Godzine 19 (Março/Abril 2014)

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MAR/ABR’14

JEJUM E ABSTINÊNCIA

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INDÍCE

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NOTA DE ABERTURA

YOUCAT

BEM-AVENTURANÇAS

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DIALETOS DA PALAVRA

FOLHA DOS SANTOS

AJUDA À IGREJA QUE SOBRE

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CRISTO JOVEM BRASIL

JUVENTUDE QUE ACREDITA


NOTA DE ABERTURA

NOTA DE ABERTURA

Olá Juventude que acredita! =) Esta edição chega até cada um de vocês já em tempo de Quaresma. Desta vez, os artigos da nossa/tua revista, tratarão sobre um tema que embora seja cada vez mais actual, ainda muita coisa há a dizer sobre ele. Pretendemos desmistificar conceitos como o jejum e a abstinência. Esperamos assim que a reflexão que os nossos colaboradores te vão ajudar a fazer, seja proveitosa e sirva essencialmente para te aproximares em espírito de Cristo, para que possas ressuscitar com Ele na Páscoa. Um forte abraço em Cristo Jovem, Sara Amaral

Ficha Técnica A Godzine é uma revista gratuita para jovens católicos e agentes de pastoral juvenil, desenvolvida pela equipa do portal Cristo Jovem. Coordenadora: Sara Amaral • Colaboradores Regulares: Darlei Zanon, Nuno Westwood, Joana Laranjeira, Equipa de Comunicação da AIS, Antonio João do Nascimento Neto, Miguel Mendes • Design e Paginação: Wok Design

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POR QUE JEJUAR? ---

Ir. Darlei Zanon

Religioso paulista, editor do YOUCAT para a lĂ­ngua portuguesa


YOUCAT

Quando ouvimos falar em jejum e abstinência ficamos com a sensação de que é algo que já não faz sentido atualmente. Soa-nos como uma imposição inadequada, como uma ação fora de tempo e lugar. Talvez seja útil para os monges da clausura, mas não para nós, afinal a troika já nos impôs tantos sacrifícios e “abstinências” que cumprimos na perfeição o preceito da Igreja. Já fazemos diariamente a nossa “mortificação da carne” e as nossas “renúncias”. Entretanto cá estamos novamente no tempo da Quaresma (a grande preparação para a festa maior da nossa fé: a Páscoa) e recebemos o convite constante ao jejum e à abstinência. Compreender o que estes dois preceitos significam a fundo pode nos ajudar a vê-los de modo diferente e, quem sabe, até experimentá-los. E neste caminho o YOUCAT pode nos trazer algumas luzes interessantes. Na verdade o Catecismo Jovem não se atém muito a falar do jejum e da abstinência. Menciona-os poucas vezes, mas o importante é a interpretação que nos ajuda a fazer destas práticas milenares. Sabias que o jejum é uma prática quaresmal desde o século IV? E antes disso há imensos relatos sobre ele na Bíblia, desde o livro do Êxodo, mas especialmente nos evangelhos? É verdade, antes de um acontecimento importante, os personagens bíblicos jejuavam. Era uma forma de concentração e de aproximação da vontade de Deus. Uma forma de se afastarem das “tentações” do

mundo para verem o essencial. Basta recordar Moisés, que passou quarenta dias no monte, ou Elias no deserto; João Batista ou mesmo Jesus antes de começar a Sua missão. Todos jejuaram.

...antes de um acontecimento importante, os personagens bíblicos jejuavam. Mesmo em outras religiões o jejum é algo importante. Quem nunca ouviu falar do Ramadão, os dias de jejum dos muçulmanos para que todos os seus pecados sejam perdoados; ou no Yom Kippur, o Dia do Perdão, no qual os judeus não comem e não bebem nada, nem mesmo água, do pôr-do-sol de um dia ao pôr-do-sol do outro dia. Na página 198 do YOUCAT lemos também que, nas Igrejas Orientais, os ícone são pintados após um tempo de oração e jejum. Duas questões do nosso Catecismo Jovem falam diretamente do jejum e da abstinência. O número 345 recorda-nos quais são os cinco preceitos da Igreja. O quarto preceito é exatamente “guardar abstinência e jejuar (na quarta-feira de cinzas e na sexta-feira santa)”. Esta é a única “imposição” que a Igreja nos faz, o que não é assim exagerado. De acordo com este preceito, o jejum é a renúncia de comi-

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da e bebida, enquanto que a abstinência é a recusa de alguma coisa que seja mais pesada ou mais cobiçada por nós (normalmente a carne, mas pode ser o chocolate, doces, bebidas alcoólicas, televisão, computador, etc.).

#O jejum, muito mais do que uma simples renúncia ao alimento, é uma forma de penitência e de reconciliação com Deus e com os irmãos. O nº 151 também fala-nos diretamente do jejum, mas numa nova perspectiva. A resposta à pergunta “Que possibilidade há na Igreja de perdão dos pecados?” afirma que para os pecados ditos “leves”, além da confissão, o perdão pode ser alcançado através da leitura da Sagrada Escritura, da oração, da prática de obras de caridade e – adivinhem! – do jejum. O jejum, muito mais do que uma simples renúncia ao alimento, é uma forma de penitência e de reconciliação com Deus e com os irmãos. Neste sentido ele ultrapassa-nos, não

é um ato pessoal, mas tem implicações comunitárias. Ao jejuar estamos a fazer penitência, estamos a orar, estamos já a fazer caridade e estamos a fortalecer a unidade. Isso porque o jejum (assim como a Eucaristia) põe-nos em comunhão com Deus e com todos os cristãos. O nº 160 do YOUCAT diz-nos que esta comunhão estende-se até mesmo aos mortos, pois “através do nosso jejum, da nossa oração, das nossas boas obras e sobretudo da Eucaristia podemos rogar graças para os falecidos”. Compreendemos assim que de facto o jejum por si só não faz qualquer sentido. O que realmente importa é o sentido comunitário do jejum, a comunhão que ele nos propõe e favorece. O jejum e a abstinência só fazem sentido quando associados à oração e à caridade, quando associados ao desejo de nos aproximarmos de Deus e dos irmãos; e isso sim traz grande implicações e imposições, mas também grandes alegrias e imensas recompensas. Boa preparação para a Páscoa!

Sugestões de navegação: www.youcat.org | www.paulus.pt | youcat.cristojovem.com


PODE ALGUÉM SER FELIZ SENDO POBRE? --Pe. Tiago Freitas www.patiodosgentios.com


Pode alguém ser feliz sendo pobre?. É talvez esta a pergunta que nos surge ao ouvirmos dizer «felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus» (Lc 6, 20). Uma pergunta honesta, é certo, mas parte de dois pressupostos errados. 1. A felicidade é a meta da vida; 2. A pobreza é o rosto dos falhados.

O engano da felicidade A literatura dedicada ao bem-estar pessoal e ao sucesso tem crescido imenso nos últimos anos. Qualquer livraria, hoje, vende títulos do género O bebé mais feliz do mundo; 388 respostas para ser mais feliz, etc. Todavia – diz Enzo Bianchi – a felicidade é um dos mitos mais perigosos da cultura ocidental porque ela é sempre um valor individual e, em casos extremos, a felicidade de um pode ser a infelicidade do outro. No fundo, a felicidade é tida como um projecto individual de auto-realização (PierAngelo Sequeri) que relega para segundo plano a vida das outras pessoas (cf. Jo 15, 12-15). Esta ideia de felicidade está, infelizmente, presente na edição portuguesa da Bíblia. Ao traduzir-se makarioi por felizes é como se fosse dito que Jesus, à semelhança de tantos outros, quer propor mais uma via da felicidade. É um equívoco. Makarios quer diz beato, bem-aventurado ou abençoado (Blessed, como se encontra na versão King James). Por outras palavras, Jesus quer introduzir-nos na dinâmica da

graça de Deus, que se rege por critérios diferentes dos nossos. Para nós, um pobre é um falhado ou desgraçado (sem a graça). Para Deus, é um abençoado. Mas, que tipo de pobre estamos a falar?

Pobres no espírito O evangelista Mateus, quando comparado a Lucas, esclarece que se trata dos «pobres no espírito» (Mt 5, 20). O pobre no espírito é, para o A.T., o humilde e o pequeno diante de Deus (cf. Gn 32, 1112). Já para o N.T. é aquela pessoa que não gosta de se exibir (Lc 14, 7-11), de se comparar aos outros (Lc 18, 9-14) mas que com facilidade leva a toalha à cintura para servir os outros (Jo 13, 1-19). Só assim compreendemos que Paulo tenha dito aos coríntios que «Jesus Cristo, sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza» (2 Cor 8, 9; Cf. Fil 2, 1-11). O pobre vive sem falsidade e sem soberba no coração. Reconhece, por isso, que tudo quanto tem é dádiva. E, nada tendo, tudo tem. Já nós, tendo tudo, muitas vezes não temos nada (daí o mito da felicidade).

Vosso é o reino de Deus Aos humildes, Jesus prometeu o reino e a comunhão com Deus. Mas quando virá o reino de Deus? Cristo diz que «o Reino de Deus não vem de maneira ostensiva. Ninguém poderá afirmar: “Ei-lo aqui” ou


BEM-AVENTURANÇAS

“Ei-lo ali”, pois o Reino de Deus está entre vós» (Lc 17, 20-21). Por outras palavras, o reino de Deus acontece sempre que Deus reina. E, para reinar, necessita da nossa pobre colaboração. Agora sim compreendemos o sentido desta primeira bem-aventurança. Os pobres no espírito são todos aqueles que têm a coragem de se descentrarem de si mesmos para colocarem Cristo e o Seu reino em primeiro lugar (Mt 3, 11-12). O papa Francisco diria que este é o tempo de «primeirear» (Evangelii Gaudium 24), de tomar a iniciativa de se envolver nas situações limite que causam repulsa a tantas pessoas. Voltamos, portanto, à pergunta que nos levou até aqui. Pode alguém ser feliz sendo pobre? Creio que sim. Mas é necessário darmos o sentido correcto à felicidade. Feliz – felix – é uma pessoa fecunda e a fecundidade é a abertura à vida do outro. A felicidade não é, portanto, uma meta mas o reconhecimento que nós, pela graça de Deus, vivemos uma vida fecunda (felix) construindo o Reino de Deus. •

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JEJUM E ABSTINÊNCIA --Pe. Nuno Westwood


DIALETOS DA PALAVRA

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“O Meu Reino não é uma questão de comida ou bebida, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo!” (Rom 14, 17). Todos os anos ao chegar a Quaresma, voltamos a ser convidados à prática da penitência, nomeadamente a fazer jejum e abstinência. E habituamo-nos à ideia de que o jejum consiste na privação de alimentos ou de bebidas. E porque parece uma coisa imposta e não nasce de uma fé vivida e assimilada, tudo soa a obrigatório e a grande chatice. E julgando que a penitência seria uma expressão muito significativa da nossa união ao mistério da Cruz de Cristo, acaba por se tornar um peso e, muitas vezes, o maior desejo é que a Quaresma termine quanto antes. Aprendemos a fazer do jejum um exercício do estômago mais do que do coração. Abstemo-nos de alimento habitual, mas não experimentamos nada de novo. Comemos menos pão, mas também não nos alimentamos da Palavra que sai da boca de Deus (cf. Mt 4, 4). Passamos fome, mas não saciamos a ninguém. Gastamos menos mas também não ajudamos. Privamo-nos tanto de tanta coisa que ninguém nem Deus têm lugar nessa privação. Um jejum assim, claro está, não agrada a Deus. Já há mais de 3.000 anos, Deus rejeitava tais penitências. Em Isaías, podemos ouvir Deus a queixar-se: “Para quê jejuar, se vós não fazeis caso? Para quê humilhar-nos, se não prestais atenção? É porque no dia do vosso jejum só cuidais dos vossos negócios,

e oprimis todos os vossos empregados. Jejuais entre rixas e disputas, dando bofetadas sem dó nem piedade” (Is 58, 3-4). “Este povo aproxima-se de mim só com palavras e honra-me só com os lábios, pois o seu coração está longe de mim e o culto que me presta é apenas preceito humano e rotineiro” (Is 29, 13). Talvez Deus nos esteja a pedir para encarar o jejum de forma diferente até porque o

# Deus não quer o teu estômago vazio; Ele deseja o teu coração cheio. entendemos como uma questão de comida. Deus não quer o teu estômago vazio; Ele deseja o teu coração cheio. E por isso deixa-te o convite: “Prestai-me atenção e vinde a mim. Escutai-me e vivereis” (Is 55, 3). Até porque Ele tem um outro alimento do qual nos esquecemos tantas vezes: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra” (Jo 4, 34) e trazer até nós o seu Reino. E este Reino “não é uma questão de comida ou bebida, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo!” (Rom 14, 17).


A Deus não interessa o que comemos ou deixamos de comer, mas que possamos acolher o seu “alimento”, o seu “reino”, a sua “palavra”. Interessa-lhe que tu lhe dês atenção! Alimentado pela Palavra de Deus, seguiremos a sua vontade e, assim, realizaremos o seu projeto de amor que é cada um de nós. O próprio Deus dá-nos pistas: “O jejum que me agrada é este: libertar os que foram presos injustamente, livrá-los do jugo que levam às costas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de opressão, repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão” (Is 58, 6-7). Está na hora de deixar de associar o jejum a abstermo-nos de certos alimentos ou de televisão. Existem muitas outras formas criativas de acolhermos o toque de cura de Jesus. Queres tentar? Deixo-te aqui algumas sugestões. • Jejum da tua agressividade, da raiva e do ódio. Dá à tua família e amigos uma dose extra de amor todos os dias. • Jejum de julgar outros. Antes de fazeres qualquer julgamento, recorda como Jesus ignora os nossos defeitos. • Jejum do desânimo. Confia na promessa de Jesus de que tem um plano perfeito para a tua vida. • Jejum de reclamar. Quando deres por ti a queixar-te, fecha os olhos e relembra alguns dos momentos de alegria que Jesus te deu;

• Jejum do rancor ou da amargura. Esforça-te por perdoar àqueles que de alguma maneira te magoaram; • Jejum de fazer gastos desnecessários. Tenta reduzir os teus gastos em dez por cento e oferece o que poupaste aos pobres. • Jejum dos teus ritmos. Acalma o passo. Aprecia o mundo maravilhoso e tanta gente bonita à tua volta; • Jejum dos teus ressentimentos. Não alimentes os dissabores da vida, mas constrói a esperança de que Deus está contigo e a esperança é sempre possível. Se assim fizeres, “então, a tua luz surgirá como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se. A tua justiça irá à tua frente, e a glória do Senhor atrás de ti. Então invocarás o SENHOR e Ele te atenderá, pedirás auxílio e te dirá: «Aqui estou!» Se retirares da tua vida toda a opressão, o gesto ameaçador e o falar ofensivo, se repartires o teu pão com o faminto e matares a fome ao pobre, a tua luz brilhará na tua escuridão, e as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia. O Senhor te guiará constantemente, saciará a tua alma no árido deserto, dará vigor aos teus ossos. Serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas inesgotáveis. Reconstruirás ruínas antigas, levantarás sobre antigas fundações. Serás chamado: «Reparador de brechas, restaurador de casas em ruínas” (Is 58, 8. 9b-12). •


LUÍS VARIARA --Joana Laranjeira


Luís Variara nasceu no seio de uma família cristã a 15 de janeiro de 1875 em Viarigi, Asti, na Itália. Com 12 anos o pai de Luís levou-o para Turim, para que este seguisse os estudos. O pai tomou esta decisão após D. Bosco ter ido à aldeia para fazer uma pregação, tendo ficado encantado com o santo. Nessa fase já D. Bosco já se encontrava doente e faleceu quatro meses depois de o pequeno Luís chegar a Turim. Assim que terminou os estudos Luis pediu para ser salesiano. No ano de 1892 fez a sua profissão religiosa e foi para Valsalice fazer os estudos de filosofia, onde conheceu o sacerdote André Beltrami, que o cativou pela forma como enfrentava a doença. Em 1894, o sacerdote Uria, missionário dos leprosos Água de Dios (Colômbia), procurava um seminarista para se dedicar aos jovens leprosos. Entre algumas dezenas, Luís tinha algo que chamou à atenção do padre Uri Variara, dizendo este: - Este é meu! Começava assim uma nova etapa para Luís. Em agosto de 1894 chega a Água de Dios, uma localidade com 2000 habitantes, em que 800 tinham lepra. Luis Variara era uma pessoa nova e, veio trazer uma alegria à população, em especial às crianças.

Fontes:

Foi ordenado sacerdote em 1898. Luís era muito empreendedor e em 1905 acaba a construção do internato que acolhia 150 órfãos e leprosos. O Padre Variara era o confessor de uma associação – Filhas de Maria - que era composta por 200 raparigas. Aqui, foi percebendo a vocação religiosa de algumas delas. Foi então que se atreveu a fundar um instituto religioso feminino, onde juntava religiosas saudáveis e leprosas. Escolheu o nome de Filhas dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Porém havia um problema, já que as autoridades eclesiásticas e alguns superiores salesianos não aceitavam o facto de jovens leprosas entrarem na vida religiosa. Luís sofreu muito, suportou calúnias de gente mal-intencionada. Foi em 1919 que o Padre Luís Variara foi afastado de Água de Dios. Em 1923, com 49 anos, faleceu longe dos seus queridos doentes. Em abril de 2002 foi beatificado por João Paulo II.

Jornal Cavaleiro da Imaculada de novembro de 2013


Filipinas: um país arrasado pelo Tufão Haiyan

AS LÁGRIMAS ESCONDIDAS DE GERARD ---

Paulo Aido • Fundação Ajuda à Igreja que Sofre


Ninguém imaginava que um tufão pudesse ser tão destrutivo. No dia 8 de Novembro do ano passado, vastas zonas das Filipinas sucumbiram a ventos de mais de 340 quilómetros por hora. Gerard perdeu a mãe e uma irmã. Agora quer ser padre. São quase 5 horas da manhã. Dia 8 de Novembro de 2013. Gerard não sabe, mas está quase a perder a mãe e uma irmã mais nova do que ele. Faltam apenas vinte minutos para as cinco da manhã quando o tufão Haiyan começa a fustigar severamente a região de Guiuan, no sudoeste do país, nas ilhas Samar. Por ali, nas Filipinas, todos já sabem bem o que é a passagem de um tufão, com ventos fortes que abanam árvores, destelham casas, destroem um pouco de tudo à sua passagem. Mas ninguém tinha visto algo assim. O super-tufão – ficou assim conhecido pela violência com que destruiu tudo à sua passagem – chegou a terra com ventos de mais de 340 quilómetros por hora. Nada resistiu à sua passagem. Gerard tem apenas 11 anos. Desde pequeno

que alimenta uma profunda fé religiosa. Talvez por isso, decidiu ir para a igreja rezar o terço. Pouco mais poderia fazer. Ninguém, aliás, podia fazer fosse o que fosse. O tufão anunciou-se com uma violência enorme, com rajadas de vento que assustavam. Gerard não sabia que na sua voragem, o tufão iria levar a sua casa, a sua irmã, de sete anos, e a sua mãe. Hoje, o terreno em volta da igreja é um enorme cemitério. Morreram centenas de pessoas. Há dezenas de cruzes aqui e ali, pois era necessário enterrar os corpos com urgência para se evitar a propagação de doenças.

“Salamat, Deus” Hoje, Gerard tem um ritual que cumpre todos os dias. Acende uma vela junto à


AJUDA AJUDAÀÀIGREJA IGREJAQUE QUESOFRE SOFRE

cruz onde estão sepultadas a mãe e a irmã, e fica por ali a rezar. Apesar das suas lágrimas, todos os dias Gerard agradece o dom da vida, o ter sido poupado aos ventos assassinos. Pode ser surpreendente numa criança ainda tão jovem, mas este menino diz, com uma enorme convicção, que, “quando for grande”, quer “ser padre!” É a sua maneira de dizer a Deus “salamat”, “salamat” – obrigado, obrigado! O terreno junto à Igreja de São Joaquin converteu-se num imenso cemitério. Esta é, de alguma maneira, a imagem das Filipinas depois da passagem do tufão. Morte e destruição, caos completo. Gerard é também o símbolo da tragédia que varreu este país. Está enlutado, perdeu a mãe e a irmã, mas sente-se cada vez mais próximo de Deus. Nunca as suas orações foram tão sentidas como agora.

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Há milhares de pessoas que continuam a não ter casa onde se abrigarem, continuam sem meios de subsistência, perderam familiares e amigos, mas não perderam a fé nem a esperança. E continuam a sorrir e a agradecer a Deus o dom da vida. E isso só nos pode interpelar. Não vamos fazer nada? Será possível não ajudar? •


UM JEJUM PARA O NOSSO TEMPO --Antonio Jo達o do Nascimento Neto, SDB


CRISTO JOVEM BRASIL

É chegado o período quaresmal. Aos que já sabem, perdoem-me, mas não custa dizer o que esses dias querem significar: a palavra ‘Quaresma’ faz referência a um período de quarenta dias (iniciados na Quarta-feira de Cinzas) em que o cristão deve intensificar sua vida de fé, acompanhando mais de perto mistério da Paixão e morte de Jesus em preparação para vivenciar bem a solenidade da Páscoa. Para que o sentido desse tempo litúrgico seja bem assimilado e consequentemente bem vivido, o fiel deve propor-se alguns chamados “exercícios do espírito”, mais conhecidos por ascese. Essa palavra é muito cara à nossa tradição católica, pois desde os primórdios, tem sido via santificadora a muitos. O próprio Jesus Cristo praticou ascese e também tantos e tantas ao longo da história da nossa Igreja. Bem, com isso quero falar de um aspecto da via ascética que é colocado em evidência nesse período da Quaresma: O JEJUM. Se você já o pratica, que bom! No entanto, contata-se que nem todos saber o sentido real e o que, de fato, fala a Igreja sobre o jejum. O §1438 do Catecismo da Igreja Católica coloca o jejum dentro do que ele chama de “privações voluntárias”, o que nos leva a entender que ele é uma prática penitencial – em reparação dos nossos pecados – e, no §2043, afirma que práticas como o jejum “contribuem para nos fazer adquirir o domínio sobre nossos instintos e a liberdade de coração”. A privação constituinte do jejum não encontra seu fim em si mesma, mas é um meio para que se alcance outras conquistas, como a de

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criar condições para que se possa viver os valores transcendentais, como misericórdia e profunda fé. Se nos ativermos a essas definições, perceberemos que não há nenhum exagero no que realmente fala a Igreja sobre o jejum, pois como lemos no Evangelho “não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que vem da boca de Deus” (Mt 4,4). A prática do jejum não pode ser algo pesaroso ou enfadonho, mas deve ser vivência alegre e autêntica daquele(a) que busca a santificação. Mas como se dá o jejum? Acompanhemos no infográfico. (ver página seguinte).

# Para nosso tempo, o tempo do consumo como parte da cultura, há uma grande distância entre a rotina e a pratica do jejum. Bem, na nossa sociedade globalizada, nascemos imersos na prática consumista e não nos damos conta do perigo que essa pratica representa ao cristão. Pois ela nos envolve em uma rotina que não nos permite pensar em termos como ‘privação’, porque os abomina. Mas são justamente termos como esse supracitado que estão contidos na proposta de Jesus e que são aconselhados pela Igreja para todos os seus membros. Para nosso tempo, o tempo do consumo como parte da cultura, há uma grande dis-


tância entre a rotina e a pratica do jejum. Então, porque não começarmos exatamente nosso jejum no centro da cultura vigente e diminuirmos essa pratica consumista? Seria interessante observar também os teus supérfluos; se os tem, doa a quem não tem; se tens 2 e, se 1 te é necessário, entrega o que não te é necessário a quem precisa. Jejuemos das desnecessárias compras! Diminuamos o que é nosso, aumentando o que é dEle. Ao invés de passares 2 ou 3 horas nos centros comerciais, desvia o caminho para a igreja e coloca-te em oração, pedindo perdão pelos pecadores. Pratica esse jejum, depois parte ao verdadeiro, o da privação de alimentos, te será uma via gradativa e beneficente.

Não seria o jejum um bom primeiro passo para nos aproximarmos ainda mais de Jesus nesta Quaresma? Não seria um grande benefício para nossa santificação praticarmos essa privação voluntária e nos assemelharmos de Jesus, que também jejuou e o fez pela nossa salvação? Ele merece e nós precisamos! O verdadeiro jejum vai além da simples prática e requer mudança de comportamento, a começar de dentro para fora, numa direção ascendente e transcendente. Falei difícil? Explico: não adianta a prática ascética sem que ela contribua para a sua conversão. Pratique jejum, seja cada vez mais santo, mude! •


J DE JEJUM... E DE JUVENTUDE --Miguel Mendes


Jejum... essa palavra tão distante para nós jovens. Muitos porque não sabem de facto o que significa, ou o que é suposto fazer, e outros porque não acham que faça sentido nos dias de hoje esse tipo de “tradições”. De acordo com o YouCat, a Igreja apresenta-nos o Jejum como uma das formas de perdão dos pecados, a par da leitura da Sagrada Escritura, da oração e da realização de boas obras. Além disso, um dos Cinco Preceitos da Igreja é precisamente o de “guardar abstinência e jejuar (na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa)”, por isso parece-me indiscutível a necessidade e a importância do Jejum num tempo que se quer de oração e reflexão, como a Quaresma. Mas se não se deve questionar a importância do Jejum, convém talvez refletir sobre a forma de o praticar, e aí é que a discussão aumenta de tom. Se uns continuam fiéis à proibição de comer carne à sexta-feira, outros dizem que devemos encontrar outra forma de “negação” que faça mais sentido nos dias de hoje. Eu pessoalmente confesso que me insiro neste último grupo. Faz-me alguma confusão aquelas pessoas que não comem carne, mas nesse dia optam por ricos pratos de peixe ou até marisco, apenas para manter a tradição. O mundo mudou, a sociedade mudou, e os preços também, por

isso hoje em dia, manter essa tradição é uma desvirtuação do significado do Jejum. Nestas coisas da Fé, prefiro olhar para dentro e perguntar-me o que me faz sentido, dentro daquilo que a Igreja me pede. Certamente à que à medida que a idade aumenta, a nossa espiritualidade nos pede uma caminhada quaresmal mais intensa. Se para uma criança, jejuar pode ser “apenas” não comer um chocolate, para nós já deve implicar uma reflexão mais intensa sobre o jejum.

Mas se não se deve questionar a importância do Jejum, convém talvez refletir sobre a forma de o praticar, e aí é que a discussão aumenta de tom. E aqui mais uma vez, o Papa Francisco vem surpreender e, criticando o cumprimento formal dos preceitos sem coração, referiu que “o jejum mais difícil é a bondade e a ternura”. E continua, dizendo que o jejum que Deus quer é aquele «que se preocupa com a vida do irmão, que não se envergonha – diz o próprio profeta Isaías – da carne do irmão».


Que estas palavras do Papa sirvam de mote a uma vivência verdadeira desta Quaresma e, aproveitando-as, ouso lançar-te o desafio de, até à Páscoa, aprendas a abraçar aqueles que se cruzam no teu dia. Um abraço pode ser extremamente revelador e faz-nos perder as barreiras que nos impedem de aproximar dos outros. Uma boa caminhada para ti nesta Quaresma e que a luz do Cristo ressuscitado encontre reflexo em ti. Uma Santa Páscoa! •

O maior gesto de amor que alguém fez por ti...


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