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PASTO IRRIGADO POTENCIALIZA PECUÁRIA LEITEIRA

FIGURA 2 – Produção de leite conforme nível de estresse térmico.

ordenada pela Embrapa Gado de leite e Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, incluiu em seu sumário, em 2022, a classificação de tolerância ao estresse térmico dos animais. Com base nos resultados obtidos por meio de minucioso estudo, considerando mais de 650 mil controles leiteiros, de mais de 69 mil vacas, e com aproximadamente 21 mil animais genotipados, coletados de 2000 a 2020 no Brasil todo, verificou-se ótimo desempenho da raça para tolerância ao calor.

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A Figura 1 ilustra os limites de conforto térmico de cada uma das principais composições raciais do Girolando. Na mesma imagem, consta, para comparação, o limite de conforto térmico identificado na raça Holandesa, utilizando a mesma metodologia. É possível observar a superioridade dos animais Girolando para tolerância ao estresse térmico, uma vez que a diferença pode chegar a 10ºC quando comparamos os limites extremos de tolerância ao calor. Esta diferença é extremamente significativa quando se trata de sistemas de produção a pasto em clima tropical, como é o caso do Brasil, pois mostra que os animais da raça Girolando mantém estável sua produção de leite, apesar do aumento da temperatura. Dessa forma, a raça contribui para uma constância de oferta de matéria-prima para a indústria, independente da estação do ano e das condições climáticas.

Quando os animais estão em estresse térmico podem deixar de produzir em média 1.000kg de leite, considerando uma lactação de 305 dias (Figura 2). Em casos de estresse térmico severo, as perdas produtivas superaram os 2.000kg de leite por lactação. Valores muito expressivos e que demonstram que uma vaca, em uma única lactação, pode deixar de produzir até 34%. A perda produtiva gera impacto negativo em toda a cadeia do leite e ao mercado consumidor, em função da sazonalidade da produção de leite nos trópicos.

O benefício de uso de animais da raça Girolando para contornar os desafios climáticos se deve ao uso de animais mais tolerantes geneticamente ao estresse térmico, os quais consequentemente são mais eficientes em produção e, com isso, há redução na intensidade de emissão de metano por quilograma de leite produzido, fazendo com que seja possível atender os requisitos da COP-26, em um dos cinco pilares,

a agricultura e pecuária de baixo carbono e preservando as condições de bem-estar animal. Estudos realizados pela Embrapa Gado de Leite comprovam que ao longo de 18 anos (2000 a 2018), houve aumento de 60% na produção de leite de bovinos da raça Girolando e os mesmos apresentaram redução de 40% na emissão de metano (g CH4 por quilograma de leite produzido) (Pereira e Silva, comunicação pessoal, 14 de setembro de 2022) - (Figura 3). Nesse contexto, a raça Girolando se encaixa no conceito vaca do futuro, o qual se refere a uma nova geO benefício de uso de animais da raça Girolando para contornar os ração de animais cujas emissões de gases que provocam o efeito estufa desafios climáticos se deve ao uso de animais mais tolerantes geneticamente são reduzidas, além de ser mais efiao estresse térmico, os quais consequentemente são mais eficientes em cientes produtivamente e tolerantes produção e, com isso, há redução na intensidade de emissão de metano por às mudanças climáticas. Além de oferecer ao mercado um produto quilograma de leite produzido, fazendo com que seja possível atender os com maior consciência ambiental, é requisitos da COP-26, em um dos cinco pilares, a agricultura e pecuária de possível agregar valor na comerciabaixo carbono e preservando as condições de bem-estar animal. Estudos lização e globalização do material genético dos animais mais adaptarealizados pela Embrapa Gado de Leite comprovam que ao longo de 18 anos dos às mudanças climáticas, expan(2000 a 2018), houve aumento de 60% na produção de leite de bovinos da dindo as fronteiras de um produto raça Girolando e os mesmos apresentaram redução de 40% na emissão de de origem brasileira. Outro aspecto importante é metano (g CH4 por quilograma de leite produzido) (Pereira e Silva, quanto à problemática da possível comunicação pessoal, 14 de setembro de 2022) - (Figura 3). crise alimentar mundial, pois o uso de animais mais tolerantes às mudanças climáticas, cenário de um futuro incerto, podem contribuir para a eficiência produtiva de um alimento extremamente rico nutricionalmente e importante para o desenvolvimento infantil e, ainda assim, contribuir na redução de gases de efeito estufa. FIGURA 3 – Produção de leite e intensidade de emissão de gases de efeito estufa.

MANEJO

Larissa Vieira

Animais em sistema de pastagem irrigada na Agropecuária Irmãos Chiari

Produção de leite a pasto com uso de pivô central, aliado à genética da raça Girolando, vem garantindo a expansão de projeto pecuário em Goiás

O pasto irrigado por pivô central vem viabilizando a produção de leite em larga escala da Agropecuária Irmãos Chiari, localizada em Morrinhos/GO, cujo projeto é atingir nos próximos anos 20 mil litros/dia, aumento de 11% em comparação aos atuais 18 mil/litros/dia. Como já utilizava o pivô para a produção de grãos na propriedade, o grupo decidiu diversificar os negócios e explorar esse sistema também na pecuária, o que vem ocorrendo desde 2008. “Antes trabalhávamos com um sistema mais simples, de pasto e cocho, mas o irrigado garantiu a expansão do projeto. E a raça Girolando encaixou como uma luva no manejo a pasto, pois os animais adaptam-se muito bem a sistemas mais tropicais. Hoje temos 700 vacas em lactação. Elas são manejadas a pasto e duas vezes ao dia, após cada ordenha, recebem um concentrado”, explica o pecuarista José Renato Chiari.

A exceção fica para o grupo de

Criatório redobra a atenção com a qualidade das forrageiras

primíparas, mantidas no compost barn durante o dia e, à noite, vão para o pasto. Elas ficam nesse manejo até 100 dias após o parto e, depois, seguem para o sistema de pasto convencional. A estratégia tem como objetivo evitar problemas de balanço energético negativo, condição fisiológica que pode ocorrer durante o período de transição das vacas, diminuindo a produção de leite e causando perdas econômicas. A propriedade fica a 850 metros de altitude, o que garante noites frescas para as vacas pastejarem, porém durante o dia é quente. Morrinhos tem uma época de chuva bem determinada, sendo seis meses de chuva e seis de seca, exigindo do pecuarista um planejamento muito grande para garantir comida para o gado o ano todo.

A Agropecuária Irmãos Chiari conta com três pivôs, sendo dois de 17ha, que dão 34ha, e um maior que cobre 44ha. É feita a rotação dos pivôs para que possam irrigar toda a área de pasto, que e dividida em formato de pizza, 35 no total. Cada pivô irriga duas partes, ficando um período de 12 horas em cada pizza. Sempre oferecendo pasto de ponta para os animais em lactação.

A estrutura do pivô ainda é utilizada para fazer uma aspersão sobre os animais durante o dia. “Quando as vacas se aquecem vão lá tomar uma chuveirada. Isso ajuda na parte de controle do estresse térmico”, destaca.

Como no verão a fazenda tem excesso de produção de forrageira, as sobras são utilizadas para fabricação de silagem de capim (pré-secado de capim), garantindo alimento para o rebanho no inverno. Outra estratégia adotada é a sobressemeadura, que consiste em plantar pastagens anuais de inverno sobre a pastagem perene de verão ou o campo nativo. Com essa medida, a produção das forrageiras de inverno preenche o vazio criado pelas espécies de verão, que no caso da Agropecuária Irmãos Chiari são cultivadas tifton e mombaça. “Nos meses de abril e maio, plantamos aveia e azevém em cima do pasto de verão para garantirmos boas pastagens nos meses de junho e julho. Com essas duas medidas, estamos conseguindo fugir da diferença de produção de forrageira comum no inverno/verão. Estamos muito felizes com o sistema a pasto”, conta Chiari. Para ajudar na adubação dos pastos, a fazenda faz a compostagem do esterco, contribuindo para a redução dos custos.

O pecuarista alerta, porém, que a produção a pasto exige cuidados constantes. “É preciso estar ligado o tempo inteiro, pois trabalhamos com muitas variáveis dentro de uma produção a céu aberto, literalmente. É importante acompanhar a qualidade do pasto, a disponibilidade de forragem, buscando o melhor pasto para ser consumido, pois as vacas precisam do máximo consumo possível para produzirem bem”, orienta.

Apesar da atenção redobrada com a qualidade das forrageiras, a produção a pasto é vantajosa economicamente, principalmente em momentos de alto custo dos insumos, como vem acontecendo agora. Segundo Chiari, o produtor consegue produzir leite com um custo menor que o sistema confinado.

Chiari destaca ainda que, dentro do sistema a pasto, é mais interessante trabalhar com um índice de produção/hectare e não produção/

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