Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 177 • Fevereiro 2014 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa capa
Manejo efetivo....................................18
Jorge Braz Torres
Como integrar táticas de controle para combater o bicudo, praga extremamente voraz na cultura do algodoeiro
Severidade proporcional..............16 Doença emergente......................22 Como controlar..........................30 A influência do preparo do solo na dinâmica do mofo branco e em sua incidência em plantas de soja
A necessidade de aprofundamento de pesquisas a respeito da antracnose e da suscetibilidade de cultivares de cafeeiro ao seu ataque
Índice
Como reagir à cigarrinha-da-raiz, praga cuja presença aumentou nos canaviais de São Paulo com advento da colheita mecanizada
Expediente
Diretas
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Oferta e demanda de nitrogênio em milho
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Arranjo de plantas e produtividade em milho
10
Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
REDAÇÃO
• Vendas
Sedeli Feijó José Luis Alves
• Editor
Gilvan Dutra Quevedo
Rithieli Barcelos
• Redação
Teste de germinação em sementes de milho
14
Preparo do solo e incidência de mofo branco em soja
16
Nossa capa - Como manejar o bicudo-do-algodoeiro
18
Karine Gobbi Rocheli Wachholz
CIRCULAÇÃO
• Design Gráfico e Diagramação
• Coordenação
• Revisão
• Assinaturas
MARKETING E PUBLICIDADE
• Expedição
Cristiano Ceia
Simone Lopes Natália Rodrigues Clarissa Cardoso
Aline Partzsch de Almeida
• Coordenação
Edson Krause
Charles Ricardo Echer
Incidência da antracnose em cafeeiro
22
Herbicida 2,4-D no combate a daninhas de difícil controle 26 Controle da cigarrinha-da-raiz em cana-de-açúcar
30
Potencial do silício no controle de lagartas
32
Coluna ANPII
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Coluna Agronegócios
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Mercado Agrícola
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GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 173,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Comando
O executivo Eduardo Estrada Whipple assumiu a presidência da Bayer CropScience para Brasil e América Latina. O novo presidente dará continuidade à implementação da estratégia de crescimento da marca. “Nosso objetivo é expandir a atuação no mercado agrícola latino-americano. Nossa empresa é reconhecida por sua dedicação à pesquisa e inovação e o nosso foco será garantir que nossas soluções integradas e sustentáveis cheguem ao produtor rural”, afirma. Whipple, que até então ocupava a diretoria de Marketing da Bayer CropScience para América Latina, assume o lugar de Marc Reichardt, que passa a integrar o Comitê Executivo da empresa, na Matriz, na Alemanha, como responsável global por Eduardo Estrada Whipple Operações Comerciais Agrícolas.
Helicoverpa
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) autorizou o uso do inseticida Atabron 50 EC, distribuído pela Arysta LifeScience, para combate da Helicoverpa armigera nas culturas de algodão e soja. “O principal benefício ao agricultor é se tratar de um inseticida seletivo aos inimigos naturais, com maior período de controle e modo de ação diferenciado, o que é fundamental para evitar o desenvolvimento da resistência da praga”, explica o gerente de Produtos e Mercado da Arysta LifeScience Sérgio Chidi. O produto é um inseticida fisiológico que atua como regulador de crescimento de insetos, Sérgio Chidi inibindo a síntese da quitina.
Parceria
A Microquímica fechou contrato com a empresa paraguaia Agrícola Colonial. A parceria engloba a distribuição de fertilizantes foliares e para tratamento de sementes e inoculantes. “Para iniciarmos as vendas, foram investidos aproximadamente 20% do faturamento em ações de desenvolvimento de mercado”, relata o diretor Comercial da Microquímica Jorge Ricci Junior. “Dessa forma, estamos projetando crescimento de 15% nas vendas totais de produtos para 2014”, pontua. “A Agrícola Colonial conta atualmente com 30 unidades de recebimento de grãos, realiza plantio em áreas próprias e produz sementes de alta qualidade, realizando investimentos contínuos e abrangendo, assim, todo o Paraguai”, afirma o geJorge Ricci Junior rente de Marketing da empresa, Arnaldo Correa.
Showtec
A Morgan Sementes apresentou no 18º Showtec, em Maracaju, Mato Grosso do Sul, seu novo híbrido de milho (MG652) disponível para a safrinha 2014 e mais dois lançamentos que chegarão ao mercado na segunda safra de 2015 (MG300PW, MG699PW). Os agricultores que visitaram o estande puderam conferir os resultados da tecnologia Powercore e do Tratamento de Sementes Industrial (TSI), soluções para produtividade e a estabilidade produtiva das lavouras. Também receberam informações sobre o TSI como parte do manejo integrado de pragas.
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Novos rumos
Walter Costa é o novo diretor geral de Negócios no Brasil da FMC Agricultural Solutions. Costa manterá a responsabilidade por Estratégia, Marketing, Tecnologia & Inovação (P&D) e assumirá a direção das áreas de Finanças e Comercial. Com 13 anos de FMC, o executivo é graduado em agronomia pela Esalq e possui MBA pela Wharton School of Business, da Universidade da Pensilvânia. “Eu acredito na Agricultura como alavanca de crescimento econômico do País. Não existe atividade mais nobre que produzir alimentos, energia e fibras de forma renovável. E nenhuma outra atividade tem condições de dar ao Brasil o lugar que ele merece na Walter Costa economia mundial”, destaca o diretor.
Armigera
A Basf recebeu o registro do inseticida e acaricida Pirate para o controle de Helicoverpa armigera em soja. A partir de agora, os sojicultores contarão com esta nova opção fitossanitária no combate à praga, que tem causado sérios danos à lavoura desde a safra 2012/2013. “Estima-se que os prejuízos relativos à incidência da lagarta na última safra no Brasil ultrapassem R$ 10 bilhões”, lembra o gerente de Marketing de Cultivos Cereais Sul da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para o Brasil Eduardo Gobbo.
Eduardo Gobbo
Participação
Alunos do Grupo de Experimentação e Recomendação Agronômica (Gera), orientados pelo professor Geraldo Dario, da Esalq/USP, estiveram presentes no 46º Congresso Brasileiro de Fitopatologia, em Ouro Preto, Minas Gerais. Participaram Letícia Gervinsky, Diego Rodrigues, Lucas Ferreira, José Vido, Yuri Avancini, Olívia Camargo, Luís Scarso, Iuri Dario e Daniela Soares.
Lançamento
Para a safra 2013/2014 a Monsanto lança a variedade de milho VT PRO 3 RIB, destinada para as áreas de verão do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. A tecnologia apresenta duas proteínas Bts para o controle das principais lagartas que atacam o milho e é a primeira com tecnologia específica para a larva alfinete. A variedade também oferecerá tolerância ao herbicida glifosato. A novidade para o produtor é a tecnologia RIB (refugee in the bag), que mistura 10% de sementes sem a presença das duas proteínas Bt, ou seja, a área de refúgio fica dentro da própria lavoura. A tecnologia garante economia em tempo e mão de obra para o agricultor.
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Milho
Oferta harmônica
Fotos Cultivar
Nutriente mais exportado em grãos de milho, o nitrogênio apresenta manejo complexo. Saber o grau de exigência da planta, a quantidade de N presente no solo, em que momento ocorre maior taxa de absorção, quando e em que dose aplicá-lo, além de identificar se há necessidade de parcelamento de cobertura são etapas essenciais para que se obtenham bons resultados com a adubação nitrogenada
O
nitrogênio é o nutriente mais acumulado pelas plantas e exportado nos grãos na cultura do milho. Manejá-lo é bastante complexo pela dificuldade em avaliar sua oferta no solo, devido às múltiplas reações a que está sujeito, mediadas por microrganismos e afetadas por fatores climáticos de difícil previsão. A grande frequência e magnitude das perdas do nitrogênio por lixiviação no perfil do solo requer que as adubações nitrogenadas sejam parceladas em épocas que coincidam com a maior demanda pelas plantas. A exigência de cada cultura por nutrientes pode ser inferida a partir da ex-
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tração total e da marcha de absorção dos nutrientes (Figura 1). Para a maioria das cultivares de milho a taxa de absorção do N é mais acentuada em período anterior ao florescimento e, para alguns genótipos modernos, podem ocorrer dois picos de absorção, um antes do florescimento, no estádio de 12 a 18 folhas, e outro durante o enchimento dos grãos. A concentração média de nitrogênio nos grãos é de 1,5%, variando de acordo com a cultivar e o tipo de manejo da cultura (Tabela 1). Considerando o índice de colheita dos grãos na massa seca total da parte aérea de, no mínimo, 45%, mais da metade do nitrogênio acumulado na planta
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é exportado nos grãos, em proporção muito superior ao potássio (26%) e inferior ao fósforo (80%).
Doses de nitrogênio
A maioria das recomendações de adubação nitrogenada no Brasil leva em conta principalmente a produtividade esperada, o que está diretamente relacionado com a extração pela planta e a exportação de N pelos grãos (Figura 2), o histórico de uso e o tipo de solo da área. O histórico de uso auxilia a previsão da resposta do milho ao nitrogênio, mas quando ocorrem excessos hídricos (maiores perdas por lixiviação) a resposta ao N pode ser acentuada indepen-
Tabela 1 - Extração na planta inteira e exportação nos grãos de macronutrientes na cultura do milho, em kg por tonelada de grãos. Fonte: Adaptado de Duarte et al (2003) e Cantarella e Duarte (2004) Nutriente Nitrogenio Fósforo Potássio Enxofre Zinco
Exportação Extração kg/t grãos 15,0 28,0 3,6 4,5 4,7 18,0 1,2 2,6 g/t grãos 30,0 43,0
Figura 1 - Ciclo e acúmulo de matéria seca (MS), nitrogênio e potássio no subperíodo emegência-florescimento masculino, em relação ao valor total na maturidade dos grãos
Exportação relativa % 54 80 26 46 70
dentemente da(s) espécie(s) já cultivada(s) na área. Por outro lado, quando a produtividade for inferior à esperada devido à deficiência de água no solo, a dose recomendada continua proporcionando retorno econômico próximo ao máximo (Duarte et al, 2005), provavelmente, devido à menor mineralização da matéria orgânica. A análise do solo, especificamente da matéria orgânica, é utilizada em poucas regiões como um dos fatores para recomendar a dose de fertilizantes nitrogenados, com destaque para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Tabela 2). O uso do teor de matéria orgânica ou, indiretamente, o teor de N total do solo, pressupõe a liberação de uma porcentagem mais ou menos constante do N do solo para as culturas, o que na maioria das vezes não ocorre. Mais de 95% do N do solo se encontra na forma orgânica, mas é o N mineral que é absorvido pelas plantas, na forma de amônio e nitrato. No sistema plantio direto (SPD) ocorre um gradiente de acúmulo de matéria
orgânica e nutrientes nas camadas mais superficiais. No entanto, isso não implica necessariamente em maior oferta porque o fator determinante da oferta de N após a adoção do SPD é o balanço entre imobilização e mineralização. Durante os primeiros anos de implantação do SPD há relativamente maior imobilização de N, que tende a ser reduzida com o tempo de adoção do sistema, concomitantemente, ao aumento da mineralização. Áreas com plantio direto já estabilizado, exceto em algumas regiões de baixa altitude e/ou in-
A oferta adequada de nitrogênio tem papel importante na busca por alta produtividade na cultura do milho
verno seco, geralmente apresentam solos com valores altos de matéria orgânica e cobertura com palha e, consequentemente, maior oferta de N para as culturas. As doses recomendadas nas tabelas de adubação devem ser ajustadas de acordo com a época de semeadura, a cultivar e a população de plantas. Considerando que, dentro de certos limites, populações mais elevadas de milho extraem mais nutrientes, é necessário aumentar a adubação nitrogenada para tornar possíveis os efeitos positivos da população de plantas. Algumas cultivares (cerca de ¼ das disponíveis no mercado) apresentam magnitude de resposta à adubação nitrogenada diferente das demais, independentemente da origem do germoplasma (Duarte et al, 1998). Mas esta informação é escassa devido, principalmente, à substituição rápida dos híbridos no mercado. Duarte et al (2012) verificaram que o híbrido 30F35H responde mais à adubação nitrogenada de cobertura que DKB 390YG (Figura 3). Considerando que são necessários 8kg de milho para comprar um 1kg de N, as doses máximas econômicas para os híbridos 30F35H e DKB 390YG foram 127kg/ha e 83kg/ha de N, respectivamente. A produtividade do milho aumentou acentuadamente nos últimos anos e, por consequência, a necessidade do uso de fertilizantes. Considerando que a maioria do cultivo de milho de verão ocorre sob plantio direto em rotação com a cultura da soja (verão) e plantas de cobertura (outono-inverno), pode ser mais rentável economicamente recomendar o
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nitrogênio utilizando a classe de média resposta. Tomando como referência que a extração e a exportação dos nutrientes são proporcionais à produtividade de grãos, o Boletim 100 IAC (Tabela 3) recomenda cerca de 1kg/ha de N por saco de milho produzido por hectare, em ambientes de alta resposta ao nitrogênio (solo arenoso e/ou histórico de gramíneas nos dois cultivos anteriores). Para uma produtividade de grãos de 12 toneladas por hectare são extraídos pela planta mais de 300kg/ha de N do solo (Duarte, 2003) e recomendados próximo de 200kg/ha de N. Já para condições de menor resposta (SPD consolidado e histórico de leguminosas), a quantidade de N recomendada pode ser reduzida em mais de 40%.
Parcelamento da aplicação
Parte do nitrogênio precisa ser aplicado obrigatoriamente por ocasião da semeadura, em doses de 30kg/ha a 40kg/ha de N, pois a absorção de nutrientes ocorre rapidamente durante as primeiras fases do ciclo das plantas de milho. Esta dose pode ser um pouco maior quando a aplicação é feita a lanço ou no próprio sulco em espaçamentos reduzidos. O restante do N é aplicado em cobertura, evitando excesso de sais no sulco de semeadura e, principalmente, perdas de N por lixiviação de nitrato. A cobertura não pode ser feita tardiamente porque a diferenciação floral tem início quando a planta está com a 5a folha expandida; no estádio de sete a oito folhas ocorre a definição do número de linhas de grãos na espiga e, por volta da 12a folha, o tamanho da espiga é determinado (Fancelli & Dourado Neto, 2000). Pode ser feita mais uma adubação de cobertura, além daquela recomendada no estádio de quatro a seis folhas, dependendo do tipo do solo (textura arenosa), da dose a ser aplicada em cobertura (valores superiores a 110kg/ ha), do manejo da cultura (sob irrigação,
por exemplo) e do tipo da cultivar. Na maioria dos estudos, não se verificou vantagem em parcelar a cobertura nitrogenada para aplicação de uma parte próximo do estádio de florescimento, especialmente em solos argilosos, devido ao sistema radicular estar bem desenvolvido, permitindo a absorção de N em grande volume de solo, que pode ser oriundo do fertilizante ou não. Mas, alguns híbridos que mantêm as folhas verdes até próximo da maturidade dos grãos (stay green) tem maior capacidade de produzir fotoassimilados durante o enchimento dos grãos e absorver N do solo tardiamente, que são qualidades ligadas à alta eficiência de absorção de N. A maior capacidade de absorver N em estádios tardios pode ser levada em conta no manejo da adubação para a obtenção de altos rendimentos, especialmente em culturas irrigadas.
Modos de aplicação da ureia
A ureia é preferida para aplicação em cobertura devido à maior disponibilidade, ao menor preço e à facilidade de aplicação, mas o nitrato de amônio e o sulfato de amônio também têm sido utilizados por não apresentarem perdas de N quando aplicados na superfície do solo sem enterrar. Com a adoção do espaçamento reduzido a maioria das aplicações de nitrogênio tem sido realizada a lanço, na superfície do solo. Mas, a ureia aplicada sobre a superfície está sujeita a perdas de N por volatilização de amônia, que podem atingir valores próximos de 40% do N aplicado, especialmente no sistema plantio direto, devido à maior atividade da urease nos resíduos vegetais. Como a incorporação da ureia é uma operação difícil em espaçamentos reduzidos, torna-se necessário aumentar a dose ou misturá-la com inibidores químicos para compensar ou minimizar as perdas, respectivamente. O sulfato fornece concomitantemente nitrogênio e enxofre, mas não é indicado
Figura 2 - Exportação de nutrientes na cultura do milho em função da produtividade
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Tabela 2 - Recomendação de adubação nitrogenada para sistema plantio direto conforme cultura de cobertura, teor de matéria orgânica do solo e produtividade esperada. Recomendação para 6 a 9t/ha(1) Produção de MS da cultura de cobertura antecedente t/ha Leguminosas <2 2a3 >3 Gramínea <2 2a4 >4 Pousio de Inverno
N recomendado para teor de MO no solo, g/kg 25 a 50 > 50 < 25 kg/ha de N 120 100 90
90 60 50
70 40 30
160 160 170 160
100 110 130 120
70 80 90 80
1 Milho em rotação anual com soja no verão: reduzir 20% da recomendação de N Fonte: Comissão de Fertilidade do Solo – RS/SC, 2004
Tabela 3 - Recomendação de adubação nitrogenada para milho (total) no estado de São Paulo (1). Fonte: Raij & Cantarella (1997) atualizado Produtividade esperada Classe de resposta a nitrogênio(1) Baixa Média Grãos Silagem - Massa Verde Alta t/ha 60 100 44-53 6-8 120 90 130 53-59 8-10 160 120 160 59-65 10-12 200 (1) Probabilidade de resposta a N: Alta: solos corrigidos, cultivo intensivo de gramíneas ou milho contínuo; primeiros anos de plantio direto; solos arenosos sujeitos a altas perdas por lixiviação Média: solos ácidos que serão calcareados antes do cultivo do milho; sucessão com leguminosas e gramíneas; solos em pousio por dois anos; cultivo após pastagens (exceto solos arenosos), uso moderado de adubos orgânicos. Baixa: solos em pousio por longo tempo; cultivo intensivo de leguminosas ou adubo verde; quantidades elevadas de adubos orgânicos.
para aplicação a lanço em área total por queimar as folhas do milho, assim como o nitrato de baixa qualidade física, com pó no meio dos grânulos, que também pode causar injúrias nas folhas, principalmente C quando úmidas. Aildson Pereira Duarte e Heitor Cantarella Instituto Agronônico (IAC)
Figura 3 - Resposta de híbridos de milho ao nitrogênio aplicado em cobertura em Capão Bonito (SP), 2010/11. Fonte: Duarte et al, 2012
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Milho
Arranjo perfeito
Charles Echer
Genótipo utilizado, ambiente, nível tecnológico do produtor, objetivo da produção e época de semeadura estão entre os elementos que influenciam o arranjo espacial de plantas na cultura do milho, fator que merece atenção especial na busca por alta produtividade
A
pesar dos avanços, a produtividade alcançada na cultura do milho ainda pode ser considerada baixa, sendo influenciada direta ou indiretamente por diversos fatores relacionados à planta e ao ambiente como a oferta hídrica e luminosa, fertilidade do solo, população de plantas, sistema de cultivo, potencial produtivo do híbrido e principalmente devido a manejos inadequados de plantas daninhas, pragas e doenças (Sandini e Fancelli, 2000). Embora se observe um crescimento da produção deste cereal mundialmente, tem-se, em igual ou maior ordem, um aumento da sua demanda. Segundo projeções da ONU, em 2050 o mundo alcançará um total de 9,1
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bilhões de pessoas, que necessitarão consumir produtos da mesma ordem dos consumidos atualmente. Desta forma, cria-se uma enorme demanda de crescimento da produção mundial de todas as culturas, principalmente do milho, que se caracteriza como base da alimentação humana, devido à sua conversão em produtos mais elaborados (carne de suínos, aves, gados etc). Para atender a esta demanda é necessário buscar investimentos em pesquisa, que elevem a produtividade da cultura nas diferentes áreas agrícolas. Tendo em vista o aumento do consumo, a elevação do rendimento de grãos tem-se constituído grande desafio para os pesquisadores. Há necessidade de se buscar novas práticas de
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manejo que maximizem a utilização dos fatores ambientais disponíveis, sem elevação dos custos de produção, a fim de atingir o máximo potencial de rendimento (Gubiani, 2005). Para o melhor aproveitamento das condições de solo e ambiente e, por consequência, uma maior produtividade a campo, tem-se buscado uma população de plantas ideal para a cultura, que seja distribuída a campo em um arranjo espacial que permita a mínima competividade intraespecífica, a máxima absorção de água e nutrientes, em detrimento de desenvolvimento de daninhas, facilidade de penetração de defensivos agrícolas, que proporcionem um microclima desfavorável ao desenvolvimento de doenças e, principalmente, que tornem possível a máxima captação da radiação fotossinteticamente ativa. Uma das formas de se aumentar a interceptação de radiação e, consequentemente, o rendimento de grãos é através da escolha adequada do arranjo de plantas. Este arranjo de plantas pode ser manipulado através de alterações na densidade de plantas, no espaçamento entre linhas, na distribuição de plantas na linha e na variabilidade entre plantas (emergência desuniforme) (Argenta et al, 2001b). A densidade de plantas é uma das práticas culturais que mais afetam o rendimento de grãos de milho, que é a espécie da família das Poaceas mais sensível à sua variação (Strieder et al, 2007). Vários pesquisadores têm buscado identificar o melhor arranjo de plantas para a cultura, trabalho que se torna difícil uma vez que este arranjo é influenciado por características como: genótipo utilizado, ambiente em que se insere o genótipo, nível tecnológico do produtor assistido, objetivo da produção (grãos, silagem, minimilho etc), época de semeadura, entre outras. Ao longo dos anos de cultivo desta cultura, tem-se variado significativamente a população de plantas e espaçamento entre fileiras. As variedades e os híbridos utilizados nas décadas de 30, 40 e 50 não suportavam altas competições entre plantas, sendo que, até a implantação e utilização de híbridos simples, a população de plantas recomendada ficava na ordem de três plantas/m2, se elevando a seis plantas/m2 a partir da década de 60 e
melhorando o aproveitamento dos nutrientes e reduzindo a possibilidade de efeitos salinos (Balbinot e Fleck, 2005). Quando se trabalha com altas densidades de semeadura, os espaçamentos convencionais (0,80m a 1m) fazem com que o número de plantas/m seja muito alto, elevando a competição por água, luz e nutrientes, limitando a oferta de carboidratos à produção de grãos. Nestas condições, os efeitos positivos da redução do espaçamento entre fileiras de semeadura se tornam ainda mais evidentes (Sangoi e Silva, 2006). Modolo et al (2010) trabalhando com três espaçamentos entre fileiras (0,45m, 0,70m e 0,90m) e três híbridos de milho com diferentes arquiteturas de plantas (DKB 240, Pioneer 30R50 e SG 6010) sobre uma mesma densidade de plantas (60.000 plantas/ha), concluíram que a redução de espaçamento propiciou uma maior produtividade de todos os híbridos utilizados. Do mesmo modo, pesquisas recentes têm demonstrado que a redução de espaçamento entre linhas tem contribuído para o aumento da produtividade (Balbinot Junior; Fleck, 2004; Strieder, 2006). Neste contexto, objetivando verificar o arranjo de plantas ideal para cinco diferentes híbridos de milho (XB 6010, XB 6012, XB 7253, XB 9003 e AG 9010), realizou-se experimento com dois espaçamentos entre fileiras de plantas (0,45m e 0,90m) e cinco populações de plantas (50.000 plantas/ha; 60.000 plantas/ ha; 70.000 plantas/ha; 80.000 plantas/ha e 90.000 plantas/ha). Concluiu-se que, a alteração no espaçamento entre fileiras influenciou de forma diferenciada os híbridos avaliados, sendo que o rendimento sofreu interferência apenas quando da utilização do híbrido AG 9010. Neste, a utilização do espaçamento reduzido (0,45m) incrementou o rendimento em 15%, em relação ao espaçamento de 0,90m entre linhas (Kappes et al, 2011). Em estudo com quatro densidades de plantas (3 plantas/m2; 5 plantas/m2; 7 plantas/m2 e 9 plantas/m2) e três espaçamentos entre linhas (0,40m; 0,70m e 1m) sobre caracteres da cultura do milho, Sangoi et al
podendo chegar hoje a populações acima de nove plantas/m2 em condições de alto nível tecnológico (Argenta et al, 2001b). A presente pesquisa busca identificar, desta forma, as principais tendências observadas em nível de pesquisa e a campo, evidenciando não o espaçamento ideal, uma vez que difere enormemente entre variadas condições, mas uma tendência geral de utilização da população de plantas e espaçamento entre fileiras (arranjo de plantas), que consiga maximizar a produtividade agrícola e manter a sustentabilidade do sistema de produção de milho. Segundo Sangoi et al (2004), tradicionalmente tem-se implantado a cultura do milho com espaçamentos entre linhas compreendidos entre 0,80 e 1m, o que permite um adequado manejo mecanizado com relação a semeadura, tratos culturais e colheita. Este tradicional espaçamento se deriva da utilização de cultivadores para o manejo de plantas daninhas, o que impossibilitava a redução do espaçamento, bem como pela adaptação de colhedoras a espaçamentos maiores. Nos últimos anos, o interesse em cultivar o milho utilizando espaçamentos entre linhas reduzidos (0,45 a 0,60m) tem crescido, devido principalmente ao desenvolvimento de híbridos tolerantes a altas densidades e à maior agilidade da indústria de máquinas agrícolas no desenvolvimento de equipamentos adaptados ao cultivo do milho com linhas mais próximas e à adoção em massa de herbicidas pós-emergentes (Silva, 2005). A redução do espaçamento entre linhas com uma mesma densidade de plantas tem várias vantagens potenciais. A maior delas é a melhor equidistância dos indivíduos na área de cultivo, o que reduz a competição entre plantas por água, luz e nutrientes, otimizando a sua utilização (Porter et al, 1997). A maior equidistância propicia sombreamento mais rápido do solo, aumentando a captação da radiação incidente e predispondo uma menor incidência luminosa nos extratos inferiores do dossel, o que mitiga o desenvolvimento de plantas tidas como daninhas (Balbinot e Fleck, 2005). Além disto, a maior equidistância propicia melhor exploração do solo pelo sistema radicular e, consequentemente, a maior absorção de água e nutrientes pela cultura (Sangoi et al, 2004). Quanto à influência da redução de espaçamento sobre o manejo mecânico da cultura, tem-se uma maior operacionalidade em espaçamentos de 0,45m a 0,50m para agricultores que trabalham com a sucessão soja/milho, uma vez que, as linhas de semeadoras-adubadoras não necessitam ser alteradas, além disso, a distribuição dos fertilizantes ocorre em maior quantidade de metros lineares por hectare,
DENSIDADE
A densidade de plantas é uma das práticas culturais que mais interferem no rendimento de grãos de milho, devido à sua baixa capacidade de emissão de afilhos férteis, à sua organização floral monoica e ao curto período de
Fotos Danúbia Nobre
ESPAÇAMENTO
(2011) observaram que a redução do espaçamento entre linhas elevou a interceptação da radiação solar no início do ciclo, porém, esta maior interceptação não inferiu em maior produtividade da cultura. Resultados estes também observados por Argenta et al (2001a) e Strieder et al (2008). Argenta et al (2001a), avaliando o efeito da redução do espaçamento entre linhas sobre o rendimento e componentes do rendimento de grãos e sobre outras características agronômicas de híbridos simples de milho, concluíram que a resposta do rendimento de grãos de milho à redução do espaçamento entre linhas é influenciada pelo híbrido e pela densidade das plantas. Do mesmo modo, Marchão et al (2005), avaliando o comportamento de híbridos de milho (A 2555, A 2288, AG 9010, AG 6690, P30F88 e Valent), cultivados em diferentes densidades populacionais (40.000 plantas/ ha, 53.000 plantas/ha, 71.000 plantas/ha, 84.000 plantas/ha e 97.000 plantas/ha) e sob espaçamento reduzido (0,45m), observaram que a redução do espaçamento entre linhas, associada à utilização de cultivares de milho de menor porte, pode ser acompanhada de incrementos na densidade de plantas. Os mesmos autores ainda concluem que, dependendo do híbrido, é possível aumentar o rendimento de grãos com o incremento da densidade de plantas, sob espaçamento reduzido (0,45m). Diante das pesquisas já realizadas, Cruz et al (2009) faz conhecer que os espaçamentos nas entre linhas são ainda muito variados, mas os mais usados estão em torno de 0,80m a 0,90m. Entretanto, verifica-se uma tendência a maior redução (0,45m a 0,50m), encontrando-se no mercado plataformas adaptáveis às colhedoras para realizar a colheita em espaçamentos de até 0,45m.
Distribuição de plantas com espaçamento de 0,80m (esquerda) e 0,60m (direita) entre fileiras
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Resultados relacionados à arquitetura da planta foram ainda observados por Demétrio et al (2008) que, ao avaliarem dois híbridos simples (P30K73 e P30F80), observaram que o incremento na densidade populacional de milho aumenta a altura das plantas e da inserção da primeira espiga, e reduz o número de grãos por espiga. E o melhor arranjo das plantas de milho para os híbridos avaliados é de 0,40m de espaçamento entre linhas e de 75 mil plantas/ha e 80 mil plantas/ha de densidade populacional. Outras características podem ser observadas por Von Pinho et al (2008), ao avaliarem os híbridos P30K75 e o Tork, em densidade de plantio ajustada por desbaste (55 mil plantas/ ha, 70 mil plantas/ha e 85 mil plantas/ha) e adubações nitrogenadas de cobertura, observou aumento da altura de plantas e da produtividade de grãos de milho com o crescimento na densidade de semeadura. Mello et al (2011) também obtiveram maiores rendimentos de grãos com acréscimos concomitantemente nas doses de N e nas densidades de plantas. Em conformidade com Brachtvogel et al (2009), seis populações de híbrido simples DOW 2B587, combinadas em duas formas de arranjo espacial equidistante entre plantas, para todas as características avaliadas, foram influenciadas predominantemente pelas densidades populacionais, independentemente do arranjo espacial utilizado. Em contrapartida, Afférri et al (2008), ao avaliarem as cultivares AGN2012 e BRS2020, no estado do Tocantins, detectaram que os efeitos de espaçamentos promoveram variações mais significativas sobre as características agronômicas da cultura do milho, do que os efeitos de densidades de plantas. No entanto, para Argenta et al (2001b) cultivares de ciclo superprecoce e precoce, tidas como híbridos “modernos”, são caracterizadas pela presença de folhas curtas e eretas, o que possibilita o adensamento de plantas e uma maior produtividade final da cultura. Conforme Emygdio e Texeira (2008), a adoção da prática de densidade adequada e específica para BRS 1015 promove incrementos Charles Echer
florescimento (Silva et al, 2006). A densidade de semeadura é definida como o número de plantas por unidade de área e tem papel importante no rendimento da lavoura. A densidade recomendada para as cultivares atuais varia de 40 mil plantas por hectare a 80 mil plantas por hectare. Porém, em estudos realizados por Cruz et al (2009), foram constadas densidades variando de 40 mil plantas por hectare a 50 mil plantas por hectare até 75,5 mil plantas por hectare a 84 mil plantas por hectare com produtividade média acima de 8.000kg/ha. O incremento na densidade de plantas é uma das formas mais fáceis e eficientes de se aumentar a interceptação da radiação solar incidente pela comunidade de plantas de milho. No entanto, o uso de densidades muito elevadas pode reduzir a atividade fotossintética da cultura e a eficiência da conversão de fotoassimilados em produção de grãos. Em consequência disso, há um aumento de esterilidade feminina e redução do número de grãos por espiga e do rendimento de grãos (Marchão et al, 2006). Assim sendo, a densidade populacional ótima para um determinado híbrido é aquela que corresponde ao menor número de plantas por unidade de área, o que induz à maior produtividade (Demétrio et al, 2008). A definição da adoção do extremo inferior ou superior da faixa de densidade de plantas a ser utilizada vai depender, entre outros aspectos, da oferta hídrica e de nutrientes e do nível de tecnologia empregado no estabelecimento e na condução da lavoura de milho. Havendo limitações hídricas e nutricionais a densidade de plantas deve ser reduzida (Emygdio; Texeira, 2008). Para Sangoi et al (2005) o rendimento de grãos do híbrido Speed apresentou maiores incrementos do que o Ag 303, com o aumento da população de plantas, devido à maior sincronia entre a antese-espigamento, além de maior produção de grãos por espiga e por área. O híbrido Speed exibiu, ainda, maior número de grãos por unidade de biomassa alocada à inflorescência feminina na fase crítica à definição deste componente do rendimento, o que contribuiu para a sua melhor performance agronômica em estandes adensados. Piana et al (2008), em estudo realizado com híbridos simples NB4214 e Dow 2B587, concluíram que o incremento da densidade até 9 plantas/m² a 11 plantas/m2 é uma estratégia eficiente para elevar o potencial de rendimento de grãos cultivados em alto nível de manejo e semeadura precoce na região da Depressão Central do Rio Grande do Sul. Afirmam ainda que híbridos com arquitetura de folhas mais eretas não demonstram maior tolerância ao adensamento de plantas quando comparados a híbridos de folhas decumbentes.
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na produtividade e aumento de renda para o produtor, o que não implica em aumento de trabalho na implantação da lavoura. Além do incremento na produtividade, a prática do aumento da população de plantas e redução do espaçamento entre linhas promove a cobertura mais rápida do solo, diminuindo a incidência de plantas daninhas e melhorando a retenção de água no solo pela menor evapotranspiração.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O arranjo de plantas (espaçamento e densidade) recomendado difere de estudo para estudo, uma vez que se trabalha em regiões e condições diferentes, com variação nos níveis tecnológicos. Desta forma, o arranjo ideal de plantas deve ser mensurado conforme a condição de implantação da cultura do milho. Embora não seja consenso entre os resultados obtidos, tem-se observado que a cultura de híbridos modernos apresenta maior rendimento quando da utilização de populações acima de 70.000 plantas/ha em espaçamento reduzido (0,40m a 0,50m). Quando da utilização de maiores densidades de semeadura, a redução do espaçamento entre fileiras ganha maior importância, pois distribui melhor as plantas na área, bem como tem-se a necessidade de aportar maiores quantidades de recursos, trabalhando em um nível tecnológico mais elevado. Portanto, o arranjo de plantas ideal é aquele que propicia melhor equidistância e menor competição entre as plantas, bem como que ofereça maior capacidade de competição à cultura quando da interferência de plantas daninhas, déficit hídrico, luminoso ou de nutrientes etc. Neste sentido, a implantação dos melhores arranjos de plantas para a cultura do milho a campo ainda é influenciada pela oferta de máquinas (semeadura, tratos culturais e colheita), assim como as condições que serão C oferecidas à planta. Emerson Trogello, Danúbia Aparecida C. Nobre e João Carlos Cardoso Galvão, UFV
Milho
Teste de germinação Embrapa
O acondicionamento correto e a marcação dos dados dos lotes de sementes, como tempo de chegada e eficiência de germinação, são indispensáveis para que se possa realizar testes padrões para saber se o vigor continua o mesmo e se o plantio fornecerá um estande de qualidade
A
cultura do milho possui grande importância no cenário nacional, sendo cultivada para alimentação de suínos e aves onde se consomem aproximadamente 70% da produção, sendo uma das culturas mais plantadas no país. No ano de 2011, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o milho foi a segunda cultura com maior área plantada no país, tendo sido plantada em 13.585.807/ha, ficando atrás somente da soja cultivada em 24.082.345/ha e inclusive ficou à frente da cana-de-açúcar, que foi plantada em 9.139.834/ha. O milho, Zea mays, é uma planta de rápida emergência. Em condições ideais de luminosidade, temperatura e umidade do ambiente em que se semeou a semente, a emergência ocorre quatro a cinco dias após a semeadura, sendo o milho uma ótima planta para fazer e demonstrar como se realizar um teste de
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germinação. Muito se fala em germinação da semente, da produtividade do lote a que pertence, que quanto maior for a germinação de um lote de sementes, maior será o lucro e menor a perda de um produtor. Porém, poucos sabem como se descobre a germinação de um lote de sementes, o que é um teste padrão e quais os testes se germinações são utilizados. Germinação de sementes é a emergência da plântula e suas estruturas essenciais do embrião (sistema radicular, o coleóptilo e a parte aérea). Em laboratório é a emergência da plântula e estruturas, de forma que se possa ter um bom desenvolvimento da planta no campo em condições favoráveis. O teste padrão de germinação serve para a identificação da qualidade de um lote de sementes, ocorrendo uma simulação de como se comportaria em campo e a sua diferença para outras sementes. O teste é executado em
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laboratório, com o objetivo de obter todas as condições favoráveis para o desenvolvimento da semente: temperatura, iluminação e água. Porcentagem de germinação corresponde ao número de sementes que produziram plântulas consideradas normais. No teste padrão de germinação podem ser utilizados quatro tipos de substratos: papel, areia e água. Entretanto, em laboratório, o usual é papel e água. A escolha vai depender de alguns fatores da semente e de sua exigência como tamanho, exigência em água e luminosidade. Teste de germinação em areia deve utilizar material com grãos relativamente uniformes, nem partículas muito grandes e nem muito pequenas. É interessante que o tamanho das partículas fique entre 0,8mm e 0,05mm. A areia deve estar livre de qualquer contaminação para evitar que o contaminante atrapalhe a germinação da semente. Em caso de teste
Tabela 1 - Germinação das sementes de milho Sementes que não germinaram 4 2 5 4 2 4
Plântulas normais 42 41 39 43 40 44
com areia em laboratório, recomenda-se que seja autoclavada a 120ºC por uma hora e que mantenha um pH entre 6 e 7,5. Para fazer o teste é importante colocar a semente enterrada a 1cm, exercendo uma pequena pressão com água e um fotoperíodo controlado. O solo também pode ser utilizado como substrato, porém, para obter resultados mais precisos não se deve utilizá-lo, principalmente em laboratório. Em laboratório, o teste padrão mais utilizado é o com papel, podendo ser toalha, mata-borrão ou de filtro. Esses papéis têm a capacidade de retenção de água para suprir as necessidades das sementes. Também deve ser poroso, com sacos plásticos para protegê-lo de impurezas e danos eventuais. O intuito maior deste trabalho é a familiarização do leitor com o método de análise para verificação da germinação de um lote que não possua data de chegada e/ou não tenha sido acondicionado corretamente, com o objetivo de saber se ainda mantém o seu vigor. Esta prática foi efetuada em laboratório, na Universidade Federal do Ceará, pelo Laboratório de Investigação de Acidentes com Máquinas Agrícolas (Lima) e o Grupo de Pesquisas em Energia e Máquinas para a Agricultura do Semiárido (Gemasa) com sementes já existentes na universidade, sem lote e data definida. O teste padrão de germinação foi realizado em papel germe teste, um substrato simples de
Câmara B.O.D. em funcionamento com teste de germinação com papel em placa de Petri
Plântulas anormais 4 7 6 3 8 4
Porcentagem de germinação (%) 83 82 84
trabalhar e mais seguro, com boa porcentagem de germinação. O armazenamento realizado em câmara de B.O.D. assegura as condições ideais de temperatura entre 25ºC e 30ºC, um fotoperíodo ideal para germinação e uma boa manutenção de umidade. Os materiais utilizados foram 15 folhas de papel germe teste, seis ligas, uma balança de precisão, câmara de B.O.D, contador de sementes. Foram analisadas 300 sementes. Primeiramente, fez-se a assepsia das sementes de milho com solução de hipoclorito de sódio a 10% por um minuto e depois com álcool comercial por cinco minutos. Logo após, se procedeu a assepsia dos materiais utilizados: ligas, mesa onde foi realizada a montagem e as mãos do manejador do rolo. Utilizaram-se 15 folhas de papel germe teste e pesaram-se todas juntas em uma balança de precisão. O peso aferido foi multiplicado por dois e o resultado obtido foi a quantidade de água destilada, colocada nas folhas. Separaram-se as folhas em seis grupos, com duas folhas cada e mais três para serem colocadas por fora, uma para cada grupo de dois rolos. Manejando as duas folhas retirou-se a folha de cima e colocaram-se 50 sementes em contador de sementes distribuindo na Fotos Deivielison Macedo
Rolos 1 2 3 4 5 6
folha. Após, colocou-se a segunda folha por cima, fechando de forma a se fazer um rolo. Repetiu-se esse procedimento com o segundo grupo de folhas. Com a folha que sobrou, envolveram-se os dois rolos formando um canudo, colocando as ligas uma na parte superior e outra na inferior. Repetiu-se o procedimento para as demais folhas. Os canudos foram levados para uma câmara B.O.D. e deixados por seis dias. Com o término deste tempo foi realizada a contagem das sementes que não germinaram e das plântulas normais. Esta análise é conhecida como interpretação do teste. Após a contagem foi feito o cálculo. A porcentagem de germinação do canudo 1 foi de 83%, o segundo alcançou 82% e o terceiro e 84%, com uma média de germinação de 83%, abaixo da recomendada para a espécie e verificado pela Embrapa (2010) que é de 90%. Houve, ainda, perda de vigor com o passar do tempo e condições de acondicionamento. Essa prática ressalta a necessidade de acondicionamento correto e marcação dos dados dos lotes de sementes, como tempo de chegada e eficiência de germinação para que se possa realizar testes padrões de germinação para saber se o vigor da semente continua o mesmo e se o plantio fornecerá um estande C de qualidade. Deivielison Ximenes S. Macedo, Viviane Castro dos Santos, Juliana Matos Vieira, Jefferson Auteliano D. Carvalho, Daniel Albiero e José Siqueira de Macedo Júnior, Lima/Gemasa/UFCE
Acondicionamento correto, com informações sobre as sementes de milho
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Marcieli Pagel Hobuss
Soja
Severidade proporcional Diferentes maneiras de preparo do solo têm poder para influenciar a dinâmica do mofo branco e possibilitar respostas diversas na incidência desta doença em plantas de soja. A semeadura direta na palha é uma das estratégias que podem ser utilizadas no manejo integrado desse patógeno
O
mofo branco causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum é atualmente umas das principais doenças da cultura da soja, pelos prejuízos provocados e pela dificuldade de controle (Furlan, 2009). Essa doença afeta o potencial produtivo da cultura da soja por provocar perdas que podem variar até 60%, como as observadas no sudoeste de Goiás (Silva et al, 2009), porém, com potencial para alcançar 100% em algumas áreas, conforme descrito por Jaccoud Filho et al (2010). O fungo é polífago, tendo como hospedeiras plantas de 75 famílias, 278 gêneros e 408 espécies (Boland e Hall, 1994), que incluem culturas de potencial econômico como soja, feijão, algodão, girassol, tomate, batata e fumo, e plantas daninhas como picão, carrapicho, caruru e mentrasto. Além da ampla gama de hospedeiros que multiplicam o fungo, o mofo branco forma estruturas de resistência denominadas de escleródios, que podem permanecer no solo por vários anos, conservando intacto seu poder germinativo, o que dificulta o seu controle. A adoção de medidas isoladas não tem controlado eficientemente o mofo branco. De acordo com Balardin (1999) o controle de doenças deve envolver um conjunto de práticas, como o uso de cultivares resistentes, tratamento de sementes, adubação mineral equilibrada, uso de fungicidas na parte aérea e rotação/sucessão de culturas. Essas estratégias,
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quando empregadas de forma integrada, apresentam alta eficácia e proporcionam retorno econômico. Entre essas recomendações para manejo do mofo branco, podem ser destacadas práticas como o controle cultural com formação da palhada para o sistema de plantio direto (SPD). O controle cultural pela cobertura do solo com palhada tem potencial para inibir a formação de apotécios, conforme demonstrado em condições experimentais (Ferraz et al, 1999). Em área altamente infestada por S. sclerotiorum, Görgen et al (2009) constataram a eficiência da palhada de braquiária como barreira física à produção de apotécios e a consideraram como premissa para o controle biológico deste patógeno no SPD. A produção de palhada é eficiente em reduzir a população de escleródios no solo, que representam a principal fonte de inóculo e a parte fundamental no ciclo de vida do patógeno (Clarkson et al, 2003). As medidas de controle devem considerar que a severidade do mofo branco em diferentes hospedeiros é, em geral, proporcional à densidade de inóculo do patógeno no solo. Portanto, a redução da população de escleródios é essencial para o controle efetivo desta doença. Além disso, práticas que diminuam a formação de apotécios, a liberação de ascósporos e a produção de novos escleródios auxiliam no controle da doença. Assim, diferentes maneiras de preparo do solo podem influenciar a dinâmica do mofo branco, possibilitando respostas diversas na incidência desta doença
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em plantas de soja.
O experimento
Um experimento foi realizado na fazenda Aurora Serios, no município de Correntina/ Bahia, em condições de campo na safra 2011/2012, em área com histórico de incidência da doença. Adotou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso, com quatro tratamentos e nove repetições. Os tratamentos foram: T1 - Semeadura direta sem palha; T2 - Semeadura no solo escarificado, seguido de grade; T3 - Semeadura no solo aivecado, seguido de grade e T4 - Semeadura direta na palhada de braquiária (Brachiaria ruziziensis). As parcelas foram constituídas por cinco linhas espaçadas de 0,56m e 15 metros de comprimento, sendo as duas linhas centrais consideradas com área útil para a coleta de dados. A semeadura foi realizada com semeadora no dia 26/10/2011 utilizando-se 7,2 sementes/m do cultivar M9144RR que foram tratadas com fipronil + piraclostrobina + tiofanatometílico (200ml/100kg de sementes). Antes da semeadura as sementes foram inoculadas com inoculante líquido comercial na dose de (200ml/100kg de semente). Os demais tratos culturais adotados às parcelas experimentais foram os mesmos aplicados à cultura da soja em áreas de plantios comerciais, com manejo químico das plantas daninhas e das pragas, conforme levantamento de campo realizado para esses elementos bióticos e de acordo com as recomendações técnicas para a cultura.
Figura 1 - Número médio de plantas com sintomas de S. sclerotiorum em cada repetição, nos diferentes tratamentos
Tabela 1 - Número médio de plantas com sintomas de mofo branco registrado nos diferentes tratamentos Tratamentos T1 T2 T3 T4 CV%
Plantas com sintomas de mofo branco 11,34 A 1,88 C 3,33 B 0,13 D 17,80
*Valores seguidos pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey à 5% de significância.
Foi avaliada a incidência do mofo branco em todas as plantas nas duas linhas centrais da parcela, totalizando aproximadamente 200 plantas aos 85 dias após a semeadura (estádio fenológico R3). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e, quando significativos, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância, utilizando o programa Assistat. Na Tabela 1 são apresentados os resultados do número de plantas com os sintomas do mofo branco. O número de plantas com sintomas da doença variaram de 0,13 (tratamento T4) a 11,34 (tratamento T1), sendo todos os tratamentos diferentes entre si. O menor número de plantas com a doença foi registrado quando se realizou a semeadura direta na palhada de braquiária (0,13 planta, tratamento T4). Com a palhada de braquiária pode ocorrer a inibição da formação de apotécios (Ferraz et al, 1999), um aumento no parasitismo de escleródios por patógenos presentes no solo e redução do inóculo inicial
de S. sclerotiorum, como comprovado por Görgen et al (2009). A palhada funciona como uma barreira física que reduz a luminosidade sobre o solo, podendo causar atraso de várias semanas na produção de apotécios (Sun e Yang, 2000). Esse atraso pode resultar em menor número de inóculo no momento em que a soja estaria mais vulnerável à infecção, que de acordo com Danielson et al (2004) é do estádio R2 a R5. Todos esses fatores podem ter contribuído para os resultados obtidos no tratamento T4. Quando se realizou a escarificação do solo, pode ter havido enterrio de parte dos escleródios, o que resultou em diminuição da fonte de inóculo e, consequentemente, menor infecção das plantas de soja pela doença (média de 1,88 planta de soja com mofo branco/parcela), como pode ser observado no tratamento T2 (Tabela 1 e Figura 1). Quando no preparo do solo foi utilizado o arado de aiveca (tratamento T3) se obteve média de 3,33 plantas com sintomas de mofo branco, mostrando que com a utilização deste
implemento, mesmo ocorrendo o revolvimento e a inversão das camadas do solo, a infecção das plantas pela doença ocorre em valores superiores à semeadura no solo escarificado (tratamento T2) e semeadura direta na palhada de braquiária (tratamento T4). O tratamento onde foram constatados os valores mais altos de plantas com sintomas da doença foi o T1 (semeadura direta no solo sem palha), pois, sem a escarificação, o uso do arado de aiveca e sem a “proteção” da palhada, não há barreira física nem impedimento à penetração da luz, entre outros, e os escleródios, em condições ideais de clima e fenologia da planta, têm todas as condições para germinarem, produzirem apotécios e esporos que irão infectar a planta e causar a doença na cultura. De todos os tratamentos estudados conclui-se que a semeadura direta na palha contribui para menor incidência de plantas com mofo branco, podendo esta prática fazer parte do manejo integrado para o controle C desta doença. Marcieli P. Hobuss, Paulinho Ferreira e Heinz Kudiess, Aurora Serios Sementes Mônica Martins, Faculdade Arnaldo Horácio Ferreira
Fotos Cristina Schetino Bastos e Jorge Braz Torres
Nossa capa
Manejo efetivo
O bicudo-do-algodoeiro é praga agressiva, responsável por perdas drásticas, capazes de levar até mesmo à inviabilização do cultivo em situação de ataque severo. A integração de táticas como combate cultural, químico, biológico, físico e comportamental é indispensável para reduzir a população do inseto e minimizar os danos
O
bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae), constitui-se em uma das pragas-chave do algodoeiro, responsável por perdas capazes de inviabilizar ou alterar significativamente a forma como o cultivo é realizado. O adulto desse inseto é um besouro de coloração variável entre o marrom-avermelhado e o cinza-escuro, podendo alcançar de 3,2mm a 8mm de comprimento. Enquanto o tamanho pode variar consideravelmente em função da condição nutricional do hospedeiro (botões ou maçãs), a cor do tegumento se altera com a idade do inseto, com predomínio da coloração acinzentada em insetos com idade avançada. O nome "bicudo" remete ao fato dos
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adultos do inseto possuírem a cabeça prolongada, formando um rostro ou "bico" característico, comum em muitos membros de Curculionidae. O aparelho bucal do inseto, usado para danificar as estruturas reprodutivas, se localiza na extremidade desse "bico" ou rostro. Os adultos do bicudo-do-algodoeiro, geralmente, podem ser diferenciados de outras espécies de "bicudo" devido à presença de duas projeções em forma de espinhos localizadas no fêmur do par de pernas anterior, sendo o espinho mais interno maior que o espinho mais externo. Os estágios imaturos (ovos, larvas e pupas) localizam-se no interior das estruturas atacadas que incluem botões e maçãs. Os ovos, ligeiramente elípticos e opacos,
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são de difícil visualização, uma vez que possuem cerca de 1mm de comprimento e são depositados no interior das estruturas atacadas. As larvas são brancas, ápodas e possuem cápsula cefálica bem diferenciada e de coloração marrom, alcançando cerca de 1cm no final do seu desenvolvimento larval. As pupas são de coloração branca a creme e formato bastante similar ao do adulto, sendo possível a visualização do rostro, das pernas e das asas já nessa fase. Sob as condições brasileiras de temperatura, o inseto leva de 14 a 22 dias para completar seu ciclo de desenvolvimento. Esse dado proporciona uma ideia do número de gerações que a praga pode completar durante apenas um ciclo de desenvolvimento do algodoeiro: em média, 3-4 gerações,
Charles Echer
Pupa do bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae) Adulto do bicudo-do-algodoeiro Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae)
desconsiderando-se a sobreposição de gerações que pode ocorrer devido à imigração proveniente de áreas adjacentes e nascimentos contínuos de bicudos dentro da lavoura. Junte-se a isso o fato de que, cada fêmea do bicudo-do-algodoeiro leva de 4-5 dias para começar a oviposição, depositando cerca de 100-300 ovos durante sua vida e se terá um panorama do potencial causador de danos desse inseto. No Brasil, essa situação é ainda mais crítica ou agravada em função dos insetos encontrarem condições ambientais favoráveis ao seu desenvolvimento e hospedeiro adequado durante grande parte do ano, uma vez que os cultivos "safra" são sucedidos por cultivos "safrinha" (ou sobrepostos) em muitas regiões. Adicionalmente, a própria fisiologia da planta de algodão não favorece o manejo da praga, dado que o hábito de crescimento indeterminado propicia a emissão contínua de estruturas reprodutivas. Desta forma, não é incomum encontrar em uma mesma planta botões florais, flores, maçãs e capulhos abertos, algo que não contribui para quebra da oferta de alimento e sítio de reprodução da praga. Logo, o vazio sanitário, uma das medidas de controle cultural mais empregadas no manejo de pragas em geral, que consiste na indisponibilização espacial ou temporal de alimento de forma a propiciar a interrupção do ciclo de vida da praga, requer especial atenção para implementação. Essa medida de manejo tem desdobramentos sobre o calendário de plantio e colheita das lavouras, sendo variável entre regiões. Do ponto de vista histórico, a relevância desse inseto como praga do algodoeiro é tamanha, que justificou os esforços realizados para sua erradicação nas áreas de produção de algodão mais relevantes dos Estados Unidos. No Brasil, após a sua entrada, na década de 80, aventou-se a hipótese de erradicação, a exemplo da iniciativa americana. Todavia, essa abordagem foi desconsiderada
Larva do bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae)
após algum tempo por questões de ordem operacional, principalmente, em virtude da amplitude do calendário de plantio entre as diferentes regiões produtoras do Brasil e devido às condições climáticas favoráveis à praga, dentre outros motivos. Entretanto, a entrada da praga foi imperativa nas mudanças que se sucederam em relação às variedades cultivadas e à alteração da geografia de produção. Essas mudanças resultaram na substituição das variedades semiperenes por outras de ciclo anual e no cultivo em larga escala em áreas do cerrado, em detrimento das áreas em que a cultura vinha sendo cultivada até então. Por todo o exposto, pode-se ter uma ideia de o porquê, mesmo em áreas de produção do algodoeiro onde o bicudo é considerado erradicado ou em baixa prevalência,
o inseto ainda é considerado como uma praga de grande relevância econômica. Em muitas ocasiões, plantas com crescimento vegetativo vigoroso apresentam produções marginais. Essa situação é decorrente do fato da praga concentrar seu ataque nas estruturas reprodutivas da planta (botões e maçãs), contribuindo para redução significativa da produção devido às perdas quantitativas (de peso) e qualitativas (alteração da qualidade da fibra). Nas avaliações a campo, é possível fazer a distinção entre as estruturas apresentando apenas sinais de alimentação e aquelas mostrando sinais de oviposição. As puncturas de oviposição normalmente apresentam-se elevadas e contêm o sinal claro do "selamento" do orifício de oviposição feito pela fêmea. Já a injúria decorrente da alimentação não apresenta selamento e mostra aberturas visíveis que contêm, muitas vezes, resíduos de pólen retirados do interior do botão floral. As lavouras infestadas com o bicudo
Botão atacado pelo bicudo-do-algodoeiro. O botão apresenta sintoma de oviposição marcado
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Cristina Schetino Bastos e Jorge Braz Torres
Figura 1 - Representação esquemática das parcelas que foram cultivadas com a variedade de fibra branca (BRS Aroeira) circundando a variedade colorida (BRS Topázio)
Armadilha Accountrap usada no monitoramento do adulto do bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae)
apresentam quantidade considerável de botões caídos ao solo, além da abscisão natural, uma vez que após atacados é comum ocorrer a senescência dessa estrutura em uma semana. O reconhecimento do sinal de ataque da praga é muito importante, dado que os índices empregados para tomada de decisão de controle curativo (controle químico) são baseados na porcentagem de estruturas reprodutivas atacadas, apesar desta decisão também poder ser baseada no monitoramento de adultos coletados em armadilhas do tipo Accountrap contendo o feromônio sintético do inseto. Vale destacar que apesar de várias moléculas de amplo espectro estarem registradas para o controle
do bicudo-do-algodoeiro, a peculiaridade do ataque torna as diferentes fases de desenvolvimento da praga pouco expostas à ação dos diferentes métodos de controle biótico ou abiótico, tornando-os pouco efetivos. Desta forma, a singularidade dessa praga e do seu ataque justifica, ainda mais, o emprego de medidas de manejo de forma integrada e, sempre que possível, compatíveis e capazes de atuar em diferentes fases do ciclo de desenvolvimento do inseto. Estudos recentes, desenvolvidos na Universidade de Brasília (UnB) com algodão de fibra colorida cultivado sem uso de inseticidas e fertilizantes sintéticos, permitiram constatar a importância da
Figura 2 - Variação da densidade do bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae), e da porcentagem de plantas da variedade BRS Topázio atacadas em áreas onde o inseto foi manejado através da coleta massal com armadilhas do tipo Accountrap contendo feromônio
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premissa da "integração" no manejo do bicudo. Nesses estudos foram empregados, de maneira integrada, os princípios da resistência genética do hospedeiro, do controle comportamental e do controle químico. Resultados preliminares permitiram constatar que a cultivar BRS Aroeira, de fibra branca, foi menos atacada pelo bicudo do que as cultivares coloridas. Esses resultados foram usados no planejamento dos ensaios subsequentes em que se testou o emprego dessa variedade como bordadura das variedades coloridas (Figura 1), com o objetivo de atrasar a infestação dessas últimas, em função da colonização das lavouras pelo bicudo normalmente se iniciar pela bordadura. Além disso, foi empregada a coleta massal por meio de armadilhas contendo feromônio do bicudo em comparação ao controle com formulação à base de óleo de nim, em concentrações variáveis de 0,5%
Figura 3 - Variação da densidade do bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae), e da porcentagem de plantas da variedade BRS Topázio atacadas em áreas onde o inseto foi manejado através da coleta massal com armadilhas do tipo Accountrap contendo feromônio + bordadura com a variedade branca BRS Aroeira
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Figura 4 - Variação da densidade do bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae), e da porcentagem de plantas da variedade BRS Topázio atacadas, em áreas onde o inseto foi manejado com formulação à base de óleo de nim
a 2%. As Figuras 2 e 3 apresentam a densidade média e a porcentagem de plantas da variedade BRS Topázio atacadas pelo bicudo-do-algodoeiro em situações em que o manejo da praga foi feito: • 1) através da coleta massal com armadilhas contendo feromônio; • 2) através da associação entre as armadilhas e as bordaduras cultivadas com BRS Aroeira, respectivamente. Os asteriscos indicam o momento em que a praga atingiu o nível de controle, tendo por base a recomendação de intervenção, quando 10% das plantas estiverem infestadas (apresentarem sinais de ataque). Pela análise das figuras percebe-se que a porcentagem de infestação nas parcelas, cujo manejo da praga se deu exclusivamente através da coleta massal, foi da ordem de 70%. Nas parcelas em que se empregou o uso integrado de armadilhas com a variedade branca na bordadura, o nível máximo de infestação foi de 40% (Figuras 2 e 3). Algo semelhante ocorreu nas parcelas cujo manejo foi realizado com concentrações crescentes (0,5%, 1% e 2%) de formulação à base de óleo de nim em contraposição àquelas cujo manejo com a formulação foi
Figura 5 - Variação da densidade do bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae), e da porcentagem de plantas da variedade BRS Topázio atacadas, em áreas onde o inseto foi manejado com formulação à base de óleo de nim + bordadura com a variedade branca BRS Aroeira
integrado ao cultivo da variedade branca nas bordaduras (Figuras 4 e 5). Desta forma, o nível de infestação das áreas com manejo exclusivo com nim foi muito maior (em torno de 50%) em comparação àquelas áreas que foram conduzidas empregando o controle integrado (em torno de 25%) de nim com bordadura de Aroeira. As setas nos gráficos indicam os dias e as concentrações empregadas nas pulverizações. Logo, fica evidente que apesar das medidas de manejo empregadas não terem sido suficientes em reduzir a densidade da praga para abaixo do nível de controle, a integração resultou em diminuição considerável (em cerca de 50%) da infestação. Esses resultados comprovam a necessidade da adoção de múltiplas medidas de manejo para obtenção de controle mais efetivo de pragas tão danosas como o bicudo-do-algodoeiro. Vale lembrar que, sempre que possível, tais medidas devem ser direcionadas ao manejo das diferentes fases-praga da espécie ou explorar as múltiplas possibilidades de medidas de manejo disponíveis nas diferentes táticas que compõem o MIP como os controles cultural, químico, biológico, físico, comportamental e outros.
Essa abordagem é perfeitamente válida e aplicável a outras pragas emergentes e recém-introduzidas no país, principalmente quando se considera que, a exemplo do bicudo-do-algodoeiro, são mais difíceis de serem atingidas pelos métodos tradicionais de controle (controle químico), uma vez que também ficam protegidas no interior das estruturas reprodutivas. Nessa situação, a eficiência do controle químico é consideravelmente reduzida e a possibilidade da seleção de indivíduos resistentes aumentada, em função das aplicações mais frequentes ou do crescimento contínuo nas doses recomendadas para o controle. Nesse panorama, a mesma abordagem empregada por ocasião da constatação do insucesso de controle de pragas pouco tempo após a introdução dos inseticidas orgânicos torna-se contemporânea: a solução passa pela integração de medidas de controle e pelo controle integrado C dos organismos-praga. Tamíris Alves de Araújo, DFT/UFV Cristina Schetino Bastos, UnB/FAV e Jorge Braz Torres, Depa/UFRPE
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Café
Doença emergente Cultivar
Ainda pouco estudada e sem perdas qualitativas e quantitativas atribuídas diretamente à sua incidência, no Brasil, a antracnose em cafeeiro revela a necessidade de que a pesquisa se debruce mais sobre esse tema. Sob ataque severo é capaz de comprometer até 80% da produção. Conhecer os diferentes níveis de suscetibilidade de cultivares à ação do patógeno é uma das medidas essenciais ao manejo
A
antracnose tem sido relatada em cafeeiros nas diferentes regiões produtoras do Brasil e no restante do mundo. É uma doença causada por fungos do gênero Colletotrichum. Entre as espécies que causam doenças em cafeeiro destacam-se Colletotrichum gloeosporioides e Colletotrichum acutatum relacionadas com a antracnose e com a mancha-manteigosa, e Colletotrichum kahawae responsável pela “Coffee Berry Disease” (CBD) que ocorre em cafeeiros no continente africano e é responsável por perdas de até 80% na produção. Ainda não existem relatos da presença de CDB na América do Sul, no entanto, em 2005 a doença foi detectada em Cuba. Existe a teoria de que o uso intensivo de fungicidas cúpricos no controle da ferrugem do cafeeiro teria levado a uma mutação da espécie C. gloeosporioides e originado a espécie C. kahawae. Estudos filogenéticos revelaram que C. kahawaee C. gloeosporioides são geneticamente muito próximos. Contudo, apesar do problema que a infecção do cafeeiro por Colletotrichum spp. pode causar, no Brasil, até o momento, não existem estudos relacionados ao dano econômico provocado por doenças a ele relacionadas. As perdas relatadas ocorrem em diferentes estádios de desenvolvimento da planta, principalmente durante o crescimento vegetativo, onde a queda prematura de frutos e inflorescências ocorre em conjunto com disfunções fisiológicas e fotossintéticas.
Infecção e disseminação
A doença se inicia pela germinação dos conídios seguida de formação de apressórios, que são estruturas que liberam enzimas (cutinases, celulases, pectinases) para facilitar a penetração das hifas em tecido intacto (Figura 1). As hifas podem penetrar os tecidos diretamente por meio de estômatos, de ferimentos causados por insetos, injúria mecânica ou por fatores climáticos.
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Fotos Iapar
D Figura 1 - Estruturas fúngicas de Colletotrichum gloeosporioides A) Colônia de Colletotrichum spp. em meio de cultivo Extrato de Malte; B) Conídios germinados sobre tecido foliar com emissão de hifas (azul) e formação de apressórios (castanho) - coloração azul de algodão sob microscopia óptica em aumento de 400x; C) Conídios germinados sobre tecido foliar com emissão de hifas e formação de apressórios sob microscopia eletrônica de varredura; D) Lesão necrótica em fruto com hifas (branco) e massa conidial (laranja)
A disseminação da doença a curtas distâncias ocorre pela liberação de conídios distribuídos principalmente por fatores ambientais como a chuva e o vento. Os restos culturais, assim como hospedeiros alternativos infectados, também auxiliam na disseminação do patógeno. A longas distâncias a disseminação ocorre via sementes e transporte de órgãos da planta infectados.
e massa de esporos de coloração laranja nos órgãos infectados da planta.
Estudos relacionados ao patossistema Colletotrichum x cafeeiro
No Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), estudos da interação Colletotrichum spp. em cafeeiro têm sido realizados
em plântulas, ramos, folhas e frutos com o objetivo de relacionar a presença deste fungo aos sintomas encontrados. Levantamento realizado nas principais regiões cafeeiras do estado do Paraná demonstrou que Colletotrichum gloeosporioides é a espécie predominante isolada de lesões presentes em diferentes órgãos
Sintomas
O cafeeiro infectado com Colletotrichum spp. pode apresentar sintomas nas diferentes partes da planta. Em folhas, são observados dois tipos de lesões: um de coloração castanha nas margens da folha e outro de coloração amarelada (Figura 2A) e aspecto manteigoso (Figura 2B). Os frutos infectados apresentam lesões necróticas deprimidas, secas ou úmidas que, com o tempo, tomam todo o fruto comprometendo seu interior (Figura 2B). Pode ocorrer também abortamento de flores e abortamento e mumificação de frutos jovens (Figura 2C). A presença de lesões necróticas também pode ser visualizada nos ramos da planta (Figura 2B), assim como a seca de ramos e ponteiros que pode levar à morte de forma descendente (Figura 2D). Em alguns casos é possível verificar os sinais da infecção, como a presença de corpos de frutificação
Figura 2 - Sintomas de tecidos infectados por Colletotrichum spp. A) Lesão necrótica nas folhas; B) Lesão tipo mancha-manteigosa em folha; lesão necrótica em frutos e em ramo; C) mumificação de frutos e D) seca de ponteiro
Fotos Iapar
Figura 3 - Lesões causadas por Colletotrichum gloeosporioides em frutos de cafeeiro. A) Lesão necrótica úmida e lesão necrótica deprimida seca em frutos destacados; B) Parte interna de frutos destacados inoculados com o fungo; C) Lesões necróticas em frutos aderidos à roseta
da planta. Embora os testes de suscetibilidade à antracnose em frutos destacados sejam comumente aceitos para outras culturas, a sua realização em frutos de cafeeiro sempre gera opiniões controversas em função do caráter endofítico que o Colletotrichum spp. pode apresentar. Os estudos relacionados à infecção do fungo nos frutos de café foram iniciados pela validação e estabelecimento de protocolos. Estes incluíram a escolha do estádio de desenvolvimento dos frutos, lavagem e desinfestação superficial, concentração do inóculo do fungo, métodos de inoculação, posição do fruto e fotoperíodo durante a incubação. Além disso, também foi avaliada a inoculação em frutos destacados e aderidos às rosetas no ramo de cafeeiro (Figura 3).
Suscetibilidade de cultivares de cafeeiro à antracnose
Os frutos destacados e submetidos a ferimento antes da inoculação pertencentes às cultivares Iapar 59, IPR 103, Catuaí Arrepiado, Rubi e Semperflorens, quando inoculados diretamente com massa de
conídios, resultaram em incidências de lesão necrótica entre 80% e 100%. A inoculação artificial em frutos também foi realizada em plantas de café das cultivares Catuaí e Iapar 59 a campo. Neste experimento, o fungo foi inoculado por deposição da suspensão de conídios sobre os frutos com injúria e o ramo envolvido com saco plástico. Após 15 dias, a incidência de lesões de antracnose nos frutos foi em média de 69%, em ambas as cultivares. Também foram realizados testes de patogenicidade cruzada e verificado que isolados de Colletotrichum provenientes de cafeeiros são capazes de reproduzir lesões de antracnose em frutos de outras culturas como caqui, maçã e manga. Porém, a recíproca não é verdadeira, uma vez que frutos de outras culturas apresentaram maior dificuldade para infectar frutos de café. Embora todos os isolados tenham sido efetivos em reproduzir sintomas em frutos verdes de cafeeiro, os isolados considerados mais agressivos foram os provenientes do próprio cafeeiro. Após diferentes estudos foi estabelecida a metodologia mais adequada para o
estudo da interação do fungo com tecidos do fruto destacado do cafeeiro. A metodologia escolhida encontra-se descrita na Figura 4. Em seguida foram realizados vários experimentos utilizando diferentes isolados de C. gloeosporioides e diferentes cultivares de cafeeiro. Entre as cultivares estudadas foi verificado que a IPR 103 é a mais suscetível à doença e a Iapar 59 a mais resistente. Esta conclusão foi baseada em experimentos realizados em frutos e folhas (destacados e aderidos ao ramo de cafeeiro). Assim, estas cultivares foram utilizadas para realizar os estudos da infecção do fungo em tecidos de cafeeiros. Posteriormente, o processo de infecção pelo fungo nestas duas cultivares foi acompanhado por microscopia eletrônica de varredura e confirmou os resultados. Esses estudos mostraram que um mesmo isolado de C. gloeosporioides apresenta diferença no número de lesões de antracnose quando inoculado em diferentes cultivares de cafeeiro. As incidências encontradas variaram de 55% a 75% (Figura 5). Estudos realizados posteriormente
Figura 4 - Metodologia utilizada nos testes de incidência e severidade de antracnose em frutos de cafeeiro
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Figura 5 - Incidência de antracnose em frutos de cafeeiro de diferentes cultivares inoculados com Colletotrichum gloeosporioides
avaliaram a incidência das lesões de antracnose em frutos e a severidade por meio da medida de diâmetro dessas lesões. Estes mostraram mais uma vez que a cultivar de cafeeiro Iapar 59 é mais resistente à antracnose quando comparada à cultivar IPR 103. Foi observado que os isolados de C. gloeosporioides induziram lesões necróticas de antracnose em frutos verdes de cafeeiro a partir do 3° dia após a inoculação do fungo, em ambas as cultivares. O número de lesões de antracnose aumentou entre o 6° e o 9° dia após a inoculação do fungo, alcançando incidência de até 90%. O tamanho das lesões foi em média de 4,1mm na cultivar IPR 103 e de 2,4mm na cultivar Iapar 59, no 6° dia após a inoculação com C. gloeosporioides (Figura 6). Um isolado mostrou menor severidade quando inoculado na cultivar Iapar 59. Estudos recentes do Instituto Agronômico do Paraná indicam que a nutrição inadequada da planta também pode facilitar o desenvolvimento da doença. Assim, uma planta assintomática pode começar a manifestar sintomas da doença quando submetida a condições de estresse nutricional. Apesar das dificuldades iniciais foi possível reproduzir os sintomas de an-
tracnose em frutos de cafeeiro e, por conseguinte, estabelecer diferentes níveis de suscetibilidade entre as cultivares avaliadas. Dessa forma, embora perdas qualitativas e quantitativas na cafeicultura nacional não sejam atribuídas diretamente à antracnose, não se pode descartar seu C potencial como doença emergente.
Michele R. L. Silva, Viviani V. Marques, Daiana A. Silva, Luciana Meneguim, Nádia S. Jayme, Carlos E. Martinez e Rui P. Leite Jr., Iapar
Figura 6 - Incidência e severidade de antracnose causadas por isolados de Colletotrichum gloeosporioides inoculados em frutos destacados de cafeeiro das cultivares IPR 103 e Iapar 59
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Plantas daninhas
Efeito sinergístico Décio Karam
Diante da necessidade de manejar plantas daninhas de difícil controle o uso de herbicidas em associação com o glifosato tem sido uma das alternativas encontradas pelos produtores brasileiros. O 2,4-D é um dos principais produtos empregados nesse processo, principalmente na dessecação que antecede a semeadura direta
A
tualmente, o glifosato é o herbicida mais utilizado e mais estudado no mundo, principalmente pelo seu amplo espectro de ação e pelo fato de apresentar eficácia no controle de um grande número de plantas daninhas. É um herbicida considerado como não seletivo, atuando apenas em pós-emergência (Oliveira Jr., 2011). Com o advento das culturas geneticamente modificadas para a tolerância a herbicidas, o glifosato ganhou espaço no manejo de plantas daninhas dentro do ciclo das culturas. Porém, espécies de difícil controle como erva-quente (Spermacoce latifolia), trapoeraba (Commelina benghalensis), poaia (Richardia brasiliensis), leiteiro (Euphorbia heterophylla), corda-de-viola (Ipomea grandifolia) e buva (Conyza spp.) vêm sendo selecionadas devido a aplicações sucessivas de glifosato em áreas agrícolas. Além das plantas tolerantes, já existem também relatos de daninhas resistentes ao glifosato, como a buva, o capim-amargoso e o azevém. As falhas no controle destas espécies de plantas daninhas com o uso de glifosato têm levado os agricultores a utilizar outros herbicidas em mistura. O 2,4-D é um dos mais empregados em associação com o glifosato, principalmente na dessecação que antecede a semeadura direta. Apesar disso, existe falta de informações referentes à eficácia desses herbicidas de forma isolada ou em associação no controle de plantas daninhas.
Experimentos em campo e casa de vegetação
Um conjunto de experimentos em campo e em casa de vegetação foi desenvolvido pelo Núcleo de Estudos Avançados em Ciência das Plantas Daninhas (NAPD) da Universidade Estadual de Maringá, com o intuito de avaliar a eficácia de aplicações isoladas e combinadas de glifosato e 2,4-D no controle das seguintes espécies de plantas daninhas: trapoeraba (Commelina benghalensis), poaia (Richardia brasiliensis), leiteiro (Euphorbia heterophylla), erva-quente (Spermacoce latifolia), corda-deviola (Ipomoea grandifolia) e buva (Conyza
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Figura 1 - Efeito sinergístico da adição de 2,4-D ao glifosato para o controle de buva. Maringá (PR), 2013
Tabela 1 - Porcentagem de controle proporcionado pelos tratamentos herbicidas aos 28 DAA aplicados em plantas com mais de dez folhas (ensaios em casa de vegetação). Maringá (PR), 2013 Herbicidas
Sem herbicida
Glifosato
Glifosato + 2,4D
as plantas daninhas pode ser encontrada em Takano et al (2013). Poaia: para a poaia, o uso da mistura em tanque de glifosato + 2,4-D apresenta efeito sinergístico, proporcionando melhor controle em relação aos herbicidas aplicados isoladamente em plantas de >10 folhas. Quanto maior o tamanho das plantas no momento da aplicação, maior o benefício da aplicação em mistura. Aplicado isoladamente, o 2,4-D é capaz de proporcionar controle aceitável de plantas de até quatro a seis folhas, enquanto o glifosato controla de forma satisfatória plantas com mais de dez folhas, mas continua inferior à mistura dos dois. Assim, a melhor alternativa para o controle desta espécie continua sendo a associação de ambos. Leiteiro: em relação ao leiteiro, não há diferença no
Fotos Divulgação
spp.). As aplicações foram realizadas sobre plantas de diferentes tamanhos (E1: 2 a 4 folhas; E2: 4 a 6 folhas e E3: >10 folhas) e as doses utilizadas foram (em g equiv. ácido/ ha) glifosato (720), 2,4-D (670) e glifosato + 2,4-D (720 + 670). Para a buva em casa de vegetação foram realizados mais três tratamentos herbicidas adicionais: glifosato + 2,4-D (720 + 670), glifosato + 2,4-D (720 + 1.005), glifosato + 2,4-D (900 + 670) e glifosato + 2,4-D (900 + 1.005). No experimento a campo, as unidades experimentais eram compostas por parcelas de 4m x 4m (16m²), o delineamento experimental no campo foi o de blocos casualizados com quatro repetições e as espécies presentes na área eram Conyza spp. (E1, E2 e E3) e Commelina benghalensis (E3) a uma densidade de 48 e de três plantas/m-², respectivamente. Os dados de controle foram comparados pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade e também submetidos ainda à análise pelo modelo proposto por Colby (1967), para a avaliação dos efeitos sinergísticos, antagonísticos e aditivos entre as associações herbicidas testadas. As principais conclusões são compiladas a seguir e os resultados de controle das plantas de maior tamanho mostrados nas Tabelas 1 a 4. A íntegra dos dados e da análise de todas
2,4-D
Planta de buva (Conyza spp) submetida à aplicação de 2,4-D
Trapoeraba Sem herbicida 0,0 c Glifosato 6,2 c 2,4-D 27,5 b Glifosato+2,4-D 62,5 a Estimativa de Colby 32,10 DMS 9,4 CV% 11,0
Poaia 0,0 d 82,5 b 53,7 c 100,0 a 99,90 10,3 8,0
Planta Daninha Leiteiro Erva-quente Corda-de-viola Buva 0,0 c 0,0 c 0,0 b 0,0 c 87,5 a 99,5 a 96,2 a 23,5 b 47,0 b 79,0 b 100,0 a 30,0 b 90,0 a 100,0 a 100,0 a 50,0 a 87,43 99,90 100,00 45,00 4,8 9,9 5,1 9,7 3,8 7,1 3,6 8,9
*Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
Tabela 2 - Comparativo dos níveis de eficácia de controle de Commelina benghalensis (apenas para plantas que receberam aplicação no estádio E3) proporcionados pelos tratamentos herbicidas aplicados a campo e em casa de vegetação. Maringá (PR), 2013 Herbicidas e doses (g e.a. ha-1) 1. Testemunha sem herbicida 2. Glifosato (720) 3. 2,4-D (670) 4. Glifosato+2,4-D (720+670) Estimativa de Colby DMS CV%
42 DAA (campo) 0,0 d 37,50 c 50,00 b 85,00 a 68,75 7,48 6,77
% Controle 56 DAA (casa de vegetação) 0,00 d 46,20 c 57,50 b 98,20 a 77,06 6,92 5,20
*Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
Tabela 3 - Controle de Conyza spp. proporcionado pelos tratamentos herbicidas aos 42 DAA (ensaio realizado a campo). Maringá (PR), 2013 Herbicidas e doses (g e.a. ha-1) 1. Testemunha sem herbicida 2. Glifosato(720) 3. 2,4-D (670) 4. Glifosato+2,4-D (720+670) Estimativa de Colby DMS linha = 7,07 DMS coluna = 6,41 CV% = 5,03
< 6 cm (E1) 0,00 dA 40,00 cA 50,00 bA 85,00 aA 69,93
% Controle 6-15cm (E2) 0,00 dA 30,00 cB 40,00 bB 72,00 aB 57,93
6-15cm (E2) 0,00 dA 30,00 cB 40,00 bB 72,00 aB 57,93
*Médias seguidas de mesma letra minúscula na linha e maiúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
Tabela 4 - Controle final (42 e 56 DAA) de Conyza spp. (E3) proporcionado pelos tratamentos herbicidas (experimento em campo e em casa de vegetação). Maringá (PR), 2013 Herbicidas e doses (g e.a. ha-1) 1. Testemunha sem herbicida 2. Glifosato (720) 3. 2,4-D (670) 4. Glifosato+2,4-D (720+670) 5. Glifosato+2,4-D (720+1005) 6. Glifosato+2,4-D (900+670) 7. Glifosato+2,4-D (900+1005) Estimativa de Colby DMS CV%
42 DAA (Campo) 0,00 d 10,00 c 40,00 b 60,00 a 44,50 7,08 10,45
% Controle 56 DAA (casa de vegetação) 0,00 d 6,25 d 16,25 c 48,75 b 64,25 a 65,00 a 68,50 a 21,50 9,48 11,12
*Médias seguidas de mesma letra minúscula na linha e maiúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%.
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Corda-de-viola (Ipomoea grandifolia) e erva-quente (Spermacoce latifolia), espécies de difícil controle
controle proporcionado pelos tratamentos herbicidas em plantas de até quatro a seis folhas. A velocidade de controle da mistura é maior em relação aos produtos aplicados isoladamente, principalmente em plantas pequenas (E1 e E2), mas é muito semelhante a glifosato isolado em plantas mais desenvolvidas (E3). Quanto maior o tamanho das plantas no momento da aplicação, menor é a velocidade de controle e menor o seu controle final. Erva-quente: o uso da mistura em tanque de glifosato + 2,4-D proporciona melhor controle inicial de erva-quente com até quatro a seis folhas quando comparado à aplicação dos herbicidas de forma isolada. Corda-de-viola: para esta espécie, o emprego da mistura em tanque de glifosato + 2,4-D proporciona melhor controle inicial em relação aos herbicidas aplicados isoladamente em plantas a partir de quatro a seis folhas. Apesar do glifosato isolado ter proporcionado ótimo controle, a adição de 2,4-D melhorou ainda mais este controle, com efeito aditivo. Trapoeraba: para a trapoeraba, o uso da mistura em tanque de glifosato + 2,4-D apresenta efeito sinergístico e também melhor controle inicial em relação aos herbicidas aplicados isoladamente e eficiência de controle para plantas de todos os estádios avaliados (Tabela 1). Quanto maior o estádio das plantas no momento da aplicação, maior o benefício da aplicação em mistura. Apesar disso, a mistura desses herbicidas proporciona níveis de controle satisfatórios somente aos 42 dias após a aplicação (DAA) (Tabela 2). Quando aplicados isoladamente, tanto o 2,4-D como o glifosato só proporcionam controle final adequado em plantas pequenas (duas a quatro folhas). Buva: para a buva, o uso da mistura em tanque de glifosato + 2,4-D proporciona controle mais rápido e mais eficiente em relação aos herbicidas aplicados isoladamente para plantas de qualquer tamanho (Figura
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1). Quanto maior o tamanho das plantas no momento da aplicação, menor é o controle exercido pelos herbicidas. Em condições de campo (Tabelas 3 e 4), para plantas resistentes ao glifosato, nem mesmo a mistura de glifosato + 2,4-D foi eficiente no controle de plantas com seis a 15 centímetros ou maiores, sendo recomendado o manejo dessas plantas antes que atinjam esse estádio de desenvolvimento. Os resultados de falta de controle com plantas relativamente pequenas (6cm a 15cm) está provavelmente associado ao período de déficit hídrico que as plantas de buva presentes no campo sofreram no período que antecedeu a aplicação dos herbicidas. A compilação de resultados de trabalhos anteriores (Constantin et al, 2013) demonstra que misturas de glifosato + 2,4-D são tratamentos normalmente eficientes para o controle de plantas de buva deste tamanho. Tomando como base o controle das espécies proporcionado por cada herbicida aplicado isoladamente, o método de Colby estima um valor de controle teórico que deveria ser alcançado pela mistura entre dois herbicidas. Neste sentido, a mistura do glifosato ao 2,4-D teve, dependendo da espécie, efeito sinergístico ou
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efeito aditivo, mas quando o efeito foi somente aditivo, a mistura proporcionou um controle mais rápido do que os produtos isolados. A adição de 2,4-D ao glifosato melhorou significativamente o controle de trapoeraba, poaia, leiteiro, erva-quente, corda-de-viola e buva, em comparação a estes herbicidas aplicados isoladamente. Desta forma, é possível inferir que o uso desta mistura em tanque é determinante tanto para acelerar o controle inicial quanto para melhorar o controle final de plantas daninhas consideradas de difícil controle, como as estudadas neste trabalho. Outro aspecto que precisa ser lembrado é o fato de que o período de tempo de 28 DAA pode não ser o suficiente para analisar a possível rebrota de algumas espécies de difícil controle. Desta forma, misturas seriam mais efetivas para proporcionar controles eficientes para maiores períodos de avaliação, e isto pode ser determinante na escolha de sistemas adeC quados de manejo. Hudson Kagueyama Takano, Universidade Estadual de Maringá Rubem Silvério de O. Júnior e Jamil Constantin Univ. Est. de Maringá (NAPD/UEM)
Planta de buva após a aplicação de glifosato+2,4-D
Cana-de-açúcar
Como controlar
José Eduardo Marcondes de Almeida
Com o advento da colheita mecanizada e o consequente abandono das queimadas, em canaviais de São Paulo, pragas como a cigarrinha-da-raiz, Mahanarva fimbriolata, têm registrado aumento populacional. Técnicas de monitoramento e de manejo integrado, que incluem o uso do fungo Metarhizium anisopliae, são alternativas para tornar possível a convivência com o inseto
A
cana-de-açúcar é a cultura mais importante do Brasil quando se trata da produção de açúcar e de biocombustível, no caso o etanol. Com praticamente 8,5 milhões de hectares plantados no país, a cana é responsável pelo maior desenvolvimento do agronegócio envolvendo o etanol e energia em geral. Porém, como toda a cultura agrícola é atacada por pragas que causam prejuízos desde a parte aérea até as raízes. A colheita sem queima é uma realidade em todo o estado de São Paulo há pelo menos dez anos. Apesar da prorrogação do prazo para a paralisação total da queima ter se estendido até 2014, as usinas ainda são obrigadas a gradativamente diminuírem a área queimada a cada ano. Junto com a colheita mecanizada e sem queima, os ataques da cigarrinha-da-raiz da cana estão cada vez mais frequentes e intensos, causando prejuízos que podem atingir 60% em produtividade agrícola e na qualidade industrial da matéria-prima, através da contaminação com bactérias, perda da Pol e outros mais. A exemplo da região Nordeste, o controle biológico com o fungo Metarhizium anisopliae também desenvolveu-se em lavouras paulistas e atinge uma área de aproximadamente 350 mil hectares, com aplicações tratorizadas e aéreas, variando as concentrações entre 6kg/
30
ha a 10kg/ha, de acordo com a população da cigarrinha e a variedade.
Mahanarva fimbriolata
A cigarrinha-da-raiz, Mahanarva fimbriolata, é considerada uma das pragas mais importantes da cana-de-açúcar no estado de São Paulo e no Nordeste do Brasil. As ninfas, ao se alimentarem, ocasionam "desordem fisiológica" em decorrência de suas picadas que, ao atingirem os vasos lenhosos da raiz, o deterioram, impedindo ou dificultando o fluxo de água e de nutrientes. A morte de raízes ocasiona desequilíbrios na fisiologia da planta, caracterizados pela desidratação do floema e do xilema que darão ao colmo características ocas, afinamento e posterior aparecimento de rugas na superfície externa. Os adultos, ao injetarem toxinas, produzem pequenas manchas amarelas nas folhas que no futuro tornam-se avermelhadas e, finalmente, opacas, reduzindo sensivelmente a capacidade de fotossíntese das folhas e o conteúdo de sacarose do colmo. As perfurações dos tecidos pelos estiletes infectados provocam contaminações por micro-organismos no líquido nutritivo, causando deterioração de tecidos nos pontos de crescimento do colmo e, gradualmente, dos entrenós inferiores até as raízes subterrâneas. As deteriorações aquosas apresentam cores escuras começando pela ponta da cana e podem causar a morte do colmo.
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Em São Paulo, o ciclo vital de M. fimbriolata inicia-se em setembro, normalmente com o começo do período chuvoso. A primeira geração de ninfas é pequena em decorrência da diapausa dos ovos, porém com capacidade suficiente de se desenvolver até a fase adulta, quando então se inicia a postura da segunda geração de ninfas, geralmente entre dezembro e janeiro, quando a umidade e o fotoperíodo são maiores. A segunda geração é responsável pela maioria dos danos, que vão se manifestar somente em fevereiro e março, quando se tem a terceira geração de ninfas, que se desenvolverão até a fase adulta, porém, em menor número que a geração anterior e colocarão os ovos que entrarão em diapausa a partir de abril, quando o fotoperíodo e a umidade diminuem. A proibição da queima da cana-de-açúcar no estado de São Paulo, através do Decretolei Estadual no 42.056/97, tem ocasionado mudanças no manejo dessa cultura, devido ao aumento da área colhida sem queima e, como consequência, em muitas regiões tem ocorrido aumentos na população de cigarrinha-da-raiz. A cigarrinha-da-raiz da cana tem se tornado um sério problema em algumas regiões de São Paulo, tais como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Araras, Andradina e Araçatuba, onde a maioria da cana já é colhida mecanicamente e crua, pois não havendo queima da palhada, ocorre acúmulo desse material no solo e aumento da umidade, facilitando assim o crescimento e a disseminação da cigarrinha-da-raiz da cana, M. fimbriolata. E considerando que com a nova legislação ambiental São Paulo proibirá a queimada da cana, espera-se aumento significativo na população de M. fimbriolata causando sérios prejuízos às usinas e fornecedores, além do aumento de custos para o controle desta praga.
Controle
A estratégia de controle da cigarrinhada-raiz inicia-se com o monitoramento da praga que deverá ser realizado no início do período chuvoso e durante todo o período de infestação, para que se possa acompanhar a evolução ou o controle da praga. O nível de dano econômico (NDE) é de 20 ninfas/metro linear de sulco e 1 adulto/cana; o nível de con-
trole (NC) é de duas – quatro ninfas/metro e 0,5 adulto/cana a 0,75 adulto/cana. O monitoramento é imprescindível para decidir sobre a estratégia de controle da praga, sendo que a detecção da primeira geração permite um controle mais eficiente, principalmente através do fungo Metarhizium anisopliae. Porém, no caso da aplicação do fungo, o nível de controle a ser considerado é de uma ninfa por metro linear ou logo ao se observar as primeiras ninfas atacando a cana nos meses de setembro ou outubro, devido à lentidão do controle biológico. A variedade e a época de corte são outros parâmetros importantes a serem analisados no manejo integrado de cigarrinha-da-raiz da cana. O ataque do inseto pode afetar a qualidade industrial da cana e esse efeito tende a ser diferente de acordo com a variedade, podendo esta ser mais preferida e/ou resistente, o que interfere no plantio, na época de colheita e no sistema de controle a ser adotado. O prejuízo causado pela cigarrinha-da-raiz pode ser alto para muitas variedades, tais como: RB 72-454, RB 82-5336, RB 83-5486, SP 80-1842 e IAC 82-2396.
Controle biológico
O controle biológico com micro-organismos é um dos principais componentes do manejo integrado de cigarrinhas. O controle biológico não é poluente, não provoca desequilíbrios biológicos, é duradouro e aproveita o potencial biótico do agroecossistema, não é tóxico para o homem e animais e pode ser aplicado com as máquinas convencionais, com pequenas adaptações. O desenvolvimento do fungo M. anisopliae sobre a cigarrinha-da-raiz ocorre da seguinte forma: os conídios germinam e penetram no tegumento do inseto em um período de dois a três dias. O período de colonização ocorre de dois dias a quatro dias e a esporulação em dois
Principais recomendações • Iniciar as aplicações tratorizadas com jato dirigido com 0,5 a 1 ninfa/metro linear utilizando a concentração de 2 a 3 x 1012 conídios/ha (aproximadamente 2kg a 3kg arroz + fungo/ha) a partir de outubro. • Reaplicar 2 a 3 x 1012 conídios/ha em dezembro ou janeiro nas variedades precoces ou preferidas. dias a três dias, dependendo das condições do ambiente. O ciclo total da doença é de oito dias a dez dias. Na região de Alagoas, no período de 1977 a 1991, M. anisopliae foi pulverizado em aproximadamente 670 mil hectares de cana infestados pela cigarrinha da folha, M. posticata, havendo uma redução de aproximadamente 72% nos índices de manifestação desta praga. Inicialmente, a área tratada com inseticida químico era de 150 mil ha/ano. Em Pernambuco chegaram a ser aplicadas 38 toneladas de conídios do fungo. A época de aplicação do fungo coincide com o período chuvoso, julho e agosto, no Nordeste do Brasil. O intervalo de aplicação foi de 30 dias, sendo o ideal que a aplicação coincida com o período de maior trânsito das ninfas nos colmos. A estratégia nesse caso foi de incremento, já que o patógeno se encontrava na área. São recomendados de 200g de conídios puros/ha a 500g de conídios puros/ha. As aplicações terrestres devem ser feitas com atomizadores, com gasto de água de 50L/ha a 200L/ha. Em aplicações aéreas, gastam-se 20L/ha a 30L/ha, dois a cinco metros acima do nível da cana. O Instituto Biológico (IB/Apta/SAA-SP) desenvolveu pesquisas de controle biológico de M. fimbriolata com o fungo Metarhizium anisopliae. O projeto temático, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
• Acima de cinco ninfas/metro linear aplicar 1 x 1013 conídios/ha (10kg arroz + fungo/ha) a partir de dezembro. • Aplicação aérea granulada utilizar 8 x 1012 a 1 x 1013 conídios/ha (8kg a 10kg arroz + fungo/ha). • Aplicação aérea líquida utilizar 5 x 1012 conídios/ha. (5kg arroz + fungo/ha). de São Paulo (Fapesp) cuja coordenação foi do IB, contou com a parceria da Esalq USP e UFSCar - Araras-SP. Em operação com trator o fungo deve ser aplicado na vazão de 200 litros de água/ha a 300 litros de água/ha, utilizando bicos para herbicida com jato em leque e com pingente, com jato dirigido para a soca da cana, de preferência após as 16h para evitar a alta incidência de raios ultravioleta, chegando até a madrugada, período em que a umidade relativa está alta e a temperatura mais amena, facilitando o controle microbiano com o fungo. A aplicação aérea poderá ser utilizada com vazão de 40 litros/ha a 50 litros/ha, com gotas grandes e altura de dois metros da cultura.
Considerações finais
A partir de técnicas de monitoramento e manejo integrado de pragas será possível conviver com a cigarrinha-da-raiz da canade-açúcar no estado de São Paulo, aplicandose um programa de controle microbiano com fungo e no caso de superpopulações a aplicação racional de defensivos naturais ou químicos, para o equilíbrio da população, preservando outros inimigos naturais da praga, tais como a mosca predadora Salpingogaster C nigra e o fungo Batkoa apiculata. José Eduardo M. de Almeida, Instituto Biológico
Pragas
Proteção física Dirceu Gassen
Parceria entre Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso e Centro Universitário da Grande Dourados avalia a potencialidade de uso do silício no controle da herbivoria (processo em que o inseto se alimenta de vegetais) e do desenvolvimento de lagartas-praga
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uitos materiais têm sido utilizados como fonte de silício (Si) para as plantas, com destaque para as escórias de siderurgia, mais abundantes e baratas, variando em composição química e solubilidade. O Si, embora não seja considerado essencial às plantas, é depositado na parede celular e/ou está presente na seiva dos vegetais, sendo um dos elementos químicos de maior ocorrência nas fases sólida e líquida do solo, sob a forma pouco dissociada Si (OH)4. Seu efeito benéfico às culturas tem sido demonstrado sobre diversos aspectos da produção, dentre as quais o aumento da resistência às doenças pelas plantas. Os benefícios do Si ao manejo integrado de pragas agrícolas foram constatados em inúmeras pesquisas, sendo uma alternativa viável às plantas acumuladoras desse elemento, capaz de permanecer em quantidades relativamente maiores em gramíneas quando comparado ao acúmulo em leguminosas. Vários são os fatores que desfavorecem a obtenção de boas produtividades nas lavouras,
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com destaque para as pragas agrícolas, tais como lagartas que estão certamente dentre as mais importantes. Lagartas vorazes “atacam” folhas, raspando-as, enquanto nos estágios iniciais mais jovens ocasionam pequenas manchas claras; à medida que crescem tornam-se vorazes e destroem completamente as folhas, podendo danificar até as hastes mais finas, destruindo o aparato fotossintético das plantas. Alguns trabalhos já contemplam o Si como um fator da proteção física das plantas ao “ataque” de insetos. Basicamente, o Si é absorvido como ácido monossilícico H4SiO4, que desprovido de carga elétrica, tem interessantes consequências no comportamento da sílica com relação aos vegetais, translocado no xilema e acumulando-se no seu interior como ácido silícico polimerizado. Concentra-se, principalmente, nos tecidos de suporte, como o caule e nas folhas, podendo ser encontrada em pequenas quantidades nos grãos, atuando como barreira física e dificultando a alimentação do inseto-praga.
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A parceria entre o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – Campus Confresa - e o Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran) procura desenvolver pesquisas que contemplem o uso em potencial das fontes silicatadas, ou melhor, do Si na agricultura como ferramenta complementar ao manejo integrado de pragas, considerando seu efeito físico como fator de resistência de plantas ao ataque de insetos quando absorvido e acumulado nos tecidos vegetais. Nesse contexto, dois ensaios foram conduzidos em laboratório com a finalidade de se avaliar a herbivoria (processo em que o inseto se alimenta de vegetais) e desenvolvimento das lagartas Pseudoplusia includens (falsa medideira) e Spodoptera frugiperda (lagarta do cartucho) oriundas do laboratório de criação da Unigran, mantidas em dieta artificial após eclosão dos ovos com uso de feijoeiro cultivado em casa de vegetação. A oferta diária das secções de 900mm2 de folhas de feijoeiro provenientes do terço me-
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Figura 1 - Lagartas P. includens (esquerda) e S. frugiperda (direita) alimentadas com secções de folhas de feijoeiro tratadas com silício
Figura 2 - Placas de Petri sobre bancada laboratorial contendo lagartas P. includens e S. frugiperda e papel milimetrado utilizado na determinação da herbivoria
diano das plantas ocorreu em placas de Petri (Figura 1) posicionadas sobre bancada (Figura 2) e mantidas em temperatura de 25 ± 2ºC, umidade relativa de 75% ± 10% e fotofase de 14 horas. Foram avaliadas as características de massa, diâmetro e comprimento médio de lagartas e a herbivoria total com auxílio de papel milimetrado sob secção de folha de feijoeiro remanescente após fornecimento às lagartas. No ensaio com S. frugiperda o solo utilizado para cultivo do feijoeiro em vasos (Figura 3) foi corrigido e fertilizado segundo uma metodologia específica para ensaios em casa de vegetação e, em seguida, incubado com doses crescentes equivalentes a 0kg/ha, 600kg/ha, 1.200kg/ha e 2.000kg/ha de uma fonte silicatada. A oferta das secções foliares de feijoeiro provenientes do terço mediano das plantas deu-se para lagartas neonatas (primeiro instar) e terceiro instar.
Houve redução da herbivoria das secções foliares do feijoeiro de 66,5% e 86,2%, respectivamente, nos experimentos iniciados com lagartas de S. frugiperda no primeiro e terceiro instares com a incubação da dose de 2.000kg/ha da fonte silicatada no material de solo. Importante ressaltar que no experimento iniciado com lagartas de terceiro instar o valor
de herbivoria foi maior (Figuras 4 e 5). Na Figura 6 pode-se observar a herbivoria por lagartas de S. frugiperda nos ensaios iniciados a partir dos instares primeiro e terceiro das secções foliares de feijoeiro cultivado em material de solo incubado com doses crescentes de uma fonte silicatada. Nota-se que o aumento das doses da fonte silicatada incubada no material de solo utilizado para cultivo do feijoeiro reduziu a herbivoria das secções foliares. Concluiu-se no ensaio com S. frugiperda que o aumento das doses incubadas da fonte silicatada no solo reduziu a herbivoria das secções foliares por lagartas de S. frugiperda em todos os instares avaliados, não havendo efeito sobre as características peso, diâmetro e comprimento das lagartas. Sendo assim, o potencial de controle da desfolha de plantas por lagartas com uso de fontes silicatadas está relacionado, possivelmente, à elevação dos teores de Si disponível no solo, considerando o efeito físico do elemento sobre o fator de resistência de plantas ao ataque de insetos quando absorvido e acumulado nos tecidos vegetais. No ensaio com Pseudoplusia includens as secções foliares fornecidas às lagartas foram previamente imersas em soluções de silicato de sódio (Na2SiO3) e de potássio (K2SiO3) com concentrações crescentes (0,00%, 0,25%, 0,50%, 0,75% e 1%) e secadas. O período de troca por secções foliares novas foi de 12 horas. Não foram observadas diferenças significativas para as características herbivoria, massa, comprimento e diâmetro de lagarta P. includens alimentadas com folhas de feijoeiro previamente imersas em soluções contendo concentrações crescentes de silicato de sódio.
Quadro 1 - Herbivoria (cm2) por lagartas P. includens alimentadas com folhas de feijoeiro imersas em soluções contendo concentrações crescentes de silicato de sódio (Na2SiO3) e potássio (K2SiO3) Concentração 0,00 0,25 0,50 0,75 1,00 Média
Na2SiO3 100,71 89,84 97,39 115,29 83,31 97,31
K2SiO3 79,64 74,68 87,50 94,29 97,78 86,78
Figura 3 - Vasos contendo solo incubado com doses crescentes da fonte silicatada para cultivo de feijoeiro
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sem afetar sua eficiência no controle da população de percevejos. Ainda, no estudo com P. includens, não foram observados sinais de desgaste dos dentes das mandíbulas das lagartas 15 dias após o início do experimento (Figura 7). Possivelmente, a ausência do efeito do Si sobre o desenvolvimento de lagartas P. includens, associada ao desgaste dos dentes da mandíbula, pode estar relacionada com a forma pela qual o elemento foi Figura 6 - Herbivoria por lagartas de S. frugiperda nos ensaios iniciados a partir dos instares primeiro (esquerda) e terceiro depositado na folha (imer(direita) das secções foliares de feijoeiro cultivado em material de solo incubado com doses crescentes de uma fonte silicatada são em solução), o que será discutido posteriormente. Provavelmente, a execução de pesquisas focando o fornecimento do Si à planta via solo sustentou a ideia de que tal método de fertilização proporciona melhor transporte desse elemento químico aos tecidos vegetais da parte aérea da planta – em especial folhas -, sendo depositado mais uniformemente especificamente sobre a parede das células epidérmicas como sílica amorfa (SiO2. nH2O), tornando-os mais rígidos, o que pode ter Figura 7 - Imagens de mandíbulas de lagartas P. includens obtidas 20 dias após a infestação, alimentadas com folhas de feijoeiro imersas dificultado a alimentação em soluções contendo concentrações, da esquerda para direita, 0,00, 0,25, 0,50, 0,75 e 1% de silicato de sódio (acima) e potássio (abaixo) C destes insetos. Para silicato de potássio, com exceção da certo ponto, ou seja, são arrestantes. O efeito arrestante de alguns produtos Raphael Maia Aveiro Cessa e massa, o comportamento foi semelhante. No entanto, achou-se necessário apresentar sobre pragas agrícolas favorecendo sua alimen- Suelma Matos Moraes, os valores médios (Quadro 1) para ressaltar tação já foi constatado em alguns trabalhos IFMT que os produtos testados, à base de Si, prin- de pesquisa com adição de sal de cozinha à Elmo Pontes de Melo e cipalmente silicato de potássio, favoreceram a calda de pulverização, permitindo a redução Gean Luiz Imai, herbivoria das secções foliares de feijoeiro – até em alguns casos de até 50% da dose inseticida Centro Univ. da Grande Dourados Figura 4 - Modelo raiz quadrada para herbivoria total de secções foliares de feijoeiro Figura 5 - Modelo raiz quadrada para herbivoria total de secções foliares de feijoeiro por lagartas de S. frugiperda em função das doses crescentes de uma fonte silicatada. por lagartas de S. frugiperda em função das doses crescentes de uma fonte silicatada. Experimento iniciado com lagartas de primeiro instar Experimento iniciado com lagartas de terceiro instar
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Coluna ANPII
O que aplicar Em circunstâncias ótimas de solo e de uso do inoculante o agricultor pode optar pelo produto líquido ou em pó. Contudo, quando houver alguma condição adversa, recomenda-se a segunda opção ou a mistura de ambos
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urante quase 50 anos o Brasil contou praticamente com uma única formulação de inoculante: a forma de produto em pó, veiculado em turfa. Este suporte, a turfa, mostrou-se o mais adequado para a formulação de inoculantes, pois propicia excelente meio de cultura para Rhizobium e Bradyrhizobium, que se desenvolvem satisfatoriamente neste substrato, desde que devidamente tratado, tendo seu pH corrigido e mantendo-se na umidade adequada. Posteriormente, a esterilização com radiação gama
a qualidade dos inoculantes melhorou sensivelmente, constituindo-se hoje em excelente ferramenta para o agricultor brasileiro. Mas frequentemente ainda se ouve a pergunta: que inoculante usar, líquido ou em pó? Em condições normais, com solos de boa qualidade e com uma boa inoculação, isto é, respeitando as boas práticas do uso do produto, os dois apresentam desempenhos iguais. Tanto o pó como o líquido podem propiciar excelentes nodulações, provendo todo o nitrogênio necessário para as elevadas
em solos de primeiro ano de plantio de soja recomenda-se aplicar duas ou mais doses de inoculante por hectare para que se obtenha uma boa nodulação. E nestes casos a mistura da turfa com o líquido proporciona excelentes resultados. Há outros casos, porém, nos quais a indicação pesa para o lado do inoculante líquido. Na aplicação no sulco, por exemplo, é obrigatório o uso deste tipo de inoculante, pois o produto em pó iria entupir os bicos e trazer irregularidade na aplicação e dificuldades no processo de semeadura.
Com as mudanças da agricultura, novos equipamentos de semeadura e necessidade de plantio mais rápido, houve a necessidade de se buscar uma nova forma de inoculante proporcionou um ambiente ainda mais propício, permitindo que as bactérias adicionadas ficassem livres da competição dos microrganismos nativos. Entretanto, com as mudanças da agricultura, novos equipamentos de semeadura, áreas maiores e necessidade de plantio mais rápido, houve a necessidade de se buscar uma nova forma de inoculante, que fosse mais prático de usar, que aderisse totalmente às sementes, mas que mantivesse a mesma eficiência do inoculante em pó. Para atender a esta demanda dos agricultores, iniciou-se nos anos 1970 uma intensa busca de formulações líquidas de inoculante. Os primeiros produtos lançados no mercado brasileiro, na década de 80, mostraram-se fáceis de usar, mas ainda apresentavam alguma deficiência em relação ao desempenho em campo, em especial em solos de primeiro ano ou com alguma condição adversa. Mas as pesquisas por parte das empresas de inoculante foram intensificadas e
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produtividades da soja. Desta forma, em condições ótimas, fica ao critério do agricultor empregar um ou outro, de acordo com sua preferência, seus equipamentos, sua equipe de trabalho. Entretanto, há algumas condições especiais que podem dirigir, de forma técnica, a aplicação para um ou outro produto. Apesar do grande avanço da qualidade do inoculante líquido, o turfoso ainda permanece como um inoculante em que as bactérias estão mais protegidas contra condições adversas. Cada grão de turfa abriga grande número de bactérias, que ali ficam como que em uma “caverna”, com mais umidade e proteção física. Desta forma, em solos de primeiro ano de cultivo de soja, quando as condições de solo são adversas para a bactéria, em especial quando da renovação de pastagens ou canaviais, recomenda-se utilizar o inoculante em pó, podendo-se misturar com o inoculante líquido, para maior facilidade de aplicação. É preciso lembrar que
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Resumindo, em condições ótimas de solo e de uso do inoculante, podese utilizar líquido ou em pó. Quando houver alguma condição adversa, deve-se partir para o inoculante em pó, exclusivamente ou em mistura com o líquido. Portanto, a questão do tipo de inoculante deve ser decidida com base nos critérios citados e, em caso de dúvida, o agricultor pode consultar os técnicos da empresa fornecedora. Todas as empresas filiadas à ANPII possuem quadros técnicos capacitados a prestar toda a assistência nesta e em outras questões relativas ao uso dos inoculantes. É importante levar sempre em conta que o inoculante é o insumo que fornece o nutriente exigido em maior quantidade para a produtividade da soja e, portanto, sua aplicação deve ser muito bem cuidada, para que se C obtenham altos rendimentos. Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
Sorgo sacarino para produção de bioetanol
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bioetanol produzido no Brasil provém da cana-de-açúcar, apesar das tentativas de utilizar outras matérias-primas, mormente mandioca e batata-doce. Uma alternativa sempre lembrada, porém pouco utilizada, é o sorgo sacarino. Trata-se de matéria-prima com alto potencial de rendimento, baixa demanda de insumos, alta eficiência do uso da água e relativa tolerância à seca. O processamento do sorgo sacarino na indústria em muito se assemelha ao que ocorre com a cana-de-açúcar, estando os açúcares fermentáveis presentes no caldo obtido pelo esmagamento dos caules. Uma forma de aproveitamento da potencialidade do sorgo e de sua semelhança com a cana é o plantio para colheita no primeiro trimestre de cada ano, no período de entressafra da cana, diluindo os custos fixos das lavouras e instalações industriais. Seus principais parâmetros agronômicos e industriais são compatíveis com aqueles observados para a cana.
Diferenciais positivos
O sorgo sacarino, embora pertença à mesma espécie (Sorghum bicolor L. Moench), diferencia-se do sorgo granífero pelo elevado teor de açúcares fermentáveis contido nos colmos. Seu ciclo é relativamente curto (3-4 meses), podendo ser cultivado em regiões temperadas e subtropicais. Outras características interessantes são: 1. Rendimento similar à cana-de-açúcar - Em condições brasileiras, os estudos da Embrapa mostram produtividade de até 52t/ha, porém, em escala mundial, os rendimentos variam entre 32-112t/ha de biomassa em base úmida e 15-25t/ha em base seca. Em condições adequadas, é possível obter múltiplos cortes, aumentando o potencial de colheita anual, na mesma área. 2. Rusticidade - O sorgo sacarino, uma planta C4, é reconhecidamente eficiente do ponto de vista fotossintético e na utilização de nutrientes e água. Os estudos disponíveis mostram elevada
produtividade com aplicações máximas de 90kg N/ha, comparativamente à demanda estimada para a cultura da cana (100-130kg N/ha). 3. Versatilidade - O sorgo sacarino adapta-se a uma ampla diversidade edafoclimática, podendo ser cultivado em ambiente com alguma restrição hídrica ou em solos salinos, condições limitantes para outras culturas. Em regiões com condições restritivas, como Austrália e Índia, o sorgo tem se mostrado uma alternativa técnica e economicamente viável. 4. Custos de produção - Estudos realizados na Índia pelo Instituto Internacional de Pesquisa para os Trópicos Semi-Áridos (Icrisat) concluíram que os custos de matéria-prima para a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar e milho foram de 15% e 22% maiores do que o sorgo sacarino, respectivamente. O Icrisat estabeleceu que, nos EUA, os custos de produção por litro de etanol foram de US$ 0,45 para o sorgo sacarino, US$ 0,52 para a cana e US$ 0,55 para o milho. Não foram encontrados estudos comparativos similares, para as condições brasileiras. 5. Balanço de energia - Os cálculos de balanço de energia para os processos de produção de etanol variam em função dos métodos de cálculo utilizados, mas, invariavelmente, as relações de energia estabelecidas para o etanol de cana-deaçúcar e de sorgo sacarino são similares e muito mais favoráveis do que matériasprimas à base de amido, como o milho. 6. Potencial para melhoramento genético - Os principais alvos dos estudos abarcam o aumento da produção de biomassa total, teor de açúcar do caule, a eficiência do uso da água e de nutrientes e a resistência ao acamamento. Traçandose um paralelo com a cultura do milho, em que o melhoramento genético tem sido intenso e constante nos últimos 70 anos – ao contrário do sorgo, que tem recebido pouca atenção – as possibilidades de aumento de rendimento do sorgo são alvissareiras. Nos últimos 70 anos, a produtividade média do milho nos EUA
passou de 1.200kg/ha para 11.000kg/ ha. Imaginando-se uma trajetória semelhante, é lícito esperar que os aumentos de produtividade e a melhoria de outras características sejam significativos nos próximos anos. 7. Subprodutos e coprodutos - Tanto o bagaço pós-extração do caldo, quanto a vinhaça remanescente da destilação do etanol podem seguir as mesmas rotas de aproveitamento do material similar, obtido com cana. Este fato evita novos investimentos e dilui o custo fixo da indústria.
Rendimento potencial de etanol
Dependendo das condições edafoclimáticas, da variedade e do manejo da cultura, a produtividade potencial do sorgo sacarino pode ultrapassar 100t/ha, e a concentração de açúcar situa-se entre 15-22° Brix. Utilizando um processo de extração adequado, é possível obter entre 0,47kg e 0,58kg suco/kg de biomassa. A conversão de etanol teórico a partir de açúcares de hexoses é de 0,515kg de etanol/kg de açúcar. Assim, o limite inferior da produção de etanol seria de 3.060 litros de etanol/ ha de sorgo sacarino, considerando os seguintes parâmetros: rendimento de colheita de 56t/ha; 17% de açúcar no caule; rendimento de 0,55kg caldo/kg de biomassa; eficiência da fermentação de 90%. Maximizando-se alguns parâmetros agronômicos, obtendo produtividade de 100t/ha e com teor de açúcares de 19% no caule, a produção de etanol atingiria 6.157L/ha. Rendimentos ainda mais elevados têm sido relatados em outras partes do mundo, atingindo valores superiores a 7.000L/ha de etanol em estudos realizados na China. Está aí uma ótima alternativa, que precisa ser convenientemente aquilatada e apropriada pelo setor sucroenergético C brasileiro. Décio Luiz Gazzoni
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
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Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Boas expectativas aos produtores brasileiros
Os primeiros dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontam novamente para um quadro mundial de aperto no abastecimento de alimentos, o que dá suporte positivo às cotações. A China continua a capitanear os países importadores de alimentos e tudo indica que seguirá com a política de atender ao consumo crescente no país. Já começa o ano como maior importador mundial de Soja e enquanto o USDA aponta para 69 milhões de toneladas, o que se comenta no mercado são números entre 70 e 73 milhões de toneladas de importações. A China seguirá, também, como líder na compra de Arroz, que no ano passado superou 3,4 milhões de toneladas do produto beneficiado. Agora há indicativos de importação de 4 milhões de toneladas a 5 milhões de toneladas de Arroz, sinalizando que a produção não consegue avançar no mesmo ritmo do consumo. Com isso abre espaço para novos fornecedores, com participação maior do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Além destes dois produtos importantes o Milho terá boa demanda mundial, porque o inverno foi um dos mais rigoroso em dezenas de anos, com as regiões produtoras sofrendo com temperaturas polares. Fato que irá afetar a oferta de Trigo forrageiro e estimulará a demanda maior de Milho e Soja. Há bom potencial de ganhos também em Algodão, que registra crescimento de área e mesmo assim mantém boas expectativas de cotações. O Brasil seguirá como líder mundial na exportação de grãos em 2014. MILHO
Exportações batem recorde a animam mercado
O ano começou com boas notícias em relação às exportações de Milho em 2013, com acumulado acima de 26,4 milhões de toneladas, superando as expectativas mais otimistas. Com isso os estoques brasileiros caíram fortemente e fizeram as cotações crescerem neste começo de ano, favorecendo a safrinha. Indicativos foram fechados entre R$ 28,00 e R$ 29,00 para os embarques de agosto. O mercado de safrinha, no Centro Oeste, mostra níveis de R$ 14,00 a R$ 18,00 enquanto no ano passado, no começo da colheita, o Milho se encontrava na faixa de R$ 10,00. Fato que tem estimulado os produtores a rever a tendência de forte queda na área, que chegou a ser estimada em 30%. Como houve diminuição no plantio da primeira safra e problemas climáticos sobre as plantações, com temperaturas altas e chuvas escassas, o Brasil está colhendo uma safra menor que a expectativa e isso forçará o mercado consumidor a buscar a segunda safra como garantia de abastecimento. soja Safra cheia em fevereiro e março pressionará fretes Os produtores novamente sofrerão com a Logística neste ano, quando a Soja mostra recorde de colheita, que pode furar a marca de 90 milhões de toneladas. A entrada desse volume deverá se dar principalmente entre a metade de fevereiro e a segunda quinzena de março, indo de encontro à baixa capacidade de armazenagem e à falta de boas estradas e ferrovias para o escoamento, pressionando os custos dos fretes para cima mais uma vez. O governo pouco fez para apoiar o setor. A boa noticia é que a privatização da rodovia BR 163 no Centro
Oeste foi realizada e a partir de fevereiro passa para as mãos da iniciativa privada, que normalmente conserva melhor e favorece o escoamento. Isso deverá trazer reflexo positivo para os próximos anos, mas em 2014 pouco acrescentará ao setor porque não haverá tempo hábil para fazer muita coisa, a safra já está em colheita e os buracos se proliferam em todos os cantos. Afora a logística, tirando pontos localizados de Goiás e Sul do país, que sofrem com pragas, doenças e falta de chuvas, a safra vai bem e os produtores deverão seguir com boa margem de lucros. A Helicoverpa, temida pelo setor, ao que tudo indica foi bem controlada desde o começo da safra e pouco estrago tem apresentado. feijão Oferta concentrada do Carioca derrubou cotações Os produtores concentraram o plantio da primeira safra do Feijão Carioca neste ano. A colheita em janeiro e fevereiro veio junto com chuvas e qualidade menor. O Sul e Sudeste ofertam o produto ao mesmo tempo, o que derrubou as cotações para menos de R$ 100,00 por saca, frente a níveis acima de R$ 200,00 registrados no ano anterior. Há expectativa de que esta fase dure pouco, porque será um bom ano para o consumo de Feijão e desta forma se verá os indicativos crescerem nas próximas semanas voltando a bons níveis aos produtores. No caso do feijão Preto o mercado, mesmo em colheita, começou com boas cotações, porque a safra cresceu pouco e as importações voltarão a ser necessárias para atender à demanda interna. Some-se a isso o fato de a Argentina estar plantando a safra agora o que fará com que antes do final de maio aquele país não tenha produto para negociar, seguindo
sem oferta desta origem. O feijão Preto da China tem chegado ao mercado brasileiro acima de R$ 170,00 a saca, o que o coloca fora da disputa e favorece as cotações internas tanto do Preto como do Carioca. Os produtores que plantam Caupi para a exportação, no Mato Grosso, também estão otimistas, porque há boa demanda externa e o Dólar neste ano deverá seguir favorável às exportações e dificultar as importações. arroz
Cotações começaram aquecidas em 2014
Os produtores gaúchos viram as cotações do Arroz em alta nos primeiros dias do ano. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vendeu forte, com mais de 450 mil toneladas negociadas até janeiro, derrubando os estoques oficiais para níveis abaixo das 700 mil toneladas. Fato positivo para os produtores, porque com estoques reduzidos, o governo terá menor poder de intervenção para atrapalhar o mercado no segundo semestre, quando as cotações deverão mostrar ajustes positivos. As exportações começaram o ano com otimismo, com vendas novas do Casca e espaço para novas negociações, que deverão crescer neste ano. O Dólar navegando em mares mais otimistas, próximo de R$ 2,40, favorece as exportações e dificulta as importações de Arroz.É preciso lembrar que haverá concentração de colheita em fevereiro e começo de março e neste período as cotações deverão sofrer pressão baixista. Mas depois se recuperam e tendem a alcançar níveis maiores neste ano em relação a 2013. O consumo de Arroz em 2014 deverá superar a marca das 12 milhões de toneladas, o que trará quadro ajustado de oferta e demanda, favorecendo os produtores.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do Trigo brasileiro começou bem, com alguns olhando a exportação como alternativa de liquidez, enquanto os moinhos já apontam que devem vir às compras. Isso porque o mercado internacional está em alta, há redução da safra da Argentina, perdas na safra da Europa e o inverno rigoroso serve para aumentar a demanda mundial e limitar as colheitas. Assim se espera que de fevereiro em diante as cotações do Trigo nacional comecem a crescer e alcancem níveis lucrativos aos produtores, que devem plantar uma safra maior em 2014. Há expectativa de que o governo estimule o novo plantio, buscando diminuir as necessidades de importações deste cereal, para melhorar o desempenho na balança comercial, que segue desfavorável à política oficial (que pode se complicar ainda mais em 2014 e forçar o Dólar para cima, favorecendo o Trigo nacional em detrimento das importações). algodão - Os produtores plantaram cerca de 20% a mais nesta safra e tudo indica que a colheita será maior. O setor está mais preparado para enfrentar os problemas sanitários que foram obstáculos no ano passado, onde se perdeu muito para a Helicoverpa, principalmente na Bahia. Agora se percebe o setor tratando melhor as lavouras e a safra crescendo, com mais otimismo nas cotações, que começaram o ano em alta e mostram boas expectativas. Deve ser um ano de retomada e crescimento do setor algodoeiro brasileiro. O Dólar, em patamares maiores, também servirá de apelo positivo para o setor. Não se pode deixar de apontar, ainda, que o inverno
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polar no Hemisfério Norte, neste começo de 2014, será um fator forte de aumento de demanda de algodão neste ano, favorável à demanda da pluma e apoiando as cotações internacionais. china - As compras continuam em crescimento em todos os segmentos de alimentos e plumas, com os chineses seguindo a linha de avanço na demanda interna. Há ainda boas notícias econômicas, aumento das exportações e da produção industrial, queda na inflação e crescimento da economia acima das expectativas. Tudo isso, neste começo de 2014, sinaliza para boa demanda do país, que seguirá crescendo em importações e será destaque também em grandes importações de carnes, o que favorecerá o Brasil. O inverno rigoroso que castigou a China neste começo de ano também é um bom fator para as novas importações, apoiando a demanda, fato que limitou a oferta de alimentos no país. Outra boa notícia, a se confirmar, aponta que o país tende a mudar as normas de importações de alimentos, até então limitadas a 5% do volume consumido como máximo possível de importações dos grãos (sendo que somente a soja tem limite livre). Esse limite pode passar para 20%, o que estimularia novas e crescentes compras de milho, arroz e trigo favorecendo os demais países exportadores. Lembrando que no caso do milho e do arroz o limite de compras está na casa de dez milhões de toneladas anuais. Se aprovado, o novo limite saltará para mais de 40 milhões de toneladas. Será a notícia do ano, se confirmada pelo governo chinês.
Fevereiro 2014 • www.revistacultivar.com.br