Desafios do Digital

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Destaques

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Índice

Desafios do digital

De importância inegável para o campo, a tecnologia digital enfrenta limites como a falta de conectividade nas propriedades rurais

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Lucro raspado

Como se dá a distribuição dos danos por tripes,

Diretas

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Informe - Fertilizante Pack Seed

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Caruru resistente a glifosato

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Tripes em soja

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Capa - Desafios da tecnologia digital

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Doenças emergentes em soja

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Temperatura na calda de mancozeb

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Cobertura, nematoides e produtividade

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Plataforma Digital Granular Insights

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Coluna Agronegócios

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Coluna Mercado Agrícola

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Coluna ANPII

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inseto com aparelho bucal do tipo raspador, cuja incidência explodiu nas lavouras de soja

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Influência térmica

A importância da

Expediente

temperatura no preparo

Fundadores: Milton Sousa Guerra, Newton Peter e Schubert Peter

da calda de mancozeb Cultivar Grandes Culturas • Ano XX • Nº 250 Março 2020 • ISSN - 1516-358X Crédito de Capa: Wenderson Araujo/CNA Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com contato@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

REDAÇÃO • Editor Gilvan Dutra Quevedo

COMERCIAL • Coordenação Charles Ricardo Echer

• Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca

• Vendas Sedeli Feijó Miriam Portugal

• Design Gráfico e Diagramação Cristiano Ceia

CIRCULAÇÃO • Coordenação Simone Lopes

• Revisão Aline Partzsch de Almeida

• Assinaturas Natália Rodrigues

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

• Expedição Edson Krause


Diretas Aplicação foliar

A Linha Max foi o destaque da Spraytec na 30ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, no município de Capão do Leão, no Rio Grande do Sul. A empresa é especializada em fertilizantes para aplicação foliar, aplicação via solo, tratamento de sementes e inoculantes. “Também apresentamos os resultados de experimentos com nossos produtos para pastagem, sorgo, soja e milho”, informou o analista de comunicação, Carlos Rodrigo Vasques.

Inseticida

A Ihara lançou na 30ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz o inseticida Zeus, que possui efeitos de choque e residual contra percevejo da soja. Desenvolvido a partir da recém-aprovada molécula Dinotefuran, a novidade faz parte de uma linha de produtos feita especialmente para atender às necessidades do manejo de pragas das mais diversas culturas. "A Ihara oferece ao produtor rural uma solução completa para o manejo de pragas das mais diversas culturas. A presença nestes eventos nos permite estar cada vez mais perto do produtor rural e contribuir com a melhoria da produtividade da lavoura e o aumento da qualidade em todo o processo produtivo", avaliou o gerente de Marketing Regional, Ricardo Hendges.

Contra o estresse

A Compass Minerals esteve presente com a divisão Plant Nutrition na 30ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, com soluções para estresse hídrico. Em produtos, a marca apresentou o fertilizante Concorde, cujo objetivo é aumentar o metabolismo da planta, a velocidade de absorção e translocação de nutrientes. Outro destaque da marca foi a tecnologia Translok. “Fornece um balanço de nutrientes específicos para a fase de enchimento de grãos, auxiliando na translocação de reservas na fase de maturação dos órgãos de acúmulo, reduz estresses, garantindo muito mais energia para a planta e conversão da energia produzida durante todo o ciclo da cultura em grãos mais pesados e uniformes”, explicou o gerente Regional Sul da Compass Minerals, Andrei Goergen.

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Corteva

A Corteva Agriscience apresentou, na 30ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, o herbicida Loyant, à base do ingrediente ativo Rinskor Active, para controle pós-emergente das principais plantas daninhas resistentes na cultura do arroz, como capim-arroz, ciperáceas e folhas largas/aquáticas. Em soja, o principal destaque foi o novo inseticida Expedition, produzido a partir do ativo Isoclastactive, indicado para controle de percevejos. A marca destacou ainda o Vessarya, fungicida para o controle de doenças como ferrugem, oídio e doenças de final de ciclo (DFCs), tais como a mancha-alvo e mancha-de-cercospora.


Licenciadas

A Nidera Sementes levou para a 30ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, cultivares de soja licenciadas para o Rio Grande do Sul. Os destaques foram o lançamento da NS 5700, com alto teto produtivo nos mais diferentes ambientes, e da NS 6010, com alto potencial produtivo e estabilidade.

Ricardo Hendges

Percevejos

Portfólio

A Syngenta levou para a 30ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz o herbicida seletivo Dual Gold, indicado para o controle pré-emergente de plantas infestantes, e também o inseticida Proclaim, contra lagartas de difícil controle, além dos fungicidas Cypress e Bravonil para controle da ferrugem e de outras doenças. Eduardo Becker, da Syngenta, destacou ainda o programa Manejo Consciente, que tem por objetivo orientar os produtores no controle de doenças e na sustentabilidade dos sistemas agrícolas. De acordo com Becker, para a cultura do arroz os destaques foram Cruiser Opti, Priori Top e Actara para controle de pragas, doenças e percevejo, respectivamente.

A Ihara lançou durante o Show Rural Coopavel, em Cascavel, no Paraná, o inseticida Zeus, que contém a molécula Dinotefuran e age principalmente no combate a percevejos nas culturas de soja e milho. A empresa completa 55 anos de atividade em 2020. De acordo com o gerente de Marketing Regional da Ihara, Ricardo Hendges, o efeito de choque e o residual prolongado estão entre os diferenciais do produto.

Marcelo Salles

Silagem

A KWS lançou durante o Show Rural Coopavel, o projeto Silo Mais. A iniciativa consiste em levar até os produtores a oportunidade de aferir a qualidade da silagem produzida. O projeto Silo Mais conta com laboratório móvel, que oferece análise bromatológica da silagem, lembrou o diretor regional da KWS para Milho e Oleaginosas na América do Sul, Marcelo Salles.

Manejo

A UPL apresentou na 30ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz os fungicidas Tridium, Unizeb Gold e Triziman. Para o manejo de pragas e de resistência de inseticidas, a marca destacou os produtos Perito e Sperto. E também a sua linha de herbicidas composta por Triclon, Select, Trunfo e Kennox. Especificamente para a cultura de arroz irrigado o destaque foi para os herbicidas Triclon, Stampir BR e Stam 800 WG. www.revistacultivar.com.br • Março 2020

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Fungicida

Reconhecimento

Durantea 32ª edição do Show Rural Coopavel, Vilmar Berto, representante comercial da Nidera Sementes, encerrou suas atividades profissionais na companhia. Berto participou do Show Rural desde a primeira edição. A Nidera reuniu o time e os familiares do colaborador para uma homenagem. André Franco, líder do Negócio de Sementes da Syngenta Brasil e Paraguai, agradeceu o trabalho e a dedicação do homenageado.

A Basf apresentou durante o Show Rural Coopavel seu novo fungicida para o controle de doenças na soja. Trata-se do Aumenax, solução que conta com dois ingredientes ativos: fluxapiroxade (carboxamida) + oxicloreto de cobre (inorgânico), que agem no combate à ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) e a mancha-alvo (Corynespora cassiicola). O diretor de Soluções de Agricultura da Basf para a região Sul do Brasil, Cássio Kirchner, explica que o novo fungicida possui efeitos protetor e curativo no manejo de doenças, devendo ser posicionado como primeira aplicação nas lavouras.

Cultivares

A Tropical Melhoramento e Genética (TMG) apresentou, no Show Rural Coopavel 2020, três lançamentos de soja para o Sul do Brasil, além de seis cultivares já consolidadas do portfólio. Nas áreas de plantio da empresa na feira, todas as cultivares foram semeadas em duas épocas, setembro e outubro, demonstrando o posicionamento adequado e o potencial de cada uma. Os lançamentos são TMG 7058IPRO, TMG 2165IPRO e TMG 2364IPRO.

Cássio Kirchner

Estande

Com um estande dinâmico e que chamou a atenção durante a feira, a Spraytec marcou presença no Show Rural 2020. Palestras a cada 30 minutos e uma exibição prática de aplicação com drone, foram alguns dos diferenciais do espaço. “Profissionais renomados nacionalmente contribuíram com essa interessante troca de informações durante os cinco dias de evento”, avaliou o analista de comunicação, Carlos Rodrigo Vasques.

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Presença

Durante o Show Rural Coopavel a Syngenta apresentou produtos, serviços e tecnologias que buscam auxiliar o agricultor a enfrentar os principais desafios inerentes à jornada de produção. Entre os destaques, esteve a marca NK, de sementes de soja e milho, relançada oficialmente em janeiro de 2020. “A marca volta totalmente revitalizada, com foco em rentabilidade, produtividade, resultado, qualidade e segurança da produção”, destacou o líder do Negócio de Sementes da Syngenta Brasil e Paraguai, André Franco.

Iniciativas

Tolerância

Durante a Abertura da Colheita do Arroz, a Adama lançou, em parceria com a Rice Tech, a tecnologia Full Page, que oferece tolerância a herbicidas do grupo químico das Imidazolinonas (IMIs). Esta característica confere ao produtor uma maior flexibilidade e segurança na aplicação dos produtos. A marca também destacou o inseticida Galil para controle de percevejos, o fungicida Cronnos para o manejo da ferrugem-asiática, além do herbicida Max Ace para combate de plantas daninhas resistentes aos modos de ação utilizados atualmente.

Plataformas

A FMC destacou no Show Rural Coopavel iniciativas focadas no produtor rural e alicerçadas em pesquisa para a oferta de soluções de manejo. Os programas Avante e Vamos Falar de Soja estão entre as ações da companhia no evento. Segundo o gerente de Desenvolvimento de Mercado da FMC, Jedir Fiorelli, as duas iniciativas têm por objetivo orientar os produtores e apresentar soluções de manejo embasadas nas recomendações de pesquisadores especialistas nas áreas de fitopatologia, entomologia e também no controle de plantas daninhas.

A Corteva levou para o Show Rural Coopavel diferentes destaques divididos entre as plataformas de Proteção de Cultivos, Sementes e Digital. Na plataforma de Proteção de Cultivos os destaques ficaram por conta do sistema Enlist, para manejo de plantas daninhas, e do lançamento do inseticida Expedition para o manejo de percevejos, explicou o gerente de Marketing, Leonar Trombine. Em sementes foram apresentados materiais com as tradicionais marcas Brevant, Pioneer e Cordius. A plataforma Granular foi o destaque digital da marca durante a feira.

Jedir Fiorelli

Leonar Trombine

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Área

A Basf apresentou na 3ª Abertura da Colheita do Arroz uma área experimental com o híbrido que será lançado no mercado brasileiro na safra 2020/2021. A novidade terá a tecnologia Clearfield, utilizada em aproximadamente 80% das áreas de arroz do país para o controle de plantas daninhas no cultivo. Nos próximos anos, os híbridos de arroz também vão contar com a tecnologia Provisia, para o controle de plantas daninhas de folha estreita. Outro destaque da Basf no evento foi o herbicida Aura 200, uma ferramenta eficiente para o manejo efetivo de plantas daninhas, com ênfase no capim-arroz, e de outras importantes gramíneas de difícil controle.

Max Fernandes

Sementes

Campanha

A Adama levou dinâmicas interativas e o lançamento da campanha #BomDeSoja para os visitantes do Show Rural Coopavel. “Ao vincular a campanha a algumas das pessoas que são consideradas referência na cultura agrícola, evidenciamos aqueles que fazem a soja acontecer no Brasil, inspirando e valorizando toda a cadeia”, opinou a gerente de Publicidade e Promoção da Adama, Lydia Damian. A Adama antecipou aos produtores os diferenciais de um novo inseticida, já em fase de registro, contra lagartas, e o fungicida Cronnos, contra a ferrugem-asiática.

Nutrição

Flávio Soares Muniz

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A Alltech Crop Science levou para o Show Rural Coopavel, em Cascavel, no Paraná, o Agro-Mos, solução composta por nutrientes, aminoácidos e polissacarídeos resultantes de processos bióticos de fermentação. Produto tem por objetivo aumentar a resistência natural da planta. A companhia, que completa 40 anos de atividade, destacou ainda a longa parceria de negócios com a Coopavel, frisou o gerente de Vendas do Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, da AlltechCrop Science, Flávio Soares Muniz.

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A Nidera Sementes levou para o Show Rural Coopavel três novos híbridos de milho e lançou quatro cultivares de soja. Os materiais são adaptados para cultivo em regiões como o Sudoeste do Paraná. O gerente de Marketing da Nidera, Max Fernandes, lembrou que um dos diferenciais das sementes de milho da Nidera consiste na tecnologia VIP para o controle de insetos da parte aérea.

André Angonese

Venda Assistida

A Bayer levou para o Show Rural Coopavel, em Cascavel, no Paraná, seu modelo de Venda Assistida, com foco no fungicida Fox Xpro, registrado para o manejo de doenças em soja, milho e trigo. O objetivo é acompanhar o uso do produto ao longo de toda a safra de soja. Segundo o consultor de Desenvolvimento de Mercado na região, André Angonese, já são mais de mil áreas da companhia espalhadas pelos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul.



Clearfield no trigo

A Biotrigo e a Basf lançaram no Show Rural Coopavel a cultivar de trigo Tbio Capricho CL, a primeira no Brasil com a tecnologia Clearfield. O material é tolerante ao herbicida pós-emergente Raptor, do grupo químico das imidazolinonas, o que facilita o controle de plantas daninhas como azevém e aveia. O sistema Clearfield chega ao trigo após mais de uma década de utilização na cultura do arroz.

Milho

A Forseed levou para o Show Rural Coopavel, em Cascavel, no Paraná, novidades em híbridos de milho. Entre os destaques esteve o FS 575 PWU, precoce, voltado para alto investimento. O novo híbrido contém a tecnologia Power Core Ultra para auxiliar no manejo de plantas daninhas e pragas, com bons resultados de tolerância em relação ao ataque da cigarrinha (Dalbulus maidis), enfatizou o Líder de Marketing da Forseed, Fabiano Vieira Romero.

Fabiano Vieira Romero

Híbridos

Daninhas

O manejo de plantas daninhas resistentes como buva e capim-amargoso foi um dos principais destaques da UPL durante o Show Rural Coopavel. Os programas Pronutiva, de saúde vegetal, e Aplique Bem, realizado em parceria com o Instituto Agronômico (IAC), desde 2007, também mereceram destaque no estande da marca. Em herbicidas a UPL apresentou produtos como o Triclon, Trunfo e Select, informou o gerente de Marketing para Culturas Extensivas, da UPL, Diego Arruda.

A Morgan lançou no Show Rural Coopavel três híbridos de milho. Os materiais MG 408, MG 593 e MG 618 foram mostrados em detalhes aos visitantes, no estande da marca. A tecnologia Power Core Utra, com quatro proteínas que conferem tolerância a lagartas e outras duas tolerantes a herbicidas, também mereceu destaque da empresa, lembrou o gerente de Desenvolvimento de Mercado da Morgan para o Sul do Brasil, Vinícius Leonel.

Vinícius Leonel

Participação

Diego Arruda

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A Helm do Brasil apresentou no Show Rural Coopavel seu portfólio de herbicidas, fungicidas e inseticidas para culturas como soja, milho, algodão, feijão, citros, café, amendoim e tomate. Um dos produtos em destaque foi o fungicida multissítio Previnil. A empresa também apresentou a plataforma digital SKYFLD, voltada a facilitar o gerenciamento das áreas de plantio, com capacidade de coletar e processar os dados do campo, ajudando a avaliar e otimizar a performance da lavoura, do plantio à colheita.



Informe Marcelo Madalosso

Tecnologia promissora Além de nutrir as plantas com N, P, K, S, Co, Mo, Zn, B, enraizantes e aminoácidos, o fertilizante Pack Seed mostra potencial no manejo de nematoides através da indução dos mecanismos de defesa das plantas

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s nematoides estão entre os principais limitantes da produtividade da soja no Brasil, com prejuízos anuais estimados em aproximadamente R$ 16 bilhões. Dentre os nematoides que causam os maiores prejuízos, estão os nematoides das galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita) e o das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus). O controle destes nematoides é dificultado, principalmente pela ampla distribuição

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geográfica e pela gama de hospedeiros, o que dificulta a escolha de materiais para rotação de culturas. Desta forma, nos últimos anos, tem crescido o interesse por métodos alternativos de manejo. Pesquisas realizadas ao longo dos últimos anos, em parceria entre Spraytec e Universidade, mostraram que o produto Pack Seed apresenta potencial para o controle de nematoides, por ativar mecanismos de

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defesa na planta, que melhoraram a lignificação da parede celular, reduzindo sua penetração e a reprodução. Pack Seed é uma complexa mistura de compostos de natureza bioquímica diferente 100% biodegradável para tratamento de sementes. É um produto diferenciado, pois além dos tradicionais Co e Mo, fornece macros e micronutrientes, enraizantes e aminoácidos. É uma formulação completa para tratamento de sementes, e uma alternativa promissora no manejo de nematoides, aplicado isolado ou associado a outros produtos. Como todos os métodos de controle apresentam limitações, é necessária a investigação para compor o manejo integrado, como o estudo da nutrição de plantas, uma vez que o conhecimento do modo de ação de cada produto pode explicar se agem isoladamente ou em sinergia, otimizando o controle de nematoides em plantas.

EXPERIMENTO

Um experimento foi conduzido na Universidade Estadual de Maringá, no município de Umuarama, no Paraná, com o objetivo de valiar a tecnologia Pack Seed para controle direto ou ativação


Figura 1 - Atividade específica da enzima peroxidase expressa em Δabs 470nm min/mg de proteína em raízes de soja tratadas ou não tratadas com Pack Seed, sete e 14 dias após a semeadura e inoculação com Meloidogyne javanica

Figura 2 - Atividade específica da enzima fenilalanina-amônia-liase expressa em mg de ácido trans-cinâmico h mg proteína em raízes de soja tratadas ou não tratadas com Pack Seed, sete dias após a semeadura e inoculação com Pratylenchus brachyurus e Meloidogyne javanica

de resistência a Meloidogyne javanica e Pratylenchus brachyurus, identificar se o produto inibe a penetração desses nematoides no sistema radicular, se reduz a reprodução, se tem efeito direto na eclosão e avaliar a produção de enzimas de resistência como peroxidase e fenilalanina amônia-liase em plantas tratadas com Pack Seed. O experimento foi conduzido em casa de vegetação, em delineamento inteiramente casualizado, com seis repetições. Inicialmente, sementes de soja tratadas e não tratadas com Pack Seed foram semeadas em recipientes contendo 700ml de solo: areia (1: 1), previamente autoclavado (120ºC/2h). No mesmo orifício da semeadura foi introduzido o inóculo de uma população de 500 espécimes de P. brachyurus, ou dois mil ovos de M. javanica, distribuídos em um volume de solução de 4ml. Os inóculos foram obtidos de populações puras dos nematoides, mantidas em soja, em casa de vegetação, por um período de dois meses, sendo extraídos das raízes pelo processo de extração proposto por Coolen e D’Herde. As variáveis analisadas foram penetração e fator de reprodução (10, 15, 20 e 25 dias após semeadura), eclosão de nematoides (sete dias após a semearura) e produção de enzimas de resistência (sete e 14 após semeadura). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância a 5% de probabilidade de erro e em caso de significância o efeito do Pack Seed foi avaliado

pelo teste T a 5% de significância.

RESULTADOS

O Pack Seed reduziu a penetração de M. javanica e P. brachyurus nas raízes de soja, sendo 78% para o número total de M. javanica e 59% para P. brachyurus. Pack Seed causou redução de até 70% na eclosão de juvenis de M. javanica e mortalidade superior a 83% para ambos os nematoides. O produto promoveu aumento na produção da enzima peroxidase aos sete e 14 dias após semeadura (Figura 1) e de proteínas totais aos sete dias para ambos os nematoides. Pack Seed aumentou a enzima fenilalanina-amônia-liase aos sete dias após semeadura para ambos os nematoides (Figura 2). Essas enzimas estão relacionadas aos mecanismos de defesa da planta, principalmente no enrijecimento da parede celular, o que dificulta a penetração, a movimentação e o sítio de alimentação dos nematoides. Houve alta (83%) mortalidade de juvenis. O produto, além de nutrir as plantas com N, P, K, S, Co, Mo, Zn, B, enraizantes e aminoácidos para a máxima expressão de seu potencial produtivo, é uma alternativa promissora no manejo de nematoides por induzir os mecanismos de defesa das plantas. C

Fotos Paulo Santos

Cláudia Regina Dias Arieira Universidade Estadual de Maringá

Dentre os nematoides que causam os maiores prejuízos à cultura da soja estão nematoides das galhas da espécie Meloidogyne javanica

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Plantas daninhas

Cresce o número de lavouras com caruru resistente ao herbicida glifosato no Sul do Brasil. O primeiro passo para enfrentar o problema é identificar corretamente a espécie, através do monitoramento de plantas com falhas de controle

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número crescente de lavouras com falhas de controle do caruru com o herbicida glifosato preocupa tanto os produtores como pesquisadores da área. Em 2015, no Mato Grosso, ocorreu o primeiro relato de caruru resistente ao glifosato no Brasil. Tratava-se da espécie Amaranthus palmeri, considerada planta exótica no Brasil e que exigiu medidas severas de controle, como o isolamento das áreas e vistorias periódicas para eliminação dessas plantas. Desde então, as falhas de controle do caruru foram tratadas com receio pelos produtores com “medo e preocupação” de que essas plantas fossem da espécie A. palmeri. Atualmente, A. palmeri é considerada uma praga quarentenária presente, isolada no estado do Mato Grosso. Em 2018 no Rio Grande do Sul ocorreu o segundo relato de caruru resistente ao glifosato, agora para outra espécie, o Amaranthus hybridus (Oliveira et al, 2019), espécie conside-

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rada nativa do Brasil. Em janeiro de 2019, na região dos Campos Gerais, no Paraná, o setor de Herbologia da Fundação ABC identificou plantas de A. hybridus com suspeita de resistência ao herbicida glifosato e aos inibidores da ALS. A partir de então, foi realizado um trabalho a campo pela Fundação ABC, que constatou que as doses do herbicida glifosato de 500 até 16 mil gramas de equivalente ácido por hectare não ocasionaram controle dessas plantas de caruru, mesmo na dose maior do herbicida (Figura 1). Amostras das plantas foram coletadas e encaminhadas para diferentes institutos e laboratórios do País, que as identificaram como sendo da espécie Amaranthus hybridus, que coincidentemente apresentavam as mesmas características dos biótipos de caruru inicialmente

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ESPÉCIES DE CARURU

O gênero Amaranthus possui aproximadamente 60 espécies no mundo, encontradas principalmente em regiões Fundação ABC

Alerta nas lavouras

encontrados no Rio Grande do Sul e dos existentes na Argentina. No Brasil, recentemente foram relatados 46 casos de plantas de caruru, da espécie A. hybridus, com suspeita de resistência aos herbicidas glifosato e inibidores da ALS (Figura 2). A maioria dos casos relatados está na região Sul do País, principalmente no Rio Grande do Sul, em que as sobras de caruru com as aplicações de glifosato em pós-emergência da soja começaram a ser mais frequentes nas últimas três safras. Na safra 2019/20 essas sobras chamaram mais a atenção devido à frequência maior que nas safras anteriores. Destaca-se que houve um período de estiagem de meados de novembro ao final de dezembro de 2019 que pode ter contribuído para o aumento das falhas observadas. As possíveis hipóteses para a introdução e disseminação das populações encontradas nessas áreas até o momento, são que sementes oriundas de regiões infestadas tenham entrado através de: comercialização de sementes de culturas de cobertura de inverno (principalmente azevém), aquisição de gado bovino em leilões, esterco animal, rações, pássaros e trânsito de máquinas agrícolas. Desde então, o número de casos com falhas de controle de A. hybridus ao herbicida glifosato vem aumentando nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.



Fotos Fundação ABC

Figura 1 - Plantas de Amaranthus hybridus aos 30 dias após a aplicação de doses dos herbicidas glifosato e clorimuron (aplicação realizada sobre plantas com até 6 folhas)

Figura 2 - Levantamento realizado na safra 2019/20 pelas instituições de pesquisas: Fundação ABC, CCGL, Coamo, Embrapa, UEM, UFSM e UPF, que mostram a dispersão da espécie de caruru Amaranthus hybridus em áreas com suspeita de resistência aos herbicida glifosato e inibidores da ALS

tropicais e subtropicais. No Brasil, a espécie hybridus é encontrada praticamente em todos os estados. Amaranthus hybridus, conhecido como caruru-roxo, caruru-bravo ou simplesmente caruru, é uma planta anual, monoica, herbácea, com caule ereto, que apresenta grande variabilidade de cores, desde o verde até o vermelho-púrpura. As folhas são simples lanceoladas, dispostas de forma helicoidal, com inflorescências apresentando flores masculinas e femininas e a maturação ocorrendo com plantas de 20cm a até 2m de altura (Kissmann & Groth, 1999). Quanto ao hábito de crescimento, é uma infestante considerada agressiva, com ciclo fotossintético C4, que lhe proporciona grande capacidade de competição por água, luz e nutrientes, principalmente quando comparada com culturas C3, como a soja, o feijão e o algodão (Carvalho et al, 2015). Essa espécie de caruru tem capacidade de produzir de 200 mil sementes por planta a 600 mil sementes por planta, sendo a dispersão feita por meio de sementes, podendo ser disseminadas por máquinas agrícolas, canais de irrigação, insumos, esterco animal, pássaros, mamíferos, além de culturas de cobertura. A similaridade entre as espécies torna difícil sua identificação a campo, porém alguns aspectos podem ser levados em consideração na diferenciação das espécies de Amaranthus. Como no Brasil existem relatos de resistência do glifosato a duas espécies, o foco neste artigo será a diferenciação. A marca d’água em forma de “V” invertido pode estar presente em algumas plantas de Amaranthus hybridus (Figura 3), porém também é uma característica presente nas plantas de A. palmeri. O pecíolo maior que o limbo foliar (Figura 4), a presença de pelo na ponta das folhas (Figura 5) e o crescimento das folhas em “roseta” (Figura 6) também são características que podem ocorrer tanto nas plantas de A. hybridus como de A. palmeri. Então, a diferenciação das espécies ocorre quando as plantas estão no florescimento, pois A. palmeri é considerado uma planta dioica, com a presença de flores masculinas e flores femininas em plantas distintas, enquanto A. hybridus é uma planta monóica com a presença de flores masculina e feminina ocorrendo na mesma inflorescência (Figura 7).

MOTIVO DE PREOCUPAÇÃO

Figura 3 - Marca d’água em forma de “V” invertido presente em plantas de Amaranthus hybridus

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Na Argentina existem casos de resistência dessa espécie ao herbicida glifosato desde 2013, e atualmente, há populações de A. hy-


bridus que apresentam resistência múltipla aos herbicidas inibidores da EPSPS (glifosato), ALS (chlorimuron-ethyl) e Auxinas (2,4-D e dicamba) (Heap, 2020). Com isso, a aplicação de glifosato na pós-emergência da soja RR ou do milho RR se mostra ineficaz, sendo necessária a utilização de outros herbicidas, tanto na pré como na pós-emergência da cultura, onerando o custo de controle. Uma das características que facilitam a rápida infestação de Amaranthus na lavoura é a alta capacidade de produção de sementes (Figura 8), sendo que uma única planta pode produzir até 600 mil sementes. Essas sementes são pequenas, esféricas e não apresentam estrutura de dispersão pelo vento (Foto 9). A temperatura média ideal para germinação dessas sementes é de 20°C e pode ocorrer mesmo na ausência de luz, com isso os meses de maio a julho podem apresentar baixos fluxos de germinação; o pico de emergência de Amaranthus hybridus ocorre nos meses de setembro-outubro, se estendendo com menores fluxos entre dezembro e fevereiro. Conhecer esse fluxo de emergência é uma ferramenta importante para definir as melhores estratégias de controle e, nesse caso, o uso de herbicidas residuais na pré-emergência da soja será a base de uma recomendação para controle dessa planta daninha. Outro ponto que deve ser considerado é que durante a safra irão ocorrer vários fluxos de emergência (Figura 10), de acordo com a oferta de água no campo. Com isso é possível ter plantas daninhas em diferentes estádios de desenvolvimento, desde planta adulta até plântulas, que apresentam crescimento rápido, de 2cm a 3cm por dia, e podem atingir até 3m de altura (Figura 11). Novamente com essas informações percebe-se que além do herbicida residual, é preciso realizar mais um controle na pós-emergência da cultura, e esse irá depender do estádio da planta daninha. E qual o impacto dessa planta daninha nas lavouras de soja? O caruru-de-macha, espécie Amaranthus viridis, é controlado facilmente com glifosato. Os biótipos suscetíveis de Amaranthus hybridus e de Amaranthus palmeri também eram manejados com glifosato. Já para os

Figura 4 - Pecíolo maior que o limbo foliar, outra característica presente nas plantas de Amaranthus hybridus

Figura 5 - Presença de pelo na ponta das folhas de Amaranthus hybridus

Figura 6 - Plantas de Amaranthus hybridus com crescimento das folhas em “roseta”

biótipos resistentes ao herbicida glifosato, o controle em pós-emergência ocorre apenas em plantas muito pequenas (duas folhas a seis folhas), o que irá dificultar e encarecer o custo de controle na soja RR. A presença dessa planta daninha nas culturas do milho e da soja pode reduzir o rendimento em até 80%, além de inviabilizar a colheita mecânica. Outra

informação relevante é que as plantas possuem hibridação natural e, portanto, pode ocorrer transferência da resistência a herbicidas de A. hybridus para outras espécies de caruru. É importante ressaltar que nas áreas já infestadas se deve evitar a disseminação dessas sementes para áreas vizinhas, principalmente pelo trânsito

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de máquinas e animais, e, sobretudo, para as áreas ainda não infestadas, que se realize o monitoramento permanente das lavouras, e caso sejam observadas plantas de caruru com falhas de controle ao herbicida glifosato, entrar em contato imediato com as áreas de pesquisa das instituições que elaboraram esse comunicado: Fundação ABC, CCGL, Coamo, Embrapa, C UEM, UFSM e UPF. Luis Henrique Penckowski, Evandro H. G. Maschietto e Eliana Fernandes Borsato, Fundação ABC Fernando S. Adegas, Embrapa Soja Lucas S. O. Moreira, Coamo Mario A. Bianchi, CCGL Mauro A. Rizzardi, UPF Rubem S. Oliveira Jr., UEM Sylvio H. B. Dornelles, UFSM Figura 7 - Flores masculina e feminina presentes na mesma inflorescência, característica que pode ser utilizada para diferenciar a espécie Amaranthus hybridus

Figura 9 - Sementes de Amaranthus hybridus

Figura 8 - As plantas de Amaranthus hybridus apresentam inflorescências longas, com mais de 30cm

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Figura 10 - Plantas de Amaranthus hybridus podem atingir mais de 3m de altura em solos de alta fertilidade

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Figura 11 - Dentro da lavoura podem ser observadas plantas de Amaranthus hybridus em diferentes estádios de desenvolvimento, devido à emergência ocorrer em vários fluxos


Soja

Lucro raspado Como se dá a distribuição dos danos ocasionados por tripes nas plantas de soja e de que modo realizar o manejo destes insetos diminutos que possuem aparelho bucal do tipo raspador e cuja incidência explodiu nas lavouras durante a última safra Mauricio Pasini

A

cultura da soja todos os anos é submetida a um amplo espectro de insetos-praga, que ocasionam danos diretos e indiretos, reduzindo a produtividade das cultivares comercializadas na hora do plantio. Na safra atual, em função das variáveis climáticas, principalmente da estiagem recente, alguns grupos de insetos tiveram seu

desenvolvimento favorecido, agravando assim seus danos para cultura. Entre os insetos-praga que mais causaram dor de cabeça a produtores e técnicos nesta safra estão tripes, insetos diminutos com alto potencial biótico e de ciclo curto (em torno de 15 dias), sendo que uma das fases iniciais se dá no solo e o restante na planta (Figura 1). O adul-

to pode viver até 45 dias, o que corresponde a uma sobreposição de gerações, agravando ainda mais o problema para a cultura infestada. O dano característico deste grupo de insetos relaciona-se com seu aparelho bucal, do tipo raspador, especialmente de folhas, pois ao alimentarem-se, acabam promovendo o rompimento das

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Figura 1 - Fases de desenvolvimento de tripes. Fonte: https://www.ipmlabs.com/thrips-damage

células, o que provoca sintomas de raspagem, deixando o limbo foliar com aspecto “prateado”. Trabalhos realizados anteriormente demonstram queda de 45% na fotossíntese, 36% na condução estomática e 30% na transpiração em uma densidade populacional de 73 tripes/folíolo posicionados no estrato superior de plantas de soja em estádio R5. Além do dano causado pelo comportamento alimentar, tripes podem também causar danos indiretos (esses menos recorrentes) através da transmissão de viroses, como o vírus da queima-do-broto-da-soja. Ainda merecem destaque as relações entre C. brasiliensis e plantas daninhas localizadas em áreas adjacentes a lavouras, fato determinante para a sobrevivência destes indivíduos durante períodos desfavoráveis (entressafras). Danos por C. brasiliensis variam entre 10% e 25% de queda na produtividade final. Trabalhos envolvendo este grupo de insetos denotam linhagens resistentes a inseticidas à base de espinosade, elevando ainda mais sua importância econômica. Tabela 1 - Cultivares de soja avaliados. Ibirubá, Safra 2018/2019 Cultivar BRS 5601(1) NA 5909(2) NS 5445(3) SYN 1561(4)

Grupo de Maturação 5.6 6.2 5.4 6.1

Tecnologia RR RG RR2 IPRO RR2 IPRO

(1) Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. (2), (3) Nidera Sementes Ltda. (4) Syngenta Seeds.

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Figura 2 - Esquema da partição de plantas e folíolos de soja em diferentes estratos (superior, médio e inferior) para avaliação dos danos de tripes em diferentes cultivares

EXPERIMENTO

Para melhor compreender como se distribuem os danos deste grupo de insetos na cultura da soja, foram avaliadas no município de Ibirubá, no Rio Grande do Sul, quatro cultivares (Tabela 1) durante a safra 2018/2019, todas conduzidas conforme as recomendações técnicas e em um tamanho de parcela de 100 metros quadrados para cada cultivar. Para cada cultivar, foram selecionadas de maneira aleatória dez plantas de soja, sendo cada planta dividida em três partes (estratos: inferior, médio e superior) e retirados 30 folíolos por estrato de planta, totalizando 90 folíolos por cultivar avaliada (Figura 2). Todas as cultivares avaliadas estavam em estádio R5. Desta forma, os dados foram analisados primeiramente entre estratos das cultivares avaliadas. Posteriormente os folíolos avaliados foram divididos em três partes iguais (estratos: superior, médio e inferior) para avaliar a concentração dos danos em folíolo. Os dados foram analisados estatisticamente a um nível de 5% de probabilidade de erro.

RESULTADOS

Houve diferenças significativas para concentração dos danos de tripes entre os estratos de todas as cultivares avaliadas. Em todas as cultivares foi observada maior concentração dos danos para os estratos médio e superior, sendo que nas cultivares BRS5601 e NA5909 o estrato superior foi o

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que apresentou maior concentração dos danos. Para NS5445 e SYN 1562 o estrato médio apresentou maior concentração dos danos (Figura 3). A distribuição de tripes entre os estratos das plantas de soja relaciona-se com sua preferência por ambientes com umidade relativa e radiação solar adequadas para sua sobrevivência. Desta forma, populações de tripes posicionam-se nos estratos médio e superior, onde irão encontrar tais condições mencionadas. Entretanto, vale ressaltar que uma parte do desenvolvimento deste inseto se dá no solo (Figura 1), sendo assim, novas infestações iniciam-se no estrato inferior. Desta forma, tecnologias que atinjam o chamado “baixeiro” da soja, além de reduzirem com eficiência populações já estabelecidas, contêm de forma eficiente novos fluxos populacionais desta praga. Na análise dos folíolos, observou-se que em todas as cultivares avaliadas os danos concentraram-se principalmente no estrato inferior, seguido pelo médio e o superior (Figura 4). Esta distribuição dos danos está relacionada diretamente com a posição do inseto no folíolo, em que procura as partes com maior fluxo de seiva na planta, desta forma gasta menos energia ao se alimentar e obtém maior quantia de nutrientes, o que facilita a manutenção das populações e do seu alto potencial biótico. De maneira geral, os resultados de-


monstram que plantas em estádio R5 apresentaram maior concentração dos danos nos estratos médio e superior. Entretanto, deve-se tomar cuidado quanto às populações iniciais, pois começam no estrato inferior, esgotando os recursos ali disponíveis, passando a sobrar maior quantidade de recursos para novas populações nos estratos médio e superior. Outra situação a ser observada é a relação direta entre área foliar existente nos estratos médio e superior em comparação ao estrato inferior. Por ser maior nos estratos médio e superior, a população pode tender a concentrar-se nestas áreas, causando maior quantidade de danos. Sendo assim, além de variações microclimáticas, a quantidade de recurso disponível e a época de infestação impactam na distribuição destes insetos ao longo da planta. É preciso esclarecer que não há intenção em comparar qual cultivar apresentou maior severidade, pois para tal deve ser avaliado um número de cultivares próximo ou igual ao que se tem disponível no mercado. Desta forma, busca-se somente conhecer em que parte da planta e do folíolo se concentram os danos de tripes na cultura da soja, focando em um manejo com base no comportamento do indivíduo.

ESTRATÉGIAS DE MANEJO

No manejo fitossanitário de tripes, o pressuposto monitoramento deve ser considerado não somente na cultura da soja, mas também na antecessora. Havendo densidades populacionais, as

medidas de supressão podem ser tomadas a partir da dessecação. Outra oportunidade reside no tratamento de sementes. Com o estabelecimento da cultura da soja, ações de monitoramento devem ser realizadas a partir das folhas cotiledonares. Havendo densidades populacionais (um a dois tripes por planta) recomenda-se efetuar a ação de supressão populacional. Destaca-se que o início de ações de supressão a partir da fase reprodutiva é temerário, muito em função das populações de tripes estarem distribuídas nos diferentes terços das plantas. Nessa fase, embora sejam executadas ações de supressão, as populações remanescentes, concentradas principalmente nas partes mediana e inferior, reinfestam a parte superior do dossel vegetativo, gerando uma falsa impressão de manejo. Diante disso, havendo densidades, recomenda-se estabelecer as estratégias de supressão já na fase vegetativa. Embora inicial, estima-se que este inseto tem potencial de gerar perdas C significativas que perfazem os 15%.

Eduardo Engel Esalq/USP Intagro Pesquisa e Desenvolvimento Mauricio P. B. Pasini Unicruz Intagro Pesquisa e Desenvolvimento

Figura 3 - Concentração dos danos de tripes em função do estrato da planta em diferentes cultivares de soja avaliadas. Ibirubá, RS, safra 2018/2019

C

Figura 4 - Distribuição dos danos de tripes em função do estrato do folíolo em diferentes cultivares de soja. Ibirubá, RS, safra 2018/2019

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Capa

Desafios do digital A importância das tecnologias digitais no campo é inquestionável. Mas sua adoção enfrenta limites como a conectividade presente em apenas 40% das propriedades rurais e o conservadorismo do setor. Há que se ter em mente ainda o fato de que não existe solução mágica para todos os problemas, e que é necessário cuidado para não perder o foco diante de tantas ofertas e opções

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A

produção global de alimentos terá de aumentar em mais de 70% até 2050, para que seja possível alimentar uma população estimada em nove bilhões de pessoas, sendo mais de 95% concentrada em regiões urbanas. Atualmente é produzido alimento suficiente para 12 bilhões de pessoas, porém mais de 900 milhões ainda vivem em insegurança alimentar (FAO, 2013). São muitos os gargalos envolvidos nesse processo, como a restrição na oferta de água, as incertezas climáticas, as dificuldades no manejo agronômico, as limitações edáficas e as perdas observadas em todas as etapas, tanto da cadeia de produção como na distribuição dos alimentos. Se a produtividade média das principais culturas for mantida nos valores atuais, para produzir o alimento necessário para suprir a demanda será preciso Wenderson Araújo/Sistema CNA


mais que duplicar a área de produção. O aumento na eficiência genética das culturas, a manutenção do cenário atual de dano, causado por pragas e correções no processo de distribuição, estão entre algumas das medidas mais relevantes. Ao longo da história, diversas tecnologias foram agregadas à atividade agrícola, para o aumento na sua eficiência, e resultaram no notável incremento da produtividade observado atualmente. Alimentar pessoas é um processo desafiador, que se inicia antes da fazenda, passa pelo processo produtivo na propriedade e tem prosseguimento no mercado de distribuição (Tabela 1). Estes processos são complementares e necessitam ser parametrizados, passando pela simplificação na etapa produtiva, redução no consumo de água, menor utilização de fertilizantes e agroquímicos sintéticos, redução significativa do impacto dos sistemas de produção sobre os ecossistemas naturais, ausência de contaminação de rios e águas subterrâneas devido aos insumos químicos utilizados. Igualmente desafiador é o estabelecimento de um processo vertical de oferta de alimentos que inclui aumento na eficiência da cadeia de distribuição e adequações para atender ao regramento global de comercialização dos produtos agrícolas.

Como as tecnologias digitais podem auxiliar na produtividade das culturas e na distribuição dos alimentos

A agenda da nova agricultura considera que o mercado vai ser o regulador do processo de oferta de alimento e que o sistema de produção deverá se ajustar constantemente a estas demandas (Figura 1). O desafio de alimentar o planeta de forma sustentável não é simples. No cenário atual não basta apenas produzir mais e com menor custo. É necessário considerar as mudanças no perfil do consumidor, as alterações na urbanização e na estrutura da sociedade, além das constantes alterações nas demandas regulatórias globais. Torna-se vital a parametrização de todas as fases do processo de oferta de alimentos para o aumento da eficiência e da rastreabilidade em cada etapa. Deste modo, os dados coletados passam a ser utilizados de forma a retroalimentar o sistema, sugerindo

Tabela 1 - Tecnologias envolvidas na cadeia de produção

Tecnologias e incremento de produtividade ● Implementos movidos por tração animal - século 19 ● Máquinas a combustão- anos 40 ● Agroquímicos sintéticos orgânicos ou inorgânicos- anos 60 ● Revolução Verde- anos 70 ● Plantio Direto- anos 80 ● Biotecnologia- anos 90 ● Agricultura de Precisão- anos 90 ● GPS (global positioning system)- anos 90 ● Veículos terrestres autônomos- anos 2000 ● Veículos aéreos não tripulados (Vants)- anos 2010 ● Sistemas de coleta e gestão de dados- anos 2010 ● Digital Farming (agricultura 4.0)- anos 2010 ● Data banking, conectividade, robótica (agricultura 5.0)- anos 2020

Figura 1 - Cadeia envolvida na disponibilidade de alimentos para o consumidor

as alterações que o mercado consumidor exige. Machinelearning, inteligência artificial e Internet das coisas (IoT) são ferramentas fundamentais neste processo. Deve ser considerado que o conservadorismo do meio rural pode reduzir a velocidade inicial de adoção das novas

tecnologias. Outro agravante é a precariedade de infraestrutura observada na maioria das áreas rurais do Brasil, e em diversos países da América Latina e América do Norte. Estudo realizado entre 2017 e 2019 junto a cooperativas, consultores e indústria nos Estados Unidos (Tabela 2)

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Tabela 2 - Taxa de utilização de tecnologias de precisão nos Estados Unidos em cultivos extensivos

Figura 2 - Tecnologias utilizadas no Brasil e a dimensão do mercado

escala (Figura 2). No Brasil, é estimado que o mercado de tecnologias digitais apresente uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 12% até 2025, com base em um mercado avaliado em R$ 1 bilhão em 2018 (Céleres, 2019). Houve um momento em que a estratégia macro para solucionar os problemas de oferta de alimentos foi baseada tão somente no aumento de produtividade. A implantação de tecnologias digitais disruptivas na agricultura é o caminho para transformá-la em uma indústria altamente tecnológica. Os próximos passos irão muito além do segmento produtivo, terão de considerar as preferências do consumidor, a construção de bancos de dados robustos, a completa parametrização dos processos e uma constante reinvenção de todo o processo. As tecnologias já disponíveis podem ser agrupadas em função dos produtos ou atividades (Krishnan, 2017), conforme ilustrado na Figura 3 e relacionado a seguir:

Plataformas de gerenciamento de propriedades Agricultura de precisão e análise preditiva

• Sistemas de monitoramento, informação ou predição que reduzem os riscos de perdas com eventos climáticos, pragas e desastres naturais; • Sistemas automatizados de irrigação (Smart irrigations) que reduzem o desperdício de água; Revenda

apresenta um aumento lento na adoção das tecnologias digitais totalmente ligadas à produção, destacando-se equipamentos orientados por GPS e/ou utilização de imagens para diagnóstico do status das lavouras (Erickson et al, 2019). Estudos indicam que algumas tecnologias apresentam adoção preferencial, tais como direção automática de equipamentos automotores, barras de luz

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auxiliares para aplicação de insumos líquidos e sistemas providos de GPS. Vants providos de sensores capazes de avaliar condições de solo, necessidade de irrigação, mapas de colheita, softwares para monitoramento das condições sanitárias do cultivo, plataformas para análise de grandes volumes de dados são outras tecnologias adotadas, mas ainda em menor

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• Alteração na preferência alimentar do consumidor; • Diversificação dos alimentos disponíveis; • Cadeia de distribuição viabilizando maior rapidez na distribuição dos alimentos; Robótica e Vant

• Equipamentos embarcados em máquinas agrícolas podem indicar desde a necessidade da manutenção até parâmetros específicos de desempenho; • Automação das máquinas agrícolas agregando precisão às operações; • Colhedoras providas de inúmeros


dispositivos embarcados que fornecem informações em tempo real sobre o desempenho produtivo da cultura; • Equipamentos instalados em silos podem indicar as condições de estocagem evitando perdas no armazenamento; • GPS (global positioning system) para automação de diversas operações no segmento da produção e da distribuição; • Equipamentos embarcados nas diversas máquinas, e que facilitam a comunicação entre produtor, operadores, administradores, agrônomos, através do uso de celulares e/ou ferramentas de internet;

• Aumento da produtividade por unidade de área resultando em redução no uso de terra por unidade de alimento produzido; • Completa automação das fazendas com o apoio de robótica; • Alimentos cultivados em laboratório, de origem animal ou vegetal, com maior eficiência, em menor período de tempo e sem todos os insumos

exigidos pelas fazendas;

Como não perder o foco diante de tantas ofertas e opções?

A importância das tecnologias digitais no meio rural é inquestionável. Contudo, é fundamental que os avanços buscados na produção de alimentos não sejam apenas baseados na aquisição de

Figura 3 - Agrupamento das empresas de acordo com as tecnologias desenvolvidas

Sensoriamento

• Sensores associados ao solo podem coletar dados indicativos de umidade ou do balanço hídrico, levando à indicação da necessidade de irrigação; • Imagens de plantas, capturadas por sensores térmicos ou hiperespectrais, podem acelerar a detecção de pragas permitindo a aplicação de defensivos específicos, na quantidade e no momento corretos; • Parametrização na utilização de luz, umidade, energia e água, permitindo que os alimentos sejam produzidos apenas com a quantidade necessária destes recursos naturais; Genética de animais e plantas

• Dados sobre desempenho, sanidade e vigor em animais (Animal data); • O sistema Crispr (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) e a edição de genes possibilitam que os alimentos apresentem características que especificamente atendam a demanda do mercado; Fazendas da próxima geração

• Computação em nuvem com armazenamento de grandes volumes de dados, possibilitando rastreabilidade do alimento na produção, armazenamento e consumo final; • Análises de dados para orientação de mercado e logística; • Dispositivos móveis e redes sociais para monitorar o mercado;

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Figura 4 - Barreiras para adoção das tecnologias nos Estados Unidos em cultivos extensivos

tecnologias digitais. Não existe solução mágica para problemas de tal complexidade cujos gargalos podem estar ligados a uma gama enorme de condicionantes, incluindo desde limitações técnicas, culturais, até de infraestrutura. As tecnologias oferecidas somente serão impactantes se condições mínimas forem disponibilizadas. Alguns questionamentos são comumente formulados, tais como qual tecnologia é a mais apropriada para resolver determinado problema, como utilizá-la e quais resultados podem ser obtidos. O processo de adoção de uma nova tecnologia digital deve contemplar quatro etapas: 1ª etapa: avaliação das condições onde a tecnologia vai ser empregada, os problemas que se propõe a resolver, as limitações de infraestrutura que podem interferir no seu desempenho, nas dificuldades técnicas que possam dificultar a sua utilização. 2ª etapa: escolha de tecnologias que melhor atendam a demanda, sendo identificados benefícios, restrições, demandas técnicas, suporte técnico disponível, compatibilidade com equipamentos já existentes e vantagens econômicas. 3ª etapa: teste piloto da tecnologia escolhida para avaliar sua adequação às condições onde será implantada, capacidade para solução do problema identificado e mensurar as vantagens 26

financeiras agregadas. 4ª etapa: implantação da tecnologia considerando os resultados obtidos a partir dos testes pilotos, os ajustes necessários, adequação à infraestrutura existente, treinamento da equipe e avaliação dos resultados técnicos e econômicos. A adoção de novas tecnologias pode encontrar barreiras significativas (Figura 3), listadas de forma simplificada a seguir: ● Equipamentos inadequados e/ ou conectividade limitada. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 40% das propriedades rurais possuem conectividade. Este fator é o mais restritivo ao uso das tecnologias digitais. ● Potencial de entrega da tecnologia no contexto da propriedade define o grau de adequação e das necessidades de ajuste do sistema para otimização da entrega da mesma. ● Capacitação do pessoal técnico para explorar as potencialidades da tecnologia, é crítico e limitante se não houver possibilidade de treinamento. ● Capacidade de investimento por parte do produtor, restringe as possibilidades de busca por tecnologias digitais. ● Suporte deficiente por parte do fabricante. ● Incompatibilidade entre equipamentos e tecnologias já existentes.

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● Insegurança no compartilhamento das informações com as empresas. ● Softwares e aplicativos têm alto potencial de crescimento, mas enfrentam uma falta de conhecimento além das limitações de conectividade. Céleres (2019) calcula que 6% da área agrícola total foi monitorada através de softwares no Brasil em 2018, sendo uma forte tendência nos próximos anos. A adoção de tecnologias digitais vai mudar radicalmente a agricultura, transformando-a em uma indústria altamente tecnológica. O papel gerencial e operacional do produtor em sua propriedade cederá lugar ao gerencial-estratégico considerando o mercado. O conhecimento de todas as etapas do processo produtivo por parte do produtor será decisivo para que seja avaliado o ganho tecnológico ao seu negócio, permitindo avaliação da sua capacidade competitiva para o atendimento das demandas do mercado. Evidente que, para tanto, é importante compreender a inversão na cadeia de valor. O consumidor será o definidor de todo o processo, e o sistema de produção, até então proeminente, deverá se ajustar tanto à demanda do consumidor como aos sistemas vertiC cais de distribuição. Ricardo Balardin Phytus Group

Balardin aponta potencialidades e desafios da tecnologia



Soja

Doenças emergentes na cultura da soja Elevagro

Como o uso de fungicidas de maneira preventiva, a rotação de mecanismos de ação, o respeito às doses e intervalos entre aplicações, aliados a um programa de controle adequado podem ajudar no manejo consciente de doenças que afetam a cultura da soja

N

a safra 2019/2020 a estimativa de produção de soja, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de 121 milhões de toneladas para uma área plantada de aproximadamente 35 milhões de hectares no Brasil. Com janela de semeadura que se inicia durante o mês de Setembro (devido à limitação

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de vazio sanitário) e se estende até o início de Dezembro, boa parte da área de soja plantada no Brasil está vulnerável às manchas, Oídio e Ferrugem-asiática. Dentre as manchas-foliares, nas últimas safras, podem se destacar como emergentes as comumente conhecidas no campo como doenças de final de ciclo (DFCs), principalmente Cercosporiose

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(ou Crestamento-foliar de cercospora) e Septoriose (ou Mancha-parda) que são ocasionadas por Cercospora kikuchii e Septoria glycines, respectivamente. A Cercosporiose, que ataca o cultivo da soja, é causada pelo fungo Cercospora spp. cujas principais espécies observadas são Cercospora sojina, conhecida como Mancha olho-de-rã (Figura 1a) que normalmente ocorre no período vegetativo e também pelo fungo Cercospora kikuchii (que causa o crestamento foliar de cercospora), quando se manifesta na folha ou Mancha-púrpura, quando ataca as estruturas reprodutivas e consequentemente, os grãos (Figura 1b). Por se tratar de um cultivo de verão no Brasil, a soja é cultivada em condições de temperatura e pluviosidade ideais para o desenvolvimento da Cercosporiose (de 22ºC a 30º C), presente em todo o território nacional. O impacto negativo causado pela Cercospora kikuchii sobre o rendimento de grãos da soja, caso não seja efetivamente controlada, pode atingir 20%, além da redução da qualidade dos grãos e sementes. Em relação à Mancha-parda (ou Septoriose), que é causada pelo fungo Septoria glycines (Figura 1c), a ocorrência também é relevante em todo o Brasil agrícola. Normalmente já no início do estádio vegetativo é possível identificar os primeiros sintomas da doença nas folhas mais próximas ao solo (principalmente devido ao fato de os esporos serem trazidos do solo para a planta pelos respingos de chuva), os quais continuam infectando a planta até o final do ciclo da soja, podendo detrair até 15% de rendimento de grãos. Quando ocorrem de maneira simultânea em uma lavoura, Cercosporiose e Septoriose tem impacto negativo sobre a produtividade e causam desfolha severa na parte inferior da planta. A partir de R5 (no período reprodutivo), a ocorrência de ambas as doenças nas folhas e legumes acabam sendo mais visíveis e então são comumente denominadas em campo pelos produtores como doenças de final de ciclo (DFCs). Já a Mancha-alvo (Corynespora cassiicola) é uma doença foliar que ocorre predominantemente na soja plantada no cerrado brasileiro, em especial naquelas


Fotos Syngenta

regiões onde o sistema de sucessão de cultivo soja-algodão é praticada. O uso de cultivares tolerantes a essa doença tem se caracterizado como peça fundamental no controle, uma vez que o poder de desfolha precoce e as detrações de rendimento de grãos podem atingir, em média, 25% em caso de controle químico deficiente. Outra doença importante, considerando o contexto de doenças na soja, é a Antracnose (Colletotrichum dematium var. truncata) que pode ocorrer nas folhas, principalmente atacando os cotilédones (Figura 2a), as nervuras das folhas (Figura 2b), os pecíolos e, quando no estádio reprodutivo, causando abortamento de vagens (Figura 2c) de forma bastante significativa reduzindo rendimentos entre 15% e 20%. A ocorrência de Antracnose não se restringe somente às regiões sojícolas do cerrado, atualmente, pois as condições climáticas favoráveis (alta pluviosidade e temperaturas elevadas) são características da estação em que a soja é cultivada no Brasil.

A

B

C

Figura 1 - Sintomas de Cercospora sojina (a), Cercospora kikuchii (b) e Septoria glycines (c) nas folhas de soja na safra 2019/2020

A

B

C

PRINCIPAIS FERRAMENTAS PARA CONTROLE DE MANCHAS E ANTRACNOSE EM SOJA

Antes de qualquer método de controle, o manejo das doenças da soja deve ser consciente (veja box abaixo). A adoção de todas as ferramentas possíveis é fundamental para garantir controle eficaz das manchas que atacam o cultivo da soja. Dentre as opções que o produtor pode lançar mão estão o uso de fungicidas de maneira preventiva, a rotação de mecanismos de ação (principalmente carboxamidas, triazóis e multissítios), respeito às doses e intervalos entre aplicações de acordo com as recomendações. Considerando que as estrubilurinas (QoIs) já apresentaram perda de sensibilidade conferida pela mutação G143A em Cercospora spp. e que a resistência genética das atuais variedades não são opções efetivas para o controle e, adicionado o fato de que as manchas-foliares da soja são capazes de sobreviver na palhada por longos períodos, o controle químico associado a boa tecnologia e momento de aplicação se caracterizam como as melhores alternativas para o controle da manchas (Cercosporiose e Mancha-parda) e Antracnose em soja.

Figura 2 - Sintomas de Colletotrichum dematium var. truncata nos cotilédones (a), nas nervuras das folhas (b) e causando abortamento de vagens (c) de soja na safra 2019/2020

A

B

Figura 3 - Benefícios de aplicações de fungicidas (a) no estádio vegetativo (aplicação Zero) no controle de Mancha-parda (Septoria glycines) comparada à área não tratada (b)

Manejo Consciente da cultura do Soja. Syngenta 2020

ESTRUTURANDO UM PROGRAMA DE CONTROLE QUÍMICO

Na tabela 1 estão destacados os principais modos de ação que apresentam controle eficiente sobre as principais manchas-foliares (Cercosporiose e Mancha-parda) e Antracnose que ocorrem de forma generalizada em todas as regiões produtoras de soja do Brasil. Considerando que estrobilurinas não apresentam alta efetividade sobre as DFCs, os programas de manejo utiwww.revistacultivar.com.br • Março 2020

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“Nas últimas safras, doenças como Cercosporiose, Manchaparda e Antracnose aumentaram significativamente suas ocorrências e, por consequência, a sua importância e impacto. Os produtores precisam buscar programas de manejo que levam em consideração o controle dessas doenças emergentes.”

“O Cypress é a combinação de dois potentes triazóis e a sua associação com Bravonil 720 entrega o melhor controle do complexo de manchas foliares no cultivo da soja, como Cercosporiose e Mancha-parda. Além disso, o Solatenol, presente em Elatus é uma excelente ferramenta para o controle de Antracnose e Ferrugem.”

Lucio Zabot

Bruno Zuntini

lizando alternativas químicas devem considerar carboxamidas, triazóis e multissítios. Os melhores níveis de controle são construídos quando a planta de soja recebe aplicações de fungicidas desde o estádio vegetativo (aplicação zero, figura 3), onde ainda se pode atingir a planta por completo e posteriormente, a partir do pré-fechamento das linhas (40 dias a 45 dias após a emergência), com aplicações para amplo espectro com intervalo máximo de 14 dias. Como as manchas e Antracnose são patógenos necrotróficos e podem estar presentes na palhada remanescente do cultivo anterior, começam atacando as plantas de soja ainda muito cedo e se manifestam mais fortemente no final do ciclo. A construção da sanidade das plantas é fundamental, com destaque para produtos a base de Solatenol, difenoconazole e clorotalonil, que entregam excelente nível de controle sobre Antracnose, Mancha-parda e Cercosporiose.

RESULTADO DO CONTROLE QUÍMICO SOBRE MANCHAS

Na safra 2018/2019 (Figura 4) foram conduzidos ensaios em regiões representativas para o complexo de manchas no cultivo da soja, avaliando a eficácia dos principais multissítios disponíveis no mercado (Oxicloreto de Cobre, Mancozebe e Clorotalonil) e uma combinação com triazóis, devido ao potencial efeito complementar entre multissítios e triazóis no controle de Cercospora kikuchii e Septoria glycines, principalmente devido ao efeito de difenoconazole como o principal triazol com efeito sobre esses patógenos. Com base nos dados é possível identificar clorotalonil como o multissítio com o melhor nível de controle e que a adição de difenoconazole incrementa ainda mais o controle sobre DFCs e retorno sobre rendimento de grãos. Figura 4 - Controle (%) do complexo de doenças de final de ciclo (Mancha-parda e Cercosporiose) e o impacto no rendimento de grãos em cinco localidades na safra 2018/19

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“O uso de protetores, mais especificamente clorotalonil, se caracteriza como uma ferramenta que tem somado no controle não só de Cercospora, mas também de Ferrugem. Além disso, difenoconazole é um triazol que também tem mostrado eficiência em Mancha-parda.”

Lucas Navarini

Tabela 1 - Principais grupos químicos, exemplos de ingredientes ativos relacionados e seus modos de ação no controle de manchas no cultivo da soja Grupos químicos

Modo de ação/processo afetado

Inibidores da desmetilação (DMI), são fungicidas que agem na seletividade da membrana Triazóis (DMIs) Ex.: Difenoconazole plasmática das células fúngicas, inibindo a biossíntese de ergosterol, importante componente da membrana celular dos fungos. Propiconazole São fungicidas que agem em diversos pontos do metabolismo do fungo simultaneamente, Multissítios efetivos se aplicados antes da ocorrência da penetração do patógeno no hospedeiro, impeExemplo: dindo ou reduzindo as chances de ocorrência da doença. Quando são aplicados à superfície Clorotalonil dos órgãos vegetais, agem como uma barreira tóxica, prevenindo a penetração de fungos pela inibição da germinação dos esporos e do tubo germinativo. Carboxamidas (SDHIs) Inibidores de succinato-desidrogenase (SDHI), agem no complexo II da cadeia respiratória dos fungos, inibindo a enzima succinato ubiquinona redutase. Pela interferência no complexo Exemplo: II, os fungicidas deste grupo químico inibem o crescimento do fungo, tanto pela falta de Solatenol energia como pela inibição da síntese de componentes essenciais para a célula fúngica. Adepidyn

Adicionalmente às doenças de final de ciclo, o controle de Antracnose também é fundamental para construir a sanidade da planta como um todo. Para o controle de Colletotrichum dematium var. truncata na soja, os resultados demonstraram a efetividade de Solatenol e difenoconazole (Figura 5), assim como a contribuição de clorotalonil como parceiro para complementação do controle. Baseado nos dados, a combinação de Solatenol, ciproconazole e difenoconazole entregam menor incidência (redução no apodrecimento de vagens) de Antracnose nas vagens e consequentemente, maior controle, seguido por clorotalonil, com impacto positivo no rendimento de grãos. C Lucas Navarini, Professor e Pesquisador/Doutor em Fitopatologia. Planta (Conhecimento/ha)

Lucio Zabot,

Gerente de P&D - Fungicidas. Doutor em Fisiologia Vegetal. Syngenta Proteção de Cultivos

Bruno Zuntini,

Gerente de Marketing - Fungicidas. Mestre em Agronomia. Syngenta Proteção de Cultivos

Figura 5 - Incidência (%) de Antracnose (Colletotrichum dematium var. truncata) causando apodrecimento de vagens de soja e o impacto no rendimento de grãos em seis localidades na safra 2018/19



Soja Fotos Marcelo Gripa Madalosso

Influência térmica

A importância de manejar de modo correto a temperatura da água no preparo da calda de mancozebe, fungicida multissítio com importante papel no controle integrado da ferrugem-asiática, mas que é um composto instável suscetível a ser decomposto pela interação de fatores ambientais

A

expressão do potencial produtivo da soja tem crescido linearmente, nos últimos anos. No entanto, existem problemas fitossanitários que podem comprometer em até 90% a produtividade, como a ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) (Sinclair; Hartmann, 1999). Um dos métodos mais relevantes para o controle da doença é através do uso de fungicidas, minimizando o dano e os prejuízos aos agricultores (Garcés Fiallos, 2011). De acordo com Freitas et al (2016), o melhor controle de ferrugem-asiática foi obtido quando misturados três grupos químicos de 32

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fungicidas em quatro aplicações, associado ao mancozebe. Este é um fungicida multissítio que pode ajudar a retardar a resistência do fungo e aumentar a eficiência de fungicidas sítio-específicos (Camargos, 2017). É importante ressaltar que o mancozebe é um composto instável em água e pode ser decomposto pela interação de fatores ambientais, sendo um deles a variação da temperatura em calda. Também é possível que haja mudanças nas características físico-químicas da calda e na qualidade da pulverização (Scariot, 2016).


Entretanto, se desconhecem a magnitude e a interação da temperatura da calda com os componentes nela presentes (Cunha et al, 2010). Além disso, a água é o diluente mais utilizado nas aplicações de produtos fitossanitários, e sua condição no arranjo da calda tem sido muito debatida (Araújo, 2006). A eficácia do controle químico está interligada com a tecnologia de aplicação, do momento ou critério para começar a aplicação do fungicida e da qualidade da pulverização (Reis e Casa, 2007). Diante disso, também se encontra resistência por parte de alguns produtores na adoção dos fungicidas com formulações não líquidas. Baseado no fato de que há necessidade do uso destes produtos e na dificuldade da engenharia química em estabilizar uma formulação líquida, com as altas concentrações de mancozebe, resta o ajuste da tecnologia de aplicação. Para os fungicidas com dificuldades de estabilização, existem duas formas de aumentar a solubilidade de um solvente, seja através da agitação intensa ou do aquecimento. Nesse caso, o primeiro ponto já é executado por quem trabalha com estes produtos, porém o segundo ainda não. Assim, o objetivo deste estudo foi verificar se a variação da temperatura da água, para confecção da calda com mancozebe (Unizeb Gold WG), exerce algum efeito sinérgico ou antagônico na elaboração da calda e na eficácia de controle da ferrugem da soja. As aplicações do ensaio foram realizadas com pulverizador costal pressurizado a CO2, dotado de seis pontas Teejet 3D. O início do programa de aplicações foi preventivo, sem sinais e sintomas visíveis da doença. Foram realizadas cinco aplicações com intervalo de 14 dias entre as três primeiras e dez dias para as últimas. Nada além do mancozebe foi utilizado na calda, para evitar a possível interação entre outros componentes e as temperaturas da calda. O preparo dos tratamentos de calda para a variação de temperatura da água foi realizado diretamente

no campo, para imediata aplicação e evitar flutuações de temperatura. Para tal, foi transportada água quente (80°C) em uma garrafa térmica e água gelada (5°C) em outra garrafa. Através da mistura de ambas, foi possível atingir os tratamentos desejados (T1: 10°C, T2: 20°C, T3: 30°C, T4: 40°C e T5: 50°C) e todos foram aferidos com termômetro digital (Minipa MV-363) (Figura 1), além de uma testemunha (T6) sem aplicação. Ao alterar as propriedades químicas da calda de pulverização, o aquecimento pode promover um afrouxamento das pontes de hidrogênio entre as moléculas de água, diminuindo as forças de coesão e, consequentemente, reduzindo a tensão superficial da água. A menor tensão superficial da água pode auxiliar na solubilização de solutos muito complexos e em altas doses, como o mancozebe (Sundaram, 1987). Assim, com a elevação de temperatura pode-se aumentar a quantidade solubilizada de um soluto e melhorar a ação dos solventes (Hansen, 2007). No entanto, foi possível observar alguns limites para esta técnica com o mancozebe. De todas as temperaturas estudadas, conforme as Figuras 2 e 3, os limites 10°C e 50°C apresentaram mais problemas para a performance de controle da ferrugem e na produtividade, respectivamente. O tratamento com 20°C foi o segundo mais produtivo, destacando-se do de 40°C. Já o mais produtivo foi quando o mancozebe foi misturado à água a 30°C, se destacando de todos os demais. Portanto, esta temperatura

de calda parece ter causado menos problemas de estabilidade e performance, na mistura água mais a formulação de mancozebe. De acordo com Vidal (2014), a influência da temperatura sobre a absorção da planta é pequena, sendo que aumentos acima de um máximo, em vez de acelerar, acabam retardando a absorção. Acredita-se que o efeito inibidor de altas temperaturas, prende-se à desnaturação de enzimas e proteínas, que se refletirá na absorção. Dessa forma, a diminuição da temperatura retardará os processos de difusão livre, bem como as reações bioquímicas que intervêm na absorção ativa (Rodrigues, 2003). Já as temperaturas intermediárias (20°C, 30°C e 40°C) não diferiram estatisticamente nos níveis de controle, apesar da variação dos dados brutos. Segundo Azevedo (2006), temperaturas abaixo de 15°C diminuem a atividade fisiológica das plantas, reduzindo a absorção de produtos que apresentam instabilidade física ou química, como é o caso dos sistêmicos ou de ação translaminar. A temperatura ideal deve estar abaixo de 32°C, para que ocorra uma maior translocação do produto na planta e consequentemente uma maior eficácia no momento de pulverização. Assim, há estudos em herbicidas que relatam sobre a temperatura de calda, que se pode influenciar praticamente todos os processos físico-químicos e seus componentes, consequentemente melhorando a eficácia do processo de aplicação (Vieira, 2016). Conforme Vidal et al (2014), a utilização dos herbicidas em temperatura ambiente tem grande impacto em diversos processos fisiológicos das plantas, influen-

Figura 1 - Aferição da temperatura da água antes da preparação da calda com mancozebe WG

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Figura 2 – Desfolha dos tratamentos com diferentes temperaturas de calda

ciando diversas reações bioquímicas, bem como penetração, absorção (difusão pela cutícula foliar) e translocação de herbicidas no floema. Desta forma, há um maior efeito nas plantas daninhas. Ao ser analisada a calda quimicamente em laboratório, foram observadas mudanças significativas, corroborando com os dados de campo (Figuras 4, 5 e 6). Foi possível inferir que o fato da partícula de mancozebe ser um complexo metálico, pode promover a aglomeração das partículas, devido à presença de cargas eletrostáticas. Em águas a baixas temperaturas estas ligações têm dificuldade de ser rompidas, isso dificulta a dispersão da partícula de mancozebe, do mesmo modo, em água com temperaturas mais elevadas, existe um movimento maior das moléculas do mancozebe no meio, o que proporciona maior colisão e por consequência maior possibilidade de aglomeração. Em ambos os casos, há formação de aglomerados do mancozebe na calda e isso diminui a área de contato do ativo, bem como a cobertura foliar, o que vai ocasionar queda de eficácia do mancozebe. Esta técnica de aquecimento da água, para facilitar a mistura com o mancozebe já vem sendo utilizada a campo na empresa Sementes Costa Beber. Neste caso, o tanque de água aquecida de 350 litros fica localizado acima dos tanques pré-mistura, mantendo a temperatura de 35ºC a 40°C. Quando esvaziado, é reabastecido de água e mantém a temperatura com um termostato elétrico. No momento da realização da pré-mistura, uma mangueira traz a água morna por gravidade até o tanque pré-mistura de 250 litros. Este tanque é utilizado apenas para realizar a mistura com o mancozebe. Para a diluição do mancozebe, são usados 80kg por pré-mistura de 200 litros, diluindo aos poucos com a água morna (em torno de 30°C), agitando até a diluição estar completa. Após a pré-mistura, a calda é transportada para o tanque e efetuadas as outras diluições. Depois de tudo enviado para o tanque, completa-se o tanque do PV 4730 JD, de três mil litros com água a temperatura ambiente. Apenas a pré-mistura é feita com água aquecida.

Figura 3 - AACPD para ferrugem da soja e eficácia de controle submetidas a cinco temperaturas de preparo de calda

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Figura 4 - Calda de mancozebe a 10°C

Figura 5 - Calda de mancozebe a 23°C

Marcelo Gripa Madalosso Mateus C. Dorneles Gabriel N. Roos Arthur Perufo Universidade Regional Integrada, Campus Santiago / Madalosso Pesquisas. Luiz Fernando Colla Adama Brasil Patrícia CostaBeber Sementes CostaBeber

Fotos Marcelo Gripa Madalosso

Quando feito a campo, em lavouras mais distantes, leva-se um tanque com proteção térmica de 200 litros com a água morna. De acordo com os resultados dos estudos para confecção da calda apenas com mancozebe, a água a 30°C mostrou-se a melhor opção. As águas com temperaturas em torno de 10°C e em torno de 50°C foram prejudiciais ao controle da doença e a produtividade. Mais estudos são necessários sobre temperatura de caldas, com a combinação de outros produtos em mistura C no tanque.

Figura 6 - Calda de mancozebe a 50°C

Santos aborda o papel de nematicidas químicos e biológicos

Técnica de aquecimento da água, para facilitar a mistura com o mancozebe

Tanque com proteção térmica de 200 litros para água morna

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Soja

Teste de cobertura Qual o impacto do cultivo de soja em palhadas de milho e crotalária sobre populações de nematoides das lesões radiculares Pratylenchus brachyurus e a produtividade da oleaginosa

A

s perdas causadas por fitonematoides têm se destacado entre as doenças da cultura da soja, causa de crescente preocupação entre os produtores. A ocorrência de nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus), em áreas agrícolas da região Centro-Oeste, encontra-se em densidade elevada. Esses microrganismos são especializados em se alimentar do sistema radicular, interferindo diretamente nos processos fisiológicos da planta, comprometendo o desenvolvimento da cultura. A rotação ou sucessão com culturas

não hospedeiras, a limpeza de máquinas e implementos agrícolas, o cultivo de plantas antagonistas, o controle químico e o uso de plantas resistentes são os principais métodos de manejo de nematoides para a cultura da soja. Porém, para P. brachyurus existe uma ampla gama de hospedeiros e o emprego da rotação é dificultado. O uso de plantas de cobertura é visto com certa restrição pelos agricultores, já que não resulta em retorno financeiro direto e imediato. No entanto, os reflexos e entraves dos sistemas de produção

atuais, baseados em sucessão de cultivos (ex.: soja/milho), indicam de forma clara o papel dessas espécies na diversificação e viabilidade dos agroecossistemas. As plantas de cobertura se constituem em estratégia para melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. Além do mais são essenciais para incrementos de matéria orgânica, indispensável à sua fertilidade. Ademais, as plantas de cobertura auxiliam no manejo de nematoides, um grave entrave da agricultura moderna. Um projeto com objetivos de avaliar, em campo, as respostas de diferentes plantas de cobertura na produtividade da soja e seus efeitos na população de nematoides foi desenvolvido na fazenda Coqueiros do Rio Doce, propriedade de Robert Steve Warkenti e Kevin Dale Warkenti, em Rio Verde Goiás. O experimento teve início em fevereiro/2017. A área 1 foi cultivada com Crotalaria spectabilis; Área 2 recebeu Milho solteiro; Área 3, milho consorciado com Crotalaria spectabilis; Área 4, milho consorciado com Urochloa ruziziensis. Em outubro de 2017, a soja cultivar Monsoy 7110 IPRO foi plantada nas áreas onde estavam as plantas de cobertura.

O EXPERIMENTO

A semeadura foi realizada mecanicaFotos Adriano Perin

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Tabela 1 - Informações da área experimental de dois experimentos, um conduzido na safra 2018/19 e outro na safrinha 2019. Maracaju, MS, 2019

mente, no espaçamento entre linhas de 0,5 m, profundidade de 3cm, ficando a distribuição com 20 plantas por metro. A adubação foi de 180 kg/ ha de Fosfato monoamônico (MAP) na linha de plantio e 120 kg/ ha de cloreto de potássio (KCl) em cobertura (15 dias após a emergência da soja). Para verificação da dinâmica dos nematoides, foram amostradas a campo nos tempos zero, 30, 60 e 90 dias após a emergência da soja. Foram coletadas amostras de solo, na profundidade de 0-20 cm e levadas ao Laboratório de Fitopatologia do Instituto Federal Goiano, Campus Rio Verde, para as análises e contagens dos nematoides. Na colheita foi determinada a altura das plantas, número de vagem por planta e produtividade de grãos. A soja cultivada sobre a palhada de milho apresentou maior número de grãos e vagens por planta e maior número de hastes no ramo principal (Tabela 1). As maiores altura das plantas foram constatadas quando cultivada sobre palhada de milho safrinha cultivado com U. ruziziensis. Vale ressaltar que tais características não se correlacionam com a produtividade da soja. Maiores produtividades de grãos de soja foram obtidas quando a cultura foi cultivada sobre palhada de milho safrinha ou milho consorciado com C. spectabilis (Tabela 1). A densidade populacional de nematoides do gênero Pratylenchus spp. é demonstrada na Tabela 2. Verifica-se a relação dos diferentes tratamentos em relação ao tempo de cultivo da soja (0, 30, 60 e 90 dias). A população de Pratylenchus spp. no tratamento U. ruziziensis, não mostrou diferença significativa em relação ao tempo (Tabela 2). Santos et al. (2011), trabalhando com U. ruziziensis e Stylosanthes com objetivo de controlar Pratylenchus brachyurus, verificaram que U. ruziziensis foi considerada hospedeira favorável à reprodução do nematoide, com reação de suscetibilidade. O principal mecanismo envolvido na supressão dos nematoides pela C. spectabilis é a capacidade em atuar como planta armadilha, permitindo a penetração dos juvenis em suas raízes, mas, impedindo o seu desenvolvimento até a fase adulta (Silva et al., 1989). Além desse mecanismo, C. spectabilis produz algumas substâncias com potencial nematicida, como a monocrotalina (Wang et al., 2002). Porém, neste estudo mesmo a população estando relativamente baixa após o cultivo de crotalária e milho, os nematoides remanescentes no solo foram suficientes para aumentar a população durante o ciclo da soja. Os tratamentos milho consorciado com C. spectabilis e milho consorciado com U. ruziziensis se comportaram de forma semelhante em relação à densidade populacional de Pratylenchus spp., em que aos 30 e 60 dias da cultura da soja ocorreu crescimento populacional e redução aos 90 dias. A redução da densidade populacional de P. brachyurus pode ser atribuída ao aumento da velocidade de degradação das raízes, em que o nematoide encontra abrigo (Inomoto, 2011). Isso mostra que, mesmo na ausência de hospedeiro vivo, os nematoides das lesões radiculares foram capazes de sobreviver nas raízes do milho em decomposição por um período de, no mínimo, 30 semanas. As diferentes plantas de cobertura estudadas nesse projeto não reduzem a população de Pratylenchus spp. Pelo contrário, o nematoide aumenta com a safrinha de milho em sucessão à

Planta de Cobertura C.spectabilis Milho + C. Spectabilis Milho + U ruziziensis Milho

N° grãos N° vagens Altura planta N° hastes Produtividade (cm) ramo principal (kg ha-1) planta-1 planta-1 68,4 b 3,4 b 3.840 b 98,1 b 37,1 b 69,7 b 4,0 b 4.170 a 71,7 c 28,3 c 80,4 a 3,9 b 3.930 b 65,2 c 27,0 c 57,0 c 7,9 a 4.240 a 185,2 a 82,4 a

Médias seguidas pelas mesmas letras na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

Tabela 2 - População de Pratylenchus spp. durante o ciclo da soja safra 2017/2108. Rio Verde - GO, 2019 Planta de Cobertura C. spectabilis U. ruziziensis Milho Milho+C.spectabilis Milho+U.ruziziensis

0 35,2 D 55,2 A 61,8 C 31,8 C 23,6 D

Tempo (dias) 30 60 518,6 B 317,2 C 121,0 A 50,2 A 1004,8 B 1018,2 B 133,2 C 1344,2 A 402,6 C 1829,0 A

90 1855,2 A 24,2 A 3003,0 A 782,8 B 1026,6 B

Médias seguidas pelas mesmas letras na linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.

Visão geral do desenvolvimento da soja

Desenvolvimento de soja na fase reprodutiva

soja. No entanto, há incremento de produtividade de soja quando cultivada sobre palhada do milho com ou sem C. spectabilis C ou U. ruziziensis. Irumuara Interaminense Uliana, Mestre em Bioenergia e Grãos. Progresso Planejamento Agrícola Ltda Adriano Perin, Ednalva Patrícia de Andrade Silva e Anísio Correa da Rocha, Instituto Federal Goiano Fernando Almeida Pereira, Mestre em Bioenergia e Grãos. Progresso Planejamento Agrícola Ltda www.revistacultivar.com.br • Março 2020

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Empresas

Plataforma digital Fotos Cultivar

Granular Insights, primeira solução da Corteva no Brasil com softwares de dados operacionais, financeiros e agronômicos, atingiu um milhão de hectares monitorados e 1,3 mil usuários desde o início da operação, há seis meses

A

Corteva Agriscience lançou em fevereiro, em São Paulo, a terceira plataforma da empresa, que se soma às áreas de Proteção de Cultivos e de Sementes. Batizado de Granular, o novo braço digital da marca foi adquirido em 2017 pela Divisão Agrícola da Dow Dupont. Com origem no Vale do Silício, nos Estados Unidos, a Granular chega ao Brasil com conhecimento acumulado no monitoramento e mapeamento de áreas agrícolas não apenas no país norte-americano, mas também no Canadá e na Austrália. No mercado brasileiro, a marca apresenta a Granular Insights, primeira solução da empresa no Brasil, que oferece softwares de dados operacionais, financeiros e agronômicos. A ferramenta permite que a lavoura seja analisada a qualquer momento, em qualquer lugar, com

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rankings dos talhões para ajudar a priorizar e tomar decisões, sem a necessidade de sinal de internet ou rede de celular. Está disponível para uso no computador e celular, com aplicativos exclusivos para iOS e Android e pode ser usada em diversas culturas, em diferentes fases de desenvolvimento. Desde o início da operação, há seis meses, a plataforma já atingiu um milhão de hectares monitorados e 1,3 mil usuários no Brasil, espalhados por áreas agrícolas do Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Tocantins, Pernambuco e Paraná. “Estamos trabalhando para expandir nossa operação nas diversas regiões do País em número de usuários e área monitorada”, adiantou o líder de Marketing da Granular no Brasil, Lucas Melo. São utilizadas imagens capturadas por satélites, em re-


Diretor global de Vendas da Granular, Eamon Floods (direita)

solução 3m x 3m, majoritariamente das 10h às 14h do horário local, para aproveitar as vantagens da angulação do sol a pino e entregar apenas as imagens com maior qualidade. “Antes de sair andando de talhão em talhão, o produtor pode direcionar seu trabalho ao detectar, a partir do Granular Insights, qual área merece mais atenção naquele dia”, explica Melo. A companhia pretende unir o conhecimento agronômico da Corteva com a expertise da Granular em softwares. O valor para ter acesso aos serviços da plataforma não foi informado. A compra contempla licença anual por hectare e há uma versão básica, que pode ser baixada gratuitamente, com acesso limitado. O lançamento foi precedido por testes e entrevistas com os agricultores, desde a produção. Todas as etapas foram construídas e validadas em conjunto com produtores. O diretor global de Vendas da Granular, Eamon Floods, explicou que a meta é estabelecer parcerias não só com a Corteva, mas também com fabricantes de equipamentos e empresas que coletam informações que possam auxiliar o produtor. “A plataforma ainda não traz relação de clima, mas há uma empresa parceira que já fornece informações meteorológicas globais, só preci-

Líder de Marketing da Granular no Brasil, Lucas Melo (direita)

Plataforma digital ofecere monitoramento direcionado

samos incluir no software.”

SEGURANÇA DOS DADOS

Funcionalidades

De acordo com a Granular, os agricultores são donos dos próprios dados, que ficam armazenados no país do produtor. Decide quando apagá-los ou se deseja compartilhar com alguém de sua confiança. Os dados não são compartilhados sequer com a Corteva e o software obedece a todos os aspectos da lei C geral de proteção de dados.

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Coluna Agronegócios

O avanço da Ciência depende de aceitação social

L

LA (leucemia linfoblástica aguda) é um câncer que atinge células da medula óssea e do sangue, resultando em linfócitos anormais. A doença progride rapidamente e é o câncer infantil mais comum em alguns países. A terapêutica convencional é cara, provoca sofrimento e possui alto índice de não resposta de pacientes ao tratamento. Novas tecnologias, como terapias genéticas e celulares, têm o potencial de transformar a medicina e criar um ponto de inflexão em nossa capacidade de tratar e até curar muitas doenças até agora intratáveis. Em meados de 2017, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA aprovou uma terapia (tisagenlecleucel) para tratamento de pacientes com LLA. Trata-se de uma imunoterapia de células T (um tipo de linfócito), integralmente personalizada. As células T do paciente são coletadas e geneticamente modificadas para incluir um novo gene, que codifica para uma proteína específica (um receptor de antígeno quimérico ou CAR, conforme a sigla em inglês). Uma vez modificadas, as células são infundidas de volta ao paciente. Com o novo gene, as células T identificam e matam células leucêmicas. Isto é possível porque as células T localizam um antígeno específico (CD19) na superfície das células tumorais e, na sequência, provocam a morte destas células. A segurança e a eficácia do medicamento foram demonstradas em ensaios clínicos com pacientes pediátricos e adultos jovens, portadores de LLA. A taxa geral de remissão, dentro de três meses após o tratamento, foi de 83%, considerada muito alta para pacientes afetados por tumores. A FDA também aprovou a primeira droga baseada em técnicas de RNA interferente (RNAi). Trata-se do patisiran, indicado para eliminar as sensações de formigamento, cócegas e queima da condição rara de amiloidose mediada por transtirretina hereditária, também conhecida como hATTR. São dois exemplos precursores de um enorme salto da Ciência. Constituem novas técnicas terapêuticas eficientes e seguras, que incluem Antígenos Receptores Quiméricos (CAR-T), Células Autólogas, Regulação de RNA Antisenso, RNA Interferente (RNAi), Nucleases de Dedo de Zinco (ZFN), Vírus da Herpes Oncolítico Geneticamente Modificado, entre outras, abrigadas sob a designação de Terapia Gênica.

ACEITAÇÃO OU OPOSIÇÃO

Neste ponto, o leitor deve estar se perguntando: por que o articulista publica um texto sobre medicina humana em uma revista agrícola? A introdução acima objetiva uma reminiscência do que ocorreu com as primeiras tecnologias desenvolvidas por ferramentas biotecnológicas. No caso da agricultura, houve uma reação e uma grita na Europa. As primeiras variedades OGMs não decolaram (tomate com mais tempo de prateleira, morango resistente à geada, arroz dourado etc.). Para consolidar a introdução dos materiais resistentes a herbicidas e a insetos, foram necessárias quase três décadas de embates. Entretanto, a produção de insulina – essencial para a qualidade de vida e sobrevivência de diabéticos – utilizando a bactéria Escherichia coli geneticamente transformada, não enfrentou resistências. Do nosso ponto de vista, a explicação para a aceitação mais fácil de

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novas tecnologias na farmácia e na medicina se baseia em três motivos principais: 1) na medicina lida-se com a morte de seres humanos, um evento definitivo; 2) pode haver um envolvimento emocional, o paciente que será curado por uma tecnologia na fronteira da Ciência pode ser amigo, conhecido, pai, mãe, irmão, filho, ou seja, pessoa próxima de algum ativista, o que o inibe no assaque às inovações em medicina; 3) via de regra a inovação é a última esperança, é necessário apegar-se a ela, não pode ser condenada a priori. Em oposição, na questão alimentar existe a alternativa dos alimentos convencionais ou orgânicos, que são produzidos com tecnologias mais antigas. Ninguém que tenha renda per capita de 50 mil dólares vai morrer de fome por falta de alimento, mesmo que o preço seja muito alto. O mesmo não se pode dizer dos 800 milhões de subcidadãos nutricionalmente vulneráveis, a crer nas estatísticas da FAO. Portanto condena-se o uso de OGMs na agricultura porque, quem o faz, não enfrenta o dilema da falta de alimentos e, no limite, do risco de morte por fome. Então, o fato de as mais recentes inovações no campo da biotecnologia surgirem comercialmente primeiro na medicina ou, ao menos, ao mesmo tempo que na agricultura, tem o condão de diminuir a resistência da sociedade às inovações científicas.

RNAI

Das inovações que emergirão para modernizar a agricultura, na próxima década, um exemplo didático é a tecnologia do RNA interferente (RNAi), que será muito útil na proteção de cultivos. Trata-se de um fenômeno que ocorre rotineiramente na Natureza (os cientistas apenas estão copiando o que a Natureza já faz há milhões de anos!), em organismos como insetos, fungos, bactérias, nematoides e plantas. O mecanismo atua na produção de proteínas, que servem como defesa contra pragas, mormente ataques de vírus. Basta “silenciar” um gene crucial para o ataque de um vírus a uma planta, que o perigo desaparece. Silenciamento é o termo usado por cientistas para designar uma forte redução da atividade ou a inativação de um gene. Tudo se inicia seccionando-se o RNA mensageiro (RNAm). Em seguida, promove-se o pareamento de uma pequena sequência de RNA ao RNAm, com posterior degradação dessa sequência por enzimas. O pareamento desses pequenos RNAs ao RNAm é altamente específico, uma vez que a degradação não ocorre caso essa condição não seja atendida. Ocorrendo o pareamento, o gene tem sua atividade diminuída ou zerada (silenciamento). Nas lavouras, a tecnologia do RNAi tanto pode ser representada por plantas geneticamente modificadas como por processos não transgênicos, seja com formulações contendo dupla fita de RNA (dsRNA), com moléculas precursoras (siRNAs) ou ambas. O importante é que estamos no limiar de uma nova era no controle de pragas, adicionando mais ferramentas ao arsenal do agricultor, permitindo eficiência e produtividade cada vez maiores e incrementando a susC tentabilidade dos sistemas de produção agrícolas.

Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.


Coluna Mercado Agrícola MILHO

A colheita do milho da primeira safra avança para o final em grande parte do Sul, onde, a partir de abril, haverá pouco produto para ser colhido. Com isso os indicativos, que em tempos de colheita normalmente despencavam, neste ano, recuaram. Mas não muito, porque há boa demanda interna e não existem estoques de passagem. Os reflexos podem ser observados no bom desempenho dos pregões da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que tem vendido estoques de milho do Mato Grosso. Tudo que é ofertado negocia-se com ágio. Sinalizando que as exportações de 2019, que chegaram perto de 45 milhões de toneladas, foram de recorde histórico, superando as exportações anualizadas dos EUA. Isso serviu para enxugar o mercado em ano em que houve recorde histórico de colheita, perto de 100 milhões de toneladas. Esse cenário abre espaço para boas cotações em 2020.

SOJA

Os produtores do Mato Grosso já contabilizam a safra como fechada, com recorde histórico de colheita no estado atingindo mais de 34 milhões de toneladas colhidas neste ano, dando fôlego para o Brasil fechar acima das 123,7 milhões de toneladas, mesmo com perdas da safra do Rio Grande do Sul, afetada pela seca e o calor de janeiro, que limitaram o potencial do estado gaúcho. Deve ocorrer recorde histórico de consumo interno, porque a

partir de março o Brasil entra na nova fase do biodiesel misturado ao diesel, que passa para B12. Isso aumenta a necessidade de óleo de soja para fazer o biodiesel e este volume adicional será de 600 mil toneladas. O que tende a resultar em algo próximo de quatro milhões de toneladas de soja em grão, que terá de ser esmagada somente para atender o setor do biodiesel. Desta forma, o ano começou com boas expectativas, porque há produção mundial menor que o consumo e no Brasil não haverá sobras, com exportação e demanda interna fortes.

FEIJÃO

O feijão começou o ano com pressão positiva nos indicativos, pouca oferta, plantio menor e também problemas climáticos para a safra, com calor extremo e redução de área, além de chuvas torrenciais na colheita. Assim, a safra que normalmente passa de 1,2 milhão de toneladas nesta primeira fase do ano, não deve ter alcançado as 900 mil toneladas. Há pouco produto e a segunda safra que está nos campos também mostra limitação. De 1,4 milhão de toneladas tradicionais, estima-se algo no máximo perto de um milhão de toneladas. Dessa forma, o Brasil vai para um ano apertado e totalmente dependente da terceira safra irrigada, que normalmente também é limitada e vai registrar movimentações de alta nos indicativos que estavam na faixa de R$ 170,00 a R$ 230,00 a saca no final de fevereiro, na base do Carioca e mais

demanda que oferta, com chances de alta à frente.

ARROZ

O mercado do arroz vem para a safra de 2020 com alto potencial de demanda, cotações com as melhores médias históricas, devendo rapidamente recuperar fôlego a partir de abril, porque haverá pouco produto ofertado para uma demanda forte. O dólar em alta favorece os indicativos do arroz para a exportação, que deve seguir aquecida, com apoio de acordos comerciais renovados, como no caso do México. Junto a isso, haverá dificuldades para importar porque o dólar, com valor acima de R$ 4,50, inviabiliza compras externas e somente volta a ser viável se o produto do Rio Grande do Sul superar o preço de R$ 55,00 a saca, ou seja, ano ainda no começo, mas com boas expectativas para o grão, que somente irá sentir pressão de leve baixa nestas próximas semanas de C colheita. Depois, volta a avançar. Vlamir Brandalizze Twitter @brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br

Curtas e boas TRIGO - O mercado do trigo deve ter um ano forte internamente porque o dólar em alta deixa o produto importado com valores muito acima do nível nacional, com indicativos de que nos negócios atuais estaria chegando à faixa dos R$ 1,1 mil por tonelada no moinho. O cenário favorece o produto nacional, que deve alcançar entre R$ 850,00 e R$ 1.000,00 por tonelada ou acima destes patamares para o cereal do Sudeste e Centro-Oeste. EUA - Os produtores se preparam para o novo plantio, que normalmente começa no final de março e em abril. Os primeiros indicativos são de avanço do milho, que tende a alcançar 38 milhões de hectares frente a 36,3 milhões de hectares da safra passada. Para a soja, há projeção de 34,4 milhões de hectares frente a 30,8 milhões de hectares do ano anterior. É preciso lembrar que na safra passada os EUA sofreram com inverno longo, inundações e milhões de hectares não puderam ser plantados. A safra de soja é aguardada entre 112 milhões de toneladas e 120 milhões de toneladas e a do milho entre 365 milhões de toneladas e 395 milhões de toneladas, dentro de patamares normais para o país, que tem demanda maior que a oferta neste ano e consumo forte dos estoques. De agora em diante o clima ame-

ricano deve comandar o mercado. CHINA - A China vive momentos complicados com o coronavírus, mas nem por isso os chineses vão deixar de comer. O governo proibiu a comercialização de animais selvagens, como morcegos e cobras, e com isso deve estimular ainda mais a demanda por alimentos tradicionais, como suíno, frango, bovino, ovos e outras carnes produzidas à base de ração. Pode ser um bom ano de venda de carnes e componentes de ração para os chineses. ARGENTINA - A safra dos argentinos ainda está nos campos, sendo que a colheita principal se dá em abril e maio. O governo argentino, nestes tempos de coronavírus, criou uma vacina contra a queda das commodities em Chicago, aumentando a taxa das retenciones a partir de março, o que fez com que os produtores se retraíssem. Informações locais apontam que vão segurar as vendas neste primeiro semestre na tentativa de forçar que esta medida caia. Mas como isso já é lei na Argentina, que está seguindo as regras do FMI, o setor seguirá com poucas vendas e isso serve de vacina em Chicago para melhorar ou criar condições melhores para as cotações. www.revistacultivar.com.br • Março 2020

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Coluna ANPII

Em dobro Técnica da coinoculação se firma nas lavouras como mais uma nova conquista da agricultura brasileira

A

inoculação da soja e do feijão se configura como grande conquista da pesquisa e do agricultor brasileiro. A pesquisa selecionou excelentes cepas de Bradyrhizobium e Rhizobium, as empresas produzem inoculantes de alta qualidade e o agricultor adotou largamente o uso do insumo biológico como fonte de nitrogênio em suas lavouras. Mas a pesquisa não para. Sempre há alguma coisa a melhorar, a acrescentar mais ferramentas para o aumento da produtividade. Partindo do princípio de que na natureza nenhum micro-organismo atua isoladamente, mas sim um conjunto de seres com funções complementares e sinérgicas, foi desenvolvido na Embrapa Soja o sistema de coinoculação, utilizando o inoculante à base de Bradyrhizobium ou Rhizobium em conjunto com o inoculante constituído por Azospirillum. Este inoculante, inicialmente desenvolvido em 2009 para gramíneas, mostrou-se altamente eficaz quando utilizado em conjunto com o inoculante para leguminosas, exercendo um efeito sinérgico entre as duas bactérias. A nodulação é formada por uma troca de sinais químicos entre as raízes e as bactérias. Há todo um sistema de comunicação bioquímica, com diferentes substâncias que se reconhecem mutuamente e interagem entre si. Quanto mais eficaz for esta comunicação, mais cedo haverá a formação dos nódulos e maior será o número destes nódulos, incrementando o aporte de nitrogênio para a planta durante todo seu ciclo. E aí é que entra o papel da outra bactéria, o Azospirillum, potencializando esta comunicação, tornando-a mais rápida e eficaz. Isto resulta em uma nodulação mais precoce, o que significa uma antecipação no início da fixação do nitrogênio. Além de favorecer a comunicação entre raiz e bactéria, o Azospirillum produz hormônios que aumentam o número de pelos radiculares e, consequentemente, a absorção de água e nutrientes. O ácido indol acético (AIA) produz este efeito de aumento no número de pelos radiculares (Figura 1). Assim, o uso de dois inoculantes, o tradicional para soja em conjunto com o Bradyrhizobium e o de Azospirillum, traz signifi-

cativos aumentos de produtividade. Se só o inoculante para soja produz aumentos médios de 8% na soja, o uso em conjunto dos dois inoculantes traz, em média, o dobro, ou seja, 16% de incremento na produção de grãos. No caso do feijoeiro, também o uso da coinoculação tem se mostrado altamente rentável para o agricultor, conforme mostram os trabalhos da Embrapa Arroz e Feijão. A sinergia entre o Rhizobium tropici e o Azospirillum tem se mostrado altamente eficaz no aumento da produtividade do feijoeiro. No caso da soja, a Embrapa Soja, em conjunto com a Emater Paraná, instalou 37 unidades de referência nos locais mais representativos da cultura da soja no Estado, para comprovar a eficácia da coinoculação. Foram ensaios instalados em condições de lavoura, com a colaboração de diversos agricultores. Os resultados da média destas 37 unidades estão no Gráfico 1, comprovando que a coinoculação trouxe expressivos ganhos de produtividade para a cultura (Adaptado de Circular Técnica 143, Embrapa Soja). O uso destes dois inoculantes segue o mesmo princípio utilizado nas lavouras, em que se pode misturar os dois tanto na semente como utilizar a mistura no sulco, seguindo as instruções de uso do fabricante. As empresas associadas à ANPII produzem tanto os inoculantes para soja e feijão como os à base de Azospirillum, seguindo as normas preconizadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tanto no que se refere às estirpes das bactérias como em relação às concentrações. As empresas associadas à ANPII também estão testando novas estirpes de Azospirillum, em projeto conjunto com a UFPR. Mas, sem dúvida, dentro do espírito inovador do agricultor brasileiro, a técnica da coinoculação já está se firmando nas laC vouras por todo o País.

Figura 1

Gráfico 1

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Março 2020 • www.revistacultivar.com.br

Solon Araújo, Consultor da ANPII




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