9 minute read

ESCOLHA DE HÍBRIDOS PARA SILAGEM DE MILHO

PASTAGEM

Bruno Guimarães, Médico-veterinário, técnico do Rehagro Leite

Advertisement

Como garantir uma forragem de qualidade para o gado leiteiro?

Planejamento ajuda a ter uma forragem de qualidade

O consumo do volumoso é parte essencial para a manutenção da saúde e bom desempenho dos ruminantes.

Com as vacas leiteiras não é diferente: a oferta de forragem de qualidade garante funcionamento adequado do rúmen e contribui para a saúde e boa produção de leite dos animais.

Quais passos, contudo, são necessários para garantir uma forragem de qualidade para o rebanho?

Qual forragem produzir?

Antes de tudo é necessário entender que nem sempre a espécie forrageira que melhor se adapta na sua fazenda é a mesma que melhor se adaptará na propriedade de outro produtor.

Esta é uma questão multifatorial e que depende da realidade de cada fazenda. A situação prática a seguir ajudará a esclarecer isso.

Considere uma fazenda produtora de leite cujo sistema de produção é a base de pasto rotacionado. Logo, a principal forragem para essa fazenda será justamente o pasto.

Da mesma forma, não condiz uma fazenda com sistema de produção confinado ter como principal forragem o pasto, certo? Esses exemplos, por mais básicos e lógicos que sejam, servem para retratar o raciocínio que devemos ter. Em outras palavras, a forragem produzida deve ser coerente com o objetivo da fazenda.

As características de área da propriedade também interferem diretamente. Variáveis como clima, topografia, altitude, perfil de solo, média anual de temperatura e pluviosidade fazem toda a diferença no momento de decidir qual forragem produzir.

Em regiões com boa distribuição de chuvas, por exemplo, é factível a produção de culturas mais exigentes, ao passo que em regiões com regime pluviométrico desafiador pode ser mais interessante a produção de culturas mais rústicas e tolerantes.

Em ambos os cenários citados é possível viabilizar a produção forrageira com qualidade. Tudo depende de um diagnóstico situacional bem-feito, que identifique de forma criteriosa as oportunidades da fazenda. Ou seja, devemos sempre identificar o padrão de rebanho leiteiro que estamos trabalhando (exigência e produtividade, principalmente), em qual sistema de produção e em qual região juntamente às suas condições.

Como obter forragem de qualidade?

Independente da espécie forrageira produzida, um ponto é certo. Para ter qualidade de comida é necessário planejamento! Planejamento para que a forragem seja de qualidade e em quantidade adequada para o rebanho. • Qual o número de cabeças que serão alimentadas com essa forragem? • Por quanto tempo? • Qual o consumo médio diário? • Qual a demanda total de forragem? • Qual a produtividade média esperada da cultura? • Qual o tamanho da área que será necessário plantar?

Essas são algumas das principais perguntas que devem ser respondidas no momento de planejar a produção de comida para o rebanho leiteiro. Boa parte da energia de todo o planejamento deve ser direcionada a essas perguntas.

Uma conhecida frase retrata muito bem este pensamento de planejamento:

“Se eu tivesse apenas uma hora para cortar uma árvore, eu usaria os primeiros quarenta e cinco minutos afiando meu machado.”

Seja pasto ou lavoura, uma condução agronômica afiada é fundamental. Boas diretrizes se fazem necessárias para o manejo do solo, seleção de mudas/sementes, determinação da época de plantio, tratos culturais e organização da colheita. Sem isso não é possível ter muitas esperanças de elevada produtividade com uma forragem de alta qualidade ao final.

Alguns processos, é claro, são específicos da espécie forrageira que está sendo trabalhada e o seu objetivo. Se considerarmos a pastagem, um ponto a se preocupar é o manejo do pasto e do pastejo. • A área será dividida em piquetes/ talhões? • Qual a capacidade de suporte da pastagem? • Qual será a taxa de lotação? • Como os animais serão manejados nos piquetes? • Qual será o período de ocupação? • Haverá alguma ação de agricultura durante o período de descanso do pasto?

Pensando agora no uso das lavouras para silagem é importante que se pense, por exemplo, no ponto de colheita dessa lavoura, no maquinário a ser utilizado, no processamento do material, na compactação e vedação do silo, no tempo de armazenamento… enfim, são muitos os pontos de atenção.

E assim, devemos raciocinar para qualquer que seja a forragem. Seja ela pasto, lavoura, pré-secado, ou qualquer outra. O foco principal deve ser em quais medidas devem ser feitas para que a produção e a qualidade da forragem sejam otimizadas ao máximo.

Considerações

Um dos principais gargalos das fazendas leiteiras é a produção de comida, em especial a produção de forragem. A palavra-chave para contornar esse desafio é planejamento.

No entanto, antes de planejar é necessário identificar qual forragem será produzida. Para isso, é preciso levar em consideração aspectos específicos do rebanho e da propriedade, conforme citado no texto. De tal maneira, associar a boas práticas agronômicas.

Somente dessa forma é que se torna possível produzir com garantia uma forragem de qualidade para o gado leiteiro. Afinal, antes de ser um bom produtor de leite, é necessário ser um bom agricultor!

NUTRIÇÃO

João Paulo Costa Gonçalves

Consultor de Serviços Técnicos para Bovinos na Agroceres Multimix

A silagem de milho é a principal forragem utilizada na dieta de ruminantes confinados no Brasil, e isso ocorre porque a cultura do milho possui características que a levaram a ser o volumoso de eleição entre os produtores de bovinos de leite, como: alta produtividade de matéria seca por área; alta produção de energia e/ou amido por kg/MS; ampla variedade de híbridos no mercado com adaptabilidade a diversos climas e regiões; alta capacidade de intervenção técnica; possibilidade de resistência e tratamento a pragas e doenças, além de boa digestibilidade da fibra, gerando alto valor nutricional.

Principalmente em rebanhos leiteiros de alta produção e eficiência, observamos uma tendência em trabalhar dietas com inclusão de forragem elevada na busca de maior saúde ruminal, produção de sólidos, longevidade, entre outras características de produção. Porém, para associar saúde, produção e dieta de alta forragem é necessário se obter uma silagem de milho de ótima qualidade, que permita seu consumo e forneça o aporte de nutrientes exigidos pelos animais.

A produção de silagem de milho com alto valor nutricional inclui praticamente três fatores principais: alta densidade energética, alta digestibilidade do amido e boa digestibilidade da FDN (fibra em detergente neutro).

Para produzir silagem de alta densidade energética é necessário que ela possua teor de amido elevado, ou seja, a lavoura de milho precisa produzir muitos grãos, sendo este o primeiro requisito na escolha do híbrido.

O amido é a principal fonte de carboidratos para síntese de proteína microbiana no rúmen e precursor de glicose para a vaca. Portanto, é um nutriente indispensável para a produção de leite e manutenção do animal. Com as produtividades dos híbridos de hoje em dia, podemos considerar que um teor de amido alto na silagem seria acima de 30% na matéria seca, o que já não é tão raro de se encontrar atualmente. Além da escolha de um híbrido de alta produção de grãos, outras estratégias podem ser adotadas para produzir alto amido, como elevação da altura de corte, colheita mais tardia, entre outras.

As dietas de vacas leiteiras de alta produção geralmente possuem de 20 a 30% de amido. Portanto, quanto maior for o teor de amido da forragem, menos necessário será a suplementação de milho oriundo da ração, ou seja, menor gasto com concentrado e menor custo alimentar por vaca/dia.

No cenário atual de preços de milho, cada ponto percentual de amido na silagem pode representar em torno de 200 a 300 g de milho moído a mais ou a menos na dieta para se obter o mesmo teor de amido final. Em outras palavras, considerando-se a mesma dieta e o preço do milho em torno de R$1,50/ kg, uma silagem com 20% de amido pode representar um custo alimentar de R$3,00 a R$4,50 por vaca/dia maior quando comparado à uma silagem com

Lavoura de milho precisa produzir muitos grãos para gerar uma silagem de alta densidade energética

Figura 1. Microscopia grão de milho de endosperma vítreo Figura 2. Microscopia grão de milho de endosperma farináceo

30% de amido.

Conforme já mencionamos anteriormente, o amido é responsável pela maior produção de proteína microbiana no rúmen, e esta última, por sua vez, é a principal fonte de aminoácidos para vacas leiteiras. Portanto, nas dietas de animais de alta produção sempre se busca a otimização da síntese de bactérias no rúmen. Para isso, é necessário fornecer o maior aporte de carboidratos possível, principalmente amido, disponíveis à degradação pelas bactérias, ou seja, o amido precisa ter alta taxa de degradação e exposto/acessível aos microrganismos do rúmen. Contudo, não menos importante que o teor de amido na silagem, é a sua digestibilidade, pois quanto maior, mais leite produzido.

Sendo assim, no processo de escolha do híbrido é extremamente importante avaliar o grau de vitreosidade do endosperma do grão, ou em outras palavras, se o grão é duro ou macio, endosperma vítreo ou farináceo. Grãos mais vítreos possuem maior matriz proteica entre os grânulos de amido, conforme demonstrado na foto microscópica abaixo, formando uma “parede” densa e dificultando o acesso das bactérias para a degradação (figura 1). Os grãos menos vítreos, ou farináceos, possuem os grânulos de amido mais espaçados e menos quantidade de matriz proteica entre eles, facilitando a sua degradação (figura 2).

Outro fator importante com relação à vitreosidade do grão refere-se ao processamento no momento da colheita do milho. Híbridos que possuem grãos mais macios certamente serão processados mais facilmente, seja a colheita realizada com máquinas que possuem processador de grãos, ou não.

Outro ponto importante a ser con-

siderado na silagem de milho é a digestibilidade da fibra. Na nutrição de ruminantes consideramos a fração fibrosa como FDN, que é composta basicamente por: carboidratos estruturais, celulose, hemicelulose e lignina, que sustentam as células vegetais da planta do milho. Quanto maior for a digestibilidade da fibra, maior a possibilidade de inclusão da forragem na dieta, promovendo mais saúde para o animal e menor custo alimentar. Também, mais nutrientes serão disponíveis no rúmen gerando Outro ponto importante a ser considerado na silagem de milho é a digestibilidade da fibra. Na nutrição de ruminantes consideramos a fração fibrosa como FDN, quemais energia disponível para lactação. é composta basicamente por: Para saber todos os detalhes sobre a digestibilidade da fibra, aponte seu carboidratos estruturais, celulose, hemicelulose e lignina, que sustentam as células vegetais da planta do milho. celular para o QR Code e acesse o conteúdo completo.Quanto maior for a digestibilidade da fibra, maior a possibilidade de inclusão da forragem na dieta, promovendo mais saúde para o animal e menor custo alimentar. Também, mais nutrientes serão disponíveis no rúmen gerando mais energia disponível para lactação. Para saber todos os detalhes sobre a digestibilidade da fibra, aponte seu celular para o QR Code e acesse o conteúdo completo.

Oferecer silagem de milho de ótima qualidade garante o aporte de nutrientes exigidos pelos animais

This article is from: