CIBERCULTURA: RECONFIGURANDO A SOCIEDADE.
Glenda Conrad1
Resumo: O artigo analisa as relações entre a realidade digital e a realidade convencional. Essas relações são frutos da cibercultura e da pós-modernidade. Relacionará teorias da comunicação para tentar explicar algumas das tendências dessa sociedade pós- moderna, em especial, a tendência de compartilhar experiências e conhecimento em rede, também exemplificando essa tendência. Vai apontar a necessidade que essa sociedade tem de compreender a necessidade de adaptar-se aos novos modelos educacionais e estruturais ao invés de substituí-los, e por fim buscará esclarecer a relação entre essas duas realidades, digital e real, posicionando-as de acordo com as análises feitas. Palavras-chave: Adaptar; Compartilhar; Sociedade; Digital; Cibercultura.
Esse artigo tem por objetivo analisar e inter-relacionar duas realidades sociais: a digital e a convencional no contexto pós-moderno, mais especificamente no contexto cibercultural. A realidade digital, que também é uma nova forma de relacionamento social, vem se tornando mais similar à realidade convencional a cada dia. O compartilhamento em rede tem sido aos poucos, disseminado numa sociedade que está passando por um período de revolução 2 e grandes adaptações. A partir da leitura de alguns materiais, surgiu a seguinte inquietação: As realidades convencional e digital, na sociedade pós-moderna, tendem a ser indissociáveis? Para esclarecer esse questionamento, deverão ser estudadas as causas, pontencialidades e negatividades dessa tendência de compartilhamento, e também o modo pelo qual essa tendência, aliada a outros elementos, tem modificado o modelo educacional com o qual a sociedade está acostumada, uma vez sendo no processo de aprendizagem que se dá a origem de toda adaptação necessária para 1 Cursando Publicidade e Propaganda no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). euglendaconrad@gmail.com 2Para Gil Giardelli, não estamos vivendo uma revolução tecnológica e sim uma revolução de valores morais e sociais, aonde o poder para fazer mudanças está nas mãos das pessoas. (GIARDELLI, 2012, p.49).
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esse contexto. O imediatismo, característica inevitavelmente intrínseca dessa geração, também fará parte da construção de argumentos dessa análise. A metodologia de estudo para essa pesquisa teve por base principal os pontos de vista semelhantes dos autores Gil Giardelli e André Lemos, ambos otimistas acerca dos efeitos da cibercultura na sociedade pós-moderna. A essência retirada dessas associações será complementada por meio de outras referências que ajudarão a reforçar o objetivo da pesquisa e responder, na medida do possível, à problemática. Inevitavelmente, tem sido cada vez mais difícil viver no mundo convencional ou real, sem que este seja acompanhado por uma vida digital. Existe o pensamento de que o digital tende a substituir o real. No entanto, a cibercultura possibilitou novas maneiras de relacionamento social, tanto para com o outro quanto para com o mundo (LEMOS, 2003). Sendo assim, não se trata de uma substituição, e sim de uma necessidade de adaptação a essas novas práticas sociais. Segundo Giardelli (2012), a sociedade está num processo de transformação onde as pessoas tem anseios novos, porém, os modelos organizacionais ainda são os antigos. Somente agora os indivíduos estão começando a compreender o sentido de inteligência coletiva3, tanto em rede quanto na vida real. A mentalidade social está mudando. A sociedade está se dando conta de que não se tem nada a perder quando o conhecimento é passado adiante, compartilhado. Lemos (2003) sintetiza a cibercultura em três leis. A primeira, Reconfiguração, consiste na ideia de que as práticas da sociedade cibercultural devem ser reconfiguradas e não substituídas. A segunda, Liberação do polo de emissão, consiste na disponibilização da informação e da movimentação social na rede. A terceira, Conectividade, mostra que é possível estar só, sem estar isolado, a partir do momento em que homens e máquinas trocam informações de forma autônoma. O ser humano por si só, necessita relacionar-se. A cibercultura tem possibilitado não somente uma nova forma social de relacionamento, como tem causado uma espécie de conscientização coletiva que traz à tona problemas da sociedade e procura soluciona-los através do compartilhamento de ideias em rede. 3 A inteligência coletiva, enfim, seria o modo de realização da humanidade que a rede digital universal felizmente favorece, sem que saibamos a priore em direção a quais resultados tendem as organizações que colocam em sinergia seus recursos intelectuais (LÉVY, 1999, p. 132).
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Esse compartilhamento não consiste somente em buscar soluções para fatos grandiosos e específicos. Ele pode ter objetivos tão simples quanto aprender uma receita de bolo ou aprender um novo idioma através de infográficos explicativos. Segundo Lévy, “A emergência do ciberespaço acompanhada, traduz e favorece uma evolução geral da civilização. Uma técnica 4 é produzida dentro de uma cultura, e uma sociedade econtra-se condicionada por suas técnicas. E digo condicionada, não determinada” (LÉVY, 1999, p. 25). A partir dessa declaração, começa a ficar claro que são viáveis adaptações na sociedade, uma vez que a técnica não a determina. O Pinterest, uma rede social aparentemente de imagens, exemplifica muito bem esse compartilhamento, pois lá, clicar em uma imagem não significa somente ampliá-la;
significa
ser
direcionado
a
alguma
fonte
de
conhecimento,
independentemente de sua categoria. Lá reinam os tutoriais, sejam eles de fotografia, artesanato, organização de espaços, consertos em geral, e os infográficos, dos mais diversos assuntos, que ensinam, por exemplo, como funciona o cérebro humano ou qual a melhor maneira de potencializar os acessos de um blog ou rede social com fins lucrativos. Essa rede social é uma plataforma de tendências que gera aprendizagem. E para participar, basta procurar os assuntos de interesse pessoal, apresentados em forma de imagem, selecionar os que forem considerados melhores e por fim, compartilhá-los, expondo-os num mural. Qualquer um pode ter acesso, produzir conteúdo, aprender e passar adiante o conteúdo de outros, divulgando ou simplesmente compartilhando um interesse de utilidade. Segundo Lévy: O ciberespaço, dispositivo de comunicação interativo e comunitário, apresenta-se justamente como um dos instrumentos privilegiados da inteligência coletiva. É assim, por exemplo, que os organismos de formação profissional ou de ensino a distância desenvolvem sistemas de aprendizagem cooperativa em rede (LÉVY, 1999, p. 29).
Compartilhamento gera aprendizagem e obtensão de cultura. Ambos são fontes de criatividade. A criatividade é um elemento de suma importância em se tratando de assimilar os diversos e novos modelos de educação que têm buscado fugir do modelo educacional tradicional. Segundo Giardelli (2012, p.120) “Em uma sociedade em rede, o presente e o futuro estão nas mãos de todos”. 4 O termo “técnica” aqui é empregado no sentido de tecnologia.
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Pode-se dizer, portanto, que o indivíduo que compartilha em rede é de certa forma um educador. A internet, inclusive como ferramenta pedagógica, pode desencadear mudanças na subjetividade do conhecimento das pessoas.Segundo Lévy: O corpo nu é substituído por dispositivos híbridos, outros suportes: o martelo para a batida; a armadilha, o anzol ou a rede para a captura: a roda para o andar... As asas do avião ou as pás do helicóptero para o voo... Graças a essa materialização, o privado torna-se público, partilhado. O que era indissociável de uma imediatidade subjetiva, de uma interioridade orgânica, agora passou por inteiro ou em parte ao exterior, para um objeto (LÉVY, 1999, p. 74).
Após ter compreendido como as realidades convencional e digital interagem e inclusive se complementam nesse período, um tema importantíssimo, e que deve ser abordado é o imediatismo dessa sociedade - que é um mix de todas as sociedades anteriores - como característica indiscutível da sociedade cibercultural. O tempo linear não existe mais. Ele é um dos fatores mais inquietantes nesse contexto em que a sociedade anda obcecada pela interatividade, e em que o estar conectado só potencializa os efeitos desse fenômeno (KUHN, 2011). Khun também ressalta uma tendência da sociedade, que é a de os indivíduos que a compõem, se orgulharem ao afirmar que não lhes sobra tempo para nada. Segundo Giardelli (2012), num mundo em que há tanto desperdício, é necessário reduzir a produção para uma melhor qualidade de vida. Apesar de incentivar os indivíduos a aproveitarem ao máximo o que há de bom na internet, o autor sugere férias de uma semana, a cada três meses, para esvaziar a mente e aprender coisas totalmente diferentes do que se está acostumado. Lemos (2003), apresenta a ideia de que a sociedade do século XX esteriotipou que a sociedade do século XXI seria dependente de máquinas, robôs, e que as relações sociais seriam substituídas. No entanto ele afirma que nosso futuro do presente é mais humano que nosso futuro do passado e encerra seu pensamento dizendo que devemos estar abertos às potencialidades das novas tecnologias, mas que é necessário estar atento às negatividades das mesmas. No último capítulo do livro “Você é o que Você Compartilha”, Giardelli (2012), diz que toda a tecnologia perde o sentido quando não proporciona o contato humano, e apesar de ser adepto à conectividade, ele diz que o ser humano necessita desconectar-se um pouco, pois ele é um ser naturalmente social. [Digite texto]
Tomando por base as ultimas citações, pode-se concluir que as realidades convencional e real são realidades diferentes com objetivos que a cada dia se tornam mais similares, por conta da mudança da mentalidade da sociedade. Elas se complementam inevitavelmente, mas é necessário que seja encontrado um equilíbrio entre elas, de maneira que não se tornem dependentes uma da outra. Dessa maneira, não será necessário substituir as relações sociais, e sim adaptá-las ao contexto pós – moderno.
Referências GIARDELLI, Gil. Você é o que você compartilha. São Paulo: Gente, 2012. KUHN, Martin. Império do imediato: A urgência como argumento de vendas na comunicação mercadológica. São Paulo: Universidade Metodista de São Paulo, 2011. LEMOS, André. Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: 34 Ltda, 1999. .
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