Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 178 • Março 2014 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa capa
Manejo avançado................................20
Cecília Czepack
Como enfrentar de modo correto e sustentável o complexo de falsas-medideiras que registram surto populacional nas diversas regiões agrícolas do Brasil
Água na safrinha........................10 Deu broca..................................17 Abacaxi podre............................26 Quando a irrigação pode auxiliar a aumentar a rentabilidade dos produtores de milho
Os desafios da broca-do-café e a expectativa de novas moléculas para reforçar as ferramentas de controle químico
Índice
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
Diretas
04
Silício contra helminstosporiose em milho
08
• Editor
Irrigação em milho safrinha
10
• Redação
Sorgo sacarino ganha Conselho
13
Nutrição contra antracnose em café
14
Manejo da broca-do-café
17
Nossa capa - Surtos de falsa-medideira
20
Podridão abacaxi em cana
26
Manejo agroambiental nos canaviais
28
Aumento de eficiência em fertilizantes
30
Importância do nitrogênio em feijão
32
Empresas - Dia de Campo sobre plantas daninhas
35
Coluna ANPII
36
Coluna Agronegócios
37
Mercado Agrícola
Como manejar a podridão abacaxi favorecida por cultivo de cana em meses de inverno
38
REDAÇÃO
• Vendas
Sedeli Feijó José Luis Alves
Gilvan Dutra Quevedo Karine Gobbi Rocheli Wachholz
Rithieli Barcelos
CIRCULAÇÃO
• Design Gráfico e Diagramação
• Coordenação
• Revisão
• Assinaturas
MARKETING E PUBLICIDADE
• Expedição
Cristiano Ceia
Simone Lopes Natália Rodrigues Clarissa Cardoso
Aline Partzsch de Almeida
• Coordenação
Edson Krause
Charles Ricardo Echer
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 173,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 17,00 Assinatura Internacional: US$ 130,00 Euros 110,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Produtos
A Basf lançou na Coopavel 2014 o herbicida Heat para o controle de daninhas de folhas largas, como a buva. Para as culturas de milho e trigo a empresa destacou o fungicida Abacus HC. Além de uma equipe multifuncional da Basf, estiveram no evento consultores técnicos, que orientaram os produtores em relação às práticas mais adequadas à sua realidade.
Fertilizantes
A Spraytec Fertilizantes apresentou na Coopavel 2014 seu portfólio para nutrição vegetal. Os produtos Fulltec, Aminoseed Plus, Fulltec Mais, Flecha, Cubo, Ultra K Fosfito de Potássio, Ultra Plus Mn e Nutrekit foram os principais destaques, pois são formulações que contêm nutrientes minerais de alta solubilidade e absorção, aminoácidos, fosfitos e aditivos especiais.
Manejo de defensivos
Soja
A Basf apresentou na Coopavel o seu portfólio específico para a soja. O lançamento do fungicida Orkestra SC, assim como do Sistema AgCelence Soja Produtividade Top modelo de manejo completo, que preocupa-se com controle fitossanitário, assim como a transformação de água, luz e nutrientes em energia – foram alguns dos destaques da Eduardo Gobbo marca no evento.
Soluções integradas
A Bayer Cropscience participou da Coopavel 2014 com suas soluções integradas para soja e milho. Alguns dos destaques foram o inseticida CropStar, o fungicida Fox e o inseticida Belt. Uma equipe de campo da Bayer esteve disponível para orientar visitas aos campos demonstrativos de desempenho dos produtos.
04
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
Durante a Coopavel 2014, a Dow Agrosciences ofereceu espaço destinado ao compartilhamento de informações relacionadas ao manejo de defensivos. O professor Marco Antonio Gandolfo, da Universidade Estadual do Norte Paraná (Uenp) e diretor do Centro de Ciências Agrárias, conversou com os visitantes sobre tecnologias de aplicação.
Híbridos
Marco Antonio Gandolfo
A Dow AgroSciences apresentou seu portfólio de híbridos com tecnologia incorporada em milho durante a Coopavel 2014. O principal destaque foi a tecnologia Powercore, primeiro evento em milho com cinco genes estaqueados aprovado no Brasil contra pragas e plantas daninhas. Durante o evento, os visitantes conheceram também os benefícios do tratamento de sementes industrial, com inseticidas e fungicidas.
Novidades
A equipe da Syngenta apresentou na Coopavel 2014 novidades para soja e milho, uma plataforma integrada de defensivos e sementes e o lançamento de três variedades de soja. “Considero o evento muito bem planejado, cumprindo seu papel de difundir tecnologia ao produtor rural, buscando o aumento de produtividade e antecipando as tendências do segmento”, avaliou Maira Alonso, coordenadora de Marketing, Comunicação e Relacionamento com Maira Alonso Clientes, da Syngenta.
Comunicação
A Alltech Crop Science lançou um projeto de comunicação na Coopavel 2014, baseado em testemunhos de produtores da região de Cascavel. Segundo a gerente de Marketing, Manuela Lopes, o objetivo foi mostrar aos visitantes da feira o que os produtores pensam sobre os produtos, atendimento no campo e, principalmente, dos resultados que conquistam utilizando a marca.
Portfólio
A Syngenta participou da Coopavel 2014 com áreas demonstrativas, onde os produtores conheceram suas principais variedades de soja - Vtop, SYN 1257 e SYN 1258 -, os fungicidas Score Flexi e Priori Xtra e os inseticidas Engeo Pleno, Cruiser 350 FS e Curyom. Para o milho, o foco foram os híbridos Formula, Celeron e Status, e a tecnologia para controle de lagartas do milho Agrisure Viptera 3.
Palestras
Durante a Coopavel 2014, a UPL preparou palestras com pesquisadores, que discutiram questões fitossanitárias junto aos produtores de soja, milho e feijão. Especialistas também falaram sobre fungicidas, nutrição de plantas e inseticidas. “Como o evento está localizado em uma região estratégica para nossos negócios, a participação é essencial para os planos de manter o mesmo nível de crescimento em 2014”, comemora o gerente de Marketing Gilson Oliveira.
Proteção
A Nidera Sementes apresentou durante a Coopavel 2014 suas cultivares de soja Nidera Intacta (NS 5000 IPRO, NS 5445 IPRO, NS 5959 IPRO e NS 7000 IPRO), de alta produtividade e proteção contra as principais lagartas da soja. Os destaques para os produtores de milho foram os híbridos NS 56 PRO para região Sul e NS 90 PRO2 para a região central do País.
Milho
Durante a Coopavel 2014, os visitantes conheceram alguns dos híbridos da Morgan Sementes e Biotecnologia indicados para a região e os benefícios do tratamento de sementes industrial, com inseticidas e fungicidas. A equipe da Morgan esteve disponível no estande para apresentar tecnologia Powercore, primeiro evento em milho com cinco genes estaqueados contra as principais pragas e plantas daninhas desta cultura, bem como as principais técnicas de manejo.
www.revistacultivar.com.br • Março 2014
05
Difusão
A Koppert Brasil marcou presença na Coopavel 2014. Jaqueline Antonio, coordenadora de Marketing, considerou o evento importante para difusão de tecnologias voltadas à produtividade de pequenas, médias e grandes propriedades. “A empresa busca atender à demanda crescente do mercado agrícola por produtos diferenciados, não tóxicos ao homem e que não agridam o meio ambiente”, finaliza Jaqueline.
Inseticida
Durante a Coopavel 2014, a Arysta LifeScience apresentou o Atabron, inseticida que acaba de receber autorização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o combate à Helicoverpa armigera nas culturas de soja e algodão. A empresa também promoveu orientações técnicas relativas ao conceito Pronutiva, que objetiva a união das tecnologias de proteção da marca aos seus itens de nutrição vegetal.
Soja e milho
Presença
No estande da Agroeste na Coopavel 2014 os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer produtos para soja e milho. Entre as novidades foram apresentadas as variedades de soja AS 3610 IPRO, AS 3570 IPRO e AS 3575 IPRO. Na cultura de milho, a Agroeste lançou a variedade AS 1661 PRO, específica para safrinha devido a sua precocidade.
A Monsanto apresentou na Coopavel 2014 soluções para soja, milho, algodão e proteção de cultivos no estande chamado Monsanto Tecnologias. “O objetivo desse espaço foi proporcionar um ambiente de troca de informações e conhecimento, levando recomendações técnicas para o desenvolvimento de lavouras mais produtivas, sustentáveis e rentáveis”, explica Geraldo Magella, gerente de Comunicação da Monsanto.
Geraldo Magella
Marca
A equipe BioGene apresentou na Coopavel 2014 o portfólio de produtos da marca, com destaque para o híbrido BG 7318 YH, lançado especialmente para a safra verão do Sul do País. Direcionados à safrinha, os híbridos BG 7061 H e BG 7330 H também foram destaques da marca. Além disso, os visitantes obtiveram, no estande Biogene, informações sobre técnicas para obter qualidade de plantio, tratamento de sementes industrial e manejo nas lavouras.
06
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
Marketing
Durante a Coopavel 2014, a Syngenta apresentou maquetes dos ciclos das principais culturas da região. Assim, o produtor pode visualizar soluções para todo o ciclo. “As maquetes exemplificam para os agricultores de todos os portes como os produtos e serviços da Syngenta estão presentes, desde o plantio, passando pelo estabelecimento da cultura, até a colheita” explicou Marcella Manhães, gerente de Marketing da Syngenta.
Marcella Manhães
Lançamento
Durante a Coopavel 2014, a equipe da Brasmax Genética apresentou seu amplo portfólio de cultivares de soja aos visitantes. O destaque ficou para os lançamentos com a tecnologia Intacta RR2 PRO, Brasmax Vanguarda IPRO e Brasmax Ponta IPRO, que possuem adaptação para toda a região Sul.
Manejo
A Dekalb destacou na Coopavel 2014 a variedade de milho VT PRO3. Outro lançamento foi o híbrido DKB 290 PRO3 para verão e safrinha. “O desafio da marca é levar suas novas tecnologias ao agricultor e mostrar o manejo adequado para cada cultura”, afirma Fábio Henrique Roberto, gerente regional de Vendas para Cascavel, PR.
Regional
Fábio Henrique Roberto
Caravana
A caravana Milenia levou 450 produtores das principais regiões agrícolas do Paraná e Rio Grande do Sul para conhecer as soluções apresentadas pela Milenia na Coopavel 2014. A “minifazenda”estande foi palco de suas estações para os fungicidas, herbicidas e inseticidas criados pela empresa, como Horos, Poquer, Vezir e Galil SC. Uma área destinada a tratamento de sementes também pôde ser contemplada pelos visitantes.
Parceria
Vitrine
A FMC Agricultural Solutions participou da Coopavel com a sua vitrine tecnológica, que facilita o acesso de produtores rurais a equipamentos e técnicas da marca. O destaque ficou para o fungicida Locker - para o controle de ferrugem asiática, oídio, antracnose, mancha alvo e doenças de final de ciclo - e os inseticidas Rocks, Talstar 100 EC, Talisman e Mustang.
A Guaiá Agronegócios, assessoria em marketing para desenvolvimento de produtos e mercados em sementes, firmou parceria com a empresa GDM Licenciamento do Brasil, do grupo argentino Donmario. Inicia-se este modelo de licenciamento com uma cultivar de soja precoce em dois multiplicadores regionais com capacidade de produção de sementes superior a 600 mil sacas de 40kg e várias ações de difusão já em execução na região.
O gerente regional da UPL, Paulo Calçavara, participou do Show Rural Coopavel. Há mais de um ano na função, Calçavara gerencia a área do Paraná e do sul do Mato Grosso do Sul, com foco na divulgação dos produtos da empresa, crescimento de faturamento e estruturação da distribuição.
Paulo Calçavara
Rentabilidade
A produtividade agrícola e a rentabilidade do produtor brasileiro foram os temas centrais do estande da DuPont Produtos Agrícolas na edição 2014 do Show Rural Coopavel. A companhia focalizou no evento seu portfólio de sementes e defensivos agrícolas para as culturas de milho e soja, com destaque para o fungicida Aproach Prima e os inseticidas Premio e Lannate. Os herbicidas Accent e Classic também estiveram na linha de frente da programação técnica prevista para o estande da companhia.
Proteção
Os produtores que visitaram o estande da DuPont Pioneer conheceram a linha de produtos recomendados para o plantio na região Sul do País. Em milho foram apresentados os híbridos P1630H, P2530H, 30F53H e 30R50H, e em soja as cultivares 95R51, 95Y21 e 95Y72. Os visitantes da feira também receberam mais informações sobre a tecnologia Optimum Intrasect e a respeito do Manejo Integrado de Pragas para proteção contra insetos.
www.revistacultivar.com.br • Março 2014
07
Milho
Escudo eficiente
O uso de fontes de silício para o controle de doenças na agricultura tem apresentado resultados animadores, por promover o aumento da dificuldade de penetração e colonização de fungos nas plantas. Um dos alvos dessa alternativa é a aplicação contra a helmintosporiose, patógeno capaz de levar a perdas de até 50% em ataques antes do período de floração na cultura do milho
O
silício (Si) é um dos elementos químicos mais abundantes na crosta terrestre, sendo que algumas plantas, como o milho e outras gramíneas, principalmente, são acumuladoras desse elemento. A utilização de fontes de silício na agricultura vai ao encontro da necessidade de alternativas para um eficiente controle fitossanitário, além da busca por estratégias que ofereçam risco reduzido ao ambiente.
08
Quando o silício é absorvido pela planta e depositado na parede da célula vegetal, não se move mais, posteriormente se polimeriza e provoca a formação de uma dupla camada de silício cuticular, ocorrendo enrijecimento da parede, o que traz diversos benefícios já comprovados, seja em fatores abióticos e/ou bióticos. Em fatores abióticos estão entre os principais aspectos a regulação da evapo-
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
transpiração, além da redução da toxidez ocasionada por alumínio e ferro nas plantas. Já em fatores bióticos, destaca-se o controle de insetos, inclusive de Spodoptera frugiperda em milho, principal praga da cultura. Observa-se também efetivo controle de doenças, que pode ser atribuído ao aumento da dificuldade de penetração e colonização de fungos. O silício já tem seu efeito benéfico comprovado para esses dois fatores em diversas culturas, como arroz,
Tabela 2 - Incidência de helmintosporiose (%) nas folhas abaixo da espiga (Abaixo), folhas da espiga (Espiga), folhas acima da espiga (Acima) e percentual de plantas apresentando doença (Plantas). Campo Verde (MT), 2012
Tabela 1 - Diferentes doses e formas de aplicação de silício para controle de helmintosporiose em milho. Campo Verde (MT), 2012 Tratamento 1 2 3 4 5 6 7 8
Dose (Kg.Ha-1) 400 (Kg.Ha-1) 600 (Kg.Ha-1) 800 (Kg.Ha-1) 1000 (Kg.Ha-1) 1 (Lt.Ha-1) 400 (Kg.Ha-1) + 1 (Lt.Ha-1)
Híbridos Testemunha - Milho Convencional – Com Inseticidas Testemunha - Milho Bt (Yieldgard) Milho Convencional - Silicato de Ca e Mg1 Milho Convencional - Silicato de Ca e Mg1 Milho Convencional - Silicato de Ca e Mg1 Milho Convencional - Silicato de Ca e Mg1 Milho Convencional - Silicato de Potássio2 Milho Convencional – Silicato de Ca e Mg1 e Silicato de Potássio2
Tratamento 1 2 3 4 5 6 7 8 CV%2 Média Geral2
Aplicação sobre o solo e incorporado; 2Aplicação via pulverização foliar no estágio de seis folhas expandidas (V6)
1
folha acima da espiga superior. Como consta na Tabela 2, foi possível observar a redução significativa da incidência da doença nas folhas e abaixo da espiga quando se fez uso de qualquer uma das duas fontes de silício empregadas, independentemente da dose. Já para a folha acima da espiga, não se evidenciou diferença estatística devido à baixa incidência na parte superior da planta, visto que essa doença ocorre progressivamente da base para o ápice da planta. Também o número de plantas com incidência da doença foi reduzido, evidenciando aumento da resistência à infecção desse patógeno. Embora não tenha havido diferença estatística, os dados de produção apresentaram valores maiores para os tratamentos onde o silício foi utilizado (Tabela 3). Com base nos preceitos do Manejo Integrado de Pragas e Doenças, a utilização de silício nas fontes passíveis de serem encontradas no mercado é benéfica. Este elemento se constitui em importante ferramenta no combate a pragas e doenças, principalmente devido à crescente seleção de indivíduos resistentes a agroquímicos, seja pela falta de conhecimento técnico ou variabilidade da população. O silício pode vir a colaborar como uma alternativa de controle para aqueles que persistiram após a aplicação de defensivos agrícolas, dificultando a sobreviC vência e posterior multiplicação.
Espiga 6,75 B 7,66 B 2,79 A 1,00 A 4,59 A 4,58 A 3,24 A 3,68 A 40,96 4,29
Acima 4,05 A 5,84 A 1,89 A 1,89 A 2,79 A 1,89 A 4,14 A 3,68 A 66,05 3,27
Plantas 8,61 B 9,52 B 4,59 A 5,38 A 6,75 A 6,59 A 5,84 A 6,29 A 23,52 6,70
Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Scott-Knott, a nível de 5% de significância. 2Dados transformados pela equação: (X+1)^0,5 1
Tabela 3 - Produção de milho (peso de 100 grãos e sacas/ ha) após aplicação de diferentes formas e doses de silício. Campo Verde (MT), 2012 Tratamento 1 2 3 4 5 6 7 8 CV%2 Média Geral2
Peso Grãos Produção de grãos de 100 Sacas.hectare-1 31,80 A 115,59 31,35 A 116,65 30,98 A 117,14 32,32 A 117,58 32,23 A 119,2 32,04 A 119,27 31,65 A 119,48 32,44 A 119,98 6,05 5,45 31,85 118,11
Grupo A A A A A A A A
Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente entre si pelo teste de Scott-Knott, a nível de 5% de significância. 2Dados transformados pela equação: (X+1)^0,5 1
Rafael Storto Nalin, Rafael de Moura, Wander Loureiro Bexiga e Rita de Cássia Santos Goussain, IFMT
Fotos Rafael Nalin
algodão, café, cana-de-açúcar, milho, soja e trigo. Atualmente, o silício pode ser obtido de diferentes formas, sua aplicação também pode ser variada, como aplicações no solo seguidas de incorporação e aplicações foliares. Em trabalho conduzido no município de Campo Verde, Mato Grosso, utilizando o delineamento em blocos casualizados, testaram-se oito tratamentos (Tabela 1), repetidos em quatro blocos, com o objetivo de se avaliar a redução da incidência de helmintosporiose, doença que tem como agente causal o fungo Exserohilum turcicum. Trata-se de doença agressiva, que pode levar a perdas de até 50% em ataques antes do período de floração. Os tratamentos consistiram em duas fontes de silício: silicato de cálcio e magnésio, utilizado em quatro doses aplicadas em cobertura e incorporadas ao solo em pré-plantio e também o silicato de potássio (aplicação foliar em estágio de seis folhas verdadeiras expandidas) em dose única. Além disso, foi adotado um tratamento em que se utilizou uma interação entre estas fontes. Também foram utilizadas duas testemunhas, uma de milho convencional e outra de milho transgênico, com a tecnologia Yieldgard. A avaliação da incidência de helmintosporiose foi realizada em R5 (formação de dentes), em três folhas específicas: a folha abaixo da espiga superior, folha da espiga superior e
Abaixo1 7,45 B 8,70 B 3,68 A 4,49 A 3,24 A 4,71 A 1,89 A 4,59 A 45,73 4,89
Sintomas da incidência de helmintosporiose em folha de milho
Nalin e Moura abordam o uso do silício contra a helmintosporiose
www.revistacultivar.com.br • Março 2014
09
Milho
Água na safrinha
Cultivar
O estresse provocado por déficit hídrico é um dos fatores limitantes de produtividade em milho safrinha. Por isso a irrigação, adotada de forma criteriosa, pode resultar em maior rentabilidade aos produtores
A
decisão quanto à época de semeadura do milho se dá em função dos fatores de riscos climáticos que afetam diretamente o rendimento de grãos por meio da alteração na eficiência metabólica das plantas. Com isso, há necessidade de se programar a semeadura do milho considerando-se todas as suas fases fenológicas, o que é extremamente difícil, pois os fatores climáticos são eventos com previsão estimada de ocorrência com confiabilidade relativa. No Brasil, a época de semeadura do milho é definida, em geral, pela distribuição das chuvas, que influenciam diretamente a oferta de água no solo, cujo consumo,
10
dessa cultura, durante seu ciclo completo de desenvolvimento, se situa entre 500mm e 800mm. O milho “safrinha” é amplamente cultivado em sucessão com a cultura de verão, fato esse que o torna dependente da época de colheita da cultura antecessora sendo, em geral, semeado nos meses de janeiro, fevereiro e março. Sua produtividade em relação ao milho de “verão” naturalmente é menor, prejudicada por limitações como redução de chuvas, radiação e temperaturas. A água disponível no solo às plantas de milho tem relação com seus diferentes estádios fenológicos, sendo o período compre-
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
endido entre a pré-florada, pendoamento e maturação dos grãos da espiga os mais críticos para uma deficiência hídrica. Sobre este assunto se pode citar o trabalho realizado pelos professores Fábio Régis de Souza e Raphael Maia Aveiro Cessa, juntamente com os acadêmicos José Luiz Faccin e Luiz Miguel Kadar, na área experimental da Faculdade de Agronomia do Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran), em Dourados, Mato Grosso do Sul, com intuito de avaliar o desenvolvimento de milho “safrinha” com base na oferta de água no solo. O trabalho aborda a importância das possíveis perdas produtivas de grãos de milho quando a
Adaptado de Santos, C. R. Dos
Figura 1 - À esquerda, o esquema da instalação de um tensiômetro de mercúrio. À direita, a área experimental contendo milho onde foram instalados tensiômetros de mercúrio. Uso de tensiômetro na irrigação do coqueiro. Embrapa
planta “passa” por períodos de estresse hídrico. Concluiu o estudo que o cultivo do milho no sistema irrigado proporcionou melhor desenvolvimento das plantas e produtividade de grãos, em função da maior frequência e quantidade de água em menor tensão negativa no solo entre os limites de capacidade de campo e o ponto de murcha permanente, reduzindo riscos referentes ao estresse hídrico sobre o desenvolvimento das plantas. Além disso, o trabalho ressaltou que o monitoramento da água no solo por meio de tensiômetros é uma ótima ferramenta para monitorar e/ ou controlar a oferta da água no solo em sistemas irrigados na cultura do milho. O trabalho foi conduzido em um Latossolo Vermelho Distroférrico argiloso semeado em linhas espaçadas a 0,90m, com cinco sementes de milho por metro linear. A adubação adotada foi a recomendada para milho “safrinha” considerando os dados da análise de solo. A área experimental foi dividida em irrigada e não irrigada, onde
instalaram-se tensiômetros de mercúrio na profundidade 0,2m a partir da superfície do solo (Figura 1) com intuito de monitorar o potencial mátrico da água no solo com auxílio da equação 1. Equação 1: φm = . 12,6 hHg + hc + z em que, Øm - potencial mátrico da água no solo, dado em metros de coluna de água; hHg - altura da coluna de Hg (leitura do tensiômetro), dado em metro; hc - altura do nível de Hg na cubeta em relação à superfície do solo, dado em metro; z - profundidade de instalação do centro da cápsula porosa do tensiômetro, dado em metro. O resultado deve ser convertido para bar. Sempre que o tensiômetro instalado na área irrigada registrasse tensão de água no solo entre -0,40bar e -0,70bar era fornecida uma lâmina de irrigação para repor a quantidade de água no solo até a capacidade de campo. Para proceder ao
cálculo de reposição de água no solo fezse uso, portanto, dos dados de registro da tensão da água no solo e da sua curva característica de umidade para profundidade de 0m – 0,20m (Figura 2). As características do milho avaliadas em intervalos de sete dias foram: massa fresca da parte aérea e raiz, estatura de plantas, número de espigas e produtividade final a 14% de umidade. Em cada exame eram obtidos valores médios das características avaliadas provenientes da amostragem de dez plantas na área experimental. De acordo com a Figura 3 pode-se observar que o milho cultivado sob sistema de irrigação teve maiores valores de massa fresca da parte aérea e raiz. A massa fresca da parte aérea é uma característica que provavelmente correlaciona-se positivamente com folhas mais espessas e mais pesadas por área. Tais folhas, portanto, terão um aparato fotossintético mais eficiente à produção de metabólitos. Os resultados apresentados demonstram que o déficit hídrico no período repro-
Figura 2 - Curva de retenção de umidade do solo (Latossolo Vermelho distroférrico) na área experimental. Profundidade 0 – 0,20m
Figura 3 - Massa fresca da parte aérea (MFPA) e raiz (MFR) do milho “safrinha” cultivado em Dourados-MS. (n=10)
*Os valores das tensões -15bar e -0,10bar correspondentes às umidades 27,88% e 32,62% representaram respectivamente o ponto de murcha permanente (PMP) e a capacidade de campo (CC)
Figura 5 - Tensão de água no solo para a profundidade de 0-0,20m na área cultivada com milho em sistema irrigado e não irrigado
Cultivar
Figura 4 - Estatura de plantas do milho “safrinha” cultivado em Dourados-MS. (n=10)
Figura 6 - Número de espigas do milho “safrinha” cultivado em Dourados-MS. (n=10)
A oferta adequada de água às plantas de milho reflete positivamente na produtividade da cultura
dutivo e no processo de desenvolvimento da planta aparenta perdas de tamanho da parte área e no rendimento de grãos pelo déficit de água. Na Figura 4 pode-se observar também que as plantas de milho cultivadas na área irrigada tiveram estatura mais elevada na maior parte do período de desenvolvimento. O melhor desenvolvimento do milho no sistema irrigado esteve relacionado à maior frequência em que a água permaneceu no solo em maior quantidade e menor tensão negativa entre os limites de capacidade de campo e ponto de murcha permanente para a profundidade de 0m a 0,20m (Figura 5), fato esse determinante aos principais estágios fenológicos, emissão de pendão, florada e polinização, grão
12
leitoso e grão farináceo. De acordo com a curva de umidade do solo, entre as tensões de -0,40bar e –0,70bar, foi possível manter o teor de umidade do solo acima dos 30% no sistema irrigado. No sistema não irrigado foram observados valores de tensão de água no solo entre -0,90 bar e -1bar. Nesse caso, a umidade do solo permaneceu abaixo de 30%. A presença de níveis adequados de água no período que se entende do pendoamento ao início do enchimento de grãos proporciona aumento da produtividade do milho, sendo, portanto, o déficit de água limitante ao rendimento do milho. Ainda, o estresse hídrico no pendoamento, especialmente no florescimento e maturação
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
da planta de milho, ocasiona decréscimos na produção de grãos. O melhor desenvolvimento do milho cultivado sob sistema de irrigação proporcionou número médio final de espigas maior em comparação ao milho cultivado sem irrigação (Figura 6). Dessa forma, maior produtividade de grãos de milho no sistema irrigado (81,50 sacos de 60kg) já era esperada, com uma diferença de 30,85 sacos de 60kg a mais por hectare (aumento de aproximadamente 30%) quando comC parado ao sistema não irrigado. Raphael Maia Aveiro Cessa, Inst. Fed. Edu. Ciênc. e Tec. do MT Fábio Régis de Souza, Centro Univ. da Grande Dourados
Empresas
Estímulo ao sorgo Fotos NexSteppe
Nexsteppe trabalha na criação de conselho voltado exclusivamente para o sorgo sacarino destinado à produção de energia, com meta de envolver associações e empresas da cadeia produtiva dessa cultura
C
riar um conselho capaz de fornecer métricas de cálculos específicas para medir o teor de açúcar da cultura do sorgo sacarino, de modo a elaborar uma ferramenta única e eficiente para pagamento aos fornecedores. Inspirada no Conselho dos Produtores de Cana-deaçúcar, Açúcar e Álcool (Consecana) a iniciativa do Consesorgo, como foi batizado, partiu da Nexsteppe, empresa especializada no desenvolvimento e comercialização de culturas dedicadas à produção de energia e soluções para abastecimento da cadeia produtiva, com uso de biocombustíveis, bioeletricidade e bioprodutos. A meta é envolver todas as associações e empresas da cadeia produtiva do sorgo destinado à produção de energia. Apesar de ter as mesmas especificações do Consecana, o Consesorgo está voltado exclusivamente para a cultura do sorgo sacarino, como o próprio nome já sugere. “Seu principal objetivo é alavancar e modernizar o mercado
de sorgo sacarino através de um exclusivo sistema de medição para pagamento de fornecedores”, explica o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Nexsteppe, Richard
Schneeberger explica os objetivos e as metas de criação do Consesorgo
Schneeberger. Entre abril e maio a empresa espera contar com a primeira versão do Consesorgo, com previsão de ser colocado em prática no verão do próximo ano. O valor do investimento não foi informado. “Não podemos abrir os valores investidos nesse primeiro momento. Podemos afirmar que um número expressivo de amostras já foram processado e avaliado em laboratório para a primeira versão do Consesorgo. Esse é um processo contínuo e cada vez que o sorgo avançar, o mesmo passará por revisões como ocorre na cana-de-açúcar”, justifica. A iniciativa pretende servir de estímulo à expansão dessa cultura no Brasil. “O Consesorgo vai permitir que os fornecedores possam plantar e entregar o sorgo sacarino como matéria-prima para as usinas, não ficando o plantio restrito apenas às usinas. Além disso, é a oportunidade ideal de alavancar o sorgo sacarino no mercado”, avalia C Schneeberger.
www.revistacultivar.com.br • Março 2014
13
Fotos Antonio Augusto Barboza
Café
Sob estresse
O nível nutricional da planta de cafeeiro tem poder de influenciar no desenvolvimento da antracnose, causada por C. gloeosporioides, até mesmo em cultivar considerada resistente à doença
A
cafeicultura ocupa posição de destaque no setor agrícola brasileiro e, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa, 2012), o Brasil é o maior produtor e exportador de café e o segundo maior consumidor deste produto. Contudo, doenças causadas por diferentes patógenos podem causar perdas e danos significativos nas lavouras cafeeiras. No Brasil, doenças como antracnose, mancha-manteigosa e queima castanha do cafeeiro estão associadas a fungos do gênero Colletotrichum e são responsáveis por danos em diferentes fases do desenvolvimento da planta. Este fungo pode ocorrer em diversas regiões onde o cafeeiro
14
é cultivado, apresentando diferentes graus de severidade, tanto em lavouras mal manejadas como em áreas novas e bem conduzidas. Nas folhas, o sintoma de antracnose inclui lesões irregulares de coloração castanha, ocorrendo comumente nas margens da folha, em que massas de conídios e outras estruturas podem ser visíveis. A morte descendente de ramos do cafeeiro (Figura 1A), conhecida como “Die-back”, tem início nas extremidades dos ramos secundários, com posterior morte. Já os sintomas de mancha manteigosa (Figura 1B) são frequentemente observados como manchas circulares, não necróticas, folhas de coloração verde-pálida a amarela
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
e queda prematura de folhas. Em frutos podem ser observadas lesões necróticas deprimidas. Com o objetivo de contribuir com novas informações sobre a interação Colletotrichum-cafeeiro, a equipe de pesquisadores e colaboradores da Área de Proteção de Plantas do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), tem realizado vários trabalhos para esclarecer diversos aspectos deste patossistema. Estudos iniciais levaram à constatação de que Colletotrichum gloeosporioides é a espécie predominante associada ao cafeeiro no Paraná e que existe diferença na suscetibilidade à infecção causada por esse fungo entre cultivares de cafeeiro.
Antracnose x nutrição do cafeeiro
Além da ação direta dos patógenos sobre o hospedeiro, estudos têm demonstrado que o estado nutricional das plantas está diretamente relacionado ao processo da infecção. O estado nutricional do cafeeiro pode influenciar na capacidade da planta resistir a doenças e neste patossistema não é diferente. Diante disso, estudos
B
A
Figura 1 - “Die-back”, seca dos ramos do cafeeiro (esquerda) e sintomas de mancha manteigosa (direita)
estão sendo conduzidos para verificar a suscetibilidade de cultivares de café na presença de C. gloeosporioides utilizando plantas submetidas a diferentes níveis de nutrição. Assim, para a realização deste trabalho, sementes de duas cultivares de cafeeiro, IPR 59 (mais resistente) e IPR 103 (menos resistente) foram germinadas em areia esterilizada e ao atingirem o estádio de palito de fósforo foram transplantadas para vasos plásticos com substrato comercial. As plântulas de café foram então mantidas em área telada e fertirrigadas semanalmente com 1/10 da solução nutritiva de Hoagland, até atingirem uniformidade nutricional. No estádio do oitavo par de folhas, as plantas foram submetidas a quatro diferentes tratamentos, nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K) e cálcio (Ca). Estes tratamentos foram subdivididos em cinco diferentes níveis de adubação para cada nutriente, compreendendo: ausência do nutriente; ¼ da dose; ½ da dose; 1x a dose e 2x a dose. Para os demais nutrientes foi mantido o nível de 1x a dose. Cada subtratamento foi composto por seis repetições (plantas) de cada cultivar de cafeeiro, sen-
do mantidas em área telada e fertirrigadas, semanalmente, de acordo com o respectivo tratamento (nutriente).
Experimento in vitro
Inicialmente foram conduzidos testes preliminares com o uso de folhas destacadas de plantas de cafeeiro com diferentes níveis nutricionais de nitrogênio. As folhas coletadas foram desinfestadas superficialmente por imersão em álcool 70%, hipoclorito de sódio 1% e água destilada autoclavada, sendo depositadas com face abaxial voltada para cima em caixas acrílicas contendo folha de papel de germinação umedecida, formando assim uma
câmara úmida. As folhas foram feridas com o auxílio de agulha entomológica, em ambos os lados da nervura central. Os ferimentos do lado direito da nervura central foram inoculados com suspensão de conídios de C. gloeosporioides, enquanto os do lado esquerdo foram inoculados com água. As avaliações foram realizadas periodicamente, contando-se o número de lesões e determinando-se a área lesionada. Foram observadas lesões foliares necróticas deprimidas com coloração marromescura e presença de massa conidial nas folhas dos cafeeiros de ambas as cultivares testadas (Figura 2). Os resultados obtidos
Figura 2 - A e B – Lesão foliar na face adaxial e abaxial de folhas de cafeeiro inoculadas com C. gloeosporioides; C e D – Lesão foliar nas faces abaxial e adaxial, com presença de massa conidial
Fotos Antonio Augusto Barboza
A
A
B
B
C
Figura 4 - Lesões de antracnose em folhas de cafeeiro, 14 dias após a inoculação de C. gloeosporioides
C
D
Figura 3 - Inoculação de C. gloeosporioides em plantas de café das cultivares Iapar 59 e IPR 103 submetidas a estresse nutricional
demonstraram inicialmente que plantas com níveis mais elevados de nitrogênio apresentam maior área foliar lesionada, portanto, favorecendo a infecção por Colletotrichum gloeosporioides.
Experimento in planta
Com base nos resultados obtidos nos teste com folhas destacadas, um experimento maior foi elaborado utilizando nos ensaios plantas de cafeeiro com diferentes níveis nutricionais de N, P, K e Ca. A inoculação do fungo foi realizada em folhas de plantas de café por meio de ferimento prévio realizado com o auxílio de esponja abrasiva (Figura 3A), seguido de aspersão com suspensão aquosa de conídios de C. gloeosporioides (Figura 3B). Folhas
controle, na mesma planta, foram inoculadas com água destilada autoclavada. As folhas inoculadas dessas plantas foram individualmente isoladas com sacos plásticos, sendo mantidas em câmara úmida (Figura 3C). As plantas foram mantidas em câmara de crescimento a 22 ± 2ºC, 70% de umidade relativa e fotoperíodo de 12 horas (Figura 3D). A severidade da doença foi avaliada medindo o tamanho médio das lesões presentes nas folhas inoculadas com o fungo. Após aproximadamente sete dias da inoculação, em todos os tratamentos e nas duas cultivares, foi observado o desenvolvimento de sintomas de antracnose nas folhas de cafeeiro (Figura 4A) com lesões necróticas deprimidas e coloração marrom-escura (Figura 4B) e também presença de massa
conidial (Figura 4C). Foi possível observar que apenas a variação na dose de nitrogênio influenciou na severidade da doença em cafeeiro. Onde, plantas com excesso e escassez desse nutriente apresentaram significativamente maior área lesionada nas folhas de cafeeiro na cultivar IPR 59, considerada resistente à antracnose, não sendo observados os mesmos resultados para a cultivar IPR103 (Figura 5A). Com relação aos demais nutrientes, não foram observadas diferenças significativas na severidade de antracnose em nenhuma das cultivares de cafeeiro (Figura 5B). Estes resultados confirmam que o nível nutricional da planta de cafeeiro influencia no desenvolvimento da antracnose causada por C. gloeosporioides até mesmo em cultivar considerada resistente. Estudos relacionados à severidade da doença x nutrição da planta de café continuam sendo conduzidos com o objetivo de contribuir para uma melhor compreensão do patossistema C. gloeosporioides-cafeeiro. C Antonio Augusto L. Barboza, Michele R. L. Silva, Luciana Meneguim, Viviani V. Marques, Daiana A. Silva, Paulo A. Carmezini, Eduardo B. Vespero e Rui Pereira Leite Júnior, Iapar
Figura 5 - Severidade de antracnose causada por C. gloeosporioides em folhas de cafeeiro das cultivares Iapar 59 (A) e IPR 103 (B), submetidas à fertirrigação restritiva de nitrogênio, fósforo, potássio e cálcio. Área foliar lesionada com base no diâmetro das lesões em mm²
16
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
Cultivar
Café
Deu broca
A broca-do-café é responsável por prejuízos quantitativos graves, como queda de frutos e redução de peso dos grãos, além de, indiretamente, favorecer danos à qualidade da bebida por facilitar a penetração de microrganismos como fungos dos gêneros Fusarium e Penicillium. A possibilidade de novas moléculas no mercado deve reforçar as opções de controle químico no combate à praga
O
ataque da broca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Curculionidae, Scolytinae) causa queda de frutos, redução do peso dos grãos (prejuízo quantitativo) e diminuição da qualidade do café através da alteração no tipo e às vezes da bebida (prejuízo qualitativo). Os danos são causados pelas larvas do inseto, que vivem no interior do fruto de café, atacando geralmente uma só semente, e raramente as duas, para sua alimentação, podendo, portanto, a destruição do fruto ser parcial
ou total (Figura 1). Inicialmente os prejuízos são ocasionados pela queda de frutos. Para Coffea arabica L. já foi constatado que a broca aumenta a porcentagem de queda natural de frutos da ordem de 8% a 13% e para Coffea canephora Pierre & Froehner (Conillon) a broca pode ser responsável por uma queda de frutos da ordem de 46%, por ser mais suscetível ao ataque da broca. Os frutos broqueados que permanecem nas plantas sofrem redução de peso, tendo sido já demonstrado experimentalmente, em Minas Gerais, que essas perdas podem
chegar a 21% ou 12,6kg por saco de 60kg de café beneficiado (Figura 2). Foi constatado também que a qualidade do café é alterada pelo ataque da broca, passando do tipo 2 ao tipo 7 somente com o aumento da infestação da praga, pois dois a cinco grãos broqueados constituem um defeito. As perdas aumentam durante a operação de descascamento devido à fragilidade que o grão atacado passa a apresentar, sendo quebrado e descartado com a ventilação da máquina de descascar. Os danos provocados pela broca começam quando a infesta-
www.revistacultivar.com.br • Março 2014
17
Fotos Paulo Rebelles Reis
Figura 2 - Perda de peso de café beneficiado em função da porcentagem de infestação pela brocado-café. Nível de controle até 5% de frutos broqueados e entre 7 e 10% início do prejuízo
Figura 1 – Corte de fruto de café mostrando a presença de larvas da broca em seu interior (direita) e destruição parcial (uma semente totalmente danificada)
ção atinge 7% a 10% nos frutos da maior florada (Figura 2). A qualidade da bebida do café não é diretamente influenciada pelo ataque da broca, mas sim indiretamente pela facilidade que os danos proporcionam à penetração de microrganismos, como fungos dos gêneros Fusarium e Penicillium, que estão relacionados com a alteração da qualidade da bebida do café.
Monitoramento da broca
até abril. Nessa época as fêmeas adultas do inseto abandonam os frutos remanescentes da safra anterior (frutos encontrados na entressafra) onde se criaram, voam e perfuram frutos verdes desenvolvidos (chumbões) da safra seguinte (Figura 3), sem ainda colocar ovos logo após perfurálos, o que fazem aproximadamente 50 dias depois. Entre novembro e janeiro os frutos se apresentam muito aquosos, com mais de 80% de umidade, não sendo ainda um alimento ideal para as larvas do inseto.
Como evitar o ataque da broca
A tática do controle químico muitas vezes é a única disponível para manter a praga abaixo do nível de controle, que é de 3% a 5% de frutos broqueados, se possível naqueles em que a broca ainda não tenha alcançado a semente, onde será morta na entrada da galeria pela ação de contato com o inseticida aplicado, sem ainda ter
Cultivar
Para que o controle seja iniciado em época correta, devem ser efetuadas amostragens periódicas dos frutos (monitoramento da broca), nos diversos talhões da lavoura, começando pelas partes mais baixas e úmidas. O monitoramento da broca deve ser iniciado na época de “trânsito” do inseto, de novembro a janeiro, aproximadamente três meses após a grande florada (outubro), quando forem observados nas rosetas os primeiros frutos broqueados, e realizado
Fonte: Reis et al. (1984); Reis (2002).
colocado ovos. Se a porcentagem de frutos broqueados atingir entre 7% e 10% já haverá prejuízos (Figura 1). Como o ataque não se distribui uniformemente em uma lavoura recomenda-se o controle apenas nos talhões cuja infestação já atingiu mais entre 3% e 5% dos frutos, com fêmeas da broca adulta vivas no interior das galerias, na época do chamado “trânsito” do inseto, que corresponde ao deslocamento da fêmea adulta de um fruto para outro. Portanto, na maioria das vezes, o controle não é feito em toda a lavoura, mas limitando-se a alguns talhões. Geralmente uma só pulverização tem sido suficiente para o controle da broca. Lavouras velhas e fechadas requerem maiores cuidados, pois em tais condições são mais suscetíveis ao ataque da broca, por oferecerem ambiente favorável ao inseto, como sombreamento, maior umidade, maior número de frutos remanescentes do ano anterior etc.
Controle cultural
Constitui-se, talvez, no mais eficiente método de controle da broca-do-café. Os cafezais devem ser plantados em espaçamentos que permitam maior arejamento e penetração de luz a fim de propiciar baixa umidade do ar em seu interior, condições que são desfavoráveis à praga, além de permitir a circulação de pulverizadores acoplados a tratores. Mais importante ainda é que a colheita do café deve ser muito bem feita, devendo ser evitado que fiquem frutos nas plantas e no chão, em que a broca poderá sobreviver na entressafra (frutos remanescentes), principalmente se for chuvosa. Após a colheita, caso tenham ficado muitos grãos nas plantas e no chão, é recomendável fazer o repasse ou a catação dos frutos remanescentes da colheita. Esse método já praticado nos primórdios da cafeicultura brasileira precisa ser novamente considerado no manejo da broca-do-café, em virtude dos altos custos e da carência de produtos eficientes para o seu controle.
18
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
Estudo realizado em cafeeiro da espécie C. canephora cv. Conillon, no Espírito Santo, mostrou, cinco meses após a colheita, que cerca 71,7% dos frutos remanescentes estavam atacados pela broca, o que evidencia a importância da colheita bem feita e do repasse (coleta de frutos que não foram colhidos), principalmente em lavouras não mecanizadas, onde as pulverizações são difíceis de serem realizadas. Em Rondônia, também em Conillon, já foi constatada infestação média de 76,3% nos frutos na entressafra e caídos no solo. A colheita deve ser sempre iniciada nos talhões que apresentem os cafeeiros mais infestados, a fim de que sejam evitados maiores prejuízos, pois a broca apresenta grande capacidade de reprodução e, em anos de alta infestação, os últimos talhões a serem colhidos apresentarão, sem dúvida, aumento de populações de broca e consequentemente maiores prejuízos.
Controle químico convencional
Na cafeicultura brasileira os maiores espaçamentos, que permitem pulverizações com pulverizadores acoplados a tratores, o controle químico da broca é considerado eficiente e rápido, ao contrário de alguns países produtores que praticam uma cafeicultura adensada e/ou sombreada. Existem três ingredientes ativos com registro no Brasil para uso em cafeeiro no controle da broca-do-café: [chlorpyrifosethyl 480 EC (organofosforado), etofenproxi 100 SC (éter difenílico) e azadiractina 12 EC (tetranortriterpenoide)]. A tática do controle químico muitas vezes é a única disponível para manter a praga abaixo do nível de controle, que é de 3% a 5% de frutos broqueados, se possível ainda naqueles em que a broca não tenha
Reis aborda estratégias para o controle da broca
Figura 3 – Fêmea da broca-do-café e orifíco (galeria) de penetração na lateral da coroa em fruto de café no estágio verde (chumbão)
alcançado a semente, onde será morta pela ação de contato com o inseticida aplicado, sem ainda ter colocado ovos. Como o ataque não se distribui uniformemente em uma lavoura recomenda-se o controle apenas nos talhões cuja infestação já atingiu mais de 3% a 5% dos frutos. Portanto, na maioria das vezes, o controle não é feito em toda a lavoura, mas limitando-se a alguns talhões. Em lavouras irrigadas, o controle químico pode ser necessário na maioria dos talhões.
Pesquisas em andamento
A pesquisa agrícola em cafeicultura no Brasil sempre esteve atenta em buscar novos métodos de controle da broca-do-café, inclusive o químico por achar que ainda é o mais eficiente no controle da praga. Em levantamento realizado em 30 anos de pesquisa no controle químico da broca no Brasil, entre 1973 e 2003, de 269 tratamentos levantados, cerca de 21% foram feitos com endosulfan, cuja eficiência variou de 70% a 100%, produto já proibido de ser utilizado no controle de qualquer praga no Brasil. Os demais produtos não apresentaram eficiência equivalente ao endosulfan, embora com alguns promissores e que nunca chegaram a ser registrados para uso na cafeicultura devido a problemas ambientais ou custo elevado do controle. Das diversas moléculas em teste para o controle da broca-do-café, duas têm se destacado nas diversas regiões cafeeiras do Brasil. Uma é o cyantraniliprole 10%
OD (Cyazypyr), em fase de registro no Brasil com o nome de Benevia, inseticida do grupo das diamidas antranílicas desenvolvido em vários países pela DuPont e que apresenta novo modo de ação. É uma segunda geração (única ação pela ativação de receptores de rianodina), com um modo de ação semelhante ao chlorantraniliprole (Altacor, Rynaxypyr) outro inseticida já em uso no Brasil e com registro para o controle do bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mènev. & Perrotet, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) em cafeeiro. Rynaxypyr em mistura com abamectin pode vir a ser registrado pela Syngenta, também no Brasil, para uso no controle da broca, com o nome de Voliam Targo, na formulação suspensão concentrada (SC). Tanto o Cyazypyr como o Rynaxypyr ativam os receptores de rianodina através de um estímulo para a liberação das reservas de cálcio do retículo sarcoplasmático de células musculares (principalmente para insetos mastigadores), causando má regulação, paralisia e morte de espécies sensíveis. Apresenta ação de profundidade e atua por ingestão e contato, demonstrando boa atividade adulticida, ovi-larvicida e larvicida. Para ácaros predadores e outros artrópodes benéficos, encontrados naturalmente em cafeeiros no Brasil, Cyazypyr e Rynaxypyr se mostraram seletivos, demonstrando que seu uso em manejo integrado de pragas em cafezais pode ser benéfico. C Paulo Rebelles Reis, Epamig Sul de Minas/EcoCentro
www.revistacultivar.com.br • Março 2014
19
Soja
Manejo avançado Surtos de falsas-medideiras têm sido registrados em lavouras de todo o Brasil. A explosão populacional do inseto tem origem em um conjunto de fatores, que incluem o uso indiscriminado e calendarizado de inseticidas. A adoção de diferentes táticas integradas, de modo amplo, que não se restrinja somente à rotação de princípios ativos é a alternativa sustentável para o controle desse complexo de lagartas
A
presença de populações elevadas de falsas-medideiras tem sido motivo de preocupação em muitas áreas cultivadas no Brasil. A diversidade de espécies, a amplitude geográfica dos grandes cultivos, os longos e quentes veranicos, as aplicações calendarizadas e indiscriminadas, o crescimento dos cultivos denominados “segunda safra” ou safrinha no Brasil e ainda as dificuldades inerentes ao estudo e controle deste grupo de pragas têm sido os principais motivos para que ocorram explosões populacionais desta praga cada vez mais frequente nos cultivos agrícolas do País. Estas falsas-medideiras são velhas
20
conhecidas dos produtores brasileiros, pois, apesar de terem sido caracterizadas no passado como pragas secundárias, a presença destas espécies de lagartas tem se tornado cada vez mais constante nas lavouras do País, principalmente de soja e algodão. E, nos últimos anos, passaram a preocupar os produtores brasileiros, pois trocaram o “status” de praga secundária para praga-chave de cultivos como a soja e uma das causas é a abundância de alimentos o ano inteiro. O aumento desta praga pode estar ligado, também, conforme muitos afirmam, ao uso de fungicidas nas lavouras de soja, pois além de controlar fungos
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
causadores de doenças nas plantas, esses produtos podem estar eliminando os fungos entomopatogênicos, que cumprem papel importante no controle biológico natural de muitas lagartas, uma vez que a constatação de doenças fúngicas nos insetos se tornou uma raridade nos monitoramentos de culturas como a soja. Um exemplo bastante comum é o fungo Nomuraea rilyei responsável pela doença branca nas lagartas. Sua constatação nas lavouras de soja e algodão tem se tornado cada vez menos frequente. Enfim, culpa ou não das aplicações de fungicidas, o problema com as falsas-medideiras se estabeleceu de forma bastante drástica
Fotos Cecília Czepack
Lagarta falsa-medideira morta por vírus, demonstrando a importância da preservação do controle natural
nos cultivos e o que é pior, os produtores utilizam apenas os químicos no controle deste complexo de “plusias”, dos quais fazem parte a Chrysodeixis includens, a Rachiplusia nu e a Tricloplusia ni. A espécie mais frequente dentro deste grupo de falsas-medideiras é a C. includens, (Lepidoptera: Noctuidae) anteriormente chamada de Pseudoplusia includens.
Presença da praga parasitada sob folha de soja
As formas adultas são mariposas com asas de 35mm de envergadura, sendo que em repouso estas asas ficam dispostas em forma de telhado. O primeiro par de asas apresenta coloração marrom com brilho cúpreo, além de duas manchas distintas de cor prateada-brilhante na parte central de cada asa. O segundo par de asas possui coloração marrom-clara e bordos escuros.
Além disso, possuem tufos de pelos próximos à cápsula cefálica. A lagarta apresenta coloração verdeclara com uma série de linhas brancas, longitudinais, distribuídas sobre o dorso, sem microespinhos laterais no tegumento e nos estágios finais de desenvolvimento a região posterior do abdômen pode se apresentar volumosa, podendo alguns es-
www.revistacultivar.com.br • Março 2014
21
Diferenças entre as espécies desfolhadoras mais comuns em cultivos de soja
Coloração e Morfologia
Tipo de desfolha
Chrysodeixis includens Lagartas Verdes com uma série de linhas brancas longitudinais, sem microespinhos no tegumento e a presença de dois pares de pernas abdominais, além de um anal podendo chegar até 45 mm de comprimento no seu último estágio larval Mariposas O primeiro par de asas apresenta coloração marrom com brilho cúpreo além de duas manchas distintas de cor prateada brilhante na parte central. O segundo par de asas possui coloração marrom clara e bordos escuros. Em repouso as asas ficam dispostas em forma de telhado, podendo chegar até 35 mm de envergadura. Pupas Amarelo-pálidas a verdes claras e localizadas em um casulo construído com folha e fios de seda Ovos Aproximadamente 0,5 mm de diâmetro colocados, geralmente no verso das folhas e de cor creme-clara e próximos a eclosão marrom-clara Inicialmente raspam a folha e depois passam a devorá-las, porém não consomem as nervuras, deixando um aspecto rendilhado, principalmente no terço médio inferior das plantas. Pode consumir até 200 cm² de área foliar durante seu desenvolvimento
pécimes exibir pontos pretos nas laterais. A lagarta pode ser chamada de “medideira”, “mede-palmo” ou “falsa-medideira”. Essa denominação se dá devido ao fato de apresentar apenas três pares de pernas abdominais, o que a obriga a caminhar
Rachiplusia nu Verdes com uma série de linhas brancas longitudinais, com microespinhos no tegumento e a presença de dois pares de pernas abdominais, além de um anal podendo chegar até 40 mm de comprimento no seu último estágio larval A cor predominante é o marrom, as asas anteriores apresentam pequeno desenho prateado semelhante à letra “y” e as asas posteriores são amarelo-escuras. Em repouso as asas ficam dispostas em forma de telhado, podendo chegar até 30 mm de envergadura. Marrom-escura a preta localizadas em um casulo construído com folha e fios de seda Aproximadamente 0,5 mm de diâmetro colocados, geralmente no verso das folhas e de cor branco amarelada
Anticarsia gemmatalis Coloração variável de verde, pardo-avermelhada e até preta, com cinco listras brancas longitudinais sobre o dorso e a presença de quatro pares de pernas abdominais, além de um anal, podendo chegar até 30 mm de comprimento no seu último estágio larval Pardo-acinzentada, sendo sua coloração geral variar entre cinza, marrom, bege ou azul claro. Em repouso, as asas anteriores cobrem o corpo tendo sempre presente uma linha transversal unindo as pontas do primeiro par de asas, podendo chegar até 35 mm de envergadura Marrom escura localizada em uma câmara pupal sob folhas secas na superfície do solo ou até cinco cm de profundidade Aproximadamente 0,6 mm de diâmetro colocados, geralmente no verso das folhas e de cor esbranquiçada a verde-claros e próximos a eclosão marrom avermelhados Inicialmente raspam a folha e depois passam a devorá-las, porém Inicialmente raspam a folha e depois passam a devorar o não consomem as nervuras, deixando um aspecto rendilhado, limbo foliar, principalmente do terço médio superior das principalmente no terço médio inferior das plantas. Pode consu- plantas. Pode consumir até 150 cm² de área foliar durante mir até 200 cm² de área foliar durante seu desenvolvimento seu desenvolvimento
medindo palmo durante todo seu desenvolvimento. Na fase inicial pode ser confundida com a lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis) que também caminha medindo palmo, porém, somente nos primeiros
Presença da lagarta falsa-medideira em ataque a vagens de soja
22
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
estágios. Esta semelhança na fase inicial das duas lagartas levou muitos técnicos a recomendações equivocadas de controle, visto que as doses dos inseticidas utilizados para a lagarta da soja são muitas vezes a metade das doses recomendadas para as falsas-medideiras. As pupas são verdes-brilhantes e se localizam geralmente em invólucros construídos pelas lagartas com folhas de soja e fios de seda que produzem antes de empupar. O ciclo de ovo a adulto pode variar de 23 a 46 dias em média (ovos: de três a cinco dias; lagartas: de 13 a 23 dias; pupas: de 7 a 15 dias e longevidade dos adultos: 15 dias), podendo apresentar até três gerações por safra e cada fêmea pode colocar até 600 ovos, normalmente, de forma isolada e no verso dos folíolos. As lagartas, geralmente, passam por seis instares e a avidez por folhas aumenta conforme o seu desenvolvimento, portanto, lagartas nos primeiros estágios ocasionam, com o seu ataque, pequenas manchas semitransparentes, consequência da eliminação do parênquima foliar sendo observadas, principalmente no terço médio inferior das plantas. À medida que as lagartas vão se tornando maiores passam a devorar os tecidos das folhas, dos quais só deixam as nervuras proporcionando um aspecto rendilhado bem característico de ataque da praga. Além dos folíolos, pode atacar flores e vagens, sendo um comportamento cada vez mais frequente nas lavouras de soja. No Brasil, a C. includens pode ser encontrada de Norte a Sul do país, porém, sua ocorrência tem se tornado comum e cada vez maior nas lavouras onde se cultiva a soja, como, por exemplo, o Centro-Oeste, apresentando grande adaptabilidade mes-
Fotos Cecília Czepack
Adultos da praga saem em revoada ao anoitecer
mo em regiões com altas temperaturas. O fato é que segundo estudos recentes, a mudança na distribuição de muitas espécies, incluindo alguns insetos, foi induzida por um modesto aumento da temperatura menor que 1°C e isso é, com certeza, um alerta sobre os efeitos dramáticos do “aquecimento global” contínuo ao longo dos próximos séculos. As falsas-medideiras possuem ampla lista de plantas hospedeiras, pois são registradas em torno de 70 plantas entre silvestres e cultivadas, com capacidade para manter populações de C. includens, e além da soja e o algodão, são hospedeiros da praga o feijão, o repolho, o quiabo, a batata-doce, o fumo, o girassol, a alface, a couve-flor, o gergelim e nos últimos anos, principalmente no estado de Goiás, sua presença em cultivos de tomate tem sido cada vez maior. Sabe-se que, entre os insetos-praga presentes em cultivos de soja, as lagartas desfolhadoras têm papel-chave, pois a maior parte dos problemas enfrentados pelos produtores é ocasionada exatamente por estas pragas e as falsas-medideiras, atualmente, são as grandes vilãs. E um dos fatores para este aumento populacional de falsas-medideiras é o uso inapropriado ou prolongado de agroquímicos não seletivos e de largo espectro, que eliminam não só a praga, mas também os inimigos naturais. Portanto, o manejo integrado pode ser um caminho para o equilíbrio entre as espécies que causam danos e seus inimigos naturais. Em se tratando de Manejo Integrado de Pragas (MIP), sua implementação requer informações básicas sobre a biologia, a fisiologia e a ecologia da praga em questão e de seus inimigos naturais. Além disso, o conhecimento da fenologia da cultura na região, das condições climáticas, dos níveis populacionais da praga que a cultura ou cultivar podem tolerar, sem que haja queda na produtividade, são indispensáveis para a
Falsa-medideira em fase de pupa
obtenção de resultados positivos no manejo integrado destas lagartas. Compreende-se que, na grande maioria dos sistemas produtivos brasileiros, a sucessão de culturas é uma tradição e, portanto, dificilmente os produtores deixarão de plantar enquanto a possibilidade de produzir existir. Porém, cultivos escalonados e/ou sucessivos, sem um período de descanso para a área, permitem o aumento da quantidade destes fitófagos, tornando as lavouras grandes mantenedoras de pragas, inclusive das desfolhadoras como as falsas-medideiras. Assim, se pelo menos os produtores adotassem como medida preventiva a destruição de tigueras, soqueiras e plantas daninhas hospedeiras, já dificultariam a perpetuação destas espécies no campo. Além disso, as boas práticas agrícolas como, por exemplo, preparo de solo adequado, adubação equilibrada, uso de cultivares adaptadas à região, aliadas
a condições climáticas favoráveis, podem ajudar na recuperação da área foliar após um ataque de desfolhadoras. O primeiro passo para o estabelecimento do manejo deste complexo de plusias nas lavouras de soja é o monitoramento e, neste caso, é possível adotar duas frentes de observação. A primeira seria a instalação de armadilhas com o feromônio da praga, tecnologia disponível já há algum tempo no Brasil, mas pouco utilizada pelos produtores. Outra é o método da batida de pano, com monitoramentos semanais. No manejo integrado, as amostragens são imprescindíveis para o conhecimento real da população de pragas na área e determinarão o momento mais adequado para adoção de qualquer tática de controle. O controle biológico natural também deve ser levado em consideração para esta praga e, neste caso, vale lembrar que o uso de inseticidas seletivos e a manutenção de
Adultos da praga são um dos alvos importantes quando se objetiva um controle mais eficiente e duradouro
www.revistacultivar.com.br • Março 2014
23
Cecília Czepack
Folhas de soja com rendilhamento severo provocado por falsa-medideira
áreas de refúgio podem facilitar a sobrevivência dos inúmeros inimigos naturais presentes e em ação nas lavouras de soja, como, por exemplo, os predadores (percevejos, carabídeos, aranhas, tesourinhas, joaninhas, entre outros), os parasitoides (como a espécie Copidosoma truncatellum, parasitoide comum em lagartas medideiras, e o Trichogramma spp., parasitoides de ovos) e as doenças (entre elas os fungos como o N. rileyi e os vírus responsáveis, diga-se de passagem, por inúmeras epizootias nas lavouras de soja deste ano em Goiás). Assim, é muito importante que os produtores conheçam e reconheçam no campo o papel destes grandes aliados das culturas, pois sua constatação e quantificação podem determinar um nível de não ação, que significa deixar que a própria natureza, através dos inimigos naturais, faça o seu papel controlando as pragas, com pouca ou quase nula intervenção humana. Fazer esta opção parece um tanto questionável para muitos, mas é preciso entender que sob condições normais de cultivo, muitas vezes, um desfolhamento pode não representar perdas significativas de produtividade e acaba por beneficiar o estabelecimento dos agentes naturais de controle sempre presentes nas lavouras de soja. Além disso, dá chances para que a própria cultivar expresse todo seu potencial de recuperação ao ataque de desfolhadoras como as medideiras. Entretanto, essa é uma questão ainda longe de ser aceita, ainda mais na atual realidade em que se encontram os cultivos de soja no Brasil.
24
Quanto ao controle químico, a primeira atitude a ser tomada é evitar a calendarização e a adoção de aplicações caronas ou preventivas, pois esse complexo de plusias não tem dia e nem hora predeterminados para surgir nas lavouras e aplicações desnecessárias ou indiscriminadas podem agravar a situação desta e de outras pragas nas áreas cultivadas. As infestações de falsas-medideiras são mais frequentes na fase reprodutiva da soja, dificultando em muitos casos o controle, visto que estas lagartas não se encontram tão expostas como a lagarta da soja (A. gemmatalis). Porém, isso não é regra e a tomada de decisão deve ser baseada unicamente, a partir do monitoramento. E, ao contrário do que vem sendo adotado nas últimas safras, o inseticida químico deve ser utilizado com o intuito de alterar a população de desfolhadoras para níveis aceitáveis, sem que haja impacto ambiental e com retorno econômico ajustado ao investimento. Entre as classes utilizadas para controle de falsas-medideiras, estão presentes as diamidas, os reguladores de crescimento, os fosforados, os carbamatos, os biológicos e o naturalyte. Porém, é importante salientar que não somente a molécula, mas a dose, o percentual de controle, o residual, a seletividade a inimigos naturais e, por fim, as condições climáticas devem ser levados em consideração no momento da escolha e aplicação do produto. Vale ressaltar também que o controle não pode ser direcionado apenas para a fase larval da praga, pois os adultos, as pupas
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
e os ovos podem ser alvos interessantes quando se objetiva um controle mais eficiente e duradouro e, para isso, a adoção de iscas atrativas no controle de adultos ou mesmo liberações de parasitoides de ovos podem ser alternativas bastante viáveis e precisam ser mais exploradas pelos produtores e técnicos da área. Outra estratégia a ser empregada no Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a tecnologia de plantas geneticamente modificadas (transgênicas), que são tolerantes a lagartas devido à inserção de genes isolados a partir da bactéria entomopatogênica Bacillus thuringiensis (Bt). A inclusão destes genes de Bt em plantas permite a produção de proteínas que possuem ação inseticida e com isso passam a proteger as plantas contra o ataque de determinadas pragas desfolhadoras, entre elas as falsas-medideiras. Entretanto, a adoção desta tecnologia exige certos cuidados, que incluem o estabelecimento de áreas de refúgio, que consiste no cultivo de plantas convencionais próximo às áreas Bts. O refúgio produz indivíduos suscetíveis que podem acasalar com os indivíduos resistentes presentes na cultura Bt, aumentando, dessa forma, sua eficiência e retardando a evolução da resistência das pragas-alvo da tecnologia. Apesar das vantagens econômicas e ambientais do MIP a adoção das diferentes táticas de forma integrada, segundo estudiosos, é lenta e o que é chamado de MIP por muitos, na verdade, não passa de “manejo integrado de inseticidas”, ou o chamado MIP de primeiro nível, que consiste em consultores de pragas monitorando as plantações para determinar quando aplicar inseticidas. Os motivos para a falta de adoção de um MIP avançado, que leva em consideração não somente o emprego de diferentes táticas de controle, mas também os custos e benefícios sociais, são conhecidos e inclui-se neles a ausência de dados sobre a ecologia das pragas e seus inimigos naturais, a necessidade de pesquisas interdisciplinares, a praticidade que o controle químico oferece diante das demais táticas de controle e, por fim, a falta de treinamentos adequados tanto para agricultores como também para técnicos e consultores. Enfim, muitos precisam entender que são inúmeras as formas de se manejar insetos-praga nos cultivos agrícolas atuais, porém, nenhuma delas, se utilizada de forma isolada, poderá se manter eficiente C ao longo do tempo. Cecilia Czepak e Karina Cordeiro Albernaz, Universidade Federal de Goiás
Cana-de-açúcar
Abacaxi podre
Fotos Giuvan Lenz
Com o plantio estendido durante os meses de inverno os canaviais brasileiros acabam expostos a baixas temperaturas que, associadas a dias curtos e clima seco, provocam atraso na brotação dos toletes e favorecem a incidência da podridão abacaxi, causada pelo fungo Thielaviopsis paradoxa. Tratar os toletes com fungicida no sulco de plantio nos primeiros 100 dias após cultivo é uma das alternativas para melhorar a emergência e minimizar o problema
O
Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, com uma área cultivada de aproximadamente 8,5 milhões de hectares (Safra 2012/2013). Estima-se que para a safra 2013/2014, o incremento será de 3,7% (aproximadamente 8,8 milhões de hectares). Por volta de 90% da produção brasileira concentra-se na região Centro-Sul, com destaque para o estado de São Paulo, que foi responsável por 56% do total produzido na safra 2012/2013. Na região Centro-Sul do país, a maior parte do plantio da cana-de-açúcar é realizada a partir da segunda quinzena de setembro, até o mês de Abril. Nesse período, a temperatura e a umidade favorecem o desenvolvimento da cultura, resultando em rápida brotação, crescimento e perfilhamento da cultura. Entretanto, com o aumento das áreas cultivadas o plantio acaba se estendendo a praticamente todos os meses do ano. Logo, vem sendo consolidado também o plantio de inverno, que abrange o período de maio até a primeira quinzena de setembro. Entretanto, neste período do ano, a cultura fica exposta a baixas temperaturas que, associadas a dias
26
curtos e clima seco, provocam atraso na brotação dos toletes, favorecendo a incidência da podridão abacaxi, causada pelo fungo Thielaviopsis paradoxa. Desta forma, quando ocorrer a necessidade de se realizar o plantio em períodos favoráveis ao fungo, torna-se indispensável a utilização de medidas que contribuam para o aumento da velocidade de emergência, principalmente em áreas com histórico da doença. Como o plantio da cana-de-açúcar é realizado por meio de propagação vegetativa os próprios propágulos podem ser o “veículo” de transporte de esporos do fungo, contaminando novas áreas.
Podridão abacaxi
A doença é comumente chamada de podridão abacaxi e é causada pelo fungo Thielaviopsis paradoxa (Ceratocystis paradoxa). Trata-se de fungo polífago e ocorre em todas as regiões onde a cana-de-açúcar é cultivada. A doença é influenciada por condições de solo, temperatura e umidade. O fungo penetra na planta por cortes e ferimentos, não penetrando nos toletes por aberturas naturais. Este fator é de extrema importância no caso da cana-de-açúcar, pois na ocasião do plantio, os colmos são seccionados, favorecendo o ingresso do fungo. Anualmente, perdem-se áreas extensas
Plantios de cana durante o inverno favorecem a incidência de podridão abacaxi
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
Evolução na emergência de perfilhos em relação à área livre da presença do patógeno (considerada como 100% para a situação)
Colmo coberto com esporos de coloração preta
de canaviais que não germinam devido ao ataque do fungo. A manifestação da podridão abacaxi é essencialmente reflexo do retardamento da brotação que pode ocorrer em consequência de baixas temperaturas, utilização de gemas velhas no plantio, mudas colocadas em sulcos muito profundos e/ou plantios em solos secos ou encharcados. A doença afeta seriamente a brotação das gemas, o desenvolvimento e vigor dos brotos. As falhas que ocorrem devido aos danos causados pela doença podem abranger grandes extensões, exigindo o replantio, que é uma operação bastante onerosa. A disseminação da podridão abacaxi ocorre principalmente por esporos presentes nos primeiros 25cm de profundidade do solo e, ocasionalmente, por mudas infectadas. Além de ser um fungo polífago (já foi relatado em bananeiras, coqueiros, palmeiras, abacaxi, entre outros), pode sobreviver no solo por períodos superiores a 15 meses.
Sintomas
Os sintomas iniciais são de encharcamento nas extremidades dos toletes, entretanto, com o progresso da infecção, a coloração vai se alterando, evolui para cinza, parda-escura e finalmente negra. Os toletes infectados não germinam ou germinam vagarosamente, produzindo plantas mais fracas, facilmente dominadas pela matocompetição ou ainda pela competição com perfilhos vizinhos.
Um dos sintomas típicos dessa doença consiste na fermentação de toletes que passam a exalar um odor característico, que lembra essência de abacaxi, o que justifica o nome dado à doença.
Controle
A escolha da época de plantio é considerada a técnica mais simples para minimizar a ocorrência do fungo, entretanto, a minimização dos efeitos da doença é obtida com medidas que estimulem a brotação rápida dos toletes ou que protejam os ferimentos por onde o fungo penetra. Logo, medidas como a utilização de variedades com brotação rápida, aplicação de bioestimulantes que induzam melhor brotação e enraizamento e o uso de fungicidas que protejam os ferimentos dos toletes são essenciais para o sucesso no estabelecimento do canavial. Da mesma forma, a utilização de controle biológico com outros fungos com efeito antagônico à doença vem mostrando resultados promissores. Densidades maiores de plantio também constituem em uma medida para reduzir o impacto da podridão abacaxi, pois utilizam quantidades maiores de gemas por metro de sulco, compensando possíveis falhas na brotação. No entanto, esta medida acarreta maiores custos e também redução do rendimento operacional.
O preparo do solo e a profundidade de plantio também devem ser considerados como medidas complementares. O preparo do solo reduz a compactação e elimina os torrões, fornecendo melhores condições para a brotação das gemas. Deve-se optar pelo plantio mais raso, não atrasando a brotação das mudas.
Resultados a campo
Em experimentos a campo realizados em 2013 no interior do estado de São Paulo, durante os meses de maio a setembro, comparou-se uma área sem histórico da doença com outra inoculada com o fungo causador da podridão abacaxi e ainda uma terceira inoculada, porém, tratada com fungicida no sulco. Os resultados mostraram que com uma severidade média de 35% de doença os ganhos na emergência de perfilhos variam de 13% a 22% nos primeiros 100 dias após o plantio quando os toletes são tratados com fungicida no sulco de plantio. Este ganho de emergência é crucial para o estabelecimento, manutenção e desenvolvimento do C estande do canavial. Thomas Miorini, Unesp – Botucatu Giuvan Lenz e Roberto de Oliveira Rodrigues, Arysta LifeScience
Cana-de-açúcar
Manejo agroambiental Fotos Renata Mastrantonio de Souza
Fonte importante de alimento e geração de energia a cana-de-açúcar tem enorme importância econômica e social no Brasil. Seu cultivo exige harmonizar ações que levem ao equilíbrio entre o ambientalmente correto e o economicamente viável
O
expressivo crescimento da produção de cana-de-açúcar, no Brasil, nas últimas décadas, tem determinado importantes mudanças no que se refere ao aspecto agroambiental. Os números do setor canavieiro impressionam pela grande extensão da área cultivada. A cana-de-açúcar ocupa atualmente por volta de nove milhões de hectares de terras, o equivalente a 1,6% dos solos cultivados do Brasil, caracterizando um sistema de produção que tem especial significado econômico e social para o país. Um levantamento da oferta de cana-de-açúcar no mundo, referente ao período 1990-2000, consolida o Brasil e a Índia como líderes da produção. O País produz por volta de 370 milhões de toneladas de cana por ano, o que equivale a 27% da produção mundial. Nos últimos cinco anos o mercado cresceu, seguidamente, 10% ao ano, exigindo, dessa forma, planejamentos estratégicos e mudanças de
28
tecnologia para garantir uma alta produtividade, competitividade e harmonia com as questões ambientais. Em média, 55% da cana brasileira é convertida em álcool e 45% em açúcar. As receitas em divisas variam entre 1,5 bilhão a 1,8 bilhão de dólares por ano, representando cerca de 3,5% do total das exportações brasileiras. São Paulo é o maior produtor com uma área de, aproximadamente, 4,5 milhões de hectares, envolvendo mais de 350 municípios que são considerados canavieiros. Essa atividade empregou diretamente 235 mil trabalhadores na safra 99/2000 e por volta de 80 mil na agroindústria do açúcar, álcool e aguardente, totalizando 315 mil pessoas ocupadas nessa atividade. Em 2014 somente áreas com declividade elevada (maiores que 12%) serão colhidas manualmente. Na região de São João do Rio Preto, já são 70% do corte mecanizado, e na região de Ribeirão Preto, a colheita de cana sem despalha a fogo
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
girou por volta de 60%. A conservação do solo ainda é uma preocupação no estudo de Terraços embutidos e invertidos em solos, cujo seu perfil tem um gradiente acentuado de argila na sua composição do Horizonte B, logo abaixo (50cm) da superfície, formando o perfil característico de Argissolos, predominante na região norte paulista, com altíssimas produtividades como na região de Catanduva, Olímpia. O cultivo da cana-de-açúcar é bastante complexo, podendo ser obtido de um único plantio quatro a seis cortes, com boa produtividade, sendo que após cada ciclo deve se fazer altos investimentos para que a renovação do canavial proporcione boa produtividade da colheita seguinte. Dentre esses investimentos, encontra-se o custo com defensivos para o controle de insetos pragas e ervas daninhas, que podem provocar algumas injúrias. Esses produtos podem elevar o custo da cultura, apresen-
tam persistência prolongada no ambiente, podendo eliminar partes significativas de populações de organismos benéficos e, ainda, serem levados pelas águas das chuvas, pelo processo de lixiviação, para mananciais aquáticos. Na atualidade, tanto a comunidade científica quanto a sociedade civil têm se preocupado com as questões ambientais e a preservação da vida no planeta. Assim, surge a perspectiva do cultivo orgânico da cultura da cana-de-açúcar. Entretanto, sob a orientação de um especialista na área, tal prática pode ser minimizada em relação aos efeitos deletérios no ambiente. Isso tem levado os produtores a adequar a atividade agrícola a uma ação que seja ambientalmente correta e economicamente viável, crescendo a procura por métodos alternativos ao controle químico, abrindo, desta forma, grande oportunidade para a implementação de pesquisas com agentes de controle biológico. Além disso, a cana energia é muito importante no contexto dos dias atuais falando-se em bioenergia, ou produtividade de fitomassa, com uma cana com maior teor de fibra, graças ao Programa de Melhoramento Genético do IAC/Ribeirão Preto, São Paulo, onde fica situado o Centro de Cana, trabalha-se para incrementos na produtividade e teor de sacarose também. Com rotação de culturas, tais como soja, crotalária, amendoim, girassol e até mesmo o milho, os gastos com defensivos podem ser minimizados e a cultura da cana ainda mais valorizada. O preparo do solo tem por objetivo a melhoria das propriedades físicas e químicas para garantir a brotação, o crescimento radicular e o estabelecimento da cultura. Como a cultura da cana-de-açúcar é altamente mecanizada, prevê-se que por volta de três dezenas de operações ocorrem em um mesmo talhão ao longo de cinco anos. É inevitável que o solo esteja mais compactado ao longo dos anos do canavial, principalmente quando não se observa o teor de
De um único plantio é possível obter até seis cortes mas a cada ciclo são necessários altos investimentos para renovação do canavial
água no solo. A reforma do canavial ocorre, em média, a cada cinco anos, mas, dependendo da produtividade, pode ser adiada para sete, oito ou mais anos. Há exemplos de Latossolo Vermelho Eutroférrico, que chegaram a ter na região de Ribeirão Preto nove cortes com boa produtividade. Sendo assim, o preparo do solo é, então, uma questão fugaz nos tratos culturais da usina, pois a próxima oportunidade levará alguns anos, determinando até mesmo a longevidade do canavial. Ou seja, se for adotada alguma prática inadequada, os problemas resultantes permanecerão por um bom tempo e as consequências surtirão efeito. Desta forma, o teor de água, o momento de entrar com os implementos e a granulometria do solo (textura) são alguns aspectos que não podem deixar de ser observados. Todas as etapas do preparo do solo são importantes. As práticas para a correção do solo como calagem, gessagem e fosfatagem, que propiciarão boas condições para o crescimento radicular, o controle de plantas daninhas, as operações de sulcação-adubação, o preparo da muda, entre outros, colaboram para o sucesso do plantio, do estabelecimento e da produtividade da cultura. Todavia, sabe-se que o revolvimento do solo eleva muito sua oxigenação, aumentando, também, a atividade microbiana, com consequentes perdas de carbono para a
atmosfera e da própria perda em matéria orgânica do solo e nutrientes para os mananciais, o que pode eutrofizá-los, aumentando até mesmo a população de plantas aquáticas nos cursos de água, o que diminui sua vazão, contribuindo para o comprometimento destes mananciais e até mesmo gerando assoreamento de seus leitos. Contudo, as técnicas de plantio direto e cultivo mínimo, quando possíveis e indicadas, aumentam a contribuição da cultura da cana-de-açúcar na questão ambiental, por reduzirem perdas de carbono para a atmosfera, fazendo com que o carbono que foi "mitigado" da atmosfera pela cana, durante a fotossíntese, fique estocado no compartimento do solo. Tais técnicas contribuem, também, para aumentar esse estoque, a não queimada da cana antes da colheita e a manutenção da fitomassa em cobertura no campo. Além do que existem relatos de que só o fato de se deixar palha na superfície, contribuirá para esta mitigação, cabendo ressaltar que o que deve ser contabilizado na verdade é o balanço, ou seja, a diferença entre o que foi emitido e o que foi drenado. C Sandro Roberto Brancalião IAC Carolina CattaniNajm Pibic/CNPq
São Paulo é o maior produtor de cana-de-açúcar com área próxima de 4,5 milhões de hectares cultivados
www.revistacultivar.com.br • Março 2014
29
Nutrição
Nutrição eficiente Fotos Produquímica
A máxima produtividade econômica, com sustentabilidade, é uma das principais metas perseguidas pela pesquisa e pelos produtores brasileiros. Nesse contexto é importante alcançar maior eficiência na fertilização, de modo a aumentar a rentabilidade de modo seguro
U
m dos desafios da agricultura brasileira consiste na adoção de sistemas de produção sustentáveis que minimizem as perdas, em especial dos fertilizantes, para que a máxima produtividade econômica seja compatível com os investimentos realizados. Neste sentido, a utilização eficiente dos fertilizantes adquire, a cada dia, maior importância na agricultura, em decorrência da elevação dos custos destes insumos, da necessidade de aumento de produtividade e dos riscos de contaminação ambiental em função do seu mau uso. Sendo assim, o aumento da eficiência na fertilização das lavouras, em seus respectivos sistemas produtivos, é fator altamente relevante para tornar o processo produtivo mais rentável, para que os agricultores permaneçam em suas atividades. É possível utilizar cultivares que sejam capazes de aumentar a relação entre produto e quantidade de nutriente absorvido, de forma a aumentar a eficiência na fertilização. No entanto, a biotecnologia, por si só, não é suficiente, sendo fundamental a adoção de práticas de
30
manejo que aumentem ao longo dos anos a eficiência no uso de fertilizantes; sobretudo, seguir as recomendações de boas práticas para uso eficiente de fertilizantes, seja através de novas práticas e/ou novos fertilizantes, bem como o uso do produto correto, na dose correta, na época correta e local correto. Sendo a análise de solo a principal ferramenta para se determinar as doses corretas de fertilizantes e corretivos a serem aplicados no solo. De maneira geral, a eficiência no uso de fertilizantes no Brasil é baixa. Na maioria dos casos, as quantidades de nutrientes aplicados através dos fertilizantes são maiores que as requeridas pelas culturas. Neste contexto, além de técnicas de manejo, diversas alternativas tecnológicas vêm sendo criadas ou aprimoradas de modo a promover maior eficiência do uso do fertilizante aplicado. Por exemplo, os fertilizantes recobertos com enxofre e polímeros (PSCU), que apresentam potencial de capacidade para redução de perdas, tais como a volatilização da amônia (N-NH3), que ocorre após a aplicação da ureia em superfície e sobre restos culturais, redução da lixiviação
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
de nitrato (N-NO3) e potássio (K+) para as camadas subsuperficiais do solo, principalmente em solos leves e com alta pluviosidade, além de potencial redução na volatilização de óxido nitroso (N2O), gás de efeito estufa na atmosfera com alto potencial de retenção de calor, cerca de 300 vezes superior ao CO². Em relação ao fósforo, a tecnologia minimiza a fixação deste elemento em solos típicos do Brasil com alta quantidade de óxidos de ferro e alumínio. Além das possíveis reduções nos processos de perdas de nutrientes, os fertilizantes de liberação controlada apresentam a capacidade de redução do efeito salino, causado às sementes e ao sistema radicular, e vantagens agronômicas em diversos aspectos fisiológicos importantes para as plantas, além de economia de mão de obra, maquinário e combustível fóssil com o uso da tecnologia. Desta forma, a nutrição de alta performance proporcionada por este tipo de fertilizante ajuda a promover maior eficiência no uso de nutrientes e por vezes incremento de produtividade e renda ao agricultor. Outro aspecto importante para promover
Para a obtenção de ganhos produtivos e econômicos é importante a adoção de práticas integradas com o objetivo de aumentar a eficiência na fertilização
uma maior eficiência no uso de fertilizantes é o correto fornecimento de micronutrientes para as culturas. Sabe-se que a denominação de macro e micronutrientes indica a concentração relativa do nutriente no tecido vegetal e no solo, sem nenhuma relevância biológica, visto que todos são essenciais para a vida dos vegetais. A oferta dos micronutrientes para as plantas é influenciada por diversas características do solo, como textura e mineralogia, quantidade e qualidade da matéria orgânica, umidade, pH, condições de oxirredução e interação entre nutrientes. O entendimento da dinâmica dos micronutrientes nos diferentes tipos de solo e do requerimento pelas culturas, definição de doses, fontes e estratégias de fornecimento de micronutrientes, adequadas às condições locais, são passos fundamentais para maior produtividade das lavouras e uso eficiente de insumos. Em leguminosas, notadamente a soja, a eficiência da nutrição nitrogenada, que se dá em grande parte via fixação biológica de nitrogênio, pode ter sua eficiência aumentada quando supridas as necessidades de micronutrientes fundamentais para este processo biológico, em que o cobalto é o responsável pela regulagem de oxigênio dentro do nódulo e o molibdênio, junto com o ferro, participa diretamente na nitrogenase. Já o níquel tem efeito estimulante na nitrificação e mineralização de compostos contendo N-orgânico e em bactérias do gênero Rhizobium e Bradyrhizobium, que contêm hidrogenases, para as quais é essencial o adequado suprimento de Ni, de tal modo que sua deficiência pode afetar a fixação de N2 atmosférico. Essa enzima é capaz de reprocessar parte do gás de H2 gerado durante o processo de fixação do
nitrogênio atmosférico, podendo, com isso, recuperar parte da energia gasta para romper as triplas ligações que garantem estabilidade das moléculas de nitrogênio. Além do fornecimento destes nutrientes via semente ou foliar, a inoculação destas bactérias deve seguir rigorosamente a recomendação técnica, visto que quando não é dada a verdadeira importância a este procedimento, o produtor fica vulnerável à falta de suprimento de N em sua lavoura, impactando diretamente na eficiência do uso de insumos, na produtividade e na rentabilidade do talhão. O molibdênio também contribui para a melhor utilização do nitrogênio aplicado nas diversas culturas, visto que a baixa oferta deste elemento dentro da planta pode promover o acúmulo de nitrato na folha, evidenciando a baixa eficiência na assimilação de nitrogênio
na falta desse micronutriente. Para uma aplicação eficiente de micronutrientes, recomenda-se observar a fonte com que se trabalha, de modo a alcançar total segurança na aplicação dos nutrientes, sem riscos de fitotoxidez para as plantas e alta eficiência agronômica, com facilidade na absorção e translocação dos nutrientes dentro da planta, como o que ocorre com os fertilizantes para nutrição foliar 100% quelatos. A adoção de um conjunto de práticas de manejo que tendam a aumentar a eficiência na fertilização está diretamente ligada com ganhos produtivos e econômicos. Desta forma, o produtor colaborará com uma agricultura C cada vez mais sustentável. Guilherme Franco, Produquímica
A oferta de nutrientes para as plantas é influenciada por diversas características do solo
www.revistacultivar.com.br • Março 2014
31
Feijão
Feijão nutrido
O cultivo de feijoeiro em sucessão ao milho solteiro ou em consórcio com braquiária tem sido utilizado como estratégia para aumentar a produtividade da cultura. Contudo, para obter bons resultados, o produtor precisa estar atento à oferta adequada de nitrogênio nessas áreas
O
sistema plantio direto (SPD) tem sido uma das melhores alternativas para a conservação dos recursos naturais na utilização agrícola dos solos brasileiros. Uma das vantagens desse sistema de cultivo é a proteção que confere ao solo, reduzindo o impacto das gotas de chuva, o escorrimento superficial e a erosão. No entanto, um dos fatores limitantes do SPD é a dificuldade de manutenção permanente de palhada na superfície do solo, especialmente em regiões com inverno seco como, em que a produção de palhada é baixa. Para tentar contornar essa dificuldade de produção de palhada no SPD tem se buscado várias alternativas, sendo que uma delas é o cultivo consorciado de plantas produtoras de grãos com forrageiras tropicais, o que tem aumentado significativamente nessas regiões
32
com baixa oferta hídrica no inverno. Essa técnica tem sido empregada com o objetivo de produzir forragem no período de menor oferta e ao mesmo tempo aumentar a produção de palhada para o SPD na safra seguinte. Nesse sistema, o consórcio de milho com braquiárias tem sido uma opção muito utilizada pelos produtores. Dentre as espécies de braquiária mais utilizadas estão a Urochloa ruziziensis (Syn. Brachiaria bryzantha) e a Urochloa brizantha (Syn. Brachiaria bryzantha). Vários estudos realizados em Universidades e Instituições de Pesquisa têm demonstrado que o consórcio de milho com U. brizantha promove elevada produção de biomassa e adequada cobertura do solo, não diminui a produtividade do milho e em alguns casos ainda pode aumentá-la. Nesse cenário de produção agrícola, prin-
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
cipalmente na região Centro-Sul do Brasil, uma das principais culturas anuais cultivadas no SPD é o feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.). Nesse sistema, a cultura do feijão tem se beneficiado com a inclusão de gramíneas forrageiras no sistema de produção, o que tem permitido a obtenção de produtividades de feijão bem acima da média nacional. No entanto, como o feijoeiro é uma cultura exigente em nitrogênio (N), mesmo em SPD bem conduzido, é necessário que o fornecimento de N ao feijoeiro seja feito de forma adequada, para serem obtidos tetos elevados de produtividade, uma vez que o fornecimento deficiente de N ao feijoeiro causa redução na produtividade de grãos. A adubação nitrogenada do feijoeiro normalmente tem sido realizada com a aplicação de parte do N no sulco de semeadura, junto ao
fósforo e ao potássio e o restante em cobertura. No entanto, em algumas situações a utilização de elevadas quantidades de N no sulco de semeadura, principalmente em associação com a adubação potássica, pode ocasionar redução na população de plantas e comprometer a produtividade. Por outro lado, a aplicação de N em cobertura aumenta o custo de produção e pode provocar danos ao feijoeiro, causados pelo tráfego das máquinas agrícolas dentro da lavoura. Além disso, o fornecimento de N ao feijoeiro em uma fase mais adiantada do ciclo é menos eficiente que a aplicação de N na fase inicial de desenvolvimento da cultura. Algumas pesquisas têm mostrado que a aplicação de N em SPD, a lanço ou incorporada antes mesmo da semeadura do feijoeiro, resulta em produtividades iguais ou até maiores do que naquelas situações em que o N é aplicado em cobertura. No entanto, apesar das pesquisas indicarem a possibilidade de antecipação do N para o feijoeiro em SPD, ainda existem dúvidas se essa técnica pode ser empregada rotineiramente em condições em que o feijoeiro é cultivado em sucessão ao milho consorciado com forrageiras perenes, pois nessa condição normalmente a produção de massa vegetal e a quantidade de palhada na superfície do solo são maiores. Nesse sentido, foi desenvolvida pesquisa na Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu, sob a coordenação do professor
Fotos Divulgação
O consórcio de milho com braquiárias tem sido uma opção bastante utilizada pelos produtores
Rogério Peres Soratto, com o intuito de compreender melhor a resposta do feijoeiro a épocas de aplicação da adubação nitrogenada, em sistema de plantio direto após milho solteiro ou consorciado com braquiária (U. bryzantha). Neste caso, a semeadura da forrageira foi realizada misturando-se 10kg/ha de sementes (VC=24%) ao adubo de base do milho, safras
de verão 2004/2005 e 2005/2006. Assim, as sementes da braquiária foram distribuídas na mesma profundidade do adubo e simultaneamente à semeadura do milho. Após a colheita do milho da safra 2005/2006, a área foi apenas manejada com triturador de palha a cada seis meses até semeadura do feijão aproximadamente um ano e meio depois. No momento
Época de aplicação do N(2) Testemunha 33 DAS SEM 23 DAE Testemunha 33 DAS SEM 23 DAE Testemunha 33 DAS SEM 23 DAE
Cultura antecessora Milho + braquiária Milho solteiro Teor de N nas folhas (g kg-1) 37,9bA 29,4bB 40,0abA 41,1aA 45,6abA 42,6aA 48,3aA 42,9aA Número de vagens por planta 12,3aA 8,4bB 14,3aA 14,0aA 14,4aA 12,4abA 14,1aA 15,9aA Produtividade de grãos (kg ha-1) 2.939aA 2.549bA 3.072aA 3.366aA 2.850aB 3.538aA 3.557aA 3.258abA
(1) Médias seguidas de letras iguais na coluna, dentro de cada fator, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% probabilidade. (2) Dose de N (100kg/ha-1) aplicado a lanço nas épocas: 33 DAS – 33 dias antes da semeadura do feijão (19 dias antes da dessecação das plantas presentes na área); SEM – no mesmo dia da semeadura do feijão e; 23 DAE – em cobertura no feijoeiro 23 dias após a emergência.
da semeadura do feijão as áreas (milho solteiro e milho + braquiária) tinham quantidades de palhada bem diferentes. Nesse estudo foram pesquisadas três épocas de aplicação da dose de 100kg/ha de N no feijoeiro cultivado após milho solteiro ou milho consorciado com braquiária. As épocas de aplicação do N foram: 33 DAS - 33 dias antes da semeadura do feijão (19 dias antes da dessecação das plantas presentes na área); SEM - no mesmo dia da semeadura do feijão; 23 DAE - 23 dias após a emergência do feijão; e uma testemunha sem aplicação de N. Em todas as épocas o N foi aplicado a lanço na superfície do solo, utilizando como fonte o sulfato de amônio. Os resultados obtidos no estudo demonstraram que no consórcio milho + braquiária a produção de palhada imediatamente antes da semeadura do feijão foi de 20.415kg/ha de matéria seca com uma quantidade de N presente nessa palhada de 376kg/ha. Já no sistema com milho solteiro a produção de palha e a quantidade de N acumulada nessa cobertura vegetal foram bem menores e não ultrapassaram 12.311kg/ha de matéria seca e 251kg/ha de N. Isso foi um dos fatores que interferiram diretamente na nutrição nitrogenada do feijoeiro cultivado em sucessão (Tabela 1). Na presença da adubação nitrogenada os teores de N na folha do feijão não foram influenciados pelos sistemas de cultivo antecessor (Tabela 1). Porém, quando não foi realizada a adubação nitrogenada, os teores foliares de N foram maiores nas plantas de
34
feijão cultivadas em sucessão ao consórcio milho + braquiária, indicando que a inclusão da forrageira no sistema ofereceu maior quantidade de N para o feijão cultivado em sucessão, devido à maior quantidade de palhada e N acumulada nesta palhada. Além disso, se observou que a adubação nitrogenada aumentou os teores foliares de N do feijoeiro, porém, de forma expressiva apenas no feijão cultivado após milho solteiro. Vale destacar que neste estudo, o consórcio milho + braquiária foi cultivado na área por dois anos consecutivos (safras de verão 2004/2005 e 2005/2006) e que a forrageira permaneceu na área por aproximadamente 18 meses, entre a colheita da última safra de milho e a dessecação para a semeadura do feijão, proporcionando elevado acúmulo de biomassa. Um dos sintomas que o fornecimento deficiente de N causa no feijoeiro é o menor crescimento e ramificação da cultura, o que resulta em plantas com menos flores e vagens. Neste estudo foi observado que o número de vagens por planta aumentou com a adubação nitrogenada, apenas quando o feijoeiro foi cultivado em sucessão ao milho solteiro (Tabela 1). Nos tratamentos adubados com N, o cultivo anterior da forrageira em consórcio não afetou o número de vagens do feijoeiro, porque não houve restrição de N para as plantas. Porém, quando não foi aplicado N, o feijoeiro cultivado em sucessão ao consórcio produziu mais vagens. Isso demonstra que a presença da forrageira em consórcio com o milho no cultivo anterior melhorou a nutrição nitrogenada do feijoeiro em sucessão, resultando em plantas maiores, com maior ramificação, número de flores e consequentemente maior quantidade de vagens, mesmo sem aplicação de adubação nitrogenada mineral. Em relação à produtividade de grãos do feijoeiro se observou que independentemente da época de aplicação do fertilizante, houve em média 33% de aumento da produtividade de grãos com o fornecimento de N, quando o feijão foi cultivado em sucessão ao milho solteiro (Tabela 1). Isto indica que é possível efetuar a antecipação da adubação nitrogenada no feijoeiro cultivado em SPD, já que altas doses de N no sulco de semeadura pode comprometer a população de plantas. E a aplicação em cobertura, além de onerar o custo de produção, pode provocar danos à cultura devido ao tráfego do maquinário agrícola. Além disso, a antecipação do N no feijoeiro pode ser benéfica, pois elevadas concentrações de nutrientes nos estádios iniciais de desenvolvimento podem promover bom crescimento inicial do feijão em SPD, pois, há falta de N na fase inicial de desenvolvimento para as principais culturas anuais de grãos. A planta de feijão deve absorver a maior parte de suas necessidades nutricionais na fase vegetativa,
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
transformando-se em uma planta vigorosa, alta e forte para, futuramente, formar o grão. Isto implica que a planta deve estar bem formada antes de atingir a fase reprodutiva para atingir boa produtividade de grãos. No cultivo em sucessão ao milho consorciado, o feijão não respondeu à adubação nitrogenada (Tabela 1), sendo que, mesmo sem a aplicação de N (testemunha), a produtividade foi de quase 3.000kg/ha. Este resultado demonstra que a inclusão da forrageira (braquiária brizanta) no cultivo anterior diminui a necessidade de aplicação de N no feijoeiro cultivado em sucessão, dada a elevada capacidade de ciclagem de nutrientes da braquiária. No entanto, vale destacar que neste estudo houve boa distribuição de chuvas durante o desenvolvimento da cultura, inclusive logo após as aplicações de N, o que favoreceu a oferta do N e o desempenho produtivo do feijoeiro. Além disso, o solo do local era argiloso e com bom teor de matéria orgânica na camada superficial. Isso associado ao elevado acúmulo de resíduos em decomposição na superfície do solo, pode ter contribuído para reduzir as perdas do N aplicado antecipadamente. Contudo, em solos arenosos, com baixo teor de matéria orgânica, com fertilidade limitada e com reduzida quantidade de resíduos vegetais na superfície a antecipação do N pode não ser uma prática eficiente. Outro aspecto que deve ser levado em conta é que quando se utiliza a ureia como fonte de N, a aplicação a lanço sobre a palhada pode provocar grandes perda por C volatilização. Rogério Peres Soratto e Adalton Mazetti Fernandes, Unesp Divulgação
Tabela 1 - Efeito de épocas de aplicação da adubação nitrogenada no teor de N nas folhas, número de vagens por planta e produtividade de grãos do feijoeiro cultivado após milho solteiro ou milho consorciado com braquiária (1)
A manutenção permanente de palhada na superfície do solo é um dos grandes desafios
Empresas
Ameaça resistente
Dow AgroSciences promove Dia de Campo no Rio Grande do Sul para debater o crescimento da incidência de plantas daninhas e as dificuldades de controle
A
O produto que mais preocupou e ainda preocupa o agricultor é o glifosato, um dos mais utilizados no controle de daninhas na soja e que já registra cinco espécies resistentes. Seu uso era amplo, indicado também para lavouras de plantio direto, entretanto, sua aplicação exagerada – e errada muitas vezes – acabou por comprometer parte da eficácia dessa tecnologia. O produtor Daniel Bennemman lembra como o manejo era simples e barato antes do surgimento de daninhas resistentes. “No início a tecnologia RR era mais fácil, o pessoal quis economizar, não se importou em fazer rotação, daí surgiu buva, azevém, tudo com resistência”, lamenta. Atualmente, Bennemman antecipa o combate e manejo para evitar a infestação. Antecipar o manejo é a melhor forma de atingir eficiência, pois os custos para tratar após o aparecimento das espécies resistentes é muito maior. Algumas técnicas que o produtor pode adotar para evitar a infestação de plantas resistentes na sua lavoura são: rotação de culturas, já que isso favorece a alternância de mecanismos de ação dos herbicidas na área, rotação de princípios ativos – maneira mais
Divulgação
Dow Agrosciences promoveu um Dia de Campo para discutir o crescimento de plantas daninhas resistentes e de difícil controle no Sul do País, com tendência de propagação para o Centro-Oeste. O evento ocorreu em fevereiro, no município de Passo Fundo, distante aproximadamente 290 quilômetros de Porto Alegre, na região norte no Rio Grande do Sul. Coube ao professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Mauro Rizzardi, palestrar sobre o tema, destacando o porquê da ocorrência da resistência de plantas daninhas, histórico no País, quantificação dos prejuízos e formas de controle disponíveis. O evento também incluiu a visita a duas propriedades rurais para visualização a campo, e também para ouvir dos agricultores da região como essas plantas têm afetado suas lavouras. Plantas daninhas são uma realidade e uma ameaça para todo produtor brasileiro. Dependendo do nível de infestação da lavoura, as perdas em produtividade podem ir de 42% a 95%. A média mundial, sem nenhum tipo de controle ou estratégia de manejo, é de 40% de perdas. Com controle, esse percentual pode ser reduzido para 5% a 16%. “A variação é grande devido a erros no controle, que prejudicam a eficácia do sistema adotado. O momento inadequado de aplicação e a intensidade de práticas de controle são os principais problemas”, afirma Rizzardi. No Brasil, os casos de resistência de plantas daninhas a herbicidas começaram a ser registrados no Rio Grande do Sul e no Paraná no começo dos anos 90, mas o problema tem atingido lavouras do Centro-Oeste nos últimos anos. A significativa evolução desse problema é associada a diferentes práticas culturais. “As práticas de manejo acabavam sendo uma forma de disseminar as sementes das plantas resistentes, alastrando com rapidez o problema pelo Brasil”, conta Rizzardi. Mas por que certas plantas desenvolvem resistência aos produtos? A resistência é a capacidade natural de certos biótipos, dentro de uma população de plantas invasoras, de sobreviver e se reproduzir após receber uma dose de herbicida que, em qualquer outro caso, seria letal. O uso prolongado de um mesmo mecanismo de ação, não só de um mesmo herbicida, pode potencializar o desenvolvimento desses biótipos resistentes.
Rizzardi abordou dinâmica das plantas daninhas e estratégias de controle
eficaz de se evitar a resistência é evitando o uso do mesmo mecanismo de ação -, plantio direto, atentar para implementos que podem levar sementes resistentes de uma lavoura a outra e utilizar práticas que auxiliem na eliminação do banco de sementes.
Concorrência desigual
De acordo com o pesquisador Mauro Rizzardi, no mundo existem de mil a duas mil espécies de plantas daninhas, para 300 plantas usadas para o consumo alimentício humano. Essas daninhas convivem com as culturas produzidas nas lavouras através da disputa por água, luz e nutrientes, o que diminui o potencial produtivo e gera prejuízos financeiros ao produtor. Essa competição pode ocorrer durante a fase vegetativa ou reprodutiva da planta cultivada. Na fase vegetativa os danos são maiores devido à disputa por recursos, que pode começar desde a segunda semana após a emergência, e durar até a colheita. Para germinação de qualquer semente é necessário 50% do seu peso em água. Como boa parte das daninhas possui sementes muito mais leves que as culturas produzidas, a sua germinação ocorre primeiro, desenvolvendo as raízes e competindo de forma mais acirrada pelos recursos disponíveis no solo. A competição por recursos durante a fase reprodutiva gera perdas em qualidade. No caso do milho, há uma redução no tamanho da espiga. Não necessariamente haverá grandes perdas em produtividade se a disputa se estabelecer nessa fase, porém, a qualidade final será comprometida. Na soja, por exemplo, o receptor avalia a qualidade final do produto. Nos últimos anos, a soja suja por daninhas, que é entregue às unidades de armazenamento, recebeu descontos de 2% a 5% no preço final pago aos produtores. Além das perdas em qualidade, a presença de daninhas durante a fase reprodutiva pode significar a reprodução e presença durante a fase vegetativa da próxima safra. A buva, uma das principais daninhas responsáveis por perdas em produtividade na região sul, produz em torno de 200 mil sementes por planta, sendo que uma planta por m² pode gerar até 8% de perdas. Algumas das práticas que favorecem a infestação são: semeadura em fileiras, plantio de monoculturas e cultivares de porte baixo – por possuírem menos folhas, produzem menos sombra, o que diminui sua C capacidade competitiva. Karine Gobbi viajou a Passo Fundo a convite da Dow AgroSciences
www.revistacultivar.com.br • Março 2014
35
Coluna ANPII
Salto de qualidade A agricultura brasileira tem conquistado vitórias importantes ao longo dos anos, com a adoção de novas tecnologias e o trabalho dedicado de produtores e pesquisadores
A
agricultura no Brasil apresentou notável evolução nos últimos 40 anos. De um país importador de alimentos, passou para a autossuficiência e hoje é um dos grandes exportadores de alimentos do mundo. Uma série de fatores contribuiu para isto, desde a existência de grandes áreas que foram incorporadas ao processo produtivo, os cerrados como exemplo, passando pela pesquisa que desenvolveu novas cultivares muito mais produtivas e terminando na vocação inovadora do agricultor brasileiro que adotou intensamente as novas tecnologias que permitiram o grande salto produtivo. A soja é um dos grandes exemplos desta vitoriosa caminhada. Seu cultivo teve início no Rio Grande do Sul, com produtividade de aproximadamente 1.500kg/ha, com cultivares norteamericanas de ciclo longo e foi sendo melhorada geneticamente, gerando variedades brasileiras, aumentando sua produtividade. A partir da década de 70 do século passado começou seu caminho em direção ao Centro e ao Norte do Brasil, ocupando grandes áreas do Brasil Central e chegando às fímbrias da Amazônia. Atualmente já há ocupação dos cerrados do Amapá, na linha do
36
Equador. A “tropicalização” da soja, um dos grandes feitos da pesquisa brasileira, permitiu o cultivo da soja em áreas nunca imaginadas. Atualmente já há linhagens de soja capazes de produzir acima de 6.000kg/ ha, embora a média nacional alcance a metade disto. Mas o fato é que a produtividade aumentou notavelmente, tanto em função das novas cultivares como também pelo uso massivo de tecnologia por parte dos agricultores. E neste contexto a fixação biológica do nitrogênio tem um papel preponderante. Toda esta soja, quase 30 milhões de hectares, é cultivada totalmente com o uso desta tecnologia como fonte de nitrogênio, dispensando o emprego de fertilizante nitrogenado e utilizando inoculantes para suprir este nutriente. Os inoculantes, por sua vez, também fizeram o mesmo caminho da soja: partindo de uma concentração de 100 milhões de bactérias por grama, passaram para um milhão nos anos 90 e chegaram atualmente a cinco e até seis milhões de bactérias por grama. Logicamente que, se a soja passou a produzir mais grãos, necessitaria mais nitrogênio e isto está sendo fornecido por inoculantes com maior qualidade. A sintonia entre melho-
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
ramento da soja e aumento da qualidade dos inoculantes permitiu que esta cultura continuasse a ter todo o nitrogênio necessário, mesmo para elevadas produtividades, pela via biológica. Os gráficos abaixo mostram esta sintonia. Mas não foi somente na concentração que os inoculantes evoluíram. Com as novas técnicas de plantio, utilizando sementes tratadas industrialmente, novas formas de aplicação passaram a ser desenvolvidas. A aplicação do inoculante no sulco de plantio, com o uso de equipamentos apropriados, é uma das grandes vertentes para a inoculação. Inúmeros agricultores já estão se beneficiando desta técnica, que foi validada pela pesquisa. Este tipo de aplicação dos inoculantes apresenta como principal vantagem a facilidade de aplicação, menor mão de obra e um menor efeito dos fungicidas, pelo fato de haver menos tempo de contato entre bactéria e defensivo. Desta forma, os inoculantes comercializados no Brasil apresentam papel de fundamental importância no grande C sucesso da agricultura brasileira. Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
Q
2014: ano da agricultura familiar
uando um governo ou uma entidade declara que um determinado ano é dedicado a um tema, tem como objetivo colocar sobre ele os holofotes, para que seja amplamente discutido e que, da discussão, surjam propostas para sua melhoria. A FAO, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) dedicado à Agricultura e Alimentação – cujo diretor-geral é brasileiro – selecionou a agricultura familiar como o tema central deste ano. Há pouca margem de discussão quanto à importância social e econômica da agricultura familiar, especialmente nos países mais pobres, como aqueles do sudeste asiático e da África. Porém, o modelo também é muito importante no país mais populoso do mundo – a China – bem como no bloco mais rico do mundo – a União Europeia – sem esquecer sua importância na América Latina, especialmente nos países andinos, onde a agricultura extensiva é inviabilizada
agricultura familiar, auxiliando na solução de seus entraves.
Desafios
Não são poucos os entraves, alguns históricos e recorrentes, outros recentes. A baixa oferta de área é sempre um problema, que limita as opções de cultivo ou criação. Postas as pequenas margens, torna-se inviável produzir grãos em pequenas propriedades, a menos que haja produção de grãos com alto valor comercial, como feijões especiais, por exemplo, ou a produtividade seja muito alta e o custo muito baixo. Atender a esse dueto, apenas aparentemente contraditório, implica em utilizar a melhor tecnologia disponível, o que significa dispor da assistência técnica que necessitam. Esse é outro entrave recorrente, pois dificilmente os pequenos agricultores familiares dispõem de assistência técnica adequada e, o que é mais grave, condições de absorção e implementação da tecnologia. Muitas
anos, a mecanização nas grandes lavouras avançou drasticamente, o mesmo não ocorreu com a agricultura familiar. Além do que, pela baixa dimensão da área explorada, normalmente as máquinas e os implementos disponíveis no mercado são superdimensionados. A solução passa por políticas públicas que favoreçam o associativismo e o cooperativismo, para resolver problemas no plano comunitário. Sem esquecer de outras iniciativas, como patrulhas mecanizadas, por vezes a única alternativa disponível para os produtores. Este fato é agravado pela crescente dificuldade de contratação de mão de obra na área rural – seja por agricultores familiares ou outras categorias. Mas, quem tem restrições para mecanizar sua lavoura, enfrenta dificuldades maiores para levar avante o seu negócio. O conjunto de ameaças, o desincentivo, a falta de perspectivas e a percepção de que as melhores oportunidades estão
A solução passa por políticas públicas que favoreçam o associativismo e o cooperativismo, para resolver problemas no plano comunitário pela baixa oferta de área, pelas restrições topográficas e pelas condições climáticas adversas, especialmente a restrição hídrica. Existe muita discussão quanto à conceituação do que seja agricultura familiar, posta a diversidade de concepções e a dificuldade de enquadramento em um padrão único. Provavelmente o único parâmetro comum a todos os conceitos é o pequeno tamanho da propriedade (em relação ao módulo rural de cada país) e o uso intensivo da terra. Parcela ponderável da produção de hortaliças e uma grande parte da produção de frutas, pequenos animais, leite e flores provêm de pequenas propriedades, a maior parte delas considerada familiar. Ao declarar 2014 o ano da agricultura familiar, a FAO busca gerar discussões produtivas, análises e estudos que auxiliem a entender o tema, bem como identificar com clareza as ameaças e oportunidades que o cercam. Mais que isto, a FAO pretende que os formuladores de políticas agrícolas modernizem a legislação, encontrando fórmulas de apoio à
vezes o pequeno agricultor, forçado pelas circunstâncias, não completou um ciclo escolar mínimo, de qualidade, e sua formação deficiente o impede de assimilar novos avanços tecnológicos. Esse entrave se torna mais evidente e grave nos casos em que os agricultores familiares optam por atividades que demandam maiores aportes de investimentos e tecnologias, como a olericultura e a fruticultura. Mesmo em assentamentos de reforma agrária, que deveriam ser balizados por políticas públicas de apoio e proteção ao agricultor familiar, para garantir o seu sucesso, muitos dos requisitos necessários não são atendidos. É recorrente a afirmativa de que a parte mais fácil de uma reforma agrária consiste em desapropriar e distribuir a terra. O grande desafio começa a partir do momento em que o agricultor se instala na área, quando deveria dispor de todas as condições para ser bem-sucedido. Mas, mesmo quando existe a assistência técnica e o agricultor está preparado para recebê-la, novos entraves se sobrepõem. Enquanto, nos últimos 30
no meio urbano e não na propriedade familiar têm esvaziado cada vez mais o campo, criando um hiato geracional, conduzindo à concentração de área, conforme os velhos agricultores familiares se aposentam e os descendentes não pretendem continuar na atividade. Essa talvez seja a síntese dos desafios a serem enfrentados. Para evitar o agravamento do problema, e o alto preço que a sociedade terá que pagar se a agricultura familiar encolher, cada um de nós tem um papel a desempenhar neste ano de 2014, o ano da agricultura familiar. Seja contribuindo com a discussão, com ideias, sugestões, propostas, encaminhamentos, ou participando ativamente de ações que busquem apoiar e reforçar o agricultor familiar, um importante agente do desenvolvimento social e econômico. C
Décio Luiz Gazzoni
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
www.revistacultivar.com.br • Março 2014
37
Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Dois lados do clima para o agronegócio brasileiro
O clima tem causado perdas na safra brasileira de verão e também na safrinha do milho, que em parte foram comprometidas pelo calor tórrido registrado de dezembro até metade de fevereiro. Junto a isso, a falta de chuvas afetou as plantações em um período importante para a definição da colheita. Fato negativo para a colheita, mas positivo para as cotações, porque aquilo que alguns perdem é argumento para todos puxarem as cotações para cima. Como outro lado do clima se tem o Hemisfério Norte passando pelo inverno mais rigoroso visto pela população atual e que trouxe forte avanço na demanda de alimentos, principalmente de ração (que envolve os principais produtos de exportação brasileiros como soja e milho). O milho, que teve recorde de vendas em 2013, pela primeira vez na história superou os Estados Unidos, que nunca tinham perdido o primeiro posto entre os exportadores mundiais do cereal. Desta forma, o clima traz apelo na redução da oferta, como se pode observar no Brasil, Argentina e Paraguai, que juntos tiveram pelo menos cinco milhões de toneladas de seu potencial produtivo da soja ceifados pela onda de calor e seca. Esse cenário criou um ambiente de mais compradores que vendedores no mercado mundial, com fôlego para que as cotações deste ano sejam mais atrativas em relação às praticadas em 2013. Com apoio interno da cotação do dólar os produtores veem o seu faturamento crescer para compensar parte das perdas causadas pelo clima. Se o clima for analisado como ponto de apoio para o agronegócio brasileiro, é possível concluir que há algo positivo e também negativo, porque as perdas refletem em alta nas cotações. Assim, alguns acabam ganhando e o clima totalmente favorável traz safra maior e cotações menores. Desse modo, ajuda alguns e prejudica outros. Fato que obriga a todos a acompanhar cada vez mais de perto os principais fundamentos que fazem as cotações subirem e descerem. Nos últimos anos tem sido basicamente o clima, com os seus dois lados, a influenciar o sobe e desce. Porque a demanda tem crescimento constante enquanto a oferta segue afetada pelo clima. O quadro geral do agronegócio brasileiro segue positivo para este ano que ainda está no início. MILHO
Exportações superam expectativas
O ano começou com as exportações de milho em níveis muito acima das expectativas. No primeiro mês de 2014 houve mais de 2,9 milhões de toneladas exportadas e embarcadas, quando o mercado esperava algo ao redor de dois milhões de toneladas. Fato importante para o quadro geral de abastecimento deste ano, porque já é tempo de colheita da safra de verão, a menor em área em mais de 20 anos, e em alguns pontos afetada pela seca. Desta forma haverá oferta limitada. Sendo assim, o milho disponível até agora foi rapidamente negociado e as cotações se mantiveram em cima de indicativos firmes (com os portos registrando R$ 27,00 pela saca de 60 quilos e até momentos de R$ 30,00 para os embarques curtos), principalmente de julho a outubro, antes da safra dos EUA, quando o quadro mundial estará bastante apertado. No caso do milho os americanos vêm exportando acima das projeções e o mercado mundial dá sinais de demanda muito maior que as projeções devido ao inverno rigoroso do hemisfério norte (que neste ano está se alongando e esticando a demanda de ração em todas as regiões). O milho segue barato nas cotações de Chicago e este fato tende a ser ponto de apoio de demanda crescente para o etanol americano e para o setor de ração. Boas expectativas aparecem para a safrinha deste ano.
quente e seco, que pegou as plantações de grande parte do país, teve seus números reduzidos para algo ao redor de 88 milhões de toneladas. Mesmo que alguns dados apareçam acima, o fato é que houve perdas e representativas. A safra do Mato Grosso já está praticamente fechada e foi o único estado que teve poucos problemas com o clima, com safra recorde, acima de 26 milhões de toneladas. Em geral, os produtores já venderam quase 60% da soja e o restante tende a ser negociado escalonado. Boa parte do setor aposta em vender a partir da metade do ano, quando normalmente há avanços no mercado internacional devido à entressafra mundial e também apostando que o dólar possa avançar mais por conta da situação econômica brasileira, que serve de apelo para pressionar a moeda americana para cima. Os produtores seguem com ganhos e devem continuar assim no restante do ano, com boas oportunidades à frente para fechamentos com lucros. A China está no mercado e este será um grande ano para o país. Há estimativa de que importará mais de 70 milhões de toneladas e deixará o mercado internacional enxuto de ofertas. O Brasil tende a ser o líder nas vendas aos chineses, com expectativa de alcançar 34 milhões de toneladas. feijão
Oferta escasseando e cotações subindo
Os produtores concentraram o plantio da primeira safra do feijão Carioca e o impacto foi sentido nas cotações, com registro de negócios Safra chegou com perdas e cotações firmes Os produtores estão colhendo a safra de soja, abaixo de R$ 70,00 por saca e inferior ao preço que inicialmente tinha expectativa de furar a mar- mínimo. Mas, passado o pico da oferta, que se ca de 90 milhões de toneladas e devido ao clima deu em fevereiro, volta-se para a redução da soja
entrada de feijão e a retomada do crescimento das cotações, com indicativos de bons níveis e patamares de R$ 130,00 a R$ 150,00 pela saca do Carioca e chances de níveis ainda maiores à frente. Com o feijão Preto se mantendo firme em R$ 140,00 e dificuldades para importar o produto devido aos custos que superam os R$ 170,00 por saca. O pior já passou para o feijão e a tendência agora é de cotações lucrativas aos produtores. arroz
Colheita acalmando o mercado
Os produtores gaúchos estão colhendo safra cheia neste ano, com boa tecnologia e alto potencial produtivo. Desta forma, neste momento há grandes volumes do produto chegando e tudo indica que este seja o momento de cotações mais baixas do ano. Porém, esta fase tende a ser curta e de abril em diante os indicativos devem começar a ganhar força. O ano sinaliza para forte demanda, com expectativa de mais de 12 milhões de toneladas de consumo para uma oferta que tende a ficar abaixo deste número. Isso porque a produção dos estados do Norte e Nordeste é incerta e os números oficiais normalmente são muito otimistas para estas regiões, até mesmo para o Centro-Oeste. A oferta de arroz nestes locais será muito menor que a demanda, que tende a ser atendida pelo produto oriundo do Sul. Como o ano é de cotações maiores no mercado internacional e o dólar navegou para cima, ficará mais caro importar. Esse cenário dará fôlego aos indicativos do arroz do Sul que tendem a ter pouco espaço na baixa e fôlego para níveis maiores que os observados em 2013.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo brasileiro continuou com pouca liquidez nestes dois primeiros meses do ano, com os produtores reclamando das cotações e os moinhos em busca do produto no mercado internacional. Mas o ano promete ter momentos melhores, porque as cotações externas estão em alta, o inverno polar do Hemisfério Norte tem comprometido parte da safra e isso já dá sinais de avanço nas cotações internacionais. Como o ano é de dólar em alta, no Brasil haverá eleições e a demanda de alimentos é crescente, há fôlego para os níveis melhorarem de agora em diante. algodãO - Os produtores gostaram do preço mínimo de R$ 54,00 por arroba, divulgado pelo governo. A safra está nos campos, com indicativos de crescimento de 20% na área e com sinais de que mesmo crescendo será um ano de abastecimento apertado, com quadro favorável aos produtores. china - O Ano-novo começou efetivamente em fevereiro, quando passaram as festividades do país, que se encontra no ano lunar do Cavalo, normalmente bem visto pelos investidores e pelos chineses, que apostam em crescimento
38
Março 2014 • www.revistacultivar.com.br
da economia (o que já pode ser visto nos dados do mês de janeiro, quando a balança comercial lhes trouxe um saldo positivo muito acima das projeções). Sobraram mais de 32 bilhões de dólares entre compras e vendas e ambos cresceram acima das expectativas. Compraram mais e venderam muito mais que o previsto. O quadro chinês começa favorável a grandes importações de alimentos. O caminho já está aberto, porque o governo tem tirado entraves para o aumento das importações de alimentos, o que deve resultar em grandes compras no mercado brasileiro. mercosul - Os produtores novamente foram afetados pelo clima. Argentina, Uruguai e Paraguai tiveram perdas nas lavouras e desta forma a menor oferta de produtos servirá de apelo para o mercado mundial se manter com cotações mais atrativas. Os números que circulam da safra de soja mostram Argentina com 53,5 milhões de toneladas, Paraguai com oito milhões de toneladas e Uruguai com menos de dois milhões de toneladas, todos com número abaixo das expectativas iniciais.