CASSIO ENTREVISTA LEILA PINHEIRO

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cineclubejecevaladao@hotmail.com CASSIO CAVALCANTI ENTREVISTA Mais uma vez o cearense/pernambucano Cassio Cavalcante - biógrafo de Nara Leão - presenteia nossos leitores com uma de suas brilhantes entrevistas. Dessa vez com a cantora e compositora Leila Pinheiro, atualmente uma das mais importantes da moderna MPB

Por Cássio Cavalcante –

LEILA PINHEIRO

ENTREVISTA

Cássio Cavalcante: Quem pergunta por mim/ Já deve saber/ Do riso no fim/ De tanto sofrer... (Eduardo Gudin e José Carlos Costa Neto). Muitos são os sucessos de nossa música da época dos festivais. Ponteio com Edu Logo, A Banda com Nara Leão, Foi Deus Que fez Você com Amelinha. A música Verde, defendida por você faz parte dessa galeria. Como lhe chegou essa canção e em que ela te emociona.? Leila Pinheiro: Fui convidada pelo pianista e arranjador Cesar Camargo Mariano, diretor musical do Festival dos Festivais, a participar como intérprete, cantando o “VERDE”, música de Eduardo Gudin e Costa Netto. Recebi a canção num k7 (em 1985) e me identifiquei imediatamente com o samba lento, sofisticado, lindo, como se ele tivesse sido feito para mim. Cantá-lo para 20 mil pessoas no Maracanãzinho era o maior desafio, até porque era um samba lento. Mas deu tudo certo e VERDE é uma canção eterna, tenho certeza e será sempre tocada e ouvida. Há quem pense que VERDE ganhou o Festival, tamanha a repercussão e força dessa canção. Cássio Cavalcante: Era uma vez um lobo mau/ Que resolveu jantar alguém/ Estava sem vintém/ Mas arriscou/ E logo se estrepou... (Carlos Lyra e Ronaldo Boscoli). A Bossa Nova afirmou à música popular brasileira como uma das melhores do mundo. O que você diz da importância deste movimento musical e o que ele proporcional a sua carreira? Leila Pinheiro: Nasci em 1960 e a bossa nova foi das primeiras músicas que ouvi na “eletrola” de meu pai na Rua Generalíssimo Deodoro 579 onde morei nos primeiros 10 anos de vida. Cresci ouvindo o que a bossa-nova produzia, minha formação musical tem a bossa como base. Certamente o violão do João Gilberto deve ter me estimulado a estudar violão desde muito cedo. Acabei de chegar do Japão com Roberto Menescal, onde fizemos 5 shows em 4 cidades diferentes, cantando a bossa que Menescal produz há 50 anos. O Bênção Bossa Nova, álbum que gravei com ele em 1989 é uma das grandes referências do meu trabalho no Brasil e no Japão (aliás, foi gravado para o mercado japonês). Conheci Nara Leão e vi alguns shows dela com Menescal, que de tão unidos, e sintonizados, pareciam e soavam como um só. Menescal me tirou do palco do Maracanãzinho e me levou pra PolyGram (Universal Music), onde assinei meu primeiro contrato profissional. Depois seguimos em turnê por 2 anos, cantando e tocando o Bênção Bossa Nova. Me descobri como artista no palco, com Menescal cantando o melhor da bossa nova. Graças a Deus!!! Cássio Cavalcante: Tacacá, Círio de Nazaré, pato no tucupi, manisoba, cupuaçu, cerâmica marajoara, açaí, carimbó... O Pará é uma terra mágica, Belém é uma das cidades que mais gosto em todo o Brasil. Quais suas saudades desse lugar, e no que mais ele contribuiu na tua formação? Leila Pinheiro: Vou várias vezes por ano à Belém, porque amo a minha cidade e meus pais moram lá. Os cheiros, as comidas, as pessoas, as mangueiras, as minhas raízes estão todas ali. Vim de Belém morar no Rio de Janeiro em 81, mas jamais deixei de me relacionar profundamente com a cidade. E uma das formas mais emocionantes de partilhar o amor pela cidade, é estar lá como estarei este mês, para assistir à Trasladação e o Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Costumo dizer que mesmo que não viva cantando a música paraense, ela está dentro de mim, em tudo o que canto e sou, porque ali eu nasci e me criei. Cássio Cavalcante: Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora do teu girassol/ Entre o escancaro e o contido, eu te pedi sustenido e você riu bemol/ Você só pensa no espaço, eu exigi duração/ Eu sou um gato de subúrbio, você é litorânea... (Guinga & Aldir Blanc). Música perfeita, interpretação impecável. Muitos são os critérios da escolha do repertório de um artista. Quais são os seus, como escolhe as musicas que vai gravar?

Leila Pinheiro: Um dos grandes acertos em meus 32 anos de carreira é o CD “Catavento e girassol” em homenagem aos dois gênios - Guinga e Aldir Blanc. Uma vez escolhido o tema para um novo CD, caio dentro das pesquisas, me aprofundo o mais que posso no assunto, no universo escolhido, e vou para o piano, tocar e cantar, pra ver se realmente poderei acrescentar algo especial às escolhas feitas. As letras têm que ser boas e isso é ponto pacífico. A melodia, bonita! Não há receita para dar certo, pra tocar as pessoas, mas eu diria que este é um bom caminho e o que tenho escolhido sempre. Cássio Cavalcante: Nara Leão disse: “O sucesso me agrada, mas não a ponto de fazer esquecer que sou uma mulher antes de ser cantora.” O sucesso em algum momento chegou a te incomodar? Leila Pinheiro: Nunca fui uma artista de sucesso popular. Meu trabalho é nos palcos, circulando pelos Brasil e pelo mundo. Não mitifico o que faço, porque grandiosa mesmo é a música. Isso gera uma atitude tranquila em relação ao público do público pra mim. Não me iludi nunca com sucesso nem o tive como o objetivo principal da minha carreira. Algumas horas acertei mais e em outras menos e assim é a vida. Lá se vão 32 anos cantando e tocando, fazendo o que mais amo fazer. Me sinto muito feliz com tudo o que venho conquistando em todos estes anos e torço pra ter muitos anos ainda pela frente. Quero morrer cantando, bem velhinha. Tomara!!! (rs) Cássio Cavalcante: Sobre o seu mais recente trabalho, seu 17º disco, Raiz, Mauro Ferreira disse: “Um album de canções abordadas em atmosfera mais íntima e pessoal.” Foi um disco que fez motivada por uma necessidade? Uma volta às origens? Leila Pinheiro: Quis homenagear minha terra e fui convidada por um selo japonês (CT Music) para gravar o “RAIZ” e lançá-lo no Japão. Por causa de toda a tragédia que se abateu sobre o Japão, o CD foi lançado aqui primeiro e ano que vem será lançado no Japão. Pra mim foi um mergulho denso nas matas e florestas brasileiras, guiada por mestre Tom Jobim, luz absoluta da natureza. Falo da minha Belém, dos seus cheiros, das suas belezas, trago comigo a Pajé Zeneida Lima, Nilson Chaves, Vital Lima, Joãozinho Gomes, paraenses amigos, queridos, talentosos, e de Roraima, o poeta Eliakin Rufino. Adoro este trabalho, agora indicado ao Grammy Latino. Produzido por Marco Bosco e Paulo Calasans, o Raiz ainda vai percorrer o mundo, tenho certeza.

QUINTAS LEÃO

VARGEM ALTA

SÍTIO DE ALUGUEL

FINS DE SEMANA E TEMPORADAS


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