Dirscurso do método

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RENÉ DESCARTES 0 E6 RACI0NAL Filósofo, matemático e fisiologista, o francês René Descartes é considerado o pai da matemática e da filosofia moderna. Nasceu em La Haye (em 1802, a cidade passou a ser chamada de La Haye-Descartes), província de Touraine, no dia 31 de março de 1596. Seu pai era advogado, juiz, conselheiro do parlamento da província de Rennes. Possuía título de primeiro grau de nobreza (escudeiro). A mãe de Descartes morreu quando ele tinha apenas 1 ano (vítima de complicações pós-parto). René foi criado por uma babá e por sua avó, embora sempre tenha tido contato com o pai. Aos 9 anos começou seus estudos no colégio jesuíta La Flèche, no qual estudou gramática, poética, retórica (Humanidades), Filosofia e Matemática (escolástica), até 1614. Sua saúde, nessa época era frágil, o que fez com que ele adquirisse um hábito que manteve por quase toda a vida: permanecia deitado em sua cama até tarde, meditando. Atendendo a vontade de seu pai, ainda em 1614 entrou para a Universidade de Pointier, onde cursos direito (curso com duração de 2 anos). Formou-se em 1616, mas não exerceu a profissão. Em 1618 Descartes viajou à Holanda, onde se alistou para combater os espanhóis ao lado das tropas holandesas de Maurício de Nassau. Nessa ocasião, conheceu e ficou amigo do médico Isaac Beckman, que o influenciou a estudar matemática e física. Em 1619, após assistir a coroação do Imperador Maximiliano da Baviera, em Frankfurt (Alemanha), alista-se no exército do novo Imperador. Retira-se em seguida, assim que Maximiliano declara guerra ao Rei Frederico da Boémia. Na noite entre os dias 10 e 11 de novembro de 1619, Descartes tem três sonhos que ele próprio interpreta como uma premunição de seu destino: inventar uma "ciência admirável", na qual estariam unificados todos os conhecimentos humanos. Em 1621, Descartes renuncia à carreira militar de forma definitiva, com o objetivo de dedicar-se exclusivamente às ciências e a filosofia. Para tanto, em 1623 retornou a sua cidade natal, onde vendeu as terras e a propriedade que herdara. Com isso, pôde manter seu conforto, embora sem luxos. Após a venda, viajou para a Itália (estabeleceu-se em Veneza), onde permaneceu até 1625. Voltando da Itália, passa a viver em Paris, onde se ocupa da Óptica, Astronomia e Matemática. A partir de então, passa a redigir vários esboços e mesmo obras que não chegou a publicar em vida. Algumas se perderam. Em 1629, se instala na Holanda, onde permanece até 1649. Entre 1629 e 1633, Descartes redige o Tratado do Mundo, mas não o publica por receio da Inquisição, que acabara de condenar Galileu. A primeira obra de Descartes teve como título “Essays Philosophiques”. A introdução ficou mais famosa que a própria obra: O discurso do método, onde, na quarta seção, encontra-se sua frase mais famosa - "Penso, logo existo". Nos anos seguintes, produziu as seguintes obras: 1641 - Meditações sobre a filosofia Primeira; Objeções e Respostas. 1644 - Princípios da Filosofia. 1647/48 - Descrição do Corpo Humano. 1649 - As Paixões da Alma. Em 1649 Descartes deixa a Holanda e passa a viver em Estocolmo, a convite da rainha Cristina da Suécia (para ser seu preceptor e conselheiro). No frio da Suécia, Descartes passou a sair da cama cedo (ao contrário do que fez a vida toda), pois ministrava aulas para a Rainha às 5 horas da manhã. Fragilizado pela mudança de hábitos e pelo frio intenso, uma gripe acabou se transformando em pneumonia, doença que causou sua morte em 11 de fevereiro de 1650.


Filosofia – 2a série – Volume 1

Discurso do método [...] desejando então somente dedicar-me à busca da verdade, eu pensei que fosse necessário que eu àzesse o contrário, rejeitando como absolutamente falso tudo o que me pudesse despertar a menor dÙvida, para veriàcar se, apÓs isso, restaria alguma coisa em minha crença que fosse completamente incontestável. Assim, como nossos sentidos nos iludem algumas vezes, supus que não existia nada da maneira como os sentidos nos fazem imaginar e como há homens que se enganam ao raciocinar, ainda que sobre os assuntos mais simples de geometria, e cometem paralogismos, considerando que eu também estava sujeito ao erro como qualquer outro, eu rejeitei como falsas todas as raz×es que anteriormente eu tinha tomado como demonstraç×es e, enàm, considerando que os mesmos pensamentos que temos quando despertados também podem nos acometer quando dormimos, sem que nenhum seja verdadeiro, decidi àngir que todas as coisas que até então tinham penetrado meu espírito não eram mais verdadeiras que as ilus×es de meus sonhos. Mas logo em seguida ponderei que, querendo pensar, dessa forma, que tudo é falso, era necessário que eu, que o pensava, fosse alguma coisa e observando que esta verdade, penso, logo existo, era tão àrme e certa que as mais extravagantes suposiç×es dos céticos não seriam capazes de abalá-la, julguei que eu podia adotá-la sem escrÙpulos como o primeiro princípio da àlosoàa que eu buscava. Depois, examinei atentamente quem eu era, e vendo que eu podia àngir que não tinha nenhum corpo e que não havia nenhum mundo, nem nenhum lugar em que eu existisse, mas que não podia àngir que eu não existia, e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu duvidar da verdade das outras coisas, sucedia-se, evidente e certamente, que eu existia enquanto se eu somente deixasse de pensar, ainda que tudo que eu sempre tivesse imaginado fosse verdadeiro, eu não teria nenhuma razão para imaginar que eu existia disso concluí que eu era uma substância cuja única essência ou natureza era só pensar, e que para existir não necessitava de nenhum lugar nem dependia de nenhuma coisa material de modo que esse eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo, e mesmo mais fácil de conhecer que ele e, ainda que o corpo não existisse, a alma não deixaria ser tudo o que é. ApÓs isso, eu considerei, de modo geral, o que é exigido para que uma proposição seja verdadeira e certa pois, já que acabava de encontrar uma que eu sabia que o era, eu pensei que devia também saber no que consiste a certeza. E tendo observado que na proposição penso, logo existo não há nada que assegure que eu digo a verdade, a não ser que vejo muito claramente que para pensar é preciso existir, eu julguei que podia admitir esta regra geral, que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras, mas que há somente alguma diàculdade em determinar quais são as que concebemos distintamente. [...] DESCARTES, René. Discurso do método. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/aa000016.pdf>. Acesso em: 2 maio 2013. Tradução Célia (ambini.

Comentário sobre o texto A àlosoàa cartesiana poderá nos auxiliar na compreensão da construção do sujeito ético a partir da Era Moderna. Na perspectiva da Filosoàa Moderna e em especial da àlosoàa cartesiana, a articulação entre a subjetividade e a verdade tem como referência básica o sujeito que pensa e que, por isso, pode ter acesso ao conhecimento legítimo. Nesse sentido, a constituição do sujeito ético é pensada como efeito das técnicas que conduzem ao conhecimento verdadeiro e, por elas, bem conduzir a vida.


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