René descartes - Dúvida Metódica

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René Descartes G. Dagli Orti/De Agostini Picture Library/The Bridgeman Art Library/Keystone

(1596-1650)

René Descartes, em gravura do século XVII.

Alexsalcedo/Shutterstock/Glow Images

Também conhecido por seu nome latino, Renatus Cartesius, com o qual assinou várias de suas obras, foi um filósofo francês dos mais influentes no período moderno. Fundou a corrente filosófica do racionalismo, ao defender que o conhecimento verdadeiro só pode ser produzido pelo exercício da razão, a partir de certas ideias inatas colocadas em nossa mente por Deus, recusando a interferência dos sentidos. Além da filosofia, dedicou-se à matemática, à geometria e à física. Talvez você já tenha ouvido falar do “plano cartesiano”, uma das criações deste pensador. Dentre suas várias obras, destacam-se, no terreno da filosofia, Discurso do método (1637) e Meditações sobre filosofia primeira (1641).

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Embora discordantes entre si, essas hipóteses partiam do princípio de que havia um elemento primeiro do qual derivariam os elementos naturais (terra, água, ar e fogo), bem como da ideia de que, da combinação desses quatro elementos, surgiria tudo o que existe. O importante a observar é que esses filósofos antigos procuravam abandonar as explicações míticas ou religiosas sobre a origem do mundo e das coisas, construindo uma hipótese racional, isto é, uma ideia criada pelo exercício do pensamento, por meio da observação dos fenômenos naturais e com base em uma argumentação. Com isso, eles procuravam construir um conhecimento que pudesse convencer as pessoas por sua clareza e sua coerência, à diferença da religião, que esperava que as pessoas confiassem de modo “cego”. Isso os aproxima da perspectiva científica atual. Por mais curiosas que possam parecer essas teorias hoje, elas se fundamentaram em ideias que não são muito diferentes das atuais bases da química e da física. Um exemplo é a própria ideia de átomo: seria deste elemento, que não conseguimos ver e que de tão pequeno não pode ser dividido, que todas as coisas são formadas. Ora, física e química modernas trabalham com essa mesma hipótese, embora o conhecimento que possuímos hoje em torno daquilo a que chamamos átomo seja muito mais elaborado e se diferencie bastante do conceito antigo criado pelos filósofos atomistas pré-socráticos.

A ciência moderna: entre racionalismo e empirismo Como vimos, o que chamamos hoje de ciência foi criado e consolidado a partir do século XVII com as experimentações de Galileu Galilei. Nessa época, discutia-se intensamente qual seria o método apropriado para se chegar aos conhecimentos verdadeiros. O filósofo e matemático René Descartes incomodava-se com algo que observava: nas aulas de matemática, não via discordâncias entre seus professores, que sempre chegavam às mesmas conclusões; porém, nas aulas de filosofia, as conclusões eram sempre diferentes e nunca se chegava a um acordo. Segundo ele, isso se devia ao fato de que em matemática trabalhava-se sempre da mesma forma, enquanto que na filosofia cada um trabalhava de seu jeito. Buscando uma fonte segura para o conhecimento, Descartes afirmava que só a razão é confiável, pois os sentidos podem nos enganar, como já o haviam enganado quando ele tentava conhecer a realidade e construir um conjunto de conhecimentos sobre ela. Um dos exemplos que ele dava para isso é o seguinte: quando colocamos uma colher dentro de um copo com água, de modo que parte dela fique dentro da água e parte fora, vemos uma espécie de “desvio” na colher, como se ela estivesse torta. Porém, sabemos que ela não está torta, e basta tirá-la da água para verificar isso. Sua conclusão: se sabemos que os sentidos nos enganam algumas vezes, o que nos garante que eles não nos enganem sempre? Nada. Por isso eles não são confiáveis.

UNIDADE 1 | Como pensamos?

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Com base nessa ideia, ele propôs um método racionalista, denominado método cartesiano, que consiste em uma série de procedimentos para bem conduzir o pensamento daquele que medita filosoficamente em busca da verdade. Segundo esse método, a partir das ideias inatas, que já estão em nossa mente quando nascemos porque ali foram colocadas por Deus, podemos deduzir novas ideias, que serão necessariamente verdadeiras e corretas. Ora, essas ideias que já estão em nossa mente quando nascemos só podem ser corretas e verdadeiras, segundo Descartes, pois Deus não colocaria em nós ideias falsas. E se elas são verdadeiras, tudo aquilo que for derivado delas, de forma correta e organizada, será também verdadeiro. O tipo de relação de Descartes com o conhecimento é bem evidenciado em um poema de Paulo Leminski, visto ao lado: Segundo o filósofo, se algo se mostra minimamente dubitável, então deve ser excluído e considerado como não verdadeiro. É isso que ele chama de dúvida metódica: um modo diferente de duvidar, que não consiste no ato comumente exercido pelas pessoas quando estão diante de algo duvidoso. Em função da impossibilidade de saber quais de seus conhecimentos adquiridos desde a infância são verdadeiros ou falsos, Descartes decidiu colocar todos eles em dúvida para começar do zero uma busca do verdadeiro. Mas como isso não deve ser feito sem um instrumento seguro e confiável para distinguir o certo do duvidoso, Descartes criou o método cartesiano, um caminho seguro a se seguir, pautado nos seguintes procedimentos:

nunca sei ao certo se sou um menino de dúvidas ou um homem de fé certezas o vento leva só dúvidas continuam de pé LEMINSKI, Paulo. O ex-estranho. 3. ed. São Paulo: Iluminuras, 2001. p. 38.

1. Nunca aceitar como verdadeiro algo de que fosse possível duvidar. Archives Charmet/The Bridgeman Art Library/Keystone/Biblioteca do Instituto da França, Paris, França.

2. Dividir os problemas em problemas menores, que sejam mais fáceis de resolver. Desse modo, a solução é encontrada em partes. É o que chamamos análise (palavra de origem grega, que significa ‘por meio da divisão’). Baseia-se no método matemático de resolução de equações. 3. Conduzir o pensamento de forma ordenada, indo sempre do mais simples para o mais complexo. 4. Revisar a produção do conhecimento em cada etapa, de modo a nada esquecer ou deixar de lado. Esse método, baseado na matemática, concebe a ciência como um conhecimento racional e demonstrativo, ou seja, produzido exclusivamente com o uso do pensamento e de seus instrumentos lógicos, os raciocínios, e, por isso mesmo, possível de ser demonstrado, assim como conseguimos demonstrar o resultado de uma equação matemática. Quando falamos em conhecimento, há sempre dois polos envolvidos: o sujeito do conhecimento, um ser que pensa e observa o mundo, produzindo ideias sobre ele; e o objeto, a coisa que é pensada pelo sujeito, a matéria do conhecimento. No método cartesiano, a posição do sujeito que conhece é mais importante que a do objeto que é conhecido, pois a verdade é uma criação do sujeito.

Visão e o mecanismo de resposta aos estímulos externos, ilustração do livro De Homine Figuris, de Descartes, publicado em Haia (Países Baixos), em 1662. A matemática influenciou não apenas suas ideias sobre filosofia, mas também sua concepção sobre anatomia e física (óptica). cApítUlo 3 | A ciência e a arte

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1. Filosofia (Ensino médio) I. Título.

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