Cultivar Grandes Culturas • Ano XXI • Nº 263 • Abril 2021 • ISSN - 1516-358X
Destaques
Expediente Fundadores Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter
Diretor Newton Peter
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Controle localizado
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ: 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300
Como a aplicação localizada
www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00
REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo
de inseticidas pode otimizar o manejo de percevejos e levar o produto ao alvo de modo mais preciso e racional
• Redação Rocheli Wachholz Cassiane Fonseca • Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer • Vendas Sedeli Feijó José Geraldo Caetano CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes • Assinaturas Natália Rodrigues
De volta
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No limite
Os desafios do retorno da
Como a sucessão de culturas
cigarrinha-do-arroz ao longo
pode ser a saída para enfrentar
das duas últimas safras no
nematoides em algodão em
Brasil
situações extremas
• Expedição Edson Krause
Índice
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Diretas
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Informe - Spraytec
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Cigarrinha-do-arroz
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Informe - Daninhas em cafeeiro
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Expansão do trigo no Cerrado
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Nossos Telefones: (53)
Manejo alternativo de plantas daninhas
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• Geral 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070 • Redação: 3028.2060
Escolha de cultivares de soja
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Capa - Controle localizado de percevejos
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Apodrecimento de vagens de soja
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Manejo de nematoides em algodão
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Cigarrinha-do-milho
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Coluna Agronegócios
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Coluna Mercado Agrícola
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Coluna ANPII
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• Comercial: 3028.2065 3028.2066 3028.2067
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
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Nossa Capa
Crédito: Jovenil Jose da Silva
Diretas
Variedades
Diogo Sibardelli
A Soytech Basf apresentou três novidades em variedades de soja, para a safra 2021, na versão digital do Show Rural Coopavel. O principal lançamento foi a ST 575 Ipro, material que tem como grupo de maturação 5.7, recomendada para regiões com altitude acima dos 600 metros. Outro destaque fica por conta da ST 595 Ipro, que tem seu ponto de maturação 5.9, com tolerância à ferrugem. A Basf também apresentou pela primeira vez uma tecnologia com uso da plataforma Intacta II Xtend da Soytech, que faz da 631 I2x uma opção aos produtores do Paraná e do Mato Grosso do Sul, com reforço contra lagartas, resistência ao herbicida dicamba, controle de ervas daninhas e alta caixa produtiva. A apresentação foi realizada pelo representante de licenciamento, Diogo Sibardelli.
Nutrição A Mosaic Fertilizantes desenvolveu o MicroEssentials, fertilizante de alta performance que reúne em um único grânulo nitrogênio amoniacal, fósforo de alta solubilidade e duas formas de enxofre, que ajudam na distribuição uniforme e melhor rendimento operacional. O diferencial do produto está na presença do enxofre, nutriente essencial necessário durante todo ciclo. “Bem nutridas desde o início, as plantas respondem com rápido desenvolvimento inicial e definem um potencial produtivo mais elevado. Nossas pesquisas, em 68 campos demonstrativos, mostraram que áreas adubadas com MicroEssentials tiveram incremento médio de 4,6 sacas por hectare de 2017 a 2020”, informou o agrônomo sênior da Mosaic Fertilizantes, Fernando Hansel.
Fernando Hansel
Adriana Bernardet
Soluções A Bayer apresentou durante a edição on-line do Show Rural Coopavel soluções integradas e personalizadas em biotecnologias, portfólio de proteção de cultivos e agricultura digital. Entre os destaques esteve a terceira geração de biotecnologia em soja desenvolvida pela Bayer, a Intacta 2 Xtend, com lançamento comercial na safra 21/22. O fungicida Fox Xpro, recomendado para a prevenção de doenças em soja, algodão, trigo e milho, as marcas de sementes Monsoy, Dekalb, Sementes Agroceres, Agroeste e o portfólio para proteção de cultivos, como Curbix, Verango Prime, RoundUp e Serenade. Os visitantes também puderam saber mais sobre a plataforma de agricultura digital da Bayer, Climate FieldView. "Para nós é um prazer estar mais um ano presente no Show Rural Coopavel, mesmo que de forma digital", avaliou a líder de Marketing e Comunicação Comercial da Bayer, Adriana Bernardet.
Lançamentos
Angela Bundt
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A Corteva Agriscience lançou duas ferramentas para a cultura do arroz no Brasil. O fungicida Bim Max, composto pela combinação dos princípios ativos triciclazol e tebuconazol, atua com modo de ação sistêmico em doenças tanto nas folhas como nos grãos. O segundo lançamento foi o herbicida Raster, através da combinação dos princípios ativos cialofope butílico e penoxsulam, com modo de ação seletivo e sistêmico contra gramíneas, ciperáceas e folhas largas. A solução ainda apresenta amplo espectro de controle pré e pós-emergente. “São produtos muito esperados, que vão trazer flexibilidade na aplicação. Ambos trazem benefícios que englobam mecanismos de ação distintos que ampliam o espectro de controle”, destacou a líder de pesquisa da Linha Arroz, Angela Bundt.
Milho
Mayra Soares
Estudo realizado na Universidade Estadual de Londrina (UEL), em parceria com a Alltech Crop Science, apontou que o uso de soluções naturais à base de aminoácidos e extratos vegetais, no tratamento de sementes de milho, contribuiu para melhorias na germinação e vigor das plântulas. Segundo a pesquisa, a aplicação desta tecnologia em sementes de baixo vigor, em peneira 18, permitiu um aumento de 16,6% na germinação. “O objetivo, com essa aplicação, é permitir que o cultivo expresse o seu potencial genético. Com os aminoácidos livres e extratos vegetais, fazemos com que a planta tenha maior absorção de água e também promovemos o balanço hormonal, que é essencial para esse momento inicial da cultura, para que ela produza raízes e se estabeleça”, explica a gerente técnica de grãos da Alltech Crop Science, Mayra Soares. O produto utilizado no estudo foi o Initiate, da linha Performance da Alltech Crop Science.
Tecnologias A FMC participou do Show Rural Coopavel 2021 em formato digital, com a apresentação de tecnologias do seu portfólio de soja e de milho. A companhia também focou no programa “Juntos Produtor”, uma plataforma que, através de conexão digital e interação, promete marcar uma nova etapa do relacionamento entre a empresa, canais e produtores. Em produtos, a marca mostrou o herbicida pré-emergente Stone, o pós-emergente de contato Aurora, o bionematicida Presence, Rocks para tratamento de sementes e os inseticidas Premio, Hero, Avatar e Talisman, além da proposta de manejo preconizada pelo Domínio Percevejo. “Este é sem dúvidas um evento de extrema relevância e através dele poderemos contribuir
Bruno Lucas ainda mais com as culturas de soja e milho da região”, avaliou o gerente de Marketing Regional da FMC, Bruno Lucas.
Marcos Vilhena
Inseticida A Ihara apresentou a grande novidade do inseticida Maxsan para a cultura da soja. Agora, com efeito 4Max, o produto controla todas as fases do percevejo e da mosca-branca, através das ações que a nova tecnologia proporciona na lavoura: efeito de choque, efeito ovicida com menor percentual de ovos eclodidos e adultos estéreis, e efeito de redução populacional, o que contribui para a redução da população dessas pragas que chegam à fase reprodutiva, além do aumento do intervalo entre posturas. “Como este produto é exclusivo e inédito no Brasil, desenvolvido a partir de molécula altamente inovadora, investimos em estudos e comprovamos que ele tem um efeito muito mais completo ao agir em todas as fases dessas pragas, proporcionado alto poder de controle, além de ser único com duplo residual e efeito ovicida para percevejo na soja”, explicou o gerente de Produtos Inseticidas da Ihara, Marcos Vilhena.
Errata No artigo "Resultado Colateral", publicado na edição 262, páginas 18 a 20, o local e a data corretos da detecção dos primeiros esporos de ferrugem-asiática no Paraná, na safra 2020/21, ocorreram em 11 de dezembro de 2020, no Norte do estado, e não em 21 de outubro de 2020 no Sudoeste, como foi equivocadamente publicado.
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Informe
Resistência Indu O impacto positivo na utilização de bioativador associado a fungicidas no manejo do complexo de doenças em milho Cultivar
C
omplexo nutricional sistêmico de última geração, desenvolvido com matérias-primas de alta qualidade, que influenciam na fertilização de flores e na formação e peso de grãos. Cubo IR apresenta em sua formulação aminoácidos e ácido carboxílico, compostos que apresentam funções relevantes sobre a sanidade das plantas. Atua na formação de barreiras físicas e químicas à invasão de patógenos. Cubo IR age na planta de duas formas distintas: aumenta a resistência física natural por meio da síntese de lignina e extensina na parede celular e a resistência química pelo aumento da concentração de enzimas hidrolíticas no citoplasma. Esse efeito é alcançado por Cubo IR na primeira aplicação de fungicida. O objetivo desse trabalho foi avaliar os benefícios agronômicos da utilização de Cubo IR associado aos fungicidas e o controle de helmintosporiose (Exserohilum turcicum), que pode causar perdas de até 50%, quando ocorre em épocas que antecedem a floração, e da mancha branca (Pantoea ananatis), bactéria cujas folhas com 10% a 20% de severidade têm uma redução de 40% na taxa fotossintética líquida, que também resulta em diminuição da produção de grãos em cerca de 60% na cultura do milho.
METODOLOGIA
O experimento de milho foi conduzido pela equipe de Pesquisa e Desenvolvimento da Spraytec no município de Campo Mourão, Paraná. Foi utilizado o delineamento em blocos casualizados com quatro repetições contendo 44 parcelas de 3m de largura x 8m de comprimen-
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uzida to, espaçadas em 0,5m entre si. O tratamento usado como padrão foi azoxistrobina + ciproconazol e oxicloreto de cobre nas doses comerciais e padrão + Cubo IR nas doses de 200ml/ha, 300ml/ha e 400ml/ha, além da testemunha. As aplicações foram realizadas nos estádios V8 e V8 + pré-pendoamento. Foi avaliada a severidade de mancha branca utilizando-se uma escala diagramática e a presença de sintomas de helmintosporiose nas folhas. Foi levantada também a ação direta dos tratamentos sobre o desenvolvimento em meio T.S.A. (Agar Tryptic Soy) de Pantoea ananatis, bactéria causadora da mancha branca, e Exserohilum turcicum (sinonímia Helminthosporium turcicum) em meio de cultura B.D.A. (Batata Agar Dextrose), fungo causador da helmintosporiose.
os resultados de testemunha (a) padrão com fungicida (b) e 200ml / ha de Cubo IR + fungicida (c), e na Figura 2 a avaliação in vitro da ação direta sob os patógenos.
CONSIDERAÇÕES
O uso de Cubo IR associado aos fungicidas reduziu a severidade da mancha branca (Pantoea ananatis) na dose de 200ml/ha + fungicida no estádio de pré-pendoamento, havendo a redução da população bacteriana e no desenvolvimento de sintomas. Já a avaliação de hel-
minstosporiose (Exserohilum turcicum (sinonímia Helminthosporium turcicum) mostrou que o fungo não consegue se desenvolver na presença dos tratamentos aplicados, inibindo o crescimento vegetativo C do patógeno. André L. F. Cuba, Anarelly C. Alvarenga, Caio C. Brunholi, Julio R. Fagliari, Talita Camargo e Sabrina S. Costa
Figura 1 - Avaliação da severidade de mancha branca no milho
RESULTADOS
Na Figura 1 estão apresentados Figura 2 - Avaliação das aplicações sobre Pantoea ananatis (a), bactéria causadora da mancha branca, e Exserohilum turcicum (sinonímia de Helminthosporium turcicum) (b), fungo causador da helmintosporiose
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Arroz
De volta A sogata ou cigarrinha-do-arroz é uma praga importante em vários países da América e voltou a ocorrer no Brasil nas últimas duas safras. A praga causou perdas relevantes e aumento do custo de controle em Roraima, Rondônia, São Paulo, Paraná e Santa Catarina
Jerson Carús Guedes
A
cigarrinha-do-arroz, Tagosodes orizicolus (Muir, 1926) (Homoptera: Delphacidae), conhecida como sogata, ocorre em vários países da América Central e do Sul, onde na maioria dos casos está sob controle, com cultivares resistentes. No Brasil, em razão da falta de cultivares resistentes e de informações sobre a espécie, tem sido uma praga relevante nos últimos anos, como em Roraima (2018/19 e 2019/20), Rondônia (2019/20), São Paulo (2019/20, 2020/21), Paraná (2019/20, 2020/21) e Santa Catarina (2019/20, 2020/21) (Figura 1). Esta relevância se deve ao grande número de aplicações de inseticidas que quase inviabilizaram o cultivo em algumas localidades. No Rio Grande do Sul, embora encontrada em várias localidades da Região Central, não apresentou grande importância econômica até o momento, mas o monitoramento será fundamental nas próximas safras, levando em consideração a importância que apresentou em regiões de Santa Catarina.
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ASPECTOS BIOECOLÓGICOS
A cigarrinha-do-arroz passa pelas fases de ovo, ninfa e adulta. Os ovos são postos dentro do tecido da planta, próximo às nervuras (sendo difícil de visualizar pelo produtor). A fase de ovo (período de incubação) dura de cinco dias a dez dias, eclodindo ninfas de coloração castanho-claro, com duas faixas longitudinais marrom-escura, no dorso do corpo. As ninfas passam por cinco instares, levando de 15 dias a 18 dias, quando passam à fase adulta. Os adultos medem de 2,7mm a 3,4mm de comprimento, sendo os machos de coloração marrom-escura e as fêmeas de coloração castanho-claro. Os machos vivem de 12 dias a 15 dias, enquanto as fêmeas, 44 dias em média, período em que se dispersam, fazem as posturas e podem disseminar a doença da folha-branca. Tanto as ninfas quanto as cigarrinhas adultas vivem distribuídas em pequenos grupos, apresentando baixa movimentação, porém quando molestadas
ou estimuladas, se escondem e/ou saltam de uma folha/planta para outra (Figura 2). As temperaturas entre 25°C e 27°C são ótimas para o aumento da densidade populacional da sogata, já as temperaturas abaixo de 25°C ou grandes oscilações térmicas são prejudiciais ao seu desenvolvimento. A densidade populacional aumenta à medida que se aproxima da fase reprodutiva do arroz, especialmente nos cultivos mais tardios, como em regiões que praticam o segundo cultivo ou cultivo da soca (São Paulo, Paraná e Santa Catarina) ou mesmo nas socas não manejadas.
INJÚRIAS E DANOS
Os adultos e as ninfas sugam a seiva das folhas, colmos e panículas em formação, sobre os quais excretam um líquido açucarado que favorece o desenvolvimento de fumagina. A saliva liberada durante a sucção acelera a senescência e provoca necroses nas folhas, iniciando pelo ápice em dire-
ção à parte basal da planta, modifica a coloração (clorose, bronzeamento), reduz o crescimento, atrasa o desenvolvimento e, eventualmente, causa a morte. Estas características permitem identificar o ataque da praga na lavoura, que ocorre geralmente em reboleiras (Figura 3). Além dos danos físicos ou mecânicos, a cigarrinha pode transmitir o vírus da folha branca (VFB), que tende a causar grandes perdas, estimadas entre 80% e 100% da produtividade. A doença ainda não foi diagnosticada no Brasil, mas está presente em países que fazem fronteira, como Colômbia, Peru e Venezuela, e também na América Central. Portanto, especialmente na região Norte do Brasil, são importantes a observação das lavouras, a coleta de plantas suspeitas e o encaminhamento às autoridades fitossanitárias do estado.
Figura 1 - Estados brasileiros com ocorrência de sogata nas safras agrícolas 2019/20 e 2020/21. Roraima, Rondônia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul
MONITORAMENTO E DECISÃO DE CONTROLE
O monitoramento é o conjunto de amostragens da cigarrinha-do-arroz, em uma safra, que deve ser realizado semanalmente, a partir do perfilhamento até o estádio de grão leitoso. As amostragens são realizadas com o auxílio de rede de varredura ou puçá (com aro metálico de 40cm de diâmetro), em dez pontos por talhão a 15 pontos por talhão (Figura 4). Em cada ponto de amostragem devem ser realizados dez passes de rede (dez redadas). Em seguida é feita a contagem dos insetos, coletados pela rede (somatório dos dez passes), separando-os em ninfas e adultos. Os pontos amostrais devem estar distribuídos entre a bordadura e o centro do talhão, com caminhamento em zigue-zague. Somando os resultados e dividindo pelo número de pontos, chega-se à população média por amostra do talhão, que apoia a decisão de manejo. A tomada de decisão de controle da praga deve estar baseada no número médio de cigarrinhas por amostra (obtida da média dos pontos amostrais de dez passes de rede cada). Quando a média ultrapassar 30 cigarrinhas por ponto amostral (Nível de Dano Econômico – NDE adotado em países com ocorrência da praga), inicia-se o controle. Quando o monitoramento semanal apontar média de 30 insetos por ponto amostral deve ser a referência para aplicação de inseticidas até a fase de enchimento de grãos. Considerando a absoluta falta de informações, provisoriamente as amostragens têm sido adotadas pelos produtores brasileiros, com o objetivo de diminuir perdas.
Figura 2 - Ciclo biológico de sogata, Tagosodes orizicolus (Muir, 1926) (Homoptera: Delphacidae), com duração média das fases de ovo e de ninfa, de acordo com vários autores
MÉTODOS DE CONTROLE
O controle cultural é uma das primeiras estratégias a serem adotadas para o manejo da sogata, com destaque para práticas como destruição ou incorporação da soqueira após a colheita, com objetivo de diminuir a população do inseto; eliminação de gramíneas no interior da lavoura; limpeza de canais e diques, pois são plantas hospedeiras da cigarrinha. Nos países que convivem com a praga há mais tempo, a resistência varietal (cultivares resistentes) é a principal medida recomendada para controlar a cigarrinha e o vírus que transmite, usando, principalmente, variedades resistentes ao dano mecânico da praga, mas também resistentes ao vírus.
No Brasil, entretanto, não há cultivares resistentes ao dano mecânico ou ao vírus, como também não há conhecimento sobre o grau de resistência das cultivares atualmente utilizadas nos diferentes estados da Federação. Nas regiões com problemas, quando ocorreram ataques intensos da Sogata ou acima do Nível de Dano Econômico (baseado em dados de outros países), o controle químico foi o método adotado para reduzir as populações www.revistacultivar.com.br • Abril 2021
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Figura 3- Lavoura de arroz com reboleiras e sinais de ataque de sogata e detalhes de plantas coletadas no centro e na periferia destas reboleiras, comparadas a uma planta normal
Figura 4 - Esquema ilustrando a rede-de-varredura para amostragens de sogata (A) e a sugestão e caminhamento dentro das áreas atacadas (B)
Figura 5 - Eficácia média de inseticidas resultante de quatro experimentos com ocorrência de sogata
de cigarrinha-do-arroz. O produtor recorreu ao uso de inseticidas recomendados para outras pragas do arroz, embora pouco se conheça sobre a eficácia para cigarrinha, doses ou qualquer outra informação devido à falta de inseticidas registrados para este alvo. Considerando esta lacuna, o Laboratório de Manejo Integrado de Pra10
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gas (LabMIP) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Associação dos Arrozeiros de Roraima realizaram, na safra 2020, muitas observações e experimentos em Roraima e na Região Central do Rio Grande do Sul, onde foram avaliados vários inseticidas e momentos do controle. A Figura 5 ilustra, resumidamente, a eficácia média de controle dos inseticidas
testados nestes ensaios de campo, na qual se pode observar os potenciais inseticidas para uso no Brasil, após seu registro para a cultura. Os melhores resultados de eficácia de controle da cigarrinha-do-arroz são observados nos inseticidas acefato na dose de 1.164g i.a./ha e clorpirifós na dose de 720g i.a./ha, com média respectivamente de 76% e 71% de controle. Com eficácia intermediária, os inseticidas tiametoxam na dose de 75g i.a./ ha, dinotefuran + lambda-cialotrina na dose de 50,4g i.a./ha + 28,8g i.a./ ha, tiametoxan + lambda-cialotrina na dose de 42,3g i.a./ha + 31,8g i.a./ ha e sulfoxaflor + lambda-cialotrina na dose de 30g i.a./ha + 45g i.a./ha, apresentando um controle próximo a 50%, com médias respectivamente de 59%, 55%, 50% e 43% de eficiência. Já os inseticidas metomil na dose de 322,5g i.a./ha, imidacloprido na dose de 140g i.a./ha e acetamiprid + bifentrina na dose de 75g i.a./ha + 75g i.a./ha apresentaram controle abaixo de 40%. Embora todos os inseticidas apresentem algum controle, fica claro que a espécie é difícil de ser controlada por inseticidas em arroz, como observado em vários países da América, onde se recomendam prioritariamente as cultivares resistentes à praga. De outro lado é preciso observar que não existem inseticidas registrados para a praga em arroz, portanto o produtor e o técnico devem considerar os riscos legais do uso de inseticidas não registrados para a praga ou para a cultura. É preciso observar, ainda, que não existem inseticidas registrados para a praga e alguns destes não têm registro para a cultura, portanto deve-se priorizar o uso dos inseticidas que têm C registro para a cultura. Jerson Carús Guedes, Thiago Tales Strahl, Walter Boller, Eduardo Daniel Friedrich e Verlaine Sionara Selli, UFSM Thais Freitas e Franciéle dos Santos Soares, Unipampa
Publieditorial
Combate eficiente Herbicida pré-emergente apresenta bom desempenho no manejo de plantas daninhas resistentes ou de difícil controle na cultura do café, como buva, amargoso, braquiária, capim-pé-de-galinha, corda-de-viola e leiteiro
A
s plantas daninhas interferem diretamente na cultura do café, competindo por água, luz, nutriente e espaço. Essa concorrência ocorre durante a fase de estabelecimento (muda), estendendo-se por todo o ciclo produtivo. Culturas que cobrem toda a superfície do solo como soja e milho, por exemplo, apresentam um período total de interferência específico, concentrando o controle em alguns estádios da cultura. O café, por ser perene, cultivado em
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espaçamentos maiores, demanda um controle de plantas daninhas em vários períodos do ano. O controle de plantas daninhas no café se intensifica nos períodos mais quentes e com maior precipitação, condições ideais para o desenvolvimento do café e também de plantas daninhas. Algumas das formas de manejo utilizadas por cafeicultores são controlar quimicamente as plantas daninhas na linha de plantio (saia do café) e o controle mecânico na entrelinha. Esse
método pode se estender até próximo à colheita, período em que é recomendado eliminar todas as plantas daninhas para facilitar essa operação. O glifosato é um dos herbicidas mais utilizados para o controle de plantas daninhas no café. Dentre as características desse herbicida, estão, amplo espectro de controle, controle de plantas perenizadas, custo e seletividade por posicionamento (jato dirigido), além disso, ele não possui efeito residual no solo. Um dos desafios
IHARA
para o uso dessa tecnologia é o crescente número de plantas resistentes a essa solução. O herbicida não é capaz de causar a resistência nas plantas, no entanto atua na pressão de seleção. Sendo assim, o uso repetitivo da mesma tecnologia proporciona a seleção de biotipos, que apresenta algum grau de resistência. Plantas como buva (Conyza spp), capim-amargoso (Digitaria insularis) e capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) já apresentam resistência
ao glifosato, dificultando o manejo dessas plantas daninhas. Sabe-se que são realizadas em média de três a quatro aplicações de pós-emergência na cultura, favorecendo, desta forma, a pressão de seleção de espécies resistentes e utilizando um grande número de máquinas para essas operações, o que ocasiona um aumento no custo de produção. Alternativa para o problema de resistência é o uso de herbicidas pré-emergentes com diferentes mecanismos de ação, controlando essas plantas antes da emergência. Outro fato relacionado é que esses herbicidas apresentam efeito residual, possibilitando diminuir o número de entradas na área, reduzindo assim o custo de aplicação. Um dos desafios do uso de herbicidas pré-emergentes na cafeicultura é o entendimento sobre a dinâmica no ambiente. Diferentemente de herbicidas aplicados em pós, fatores do solo como pH, teor de argila/areia, matéria orgânica e características físico-químicas do herbicida como solubilidade, pka, meia-vida e koc, influenciam diretamente na eficácia de controle e seletividade dessas tecnologias. O herbicida Falcon chega ao mercado para o controle de plantas daninhas em pré-emergência. O produto apresenta algumas características como seletividade para a cultura, podendo ser aplicado em estádios iniciais até cafezais em produção plena, tendo amplo espectro de controle, principalmente para plantas resistentes ou de difícil controle como buva, amargoso, braquiária, capim-pé-de-galinha, corda-de-viola, leiteiro, entre outras. Uma das vantagens da associação das tecnologias é o efeito sinérgico da mistura formulada, sendo o controle de folhas estreitas amplificado na mistura, quando comparado aos ativos isolados, e o
excelente controle em folhas largas. Para o manejo de plantas daninhas no café devem ser adotados métodos integrados de controle. O herbicida glifosato é uma tecnologia que pode ser utilizada juntamente com o Falcon para o controle de plantas daninhas antes da colheita. Desta forma, o cafeicultor pode antecipar o controle e garantir o efeito residual do Falcon. Outro posicionamento é a utilização do Falcon na entrelinha de plantio para o controle de plantas em pré-emergência, assim minimizando os custos de aplicação ou controle mecânico na entrelinha. Em estudos realizados, este herbicida se mostrou capaz de transpor a camada de palha de milho (6t/ha), podendo ser aplicado diretamente sobre a palha, sendo necessária chuva de 50mm para fazer a transposição acima de 60% da dose aplicada para o solo, onde o herbicida tem seu efeito. Outro estudo realizado foi em serapilheira (camada que fica acima do solo e é formada por restos de folhas, galhos, frutos e demais partes vegetais), onde se observou um comportamento muito estável quanto à liberação do produto ao solo, em camadas de 15t/ha e 30t/ ha. Trata-se de um excelente resultado, quando avaliamos os demais herbicidas do mercado. Com Falcon é necessário evoluir no entendimento da dinâmica de herbicida no ambiente, dinâmica em palha e em cobertura viva e trabalhar na conscientização do cafeicultor de como funciona a tecnologia e como ele pode utilizá-la. O Falcon traz benefícios para o cafeicultor em ganho de controle, flexibilidade de uso, manejo de plantas resistentes, entre outros, possibilitando uma ampliação nas ferramentas de C manejo. Pesquisadores da Renove Agropesquisa Dr. Renan Fonseca Nascentes e Dr. Plinio “Saulo” Simões
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Trigo
Expansão acelerada O
trigo é o principal ingrediente de importantes alimentos da dieta do brasileiro. O pão de sal está presente na alimentação diária de 50,9% dos brasileiros, correspondendo a 2,1% do consumo de diário de calorias. Outros produtos à base de trigo como macarrão (ingerido diariamente por 18,5% da população), bolos (11,1%) e massas (2,1%) também são importantes para o brasileiro. Entretanto, o Brasil não é autossuficiente na produção de trigo, e isso afeta o preço interno do produto. O trigo é uma commoditie agrícola e como tal, tem o preço cotado em dólar. Assim, flutuações no preço do dólar em relação ao real afetam o preço do trigo no Brasil. Recentemente, devido à desvalorização do real (R$) frente ao dólar ($), o preço do trigo (em R$) aumentou cerca de 50% (Figura 1a). Com isso, houve também o aumento do preço do pão. Em Belo Horizonte, Minas Gerais, por exemplo, esse aumento atingiu aproximadamente 45%. O aumento no preço dos alimentos, devido à desvalorização do real, também atingiu produtos derivados de outras commodities como os derivados de soja, milho etc. O preço da soja subiu cerca de 60% no Brasil (Figura 1b). 14
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Na busca por tornar o Brasil autossuficiente na produção de trigo, o aumento da área de cultivo no Cerrado tem crescido exponencialmente ao longo dos anos. Ao mesmo tempo em que a boa oferta de radiação solar favorece o potencial produtivo na região, o déficit hídrico é um dos principais desafios Wenderson Araujo - Sistema CNA
Quando se compara o preço do trigo comercializado no Brasil com o preço mundial em dólar nota-se que o preço do trigo é em média 15% maior no Brasil comparado ao restante do mundo (Figura 1c). Em comparação semelhante, o preço da soja comercializada no Brasil é, em média, 5% menor que o preço médio mundial (Figura 1d). Além disso, a volatilidade do preço do trigo é muito alta no Brasil, e em alguns anos, o preço praticado no Brasil chega a ser de 50% a 80% superior que o praticado no restante do mundo. A demanda anual de trigo no Brasil é de aproximadamente dez milhões de toneladas. O Brasil produz 50% do trigo consumido e importa o restante da Argentina. Assim, quebras de produção de trigo no Brasil aumentam a necessidade de importação do produto. Com isso, a volatilidade do preço do trigo no Brasil está relacionada com a variabilidade anual da produção no País. O preço do trigo no Brasil em 2013 foi 80% maior que a média mundial. No ano anterior, em 2012, a produção nacional caiu 30% devido a eventos climáticos adversos ocorridos no Sul do Brasil. Essa queda na produção aumentou a importação de trigo e, consequentemente, majo-
rou o preço do produto. A volatilidade do preço do trigo, e consequentemente dos seus derivados, afeta o orçamento e a dieta do brasileiro. Para reduzir esta volatilidade, o Brasil precisa aumentar a produção nacional de trigo expandindo sua produção ou incorporando novas tecnologias no campo. A produção de trigo no País está concentrada na região Sul. Os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são responsáveis por 90% da produção nacional de trigo. Essa região apresenta chuva bem distribuida durante o ano todo, o que favorece o plantio do trigo durante o inverno. Assim, o trigo é semeado entre abril e julho antes do cultivo das culturas de verão, geralmente soja ou milho. Contudo, a redução da oferta de radiação solar, ocorrência de geadas, e alta umidade relativa contribuindo para a ocorrência de doenças afetam a produtividade na região. A produtividade média nesses locais é de 2,6t/ha. Outro limitante é a variabilidade anual da chuva, devido à influência de fenômenos climáticos como o El Niño Oscilação Sul. Em alguns anos, a produção é afetada pelo excesso de chuva e em outros, pela falta dela. Com isso, alguns produtores têm, até mesmo, deixado de cultivar o
trigo na região Sul. Por outro lado, o cultivo do trigo está em expansão no Cerrado brasileiro (Região A, destacada em vermelho no mapa da Figura 2). Nesta região, a área cultivada com a cultura aumentou 800% neste século. As altas temperaturas durante o dia, associadas a temperaturas amenas durante a noite (maior amplitude térmica), favorecem a produção do trigo no Cerrado. Além disso, a alta disponibilidade de radiação solar aumenta o potencial produtivo da cultura. Contudo, o cultivo de trigo nessa região depende da irrigação devido aos baixos volumes de chuva que ocorrem entre abril e setembro. O aumento da área irrigada já é realidade em diversos municípios, como pode ser notado nas imagens de satélites registradas no inverno de 2000 e no inverno de 2020 na região de Cristalina, Goiás. Essas regiões apresentam produtividades recordes de trigo, superando 5t/ha; ou seja, o dobro da produtividade média obtida no Sul do Brasil. O Brasil tem potencial de aumentar a área irrigada em 76% até 2040. Em Minas Gerais, o potencial da expansão da irrigação é de 12,6%. A expansão do cultivo do trigo, e consequentemente a redução da volatilidade interna do seu preço, depende da prática de irrigação no Cerrado. Outra alternativa é o desenvolvimento de cultivares mais resistentes ao déficit hídrico. Segundo a Embrapa, a expansão do trigo no Cerrado tornaria o Brasil autossuficiente, podendo até se tornar exportador do grão. Dados os desafios, é importante que se tenham incentivos políticos à pesquisa e à extensão rural para que a expansão C efetivamente ocorra.
Figura 1 - O preço das commodities no Brasil. O preço em real e em dólar no Brasil, e em dólar no mundo de (a) trigo e (b) soja. A variação do preço, em dólar, do (c) trigo e (d) soja no Brasil em relação à média mundial. (e) o consumo de trigo no Brasil, indicando a quantidade produzida no país e a quantidade importada. (f) Produção de soja no Brasil, indicando a quantidade consumida e a quantidade exportada
Figura 2 - A expansão do trigo no Brasil. (a) Região de produção de trigo no Brasil. Média diária (1981-2016) da chuva e radiação solar no (a) Cerrado e (d) no Norte do Paraná. Média diária (1981-2016) da temperatura máxima e mínima no (c) Cerrado e (e) no Norte do Paraná. Imagens de satélites registradas durante o período de inverno na região de Cristalina, Goiás nos anos de (f) 2000 e (g) 2020, utilizando a coleção de imagens dos satélites Landsat 5 (ano 2000) e Landsat 8 (ano 2020). Imagens representadas na composição falsa cor (RGB 543)
Rogério de S. Nóia Júnior, Universidade Técnica de Munique, Alemanha José Lucas Safanelli, Esalq/USP
Nóia Júnior e Safanelli
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Plantas daninhas
Potencial bio-herbicida
Como óleos essenciais à base de capim-citronela e alecrim-pimenta podem auxiliar no combate ao amendoim-bravo, por interferirem na germinação e no desenvolvimento dessa planta daninha
A
convivência das plantas daninhas, sempre presentes nos agroecossistemas e de difícil controle, afeta a produção das plantas cultivadas. Seu manejo é realizado pela combinação de diversos métodos, como preventivo, cultural, capinas (mecanizado e manual) e químico com o uso de herbicidas. Herbicidas são compostos químicos usados para eliminar plantas. São aplicados em doses convenientes diretamente
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sobre a vegetação para absorção foliar (tratamento de pós-emergência), ou no solo para absorção por tecidos formados após a germinação da semente antes da emergência da planta na superfície (tratamento de pré-emergência). Apesar de sua alta eficiência e baixo custo, a sua utilização não é isenta de riscos, dentre os quais, permanência de seus resíduos no agroecossistema, fitotoxicidade, pressão de seleção na população de plantas daninhas induzindo a ocorrência de biótipos
resistentes aos herbicidas etc. O manejo das plantas daninhas no cultivo orgânico é caracterizado com aumento significativo das capinas, como forma de compensar a privação do uso dos herbicidas, porém, para muitas culturas o incremento desta prática não é satisfatório, pois na sua utilização há quedas significativas na produção, quer seja pela falta de eficiência ou dano físico provocado na cultura, quando esta operação é realizada na linha de cultivo, fato evidenciado por Gianessi & Sankula 2003, que ao avaliarem o impacto socioeconômico da não adoção dos herbicidas nas culturas dos Estados Unidos da América, concluíram que seriam necessários sete milhões de trabalhadores para as operações de capina, representando um aumento no custo de produção em 7,7 bilhões de dólares, e mesmo assim, ocorreria em média queda de 21% na produção – 13,3 bilhões de dólares –, fato dramático que pode decretar a inviabilidade econômica da unidade agrícola que não utiliza herbicida. Desta forma, para o futuro dos cultivos orgânicos é primordial o controle das plantas daninhas com a substituição das capinas com adoção de novas tecnologias. Uma das opções para o controle das plantas daninhas sem emprego de herbicidas é a técnica de controle biológico, que consiste em utilizar a relação específica entre o agente de controle biológico e a planta daninha culminado com sua destruição. Há comprovação do sucesso deste método, notoriamente nas condições temperadas, em que há menos abundância e frequência das plantas daninhas, porém em condições tropicais em que esta classe de plantas é muito abundante e frequente, isto re-
Figura 1 - Porcentagem da germinação de Euphorbia heterophylla em relação à testemunha, submetidas aos tratamentos, o símbolo (*) indica rejeição da hipótese de nulidade. Dados médios de cinco repetições
frio etc. São produtos naturais orgânicos voláteis, com alta pressão de vapor em temperatura ambiente e pertencentes principalmente às famílias dos fenilpropanoides e terpenoides. Podem inibir o crescimento de micro-organismos e conter aleloquímicos que afetam a germinação de sementes, desta forma, potencial fonte primária de bio-herbicidas (Dudai et al., 1999). Cabe salientar que investigações avaliando esta característica ainda são escassas, principalmente aquelas desenvolvidas nas condições brasileiras. Pesquisas no laboratório da Ciência das Plantas Daninhas do Instituto Biológico, vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, têm sido realizadas por Blanco et al. (dados não publicados), avaliando os óleos essenciais de alecrim-pimenta (Lippia sidoides), capim-citronela (Cymbopogon nardus) e várias espécies de eucalipto, observando
a sua capacidade em afetar germinação e desenvolvimento inicial de plantas daninhas, comprovando o potencial destes óleos como herbicidas naturais (bio-herbicidas). A seguir é descrita uma destas pesquisas.
ESTUDO DE CASO
Avaliação do potencial como bio-herbicida dos óleos essenciais de Cymbopogon nardus L. (capim-citronela) e Lippia sidoides Cham. (alecrim-pimenta) sobre Euphorbia heterophylla L. (amendoim-bravo).
MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios foram realizados no Centro Avançado de Pesquisa em Proteção de Plantas e Saúde Animal - Capsa, Instituto Biológico, no Laboratório da Ciência das Plantas Daninhas, em Campinas, São Paulo. Unidade experimental, placas de Pe-
Fotos Flávio Blanco
presenta uma significativa dificuldade na diminuição do efeito deletério desta classe de plantas, pois ao controle de apenas uma ou poucas espécies há rápida prevalência de outras, não afetadas pelo agente de controle biológico, resultando, assim, em controle geral deficiente das plantas daninhas e prevalência da queda na produção agrícola. Desta forma, a pesquisa agrícola para atender aos preceitos da agricultura orgânica em condições brasileiras (tropicais) deve ter um direcionamento para pesquisas avaliando outros agentes de controle, dentre estes, os óleos essenciais. Os óleos essenciais são tradicionalmente usados nas indústrias de alimentos e perfumes, extraídos de várias partes das plantas (flores, folhas, cascas, madeira, raízes, rizomas, frutos e sementes), obtidos por meio de destilação a vapor, hidrodestilação, prensagem a
Figura 2 - Efeito dos óleos sobre o comprimento do hipocótilo de plântulas de Euphorbia heterophylla, submetidas aos tratamentos, o símbolo (*) indica rejeição da hipótese de nulidade. Dados médios de cinco repetições
Amendoim-bravo submetido a óleos essenciais de capim-citronela, em tratamentos: 0,0 (testemunha); 2,5; 5,0; 10,0; 20,0; 30,0µL
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Figura 3 - Efeito dos óleos sobre o comprimento da radícula de plântulas de Euphorbia heterophylla, submetidas aos tratamentos, o símbolo (*) indica rejeição da hipótese de nulidade. Dados médios de cinco repetições
Flávio Martins Garcia Blanco e Thais de Souza Feliciano Monteiro, Laboratório da Ciência das Plantas Daninhas Instituto Biológico
Flávio Blanco
tri (90x15 mm) de poliestireno com 75 sementes de Euphorbia heterophylla (amendoim-bravo), submetidos aos óleos essenciais capim-citronela e alecrim-pimenta, tratamentos: 0,0 (testemunha); 2,5; 5,0; 10,0; 20,0; 30,0 µL, delineamento inteiramente casualizado com cinco repetições, conduzido em BOD, 25ºC. Após sete dias, foram avaliados germinação (número de germinações), comprimentos do hipocótilo e radícula. Os valores de germinação foram transformados em porcentagem em relação à testemunha, considerada 100% e com os resultados de comprimentos do hipocótilo e radícula, foram submetidos à análise da variância Anova (F 5%). Estas análises foram significativas, e assim foi avaliada a hipótese de nulidade individualmente entre a média da testemunha contra cada dose de óleo essencial, nos parâmetros avaliados, apresentados nas figuras, a seguir. Os resultados descritos na Figura 1 indicam que, independentemente do óleo essencial, em todos os tratamentos ocorreu a rejeição da hipótese de nulidade (H0), indicando que a comparação individual entre os contrastes – média da testemunha confrontada com cada dose de óleo – teve uma redução significativa na porcentagem de germinação das sementes de E. heteroplylla, para todos os tratamentos: 2,5; 5,0; 10,0; 20,0 e 30,0 µL, demonstrando, assim, que os óleos essenciais de capim-citronela e alecrim-pimenta prejudicam significativamente a germinação da planta daninha amendoim-bravo.
Em continuação foi avaliado o efeito dos óleos essenciais sobre os comprimentos do hipocótilo e radícula das plântulas, descritos nas Figuras 2 e 3. A Figura 2 mostra o efeito dos tratamentos com óleo essencial sobre o comprimento do hipocótilo das plântulas e indicando os tratamentos em que a hipótese de nulidade (H0) foi rejeitada (*). Observa-se que a ação dos óleos essenciais foi diferenciada: capim-citronela, todas as médias dos tratamentos foram menores que a testemunha, com rejeição da hipótese de nulidade, situação que para o alecrim-pimenta ocorreu nos tratamentos correspondentes às maiores concentrações, 20 e 30 µL, indicando, assim, que este óleo essencial foi menos efetivo na redução do comprimento do hipocótilo das plântulas de amendoim-bravo. A ação dos óleos teve continuidade na análise do comprimento das radículas, descrita na Figura 3. É apresentado na Figura 3 o efeito dos tratamentos sobre o comprimento da radícula das plântulas de amendoim-bravo. Observa-se um comportamento semelhante na ação dos óleos essenciais: rejeição da hipótese de nulidade (H0) na comparação entre a média da testemunha individualmente contra os tratamentos com óleos essenciais, à exceção da dose 2,5µL do alecrim-pimenta, em que a H0 foi aceita, indicando que apenas neste óleo/tratamento a diminuição do comprimento não foi significativa. Estes resultados enfatizam que os óleos essenciais avaliados podem afetar o desenvolvimento da radícula de plântulas de amendoim-bravo. Uma análise global dos resultados estabelece que os óleos essenciais de Cymbopogon nardus (capim-citronela) e Lippia sidoides (alecrim-pimenta) prejudicam a germinação de Euphorbia heterophylla (amendoim-bravo), e no processo de desenvolvimento da plântula, podem afetar o comprimento do hipocótilo e radícula, fato que pode culminar na morte da planta daninha. Portanto, os resultados aqui descritos são um indicativo para estudos propondo novas metodologias – bioC -herbicidas – para o controle das plantas daninhas.
Amendoim-bravo submetido a óleos essenciais de alecrim-pimenta, em tratamentos: 0,0 (testemunha); 2,5; 5,0; 10,0; 20,0; 30,0µL
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Soja
Escolha adequada A avaliação regionalizada de cultivares é essencial no Brasil, onde o cultivo de soja está associado a fatores como heterogeneidade de ambientes e tipos de solo e de tecnologias empregadas. Materiais melhor adaptados a uma determinada região podem contribuir para a otimização da produtividade da soja e da renda do produtor
Eduarda Grün
A
sojicultura brasileira requer constantes adequações quanto às práticas de manejo e tecnologias disponíveis, especialmente na escolha de cultivares com melhor adaptabilidade para otimização da produtividade, considerando também a lucratividade e a sustentabilidade econômica e ambiental no processo produtivo (Andrade et al., 2016). A adaptabilidade de uma cultivar refere-se à capacidade de aproveitar os estímulos fornecidos pelo ambiente, considerando suas características e a interação com esse mesmo ambiente (Lara et al., 2019). A cultura da soja é dependente dos elementos climáticos como oferta hídrica, fotoperíodo e temperatura. Tanto a escassez quanto o excesso hídrico podem limitar a produção da soja, que durante seu ciclo necessita de 450mm a 800mm de água (Silva, Carvalho e Dallacort, 2020). As cultivares de soja são organizadas por meio dos grupos de maturidade relativa (GMR), em que o comportamento de cada cultivar varia conforme a latitude, apresentando faixas limitadas de adaptação. Este comportamento é determinado pela resposta ao fotoperíodo e à temperatura, sendo que a sensibilidade para ambos depende da genética da cultivar (Feliceti et al., 2020). Cultivares que apresentam período juvenil longo possuem maior adaptabilidade, sendo indicadas para latitudes menores, pois há a tendência do florescimento precoce que culmina na redução do ciclo.
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Por outro lado, em latitudes maiores é possibilitado o uso de cultivares de ciclo mais curto. As cultivares também podem apresentar tipos de crescimentos distintos, sendo diferenciadas pelo fim ou não do crescimento vegetativo após a indução da floração. Cultivares de tipo de crescimento determinado apresentam estádios vegetativo e reprodutivo definidos, a planta cresce e ramifica menos. Enquanto em cultivares indeterminadas a floração ocorre da base da planta para o ápice e a planta segue crescendo após o início da floração, proporcionando o cultivo em ambientes menos favoráveis (Carvalho et al., 2020). O zoneamento agroclimático é uma ferramenta importante para respaldar a época de semeadura em que são considerados o GMR da cultivar, a classe textural do solo e a altitude do local. Anualmente as empresas de melhoramento desenvolvem materiais para atender às demandas dos diversos cenários produtivos brasileiros, principalmente com o objetivo de acréscimos em produtividade. Para isso, a avaliação regionalizada de cultivares é essencial no Brasil, onde o cultivo de soja associa-se à heterogeneidade de ambientes, aos tipos de solo e de tecnologias empregadas para a escolha de materiais adaptados para cada ambiente (Mateus et al., 2017).
Com o objetivo de avaliar o desempenho produtivo de cultivares de soja na Região Central do Rio Grande do Sul, um experimento foi conduzido na área didático-experimental da Universidade Federal de Santa Maria (coordenadas geográficas: 29°42'46” S, 53°43'13” O e 116 metros de altitude) durante a safra 2019/20. O clima conforme a classificação de Köeppen é do tipo Cfa (Peel, Finlayson e McMahon, 2007). O solo é classificado como Argissolo Vermelho Distrófico arênico (Santos et al., 2018). A análise química do solo apresenta como características: pH (água, 1: 1) = 5,6; MO (%, m/v) = 2,1; Argila (%, m/v) = 23; P, P-Mehlich (mg dm-3) = 12,9; K (cmol-dm-3) = 0,133; H + Al (cmol-dm3) = 0; CTC (pH 7, cmolcdm-3) = 10,6; Saturação de base (%) = 70,6. Anteriormente à semeadura, a área foi mantida em pousio durante o inverno e dessecada para controle de plantas daninhas. Para isso utilizaram-se os herbicidas glifosato (1.440g e.a. ha), 2,4-D amina (1.005g e.a. ha) e saflufenacil (49g i.a. ha) em mistura de tanque, com pulverizador tratorizado e regulado para aspergir 140L de calda por hectare. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com três repetições, composto por 31 cultivares de soja semeadas em 13 de novembro de 2019. Os dados climáticos para Santa Maria, Rio Grande do Sul, para a safra de soja foram
Figura 1 - Condições meteorológicas de precipitação (mm) e temperaturas médias (ºC) semanais dos meses de outubro a março, com indicações da semeadura (S) e colheita (C) durante a safra 2019/20
obtidos através da base de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet, 2020) (Figura 1). Utilizou-se a densidade média de 31 sementes m-2 em fileiras espaçadas 45cm entre si. As unidades experimentais foram compostas por 7m x 2,25m, totalizando 15,75m², com área útil de 6,75m². As sementes foram previamente tratadas com piraclostrobina + tiofanato metílico + fipronil na dose de 200ml do produto comercial para cada 100kg de semente. No momento da semeadura realizou-se a coinoculação com as bactérias Bradyrhizobium japonicum e Azospirillum brasilense no sulco de semeadura utilizando 60L de calda nas concentrações de 300ml e 100ml, respectivamente. A adubação foi realizada por semeadora-adubadora a aplicação de 400 kg/ha do adubo formulado NPK (00-20-25). Os demais tratos culturais seguiram as recomendações técnicas para a cultura da soja (Caraffa et al., 2018). As variáveis avaliadas foram a massa de mil grãos (MMG) e a produtividade de grãos (PG), sendo seus valores corrigidos para umidade padrão de 13%. Os dados foram submetidos à análise de variância pelo software estatístico Sisvar e quando constatado efeito significativo realizou-se o teste de Scott-Knott a p<0,05 (Ferreira, 2014). A Tabela 1 apresenta as principais características das 31 cultivares utilizadas no experimento, conforme informações
oferecidas no site das empresas detentoras dos materiais. A análise de variância obteve efeito significativo das cultivares de soja para as variáveis MMG e PG. Entre as 31 cultivares avaliadas, a MMG foi inferior para as cultivares BMX Ponta IPRO, BMX Fibra IPRO, BMX Compacta IPRO, NS 6601 IPRO, M 6410 IPRO, NEO 610 IPRO, BMX Tornado RR, BS 2606 IPRO, BMX Delta IPRO, CZ 15B64 IPRO, BMX Garra IPRO e TMG 7061 IPRO, com valores menores que 120 gramas (Figura 2). Por outro lado, as cultivares NS 5959 IPRO e NS 5909 RR apresentaram os maiores valores, ambas com MMG de 140 gramas, não diferindo estatisticamente das demais cultivares como BMX Ícone IPRO, TMG 7260 IPRO,
Figura 2 - Massa de mil grãos (MMG) das cultivares de soja avaliadas durante a safra 2019/2020 para a região de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
NS 4823 RR, DM 57I59 e outras 12 cultivares avaliadas, cujos valores de MMG foram superiores a 120 gramas (Figura 2). Para variável PG houve grande variação entre as cultivares avaliadas, em que se destaca a cultivar DM 5958 IPRO com 4.206.93kg/ha (70,11 sacas/ha) (Figura 3). Aditivamente, as cultivares BMX Garra IPRO, BMX Fibra IPRO, BMX Raio IPRO, BMX Ponta IPRO, NS 4823 RR, M 5947 IPRO, BS 2606 IPRO e BMX Lança IPRO apresentaram boa produtividade na safra 2019/20 para a região Central do Rio Grande do Sul, não diferindo entre si. A menor produtividade foi observada para a cultivar TMG 7061, com 2.490,71kg/ ha (41,51 sacas/ha). Em comum entre as cultivares mais produtivas, conforme a
Figura 3 - Produtividade de grãos (PG) das cultivares de soja avaliadas durante a safra 2019/2020 para a região de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
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Tabela 1 tem-se plantas com GMR entre 5.8 e 6.4, em que se excetua a cultivar BMX Raio IPRO com 5.0, cultivares de hábito indeterminado, porte médio e responsivas aos manejos para altas produtividades. Com base nas condições meteorológicas, as temperaturas durante todo o desenvolvimento da soja foram consideradas ideais, embora a precipitação tenha sido desuniforme e de baixo volume, especialmente no final do período vegetativo e início do reprodutivo (Figura 1). Houve grande variabilidade no desempenho produtivo das cultivares, pa-
ra MMG a diferença entre a cultivar de maior massa e a de menor massa foi de 69%, respectivamente BMX Ponta IPRO e NS 5909 RR, e de 59% para a PG entre as cultivares TMG 7061 IPRO e DM 5958 IPRO. Resultados obtidos pela avaliação de 40 cultivares em quatro locais demonstraram que a variação da produtividade foi superior a 65%, com base nas características agronômicas de cada genótipo e sua adaptação ao ambiente (Mateus et al., 2017). Pesquisas também reportaram que a adaptabilidade dos genótipos ao ambiente pode ocorrer em diferentes níveis, evidenciando que cada
Tabela 1 - Caracterização dos cultivares utilizados no experimento, grupo de maturação relativa (GMR), massa de mil sementes (MMS), hábito de crescimento (HC), porte da planta (PL), resposta ao acamamento (AC), exigência de fertilidade do solo (FER), potencial produtivo (PP), índice de ramificação (IR), cancro da haste (CH), mancha "olho-de-rã" (OR), pústula bacteriana (PB), podridão radicular de Phytophthora (PR) e nematoide do cisto (NC) Cultivar NS 4823 RR BMX RAIO IPRO BMX ELITE IPRO BMX ATIVA RR CZ 15B64 IPRO CZ 15B70 IPRO DM 57I52 IPRO M 5838 IPRO TMG 7058 IPRO DM 5958 IPRO BMX LANÇA IPRO M 5947 IPRO BMX DELTA IPRO NS 5959 IPRO TMG 7260 IPRO BS 2606 IPRO TMG 7061 IPRO NEO 610 IPRO BMX TORNADO RR NS 5909 RR NS 6162 IPRO BMX GARRA IPRO BMX FIBRA IPRO M 6410 IPRO BMX COMPACTA IPRO BMX PONTA IPRO NS 6601 IPRO BMX VALENTE RR FPS 1867 IPRO BMX ÍCONE IPRO XI 621B03
GMR 4.8 5.0 5.5 5.6 5.6 5.7 5.7 5.8 5.8 5.8 5.8 5.9 5.9 5.9 6.0 6.0 6.1 6.1 6.2 6.2 6.2 6.3 6.4 6.4 6.5 6.6 6.6 6.7 6.7 6.8 -
MMS 180 201 184 174 178 165 180 172 177 160 168 159 185 165 185 156 175 159 189 156 146 177 166 180 189 190 185 -
HC I I I D I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I -
PL M M M B M M M M M M M M M M A M A M M M M M A M/A -
AC R R R R R R R R MR R MR R R R R R R -
FER A 1, 2, 3, 4 1, 2, 3, 4, 5 A M/A M 1, 2, 3, 4 1, 2, 3 A M/A A M/A 4 1, 2, 3, 4, 5 M 1, 2 1, 2 1, 2, 3, 4 1 M/A 1 M 1, 2, 3 -
PP A A A A A A A A A A A A A A A A A A -
IR M A A A B A A M A M/A A A A M A A A A A A A -
CH R R R R R R R R R R R R R R R MR R R R R R R MR R R R R R R -
OR R S S MR R R R MR R S MR MS R R MR R R MR R MR R S MS R R R S -
PB R MR S S S R R R R R S R R R R R R R S R S R MR R S R S R S -
PR R R R R R R R S R R R R R R R R MR R R R R R R R R R -
PP A A A A A A A A A A A A A A A A A A -
Determinado (D), Indeterminado (I), Baixa (B), Média (M), Alta (A), Resistente (R), Suscetível (S), Moderadamente resistente (MR), Moderadamente sucetível (MS), Sem informação (-). Sites: Brasmax < https://materiais.brasmaxgenetica.com.br/lado-a-lado-em-busca-do-maximo-rendimento-2> Basf <https://agriculture.basf.com/br/pt/protecao-de-cultivos-e-sementes/produtos/soytech/SoyTech/BS-2606-IPRO.html> Don Mario < https://www.donmario.com/pt-br/cultivares-sul/> Fund. Pró-sementes < https://fundacaoprosementes.com.br/servicos/soja/> Monsoy < https://www.monsoy.com.br/pt-br/variedades/epocadesemeaduraepopulacaodeplantas.html> Neogen < https://www.neogensementes.com.br/neo-610/> Niedera <http://www.niderasementes.com.br/>
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A soja A soja é a principal cultura agrícola cultivada no Brasil. Na safra 2019/20 a área alcançou 36.843,5 mil hectares e a produção atingiu 120,3 milhões de toneladas (Conab, 2020). A estimativa para a safra atual é a ampliação da área cultivada em 4,1% e o incremento produtivo de 8,2% em comparação com a safra anterior (Conab, 2021). Na Região Sul a área ocupada pela soja foi de 12.085,1 mil hectares e a projeção para esta safra é de 2,3% de aumento (Conab, 2021).
cultivar pode apresentar comportamento local distinto (Cruz et al., 2010). A média do custo de produção da soja para o Rio Grande do Sul é de R$ 2.613,33 por hectare e o preço médio pago ao produtor foi de R$ 120,00/saco nos últimos 12 meses (Conab, 2021). Considerando a média da PG para grupo de cultivares mais produtivas, barras em azul (Figura 3), obteve-se renda líquida média de R$ 5.382,62/ ha. Já para as cultivares do segundo grupo mais produtivo, em verde, renda na faixa de R$ 4.609,93/ha, para as barras em amarelo, de R$ 3.961,12/ha, enquanto em vermelho, R$ 2.352,25/ha. Assim, a escolha de cultivares melhor adaptadas a uma determinada região pode contribuir para a otimização da produtividade da soja e consequentemente da renda.
CONCLUSÃO
O desempenho produtivo das cultivares de soja na Região Central do Rio Grande do Sul apresenta grande variabilidade, com melhor performance para DM 5958 IPRO, BMX Raio IPRO, NS 4823 RR, M 5947 IPRO e BMX Lança IPRO, considerando os valores de massa de mil grãos e produtiC vidade de grãos. Eduarda Grün, Arícia Ritter Corrêa, Guilherme Almeida Arismendi, Pedro Gardim Aléssio, Matheus Martins Ferreira, Giovane Matias Burg, Fernando Sintra Fulanti, Rosana Rachetto Vey e Thomas Newton Martin, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Jovenil Jose da Silva
Capa
Controle localizado De distribuição desuniforme nas lavouras, percevejos são pragas que demandam a aplicação localizada de inseticidas para evitar desperdícios e atingir o alvo onde o produto realmente se faz necessário. Sua maior adoção depende da modernização dos métodos de amostragem a fim de reduzir custos e aumentar a praticidade do processo
E
studos realizados pela Embrapa sobre o controle localizado de percevejos em soja mostram potencial de uso dessa tecnologia para a economia de inseticidas e adequada proteção da lavoura ao ataque da praga. Os resultados obtidos indicam que esse procedimento proporciona melhor qualidade dos grãos colhidos, além de que o menor uso de inseticidas favorece a preservação dos agentes de controle biológico na lavoura. Há mais de dez anos estudos científicos têm demonstrado que os percevejos apresentam distribuição desuniforme na lavora de soja. Até mesmo em talhões pequenos, de três hectares, por exemplo, em determinados momentos ao longo do ciclo, pode haver regiões que tenham atingido o nível de ação (dois percevejos por pano) e outras sem a ocorrência da praga. Nas fazendas em que é adotado o manejo integrado de pragas (MIP) os efeitos da variabilidade espacial da praga na lavoura têm sido minimizados pela divisão da área em talhões uniformes, porém podem existir limitações operacionais em se ter talhões pequenos e nem sempre isso resolve totalmente o problema. A tomada de decisão sobre a necessidade de controle de uma praga, feita com base na densidade média do talhão, pode incorrer tanto em intervenção tardia em algumas regiões do talhão quanto em aplicação desnecessária em outras. Por outro lado, o manejo localizado utilizando mapas de distribuição espacial da praga permite realizar pulverizações apenas nos locais e momentos em que o controle é necessário (Figura 1), proporcionando melhor controle e proteção da lavoura com uso racional de inseticidas. É importante destacar que, de modo geral, os inseticidas utilizados para o controle de percevejos apresentam efeito residual menor que uma semana. Assim, aplicações preventivas não são efetivas. Ou seja, a aplicação de inseticidas em regiões da lavoura onde a praga está abaixo do nível de ação ou em que não há infestação representa desperdício de inseticida, mão de obra, combustível e tempo para a aplicação. Um aspecto importante no controle localizado do percevejo é que se garanta, de antemão, a precisão no mapeamento. Para isso, deve-se adotar ferramentas de análise geoespacial como a geoestatística, que considera a variabilidade espacial e a relação entre amostras vizinhas. Essa ferramenta parte da hipótese de que amostras vizinhas
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Figura 1 - Mapa de distribuição espacial de percevejos interpolados de acordo com a variabilidade espacial em lavoura de soja. São apresentadas duas classes, abaixo e acima do nível de ação de dois percevejos/pano, contabilizando adultos e ninfas grandes. As regiões com densidade de percevejos acima do nível de controle são as que receberam aplicação direcionada de inseticida. Mapa elaborado pela Embrapa Informática Agropecuária, a partir de amostragem georreferenciada realizada pela Embrapa Soja utilizando o aplicativo Agrotag desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente
no campo são mais parecidas que as mais distantes, o que permite identificar e existência da dependência espacial e consequentemente a interpolação de dados nos locais não amostrados com melhor precisão, como pelo método da krigagem que garante a não tendenciosidade e variância mínima. O resultado dessa rotina de análise é o mapa apresentado na Figura 1. Os padrões de distribuição espacial de percevejos na lavoura de soja já são estudados há vários anos, mas só recentemente houve a popularização de pulverizadores que permitem facilmente a aplicação localizada orientada por mapas de manejo. Assim para a ampliação da adoção do controle localizado de percevejos há necessidade de modernização da coleta de dados de campo para a geração desses mapas. Atualmente a geração de mapas de percevejo depende, principalmente, da amostragem manual da praga na lavoura, mas uma análise de custos detalhada indica que o esforço de amostragem e geração dos mapas é eco-
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Fotos Samuel Roggia
Figura 2 - Percentual de grãos picados por percevejo em lavoura de soja com diferentes métodos de controle, aplicados em área total ou de acordo com mapas de distribuição da praga na lavoura (localizado). Embrapa Soja. Safra agrícola 2019/2020
Figura 3 - Telenomus podisi parasitando ovos do percevejo-marrom, Euschistus heros, em soja
nomicamente compensatório, frente à economia com inseticida e com custos associados à sua pulverização. Estudos conduzidos pela Embrapa, utilizando mapas de aplicação, demonstraram redução de 45% e 75% do uso de inseticidas para o manejo de percevejo, nas safras 2019/2020 e 2020/2021, quando comparado com o manejo tradicional onde foram realizadas três e duas pulverizações em área total, respectivamente, em cada uma dessas safras. Um elemento inovador nesse processo foi o levantamento de campo realizado através de aplicativo desenvolvido pela Embrapa, o Agrotag (https://www. agrotag.cnptia.embrapa.br). O aplicativo aumentou a rapidez e a exatidão na coleta de dados, com ganho valioso de tempo na geração de mapas. Um custo financeiro baixo, principalmente quando se considera seu retorno,
bem como uma demostração prática da eficácia do controle localizado da praga ensejado nas novas tecnologias da chamada agricultura 4.0. No estudo mencionado anteriormente, mesmo com menor uso de inseticidas, não houve redução da produtividade da lavoura em relação ao sistema tradicional. Além disso, o controle químico localizado proporcionou menor percentual de grãos picados (Figura 2). Isso deve-se ao fato de que no controle localizado o manejo é realizado de forma setorizada (Figura 1) e aplicado tão logo o nível de ação é atingido, evitando que algum ponto da lavoura seja atacado intensamente por percevejos, por longo período. O monitoramento de percevejos e a pulverização orientada por mapas dão bases para o planejamento de
atividades na fazenda, direcionando as operações para as áreas com maior necessidade e economizando tempo de operação devido à aplicação direcionada apenas aos locais em que o controle é necessário. Outra vantagem observada foi a preservação de agentes de controle biológico, uma vez que partes da lavoura passaram mais tempo sem receber aplicação de inseticida e algumas não receberam nenhuma aplicação ao longo de todo o ciclo. Como demonstrado em outros estudos da Embrapa, a preservação dos agentes de controle biológico pode contribuir para reduzir a intensidade de ataque de percevejos e de outras pragas como lagartas do gênero Spodoptera e ácaros, que ocorrem com maior intensidade na fase reprodutiva da cultura e que não são controlados pela soja Bt.
Figura 5 - Flutuação populacional de percevejos em lavoura de soja com diferentes métodos de controle, aplicados em área total ou de acordo com mapas de distribuição da praga na lavoura (localizado). Embrapa Soja. Safra agrícola 2019/2020
Figura 4 - Telenomus podisi emergindo de ovos do percevejo-marrom, Euschistus heros, em soja. Após o parasitismo dos ovos, no lugar de eclodirem percevejos emergem parasitoides, os quais irão se dispersar pela lavoura e atacar novos ovos de percevejo
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Jovenil Jose da Silva
Uma oportunidade que vem sendo estudada pela Embrapa é a aplicação localizada de parasitoides de ovos. O primeiro produto à base do parasitoide de ovos Telenomus podisi foi registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em 2019 e gradualmente tem aumentado sua adoção à medida que avança a sua oferta no mercado. No momento, não há produção de parasitoides para aplicar em áreas extensas e ainda pode ser um insumo relativamente mais caro do que o controle químico. Nesse contexto a aplicação localizada, baseada em mapas de distribuição espacial de percevejos, contribui para viabilizar o uso de parasitoides de ovos, pois a sua liberação ocorre de forma direcionada apenas onde a praga está presente. Os parasitoides são pequenas vespas capazes de localizar e parasitar os ovos de percevejos distribuídos na lavoura de soja (Figura 3). No entanto, têm capacidade limitada de dispersão, cerca de 20m de distância a partir do ponto de liberação, e tempo médio de vida adulta em torno de dez dias. Esses parâmetros podem variar em campo, sendo afetados por fatores como temperatura, umidade, chuva, velocidade e direção do vento, mas indicam que não é efetiva a liberação de parasitoides em locais muito distantes de onde a praga está presente. Ou seja, quando a liberação é realizada em área total da lavoura haverá desperdício desse insumo quando aplicado nos locais onde não ocorre praga. Um aspecto importante a ser considerado é que esses parasitoides atuam sobre os ovos da praga, então precisam ser aplicados no início da infestação da lavoura pelos percevejos. Assim, a aplicação localizada de parasitoides permite posicionar liberações direcionadas deles nas primeiras regiões de colonização da lavoura pelos percevejos. Uma vantagem própria dos parasitoides é que cada fêmea é capaz de parasitar, em média, 100 ovos de percevejos, dos quais, após pouco mais de dez dias, emergem novos adultos (Figura 3) que retomam o ciclo de parasitismo e o controle do 28
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Padrões de distribuição espacial de percevejos em lavouras de soja são estudados há vários anos
percevejo. Conforme mostrado na Figura 5, a taxa de crescimento populacional de percevejos, após a pulverização realizada no estádio R5.2 em todas as áreas, foi menor onde foram utilizados parasitoides de ovos (controle biológico) do que nas demais áreas. Indicando que o parasitoide pode ter se estabelecido na área e contribuído para manter baixa a densidade populacional da praga. Isso possibilitou reduzir em 50% a demanda de pulverização com inseticida químico para o manejo de percevejos, em relação ao MIP que utilizou duas pulverizações de inseticida químico aplicado em área total. Quando comparado com o manejo tradicional, em que foram utilizadas três pulverizações, a redução do uso de inseticidas foi de 67%. Tais estudos, apesar de ainda iniciais, trazem bons indicativos de que a liberação localizada de parasitoides de ovos para o controle de percevejos é possível, efetiva e pode apresentar vantagens técnicas que devem contribuir para a viabilidade econômica desse método de controle. Esses resultados devem estimular os avanços na mecanização e na automação da liberação de parasitoides em campo, que pode ocorrer tanto para aplicações terrestres quanto com o uso de drones. O controle localizado de perceve-
jos, seja controle químico ou biológico, é viável nas condições atuais, mas sua maior adoção depende da modernização dos métodos de amostragem a fim de reduzir custos e aumentar a praticidade do processo. Essa modernização depende de fatores como o avanço nas pesquisas científicas sobre métodos de monitoramento da praga, melhoria na conectividade no campo e avanços na capacidade de processamento e análise de dados. Os recursos de mecanização disponíveis já são bem satisfatórios, mas podem melhorar ainda mais, otimizando operações e reduzindo custos com tecnologias como a injeção de calda na barra de pulverização. Isso deve permitir o aproveitamento de operações, viabilizando a pulverização de mais de um produto em uma mesma operação. Por exemplo, pode tonar viável o controle localizado de percevejos ao mesmo tempo em que é realizada pulverização de fungicida C em área total. Samuel Roggia, Adeney de Freitas Bueno e Maria Cristina Neves de Oliveira, Embrapa Soja Celia Regina Grego, Embrapa Informática Agropecuária Andréa Koga Vicente e Luiz Eduardo Vicente, Embrapa Meio Ambiente
Soja
Vagens apodrecidas Leandro Zancanaro
Fenômeno de apodrecimento atípico de vagens de soja registrado em Mato Grosso tende a estar associado à interação de diversos fatores que envolvem genótipo, ambiente e manejo, não sendo consequência de apenas um aspecto em particular
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a safra de soja 2019/2020 e, sobretudo 2020/2021, foram verificados sintomas atípicos de apodrecimento de vagens em lavouras localizadas principalmente em regiões próximas a Sorriso, Mato Grosso. Os sintomas mais característicos consistem no escurecimento interno da vagem e de grãos que podem ocorrer tanto no terço inferior, médio e superior das plantas, tornando-se visíveis nos estádios finais de enchimento de grãos, por volta de R5.4 e R5.5. A Fundação MT vem desenvolvendo estudos em conjunto com profissionais da área técnica e outras instituições de pesquisa, com o intuito de entender os principais aspectos deste apodrecimento de vagens. Assim, com base nas observações em lavouras com diferentes cultivares de soja, manejos fitossanitários e de solos, assim como através dos protocolos de pesquisa, principalmente aqueles conduzidos nas últimas safras no Centro de Aprendizagem e Difusão da Fundação MT - CAD Norte, em Sorriso, a Fundação MT pode fazer algumas constatações sobre o tema. Nos protocolos de vitrine de cultivares de soja foi possível observar diferentes incidências do apodrecimento de vagens, mesmo entre aquelas dentro do mesmo grupo de maturação. Entre os materiais genéticos avaliados, nenhum deixou de apresentar os sintomas mencionados. As cultivares mais suscetíveis ao apodrecimento de vagens, implantadas na primeira época de semeadura, apresentaram maior incidência de apodrecimento em relação às mesmas cultivares implantadas na segunda época. No protocolo de vitrine de cultivares de soja, as www.revistacultivar.com.br • Abril 2021
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Fotos Leandro Zancanaro
Sintomas iniciais do apodrecimento das vagens e dos grãos, no terço superior das plantas
datas de semeadura da primeira e segunda épocas foram 3/10/2019 e 20/10/2019 (safra 2019/2020) e 25/10/2020 e 11/11/2020 (safra 2020/2021), respectivamente. Quanto à possibilidade de uma nova doença, a equipe de Fitopatologia da Fundação MT, em conjunto com instituições parceiras, até o momento, não encontrou qualquer patógeno incomum dos normalmente encontrados nestas regiões, sendo alguns deles considerados patógenos oportunistas. As condições meteorológicas favoráveis para o desenvolvimento dos sintomas não são necessariamente as mesmas para a ocorrência de doenças foliares tradicionais. Foram observadas, na safra 2020/2021, lavouras comerciais com apodrecimento de vagens que apresentavam boa sanidade foliar até o final do ciclo. Nesse cenário, a aplicação de 28 30
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fungicidas durante o ciclo da cultura reduziu a incidência do apodrecimento de vagens, observando-se variações na redução dos sintomas em função de diferentes programas de fungicidas. Porém, em todos os programas houve ocorrência de sintomas. Essa constatação foi demonstrada nos eventos a campo realiza-
dos em janeiro de 2020 e janeiro de 2021 no CAD Norte, Sorriso, Mato Grosso. No entanto, ainda não foi possível afirmar quais grupos químicos podem exercer maior influência para a redução do apodrecimento. No CAD Norte, Sorriso, Mato Grosso, em comparação ao padrão das safras anteriores, as duas últimas safras foram atípicas em relação à distribuição de chuvas na fase inicial do desenvolvimento da soja, principalmente na safra 2020/2021. Nesta safra, conforme a região, no período entre os meses de setembro, outubro, novembro e até mesmo dezembro, a ocorrência de precipitações pluviométricas foi menor e com distribuição irregular. Essa condição resultou em baixa umidade no perfil do solo, associada à condição de temperatura do ambiente elevada (> 35°C), que possivelmente afetou o metabolismo das plantas de diferentes formas e intensidades para cada cultivar e em cada estádio fenológico. No entanto, há observações de que em outros locais com maior ocorrência de chuva também ocorreram os sintomas de apodrecimento, porém com menor intensidade. Nas duas últimas safras, no CAD Norte, nos protocolos avaliando manejo da correção do solo, adubação e nutrição da soja, mesmo em cultivares mais suscetíveis, a variação das estratégias de correção da acidez, adubação e nutrição não alterou a intensidade de ocorrência do sintoma. Em lavouras comerciais,
Visão geral de uma lavoura sob irrigação com alto índice de sintomas de apodrecimento de grãos
Alessandro Lopes
Alessandro Lopes
Aspecto visual de conjunto de vagens no início dos sintomas (esquerda) e aspecto interno do mesmo conjunto de vagens (direita)
o sintoma foi observado com ocorrência uniforme em todo o talhão, mesmo em plantas com excelente sanidade radicular, com bons manejos de solo sob sistema de plantio direto ao longo do tempo, apresentando condições físicas, químicas e biológicas adequadas, permitindo um ótimo desenvolvimento radicular. O sintoma também foi observado com elevada intensidade em plantas que apresentavam crescimento radicular intenso nos primeiros 20cm de profundidade e com
raízes até profundidade superiores a 1,5m de comprimento. Dessa forma, até o momento, não foi possível afirmar a existência de correlação entre determinadas condições de solo e a ocorrência do sintoma de apodrecimento. Podem, no entanto, existir casualidades que possam confundir o observador. Em relação às pragas, também se constatou que a ocorrência do sintoma não está associada às injúrias causadas por percevejos da soja. Portanto, para a Fundação MT, o
Aspecto do sistema radicular da soja cultivada na mesma lavoura (sob irrigação)
apodrecimento de vagens, a princípio, não deve ser relacionado a uma “nova doença”. Provavelmente seja uma consequência da interação de diversos fatores, em que a relação genótipo, ambiente e manejo propicia as condições necessárias para a ação de micro-organismos oportunistas e já conhecidos, tendo estresses abióticos como condição inicial C para este cenário. Alessandro Aparecido Lopes, Leandro Zancanaro, Josicléa Hüffner Arruda, Táimon Diego Semler, Mônica Anghinoni Müller, Fábio Benedito Ono, Douglas Coradini, João Victor Trombeta Bettiol, Lúcia Madalena Vivan, Bruno Freitas De Conti, Autieres Teixeira Faria, José David Picolli Valendorff, Miller Vinicius Vidotti, Luis Carlos de Oliveira, Rosângela Aparecida da Silva, Marcus Vinicius Corradi Leal, Felipe André Araújo, Franklyn Clawdy N. Guimarães, Élcio Bilibio Bonfada, Jackson Soares de Almeida, Felipe Dalla-Zen Bertol, Karla Kudlawiek, Leonardo Levorato Freire, Lucas Heringer B. Júnior, Mariana Araújo Ortega e Rodrigo Knevitz Hammerschmitt, Fundação MT
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No limite
Mário Inomoto
Algodão
Para situações extremas de incidência de nematoides em lavouras de algodão, quando, por exemplo, as perdas provocadas por Meloidogyne incognita ultrapassam 20% no talhão ou a densidade média está acima de 400 espécimes por grama de raízes, é necessário lançar mão de medidas nem sempre populares entre os produtores, como a sucessão de culturas com plantas altamente resistentes
A
densidade de fitonematoides no solo é altamente dependente das culturas escolhidas. Em longo prazo, monoculturas tendem a promover a elevação da densidade das espécies de nematoides às quais a cultura é suscetível. Por outro lado, a rotação com uma cultura resistente é uma das técnicas mais eficazes de controle de nematoides. Entretanto, é pouco utilizada, pelo menos no Brasil, e é possível apontar alguns motivos para sua baixa adoção: 1) provavelmente a mais importante está ligada à questão operacional, à necessidade de mudança de rotina (maquinário, implementos, defensivos, mercado consumidor etc.); 2) preconceito que existe contra técnicas antigas (a rotação era utilizada para o controle do nematoide-de-cisto-da-beterraba Heterodera schachtii antes mesmo dessa espécie ter sido descrita); 3) ausência de propaganda, uma vez que geralmente não existem empresas que lucram com sua adoção (diferentemente dos nematicidas biológicos/sintéticos, e das cultivares resistentes). No caso do algodoeiro, a rotação com amendoim foi extremamente bem-sucedida no controle de Meloidogyne incognita, o nematoide que causa mais perdas à cultura do algodão, pois o amendoim lhe é altamente resistente. Porém, essa rotação não é empre32
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Sementes Piraí
A sucessão de culturas com o emprego de Crotalaria spectabilis é uma das opções para o manejo de nematoides
cipais opções durante a renovação de canaviais. A sucessão compartilha com a rotação as desvantagens 2 e 3 (preconceito e ausência de interesse econômico) listadas no primeiro parágrafo, mas é mais palatável ao agricultor, pois possibilita a produção de uma cultura principal, aquela que ele julga mais rentável, todos os anos. A sucessão com soja é a mais utilizada atualmente pelos cotonicultores brasileiros. A escolha de uma soja resistente a M. incognita é altamente desejável para o controle desse nematoide, mas é uma ferramenta pouco utilizada por duas razões: 1) escassez de informações sobre a reMário Inomoto
gada há muito tempo, devido à drástica redução da área com amendoim no Brasil a partir da década de 1980 e ao atual desencontro geográfico entre as regiões produtoras das duas culturas. Entre as décadas de 1960 e 1980, extensas áreas do Oeste do estado de São Paulo, principalmente na microrregião de Presidente Prudente, eram produtoras de ambas as culturas. Efetivamente, o interesse pela rotação com amendoim não era de ordem sanitária, ou seja, com objetivo de controle de M. incognita, apesar da sua alta prevalência nessas áreas, mas essencialmente econômica: eram culturas de alto valor, adaptadas às condições edafoclimáticas dessa microrregião, e com forte apoio para produção (pontos de venda de insumos e para escoamento da produção). Pode-se afirmar que o controle de M. incognita era um benefício colateral dessa rotação. Tanto isso é verdade que um dos autores deste artigo, ao entrevistar alguns antigos produtores da microrregião de Presidente Prudente, percebeu escasso interesse pela questão fitossanitária. Sobre o descasamento atual entre algodão e amendoim, destaca-se que as atuais áreas de produção de algodão se concentram no Oeste da Bahia e em diversas microrregiões do Mato Grosso, enquanto a produção de amendoim está fortemente ligada à da cana-de-açúcar na microrregião de Ribeirão Preto, onde é uma das prin-
ação das cultivares atuais de soja aos nematoides; 2) divulgação insuficiente sobre a validade dessa ferramenta. A primeira razão se dá em consequência de a maior parte dos programas de melhoramento de soja do Brasil não colocar os nematoides-das-galhas entre as prioridades atuais. Pode-se ainda acrescentar uma desvantagem da sucessão soja-algodão: as elevadas perdas que P. brachyurus, muito frequente em algodoais do Brasil, causa à soja. Já houve tentativas de utilizar o amendoim em sucessão com o algodão, para controle de M. incognita, em áreas irrigadas do Oeste baiano, com resultados satisfatórios. Porém, questões operacionais e principalmente de mercado determinaram a descontinuidade da experiência. Saindo do universo das culturas que geram retorno econômico direto e entrando no das culturas de cobertura e dos adubos verdes, existem opções muito atraentes, com destaque para Brachiaria ruziziensis (sin. Urochloa ruziziensis) e Crotalaria spectabilis. A braquiária-ruziziense é muito apreciada como cultura de cobertura - entre seus muitos benefícios está o controle de algumas das mais comuns e daninhas espécies de fitonematoides tropicais e subtropicais: M. incognita, M. javanica, H. glycines e R. reniformis. Por outro lado, C. spectabilis tem como principal atributo o controle de
As perdas deste algodoal devem atingir 50% devido à elevada densidade e distribuição de Meloidogyne incognita. Plantas muito pequenas, com um ou dois pequenos capulhos, ou mesmo sem nenhum, na grande reboleira observada em primeiro plano. Em contraste, as plantas ao fundo, fora da reboleira, possuem de oito a 12 capulhos
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Rosana Bessi
Rosana Bessi
Efeito do tratamento de sementes no controle de Meloidogyne incognita em algodão (A – semente tratada / B – semente não tratada)
Galhas provocadas em raízes de algodoeiro pela incidência de Melodogyne incognita
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pulho de 2g foi produzido em somente uma parcela. Portanto, a sucessão algodão/milho, que pode ser encontrada em áreas irrigadas por pivô-central do Oeste baiano, é de alto risco em locais
infestados por M. incognita e, quando utilizada na presença do nematoide, tem levado a perdas de 50% ou mais. O resultado experimental com milheto foi um pouco melhor, mas a maior
Mário Inomoto
fitonematoides: controla P. brachyurus (Tabela 1), além daquelas citadas para B. ruziziensis. Para demonstrar o grande poder da sucessão no controle de fitonematoides, apresentam-se os resultados de um ensaio em vasos, com quatro tratamentos (C. spectabilis, milheto, milho moderadamente resistente a M. incognita e milho suscetível a M. incognita). Na Tabela 2, o valor R (Pf/ Pi) representa a variação populacional de M. incognita depois de 99 dias, com resultado perfeitamente dentro do esperado (todas as plantas-tratamento já foram testadas por vários autores): redução após C. spectabilis e aumentos variados após milheto e os milhos. Os valores de capulhos são a produção de algodão (número de capulhos e massa de capulhos) depois dos tratamentos, e são inversamente proporcionais à reprodução de M. incognita nas plantas-tratamento. A produção de algodão depois de milho suscetível foi nula, devido à elevada reprodução do nematoide no milho. O resultado com milho moderadamente resistente (infelizmente não existem no mercado híbridos ou cultivares de milhos altamente resistentes a M. incognita) não foi muito melhor: nas nove parcelas que compunham o ensaio, a produção foi nula em oito delas e um pequeno ca-
Efeito de M. incognita na produção de algodão após Crotalaria spectabilis, milheto, milho moderadamente resistente a M. incognita e milho suscetível a M. incognita
Mapa 2
Mapa 1
gama, razão pela qual apresenta uma enorme diversidade genética. Então provavelmente existem milhetos muito suscetíveis a M. incognita, mas também milhetos resistentes. Portanto, a sucessão com C. spectabilis, assim como outros adubos verdes e plantas de cobertura altamente resistentes a M. incognita, é uma das
opções mais seguras e valiosas no controle desse nematoide, principalmente onde o nematoide ocorre em densidade e distribuição elevadas. Nessas situações extremas, o tratamento de sementes, que pode ser eficaz quando M. incognita ocorre em densidades baixas ou moderadas, provavelmente será insuficiente para a recuperação
Fotos Mário Inomoto
produção de capulhos de algodão (19 capulhos/81,3g/4,3g por capulho) foi depois de C. spectabilis, em função da redução da densidade de M. incognita (R = 0,22) propiciada por esse adubo verde. Cabe aqui um pequeno comentário sobre o milheto. Diferentemente das crotalárias, o milheto é uma planta aló-
Exemplo de algodoal em que a sucessão com milho resultou em perdas acima de 50%. É uma situação em que a sucessão com plantas altamente resistentes a M. incognita é extremamente recomendável
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Algodoeiro irrigado em sucessão com milho (Luís Eduardo Magalhães/BA)
Sucessões de cultura com algodão no estado de Mato Grosso Out Nov Pousio Cultura de Cobertura Soja Precoce Soja Ciclo Médio Set
das perdas causadas pelo nematoide. Por situações extremas, entendem-se aquelas em que as perdas provocadas por M. incognita ultrapassam 20% no talhão e/ou a densidade média do nematoide está acima de 400 espécimes por grama de raízes ou por 200cm3 de solo. Por outro lado, o tratamento de sementes com nematicidas sintéticos ou biológicos ou mesmo o uso de cultivares resistentes são as técnicas mais adequadas em situações menos extremas. No Mapa 1 é possível verificar a distribuição de M. incognita com 18% da área com densidades elevadas do nematoide (= perdas prováveis acima de 70%) e 45% com densidades moderadas (= perdas prováveis de 10%-70%). Caso típico em que a sucessão com plantas altamente resistentes a M. incognita é a principal opção de controle. No Mapa 2 observa-se uma reboleira com densidades moderadas a elevadas de Meloidogyne incognita, mas ainda com predomínio da fração com densidades muito baixas do nematoide. Trata-se de um cenário em que é possível recorrer a técnicas mais palatáveis ao cotonicultor (tratamento de sementes ou cultivares de algodão resistentes) antes de se pensar na sucessão com plantas C altamente resistentes a M. incognita. Mário Massayuki Inomoto e Mariana Mailkut dos Santos, Esalq/USP, Piracicaba SP
Jan
Dez
Fev
Abr Mar Mai Algodão Safra Algodão Safra Algodão Safrinha Algodão Adensado
Jun
Jul
Ago
Baseado em publicações do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt).
Tabela 1 - Reprodução (R=Pf/Pi) de Meloidogyne incognita e Pratylenchus brachyurus em culturas suscetíveis (algodão e soja), braquiárias (gênero Brachiaria ou Urochloa) e Crotalaria spectabilis Culturas Algodoeiro Soja Capim-mulato Brachiaria brizantha B. decumbens B. ruziziensis B. humidicola Crotalaria spectabilis
Meloidogyne incognita 6,4 0,0 0,1 0,1 0,3 0,0 0,0
Pratylenchus brachyurus 36,0 7,9 6,6 3,7 2,7 1,6 0,0
Dados originais dos autores.
Tabela 2 - Reprodução de Meloidogyne incognita (R=Pf/Pi) em quatro plantas antecedendo ao algodoeiro, e produção de algodão após as plantas Tratamento
C. spectabilis Milheto Milho Mod. Resistente Milho Suscetível
R 0,22 9,71 15,41 37,93
Número Total 19 3 1 0
Capulhos Algodão Massa Total (g) Massa por Capulho (g) 81,3 4,3 6,7 2,2 2,0 2,0 0 -
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Milho Elizabeth de Oliveira
A
cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis é o inseto responsável pela transmissão dos patógenos, agentes causais dos enfezamentos pálido e vermelho. Os enfezamentos são doenças que, quando ocorrem em elevada incidência, podem resultar em grandes prejuízos em lavouras comerciais e em campos de produção de sementes de milho. Embora surtos de enfezamentos no Brasil venham ocorrendo desde a década de 1990, foi a partir de 2015 que o país experimentou os maiores prejuízos com essas doenças em várias regiões, principalmente nos estados da Bahia, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Esse fenômeno tem sido atribuído, em grande parte, ao fornecimento ininterrupto e abundante de milho e às altas temperaturas, que representam condições favoráveis para o aumento da população do inseto-vetor e do inóculo dos patógenos.
COMPLEXO DE ENFEZAMENTO DO MILHO: AGENTES CAUSAIS, SINTOMAS E DANOS
Enfezou Manejar a cigarrinha Dalbulus maidis e os consequentes enfezamentos causados pelo inseto extrapola a mera adoção de medidas de controle isoladas. Quanto ao uso de inseticidas registrados, esse procedimento pode ajudar a reduzir a população da praga e a incidência dessas doenças nas lavouras de milho
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Os enfezamentos são doenças sistêmicas do milho, causadas por micro-organismos denominados molicutes (classe Mollicutes, divisão Bactéria), que infectam o floema da planta. Existem dois tipos de enfezamento: o enfezamento-pálido, causado por um espiroplasma (Spiroplasma kunkelii), e o enfezamento-vermelho, causado por um fitoplasma (Maize bushy stunt phytoplasma = MBS-fitoplasma). As plantas de milho infectadas com esses molicutes podem ser infectadas também com Maize rayado fino virus (MRFV), uma vez que esses três patógenos são transmitidos pelo mesmo inseto-vetor, a cigarrinha D. maidis. No Brasil, essa virose é denominada “risca”. A infecção da planta de milho pode ocorrer de forma isolada ou simultânea com um, dois ou três desses patógenos, fato que
Fotos Elizabeth de Oliveira
Estrias cloróticas esbranquiçadas são sintomas característicos do enfezamento pálido
dificulta a individualização dessas doenças no campo e justifica a denominação comum utilizada por alguns técnicos: “complexo de enfezamento”. Essas doenças ocorrem no milho nas regiões tropicais e subtropicais das Américas, incluindo o Brasil. Os sintomas foliares dos enfezamentos manifestam-se caracteristicamente na fase reprodutiva das plantas de milho. Para o enfezamento-pálido, os sintomas característicos e inequívocos para a identificação são estrias cloróticas esbranquiçadas que se formam nas folhas e na palha das espigas, estendendo-se da base em direção ao ápice, e que podem coalescer,
Intenso avermelhamento das folhas provocado pelo enfezamento vermelho
atingindo toda a área foliar. Entretanto, dependendo do genótipo de milho, plantas infectadas com esse patógeno podem apresentar apenas clorose seguida por avermelhamento ou seca, principalmente nas margens e na parte apical das folhas. As plantas com essa doença apresentam internódios mais curtos e espigas menores que as plantas sadias, podendo ser drástica a redução no desenvolvimento e na produção. Para o enfezamento-vermelho os sintomas característicos são intenso avermelhamento das folhas associado à proliferação das espigas, em geral, ao longo do colmo da planta. Entretanto, plantas infectadas com esse patógeno
podem apresentar apenas clorose seguida por seca, principalmente nas margens e na parte apical das folhas, e espigas pequenas. Além disso, pode ocorrer redução no comprimento dos internódios da planta com enfezamento-vermelho, em grau variável dependendo do genótipo de milho. O enfezamento-vermelho causa grande redução na produção da planta infectada; as espigas são, em geral, pequenas e formam poucos grãos. Os sintomas da risca aparecem nas folhas da plântula, cerca de duas semanas após a infecção com o MRFV, e permanecem claramente visíveis na planta adulta. Esse vírus infecta tecidos do parênquima, e
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a doença manifesta sintomas que se caracterizam pela formação de pontos cloróticos nas folhas, que coalescem formando riscas paralelas às nervuras, e que se estendem da base em direção ao ápice. A infecção com espiroplasma e/ou com fitoplasma e/ou com o MRFV pode ocorrer em qualquer estádio de desenvolvimento da plântula de milho. Quanto mais jovem a plântula de milho suscetível for infectada, maior será o dano no seu desenvolvimento e produção. Apenas não ocorrerá dano no desenvolvimento e na produção do genótipo de milho suscetível se a infecção com esses patógenos ocorrer a partir da fase de florescimento da planta. Nas plantas afetadas por enfezamentos, a produção de grãos pode ser reduzida em mais de 70% em relação às plantas sadias. A redução total em uma lavoura é diretamente dependente do percentual de plantas doentes. Os enfezamentos podem atingir até 100% das plantas de lavouras ou de campos de produção de sementes, causando prejuízos expressivos.
A CIGARRINHA-DO-MILHO DALBULUS MAIDIS
A cigarrinha-do-milho é o único inseto-vetor conhecido no Brasil capaz de transmitir os agentes causais do enfezamento-pálido (espiroplasma), do enfezamento-vermelho (fitoplasma) e da risca (MRFV). É um inseto pequeno com comprimento de aproximadamente 4mm. Apresenta coloração amarela-palha ou esbranquiçada. Entretanto, espécimes mais escuros podem ser encontrados dependendo da região e do clima. Os adultos possuem duas manchas circulares negras bem marcadas no alto da cabeça, entre os olhos, e essa característica permite distinguir D. maidis da maioria das espécies de cigarrinhas comumente encontradas na cultura do milho. As fases jovens (ninfas) são amareladas e não apresentam asas. Esse 40
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inseto habita preferencialmente o interior do cartucho das plantas de milho, mas ocorre também sobre as folhas das plantas adultas. Originária do México, a cigarrinha-do-milho ocorre apenas no continente americano. No Brasil, apresenta ampla distribuição geográfica, podendo ser encontrada em todas as regiões produtoras de milho, desde cultivos em áreas extensas até em pequenas áreas de subsistência. A biologia de D. maidis varia de acordo com as condições climáticas, sobretudo com relação à temperatura ambiente. Esse inseto se desenvolve de forma mais rápida em regiões mais quentes. Sua postura é realizada no interior das folhas do milho, preferencialmente na nervura central. Os ovos são brancos, alongados e medem aproximadamente 1,3mm. Após a postura, os ovos podem levar de cinco dias a oito dias para dar origem às ninfas. Esse inseto apresenta cinco instares e a duração total da fase ninfal é de aproximadamente 17 dias, podendo variar, por exemplo, de 14 dias (em temperatura de 26°C) a 115 dias (em temperatura de 10°C). Os adultos podem viver entre 50 dias e 60 dias e as fêmeas podem colocar de 400 ovos a 600
ovos durante toda sua vida. Com base nos dados biológicos dessa espécie é possível afirmar que a cigarrinha-do-milho completa uma geração em aproximadamente um mês e que seja capaz de produzir diversas gerações por ano principalmente nos meses mais quentes. No Brasil, D. maidis só se reproduz no milho. Na ausência de sua planta hospedeira (milho), esse inseto-vetor migra a longas distâncias para encontrar novos plantios de milho ou permanece localmente utilizando as plantas de milho voluntárias (tiguera) que emergem após a colheita desse cereal. Entretanto, estudos recentes realizados em campo e em condições controladas têm demonstrado que na ausência do milho, a cigarrinha D. maidis pode também utilizar outras espécies gramíneas da família Poaceae, como espécies de braquiária, sorgo e milheto, para abrigo e/ou alimentação, aguardando a emergência de plântulas de milho tiguera ou da semeadura subsequente desse cereal.
MANEJO DA CIGARRINHA-DO-MILHO PARA CONTROLE DOS ENFEZAMENTOS
Por se tratar de um inseto-
Sintomas da risca aparecem nas folhas aproximadamente duas semanas após a infecção
Fotos Charles Oliveira
A cigarrinha é um inseto pequeno com comprimento de aproximadamente 4mm
-vetor, e por ser muito rápida a transmissão dos patógenos, não se aplica à cigarrinha-do-milho o conceito de “nível de dano” utilizado no controle de insetos-praga. As ações para manejo de D. maidis para o controle dos enfezamentos devem ser essencialmente preventivas, para evitar a alimentação das cigarrinhas infectantes nas plântulas de milho. É importante ressaltar que nem todas as cigarrinhas de uma população que chega à lavoura de milho são infectantes, ou seja, portadoras dos patógenos. O percentual de cigarrinhas infectantes que chega à lavoura de milho em estágio de plântulas depende da origem da população. Se essa população provém de lavoura com alta incidência dessas doenças, a taxa de infectividade das cigarrinhas será alta. Assim, o uso de inseticidas químicos ou biológicos, registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle dessas cigarrinhas recém-chegadas, pode não resultar no controle imediato dos enfezamentos na lavoura tratada. Essa medida, no entanto, auxilia na redução da população de cigarrinhas que migrarão para as lavouras subsequentes. Ressalta-se, porém, que o uso excessivo
de inseticidas além de ser ineficaz no controle desse inseto-vetor e dos enfezamentos pode eliminar os inimigos naturais da cigarrinha, favorecendo seu aumento populacional.
MANEJO DO RISCO DOS ENFEZAMENTOS NO MILHO E DA CIGARRINHA
Não há uma prática agronômica que, isoladamente, seja eficaz o suficiente para controlar os enfezamentos e/ou a cigarrinha no milho. Porém, diversas práticas são recomendadas para reduzir o risco de danos por essas doenças e necessitam ser adotadas por todos os produtores em uma região, para garantir eficácia nessa redução. Dessa forma, algumas práticas podem ser recomendadas para o manejo dessas doenças e de seu inseto-vetor. A colheita do milho, seja grão ou semente, deve ser realizada evitando-se ao máximo deixar grãos e espigas no campo. Essa prática é benéfica, pois maximiza o rendimento da colheita e evita a emergência de plântulas tigueras, que concentram e aumentam a densidade populacional de cigarrinhas e o inóculo dos molicutes e do Maize rayado fino virus (MR-
FV) na área, gerando risco para plântulas de semeaduras seguintes. É benéfica também por evitar o custo de dessecação de plantas tigueras com a utilização de produtos químicos. As espigas e os grãos de milho que caem durante a colheita podem também ser posteriormente recolhidos. O milho tiguera presente em áreas destinadas à semeadura desse cereal deve ser dessecado com antecedência mínima de 30 dias. Essa prática é benéfica por eliminar possíveis fontes de inóculo dos molicutes e MRFV e da cigarrinha. O período de 30 dias é recomendado porque as cigarrinhas ainda permanecem vivas nas plantas tigueras enquanto há tecido vivo, podendo também utilizar outras espécies de plantas da família Poaceae para abrigo e alimentação por períodos entre três semanas e cinco semanas. Em grandes propriedades, principalmente onde há irrigação por vários pivôs, a distribuição das lavouras de milho, no tempo e no espaço, deve ser planejada de forma a evitar a disseminação do milho tiguera indiscriminadamente por toda a propriedade, principalmente nas áreas destinadas ao cultivo de outros cereais, o que pode dificultar e limitar a dessecação posterior dessas plantas tigueras com herbicidas que podem afetar esses cultivos. Essa prática pode reduzir o custo do manejo da tiguera. Deve-se evitar a semeadura de lavouras de milho ao lado de lavouras com plantas adultas que apresentem sintomas de enfezamentos e/ou da virose da risca. As ninfas da cigarrinha que nascem nas plantas doentes adquirem os patógenos tornando-se infectantes. Como as cigarrinhas preferem viver no cartucho das plântulas de milho e migram das plantas adultas para a nova lavoura, as cigarrinhas infectantes os transmitem para as plântulas. Quanto mais plantas adultas doentes houver www.revistacultivar.com.br • Abril 2021
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na lavoura adulta, maior será a população de cigarrinhas infectantes e mais plântulas da nova lavoura de milho serão infectadas. Para planejar a semeadura do milho, áreas e períodos de outras semeaduras desse cereal nas imediações do local devem ser monitorados para avaliação da possível migração de cigarrinhas infectantes para as plântulas dessa nova lavoura. A presença de muitas lavouras de milho adultas com alta frequência de sintomas de enfezamentos, próximas à área, com correntes de vento nessa direção, pode significar risco, e a semeadura, nesse momento, deve ser evitada. Deve-se tratar as sementes e pulverizar a lavoura no início de desenvolvimento (estádios V3 e V4) com inseticidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para controle da cigarrinha D. maidis. Essa prática deve ser adotada por todos os produtores para reduzir a população desse inseto-vetor. Esse tratamento trará benefício para a lavoura em questão, quando não houver fluxo contínuo de entrada de cigarrinhas infectantes com os patógenos, provenientes de milho tiguera ou de lavouras doentes, visto que a transmissão desses agentes ocorre muito rapidamente, antes da morte do inseto. Porém, a redução da população de cigarrinhas infectantes na localidade resultará sempre em diminuição da disseminação dos patógenos, beneficiando os produtores, que integralmente devem adotar essa prática. Sincronizar o período de semeadura em uma região, quando possível, pode evitar o aumento contínuo da população de cigarrinhas e a consequente concentração de inóculo dos patógenos, decorrente da migração desse inseto-vetor de lavouras adultas com plantas doentes para lavouras nos estádios iniciais de desenvolvimento. Diversificar e rotacionar cultivares de milho e utilizar cultivares resistentes aos enfezamentos, 42
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quando ofertadas, são práticas que podem contribuir para evitar a seleção de possíveis variantes genéticas dos patógenos, que podem ser altamente destrutivas. Esse complexo patossistema envolve três agentes patogênicos que interagem entre si, com o inseto-vetor, com a planta de milho hospedeira e com o ambiente. Embora essas interações não sejam completamente conhecidas, há evidências de influência da temperatura na transmissão diferencial e na proliferação dos molicutes e de variabilidade na transmissão de isolados desses agentes. Temperaturas mais elevadas (igual ou acima de 17°C/ noite e de 27°C/dia) favorecem a proliferação desses patógenos nas cigarrinhas e nas plantas, e sua consequente disseminação, aumentando a incidência dos enfezamentos. Em localidades com alta incidência de enfezamentos é recomendado realizar o vazio sanitário localizado, interrompendo a semeadura escalonada e deixando a área sem milho pelo menos por 30 dias. Essa prática objetiva eliminar simultaneamente fontes de inóculo e cigarrinhas e, em
consequência, reduzir a incidência de plantas infectadas com fitoplasma, espiroplasma e MRFV. Em geral, o aumento de plantas doentes ocorre ao longo do tempo em localidades onde o milho é cultivado em semeaduras sequenciais, durante o ano todo. As semeaduras tardias, em geral, apresentam maiores níveis de incidência dessas doenças. Portanto, o monitoramento da incidência de enfezamentos é essencial para a decisão sobre a possível necessidade e sobre o momento mais adequado em que deve ser realizada essa interrupção. É recomendado pulverizar as plantas de milho em fase de produção com inseticida registrado no Mapa para controle da cigarrinha D. maidis. Esse procedimento pode reduzir a população de insetos portadores dos patógenos agentes causais dos enfezamentos e contribuir para reduzir a incidência dessas doenças em novas lavouras, tanto de milho semente C quanto de milho grão. Charles Martins de Oliveira, Embrapa Cerrados Elizabeth de Oliveira, Embrapa Milho e Sorgo
Cigarrinha Dalbulus maidis, setas indicam par de manchas características da espécie
Coluna Agronegócios
Guia de Conduta Ambiental
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he Nature Conservancy (TNC) é uma organização não governamental (ONG) que tem por missão o combate às mudanças climáticas, a proteção à terra e às águas para a produção de água e alimentos saudáveis. Em março de 2021 lançou o documento que empresta o título a este artigo. Nossa intenção é exclusivamente comentá-lo e trazê-lo à luz para discussão pelos elos da cadeia produtiva da soja. Há duas safras, o Brasil é o maior produtor e exportador de soja, a maior parte cultivada no Cerrado, abrangendo 15% da produção mundial. Segundo maior bioma da América Latina – onde vive um terço da fauna e da flora brasileira- o Cerrado é importante para a manutenção da biodiversidade, na estocagem de carbono no solo, com importantes bacias hidrográficas. Gazzoni & Dall´Agnol expuseram no livro A Saga da Soja (www.embrapa.br/ soja/saga-da-soja) que a produção mundial de soja se aproximará de 800Mt até 2050, com o Brasil respondendo por até 40% deste volume. A expansão ocorrerá por ganhos de produtividade – que deveria ser a prioridade absoluta tanto do setor privado quanto do governo – e por expansão de área, mormente em áreas do Cerrado. A TNC informa que o Cerrado possui 18,5 milhões de hectares de áreas já antropizadas, que podem rapidamente ser convertidas para cultivo da soja. Com ganhos de produtividade superiores a 1% ao ano, é possível que esta área seja suficiente para comportar a expansão até 2050, sem necessidade de desmatamento ilegal. A TNC conclama o setor financeiro a desempenhar papel fundamental na alteração da dinâmica da produção de soja no Cerado. Linhas de crédito de custeio estão disponíveis, porém produtos de longo prazo, para a readequação dessa dinâmica, são escassos. Esses são fundamentais para a conversão de pastagens degradadas em áreas de soja, seguida da adoção de melhores práticas, aumentando a produtividade, a rentabilidade e a sua sustentabilidade. O mercado criou o termo “livre de desmatamento e conversão” (DCF, na sigla em inglês), para caracterizar a produção que não exigiu o ingresso em áreas nativas. No pós-pandemia deve ocorrer pressão cres-
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cente para o atendimento deste quesito, e o aumento de produção de soja DCF pode gerar benefícios para toda a cadeia. A TNC afirma que oportunidades de negócios e benefícios reputacionais são gerados pelo alinhamento com essa agenda. Traders podem criar relacionamentos contratuais mais longos com produtores e melhorar o acesso a mercados mais exigentes, enquanto produtores podem obter melhores condições de financiamento e evitar a perda de produtividade atribuída aos efeitos do desmatamento regional.
REQUISITOS ESSENCIAIS E ADICIONAIS
No Guia de Conduta Ambiental a TNC lista alguns requisitos considerados essenciais: 1) Conformidade legal - O produtor deve estar em conformidade com todas as leis e regulamentações aplicáveis em todas as suas propriedades, o que inclui o Código Florestal, leis de trabalho e leis ambientais, entre outras. 2) Data de referência para não desmatamento - O Guia estabelece janeiro de 2018 como a data de referência para não desmatamento, ou seja, a data a partir da qual não deve ocorrer qualquer tipo de desmatamento. 3) Irrigação - Sistemas de irrigação devem levar em conta o aumento do estresse hídrico no Cerrado. Adicionalmente, o Guia da TNC também considera importante: 1) A aplicação da data de referência para não desmatamento em todas as propriedades (arrendadas ou próprias) do tomador dos recursos, e não somente na propriedade beneficiada. 2) Os mecanismos financeiros DCF podem encorajar investimentos e empréstimos em regiões do Cerrado que apresentem maior risco de conversão futura. O Guia inclui uma lista de municípios com alto valor de conservação e uma ferramenta em que os usuários podem simular suas próprias regiões prioritárias. 3) Mecanismos financeiros também são uma oportunidade de promover a adoção de boas práticas de gestão que, reconhecidamente, melhorem os indi-
cadores ambientais e sociais, com redução do risco do empréstimo. Exemplos de boas práticas são padrões como RTRS, Proterra e outros arranjos de qualidade estabelecidos pelas traders. 4) Além da exigência legal de título de terra ou contrato de arrendamento, é recomendável que se verifiquem conflitos de terra extrajudiciais e que possam ser identificados em lista publicada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e em publicações na imprensa. 5) Adoção dos padrões de desempenho de responsabilidade social e ambiental do IFC (IFC Performance Standards, https://www.ifc.org/wps/wcm/connect/ Topics_Ext_Content/IFC_External_Corporate_Site/Sustainability-At-IFC/Policies-Standards/Performance-Standards)
FERRAMENTAS
O Guia da TNC fornece métricas específicas e métodos práticos para que o originador dos recursos possa analisar o desempenho da sua carteira, através de duas ferramentas: 1) Dashboard, uma ferramenta de mapeamento dinâmico que permite revisar o impacto do cultivo de soja em qualquer município do Cerrado até 2030, identificando a localização de seus próprios alvos de financiamento e estimando a exposição de uma fazenda a determinados riscos ambientais, como estresse hídrico. 2) Calculadora de Emissão de Carbono Evitada, que estima o impacto que um financiamento de expansão de soja exclusivamente sobre pastagem no Cerrado, pode apresentar em hectares de vegetação nativa preservada e as emissões de CO2 evitadas. O presente artigo é uma condensação do Guia, que pode ser acessado no endereço https://www.tnc.org.br/content/ dam/tnc/nature/en/documents/brasil/ tnc-guiacondutaambiental-pt.pdf?src=e. co_br.x.x.rep. Pela importância que o tema apresenta no mercado internacional, encorajamos sua leitura pelos envolvidos na cadeia produtiva da soja, para que posC sam formar sua própria opinião. Décio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo e membro do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb)
Coluna Mercado Agrícola
Agro brasileiro bate recorde e ajuda País em tempos de pandemia
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om o dólar em alta, a soja brasileira neste ano está sendo cotada acima de R$ 170,00 por saca nos portos frente aos R$ 100,00 por saca registrados em março do ano passado. As exportações devem carregar cerca de cinco milhões de toneladas a mais, com faturamento muito maior. A safra recorde prevê 135 milhões de toneladas de soja, frente aos 124,5 milhões de toneladas do ano passado. O milho, que teve 102 milhões de toneladas em 2020, pode alcançar 108 milhões de toneladas. O arroz deve ter mais de 10,5 milhões
MILHO
A safra do milho de verão chegou com atraso e ainda está em colheita. Mesmo assim, o mercado segue firme, porque a maior parte da safra de 23 milhões de toneladas tem como destino o atendimento de grandes consumidores, como indústrias de ração e cooperativas. Dessa forma sobra pouco para ser comercializado. A safra também foi afetada pelo clima e mostrou perdas de cinco milhões de toneladas a sete milhões de toneladas. Como não havia estoques, segue-se com demanda maior que a oferta. Muitos consumidores estão diminuindo a produção de ovos, suínos e frangos até que chegue a safrinha para equilibrar o quadro financeiro devido ao
de toneladas em produção ante 11,2 milhões de toneladas do ano passado, redução por conta do clima, mas com cotações muito acima de 2020. O feijão também sofreu com o clima e deve ter pouco mais de três milhões de toneladas em todas as safras, mas com cotações em alta. O trigo atingiu mais de R$ 1.400,00 por tonelada, com expectativa de produzir seis milhões de toneladas. O Brasil deve colher mais de 270 milhões de toneladas de grãos, como o agro se firmando cada vez mais como sustentáculo da economia brasileira.
milho estar com valores acima da reali- a saca, ou pouco acima nos portos, não dade dos custos. estão atraindo os vendedores, mantendo lentas as negociações futuras. SOJA O mercado da soja registra sucesso ARROZ nos campos, com recorde de colheita O mercado do arroz está em colheita, aliado a cotações em dólares nos maio- que avança neste mês de abril e tudo aponres níveis desde 2013. É o melhor mo- ta que finalizará em algo próximo de 10,5 mento histórico para grande parte dos milhões de toneladas frente ao consumo produtores brasileiros que estão conse- que deve ser de um milhão de toneladas guindo as melhores margens de lucros acima desse volume a ser colhido. Assim, com a soja deste ano. Enquanto isso, a as importações devem continuar com vasafra já mostra mais de 80 milhões de lores altos em dólares. Os indicativos do artoneladas negociadas, restando aproxi- roz continuam entre R$ 80,00 e R$ 100,00 madamente 55 milhões para serem ne- a saca, com tendência de continuar com gociadas. Já da safra nova, de 2021/22, níveis fortes ao longo do ano. Depois de segue próxima de 5% comercializada muito tempo os produtores terão lucratiporque os níveis futuros de R$ 150,00 vidade real com o grão.
Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo esteve forte desde o começo do ano e continua com fôlego positivo. A nova safra deve apresentar crescimento de 15% na área, porque o grão está com alto potencial de lucros. O produto importado chega ao Brasil acima de R$ 1.500,00 por tonelada, o que abre boa oportunidade para esta nova safra. O Brasil deve colher de seis milhões de toneladas a sete milhões de toneladas para um consumo estimado em 12 milhões de toneladas. Um bom ano se apresenta para o trigo brasileiro. EUA - Os indicativos de plantio mostram recorde de soja, com mais de 36,4 milhões de hectares previstos, com avanço de 2,8 milhões de hectares acima do plantio passado. Enquanto isso o milho também se mostra com 37,3 milhões de hectares e aumento de 700 mil hectares sobre a safra passada. Em detrimento de algodão, trigo e áreas de proteção ambiental que voltam a ter lavouras. Com isso, se o clima seguir favorável, os americanos devem colher uma safra recorde, com mais de 125 milhões de toneladas de soja e mais de 400 milhões de toneladas de milho. Recuperando assim os estoques que estão nos menores níveis em mais de 20 anos.
CHINA - A China avançou na liderança mundial de importação de alimentos. Segue como maior importador de soja, com mais de 100 milhões de toneladas, e também deve passar fácil das 30 milhões de toneladas de milho. A expectativa é de que compre dez milhões de toneladas de trigo e em arroz há indicativos de importar mais de sete milhões de toneladas. O país já está com a economia em crescimento, mesmo com a pandemia fazendo estragos mundo afora. Com isso, precisam de muito alimento para atender ao consumo interno que cresce a passos largos. ARGENTINA - Os argentinos sofreram com a seca que afetou a safra de soja e de milho. Poderiam colher aproximadamente 52 milhões de toneladas cada um e agora os números apontam para menos de 45 milhões de toneladas de soja e volume inferior a 46 milhões de toneladas de milho. O governo já acena que pode controlar as exportações C para não sofrer escassez interna.
Vlamir Brandalizze Twitter@brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br Instagram BrandalizzeConsulting ou Vlamir Brandalizze www.revistacultivar.com.br • Abril 2021
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Coluna ANPII
Por que a fixação biológica do nitrogênio é tão importante A FBN ajuda a reduzir custos e a aumentar a produtividade nas lavouras. Brasil economiza aproximadamente 12 bilhões de dólares/ano com a tecnologia. Menor emissão de gases de efeito estufa é outro benefício
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absorvem o nitrogênio do ar e através da enzima nitrogenase o ofertam para a planta ou para o solo, conforme o tipo de bactéria. Existem as bactérias chamadas de vida livre, que possuem a nitrogenase em sua própria célula e fixam o nitrogênio em qualquer circunstância, seja no solo, em meio de cultura ou na própria planta. Estas bactérias têm um enorme papel no aporte de nitrogênio em condições naturais, mas começaram a ter sua exploração agronômica há poucos anos, tendo a bactéria do gênero Azospirillum como o micro-organismo utilizado nos inoculantes. Estas bactérias, além da fixação de nitrogênio, exercem um importante papel como promotoras de crescimento, produzindo hormônios de ação vegetal que propiciam maior enraizamento, mais pelos radiculares e mais rápido crescimento das plantas, além de vários benefícios ainda não totalmente documentados. Mas é no campo das bactérias simbióticas que se encontram os maiores exemplos do uso de micro-organismos na agricultura. Há mais de 100 anos já existe o conhecimento da fixação de nitrogênio pelas bactérias do grupo chamado genericamente de Rizóbios, que abrange muitos gêneros, como Rhizobium, Bradyrhizobium, Mesorhizobium e outros, que formam um forte sistema simbiótico com as leguminosas. Soja, feijão, ervilha, trevos, alfafa e todas as demais plantas da família das leguminosas possuem a capacidade de formar um sistema simbiótico com estas bactérias, que absorvem o N já no interior da planta (nos nódulos) e o transformam em formas assimiláveis. Por sua vez, a Adenilson Santana
omo o inesgotável estoque de nitrogênio do ar encontra-se em forma não aproveitável diretamente pelas plantas e animais, e sendo o nitrogênio um nutriente essencial para a vida na terra, a natureza encontrou formas de oferecer o N para o sistema solo-planta, modificando-o para formas assimiláveis pelas plantas e, na sequência, para os animais. Uma das formas disponíveis naturalmente é a transformação da molécula de N2 em óxidos, pelas descargas elétricas da atmosfera e o carreamento destes óxidos para o solo pelas chuvas. O segundo meio, muito mais abundante, é a chamada Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN). Durante milênios esta foi praticamente a única forma de fornecimento de N para a vegetação nativa e para os cultivos agrícolas. Muito mais tarde, no final do século 19, surgiu a fixação química, com a famosa reação de Haber-Bosch, que deu início à produção de fertilizantes nitrogenados. A produção de fertilizantes nitrogenados exige um elevado gasto de energia, pois utiliza o gás natural como matéria-prima, além de necessitar de elevadas temperaturas e pressão para realizar as reações químicas. Isto torna os fertilizantes nitrogenados, embora indispensáveis para muitos cultivos, um produto caro, tanto do ponto de vista financeiro como ambiental. Mas a natureza dispõe de recursos muito menos onerosos para trazer o nitrogênio do ar, que se encontra em uma forma inerte, para formas diretamente assimiláveis pelas plantas ou incorporadas aos solos. Esta é a forma pela qual florestas e pradarias se nutriram do nitrogênio por milênios e cada vez são mais utilizadas, agora com tecnologias que a melhoraram, tornando-a uma ferramenta agronômica largamente utilizada pelos agricultores. Estes micro-organismos, que têm o solo como seu habitat, chamados de diazotróficos, ou fixadores de nitrogênio,
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Nódulos nas raízes de soja
planta fornece nutrientes para a bactéria, como açúcares e ácidos orgânicos. Estas bactérias, para expressar a nitrogenase, necessitam penetrar nas plantas, formar as estruturas diferenciadas chamadas nódulos e, a partir daí, iniciar o fornecimento de N, nas quantidades necessárias para que a planta alcance os mais elevados índices de produtividade, naturalmente que relacionados com o potencial genético da planta e a oferta dos demais fatores necessários para uma perfeita nutrição e desenvolvimento da cultura. Para que o fornecimento de N seja na quantidade necessária para as elevadas produtividades da soja, o inoculante deve ser produzido com a bactéria selecionada por órgão de pesquisa e que conste da lista autorizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), deve conter um mínimo de um bilhão de bactérias por g. ou ml de produto, estar dentro de seu prazo de validade e ser utilizado dentro das recomendações do fabricante. Mas atualmente o agricultor brasileiro já conhece e usa o inoculante como um dos insumos essenciais para o cultivo da soja. Pesquisa encomendada pela Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII) demonstra que 80% dos plantadores de soja utilizam inoculante em suas lavouras. Os benefícios da FBN, viabilizada via inoculantes, é enorme. Em termos de economia na lavoura, traz uma significativa redução de custos e aumento de produtividade. Para o País, economiza algo em torno de 12 bilhões de dólares/ano. E para o meio ambiente reduz drasticamente a emissão de gases de efeito estufa. Enfim, o tipo do negócio ganha-ganha. As empresas filiadas à ANPII produzem inoculantes na qualidade e quantidade para a cultura da soja e demais C leguminosas. Solon Araujo, Consultor da ANPII