Boteco da Diversidade: Juventude e política, 2018

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SETEMBRO

JUVENTUDE E POLÍTICA


BOTECO DA DIVERSIDADE: JUVENTUDE E POLÍTICA O Boteco da Diversidade é uma iniciativa que se dispõe a ampliar a visibilidade política e artística de ações e assuntos vinculados à diversidade cultural e à defesa dos direitos humanos, ampliando as vozes de artistas, ativistas e pesquisadores. Em setembro, o Boteco retorna com incentivo às discussões sobre as formas de ação e reflexão propostas pelos jovens quando se trata de política, atravessando e ultrapassando os aspectos partidários e de administração pública, trazendo as discussões e vivências para os níveis da coletividade, da colaboração e do afeto.

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Desde 2013, desenha-se um período de efervescência política ímpar no Brasil. O acirramento da polarização do espectro político no país veio acompanhado de uma grande crise, que colocou em xeque a credibilidade de todo o nosso sistema de representação. A partir das chamadas “Jornadas de Junho” – conjunto de manifestações iniciadas contra o aumento das tarifas de transporte público –, o país vive um expressivo movimento de conflito de consciência política em diversos setores sociais. Esse movimento evidencia uma crise de representatividade, na qual as insatisfações com as desigualdades expressas pelas formas da democracia participativa criam uma enorme disputa pelo controle das narrativas. No caso brasileiro, pode-se identificar, por um lado, movimentos anti-institucionais – muitas vezes, antipolíticos – e, de outro, articulações de reivindicações pela ocupação de lugares estratégicos na política partidária e na organização da sociedade civil por parte de membros dos grupos


mais vulnerabilizados da sociedade, notadamente pessoas jovens, negras, indígenas, periféricas, pobres e LGBTQI. O protagonismo da juventude – e principalmente a liderança das jovens mulheres e meninas – nos movimentos sociais renovou não só as pautas, mas também as formas de organização e reivindicação, horizontalizando os procedimentos e as tomadas de decisão, feitas sempre de forma coletiva. A ocupação física de prédios públicos e escolas, a retomada do ativismo de protesto nas ruas, a capacidade de auto-organização, são exemplos de uma ressignificação importante daquilo que é fazer política. Ao trazer para o corpo as formas de expressão política que até então estavam mais presentes apenas nos discursos, os jovens nos ensinam que é possível – e urgente – que consigamos unir a potência das ruas e das redes para a construção de uma sociedade mais justa, participativa e plural. Neste material, elaborado e editado pelo coletivo Contrafilé, você encontrará uma série de criações e diálogos de jovens sobre a política – sobre as corporalidades, as linguagens, as práticas e os sonhos aos quais ela está vinculada. Com 3Palitos, ColetivA Ocupação, Contrafilé, Coletivo Ilhas, Morada da Liga, Lute como uma menina (Flávio Colombini e Beatriz Alonso), Nós Movimenta, TIMOL – Teatro Infantojuvenil Monteiro Lobato, Viração, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Oz Guarani, entre outros.

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PLANEJAMENTO DO ENCONTRO Momento 1 [Na mesa-lousa] Apresentação do Grupo Contrafilé e daquilo que é política para nós O que é política para nós? Corpo político Política como gesto A política como ativação do político e não um “falar sobre algo” Palavras-corpo Encontros, alianças, assembleias e parlamentos de corpos.

Momento 2 [Na mesa-lousa] Rodada de depoimentos Cada um se traz a partir das questões: O que é política para cada um? Qual a relação da política com o corpo? O que é um corpo político? O que pode um corpo político? O que faz um corpo político?


31/08 Momento 3 [Roda no chão] Um convite para poesia Diante de todos os vetores e forças que foram nos atravessando e nos conectando neste encontro, que outras imagens, gestos, textos podemos trazer para esta roda? O que ainda não foi dito? Alguém quer apresentar um poema, trazer um gesto?

Momento 4 [Roda no chão] Fechamento Proposta feita por Vivian Belloto: cada um colocar no centro da roda um gesto, um movimento ou um objeto que carregamos e que diz de nosso corpo. O que nos acompanha? Com o que andamos?


Este material é resultado de um encontro entre o Grupo Contrafilé e quinze jovens que aceitaram o convite para pensar junto o que é política para cada um. Em seus corpos pretos, feministas, surdos, trans, periféricos, foram nos mostrando muito daquilo que para elas e eles é importante falar, pensar e ativar hoje. Grupo Contrafilé (Joana Zatz Mussi): A gente pensou no seguinte: se estamos falando de juventude e política, queremos pensar aqui, com vocês, o que a gente, como grupo, está entendendo por política... o que é política para nós? Eu vou começar falando deste tipo de imagem:

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Esta imagem, assim como outras que trouxemos aqui hoje, fala de algo que estamos chamando de um “corpo político”. E isso porque estamos entendendo a política não como uma política abstrata feita em lugar nenhum.


E para nós, os congressos, os parlamentos, as assembleias, do modo como estão hoje, depois de uma história de alguns séculos, são lugares desincorporados. Ou seja, quando olhamos para esses lugares, não conseguimos ver corpo ali. O que vemos são palavras esvaziadas de corpo. Então, esse tipo de gesto [mulher atirando pedra] evidencia onde está a política. Para nós, a política é acontecimento, ela é quando ela é, então não venha me dizer que qualquer coisa é política... nós estamos pensando muito nisso. A política tem que ser incorporada, porque, se não for, simplesmente não é nada e, nesse sentido, não transforma o mundo. Agora é a vez da Cibele... Grupo Contrafilé (Cibele Lucena): A Joana falou do gesto, eu vou falar do encontro, que pra gente também é política. Trouxemos aqui algumas imagens que falam de como produzir encontro, conexão e rede partindo do corpo, o que nos permite aproximar o que atravessa. E isso que atravessa é onde a gente se encontra. Inventar a possibilidade de se encontrar, se conectar, fazer aliança, como acontece no Slam do Corpo [batalha de poesias que acontece com poetas surdos e ouvintes, língua de sinais e língua portuguesa], na conexão surdo-ouvinte, ou aqui, nesta multiplicidade de gentes. Produzir espaço para o encontro é também onde entendemos que está um fazer político e poético. A Joana falou dos espaços tradicionais da política, das assembleias, dos parlamentos, como lugares esvaziados de corpos – e são também exterminadores de corpos –, e, desde muito tempo, nós pensamos como, por outro lado, podemos produzir espaços que carreguem uma força de transformação e proliferação da vida que sejam outros modos de parlamentos e assembleias. Podemos dizer que isso que está acontecendo aqui é um parlamento que inventa e pensa o que é política hoje. Anos atrás, criamos um 07 pequeno texto que apresenta essa ideia, vou lê-lo agora:


Assembleia Pública de Olhares sf. 1. Encontro de pessoas com o fim de compartilhar o que as paralisa ou mobiliza; encontro de intimidades; 2. Criação coletiva de perguntas e exercício de dar nome às urgências; lugar de aprender e ensinar; 3. Prática coletiva de escuta-ativa que leva à produção de imagens resultantes de uma experiência na qual o comum se faz possível; 4. Invenção de tempo e espaço para o dissenso; afirmação de singularidades cocriadoras de realidade; 5. Mobilidade interna; disponibilidade para relacionar-se com inteireza; 6. Descondicionamento de padrões repetidos; mudança de hábito; 7. Movimento de desatar os laços sociais previstos pelo Estado de Confinamento, espaço para relações proibidas; 8. Estado manifesto de criação; 9. Um refúgio para devires-revolucionários.



Grupo Contrafilé (Joana Zatz Mussi): E para vocês? O que é política? Qual a relação da política com o corpo? O que é um corpo político? O que pode um corpo político? O que faz um corpo político? Jonathan Santos: Sou da zona sul, Pedreiras. Eu até coloquei aqui no meu espaço de papel: “mente não é corpo?”. Porque a gente separa as duas coisas. Mas acho que o nosso corpo é essa totalidade, e ele movimenta. E o problema dessa política atual é que nela existe só um tipo de corpo e, logo, só um tipo de mente. Uma mente quadrada, uma mente velha, que não se movimenta, é um corpo que não se movimenta e quer engessar os outros corpos a partir desse padrão que é estabelecido. Então as coisas estão muito interligadas. Quando eu mexo meu corpo eu estou fazendo política, porque assim eu posso mexer as ideias, e é exatamente isso que essa política velha, branca, de homens aristocratas ricos não quer, querem engessar o nosso corpo para deixá-lo parado. Eu estava vendo esses dias um clipe que falava do ritmo, de como tudo tem ritmo, som, movimento e como em algumas culturas africanas, indígenas, esse ritmo faz parte da vida, está intrínseco. Quando vamos para culturas mais ocidentais, vão se desvinculando as coisas, e o ritmo vai sendo tirado desse lugar para ser colocado em um lugar espetacular. E eu estava pensando nisso, no quanto querem tirar isso da gente, essa nossa movimentação, e colocar num lugar X ou num lugar Y. Para mim, política é isso, é movimentação e a totalidade desse corpo.

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Sol Almeida: Estou tentando me desligar da ideia de falar de angústia, porque temos feito isso em diversos espaços e efetivamente nada acontece, então eu tenho parado para pensar mais nas possibilidades, e este encontro é um desses momentos. “O que pode um corpo político?” Tenho encarado isso como um estilo de vida, porque sou completamente dissonante enquanto gênero, expressão de gênero,


sexualidade, filha, vizinha... essa pergunta está em uma camada que é do corpo mesmo, é física, ter que lidar diretamente com o olhar da rua, lidar com a rua de um jeito totalmente diferente, como um território de luta mesmo, de guerra. Eu sinto que a cidade de São Paulo propõe pra gente uma falsa ilusão de que tudo é possível, porque é grande, diversa, multicultural, e nós ainda estamos vivendo em pequenos territórios e eu sinto que quanto mais essas expressões de identidade vão sendo diminuídas, engessadas, mais complexo fica, para nós, caber dentro da cidade, e aí vamos indo para as margens. Eu já tenho a experiência de ser marginalizada, porque moro numa margem da cidade, lá no Capão Redondo. Lá a gente fala sobre a falta de oportunidade para diversas coisas, principalmente por causa do transporte, que é um problema muito forte. Por isso mesmo estamos começando a travar guerra para poder estar em outros espaços, criar oportunidades para poder falar de nós, de mim, de que sou um corpo com um gênero não definido, de por que não me vejo representada em espaços de poder, falando não apenas como pessoa transgênero, mas como pessoa negra, então tenho enxergado política nesse lugar, de encarar as coisas enquanto uma necessidade tão urgente que não posso deixar para amanhã, preciso fazer agora. Jean Rocha: Política, para mim, do modo institucional, como a gente conhece, é muita vazia. Por isso é muito mais interessante quando falamos de política a partir do corpo, porque é no corpo que podemos tomar as nossas decisões. Eu gosto muito da expressão “ato político”, porque diz respeito a coisas que eu faço, pelas quais eu sou responsável e, portanto, que eu posso mudar diretamente. Pensando sobre isso, eu lembrei da primeira vez em que eu entrei no Sesc na minha vida... eu tinha dezenove anos, fui assistir a uma peça com a escola. Eu me lembrei da sensação que tive ao assistir a uma peça pela primeira vez e hoje pensei: “agora estou 11 indo de novo lá e tenho a oportunidade de refletir sobre isso...”.


Num primeiro momento, achei fantástico ter contato com tudo isso, todo esse universo cultural, mas depois de um tempo, pensei “opa, isso não é para mim”, porque cresci numa família que não cansava de dizer “isso é coisa de rico, isso é coisa de pobre, isso você pode, isso não”. Mas eu pensava que, se eu queria ser ator, precisava me acostumar a habitar esse espaço de forma confortável. Com o tempo, fui conseguindo estar de forma mais tranquila nesses espaços e percebendo o quão político isso é: transformar os espaços estando neles. Esse corpo periférico, marginali- zado, tem o poder de transformar os espaços. E ocupar esses espaços com nossos corpos periféricos é fazer política. A gente arrasta a favela nas costas e vai abrindo espaços para os próximos que virão.

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Wesley Matos: Tenho dezoito anos e sou engajado socialmente desde os treze. Participo de ações coletivas de revitalização de espaços degradados aqui na cidade, usamos metodologias colaborativas, vamos nas comunidades, conversamos e escutamos as pessoas e realizamos desejos coletivos. Quando eu era criança, participava dessas iniciativas sem saber direito a importância delas. Eu nunca tinha parado para pensar, tinha muita energia e precisava usá-la, eu me mobilizava, porque isso me dava uma alegria, porque ficava muito encantado com todas as histórias que eu ouvia e com tudo que aprendia com as pessoas. Comecei a me perceber como um “ser político” no período das ocupações estudantis que aconteceram aqui em São Paulo, fizemos muitas atividades educativas, conversamos muito de igual para igual, nós nos organizamos em sistemas horizontais bem diferentes do modelo educativo que temos hoje, engessado, no qual só o professor sabe das coisas. Nas ocupações, fizemos rodas de conversa, cuidamos uns dos outros, falamos sobre nossos direitos. E foi lá também que pude pensar sobre o racismo e todo o preconceito que sofri no ensino fundamental, quando estudava em escola particular. Todos os alunos, ou a grande maioria, eram brancos.


E sempre rolavam brincadeiras preconceituosas, comparações de cor, de tons de pele, que me deixavam muito frustrado, todos eram brancos e eu queria ser branco também. Conheci o racismo, mas não sabia combatê-lo, eu não sabia, na verdade, que era racismo. Então, hoje penso que um corpo político é um corpo envolvido e conectado com o que está em volta, a política está interligada com a convivência, com o ato de se encontrar com amigos para conversar ou celebrar alguma coisa, com o ato de se alimentar, se deslocar. Tudo isso pode ser atividade de um corpo político, porque tudo isso envolve luta por direitos. Nicoly Pinheiro Nascimento: Quando eu penso em política, penso muito na minha mãe. Ela é uma mulher que veio do Ceará com dezesseteanos de idade... sou filha de mãe solo, eu e meu irmão de dez anos, e penso, hoje em dia, em como uma mãe solo nos anos 2000 vivia no espaço de uma cidade nova, sozinha, com todo o trabalho que ela teve todos esses anos para sustentar a gente, e ela nem sabe disso. Até escrevi aqui: “eu crio voz para o meu corpo político e para o da minha mãe, porque ela não sabe que o seu corpo é político”. Se eu tiver uma conversa com ela sobre isso, ela vai entender, porque depois que eu comecei a ser feminista, ela se transformou muito, mas, mesmo assim, ela não vai compreender do mesmo jeito que eu, no sentido de que os meus traumas dizem quem eu sou. Quando olhamos para os corpos da favela, conseguimos enxergar coisas neles. E nós somos uma geração que está enxergando isso, mas a da minha mãe, não. E todas as marcas que ninguém nunca viu, eu tenho que encontrar voz para elas. Eu escrevo poesias por isso, eu saio de onde estou, pego ônibus, demoro mais de duas horas e meia para estar aqui com vocês, por isso. Sinto que tudo isso é político e que minha mãe me desejar sorte antes de eu vir também é político, porque mostra o tanto que ela fez para eu poder 13 estar aqui, agora.


Stefanie Vitoria Ribeiro Azevedo: Demorei um pouco para entender o que é política. Eu lembro que, quando eu era um pouco mais nova, numa prova, tinha essa questão, e eu sabia na minha cabeça, mas não sabia explicar. E eu percebi que, na verdade, eu tinha uma expectativa de acertar, porque estava pensando nessa política absoluta, que “é igual para todo mundo”. Eu deixei a resposta em branco, fui para casa e fiquei pensando. Na minha casa sempre houve essa atitude do tipo “não se pode discutir política, nem religião”, ou “só político fala de política...”. E eu, ali, percebi que não era justo, que eu precisava entender o que era política, e uma das primeiras coisas sobre as quais comecei a pensar era que muitas pessoas e o Estado acham que têm mais direito sobre o meu corpo que eu. A política, para mim, começou a ser essa compreensão dos meus próprios limites, do que quero e do que não quero, do que a minha mente e o meu corpo conseguem, ou não, a cada momento. Política é eu mesma poder me entender, me escutar. E tudo isso foi acontecendo também quando descobri que as pessoas negras e periféricas falam e fazem política de uma forma diferente da política dos homens brancos ricos que, até certo momento, eu achava que era a única, ou a normal. Essa nossa política torna possível eu me ouvir, eu me ver, e foi assim que comecei a ter clareza do que é ou não é sentir-se representada.

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Catharine Moreira: Eu sou poeta, faço teatro, sou engenheira. Para mim, política nunca foi um assunto muito fácil, porque começamos a ter acessibilidade para surdos há pouquíssimo tempo, tanto nos discursos oficiais, quanto naqueles alternativos, que muitas vezes não estavam na mídia, como dos feminismos, movimentos negros etc. Encontros como este, por exemplo, são muito importantes para mim, mas percebo que perdemos muito das discussões quando eles não têm acessibilidade. Por ter acesso em Libras [língua brasileira de sinais], e por promover o encontro entre ouvintes e surdos, o Slam do Corpo me possibilitou


muita coisa, porque conheci diferentes perfis de pessoas e diferentes tipos de informação. Lá, temos um grupo diverso de pessoas que atuam em distintos movimentos, e isso, para mim, foi muito bom. A minha área profissional cultiva um ambiente machista e há muito tempo me sinto oprimida, mas não sabia direito o por quê. Mas a arte tem me levado a entrar em contato com uma dimensão importante da política, que me ajuda a me posicionar de um modo que antes eu não saberia como.

O Slam me dá coragem, empodera o meu corpo. Por exemplo, outro dia meu chefe me disse que eu teria que fazer um treinamento, mas não teria intérprete de Libras para isso, e eu entendi que o meu direito estava sendo negado. Em um Torneio de Slams que aconteceu no último domingo, na Casa das Rosas, estávamos em um grupo de quatro pessoas representando o Slam do Corpo, convidadas por um poeta ouvinte para estar lá e também não tinha intérprete! E eu pensei: “De novo vou ter que passar por isso?” Então fizemos um poema-manifesto. Por exemplo, como jurados das poesias dos ouvintes, a gente dava uma nota baixa, porque não tinha entendido nada de uma determinada poesia, “então vou 15 dar a nota que eu quiser!”.


Ainda bem que, na sociedade em que a gente vive, existem alguns espaços para que as discussões não sejam tão limitadas dentro do padrão ouvinte, dentro do padrão branco. Mariana Ayelen: No ano passado, comecei a participar do Slam do Corpo e fiz uma poesia sobre a situação dos índios no Brasil. Várias pessoas vieram me falar que gostaram muito, me dizer que a minha poesia era política, e eu não tinha pensado nisso. Não entendi. Aí, eu comecei a ficar com esse questionamento, esse alerta, e a entender que essas discussões que venho travando há muito tempo, a luta por acessibilidade, por legenda nos filmes nacionais, são ações políticas. Isso me impulsionou a refletir, buscar ainda mais informações e espaços, conhecimentos e trocas. Fiz, depois disso, uma viagem para a Flup [Festa Literária das Periferias, que acontece no Rio de Janeiro] e lá eu vi muitos poetas, com suas poesias, que sempre traziam questionamentos políticos, seja a respeito das periferias, das favelas, do feminismo. E isso começou a me trazer mais e mais perguntas e sensações, foram dois dias em que fiquei chorando e pensando “por que as pessoas passam por isso?”. Naquele momento, eu estava aberta para ver tudo aquilo, e havia acessibilidade, pela primeira vez, em um evento como esse, para pessoas surdas. Aprendi muito. Acho que é isso que tenho neste momento para falar sobre o que é política para mim.

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Luana Milani: Sou professora de Libras e tenho me envolvido em ações políticas, principalmente através do Corposinalizante [coletivo de jovens surdos e ouvintes para realização de ações artístico-políticas]. Eu me enxergo como artista também de um tempo para cá. Estudo pedagogia porque quero dar aula para crianças, porque sinto que elas também podem fazer política. Muitos professores mantêm uma posição tradicional de superioridade, de impor barreiras, e eu, como surda, na faculdade, por exemplo, sinto que as pessoas não conhecem a minha realidade, o que significa acessibilidade,


o que é cultura surda, e me vejo no século XXI um pouco cansada de arregaçar as mangas e começar sempre tudo de novo. Fico até um pouco nervosa, porque tenho tido uma sensação durante toda a vida de estar sempre em um lugar “externo”, “longe”, algo como: “Ah, a arte, eu conheço a arte, mas ela está lá”, ou “a política? Sei, a política... mas ela está lá”. Fazer faculdade de arte? Não deu, e por esse motivo, por isso, tranquei. Fui fazer pedagogia porque imaginei que seria um ambiente de troca, que ali entenderiam melhor a questão da acessibilidade, da aprendizagem. Gente, foi muito pior para mim, ainda mais barreiras, os ouvintes muito fechados a isso. Não consigo achar um intérprete para me acompanhar no curso, e essa tem sido uma discussão com a faculdade, eu precisei dar bronca no pessoal, faltava ética por parte dos colegas da sala, meus colegas ouvintes diziam: “Mas por que você precisa disso? Você consegue, você é igual a nós...”. Sim, eu concordo, mas eu tenho algumas necessidades para poder me tornar igual a vocês. É uma dificuldade entrar no mundo dos ouvintes e além de tudo, ter que provar que eu tenho direito a oportunidades iguais. E, é muito difícil ter que explicar isso todos os dias. Hoje à noite eu vou para a faculdade e já estou me preparando para o que vou ter que enfrentar, porque parece que é sempre o mesmo... mas agora estou entendendo que esse é um movimento político e que, por isso, preciso continuar. Saliou Diouf: Nasci em Guediawaye, uma localidade de Dacar, capital do Senegal, em 1987. Desde a infância, fui um grande amante da bola. Na minha cidade há uma praia aonde eu ia todos os dias jogar bola com meus amigos. Quando cresci, passei a jogar futebol no time da cidade, depois mudei de time e só parei de jogar quando vim para o Brasil, com 26 anos. Aqui não jogo mais por causa da situação da minha família, por eu gostar de ajudá-los. Acho muito legal chegar aqui hoje e encontrar pessoas novas. Fico feliz, porque todo mundo me recebeu com vontade, todo mundo me sorrindo. 17 Para mim, politique é o conhecimento e o pensamento de cada um.


Cássia Quézia: Eu não me lembro quando foi meu primeiro ato político. Acho que a gente que vem da periferia, preto, pobre, estamos fazendo política a todo momento, mesmo sem perceber. Como no feminismo, como mulher, a gente não percebe, até receber um título para aquilo. Depois das ocupações das escolas, muita coisa mudou na vida de muita gente, e foi quando comecei a perceber, de fato, tudo o que eu fazia e a dar nome para as coisas. Voltei com o meu cabelo afro e entendi que aquilo era um ato totalmente político. Entendi que eu faço política com o meu corpo, não é só político que faz política. E a gente leva política para nossas casas, para pais que têm pouco estudo, então política é isso que fazemos todos os dias. Comecei a entender que eu sou política, não igual a “eles”, mas eu sou política. E a levar meu corpo para lugares em que eu não levava, ou querer habitar com meu corpo lugares nos quais eu achava que não podia estar, porque não eram para mim, mas, na verdade, fui percebendo que os lugares são para mim também. Quando a gente pensa em corpo, pensa em uma estrutura, mas não é somente isso. Às vezes, seu corpo pode estar ali, mas sua mente não está. Por isso, corpo é mais que isso, é habitar, preencher espaços. Eu quero preencher muitos espaços ainda, nos quais meu corpo ainda não conseguiu estar. Alguém também falou que política é convivência e eu concordo, porque é quando vou a lugares que as pessoas habitam com atos políticos, que consigo perceber que posso e faço política. Passamos a ter noção da possibilidade de fazer política apenas no momento em que paramos para pensar e conversar com outras pessoas.

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Layla Xavier: Por mais que a gente lute para ser quem somos, existe um trabalho enorme feito de várias formas, por todos os meios e lados, para que a gente não saiba quem a gente é, para que não sejamos quem somos. Então, quando falamos de corpo e liberdade, acho que isso é a chave da luta para que possamos ser quem a gente é.


E a base da mudança é a coletividade, porque não tem como fazer revolução sozinho. Eu fiquei muito feliz por ver essa imagem, que quero compartilhar com vocês: essa é a Casa de Cultura Tainã [espaço político de produção cultural e educativa e ponto inicial da Rede Mocambos – rede de produção de conhecimento e comunicação entre comunidades quilombolas – e da Rota dos Baobás], onde eu nasci e cresci e onde aprendi o que é ser livre. Estou vivendo um momento em que saí desse espaço, carrego ele em mim, mas estou morando aqui na cidade de São Paulo, que não é o meu território. E observo que essa cidade tem muitos problemas e conflitos, e uma séria dificuldade de lidar com isso com leveza. E vejo o quanto a espiritualidade é importante nesse sentido, porque acho que política é, antes de falar do problema, falar do sonho. Porque os problemas são muitos e em vários aspectos, mas nenhum problema é maior que o que a gente sonha, que aquilo em que a gente acredita. Partir desse princípio é, para mim, muito mais estratégico que partir desse panorama que está aí. Como eu sou, como sou livremente, como sou aceita e respeitada nessa sociedade, como construímos o mundo que a gente quer? Que mundo a gente quer? Porque juro, gente, para mim, é loucura viver aqui e me adequar ao que está posto, a essa cidade.

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Eu não quero me adequar a um problema que não é meu e nem nosso. Que foi inventado para favorecer alguns, que escravizou meus antepassados, eu não vou concordar. Estou falando isso, reconhecendo todas as dificuldades que estou tendo para viver aqui. Então, não basta só a consciência, ainda que seja todo um trabalho que tenhamos que fazer para libertar a consciência, primeiramente, de muitas pessoas que ainda acreditam na ilusão que foi posta. Dentro do meu território, a prática coletiva é muito mais fácil, muito mais natural de ser feita, do que quando estou aqui, onde me sinto sozinha. Por mais que eu reconheça que o mundo é uma escola, de fato, porque o que eu sou comunica e ensina, da mesma forma que aprendi e aprendo observando outras pessoas, aqui não sei por onde começar, não sei por onde continuar, não sei como, a partir de quando. Acredito que, quando estamos fortalecidos, comunicamos coisas boas, porque na vida já me deparei com pessoas incríveis que me ensinaram com pequenos gestos, com atitudes de cuidado, afeto, num sorriso. Mas, da mesma forma, aprendi muita coisa ruim sem perceber. Há bloqueios que me foram postos e, infelizmente, eu acreditei sem perceber. É muito inconsciente como essa comunicação é feita, e não nos damos conta, porque é muita informação. Quando ando na rua, vejo um monte de gente passando fome, ando mais meio metro e vejo três caídos no chão. Como ando fortalecida no meio disso? Como eu ajudo, como eu me ajudo, como a gente se ajuda? É a questão. Porque posso dar um pão e acabar com uma fome, mas uma fome que vai saciar uma hora e, daqui a uma hora, ele vai sentir fome de novo. E eu saciei a fome de um. Que já é uma grande coisa, mas não soluciona todo o problema. Temos o direito de não querer pensar nessas coisas, mas a verdade é que eu não consigo ficar em paz só pensando em mim e acredito que vocês também tenham essa preocupação. Outra coisa que penso que é política é estarmos aqui tentando construir algo coletivamente. Eu não acredito em um representante. Não acredito em dois representantes.


Mesmo que no congresso fossem quatrocentas pessoas livres nos representando, isso não é tudo ainda; e ainda que este seja um trabalho de muito tempo, porque, de fato, eu entrar como uma deputada negra... posso me chamar Marielle e morrer com um tiro na cabeça, mano. “Eles” esperam que a gente tente, para depois nos colocarem numa salinha para falarmos de direitos humanos. Espera-se isso de nós. Mas não se espera que a gente lute com estratégia, que façamos isso aqui:

Alguma coisa com a qual, se todo mundo contribuir, acaba a fome! Não é pensar em solucionar o imediato, é construir o futuro. Por que minha favela não pode ser assim? Por que minha favela não pode ser o lugar mais lindo do mundo, onde ninguém tem fome, ninguém precisa matar ninguém, traficar para sobreviver? Onde todo mundo é livre, onde há uma cozinha comunitária, ninguém é escravo, cada um trabalha o tempo que sente vontade de trabalhar, a gente senta e conversa sobre coisas que nos fortalecem... a gente cuida junto das crianças. Uma coisa que aprendi muito na Casa de Cultura Tainã é que “não é meu filho, não é minha casa, não são meus valores”. São nossos valores, nossa casa, nosso território. Não é justo trabalhar doze horas por dia para pagar aluguel para viver num barraco. É 21 um direito nosso ter terra, ter moradia, não ter que pagar caro por água.


Quando falo que temos que pensar nos sonhos, eu penso dessa forma, porque não quero só ter que reagir. Não quero que minha luta seja reação. Eu preciso que o racista me xingue, para eu falar para ele: “Olha, você está sendo racista, racismo é isso, e tal, vem cá que vou lhe dar uma força para você se libertar”. Eu não quero precisar de uma provocação. Antes que o problema chegue em mim, eu já quero ser completamente livre. E o que quero comunicar para as crianças, para as pessoas que estão junto, é isso, sabe? A questão, então, é de qual informação está chegando. Muita gente julga, “ah, mas ele matou, ele traficou, mas também ele era ruim”... Ué, ele nasceu e era criança. Ninguém nasce ruim, e eu afirmo isso com o valor da minha vida. Nenhuma criança nasce sabendo o que é o crime, o que é a maldade. Ela sente a maldade para depois reproduzir. Então, se a gente faz com que a maldade não chegue, se só chegar coisa boa, acabou o problema! [risos] Pronto, acho que esse é o meu plano político! [risos] É isso!

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Vivian Belloto: Eu estava me perguntando o que é política e pensando “Meu Deus, quem sou eu para saber o que é política?!”. E, ouvindo vocês, fui entendendo. E, para mim, política é isso, porque essas falas chegam no meu corpo transformando. Eu estou em um corpo transformado. E o mais lindo é que vocês usaram de vocês mesmos, da matéria-prima que somos nós, para entender o que é política. E esse corpo político agora segurou para chorar e eu me perguntei: “Por que será que eu chorei?”. Várias falas me emocionaram, meu corpo treme, porque a gente é tão grande e estamos nos conectando. Eu sou de Pernambuco e, quando todo mundo falava essas poesias de vida, comecei a me visitar, coisa que sempre faço, mas hoje com o foco no que é política. Então, vou me usar hoje, agora, para explicar o que entendo por política. Por mais incrível que pareça, a todo o momento sinto que estou entrando em contato com outras realidades.


Vir para cá é uma outra realidade, porque moro em Sapopemba e demora uma hora e quarenta minutos para chegar até aqui. Meu corpo está cansado de se locomover. Vim passando por Perdizes e mandei um áudio para uma amiga, “que lugar lindo!”. Olha que louco, achei lindo a galera saindo para almoçar. Prato executivo, dezesseis reais, e eu pensando: “Putz, que caro” [risos]. Passear pela cidade, olhar a cidade, é uma coisa que a gente não faz, porque temos muitas urgências, então usamos o ônibus para “se pensar” [sic]. E eu, olhando a cidade, percebi que aquela era outra realidade. Eu me perguntei: “É a mesma cidade em que eu vivo? Que tem essa galera, esses prédios muito massa?”. Quando eu entrei aqui, comentei que nunca tinha vindo neste Sesc [Pompeia] e caramba, que lugar é este? Estou trabalhando no Sesc Consolação e vejo a galera indo para a academia, a piscina, e fico pensando “putz, eu quero”. Eu nunca fiz exercício físico! Sou sedentária, e o sedentarismo é político! O meu corpo todos os dias pede água, e eu esqueço de beber. A palavra que me habita hoje e faz sentido nessa fala que estou trazendo para vocês é dor. Desde o começo do ano, comecei a fazer fisioterapia, porque estou com hérnia de disco com 22 anos. Um problema que, se eu não cuidar, vai me afetar. E comecei a perceber que as dores que comecei a sentir são uma forma de violência. O fisioterapeuta falou para eu ir na academia, mas não tenho dinheiro, então resolvi ir lá na pistinha que tem em Sapopemba para ajudar o meu corpo a acordar, porque meus músculos estão se retraindo, já que fico assim [toda torta] no ônibus, carrego uma casa nas costas. E eu vou caminhar confortável, sem sutiã, mas entendi por que as pessoas pagam academia. Porque começaram a me dar “oi” demais na rua, a querer falar comigo sem me perguntar se eu queria conversar. Eu não respondia, mas me sentia um corpo objeto todos os dias. Até para cuidar do meu corpo, sou alvo de abuso! Deixei de ir... Então, o que é política 23 para mim? Nós, a gente se olhar, o coletivo.


Carla Prandini: Eu acho que aqui está presente um certo nervosismo, porque falar sobre essas questões pega pra gente. A nossa geração tem pensado problemas caros historicamente, como racismo, homofobia, misoginia, através do corpo mesmo. Por exemplo, pensamos identidade de gênero, e pensar isso é pensar a nós mesmas, o que é esse masculino, o que é esse feminismo e o que é imaginar um corpo sem masculino e sem feminino? Isso é muito profundo, algo que discutimos muito, e também um problema ao mesmo tempo abstrato e muito concreto, material. E tem também a festa, os encontros. Por que como a gente faz política? A gente tem que se encontrar. Mas agora existe o celular que faz com que eu esteja aqui conversando com vocês, mas ao mesmo tempo conversando com várias outras pessoas e não consigo acompanhar um raciocínio que demande um longo período, porque tenho que estar aqui, mas também olhando o celular por uma questão material. Sou percussionista, trabalho tocando, e o que acontece é que muitas vezes as pessoas me ligam para falar que vai ter um show sexta, ou sábado. Se eu esqueço o celular, eu perco trampo. Então, tenho que estar sempre conectada em realidades paralelas. É um corpo que está aqui, mas está em muitos lugares ao mesmo tempo. Então, a questão é de como nos presentificamos nos lugares em que estamos. Por isso esses espaços de encontro, de festa e de celebração têm sido muito políticos pra mim, porque são espaços da presença do corpo.

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Na festa, a gente dança, se movimenta, há pessoas tocando, acontece alguma coisa. Em outros espaços de resistência, há a poesia, a performance, uma diversidade de corpos, de modos de existência. E não é à toa que esse tipo de espaço do ritual, do dançar junto, seja historicamente podado. Porque é essa movimentação que se faz junto, que permite um pulsar junto. Drica Monticelli: Eu acredito que pensarmos a partir de um binarismo, homem, mulher, ou nunca considerarmos outras alternativas que não do certo ou errado, é algo imposto. Por isso, poder pensar em outras alternativas para a resolução de problemas, que não as que já estão dadas, é algo que tem me guiado muito. Nesse sentido, como esses corpos políticos podem ocupar espaços, por exemplo? Eu venho da Escola Livre de Teatro, de Santo André, que é uma escola que tem uma estrutura totalmente sucateada, é um projeto, tem uma verba mínima, então, não tem papel, sabonete, às vezes não tem água, e por isso os alunos têm participação ativa na gestão da escola. Como os mestres são abertos a isso, a gente reflete junto sobre tudo. E estar lá todos os dias, sem nada, sem dinheiro para estar lá, nesse lugar escasso, me faz ponderar sobre como ocupar esse espaço politicamente e como transformá-lo em outro lugar. E também como, no fundo, posso transformar os lugares por onde passo.

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Jonathan Santos

Família, um direito roubado, histórico de fome e miséria, que repercute com o medo do vazio do prato. Medo que motiva a mãe a acordar às quatro horas para pegar o bus lotado. E os filhos? Oração de proteção, bilhete na geladeira POR FAVOR, Maria, Cuida do João! Os filhos choram e a mãe nem vê... Mas já é tanta lágrima na árvore genealógica que o direito de chorar se abafa na escuridão calada. Essa família é muito linda, e também desorientada, o João entra no tráfico, e a casa continua bagunçada. Toc! Toc! Quem é? É o conselho tutelar.

Porra! Eu já não falei que eu tô sozinha? Omissão do Estado, soco do marido e a mãe chora. PAUSA Pra dentro. Porque pra fora mostra fraqueza e num mundo onde os filhos podem morrer a qualquer momento, ser fortaleza é seu maior sentimento. Mas nesse vaivém marítimo da escuridão, o colo da mãe preta é a melhor solução. O direito de amar não é igual ao da novela das cinco que passa no Globo Espetacular. Nosso amor envolve sangue, substância de ferro, que constrói um ser humano pronto para a guerra.


Fotos: Carolina Matias

Peço licença a esta casa! E saúdo as que aqui estiveram antes de mim. Doentes, desajustadas, mantidas sob controle Sol Almeida e também as descontroladas. Eu e todas as outras temos nome, e a cada 25 horas sucumbimos ao silêncio e encontramos com a morte. Nós bichas pretas crescemos solitárias, formatadas em estereótipos da masculinidade construída para as imagens do homem negro. Sobrevivemos a uma infância e adolescência dolorosa de bombardeios sobre nossas vozes, gestos, traços e origem. Muitas vezes escondidas, gritamos por ajuda, trancafiadas e sufocadas pela ausência de afeto, nós nos constituímos assim: sozinhas. Temos nome, e a cada minuto nos preocupamos com o medo de em qual esquina encontraremos algum algoz. Estamos vivas, e assim resistimos, porque também somos frutos deste solo, que tantas vezes nos afunda por terra, mas que, em outras, nos faz nascer como flor, com todo o seu aroma que açoita e incomoda quem invade para sentir o seu cheiro e com toda beleza e encanto de nós. Temos, aqui, a força da nossa aldeia: de bichas, pretas, ratas, marginais. Eles não nos querem! Mas mal sabem eles que saímos de todos os bueiros.

27 Texto de Sol Almeida em processo para a peça 6 fragmentos de uma história em desalinho


Jean Rocha

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Entre peles e pelos e pretos e crespos Nos tornamos Quilombos de paus Entre Linhas eretos e retos. Numa base de cama fizemos política; Gritos Gemidos Dois pintos Bocas carnudas. Língua Banto Tecendo canto No canto, da boca Na parede da nuca Fez-se som pela sala ressoando no corpo que canta produzindo sopro De flauta De afago Suspiro

Urro! e pinguei no lençol cada gota do amor infértil da sopa do suor da testa da roupa que saiu dançando na velocidade de um golpe Certeiro Entrou pela boca Mironga. * Ignora-se TUDO o sexo antes do casamento a fidelidade ao companheiro as vestes feitas de algodão e linho a paternalidade fugida do pai a inveja, a cobiça, a ganância o amor ao próximo e o “não julgais” mas o sexo entre dois do mesmo sexo É TABU, Deus não gosta! Hipócritas 2:69


Wesley Matos

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Nicoly Pinheiro Nascimento 30

Eu sou a criatura sem forma Que seus dedos coçam para moldar Sou aquele que você apertou a corda na garganta O corpo, onde você depositou todas as palavras E esqueceu de me dizer que eu tinha voz para usá-las Sou a carne que rejeita comida, para entrar na silhueta Da medida dos seus olhos Eu sou a visão de dentro Sou aquele que quer criar raízes E sair voando Eu tenho dezessete anos e mais que o dobro Desse número de monstros em minha cabeça Eu sou o projeto do capitalismo E às vezes vejo etiquetas no lugar de minha pele. Mas eu também sou aquele que busca a luz Não no fim do túnel E sim dentro de mim mesma Porque vocês a esconderam, mas isso não significa que eu não vá encontrá-la Eu sou adolescente Conhecida como aquela que faz da dor do que me Deixa em pedaços, poesias inteiras.


Stefanie Vitoria Ribeiro Azevedo

Meu corpo é política! Eu nem sei quantas vezes me perguntei o que era política, quantas vezes eu ouvi que só político faz política ou que política não é local de mulher. E por um tempo eu realmente acreditei nisso. – O que é política? Essa é uma das perguntas que a gente sabe responder na cabeça, mas quando vai falar, enrola tudo. Acredito que a política começa no meu corpo meu corpo não é apenas político, ele é a própria política meu corpo ocupa espaços, meu corpo não se encaixa nos padrões, meu corpo tem cicatrizes, tem histórias, meu corpo, minha alma e minha mente são uma coisa só. Nós fazemos política quando decidimos nos impor contra ou a favor de algo, quando ocupamos espaços que achávamos não pertencer a nós, quando damos voz a alguém que acreditava não ter, quando fazemos parte e defendemos minorias, quando cuidamos de nós, quando colocamos a sanidade mental, o equilíbrio da mente e do corpo e o respeito consigo mesma como premissas para viver e se relacionar. Eu ainda não tenho uma verdade absoluta sobre a política e provavelmente nunca vou ter. Mas estou crescendo e não apenas de forma física estou fazendo política e não pretendo parar.

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Lá, cá Vou! Fico! Quero! Não Quero! Surdo, ouvinte

Cultura diferente língua diferente identidade diferente

Catharine Moreira

Como tivesse nascido do avesso Pele osso Cabelo peso

Para de ser besta! Que de cada toque de pele/língua goteja gota de ideia fresca são duas vidas duas poetas duas pessoas mas a poesia é uma só encontro que cria, recria e transcria que de meu e seu português e LIBRAS já nem mais sei!

Fotos: Leonardo Rogério

Faz de cima meio, reta em curva boca em mão corpo em língua língua língua língua língua

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A cabeça já não aguenta, é como tentar segurar gota d’água pingando de baixo pra cima. É como tentar apagar do pensamento ideia que já nasceu ímã. Será que você entende?

e se tiver alma presente que apontar dedo em julgamento de dizer o que é ou o que deixa de ser... pra surdo é assim e ouvinte assado. Eu deixo o convite: Bora ali, bater um papinho. Quem sabe um beijo de línguas não te acorda um pouquinho. Texto de Catharine Moreira e Amanda Lioli


Os livros de história enfiaram-me goela abaixo, essa história que alguns queriam que eu soubesse. Não, mas dentro de mim aquilo não faz sentido Pensando em tudo que aconteceu na história do nosso Brasil Dos povos indígenas que habitavam aqui antes da chegada dos portugueses que viviam nas florestas, que se alimentavam da mata, que pescavam nos rios, que sobreviviam da natureza. Que tinham seus costumes, seus rituais, as crianças aprendiam a ancestralidade, através das brincadeiras através da terra, brincavam na terra. Terra! Planeta Terra… Muda de posição, assim como uma ampulheta. Vira de cabeça pra baixo e... O tempo escorre, escorre... Terremoto? O que está acontecendo… Devorando nossa terra Devastaram nossas florestas... Poluíram a nossa mata…. Mariana Ayelen O sentimento de medo tomou conta, da mesma forma que nossos rios foram poluídos. Os povos indígenas quiseram resistir. Em todos os lugares, em todos os cantos do Brasil. Os povos se reuniram em suas famílias, Chamaram seus caciques para a Guerra E então se prepararam para o que poderia vir. Terra à vista… Terra à vista No Congresso Nacional, eles estão devorando a nossa terra Terra Brasil Fica, Amazônia!

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Fotos: Karina Bacci

Luana Milani

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Hoje desejei usar um vestido Me veio a dúvida: Não seria melhor uma calça? É perigoso sair na rua E se ficarem me olhando? Quero vestir saia curta Quero sair à noite Estou incomodada! Entrei forçada nesta calça Mesmo sentindo tanto calor Brasil machista! Queria estar bonita para encontrar vocês Mas estudo à noite Atravesso ruas Ando rápido Carrego minha mochila pesada Desse medo Estou cansada!


Saliou Diouf

Para mim,

politique

ĂŠ o conhecimento e o pensamento de cada um.

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Cássia Quézia 36

Hoje, o papo é reto, sem economizar nas palavras, porque até onde eu me lembro, ninguém economizou nas chicotadas dadas. Sangue pra tudo quanto é lado, de pessoas vítimas do patriarcado, miserável! Bate, verbalmente e fisicamente, na pele de um inocente que aos poucos tenta se reerguer de uma sociedade que nos prende. Diz que escravidão acabou, MENTIRA! Chamam-nos de vitimistas, diz que é mimimi. Se eu luto por cotas, em um sistema que não me abre as portas! E quando eu entro, me faz sair, e dizem que aquele lugar não é pra mim! O empresário me esnoba porque eu peço sistema de cotas, e diz que eu quero tudo na mamata, quando, na verdade, é só o preço das chicotadas ardendo nas costas! De terno e gravata se assusta se, em algum momento, eu solto palavras do vocabulário culto, que não é da minha cultura e muito menos é falado na minha rua. Porque eu vim da periferia aonde a informação não chega e, quando chega, chega distorcida, e a culpa é sempre da minoria... Como sabemos, a favela é o quarto de despejo onde o rato come da mesma comida que você, sinal péssimo de TV e muitas vezes sem ter o que comer. Mas aê, isso é capitalismo que vem e cala os oprimidos e ainda os chama de bandido. Preto confundido com traficante é comum, em pleno século XXI, corpos nas calçadas, vielas, avenidas, era saco de pipoca, mas a polícia “confundiu” com cocaína, essa foi mais uma desculpa desta chacina. Se a PM me vir correndo na rua pra dar um abraço na minha mina, já vem armada achando que é assalto e, quando menos se espera, já tem um preto morto no asfalto. Que gente sem noção, que me rotula de ladrão por minha cor não estar no padrão, zoa o meu cabelo por não estar dentro dos modelos. Violência gera resistência, porque é difícil apanhar quando se está na inocência. Dentro da academia me olham torto, por eu estar de jaleco e um estetoscópio no pescoço, e um sonho na cabeça de ser doutor pra lutar por quem sobrevive e morre nos corredores dos hospitais, porque o único dinheiro que tem é pra fazer comida, dar sustento aos filhos e comprar o gás! Mas aê, vai vendo, ou me aceitam ou eu vou chegar batendo com os dois pés no peito e mostrar que preto tem talento!


É preciso força pra lidar com aquele mundo, que não sabe lidar com as nossas diferenças que são muito diferentes de tudo isso que foi imposto e dito, por um injusto juízo.

Layla Xavier

A energia que usamos pra lidar com nossos mundos é a Força que nos conecta no mais profundo e em nosso território onde não há muros com calma e liberdade construímos juntos com a sabedoria do passado se pensa o futuro Quando o mundo todo sentir o que a natureza fala Viver será fácil como o livre voar dos pássaros Que cantam sem pedir Que expressam seu sentir Que sabem de onde vieram e sem limites podem ir Que nessa nova era Tudo volte a ser como era em comunidade em respeito com a terra onde o brilho e o valor da mais sincera verdade Sejam compreendidos e por nós sentidos Pra que até a sobrevivência VIVA.

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Os olhos Vivian Belloto

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Dizem que são a janela da alma redondos como a terra viscerais como as costelas brilhantes como as estrelas nossos olhos são portais são reais, independentemente da forma que enxergam. A língua dos olhos é indecifrável se a colocarmos em palavras mas decifrável ao sentir uma das portas de entrada dos mundos mas também são portas de saída. Quando os olhos saem para fora É que já não mais suportam estarem dentro Um exemplo Quando os olhos têm fome Saltam para fora e comem Sem disfarçar Os olhos aproveitam cada pedaço Não se dão nem ao luxo de respirar Os olhos famintos fazem outros de ameaçados Os olhos gulosos fazem outros sentirem culpados Os olhos amaldiçoados Olhos sociais Olhos de homens Olhos negados Olhos. Tudo começou com o olhar.


Carla Prandini

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Fique

Drica Monticelli

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Fique à vontade, mas fique Fique parado É impossível sair do lugar A passagem de ônibus custa 4 reais É claro que o capitalismo não funciona, Mas quem que corre atrás? Eu não aguento mais. Mas fique Se acomode É mais fácil É mais fácil ficar parado NÃO SE MOVA, Mãos ao alto, é o Estado, é um assalto Da minha vida Do meu corpo Da minha saúde mental Um estupro do meu bolso e no final do mês num dá pra comprar nem um creme dental. Ah, eu tô mal Nadando contra a corrente Subvertendo o sistema patriarcal Não tem saúde que aguente, eu tô mal.


Sobre as pessoas participantes dessa edição: Ana Julia Ribeiro Com dezoito anos, é estudante de Direito na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) e de Filosofia na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Curitibana, participou do movimento de ocupações de escolas em 2016 contra a PEC do Teto de Gastos e a Reforma do Ensino Médio. Coordenadora Jovem da Iniciativa 100 Milhões, um projeto do laureado Nobel da Paz Kailash Satyarthi. Atualmente é colaboradora no Instituto Defesa da Classe Trabalhadora. Contudo, fundamentalmente, é ativista por uma educação pública e inclusiva de qualidade. Banda Besouro Mulher Banda independente formada após o movimento secundarista em 2016 em São Paulo. É atualmente formada por Arthur Merlino no baixo elétrico, Bento Hubner na guitarra, Sophia Chablau no violão e voz, e Vitor Park na bateria. O grupo tem composições autorais que se alimentam de diversas referências, os arranjos têm elementos do movimento tropicalista, assim como as canções têm influências da vanguarda paulistana da década de 1980, em que Arrigo Barnabé, Grupo RUMO, Itamar Assumpção, entre outros, tiveram participação, além da paixão do grupo por artistas que marcaram a música brasileira dos anos 1970 e 80, como Caetano Veloso, Gal Costa, o poeta Torquato Neto, Luiz Tatit, Jorge Benjor e outros. No repertório Madalena e Torquato (Sophia Chablau), Diga (João Pedro Constantino). Bianca Ziudad Fernandes Sobrinho Com 27 anos, é estudante de Ciências Sociais na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Moradora do Assentamento Comuna da Terra Dom Tomás Balduino e militante regional Grande São Paulo do MST.


Bruna Mara Mulher negra de 26 anos, filha de Gelza Mara e Edson Antônio, nascida em Taboão da Serra e criada no extremo sul de São Paulo. Formada em Produção Cultural, é estudante e futura profissional de audiovisual. Co-criadora do Coletivo Negro Ayá (o primeiro coletivo negro da Universidade Anhembi Morumbi) e da empresa audiovisual MINCprod (Minas Independentes no Corre), que visa criar uma rede de mulheres cis, trans e travestis na produção audiovisual independente. Voluntária no Programa de Redução de Danos, atua com pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social no território da Cracolândia. Apaixonada por poesia e frequentadora de saraus e slams. “A poesia marginal é um ato político, e minha ferramenta, resistência.” ColetivA Ocupação “Três corpos insurgentes em uma experiência de presentificação da memória da luta traçada e moldada pelas mãos de jovens autônomos. Utilizando a estética investigada pela ColetivA Ocupação, grupo do qual fazem parte, a partir da construção de uma narrativa que parte do outro lado do fronte, a cena tem papel de resposta, colocando-se como manifesto, denúncia e força contra as amarras do sistema. Música, poesia, arte, luta! Performando em corpo e mente!” Direção de Martha Kiss Perrone. Produção de Otávio Bontempo. Com Mel Oliveira, Ícaro Pio e Abraão do Santos. CONTRAFLUXO / COLETIVO ILHAS O Coletivo Ilhas surgiu na Escola Livre de Teatro de Santo André, em 2017, e pesquisa a linguagem narrativo-musical como forma de intervenção artística. “Somos cacos do futuro em construção, agora! O velho agora, no amanhã mora!” Tendo como mote para a criação a chegada, no tempo presente, de um grupo de rebeldes, fugidos e perseguidos, vindos de um tempo futuro, CONTRAFLUXO propõe, através de interferências cênico-musicais, que o espectador siga esse “bando da futuridade” que canta na nossa atualidade, reivindicando seu futuro. Direção Geral | Patricia Gifford; no elenco | Dani Fontana, Jefferson Silvério, Jennifer Souza, Joy Catharina, Patrick Carvalho e Tulio Crepaldi; direção musical, composições inéditas, arranjos eletrônicos | Tulio Crepaldi; dramaturgia e letras das canções | Patricia Gifford e Marcos Emanoel; coordenação da engenharia elétrica e de som | Diego Lima Lucas; iluminação das cenas | Van Caires; direção da equipe técnica | Ramilo Assunção e Vica Ramos.


Documentário Lute como uma menina Este documentário conta a história das meninas que participaram do movimento secundarista que ocupou escolas e foi às ruas lutar contra um projeto de reorganização escolar imposto pelo governador de São Paulo, que previa o fechamento de escolas. Direção de Flávio Colombini e Beatriz Alonso. Documentário Escolas em luta No estado mais rico, e um dos mais conservadores do Brasil, o modus operandi da educação pública sofre um revés, quando estudantes secundaristas reagem ao decreto oficial que determina o fechamento de 94 escolas e a realocação dos alunos. A resposta estudantil surpreende. Em poucos dias, por meio de redes sociais e aplicativos, eles organizam uma reação em uma verdadeira Primavera Secundarista – algo completamente inédito. Ocupam 241 escolas e saem às ruas para protestar. O estado decreta guerra aos estudantes. Toda relação se transforma após uma revolução. ESCOLAS EM LUTA aprende e apreende com essa garotada um novo modo de construção e de estar no mundo. Um filme de Eduardo Consonni, Rodrigo T. Marques e Tiago Tambelli. Grupo Contrafilé Formado em São Paulo, Brasil, no ano 2000, o Contrafilé é um grupo de investigação e produção de arte, que tem como foco a cidade, onde desenvolve ações e encontros com diferentes pessoas, grupos e comunidades. Entre seus projetos, destacam-se: Programa para a Descatracalização da Própria Vida (2004) e A Rebelião das Crianças (2005) – que deu origem ao Parque para Brincar e Pensar (2011) e Quintal (2013). O grupo participou de diversas mostras, tais como: Talking to Action (Art, Pedagogy and Activism in the Americas, Los Angeles, 2017), Playgrounds 2016 (MASP), 31ª Bienal de São Paulo (2014), Radical Education (Eslovênia, 2008), If You See Something Say Something (Austrália, 2007), La Normalidad (Argentina, 2006), Collective Creativity (Alemanha, 2005). Mateus Bandeira Barbosa Militante do MST, assentado há dezesseis anos na Comuna da Terra Dom Tomás Balduíno. Atua no Coletivo de Juventude da regional Grande São Paulo do MST.


Morada da Liga Através dos processos de formação realizados pela instituição Liga do Funk, surge o projeto Morada da Liga, espaço que oferece, a partir da moradia coletiva, formações técnicas em outras áreas de atuação profissional no funk e também formação artística de MCs, para ocupar esses espaços de forma profissional. Ao comando de MC k-rollzinha, MC Buchecha e o dançarino Dreezy apresenta uma intervenção artística de dança e música, num formato onde os MCs, através da música, conduzem os passos do dançarino, de forma a trazer ao palco dois pontos fundamentais do funk em sua maior potência. Com passos que vão do passinho do Rio, passinho do romano, passinho dos malokas ao hip-hop no funk. O DJ Kauan e os MCs agitarão o público, enquanto o som rola. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST Amanda Caroline Rodrigues Santos Barbosa de Lima, militante do MST, filha de assentada e assentado, atua no Coletivo de Juventude da Regional Grande São Paulo do MST. Oz Guarani Jovens da aldeia Tekoa Pyau que, através do hip-hop fazem seu grito de resistência, para o fortalecimento de sua cultura, direitos e identidade. Com Xondaro MC, Mano Glowers e Para Mirim. TIMOL O Grupo TIMOL (Teatro Infantojuvenil Monteiro Lobato) é um coletivo independente de crianças e jovens que nasceu em 1965, sob liderança de Iacov Hillel, jovem fundador do grupo. O TIMOL investiga a linguagem infantojuvenil contra a visão imbecilizada sobre a criança, que é um ser infinito e complexo. Atualmente, o grupo está em cartaz com a peça Primatização, criação coletiva em seis quadros, que faz uma sátira à evolução da espécie, trazendo, ao mesmo tempo, um pé nos desejos de consumo ligados ao futuro, e outro no arcaico e primitivo; tendo como foco o animal e o ventilador. Com Branca Rodante, Isabella Borges, Henrique Péricles, Nuno Lima, Isabela Soares e Tomás Ferreira.


3Palitos com Política para todos ou Jogo do Passa-Lei O 3Palitos é um projeto que aponta caminhos de participação política para que todas as pessoas possam se apropriar da política institucional e buscar os seus direitos. Desenvolvido pela consultora de relações governamentais Alexandra Papini e pelos jornalistas Felipe Neves, Gerson Camargo e João Almeida, o foco do projeto é trabalhar as possíveis portas de entrada dentro do Poder Legislativo, para que possamos discutir temas de comum interesse e nos tornar atores de mudança. Os encontros são recheados de jogos, discussões e atividades práticas de pressão política!


Constroem o Boteco da Diversidade nesta edição Idealização Sesc Pompeia Curadoria Sesc Pompeia Direção artística e roteiro Elisa de Oliveira | Cia La Gestual Produção executiva Elaine Bortolanza Assistente de produção Heloisa Feliciana Artistas, pesquisadores e ativistas 3Palitos, ColetivA Ocupação, Contrafilé, Contrafluxo/Coletivo Ilhas, Morada da Liga, Banda Besouro Mulher, TIMOL – Teatro Infantojuvenil Monteiro Lobato, Oz Guarani, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Bruna Mara e Ana Julia Ribeiro. Cenografia Anike Laurita Animações Mel Coelho (fotografia e edição) Iluminação Cristina Souto Som Rebeca Montanha Assistentes Heloisa Feliciana (produção), Richie Venialgo (roadie), Sérgio Cooker (iluminação), Dennys Vilas Boas (roadie), Karina Melo (cenografia). Intérpretes de Libras Lívia Vilas Boas, Mirian Caxilé, Amanda Assis e Carolina Fomin. Identidade visual Laerte (capa) Material gráfico Grupo Contrafilé (edição) e Sato do Brasil e Murilo Thaveira – casadalapa (design). O conteúdo deste livreto foi produzido a partir do encontro com os jovens Carla Prandini, Cássia Quézia, Catharine Moreira, Drica Monticelli, Jean Rocha, Jonathan Santos, Layla Xavier, Luana Milani, Mariana Ayelen, Nicoly Pinheiro Nascimento, Saliou Diouf, Sol Almeida, Stefanie Vitoria Ribeiro Azevedo, Vivian Belloto e Wesley Matos. Revisão Regina Stocklen Agradecemos a todxs que cederam as imagens para cenografia: Renata Armelin, Mel Coelho, Marília Navickaité (desenhos), Thiago Carvalho Wera’i, Ana Flávia Carvalho e Iná Henrique Dias da Silva.



Boteco da Diversidade – Juventude e Política Dia 29 de setembro de 2018. Sábado, às 20h. Local: Comedoria. Grátis. Retirada de ingressos com 1h de antecedência na bilheteria.


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