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ARTE, MÚSICA, POLÍTICA, FOTOGRAFIA,
MODA, DESIGN, MENTIRAS E MIRONGAS
conteúdo 04 - Uma expressão para a eleição 32 - Sujeito A 48 - Carapanã da Silva
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Daniel Zuil. Designer gráfico, ilustrador e baterista. Sua profissão é invadir o campo do Remo para apostar corridas de onde tira seu sustento. Sócio do estúdio de design e fotografia Gotazkaen, vem trabalhando em propostas alternativas para divulgação de idéias novas, acredita na Matinta que ronda a doca e pensa em ir morar no Butão.
Fotógrafa, Diana Figueroa largou a vida na Tribo indigina Asuriní para assumir o posto de sócia no estúdio de design e fotografia Gotazkaen. Defende o consumo racional e sutentável dos recursos da vida, sendo sua pagina inical o Ecoogler. Também invadiu o campo do remo
Gabriel Cavalcante. Publicitário nas horas cheias, ilustrador nas horas boas e ocioso nas horas vagas. Rato de ilustrações da internet, e de animações em 2D criadas por algum estudante qualquer de alguma universidade do Canadá. Quadrinhos, cinema e contos literários também fazem parte do seu imaginário, assim como jamais ganhar na mega-sena.
Juliana Oliveira. Futura representante do Clube do Nadismo em Belém e aspirante a escritora de livros infanto-juvenis.
Rabisqueiro. Leandro Bender ou apenas Bender, desenvolve um trabalho alucinógeno em cima de papeis brancos ou não, ilustradando a 3 anos, tocando a 9, namorando a 4, vivendo a 22 e sabe Oldbrit o amanhã. Também invadiu o campo do remo.
Rodrigo Cantalicio. Adepto da filosofia lacônica, nasceu ilustrador e vive como publicitário. Expõe seu mundo curvo e surreal através de traços escritos no papel. Crianças e aves se misturam a emoções profundas e nostálgicas para criar um universo traçado. Desenha cinema, quadrinhos, música e livros, mas pouco tempo tem pra falar contigo. Também invadiu o campo do remo (é o vizinho).
Gotazkaen de qualquer lugar “Gotazkaen de qualquer lugar”, essa frase sintética, resume o pensamento que nos levou a criar essa revista, percebemos a imensidão de idéias que diariamente todas as pessoas estão imersas, desde do mindinho até os cabelos. Uma multidão de criadores e criaturas, que desenvolvem grandes trabalhos, em múltiplos campos da sensibilidade, porém não aparecem, algumas vezes por vontade de se esconder, mas na sua vasta maioria, simplesmente por não haver um meio, um canal, uma pagina ou alguém disposto a tornar isso coisa pública. A Revista Gotaz vem como uma forma de expressar e divulgar o trabalho de novas pessoas, com novas idéias, um canal para extrapolar o cotidiano e expor um cenário diferente do usual, mostrar que aqui em Belém, existe uma produção cultural que chegar a ser extravagante graças a sua pluralidade em formas, movimentos e inconseqüências. É irremediável, novas idéias estão aparecendo e agora nos enxergamos assim: inovadores, eufóricos, capazes de transtornar as mais imutáveis cabeças duras, mesmo que apenas com um simples traço, palavra ou falta de foco. Esperamos que o ônibus passe rápido, que as mudanças aconteçam e que esse universo de idéias exploda bem no meio da sua cara, pois isso se faz necessário. Esperamos servir de apoio para essas idéias: música, artes visuais, teatro, literatura e política, em nome de algo maior, a promoção do novo.
O
ano é 1985 e depois de uma longa ditadura militar, civis finalmente poderiam exercer o poder no Brasil. O retorno do governo civil é um dos marcos da redemocratização do país, seguido de uma nova Constituição, em 1988, e da eleição direta para a presidência da República, em 1989. Mesmo com vários tropeções e quedas, para políticos, eleitores, mídia e para o próprio senso comum, vivemos em uma democracia. Com vinte e poucos anos, essa tal democracia, move de dois em dois anos 126 milhões de eleitores em todo o território nacional para votar em pessoas que parecem estar em looping, agindo da mesma maneira errante de antes. Como as pessoas que só se lembram da copa de 1990 em diante se comportam ao serem perguntadas sobre as eleições? Para simplificar essa resposta perguntamos “qual a tua expressão para a eleição” a uma parte da geração democrazy e registramos sustos, arrependimentos, raiva, insensatez, ironia e realidade.
O Manifesto - Em defesa dos alienáveis direitos humanos à alienação, preguiça, nulidade, conformismo e subversão o “Sujeito A” lançará, agora, o seu manifesto. Pela democracia e...O som da voz do orador do comitê da Frente dos Puritanos Sujeitos, ou simplesmente os FdPS, lhe causava engulhos. “Malditos amendoins!” Precisava aprender a parar de comer antes de começar a passar mal. Mas, pensando bem, não era de todo ruim. Pelo menos, havia abandonado o vício de mascar chicletes já mastigados. - Está quase na hora, disse um homenzinho de muito cabelo. “Como fui me convencer disso? Queria estar em casa dormindo”, pensava o “Sujeito A”. Foi arrancado de sua utopia com uns bons sacodes. - Anda! Todos estão esperando. Dizia o mesmo assessor descabelado, que juntamente com os correligionários da Frente abarrotavam o palanque. - Você precisa subir no púlpito e ler. - Ler? Ler o que? - O Manifesto da FdPS. “Meu Deus, o Manifesto. É verdade”. Como presidente eleito, tinha ficado com a incumbência de resumir todos os grande idéias do grupo num manifesto, que seria um marco pós-moderno. Começou a tatear os bolsos e procurar o bloquinho de onde havia feito suas mal traçadas linhas - nunca uma frase feita lhe pareceu tão propícia - porque todos esperavam.”Não sei onde está. Pior, não sei o que escrevi”, constatou.O manifesto deveria ser uma metáfora do que a Frente pretendia: a desconstrução, a desnaturalização do olhar e todos aqueles adjetos e expressões pomposas que os intelectualóides adoram e que ele, por acaso, havia caído de pará-quedas com a função de resumir.
Suas poucas palavras e a expressão blasé fizeram com que fosse nomeado como a personificação do espírito de sua época, segundo os adeptos da Frente. Olhou para suas pernas de frango e lembrou que precisava comprar os florais do gato. - Ele fica muito agressivo sem o remédio. - O quê? Perguntou alguém que ele já não identificava, sentiu-se como que levado para frente do microfone enquanto tentava descobrir porque tinha se metido naquilo mesmo. O corpo bambeou diante da multidão de jovens na praça. Tombou sobre o púlpito, que virou em direção da platéia e dispersou dezenas de folhas brancas. Antes de retornar a si e conseguir ser erguido pelos assessores, iniciaram as saudações: - Genial! - Antropofágico! - Um verdadeiro manifesto contra todo o falso conteúdo social.”Não. Aquilo não estava acontecendo”. - Não sei o que fez com o nosso manifesto, mas essa idéia é muito melhor. Era novamente o homenzinho. Ao retomar a sua posição na frente do palanque se sentiu contagiado pela animação. - Eu quero a felicidade das possibilidades, disse triunfante. Essa era a última frase do manifesto. Ele, finalmente, lembrara, mas não fora ouvido; todas as atenções estavam sobre as folhas vazias. Afastou-se do púlpito coma alguma dificuldade entre apertos de mão e saudações. Agora iria para casa, ainda não era meio-dia podia voltar para cama e fingir que nada daquilo tinha acontecido. Mais tarde, se o procurassem, diria que renunciou ao cargo por sentir que já havia cumprido papel histórico. “Deixo meu legado numa maldita folha em branco”.
GabirĂş
Bender
CantalĂcio
Zuil
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CantalĂcio
Zuil
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Como e quando iniciou o seu gosto pela música? Esse é o tipo de pergunta que levam as pessoas a pensar que somos uns malucos, nosso gosto pela música é quântico ele existe antes mesmo da gente, tá tão arraigado a nossa existência que sem ele não existiríamos, seríamos qualquer outra coisa menos nós mesmos, tu consegues imaginar um mundo sem sons? Lembro quando minha mãe e eu fomos comprar o primeiro aparelho de cd da nossa casa, ela estava muito feliz e me deu um cd do Led Zepplin, isso eu tinha uns 8 anos. Lembro quando eu tava sentado no colégio tocando Nirvana e um dos melhores guitarristas de Belém, Sandro Maneschy, disse que eu tocava muito e, na época, eu já tocava bateria e não sabia nada, como continuo sem saber, sobre cordas, mesmo assim ele gostou. O Dan quando tocou comigo pela primeira vez, sei lá ele tinha uns 16 anos e já era viciado em The Doors; do Marcelo quando resolvemos tocar juntos, estávamos numa rockada na Doca e, hoje, olho os caminhos diferentes que todas essas pessoas escolheram, sem dúvida a música permeou e vai continuar permeando essas escolhas, o nosso gosto pela música é um dos motivos que faz de nós, nós mesmos. Como e quando iniciou a banda? A banda começa quando nos encontramos para tocar, não existiu uma data certa de começo dessa formação na banda, tocamos juntos há 5 anos, sempre nos encontramos para fazer sons, não reconhecemos a idéia de uma data onde se oficializa que somos um grupo fechado, o Carapanã sempre foi e continuará sendo uma experiência multisonora, aberta a pessoas que circulam livremente por dentro dessa experiência e assim continuaremos: uma banda sem começo ou fim. Quantos integrantes fazem parte do som Nesse momento somos 5, Marcelo (guitarra), Rafael (baixo), Daniel (bateria), Plínio (Instrumentos de sopro) e Dan (sintetizadores), mas isso funciona apenas enquanto escrevemos essa resposta, todos podem e gostam de incluir mirongas (qualquer coisa) a mais. Não queremos fechar nenhum tipo de formação que seguirá eternamente tocando apenas assim, o momento nos pede para não racionar nossa linguagem, muito pelo contrário, queremos aproveitar o agora para fazer extravagâncias, usar todo nosso léxico, colocar novas experiências sobre a mesa, passar elas de mão em mão, até que todos tenham provado e refletido, essa sim é a principal função de quem faz parte do Carapanã. Os integrantes são oriundos de outras bandas ou são todos “estreantes”? Somos todos “estreantes”, e daqui a 50 anos continuaremos “estreantes”, ontem mesmo conversarmos sobre isso, algumas pessoas nos disseram que queríamos fazer apenas “sons cabeçudos”, a músi-
ca existe antes de nós, somos um dos canais por onde ela pode fluir, seremos eternos estreantes pois a cada momento ela se transforma em algo novo, como podemos nos achar experientes numa linguagem que agora que começamos a explorar? Agora que começamos a perceber algumas das milhões de formas de tocar, como poderemos acreditar que somos músicos “experientes” com domínio total de algo tão grande. De onde veio a idéia para o nome da banda? Achamos um lugar chamado - O meio do Mundo - é um lugar onde tudo está relacionado a música, totalmente cercado por tudo que existe: de árvores a prédios, do lápis a máquina, de iguarapés ao asfalto. Lá existe um poço onde todo essa massa de sons produzidos pelas coisas do mundo ecoa e se você fizer silêncio total e parar para ouvir esses sons, bem lá no fundo irá surgir a voz de um Homem - Coruja, cuja as palavras e idéias não fazem a príncipio o menor sentido, pois, estão em outras línguas, passamos madrugadas inteiras ouvindo as idéias do Homem - Coruja, mesmo sem entender o siginificado delas, até percebemos que tudo no Meio do Mundo funciona a partir da música, tocamos junto com todos os sons que no poço ecoavam e fomos batizados com o nome de uma criatura que lá existe e que sobrevive se alimentando do sangue (a essência) de seres vivos: o carapanã. O Meio do Mundo pode ser encontrado por todos, o telefone de contato é 8187-8180 - André. Quais as influências musicais de vocês? Poderíamos realmente apenas citar as influências musicais, mas assim deixaríamos de lado o que realmente influi e nos ajuda a tocar. Vamos expandir a pergunta, Jean Luc Godard e Brigitte Bardot, Aureliano Buendia e José Arcadio, Quarteto Novo o baião de cinco, Luiz Gonzaga e o exôdo rural, Stanley Kubrick e a falta de gravidade, Daniel - capitulo 4 versículo 25, Funk, Soul, Dub Bauret, o Bom Senso de Tim Maia e o Sanduíche de Pimenta de Sergio Sampaio, as partidas de basquete do Jaco Pastorious e as entrevistas de Coltrane, o tempo junkie criado por Miles Davis ou Call it anything, um Cidadão Instigado, Don Corleone, Cleigonts, Sexo e Mobs, Apollo e suas 17 missões, Gil e Caetano que tiveram a coragem de “entrar e sair de todas as estruturas” até no governo, a Farinha do Desprezo posta na mesa por Jards Macale, todos Os Meninos da Laranja do Jongo Trio, um violão, uma cadeira, João Gilberto e nada mais. Pra quando o público pode esperar um cd do Carapanã? Vixe Maria... Quando a gente menos espera é que as coisas acontencem. Os sons estão ai, estamos rodando dois mundos e meio pela música sem prentenções, somos livres, quando der na telha de zinco lá do Handolph que vamos gravar, então vamos gravar. Muito Obrigado pela entrevista
Por: Juliana Oliveira - Boa noite! - Eu te amo! A expressão saiu tão natural quanto constrangedora. O celular bambeou entre a cabeça e o ombro e ela sentiu os braços, que carregavam as sacolas, afrouxarem. Ele, que até o instante anterior preparavase para retomar seu assento na guarita, deteve o gesto com a boca entre aberta e os olho fixos na moradora do 101. Então, era isso, ela realmente acabara de se declarar ao porteiro. Não que houvesse algum problema, pelo menos não explícito, no fato de ter se declarado ao porteiro, a não se pelo fato de que não queria ter feito isso e havia sido pega em mais uma armadilha das respostas automáticas, que, ultimamente, incorporava mais e mais ao seu dia-a-dia. Amar o porteiro não era problema, não amá-lo também, mas dizer que o amava sem amar, sim, sobretudo, porque agora ele sustentava uma aterrorizadora expectativa depois de superada a surpresa. Poderia simplesmente ter agido como se o “eu te amo” tivesse sido um bom dia, a reação natural certamente poria em dúvida ao rapaz o que os seus ouvidos haviam apreendido e ele se convenceria de estar ficando maluco, mas era tarde, não dava mais tempo para ser natural. Os lábios do rapaz esboçaram uma leve reação quando ela se precipitou. - Espera! Bom. Agora tinha conseguido alguns segundos. “O que fazer? O que fazer?”. Jus-
tificar aquele equívoco dizendo que ela simplesmente havia se confundido por estar falando ao celular com um namorado que nunca apareceu no prédio pareceria absurdo, até porque a sentença foi proferida enquanto ela realmente se dirigia ao porteiro e a solução mais sensata realmente lhe parecia sair correndo dali e não descer nunca mais. - Veja. Eu não amo você e sim o seu trabalho, o que você representa, você é um trabalhador e recebe bem as pessoas e... De repente a expressão do bom vigia era de visível desconfiança, de soslaio. “Ele pensa que sou louca”. Voltou-se para o hall e saiu em disparada para o elevador, quando deteve-se e dirigiu-se transformada para cima do pobre homem. - É isso. Eu te amo. Sou louca por você e durante todos esses meses tenho feito um enorme esforço para não me declarar, mas veja, você é casado e eu respeito isso e é por isso que você nunca mais me ouvirá falar sobre isso. Jamais. Não podia esperar o elevador depois dessas palavras e passou triunfante e resignada até as escadas. Tinha feito o melhor, tinha sido digna, estava orgulhosa. Sofreria algumas semanas sempre que passasse pela guarita para que o homem tivesse certeza daquele amor e do grande sacrifício feito. Não voltaria a cumprimentá-lo em sinal de desesperança e não tornaria a cumprimentar nenhuma pessoa sem ter certeza de seus sentimentos.