Gotaz 03

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capa Direção de Arte: Estudio Gotazkaen fotografia: Estudio Gotazkaen modelo: Alanna Pingray produção: Sam Tavares make up: Grazi Ribeiro

Revista Gotaz publisher Estudio Gotazkaen diretor de criação Daniel Zuil diretora de fotografia Diana Figueroa Comercial +55 (91) 3222-6082 contato@gotazkaen.com

TODA ESSA DEMORA TEM JUSTIFICATIVA. Fazer uma revista indepedente não é nem um pingo fácil, seis meses separam a 2º da 3º edição da revista Gotaz, seis meses correndo atrás dessa chuva de conteúdo. Tivemos que viajar até o Japão para achar o Keitai, uma nova forma de conteúdo literário, de lá fomos parar na Suécia num ensaio de moda que se mescla a música. Andando mais um pouco fomos parar em terras lusitanas para falar sobre cinema conteporâneo. Atravessamos o oceano e aterrisamos no Texas (ah, o Jack Daniels!), onde rolou o SXSW com duas bandas saidas daqui de Belém, o La Pupunã e o Vinil Laranja. Voltamos ao Brasil, para Belém e depois de rodar o mundo encontramos o mundo todo aqui durante o Forum Social Mundial 2009. Fizemos um ensaio de moda ecológicamente correto com pessoas de vários lugares do planeta. Mateus Moura escreveu um diário, diramos que no mínimo, singular de tudo que realmente aconteceu lá. Na saida do evento, nas ruas de Belém encontramos Leo Barreto, um fotógrafo de skate que leva para todo Brasil as manobras mais “cabreiras” do esporte, “tá ligado?”. Rodamos o mundo, o mundo rodou aqui e adivinha onde fomos terminar tudo? Na Vigia! Antonio Coutinho ou “Nonô” é um artista espetacular, com pinturas e ilustrações fora de série, que poderiam facilmente estar em qualquer galeria do mundo. Gotaz #03. Como dissemos no início, não foi nem um pingo fácil, mas gotas caem de qualquer lugar. Divirtam-se

Email / Sugestões revistagotaz@gotazkaen.com


André Coruja. andrecoruja@gmail.com

Leandro Bender. beeender@hotmail.com

Músico, compositor, produtor e professor. Proprietário do estúdio “O Meio do Mundo”,Produtor da banda La Pupuña, Professor de Música da Escola Bosque nas unidades das Ilhas de Outeiro, Jutuba e Cotijuba. Ainda vivo.

Rabisqueiro. Desenvolve um trabalho alucinógeno em cima de papéis brancos ou não, ilustradando a 3 anos, tocando a 9, namorando a 4, vivendo a 22 e sabe Oldbrit o amanhã.

Elianna Homobono. ehomobono@gmail.com

Gilherme Pedreiro. pedreito@hotmail.com Imagemaker. Ocupa-se com trabalhos experimentais em fotografia e letras, focando nas tecnologias e linguagens em vídeo, com base em linhas de pensamentos construídos através de observações contemplativas das realidades. No mercado capitalista fornece serviços nos mesmos aparatos tecnológicos através de linguagens adequadas ao mundo do comércio.

Vive em Belém, onde encontra inspiração para viajar por outros mundos. Apaixonada pela cultura e língua francesa sonha vez ou outra que está passando férias de verão em Paris.Não pode ver o mar. Gosta de ficar sozinha somente para poder dançar loucamente. Já curtiu mais rock n’roll, mas hoje prefere uma bossa. Ama cinema sem pipoca, dormir juntinho e pão integral a faz se sentir saudável. Odeia o fim.

Katrin Kirojood. katrin@kiroojd.se

Mutsumi Makino. mtmmkn@yahoo.com

Before I moved to Göteborg, Sweden i was living in Vienna for 8 years studying photography. I am working as freelance photographer and my works are somewhere between art and fashion.

I was born in a little town in japan. I love to hear about unknown land, I imagine and dream them. Love, Mutsumi.

Priscila Vasconcelos. http://pvasconcelos.carbonmade.com

Mateus Moura. mateus_hc@hotmail.com

Ela já ficou. Foi. Voltou. Foi de novo, e agora está. Apesar de sempre pensar em voltar. Ela fez jornalismo, letras, marketing sem concluir nenhum. Parou em publicidade e por lá ficou até fazer mestrado em artes e estar de olho em algo multimídia. Ela não se contenta fácil.

21 anos, tecnicamente estudante de letras e filosofia, ativamente cineclubista, escritor e cineasta. tá bom?


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GAGUEIRA Ser gago é uma questão de velocidade do pensamento, uma crônica sobre o qual rápido pensamos ou não na vi-vi-vi-vida.

SXSW. Um Festival, uma viajem, um novo país, uma Van, uma longa estrada, duas bandas e muitas histórias inacreditáveis com a banda La Pupunã.

ECO FASHION.

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LEO BARRETO Portifólio e entrevista com o fotógrafo oficial do skate paraense, como ele mesmo diria: “é quente”.

Fórum Social Mundial 2009. Em Belém todos estão unidos por uma mesma causa: Um mundo melhor. Pessoas de vários lugares do planeta estavam presentes no FSM, vestiram a camisa, o vestido e acessórios ecologicamente corretos pra mostrar como é possível a moda transformar o mundo num lugar melhor.

NONÔ. Na pequena e histórica

cidade de vigia, no pará, vive e se inspira o pintor autodidata, antônio coutinho, mais conhecido como Nonô.

LA SOLEDAD. Ela é clássica, sombria, misteriosa e tem um clima borduir na maneira de vestir-se. rendas, babados e cetins compõem as peças deste editorial, que se caracteriza pelo bucolismo e sensualidade discreta.


DIÁRIO FSM. Mateus Moura acompanhou de maneira muito singular o Fórum Mundial Social 2009.

ZEBRAS. Cinema caótico, carne, sangue, Priscila Vasconcelos e Greenaway. Visceral

KEITAI. Romances de celular criam um novo público leitor no Japão e apontam soluções para o mercado da literatura. Não diga aló, leia!

REMEMBER THE FUTURE. Roupas que vestem de estilos musicais antigos, misturado com sons atuais , viram tendências fashionistas.



gotazkaen com WWW.CORONELMOSTARDA.COM



UMA DISFUNÇÃO OU UMA FUNÇÃO? A GAGUEIRA DE UM PONTO DE VISTA HUMANO, COMO VITÓRIA OU DERROTA. Texto e ilustração: Daniel Zuil

T

udo começa numa mesa de bar, incrível. Já faz algum tempo durante uma noite no bar do Tuna, uma conversa das boas travou no mesmo lugar durante cerca de uns 45 segundos, estavamos em três, eu e mais dois amados gagos, quando ouvi a seguinte frase de um deles, e como diria Tim Maia: “Não vou dizer quem foi, não vou dizer”, Gustavo Plampona Mansflow (pronto disse), finalmente conseguiu falar: “A ciência diz que a gagueira acontece por que os gagos pensam mais rápido do que falam.” Pesquisas e verdades científicas a parte, essa idéia me atingiu em cheio, avaliei durante dias essa posição dita na mesa e cheguei a uma conclusão. Perfeitamente correta. Pensei em levar essa idéia a outros campos, considerando que a gagueira não se propagava apenas na fala assim como em algumas outras atitudes humanas e em quase todos os casos por se pensar demasiadamente. Cheguei a conclusão de que o proposto pelo Gustavo era verdade, quase que uma verdade universal. Observando os fatos do dia a dia, as vezes pensamos demais para tomar uma atitude ou decisão diante de algum problema em que nos encontramos, e as vezes por isso, deixamos de fazer o que sabiamos que deveria ser feito desde o início. Partimos para as mais mirabolantes hipóteses, chegamos a conclusões que parecem ser inevitáveis, visualizamos a imagem do que nem aconteceu como se fosse uma memória guardada nos mínimos detalhes e aquela frase vem na cabeça como se fosse um grito na orelha: é obvio! Derrepente você bate de frente com aquilo que você poderia ter feito. Olha como quem não acredita, não aceita o fato de que era exatamente aquilo que você tinha imaginado logo na primeira vez, que era tão fácil, estava tão claro, era só dizer oi,

chutar logo, fazer dois traços, um dó maior... tarde demais. Mas como toda moeda tem dois lados, as vezes é muito bom dar essas gaguejadas por aí e escapar de situações que se não fossem a sua mente fervilhando em milhões de probabilidades que nuncam iriam acontecer, você teria caindo em maus bocados. Lembra daquela resposta que você não deu na hora pois estava pensando em outra pior ainda mas que também não deu por que demorou demais pra falar enquanto estava pensando no que ia ouvir de volta se falasse aquilo e terminou que não disse nada, por que o outro ja saiu falando um monte de asneiras sem pensar e calado você ganhou a discussão. Melhor impossível. E aquela festa que você não foi, por que ia encontrar não sei quem e você não se achava bonito, não decidia a roupa, ficou na dúvida entre aqueles três únicos passos de dança, pensou como iria voltar, o que ia dizer, treinou vinte e duas vezes a cantada no espelho, perguntou pra família toda se o figurino estava nos trinques, perdeu a hora e não foi mais. Graças a deus, no dia seguinte te contaram que ela ou ele ficou com outra pessoa. Talvez, finalmente ao conseguir juntar todas aquelas sílabas numa frase, “a... a... ci... ci... ência diz.. diz...”, para justificar a gagueira e quem sabe até exaltar a mesma, o Gustavo tenha na verdade definido uma parte do que nos torna tão especiais, a indecisão. Não agimos mais apenas por um louco instinto irrefreável (ele é muito bom também), analisamos atitudes e em muitos casos não chegamos a conclusão nenhuma e por isso nos unimos a aqueles com quem criamos afeição, amizade e amor, para que eles possam completar nossas frases quando gaguejamos.


UM PEQUENO COMPÊNDIO DO QUE VOCÊ PODE ACHAR DE MUITO LOUCO EM BELÉM, OU PELO MUNDO.

COLEÇÃO LUME DE VIDEOS Duas coleções da Lume Filmes, a seleção de clássicos contemporâneos do cinema brasileiro e premiados nos mais importantes festivais internacionais de cinema do mundo e a Coleção Lume Clássicos, com filmes já conhecidos e influentes ou desconhecidos mas que tem sua importância estética na história do cinema. Com uma arte gráfica original, é uma coleção de filmes que com certeza entrará para a história do mercado de DVD brasileiro. Você encontra na Fox Video em Belém.

SPUTNIK OBSERVATORY Sputnik Observatory for the study of contemporary culture é uma web onde você pode encontrar estudos sobre os mais variados temas da cultura contemporânea, idias que vão desde a observação dos sentidos até as novas formas de meio ambiente. Vale a pena conferir.

PRETO & BRANCO O roteirista e desenhista Taiyo Matsumoto procura mostrar, de modo realista e crítico, a vida de duas crianças numa cultura consumista, marcada pelas brigas de gangues, envolvimento nt com a policia, furtos e corrupção. orrup pçã Você encontraa em Belém Bel ellém é na Fox Videos. R$ 23,50 50 ((cada) cadaa) ca

MAXIM ZHESTKO Maxim Zhestkov é um artista russo que anda fazendo um trabalho balho fenomenal com CG. Minimalismo e muito P&B com ocasionais ais exploexp plo osões de cores e muita criatividade. O video selecionado aqui chama-se haama ma-s -see -s “Modul”, reel com incriveis distorções, transformações, explosões sõe õess e todo tipo de coisa louca. Não deixe de assistir o filme dele para Nokia. oki k a. a.


MUSIC IS MY MEDICINE Codinomes estranhos para identidades desconhecidas. sconhecidas. Supõe-se que Clutchy Hopkins seja na verdade Shawn Lee Lee. ee. Nesse álbum, supõe-se também que Lord Kenjamin seja amin sej eja Money Mark. Acham também que podem ser identidades ntidades secretas para DJ Shadow e Cut Chemist. Ninguém sabe ao certo. O que se sabe é que a qualidade dos álbuns é indiscutível e as misturas entre jazz, funk, mellow, hip hop, soul, world e r&b são inebriantes. Destaque neste disco paraa o trabalho com teclados vintage. Sensacional!!

IDEA FIXA ID Com novo layout e a mesma idéia de ser um grande centro de informações, referências e outras mirongas a mais, o site idea fixa vem cheio de novidades, novas seções, concursos e parcerias. Uns 10.000 posts pra você ficar matando hora no trabalho.

FIREKITES AUTUMN STORY Dirigido por Yanni Kronenberg e Lucinda Schreiber, a animação em giz é o clip da banda Firekite’s. A animação do vídeo foi toda feita com giz branco e alguns quadros negros. Como todas as idéias geniais, é simples e de tirar o fôlego.

LIVRARIA GUANABARA Em Belém existe um lugar mágico onde você pode descobrir coisas que nem imaginava existirem por aqui, a Livraria Guanabara. Livros de design, ilustração, tatuagem, fotografia, arquitetura e até sexo tantrico você pode achar nas prateleiras. Vale mais do que a pena, é obrigatorio.





LÉO BARRETO TEM 19 ANOS, É FOTÓGRAFO, ESTUDANTE DE COMUNICAÇÃO E VEM DESENVOLVENDO UM TRABALHO FOTOGRÁFICO ÚNICO, BASEADO NA CENA DO SKATE DE BELÉM.

Texto: Diana Figueroa Fotos: Leonardo Barreto

Como foi que a fotografia encontrou o skate no teu trabalho?

A fotografia entrou na minha vida quando eu era criança, sempre fui fascinado pela fotografia de skate em especial. Quando consegui um equipamento decente, comecei a fotografar o skate local, acabando por difundir o esporte na internet, quando percebi já tinha investido num equipamento razoável para produzir um material de qualidade. Hoje em dia, sou conhecido como um dos únicos fotógrafos de skate da região Norte, tendo trabalho publicado em revistas de circulação nacional e sou administrador de um grupo de fotografia de skate no Flickr, com mais de 100 fotógrafos de altíssima qualidade do mundo todo. sQual foi o meio que mais te ajudou a divulgar teu trabalho?

A internet sem duvida foi a grande fonte de informação e socialização na minha vida como fotógrafo. A facilidade do acesso à informação a outros amantes da fotografia, principalmente da fotografia de skate, foi determinante para eu chegar onde estou com minha arte. Foi através da internet que eu divulguei minhas primeiras fotografias, conheci vários outros fotógrafos de skate do Brasil e do mundo, fico muito feliz de poder chamar alguns de amigos, pois eles me ajudaram muito quando precisei, tanto de conhecimento quanto de incentivo.

Alguns desses amigos botaram fé no meu trabalho aqui no Norte, e quiserem retratá-lo nas revistas especializadas do Sudeste, o que resultou numa entrevista na antiga revista SKT, que era vendida até na Europa. Não pelo nível, mas pela distância e “relevância” da cena do skate no Norte, são poucas as chances de divulgação mais ampla do nosso trabalho, por isso a internet ainda prevalece como grande advento para a divulgação da nossa mídia, assim como de qualquer outra mídia alternativa que não gere lucro. sCom 19 anos e uma relevância na região norte, o que queres e espera para o teu futuro como fotografo profissional?

Se a vida de fotógrafo não é fácil lá no Sudeste, imagina aqui no Norte. Eu gostaria de poder trabalhar na mídia alternativa, com os tipos de coisas e pessoas que eu gosto. Mas na minha opinião, seria preciso criar e conceituar esse tipo de cena aqui, pra poder se viver disso. Não falo só do skate, mas de uma cena alternativa em geral, afinal ela está ai há tanto tempo, mas a mídia não tem participação nisso, e consequentemente o mercado também não. Seria mais fácil para mim, tanto pela minha fotografia quanto pelos meus contatos, ir para o Sudeste, arranjar uns bicos por lá, e ficar vivendo disso, fazendo foto de skate para J




algumas marcas mercenárias, um freeelance para as revistas especializadas, etc. Mas eu sempre tive um feeling de que meu lugar de ação era aqui, isso dá orgulho mas ao mesmo tempo é desestimulante, porque aqui nem as pessoas que vivem a contra-cultura se dão conta do seu papel nesse contexto. Por isso eu acredito nesse tipo de publicação online, que hoje em dia torna-se de mais fácil acesso do que uma publicação impressa, embora ninguém tire a magia da publicação impressa, de colecionar as revistas, de folhear e apreciar cada detalhe de uma impressão. Até hoje guardo as minhas publicação importadas e nacionais como um tesouro e documento histórico de um movimento que eu faço parte. Ninguém imagina a complexidade da produção de uma fotografia de skate. São inúmeros fatores que influenciam diretamente no resultado. Desde o clima, fugindo da chuva ou torrando no sol durante horas para conseguir a manobra e o clique, passando pela luz ambiente e quando o equipamento colabora com os resultados esperados. Ainda tem os malandros chatos e os ladrões espertos nas ruas, ou pior ainda, os policiais autoritários e mal educados que mesmo percebendo que não somos ladrões nem vândalos, ainda nos tratam como marginais e impedem a sessão. Ainda chegamos em casa para horas de seleção e pós edição nas imagens. Nada muito diferente de um ensaio de moda ou de cobrir um evento, mas a diferença é que nosso estúdio é montado na rua, com quantos flashes e tripés forem necessários, e o modelo é um maluco se jogando de uma escada ou descendo um corrimão cabreiro. Quem passa na rua fica intrigado com uma coisa dessas, um maluco no chão fotografando outro de skate, com tantos

flashes em volta do local, chamando atenção mesmo sendo discreto, ainda assim conseguimos apoio dos moradores, das casas, das ruas, e às vezes até de alguns seguranças gente boa! Percebemos na tua fotografia a preocupação com a luz e o

sresultado único com isso, como chegaste nessa estética? O skate sempre caminhou lado a lado com as artes, até porque o skate não deixa de ser uma forma de arte, um “balé” urbano, onde se busca a perfeição nos movimentos. E a fotografia se consagrou como um dos maiores movimentos artísticos do skate. Quando se busca retratar uma fração de criatividade em toda a estrutura de uma selva de pedras, nós fotógrafos e skatistas também procuramos deixar nossa marca e estilo, tanto naquele pico de rua, quanto naquele registro fotográfico. Te inspira em outros fotógrafos?

z Sim, vários fotógrafos me inspiraram e incentivaram, como os manos brasileiros Fernando Martins, Dhani Borges, Atilla Chopa, Renato Custodio, Alexandre Vianna e os gringos J. Grant Brittain, Mike O’Meally, Seu Thrin entre varios outros! E o que mais além da fotografia tem influência zno desenvolvimento do teu trabalho e na vida?

A música sempre me inspirou, não posso falar que sou de uma tribo específica, mas tenho minhas influências, principalmente pela cultura do skate e cultura negra. Dentro das influências, alguns sons que não passam tanto pelos ouvidos da maioria, como Funk 70’s, afrobeatz, reggae e ska. Dentro do reggae minha paixão pelas mixagens, samplers e sintetizadores do dub.






NA PEQUENA E HISTÓRICA CIDADE DE VIGIA, NO PARÁ, VIVE E SE INSPIRA O PINTOR AUTODIDATA, ANTÔNIO COUTINHO, MAIS CONHECIDO COMO NONÔ. Texto e Fotos: Diana Figueroa



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onô nasceu, foi criado e vive no município de Vigia, no Pará. Apesar de ser filho de um mestre da pintura sacra de sua cidade, Nonô aprendeu a desenhar sozinho, quando seu pai descobriu seu dom para as artes o presenteou com livros de grandes artistas da pintura mundial, e foi através desses livros que Nonô desenvolveu suas técnicas na pintura. Aos 14 anos ele criou seu primeiro quadro e desde então segue com a sua arte.

ca está presente quando questionado sobre sua carreira, “me inspiro muito na cultura regional, que é bem rica, tenho muita sorte de ter nascido aqui em Vigia. A Amazônia é muito importante para os artistas, pois é uma fonte inesgotável de inspiração, sinto-me feliz em retratar a cultura do meu município e do meu país. É gratificante.”

AOS 14 ANOS ELE CRIOU SEU PRIMEIRO QUADRO E DESDE ENTÃO SEGUE COM A SUA ARTE. A inspiração principal para seus quadros é a sua cidade natal, seus costumes e folclore, o carnaval de Vigia é um assunto bastante recorrente em seus quadros, assim como o dia-a-dia do caboclo vigiense, e foi com esses trabalhos que Nonô ganhou reconhecimento com menção honrosa em duas exposições na Europa, uma em Roma e a segunda em Viena, além de participar em 2005 da semana brasileira de artes em Paris. Sua preocupação em retratar e perpetuar a cultura amazôni-

Nonô é um artista com 35 anos de carreira, reconhecido, premiado, pé no chão e um dos pouquíssimos artistas paraenses que conseguem viver e sobreviver da pintura como profissão. Além das pinturas acadêmicas sobre a cultura de sua cidade, Nonô é bastante conhecido por trabalhar com pinturas sacras em igrejas, assim como seu pai, e tem trabalhos espalhados por várias igrejas do Brasil.






Travessa Benjamim Constant 1321 www.manufaturabelem.com.br


gotazkaen com


ELA É CLÁSSICA, SOMBRIA, MISTERIOSA E TEM UM CLIMA BORDUIR NA MANEIRA DE VESTIR-SE. RENDAS, BABADOS E CETINS COMPÕEM AS PEÇAS DESTE EDITORIAL, QUE SE CARACTERIZA PELO BUCOLISMO E SENSUALIDADE DISCRETA. Fotos: Diana Figueroa












Produção de moda: Sam Tavares Make Up: Thais Sousa Modelo: Luiza Cavalcante Agradecimento: Diretoria cemitério Soledad, SL Representações, Dana Berge


SXSW, SOUTH BY SOUTHWEST MUSIC AND MEDIA CONFERENCE, DUAS BANDAS PARAENSES MUITO LONGE, MAS MUITO LONGE MESMO PARA TOCAR. ANDRÉ CORUJA QUE FEZ PARTE DE TODA ESSA HISTÓRIA CONTA NOS MÍNIMOS DETALHES, COMO FOI ESSA “VIAJEM” ATÉ UM DOS MAIS IMPORTANTES FESTIVAIS DO MUNDO. Texto: André Coruja Fotos: Divulgação

A

ustin, capital do estado do Texas, aquele que nos chega empoeirado, perdido numa atmosfera desértica e ladeado de pistoleiros, imigrantes e índios. Às vezes, um ou outro xerife para fingir que põe ordem no lugar... É certo que esta imagem estigmatizada em nada deve ser o Texas de hoje, da NASA, em Houston, dos Spurs de San Antonio ou da metrópole Dallas. Mas daí a pensar que é a terra do “ex” George W. Bush... melhor ficar com os conflitos dos filmes como a referência do lugar que nos esperava. South by Southwest Music and Media Conference é o nosso evento — ou, simplesmente, SXSW (www.sxsw.com). O convite para a edição 2009 surgiu em agosto do ano anterior quando ocorreu o Projeto Imagem e Comprador, em Belém, promovido pela BM&A (Agência de Exportação da Música Brasileira) e Dançum Se Rasgum Produciones, que trouxe jornalistas, produtores, representantes de festivais e do mercado da música internacional para negociar com vários grupos paraenses. E o La Pupuña era uma das bandas que, lá, propunha um plano de negócios. Começou a corrida em busca de apoio para o custeio das

passagens, hospedagem, alimentação, deslocamento, taxas, etc. Ir a um festival em cujos palcos já pisaram R.E.M., The Strokes, Amy Winehouse e White Stripes é um investimento, a oportunidade de ser visto por agentes de shows, representantes da colossal mídia norte-americana, dos estúdios que produzem trilhas sonoras para TV e cinema ou selos e gravadoras que distribuem CDs e músicas (em compilações) no mercado internacional. Não poderia, neste espaço, deixar de mencionar os apoios que recebemos. Vida de Independente é assim mesmo, correndo atrás e agradecendo àqueles que podem e ajudam a cultura. Tivemos o privilégio de contar com o apoio do Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, com um empenho pessoal da sua Presidente, Joana Pessoa, com a sensibilidade e incentivo das Senhoras Ana Oliveira e Ana Júlia Carepa, respectivamente Sub-Chefe de Gabinete da Governadora e Governadora do Estado do Pará, e com a disposição do Senhor Edílson Moura, Secretário de Estado de Cultura, que nos orientaram no caminho da solução para o problema do apoio. A Mauro de Aviz, da Aviztur Turismo, pela confiança e amizade.


Com o orçamento que dispúnhamos não seria possível viajarmos num grupo de oito passageiros de Belém a Austin e termos gastos adicionais. Então, ainda no Brasil, tomamos uma decisão que tornou a viagem tanto mais econômica quanto aventureira e interessante; o fator divisor de águas: alugaríamos uma van. A expectativa de voltar a ter um carro grande para a banda nos fazia rememorar o Pupumóvel, a kombi colorida que tivemos entre 2005 e 2006 e que muito ajudava naquele tempo em que tínhamos shows quase todos os dias, em Belém. Desta vez, estaríamos juntos, novamente, disputando espaço com equipamentos (e bagagens). Porém, recompensados por novas paisagens e um clima mais ameno. Partimos de Belém rumo a Miami, com conexão em Manaus, no domingo, 15 de março. Teríamos dois shows na quarta-feira e o último, certamente o mais importante, na sexta-feira. Todos em Austin, todos nos SXSW. Durante o vôo, encontramos um sósia do Marcel Arêde, produtor do La Pupuña. A chegada a Miami, no domingo à noite, foi para procurarmos um lugar para dormir e esperarmos a segunda-feira para alugarmos o carro. Não havia reserva porque a ideia da locação se confirmara apenas no dia anterior, quando o orçamento foi finalizado (ou seja, as coisas ainda podiam dar errado). Tomamos dois táxis enormes do aeroporto para Miami Beach e encontramos um albergue que dispunha de um quarto compartilhado com quatro beliches. Como éramos oito, virou quarto privado. Pizza para todo mundo. J


Na segunda-feira, Marcel, Fabrício e eu, os três motoristas habilitados, saímos para alugar a van de doze lugares. Neste ínterim, os cinco que ficaram no albergue contactaram o pessoal da Vinil Laranja, a outra banda paraense participante desta edição do SXSW. Com a confirmação de que iriam conosco, quando lhes passamos o custo adicional da van com quinze lugares, a maior disponível, chegamos para fazer a locação. Eis que na locadora aconteceu uma das primeiras situações curiosas da viagem. No guichê de atendimento, precisaríamos fazer um bloqueio no cartão de crédito, a título de caução de buscar o Vinil Laranja. para eventuais danos. Até aí tudo bem. No caminho, do Vinil ainda encontramos uma Eu tinha cartão de crédito internacio- Cola vídeo foto do com aAlcir che-Costa, saxofonista amigo nal com limite disponível. Entretanto, Laranja nosso que participou do Projeto de Inido La Pupuña por não ter 25 anos completos, eu não gada ciação Científica “Guitarrada: a música poderia ser habilitado como condutor instrumental com sotaque paraense” da van de quinze lugares. E o cartão que deu origem à banda, enquanto precisaria, necessariamente, ser de um ainda estudávamos Licenciatura em condutor. Ficamos num impasse, com a Música na Universidade do Estado do regra imposta pela locadora e ratificada Pará, em 2003/04. E Marcel, o co-piloto, pelo supervisor. De repente, na surdina, tentando usar o GPS que não funcioo “jeitinho americano”: o atendente nou e com seus mapas previamente pediu para eu lhe passar minha carteira baixados em seu super MacBook para de motorista e habilitou-a, a despeito conduzir-nos. do limite de idade. Então, para quem Para melhor compreender onde fomos pensa que eles são inflexíveis, desumabuscar o povo da banda Vinil Laranja, nos, eis aí um feliz exemplo contrário. veremos, com o olhar deles, a nossa Enquanto chegada: DE REPENTE, NA SURDINA, isso, em Paramos para O “JEITINHO AMERICANO” Miami Bealmoçar e saímos ach, os outros integrantes passeavam. de Miami, de fato, às 18h, com a van Acompanhe no vídeo abaixo: entupida. Ao chegarmos com a van no albergue, Subimos a Flórida, passamos por Orlanera mais do que além da hora de partirdo e, de longe, avistamos os parques mos. Despedida de Miami Beach e hora da Disneyworld, já à noite. Viramos a madrugada toda na Flórida. Paramos no último município, Pensacola, para troca de motorista e para começar o dia, já com outro fusorário (Central Time) e a terçafeira pela frente. A terça-feira foi o dia mais longo, aquele que começou sem a segunda ter termi-

nada. Cruzamos a estreita faixa sul do Alabama e entramos no estado do Mississipi, impressionados com as estradas, o tráfego, as paisagens e com as pontes. Estas são um capítulo à parte: a despeito das nossas, que cruzam os rios, as de lá fazem o caminho do próprio, acompanhando o leito e margeando-os. Cada pista em um lado e o rio no meio. Lindo. Chegamos para almoçar na lendária e jazzística New Orleans, na Louisiana, ao som de La Pupuña e Vinil Laranja. Cidade cercada de água, portuária por vocação (maior porto dos Estados Unidos), porém destruída pela natureza. Sim, o infame trocadilho se refere ao furacão Katrina que, em 2005, vitimou esta importante cidade e sua população. Creio que ainda não tínhamos, nenhum de nós, visto algum lugar com tantas obras acontecendo. A cidade é um verdadeiro canteiro de obras em larga escala. Estabelecimentos, parques de diversões, tudo fechado. Grandes investimentos abandonados ou à venda. Um clima de consternação na cidade que busca se reconstruir à beira do Golfo do México, pois ela própria não pode se mudar de si. Seguimos o sol rumo ao Texas. O maio impacto a partir da divisa era o policiamento ostensivo na estrada (lembrando que ali havia um Bush). Houston, sede da NASA, é ladeada por concreto. A infra-estrutura viária impressiona. Incontáveis e imensos viadutos cruzam as largas estradas como que a nos


pedagem e todos os hotéis e albergues já estavam reservados confundir. Mas a impecável sinalização não permitia, apesar há meses. Partimos com a van. Paramos em vários lugares da noite, apesar do dia e da noite anteriores, das vistas cansae estava tudo ocupado. Então, aquela placa luminosa de 50 das, do sono. E Austin chegaria pela madrugada. dólares e hotel estranhamente escrito com a letra M. Ossos do Chegada ao destino pela madrugada. Os mapas baixados da ofício, meu amigo. Boa noite! internet mostravam o caminho pelas veredas do bairro residencial onde viviam os voluntários que hospedariam os quatro Pela manhã, conseguimos contactar o representante da BM&A que produzia o primeiro dos três eventos em que integrantes da Vinil Laranja e os seis músicos do La Pupuña. tocaríamos. Recebemos as coordenadas em tempo de, apenas Na casa de Jen Carver, a hostess da nossa banda, chegamos e ela não estava. Conhecemos Lisa, que dividia a residência com suspendermos os pedidos de almoço que, àquela altura, a maioria da banda fazia num restaurante mexicano. Antes Jen e mais um rapaz que nunca aparecia. Apresentações, barreiras lingüísticas superáveis e o quarto cheio de colchões para disso, porém, ainda na casa cheia de gatos, uma surpresa: no andar de cima, permitir que ...AQUELA PLACA LUMINOSA DE 50 DÓLARES E havia dois quartos eles voltassem HOTEL ESTRANHAMENTE ESCRITO COM A LETRA e um banheiro. a saber o que M. OSSOS DO OFÍCIO, MEU AMIGO. BOA NOITE! Era num desses era deitar-se. quartos que os seis estavam e o dono do outro era o morador Mas antes, as regras da casa: jamais deixar as portas abertas porque, na cozinha, viviam os cinco gatos de estimação. Argh! que jamais aparecia. Surpreendentemente, nesta manhã, com o movimento à porta do banheiro, ele abriu a porta para Rodolfo, Fabrício e Muralha gostaram de brincar com os comcumprimentar os hóspedes em um cachorro apareceu à porta, panheiros felinos. latindo muito. Quem imaginaria que na casa dos gatos havia J Marcel e eu, os dois produtores, não tínhamos direito à hos-



um cão trancado no quarto do andar de cima? O susto fez Kleber e Rodolfo quase desafiarem a física para entrarem ao mesmo tempo de volta no quarto, apavorados. Conseguiram. Não sei dizer se um entrou no espaço do outro. Partimos para o Beauty Bar, um pub no qual nem entramos, pois nosso show, com Canja Rave, River Raid, Vinil Laranja, era nos fundos do estabelecimento. Foi assim que sentimos o clima do festival: havia bandas tocando ao vivo em todos os horários e locais possíveis. Pubs e clubs aos montes, com uma banda em cada ambiente e até em terraços de prédios, palcos armados em praças, ruas, estacionamentos, marquises e... quintais. Pressa! Ainda precisávamos encontrar Ervey Valle, um percussionista californiano radicado no Texas. Filho de mexicanos, Ervey se identificou com a banda e sua sonoridade latina, enquanto tratávamos das especificidades do nosso terceiro show, ainda por vir, do qual ele seria o diretor de palco. E ele nos emprestou suas congas. Uma grande ajuda! Aliás, duas, pois foram menos dois volumes em nossas bagagens que inviabilizariam a viagem de van do La Pupuña com a Vinil Laranja. Atravessamos a bela Austin sem, ainda, conhecê-la e conseguimos tudo em tempo. O show foi interessante. Não havia tanto público. Ainda era início de tarde e as pessoas, certamente se preparavam, em grande maioria, para sair à noite. Era apenas o primeiro dia, mas as pessoas que lá estavam eram, principalmente, jornalistas, formadores de opinião e músicos, o que nos rendeu bons contatos. Era só o princípio de tudo. Mal chegamos e a primeira missão cumprida. Foi bom para entendermos como se trabalhava nos backstages deles e para entrarmos no festival, pois os corpos ainda pareciam condicionados à quase imobilidade de estar dentro de um carro por quase 40 horas. Saindo do Beauty Bar, fomos para a passagem de som do Club 115, o local em que tocaríamos à noite, na quarta-feira. Foi um bom show. As pessoas que lá estavam, em grande maioria, se envolveram com a dança, com os ritmos e maneira de tocar diferentes e prometeram ir ao último show, dali a dois dias. Competíamos, no mesmo horário, com bandas como Echo & The Bunnymen. Mas isto que é interessante do festival. Também serve para que aprendamos como funciona o mercado, como vender a nossa imagem, entendendo a música num espectro de negócios e o público como consumidor. Para quem pensa que tudo foi uma maravilha, houve uma situação muito incomum quando se trata de tocar no exterior. J


No Club 115, atrasos e problemas com equipamentos, desordem na produção de palco. Basicamente, situações as quais já estamos acostumados. Lá, por problemas de ordem técnica e operacional, mesmo. Aqui, geralmente os atrasos acontecem por causa daquela concepção cultural de o público sair muito tarde e as bandas terem que esperar as pessoas aparecerem, praticamente sempre descumprindo os horários. É interessante ressaltar que esta mentalidade só vai mudar se os músicos impuserem seus horários e passarem a tocar num horário mais sensato, independente de haver público ou não, porque aí, sim, as pessoas tendem a se acostumar. Esta é uma discussão importante e foi o principal tema suscitado em nossas participações nas conferências inerentes ao evento, na quinta-feira. O público de Belém tem o costume de querer mandar no show dos artistas, mantendo um comportamento que vem dos bares, com o músico de voz e violão tocando por 4, 5, 6 horas com interferências no repertório e, muitas vezes, tendo que lidar com o descontentamento de pessoas que o constrangem e aliciam, quando não o agridem verbal ou fisicamente, como já chegou a acontecer com

músicos de nossa cidade. O mercado de música de Belém não favorece o crescimento de um grupo que construa uma identidade porque a exigência é a de se manter neste círculo vicioso de legitimação de uma música imposta pela grande mídia através das rádios e da TV. Ou seja, na prática, o músico local tem que passar pelo repetitivo e emburrecedor processo de preparar repertório com as músicas que já não precisam de mais divulgação. E parte do público não sabe diferenciar um trabalho que se propõe a ser repetidor de outro que pretende ter seu diferencial, sua identidade. Nos Estados Unidos, há respeito pela figura do trabalhador, do prestador de serviços. Quando alguém não gosta de um serviço prestado, procura outro para fazer, mas não desqualifica o trabalho daquele que busca seu espaço à sua maneira. São exemplos que percebemos in loco e com os quais podemos alterar e aperfeiçoar certas práticas viciadas do nosso mercado que nos faz não mais do que sobreviver. A quinta-feira foi o dia, também, de sairmos para comprinhas e para estruturarmos um plano de divulgação para o show do dia seguinte, o mais esperado. Um espaço disputadíssimo

O MERCADO DE MÚSICA DE BELÉM NÃO FAVORECE O CRESCIMENTO DE UM GRUPO QUE CONSTRUA UMA IDENTIDADE PORQUE A EXIGÊNCIA É A DE SE MANTER NESTE CÍRCULO VICIOSO DE LEGITIMAÇÃO DE UMA MÚSICA IMPOSTA PELA GRANDE MÍDIA ATRAVÉS DAS RÁDIOS E DA TV.

por artistas de várias nacionalidades: o “off-WOMEX”. A WOMEX (World Music Expo) é a maior autoridade mundial em termos de World Music. Tem um grande evento anual sempre num país diferente. Ano passado, estávamos confirmados para o evento de Sevilha, Espanha, mas não conseguimos apoio para irmos. O deste ano será em Copenhague, capital da Dinamarca, e após termos sido convidados para o do ano passado e para esta noite da WOMEX dentro do SXSW, temos a expectativa de receber novo convite para voltar a Europa. Um show dessa magnitude precisaria de uma ação rápida, prática e barata de divulgação. Enquanto os músicos faziam compras, a produção da banda articulava entrevistas em rádios para o dia seguinte e teríamos que fazer a famosa panfletagem. Elaborar uma arte e imprimi-la em tempo. Cartazes? Não. A cidade já tinha estímulos visuais suficientes para não nos destacarmos. Período de poluição visual mesmo. Chegamos à conclusão de fazermos flyers para uma ação individualizada. Éramos 8 e poderíamos distribuir e conversar com as pessoas que se mostrassem interessadas. À noite, embora ainda claro, fomos para o centro de Austin, a casa dos múltiplos shows para fazermos a nossa panfletagem. Após o dia e noite cansativos, decidimos que todos nós nos apertaríamos no quarto para que Marcel e eu também pudéssemos dormir lá sem pagar motel ou dormir na van. Quase não víamos outros shows pela correria. Adriano, Marcel e Félix decidiram que deixariam os cinco restantes na casa e voltariam para assistir à banda Data Rock. E foi neste regresso para a casa, buscando descanso, que Muralha descobriu, ao se dirigir para a porta, que havia deixado a chave dentro da casa. Estávamos nós, ao


relento, como um quadro dos estigmas de imigrantes numa quieta vizinhança de uma capital norte-americana. Fazia frio naquela noite. E estávamos sem teto. Que tchola! Sexta-feira pela manhã, último dia em Austin. Preparação para o terceiro show nos Estados Unidos, dia das entrevistas. Enquanto eu já organizava o trajeto do dia, sentado à beira do caminho, do lado de fora da casa, Adriano incendiava seu café-da-manhã. O verdadeiro breakfast: Entrevistas ao meio-dia no Hotel Hilton de Austin. Nada mais chique! E Fabrício, no saguão do hotel, mostrava seus hábitos caboclássicos. Mais tarde, precisaríamos de um amplificador de guitarra. E os Vinis queriam comprar um. Não tivemos dúvidas: levamos os jovens em busca de lojas para adquirir seu equipamento e permitir que fosse estreado no show do La Pupuña. Claro que não foi só por isso, amigos. Foi a aproximação (literalmente) dos últimos dias que nos deixou mais companheiros. Ei-los: Finalmente, a chegada ao Copa Bar & Lounge, onde aconteceria em mais algumas horas o showcase da WOMEX. Surpresa! O dono do estabelecimento é brasileiro. Lá, fomos recebidos pela equipe do amigo Ervey Valley, diretor de palco e pelos integrantes de uma banda mexicana. Quem apareceu para nos prestigiar foram os amigos Jesus Sanchez e Loco Sosa, do Los Pirata, que tocaria na madrugada e noite seguintes. Início das apresentações. Seríamos os segundos. Antes de nós, o grupo dos Cantores Guturais de Tuva (Ásia). J

QUE TCHOLA!


O público ficou boquiaberto com a destreza dos músicos nas técnicas do canto difônico, muito comum naquela região do Centro-norte asiático. Rodolfo e eu lembramos de um curso de Etnomusicologia que fizemos, certa vez, em Natal (RN), e no qual pensamos ter aprendido um pouco de canto difônico. Depois dessa, definitivamente nada sabemos. A apresentação do La Pupuña foi quente. O público reagiu muito bem à guitarrada, à fusão de ritmos latinos com surf rock e carimbó. Muitos jornalistas e agentes de diversas partes do mundo vinham conversar conosco, da produção, durante o show e, depois, com os músicos. A resposta foi muito positiva. Entrevistas para TVs americanas com programação em espa-

Seria possível chegarmos a tempo? E foi assim que partimos, com a sensação de dever cumprido e de que muita coisa ainda está por vir naquelas terras norte-americanas, do ponto de vista profissional. Digo assim, porque nosso amigo Adriano fez um outro tipo de articulação após o show, com um diálogo em português e espanhol com um incauta estadunidense que admirou sua performance como baterista e sua conversa neste idioma cantante que falamos. E foi nesta troca de idiomas que as duas línguas se encontraram, como que a ratificar a vontade (pelo menos a dele) de voltar. Pé na estrada. Marcel no volante até o amanhecer. Caminho para leste. Paradas só para reabastecer (o carro e as barrigas).

Já era quase meia-noite de sexta e tínhamos 2400 km pela frente. Seria possível chegarmos a tempo? nhol, voltada para os espectadores de origem latina. Muitas promessas de parcerias e possibilidades futuras. Confirmados, os convites para o Green Festival Chicago, em 16 de maio, o qual tivemos que recusar pela impossibilidade de recursos e o South Park Music Tour, no estado do Colorado, no último fimde-semana de junho. A partir daí, a banda deve se lançar em turnê pelos Estados Unidos, durante as programações de verão do mês de julho. Não pudemos, infelizmente, continuar assistindo os shows seguintes porque tínhamos que arrumar a van para regressarmos a Miami. O vôo seria às 8 da manhã de domingo. Já era quase meia-noite de sexta e tínhamos 2400 km pela frente.

Chegamos ao aeroporto de Miami na madrugada de domingo, com bastante coisa para arrumar, mas em tempo de deixar o carro na locadora e fazer o check-in com calma. Tudo parecia correr bem. Embalagens, eliminação de maiores volumes e onde está o computador do Marcel? Que tchola! Muito trabalho ali, perdido. Não havia muito tempo para procurarmos. A conformação haveria de chegar. Então, era hora do check-in para voltarmos ao Brasil e estarmos em Belém no início de noite do domingo e chegarmos sãos e salvos ao trabalho na segunda-feira, mas... Fomos levados para um hotel próximo ao aeroporto para passar o dia à espera do voo seguinte, o que nos atrasaria.


Mas parecia um bom lugar, ao lado de um riacho e de um campo de golfe. Porém... Eu ainda fui dar um passeio com amigos da minha família que agora moram lá. Passamos pela bela orla de Miami, o Bay Side, American Airlines Arena (onde iriam jogar Miami Heat e Charlotte Hornets pela NBA. Mas como ainda íamos comprar a famigerada placa de som do Muralha, eu não podia ficar pra ver o vídeo. Ele queria mesmo esta placa. E, no fim das contas, será muito útil para a banda. Ele é um dos guitarristas e isso ajudará nas suas composições, agora que estamos na pré-produção do segundo disco do La Pupuña que terá temáticas extraterrestres. A NBA fica pra outra vez. Estamos trabalhando para conseguirmos trilhar um caminho pra lá, em breve. Chegou a hora. Voltando pra casa.

CHEGOU A HORA. VOLTANDO PRA CASA.


FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2009. EM BELÉM TODOS ESTÃO UNIDOS POR UMA MESMA CAUSA: UM MUNDO MELHOR. PESSOAS DE VÁRIOS LUGARES DO PLANETA QUE ESTAVAM PRESENTES NO FSM, VESTIRAM A CAMISA, O VESTIDO E ACESSÓRIOS ECOLOGICAMENTE CORRETOS PARA MOSTRAR COMO É POSÍVEL A MODA TRANSFORMAR O MUNDO NUM LUGAR MELHOR E MAIS BONITO, SEM AGREDIR A NATUREZA. Fotos: Diana Figueroa

Elza Letch, Suécia



NathaliaTeixeira, S達o Paulo


Pedro Pessoa, S達o Paulo


Amanda Sato, Curitiba



Debora Darvling, Balneario CamboreĂş


Fernanda Ferreira, Vit贸ria

Elza Letch, Su茅cia


Fabiola Guiteau, Haiti

Fabiola Guiteau, Haiti


Fabiola Guiteau, Haiti



Virginia Nacui, Guiné Bissau

Produção de moda: Tereza Maciel, Livia Oliveira, Irene Figueroa Agradecimentos: Encantos da Amazônia Beleza Nativa Naisha Cardoso Manufatura



MATEUS MOURA ACOMPANHOU DE MANEIRA MUITO SINGULAR O FÓRUM MUNDIAL SOCIAL 2009. Texto: Mateus Moura Ilustrações: Leandro Bender

R

uas de Belém. Ônibus, tecno-brega. Fim da linha, desço tranqüilo, cidade sitiada por um grande evento internacional, fazer feio não pode. Pelo menos não tão feio. Um rato-gato passa (rato-gato é um animal que não está em extinção nos bueiros da abóbada mangueirense. Existe o peixe-espada nos mares do Ártico, o leão marinho nos do Antártico, aqui temos o rato-gato, rato nas feições, gato nas dimensões. Animal em instinção). Passam dois, três, um morde algo... Meu deus, um pé de homem peludo, cacete, putaquipariu! Calma aí, que isso?! (Rato Gato) São vários ratos-gatos, um homem e uma mulher, um pé peludo, um pé pelado. Porque eles estão abraçados como se nada tivesse acontecendo? Merda! Quidiabu!... Porra! Era só a porra de um tronco. Maldita escuridão! Será que isso acontece com todo mundo? Enfim, sigo... caminho nas trevas. Onde os barulhos das correias de bicicleta? Onde os pedintes, os bêbados, os viciados, os travestis, onde? Onde? Onde a família belenense?! Talvez a sociedade nos bueiros, fora dos holofotes do mundo. - Ei, ei, aqui amigo, pô amigo, aperta minha mão, pô amigo, quolé? Num tem medo, num tem medo! Arrume um cigarro aí, amigo! - Pô, to sem brother... - Pô... pode crê, bora fumar uma pedra ali... - Não, valeu cara, num fumo. - Pô, o sinhô num fuma? Cigarro o sinhô fuma! Arruma um troco aí pra nós comprar, Seu. - Pô bixo, to sem ó, tô na pedra! - Tá na pedra?! Eu também quero ficar, Seu!

APERTA MINHA MÃO AQUI... SEM MEDO, PRA QUE MEDO CARA?

- Não não, to sem grana cara, só tinha o do bonde. (Medo) - Pô. (Cambaleia) Então... Azul, vermelho acertam nossas cabeças – luzes bem-vindas para mim. - Então tá brother, mas valeu aí viu, aperta minha mão aqui... sem medo, pra que medo cara? Eu sou da rua mas eu sou amizade cara, eu gosto é de fazer amigos sabe? É... é... Longe, aceno. - Falou amizade, aquele axé então! Polícia revista eles, um, que tem mania de calado, chora, chuta o amigo; que, bêbado, brinca: - Cara, nem adianta me revistar, to na pedra velho. Escancara os dentes na risada estridente. Um grupo de baratas em fila indiana atravessa a rua – morrer na praia. O abominável rato-gato resolve tirar uma soneca na vala, e as baratas – sobreviventes de um ataque nuclear - sentem o peso do injusto mundo animal. J



(25/01 – 23:38 - dia anterior ao início do Fórum) Registro de rasuras, turbilhão calmo de impressões, a fotografia exposta no museu sem moldura, a arte sem altar. Diário: notas de fatos. (27/01 – 9:13 – dia da passeata, abertura do FSM) Nunca de si, sempre do outro, atingir o exterior, se livrar dos sentimentos e desejos, esquecê-los no registro. Câmera fotográfica: essência objetiva. Notas como flashs. Abstrair o eu sentimental-afetuoso para encontrar o estilo. Neutralidade, falar do que compreende, nunca do que sente. Se falar do que sente, compreender o sentimento e reencontrá-lo – depois do filtro da compreensão – verbalizado e visível. Metempsicose, movimento, transformação sem perda, reformulação nobre. (27/01 – 13:06 – dia da passeata, abertura do FSM) Há pessoas, há pombos, há carros quadrados. Pombos enquadram pessoas em carros. Zombam, até o último segundo. Depois fogem, enquadrados no azul, quebram manchas brancas, pretas, asas da imaginação. Chove. J


A PASSEATA É PELO QUE? PASSA GAY, PASSA PUTA, DONA DE CASA, PT, PSOL, PC DO B, PASSA BOI PASSA BOIADA...

(27/01 – 15:30 – dia da passeata, abertura do FSM) Engarrafamento de cabeças na Av. Nazaré. Não! Não é pela santa... então pelo que? O índio de Nike, fogueira na calçada estica o tambor dos homens trançados, mulheres brasileiras as melhores, militantes faces de jesus – quem foi o primeiro a lançar a moda do barbaolho claro? A passeata é pelo que? Passa gay, passa puta, dona de casa, pt, psol, pc do b, passa boi passa boiada, a namorada em casa, fez bem... Andando à três – todos reclamam. A festa é sempre melhor na casa dos outros. Passa ônibus na rua de baixo, de cima – homens e mulheres querem descansar depois do expediente estressante. Uns gritam, gostam do carnaval. Chuva de mangas. “-Que porra de gravidade que nada, a manga cai porque ta pendurada e madura”. O grupo de engenheiros acha graça. A 51 passa. Mirando cabeça da gringada. Os raios de zeus feitos de verde-rosa-redondo-pesado. POU! A abóbada mangueirense vai abaixo. A cidade natural faz o seu protesto. A gringa disforme samba, o crioulo agarra. A batucada começou, balança o café com leite na xícara de xá, Pedrinho lembra do filme da tela quente. Na varanda a irmã berra ao helicóptero que passa, será o Bradd Pitt? Nunca saberá. “-Menina, sai da janela, pra dentro, anda!” “-Lê, leleô, leleô, leleô, leleô UGV!... Gente vamo comemorar a vitória gente... minha gente, por 54% dos votos minha gente a chapa 2 venceu!... É gente, a gente conseguiu companheiros! Palmas, vamos lá gente!” Lembro do sábado, primeira cerveja Everaldo paga, insiste na batatinha. “-Pede aí rapaz, eu pago, recebi hoje, tu sabe que dinheiro na minha mão não pára, dinheiro foi feito pra circular!”. “-Mas e aí Everaldo... vai te candidatar ou não vai?”. “-Sim! Tá tudo certo já, vai votar em mim né?”. “-Pode crê, me diz aí, qual tua proposta de governo, tuas

intenções?”. “-Êe olha o cara, pare com isso!”. Ri. Rimos. “-Só tu mermo!”. “-Ai ai, desce essa batatinha aí Everaldo”. “-Tá na mão! Garçom...” Andando a dois – “-Ué, cadê o careca?... Ulha, ei, ei... não vai na corda dele não cara”. “-Bora, bora!”. A linguagem de círio se recria. A festa se repete. A corda não se parte. Na calçada o bombonzeiro se diverte, tira sarro. Embola a língua, inventa dialeto, zoa o gringo, derby prata 1 euro a unidade. “-A polícia tem que é descer o cacete nesses palhaços!”. A delícia de ver o circo pegar fogo. No ônibus, parado 40 minutos, escrevo notas de fatos. Fotografo. A revelação é verbal, a sala escura na sucuri de metal, antes solta nos rios de asfalto, agora encurralada, aguardando a boiada do mundo passar. (27/01 – 18:50 – dia da passeata, abertura do FSM) Cidade alerta, entre rios, Belém, entre árvores, escuta. O batuque do mundo num coração de sinestesias. Cidade aberta, alerta aos sons. Turbilhão de vozes se confrontam/se abraçam na nossa querida Belém – por instantes microcosmo do planeta. Sentidos trabalham como loucos – uns até protestam, solidários chamam ambulâncias, índios oferecem ervas. Dos que obedecem o ritmo industrial, o trabalho é duro, cruel. O olfato passa as informações estranhas de misturas lisérgicas: chanel n°5, bosta de vaca, marijuana, patchouli, de onde vem? – o olho perde de vista. No vendaval das vozes perde-se audição, confusão visão-audição, tudo passa – um rio de conhecimentos diversos, seres humanos (abismos ambulantes) compartilhando suas escuridões. O ritmo é frenético. (28/01 – 12:30 – 2° dia do FSM) Se a essência da fotografia é objetiva-real, porque há tanto mistério? Porque o sobrenatural no natural? O Mundo que diz ou a Mente que inventa? Ou tudo uma coisa só? (28/01 – 22:14 – 2° dia do FSM) J




Quem está mais perto, o alucinado ou o arrumado? (mais perto de que?) (29/01 – 15:01 – 3° dia do FSM) A fotografia é verdade O que é? (29/01 – 15:20 – 3° dia do FSM) Eu fotografo. Eu revelo. A fotografia não se fotografa, não se revela. Eu revelo a fotografia. Eu fotografo a revelação. Eu, o único competidor, incompetente na sua busca de objetividade. (30/01 – 19:17 – 4° dia do FSM) O homem nu surge, trazendo ecos de verdade. Porta na língua um coração em chamas. Berra, pisa num mar de formigueiros, tapete de imundos. Fala em alto e bom som: “-Vocês vem aqui, sujam tudo, não respeitam a floresta... falam de anti-capitalismo mas só pensam nas compras, nas lembrancinhas... trazem seus filhos, fumam suas drogas, tiram suas fotos... a hipocrisia do que quer aparecer... curtir uma onda e ser o cara! É nisso que vocês pensam! Depois do fórum é conforto e lei do menor esforço... Até quando? Até quando a gente vai fechar os olhos pra injustiça na casa do vizinho? Até quando a gente vai aceitar a coação do Estado, das forças oportunistas, da Igreja? Tem forças malignas atuando aqui, e vocês todos fazem parte. Porque pessoal? Porquê?” (31/01 – 21:01 – 5° dia do FSM) De onde vem esse homem? De onde vem o porta-voz, o surto, a voz de um sangue que luta contra o veneno, a embriaguez da

O HOMEM NU SURGE, TRAZENDO ECOS DE VERDADE.

lucidez!? É como se presenciasse um cadáver que anda, liberto da rotina zumbi. Um homem que transpôs o muro lodacento do social, que espalha lama nos maquiladores, que escarra nas caras dos educados. A vida que nasce na ligação com a morte (companheira existencial), o dilema da finitude aceito, o viver autêntico (o angustiar-se) exposto nesse homem que anda entre e sobre nós. O Mito em Vida. Um homem nu, que surge, trazendo o próprio homem: o Ser, além da vida e da morte. (01/02 – 02:12 – 6° dia do FSM) Revelação alquímica verbal. Ampliação, redução, corte. Montagem: conflito ou continuidade. Fragmentos formando um todo ou um todo formado de fragmentos. A pedra filosofal morre na busca. O encontro se encontra na impossibilidade do encontro, na busca se encontra a busca: a pedra de toque máxima possível. (01/02 – 15:30 – 6°dia do FSM)



CINEMA CAÓTICO, CARNE, SANGUE, PRISCILA VASCONCELOS E GREENAWAY. VISCERAL Texto e Ilustração: Priscila Vasconcelos

Uma zebra é uma animal branco de listras pretas ou preto de listras brancas? essa forma e com perguntas tão simples como perturbadoras é que Peter Greenaway constrói seu cinema onde basta uma simples pergunta para semear o caos. A explosão foi feita e por vezes não tem volta. No caminho podemos enumerar, catalogar e organizar as informações para tentar minimizar o estrago. Digo seu cinema pelas gigantes particularidades que o fazem um ícone do pós-cinema. Suas construções são feitas ao contrário, ou melhor, do princípio como o cinema deveria ser feito. Seu olhar é baseado nas imagens que por si constroem narrativas e não apenas uma sequência de imagens em movimento dependentes de um texto previamente estabelecido. A função das narrativas é da literatura diz Greenaway, que defende um cinema que possa partir de imagens antes de qualquer intervenção textual. Além de todo o discurso sobre o cinema como base, seus filmes são recheados de contradições, iluminação, corpos nus e pedaços de carne, arte, nascimento e morte, elementos da natureza, espelhos, números, catalogação e finais que os olhos não estão habituados a reconhecer no instante seguinte a próxima cena. Greenaway é o homem que faz um cinema que procura concatenar todas as artes especialmente a pintura, utilizando-se de uma herança de 2.500 anos de evolução das imagens e que anseia por uma linha de continuidade entre as novas tecnologias e o cinema; é o homem que afirma que vivemos 114 anos de texto ilustrado e que o

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cinema está morto, por isso não acredita num cinema imóvel e sim nas novas possibilidades que a tecnologia proporciona unidas ao olhar do mundo contemporâneo. É nesse percurso da tecnologia e da intertextualidade que criou seu projecto intitulado Tulse Luper Suitecases – A Personal history of Uranium. Uma mega iniciativa multimídia que utiliza-se de uma série de filmes longametragem, uma série televisiva, muitos DVDs, uma exposição das malas, uma série de VJ performances, um site, um jogo online, uma biblioteca de 92 livros e vários eventos de teatro, exposições e instalações. Seria a partir daqui, com todo esse uso de imagens da história da arte que poderíamos pensar em seu trabalho com um jogo de apropriação ou um mero pastiche histórico e bem interligado, no entanto, Greenaway utiliza os elementos de forma a desconstruí-los, não apenas como um jogo de citações pós-modernas, inútil e infértil, e sim como forma de processá-los de maneira a ganhar múltiplos olhares sobre sua obra. A conversa poderia expandir-se a limites inacreditáveis no que diz respeito a seu pensamento sobre o cinema como arte da imagem e suas relações com as tecnologias em expansão, que não mais permitem a passividade do cinema envolvendo assim a questão da inserção multimídia e da intertextualidade nos seus projetos. Fica aqui o desejo de conhecê-lo melhor no entanto, não se confunda se este texto parecer pesado e denso, com a absoluta qualidade dos trabalhos de Peter Greenaway. Seus filmes são deliciosamente atordoantes e perfeitos aos olhos e a mente.


ROMANCES DE CELULAR CRIAM NOVO PÚBLICO LEITOR NO JAPÃO, E APONTAM SOLUÇÕES PARA O MERCADO DA LITERATURA. NÃO DIGA ALÓ, LEIA! Texto: Elianna Homobono Fotos: Mutsumi Makino



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aixa de mensagem lotada de texto da operadora avisando promoção? Isso porque você não sabe com o que os japoneses estão ocupando os espaços de SMS naqueles celulares ultramodernos. Literatura, ou melhor, com o Kentai shosetsu – romance de celular. Histórias envolvendo amor, intrigas, traição e sensualidade são baixadas por capítulo nos aparelhos e acompanhadas a cada bip. Dentro do metrô, no meio da aula, durante um passeio, na lanchonete e até mesmo no banheiro, japoneses, e principalmente japonesas com até 20 anos, se entretêm com romances, ora inspirados em roteiros de mangá, ora com tramas que lembram os folhetins estilo Sabrina, que a gente encontra escondidos na biblioteca daquela tia solteira. Tudo escrito com a ponta dos dedos. A mania tem se multiplicado de forma exponencial no país da tecnologia, a tal ponto, que atualmente a cada 10 livros mais vendidos no Japão, cinco são edições impressas de kentais. Não é novidade que os japoneses têm tendência em fazer quase tudo via celular, incluindo usar como cartão de crédito ou como televisão portátil. Aqui, o curioso é como este novo suporte pode transformar a maneira de fazer e consumir a literatura, e no comportamento de

milhões de jovens, que passam o dia-a-dia acompanhando em telas de poucas polegadas capítulos, diálogos e desfechos escritos com apenas 120 caracteres por mensagem. Este é um dos motivos pelo qual o kentai assume importância para os negócios da literatura. O mercado que assumia uma queda de consumo de cerca de 20% ao ano, ganhou novos ares, e agora movimenta 82 milhões de dólares anualmente. Isso porque romances como Koizora (“Céu-Amor”, em tradução livre), da escritora Mica Naitoh, tem um mix de linguagem simples, frases curtas, utilização de emotions e enredo com drama juvenil. O fenômeno Koizora, baseado na vida de Mica, conta os conflitos de uma jovem homônima que se apaixona por Hiro após algumas ligações secretas se tornou sensação entre os jovens depois que Mica é abandonada sem explicações. Este é um dos exemplos de sucesso do Keitai entre os jovens. A garota que até então nunca tinha publicado nem um texto profissionalmente, tornou a história de sua juventude em record. Cerca de 160 mil dowloads foram registrados por dia, confirmando de uma vez por todas os rumos da leitura para o público contemporâneo, pelo o menos no Japão. J




E, ao contrário do que se pode pensar esta convergência entre as linguagens não dará fim a invenção do Alemão Gutenberg. As editoras já perceberam o nicho, e estão usando os keitais como nova seção em livrarias, não é a toa que Koizora vendeu 1,3 milhões de exemplares e se transformou em filme, além de estar na lista dos Best sellers em 2007. Alguns chamam estes textos e seus escritores de subliteratura por serem frases curtas, falta de ambientação dos enredos, precária descrição das cenas ou do fraco desenvolvimento de personagens. Mas a verdade é que a proximidade dos leitores com dramas envolvendo mistério, sexo e amores problemáticos têm feito com que os adolescentes dediquem mais tempo à leitura, agora através de um outro canal de distribuição, adequado às mudanças do nosso tempo. E, mais profundamente, reflete o próprio perfil atual do jovem japonês. Submerso entre a cultura conservadora e abertura das relações humanas, os Keitais afetam diretamente na ansiedade íntima dos leitores, que também podem se tornar escritores, basta escrever capítulos no teclado do celular. O embrião deste gênero iniciou em 2000. O primeiro romance de celular foi criado por um homem. Em 2000, um rapaz de codinome Yoshi, de Tóquio, passou a observar os estilos de vida de jovens em seu bairro. Teve então a ideia

de escrever Deep Love (Amor Profundo), um romance sobre o dia a dia de jovens em Tóquio, e publicá-lo num site para celular. A febre foi se desenvolvendo há sete anos com o site especializado nesse tipo público, Maho i-land. Hoje com 6 milhões de membros, o site já oferece aos visitantes 1 milhão de títulos que podem ser baixados em capítulos na internet móvel. O novo público leitor, que não costumava ler romances tradicionais é um dos pontos interessantes desse formato. Outra peculiaridade é o fato de escritores de publicações não conseguiram se adaptar e nem transformar seus livros em textos para celular. Ou seja, este é realmente o modelo de uma nova geração tanto de leitores quanto de escritores. Por isso, o jornal Mainichi lançou o “Prêmio para Romances de Celular do Japão”. Na edição, cerca de 2 mil títulos concorreram ao prêmio no valor de 2 milhões de ienes (quase R$ 32 mil reais). Se essa moda nipônica vai chegar em terras tupiniquins não se sabe ao certo. Algumas experiências já estão sendo realizadas por poetas desconhecidos, mas ainda não pode ser identificado como uma novela a la Manoel Carlos. O que podemos perceber são as transformações do público através do meio. Para o bem ou para o mal, moshi moshi ainda é alô em japonês.



バイバイ。


ROUPAS QUE VESTEM DE ESTILOS MUSICAIS ANTIGOS, MISTURADOS COM SONS ATUAIS, VIRAM TENDÊNCIAS FASHIONISTAS. Fotos: Katrin Kirojood








Modelo: Elizabeth Gartinger Make Up: Angelica Magnusson


Texto: Guilherme Pedreiro Foto: Diana Figueroa

Thiago, o único mínimo algo que posso fazer neste caminho que encontro e sou levado, é observar contemplando o que me cerca. O que me corta. E de todas as infinitas coisas-bichos e coisas-coisas que me interceptaram, e de outras que irão, além dos reencontros que acontecerão, você, definitivamente, é, ou foi, um destaque. Um destaque como algo que se sobressai em cores macias de um todo cinza gelado. Desde o primeiro olhar em meio ao caos urbano há tantos anos atrás, mesmo sem saber, eu sabia. Daquele encontro, daquele ele, sairia algo a mais. Até que algo a mais aconteceu, e eu soube com consciência de mim que algo existia ali. Ali entre eu e você, assim, no ar. Para esse algo não me atrevo a dar nome. Não sou capaz de matar algo vivo. Em você, pelos seus olhos brilhantes e gestos delicados, eu senti profundos fundos. Fundos claros cheios de importâncias. E eu nunca mais parei de observá-lo. Tal como faço a mim mesmo, e a tudo que posso me atentar e abraçar com importância. Vendo, contemplando, morrendo junto. Como olhar uma planta crescendo, sem ver com os olhos da face. Mesmo a distância física, me mantive próximo sem fazer questão. Assim, de graça. E não sei como aquele peixinho que vivia profundo se tornou tão raso, sem simples importâncias recheadas de memórias. Consigo, nitidamente, ver a sua direção, como uma seta que aponta, mas não alcanço o sentido. Aquele ele de antes se esqueceu no esquecimento de si mesmo, como um pai que não se lembra que já foi criança. Os olhos vivos que existiam ali se tornaram, gradativamente, opacos. Quase secos. Olhos, estes, que são os olhos mortos daquele garoto que se estremeceu em desdobramento de si, em seu primeiro beijo que lhe deu um novo horizonte. Um outro estar-ser. Me dói. Dói dentro, ver um morto sem memórias. Um morto que mora em mim. Queira sim, queira não. Um morto que do limbo do esquecimento revela desdém ao ser-eu que lhe traz um sorriso. E que é jogado do outro lado do mundo, sem sair do lugar, pela força de um “oi” e um abraço tão gelados e ocos como a ilusão da abstração ou o limitar do puro amar. Você-eu morreu seco em mim. E somente as águas do tempo para revive-lo, junto ao seu novo eu. Você. Se for o caso de ser. Thiago. Eu vi, e senti, e vivi, uma de suas mortes.



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