultivadas. (LEE: SCOTT, 1989). Os efeitos agudos e letais dos inseticidas utilizados no controle de larvas e adultos do mosquito A. aegypti podem ser letais ou sub letais para os


26 organismos aquáticos e terrestres pertencentes a diferentes níveis tróficos como: algas e microfilas (produtores primarias), micro crustáceo e moluscos (consumidores primários), peixes (consumidores secundários e terciários) e minhocas (saprófagas) (AZEVEDO; CHASIN, 2003, ABE et al., 2014). O efeito desses inseticidas pode atingir outros organismos não alvos presentes no ambiente, ou seja, espécies que não são vetores de doenças ou que não interferem no processo de produção agrícola (SPADOTTO et al., 2004). Devido aos possíveis impactos ambientais decorrentes da utilização dos inseticidas utilizados no controle químico de larvas e do mosquito da dengue, são necessários estudos de avaliação de toxicidade e de risco ambiental para organismos não-alvo. Os organismos mais utilizados em ensaios laboratoriais para avaliação da toxicidade do risco são os micro crustáceos Daphania magna e Dephania similis, a macrófita Lemna minor, o peixe Danio rerio e a minhoca Eisenia foetida (ABNT NBR 15088, 2004; ABNT NBR 15537, 2007; ABNT NBR 12713, 2009). Em ensaios de avaliação da toxicidade aguda, o temefós foi classificado como extremamente tóxico para girinos de Rana clamitans, pelo valor da concentração letal de 50% (CL50, 96h) de 4,24 ug.L-1 (SPARLING et al., 1997). ABE (2012) determinou a CL50% do temefós para peixe-mato-grosso (Hyphessobrycon eques) em 7,30 mg.L-1, para a tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) em 10,04 mg.L-1. com esses valores, o temefós classifica-se como médio risco de intoxicação ambiental aguda. Para microcrustáceo D. magna, a concentração efetiva é de 50%, em 48 horas de exposição calculada do temefós (CE, 48h) é de 0,15 ug.L-1 e do DFB, de 0,06 ,u.L-1 . Por estes valores, o temefós classifica-se como extremamente toxico para o microcustáceo (ABE et al., 2014)

3. Considerações Finais

O uso racional de agrotóxicos seria uma medida de controle tanto para a agricultura como também para pragas urbanas, pois seria uma alternativa para diminuir os resíduos de agrotóxicos nos alimentos e no ambiente e em contrapartida usar tecnologias de bases agroecológicas como ferramenta de


27 desenvolvimento sustentável na agricultura com dos impactos ao meio ambiente e a melhoria da saúde como um todo.

4. Referências Bibliográficas

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30

Capítulo 3

Impacto dos agrotóxicos sobre insetos alvos e não alvos Francisca Tatiana de Oliveira Souza Elisângela de Freitas Mariano Roberto Balbino da Silva Victor Herbert de Alcântara Ribeiro Thamillys do Nascimento Silva

Resumo: As substâncias químicas têm sido utilizadas desde a Antiguidade Clássica como forma de controlar ou eliminar os problemas devido aos ataques de pragas e doenças nas plantas cultivadas e nos animais de criação. Mas, o que era um “bum” logo começou a ocasionar graves danos ambientais e teve início várias discussões sobre a utilização dos agrotóxicos. Uma vez que sua utilização tem corroborado para contaminação de águas, solos, atmosfera e seres humanos. Além destes, podemos destacar ainda os efeitos dos agrotóxicos sobre os insetos úteis, que são considerados um dos organismos não alvos mais prejudicados pela exposição a esses agentes químicos. As abelhas, principais insetos polinizadores, embora não sendo insetos-alvo dos inseticidas, acabam sofrendo as consequências dessas aplicações. Em altas concentrações, os inseticidas causam a morte das abelhas e em baixas concentrações desencadeiam alterações comportamentais, além de serem caracterizados como os principais responsáveis pela redução da população desses insetos polinizadores. Portanto, a agricultura comercial de larga escala, tal como vem sendo praticada atualmente, faz o uso desordenado de agrotóxicos e ocasionam sérios danos ambientais necessitando que boas práticas agrícolas sejam adotas para diminuir o uso excessivo desses produtos químicos e a saúde ambiental seja reestabelecida.

Palavras-chave: Agricultura, Insetos, Inseticidas, Danos Ambientais.


31 1. Introdução

Os agrotóxicos, de acordo com Carvalho e Pivoto (2017), começaram a ser utilizados em escala mundial após a segunda grande Guerra Mundial, onde deixaram de servir de armas químicas e tornaram-se “defensivos agrícolas”. Na verdade, eles foram introduzidos nas grandes lavouras e disseminados para as pequenas, pois como define a lei nº 7.802 de julho de 1989, os agrotóxicos seriam: Produtos ou agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas e de outros ecossistemas e também em ambientes hídricos e industriais, cuja finalidade seja a de evitar a ação danosa de seres vivos considerados nocivos.

Com isso, no pós-guerra, na década dos anos 50, verificou–se um acelerado crescimento populacional no mundo inteiro, instalando–se uma demanda crescente por maior e mais diversificada oferta de alimentos (DE MOURA, 2014). Por isso, os países que tinham a agricultura como principal base de sustentação econômica – na África, na Ásia e na América Latina - sofreram fortes pressões de organismos financiadores internacionais para adquirir essas substâncias químicas, uma vez que alegavam aos agrotóxicos a garantia da produção de alimentos para combater a fome do mundo (CARVALHO; PIVOTO, 2011). No caso brasileiro, segundo De Moura (2014): Ocorreu aumento de áreas de cultivo em todas as regiões brasileiras a cada ano,

e,

paralelamente,

acumularam–se

gradativamente

problemas

agronômicos e sociais no campo. Outro dado importante da época é quanto à presença de pragas na lavoura brasileira. Em 1958, havia 193 pragas catalogadas e, em 1976, o número havia subido para 539, ou seja, 200% a mais em 18 anos, afirmou o Professor José Lutzenberg (José Lutzenberg; um dos mais famosos ambientalistas brasileiros). Esse crescimento de doenças e pragas fez com que o Brasil iniciasse as grandes importações e uso indiscriminado dos agrotóxicos.


32 Portanto, sua utilização na agricultura brasileira em larga escala ocorreu a partir da década de 70 e atualmente é considerado um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, gastando bilhões na sua aquisição. Porém, apesar de todos os “benefícios” que eram divulgados acerca do uso dos agrotóxicos, nada se falava a respeito de seus efeitos contrários sobre o meio ambiente em geral. Foi quando, em 1962 a bióloga Rachel Carson publicou o livro Silent Spring (Primavera Silenciosa) que abordava vários problemas ambientais ocasionados a partir do uso persistente de inseticidas e herbicidas, ou seja, agrotóxicos. Segundo Rachel Carson (2010), um dos vários tipos de agrotóxicos utilizados, o DDT penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem, com o risco de causar câncer e dano genético. O emprego de produtos químicos na agricultura tem constituído um tema de estudo e constantes debates em função dos riscos de contaminação de águas, solos, atmosfera e seres humanos quando utilizados de forma indiscriminada (CARVALHO; PIVOTO, 2011). Além destes, podemos destacar ainda os efeitos dos agrotóxicos sobre os insetos úteis, que são considerados um dos organismos não-alvo mais prejudicados pela exposição a esses agentes químicos. Uma vez que, a exemplo dos herbicidas, embora feitos para matar plantas, podem afetar a abundância e diversidade de insetos, pois muitas moléculas podem apresentar efeitos deletérios sobre várias espécies de artrópodes, inclusive insetos benéficos, tais como predadores e parasitoides (GLAESER et al, 2015; POGETTO, 2011). Portanto, a utilização de agrotóxicos na agricultura convencional vem ao longo dos anos ocasionando sérios problemas ambientais que prejudicam inclusive o setor agrícola.

2. Danos ambientais ocasionados pelo uso de agrotóxicos

As substâncias químicas têm sido utilizadas desde a Antiguidade Clássica como forma de controlar ou eliminar os problemas devido aos ataques de pragas e doenças nas plantas cultivadas e nos animais de criação (ALVES-


33 FILHO, 2000). Documentos atestam o uso de “agrotóxicos” há mais de 2000 anos AC, onde o poeta grego Homero já citava as utilidades antipragas do enxofre e outros produtos químicos, como o arsênio, e compostos orgânicos naturais, como a piretrina que é extraída das flores de crisântemos (Chrysanthemum sp), eram utilizados como inseticidas pelos gregos, romanos e chineses (FERNANDES, 2012; COSTA, 2015). A nicotina, derivada do tabaco, e a rotenona, extraída de raízes do timbó (Derris sp) já eram conhecidas por suas propriedades inseticidas há muitos anos (ALVES-FILHO, 2000). Os primeiros compostos químicos começaram a ser sintetizados durante a Primeira Guerra Mundial com a manipulação de substâncias químicas letais pelas principais potências bélicas e econômicas durante o conflito militar. O fim da guerra direcionou os organossintéticos ociosos para os fins militares para o uso agrícola, tornando-os úteis ao combate de insetos causadores da quebra da produção (MORAGAS & SCHNEIDER, 2003). Mas, foi a partir da Segunda Guerra Mundial que se iniciou mais fortemente a era dos produtos químicos sintéticos para o controle de pragas devido ao desenvolvimento da indústria de síntese química (ALVES-FILHO, 2000; FARIA, 2009). Porém, conforme está escrito em Costa (2015), o grande marco da utilização dos agrotóxicos ocorreu a partir utilização do inseticida orgânico DDT (Dicloro Difenil Tricloroetano) sintetizado pela primeira vez por Otto Ziedler em 1873, e a partir de então os produtos utilizados se mostraram cada vez mais potentes e mais específicos.E assim, no final do século XIX e início do século XX ocorreu um grande avanço no emprego de compostos químicos de ação inseticida para proteger as plantas contra doenças e pragas (COSTA, 2015). Mas, o que era um “bum” logo começou a ocasionar graves danos ambientais e durante as décadas de 1960 e 1970 nos países mais desenvolvidos teve início várias discussões sobre a utilização dos agrotóxicos (FERNANDES, 2012). Foi quando, em 1962 a bióloga Rachel Carson publicou o livro Silent Spring (Primavera Silenciosa) que abordava vários problemas ambientais ocasionados a partir do uso persistente de inseticidas e herbicidas, ou seja, agrotóxicos. Segundo Rachel Carson (2010), um dos vários tipos de agrotóxicos utilizados, o DDT penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos


34 gordurosos dos animais, inclusive do homem, com o risco de causar câncer e dano genético. Outra obra bastante interessante “O futuro roubado” de Colbornetal (1997), é considerada por Lutzenberger, no Prefácio à Edição Brasileira, como uma continuação aprofundada e atualizada do alerta de Rachel Carson em seu livro “Primavera Silenciosa (1962)”. Ao longo destes capítulos ela relata experiências e observações de diversos cientistas, inclusive seus próprios estudos sobre fatos de poluição química e suas consequências para o meio ambiente, em especial para a vida selvagem e para a saúde humana. No segundo capítulo, Colborn et al. (1997, p. 27 à 45): Coleciona artigos científicos levantados sobre a saúde da fauna e dos humanos na região dos Grandes Lagos. No decorrer do estudo constatou que agentes químicos causavam câncer em peixes. Andorinhas do mar estavam abandonando seus ninhos, ficando constatada a síndrome do enfraquecimento dos filhotes que perdiam peso e morriam. Gaivotas desnorteadas não formavam casais, acontecendo que duas fêmeas ocupavam o mesmo ninho. Essas observações deixavam claro que havia necessidade de fazer uma avaliação da saúde ambiental da região dos Grandes Lagos. John Harshbarger, especialista em câncer em animais silvestres, do Instituto Smithsonian, afirma que o aumento de câncer em peixes ocorreu após a revolução química. Ficou confirmado que causavam câncer em peixes, os hidrocarbonetos poliaromáticos ou PAHS (polyaromatic hidrocarbons), agente químico derivado do petróleo.

Devido à alta toxicidade desses compostos ao homem e ao ambiente, tais produtos foram banidos ou tiveram seu uso restrito, sendo que a partir da década de 60 começaram a surgir novos produtos chamados de terceira geração, caracterizados por serem menos tóxicos aos seres humanos (COSTA, 2015; ALVES-FILHO, 2000). No caso brasileiro, a legislação vigente regulamenta a avaliação dos agrotóxicos, classificando-os quanto ao Potencial de Periculosidade Ambiental (PPA) e quanto à Toxicidade para a saúde humana, baseada em resultados de estudos que seguem protocolos internacionalmente reconhecidos, apesar de ter sua aplicação em países de clima temperado, na maioria dos casos (FERNANDES, 2009).De acordo com a classificação toxicológica (toxicologia = estudo dos venenos), os agrotóxicos são enquadrados em 4 categorias: 1 =


35 altamente tóxicos, 2 = medianamente tóxicos, 3 = pouco tóxicos e 4 = praticamente não tóxicos (DE MOURA, 2014). Para exercer algum controle sobre o uso de agrotóxicos, entrou em vigor a partir de janeiro de 1990, a nova Lei dos Agrotóxicos, determinando que somente poderão ser utilizados aqueles produtos aprovados por órgãos públicos oficiais. Com a nova lei, os agrotóxicos têm o mesmo tratamento que os medicamentos mais fortes: só podem ser vendidos ao agricultor mediante apresentação de bula expedida por agrônomo, que instrui sobre o tipo, a quantidade e a concentração. Grande avanço nessa legislação é a possibilidade de qualquer pessoa ou entidade poder requerer o cancelamento do registro de um agrônomo. A melhor solução, entretanto, ainda é a substituição

dos

agrotóxicos

por

medidas

alternativas

(MAPA,

2009;

CARVALHO, 2011). Quanto á saúde da população os agrotóxicos atuam de duas maneiras: através das intoxicações dos agricultores durante a aplicação desses produtos ou através do consumo de alimentos contaminados com resíduos de venenos (CARVALHO, 2011). E no caso dos organismos não alvos, podemos destacar os pertencentes à classe dos insetos, e estes são afetados pelos agrotóxicos tanto de forma direta quanto indireta. O efeito direto é observado em função da toxicidade das moléculas aos organismos ou sobre a influência que estes exercem sobre os parâmetros de desenvolvimento dos insetos. E o indireto, pela promoção de alterações fisiológicas nas plantas que em alguns casos podem influenciar a bioecologia e comportamento dos artrópodes (POGETTO, 2011; BEGON et al., 2007).

2.1 Efeitos do uso de agrotóxicos sob os insetos úteis e não úteis à agricultura

Os insetos são artrópodes muito abundantes e diversos, podendo dominar cadeias e teias alimentares, atuando como predadores, parasitoides, além de desempenhar outras funções importantes para os ecossistemas, tais como a decomposição e incorporação de matéria orgânica, dispersão de sementes e polinização (GLAESER et al, 2015).


36 Muitos agrotóxicos são compostos por vários ingredientes ativos, dessa forma, é possível que ocorra diferença na toxicidade dos componentes. No entanto, há poucos estudos que avaliam os riscos da utilização dessas combinações de substâncias (COSTA, 2015). Os agrotóxicos, de maneira geral, podem afetar os organismos não alvos, e no caso dos herbicidas, existem numerosos exemplos dos efeitos diretos e indiretos destes produtos sobre eles (POGETTO, 2011; GLAESER et al, 2015). Os organismos não alvos mais susceptíveis a esses efeitos são os insetos (POGETTO, 2011; GLAESER et al, 2015). Sendo que o efeito direto é observado em função da toxicidade das moléculas aos organismos ou sobre a influência que estes exercem sobre os parâmetros de desenvolvimento dos insetos. E os indiretos, promovem alterações fisiológicas nas plantas que em alguns casos podem influenciar a bioecologia e comportamento dos artrópodes (BEGON et al., 2007). Com relação ao efeito direto, alguns autores sugerem que poucos herbicidas possuem sobre insetos, mas alguns apresentam efeito tóxico. Apesar de poucos produtos, é importante salientar que a frequência e quantidade de uso destes herbicidas são consideráveis. Há casos em que herbicidas são significativamente tóxicos a população de insetos-praga, podendo ser indicado para uso no manejo integrado de pragas. Podendo também, em contrapartida, afetar insetos e ácaros benéficos reduzir ou inibir a ação de inimigos naturais. O comportamento dos produtos varia para cada espécie de inseto e as diferentes formas em que os testes são conduzidos, podem influenciar os resultados, dificultando as comparações (POGETTO, 2011). Indiretamente, plantas tratadas com herbicidas podem ter sua fisiologia alterada em favor da população de artrópodes, seja pela redução no potencial de defesa da planta ou pelo aumento no teor de nutrientes (POGETTO, 2011). Uma função bastante importante para os ecossistemas e a sustentabilidade da agricultura é a polinização, e na maioria dos casos é de responsabilidade dos insetos. Necessitando assim, de maior atenção no manejo agrícola e nas ações conservacionistas, pois o déficit de polinização resulta em perdas de produtividade e de qualidade dos produtos agrícolas. Mas apesar de todos esses benefícios, esse serviço ambiental tão importante encontra-se em


37 declínio devido principalmente o uso de produtos químicos e industriais (FERNANDES, 2012; COSTA, 2015). As abelhas, principais insetos polinizadores, embora não sendo insetosalvo dos inseticidas, acabam sofrendo as consequências das aplicações desse tipo de agrotóxico. Em altas concentrações, os inseticidas causam a morte das abelhas

e

em

baixas

concentrações

desencadeiam

alterações

comportamentais (COSTA, 2015). Segundo Glaeser et al. (2015) pesquisas referentes ao impacto de herbicidas sobre a entomofauna podem fornecer informações relevantes para a maior preservação de organismos benéficos visando o controle biológico de “insetos-praga” em vez do uso de agrotóxicos, assim como para a sensibilização de produtores sobre a importância das bases agroecológicas para uma agricultura sustentável.

2.2 Abelhas: um caso particular

As abelhas são vespas (Hymenoptera, Aculeata) cujas fêmeas, em vez de capturarem outros artrópodes como alimento, coletam pólen e néctar diretamente nas flores para alimentarem suas larvas. Embora pareçam, à primeira vista, muito distintas de outros grupos de himenópteros aculeados, elas guardam estreita relação com um grande conjunto de vespas tradicionalmente chamadas de vespas esfecóides. Estes grupos estão reunidos em uma superfamília — Apoidea que além das abelhas, compreende quatro grandes grupos de vespas: Heterogynaidae, Ampulicidae, Sphecidaes. str. e Crabronidae, o grupo mais próximo das abelhas (SILVEIRA, MELO & ALMEIDA, 2002). Dentre estas várias espécies de abelhas há aquelas que são de grande importância nas áreas agrícolas, pois a maioria das culturas agrícolas necessitam de agentes polinizadores, como por exemplo, o maracujá-amarelo que é uma das cultivares mais plantadas no Brasil, e na região em estudo. Segundo Yamamoto, Barbosa e Oliveira (2010) e Imperatriz-Fonseca (2004) o desmatamento e a destruição das áreas naturais são apontados como as principais causas da diminuição de polinizadores, seguidas de outros fatores não menos importantes, como: o uso de agrotóxicos, a introdução de espécies


38 exóticas, a poluição ambiental, doenças e parasitos nos polinizadores manejados. Os agrotóxicos, tais como inseticidas sintéticos, são caracterizados como os principais responsáveis pela redução da população dos insetos polinizadores, principalmente as abelhas (MALASPINA et al., 2008; IBAMA, 2012; COSTA, 2015).Isso se deve ao fato de que as abelhas, embora não seja o alvo desses agentes tóxicos, fazem o forrageamento nas áreas agrícolas pulverizadas, e por isso, são muito vulneráveis à contaminação (IBAMA, 2012). A toxicidade de agrotóxicos e outras substâncias químicas podem ser avaliadas pela dose letal média (DL50), a concentração letal média (CL50) e através do tempo letal médio (TL50), que é o tempo necessário para ocasionar a mortalidade de 50% da população experimental após a aplicação ou ingestão de uma determinada dose (COSTA, 2015). Os inseticidas podem afetar as abelhas principalmente por três formas: contato (durante o forrageamento, com partículas de inseticidas que ficaram depositadas nas flores), ingestão (através do pólen e néctar contaminados por meio do uso de inseticidas sistêmicos, que é absorvido pelo tecido vegetal) e fumigação (partículas suspensas de inseticidas que foram aplicados na área agrícola) e, seus efeitos podem ser em longo prazo, como danos no funcionamento da colônia e diminuição da longevidade dos indivíduos, ou mesmo a morte devido à toxicidade aguda (MALASPINA et al., 2008; IBAMA, 2012). Nos últimos anos vários estudos demonstram que as abelhas são expostas a uma ampla gama de agrotóxicos e que alguns desses produtos têm efeitos interativos com outros produtos ou estado de saúde das abelhas, como parasitas e/ou vírus nas abelhas (FERNANDES, 2012).Isso porque esses insetos podem visitar determinada cultura que recebeu diversas aplicações seguidas umas às outras de diferentes tipos de inseticidas, os agrotóxicos podem ter sido aplicados concomitantemente, ou ainda às abelhas podem visitar mais de uma cultura que foi pulverizada por inseticidas de grupos distintos (COSTA, 2015). A densidade e a atratividade das flores de plantas em pleno florescimento, contaminadas pela aplicação de determinados pesticidas, é a principal causa de mortalidade dos polinizadores (efeito agudo), porém baixos


39 níveis de doses e/ou baixa frequência de aplicação podem afetar o comportamento das abelhas forrageiras e reduzir o vigor da colônia (efeitos sub-letais) (Freitas & Pinheiro 2010). Em seu trabalho, Soares (2016) demonstra que as abelhas Apis mellifera expostas às dosagens recomendadas para a cultura do meloeiro, independente da forma, apresentaram distúrbios neurológicos seguido de morte, devido os neonicotinoides atuarem como agonistas do receptor póssináptico nicotínico da acetilcolina (nAChR) causando hiperexcitabilidade em insetos. De acordo com Pinheiro & Freitas (2010): “no Brasil, em extensas áreas com monoculturas, tais como soja (Glycinemax), milho (Zea mays), algodão (Gossypium spp.) e cana de açúcar (Sacharum officinarum), por exemplo, onde as áreas são pulverizadas, em geral, num único lapso de tempo, o impacto sobre as abelhas deve ser bem mais acentuado e significativo que em áreas de menor extensão, onde são cultivadas hortaliças e fruteiras, por exemplo, que utilizam mais a mão-de-obra familiar, razão pela qual, devido ao ritmo mais lento, não se pode pulverizá-las na sua plenitude, num único período de tempo. A diminuição de polinizadores em algumas culturas que apresentam exigências de polinização comprometeria sua produção, com perdas significativas na produtividade (SOARES, 2016). A respeito das demais culturas, que aparentemente não tem as abelhas como fator de produção, o uso desses inseticidas pode afetar outro seguimento importante que é a produção de mel, pois além dos fatores mencionados anteriormente, as abelhas ao coletarem néctar contaminado durante o forrageamento, suas colmeias teriam o mel contaminado com esses resíduos (RISSATO et al 2006; SOARES, 2016). Apesar de alguns estudos realizados, atualmente não se conta com informações suficientes nos protocolos internacionais como, por exemplo, estudos utilizando doses subletais e estudos conduzidos com espécies nativas para a avaliação do parâmetro abelha que suportem a adequação desses documentos à realidade brasileira. Os protocolos de toxicidade de agrotóxicos descritos e padronizados utilizam somente Apismellifera (FERNANDES, 2012).


40 3. Abelhas no Seridó Oriental Paraibano: estudo de caso no Distrito Santa Luzia, Picuí-PB

O Distrito Santa Luzia, Picuí-PB, localiza-se próximo a cidade de Nova Floresta e apresenta bastante tendência a agricultura por suas características climáticas e edáficas. As produções perenes se destacam em grandes quantidades, principalmente as espécies frutíferas, como é o caso do maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis Flavicarpa Deg.). Essa cultura utiliza um sistema de irrigação por gotejamento e representa grandes parcelas das propriedades rurais que a cultivam. Os plantios são cultivados em épocas distintas proporcionando uma produção durante o ano todo. O Brasil é considerado o maior produtor mundial de maracujá, porém, essa quantidade de produção poderia ser muito maior, uma vez que fatores como: desmatamento excessivo das áreas nativas e uso frequente de agrotóxicos

nas plantações têm

reduzido

a

população

dos agentes

polinizadores nas áreas de cultivo, diminuindo a polinização e ocasionando uma drástica redução na produção da cultura (SOUZA et al, 2014). A polinização é um processo essencial para a fecundação dos óvulos das flores, pois originam as sementes, os frutos e assegura a produtividade das culturas. Para realização dessa polinização as plantas necessitam de agentes polinizadores, que no caso do maracujá amarelo (P. edulis Flavicarpa Deg.), devido suas particularidades florais, são realizados por abelhas grandes, do gênero Xylocopaspp. que são conhecidas popularmente como mamangavas (KLEIN et al.2007; FREITAS E ALVES, 2009). A concentração populacional adequada desses polinizadores dificilmente é encontrada na maioria das regiões produtoras de maracujá amarelo no Brasil (CAMILLO, 2003). Apesar da consciência dos produtores por parte da necessidade dessas abelhas em suas áreas, o péssimo manejo da vegetação nativa e do agroecossistema vêm impedindo seu desenvolvimento, pois de acordo com Klein et al. (2007), a remoção das matas nativas que servem de abrigo, descanso e nidificação para estas abelhas, o uso pesado de agroquímicos e a falta de divulgação de formas de criação e manejo racional, favorecem o declínio desses polinizadores nas áreas agrícolas.


41 Segundo Souza et al (2014), em seu trabalho realizado no Distrito Santa Luzia, Picuí-PB, o número de mamangavas em forrageamento e em nidificação em uma área de maracujá amarelo depende do número de flores da cultura em antese na área. As mamangavas nidificam em troncos de caraibeira (Tabebuia caraíba) e umburana (Amburana cearenses) com espessura acima de 25 cm. Porém, em outro trabalho na mesma região, realizado em condições e época diferentes, Souza (2016) afirma que possivelmente o número de polinizadores no plantio não está diretamente relacionado apenas com a quantidade de floração, uma vez que os meses de dezembro e janeiro, que tiveram maior índice de floração, foram os que apresentaram menor frequência de polinizadores. A frequência e a presença de polinizadores no plantio não estão relacionadas apenas com a taxa de floração ou a proximidade a fragmentos florestais ou a até mesmo a inserção de ninhos para essas abelhas dentro do plantio, mas sim a fatores intrínsecos a cultura, aos polinizadores e ao ambiente ao qual estão inseridos (SOUZA, 2016). Um sinal de alerta que também deve ser levado em consideração são as práticas de cultivos realizadas na região pesquisada. Os cultivos são instalados sobre o solo totalmente descoberto, devido os desmatamentos secularmente praticados, e o uso de agrotóxicos estão cada vez mais presentes e em quantidades sempre maiores já que os solos não apresentam mais sua fertilidade natural e os fertilizantes químicos são facilmente lixiviados. Ou seja, os agentes polinizadores dessas áreas apesar de encontrarem néctar e pólen disponíveis na época de floração da cultura também são altamente afetados com a contaminação pelos agrotóxicos utilizados nessas áreas. Conforme Malaspinaet al (2008) e IBAMA (2012), os inseticidas podem afetar as abelhas principalmente por três formas: contato (durante o forrageamento, com partículas de inseticidas que ficaram depositadas nas flores), ingestão (através do pólen e néctar contaminados por meio do uso de inseticidas sistêmicos, que é absorvido pelo tecido vegetal) e fumigação (partículas suspensas de inseticidas que foram aplicados na área agrícola) e, seus efeitos podem ser em longo prazo, como danos no funcionamento da


42 colônia e diminuição da longevidade dos indivíduos, ou mesmo a morte devido à toxicidade aguda. Portanto, a ausência desses polinizadores nos cultivos de maracujá amarelo da região pode está ligada ao uso intensivo de agrotóxicos, uma vez que são utilizados desde o início do plantio e intensificados no período anterior a floração.

4. Considerações Finais

A agricultura comercial de larga escala, tal como vem sendo praticada atualmente, faz o uso desordenado de agrotóxicos. Porém, devido aos danos que esses produtos causam em organismos alvos e não alvos devem ser utilizados corretamente e/ou avaliada sua real necessidade de utilização. Então, a adoção de boas práticas agrícolas pode diminuir o uso excessivo de inseticidas, como por exemplo, a presença de fragmentos de vegetação nativa, pois pode contribuir com o controle biológico de insetos considerados pragas de cultivos e assim reduzir a aplicação de produtos químicos que encarecem o produto e poluem o meio ambiente.

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47 Capítulo 4

Efeito do uso de agrotóxicos em comunidades de fungos micorrízicos e bactérias fixadoras de nitrogênio Elisângela de Freitas Mariano André Luís Pereira dos Santos Gabriela Torres Costa Lima José Wellington de Medeiros Estrela Joseilson Moreira de Araújo

Resumo: Os microrganismos do solo, quando em equilíbrio, podem significar produtividade agrícola, qualidade do solo e qualidade ambiental. Dentro da microfauna atuante, nos horizontes mais superficiais do solo, os fungos micorrízicos e às bactérias fixadoras de nitrogênio podem ser citadas como principais microrganismos que trazem benefícios diretos às plantas das comunidades vegetais naturais e dos sistemas agrícolas. No entanto, a agricultura brasileira se apresenta no cenário mundial como a maior consumidora de agrotóxicos para uso nos sistemas agrícolas, no entanto, os efeitos desses insumos em microrganismos benéficos do solo precisam ser evidenciados. Nesse sentido, objetivou-se com esse estudo compreender os reais efeitos de agrotóxicos em fungos micorrízicos arbusculares e em bactérias fixadoras de nitrogênio. Os estudos recentes apontam que os fungos micorrízicos são menos afetados pelo uso do diferentes agrotóxicos em relação às bactérias fixadoras de nitrogênio. São necessárias pesquisas que considerem os diferentes biomas brasileiros, sob distintas cultivos em um espaço maior de tempo para elucidar os reais efeitos desses insumos nos sistemas agrícolas.

Palavras-chave: Solo, Fertilidade, Microrganismos.


48 1. Introdução

O solo pode ser definido como um conjunto de corpos naturais, nele, é abrigado a água, nutrientes essenciais as plantas e um conjunto de organismos vivos. Na sua constituição são observadas três dimensões a sólida, a líquida e a gasosa (SANTOS et al., 2013). Até 5% da fração sólida do solo é composta por matéria orgânica, geralmente encontrada nos horizontes mais superficiais. Nesse espaço, há alta atividade microbiológica, realizada por bactérias e fungos aeróbicos e anaeróbicos, atuantes na mobilização de elementos essenciais à nutrição vegetal. Quando em equilíbrio, os microrganismos do solo desempenham papel fundamental para as comunidades vegetais. Na medida que atuam na decomposição da matéria orgânica do solo proporcionando a liberação lenta e continua dos elementos essenciais, que assumem a forma inorgânica, disponíveis para a absorção das plantas. Essa atividade microbiológica, também denominada de ciclagem de nutrientes, é essencial para a manutenção das florestas tropicais, onde há predomínio de solos pobres e ácidos (SCHUBART, FRANKEN, LUIZÃO et al., 2006) Nos sistemas agrícolas, microrganismos podem atuar diretamente no incremento de nitrogênio, através da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), nesse caso, as bactérias do gênero Rhizobiume Bradyrhyzobium e os actinomicetosdo gênero Frankia, fixam o nitrogênio atmosférico (N2) e o transformam em formas assimiláveis pelas plantas (NH4+), através de uma relação simbiótica (TAIZ & ZEIGER, 2013). Os fungos também atuam na mobilização direta de fósforo e outros nutrientes essências a nutrição mineral de plantas, por meio de uma relação mutualística, denominada micorrizas (HAVEN et al., 2007). Ao analisarem a cultura do milho (Zea mays L.), Lázaro et al. (2013) perceberam aumento da produtividade em função da FBN promovida por bactérias, em sistema cultivo consorciado entre de tremoço branco, aveia preta, nabo forrageiro.Rufini et al. (2011), constataram que populações nativas de bactérias são eficientes no fornecimento de nitrogênio para a cultura do feijão comum (Phaseolus vulgaris L.). As inoculações das sementes de feijãocaupi (Vigna unguiculata L.) com as cepas de bactérias diazotróficas


49 resultaram em rendimento de grãos equivalente a testemunha adubada com nitrogênio mineral (COSTA et al., 2011). Pode-se inferir que a FBN através da adubação verde pode ser recomendada em substituição a adubação mineral. Augé (2001), estudou a atividade de fungos micorrízicos em simbiose e plantas livres da simbiose, e percebeu que as plantas micorrizadas sob a influência da seca apresentavam: maior sensibilidade de estômatos à umidade, maior taxa fotossintética, maior tempo de seca requerido para declínio do potencial hídrico da folha e menor tempo para recuperação do potencial hídrico após término do período de seca, maior eficiência de uso da água pela planta maior atividade de enzimas como nitrato redutase, menor abcisão foliar, necrose foliar, maior proporção de área verde, atraso de senescência da folha, atraso e recuperação mais rápida do amarelecimento de folhas em diversas espécies vegetais. Há muitos benefícios dos organismos do solo nos sistemas agrícolas. No entanto, até o ano de 2014 foi registrado aumento no consumo de agrotóxicos no Brasil, no ano de 2015 foi constado uma redução de 21,56% em relação ao ano anterior, ainda sob essas condições, o consumo de agrotóxico totaliza um custo de US$ 9,6 bilhões anual país (SINDIVEG, 2015). De acordo com o relatório da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) (2015), o Brasil é maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Um dos principais problemas em relação a isso, refere-se ao uso desses insumos na agricultura e suas reais implicações nos microrganismos benéficos aos sistemas agrícolas. Desse modo, objetivou-se com esse estudo compreender a influência de agrotóxicos na qualidade microbiológica de solos colonizados por micorrizas arbusculares e Bacterias fixadoras de Nitrogênio.

2. Desenvolvimento 2.1 Micorrizas

As micorrizas são interações benéficas entre fungos e o sistema radicular das plantas, é de comum ocorrência em ambientes naturais ou em áreas agrícolas (HAVEN et al., 2007). Cerca de 83% das dicotiledôneas, 79% das monocotiledôneas e todas as angiospermas estão em simbiose com fungos micorrízicos, as micorrizas não ocorrem em solos secos, salinos, inundados, com fertilidade extremamente alta ou baixa, bem como, nas


50 Crucíferas, nas Chenopodiáceas e são muito raras nas Proteáceas sob qualquer condição de ambiente (KERBAUY, 2004). As associações micorrízicas

conferem

as plantas aumento da

capacidade de absorção de água e dos elementos essenciais, especialmente o fósforo, podendo ainda oferecer proteção contra o ataque por fungos patogênicos e nematoides (HAVEN et al., 2007). Em troca desses benefícios, o fungo recebe da planta hospedeira carboidratos e vitaminas essenciais para o seu

crescimento

(TAIZ

&

ZEIGER,

et

al.,

2013).

Os

fungos

micorrízicosarbusculares ainda contribuem para a estruturação de espécies vegetais no solo, na medida que seus micélios frequentemente interconecta o sistema radicular das plantas da mesma espécie ou de espécie distinta (NEWMAN, 1988). As micorrizas podem ser classificadas em dois tipos: as ectomicorrizas e as endomicorrizas.No caso das ectomicorrizas, as hifas fúngicas penetram os espaços intercelulares do córtex, formando uma camada densa de micélios revestindo o sistema radicular das plantas, denominado rede de Hartig (TAIZ e ZEIGER, 2013; KERBAUY, 2004). A maioria das ectomicorrizas são formadas por fungo Basidiomycetes, incluindo muitos gêneros de cogumelos, mais algumas ectomicorrizas envolvem associações com ascomicetos, inclusive trufas (Tuber) e morchelas comestíveis (Morchella) (HAVEN et al., 2010). Em relação as endomicorrizas, as hifas do fungo penetram as células corticais da raiz da planta, formando estruturas intensamente ramificada denominadas arbúsculos, os fungos pertencentes a essa classe são os gêneros: Acaulaspora, Gigaspora, Glomus e Sclerocystis (KERBAUY, 2004). As Micorrizasarbusculares são de maior ocorrência nas comunidade vegetais e em sistemas agrícolas.

2.2 Bactérias fixadoras de nitrogênio A fixação biológica de Nitrogênio, realizada por bactérias, refere-se ao processo de conversão do nitrogênio atmosférico em formas assimiláveis pelas plantas, a reação é catalisada pela nitrogenase, enzima presente na bactéria (HUNGRIA, 2013). As sementes em germinação exsudam moléculas atraentes as bactérias, esses organismos penetram as raízes da planta resultando no


51 crescimento de células específicas, esse processo formará os nódulos nas raízes (HUNGRIA, 2001). Os principais gêneros de bactérias envolvidas na Fixação Biológica de Nitrogênio

(FBN)

são:

Azorhizobium,

Bradyrhizobium,

Photorhizobium,

Rhizobium e Sinorhizobium (TAIZ e ZEIGER, 2013). A FBN ocorre em plantas pertencentes a família das Fabaceae, cujo principais representantes de importância para a agricultura são o feijão (PhaseolusvulgarisL.), o feijão-caupi (VignaunguiculataL.) e a soja (Glycinemax L.).

2.3 Influência do uso de agrotóxicos no desenvolvimento de fungos micorrízicos Na cultura da Soja Round up Ready, Reis et al., (2014), dentre outras variáveis

analisadas,

buscaram

compreender

o

efeito

de

diferentes

formulações do glyfosate na colonização por micorrizas em uma área de Latossolo Vermelho-Amarelo. As formulações de glyfosate testadas foram: Roundup Original®, Roundup Ultra®, Trop®, Roundup WG®, RoundupTransorb® e ZappQI®, todas aplicadas na dose de 720 g e.a. ha -1 de glyphosate. As diferentes formulações comerciais de glyphosate não afetaram a colonização micorrízicadas plantas de soja no primeiro ano do experimento. No segundo, as formulações Trop®, Roundup WG®, RoundupTransorb e ZappQI® diminuíram a atividade micorrízica. Ainda na cultura da soja (Glycinemax L.), Malty et al. (2006) avaliaram o efeito do herbicida Roundup (glifosato) sobre Fungos Micorrízicos Arbusculares (FMA), em meio de cultura com doses crescentes do herbicida e micorrização da soja em solo submetido a doses do herbicida. Nos meios de cultura a germinação e o crescimento dos tubos germinativos dos esporos, das espécies de FMA, em ágar-água, mostram comportamento diferente em relação às doses de glifosato, Glomusetunicatum é sensível, Gigaspora margarita é tolerante e Scutellospora heterogama tem comportamento intermediário. A aplicação do Roundup no solo até 10 L ha -1, não influencia na colonização micorrízica da G. max. Na cultura do amendoim (Arachis hypogaea L.). Peixoto et al. (2010) analisaram o efeito do herbicida trifluralin e de duas espécies de fungos micorrízicos (Gigaspora margarita e Acaulospora scrobiculata) na micorrização


52 e no crescimento inicial de plantas. Esses autores concluíram que o herbicida trifluralin prejudica a micorrização e o crescimento inicial da A. hypogaea. O fungo Gigaspora margarita promove o crescimento inicial da A. hypogaea, no entanto, o fungo Acaulospora scrobiculata não foi efetivo em promover esse crescimento. Focchi et al. (2004), analisaram a atividade micorrízica em um sistema de cultivos convencional e orgânico para produção de citros e em uma área de floresta. Em todas as áreas analisadas encontraram-se 26 espécies de FMA autóctones em citros. Em relação aos tipos de manejo, não foram observadas diferenças entre as comunidades de FMA e a riqueza de espécies. No entanto, foi constatada modificações nas características do solo determinadas pelas aplicações dos adubos orgânicos, que aumentaram os valores de pH, Matéria Orgânica, Ca e Mg. Na cultura da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.), Reis et al. (2009) avaliaram os efeitos dos herbicidas trifloxysulfuronsodium, ametryn, trifloxysulfuron-sodium + ametryn e sulfentrazone sobre a colonização micorrízica arbuscular. Os herbicidas não interferiram na atividade das fosomonoesterases ácidas nas épocas avaliadas. Ambos os cultivares avaliados apresentaram maiores valores de colonização quando tratados com ametryn. De modo geral, constatou-se incremento da colonização micorrízica do sistema radicular em função do tempo. Silva et al. (2014) estudaram o impacto da aplicação dos herbicidas sulfentrazona, isoxaflutol e oxyfluorfem sobre a colonização micorrízica, biomassa e atividade microbiana de dois solos florestais cultivados com eucalipto. No solo franco-arenoso, o sulfentrazona foi mais prejudicial à biomassa microbiana, à colonização micorrízica e aos micro-organismos solubilizadores de fosfato inorgânico. No solo argiloso, no entanto, a aplicação dos três herbicidas não afetou a biomassa microbiana, mas reduziu a colonização radicular do eucalipto por fungos micorrízicos arbusculares e o potencial de solubilização de fosfato inorgânico.


53 2.4 Influência do uso de agrotóxicos na fixação biológica de nitrogênio REIS, et al. (2014), ao estudarem o processo de nodulação na cultura da soja sob diferentes formulações de glyphosate (Trop®, Roundup Original®, Roundup Ultra®, Roundup WG®, RoundupTransorb R® e ZappQi®) perceberam que quantitativo de nódulos foi inferior a partir do uso das formulações de RoundupOriginal®, ZappQi® e Roundup Ultra®, emrelação à testemunha capinada, porém a matéria seca dos nódulos não foi afetada. Ainda na cultura da soja (GlycinemaxL.), Malty (2006) avaliou o efeito do herbicida Roundup (glifosato) sobre estirpes de Brady rhizobium spp. As estipes de bactérias Brady rhizobium elkanii, espécies isoladas de solo amazônico, que nunca tiveram contato com herbicidas apresentaram sensibilidade ao uso Roundup. Estes mesmos autores também perceberam que as doses crescentes de Roundup inibiram o desenvolvimento de todas as estipes de bactérias. Campo et al. (2003) avaliaram combinações de fungicidas nas sementes de soja, por vários anos, em solo com e sem colonização por Brady rhizobium. Nesse trabalho, foi constatado que as combinações de fungicidas reduziram a nodulação e a Fixação Biológica de Nitrogênio. Foi percebido também, que os efeitos negativos dos fungicidas são mais expressivos em solos sem população estabelecida de Brady rhizobium, resultando em implicações negativas no desenvolvimento das bactéria no solo e a eficiência de FBN. Nas sementes de feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) tratadas com os fungicidas carbendazim + tiram, carbendazim + tiram, carboxin + tiram, fludioxonil + metalaxil-M, fludioxonil + metalaxil-M + tiabendazol, fluazinam + tiofanato metílico, fipronil + tiofanato metílico + piraclostrobina, clorotalonil + tiofanato metílico, Kintschev et al. (2014), avaliaram a sobrevivência de estirpe de Rhizobium tropici e Rhizobium freirei, na nodulação das plantas e na produtividade da cultura. A aplicação de fungicidas resultou em uma redução na nodulação das plantas de feijoeiro, especialmente na massa nodular, tanto nos ensaios conduzidos em substrato esterilizado, em casa de vegetação, quanto no experimento no campo, onde também se observou uma redução na produtividade da cultura pela aplicação da maioria dos fungicidas avaliados.


54 3. Considerações Finais As formulações do glifosatoTrop®, Roundup WG®, RoundupTransorb R® e Zapp QI® podem comprometer a atividade micorrízica na cultura da soja (Glycinemax L.) em longo prazo. Alguns gêneros de fungos micorrízicos podem ser mais frágeis ao uso do glifosato. O herbicida trifluralin influenciou negativamente na micorrização e no crescimento inicial de plantas de amendoim (Arachis hypogaea L.). A atividade micorrízica em sistemas orgânicos e convencionais foram similares. Solos argilosos e arenosos podem influenciar no desenvolvimento das micorrizas após a aplicação de herbicidas. Quando não afetam o desenvolvimento dos fungos, alguns agrotóxicos podem promover aumento na colonização micorrízica. Na cultura da G.max (L.), bactérias fixadoras de nitrogênio se apresentaram mais sensíveis as formulações Roundup Original®, ZappQi® e Roundup Ultra® do glifosato. Espécies de bactérias que nunca tiveram contato com fungicidas, são mais sensíveis, esse fenômeno pode implicar no desenvolvimento efetivo desses microrganismo no solo. O uso de fungicidas para o tratamento de sementes tem implicações negativas na atividade bacteriana e consequente influenciando na produtividade das culturas da G. max (L.) e do feijão (Phaseolus vulgaris L.), em função da baixa fixação do nitrogênio. É possível perceber ainda, que há poucos estudos que elucidem os efeitos dos agrotóxicos nas micorrizas e nas bactérias fixadoras de nitrogênio, nos solos cultivados em longo prazo, bem como, em diferentes culturas, sob distintas condições climáticas.

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58 Capítulo 5

Importância dos alimentos orgânicos para a segurança alimentar Gabriela Torres Costa Lima João Batista Tavares Junior José Wellington de Medeiros Estrela Marcos Barros de Medeiros Resumo: Ao longo dos anos a modernização da agricultura foi imposta com o intuito de maior produção de alimento para erradicação da fome, não sendo levado em consideração o meio ambiente e a saúde da população. O objetivo deste estudo foi de analisar a qualidade dos alimentos orgânicos e sua importância para a segurança e soberania alimentar. Observamos que os alimentos orgânicos estão se tornando mais procurados pelos consumidores, uma vez que não são expostos a substâncias químicas, aumentando assim, a segurança alimentar uma vez que a saúde está diretamente ligada à qualidade do alimento consumido. A produção de alimentos em quantidade e qualidade e acessíveis a população é necessário para se obter a segurança alimentar que, por sua vez, abre espaço para a soberania alimentar, enfocando a autonomia do agricultor, nos mercados locais, na produção e consumo de alimentos sustentáveis e ecológicos. Através desse estudo podemos observar a importância da agroecologia para a mudança no modelo de agricultura, pois, a mesma proporciona melhor qualidade de vida ao produtor e consumidor. Palavras- chave: Agroecologia, Soberania Alimentar, Agrotóxico.

1. Introdução

Os seres humanos sempre dependeram da natureza para retirar o seu alimento, quando nômades alimentava-se daquilo que era possível retirar da natureza sem destruir seu ecossistema. Ao fixar-se a terra surgiu a produção de alimentos, através do cultivo de plantas e adestramento de animais.


59 A prática da agricultura na antiguidade foi conduzida sem uso de insumos químicos e de maquinários pesados, onde havia uma integração e diversificação entre lavoura e pecuária. Após a Segunda Guerra Mundial esse cenário foi modificado, pois no final da década de 1940 com o processo de modernização da agricultura desencadeado pela Revolução Verde, foi proporcionado tecnologias e o agricultor passou a conduzir seus cultivos com a utilização de fertilizantes e pesticidas sintéticos e com mecanização agrícola. O processo de industrialização foi iniciado no século XVIII e intensificouse nos séculos XIX e XX alterando relação ser humano versus natureza. O surgimento das cidades proporcionou o aumento no consumo de alimento e a diminuição da população rural. A agricultura foi transformada numa indústria para alimentar uma população que aumenta em grande escala o seu número de habitantes urbanos, passando a adotar características empresariais, aumentando a produção de alimentos, transformando o excedente em economia rural. A utilização de métodos artificiais, como os fertilizantes e pesticidas químicos, a manipulação genética, a irrigação e hormônios para acelerar o crescimento de animais, foram estratégias utilizadas para a produção em grande escala de alimentos. Se de um lado tais práticas fizeram aumentar a produção, e os lucros, do outro vêm causando sérios danos ao meio ambiente e a saúde humana. As práticas de desmatamentos, o cultivo de monoculturas, geram

consequências

desastrosas

para

o

meio

ambiente

como

a

contaminação de águas e solos, desertificação, diminuição da biodiversidade, ou mesmo, a extinção de espécies vegetais e animais, aumento de processos erosivos, assoreamento de rios e lagos, elevação das temperaturas regionais e locais, diminuição dos índices pluviométricos, entre outros danos. A agroecologia surge como um modelo de agricultura sustentável de produção de alimentos a fim de barrar os desastres que assolam o meio ambiente. Essa ciência leva em conta uma série de fatores como a preservação ambiental, a preservação da biodiversidade, a conservação do solo e água, incluindo fatores sociais, como a geração de trabalho e renda, a promoção de educação, e da qualidade de vida, estimula o associativismo e o cooperativismo e o enraizamento das famílias rurais.


60 2. Qualidade dos alimentos orgânicos Hoje seis entre dez doenças mortais estão relacionadas à dieta, doenças degenerativas e carenciais crescem em todas as classes da população. Nos dias atuais a alimentação pode ser definida como duvidosa, no que diz respeito a manipulação do alimento industrializado, pois o mesmo passa cada vez mais por processos de desnaturação e utilização de substância para sua conservação, práticas que ocorrem desde o cultivo e a produção até a distribuição. Os conceitos de alimentos orgânicos estão tornando-se cada vez mais difundidos, mas grande parte dos alimentos ingeridos pela população provém da produção convencional. Neste sistema utiliza-se uma grande quantidade de agrotóxicos, como adubos químicos, hormônios, antibióticos, aditivos sintéticos e se recorrem a técnicas de manipulação genética em sua produção, sem que haja um controle ou uma avaliação profunda das consequências dessas práticas. No processo de industrialização novas substâncias surgem a todo momento, conhecidos como aditivos sintéticos (aromatizantes, corantes, espessantes, acidulantes), para baratear os custos, garantir a conservação e aumentar o tempo de prateleira. Experiências realizadas em laboratórios já mostraram que o ciclamato e a sacarina, usados em alimentos diet, causam câncer em cobaias. Segundo NikhilInadamar e Bernard Levin, médico do departamento de Oncologia Gastrintestinal e Doenças Digestivas, da Universidade do Texas, os hidrocarbonetos aromáticos responsáveis pela manutenção do odor, podem ser carcinogênicos. O processo de hidrogenação química da margarina, a manipulação genética dos alimentos, irradiação dos vegetais ou refinamento de açúcar e sal, são processos que podem aumentar a toxidade dos alimentos tornando-os alergênicos, além de diminuir o valor nutritivo deles. Na produção animal não é diferente, utilizam-se de antibióticos e hormônios sem maior controle e seu uso indiscriminado vem sendo associado à aceleração do crescimento biológico das crianças e até mesmo à esterilidade em adultos. Essas substâncias apesar de previamente testadas em animais, na maioria das vezes, são ofertadas em doses acima das recomendadas. As consequências da ingestão desses


61 produtos não aparecem de imediato, tem efeitos cumulativos, sendo associados a várias doenças que devem ser alvo de estudos. A Agência Francesa de Segurança Alimentar (AFSSA) realizou uma avaliação de estudos sobre qualidade nutricional dos alimentos orgânicos comparados aos convencionais e encontrou os seguintes resultados: maior teor de matéria seca em tubérculos, raízes e folhas; maior teor de ferro e magnésio em vegetais como batata, couve, cenoura, beterraba, alho-poró, alface, cebola, aipo e tomate; mais vitamina C na batata, alho-poró, couve e aipo; maiores quantidades de betacaroteno no tomate, cenoura e leite orgânicos; maiores quantidades de fitoquímicos na maçã, pêssego, pera, laranja, cebola, tomate, batata, pimentão, óleo de oliva (compostos fenólicos), vinho (resveratrol) e tomate (ácido salicílico). O estudo francês destaca ainda o maior teor de ácidos graxos poli-insaturados no leite, ovos e carnes orgânicas, uma vez que a dieta à base de pasto e a criação livre preconizada no manejo animal orgânico têm como resultado carne e leite com menores teores de gordura saturada. Ambas as revisões confirmam o teor aumentado de nitratos em alimentos de origem convencional. A

qualidade

alimentar

está

se

tornando

uma

das

principais

preocupações dos consumidores conscientes. As motivações para o consumo de alimentos orgânicos variam em função do país, da cultura e dos produtos. Percebe-se que existe uma tendência do consumidor orgânico privilegiar, aspectos relacionados à saúde e sua ligação com os alimentos, o meio ambiente e à questão do sabor e frescor dos alimentos orgânicos. No Brasil, a preocupação com a saúde é a principal motivação para compra de alimentos orgânicos. Uma pesquisa encomendada pelo SEBRAEPR e realizada pelo DATACENSO (2002) nos estados do Sul e Sudeste do Brasil mostrou que os principais motivos que levaram a consumir os alimentos orgânicos foram: em 1º lugar e 2º lugar, “faz bem à saúde”; em 3º lugar, “sem agrotóxicos”, em 4º lugar, “mais sabor”; e em 5º lugar, “natural e qualidade do produto”. Segundo a mesma pesquisa, os consumidores dos alimentos orgânicos são adultos e idosos pertencentes às classes sociais A e B. Importante salientar que o alimento orgânico deve ser oferecido para todas as camadas da população, levando em consideração não só os aspectos técnicos e econômicos, mas também os sociais e políticos.


62 O respeito com o meio ambiente, o conhecimento da origem do alimento que está sendo consumido, o mercado justo e solidário com as exigências de ordem social e ética tornaram-se prioridades quando se pensa no consumo de alimento de qualidade. A produção orgânica deve ser informada ao consumidor a fim de sensibiliza-lo acerca da importância do consumo desses alimentos. A busca por qualidade de vida é motivação para promover mudanças e adquirir hábitos saudáveis, profissionais da saúde devem multiplicar essas informações de quão importantes esses alimentos são para a saúde humana. O selo alimento orgânico oferece segurança aos consumidores, pois é a garantia que os alimentos não foram submetidos a radiações ionizantes, não possuem organismos geneticamente modificados ou transgênicos em sua composição e não houve utilização de agrotóxicos em sua produção. É importante que haja uma ação efetiva da sociedade na busca por uma alimentação de qualidade, para que os alimentos convencionais não sejam padrão dominante no mercado de alimentos.

2.1 Segurança alimentar e soberania alimentar Segurança alimentar está relacionada com a necessidade de produção de alimentos em quantidade, qualidade e com o acesso da população aos alimentos produzidos. Ao longo dos anos o conceito de segurança alimentar vem sofrendo uma série de mudanças. Essa expressão surgiu em 1974 durante a Conferência Mundial da Alimentação promovida pela FAO (Organização das Nações Unidas). Em 1996, a FAO estabelecia que a segurança alimentar se trata de “assegurar o acesso aos alimentos para todos e a todo o momento,em quantidade e qualidade suficientes para garantir uma vida saudável e ativa”. A partir deste conceito, ficou explicita a importância de uma agricultura que produza alimentos básicos e com qualidade biológica. O conceito alerta para a necessidade de uma agricultura respeitosa com o meio ambiente, que assegure a conservação da base de recursos naturais indispensável para a produção ao longo do tempo. Esta preocupação se justifica quando a FAO, diagnostica que, ao longo das décadas de Revolução Verde, houve um crescimento significativo da fome no mundo. No mesmo período cresceu o êxodo rural e aumentou a pobreza tanto rural como urbana. Hoje existem no mundo mais de 800 milhões de pessoas passando fome. No


63 Brasil, apesar de não haver consenso sobre os números apresentados nas estatísticas, há pelo menos 44 milhões de habitantes sem as condições alimentares adequadas (CAPORAL e COSTABEBER, 2003). No Brasil a discussão em torno da segurança alimentar se desenvolveu a partir de 1991, quando a oposição política (o Partido dos Trabalhadores – PT) reconheceu que o problema da fome estava vinculado a problemas estruturais da economia. O tema começou a ganhar notoriedade no cenário político, passando a ser pensado, discutido e posto em prática também por outros segmentos da esfera política e da sociedade em geral (PESSANHA, 2002). A realização da Conferência Nacional de Segurança Alimentar, em Brasília, no ano de 1994, é um dos momentos históricos importantes para o enfretamento do problema da segurança alimentar. Nesse momento, mais de dois mil delegados, de diferentes regiões, reuniram-se para discutir estratégias de combate à situação de insegurança alimentar de 32 milhões de brasileiros. As propostas foram inúmeras e pautaram na definição de três eixos de trabalho: Reduzir o custo dos alimentos e seu peso no orçamento familiar; Assegurar saúde, alimentação e nutrição a grupos populacionais determinados e Assegurar a qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos alimentos e seu aproveitamento, estimulando praticas alimentares e estilos de vida saudáveis. A legislação brasileira no que tange a Segurança Alimentar e Nutricional, é entendida da seguinte forma: “A Segurança Alimentar e Nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis.” Para alcançar este conceito estratégias de desenvolvimento rural para um alimento de boa qualidade devem ser priorizadas, o conceito de soberania alimentar deve ser entendido e implementado pelo estado. Mudanças fundamentais na utilização de pacotes tecnológicos, nas ações da extensão rural, na mudança do perfil dos financiamentos pelo crédito rural devem ser levadas em consideração para haja o alcance deste conceito.


64 O conceito de soberania alimentar foi inicialmente postulado pela Via Campesina e pode ser enunciado como “o direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente adequados, acessíveis, produzidos de forma sustentável e ecológica, e o direito de decidir seu próprio sistema alimentar e produtivo.” A soberania alimentar enfoca na autonomia local, nos mercados locais, nos ciclos locais de produção-consumo, na soberania energética e tecnológica, e nas redes de agricultor a agricultor. Por essa razão a Vía Campesina acredita que, a fim de proteger os sustentos, o meio ambiente, a segurança alimentar e a saúde da população, a produção de alimentos tem que permanecer nas mãos dos pequenos agricultores. Apenas com a mudança do modelo industrial agrícola dirigido à exportação e baseado no livre comércio das grandes explorações agrícolas será possível modificar o cenário da pobreza, os baixos salários, o êxodo rural, a fome e a degradação ambiental. Caporal e Costabeber (2003) afirmam que para que o Brasil possa alcançar o objetivo de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável, para toda a população, necessita-se do implemento de políticas públicas que: disponibilizem recursos para estimular e remunerar a produção de alimentos básicos compatíveis com os hábitos alimentares predominantes em cada região do país; destinem recursos para implementar um processo de transição do sistema convencional, para uma agricultura sustentável, baseada nos princípios da Agroecologia. Deve-se destacar que a agroecologia apresenta-se como uma das estratégias fundamentais para o enfrentamento da insegurança alimentar no país. Reunindo princípios que conciliam e resgatam a visão ecológica, fortalecendo a relação campo-cidade, apontando caminhos para uma socioeconômica solidária e para os processos de produção, distribuição, consumo de alimentos que contribuam para a manutenção da saúde humana. Por fim, a agroecologia é vista como uma perspectiva promissora para o restabelecimento saudável entre a natureza e a sociedade e a consolidação da segurança alimentar e nutricional sustentável em nível local e global.


65 3. Considerações Finais Podemos concluir que o alimento orgânico vem tornando-se mais procurado ao longo tempo, uma vez que além da melhoria na saúde, preserva o meio ambiente, promove a segurança e a soberania alimentar. A agroecologia ao longo dos anos está sendo estudada e implantada nas comunidades rurais a fim de proporcionar qualidade de vida não só ao produtor, mas ao consumidor final.

4. Referências Bibliográficas

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Elaine.

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biológica

dos

alimentos

orgânicos

e

biodinâmicos. In: _____. Resumos do 1º Congresso Brasileiro de Horticultura Orgânica, Natural e Biodinâmica/ organização Juliana Potério de Oliveira. Botucatu: Agroecológica, 2002. p. 152-162.

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Segurança alimentar e agricultura sustentável: uma perspectiva agroecológica. Ciência e Ambiente, Santa Maria, v.1, n.27, p.153-165, jul/dez, 2003.

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LOPES, K. C. S. A.; BORGES, J. R. P.; LOPES, P. R. Condições de vida e qualidade do saneamento ambiental rural como fator para o desenvolvimento


66 de práticas agroecológicas. Revista Brasileira de Agroecologia. 7(1), p. 3950, 2012.

MEIRELLES, L. Soberania Alimentar, agroecologia e mercados locais. Agriculturas. Vol. 1, N. 0. Set. de 2004.

PESSANHA, L. D. R. O sentido brasileiro da segurança alimentar. In: MOREIRA, R.; COSTA, L. (Orgs.) Mundo Rural e Cultura. São Paulo: Mauad, p.263-283, 2002.

RIGON, S. A. Presença da agroecologia na consolidação da segurança alimentar. In: _____. Resumos do 1º Congresso Brasileiro de Horticultura Orgânica, Natural e Biodinâmica / organização Juliana Potério de Oliveira. Botucatu: Agroecológica, 2002. p. 163-168.

ROEL, A. R. A agricultura orgânica ou ecológica e a sustentabilidade da agricultura. Revista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 3, N. 4, p. 57-62, Mar. 2002.


67 Capítulo 6

As rochas na agricultura João Batista Tavares Junior Ivanildo Luiz Vieira da Silva Joseilson Moreira de Araújo André Luis Pereira dos Santos

Resumo: A litosfera, a camada superficial e sólida da Terra, é composta por rochas, que, por sua vez, são formadas pela união natural entre os diferentes minerais. Seu uso e manuseio são extremamente importantes para o ser humano, que desde a Pré-história desenvolveu técnicas para explorá-las em seu benefício. No entanto, hoje, o homem não utiliza apenas da rocha em seu estado bruto como matéria-prima. Uso do pó de rocha vem sendo utilizado na atualidade como prática agrícola para recuperar a fertilidade de solos pobres e lixiviados. O “lixo” gerado pelas atividades industriais é tecnicamente conhecido como resíduo e os geradores são obrigados a cuidar do gerenciamento, transporte, tratamento e destinação final de seus resíduos, sendo a reciclagem o método sustentável do processo. A reutilização surge como uma ferramenta indispensável para viabilizar a disposição destes resíduos, transformando-os em matéria-prima. Há diversas experiências bem sucedidas de aplicação de minerais alternativos na agricultura, em diversas partes do mundo. A rochagem destaca-se como a técnica mais promissora no uso desses minerais e rochas como fonte de nutrientes. Portanto, a técnica da Rochagem prevê uma mudança significativa na produção de alimentos agrícolas, aliando os setores considerados grandes vilões ambientas: mineração e agricultura, onde o excesso de rejeitos de um pode-se transformar em solução para o uso de fertilizantes e insumos do outro.

Palavras-chave: Remineralização, Rochagem, Pó de Rocha, Sustentabilidade


68 1. Introdução A litosfera, a camada superficial e sólida da Terra, é composta por rochas, que, por sua vez, são formadas pela união natural entre os diferentes minerais. Os minerais mais abundantes numa rocha são os chamados minerais essenciais ao passo que aqueles que aparecem em proporções pequenas se denominam minerais acessórios. Podem-se distinguir vários tipos de rochas, onde as rochas monominerálicas são formadas por um único mineral, como é o caso do calcário. As rochas compostas (ou pluriminerálicas), por sua vez, apresentam várias espécies mineralógicas. Seu uso e manuseio são de fundamental importancia para o ser humano, que desde a Pré-história desenvolveu técnicas para explorá-las em seu benefício. Na Antiguidade, todas as civilizações fizeram o uso das rochas como meio para desenvolver as suas estruturas sociais. As pirâmides do Egito, por exemplo, eram basicamente construídas por rochas calcárias e os túmulos de alguns faraós foram construídos com mármores, inexistente na região e, por isso, transportados de grandes distâncias até o local. No entanto, hoje, o homem não utiliza apenas da rocha em seu estado bruto como matéria-prima. Uso do pó de rocha vem sendo utilizado na atualidade como prática agrícola para recuperar a fertilidade de solos pobres e lixiviados. A técnica, também conhecida como rochagem, objetiva colocar no solo os elementos ausentes pela degradação, disponibilizando para a vegetação os nutrientes que necessita para o seu desenvolvimento. Figura 1. Rochas

Disponível em: jornalfolhadejaiba.blogspot.com.br


69 A aplicação da farinha de rocha ao solo caracteriza-se pelos diversos efeitos benéficos proporcionados. Minerais provenientes de rochas ígneas e metamórficas contêm a maior parte dos nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento de plantas superiores. Em geral, dentre os nutrientes fornecidos pelas rochas estão potássio, fósforo, cálcio, magnésio e enxofre, além de alguns micronutrientes, elementos benéficos às plantas, como silício e elementos-traços que também podem ser encontrados. Portanto, a técnica da Rochagem prevê uma mudança significativa na produção de alimentos agrícolas, aliando os setores considerados grandes vilões ambientas: mineração e agricultura, onde o excesso de rejeitos de um pode-se transformar em solução para o uso de fertilizantes e insumos do outro. Tais características permitem afirmar que a tecnologia da Rochagem incorpora vários princípios da Agroecologia, uma vez que não tem um foco exclusivo na produção, mas, também, na sustentabilidade ecológica e socioeconômica do sistema de produção.

2. Rejeitos minerais: lixo ou luxo? Resíduos industriais podem ser descritos como materiais resultantes de processos industriais ou manufaturas, e desprovidos de utilidade por parte do seu possuidor. O “lixo” gerado pelas atividades industriais é tecnicamente conhecido como resíduo e os geradores são obrigados a cuidar do gerenciamento, transporte, tratamento e destinação final de seus resíduos, sendo a reciclagem o método sustentável do processo.A reutilização surge como uma ferramenta indispensável para viabilizar a disposição destes resíduos, transformando-os em matéria-prima. Figura 2. Trator em minerador

Disponível em: dreamstime.com


70 Os rejeitos industriais são atualmente motivos de preocupação de ambientalistas, políticos e da sociedade. O setor de rochas ornamentais, por exemplo, gera durante os processos de corte e beneficiamento enormes quantidades de resíduos sólidos poluentes, de tal modo que as quantidades de tais resíduos são esperadas para aumentar cada vez mais. Sendo o Brasil considerado um país extremamente diverso do ponto de vista geológico, que existe uma enorme quantidade de mineradoras e de pedreiras no País e que as mesmas geram quantidades imensas de rejeitos ao logo do processo de produção, um novo destino, mais nobre que o lixo, deve ser dado a estes materiais. A prática da Rochagem promove o aproveitamento destes materiais, geralmente considerados resíduos descartáveis pelo processo de concentração de determinados tipos de minerais. Assim, a adição de pó de rocha como forma de reestabelecer as condições de fertilidade dos solos sem afetar o equilíbrio do meio ambiente pode se converter em um interessante arranjo de produção que potencializa solução para os distintos setores.

2.1 Potencialidade do clima tropical O Brasil se destaca na produção agrícola em geral porque possui condições climáticas favoráveis, mas, o clima tropical, favorece a rápida decomposição das rochas que torna a maioria dos solos brasileiros ácidos e desmineralizados, ou seja, quimicamente pobres em nutrientes e que perderam grande parte das reservas de nutrientes dos seus constituintes minerais. Para recuperar a produtividade destes solos, na agricultura convencional são utilizadas elevadas quantidades de fertilizantes, e consequentemente, existe uma dependência grande por insumos externos. Porém esse mesmo clima tropical potencializa o uso de pó de rocha, pois, as taxas de dissolução dos minerais e as reações entre a superfície dos minerais e a solução do solo são aumentadas sob alta temperatura e regime de umidade alta. Soma-se a estes fatos o potencial de aplicação desses materiais, que é extremamente vantajoso devido às altas taxas de intemperismo e lixiviação, o que torna tais ambientes altamente receptivos à adição de nutrientes.


71 Há diversas experiências bem sucedidas de aplicação de minerais alternativos na agricultura, em diversas partes do mundo. A rochagem destacase como a técnica mais promissora no uso desses minerais e rochas como fonte de nutrientes. As pesquisas constataram que esta aplicação, em climas tropicais, atinge taxas elevadas de dissolução e melhor desempenho, em decorrência das altas temperaturas e umidade no solo, que favorecem os mecanismos de reação entre os minerais e a solução do solo.

2.2 Uso de rochas ornamentais 2.2.1 Granito No beneficiamento do granito, através do corte dos blocos em teares mecânicos, são gerados os resíduos do processo. No procedimento se utiliza limalha de ferro e se adiciona a cal visando formar uma liga (GUARÇONI; FANTON, 2011). Segundo os autores, estes resíduos são descartados em lagoas de decantação ou são realocados para depósitos industriais. Contudo, a ideia de simples descarte desses resíduos evidencia a completa falta de conhecimento sobre sua composição suas diferentes possibilidades de uso na agricultura. Mineralogicamente falando, o granito é formado basicamente por calcita, quartzo, mica e feldspato (Menezes et al., 2002), e sua composição química está disposta na tabela 1.

Tabela 1. Composição química do Granito ÓXIDOS (%) SiO2

Al2O3

72,1

10.8

Fe2O

MgO

CaO

Na2O

K2O

P2O5

MnO

TiO2

Outro s

0.9

2.3

2,3

3.8

0.3

0.1

0.9

1.5

3

5.0

Deste modo, devido à sua composição mineralógica, observa-se que o resíduo de beneficiamento do granito possa conter teores significativos de alguns elementos químicos considerados micro e macronutrientes para as plantas. Dentre os macronutrientes, destacam-se cálcio (Ca), potássio (K) e


72 magnésio (Mg). Em relação aos micronutrientes, merece destaque o Fe que está presente no resíduo devido à utilização da limalha. A utilização do resíduo de beneficiamento do granito como fertilizante para diversas culturas tem sido testada. Estudos demonstraram efeitos benéficos desse resíduo e reportaram sua possível utilização na agricultura como fertilizante. De outro modo, é importante salientar que na grande maioria dos trabalhos que utilizaram resíduos de rochas não houve preocupação em se quantificar a liberação de metais pesados por esses materiais e sua possível absorção pelas plantas.

2.2.2 Basalto O basalto, também conhecido como “pedra-ferro”, é um dos bens minerais mais extraídos pelas mineradoras, sendo uma das rochas mais abundantes

sobre

a

superfície

terrestre e,

no

Brasil,

é

encontrado

principalmente na região sul do país. É uma rocha de granulação fina, geralmente de cor acinzentada escura e pertence ao grupo das rochas ígneas, ou seja, é diretamente derivada da consolidação e esfriamento do magma vulcânico derretido. Na tabela 2 estão dispostos os dados referentes a composição química do Basalto

Tabela 2. Composição química do Basalto. ÓXIDOS (%) SiO2

Al2O3 Fe2O3

FeO

MgO

CaO

Na2O

K2O

P2O5

MnO

H2O

Outros

49.2

16.7

8.1

6.7

9.5

2.9

1.1

0.2

0.2

1.0

0.6

3.8

Adaptado de: sites.google.com

Na mineração, passa pelo processo de extração (lavra), seguido pelo beneficiamento e depois, para seus destinos finais, sendo muito utilizado na construção civil devido a sua rigidez e resistência. Os resíduos desse processo são transformados em pó e se torna um importante elemento para a agricultura provendo nutrientes para as plantas. Porém

o

uso

do

de

basalto

na

agricultura

traz

muitos

questionamentos acerca das características do solo após períodos de um a dois anos de aplicação deste resíduo. A granulometria fina do pó de basalto


73 pode provocar um efeito cimentante, implicando no fechamento dos poros, causando uma maior compactação, influenciando também na densidade, e, consequentemente, a redução no desenvolvimento das raízes de plantas. Uma alternativa é a utilização de pó de basalto como substrato para preparação de mudas, o que reduziria o volume deste material evitando um comprometimento de grandes extensões de terra agricultável. Pesquisa realizada com pó de basalto envolvendo a produção do pessegueiro-bravo (Prunus sellowii Koehne), indicou que mudas produzidas no substrato com pó de basalto acumularam mais Ca, Mg, B, Cu e Fe nas folhas (KNAPIK e ANGELO, 2007), o que pode ser um resultado promissor para o controle de algumas pragas.

2.3 O uso do pó de rocha na correção do Ph Corretivos da acidez dos solos são produtos capazes de neutralizar (diminuir ou eliminar) a acidez dos solos e ainda carrear nutrientes vegetais ao solo, principalmente cálcio e magnésio. A acidez de um solo é devida à presença de H+ livres, gerados por componentes ácidos presentes no solo (ácidos orgânicos, fertilizantes nitrogenados, etc.). A neutralização da acidez consiste em neutralizar os H+, o que é feito pelo ânion OH-. Portanto, os corretivos de acidez devem ter componentes básicos para gerar OH - e promover a neutralização. Assim o calcário moído e seus produtos, cal virgem e hidratada, escória, dentre outros, são aplicados no solo para corrigir a acidez e promover o crescimento das plantas. O termo calcário agrícola inclui esses produtos coletivamente, conhecidos como corretivos, que são utilizados sob a forma de pó, para aumentar sua reatividade e assimilação pelo solo. Quanto maior for o teor de CaCO3, menor será a quantidade necessária. A incorporação do calcário ao solo se dá lentamente, e depende da capacidade de retenção de água pelo solo, da aeração o solo, e da granulação do produto. Uma reação química do carbonato de cálcio e água forma hidróxido de cálcio - Ca(OH)2, que neutraliza o meio ácido.


74 Figura 3. Calcário

Disponível em: lajecom.com

Os materiais calcários mais utilizados como calcário agrícola, para correção de acidez dos solos, são: a cal virgem (óxido de cálcio - CaO), obtida a partir da calcinação do calcário; a cal hidratada (Ca(OH)2), também conhecida como cal apagada ou de construção, obtida a partir da hidratação da cal virgem; o calcário calcítico (CaCO3); o calcário magnesiano dolomítico [CaMg(CO3)2]; os calcários parcialmente calcinados, geralmente produzidos em instalações menores e menos sofisticadas; as margas (depósitos não consolidados de CaCO3), geralmente explorados através de dragas; a poeira calcária, subproduto da produção de cimento; e outros materiais com elevados teores de materiais calcários (Pereira, 2002). A técnica de correção de solo denomina-se calagem e é estudada por órgãos de pesquisa agrícola no Brasil e no mundo há décadas. Estudos afirmam que é possível até mesmo dobrar a produtividade de determinada área, em poucos anos, com a utilização da técnica de calagem, que pode ser considerada muito simples, barata e acessível. A aplicação de calcário nos solos é capaz de, além de corrigir a acidez, fornece cálcio e magnésio, disponibilizar nutrientes e neutralizar o excesso de alumínio e manganês do solo, que são elementos tóxicos para as plantas, tornando-o mais apropriado para as culturas (Pereira, 2007). O consumo de calcário agrícola, no entanto, não tem sequer acompanhado a evolução do consumo dos fertilizantes agrícolas na agricultura brasileira. Isto sugere que o consumo de calcário agrícola está muito abaixo do ideal, e, caso o setor desenvolva uma maior consciência da importância e dos


75 benefícios da calagem, o consumo de calcário agrícola poderá crescer significativamente, no futuro.

3. Considerações Finais

Com a inserção de alternativas para a fertilização de solos, fundamentados na utilização de materiais que não causem danos ao meio ambiente como um todo, a técnica de Rochagem, busca-se promover o fornecimento gradual dos nutrientes para o solo de uma forma natural, devolvendo algumas características do solo, como fertilidade e pH equilibrado, que são perdidos com a lixiviação, além de dar mais uma destinação a materiais com uso restrito, como pó de pedra de pedreiras.

4. Referências Bibliográficas

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GUARÇONI, André; FANTON, César José. Resíduo de beneficiamento do granito como fertilizante alternativo na cultura do café. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v. 42, n. 1, p.57-66, 2011.

MENEZES, R. R.; FERREIRA, H. S.; NEVES, G. de A. The use of granite wastes as ceramic raw materials. Cerâmica, v. 48, n. 306, p. 92-101, 2002.

PEREIRA, C. de M., 2002. Caracterização da produção e consumo de calcário para uso agrícola no estado de São Paulo. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. Disponível

em

http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000240106,

acessado em 17-06-2009.


76 Capítulo 7

Utilização da gliricídia (Gliricidia sepium (Jacq.) Steud.) para fitorremediação de solos degradados pelo processo de desertificação Joseilson Moreira de Araújo João Batista Tavares Junior Elisângela de Freitas Mariano José Wellington de Medeiros Estrela

Resumo: A perda da camada fértil do solo, também chamada de desertificação vem aumentando gradativamente ao longo das décadas principalmente em áreas agricultáveis, devido a exploração exagerada dessas áreas. Com a imposição dos pacotes tecnológicos junto aos agricultores houve um aumento dos impactos socioambientais A gliricídia (Gliricidia sepium) é uma espécie de grande interesse comercial e econômico, para regiões tropicais, pelas suas características de uso múltiplo, sendo cultivada em diversos países. Além de contribuir

para

a

diminuição

da

degradação

de

solos,

através

da

fitorremediação as gliricídias também pode ser usada como fertilizantes, cobertura vegetal, ração animal, biogás, cerca viva, entre outros. Esta pratica contribui para a redução dos impactos causados pelo mau uso do solo.

Palavras-chave: Agricultura, Leguminosa, Remediação.

1. Introdução

A perda da camada fértil do solo, também chamada de desertificação vem aumentando gradativamente ao longo das décadas principalmente em áreas agricultáveis, devido ao consumo exagerado da população mundial, surgindo a necessidade de aprimorar o processo de mecanização do campo. O solo, elemento vivo, orgânico da natureza, também é muito afetado pelo processo de modernização da agricultura. A retirada da vegetação natural seja para cultivo de monoculturas ou para criação de pastagens deixa o solo sem sua proteção natural (ANDRADES, 2007, p.10). Para garantir o


77 fornecimento de grandes demandas, os agricultores precisaram aderir a novas tecnologias, como também ao uso maciço de máquinas e de agrotóxicos, aumentando o processo de erosão do solo, causando o processo de desertificação. Araújo (2008), explica que a desertificação é definida como a redução da produtividade biológica ou econômica das terras e a fragilidade ambiental, social ou econômica. O uso prolongado associado com a produção de monoculturas, também contribui para o processo de desertificação. Manzatto et al (2002) define que o uso agrícola por culturas que expõem os solos aos agentes da erosão são as principais causas dos processos de desertificação Para minimizar os impactos causados pela má utilização do solo e pelo seu manejo inadequado, foram criadas várias técnicas de correção e remediação, com o intuito de diminuir as áreas degradas pela agricultura, porém, muitas são inviáveis por vários motivos tais como: custo da remediação e da correção do solo, utilização de fertilizantes inorgânicos, dentre outros. A fitorremediação, por sua vez, possui muitas vantagens na revitalização de solos, como por exemplo: menor custo de implantação e manutenção, através da seleção de plantas adequadas a altas temperaturas e a baixos níveis pluviométricos e utilização das folhas e galhos das plantas como fonte de nutrientes. Viana et al (2007), considera que a fitorremediação, consiste no uso de vegetação para a descontaminação de ambientes impactados por poluentes orgânicos ou inorgânicos. O autor também explica que os vegetais podem atuar diretamente, absorvendo, acumulando ou metabolizando os compostos nos seus tecidos, ou indiretamente, alterando as condições físico-químicas do sedimento, propiciando a imobilização ou alteração química de compostos tóxicos. Dentre muitas plantas utilizadas na remediação de solos contaminados ou degradados destaca-se a gliricídia, por sua resistência a áreas de clima tropical e suas múltiplas utilizações na agricultura e pecuária. Para Drumond (1999), a Gliricídia sepium (Jacq.) Steud.) é uma espécie de grande interesse comercial e econômico, para regiões tropicais, pelas suas características de uso múltiplo, sendo cultivada em diversos países. Objetivou-se compreender a eficiência da fitorremediação em solos degradados pelo processo de desertificação através do uso da gliricídia.


78

2. Discussão 2.1 Processos da Fitorremediação Algumas plantas possuem características que se adequam a alguns tipos de solos e climas tais como: crescimento rápido, tolerância a altas temperaturas, acumulação de biomassa, resistência a longos períodos de escassez de água, distribuição de nutrientes através da sua rizosfera e folhagem densa contribuindo para formação de serapilheira, todo esse processo, contribui ainda mais para a fitorremediação que pode ser aplicada em várias situações. A fitorremediação pode ser dividida em três métodos: a hidroponia, utilizada para o tratamento de efluentes de várias origens (esgoto doméstico, resíduos de fabricas, água de rejeito de mineração, etc.). Costa (2004 apud Lamego, 2007) explica que nesses sistemas, as plantas são cultivadas em tanques para absorverem os sólidos suspensos, os metais e os patógenos. Em um segundo momento ocorre a absorção de metais pesados, óleos e petróleo através da rizosfera, que consiste na remoção, transferência, estabilização ou destruição dos elementos nocivos ao meio ambiente. Outro método refere-se ao uso de plantas como remediadoras de áreas degradadas ou com pouca cobertura vegetal, para aumentar a quantidade de nutrientes no solo com a formação da serapilheira. Além de contribuir para a diminuição da degradação de solos, através da fitorremediação, as gliricídias também podem ser usadas como fertilizantes, cobertura vegetal, ração animal, biogás, cerca viva, etc. Tudo isso, contribui para a verificação da viabilidade deste tipo de método no combate aos impactos causados pelo mau uso do solo em diversas culturas. A

gliricídia

destaca-se

por apresentar rápido crescimento,

alta

capacidade de regeneração, resistência à seca e facilidade em propagar-se sexuada e assexuadamente. A espécie vem sendo explorada como forrageira, pelo alto valor nutritivo, como produtora de estacas vivas e, ainda, como alternativa energética, (DRUMOND,1999). O sistema agroflorestal é um processo sustentável de importante implantação na região Nordeste, pois possuem baixos índices pluviométrica


79 sendo essa uma forma de combater a desertificação. A utilização da gliricídia, nesse sistema é importante pelas diversas vantagens, como a fixação de nitrogênio e disponibilização de nutrientes no solo. Pérez Marin (2006), afirma que: A Gliricidia sepium é uma leguminosa que tem sido plantada em propriedades rurais do Agreste paraibano graças à sua alta capacidade de produzir biomassa em condições de baixa disponibilidade hídrica. Esta espécie geralmente é plantada em cercas-vivas nas propriedades e, recentemente, tem sido plantada nos campos de cultivo, em fileiras suficientemente espaçadas entre si, para permitir o plantio de culturas agrícolas ou forrageiras entre elas. O manejo da gliricídia neste sistema é feito por cortes periódicos da copa das árvores (geralmente de dois a três cortes por ano).

2.2 Aplicabilidade da Fitorremediação Dentre as várias técnicas de remediação na correção de solos a fitorremediação é a que mais se destaca, pois os vegetais absorvem, acumulam e metabolizam os minerais encontrados no solo ou disposto na água, alterando os componentes físico-químicos desses minerais. As raízes da gliricídia apresentaram um bom resultado na remediação de solos erodidos ou em áreas de desertificação. Estudos prévios demonstram que a introdução da gliricídia em campos de cultivo agrícola pode apresentar várias vantagens potenciais, a saber: produção de biomassa rica em nutrientes para adubação orgânica, presença de um sistema radicular perene, cobertura e proteção do solo, manutenção ou melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo, manutenção da microfauna em profundidade e produção de forragem para alimentação animal, além de outros produtos florestais ou não florestais (Schroth&Lehmann, 1995; Gómez & Preston, 1996; Esquivel et al., 1998; Barreto & Fernandes, 2001 apud Pérez Marin, 2006). As árvores como a gliricídia constituem um importante mecanismo de introdução de nitrogênio no solo, através da capitação de suas folhas e sua posterior distribuição por meio de suas raízes que atuam tanto em áreas profundas quanto horizontalmente com seu sistema radicular e com isso, aumenta sua zona de atuação e sua dispersão eficiente Podendo ser


80 considerada um fertilizante nitrogenado de excelente qualidade, chegando a fornecer o equivalente a 40 kg de N/ha/ano (RAMOS, 2013, p. 22).

3. Considerações Finais Apesar de muitos investimentos no setor agrícola em busca de técnicas que agridam minimamente a natureza e garantam a sustentabilidade das culturas, essa realidade ainda está muito longe de se concretizar, pois, o meio de produção voltado para o crescimento econômico não abre espaço para técnicas como a fitorremediação, pois, trata-se de um método muito lento aos moldes do capitalismo e do consumo desenfreado da população mundial. Porém, quando se trata de combater os impactos causados pela produção agrícola de grande escala que atinge diretamente os nutrientes e microrganismos existentes no solo, fica evidente a superioridade do método de remediação utilizando plantas, pois o solo tratado de forma correta e com a cobertura vegetal adequada tende a aumentar seu potencial produtivo em longos períodos de tempo. A gliricídia constitui num agente redutor dos impactos da desertificação dos solos degradados pelo uso intensivo de monoculturas, haja vista, a sua potencialidade de capitação e acumulação de nitrogênio, produção de nutrientes através de suas folhas quando caem formam serapilheira, redução de incidência de raios solares por suas folhas, podendo servir também como cobertura vegetal quando podada. Contudo, faz-se necessário uma maior divulgação acerca dos benefícios não só da utilização da gliricídia, mais também do processo de fitorremediação e suas vantagens para o meio ambiente, para a agricultura e para a sociedade como um todo.

4. Referências Bibliográficas

ANDRADES, T. O.; GANIMI, R. N. Revolução Verde e a Apropriação Capitalista. CES Revista, Juiz de Fora, p. 1-14, 2007.

ARAÚJO, E. V. S. B.; Araújo, M. S. B.; SAMPAIO, Y. S. B. Impactos ambientais da agricultura no processo de desertificação no Nordeste do Brasil. Revista de Geografia (Recife), v. 22, n. 1, p. 90-112, 2008.


81

DRUMOND, M. A.; CARVALHO FILHO, O. M. Introdução e avaliação da Gliricidia sepium na região semiárida do Nordeste Brasileiro. Embrapa Semiárido-Capítulo em livro técnico-científico (ALICE), 1999.

LAMEGO, F. P.; VIDAL, R. A. Fitorremediaçao: Plantas como agentes de despoluição. Pesticidas: Revista de Ecotoxicologia e Meio Ambiente, v. 17, 2007.

MANZATTO, C. V.; FREITAS JUNIOR, E.; PERES, J. R. R. Uso agrícola dos solos brasileiros. Embrapa Solos-Livro técnico (INFOTECA-E), 2002.

PÉREZ MARIN, A. et al. Efeito da Gliricidia sepium sobre nutrientes do solo, microclima e produtividade do milho em sistema agroflorestal no Agreste Paraibano. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 30, n. 3, 2006.

RAMOS, L. S. et al. Eficiência de um Sistema Silvipastoril em Substituição à Adubação Nitrogenada e a sua Relação com a Dinâmica da Matéria Orgânica em Solo Distrocoeso. UFS, 2013.

VIANA, F. V. et al. A utilização da fitorremediação em áreas contaminadas por petróleo e seus resíduos. Repositório Institucional da Universidade Federal do Rio Grande: RI FURG, Rio Grande, p.1-7, 2007.


82

Capítulo 8 Caldas fito e fert protetoras José Wellington de Medeiros Estrela Joseilson Moreira de Araújo João Batista Tavares Junior Gabriela Torres Costa Lima Marcos Barros de Medeiros

Resumo: A agricultura convencional através de suas práticas não sustentáveis vem acarretando impactos ambientais e sociais. Pensando em um modelo agrícola sustentável, a utilização de tecnologias de bases agroecológicas é de suma

importância

para

uma

agricultura

economicamente

viável,

ecologicamente correta e socialmente justa. Dessa forma a utilização de caldas fito e fert protetoras são alternativas ao uso de insumos químicos, presente em grandes quantidades na agricultura convencional. Estes defensivos naturais proporcionam interação dos agroecossistemas e possuem a vantagem de serem menos agressivos com ao meio ambiente, evitando também formas de resistências das pragas e fortalecendo uma agricultura saudável para o consumo humano e sustentável para o meio ambiente. Palavras-chave:

Sustentabilidade,

Transição

Agroecológica,

Agricultura

Orgânica. 1. Introdução A sustentabilidade é o caminho mais viável na busca por sistemas de produção integrados entre homem e natureza. As relações homem e seu meio demonstram esta importância, haja vista, que a preocupação com meio ambiente está cada vez mais presente na sociedade, pois crescimento econômico não é sinônimo de desenvolvimento. A agricultura convencional apresenta potencial produtivo, no entanto causa grandes impactos ambientais e sociais que estão presentes de diferentes formas como: erosão, poluição dos rios, lagos e açudes, empobrecimento da biodiversidade, desigualdade social e dependência


83 econômica. Com o intuito de superar esses graves problemas surgem como uma alternativa viável a transição do modelo de produção convencional para o agroecológico. A agroecologia é entendida como um enfoque científico destinado a apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencional para estilos de desenvolvimento rural e de agriculturas sustentáveis, adotando o agroecossistema como unidade de análise, com o objetivo de proporcionar as bases científicas para o processo de transição (CAPORAL & COSTABEBER 2004). Neste modelo de produção agrícola a utilização de caldas é uma alternativa ao uso de insumos químicos. Estes defensivos naturais mantêm a interação dos agroecossistemas como também desenvolve uma agricultura saudável para o consumo humano e sustentável do ponto de vista econômico e ecológico. Na busca pela sustentabilidade dos sistemas de produção bem como da conservação dos recursos naturais e da saúde dos seres vivos necessitamos de uma visão ampla, transformando as expectativas de produtividade em produção racional de alimentos (ANDRADE, 2000).

2. Discussão

2.1 Manejo ecológico de pragas e doenças No modelo convencional de produção um organismo é considerado praga, quando é constatada sua presença na cultura cultivada, diferentemente, no manejo ecológico das pragas, um organismo só é considerado praga, quando o mesmo causa danos econômicos de produção. Este manejo consiste em identificar qual organismo está causando dano à cultura, pois com isso o agricultor pode adotar práticas que incentivem a reprodução dos seus inimigos naturais. O uso de inimigos naturais colabora com utilização de agentes de controle biológico, uma forma gratuita de combater pragas e doenças. A persistência de determinadas pragas e doenças é comum, por isso as medidas preventivas não são suficientes. Com isso o agricultor deve utilizar práticas alternativas como o uso de caldas protetoras.


84 2.2 Tipos de caldas 2.2.1 Calda bordalesa A calda bordalesa é uma suspensão obtida pela mistura de sulfato de cobre (CuSO4) com cal virgem ou hidratada (CaO), formando, ao final do processo, sulfato de cálcio e hidróxido cúprico (GALLI et al., 1968). Para seu preparo utiliza-se Sulfato de cobre (CuSO4) e cal virgem ou hidratada, quando misturada para o uso, seu armazenamento não deve ser superior a 24 horas. Esta calda serve para controlar doenças como a requeima, antracnose, míldio, tombamento, mancha púrpura entre outras. Controla pragas como vaquinha, cigarrinha verde, angolinhas, etc.

2.2.2 Calda viçosa A calda viçosa pode ser considerada uma modificação da calda bordalesa, sendo que a diferença desta dar-se devido conter em seu preparo macro e micronutrientes. Esta calda possui ação fungicida e foi desenvolvida pela Universidade Federal de Viçosa, aliando-se os efeitos fitoprotetores da bordalesa com o efeito nutricional advindo dos nutrientes agregados a fórmula (cobre, zinco, magnésio e boro). Esta calda serve para controlar a ferrugem e olho-pardo do café, pinta preta, requeima como também pode ser usada para controle em diversas frutíferas para controle de doenças.

2.2.3 Calda sulfocálcica A calda sulfocálcica, produto originário da reação entre o cálcio (CaO) e o enxofre (S) quando dissolvidos em água e submetidos à fervura, foi preparada pela primeira vez em 1852 (Polito, 2000a). Inicialmente usada para banhar animais contra a sarna, sendo que em 1886, sua visibilidade como inseticida foi observada na Califórnia, passando ao domínio popular em 1902. A calda sulfocálcia é considerada um excelente defensivo agrícola e serve para o controle de rubelose, fungos de revestimento, ácaros, cochonilha e provoca uma pequena queda das folhas, que entram em senescência.

2.2.4 Calda EEC Esta calda foi idealizada na estação experimental da Cascata- Embrapa Clima Temperado, onde houve a avaliação de um a cúprica com tenacidade


85 superior a calda bordalesa, sendo semelhantes em alguns aspectos, porém sua concentração de cobre e de 200 a 400 vezes menor do que a calda bordalesa clássica a 1%. Tendo no seu preparo sementes de linho. (MEIRELLES et al, 2005, p. 45). As sementes de linho possuem um óleo altamente resinificante, que funciona como espalhante adesivo e na mistura após a aplicação ajuda na formação de um filme protetor sobre as superfícies tratadas. A semente de linho também é citada por apresentar propriedades anti-inflamatórias, podendo atuar como desinfetante e cicatrizante quando usada em animais (GARCIA & LUNARDI, 2001). Esta calda tem a ação de minimizar os impactos causados pelo acumulo de cobre no ambiente e possui vantagens fitossanitárias dos fungicidas cúpricos é indicada para ser usada em locais onde é recomendado o uso da calda bordalesa.

2.2.5 Água de cinza e cal A água de cinza e cal é um fertiprotetor de plantas atuando como trofobiótico e como repelente de insetos. A água de cinza e cal pode ser usada na forma límpida (utilizando-se a parte superior da calda após a sedimentação) e turva (com todos os componentes dissolvidos na solução (SCHWENGBER et al. 2007). Com essa forma turva a mesma contém todos os elementos componentes originais, enquanto que a forma límpida tem sua composição reduzida, sendo, porém, efetiva no auxílio ao controle de doenças, principalmente se usada associada a calda sulfocálcica ou biofertilizantes.

2.2.6 Extrato de plantas Conforme Schwengber et al. (2007) a utilização das chamadas substâncias do metabolismo secundário de plantas tem sido amplamente estudada, principalmente para a produção de fitofármacos para uso humano, sendo que sua utilização no controle de doenças se perde no tempo.

2.2.7 Chá de arruda O chá de arruda é um ótimo inseticida para acabar com os pulgões (piolhos). Para fazer o seu preparo utilizam-se as folhas cozidas da arruda em


86 água por alguns minutos, em seguida coar e misturar mais água para com isso realizar a pulverização, sendo que a quantidade de água utilizada para ser misturada ao chá varia a partir dos resultados observados após a aplicação, em caso do controle total não ter sido suficiente, aplica-se menos água ao chá o tornado mais forte.

2.2.8 Chá de coentro O chá de coentro pode ser usado no controle de ácaros e no controle de pulgões. Para fazer o seu preparo utilizam-se as folhas de coentro cozidas em dois litros de água por alguns minutos, logo em seguida coar e mistura outra mais água para realizar a pulverização. Recomenda-se misturar menos água para que o mesmo se torne mais forte, em caso de o controle de pragas não ter sido atingido

2.2.9 Biofertilizante Produto obtido através da fermentação de estercos bovino, junto com outros produtos como: cinza, farinha de ossos, leite, rapadura, plantas trituradas entre outros, contém organismos vivos que colabora no controle de doenças.

E considerado um excelente adubo foliar, e também ajuda no

controle de algumas pragas. Este adubo orgânico pode ser aplicado em pulverizações foliares junto com água, o mesmo fornece nutrientes para as plantas e sua parte solida pode ser usada para adubação das covas.

3. Considerações finais As caldas fito e fert protetoras são de grande importância, como forma de controle de pragas e doenças. No entanto é indicado que os agricultores busquem orientação técnica para com isso obter conhecimentos sobre as quantidades adequadas, evitando o excesso e consequentemente o mau uso dessas caldas. Estes defensivos alternativos possuem a vantagem de serem menos agressivos com a natureza, pois colabora com o equilíbrio do meio ambiente, preservando a fauna e os mananciais de água. Evita o favorecimento a ocorrência de formas de resistência, das pragas e os produtos são fáceis de


87 serem encontrados, facilitando assim a preparação das caldas, sendo sua aplicação bastante simples.

4. Referências Bibliográficas

ANDRADE, F.M.D. de. A homeopatia e as plantas medicinais. Agroecologia Hoje, Botucatu, n. 5, p. 22-23, 2000.

CAPORAL, F.R.; COSTABEBER, J.A. Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 2004. 24 p.

GALLI, F.; TOKESHI, H.; CARVALHO, P. de C.T. de. Manual de fitopatologia: doenças das plantas e seu controle. São Paulo: Agronômica Ceres, 1968. 640 p.

GARCIA, J. P. O; LUNARDI, J.J. Práticas alternativas de controle das doenças dos bovinos. Porto Alegre: EMATER, 2001.

Meirelles Ana Luiza C. B. et al. Agricultura ecológica: princípios básicos. 2005, p. 45

POLITO, W. Calda sulfocálcica, bordalesa e viçosa: os fertipro- tetoresçosa. Agroecologia Hoje, Botucatu, n. 5, p. 25, out/nov 2000b.

Schwengber et al. Preparo e utilização de caldas nutricionais e protetoras de plantas. 2007, p. 41


88 Capítulo 9

Uso, preparos e benefícios de biofertilizantes líquidos no manejo agroecológico de solos e plantas

Ivanildo Luiz Vieira da Silva André Luis Pereira dos Santos José Wellinton de Medeiros Estrela Marcos Barros de Medeiros Thamillys do Nascimento Silva

Resumo: Os biofertilizantes são líquidos bio-ativos utilizados na agricultura orgânica e agroecológica produzidos através de dejetos animais,restos vegetais e outros componentes minerais. Um produto que ainda deixa dúvidas em muitos agricultores pelo longos processos de assimilação das plantas na produção. Esta pesquisa irá nos mostrar a eficácia do produto quando se estabelece níveis de aplicação e formas de confecção dos mais variados tipos de biofertilizantes. Tem-se nesta pesquisa o objetivo de abordar alguns temas de experiências populares e científicas em revisões bibliográficas que nos ajudará a compreender um pouco a dimensão dos vários conceitos e atenuar os impactos nocivos que os agroquímicos sintéticos, adubos e fertilizantes, ou pode-se chamar de agrotóxicos, causam nocividade. Após analises na literatura mostra referências bibliográficas que apodera-se de conhecimentos para uma dimensão agroecologica, serão mencionados autores que já promoveram estudos e pesquisas referente ao produto exposto e nos moldes de produção orgânica e agroecologica Os impacto ambientais que os agrotóxicos causam, agressão ao meio ambiente, animais, o ar, e os recursos naturais, e ainda sim o homem.Os preparados bio-ativos com adição de minerais ou não, ou simplesmente com esterco fresco e água, chamados de biofertilizantes, nos dá uma solução que ajuda no fornecimento de nutrientes através das vias respiratórias das plantas, folhas e raízes, bem como principia a resistência das plantas contra os patógenos – pragas e doenças – uma vez que deixa a planta nutrida contra os ataques sistêmicos desses vetores. A


89 pesquisa nos dá um enfoque nos conhecimentos de preparos e uso, e ainda receitas que irão mostrar as vantagens de se produzir alimentos saudáveis com um produto de fácil manuseio.

Palavras-chave:

Biofertilizantes,

Patógenos,

Agrotóxicos,

Agricultura

Camponesa.

1. Introdução Busca-se estabelecer na agricultura orgânica uma equidade ambiental, mas, tendo na maioria dos cultivos a predominância das grandes áreas, a monocultura, traz os problemas com as pragas e doenças e a diminuição da biodiversidade de plantas e microrganismos benéficos, e acarretam em problemas que passam a ter uma importância social, econômica e ambiental. Um dos maiores desafios para a agricultura nesta década será o de desenvolver sistemas agrícolas sustentáveis que possam produzir alimentos e fibras em quantidades e qualidades suficientes, sem afetar os recursos do solo e do ambiente. (Neto, 2006). EMBRAPA (AGROBIOLOGIA, 2002), infere-se sobre o equilíbrio em práticas conservacionistas: A agricultura sustentável, produtiva e ambientalmente equilibrada apoia-se em práticas conservacionistas de preparo do solo, rotações de culturas e consórcios, no uso de adubação verde e de controle biológico de pragas, bem como no manejo eficiente dos recursos naturais. Infere-se daí que os processos biológicos que ocorrem no sistema solo/planta, efetivados por microrganismos e pequenos invertebrados, constituem a base sobre a qual a agricultura agroecológica se sustenta.

Então é de extrema importância que podemos relacionar o uso de fertilizantes líquidos ou sólidos para a manutenção dos solos e a saúde das plantas, e assim estudarmos e pesquisarmos neste trabalho aspectos que envolvem: manuseio, confecção, aplicação, qualidade e eficiência dos biofertilizantes, por ser de baixo custo e de fácil acesso, uma vez que a maioria dos insumos e da matéria prima advêm da própria propriedade rural.


90 Segundo Santos e Akiba (1996) apud (MEDEIROS, et al., 2015) os biofertilizantes são compostos bioativos, resultantes da biodigestão de compostos orgânicos de origem animal e vegetal. Seu conteúdo é formado por células vivas ou latentes de microrganismos de metabolismo aeróbico, anaeróbico e fermentação (bactérias, leveduras, algas e fungos filamentosos e por seus metabolitos e quelatos organo-mineral em soluto aquoso. Os metabolitos são compostos de proteínas, enzimas, antibióticos, vitaminas, toxinas, fenóis, ésteres e ácidos, inclusive de ação fito hormonal. Nos últimos anos, o uso de biofertilizantes tem se ampliado, particularmente aqueles enriquecidos com diferentes tipos de minerais. A nomenclatura utilizada tem sido bem criativa. No Sul do Brasil chamam de Super-Magro, Gororoba e de Biolocal; em Sergipe e Alagoas, é conhecido como Biogeo; em Pernambuco é Super-Tará; tem também o Biol e muitos outros nomes. (MDA, 2005) Para uma ativação biológica nos solos e nas plantas faz-se necessária o estudo e investigação de qual tipo de solo e qual tipo de cultivo, que irá estabelecer

aplicações

constantes

deste

produto,

por

se

tratar

de

microrganismos vivos que atuarão no processo de reorganização das atividades celulares da planta na absorção deste suplemento foliar. A potência biológica de um biofertilizante é expressa pela grande quantidade de microrganismos ali existentes, responsáveis pela liberação de metabolitos e antimetabólitos, entre eles vários antibióticos e hormônios vegetais. Os efeitos dos biofertilizantes no controle de pragas e doenças de plantas têm sido bem evidenciados. Efeitos fungiásticos, bacteriostáticos, e repelentes sobre insetos já foram constatados. (MEDEIROS, et al., 2015) Existem hoje vário tipos de biofertilizantes, sejam eles líquidos ou sólidos, a depender dos materiais a compostar. E assim tendo como premissa importante a saúde das plantas e a vida dos solos, como analisou o pesquisador Francis Chaboussou na teoria da trofobiose, vimos nos biofertilizantes o poder de estabelecer nas plantas o convívio harmonioso com o meio ambiente onde também vivem os microrganismo sejam eles benéficos ou nocivos. São várias as possibilidades de promover substancias que ajudam no desenvolvimento e produção dos vegetais, sejam os biofertilizantes líquidos ou


91 sólidos, e neste meio de combustão de inúmeras bactéria e componentes que ajudam na composição química orgânica dos preparados é que pode-se transportar para as plantas e para o solo organismos antes inexistentes fortalecendo a macrobiótica da fauna e da flora. Há de se perceber que os preparados orgânicos como por exemplo o bokashi, produtos bioquímico orgânico solido transporta organismos vivos umas que o solo esteja também com elementos que ajudaram a fortalecer o engajamento entre estes seres, como a cobertura vegetal. O objetivo é trazer pesquisas bibliográficas, conhecimentos práticos e receitas de biofertilizantes líquidos para culturas de produção agroecologica, mostrar as vantagens de se obter como recursos próprios, matéria prima local e sem custos, um produtos na nutrição de plantas e solos de fácil manuseio.

2. Benefícios dos biofertilizantes para os solos e plantas

2.1 Biofertilizantes líquidos Existem no solo diversas inter-relações entre os atributos físicos, químicos e biológicos que controlam os processos e os aspectos relacionados à sua variação no tempo e no espaço, afetar sua fertilidade, com reflexos na qualidade e produtividade das culturas. (Bertollo, 2015) Os biofertilizantes tem atributos relacionados com a produção celular das plantas dando mais vitalidade e consequentemente maior disponibilidade de defesa contra patógenos o que confere resistência a estes, acumulando nutrição vegetal, e este produto ainda com várias formas de confeccionar seja líquido ou compostos sólidos de restos de culturas e excrementos animais, ou seja, reaproveitamento de resíduos, diminui os custos com insumos externos para

o

agricultor

familiar,

trazendo

também

sustentabilidade

aos

empreendimentos familiares. Além de ser de fácil manejo, favorece o equilíbrio ecológico da fauna e da flora. E

os

benefícios

não

param,

também

são

disponibilizados

microrganismos vivos para o solo que ajudam na absorção de nutrientes minerais através das raízes, ajudam na respiração das mesmas, favorecem a proteossíntese das plantas.


92 Para Ehlers, (1999, p. 90), “os solos erodidos exigem fertilizantes, que nem sempre conseguem suprir adequadamente as necessidades nutricionais das plantas, tornando-as mais suscetíveis ao ataque de pragas e doenças”. Os biofertilizantes com adições de fungos têm uma atividade biológica no controle e redução da vitalidade de ovos de insetos e fecundidade dos mesmos provocando a diminuição de infestações por populações que causam danos econômicos aos cultivos, garantindo mais resistência as plantas aos ataques de pragas e doenças. O uso contínuo dos biofertilizantes, tanto como fertirrigação como também adubação foliar, vem sendo inserido mas comumente em cultivos de hortaliças e frutíferas, a outros cultivos mais convencionais e monocultivos como cana-de-açúcar, cafeeiros, em que estes últimos vem associados com adubação química desnorteando o processo bio-ativos e microbiano dos biofertilizantes, prática esta que se associa aos meios pesados de produção que degradam o meio ambiente. Entretanto vimos que a agricultura familiar é a que mais se apodera dessa prática que traz em si mais um benefício, o econômico, produto de baixo custo e fácil manuseio. Alguns benefícios: 

Promovem a interação de fungos, bactérias na composição dos bio-

ativos de maior facilidade de assimilação pelas plantas; 

Baixo custo de produção;

Aproveitamentos de matérias primas locais, estercos, compostagens,

vegetais; 

Favorece alimento saudável.

2.2 Onde pode ser empregado ou aplicado as caldas de biofertilizantes Os ambientes convencionais de produção agrícola, seja para consumo animal ou humano passam por processos de produção desenfreada de monocultivos, deturpando os solos, lixiviando agrotóxicos, carreando matéria orgânica, poluindo rios e destruindo a biodiversidade da fauna e flora, Na medida em que o homem avança na ânsia de obter lucro, o meio ambiente perde em termos de ajustes das práticas conservacionistas, e os preparos dos biofertilizantes não visto como uma alternativa, mais sim como


93 promotor de vida microbiana para os solos e as plantas, uma medida certa para transformar organismos vivos em excelentes vetores de saúde e garantia da biodiversidade, garantido a sustentabilidade de alimentos saudáveis. Não se destaca culturas ou regiões para o emprego destas caldas, porém tenhamos que ter alguns cuidados na hora da utilização, como: os horários de aplicação sempre nos horários mais frios e sem chuvas ou irrigação, a quantidade de diluição, o tipos de cultura, o intervalo entre uma aplicação e outra que diferenciam pelo porte da planta e época de safra, entre outros. E

no

sistema

agroecológico

é

um

excelente

aliado

para

a

sustentabilidade dos ecossistemas. Pode ser empregado a calda em frutíferas, hortaliças, flores tropicais e temperadas, diretamente no solos com presença de vegetação, em algumas plantas medicinais, em pastagens, etc.

2.3 Preparando o biofertilizante Segundo Medeiros e Lopes (2006) “Não existe uma fórmula padrão para a produção de biofertilizantes. Receitas variadas vêm sendo testadas, utilizando-se componentes minerais para o enriquecimento do meio de cultivo”. A seguir iremos mostrar algumas receitas de biofertilizantes líquidos e sólidos que já foram testados por pesquisadores e difundimos suas receitas neste trabalho. Estes são os materiais e ingredientes básicos necessários para preparar os biofertilizantes foliares mais simples, para serem aplicados em qualquer cultivo, e podem ser preparados por qualquer campesino ou produtor, produtora, em qualquer lugar. Alguns sais minerais ou sulfatos (de zinco, magnésio, cobre, ferro, cobalto, molibdênio, etc.) podem ser adicionados, mesmo que seja adquirido em mercados externos, isso não limita o produtor ou produtora de se obter seu próprio biofertilizantes por se ter custos na aquisição destes produtos, estes enriquecerão os biofertilizantes, mas é opcional e se realiza de acordo com as necessidades e recomendações para cada cultivo em cada etapa de seu desenvolvimento. Os sais minerais ou sulfatos podem ser substituídos por cinza de lenha ou por farinhas de rochas moídas ou fosfitos, com excelentes resultados.


94 Figura 1. Representação gráfica

Disponível em: oextensionista.blogspot.com.br

Tabela 1 – Ingredientes e quantidades para preparo de biofertilizante. INGREDIENTE Água Leite ou soro Melado ou garapa Esterco bovino fresco Cinza de lenha ou fosfito Sais minerais (opcionais)

QUANTIDADE 180 L 2a4L 2a4L 50 Kg 3 a 5 Kg Seguir exigências e recomendações da cultura. Podem ser substituídos por pó de rocha.

Adaptado de: oextensionista.blogspot.com.br

2.3.1 Calda nutritiva ou biofertilizante para adubação foliar Ajuda no metabolismo das plantas, dando mais saúde e com efeitos positivos na diminuição de serem atacadas por pragas ou doenças. A preparação desta calda leva mais ou menos 25 dias. Nesse período de tempo a cada 5 dias, são colocados num tambor os diferentes elementos que comporão a calda da seguinte maneira: Primeiro dia: num tambor de 200 litros, colocar 12 kg de esterco fresco de gado, completar com água de chuva até metade do vasilhame e misturar bem; Quinto dia: Acrescentar ½ litro de leite ou soro+150g de cinza; Décimo dia: Acrescentar 250g de rapadura raspada+150g de cinza+1/2 kg de folhas de ramo ou bredo pisado ou de outra planta verde; Décimo quinto dia: Acrescentar uma colher de sopa de sangue fresco+150g de cinza+1/2 kg de folhas de marmeleiro ou mata pasto pisado ou de outra planta verde; Vigésimo dia: Acrescentar 100g de restos moído de fígado+150g de cinza+1/2 kg de folhas de catingueira ou jurema pisada ou outra planta verde;


95 Vigésimo quinto dia: Acrescentar mais 8 kg de esterco e completar com água o vasilhame. Período de repouso: Depois de colocado todos os ingredientes, a calda deverá ficar em repouso por 20 a 30 dias. Nesse período, convêm sempre mexer o conteúdo do tambor com o auxílio de um pedaço de pau, para facilitar a mistura de todos os ingredientes. A calda assim preparada poder ser usadas partir de 45 dia desde que foi iniciada a sua preparação. Aplicação: coar muito bem em um pano, 2,5 litros de calda e colocar num pulverizador de 20 litros, dando a proporção de 1/1, 25. Em seguida completar com água e pulverizar nas plantas. A calda assim preparada poderá ser guardada por muitos meses, sem perder o efeito nutritivo. É importante manter o tambor sempre vedado com um plástico amarrado na boca. Durante o verão, quando não é possível conseguir ramos verdes das plantas indicadas para o preparo da calda, convém substituir por outras plantas que geralmente podem ser encontradas nos baixios ou juntos das fontes de água. Fonte: Agencia mandalla – Manual de defensivos naturais

2.4 Biofertilizantes enriquecido

Tabela 2. Ingredientes e quantidades para preparo de biofertilizante enriquecido. INGREDIENTE Esterco de curral fresco Água Terra vegetal Arroz cozido Rapadura Erva Espontânea Sulfato de zinco Sulfato de cobre Sulfato de manganês Ácido bórico Sulfato de cobalto Sulfato de magnésio Sulfato de ferro Cinza de madeira

QUANTIDADE 60 Kg 200 L 10 Kg 1Kg 0,3 kg 2 Kg 4 colheres de sopa 4 colheres de sopa 4 colheres de sopa 4 colheres de sopa 4 colheres de sopa 4 colheres de sopa 4 colheres de sopa 4 Kg

Adaptado de: Agencia mandalla – Manual de defensivos naturais.


96

2.4.1 Modo de preparo Em um recipiente de 200 kg, colocar o esterco, água, rapadura quebrada em pedacinhos, e as ervas. Cozinhar o arroz e espalhar sobre a terra vegetal em local ventilado, sombreado e protegido de animais, após 10 (dez) dias retirar o arroz junto a terra e colocar dentro do recipiente com os ingredientes mencionados anteriormente, em seguida adicionar os minerais, duas colheres de cada um a cada 6 (seis). Horas, após intervalo de 10 dias repetir as dosagens de duas colheres a cada 6 (seis) horas novamente. Este processo levará desde a preparação até ficar pronto no máximo 40(quarenta) dias, em seguida esse período coar e armazenar em garrafas pet sem fechar totalmente. Daí em diante estará pronto para a adubação foliar das mais diversas culturas.

2.4.2 Utilização Utilizar 2 litros para 18 litros de água.

2.5 Urina de vaca para utilização como biofertilizante A urina de vaca é um insumo agrícola que pode possibilitar a redução da dependência econômica de produtos industrializados, sobretudo na produção de hortaliças no sistema orgânico. (PRESSAGRO - RIO, 1999) A PRESSAGRO – RIO, nos mostra abaixo valores de minerais contidos na urina de vaca, esta substancia pode elevar as condições de absorção dos nutrientes pelas plantas, garantindo maior proteção contra pragas e doenças.

Tabela 3. Valores da análise química da urina de vaca após três dias de armazenamento em garrafas plásticos hermeticamente. CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS N (mg/L-1)³ P (mg/L-1)² K (mg/L-1)¹ Ca (mg/L-1)¹ Mg (mg/L-1)¹ S (mg/L-1)¹ Fe (mg/L-1)¹ Mn (mg/L-1)¹ Cu (mg/L-1)¹ Zn (mg/L-1)¹ B (mg/L-1)²

VALORES 12600,00 98,70 2666,00 5,00 330,00 45,00 4,00 4,00 2,00 8,00 110,00


97 Na (mg/L-1)¹ Co (mg/L-1)¹ Mo (mg/L-1)¹ Al (mg/L-1)¹ Cl (mg/L-1)³ Densidade (g/ml-1)

2000,00 6,00 9,00 2900,00 1700,00 1,00

Adaptado de: PESAGRO-RIO. 1999.

3. Considerações Finais Assim, sabendo dos benefícios que os biofertilizantes líquidos proporcionam as plantas e o solo podemos concluir que a agricultura pode ser mais sustentável quando proporcionamos condições favoráveis as plantas para o seu desenvolvimento, enquanto adubação foliar, nos permite uma eficácia do produto quando são estabelecidos critério de aplicação e condução nos cultivos. Os biofertilizantes podem ajudar no funcionamento das sínteses de proteínas e enzimas à medida que são praticados por meio de estudos e práticas conservacionistas, pois, além de terem princípios ativos e agente benéficos, sozinhos não atuam como regulador de aminoácidos, se outros fatores não estiverem uma inter-relação nos tratos culturais e conservacionistas de produção agroecológica.

4. Referências Bibliográficas

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99

Capítulo 10

Compostagem no manejo agroecológico do solo André Luis Pereira dos Santos Elisângela de Freitas Mariano João Batista Tavares Junior Virgínia Maria Magliano de Morais

Resumo: Tendo em vista que o solo é um ecossistema vivo, que sofre interação com o meio, ou seja, para ficar em equilíbrio é necessário que o meio esteja equilibrado. O solo é um sistema dinâmico constituído por componentes sólidos, líquidos e gasosos de natureza mineral e orgânica, que ocupa a maior parte das superfícies continentais do planeta Terra. É estruturado em camadas denominadas horizontes, sujeitas a constantes transformações entrópicas, através de processos de adição, remoção, translocação de natureza química, física e biológica. O uso da matéria orgânica na adubação de culturas é essencial para a melhoria da qualidade do solo e manutenção da fertilidade, contribuindo significativamente para a manutenção da umidade e da temperatura do solo a níveis adequados para o desenvolvimento do sistema radicular e da parte aérea das plantas, a associação da argila com o húmus, denominada complexo argilo-húmico, é responsável pela predominância de cargas negativas em relação às positivas, aumentando a capacidade de troca cal iónica (e TC) do meio, ou seja, os nutrientes catiônicos, Ca, Mg e K contribuindo para a melhoria da produtividade e para a sustentabilidade do sistema de produção. A compostagem é definida como um processo aeróbio controlado, desenvolvido por uma população diversificada de microrganismos, efetuada em duas fases distintas: a primeira quando ocorrem as reações bioquímicas mais intensas, predominantemente termofílicas; a segunda ou fase de maturação, quando ocorre o processo de humificação. Portanto a compostagem contribui nos atributos do solo, por ser uma fonte de material orgânico.

Palavras chave: Solo, Matéria Orgânica, Agricultura Orgânica.


100 1. Introdução

1.1 O solo O solo é um ecossistema vivo, que sofre interação com o meio, ou seja, para ficar em equilíbrio é necessário que o meio esteja equilibrado. Esse conceito de solo vivo é um grande avanço na agroecologia, tendo em vista que o cenário anterior não era esse. O solo era visto apenas com um aglomerado de nutrientes que se originaram de uma rocha matriz.

O conceito de solo como um corpo predominantemente mineral, morto, focalizado no manejo agroquímico e como mero substrato para as plantas deve ser abandonado, deve se adentrar ao sistema orgânico de produção. Na linha de raciocínio da agricultura orgânica o solo deve ser encarado como um organismo vivo e sua fertilidade baseada em aspectos físicos, químicos e também biológico, que no modelo convencional de agricultura é relegado a um segundo plano. GheyI et al., (1997, p. 2): O solo é um sistema dinâmico constituído por componentes sólidos, líquidos e gasosos de natureza mineral e orgânica, que ocupa a maior parte das superfícies continentais do planeta Terra. É estruturado em camadas denominadas horizontes, sujeitas a constantes transformações entrópicas, através de processos de adição, remoção, translocação de natureza química, física e biológica.


101 Ao longo da história pode-se observar que a partir dos anos 60, desenvolveu-se um processo de modernização da agricultura nos países tropicais. No caso do Brasil, foi intensa a importação de tecnologias e insumos dos Estados Unidos da América (EUA). Durante o regime militar, prevaleceu um modelo agropecuário baseado na grande propriedade fundiária.

Não se visava a uma agricultura

independente e autossustentável, haja vista que o desenvolvimento tecnológico do setor mantinha uma relação subalterna com o setor produtor de insumos e maquinaria agrícola, todo dominado por firmas multinacionais, tais como CibaGeygi, Bayer, Shell, Dow Chemical, Ford, MasseyFergusson, Harvester e outras. Com esse modelo desenvolvimentista adotado, houve pouco espaço para estudos que permitissem a autonomia produtiva dos agricultores. Os processos que favoreciam sistemas fechados, com inserção mínima de insumos externos não foram priorizados. A exemplo das técnicas que agregassem mais material orgânico nos cultivos.

1.2 Matéria Orgânica O uso da matéria orgânica na adubação de culturas é essencial para a melhoria da qualidade do solo e manutenção da fertilidade, contribuindo significativamente para a manutenção da umidade e da temperatura do solo a níveis adequados para o desenvolvimento do sistema radicular e da parte aérea das plantas, a associação da argila com o húmus, denominada complexo argilo-húmico, é responsável pela predominância de cargas negativas em relação às positivas, aumentando a capacidade de troca cal iónica (e TC) do meio, ou seja, os nutrientes catiônicos, Ca, Mg e K contribuindo para a melhoria da produtividade e para a sustentabilidade do sistema de produção. A matéria orgânica do solo é o produto da acumulação de resíduos de plantas e animais parcialmente decompostos. Esses materiais, em ativo estado de decomposição, são submetidos ao ataque contínuo de microrganismos. A matéria orgânica dentre outras vantagens está relacionada diretamente ao conceito de solo como organismo vivo que é um dos grandes princípios dos sistemas orgânicos de produção. Essa matéria orgânica pode ser originada do solo fazendo parte na


102 formação do solo ou serem originados pela ação do homem, materiais orgânicos trazidos de fora e incorporados ao solo, como adubos orgânicos. O adubo produzido com esses resíduos é rico em nutrientes que retornados ao solo estimula a vida da terra e contribuem em muito para o desenvolvimento e a nutrição das plantas e a manutenção da vida e da fertilidade do solo. A matéria orgânica/MOS apresenta potencial para ser utilizada como atributochave da qualidade do solo/QS (DORAN & PARKIN, 1994; MIELNICZUK, 1999), pois, além de satisfazer o requisito básico de ser sensível a modificações pelo manejo do solo, é ainda fonte primária de nutrientes às plantas, influenciando a infiltração, retenção de água e susceptibilidade à erosão (GREGORICH et al., 1994). Ela também atua sobre outros atributos, tais como: ciclagem de nutrientes, complexação de elementos tóxicos e estruturação do solo. Solos tropicais, intensamente intemperizados, apresentam como uma das suas principais características químicas a baixa CTC. Nesses solos, o teor de MOS tem importância preponderante na CTC efetiva (BAYER & MIELNICZUK, 1999). A descompactação mecânica da terra não passa de uma ilusão, pois apenas a matéria orgânica pode descompactá-la com eficácia. Nesse caso, o arado contribui apenas para uma pulverização que, após uma ou duas chuvas, torna a terra mais compacta do que antes (PRIMAVESI, 1992). Pela Legislação Brasileira, Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, composto orgânico é “todo produto de origem vegetal e animal que aplicado ao solo em quantidades, épocas e maneiras adequadas, proporciona melhoria de suas características físicas, químicas, e biológicas. Efetua correções de reações químicas desfavoráveis ou de excesso de toxidez e, fornece às raízes os nutrientes suficientes para produzir colheitas compensadoras com produtos de boa qualidade, sem causar danos ao solo, à planta e ao meio ambiente. Abaixo segue uma figura resumindo as propriedades da matéria orgânica


103

Disponível em: www.goconqr.com/pt-BR/mind_maps/8788981/edit)

2. Discussão Este estudo constitui-se de uma revisão da literatura especializada, realizado em junho de 2017, tendo como base de pesquisa a técnica compostagem na área das ciências agrárias. As atividades agrícolas e a agropecuárias geram grande quantidade de resíduos, como restos de culturas, palhas e resíduos agroindustriais, dejetos de animais, os quais, em alguns casos, provocam sérios problemas de poluição, alguns agricultores ateiam fogo nos restos culturais, prejudicando assim a microbiota do solo e assumem o risco de causarem incêndios descontrolados. Entretanto, quando manipulados adequadamente, podem suprir, com vantagens, boa parte da demanda de insumos industrializados sem afetar de fato os recursos do solo e do ambiente. O aproveitamento dos resíduos agrícolas, industriais, urbanos e florestais pode ser realizado através de um processamento simples denominado compostagem, em pequena, média e grande escala desde que não causem distúrbios ao meio ambiente e a saúde pública. Este trabalho tem por objetivo demonstrar a importância da matéria orgânica no solo e a técnica de compostagem. D

e acordo com Pereira Neto (1987), a compostagem é definida como um

processo aeróbio controlado, desenvolvido por uma população diversificada de microrganismos, efetuada em duas fases distintas: a primeira quando ocorrem as reações bioquímicas mais intensas, predominantemente termofílicas; a segunda ou fase de maturação, quando ocorre o processo de humificação.


104 A compostagem é uma técnica idealizada para obter, no mais curto espaço de tempo, a estabilização ou humificação da matéria orgânica que na natureza se dá em tempo indeterminado. É um processo controlado de decomposição microbiana de uma massa heterogênea de resíduos no estado sólido e úmido. O composto orgânico é o produto final da decomposição aeróbia (na presença de ar) de resíduos vegetais e animais. A transformação dos resíduos ocorre, principalmente, através da ação de organismos, podendo ser subdividida em duas etapas: física (desintegração – quebra mecânica dos resíduos) e química (decomposição e transformação da biomassa – os resíduos são primeiramente decompostos em suas unidades estruturais básicas por enzimas extracelulares e posteriormente absorvidas e oxidadas pelos microrganismos, a fim de obterem energia e nutrientes inorgânicos para o seu desenvolvimento, com consequente transformação da biomassa).

2.1 Definições de compostagem De acordo com Pereira Neto (1987), a compostagem é definida como um processo aeróbio controlado, desenvolvido por uma população diversificada de microrganismos, efetuada em duas fases distintas: a primeira quando ocorrem

as

reações

bioquímicas

mais

intensas,

predominantemente

termofílicas; a segunda ou fase de maturação, quando ocorre o processo de humificação. As vantagens da compostagem podem ser mensuradas pelo seu baixo custo operacional; possibilidade de emprego do composto na fertilização do solo, para a agricultura e jardinagem; subsequente redução da poluição do ar e da água subterrânea, evitando-se a contaminação ambiental; além de contribuir para a melhoria continuada da qualidade do solo, dentre outras (SILVA et. al., 2002; LIMA et al., 2008).

2.2 Fontes de material orgânico para compostagem Os materiais utilizados para a compostagem podem ser divididos em duas classes, a dos materiais ricos em carbono e a dos materiais ricos em nitrogênio. Entre os materiais ricos em carbono podemos considerar os materiais lenhosos como a casca de árvores, as aparas de madeira, as podas


105 dos jardins, folhas e galhos das árvores, palhas e fenos, e papel. Entre os materiais nitrogenados incluem-se as folhas verdes, estrumes animais, urinas, solo, restos de vegetais hortícolas, erva, etc. Na tabela 1 estão dispostos os dados referentes a relação C/N (carbono/nitrogênio) e teores de N, P e K em diferentes fertilizantes orgânicos.

Tabela 1. Relação C/N e teores de N, P e K em fertilizantes orgânicos. MATERIAL Esterco Ovino Esterco Bovino Esterco de Galinha Esterco Suíno Composto Palha de milho Palha de arroz Palha de feijão Capim colonião Grama Crotalaria juncea* Feijão guandu* Mucuna preta* Serragem de madeira

C/N 15:1 18:1 10:1 10:1 10:1 112:1 39:1 32:1 27:1 36:1 26:1 29:1 22:1 865:1

N 2,13 1,9 3,04 2,54 1,00 0,48 0,78 1,63 1,87 1,39 1,95 1,81 2,24 0,06

P 1,28 1,01 4,70 4,93 0,80 0,38 0,58 0,29 0,53 0,36 0,40 0,59 0,58 0,01

K 3,67 1,62 1,89 2,35 0,80 1,64 0,41 1,94 1,81 1,14 2,97 0,01

*Dados de florescimento em % na matéria seca. Adaptado de Kiehl (1985)

A composição química (base seca) de alguns restos vegetais de interesse como matéria-prima para o preparo de fertilizantes orgânicos estão dispostos na tabela 2.

Tabela 2. Composição química de alguns restos vegetais utilizados para preparo de fertilizantes orgânicos. MATERIAL Abacaxi: fibras Arroz: cascas Arroz: palhas Aveia: cascas Aveia: palhas Café: cascas Café: palhas Capim-gordura Capim-guiné Capim-jaraguá

MATÉRIA ORGÂNICA (%) 71,41 54,55 54,34 85,00 85,00 82,20 93,13 92,38 88,75 90,51

N (%)

C/N

P2O5

K20

0,90 0,78 0,78 0,75 0,66 0,86 1,37 0,63 1,49 0,79

44/1 39/1 39/1 63/1 72/1 53/1 38/1 81/1 33/1 64/1

Traços 0,58 0,58 0,15 0,33 0,17 0,26 0,17 0,34 0,27

0,46 0,49 0,41 0,53 1,91 2,07 1,96 -


106 Capim-meloso Capim-mimoso Capim-napier-verde Capim-pé-de-galinha Crotalária Eucalipto: resíduos Feijão-de-porco Feijão-guandú Feijoeiro: palhas Labelabe Milho: palhas Mucuna-preta Serragem de madeira

90,00 93,69 96,00 86,99 91,42 77,60 88,54 95,90 94,68 88,46 96,75 90,68 93,45

0,70 0,66 1,40 1,17 1,95 1,82 2,55 1,81 1,63 4,56 0,48 2,24 0,06

75/1 79/1 40/1 41/ 26/1 15/1 19/1 29/1 32/1 11/1 112/1 22/1 865/1

0,22 0,26 0,33 0,51 0,40 0,35 0,50 0,59 0,29 2,08 0,38 0,58 0,01

0,5 0,76 1,81 1,52 2,41 1,14 1,94 1,64 2,97 0,01

Adaptado de Kiehl (2001) e Souza (2002)

Já na tabela 3 estão dispostos dos dados relacionados a quantidade de macro e micronutrientes de alguns resíduos orgânicos.

Tabela 3. Teores de macro e micronutrientes de diversos resíduos orgânicos. C

N

Mg

K2O

Na

0,09

Ca % 0,005 0,06

14

1,3

0,03

0,26

37

29

7,9

0,27

0,63

0,26

0,13

0,07

92

10960

6

30,1

5,5

1,99

5,37

0,59

1,14

207

13

19,4

1,53

0,53

0,83

0,34

1,16

20

32,5

1,60

1,50

2,33

0,78

1,76

RESÍDUO

C/N

Vinhaça Torta de filtro Torta de mamona Esterco bovino Cama de Frango

P2O5

Fe

Mn ppm 55 6

Cu

Zn

1,4

3,8

190

19

49

1420

55

80

141

1700

3623

196

8

57

-

3125

550

21

266

Adaptado de Fundação Cargill (1983) e Souza (2002).

O esterco de aves é um adubo orgânico bastante solúvel com rápida disponibilização de nutrientes para as plantas. Leal & Silva (2002) compararam o esterco bovino e a cama de aviário na adubação de pimentão orgânico cultivado em ambiente protegido e em céu aberto. Os materiais para compostagem não devem conter vidros, plásticos, tintas, óleos, metais, pedras etc. Não devem conter um excesso de gorduras (porque podem libertar ácidos graxos de cadeia curta como o acético, o propiónico e o butírico os quais retardam a compostagem e prejudicam o composto), ossos inteiros (os ossos só se devem utilizar se forem moídos), ou outras substâncias que prejudiquem o processo de compostagem. A carne deve ser evitada nas pilhas de compostagem porque pode atrair animais. O papel pode ser utilizado, mas não deve exceder 10% da pilha. O papel encerado deve ser evitado por ser de


107 difícil decomposição e o papel de cor tem que ser evitado, pois contem metais pesados. Outra

característica

que

é

fundamental

para

o

processo

de

compostagem é a dimensão das partículas dos materiais. O processo de decomposição inicia-se junto à superfície das partículas, onde exista oxigênio difundido na película de água que as cobre, e onde o substrato seja acessível aos microrganismos e às suas enzimas extracelulares. Como as partículas pequenas têm uma superfície específica maior estas serão decompostas mais rapidamente desde que exista arejamento adequado.

2.3 Realizando a compostagem

2.3.1 O Local O local onde será realizada a compostagem deve ser de fácil acesso, se passível próximo ao descarte de resíduos ou próximos ao local de utilização. Deverá haver uma fonte de água próxima. A água é fundamental no processo e será utilizada tanto durante a empilhagem das camadas das matérias primas (confecção da pilha) como na manutenção do teor de umidade durante as reviragens, que ocorrem várias vezes ao longo do processo. Deverá ser evitado local de baixadas para não ocorrer enxarcamento do composto, o piso desse local deve ser impermeabilizado com cimento ou asfalto ou apenas compactado, de modo que não haja mistura de solo com o composto durante o reviramento da leira de compostagem.

2.3.2 Equipamentos necessários Os equipamentos necessários para os procedimentos manuais são os já presentes nas propriedades rurais, como por exemplo: luvas plásticas, máscaras, pás, enxadas, garfos, carrinhos-de-mão, mangueiras para molhar as pilhas, termômetros de haste longa ou vergalhões de ferro (haste de ferro).

2.3.3 Formatos e tamanhos das leiras (Pilhas) As leiras de compostos montadas na época de chuva devem ter o formato triangular, o que contribui para minimizar a entrada excessiva de água no interior da mesma. Na época seca as leiras devem ser montadas em


108 formato trapezoidal para facilitar a entrada de água na parte interna (Figura 2). As leiras com largura de 3 m a 4 m e altura de 1,0 m a 1,5 m facilita o manejo durante o reviramento. O comprimento é variável de acordo com o espaço disponível, normalmente de 20 a 50m.

2.3.4 Compostagem aeróbica com esterco A matéria prima para a elaboração do composto deve ser de restos de vegetais (galhos, folhas, capim, outros – ricos em C) e animais (esterco bovino, cama de aviário de matrizes, outros – ricos em N). Outro fator importante a ser observado

na

escolha

e

seleção

da

matéria

prima

é

a

relação

carbono/nitrogênio, pois com uma proporção ideal de 25 a 30:1, a decomposição ocorrerá com eficiência. Essa proporção poderá ser atingida de duas maneiras: • 75% de restos vegetais variados + 25% de esterco; • 50% de restos vegetais frescos + 50% de restos de vegetais velhos. Material muito lenhoso não deve passar de 10% na compostagem, caso contrário deverá ser picado em pedaços menores ou mantido por algum tempo como cama para animais.

Exemplos de formulações: Ex.: 1. Com esterco de frango Cada camada de composto deverá conter:


109 • 27 carrinhos de cama de matrizes de frangos (material mais pobre em N) (27 x 3 = 81); • 15 carrinhos de capim roçado (15 x 4 = 60); • 25 carrinhos de capim triturado (25 x 4 = 100); • 13 kg de yoorin Master;

Cabe ressaltar que a meda de composto é formada por quatro camadas, sendo que a cama de matrizes e o Yorin master só compõem as três primeiras camadas (observar montagem da meda esquematizada abaixo). Total de 241 (81 + 60 + 100) carrinhos de pedreiro por meda de composto. O material a ser compostado deve ser dividido em quatro (4) camadas. Na formação de cada camada coloca-se primeiro o material mais fibroso ou de tamanho maior. A composição de cada camada da pilha de composto é indicada abaixo.

Tabela 4. Disposição das camadas e do material no preparo da compostagem. 4ª camada

3ª camada

2ª camada

1ª camada

Capim triturado Capim roçado Yoorin máster Cama de frango Capim triturado Capim roçado Yoorin máster Cama de frango Capim triturado Capim roçado Yoorin máster Cama de frango Capim triturado Capim roçado

2.3.5 Manejo da pilha O manejo da pilha é simples, de forma a garantir a otimização e andamento das fases descritas, Consiste praticamente em revirar e umedecer a pilha, administrando as condições ideais de temperatura, umidade e aeração no processo de compostagem. A reviragem pode ser feita de maneira manual e resolve todos os problemas que possam Ocorrer que venham atrapalhar o andamento da compos1agem, Na reviragem eliminamos o excesso de gás carbônico acumulado e incorporamos oxigênio, além disso eliminamos o


110 excesso de água que eventualmente possa se acumular e diminuímos a temperatura para posterior elevação da mesma.

2.3.6 Quando revirar: 

Excesso elevado umidade;

Temperaturas elevadas por muito tempo;

Mau cheiro proveniente da pilha;

Compactação do composto;

Diminuir o tamanho de agregados que se formaram no composto;

As primeiras reviragens devem ser feita num intervalo de 05 dias a partir da formação da pilha, nesse período já houve um rápido aquecimento e há necessidade de homogeneizar o material. As reviragens posteriores podem ocorrer em intervalos maiores, como por exemplo, de 15 em 15 em média, ou quando houver necessidade (temperaturas superiores a 50•C), até o termino da compostagem.

2.4 Utilização do composto ou adubo orgânico Pode ser utilizado na adubação de plantas arbustivas/trepadeiras (ex. acerola, mamão, maracujá, uva, bananeiras, laranjeira, etc) ou arbóreas (ex. laranjeiras, limoeiros, coqueiro, etc) ou plantas ornamentais de grande porte, quando atingir 50% a 60% da humificação. Esse ponto pode ser identificado esfregando um pouco do material na palma da mão detectando a presença de massa fina e fragmentos maiores que ainda não decompôs. Para adubação de hortaliças e plantas medicinais em canteiros deve-se usar o material em estádio de 80% a 100% de humificação. O composto deverá ser aplicado 30 dias antes do plantio da cultura, de forma a ser Incorporado ao solo. Em caso de culturas perenes (frutíferas), pode ser feito o coroamento em torno das plantas, sob a sombra de suas copas.

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113 Capítulo 11

Uso de plantas no tratamento de enfermidades animais Jair Batista de Souza Francisca Tatiana de Oliveira Souza Elisângela de Freitas Mariano Gabriela Torres Costa Lima

Resumo: O uso de plantas medicinais no tratamento ou controle de doenças é denominado fitoterapia. A fitoterapia é uma ciência que acompanha a humanidade dos tempos primitivos até os dias atuais. É uma prática que surgiu dentro da medicina humana, mas que nos últimos tempos está cada vez mais presente nas ciências veterinárias. Existem no Brasil inúmeras plantas com propriedades terapêuticas e variadas formas de utilização:in natura, por decocção na forma de gel, pomadas ou óleos essências. Para o melhor aproveitamento terapêutico são usadas as mais variadas partes da planta: casca, flor, folhas ou até mesmo ramos ou galhos. A maioria das plantas abordadas neste trabalho apresentam atividades antiparasitárias como a bananeira (Musa spp.) e o alho (Allium sativum), mas também existem plantas que

possuem

atividade

cicatrizante,

casos da

aroeira

(Myracrodruon

urundeuva) e do barbatimão (Stryphnodendron barbatiman Mart.) e até ação tranquilizante que é o caso da camomila (Matricaria chamomilla). O uso desse tipo de medicamento vem proporcionar um tratamento voltado para o respeito e preocupação não apenas com o paciente, mas também com a natureza, haja vista que os fitoterápicos não possuem moléculas que poluem o meio ambiente nem geram resistência como os medicamentos industrializados. Entretanto a melhor maneira de utilização dos fitoterápicos ainda não esta bem estabelecida dentro da medicina veterinária, necessitando, portanto de novos estudos que venham nos proporcionar segurança quanto aos riscos emrelação à toxicidade dessas plantas e ao mesmo tempo nostragaconfiança no sucesso dos tratamentos realizados.


114 Palavras-chave:

Fitoterapia

Veterinária,

Plantas

Medicinais,

Terapia

Alternativa.

1. Introdução A

legislação

brasileira

define fitoterápico

como

sendo

todo o

medicamento proveniente de matérias-primas que tenham como componentes ativos plantas ou parte delas (CARVALHO et al. 2008). Sua utilização no tratamento ou prevenção das enfermidades é uma atividade antiga e segue sendo utilizada até os dias atuais (LIMA et al. 2012). No Brasil, vem ocorrendo um aumento crescente na utilização de plantaspela medicina veterinária principalmente por: não causarem mal ao animal, ter produção ecologicamente sustentável, não proporcionarem efeitos tóxicos quando utilizadas de forma correta e também porque diversas plantas apresentam muitas ações farmacológicas e biológicas desejáveis (SOUZA et al. 2008; SILVA e OLIVEIRA, 2013). No caso das Ciências Veterinárias as plantas são utilizadas no tratamento

de

enfermidades

principalmente

por

causa

da

crescente

preocupação com as questões de sustentabilidade (OLIVEIRA et al. 2015). Entretanto, deve-se ter bastante cuidado nessa utilização, pois variações no estágio vegetativo da planta podem determinar o sucesso ou o fracasso do tratamento (SILVA, 1990), assim como, os possíveis riscos de uma intoxicação. Outras vantagens na utilização de plantas como fitoterápicos são: a facilidade na obtenção das plantas, o baixo custo, o atendimento aos princípios de produção orgânica, a eficácia na prevenção e no tratamento de doenças (LIMA et al. 2012;OLIVEIRA et al. 2009). No entanto, uma das coisas mais importantes que devem ser levadas em consideração na hora da utilização é a pureza dos ingredientes utilizados e a correta identificação das plantas usadas (SILVA, 1990). Sendo necessário que se investigue e demonstre para que serve e como utilizar esses fitoterápicos de maneira satisfatória e eficaz (ALVES e SILVA 2003). Assim sendo, na fitoterapia se utilizam plantas medicinais cultivadas de forma tradicional e preparadas, visando o respeito ao meio ambiente e a natureza como um todo (BONAPARTE e NARDI, 2014).


115 Dentre as várias plantas utilizadas na medicina veterinária, pode-se destacar: a babosa (Aloe vera) que apresenta grande potencial terapêutico (FREITAS et al. 2014),

possui ação cicatrizante podendo ser utilizada em

ferimento de animais como cães (MARTINS, 2010) e gatos (SOUZA, 2013);O alho (Allium sativum) muito comum no tratamento de doenças de animais de produção (OLIVEIRA et al. 2015); O mastruz (Chenopodium ambrosioides), por sua vez, é usado para tratamento de endo e ectoparasitas (POZZANI et. Al. 2010); A folha da bananeira (Musa spp.) in natura serve para controlador de vermes

intestinais

de

bovinos

e

caprinos

(PARRA,

2011);

Aaroeira

(Myracrodruonur undeuva) atua como anti-bacteriano para algumas cepas de bactérias como Staphylococus aureus, klebisiela pneumuneae e Enterococus faecalis (GOMES, 2011) e problemas de pele como irritações e coceiras (AZEVEDO, 2017); e o barbatimão (Stryphnodendron barbatiman Mart.) que por sua ação antibacteriana pode ser utilizado no tratamento de ferimentos em animais (MARTINS et al. 2003). Além dessas, muitas outras plantas medicinais são usadas no tratamento de doenças animais. Entretanto, quando se fala de terapêutica veterinária, o emprego da fitoterapia ainda é pouco explorado (OZAKI e DUARTE, 2006). Busca-se hoje em dia o conhecimento a respeito dos princípios ativos desses vegetais e as melhores formas de utilização dessas plantas na medicina (GOMES, 2011). As plantas medicinais podem auxiliar no tratamento de inúmeras doenças. O sucesso na sua utilização pode ser definido pela correta de utilização. São muitas as plantas usadas para o tratamento de doenças animais, essas plantas são utilizadas para a terapia de uma grande variedade de enfermidades, desde problemas intestinais como diarréias, problemas de verminoses até doenças mais complexas como cálculos renais e de bexiga. Esse tipo de medicamento apresenta um potencial enorme dentro da medicina e deve ser explorado ao máximo, pois os benefícios são inúmeros e os efeitos indesejáveis são poucos contribuindo assim para a autonomia do agricultor familiar.


116 2. Plantas utilizadas no combate a diarréias Diarréia é um problema muito comum, principalmente em animais de produção como bovinos, caprinos, ovinos e suínos. O combate a diarréias com medicamentos industrializados é carro, deixando muitas vezes o produtor sem possibilidade de realizar o tratamento adequado para os seus animais. Para o tratamento desses distúrbios podem ser utilizadas varias plantas conhecidas da população. 

Pitangueira (Eugenia uniflora L.): planta bastante conhecida dos brasileiros produz frutos muito apreciados. Forma de utilização: deve-se utilizar as folhas in natura misturado à ração.Utilizar cerca de 30 g das folhas da pitangueira para cada 100 kg de peso vivo do animal, duas vezes ao dia durante pelo menos três dias consecutivos (ARCEGO, 2005).

Precauções: se utilizada nas proporções indicadas essa planta geralmente não causa nenhum efeito colateral aos animais, podendo ser usadas sem maiores problemas. 

Goiabeira (Psidium guajava): pode ser utilizada para bovinos, caprinos, ovinos, suínos e até animais de companhia. Forma de utilização: a melhor forma de utilização dessa planta é in natura na proporção de cerca de 30 g para cada 100 kg de peso vivo do animal, duas vezes ao dia durante pelo menos três dias consecutivos (ARCEGO, 2005).

Precauções: não há relatos de problemas associados ao uso da goiabeira para animais.


117 

Hortelã (Mentha piperita L.): planta que possui diversas propriedades medicinais também tem indicação no tratamento de outras enfermidades em diversas espécies. Forma de utilização: deve ser utilizada na forma de chá. Oferecido aos animais duas a três vezes ao dia. A hortelã também pode ser utilizada in natura.

Precauções: pode ser utilizado de forma bastante segura, mas não se deve exagerar nas doses.

2.1 Plantas usadas no combate a verminoses As verminoses são responsáveis por grandes perdas na pecuária brasileira e o aumento da resistência dos parasitas aos vermífugos convencionais, muitas vezes, inviabiliza os tratamentos. Entretanto, varias plantas já se mostraram bastantes eficazes no combate aos endoparasitas dos animais. 

Alho (Allium sativum L.): uma das plantas mais conhecidas que pode ser empregada no combate a muitas doenças dos animais de produção ou de companhia. Forma de utilização:

A melhor forma de

utilização do alho éin natura, pois temperaturas elevadas podem desnaturar seus compostos, ocasionado

perdas

em

suas

propriedades

benéficas. Mas pode ser utilizado na forma de garrafadas, misturada a ração dos animais ou diretamente por via oral.

Precauções: Não existem relatos de problemas associado ao uso de alho como fitoterápico. Entretanto não se deve exagerar nas dosagens.


118 

Bananeira (Musa spp.): planta bastante comum em todas as partes do Brasil favorecendo assim a sua aquisição e seu uso nos tratamentos fitoterápicos. Formas de utilização: Deve ser oferecida in natura

misturada

à

ração

concentrada

na

proporção de 1,2% do peso vivo (PARRA, 2011). O consumo de folhas de bananeira por animais geralmente não apresenta nenhum tipo de restrição.

Precauções: geralmente o fornecimento das folhas de bananeira não causa problemas aos animais, mas não se deve exagerar nas quantidades. 

Melão-de-são-caetano (Momordica charantia):outra planta que também tem eficácia no controle de parasitas intestinais é o melão-de-são-caetano. Formas de utilização: deixar as folhas secarem e após fazer uma infusão de 10g em 1 litro de água e esperar esfriar. Oferecer aos animais duas ou três vezes ao dia.

Precauções: O uso de melão-de-são-caetano para animais prenhe não é indicado e as suas sementes são toxicas. 

Mastruz (Chenopodium ambrosioides L.): pode ser utilizados na veterinária como anti-helmíntico, anti-fúngico, anti-tumoral, anti-inflamatório, antibacterianos e hipotensores

do

sistema

cardiovascular.

(FERREIRA, 2013). Pode ainda ser usada no combate a endoparasitoses e ectoparasitoses em diversos animais (OLIVEIRA, et al. 2014).

Formas de uso: pode ser utilizada na forma de infusão das folhas ou flores e sementes, in natura ou óleo essencial.


119 Precauções: quando utilizada na forma de infusão ou in natura geralmente não provoca problemas, mas na forma de óleo pode provocar intoxicação em algumas espécies de animais domésticos.

2.2 Plantas usadas no combate a infecções Infecções bacterianas são muito comuns nos animais de companhia e de produção. Existem várias plantas que tem ação direta no combate a microrganismos causadores de infecções nos animais. 

Taioba (Xanthosoma violaceum Schott): pesquisas mostram que essa planta possui grande eficácia no combate de diversas cepas bacterianas podendo, portanto ser utilizada no tratamento de infecções em animais. Formas de uso: Preparação dos extratos secos, na forma de infusão das folhas e raízes ou até a

raiz ralada de forma in natura.

Precauções: devem ser tomados cuidados no uso da taioba, pois podem ocorrer alguns efeitos adversos com o seu uso. 

Oliveira

(Syzygiumcuminii

L.):

apresenta

grande

atividade

antibacteriana sendo uma excelente opção no combate a diversas infecções. Formas de utilização: Deve-se utilizar na forma de extrato hidro-alcoólico das folhas secas a 10% (LOGUERCIO et al. 2005) ou chá das sementes três vezes ao dia.

Precauções: o uso dessa planta quando feito de forma orientada não traz problemas para os animais, entretanto deve-se evitar o uso em quantidades exageradas.


120 2.3 Plantas com atividade analgésica A dor é um mecanismo natural de proteção dos animais é serve de alerta para sinalizar que algo não esta certo. Entretanto quando essa dor é muito forte ou vai ser provocada por algum procedimento (intervenção humana) deve ser combatida. 

Romã (Punica granatum): a romã possui inúmeras propriedades medicinais. Tem ação anti-inflamatória, melhora a função renal, atua como analgésico entre outros. Formas de utilização: deve ser usada na forma de infusão. Utilizar as cascas de uma romã para ½ litro de água, na forma de chá ou até in

natura. Deve ser oferecido aos animais várias vezes ao dia.

Precauções: o uso da romã é bastante seguro e geralmente não traz problemas para os animais. 

Pimenta (Capsicum spp.): possui poderosa ação analgésica, atuando no bloqueio de neurotransmissores do sistema nervoso, mas também traz outros diversos benefícios para saúde (BRANCO, 2017). Forma de utilização: para que a pimenta tenha ação analgésica dever ser utilizada de forma tópica no local em que se deseja o alivio da dor

(BRANCO, 2017).

Precauções: deve-se ter cuidado para que a pimenta não entre em contato com os olhos e a mucosa do animal, pois provoca uma sensação de ardor muito forte.

2.4 Plantas com ação antitérmica A febre é uma resposta do organismo animal frente a um processo infeccioso, portanto é um processo benéfico, entretanto que há uma grande


121 elevação da temperatura deve ser combatida para que retorne a níveis normais ou aceitáveis.

2.4.1Gengibre (Zingiber officinale): as aplicações do gengibre na medicina são as mais variadas possíveis. Para o tratamento sintomático de enfermidades animais pode ser utilizado para ajudar no combate a estágios febris. Formas de utilização: fazer um chá de gengibre (15g de gengibre picado para 250ml de água) e oferecer ao animal várias vezes ao dia.

Precauções: o gengibre não deve ser fornecido a animais prenhe, pois pode aumentar a contração uterina, além disso, pode provocar outros distúrbios indesejáveis.

2.4.2.Camomila(Matricaria chamomilla): é amplamente utilizada como chá, principalmente

por

suas

propriedades

calmantes, possui ainda ação no sistema digestivo, contra febre e falta de apetite. Formas de uso: deve ser utilizado na forma de chá. Para gato: 1 a 3 colheres de sopa e cão médio: cerca de 4 colheres de sopa.

Precauções: se usado com moderação não há grandes riscos quanto a efeitos colaterais.

2.5 Planta usada para tratamento de miíase Problemas de miíse (bicheiras) são muito comuns nas criações animais e podem provocar grandes prejuízos se não tratados. O tratamento deve ser feito o mais rápido possível e o acompanhamento deve ser diário.


122 

Babosa (Aloe vera): planta conhecida na medicina popular por possuir potencial

cicatrizante

e

anti-inflamatório

(VÁZQUEZ et al. 1996). Pode ser utilizada no tratamento de muitos outros problemas dos animais. Formas de utilização: para o tratamento de bicheira deve-se limpar o local e retirar as larvas em seguida retirar a parte gelatinosa do interior da folha da babosa e colocar no local, fazer esse procedimento todos os dias até a completa cicatrização da ferida.

Precauções: quando utilizada de forma tópica e/ou no tratamento de miíase geralmente não provoca efeitos colaterais.

2.6

Plantas

que

podem

ser

utilizadas

no

tratamento

de

feridas/escoriações Ferimentos superficiais de pele são bastante comuns nos animais. Acontecem por vários motivos desde furadas com espinhos, cortes em arames e pregos ou até mesmo brigas. O tratamento desses ferimentos deve ser feito o mais rápido possível para evitar infecções e/ou o aparecimento de bicheiras. 

Aroeira (Myracrodruon urundeuva): atua como anti-bacteriano para algumas cepas de bactérias(GOMES, 2011) e problemas de pele como irritações e coceiras (AZEVEDO, 2017). Formas de utilização: se utilizam as cascas da planta e a entrecasca da planta. As melhores

maneiras de utilização são na forma de extrato hidoalcoólico líquido (GOMES, 2011). Ou naforma de chá, tintura ou decocção (AZEVEDO, 2017).

Precauções: não pode ser ingerido em grande quantidade, pois pode provocar irritação intestinal. Não usar durante a gestação. (AZEVEDO, 2017).


123 

Cajueiro roxo (Anacardium occidentale): muito comum nas regiões do nordeste brasileiro. É conhecido principalmente pelo seu fruto, bastante apreciado pelo homem e também pelos animais. Formas de utilização: Colocar uma colher de sopa do pó da casca ou do caule em um copo de água em fervura desligar o fogo e deixar em repouso por 24 horas em seguida coar e utilizar

para lavar os ferimentos, fazer o procedimento duas vezes ao dia até a cura do animal.

Precauções: É uma planta bastante utilizada e possui um uso muito seguro, geralmente não provoca reações adversas. 

Barbatimão (Stryphnodendron adstringens): planta de porte arbóreo que possui inúmeras propriedades farmacêuticas. Pode serutilizado no tratamento tópico de feridas em equinos (MARTINS, 2003), coelhos (LIMA, 2010) e em outras espécies. Formas de utilização: preparado extraída a quente em solução aquosa (MARTINS 2003).

Na forma de pomada a10% (RABELO et. al. 2006).

Precauções no uso:o uso tópico do extrato de barbatimão não provoca efeitos tóxicos a humanos e animais, entretanto a ingestão deste fitoterápico pode ser extremamente perigosa (RODRIGUES, 2012).

2.7 Planta usada no combate a doenças do sistema urinário Dentre os vários problemas que o sistema urinário pode apresentar a formação de cálculos tanto na bexiga quanto nos rins são os mais difíceis de tratar, na maioria das vezes pede uma abordagem cirúrgica, mas algumas plantas podem ser usadas no tratamento.


124 

Quebra pedra (Phyllanthus niruri): é usado para o tratamento de

problemas do sistema urinário. É muito utilizado no tratamento de calculo renal. Formas de utilização: deve ser utilizado na forma de chá da parte aérea (3 g) de folhas para 150 ml de água. Fornecer ao animal 2 a 3 vezes ao dia. Não se deve utilizar por mais de uma semana.

Precauções: o uso dessa planta quando em doses acima do normal pode provocar aborto.

3. Considerações finais O uso de plantas medicinais para o tratamento de enfermidades animais por parte dos agricultores familiares deve ser incentivado, pois apresentam vários benefícios. A maioria dessas plantas já teve sua eficiência comprovada cientificamente através de pesquisas, outras ainda precisam ser estudadas. Sua forma de utilização ainda é muito controversa. Existem inúmeras formas de se utilizar uma mesma planta ou parte delas e muitas são as propriedades a elas atribuídas, mas poucas possuem comprovação cientifica da eficácia e instruções na melhor maneira de uso. Sendo necessários, portanto, estudos mais detalhados para que se possa descobrir o real potencial terapêuticos das plantas medicinais e sua correta forma de utilização, isso, para que possamos emprega-las no tratamento das doenças animais de forma segura e eficiente.

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130

Gepra Editora & Eventos Científicos CNPJ: 37.446.814/0001-64

Editor chefe: Marcos Barros de Medeiros Editor chefe adjunto: Isaac Araújo Gomes Secretário executivo e design gráfico: Érik Serafim da Silva Coordenação de avaliação: Maria Verônica Lins Diretor de eventos científicos: Weverton Pereira de Medeiros Diretora de comissão científica em eventos: Natanaelma Silva Costa Diretora do departamento de marketing e divulgação: Luzimar Joventina de Melo

Revisores: Christopher Stallone de Almeida Cruz Elizandra Ribeiro de Lima Pereira Érik Serafim da Silva Francisco Lucas Chaves Almeida Isaac Araújo Gomes Josevandro Barros Nascimento Luzimar Joventina de Melo Marcos Barros de Medeiros Maria Verônica Lins Natanaelma Silva Costa Thamillys do Nascimento Silva Weverton Pereira de Medeiros

Outubro 2020


Organizadores: Marcos Barros de Medeiros, Francisca Tatiana de Oliveira Souza, Gabriela Torres Costa Lima, Jair Batista de Souza, João Batista Tavares Junior, Thamillys do Nascimento Silva, Virgínia Maria Magliano de Morais

OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DOS AGROTÓXICOS: Segurança alimentar e alternativas para a construção de uma agricultura sustentável

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