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COMO GARANTIR UMA FORRAGEM DE QUALIDADE PARA O GADO LEITEIRO?
ENTREVISTA
por Larissa Vieira
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Pesquisas com Girolando avançam na Universidade de Viçosa
Graças à doação de novilhas Girolando feitas por diversos associados da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, a Universidade Federal de Viçosa tem conduzido vários estudos com a raça nos últimos anos. Essa parceria contribui para a formação de futuros profissionais das áreas de Ciências Agrárias (Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia, Agronegócio e Laticínios), permitindo uma vivência maior com a raça e em experimentos diversos. Em um bate-papo com a Revista Girolando, a professora de Nutrição e Produção em Bovinocultura de Leite da Universidade Federal de Viçosa, zootecnista e doutora em Produção e Nutrição de Ruminantes, Polyana Pizzi Rotta, explica como está o projeto, os resultados já alcançados e como tem sido o manejo dos animais. Ela destaca que os avanços genéticos do Girolando colocam a raça como uma excelente opção para produção de leite de forma sustentável e com rentabilidade. Confira:
Girolando
Polyana Pizzi Rotta
O rebanho da raça Girolando da Universidade Federal de Viçosa foi formado por animais doados pelos associados da entidade. Que balanço faz dessa parceria?
A parceria entre a Girolando e a Universidade Federal de Viçosa é extremamente positiva. Mesmo com o número restrito de animais da raça para realização de estudos, estamos finalizando vários experimentos. Em uma das teses de doutorado foi avaliada a utilização de BST em novilhas, com o objetivo de reduzir a idade ao primeiro parto e diminuir também a deposição de gordura. Outra tese é sobre programação fetal a partir de diferentes dietas que as novilhas recebem durante a gestação. Temos ainda um experimento de mestrado, também envolvendo programação fetal, avaliando a expressão de genes relacionados ao desenvolvimento da placenta de animais que sofrem restrição nutricional durante a gestação. Outro estudo em andamento está avaliando a resposta reprodutiva de filhas dessas novilhas que foram submetidas a diferentes dietas durante a gestação. Acreditamos que com esses quatro experimentos bem consolidados, com bastante informação interessante, conseguimos resultados muito interessantes que não tínhamos antes para a raça. Além disso, a parceria está contribuindo para a formação dos profissionais, nos
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Polyana Pizzi Rotta
mais diversos níveis de estudo, indo desde a graduação, com a iniciação científica, até o doutorado.
Em relação às exigências nutricionais da raça, o que os estudos baseados em dados de animais Girolando no País mostram?
Ao longo dos últimos 15 anos várias pesquisas foram geradas no País, objetivando conhecer melhor as exigências de animais Girolando, mas precisamos evoluir muito. Para isso, é preciso um grande número de animais para chegarmos às exigências corretas de animais de cada composição racial do Girolando. No caso de raças como a Holandesa, que tem um padrão só, os estudos sobre as exigências nutricionais ficam um pouco mais fáceis de trabalhar, em termos de N de animais. Na UFV, tivemos três orientados que conduziram experimentos com vacas Girolando durante a gestação, avaliando a parte da proteína, da energia e a parte de minerais. Vimos que existe muita discrepância entre as exigências consolidadas para Holandês comparado a Girolando, indicando que deveríamos formular a dieta do animal com base na exigência de Girolando. O INCT, que é o Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia de Ciência Animal, vem trabalhando no BR Leite, que visa ser um sistema de exigências nutricionais para raça Girolando. A pri-
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Polyana Pizzi Rotta
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meira versão foi lançada no início do ano. Mesmo com essa publicação, precisamos conduzir mais experimentos, aumentar o N e o banco de dados para que possamos responder as dúvidas referentes à exigência nutricional de todas as composições raciais do Girolando.
De que forma a parceria com a Associação de Girolando tem contribuído para a formação dos estudantes?
A parceria tem contribuído para a formação profissional de diversos estudantes, pois toda vez que conduzimos experimentos na pós-graduação envolvemos também estudantes da graduação. Eles têm a oportunidade de trabalhar diretamente com a raça. Antes da parceria não tínhamos na UFV exemplares Girolando e tínhamos que trabalhar somente com a raça Holandesa. Agora, essa realidade mudou. Além disso, nas nossas aulas práticas conseguimos mostrar as diferenças de conformação, fenotípicas, de manejo do Girolando em comparação ao Holandês.
Como tem sido o manejo dos animais e o direcionamento adotado, inclusive os cruzamentos, para garantir o avanço genético do rebanho?
Atualmente, os animais têm sido manejados no free stall e compost barn, que são os tipos de sistema de confinamento que temos na UFV. Recebem dois a três banhos por dia antes das ordenhas, sendo submetidos a três ordenhas diárias. É um sistema bem intensivo que visa conforto aos animais e otimizar a produção. As novilhas doadas pelos associados, que chegaram por volta de 10 meses de idade, estão agora em fase de lactação. Elas receberam embriões Girolando CCG 3/4, doados pela Fazenda Santa Luzia, que aproveito aqui para agradecer o criador Maurício Silveira Coelho pelos 50 embriões cedidos. Esse material genético foi utilizado no experimento de programação fetal. Para esta pesquisa era necessário o nascimento somente de fêmeas e do mesmo padrão genético, e optamos pela composição 3/4 em decorrência do tipo de instalação de manejo que temos na UFV. Estamos observando médias de produção acima de 30 litros nas novilhas em primeira lactação. As filhas dessas novilhas são todas 3/4. Agora, estamos inseminando os animais doados com sêmen de Holandês, visto que para o nosso padrão de confinamento ter animais com essa composição é mais apropriado. Daqui em diante os experimentos continuam com as duas gerações.
Girolando
Polyana Pizzi Rotta
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A UFV teve participação importante no estudo inédito no mundo sobre genoma de Girolando, publicado no Journal of Dairy Science em 2020. Acredita que a genômica futuramente substituirá as avaliações tradicionais da raça?
Acredito que a genômica veio realmente para ficar e estou muito feliz de ver a evolução que a raça está alcançando com essa ferramenta. É uma tecnologia que vai ajudar muito o produtor e que, com certeza, fundamenta ainda mais a seleção de animais, dando mais segurança, colocando o Girolando em um patamar de raças importantes para o Brasil. É um ganho não só para a Associação e produtores, mas também para a população em geral, que será beneficiada com um leite de excelente qualidade nutricional.
O que os estudos têm apontado em relação à raça Girolando e as mudanças climáticas?
Na UFV não temos estudos sobre impacto ambiental específico da raça Girolando, mas em um contexto geral de nível de produção. Sabemos que quanto maior é a produção da vaca menor será o impacto gerado em relação ao metano. Por exemplo, se eu precisar produzir mil litros de leite e tiver no meu rebanho cem vacas, com média de dez litros/dia, vou ter cem vacas com volume de produção de metano e de dejetos muito grande. Se eu conseguir produzir os mesmos mil litros de leite com quarenta vacas, com média de 25 litros/dia, consigo diminuir muito a produção de metano, ou seja, mais importante do que a raça nesse caso é a produção por vaca. Temos visto no Girolando uma evolução grande de produção, com vacas produzindo muito leite. Este é o caminho. Quase a metade do que é liberado de gases de efeito estufa em uma fazenda é do metano entérico, produzido pelo animal. Este é o ponto que precisamos focar em diminuir. Outro ponto é a nutrição. Vacas que se alimentam mais de pastagem e comem menos ração acabam eliminando mais metano. Precisamos trabalhar com a dieta dos animais de tal forma que eles produzam mais leite, permitindo ao produtor ter menos vaca no rebanho e, de certa forma, que haja diminuição da produção de metano pela diminuição de consumo de pasto, por exemplo. Por outro lado, é importante destacar que as pastagens bem manejadas contribuem para a captação do carbono, ou seja, para o equilíbrio do carbono na fazenda. Agora, se a fazenda tem pasto degradado, não há essa contribuição.