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NULÍPARAS E A EFICIÊNCIA PRODUTIVA DO PLANTEL

Cesar Augusto Pospissil Garbossa Laboratório de Pesquisa em Suínos da FMVZ/USP

Osucesso da indústria suinícola depende fortemente do desempenho reprodutivo do rebanho, o qual é um fator crítico para a rentabilidade da produção.

Com o objetivo de alcançar o desempenho produtivo adequado, a preparação das futuras matrizes é de extrema importância, haja vista as marrãs geralmente serem o maior grupo etário dentro do plantel, e o desenvolvimento delas afetar o desempenho reprodutivo geral, a estrutura etária, a reposição, a longevidade e a produtividade do rebanho e os custos de produção.

Nesse sentido, a introdução bem-sucedida de marrãs de alta qualidade no plantel de reprodução é um fator crítico para assegurar a eficiência produtiva do plantel.

Ou seja, a seleção genética e o aprimoramento do desenvolvimento das marrãs são maneiras eficazes de melhorar o desempenho reprodutivo geral do rebanho.

Para maximizar a eficiência produtiva das nulíparas suínas, é importante considerar a seleção cuidadosa de fêmeas a serem introduzidas no plantel.

As práticas de manejo das leitoas de reposição, desde o nascimento, têm o potencial de influenciar o desempenho reprodutivo futuro do rebanho. Um programa adequado de manejo de marrãs de reposição deve abordar vários componentes, incluindo:

Traços de nascimento que determinam a e ciência da produção da marrãs de reposição

Seleção efetiva das marrãs mais férteis para entrada no rebanho de reprodução

Os descartes precoces devido ao baixo desempenho reprodutivo do rebanho, na maior parte das vezes, estão associados à preparação inadequada das marrãs, desde o nascimento até a entrada no rebanho de reprodução.

De uma forma geral, recomenda-se taxas de reposição de 45-55% para rebanhos comerciais. Em granjas núcleo, é necessária uma taxa de reposição mais alta, para transferir ganhos genéticos mais rapidamente.

Programas efetivos de manejo que forneçam um pool consistente de marrãs elegíveis para a cobrição, considerando questões de peso, maturidade siológica e estado metabólico positivo no momento da reprodução.

Mas, idealmente, a reposição em rebanhos comerciais é menor, para explorar ao máximo o potencial reprodutivo das porcas.

A longevidade das matrizes suínas é definida como o número de dias desde o primeiro parto, até a remoção do plantel.

A produtividade ao longo da vida é o número total de leitões produzidos durante a vida útil de uma fêmea. A paridade média de uma fêmea no momento do descarte tem sido usada como um indicador da longevidade.

Somado a esse fato, a estrutura etária (ordem de partos - OP) do plantel reprodutivo está intimamente relacionada à eficiência produtiva, uma vez que o desempenho reprodutivo em cada paridade é diferente.

Uma alta paridade média no momento do descarte tem sido associada a uma alta produtividade do plantel de reprodutores, enquanto uma paridade média menor no momento do descarte, aumenta as despesas com a substituição de matrizes jovens e cria subpopulações de animais de baixa paridade, com baixa resistência a doenças.

Quando a paridade das matrizes está entre 3 e 5, o desempenho reprodutivo atinge o pico e, em seguida, a eficiência de fertilidade diminui gradualmente.

Maiores taxas de descarte de leitoas resultam em uma estrutura de rebanho menos eficiente. Para manter um número relativamente estável de fêmeas e a distribuição de paridade, é necessário aumentar o pool de marrãs, o que eleva o custo da produção de suínos.

Nesse sentido, aumentar a porcentagem de porcas com paridades mais altas tem um efeito positivo nos custos de manejo do rebanho, garantindo uma preparação adequada das marrãs, o que minimiza o custo de produção associado a uma alta taxa de reposição.

O perfil de OP afeta o desempenho biológico e econômico do plantel, dessa forma, a falha em produzir cinco leitegadas ou pelo menos três, representa uma perda financeira significativa para o produtor e uma grande preocupação para a indústria suína.

Compreender os fatores que influenciam a estrutura de paridade e a capacidade de manipulá-los é fundamental para otimizar a lucratividade a longo prazo na produção de suínos.

As diferenças na longevidade das matrizes suínas podem ocorrer principalmente devido às diferenças na preparação das marrãs. Nesse sentido, alguns critérios devem ser considerados para a preparação adequada de uma marrã de reposição.

Alguns pontos, já ao nascimento das leitoas, devem ser considerados.

Por exemplo, sabe-se que tanto o peso individual ao nascer, quanto o peso total da leitegada, bem como a proporção dos sexos dos leitões nas leitegadas, são fatores que podem predizer o desempenho futuro das marrãs.

Portanto, é interessante implementar o manejo de transferência de leitões em todas as futuras fêmeas de reposição e reduzir o tamanho da leitegada em que as fêmeas de reposição são criadas, o que pode aumentar o crescimento geral, melhorar o desenvolvimento precoce dos órgãos reprodutivos e, assim, aumentar a longevidade e o desempenho delas.

O aumento do tamanho da leitegada é uma característica inversamente proporcional ao peso ao nascimento, dessa forma, leva a um aumento na proporção de leitões com baixo peso ao nascer, o que tem consequências negativas para o crescimento, produção e longevidade das matrizes.

O baixo peso ao nascer em fêmeas de reposição compromete a capacidade de crescimento delas, produção e longevidade futuros, tornando-se um fator limitante para o desempenho reprodutivo e econômico dessas fêmeas.

Leitoas com baixo peso ao nascer têm maior mortalidade pré-desmame e crescimento menor, levando a um potencial reprodutivo comprometido. em leitegadas de baixo peso possuem os mesmos riscos de expressar essa característica em suas próprias leitegadas.

Essas leitoas também apresentam populações diferentes de folículos no ovário, comprimento vaginal mais curto aos 150 dias de idade e menor ingestão de colostro.

O baixo peso de leitegada também está associado às características de crescimento intrauterino retardado (CIUR). Ainda, fêmeas suínas nascidas de uma matriz com baixo peso de leitegada têm menor retenção no rebanho.

Dessa forma, as leitoas derivadas dessas leitegadas de baixo peso não devem ser selecionadas, objetivando aumentar a eficiência da produção das marrãs de reposição e, também, reduzir o risco de transmitir a característica desfavorável de baixo peso ao nascer para os descendentes.

Outro fator que deve ser considerado ao nascimento é a proporção dos sexos da leitegada em que a fêmea de reposição nasceu, pois essa característica pode afetar o desempenho e comportamento dela ao longo da vida.

As fêmeas nascidas em leitegadas com predominância masculina são expostas a níveis mais altos de andrógenos de seus irmãos no útero, o que as masculinizam. Essas fêmeas têm maior probabilidade de ter menor sucesso nas cobrições, menor número de leitões nascidos e menor número de tetas, em comparação com fêmeas nascidas em leitegadas com predominância feminina.

Além disso, fêmeas masculinizadas têm maior probabilidade de exibir comportamentos masculinos, ser agressivas e ter vida produtiva mais curta. A distância anogenital pode ser usada como um indicador de masculinização em fêmeas suínas e pode ser considerada ao selecionar futuras fêmeas de reposição para melhorar a produtividade.

Manejos que podem identificar leitoas com o maior potencial de desempenho ao longo da vida são cruciais para a produtividade dos sistemas de produção.

Deste modo, a implementação de um sistema de preparação de marrãs eficaz é o ponto de partida fundamental para selecionar leitoas com o maior potencial reprodutivo.

A presença de machos reprodutores é um fator crítico para que as leitoas atinjam a puberdade. Assim, as marrãs devem ser expostas diariamente a machos maduros e de alta libido.

O efeito do macho é uma combinação de sinais táteis, visuais, auditivos e olfativos, sendo os sinais olfativos os mais importantes. Recomenda-se o uso de machos com pelo menos 10 meses de idade para garantir a secreção adequada de feromônios.

O contato direto com o macho é mais efetivo do que o contato por meio de cercas na indução da puberdade. Além disso, a libido do macho é um fator importante e a exposição diária a uma rotação de machos maduros, por pelo menos 10 a 15 minutos, maximiza a resposta ao componente "priming" do efeito do macho.

Ainda, o esgotamento dos machos é um fator que pode contribuir para a manutenção da libido.

Dessa forma, o planejamento de substituição dos machos é fundamental, a fim de assegurar rufiões com alta libido e com capacidade de estimulação da puberdade das marrãs

Para maximizar o desempenho reprodutivo das fêmeas suínas, é fundamental estimular a puberdade cedo o suficiente para que os produtores possam planejar:

Peso

Número de estros e

Estado metabólico adequados antes da cobertura.

É importante ressaltar que o tamanho da leitegada de fêmeas de primeira e segunda ordem de parto são um preditor do desempenho ao longo da vida útil das fêmeas suínas, e o manejo adequado dessas fêmeas no momento da primeira cobertura, pode melhorar o tamanho das leitegadas e trazer efeitos benéficos durante a produção delas ao longo da vida.

O manejo inadequado da fêmea suína antes da cobertura pode limitar a capacidade das porcas em produzir leitões em paridades subsequentes, tornando essencial a atenção ao manejo de preparação de marrãs.

Em relação ao peso, recomenda-se que as marrãs sejam inseminadas por volta de 135 a 150 kg.

Nesse sentido, a recomendação de ganho de peso diário, do nascimento ao momento da inseminação, fica entre 600 a 700 g, o que está atrelado ao fato de que alguns pesquisadores apontam que uma massa corporal superior a 180 kg após o parto é protetora contra os efeitos prejudiciais da perda de tecido magro durante a primeira lactação, sobre o desempenho reprodutivo subsequente.

Atrasar a cobertura para o segundo cio tem um efeito positivo no tamanho da leitegada e é uma prática comum na indústria. Esse aumento no tamanho da leitegada ocorre devido à melhoria na taxa de ovulação após a puberdade. Marrãs cobertas no segundo cio tendem a produzir 1,2 leitões a mais após quatro leitegadas, em comparação com as cobertas no primeiro cio.

Embora alguns autores sugerirem que o peso seja correlacionado com o número de ovulações, nem sempre as marrãs mais pesadas são mais produtivas.

O peso excessivo pode levar a problemas de locomoção e longevidade, além de uma diminuição na taxa de parto. Ainda assim, é importante monitorar o peso das marrãs para atingir o peso alvo e garantir um bom desempenho reprodutivo.

Considerando a idade fisiológica para a cobertura de marrãs, recomenda-se que a detecção de seu primeiro cio e o número de ciclos estrais sejam usados como critérios, em vez de sua idade cronológica.

Não há melhoria no tamanho da leitegada ou na taxa de parto ao atrasar a cobertura além do segundo cio. Portanto, a cobertura além do segundo cio deve ser implementada apenas para alcançar as metas mínimas de peso de cobertura aceitáveis, pois o acúmulo de 21 dias adicionais não produtivos pode não ser compensado por um aumento no tamanho da leitegada

Após a detecção do primeiro cio, as marrãs devem ser aclimatadas às celas de gestação, com pelo menos 16 dias de antecedência da cobertura.

A redução da ingestão alimentar em marrãs pré-púberes impacta de forma negativa o sistema reprodutivo e leva à inibição da secreção de LH dentro de horas após a mudança das marrãs de uma alimentação ad libitum para uma alimentação de manutenção.

Assim, os mecanismos de preparação que sensibilizam o ovário para estímulos de indução da puberdade são afetados pelo estado metabólico dinâmico da marrã. Portanto, é importante manter uma alta ingestão alimentar entre o primeiro e o segundo cio para apoiar um aumento maturacional na taxa de ovulação.

A ingestão adequada de energia durante a fase luteal do primeiro ciclo estral é crucial para maximizar o desempenho reprodutivo em marrãs, pois a restrição alimentar possui efeitos negativos sobre o ovário, reduz a ovulação e, consequentemente, o tamanho potencial da leitegada de marrãs cobertas no segundo cio.

Considerações finais

Fica claro que o manejo adequado de marrãs de reposição é um componente fundamental para a gestão do plantel, e representa o ponto de partida basal para a fertilidade e longevidade futura do rebanho de matrizes.

Um bom manejo de leitoas inicia no nascimento, uma vez que a leitegada de origem, o manejo da lactação e a aplicação de estratégias de seleção precoce são indicadores iniciais do desempenho e eficiência futuros.

A seleção de leitoas com o maior potencial para o desempenho de toda a vida é crucial para a produtividade dos sistemas de produção convencionais.

A prática de mover as marrãs para celas individuais, imediatamente antes da cobertura, inevitavelmente interromperá a ingestão alimentar normal e afetará adversamente a preparação crítica.

Isso pode ser alcançado por meio da implementação de programas eficientes de preparação de marrãs, que identifiquem leitoas com o maior potencial reprodutivo, limitem os intervalos entre as entradas em serviço e assegurem que as leitoas alcancem o estado fisiológico e metabólico apropriado no momento da cobrição.

Como um bom manejo de marrãs pode, em grande parte, resolver a lacuna existente entre o excelente potencial genético e a produtividade modesta total das matrizes, normalmente alcançada na indústria, o investimento em programas de desenvolvimento de leitoas representa uma oportunidade fundamental para melhorar a eficiência da produção de suínos.

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