O DIVINO JOGO DO SER UM NOVA VISÃO PARA O DESPERTAR ESPIRITUAL
O Divino jogo do Ser é um livro destinado a todas as pessoas que desejam libertar-se das angústias decorrentes das “aparentes” contradições da existência terrena e alcançar o desenvolvimento espiritual para viver em harmonia. O autor faz uma nova interpretação, e traduz, na linguagem do aprendiz, os ensinamentos que os grandes mestres e pensadores (Jesus, Buda, Gurdieff, Ramana, etc.) vêm tentando nos fazer compreender ao longo dos séculos e que, envolvidos nas ilusões do dia-a-dia esquecemos. Ele também é inspirado pelo “Um curso em milagres” Roberto Saul desvenda as articulações de nosso eu e as estratégias do nosso Ser verdadeiro para que possamos permanecer no caminho da evolução, sempre orientado pelo Árbitro Supremo, desvinculado de qualquer religião ou partidarismo: Deus.
O DIVINO JOGO DO SER ROBERTO SAUL O DIVINO JOGO DO SER UMA NOVA VISÃO PARA O DESPERTAR ESPIRITUAL Revisão Joana M. M. Garcia Rosilaine Cardoso da Silva Capa e editoração eletrônica Roberto Saul Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Espiritualidade : Evolução espiritual : Religião. 2017 291.4 Saul, Roberto O Divino jogo do ser : uma nova visão para o despertar espiritual / Roberto Saul. -- São Paulo : Primeira edição 2005. Bibliografia. ISBN 85-98497-24-X 1. Espiritualidade 2. Felicidade 3. Paz 4. Verdade (Filosofia) 5. Vida espiritual I. Título. 05-4598 CDD-291.4 SEGUNDA EDIÇÃO: Ampliada e revisada Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem a autorização prévia, por escrito, da editora.
ROBERTO SAUL
O DIVINO JOGO DO SER UMA NOVA VISÃO PARA O DESPERTAR ESPIRITUAL
EDITORA
ALAÚDE
Para Raymond, meu pai meu grande mestre disfarรงado que muito me ensinou
O DIVINO JOGO DO SER SUMÁRIO Apresentação Ser ou não ser? Melhor saber Introdução Em busca do ser Caminhos alternativos harmônicos Enfrentando o vazio A magia das imagens Sincronicidade A felicidade suprema O mundo e como ele pode ser visto O mundo visto pelo ego O mundo visto pelo Ser A parábola do filho pródigo Representação gráfica da parábola do filho pródigo A importância dos obstáculos O mundo
A importância Dos relacionamentos Relacionamentos de dependência Relacionamentos incondicionais O divino jogo do Ser A parábola do quebra-cabeça Conclusão Importantes afirmações contidas neste livro Bibliografia Filmografia
Seja flexĂvel como as hastes de um bambu, que suavemente acompanham o movimento dos ventos. E quando vierem as tempestades, incline-se humildemente, reverenciando as forças da natureza. Roberto Saul
APRESENTAÇÃO
SER OU NÃO SER? MELHOR SABER.
Deus existe? O diabo existe? Essa é uma questão tão antiga e tão importante quanto o próprio surgimento da vida; algo que intrigou, intriga e sempre intrigará o ser humano ao longo de sua própria existência. E, no trato desse polêmico tema, não importa ignorância ou conhecimento; qualquer um de nós, do menos informado ao mais erudito Ser, temos nossas certezas e incertezas quanto à veracidade do Céu e do inferno e até mesmo do real poder que têm Deus e o diabo, que, é compreensível, dependem um do outro para a imagem de ambos – um sem o outro não faz muito sentido, faltaria o dualismo do bem e do mal os situando como entes transcendentais... Mas, algumas poucas coisas são claras nesse nebuloso assunto. Qual seria, na prática, a real contribuição da crença, da fé na vida das pessoas? Esse é um aspecto que se apresenta transparente, em especial nas sociedades de países que, como o Brasil, estão no bloco dos que ainda buscam o desenvolvimento. Acreditar em Deus ou no diabo faz melhor ou pior a vida das pessoas? Partindo da premissa de que Deus foi o criador de todas as coisas e é puro amor, como poderia ele ter criado o diabo, ter permitido o aparecimento do mal? E se o mal é tão eterno e onipresente quanto o bem, podemos rapidamente concluir que o diabo é tão divino quanto Deus. Isto explica o princípio filosófico da liberdade como sendo, acima de tudo, uma necessidade teológica que permite superar contradições desse tipo. No imaginário popular, quando alguém acerta, foi "ajudado" por Deus e, da mesma maneira, quando alguém erra, foi "esquecido" por Deus ou, até mesmo, "tomado" pelo diabo; ou seja, você nunca é totalmente responsável pelos seus acertos e erros, o que, com 50% de responsabilidade nas mãos desses Parceiros, o coloca numa acomodada situação de dependência do imponderável. O bom merece um "Graças a Deus!", já o ruim fica por conta de um "Bem feito!". Dessa forma, Deus é sempre vencedor, enquanto o diabo é um eterno perdedor.
E nesse debate, surge a tese do "livre-arbítrio" como uma boa justificativa para explicar o bem e o mal que são concedidos por Deus aos seus filhos na terra. Você recebe a vida, decide pelo caminho e vai ajustar contas lá no dia (ou noite) do Juízo Final. Deus dá essa liberdade. E vem a pergunta: "Mas, se ele também perdoa os pecados, todos chegarão ao céu". E o diabo, mais uma vez derrotado, acabará sozinho nas tórridas paisagens do inferno. Castigado à solidão e, portanto, sem chances de se recuperar, diferentemente dos que se confessam e são redimidos mesmo que nem sempre, de fato, arrependidos... Pobre diabo! Certo e errado são convenções terrestres que dependem de conhecimento e entendimento das pessoas para, quem sabe, poder cumpri-las. E os ignorantes? Serão todos perdoados pelos seus erros, incondicionalmente, porque é preciso fazer justiça? Talvez. Pelo menos uma vez na vida, cada um de nós, num momento intimista, já se indagou sobre o passado, o presente e o futuro. Até mesmo, como num passe de mágica, já mesclamos esses três tempos num só - a própria existência revista e projetada. E como são poucas as certezas e muitas as dúvidas, não é mesmo? O Ser humano sempre foi atormentado, nos diferentes níveis de complexidade de cada um, pelos mistérios da origem, da vida e da morte. Mas, a rigor, o que é estar vivo? O que significa ser? O que há além do corpo? Somos todos iguais em pelo menos três coisas: nascemos, vivemos e morremos. Mas, o que significa esse espaço de tempo entre a vida e a morte, que chamamos vida? Um campo no qual lutamos pela felicidade? Podemos, como simples exercício, partir da premissa de que somos, cada um de nós, algo único, especial e, portanto, muito valioso. Afinal, desde o primeiro Ser vivo da história do mundo nunca houve um outro eu. Neste momento, entre os bilhões de habitantes do planeta não existe outro eu. E, por fim, que nos próximos e longínquos milhares de anos para o futuro não haverá outro eu. Estaria encontrada, desta forma, a solução para o problema do amor-próprio. E daí? Como fica o resto? Sim, somos únicos no corpo e na mente. Somos únicos na alma. Portanto, a verdade também é única para todos nós. Ou será que existe uma verdade para cada um de nós, de acordo com os nossos interesses pessoais? Deus existe? Será o dono da verdade? Ou a própria verdade é a vida? E você, quem foi? Quem é? Quem será? Como funciona a tal da espiritualidade? São tantas as indagações quanto as emoções... Cada um de nós tem o sagrado direito à liberdade. Em especial, à liberdade de pensamento. Assim, na história do mundo, surgiram várias religiões, seitas e correntes filosóficas. As pessoas, num mundo cada vez mais competitivo e predatório, não mais convivem, dialogam e lutam juntas pela felicidade. Não. A grande maioria das pessoas procura vencer, sozinha, o complexo jogo do sucesso.
E "O Divino Jogo do Ser", do existir e ser feliz, do sentimento de satisfação individual e coletiva, como se ganha? Muito se tem falado dos livros que ajudam as pessoas a encontrar o caminho mais seguro para a saúde, o sucesso, a felicidade. Mas, desta vez, surgiu um livro que, respeitosamente, sem lhe impor nada, veio para lhe fazer refletir sobre um caminho surpreendente para encontrar a si mesmo e entender o mundo em que vivemos. Um olhar maduro, responsável e poético sobre o que se poderia chamar de um amanhecer para a espiritualidade. Um roteiro para viajar pela emoção e pela razão, descobrindo as necessidades da alma, as exigências do coração e as esperanças humanas. Porque há uma realidade imaterial, infinita e, muitas vezes, desconhecida de muitas pessoas; independente da matéria e, até mesmo, superior a ela. Precisamos, pela qualidade de nossa sobrevivência, dar maior atenção ao que diz a nossa consciência. A alma e o corpo não se constituem em forças opostas; ao contrário, são poderes integrados no milagre da vida, partes iguais dessa força infinita que é o amor. Quem escreveu este livro, o comunicador Roberto Saul, é alguém que já viveu e sentiu o bastante para, com autoridade, falar sobre "O Divino Jogo do Ser". Ele, inveterado apostador no poder da meditação, tem cacife para estourar qualquer cassino da insegurança. E, portanto, deve ser lido, pensado e debatido por nós. Em especial, pelos que ainda não encontraram o seu eu interior, não sentiram a brisa da felicidade bater, suave, em seus rostos; não descobriram que o mundo é imenso e está pronto a ser descoberto. Roberto Saul, além de um pensador capaz, exerce com ética e qualidade o ofício de escritor. Sua forma, seu estilo e sua linguagem trazem a riqueza da fotografia que ele, com muito êxito, soube usar em seus filmes e na publicidadecampos da comunicação nos quais sempre foi muito bem sucedido. A narrativa flui, envolve e emociona a cada novo capítulo. Prende a atenção do leitor e, o mais importante, o faz ver, refletir e assimilar melhor a nós mesmos e ao mundo que nos cerca. De uma coisa você pode ter certeza: depois de ler este livro, nada será como antes.
Ricardo Viveiros Jornalista, escritor e empresário do setor da comunicação
INTRODUÇÃO
Sabedoria é vencer-se a si mesmo; ignorância, em compensação, é ser vencido por si mesmo. O que importa não é viver, mas viver bem. Penso que não ter necessidade é coisa divina, e ter as menores necessidades possíveis é o que mais nos aproxima do Divino. Assim, por toda parte, eu vou persuadindo a todos a não se preocuparem demasiadamente com riqueza e com o corpo, mas a se preocuparem mais com a alma. E, certamente, a alma do homem participa mais com o Divino do que qualquer outra coisa, pois o que o homem tem de maior e melhor é a alma que Deus lhe infundiu. Sócrates
Tudo não passou de alguns minutos, quando Marissel, minha professora de Hatha Yoga, tentava encontrar as palavras mais adequadas para responder a uma Pergunta feita por um dos seus alunos. Nesse impasse, olhou para mim e me pediu um “help”. A pergunta era:
— O que é a verdade? Confesso que na hora, a pergunta me pegou de “calça curta”. Acho que balbuciei algumas palavras, esforçando-me para definir o significado da verdade, e me senti deveras constrangido em não poder responder a uma pergunta que aparentemente parecia tão fácil de explicar. Naquela mesma noite, chegando em casa, fui direto ao meu escritório e com mais tempo, tentei colocar por escrito a resposta. Pensei que seria fácil; mas não foi. Ao contrário, uma coisa foi puxando a outra e sem perceber, ali estava um calhamaço de papéis. Lembrei-me que esta pergunta foi feita por Poncio Pilatos, quando interrogou Jesus antes de seu julgamento:
– O que é a verdade? Ele nada respondeu como é relatado nos evangelhos, mas foi por causa desse desafio que após algumas semanas, sem me dar conta, ali estavam sobre a minha mesa folhas e mais folhas abordando essa questão. E foi assim que tudo começou. Na verdade, aquela situação toda foi até muito positiva, porque “O Divino Jogo do Ser” tornou-se o resultado dessa simples e profunda pergunta, que no decorrer dos próximos capítulos, irá constituir a base principal deste livro. Sabemos que no transcurso de nossa vida surgem situações, muitas vezes inesperadas e dolorosas, que nos forçam a pensar e refletir sobre o significado de nossa existência: Quem somos? O que é a verdade? Por que sofremos? Existe em nós uma espécie de instinto que nos impulsiona em direção ao nosso Ser para descobrirmos quem verdadeiramente somos. Percebemos que o mundo está em constante mudança e vemos que as coisas nunca permanecem as mesmas. Como uma montanha russa, temos os altos e baixos. Não sabemos com exatidão aonde esses trilhos irão nos levar. Aceitamos a nossa condição às vezes com entusiasmo, quando estamos subindo, e outras vezes com medo e desânimo, quando estamos descendo. Estamos presos em nosso carrinho e, embora protegidos pelo cinto de segurança, sentimos mesmo assim um coquetel de
emoções ambivalentes. Essa situação na maioria das vezes nos deixa impotentes, e é com muita dificuldade que conseguimos alterar o seu curso. Entretanto, no fundo do coração humano sentimos que existe um anseio permanente: a busca pela felicidade. Tudo que fazemos é pelo desejo de ser feliz. Se alguém vive sem sentir este anseio é porque se encontra adormecido e não possui consciência do seu verdadeiro Ser. Mas intuitivamente, sentimos que existem condições para podermos sair desse fluxo repetitivo e nos direcionarmos com sabedoria para muito além dos trilhos fixos. Devemos ter a coragem de enfrentarmos as nossas sombras, e caminhar na direção da nossa verdadeira natureza. Este é sem dúvida o nosso maior desafio. Como cegos, no início, tateamos o caminho e somos invadidos pelo temor da incerteza. A vida torna-se imprevisível e muitas vezes, extremamente assustadora; mas, aos poucos, começamos a vislumbrar pequenas luzes clareando o caminho e gradativamente, sentimos uma força nos dando coragem e um desejo intenso de nos autotranscender. Se você se encontra nesse estado, então prepare-se para viver essa deslumbrante aventura e munido de confiança, fé e determinação, sair do seu adormecimento e despertar para a verdade de quem somos. Este livro não é autobiográfico, embora contêm algumas histórias pessoais, ele é muito mais um registro de reflexões e experiências que, como um mapa, tentará mostrar, através de uma linguagem clara e descontraída, o caminho necessário para nos livrarmos da confusão e do medo e alcançarmos com segurança as margens da paz e da verdade. Devo esclarecer que ele é tão somente um convite e não um substituto da própria aventura. Constatamos hoje que o mercado editorial de livros sobre espiritualidade e auto-ajuda tem aumentado enormemente; o que, de certo modo, não deixa de ser um sinal positivo, pois demonstra que as pessoas estão cada vez mais interessadas na busca do autoconhecimento. Entretanto, podemos também constatar que infelizmente, a maioria deles concentra-se mais em descrever princípios éticos, morais e religiosos. Poucos são os autores que oferecem uma receita substancial de como de fato, alcançar a verdadeira paz e felicidade; porque na prática não resolve muito saber que a vida é maravilhosa, que devemos amar e respeitar o próximo, ter pensamentos positivos e acreditar que Deus é justo e amoroso. Não que isto não seja verdade, mas é insuficiente, porque na hora do “vamos ver”, isto é, na hora de enfrentarmos as adversidades, todos esses preceitos morais vão por “água abaixo” e desaparecem como fumaça. Isso acontece porque, sem nos darmos conta, o poder do ego assume a liderança e nos faz acreditar com muita convicção que o nosso comportamento é absolutamente justificável e assim também, sem nos darmos conta, perdemos a paz e a tranquilidade. Por isso, considero de grande importância não apenas conseguir a verdadeira receita, mas, principalmente, saber prepará-la com nossas próprias mãos, para que estas verdades estejam de fato incorporadas em nosso íntimo. Esta obra possui exatamente este objetivo: descrever minuciosamente os ingredientes necessários para que você possa preparar e experimentar o seu próprio alimento. Apenas um aviso muito importante: Não adianta culpar o
cozinheiro se o seu prato ficou sem sabor ou simplesmente insosso e sem graça. Não se esqueça que você é o próprio cozinheiro! Entretanto, se você seguir com atenção e cuidado as instruções, poderá finalmente após o preparo saborear o manjar dos Deuses. Procure apenas mastigar calmamente o alimento, sem pressa, para poder digeri-lo e sentir o seu suave e delicado sabor. Embora não apresente nada que de alguma forma já não tenha sido escrito, a maneira pessoal de apresentar um determinado tema é sempre uma forma muito peculiar e que pode contribuir para uma maior compreensão. Acredito que todo autor, se for verdadeiramente sincero, reconhece que, em primeira instância, escreve para si próprio como um processo de autoconhecimento. Assim, como num quebracabeça, ele vai encaixando peça por peça para poder vislumbrar um pouco de sua verdadeira imagem. É como se aos poucos lembranças ocultas começassem a despontar e espantosamente você descobre que todo o cenário já estava montado em seu Ser. Acompanhe-me na leitura deste livro, e se estiver preparado tenho certeza que ele poderá ajudar o seu despertar. Se apenas uma simples afirmação clarear o seu interior, trazendo um pouco de compreensão, entusiasmo e esperança, ficarei imensamente feliz por contribuir, nem que seja por pouco, para iluminar o seu caminho. Considero o ato de escrever, uma forma terapêutica e me surpreendo quando me deparo com pessoas que não escrevem, não pintam, não cantam, não dançam, e me questiono como poderiam escapar da prisão que eles próprios criaram em suas mentes, levando-as para longe do presente momento. Sei que as palavras são extremamente limitadas e são apenas como um dedo apontando para a lua e não a própria lua. Trata-se de um tema perene, inesgotável, apaixonante, e naturalmente um livro jamais poderia esgotá-lo. Existe um saber que vai muito além do que pode ser impresso num papel. É um saber que está continuamente alojado em nosso coração, e que jamais pode ser perdido ou ameaçado. De acordo com um famoso verso em sânscrito:
Se o tinteiro fosse os oceanos, as montanhas, a tinta e toda a terra fosse o papel, e se Saraswati, a deusa da sabedoria, tivesse escrito sobre os mistérios da vida, sua obra não teria ainda terminado.
EM BUSCA DO SER
Colhemos o que plantamos... esta é a lei, sua essência é o amor; seu objetivo é a paz. Conquiste teu adversário à força e aumentará seu ódio. Conquiste-o através do amor e não colherás tristezas. Quando a retidão é praticada para conquistar a paz, aquele que segue este caminho conquistará a vitória e destruirá todos os grilhões. Buda
Ainda
adolescente, lembro-me que sentia uma irresistível atração pelo
estudo da natureza humana. Muitas vezes, ao invés de seguir o caminho para a escola, mudava de direção e ia para a biblioteca, onde ficava horas e horas fascinado, lendo as obras de Platão, Sócrates, Jesus, Buda, a psicanálise de Freud, Jung, Erich Fromm e tantos outros filósofos e pensadores. Viajar com eles para compreender este mundo novo foi para mim uma descoberta deslumbrante. Confesso que não ficava nem um pouco preocupado por cabular as aulas, muito pelo contrário, achava uma chatice ir para a escola para decorar conhecimentos que pouco me interessavam e que não acrescentavam em nada a minha sede pelo autoconhecimento. O meu objetivo era descobrir a verdadeira fonte para poder saciar definitivamente a minha inquietação espiritual. O lado positivo desta educação autodidata, foi que fiquei isento da rígida e muitas vezas negativa influência imposta pelas escolas e pelas ideias de pecado, inferno e culpa que as crianças e adolescentes ainda recebem da sociedade e das instituições religiosas. Foi bem mais tarde, depois de ter passado pelos altos e baixos da vida, enfrentado obstáculos e desafios, que teve início a minha aventura. Assim pude aos poucos, descobrir em mim mesmo algumas das respostas que atormentavam a minha alma. Reconheço a enorme importância destes grandes mestres que me ajudaram com seus ensinamentos a vislumbrar o caminho da verdade. No transcorrer deste livro, muitos serão citados para enriquecer de forma clara inúmeras questões. Posso dizer com certeza que a primeira verdade que pude compreender – da qual todos os verdadeiros mestres são unânimes em afirmar – é que a “felicidade já está em nós”. Eu, a princípio, fiquei surpreso, mas quando refletimos um pouco sobre esta importante questão, fica claro que a verdadeira felicidade não é a que vem de foras, mas é a que surge do fundo do nosso coração. E o descobrimento desse Ser interior é em realidade, a verdadeira meta da nossa vida. Onde está o amor, a alegria, o contentamento, a paz, a serenidade se não em nós? Procurar isso fora é como viver como mendigo, sem perceber que somos milionários. Se não encontrarmos esta riqueza dentro de nós, então, onde a encontraremos? Devemos nos dar conta dessa verdade e sentir que o objetivo principal da vida é recuperar a nossa real identidade. Sempre quando
olhamos uma bela paisagem, apreciamos uma deliciosa sobremesa, encontramos um amigo querido ou ficamos eufóricos porque nosso time
marcou o gol da vitória, sentimos essa alegria em nós ou no mundo externo? Na verdade, a alegria que se encontra em todas essas coisas é apenas o reflexo da alegria que já se encontra em nosso Ser*. Para entendermos melhor esta questão, existe no Vedanta – escola de filosofia indiana – uma pequena parábola que define com muito humor essa profunda verdade:
Um velho leão encontra um osso e começa a roê-lo. Entretanto, na medida em que morde, pedaços do osso se alojam em sua gengiva que começa a sangrar. O leão prova do sangue e reflete: “Hum! Este osso é muito saboroso!” – quanto mais morde, mais suas gengivas sangram num Rodízio sem fim. Da mesma forma que o leão não se dá conta que está provando do seu próprio sangue, você não percebe que a felicidade que sente neste mundo surge do seu próprio interior. Entretanto, um dos grandes obstáculos que constantemente nos distanciam do nosso Ser é o turbilhão incessante dos nossos pensamentos. Por isso temos a necessidade de estar vigilantes, para que eles não venham nos perturbar, e nos distrair. Devemos manter sempre pensamentos positivos, pois pensamentos negativos são como sombras que negam a verdade do Ser. É como confundir, na penumbra, uma corda com uma cobra. Se estivermos adormecidos, isto é, distanciados do nosso Ser, podemos acreditar nessa ilusão que, embora seja falsa, a mente a interpretará como real. Para desfazer essa ilusão, devemos desenvolver um discernimento apurado a fim de distinguirmos com clareza o falso do verdadeiro. Você quer saber o segredo? É simples. O falso não possui consistência duradoura, muda a toda hora, a cada dia, a cada ano. O verdadeiro permanece para sempre, ou em outras palavras:
A Verdade é aquilo que não muda Assim só é real o que não se altera. Isto significa que qualquer coisa cuja existência é limitada pelo espaço/tempo, não possui existência própria. Tudo o que não possui existência antes e depois, não existe, nem mesmo agora. Esta é a definição absoluta de acordo com todos os mestres iluminados. Não devemos nos atemorizar frente aquilo que é inexistente. Se você se questionar e tentar descobrir o que de fato não muda, a resposta só poderá ser uma: O nosso verdadeiro Ser; o Deus que habita em nosso coração. Essa é a nossa verdadeira natureza. É simples assim. No entanto, sempre temos que percorrer longos e sofridos caminhos para descobrir que esta verdade está sempre dentro de nós. Esta busca pela verdade é constante, até mesmo para o homem ainda adormecido, e que tenta buscá-la no exterior. Na própria essência do Ser, encontrase o anseio pela verdade. Essa é a sua angústia, mas também a sua glória. O que com certeza mais desejamos na vida é a felicidade constante e não apenas curtos momentos de prazer e bem-estar temporários. Em última análise, esse é o principal desejo que nos impulsiona, que nos anima e que nos proporciona este grande desejo de viver. A verdade só pode ser absoluta. Ela não pode ser um
mundo de dualidades. Sabemos por intuição que ela existe. Experimentamos, vez ou outra, o seu sabor; no entanto, como um belo e delicioso sorvete, aos poucos, com o calor da rotina e da nossa ansiedade, ela começa a derreter e constatamos muito desanimados que gradativamente, perde a sua bela aparência e acaba virando um líquido insosso. Por que isso acontece? Por que não podemos ser felizes e alegres para sempre? Podemos simplesmente dar de ombros e dizer: — Bem, a vida é assim mesmo, nada se pode fazer. Embora o mestre Buda* em seu pronunciamento com seus primeiros discípulos deixou explícito que a primeira nobre verdade é “A vida é sofrimento” o que de alguma forma não deixa de ser verdade pela distorção das nossas percepções. Mas podemos sim superar esta condição através de um trabalho interior para não permitir que o ego nos aprisiona. Por isso em sua quarta nobre verdade ele nos indica o caminho que irá nos conduzir para a extinção do sofrimento. todos os grandes mestres nos confirmam esta verdade. Este caminho é a prática da meditação e da autoinvestigação. Ferramentas inicialmente indispensáveis para alcançarmos este sublime propósito. Através da meditação, eliminamos o fluxo ininterrupto dos nossos pensamentos que turvam a nossa clareza mental, e obstruindo o caminho do despertar. Ele só reforça a nossa estadia nos sonhos do ego. Ao mesmo tempo a autoinvestigação nos permite adquirir consciência do caminho da mente certa, que irá nos ajudar a nos aproximar cada vez mais perto da nossa essência. Entretanto, isso não ocorre de imediato. Como a nossa mente está continuamente criando pensamentos, tentar interromper esse fluxo é como tentar domar de um dia para o outro, um cavalo selvagem. No início é muito difícil, mas com vontade e determinação, a prática da meditação torna-se fácil e natural. Em pouco tempo sentimos um grande bem-estar físico e mental, pois a meditação ajuda a relaxar e acalmar a mente, o que comprova a sua excelente eficácia. Pode até parecer um tanto estranho para quem nunca praticou a disciplina da meditação, mas sem dúvida são os nossos constantes e turbulentos pensamentos que nos impedem de sentirmos a nossa natureza mais profunda. Porque buscar a paz em outros lugares, quando ela está no único lugar em que ela pode ser encontrada. “Dentro de nós.” No entanto, a nossa verdadeira meta é ultrapassarmos esse estágio e irmos ainda mais fundo para atingir o Ser. Isso exige, naturalmente, muita persistência, disciplina, desapego e de preferência, um mestre que possa nos orientar. Somente quanto deixamos a nossa mente vazia, tal qual um bambu oco, criamos condições para que Deus possa “assoprar” seu amor e nos fazer ouvir os primeiros acordes de sua sublime canção. É imprescindível silenciar a mente porque, por mais elevados que sejam os nossos pensamentos, eles fazem parte dos desejos. Desejar é sempre uma expectativa na “direção” do futuro e não do momento presente, até mesmo quando o nosso desejo é alcançar o divino. Portanto, os pensamentos constituem bloqueios, impedindo que a mente esteja livre para o verdadeiro despertar. Lembremos: meditação não é pensar; é apenas Ser, sem nada fazer. Você simplesmente é. Como uma porta fechada, os pensamentos não coseguem entrar, permitindo assim maior concentração. Neste instante podemos
sentir a paz que excede qualquer coisa que poderíamos pedir ou pensar, e as palavras se tornam completamente inadequadas para definir uma experiência tão sublime. Para o iniciante, com certeza terá muita dificuldade em se concentrar, mas existem importantes técnicas de meditação como os mantras, pranayamas, cânticos devocionais e a meditação conduzida, entre outros, que irão facilitar a concentração da mente para afastar a turbulência dos pensamentos. Para adquirir uma melhor compreensão sobre a importância da meditação, recomendo-lhe alguns livros, relacionados na bibliografia, que oferecerão excelente orientação. Os sinais que podem nos indicar se estamos preparados para trilhar este caminho de autoconhecimento é quando sentimos uma grande insatisfação com a vida que levamos e começamos a perceber que nos falta alguma coisa, mas não sabemos definir exatamente as razões desta sensação de carência que nos invade. A vida nos parece uma irrealidade e sentimos um vazio que procuramos desesperadamente preencher. Interesses que antes absorviam a nossa atenção perdem de repente o seu valor. Buscamos então no mundo exterior, algo pessoas, objetos, riquezas – empreendimentos que possam aplacar a nossa sede de plenitude. No entanto, passado o momento de aparente satisfação, o vazio volta a nos incomodar e ficamos mais uma vez insatisfeitos e no anseio de renovar esses momentos de paz e bem estar, mas que sempre nos escapam por entre os dedos. Sentimos que alguma coisa nos incomoda e que não podemos mais continuar com esta vida de rotina, de tédio e de tristeza. Esta insatisfação não é do tipo “não quero saber desta vida”, mas “como esta vida pode ser vivida com mais plenitude”. Quando sentimos que esta necessidade não é apenas passageira, ao contrário, possui uma intensidade tanto quanto a importância da água para matar a nossa sede, então podemos nos considerar preparados para um renascimento. Tudo tem o seu momento certo. Nada pode ser antecipado ou forçado. Assim, quando você estiver pronto, pode ter certeza, Deus em forma de mestre aparecerá em seu caminho. Podemos até nos surpreender, mas hoje podemos afirmar que todo os avanços tecnológicos que o homem conquistou ao longo dos milênios apenas lhe trouxe mais conforto e comodidade. Era esperado que esse progresso pudesse trazer-lhe finalmente a felicidade, a paz e a liberdade tão almejada; no entanto, constatamos hoje o contrário: estresse, preocupações e ansiedade são as consequências deste progresso tecnológico que só estimula os desejos do ter e não os do Ser. Quanto ao progresso interior, verificamos surpreendidos que quase nada relevante foi realizado. As verdades espirituais que eram verdadeiras há cinco mil anos continuam sendo as mesmas. Este desequilíbrio entre a tecnologia e a espiritualidade nos comprova de forma drástica que perdemos o rumo e que a única direção para despertar a nossa consciência consiste em reconhecer a nossa verdadeira natureza. Conta-se que Buda, depois de sua iluminação (conexão com o Ser), encontrou-se com alguns homens que sentiram um magnetismo extraordinário em sua presença.
— És um anjo? – perguntaram-lhe. — Não. – respondeu-lhes.
— É então um feiticeiro? — Não. — És um homem? — Não. — Que és então? — Eu sou o “desperto”. — O que é estar desperto? – perguntaram perplexos. E Buda simplesmente respondeu: — É o fim do sofrimento. Assim podemos considerar a meditação como a arte do “despertar”; a arte suprema de viver plenamente o presente momento. É considerado pelos mestres o melhor, e o mais direto e eficiente caminho.
A meditação é o caminho que nos levará ao Ser que já se encontra em nosso interior. Segundo Patanjali – grande mestre e autor dos Yogas Sutras:
A meditação é como o aquietar das ondas dos pensamentos da mente. É claro que enquanto ainda estivermos vivendo nos limites da nossa consciência, teremos que ainda trilhar os caminhos alternativos que também estimulam o desabrochar do Ser, mas de uma forma indireta. Na verdade, estamos bastante familiarizados com eles, pois constantemente os utilizamos em nosso dia-adia. Eles são extremamente necessários, pois também nos proporcionam uma dose de plenitude, porém de forma homeopática e temporária, pois fatores externos são responsáveis por ela. Para um entendimento mais preciso, classifiquei-os de duas formas: “O Caminho Harmônico” e o “Caminho do Atalho”. Essa classificação é apenas ilustrativa. Não possui a intenção de ser absolutamente precisa e completa. Trata-se apenas de um esboço para entendermos melhor os caminhos que trilhamos e que constituem verdadeiros laboratórios para o nosso aperfeiçoamento. O Caminho Harmônico manifesta-se através de várias tendências, muitas vezes inatas em nós e que são aceitas e estimuladas pela sociedade: CAMINHOS ALTERNATIVOS HARMÔNICOS - O caminho da compaixão Assistência social, donativos, fundações beneficentes, bondade, generosidade e respeito a si.
- O caminho da arte Todas as expressões artísticas, como a pintura, música, cinema, teatro, literatura, dança, etc. - O caminho do entretenimento Viagens, passeios, jogos e divertimentos. - O caminho da natureza Atividades esportivas, beleza e amor à natureza. - O caminho dos relacionamentos Amor, afetividade, sexualidade e amizades. - O caminho da prosperidade Bens materiais, dinheiro, posição social e sucesso profissional. - O caminho intelectual Autoconhecimento, pesquisas científicas, estudos filosóficos e psicológicos.
O Caminho do Atalho, na verdade, como o próprio nome define é o caminho do desvio. Embora aparentemente nos proporcione também uma certa conexão com o nosso Ser, ele possui efeitos colaterais negativos e consequências extremamente dolorosas. O Caminho do Atalho compreende o uso das drogas, do alcoolismo, do tabagismo, da sexualidade desenfreada, da vingança, da corrupção, do homicídio, do suicídio e todos os atos contrários à lei do amor puro e incondicional. O caminho do atalho é como nadar contra a maré, você simplesmente não sai do lugar. Ele a princípio, é doce como o mel, mas depois adquire um sabor amargo e venenoso. É como tentar fugir de si mesmo evitando seguir harmoniosamente as regras do jogo. No terceiro capítulo, iremos entender melhor essas tendências e de como podem ser evitadas. Entretanto, é fundamental entendermos com mais profundidade a necessidade em trilharmos esses caminhos e de sua enorme importância. Por exemplo: quando contemplo a beleza de um pôr-do-sol, o sorriso de um bebê, a perda de um objeto, ou enfrentando um obstáculo, isso desperta em mim as mais diversas emoções. Embora vinda do exterior, ela é sentida em meu interior. Este sentimento faz vibrar o meu Ser, demonstrando de forma clara que este Ser é a minha própria natureza. Se ela não existisse em mim, então nenhum estímulo externo seria capaz de despertar qualquer tipo de sentimento. Com essa compreensão, percebemos que todos esses caminhos alternativos possuem por objetivo nos despertar e nos revelar que existe dentro de nós um “observador”. Este observador é o nosso Ser. “Em sua essência o
Ser é felicidade pura”. Mas se ele estiver envolvido pela neblina das ilusões, sentirá o oposto; tristeza e angústia. Assim, a maior realização que o ser humano pode alcançar nesta vida é se conectar com esse Ser; todo o resto são miragens. No entanto, estas ilusões criadas por nós, fazem parte do processo de evolução, que constituem experiências importantes em direção a nossa verdadeira natureza. O que devemos fazer é continuarmos a nossa caminhada, que somente pode ser feita com nossas próprias pernas, nosso próprio esforço e nossa própria determinação. Ninguém pode fazer isso por nós. Somos responsáveis pelo nosso sofrimento ou pela nossa alegria. Por outro lado, é preciso estarmos atentos se queremos trilhar o caminho da espiritualidade, para que ele não se torne uma forma sutil ou inconsciente de camuflarmos nosso medo de viver. É um erro tentarmos sufocar a vida, reprimir os nossos anseios e nos refugiar na proteção de um conceito, de uma seita ou de um guru sem estarmos realmente preparados. Estaríamos mentindo e fugindo de nós mesmos; retardando a nossa evolução. Negar o mundo sob o pretexto de que ele é uma ilusão é apenas uma ideia e não uma experiência vivencial. Por isso a necessidade de trilharmos os caminhos alternativos. Como disse Emanuel, um mestre de luz:
— Se o mundo fosse um lugar perfeito, onde haveriam de ser colocados os espíritos que ainda precisam ir à escola? Assim, paradoxalmente, o mundo é perfeito, e ao mesmo tempo imperfeito. Podemos hoje não compreender certas coisas, mas quando tivermos a experiência vivencial do Ser, teremos a visão completa do todo. Então, ficará evidente que jamais houver erros ou falhas e que tudo é como deve ser.
No aparente caos, oculta-se a perfeição absoluta. Devemos estar absolutamente convictos que as causas básicas do nosso sofrimento são: o medo e os apegos. Esse sofrimento a um nível mais profundo, tem sua origem em nossa amnésia espiritual, ou seja o esquecimento do nosso próprio Ser. Irei me aprofundar mais detalhadamente nessa questão nos próximos capítulos, e nos próximos livros da trilogia. Podemos não acreditar a princípio, mas nós criamos o nosso próprio mundo e nosso próprio sofrimento, e envolvidos por esta distorcida visão passamos a acreditar na existência de um poder negativo independente do poder de Deus. Neste estado de turbulência mental, o medo e o pânico se apoderam de nós, perdemos o controle e sem nos darmos conta, abrimos as portas da nossa mente, permitindo a invasão de fantasmas negativos que se multiplicam pelo poder extraordinário de nossa fértil imaginação.
Não devemos nos deixar enganar, acreditando que o sofrimento é uma punição, falta de sorte ou culpa dos outros, e que somente através dele podemos evoluir. Não existe sofrimento sem causa. Devemos estar totalmente conscientes que o objetivo de qualquer tipo de sofrimento é uma advertência para nos direcionar ao caminho do nosso equilíbrio. Ele é o nosso amigo e sua atuação é como uma bússola que aponta sempre em direção do nosso despertar. Tudo dependerá de como vemos e interpretamos o nosso mundo. É muito importante nestes momentos, saber administrar com discernimento e coragem o cenário em que estamos atuando; sem exagerada empolgação na prosperidade e sem lamentações nas adversidades. Quando nos deixamos envolver pelas perdas e apegos e a nossa felicidade fica na dependência de fatores externos, nos sentimos tal qual escravos acorrentados pelas aparências. É o mesmo que usar como barco as costas de um crocodilo; qualquer momento de distração podemos ser mordidos e afundar nas águas lamacentas da nossa ignorância. Entretanto, vivemos grande parte do tempo no ego, que corresponde a nossa falsa personalidade (persona = máscara em grego), e assim ficamos desconectados do nosso Eu verdadeiro. Como consequência nos sentimos desamparados e descontentes. Recentemente, li um relato do mestre Eckhart Tolle, no seu brilhante livro “O Poder do Agora”, em que o psicólogo Carl Gustav Jung mantém um diálogo um tanto surrealista com um chefe indígena norte-americano em que este, um tanto surpreso e indignado, perguntou porque as pessoas brancas tinham os rostos sempre tensos, os olhos franzidos e um certo ar cruel. Afinal, disse o chefe:
— O que eles estão buscando? Parece que sempre querem alguma coisa; estão sempre agitados e descontentes. Desculpe-me, mas acho que estão loucos. E de fato, essa loucura parece estar aumentando cada vez mais hoje em dia. Afinal, o que tanto desejamos na vida? Isso me faz lembrar do meu tempo de estudante, quando um dia, o nosso professor de português escreveu no quadro negro o seguinte provérbio que realmente me deixou bastante intrigado. Era uma frase de Miguel de Cervantes, autor de Don Quixote, que dizia:
— Não desejes nada e serás o homem mais feliz do mundo. Confesso que na ocasião não consegui entender o significado enigmático daquela frase. Como posso não desejar nada? – perguntava eu. Entretanto, ela ficou gravada na minha memória; só bem mais tarde já adulto pude compreender o seu significado. É lógico que, pela nossa própria condição física, precisamos do essencial para nossa sobrevivência; entretanto, quando investimos todo o nosso tempo exclusivamente no anseio de mais e mais desejos, em vez de mais felicidade, acumulamos mais preocupações, mais ansiedades e mais sofrimentos, sem nos darmos conta que fizemos um péssimo investimento. O que o grande poeta e romancista quis realmente expressar é para não permanecermos presos aos desejos impermanentes. Na verdade, podemos ser até milionários, desde que sem apego;
apenas bons administradores dos bens que Deus nos proporcionou. E aqui estão as sábias palavras do mestre Jesus confirmando esta verdade:
— Procure em primeiro lugar o reino dos céus e o resto lhe será dado por acréscimo. Em outras palavras: procure em primeiro lugar o Ser (o Deus que habita em seu coração) isto é, resgate suas qualidades originais e o resto lhe será dado de forma natural e sem muito esforço. O que na verdade torna difícil procurar o “reino dos céus” em primeiro lugar é porque nos identificamos demasiadamente com este mundo de aparências, mas que nos parece extremamente real. Provavelmente, a maior dificuldade em nos voltarmos para o nosso interior é que, a princípio, não sentimos nenhum prazer e nenhuma satisfação física; sentimos inicialmente um tédio; como se estivéssemos perdendo tempo, uma vez que, aparentemente, nada acontece. Vamos encontrar também no Bhagavad Gita – a sublime canção da Índia –, cujas origens remontam aos tempos dos vedas, cerca de 5000 anos antes da era cristã, esta surpreendente citação:
“Quem pensa sempre em objetos sensórios apega-se a eles; deste apego nasce o desejo e o desejo gera inquietação. A inquietação produz ilusão; a ilusão destrói a nitidez da discriminação, e uma vez destruída a discriminação, esquece-se o homem de sua natureza espiritual e com isso vai rumo à perdição”.
O sofrimento nada mais é que acreditar na ilusão da separação e na dependência do mundo exterior. O que também nos induz ainda mais a termos esta falsa percepção é que vivemos numa sociedade onde a educação e os meios de comunicação, principalmente hoje em dia, com seu amplo poder persuasivo, nos estimulam o tempo todo para nos voltarmos para o exterior. Isso ocorre de modo tão sutil e hipnótico que ficamos seduzidos pelo seu poder. Desta forma ficamos envolvidos por falsos valores, e sofrendo suas consequências. Embora muitas das informações não sejam divulgadas, e não são do conhecimento da grande massa, sabemos hoje que dentro da hierarquia piramidal, apenas um pequeno grupo da elite financeira controlam as gigantes corporações, que por sua vez interferem no governo e detém mais de 70% da riqueza mundial (2005) Não apenas desejam manter e perpetuar este poder, mas também expandi-lo, criando desigualdades sociais, e uma devastadora devastação ambiental. Tudo em nome do lucro. Tudo em nome do ego. Somente quando o homem se defrontar com perdas, obstáculos e injustiças, nos mostrando vivencialmente através do sofrimento que não somente do dinheiro vive
o homem, então teremos condições para preservar o meio ambiente e reconhecer a nossa verdadeira natureza.. Acho maravilhosa e de um profundo conhecimento psicológico a resposta de Buda a um de seus discípulos quando este perguntou:
— Mestre, quem é o homem mais rico e o homem mais pobre? Buda respondeu:
— O homem mais rico é aquele que mesmo tendo pouco está satisfeito com o que tem. E o homem mais pobre é aquele que mesmo tendo muito está insatisfeito com o que tem. Esta é uma grande verdade. Um homem só pode ser rico somente quando seu coração estiver repleto de paz e alegria. Ela é a única e imperecível riqueza. Estamos sempre aprendendo. Devemos estar sempre receptivos e humildes, porque muitas vezes os ensinamentos podem surgir através das mais simples situações. Podemos aprender observando a natureza, os pássaros, as abelhas, através do vento, da chuva, do silêncio, das crianças ou de uma frase que, de repente, nos desperta e nos assombra. Isso aconteceu comigo quando passei o reveillon de 2003 na casa de campo dos meus primos: Lita e Toninho, na cidade de Bragança Paulista. Estávamos conversando animadamente sobre a importância da simplicidade da vida, quando num determinado momento, enquanto bebíamos um saboroso vinho italiano, Toninho se dirigiu até o armário e de lá retirou por detrás de uma lata de azeite um pedaço de papel dobrado e me entregou para ler. Era uma simples frase, mas para mim foi um verdadeiro insight. A frase dizia:
Quem tem muito mais do que precisa para viver, vira Escravo da diferença. E de fato, a verdadeira paz, somente pode ser alcançada quando nos libertamos desta diferença que nos escraviza. Devemos mergulhar nas águas puras e profundas do nosso Ser, e orientados por um mergulhador competente e experiente (o Mestre), ele nos mostrará o caminho seguro para descobrirmos os tesouros infinitos escondidos nas profundezas do oceano. E quando este momento certo chegar, será com grande alegria que ouviremos bem baixinho uma voz em nosso interior, que serenamente nos dirá: — Tudo isso é seu. Sempre foi. Você apenas esqueceu.
Felicidade, alegria, paz, amor e Deus são sinônimos. Quando compreendemos esta verdade nos unificamos com Deus. Estar unificado com Deus é sentir que a felicidade e o amor brotam sem limites dentro do nosso coração; é descobrir que somos o amor e que nada existe senão o amor.
Mas, através da ilusão da dualidade nos sentimos separados e solitários, e esses falsos pensamentos nos fazem sofrer muito para descobrirmos depois, que foram simplesmente sombras que projetamos; apenas ilusões de nossa mente que imagina a existência do mal, como se o mal tivesse uma existência independente. Como se fosse outra realidade além da nossa essência. Num nível mais profundo, essas sombras surgem da dúvida e da falta de fé de que Deus está presente em nossas vidas; e assim achamos que estamos desamparados, que não somos amados, e que estamos entregues à própria sorte. Sofrer é estar preso nas garras do tempo. Estou me referindo aqui, é claro, ao tempo psicológico. Assim, o momento presente, que é a nossa única realidade, perde o seu colorido e deixa de ser vivido intensamente.
Devemos estar sempre atentos e procurar viver o frescor do momento presente. Sim, podemos viver nesse mundo, mas sem ser do mundo. Podemos nos encantar por sua beleza, podemos também nos assustar por sua aparente injustiça, mas sem apego ou envolvimento. Afinal, riqueza, pobreza, sucesso, fracasso, saúde, doenças, juventude, velhice, paixão, solidão, todos não duram para sempre. Somos como passageiros habitando temporariamente esta gigantesca nave chamada Terra, e que atualmente passa por grandes mudanças. Graças a globalização, o tempo e as distâncias diminuíram e também pelo despertar de uma nova consciência, que está cada vez aumentando. Estamos hoje interconectados por uma gigante rede de comunicações (Celulares, E-mails, Internet, Satélites e pelo rápido avanço de sofisticadas tecnologias). Podemos afirmar que hoje a ciência não se fundamenta mais num mundo aparentemente sólido, visível e palpável, mas sim em torno da física quântica que revelou ao contrário. Um mundo abstrato e invisível. O que é o mundo? O que é a paz? Aqui estão as respostas, segundo o grande Mestre Ramana Maharshi:
— O mundo não é mais que uma projeção mental produzida no estado de vigília. É apenas uma ideia. Nada mais. Quanto à paz, é a ausência de perturbação. A perturbação é provocada pelo surgimento dos pensamentos. Consequentemente, assegurar a paz significa estar livre de todo pensamento e permanecer em estado de pura consciência. Deixe o mundo aos cuidados dele mesmo. Contemple sobretudo a você próprio, o seu Ser, a sua verdadeira essência. Se você se identificar com sua mente e seu corpo verá o mundo ao seu redor. Mas se você se identificar com a sua essência divina, tudo também será divino. Esta afirmação do mestre Ramana pode a princípio nos deixar um tanto estonteados, mas vamos encontrar surpreendentemente a mesma afirmação por parte do físico quântico Max Planck, prêmio Nobel de Física que em 1918 disse:
"Pode a consciência (intenção humana direta) alterar diretamente o mundo físico que vemos ao nosso redor? Pode a mente, literalmente, influenciar? Qual é a relação entre mente e matéria e o que isso significa sobre a verdadeira natureza da nossa realidade?">>>>>>> “Eu considero a consciência como fundamental. Eu considero a matéria como um produto derivado de consciência. Não podemos ficar atrás da consciência. Tudo o que falamos, tudo o que nós consideramos como existente, postula a consciência"
ENFRENTANDO O VAZIO De acordo com as escrituras da Yoga, são os nossos pensamentos que nos impedem de vivenciar a nossa felicidade e sentir todo o nosso poder. Esses pensamentos reduzem a nossa visão e, como nuvens no céu, escondem por algum tempo a luz do Sol. Mas, de que são feitas essas nuvens? Simplesmente de sons que se transformam em palavras que ressoam o tempo todo e surgem no interior da nossa mente, criando pensamentos e, consequentemente, imagens que, por sua vez, produzem emoções. Esse fluxo constante de sons é o poder da consciência. Se o pensamento for bom, sentirei prazer e bem-estar, mas se ele for negativo, sentirei medo e aflição. Devido a esse poder da consciência, o nosso conhecimento pode tornar-se o nosso cativeiro. Podemos estranhar esta afirmação, porque sempre acreditamos que, ao contrário, o conhecimento pode nos libertar de nossa ignorância. De fato, a Yoga concorda com essa informação, mas com uma diferença: o conhecimento pode nos libertar, mas o conhecimento limitado não. Se nós não tivermos um conhecimento mais abrangente, então ele pode tornar-se um obstáculo para alcançarmos a verdade do nosso Ser. Por exemplo: se eu estiver imbuído de sentimentos racistas ou religiosos para justificar que minha raça ou credo é superior às outras, então todo esse conhecimento distorcido e equivocado irá fazer-me sofrer e estarei em cativeiro. Entretanto, se tiver um conhecimento mais amplo e sentir que todas as pessoas são iguais e que existe uma total identidade, tanto genética como espiritual, entre todos os seres, e que as religiões são apenas diferentes caminhos em direção a nossa verdadeira natureza, então, esse conhecimento poderá me libertar para me aproximar do Ser. Não podemos subestimar o poder da mente; ela apoiará tudo o que dissermos, escrevermos ou pensarmos a nosso respeito; isto acabará manifestando-se em nossa vida como realidade. Somente quando silenciamos a mente e o fluxo de palavras internas, através da meditação, podemos de fato experimentar a nossa plenitude. Esta felicidade permanente provém de um local além dos pensamentos. Porém, sabemos que tranquilizar a mente não é fácil. Uma alternativa seria ter um sono profundo. Outra forma de aquietar a mente seria satisfazer os nossos desejos. Sabemos que a mente torna-se agitada quando deseja alguma coisa e tranquila quando o desejo é satisfeito. Devemos perceber que quando a mente torna-se agitada e intranquila o sentimento de vazio apodera-se de nós. Assim, tentamos preenchê-la com valores que vêm de fora. Normalmente, não temos muita consciência deste vazio, mas sentimos os seus efeitos. Desta forma, passamos a vida preenchendo os nossos vazios por acreditar que procedem de outras pessoas ou de bens que adquirimos. Não quero dizer que devemos nos privar dessas coisas; porém, quando as perdemos, sentimos que perdemos a nós mesmos. Quando isso acontece, ou seja ao perdermos a auto-estima, um vazio devastador nos invade. Se nos questionarmos: — Por que me sinto tão deprimido? Por que me sinto perdido e inseguro? Achamos que é devido a essas perdas, mas não
é verdade, essas perdas apenas levantaram um pouco o véu da verdade. O que acontece é que para diminuir o nosso vazio, perseguimos coisas que não possuem os valores que lhes atribuirmos Acreditar que vamos um dia encontrar finalmente o nosso tão sonhado tesouro no mundo externo, é descartar sem saber o nosso maior tesouro que poderíamos ganhar “A NOSSA PAZ INTERIOR”. O mais irônico é que ele está conosco o tempo todo, esteja onde você estiver. O que devemos fazer nesta situação é suportar esse sentimento de angústia sem tentarmos aliviá-lo com novos preenchimentos. Devemos ficar atentos a fim de percebermos o que se passa em nós. Então, compreenderemos o que de fato foi perdido. Contudo, normalmente, evitamos tal confronto. Achamos que vamos morrer e que não será possível aguentar esse sofrimento, no entanto esta auto-investigação é a nossa grande oportunidade de crescer e evoluir. Somente quando tivermos a coragem de enfrentar esse vazio face a face, vamos nos dar conta que este sentimento de tristeza e melancolia é a perda de algo muito mais profundo:
“A perda ilusória do nosso Ser.” Não é sem razão que João da Cruz se referiu a esse período como A Noite Escura da Alma, título de seu livro. Outros a mencionam como o ministério da ausência ou o inverno do coração. Sabemos que a nossa sociedade está adormecida em relação ao nosso Ser e inconscientemente é contra o Ser. As pessoas que estão a nossa volta preenchem seus vazios constantemente com valores efêmeros e se sentem ameaçadas se nós não fizermos o mesmo, pois faz com que elas percebam o vazio infindável que elas têm. A publicidade não faz outra coisa senão tentar preencher os vazios das pessoas. Um bom publicitário sabe como apelar psicologicamente para estimular sutil e criativamente os desejos que resultam dos vazios. E, “diga-se de passagem”, são muito bem pagos para preencherem os seus próprios vazios. Assim, para tranquilizar a mente, devemos compreender que qualquer tentativa de preencher o vazio não irá funcionar; ao contrário, a mente deve ir ao seu encontro para criarmos um espaço pelo qual a luz do nosso Ser possa ocupar. Desta forma, fugir do vazio é fugir de nós mesmos, da nossa essência, do nosso Ser. Existe uma história de um mestre chinês, ao qual perguntaram:
— Como podemos nos livrar do calor? – referiam-se, é claro, ao calor do sofrimento e da angústia. Ele respondeu: — Indo bem para o centro do fogo. — Mas como, então, escapamos das chamas ardentes? Ao que o mestre respondeu: — Pode ter certeza, nenhuma outra dor te incomodará. Nesta situação, somos invadidos por uma tristeza e angústia inexplicável que nos oprime o coração e que, na verdade, é consequência da nostalgia de uma felicidade da qual nos distanciamos. Sentimo-nos como exilados numa terra estranha e distante e ansiamos voltar para nossa verdadeira morada. Assim, fica claro que, quando perdemos algo e permanecemos com essa sensação de perda, podemos
talvez sentir, de forma extremamente vaga, mas ao mesmo tempo dolorosa, que perdemos o nosso Ser. Isto não quer dizer que o perdemos totalmente, apenas esquecemos que ele existe. Jamais perdemos o Ser, mas esquecemos que ele existe em nós. Assim, esta inconsciência tira de foco a nossa verdade, afastando-nos da nossa meta. No entanto esse sofrimento é sentido não pela perda em si, seja de objetos, bens ou pessoas, mas porque fazem despertar intuitivamente a lembrança oculta do nosso mais importante e valoroso bem: nós mesmos. “O nosso Ser, do qual nos distanciamos.”Existe por ventura um valor maior? Quando as pessoas perdem o filho ou a esposa, choram e se lamentam. Choram também quando perdem dinheiro ou os bens. Mas pergunto: — Alguém já sofreu ou chorou por ter se distanciado do seu Ser? Esta é uma pergunta profunda, que irá exigir uma séria reflexão, antes de passarmos para o próximo capítulo.
*Ser – A pura consciência divina que está em nosso interior *Buda – Mestre iluminado, nascido a cerca de 563 A.C Os seus ensinamentos são descritos com mais detalhes no “O Divino Jogo da Consciência” #. Volume da trilogia.
A MAGIA DAS IMAGENS
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades. Charles Chaplin
Quando eu era mais jovem, isso é na década de 70 e 80, tinha paixão por cinema; cheguei mesmo a dirigir alguns curtas-metragens e um longa chamado Bloqueio. Embora tenha seguido a carreira de publicitário e artista plástico, sempre continuei amando o cinema e, sem dúvida, muitos filmes, quer sejam pelos seus efeitos técnicos ou pelos seus conteúdos filosóficos, influenciaram tremendamente a minha vida. Penso que o cinema hoje é a melhor analogia para interdermos a ilusão do mundo, que nada mais é que a projeção da consciência. Sempre senti a grande semelhança que existe entre a vida e a ilusão das imagens projetadas na tela. E de fato, podemos comparar a vida como um filme em projeção.
Pode haver um incêndio, mas a tela não se queima. Pode haver uma inundação, mas a tela não se molha. Pode haver um terremoto, mas a tela não se move. A tela sempre permanece a mesma. A tela é o nosso Ser; ela se mantém sempre em sua pureza; absolutamente nada pode afetá-la. A vida é como assistir a um filme. Embora tudo que estiver sendo visto durante a projeção seja aparentemente real, ele ao mesmo tempo é irreal. É um jogo de luzes e cores em movimento numa tela branca. Mas por detrás deste ilusão participamos intensamente de sua história e nos envolvemos com seus personagens. Podemos rir, chorar, nos emocionar, nos atormentar, nos alegrar, mas, depois de um tempo, o filme termina e tudo não passou do filme da nossa vida. Durante todo esse tempo nós fomos o ator principal, o diretor, o roteirista, o fotógrafo, o produtor, o próprio espectador e mais ainda, o dono do cinema. Tudo não passou de um empolgante e fascinante jogo de consciência. Eu considero muito ilustrativa esta comparação, porque demonstra como nós dirigimos o nosso próprio destino. Quem assistiu o filme O Show de Truman, dirigido por Peter Weir e interpretado por Jim Carrey, deve lembrar quando, no final da história, Truman descobre que o mundo onde vivia era um imenso cenário de televisão. Ainda sob
forte impacto emocional, pergunta para si próprio se ele era real ou ilusório, ao qual outro personagem chamado Cristofer, criador e diretor deste gigantesco espetáculo, responde-lhe como um Deus amoroso prestes a perder seu filho:
— Sim, meu filho, você é real, acompanhei sua vida desde o seu nascimento. Você é o astro principal, visto 24 horas por dia em todo o mundo. Esse diálogo me causou um impacto tão profundo que senti naquele momento que na verdade cada um de nós, é o astro principal neste grande show da vida. Cinema é magia. O diretor como um deus, reproduz através da sua sensibilidade artística fragmentos da vida humana. De acordo com seu roteiro, ele nos induz a ver certas imagens, como, também, deixa de nos mostrar outras. Tudo isso para criar um clima hipnótico e nos envolver emocionalmente na história do filme. Mesmo sabendo com certeza, que tudo não passa de uma simples projeção de luz, quando o filme é bem dirigido, esquecemos essa ilusão e nos identificamos totalmente com a história e seus personagens. E é exatamente isso que o diretor quer alcançar: fazê-lo acreditar por um certo tempo, que tudo aquilo é real. A realização máxima de um diretor é ver as pessoas rindo, se for uma comédia; enxugando as lágrimas, se for um drama; ou ficarem apavoradas, se for um suspense. Quem, por exemplo, não se deslumbrou com Cidadão Kane, de Orson Welles; Cantando na Chuva, de Gene Kelly; Morangos Silvestres, de Bergman; Ran, de Kurosawa; Tempos Modernos, de Chaplin; Noites de Cabíria, de Felini ou o comovente A vida é bela, de Roberto Benigni. É claro que não poderia citar todos os filmes que me marcaram, porque se for “dar corda” ao meu entusiasmo, ocuparia um capítulo inteiro e estaria desviando-me do tema central deste livro. Entretanto, se tiver que escolher um filme que realmente me transformou e que me causou um impacto estonteante foi sem dúvida, 2001 Uma odisséia no Espaço, de Stanley Kubrik. Considero esse filme mais do que um filme; é a representação magistral de nossa evolução e a busca pela nossa essência. Quem, por acaso, não se comoveu na clássica sequência, quando o homem macaco lança um osso para o ar, como num gesto de triunfo e, de repente, num simples corte, promove o avanço instantâneo de cinco milhões de anos. E dentro da tela toda negra o osso se transformar numa espaçonave ao som do Danúbio Azul, de Strauss? Foi de tirar o fôlego. Jamais um corte de cena foi tão surpreendente, considerado até hoje uma sequência antológica do cinema. De acordo com o pensamento de Kubrik, o conceito de Deus está no centro de 2001. Se você não assistiu a esse filme, recomendo que passe na sua locadora e o alugue. Do ponto de vista técnico, creio que o futuro do cinema será holográfico. Em filmes como Guerra nas Estrelas, de George Lucas ou, Inteligência Artificial, de Steven Spielberg, existem algumas cenas em que podemos vislumbrar um futuro extraordinário na tecnologia cinematográfica. Mas foi, sem dúvida, na série Jornada nas Estrelas – A nova geração – que vamos encontrar como ficção esta antecipação com o nome de Holotec. Para quem nunca assistiu à série, o Holotec é um espaço de
entretenimento, dentro de uma nave estelar, onde, um supercomputador de memória gigantesca possui em seu banco de dados todas as informações sobre todos os assuntos imagináveis. Ele é tão sofisticado que possui a extraordinária capacidade de projetar atomicamente cenários palpáveis e reproduzir com extrema fidelidade tudo que você gostaria de vivenciar. Por exemplo: estar passeando em Paris no início do século XX; viver uma aventura amorosa numa fazenda do velho oeste; navegar numa caravela em alto-mar e se confrontar com malvados piratas, e assim por diante.
Cada um de nós é o astro principal neste grande show da vida. Mas quando a brincadeira se prolongar e você se cansar do faz-de-conta, é só ordenar para o computador se autodesligar; assim, instantaneamente, a ilusão de todo esse cenário artificial se desfaz como poeira sacudida pelo vento. Talvez o cinema do futuro seja algo parecido com o Holotec; onde você poderá até interagir com os virtuais atores e modificar seu roteiro, ou o final do filme se assim o desejar. Seria como estar dentro do seu próprio filme. Parece ficção científica? Mas não é. Na verdade, esta reflexão sobre o cinema fortalece minha intuição de que o nosso próprio mundo já é um gigantesco Holotec, programado para nos proporcionar empolgantes, divertidas e também assustadoras aventuras para o nosso crescimento espiritual. Tudo que imaginamos já existe neste momento. Apenas não sabemos ainda como manipular com sabedoria esta energia para tornar mais belos os nossos sonhos. Entretanto, o nosso poder criativo não possui limites; Ele é como um embrião que precisa de tempo e de espaço para nascer, crescer e se unificar com sua essência. Avatares* com grandes poderes como Jesus, Muktananda, Ramakrishna, Babaji, Sai Baba e tantos outros são verdadeiros representantes do homem do futuro. Eis as palavras do mestre Jesus esclarecendo seus discípulos:
- Em verdade, vos digo: quem crê em mim fará também as obras que eu faço e fará ainda maiores do que estas. E assim, da mesma forma, quando a nossa brincadeira já se prolongou o suficiente e nós já nos cansamos do faz-de-conta, surge um despertar e descobrimos que tudo não passou de uma projeção de nossa consciência. É como quando um filme termina e você percebe que tudo não passou de uma projeção de luz; apenas um sonho. Talvez esteja um tanto aturdido com todos estes conceitos, por isso sugiro neste final de capítulo, que façamos uma pequena pausa para podermos digerir estas reflexões. Respire fundo. Ajeite-se melhor para deixar o seu corpo confortável e, quando se sentir bem relaxado, volte para sua leitura e acompanhe o meu raciocínio com muita atenção. Se num simples filme de cinema, o diretor toma todas as providências possíveis, atento aos mínimos detalhes para realizar um filme perfeito,
então o que se pode dizer ou imaginar do eterno, perfeito, amoroso e absoluto Criador da vida? Com certeza, Ele seria o diretor que mais Oscar ganharia. Ele seria, simplesmente, hors-concour*, pois do contrário, a cada ano, a cada hora, a cada segundo, ganharia em disparada um novo prêmio, em todas as categorias: Melhor filme, melhor roteiro, melhor fotografia, melhor som, melhores efeitos especiais e melhores atores. Impossível seria concorrer com Ele; estaria sempre em primeiro lugar. Ele é o mestre dos mestres, o diretor supremo e como filhos e alunos, aprendemos muito com Ele. Cada Ser é como um ator nesta vida em que tudo foi meticulosamente planejado para uma atuação perfeita. Não importa o papel que nos foi dado interpretar: um simples pai de família, um estadista, um operário, um empresário ou um lixeiro. Todos esses papéis fazem parte do nosso aprendizado e nunca estamos sós. Somos protegidos e amados o tempo todo por uma energia que permeia o universo inteiro.
Como um gigantesco quebra cabeça, cada pedaço é de suma importância; unidos e encaixados uns com os outros compõem a beleza do quadro inteiro. Assim, quando tomamos distância, adquirimos uma perspectiva mais ampla e temos condições de reconhecer o imenso valor de cada parte.
* Avatares - Encarnação divina em forma humana. * hors-concour - Expressão em francês que significa “fora do páreo”. Pode participar, mas não pode concorrer por estar muito acima da média.
SINCRONICIDADE Entre tantas experiências pelas quais passei em minha vida, gostaria de compartilhar uma das mais importantes e que, para mim, foi a prova convincente que demonstrou, de forma inquestionável, que não existe o acaso ou, apenas, meras coincidências. Esta experiência ocorreu há um bom tempo atrás, quando depois de trabalhar muitos anos como diretor de arte em várias agências de publicidade, resolvi trabalhar por “conta própria” e “abrir o meu próprio negócio”, ou seja, ter a minha própria agência. Apesar de dispor, na época, de poucos recursos financeiros, deveria ter para começar, no mínimo, um local e um telefone. Lembro-me que na época uma linha telefônica era uma “verdadeira fortuna” ou então ficar anos na fila de espera, para obter um por um valor mais acessível. Mas o destino foi generoso e em poucos dias, consegui por indicação do meu velho amigo André, sublocar uma pequena garagem com telefone, e que era usada como estúdio de um artista plástico que aceitou dividi-lo, pois utilizava-o poucas vezes. Fizemos um acordo verbal e amigável do valor da sublocação e assim, “com a cara e a coragem”, comecei esta nova e empolgante experiência, mas também, confesso, com muita apreensão. Embora tivesse uma pessoa que me ajudava na prospecção para conseguir clientes, não era nada fácil. Agora prestem atenção, porque o que aconteceu não estava de forma alguma no programa! Um mês e meio depois, com o dinheiro minguando e muito pouco trabalho, o tal do artista plástico apareceu de repente na garagem e, sem nenhuma introdução diplomática, foi direto ao assunto:
— Roberto, sinto muito, mas isso não vai dar certo; eu preciso ocupar o espaço todo e gostaria que você desocupasse o estúdio no máximo até segunda-feira. Foi exatamente com essas palavras que ele se expressou. Bem, imaginem o impacto emocional que senti ao ouvir isso; foi uma verdadeira bomba. Tentei negociar, mas nada feito; ele foi categórico e inflexível. Eu me lembro como se fosse hoje, era uma sexta-feira, meio-dia de uma manhã fria e chuvosa. Na verdade, estava de saída para almoçar, mas depois desta “paulada”, perdi totalmente a fome, e a contra gosto tive que aceitar esta situação inesperada; e, assim, fui cabisbaixo em direção ao meu carro; desnorteado; entristecido e sem saber o que fazer ou para onde ir; era o fim de um sonho. Enquanto estava envolvido por todos estes turbulentos pensamentos, ouço alguém me chamando, insistentemente. Quando olho para trás, vejo a Cristina – uma jovem que estava cursando a faculdade de Propaganda e Marketing e que fazia um estágio conosco. Achei muito estranho, porque normalmente ela vinha depois do almoço, por volta das 14 horas, aproximadamente. Agora prestem atenção novamente no que aconteceu a seguir, porque, até hoje, não consigo entender como o destino pôde ser tão preciso. A Cristina veio em minha direção, me cumprimentou e me convidou para tomar um café. Enquanto pensava em como lhe contar o desastre que tinha acabado de ocorrer, de repente, olhando para mim e sem nenhuma hesitação ela disse:
— Roberto, gostaria de falar com você sobre um assunto um tanto delicado. Não leve a mal o que vou te dizer, mas acho que não fica bem você ficar nesta garagem. Pega muito mal, principalmente se um cliente resolver te visitar. Olhei para ela um tanto surpreendido, mas ela sem me dar tempo de respirar continuou:
— Eu sei que é chato falar assim, mas estou sendo bastante sincera. Olhe, eu moro sozinha com minha irmã numa casa que fica aqui no mesmo bairro. Meus pais moram no estado do Acre, pois possuem fazendas por lá e só aparecem aqui em São Paulo, uma vez por ano e por pouco tempo. De modo que você pode ocupar parte da casa como estúdio, isto é, se você achar a ideia conveniente, porque para mim isso não iria me incomodar de forma alguma. Eu tenho que dizer, que eu quase não acreditei no que estava ouvindo. Ela não sabia absolutamente nada do que há pouco tinha ocorrido. Disfarcei um pouco a minha emoção e na mesma hora, fomos na mesma hora ver a casa que ficava perto e realmente não tinha comparação. Era muito melhor em todos os sentidos. Tinha telefone e até uma vaga de garagem. Sem perder tempo, mudamos no dia seguinte e em pouco tempo, entusiasmados com esta incrível reviravolta, conseguimos conquistar muitos clientes; o que nos permitiu, em poucos meses, alugar um escritório mais apropriado, comprar uma linha telefônica e decorar toda a agência. Dá para explicar tudo isso como simplesmente ter muita sorte? Ou uma feliz coincidência? Acabei por me estender um pouco nesta história pessoal, mas com o intuito de tentar demonstrar como as circunstâncias interferem na nossa vida. Achamos que somos donos da situação, quando na maior parte das vezes são as situações que acabam por comandar o nosso destino. Posso afirmar que ao longo dos anos, passei por muitas situações incomuns e que cada vez mais confirmam a existência de forças que atuam sobre nós. É o que o psicólogo Carl Jung chamou de sincronicidade, quando pessoas ou acontecimentos parecem estar conectados e sujeitos a um mesmo campo energético. Assim sem nos darmos conta, somos guiados e orientados por ela. Quando, através do autoconhecimento e, principalmente, através da meditação, sentirmos que não existe separação, que tudo está unificado pela força desta energia, que podemos chamar de amor, então as preocupações deixam de existir e o sofrimento desaparece, simplesmente porque ele, no fundo nunca existiu a não ser na fantasia da nossa mente. Assim, afastando as nuvens de nossa ignorância, surge o sol com todo o seu brilho e esplendor para aquecer de alegria e entusiasmo o nosso coração carente. Afinal, o que é sério ou não sério? Tudo é relativo. Depende do nosso ângulo de visão. Como somos o que pensamos, então é natural que possuir pensamentos verdadeiro sem relação ao nosso Ser só irá nos conduzir na direção da nossa mente certa. Com essa certeza, sabemos que tudo acontece para o nosso bem e que o
universo inteiro conspira a nosso favor. Aliás, nem poderia ser diferente, porque Deus, que é amor, bondade e justiça absoluta, só deseja a nossa felicidade. Dê um passo em direção a Deus e ele dará dez passos em sua direção. Dê dois passos e ele te dará um abraço. Dê três passos e ele estará em seu coração. A verdadeira sabedoria é não permanecer na dependência dos desejos transitórios. Devemos ter profunda consciência que esta vida é apenas um segundo na eternidade. Não devemos nos apegar aos objetos deste mundo, pois sabemos que tudo é efêmero e transitório. A verdadeira felicidade não depende da quantidade de objetos que você possa acumular, mas sim do amor puro que flui incondicionalmente do seu coração. A busca pela riqueza fora de nós, só nos distancia da soberania que jaz em nosso íntimo. Não tente modificar o mundo, mas sim, os seus pensamentos sobre o mundo. Quando perguntaram para Jorge Valle, poeta cubano:
— Quais são suas perspectivas para o futuro? Ele respondeu:
— Fazer o que tenho que fazer cada dia, o melhor possível. Devemos viver o momento presente. O passado é somente um registro em nossa memória e o futuro apenas a projeção dos nossos sonhos. Viver nos dois momentos, ao mesmo tempo, nos causa turbulência mental e o presente deixa de ser vivido plenamente. A ansiedade é isso: não viver plenamente o momento. Quando aproveitamos cada minuto de nossa vida, ficamos mais perto da felicidade. Afinal, a vida nada mais é do que uma sucessão de minutos. Viver no momento presente significa viver estes preciosos minutos dos quais são formados 100% da nossa vida. Quanto tempo dura o presente? Não tem como medi-lo, é como se ele não existisse. Assim, viver totalmente no aqui e agora é deixar o futuro tomar conta de si próprio. Não devemos nos atemorizar, imaginando obstáculos que podem ou não acontecer. De acordo com Rumi – o grande mestre do sufismo
Passado e futuro ocultam Deus de nossa vista. Ponha fogo em ambos. Acreditar que o futuro pode satisfazer os nossos mais profundos anseios é estar com a mente em delírio; é estar na dependência do vir-a-ser. A única coisa que o futuro pode nos proporcionar de forma temporária é apenas conforto ou desconforto, prosperidade ou carência. Imaginar que a felicidade só virá no futuro é como estar perdido em pleno deserto e enfraquecido pelo sol escaldante, acreditar estar se aproximando de um oásis que, finalmente irá saciar os nossos desejos; entretanto, por mais que avancemos em sua direção, mais ele se distancia de nós; para constatarmos, por fim, que foi apenas uma miragem. Ficar na dependência do futuro é aumentar a nossa ansiedade na expectativa de ganhar algo que o presente ainda não nos deu. A paz, a serenidade, a felicidade, a alegria, o amor, o equilíbrio e a pureza não se encontram no futuro, mas sim em nós mesmos; é a nossa verdadeira natureza. Voltar-se para o presente é o único caminho onde pode ser encontrado o
verdadeiro oásis, que está sempre em nosso interior. Então, por que se preocupar com o futuro, quando já temos o que mais desejamos na vida? Não se preocupar com o futuro é estar relaxado, calmo, sereno e desfrutar desta bem-aventurança nesse exato momento. Com essa percepção, rompemos as algemas que nos prendem no tempo e nos libertamos dos nossos temores. Viver o agora é perpetuar esse estado de êxtase e transformar o futuro num eterno presente. No filme Perfume de Mulher há uma cena marcante, em que um personagem cego, interpretado por Al Pacino, tira uma moça para dançar e ela constrangida lhe diz: — Não posso, porque meu noivo vai chegar em poucos minutos – ele responde: — Mas em poucos minutos se vive uma vida. A realidade é que nós somos o Ser. Nós já somos a felicidade. O mestre é apenas o Ser que, por compaixão, fala em nosso ouvido e através do som de suas sábias palavras, tenta nos acordar do nosso prolongado sono, para que com os olhos abertos possamos aos poucos nos deslumbrar e exclamar em êxtase: — Eu sou divino. Eu sou a felicidade suprema. Eu e Meu Pai somos um. Viver na essência é viver no amor. O desamparo e a tristeza deixam de existir, como sombras que desaparecem na presença da luz. Devemos despertar e adquirir vivencialmente esta percepção. Esta é a missão sagrada dos mestres, e a riqueza de seus ensinamentos são como potentes faróis que iluminam o nosso caminho para atingirmos o nosso verdadeiro destino. São como irmãos mais velhos e amadurecidos que, por amor, tentam nos fazer lembrar que buscar a felicidade nada mais é que irmos ao encontro do nosso Eu e descobrir-nos como legítimos filhos do Criador, herdeiros da “felicidade suprema”. Jamais um mestre irá impor a sua verdade. Um verdadeiro mestre nunca se considera maior que seu discípulo, ele apenas o orienta para que ele possa também alcançar a mesma verdade. Segundo uma antiga história cabalística, conta-se que um discípulo se encontrou com o grande mestre Hilel e lhe pediu para que revelasse toda a sabedoria do universo no curto espaço de tempo que levasse se equilibrando numa perna só. Não se sabe de qual pé o mestre escolheu para se equilibrar, mas suas palavras chegaram até nós através dos tempos; ele disse:
— Ame teu próximo como a ti mesmo. Todo o resto é apenas comentário. Agora vá e aprenda. Enquanto estava terminando este capítulo, mais uma vez, a sincronicidade se fez presente. Era terça-feira de carnaval e tinha decidido ir na agência adiantar alguns trabalhos, quando, de repente, já quase chegando, me deparo com o meu amigo Ventura, andando calmamente pela calçada, de camiseta e bermuda. Alto, forte, de barba grisalha e olhar penetrante. O que se pode dizer do Ventura? Um sonhador! Um mestre! Um extraterrestre! Um iluminado! Difícil defini-lo. Ele
simplesmente olhou para mim e esticou a mão. Parei o carro e vindo em minha direção disse-me com grande entusiasmo com a sua inconfundível voz de locutor:
— Isso não é apenas uma simples coincidência, porque nunca passo por essa calçada. Nós tínhamos que nos encontrar. E com seu sorriso cativante continuou: — Estava me preparando para tomar o café da manhã, quando esses pensamentos “aterrissaram” em minha mente e sinto, por intuição, que são também para você. Retirou umas folhas do seu bolso e começou a lê-las para mim. Na medida em que foi lendo, percebi todo o seu braço se arrepiando. Antes, porém, devo dizer que Ventura é um amigo de muitos anos e compartilhamos as mesmas ideias sobre a espiritualidade. Possui um grande amor em seu coração, um sorriso incrivelmente luminoso e o dom de uma mediunidade psicográfica. Assim, para terminar esse capítulo, transcrevo aqui parte da belíssima mensagem recebida do seu guia espiritual e que tem muito a ver com esse capítulo.
A Felicidade é um Estado de Alma, é uma identificação maior com a vida. Não estar feliz não significa não ser feliz. O mundo, com suas preocupações naturais da existência humana, muitas vezes toma o lugar da felicidade do coração, por que a humanidade, de modo geral, ainda não se conscientizou que ser feliz não é ter, mas Ser. Ser feliz não é viver para ter, mas viver para Ser. Ser feliz não é viver para possuir, mas viver para compartilhar. Ser feliz não é viver para ganhar, mas viver com gratidão a vida. Precisamos nos lembrar sempre que ser feliz é amar a vida, trazer para cada novo dia um sentimento de gratidão na alma, buscar e viver em comunhão com o Pai interno, sabendo que sua única vontade é somente o nosso bem... Saber que sua única vontade é somente a nosso favor e a favor da nossa felicidade. Muita paz, Akan (Tomi)
A FELICIDADE SUPREMA
Em que idade deixamos de ser criança? Aos 6, 18, 30, 60 anos? Se formos sinceros, nunca: A curiosidade, o entusiasmo, a vontade de chorar e rir são virtudes das crianças. Um adulto que é incapaz de ser criança não pode sentir prazer na vida. O importante é não envelhecer nunca. A fantasia não pode sair de moda pela simples razão de que representa um voo numa dimensão além do tempo. Walt Disney
A primeira pergunta que surge em nosso íntimo é: — Como é possível que eu sendo a felicidade suprema não sinto em mim esta bem-aventurança? Como é possível que mesmo estando Deus o tempo todo em meu coração, sinto-me muitas vezes vazio, triste e melancólico? Parece existir uma contradição, uma ilusão, um paradoxo! Como posso de fato sentir esta verdade não intelectualmente, mas sentir esta felicidade preenchendo o meu Ser? Sinto que até mesmo tendo pensamentos positivos, conforto e segurança material, surge aquela sensação de vazio que me angustia o tempo todo. O que devo fazer para conquistar paz, serenidade e tranquilidade? É possível tal façanha? É possível estar no meio de um temporal e mesmo assim permanecer calmo e tranquilo? Como posso me sentir sereno depois de perder um ente querido que a morte veio buscar? Como posso estar despreocupado se estou sem dinheiro para pagar as dívidas que vem se acumulando? Como posso ser indiferente e não me sentir magoado se alguém me agride verbalmente e tenta me ameaçar? É possível encontrar paz e serenidade neste mundo em constante mudança? Bem, a resposta é “sim”. Podemos viver esta felicidade porque ela já se encontra em nosso interior. Na verdade, a felicidade já é nossa; é a nossa natureza. O que devemos fazer é apenas olhar para ela. Porque se a felicidade fosse algo exterior, então, ela poderia ser perdida, poderia ser roubada ou destruída, mas, felizmente, a felicidade é o nosso Ser. Nós já somos a felicidade. Somos o todo a cada instante. Sem passado, nem futuro e neste reconhecimento tudo se torna simples e natural.
O paradoxo é que já estamos em casa, ou seja, nós já possuímos aquilo que achamos que não temos. É como ficar entristecido por ter perdido um colar de grande valor, para depois de muito sofrimento perceber que se encontrava o tempo todo pendurado em nosso pescoço. Ou como outro exemplo maravilhoso descrito pela psicóloga e terapeuta Gill Edward:
— O nosso prêmio já está ganho. O problema é que nós recusamos desembrulhar o nosso presente, desconfiando que a caixa enfeitada possa estar vazia.
Achamos que a coisa não pode ser tão fácil. No entanto, todos os grandes mestres nos asseguram que a Terra é como um imenso parque de diversões; uma dimensão em que exploramos alegremente o nosso ilimitado potencial. Nunca se pretendeu que a vida fosse de dor e de sofrimento. Eles acabam ocorrendo, porque criamos uma percepção equivocada de nós mesmos, esquecendo a verdade do nosso Ser. Segundo o Vedanta, o mundo em que vivemos é um jogo da consciência universal. A própria criação é sempre comparada a uma brincadeira sem fim, como de uma criança endiabrada. É o que os hindus chamam de o jogo (Lila). Para quem alcançou o estado do Ser, o mundo é simplesmente um jogo da energia de Deus, assim não existe mais escravidão nem libertação; não existe nem meio, nem fim; a ilusão da dualidade é removida e assim termina a noção da diferença. Pode parecer uma enigmática e surpreendente afirmação, mas a vida é apenas um grande divertimento. Nada é sério como imaginamos, porque tudo foi extremamente planejado, sem falhas e sem erros. Entretanto, existem regras e, como todo bom jogo, estas regras têm que ser cumpridas, porque senão o jogo deixaria de ser um jogo e, assim, acabaria toda a graça e tudo viraria uma grande bagunça. Para entender melhor este grande jogo da vida, imagine por exemplo que você está em Disneyworld, o famoso parque criado por Walt Disney. Sabemos que todo parque tem as atrações agradáveis que vão nos encantar, mas também tem aquelas que vão nos assustar terrivelmente. E é exatamente este contraste que constitui todo o charme da diversão. Por exemplo: poderá sentir um medo terrível quando mergulhar numa velocidade vertiginosa na montanha russa e achar que vai se despedaçar; poderá se apavorar na casa mal-assombrada, uma réplica do filme psicose, ou sentir o coração quase parar quando o elevador despencar do último andar, parando repentinamente a apenas alguns metros do chão. Mas, também, você vai se empolgar e se alegrar com o passeio de barco pelo pavilhão do pequeno grande mundo, se encantar com o majestoso castelo de Cinderela ou viajar pelo tempo com o próprio Júlio Verne, através de um filme projetado em 360 graus. A única diferença que existe entre um parque de diversões e o mundo, é que no parque, por mais medo que você possa sentir, você sabe e tem certeza absoluta que, no fundo, você está num parque e que tudo não passa de um grande entretenimento. Mas neste mundo, que também é um gigantesco e sofisticado parque, nós não temos esta mesma certeza e, assim, somos iludidos pela sua aparente realidade. Acredito que esta é provavelmente a razão básica do nosso sofrimento. Sofremos porque esquecemos quem somos, onde estamos e para onde vamos. Mas lembre-se, a vida é apenas um jogo; apenas uma brincadeira, um jogo de esconde-esconde. Não a leve muito a sério e não a intelectualize demais. Caso algum brinquedo o tenha assustado, não perca a chance de experimentar outros, porque certamente encontrará muitos que irão diverti-lo e encantá-lo. E você pode acreditar, tudo está garantido. Todas as atrações foram meticulosamente testadas; portanto, não existe absolutamente nada com que se preocupar, nada a temer. O conceito de
um jogo cósmico é uma das chaves do hinduísmo. Para um jogador consciente nada é definitivamente trágico. No entanto, para que o jogo se mantenha interessante é fundamental que haja risco e incerteza para que ele se torne empolgante. Imagine como seria se você sempre ganhasse? No início, pode ser até divertido, mas depois de um tempo seria uma tremenda chatice. O objetivo do jogo portanto não é ganhar, mas a probabilidade de poder perder. Somente desta forma estamos sempre ganhando. Assim, a qualquer momento o jogador pode dizer:
— Nada há a temer. É apenas um jogo! Mas se por esquecimento ou distração ele se identificar totalmente com a partida, estará inevitavelmente sujeito a decepções, vergonha, raiva e a todo tipo de sofrimento por estar levando o jogo muito a sério. Devemos despertar desse confuso sonho que nos mantêm temerosos e como no exemplo da corda e da cobra, desfazer esta ilusão. Lembre-se sempre: O que é real jamais pode ser destruído. O que você perde? Nada! Jamais houve cobra alguma; apenas a corda o tempo todo. Devemos nos dar conta que não somos apenas massas de carne e ossos, somos Sat-chit-ananda (Ser, consciência e bem-aventurança). Tudo foi programado para que sua estadia seja a que melhor irá beneficiá-lo até mesmo nas situações mais difíceis. Assim, nada resta a fazer senão aproveitar e desfrutar de todas estas emocionantes aventuras. E quando terminar o dia, e você voltar para casa, com certeza terá uma enorme surpresa. Você perceberá que na verdade tudo não passou de um sonho. Pode ser um belo sonho, um pesadelo ou também uma mescla de ambos. Você é responsável pelo seu sonho, pois foi você próprio que o criou. No filme A Vida é Bela, temos um extraordinário exemplo desta verdade. O filme ambientado na dura realidade da 2ª Guerra Mundial, mostra Guido, o personagem principal, interpretado magistralmente por Roberto Benigni, quando é invadido em sua privacidade por ser judeu e é levado com seu pequeno filho a um campo de concentração pelos alemães. Embora vivendo situações das mais dramáticas, ele não perde o senso de humor e tenta, a todo momento, persuadir o filho que tudo não passa de um grande divertimento. Apenas um simples jogo para um grande prêmio em seu final. Guido, apenas um humilde cidadão italiano aparentemente ingênuo, possuía a pureza e a sabedoria de uma grande alma e assim criou a sua própria realidade, independente dos fatores externos. Mas, neste momento, podemos nos questionar e achar que tudo isso é muito bonito para ser verdade. Como a vida pode ser uma brincadeira quando existem tantas tragédias ocorrendo no mundo? Como entender infinitas injustiças, a violência, as guerras e tantas coisas horríveis acontecendo? Como posso criar a minha própria realidade? É verdade, parece um contra-senso. No entanto, segundo os grandes mestres, tudo isto que aparentemente parece ser negativo e paradoxal faz parte deste grande jogo. Iremos entender melhor esta condição quando aos poucos tivermos a percepção correta de como ver o mundo. Isto será explicado com mais
profundidade no próximo capítulo. Além disso, devemos também considerar que existem programações kármicas, isto é, quando decidimos passar nesta vida, por situações difíceis, seja por débitos de vidas passadas*; seja para acelerar a nossa própria evolução ou, simplesmente, para cumprir determinada missão em benefício da humanidade. Por não termos um quadro completo de nossa trajetória ao longo de nossas muitas encarnações, acreditamos nas aparentes injustiças. Entretanto, o nosso destino* não é implacável, ele pode ser alterado na medida em que gradativamente formos evoluindo durante a nossa presente existência, anulando, assim, situações que não precisamos mais enfrentar. É importante entender que o karma não é somente negativo, ele é também positivo e, desta forma, podemos também entender por que determinadas pessoas se mantêm serenas mesmo passando por grandes obstáculos em suas vidas:
— Colhemos o que semeamos – como tão sabiamente afirmou o mestre Sidarta Gautama (Buda). Infelizmente, a maioria das pessoas possui uma imagem totalmente distorcida da divindade. Para alguns, ela não existe; para outros, ela é vista como uma entidade muito séria e carrancuda sentada em seu trono de ouro e esperando sadicamente, o nosso próximo pecado para nos julgar e condenar. Entretanto, esta imagem é o reflexo negativo e distorcido de nós mesmos e que as instituições sociais e religiosas nos impuseram ao longo dos séculos. Talvez, isso explique porque muitas pessoas não se interessam pela espiritualidade e acabam estacionadas no ateísmo. Muitas vezes, esta posição é vista até como prova de coragem, pois a religiosidade é interpretada como fraqueza ou uma ingênua crença para suportar a difícil e estressante vida pela qual passamos. Para uma pessoa de visão materialista essa afirmação pode parecer dogmática. No entanto, se ela se der ao trabalho de pesquisar sobre o tema com seriedade e paciência, obterá provas convincentes da realidade espiritual. É preciso ter coragem, porque muitas vezes, a pessoa edificou toda a sua vida em bases materialistas e realmente mudar esta visão principalmente depois de uma certa idade, é muito difícil e doloroso, pois estes conceitos estarão um tanto enraizados, fazendo parte de sua estrutura de segurança interior. Terá que abandonar sua relativa segurança que lhe proporciona um breve conforto, para se defrontar com uma realidade totalmente contrária. No início isso pode ser um tanto perturbador, no entanto, é um trabalho que deverá ser feito mais cedo ou mais tarde; seja voluntariamente ou por sofrimento. Deve-se compreender que este sofrimento ou mal-estar interior da qual irá passar será um estímulo que só irá beneficiá-lo, pois alargará a sua visão de mundo. Assim, em vez de continuar olhando o mundo pelo buraco de uma fechadura, ele será levado a abrir gradativamente a porta de sua alma para se deslumbrar com o magnífico espetáculo do plano cósmico. Estará convicto da realidade de seu Ser imortal e da realidade da reencarnação. Entenderá que tudo segue um plano justo e perfeito e que, na verdade, nem poderia ser diferente, pois, do contrário, a vida não teria nenhum sentido.
Viver, sofrer, trabalhar, ganhar, perder, adoecer e depois morrer; nada faria sentido. E foi com essa percepção que o jesuíta francês Teilhard de Chardin, com muita ousadia, escreveu:
— Se não existisse um poder superior e a vida fosse apenas material, eu seria o primeiro a proclamar a greve da vida. Assim, neste enorme e complexo parque de diversões que é o mundo em que vivemos, temos que nos dar conta que a nossa visão física nos ilude e nos faz acreditar que este mundo é sólido e real. É como ver uma foto holográfica e achar que ela possui profundidade. Assim, de certa forma o mundo é real e ao mesmo tempo não é. É como quando um mágico faz desaparecer dentro de um caixote a sua bela assistente. Parece ser verdade, mas ao mesmo tempo não é. Podemos dizer: — Vejo um lindo vaso – como também podemos dizer: — Vejo argila em formato de vaso. Também quando sonhamos, a história do nosso sonho parece real, mas quando acordamos, nos damos conta que tudo não passou de nossa criação mental. Hoje, a própria física quântica* está cada vez mais se aproximando das grandes verdades espirituais. Como sabemos, as partículas subatômicas são luz aprisionada. A diferença que existe entre os átomos de uma mesa ou de uma árvore está na frequência vibratória de suas partículas. A luz como sabemos, é energia e a física quântica parece estar descobrindo que a vida é apenas um jogo de consciência. Como disse o físico Sr. James Jeans:
— O universo demonstra evidências de um poder planejador que tem algo em comum com nossas próprias mentes.
*Destino – No livro “Sonhando com o mundo”, ler o capítulo “Existe o livre arbítrio?” * Vidas passadas - Maiores detalhes sobre vidas passadas vide sugestões de livros ao final do livro. * Física Quântica - Nova física que reconhece que a consciência do observador está ligada aos fenômenos observados. Uma visão muito parecida com as do taoísmo e do budismo.
O MUNDO E COMO ELE PODE SER VISTO
Creio ser religioso por natureza porque o mundo e a vida me parecem envoltos em mistério. Somente a fé em alguma coisa, ou algo escondido dentro de você, algo do qual você pouco conhece que de repente se faz vivo e se põe a trabalhar em seu lugar. Este sentimento de fé creio que possa ser chamado de sentimento religioso. Federico Fellini
O mundo só pode ser visto de duas formas: o mundo visto pelo ego e o mundo visto pelo Ser. Adquirir esse conhecimento é de fundamental importância. Sentir e viver a nossa plenitude que já existe em nosso Ser dependerá da profunda compreensão destas duas formas de ver o mundo. E, quando utilizo a palavra mundo, devemos estar bem atentos para percebermos que na verdade o mundo é o nosso Ser. Não se pode separar o mundo do Ser, porque simplesmente o mundo é visto pela nossa consciência. Isto pode parecer a princípio uma simples escolha sem grandes consequências. Entretanto apenas um é verdadeiro. Podemos dizer que existe em nós de forma um tanto nebulosa, a lembrança de quem somos verdadeiramente. A memória de que somos o Ser, e isso nunca irá mudar. Podemos nos iludir temporariamente, e fazer uma escolha equivocada escolhendo o ego como nosso guia. Isto acontece na maioria das pessoas, porque a princípio ele é muito convincente e extremamente sedutor. Porém constatamos com o passar do tempo, que ele nos desvia do nosso destino, causando-nos muito sofrimento. A verdade é uma. Nós somos o Ser. Ele não possui opostos e jamais pode ser alterado ou ameaçado. A verdade do Ser vai apenas conduzi-lo de volta a consciência de sua divindade que você nunca deixou de ser, exceto em sonhos, devaneios ou pesadelos. Mas antes de abordar com mais profundidade estas questões, devemos compreender que somos totalmente responsáveis pela maneira como vemos e interpretamos o mundo. Nós temos o livre-arbítrio de escolher ser feliz ou infeliz, ter saúde ou ficar doente. São os nossos pensamentos que causam e criam a nossa realidade e somente eles podem nos alegrar ou nos ferir.
Ninguém pode nos causar infelicidade a não ser nós mesmos. Isso a princípio pode ser difícil de entender e o ego se recusará em aceitar essa afirmação de mão beijada, o que é muito natural, visto que ele possui o hábito de projetar fora de nós a causa do nosso mal-estar. O ego tem sempre essa tendência de não assumir a culpa e sempre encontrará um vilão externo bem justificável para responsabilizá-lo pelo nosso sofrimento. Mas, no decorrer deste livro, vamos entender melhor os meandros dos nossos pensamentos e constatar que em realidade somos nós que criamos a nossa própria situação, ou seja, nós criamos o nosso próprio mundo.
O MUNDO VISTO PELO EGO Em primeiro lugar, devo definir o significado da palavra ego. O ego aqui não possui o significado que a psicanálise e outras psicologias lhe conferem mas sim, como a projeção mental de um eu idealizado; é a nossa identidade distorcida; é o nosso inimigo disfarçado de amigo. No fundo ele não existe, mas são as nossas fraquezas que lhe dão vida e poder. Quando o mundo é visto pelo Ser, o ego simplesmente é destronado e passa a ser apenas um simples servidor. Isso a princípio pode parecer um pouco confuso de entender, mas se prestarmos bem atenção, veremos que, apesar do ego não existir, quando ele é criado pode nos dominar e tornar-se muito devastador. É muito natural diante deste aparente vilão, nos questionarmos da razão da sua existência? Afinal qual é a sua função, se no fundo ele não tem existência real? Esta é uma pergunta que poucas pessoas conseguem responder, e isso é muito natural porque o ego não possui o mínimo de interesse em querer saber. Agora preste atenção, para compreender com discernimento esta questão aparentemente contraditória! A partir do momento que estou desconectado do meu Ser, sinto como se eu não existisse. É como cair num abismo escuro e interminável. A sensação é muito angustiante e insuportável. Não nos damos conta disso, porque esquecemos de nossa essência divina, e esta amnésia espiritual é reforçada desde a infância quando construímos gradativamente um eu artificial. Assim, você se apoia num eu idealizado construído sobre uma base temporária, para tentar se sentir vivo e em segurança. Entretanto, esta segurança, como sabemos é efêmera e instável, pois tem como apoio o mundo externo; sua condição econômica, seu nível social e cultural, seu nome, seu porte físico, sua nacionalidade, sua profissão, sua esposa, seus filhos, sua família, seu partido político, etc. Agora, se você retirar todos esses elementos que fazem parte de sua personalidade e que até hoje acreditou que constituem o seu único eu, então surge um nada e, consequentemente, uma sensação de vazio apodera-se de você, causando-lhe inevitavelmente intensa angústia. Podemos dizer que o ego é como uma espécie de embarcação que temporariamente nos serve de apoio para não afundarmos. Assim, enquanto estivermos protegidos nesta provisória estabilidade, a sensação de fato é de um bemestar e relativo equilíbrio. Mas o ego muito esperto tenta a todo momento, convencer-nos que esta é a única maneira de viver, ou seja, viver exclusivamente dentro desta embarcação. O ego nos diz que temos que aproveitar os prazeres da vida antes que a morte ou a doença venha interferir. E tem mais, como grande parte da nossa sociedade vive dentro desta perspectiva, acabamos nos convencendo de que a vida é assim mesmo e que não existe outra forma de ver o mundo. Isso não quer dizer que não se deve trabalhar ou ter prosperidade e conforto, mas se você permanecer apenas com esta visão, estará desconectado e distante de sua verdadeira essência que é o seu eu verdadeiro. Naturalmente, o ego não vai se dar por vencido
e ele não vai querer saber de toda esta “conversa mole”. Tentará de todas as formas possíveis te persuadir com comprovados e racionais argumentos, que a vida é uma luta, que a vida é dos mais astutos, e que ela só existe enquanto estiver protegido dentro da embarcação que flutua sem rumo definido neste mar de lágrimas, e ainda repleto de ferozes tubarões famintos. Pudera! Com esta visão distorcida é até natural sentir a vida como uma grande tragédia e da qual a nossa derrota será apenas uma questão de tempo. Você tenta reagir não dando atenção ao ego, mas sem perceber surge novamente a sua voz, agora num tom mais brando como de um velho amigo que sussurra bem baixinho em teu ouvido e te dirá:“— Tem certeza disso? Você acredita em todas estas fantasias? Ora, não seja tão ingênuo. Como você pode acreditar em toda esta baboseira. Leia os jornais ou ligue a TV, e veja por si mesmo os crimes, a corrupção, os acidentes a miséria. Como você pode acreditar que a vida é bela?” O ego é extremamente astuto e possui um vasto arsenal de provas bastante convincentes para te convencer que ele está sempre com a razão. O que você prefere: ter razão ou ser feliz? Infelizmente, grande parte das pessoas preferem ter razão em troca da felicidade e assim passam a vida dentro desta condição de adormecimento, a não ser quando são sacudidas por obstáculos externos ou fatores internos. Essa é sem dúvida, a fase mais dolorosa das pessoas que vivem sob o domínio do ego, principalmente se forem desprovidas de autoconhecimento psicológico ou espiritual. Como os nossos sentidos estão mais voltados para o exterior do que para o interior, então o ego leva certa vantagem de imediato e tenta se aproveitar desta situação de vulnerabilidade para nos persuadir que o mundo é visto apenas pelos sentidos. Por isso, a necessidade de estarmos sempre vigilantes e atentos para não deixá-lo assumir a situação. É de fundamental importância entender que você não vê o mundo somente com os olhos físicos, você também o vê com a mente e seus sistemas de crenças. Entretanto, embora possamos compreender tudo isso intelectualmente, quando estamos de fato envolvidos pelo ego, a coisa muda de figura; sentimos um medo e um pânico se apoderando de nós e o sofrimento é muito difícil de ser evitado, pois a força das emoções nos ensina “a ferro e fogo” as fraquezas que devemos superar. Ficamos divididos entre dois mundos. É uma fase de grande conflito, pois o ego nos puxa para o mundo material, enquanto o Ser nos puxa para o mundo espiritual. É como inverter de repente, as regras do jogo. No mundo material temos “olho por olho, dente por dente”, a lei da sobrevivência, a lei do mais forte. Mas no mundo espiritual a ordem é invertida por “amar o próximo e perdoar os nossos inimigos”. É, sem dúvida, uma grande batalha interior, pois a tendência do ego como já vimos, é sempre voltada para satisfações pessoais e imediatas. Portanto, elevar-se para o mundo espiritual constitui o nosso maior desafio para atingir uma verdadeira transformação.
Vivemos constantemente na ilusão de que é sempre seguro estar no controle de nossa vida. Entretanto, será que esta preocupação faz algum sentido? Afinal, existe uma poderosa força que governa com perfeição este universo. Não precisamos dizer às plantas para crescerem e nem para a Terra continuar girando sobre si própria, ou ao nosso corpo para bombear o nosso coração. No fundo sabemos disso e, no entanto, temos um medo terrível de nos entregarmos e confiarmos neste poder. Viver desta forma é como viajar de trem e ao invés de relaxarmos e apreciarmos a paisagem ficamos de pé, preocupados, ansiosos e ainda segurando nas mãos as nossas bagagens. Provavelmente, grande parte dos problemas como ansiedade, depressão e outros transtornos psicológicos ocorre desta situação, que debilita consideravelmente a nossa energia vital. Eu mesmo passei por uma profunda depressão. Embora sempre tivesse uma imagem positiva de mim mesmo, jamais pensei que um dia teria que passar por isso. Achava até estranho, alguém estar em depressão, quando a vida é tão fantástica e maravilhosa. Só o fato de se sentir vivo mesmo sem nada possuir já é uma glória. No entanto, uma coisa é saber intelectualmente e outra coisa é viver e experimentar. Acho importante descrever essa síndrome através da minha própria experiência. Acredito que poderá servir de orientação para quem estiver passando por este estado, pois as suas consequências, se não tratadas de forma adequada podem ser terrivelmente dolorosas. Tudo começou a mudar pouco tempo depois de ter perdido, por questões políticas, a conta de uma grande empresa multinacional e que representava oitenta por cento do meu faturamento. Não era a primeira vez que me defrontava com uma crise profissional. No entanto, confesso que esta foi a mais forte de todas. Em consequência disto, tive uma longa e penosa bronquite e contínuas preocupações em relação a compromissos financeiros assumidos. Eu era perfeccionista e um tanto implacável comigo mesmo. Para complicar ainda mais a minha situação, o meu relacionamento afetivo começou a esmorecer e finalmente, depois de quinze anos de convivência, tomamos a decisão de nos separar. Embora o rompimento tenha ocorrido de forma educada e amigável, fiquei inconsolável e durante muito tempo nutri a esperança de uma possível reconciliação. Mas quando ela resolveu mudar de cidade, então tive que me conformar e aceitar a verdade de que o nosso destino estava nos guiando em direções opostas. Com todas estas adversidades e outras menores que foram se somando, fui invadido por um desânimo mortal e nada mais me atraia como antes. Tudo parecia descolorido, estranho, como se a vida não tivesse mais nenhum sentido. O mais estranho desta situação é que me sentia dividido. Havia como duas pessoas em mim: um era otimista e queria viver, enquanto o outro queria morrer. No entanto, apesar de intenso sofrimento, escolhi viver. Mas como poderia, simplesmente continuar vivendo dentro dessa intensa turbulência? Assim, forçado pela dor, começou todo um profundo e longo processo de reflexão onde pude aos poucos, entender a trama psicológica que desencadeou o meu quadro depressivo.
Com essa percepção, pude constatar a existência de duas emoções básicas em nossa vida e que representam a energia que nos coloca em movimento e acelera a nossa evolução em direção ao Ser: a primeira é o amor, que corresponde a nossa vida real como de fato ela é em sua essência; a segunda emoção é o medo, que embora positivo enquanto nos adverte de perigos concretos, passa a ser negativo quando é criado por pensamentos equivocados, fruto do ego com suas crenças, supertições, fantasias, e ficamos presos pelo seu poder.Temos até certo ponto um relativo livre-arbítrio. Podemos escolher um ou outro e isto dependerá de como interpretamos o nosso mundo. Para ficar mais claro, vou dar um exemplo: se enfrentamos uma adversidade, que nos tira do nosso conforto e segurança e somos dominados pelo medo, então ao invés de interpretarmos estas adversidades como um desafio para uma mudança positiva, as vemos como uma perda. Com essa visão distorcida, ficamos ressentidos, inconformados, revoltados e a vida perde todo o seu esplendor. Assim, criamos uma resistência por não aceitarmos pacificamente a situação. Sentimos como um buraco em nosso peito, ficamos desorientados e angustiados. Na verdade nós cavamos o nosso próprio buraco, entramos nele, ficamos paralisados pela incerteza quanto ao futuro e nos sentimos vítimas das circunstâncias. Se permanecermos muito tempo nesta condição, Somatizamos essas emoções pela interferência da mente sobre o corpo. O irônico da somatização é que acaba sustentando a condição de vítima, pela dor física que sentimos, e isto pode tornar-se um ciclo vicioso, nutrido cada vez mais por temores imaginários. É isto que chamamos de ansiedade crônica e que pode nos levar em direção a estados depressivos. Entretanto, se escolho o caminho do amor, que na verdade é a minha essência, então interpreto as adversidades não como perdas, mas como oportunidades de mudanças, aceitando com humildade as novas circunstâncias com amor, fé e confiança. Com esta descrição, podemos achar que tudo isto é simples e fácil de resolver. No entanto, mudar a nossa maneira de ver o mundo, que constitui a verdadeira cura, é a maior batalha que se pode travar e é por isto que a cura da depressão, muitas vezes, leva um bom tempo. Ela de fato pode prolongar-se até mesmo quando os nossos obstáculos deixam de existir. Por qualquer pequena ameaça o trauma é revivido e fazemos de uma simples pedra uma gigantesca montanha. O corpo, por uma reação instintiva de autodefesa, se põe em alerta, como se houvesse algo verdadeiramente ameaçador, embora inexistente. Nesse estado, constatamos que o nosso conhecimento intelectual não consegue dissolver os temores que ocupam a mente, e o corpo acaba comportando- se de forma quase independente da nossa vontade. É uma sensação muitíssimo assustadora e angustiante. É como estar dirigindo um automóvel desgovernado. O freio não funciona direito, você pisa no acelerador, mas a velocidade não aumenta e o limpador de para-brisa não consegue dar conta da tempestade; o vidro começa a ficar embaçado e você mal consegue enxergar o caminho. Uma reflexão atenta a essa descrição nos aconselha que o melhor remédio é aceitar pacificamente o sofrimento. Devemos procurar manter a calma e evitar lutar
contra ele, pois do contrário, este se fortalecerá. É um processo difícil de controlar, porque a nossa reação instintiva é sempre atacá-lo, considerando-o como o grande vilão do nosso infortúnio. Infelizmente, essa atitude só aumenta a nossa ansiedade, retardando sua cura, uma vez que a raiva, o medo e a resistência acabam sendo os seus nutrientes. Outro fato curioso que podemos notar também é que quando a mudança é voluntária, mesmo consciente de seus riscos, o nosso poder mental torce pelo sucesso e ele acaba, na maioria das vezes acontecendo. Mas quando ela ocorre involuntariamente, sofremos muito, porque não era aquilo que era esperado. Quando tudo isto acontece, devemos ter paciência e procurar fortalecer a nossa convicção que Deus está sempre do nosso lado e acreditar que as mudanças ocorrem sempre em nosso benefício, por mais difícil que seja a situação. Caso você não acredite em Deus, acredite na força da vida, é a mesma coisa. Deve ficar bem claro que essa atitude não deve ser de conformismo, mas sim de verdadeira aceitação. Embora possa haver também depressão de origem orgânica, seja por uma dieta inadequada, ou por uma disfunção hormonal, no fundo, sempre é um confronto com o Ser que somos e as ilusões do ego. Em sua essência, trata-se de uma crise para o nosso despertar espiritual. Se optamos por um tratamento através da medicina alopática ou em fazer terapias dentro das várias escolas psicanalíticas, seus resultados, além de prolongados, serão apenas para reintegrá-lo dentro do mundo visto pelo ego. De forma que poderá adquirir um relativo equilíbrio emocional e físico, mas não a cura pela raiz. É claro que, se a situação for extremamente dolorosa, será necessário sem dúvida o auxílio da medicação química para aliviar os sintomas do paciente. Felizmente hoje, despontam novas escolas de psicologia como a psicologia transpessoal e outros tratamentos holísticos como: a homeopatia, a acupuntura, o reiki e outros, que possuem uma visão mais ampla do ser humano, pois é levado em consideração o homem como um todo: mente-corpo-espírito e deste modo, a cura é mais completa. Sabemos hoje, graças à moderna física quântica, que o corpo físico é, na verdade, um extraordinário agregado de partículas e, em última análise, são constituídos de luz. Podemos presumir que os estados depressivos e suas Consequências somáticas ocorrem por desequilíbrios energéticos em decorrência de fortes impactos emocionais e que nos forçam através do sofrimento a urgente necessidade de uma transformação interior. Com certeza, nas próximas décadas, a medicina oficial, com todo o seu imenso avanço tecnológico, sofrerá uma grande transformação quando, então, reconhecendo a importância da mente e do espírito, se integrará com o que hoje chamamos de medicinas alternativas ou holísticas. E com isso, poderemos compreender melhor a sabedoria dos grandes mestres, quando enfatizavam, através de suas mensagens espirituais, a importância da disciplina moral. Estes ensinamentos não eram apenas para sermos recompensados no céu pelo nosso bom comportamento, mas eram verdadeiras e profundas receitas médicas para a nossa saúde integral.
O MUNDO VISTO PELO SER O mundo visto pelo Ser é o mundo real, pois o que não é real não existe a não ser em nossa imaginação. O que vem a ser o mundo real? O mundo real é o mundo onde impera o amor incondicional. O mundo real é a beleza, a confiança, a harmonia, o perdão, a aceitação, a compreensão, a tolerância, a serenidade, a felicidade. É o mundo que Deus criou. Nós somos na realidade seres de luz, sem limites, vivendo temporariamente como seres humanos. Deus, o Criador, o Absoluto, a Energia Suprema ou o nome que você queira dar – pois o nome não importa é a fonte de todo amor. Todo o universo é nutrido por essa poderosa energia.
Não existe absolutamente nada a não ser o amor. É interessante observar que o mundo visto pelo Ser não é um mundo sólido, visível e palpável. É simplesmente impossível tocar, olhar ou comprar o amor, a bondade, a compreensão, a felicidade ou a paz. Pelo contrário, é um mundo subjetivo que não pode ser medido ou pesado. Surpreendentemente as coisas que mais desejamos na vida não são de natureza material. Assim existem duas maneiras de ver o mundo. Pelos olhos do Ser ou pelo olhos do ego. Não podemos viver de duas maneiras ao mesmo tempo. Como posso por exemplo: amar incondicionalmente, e ao mesmo tempo sentir ódio ou resentimento? Como posso perdoar, mas desejar vingança? É impossível. Viver pelos olhos do Ser e ao mesmo tempo pelos olhos do ego é simplesmente inconciliável, ou como disse o mestre Jesus:
— Não podeis servir a dois senhores: ou odiará a um e amará ao outro ou se afeiçoará ao primeiro é desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus [o Ser] e ao dinheiro [o ego]. Isso a princípio, pode nos chocar, se não entendermos com mais profundidade esta questão, mas é o próprio mestre Jesus que consegue conciliar este enigma com suas sábias palavras:
- Daí a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus. Isto é, procure honestamente o seu sustento e conforto, mas sem esquecer do verdadeiro alimento da alma, “o amor”. Amar e ser amado é a energia indispensável para nutrir a nossa alma. Sem amor a vida perde totalmente seu colorido e significado. É o amor que une as pessoas, faz girar o mundo, sustenta todo o universo e elimina as nossas ilusões, como a neve quando derretida pelo calor do sol.
Mas quem vive quase o tempo todo dominado pelo ego, vive num mundo de sofrimento, pois constantemente está em guarda, ansioso e preocupado pelo dia de amanhã e, naturalmente, temeroso a cada instante. A sua conduta é geralmente agressiva, intolerante, egoísta e indiferente aos outros, a não ser que tenha algum interesse pessoal. Dependendo das circunstâncias, pode recorrer a violência física ou verbal. Todas as guerras e lutas, as separações, os ódios, os ressentimentos e os preconceitos surgem como manifestações do intenso medo que se apodera das pessoas que vivem sob o domínio do ego e que fazendo uso da violência descarregam a sua infelicidade nos outros. Além disso, o mais melancólico, nesta condição, é que ele nos distancia do nosso Ser. Pense nisso. Quantas pessoas você conhece que de fato se empenham ardentemente para não compactuar com seus egos? E no entanto, este é o nosso maior desafio e a verdadeira meta de nossa vida. Entretanto, apesar de tanta negatividade, a chama do amor ainda permanece acesa interiormente e conforme os ensinamentos da Cabala*, a sua luminosidade é como uma lâmpada coberta temporariamente por várias cortinas, impedindo assim o brilho de todo o seu esplendor. Então surge a seguinte pergunta: Como devo proceder quando me deparo com pessoas que vivem no ego e que podem me agredir? Existe uma passagem fantástica no livro Um Curso em Milagres, hoje um verdadeiro clássico da espiritualidade contemporânea, que diz:
Toda agressão no fundo é um pedido de amor. Esta afirmação contém uma profunda verdade. Você sabe por quê? É simples, porque só podemos conceber uma atitude de agressividade de alguém que não está “de bem” com ela mesma; se ela estivesse em harmonia, feliz, amorosa e “de bem” com a vida, como ela poderia ser agressiva? É simplesmente impossível. Temos que nos dar conta que é a nossa reação interior diante da agressão que é o nosso verdadeiro inimigo, e não a pessoa ou a circunstância que a provocou. Precisamos entender que, na verdade, a pessoa que nos faz vivenciar sentimentos ou emoções negativas é como um agente necessário que retira de dentro de nós as nossas fraquezas que, muitas vezes, não percebemos, mas temos de curar em nós. Isso também se aplica a determinadas situações na vida, quando enfrentamos dificuldades e sentimos medo, insegurança, apegos, etc., e que também nos mostram que estamos equivocados com nossos pensamentos e na nossa maneira de viver. Reflita nesta antiga verdade:
O medo bateu na porta. O amor foi atender e não havia ninguém. Então cabe a nós, com serenidade e controle emocional, não se envolver com o ego e compreender que nesse instante, aquela pessoa agressiva não está vendo o mundo com os olhos do Ser. Podemos até afirmar que embora esteja nos fazendo mal, dentro de uma visão espiritual está indiretamente nos fazendo bem, nos mostrando o que necessitamos ver. Deste modo, não se pode exigir dela o que ela ainda não conquistou. Seria como pedir dinheiro emprestado para um banco falido.
Por isso, devemos estar muito atentos nesse instante para percebermos que ele se encontra num mundo criado pelo seu eu artificial portanto, com pensamentos equivocados sobre si próprio. A luz do seu amor continua existindo, mas está coberta pelas cortinas de sua ignorância. Então quando vemos as pessoas dentro dessa perspectiva (e esta é a verdadeira e única perspectiva), sentimos compaixão e sua agressividade não nos atinge, pois compreendemos que ela não é verdadeira. Ela é apenas consequência do seu estado de turbulência mental e do desamparo que sente por estar distanciado do seu verdadeiro Ser. Isso também não quer dizer que quando somos agredidos moralmente ou fisicamente devemos ser passivos e deixar de nos defender. Não devemos permitir que sejamos um saco de pancadas em nome da compaixão e nem tentar nos comportar altruisticamente a exemplo dos grandes mestres quando na verdade, não alcançamos ainda este estágio elevado de desprendimento. Isso me lembra uma parábola que acho muito oportuna para explicar esta situação e de como podemos, com bom senso, dar a volta por cima, sem magoar ou ofender ninguém.
Uma serpente costumava picar as pessoas que dela se aproximavam. Um dia, um santo veio morar por perto. A cobra queria picá-lo, mas quando viu o santo não teve coragem de fazê-lo. O santo morou por lá um bom tempo e conseguiu convencê-la a desistir de picar os outros. Um ano depois, o santo voltou e quando se encontrou com a cobra, viu que estava em péssimas condições. — O que foi que lhe aconteceu? Perguntou o santo. E a serpente respondeu: — Segui o seu conselho e este é o resultado. Todas as pessoas da vizinhança puxam o meu rabo e me atiram pedras. O santo retrucou: — Minha querida cobra, eu lhe disse para não picar, mas não lhe disse para não silvar. E assim, seguindo as instruções do santo, quando alguém a ameaçava, ela levantava a cabeça e silvava e ninguém mais a importunou. Com esse entendimento, passamos a ver o nosso semelhante, que no fundo é nosso irmão, não com temor ou aflição, mas sim, como alguém que precisa de ajuda, que precisa de amor. Com essa atitude neutralizamos a sua agressividade e talvez por esta conduta, possa nascer condições para um diálogo amoroso, diminuindo ou quem sabe eliminando a sua negatividade. É lógico que existem situações que infelizmente nada se pode fazer. Agora pense bem: como seria se você também revidasse a afronta? Seria com certeza um rodízio interminável de violência e ficaria evidente que ambos estão dominados pelo ego. Mas mesmo assim surge outra importante pergunta, pois afinal o nosso propósito é entender com muita lucidez a complexa condição humana. A pergunta é: — E se no momento que estou sendo agredido e injustiçado, sentir vontade de
revidar e mostrar o quanto estou magoado e ferido, o que devo fazer? Reprimir a minha raiva ou soltar todos os palavrões que tenho vontade e direito de dizer? Quem por acaso, não se defrontou com uma situação dessa natureza? Agora preste atenção para esta resposta e não se surpreenda com ela: A resposta é: Parabéns! Você está passando por um teste. Considere sempre qualquer situação que esteja passando, como uma verdadeira bênção; um verdadeiro presente de Deus; a oportunidade de ouro para você perceber se vê o mundo através dos olhos do ego ou do Ser. Eu sei que não é fácil, porque podemos nos dar conta que não transcendemos os nossos medos e que ainda estamos inseguros de nós mesmos. Mas não podemos perder essas maravilhosas oportunidades que a vida nos apresenta, pois serão elas que irão nos amadurecer e nos demonstrar de forma vivencial a maneira com que vemos o mundo e como podemos mudá-lo. Mas mesmo assim surge ainda mais uma importante questão que com certeza você iria perguntar: — E se eu reprimir a raiva procurando agir com os olhos do Ser, mas por dentro continuo sofrendo, isso não seria falso? Não seria interpretar um papel? – Sim, com certeza seria falso. Isso demonstraria que, embora você tenha adquirido uma compreensão intelectual da verdade, ela ainda não está totalmente enraizada em seu coração. Ela não se incorporou plenamente em seu Ser. Neste momento, você deve estar absolutamente consciente dos seus sentimentos e perceber com humildade e profunda compreensão que ainda existem resquícios do ego. Infelizmente quando passamos por estes testes, perdemos o nosso equilíbrio e nos vemos dominados por emoções negativas. Consequentemente, sofremos e encaramos a situação como uma derrota. Mas lembre-se, não existem derrotas, porque no fundo derrotas são vitórias disfarçadas que sempre nos ensinam uma verdade; elas deveriam ser vistas como grandes oportunidades para começarmos de novo, agora com mais sabedoria. Entender isso já é meio caminho andado, porque serve de indicador para confirmar em que nível de compreensão nos encontramos e se de fato estamos no caminho do nosso verdadeiro objetivo. Neste momento, devemos nos sentir contentes e animados por esta extraordinária experiência em que estamos passando. Embora haja dor nesse processo, devemos considerá-la como uma verdadeira cirurgia espiritual; uma purificação da nossa alma, porque quando por fim, alcançarmos o estado do Ser, seremos autênticos com os nossos sentimentos e teremos transcendido as nossas fraquezas. Não se trata de reprimir a raiva. Ela simplesmente deixará de existir. Com o mundo visto pelos olhos do Ser, sentiremos de fato amor e compaixão, porque saberemos com total clareza o que de fato está acontecendo com o nosso semelhante. Haverá uma compreensão exata do seu verdadeiro estado, tal qual um médico quando examina atentamente e determina com precisão o diagnóstico de um paciente. Sabemos que o médico tem por objetivo descobrir o mal e prescrever os remédios mais adequados para a cura, da mesma maneira, somos todos pacientes e médicos uns dos outros e nosso propósito sagrado é curarmos uns aos outros.
Assim, se você encontrar um estranho e for vê-lo através do seu ego, então não poderá vê-lo como um Ser divino que ele de fato é. O nosso próximo é como um espelho do nosso estado de consciência. Assim, ao ver o nosso semelhante como um estranho, você estará olhando para um estranho dentro de você, mas se vê-lo como um Ser divino, estará também olhando o Deus que habita em você.
— Não julgueis, para não serdes julgados; da mesma maneira com que julgardes sereis julgados. Assim ensinou Jesus há mais de 2000 anos. Esta maneira de ver o mundo não é nova; é apenas uma interpretação mais adequada ao nosso tempo. Além do mais, a verdade é uma só, não existem duas, mas infinitas maneiras de dizer a mesma verdade. Ninguém a revela pela primeira vez, todos a redescobrem, só muda a sua forma de apresentação. Assim, para poder entender ainda melhor tudo o que foi dito, podemos fazer uma rápida viagem pelo tempo para constatar a mesma verdade divulgada por diferentes mestres. Podemos começar a nossa viagem pelo budismo. No budismo, por exemplo, vamos encontrar as quatro nobres verdades que constituem a essência de seus ensinamentos, que são: 1 – A verdade da existência do sofrimento (quando se vive grande parte do tempo no ego). 2 – A verdade da origem do sofrimento (apego, cobiça, inveja, ódio, medo, etc.). 3 – A verdade da cessação do sofrimento (o despertar do Ser). 4 – O caminho que conduz a extinção do sofrimento (o desapego, a meditação, o amor incondicional, a compaixão, etc.). No cristianismo, vamos encontrar um diálogo entre o demônio e Jesus. Diz o demônio:
— Eu te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque todos eles me foram entregues e os dou a quem quero; se tu, prostrado me adorares, tudo isso será teu (naturalmente a voz do ego). Então Jesus lhe responde:
— Retira-te, Satanás, porque está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus e só a ele prestarás culto. (Jesus vivia no mundo do Ser e naturalmente não se deixaria enganar pelo falso eu).
Na Cabala, que são os ensinamentos esotéricos do judaísmo, a mesma verdade é revelada. De acordo com seus ensinamentos, há de fato uma cortina que divide a nossa realidade em dois âmbitos. O âmbito do um por cento, que contém o nosso mundo físico – o mundo do ego – e o âmbito dos 99 por cento, que contém a maior parte da realidade – a realidade do Ser. E mais, a Cabala enfatiza que o verdadeiro sentido da vida é a transformação do desejo de receber somente para si mesmo (ego) num desejo de receber para compartilhar o amor (o Ser) com o nosso próximo. Vamos encontrar também nos ensinamentos do livro “Um Curso em Milagres”, a mesma maneira de interpretar o mundo. O curso nos diz que a cada momento optamos entre ouvir a voz do ego ou a voz do Espírito Santo (a voz do Ser). O ego nos diz que estamos separados e desamparados, que o mundo é real, que o corpo é a nossa morada e que temos de nos defender e atacar para satisfazer as nossas necessidades. O Espírito Santo (o Ser) nos avisa que este mundo não é real, que a nossa morada é no céu (Deus que habita em nós) e que o mundo não passa de uma sala de aulas, onde podemos aprender a perdoar e a despertar de nossos pesadelos. E assim, podemos constatar como cada mestre de acordo com o nível cultural e social do seu tempo proclama a verdade, que sempre é a mesma, mas dita de diversas maneiras. E qual é afinal esta única verdade que todos os mestres batem sempre na mesma tecla? Qual seria, em essência, a mensagem mais importante? Bem, acho que depois de tudo que foi exposto fica, cada vez mais claro e evidente que todos se referem a duas maneiras de ver o mundo: O mundo como ele é visto pelo Ser e o mundo como o imaginamos visto pelo ego. Creio que a representação mais brilhante desta condição seja a parábola do filho pródigo, do mestre Jesus. Pessoalmente a considero a mais sublime e tocante história, e que nos convida a uma reflexão mais apurada, por ser de todas as parábolas a mais ricamente detalhada.
A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO Um homem tinha dois filhos. Disse o mais moço a seu pai: — Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence – e o pai repartiu os seus bens entre ambos.
Poucos dias depois o filho mais novo partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou os seus bens vivendo dissolutamente. Tendo gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome e ele começou a padecer necessidades. Pôs-se então a serviço de um dos habitantes daquele país que o enviou para os seus campos para tomar conta de sua criação de porcos. Bem que ele desejava comer as vagens que os porcos comiam; mas nem isso lhe davam. Mas um dia caindo em si disse: — Quantos empregados do meu pai comem pão a vontade e eu aqui morrendo de fome! Vou partir e me encontrar com meu pai e lhe dizer: “— Pai, pequei contra o céu e perante a ti, já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados”. e partiu de volta para o pai.
Estava ainda longe, quando o pai o percebeu e tomado de íntima compaixão correu-lhe ao seu encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos. Disse-lhe então o filho:
— Pai, pequei contra o céu e contra ti. Já não mereço ser chamado de teu filho! – mas o pai ordenou a seus servos: — Trazei depressa a melhor roupa e revesti-o, pondolhe um anel no dedo e sandálias nos pés, trazei também o novilho gordo, matai-o, comamos e façamos uma festa porque meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado. – e começaram a alegrar-se.
O filho mais velho estava no campo. Quando ao voltar se aproximou perto da casa, ouviu a música e a dança, chamou um dos criados e perguntou-lhe o que significava tudo aquilo. Este lhe respondeu: — É teu irmão, está de volta e teu pai matou o novilho gordo porque o recuperou com saúde.
Então, ele se encolerizou e não quis entrar. Saiu então seu pai para falar com ele, mas ele indignado lhe disse: — Pai há tantos anos que te sirvo, sem transgredir jamais uma só de tuas ordens e nunca me deste um cabrito para fazer festa com meus amigos, e apenas volta este meu irmão que esbanjou teus bens com meretrizes e mandas matar para ele o novilho gordo! – mas o pai lhe replicou: — Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu também. Mas é justo que nos rejubilemos e nos alegremos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, tinha se perdido e agora achou-se.
A parábola do filho pródigo representa o roteiro que o homem deve trilhar para alcançar o Ser. Ela nos mostra de forma sublime todo o percurso a ser percorrido, ou seja; a separação do Ser, quando o filho se afasta de seu pai (Deus); a vida infeliz, enquanto dominado pelo ego; e finalmente o despertar e seu retorno. Considero a parábola do filho pródigo um dos principais ensinamentos de Jesus. Por esta razão ela merece aqui, uma interpretação mais profunda por nos revelar a verdadeira condição humana. Devemos começar aqui definindo o significado da palavra “Pródigo” que Significa “Esbanjador”. Uma pessoa pródiga transmite a ideia de um gastador. Um Irresponsável com seu dinheiro, a ponto de muitas vezes é tido como generoso, mas imprudente com seus gastos. A parábola descreve que no início o filho convivia em plenitude com seu pai. Mas um dia resolve viver por conta própria e parte em direção a outras terras, provido de parte de sua herança que lhe pertencia. A partir do seu afastamento passa por situações de extrema penúria e sofrimento. Perde todos os seus bens, até que num dia de extrema penúria ele tem um despertar. A partir deste momento, ele concentra todas as suas forças, determinado em voltar para a casa do PAI. Porém agora consciente de sua verdadeira identidade, que aparentemente parecia ter perdido. Finalmente ele alcança seu objetivo e é recebido para sua surpresa com as honras de um verdadeiro príncipe. Na verdade a parábola não aborda apenas a celebração que o filho pródigo recebe por parte do seu amado e misericordioso pai, mas ela também revela o ressentimento e o descontentamento do irmão mais velho. “Como o pai pode perdoar e recompensar seu ingrato filho
oferecendo-lhe os mesmos benefícios do irmão que sempre permaneceu ao seu lado? Ele deveria ser punido por sua irresponsabilidade”. Aqui temos que entender que o irmão mais velho representa simbolicamente a reprovação tanto dos líderes religiosos que condenavam os ensinamentos de Jesus, como também por parte de muitas pessoas daquela época supostamente respeitáveis do ponto de vista social, mas que no fundo eram hipócritas pois aparentavam uma superficial religiosidade apenas por seguir formalmente os rituais bíblicos. Não passavam de lobos revestidos de peles de cordeiro. O que torna a parábola comovente, é a demonstração do sublime amor do pai quando o filho retorna em seus braços. Quem não iria se emocionar com um amor tão puro da forma como seu pai o recebeu? A partir do momento do encontro podemos ver que o pai não pensou duas vezes, ordenou imediatamente a seus servos para trazerem rapidamente a melhor roupa, sandálias nos pés, um anel no dedo e também o novilho mais gordo para uma grande festa. Foi com imenso júbilo que o pai exclamou: ---Meu filho estava morto e voltou a vida, estava perdido e foi encontrado. Podemos afirmar que a mensagem principal que constitui a essência da parábola, é demonstrar que quando de fato surge a consciência de ter nos desviado da fonte, reconhecendo os pecados cometidos (erros), e reconhecendo termos trilhado o caminho oposto (ignorância), não me é imposto nenhum tipo de punição. Muito pelo contrário, quando me volto para o caminho do ser (Deus) o perdão é instantâneo. É como se fosse um renascimento. Estava adormecido e despertei dos
sonhos da ilusão, e esta transformação merece uma celebração. Da mesma forma que o pai recebeu seu filho com imensa alegria, a perfeita graça divina também nos receberá de braços abertos quando voltamos para a fonte. O amor de Deus é puro, incondicional e atemporal. Um dos paradoxos quando tentamos entender com mais profundidade a parábola “Do Filho Pródigo”é que Jamais saímos ou nos distanciamos do pai. Estamos apenas sonhando com o nosso imaginário exílio. Você nunca pode estar realmente perdido. O que temporariamente está perdido é a sua maneira de pensar sobre você mesmo, acreditando em sua falsa identidade. Apenas uma amnésia espiritual. Segundo “Um Curso em Milagres”:
A nossa conexão com Deus é sempre presente. Percorrer este caminho em direção ao Ser não é fácil nem tampouco confortável; é uma grande e surpreendente aventura. Vamos encontrar abismos, monstros, cobras, armadilhas, príncipes e donzelas, algumas flores no caminho, mas também muitos espinhos. Enfim, uma série de obstáculos que devem ser vencidos. Deve ficar claro que estes obstáculos são as nossas fraquezas: o orgulho, a vaidade, a arrogância, o ódio, o ciúmes, o medo, a inveja e muitas outras sombras que nos fazem sofrer terrivelmente. Estas sombras são os nossos inimigos íntimos que devemos enfrentar com força e coragem para eliminá-los do nosso caminho e sairmos vitoriosos deste sagrado combate. É um trabalho que exige muita percepção, energia e coragem para que gradativamente os resquícios do ego possam ser eliminados e possamos viver realmente no Ser, que é a nossa verdadeira morada. Entretanto, mesmo reconhecendo no ego o grande vilão ou um perigoso adversário, ele é surpreendentemente importante e fundamental para o nosso crescimento como já comentamos no início deste capítulo. Podemos ficar perplexos diante deste paradoxo, talvez o paradoxo dos paradoxos, e podemos nos questionar: – Como agora ele adquire esta importância, quando até então vínhamos “malhando” o ego de todas as formas? Mas a verdade é que sem a interferência do ego não haveria motivação para nos transformarmos e alcançarmos o Ser. Pense nisso. Se você estivesse vivendo no Ser, é claro que o ego deixaria de existir; estaria vivendo na plenitude da sua verdadeira natureza. Podemos viver quase a vida toda sob a influência do ego, mas quando começamos a sentir que este falso eu é um astuto impostor e que nos afasta de nossa verdadeira essência, então reconhecemos que temos que nos livrar de sua influência. Sentimos em nosso íntimo que ele nos torna cativos deste mundo material. Este é o início do nosso despertar, mas também o início de uma heroica batalha interior. Temos que transformar o nosso medo em amor, a nossa
impaciência em paciência, o nosso ódio em perdão, a nossa raiva em compaixão, o nosso orgulho em humildade e assim por diante. Assim, de forma paradoxal, no esforço que fazemos para nos livrarmos de sua ação negativa, o ego age, ao mesmo tempo, como o fertilizante indispensável para fazer desabrochar a nossa semente divina rumo ao céu.Portanto a presença do ego em nossas vidas, possui fundamental importância, enquanto não estivermos ancorados em terra firme. Como já expliquei, ele representa simbolicamente a nossa embarcação. Se soubermos navegá-lo com prudência e sabedoria, com certeza irá nos impulsionar em direção ao porto seguro.
Reconhecer que nada pode nos prejudicar ou destruir, nos torna soberanos e conscientes do nosso poder divino. Assim, não podemos nos livrar do ego de uma hora para outra. Tudo tem que ser gradativo e natural. Devemos subir degrau por degrau. É ele que irá nos impulsionar e nos conduzir na direção de nossa plenitude. Por isso a grande importância de fortificarmos a nossa mente, nutrindo-a com pensamentos positivos, para fazer imperar, tão somente, os atributos eternos de nossa essência.Então, quando adquirimos a absoluta convicção da verdade do Ser, as dúvidas desaparecem e o temor se desfaz.
PRINCIPAIS ATRIBUTOS INATOS E ETERNOS DO SER E SUAS SOMBRAS
* Cabala - Segundo o Rabino Michael Berg, a Cabala é a antiga sabedoria dada pelo criador para toda a humanidade para produzir plenitude e para eliminar a dor e o sofrimento.
REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO
A IMPORTÂNCIA DOS OBSTÁCULOS Nesta curta passagem que fazemos na pequena estação (escola) chamada Terra, passamos por diversos obstáculos, começando pelo nosso próprio nascimento, quando saímos do nosso conforto e segurança, para este contrastante mundo de sons, luzes, sonhos, prazeres e dores. Da infância à velhice, enfrentamos inúmeras dificuldades, algumas simples e fáceis e outras terrivelmente difíceis, e nos questionamos: — Por que devemos passar por todo esse sofrimento? — Por que muitas vezes é tão difícil montar as peças do nosso quebra-cabeça? Mas para responder essa questão, uma outra pergunta se faz necessária: — Quem cria esses problemas? Na paz do nosso Ser não existe problemas. Só o ego tem problemas e, como já vimos, ele é ao mesmo tempo o nosso adversário e o nosso estimulador. Os obstáculos e desafios da vida possuem unicamente o propósito de nos despertar do nosso adormecimento e, através da dor, nos motivar a encontrar outras soluções que nos ajudarão a nos desvencilhar do falso eu e começar a voar em direção ao nosso Ser. O nosso verdadeiro propósito é mudar, evoluir, crescer, nos transformar. Sem esses desafios ficaríamos paralisados e estacionados em nossos antigos conceitos. É uma luta pessoal, que ocorre com todos os tipos de pessoas – rica ou pobre, bem ou mal sucedida, jovem ou velho. Desta luta ninguém escapa e é por isso que estamos aqui. Muitas vezes imaginamos que os obstáculos são erros que Deus esqueceu de corrigir. Muito pelo contrário, os obstáculos que enfrentamos fazem parte de uma intenção positiva e transformadora. São, na verdade, chacoalhadas, algumas mais fracas, outras mais fortes, para nos darmos conta que a vida é ação e transformação e que não devemos investir a nossa existência unicamente no mundo exterior. Existe um outro que vale a pena conhecer: o mundo do Ser. Nele se encontram o verdadeiro amor e a definitiva segurança. A semelhança da ostra, que através do atrito de um grão de areia em seu interior o transforma em uma pérola, a alma quando supera os obstáculos e dificuldades o transforma em uma joia de sabedoria. É por isso que vamos encontrar nos ensinamentos da Cabala a ênfase em fugir do nosso conforto e abraçar os obstáculos em vez de evitá-los, por mais difícil que eles possam ser, pois são as verdadeiras oportunidades para o nosso desenvolvimento espiritual e que vão nos
aproximar cada vez mais da nossa essência divina. Quando perguntaram para Michelangelo, o grande artista da Renascença, como conseguia criar fantásticas esculturas, ele dizia que simplesmente imaginava a estátua já existente dentro do mármore bruto. O desafio era retirar o excesso para revelar o que sempre esteve presente. Todos trazemos dentro de nós a beleza eterna de nossa perfeição; basta apenas retirarmos o excesso das nossas ilusões. Esta é sem dúvida uma tarefa difícil, pois nos tira do nosso comodismo e nos desafia para uma compulsória transformação. Temos de reconhecer que estes desconfortos criados pelas adversidades são sinais importantes que nos mostram que muitos pontos fracos foram tocados e que devemos tentar eliminá-los para nos aproximarmos do nosso Ser. Para entendermos melhor a importância dos obstáculos em nossa vida, existe uma fascinante história que ocorreu com o famoso mestre Gurdjieff e a considero muito oportuna para compreendermos com maior lucidez a importância desta questão. Gurdjieff foi um mestre totalmente inovador e tudo que fazia era imprevisível. Ele criava determinadas situações um tanto intrigantes para sacudir os seus alunos, no propósito de “despertá-los”.De acordo com a visão de Gurdjieff o homem vive, quase o tempo todo, em estado de adormecimento e não se dá conta de sua situação. Ser aluno de Gurdjieff não era nada confortável, pois era um mestre implacável e exigia muita disciplina. Havia entre seus alunos um que era um verdadeiro tormento; era revoltado, “pegava no pé” de todos, era agressivo, malhumorado, enfim, um verdadeiro capeta. Ninguém conseguia suportá-lo; até o dia em que ele próprio resolveu desistir e sair da escola para seu alívio e de todos. Entretanto, quando Gurdjieff soube disso alguns dias depois, viajou imediatamente até a cidade onde morava o tal “do capeta” e pediu-lhe encarecidamente que voltasse e para que não recusasse, ao invés de pagar o preço de praxe cobrado dos seus alunos, que diga-se de passagem não era nada barato, Gurdjieff lhe pagaria idêntico valor com a condição de retornar naquele mesmo dia. E, assim, para desespero de todos, o “capeta” voltou para a escola. Quando os alunos souberam dessa história ficaram chocados, inconformados e foram pedir explicações ao mestre. Gurdjieff, muito calmamente, olhou para todos e, bebendo o seu tradicional café turco, explicou-lhes:
— Vocês não percebem como ele é importante para vocês! Ele é como o fermento para o pão. Ele é como a lixa que apara as arestas. Não julguem-no como um desmancha prazeres, mas como um mestre que, sem se dar conta, lhes instigam a perceberem as nossas imperfeições. E sob o olhar atônito de seus alunos, ainda acrescentou:
— Eu faria tudo para trazê-lo de volta e fiquem contentes porque ele concordou em voltar. Lembro-me também de uma outra frase que Gurdjieff costumava dizer e eu, particularmente, a considero de uma profundidade extraordinária.
— Tudo o que guardei perdi, e tudo o que dei é meu. Só temos o que compartilhamos, pois o amor não é como um brilhante para ser guardado. O brilho do nosso amor deve ser compartilhado e essa luz é mais radiante do que todas as estrelas do céu. Sua energia amorosa se expande e você reconhece que, na verdade, somos todos um.
Quanto mais você compartilhar, mais você tem. No livro Terra dos Homens, o escritor Antoine de Saint – Exupéry nos conta uma história comovente de um piloto, cujo avião forçosamente teve que aterrissar nos Andes. Durante vários dias caminhou esperançoso, suportando um frio de congelar. Entretanto, teve uma hora em que esgotado caiu desfalecido, e ficou horas estendido na neve. Quando despertou sentiu que não tinha mais forças para se levantar. Em sua mente se despediu de sua mulher e de seus filhos, mas de repente, se deu conta que se ninguém encontrasse seu corpo, sua mulher teria que esperar muitos anos para receber o seguro de vida. Movido pelo amor, teve forças para se levantar e caminhar novamente até chegar a uma aldeia. Este exemplo emocionante demonstrou que a sua sobrevivência não era razão suficiente. Foi seu amor pela família que lhe deu forças e motivação para prosseguir. Aproveitando ainda esse gancho, não poderia deixar de contar outra interessante história, que não deixa dúvidas quanto a importância das dificuldades e obstáculos. Dom Juan, um índio mexicano que se tornou, depois, muito famoso através dos livros de Carlos Castaneda, contou que quando jovem, trabalhou numa fazenda e era constantemente judiado pelo capataz de todas as formas possíveis; até que um dia, não suportando mais tanta violência e sofrimentos resolveu fugir, mesmo sabendo que a fuga seria morte certa. Mas conseguiu sobreviver por ter se refugiado na casa de um casal de xamãs; depois sendo iniciado por eles. Após muitos anos, quando Dom Juan atingiu o estado do Ser, reconheceu o grande valor que este sofrimento teve em sua evolução. E num dos diálogos que Carlos Castaneda descreve em um de seus livros, Dom Juan afirmou a importância de se ter na vida um tirano. Alguém que coloque o dedo em suas feridas, em suas fraquezas e, para o espanto de Castaneda, ainda acrescentou:
— Caso você não tenha esta sorte que eu tive de encontrar um tirano; e olha que o meu era dos bons, então, contrate um e pague por ele se for necessário. Isso na verdade não será necessário, porque em nossa trajetória sempre iremos um dia encontrar algum tirano ou enfrentar uma situação desafiadora. Isto nos faz entender como muitas vezes os nossos inimigos são os nossos verdadeiros mestres disfarçados. Naturalmente, a intenção de Dom Juan era para enfatizar a grande importância dos relacionamentos; para superarmos as adversidades e obstáculos da vida. Através
dos relacionamentos, isso se torna possível e mais fácil, pois o nosso próximo se transforma no espelho pelo qual podemos enxergar os nossos defeitos ou nossas virtudes. Entretanto, não é necessário chegarmos a este extremo e contratar um tirano profissional. Nosso próprio destino já possui em sua programação, todas as situações necessárias para despertarmos. O que deve ser feito é nos esforçarmos para superar as nossas fraquezas criadas pelo ego e reconhecer o que realmente somos:
“Simplesmente o amor.”
O verdadeiro propósito do sofrimento é só nos ensinar a parar de sofrer. Devemos apenas reconhecer nossos erros. Não precisamos chupar um limão para saber que o gosto doce de um chocolate é mais gostoso. Mas infelizmente por ignorância e vaidade, temos que experimentar muitas vezes o gosto azedo do limão. Devemos ter força e coragem. Jamais desistir ou desanimar. Talvez dez marteladas não consigam quebrar um bloco de cimento, porém a décima primeira poderá quebrá-lo. Isto com certeza, significa que as dez marteladas iniciais não foram em vão. Cada uma delas contribuiu para o objetivo almejado. Acredito que os exemplos citados já são mais que suficientes para compreender a importância dos obstáculos em nossa vida. Este subcapítulo está chegando ao fim, mas não posso terminar sem lhe dar um toque de bom humor através de uma pequena história bastante pitoresca e divertida que ocorreu com o filósofo Sócrates, considerado o mais sábio dos sábios da antiga Grécia. Dizem que é verdadeira, mas isto não importa. Seja como for, ela demonstra como ele era uma pessoa desprendida, sempre de bem com a vida e sobretudo, em como aceitava positivamente os obstáculos para mantê-lo sempre desperto e em equilíbrio. Conta-se que um amigo lhe disse:
— Você que é um homem tão sábio e culto, por que continua a viver com sua mulher que constantemente inferniza sua vida? — Você está equivocado. Respondeu Sócrates; ela é a minha maior mestra. Preciso tê-la sempre ao meu lado para me manter com os pés na Terra. O amigo replicou: — Mas, Sócrates, como você consegue suportar viver com ela? Neste exato momento, a esposa apareceu esbravejando e gritou com ele por não ter lavado os pratos. Sócrates apenas ficou ouvindo serenamente. Mas de raiva, a mulher despejou-lhe um balde de água. Sócrates todo encharcado olhou para o amigo e, sorrindo, disse: — Que criatura surpreendente! Você não percebe? Ela desafia as leis da natureza. Troveja e faz chover ao mesmo tempo!
O MUNDO Até agora estivemos analisando o nosso comportamento e as nossas reações a respeito dos nossos relacionamentos mais próximos e como o ego interfere tanto negativamente como positivamente em nossas vidas. Mas sentimos que existe um impasse que quase sempre nos coloca em conflito; trata-se das interferências negativas da sociedade que nos incomodam, uma vez que nos tornam impotentes em alterar seu curso. Vemos constantemente no dia-a-dia as injustiças, a corrupção, a miséria e as guerras que assolam o mundo e nos questionamos de que forma podemos interferir e acabar com esta nefasta situação. Como permanecer feliz, vendo o mundo nesta condição? Podemos ser indiferentes e tranquilos? Ou sair em socorro de todos os que sofrem neste mundo? Segundo os grandes mestres, todas estas situações de infelicidade e sofrimento que vemos estão na nossa mente. É apenas uma projeção mental. Pode até parecer uma atitude de comodismo ou de indiferença, no entanto, a melhor coisa que você pode fazer para ajudar a melhorar o mundo é alcançar o estado do Ser. Não existe missão mais sublime. Como disse um grande santo:
— Encontre a sua paz interior e uma multidão será salva ao seu lado. Vamos encontrar também através das palavras do padre Jean - Yves Leloup uma sábia confirmação desta verdade quando, com magistral lucidez espiritual, escreveu:
— Se acreditarmos nas leis físicas da interconexão de todas as coisas – “impossível levantar uma palha sem perturbar uma estrela”. Um ser de paz comunica sua calma e sua serenidade ao mundo inteiro. Quando você se conecta com sua verdadeira essência, o mundo e todos os seus sofrimentos não o afetarão mais. Através da nossa identificação com o nosso corpo, com os nossos bens, com os nossos desejos e pensamentos somos iludidos e acreditamos na imperfeição do mundo. E o mais surpreendente é que acontece o mesmo se você atingir o Ser. Verá que não existe nada além do Ser e que o mundo é perfeito. Segundo o mestre Ramana Maharshi: — A conscientização do Ser provoca a sua própria reforma e, em consequência,
a reforma social cuidará dela mesma. Compreender isso, a princípio, pode ser difícil, porque acreditamos que devemos sempre fazer alguma coisa para melhorar o mundo e também porque como não atingimos o estado do Ser, acreditamos nas sombras que assolam o mundo. Se as pessoas vivem no ego, evidentemente que um mundo conturbado e violento será a manifestação concreta deste estado mental. Se eu tiver que consertar o mundo de acordo com a minha interpretação, seja ela espiritualista, materialista,
budista, capitalista, socialista, etc., então, na verdade o que estarei fazendo é forçando as pessoas a pensarem e viverem de acordo com a minha crença, de acordo com os meus pensamentos. Estarei impondo aos outros o que considero ideal para mim. Mas até que ponto as pessoas estão preparadas para mudar? O que é bom para mim pode não ser bom para meu próximo. O que é importante para mim pode não ter nenhuma importância para o outro. Assim, vamos encontrar ao longo da história, personagens como Alexandre, Napoleão, Stalin, Hitler, Mussolini, ou as fanáticas seitas religiosas e tantas outras ideologias que impuseram pela força física e psicológica, regras e leis que infringiram a liberdade e o livre arbítrio do ser humano. Mas o próprio tempo demonstrou que mudar apenas as instituições sociais, sem mudar o nosso interior é como andar dando voltas para chegar sempre no mesmo lugar. Só que, hoje, num mundo globalizado, informatizado e com uma tecnologia avançada, a força física transformou-se em bombas atômicas e a força psicológica em manipulação econômica. Isso tudo pode nos assustar e nos fazer acreditar na ilusão do mundo como real, convincente e muito ameaçador. De fato, todas as evidências indicam que a humanidade está passando por um período extremamente crítico. Ouvimos profetas, videntes e visionários clamando aos quatro ventos o apocalipse ou o fim dos tempos. Começamos a sentir o surgimento de uma nova consciência planetária, e concordo com essas previsões, não como uma punição pela ira de um Deus rancoroso, mas sim como a destruição das nossas ilusões. O verdadeiro apocalipse é a grande transformação interior; quando nos libertamos dos nossos limites e nos unirmos com a grandeza do nosso Ser. E isto só pode ocorrer quando cada um de nós tiver a coragem de enfrentar as suas verdadeiras fraquezas, que tentam a todo momento impedir e retardar o nosso despertar. O fim do mundo, portanto, nada mais é que o fim do nosso sofrimento, da nossa angústia e dos nossos temores. Essa transformação é estritamente pessoal e somente pode ser realizada quando a alma está preparada e amadurecida para enfrentar esta verdadeira e única destruição: a destruição do nosso falso eu. Sabemos que toda turbulência exterior é sempre a exteriorização da nossa turbulência interior. A vida é apenas um jogo e a matéria é energia em constante mutação. Sinto que existe um anseio por uma grande transformação e talvez, estejamos agora na transição entre a juventude inquieta, com todos os seus perigos e maravilhosas promessas, e uma nova fase adulta que está emergindo e que irá exigir maior responsabilidade e muito maior solidariedade e integração. Sou bastante otimista em relação ao futuro e antevejo uma globalização cada vez maior. Tudo indica que estamos gradativamente caminhando em direção a uma união entre a ciência e a espiritualidade, e cada vez mais para uma maior conscientização da nossa divindade. Podemos perceber que a própria condição planetária já está exigindo isso de todos nós. Outra grande ilusão que ocorre com grande frequência é quando me identifico com este mundo e teimo em querer consertá-lo, julgando e condenando as pessoas pelas suas imperfeições e me preocupando com todas as injustiças cometidas. Então,
deixo de viver a minha vida para viver a vida dos outros. E, muitas vezes, nos comportamos desta forma sem percebermos que fazemos isso, porque é muito mais fácil tentar modificar o outro do que se automodificar. Melhor seria se cada um cuidasse de sua própria vida. Com certeza o mundo seria melhor. E aqui, mais uma vez as sábias palavras de Jesus:
— Por que vês o argueiro no olho de teu irmão e não percebes a trave que está no teu? Tire primeiro a trave de teu olho e então enxergarás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão. Assim, consideramos o mundo como real num sentido em que ele não é. Quando perguntaram para o mestre Ramana Maharshi:
— Como posso aceitar o ensinamento de que o mundo que estou sentindo a toda hora e de tantas maneiras não é real? O sábio respondeu:
— Este mundo, que você tenta provar ser real, está a toda hora zombando de você por procurar conhecê-lo, sem primeiro conhecer a si próprio. E ele nos confirma que o mundo tanto é real como irreal. O mundo é real, porque o que vemos como mundo é a projeção do nosso verdadeiro Ser. E é irreal porque é uma simples aparência dessa realidade. É como ter um sonho. A história do nosso sonho nos parece real, mas quando acordamos a sua realidade desaparece. Quando me refiro que é “O verdadeiro Ser, essência ou espírito santo que faz a projeção, utilizamos a nossa limitada mente, e em consequência experimentamos (Esta diminuta ideia insana de estarmos separados da fonte” Temos que estar bastante atentos para perceber que a mente errada ou limitada é inexistente. Ela não possui realidade própria, ela não é independente. (Ela é irreal) porque (O real jamais pode ser ameaçado). É como um ator interpretando o papel de um mendigo, porém se ele sofrer uma amnésia acaba se identificando com o personagem e esquecendo sua verdadeira natureza. No entanto quem criou este falso personagem é o ator (Ser).Também podemos comparar o mundo externo que nos parece real como um filme. Mesmo quando sabemos que se trata de uma projeção numa tela branca, ela nos parece real para os nossos sentidos. Na verdade é a projeção da luz de um projetor. É uma sucessão de imagens que não possuem realidade independente. A nossa consciência é o projetor que sem interrupção projeta o mundo. É claro que não podemos negar o impacto que nos causa ou pode nos causar. Da mesma forma que a história de um filme. Mas como diz muito claramente “Um curso em milagres” Nada irreal existe . O mais irônico desta estranha situação é que na verdade, apesar de sermos sempre o Ser, esforçamo-nos para nos unir a ele, sem nos darmos conta que nós já estamos o tempo todo no Ser e que jamais podemos nos afastar dele, porque simplesmente o tempo é uma ilusão e eu e a fonte somos um.”O curso em milagres” deixa claro que não devemos nos deter ou nos preocupar para desvendar o incompreensível. Ele visa mudar as nossas percepções. Seria sem
dúvida perder tempo se deter a estas questões enquanto estivermos adormecidos. Quando despertarmos deste ilusório sonho tudo fará sentido. Afirma-se que o mundo é maya, que significa o poder misterioso que faz o real parecer algo que não é ou seja, as coisas não são o que aparentam. Assim, enquanto o Ser é uno, indivisível, imutável, perfeito, sem tempo nem espaço; as nossas mentes dominadas por maya vivem num mundo fragmentado, dividido, sujeita a transformações e maculada pelos desejos, temores, medos e tristezas. Um outro bom exemplo que pode nos elucidar sobre a ilusão do mundo, é o nosso reflexo no espelho. Sabemos que quando nos olhamos no espelho não estamos lá. Ele apenas reflete a nossa imagem. Se quisermos mudar este reflexo, precisamos mudar a nós próprios para ver a mudança acontecer. Assim a mudança precisa começar por dentro, precisa começar no Ser. Se pudermos sentir a força desta afirmação, então não será necessário continuarmos nesta questão. A verdade de que o mundo é real e ao mesmo tempo não é, dispensará argumentações, assim que nos conectarmos com o nosso interior. Isso não quer dizer que não devo ajudar o meu próximo quando for necessário. Podemos também trilhar o caminho do Karma Yoga, que significa realizar um trabalho desinteressado para ajudar o próximo. Posso construir um hospital beneficente para curar os doentes sem recursos; ou simplesmente ajudar uma velhinha a atravessar a rua. Não importa a grandeza econômica do ato, o que importa é o valor do seu coração. Quem trilha este caminho, deve fazê-lo com a convicção íntima que o próximo não existe fora de si mesmo e que a separação é uma ilusão. Quando ajudo alguém nesse sentido, fazendo-o feliz, esta mesma felicidade se reflete em mim com igual ou maior intensidade. Devemos estar convictos que somos apenas instrumentos nas mãos de Deus, que sabe manusear com absoluto amor e sabedoria os nosso atos. Este é o caminho alternativo da compaixão e que nos aproxima mais perto do nosso Ser. Devemos compreender também que ao proporcionar uma ajuda material a alguém, não devemos acreditar que salvamos essa pessoa. Posso dar-lhe um prato de comida, uma camisa e um par de sapatos e, temporariamente, aliviar-lhe de suas necessidades. Entretanto, após algumas horas, ela sentirá fome novamente, sua camisa ficará esfarrapada com o tempo e, certamente, seus sapatos ficarão com a sola gasta. Assim, da mesma forma que o mendigo, se você possui apenas bens materiais, significa que possui apenas coisas que se gastam com o passar do tempo. Mesmo que tenha uma bela mansão, finas roupas e sofisticadas refeições, você assemelha-se ao mesmo mendigo o qual lhe proporcionou um relativo e curto bem-estar. Assim, devemos adquirir o que é eterno. Devemos ajudar as pessoas, mas também devemos estar atentos para que a nossa ajuda não venha a criar uma situação de dependência e comodismo, e assim prejudicando muito mais do que ajudando. A verdadeira ajuda seria indicar o caminho que o levará a descobrir sua constante e infinita riqueza, que está em cada um de nós. No entanto cada um terá que conquistá-lo através de seu próprio esforço.
Aqui está uma velha história árabe que ilustra com muita sabedoria que a verdadeira mudança social começa na mudança de si mesmo. É importante perceber mais uma vez, como a verdade é sempre a mesma em qualquer país, em qualquer época, confirmando que quando a verdade é verdadeira ela não muda em sua essência. “No velho Egito havia um jovem rapaz que era impetuoso e rezava para Alá, para que lhe desse forças para mudar o mundo. Mas, pela sua inexperiência, cometeu muitos erros e não obteve sucesso. Quando tinha meia-idade, percebendo que não havia conseguido mudar ninguém, rezou então para Alá para que lhe desse forças para mudar pelo menos aqueles mais próximos de si. Mas nesta tentativa, também não obteve êxito. Agora, bem mais velho, a sua única prece é bem mais simples. Reza apenas para que Alá lhe dê forças para poder mudar a si próprio”.
A IMPORTÂNCIA DOS RELACIONAMENTOS
Eu sei que meu Eu superior está comigo em todos os momentos. Quando me encontro em apuros, consulto-me com ele. Quando tenho dúvidas, pergunto a ele. É meu professor. É o mestre de minha alma. Quando me sinto afastada dele, reservo um tempo para meditar com tranquilidade até tornar a me alinhar com ele. A consciência sábia, fluente, que alimenta o meu ser, é tão essencial para mim quanto respirar. Não posso provar sua existência para ninguém. A pessoa precisa vivenciá-la para conhecê-la. Quando isso acontece é possível entender a razão da vida. A dança interior e a dança exterior estão entrelaçadas. A dança e o dançarino são um só.
Shirley MacLain
Neste
capítulo, irei abordar provavelmente uma das questões mais
importantes de nossa vida, que é o propósito dos nossos relacionamentos. Ele também é um dos caminhos alternativos, porém, sem dúvida, é o que mais nos aproxima da nossa natureza. É o caminho do coração que jamais pode ser compreendido pelo ego. Relacionamentos são como laboratórios vivos. Através da dor, alegrias ou decepções, avançamos em nosso caminho espiritual e aprendemos a nos conhecer sob todos os aspectos. Uma verdadeira prova para despertar e superar as nossas fraquezas. Nascemos devido ao relacionamento dos nossos pais e dependemos totalmente deles na infância. Depois, nos relacionamos com nossos irmãos e parentes e a seguir com nossos professores e colegas. Na adolescência com o despertar da sexualidade, nos relacionamos com nossos namorados e namoradas. Quando somos amados e paparicados nos sentimos no céu; mas quando levamos um “fora”, nos sentimos traídos, despedaçados e parece que a vida não tem mais sentido. Quem não passou por tudo isso? Na fase adulta, nos relacionamos com nosso chefe e colegas de trabalho; depois vem o casamento, a esposa ou o marido, os filhos, os amigos, os netos, os vizinhos e assim toda a nossa vida é feita de relacionamentos. Embora isso seja inevitável, porque dependemos dos relacionamentos para viver, não compreendemos plenamente o seu verdadeiro propósito. E o mais surpreendente é que depois de um dia agitado de trabalho, quando nos sentimos exaustos e estressados, não pensamos que tudo isso que estamos sentindo esteja relacionado com julgamentos e condenações que fizemos de nós mesmos e de outros. Se estamos grande parte do tempo dominados pelo ego, ao invés de buscar união que na verdade é o principal propósito dos nossos relacionamentos, ao contrário, procuramos a oportunidade de encontrar um “bode expiatório” para dar vazão à nossa raiva, ódio, frustração, insegurança e temores que sentimos. Assim, ao invés de entendermos que os relacionamentos são grandes oportunidades de vivenciar o amor, distorcemos esse propósito e passamos então, a buscar inimigos que possam justificar todos esses sentimentos angustiantes e dolorosos. Naturalmente, nem todos pensam e se comportam dessa forma. Entretanto, podemos constatar que grande parte das
pessoas passam a ocultar de suas consciências os verdadeiros sentimentos, acreditando nas ilusões que eles mesmos criaram. Em outras palavras, são levados a crer que tudo aquilo que sentem é causado por pessoas ou acontecimentos externos a eles. Acreditam que são vítimas indefesas e que o mundo é muito injusto e perigoso. Choram as suas mágoas e não aceitam os seus contratempos. É surpreendente como muitas vezes, caímos nessa armadilha e esquecemos que somos responsáveis por todos esses confusos sentimentos, e que somos nós os seus autores. Temos que despertar e nos darmos conta, com muita clareza, que o que criamos são simplesmente reflexos do nosso próprio medo por estarmos distanciados do nosso verdadeiro Ser. De acordo com um sutra* budista:
A mente é como um pintor, que pinta na sua tela o seu próprio mundo. Infelizmente, muitas pessoas acreditam que seriam mais felizes se a outra pessoa envolvida no relacionamento mudasse ou desaparecesse. Aí sim, a vida seria melhor! É lógico que existem situações extremas que realmente é preferível uma separação, mas, normalmente, tomamos decisões apressadas e muitas vezes, por motivos insignificantes e egoístas que não justificam uma separação. E isso acontece hoje com muita frequência, como se você trocasse um carro velho por um mais novo só para sentir novas e diferentes emoções e acreditar que finalmente, encontrou o verdadeiro amor de sua vida. Pura ilusão! Enquanto você mesmo não mudar e reconhecer as suas próprias fraquezas, estará apenas trocando “seis por meia dúzia” e aumentando o seu sofrimento. No entanto, esta ilusão não se restringe apenas a tornar o nosso parceiro o principal vilão da nossa infelicidade. Nós também dizemos: — Ah! Se eu tivesse um emprego melhor, se tivesse tido uma formação escolar mais completa, se os meus pais tivessem sido mais inteligentes, se o governo fosse menos corrupto, etc. Não que tudo isso não seja válido, mas o nosso ego nos faz acreditar que se pudéssemos mudar o mundo, aí, sim, sentiríamos, enfim a felicidade que sempre nos escapou. O ego sempre nos ilude que não somos felizes porque as circunstâncias exteriores não foram favoráveis e portanto, somos vítimas deste mundo cruel e injusto. Mas quando vemos o mundo pelos olhos do Ser, sentimos união e perdão, e os relacionamentos passam a ser grandes oportunidades de crescimento. Descobrimos que somos o amor e o sagrado propósito dos relacionamentos é aprender a curar a ilusão da separação. Passamos então a compreender o seu imenso valor e a ver a vida não mais em fragmentos, mas como um todo harmonioso. Enquanto o ego constrói muros em nossa volta, o amor constrói pontes que nos unem uns aos outros.
Amar e ser amado é o que mais nos aproxima de nossa natureza divina.
Entretanto, embora os relacionamentos afetivos muitas vezes nos causem decepções e tristezas, somos atraídos de forma irresistível para amar e ser amados, mesmo tendo consciência dos seus riscos. E isso acontece porque no fundo do nosso coração existe um imenso e poderoso anseio de nos sentirmos unificados. Quando amamos uma pessoa é como amar a Deus, o que de certa forma, não deixa de ser verdade, considerando que o nosso próximo é também um ser divino. Quando amamos e somos correspondidos nos sentimos fortalecidos. É como reviver, por um certo tempo, o êxtase da plenitude perdida. O ego se dilui e simplesmente nos entregamos. Desaparecem as nossas defesas e a sensação é de completude. Por isso a busca incessante em encontrar o amor em nossas vidas. Portanto não é de se admirar que ele tem sido a fonte de toda expressão artística. Nas poesias, nos filmes, novelas, canções, e nas serenatas. Como diz um velho ditado: “É melhor perder um grande amor do que nunca ter amado”. Embora este ditado seja muito bom, ele revela somente uma parte da verdade, porque quando amamos, só estamos ganhando, manifestando o valor mais sagrado que podemos doar.
RELACIONAMENTOS DE DEPENDÊNCIA Para compreender ainda melhor a grande importância dos relacionamentos e de como eles são de fato vitais para o nosso crescimento, podemos dividi-los em duas categorias, que explicam de forma coerente e precisa o porquê dos relacionamentos harmoniosos e equilibrados em contraste com os relacionamentos conflitantes que ocorrem entre a maioria das pessoas, principalmente nos relacionamentos afetivos entre casais. Fazer uso dessa classificação constitui uma ferramenta de grande importância para sabermos em que tipo de relacionamento estamos envolvidos e sobretudo, poder perceber com maior clareza as nossas fraquezas. Alguns desses conceitos tem por inspiração “Um Curso em milagres”* Procurei apenas utilizar uma linguagem mais simples, para facilitar a sua compreensão, porém sem alterar-lhes a sua essência. Na primeira categoria temos os relacionamentos de dependência que no curso é chamado de relacionamentos especiais, e na segunda os relacionamentos incondicionais, chamados de relacionamentos santos. Vamos agora examinar atentamente o que ocorre no relacionamento de dependência. O próprio termo já determina que é um relacionamento onde faço de uma pessoa um ser da qual não posso me privar. É como sentir um imenso buraco sem fundo que necessito preencher. Assim, procuro fora de mim, alguém especial que possa de fato satisfazer as minhas necessidades para diminuir este imenso vazio que me atormenta. Essa sensação de acreditarmos que está faltando alguém ou alguma coisa da qual não consigo me privar, constitui a base principal de toda a dinâmica do relacionamento de dependência e consequentemente, a raiz do nosso sofrimento. É o princípio da escassez segundo o “Um curso em milagres” Devido a esta carência, o ego, muito ladino, nos convence que devemos fazer alguma coisa para aplacar esta sensação de vazio. É claro que o ego não vai nos dizer que o que está faltando é a nossa conexão com o nosso verdadeiro Ser (Deus) porque se fizesse esta escolha ele deixaria de existir e imediatamente estaríamos em busca da nossa plenitude interior. Ao contrário, o ego, muito esperto, tenta nos persuadir que, de fato, está faltando alguma coisa e que basta olharmos para fora de nós e encontrar alguém ou alguma coisa que irá compensar e preencher este incômodo vazio que sentimos. Basicamente, o amor de dependência demonstra que sinto certas necessidades e quando finalmente encontro alguém com certas qualidades, faço dessa pessoa o objetivo da minha vida e lhe dedico toda a minha atenção. Mas com uma importante condição, o outro também deverá fazer o mesmo. É como se fosse um contrato comercial. Talvez estejamos a procura de um pai protetor ou de uma prestativa mãe carinhosa, talvez desejemos encontrar uma pessoa carente e sofrida para nos sentirmos necessários e importantes. Esta fase inicial é como o período da lua-de-mel, quando ambas as partes sentem que finalmente preencheram seus buracos sem fundo. Enquanto isto os parceiros embriagados pelo sentimento de segurança e atração sexual não se dão conta que a relação não passa de uma troca
de satisfações e desejos. Esta dependência com o tempo, irá provocar um sentimento cada vez maior de ódio e de revolta, porque ninguém gosta de depender um do outro. A relação acaba aumentando o nosso vazio ao invés de reduzi-lo, como tínhamos esperado inicialmente e assim, acaba se transformando num ciclo vicioso de dependência e ódio quase ao mesmo tempo, e sofrendo as suas consequências. Quando o casal passa por essa situação, normalmente ocorrem duas alternativas. A primeira é o rompimento da relação, que sempre ocorre de forma turbulenta e rancorosa. E a segunda, quando um dos parceiros ou ambos acabam se anulando e se submetendo a esta relação de dependência. As razões podem ser econômicas, insegurança emocional, filhos pequenos, preconceitos ou outros fatores psicológicos. Entre estas duas alternativas, a segunda opção é a menos favorável, porque nesta anulação não existe transformação e crescimento. Se o casal não estiver sentindo a existência de um vínculo espiritual, então é preferível não continuar o relacionamento. Embora doloroso no início, ele ainda é preferível do que manter o relacionamento por conveniência sustentado pelo medo, insegurança ou preconceitos. Mas também devemos levar em consideração fatores kármicos, consequência de vidas passadas, quando o casal por débitos de vidas anteriores são submetidos a este tipo de relacionamento conflitante como um processo de depuração e amadurecimento e que tem por objetivo o aprendizado de perdoar e amar um ao outro, desfazendo assim, antigos e negativos vínculos emocionais. Estas situações ocorrem com relativa frequência quando pacientes submetidos a terapias de vidas passadas revivem intensamente essas vivências. Hoje, muitos psicólogos e médicos holísticos* a utilizam para desbloquear emoções e traumas do passado. O surpreendente é a eficácia desta terapia, pois frequentemente o paciente se liberta do seu sofrimento. Mas também é bom elucidar que a pessoa não pode se acomodar e simplesmente aceitar passivamente que sua situação de dependência seja kármica: — Este é o meu destino, nada posso fazer! – isso não é verdade. O karma pode ser alterado, pois temos o livre-arbítrio e se formos suficientemente conscientes, podemos modificá-lo. Entretanto, não me aprofundarei nesse tema, embora muito importante, por não ser o propósito principal desse livro. Portanto, o que chamamos de amor, na realidade, é uma distorção do verdadeiro amor tal qual o nosso Ser o veria. O propósito do amor de dependência é compensar a falta que sentimos em nós mesmos. Contudo, podemos fazer isso com outras coisas. Por exemplo: uma pessoa fumante tenta preencher esse vazio através do seu relacionamento com os cigarros. Podemos fazer isso com a ansiedade compulsiva de comprar objetos que muitas vezes não usamos, mas que por um certo tempo parece nos preencher. Sabemos que isso não dura para sempre, e mais cedo ou mais tarde, o relacionamento é rompido. Nessa altura, se estivermos ainda adormecidos e dominados pelo ego, ele irá certamente nos aconselhar a procurar outra pessoa mais apropriada ou outra atividade e isso pode se repetir muitas vezes para reproduzir sempre o mesmo resultado.
Controlar ou moldar alguém em nome do amor, exprime a ânsia de possuir; é o desejo de encontrar segurança e conforto psicológico numa pessoa e isso surge das profundezas do nosso vazio interior. Buscar o auto-esquecimento mediante a identificação com outra pessoa conduz ao apego. Em consequência da contradição entre o apego e a solidão nasce o conflito, a frustração e a depressão. Quando usamos as pessoas para satisfazer as nossas necessidades, não temos consciência de quem elas são. Não estamos vendo o Ser que habita em seus corações. Não estamos vendo a luz divina que brilha em seu interior. A lição que podemos extrair desses ensinamentos é que nunca estamos separados. A ideia da separação ou rejeição nos relacionamentos humanos provavelmente é a que mais nos angustia. Há uma sensação de abandono, tristeza, melancolia, raiva e decepção. Embora todos esses sentimentos sejam dolorosos, eles comprovam claramente que a nossa natureza é de estar sempre em união – amar e ser amado. Assim a ideia de desunião não passa de uma interpretação ilusória que os nossos sentidos tentam nos convencer. Se permanecemos com essa visão distorcida, sofremos as suas consequências por acreditarmos apenas nos fatos físicos e sensoriais. Por isso é importante nos darmos conta dessa verdade e desmascararmos com discernimento essa fantasia. Talvez, a definição mais exata para descrever esse fenômeno é dizer que apenas nos afastamos temporariamente de determinada pessoa, mas a nossa união com ela continua inquebrantável e nem poderia ser de outra forma. No sensível filme “Uma amizade sem fronteiras”, de Francois Dupeyron, encontramos um comovente diálogo entre um adolescente entristecido por ter sido abandonado pela namorada, quando Ibrahim, o seu amigo bem mais velho, interpretado por Omar Sharif pergunta-lhe:
— Você a amou? — Sim – responde o rapaz. — Então, tranquilize-se, pois ela não te abandonou. Estará sempre com você em seu coração. Perguntaram para um mestre zen:— É a união com Deus o ponto final da jornada do
homem? — O ponto final do homem não é a união com Deus, respondeu o mestre. Porque nunca houve separação. O que é necessário é apenas o insight da compreensão. Você está pensando que está separado, no entanto, nem por um segundo houve separação e não existe nenhuma possibilidade de isto acontecer. Nunca estamos separados e jamais podemos ser rejeitados. Fazemos parte de uma gigantesca rede cósmica onde tudo está interligado. Possuir este entendimento com absoluta convicção, nos liberta da escravidão e passamos a ver o nosso semelhante como parte de nós mesmos. Por mais que ele possa nos rejeitar, nos agredir, ou se distanciar, sabemos e temos certeza que tudo não passa de um pensamento totalmente equivocado fortalecido pelo ego. Devemos sentir Deus em nosso interior da mesma forma que Deus brilha no interior de cada um. Será que podemos separar o que é inseparável? Podemos desunir o que está sempre em união?
RELACIONAMENTOS INCONDICIONAIS Como podemos entender, o ego sempre nos diz que não somos nós os culpados, mas sim as outras pessoas com as quais estabelecemos relações. Porém, para os olhos do Ser, todas as pessoas são nossos mestres. Desta forma, sempre que entramos em contato com outras pessoas temos a oportunidade de examinar o nosso interior e perdoar as fantasias que criamos a nosso próprio respeito. Por isso a grande importância dos relacionamentos. E quando ainda sob a influência do ego nos é mostrado algo de que não gostamos, imediatamente atacamos a outra pessoa. É como tentar despedaçar um espelho porque não gostamos do reflexo que vemos nele.
Sem outras pessoas atuando como espelhos, seria muito difícil perceber tudo que precisa ser visto e perdoado em nós. Deve ficar bem claro que desfazer o sentimento do amor-próprio ferido, que constitui o “prato cheio” do ego, não é fácil. Não basta apenas ter consciência e conhecimento da ilusão do ego e simplesmente lhe dizer:— Chega! Não vou mais permitir você me importunar e me torturar. Fique quieto no seu cantinho e não me perturbe mais. Quero que o meu verdadeiro Ser, seja o meu orientador. E de repente, “como num passe de mágica”, toda a opressão e dor que sinto em meu coração desaparecem “num piscar de olhos”. Sinto informá-lo mas Isso não vai acontecer. Ao contrário, como já vimos, o ego não vai dar o braço a torcer e muito esperto, em primeira instância dirá: — Ok. Ok... Está bem! Vou ficar no meu cantinho. Você é que manda. – Mas, passado algum tempo e sem você perceber, num momento de desatenção, ele recobra a sua força e volta novamente a te importunar. Entretanto, temos que reconhecer que essa dualidade é de fundamental importância, como diversas vezes expliquei. Adquirir todo esse conhecimento, sem dúvida irá ajudar e muito, para acelerar o processo de cura e nos libertar do seu jugo. Temos que ser como um piloto de guerra, sempre atento e vigilante, porque do alto de sua nave ele possui uma visão muito mais ampla e abrangente e tem muito mais condições de localizar e combater este terrível inimigo. O surpreendente depois é reconhecer que este inimigo nada mais era que nós mesmos. O nosso falso eu. Para distinguir se estamos envolvidos em um relacionamento de dependência ou em um relacionamento incondicional existe uma indicação no “UM curso em milagres” que pode nos ajudar. Se for de dependência, este relacionamento será exclusivo. Não haverá espaço nele para mais ninguém. Assim, se você começar a se interessar por qualquer outra pessoa ou outra atividade, você não está dando cem
por cento de sua atenção. Esta é a raiz de todo ciúme. As pessoas ficam com ciúmes por sentirem que as suas necessidades não serão satisfeitas da maneira completa como gostariam. Para o ego o amor é quantitativo, isto é, há apenas uma certa quantidade disponível. Assim, se você se interessar por outra pessoa além de mim, irá significar que eu vou receber menos atenção e amor. Assim, para distinguir a diferença entre um relacionamento de dependência de um relacionamento incondicional é sempre na medida que ele exclui outras pessoas. Quero deixar bem claro que ter um relacionamento incondicional não significa que a relação estará isenta de interesses. Sempre existem interesses e qualquer tipo de relacionamento ocorre sempre por interesses, porém este estará muito mais voltado em tornar mais fácil e estimulante o caminho do nosso aperfeiçoamento. A diferença é que num relacionamento incondicional o interesse é nobre e sem grandes conflitos; é compartilhar em harmonia os mesmos objetivos, e que unidos haverá um crescimento espiritual muito maior do que se estivessem um sem o outro. Para estabelecer um relacionamento incondicional é importante encontrar um parceiro que também esteja nesse nível, porque só dessa forma o relacionamento terá muito mais condições de perdurar em pureza e desprendimento, proporcionando maior serenidade, paz e respeito mútuo. Através desta visão perguntarão a si mesmos: Esta pessoa me ajuda a me lembrar de quem eu sou verdadeiramente? Será que eu ajudo esta pessoa a se lembrar de sua verdadeira natureza? Assim ambos estarão vendo o mesmo Deus interior, que habita em seus corações, e reverenciarão essa união de forma sagrada; respeitando sempre a liberdade de cada um. Poderão surgir no transcurso da relação, conflitos ou situações difíceis a serem enfrentadas – o que é muito natural, no entanto prevalecerá sempre o bom-senso, o discernimento e o amor. Dessa forma, o ego encontrará poucas condições de interferir para desestabilizar essa união. Como, tão poeticamente, disse Antoine de Saint-Exupéry:
— Amar não é apenas olhar um para o outro, mas olhar também para a mesma direção. E essa direção é o caminho do nosso verdadeiro eu; O nosso Ser. Para estabelecer um relacionamento incondicional com outra pessoa é necessário acima de tudo que ambos tenham se desvencilhado da maioria das suas sombras e reconhecerem que a luz divina brilha tanto em mim como no meu próximo; tanto nos meus amigos como também nos meus supostos inimigos. Estabelecer um relacionamento incondicional é saber perdoar, quando somos agredidos, injuriados ou traídos, reconhecendo que nosso próximo está apenas adormecido; ignorando, portanto, a sua verdadeira natureza. Por isso, não há nenhuma necessidade de atacar, condenar ou se defender, porque simplesmente ninguém pode ferir o nosso verdadeiro Ser. Somente o ego pode se sentir ferido ou
magoado. Mas, quando através da lucidez espiritual, percebo que o ego é apenas um falso eu, então prevalece a força eterna do Ser e o ego deixa de assumir o poder para passar a ser apenas um simples servidor. Foi com essa lucidez espiritual que Gandhi (famoso estadista indiano), embora vítima das mais clamorosas injustiças, respondeu serenamente quando interrogado se havia perdoado todas as injúrias de seus inimigos.
— Não tenho nada a perdoar, porque nunca ninguém me ofendeu. Sabemos que este Ser é a nossa felicidade suprema e portanto, estamos perfeitamente seguros e amparados. Sentir a presença de Deus é ser preenchido por seu infinito amor. Assim, não existe nada, absolutamente nada, que possa tirar esta serenidade que habita em nós. O amor incondicional é suficientemente forte e não nos faz dependentes de outra pessoa. Ele ultrapassa os sentidos e é inseparável de mim como a cor da minha pele. O verdadeiro amor leva você para a liberdade. Ele é em si eterno; contém a piedade, a generosidade, o perdão e a compreensão; faz nascer em nós a humildade e a doçura e é semelhante ao perfume das flores, que encantam tanto aqueles que as veneram como aqueles que lhe são indiferentes. O amor não pode ser apenas um relacionamento entre duas pessoas, mas um espaço luminoso dentro de nós mesmos. Quando vivenciamos o nosso verdadeiro Ser, experimentamos a paz e o amor que habita em nosso coração. Neste momento sagrado, sentimos de forma clara que o principal objetivo do relacionamento é nos aproximar cada vez mais de Deus. E lembre-se: Deus possui infinitos disfarces; quando você sente o carinho de um abraço, é Deus manifestando o seu amor por você, quando seu cão fica todo afoito com sua presença, é Deus te dando alegria; quando observa o olhar atento de um bebê, é Deus manifestando o seu puro amor, e mesmo quando sentir medo ou tristeza, é sempre Deus ajudando você a crescer. Podemos perder tudo que possuímos, mas o que realmente importa é o amor que está no Ser. Este nunca pode ser alterado ou perdido; está eternamente em nosso coração. Muitas vezes nossa luz parece se apagar, mas ela volta a brilhar pela centelha de outra pessoa. Cada um de nós deve sentir profunda gratidão por todas as pessoas que trilharam o nosso caminho, principalmente para aqueles que mais nos desafiaram. São eles os estimuladores que intensificaram a nossa chama, e que permitiram que a nossa luz passa a brilhar, ampliando a nossa visão. *Sutra - Escrituras hindus *Um curso em milagres – É um curso de psicoterapia e autoconhecimento que proporciona uma cura da mente através da mudança de percepção. Não se trata de uma organização religião, mas de uma programação psicológica, canalizada pela psicóloga Helen Schucman e William Thetford. * Holístico - Médicos que se preocupam em tratar o homem como um todo indivisível de seus componentes: físicos, psíquicos e espirituais.
O DIVINO JOGO DO SER
Se o Universo conseguiu até agora o inverossímil trabalho de fazer nascer o pensamento humano no seio do que nos parece uma trama inimaginável de acasos e azares, é que, no íntimo de si mesmo, é dirigido por um poder soberanamente senhor dos elementos que o compõem. Teilhard de Chardin
Recapitulando
os capítulos anteriores, acho que ficou claro que para
alcançarmos a felicidade e o bem-estar, tudo dependerá dos nossos pensamentos e das nossas atitudes. Ver o mundo com os olhos do Ser é ver o mundo como ele é, sem distorções; é como ver o fundo de um mar calmo de águas claras e se encantar com a beleza exótica deste universo surpreendente. Existe uma comovente cena no filme do Pan Nalin, “Samsara”, quando um monge saindo de um monastério encontra uma pedra com a seguinte inscrição: “Você sabe qual é a melhor maneira de não deixar secar uma gota d’água?” Quando o monge já no final do filme, depois de ter vivido o Samsara (as ilusões do mundo) volta para o monastério, encontra a mesma pedra. Intrigado, ele a vira do outro lado e para sua surpresa encontra outra inscrição:
“É só joga-la no mar.” Da mesma forma, para vivenciarmos a verdade, devemos mergulhar neste mar de amor, e deixar que suas águas possam dissolver este pequeno e ilusório eu, para experimentarmos todo o nosso esplendor. E isso pode ser atingido através da prática da meditação. Meditar é como mergulhar nessas águas puras e cristalinas e descobrir as riquezas e maravilhas que ela oculta.
Meditar é descobrir que na mais simples gotinha está contido o imenso poder do oceano. Isso não quer dizer que quando mergulhar nesse eterno oceano perderei a minha individualidade. Muito pelo contrário, comprovarei vivencialmente que sempre fui possuidor de todos os atributos divinos e, assim, a ilusão da separação deixará de existir. Na verdade só existe apenas um de nós. Para entender o que os sábios tentam nos ensinar, faça de conta que você é um garimpeiro e que de repente, descobre depois de muitos anos de trabalho, um diamante de incalculável valor. Agora faça você mesmo esta pergunta: — O que eu faria com todas as pedrinhas coloridas que fui juntando ao longo do tempo e que agora pesam dentro do meu bolso? Certamente, você não se importará mais com
elas. Mas também, enquanto não descobrir este diamante, provavelmente achará mais conveniente e seguro permanecer ainda com as pedrinhas coloridas. Isto pode acontecer se a nossa fé ainda não estiver suficientemente fortalecida. E agora vamos para mais um grande paradoxo. Na verdade, você não precisa ter todo este trabalho para encontrar este diamante. Basta apenas perceber agora, neste momento, neste exato segundo que você é o próprio diamante. No entanto, como ainda se encontra coberto pelo pó da ignorância, não lhe dará o seu real valor; então certamente, terá que continuar garimpando. Garimpar, na verdade, significa abrir com mais lentidão os olhos da alma para finalmente, constatar a nossa verdadeira riqueza. Portanto alcançar o Ser é uma missão ao mesmo tempo, trabalhosa e fácil. A contradição é apenas aparente. Se você permanecer preso em seu ego, ela será árdua, mas se você tiver fé e se entregar, ela será fácil. No entanto, como não é fácil se entregar, você terá que permanecer ainda subordinado ao ego. Não que isso seja negativo. Apenas significa que, como crianças, ainda estamos fascinados pelos nossos brinquedos e sem maturidade suficiente para distinguir os valores mais essenciais. Nada melhor que uma brilhante metáfora de um sábio da magnitude de Ramana Maharshi, para entender ainda melhor esta profunda verdade:
A lua brilha pelo reflexo do sol. Quando o sol se põe, a lua constitui uma abençoada ajuda para o viajante noturno. Mas quando o sol se levanta, ninguém procura ou precisa da lua, mesmo que ela continue visível no céu. O mesmo acontece com a mente e o coração. Quando temos apenas a luz refletida, somos compelidos a usá-la. Mas quando a Fonte direta está no alto, torna-se a única Luz de que necessitamos. Tudo isso parece irônico, engraçado e dramático ao mesmo tempo, e coçamos a nossa cabeça um pouco aturdida, perguntando o porquê de tudo isso. Por que tantos paradoxos? E a resposta para isso é: — “O divino jogo do Ser”. E agora, para te deixar ainda mais confuso ou talvez mais lúcido, devo acrescentar uma pequena e criativa história, descrita por Alan W. Watts, um dos maiores divulgadores do zen-budismo no ocidente e que tão genialmente e com muito humor tentou explicar esta misteriosa e enigmática condição humana.
Gostamos do jogo de esconde-esconde, pois é sempre divertido encontrar novas formas de nos escondermos e de procurarmos alguém que não se esconde sempre no mesmo lugar. Deus também gosta de brincar de esconde-esconde, mas como não há coisa alguma fora de Deus, ele só pode brincar consigo mesmo. Contudo, ele passa por cima desta dificuldade, fingindo que ele não é ele mesmo. Essa é a maneira que ele tem de se esconder de si próprio. Finge que é você e eu e todas as pessoas do mundo, todos os animais, todas as plantas, todas as rochas e todas as estrelas. Desta forma, tem estranhas e maravilhosas aventuras, algumas delas terríveis e assustadoras. Mas estas são apenas como pesadelos, pois desaparecem quando ele acorda. Agora, quando Deus brinca de se esconder e finge que é você e
eu, esconde-se tão bem que demora muito tempo a lembrar-se de onde e como se escondeu. Mas esta é a parte mais divertida – trata-se exatamente do que ele queria fazer. Não quer encontrar-se demasiadamente depressa, já que isso estragaria o jogo. É por isso que é tão difícil, para você e para mim, descobrirmos que somos Deus disfarçado, fingindo que Ele não é Ele. Mas, quando a brincadeira já durou muito, todos acordamos, paramos de fingir e recordamos que somos todos um só Ser – o Deus, que é tudo aquilo que existe e que vive para sempre e sempre. Esta pequena e instigante parábola de Alan W. Watts demonstra como ele com certeza se nutriu e bebeu das águas profundas da milenar Yoga. Segundo os ensinamentos da Yoga, o universo é Deus revelando-se para si mesmo. Em outras palavras, Deus disfarçado como homens e mulheres vê através de nossos olhos e contempla a si próprio na forma do mundo. Entretanto, embora Deus esteja sempre presente em sua criação e dentro dos nossos corações, ele não é afetado pelas nossas sombras e não interfere em nosso livre-arbítrio sem o nosso desejo, pois como nos dotou de todos os seus atributos1, sabe de nossa vitória e que a felicidade é nosso verdadeiro destino. Neste momento de reflexão, você poderá se perguntar: “Afinal, quem sou eu?” Medite nessa questão e Deus se fará presente no silêncio do seu coração. Essa é a verdade das verdades. Não existe outra verdade. Podemos ficar surpresos? chocado? Talvez extasiados? É até muito normal que poderá não se identificar com esse conhecimento. Você pode contra-argumentar e achar que tudo isso é viajar na fantasia. Como posso ser divino? Isso pode até parecer um pensamento arrogante! Esses argumentos embora até certo ponto sensatos e coerentes, podem até nos convencer. Entretanto, possuem uma única falha. E esta falha é monumental. Simplesmente não levamos em consideração que todas as nossas fraquezas e limitações não são o nosso Ser. É a nossa identificação com o tempo, com nosso corpo e a nossa falsa personalidade (ego) que nos ilude e nos afasta daquilo que sempre fomos. E este é o nosso ponto cego. Mas, ao mesmo tempo, prova que é exatamente aquilo que nós, deuses, queríamos fazer: não nos encontrarmos demasiadamente depressa, já que isso estragaria toda a nossa brincadeira, e todo o nosso propósito. Acreditar num Deus separado é acreditar na existência de duas forças. Deus o absoluto, e nós, seres humanos. É como se Deus fosse o pintor separado de sua tela. Mesmo possuindo os seus atributos, estaríamos como que distanciados do seu ilimitado amor. Haveria, portanto, sempre uma separação entre Deus e sua criação. Não reconhecer que somos divinos é como o exemplo da gota d´água que, por ser tão pequenina, não reconhece que tem os mesmos elementos do gigante oceano. Outra razão da nossa descrença é que vivemos grande parte do nosso tempo na ilusão das sombras do sofrimento. Então, como Deus pode sofrer? Como Deus pode matar? Como Deus pode adoecer? Como Deus pode morrer? Não percebemos que, em verdade, todas essas sombras são apenas sombras, ou seja, elas não existem. São apenas como sonhos. O que pode existir em todo o universo senão Deus!
Só existe um, não existem dois.
Deus é a única coisa que existe. Nada existe fora dele, e não existe nenhum lugar em que ele não esteja. Deus é o pintor, a tela, os pincéis, a tinta e toda a beleza do quadro. Se Deus não estivesse unido em sua criação, não teria nenhuma participação em nossas vidas e em nenhum momento poderia interferir em nosso destino. Tudo na vida é amor e pureza. Esta é a sua imagem verdadeira e que se reflete em sua infinita e eterna criação. Aqui é necessário dizer que não se trata da criação do universo, pois como sabemos o mundo das formas é impermanente e em constante transformação, de forma que jamais poderia ser a criação de um Deus perfeito e ilimitado, mas sim da criação da essência divina da vida que transcende matéria/espaço/tempo. Podemos dizer que essa essência divina é idêntica a fonte. Esta é a visão e a experiência dos autênticos mestres iluminados. Dividir a vida entre o divino e o mundano, entre o sagrado e o impuro é cair na armadilha da dualidade. Acreditar que Deus, pela sua perfeição e pureza, não está em nosso interior é estar adormecido e acreditar nas sombras da ilusão. Quando um sábio iluminado afirma que ele é o próprio Deus, podemos ficar perplexos e até duvidar desta presunçosa afirmação. Entretanto, embora o sábio ainda esteja ocupando os limites de um corpo físico, ele experimenta vislumbres de seus atributos divinos e assim pode afirmar que Deus e o guru são um só. Talvez, um ótimo exemplo que possa nos elucidar um pouco melhor é a tradicional metáfora hindu das ondas e do oceano. Enquanto onda, ela parece ser algo separado, principalmente quando toda a sua massa líquida se choca contra um rochedo e se transforma em um milhão de gotinhas. Como esse fenômeno se desenrola em poucos segundos diante dos nossos olhos, sabemos que todas essas gotinhas fazem parte do oceano e voltam rapidamente no oceano. Mas agora, tente por instantes imaginar essa sequência filmada em câmera lenta, de tal forma, que todas essas gotinhas separadas possam levar centenas de anos para serem absorvidas novamente. Seríamos levados a acreditar, em função da lentidão do tempo, que as gotas estão paradas e separadas no espaço. Seria como se nós como gotas, nos sentíssemos separados da nossa essência, sem desconfiar que na verdade, somos o próprio oceano. É por isso que o sábio, quando consciente da realidade e firmemente estabelecido em Deus, sente-se simultaneamente como onda e como oceano. Enquanto onda, tem uma existência comum: bebe, come, dorme, etc; enquanto oceano, sente-se imutável, eterno, onipotente e onisciente.
Se fosse possível transcender as nossas limitações e pudéssemos ver a vida em sua totalidade com a mesma visão dos sábios iluminados, constataríamos surpresos que nada ganhamos, como também nada perdemos. Estamos apenas brincando de esconde-esconde. Como posso ganhar ou perder se eu sou o Ser? Se sou a felicidade suprema? Manter essa verdade na consciência é o nosso maior desafio. Podemos até ter um flash desta riqueza que se encontra em nós; porém, não sabemos como acessar e fazer perdurar este poder. A nossa consciência se enfraquece e sugestionada pela aparente materialidade do mundo fenomênico (maya), mergulhamos novamente na ilusão deste gigantesco e sofisticado holotec cósmico. É como termos uma enorme riqueza no banco, mas esquecermos o número da nossa conta. Por isso, a importância do trabalho espiritual. Somente ele irá nos despertar e resgatar a nossa imensa fortuna. De qualquer forma, não devemos nos prender a todos esses conceitos, pois, como já vimos, entender a verdade através da mente lógica e racional é como a parábola dos cegos tentando descrever um elefante. Somente quando a verdade é experimentada em nosso íntimo do nosso Ser, todas as argumentações, a favor ou contra, simplesmente deixarão de fazer sentido. O sábio Ramakrishna soube como ninguém nos fazer entender essa verdade; através de uma simples, mas fascinante metáfora. Aqui estão as suas iluminadas palavras:
Enquanto raciocinamos e perguntamos sobre Deus, é porque não o temos realizado. Quanto tempo dura o murmúrio das vozes num banquete; ao qual ocorrem muitos convidados? À medida que se servem as comidas, cessam três quartas partes do barulho, e este vai se apagando mais e mais à medida que se serve a sobremesa. Quanto mais você se aproximar de Deus, menos terá o desejo de discutir. E quando chega a Ele, quando o contemplar e ver que Ele é a realidade, então cessa todo ruído e termina toda disputa. No entanto, o fato de reconhecermos, mesmo mentalmente, que somos divinos não significa que de repente, iremos despertar de nosso jogo de escondeesconde. É claro que isso não vai acontecer, e tampouco, quando através da morte física, estivermos em outra dimensão. Unificar-se com o nosso Ser independe totalmente da dimensão em que estivermos. Enquanto não experimentarmos de modo vivencial essa verdade, ela não passará de uma simples ideia. Enquanto não estivermos unificados com o Ser, essa verdade nos parecerá apenas um conceito. Captar com o intelecto é uma parte da verdade, mas experimentá-lo em toda a sua plenitude é estar absolutamente convencido no mais profundo de nossa alma. Enquanto não atingimos esse estado, devemos continuar trilhando os caminhos alternativos, pois eles nos proporcionam momentos em que sentimos nossa plenitude. E entre todos esses caminhos, o amor é sem dúvida o que mais nos aproxima da nossa essência. Como Deus é amor, então, fica mais fácil intuir essa verdade; experimentando em nós o seu maior atributo.
Quando sentimos esse amor em nossos corações temos um pequeno vislumbre da nossa divindade. E o que é o amor senão a atração que cada parte separada sente uma pela outra? O amor é como a cola da vida, que sustenta e equilibra todos as coisas. Nós possuímos essa mesma energia. Podemos perceber isso em tudo que nos rodeia: nas plantas, nos átomos, nas células, nas pessoas, nos animais,nos planetas, nas estrelas, na sexualidade, nas galáxias. Não existe nada neste universo que esteja totalmente isolado e que não faça parte intrínseca de um todo. Sentimos esta sensação temporariamente através do caminho harmônico; quando torcemos pelo nosso time e ganhamos o jogo, quando nos apaixonamos e somos correspondidos, quando criamos e somos elogiados ou quando estamos unidos com a natureza. O amor é isso: sentir-se completo, unificado com o todo; as barreiras da separação deixam de existir. É por isso que o sexo possui uma grande importância em nossas vidas, pois ele permite por instantes, sentirmos uma unificação, e parece que o tempo deixa de existir. Embora um tanto grosseira se comparada com o estado nirvânico, mas fundamental para o nosso equilíbrio no estágio vibracional em que nos encontramos. Como tão bem definiu o mestre Osho:
“O sexo é o portão dourado do paraíso” Somente quando atingirmos a iluminação, o nirvana, a consciência cósmica ou o Ser é que despertaremos do jogo de esconde-esconde e sentiremos vivencialmente que tudo que existe é apenas uma coisa só: o divino que existe em nós. O sábio é o Ser que se deu conta desta verdade e, por estar desperto, encontra-se isento de apegos e nada pode roubar-lhe a liberdade, a paz, a felicidade e o amor. E aqui está outra fascinante confirmação desta verdade, encontrada na tradicional filosofia Shavaísta.
Se você plantar uma semente de limão, irá certamente ter um limoeiro e jamais um abacateiro. Da mesma maneira aquilo que nasce de Deus não pode ser diferente de Deus. Esta suprema consciência gera todo o universo a partir dele próprio. Por exemplo: um marceneiro usa madeira, cola, pregos e outros materiais para fazer um móvel, porém Deus não utilizou materiais externos; Ele criou todas as coisas a partir do seu próprio Ser. Medite neste Ser e com certeza, você verá esta verdade por si próprio. Este é o verdadeiro caminho da espiritualidade: “Ver por si próprio”. Enquanto isso não acontecer, vamos continuar brincando de esconde-esconde por mais um tempo. Entretanto, existem momentos em que de repente, sem aviso, você tem um vislumbre do eterno; um sentimento de êxtase e plenitude. Dentro da visão cabalística é como se, de repente, lhe fossem retiradas várias cortinas de uma só vez e no tempo de um relâmpago, você é ofuscado por uma luz intensa e brilhante. E a primeira coisa que acontece quando uma pessoa experimenta o Ser é um profundo sorriso. Foi como senti quando passei por esta extraordinária experiência e tive que colocar a mão em meus lábios para me certificar que não estava sonhando. Na verdade, foi como rir de mim mesmo pela ilusão de ter estado a procura da
felicidade que já estava dentro de mim o tempo todo. A sensação era de um bemestar simplesmente impossível de ser descrito em palavras; era de uma intensidade que nada nesse mundo pode servir de exemplo. Porém, se o orgasmo sexual pode servir como comparação então, era como sentir o êxtase de mil orgasmos seguidos, mas sem sentir nenhum cansaço, pelo contrário, era um bem-estar que vinha do meu próprio interior e que se renovava a cada instante. Eu mesmo era a própria fonte da felicidade. E nesse estado de consciência, reconheci que essa era minha verdadeira natureza. E eu dizia a mim mesmo; – Claro! Eu sou a felicidade! Como pude esquecer? era como um sentimento que eu sempre soubera e que, de algum modo, havia esquecido. Era como estar despertando de um confuso e estranho sonho. E a constatação desta verdade me proporcionava uma paz, uma serenidade e um intenso amor, que ultrapassava todos os limites que a mente limitada impõe sobre nós. De repente, imerso nesse mar de amor, percebi que nenhuma riqueza material poderia se igualar ao que estava sentindo. Dei-me conta de maneira absoluta que todas as riquezas e prazeres que eu já tinha experimentado, eram como simples migalhas que não valiam nem o trabalho de pensar nelas. Eu próprio era a maior riqueza. A única coisa que eu desejava era simplesmente permanecer nesse estado; um estado de amor e plenitude. Ao contrário do que acontece no plano físico, onde somos constantemente dominados por dúvidas e aflições, naquele estado tudo isso se dissolvia. Sentia de forma absoluta quem era eu. Lágrimas de alegria escorreram de meus olhos e era como se eu tivesse acabado de nascer novamente. Essa experiência se repetiu por duas noites seguidas, de forma espontânea, mas sem o meu controle consciente. Agradeço a Deus de todo o coração por ter permitido passar por esta sublime experiência, onde pude ter um vislumbre em mim mesmo do Ser que eu sou. Foi uma vivência inesquecível e que mudou radicalmente a minha maneira de viver. Foi só depois de muitos anos que pude constatar, através de muitos livros e palestras, que muitas outras pessoas também passaram por experiências muito semelhantes e que, também, sentiram uma enorme dificuldade em expressá-las. Essa alteração de consciência pode ocorrer de diversas formas, como pude entender depois: podem surgir através de cirurgias, acidentes, experiências de quase morte (EQM) meditação ou simplesmente vendo uma folha voando levada pelo vento ou através do sorriso inocente de uma criança. De modo que é uma experiência imprevisível e que não depende de nossa vontade. Hoje, muitos médicos, psicólogos e pesquisadores, muitos deles de projeção internacional como Kenneth Ring, Dr. Raymond A. Moody Jr., Melvin Morse, Dr. Brian Weiss e muitos outros, estudam de forma científica e corajosa estes estados alterados de consciência constataram de forma absoluta da realidade espiritual. Afinal, não se pode esconder o sol através da peneira por muito tempo. O interessante de tudo isso é que algumas décadas atrás, estes assuntos eram verdadeiros tabus e vistos pela classe médica como delírios de mentes perturbadas, ou efeitos colaterais de medicação química. Tudo me leva a crer que um mestre que alcançou de fato este estado de forma plena, embora esteja ainda encarnado, pode de forma voluntária conectar-se neste reino de paz, de êxtase e de felicidade suprema. Isso prova que todo ser humano
possui esse potencial quando temos consciência dessa realidade e da possibilidade de desabrochar esta energia que já está em nós. Assim, todos os sofrimentos e prazeres que fazem parte deste mundo dualístico e transitório acabarão por nos cansar e a nostalgia da felicidade inerente ao nosso verdadeiro Ser irá se manifestar e nos levará com certeza para esta unificação. Todos os grandes mestres reconhecem que o nosso atual estado de consciência é muito enganador. Podemos comparar a nossa consciência como viver num porão de pouca luz. O mais surpreendente é que este porão encontra-se no interior de um imenso castelo que possui duzentos mil quartos e seu terreno se estende por milhares de quilômetros, rodeados de amplos jardins, bosques, rios, lagos e magníficas cachoeiras. Somente quando ultrapassamos os limites da consciência, um poder ilimitado se apossa de nós e a vida adquire uma nova amplitude. Esta analogia poderá elucidar de forma clara o estado extremamente limitado de nossa consciência. Gosto muito de um texto de São Francisco ao descrever a sua experiência espiritual. Ele disse:
— O que estamos procurando é quem está olhando. De fato, se você for se questionar sobre quem é você, então feche os olhos por um momento e com a sua atenção voltada para dentro pergunte a si mesmo:
— “Quem quer saber?” Essa pergunta pode nos proporcionar um insight impactante e perceber que este eu é o nosso Ser que tanto procuramos. Não é por acaso que vamos encontrar uma profunda afirmação de Albert Einstein, que mais parece um texto místico do que científico e que demonstra, cada vez mais, como a ciência se aproxima da verdadeira espiritualidade. Estas foram as suas palavras:
— É uma ilusão da nossa limitada consciência nos sentirmos separados uns dos outros. Esta ilusão é causada pela percepção equivocada do espaço e do tempo e nossa tarefa é nos libertarmos da prisão de nossa ilusão de separatividade. Bem, creio que chegamos agora no que, pessoalmente, considero ser um dos maiores mistérios da condição humana: — Por que não poderíamos já estar vivendo no Ser? Por que passar por tudo isso? Por que nos foi imposta essa condição de termos esquecido da nossa verdadeira natureza? Por que tivemos que nos afastar do nosso Ser e trilhar todo esse caminho cheio de obstáculos, sofrimentos e incertezas; quando poderíamos ter permanecido na nossa felicidade original? Afinal, por que Deus quis brincar de esconde-esconde? Esta questão enigmática que se apresenta é tentar entender porque tivemos esta estranha ideia de nos separarmos da fonte? Segundo “Um curso em milagres” jamais em momento algum nos separamos, estamos apenas sonhando com o exílio. No entanto sentimos em nossa condição atual de consciência, que a nossa mente não consegue responder a perguntas que não podem ser compreendidas através de palavras, ou através do intelecto racional.
Mas foi nos ensinamentos do cabala, que encontrei uma pequena parábola que até certo ponto consegue elucidar essas instigantes questões, e que com muita simplicidade responde do porquê dessa amnésia espiritual, e da importância dessa nossa condição existencial. Talvez possa nos proporcionar uma luz para este insondável mistério. E como toda parábola, ela nos convida de forma delicada e pura para uma profunda introspecção. Mas deixo isso para você refletir e tirar suas próprias conclusões.
A PARÁBOLA DO QUEBRA-CABEÇA Era uma vez um bondoso e velho mágico que criava maravilhosos quebra-cabeças. Quando a última peça era encaixada, a figura toda adquiria vida e profundidade, maravilhando as pessoas que as montavam. Mas, um belo dia, o mágico de quebra-cabeças resolveu se superar e decidiu não mais picotar as peças separadas. A sua intenção era que quando você abrisse a caixa do jogo, se deparasse com a imagem total já montada. Entretanto, algo saiu errado. As pessoas não gostaram dessa alteração e explicaram para o bondoso mágico que montar peça por peça do quebra-cabeça era exatamente todo o charme e a emoção do jogo. Deste modo, com todo o seu amor e afeto, resolveu espalhar novamente as peças separadas dentro da caixa. E assim termina essa singela história, quando o velho mágico atendendo a esse pedido resolveu proporcionar às pessoas exatamente o que elas queriam: montarem o quebra-cabeça desde o início, para que elas pudessem sentir a alegria e felicidade por seus próprios méritos.
Imagino que devem ter percebido como esta parábola possui certa semelhança com a parábola do filho pródigo. Na parábola descrita por Jesus, parece que foi necessário a partida do filho pródigo, para que depois de passar por toda sorte de adversidades, retornar na casa do pai completamente renascido. Fazendo um paralelo com a parábola do quebra-cabeça, podemos dizer que a convivência do filho pródigo com o pai seria como se ele abrisse todos os dias a caixa de jogo, e se deparasse sempre com a imagem toda montada. Foi então necessário para que o filho pudesse adquirir uma autotransformação permitir que ele montasse a caixa de
jogo peça por peça desde o começo, para que pudesse sentir a felicidade por seus próprios méritos. Será que isso responderia a questão de termos (aparentemente) nos afastado do nosso ser (Deus) e trilhar este caminho cheio de obstáculos, para alcançarmos a plenitude por nossos próprios méritos ? Mas agora podemos também perguntar, afinal quem poderia ser este bondoso e velho mágico? seria Deus disfarçado e unido em todas as pequenas peças do quebra-cabeça? Talvez quando terminarmos de montar todas elas, iremos constatar para nossa surpresa, que se trata de um espelho refletindo a nossa verdadeira imagem e em nosso rosto luminoso, veremos a expressão de um doce sorriso, e ouviremos sem mover nossos lábios, estas amorosas e simples palavras:
“Eu e você somos um.”
* E Deus criou o homem a sua imagem e semelhança. (Gênesis. 1:27) *O universo – Ler o livro “O Desaparecimento do Universo de Gary Renard. Editora Mera
CONCLUSÃO
Somos mais do que vida e morte, mais do que espaรงo e tempo. Somos deuses, e deuses sรฃo cada um de nรณs Brian Weiss
Caro leitor, se você sente uma vontade de viver com mais plenitude e está realmente disposto a empreender uma transformação espiritual, então já está no começo dessa transformação; no começo de reconhecer as fraquezas que nos escravizam e também todos os nossos valores inatos que devemos despertar para alcançarmos a nossa verdadeira natureza. Recomendo que este livro seja lido mais de uma vez, para que você possa de fato absorver com mais profundidade o seu conteúdo. É importante que esta visão do mundo faça parte do nosso Ser, tanto quanto o ar que respiramos. Devemos entender e incorporar estes ensinamentos para que, junto com a prática da meditação, possamos alcançar a nossa meta. Agora que possui os ingredientes necessários, começa o verdadeiro propósito deste livro, que é você mesmo preparar a receita para experimentar o seu próprio alimento. Assim, comece a arregaçar as mangas, e mãos a obra! Como eu disse no início, cabe a você agora o trabalho de se interiorizar e reconhecer humildemente as suas fraquezas e valorizar as suas virtudes. Não tenha pressa, por que para atingir o nosso Ser não existe data marcada; pode levar um dia, mas também pode levar meses ou anos. Tudo dependerá da sua vontade, desejo, disciplina e dedicação. Mas vá com muita calma; não tente correr contra o tempo, isso só irá retardá-lo. Além do mais, você tem todo o tempo do mundo e, lembre- se: um grama de prática vale mais do que toneladas de teorias. Procure analisar o tipo de vida que você leva, o tipo de relacionamento que você tem, até que ponto o ego interfere em sua vida, qual é o propósito de sua existência e o que te falta para ser feliz. Mergulhe nessas reflexões: Podemos entender agora de forma mais substancial como atingir a verdadeira espiritualidade. • • • • • • • • •
A riqueza que precisamos encontrar é o nosso próprio Ser. O território em que está escondido está em nosso interior. O autoconhecimento e o perdão desfazem as ilusões. A meditação é o silêncio nos conecta com a nossa essência. Os ensinamentos dos mestres são as luzes que iluminam o caminho. A vigilância dos pensamentos para não compactuar com o ego. A humildade para viver o presente e aceitar as situações. A pureza para estar com o coração sempre aberto. O amor é a única realidade que existe e que jamais pode ser ameaçada.
Faço questão de mais uma vez, enfatizar que o principal ensinamento desse livro é degustar e sentir o verdadeiro sabor da verdade que se encontra em seu interior. Dessa forma, você não deve acreditar cegamente em nada do que foi escrito, nem mesmo uma única frase. Como já afirmei em diversos capítulos, temos que conquistar a verdade e senti-la dentro do nosso Ser e não aceitá-la apenas como uma simples crença, a qual sempre implica num resquício de dúvida. Quando, finalmente, experimento o gosto doce e suave de um pêssego torna-se irrelevante e totalmente desnecessário ler ou discutir sobre o seu sabor; a própria experiência vivencial de sentir o seu gosto dispensa argumentações. E, aqui, estão as sábias palavras do iluminado Buda, tão importantes hoje como foram no seu tempo, quando numa visita a uma pequena vila chamada Kesaputra disse a seus habitantes chamados Kalamas: — Não vos deixes guiar pelas palavras dos outros, nem por tradições existentes,
nem por rumores. Não vos deixeis guiar pela autoridade dos textos religiosos, nem por simples lógica ou dedução, nem por aparência, nem pelo prazer da especulação sobre opiniões, nem por verossimilhanças possíveis, nem por simples impressão ou idéia de que ele seja nosso mestre. Mas, Kalamas, desde que souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são desfavoráveis, falsas e ruins, então renuncia a elas... e quando souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são favoráveis e boas, então deveis aceitá-las e segui-las. Tenho certeza absoluta que se você estiver preparado e se empenhar em realizar este trabalho com paciência, fé e coragem, conquistará por seu próprio mérito a riqueza do amor que habita em seu coração. Embora possamos sentir os impactos emocionais dos obstáculos em nossa vida, a firme convicção de que realmente somos, fará desaparecer gradativamente a ilusão do nosso sofrimento. Quando nos entregamos com essa confiança, não importa as dificuldades que teremos que enfrentar, sabemos no íntimo de nossa alma que tudo será para o nosso bem e o que tiver que acontecer nos conduzirá ao máximo do nosso desenvolvimento. Esta é a nossa sagrada e sublime missão. E, quando no final, encaixarmos a última peça do quebra-cabeça, veremos a imagem completa de nós mesmos:
“A nossa verdadeira dimensão divina.” A vida é um caminho contínuo, que não possui intervalo. Através das alegrias e tristezas, dos sucessos e fracassos, dos nascimentos e mortes, quando finalmente reconhecermos o Ser que somos, então, nos daremos conta que estivemos o tempo todo viajando dentro de nós mesmos. A jornada foi longa, mas rápida; foi árdua, mas também de alegrias e de beleza; foi turbulenta, mas também empolgante e plena de surpresas. Segundo Sai Baba, um avatar do nosso tempo, assim se expressou:
Quando o caminho termina e o objetivo é alcançado, o peregrino percebe que Deus o conduziu até ele, estava todo o tempo nele, ao redor dele, com ele e ao lado dele! E assim, quando o jogo chegar ao fim e após merecido descanso, à semelhança de crianças sapecas e endiabradas, talvez mais um grande jogo seja criado, para mais uma vez experimentarmos novas e fascinantes aventuras sem fim. Todos temos esta energia de amor em nosso coração. Devemos manifestá-la não somente para sentirmos a nossa felicidade suprema, mas para iluminar todos os nossos irmãos que ainda se encontram na obscuridade de suas mentes. Somos todos eternos, e o que chamamos de morte nada mais é que apenas uma mudança de dimensão. Temporariamente, usamos corpos físicos da mesma forma que um astronauta usa seu traje espacial.
A grande e profunda lição da morte é descobrir que você não pode morrer. O que chamamos de morte, nada mais é que apenas uma mudança dimensional. Quando paramos de controlar os acontecimentos e nos entregamos com fé e confiança, sobrevém uma paz que invade totalmente o nosso coração. Enquanto isso, uma força muito maior do que o nosso ego toma o controle e realiza com perfeição um trabalho que, no fundo, sabemos, será muito melhor. Temos que confiar nesta força.
“A força do nosso Ser.” Ao nos rendermos a essa força, a partir de uma verdadeira entrega, a nossa consciência dará um revolucionário salto quântico e penetraremos no mundo sagrado do Ser. Com certeza, esse mundo nunca mais será o mesmo. Mais uma vez vou recorrer à milenar sabedoria dos grandes mestres e contar uma pequena parábola hindu, que vale a pena conhecer pelo seu senso de humor, sua profunda verdade, que sintetiza de forma poética a nossa verdadeira natureza e toda a essência deste livro.
Um filhote de tigre perdido numa floresta foi encontrado por um rebanho de cabras. Uma delas o adotou, passou a amamentá-lo e a cuidar dele. Com o passar dos anos, o tigre tornou-se um musculoso e belo animal, porém tímido e pacífico. Um belo dia, um tigre selvagem atacou o grupo das cabras que se debandaram apavoradas, mas ficou assombrado ao ver um tigre comendo erva, tremendo de medo e balindo como uma cabra. Então, o tigre verdadeiro o levou à beira de um lago e mostrou que, refletidas no espelho d’água, suas imagens eram idênticas e, assim, o convenceu de que ambos eram da mesma espécie. Quando por fim saboreou o gosto de sangue, abandonou as ervas e deixou de balir. Compreendeu que não era uma cabra, mas um tigre. Então, imediatamente, sua energia e
agressividade se manifestaram de forma plena e assumiu a sua verdadeira natureza. Então, seguiu o tigre verdadeiro e tornou-se igual a ele. Possuímos enormes reservas de energia dentro de nós, mas quando esquecemos quem somos, ficamos envolvidos pela névoa da insegurança, perdendo, temporariamente, a nossa divina conexão. Nos afastamos da nossa essência, assim como o tigre por ignorância se afastou de sua verdadeira natureza. O tigre nessa parábola representa o Ser e a cabra a nossa mente adormecida e limitada. No entanto, essa amnésia, por mais que dure, jamais poderá eliminar o nosso verdadeiro potencial. Continuar vivendo como cabra não é nada condizente com o nosso poder soberano e ilimitado. Nossa meta, portanto, não é mudar quem somos, mas sim lembrar o Ser que sempre fomos. Assim quando começamos a desconfiar da nossa situação, e munidos de coragem e autoconfiança começamos a trilhar o caminho em direção da verdade, podemos encontrar os autênticos tigres da sabedoria. A exemplo do discípulo Arjuna, do épico espiritual Bhagavad Gita*, conseguiremos com a espada afiada do discernimento derrotar os demônios da ilusão. Da mesma forma que a natureza do fogo é ser quente, a semente da macieira produzir maçãs, o rio fluir para baixo em direção ao mar, assim também a natureza do homem é despertar o Ser e conhecer sua própria divindade.
“Este é o divino jogo do ser”
*Bhagavad Gita – Antiga escritura hindú
AFIRMAÇÕES CONTIDAS NESTE LIVRO A verdade é aquilo que não muda. A meditação é o caminho que nos levará ao Ser que já se encontra em nosso interior. No aparente caos, oculta-se a perfeição absoluta. Felicidade, alegria, paz, amor e Deus são sinônimos. O sofrimento nada mais é que acreditar na ilusão da separação e na dependência do mundo exterior.
Cada um de nós é o astro principal neste grande show da vida. Devemos estar sempre atentos e procurar viver o frescor do momento presente.
Como um gigantesco quebra-cabeça, cada pedaço é de suma importância; unidos e encaixados uns com os outros, compõem a beleza do quadro inteiro.
O paradoxo é que já estamos em casa, ou seja, nós já possuímos aquilo que achamos que não temos. Ninguém pode nos causar infelicidade a não ser nós mesmos.
Não existe absolutamente nada a não ser o amor. Reconhecer que nada pode nos prejudicar ou destruir nos torna soberanos e conscientes do nosso poder divino.
A nossa conexão com Deus é sempre presente. Quanto mais você compartilhar, mais você tem.
O verdadeiro propósito do sofrimento é só nos ensinar a parar de sofrer.
Amar e ser amado é o que mais nos aproxima de nossa natureza divina.
Sem outras pessoas atuando como espelhos, seria muito difícil perceber tudo que precisa ser visto e perdoado em nós. O amor não pode ser apenas um relacionamento entre duas pessoas, mas um espaço luminoso dentro de nós. Meditar é descobrir que na mais simples gotinha está contido o Imenso poder do oceano.
Deus é a única coisa que existe, nada existe fora dele e não existe nenhum Lugar em que ele não esteja.
A grande e profunda lição da morte é descobrir que você não pode morrer.
ALGUMAS SUGESTÕES DE LIVROS E FILMES A Aventura Suprema
Peter Heyes Editora Record / Nova Era
A Cura através da terapia De vidas passadas
Brian Waiss Editora Salamandra
A Índia Secreta
Paul Brunton Editora Pensamento
A Paz começa com você
Ken O´Donnell Brahma Kumaris
A Roda da vida
Elisabeth Kubler –Ross. M.D Editora Sextante
Autobiografia de um iogue
Paramahansa Yogananda Self Realization Fellowship
Cura e paz interior
Michel Dawson Editora Pensamento
Encontrei a vida
Swami Muktananda Editora Vozes
Meditação
Mouni Sadhu Editora Pensamento
Meditando com Brian Weiss
Brian Weiss Editora Sextante
Medite
Swami Muktananda Siddha Yoga Dham Brasil
Mude a sua mente e
Gerald G. Jampolsky. M.D./
Transforme a sua vida
Diane V. Cirinciose. Editora Cultrix
O Cântico do Senhor (Bhagavat Gita)
Murilo Nunes de Azevedo Editora Cultrix
O jogo da consciência
Swami Muktananda Siddha Yoga Dham Brasil
O Poder do Cabala
Rabi Yahuda Berg Editora Imago
O Tao da Física
Fritjof Capra Editora Cultrix
Peregrinos das estrelas
Dilip Kumar Roy e Indira Devi Editora Pensamento
Psicologia da evolução Possível do homem
P.P.Ouspensky Editora pensamento
Rumo ao ponto ômega
Kenneth Ring Editora Rocco
Seu Eu sagrado
Dr. Wayne Dyer Editora Nova Era
Terra dos homens
Antoine de Saint Exupéry Livraria José Olympio Editora
Um curso em milagres
Instituto de Educação Espiritual Rio de Janeiro
Uma Amizade com Deus
Neale Donald Walsch Editora Sextante
FILMES
DIRETORES
2001 Uma odisseia no espaço
Stanley Kubrik
A felicidade não se compra
Frank Capra
A última tentação de Cristo
Martin Scorsese
A vida é bela
Roberto Benigni
Cinema paradiso
Guiseppe Tornatori
Ghost, do outro lado da vida
Jerry Zucker
Horizonte perdido
Frank Capra
Inteligência artificial
Steven Spiellberg
Luzes da ribalta
Charles Chaplin
Muito além do jardim
Hal Ashby
O carteiro e o poeta
Michael Redford
O feitiço do tempo
Harold Ramis
O mágico de Óz
Victor Fleming
O pequeno Buda
Bernardo Bertoluci
O show de Truman
Peter Weir
Perfume de mulher
Martin Brest
Samsara
Pan Nalin
Uma amizade sem fronteiras
Francois Dupeyron
ROBERTO SAUL Nascido no Cairo/Egito com nacionalidade francesa é publicitário, artista plástico, já fez cinema, pintura e atualmente dedica-se a literatura. Já publicou diversos livros, destacando-se a trilogia “O Divino Jogo do Ser.” Seus textos são inspirados pelos avanços da ciência, mas principalmente pelos ensinamentos dos grandes mestres da humanidade, tanto do passado como do presente, que nesta era vem mobilizando leitores do mundo inteiro neste despertar espiritual. “O Divino jogo do Ser”nesta nova edição Ampliada e revisada, aborda certas questões que não tinham sido abordados nos livros anteriores, mas em essência ele é sobre a importância do despertar. Escolher a paz ao invés do conflito, o amor ao invés do medo e a unificação em vez da separação. Livros do autor Mar de luz O Divino jogo do Ser O Divino jogo do amor O Divino jogo da consciência Sonhando com o mundo Interiores A misteriosa carta escrita em 2084
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