Por que ocorrem pragas?

Page 1



Cultivar Grandes Culturas • Ano XXI • Nº 264 • Maio 2021 • ISSN - 1516-358X

Destaques

Expediente Fundadores Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ: 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter

21

Por que ocorrem pragas? A dinâmica dos insetos em plantas

www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00

REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo

cultivadas, interações com o ambiente e com inimigos naturais e o que se deve observar em relação ao manejo realizado nas lavouras para preservar o equilíbrio

• Redação Rocheli Wachholz Cassiane Fonseca • Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia • Revisão Aline Partzsch de Almeida COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer • Vendas Sedeli Feijó José Geraldo Caetano CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes • Assinaturas Natália Rodrigues

Manejo coerente

11

Em Ascensão

Como proceder o controle

O crescimento dos produtos

racional de percevejos

de base biológica no Brasil

na cultura do milho

e as potencialidades dos

através da integração

bioinsumos para aplicação

de medidas efetivas

nos cultivos agrícolas

• Expedição Edson Krause

Índice

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

Diretas

04

Nutrição em trigo

06

Manejo de percevejos em milho

08

Manejo de plantas daninhas em milho

11

Controle de mosca-branca em milho

18

Nossos Telefones: (53)

Por que as pragas ocorrem?

21

• Geral 3028.2000 • Assinaturas: 3028.2070 • Redação: 3028.2060

Indutores de resistência em soja

24

Daninhas e doenças de solo em soja

28

Nutrientes e doenças em trigo

32

Bioinsumos em ascensão no Brasil

37

Controle de nematoides em algodão

40

Coluna Agronegócios

44

Coluna Mercado Agrícola

45

Coluna ANPII

46

www.revistacultivar.com.br www.instagram.com/revistacultivar www.facebook.com/revistacultivar www.youtube.com/revistacultivar www.twitter.com/revistacultivar

• Comercial: 3028.2065 3028.2066 3028.2067

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

37

Nossa Capa

Crédito: Juliano Daniel Uebel Instituto Phytus


Diretas

Parceria

Ferramentas

A Ihara e a Baldan Connected desenvolveram uma parceria que concilia as principais novidades em herbicidas com modernos processos de agricultura digital para o combate de plantas daninhas de difícil controle na cultura da cana, como o capim-braquiária, capim-colonião, capim-colchão, cordas, mamona, merremia, mucuna e melão-de-São-Caetano. "A base do projeto consiste na primeira aplicação com o uso de herbicidas pré-emergentes, altamente tecnológicos, aplicados de forma convencional como solução na cana-planta ou na cana-soca. Como resolução para os desafios com as plantas daninhas, ofereceremos aos agricultores os herbicidas Falcon e Ritmo que, unidos ao Sniper PD, nova tecnologia para aplicação, utilizam a agricultura digital para identificar, espacializar e quantificar a população da praga na área, de maneira precisa e otimizada”, explicou o gerente de Marketing de Cana da Ihara, Gustavo Canato.

A Basf alerta para o manejo da ferrugem do cafeeiro, doença agressiva e responsável por perdas de até 30% na produtividade. “A Basf busca auxiliar o cafeicultor com as melhores práticas de manejo para aumentar a rentabilidade e longevidade da sua produção. Um bom controle, com um eficiente pacote tecnológico e uma boa resposta de tratamento, é imprescindível para alcançar altos níveis de produtividade, contribuindo com seu legado no campo”, destaca o gerente de Marketing Café da Basf, Marcelo Rodacki. Para a cultura do café a companhia conta com os fungicidas Opera, Orkestra SC e Abacus HC.

Gustavo Canato

Novos rumos

Jorge José Jorge Neto

A americana Albaugh anunciou a contratação de Jorge José Jorge Neto, como diretor industrial para o Brasil. O executivo fará parte do comitê diretivo da companhia e se reportará diretamente ao presidente da unidade brasileira, Cesar Rojas, e funcionalmente ao CTO global, John Froehlich. Jorge Neto será responsável pela gestão do processo produtivo do complexo industrial da companhia na cidade de Resende, Rio de Janeiro, que conta com cinco unidades de produção de agroquímicos, centros de pesquisas e laboratórios para desenvolvimento de formulações diferenciadas e específicas para o Brasil. A carreira do novo diretor industrial registra passagem pelas empresas FMC, Chemtura, Akzo Nobel, Unilever, Reckitt Benckiser, Beiersdorf e Archroma.

Cana A FMC reuniu especialistas em cana e clientes para abordar o tema Como ter um canavial mais produtivo e rentável desde o plantio. Durante o evento on-line foi apresentada a importância do Programa Gennesis. O conceito integra a utilização de produtos químicos e biológicos e variados modos de ação para que, por meio do manejo, a cultura da cana se desenvolva de forma equilibrada, sadia e com vigor. Outro ponto é que o programa mantém o canavial livre de matocompetição, pragas e doenças, além do efeito fitotônico nas plantas. "A FMC é líder no mercado de cana, e eventos como esse permitem que nossos clientes estejam sempre um passo à frente na busca por altas produtividades e maior rentabilidade de seus canaviais. Essas ações permitem discussões práticas das melhores ferramentas e o apoio de especialistas em todos os fatores críticos da produção garante uma tomada de decisão assertiva por parte dos nossos clientes, investindo naquelas tecnologias com o melhor retorno", opinou o gerente de Leonardo Desenvolvimento de Mercado da Brusantin FMC, Leonardo Brusantin.

04

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

Marcelo Rodacki

Selo Para ter mais transparência e rastreabilidade das sementes tratadas, a área de tratamento de sementes da Bayer criou o Selo de Excelência SeedGrowth. Esse reconhecimento já alcançado por diversos parceiros da multinacional tem a finalidade de destacar ao mercado o mais alto rigor no tratamento de sementes industrial, com uma precisão mínima de 98% na aplicação. "O trabalho do agricultor tem se tornado mais desafiador a cada safra, por isso é importante que ele conte com o suporte necessário e com um leque completo de soluções para ajudá-lo a produzir mais, na mesma área, de forma mais sustentável e com maior lucratividade. E o tratamento de sementes é parte importante desse conjunto de soluções", opina o coordenador de Marketing do SeedGroBruno wth Center, da Bayer, Vilarino Bruno Vilarino.



Informe

Melhor desenvolvimento Fotos Pesquisa & Desenvolvimento Spraytec

A utilização do complexo nutricional Pack Seed, via tratamento de sementes, melhorou a germinação, a emergência e o desenvolvimento radicular inicial na cultura do trigo

N

o Brasil, a cultura do trigo (Triticum aestivum) ocupa uma área de 2,5 milhões de hectares para uma produção de 7,6 milhões de toneladas. As culturas de grãos semeadas no Brasil utilizam sementes quimicamente tratadas. A aplicação de caldas à base de misturas de fungicidas, inseticidas, inoculantes e biorreguladores tem demonstrado resultados satisfatórios na qualidade fisiológica das sementes e no rendimento da cultura. A aplicação de nutrientes via tratamento de sementes é uma excelente alternativa, devido ao contato direto do produto com a semente, o que possibilita o uso de menores doses e melhor potencial fisiológico das sementes. Comportamento semelhante é apontado quando complexos nutricionais polinutrientes, como o Pack

06

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

Seed, são adicionados ao tratamento químico. Neste cenário, no intuito de se reduzir o número de produtos aplicados em pré-semeadura, a Spraytec inovou e desenvolveu o Pack Seed, produto que combina vários elementos para compor uma única formulação, passível de aplicação via sementes, no sulco e foliar. Pack Seed é uma complexa mistura de compostos de natureza bioquímica diferente e 100% biodegradável para tratamento de sementes. É um produto diferenciado, pois além dos tradicionais Co e Mo, fornece macros e micronutrientes minerais, bioestimulantes, aminoácidos, enraizantes, ácidos orgânicos e micro-organismos. É uma formulação completa para tratamento de sementes, e uma alternativa promissora no tratamento industrial ou on farm, aplicado isolado ou juntamente com outros produtos. A

utilização de cultivares de alto potencial genético associado ao desenvolvimento sustentável exige produtos inovadores e disruptivos como o Pack Seed.

OBJETIVO

O presente trabalho teve por objetivo avaliar a eficácia do produto Pack Seed, aplicado via tratamento de sementes de trigo, nos parâmetros de qualidade fisiológica das sementes.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido no Núcleo de Pesquisa Aplicada à Agricultura da Universidade Estadual de Maringá, no município de Maringá, Paraná. Foram utilizadas sementes de trigo da cultivar Toruk (Embrapa). O experimento foi instalado adotando-se o delineamento experimental inteiramente casualizado para os testes de


to inicial laboratório e blocos casualizados para os testes de emergência em campo e em areia, com oito repetições. Os tratamentos consistiram na ausência (padrão) e presença (Pack Seed), ou seja, 0ml e 300ml/100kg de sementes. A avaliação do potencial fisiológico das sementes de trigo foi realizada por meio dos testes padrão de germinação, primeira contagem de germinação (indicativo do vigor), massa seca de plântula (parte aérea, radícula e plântula), envelhecimento acelerado, emergência das plântulas em substrato de areia e emergência das plântulas em campo. Os dados coletados foram submetidos à análise de variância (p < 0,05) e, quando significativas, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, utilizando-se o sistema para análise estatística Sisvar.

RESULTADOS

Comparando-se entre si os pares de tratamentos ausência e presença de Pack Seed, notou-se que a adição de Pack Seed proporcionou resultados superiores àqueles observados nos tratamentos nos quais o produto não foi adicionado. A formulação inovadora de Pack Seed contém substâncias que podem proporcionar efeito fitotônico sobre o desempenho fisiológico das sementes de trigo. Para todas as variáveis analisadas, o uso do produ-

A germinação e emergência do trigo são etapas importantes para o bom estabelecimento da lavoura

to Pack Seed assegurou resultados superiores àqueles observados nos tratamentos conduzidos sem o uso do produto. Foram observadas diferenças entre as médias das variáveis analisadas, em que as sementes tratadas apresentaram melhor desempenho para as avaliações de primeira contagem (PC), germinação (G) e envelhecimento acelerado (EA). Esse fato ocorreu devido às sementes apresentarem maior velocidade nos processos metabólicos, propiciando emissão mais rápida e uniforme da raiz primária no processo de germinação e maior taxa de crescimento, produzindo plântulas com maior tamanho inicial. O tratamento com Pack Seed melhorou o desempenho das sementes. Com relação à emergência em areia e no campo, o tratamento de sementes de trigo com Pack Seed porporcionou os melhores resultados (Figura 1). Analisando os resultados, nota-se que para as variáveis massa seca da parte aérea (MSPA), massa

Figura 1 - Média das variáveis primeira contagem (PC), germinação (G), envelhecimento acelerado (EA), emergência em areia (EmA) e emergência no campo (EmC)

seca do sistema radicular (MSSR) e massa seca total das plântulas (MSTP), a aplicação do produto Pack Seed proporcionou melhor desenvolvimento inicial, indicando a eficácia do produto em aumentar o desempenho das sementes de trigo e o desenvolvimento das plântulas (Figura 2).

CONCLUSÃO

Os resultados alcançados no presente ensaio apontaram que os melhores resultados na germinação e no potencial fisiológico das sementes de trigo foram obtidos com o uso da dose de 300ml/100kg de sementes de Pack Seed. O uso do produto Pack Seed no tratamento de sementes de trigo melhorou o desempenho das sementes nos diferentes testes, sem C causar sintomas de fitotoxidez. Alessandro Lucca Braccini e Rayssa Fernanda dos Santos, Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Figura 2 - Média de massa seca de parte aérea (MSPA), massa seca do sistema radicular (MSSR) e massa seca total de plântulas (MSTP)

www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

07


Milho

Manejo coerente No combate a percevejos na cultura do milho é preciso integrar medidas e táticas efetivas. Além do conhecimento sobre a praga, inimigos naturais e interações do inseto com a planta e o ambiente, estratégias como tratamento de sementes, redução da população antes da emergência e emprego de cultura armadilha são fundamentais para que se obtenham bons resultados de controle

A

o longo dos anos, o setor agrícola teve grandes alterações em seus sistemas de produção, sendo duas dessas principais mudanças, a adoção do sistema de plantio direto (SPD) e o cultivo de milho na segunda safra (safrinha). Nestes sistemas de produção, os insetos-praga passaram por intensas adaptações e, simultaneamente, encontraram condições favoráveis para o seu desenvolvimento. Dentre os insetos-praga que ocorrem nestes sistemas de produção, especialmente no milho safrinha, destaca-se o complexo de percevejos fitófagos pentatomídeos que apresentam elevado potencial de danos nesta cultura. Os cultivos de milho têm sido reali08

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

zados em praticamente todas as regiões do País, podendo ser conduzidos tanto na primeira safra ou, mais comumente, na segunda safra, denominada de milho safrinha. O milho safrinha constitui uma alternativa agrícola econômica para o produtor brasileiro, sendo a sua semeadura realizada entre o verão e o outono, antes das culturas de inverno, como trigo e aveia. Este sistema de produção favoreceu as exportações de grãos no País, uma vez que reduziu a competição por espaço com a soja durante o verão. Desde a safra 2012/13 o milho safrinha supera a área com milho de verão, sendo que na safra 2019 a área cultivada na safrinha foi cerca de 13,8 milhões de hectares em comparação aos 4,2 milhões de hectares cultivados no verão.

PERCEVEJOS-PRAGAS E SEUS POTENCIAIS DE DANOS

Os percevejos do gênero Dichelops, conhecidos popularmente como percevejo barriga-verde, destacam-se entre as espécies que mais causam danos na cultura do milho no Brasil. A espécie D. melacanthus é amplamente distribuída nas regiões mais quentes do País, sendo abundante do Norte do Paraná e na região Centro-Oeste. Já a espécie D. furcatus apresenta maior distribuição na região Sul do País, especialmente nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Essas duas espécies possuem como hospedeiro primário o milho, podendo causar severos danos nesta cultura, principalmente nos estádios


e dos seus níveis de controle; ciência da presença de plantas hospedeiras de percevejos na área, como as plantas daninhas capim-pé-de-galinha e trapoeraba; e técnicas adequadas de amostragem dos percevejos nas lavouras. Com base nisso, se faz a tomada de decisão para iniciar ou não o controle dessas pragas, empregando-se medidas para reduzir ou manter a população dos percevejos abaixo do nível de dano econômico, através do emprego geralmente de inseticidas químicos, mas podendo ser também utilizados produtos biológicos, dentre outras táticas disponíveis para tal. Trabalhos de pesquisa evidenciaram que o nível de controle de D. melacanthus em milho é de um inseto adulto para dez plantas, a partir da emergência até aos 21 dias de crescimento ou quando for encontrado, em média, 0,5 percevejo/m2 na cultura. Para D. furcatus o nível de dano econômico foi determinado como abaixo de 0,5 percevejo por metro de fileira de plantas de milho. Já com relação às táticas de redução populacional de percevejos na cultura do milho, estas se baseiam, fundamentalmente, através da aplicação de inseticidas químicos nas sementes ou em pulverização nas plantas através do emprego de diferentes estratégias

de controle ou momento da sua aplicação. A seguir, são descritas as principais estratégias efetivas para o manejo de percevejos na cultura do milho.

TRATAMENTO DE SEMENTES

Esta técnica de controle de percevejos no milho tem se mostrado altamente eficaz, especialmente para a proteção dos estádios iniciais de desenvolvimento das plantas, momentos esses em que os percevejos são muito daninhos à cultura. O tratamento de sementes deve ser realizado especialmente com inseticidas do grupo dos neonicotinoides de forma isolada ou em mistura com outros grupos químicos. Esse tratamento de sementes pode ser realizado na fazenda (“on farm”) ou as sementes já podem vir tratadas pelas empresas de defensivos (tratamento industrial), sendo este último tipo de tratamento mais eficaz e de melhor qualidade. Após a semeadura e durante o processo de germinação e emergência do milho, o inseticida aderido às sementes é dissolvido na solução do solo e posteriormente é absorvido pelas raízes, por fluxo em massa, quando os produtos são carreados pela água que está se movendo do solo para as raízes. Ao migrar para a parte aérea das plântulas, os ingre-

Fotos Dirceu Gassen

iniciais de crescimento das plantas. O período considerado crítico de ataque do percevejo barriga-verde no milho é o da emergência das plântulas até o estádio V5 (cinco folhas expandidas). Os danos são ocasionados pela alimentação contínua dessa praga próxima ao colo das plantas, podendo ser observadas injúrias como perfurações nas folhas, as quais podem também apresentar-se enroladas, mascadas ou com aspecto de encharutamento. Em ataques severos pode causar também o perfilhamento das plantas, quando a injúria atinge o meristema apical, tornando-se uma planta improdutiva ou até mesmo levando-a à morte quando o inseto injeta substâncias que possuem ação tóxica. Além das espécies do gênero Dichelops que são as mais danosas ao milho, o percevejo-marrom Euschistus heros e o percevejo-verde Nezara viridula podem também atacar a cultura do milho, causando injúrias similares às observadas por D. melacanthus. Todavia, a intensidade e a frequência de danos dessas espécies nas plantas de milho são menores que aquelas verificadas com as espécies do gênero Dichelops. No entanto, trabalhos recentes conduzidos na Embrapa Agropecuária Oeste evidenciaram que adultos de E. heros podem causar sintomas nas folhas do milho e reduzir a produtividade de grãos desta cultura à semelhança do percevejo barriga-verde, quando as plantas são atacadas no estádio V1 (uma folha expandida). Plantas de milho em estádios de desenvolvimento mais avançado, como aquelas com cinco ou mais folhas, já são consideradas tolerantes ao ataque dos percevejos, independentemente da espécie considerada.

ESTRATÉGIAS DE MANEJO

Dentre as alternativas efetivas de manejo para amenizar os danos de percevejos na cultura do milho, com base no Manejo Integrado de Pragas (MIP), destacam-se o reconhecimento das espécies de percevejos que atacam a cultura, bem como os seus inimigos naturais; conhecimento da biologia e da dinâmica populacional das espécies

A espécie D. melacanthus é amplamente distribuída nas regiões mais quentes do País

www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

09


Dirceu Gassen

dientes ativos absorvidos pelas plantas darão proteção contra pragas sugadoras iniciais, como é o caso dos percevejos fitófagos previamente descritos. Deve-se ter consciência que, em uma área com elevada incidência de percevejos, apenas o tratamento de sementes não será suficiente para a contenção da praga, necessitando assim de outras táticas complementares de controle para evitar maiores danos na cultura.

REDUÇÃO DA POPULAÇÃO ANTES DA EMERGÊNCIA

Esta estratégia de controle de percevejos é realizada através da pulverização de inseticidas basicamente em dois momentos distintos: no final do ciclo da cultura da soja ou na modalidade plante aplique, que é realizada após a semeadura do milho. Pulverizações no final do ciclo da soja têm por objetivo reduzir a densidade populacional de percevejos que permanecerá na área após a colheita dessa leguminosa e que poderá causar danos no milho, cultivado em sucessão. Dessa forma, quanto mais próxima da colheita da soja for realizada esta pulverização de inseticida, mais eficaz será esta tática de controle. Todavia, é importante verificar o período de carência do produto a ser utilizado nesta pulverização, ou seja, o intervalo entre a aplicação do defensivo e a colheita, para o consumo seguro do alimento, informação esta que está geralmente escrita na bula do inseticida. Já a pulverização realizada em plante aplique é realizada logo após a semeadura do milho, empregando-se um inseticida recomendado para a praga na cultura. Trabalhos conduzidos na Fundação MS evidenciaram que essa pulverização em plante e aplique deve ser realizada, no máximo, uma hora após ter finalizado a semeadura do milho. Isso porque quando é realizada a semeadura do milho, o ambiente na palhada é perturbado com a passagem da semeadora e o percevejo que estava previamente alojado em algum abrigo sai para caminhar sobre a palhada, o que torna a pulverização mais eficiente devido à maior exposição do inseto à calda inseticida. Se a pulverização for realizada em um período maior após a semeadura, o percevejo volta a se abri10

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

Percevejos do gênero Dichelops destacam-se entre as espécies que mais causam danos na cultura do milho no Brasil

gar e neste caso, a eficiência de controle é reduzida.

PULVERIZAÇÃO DE PLÂNTULAS DE MILHO

Esta técnica de controle representa um complemento no controle do percevejo que eventualmente escapou do tratamento de sementes previamente realizado, situação que geralmente ocorre quando a densidade populacional de percevejos estiver elevada na área. Neste caso, podem ser realizadas até duas pulverizações das plântulas do milho, podendo uma pulverização ser feita por volta dos três a cinco dias após a emergência da cultura (3-5 DAE) e outra por volta dos sete aos dez DAE. Deve-se salientar que estas pulverizações devem ser realizadas até o milho apresentar aproximadamente cinco folhas (V5), pois em estádios de desenvolvimento mais avançados que estes, o milho já está tolerante ao ataque do percevejo, não havendo mais necessidade do seu controle.

TÁTICA DA CULTURA ARMADILHA

Essa tática de controle foi utilizada no passado como um método eficiente para a redução de populações de certas pragas em cultivos como a soja e o algodão, podendo essa modalidade de controle ser utilizada em associação com outras técnicas, como controle químico, biológico e cultural. Esta modalidade de controle consiste basicamente na implantação antecipada de uma cultura atrativa à praga, denominada de cultura armadilha, que poderia ser algumas

fileiras de milho ou outro hospedeiro preferencial, que será semeado geralmente na bordadura das lavouras para atrair a praga para este ambiente. Após a migração da praga para esta cultura armadilha, ela é controlada com o uso de inseticidas restritos a essa área de atração. Com isso a semeadura normal do milho seria realizada na área adjacente à cultura armadilha, onde provavelmente ocorrerá uma menor densidade populacional da praga, que assim poderia ser manejada com mais tranquilidade ou até mesmo com um menor número de aplicações de inseticidas quando comparado a uma lavoura sem a cultura armadilha. O uso da cultura armadilha como tática de controle tem despertado interesse dos produtores de milho, como foi demonstrado no trabalho conduzido por Corrêa-Ferreira & Sosa-Gómez (2017) para o manejo de percevejos fitófagos na cultura do milho safrinha no estado do Paraná. Diante do exposto pode-se inferir que o manejo de percevejos na cultura do milho safrinha é relativamente fácil de ser realizado, necessitando apenas que o técnico ou produtor tenha conhecimentos bioecológicos dessa praga nos sistemas de produção, bem como das técnicas disponíveis para implementar C o seu controle. Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Ivana Fernandes da Silva, Bruna Mandryk Cavalheiro, Elizete Cavalcante de Souza Vieira e Paula Gregorini Silva, Universidade Federal da Grande Dourados


Milho

Vantagem O adicional Em qualquer das três épocas de semeadura realizadas no Brasil o milho se mostra um aliado importante no manejo de daninhas, tanto como cultura de sucessão quanto de rotação, sejam essas plantas resistentes a herbicidas ou simplesmente de difícil controle Décio Karam

milho no Brasil é semeado em três épocas distintas: 1ª safra (cultivado entre os meses de agosto e dezembro), 2ª safra (janeiro a março) e 3ª safra (abril a julho). O milho cultivado na 1ª safra, também conhecido como milho verão, ocorre nos estados das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte, o milho 2ª safra, conhecido como milho safrinha, é cultivado nos estados das regiões Centro-Oeste, Norte e Sudeste e no estado do Paraná, e o milho 3ª safra ocorre preferencialmente nos estados da região Nordeste (Bahia, Alagoas e Sergipe). Em todas essas épocas de semeadura, o milho é um aliado no manejo de plantas daninhas, como uma cultura de sucessão ou mesmo de rotação, sejam essas daninhas resistentes a herbicidas ou mesmo de difícil controle. No milho de verão, geralmente onde a infestação de plantas daninhas é mais expressiva, devido à umidade e à temperatura elevadas, as invasoras, se não controladas de forma adequada, produzirão sementes em grandes quantidades, o que elevará substancialmente o banco de sementes do solo. Essa produção de sementes acarretará maior infestação de plantas daninhas na cultura subsequente, dificultando o seu controle. As plantas de uma maneira geral podem ser classificadas em relação ao modo de fixação de carbono (processo fotossintético), ou seja, na captura de energia solar e transformação em alimento (energia química). Neste sentido, o milho é classificado como uma planta do tipo C4, que implica dizer que esse cereal atinge taxas fotossintéticas máximas quando são expostas a elevadas intensidades de radiação solar, fixando mais CO2 por unidade de água perdida. Plantas da família das Poaceaes como Urochloa plantaginea (capim marmelada), Cenchrus echinatus (capim-carrapicho), Digitaria insularis (capim-amargoso), Digitaria horizontalis (capim-colchão), dentre outras, e espécies da família da Amaranthaceae, como Amaranthus spp (caruru), e da família Portulacaceae, como Portulacca oleraceae (beldroega), também apresentam características semelhantes às plantas de milho. Por outro lado, as plantas das culturas da soja, do feijão, do algodão e do amendoim, além de várias espécies daninhas dicotiledôneas como Bidens pilosa (picão-preto), Euphorbia heterophylla (leiteiro), Commelina www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

11


Tabela 1 - Princípios ativos autorizados para uso nas culturas do milho e da soja Milho

haloxyfop-p-methyl

clethodim setoxydim

imazapic imazapyr

Soja fenoxaprop-p-ethyl fluazifop-p-butyl haloxifop-p-methyl propaquizafop quizalofope-p-ethyl quizalofope-p-ethyl clethodim setoxydim tepraloxydim imazamox imazapic imazapyr imazaquin imazethapyr chlorimuron-ethyl

foramsulfuron iodossulfurom-methyl-sodium nicossulfuron

ametrine atrazine simazine terbuthylazine

flumioxazin

saflufenacil carfentrazone-ethyl isoxaflutole mesotrione tembotrione clomazone glyphosate glyphosate dimethalamine salt glyphosate - ammonium salt glyphosate - isopropylamine salt glyphosate - potassium salt glufosinate - ammonium pendimetalin trifluralin acetochlor alachlor metolachlor s-metolachlor MCPA 2,4-D

HRAC Group

MODO DE AÇÃO Inibição da síntese lipídica (inibidores da ACCase)

Ariloxifenoxipropionatos (FOPs) A

Ciclohexanodionas (DIMs)

Imidazolinonas

B

Inibidores da acetolactato sintase (ALS) (síntese de aminoácido de cadeia ramificada)

C1

Inibição da fotossíntese no fotossistema II

Sulfonilureias

cloransulan-methyl diclosulam flumetsulam

amicarbazone diuron linuron bentazon diquat dibromide

família química

Triazolopirimidinas

Triazinas

metribuzin

Triazolinonas

diuron linuron bentazon diquat dibromide flumiclorac-pentyl flumioxazin acifluorfen sodium fomesafen lactofen oxifluorfen

Ureias

C2

Benzotiadiazinonas Bipiridíliuns N-fenilftalimidas

C3 D

Inibidores do fotossistema I (formadores de radicais livres)

E

Inibição da protoporfirinogênio oxidase (PPO)

Isoxazoles Tricetonas

F2

Inibição da biossíntese de carotenoides na 4-hidroxifenil-piruvato- -dioxigenase (4-HPPD)

Isoxazolidinonas

F4

Inibição da DOXP sintase I

Glicinas

G

Inibição da EPSP sintase

Ácido fosfínico Dinitroanilinas

H K1

Inibição da glutamina sintetase Inibição da formação de microtúbulos

K3

Inibição da divisão celular (VLCFA)

O

Mimetizadores da auxina

carfentrazone-ethyl sulfentrazone isoxaflutole

clomazone glyphosate glyphosate dimethalamine salt glyphosate - ammonium glyphosate - isopropylamine salt glyphosate - potassium salt glufosinate - ammonium pendimetalin trifluralin acetochlor alachlor metolachlor s-metolachlor

Difeniléteres

Pirimidindionas Triazolinonas

Cloroacetamidas (V1) Cloroacetamidas (V2) Ácido fenóxicarboxílico

2,4-D fluroxypyr-mepthyl dicamba

Ácido benzoico

Verificar a marca comercial e a autorização de uso para ter a certeza de que as espécies desejadas para controle e a cultura estejam registradas para o produto comercial escolhido.

12

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br


Fotos Décio Karam

benghalesnsis (trapoeraba), Ipomoea spp (corda-de-viola), Conyza spp. (buva) dentre outras, são classificadas como plantas de metabolismo C3, ou seja, essas espécies alcançam taxas fotossintéticas máximas em intensidades de radiação solar relativamente baixas, porém são mais dependentes do fotoperíodo. Essa característica pode explicar o desenvolvimento mais agressivo das gramíneas nas condições de verão, causando maiores índices de competição com as culturas. O milho, semeado em condições onde as temperaturas, a umidade relativa do ar e a precipitação são elevadas, se iguala em termos de eficiência fotossintética com as plantas daninhas mais agressivas, o que contribui para uma menor competição, consequentemente com menores perdas de rendimento e rentabilidade. Em condições de maior interferência imposta pelas culturas, as plantas daninhas, por estarem em desvantagem no desenvolvimento, produzirão menor quantidade de sementes, facilitando o seu manejo no sistema de produção utilizado. Contudo, vale salientar que, nessas condições, a incidência de plantas daninhas sempre será em maior quantidade, o que poderá levar a maior interferência para o milho. Na segunda safra, o cultivo do milho é realizado sobre regimes hídricos mais escassos, temperaturas amenas a elevadas e clima seco. Essas condições diferem das condições do plantio de verão, por isso, plantas que apresentam o metabolismo C3 tendem a estar mais presentes nesse ambiente, por apresentarem menor exigência térmica para completar seu ciclo reprodutivo. Nessas condições, as taxas fotossintéticas das plantas C3 são mais elevadas que as plantas C4, em função de atingirem as taxas máximas de fotossíntese em condições de baixas intensidades de radiação solar. Isso acaba favorecendo a competição imposta pelas plantas daninhas com metabolismo C3 com a cultura do milho, embora essas plantas sejam mais propensas ao efeito deletério do estresse hídrico.

Semeadura da soja em área de palhada de milho

Com isso, a utilização do milho de verão em um sistema de produção em rotação com culturas como soja, algodão, amendoim e outras com metabolismo C3 são de grande importância para a redução do impacto das plantas daninhas como redutoras de rendimento e rentabilidade para o produtor agrícola. Um segundo ponto a ser considerado é a possibilidade de o produtor ter à disposição, diferentes herbicidas para uso no manejo dessas invasoras no sistema de produção utilizado. Na cultura da soja, assim como na do milho, o produtor tem disponível no mercado herbicidas classificados em 14 mecanismos de ação conforme a nomenclatura desenvolvida pelo Comitê de Ação à Resistência aos Herbicidas – HRAC (Tabela 1). Essa nomenclatura denominada como Sistema de Classificação Internacional Unificado é composta por 25 grupos de herbicidas. Isso é de extrema relevância, pois uma das principais premissas do manejo de plantas daninhas resistentes a herbicidas é diminuir a pressão de seleção através do uso rotacionado de diferentes mecanismos de ação desses produtos. Embora possa ser visto

que não há uma diferenciação grande de mecanismos permitidos para uso nestas culturas (Tabela 1), é possível observar que na cultura do milho há possibilidade de o agricultor utilizar herbicidas inibidores do fotossistema II como a atrazine, que apresentam amplo espectro de controle das plantas daninhas, como pode ser visto na Tabela 2. Embora existam produtos para serem usados nas culturas do milho, o produtor tem que ficar atento ao fato que, com a introdução de cultivares tolerantes a herbicidas, alguns produtos só devem ser utilizados nestas cultivares, pois materiais convencionais podem sofrer danos irreversíveis de fitotoxicidade, podendo chegar até a morte das plantas. Herbicidas como o glifosato na soja e no milho, o dicamba na soja, o haloxyfop no milho e o 2,4 D na soja são exemplos das necessidades de uso em cultivares geneticamente modificadas (OGMs). A palhada da cultura do milho deixada após a colheita exerce também função importante no manejo de plantas daninhas. Palhadas de plantas utilizadas como cobertura do solo que tenham relação carbono/nitrogênio (C/N) alta apresentam menores taxas www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

13


Fotos Décio Karam

À esquerda área com palhada de milho e à direita área com palhada de milho comparada com área de pousio no manejo de Digitaria insularis (capim-amargoso)

de degradação, permanecendo por maior período sobre o solo, ao contrário de plantas com relação C/N baixas, que são degradadas rapidamente. Com maior tempo de permanência no solo, a biomassa servirá como barreira para a emergência de plantas daninhas. Porém, deve ser salientado que o tempo que a palhada permanecerá no solo também é função do teor de lignina (%), assim, quanto maior o teor deste componente, mais tempo essa massa demora a decompor. Além disso, quanto mais quente e úmido estiver o clima, mais rápida será a decomposição, principalmente em função destas condições serem mais propensas à multiplicação dos agentes decompositores da palha. As populações de espécies importantes como Conyza spp (buva), Lolium multiflorum (azevém), Bidens pilosa (picão-preto), Euphorbia heterophylla (amendoim-bravo), Digitaria insularis (capim-amargoso) são reduzidas quando é utilizada a cultura do milho em rotação ou sucessão principalmente ao já visto anteriormente como a rotação de mecanismos de ação de herbicidas e da palhada deixada no solo após a colheita. Portanto, na hora do planejamento dos sistemas produtivos pelo agricultor, vale a pena, em algum momento, inserir a cultura do milho em rotação ou sucessão. Com essa prática, o agricultor poderá verificar uma melhora no manejo de plantas daninhas, sejam elas de difícil controle ou mesmo re14

sistentes a herbicidas, além de todas as outras vantagens existentes no sistema. Ressalta-se, entretanto, que existem também plantas daninhas de difícil controle na cultura do milho, que precisam ser manejadas com o auxílio de cobertura de solo de outras culturas. Isso demonstra a importância da utilização de diferentes culturas

nos sistemas produtivos, evitando a monocultura como fonte produtiva na C propriedade agrícola. Décio Karam, Emerson Borghi, Alexandre Ferreira da Silva e Israel Alexandre Pereira Filho, Embrapa Milho e Sorgo

Tabela 2 - Plantas daninhas que apresentam registro de uso para com o herbicida atrazine Espécie Acanthospermum australe Acanthospermum hispidum Achyrocline satureioides Ageratum conyzoides Alternanthera tenella Amaranthus deflexus Amaranthus hybridus Amaranthus retroflexus Amaranthus spinosus Amaranthus viridis Avena strigosa Bidens pilosa Brachiaria plantaginea Cenchrus echinatus Chamaesyce hyssopifolia Commelina benghalensis Commelina diffusa Coronopus didymus Croton glandulosus Cyperus sesquiflorus Desmodium adscendens Desmodium tortuosum Digitaria ciliaris Digitaria horizontalis Digitaria sanguinalis Eleusine indica Emilia sonchifolia Euphorbia heterophylla

Nome popular carrapicho-rasteiro carrapicho-de-carneiro macela mentrasto apaga-fogo caruru caruru-roxo caruru-gigante caruru-de-espinho caruru-de-mancha aveia-preta picão-preto capim-marmelada, capim-papuã capim-carrapicho erva-de-santa luzia trapoeraba capoeraba, marianinha mastruço gervão junquinho carrapicho-beiço-de-boi desmodio capim-colchão, capim-da-roça capim-colchão, capim-milhã capim-colchão, milhã capim-pé-de-galinha falsa-serralha amendoim-bravo, leiteiro

Espécie Galinsoga parviflora Glycine max Hyptis lophanta Hyptis suaveolens Indigofera hirsuta Ipomoea aristolochiaefolia Ipomoea grandifolia Ipomoea purpurea Ipomoea quamoclit Leonurus sibiricus Lepidium virginicum Melampodium divaricatum Melampodium perfoliatum Murdannia nudiflora Nicandra physaloides Panicum maximum Pennisetum setosum Portulaca oleracea Raphanus raphanistrum Richardia brasiliensis Sida cordifolia Sida rhombifolia Solanum americanum Sonchus oleraceus Spermacoce latifolia Tagetes minuta Triticum aestivum Xanthium strumarium

Nome popular picão-branco soja cheirosa betônica-brava, cheirosa anileira corda-de-viola corda-de-viola corda-de-viola, glória-da-manhã corda-de-viola, esqueleto cordão-de-são-francisco mastruz estrelinha estrelinha trapoeraba joá-de-capote capim-colonião capim-custódio beldroega nabiça poaia-branca guanxuma, malva-branca guanxuma, mata-pasto maria-pretinha serralha erva-quente cravo-de-defunto trigo carapichão

Verificar a marca comercial e a autorização para ter a certeza de que a espécie desejada para controle tenha sido registrada para o produto comercial escolhido. Dados obtidos das bulas dos produtos a base de atrazine autorizados para comercialização e que apresentam registro para utilização na cultura do milho

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br





Milho

Melhor prevenir

Rodrigues, 2021

Embora o milho não esteja entre os hospedeiros preferenciais da mosca-branca já existem relatos de prejuízos econômicos causados por este inseto à cultura. Diante dos riscos, principalmente às lavouras em início de desenvolvimento, se faz necessária a prevenção, através de monitoramentos frequentes, do uso de parâmetros que possam quantificar o nível de perdas e de medidas de controle integrado quando necessário

A

pesar do histórico de alto rendimento nas lavouras brasileiras de milho, os fatores fitossanitários podem ser um problema para o alcance de altas produtividades. Dentre estes fatores, a ocorrência de insetos-praga se destaca devido à grande diversidade de indivíduos, à rápida adaptação aos diversos ambientes, por possuírem em grande maioria ciclo de vida curto e alto potencial biótico, assim como outros aspectos que potencializam os prejuízos às lavouras. As características morfológicas e fisiológicas da cultura do milho promovem um elevado potencial produtivo. No entanto, assim como ocorre em outras culturas, o milho está sujeito a 18

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

ataques de insetos-praga e outros patógenos como fungos, vírus e bactérias, que podem afetar o potencial produtivo (Barros et al., 2014). Assim, a cultura do milho está sujeita a ataques de pragas e patógenos em geral desde o momento em que é semeada, podendo ser atacada por pragas de solo, e mesmo da parte aérea após sua emergência. Além de insetos mastigadores da ordem lepidópteros, o percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus) e a cigarrinha-do-milho (Dalhulus maidis) são considerados como as principais e mais severas pragas de ocorrência na cultura (Lima et al., 2016). A mosca-branca (Bemisia tabaci) da ordem Hemiptera é uma das pragas

de destaque na agricultura no último século, sendo o biótipo B (Gennadius, 1889) um inseto cosmopolita que pode se alimentar de mais de 600 espécies de plantas (Oliveira et al., 2001), identificado como Middle East Ásia Menor 1 (MEAM1) a principal espécie causadora de grandes perdas na produtividade das culturas (Godoi, 2019). Com facilidade de adaptação a fatores ambientais e a novas espécies de plantas com tamanha diversidade de hospedeiros, a mosca-branca atingiu alto nível de propagação nas áreas agrícolas brasileiras, tornando-se uma importante praga no sistema e que apresenta dificuldades de controle (Quintela, 2015). A mosca-branca é responsável por


causar danos diretos às plantas por se alimentar diretamente no floema por sucção da seiva, debilitando a planta e injetando toxinas que causam perda de vigor. Também provoca danos indiretos, que ocorrem pela excreção de uma substância açucarada conhecida como honeydew ou “mela”, que serve como substrato para o crescimento do fungo de cor preta denominado de fumagina (Capnodium sp.), que cobre a superfície foliar impedindo a absorção de luz pelas folhas, reduzindo a taxa fotossintética (Figura 2) e a produtividade das plantas atacadas (Lima, 2001). Além dos danos diretos e indiretos causados à cultura, a mosca-branca é um inseto vetor de mais de 300 espécies de vírus, ocorrendo a inoculação de estirpes dos vírus ao se alimentarem na planta caso o inseto esteja contaminado. Essa transmissão de vírus pelo inseto se torna o principal dano indireto provocado à cultura (Hirose et al., 2015; Rojas et al., 2018). O ciclo biológico da mosca-branca é influenciado pelas condições do ambiente como temperatura e umidade do ar. As temperaturas mais altas aceleram o ciclo de vida da praga, resultando em um maior número de gerações. O ciclo total de desenvolvimento do ovo até a formação do inseto adulto pode variar de 16 dias a 19 dias (Figura 1). B. tabaci possui o ciclo de desenvolvimento dividido na fase de ovo, quatro instares ninfais e por fim adulto. Os ovos têm um tamanho aproximado de 0,2mm, são depositados na face inferior das folhas jovens, possuem um formato alongado, com um pedúnculo de cor branco-amarelada nas primeiras horas após a deposição dos ovos e passam à coloração marrom-escura no final dessa fase, que leva cerca de cinco dias a sete dias antes do início da eclosão das ninfas. Porém, esse tempo é geralmente variável em função das condições climáticas e do hospedeiro (Oliveira et al., 2018). O primeiro instar é móvel por alguns minutos, até encontrar o local mais adequado na planta para se fixar. Posteriormente, as ninfas tornam-se imóveis, e são transparentes, ovais e medem de 0,3mm a 0,7mm, depen-

O milho A

s estimativas para a produção mundial de milho (Zea mays L) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) é de 1,113 bilhão de toneladas para a safra 2020/21. O Brasil ocupa a 3ª posição no ranking dos maiores produtores e o segundo lugar como principal exportador do cereal. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab, 2020), o Brasil estima produzir 105,2 milhões de toneladas na safra 2020/21, para uma área plantada de 18,4 milhões de hectares, em uma média produtiva de 5.690kg/ha.

dendo do estádio em que se encontram (Sosa-Gómez et al., 2010). As ninfas de segundo e terceiro instares possuem um formato oval, são sésseis e translúcidas, medindo em torno de 0,4mm e 0,5mm, respectivamente. O quarto instar é dividido em três fases morfologicamente distintas. Inicialmente, a ninfa é achatada, translúcida, com apêndices rudimentares. Em seguida, torna-se opaca e cerosa, medindo aproximadamente 0,6mm de comprimento e, finalmente, chega à última fase com uma pigmentação amarelo-esbranquiçada semelhante à do adulto (Oliveira; Silva, 1997). Os adultos medem cerca de 1mm de comprimento, sendo a fêmea ligeiramente maior que o macho. Os insetos nesse estágio têm o dorso amarelo-pálido, possuindo dois pares de asas membranosas de cor branca (Moscardi

et al., 2012). Esse inseto tem uma grande capacidade reprodutiva, o que aumenta o seu potencial de danos às culturas hospedeiras. Cada fêmea pode ovipositar de 100 ovos a 300 ovos durante todo seu ciclo de vida (Brown & Bird, 1992; Abud, 2019). São mais de 700 espécies de plantas hospedeiras para essa praga com grande impacto socioeconômico em áreas tropicais, subtropicais e temperadas, devido à severidade dos ataques e às dificuldades em seu controle (IGA, 2018). É importante destacar que a maioria dos fitovírus e seus vetores, principalmente as moscas-branca, considerados os principais vetores de vírus, são de extrema importância no estabelecimento da doença nos seus hospedeiros, pois dentre os patógenos de plantas, os vírus são dependentes dos seus vetores devido a não poder ser disseminados de forma livre no meio (Hill & Whitham, 2014; Ivanov et al., 2014; Revers & García, 2015). Aproximadamente 90% dos vírus transmitidos pela mosca-branca pertencem ao gênero Begomovirus, podendo causar perdas de até 100% da produção na cultura afetada, principalmente se a infecção ocorrer na sua fase inicial. Por muito tempo a mosca-branca foi uma praga importante apenas na cultura do feijão, sendo vetor do vírus do mosaico dourado do feijoeiro. O aumento populacional dos insetos biótipo B foi favorecido no Brasil pelo sistema produtivo empregado nas áreas agrícolas, se tornando uma praga

Ninfa e adulto da mosca-branca Bemisia tabaci

www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

19


Figura 1 - Esquema representativo do ciclo de vida da B. tabaci

Rodrigues, 2021

importante nas culturas de soja, algodão, tomate, melão, entre outras. Sua adaptabilidade a diferentes espécies de plantas elevou o número de hospedeiros, seja em cultivos de interesse econômico ou silvestres, pois permitem que B. tabaci reproduza e migre de maneira rápida sobre o território nacional, atingindo elevado tamanho populacional. Além disso, há o clima tropical e o longo período vegetativo das principais culturas brasileiras, associados ao intenso uso da área, principalmente em regiões que permitem o cultivo subsequente conhecido como “safrinha”, em que geralmente é cultivado o milho em grande parte do Brasil após a colheita da cultura de safra, semeadas entre outubro e novembro, como soja ou feijão. Com isso, surtos de mosca-branca são relatados ano após ano em algumas áreas agrícolas brasileiras, e sempre estão associados ao alto grau de polifagia da praga e à dificuldade de controle. As aplicações de inseticidas de amplo espectro de controle no início da safra podem atingir populações de mosca-branca e inclusive as populações de inimigos naturais que a controlam. No entanto, pelo ciclo de vida de alta velocidade (sendo mais rápido do que o ciclo de vida dos inimigos naturais) ao fim da primeira safra a popula-

Fumagina causada pelo ataque de mosca-branca

20

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

ção de B. tabaci está elevada e não há inimigos naturais suficientes para realizar o controle desta praga (Faria, 2014). Em estudos realizados no Sul da Flórida, nos Estados Unidos, pesquisadores utilizaram o milho como cultura armadilha para uma possível barreira à infestação de mosca-branca na cultura do tomate e também na cultura do feijão. Segundo Rajasri, et al. (2009) o milho se mostrou uma cultura interessante como barreira para o ataque ao tomate, entretanto não ocorreu redução da população de B. tabaci na cultura do tomateiro (Al-Musa, 1982). Por outro lado, observou-se que o milho como armadilha barreira não reduziu ovos nem a densidade de ninfas na cultura do feijão (Smith & Mcsorley, 2000). No Norte da China experimentos utilizando o milho como barreira para diminuir a pressão da mosca-branca sobre o algodão apresentou redução nas densidades de moscas-brancas imaturas de 24,2 indivíduos (ind.) 100cm2 para quatro ind.100 cm2 (Zhang et al., 2020). Apesar de o milho não ser um hospedeiro natural, a população de mosca-branca pode ser tão alta que

o inseto terá de se alimentar, potencializando o ataque desta praga nas lavouras com a cultura, principalmente em plantas jovens do cereal. No Mato Grosso, na safra 13/14, houve relatos de morte de plantas de milho por causa do ataque de mosca-branca (Faria, 2014). Sousa et al. (2021) enfatizam que a manutenção de áreas de Cerrado próximas a cultivo no sistema soja e milho pode favorecer o manejo integrado de mosca-branca e diminuir os riscos de surtos populacionais nas áreas de produção. Assim, o manejo deste inseto-praga não deve ser realizado apenas na cultura principal, mas também envolver todo o sistema produtivo. Em locais onde são cultivadas espécies de plantas hospedeiras do vírus o manejo deve ser realizado de forma preventiva (Gilbertson et al., 2015; Quintela et al., 2016). Apesar de a mosca-branca não preferir a cultura do milho como hospedeira existem relatos de danos econômicos causados ao milho. Com isso, B. tabaci poderá se tornar uma praga importante principalmente para as lavouras de milho em início de desenvolvimento. A fim de evitar que isso ocorra, devem ser realizados monitoramentos frequentes, utilizar parâmetros que possam quantificar o nível de perdas e realizar intervenção para o controle quando necessário, utilizando as técnicas de manejo integrado de C pragas (MIP). Wendson Soares da Silva Cavalcante, Bruna Guimarães da Silva e Daniele Ferreira Ribeiro, Faculdade UniBras/GPAC Nelmício Furtado da Silva, Universidade de Rio Verde (UniRV) AgirTec/GPAC Estevão Rodrigues, MRE Agropesquisa/GPAC Fernando Rezende Corrêa e Paulo Afonso Betinelli, Faculdade UniBras/GPAC Raphael Neumaister, MRE Agropesquisa


Paulo Lanzetta

Capa

Por que A ocorrem pragas? A interação entre condições ambientais naturais e as práticas de manejo empregadas na agricultura estão entre os fatores que ajudam a explicar o aumento populacional dos insetos e a sua ocorrência em plantas cultivadas

nimais invertebrados, como insetos, ácaros, diplópodes (piolhos-de-cobra) e moluscos (lesmas e caracóis), e vertebrados, como aves, roedores e mamíferos, que se alimentam de plantas, só devem ser considerados pragas quando competem com os interesses humanos. Ou seja, no caso de atividades agrícolas, quando atacam plantas que são cultivadas na produção de frutos, grãos, fibras e combustíveis para consumo ou comercialização. Afora esta situação, invertebrados e vertebrados herbívoros fazem parte das cadeias alimentares naturais e comem vegetais para sobreviver. Portanto, o conceito de praga decorre de uma perspectiva humana e, em última instância, sob o ponto de vista agrícola, tem caráter econômico. Atualmente, estão disponíveis vários meios de natureza física, química e biológica para controle de pragas, incluindo equipamentos, processos e produtos tecnologicamente avançados. Porém, antes de escolher e de aplicar um método de controle e até mesmo para poder fazê-lo de forma racional, econômica e ecologicamente correta, é importante entender quais fatores determinam a ocorrência de pragas. Justifica-se, portanto, a pergunta: por que ocorrem pragas? O conhecimento e, mais pretensiosamente, o domínio pelo menos parcial destes fatores aumentam as chances de sucesso no desafio de evitar ou minimizar as perdas causadas pelas pragas à produção vegetal. www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

21


Principais interações entre pragas agrícolas e fatores naturais que regulam a sua ocorrência

Neste contexto, a primeira condição para que ocorram pragas agrícolas é que haja um cultivo vegetal de interesse humano, ou seja, agricultura. De fato, a substituição da cobertura vegetal nativa, que teoricamente estava em equilíbrio, por plantas cultivadas, com maior ou menor grau de homogeneidade, tende a favorecer as espécies de herbívoros que utilizam a nova vegetação de maneira bem-sucedida e preferencial. Para conjecturar sobre o porquê da ocorrência de pragas parte-se deste pressuposto sem, obviamente, questionar a agricultura, atividade de incontestável relevância socioeconômica. Enquanto a capacidade de suporte da planta cultivada não é atingida, a ocorrência de herbívoros em nível de praga, adaptados a diferentes famílias ou espécies vegetais, depende de fatores que interferem na dinâmica populacional de espécies que são pragas em potencial. O que determina se um organismo é praga ou não é o dano que causa, o qual, por sua vez, deriva da quantidade de indivíduos presentes como, por exemplo, número de lagar28 22

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

tas ou de percevejos/m, número de corós/m², número de ácaros ou de tripes/ cm². Então, a resposta para a pergunta que norteia este texto está nos fatores que determinam o aumento da quantidade de insetos, ácaros etc. fazendo com que cheguem ao patamar no qual causam perdas econômicas. O principal fator a concorrer para o crescimento populacional de uma praga é a sua capacidade inata de se reproduzir, ou seja, o número de descendentes que pode gerar em um certo tempo. Isso também pode ser entendido como taxa de reprodução. A capacidade de reprodução é uma característica intrínseca, própria de cada espécie, que é determinada pela capacidade de postura (ou de parir, nas pragas não ovíparas) e também pela razão sexual (proporção entre machos e fêmeas). Quanto mais fêmeas houver, desde que sejam fecundadas, e quanto maior for a sua prolificidade, maior é o potencial de crescimento populacional da praga. Todavia, e felizmente no contexto da agricultura, nem todos os indivíduos que nascem sobrevivem e se tornam

Juliano Farias/Elevagro

Desenho Cristiano Ceia

aptos para contribuir com o incremento da população. Um conjunto de fatores adversos impede que o potencial reprodutivo se expresse plenamente, fatores estes que podem ser naturais, bióticos (vivos) e abióticos, ou relacionados ao manejo empregado pelo agricultor no processo produtivo. Assim, a quantidade real de indivíduos que se manifesta em um cultivo agrícola e cujo potencial e importância em causar danos precisam ser avaliados, é resultado do balanço entre a “entrada” de novos indivíduos no sistema (nascimentos) e a “saída” de indivíduos devido à mortalidade ou à baixa performance biológica. Entre os fatores bióticos que freiam diretamente o crescimento populacional estão os inimigos naturais das pragas. São macro-organismos zoófagos (insetos, aracnídeos, vertebrados etc.) e micro-organismos patogênicos às pragas. Ambos são enquadrados como agentes de controle biológico natural. Estima-se que, se não houvesse inimigos naturais das pragas, em muitos casos, estas atingiriam níveis populacionais tão elevados que com os meios e as medidas emergenciais atualmente disponíveis o controle econômico seria inviável. Existem ainda interações biológicas mais complexas, como as do tipo tritróficas, que também podem interferir no processo como é, por exemplo, o pedido de socorro que as plantas emitem através de sinais aos inimigos naturais das pragas, quando são atacadas. Entre os fatores abióticos que condicionam o crescimento populacional de pragas estão temperatura, umidade

Algumas sucessões de culturas favorecem a oferta de alimento ao percevejo barriga-verde


Dirceu Gassen

Incidência de Spodoptera frugiperda tem sido crescente após cultivos de soja e de milho

do ar e do solo, chuva, vento, fotoperíodo etc. O clima também pode agir na outra ponta da balança, favorecendo o desempenho biológico e reprodutivo dos organismos potencialmente pragas, assim como ter efeito positivo ou negativo sobre os inimigos naturais das pragas e sobre as plantas. Alguns exemplos práticos ilustram estas colocações teóricas. Estima-se que a redução da população dos pulgões do trigo pela ação de inimigos naturais seja superior a 90%. Também é aceito que o efeito mecânico de chuvas relativamente fortes, deslocando colônias inteiras de pulgões para o solo, diminui significativamente a infestação, enquanto temperaturas amenas e períodos com poucas chuvas favorecem estes insetos. Para corós que atacam o trigo e demais culturas do sistema de produção onde ele se insere já foi estimado que as doenças causadas por micro-organismos entomopatogênicos podem causar mortalidade próxima a 90%, provocando o colapso da população infestante. Ainda com relação a esta praga, sabe-se que em solos muito secos ou sob encharcamento, mesmo que temporário, ocorre grande mortalidade de larvas. Fungos causadores de doenças em insetos e em ácaros são muito mais efetivos no controle populacional de pragas, em condições de maior umidade, tanto do solo como do ar. A umidade é determinante, por exemplo, na ocorrência de doenças causadas por fungos em pulgões, assim como no

caso bem conhecido da incidência da doença-branca, causada por Nomuraea rileyi, em lagartas, especialmente na lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis). Entre os fatores climáticos, a temperatura tem uma participação muito significativa na regulação das populações de pragas. Resguardadas as exigências e os limites térmicos característicos de cada espécie de praga, quanto maior a temperatura, mais rápido é o desenvolvimento e vice-versa, com evidentes consequências na velocidade com que ocorre o aumento no número de indivíduos na população. Em várias culturas, as infestações de lagartas tendem a ser mais severas em temperaturas mais elevadas e períodos secos. Nesse sentido, também é bem conhecida a maior severidade do ataque de ácaros e de tripes, em épocas quentes e em períodos de estiagem. Em uma ótica mais abrangente, o que explica a distribuição estacional de pragas (ocorrência em algumas épocas do ano e em outras não), assim como a distribuição espacial (ocorrência geograficamente localizada, regionalizada ou generalizada) também são os fatores de natureza climática, reforçados pela ação dos inimigos naturais. Em qualquer dessas situações, porém, há que se considerar, ainda, que as práticas empregadas para manejo do solo, das culturas e do ambiente também interferem, e de forma muito determinante, na ocorrência de pragas. A título de ilustração, pode-se citar o efeito negativo da rotação de culturas sobre pragas não polífagas, mais espe-

cialistas; o efeito do não revolvimento e da presença de cobertura vegetal morta do solo os quais podem favorecer ou desfavorecer certas pragas; o efeito de cultivos sequenciais com a mesma espécie (safrinhas) ou espécies da mesma família vegetal favorecendo a continuidade de algumas pragas na área. Um exemplo clássico é o caso do raspador ou tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus) que, por não atacar o milho, é controlado pelo cultivo desta gramínea em rotação com a soja, mas de outro lado, por passar vários meses hibernando subterraneamente, é favorecido em sua biologia e sobrevivência pelo não revolvimento do solo. Em cereais de estação fria, principalmente em aveia-preta semeada no outono, tanto após milho como depois da soja, a incidência da lagarta Spodoptera frugiperda tem sido crescente. Por outro lado, essa aveia-preta, geralmente plantada para proteção do solo e para alimentação animal, constitui o hospedeiro onde se multiplicam pulgões que, posteriormente, poderão migrar para os cereais plantados no inverno. Também é fato conhecido que percevejos “barriga-verde” (Dichelops spp.) são favorecidos pela oferta de alimento oferecida por sucessões de culturas do tipo milho-milho, soja-milho ou milho-trigo associadas ou não à presença de palhada que utilizam como abrigo, viabilizando a permanência dos insetos na área. Conclui-se que cada espécie de praga adaptada a certo ambiente tem um potencial reprodutivo inato que lhe dá maior ou menor capacidade de aumentar em número. A expressão deste potencial é sempre parcial, pois sofre o efeito das condições ambientais naturais, principalmente dos agentes de controle biológico e das condições climáticas, e das práticas de manejo empregadas nos cultivos agrícolas. É o efeito interativo de todos estes fatores naturais e aplicados que, em última instância, vai determinar o crescimento da população de animais herbívoros e explicar a ocorrência de pragas nas C plantas cultivadas. José Roberto Salvadori, Passo Fundo/RS www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

23


Soja

Indução positiva De que modo os indutores de resistência e os fertilizantes foliares podem auxiliar no manejo de doenças na cultura da soja e os efeitos da sua associação ao uso de fungicidas

Germison Tomquelski

A

o entrar em contato com a superfície das plantas, os patógenos podem liberar substâncias como enzimas, toxinas e supressores de defesa. Por sua vez, as plantas possuem a capacidade de reconhecer estas susbtâncias, através de receptores presentes nas membranas plasmáticas de suas células, localizadas logo abaixo da epiderme. Caso ocorra o reconhecimento do patógeno por parte da planta, uma cascata de sinalização ativa genes de defesa no núcleo, induzindo a produção de proteínas de defesa e resultando em reação de resistência. Se não houver o reconhecimento do patógeno, a reação da planta será de suscetibilidade (Figura 1) (Jones & Dangl, 2006; Bent & Mackey, 2007). A resistência às doenças é determinada por fatores genéticos. No entanto, a capacidade de expressar a resistência pode ser afetada pela nutrição mineral. Para que a resistência genética

24

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

das plantas às doenças seja expressa de forma eficiente, a planta precisa estar em equilibrio fisiológico. Os elementos minerais são importantes para a manutenção deste equilíbrio e podem atuar de forma direta ou indireta sobre os mecanismos de defesa das plantas como ativadores, inibidores ou reguladores do metabolismo celular. Alguns dos mecanismos de defesa das plantas são preexistentes e podem atuar como barreiras físicas (espessura da parede das células, presença de cera na cutícula) ou químicas (produção de compostos fenólicos, alcaloides). Outros mecanismos de defesa são induzidos e permanecem latentes até que sejam ativados pelo contato com um agente indutor. Os indutores de resistência são agentes (bióticos ou abióticos) capazes de ativar respostas de defesa localizadas ou sistêmicas. Nestes casos, a resistência é dita induzida. Estes mecanismos

também podem ser físicos (formação de papilas, lignificação) ou químicos (produção de fitoalexinas, proteínas relacionadas à patogênese e espécies reativas de oxigênio) (Zambolin et al., 2012). Na resistência induzida, através da aplicação de um indutor de resistência (que, neste caso, pode ser um componente microbiano, um nutriente mineral ou um precursor de ácido salicílico ou jasmônico) a planta desencadeia sinais bioquímicos para o interior de suas células, que ativam genes envolvidos na resistência. Como resultado, há um aumento na capacidade de defesa das plantas, o que impede ou reduz a colonização por patógenos. Alguns indutores, dependendo da formulação, podem exibir ação direta (biocida) e indireta (indução de resistência). Apenas produtos que conferem proteção da planta através de indução são considerados, de fato, indutores de resistência.


Figura 1 - Esquema representativo das possíveis respostas da planta ao entrar em contato com patógenos

Nos últimos anos o interesse por alternativas de controle mais sustentáveis e mais duráveis vem crescendo. A menor eficiência de alguns produtos para controle de doenças de soja em função da resistência dos fungos aos fungicidas faz com que o uso de indutores de resistência seja uma ferramenta promissora de controle a ser utilizada em conjunto com o controle químico. Diversos trabalhos estão sendo desenvolvidos para avaliar a associação de agentes indutores de resistência com o uso de fungicidas, que vão desde o Acibenzolar-S-Metil (ASM) até o uso de fertilizantes foliares, principalmente fosfitos. Estes podem ativar a Resistência Sistêmica Adquirida (SAR) em plantas de soja. Tais ativações apresentam especificidade de ação, bem como atuam em mecanismos distintos de defesa (Carvalho et al., 2013; Neves & Blum, 2014; Bruzamarello et al., 2018). Alguns trabalhos relatam o efeito benéfico do silício, por exemplo, em reduzir a severidade de ferrugem da soja, possivelmente em função do aumento na atividade de glucanases, quitinases e compostos fenólicos (Cruz et al., 2012 e 2013, Rodrigues et al., 2009). O efeito de fosfitos também vem sendo bastante estudado, principalmente para controle de doenças

de final de ciclo e ferrugem. Trabalhos realizados na Cooperativa Central Gaúcha (CCGL) têm demonstrado efeito significativo do uso de indutores de resistência e/ou fertilizantes foliares no controle de doenças da soja. Wesp-Guterres (2018) ao avaliar o efeito de diferentes produtos com potencial de indução de resistência aplicados no estádio V5 (junto com herbicida) e em associação ao fungicida a partir do estádio V8 (picoxistrobina 200g/L + ciproconazol

80g/L na dose de 300ml/ha, no total de quatro aplicações de fungicida em intervalos de 14 dias), obteve ganhos em produtividade que variaram de três sacos/ha a até 14 sacos/ha, bem como incrementos significativos no controle da ferrugem da soja em relação ao uso do fungicida sistêmico em aplicações sequenciais (Figura 2). Com o objetivo de avaliar a resposta no controle e na produtividade de grãos com o uso de indutor de resistência em um programa de fun-

Figura 2 - A) Produtividade (sacos/ha) e B) controle de ferrugem da soja (%) obtidos nos distintos tratamentos realizados na cultivar BMX Lança IPRO. Médias de produtividade em colunas de mesma cor e médias de controle de ferrugem em colunas de mesma cor não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade de erro. Dados já publicados em Wesp-Guterres. 2018. Indutores de resistência - Uma nova abordagem no controle de doenças em soja. Boletim Técnico, n. 60. CCGL. ISSN 2317-7934. Cruz Alta, 2018

www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

25


Figura 3 - Efeito da associação de indutor de resistência com programa de fungicidas para controle de doenças na cultivar de soja M 5892 IPRO. Colunas de rendimento de cores distintas diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade de erro. Cruz Alta, 2018

Figura 4 - Efeito da associação de indutor de resistência com programa de fungicidas para controle de doenças na cultivar de soja M 5892 IPRO. Colunas de rendimento de cores distintas diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade de erro. Cruz Alta, 2019

gicidas contendo reforços, na safra 2017/2018 avaliou-se a associação de indutor nas cinco aplicações de um programa de fungicidas (V8 - Fluxapiroxade 167g/L + Piraclostrobina 333g/L e Clorotalonil 720g/L; R1 - Trifloxistrobina 150g/L + Protioconazol 175g/L e Clorotalonil 720g/L; R1 + 15 - Piraclostrobina 81g/L + Epoxiconazol 50g/L + Fluxapiroxade 50g/L e Fenpropimorfe 750g/L; R1 + 30 e R1 + 45 - Picoxistrobina 200g/L + Ciproconazol 80g/L e Fenpropimorfe 750g/L) realizado na cultivar M 5892 IPRO, semeada na primeira quinzena de novembro. Na ocasião, se observou um incremento no controle de ferrugem de 74% para 83%, além de acréscimo na produtividade de nove sacos/ha (Figura 3). No referido ensaio foram utilizados os adjuvantes e as doses recomendadas pelos fabricantes. A dose utilizada do indutor de 28 26

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

resistência foi de 100ml/ha. Já na safra 2018/2019, a associação de indutor foi avaliada em outro programa de fungicidas (V8 - Azoxistrobina 300g/kg + Benzovindiflupir 150g/kg e Mancozebe 750g/kg; R1 - Trifloxistrobina 150g/L + Protioconazol 175g/L e Mancozebe 750g/ kg; R1 + 15 - Picoxistrobina 200g/L + Ciproconazol 80g/L e Mancozebe 750g/kg; R1 + 30 - Picoxistrobina 200g/L + Ciproconazol 80g/L e Mancozebe 750g/kg). A primeira aplicação de indutor foi realizada no momento da aplicação da capina, no estádio V4, juntamente com o herbicida (mas sem o uso de fungicidas) e, posteriormente, em associação às aplicações de fungicida. No total, foram realizadas cinco aplicações do indutor. A exemplo da safra anterior foram observados incrementos significativos na produtividade de grãos

e no controle de ferrugem-asiática (Figura 4). Os nutrientes podem alterar a taxa de crescimento de plantas, participam na formação de barreiras mecânicas, na síntese de compostos de defesa, além de atuar como ativadores ou reguladores do metabolismo de plantas. A utilização de fertilizantes foliares pode influenciar de forma direta o controle de doenças em plantas, em virtude da presença de elementos minerais importantes nos processos de sinalização e ativação de respostas de defesa. Dependendo da fonte e concentração dos minerais, estes podem apresentar, ainda, potencial fungicida ou bactericida. A ação indireta também ocorre, já que plantas bem nutridas respondem melhor aos estresses ambientais, sejam eles bióticos ou abióticos. Os resultados da safra 2019/2020 corroboram a isso. Mesmo tendo sido uma safra de baixa pressão de doenças (severidade final média de ferrugem de 6% e de oídio de 15%) em função do déficit hídrico observado no Rio Grande do Sul, a utilização de diferentes produtos, classificados como indutores de resistência, fertilizantes foliares ou bioestimulantes na aplicação da capina e nas duas primeiras aplicações de fungicida (V8 e R1), no esquema (V4) Herbicida + indutor / (V8) Azoxistrobina 300g/kg + Benzovindiflupir 150g/kg e Mancozebe 750g/kg + indutor / (R1) Trifloxistrobina 150g/L + Protioconazol 175g/L e Mancozebe 750g/kg + indutor / (R1 + 15) Picoxistrobina 200g/L + Ciproconazol 80g/L e Mancozebe 750g/ kg / (R1 + 30) Fenpropimorfe 750 g/L + Mancozebe 750 g/kg, resultou em incrementos na produtividade que variaram de dois a até sete sacos/ha na cultivar de soja BMX Lança IPRO (Figura 5). Cabe salientar que em anos de maior pressão de doenças a tendência é de que produtos contendo maior concentração de cobre em sua composição apresentem melhor desempenho no controle de doenças e, consequentemente, na produtividade do que os resultados apresentados na safra 2019/2020.


Figura 5 - Efeito da associação de indutores de resistência com programa de fungicidas para controle de doenças na cultivar de soja BMX Lança IPRO. Colunas de produtividade de cores distintas diferem entre si pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade de erro. As doses utilizadas de cada produto estão apresentadas entre parênteses. Cruz Alta, 2020

tipo de indutor. Outro ponto é que em anos de baixa pressão de doenças ou em solos desequilibrados nutricionalmente, a utilização de indutores de resistência deve ser bem avaliada. Isto ocorre porque o processo de indução, embora seja natural, requer energia da planta. Neste sentido, o deslocamento de energia que seria utilizada para produção sendo focado em defesas, pode não se transformar em resultados que agreguem em produtividade. Em suma, na utilização de indutores Arquivo

É importante destacar que existem diferenças entre fungicidas e indutores de resistência. Fungicidas sítio-específicos ou multissítios possuem efeito direto sobre os patógenos. Indutores de resistência e fertilizantes foliares possuem efeito sobre as plantas, podendo torná-las mais resistentes em algumas situações. Desta forma, a utilização de fertilizantes foliares e indutores de resistência não substitui a utilização de fungicidas, mas pode ser uma estratégia na busca de controles mais eficientes de doenças, de forma sustentável, resultando em efeitos aditivos e sinérgicos aos proporcionados pelos fungicidas (Wesp-Guterres, 2018). O efeito visual da combinação de indutores de resistência e fungicidas pode ser observado na Figura 6. Considerando o momento de aplicação de indutores de resistência, o início na fase vegetativa é o mais indicado. Nesta fase, há melhor balanço energético e a planta atua como fonte, com energia disponível para formação de folhas. A partir do estádio reprodutivo o foco será a produção. Nesta fase, é importante que as defesas da planta já tenham sido ativadas de forma eficiente. Sendo assim, os indutores devem ser aplicados cedo no ciclo das culturas. Para a soja, parece haver a necessidade de reaplicação dos indutores de resistência ao longo do ciclo da cultura. O número de aplicações necessárias varia conforme o

de resistência para o manejo de doenças, deve-se considerar o estado nutricional da planta. Ainda, estes não substituem o uso de fungicidas multissítios protetores por se tratarem de produtos com funções distintas. Embora possa haver diferença entre cultivares, espécies e substâncias indutoras, por induzir resistência sistêmica, os indutores podem auxiliar na proteção da planta como um todo, auxiliar em doenças de difícil controle, onde fungicidas nem sempre têm ação eficiente e minimizar os problemas de resistência, quando em associação aos fungicidas multissítios. Estudos que avaliem o efeito de diferentes substâncias indutoras nas plantas, bem como a identificação de quais mecanismos são ativados em cada situação, devem contribuir para que esta ferramenta passe a ser mais utilizada no manejo de doenças de C plantas. Caroline Wesp Guterres, Gilmar Seidel, Elaine Deuner, Andiara Marchezan e Leonardo Graminho Tassi, Cooperativa Central Gaúcha (CCGL)

A

B

C

D

Figura 6 - Efeito visual da adição de indutores de resistência a programa de fungicidas para controle de doenças na cultivar de soja BMX Lança IPRO. A) Testemunha sem fungicida; B) Uso de fungicidas sítio-específicos; C) Uso de fungicidas sítio-específicos e multissítios e D) Uso de fungicidas sítio-específicos, multissítios e indutor de resistência. Cruz Alta, 2020

www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

27


Soja

Fatores de risco

Eduarda Grün

Thomas Martin

Os aspectos envolvidos nas falhas de estande e no fluxo de plantas daninhas causados por doenças fúngicas do solo em soja e como enfrentar estes problemas que afetam a produtividade da cultura

28

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

T

ratando-se da cultura da soja, alguns fatores podem ser considerados pilares que sustentam uma boa produtividade. Dentre esses pilares estão envolvidos controles de pragas, de doenças e de plantas daninhas, definição de uma correta cultivar, relações químicas e físicas do solo, definição da área, qualidade de sementes, definição de uma correta época de semeadura, bem como um eficiente processo de semeadura (Figura 1). No entanto, fatores decorrentes do ambiente também podem influenciar significativamente a produtividade, tais como temperatura, umidade, pluviosidade e outros. Nesse sentido, algumas adversidades surgiram na safra 2018/2019, relacionadas ao estabelecimento de plântulas, onde ocorreram tombamentos de muda. O tombamento de mudas ou Dumping off pode ocorrer em função de fatores fisiológicos, relacionados a altas temperaturas ou, ainda, em função de fatores fitopatológicos, como tombamentos causados por fungos ou pragas de solo. Os principais fungos causadores de tombamentos de muda estão relacionados a Rhizoctonia solani, Pythium spp. e Phytophthora sojae. Essas doenças geralmente se desenvolvem em solos úmidos ou alagados, com temperaturas médias variando de 15°C a 25°C, podendo sobreviver saprofiticamente, embora o milho (Zea mays L.) e algumas espécies do gênero Solanum L. e Ipomea L. possam servir como hospedeiros. O tombamento das mudas pode ocorrer uniformemente no sulco de semeadura ou, ainda, em pontos isolados. Os sintomas podem ser descritos como murchamentos da parte aérea, seguidos da necrose dos tecidos em que ocorre em poucos dias. A raiz principal também demonstra sintomas, apresentando um apodrecimento mole em sua extremidade. O manejo dessas doenças não é fácil, mesmo existindo cultivares resistentes, a maioria é suscetível a esses patógenos. O sistema de plantio direto (SPD), apesar de suas vantagens agronômicas, acaba sendo também o que contribui nesse caso, pois a presença de palhada proporciona uma manutenção da umidade, e muitas vezes a compactação favorece o acúmulo de água nas camadas superficiais do solo. A sucessão de culturas e o manejo incorreto de plantas daninhas também podem ser prejudiciais devido à presença de possíveis hospedeiros no sistema. No período de 15 de setembro a 15 de novembro, em Santa Maria (RS), verificaram-se temperaturas de solo bastante baixas (15°C a 23°C), associadas a uma elevada precipitação e umidade (Figura 2). A integração de todos os fatores pode ter desencade-


Figura 1 - Pilares que sustentam a produtividade

A

B

Figura 2 - Temperatura média e precipitação para a cidade de Santa Maria, no período de 15/09/18 a 15/11/18. As barras verticais indicam a pluviosidade e as linhas a variação da precipitação

Figura 3 - Distribuição de plântulas da cultivar Garra, representando espaçamentos falhos, duplos e aceitáveis, em lavoura comercial no município de Restinga Sêca, semeada em 16.11.2018

bem como perdas produtivas em função da época de semeadura. Após a tomada de decisão, embora a cultivar fosse capaz de recuperar os espaçamentos falhos devido à sua plasticidade morfológica, surgiram ainda problemas secundários relacionados ao fluxo de aparecimento de plantas daninhas, influenciado pelas ótimas condições de precipitação e temperatura do período. Nesse caso, como o estande de C plantas foi prejudicado, perdeu-se muito em controle cultural, pela capacidade

das plantas de soja realizarem o rápido fechamento entre fileiras. Pois além de os espaçamentos falhos serem uma ótima oportunidade para o estabelecimento de plantas daninhas na fileira de semeadura, o fechamento do dossel foi menos eficiente, favorecendo o surgimento de invasoras também nas entre linhas. Situações como essa exigem atenção especial, pois como grande parte do controle cultural por competição foi perdido, aplicações não programadas podem ser necessárias. Além disso, as plan-

Figura 4 - Tombamento das plantas (A e B) e falhas na população (C)

www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

29

Luan Bortoli

Thomas Martin

ado condições ideais para o desenvolvimento de patógenos de solo (Pythium spp. e Phytophthora spp.), bem como o surgimento de distúrbios fisiológicos ocasionados pelo excesso de umidade em locais específicos, onde a drenagem do solo é deficiente. Em uma propriedade localizada no município de Restinga Seca (RS), foi observada uma situação similar, onde o estande de plantas foi severamente modificado em função dos tombamentos ocorridos (Figura 3). Para a cultivar Garra, a densidade de semeadura estabelecida foi de 11 sementes por metro, porém, estabeleceram-se aproximadamente seis plantas por metro linear, com uma avaliação final que resultou em um número médio de espaçamentos falhos de 45%, duplos 21% e espaçamentos aceitáveis de 34%. Os sintomas apresentados nessa situação foram muito similares aos ocasionados pelos micro-organismos Pythium spp. e Phytophthora spp, observando-se um murchamento seguido de necrose nas plântulas afetadas (Figura 4). A tomada de decisão nessa situação, mesmo se tratando de uma perda de 48% na população de plantas, foi a manutenção da lavoura, por se tratar de cultivar com hábito de crescimento indeterminado, com grande potencial de compensação dos espaçamentos falhos. Além disso, o prognóstico climático indicou precipitações acima da média, optando-se por não se realizar a ressemeadura, evitando também possíveis custos adicionais, novo risco de falhas,


Fotos Thomas Martin

Figura 5 - Desenvolvimento de plantas daninhas a partir de falhas na semeadura na cultura da soja

tas daninhas, nessa situação, podem se desenvolver de maneira mais eficiente, aumentando seu tamanho e dispersão na lavoura. Nessas condições, elementos básicos para uma eficiente aplicação devem ser atendidos com mais vigor, tais como tecnologia de aplicação, condições de aplicação, produtos utilizados, horários de aplicação e, principalmente, estádio fenológico das plantas daninhas (Figura 5), pois muitas, como a corda-de-viola, somente são controladas de maneira eficaz em seus estágios iniciais de desenvolvimento. Aplicações aéreas de fungicidas não são eficientes contra essas doenças.

Atualmente o tratamento de sementes, geralmente composto por fungicidas dos grupos fenilamidas ou benzimidazol + ditiocarbamato, tem se mostrado eficiente. A descompactação e drenagem do solo, a rotação de culturas e a utilização de cultivares resistentes, quando disponíveis, são técnicas eficientes e também têm colaborado para o controle de Pythium spp. e Phytophthora spp nos sistemas de produção de soja. É importante que análises laboratoriais sejam realizadas a fim de confirmar a presença de patógenos, bem como sua natureza. Quanto às daninhas, caso seu fluxo ocorra inesperadamente em função dos

A

B

Figura 6 - Problemas na colheita decorrentes da presença de corda-de-viola (A e B) e impureza na massa de grãos (C)

30

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

danos causados ao estande de plantas, o recomendado é realizar o controle químico de maneira adequada, com atenção principalmente ao estádio fenológico, evitando possíveis resistências em função da idade da planta. E ao final do ciclo da cultura da soja, o controle ineficiente de plantas daninhas ainda pode causar problemas na colheita, em função de plantas como corda-de-viola, além de outras, alterarem a umidade e a limpeza dos grãos colhidos (Figura 6). C Thomas Newton Martin e Guilherme Almeida Arismendi, UFSM

C



Nutrição saudável A relação entre a oferta equilibrada de nutrientes minerais às plantas de trigo e a ocorrência de doenças bióticas na cultura 32

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

João Nunes Maciel

Trigo

T

reze elementos minerais são considerados essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas de trigo: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), boro (B), ferro (Fe), molibdênio (Mo) e cloro (Cl). Esses nutrientes são os mesmos que são essenciais para a grande maioria das plantas de importância agrícola, e a sua oferta para as plantas, em proporções equilibradas, é fundamental para o sucesso da produção e da qualidade tecnológica dessa produção que, no caso da cultura do trigo, são os grãos. O desenvolvimento das doenças causadas por agentes fitopatogênicos é afetado pela oferta às plantas desses elementos nutricionais, condição que pode viabilizar ou não a otimização das va-


Fotos Fabiano Daniel de Bona

lências agronômicas dessas plantas. Além disso, a falta ou o excesso de um determinado nutriente pode afetar a atividade de outros nutrientes, gerando consequências no metabolismo da planta. Destaca-se, ainda, que a disponibilidade de nutrientes para a planta tem relação direta com a concentração do nutriente no solo, sua forma e sua solubilidade, capacidade de assimilação por parte da planta e condições ambientais no local onde está estabelecida em relação a aspectos como pH, umidade e temperatura. O componente positivo do tema nutrição mineral de plantas, em relação às doenças bióticas, é o fato de que os efeitos prejudiciais causados pelos fitopatógenos podem ser bastante minimizados por meio da oferta às plantas de nutrientes em quantidades equilibradas. O fornecimento de nutrientes de forma balanceada favorece o crescimento normal das plantas e é também considerado relevante para seus processos de defesa contra os agentes fitopatogênicos. A deficiência, o excesso ou o desequilíbrio nas combinações de elementos nutricionais pode influenciar a reação das plantas à infecção pelo patógeno de forma a aumentar o nível de defesa ou favorecer a ocorrência de doenças. É possível afirmar que são relativamente escassas as informações sobre os efeitos da oferta de nutrientes minerais para as plantas em relação à ocorrência de doenças de natureza biótica. A cultura do trigo também pode ser incluída nesse contexto. Além disso, é comum observar nos trabalhos que tratam desse tema a ocorrência de dificuldades na avaliação dos dois tipos principais de variáveis mensuradas em tais trabalhos. Tais dificuldades estão relacionadas à acuracidade e/ou precisão da fenotipagem dos sintomas nas plantas e da determinação da concentração dos elementos químicos ofertados para estas plantas. No caso da medição dos nutrientes disponíveis para as plantas, o que é mais comum observar é que a medição dessa variável é realizada quantificando-se somente a dose do elemento químico adicionado ao solo, sem precisar o quanto realmente fica disponível ou é absorvido pelas plantas.

Deficiência de N

Deficiência de P

Deficiência de K

MACRONUTRIENTES

Os nutrientes N, P, K, Ca, Mg e S, absorvidos em quantidades mais elevadas pelas plantas (macronutrientes), possuem mais informações descritas na literatura de seus efeitos sobre as doenças em relação aos micronutrientes. Plantas bem nutridas com nitrogênio apresentam maior período de crescimento e desenvolvimento, tecidos

tenros e atraso na maturidade. Ao contrário, plantas deficientes apresentam menor crescimento, são mais frágeis e envelhecem precocemente, sendo assim mais suscetíveis ao ataque de patógenos. Nas duas formas de absorção do nitrogênio pela planta (nitrato, NO3-, e amoniacal, NH4+), a assimilação pode ocorrer de maneira diferente e exercer um efeito bem discrepante sobre as www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

33


Deficiência de S

Deficiência de B

Deficiência de Zn doenças. Existe diferença em relação à forma de aplicação, como no caso das podridões de raiz de trigo causadas por Fusarium spp., em que, na forma de NO3-, atua diminuindo o ataque do patógeno, e na forma NH4+, age de forma contrária. Quanto às doenças foliares em trigo, a adubação nitrogenada em doses elevadas aumenta a suscetibilidade das plantas, como observado no complexo 34

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

das ferrugens (Puccinia spp.). Também já foi verificado que a severidade de oídio (Erysiphe graminis f. sp. tritici) e de manchas foliares causadas por Septoria tritici aumenta com maiores taxas de fertilização nitrogenada. O P é necessário para a formação de compostos biorgânicos e ativo em processos metabólicos de vital importância para as plantas. Apesar disso, sua ação

na resistência às doenças é variável e parece ser pouco evidente. Na cultura do trigo, poucos estudos relatam a ação de P em relação à resistência das plantas às doenças. Nas raízes, uma maior concentração de P resulta na menor exsudação de aminoácidos, o que provoca a redução da atividade de patógenos e, assim, resulta na menor severidade da doença mal-do-pé (Gaeumannomyces graminis var. tritici). Entretanto, elevados níveis de P podem favorecer o aparecimento da mancha da gluma em trigo causada por Stagonospora nodorum. Nutriente conhecido por exercer mais influência sobre as doenças, o K aumenta a resistência das plantas à ação de penetração e impede o desenvolvimento de alguns patógenos a partir do aumento da espessura da parede celular, que gera mais rigidez dos tecidos e ajuda a promover rápida recuperação das injúrias. Plantas deficientes em K originam parede celular mais fina, enfraquecimento do colmo, menor crescimento radicial, acúmulo de fotossintatos nas folhas e de N não utilizado, deixando a planta mais sensível à infecção por fungos, bactérias e vírus. Dentre reações observadas, o K tem demonstrado efeitos na redução da severidade do complexo de ferrugens causadas por Puccinia sp. em trigo. Já foi observado que a aplicação de cloreto de potássio (KCl) reduziu a infecção de oídio e manchas foliares. O K torna a parede celular mais forte, menos propensa a organismos invasores. O Ca tem um papel crítico na divisão e desenvolvimento celular, na estrutura da parede celular e na formação da lamela média, sendo praticamente imóvel nos tecidos. Além de ser capaz de induzir resistência em plantas através do seu efeito no metabolismo de pectinas, o Ca modifica as pectinas hidrossolúveis e deixa-as resistentes às enzimas pectolíticas dos patógenos. Muitos fungos e bactérias invadem o tecido vegetal através da produção extracelular de enzimas pectolíticas como a poligalacturonase, que dissolve a lamela média. Os registros limitados dos efeitos do S em doenças de plantas refletem a grande oferta deste elemento na maioria dos solos. Com isso, o modo de ação do S ainda é incerto. Supõem-se que as


células fúngicas são permeáveis, podendo o elemento ser absorvido por tais agentes patogênicos e afetar a atividade respiratória do fungo. Outra hipótese é a de que a absorção do S altera o fluxo de elétrons na cadeia respiratória mitocondrial, tornando-o fungitóxico. O Mg atua na regulação de processos fisiológicos que influenciam na suscetibilidade ou resistência de doenças de plantas. Níveis equilibrados deste elemento auxiliam na integridade estrutural da lamela média e na produção de energia para funções de defesa e inativação de metabólitos patogênicos. Ao exercer um importante papel no transporte de fotossintatos no floema, sua deficiência provoca o acúmulo de sacarose e aminoácidos nas folhas, o que cria um ambiente propício ao ataque de vários patógenos.

MICRONUTRIENTES

No que se refere aos nutrientes essenciais requeridos em menores quantidades (micronutrientes), a sua oferta às plantas por meio da adubação nem sempre se reflete em produtividade,

mas no vigor das plantas e na tolerância a pragas e doenças e até na qualidade do produto colhido. Os micronutrientes são igualmente importantes como os macronutrientes no controle de diferentes doenças das plantas ao desempenharem um papel na redução da sua gravidade devido ao envolvimento na fisiologia e bioquímica da planta. Em geral, os micronutrientes inibem a penetração do patógeno, afetando a rigidez da parede celular e a integridade física da estrutura da membrana. Embora o papel do B nas plantas não seja bem claro, sua função parece estar muito relacionada a aspectos fisiológicos e bioquímicos. O B, assim como o Ca, promove a rigidez da parede celular e atua na permeabilidade da membrana, por isso pode suprimir a penetração de patógenos. A deficiência de B prejudica a integridade estrutural da membrana, que pode resultar na liberação de compostos orgânicos da célula para o exterior, tornando-se substrato para patógenos e sua disseminação. O Fe é um elemento que desempe-

nha um papel complexo nas interações planta-patógeno. Existe o registro de interações planta-patógeno em que o nutriente melhorou o crescimento do patógeno. Porém, o Fe é essencial para a síntese de fitoalexinas e indução de resistências às doenças. O Zn desempenha um papel importante na ativação de enzimas envolvidas em várias vias metabólicas, especialmente na síntese de proteínas e amido. A nutrição com Zn além de aumentar o vigor, reduz a severidade da podridão das raízes causada por fusarium em trigo, proporcionada pela melhora na integridade das membranas celulares e diminuição nos danos oxidativos provocados pela liberação de lipídios nas raízes. O Mn é um dos micronutrientes mais estudados pelo seu efeito sobre doenças e sua importância no desenvolvimento da resistência em plantas. O Mn desempenha um papel importante na biossíntese de compostos de lignina e fenol, sendo que, devido à sua baixa mobilidade no floema, contribui na lignificação da parede celular e serve de

Tabela 1 - Principais doenças causadas por agentes fitopatogênicos na cultura do trigo e sua relação com elementos minerais essenciais Nutriente Nitrogênio

Potássio

Fósforo Boro Zinco Cobre

Cloro

Manganês Silício

Doença Ferrugem linear Podridão raiz Oídio Mosaico do trigo Mancha amarela Ferrugens Oídio Mancha salpicada Mal-do-pé Mancha da gluma Oídio Ferrugens Podridão radicular Oídio Manchas foliares Ferrugem da folha Mal-do-pé Queima da folha Ferrugem linear Mal-do-pé Mancha da gluma Mal-do-pé Oídio Ferrugem da folha Giberela Oídio Brusone

Agente causal Puccinia striiformis f. sp. tritici Fusarium spp. Erysiphe graminis f. sp. tritici Wheat stripe mosaic virus (WhSMV) Pyrenophora tritici-repentis Puccinia spp. Erysiphe graminis f. sp. tritici Septoria tritici Gaeumannomyces graminis var. tritici Stagonospora nodorum Erysiphe graminis f. sp. tritici Puccinia sp. Fusarium solani Erysiphe graminis f. sp. tritici Septoria spp. Puccinia triticina Gaeumannomyces graminis var. tritici Pseudomonas syringae Puccinia striiformis f. sp. tritici Gaeumannomyces graminis var. tritici Stagonospora nodorum Gaeumannomyces graminis var. tritici Erysiphe graminis f. sp. tritici Puccinia triticina Fusarium graminearum Erysiphe graminis f. sp. tritici Pyricularia oryzae

Bibliografia consultada Efeito do nutriente* Devadas et al. (2014) Severidade aumenta com N Zambolim & Ventura (1993) Resistência aumenta com NO3Olesen et al. (2013) Severidade aumenta com N Stempkowski (2019) Relação de dependência não foi estabelecida Sharma et al. (2005) Resistência aumenta com K Sweeney et al. (2000), Agrios (2005) Resistência aumenta com K Cook et al. (1993) Severidade reduzida com KCl Cook et al. (1993) Severidade reduzida com KCl Graham & Menge (1982) P reduz a severidade Agrios (2005) P favorece doença Marschner (1995) Severidade reduzida com B Huber (1980) Deficiência aumenta severidade Grewal et al. (1996), Khoshgoftarmanesh et al. (2010) Aplicação de Zn aumenta tolerância Evans et al. (2007) Reduzido com aplicação de Cu Dutta et al. (2017) Reduzido com aplicação de Cu Dutta et al. (2017) Reduzido com aplicação de Cu Dutta et al. (2017) Reduz severidade Agrios (2005) Diminui ocorrência Graham & Webb (1991) Presença de Cl controla Graham & Webb (1991) Fertilizante c/ cloreto aumenta resistência Graham & Webb (1991) Fertilizante c/ cloreto aumenta resistência Krauss (1999) Lignina e suberina associados com Mn – conferem mais resistência Krauss (1999) Lignina e suberina associados com Mn – conferem mais resistência Vey (2017) Maior resistência com cloretos Morello et al. (2017) Si reduz incidência e severidade Bélanger et al. (2003) Si reduz a severidade Bergmann et al. (2017) Inibe crescimento in vitro

*Avaliação descrita no trabalho consultado.

www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

35


João Nunes Maciel

barreira contra a infecção por patógenos. Já foi verificado que Mn, em alta concentração nos tecidos, reduziu os sintomas de brusone em arroz. O cobre é componente de muitas enzimas importantes para a síntese da lignina e está associado à estrutura lipídica das membranas celulares. Em trigo, já foi constatado que aplicações à base de cobre no solo têm reduzido a quantidade de infecções de oídio. Além de ser benéfico no controle da ferrugem da folha, manchas causadas por septoria e mal-do-pé. Aplicações de cobre também diminuem a ocorrência de bacterioses no colmo de trigo causadas por Pseudomonas chicorii. Existem poucos relatos que associam o Mo à resposta das plantas a doenças. Não se sabe se o elemento desempenha uma função específica na proteção das plantas contra doenças. No caso do Cl, alguns trabalhos apontam que fertilizantes com cloreto promovem uma reação de resistência parcial contra os fungos: Puccinia sp., Gaeumannomyces graminis var. tritici e Septoria spp. A sua forma de ação não está clara, o que pode estar exercendo interação com outros nutrientes, como o Mn. É importante

A deficiência de nutrientes pode influenciar na reação das plantas à infecção por patógenos

destacar que o Cl desempenha papel relacionado à manutenção de níveis de salinidade de planta, e um estresse causado pelo seu desequilíbrio reduziria a tolerância aos patógenos. O silício (Si) não é considerado um nutriente essencial às plantas, mas se encontra em abundante concentração nas gramíneas. O elemento auxilia no controle alternativo ao ataque de pragas e doenças, através de mecanismos físicos e bioquímicos. O modo de ação e sua função no controle de doenças

ainda não estão totalmente esclarecidos, mas há indicações de que auxilia no fortalecimento das estruturas da parede celular e na ativação de compostos fenólicos, fitolaexinas e lignina, de enzimas de defesa e genes associados à resistência da planta. Em trigo e cevada, o Si deposita-se em células epidérmicas infectadas criando uma barreira física para evitar a penetração por hifas de fungos. Diante disso, estudos com silicato de potássio têm demonstrado a sua capacidade em reduzir a severidade de doenças em trigo, como a ferrugem da folha (Puccinia triticina). Avaliações sobre o efeito do Si em cultivares de trigo com diferentes níveis de resistência à giberela demonstraram que esse elemento pode reduzir ou atrasar a infecção do patógeno, diminuindo a incidência e severidade da doença. Além disso, foi demonstrada, in vitro, capacidade inibitória de crescimento micelial de Pyricularia oryzae, agente C causal da brusone. João L. Nunes Maciel, Marcos Kovaleski e Fabiano Daniel de Bona, Embrapa Trigo

Tabela 2 - Principais doenças bióticas da cultura do trigo e sua relação com elementos químicos utilizados na adubação Nutriente Nitrogênio

Potássio

Fósforo Boro Zinco Cobre

Cloro

Silício

36

Doença Ferrugem linear Podridão raiz Oídio Mancha amarela Ferrugens Oídio Mancha da gluma Mal-do-pé Mancha da gluma Oídio Ferrugens Podridão radicular Oídio Manchas foliares Ferrugem da folha Mal-do-pé Queima da folha Ferrugem linear Mal-do-pé Mancha da gluma Ferrugem da folha Giberela Oídio Brusone

Agente causal Puccinia striiformis f. sp. tritici Fusarium sp. Erysiphe graminis f. sp. tritici Pyrenophora tritici-repentis Puccinia spp. Erysiphe graminis f. sp. tritici Stagonospora nodorum Gaeumannomyces graminis var. tritici Stagonospora nodorum Erysiphe graminis f. sp. tritici Puccinia sp. Fusarium solani Erysiphe graminis f. sp. tritici Septoria spp. Puccinia triticina Gaeumannomyces graminis var. tritici Pseudomonas syringae Puccinia striiformis f. sp. Tritici Gaeumannomyces graminis var. tritici Stagonospora nodorum Puccinia triticina Fusarium graminearum Erysiphe graminis f. sp. tritici Pyricularia oryzae

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

Consequência na planta Severidade aumenta com N Resistência aumenta com NO3Severidade aumenta com N Resistência aumenta com K Resistência aumenta com K Resistência aumenta com K Resistência aumenta com K P reduz a severidade P aumenta severidade Decresce com aplicação de B Deficiência aumenta severidade Aplicação de Zn aumenta tolerância Reduzido com aplicação de Cu Reduzido com aplicação de Cu Reduzido com aplicação de Cu Reduz severidade Diminui ocorrência Presença de Cl controla Fertilizante com cloreto aumenta resistência Fertilizante com cloreto aumenta resistência Reação parcial ao cloreto Si reduz incidência e severidade Si reduz a severidade Inibe crescimento in vitro

Bibliografia consultada Devadas et al. (2014) Zambolim & Ventura (1993) Olesen et al. (2013) Sharma et al. (2005) Sweeney et al. (2000), Agrios (2005) Mann et al. (2004) Mann et al. (2004) Graham e Menge (1982) Agrios (2005) Marschner (1995) Huber (1980) Grewal et al. (1996), Khoshgoftarmanesh et al. (2010) Evans et al. (2007) Dutta et al. (2017) Dutta et al. (2017) Dutta et al. (2017) Agrios (2005) Graham e Webb (1991) Graham e Webb (1991) Graham e Webb (1991) Vey (2017) Morello et al. (2017) Bélanger et al. (2003) Bergmann et al. (2017)


Jerson Carús Guedes

Bioinsumos

Em ascensão

Bioinsumos incluem uma diversidade de produtos com base biológica para melhorar a atividade biológica, a fertilidade do solo, o crescimento e o desenvolvimento das plantas, reduzir os estresses bióticos e abióticos e principalmente melhorar a produtividade e a rentabilidade das lavouras. Esses produtos podem conter o micro-organismo vivo, componentes estruturais ou seus metabólitos

A

té recentemente, quando se falava em utilizar micro-organismos nas lavouras, praticamente só duas modalidades vinham à mente: a fixação simbiótica de nitrogênio e o controle de pragas por entomopatógenos. Mas a realidade vai muito mais além do que pensam agricultores, técnicos e até pesquisadores. Esse movimento está claramente demonstrado no mundo (USA, Canadá, Itália, Espanha, Polônia, China e Índia, entre outros) e mais recentemente o Brasil também ingressou nesse clube. Este movimento ficou claro, pelo crescente número de produtos comerciais registrados, pelo aumento exponencial do seu uso, pela convicção dos agricultores dos benefícios para a lavoura, pela redução dos custos com fungicidas, inseticidas e fertilizantes, pelo aspecto sanitário das lavouras, além da redução do impacto ambiental. Atualmente existem registrados no Brasil mais de 400 produtos biológicos para uso

na agricultura (Agrofit, 2021). A partir da década passada, ocorreu um nítido crescimento da pesquisa com micro-organismos, para uso agrícola, contemplando desde a obtenção e divulgação de resultados animadores, o interesse na produção de qualidade, seja industrial ou on farm, do desenvolvimento e experimentação em diferentes cultivos e regiões, bem como o registro comercial desses produtos, impulsionando, sobretudo, a confiança na sua eficácia e a sua adoção. A incorporação pelos agricultores, desta nova geração de produtos do bem, está transformando a agricultura brasileira, seus custos, impacto da atividade agrícola, além de melhorar o solo e valorizar as terras.

EFEITOS DOS BIOINSUMOS

Os bioinsumos de base microbiológica podem ser classificados de diferentes formas, de acordo com suas habilidades www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

37


e os efeitos positivos sobre as plantas. Para facilitar o seu entendimento, aqui serão classificados em: antiestresses bióticos e abióticos, indutores de resistência, protetores contra pragas e patógenos, estimulantes do desenvolvimento (fito-hormônios) e liberação ou desbloqueio de nutrientes (Figura 1) e fixação de nitrogênio (não será abordado). É importante registrar que essas classificações não são perfeitas, uma vez que tentam descrever e agrupar os fenômenos semelhantes e observados em categorias artificiais. Muitos micro-organismos atravessam as fronteiras artificiais destas subdivisões classificatórias.

ANTIESTRESSES BIÓTICOS E ABIÓTICOS

Resumidamente, os estresses das plantas são divididos em bióticos (ataque de insetos, nematoides ou patógenos) e abióticos (falta de água, de nutrientes e temperaturas extremas). Muitos destes

efeitos podem ser dissipados ou abrandados pelas interações plantas/micro-organismos, por exemplo Pseudomonas spp., Bacillus spp., Streptomyces spp., Rhizobium spp., Agrobacterium radiobacter, Trichoderma spp. e Burkholderia cepacia, entre outras.

INDUÇÃO DE RESISTÊNCIA

Produzida por micro-organismos que induzem a resistência sistêmica e persistente atuando no metabolismo vegetal, ao estimular os mecanismos de defesa da planta, por exemplo os promovidos por Bacillus subitilis, Pseudomonas spp. e Saccharomyces cerevisiae e Trichoderma harzianum, entre muitos outros.

PROTEÇÃO CONTRA PRAGAS E PATÓGENOS

A proteção contra pragas e patógenos se dá diretamente pela ação dos micro-organismos, atacando estes agentes, na competição dentro ou so-

Figura 1 - Ilustração de efeitos dos bioinsumos de base microbiológica e das interações com a plantas

38

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

bre a planta hospedeira e pelo efeito das substâncias secundárias produzidas por estes micro-organismos. Este grupo apresenta uma enorme diversidade de agentes nos grupos das bactérias e dos fungos, principalmente.

ESTIMULAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO (FITO-HORMÔNIOS)

As plantas podem ser estimuladas para o seu crescimento e desenvolvimento de forma química e biológica, mas a estimulação por meio de micro-organismos direta ou indiretamente vem ganhando grande relevância, a partir da possibilidade de adicionar estes produtos às culturas, mesmo em grandes extensões, com bioinsumos formulados principalmente com fungos e bactérias.

LIBERAÇÃO OU DESBLOQUEIO DE NUTRIENTES

Muitos micro-organismos têm a capacidade de solubilizar, quelatizar ou oxidar macro e micronutrientes, tornando-os disponíveis para as plantas. São exemplos disso: Rhizobium spp., Azotobacter chroococcum, Azospirillum spp., Pseudomonas fluorescens (siderophore), Aspergillus niger (avirulent), Trichoderma spp., Paecilomyces sp, Bacillus spp. Em condições naturais os micro-organismos do solo interagem com as raízes das plantas (obtendo nutrição dos exsudados), aumentando o sistema radicular e reduzindo os riscos de estresses (falta de água e disponibilidade de nutrientes). Também podem colonizar internamente as plantas, sem lhes causar danos (obtendo nutrientes) além de prover defesas contra patógenos e artrópodos e de fornecer hormônios vegetais que estimulam o crescimento e o desenvolvimento das plantas. Entretanto, todas essas habilidades que ocorriam naturalmente e sem a interferência do produtor e do técnico, como os micro-organismos mais eficazes e produtivos para cada cultura, a adoção na estação de cultivo, região agrícola apropriada, a escolha


Figura 2 - Ilustração de um BIO-NPK, com exemplos de micro-organismos presentes em fertilizante biológico comercial patenteado em alguns países. Modificado de Vyas et al. (2017)

da sucessão específica, podem agora ser manejadas pela seleção e introdução de bioinsumos específicos, para as demandas customizadas. Portanto os bioinsumos à base de micro-organismos (isolados ou combinados) e/ou de substâncias secundárias resultantes do seu crescimento, fermentação ou interações com as plantas e o ambiente são capazes de ser implantados nos cultivos e possivelmente otimizar seus desempenhos no campo agrícola. Além disso, a engenharia de microbiomas voltados ao campo, onde empresas e produtores trabalharão em conjunto, apresenta como uma nova ferramenta para melhoria das condições das áreas cultivadas. Essas novas tecnologias permitem um diagnóstico biológico de precisão da área, para um uso mais sustentável dos bioinsumos na construção e manutenção da biodiversidade agrícola.

PRODUTOS COMERCIAIS

Mundialmente há milhares de produtos formulados à base de micro-organismos para proporcionar benefícios às plantas, mas recentemente se destacam os bioestimulantes e os biofertilizantes. Geralmente à base de bactérias e eventualmente com fungos, esses produtos são capazes de reduzir estresse de plantas, induzir resistência às pragas ou proteger contra pragas e patógenos, estimular o desenvolvimento das plantas e fixar nutrientes (N) ou liberar nutrientes (P e K). Tais habilidades de atender indireta e biologicamente as demandas dos macronutrientes, como NPK, criaram recentemente produtos emblemáticos e ilustrativos da incrível capacidade dos bioinsumos à base de micro-organismos. São os BIO-NPKs, atualmente patenteados nos Estados Unidos e na Índia e comercializados em muitos países (Figura 2). (Vyas et al., 2017). Mas há muitos mais exemplos e alguns brasileiros, como os produtos com capacidade de solubilizar e disponibilizar fósforo para as plantas, por exemplo. Ou o lançamento mais recente de um produto à base de Bacillus capaz de reduzir o estresse causado pela falta de água sobre o milho e a

soja. Em ambos os casos, são produtos oficialmente registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), sendo distribuídos e comercializados no País. De outro lado, também há uma indústria em franco crescimento, na qual são produzidos bioinsumos on farm, a partir de kits proporcionados pela indústria nacional, que fornece equipamentos, meio de cultura e inóculos, além de prover o treinamento para a produção dos bioinsumos pelos próprios agricultores em suas propriedades. Logo, o que se vive atualmente no Brasil é uma visível efervescência virtuosa, desde a pesquisa institucional (universidades e institutos de pesquisa), experimentação e desenvolvimento dos produtos por empresas de todos os portes, mas sobretudo pela criação de novas empresas a partir de investimentos nacionais e estrangeiros. Também há um forte movimento com a criação de startups em incubadoras e Hubs de Inovação dentro e fora das universidades, por exemplo a Incubadora Pulsar e da Agência e Inovação e Transferência de Tecnologia (Agittec) no Parque Tecnológico da Universidade Federal de Santa Maria, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Estes ambientes ou ecossistemas são mais permeáveis à inovação e estão bem distribuídos pelo Brasil, com suas diferentes vocações e demandas. Todo este cenário tem também outras motivações, especialmente a clara vontade

do produtor de adotar o uso de bioinsumos que qualifiquem sua colheita, reduzam custos e atendam às demandas da sociedade. Isoladamente os bioinsumos de base microbiológica podem entregar estas maravilhosas habilidades, mas também podem ser combinados com as estratégias tradicionais de manejo, como a adubação convencional ou o uso de defensivos químicos, de forma integrada e mais efetiva, para obter-se melhores resultados. Suas respostas, no entanto, são muito mais promissoras, quando os bioinsumos são integrados às práticas conservacionistas, como o plantio direto e a conservação dos resíduos vegetais, o aumento da diversidade vegetal com o uso de coberturas vegetais diversificadas (mix de coberturas) e o uso moderado de agroquímicos. Esta é uma pequena amostra do novo e maravilhoso mundo dos bioinsumos de base microbiana, dos quais se conhece uma pequeníssima parte, mas que levarão a uma nova era de produção agrícola mais sustentável, C produtiva e rentável. Jerson Carús Guedes, Rodrigo Seminoti Jacques, Julio Pereira da Silva, Walter Boller, Marcio Antônio Mazutti e Jonas André Arnemann, UFSM

www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

39


Algodão

Integração de táticas Como a rotação de culturas, o uso de cultivares menos suscetíveis e o emprego de nematicidas, adotados de modo racional e em conjunto, podem auxiliar no manejo de nematoides das espécies reniforme e das galhas na cultura do algodoeiro

O

algodão é a fibra têxtil natural mais importante do mundo. Além da fibra, o algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é utilizado para a obtenção de óleo, ração (farelo e torta) para ruminantes, entre outras inúmeras aplicações. No Brasil a principal área de cultivo de algodão está lo-

40

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

calizada no Cerrado, onde se obtêm as mais altas médias de produtividade de fibra para condições não irrigadas no mundo. Embora se tenha uma evolução em produtividades, vários desafios tecnológicos podem gerar vulnerabilidades à sustentabilidade da cotonicultura. Problemas de natureza biótica, co-

mo pragas, doenças, nematoides e plantas invasoras, são fatores de risco que oneram os custos de produção e diminuem a rentabilidade. Os nematoides que afetam as plantas cultivadas, quando em determinadas densidades populacionais, causam diversas alterações nas plantas, muitas vezes com perdas na produtividade das culturas. Particularmente, os nematoides que afetam o algodoeiro são de extrema importância em razão das perdas provocadas e da necessidade de implementação de medidas preventivas ou curativas de controle. Três espécies de fitonematoides são causadoras de danos e perdas econômicas na cultura no Brasil, em ordem de importância: nematoide-das-galhas, nematoide reniforme e nematoide-das-lesões-radiculares. Outras espécies de nematoides também são relatadas na cultura do algodoeiro em outros países. Recentemente, a espécie Meloidogyne enterolobii foi relatada no Brasil, suplantando a resistência de cultivares lançadas como


Fotos Nelson Dias Suassuna

Massa de ovos de Meloidogyne incognita infectando raiz de algodoeiro

resistentes à M. incognita.

NEMATOIDEDAS-GALHAS

O nematoide-das-galhas do algodoeiro (Meloidogyne incognita Kofoid; White, 1919; Chitwood, 1949) é a espécie mais importante para a agricultura das regiões tropicais e subtropicais, pelas perdas causadas em várias culturas de importância econômica. Nas raízes de algodoeiro, são formadas galhas, dentro das quais há uma ou mais fêmeas do nematoide. Cada fêmea produz centenas de ovos, agrupados em uma massa gelatinosa, que, normalmente, fica fora das galhas. De cada ovo eclode um indivíduo vermiforme, chamado juvenil de segundo estádio (J2), que é a fase infectiva, com capacidade de locomoção no solo e nos tecidos das raízes. O J2 penetra todo o corpo no córtex radicular e estabelece o sítio de alimentação (cenócito) em células que sofrem processo de hipertrofia e modificação funcional. Com a formação do cenócito, o J2 começa a alimentação e torna-se obeso, perdendo a capacidade de locomoção. Paralelamente a esse processo, há o aumento do número e do tamanho das células próximas ao cenócito, resultando na formação das galhas. Na parte aérea, verifica-se alteração na coloração das folhas, que varia desde o amarelecimento

Ovos de Meloidogyne incognita

internerval do tipo “carijó” até o avermelhamento, abortamento das flores, diminuição de número e tamanho dos ramos, das folhas e das maçãs e, sob altas infestações, aceleração do ciclo vegetativo e morte das plantas. Por causa da distribuição irregular do nematoide-das-galhas, as plantas com os sintomas ocorrem igualmente de forma irregular, agrupadas em reboleiras. Estas podem ser pequenas, com poucas dezenas de plantas, nos primeiros dois anos ou três anos após a introdução do nematoide na área. Contudo, se tal área não for submetida a técnicas adequadas de manejo, é possível que o nematoide se dissemine a partir do foco inicial pela ação da erosão superficial ou da movimentação de máquinas. A densidade populacional do nematoide tem relação direta e proporcional ao teor de areia do solo: quanto mais areia, mais indivíduos de Meloidogyne, desde que haja plantas hospedeiras. Na cultura do algodão, as maiores perdas causadas por M. incognita ocorrem em solos com mais de 50% de areia e menos de 10% de argila. É comum a presença concomitante do nematoide-das-galhas e do fungo causador da murcha-de-fusário (Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum), situação que frequentemente origina plantas subdesenvolvidas e com sintomas de murcha e secamento de folhas.

Penetração de juvenil (J2) de Meloidogyne incognita em raiz de algodoeiro

Atuando sozinho ou em conjunto com F. oxysporum f. sp. vasinfectum, o nematoide-das-galhas causa perdas a partir de populações iniciais de 10 J2/200cm3 de solo na época do plantio das sementes de algodoeiro. Em condições favoráveis ao nematoide, populações iniciais acima de 50 J2/200cm3 são consideradas muito elevadas e estão associadas a perdas de 20% a 40% na cultura.

NEMATOIDE RENIFORME

O nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis Linford; Oliveira, 1940) é uma espécie polífaga, semiendoparasita, amplamente

Sistema radicular de planta de algodoeiro com diversas galhas causadas por Meloidogyne incognita

www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

41


Fotos Nelson Dias Suassuna

Sintomas na folha (“carijó”) provocados pela ação do nematoide Meloidogyne incognita em algodoeiro

disseminada nas regiões tropicais e subtropicais. As fêmeas imaturas, vermiformes, constituem-se no único estágio infectivo. Penetram apenas a parte anterior do corpo no córtex radicular, estabelecendo um sítio de alimentação. A partir de então, o nematoide torna-se sedentário e a parte posterior do corpo, fora da raiz, aumenta de tamanho, adquirindo a forma de um rim, razão pela qual essa espécie é conhecida como nematoide reniforme. A primeira referência de R. reniformis em algodoeiro no Brasil é de 1972. Desde então, essa espécie dispersou-se por várias lavouras dos estados de São Paulo e do Paraná, causando danos à lavoura. Em diversos levantamentos, constatou-se que o nematoide reniforme já ocorre em diversos municípios de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo. O nematoide reniforme apresenta características bastante peculiares que o diferencia dos demais nematoides que parasitam o algodoeiro. Entre essas características, destacam-se o fato de predominar

42

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

sobre estes em solos siltosos ou argilosos e necessitar de densidades populacionais mais elevadas que as do nematoide-das-galhas para causar perdas. Dois aspectos fazem ainda do

nematoide reniforme uma espécie bastante particular. O primeiro é sua elevada capacidade de sobrevivência no solo na ausência de plantas hospedeiras e em baixa umidade. Nessas condições, o nematoide entra em estado de anidrobiose, com maior capacidade de suportar a dessecação em relação a outras espécies, podendo ser facilmente disseminados por ventos fortes, que carreguem partículas de solo. O segundo aspecto refere-se à sua distribuição em diferentes extratos verticais do solo. R. reniformis pode ser encontrado em populações relativamente altas em profundidades de até 1,2m, sendo a população geralmente superior na profundidade de 20cm a 40cm, em comparação à de 0cm a 20cm. O sintoma mais evidente causado pelo nematoide reniforme é a redução do volume do sistema radicular. Outro sintoma, reflexo da infecção, pode ser visualizado na parte aérea como intenso subdesenvolvimento, semelhante ao que ocorre em virtude da deficiência nutricional ou de problemas de compactação do solo, com os quais

Planta de algodoeiro severamente afetada pelo nematoide Meloidogyne incognita


podem ser confundidos. Ainda, pode ocorrer o sintoma de alteração na coloração das folhas, principalmente o amarelecimento internerval na folha, conhecido por “carijó”, comum em plantas parasitadas pelo nematoide-das-galhas. Este último sintoma ocorre apenas em algumas cultivares muito suscetíveis ou em condições de altas populações do nematoide. Em razão disso, para uma diagnose precisa, é recomendável que se faça a análise do solo em áreas suspeitas. R. reniformis ocorre de maneira agregada no solo. Normalmente, as reboleiras são maiores que as causadas por outros nematoides. As perdas em produtividade são dependentes da densidade populacional do nematoide. No entanto, em comparação com o nematoide-das-galhas, o nematoide reniforme precisa alcançar densidades populacionais bem mais elevadas para causar danos econômicos. Estima-se que em densidades populacionais entre 400 nematoides/200cm3 de solo e 600 nematoides/200cm3 de solo, à época do plantio, o patógeno seja capaz de causar perdas em produtividade.

MANEJO

O manejo do nematoide-das-galhas em algodão tem como base a rotação de culturas, cultivares resistentes e nematicidas. Atualmente no Brasil estão disponíveis duas cultivares indicadas para áreas com infestação pelo nematoide das galhas: IMA 5801 B2RF e BRS 500 B2RF, a primeira com alta resistência e a segunda com resistência parcial ao patógeno. Apesar de ser a medida mais efetiva de controle, a rotação com plantas não hospedeiras é menos utilizada que os nematicidas. O amendoim é uma planta não hospedeira do nematoide-das-galhas e é a espécie muito usada em rotação com o algodão nos EUA. Outras espécies de plantas não hospedeiras, como Crotalaria spectabilis, também podem ser usadas para redução de populações do nematoide, além de trazerem outros benefícios para o solo. As gramíneas forrageiras Panicum maximum, Brachiaria humidicola, B. decumbens e B. brizantha são alternativas em áreas de plantio direto, por conjugar as características de produzir grande quantidade de matéria seca com a função de suprimir o nematoide no solo. Diante da inexistência de cultivares comerciais resistentes no Brasil, a rotação de culturas é a técnica mais viável e recomendada para ser empregada em áreas com o nematoide reniforme, embora sua elevada capacidade de sobrevivência seja um sério fator que dificulte o seu controle. Em favor dessa técnica, deve ser ressaltado que o nematoide não se reproduz e tampouco causa danos em várias espécies de importância econômica, como milho, sorgo e, principalmente, gramíneas forrageiras. Determinadas culturas utilizadas como cobertura vegetal no sistema plantio direto, em especial o capim-

-braquiária e o sorgo forrageiro, além de serem resistentes ao nematoide reniforme, permitem a redução da população do nematoide no período de entressafra, de forma mais intensa que o alqueive, proporcionando ganhos em produtividade do algodoeiro cultivado na safra seguinte. O controle químico com nematicidas pode ser aplicado via tratamento de sementes ou via sulco de plantio. Para aplicação em tratamento de sementes estão registrados os nematicidas fluensulfona, abamectina e fluopiram. Para aplicação no sulco de plantio estão registrados os princípios ativos terbufós, fenamifós, fluensulfona e cadusafós. É comum verificar incremento de produtividade nas áreas tratadas. Entretanto, a população final do nematoide pode não ser reduzida, o que torna essa prática pouco sustentável em médio e longo prazos, especialmente em virtude das altas doses necessárias. Portanto, a integração de todas as táticas de controle disponíveis é imprescindível para o manejo integrado de nematoides C na cultura do algodoeiro. Nelson Dias Suassuna, Embrapa

Plantas com sintomas de murcha-de-fusário em área com elevada população do nematoide-das-galhas

www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

43


Coluna Agronegócios

Bioinsumos na agropecuária

H

á um ano, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou o Programa Nacional de Bioinsumos (PNB). Mais que uma ação isolada, seu objetivo se insere na busca permanente de sistemas de produção agrícola sustentáveis, colocando o Brasil no mainstream de uma tendência inequívoca de ascensão dos insumos de base biológica para uso na agricultura, substituindo parcela ponderável de insumos químicos, que têm sido praticamente exclusivos ou, ao menos, dominantes. A importância crescente que os bioinsumos assumem na agropecuária foi bem capturada por uma enquete de amplitude global (agribusinessglobal. com/plant-health/biostimulants/state-of-the-industry-exclusive-survey-results-on-biological-products/). Entre os respondentes, 58% afirmaram haver incorporado produtos biológicos em seus portfólios e 21% pretendem fazê-lo no futuro próximo. Destarte, não é surpresa que o mercado tenha ultrapassado 5 bilhões de dólares em vendas (2020), projetando 10 bilhões de dólares para 2025, estimando-se crescimento expressivo até o final da década (20 bilhões de dólares). A enquete também averiguou quais as forças preponderantes que impulsionavam o mercado de biológicos em escala global: 72% dos entrevistados responderam que o consumidor teme a presença de resíduos de pesticidas químicos nos alimentos; 48% apontaram a importância do cumprimento da legislação ambiental; 37% atribuíram a políticas públicas que favorecem o seu registro e adoção; e diversas respostas reforçavam a necessidade de atender demandas das cadeias produtivas, impulsionadas pelos consumidores e movimentos da sociedade civil.

BIOINSUMOS NO BRASIL

Na esteira do crescimento global estima-se em 20 milhões de hectares a área tratada com produtos biológicos no Brasil (2020), um incremento de 23% sobre o ano precedente, com faturamento superior a R$ 1 bilhão. De acordo com o Programa Nacional de Bioinsumos (PNB),

44

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

os bioinsumos - ou insumos agrícolas de base biológica - são conceituados como produto, processo ou tecnologia de origem vegetal, animal ou microbiana destinado ao uso na produção, armazenamento e processamento de produtos agrícolas. Destinam-se ao uso nas lavouras, pecuária, aquicultura e florestas cultivadas, interferindo positivamente no crescimento ou desenvolvimento de plantas e animais. Também modulam os mecanismos de resposta de animais, plantas, micro-organismos e substâncias derivadas, resultando em benefícios ao produtor rural. O PNB contempla uma plêiade de insumos biológicos, com destaque para biopesticidas, bioestimulantes, biofertilizantes, inoculantes e probióticos. Os biopesticidas são sucedâneos de pesticidas químicos, utilizados no controle de pragas. Os bioestimulantes são utilizados com o objetivo de incrementar a produção, melhorar a qualidade de sementes ou estimular o desenvolvimento radicular, entre outras finalidades. Os biofertilizantes são produtos destinados à nutrição vegetal, substituindo fertilizantes químicos, normalmente derivados de processos que envolvem um substrato orgânico sobre o qual atuam micro-organismos que o transformam em substâncias que são absorvidas e aproveitadas pelas plantas. Inoculantes são velhos conhecidos dos agricultores, em especial os micro-organismos utilizados para fixação biológica de nitrogênio em soja ou feijão. Os probióticos constituem-se de micro-organismos vivos que, administrados em quantidade adequada,

Para facilitar o conhecimento e incentivar o uso de bioinsumos está disponível um aplicativo denominado Bioinsumos, produzido pela Embrapa, que pode ser baixado para celulares de qualquer plataforma, nas respectivas lojas, de forma gratuita

conferem benefícios para a saúde humana e animal, podendo ser bactérias ou leveduras. Ações governamentais anteriores já apontavam para um programa mais amplo, cabendo destacar a legislação pioneira sobre semioquímicos (Portaria 121/97 – Mapa) e sobre avaliação de produtos microbiológicos para uso fitossanitário (RDCs 194 e 195/2002 da Anvisa). A legislação sobre o tema foi sendo aprimorada ao longo do tempo, desaguando na IN 95/2020 do Mapa, que alinhava 47 especificações de referência para o registro de bioinsumos. A atual legislação prioriza a análise de bioinsumos frente a similares não biológicos. Assim sendo, o Brasil dispõe de um aparato regulatório moderno e em harmonia com as diretivas internacionais e normativas de países e blocos como os pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Entrementes, o suporte regulatório não é a única pilastra do PNB, que também incentiva e fortalece a Pesquisa, o Desenvolvimento e a Inovação de produtos de base biológica. Em consonância, contempla uma política pública clara de financiamento à produção e ao uso de bioinsumos, com a oferta de linhas de crédito e financiamento de até 30% dos custos de capital investidos na construção de biofábricas. Para facilitar o conhecimento e incentivar o uso de bioinsumos está disponível um aplicativo denominado Bioinsumos, produzido pela Embrapa, que pode ser baixado para celulares de qualquer plataforma, nas respectivas lojas, de forma gratuita. Como resultado dessas ações integradas, o Brasil procura posicionar-se de forma protagônica nessa megatendência dos sistemas de produção agropecuários, demonstrando uma vez mais sua capacidade inovativa e percepção estratégica de valorizar as demandas dos consumidores como forma de abrir novos mercados e consolidar os que já C dispõe. Décio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo e membro do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb)


Coluna Mercado Agrícola

Brasil bate recorde de safra e segue alimentando o mundo

O

Brasil, mesmo em plena pandemia, está colhendo uma safra recorde. Neste ano o País vai ultrapassar 105 milhões de toneladas exportadas de soja, farelo e óleo, o que deve resultar em mais de 50 bilhões de dólares em divisas. Outro segmento muito forte para 2021 será o de carnes, que entre frangos, suínos e bovinos tende a se aproximar de 18 bilhões de dólares em divisas. O milho tem previsão de 30 a 35 milhões de toneladas exportadas, com boas cotações neste ano e potencial

MILHO

A safra do milho de verão foi menor que a demanda, com pouco mais de 23 milhões de toneladas colhidas frente ao potencial de 30 milhões de toneladas, inviabilizado pela seca. Com pressão de alta nas cotações porque não havia estoques de passagem, os indicativos em abril chegaram à marca de R$ 100,00 por saca, com apelo positivo aos produtores da safrinha, que está nos campos e também já sofreu com estiagem e perda de potencial produtivo. Os produtores de milho seguiam dominando os negócios e devem permanecer assim em maio, quando ocorre o pico de entressafra, antes da chegada das primeiras lavouras da safrinha, que neste ano registra atraso. Com mercado firme e comprador, o cenário não deve mudar nas próximas semanas.

de alcançar 8,5 bilhões de dólares em divisas, ao que se somam o arroz, estimado em um milhão de toneladas exportadas, e o feijão, com 200 mil toneladas embarcadas. A safra de verão está praticamente fechada e os números finais indicam recorde de produção. Neste ano a produção ronda a casa de 270 milhões de toneladas e para 21/22 existe potencial de alcançar a marca de 300 milhões de toneladas e bater recorde de produção e de exportações. É o agro brasileiro alimentando o mundo.

SOJA O mercado da soja registra safra recorde, com mais de 135 milhões de toneladas colhidas em ano de cotações em forte alta em Chicago e grande apoio do dólar, também em elevação no Brasil. Desta forma os produtores colhem lucros e caminham para o melhor ano da história da soja até o momento. Com aproximadamente 90 milhões de toneladas já negociadas até abril, restam mais de 55 milhões de toneladas para serem comercializadas neste restante de ano, até fevereiro de 2022, quando chegará a nova safra. Mercado segue firme e com produtores com grandes chances de alcançar bons indicativos e manter boa lucratividade na soja desta temporada. FEIJÃO O feijão, nestes primeiros quatro meses do ano, registrou indicativos firmes e ago-

ra em maio revela a colheita da segunda safra, que teve perdas grandes devido ao clima seco que pegou parte das lavouras. O potencial que era de 1,5 milhão de toneladas agora dificilmente irá chegar a 1,2 milhão de toneladas. Com este cenário, o mercado seguirá firme com apoio importante do Auxílio Emergencial do governo, que deve ajudar na alimentação de uma grande parte dos brasileiros, favorecendo alimentos populares como o feijão. ARROZ Os produtores colheram a safra do arroz próxima de 11 milhões de toneladas. É uma boa safra, que irá ser menor que a demanda, o que resulta, já na colheita, em cotações acima de R$ 85,00 a saca no Sul e de R$ 110,00 a saca em Tocantins. São estimados níveis ainda maiores nestes próximos meses.

Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo registra um dos melhores anos da história para os produtores brasileiros, com indicativos na faixa de R$ 1.500,00 por tonelada neste momento e fôlego para se manter firme e estimular a nova safra nesta temporada. O trigo importado chega ao Brasil acima de R$ 1.600,00 por tonelada, e devido à disparada dos preços do milho no mercado internacional, muitos países aumentaram o uso do trigo em ração, diminuindo as ofertas do cereal para o consumo humano. Quadro que deve seguir neste ano e favorecer o novo plantio com aumento da área no Brasil, estimada na casa de 15% frente ao ano passado. EUA - Os produtores estão plantando a safra, após um começo com tempo seco e frio. Haverá crescimento de área de soja, que tende a avançar 1,8 milhão de hectares frente ao ano passado e ir para a faixa de 35,4 milhões de hectares. O milho, que o USDA estimou o plantio em 36,8 milhões de hectares, deve ultrapassar este número porque os produtores americanos estão muito otimistas com o cereal neste ano. Tendência de boa safra, desde que o clima permita. Nestes últimos dois anos os americanos perderam grande parte do potencial produtivo para intempéries e neste novo ano começaram com condições irregulares. CHINA - A China já importou 100 milhões de toneladas de soja

e tem fôlego para embarcar mais uns dez milhões de toneladas neste ano. Como líder mundial nas importações de alimentos, segue com potencial de passar de 30 milhões de toneladas de milho importado, dez milhões de toneladas de trigo e de pelo menos sete milhões de toneladas de arroz. Além dos grãos, crescem as importações do setor de carnes, liderando as compras de alimentos para manter estoques reguladores altos e assim não correr riscos de desabastecimento. ARGENTINA - Os argentinos perderam muito com o clima neste ano, com a safra de soja apontada abaixo de 45 milhões de toneladas e o milho pouco acima deste número. Na soma de ambos deve chegar a 12 milhões de toneladas perdidas para o clima seco. Agora temem perder, também, para o governo, que dá sinais de que pretende controlar as exportações e os preços para manter abastecido o mercado interno e segurar a inflação, à custa dos produtores. C

Vlamir Brandalizze Twitter@brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br Instagram BrandalizzeConsulting ou Vlamir Brandalizze www.revistacultivar.com.br • Maio 2021

45


Coluna ANPII

A

O fantástico mundo do solo

discussão sobre a vida do solo é muito antiga. Durante muitos anos, falar sobre um “solo vivo” era considerado quase como misticismo. As análises químicas e físicas pareciam ser suficientes para se fazer uma recomendação de fertilizantes químicos para atingir elevadas produtividades. Mas o tempo foi se encarregando de demonstrar que faltava algo mais para que, à elevada produtividade, se agregasse outra palavra, atualmente tão em moda, que é a sustentabilidade, isto é, preservar no solo a capacidade de manter, ao longo de anos de sucessivos cultivos, as elevadas produtividades cada vez mais necessárias devido ao aumento da população mundial e à escassez de terras agricultáveis. Uma nova onda de estudos da vida no solo abriu um vasto leque de estudos que estão levando à compreensão, cada vez mais validada, de que os organismos vivos no solo desempenham um papel fundamental para que uma área possa ser altamente produtiva e, ao mesmo tempo, manter-se neste estado de higidez por anos e anos, trazendo a possibilidade de se elevar a produção em uma mesma extensão de terra. Para se ter um parâmetro da ordem de grandeza da vida no solo: um hectare de solo pode conter quatro toneladas de organismos vivos. Uma colher de solo tem mais organismos vivos que seres humanos na terra. Mas não basta focar na quantidade dos micro-organismos: estudando suas funções, chega-se à conclusão de que a nutrição das plantas está fortemente ligada aos micro-organismos. A oferta de nutrientes para as formas assimiláveis para as plantas passa, quase sempre, por fases de transformação pelos micro-organismos. A fixação Biológica do Nitrogênio (FBN), frequentemente abordada nesta coluna, é um dos mais clássicos exemplos. O nitrogênio atmosférico encontra-se em forma indisponível para as plantas e é transformado em formas assimiláveis via micro-organismos, os chamados diazotróficos. Mas além da FBN, a oferta de fósforo também tem uma forte participação de micro-organismos. O fósforo aplicado sob a forma de fertilizante fica, em grande parte, retido nas partículas do solo, não sendo assimi46

Maio 2021 • www.revistacultivar.com.br

lado pelas plantas. Isto exige a adubação com quantidades de fósforo muito além da necessidade imediata das plantas, aumentando o custo para o agricultor e o uso desnecessário de um insumo finito. Bactérias e fungos desempenham um papel importantíssimo na ciclagem do nutriente. Através da produção de diversos ácidos orgânicos e enzimas, solubilizam o fósforo, tornando-o assimilável. As micorrizas, fungos que formam uma simbiose com o sistema radicular, são um clássico exemplo da interação benéfica de micro-organismos e plantas. Os fungos se alojam nas raízes, formando uma vasta rede que aumenta muito a capacidade de captação de água e de nutrientes. Estes fungos também produzem as substâncias que solubilizam o fósforo, aumentando a absorção do nutriente. É conhecido de longa data que plantas com uma boa quantidade de micorrizas apresentam maiores teores de fósforo em seus tecidos. Assim, o carbono, o enxofre, o ferro, o potássio e tantos outros nutrientes têm sua oferta mediada por micro-organismos. Mas a atividade da biota do solo vai muito além da oferta de nutrientes. Atualmente se estuda cada vez mais a interação dos micro-organismos com as raízes. Há uma verdadeira comunidade, com troca de substâncias, troca de sinais, com as bac-

térias e os fungos se beneficiando de exsudatos das raízes e as plantas usufruindo de diversas substâncias provenientes dos micro-organismos. Muitos agricultores já notaram em suas lavouras um maior volume de raízes das plantas quando se usa um inoculante com bactérias promotoras de crescimento vegetal. Estas produzem, ou induzem a produção, de hormônios que irão promover um maior número de raízes, bem como raízes mais compridas, juntamente com um crescimento mais rápido da parte aérea, tanto pela produção de hormônios, como em função de mais raízes, uma maior absorção de nutrientes e água. Muitos dos mecanismos de defesa da planta são produzidos, direta ou indiretamente, por fungos e bactérias, que produzem substâncias antagonistas a outros fungos e bactérias nocivos. Assim, estamos em uma nova era na agricultura: a era dos biológicos, seja por um melhor entendimento do papel dos organismos do solo, seja pelo maior uso do controle biológico. Somente com um entendimento mais profundo do verdadeiro sistema integrado que existe no solo será possível produzir cada vez mais e com C sustentabilidade. Solon Araujo, Consultor da ANPII

Complexidade do papel dos micro-organismos no solo em relação às plantas




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.