www.revistacultivar.com.br
/revistacultivar
Destaques
24
Como a presença de picão-preto resistente a glifosato e a imazethapyr no Paraguai pode afetar o Brasil
Atenção na escolha
Comportamento das populações de bicudo-do-algodoeiro a aplicações de inseticidas
06
@RevistaCultivar
Índice
Vizinhança de risco
16
/revistacultivar
Problema que cresce
A investida de nematoides em soja e as estratégias para manejar
Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 246 Novembro 2019 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Elevagro
Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
04
Manejo correto de nematoides
06
Controle de percevejo e mosca-branca
10
Inseticidas contra o bicudo-do-algodoeiro
16
Nova unidade da Microquimica Tradecorp
19
Plantas voluntárias e daninhas resistentes
20
Capa - Picão-preto resistente no Paraguai
24
Controle de percevejo no cedo
27
Controle de plantas daninhas
30
Manejo de pragas em arroz
34
Congresso das Mulheres do Agronegócio
40
Plano de aplicação de nitrogênio
42
Coluna Agronegócios
44
Coluna Mercado Agrícola
45
Coluna ANPII
46
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
esses organismos nocivos
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Novembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300
Diretas
Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer
• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca
• Vendas Sedeli Feijó Miriam Portugal
• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia
CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes
• Revisão Aline Partzsch de Almeida
• Assinaturas Natália Rodrigues
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
• Expedição Edson Krause
Diretas Caravana
Mato Grosso do Sul recebeu em outubro três etapas da Caravana da UPL com informações sobre mais proteção e produtividade na cultura da soja. Campo Grande, Chapadão do Sul e São Gabriel do Oeste foram visitados. Em todo o Brasil, até dezembro, 64 cidades de 12 estados estão no roteiro da ação, que conta com três veículos truck, projetados especialmente para os eventos. “Nosso objetivo com essa caravana é apresentar formas de garantir a proteção do plantio de soja e, consequentemente, proporcionar maior rentabilidade da lavoura a partir do uso de defensivos agrícolas eficazes, modernos e seguros”, explicou o gerente de Marketing Estratégico para Fungicidas da UPL Brasil, Fernando Arantes. Durante a ação, os participantes podem obter informações sobre os fungicidas Tridium e Unizeb Gold.
Digital
A Bayer anunciou uma evolução da proposta da Rede Agroservice para duas novas iniciativas, com o Impulso Bayer, programa de relacionamento com o produtor, e a Orbia, plataforma que surgiu de uma joint venture em parceria com a Bravium, que combina marketplace de fidelidade, commodities e insumos. A necessidade de levar o ambiente de compras on-line tanto para os produtores quanto aos distribuidores da Bayer foi a principal razão que levou a companhia a investir neste novo modelo de negócio. “O novo cenário proposto pela Bayer vai ao encontro da tendência atual, na qual vemos clientes que compram em lojas físicas e virtuais, além de participarem de programas de fidelização”, explicou o presidente da divisão agrícola da Bayer, Gerhard Bohne.
Participação
A Basf participou do 8º Fórum Lide de Agronegócios promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais, em Ribeirão Preto, São Paulo. O responsável pela área de Agricultura Digital da companhia para América Latina, Almir Araújo, fez parte do primeiro painel do fórum com o tema “Tecnologia e Meio Ambiente”. O objetivo foi salientar a importância dos avanços tecnológicos na nova revolução verde ou agricultura 4.0 e como a integração de ferramentas digitais oferecidas pela Basf, como xarvio e AgroStart, pode contribuir para a tomada de decisão do agricultor e o alcance de altas produtividades nas lavouras.
Almir Araújo 04
Prêmio
A LongPing High-Tech recebeu o Prêmio Lide Agronegócios 2019, na categoria Insumos. O vice-presidente de Marketing, Aldenir Sgarbossa, representou a companhia na cerimônia, que ocorreu em outubro, em Ribeirão Preto, São Paulo. O encontro deste ano reuniu lideranças das principais empresas e cooperativas do País e abordou “A inserção internacional do agronegócio”, incluindo discussões sobre novos mercados, segurança jurídica, marcas, tecnologia e meio ambiente. “É muito gratificante ver o comprometimento de nossas equipes sendo valorizado por formadores de opinião e decisores de mercado”, avaliou Sgarbossa.
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
Aldenir Sgarbossa
Molécula
A Ihara obteve o registro da molécula inseticida Dinotefuran no Brasil, através da qual a empresa lança uma linha de produtos batizada de "Movidos a Dino” para manejo de pragas de culturas como soja, cana-de-açúcar e café. Entre os lançamentos estão os inseticidas Zeus, com efeitos de choque e residual contra percevejo na soja, e Maxsan, para o controle de todas as fases da cigarrinha na cana-de-açúcar e também da mosca-branca na soja. Outro produto da linha, em fase de registro e que será lançado em breve, irá auxiliar no manejo do bicho-mineiro, da ferrugem e da cigarra do café. "Nosso foco é sempre atuar para resolver os problemas dos agricultores e, por isso, investimos constantemente em pesquisa e desenvolvimento em busca de soluções que ofereçam resultados superiores. Com estes lançamentos não será diferente. O agricultor brasileiro terá à disposição novas tecnologias, que além de proverem um controle altamente eficiente para diversas importantes pragas, em várias culturas, será uma nova opção para o manejo de resistência, gerando valor não apenas aos agricultores, mas para a agricultura nacional como um todo", avaliou o diretor de Marketing, Pesquisa e Desenvolvimento da Ihara, Clayton Emanuel da Veiga.
Clayton Emanuel da Veiga
Broca da cana
A FMC promoveu entre setembro e outubro o Tour Altacor, que percorreu usinas, canais de distribuição e fornecedores de cana-de-açúcar, nas principais regiões produtoras do Brasil. “Nos encontros tivemos a oportunidade de debater com os mais diversos elos da cadeia as tecnologias de manejo da broca da cana, além de oferecer orientação técnica sobre o manejo correto da praga através da utilização do Altacor, um produto de alta potência inseticida, longo período de controle e totalmente seletivo aos inimigos naturais da praga”, explicou o coordenador de Marketing da FMC, João Claudio Mansur.
Convênio
A Corteva Agriscience se uniu à rede de sócios estratégicos do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (Iica) através de um convênio que tem por objetivo facilitar o acesso dos produtores aos mercados, incrementar a competitividade agroempresarial e aumentar a produtividade das fazendas com melhor acesso a insumos agrícolas nas Américas. O acordo de cooperação, anunciado na Conferência de Ministros de Agricultura das Américas 2019 de São José, Costa Rica, foi assinado pela presidente da Corteva Agriscience para a Região Mesoandina, Ana Cláudia Cerasoli, e pelo diretor-geral do Iica, Manuel Otero. “A agricultura digital não impactará somente aos agricultores senão também a todas as partes da cadeia produtiva, inclusive os consumidores cada vez mais informados e exigentes”, avaliou Ana Cláudia.
Investimento
Erik Fyrwald
A Syngenta anunciou que destinará 2 bilhões de dólares ao longo dos próximos cinco anos para ajudar os agricultores a se prepararem para enfrentar as crescentes ameaças causadas pela mudança climática. O investimento apoia um novo objetivo de sustentabilidade da empresa, que consiste em oferecer pelo menos dois avanços tecnológicos disruptivos ao mercado a cada ano, com o objetivo de reduzir a contribuição da agricultura para a mudança climática, aproveitar sua capacidade de mitigação e ajudar o sistema alimentar a permanecer dentro dos limites planetários. O CEO da Syngenta, Erik Fyrwald, também anunciou que o investimento em pesquisa e desenvolvimento para a agricultura sustentável será acompanhado por um esforço para reduzir a intensidade de carbono nas operações da empresa em pelo menos 50% até 2030, contribuindo para os objetivos do Acordo de Paris sobre a mudança climática. O compromisso da Syngenta foi validado e endossado pela iniciativa Science Based Targets (SBTi). www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
05
Nematoides
Problema que cresce Responsáveis por perdas que podem chegar a até 50% da produtividade, nematoides são um desafio que tem aumentado nas lavouras de soja brasileiras. Para enfrentar esses organismos nocivos é fundamental a adoção de medidas integradas, dentro de um programa de manejo planejado
06
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
Fotos Elevagro
Sintomas clássicos de reboleiras com ataque de nematoides na cultura da soja
N
os últimos anos, os nematoides têm sido um dos principais problemas responsáveis pela redução de produtividade de diversas culturas, incluindo a soja. Os danos são variáveis conforme a espécie, a densidade populacional, a cultivar e as condições climáticas. Perdas produtivas médias, entre 10% e 50%, têm sido relatadas em soja em áreas atacadas. As principais espécies com ampla distribuição geográfica e densidade populacional são os nematoides-das-galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita), o nematoide-de-cisto (Heterodera glycines) e o nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus). Destas, ambas estão associadas a significativas perdas em produtividade em áreas comerciais. Outras espécies, como Rotylenchulus reniformis, Helicotylenchus dihystera e Scu-
tellonema brachyurus, também têm aparecido com frequência nas análises, especialmente de solo. No entanto, ainda são incipientes os dados confirmando seus danos em produtividade. A problemática envolvendo essas espécies está relacionada, principalmente, ao monocultivo de culturas suscetíveis ao longo de anos, ao descuido com o trânsito de máquinas e implementos agrícolas - de áreas infestadas para áreas não infestadas - e à falta de identificação do problema por parte dos produtores, pelo frequente negligenciamento ou confusão com outros problemas de ordem biótica e abiótica. A presença de nematoides, mesmo em baixa ou média densidade, deve ser investigada, pois estes organismos podem aumentar a sua população no solo rapidamente. Para a diagnose, os produtores precisam estar atentos aos sintomas clássicos, comumente expressos na parte aérea como resultado do ataque severo ao sistema radicular, que compromete os processos de absorção e translocação de água e nutrientes pela planta. A redução no crescimento das plantas, comumente em reboleiras, acompanhada de amarelecimento das folhas, murchamento em períodos quentes e secos do dia e/ou quedas prematuras de folhas, caracteriza-se como norteador para localizar áreas atacadas. A partir disso, amostras de plantas e de solo devem ser coletadas para envio a laboratórios que possam identificar a(s) espécie(s) e a densidade populacional. Para áreas ainda não infestadas, a prevenção da entrada de nematoides é sem dúvida a prin-
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
07
Fotos Elevagro
Amarelecimento nas extremidades das folhas provocado por nematoide-das-galhas
cipal estratégia de controle. Cuidados especiais no fluxo de máquinas, entre áreas atacadas com áreas ainda indenes, são importantes nesse contexto. No caso de áreas já infestadas, as principais estratégias de manejo envolvem a rotação com culturas não hospedeiras, o controle de plantas daninhas hospedeiras, a utilização de variedades de soja resistentes, a aplicação de nematicidas químicos e agentes de controle biológico. A erradicação ou eliminação total é praticamente impossível, principalmente pelos custos e/ou pelo tempo de operacionalização. A adoção de estratégias de manejo integrado é recomendada para manter as populações próximas ou abaixo do limiar de dano econômico. O uso de nematicidas químicos e biológicos tem sido a principal estratégia de manejo para reduzir a infecção inicial nas raízes, no estabelecimento da cultura, período crítico para o controle. Danos mais severos estão associados a infecções em estádios iniciais da cultura. A utilização associada de nematicidas químicos + biológicos tem apresentado
08
bons resultados. Além disso, a associação desses produtos com uma cultivar de soja resistente/tolerante é fundamental para melhorar os resultados. Estudos desenvolvidos a campo têm mostrado que o não ajuste da variedade pode comprometer significativamente o efeito das ferramentas químicas e biológicas. Existem variedades de soja que conferem resistência contra espécies de Meloidogyne spp., contra algumas raças do nematoide-de-cisto e para o R. reniformis. No entanto, não há ainda disponíveis cultivares resistentes ao nematoide-das-lesões (P. brachyurus). A aplicação de nematicidas químicos e biológicos pode se dar via tratamento de sementes ou diretamente no sulco de semeadura. No caso de biológicos, podem ser planejadas interferências com antecedência, no período de entressafra, para reduzir o inóculo inicial existente no solo. Além do ajuste de produtos + variedade, os produtores devem interferir na dinâmica populacional dos nematoides no sistema, utilizando rotação ou sucessão com culturas não hospedeiras. Essa
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
estratégia auxilia na redução da população do nematoide no solo e na sua multiplicação a partir da substituição da fonte de alimento ideal. Além disso, algumas culturas, tidas como antagonistas, podem ser utilizadas no período de entressafra, pois além de não serem hospedeiras, podem liberar substâncias tóxicas aos nematoides. É o caso, por exemplo, de espécies de Crotalaria spp., que têm sido muito utilizadas no manejo dos principais nematoides que atacam a soja, incluindo os formadores de galhas, o de lesão e o de cisto. Aliado a essa prática, um cuidado especial deve ser tomado com o controle de plantas daninhas nas áreas. Diversas espécies podem hospedar nematoides e favorecer sua sobrevivência e multiplicação. O descuido no controle de plantas daninhas pode pôr em xeque os efeitos das demais estratégias de manejo adotadas. Embora essas ferramentas apresentem grande potencial para o manejo, nenhuma delas, quando usadas isoladamente, trará uma resposta maior de controle que as utilizadas de maneira conjunta. Cabe ressaltar que, para isso, os produtores precisam realizar o trabalho de base, que começa pela identificação e quantificação correta das espécies presentes na área, para, assim, iniciar o planejamento de um programa de manejo, que na maioria dos casos trará resultados a médio ou longo prazo. C Paulo Sergio dos Santos e Cristiano Bellé, Instituto Phytus
Santos e Bellé recomendam um programa de manejo contra nematoides
Pragas
Mosca e percevejos Manejar pragas sugadoras exige diversificação de estratégias, com monitoramento atento e uso de inseticidas sem descuidar da escolha do produto, do momento de aplicação, da dose e de outros aspectos ligados à tecnologia de aplicação Elevagro
10
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
D
iversas espécies de insetos-praga podem atacar a soja e causar sérias perdas de produtividade e qualidade de grãos. A pressão de infestação e as espécies variam conforme a região, as condições climáticas e o manejo nos sistemas agrícolas. Um grupo de pragas que tem recebido muita atenção nas últimas safras é a de sugadores, especialmente as espécies de percevejos fitófagos e a mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B). Vários fatores contribuem para o aumento da relevância desses insetos. Destacam-se a elevada adaptabilidade às condições de clima no Brasil, a alta capacidade reprodutiva, que proporciona diversas gerações em uma mesma safra, a capacidade de sobrevivência dos adultos e o comportamento do inseto na planta. Tais aspectos ligados à dificuldade do controle químico tornam essas pragas de difícil controle. Os danos desses insetos são mais evidentes a partir dos estágios reprodutivos da cultura, no entanto o início da infestação nas lavouras pode ocorrer com antecedência, já na fase vegetativa da soja. A principal espécie de percevejo tem sido o percevejo-marrom (Euschistus heros). Devido à frequência e à densidade populacional nas principais regiões produtoras de soja, os maiores danos são comumente relacionados a essa espécie. Além desse, nota-se também a ocorrência de outras espécies como o percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii), o percevejo-verde da soja (Nezara viridula) e o percevejo barriga-verde (Dichelops spp.), dentre outros. Os percevejos causam danos diretos à produtividade, como resultado do abortamento ou má-formação de vagens e grãos e a redução da qualidade dos grãos produzidos. Podem ainda ocorrer danos indiretos, como a retenção foliar, causando a maturação desuniforme, que dificulta a colheita. O controle de percevejos não tem sido uma tarefa fácil, especial-
Fotos Elevagro
Adultos de percevejo-marrom e percevejo-verde-pequeno, importantes pragas sugadoras da soja. Instituto Phytus, Planaltina/DF
Adultos de mosca-branca e presença de fumagina em plantas de soja. Instituto Phytus, Planaltina/DF
mente o percevejo-marrom, pois há poucos grupos químicos disponíveis para o manejo desses fitófagos. Nesse caso, a realização do monitoramento de pragas é imprescindível para definir quais são os melhores momentos e quais os produtos a serem utilizados para a redução populacional dessa praga na lavoura. O percevejo-marrom pode sobreviver de uma safra para outra em áreas de refúgios e abrigos naturais, bem como em plantas daninhas ou em plantas voluntárias (‘tigueras’) presentes no local. Após o estabelecimento da cultura, os adultos migram desses abrigos para a cultura, iniciando sua infestação comumente pelas bordas dos talhões. Na fase vegetativa da soja não são reportados danos dessa praga, mas
12
inicia-se já nessa fase o processo de colonização da lavoura devido à reprodução. A partir da floração começa o chamado período de alerta e, posteriormente, o período crítico de controle que se estende de R4 até o final do enchimento de grãos. Nos períodos de colonização e de alerta, o monitoramento é fundamental, pois se a população atingir o nível de controle, intervenções são necessárias para reduzir a pressão de ataque nos estágios posteriores da cultura. O nível de controle para percevejos tem sido de dois adultos por metro no caso de lavouras para grãos ou um adulto por metro em lavouras para semente. A presença de adultos, ninfas e ovos na área torna o manejo mais
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
complexo, uma vez que a eficácia dos inseticidas varia conforme o estádio da praga. Não se trata de aplicações preventivas ou calendarizadas (não recomendadas), mas sim de intervenções quando a população atinge o nível de controle. Isso para manter as populações abaixo do limiar de dano econômico e evitar a sobreposição de gerações durante o ciclo da cultura. Com relação aos inseticidas indicados para controle de percevejos, não são muitos os grupos químicos disponíveis e, no caso do percevejo-marrom, já existe certa tolerância a determinados grupos. Além do momento de aplicação, é fundamental a escolha correta dos inseticidas e a rotação de mecanismos de ação ao longo do ciclo da cultura. A eficácia dos inseticidas é dependente da densidade populacional, e isso vale para praticamente todos os inseticidas, ou seja, quanto maior a densidade populacional de percevejos na área, menor será o controle dos inseticidas. Dessa forma, permitir que a população atinja níveis elevados da praga, sem a intervenção de controle, resulta em alto risco ao rendimento da lavoura. Outro sugador que tem preocupado bastante, principalmente em regiões tropicais é a mosca-branca (Bemisia tabaci). No Brasil, o biótipo B é o mais comum e abundante. Essa praga, além dos danos diretos na cultura, se destaca pela transmissão de viroses e por excretar substâncias açucaradas durante a alimentação, que propicia o desenvolvimento do fungo Capnodium spp., com consequente formação de fumagina sobre as folhas. A fumagina, além de prejudicar o processo de fotossíntese da planta, faz com que a folha absorva maior radiação solar, podendo provocar “queima" e queda de folhas. Esses danos indiretos contribuem para aumentar as perdas em produtividade da cultura. Assim como para percevejos, o monitoramento da população de
mosca-branca na lavoura é essencial para a execução de um manejo mais eficiente da praga. O monitoramento tem por objetivo identificar o início da infestação, comumente de adultos vindos de revoadas de áreas vizinhas. Amostragens nas plantas devem ser realizadas nos estágios iniciais da fase vegetativa da soja, a partir de V2, e deve ser repetida semanalmente, considerando as condições climáticas da região. Altas temperaturas e períodos de estiagem aceleram o ciclo do inseto, resultando no aumento do número de gerações em uma mesma safra. O uso de inseticidas é a principal estratégia de manejo dessa praga, sendo as misturas de neonicotinoides e piretroides, neonicotinoides isolados, juvenoides e inibidores de síntese de quitina os inseticidas mais usados no manejo. A escolha correta dos inseticidas é importante e para isso deve ser levada em conta a fase em que se encontra a praga. Alguns inseticidas sistêmicos, como os neonicotinoides, atuam eficientemente sobre adultos, e não controlam ovos e ninfas, enquanto os reguladores de crescimento atuam mais eficientemente sobre ninfas e não irão controlar adultos (Tabela 1). O momento de controle é fundamental, visto que a entrada atrasada, quando a densidade populacional da praga estiver alta, com sobreposição de fases e presença de ovos, ninfas e adultos, torna o controle muito mais difícil e de maior custo. Além disso, por ocasião de intervenções tardias, caso sejam utilizados produtos sem ação específica sobre ovos e ninfas, a reinfestação da praga poderá ocorrer de forma rápida, criando a necessidade de novas aplicações. Outro ponto importante relacionado ao uso de inseticidas no controle de pragas diz respeito ao manejo antirresistência, ou seja, adoção de estratégias para evitar ou retardar a evolução de resistência de insetos
Tabela 1 - Principais inseticidas registrados no Mapa para controle de Bemisia tabaci e o seu potencial de ação Inseticida Tiametoxam; Imidacloprido Ciantraniliprole Beta-ciflutrina; Bifentrina Piriproxifem Beta-ciflutrina + imidacloprido Espiromesifeno Diafentiuron Azadiractina Beauveria bassiana
Grupo químico Neonicotinoide Diamida Piretroide Éter piridiloxipropílico Piretroide + neonicotinoide Cetoenol Feniltioureia Tetranortriterpenóide Biológico
Ação sobre a praga Adultos Ninfas e adultos Ninfas e adultos Ovos, ninfas e adultos Ninfas e adultos Ovos, ninfas e adultos Ninfas Ninfas Ninfas e adultos
aos inseticidas. São conhecidos casos de biótipos de mosca-branca resistentes a piretroides, organofosforados, carbamatos, neonicotinoides, reguladores de crescimento, dentre outros. Portanto, é uma praga que apresenta elevado risco para a evolução da resistência e, dessa forma, exige a adoção de estratégias para proteger a eficácia dos inseticidas e prevenir falhas de controle no campo. A rotação de inseticidas com diferentes mecanismos de ação é uma das principais práticas no manejo da resistência. Aliado a isso, é importante utilizar as doses recomendadas em bula e ter atenção aos aspectos relacionados à tecnologia de aplicação, como o uso de misturas em tanque, volume de calda e o espectro de gotas, bem como as condições climáticas no momento da aplicação. Portanto, manejar pragas, especialmente os sugadores, não tem sido uma tarefa tão simples. O manejo eficiente passa pela diversificação das estratégias de manejo, por um monitoramento bem feito e o bom uso dos inseticidas, no que tange à escolha do produto, ao momento de aplicação, à dose e a outros aspectos ligaC dos à tecnologia de aplicação.
Figura 1 - Períodos de importância referentes à ocorrência de percevejos na soja. Adaptado de Embrapa
Tatiane Loback, Instituto Phytus
Tatiane defende a diversificação das estratégias de manejo
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
13
Algodão
Atenção na escolha Guilherme Rolim
O monitoramento anual da suscetibilidade das populações do bicudo-do-algodoeiro é medida imprescindível para orientar as decisões dos produtores e da assistência técnica no momento de escolher inseticidas para o controle da praga
16
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
O
algodão brasileiro é cultivado, em quase sua totalidade, em grandes extensões situadas no bioma Cerrado, onde predominam verão chuvoso, dias longos e altas temperaturas, condições favoráveis ao desenvolvimento da cultura. Porém, os mesmos aspectos climáticos que favorecem o desenvolvimento da planta de algodão e a produção de fibras, contribuem para a ocorrência de grande diversidade de artrópodes, que podem causar prejuízos caso medias de manejo não sejam adotadas corretamente. Dentre as espécies-pragas causadoras de perdas significativas de produtividade destaca-se o bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis grandis Boh. (Coleop-
Figura 1 - Mortalidade de bicudo-do-algodoeiro após 48 horas de exposição a diferentes inseticidas. População coletada em Rondonópolis, Mato Grosso. Safra 2018/2019
tera: Curculionidae). É classificada como praga-chave da cultura do algodão, ou seja, frequentemente atinge o nível de controle. Por esse motivo, mais da metade das pulverizações com inseticidas de amplo espectro é direcionada ao controle do bicudo-do-algodoeiro, especificamente, durante a fase reprodutiva da planta (período que se inicia na emissão dos botões florais e se estende até a abertura total dos capulhos). O desenvolvimento das larvas e pupas do bicudo-do-algodoeiro ocorre no interior das estruturas reprodutivas, causando danos diretos às estruturas de interesse comercial da planta. Esta característica ainda dificulta o seu controle, obrigando a adoção de práticas curativas, focadas no controle da fase adulta da praga. Com a colonização da lavoura e oviposição por vários dias consecutivos, ocorre emergência escalonada de adultos, que requer pulverizações seriadas de inseticidas, em intervalos de tempo de aproximadamente cinco dias. Esta decisão de pulverização tem por objetivo não permitir que os adultos emergidos comecem nova geração. Entretanto, essa decisão de pulverização seriada resulta em elevado número de aplicações ao longo do ciclo da cultura. A média de aplicações específicas para o bicudo, no Brasil, varia de 12 a 15, mas não raramente há relatos de até 25. Os principais inseticidas utilizados para o controle do bicudo-do-algodoeiro são de amplo espectro de ação como organofosforados, carbamatos, piretroides e algumas misturas prontas para uso de neonicotinoides + piretroides. Com exceção de eventuais observações de redução de eficiência para os piretroides, estes inseticidas ainda apresentam um bom controle da praga, podendo contribuir também no manejo de outras pragas que podem se dar de forma simultânea com o A. grandis grandis. Os piretroides estão entre os inseticidas mais utilizados, por não causarem fitotoxicidade (quando aplicados nas doses recomendadas), apresentar risco reduzido para mamíferos, ter um número elevado de ingredientes ativos disponível e registrado para recomendação, possuir elevada toxicidade a várias pragas e ter custo reduzido quando comparado aos outros inseticidas de amplo espectro de ação registrados (Elliott, 1976). O uso abusivo de um único modo de ação acarreta surgimento de populações resistentes do inseto, o que não é diferente com o bicudo-do-algodoeiro. A resistência a inseticidas é então definida como a habilidade herdada de um organismo de tolerar as doses de um agrotóxico que seriam letais para a maioria dos indivíduos da espécie (Croft et al, 1988), resultando, assim, em falhas de controle satisfatório. Casos de resistência e alta tolerância do bicudo-do-algodoeiro a piretroides como ciflutrina e cipermetrina, respectivamente, já foram registrados nos EUA (Kanga et al, 1995). No Brasil, baixa eficácia de piretroides era questionada por produtores e pesquisadores, sendo muitas vezes justificada por fatores como clima (chuvas, altas temperaturas durante as aplicações) ou logística de aplicação (época, dosagens etc). Essas justificativas foram aceitas até o primeiro relato técnico realizado pelo IMAmt, que apontou falha de controle de alguns piretroides em testes realizados em condições de campo (Soria et al, 2013). Após as primeiras observações de redução de eficiência dos piretroides, iniciaram-se os levantamentos toxicológicos realizados pelo IMAmt, e a partir de 2014, foi revelada a redução anual
Figura 2 - Mortalidade do bicudo-do-algodoeiro proveniente de três diferentes localidades do estado de Goiás (Montividiu 1 e 2, e Cristalina), após 72 horas de exposição a diferentes inseticidas utilizados no sistema algodoeiro. Safra 2018/2019. Observação: TMX = tiametoxam
Figura 3 - Redução da eficiência de quatro piretroides e um éter difenílico para o bicudo-do-algodoeiro, em função da safra de algodão. Populações dos estados de Mato Grosso e Goiás
*Referências citadas no texto poderão ser disponibilizadas via e-mail sob solicitação.
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
17
Guilherme Rolim
mentais para a conservação das poucas opções de inseticidas, ainda, disponíveis. O uso adequado dos produtos irá contribuir para o manejo eficaz e supostamente o reestabelecimento da suscetibilidade, para os inseticidas que estão ocasionando baixa mortalidade, devido à sua seleção para a resistência.
CONSIDERAÇÕES
Insetos foram submetidos a diferentes doses e ingredientes ativos para controle do bicudo
da eficiência de alguns princípios ativos (Figura 1) (ver publicações: Circulares técnicas nº 27, nº 31, nº 39 e nº 44 disponíveis em: http://www. imamt.com.br/home/outraspublicacaos/). Os últimos levantamentos toxicológicos realizados pelo IMAmt, com populações do Mato Grosso, mostram que piretroides ou as misturas de dois piretroides apresentaram eficácia inferior a 50% (Figura 1). Além disso, estudos realizados pela equipe do Instituto Goiano de Agricultura (IGA), com populações de bicudo-do-algodoeiro de Goiás, também apontam redução gradual da mortalidade causada por alguns piretroides (Figuras 2 e 3). A redução da eficiência de piretroide pode estar relacionada ao uso constante, uma vez que diferentes ingredientes ativos com similar modo de ação são amplamente utilizados para controle do bicudo-do-algodoeiro e de outras pragas na cotonicultura, o que, por sua vez, pode contribuir para a seleção de populações da praga, capazes de tolerar as doses recomendadas destes inseticidas. Tal fato pode ter impactos diretos sobre o manejo de pragas na cultura, tanto pelo fato de serem de baixo custo, baixa toxicidade, largo espectro e participar de várias misturas recomendadas para o controle de diferentes pragas do algodoeiro. Isso poderá aumentar a pressão de seleção das populações do bicudo-do-algodoeiro a outros ingredientres ativos, uma vez que a redução do uso de piretroides
18
irá contribuir para o uso mais frequente de grupos químicos que, ainda, permanecem eficentes (Rolim et al, 2019). Para os demais inseticidas amplamente utilizados para o controle do bicudo-do-algodoeiro, a eficiência tem sido satisfatória, especialmente para os organofosforados, carbamatos e fenilpirazois (Figuras 1 e 2). Esta eficácia é similar para insetos do Mato Grosso e de Goiás (Figuras 1 e 2), inclusive variando pouco entre as diferentes populações utilizadas nos experimentos em Goiás (2 de Montividiu, Goiás, e 1 de Cristalina, Goiás) (Figura 2). De acordo com os resultados e as observações em campo, é possível afirmar que com exceção dos piretroides, os demais inseticidas recomendados ainda oferecem controle satisfatório do bicudo-do-algodoeiro. No entanto, as falhas de supressão da população do bicudo-do-algodoeiro resultam em alta densidade populacional na fase final da cultura. Isso pode ser atribuído à não detecção correta da infestação na fase inicial da lavoura, à adoção de produtos de baixa eficiência bem como a erros no momento correto das aplicações seriadas. Desta forma, o monitoramento da suscetibilidade de populações e o uso racinal e rotacionado de ingredientes ativos com modos de ação distintos são funda-
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
1) Dentre os inseticidas registrados para o controle do bicudo-do-algodoeiro, ingredientes ativos pertencentes a organofosforados, carbamatos, neonicotinoides (por exemplo tiametoxam) e fenilpirazois, são os mais indicados tanto pela eficácia oferecida, como por possuírem diferentes modos de ação. 2) A baixa eficiência de alguns piretroides pode estar relacionada com a seleção de populações resistentes, devido ao extenso uso na cultura do algodoeiro, bem como nos agroecossistemas do Cerrado, onde o bicudo pode estar presente em plantas tigueras. 3) O monitoramento anualmente da suscetibilidade das populações do bicudo-do-algodoeiro é essencial para subsidiar decisões dos produtores e assistência técnica na escolha dos inseticidas a serem utilizados. Ainda, fornecer dados para a recomendação de práticas de mitigação dos possíveis casos de resistência. 4) O bicudo-do-algodoeiro, por ser uma praga de difícil controle, demanda considerar todas as ferramentas disponíveis para o manejo, e não somente as aplicações de inseticidas químicos. Destruição das soqueiras de algodão após a colheita e controle efetivo das tigueras de algodoeiro na soja e/ou milho, bem como cumprir o período recomendado de vazio sanitário para a sua região, são ferramentas essenciais para a restrição do crescimento poC pulacional da praga. Guilherme Gomes Rolim, Instituto Mato-grossense do Algodão Eduardo Moreira Barros, Instituto Goiano de Agricultura Lucas Souza Arruda, Fundação Bahia Jorge Braz Torres, Universidade Federal Rural de Pernambuco Jacob Crosariol Netto, Instituto Mato-grossense do Algodão
Empresas
Divulgação
Capacidade ampliada
Nova área da unidade fabril de produtos biológicos da Microquimica Tradecorp, em Monte Mor, São Paulo, recebeu investimento de mais de 1 milhão de dólares
A
Microquimica Tradecorp, empresa que atua na produção e comercialização de biofertilizantes, fertilizantes foliares, inoculantes, adjuvantes e reguladores de crescimento vegetal, inaugurou em outubro a ampliação da sua unidade fabril de produtos biológicos, localizada no município de Monte Mor, em São Paulo. A nova área possui capacidade para produzir duas vezes mais que o volume atual. O investimento de mais de 1 milhão de dólares inclui sistema com alto nível de automatização. O objetivo com a ampliação é de aumentar a participação no mercado nacional, com possibilidade de começar as exportações de biológicos para outros países a partir de 2020. “O cenário é positivo, mas para chegarmos a esta meta, será necessário enfrentarmos as burocracias do mercado externo. Inicialmente temos muitos estados brasileiros que
podemos atingir e que vão se beneficiar dos nossos produtos”, avaliou o diretor de Operações da Microquimica Tradecorp, Rafael Leiria Nunes. Atualmente as maiores vendas da empresa ocorrem nos estados de Mato Grosso, São Paulo e Paraná, que contribuem com 33%, 14% e 9%, respectivamente, dos volumes comercializados no País. Com a nova estrutura, de mil metros quadrados aproximadamente, as pesquisas também serão ampliadas. “Neste local teremos a possibilidade de fabricar novos produtos, que hoje são ter-
ceirizados. Isso mostra o potencial que temos aqui dentro”, destacou Nunes. Desde 2006 a empresa é a única no Brasil com fábrica dedicada à produção de aminoácidos exclusivamente para uso agrícola, através de processo fermentativo controlado. O diretor-geral, Jorge Luis de Almeida, comemorou a ampliação. “Conseguimos realizar o objetivo que era de dobrar nossa capacidade de produção de inoculantes e também biofertilizantes. Fizemos um investimento bastante interessante, que somou mais de 1 milhão de dólares. Isso permite que possamos atingir uma produtividade de 16 milhões de doses de inoculantes e de 400 mil litros de biofertilizantes. Acreditamos que o futuro da agricultura passe por biofertilizantes, que no mundo todo são conhecidos como bioestimulantes”, projetou Almeida. A Microquimica Tradecorp tem investido muito no segmento, após se tornar a primeira empresa a obter o registro de um biofertilizante junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Depois de um extenso trabalho de pesquisa, em parceria com universidades e fundações, e também de tratativas com o órgão regulador o registo do Vorax, é um marco fundamental, pois inaugura oficialmente uma nova classe de insumos agrícolas à disposição dos produtores brasileiros.” O Vorax é um biofertilizante obtido através de fermentação biológica do melaço de cana, resultando em um produto rico em aminoácidos e metabólitos. Pesquisas comprovaram sua ação positiva no metabolismo do nitrogênio, do carbono e também nos processos oxidativos das plantas, com efeito na redução de estresses e aumento C na produção final.
Almeida e Nunes explicaram os avanços na capacidade de produção proporcionados pelo investimento
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
19
Plantas voluntárias
Cuidado permanente Fotos Fundação ABC
O manejo sustentável de plantas voluntárias e de daninhas resistentes a herbicidas passa por diminuição de custos e preservação das tecnologias disponíveis para o controle. Para que isso seja possível são necessárias medidas preventivas, adotadas ao longo de todo o ano agrícola e não somente no período dos cultivos de inverno ou verão
P
lantas voluntárias, também chamadas de tigueras, são aquelas provenientes de uma espécie cultivada e que ocorrem na sucessão ou rotação de cultivos. Essas voluntárias são indesejadas e consideradas plantas daninhas, pois competem com a cultura de interesse comercial por água, luz, nutrientes e CO2, bem como podem ser hospedeiras de pragas e fitopatógenos, além de resultar em prejuízos na produção da cultura comercial. Na região Sul do País é comum o cultivo de soja após o trigo, de milho safrinha após a soja, de soja após o milho e de feijão após a soja. Portanto, nessas situações o milho, a soja ou o trigo podem se tornar uma planta daninha indesejável. Também é preciso considerar que, depois da ampla adoção de culturas geneticamente tolerantes a determinados herbicidas, como a soja RR e o milho RR, tolerantes ao glifosato, o controle dessas voluntárias se tornou mais complexo e mais oneroso para o produtor.
20
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
O milho voluntário ressurgiu como planta daninha problemática em sistemas de rotação de culturas de milho/ soja e o aumento da infestação tem sido correlacionado ao aumento da adoção de híbridos de milho tolerantes a herbicidas e do sistema de plantio direto. As plantas voluntárias podem emergir como plantas individuais, devido à perda de grãos, ou em tufos resultantes da queda de espigas ou do acamamento de plantas. Atualmente, o manejo do milho RR voluntário envolve o uso de graminicidas (inibidores da ACCase), que apresentam um intervalo de sete dias a 14 dias, dependendo do herbicida, entre a aplicação e a semeadura das gramíneas sem que resultem em efeitos negativos na cultura sucessora. Entretanto, as opções de controle variam em função do estádio de desenvolvimento do milho voluntário. Em geral, o controle é maior sobre plantas mais novas (até duas folhas) e a dose necessária do herbicida também é menor.
Figura 1 - Efeito da competição de plantas voluntárias de milho RR sobre a produtividade da soja. Fundação ABC, 2012
Eficácia de diferentes graminicidas em dessecação de plantas voluntárias de milho RR com mais de sete folhas desenvolvidas. Fundação ABC, 2018
Com plantas maiores, de três a quatro folhas, os controles podem ser reduzidos, e sobre plantas com mais de sete folhas a eficácia fica limitada à escolha do herbicida. Os graminicidas “fops” costumam ter maior eficácia sobre plantas de milho voluntário, principalmente plantas grandes, quando comparados com graminicidas “dims”. Esse fator é importante, pois a perspectiva de lançamento dos híbridos tolerantes ao haloxifop pode alterar a dinâmica de controle dessas voluntárias. E qual a importância em manejar de forma eficaz as plantas voluntárias de milho RR? Quando ocorrem dentro da soja, a competição entre plantas pode resultar em perdas significativas na produtividade da cultura. Uma única planta de milho RR por metro quadrado pode resultar em perdas na produtividade da soja de aproximadamente 30%, e em infestações mais altas, como quatro plantas/m², as perdas podem chegar a 64% (Figura 1). Outro exemplo é a presença de plantas voluntárias de soja na cultura do milho, porém nessa situação o manejo não é tão complexo, pois a atrazina, herbicida muito utilizado na pós-emergência do milho, apresenta boa eficácia no controle de voluntárias de soja RR. Porém, quando essas plantas ocorrem na entressafra haverá mais um desafio, pois além de serem tolerantes ao glifosato podem tolerar herbicidas do grupo das sulfonilureias, tecnologia chamada de STS. Estas
plantas de soja limitam ainda mais as opções de controle disponíveis, e entre os herbicidas mimetizadores de auxina o triclopir e o dicamba são os mais eficazes, mesmo quando aplicados sobre plantas adultas, o glufosinato também é alternativa para o manejo dessas voluntárias. No caso da soja, o manejo de voluntárias é necessário devido ao vazio sanitário, período em que o campo deve ser mantido sem a presença de plantas de soja, mesmo que voluntárias. Esse período deve ser respeitado para reduzir a quantidade de esporos da ferrugem-asiática durante a entressafra, que tem impacto negativo
na produtividade da próxima safra de soja. Além das plantas voluntárias, a entressafra é um período propício para a multiplicação de espécies que possuem crescimento rápido, como a buva (Conyza spp.) e o capim-amargoso (Digitaria insularis). Estas espécies são favorecidas nas áreas de pousio, porém nas áreas com manejo de entressafra são mantidas sob controle. No manejo de buva resistente ao herbicida glifosato o problema se agrava, visto que quanto maior for o intervalo entre a colheita da cultura de verão e a semeadura do inverno a buva tem mais tempo para se desenvolver e no
Figura 2 - Período de emergência (em vermelho) e momentos de controle da buva em áreas com cereais de inverno ou com milho safrinha. Fundação ABC, 2017
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
21
Fundação ABC
Emergência de buva em área de pousio (esquerda) e com cobertura de aveia no inverno (direita). Fundação ABC, 2015
controle dessa espécie o estádio de aplicação é determinante para o sucesso do controle. Nas áreas de milho safrinha o manejo outonal é realizado logo após a colheita, quando as plantas de buva ainda estão pequenas, garantindo um bom controle com os herbicidas disponíveis. É importante lembrar que a buva emerge no campo no período de abril a setembro (Figura 2) e logo após sua emergência o controle químico é mais fácil. Porém, vale lembrar que períodos prolongados de estiagem nas safras de inverno podem resultar em emergência mais tardia das plantas de buva, principalmente nos meses de julho e agosto, com isso é comum observar plantas de buva dentro da cultura de verão. Essas plantas produzem sementes e podem, na safra de verão seguinte, resultar em maiores perdas de produção se não manejadas no momento adequado, ou seja, no período do outono/inverno, assim que finalizada a colheita do verão. Então, é importante lembrar que nessas situações as plantas de buva são “velhas”, que foram cortadas pela colheitadeira no momento da colheita do verão e que são mais difíceis de controlar. O uso de herbicidas mimetizadores de auxina associados ao glifosato era uma das maneiras mais eficientes de controle da buva resistente e atualmente a associação de um inibidor da Protox à auxina é uma opção que
22
resulta em maior controle e diminui o rebrote das plantas. Para o controle ser efetivo, a aplicação deve ser realizada sobre as plantas novas de buva com até 12cm de altura, pois a partir desse estádio o controle é menor e em alguns casos não ocorre efetivamente. Porém, esses controles alternativos têm um custo, então devem ser adotadas estratégias de controle sustentáveis que envolvam o manejo de todas as plantas daninhas não somente no momento da dessecação. Além do controle químico, a palha formada no sistema durante o período de inverno é uma ferramenta utilizada no manejo de buva. Em áreas em que o solo permance coberto durante o inverno a palha forma uma barreira física que dimimui a emergência das plantas de buva. Diferentemente da buva, o capim-amargoso é uma planta perene e seu fluxo de emergência ocorre durante todo o ano. Mas em fevereiro e março podem ocorrer os maiores fluxos. O crescimento inicial dessa planta é lento, em torno de 40 dias. Após esse período o crescimento é muito rápido e a planta pereniza e forma rizomas. Então, as estratégias de manejo devem ser adotadas logo no início de seu desenvolvimento, garantindo a sua eficácia. Devido ao rápido crescimento dessa planta daninha, a maior dificuldade está no manejo de touceiras. Atualmente seu controle é realizado com
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
aplicações sequenciais de herbicidas que envolvem a dessecação das touceiras com um inibidor da ACCase, sendo necessário ajustar a dose de aplicação. A segunda aplicação é realizada no dia do plantio da soja com um herbicida dessecante (paraquat ou glufosinato) e em alguns casos é efetuada uma terceira aplicação com graminicida na pós-emergência da soja. Portanto, ocorre aumento da pressão de seleção para novos casos de resistência devido ao crescimento de uso dos herbicidas inibidores da ACCase, além é claro dos incrementos significativos no custo de produção da soja. Outra alternativa que deve ser utilizada pensando em um manejo preventivo é o uso de herbicidas residuais no dia do plantio da soja, pois auxiliam na redução do banco de sementes presente no solo e são uma ótima ferramenta para controle de novos fluxos de capim-amargoso. Independentemente do manejo de dessecação, diversas espécies de plantas daninhas podem emergir no período entre a colheita da cultura de verão e a semeadura dos cereais de inverno. Espécies como Commelina benghalensis (trapoeraba), Spermacoce latifolia (erva-quente), Ipomoea spp. (corda-de-viola), Richardia brasiliensis (poaia-branca), Chamaesyce hirta (erva-de-santa-luzia) e Chloris polydacyla (capim-barbicha-de-alemão) também merecem toda a atenção para evitar que se tornem problema cuja solução represente aumento nos custos de produção na safra de verão seguinte. Portanto, para um manejo sustentável de plantas voluntárias e de plantas daninhas com menores custos, preservando as tecnologias atualmente disponíveis, é necessário adotar medidas preventivas durante todo o ano agrícola e não somente dentro das culturas de inverno ou C de verão.
Eliana Fernandes Borsato, Luis Henrique Penckowski e Evandro Maschietto, Fundação ABC
Capa
Vizinhança de Descoberta recente de picão-preto resistente a glifosato e a imazethapyr no Paraguai acende sinal de alerta no Brasil, uma vez que os dois países compartilham sistemas de produção semelhantes, com emprego de sucessão de soja RR e milho RR, aliado ao compartilhamento de maquinário agrícola em áreas próximas à fronteira
D
esde a década de 1980, quando ainda se cultivava soja convencional no Brasil, o picão-preto tem apresentado resistência a herbicidas. Nesta época era comum o uso de inibidores da ALS em pós-emergência da soja para o controle de plantas daninhas, o que resultou, no início dos anos 1990, na constatação do primeiro caso de resistência de picão-preto a inibidores da ALS. O glifosato passou a ser o principal produto utilizado na cultura da soja após o início da comercialização de sementes com a tecnologia de tolerância a este herbicida (Soja RR). O problema do picão-preto resistente a inibidores da ALS deixou
24
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
de ser preocupante, visto que a aplicação de glifosato apresentava elevado controle desta espécie, até então. Depois de mais de dez anos de adoção da tecnologia RR, as primeiras populações de picão-preto selecionadas como resistentes ao glifosato foram encontradas recentemente no Paraguai. Pelo menos em dois municípios já foram confirmadas populações com resistência (Figura 1).
TESTES PARA CONFIRMAÇÃO DA RESISTÊNCIA
Os pesquisadores do Núcleo de Estudos Avançados em
risco Ciência das Plantas Daninhas (NAPD/ UEM), da Embrapa Soja e da Farm Consultoria realizaram experimentos para confirmar o caso de resistência. Em casa de vegetação, doses crescentes de glifosato foram aplicadas nas populações suspeitas (R) e em uma população suscetível (S), quando as plantas se encontravam com três folhas. Aos 21 dias após a aplicação foi possível constatar que as doses normalmente eficientes para o controle de picão-preto (480g e.a./ha a 1.920g e.a./ha) não foram suficientes para controlar a população suspeita. Em contrapartida, 100% das plantas suscetíveis foram controladas (Figura 2). Baseado no fator de resistência FR (dose para 50% de controle da R / dose para 50% de controle da S), a população avaliada foi pelo menos 8,8
Figura 1 - Localização de populações de picão-preto (Bidens subalternans) resistentes ao glifosato no Paraguai
vezes mais resistente que a suscetível. O mesmo procedimento de avaliação de resistência foi realizado para imazethapyr, e assim como várias outras populações já identificadas por pesquisadores brasileiros, elevados FR foram encontrados (>58,7). Os experimentos foram conduzidos duas vezes (2018 e 2019) na geração F1 das plantas coletadas no campo.
A ESPÉCIE
Duas espécies de picão-preto são muito comuns em lavouras de grãos: Bidens pilosa e Bidens subalternans. Apesar da dificuldade para diferenciá-las, algumas características das plantas distinguem as duas espécies. As bordas do segundo par de folhas são diferentes nas duas espécies (Figura 3). Os ramos secundários apresentam dicotomia (inserção alternada no ramo principal) em B. subalternans no terço su-
Rafael Romero Mendes
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
25
Figura 2 - Dose-resposta de glifosato (em g de equivalente ácido) em populações de picão-preto (Bidens subalternans) resistente (R) e suscetível (S) ao glifosato. População resistente proveniente de Santa Rosa del Monday (Paraguai)
Fotos Rafael Romero Mendes
É fundamental monitorar as áreas infestadas, principalmente aquelas com trânsito de maquinário agrícola em regiões de fronteira
Figura 3 - Diferenças entre Bidens subalternans (imagens à esquerda) e Bidens pilosa (imagens à direita)
perior das plantas, o que não ocorre em B. pilosa (Figura 3). A populações do Paraguai avaliadas foram identificadas como Bidens subalternans.
CONTROLE
Dentre os herbicidas recomendados para o controle de picão-preto, para os quais ainda não existem casos de resistência, estão os inibidores do fotossistema I (paraquat e diquat), inibidores da glutamina-sintetase (amônio-glufosinato), mimetizadores de auxina (2,4-D e dicamba), inibidores da Protox (lactofen, fomesafen) que podem ser aplicados em pós-emergência e inibidores da síntese de carotenoides (clomazone) e inibidores da Protox (flumioxazin) recomendados em pré-emergência. Inibidores do fotossistema II (atrazine e bentazon) podem ser eficientes, entretanto é necessário ter cautela com o uso destes herbicidas, pois já existem casos de resistência em áreas de produção de soja e milho no Brasil . Brasil e Paraguai compartilham sistemas de produção semelhantes. Atualmente, a sucessão soja RR e milho RR é a mais utilizada nestes países, o que leva a aplicações frequentes de glifosato, o que sugere que pode estar ocorrendo a seleção de populações resistentes em outros locais. Produtores do Paraguai também compartilham maquinário agrícola com áreas de produção brasileiras, e as sementes que transitam nos equipamentos podem estar sendo espalhadas para outras áreas. É fundamental monitorar as áreas infestadas, principalmente aquelas com trânsito de maquinário agrícola em regiões de fronteira. Medidas de prevenção de resistência e de controle alternativo também são importantes, tais como rotação de culturas, diversificação da escolha de mecanismos de ação de herbicidas, limpeza de máquinas e equipamentos agrícolas, capinas e uso de culturas C de cobertura.
26
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
C
Rafael Romero Mendes, Vanessa Francieli Vital Silva, Lucas Mateus Padovese e Rubem Silvério de Oliveira Jr., Universidade Estadual de Maringá Fernando Storniolo Adegas, Embrapa Soja
Soja
Mais cedo
O manejo precoce do percevejo-marrom, antes do início da reprodução, quando na área forem encontrados apenas adultos oriundos da diapausa na entressafra, sem a presença de ovos e de ninfas, poderia resultar na diminuição da população da praga e reduzir a sua multiplicação
O
Dirceu Gassen
s percevejos fitófagos são considerados o principal problema entomológico da cultura da soja no Brasil. O percevejo-marrom, Euschistus heros (Fabricius, 1974) (Hemiptera: Pentatomidae), o percevejo-verde-pequeno, Piezodorus guildinii (Westwood, 1837) (Hemiptera: Pentatomidae), e o percevejo barriga-verde, Dichelops melacanthus (Dallas, 1851) (Hemiptera: Pentatomidae) são as três espécies mais abundantes que ocorrem em cultivos do Cerrado brasileiro. A intensidade de danos desses insetos nos cultivos é variável, de acordo com a espécie e com a densidade populacional em que ocorrem, bem como com o estádio de desenvolvimento das plantas hospedeiras,
sendo os percevejos verde-pequeno e barriga-verde os mais daninhos na soja e no milho, respectivamente, enquanto o percevejo-marrom é a espécie que ocorre em maior abundância na soja. A colonização das plantas de soja pelos percevejos começa em meados ou final do período vegetativo da cultura. Nesta época, os percevejos estão saindo da diapausa ou de hospedeiros alternativos e migram para a soja. Com o início do período reprodutivo, a partir do aparecimento das vagens, as populações desses insetos, especialmente de ovos e ninfas, aumentam exponencialmente, podendo atingir níveis elevados entre o final do desenvolvimento das vagens e o início do enchimento dos grãos, época em que a soja é mais suscetível ao ataque dessa praga. Os danos causados pelos percevejos nas plantas de soja são decorrentes da introdução do seu aparelho bucal (estilete) nas vagens, podendo atingir os grãos ou as sementes em desenvolvimento, sendo estes danos irreversíveis a partir
de determinados níveis populacionais. Os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e com a cor mais escura que o normal, podendo apresentar doenças como a mancha-fermento, causada pelo fungo Nematospora corily, transmitido durante a alimentação. Ataques nos estádios R3 e R4 podem favorecer o abortamento de vagens, enquanto nos estádios de enchimento de vagens (R5) podem afetar negativamente, tanto o rendimento da cultura como a qualidade dos grãos ou sementes produzidos, provocando também alterações nos teores de proteína e de óleo. Além do dano direto, um ataque severo de percevejos na soja pode causar distúrbio fisiológico nas plantas, o que, em consequência, proporciona o aparecimento de retenção foliar e/ou haste verde, fenômeno este conhecido como soja louca, que retarda e/ou dificulta a colheita da soja. Nos estádios da soja que apresentam suscetibilidade ao ataque dos percevejos (após R3), o controle deve ser realizado com base nos níveis de ação determinados pela pesquisa, que são de dois percevejos por metro de fileira de plantas para lavouras de grãos e um percevejo por metro de fileira para lavouras destinadas a sementes. O controle de percevejos sugadores na cultura de soja tem sido realizado basicamente com o emprego de inseticidas químicos e é recomendado somente a partir do estádio R3, ou seja, quando inicia-se a formação dos "canivetinhos", que são os primórdios do desenvolvimento das vagens. Todavia, existe a possibilidade do manejo desses insetos ocorrer de forma mais precoce, "no cedo", especialmente quando na área forem encontrados apenas adultos do percevejo oriundos da diapausa na entressafra, sem a presença de ovos e de ninfas dessa praga na cultura, ou seja, realizando-se o seu controle antes que essa praga comece o seu período de reprodução. Essa situação de controle tem por objetivo reduzir a população dos percevejos diapausantes e com isso atrasar sua colonização na cultura. Existem também evidências de que os percevejos diapausantes de início de safra são muito mais suscetíveis aos inseticidas químicos disponíveis em comparação aos percevejos de final de
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
27
Fotos Dirceu Gassen
O percevejo-marrom é a espécie que ocorre em maior abundância na soja
safra, o que reforça mais ainda a possibilidade do manejo “no cedo” dessas pragas na cultura da soja. Esta estratégia de controle tem sido denominada de manejo antecipado, uma vez que é realizada quando a densidade populacional do inseto na cultura é inferior ao nível de controle recomendado. Nestas condições, é possível a redução da população dos percevejos no início de sua colonização, retardando assim a sua multiplicação populacional na cultura da soja. Em adição, o uso de sal de cozinha (NaCl) na calda inseticida tem se mostrado uma técnica que pode proporcionar um efeito aditivo de mortalidade do percevejo em comparação a tratamentos químicos sem a presença do sal. Dessa forma, estudos com o objetivo de compreender os efeitos da exposição de inseticidas comumente utilizados para controle do percevejo E. heros na cultura soja, com a adição de sal de cozinha (NaCl), merecem atenção. Assim, conduziu-se uma pesquisa na Embrapa Agropecuária Oeste com o objetivo avaliar a eficiência de diferentes ingredientes ativos associados à presença ou à ausência de sal de cozinha (NaCl) na calda inseticida, quando aplicados de forma antecipada na cultura da soja para o controle “no cedo” do percevejo-marrom.
CONTROLE QUÍMICO ANTECIPADO DO PERCEVEJO-MARROM NA SOJA
O experimento foi conduzido na área experimental da Embrapa Agropecuária Oeste, no município de Dourados, Mato Grosso do Sul, durante a safra 2014/2015, utilizando-se a cultivar de soja Brasmax Potência RR. Após a semeadura e a emergência, realizou-se o monitoramento do percevejo nas plantas da cultura, a partir do final do estádio vegetativo V3 (três folhas abertas), com auxílio do método de pano de batida (1,5m de largura x 1m de comprimento). As pulverizações foram realizadas quando as plantas de soja encontravam-se no estádio vegetativo V8, sendo os tratamentos químicos aplicados na soja com pulverizador de pressão constante (CO2) contendo uma barra de dois 28
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
metros de largura, equipada com bicos do tipo leque, operando com pressão de 45 PSI e volume de calda de 200L/ha. Foram avaliados sete tratamentos químicos (i.a.) no controle do percevejo-marrom, sendo os inseticidas aplicados na soja com e sem a adição de 0,5% de sal de cozinha (NaCl) na calda inseticida (Tabela 1). A unidade experimental (parcela) consistiu-se de 22 fileiras de soja com 20 metros de comprimento cada. Avaliou-se a densidade populacional de percevejos (ninfas grandes + adultos) em pré-contagem (PC) e aos dois, cinco, dez e 15 dias após a aplicação (DAA) dos inseticidas nas plantas de soja, utilizando, para isso, o pano de batida e realizando-se cinco amostragens em cada parcela. O experimento foi conduzido em delineamento experimental de blocos ao acaso com cinco repetições. Com relação aos resultados obtidos do controle químico do percevejo-marrom, de forma antecipada na cultura soja, verificou-se que a densidade populacional do percevejo por ocasião da instalação do ensaio no estágio vegetativo V8 (pré contagem) encontrava-se, no máximo, com 0,2 percevejo por pano de batida (Tabela 2). Todos os tratamentos químicos avaliados durante o ensaio, independentemente da presença ou ausência do sal na calda inseticida, reduziram significativamente a densidade populacional de ninfas grandes + adultos do percevejo-marrom na soja nas quatro avaliações realizadas no ensaio quando comparado ao tratamento testemunha (Tabelas 2 e 3). Porém, as maiores eficiências de controle do percevejo foram observadas nas duas primeiras avaliações do ensaio (2 e 5 DAA), quando os tratamentos químicos proporcionaram relativamente elevados níveis de controle da praga, sem que diferisse, estatisticamente, entre si (Tabela 2). Aos 2 DAA apenas o tratamento imidacloprido + betaciflutrina (75g i.a/ha + 9,37g i.a./ha), sem o sal, apresentou 80% de eficiência de controle do percevejo, enquanto os demais tratamentos químicos apresentaram 100% de mortalidade da praga (Tabela 2). Aos 5 DAA, as maiores eficiências de controle foram observados nos tratamentos químicos com a presença do sal de cozinha, embora esses níveis de controle não diferissem estatisticamente dos tratamentos químicos sem a presença do sal (Tabela 2). Já aos 10 DAA, apenas o tratamento com imidacloprido + bifentrina (75g i.a/ha + 9,37g i.a./ha), sem adição de sal na calda inseticida, teve a população do percevejo que não diferiu do tratamento testemunha, apresentando uma densidade de dois percevejos por pano de batida (Tabela 3), demonstrando, provavelmente, uma perda do efeito residual deste tratamento em comparação aos demais tratamentos químicos avaliados no ensaio. Na última avaliação realizada no ensaio (15 DAA), todos os tratamentos químicos continuaram reduzindo significativamente a população de percevejos na soja, quando comparados à testemunha, porém com níveis relativamente menores de controle da praga, em especial nos tratamentos químicos sem a presença do sal (Tabela 3). No passado, estudos demonstraram que a adição de sal de cozinha (NaCl), na concentração de 0,5%, na calda de inseticidas organofosforados possibilitava uma redução de 50% da dose do inseticida, sem que ocorresse prejuízo na eficiência de controle do percevejo na cultura da soja. A utilização do sal de cozinha na calda de pulverização proporciona um aumento do contato dos percevejos ao inseticida aplicado, uma vez que o sal afeta o seu comportamento, aumentando sua atividade de “tateamento” do alimento, causando um efeito denominado de arrestante, ou seja, que intensifica o tempo de permanência
Os danos causados pelos percevejos em soja são decorrentes da introdução do seu aparelho bucal (estilete) nas vagens
do inseto sobre a superfície tratada, o que, consequentemente, expõe os percevejos ao contato mais frequente com os inseticidas. Todavia, esse efeito sinérgico da adição do sal de cozinha ainda requer mais estudos que esclareçam por que o sinergismo somente ocorre para alguns grupos de inseticidas, bem como por que o sal de cozinha funciona apenas como fagoestimulante. Aos 2 DAA, o tratamento imidacloprido + betaciflutrina (75g i.a/ha + 9,37g i.a./ha) sem o sal na calda inseticida apresentou 80% de eficiência de controle do percevejo, enquanto este mesmo tratamento com a adição do sal mostrou 100% de controle, comprovando assim o efeito aditivo de mortalidade do sal no controle do percevejo-marrom na soja para este tratamento. Aos 10 DAA e 15 DAA todos os tratamentos químicos apresentaram eficiência de controle inferior a 80%, não sendo mais considerados eficientes do ponto de vista agronômico (controle maior ou igual a 80%, nível mínimo de redução populacional da praga para que um produto possa ser considerado eficiente do ponto de vista agronômico), embora os tratamentos contendo o sal apresentassem numericamente maiores níveis de controle em comparação aos tratamentos sem sal. O comportamento do percevejo-marrom, próximo ao início da floração da soja, é de sair da condição de oligopausa dos hospedeiros alternativos e infestar as plantas de soja para começar o seu processo de reprodução e colonização na cultura. Supostamente, a pulverização para controle desta praga “no cedo”, isto é, de forma antecipada na cultura, como a realizada nesta pesquisa, proporciona o controle dos adultos do
inseto em fase final da diapausa, período este que normalmente se observa ao final do período vegetativo e início da floração
da soja. Estudos também mostram que os percevejos fitófagos da soja, em sua fase final de diapausa, são mais suscetíveis aos inseticidas químicos que os percevejos encontrados ao final de safra (Baur et al, 2010), reforçando-se mais ainda a viabilidade de controle destes percevejos nestes estágios de desenvolvimento da cultura. Entretanto, cabe ressaltar que o controle de percevejos na cultura da soja de forma antecipada não é recomendado pela Comissão de Pesquisa de Soja, em especial quando a pulverização é realizada no final do período vegetativo C da cultura.
Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Paulo Henrique R. Fernandes e Ivana Fernandes da Silva, Universidade Federal da Grande Dourados
Tabela 1 - Tratamentos químicos (em g i.a./ha) utilizados no ensaio de controle antecipado do percevejo Euschistus heros na cultura da soja. Dourados, MS Tratamentos Dose (g i.a./ha) Grupo químico Testemunha Imidacloprido + Betaciflutrina 75,0 + 9,37 Neonicotinoide + Piretroide Thiametoxam + Lambdacialotrina + Lufenuron 37,5 + 25,0 + 18,75 Neonicotinoide + Piretroide +Benzoilureia Imidacloprido + Bifentrina 100,0 + 20 Neonicotinoide + Piretroide Imidacloprido + Betaciflutrina + 0,5% de sal1 75,0 + 9,37 Neonicotinoide + Piretroide + NaCl Thiametoxam + Lambdacialotrina + Lufenuron + 0,5% de sal1 37,5 + 25,0 + 18,75 Neonicotinoide + Piretroide +Benzoiluréia + NaCl Imidacloprido + Bifentrina + 0,5% de sal1 100,0 + 20,0 Neonicotinoide + Piretroide + NaCl 1Adicionado na calda inseticida no momento da pulverização.
Tabela 2 - Número médio de adultos + ninfas grandes (N) do percevejo Euschistus heros em pré-contagem (PC) e aos dois e cinco dias após a aplicação (DAA) na cultura da soja, seguido dos respectivos níveis de controle (C), nos diferentes tratamentos químicos. Dourados, MS Tratamentos
Dose (g i.a./ha)
Testemunha 75,0 + 9,37 Imidacloprido + Betaciflutrina 37,5 + 25,0 + 18,75 Thiametoxam + Lambdacialotrina + Lufenuron 100,0 + 20 Imidacloprido + Bifentrina 75,0 + 9,37 Imidacloprido + Betaciflutrina + 0,5% de sal¹ Thiametoxam + Lambdacialotrina + Lufenuron + 0,5% de sal¹ 37,5 + 25,0 + 18,75 100,0 + 20,0 Imidacloprido + Bifentrina + 0,5% de sal¹
2 DAA N C (%)² 1,0 ± 0,28 a --0,2 ± 0,18 b 80,0 0,0 ± 0,00 b 100 0,0 ± 0,00 b 100 0,0 ± 0,00 b 100 0,0 ± 0,00 b 100 0,0 ± 0,00 b 100
5 DAA N 2,2 ± 0,18 a 0,6 ± 0,22 b 0,4 ± 0,18 b 0,6 ± 0,36 b 0,2 ± 0,18 b 0,2 ± 0,11 b 0,2 ± 0,28 b
C (%)² --72,7 81,8 72,7 90,9 90,9 90,9
¹Adicionado na calda inseticida no momento da pulverização. ²Eficiência de controle calculada através da formula de Abbott (1925)
Tabela 3 - Número médio de adultos + ninfas grandes (N) do percevejo Euschistus heros aos dez e 15 dias após a aplicação (DAA) na cultura da soja, seguido dos respectivos níveis de controle (C), nos diferentes tratamentos químicos. Dourados, MS Tratamentos
Dose (g i.a./ha)
10 DAA N 4,2 ± 0,33 a Testemunha 75,0 + 9,37 2,0 ± 0,28 ab Imidacloprido + Betaciflutrina 37,5 + 25,0 + 18,75 1,6 ± 0,22 b Thiametoxam + Lambdacialotrina + Lufenuron 100,0 + 20 1,8 ± 0,33 b Imidacloprido + Bifentrina 75,0 + 9,37 1,2 ± 0,33 b Imidacloprido + Betaciflutrina + 0,5% de sal¹ Thiametoxam + Lambdacialotrina + Lufenuron + 0,5% de sal¹ 37,5 + 25,0 + 18,75 1,0 ± 0,28 b 100,0 + 20,0 1,0 ± 0,40 b Imidacloprido + Bifentrina + 0,5% de sal¹
C (%)² --52,4 61,9 57,1 71,4 76,2 76,2
15 DAA N 6,6 ±0,54 a 4,2 ± 0,33 b 4,0 ± 0,49 b 3,8 ± 0,44 b 2,6 ± 0,22 b 2,6 ± 0,22 b 3,0 ± 0,28 b
C (%)² --36,4 39,4 42,4 60,6 60,6 54,5
¹Adicionado na calda inseticida no momento da pulverização. ²Eficiência de controle calculada através da formula de Abbott (1925)
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
29
Soja Elevagro
Controle de daninhas
Quais perspectivas e estratégias levar em consideração para o manejo eficiente de plantas daninhas na safra de soja 2019/2020
G
rande parte dos produtores de soja no Brasil tem encontrado dificuldades no manejo de plantas daninhas, principalmente ligado ao surgimento de biótipos resistentes e à presença de espécies tolerantes aos herbicidas comumente utilizados. Atualmente, as espécies de plantas daninhas que predominam nas áreas de produção de soja no Brasil são Conyza sp. (buva), Digitaria insularis (capim-amargoso), Eleusine indica (capim-pé-de-galinha), Commelina benghalensis e Commelina difusa (trapoeraba), Spermacoce
30
verticillata (vassourinha-de-botão) e Spermacoce latifolia (erva-quente). No Sul, ainda há a presença de Lolium multiflorum (azevém), principalmente no sistema de produção soja/trigo, e no Cerrado um aumento significativo nas últimas safras de Euphorbia hirta (erva-de-santa-luzia). O primeiro passo para o manejo eficiente de espécies de difícil controle é a correta identificação das plantas presentes na área. Após esta etapa, o grande desafio é a realização da dessecação no momento correto, ou seja, quando as plantas
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
se encontram em estádio inicial e as condições climáticas durante e após a aplicação são favoráveis. No Sul e em algumas regiões do Centro-Oeste é possível a realização de uma dessecação antecipada (outonal), logo após a colheita do milho, o que favorece o manejo de plantas ainda jovens (estádio inicial). No Cerrado, devido à escassez das chuvas na entressafra, a dessecação deve ser realizada mais próxima à semeadura da soja. Em ambos os casos, a dessecação não deve ser realizada apenas com o objetivo de controlar as plantas já instaladas
Fotos Camila Ferreira de Pinho
Área de soja semeada e emergida no "limpo", com uso de herbicidas residuais (pré-emergentes)
na área e sim, deve ter o objetivo conjunto de evitar o surgimento de novas plantas daninhas no sistema de produção. A prevenção de novos fluxos de emergência nas áreas reduz a necessidade de aplicações de herbicidas pós-emergentes dentro da cultura, momento em que existem poucas alternativas que podem
Momento ideal para dessecação antecipada (outonal) em área de pós-colheita do milho (A) e soja em área com dessecação ineficaz (B)
ser utilizadas de maneira eficaz. Neste contexto, os herbicidas pré-emergentes são uma importante ferramenta a ser inserida no manejo. Tais herbicidas são aplicados diretamente no solo, com ação impedindo a emergência das plantas daninhas. O uso de herbicidas pré-emergentes, durante a desse-
cação, tem sido recomendado de forma a permitir a semeadura e o estabelecimento da soja “no limpo”, evitando os danos das plantas daninhas durante o período crítico de competição na cultura. Isso é possível devido ao seu efeito residual, que permite uma ação mais prolongada no solo, controlando o banco de sementes por mais tempo, até que ocorra o fechamento das entre linhas da soja.
ESCOLHA DO HERBICIDA PRÉ-EMERGENTE
Área infestada com plantas oriundas de rebrote de dessecação e novo fluxo de plantas devido à falta de herbicidas residuais (pré-emergentes)
32
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
A escolha do herbicida pré-emergente envolve vários fatores e aspectos técnicos, como as características da molécula, do solo e do ambiente onde será aplicado. As características físico-químicas são intrínsecas de cada molécula, podendo ser alteradas em função da formulação, e são elas que governam o comportamento dos herbicidas no ambiente. O primeiro passo para a escolha do produto consiste em fazer um levantamento das plantas daninhas presentes na área, com base no histórico das safras passadas, pois cada pré-emergente possui um espectro de controle diferente. Em seguida é necessário observar a seletividade do herbicida para a cultura de interesse, observando que esta pode variar em função da cultivar/variedade utilizada. Outro ponto a ser observado é o período residual do herbicida.
É interessante que o herbicida pré-emergente possua um longo período residual para o controle de plantas daninhas por maior período de tempo dentro da cultura. Contudo, um elevado período residual pode resultar na inviabilidade de plantio de culturas sensíveis em sucessão, conhecido como efeito carryover. Para evitar esse tipo de problema é fundamental que se tenha um planejamento de safra e das culturas a serem implantadas em sucessão, a fim de garantir a seletividade para os cultivos. A atividade residual e o efeito carryover são dependentes da atividade microbiana do solo e das condições edafoclimáticas. Temperaturas elevadas associadas à alta umidade do solo favorecem a atividade de micro-organismos que degradam as moléculas herbicidas, podendo dessa forma reduzir o período residual. No entanto, em solos com baixa oferta de água e presença de compactação, o risco de ocorrer o efeito carryover aumenta.
COMPORTAMENTO DOS HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES NO SOLO
Os herbicidas pré-emergentes, ao entrarem em contato com o solo, podem sofrer diferentes processos que irão definir seu destino e ação, sendo eles a retenção, o transporte e a transformação. A retenção são todos os processos que atuam na imobilização das moléculas do herbicida no solo, interferindo na oferta do herbicida na solução do solo, pois quanto maior a retenção, menor sua oferta na solução e consequentemente maior o efeito residual dos produtos no ambiente. O transporte compreende o movimento da molécula do herbicida pelo perfil do solo, incluindo a absorção das moléculas pelas sementes, o que é desejável. Entretanto, existem outras formas de transporte, como a lixiviação e o escorrimento superficial, que podem resultar em ineficiência no controle do banco de sementes (pois o produto sai da zona do solo onde encontram-se as sementes alvo). A transformação de herbicidas no solo pode ocorrer de duas formas: ação de micro-organismos presentes no solo e/ou fotodegradação. Ambos os processos atuam na alteração do produto em compostos secundários, o que normalmente resulta na perda da ação herbicida. Atualmente, as áreas de plantio direto no Brasil são uma realidade, porém alguns cuidados devem ser tomados quanto ao uso de herbicidas pré-emergentes nesta situação, pois a presença de palhada no solo altera a dinâmica destas moléculas no ambiente. Para o controle eficaz de plantas daninhas é necessário que o herbicida passe pela palha e alcance o solo a fim de atuar no banco de sementes. Ao ser aplicado sobre a palha, as moléculas dos herbicidas podem ficar retidas e, dessa forma, além de reduzir a quantidade de herbicida que chega ao solo, o produto fica mais vulnerável aos processos de volatilização e/ou fotodecomposição. Nestas condições, a probabilidade do herbicida chegar ao solo é
Tabela 1 - Recomendações
práticas para um manejo melhor • Realizar a dessecação no momento correto, com plantas daninhas em estádio inicial de desenvolvimento. • Fazer o plantio da soja no limpo, utilizando sementes de boa qualidade. • Levantamento e monitoramento da infestação de plantas em todas as etapas do processo produtivo. • Utilizar a dose recomendada de bula do herbicida. • Fazer associação de herbicidas ou misturas formuladas de herbicidas com diferentes mecanismos de ação. • Diversificar o sistema de produção e, como consequência, diversificação dos herbicidas utilizados no sistema (pré e pós-emergentes). • Dose “cheia” de todos os herbicidas em associação ou mistura quando os herbicidas controlam espectro diferente de plantas daninhas. • Utilizar o manejo integrado de plantas daninhas, integrando medidas culturais e químicas.
dependente de fatores como a solubilidade da molécula, o coeficiente de sorção e da ocorrência de chuvas, onde herbicidas com alta solubilidade, baixa capacidade de adsorção, baixa pressão de vapor e polaridade hidrofílica possuem melhor capacidade de transposição da palhada. No entanto, se a precipitação ocorrer de forma elevada, pode haver perdas do produto e redução da atividade e do período residual do herbicida. Tendo em vista esse cenário, o grande desafio consiste em selecionar um herbicida com características que permitam que o produto alcance o banco de sementes do solo em diferentes condições ambientais e que simultaneamente permaneça no solo por tempo residual suficiente, sendo liberado de forma gradativa, evitando a lixiviação total logo nas primeiras chuvas. Desta forma, para definir qual estratégia de manejo é mais vantajosa, algumas recomendações práticas devem ser observadas C pelo produtor (Tabela 1).
Camila Ferreira de Pinho, Professora UFRRJ/Pesquisador Ad hoc Ana Claudia Langaro, Fernando Ramos de Souza, Francisco Freire de Oliveira Junior, Gabriela de Souza da Silva, Gledson Soares de Carvalho e Larissa Brasil de Souza Cavalheiro, UFRRJ
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
33
Arroz
O
arroz irrigado no Rio Grande do Sul é atacado durante o seu ciclo por diversas espécies de insetos-praga, sendo os mais importantes aqueles que ocorrem todos os anos, em altas populações. Nas últimas safras, tem-se observado o aumento na população da bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae) e do percevejo-do-grão (Oebalus sp.), fato que preocupa o produtor, pois são pragas primárias que causam danos expressivos na produção de grãos no estado gaúcho, mas também serve de alerta para que ocorram o monitoramento da área, a identificação das possíveis causas e o controle correto desses insetos-praga.
A BICHEIRA-DA-RAIZ (ORYZOPHAGUS ORYZAE)
Manejo completo A luta e as estratégias para manejar de modo eficiente a bicheira-da-raiz e o percevejo-dogrão, insetos-praga que estão entre os grandes desafios que ameaçam a produtividade das lavouras de arroz irrigado no Rio Grande do Sul 34
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
é um dos mais importantes insetos-praga, pois além da ocorrência crônica, ataca as lavouras em todas as regiões orizícolas do estado, atingindo mais de 60% da área semeada. Nas últimas safras, a incidência foi maior nas regiões da Planície Costeira Externa, na Região Central e na Planície Costeira Interna do Rio Grande do Sul. O gorgulho-aquático é o inseto adulto que mede de 2,7mm a 5,5mm, de comprimento. A bicheira-da-raiz é a denominação empregada às larvas, que chegam a até 9mm de comprimento. Os adultos se deslocam para as lavouras; no início, são encontrados nos canais de irrigação, onde se alimentam da grama boiadeira. Após a entrada da água pela irrigação, podem atacar o capim-arroz, mas dão preferência às plântulas de arroz. Em algumas partes da lavoura, nas plantas da invasora aguapé Sagittaria montevidensis, ocorre uma espécie de gorgulho-aquático, Hypselus ater, semelhante ao gorgulho-aquático das plantas de arroz, porém é maior, tem coloração preta e suas larvas se desenvolvem no interior das sementes do aguapé. Tanto o adulto quanto a larva não causam danos às plantas de arroz. HIBERNAÇÃO
O gorgulho-aquático apresenta comportamento sazonal. Na entressafra, a partir da segunda quinzena de fevereiro, parte da população dos insetos adultos, influenciados pela temperatura e pelo fotoperíodo, deixa as áreas de arroz e desloca-se para os sítios de hibernação. Nesses locais, da resteva do arroz, de touceiras de capim, nas taquareiras dentro ou fora da lavoura, procuram áreas com con-
Fotos Jaime Vargas de Oliveira
Raiz com aspecto de cabo de guarda-chuva, sintoma característico do parasitismo de Meloidogyne graminicola
Gorgulho aquático, Oryzophagus oryzae, é um dos mais importantes insetos-praga em arroz
A bicheira-da-raiz é a denominação empregada às larvas, que chegam a até 9mm de comprimento
dições favoráveis, principalmente áreas secas, para o abrigo dos adultos. Na hibernação, os insetos diminuem seu metabolismo, logo, não se alimentam e não se reproduzem. A partir do final de agosto, com condições favoráveis de temperatura e fotoperíodo, deixam os sítios hibernantes. A maior movimentação de adultos dos sítios de hibernação para a lavoura geralmente ocorre em outubro, período em que aumenta a área de arroz irrigado. Já nas áreas de arroz pré-germinado, o inseto tende a entrar na área antes da semeadura, pois encontrará condições ideais para se desenvolver nas gramíneas invasoras e arroz daninho, hospedeiras alternativas da bicheira-da-raiz.
da da água de irrigação ou da chuva. As primeiras lavouras são as mais infestadas, pois a maioria dos adultos hibernantes migra para essas áreas. Também áreas extensas ou que tenham a semeadura escalonada favorecem a migração dos insetos de primeira geração pós-hibernação. Ao chegar na lavoura, o adulto alimenta-se do tecido foliar entre as nervuras, produzindo faixas longitudinais de aproximadamente 1,5mm de largura. Com isso, diminui a área fotossintética da planta, e com a ação do vento, o ressecamento das pontas das folhas. No sistema pré-germinado, o gorgulho-aquático, além provocar danos na semente (mesocótilo e a radícula), que impedem a emergência das plântulas, fará a postura na planta de arroz ainda muito jovem e suas larvas provocarão danos superiores ao comparado com o arroz semeado nos demais sistemas. A bicheira-da-raiz começa o ataque às raízes 20 dias após a irrigação, e sua população e danos estarão altos entre 28 dias e 40 dias após irrigar. Salientando que no sistema pré-germinado o ataque às raízes ocorrem antes devido à antecipação da entrada da água. As larvas provocam danos no sistema radicular das plantas ao se alimentarem de raízes novas. Ao danificarem e diminuírem a quantidade de raízes ocorrerá menor absorção de nutrientes para o crescimento e desenvolvimento da planta. Logo, o vegetal apresentará sintomas de deficiência nutricional, como amarelecimento, menor estatura e perfilhamento, afetando a produtividade. Durante o ciclo da cultura poderá ocorrer a reinfestação da praga, porém os danos mais significativos se dão na primeira infestação de larvas, cujo número é maior. A reinfestação ocorre, geralmente, 60 dias após a irrigação, com raízes velhas e danificadas, quando a planta emite novas raízes que são atacadas pelas larvas. Dessa geração surgirão os insetos hibernantes que colonizarão a lavoura de arroz na próxima safra.
COMPORTAMENTO E CICLO DE VIDA
Ao saírem dos sítios de hibernação, os adultos hibernantes entram nas lavouras e se alimentam em áreas secas ou irrigadas. Depois de se alimentarem, acasalam, e as fêmeas realizam as posturas nas partes submersas da bainha foliar, em média 75 ovos por fêmea, que prefere as plantas jovens e em locais onde a lâmina de água é mais profunda, por apresentar menor variação na temperatura da água. Os insetos adultos podem permanecer até quatro dias submersos na água. Depois de sete dias eclodem as larvas, que primeiro se alimentam no interior da bainha foliar e após se deslocam para as raízes. Esse deslocamento é o período mais vulnerável das larvas ao ataque de inimigos naturais aquáticos, como larvas de libélulas e besouros. Nas raízes, as larvas passam por quatro instares, que duram em média 28 dias. As larvas dos últimos estádios são mais vorazes, cortam mais as raízes e causam os maiores danos. Após, as larvas se fixam às raízes formando um casulo impermeável, construído de uma camada de barro, surgindo a fase de pupa, com duração média de 12 dias. PERÍODO CRÍTICO E DANOS
Os adultos são encontrados nas lavouras, logo após a entra-
36
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
MONITORAMENTO E NÍVEL DE DANO ECONÔMICO
O monitoramento da população de gorgulhos deve ser iniciado no segundo dia após a inundação e mantido até o sétimo dia.
Fotos Jaime Vargas de Oliveira
Após esse período, os adultos realizam as posturas. A amostragem deve ser realizada em dez locais onde a água for mais profunda ou na entrada da água na lavoura. Deve-se observar a folha mais nova de 20 plantas, que apresentem as lesões da alimentação do inseto. Se mais de 50% estiverem lesionadas será necessário adotar alguma medida de controle. No caso das larvas, o monitoramento deve ser iniciado aos 20 dias da irrigação. Em sistema pré-germinado, começar o monitoramento dez dias após a semeadura. As amostras devem ser realizadas em dez locais da lavoura e também devem ser efetuadas junto à entrada de água ou onde a lâmina de água é mais alta, por apresentarem maior população de larvas. Escolhido o local, arrancar dez afilhos ou quatro plantas com solo e raízes, colocá-los em balde com água e agitar para liberação das larvas, que aparecerão na superfície da água e serão facilmente identificadas e contadas. A cada larva/amostra, em média, a partir de uma infestação de cinco larvas/ amostra, é esperada uma redução de 1,1% e 1,5% na produtividade de cultivares de ciclos médio e precoce, respectivamente. Nas cultivares de arroz atualmente semeadas somente ocorrerão danos econômicos se a infestação média for superior a cinco larvas/amostra (32ª Reunião Técnica do Arroz Irrigado, 2018). MANEJO DE BICHEIRA-DA-RAIZ
Desde 1936, quando a bicheira-da-raiz teve seu registro como praga nas áreas de arroz irrigado no Rio Grande do Sul, vários estudos mostram a melhor maneira de minimizar os danos. Existem trabalhos sobre a biologia do inseto, o comportamento, os hábitos, os níveis de danos e o manejo adequado. A integração das diversas ferramentas disponíveis pelo Manejo Integrado de Pragas (MIP), como os controles cultural, físico, biológico e químico, é importante nesse processo. Medidas que podem ser adotadas
- A incorporação da resteva ajuda na redução das pragas, devido à destruição de locais preferidos para a hibernação. Plantas altas e com touceiras nos canais de irrigação, nas ruas e bordas da lavou-
A bicheira-da-raiz começa o ataque às raízes 20 dias após a irrigação, e sua população e danos estarão altos entre 28 dias e 40 dias depois dessa operação
ra, devem ser roçadas, evitando o abrigo dos insetos. É importante que não sejam eliminadas para manter os inimigos naturais. - A rotação de culturas, alternando as espécies vegetais, como arroz/soja, auxilia no controle ao romper o ciclo da praga da monocultura, além de rotacionar produtos químicos que possam conferir resistência a determinados grupos de insetos-praga. - O aplainamento do solo vai manter uma lâmina de água menor, deixando-a menos atrativa aos adultos. Com o aumento da espessura da lâmina da água, cresce também o número. A altura de lâmina ideal é em torno 5cm. - Adubação nitrogenada aplicada até a diferenciação da panícula ajuda no desenvolvimento e crescimento das plantas e do sistema radicular. Com um maior número de raízes, as plantas suportam mais o ataque de larvas. - O controle químico mais comum utilizado no Rio Grande do Sul, para controle das larvas, é o tratamento de sementes, porém, nesse caso, o inseticida é aplicado sem a certeza da ocorrência do inseto-praga. Logo, deve ser feito o controle químico em lavouras com o histórico de ocorrência da praga. Outra forma de aplicação é a pulverização de
inseticidas, porém aplicar produtos com registro de menor toxicidade e impacto aos inimigos naturais. - O controle biológico é realizado pelo controle biológico natural, onde os adultos, durante a hibernação, são infectados com o fungo Beauveria bassiana.
PERCEVEJO-DO-GRÃO (OEBALUS SP.)
Nas últimas três safras a população do percevejo-do-grão aumentou significativamente e, atualmente, é a segunda praga em importância econômica. Devido à sua ocorrência crônica, por atacar as lavouras em todas as regiões orizícolas do Rio Grande do Sul, e na fase reprodutiva, período mais crítico, tem preocupado os produtores. As principais espécies que ocorrem no estado são Oebalus poecilus e Oebalus ypsongriseus. Esses insetos diferem principalmente pelas manchas da parte dorsal do corpo e coloração. O adulto de O. poecilus mede de 8mm a 10mm de comprimento, com coloração marrom-escura, apresentando sete manchas na parte superior do corpo, e pronoto e hemiélitros negrecidos. O adulto do O. ypsilongriseus tem coloração em geral mais clara, com apenas cinco manchas, sendo duas no pronoto e três no escutelo em forma de “Y”.
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
37
HIBERNAÇÃO
A diapausa tem início a partir de abril, com a colheita do arroz. Os adultos, no período da entressafra, deixam as áreas de arroz para se abrigarem em áreas de refúgio. Porém, esse inseto não é tão restrito aos locais de hibernação como o percevejo-do-colmo, Tibraca limbativentris. O percevejo-do-grão hiberna em áreas próximas ou distante das lavouras, no interior de touceiras de capim alto, folhedos de taquareiras, montes de palha, fendas nos galpões, entre outros. Nesses locais, o inseto diminui o metabolismo, não se alimenta ou se reproduz. Nos refúgios pode ocorrer mortalidade (em torno de 41%) pela infecção por fungos, principalmente Beauveria bassiana, e pelo parasitismo por moscas-peludas (Tachinidae). DESCRIÇÃO E HÁBITOS
Após a hibernação, a partir de novembro, os adultos dirigem-se para áreas de campo ou pastagem, em busca de hospedeiros alternativos que estejam com sementes para se alimentarem, destacando-se capim-arroz, Paspalum spp., Brachiaria spp. e Digitaria spp. Nesses locais, em áreas próximas a lavoura, ocorre às primeiras gerações As fêmeas colocam os ovos nas folhas, mas quando a população é grande também fazem a postura sobre colmos e panículas. Os ovos são depositados em fileiras duplas. A capacidade de postura do inseto é elevada, em um foco, podem ocorrer mais de 100 mil ovos, pois várias fêmeas realizam posturas em uma mesma folha, que fica completamente coberta. Ao anoitecer, as fêmeas se reúnem em pontos da lavoura realizando as posturas. Após sete dias, surgem as ninfas, que na fase inicial permanecem agrupadas. Ocorrem mais três estágios até surgirem os adultos. A partir do segundo estágio são ativas e deslocam-se pela planta, podendo atingir as plantas próximas. As ninfas na fase inicial são de cor vermelha, com cabeça e tórax castanho-claros. Nessa fase, permanecem juntas, em geral por três dias, e não se alimentam. Em estágios posteriores, 3º, 4º e 5º instares, apresentam cabeça e tórax negros, e abdômen avermelhado. Nessa fase ainda não possuem asas,
mas se movimentam na planta e entre plantas. Na fase ninfal, passam a maior parte do tempo se alimentando. Após, surgem os insetos adultos que dividem o tempo entre alimentação, deslocamento e reprodução. Quando encontram condições favoráveis, o inseto desenvolve do ovo à fase adulta em ciclos de aproximadamente 45 dias. DANOS
Os maiores danos são causados por ninfas e adultos, na fase reprodutiva (R5 a R8), onde para um mesmo nível de infestação o número de espiguetas danificadas no estádio leitoso é aproximadamente o dobro do verificado nos estádios de massa firme. O ataque aos grãos leitosos formam espiguetas vazias, grãos chochos ou atrofiados. Quando da ocorrência endosperma pastoso formam grãos gessados, manchas escuras e com menor poder germinativo. No estágio final, os grãos ficam enfraquecidos e quebram-se mais facilmente no beneficiamento. Nas últimas safras, em algumas amostras, a porcentagem de grãos picados foi superior a 4%, demonstrando o grande potencial de perdas causadas pelo percevejo. A cada inseto/m² ocorre redução de 1% no rendimento de grãos. OCORRÊNCIA E MONITORAMENTO
O período em que ocorrem as maiores populações do inseto é nos meses de janeiro a março, quando o arroz está na fase reprodutiva. Em geral, o produtor desconhece a chegada dos primeiros percevejos na área de arroz. Estudos mostram que do início do florescimento até o estágio de grão leitoso os percevejos se distribuem ao acaso na lavoura. Isso mostra a grande mobilidade do inseto ao atacar grande parte da lavoura. Ao monitorar a lavoura, o correto é efetuar as observações no final da tarde, em que os percevejos são mais visíveis. Os percevejos têm o hábito de se deslocarem para o dossel superior das plantas no período da manhã e ao final da tarde, onde desenvolvem grande atividade. Nos dias com altas temperaturas, muita luminosidade e muito vento, os insetos ficam abrigados na parte central e inferior das plantas.
Em um foco de percevejo do grão podem ocorrer mais de 100 mil ovos, pois várias fêmeas realizam posturas em uma mesma folha, que fica completamente coberta
38
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
Fotos Jaime Vargas de Oliveira
de do Sul a rotação com a cultura da soja traz grandes benefícios, pois a maioria dos insetos do arroz irrigado não ocorre nas lavouras de soja, auxiliando na redução da população. Redução dos restos culturais e plantas daninhas
Folhas de arroz atacadas pelo adulto da bicheira-da-raiz
O adulto de Oebalus poecilus mede de 8mm a 10mm de comprimento
O monitoramento deve ser realizado a partir do florescimento, antes dos danos. Mesmo ocorrendo em focos, os insetos deslocam-se. Logo, as amostragens devem ser realizadas às margens da lavoura e nas partes com plantas mais vigorosas. Amostrar, no mínimo, 30 pontos da lavoura. O emprego de rede de varredura é um método eficaz na captura do inseto. Também a análise visual auxilia na determinação da população para a tomada de decisão. Porém, o monitoramento muitas vezes não tem sido empregado pelos produtores, sendo adotada a aplicação calendarizada ou carona, com baixa população do inseto.
ASPECTOS IMPORTANTES NO MANEJO Nível de dano econômico
É a densidade populacional da praga que causa redução no rendimento de grãos, igual ou superior ao custo estimado no controle. A simples presença do inseto na lavoura não deve necessariamente determinar o controle. Isso só deve ocorrer quando a população atingir níveis que podem provocar danos à cultura. Logo, os produtores devem estar atentos e realizar amostragens durante o ciclo da cultura. A inspeção no campo é a maneira correta de determinar a população existente, que deve ser rápida, eficiente e confiável. Tomada de decisão
Algumas vezes existe uma alta população da praga e o produtor controla quando o prejuízo já aconteceu. Também pode ocorrer casos em que uma praga foi controlada, mas a migração de áreas próximas aumenta os índices de infestação, provocando perdas. Como na cultura do arroz irrigado existem estudos especificando os danos das principais espécies,
o monitoramento mostra se é necessário adotar ou não o controle químico. Inimigos naturais
Os inimigos naturais representam papel fundamental devido à sua constante presença e à relativa abundância, por serem capazes de reduzir a densidade de população das pragas e os danos. Regulam os organismos no seu ambiente natural, tornando suas interações relativamente estáveis. As espécies que se destacam no controle biológico natural desse percevejo são as moscas-peludas (Tachinidae), que parasitam ninfas e adultos, e o parasitoide (Telenomus podisi) que parasita ovos. Cultura armadilha
Esse manejo pode ser adotado pela semeadura de uma área pequena antes da implantação da lavoura. Também, a colocação de uma cultivar de ciclo curto, que vai florescer antes, atraindo os insetos. Nessas áreas do controle químico, o custo será baixo. Prática que apresenta bons resultados, ao serem eliminadas ou reduzidas as populações do inseto que vêm da hibernação. Rotação de culturas
A rotação consiste em alterar as espécies vegetais em uma mesma área agrícola. Além de melhorar a produtividade, auxilia no controle das pragas. Este sistema proporciona condições menos favoráveis para o crescimento das populações dos insetos. No sistema de rotação, deve ser semeada uma cultura que o inseto não se alimenta, propiciando a diminuição da população. No Rio Gran-
A eliminação da resteva e de plantas daninhas após a colheita, por roçadeira, incorporação por grade ou colocação de animais, é prática importante. A redução das plantas daninhas junto a ruas, canais, bordas da lavoura e em áreas próximas, onde insetos ficam expostos durante a hibernação, vai ajudar na sua redução, devido às condições climáticas desfavoráveis. Controle químico
O controle químico deve ser utilizado após amostragens na lavoura, levando-se em consideração o nível populacional que cause danos. Ao realizar o controle químico, aplicar inseticidas com registro de menor toxicidade e impacto aos inimigos naturais. Para prevenir a ocorrência de resistência, um inseticida não deve ser usado em aplicações sucessivas em uma praga. O inseticida pode ser aplicado após o monitoramento, realizado a partir do R4, antes da ocorrência de danos. Como o inseticida é aplicado na fase reprodutiva, deve ser respeitado o período de carência, para não ocorrer resíduo no grão. Aplicação preventiva e sequencial de inseticidas
As aplicações preventivas ou caronas sem o monitoramento não devem ser realizadas. O emprego indiscriminado de produtos e em mistura com fungicidas é incorreto e muitas vezes não é eficiente, podendo aumentar o custo de produção. Manejar corretamente não quer dizer empregar produtos com maior frequência. As aplicações preestabelecidas ou sequenciais, sem critério técnico, sem monitoramento, além da contaminação do ambiente vão afetar os inimigos naturais. C Jaime Vargas de Oliveira e Marcia Yamada, Irga
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
39
Congresso
Protagonismo feminino Fotos Divulgação
Duas mil participantes movimentaram o 4º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, em outubro, em São Paulo
E
ntre os dias 8 e 9 de outubro ocorreu a 4ª edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, em São Paulo. Com o tema central “Agir – Ação Global: Integração de Redes”, o evento reuniu aproximadamente duas mil participantes – um recorde de inscrições que teve as vagas esgotadas duas semanas antes do evento –, para debater questões relacionadas ao agronegócio que envolvem os desafios das cadeias produtivas mais importantes do País, como de algodão, café, carnes, grãos, sucroenergética, floresta, leite e hortifruticultura. A Corteva Agriscience foi uma das patrocinadoras e promoveu diferentes ações para debater a representatividade de gênero no agronegócio. Durante o evento, a companhia realizou a
40
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
formatura da primeira turma de produtoras rurais que participaram da Academia de Liderança das Mulheres do Agronegócio. A iniciativa, realizada em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC) e a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), foi lançada em 2018. O objetivo é capacitar mulheres brasileiras que atuam no setor, através de módulos de capacitação que focam em liderança, boas práticas agrícolas, temas regulatórios, ciência política, sustentabilidade, novas formas de governança e estratégias de gestão. “O projeto é uma resposta da Corteva à demanda das produtoras rurais. Elas querem se capacitar. A Academia objetiva preparar mulheres para que possam assumir postos de liderança, além de promover a representatividade”, explicou a
gerente de Relações Governamentais, Rosemeire dos Santos. A ação surgiu depois que a Corteva desenvolveu uma pesquisa em 2018 com mais de quatro mil produtoras rurais de 17 países. O objetivo foi entender onde estavam as coincidências e as desigualdades de percepções registradas por mulheres do meio agrícola, de países que possuem características sociais e econômicas diferentes, além de descobrir quais eram seus principais desejos e dificuldades no setor. Segundo resultados da pesquisa, a empresa constatou que entre as entrevistadas, 91% expressou sentir orgulho de atuar no agro, mas que o índice de insatisfação também foi alto. No Brasil, 77% das 500 entrevistadas dizem estar insatisfeitas. Na Índia, enquanto 98% constataram sentimento de orgulho, 78% dizem estar insatisfeitas em relação à desigualdade de gênero – país que expressou o índice mais alto nesse quesito. Também participaram Indonésia, China, Estados Unidos, Canadá, Argentina, México e Alemanha. “Ainda encontramos estatísticas muito altas em relação à percepção de discriminação e/ou desigualdade de gênero. Esses dados significam que nem sempre sentir orgulho significa estar satisfeita. Muitas relataram que os salários são incompatíveis com a remuneração de homens que exercem funções similares”, explicou a diretora de Comunicação para América Latina, Vivian Bialski,
Exposição de fotografias mostrou mulheres que vivem da terra em diversos países
que participou de uma mesa-redonda entre as ações que a Corteva promoveu durante o congresso. Com base nos dados obtidos na pesquisa, a Corteva Agriscience passou a realizar diferentes ações para fortalecer a atuação das mulheres no setor. Além do projeto de capacitação, a companhia lançou a websérie “Esta é minha história”, em que promove visibilidade às histórias de dez mulheres do agro. Para 2019, a continuidade do projeto – lançado na segunda quinzena de outubro - é focada nas ações em que companhia faz como iniciativa privada para diminuir a desigualdade no campo e atender às expectativas das entrevistadas. Este ano, a websérie é chamada de “Cultivando as
Rosemeire destacou a Academia de Liderança das Mulheres do Agronegócio
próximas histórias”. No estande da Corteva no congresso foi apresentada uma exposição de fotos registradas pela revista Vogue do Brasil em parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura. Os registros retratam a vida de mulheres que vivem da terra em diversos países da América Latina. A companhia também integrou os debates das Arenas do Conhecimento com a participação da líder global da Corteva para Assuntos Governamentais e Indústria, Tiffany Atwll e do vice-presidente da Corteva, Jair C Swarowsky. Cassiane Fonseca viajou a convite da Corteva
Vívian detalhou pesquisa realizada com quatro mil trabalhadoras rurais de 17 países
www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
41
Milho
Plano de aplicação
O que levar em consideração para o manejo correto de nitrogênio, de modo a suprir a necessidade nutricional da lavoura de milho durante todo o seu período de desenvolvimento e alcançar altas produtividades Cultivar
A
adubação nitrogenada em milho é, sem dúvida, uma das mais importantes operações de manejo da cultura. O Nitrogênio é o nutriente absorvido em maior quantidade pelo milho e, na maioria das vezes, apresenta o melhor custo-benefício dentre todos os aplicados. Entretanto, no sistema de cultivo de milho safrinha em sucessão à soja, a dinâmica do N sofre influência de diversos fatores, e muitas vezes não se observa uma resposta tão positiva quanto no cultivo de milho verão. Dentre os fatores que influenciam a resposta do milho à aplicação de Nitrogênio na safrinha, é possível destacar as condições ambientais limitantes, a expectativa de rendimento, a contribuição de N da soja e da matéria orgânica, e a qualidade do plantio realizado.
FONTES PARA SUPRIR A DEMANDA DE MILHO
Em relação às fontes de Nitrogênio para suprir a alta demanda da lavoura de milho, basicamente há: • a aplicação via adubação, seja na base ou cobertura – aqui as fontes de Nitrogênio podem ser das mais diversas, como ureia, nitrato, esterco, etc.; • e a mineralização da matéria orgânica (M.O.) – está diretamente relacionada a oferta/característica de cada solo e temperatura do local. Em relação a oferta de Nitrogênio é importante considerar o cultivo anterior: o que havia no solo antes do milho entrar no sistema? Na busca pelo aumento da eficiência do uso de N também é preciso sincronizar a aplicação do nutriente com o período de maior demanda da planta, e observar as condições climáticas que estão vigentes na época de aplicação do nitrogênio, pois quanto maior a temperatura e mais seco o tempo, menor é o seu aproveitamento. Além disso, é importante considerar o sistema de sucessão de culturas para desenvolver estratégias de aplicação mais eficientes. Quando se usa coberturas de inverno com leguminosas é possível atrasar a primeira aplicação de N, por outro lado, se o cultivo anterior é de gramíneas de alta relação C/N, essa aplicação deve ser mais cedo.
APLICAÇÃO DE UREIA
Relatos de literatura indicam perdas de mais de 50% quando se aplica ureia em co42
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
bertura, devido a volatilização e lixiviação. A incorporação dessa aplicação na entrelinha diminui essas perdas, mas operacionalmente é muito difícil, especialmente em espaçamentos entrelinhas reduzidos.
Figura 1 - Porcentagem do N total na planta, absorvido antes e após o florescimento; e porcentagem do N no grão absorvido pós-florescimento (VT-R1) e remobilizado de outras partes da planta. Fonte: DeBruin & Buntzen, 2015
PADRÃO DE ABSORÇÃO DE NITROGÊNIO
Alguns pesquisadores da Pioneer nos EUA, realizaram um estudo muito interessante entre 2009 e 2012, onde foi medida a absorção de Nitrogênio até o florescimento, e até a colheita, em duas situações: • lavouras de alta produtividade (com aporte de N de mais de 200 kg/ha); • lavouras de baixo potencial produtivo (com aporte de N em torno de 50 kg/ha). No sistema de alta produtividade, o teto produtivo ficou em torno de 230 sc/ha. Já no sistema de baixo investimento (baixo aporte de N), o teto produtivo esteve próximo de 100 sc/ha. A planta de milho, na média dessas duas situações (de alto e baixo investimento), acumula 63% de todo o Nitrogênio até o período de pré-florescimento, e ainda terá uma boa quantidade para ser absorvida nos períodos finais de desenvolvimento (figura 1), o pós-florescimento (37% do total absorvido de N). Esse é um dado interessante, pois a recomendação vigente dá atenção exclusivamente à aplicação de Nitrogênio nas fases iniciais da cultura, onde se definem os componentes do rendimento. O que este estudo mostra é que para lavouras expressarem todo seu potencial produtivo, é necessário atentar para uma boa nutrição de Nitrogênio inclusive nos períodos mais avançados de desenvolvimento, porque uma parte importante desse Nitrogênio vai ser absorvido em pós-florescimento e não só na fase vegetativa da cultura. Nesse mesmo trabalho, os pesquisadores quantificaram a quantidade de Nitrogênio presente nos grãos, o quanto é oriundo da remobilização dos tecidos vegetais, do seu tecido vegetativo, de folhas, de colmo, e o quanto é oriundo de absorção via raiz. Com isso, descobriram que a maior parte do Nitrogênio presente nos grãos vem da absorção via raiz, depois do florescimento, e apenas 38% é obtido via remobilização de tecidos estruturais.
ESTRATÉGIAS DE MANEJO
Entre as estratégias de manejo para aumentar a eficiência do uso do Nitrogênio e aumentar o rendimento de grãos, a principal é aplicar N no momento em que a planta mais precisa. E qual é o momento de maior demanda de Nitrogênio da planta? No desenvolvimento da planta, alguns componentes de rendimento se definem cedo, em torno de V5. Além disso, existe uma explosão de crescimento que ocorre a partir de V7 e vai até o florescimento, onde a planta alonga rapidamente os entrenós e se desenvolve muito rápido. Esse é um período de alta demanda da planta. Quando estiver trabalhando com altas doses de aplicação, um ponto fundamental é dividir a aplicação da dose de Nitrogênio em mais de uma etapa. Com aplicação de altas doses de Nitrogênio, o parcelamento dessa aplicação se justifica na maioria dos casos
e o retorno econômico provavelmente será significativo. Com o parcelamento, se minimiza o risco de perdas por condições climáticas adversas e se aumenta o período de suprimento do nutriente oferecido à planta. O incremento de matéria orgânica via manejo eficiente de rotação e sucessão de culturas, aliado ao aporte de adubação orgânica ou mineral são as principais ferramentas para fornecimento de Nitrogênio nas fases mais adiantadas do milho. Embora os dados sobre o padrão de absorção de N dos híbridos modernos indiquem a importância da absorção tardia do nutriente, são necessários mais estudos sobre o tema no nosso ambiente de produção, para que se possa desenvolver uma recomendação segura de aplicação tardia de N.
O FUNDAMENTAL NO MANEJO DE NITROGÊNIO
A atenção a cada etapa do processo de produção é fundamental para o avanço dos patamares de rendimento no milho. Produtores mais tecnificados têm aumentado suas produtividades a cada ano, investindo em melhorias de manejo, materiais mais produtivos e controle eficiente de pragas e plantas daninhas. O manejo do Nitrogênio é uma peça fundamental para o avanço das produtividades, portanto, merece atenção especial. É importante testar diferentes estratégias de manejo de N para desenvolver a que melhor se encaixa no seu sistema de produção. Em muitas situações, as maiores produtividades não representam o melhor custo-benefício. Em alguns casos, pequenos ajustes podem resultar em excelentes resultados. Dessa forma, é fundamental o produtor fazer suas comparações e buscar o sistema que melhor se encaixe com suas necessidades. Além disso, cada produtor deve buscar integrar as informações que têm da sua propriedade, como potencial produtivo, clima, características de solo, práticas de manejo, e sistema de produção, para desenvolver um plano de aplicação de Nitrogênio que otimize ou que supra a lavoura durante todo o seu período de C desenvolvimento. Douglas Batista Jandrey, Corteva Agriscience www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
43
Coluna Agronegócios
Sustentabilidade na produção de alimentos
N
ão custa repetir: já não basta produzir alimentos, é preciso fazê-lo com sustentabilidade. O desafio se potencializa sabendo-se que a população mundial crescerá 40% nos próximos 30 anos, a renda per capita mundial mais do que dobrará, as áreas de cultivo escassearão e as mudanças climáticas imporão diversas restrições. A Ciência é fundamental para conferir sustentabilidade aos sistemas produtivos, em especial para mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) sem afetar a produção agrícola. Em alguns casos, as políticas públicas de incentivos são cruciais para que algumas tecnologias sejam incorporadas aos sistemas de produção, e para que alguns hábitos passem a ser dominantes. Vejamos alguns exemplos de tecnologia que podem aumentar a sustentabilidade das cadeias produtivas: 1. Carne vegetal- Atualmente, para produzir um quilo de proteína, bois ou carneiros usam cerca de 20 vezes mais área e geram cerca de 20 vezes mais emissões de GEE do que fontes de proteínas vegetais. A aposta é a substituição parcial de proteína animal por vegetal na gastronomia diária. Empresas como a Impossible Foods e a Beyond Meat estão investindo em produtos à base de proteínas vegetais que se parecem visualmente, têm aroma, sabor e até sangram como carne animal. 2. Vida útil prolongada - Aproximadamente um terço da comida é desperdiçada entre a colheita e a mesa do consumidor. Produtos perecíveis, como frutas e hortaliças, são os mais afetados. O desenvolvimento de métodos baratos que retardam o amadurecimento dos produtos é uma das soluções. Nos primórdios da biotecnologia, foi incorporada esta característica ao tomate Flav Savr - porém a tecnologia foi “demonizada” pelo ativismo anti-OGMs. A empresa Apeel Sciences possui uma variedade de filmes, extremamente finos, aplicados por spray, que inibem o crescimento bacteriano e retêm água nas frutas. As empresas Nanologica e Bluapple desenvolveram produtos que tornam mais lenta a taxa de degradação dos alimentos perecíveis. 3. “Antiarroto” bovino- Cerca de um terço das emissões de GEE da produção agrícola provém de metano "entérico", expelido pelo arroto bovino. Estão sendo desenvolvidas fórmulas de rações que suprimem a formação de metano no estômago bovino. A empresa DSM (Holanda) desenvolveu o produto 3-NOP, que reduz as emissões de metano em 30%, aparentemente sem efeitos colaterais para a saúde humana ou para o meio ambiente. 4. Desenvolvimento de compostos para manter o nitrogênio no solo- Cerca de 20% das emissões de GEE da produção agrícola estão relacionadas ao nitrogênio de fertilizantes. Estão sendo pesquisadas tecnologias que reduzem as emissões, incluindo revestimentos de fertilizantes para evitar a volatilização e os chamados "inibidores de nitrificação", reduzindo as perdas de nitrogênio e aumentando sua disponibilidade para as plantas. 5. Culturas que absorvem nitrogênio- A forma mais promissora de reduzir as emissões de óxido nitroso (N2O) é desenvolver associações de micro-organismos com plantas, promovendo a absorção do nitrogênio e/ou inibindo a nitrificação. Foram identificadas características que inibem a nitrificação, as quais podem ser introduzidas em praticamente todas as culturas importantes, por melhoramento clássico
44
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br
ou biotecnologia. 6. Produção de arroz com menores emissões: Aproximadamente 15% das emissões de GEE da produção agrícola provêm de micro-organismos produtores de metano nos arrozais. Pesquisadores chineses desenvolveram a variedade transgênica Susiba2, que reduz as emissões de metano em 30%. Apesar disso, ainda não foi identificado em nenhum país um esforço consistente para criar e incentivar a adoção de variedades de arroz que reduzam as emissões de metano. 7. CRISPR para aumentar os rendimentos - Sustentabilidade e produtividade são irmãs siamesas. Uma maneira de aumentar o rendimento das culturas de maneira ágil e sustentável (sem aumentar o consumo de água, fertilizantes ou pesticidas) é a edição de genes para acelerar o aumento da produtividade das culturas, usando a técnica do CRISPR, incluindo melhoria na eficiência da fotossíntese. 8. Palma de óleo de alto rendimento - O consumo de óleos vegetais, que já é significativo, vai se incrementar nos próximos anos. A demanda é capitaneada por consumo gastronômico, bioenergia, usos industriais e química fina. O mais demandado é o óleo de palma, utilizado na fabricação de vários produtos, de xampu a biscoitos. Seu cultivo impulsionou o desmatamento no Sudeste da Ásia e pode ameaçar florestas na África e na América Latina. Uma variedade com o triplo do rendimento médio atual dos dendezeiros foi desenvolvida pela empresa PT Smarts, e é um sinal para o atendimento da demanda em bases sustentáveis. 9. Alimentos para peixes - À medida que as capturas globais de peixes atingiram o pico, a piscicultura e a aquacultura cresceram para atender à demanda mundial de peixes e frutos do mar. Entrementes, a aquacultura pode aumentar a pressão sobre as pequenas espécies de peixes selvagens usadas como alimento para criação de peixes maiores. Os ácidos graxos ômega-3 são geralmente encontrados nos óleos à base de peixes selvagens e pesquisas em andamento estão desenvolvendo substitutos a partir de fontes vegetais. Com o uso de ferramentas biotecnológicas, é possível introduzir a produção de ômega-3 em algas ou em qualquer oleaginosa com alta produção de óleo. 10. Tolerância a estresses- As plantas cultivadas têm a expressão de seu potencial produtivo comprometida pela ocorrência de estresses bióticos (pragas) ou abióticos (seca, temperatura). Com o uso de ferramentas, podem ser introduzidas características que permitam manter altas produtividades, mesmo em ambientes adversos, reduzindo a necessidade de aporte de água, fertilizantes e pesticidas. Embora algumas das tecnologias elencadas tenham o potencial de reduzir custos de produção ou aumentar receitas, outras custam mais que suas contrapartes convencionais. Aumentar sua aceitação exigirá não apenas mais fundos públicos de pesquisa, mas também incentivos às empresas privadas para inovar, e políticas públicas que priorizem a sustentabilidade da agricultura. Como os beneficiários são difusos – a sociedade como um todo –, nada mais justo que socializar o custo, utilizando recursos fiscais para acelerar a geração e adoção C de tecnologias que confiram sustentabilidade à produção.
Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Coluna Mercado Agrícola
O
Sucesso para o produtor em 2020 está ligado ao avanço na produtividade
s produtores brasileiros continuam plantando a safra de verão, neste ano com ritmo lento frente ao anterior, que teve bom andamento. Com o clima mostrando chuvas irregulares e atrasadas, o plantio se mostrou mais escalonado, principalmente da soja, que deve avançar até o começo de dezembro. Mas, mesmo com atraso, não se espera por problemas com relação à produtividade porque os produtores vêm investindo em boa tecnologia. O sucesso dos agricultores neste novo ano de 2020 está diretamente ligado a dois pontos importantes, sendo o primeiro o mercado, que no quadro global vem de uma safra mundial de grãos menor que o consumo, e o segundo, internamente, ligado ao avanço na produtividade.
MILHO
A safra de verão foi plantada com área próxima de quatro milhões de hectares, com chances de ficar um pouco acima da safra anterior e potencial de passar de 25 milhões de toneladas, frente a menos de 22 milhões de toneladas colhidas neste último ano. Mesmo com avanço na safra o mercado deverá ser mais apertado em relação ao último ano, porque já há grandes volumes do grão negociados na exportação. Dessa forma, o milho livre para ser negociado será restrito. Some-se a isso o fato de que grande parte da produção do Sul está atrelada às cooperativas, que também são grandes consumidoras. Assim, o apelo será de pouca pressão de venda do grão livre. Como ainda existe muito interesse de compra nos portos, na faixa de R$ 41,00 a saca, são esperados novos negócios na exportação. O apelo será de boa procura pelo grão no começo do ano, quando tem início a colheita. Há espaço para manter os indicativos firmes nos próximos meses com base nas indústrias, que devem vir às
compras para se abastecer e obter matériaARROZ -prima para trabalhar na virada do ano e no O mercado do arroz teve um outubro começo de 2020. Boas expectativas para os de calmaria, com cotações registrando produtores que devem ter boa margem de dificuldades para evoluir em um cenálucro com o milho. rio com produtores endividados. Mas o ambiente é de redução do volume do SOJA grão disponível, com alguma chance de O mercado da soja no último mês de pequena pressão positiva neste restante outubro voltou a mostrar muitos negócios de ano. Porém, não há muito espaço para futuros, com entregas do grão de fevereiro corrida altista, porque o varejo tem jogaa maio. Mas os níveis maiores efetivados se do duro frente à pressão das indústrias deram para o produto que tem pagamen- e desta forma ainda há muito produto to previsto para o mês de julho, quando barato nas gôndolas, abaixo de R$ 12,00 alcançou nos portos valores na faixa de R$ pelo pacote. Com isso, o arroz em Casca 90,00 a saca. Os indicativos atuais mostram segue com preços estabilizados no Sul e que 30% da safra nova já está negociada. com indicativos firmes nos estados cenMais de 35 milhões de toneladas da safra trais e no Norte, onde há pouco grão para já foram comercializados ou trocados por ser negociado. A safra está com o plantio insumos, já à frente de anos anteriores. em andamento no Sul e começando nas Da safra deste ano pouco ainda resta, com demais regiões. C volume não muito além de 10% para ser negociado. Desta forma, tem se observado Vlamir Brandalizze indicativos firmes, com muitos fechamenTwitter @brandalizzecons tos que se deram até na faixa de R$ 91,00 www.brandalizzeconsulting.com.br a saca nos portos.
Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo registrou colheita fluindo em outubro, com chances de avançar em novembro, quando entram em colheita as áreas gaúchas e vão para fechamento as últimas lavouras do Sul do Paraná. Aos poucos a safra vai chegando ao final e confirmando perdas, como é o caso do Paraná, que perdeu mais de um milhão de toneladas frente ao potencial inicial. Com isso, o Brasil não deve chegar a marca de cinco milhões de toneladas, o que obrigará o Brasil a importar mais de seis milhões de toneladas neste novo ano para atender à demanda. O mercado interno segue fraco, porque há pouco capital de giro nas mãos dos moinhos. Neste período do ano os indicativos são fracos e bem abaixo dos níveis do trigo importado, que chega ao Brasil acima de R$ 900,00 por tonelada nos portos. EUA - Os produtores reclamam que o ano foi muito ruim para a safra, que começou com inundações e está fechando com nevascas e problemas na colheita. Assim, a produção
pode fechar com níveis próximos de 95 milhões de toneladas de soja e 345 milhões de toneladas de milho, com grandes perdas. CHINA - A China tem mostrado interesse em seguir negociando com os EUA, mas o fato é que terá de comprar grandes volumes de soja dos norte-americanos, com acordo final ou não. Tende a importar entre dez e 15 milhões de toneladas, em novos negócios antes do fechamento do ano. ARGENTINA - A safra dos argentinos está em plantio, com área de arroz em queda, abaixo de 190 mil hectares. A tendência é de manter a safra estável em área para o milho e a soja. Há leve atraso neste início de temporada devido a grandes volumes de chuvas que caíram sobre os campos argentinos. Com isso, se espera por uma safra de soja na faixa de 55 milhões de toneladas e milho em 48 milhões de toneladas. Já no caso do arroz, a estimativa é de 1,2 milhão de toneladas. www.revistacultivar.com.br • Novembro 2019
45
Coluna ANPII
Evolução da qualidade A melhoria contínua no padrão dos inoculantes ao longo das últimas décadas no Brasil e a contribuição deste insumo biológico para a produtividade da soja brasileira
E
m artigos anteriores temos ressaltado a liderança do Quanto aos equipamentos, a evolução também foi de grande Brasil no uso de inoculantes, o que se deve a inúmeros monta. De pequenos fermentadores, com filtros precários, partiufatores, como a inclinação do agricultor brasileiro em -se para as atuais fábricas com fermentadores de grande porte, incorporar novas tecnologias ao seu sistema produtivo, o forte e totalmente automatizados, com todas suas operações monitodecidido apoio da pesquisa e da extensão à prática da inoculação, radas por computadores. Os filtros de ar são os mais avançados a alta qualidade dos inoculantes produzidos no País ou importa- tecnologicamente, proporcionando uma injeção de ar totalmente dos. E vai ser sobre este último item que vamos nos estender no segura contra contaminações. O envase é também realizado em presente artigo. ambiente asséptico, com um mínimo de intervenção manual. Tudo Na década de 1970 os inoculantes brasileiros, exclusivamente isso desenvolvido para assegurar um produto de elevada qualidaem pó, eram produzidos com turfa não estede ao agricultor brasileiro. rilizada, havendo uma competição de vários O pessoal técnico das empresas também micro-organismos com o Bradyrhizobium, se especializou de acordo com a evolução Com tudo isso, o limitando a concentração desta bactéria a, tecnológica da agricultura brasileira. Atualagricultor brasileiro no máximo 100 milhões de células por gramente as empresas contam, em seus quapode ficar tranquilo: ma de inoculante. Este inoculante, que atudros técnicos, seja na produção, na pesquisa almente nem seria registrado, deu conta de ou na assistência técnica, com profissionais o inoculante atender às necessidades da época. A soja era especialistas, mestres, doutores, todos com que está sendo cultivada em solos mais férteis, as sementes alta capacidade para produzir excelentes não recebiam nenhum produto químico, a inoculantes. utilizado em suas produtividade da soja era de 2.000kg/ha, Com tudo isso, o agricultor brasileiro lavouras, desde exigindo menos nitrogênio. pode ficar tranquilo: o inoculante que esCom o passar dos anos a genética da sotá sendo utilizado em suas lavouras, desde que registrado no ja, por sucessivos melhoramentos, permitiu que registrado no Ministério da Agricultura Mapa e produzido aumentos de produtividade que passaram e Abastecimento (Mapa) e produzido por por indústrias a exigir mais nitrogênio. Por outro lado, a indústrias legalmente estabelecidas, atende, soja começou a ser cultivada em solos mais e às vezes até excede, aos padrões mundiais legalmente adversos e as sementes começaram a ser de qualidade. Aliado aos demais fatores paestabelecidas, tratadas com diversos produtos químicos ra as boas práticas de cultivo, este insumo que aumentavam a mortalidade das bactébiológico contribui decisivamente para os atende, e às vezes rias. Isto tudo passou a exigir um inoculante elevados níveis de produtividade da soja até excede, aos C de melhor qualidade, com maior número brasileira. padrões mundiais de bactéria por grama ou mililitro, aportando um elevado número de bactérias por de qualidade Solon Araujo, semente. As empresas produtoras de inoConsultor da ANPII culante responderam a essa necessidade, aumentando sua concentração em bactérias e desenvolvendo a formulação líquida, mais fácil de utilizar nas grandes áreas. A partir daí os inoculantes vêm sendo constantemente aperfeiçoados, seja em sua concentração, fator chave para o sucesso de uma inoculação, como também na sua forma de aplicação e com bactérias mais resistentes, com a adição de adjuvantes que permitem maior tempo de viabilidade sobre as sementes. As concentrações de bactérias nos inoculantes passaram de 100 milhões por grama para um bilhão na década de 1990, quando já havia disponível um inoculante turfoso produzido com turfa esterilizada por radiação gama e um inoculante líquido de ótima qualidade. Em anos seguidos a concentração foi crescendo, chegando atualmente a cinco, seis e sete bilhões de bactérias viáveis por grama ou ml, conforme se vê no gráfico. 46
Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br