Antologia Poética em Dialeto Mineirês

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CRESTOMATIA EM DIALETO MINEIRÊS

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CRESTOMATIA EM DIALETO MINEIRÊS Pesquisa dialétologica dirigida pelo Prof.Me.Gilmar Paiva

Revisão de Prof.Me.Gilmar Paiva

Capa de Prof.Me.Gilmar Paiva

Línguas da Capa:Dialeto mineirês,árabe,bengali,bielorusso,chinês,coreano,georgiano,grego,guajarati,hebraico,japonês, khmer,tailandês,tâmil,laosiano,marati.

Direitos Reservados a EDITORA CHRONOS AUTON. Rua:Vicente Onillis. 69 – tel:31-9450-9215 Bairro:Vila Regina – CEP: 35970-000 Barão de Cocais – MG – Brasil E-mail:editorachronos@gmail.com BARÃO DE COCAIS – MG - BRASIL

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PROF.ME.GILMAR PAIVA

Responsável pela Pesquisa Dialetológica Membro: Instituto de Desenvolvimento em Políticas Linguísticas,Observatório da Língua Galega,Associación de Divulgación Linguistica del Estremenho,Centro Filológico Fluminense,Comunity of Lakota Language,Societatis Linguiticae Europaeae.

Crestomatia em Dialeto Mineirês Crestomatia im Dialetu Mineirês 1° EDIÇÃO

EDITRORA CHRONOS AUTON. MINAS GERAIS - 2013 4


Sumário

Sonetu – Álvares de Azevedo Fragmentu – Almeida Freitas Oh ! Num mi maldigam! – Álvares de Azevedo U poeta pt. I – Álvares de Azevedo U editô – Álvares de Azevedo U Namoru a cavalu – Álvares de Azevedo Si eu morressi amanhã – Álvares de Azevedo Pur que Mintias – Álvares de Azevedo A Largatixa – Álvares de Azevedo Primeira Canção – Danti Alighieri Fragmentu – Victor Hugo Trad. Do Francês Sonetu – Álvares de Azevedo Trindadi – Álvares de Azevedo A caridadi – Machado de Assis U guardadô di rebanhu – Alberto Caeiro ( Fernando Pessoa) Fragmentu – Marilia de Dirceu – Fragmaentu - Tomás Antonio Gonzaga Vasu Gregu – Alberto de Oliveira Ária noturna – Raimundo Correia Peranti a morti – Cruz e Souza Monólogu di uma sombra – Augusto dos Anjos 5


Epilogu – Manuel Bandeira Odi ao burguês - Mário de Andrade Acalantu du Mortu – Henriqueta Lisboa Morti – Junqueira Freire Jogu di Bola – Cecília Meireles Fragmentu – Ascensu Ferreira Primeira Canção Danti Aliguieri Fragmentu Joaquim Cardoso Soneto da Separação – Vinicius de Morais Framentu – Henriqueta Lisboa Cobra Noratu – Raul Bopp Essa Nega Fulo – Jorge de Lima Fragmentu – Mário Chemie Fragmentu - Luiz F. Papi Fragmentu – Gilberto Mendonça Fragmentu – Emilio Moura Cinema – Framentu – Ledo Ivo A Caridadi Machado de Assis Mini Glossário do Dialeto Mineirês

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Prefáciu ( Im Dialeto Minêires) Essa crestomatia surgiu im minha dissertação de bachareladu sob a influência di Amadeu Amaral i outrus comu,Mariu Perini i Corneliu Pires estis grandis nomis du Folclori i Dialetologia,du Dialetu Caipira i istudu da dialetologia nu Brasil i nu mundu qui mi incorajaram nas pesquisas as variáveis dialetais da língua portuguesa,da qual foi um prazer , através da analisi da pronuncia dus proprius falantis,atraves da topologia i da pesquisa realizada im algumas partis du istadu di Minas Gerais comu ( Itabira,Jão Monlevadi,Santa Bárbara,Belo Horizonti,Santa Bárbara, i distritus comu Catas Altas,Cocais,Morru D`Àgua Quenti,São Gonçalu du Rio Abaixu etc.).

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Prefácio (Em Português do Brasil) Essa crestomatia surgiu em minha dissertação de bacharelado sob a influência de Amadeu Amaral e outros Como Mario Perini e Cornélio Pires estes grandes nomes do Folclore e Dialetologia,do Dialeto Caipira e do estudo dos dialetos no Brasil e no mundo que me encorajaram nas pesquisas das variáveis dialetais da língua portuguesa,da qual foi um prazer,também através da analise da pronuncia dos próprios falantes e através da topologia e de uma pesquisa centralaiza em algumas partes do estado de Minas Gerais como ( Itabira,Barão de Cocais,João Monlevade,Santa Bárbara,Belo Horizonte e distritos como Cocais,Catas Altas,Morro D´Agua Quente,São Gonçalo do Rio Abaixo).

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Sonetu

Álvares de Azevedo

Pálida a luz da lâmpada sombria. Sobri u leitu di floris reclinada. Comu a luz pur noiti imbalssamada. Entri as nuvens du amô ela durmia. Era a virgem du mar,na iscuma fria. Pela maré das águas imbalada ! Era um anju entri nuvens d´alvorada. Qui im sonhus si banhava i si isquicia. Era a mais bela! U seiu palpitandu. Negrus olhus as pálpebras abrinu. Formas nuas nu leitu resvalanu. Não te rias de mim. Meu anju lindu. Pur ti – as noites eu velei choranu. Pur ti – nus sonhus morrerei sorrinu.

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Fragmentu Almeida Freitas Só um olhá pur compaixão ti peçu. Um olhá,mais bem lânguidu,bem ternu. Queru um olhá qui mi arrebati mi iscureça us olhus mi torni deliranti!

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Oh ! Não mi maldigam! Álvares de Azevedo

Oh!,não maldigam u mancebu exaustu. Qui nas orgias gastô u peitu insanu. Qui foi au Lupaná pedi um leitu. Ondi a sedi febril lhi adormecessi. Não pudia durmi! Nas Longas noites. Pediu au viciu us beijus di venenu: I amô a Saturnu,u vinhu,u jogu. Misserrimu! Não maldigam, Si a sina fatal u arrebatava: Si na torrenti das paixões dorminu. Foi naufragá nas solidões du crimi. Oh!não maldigam u mancebu exaustu. Qui nu viciu imbalô,a ri,us sonhus. Qui lhi mandô as perfumadas tranças. Nus travesseirus da mulhé sem briu!

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Si eli poeta nódô seus lábius. I qui firvia um coração di fogu. I da matéria a convulsão impura. A voz du coração imudecia! I quandu pela manhã da longa insônia. Du leitu profanu eli si erguia. Sintinu a brisa lhi beijá nu rostu. I a febri arrefecê nus roxus labius. I u corpu adormicia i reposava. Na serenada relva campina. I a luz da manhã im tornu deli. Us sonhus du poeta acalentava. Vinha um anju di amô uni-lo au peitu. Vinha uma nuvem derramá – lhi a sombra. I a alma qui chorava a infâmia deli. Sacava u prantu i suspirava ainda.

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U poeta parti II

Álvares de Azevedo

Fui um doidu im sonhá tantus amoris. Qui locuras,meu Deus! Im expandir-lhi aus pés pobri insensatu. Todus us sonhus meus. I,ela,tristi mulhé,i. Tão bela, Dus teus olhus na flô. Pur que havia sangrá pelus meus sonhus. Um suspiru di amo. Um beiju – um beiju só! e não pidia. Sinão um beiju seu, I nas horas du amo. I du silenciu. Junta – lá au peitu meu!

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U Editô I A poesia transcrita é di Torquato. Dessi pobri poeta inamoradu. Pelus incantus di Leonara isquiva. Copieia do propriu manuscritu. I para prova da verdadi pura. Desti prologu meu,basta qui eu diga. Qui a letra era um garranchu indecifrável. Mistura di borrões;linhas tortas. Trouxi-mi du arquivu la da rua. I decifrou-me famíliá demonho. Dimais infelismenti é bem verdadi. Qui Tasso lastimou-si da penúria. Di num tê um ceitil pra candeia. Provu com issu qui u mundu todu. U sol é esti Deus indefinível, Oru,prata,papel o menus cobri. Mais Santu du qui us papas. U dinheiru!

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Byron nu seu Don Juan derroto-lhi cantus. Filintu,Èliseo i tolentinu u sonham. Foi u Deus di Bocage i D´Arentino. Arentinu,essa incrível criatura. Lívida i tenebrosa,impura i bela, Sublimi...i sem pudor,onda i lodo, Im qui do geniu profanô a perula, Vasu d´oru qui um oxidu terrível. Inumenu di morti,a alma poeta. I tudu profanô com as mãos imundas. I latiu comu um cão mordenu u séculu...

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Namoru a cavalu

Álvares de Azevedo

Eu moro em Catumbi,mais a disgraça. Qui regi minha vida malfadada. Pois si lá nu fim da rua do Cateti. A minha Dulcinèia namorada. Alugo treis Mil reis pur uma tardi. Um cavalu di troti qui isparrela. Só pra ergue meus olhus suspiranu. A minha namorada na janela. Tudu u ordenadu vai-si im floris. I im lindas folhas di papel bordadu. Ondi eu iscrevu tremendu,amorosu. Algum versu bonitu,mais furtadu. Morru pela minina,juntu dela. Nem ouçu suspirá di acanhamentu... Si ela quisessi eu acabava a história. Comu toda a comedia,im casamentu.

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Ontem tinha chuvidu,qui disgraça! Eu ia a troti inglês ardenu im chama. Mais la vai senão quandu uma carroça. Minhas roupas tafuis incheu de lama... Eu não disanimei,si Dom quixote. Nu rocinanti erquendu a larga ispada. Nunca voltô di medu,eu,mais,valenti. Fui mesmu suju vê a namorada. Mais eis qui nu passá pelu sobradu. Ondi habita nas lojas minha bela. Pur ver-me tão lodosu ela irritada. Bateu-me sobri as ventas na janela. U cavalu ignoranti di namorus. Entri dentis tomô a bufetada. Arrepia-si,pula,i da-mi um tombu. Cum pernas pru ar sobri a calçada. Dei aus diabus us namorus,covardi. Meu chapéu qui sofrera nu pagodi. Dei di pernas correndu i cabisbaixu. I berranu de raiva comu um bodi.

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Circunstancia atenuanti.A calça inglesa. Rasgô-si nu caí di mei a mei. U sangui pelas ventas mi curria. Im paga di amorosu devanei.

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Si eu morressi amanhã

Álvares de Azevedo

Si eu morressi amanhã,viria au menus. Fechá meus olhus minha tristi irmã, Minha mãe di saudadis morreria. Quantas glória presintu im meu futuru! Qui aurora di proví i qui manhã. Eu perderia choranu e essa coroa. Si eu morressi amanhã! Qui sol! Qui seu azul! Qui doce n´alva. Acorda a natureza mais loca! Não mi batera tantu amô nu peitu. Si eu morressi amanha! Mais essa dô da vida qui demora. A ânsia di gloria,u doloridu afã. A dô nu peitu imudecera au menus. Si eu morressi amanhã.

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Pur quê mintias?

Álvares de Azevedo

Pur quê mintias leviana i bela? Si minha faci pálida sintias. Queimada pela febri,i minha vida. Tu vias dismaià,pur que mintias? Acordei da ilusão,a sois morrenu. Sintu na mocidadi as agonias. Pur tua causa disiperu i morru... Leviana sem dó,pur que mintias? Sabi Deus si ti amei! Sabem as noites. Essa dor que alentei,i tu nutrias! Sabi essi coração qui tremi. Qui a isperança perdeu pur que mintias? Vê minha palidez,a febri lenta. Essi fogu das pálpebras sombrias... Pois a mão nu peitu! Eu morru! Eu morru!

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A largatixa

Álvares de Azevedo

A largatixa au sol ardenti vive. I fazenu verão u corpu espicha. U clarão dus teus olhus mi da vida. Tu eis u sol eu soul a lagatixa. Amu – ti comu u vinhu e comu u sonu, Tu eis meu corpu i amorosu leitu... Mais teu néctar di amô jamais si isgota, Travesseiru num há comu teu peitu. Possu agora vivê para coroas. Não precisu nu pradu colhê floris. Engrinaldu melhô a minha frenti. Nas rosas mais gentis di teus amores. Vali tudu um hareim a minha bela. Im faze-mi ditosu ela capricha; Vivo au sol di seus olhus namoradus. Comu au sol di verão a largatixa.

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Primeira Canção

Dante Alighieri

Vois qui cum u inteletu u terceru céu moveis, Ouvi u raciocina di meu coração, Qui não sei dize-lo a outrem, Tão novu mi parceiru. U céu qui segui vossu valô, Gentis criatura qui sois, mi tansporta na condição im qui mi incontru. Pur issu u falá da vida qui conduziu, pareceu que si volta dignamenti a vois: porém vos rogu qui u intedeis. Eu vos contarei du coração a novidadi, Comu a alma tristi neli chora, I comu um ispiritu contra ela fala, Quem vem pelus raius di vossa istrela, Paricia ser aliviu du coração duenti. Um suavi pensamentu,qui si dirigia. Muitas reais aus pés di nossu sinhô. Ondi uma mulhé im gloria via, Qui mi faltava tão docimenti. Qui a alma dizia: “ Prefiria morrê” 22


Ora pareci quem u põe im fuga. I si apodera di mim cum tal força, Qui u coração tremi tantu qui pur fora apareci. Istu mi faz uma mulhé olha I diz: “Quem qué alcançá a salvação, Faça um qui mire us Olhus desta mulhé, Si não teme angustia di suspirus.” Defronta-si cum algu teu qui u aniquila. U humilde pensamentu,qui custuma mi fala. Di um anju nu céu coroadu. A alma chora,tantu ainda suavimenti dói. I diz: “ oh ! deixa-mi,comu si fogi. Desti piedosu qui mi consolô! Di meus olhu diz esta angustiada: “ Quandu foi qui tal mulhé vivam! I pur que dela não criam im mim? Eu dizia: “ Aqueli qui anseia minhas paris di istarem também nus olhus dela!”

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I não mi ajudô qui tivessi notadu qui não olhassem,pois estô aniquilada”. tu não estas morta,mais estas perdida, Alma nossa,qui assim ti lamentas”. diz um ispirituzinhu di amô gentil; “ Purque aquela bela mulhé qui tu ouvis, transportô tantu medu,qui si tornou vil! Olha quantu ela é piedosa i humilde, Sábia i cortês im sua grandeza, I pensa im chama- la mulhé,pois! Pur que si tu não ti enganas,verás Di tão altus milagris ador nada, qui tu dirás: “ Amô,senhô veraiz Eis tua serva;faz u qui ti agrada.” Canção,acreditu qui serão rarus aqueli qui tua razão intendam bem, Tantu a exprimis di modu fácil i forti. Pur issu,si porventura acontece qui tu dianti das pessoa ti pessoa. qui não te parecem a tua altura, então ti rogu qui ti reconfortis, “dizendu-lhi,dileta com sou bela,”

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Fragmentu Vitor Hugo Trad. Francês Deixa-tu amá! Oh ! U amô é a vida. E tudu qui si lamenta é Tudu u qui si deseja. Quandu si vê essa juventudi Acabandu aus poucus.

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Sonetu

Álvares de Azevedo

Us quinze anus di uma alma transparente, U cabela castanhu,a faci pura, Uns olhus ondi pinta-si a candura. Di um coração qui dormi,inda inocenti. Um seiu qui intremeci di repenti. Du mimosu vestidu na brancura, Uns olhus castanhus,a faci pura, Uns olhus ondi pinta-si a candura. Di um coração qui dormi,inda inocenti. Um seiu qui istremeci di repenti. Du mimosu vestidu na brancura, A linda mão na mágica cintura, I uma voz qui inebria docimenti.

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Um sorrisu tão angelicu! Tão Samtu! I nus olhus azuis cheius De vida. Languidu véu di involuntáriu prantu! È essi u talismã,é essa a Armida, U condão di meus ultimus incantus, A visão di minha alma distraída!

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Trindadi

Álvares de Azevedo

A vida é uma planta misteriosa Cheia di espinhus,negra di amarguras, Ondi só abrem duas flores puras, - Poesia i Amô... I a mulhé ... e a nota suspirosa Qui tremi d´alma acordada istremecida, - è fada qui nus leva além. - Pálida di languô! A poesia é a luz da mocidadi – U amô é o poema dus sentidus, A febri dus momentus não durmidus. - I u sonhá da ventura... Voltai,sonhus di amô i di saudadi! Queru ainda senti ardê-mi u sangui, Us olhus turvus,u meu peitu languidu. - I morrê di ternura!

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Frangmentu I U guardado di rebanhus Alberto Caeiro Eu nunca guardei rebanhus, Mas é comu si guardassi. Minha alma é alma é comu pastô, I ainda pela mãe das istações. A segui i a olha. Toda a paz da natureza sem genti. Vem senta-ti a meu ladu. Mas eu ficu tristi comu um pôr di sol. Para a nossa imaginção. Quandu isfria nu fundu da planici. I si senti a noite intrada. Comu uma borboleta pela janela. Mas a minha tristeza é sossegu. Pur que é natural i justa. I é u qui devi está na alma. 29


Quandu já pensa qui existi. I as mãos colhem floris sem Ela dá pur issu. A chuva,au ar,au sol,dispida,abandonadu, A infância lacrimosa,a infância desvalida, Pedia leitu i pão

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Fragmentu Tomás Antonio Gonzaga “U sê herói,Marilia,não consisti. Im quêmá us imperius:movi a guerra. Ispalhá u sangui humanu. I dispovoá a terra. Tamém u mau tiranu. Consisti Consisti u sê herói im vive justu. I tantu podi sê herói u pobri. Comu u maiô Augustu. Eu é qui sô herói,Marilia bela. Siguindu da virtudi a maiô istrada. Ganhei,ganhei um tronu. Ah! Num mandei a ispada. Não roubei u donu.

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Vasu Gregu Alberto de Oliveira Istu di arius relevus,trabalhada. Di divas mãos,brilhanti copa,um dia. Já di aus deuses sirviu comu cansada, Vinda du Olimpu ,a um novu Deus sirvia. Era u poeta de Teos qui u suspendia. Então,é,ora,repleta ora isvazada. A taça amiga aus dedus seus tinia, Toda di roxas pétalas colmada. Depois... Mas u louvo da taça admira. Toca- a,i du ovidu aproximandu-si,as brodas. Finas hás di lhi ouvi,canora i doci. Ignota voz,qual si dá antiga lira. Fossi a incantada musica das corda. Qual si essa vez de Acreonte fossi.

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Ária noturna Raimundo Correia Da janela im qui olhanu para fora. Bebis da noite o incensu a longus tragus. Claru iscorri u lua... Im sonhus vagus. Atrás da sombra ispreita,rindu, a aurora... Longi uns dolentis,musicus afagus, Sentis?... Num é u Rouxinol,qui chora. Nas balsas,nem u ventu qui disflora. A toalha friissima dus lagus... È eli: I vaga toda a noite,inquantu. U lua macilanti i u campu flores. Trespassam moli i perfumadu quebrantu. Não lhi ouças,filha u cantu merencóriu! Fecha a janela i foji,qui essi cantu. Vem da guitarra di D. Juan Tenório!

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Peranti a morti Cruz e Sousa Peranti a morti impalideci i tremi. Tremi peranti a morti,impalideci. Coroa-ti di lagrimas,isqueci. O mal cruel qui nus abismus gemi. Ah,longi u infernu qui flamenja i fremi. Longi a paixão qui só n horrô floressi... A alma precisa di silenciu i preci. Pois na preci i silencio nada temi. Silênciu para u disisperu insanu. U furô gigantescu i sobri-humanu. A dô sinistra di rangê us dentis!

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Monologu di uma Sombra Augustus dos Anjos Sou uma sombra! Venhu di outras eras. Du cosmopolitanismo das morenas... Polipu di recônditas reentrâncias, Larva di caus teluricu ,procedu. Da iscuridão du cosmicu secredu, Da substancia di todas as substancias. A simbiosi das coisas mi equilibra. Im minha ignota monada,ampla,vibra. A alma dus movimentus retotarius... I é di mim qui decorrem,sumultaneas, A saudi das forças subterrâneas I a morbidez das serias ilusois.

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Epilogu Manuel Bandeira Eis quis um dia,comu Schumann,compô. Um carnaval todu subjetivu: Um carnaval im qui seu mutivu. Fossi u meu propriu sê interiô... Quandu a acabei a diferença qui havia!... U di Schumann é um poeta cheiu di amo, I di frescura,i di mocidadi... Di senilidai i da amargura... - U meu carnaval sem nenhuma alegria!....

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Odi au Burguês Mário de Andrade Eu insultu u burguês! Burguês níquel! U burguês,burguês! A digestão bem- feita di São Paulo! U homi curva! U homi – nádegas! U homi qui sendu francês,brasileiru,italianu, é sempri um cautelosu poucu a poucu! Eu insultu as aristocracias cautelosas! Us Barões Lampiões! Us condis joõis! Us duquis zurrus! Qui vivem dentru di murus sem pulus; I gemem sanguis di alguns mil reis fracus. Para dizerem qui as filhas da Sinhora falam francês I tocam o pritemps cum as unhas! Eu insultu u burguês- funestu! U indigestu feijão cum toicinhu,donu 37


das tradições! Fora us qui algorismam as manhãs! Olha a vida dus nossus setembrus ! Fará sol? Choverá? Alerquinal! Mas ´´a chuva fará sempri sol! Morti a gordura! Morti as adiposidadis cerebrais! Morti au burguês mensal! Au burguês- cinema ! Au bruguês tilburi !

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Acalantu du Mortu Henriqueta Lisboa Im seiu propici. Dormi. Di olhus sobri musgus, Boca discarnada. I ouvidus di pedra. Dormi. Tudu ista conformi Disignius precisus. Viverá cumigu. Guardarei impávida. Tua Morti,Dormi. Tua morti é minha. Não sofras,dormi. Dormi. Dormi.

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Morti

Junqueira Freire

Num achei na terra amoris. Que merecessem us meus. Não tenhu um enti nu mundu. A quem eu diga meu – adeus. Num possu da vida á campa. Transporta uma saudadi. Corru meus olhus contenti. Sem um ai di ansiedadi. Pur issu,ô morti,eu amu i num temu. Pur issu,ô morti,eu queru-ti cumigu. Leva-mi á região da paz horrenda, Leva-mi au nada,lava-mi cuntigu.

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Ireni un Céu Manuel bandeira Ireni preti. Ireni boa. Ireni sempri di bom humor. Imaginu Ireni intrandu nu céu: - Licença,meu brancu. I São Pedro bonachão: - Entra,você não Precisa pidí licença.

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Jogu di bola – Cecília Meireles A bela bola. rola: A bela bola du Raul. Rosa e amarela, A da Arabela. A du Raul, Azú. Rola a amarela I pula a azú. A bola é moli, É moli é bela É bela i pula.

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Sonetu Luiz de Camões Seti anus di pastô,Jacó servia Labão,pai di Raquel,serrana bela; Mas num sirvia au pai,sirvia a ela. I a ela só ur prêmiu pretendia. Us dias,na isperança di um só dia. Passava,contentanu-si cum vê-la. Porém o pai,asunu di cautela, Im lugá di Raquel lhe di cautela, Venu u tristi pastô qui cum inganosas. Lhi fora assim regada a sua pastora. Comu si não tivera merecida, Começa a servi ôtrus seti anus, Dizenu: - Mais servia si não fora. Para tão longe amo tão curta a vida.

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Fragmentu I João Cabral de Melo Neto

Finadu Severinu. Quandu passarius in Jordão. I us demonius ti atalharem Perguntanu u qui é qui levas... - Diz qui levas ceras, Capus e Cordão. Mais a Virge da Conceição. - Finadu severinu, - Dizi qui levas somenti. Coisa di não. Fomi,sedi,privação.

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Fragmentu II João Cabral de Melo Neto

São minerais as flores i as plantas. As frutas,us bichus. quandu im estado de palavras. E´mineral. A linha de horizonti. nossu nomis,essas coisas. Feitas di palavras. È mineral pur fim. Qualquer livru; Qui é mineral a palavras. Iscrita a fria natureza da palavra escrita.

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Fragmentu Ascenso Ferreira U gêniu da raça. Eu vi u gêniu da raça. ( Apostu comu vocês istão pensandu qui eu vou fala de Ruy Barbosa.) Comu um cão vivu dibaixu dus lençóis. Dibaixu da camisa. Da peli. Um cão purqui vivi, É agudu. U qui vivi Não intorpeci. U qui feri U homi. Pur qui vivi Choca u qui vivi. Vivi. È i entri u qui vivi. Aqui ti viu. E espessu i real. Comu uma maça. É ispessa. 46


Primeira Canção Dante Alighieri

Vois qui cum u intelectu u terceru céu movêis, Ouvi u raciociniu di meu coração, qui num sei dize-lu a outrem, tão novu mi pareci. U céu qui segui vossu valô, gentis criaturas que sois, mi transporta na condição im qui mi incontru. Pur issu u fala da vida qui conduziu. pareci qui si volta disnementi a vois: porém vos rogu qui u intendeis. Eu vos contarei di coração a novidadi, Comu a alma tristi neli chora, I comu um ispiritu contra ele fala, Paricia ser aliviu du coração( duenti) Um suavi pensamentu,qui si dirigia muita vizis aus pés di nossu sinhô. Ondi ua nulhé im gloria vivia, Qui mi falavatão docimenti qui mi flava tão docimenti qui a alma dizia : « preferiria morê”...

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Fragmentu Joaquim Cardosuo Olinda. Das perspectivas istrnahas. Dus imprevistus horizontes. Das ladeiras,dus conventus i di mi. Olhus as palmeiras du velhu simináriu, U ortu dus jesuítas. I nesti má distanti i verdi,nesti má. Nervosu i longu. Ainda veju as caravelas... Sabiu silenciu du observatoriu Quandu a noiti as estrelas passam soe Olinda. Murus qui brincam di iscondê nas moitas. Calçadas qui descem cascatianu as ladeiras.

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Sonetu da Separação Vinicius di Morais Di repenti du risu fez-si pratu. Silenciosu i brami comu a bruma. I das bocas unidas fez-si bruma. I das mãos ispamdas fez –si u ispantu. Di repenti da calma fez-si u ventu. Qui dus olhus desfez a ultima chama. I da paixão fez-si u drama. Di repenti,não mais qui dirrepenti. Fez-si tristi u qui si fez amanti. I di repenti,não mais qui dirrepenti.

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Fragmentu Henriqueta Lisboa Um poeta istevi na guerra. Dia-a- dia longus anus. Participo du caus. Da astĂşcia da fomi. Um poeta istevi na guerra. Pur entri a nevi ia metralha. Conheceu mundus i homis. Homis qui matavam homis. Qui somenti murriam. Um poeta istevi na guerra. Comu qualquer matandu. Pra fala di guerra. Tem apenas u prantu.

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Cobra Noratu Raul Bopp - Iscuta cumpadri. U qui si vê não naviu. È Cobra Grandi. - Mas u casu di prata. As velas imbojadas di ventu? Aquilu é a Cobra Grandi. Quandu começa a lua cheia ela apareci. Vam buscá troça qui ainda não. Conheceu homi. A visagi vai si sumindu. Pras bandas di Macapá. Nesti silencio di águas assustadas. Pareci qui ainda ouço um soluçu. Quabrandu-si na noiti. Coitadinha da moça Comu será u nomi dela ? Si eu pudessi i assisti u casamentu. - Casamentu di cobra grandi chama. Digraça cumpadri. 51


Só si a genti arrumá mandinga de difuntu. Uê ! Então vamos. Lobisomem está di festa no cimiteriu.

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Essa nega fulô Jorge de Lima Ora si deu qui chegô. I issu já faz muitu tempu. Nu banque dum meu avô. Uma nega butinha Chamada fulo. Essa nega fulo. Essa nega fulo. Ò fulo! Ò fulo! Era a fala da sinhá cama, Pinta us meus cabelus. Vem aqui ajuda a tira. A minha fofa fulo! Essa nega fulo! Essa neguinha fulo. Fico logo para nunca. Pra vigiá a sinhá. Pra ingomá pru sinhô! Essa nega fulo! Essa nega fulo!

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Fragmento Mario Chamie U ferreti é a liberdadi. A ferrugi é a liberdadi. A ferradura é a liberdadi. ( Sua retórica é u rui Sua retórica é u ruidu. Sua retórica é a ruína). Nas feiras,qui é afalada. Qui é falida i qui gruda, Tomi a palavra chata Tomi a palavra chula. I levi tudu as claras I gema i até misturi Coisas corpu i alma. Di vida i di cultura.

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I levi au fornu i passi. A forma na gordura. Depois coma i disfarce. Us bigodis da gula.

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Fragmentu Luiz F. Papi Us deusis da cultura si inraivessem. Nus tempo qui ruira,numa ilha. Ontem ismagadas pelos Sugar Acts de United Fruit & Crime & Bananeiras. I ondi u tufão canavieru chora. Nu filru das magias antilhanas. Us deusis qui culturas si inraivessem. Ali,Américas,im tua simbria. Ondi u fantasma qui desceu di sierra. Maestra vela u berçu cariaba. I sua aprendizaje. Di vê e mais longi. Farejamus. U qui continha. Além da quinta das nuvens. I tantas vinhas altas. Qui neli ventam i pungem. Puxamus rius Pela mão. U horizonti tão humanu. Qui era um rostu, Um rebanhu 56


Di sofrimentu paradu. U horizonti. U lumi feroz das coisas, Im Rio Grandi.

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Fragmentu Gilberto Mendonça Tomi a palavra suja, Cabiluda i cum caspas. Essa qui tem açuca Nu sangui,i sobretaxa. Tomi a qui sendu iscrava. Da tribu i du tributu. Mostra nu curpu as marcas. Di lacri,logru i lcru. Podi sê a di baixu. Calão a manteuda. Comu opção,comu cagadu. Essi qui si disputa.

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Fragmentu Emilio Moura

Hoji,pensandu im ti,fiquei parada. U coração abertu. Tua sombra veiu e posô levimenti sobri U meu ombru/cansadu I a tuas mãos quase tocaram di Levi Us mous olhus qui Não ti verão mais. Nu intantu eu poderia dizer-ti comu Nu triunfo: - Qui tal u teu filhu,feliz comu um rei? I u meu risu vitoriosu havia di converserti,finalmenti. Mas u teus olhus si imbaciavam. I a tua mão tremeu di Levi. Sobri u meu ombru cansadu. Nu intantu,quandu aparecesti, Tu istava serenu, Serenu,Infinitamenti serenu, 59


Meu pai. Qual! U geniu da raรงa qui eu vi. Foi aquela mulatinha chocolati. Fazendu a passu di siricongadu. Na terรงa-feira di carnaval!

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Cinema Aquilu qui é u tal di cinema! - U homem saiu di traz da moça, Peça aqui,pega acolá, Pega aqui,pega acolá, Até qui pega-la. Pegô-la i sustento-la Danu-lhi beiju. Danu-lhi beiju. Danu-lhi beiju!... Depois intraram para dentro dum quartu! Fez aquela iscuridão. I eu só vi u lençol bulinu. Mi diga uma coisa,D.Nina issu presta pra moça vê?!...

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Fragmentu Ledo Ivo U qui si esquiva im mais si levanta Nu sul da arti poética,nu chama. Ondi u meu sê transfiguradu hama. Qui eu iscreva a canção qui não mi incanta. Mas,pur falá di mim,sempri mi ispanta. Pela perícia cum qui mi proclama. I eu distruo u supérfulo fluo,usanu a chama. Não si faz um sonetu;eli aconteci I irrompi da alquimia du qui somus Subinu as altas torris du não sê Nas rimas qui ninguem nus ofereci, Pungentis,nós seguimus,o fitamus Quatorze cazas para nus contê.

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A Caridadi Machado de Assis Ela tinha u rostu uma expressão tão calma. Comu u sonu inocenti i primeiru di uma alma., Dondi não si afastam ainda u olha di Deus; Uma serena graça,uma graça dus céus, Era-lhi u castu,u brandu,u delicadu andá, I nas asas da brisa iam-lhi a ondear. Sobri u graciosu colu as delicadas tranças. Levara pela mão duas gentis crianças.. Ia camim. A um ladu ouvi magua du pratu. Parô.I na ansiedadi ainda u mesmu incantu. Discia –lhi as feições.Procurô. Na calçada.

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(Mini Glossário do Dialeto Mineirês) Mini Glossário du Dialetu Mineirês

Sabi Ajuíza Quem qué Pulitica,pulitica Mintir,mintira Falsu Triá Consienti Docenti Iminenti Pra genti Ele é Brabu E´omi Nas verdadi São assim memú. Muié. Macho Lerdu 64


Corretu Certu Exclamanu Imaginanu Faladu Feitu Cortadu Caladu Sabi Tudu Lidu Ce´tá´bem ( Cê,Ocê Criolo di Cabo Verde) Nois´podi faze – Prô´cê Tá com´cê´ Tá iscritu Uai Só Tu podi Cê´devi Come Comé qui eu num vi Uai eu num vi ninhum Aça Eu dexu 65


Iscutei Passagi Paisagi Cê´tremi Nu mei Conta casu Miju,mijá Contá Iscrevê Pra Te Batê Eu naum inguli Cumê bem Neuniaum Si´ocê´pega Lixu Bixu Mineru Lutadu Capadu Viadu Paradu Bãe Enchi Isvaziá Cantá 66


Bodi Cachorru Trambiqueru Idadi Identidadi Amizadi Namoradu Na linguagi di Zé dá. Deleitô Leitô Leiti Cumida Eu vô ´debatê Di repenti Matá Intedê,Intendimentu,Intendi. Certu Dimais Chanci Saí Impregu Pratu Cabisbaixu Choranu Machucadu Cê´Machucô 67


I o ovu Quase Cabô Carru Jão Zé Demonstá Quiria Iscola Cabissuda Feiz Veiu Mei Mei di vida Machucadu Chei Vazi Chica Azidumi Casá ( Kasa – Criolo de Cabo Verdi) Tampá Madera Usá Incorporô Cascá- (Kaska – Criolo de Cabo Verdi) Oiá 68


Peitu Traidô Namorá Méis Rapaiz Povu Digu Minimu Atrividu Piquenu Dumingu Locura Vassora Jabucatiba Veno Pôno Caínu U´zoni Adimirá Andaro Virgi

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Bão Muié Interaju Deixu Oreiá,oreia,oreiudu Ladu – ( Ladu – Português séc. XVI) Deiz Diverti,Divirtida Divirti Brasileiru Durmi Lugá Pegá Cantu Inglêis Midi u pulsu Fíu Uai Trem – Usado para variadas coisas

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