ARTIGO ESPECIAL Sono x Trânsito: os perigos e as consequências das longas jornadas de trabalho, das horas extras e das mudanças no turno / pág. 48
21 ª EDIÇÃO / ABRIL 2021
GESTÃO DE FROTAS, MOBILIDADE, TECNOLOGIA E SEGURANÇA
Gestão de Frota
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EM TEMPOS DE CRISE A maior crise sanitária deste século provoca efeitos inéditos sobre a indústria automotiva. Como os gestores de frota podem superar esse momento?
O PARAR está ON
‘NÃO HÁ TEMPESTADE QUE NÃO PASSE'
Modalidade de gestão exige um posicionamento diferenciado do prossional
Instituto fortalece suas produções digitais e impulsiona a carreira de milhares de prossionais de frotas
Em entrevista, Waldemar Niclevicz, dá dicas aos empresários sobre a necessidade de uma mudança de postura
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FROTAS MISTAS: UM DESAFIO AO GESTOR
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08. COMEÇA A SEGUNDA DÉCADA DE AÇÃO PELA SEGURANÇA NO TRÂNSITO Integração entre iniciativa privada, sociedade civil e poder público é fundamental na busca de um trânsito saudável
12. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (I.A.): ECONOMIA E OTIMIZAÇÃO Iniciativa do Governo Federal incentiva o uso de tecnologia na indústria nacional; I.A. pode ser uma aliada para operações de logística e frotas otimizadas
GESTÃO DE FROTA EM TEMPOS DE CRISE A maior crise sanitária deste século provoca efeitos inéditos sobre a indústria automotiva. Como os gestores de frota podem superar esse momento?
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O PARAR ESTÁ ON
Perto de completar 9 anos de história, o Instituto PARAR fortalece suas produções digitais e impulsiona a carreira de milhares de prossionais de frotas no Brasil
16. EMPRESA INVESTE
EM GESTÃO DE FROTAS E COLHE BONS RESULTADOS
Distribuidora agrícola criou departamento especíco para a frota e viu na prossionalização do setor a oportunidade para crescer e superar as diculdades da pandemia
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'NÃO HÁ TEMPESTADE QUE NÃO PASSE'
A armação é do alpinista Waldemar Niclevicz, que constantemente prova os seus limites. Em entrevista à PARAR Review, ele enfatizou como tudo é passageiro, deu dicas aos empresários e falou sobre a urgente necessidade de uma mudança de postura
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Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
24. FROTAS MISTAS: UM DESAFIO AO GESTOR 36% das frotas são mistas no Brasil. Modalidade de gestão exige um posicionamento diferenciado do prossional, que deve aliar tecnologia de ponta, organização de processos e de pessoas
32. PARA MUITO ALÉM DO LUCRO... Pandemia evidencia o poder de articulação da iniciativa privada e mostra o quanto o setor tem papel ativo na mobilização social
A PARAR Review é uma publicação do PARAR, veiculada por distribuição direta. Para recebê-la, envie um e-mail para atendimento parar.com.br. JORNALISTA RESPONSÁVEL Loraine Santos loraine.santos parar.com.br
36. PROGRAMA LATINO-AMERICANO AVALIA SEGURANÇA DE VEÍCULOS E DÁ ZERO PARA DOIS MODELOS Hyundai HB20 e Ford Ka foram avaliados com zero estrela pelo Latin NCAP; para secretário-geral, consumidores devem se unir para exigir modelos mais seguros dos fabricantes
COLABORAÇÃO Beatriz Pozzobon Guilherme Popolin Paula Bonini PUBLICIDADE atendimento parar.com.br (43) 3315-9500 PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
ESPECIAL NAFA
Eduardo Bibiano eduardobibiano.com.br IMPRESSÃO E ACABAMENTO IDEALIZA - idealizagraf.com.br
52. LIDERANÇA E GERENCIAMENTO: O QUE APRENDEMOS EM 2020 Gestores de frotas oferecem lições que antecipam soluções para o futuro em um mundo póspandemia
48.
SONO X TRÂNSITO
A Revista PARAR Review é uma publicação da empresa idealizadora do PARAR.
Conheça os perigos e as consequências das longas jornadas, das horas extras e das mudanças no turno de quem trabalha atrás do volante
40. TECNOLOGIA DE
MONITORAMENTO DE VELOCIDADE GARANTE SEGURANÇA E ECONOMIA
Ferramenta desenvolvida pela GolSat permite que o gestor saiba como o condutor se comporta ao volante; informação ajuda na redução de multas, acidentes e nos gastos com combustível
institutoparar.com.br
golsat.com.br
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EDITORIAL
RICARDO IMPERATRIZ
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
Sobre aprender, priorizar, lidar com incertezas e agir prossão e tornar o trabalho daqueles que nos leem
individual ou coletivo -, tivemos que aprender,
cada vez mais eciente e seguro. Estamos felizes e
priorizar, lidar com incertezas e agir. Não tivemos
gratos de chegar a 21ª edição cientes de que estamos
outra alternativa além de encarar os desaos e
cumprindo nosso papel com maestria.
tomar decisões com seriedade. Falando sobre o pilar
Por m, se há algo que a pandemia nos ensinou,
corporativo, tenho certeza de que seremos capazes
foi sobre a vida. Ressignicamos o que é viver, o que é
de transformar todas essas diculdades em lições
família, e nossa relação com o trabalho. Aorou
valiosas, que vão nos conduzir a um olhar mais
dentro da gente ainda mais o sentimento de querer
humano e inteligente sobre os caminhos que
aproveitar ao máximo nosso tempo, nossa vida e as
escolhemos como empresas e líderes.
pessoas que fazem parte dela. No universo da
Por aqui, nos adaptamos e potencializamos
gestão de frotas, não foi diferente. Se importar com
nossa jornada. Diante do desao de se manter
a segurança das pessoas signica dar valor à vida
interessante frente a conteúdos audiovisuais e à
em todos os aspectos. Por isso, o recado mais
internet, a revista PARAR Review vai além de sua
importante que temos para dar é: continue
função como impresso: ela é o principal canal de
priorizando quem trabalha atrás do volante. Cuidar
expressão do nosso propósito, que é ser um apoio
de seus condutores é o passo mais importante para
importante para o prossional de frotas do Brasil. O
conquistar os outros pilares da gestão de frotas,
conteúdo editorial da publicação espelha um olhar
como economia e sustentabilidade.
atento sobre a gestão de frotas e as mudanças que a
Seguimos. Esperançosos de que logo tudo isso
denem. A partir disso, a cada nova edição
chegue ao m para que possamos novamente nos
abordamos temas importantes para os prossiona-
reunir, nos abraçar e celebrar juntos. Enquanto esse
is deste setor, sejam gestores, players ou especialis-
dia não chega, aproveite para se atualizar de todas
tas. A cada reportagem, a revista fornece dados
as novidades, tendências e boas práticas do
atualizados do mercado, relata experiências de
mercado de frotas.
quem atua com frotas e apresenta as novidades que RICARDO IMPERATRIZ
CEO da GolSat e fundador do Instituto PARAR
estão chegando por aqui, tudo com o objetivo de dar
Boa leitura!
Fotos: © Freepik / Divulgação
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algumas pistas de como encarar os desaos da
021 CHEGOU COM PERSPECTIVAS INÉDITAS PARA TODOS NÓS. Em qualquer aspecto - pessoal ou prossional,
COMEÇA A SEGUNDA DÉCADA DE AÇÃO PELA SEGURANÇA NO TRÂNSITO
Começa a
SEGUNDA DÉCADA DE AÇÃO PELA SEGURANÇA NO TRÂNSITO Fotos: © Freepik / Divulgação
(2021/2030)
GUILHERME POPOLIN
Integração entre iniciativa privada, sociedade civil e poder público é fundamental na busca de um trânsito saudável
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
JOSÉ RAMALHO Diretor Presidente do OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária (ONSV)
TERCEIRA CONFERÊNCIA GLOBAL DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
Em março, o OBSERVATÓRIO entregou ao
UNIDAS (ONU) SOBRE SEGURANÇA NO TRÂNSITO, REALIZADA EM
Ministério da Infraestrutura um relatório
FEVEREIRO, DEFINIU OS ANOS ENTRE 2021 E 2030 COMO A SEGUNDA
propondo nove metas para trazer mais
DÉCADA DE AÇÃO PELA SEGURANÇA NO TRÂNSITO. A meta é
segurança às rodovias brasileiras, intitulado
reduzir o número de lesões e mortes no trânsito em
“Rodovias que Perdoam – Brasil” – para vê-las
50%. Apesar de algumas melhorias nos últimos anos, incluindo
na íntegra, consulte o box no nal da matéria.
os países em desenvolvimento, os acidentes permanecem
“Demorou dois anos para car pronto,
como um problema de saúde pública, com amplas consequên-
envolvendo mais de 60 instituições, empresas
cias sociais e econômicas. Entre os objetivos a serem desenvol-
e órgãos públicos, com 40 especialistas. Nos
vidos pelos países, até 2030, estão o acesso a sistemas de
próximos dois anos, com a adoção das
transporte seguros e sustentáveis; preço acessível; e expansão
medidas propostas, poderemos reduzir em
dos transportes públicos, com especial atenção para as
50% o total de óbitos e 30% o total de feridos
necessidades das pessoas em situação de vulnerabilidade.
nas rodovias federais”, explica Ramalho.
A Segunda Década de Ação pela Segurança no Trânsito
Ramalho acredita que, em um trânsito
endossa as recomendações da Declaração de Estocolmo, como
violento como o brasileiro, a exibilização das
o controle da velocidade no trânsito, cujo objetivo é estabelecer
leis não traz benefícios – segundo a ONU, o
um limite máximo de 30 km/h em áreas de maior concentra-
Brasil ocupa a 4ª posição entre os países com
ção de usuários vulneráveis e veículos – resoluções que não são
mais mortes em acidentes de trânsito no
absolutas e devem ter respaldo em estudos e pesquisas acerca
mundo, e 3% do Produto Interno Bruto (PIB) é
das particularidades de cada região. No Brasil, de acordo com José Ramalho, Diretor Presidente
utilizado para pagar os custos decorrentes dos acidentes. “Algumas mudanças que
do OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária (ONSV), a
entrarão em vigor trazem alguns pontos
tarefa mais árdua na missão de garantir a segurança é manter
positivos, como o m das penas alternativas.
a continuidade das iniciativas. “É um trabalho ininterrupto. O
Se o condutor causar um atropelamento ou
Brasil não tem programa ou política de governo que tenha a
morte por embriaguez no trânsito, vai preso.
segurança viária como prioridade. Ao longo das últimas
Acreditamos que esse é o maior avanço que a
décadas, desde a promulgação do novo Código de Trânsito
Lei 14.071/2020 trouxe”, arma. Para Ramalho,
Brasileiro (CTV), em 1997, tivemos alguns pontos que zeram a
é importante que haja integração entre a
diferença. A adoção da Lei Seca foi um deles. Ela trouxe,
iniciativa privada, a sociedade civil organiza-
realmente, para uma determinada camada da população, a
da e o poder público em busca de uma cultura
conscientização de que é muito perigoso beber álcool e dirigir.
de segurança. “As empresas têm papel
Porém, é preciso continuar. Outra medida signicativa foi a
fundamental para a promoção da saúde no
redução de velocidade em algumas metrópoles, o que resultou
trânsito. Os gestores de frota podem dar o
em diminuição de acidentes ao longo dos meses seguintes.
exemplo, adotar e exigir um comportamento
Mas, como tudo em segurança viária, é preciso continuar,
seguro de todos os colaboradores, dentro e
ampliar, manter. E isso é o mais difícil”.
fora do trabalho”.
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HEADLINE
COMEÇA A SEGUNDA DÉCADA DE AÇÃO PELA SEGURANÇA NO TRÂNSITO
“AS EMPRESAS TÊM PAPEL FUNDAMENTAL PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE NO TRÂNSITO. OS GESTORES DE FROTA PODEM DAR O EXEMPLO, ADOTAR E EXIGIR UM COMPORTAMENTO SEGURO DE TODOS OS COLABORADORES, DENTRO E FORA DO TRABALHO”
Memorial de Segurança no Transporte
PROGRAMA VOLVO DE SEGURANÇA NO TRÂNSITO Nesse sentido, Alexandre Parker, diretor de responsabilidade corporativa e institucional da Volvo, explica que uma das metas do grupo é atingir o número de zero acidentes e mortes com veículos da marca. O “The Accident Research Team” – ou Equipe de Pesquisa em Acidentes – analisa acidentes envolvendo caminhões e ônibus da marca Volvo para que o time de engenheiros possa desenvolver equipamentos que poderiam ter evitado o sinistro ou salvado a vida das vítimas.
ALEXANDRE PARKER
App Eu Rodo Seguro: ferramenta de gestão de risco desenvolvida pela Volvo de acidentes nas rodovias federais brasileiras
Diretor de responsabilidade corporativa e institucional da Volvo
O Programa Volvo de Segurança no Trânsito (PVST) é referência na mobilização da sociedade brasileira nas questões de trânsito. Desde 1987, atua com especialistas em prol de fomentar a educação. Uma das iniciativas é o Atlas da Acidentalidade no Transporte, análise que considera dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), com base nos registros de acidentes, priorizando caminhões e
ônibus. Já o aplicativo Eu Rodo Seguro, fruto do PVST, é uma ferramenta de gestão de risco de acidentes nas rodovias federais brasileiras. O motorista, ao utilizar o App, recebe alertas sonoros quando estiver se aproximando de trechos com maior periculosidade, permitindo que o condutor dirija com mais cuidado. Outra dimensão do leque de ações da Volvo é o Manual da ISO 39.001, norma internacional de certicação em gestão de segurança viária. O material está disponível para download no portal do PVST e orienta as empresas sobre como obter a certicação (acesse o link pelo QR Code ao nal da matéria). Para a próxima década, Parker destaca a importância de rmar colaborações. “Parcerias estratégicas são fundamentais. Nós apoiamos o Memorial da Segurança no Transporte, um museu em um terreno doado pela Volvo, construído por Leis de Incentivo. Trabalhamos com escolas públicas, para a educação no trânsito, e formação de professores da rede pública, para ministrarem aulas sobre segurança”. O memorial ca em Curitiba (PR), o tour virtual está disponível
Memorial de Segurança no Transporte: museu em um terreno doado pela Volvo, construído por Leis de Incentivo
no site memorialdaseguranca.com.br.
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
AS NOVE METAS DO ESTUDO RODOVIAS QUE PERDOAM – BRASIL 1. Adotar soluções de baixo custo e com forte impacto nos locais críticos de sinistros; 2. Regulamentar práticas, materiais e dispositivos com novas tecnologias e inovações; 3. Complementar os estudos de modelagem para concessões e seus respectivos editais; 4. Inserir anexo especializado de segurança viária nos editais de concessão ou de obras rodoviárias; 5. Revisar a concepção dos projetos de engenharia rodoviária; 6. Otimizar o processo de atendimento de emergência e encaminhamento pré-hospitalar e hospitalar; 7. Estabelecer um processo de certicação para projetos, obras e serviços nos aspectos referentes à segurança viária; 8. Criar cursos técnicos e de especialização especícos para segurança viária; 9. Prospectar recursos internacionais para nanciamento de estudos, pesquisas e ações.
ENTRA EM VIGOR O NOVO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO O novo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) entrou em
Isso signica que o condutor que tiver 20 pontos e duas infrações gravíssimas, dentro de 12 meses, terá seu direito de dirigir suspenso. O mesmo vale para as demais regras. Também houve alteração na validade do exame toxicológico. Os motoristas das categorias C, D e E, com menos de 70 anos, vão precisar renovar o exame toxicológico a cada 2 anos e meio.
vigor em 12 de abril, e as mudanças previstas na Lei
A lei passará a considerar infração gravíssima o atraso de pelo
14.071/2020 trouxeram impactos diretos para o cotidiano
menos 30 dias na renovação do exame, sujeito a multa e
dos condutores.
suspensão do direito de dirigir.
Logo de imediato, a validade da CNH e o limite de pontos
A Lei 14.071/2020 é longa e, para deixar seu conteúdo mais
para suspensão do direito de dirigir são as mudanças mais
acessível, o Instituto PARAR compilou as principais mudanças
visíveis no CTB. Antes, as carteiras tinha validade de 5 a 3
que podem inuenciar nas decisões e no dia a dia dos gestores
anos, dependendo da idade do condutor, a regra que passa
de frotas.
valer agora é a validade de até 10 anos para quem tem menos de 50 anos; até 5 anos para quem tem entre 50 e 70 anos; e até 3 anos para quem tem mais de 70 anos. Quanto aos pontos, há um limite maior, mas com maior peso também na gravidade das infrações. Conra a regra:
Pontos
Infrações
20
2 gravíssimas
30
1 gravíssima
40
nenhuma gravíssima
Utilize o leitor QRcode do seu celular.
QUAIS IMPACTOS AS MUDANÇAS NO CTB TRAZEM AO GESTOR DE FROTAS?
BAIXE O MANUAL DA ISO 39.001, QUE ORIENTA AS EMPRESAS SOBRE COMO OBTER A CERTIFICAÇÃO EM GESTÃO DE SEGURANÇA VIÁRIA.
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IA
Inteligência Artificial (I.A.):
ECONOMIA E OTIMIZAÇÃO
Fotos: © Freepik / Divulgação
Iniciativa do Governo Federal incentiva o uso de tecnologia na indústria nacional; I.A. pode ser uma aliada para operações de logística e frotas otimizadas
GUILHERME POPOLIN
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÕES (MCTI) E A EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA E INOVAÇÃO INDUSTRIAL (EMBRAPII) CRIARAM A REDE MCTI/EMBRAPII DE INOVAÇÃO EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (I.A.), A FIM DE POTENCIALIZAR A CAPACIDADE PRODUTIVA E A COMPETITIVIDADE DAS EMPRESAS BRASILEIRAS. A proposta incentiva o uso de tecnologias de fronteira no processo produtivo da indústria nacional, oferecendo um ecossistema de inovação com competências tecnológicas complementares. Recursos não reembolsáveis e centros de pesquisas, com infraestrutura e prossionais qualicados, fazem parte da iniciativa. Em um primeiro momento, a rede, compartilhando infraestrutura, competências e recursos humanos, será formada por 17 Unidades EMBRAPII, atuando no desenvolvimento de soluções em Machine Learning, Internet das Coisas, Big Data e Analytics. O projeto prevê o investimento de R$ 20 milhões aplicados em projetos de I.A., alinhados aos setores de veículos e do agronegócio. Os recursos são provenientes da Lei de Informática e do Programa Rota 2030, e estima-se que a criação da Rede gere cerca R$ 140 milhões em inovações.
O PROJETO PREVÊ O INVESTIMENTO DE R$ 20 MILHÕES APLICADOS EM PROJETOS DE I.A., ALINHADOS AOS SETORES DE VEÍCULOS E DO AGRONEGÓCIO. A pesquisa “O Impacto da Inteligência Articial no Empreendedorismo”, realizada pela consultoria Everis em parceria com a Endeavor, mostra o protagonismo de startups, mas aponta escassez de investimentos e falta de prossionais qualicados. Com 206 companhias de I.A. – 42% do total de empresas identicadas no estudo –, o Brasil ocupa um lugar de destaque na América Latina. Apesar do progresso, o mercado latino-americano enfrenta desaos para alcançar países mais amadurecidos, como os norte-americanos e asiáticos – inclusive no que diz respeito à aplicação de I.A., realidade virtual e algoritmos inteligentes como solução para operações de logística e frotas mais otimizadas.
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IA
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capacidade para o desenvolvimento dos negócios no país”, argumenta Pina. Para Pina, a Rede MCTI/EMBRAPII de Inovação em I.A. contribui para o desenvolvimento de ações e conexões cujos resultados podem inuir na difusão de recursos em diferentes setores. O suporte nanceiro e técnico permite que novas soluções sejam DOUGLAS PINA
capazes de impulsionar a
Head de Mercado Urbano da Edenred Brasil
competitividade do mercado brasileiro. Especialmente nesse momento em que
”A I.A. POSSIBILITA QUE EMPRESAS o mundo enfrenta a pandemia de Covid19, é importante que a I.A. seja discutida CONDUZAM SEUS NEGÓCIOS À DISTÂNCIA, por órgãos governamentais. “De forma QUE SISTEMAS SE AUTOGERENCIEM geral, a I.A. possibilita que empresas conduzam seus negócios à distância, E QUE PROCESSOS CRÍTICOS PARA O que sistemas se autogerenciem e que DIA A DIA DE UMA SOCIEDADE processos críticos para o dia a dia de uma sociedade não parem. É uma tecnologia que benecia a evolução das NÃO PAREM" soluções nesse momento e que está cada vez mais presente na vida do gestor de frotas”, reete Pina.
OTIMIZAÇÃO E ECONOMIA De acordo com Pina, há uma gama de possibilidades a
INVESTIMENTO EM I.A. PARA AQUECER A ECONOMIA
serem exploradas pelo setor frotista quando se pensa na aplicação de I.A. ao segmento. “Uma forte tendência é que essa tecnologia apoie o avanço de recursos que auxiliem
Com o investimento em inovações tecnológicas e a
ainda mais a otimização de processos e redução de custos.
integração de I.A., o setor frotista se benecia. De acordo com
É nesse aspecto que a Divisão de Frota e Soluções de
Douglas Pina, head de Mercado Urbano da Edenred Brasil, o
Mobilidade da Edenred Brasil trabalha, a m de apoiar
mundo está cada vez mais conectado, de modo que quanto
nossos clientes no desenvolvimento de soluções modernas
mais as empresas puderem simplicar processos e oferecer
e inovadoras, e antecipar necessidades futuras”, explica.
soluções tecnológicas, mais integradas estarão com o
Lançado em 2019, o TED, I.A. para gestão de frotas, auxilia
mercado. Com isso, investimentos em I.A. são importantes
o gestor na tomada de decisões diárias. A partir de uma
para que o setor de gestão de frotas no Brasil evolua na
base de dados, o TED sugere ações e otimiza recursos.
mesma direção do observado em outros países.
“Respostas positivas de clientes da Ticket Log, pertencente
“Difundir a I.A. é uma necessidade desse setor [frotista] e
à Edenred Brasil, mostraram economia no valor gasto nas
de tantos outros. Com a tecnologia promovendo ganho de
bombas de combustível. O TED recomenda aos usuários
tempo e redução de custos, bem como qualicando o cenário
postos de combustível que praticam preços mais baixos
para tomada de decisões e estratégias, ter a I.A. em diversas
em sua região, proporcionando economia”, exemplica
soluções no mercado brasileiro é também garantir maior
Pina.
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CASE PONTO RURAL
EMPRESA INVESTE EM GESTÃO DE FROTAS E COLHE BONS RESULTADOS
Distribuidora agrícola criou departamento específico para a frota e viu na profissionalização do setor a oportunidade para crescer e superar as dificuldades da pandemia
BEATRIZ POZZOBON
OM O AUMENTO DO NÚMERO DE VEÍCULOS DA EMPRESA, A NECESSIDADE DE UM OLHAR MAIS ATENTO PARA A FROTA FICOU AINDA MAIS EVIDENTE. Foi assim que, há quatro anos, a Ponto Rural, localizada em Londrina (PR), decidiu que era hora de criar um departamento especíco para a frota. Somado a isso, a prossionalização e capacitação no setor têm trazido bons
Fotos: © Freepik
resultados para a empresa.
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
Com 27 anos de mercado, a Ponto Rural é uma distribuidora de insumos agrícolas, que atua em 13 municípios do Norte do Paraná. Atualmente, a empresa tem mais de 200 funcionários e uma frota de 110 veículos próprios, entre utilitários e pesados. De acordo com o analista de frotas, Carlos Cezar Prudencio Junior, após a criação do departamento, a empresa conseguiu reduzir custos, melhorar a logística interna, diminuir as multas e mapear com maior assertividade os custos de manutenção. Além disso, a manutenção preventiva passou a ser prioridade, em oposição à corretiva, que não é planejada e acontece somente quando os veículos apresentam algum problema.
“REDUZIMOS EM 20% OS GASTOS COM PNEU E CHEGAMOS A VER UMA REDUÇÃO DE 10% COM COMBUSTÍVEL”,
Carlos Cezar Prudencio Junior é analista de frotas da Ponto Rural
acrescenta o analista de frotas.
O gestor precisa descer até o carro, ele tem que conhecer o equipamento, não só teoricamente. É preciso sair do escritório.”
CAPACITAÇÃO “Não é somente gerir frotas, é gerir vidas”, destaca Carlos Cezar. Foi com este pensamento e consciente da importância da boa atuação de um gestor de frotas, que ele buscou qualicação na área. O analista de frotas da
PANDEMIA
Ponto Rural é aluno da Pós Graduação em Gestão de
Em um período de incertezas e diculdades, como em
Frotas do Instituto PARAR, em parceria com o Centro
meio à pandemia de Covid-19, a capacitação e
Universitário Filadéla (Unil). Ele vai concluir o curso
prossionalização na área de gestão de frotas se tornam
em junho deste ano.
ainda mais importantes. “Durante a pandemia, eu
“Depois de iniciar a pós graduação, tive um grande
estudei ainda mais, precisei me adaptar a essa nova
crescimento pessoal e prossional. Quanto mais
realidade para manter a frota rodando, principalmente
estruturada a gestão de frotas, mais competitiva a
em relação à escassez de insumos”, arma o analista de
empresa se torna”, avalia.
frotas da Ponto Rural.
“Muita gente não se prepara. Assume o cargo sem
“Tive que buscar outras alternativas para frota não
saber o que está abraçando. É preciso se preparar, se
parar. Com certeza, o que aprendi na pós-graduação me
qualicar e estar antenado com o que está acontecendo
ajudou muito nisso, a abrir meus horizontes, antecipar
no 'mundo da frota'. Nós dependemos da frota para
situações e estar sempre preparado”, completa.
manter a operação rodando e, neste sentido, a
A Ponto Rural se organizou rapidamente com a
capacitação pode determinar o sucesso ou o fracasso da
chegada da pandemia no ano passado e, de fato, a frota
operação”, acrescenta o analista.
da empresa não parou.
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GESTÃO DE FROTAS EM TEMPO DE CRISE
GESTÃO DE FROTA EM TEMPOS DE CRISE A maior crise sanitária deste século provoca efeitos inéditos sobre a indústria automotiva. Como os gestores de frota podem superar esse momento?
GUILHERME POPOLIN
M 2020, AS MONTADORAS DE VEÍCULOS INSTALADAS NO BRASIL APRESENTARAM A PRODUÇÃO MAIS BAIXA EM 17 ANOS. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), com 2,01 milhões de veículos montados, a produção de carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus sofreu uma queda de 31,6% em relação a 2019. A falta Fotos: © Freepik / Divulgação
de insumos e os preços elevados prejudicam as montadoras, que em fevereiro viram a produção de veículos cair 3,5%. Essa conjuntura impacta as frotas corporativas: os carros não chegam, os veículos antigos estão envelhecendo, não há peças ou, se há, os preços subiram. Assim, a maior crise sanitária deste século – e seu efeito sobre a indústria automotiva – traz desaos inéditos aos gestores de frota. Como superar esse momento evitando prejuízos e mitigando danos?
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
ESSA CONJUNTURA IMPACTA AS FROTAS CORPORATIVAS: OS CARROS NÃO CHEGAM, OS VEÍCULOS ANTIGOS ESTÃO ENVELHECENDO, NÃO HÁ PEÇAS OU, SE HÁ, OS PREÇOS SUBIRAM
DANIEL THEODORO Gestor de facilities e frotas da Ingredion
A menor demanda por parte do consumidor nal e a escassez de insumos
que uma quantidade decitária do insumo
frotas corporativas. Eduardo Bortotti,
fosse destinada à indústria automotiva.
gestor de facilities e frota da Enel Brasil,
geram impactos sentidos por diferentes
Para Daniel Theodoro, gestor de facilities
explica que, no caso dos carros executivos,
partes da cadeia. A falta de semicondutores,
e frotas da Ingredion, o principal impacto foi
o prazo médio anterior à pandemia era de
utilizados em circuitos
a necessidade de revisitar a política
cerca de cem dias, mas agora pode chegar a
eletrônicos para conduzir
exível de renovação de modelos a
180. Nesse momento da crise, com a
correntes, paralisou linhas de
cada 6 meses, migrando para um
experiência do ano passado, é possível
produção em todo o mundo. No
único pedido em toda frota da
empreender iniciativas para mitigar os
Brasil, Honda e Chevrolet
empresa, com contratos vencendo
danos operacionais, materiais e
precisaram pausar as atividades e
em 2021. “Foi necessário ajustar o
econômicos que impactam a gestão de
parar de produzir o Civic e o Onix,
processo operacional e antecipar a
frotas. No caso da Enel, que realiza um
respectivamente. De acordo com
entrada desses pedidos até o nal
serviço essencial, o uso dos veículos,
Milad Kalume, Business
de 2020. O momento ainda não é
sobretudo por técnicos, não mudou
Development Manager da JATO
muito favorável, sabemos que o
durante a pandemia. É preciso uma
Dynamics, tratando-se de
setor enfrentou a falta de matéria-
comunicação alinhada com os
matéria-prima, historicamente em momentos pós-crise, a China
MILAD KALUME Business Development Manager da JATO Dynamics
abastece primeiramente o
prima e o impacto na produção de
fornecedores para evitar surpresas
peças, mas esperamos que com a
decorrentes da falta de peças. “Nos
imunização [contra a Covid-19], o
preparamos bastante nesse período.
mercado interno para depois escoar ao
segmento – mesmo que de forma
Estamos com um plano de crise, de
mercado global. Além disso, o aumento da
conservadora – melhore em 2021”, explica.
venda de televisões e celulares, que também
O atraso na produção de veículos implica
utilizam semicondutores, contribuiu para
na ampliação do prazo para a renovação das
vericação de peças. Tentamos fazer estoque das mais usadas e deixar o pessoal em alerta”, arma Bortotti.
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GESTÃO DE FROTAS EM TEMPO DE CRISE
A escassez de insumos apresenta desaos antes inimagináveis para os gestores de frota. Na Jungheinrich Brasil, os carros ocina, pela norma da empresa, são padronizados na cor prata. Porém, a montadora fornecedora encerrou a fabricação do modelo utilizado pela Jungheinrich, na versão prateada, em novembro. “Nessa categoria, se formos procurar outros carros, na cor prata, eles não me atendem perfeitamente igual essa montadora”, conta Marcos Aurélio de Oliveira, comprador na Jungheinrich Brasil. A solução adotada foi encomendar veículos na cor branca, todavia, o processo cou
EFEITO EM CADEIA NO REAJUSTE DE PREÇOS
mais longo e caro. “Quando
No caso das empresas que utilizam
montadora Ford encerraria a operação no
entregam o carro na locadora, temos
frotas terceirizadas, a prorrogação dos
Brasil. Tínhamos 17 novos pedidos já
que fazer o envelopamento na cor
contratos e a antecipação dos pedidos são
colocados e foi necessário encontrar
prata, colocar os adesivos da
saídas viáveis. Contudo, Oliveira pontua
alternativas para suprir nossa demanda,
empresa, um armário para as
que o problema da antecipação é que os
impactando mais uma vez em prazos
ferramentas [o carro é ocina] e
valores podem sofrer alterações entre a
maiores para o faturamento e entregas distantes”.
fazer a transferência dos
data do pedido e da entrega do veículo.
documentos, no Detran, para um
“Fazemos o pedido, a locadora passa para a
Por conta da baixa utilização devido à
carro fantasia. Depois, trazer o carro
fábrica. Algumas vezes demoram quatro
pandemia, enquanto aguarda a
para a empresa. Tudo isso demanda
meses para faturar. Quando faturam, a
disponibilização com o prazo maior
muito mais tempo, entre seis e sete
tabela de preço já mudou”, explica Oliveira
estipulado pelas montadoras, de acordo
meses”, completa Oliveira.
sobre o efeito em cadeia da revisão de
com Theodoro, a Ingredion optou em seguir
p re ç o s . “A g o ra , a p r o b ab i l i d a d e d e
com o parceiro de locação atual, realizando
recebermos um reajuste, antes de termos o
uma repactuação de aluguel mensal
veículo na empresa, é maior”. Nesse sentido, Daniel Theodoro conta
MARCOS AURÉLIO DE OLIVEIRA Comprador na Jungheinrich Brasil
baseado em quilômetros rodados – desde o início do contrato – e análise em estimativa
que uma das montadoras pertencentes à
de quilômetros rodados na momento da
política de frota da Ingredion não estava
devolução de cada veículo. “Optamos por
aceitando pedidos em dezembro, situação
manter os modelos atuais com correção
que se regularizou apenas em fevereiro,
aos contratos com data de aniversário em
implicando no aumento do prazo de
2021, porém, acordamos em anular as
entrega e dos preços. “Além disso, outra
multas pela não devolução ao término de
situação delicada foi a notícia de que a
cada contrato”, naliza.
Fotos: © Freepik / Divulgação
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
SAÚDE E EFICIÊNCIA CAMINHAM JUNTAS Vale destacar que o gestor de frotas é,
EDUARDO BORTOTTI Gestor de facilities e frota da Enel Brasil
momento de crise sanitária. “As nossas preocupações sempre foram no sentido de ver os nossos prestadores dos serviços de manutenção e ocinas orientados em
essencialmente, um gestor de pessoas.
r e l a ç ã o à C o v i d - 1 9 . Te m o s u m
Entre os esforços empreendidos para
procedimento para o envio de veículo à
mitigar os prejuízos e danos decorrentes da
ocina e sua retirada. Para uso diário,
pandemia de Covid-19, é necessário a
distribuímos kits aos condutores. Uma
adoção de medidas alinhadas com as
série de questões que desde o começo da
recomendações e protocolos de segurança
pandemia estamos tratando com
da Organização Mundial de Saúde (OMS),
seriedade”. Assim, é possível manter a frota
prezando pela saúde dos motoristas.
ativa, alinhando a saúde dos colaboradores
Eduardo Bortotti destaca a importância da
com a eciência do serviço prestado –
preocupação com a higiene dos veículos,
a t e n u a n d o, p o r t a n t o, o s i m p a c t o s
bem como a desinfecção destes, nesse
causados pela indústria automotiva.
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GESTÃO DE FROTAS EM TEMPO DE CRISE
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
FORD ENCERRA ATIVIDADES NO BRASIL, MAS SE COMPROMETE A OFERECER ASSISTÊNCIA A Ford anunciou em janeiro que, em 2021, encerrará a produção de veículos nas fábricas brasileiras. A montadora de automóveis informou que o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, o campo de provas e a sede administrativa para a América do Sul, ambos no estado de São Paulo, serão mantidos. De acordo com a montadora, os clientes seguirão com assistência de manutenção e garantia, informação que trouxe um pouco de alívio para quem tem as frotas constituídas integralmente, ou parcialmente, por veículos Ford.
Fotos: © Freepik
O anúncio do fechamento das fábricas foi recebido com surpresa por Daniel Theodoro, gestor de facilities e frotas da Ingredion. “Já tínhamos aprovado o modelo Ford Ka. Colocamos 17 novos pedidos na montadora, via parceira com uma locadora, em dezembro de
2020. Porém, em janeiro, recebemos a notícia de encerramento das operações no Brasil”, conta. Informado que precisaria trocar os modelos, a companhia migrou para exemplares da Volkswagen – Voyage e Gol automáticos. Com alguns veículos Ford Ka remanescentes, com vencimento de contrato em 2022, Theodoro acredita que não terá problemas para repor peças, uma vez que a Ford seguirá amparando os clientes brasileiros. A Fundação Procon de São Paulo e a Ford fecharam um acordo no qual a empresa se compromete a manter assistência ao consumidor no Brasil, com operações de vendas, serviços, assistência técnica, peças de reposição e garantia. O acordo tem abrangência nacional e vigência durante toda a vida útil dos veículos vendidos pela marca.
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FROTA MISTA
Frotas mistas:
Fotos: © Freepik / Divulgação
UM DESAFIO AO GESTOR
36% das frotas são mistas no Brasil. Modalidade de gestão exige um posicionamento diferenciado do profissional, que deve aliar tecnologia de ponta, organização de processos e de pessoas
PAULA BONINI
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
Equipe setor de logística da Tabocas. Weslley Silva, Gerente. Bruno Leão, analista. Isabella Pinheiro, analista.
O gerente de logística, Weslley Silva, contou que a empresa trabalha com frota mista desde a sua fundação, em 1999. Dentre as especicidades que GESTÃO DE FROTAS É UM TRABALHO COMPLEXO, QUE
precisam ser levadas em conta para administrar a
EXIGE VISÃO, POSTURA E ESTRATÉGIAS BEM
frota mista, destacou: gestão de combustível
DEFINIDAS POR PARTE DO GESTOR. No caso de
(consumo); mobilização (documentação, frete, mão
uma frota mista, os desaos são ainda maiores. Imagine
de obra especializada); manutenção (planos de
gerir veículos leves, como motocicletas, automóveis, SUVs e
manutenções, reparos diversos, diculdade de
caminhonetes, simultaneamente a pesados, como micro-
l o c a l i z a r p e ç a s) e p o l í t i c a d e f r o t a ( c a d a
ônibus, tratores, caminhões, carretas e ônibus, com eciência
equipamento e veículo tem uma particularidade).
e bons resultados? Anal, veículos leves e pesados integram categorias de
No que diz respeito aos desaos enfrentados pelo setor, a analista de logística Isabella Pinheiro,
frotas com características bem distintas. O Conselho
apontou que os principais estão ligados às
Nacional de Trânsito (CONTRAN) esclarece que os leves têm
diculdades envolvidas na gestão de frota em área
peso bruto de até 3.500 quilos (3,5 toneladas), e que os
de acesso precário, com pouca estrutura e difícil
pesados ultrapassam esta marca. Diante disso, o limite de
comunicação. “A empresa sempre está em busca de
velocidade para os veículos pesados, geralmente,
tecnologia para ajudar nessa gestão. Hoje a
corresponde a 80% do que é determinado para os leves nas
telemetria é peça fundamental para esse processo,
estradas, com multas e exigências diferenciadas. E engana-se quem pensa que uma minoria de empresas enfrenta a realidade de gestão de frota mista. O Relatório
pois além de nos auxiliar quanto a localização em tempo real, ainda contribui para a segurança”, pontuou.
Tendências para a Gestão de Frotas 2021, da Trimble em parceria com a YounderEdTech, revelou que 36% das frotas são mistas no Brasil. Um número bastante signicativo. A Tabocas Participações e Empreendimentos, que atua no segmento de construção de linhas de transmissão e subestações de energia, faz parte desse time. Atualmente, conta com uma frota mista com aproximadamente 2.500 equipamentos, entre máquinas, caminhões e veículos leves, próprios e terceirizados. Na matriz da empresa, há 12 colaboradores envolvidos na gestão desta frota e mais 30 trabalhadores distribuídos nos canteiros e sub canteiros das obras.
“A EMPRESA SEMPRE ESTÁ EM BUSCA DE TECNOLOGIA PARA AJUDAR NESSA GESTÃO. HOJE A TELEMETRIA É PEÇA FUNDAMENTAL PARA ESSE PROCESSO, POIS ALÉM DE NOS AUXILIAR QUANTO A LOCALIZAÇÃO EM TEMPO REAL, AINDA CONTRIBUI PARA A SEGURANÇA”
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FROTA MISTA
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
Para se ter uma ideia, o também analista de logística da Tabocas, Bruno Leão, revelou que em uma obra de pequeno porte, a empresa chega a um pico de 350 equipamentos, cada um em uma frente de serviço, que pode chegar a 150 km de distância do ponto inicial. “É importante a busca por parceiros mais especializados”, considerou. Ele reforçou que a empresa conta com o empenho e a experiência de seus colaboradores, investe em tecnologia de ponta e possui estrutura e logística capazes de permitir a continuidade e o sucesso das atividades.
TECNOLOGIA OCUPA PAPEL DE DESTAQUE
WALTER LUIS KERKHOFF Diretor da Plantech
Para Walter Luis Kerkhoff , diretor da Plantech, empresa de softwares de gestão de frota, o segredo está na junção entre
Kerkhoff alertou que a adoção de uma solução de
tecnologia, processos e pessoas. “Não adianta contratar uma
tecnologia, como a contratação de um software de gestão,
nova tecnologia e esperar que ela resolva tudo sozinha. É preciso
exige a revisão dos processos de frota e a necessidade de
haver uma combinação. Nós, como fornecedores, aprendemos
treinamento dos prossionais ou usuários. “Revisar os
com os gestores de frota, que são nossos clientes, todos os dias ”,
processos de frota não signica só fazer uma política de frota.
armou.
A política ajuda e clareia. É nela que estão descritos os
No entanto, Kerkhoff ressaltou o notório papel de destaque
processos, que devem ser gerenciados pelo software. Mas
que a tecnologia ocupa neste contexto, sendo capaz de otimizar
quando falamos em processos, temos que visualizar não só os
processos, reduzir custos e oferecer uma correta visão da
internos, mas a cadeia toda. Devemos envolver todas as
operação ao gestor. Além de permitir que os processos sejam
partes no processo, como fornecedores,
gerenciáveis, mensuráveis, auditáveis e aprimorados, gerando a
despachante, ocina credenciada. Isso é o mais bacana da
inteligência de gestão e sua melhoria contínua.
tecnologia: ela envolve a todos”, disse, acrescentando que
locadora,
No caso especíco de frota mista, ele apontou ferramentas
somente depois o gestor começará a colher os frutos “O
tecnológicas consideradas, na sua visão, fundamentais para que
desao é grande e sempre tem muitas oportunidades de
haja maior eciência na gestão. “Existem 5 tecnologias que
melhoria, crescimento e economia. Por isso, somos
devem ser aplicadas, porém, elas podem variar conforme o perl
apaixonados por essa área”.
de utilização da frota. A telemetria deveria ser a primeira, pois
E não tem jeito: todo o tipo de frota exige envolvimento do
sem medir não tem como gerir. Mas, para isso, o gestor deve ter os
gestor. “Os gestores estão se prossionalizando e o Instituto
processos uidos, organizados e as informações centralizadas”,
Parar é responsável por isso. Mesmo assim, os gestores
comentou.
enfrentam grandes diculdades dentro de sua organização
As outras tecnologias, de acordo com o diretor, são: “Cartão
para aprovar os custos de utilização de uma nova tecnologia.
controle de combustível, que já é uma realidade em quase todas
Não existe como faturar se a empresa não tiver um software
as frotas, pois melhora e permite o controle do uso de
para isso. Não tem como gerir uma frota de veículos no excel.
combustível, necessário para qualquer operação com veículos.
Não existe integração de dados automatizada via excel. O
Checklist digital, que permite um controle e visualização do
mês passa muito rápido, e quando o gestor termina de fazer a
estado do veículo, além de ser um canal de comunicação do
planilha de custos, já precisa atualizar novamente. É um
condutor com a frota. Software de gestão de frota, para
trabalho inglório. É necessário gerar a necessidade nos níveis
padronizar os processos e dar visibilidade para a frota, operação e
de decisão da empresa e entender que é um investimento
aos gastos de forma centralizada. Tag pedágio, que é capaz de
contratar um software de gestão de frotas e não um custo”,
agilizar o processo de pagamento e diminuir o tempo de parada”.
alertou o diretor da Plantech.
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PARAR 2021
O PARAR está
Perto de completar 9 anos de história, o Instituto PARAR fortalece suas produções digitais e impulsiona a carreira de milhares de profissionais de frotas no Brasil
Fotos: © Freepik
LORAINE SANTOS
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
ONTEMPLANDO CIDADES DO SUL AO NORDESTE, A AGENDA DE EVENTOS MAIS AGUARDADA PELOS GESTORES DE FROTAS E PLAYERS DO SETOR AUTOMOTIVO DO BRASIL JÁ HAVIA SIDO CONFIRMADA PELO INSTITUTO PARAR EM FEVEREIRO DE 2020, QUANDO O PAÍS ACENDEU O ALERTA PARA A PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS. No ano anterior (2019), o PARAR havia cumprido um cronograma intenso de eventos presenciais, reunindo mais de 3 mil prossionais em diversas cidades, entre gestores e especialistas de frotas, para debater assuntos importantes como novas tecnologias, terceirização, TCO, cadeia logística, safety, entre centenas de outros temas urgentes para prossionalização do setor. Além disso, junto com a GolSat, em novembro de 2019 o Instituto assinou a Fleet Village do festival Welcome T omorrow (WTW19), onde circularam mais de 15 mil pessoas para conhecer fornecedores, ouvir palestras e debates, vivenciar experiências com veículos elétricos e testar outras tecnologias de automação.
Embora a notícia da pandemia tenha exigido uma mudança rápida nos planos para 2020, de acordo com Giovanna Souza, coordenadora do Instituto, o cancelamento dos eventos presenciais não foi uma tarefa difícil. “Um dos objetivos do PARAR é trazer a conscientização da cultura de segurança no universo das frotas. Se importar com a segurança das pessoas signica dar valor à vida em todos os aspectos. Isso faz parte da fundação do PARAR e permeia todas as nossas ações. Por isso, foi muito natural tomar decisões rápidas a respeito do cancelamento dos nossos eventos presenciais, que tinham uma programação anual em todas as principais capitais do Brasil. Logo após a primeira conrmação de caso da Covid-19 no Brasil, já se levantou a discussão interna sobre o cancelamento, e no dia 16 de março de 2020, antes mesmo do primeiro Lockdown no Brasil, já nos posicionamos a favor da vida e da segurança dos nossos colaboradores, parceiros e público que nos acompanha e cancelamos qualquer compromisso presencial”, conta ela. Criado em novembro de 2012, o Instituto PARAR nasceu com o propósito de contribuir com o setor de frotas do Brasil, e foi pioneiro em compartilhar conhecimento de qualidade e em disseminar o papel das empresas na formação de condutores mais conscientes e de um trânsito mais saudável. De acordo com dados atualizados do Relatório do
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INSIDE
PARAR 2021
DPVAT, mesmo em um ano de pandemia, em que as paralisações foram constantes, o Brasil
PARAR NA PANDEMIA
c o n t a b i l i z o u 3 3 . 5 3 0 v í t i m a s fa t a i s e m
Com a Covid-19, o mundo mudou e a forma de executar as atividades que
decorrência de acidentes no trânsito em 2020,
sustentam o PARAR também. “Temos usado a tecnologia para continuar
além de 210.042 pessoas que caram inválidas
dedicando todos os nossos esforços na formação dos gestores de frotas e, por
permanentemente. Por meio de seus eventos e cursos, o Instituto
isso, demos vida a novos projetos que promovem encontros virtuais e dividem muito conhecimento”, comenta o fundador. Em 2020, o Instituto lançou o
PARAR tem atuado junto aos gestores de frotas
PARAR em 5, uma série de vídeos curtos com entrevistas exclusivas feitas com
na prossionalização do setor e na redução
prossionais da área; lançou, também, o podcast De Gestor para Gestor;
desses números alarmantes. “Percorremos
adaptou o ciclo de workshops AHEAD para o formato 100% digital; e lançou
inúmeros caminhos que nos levaram a um
novas turmas dos cursos PGF e Pós, programas educacionais que já nasceram
resgate muito importante da nossa essência:
no formato EAD, com metodologias próprias e endossadas por quase 3.000
tudo na gestão de frotas, absolutamente tudo, é
alunos que já passaram pelos cursos.
sobre o ser humano que está atrás do volante.
De acordo com Giovanna, “sempre investimos em conteúdos digitais, não
Seja correndo atrás do número zero de
houve uma mudança de atividades, e sim uma intensicação na produção dos
acidentes, seja correndo atrás das últimas
conteúdos e a criação de novas estratégias de distribuição, para que as
tecnologias disponíveis no mercado, cuidar dos
novidades do setor pudessem ser consumidas de diversas formas: textos,
condutores é o que faz um gestor ser mais
podcasts, vídeos e lives. Como sempre, zemos questão de sermos pioneiros no
estratégico, e uma empresa frotista ser mais
novo formato de evento com a 6ª Conferência Global PARAR, dessa vez 100%
sustentável economicamente”, explica Ricardo
digital, em uma plataforma interativa que permitiu a transmissão de
Imperatriz, CEO da GolSat e fundador do PARAR.
conteúdos ao vivo e de qualidade, troca de experiências e envio de dúvidas via chat, feira de negócios e muito networking. Conseguimos entregar com êxito os pilares mais preciosos dos nossos eventos presenciais, mas de maneira totalmente segura!”.
“Como sempre, em 2020 zemos questão de sermos pioneiros no novo formato de evento com a 6ª Conferência Global PARAR, dessa vez 100% digital, em uma plataforma interativa que permitiu a transmissão de conteúdos ao vivo e de qualidade” Fazendo um balanço, o saldo de 2020 para o Instituto PARAR foi muito positivo. “Graças a um time engajado, e a um público aberto a desfrutar das possibilidades que o desenvolvimento da tecnologia e da internet criaram, nosso 2020 foi extremamente produtivo. Mantivemos os prossionais de frotas atualizados de todas as novidades, tendências e boas práticas do mercado, oferecendo ainda mais acessibilidade e diversidade em nossos conteúdos”, arma a coordenadora. GIOVANNA SOUZA Coordenadora do Instituto PARAR
Ricardo Imperatriz reforça: “realizar a 6ª Conferência Global PARAR em um novo formato foi uma oportunidade ímpar de resgatar de forma prática as raízes do Instituto e o propósito que sempre pulsou em nossos corações: ser um apoio forte ao gestor de frotas que deseja, de fato, gerir vidas. Foram quase mil prossionais que, de braços abertos, acolheram nosso evento digital, participando ativamente do conteúdo e do network proporcionado durante os 3 dias que estivemos conectados”.
Fotos: © Freepik / Divulgação
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
FUTURO Há uma innidade de questões tecnológicas emergindo no
RICARDO IMPERATRIZ CEO da GolSat e fundador do PARAR
mundo das frotas e que ganham espaço dia após dia. Inteligência Articial, carros autônomos, conectividade, biometria facial, carsharing, biocombustíveis, eletricação, integração. A atuação dos gestores de frotas torna-se cada dia mais desaadora. E, para o Instituto PARAR, esta é uma oportunidade de continuar contribuindo com a formação destes prossionais. “O PARAR desenvolveu o setor de frotas com elevação no nível de gestão, conexão entre gestores e fornecedores, visibilidade e relevância da área dentro das empresas, e isso tudo a partir da educação. E é exatamente isso que nos motiva a continuar entregando esse trabalho e a querer
“Nós entregamos gratuitamente e continuamente conteúdos riquíssimos para capacitar todos os prossionais que nos acompanham, e esse é o nosso principal diferencial. Nos preocupamos com a qualidade do texto, do áudio, do vídeo, das fontes, da l i n g u a g e m , d a p l a t a f o r m a , d o a c e s s o, d a s ferramentas, dos materiais, de tudo. Queremos que todas as pessoas tenham acesso ao que de mais relevante o mercado tem a oferecer, da melhor forma possível!”
alcançar ainda mais prossionais”, conta Giovanna Souza. Em sua história, o PARAR já se conectou com mais de 15 mil
Embora a vontade de retornar com os eventos presenciais seja
prossionais, provocando impactos positivos na vida deles. “Nós
grande, o foco do Instituto é impactar cada vez mais pessoas que
entregamos gratuitamente e continuamente conteúdos
trabalham com frotas e cumprir seu propósito de capacitação,
riquíssimos para capacitar todos os prossionais que nos
acesso à informação atualizada e a boas práticas, independente do
acompanham, e esse é o nosso principal diferencial. Nos
formato. “Queremos crescer ainda mais no meio digital, mas claro
preocupamos com a qualidade do texto, do áudio, do vídeo, das
que, assim que pudermos, voltaremos com nossos encontros
fontes, da linguagem, da plataforma, do acesso, das ferramentas,
presenciais, porque já estamos cheios de saudade de cruzarmos com
dos materiais, de tudo. Queremos que todas as pessoas tenham
grandes prossionais e amigos que nos acompanham há anos. E
acesso ao que de mais relevante o mercado tem a oferecer, da
também com muita vontade de conhecer as carinhas daqueles que
melhor forma possível!”, detalha a coordenadora.
são novos por aqui”, conclui a coordenadora do Instituto.
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PARA MUITO ALÉM DO LUCRO
Para muito além do
LUCRO... Pandemia evidencia o poder de articulação da iniciativa privada e mostra o quanto o setor tem papel ativo na mobilização social
Fotos: © Freepik / Divulgação
PAULA BONINI
Parar Review Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
IANTE DAS INÚMERAS DIFICULDADES ENFRENTADAS NO BRASIL EM RAZÃO DA PANDEMIA, QUANTAS VEZES VOCÊ JÁ SENTIU VONTADE DE FAZER ALGUMA COISA PARA CONTRIBUIR COM A SITUAÇÃO? Provavelmente, diversas. É difícil não ser
CARLOS MIRA CEO da TruckPad
tomado por um misto de sentimentos e uma sensação quase arrebatadora - de que algo precisa ser feito. Movidos por esse desejo, empresários do mercado de transporte, logística e veículos, colocaram em prática ações, que impactaram positivamente o país e mudaram o rumo de muitas histórias.
LOGÍSTICA VOLUNTÁRIA Quem também teve sensação de dever cumprido foi Iltenir Junior, fundador e CEO da Qargo, logtech que oferece
É o caso da iniciativa idealizada por Carlos Mira, CEO da
serviços de transporte de cargas. Ele atuou voluntariamente
TruckPad, aplicativo que conecta caminhoneiros às cargas.
com a logística reversa de respiradores mecânicos
Ele contou que sentiu um start após acompanhar muitas
hospitalares que estavam quebrados e parados em
notícias e car comovido com a situação dos hospitais.
hospitais por todo o país. “Os aparelhos quebrados foram
“Precisavam de álcool em gel, máscaras e todo tipo de
levados ao centro de reparos e devolvidos de maneira
material para o atendimento à população. Senti que algo
dedicada e emergencial. Tínhamos capilaridade para
precisava ser feito. Acredito que nós, empresários e
atendimento, equipe totalmente treinada. Bastou apenas
empreendedores, temos uma responsabilidade social e que
incrementarmos a operação com os EPIs adicionais, como
ajudar hospitais e entidades de assistência médica em
luvas, álcool e máscaras.”, disse.
tempos de pandemia não é uma obrigação, mas um dever de todos que tenham essa possibilidade”, justicou. Durante os meses de março e abril de 2020, uma equipe
A Qargo opera com economia colaborativa e Junior identicou que poderia oferecer mais do que simplesmente o veículo, mas a gestão de todo o transporte. “Em um
de especialistas foi montada e colocada à disposição da
momento delicado, como o que estamos enfrentando,
sociedade. “Fizemos a localização e contratação (on-line) de
temos que buscar dentro de nossas condições reais,
caminhoneiros para realizar o transporte de produtos
alternativas para ajudar”. Assim, Junior concluiu que havia
doados”, explicou Mira, acrescentando que cerca de 100
possibilidade de doar o que tinha de melhor e disponível no
veículos envolveram-se na ação e mais de 50 executivos
momento: a expertise na operação, cobertura de
trabalharam exclusivamente nela.
atendimento e tecnologia para gerenciar o passo a passo do
Os resultados foram animadores, somando
transporte destes produtos tão delicados.
aproximadamente 1,5 M toneladas de doações
Após o cumprimento da missão, segundo o fundador e
transportadas. “Ver a mobilização de toda uma categoria
CEO da Qargo, ele e sua equipe sentiram-se mais
em prol do próximo foi graticante. Sentimo-nos realizados
preparados para novos desaos. “Os problemas vão sempre
e honrados. Recebemos, inclusive, um vídeo do Secretário
aparecer. Precisamos seguir cientes de que cada um, na sua
Estadual da Defesa Civil de Santa Catarina, agradecendo-
qualidade e experiência, tem que exercer o seu papel
nos pelo resultado de nossa campanha”, comentou
humanitário e de cidadão. Não podemos esquecer que
satisfeito o CEO da TruckPad.
todos nós estamos sujeitos a necessitar de apoio”, alertou.
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PARA MUITO ALÉM DO LUCRO
“A partir da conrmação de que havia um grande contingente de aparelhos a serem consertados, iniciou-se o trabalho de buscá-los nos hospitais por todo o Brasil, treinar os técnicos das indústrias voluntárias, consertá-los e devolvê-los aos hospitais de origem em funcionamento e com certicado de calibragem. A Abeclin (Associação Brasileira de Engenharia Clínica), catalogou os engenheiros clínicos para o trabalho”, comentou Sakuramoto. Foram 2.516 respiradores consertados de hospitais de todo o Brasil, conferindo - como não podia deixar de ser uma sensação muito positiva. “Os funcionários que participaram voluntariamente da força-tarefa foram reconhecidos de diversas maneiras, inclusive com uma carta endereçada à família de cada um, assinada pelo nosso
ILTENIR JUNIOR Fundador e CEO da Qargo
vice-presidente. Além disso, cou um sentimento de que, com um objetivo claro e muito trabalho em time, somos capazes de enfrentar qualquer desao”, revelou. De acordo com o gerente da GM, esta foi uma crise que
FORÇA-TAREFA CONSERTA MAIS DE 2,5 MIL RESPIRADORES NO PAÍS
nos evidenciou o quão essencial é o papel da iniciativa privada para a sociedade. “São valores empresariais e humanos que saem do papel e se tornam perceptíveis aos olhos de todos. A iniciativa privada possui grande poder de articulação e cada vez mais toma um papel ativo na mobilização social”, ressaltou, frisando que a GM tem diversas iniciativas sociais e de trabalho voluntário
O conserto dos respiradores mecânicos, transportados
organizadas pelo Instituto GM. “Em relação à pandemia,
pela Qargo, aconteceu através da General Motors. O gerente
seguimos doando lotes de máscaras produzidas na nossa
de Inovação da GM, Carlos Sakuramoto, contou que tudo
fábrica de São Caetano do Sul (SP)”.
começou quando foi convidado pelo Ministério da Economia para participar de um grupo que discutia como aumentar o número de ventiladores pulmonares no Brasil. “Neste grupo, dei a ideia de consertar os equipamentos que porventura estivessem quebrados nos hospitais e o Ministério me solicitou que liderasse essa força-tarefa”, explicou ele, destacando que como já coordenava uma série de projetos em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), convidou a entidade para participar juntamente com outras indústrias da cadeia automotiva e empresas com equipamentos e expertises necessários.
Voluntário na ação da GM de conserto de respiradores mecânicos
Fotos: © Freepik / Divulgação
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
Carreta tomografia Mercedez-Benz do Brasil
ATENDIMENTO MÉDICO A POPULAÇÕES CARENTES
A expectativa é que mais de 250.000 pessoas sejam atendidas em três anos. “Além do investimento do governo alemão, a Mercedes Benz do Brasil está aumentando sua contribuição em aproximadamente 1 milhão de euros (contribuição não monetária), considerando as horas da
Uma empresa que recentemente anunciou uma iniciativa
força de trabalho do time de projeto e da equipe de
voluntária foi a Mercedes-Benz do Brasil. Após uma fase piloto
operação dos caminhões, motoristas, seção dos caminhões
de sucesso, a contribuição aumentará para 4,5 milhões de
que levarão as carretas para os locais de atendimento
euros. A fabricante e exportadora de caminhões e ônibus da
médico nas regiões envolvidas, assim como combustível,
América Latina, além de líder em tecnologia, divulgou uma
seguros e manutenção dos veículos que pertencem à nossa
cooperação com o governo alemão para ampliação do projeto
frota”, informou.
de unidades móveis de saúde. A iniciativa, que conta com a participação de vários parceiros, irá oferecer atendimento de saúde a populações carentes. Em nota, a assessoria de imprensa informou que a Mercedes Benz do Brasil está contribuindo com o fornecimento de caminhões para mobilidade das unidades, motoristas e recursos internos para administração do projeto. “Esse novo projeto com o governo alemão foi desenvolvido em conjunto, baseado no sucesso da Unidade Móvel de T omograa, que vem sendo utilizada no combate à COVID-19 na cidade de São Paulo desde o ano passado”, disse Karl Deppen, presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO América Latina. “Agora, com mais sete carretas, podemos ampliar notavelmente o alcance desse auxílio médico e de saúde, indo a localidades mais distantes. Combinando o apoio à saúde e mobilidade, estamos estendendo ainda mais a nossa contribuição e compromisso com a sociedade, ao mesmo tempo em que trabalhamos para todos que movem o mundo”, comentou Deppen.
KARL DEPPEN Presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO América Latina
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PROGRAMA LATINO-AMERICANO AVALIA SEGURANÇA DE VEÍCULOS
Programa latino-americano avalia segurança de veículos e dá
ZERO PARA DOIS MODELOS Hyundai HB20 e Ford Ka foram avaliados com zero estrela pelo Latin NCAP; para secretáriogeral, consumidores devem se unir para exigir modelos mais seguros dos fabricantes
Fotos: © Freepik
BEATRIZ POZZOBON
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
D
ESDE 2010, O PROGRAMA DE AVALIAÇÃO DE VEÍCULOS NOVOS PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE (LATIN NCAP)
AVALIA A SEGURANÇA DOS MODELOS DE VEÍCULOS DISPONÍVEIS NO MERCADO. Anualmente, duas rodadas de
resultados são divulgadas, com objetivo de revelar ao consumidor informações imparciais
sobre os veículos, além de cobrar dos fabricantes globais modelos mais seguros para o
mercado latino-americano. Na segunda rodada de resultados de 2020, o Latin NCAP avaliou com zero estrela os
modelos brasileiros do novo Hyundai HB20 e do Ford Ka. De acordo com o engenheiro
Alejandro Furas, secretário-geral do Latin NCAP, o sistema em estrelas é adotado porque tem
demonstrado ecácia na comunicação com os consumidores de maneira simples e clara. Os veículos são avaliados, principalmente, por meio de testes de colisão, e podem ser
classicados de zero a cinco estrelas, sendo cinco os modelos mais seguros. “O Ka e o HB20 não estão em conformidade com os regulamentos das Nações Unidas
sobre proteção de pedestres, e o Controle Eletrônico de Estabilidade (ESC) não é oferecido
como padrão”, pontua Furas.
“OS CONSUMIDORES, OU GESTORES DE FROTAS, PODEM ENVIAR UMA MENSAGEM CLARA SE OPTAREM POR COMPRAR MODELOS CINCO ESTRELAS.”
“É lamentável e preocupante que ainda hoje o Controle Eletrônico de Estabilidade não seja obrigatório em todos os modelos. E é uma pena que muitos fabricantes ainda não ofereçam um nível de segurança cinco estrelas como padrão em carros populares”, acrescenta. Segundo o secretário-geral do Latin NCAP, a esta altura, os brasileiros não deveriam se preocupar se os veículos têm itens de segurança básicos como: dois airbags frontais, airbags laterais para proteção de cabeça em colisão lateral, ESC e proteção para pedestres, visto que já deveriam ser adotados como padrão. “E isso é possível, como o Chevrolet New Onix demonstrou recentemente. Se uma marca enorme como a Chevrolet, com um modelo popular como o novo Onix, pode oferecer seis airbags e Controle Eletrônico de Estabilidade padrão com proteção para pedestres e segurança cinco estrelas sem pagar mais por isso, concorrentes como a Hyundai e a Ford também poderiam oferecer”, destaca Furas. Ainda de acordo com o engenheiro, o Latin NCAP percebeu que a mudança no mercado de automóveis, especialmente no Brasil, está sendo liderada, quase inteiramente, pela preferência dos consumidores, e não por exigência da lei. “Sabendo disso, como consumidores, devemos trabalhar mais fortes, mais unidos, para impulsionar a mudança. Os gestores de frotas têm um poder especial de mercado e podem ser uma ajuda fundamental para a mudança denitiva do mercado brasileiro para carros e frotas mais seguros”, naliza.
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HEADLINE
PROGRAMA LATINO-AMERICANO AVALIA SEGURANÇA DE VEÍCULOS
O QUE LEVAR EM CONTA NA HORA DE COMPRAR UM VEÍCULO O Programa de Avaliação de Veículos Novos para a América Latina e o Caribe (Latin NCAP) recomenda que os consumidores levem em consideração os seguintes itens antes de adquirir um veículo. Conra:
SECRETÁRIO-GERAL DO LATIN NCAP, ALEJANDRO FURAS.
“É uma pena que muitos fabricantes ainda não ofereçam um nível de segurança cinco estrelas como padrão em carros populares.”
Comprar carros cinco estrelas, se possível, avaliados a partir de 2016 (um carro cinco estrelas usado - após 2016 - é melhor do que um novo com zero ou uma estrela);
ATENÇÃO, GESTORES DE FROTA Para os gestores de frotas de veículos comerciais leves, o Latin NCAP recomenda exigir os seguintes padrões técnicos, de acordo com regulamentação da ONU: Freios; Ancoragens dos cintos de segurança; Cintos de segurança, sistemas de retenção; Assentos, ancoragens e apoios de cabeça; Proteção de ocupantes na cabine de veículos comerciais;
Caso o modelo não possua estrelas do Latin NCAP, recomenda-se a compra de carros com ESC, airbags laterais de cabeça (cortina) e de corpo, além de airbags frontais, obrigatórios no Brasil;
Prevenção de risco de incêndio; Pneus para veículos comerciais; Proteção contra encaixe em impactos traseiros; Resistência da superestrutura; Elementos de proteção lateral; Limitadores de velocidade; Proteção contra encaixe em impactos frontais; Estabilidade no tombamento; Controle Eletrônico de Estabilidade.
Comprar carros com proteção de pedestres. Anal, todos somos pedestres em algum momento.
Fotos: © Freepik / Divulgação
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PUBLIEDITORIAL
TECNOLOGIA DE MONITORAMENTO DE VELOCIDADE GARANTE
SEGURANÇA E ECONOMIA Ferramenta desenvolvida pela GolSat permite que o gestor saiba como o condutor se comporta ao volante; informação ajuda na redução de multas, acidentes e nos gastos com combustível BEATRIZ POZZOBON
Fotos: © Freepick / Divulgação
EXCESSO DE VELOCIDADE AINDA É A INFRAÇÃO DE TRÂNSITO MAIS COMETIDA PELOS BRASILEIROS E GERA QUASE DOIS TERÇOS DAS MULTAS, DE ACORDO COM O REGISTRO NACIONAL DE INFRAÇÕES DE TRÂNSITO (RENAINF). Para além da multa, dirigir em alta velocidade é uma conduta que coloca em risco a vida de outras pessoas e do próprio condutor. Em um país como o Brasil, que ocupa a quarta posição com mais mortes em acidentes de trânsito, segundo estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2019, é preciso encontrar ferramentas que auxiliem na construção de um trânsito mais seguro. Disponível no mercado desde 2017, o módulo de Velocidade por Via (VVia) é uma ferramenta, desenvolvida pela GolSat, que utiliza a tecnologia
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
para medir, de forma precisa, a velocidade do condutor. Entre os benefícios estão segurança e redução de custos, o que é cada vez mais almejado dentro das empresas e pelos gestores de frotas. “O VVia é uma ferramenta que permite ao gestor de frotas saber exatamente como cada um de seus condutores está se comportando atrás do volante. Isso ajuda na elaboração de estratégias para redução de comportamento de risco e, consequentemente, a diminuição de multas e acidentes”, explica Sérgio Jábali, diretor de tecnologia da GolSat. “E o mais surpreendente, e que é percebido no dia a dia, é uma redução expressiva no gasto com combustível,
SÉRGIO JÁBALI, DIRETOR DE TECNOLOGIA DA GOLSAT:
“O VVia é uma tecnologia de simples compreensão e de alto impacto para disseminar a cultura de segurança nas organizações a partir da informação gerada.”
geralmente uma das maiores despesas do custo total da frota”, acrescenta Jábali. Além das reduções de custos e do aumento de segurança, a tecnologia tem resultado rápido e é de fácil compreensão para gestores e condutores. Dessa forma, permite que o gestor se torne mais relevante dentro da organização, e que o condutor esteja mais consciente da forma que dirige e se expõe ao risco.
CULTURA DE SEGURANÇA Uma empresa que valoriza a cultura de segurança
COMO FUNCIONA O VVIA? Veja como funciona a ferramenta que monitora a velocidade nas vias, garantindo mais segurança para os condutores e economia para as organizações. Quem explica é o diretor de tecnologia da GolSat, Sérgio Jábali. Para cada posição (latitude e longitude) gerada na telemetria, compara-se a velocidade do veículo naquele momento com a velocidade permitida na via;
mostra que cuida de seus funcionários. Em um cenário em que a imprudência e o mau comportamento dos
Caso o veículo esteja acima da velocidade, é aplicada
motoristas são as principais causas de fatalidades nas
uma classicação de acordo com as regras do Detran;
vias, segundo o Atlas da Acidentalidade no Transporte Brasileiro, é necessário que as organizações conscienti-
Ou seja, até 20% acima da velocidade é infração média;
zem os condutores e os apoiem com informações
entre 20% e 50% é infração grave; e, acima de 50% da
relevantes.
velocidade permitida, congura-se infração gravíssima;
“Na GolSat, acreditamos que a cultura de segurança aplicada nas
O gestor de frotas tem acesso a esses dados e consegue
o r g a n i za ç õ e s p o s s u i u m p o d e r
visualizar rankings; panorama geral da frota; detalhes
disseminador incrível. Quando o
por condutor, veículo e via; e ainda o mapa de calor das
condutor toma consciência dos riscos
infrações, que mostra onde elas ocorreram;
de seu comportamento, valoriza mais as ações da empresa, resultando em
A tecnologia é capaz de distinguir diferentes velocidades
maior engajamento, e ainda leva esta
de uma mesma via. Isto pode acontecer, por exemplo,
cultura para dentro de casa. Isso é
perto de escolas, postos policiais e praças de pedágio;
transformador”, naliza o diretor de tecnologia.
Com estas informações, o gestor consegue planejar com mais eciência estratégias para redução de multas e acidentes. E, ainda, economiza com combustível.
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'NÃO HÁ TEMPESTADE QUE NÃO PASSE’
Fotos: © vecteezy.com / Divulgação
‘NÃO HÁ TEMPESTADE QUE NÃO PASSE'
A afirmação é do alpinista Waldemar Niclevicz, que constantemente prova os seus limites. Em entrevista à PARAR Review, ele enfatizou como tudo é passageiro, deu dicas aos empresários e falou sobre a urgente necessidade de uma mudança de postura
PAULA BONINI
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
S
E TEM UMA COISA QUE A PANDEMIA VEM COLOCANDO À PROVA É O NOSSO NÍVEL DE RESILIÊNCIA. A capacidade de cada um de nós de lidar com problemas, adaptar-se a mudanças e superar obstáculos, sem dúvidas, é testada diariamente. 2020 foi desaador e, infelizmente, 2021 chegou e não trouxe consigo o início de uma fase melhor. Ainda enfrentamos a pandemia e as suas drásticas consequências. E a pergunta que vem à tona é: como encontrar fôlego para seguir com positividade e conscientes de que a persistência é o caminho do êxito? Para falar sobre o assunto, entrevistamos o alpinista Waldemar Niclevicz, o primeiro brasileiro a escalar o Everest, o K2 e os Sete Cumes. Para ele, a pandemia é um grande desao e nos traz aprendizados que serão levados para o resto da nossa geração. “A vida é um grande aprendizado e quando saímos do nosso ponto de equilíbrio e conformismo, somos obrigados a testar novas possibilidades e descobrir novos potenciais”, armou. Durante a conversa, em alguns momentos, comparou a situação vivida com a escalada. “No alpinismo, o pior não é o frio, a altura, a vertigem. É não saber para qual direção seguir. A gente ca sem perspectiva”, destacou Niclevicz, que atua ainda como escritor e palestrante. Seu currículo soma mais de mil palestras para grandes e reconhecidas empresas. T odas com foco em superação de desaos, liderança, gerenciamento de riscos e espírito de equipe.
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'NÃO HÁ TEMPESTADE QUE NÃO PASSE’
PARAR REVIEW - Estamos enfrentando uma fase complicada.
o otimismo tem que ter bases. Não pode viver na ilusão.
De que forma vem encarando e vivendo este momento -
Costumo dizer que sou um sonhador com os pés no chão.
no âmbito pessoal e prossional? WALDEMAR NICLEVICZ - A pandemia mudou a vida de
Além disso, gosto muito do que faço e isso ajuda. Escalar montanhas é a minha vida. Há 33 anos escalo montanhas
todos. Estamos enfrentando uma situação jamais
ao redor do mundo e gosto desse confronto do homem
pensada e é sempre difícil qualquer tipo de mudança. É
com a natureza, do chamamento ao desao, de provar
um momento de conito, mas é importante entender
minha capacidade e os meus limites. Mas não sou um
que eles acontecem. A pandemia merece respeito, tem
aventureiro empolgado, muito pelo contrário, valorizo a
que ser reconhecida como algo difícil de ser superado.
preparação e o planejamento.
Estamos partindo para o seu segundo ano e não temos
Valorizo muito os meus momentos na montanha, mas
as soluções que gostaríamos. Eu estava na expectativa
também a volta para casa e os momentos com a minha
de um momento muito melhor. Estou respeitando muito a pandemia e me cuidando.
família e amigos.Sou um tanto diferente da maioria das pessoas. Tenho uma percepção boa da minha vida, do meu
Meus hábitos mudaram bastante. Felizmente, eu tenho
entorno e das consequências do que faço. Procuro ter uma
uma atividade junto à natureza, mas tive muito menos
vida em harmonia. Acredito que tudo tem que começar
trabalho. Acabei me refugiando com a minha família,
com a gente mesmo, na nossa casa e ao nosso redor,
minha esposa e meu lho na minha casa na montanha
preocupando-se com o que a gente faz e com quem
no Pico do Marumbi, serra do mar do Paraná. Fiquei
somos. Assim, podemos ter uma vida melhor. Eu acredito
meses lá isolado, acreditando que no nal do ano as
sempre em uma vida melhor.
coisas iriam melhorar. Mas isso não aconteceu, e a minha esperança de que a situação melhore esse ano
PR - Esse otimismo não é inerente a muitas pessoas, quiçá a
não é grande. Então, sigo tomando os meus cuidados.
maioria. Após um 2020 turbulento, seguido de 2021 ainda
Acredito que teremos uma solução, mas ela virá mais para frente. É difícil encarar esses momentos, mas eu
rodeado de perspectivas não tão positivas, o que dizer para quem está em busca de fôlego para seguir?
prero não me iludir. A pandemia é um grande desao e
WN - Eu acho que me adaptei à necessidade de defesa.
aprendizado. Uma aprendizagem que levaremos para o
Uma defesa que temos que ter enquanto a pandemia não
resto da nossa geração. Temos que respeitar mais a
estiver sob controle e a vacina for uma realidade para
natureza, o próximo, o ser humano, cuidar mais da nossa
todas as pessoas. Temos que continuar acreditando no
saúde, das pessoas que a gente gosta. Tudo o que a gente
nosso potencial. Continuar realizando, fazendo acontecer,
tem, vai deixar de existir.
mas dentro das limitações. Estou me dedicando a planos internos: estudando,
PR - Quais hábitos e práticas tem no seu dia a dia, que
lendo, escrevendo bastante, construindo projetos que
ajudam em sua resiliência?
exigem mais planejamento. Estou me preparando para
WN - Estabeleço objetivos e isso faz com que todo o
quando for possível, voltar à campo. Claro que estou
meu esforço faça sentido. Uma das coisas mais
abalado com tudo isso, mas esperançoso em ter
importantes na vida é ter objetivos e lutar para atingi-
resultados bons, apesar de tudo.
los. Eu tenho o meu dia tomado por atividades. Sou
Estou cuidando do relacionamento com minha esposa
metódico e estabeleço metas para tudo. Tenho sempre
e lho. Uma coisa que afeta muito tudo o que fazemos é o
vários projetos e desaos que quero atingir. Procuro me
tipo de vida que temos dentro de nossa casa. Se você não
estruturar, me embasar e me preparar para atingir os
está bem consigo mesmo e com a sua família, é muito
meus resultados. Isso já nem é mais um hábito, mas um
difícil ter equilíbrio para estar bem com outras pessoas. E
estilo de vida. Sou uma pessoa positiva e otimista, mas defendo que
muitas pessoas estão trabalhando home office. Precisamos estar juntos.
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
WALDEMAR NICLEVICZ Durante escalada dos Quatro Mil dos Alpes - Arquivo Pessoal
Temos que superar esse momento para estar aqui,
adaptar a diculdade.
vivos e com saúde, quando tudo isso passar. É preciso ter
Para mim, quanto mais difícil um desao, mais
paciência, se ocupar em casa. Continuo acreditando que
motivado e instigado eu co. Gosto de testar minhas
voltarei a viajar, escalar montanhas, encontrar meus
capacidades e ser obrigado a me desenvolver. As
amigos, subir em um palco para fazer palestra. Estou
mudanças sempre vão acontecer. Depende do quanto a
sentindo muita falta disso tudo e do contato com o ser
gente aceita o desao de encarar essas possibilidades. É
humano. Mas paciência, tudo passa.
uma questão de postura, de acreditar que vale a pena
PR - A economia tem sido muito atingida e empresários
assim evoluímos e conseguimos ser melhor do que já
veem-se obrigados a mudar posturas e direcionamentos.
fomos.
superar o que a gente não gostaria que acontecesse. Só
Fale um pouco sobre a importância de quebrar paradigmas e a necessidade de se reinventar. Por que
PR - E como evoluir e encontrar oportunidades em meio ao
existem pessoas que sentem mais diculdades do que
caos?
outras? WN - É difícil se adaptar a grandes mudanças, mas
WN - Talvez saindo do seu foco. Estamos sempre focados em projetos grandiosos, de maior evidência. Se você tirar o
temos uma capacidade incrível para isso, desde que haja
foco do objetivo maior e olhar um pouco para o lado, talvez
disposição e entendimento. Momentos de adversidades
deslumbre outros objetivos interessantes, que vão te
são sempre esperados por mim, pois em uma escalada,
trazer novas experiências e quem sabe resultados
por mais que se tenha um planejamento assertivo e bem
maiores.
embasado, os imprevistos podem acontecer. O
A vida é um grande aprendizado e quando a gente sai
importante é você ter clareza das situações que podem
do nosso ponto de equilíbrio, do conformismo, somos
acontecer e as atitudes que podem ser tomadas. Não só
obrigados a testar novas possibilidades e descobrir novos
imaginar, mas já pontuar o que deverá ser feito nesses
potenciais. No alpinismo, temos diversos estilos de
momentos. É algo contínuo.Tem que manter o uxo e se
escalada: em rocha, gelo, na beira da praia, montanhas
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'NÃO HÁ TEMPESTADE QUE NÃO PASSE’
mais altas e geladas. No meio disso, tem muitos outros
problemas de caixa.
estilos e subestilos. Eu gosto de ter experiência em todos.
É um desao se manter no mercado, mas faça de tudo
Se nós temos essa possibilidade, no meio em que
para não encerrar suas atividades. Diminua custos,
estamos atuando, por que não desenvolver tal
remaneje processos. Quando tudo passar, estaremos
capacidade e gerar resultados em todas as oportunida-
juntos e com uma nova visão: visando à sustentabilidade,
des que nosso meio nos proporciona? Mudar o rumo,
sobrevivência, uso racional de recursos materiais e
quando necessário, nos ajuda a dar um novo sentido ao
humanos, para enfrentarmos momentos igualmente
que vínhamos fazendo e nos redescobrir dentro de nós
difíceis como esse. Não podemos deixar de pensar na
mesmos.
possibilidade de outros momentos semelhantes acontecerem.
PR - E quais outras dicas daria aos empresários que estão lutando para manter seus negócios em pé, mas sentem-
PR - Como comentou acima, mudanças e crises nos fazem
se muito esgotados?
evoluir. Fale um pouco mais sobre isso, para que possamos
WN - Há setores que se beneciaram com a pandemia, mas mais da metade está sentindo muito os impactos
reetir sobre as lições positivas que podemos tirar deste momento triste e desaador.
desse momento. É bastante desgastante. Eu sempre falo
WN - Sim, felizmente, nesses momentos nós evoluímos.
que no alpinismo, o pior não é o frio, a altura, a vertigem.
Isso é natural. Algumas pessoas evoluem menos. Se você
O pior é não saber para qual direção seguir. A gente ca
estiver no grupo de quem evolui mais, parabéns. Com
sem perspectiva.
certeza, já estava consciente da importância de melhorar,
Mas não há tempestade que não passe. Lembrem-se dos momentos maravilhosos que já tiveram em suas
se superar e ser uma pessoa melhor para você ou para o seu mundo. As lições são muitas.
atividades. Lembrem-se dos dias e das conquistas que te
Eu já era amante da natureza e eu estou mais próximo
deram tanta satisfação e aquela sensação boa de que
dela. Ela continua o seu ciclo, seguindo suas leis e
tudo vale a pena.
compasso, mantendo sua beleza e o brilho. Nós, ofusca-
Eu lembro disso. Era para eu ter ido para Alpes. Estou
dos. É importante sabermos que fazemos parte da
realizando um belo projeto de escalar
natureza, dessa criação divina.
todas as 82 montanhas do Alpes com
Nós somos uma criação divina e
mais de 4 mil metros. Queria ter feito
temos potencial de conseguir
isso em 2018, mas só escalei metade,
essa plenitude interna, desde
pois tive um ferimento e infecção na
que seja cultivada. Temos que
perna. Voltei em 2019, e escalei quase
ter equilíbrio com nós mesmos
a outra metade, mas precisei voltar
e com as pessoas. Temos que ter
para casa no nal da temporada, pois
uma convivência harmoniosa
as escaladas estavam praticamente
com nosso micro-mundo. Que
impraticáveis. Das 82, já escalei 78. Eu
possamos tirar todas essas
penso em tudo isso. Quando eu vejo
lições.
tudo que eu vivenciei, as fotos e imagens, penso: era para ter voltado ano passado. Que demora! Mas tenham a convicção de que tudo vai passar, as
PARA CONHECER O LIVRO
coisas vão melhorar e vão voltar a acontecer. Mantenha seu potencial e capacidade, para aproveitar quando
“O Brasil no Topo do Mundo”, de Waldemar Niclevicz, acesse:
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Eu sei que é desgastante, muita gente enfrentando
SONO X TRÂNSITO
SONO x TRÂNSITO
Fotos: © Freepik / Divulgação
Conheça os perigos e as consequências das longas jornadas, das horas extras e das mudanças no turno de quem trabalha atrás do volante
S EMPRESAS DEVEM SE ATENTAR CADA VEZ MAIS PARA OS PERIGOS E CONSEQUÊNCIAS DAS LONGAS JORNADAS DE TRABALHO, DAS HORAS EXTRAS E DAS MUDANÇAS NO TURNO DE TRABALHO DOS SEUS COLABORADORES. Dentro de um ambiente controlado como em uma fábrica, por exemplo, com uma equipe de engenharia de segurança e medicina do trabalho, ca mais fácil gerenciar esses e outros fatores determinantes para a saúde e bem estar dos colaboradores. Mas como ter esse mesmo cuidado com os trabalhadores da chamada "Indústria do Transporte”, que operam todos os dias uma máquina móvel extremamente perigosa para si, para os outros usuários, para os pedestres e para a sociedade como um todo? Para responder essa pergunta, precisamos entender um pouco mais sobre as causas do sono, sobre qual a importância de uma rotina saudável e sobre os riscos que podemos correr pela falta dele.
POR QUE SENTIMOS SONO? O sono acontece muitas vezes independente da vontade pela produção de melatonina, um neuro-hormônio produzido pela pineal na ausência de luz. Ao fecharmos os olhos ou em um ambiente de penumbra, a glândula pineal começa a produzir tal hormônio que induz ao sono. Este hormônio também pode ser produzido quando se ingere carboidratos (massa, açúcar, farinhas), após um banho morno prolongado ou, ainda, pela exposição aos raios solares. A maior produção de melatonina ocorre no período de 00h00min às 06h00min, sendo que o pico de produção ocorre entre às 02h00min e 03h00min. No período da tarde, o mecanismo se repete: a maior produção ocorre entre 12h00min e 18h00min e mais intensamente entre 14h00min e 15h00min, ocasionando a sonolência.
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
DORMIR É UMA NECESSIDADE BÁSICA Dormir, assim como comer e respirar, é uma necessidade básica do ser humano. Portanto, se não dormimos não sobrevivemos. É durante o sono que o nosso organismo regula todo o sistema imunológico, o sistema hormonal e recompõe os neurotransmissores. Se engana quem acredita que uma noite mal dormida pode ser compensada dormindo o dia todo no nal de semana. O organismo não consegue repor o que deixou de regular, e essa conduta torna o organismo vulnerável. Uma boa rotina de sono, melhora o humor, a atenção, a energia, o raciocínio, a produtividade e a saúde.
DISTÚRBIOS DO SONO NO TRABALHO Além de diminuir a produtividade e a qualidade do trabalho, o sono reduz em 50% a capacidade de concentração das pessoas, o que invariavelmente leva ao infortúnio. Dentre os principais distúrbios do sono, podemos citar dois: a privação do sono e a sonolência excessiva diurna. A privação do sono é decorrente dos problemas individuais e sociais, como trabalhar o dia todo, ir para a faculdade e ainda ter que conciliar tudo isso com a vida familiar e social. Essa é a rotina frenética de muitas pessoas, que com tantas atividades acabam dormindo por 4 ou 5 horas por dia, quando a necessidade era de se dormir mais. Sem ter dormido o suciente, no dia seguinte a jornada se repete, e podemos notar sinais de indisposição, baixa produtividade, mau humor, etc. Sabemos que 56 % dos trabalhadores têm micro cochilos no trabalho e 42 % são privados do sono. A sonolência excessiva diurna é caracterizada como uma sensação crônica de fadiga durante o dia. Pessoas que sofrem de SED têm uma vontade muito grande, por vezes incontrolável, de dormir ou cochilar ao executar as diversas atividades de suas rotinas.
56% dos trabalhadores têm micro cochilos no trabalho e 42 % são privados do sono. A sonolência excessiva diurna é caracterizada como uma sensação crônica de fadiga durante o dia.
Existem muitas causas possíveis para esse distúrbio, mas quando tratamos de direção veicular a causa mais importante da sonolência excessiva é a síndrome da apneia obstrutiva do sono, uma patologia crônica, evolutiva, incapacitante e que pode inclusive levar à morte súbita durante o sono. O que ocorre nesta síndrome é a parada respiratória durante o sono devido à obstrução das vias respiratórias. Assim o paciente não consegue aprofundar o sono e acorda como se tivesse dormido pouco. A característica principal do paciente é que é um roncador, quase sempre com peso acima do ideal. A Resolução 80/98 do CONTRAN recomenda que todo candidato a motorista seja avaliado em relação à síndrome da apneia obstrutiva do sono. Essa preocupação justica-se por que ela aumenta de três a sete vezes o risco de sinistro.
SONO X TRÂNSITO Durante uma jornada de trabalho no terceiro turno, involuntariamente o sono aparece. Após 4 horas ininterruptas de trabalho, podemos observar sinais de lapso de atenção e, após 8 horas, décit de atenção. No caso de um motorista, isso aumenta em 2 vezes o risco de sinistro. Sabemos que um motorista prossional ca em média sessenta (ou mais) horas na direção por semana, o que propicia a fadiga que, por sua vez, facilita o aparecimento dos sinais e sintomas decorrentes dos distúrbios do sono. Como consequência, 42% dos acidentes são causados pelo sono e 18% dos acidentes são causados pela fadiga.
42 % dos acidentes são causados pelo sono e 18% dos acidentes são causados pela fadiga. Hoje sabemos que 93% dos acidentes na área de transporte são causados por falha humana, e a fadiga e o sono correspondem a 60%. Veja algumas dicas para cuidar da saúde dos motoristas e assim trazer mais segurança para o trânsito:
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INSIDE
SONO X TRÂNSITO
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
1. ESCOLHA UM LUGAR ADEQUADO É muito comum vermos o motorista dormir no interior do próprio veículo, dentro da garagem onde é feita manutenção, ou até mesmo em dormitórios coletivos, onde tem um entra-e-sai e falatório constantes. Um local inapropriado, seja pela falta de conforto ou pelo barulho, impede que se consiga um sono de qualidade, repousante e que recomponha o corpo e a mente para uma nova jornada. O ideal é que o ambiente tenha no máximo dois leitos, que não tenha excesso de claridade (penumbra), e que seja bem ventilado, bem higienizado e sem ruído.
2. DURMA O SUFICIENTE A duração ideal do sono pode variar de pessoa para pessoa, mas o recomendado é que se aproveite pelo menos oito horas de sono antes de iniciar a próxima jornada de trabalho.
3. PLANEJE AS MUDANÇAS DE TURNO COM UM TEMPO HÁBIL O organismo tem o seu relógio biológico que funciona respeitando as características de cada indivíduo. Por isso, para uma mudança de turno é necessário treinamento e respeitar um período de adaptação à nova rotina.
4. RESPEITE OS LIMITES A jornada de trabalho de um motorista o submete ao estresse físico, psicológico e social. Para não comprometer a sua saúde, recomenda-se que a jornada seja no máximo de oito horas, com uma pausa de dez minutos a cada duas horas, em local seguro, para que o motorista possa descer do veículo, fazer uma caminhada ou um alongamento para então reassumir a sua atividade.
5. DESCANSE ENTRE UM DIA DE TRABALHO E O PRÓXIMO Recomenda-se um intervalo de dezoito horas entre as jornadas, para que o motorista possa se dedicar ao lazer, atividades sociais e ao descanso.
DR. DIRCEU RODRIGUES ALVES JR. Diretor da ABRAMET Associação Brasileira de Medicina de Tráfego www.abramet.org.br dirceurodrigues@abramet.org.br dirceu.rodrigues5@terra.com.br
ESPECIAL
Liderança e gerenciamento:
O QUE APRENDEMOS EM
Gestores de frotas oferecem lições que antecipam soluções para o futuro em um mundo pós-pandemia
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020 FOI UM ANO COMPLEXO DE MUDANÇAS PARA A MAIORIA DAS PESSOAS E PARA A ÁREA DE FROTAS COMO UM TODO. . Enquanto se espera que esta pandemia global seja uma ocorrência única na vida, numerosos especialistas cientícos e médicos preveem que as pandemias provavelmente se tornarão mais comuns, em vez de algo que nunca mais teremos que enfrentar. Ao longo de 2020, os líderes de frotas tiveram que evoluir continuamente, aprendendo a operar de maneiras totalmente novas e fazendo mais com menos - tudo isso enquanto tentavam permanecer otimistas diante às incertezas duradouras. Frotas consideradas "não essenciais" foram retiradas, enquanto muitas frotas de primeiros socorros, como ambulâncias, veículos policiais e bombeiros, foram forçadas a trabalhar sem parar. Os modelos comerciais tiveram que ser reestruturados, os veículos tiveram que ser reequipados e o trabalho remoto prevaleceu sobre as operações presenciais. Mesmo que algumas dessas mudanças tenham sido benécas - ou tenham o potencial de ajudar a impactar positivamente as práticas comerciais futuras -, não há como negar que muitas das lições de 2020 foram difíceis. Ao olharmos para 2021 e além, como os gestores de frotas podem aplicar o que aprenderam para ajudar a moldar planos e práticas futuras?
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
AO OLHARMOS PARA 2021 E ALÉM, COMO OS GESTORES DE FROTAS PODEM APLICAR O QUE APRENDERAM PARA AJUDAR A MOLDAR PLANOS E PRÁTICAS FUTURAS?
DISPENSAS Em setembro de 2020, a Delta informou que já havia sido obrigada a dispensar quase metade de seus funcionários, deixando de lado os veículos e as operações de impacto. Eles estão longe de ser a única empresa forçada a lidar com o impacto das dispensas. Na mesma época, a American Airlines relatava que até 40% dos funcionários poderiam ser dispensados. Indo um passo além, a United Airlines informou aos funcionários que até 35.000 pessoas poderiam ser dispensadas no início de outubro. As frotas terrestres também enfrentaram enormes baixas em termos de emprego. A União Internacional de Transporte Rodoviário (IRU) armou que os novos contratos de frete diminuíram de 60% a 90% desde o início da Covid-19, enquanto as viagens sem carga aumentaram para quase 40% em mais de 80 países globalmente.
1ª LIÇÃO: RECONSIDERAR POLÍTICAS DE LICENÇA POR DOENÇA A pandemia teve um impacto imenso nas políticas de licença por doença, pois os funcionários/motoristas foram forçados a tirar licença para evitar a disseminação do vírus. Enquanto no passado a mentalidade de "trabalhar apesar da doença" perpassou muitas organizações, a Covid-19 alterou esse conceito. Corey Woinarowicz, diretor de desenvolvimento de negócios da Nocell Technologies, diz que prevê o m de muitas políticas corporativas de doença, "com a maioria das pessoas trabalhando em casa e as empresas sendo mais permissivas em relação à presença física vs. resultado do trabalho".
Dan Solheid, gestor de frotas certicado pela NAFA, é gestor de serviços de frota para a cidade de Woodbury. Ele diz ainda: "até que tenhamos a vacina em massa, a quantidade de tempo necessária para que uma pessoa esteja fora aumentará drasticamente se a equipe se infectar".
2ª LIÇÃO: TRIAGEM DE TAREFAS Com o número de funcionários reduzido devido às dispensas, licença médica ou outras circunstâncias, muitas frotas permanecem em funcionamento com sua capacidade reduzida. Nessas situações, as empresas de gestão de frotas podem precisar realizar uma triagem da frota para fazer o melhor uso dos recursos existentes. Entretanto, este é um desao complexo, pois além de outros fatores deve ser considerada a orientação para se determinar que tipos de viagens são prioritárias.
3ª LIÇÃO: MANTER A INTEGRIDADE DO VEÍCULO Mesmo com menos funcionários e outros recursos, gerenciar uma frota ociosa não é algo que pode ser negligenciado sem um risco signicativo de redução adicional de ativos. Deve-se ligar regularmente os motores e dirigir veículos alguns quarteirões apenas para mantê-los funcionando com a capacidade ideal. Manter os tanques de combustível cheios, vericar a pressão dos pneus e monitorar os níveis de óleo também são medidas importantes para manter os veículos em funcionamento. Estacionar veículos em uma garagem fechada ou estacionamento pode ajudar a proteger os veículos da frota contra furtos.
MANTENDO RELAÇÕES COM FORNECEDORES As empresas de gestão de frotas dependem das relações com os fornecedores. Essas relações podem se complicar quando as frotas têm necessidades reduzidas, tais como menos pneus, menos manutenção preventiva ou uma pausa na aquisição de veículos. Wayne Westerholm, gestor de frotas certicado pela NAFA e diretor adjunto da Harding University Public Safety, diz que observou uma falha na comunicação quando as empresas fecharam e as conexões presenciais pararam. "Como se tratam de relações comerciais, as únicas informações de contato disponíveis muitas vezes eram para escritórios que não tinham pessoal atendendo", diz Westerholm. "Também vimos empresas que entraram no modo de autopreservação, reduziram o pessoal de vendas e outras
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ESPECIAL NAFA
funções, focando na sobrevivência e não na sustentabilidade ou no crescimento". Para evitar a perda de relacionamentos críticos com fornecedores, os líderes de frotas precisam ser proativos em seu alcance, mesmo durante períodos de inatividade. Quando e se os negócios forem retomados em plena capacidade, a transição de volta ao trabalho regular será complicada se as relações com os fornecedores não tiverem sido mantidas.
1ª LIÇÃO: MANTENHA O DIÁLOGO EM ANDAMENTO Ronald Gitelman, gestor de frotas certicado pela NAFA e administrador sênior de frotas da Universidade de Yale, manteve o contato com os fornecedores durante as paralisações, garantindo-lhes que as operações continuariam e que eles ainda estariam recebendo pagamentos como prometido. "Nosso pessoal de frota foi capaz de trabalhar remotamente e garantir que as faturas de manutenção fossem pagas", diz Gitelman. "Embora os custos de manutenção tenham diminuído, não fechamos totalmente e algumas necessidades continuaram. A esperança é que os negócios retomem à medida que nossas operações se acelerem antes do ano letivo".
2ª LIÇÃO: ADAPTE SEU MODELO DE NEGÓCIOS Muitos líderes de frotas também tiveram que avaliar seus modelos de negócios existentes, com alguns pivôs para atender indústrias essenciais. Um exemplo de tal mudança envolveu a readequação dos veículos da frota para cumprir as entregas na milha nal. Ruth Alfson, gestora de frotas certicada pela NAFA e gerente de frota da cidade de Cincinnati, Ohio, diz que apesar de ter um volume reduzido, suas relações com fornecedores não foram, em grande parte, afetadas pela crise. "Minha frota tem um departamento de peças terceirizadas e a empresa responsável pela reposição de peças recebe uma taxa de administração xa, quer tenhamos um volume grande ou pequeno", diz ela. "Pagamos pelas peças o seu valor de custo e quando realmente são utilizadas, portanto as mudanças de volume relacionadas ao ajuste de serviços não impactaram meu fornecedor a partir de um nível de gestão".
3ª LIÇÃO: PARTICIPAR DE EVENTOS VIRTUAIS As reuniões virtuais se tornaram rapidamente indispensáveis durante este período, quando os eventos presenciais não foram possíveis. Os prossionais de gestão de frotas sempre conaram em convenções e eventos presenciais para manter relações comerciais. Manter essas relações é mais importante do que nunca agora, diz Woinarowicz, e a melhor maneira de fazê-lo durante a COVID é através de eventos virtuais. "Mesmo que a necessidade imediata atual não esteja presente", acrescenta, "continuará a existir mais tanto a necessidade quanto os métodos (por exemplo, NAFA Networking, I&E, AFLA) para simplesmente permanecerem um na frente do outro até
que a fumaça se dissipe".
AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS PERMITEM PRODUTIVIDADE E COLABORAÇÃO A pandemia fez da adoção da tecnologia uma necessidade. Como o contato presencial tornou-se limitado, as empresas de gestão de frotas se voltaram para plataformas digitais para realizarem desde o gerenciamento de tarefas diárias até o monitoramento da saúde e segurança dos funcionários.
1ª LIÇÃO: UTILIZAR PLATAFORMAS DE TRABALHO REMOTAS Não é segredo que as plataformas de gerenciamento de tarefas virtuais e videoconferência estão rapidamente se tornando o novo normal na área de frotas. Westerholm diz que as tecnologias de reuniões virtuais têm se provado durante as paralisações, acrescentando que a tecnologia que tem orescido nos permite a comunicação "cara a cara", mas a uma distância segura.
2ª LIÇÃO: USE A TELEMETRIA PARA MONITORAR A ATIVIDADE DO MOTORISTA A PARTIR DE CASA A semana média de trabalho dos motoristas aumentou em quase cinco horas durante o lockdown, mas poucos gestores de frotas estão supervisionando o comportamento dos motoristas a partir de escritórios físicos, como era feito tradicionalmente. Woinarowicz diz que quase todos os dados da frota podem ser coletados e reportados virtualmente, “incluindo os relatórios sobre condução distraída através de plataformas de telemetria. A tecnologia está evoluindo ainda mais rapidamente devido às necessidades remotas".
3ª LIÇÃO: IDENTIFICAR APLICATIVOS PARA A AUTOMAÇÃO Desde o rastreamento por GPS até a organização de retaguarda, a automação em breve substituirá muitas das interações presenciais entre as agências de frotas. Gitelman diz que em Yale eles automatizaram as operações o máximo possível para facilitar a transição para o trabalho remoto. Uma plataforma de gerenciamento da cadeia completa de abastecimento pode simplicar as operações do armazena-
Parar Review Mag / #21 / Abril 2021
mento, reduzindo a necessidade de contato físico e permitindo que os líderes da frota monitorem o inventário remotamente.
PROTOCOLOS DE SANITIZAÇÃO Os protocolos de limpeza e higienização continuarão a ser uma prioridade, tornando-se ainda mais rigorosos em 2021. Gitelman relata que Yale faz com que todos os funcionários que estiveram afastados, com Covid-19 ou em contato com alguém com o vírus, façam um curso de treinamento on-line antes de voltar ao trabalho. "Há também um aplicativo de check-in onde os funcionários respondem se eles têm sintomas", diz ele. "Além disso, através do uso de leitores de cartões em edifícios e registros de entrada, eles sabem quem voltou [ao trabalho] e podem comparar com os números do aplicativo".
1 ª L I Ç Ã O : L I M PA R C A D A Á R E A Q U E O S FUNCIONÁRIOS TOCAM T odas as áreas com as quais os funcionários entram em contato devem ser higienizadas - incluindo o ar nos veículos da frota - para reduzir a propagação de patógenos no ar. A equipe de Alfson na Cidade de Cincinnati higieniza regularmente as áreas de trabalho, tais como telefones, alças, banheiros e superfícies frequentemente tocadas. "Não tocamos em um veículo policial ou de emergência (caminhão e ambulância) a menos que ele tenha sido limpo por aquele departamento antes de ser entregue", diz Alfson. "T odos os visitantes são banidos do prédio, exceto para usar um banheiro, e mesmo assim, apenas banheiros designados".
2ª LIÇÃO: TERCEIRIZAÇÃO DE TAREFAS DE LIMPEZA PARA AGÊNCIAS EXTERNAS As agências de frotas que lutam para impor protocolos de higienização internamente podem considerar o uso de agências externas para limpeza e higienização no novo ano. Gitelman diz que Yale contará com fornecedores de lavagem de veículos no futuro, enquanto os motoristas serão encarregados de seguir a política para garantir que os veículos sejam limpos.
3ª LIÇÃO: TER UM PLANO DE CONTINGÊNCIA CASO OS FUNCIONÁRIOS NÃO SIGAM O PROTOCOLO Em alguns casos, os funcionários podem estar relutantes em seguir protocolos de higienização, tais como não usar máscara para as entregas ou tentar contornar os procedimentos de limpeza e manutenção do veículo. Alfson diz que se os funcionários do governo de Cincinnati não seguirem o protocolo, eles serão enviados para casa como ausentes sem licença e enfrentarão uma ação disciplinar. Enquanto Yale não tem atualmente um sistema para penalizar os motoristas negligentes, Gitelman acrescenta que o processo ainda está evoluindo.
“SE OS FUNCIONÁRIOS DO GOVERNO DE CINCINNATI NÃO SEGUIREM O PROTOCOLO, ELES SERÃO ENVIADOS PARA CASA COMO AUSENTES SEM LICENÇA E ENFRENTARÃO UMA AÇÃO DISCIPLINAR” "Estou ansioso para ver como isso funcionará após a Covid19", diz Gitelman. "Esta não será a última pandemia da história, mas as lições aprendidas hoje podem ser aplicadas no futuro".
JASMINE GLASHEEN é uma líder de pensamento cultural, escritora e oradora. Como CEO da Jasmine Glasheen & Associates, ela lidera um think tank de millennials, que auxilia as marcas na criação de conteúdo e estratégias de conteúdo de alto desempenho.
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