7 minute read
“Queremos ajudar as empresas e os empreendedores do sector alimentar a criarem os alimentos, bebidas
ALIMENTAR
“Queremos ajudar as empresas e os empreendedores do sector alimentar a criarem os alimentos, bebidas e ingredientes de amanhã”
A CFER Labs - Centre for Food Education and Research nasceu com o propósito de servir a indústria alimentar e poder ajudá-la a ser mais inovadora, de forma mais célere, oferecendo serviços de investigação e desenvolvimento científico aplicados à indústria. Daniel Abegão, fundador e responsável da CFER Labs, fala com a Grande Consumo sobre a visão da sua equipa sobre a alimentação e como, através das suas spin-offs e projetos com os clientes, com foco claro nas novas tendências de mercado - saúde, funcionalidade, alimentação orgânica e sustentabilidade -, a CFER Labs - Centre for Food Education and Research é a parceira em pesquisa, desenvolvimento e inovação.
TEXTO Bárbara Sousa FOTOS Shutterstock/D.R.
ACFER Labs - Centre for Food Education nasceu com o propósito de fazer formação na área alimentar, mas sempre contemplando a investigação e o desenvolvimento aplicados à indústria. A visão da equipa, suportada por uma formação académica e industrial, consiste em trazer soluções ganhadoras a uma indústria que sofre, atualmente, uma das maiores revoluções das últimas décadas, notoriamente, ao nível da procura de produtos mais saudáveis e mais transparentes por parte dos consumidores. “Queremos ajudar as empresas e os empreendedores do sector alimentar a criarem os alimentos, bebidas e ingredientes de amanhã, com foco no sabor, na saúde, na inovação e na transparência”, explica Daniel Abegão, fundador e responsável da CFER Labs - Centre for Food Education. “A nossa formação é, sobretudo, virada para a análise sensorial e produção técnica de bebidas, como vinho, sidra ou cerveja, contemplando uma notória componente técnica e laboratorial, que nos diferencia. Lecionamos também módulos de harmonização de vinhos e cervejas com menus, um tema que desperta a atenção, sobretudo, de profissionais de cozinha, como cozinheiros, chefs, sommeliers ou chefes de secções de bebidas, de forma a melhor poderem servir o seu cliente”. Ainda no campo da formação, em particular, e tendo em conta os tempos que correm, a CFER Labs está a preparar uma plataforma de formação online, onde pretende lecionar módulos como análise sensorial, produção de bebidas e alimentos, harmonização de vinhos e cervejas, gastronomia molecular, entre outros, disponibilizando a oferta para todo o mundo.
Laboratório em Alcobaça
Desde 2018 que a CFER Labs cria ou otimiza produtos no seu laboratório em Alcobaça. Segundo Daniel Abegão, tem sido uma jornada estimulante, marcada por desenvolvimentos ao nível de refrigerantes, vinhos, kombuchas, destilados, chocolates, frutas, molhos, sobremesas, queijos, entre outros, incidindo sobre a criação e otimização dos produtos, mas também sobre a sua estabilidade em prateleira, industrialização e certificação. “Já desenvolvemos produtos para empresas líderes do mercado nacional nos sectores do azeite, vinhos, molhos e refrigerantes, produtos esses com uma ótima performance comercial e cuja recetividade dos consumidores nos agrada enquanto ‘criadores’. Muito do nosso trabalho, porém, incide sobre o apoio a equipas de empreendedores ou pequenas empresas que têm uma visão e um plano para inovar e serem distintos pela audácia e qualidade, tipicamente focados em estratégias de nicho de mercado internacional e com uma estratégia comercial a dois a cinco anos, o que remete para lançamentos, e consequente impacto no mercado, não tão céleres quanto as colaborações com empresas de maior dimensão. No entanto, estes projetos trazem- -nos um prazer acrescido, pela criatividade associada ao processo de I&D”, comenta. Um exemplo é o projeto Faux, a nova spin-off da CFER que se propõe a desenvolver alternativas 100% vegetais e sustentáveis a produtos de origem animal, tais como os ovos, o leite, a carne, os enchidos ou a manteiga. E onde conta já com o desenvolvimento do ovo 100% vegetal, produto com base em leguminosas que recria o sabor e perfil nutricional do ovo sem qualquer vestígio animal. Mas, apesar de se tratar de um projeto que promove a adoção de uma dieta mais rica em vegetais, com redução do consumo de proteína animal - uma das formas de reduzir a pegada carbónica -, não contempla a alternativa de carne cultivada em laboratório. O responsável justifica que o desenvolvimento dos seus produtos assenta, necessariamente, num respeito pelas matrizes dos produtos originais derivados dos animais, utilizando, exclusivamente, processos e produtos naturais. “Sabemos da crescente procura por este tipo de alimentos vegetais, aspeto promovido pela crescente popularidade de um estilo de vida ‘plant-based’ e por uma maior consciencialização do indivíduo sobre o ambiente. Ponderámos que o cultivo de carne em laboratório poderia não ser nem a forma mais natural de providenciar uma alternativa natural a estes alimentos de origem animal, nem a forma mais célere de colocar estes produtos no mercado, inclusive, explorando esta questão em parceria com a Escola Superior de Biotecnologia do Porto”, refere Daniel Abegão.
Packaging comestível
Os plásticos de utilização única – tais como os pratos, os talheres e as palhas – serão proibidos na Europa a partir de 2021, pelo seu impacto a nível ambiental, e a área alimentar não é exceção. Assim, as indústrias estão lentamente a reinventar-se, apresentando soluções alternativas ao plástico feitas de madeira ou compósitos biodegradáveis. Wiggler, outra das spin-offs da CFER Labs, vem trazer soluções comestíveis e alternativas ao plástico utilizado no sector alimentar. Especificamente, apresentou a primeira colher de café comestível do mercado, 100% feita a partir de ingredientes naturais e com a forma de um “sticker” de café. “Sentimos que havia a oportunidade de criarmos valor nesta área, apresentando alternativas a estes plásticos que fossem, simultaneamente, comestíveis e funcionais e, por definição, biodegradáveis. Com este projeto, queremos manifestamente assumir uma posição de vanguarda no sector, trazendo um elemento de criatividade e sustentabilidade ao desafio da substituição da mono-utilização. Em paralelo, acreditamos que o conhecimento que estamos a gerar nesta área possa vir a ser de interesse para indústrias de plásticos que necessitem de criar alternativas na sua produção e que poderão ver neste tipo de produtos uma inspiração para o futuro das suas indústrias”, afirma o fundador da CFER Labs. Trata-se de uma alternativa sustentável à utilização de derivados de plástico para mexer o café ou o chá, podendo ser utilizada em casa, no canal Horeca ou em ambiente de trabalho. É um produto que ficará disponível em dois sabores, feito 100% a partir de ingredientes naturais e fácil de utilizar. No “universo Wiggler” encontram-se, ainda, as palhinhas comestíveis e os copos de café comestíveis, que estão a ser desenvolvidos paralelamente a essa solução. “No futuro, consideramos estender a nossa investigação para outras soluções comestíveis e para a criação de bioplásticos que possam servir outros fins industriais do sector alimentar e não alimentar”, continua. Quanto ao “shelf-life” do produto comestível, Daniel Abegão garante que qualquer receita que desenvolvem tem sempre, como ponto central, a garantia de ter uma durabilidade de prateleira elevada. “Nenhuma destas soluções tem menos de seis meses de durabilidade e procuramos melhorar estes valores”.
Futuro da inovação
Para o responsável, os dois pontos onde os consumidores mais procuram inovação, neste momento, são na identificação de alimentos que “promovam” a imunidade (se bem que há todo um complexo sistema a afetar a resposta imunitária) e os modelos de negócio da distribuição, inovar na forma de fazer chegar os alimentos ao consumidor. Em relação ao primeiro ponto, há uma área “muito entusiasmante” do sector da investigação académica que relaciona a dieta com a forma como a imunidade se desenvolve e quão favoravelmente, ou não, se consegue responder a uma nova doença. “Este assunto nunca esteve tanto em voga pela atual crise de saúde. Penso que a sociedade, talvez por desconhecimento, dá pouca importância à qualidade da alimentação e como esta impacta o nosso dia-a-dia, a nossa qualidade de vida e a nossa longevidade”, diz o responsável. “Julgo que, em Portugal, temos condições de promover um estilo de vida alimentar muito mais saudável do que aquilo que temos vindo a fazer. Se aliarmos a qualidade dos nossos alimentos sazonais à riquíssima tradição gastronómica, alicerçados em manobras de comunicação eficazes e que alertem para como e quando consumir, melhoraríamos substancialmente alguns índices preocupantes de doença, como a obesidade ou a diabetes. Também aqui há lugar à inovação”, conclui.