Folha do Goethe

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Folha do Goethe JORNAL COMEMORATIVO AOS 50 ANOS DO GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS DO INSTITUTO CULTURAL BRASILEIRO-ALEMÃO DO RIO GRANDE DO SUL

15

de agosto

2015

A melhor forma de prever o futuro é criá-lo Secretário Municipal da Cultura Roque Jacoby comenta sobre os desafios da gestão cultural | p. 07

ROBERTO VINICIUS

TIAGO TRINDADE

DOUGLAS MACHADO

IMAGEM DE VÍDEO: ROBERTO VINICIUS

Histórias com o Goethe-Institut de: Draiton Gonzaga de Souza, Karin Lambrecht,

A educação é o bem mais precioso de um país

A independência política deve ser defendida

Falta formação e sensibilização para a causa cultural

Escreve o escritor Luiz Antonio de Assis Brasil | p. 07

Eva Sopher, que neste ano recebe a Medalha Goethe, relembra sua trajetória com o Instituto | p. 09

Reclama a ACENDI - Associação Cine Esquema Novo para o Desenvolvimento da Imagem | p. 13

O Goethe-Institut Porto Alegre realiza atividades comemorativas de setembro a dezembro. Confira a programação na contracapa!

Marcus Mello, Mônica Zielinsky, Paulo César B. do Amaral e muitos outros neste jornal


SUMÁRIO MARINA LUDEMANN E GERHARD JACOB

04

KLAUS-DIETER LEHMANN

05

KATHARINA VON RUCKTESCHELL

06

LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL

07

ROQUE JACOBY

07

PAULO CÉSAR B. DO AMARAL

08

ENTREVISTA

09

MARCUS MELLO

10

MÔNICA ZIELINSKY

11

JUSSARA HAUBERT RODRIGUES

12

ALISSON AVILA, GUSTAVO SPOLIDORO, JAQUELINE BELTRAME E RAMIRO AZEVEDO

13

MAWIL

14

DRAITON GONZAGA DE SOUZA

16

KARIN LAMBRECHT

16

LOIVA TERESINHA SERAFINI

17

Recebendo bem a todos

WALTER VOLKMANN

18

O palco onde Brasil e Alemanha se encontram

RENATO MENDONÇA

18

Loas ao diálogo Um sopro de ar fresco Seis andares de “Goethe” O bem mais precioso Equipe: Folha do Goethe é uma publicação especial em comemoração aos 50 anos do Goethe-Institut Porto Alegre e 60 anos do Instituto Cultural Brasileiro-Alemão do RS

Goethe-Institut Porto Alegre Rua 24 de Outubro, 112 90510-000 - Porto Alegre, RS www.goethe.de/portoalegre

Exemplo a ser seguido Uma imagem muito familiar Uma conversa com Eva Sopher Um oásis de civilização Um valioso projeto de conexões entre culturas, saberes e tempos Da boa parceria: um percurso de 50 anos

E-mail para contato: info@portoalegre.goethe.org

Goethe-Institut e Cine Esquema Novo

Editora-chefe: Marina Ludemann

Porto Alegre

Editores Executivos: Bibiana Nilsson e Mônica Schreiner Colaboradores: ACENDI, Draiton Gonzaga de Souza, Gerhard Jacob, Hajo Schwierskott, Hartmut Becher, Jussara Haubert Rodrigues, Karin Lambrecht, Katharina von Ruckteschell, Klaus-Dieter Lehmann, Kurt Scharf, Loiva Teresinha Serafini, Luiz Antonio de Assis Brasil, Marcus Mello, Marina Ludemann, Mônica Zielinsky, Paulo César B. do Amaral, Renato Mendonça, Reinhard Sauer, René E. Gertz, Roque Jacoby, Walter Volkmann. Projeto Gráfico e Arte-final: B.A Comunicação Revisão: Bibiana Nilsson, Mônica Schreiner e Rosa Helena Cunha Vidal Impressão: Gráfica Uma Tiragem desta edição: 12.000 exemplares

Longos diálogos acadêmicos Saudades de Berlim Inspiração motivadora

RENÉ E. GERTZ

20

KURT SCHARF

23

HARTMUT BECHER

24

HAJO SCHWIERSKOTT

25

REINHARD SAUER

26

Instituto Cultural Brasileiro-Alemão/Goethe-Institut De Figueiredo a Sarney, de Schmidt a Kohl. Promoção Cultural e Política Clima intelectual e cultural extraordinário Três viagens a Porto Alegre Um terço de minha vida “Goethiana” Programação especial de aniversário

28


A nossa equipe agradece a todos que ao longo desses anos colaboraram para o desenvolvimento do nosso trabalho! Adair Gass

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

AGRADECIMENTOS

DANKE!

Adrian Kissmann Ana Karina Tirp Ana Renault Inda Anna-Lena Scholl Menna Barreto Bibiana Nilsson Brigitte Mund Christiane Sperling Claus Herzer Daniela Traumann Eric Guerreiro dos Santos Esterles Roese F谩bio Anschau Fernanda Bourqui Jaqueline Goettert Karine Metzger Luciana Dabdab Waquil Marco Zabel Marina Ludemann Mayane Engel Julio M么nica Ehlert M么nica Schreiner Otto Neitzel Rahel Genthner-Defreyn Rosa Helena Cunha Vidal Silvana Parisotto Stefan Reger Tatiana M眉ller Teresa Hanauer Machado Uli Kaup

03


MARINA LUDEMANN E GERHARD JACOB

MARINA LUDEMANN* E GERHARD JACOB** Ao se comemorarem os cinquenta anos do Goethe-Institut de Porto Alegre e os sessenta anos do Instituto Cultural Brasileiro-Alemão, resolveuse marcar as datas com uma série de eventos de natureza cultural durante o segundo semestre de 2015. Ao criarem o Instituto Cultural Brasileiro-Alemão, seus fundadores consideravam as atividades primordialmente de ensino da língua alemã. Essa função foi exercida já naquela época em cooperação com a Central do Goethe-Institut em Munique. Quando o Goethe-Institut estabeleceu-se em Porto Alegre, essas funções foram por ele assumidas. Entretanto, à época, para se radicar no Brasil como instituição estrangeira, de acordo com a legislação então vigente, uma entidade brasileira teria de assumir a personalidade jurídica, o que foi feito pelo Instituto Cultural Brasileiro-Alemão. Hoje ele continua dando o embasamento legal ao Goethe-Institut e é considerado a “entidade mantenedora”. O GoetheInstitut, por outro lado, é que realiza e mantém toda a atividade cultural e de ensino da língua alemã, apoia professores, escolas e instituições brasileiras na realização das aulas de alemão, fornece informações sobre aspectos atuais da vida cultural, social e política na Alemanha, GUILHERME SANTOS

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

LOAS AO DIÁLOGO colabora com bibliotecas públicas e escolares, com universidades e outras instituições. Essas atividades atendem sempre aos interesses locais. E mais, elas não seriam possíveis sem a intensa colaboração com os vários parceiros. O diálogo intercultural não é mera maneira de falar, mas um princípio elementar do trabalho, de igual para igual, através das parcerias. Mas o que isso significa, concretamente? Três exemplos são ilustrativos:

1. GRAVURA Em fins de abril deste ano, o curador do Museu Kupferstichkabinett de Berlim, um dos quatro maiores museus de arte em papel do mundo, esteve em Porto Alegre. Após visitas a várias instituições de gravura, durante uma semana, desde a Fundação Iberê Camargo, incluindo o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, o Museu do Trabalho, o Ateliê Livre da Prefeitura de Porto Alegre, até a Pinacoteca Barão de Santo Ângelo e os ateliês de gravura da UFRGS, entre outros, o visitante ficou impressionado com a riqueza e vitalidade da gravura no Rio Grande do Sul. A essa tradição o Goethe-Institut deseja associar-se e apoiar o diálogo com a gravura contemporânea na Alemanha. 2. TEATRO No âmbito do Concurso para novos Diretores, que o Goethe-Institut realiza há alguns anos em colaboração com a Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, o crítico de teatro alemão Jürgen Berger realizou uma oficina em março de 2014. O trabalho com os jovens diretores e o animado ambiente teatral local deixaram o crítico alemão tão entusiasmado que ele desejou, de qualquer modo, retornar neste ano. O diálogo entre os integrantes do ambiente teatral alemão e do Sul do Brasil prossegue.

3. CINEMA

04

#parcerias

Em 2014, a convite do Goethe-Institut, Gustavo Spolidoro e Jaqueline Beltrame, integrantes do Cine Esquema Novo (CEN; importante festival de cinema que estabelece diálogo com a videoarte) realizaram uma residência de curadores por dois meses no Arsenal em Berlim. Meses depois, Stefanie Schulte Strathaus, diretora da seção “Forum Expanded” da Berlinale, veio a Porto Alegre para participar do Cine Esquema Novo com um programa selecionado do Festival e assistiu ao concurso nacional do Cine Esquema Novo. O diálogo, que se iniciou dessa maneira entre a Berlinale e o Cine Esquema Novo, é enriquecedor para ambas as partes e abre do lado de cá e do lado de lá do Atlântico a visão para a arte cinematográfica do outro país.

Vários outros exemplos de diálogos bem sucedidos entre o Rio Grande do Sul e a Alemanha poderiam ser citados. Somente nos últimos dois anos estiveram em Porto Alegre, para estadias de trabalho de maior ou menor duração, mais de 50 artistas, escritores, cineastas, pensadores e curadores. Todos se entusiasmaram com a terra e o povo que eles aqui conheceram e onde foram recebidos de braços abertos. Todos os eventos culturais são realizados em conjunto com universidades, com as Secretarias Estadual e Municipal de Cultura e com parceiros independentes como festivais, centros culturais, produtoras, entre outros. Alguns dos parceiros contribuíram para este jornal do jubileu com artigos específicos, mas esses são apenas alguns dos muitos atores da rica vida cultural no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, com os quais o Goethe-Institut manteve colaboração durante os últimos 50 anos. E muitos haverão de se seguir. Pois sem eles o Goethe-Institut não é coisa alguma. O nível das atividades que foram realizadas em conjunto com esses parceiros, serve de balizamento a programas culturais em geral, tal é sua qualidade. E mais, dentro do orçamento disponível, não são sujeitos à aprovação do governo alemão e, muito menos, do governo brasileiro. Esse último aspecto foi particularmente importante nas décadas de 1960/80, quando o Goethe-Institut era palco de atividades que não sofriam censura das autoridades brasileiras por serem “subversivas”: o instituto era, à época, uma tribuna livre, sem qualquer restrição. A alta qualidade e a total isenção político-partidária sempre governaram a seleção dos eventos que o Goethe-Institut realizou ou patrocinou. Finalmente, deve ser ressaltado que o perfeito entendimento entre o Goethe-Institut e o Instituto Cultural Brasileiro-Alemão, que vem desde o início, sempre foi fundamental para o sucesso das múltiplas programações: de fato, não é feita distinção alguma entre as duas entidades, constituem-se como se uma só fossem. Pelo trabalho conjunto desejamos agradecer a nossos parceiros e amigos com um programa que assinala o jubileu. Sejam todos bem-vindos!

*Diretora do Goethe-Institut Porto Alegre **Presidente do Instituto Cultural Brasileiro-Alemão do Rio Grande do Sul


KLAUS-DIETER LEHMANN* GOETHE-INSTITUT | ANDREAS WROBBEL

Parabéns, Goethe-Institut Porto Alegre! Tenho a satisfação de felicitá-los pelo 50º aniversário do Instituto, que em 1965 associou-se ao "Instituto Cultural Brasileiro-Alemão", fundado 9 anos antes, e desde então leva seu atual nome. O prédio da Rua 24 de Outubro, de propriedade da República Federal da Alemanha, foi inaugurado em 1981 e logo se tornou um importante polo em nossa rede internacional, que hoje abrange 160 Institutos Goethe em quase cem países. Os Institutos Goethe são espaços livres e de diálogo, nos quais é praticado o trabalho participativo e em parceria, de modo a ensejar o entendimento e a comunicação através de encontros e do intercâmbio. O Goethe-Institut Porto Alegre era considerado, nos tempos da ditadura, um reduto de coragem solidária e de defesa dos direitos humanos, em especial do direito de livre expressão e de reunião. Os cidadãos e intelectuais locais não se esquecem de que o Goethe-Institut, em épocas difíceis, colocoulhes à disposição seu espaço para ali realizarem seus encontros. O Goethe-Institut Porto Alegre atua em uma região que até hoje tem como característica marcante a imigração de países europeus: mais de um quarto da população tem antecedentes alemães, outro um quarto descende de italianos. Diante deste pano de fundo, impõe-se a importante tarefa de manter vívidas as relações próximas entre Alemanha e Brasil, que são cultivadas no Rio Grande do Sul há mais de 190 anos. Isso é feito através de uma vasta oferta de cursos de língua alemã – o número de alunos duplicou nos últimos oito anos! – e também através do intenso intercâmbio de artistas de todas as áreas.

Por exemplo, na área do cinema: em Porto Alegre se desenvolve um núcleo jovem de cinema muito ativo. Em 2014 e 2015 puderam ser vistos filmes do Rio Grande do Sul na Berlinale. O GoetheInstitut, seja através de projetos de coprodução e de cooperações entre festivais, ou convidando diretores alemães a Porto Alegre e concedendo bolsas a diretores brasileiros em Berlim, auxilia esses jovens a estabelecer contatos na Alemanha.

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

KLAUS-DIETER LEHMANN

UM SOPRO DE AR FRESCO

Na área do teatro, o Goethe-Institut Porto Alegre incentiva há vários anos a montagem de peças contemporâneas alemãs por jovens diretores locais. O concurso de direção, que é realizado em parceria com a coordenação de artes cênicas de Porto Alegre, já faz parte da programação cultural da cidade e está indissociavelmente ligado ao nome do Goethe-Institut. No palco do GoetheInstitut podem ser vistas peças muito atuais de autores como Roland Schimmelpfennig, Marius von Mayenburg e Rebekka Kricheldorf. É uma alegria especial, para mim, poder conceder este ano em Weimar a Medalha Goethe à mais conhecida personalidade da cena teatral de Porto Alegre: Eva Sopher, que no seu trabalho de coordenação de teatro sempre se engajou pelo intercâmbio cultural internacional. Também a Biblioteca do Goethe-Institut Porto Alegre já recebeu diversas menções honrosas por seu trabalho, a exemplo do último ano, com o prêmio do Conselho Federal de Biblioteconomia por sua permanente colaboração no "Fórum Gaúcho", que tem o objetivo de melhorar as bibliotecas escolares no Rio Grande do Sul. O Goethe-Institut Porto Alegre participa desse fórum desde a sua fundação. Atualmente o Goethe-Institut está trabalhando num grande projeto no campo da gravura, de grande tradição em Porto Alegre e valorizado até hoje. Confrontar essa tradição com tendências internacionais mais modernas, trazendo uma lufada de ar fresco para dentro dos ateliês e museus – essa é a ideia do projeto. Ao GoetheInstitut Porto Alegre eu desejo igualmente uma lufada de ar fresco para os próximos 50 anos. Recebam meus sinceros agradecimentos e minha elevada admiração pelos colegas, que com seu engajamento tornam o Instituto este lugar tão fecundo. Muitas felicidades!

*Presidente do Goethe-Institut

#concursoparanovosdiretores

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KATHARINA VON RUCKTESCHELL

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

SEIS ANDARES DE “GOETHE” KATHARINA VON RUCKTESCHELL*

O "Goethe" – e aqui nos referimos ao Instituto e

mesmo na matriz do Instituto, em Munique,

Mas seria um erro dizer que o Goethe-Institut em

não ao poeta – provavelmente não está em

podemos encontrar. O prédio oferece espaço para

Porto Alegre foi fundado para a comunidade

nenhum outro lugar do mundo tão "em casa" como

os numerosos visitantes que vêm diariamente,

teuto-brasileira, por mais significativa que tenha

em Porto Alegre. Isso naturalmente pode ser

pela manhã, à noite e nos fins de semana, a fim

sido sua participação na definição do panorama

explicado, por um lado, pelo fato de o sul do

aprender alemão, para usar a biblioteca, para

cultural do Rio Grande do Sul. Notáveis artistas,

Brasil apresentar uma forte marca cultural

buscar informações sobre a Alemanha ou para

músicos, diretores de teatro e de cinema,

germânica em razão do alto número de imigrantes

participar dos eventos culturais. Também é o

escritores e intelectuais de origem alemã

alemães, que chegaram ao estado há quase 200

lugar a partir do qual as mais de 200 escolas

desempenham um papel natural como

anos. Por outro lado, a explicação pode também

públicas que ensinam alemão nos estados do sul

"mediadores" entre as culturas da Alemanha e do

residir no fato de o Goethe ter construído aqui, no

do Brasil recebem apoio. Em nenhum outro

Brasil. Eva Sopher, por exemplo, será agraciada

início dos anos 80, uma sólida casa, que, na época,

Instituto do continente o Departamento de

este ano com a Medalha Goethe, em

chamou muito a atenção por sua arquitetura e

Cooperação Pedagógica Para Apoiar o Ensino de

reconhecimento por seu trabalho de coordenação

que com o tempo tornou-se um elemento

Alemão é tão ativo, em nenhum outro lugar a

teatral. Ao Goethe-Institut na América do Sul,

indispensável na paisagem cultural de Porto

língua alemã tem um papel tão importante.

entretanto, sempre interessou sobretudo a

Alegre. Seis andares de “Goethe” – isso nem

promoção do diálogo intercultural, o desenvolvimento de plataformas que possibilitassem o intercâmbio entre culturas diferentes, para assim impulsionar o diálogo local, nacional, internacional e mesmo intercontinental.

CAROL DE GÓES

Também para isso Porto Alegre oferece as melhores condições. Em poucos outros lugares vemos superada, como aqui, a barreira linguística entre Brasil e os países de língua espanhola da América do Sul. O Instituto presta seu apoio, planejando e colocando em prática projetos em parceria especialmente com os Institutos da Argentina e Uruguai – mas naturalmente também com os outros Institutos da região. Com seus 50 anos, o Goethe-Institut Porto Alegre pode olhar para trás e contemplar uma longa e interessante história, que deixou marcas na paisagem cultural não apenas em seu âmbito direto. O Instituto certamente contribuiu muito para a promoção do diálogo intercultural em Porto Alegre e para a cidade desempenhar um papel de importância crescente na cena internacional – basta ver-se a relação dos festivais de grande porte na cidade que têm o Goethe-Institut como parceiro. O Goethe-Institut Porto Alegre é um dos 5 Institutos no Brasil, um dos 13 Institutos na América do Sul e um dos 150 do mundo. É um dos mais antigos e certamente dos mais sólidos – sólido no sentido de "fazer parte", "ser reconhecido", "ser destacado", "ser relevante". E uma coisa é absolutamente certa: nos próximos 50 anos, o Goethe-Institut Porto Alegre continuará tendo esse papel. Para isso, todos nós do "Goethe" daremos o nosso melhor. Parabéns, GoetheInstitut Porto Alegre!

*Diretora Executiva do Goethe-Institut São Paulo e Diretora Regional para a América do Sul

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#cursos


Viver a vida alemã a convite do Goethe-Institut, em 1985, constitui-se numa das mais expressivas experiências pessoais. Não apenas pelo cenário, que foi a medieval cidade de Rothenburg ob der Tauber, no Bayern profundo não apenas pela vivência quotidiana da língua alemã; não apenas pela dedicação dos professores que, com amabilidade me corrigiam o "alemão" que eu julgava falar no Rio Grande do Sul; não apenas pelo que aprendi, portanto; – viver a vida alemã significou conhecer melhor um povo que já ultrapassara o trauma do último conflito mundial e reedificava uma nação respeitada, digna, operosa e que ansiava pela unificação, que viria poucos anos depois.

Constatei, nos rostos, nas palavras e nas ações, a certeza de que a educação é o bem mais precioso de um país, e que a cultura é a forma, por excelência, em que essa educação ganha visibilidade e colabora para o bem-estar social. Ademais, percebi que a cordialidade, entendida em seu sentido mais amplo, resulta de uma civilidade entranhada, que entende o outro como aquele com quem partilhamos o mesmo espaço que deve abrigar a todos, e que, portanto, o outro é o mesmo sujeito de direitos que nós somos. Fui para lá para aprender uma língua; voltei de lá entendendo uma cultura.

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

DOUGLAS MACHADO

LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL*

LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL

O BEM MAIS PRECIOSO

EXEMPLO A SER SEGUIDO LUCIANO MEDINA MARTINS

ROQUE JACOBY* Friedrich Nietzsche escreveu que “O futuro influencia o presente, tanto quanto o passado”. Isto quer dizer que as nossas preocupações com o futuro e o que teremos nas próximas décadas em nossa sociedade como relevante e interessante se fazem presentes em nossas ações que visam a qualidade das atividades que oferecemos aos nossos jovens e na eficiência com que fomentamos a participação deles em atividades culturais. Quando trabalhamos como gestores culturais logo se coloca uma questão fundamental: Como vamos fomentar a formação de novos apreciadores de teatro, cinema e artes plásticas? Como vamos influenciar as mentes em formação para que se tornem membros das plateias esclarecidas e críticas? Possivelmente a melhor forma de prever o futuro seja criá-lo, fomentar agora os valores que queremos ver projetados nas próximas décadas. Comemorar 50 anos de Goethe-Institut em Porto Alegre é uma honrosa satisfação. Também é o momento de lembrar que aquilo que nos torna realmente sábios não é somente colecionar os relicários de nosso passado, mas olharmos para as conquistas e percebermos a responsabilidade que elas ensejam para o futuro.

ROQUE JACOBY

*Escritor

A trajetória dos cinquenta anos de sucesso do Goethe-Institut em Porto Alegre marcou sua forte presença cultural consolidando-o como relevante para a educação de muitas das mentes brilhantes que surgiram na capital gaúcha. Muito além de uma escola de língua alemã para brasileiros o “Goethe” se notabilizou pela qualidade de suas programações culturais, ciclos de cinema, palestras, exposições e apresentações teatrais que, como resultado de uma curadoria sintonizada com a moderna cultura alemã, fomentou o espírito vanguardista para muitos estudantes que buscavam atualidade de informação e formação. O modelo a ser replicado, proporcionado pelo Goethe-Institut, é justamente retratar a Alemanha contemporânea, uma referência de modernidade inquestionável, através de exposições, peças teatrais e ciclos de cinema que atraíram e continuam a atrair a inteligência jovem da cidade. Porto Alegre só tem aplausos e agradecimentos a esta instituição exemplar, nossa parceira de todos os dias.

*Secretário da Cultura de Porto Alegre

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PAULO CÉSAR B. DO AMARAL

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

CAROL DE GÓES

UMA IMAGEM MUITO FAMILIAR PAULO CÉSAR B. DO AMARAL* Já tive a oportunidade de escrever sobre o

Em Porto Alegre, o Goethe-Institut abriga um dos

E logo na Turquia! E muito emocionado. Lembro

Goethe-Institut num jornal de cultura de Porto

mais mimosos teatros da cidade e uma biblioteca

que enquanto conversávamos naqueles poucos

Alegre. Lembro que enquanto procurava definir a

exemplar disponibilizada não só aos seus alunos,

minutos meus olhos percorriam o saguão do

escola que tão bem me acolheu no ensino da

mas ao público em geral. Há três anos, me perdi

Instituto, a título de curiosidade, e deparei com a

língua alemã, veio-me a expressão: “uma escola

numa rua de Istambul depois de me afastar da

mesma estrutura tipológica da minha escola de

de excelência”. Isso mesmo, eu a definia assim

Praça Taksim durante uma manifestação popular.

Porto Alegre, embora implantada num prédio

então, e hoje mais ainda o faço por várias razões

Fiquei preocupado porque não tinha um mapa dos

muito mais antigo. O Goethe-Institut é isso. É uma

que se desdobraram pelo tempo de aprendizado e

arredores. Então comecei a caminhar a esmo

casa que evoca o pertencimento fraterno aos seus

por outras experiências sucessivas que vivi com o

pelos quarteirões da velha cidade. Aproveitava

usuários, uma entidade acolhedora por sua

Instituto. O Goethe-Institut, entidade espalhada

para fotografar as fachadas dos edifícios até que

organização inconfundível, por sua mensagem

pelo mundo por mais 94 países, com cinquenta

“caiu” no centro da lente de minha câmera uma

universal onde quer que se situe qualquer uma de

anos em Porto Alegre, não pode ser

imagem muito familiar: a bandeira do Goethe-

suas 160 filiais.

compreendido apenas como um curso de línguas.

Institut, com seu inconfundível logotipo na cor

É muito mais do que isso. É uma escola de vida,

verde clara. Lá estava ele, ao meu alcance, e

um centro catalisador de saber, sobretudo na área

bastou baixar a lente para divisar a porta do

humanística, abrangendo sua atuação sobre a

Instituto, pela qual entrei a pedir informação

literatura, a música, as artes em geral e, é claro, a

sobre como sair dali. Prontamente uma

bela e romântica língua alemã. É uma escola de

funcionária me atendeu. Falamos em alemão. Ela

civilidade que mantém profunda atenção e

me mostrou o caminho para o meu hotel e eu me

respeito às etnias e às diversidades culturais de

fui muito agradecido. E orgulhoso por ter podido

um mundo que enfrenta o iminente drama de

usar o meu alemão pela primeira vez na Europa...

dividir-se mais ainda.

08

Ich liebe das Goethe-Institut.

*Diretor Geral do Museu de Arte do Rio Grande do Sul


QUE CONTINUE O SEU TRABALHO, PELO AMOR DE DEUS!

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

EVA SOPHER

TIAGO TRINDADE

UMA CONVERSA COM EVA SOPHER* Goethe-Institut: Desde que vive no Brasil, a senhora sempre trabalhou pelo intercâmbio cultural. Isso significa que a senhora pratica aquilo que o Goethe-Institut faz desde muito antes de existir o Goethe-Institut em Porto Alegre. Como a senhora caracterizaria a cooperação com Goethe-Institut ao longo de todos esses anos? Eva Sopher: Eu me recordo exatamente de como o Goethe-Institut começou aqui. A direção do Instituto me chamou desde o início para colaborar, da mesma forma como muitas outras instituições culturais em Porto Alegre. Essa foi inclusive a razão por que eu, em 1975, de início não queria aceitar o convite para assumir o teatro; eu já estava com todo meu tempo tomado pelo trabalho de cooperação tanto com o GoetheInstitut e a OSPA como com outras instituições culturais. Nós chegamos a Porto Alegre em janeiro de 1960. Na primeira semana, encontrei Koellreutter na rua. Ele tinha vindo dar uma oficina numa escola de música daqui. E ele me disse: "Trate de arregaçar as mangas e de começar a trabalhar!".

Eu escrevi ao Sr. Heuberger, o coordenador do ProArte em São Paulo e no Rio, contando que nós tínhamos nos mudado para Porto Alegre e pedindo-lhe que me avisasse caso eu pudesse ser útil aqui. A resposta veio imediatamente: "Você é muito necessária; o ProArte está adormecendo em Porto Alegre". Dois meses depois, eu já estava com o primeiro pianista no palco do Theatro São Pedro. Eu tinha uma cooperação muito intensa com o antigo ICBA e mais tarde obviamente com o Goethe-Institut. Todos os artistas alemães que vinham a Porto Alegre eram convidados a partir dessa nossa parceria, pois eu sempre precisei de apoio. Nossa cooperação e intercâmbio nunca foram interrompidos. Goethe-Institut: O Goethe-Institut comemora este ano seu 50º aniversário. Quais são seus votos para o futuro do Instituto? Quais suas recomendações? Eva Sopher: Que continue seu trabalho, pelo amor de Deus! Ele é absolutamente necessário para a juventude daqui, porque somente através do Goethe-Institut segue viva a conexão com a

cultura alemã. O intercâmbio entre artistas é muito importante para a cultura daqui. E tem mais uma coisa muito importante: a continuidade. Um teatro como o São Pedro não se ergue dentro de um período legislativo. Quando o novo governador eleito em 1991 quis me tirar da coordenação do teatro para colocar um de seus companheiros de partido no posto, as pessoas deram-se as mãos e formaram uma corrente ao redor do quarteirão para protestar contra a minha saída. Essa é a única razão pela qual ainda estou aqui e que me possibilitou completar essa obra de uma vida toda. Por isso eu digo que é necessário que existam instituições como o Goethe-Institut, que trabalham de forma contínua e independente de partidos políticos. A independência política é um bem valioso e que deve ser defendido.

Eva Sopher receberá a Medalha Goethe, em Weimar, no dia 28 de agosto. O Goethe-Institut concede anualmente a distinção de honra oficial da República Federal da Alemanha a personalidades que se destacaram de maneira especial na promoção do intercâmbio cultural internacional.

*Eva Sopher é Presidente da Fundação Theatro São Pedro Entrevista realizada por Marina Ludemann, Diretora do Goethe-Institut Porto Alegre

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MARCUS MELLO

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

UM OÁSIS DE CIVILIZAÇÃO MARCUS MELLO* A minha história com o Goethe-Institut teve início

Cinema Alemão (Cenas de Caça na Baixa Baviera,

Para além do privilégio de trabalhar com uma

no começo da década de 1980, quando, ainda um

de Peter Fleischmann, O Jovem Törless, de Volker

instituição que costuma oferecer aos seus

adolescente vivendo no interior do Rio Grande do

Schlöndorff), os incríveis programas de curtas

parceiros simplesmente aquilo que há de melhor

Sul, costumava viajar nos finais de semana a

exibidos no Festival de Oberhausen... Filmes

em termos de cultura alemã, existia a segurança

Porto Alegre, a fim de acompanhar a programação

esquisitíssimos, assinados por diretores de nomes

de poder contar com uma equipe de profissionais

oferecida pelas salas de cinema da capital. Até

muitas vezes impronunciáveis, de quem nunca

com um senso de responsabilidade e organização

hoje guardo comigo o programa da I Mostra

tinha ouvido falar antes, mas que foram

invejável. Equipe essa conduzida por diretores

Internacional de Cinema de Porto Alegre,

fundamentais na formação do jovem cinéfilo

que vêm e vão e, embora muito diferentes entre

realizada em abril de 1983, no Auditório da

interiorano, cujo sonho um dia era sair do interior

si, sempre prezaram algo que é fundamental, a

Assembléia Legislativa, que ostentava em sua

e trabalhar com cinema na capital.

colaboração com instituições parceiras.

atrações programadas, filmes como A Morte de

Anos mais tarde, já no final da década de 90, esse

Não é exagero afirmar que a presença do Goethe-

uma Terrorista, o brasileiro Tabu, de Julio

desejo se tornou realidade. Ao começar a atuar na

Institut entre nós ao longo das últimas cinco

Bressane, e até mesmo uma produção da

Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da

décadas contribuiu de forma decisiva para tornar

Alemanha Oriental, A Juventude de Pedro, o

Secretaria da Cultura de Porto Alegre, como

Porto Alegre uma cidade bem menos provinciana.

Grande (coproduzida pela Rússia).

programador da Sala P.F. Gastal da Usina do

O fato de duas gerações de gaúchos terem

capa “Patrocínio: Instituto Goethe”. Entre as

Gasômetro, encontrei no Goethe-Institut uma

entrado em contato com a nata do teatro, da

Nos anos seguintes, em concorridas sessões no

fonte inesgotável de filmes. Quantas reuniões

dança, do cinema, da música, das artes visuais, da

Ponto de Cinema-SESC, no auditório do “Goethe”

deliciosas na sede do “Goethe” na 24 de Outubro,

filosofia e da literatura alemãs é algo que

na 24 de Outubro, na Sala Álvaro Moreyra ou na

sempre bem recebido, para discutir projetos como

qualquer amante da cultura deve celebrar. Pois

Assembleia, iria descobrir o cinema de Werner

o Melhor do Input (que anualmente trazia a Porto

não é pouco ter ao alcance de nossos olhos

Herzog (que impacto ver Fata Morgana ou

Alegre uma seleção dos melhores programas da

artistas do porte de Pina Bausch, Susanne Linke,

Também os Anões Começaram Pequenos!),

televisão mundial), uma exposição de fotos de

Sasha Waltz, Frank Castorf, Hanna Schygulla, Ute

Margarethe von Trotta, Werner Schroeter, Wim

Wim Wenders, uma mostra comemorativa ao

Lemper, os atores do Berliner Ensemble ou do

Wenders, Rainer Werner Fassbinder, os clássicos

centenário de Marlene Dietrich, uma retrospectiva

Volksbühne Berlin, entre tantos outros nomes a

expressionistas ou as obras referenciais do Novo

dedicada ao cineasta Alexander Kluge...

que pudemos assistir graças aos esforços do Goethe-Institut. No ano em que este pequeno oásis de civilização

GOETHE-INSTITUT | ARQUIVO

comemora seu 50º aniversário de existência em Porto Alegre, só temos a agradecer pelo tanto que já nos foi oferecido e desejar que nos próximos 50 anos o Goethe-Institut siga atuando da mesma forma. Prosit!

*Coordenador de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria da Cultura de Porto Alegre

10

Cartaz de divulgação da exposição “Marlene Dietrich”

#cinema #pontodecinema


UM VALIOSO PROJETO DE CONEXÕES ENTRE CULTURAS, SABERES E TEMPOS

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

MÔNICA ZIELINSKY

ROMY POCZTARUK

Reprodução de “Transbrasil” (150X100 cm, fotografia digital impressa em papel algodão, 2012) de Romy Pocztaruk, uma das vencedoras do Concurso de Artes Plásticas de 2013

MÔNICA ZIELINSKY* Esta sólida instituição alemã, a que tem como vocação primordial a expansão de sua cultura através de distintos territórios do globo, caracteriza-se por seu perfil de trocas que estabelece com outras culturas. Sua expansão não se faz sob qualquer perfil de dominância ou soberania, ao contrário, é pelo intercâmbio que estabelece suas bases e conquistas primordiais. Nesse sentido, o Goethe-Institut é altamente contemporâneo, ao desprezar os defasados princípios das culturas monolíticas e ao se voltar aos relacionais, estruturados por associações, ao comporem uma verdadeira rede interplanetária desta cultura de base com o mundo como um todo. Não apenas centrado no estudo da língua alemã, mas também em diversos programas que envolvem o aprimoramento de bibliotecas, a produção de valiosos cursos e seminários, residências para convidados alemães dedicados a diversas disciplinas, como a filosofia, a comunicação, o cinema, a história, as artes plásticas, entre muitas outras atividades, o Instituto de Porto Alegre marca sua forte repercussão no meio cultural do Rio Grande do Sul onde se situa, também para onde se expande. Relato aqui, a partir de minha dedicação principal na área da cultura, as artes plásticas, duas das tantas contribuições com que o “Goethe” marcou o Rio Grande do Sul. Uma delas foi o Concurso de Artes Plásticas, com duração de 13 anos em Porto Alegre. Esse programa foi permanentemente aguardado por jovens artistas locais, em meio às suas altas expectativas de participação e gozou, durante o período, de uma inegável

#artes

respeitabilidade no meio artístico pelos resultados atingidos. Dos mais conhecidos artistas jovens e que hoje ocupam lugares de destaque na cena nacional e internacional da arte contemporânea, integraram as 4 exposições anuais do “Goethe”. Esses artistas, entre suas mais variadas tendências, viveram seus primeiros confrontos com a vida pública de suas produções e impregnaram, na memória local, seu arrebatamento e qualidade pelo que apresentavam. Participei de diversos desses júris, compostos com outros professores de arte, artistas e a competente equipe do “Goethe”, em momentos mesclados de ansiedade e de extrema responsabilidade ética e profissional. Reconheço hoje a importância para a área artística dessas seleções, discriminadas por critérios definidos e explícitos e constantes no verso de cada convite, um fato ausente na maior parte das seleções artísticas institucionais contemporâneas. Nesse sentido, mais que exposições de arte, o GoetheInstitut abria suas escolhas a interlocuções. O projeto se revestia assim de um cunho formativo e crítico em matéria de arte. Outra das mais ricas contribuições proporcionadas pelo Goethe foi a oportunidade, a mim concedida em outubro de 2010, para representar o Brasil no Programa de Visitantes na República Federal da Alemanha (Visitors Program of the Federal Republic of Germany), voltado à arte contemporânea na Alemanha, onde acontecia o Art Forum Berlin 2010. Esta experiência se revestiu de uma importância bem mais abrangente do que o conhecimento do Art Forum – possibilitou se estudar, através de um meticuloso programa, o sistema de arte alemão. Compondo um valioso grupo de artistas, estudiosos, galeristas, museólogos, originários de múltiplos recantos do globo, foi possível

intercambiar ideias, experiências e conhecer os diversos locais de subvenção da arte contemporânea no país: as coleções familiares privadas, as estatais, as dos bancos e as diretrizes de seus patrocínios, os museus e suas subvenções e os princípios de formação de coleções, feiras e galerias. Além disso, o período de estadia em Berlim ofereceu magníficas conferências sobre a atualidade no tema, sobre as relações entre a mídia, comissões culturais e a promoção da arte, as estratégias da política cultural na Alemanha, as possibilidades de fundos de apoio para a arte e os critérios de sua distribuição, entre muitos outros. Esse conjunto de conhecimentos trouxe elementos para se pensar alternativas locais para as políticas culturais, parcerias e opções mais amplas a nível transnacional para possíveis projetos no Brasil e no Rio Grande do Sul. Ao se celebrar o cinquentenário do GoetheInstitut de Porto Alegre, não apenas a partir de uma experiência artística pessoal, mas ao se observar sua performance permanentemente ousada e inserida nos campos do conhecimento local e global, tem-se convicção sobre o senso de atualidade que permeia os princípios da instituição. Sua rica proposta de abertura a questões essenciais da cultura contemporânea e à qualidade de suas ações confere seu êxito institucional já consagrado, mas vicejará, sem dúvida, em seu próprio futuro. Tem-se convicção que não descuidará jamais de seus valiosos princípios formativos, críticos e de diálogo que sempre nutriram profundamente a instituição ao longo de todos os tempos. Sobre eles, sabe-se que são sua verdadeira razão de ser.

*Instituto de Artes da UFRGS

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GOETHE-INSTITUT | ARQUIVO – 2013

JUSSARA HAUBERT RODRIGUES

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

DA BOA PARCERIA UM PERCURSO DE 50 ANOS JUSSARA HAUBERT RODRIGUES* Parte de mim é Haubert. Parte de minha história vem da Alemanha. E veio daí minha primeira aproximação com o Goethe-Institut, na busca por entender um pouquinho o idioma de meus avós, que eu ouvia, ainda criança, nas conversas “só para gente grande” (que eu escutava sem entender, na maior curiosidade). Em fins da década de 70, fui aluna do “Goethe”, ainda na Dr. Flores. Iniciava-se ali um laço de amizade, ainda com bases na aproximação a um passado, a uma história de família, de tradição.

Depois, foram as programações do Instituto, movimentando Porto Alegre, que chamaram a minha atenção. Música, artes plásticas, literatura, teatro, especialistas de tantas áreas vinham da Alemanha diminuindo distâncias e dando ares cosmopolitas a Porto Alegre. Criavam-se ali laços para uma formação cultural, com gostinho de modernidade e atualidade. Depois, veio o prazer maior da aproximação através do contato com os amigos que fizemos na elaboração de cada participação alemã na Feira do Livro de Porto Alegre. E foi sempre fácil, prazeroso, gostoso trabalhar em parceria com o Goethe-Institut. Os resultados sempre festejados.

E essa parceria já foi reconhecida em importantes momentos para a história da Câmara do Livro: por duas ocasiões, 2004 e 2013, tivemos o prazer de contar com a Alemanha como país homenageado pela Feira, dando chance para que os gaúchos, mais uma vez, tivessem contato com a nova Alemanha, atualíssima, moderníssima, com jovens talentos literários e também através de nomes consagrados. Os resultados de exitosos programas de leitura, o funcionamento exemplar de bibliotecas também têm sido compartilhados generosamente pelos amigos do Instituto em programações da Feira. A cada ano, a parceria se renova mais forte, mais sólida. Ficamos mais próximos a cada ano. Aproximação, parceria, competência, relação direta com a cidade, renovação cultural, intercâmbio, ensino, amizade. Tantas boas palavras nos ligam ao “Goethe”.

GOETHE-INSTITUT | ARQUIVO – 2004

E já não se trata mais apenas de uma ligação com uma instituição: nossa parceria tem rostos e nomes que vêm se sucedendo na equipe competente e amiga.

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A cada um desses amigos, nestes 50 exitosos anos do Goethe-Institut, vão nossos agradecimentos, nossa amizade. Parabéns, Goethe-Institut. Um caminho exemplar foi trilhado.

#feiradolivro

*Diretoria Executiva da Câmara Rio-Grandense do Livro


CAROL DE GÓES

Vamos começar com um clichê: o Brasil é uma usina cultural e criativa. Não é nenhuma novidade a nossa capacidade transversal, tanto em termos autorais quanto de produção e organização, para fazer acontecer no universo das artes e das expressões.

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

ALISSON AVILA, GUSTAVO SPOLIDORO, JAQUELINE BELTRAME E RAMIRO AZEVEDO*

ALISSON AVILA, GUSTAVO SPOLIDORO, JAQUELINE BELTRAME E RAMIRO AZEVEDO

GOETHE-INSTITUT E CINE ESQUEMA NOVO: VETORES ESSENCIAIS

Porém, se colocarmos as coisas um bocado mais em perspectiva, vamos perceber que ser criativo não tem nada a ver com resultados culturais concretos, em cadeia, desenvolvidos e alcançados no médio e longo prazo. A experiência que acumulamos desde 2003 com a organização do Cine Esquema Novo nos permite ter a certeza de que, no Brasil, ainda estamos engatinhando na aplicação das teorias da globalmente conhecida e denominada "economia da cultura" – embora tenhamos todas as potencialidades para fazê-lo. ​ Quando se pensa na importância econômica, social e mesmo geopolítica da cultura no século 21 (um dos grandes temas dos próximos anos será, sem dúvida, a diplomacia cultural), nos parece evidente que falta uma formação e sensibilização nacionais para a causa cultural/criativa e suas inúmeras oportunidades. Por tudo isso, é um privilégio e um motivo de orgulho o envolvimento do Cine Esquema Novo com o Goethe-Institut, a partir da sua base de Porto Alegre, que agora completa 50 anos. Pois não nos resta dúvida de que o “Goethe", como todos o chamamos na intimidade, representa com brilho este grupo ainda (ainda!) minoritário de instituições, empresas e mecanismos que compreendem, desenvolvem e promovem a cultura brasileira e seu diálogo com o mundo de forma sustentada e madura. Trata-se de um lugar onde as pessoas possuem visão e, sobretudo, respeito pela promoção (e pelos promotores) da arte e da cultura. Tivemos o prazer de nos aproximarmos em 2013 – e lá já iam 48 anos de Goethe-Institut em Porto

#cinemaexpandido

Mostra Fiction and Futures #1 na Galeria do Goethe-Institut, durante realização do Festival Cine Esquema Novo 2014

Alegre! A empatia com suas lideranças e representantes nos levou à rápida construção de uma parceria concreta e sincera, que culminou com a correalização do CEN 2014. E já estamos juntos novamente, trabalhando para a edição especial do Cine Esquema Novo de 2015. Assim, mais do que a satisfação de atuarmos como curadores convidados pelo Goethe-Institut dentro do maior acervo de cinema de artista da Alemanha (Arsenal, 2014) ou de selecionarmos obras das programações mais inovadoras da Berlinale in loco (Forum & Forum Expanded 2015), o grande benefício desta parceria para o Cine Esquema Novo, e para a cidade de Porto Alegre, é o simples fato de o Goethe-Institut existir. O acesso a obras, artistas ou espaços, bem como o

suporte financeiro e organizacional, são quase uma "simples" consequência de algo muito maior: esta consciência e este profissionalismo de encarar a cultura e a arte não como excentricidades, e sim como vetores essenciais de qualquer sociedade. Esperamos que, de alguma forma, possamos ser tão representativos para os planos do Goethe-Institut quanto o “Goethe” já é para o Cine Esquema Novo. Longa vida a esta união!​

*Integrantes da ACENDI - Associação Cine Esquema Novo para o Desenvolvimento da Imagem

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Estranhamente, as pessoas não têm muito orgulho das cervejas locais e, a pretexto de mantê-las geladas, escondem-nas dentro desses negócios.

Existem 500.000 linhas de ônibus diferentes. Mas não há uma tabela de horários.

Assim como nós nos instalamos diante da televisão para assistir à serie policial “Tatort” , os gaúchos também têm o seu ritual de domingos: o churrasco, com uma quantidade assombrosa de carrrneeee!

A Volkswagen vendeu para o Brasil até 2005 o modelo aí abaixo como sendo a mais moderna Kombi: Tuc, tuc Grade do radiador com design do século 21 (só existe na cor branca) Além disso, aqui também tem o VW Gol, uma versão reduzida do Golf (como o próprio nome já diz).

Porto Alegre tem dois times: Inter (vermelho) e Grêmio (azul). Como foi a Mônica que me buscou no aeroporto, fui automaticamente convocado a torcer pelo Grêmioooooooo. Por sorte eu trouxe um casaco azul.

#osmose

Tradução: Luciana Waquil

Mawil, quadrinista alemão, participou do projeto Osmose e esteve em Porto Alegre em 2012 para realizar uma residência artística.

Em compensação, aqui a tarifa única é barata, e no semáforo de pedestres aparece uma mãozinha.

Adesivo de pedrinhas de strass

No último boom da construção, os arquitetos daqui andaram assentando uns caixotes modernos na paisagem. A gente até se sente em casa, pois eles lembram os grandiosos complexos habitacionais e de lazer da nossa antiga arquitetura socialista. Concreto aparente; azulejos Purrr

*“Tudo certo”

O que tem de mais exótico aqui são os resquícios da influência alemã.

Recém está chegando por aqui a moda dos animais de estimação, e quem tem um não deixa por menos:

Hm, hey… sorry, vocês também estão perdidos? Sabem, por acaso, como chegar…

A maioria das pessoas aqui no Sul tem cara de europeu – e os seus (bis)avós vieram mesmo antigamente da Europa

MAWIL ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

Mas, enfim, eu ainda tenho mais 2 semanas por aqui.

CURITIBA; pronuncia-se: Kuritschieba = das ComicFestival

CHURRASCO ; pronuncia-se: Schuhasku = der Grill

CACHAÇA; pronuncia-se: Kaschassa = der Zuckerrohrschnaps

CHIMARRÃO; pronuncia-se: Schimahau = der Mate Tee Uma aguinha de coco como prêmioconsolação Mas, apesar disso, elas têm os seus atrativos.

Brasileiro Português é megadifícil. Todas as palavras começam com “c” e soam como se fossem cochichadas:

Nem é preciso dizer que eles não têm muitos outros empregos à escolha e nem “moradias” tão boas como as do coração da cidade

A reciclagem dos resíduos é gerenciada pelos “catadores”.

Também muito bom e, para os gaúchos (os cowboys brasileiros), tão imprescindível como o cachimbo de ópio ou a noz de betel em outras paragens: o chimarrão. Cuia de porongo; “bomba”, que é um canudo de metal Incl. garrafa térmica, para garantir o abastecimento com água quente, e uma bolsa de couro, para o transporte do equipamento

Todos dizem: o Rio Grande do Sul (esse é o nome do Estado aqui) tem as praias mais feias do Brasil

Se a minha mãe soubesse...!

As máquinas de lavar roupas têm a abertura na parte superior, um agitador engraçado no centro e só lavam com água fria!!!

O caldo de cana pode ser bebido fresco, logo depois de extraído da cana: com umas gotas de limão ***Delícia! Os maracujás têm mais ou menos aquele aroma penetrante dos refrescos da Alemanha Oriental, mas transformados em mousse ficam gostosos pra caramba! *****Especialíssimo!

Depois de 2 semanas em Porto Alegre, a gente ainda está longe de ser um expert em Brasil (Primeira lição: Existem vários Brasis.), mas já dá para reunir algumas observações interessantes para enviar ao jornal.

MAWIL

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS


DRAITON GONZAGA DE SOUZA

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

LONGOS DIÁLOGOS ACADÊMICOS DRAITON GONZAGA DE SOUZA* RUBENS MANO | AGÊNCIA FOLHAS

Minha experiência com o Instituto teve início na metade dos anos 80, como estudante de graduação em Filosofia. Nesse período, sem internet, conheci, nos eventos promovidos pelo “Goethe”, grandes expoentes da Filosofia alemã contemporânea como Habermas, Apel e Luhmann. Também nessa época, entrei em contato com Hans-Georg Flickinger que, posteriormente, orientaria a minha tese de doutorado na Alemanha. Em 1989, comecei a frequentar mais intensamente os cursos de idioma no GoetheInstitut – tive seus excelentes professores! – como também a Biblioteca do Instituto. Em 1994, ao chegar na Alemanha para o doutorado, precedido por um curso de idioma no Goethe-Institut de Göttingen, pude constatar que recebera uma formação assaz sólida nessa língua na capital gaúcha, prestando, com êxito, naqueles anos, provas como o KDS (Kleines Deutsches Sprachdiplom) e o GDS (Großes Deutsches Sprachdiplom).

KARIN LAMBRECHT

Em 1998, voltei do doutorado e, nos anos seguintes, (co-)organizei uma série de eventos no Goethe-Institut. Atuei em projetos do Instituto Goethe e da AEBA, em parceria com uma série de colegas da PUCRS, tanto da Filosofia como do Direito, especialmente Nythamar de Oliveira,

Além de o Instituto participar de forma decisiva no financiamento dessas atividades (juntamente com o DAAD [Deutscher Akademischer Austauschdienst], a DFG [Deutsche Forschungsgemeinschaft], a Fundação Humboldt e as agências de fomento brasileiras), ao hospedar nossas iniciativas conjuntas, imprimia nelas o selo de qualidade de um Instituto unanimemente reconhecido na cena cultural de nossa cidade. Concluo essas breves linhas, sublinhando o Jürgen Habermas em Porto Alegre - set. 1989 Ernildo Stein e Ingo Sarlet. Foi um período muito intenso da minha vida e de nosso intercâmbio com intelectuais alemães (muitas idas ao aeroporto e jantares com esses grandes intelectuais, que se tornaram momentos de longos diálogos acadêmicos), chegando a uma lista de convidados que ostenta mais de 80 nomes. Assim, possibilitou-se que nossos docentes e discentes entrassem em contato com intelectuais alemães altamente qualificados. Muitos desses visitantes vieram mais de uma vez a Porto Alegre e gentilmente acolheram pesquisadores brasileiros na Alemanha.

enorme significado que esse Instituto teve e tem na minha trajetória intelectual e renovando o agradecimento pela enorme colaboração que prestou à vida cultural do meu país. O GoetheInstitut de Porto Alegre marcou profundamente várias gerações de intelectuais de Porto Alegre, colocando-nos em contato com distintos pensadores alemães. Que privilégio poder ouvir, em solo gaúcho, Höffe, Tugendhat, Küng, Jaeschke, Horn, Neuser, Nüsslein-Volhard, Grimm, Limbach e Gutmann, entre dezenas de visitantes que poderia mencionar.

*Professor de Filosofia da PUCRS

SAUDADES DE BERLIM KARIN LAMBRECHT* Meu primeiro contato com o Goethe-Institut em Porto Alegre foi no começo dos anos 80, quando retornei de Berlim, onde estudei na UDK [Universität der Künste]. Aqui em Porto Alegre passei a frequentar a Biblioteca do Goethe-Institut onde havia uma forte coleção de livros e vídeos de arte contemporânea da Alemanha; e assim aquele vazio que se instaurou em mim, na minha volta, e a saudade que eu sentia do meu professor, dos museus de arte, principalmente da Neue Nationalgalerie, da existência intensa de Berlim; essa saudade podia ser um pouco aplacada dentro dessa instituição. Em 2009, o então diretor Reinhard Sauer me convidou para realizar um trabalho no Goethe-Institut, e ofereci a ele o projeto “órbitas dos anos 80”, no qual tentei recriar um tipo de memória entre nós, os artistas envolvidos, retomando documentos das três exposições coletivas que já havíamos realizado anteriormente no GoetheInstitut. De uma certa maneira, no cenário da arte local de Porto Alegre, o Goethe-Institut foi pioneiro em realizar exposições inéditas de artistas jovens, antes que as instituições portoalegrenses os descobrissem.

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Material de divulgação da exposição "órbitas dos anos 80 – memória e atualidade", idealizado por Karin Lambrecht

*Artista plástica


Uli Kaup e Rosa Helena Cunha Vidal, bibliotecários do Goethe-Institut Porto Alegre

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

LOIVA TERESINHA SERAFINI

BIBIANA NILSSON | GOETHE-INSTITUT

INSPIRAÇÃO MOTIVADORA LOIVA TERESINHA SERAFINI*

Sou bibliotecária há 25 anos e o Goethe-Institut

Mas este testemunho é sobre um trabalho mais

Sou grata pelo engajamento da equipe do Goethe-

muito contribuiu para minha atualização

amplo. A partir de 2009 foi criado o Fórum

Institut no desenvolvimento de uma

profissional. Ao longo destes anos tive a

Gaúcho pela Melhoria das Bibliotecas Públicas e

Biblioteconomia cada vez mais social e

oportunidade de participar de inúmeras palestras,

Escolares em defesa de que toda a escola deve

participativa no nosso Estado, pelo apoio

workshops e seminários em que pude conhecer o

ter uma biblioteca escolar aberta, com serviços e

financeiro, técnico e humano nesta área. Pela

trabalho das bibliotecas mais importantes da

acervo compatíveis com a atualidade. Esse Fórum

acolhida às nossas demandas, pelo protagonismo

Alemanha e inspirar-me no meu trabalho diário e

é constituído por inúmeros parceiros – Conselho

da sua equipe em propor sempre novos desafios e

no meu amor às bibliotecas, aos livros e aos

Regional de Biblioteconomia, Fabico/UFRGS,

ser parceiro nos nossos projetos.

leitores. Também sou leitora assídua da Biblioteca

Associação Riograndense de Bibliotecários, FURG,

do “Goethe” e fui aluna do Instituto.

Secretarias Estaduais, prefeituras, escolas e bibliotecas públicas e privadas. O Goethe-Institut, através de sua equipe da Biblioteca, foi parceiro desde o início deste projeto.

Vale lembrar também o trabalho conjunto na conquista de uma Porto Alegre Mais Leitora, projeto em que conseguimos criar o Conselho Municipal do Livro e Leitura de Porto Alegre, que garante a participação social na definição das

Essa parceria já realizou mais de 50 encontros

políticas públicas na área do livro e leitura da

nos mais diversos municípios gaúchos, com

nossa capital. O “Uli” (Diretor da Biblioteca do

participação de mais de dez mil pessoas, lançou

Instituto nesse período) foi mais que um parceiro,

um site (www.bibliotecaescolarpresente.org.br),

foi inspirador dos nossos melhores sentimentos, e

publicou e distribuiu gratuitamente um livro –

manteve nossa motivação neste trabalho.

Biblioteca Escolar Presente! – que é um marco histórico, teórico e de relato de experiências exitosas das bibliotecas escolares e públicas

Obrigada Goethe-Institut, Obrigada equipe da Biblioteca.

gaúchas. *Bibliotecária – Ex-Presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia da 10ª Região

#biblioteca

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WALTER VOLKMANN

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

RECEBENDO BEM A TODOS WALTER VOLKMANN* Ao longo dos anos, o Goethe-Institut tem se

É incontável o número de bolsas de estudo que o

transformado numa referência não somente para

Goethe-Institut ofereceu a professores, alunos,

Porto Alegre; é um centro cultural para

pesquisadores, artistas, enfim, pessoas que, de

interessados de longe e perto. E essa referência

alguma forma, passam a ser divulgadores e

se dá tanto na área das artes e da cultura, como

multiplicadores das atividades oferecidas pelo

também no ensino da língua alemã e na

Goethe-Institut.

realização de seminários e cursos, que têm como objetivo o aperfeiçoamento de professores de Alemão.

São inúmeras as possibilidades de aprender e aperfeiçoar nosso interesse e conhecimento na área das artes, da filosofia, do direito, não

O Goethe-Institut sempre se esmerou em receber

esquecendo a constante preocupação com o meio

bem seus parceiros, colaboradores e todas as

ambiente. Por isso, é importante salientar que,

pessoas que o procuram. Assim foi na antiga e

além de aulas de Alemão, o Goethe-Institut se

acanhada sede, na Rua Dr. Flores, e assim

destaca pela sua excelente Biblioteca, pelas

continua sendo no bonito e amplo prédio na Rua

exposições que realiza, os filmes e peças teatrais

24 de Outubro.

que atraem considerável público.

RENATO MENDONÇA

#bildungskooperation

A Associação Riograndense de Professores de Alemão, ARPA, fundada em 1971, teve sua sede no Goethe-Institut, e a Comissão Integradora de Associações de Professores de Línguas Estrangeiras, CIAPLEM, sempre realiza suas reuniões e assembleias, bem como seminários, nas salas do Instituto. Por estes motivos, acentuo a importância do Goethe-Institut como instituição parceira, pois essas parcerias têm sido uma das características do Goethe-Institut. Seu apoio é fundamental, para a realização de eventos na área da educação, formação e cultura. Parabenizo o Goethe-Institut pelas suas iniciativas e atividades que tanto contribuem para o enriquecimento intelectual, pois vêm ao encontro de jovens e adultos interessados.

*Ex-Presidente da ABRAPA, Ex-Presidente da CIAPLEM, Ex-Diretor do IFPLA

O PALCO ONDE BRASIL E ALEMANHA SE ENCONTRAM

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Sobretudo nos últimos 40 anos, o Goethe-Institut garantiu o papel de protagonista na cena gaúcha. Na construção desse personagem, valeu-se da capacidade de propor soluções variadas e abrangentes para obstáculos que afligem o teatro e a dança no Brasil. Confiram algumas das dificuldades identificadas e os encaminhamentos propostos: para atenuar a carência de salas de espetáculos, inaugurou-se o Teatro do GoetheInstitut em 1981; para viabilizar montagens, praticou-se uma política de auxílio que varia do pagamento dos direitos autorais até o financiamento total do espetáculo; para incentivar o intercâmbio com a produção artística de outros centros, assumiu-se o custo da vinda ao Brasil de montagens internacionais, às vezes estabelecendo parcerias com o poder público e outras entidades; para incentivar os criadores locais, lançaram-se prêmios e bolsas de estudo. A mais recente iniciativa do Goethe-Institut de Porto Alegre é estimular a criação de uma rede de críticos teatrais que se estenderá por Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco.

BETANIA DUTRA

RENATO MENDONÇA*

Peça "Parasitas", de Marius von Mayenburg. Direção e pesquisa de trilha sonora: João Pedro Madureira


ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

BERNARDO JARDIM RIBEIRO

Apresentação de "Sr. Kolpert", de David Gieselmann. Direção: Tainah Dadda

RENATO MENDONÇA

SERGIO COSTA

MAURÍCIO CASIRAGHI

Encenação de "O Feio", de Marius von Mayenburg. Direção de Mirah Laline

Encenação da peça “A Coisa no Mar”, de Rebekka Kriceldorf

Os recursos do Goethe viabilizaram um sucesso nacional do teatro gaúcho, a peça Mockinpott, texto de Peter Weiss dirigido pelo espanhol José Luiz Gómez junto ao Teatro de Arena de Porto Alegre. Orientando seu apoio à encenação de dramaturgos alemães, o Instituto apoiou dezenas de montagens locais, com destaque para Irene Brietzke e seu Teatro Vivo, nos anos 80, e Camilo de Lélis e seu Face & Carretos durante a década de 90. Também se podem citar como parceiros o grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, os diretores Dilmar Messias, Arines Ibias, João Pedro Gil, Mirah Laline, Clênia Teixeira, Celso Veluza, o alemãouruguaio Federico Wolff e o paulista Mário Masetti, além do produtor Ronald Radde.

GOETHE-INSTITUT | ARQUIVO

Entre os principais grupos trazidos pelo GoetheInstitut a Porto Alegre destaca-se o Tanztheater Wuppertal, de Pina Bausch, que se apresentou no Salão de Atos da Reitoria da UFRGS em 1980. Quatro anos depois, desta vez no Theatro São Pedro, foi a vez do Folkwang Tanzstudio, da coreógrafa Sasha Waltz (que retornou em 2001). Em 1986 e em 2009, a atração foi a coreógrafa Susanne Linke. A parceria com o Porto Alegre Em Cena viabilizou a vinda de Antagon Theater AKTion (1997), do Volksbühne Theater (1999), da diretora Angie Hiesl (2003), do Thalia Theater (2004), do Volksbühne Berlin dirigido por Frank Castorf (2005), do Schaubühne com direção de Constanza Macras e Dorky Park (2007) e do Deutsches Theater Berlin (2008).

“O Caso Oppenheimer” no Auditório do Goethe-Institut Porto Alegre

Em parceria com a prefeitura de Porto Alegre, o Goethe-Institut lançou concursos para novos diretores, que teve como vencedores João Pedro Madureira (Parasitas, 2010), Júlia Rodrigues (Descrição de Uma Imagem, 2011), Tainah Dadda (Sr. Kolpert, 2012), Alexandre Dill (A Noite Árabe,

2013) e Jéssica Lusia (A Coisa no Mar, 2014) e para novos dramaturgos, vencidos por Fernando Kike Barbosa (2011) e por Patricia Silveira (2012).

*Crítico teatral e Coordenador da Escola de Espectadores de Porto Alegre

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RENÉ E. GERTZ

REPRODUÇÃO

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

LUIZ EDUARDO ROBINSON ACHUTTI

Herbert Caro

INSTITUTO CULTURAL BRASILEIROALEMÃO/GOETHE-INSTITUT RENÉ E. GERTZ* Em 1824, iniciou-se a vinda sistemática de alemães para o Rio Grande do Sul. No decorrer do tempo, sua presença tornou-se tão significativa que, em torno de 1930, calculava-se que aproximadamente 20% da população gaúcha eram de descendência alemã. O estado, portanto, sempre apresentou marcas significativas de cultura alemã, e também se cultivaram, sistematicamente, contatos e intercâmbios com a Alemanha. Esta sempre manteve, por aqui, um consulado na Capital, e, até a Segunda Guerra Mundial, inclusive assim chamados viceconsulados, no interior do estado. Mesmo que Brasil e Alemanha tenham estado em guerra de outubro de 1917 a novembro de 1918, foi o confronto na guerra de 1939 a 1945 que teve o maior impacto negativo nas tradicionalmente boas relações entre os dois países. Essa situação, obviamente, refletiu-se tanto sobre a vida dos cidadãos de descendência alemã quanto sobre o cultivo de atividades que denotassem traços de cultura alemã. A profundidade dos problemas gerados durante o conflito fez com que o restabelecimento de uma convivência normal, depois de 1945, tanto com a Alemanha quanto com a população de origem alemã, fosse lento e gradativo. Interessantemente, a primeira pessoa que retomou o ensino da língua alemã em Porto Alegre foi um cidadão que havia vindo para cá como refugiado do regime nazista, em 1935, Dr. iur. Herbert Caro. Até sua morte, em 1991, foi um importante divulgador da cultura alemã no Brasil, com destaque para suas traduções para o português,

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em vernáculo de alto nível, dentre as quais se sobressaem livros de Thomas Mann. Mas somente mais de dez anos após o final da guerra – em 12 de outubro de 1956 –, foi fundada, aqui em Porto Alegre, uma entidade que se propunha a retomar o fomento e a divulgação da tradição cultural alemã, voltando a estreitar laços com a Alemanha, nos campos da cultua e da ciência. Essa entidade, primeira desse gênero no Brasil do pós-guerra, foi denominada Instituto Cultural Brasileiro-Alemão (ICBA). Além de destacados gaúchos de descendência alemã, como Edgar Luiz Schneider, que fora candidato a governador do estado em 1950, fizeram parte personalidades do mundo político e acadêmico que não possuíam sobrenome alemão. Entre estes, cabe citar, sobretudo, conhecidos juristas como João Leitão de Abreu, Ruy Cirne Lima, e acadêmicos de outras áreas, como Francisco Machado Carrion. Seu primeiro diretor foi o dicionarista e professor da UFRGS Leonardo Tochtrop; mais tarde, o mesmo cargo foi exercido pelo médico e também professor da UFRGS Ervino Diefenthaeler, durante um longo período. Desde 1959, o ICBA procurou adquirir uma sede própria para suas atividades, que consistiam, basicamente, em ministrar ensino da língua e promover palestras sobre cultura alemã. Esse objetivo foi alcançado em 1961, com a aquisição de salas num prédio da Rua Dr. Flores, 330. A partir do ano seguinte, as atividades se instalaram nesse endereço, onde permaneceriam por muitos anos.

#hansmagnusenzensberger #música #fórumsocialmundial

A iniciativa de fundar o ICBA recebera, desde o início, apoio da representação diplomática da República Federal Alemã, a assim chamada Alemanha Ocidental. E esse apoio foi aprofundado com uma ajuda financeira para a aquisição da citada sede do Instituto. Quase simultaneamente, iniciaram-se contatos para uma aproximação com o Goethe-Institut (GI), com sede em Munique. Este fora fundado em 1951 para fomentar o ensino da língua alemã fora da Alemanha. E, desde a virada da década de 1960, ampliara o espectro de suas atribuições, assumindo funções mais amplas, que, além do ensino da língua, passaram a incluir o intercâmbio cultural entre a Alemanha e os países anfitriões do Instituto. A aproximação efetiva, formal, entre o ICBA e o GI iniciou em 1963, através de um contrato pelo qual um representante deste último passava a coordenar os cursos de língua alemã aqui ministrados, conferindo-lhes o reconhecimento oficial desse órgão alemão. Mas a colaboração não deveria restringir-se ao ensino da língua, pois o contrato estipulava que seu objetivo era consolidar os objetivos do ICBA, estabelecidos em seus estatutos desde a fundação, em 1956: “cultivar as boas relações entre a Alemanha e o Brasil, em especial pelo aprofundamento do intercâmbio artístico, literário e científico entre os dois países”. Claro, o ensino da língua alemã era, e continua sendo, uma das atividades de destaque, não só dentro do próprio Instituto, mas também fora dele, no sentido de promover o aperfeiçoamento de professores na área, tanto através de cursos ministrados no Brasil quanto através do envio de alguns deles para a Alemanha.


FOTOGRAFIAS RIBEIRO

Lançamento da pedra fundamental do prédio em que hoje se localiza o Goethe-Institut Porto Alegre

Inauguração do Auditório do Goethe-Institut na Rua 24 de Outubro

Finalmente, em setembro de 1965, institucionalizou-se uma nova situação, aparentemente contraditória. As atividades de ensino – e também parte dos eventos culturais – passaram a ser administradas pelo GI, e este deixava de repassar verbas ao ICBA para desenvolvê-las. Mas, inversamente, essa ação do GI só se tornaria possível graças ao suporte jurídico que o ICBA lhe daria para atuar no Brasil (como pessoa jurídica, com CNPJ, devido à impossibilidade legal de existência de instituições estrangeiras no país). As atas das reuniões do Conselho do ICBA registram a preocupação de alguns de seus conselheiros no sentido de que, com isso, se perderiam as taxas escolares, ficando as receitas restritas às semestralidades dos sócios. Além disso, essa situação poderia colocar em risco sua autonomia, e até sua própria identidade como instituição autônoma brasileira. Apesar das potenciais tensões daí decorrentes, a convivência dos dois institutos, porém, transcorreu sem atritos maiores, registrando-se, pelo contrário, um prolongado período de colaboração em atividades diversificadas. Nesse sentido, ata de reunião do Conselho do ICBA de 24 de fevereiro de 1967 registra que, para o referido ano, estavam programadas “conferências sobre temas filosóficos e literários, exibição de filmes culturais, concertos”. Essa situação manteve-se por aproximadamente 15 anos, com algumas atividades que acabaram sendo marcantes para a cena cultural de Porto Alegre. Assim, para exemplificar, em 1975 foi patrocinada a encenação da conhecida peça de teatro “Mockinpott”, de Peter Weiss, peça com uma temática significativa para o contexto político em que o Brasil vivia naquele momento – um homem sai de casa para comprar um jornal, e é detido pela polícia, sem motivo aparente. Em

maio de 1978, durante uma semana inteira, foi promovido um festival cinematográfico com filmes dos então inovadores e críticos cineastas Rainer Werner Fassbinder e Volker Schlöndorff. Na década de 1980, entrou-se numa nova e decisiva etapa da vida do binômio Instituto Cultural Brasileiro-Alemão – Goethe-Institut. Enquanto essas entidades, até então, tinham sua sede em andar alto de um prédio sem identificação externa, na rua Dr. Flores, em 26 de outubro de 1981 foi inaugurado prédio próprio, na Rua 24 de Outubro, 112, construído exclusivamente para esse fim. Com isso, até a visibilidade física deu um salto qualitativo muito grande. Nas novas instalações, foi reservado espaço para uma biblioteca, que vem sendo atualizada, de forma ininterrupta, e que atende a um público significativo. Mas a preocupação não se restringe à biblioteca do próprio GI – ele vem fomentando também bibliotecas de escolas públicas e privadas pelo Rio Grande do Sul afora. Além disso, cabe destacar o auditório, com espaço para um público de cerca de 130 pessoas, no qual, ao longo dos anos, se realizaram eventos muito marcantes para a vida cultural e científica de Porto Alegre – e não só aqueles promovidos pelo ICBA-GI. A nova casa até incluiu um bar, que, no decorrer do tempo, também adquiriu certo prestígio como ponto de encontro. Mas, sobretudo, as instalações para todas as atividades agora eram novas e modernas. Havia também espaço para abrigar entidades afins – nesse sentido, cabe referir o fato de que a Associação dos Ex-Bolsistas da Alemanha (AEBA) pôde estabelecer sua sede no prédio, aumentando a rede de grupos dedicados ao cultivo do intercâmbio científico e cultural entre Brasil e Alemanha.

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

RENÉ E. GERTZ

GOETHE-INSTITUT | ARQUIVO

GOETHE-INSTITUT | ARQUIVO

Frequentadores da Biblioteca na década de 80

Enquanto o prédio estava sendo construído, circulou uma sugestão de que fosse denominado “Casa da Alemanha”. Mas os conselheiros do ICBA manifestaram seu desacordo com essa denominação, e ele acabou recebendo o “apelido oficial” de “Instituto Goethe – ICBA”. À época da transferência para a nova sede, o Goethe-Institut era dirigido por Kurt Scharf, cuja gestão deu orientação definitiva às atividades no sentido de que não se visava a atender à demanda por um tipo específico de “cultura alemã” por parte da assim chamada “colônia alemã” local, mas sim para difundir essa tradição cultural num sentido o mais amplo possível, e isso justamente para o público brasileiro em geral. Ademais, o GI passou a caracterizar-se como um local em que se podia expressar livremente ideias, sem as restrições políticas em voga, na época. Essas orientações tornaram-se, desde então, marca registrada, e caracterizaram as intensas ações desenvolvidas nos últimos 35 anos. Várias delas foram marcantes. Literatura, teatro, cinema, dança, filosofia, ciências diversas, produzidos na Alemanha, foram apresentados e discutidos aqui em Porto Alegre, seja através da apresentação de obras, seja através da presença física dos próprios autores dessas obras, muito frequentemente com a participação efetiva de colegas brasileiros. Alguns exemplos ilustram a situação. Em 1985, o conhecido escritor Hans Magnus Enzensberger esteve em Porto Alegre, onde sua obra foi debatida com a participação de escritores locais como Luiz Antônio de Assis Brasil, Moacyr Scliar, Armindo Trevisan. Günter Wallraff, o conhecido crítico de aspectos da sociedade alemã contemporânea, Ingo Schulze, figura de destaque como escritor originário da República Democrática Alemã, a jovem escritora Jasmin Ramadan – a passagem de todos eles por Porto Alegre, como convidados do GI, teve considerável repercussão na imprensa local.

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MARTIN STREIBEL FOTOGRAFIA

RENÉ E. GERTZ

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

ROLF BORZIK, BERNHARD SCHMIDT, ULLI WEISS

Tanztheater Wuppertal na década de 80

Auditório do Goethe-Institut na década de 80.

Em 1989, um dos mais influentes filósofos da atualidade, Jürgen Habermas, dialogou, em sessões públicas no GI – ICBA, com intelectuais locais. No ano seguinte, situação semelhante repetiu-se com a presença do conhecido cientista social Niklas Luhmann, um dos mais destacados representantes da Teoria dos Sistemas. Porto Alegre também teve a oportunidade de conhecer um intelectual de destaque como Vilém Flusser, que fugira muito jovem de sua terra-natal, a Tchecoslováquia, para estabelecer-se no Brasil, onde foi, durante algum tempo, professor na USP, para, mais tarde, retornar à Europa. Incentivos à atividade teatral ocorreram em diversas oportunidades, a exemplo da encenação de Dr. Fausto pelo grupo local “Ói nós aqui traveiz”, em 1994, ou da vinda do “Volksbühne Theater” de Berlim, em 1999 com a peça “Murx” do Christoph Marthaler e em 2008 o Deutsches Theater Berlin trouxe a encenação de “Os Persas” de Aischylos, adaptada por Heiner Müller, dirigido por Dimiter Gotscheff, para mencionar só duas apresentações internacionais inesquecíveis. Apresentação de “Os Persas” - Deutsches Theater Berlin

Na dança, Porto Alegre teve a oportunidade de apreciar, por iniciativa do GI, a arte de bailarinas tão renomadas quanto Pina Bausch, Susanne Linke e Sasha Waltz. Artistas plásticos locais tiveram oportunidade de divulgar seus trabalhos num concurso, e os apreciadores do gênero foram brindados com uma exposição do conhecido pintor, escultor e fotógrafo Gerhard Richter, cujas obras são consideradas as mais valorizadas entre os artistas vivos. No campo da música, obviamente, o GI foi responsável pela apresentação das mais diversas tradições daquilo que se costuma chamar de “música clássica”. Mas não se pode esquecer que também importantes experiências alternativas puderam ser apreciadas na capital gaúcha. Entre elas, cabe citar a demolidora banda Einstürzende Neubauten, o mix de música clássica com jazz da Andromeda Mega Express Orchestra, ou o jazzista Jürgen Friedrich. Quando Porto Alegre tornou-se mundialmente conhecida através da organização do Fórum Social Mundial, a partir de 2001, o GI – ICBA teve participação significativa, trazendo destacados pensadores alemães para debater temas diversos.

Na virada para o século XXI, também se realizaram seminários muito importantes sobre “ética e genética”, congregando cientistas alemães e brasileiros. Em 2010, foi promovido o 1º Encontro Internacional de Jornalismo em Quadrinhos, com a presença de reconhecidos profissionais alemães da área. Por tudo isso, uma afirmação do atual presidente do ICBA, Gerhard Jacob, feita há quase 20 anos, continua plenamente válida: “A associação indelével entre o ICBA e o Goethe certamente foi fundamental para o sucesso de grande parte das realizações, e essa ‘simbiose’ altamente positiva deve ser preservada no futuro (e não há razão alguma para que não o seja)”. “A independência sistemática e consciente da programação do Goethe de influências políticopartidárias (sempre transitórias e de relevância ocasional), assim como a preocupação constante com a qualidade dos eventos, devem ser ressaltadas e louvadas, pois certamente constituem fatores dos mais importantes para o sucesso de suas atividades”. “Finalmente, parece inteiramente lícito concluir que, ao fundar em 1956 o Instituto Cultural Brasileiro Alemão, e ao associá-lo [...] ao GoetheInstitut”, seus fundadores deram “uma contribuição altamente positiva à vida cultural do Rio Grande do Sul, e de sua capital, Porto Alegre”.

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IKO FREESE

E esse trabalho, iniciado há 50 anos, certamente ainda produzirá muitos frutos, justamente pelos princípios que sempre guiaram as ações. A atual diretora do Goethe-Institut, Marina Ludemann, destaca que “nós não somos uma empresa que funciona via internet, que importa exposições, séries de filmes ou ofertas de palestras prontas da Alemanha. Nós, pelo contrário, desenvolvemos projetos comuns com nossos parceiros locais. Esta foi e continua sendo a razão da qualidade do trabalho cultural do Goethe-Institut”.

*Historiador. Professor da PUCRS


Cheguei a Porto Alegre em setembro de 1979 vindo do Irã, um país cuja população recém havia se livrado de um ditador disfarçado de monarca e que então corria o risco de recair em uma outra tirania, em alguns aspectos ainda pior. As razões para isso residiam principalmente na profunda decepção com os sistemas de governo do Ocidente: as democracias ocidentais e o comunismo soviético; ambos haviam exercido uma política colonialista em relação ao Irã, e os iranianos sentiam-se traídos e explorados. No Brasil aguardava-me um país que começava a se transformar de uma ditadura militar numa democracia. Poder acompanhar esse caminho durante seis anos, com um trabalho de promoção cultural engajado em prol de valores democráticos, foi para mim uma experiência muito gratificante.

GOETHE-INSTITUT | ARQUIVO

Com base em minhas experiências no Irã, era claro para mim que tal trabalho deveria se pautar pelos interesses dos parceiros e considerando as circunstâncias locais. Fazer propaganda para o lado alemão ocidental através da referência à Alemanha não era errado, mas secundário em comparação à defesa de valores com os quais a República Federal da Alemanha se sentia comprometida: pluralismo, direitos humanos, proteção das minorias, política de estabelecimento e manutenção da paz e limitação do uso do poder por parte do Estado contra o indivíduo. Com a ajuda dos amigos do CulturalAlemão, como o Goethe-Institut foi denominado aqui, foi possível encontrar tópicos, meios e caminhos no sentido de participar da discussão pública que então se iniciava em torno desses

Kurt Scharf durante o lançamento da Pedra Fundamental da sede na Rua 24 de Outubro, em janeiro de 1980

valores e da cultura que os gaúchos queriam construir. Ao lado de highlights culturais, como a apresentação de Pina Bausch com o Wuppertaler Tanztheater ou de amplas retrospectivas dos diretores de cinema alemães de vanguarda da época, havia uma programação que pretendia utilizar e expandir com um viés cultural os espaços políticos livres que estavam se abrindo: por exemplo, com exposições de arte engajada (as ilustrações do ciclo da "Declaração universal dos direitos humanos", de Christoph Meckel, ou pôsteres satíricos e políticos de Klaus Staeck). Nossa matriz mostrou-se preocupada – possivelmente porque Staeck, em razão de uma representação crítica de Franz Josef Strauß em um de seus pôsteres, atiçava a ira da CSU (União Social-Cristã, partido alemão). Com o apoio do Consulado-Geral de Porto Alegre, sob uma liderança social-liberal, a questão pôde ser contornada em nome do pluralismo. Os principais tópicos passaram a ser a filosofia política, por muito tempo proibida sob a ditadura e agora despertando para uma nova vida, e a ecologia. A ideia era evitar provocações desnecessárias para não chamar atenção da censura, mas ainda assim ser compreendido. Além disso, era importante não oferecer nenhuma solução pré-fabricada, não apresentar a Alemanha como modelo, não ser unilateral e sim propiciar discussões abertas através das quais os brasileiros pudessem procurar seus próprios caminhos. Desta forma, conquistamos enorme interesse, e por diversas vezes lotamos o Salão de Atos da Reitoria em noites de debates. Foi no meu tempo em Porto Alegre que se deu a mudança do Instituto Cultural Brasileiro-Alemão para o novo prédio construído para o GoetheInstitut. Os responsáveis por esse projeto haviam tido a ideia pouco sensível de denominá-lo Casa da Alemanha, despertando assim lembranças desagradáveis das atividades dos nazistas no sul do Brasil antes da Segunda Guerra Mundial. Isso pôde felizmente ser contornado. O generoso prédio novo deu-nos um impulso. O público afluía à casa, e por vezes chegavam verdadeiras caravanas de ônibus de universidades vizinhas, como Santa Maria, para os debates. Os tópicos mencionados também eram atuais na Alemanha. Discutia-se sobre o movimento pacifista, política ambiental e sociedade civil. Mas sua atualidade significava também que eram polêmicos; isso acarretou problemas após a troca da coalizão SPD [Partido Social-Democrata] - FDP [Partido Democrático-Liberal] para um governo CDU-FDP na Alemanha. Enquanto as autoridades brasileiras da época, graças à sensata orientação de nossos amigos brasileiros, nunca fizeram qualquer intervenção, as representações diplomáticas alemãs por vezes nos causaram dificuldades: por exemplo, na ocasião do

#pinabausch #pedrafundamental

quadragésimo aniversário do movimento de resistência Weiße Rose (Rosa Branca), nós organizamos, por sugestão do Consulado-Geral, um evento em homenagem aos que lutaram na resistência contra o nazismo, quando buscamos uma referência atual a fim de despertar o interesse do público, e decidimos junto com os parceiros brasileiros, discutir sobre o direito de resistência contra o poder do Estado, ancorado na Constituição Alemã. No anúncio do evento, citamos, para ressaltar a abrangência do debate público, de um lado um manual de direito constitucional corrente, mas de outro lado também Günter Grass, que alertava quanto a um abuso do poder do Estado na esfera privada através das perguntas demasiado detalhadas do censo demográfico que se realizaria dali a pouco. Diante disso, a adida cultural da Embaixada alemã em Brasília acusou-nos de "usar palavras de Günter Grass para incitar à resistência contra o poder do Estado", e nossa matriz, também sem sequer me escutar antes, fez-me acusações substanciais. Eu as refutei, e a coisa ficou por isso mesmo. O Tribunal Constitutional Alemão, a propósito, corrigiu posteriormente o planejamento do censo, e, durante a discussão, os parceiros brasileiros (que nada sabiam das acusações por parte da Embaixada e da administração central do Goethe-Institut) elogiaram a democracia alemã por sua capacidade de aceitar críticas e processálas de maneira construtiva.

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

KURT SCHARF*

KURT SCHARF

DE FIGUEIREDO A SARNEY, DE SCHMIDT A KOHL. PROMOÇÃO CULTURAL E POLÍTICA

Noutra ocasião, o Consulado-Geral criticou-nos por convidar um intelectual brasileiro de esquerda à Berlim, pois este, após seu retorno, relatou também aspectos positivos sobre a RDA (República Democrática Alemã ou “Alemanha Oriental”). Fica evidente que a luta anticomunista durante a guerra fria parecia tão importante para os diplomatas alemães responsáveis que eles preferiam escolher seus parceiros dentre os representantes da direita brasileira, que estava em lenta retirada, do que entre a esquerda em ascensão. Mostrar firmeza ante tais tentativas de intimidação requeria uma certa dose de coragem cívica, mas não muita. Elas não passaram de reprimendas e acusações, sem medidas disciplinares. Não obstante, isso me mostrou que mesmo na democracia as liberdades civis precisam sempre voltar a ser defendidas, senão conquistadas. Que o lado brasileiro não possa ter considerado minha atividade de todo imponderada posso concluir do fato de me ter sido concedido o título de Cidadão de Porto Alegre, uma decisão que teve de ser aprovada também pelos parceiros conservadores na Câmara Municipal, e do convite para fazer uma palestra na Escola Superior de Guerra do Rio de Janeiro sobre o significado da oposição numa democracia. Esta foi, aliás, minha última apresentação em público no Brasil.

*Diretor do Goethe-Institut Porto Alegre de 1979 a 1985

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HARTMUT BECHER

HARTMUT BECHER* GOETHE-INSTITUT | ARQUIVO

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

CLIMA INTELECTUAL E CULTURAL EXTRAORDINÁRIO Quando assumi a direção do Goethe-Institut de

Mas também as artes desempenharam um papel

Porto Alegre em março de 1990, estava preparado

importante no diálogo internacional. Lembremos

para encontrar uma vida cultural mais

aqui o simpósio "O que fazer com Brecht?", do

provinciana. Fui, entretanto, agradavelmente

qual participaram não somente especialistas em

surpreendido: estava numa cidade com um clima

teatro da Alemanha e do Brasil, mas também de

intelectual e cultural extraordinário, como

outros países latino-americanos, ou os encontros

posteriormente nunca mais encontrei em qualquer

internacionais de compositores, para os quais

outro lugar na mesma intensidade.

conseguimos atrair a França e a Espanha como

O centro indiscutível dessa vida cultural era o

parceiros.

Theatro São Pedro, dirigido por Eva Sopher, que

O Goethe-Institut Porto Alegre foi efetivamente se

veio a se revelar um excepcional e fiel parceiro

estabelecendo como um espaço para o diálogo

do Goethe-Institut. É inesquecível seu papel de

cultural não apenas entre Alemanha e Brasil, mas

anfitrião das apresentações do Residenztheater

também entre o Brasil e a América espanhola.

de Munique em 1990, com o então absolutamente

Antigamente voltado para o Atlântico, o país

desconhecido e hoje famoso diretor Frank Castorf.

tendia a virar as costas para o restante do

Muitos outros eventos cênicos e musicais de

subcontinente. Isso foi mudando de forma

primeira classe realizados em conjunto se

contínua nos anos 90, e Porto Alegre tornou-se

seguiriam.

um centro vital do diálogo entre ambas as

Especialmente importantes foram também as

culturas. Lembremos, por exemplo, os grandes

universidades, em particular a Universidade

eventos "Mercosul e União Europeia – uma

Federal do Rio Grande do Sul, uma verdadeira

abordagem comparativa" e "Identidade cultural e

"meca" das ciências humanas, sobretudo na área

formas de colaboração em áreas de fronteira",

da filosofia. Grandes nomes da vida intelectual

que foram organizados em parceria com a

alemã, como Habermas, Luhmann, Apel,

Associação dos Ex-Bolsistas da Alemanha (AEBA).

Kambartel, Tugendhat (para citar apenas alguns)

Sem dúvida, a AEBA, com suas ideias e tópicos,

entravam e saíam do Goethe-Institut e discutiam

prestou uma contribuição crucial para o sucesso

com colegas sul-americanos diante de um

do trabalho em conjunto.

numeroso público, como por ocasião do simpósio

Por fim, ainda algumas palavras pessoais: Não

internacional "Ética e Política", realizado uma

apenas eu me senti em Porto Alegre

semana antes da destituição do corrupto

extraordinariamente bem, mas também toda

presidente Collor, e que teve repercussão em todo

minha família. Essa foi para mim talvez a base

o país.

mais importante da minha atividade. Isso se deve às pessoas incrivelmente hospitaleiras que aqui vivem e trabalham. E – last but not least – à maravilhosa equipe do Goethe-Institut. Meus melhores votos a esta cidade, e muitas felicidades no futuro, Goethe-Institut Porto Alegre!

*Diretor do Goethe-Institut Porto Alegre de março de 1990 a setembro de 1996

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#brecht #aeba #achternbusch


HAJO SCHWIERSKOTT*

No final de julho de 1963 visitei os docentes do Goethe-Institut sediados em Porto Alegre. Na bagagem, os estatutos do Instituto fundado em Salvador-Bahia no ano anterior. A escala no Rio de Janeiro durou mais tempo do que o esperado, porque justamente neste dia o Governador da Guanabara Carlos Lacerda vinha visitar seu adversário Leonel Brizola em Porto Alegre. Nós tivemos que esperar, enquanto Lacerda fazia um discurso sem fim para uma multidão diante do aeroporto, até que a aeronave do governo decolasse. Quando chegamos em Porto Alegre, Lacerda já discursava novamente para correligionários, mas agora perturbado por uma enorme manifestação contrária. Isso aconteceu 8 meses antes do golpe militar, que destituiu ambos os políticos de seus cargos e direitos.

Nosso Instituto estava modestamente instalado num prédio de escritórios no centro da cidade. A relação entre entidade mantenedora e os docentes achava-se entravada. Mas havia uma grande surpresa: a biblioteca era conduzida por Herbert Caro. Não conheço outra biblioteca do Goethe-Institut que tenha tido a sorte de ter um colaborador de formação tão universal. Doze anos mais tarde, a segunda viagem. O ator e diretor espanhol José Luis Gomez, após uma turnê de extraordinário sucesso pelo Brasil, manifestouse disposto a assumir um cargo de diretor convidado. Eu o queria em São Paulo, Roland Schaffner, em Salvador – não conseguimos chegar a um acordo, e assim Gomez produziu em Porto Alegre o "Mockinpott" de Peter Weiss, uma parábola que ridiculariza tradições autoritárias. Junto com Roland Schaffner, vim para a estreia. Essa precisou ser adiada de última hora, de modo que nós assistimos ao ensaio geral não censurado de uma das produções mais bem-sucedidas desses anos, que ficou durante meses em cena em Porto Alegre e em outras cidades brasileiras.

A exemplo de muitos de nossos eventos nesta época, as constantes tentativas da censura de impor mudanças foram obviamente a melhor propaganda. 33 anos depois da primeira viagem, cheguei em outubro de 96 para assumir a direção do Instituto. No Brasil a democracia voltara a vigorar. O Instituto estava então idealmente instalado – um dos pouquíssimos Institutos para o qual foi projetado um prédio novo na Alemanha. De maneira exemplar, o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) e a Coordenação do Ensino de Alemão (ZfA) tinham seus escritórios no prédio.

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HAJO SCHWIERSKOTT

TRÊS VIAGENS A PORTO ALEGRE

O Instituto tinha uma excelente reputação, e os poucos mas competentes colaboradores tinham fecundos contatos com parceiros importantes. A mim infelizmente restavam então apenas dois anos até a idade-limite para a aposentadoria – muito pouco tempo para grandes projetos.

*Diretor do Goethe-Institut Porto Alegre de outubro de 1996 a fevereiro de 1999

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#herbertcaro

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REINHARD SAUER

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Günter Wallraff, Uli Kaup e Reinhard Sauer durante a Feira do Livro de 2004

UM TERÇO DE MINHA VIDA “GOETHIANA” REINHARD SAUER*

Por onze anos, de 2002 a 2013, tive o privilégio de coordenar o Goethe-Institut em Porto Alegre – um terço da minha vida “goethiana” ativa. É compreensível que esse tenha se tornado um lugar especial da minha atenção e da minha afeição. Isso se aplica igualmente à cidade e suas redondezas assim como a seus habitantes, aos parceiros e aos colegas do Instituto. Porto Alegre é "especial".

A "economia", olhando retrospectivamente, teve resultados bastante satisfatórios. Uma pequena seleção dos artistas e cientistas que trouxeram seu trabalho a Porto Alegre nesses anos contém nomes como Susanne Linke, Pina Bausch, Frank Castorf, Lutz Förster, Rüdiger Safranski, Ernst Tugendhat, Hans Küng, Elmar Altvater, Eugen Drewermann, Axel Honneth, Dieter Grimm, Otfried Höffe, Ursula Lehr e Jutta Limbach.

Eu assumi o Instituto, vindo de Tóquio, numa tempestuosa fase de reestruturação e pude, 11 anos mais tarde, deixá-lo em águas bem mais tranquilas.

Aqui podemos citar Goethe: "Nesta pobreza, quanta abundância!"

Meus anos em Porto Alegre foram marcados pelo avanço da internet em todos os setores do trabalho e pela crise econômica global, que não poupou nem mesmo a cultura. Diante da imposição, por parte da administração na Alemanha, de que fôssemos eficientes do ponto de vista econômico, foi graças aos esforços reunidos de todos na casa que conseguimos aumentar significativamente o número de alunos nos cursos de alemão e, de forma criativa, encontrar novos caminhos para o financiamento de projetos com parceiros, sem que isso acarretasse uma sensível redução das atividades e da qualidade do trabalho.

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#feiradolivro

Prova disso foi também o reconhecimento de nosso trabalho sob a forma de um grande número de prêmios e distinções. E aqui há que se fazer um agradecimento especial aos nossos parceiros brasileiros, sem os quais isso tudo seria em grande parte impossível! O "Goethe" sempre foi para mim um território da neutralidade, onde mesmo os interesses mais opostos podiam ser articulados, um lugar destituído de interesses político-partidários, do livre-pensar, da experimentação e da reflexão, um lugar que pretendia oferecer especialmente aos jovens, aos que ainda não encontraram seu lugar, um fórum para a aprendizagem recíproca, para o diálogo, a experiência e a ousadia. Eu sempre

senti uma alegria especial em poder oferecer aos jovens que se dedicavam à música, ao teatro e à dança, às artes plásticas e às ideias, e que não queriam se enquadrar em nenhuma das categorias vigentes na arte e na ciência, um palco para testarem suas ideias. O "Goethe" foi um parceiro de todos os acontecimentos culturais e intelectuais importantes na cidade; a "Feira do Livro", de que eu sempre gostei especialmente, é apenas um entre vários exemplos. O "Goethe" sempre foi um elemento importante da vida cultural de Porto Alegre. Sou grato às muitas pessoas criativas e engajadas que pude conhecer aqui. Eu passei anos muito agradáveis, anos inesquecíveis a serviço do Goethe-Institut Porto Alegre e desejo ao Instituto e a todos os seus amigos tudo de bom também no futuro!

*Diretor do Goethe-Institut Porto Alegre de 2002 a 2013


APERFEIÇOAMENTO

EXPRESSIONISMO HANS MAGNUS ENZENSBERGER FEIRA DO LIVRO OTTINGER ICBA

DEBATE

EXAMES

EDUCAÇÃO

BIBLIOTECA

JASMIN RAMADAN

ALEMÃO

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

CINEMA

GOETHEMEDAILLE

CINEMA EXPANDIDO

EDUCAÇÃO

ARTÍSTICA

ACHTERNBUSCH FÓRUM SOCIAL

DEBATE

HERBERT CARO

CURSOS BRECHT HEIMAT ARQUITETURA E URBANISMO

ONLINE EDUCAÇÃO

MUNDIAL

MÚSICA PONTO DE

CINEMA AEBA

PINA

EXAMES

BAUSCH

INGO SCHULZE

CINEMA

GOETHE-MEDAILLE ALEMANHA

INTERCÂMBIO JASMIN RAMADAN

FILOSOFIA PINA BAUSCH

DANÇA

TEATRO

INGO SCHULZE

INCENTIVO À LEITURA

MEDIA ART

ONLINE

PEDRA FUNDAMENTAL GOETHE-MEDAILLE

PONTO DE CINEMA

TEATRO

RESIDÊNCIA

INFORMATIVO RESIDÊNCIA ARTÍSTICA

BILDUNGSKOOPERATION TRADUÇÃO PINA BAUSCH

LIVRO

OTTINGER

TRADUÇÃO

HEIMAT ALEMANHA UMWELT

EQUIPE

FEIRA DO

OSMOSE

ALEMÃO

DANÇA

EQUIPE

ESPECIAL 50 ANOS GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE E 60 ANOS ICBA/RS

CURSOS BRECHT TEATRO ONLINE

INGO SCHULZE

BILDUNGSKOOPERATION

BIBLIOTECA

LITERATURA

ARTES

INCENTIVO À LEITURA CONTEMPORANEIDADE

INTERCÂMBIO

LITERATURA

HERBERT CARO

DANÇA

HANS MAGNUS ENZENSBERGER COMPETÊNCIA INFORMACIONAL INFORMATIVO ICBA

EXPRESSIONISMO

MEDIA ART

ACHTERNBUSCH

PARCERIAS

MÚSICA

PEDRA FUNDAMENTAL

REDE

PARCERIAS

UMWELT ARTES

CINEMA EXPANDIDO

CONCURSO PARA NOVOS DIRETORES

APERFEIÇOAMENTO

NOVOS DIRETORES

COMPETÊNCIA INFORMACIONAL

AEBA

FILOSOFIA

CONTEMPORAN E

OSMOSE

IDADE

CONCURSO PARA

ARQUITETURA E URBANISMO

PARCERIAS OTTINGER REDE

Cada “hashtag” que acompanha um texto neste jornal também forma a nuvem de palavras acima. Na versão online desta nuvem, cada palavra em verde corresponde a um conteúdo exclusivo.

Ficou curioso? Confira em www.goethe.de/portoalegre

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PROGRAMAÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO Ministério da Cultura, Stihl e Goethe-Institut Porto Alegre apresentam: Rommulo Vieira Conceição

Quintas Verdes Sempre às quintas-feiras, durante os meses de setembro, outubro e novembro no Goethe-Institut Porto Alegre A partir de setembro, por um período de três meses, em todas as quintas-feiras, o Goethe-Institut Porto Alegre convida para uma programação especial. A série conta com exposições, filmes, literatura, teatro, música e outros eventos, realizados sempre em conjunto com um de nossos parceiros culturais. Assim, as “Quintas Verdes” resultam em um retrato resumido de nossas cooperações com festivais, instituições e artistas.

Intervenção artística Goethe-Institut Porto Alegre | Hall de entrada A partir de 17 de agosto No âmbito das comemorações dos 50 Anos do Goethe-Institut Porto Alegre e 60 Anos do ICBA, o artista Rommulo Vieira Conceição foi convidado a fazer uma intervenção no hall de entrada do Instituto. “[...] minha ideia era de interromper o fluxo, depois veio a informação de ser um objeto usável, [...], que será colocado no espaço e que será usado (assim espero!!!). Acho que ele deve tentar deslocar as pessoas para usá-lo, e ao mesmo tempo, criar um fluxo diferente no espaço.” (Rommulo Vieira Conceição).

Ensaio Sobre uma Ordem das Coisas

10 de setembro Exposição Ensaio sobre uma ordem das coisas Abertura da Exposição de Marina Camargo CAROL DE GÓES

17 de setembro Teatro Mameloschn: Língua-mãe Espetáculo “Mameloschn: Língua-mãe”, da jovem autora alemã Marianna Salzmann. Encenado por ATO cia.cênica, com direção de Mirah Laline. Elenco: Ida Celina, Mirna Spritzer, Valquiria Cardoso e Philipe Philippsen.

MARINA CAMARGO

Exposição de Marina Camargo Goethe-Institut Porto Alegre | Galeria 10 de setembro a 24 de outubro Série de trabalhos inéditos de Marina Camargo, onde o pensamento cartográfico é explorado como um modo de compreensão de mundo. As delimitações geográficas e desenhos de mapas aparecem como elementos dos trabalhos apresentados na exposição, sendo pensados através de uma posição crítica sobre a ordem cartográfica que conhecemos.

Cidade Planejada

Espetáculo realizado no âmbito do 22º Porto Alegre em Cena.

Escolha o Filme

24 de setembro Homenagem | Música Homenagem a Eva Sopher | Quinteto Porto Alegre A presidente da Fundação Theatro São Pedro Eva Sopher recebe a “Medalha Goethe”. Com participação do Quinteto Porto Alegre.

Exibição de filme do acervo do Goethe-Institut a ser selecionado pelo público através das redes sociais. Para cada década de existência do Goethe-Institut Porto Alegre foi selecionado um filme que marcou a história do cinema. Destes cinco filmes, o público escolhe um. O filme que receber o maior número de votos será exibido no auditório do Goethe-Institut.

www.facebook.com/GoetheInstitutPortoAlegre

1º de outubro Cinema Escolha o Filme Exibição do primeiro filme selecionado pelo público através da promoção “Escolha o Filme”. 8 de outubro Cinema A Morte Cansada (Der müde Tod) Sessão Especial do Fantaspoa Exibição da obra de Fritz Lang com trilha sonora inédita, composta e executada ao vivo pelo grupo argentino Cue Trio, formado por Rodrigo Germán Ruffini, Mariano Federico Poc e Germán Suane. Realizado em parceria com Fantaspoa.

Roger Hanschel e Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro Concerto 17 e 18 de outubro Theatro São Pedro O saxofonista e compositor alemão Roger Hanschel toca composições próprias com a Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro. Realizado em parceria com Theatro São Pedro e OCTSP.

Ganda, Rhinocerus, gravura-palavra-imagem 15 de outubro Música Roger Hanschel e Pedro Tagliani Jam session com saxofonista e compositor Roger Hanschel (Alemanha) e Pedro Tagliani (Brasil).

Mostra de gravuras | De 5 de novembro a 11 de dezembro Seminário | 5 e 6 de novembro O projeto propõe uma ampla abordagem ao refletir a atualidade da experiência com a gravura, num paralelo com as comemorações dos 500 anos da xilogravura “Ganda” do artista alemão Albrecht Dürer. A partir da imagem de um rinoceronte, organiza-se um evento internacional, abarcando “impressões” entre Arte, História e Ciência. Realizado em parceria com o Núcleo de Arte Impressa do Instituto de Artes da UFRGS.

22 de outubro Evento em parceria com Cine Esquema Novo

Uwe Timm na Feira do Livro de Porto Alegre

29 de outubro Cinema Escolha o Filme Exibição do segundo filme selecionado pelo público através da promoção “Escolha o Filme”.

5 de novembro Exposição

O Sonho, o Limiar e a Passagem que Metamorfoseia

Ganda, Rhinocerus, gravura-palavra-imagem Abertura da mostra de gravuras.

Cinema | data a confirmar Exibição do curta dirigido por Gustavo Spolidoro, filmado para marcar os 50 Anos do Goethe-Institut Porto Alegre. Produção: ACENDI, em co-produção com a GusGus Cinema e Goethe-Institut.

12 de novembro Literatura Uwe Timm Bate-papo com o autor alemão Uwe Timm sobre a novela “A Descoberta da Currywurst” (Die Entdeckung der Currywurst). Realizado em parceria com FestiPoa Literária e Feira do Livro de Porto Alegre. 19 de novembro Evento a confirmar

Evento de Encerramento 4 de dezembro | sexta-feira Encerramento das atividades em comemoração aos 50 anos do Goethe-Institut Porto Alegre e 60 anos do ICBA/RS.

Festival de Artes

26 de novembro Cinema Escolha o Filme Exibição do terceiro filme selecionado pelo público através da promoção “Escolha o Filme”.

Confira detalhes e acompanhe atualização das informações em: www.goethe.de/portoalegre

11 de novembro | Feira do Livro de Porto Alegre O autor alemão Uwe Timm fala sobre o seu livro “À Sombra do Meu Irmão” (Am Beispiel meines Bruders). Realizado em parceria com FestiPoa Literária e Feira do Livro de Porto Alegre.

Patrocínio:

Realizado através de convocatória aberta para selecionar três projetos inéditos desenvolvidos em colaboração por artistas de pelo menos duas linguagens artísticas distintas. Os formatos propostos poderão ser os mais variados e experimentais – performance, ação, instalação, intervenção, projeção, rádio, revista, sarau – sendo que as três propostas selecionadas serão apresentadas na primeira semana de dezembro em diferentes pontos da cidade de Porto Alegre. Realização:


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