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Dados: os mais fortes e atuais aliados da pecuária leiteira

SANIDADE

Raquel Maria Cury Rodrigues, Zootecnista pela Unesp de Botucatu e Especialista em Gestão da Produção pela Ufscar

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Dados: os mais fortes e atuais aliados da pecuária leiteira

Conduzir a pecuária leiteira a um novo patamar por meio de uma gestão precisa de dados e soluções inteligentes automatizadas, ágeis e fáceis de serem manipuladas. Essa é uma realidade que ganha cada vez mais espaço na atividade, visto que maximiza o valor do negócio, seja integrando e conectando informações, seja explorando o mundo dos algoritmos em busca de resultados mais precisos.

São várias as tecnologias disponíveis hoje, com esse intuito, mas em comum elas priorizam a transparência e clareza da propriedade rural, ressignificando o valor do conjunto de informações capturadas, organizando-as e decifrando possíveis obstáculos que emperram a alavancagem da produção de leite. De maneira bem resumida, elas permitem que o pecuarista e sua equipe conheçam com mais detalhes os entraves da fazenda, contribuindo para que ela se posicione no mercado estrategicamente e com discernimento.

Para Cristian Martins, gerente de Produtos da Rúmina, são inúmeras as informações desde o momento em que a semente de milho é semeada até o preço do litro de leite no mercado. Segundo ele, a pecuária de leite é complexa e diversos fatores podem afetar a eficiência econômica da fazenda. Dessa forma, tecnologias como softwares de gestão de rebanho e algoritmos de inteligência artificial têm se tornado cada vez mais importantes para os produtores identificarem os principais fatores que impactam na eficiência econômica da fazenda.

“Você já parou para pensar no volume de dados que podem ser extraídos de uma fazenda de leite? Por meio de tecnologias é possível entender o comportamento de índices zootécnicos e seus impactos na eficiência produtiva, medir a eficácia das ações tomadas e até mesmo predizer ocorrências de principais doenças e tendências futuras do rebanho”, comentou.

Em cima disso, quem poderia imaginar há uns anos que o setor leiteiro seria auxiliado no diagnóstico automático da mastite clínica e na análise de dados por meio da inteligência artificial? Pois bem, essa já é uma realidade. E isso só foi possível devido a um banco de dados robusto com milhões de imagens de leitura de placa de cultura armazenadas ao longo do tempo. De maneira resumida, a tecnologia compara a foto tirada pelo produtor com todas as outras do seu banco de dados para diagnosticar qual é o agente causador da mastite naquele caso, levando em consideração as características de

O sucesso da pecuária leiteira está ligada à gestão precisa de dados e soluções inteligentes automatizadas

forma e cor das colônias bacterianas. Além disso, existe um outro algoritmo que avalia o escore das chances de cura da mastite, gerando informações com dados reais para a comunidade de OnFarmers, produtores que usam o sistema OnFarm de cultura microbiológica na fazenda.

Cristian ainda acrescentou que nos últimos anos, uma nova descrição surgiu para a sigla “IA”. “O que durante muito tempo foi destinado apenas para representar a inseminação artificial, agora pode ter mais uma associação: inteligência artificial. Ela já está presente em diversas fazendas do Brasil e poderá ser considerada uma revolução tanto quanto a inseminação artificial foi quando surgiu no mercado, mudando de patamar o desempenho das fazendas”.

São diversos os exemplos em que vemos atualmente a inteligência artificial sendo aplicada: nos sistemas de ordenha voluntários (robôs); sistemas de colares de monitoramento de cio e detecção de doenças; ou, ainda, na análise de dados do rebanho em busca de entender padrões, análise da eficácia de ações e até mesmo predizer tendências do rebanho com base nos padrões históricos. De acordo com o gerente de Produtos Rúmina, o uso de softwares de gestão e soluções utilizando inteligência artificial são caminhos sem volta para as fazendas que querem seguir aumentando sua eficiência produtiva, econômica e sustentável.

E como ter eficiência na gestão, na análise de dados e na tomada de decisões?

Basicamente, o produtor pode seguir alguns passos para alcançar os melhores resultados dentro da sua fazenda. A gestão por resultados começa pelo registro de dados no campo, depois, o lançamento dessas informações em uma base de dados. A partir disso, é possível fazer uma análise e interpretação para, então, o produtor tomar as melhores decisões.

Para a escolha da tecnologia, como um software por exemplo, é necessário antes de tudo entender quais são as demandas da fazenda de leite para não perder o foco e direcionar os passos em prol dos principais objetivos. Não é coerente o levantamento e registro de um extenso volume de dados sem o tratamento adequado e uso estratégico dos mesmos. Na rotina no campo são diversos os indicadores que devem ser acompanhados e trabalhados. Eles vão desde a compra dos insumos, acompanhamento zootécnico e planejamento financeiro e econômico.

Vale destacar que a base desses sistemas tecnológicos é construída normalmente por meio dos próprios dados da fazenda e que - de maneira ágil e eficaz - pode ajudar a identificar o retrato atual da leiteria e fazer uma leitura do que mais necessita de atenção no momento. O intuito é sempre ter um plano de ação definido, com metas responsáveis, prazos e desdobramentos.

E é através da era tecnológica que hoje já é possível: • saber quais são os melhores tratamentos e como controlar determinadas doenças no rebanho, como a mastite; • quais são os sêmens que proporcionam as maiores taxas de concepção; • até quando o investimento em ração está sendo convertido em produção de leite; • eliminar erros oriundos de lançamentos feitos à mão; • ter acesso a aplicativos para uso no campo; • realizar backups na nuvem com segurança de dados, entre outros.

A transformação de dados em informações para tomada de decisões é o caminho para aproveitar as oportunidades com uma análise assertiva. É muito importante que esses registros sejam adequados e, para isso, cada fazenda deve estruturar o seu processo e definir o que funciona melhor dentro de sua realidade. Uma questão que pode parecer muito básica, mas que vale ser comentada é que a qualidade dos dados é fundamental. Se a informação inserida no banco de dados do sistema for imprecisa, o resultado também vai ser impreciso e não será útil para tomar decisões que tragam retorno para a fazenda.

Inclusive, o Índice Ideagri de Leite Brasileiro (IILB), referência sobre qualidade e eficiência produtiva da pecuária leiteira nacional, mostrou que o setor leiteiro ainda tem grande espaço para crescer. De acordo com o boletim publicado pela Ideagri, empresa que o desenvolve, na pecuária moderna as fazendas que se destacam são as que realizam uma gestão inteligente dos dados.

Assim, pode-se notar que o mundo digital e a internet das coisas (IoT) vêm sendo grandes facilitadores da agropecuária. No meio rural, cabe a cada fazenda leiteira encontrar a tecnologia que mais contribuirá com as suas ações do cotidiano. Vale apostar - sem medo do novo - nessa nova realidade, já que, sem dúvidas, os frutos colhidos serão extremamente fartos.

O que lemos para escrever esse artigo:

Como ter eficiência na gestão de dados e na tomada de decisões?, Ideagri, 2021. Disponível em: <https://ideagri. com.br/posts/como-ter-eficiencia-na-gestao-na-analise-de-dados-e-na-tomada-de-decisoes>. Acesso em: 13/09/2022.

Grande volume de dados pode ser extraído de uma fazenda de leite

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Raquel Maria Cury Rodrigues, Zootecnista pela Unesp de Botucatu e Especialista em Gestão da Produção pela Ufscar Giulia Soares Latosinski, Médica Veterinária, Mestre em Medicina Veterinária Preventiva com ênfase em qualidade do leite, diagnóstico e controle de mastite bovina pela FMVZ/UNESP Botucatu e Analista de Sucesso do Cliente na OnFarm

Rotina de ordenha deve ser organizada e com respeito a todos os procedimentos

O sucesso da pecuária leiteira está ligada à gestão precisa de dados e soluções inteligentes automatizadas

Para ter qualidade no leite, redução de mastite e lucratividade, é essencial o uso de indicadores como a contagem de células somáticas e a contagem padrão em placas.

A Contagem Padrão em Placas (CPP) e a Contagem de Células Somáticas (CCS) são aliadas do produtor de leite visto que são parâmetros que os guiam na identificação de possíveis problemas com a qualidade do leite.

A CCS nada mais é do que a quantidade de células de defesa da vaca e de células epiteliais da glândula mamária por cada mL de leite. Esse indicador se relaciona diretamente com a saúde da glândula mamária já que quando há um processo infeccioso em curso, ocorre a migração dessas linhagens celulares para tentar combater o microrganismo responsável

pela mastite.

São diversas as consequências negativas causadas pelos altos valores de CCS, tanto com relação ao impacto negativo na produção de leite, como no rendimento industrial devido às alterações na composição da matéria-prima. Por isso, é importante que a CCS seja controlada e que haja a implantação de medidas de controle com base nas prioridades, objetivos, situação financeira e potencial de crescimento da fazenda.

Não ter um plano para detectar continuamente as vacas com mastite subclínica pode acabar saindo caro para o bolso do produtor de leite.

Então, como controlar a contagem de células somáticas no rebanho?

Antes de tudo, é interessante destacar que a CCS do tanque é um indicador para a mastite subclínica no rebanho. Já a CCS individual, além de também calcular a prevalência de mastite subclínica, monitora a incidência de novos casos e a prevalência de animais crônicos.

A implementação da rotina na coleta dos dados e a identificação dos patógenos causadores de mastite são peças-chave no combate à doença. Tratar (quando necessário) as vacas às cegas, faz com que as chances de cura sejam menores, assim como a rentabilidade do negócio.

Assim, é recomendado a cultura microbiológica do leite em animais que apresentarem CCS >200 mil células/ml e de todos novos casos de infecções subclínicas (CCS <200 mil na análise anterior e >200 mil na análise atual), dos animais pós-parto (principalmente novilhas) e de mastite clínica.

Além da avaliação desses indicadores, é necessário acompanhar a situação do rebanho e desenhar o escopo do problema, começando, por exemplo, com esses itens:

Análise da frequência de novos casos;

Infecções curadas e crônicas; Ajustes na linha de ordenha;

Separação dos animais sadios e infectados;

Cálculo de contribuição individual das vacas sobre a CCS do tanque.

Outras dicas valiosas para evitar o aumento de contagem de células somáticas são:

Manutenção das vacas leiteiras em ambientes limpos, confortáveis, bem dimensionados e limpos constantemente para reduzir a contaminação dos tetos;

Rotina de ordenha organizada e com respeito a todos os procedimentos a fim de resultar em tetos limpos, secos e bem estimulados;

Rotina de manutenção e uso adequado dos equipamentos de ordenha. Estes, devem passar por avaliação e manutenção periódica para a garantia do seu bom funcionamento;

Dar a devida atenção para a secagem das vacas a fim de evitar novas infecções;

Descarte e/ou segregação de vacas com mastite crônica;

Implantação de medidas de biossegurança contra mastite contagiosa e;

Avaliação periódica das medidas de controle de mastite.

Contagem padrão em placas: um bom indicador higiênico-sanitário da ordenha

A CPP quantifica o número total de bactérias aeróbias do leite cru. Ela é utilizada para monitorar a qualidade do manejo de ordenha, já que acaba sendo um retrato das práticas adequadas de limpeza do sistema de ordenha, higiene do úbere, técnicas para prevenção, controle da mastite, entre outros.

Na CPP, uma alíquota de leite é distribuída em placas com meio de cultura e incubada. As bactérias presentes no leite, e que se encontram viáveis, crescem a tal ponto de serem visíveis a olho nu, chamadas “colônias”. Com isso é possível contar quantas cresceram e em função do volume da amostra, determina-se a CPP expressa em unidades formadoras de colônias por mL de leite (UFC/mL).

Embora seja muito difícil eliminar todas as fontes de contaminação bacteriana no leite, há muitas medidas para reduzir essa contagem focando principalmente em procedimentos de ordenha bem realizados.

É interessante destacar que a contaminação do leite cru ocorre principalmente durante e após a ordenha. A contaminação ambiental da pele dos tetos e do úbere são potenciais fontes de contaminação do leite cru durante a ordenha. Os tetos podem estar contaminados pela microbiota normal da pele dos tetos ou por microrganismos ambientais. A microbiota da pele dos tetos tem menor contribuição para a contaminação do leite, pois não se multiplicam no leite refrigerado.

Ainda abordando o tema refrigeração, vale a pena destacar a importância dessa importante etapa dentro da propriedade após a ordenha, pois quanto mais rápido for a redução da temperatura, melhor será a conservação do leite. O resfriamento imediato após a ordenha em temperatura ideal com condições adequadas de higiene sem dúvidas é um dos principais pontos na produção de leite com qualidade, pois com a temperatura de armazenamento correta, diminui-se a taxa de multiplicação bacteriana.

Segundo a IN 76, tanto na refrigeração do leite quanto no seu transporte até o estabelecimento, devem ser observados os seguintes limites máximos de temperatura:

I – Recebimento do leite no estabelecimento: 7,0° C (sete graus Celsius), admitindo-se, excepcionalmente, o recebimento até 9,0° C (nove graus Celsius);

II – Conservação e expedição do leite no posto de refrigeração: 4,0° C (quatro graus Celsius);

III – Conservação do leite na usina de beneficiamento ou fábrica de laticínios antes da pasteu-

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