Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 182 • Julho 2014 • ISSN - 1516-358X Destaques
Nossa capa
Ataque precoce...................................22
Monica Debortoli
O papel do tratamento de sementes no manejo da ramulária, doença que ataca cada vez mais cedo as lavouras de algodoeiro
Escavadores do mal.....................08 Performance alterada..................12 Até no inverno...........................26 Como conter Sphenophorus levis, praga agressiva capaz de levar plantas de cana-de-açúcar à morte
Como proteger importantes tecnologias de combate à ferrugem asiática do fantasma da resistência de fungos à aplicação de fungicidas
Índice
Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter
Diretas
04
Controle da brusone em arroz
06
• Editor
Manejo de Sphenophorus levis em cana
08
• Redação
Ferrugem asiática 12 anos depois
12
Fungicidas protetores em soja
16
Sensibilidade de fungicidas em soja
20
Nossa capa - Ataque precoce da ramulária em algodão 22 Helicoverpa armigera no Sul do Brasil
26
Informe - Kimberlit
30
Informe - Spraytec
32
Empresas - Clube da Soja FMC
36
Nematoides em culturas anuais
37
Coluna ANPII
40
Coluna Agronegócios
41
Mercado Agrícola
A presença de Helicoverpa no Sul do Brasil e a importância do monitoramento para prevenir a disseminação e o agravamento dos danos
42
REDAÇÃO
• Vendas
Sedeli Feijó José Luis Alves
Gilvan Dutra Quevedo Karine Gobbi Rocheli Wachholz
Rithieli Barcelos
CIRCULAÇÃO
• Design Gráfico e Diagramação
• Coordenação
• Revisão
• Assinaturas
MARKETING E PUBLICIDADE
• Expedição
Cristiano Ceia
Simone Lopes Natália Rodrigues Clarissa Cardoso
Aline Partzsch de Almeida
• Coordenação
Edson Krause
Charles Ricardo Echer
GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 204,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)
Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060
Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
Diretas Jogada certa
A Rice Tec comemorou no Seminário Cooplantio o sucesso da campanha que entrou no espírito da Copa e foi batizada de “A jogada certa”. “Outro aspecto comemorado foi a produtividade média atingida pelos clientes, que na safra 2013/14 alcançou em torno de dez mil quilos/hectare, chegando a mais de 12 mil quilos/hectare com a tecnologia Inov CL”, explicou o diretor de Marketing da Rice Tec, Leandro Pasqualli.
Proteção de cultivos
A equipe da Bayer CropScience participou do Seminário Cooplantio. Durante o evento, a empresa apresentou as sementes híbridas Arize e os produtos voltados à proteção dos cultivos de soja, arroz e trigo, principais culturas do Rio Grande Sul. Entre os destaques estiveram os fungicidas Fox e Nativo.
Participação
Interação
Para o gerente comercial da Bayer, Marco Dallagnese, a presença da empresa no Seminário Cooplantio possibilitou a troca de informações com clientes e parceiros. “Aproveitamos o evento para falar do arroz híbrido Arize e também do Fox, que é uma das principais ferramentas na cultura da soja para o controle da ferrugem e das principais doenças”, Marco Dallagnese explicou.
Resultados
A equipe técnica da Coodetec apresentou no Seminário Cooplantio os resultados alcançados na região agrícola 101, com as cultivares CD 2737RR e CD 2694IPRO. “As cultivares de soja CD têm demonstrado excelente potencial no Rio Grande do Sul. Em toda a região atendida pela Cooplantio, conseguimos produções excelentes, com registro de até 91 sacas por hectare”, informou o supervisor regional de Vendas, Jonathan Hilgert.
04
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
A Sipcam participou novamente do Seminário da Cooplantio, com o objetivo de reforçar a parceria e divulgar sua linha de produtos. Estiveram presentes o diretor comercial Edward Achterberg; o gerente regional de Vendas Jocelito Borin; o RTV Alexandre Deboni e o executivo de Contas, Celso Andriolo.
Fungicida
A equipe da UPL destacou no Seminário Cooplantio o fungicida UNizeb Gold. “Sua principal característica é ser um fungicida de amplo espectro atuando em vários mecanismos de ação dos fungos conferindo-lhe o benefício de não causar resistência a nenhuma classe de fungo, principalmente ferrugem”, defendeu o gerente de Produtos e Marketing, Gilson Oliveira.
Arroz e soja
A FMC Agricultural Solutions levou aos participantes do Seminário Cooplantio soluções tecnológicas para arroz irrigado e soja. Em soja a empresa apresentou o fungicida Locker, o inseticida biológico Dipel para o controle de Helicoverpa armigera e lagarta falsa-medideira, e os inseticidas Talisman e Rocks. Já na cultura do arroz irrigado os destaques foram o herbicida préemergente Gamit 360CS, os inseticidas Talisman e Mustang, o fungicida Emerald e para o sistema pré-germinado, o herbicida Aurora.
Debates
O gerente de Cultura Sul da FMC, Eduardo Menezes, explicou o que foi apresentado no estande da companhia e a importância da participação da FMC no Seminário Cooplantio. “Levamos novas tecnologias que comprovam eficiência no campo e orientações de manejo para contribuir com a produtividade e rentabilidade nas lavouras. Abordar assuntos tão relevantes com os produtores e players do mercado é essencial para evolução do agronegócio”, destacou Menezes. Entre os temas debatidos ao longo dos três dias do Seminário estiveram a biotecnologia, as mudanças no clima, os cuidados com pragas e doenças das lavouras e a inserção Eduardo Menezes dos jovens na agricultura atual.
Soluções
Os agricultores e técnicos que visitaram o Seminário Cooplantio puderam conhecer as soluções nutricionais da Yara para as culturas de soja, milho, trigo e arroz. Copatrocinadora do evento, a empresa mostrou em seu estande os produtos das linhas YaraBela, YaraVita e Topmix Evolution. “O Seminário Cooplantio é um excelente momento para aproximação da Yara com o cliente”, avaliou o gerente Comercial Sul da Yara, Eduard Kozak.
Nutrição
A Microquímica comemorou os resultados de vendas no mercado paraguaio por meio do Grupo Agrícola Colonial, responsável pela distribuição dos produtos da marca no país vizinho. A exportação representou, nos primeiros cinco meses do ano, 5% do faturamento total da empresa. “Uma das ações que fortalecem o relacionamento da empresa com o mercado vizinho é a participação em eventos setoriais como a Expo Santa Rita, que aconteceu em maio e permitiu à Microquímica confirmar o crescimento nas vendas de todos os produtos ofertados no Paraguai”, afirmou o diretor Comercial Jorge Ricci Junior.
Programa
A DuPont enfocou na 29ª edição do Seminário Cooplantio seu Programa DuPont Soja, conceito de controle de pragas e manejo preventivo de doenças. A companhia também apresentou ao visitante seu recém-lançado inseticida Avatar, ideal para Manejo Integrado de Pragas (MIP). Jorge Ricci Junior
Noite
Aplicativo
A Syngenta realizou a 4ª edição da Noite Syngenta, evento para alinhar com os distribuidores da marca que trabalham no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina estratégias nas culturas de arroz, soja e milho. “Contamos com palestrantes renomados nas diversas culturas e apresentamos novos produtos como Cruiser Opti, para o tratamento de sementes do arroz, e Elatus, fungicida guardião para a cultura da soja” destacou o Desenvolvimento Técnico de Mercado e Marketing, Adilson Jauer.
A Monsanto destacou durante o Seminário Cooplantio o aplicativo Round Ready Plus (RR Plus), desenvolvido para ajudar o produtor rural no gerenciamento e controle de plantas daninhas, com informações sobre as melhores práticas de manejo. O RR Plus é gratuito e está disponível para os sistemas IOS e Android.
www.revistacultivar.com.br • Julho 2014
05
Arroz
Controle por microbiolização Marcelo Madalosso
A brusone é uma doença extremamente agressiva na cultura do arroz, responsável por perdas de até 100% em situações de incidência severa. A busca por estratégias como o uso de bactérias microbiolizadas em sementes surge como alternativa para aumentar as opções de manejo integrado, melhorar o desenvolvimento inicial de plantas e reduzir a severidade do patógeno nas folhas
06
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
E
m todas as fases do seu desenvolvimento, o arroz está sujeito a estresses bióticos e abióticos. Entre os bióticos destacam-se as doenças que reduzem a produtividade e a qualidade dos grãos, sendo a brusone a principal delas. Causada pelo fungo Magnaporthe oryzae (Pyricularia oryzae – anamorfo), a brusone é a doença mais significativa no Brasil e no mundo, ocorrendo em todo o território nacional. Na região Centro-Oeste, onde predomina o sistema de cultivo de terras altas e condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento da doença, os prejuízos são maiores, podendo ocorrer perdas em 100%, dependendo da cultivar e das condições de cultivo. A resistência genética é considerada a estratégia mais econômica e ecologicamente correta para minimizar as perdas causadas pela doença em plantas de arroz. Contudo, o controle da brusone é realizado por meio de agroquímicos, que nem sempre são específicos ao patógeno. A eficácia da proteção de plantas está ligada ao tipo de fungicida utilizado, do intervalo de aplicação, do número de aplicações, do tempo de aplicação, das misturas utilizadas e da qualidade e tecnologia da aplicação. O fungicida utilizado deve ser tóxico apenas ao patógeno-alvo e de baixo impacto ambiental. Estudos realizados na Embrapa Arroz e Feijão, em 2011, para testar o efeito de quatro fungicidas em fungos não alvo do filoplano do arroz, constataram que, dos fungicidas testados, dois reduziram a severidade de brusone nas panículas e apenas um apresentou certo grau de seletividade ao patógeno, não afetando o desenvolvimento de fungos não alvo na folha. Assim, há necessidade de integração de métodos de controle, o manejo integrado. Este manejo objetiva reduzir a população do patógeno em níveis toleráveis, sem causar danos econômicos à cultura, mediante a adoção de um conjunto de medidas preventivas, de maneira não isolada. O principal componente do manejo é a resistência genética da cultivar, seguidos do controle químico, das práticas culturais e, mais recentemente, do controle biológico. O interesse pelo controle biológico tem aumentado recentemente com o intuito de encontrar outras opções além do controle químico. Com o objetivo de avaliar sintomas de brusone e desenvolvimento inicial em plantas de arroz, sementes da cultivar Primavera foram microbiolizadas com bactérias previamente isoladas da rizosfera de arroz (R235 e R46) e de eucalipto (RE1 e RE8). A microbiolização de sementes foi realizada mantendo as sementes imersas em suspensão bacteriana por 24 horas sob agitação constante. Posteriormente, as sementes foram submetidas à secagem em temperatura ambiente por 24 horas e depois semeadas em
Fotos Fábio José Gonçalves
significativamente a severidade de brusone nas folhas. Esta prática pode reduzir o uso de agroquímicos na cultura, uma vez que seja introduzida no manejo integrado da doença.
Arroz
Plantas de arroz antes da inoculação (A) e após a inoculação (B)
vasos contendo 8kg de solo peneirado e adubado na proporção de 350kg/ha da fórmula N-P-K (05-30-15). Para fins de controle, sementes não microbiolizadas também foram semeadas, sendo parte dos tratamentos inoculados com água. Para o desenvolvimento da brusone, após abertura da terceira folha, foi realizada inoculação com suspensão de conídios de M. oryzae 3x105 conídios.ml-1. O experimento totalizou 10 tratamentos, sendo eles: T1) sementes não microbiolizadas inoculadas com M. oryzae; T2) sementes não microbiolizadas inoculadas com água; T3) sementes microbiolizadas com R46 inoculadas com água; T4) sementes microbiolizadas com RE8 inoculadas com água; T5) sementes microbiolizadas com RE1 inoculadas com água; T6) sementes microbiolizadas com R235 inoculadas com água; T7) sementes microbiolizadas com R46 inoculadas com M. oryzae; T8) sementes microbiolizadas com RE8 inoculadas com M. oryzae; T9) sementes microbiolizadas com RE1 inoculadas com M. oryzae; e T10 sementes microbiolizadas com R235 inoculadas com M. oryzae. Seguidos nove dias da inoculação, foi realizada avaliação de brusone nas folhas e coletadas três plantas por vaso de cada tratamento. Foram mensuradas a partir do colo até o ápice da maior folha para avaliar desenvolvimento das plantas e os dados submetidos à análise de variância. As análises realizadas evidenciaram a ocorrência de interação negativa entre tamanho de plantas e severidade de brusone nas folhas (BF) quando as sementes foram microbiolizadas com rizobactérias (Figura 1A), ou seja, quanto maior a severidade da brusone, menor foi o tamanho das plantas. Outro resultado evidenciado pela análise de variância foi uma diferença significativa entre os tratamentos indicando que o tamanho das plantas foi influenciado pela presença das rizobactérias R46 (da rizosfera de arroz) e RE8 (da rizosfera de eucalipto), variação observada pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (Figura 1B). A análise de variância para severidade de brusone na folha mostrou diferenças estatísticas de todos os tratamen-
tos em relação à testemunha inoculada (T1), com CV = 20,81% (Figura 2). O isolado R46 reduziu 33% a severidade de brusone nas folhas, seguido do isolado RE8 (20%), também aumentou o tamanho das plantas em 42% e 31%, respectivamente, quando comparados com a testemunha. Estudos para a identificação destas bactérias estão sendo realizados pela Embrapa Arroz e Feijão, bem como a utilização destes isolados bacterianos no controle de outros patógenos do arroz e também no desenvolvimento de plantas e controle de doenças em outras culturas. Estes resultados indicam que a utilização de bactérias via microbiolização de sementes é uma boa alternativa para o desenvolvimento inicial de plantas de arroz além de reduzir
O arroz (Oryza sativa) é alimento básico para cerca da metade da população mundial, sendo o produto de maior importância econômica em muitos países em desenvolvimento. Estimativas indicam que até 2050, a produção deverá ser dobrada para atender a demanda da população e a América Latina e a África sobressaem-se por serem as únicas regiões com potencial para a produção de arroz com capacidade para atender o crescimento do consumo pela população. Destaca-se pela adaptabilidade aos mais diversos ecossistemas, pela amplitude de área ocupada, assim como pela sua produtividade, tanto no Brasil C quanto no mundo. Henrique Aleixo Ramos, Laercio Vespucci Neto, Caio Cardoso Pereira e Yuri Basso C. Pinto, Universidade Estadual de Goias Fábio José Gonçalves e Marta Cristina Filippi, Embrapa Arroz e Feijão
Figura 1 - Relação entre severidade de brusone nas folhas e tamanho de plantas da cultivar Primavera, obtidas por sementes microbiolizadas com rizobactérias e inoculadas com M. oryzae (A). Análise de desdobramento das médias de tamanho de plantas da cultivar primavera por sementes microbiolizadas desafiadas com isolado de M. oryzae. Barras seguidas de letras iguais não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (B)
Figura 2 - Severidade de brusone nas folhas nos tratamentos 2 - sementes não microbiolizadas inoculadas com água (A), sementes microbiolizadas com R46 inoculadas com M. oryzae (B) e sementes microbiolizadas com RE8 inoculadas com M. oryzae (C)
www.revistacultivar.com.br • Julho 2014
07
Cana-de-açúcar
Escavadores do mal
Fotos Tiago Izeppi
Sphenophorus levis é uma das principais pragas que limitam a cana-de-açúcar. As larvas do inseto, ao se alimentarem, escavam galerias e provocam danos capazes de levar as plantas à morte. A amostragem e o monitoramento no campo são medidas indispensáveis para a adoção de táticas de controle, que também devem considerar o estádio de desenvolvimento da cultura, o tamanho da área, as condições climáticas e a oferta de equipamentos e mão de obra
A
cana-de-açúcar é afetada por diversas pragas desde sua implantação até a reforma. Dentre as que ganharam importância nos últimos anos está Sphenophorus levis Vaurie, 1978 (Coleoptera: Curculionidae), considerado fator limitante para essa cultura, devido aos prejuízos que causa e às dificuldades de controle (Almeida, 2005; Dinardo-Miranda, 2008). Os primeiros relatos de incidência dessa praga datam do final da década de 1970 na região de Piracicaba, São Paulo (Precetti e Arrigoni, 1990), mas, atualmente, esse inseto é encontrado nas principais regiões produtoras de cana-de-açúcar de São Paulo, Paraná e Minas Gerais (Dinardo-Miranda, 2008). As larvas de S. levis são as responsáveis pelos danos pois, ao se alimentarem, escavam galerias e danificam os tecidos no interior dos rizomas nas bases dos perfilhos ou colmos da cana, causando a morte das plantas, falhas nas brotações das soqueiras e redução da longevidade dos canaviais. Estes sintomas são mais facilmente visualizados na época seca do ano (junho a agosto), quando são encontradas as maiores populações de larvas. Em algumas áreas críticas, o ataque da praga se dá de forma tão intensa que o canavial é reformado logo
08
após o primeiro corte (Dinardo-Miranda, 2008). Precetti e Arigoni (1990) relataram essa praga como responsável por causar a morte de 50% a 60% dos perfilhos ainda na fase de cana-planta, com cinco a sete meses de crescimento. Terán e Precetti (1982) reportaram o potencial de dano de S. levis em cana-de-açúcar com perdas anuais que podem atingir 20 toneladas de cana por hectare a 30 toneladas de cana por hectare. Nos últimos anos tem ocorrido registros de novas áreas infestadas, que podem estar relacionados à dispersão dessa praga junto às mudas retiradas de locais infestados, já
que a capacidade de dispersão desse inseto é pequena (Precetti e Arrigoni, 1990). Além de novas áreas infestadas, também ocorreram incrementos nas populações da praga em áreas onde ela já estava presente, em virtude de dificuldades de controle e a mudança do sistema de colheita para cana crua. Com a adoção do sistema colheita da cana crua em larga escala, as populações da praga aumentaram drástica e rapidamente, pois, quando a cana era colhida queimada, muitos adultos da praga morriam por causa do fogo. Com a colheita da cana crua, além de não haver a morte dos adultos pelo fogo, a palha lhes serve de abrigo (Dinardo-Miranda e Fracasso, 2013). Diversas são as medidas de controle que podem ser tomadas em áreas infestadas. Devem ser adotadas em conjunto, pois, nenhuma delas, isolada, é altamente eficiente. O controle começa com o preparo da área antiga para plantio, através da destruição mecânica da soqueira infestada, por meio de gradagens, aração ou pelo uso de implementos específicos para a destruição de soqueiras, que deve ser realizada, de preferência, no período mais seco do ano, época em que grande parte da população se encontra na fase de larva. Juntamente com a destruição mecânica da soqueira infestada, é imprescindível a aplicação de inseticidas no sulco de plantio e, em alguns casos, na soqueira, utilizando implemento que corta a linha de cana e deposita o inseticida em seu interior. Vale ressaltar que ainda há muito a ser estudado e, nas melhores condições, a eficiência do controle químico chega, no máximo, de 70% a 80%. Adicionalmente a todas
Touceira de cana-de-açúcar com perfilhos secos devido ao dano de S. levis e base dos perfilhos com o sintoma característico do dano do inseto
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
as medidas de controle também se recomenda dar atenção ao uso de mudas sadias no plantio, provenientes de viveiros que se encontrem livres da praga. O sucesso das estratégias de controle para uma praga pode ser atribuído a diversos fatores, mas certamente o conhecimento da situação em que o inseto se encontra nas áreas cultivadas, através de monitoramentos e amostragens, é um dos aspectos fundamentais não só para a determinação do momento de controle da praga, mas também para avaliar se a estratégia de combate adotada está trazendo resultados eficazes. O levantamento populacional de S. levis pode ser feito por meio da avaliação da presença de formas imaturas da praga e dos danos que causam. Geralmente, tanto usinas como fornecedores usam metodologia que consiste na abertura de trincheiras de 50cm de largura x 50cm de comprimento e 30cm de profundidade, feitas nas linhas de cana, à razão de 2 por hectare. Essa amostragem é feita nas áreas de reforma e é utilizada para estimar as populações de todas as pragas de solo, não só de S. levis. Nos últimos anos, o Centro de Canade-açúcar do Instituto Agronômico (IAC) e a FCAV/Unesp conduziram uma série de estudos a fim de se conhecer melhor o comportamento e a flutuação populacional de S. levis em cana-de-açúcar e, através disso, sugerir novos métodos de amostragem e monitoramento para as condições atuais de cultivo de cana, contribuindo para o programa de manejo integrado para essa praga. Resultados dos estudos mostram que as formas biológicas do inseto podem ser encontradas durante todo o ano em canaviais e que o atual sistema de monitoramento realizado com dois pontos por hectare é pouco preciso para se estimar a população da praga. Os dados dos trabalhos realizados sugerem que
Leila Dinardo-Miranda
Esquema da amostragem por trincheira
seis pontos de amostragem por hectare seria o indicado para estimar a presença do inseto na maioria das situações. A amostragem deve ser realizada, preferencialmente, na época mais seca do ano (abril a setembro) logo após a colheita ou antes da reforma do canavial. Em cada ponto de amostragem deve ser retirada a touceira em 50cm da linha de cana, com o auxílio de um enxadão, e todo o material vegetal da touceira deve ser vistoriado à procura de formas imaturas do inseto (larvas e pupas) e dos danos. Os danos são expressos em porcentagem de rizomas atacados e, para isso, contam-se os rizomas totais e os rizomas danificados na touceira, que são utilizados no cálculo do dano [Dano = nº rizomas danificados/nº total de rizomas)*100]. Em certas épocas do ano, as populações do inseto são mais baixas e, por causa disso, os danos causados pela praga são um parâmetro mais confiável para a realização das amostragens, visto que, mesmo não se encontrando as formas biológicas do inseto no campo, o dano está presente; a presença do dano atesta a ocorrência do inseto. Os adultos de S. levis também podem ser monitorados por meio da instalação de iscas tóxicas dispostas na base das touceiras. Tais iscas são confeccionadas com toletes de cana de 30cm rachados ao meio e embebidos em solução de inseticida com melaço. A época de utilização vai de outubro a março, que coincide com a maior ocorrência de adultos no campo.
Rizoma danificado por larva de S. levis e rizoma danificado com a presença da larva de S. levis
As iscas devem ser dispostas no campo em número de 100 por hectare e avaliadas após 15 dias, para a contagem dos adultos presentes. A técnica foi muito utilizada no final dos anos 80 e início dos anos 90. O objetivo principal era atrair adultos para o monitoramento das populações, mas tornou-se inviável pelo alto custo e grande demanda de mão de obra. Atualmente, este levantamento é indicado em áreas de viveiro para prevenir a liberação de mudas infestadas com S. levis, consideradas a principal forma de disseminação da praga (Precetti e Arrigoni, 1990; Dinardo-Miranda, 2008). Por fim, além de uma correta amostragem e monitoramento da população da praga no campo, a tomada de decisão na adoção de táticas de controle deve também levar em consideração o estádio de desenvolvimento da cultura, o tamanho da área, as condições climáticas e a oferta de equipamentos e mão de obra, pois qualquer problema decorrente de um desses fatores pode levar ao insucesso na adoção das medidas de controle, podendo contribuir para o aumento dos danos causados C por essa praga. Tiago S. Izeppi e José C. Barbosa, FCAV/Unesp – Jaboticabal Leila L. Dinardo-Miranda e Juliano V. Fracasso, IAC
Esquema de amostragem por iscas tóxicas
www.revistacultivar.com.br • Julho 2014
09
Soja
Performance alterada Fernando Cezar Juliatti
Ao longo de 12 anos da presença da ferrugem asiática no Brasil, a sensibilidade do fungo à aplicação de fungicidas vem sendo reduzida por conta de diversos fatores, como manejo inadequado e erros na tecnologia de aplicação. Apostar na prevenção é uma das saídas para diminuir os riscos da pressão de seleção de populações resistentes do patógeno
O
s fungicidas são compostos químicos de amplo uso no controle de doenças de plantas. Alguns com ação protetora e outros curativos e sistêmicos. Dentro desta classificação incluem-se os indutores de resistência que não agem como fungicidas inibidores do crescimento micelial e da esporulação. Os cuidados no preparo da calda e a tecnologia de aplicação são também fundamentais para o sucesso das ações de campo, além da escolha do adjuvante ideal para cada condição. Não se pode dar a chancela a sistemas suicidas. Os fungicidas são compostos químicos empregados no controle de doenças de plantas causadas por fungos, bactérias ou algas. Alguns compostos químicos não matam os fungos, mas inibem o seu crescimento temporariamente. Tais compostos são chamados de fungistáticos. Alguns produtos químicos inibem a produção de esporos sem afetar o crescimento das hifas no interior dos tecidos e, neste caso, são chamados antiesporulantes. Bactericidas e antibióticos com ação
12
fungicida estão, implicitamente, incluídos no conceito. Desde a ressurgência da ferrugem da soja no Brasil em 2002, no sudoeste do Paraná, na região de Ponta Grossa, PR (Deslandes, 1979, Jaccould, 2002 e Yorinori, 2002), tem-se observado uma alteração na sensibilidade do fungo, que pode ser entendida na Figura 1. Uma pergunta que se faz de imediato é o que está acontecendo na população do fungo Phakopsora pachyrhizi? Baseado nos tabalhos de monitoramento do fungo para os fungicidas triazóis (IDM-inibidores da demetilação e na formação de membranas celulares dos fungos sensíveis) tem-se observado que a dose inicial de controle para reduzir a interação patógeno-hospedeiro com 90% de controle era de 0,25mg.litro-1 ou kg-1 (ppm) para 10ppm. Isto significa uma redução na sensibilidade da ordem de 40 vezes. Em relação às estrobilurinas esta redução não foi detectada, permanecendo a sensibilidade do fungo na ordem de 1ppm ou mg.litro-1.
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
Com o surgimento das carboxamidas esta sensibilidade está na ordem de 0,01-0,1ppm. Uma pergunta que se faz: existe perda na sensibilidade às estrobilurinas? Não, uma vez que este grupo de fungicida atua na respiração mitocondrial (IQO - inibidores do sistema Quinona - oxidase) e na fase de germinação de esporos. Além disso, não tem-se observado alteração, via monitoramento genético do fungo na perda da sensibilidade. As carboxamidas que entraram no mercado brasileiro em 2013 (fluxapiroxade, solatenol, bixafen etc) agem também na respiração mitocondrial no complexo II (SDHI - complexo enzimático succino-desidrogenase). É importante relatar que estes fungicidas foram inicialmente para o controle da ferrugem do café (pirocarbolide) e da ferrugem do feijoeiro-comum (oxicarboxim) e tiveram pouca duração no seu uso nas décadas de 70 e 80 pela perda na sensibilidade das ferrugens, alvo de controle já nos primeiros três anos de uso. Ambas as ferrugens com menor mutabilidade vertical que a FAS (ferrugem asiática da soja), que é muito elevada (uma lesão com três ou mais pústulas e cada pústula em média com três mil urediniosporos que são liberados por dia durante 15 dias). Uma nova interrogação se faz: o que irá acontecer com as carboxamidas? Não podemos prever, mas baseados no que aconteceu com as utilizadas para a ferrugem do café e feijoeiro, é possível inferir um quadro crítico e desolador, com a perspectiva de redução da sensibilidade deste grupo com apenas dois ou três anos de uso no campo. Assim, se não houver um bom manejo do inóculo nestas áreas, através do rompimento das relações patógeno-hospedeiro, o atual modelo agrícola será insustentável. A prevenção ainda é a melhor forma de controle, pois aplica-se o conceito da proteção de plantas. Desta forma, a menor pressão de seleção na população do patógeno permite um menor risco de aparecimento e multiplicação das formas resistentes em patógenos com alta mutabilidade vertical. Ou seja, é fundamental o uso de fungicidas protetores como o mancozeb e o clorotalonil ou novos fungicidas biológicos de ação protetora para o manejo da resistência ou perda da sensibilidade do patógeno. Cabe ressaltar, também, que as carboxamidas são específicas para basidiomicetos (ferrugens em geral). Pesquisas realizadas na
Tabela 1 - Processos vitais dos fungos fitopatogênicos interrompidos por diversos fungicidas Grupo químico Fungicidas Enxofre Sulfurados Cúpricos Cobres fixos Ditiocarbamatos Maneb, Zineb, Mancozeb Nitrogenados heterocíclicos Captan, Captafol Nitrilas Clorotalonil Guanidina Dodine Compostos aromáticos PCNB Benzimidazóis Benomil, Tiofanato Metílico Carboxamidas Carboxim, oxicarboxim, fluxaoiroxade, solatenol, bixafen Organofosforados Kitazim, Ediphenphos Triazóis Tridimefon, Triadimenol, Propiconazole, Triciclazol Acilalaninas Metalaxyl, Furalaxyl Morfolinas Tridemorph, Dodemorph
UFU, em parcelas pulverizadas com carboxamidas e colheita das sementes com avaliação da patologia e fungos incidentes, tem-se percebido um aumento da incidência nestas parcelas de Cercospora kikuchi e Colletotrichum dematium. Outro fato que merece atenção é o erro frequente na tecnologia de aplicação, onde observa-se a presença da subdose no campo com o uso de frota já envelhecida e com erros frequentes de deposição no alvo biológico (onde o fungo está presente, Tabelas 2 e 3). Com certeza este é um dos fatores de aumento
Mecanismo de ação Cadeia respiratória (transporte de elétrons) Inativação de enzimas essenciais-Grupo SH da metionina Inativação de enzimas essenciais Inativação de enzimas essenciais Inativação de enzimas essenciais Permeabilidade de membranas Permeabilidade de membranas Inibição da síntese de DNA Inibição do oxigênio na cadeia CTE Inibição da síntese de quitina Bloqueio na biossíntese de Ergosterol Inibição da biossíntese de RNA Cadeia de transporte de elétrons
da pressão da seleção direcional na redução da eficácia dos fungicidas. É preciso dar chance à atuação da pressão estabilizadora na população do fungo com o uso preventivo dos fungicidas (monitoramento), rotação e associação de fungicidas protetores (mancozebe e clorotalonil) com sistêmicos e deposição correta no alvo (no mínimo 60 gotas no baixeiro até o ápice do dossel de plantas). A Tabela 1 apresenta alguns dos princípios e modos de ação dos fungicidas A Tabela 2 apresenta os principais problemas com a tecnologia de aplicação e falhas
Tabela 2 Itens avaliados % Máquinas Reprovadas Adequação dos manômetros 16,1 Erro na taxa de aplicação (abaixo 41,9 %) 64,5 Pontas de pulverização ruins 26,5 Antigotejadores ruins ou ausentes 47,1 Vazamentos 61,8 Mangueiras danificadas 14,7 Proteção das partes móveis 25,0 Condições meteorológicas 70,0 Fonte: Adaptado de Alvarenga (2009)
Tabela 3 - Itens avaliados em pulverizadores no estado do Mato Grosso Itens avaliados Adequação dos manômetros Pontas de pulverização ruins Antigotejadores ruins ou ausentes Vazamentos Mangueiras danificadas Proteção das partes móveis
% Máquinas Reprovadas 2,9 82,4 0,0 35,3 8,8 8,8
Fonte: Adaptado de Siqueira (2009)
no controle com fungicidas no campo no Triângulo Mineiro Além destes dados a frota brasileira de pulverizadotres é velha, precisando de renovação e um programa oficial de certificação, como
Figura 1 – Cronologia dos fungicidas contra a ferrugem
Tabela 4 - Fungicidas utilizados para o controle da FAS na safra 2012-2013 Ingrediente ativo 1. testemunha 2. tebuconazol 3. ciproconazol 4. azoxistrobina1¹ 5. azoxistrobina + ciproconazol2 6. piraclostrobina + epoxiconazol3 7. picoxistrobina + ciproconazol4 8. triloxistroibina + protioconazol5 9. picoxistrobina + tebuconazol1 10. azoxistrobina + flutriafol1 11. azoxistrobina + tebuconazol1,5 12. azoxistrobina + tebuconazol1 13. azoxistrobina + tebuconazol6,5 14. azoxistrobina + flutriafol7,9 15. metominostrobina + flutriafol8,9 16. piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxad3,9 17. piraclostrobina + fluxapiroxad3,5 18. azoxistrobina + solatenol2,9
Ampliação
L p.c. ha-1
100 30 50 60 + 24 66,5 + 25 60 + 24 60 + 70 60 + 100 62,5 + 82,5 72 + 98 60 + 100 62,5 + 125 62,5 + 62,5 63,8 + 95,7 64,8 + 40 + 40 99,9 + 50,1 60 + 30
0,50 0,30 0,20 0,30 0,50 0,30 0,40 0,50 0,50 0,60 0,50 0,50 0,25 0,58 0,80 0,30 0,20
Adicionado Nimbus 0,5% v/v; 2Adicionado Nimbus 0,6 L ha-1; 3Adicionado Assist 0,5 L ha-1; 4Adicionado Nimbus 0,75 L ha-1; 5Adicionado Áureo 0,25% v/v; 6Adicionado Adjuvante Nortox 0,5% v/v; 7Adicionado Nimbus 0,5 L ha-1; 8Adicionado Iharol 0,5% v/v; 9Produto não registrado (FNP)
1
no continente europeu e norte-americano (Tabela 3). Nas recomendações de campo, alguns cuidados devem ser tomados em relação aos fungicidas: • As aplicações preventivas sempre logram mais sucesso que as curativas; • Não se deve usar fungicidas em altas populações de fitopatógenos, pois o risco da seleção de mutantes resistentes é maior; • Em patossistemas que evoluem das folhas inferiores para as superiores a proteção e a tecnologia de aplicação devem propiciar uma boa cobertura de gotas no interior das plantas; • Aplicações de fungicidas triazóis ou estrobilurinas na fase vegetativa da soja devem ser evitadas e se utilizadas devem estar associadas aos protetores mancozeb e clorotalonil;
• O uso global de fungicidas em grandes áreas deve ser bem dimensionado em relação à tecnologia e disponibilidade de máquinas para o produtor, evitando, assim, o controle curativo. Dados de difrerentes pesquisadores no Brasil apontam para erros no depósito de fungicidas no alvo (60%) com subdose ou sobredose; • Tem-se confirmado de forma sucessiva e eficaz o uso de formulações de silício para aplicações foliares, que têm apresentado interação sinérgica com os modernos fungicidas sistêmicos e maximizado, assim, a sua ação na planta em diversos patossistemas; • O uso de fungicida para o controle da FAS deve ser preconizado quando este promover retorno econômico e com intervalo máximo de 15 dias; Gráfico 1
14
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
• Deve-se evitar o uso da soja safrinha. Caso seja utilizada esta estratégia para produção de sementes é necessário fazer a proteção total do cultivo sem chances para a reprodução do patógeno e com monitoramento das áreas por órgãos governamentais do estado ou federal. Finalizando, os resultados da rede ferrugem e uso de fungicidas no Brasil na safra 2012-2013 apontam para esta redução na performance dos fungicidas (Gráfico 1). No Gráfico 1 observa-se a eficiência de controle de 18 fungicidas da rede brasileira de controle da ferrugem da soja na safra 20122013 e a redução na produtividade para os 18 C tratamentos (Tabela 4). Fernando Cezar Juliatti, Univ. Federal de Uberlândia
Soja
Efeito guardião
Divulgação
Ferramentas importantes na sanidade de culturas e no manejo de resistência, fungicidas protetores têm passado por alterações de formulações na busca por produtos mais eficientes e menos agressivos ao ambiente
O
s fungicidas são compostos químicos que podem ser classificados em erradicantes, protetores, sistêmicos e mesostêmicos. Os protetores são efetivos quando aplicados antes da introdução do fungo nos tecidos do hospedeiro, formando uma barreira que impede a penetração dos fungos através da inibição da germinação dos esporos, já os sistêmicos são absorvidos pela planta e deslocados para outras partes inibindo a proliferação do patógeno. O êxito de controle de um fungicida protetor não depende apenas de sua fungitoxicidade, mas também de uma série de outras variáveis como a adesividade, tenacidade, persistência e fundamentalmente da tecnologia de aplicação utilizada. A quantidade de gotas (densidade de gotas) e a qualidade (espectro de gotas) do fungicida pulverizado, depositado
16
e sua adesividade à planta deverão resultar em uma distribuição uniforme e homogênea da quantidade recomendada de ingrediente ativo. Assim, as características da formulação de um fungicida são fatores determinantes dentro de uma série de variáveis que garantem a efetividade de um produto. Dentre os fatores inerentes à formulação que são de extrema importância para a aplicabilidade do produto estão o tamanho de partícula, a molhabilidade e a composição dos tensoativos utilizados no produto que podem interferir diretamente na tenacidade do mesmo. A tenacidade é a capacidade relativa de um fungicida em permanecer aderido à superfície onde foi aplicado, ou seja, é a resistência à ação de intempéries. Uma vez aplicado sobre a superfície vegetal, um composto químico deve ser capaz de permanecer ativo por determinado
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
tempo. Para isto, é necessário que tenha tenacidade, que pode ser definida também como a capacidade de resistir à volatilização, sublimação, hidrólise e a lavagem pela chuva ou irrigação. Os fungicidas que têm alta tenacidade também têm poder residual mais prolongado. Se um produto químico adere-se fortemente à superfície foliar (tenacidade) é possível que este efeito possa perdurar por longo tempo (persistência). A ação do orvalho e da chuva é provavelmente o principal fator que diminui a tenacidade dos fungicidas. Tratando-se de fungicidas protetores, esta característica torna-se uma das mais importantes, já que devem persistir por um longo período na superfície tratada sem serem removidos ou decompostos. De acordo com Azevedo, 2003, os fungicidas protetores do grupo químico dos ditiocarbamatos apresentam percen-
cipalmente a introdução no mercado de compostos menos tóxicos e menos agressivos ao ambiente. Entretanto, a despeito do tempo de desenvolvimento, de todos os testes de eficácia e praticabilidade, das exigências de regulamentação e de todas as recomendações de uso correto dos fungicidas, as situações no campo não ocorrem como deveriam, e os problemas que têm surgido não são poucos. Dentre os principais problemas podemse citar o uso de produtos proibidos ou sem a devida regulamentação, produtos de degradação ou metabólitos (este fato é mundialmente conhecido e serve de exem-
Divulgação
tual de remoção de 78% (formulação SC) a 85% (formulação WP) após a aplicação de chuva simulada e os protetores do grupo químico inorgânico apresentam de 43% (formulação SC) a 53% (formulação WP) de remoção após a chuva simulada, demonstrando a importância da formulação na persistência de um fungicida protetor. É consenso geral que os fungicidas protetores são ferramentas importantes na sanidade das culturas, contribuindo muito para o controle de doenças e sendo fundamentais no manejo de resistência. Ao longo dos anos diversos avanços foram alcançados na melhoria das características das formulações destes produtos, prin-
18
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
plo para as precauções que devemos ter ao recomendar alguns grupos químicos), persistência no meio ambiente e limite máximo de tolerância (resíduos). Na prática, é difícil encontrar em um só produto todas as características desejáveis, porém, a escolha deve ser baseada no fungicida que apresente o maior número de benefícios. Em resumo, em sua maioria, são escolhidos os produtos de eficácia conhecida e comprovada, sem problemas ambientais e que economicamente satisfaçam as exigências C do usuário. Modesto Barreto, Unesp Campus de Jaboticabal
Soja
Sensibilidade preservada Ivan Pedro
O uso indiscriminado e massivo de fungicidas com os mesmos mecanismos de ação tem resultado em crescente perda de eficácia de produtos sobre determinados patógenos-alvo na cultura da soja. Para preservar tecnologias importantes para o manejo de doenças e manter a sustentabilidade do sistema, medidas integradas e planejadas precisam ser adotadas
A
cultura da soja ocupa posição de destaque no Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro e mais uma vez se reafirmou como o principal cultivo praticado no país na safra 2013/14. Com o advento de novas tecnologias associado aos avanços nas áreas de biotecnologia e melhoramento genético, ano a ano são incorporadas novas fronteiras agrícolas com esta oleaginosa ao passo que nas áreas já cultivadas, incrementos de produtividade têm sido uma realidade, porém, um desafio incansável. De acordo com o sexto levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizado em março de 2014, na safra 2013/14 foram cultivados aproximadamente 29,79 milhões de hectares de soja no Brasil, resultando em crescimento médio de 6,9% comparado à safra anterior (2012/13), onde
20
foram cultivados 27,73 milhões de hectares com esta cultura. A produtividade média (kg/ ha) naquele ano situou-se próximo a 2.938kg/ ha e para o cenário atual projeta-se uma média de 2.867kg/ha, ou seja, queda de 2,4% (Conab). Apesar deste menor número, houve incrementos na produção quando comparadas as duas safras, mesmo porque nesta última ocorreu aumento na área plantada. Desse modo, a produção saltou de 81,49 milhões de toneladas (safra 12/13) para aproximadamente 85,44 milhões de toneladas (safra 13/14), embora as estimativas sinalizassem números próximos a 90,02 milhões de toneladas no levantamento realizado pela Conab em dezembro de 2013. Diversos fatores influíram nessa trajetória, desde o plantio até a colheita e consequente comercialização do grão como produto final.
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
Destacam-se os “redutores” da produtividade representados pelas pragas, doenças e as plantas daninhas que em conjunto concorrem com a cultura dentro do mesmo ambiente, alterando de alguma forma seu desenvolvimento normal e a expressão do potencial genético produtivo. Integrando esses fatores, as doenças enquadram-se como de extrema importância e difícil solução. Como reflexo, provocam perdas significativas ao longo das safras, em maior ou menor grau, resultando em aumento do custo de produção e menor rentabilidade por parte da classe produtora. Essa expansão da cultura da soja para novas áreas, associada à monocultura, à adoção de práticas inadequadas de manejo e à mudança no quadro de cultivares, tem aumentado o número e a intensidade das doenças, além de outras anormalidades de causas desconhecidas. As decisões e estratégias a serem tomadas para o controle de doenças dependem do conhecimento dos agentes causais, da epidemiologia (fatores que favorecem o seu desenvolvimento), do estádio de desenvolvimento (fenologia) em que a cultura é mais vulnerável e das reações das cultivares a cada doença. Estes conhecimentos são fundamentais para a definição e adoção de técnicas mais adequadas de manejo. Algumas doenças podem ser evitadas com a simples troca de cultivares suscetíveis por resistentes ou, então, pela alteração da época de semeadura. Entretanto, outras exigem a combinação de práticas culturais com métodos mecânicos e/ou químicos por meio de fungicidas. Estes últimos oferecem algumas vantagens sobre os anteriores, como praticidade, relação custo-benefício, eficácia etc. No entanto, deve-se ter em mente que se trata de uma ferramenta complementar no manejo e não como a “única” opção, como é vista por muitos. Praticamente em todas as áreas produtoras de soja na atualidade são utilizados fungicidas no manejo de doenças, principalmente daquelas de difícil controle como no caso da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi). Como exemplo, no ano de 2012 a quase totalidade da área cultivada (25 milhões de hectares) com soja foi tratada com fungicidas para controle da ferrugem, perfazendo um total de 93% da área (Figura 1). Já na safra seguinte (2012/13), a área tratada foi superior a 26 milhões de hectares, com média de três aplicações/ha. (Kleffmann, 2013). O grande “vilão” referente ao manejo químico tem sido o uso indiscriminado e massivo de certos produtos (moléculas) no controle das doenças. Em outras palavras, seria a utilização dos mesmos mecanismos de ação de forma
Figura 1 - Evolução da área (x 1.000) de soja tratada com fungicidas visando o controle da ferrugem
intensa e pouco planejada ao longo dos anos (safras), resultando em perda de eficácia sobre determinados patógenos-alvo. A situação é mais preocupante quando da utilização de produtos específicos que atuam em um único sítio específico dos fungos (single-site). Nessas condições, a pressão de seleção imposta sobre os patógenos e o risco de surgimento de populações resistentes/tolerantes são maiores. (Frac, 2010). Em tese, maior será o risco de surgimento de resistência quanto menor o número de genes envolvidos. Essa informação é extremamente relevante, uma vez que fungicidas que atuam sobre vários sítios (multissítio) do fungo interagem com um número maior de genes e, como consequência, o risco de surgimento da resistência é menor. Já fungicidas que apresentam um único sítio de ação tendem a apresentar maior risco de desenvolvimento da resistência. O desenvolvimento da resistência a fungicidas pode ser entendido como uma adaptação genética dos fungos, estável e hereditária, que resulta na diminuição da sua sensibilidade a uma determinada molécula fungicida (Reis et al, 2011). Em geral, a redução da sensibilidade surge em resposta ao uso repetido de um fungicida, com o mesmo mecanismo de ação, numa grande área e com várias aplicações no ciclo da cultura. As principais consequências são controle ineficiente de doenças e casos de insucesso no campo. Essa redução de sensibilidade ou resistência pode ser cruzada, múltipla, qualitativa ou quantitativa. A primeira refere-se à resistência de um fungo a dois ou mais fungicidas, com o mesmo mecanismo de ação ou similaridade química conferida pelo mesmo fator genético. Já a segunda ocorre quando linhagens patogênicas apresentam mecanismos de resistência separados para fungicidas de grupo químico distinto ou mecanismo de ação diferente. Na resistência qualitativa, tem-se a perda de efetividade do fungicida de modo repen-
Figura 2 - Evolução da redução do controle da ferrugem pelo tebuconazol ao longo de sete safras
tino e marcante pela presença bem definida de populações de patógenos que apresentam suscetibilidade e resistência com respostas que variam amplamente. Finalmente, na resistência quantitativa, tanto o declínio no controle da doença como a diminuição da suscetibilidade das populações do patógeno, demonstradas por teste de monitoramento, se manifestam gradualmente, são parciais e ocorrem em graus variáveis. Notadamente, é preocupante que a performance dos fungicidas possa declinar em decorrência do desenvolvimento de resistência nos fungos-alvo. Exemplo disso foi a queda acentuada na eficácia dos triazóis (inibidores da desmetilação) utilizados no controle da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) quando comparados os primeiros anos de entrada da doença no Brasil (2001/2002) com as últimas safras (Figura 2). O grande fator propulsor foi as aplicações de forma isolada, em grandes áreas e com várias aplicações no ciclo da soja. Assim como os triazóis, outro grupo químico bastante utilizado, as estrobilurinas (inibidores da quinona externa) apresentaram redução na performance de controle quando aplicadas de forma isolada por diferentes safras e ciclos de cultivo para controlar tal doença. Pesquisas conduzidas em campos experimentais e laboratório confirmaram essa redução da sensibilidade da ferrugem a este grupo químico na safra 2012/13. Concomitantemente fungicidas do grupo dos benzimidazóis demonstraram redução de eficácia sobre algumas doenças, dentre elas a mancha alvo (Corynespora cassiicola). Aliado a estes problemas, somam-se as dificuldades e restrições (legais e/ou envolvendo aspectos toxicológicos) impostas para o lançamento e desenvolvimento de novas moléculas (novos registros), que contemplem diferentes grupos químicos e mecanismos de ação. Como consequência, há o desafio constantede ma-
nejar doenças de forma integrada utilizando as moléculas presentes no mercado e que de fato estão disponíveis ao uso. Neste sentido, é pertinente que estratégias antirresistência sejam adotadas para uma maior sobrevida destes fungicidas. Tendo em vista a necessidade de controlar de forma efetiva o complexo de doenças nas culturas, associado à redução na performance de controle por parte de alguns grupos químicos, o produtor deve adotar algumas estratégias integradas que contribuam para um manejo antirresistência. Destacam-se não usar fungicidas com sítios específicos isolados (triazóis, estrobilurinas, carboxamidas). Empregar sempre a dose correta recomendada pelo fabricante, utilizar adjuvante/surfactante correto para melhorar a qualidade da aplicação e consequentemente a deposição de gotas no dossel da cultura, limitar o número de aplicações com o mesmo produto no ciclo da cultura (rotacionar ingredientes ativos e mecanismos de ação). Recomenda-se, ainda, usar mistura de tanque (“tankmix”) com diferentes modos de ação para alcançar maiores patamares de controle, adicionar às misturas de fungicidas de sítios específicos um fungicida protetor de largo espectro (multissítio), monitorar a eficácia dos produtos ano a ano, realizar aplicações preventivas, utilizar tecnologia de aplicação adequada, adotar cultivares resistentes, realizar adubações equilibradas, rotação de culturas, semeadura na época adequada, dentre outras. A adoção destas estratégias em conjunto, de maneira criteriosa, certamente contribuirá para a manutenção da eficácia dos produtos (“sobrevida”), maiores patamares de controle das doenças e consequentemente maiores ganhos em produtividade. Isso reflete em uma maior sustentabilidade do sistema e na C preservação das tecnologias utilizadas. Ivan Pedro, Fundação MT
www.revistacultivar.com.br • Julho 2014
21
Nossa capa
Ataque precoce
Doença tradicional de final de ciclo na cultura do algodão, a ramulária tem atacado cada vez mais cedo, principalmente devido ao aumento da área plantada no Cerrado brasileiro. O tratamento de sementes é uma das alternativas para tentar retardar o aparecimento do fungo nas lavouras Fotos Daniel Cassetari Neto
disponível à cultura nas fases precoces da safra seguinte, desde que condições de má destruição de soqueira e umidade elevada sejam observadas. A ramulária tem alcançado níveis de precocidade alarmantes em lavouras de algodão do Oeste baiano e no Médio-Norte mato-grossense, tendo sido registrada nas últimas três safras nas fases de folha cotiledonar e unifoliada (folhas cordiformes). Essa condição, tipicamente associada ao cultivo contínuo do algodão e à destruição parcial das soqueiras resultando em acúmulo de inóculo de R. areola, tem levado produtores a realizarem número excessivo de pulverizações com baixa eficiência na contenção do inóculo inicial. Em consequência dessa alteração no padrão epidemiológico da doença, o controle químico desponta como uma das táticas de manejo mais procuradas na redução da taxa de progresso da doença no campo.
Controle químico
A
ramulária, causada pelo fungo Ramularia areola Atk, também registrada como míldio, falso oídio ou mancha branca, considerada há dez anos como doença de ocorrência no final de ciclo na cultura do algodão, tem ocorrido nas fases iniciais da lavoura e ocupa atualmente o status de uma das doenças de maior importância da cultura no Cerrado, exigindo elevado número de aplicações de fungicidas muitas vezes sem o sucesso esperado. Os sintomas se manifestam em ambas as faces da folha, de início, principalmente na face inferior, com lesões angulosas entre as nervuras, medindo, geralmente, de 1mm a 3mm, inicialmente de coloração brancaazulada na face inferior das folhas mais velhas, posteriormente amarelada e de aspecto pulverulento, caracterizado pela esporulação do patógeno. No caso de alta severidade, as manchas coalescem e provocam a queda precoce das folhas. A dispersão do patógeno é bastante rápida e perdas significativas podem ocorrer se intervenções de controle não forem adotadas em tempo hábil.
22
Com o aumento da área plantada com algodão no Cerrado, a ramulária passou a ocorrer mais cedo, principalmente quando a copa da planta começa o sombreamento intenso das folhas mais velhas, aliada às condições de alta umidade e de provável acúmulo de inóculo primário. O fungo R. areola tem encontrado, no modelo produtivo adotado no Cerrado do Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, condições favoráveis para sua sobrevivência e desenvolvimento. Sua ocorrência cada vez mais precoce em lavouras comerciais, a ausência de genótipos com alta resistência, o escasso volume de informação quanto à sua epidemiologia e a intensidade da desfolha provocada têm direcionado o controle de R. areola ao uso de fungicidas sistêmicos. As poucas informações sobre a sobrevivência do patógeno dão conta da observação de importante produção de esporos em folhas recém-caídas e da sua manutenção em plantas voluntárias no período da entressafra. É provável que o fungo possa sobreviver em condição saprofítica em restos de cultura. Este inóculo primário estará
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
O uso de fungicidas para a redução do inóculo de R. areola tem sido a medida mais utilizada por produtores de algodão no Centro-Oeste. A recomendação para o uso de programas de controle químico da ramulária em algodão indica que a 1ª aplicação de fungicidas deve ser feita quando ocorrer até 5% de área foliar infectada sem a característica esporulação pulverulenta no terço inferior das plantas, ainda que esta condição ocorra antes dos 40 dias a 45 dias após a semeadura. Nas lavouras de algodão das regiões Norte, Sul e Centro-Sul de Mato Grosso são realizadas de seis a sete aplicações de fungicidas em programas de controle da ramulária, enquanto lavouras da região Médio-Norte do Estado (municípios de Sapezal, Campos de Júlio, Campo Novo do Parecis, Diamantino e Deciolândia) têm reportado cerca de 12 aplicações a 14 aplicações. Em variedades suscetíveis, a resposta da redução da severidade da ramulária à aplicação de fungicidas tem se mostrado linear até um máximo de seis aplicações, enquanto variedades com grau moderado de resistência respondem até a 3ª aplicação. Ganhos em produtividade em algodão têm sido obtidos a partir de quatro aplicações calendarizadas de fungicidas ou
Figura 1 - População inicial e final de plantas de algodão Fiber Max 966 LL, a partir de sementes tratadas com diferentes combinações de fungicidas. Jaciara, MT, 2013
com base no monitoramento da doença, estabelecido o limite de 5% de infecção na face dorsal das folhas do terço inferior das plantas como parâmetro para a pulverização. A discrepância entre os resultados experimentais e a situação encontrada nas lavouras comerciais pode, possivelmente, ser creditada ao monitoramento inadequado do quadro sintomatológico da doença, a um estreito intervalo entre aplicações com sobreposição de efeito residual dos princípios ativos utilizados nos programas e ao uso de produtos de baixa
Figura 2 - Incidência (porcentagem de plantas sintomáticas) de ramularia em plantas de algodão Fiber Max 966 LL, a partir de sementes tratadas com diferentes combinações de fungicidas. Jaciara (MT), 2013
eficiência de controle.
Tratamento de sementes
As sementes de algodão apresentam papel fundamental no estabelecimento da lavoura, sendo também o principal veículo de disseminação e sobrevivência de vários patógenos de importância para a cultura. O uso de sementes livres de contaminações e infecções ou dentro de padrões de tolerância estabelecidos para a cultura é o método mais adequado para reduzir a sobrevivência e a disseminação de
patógenos veiculados através das sementes. Nesse sentido, considera-se a semente ideal aquela livre de qualquer patógeno, seja pela condução rigorosa, do ponto de vista fitossanitário, das áreas de produção de sementes, seja pela aplicação de tratamento químico ou biológico adequado. O fungo R. areola ainda não foi relatado sobrevivendo sobre ou no interior de sementes de algodão. Contudo, sua possível presença como inóculo inicial em restos de cultura e em condições climáticas adequadas pode favorecer
a infeção nas fases iniciais de desenvolvimento das sementes, infectando folhas cotiledonares, cordiformes ou lobadas nas primeiras semanas após a emergência da cultura. Neste caso, o aumento do número de aplicações de fungicidas e a elevação do custo de produção são consequências inevitáveis. Em muitas lavouras do Cerrado do Centro-Oeste e Nordeste, a ramulária tem sido detectada entre sete e 14 dias após a emergência, período extremamente precoce para uma infecção que normalmente deve ser observada a partir de 40 dias. Com o objetivo avaliar o efeito de fungicidas aplicados às sementes de algodão na ocorrência da infecção precoce provocada por R. areola em condições favoráveis, foi conduzido um experimento em área de cultivo de algodão no município de Jaciara, Mato Grosso, no ano agrícola 2013. Naquela oportunidade, a lavoura apresentava sintomas de ramulária aos sete dias após a emergência e já havia recebido duas aplicações de fungicidas (quatro e sete dias). Ainda sob intensa precipitação, foram semeadas nas mesmas linhas de plantio da lavoura sementes tratadas com diferentes fungicidas tradicionalmente utilizados ou diferentes combinações de ingredientes ativos ainda não registrados para aplicação em tratamento de sementes na cultura, totalizando 12 tratamentos (Tabela 1) além de sementes não tratadas (testemunha). A partir da emergência foram avaliados o estande inicial (sete dias após a emergência), o final (14 dias após a emergência), a incidência (porcentagem de plantas sintomáticas) e a severidade (porcentagem de tecido infectado) da doença a cada semana até os 56 dias após a emergência. O estande inicial não foi influenciado pelos tratamentos aplicados às sementes. Contudo, aos 14 dias após a emergência, todos os tratamentos promoveram aumento do número de plântulas emergidas em relação à testemunha. O maior estande final foi proporcionado pela mistura tiofanato metílico + pyraclostrobin
Tabela 1 - Ingredientes ativos e doses avaliadas em tratamento de sementes de algodão Fiber Max 966 LL no controle da infecção inicial causada por Ramularia areola. Jaciara, MT, 2013 Número 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Tratamento Testemunha Tolyfluanid + carbendazim + triadimenol Fludioxonyl + metalaxyl-M Tiofanato metílico + piraclostrobin Fludioxonyl + metalaxyl-M + azoxystrobin Carbendazim + trifloxystrobin Epoxiconazole + piraclostrobin + fluxapyroxad Epoxiconazole + piraclostrobin + fluxapyroxad Piraclostrobin + fluxapyroxad Piraclostrobin + fluxapyroxad Azoxystrobin Piraclostrobin Bixafen
(200ml/100kg de sementes). A incidência de sintomas de ramulária foi observada nas parcelas plantadas com sementes não tratadas a partir de 14 dias após a emergência. A aplicação da mistura dos ingredientes ativos pyraclostrobin + epoxiconazole + fluxapyroxad (200ml/100kg de sementes) ou bixafen (60ml/100kg de sementes) proporcionaram um atraso na incidência dos primeiros sintomas da ramulária de 35 dias. Estes dois tratamentos, além da mistura registrada tiofanato metílico + pyraclostrobin (200ml/100kg de sementes), foram responsáveis pelas menores incidências de plantas sintomáticas durante o período de avaliação. A severidade da doença, expressa pela porcentagem de tecido lesionado, foi menor até os 56 dias nas plantas oriundas de sementes tratadas com tiofanato metílico + pyraclostrobin (200ml/100kg de sementes) e com as misturas carbendazim + trifloxystrobin (100 + 20ml/100kg de sementes) ou pyraclostrobin + epoxiconazole + fluxapyroxad (100 ml/100kg de sementes). É importante ressaltar que todos os tratamentos aplicados às sementes mantiveram a severidade da ramulária inferior a 5% de tecido lesionado até os 35
Dose (mL do PC/100 kg) 100 + 100 + 200 150 200 150 + 100 100 + 20 100 200 100 200 100 100 60
dias após a emergência, sem a necessidade de suplementação de fungicidas na parte aérea. Aos 42 dias, esta condição ainda foi proporcionada pelos tratamentos tiofanato metílico + pyraclostrobin (200ml/100kg de sementes), carbendazim + trifloxystrobin (100 + 20ml/100kg de sementes), tolyfluanid + carbendazim + triadimenol (100 + 100 + 200ml/100kg de sementes) e pyraclostrobin + epoxiconazole + fluxapyroxad (100ml/100kg de sementes). Estes resultados revestem-se de importância no manejo da ramulária nas condições de cultivo do algodão no Cerrado, permitindo uma maior adequação do uso de fungicidas na parte aérea da cultura e, consequentemente, uma redução dos custos de produção. Vale lembrar ainda que alguns dos princípios ativos utilizados neste trabalho não estão registrados para o tratamento de sementes de algodão e, portanto, os resultados obtidos não se constiC tuem em recomendação. Daniel Cassetari Neto, Felipe Farias, Marllon Darllam e Rafael da Silva Juliani, UFMT Andréia Quixabeira Machado, Fiscal Est. de Def. Agrop. e Florestal
Figura 3 - Severidade (porcentagem de tecido infectado) de ramularia em plantas de algodão Fiber Max 966 LL, a partir de sementes tratadas com diferentes combinações de fungicidas. Jaciara (MT), 2013
Lesões com intensa esporulação pulverulenta de Ramularia areola na face inferior de folha de algodão
24
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
Pragas
Até no inverno
Fotos Divulgação
Distribuída em soja e posteriormente em outras culturas como feijão, girassol e nabo, a lagarta Helicoverpa causou prejuízos no Rio Grande do Sul durante o final da safra de verão. As atenções se voltam agora para as próximas estações e cultivos como plantas de coberturas, trigo e aveia. Monitorar adultos e lagartas em cultivos de inverno é uma das alternativas para evitar a disseminação e maiores danos
N
a safra 2013/14 a presença de Helicoverpa armigera foi confirmada na grande maioria dos municípios produtores de soja do Rio Grande do Sul, variando a sua intensidade e densidade populacional, nas diferentes localidades e lavouras. As ocorrências foram verificadas com a coleta de adultos (armadilhas de feromônio) em praticamente todo o ciclo da soja e de lagartas com fluxos de ocorrência principalmente na fase vegetativa (emergência até V4) e a partir do florescimento até a colheita, período em que ocorreram populações de H. armigera dividindo espaço com lagartas falsamedideiras. De acordo com as experiências vivenciadas pelo pessoal do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas da Universidade Federal de Santa Maria (LabMIP-UFSM) e com base
26
em entrevistas realizadas com agrônomos e consultores de referência no estado do Rio Grande do Sul, os danos ocasionados por H. armigera, na última safra de soja, variaram de acordo com a época de ocorrência e com a população da praga, bem como com o manejo empregado pelo produtor. As reduções de produtividade oscilaram entre zero até 25% em decorrência do ataque da praga. Em áreas localizadas ocorreram perdas superiores, porém, são lavouras ou mesmo manchas dentro de áreas maiores, que não tiveram monitoramento, reconhecimento da praga e/ou manejo adequado, principalmente pelo controle tardio ou ineficaz. Em muitos casos o manejo foi executado quando o dano já estava consumado, uma vez que a soja tem baixa tolerância à praga (Guedes et al, 2013; Guedes et al, 2014). Os consultores relataram
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
ainda que os produtores que seguiram as recomendações de manejo, com monitoramento e manejo nos momentos adequados, usando os inseticidas e as doses recomendados, não tiveram dificuldades de controle de H. armigera. Entretanto, ocorreram casos de lavouras com grandes dificuldades de controle. Dentre os principais impactos da ocorrência de H. armigera, está a elevação do custo com as aplicações de inseticidas, causada por pulverizações específicas para o seu controle. Somaram-se, ainda, os problemas com infestações de falsas-medideiras que escaparam do radar do produtor, ocorrendo em altas populações e exigindo controle com custos ainda maiores. A confirmação da grande ocorrência e ampla distribuição de H. armigera na última safra serve de alerta ao sojicultor gaúcho, pois
mostra que a praga está instalada no Rio Grande do Sul, apontando para sua ocorrência nas próximas culturas (outono/inverno), ampliando os riscos para a safra de soja 2014/15.
Helicoverpa armigera no outono/inverno
Em amostragens realizadas pelo LabMIPUFSM nos meses de maio e junho em Cruz Alta e em Santiago, ambos no Rio Grande do Sul, foram encontradas lagartas de várias espécies como a lagarta Helicoverpa (Helicoverpa armigera), lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) em feijão, girassol na safrinha e em nabo. Informações obtidas através de entrevistas a agrônomos de diferentes regiões do estado também confirmaram a presença de H. armigera em outras culturas como cereais e coberturas de inverno, indicando sua permanência no outono em solo gaúcho. No feijoeiro safrinha em Santiago foram encontradas lagartas causando danos na fase reprodutiva da cultura, já em maturação. Mesmo em baixa população foram verificados danos, sendo provavelmente de uma ocorrência mais precoce. Em Ijuí, no Rio Grande do Sul, segundo entrevistados, no mês de abril também foram observados danos em legumes de feijão, em final de ciclo. O dano mais importante foi causado pela alimentação das lagartas diretamente nas vagens, produzindo perfurações para localizar os grãos e consumir. Além dos danos levarem à perda de grãos e prejudicar o enchimento de vagens, os orifícios serviram para a entrada de umidade e de patógenos, aumentando as perdas em produtividade e qualidade dos grãos. Em Girassol safrinha em Santiago e Três de Maio, no Rio Grande do Sul, foram verificados danos em folhas e principalmente no capítulo (inflorescência do girassol). Nas
Capítulo (aquênios) de girassol e folha danificados por Helicoverpa armigera. Santiago (RS), 2014
folhas os danos são caracterizados por injúrias no centro e bordas. Já no capítulo, os danos são mais severos, pois a praga se alimenta do tecido do receptáculo e dos aquênios, comprometendo a formação do capítulo e reduzindo o número de sementes. Em geral, foi encontrada apenas uma lagarta por capítulo, mas eventualmente duas lagartas atacando o mesmo capítulo. As pulverizações para controle das lagartas atacando os aquênios são difíceis pela inclinação do capítulo, impedindo que o inseticida atinja diretamente o alvo. Em culturas de plantas de cobertura de inverno, especialmente no nabo, foram realizadas amostragens em Cruz Alta, onde foram encontradas lagartas danificando a cultura na fase reprodutiva atacando hastes, folhas, flores e frutos (preferidos pela praga). Não foram observadas lagartas no nabo no estágio vegetativo. Além do ataque de H. armigera em feijoeiro, girassol e nabo, a soja espontânea (guaxa ou tiguera) também hospeda lagartas, como foi verificado nos municípios gaúchos de Santa Maria e Tenente Portela. Estas populações podem originar-se de lagartas, pupas e de adultos que estavam na soja e que utilizam estes hospedeiros para completar seu ciclo
ou até para fazer novas gerações. O feijão e o girassol são muito suscetíveis a H. armigera e à lagarta-falsa-medideira e podem ser importantes hospedeiros e também locais para o manejo destas lagartas, no atual mosaico de cultivos do Sul do Brasil. Também os cereais de inverno, como trigo, aveia, cevada e centeio, poderão servir de hospedeiro de H. armigera no período de inverno/primavera e estas culturas poderão servir de ponto de partida para retomar o manejo da praga.
Monitoramento no outono/inverno/primavera
O monitoramento de H. armigera durante o ciclo das culturas e entre os cultivos agrícolas é um procedimento chave para o sucesso do manejo dessa praga. Nas culturas de inverno é muito importante que o monitoramento seja realizado durante todo o ciclo, para evitar perdas na própria cultura como também prevenir danos nas culturas subsequentes que serão semeadas no próximo verão, como milho, feijão, girassol, soja, entre outras. O monitoramento das mariposas (adultos) é o recurso primário, mais precoce e possivelmente um dos mais eficientes. Entretanto, a necessidade de uma ampla distribuição das
www.revistacultivar.com.br • Julho 2014
41
Fotos Divulgação
Danos de Helicoverpa armigera em flores e folhas de nabo. Santiago (RS), 2014
armadilhas e a sua verificação sistemática dificulta a adoção em ampla escala. Os adultos podem ser monitorados por armadilhas luminosas que capturam machos e fêmeas, ou com armadilhas com o feromônio sexual sintético da fêmea Iscalure armigera que capturam machos desta espécie. A captura das mariposas em armadilhas de feromônio e a identificação positiva para H. armigera na estação fria indicariam a manutenção da praga no inverno gaúcho, ampliando os riscos para estas culturas e para o próximo verão. Apesar de a lagarta Helicoverpa ter preferência por estruturas reprodutivas das plantas, a manutenção de pontes verdes durante o outono/inverno/primavera pode hospedar a praga e favorecer a sua sobrevivência. As culturas de inverno tendem a ser muito suscetíveis às lagartas de H. armigera, levando em consideração que a soja espontânea fornece alimento até que as culturas de inverno se desenvolvam. O monitoramento nas plantas espontâneas de soja é importante, visto haver relatos da presença da lagarta, feitos por agrônomos e produtores. Assim, além do monitoramento de adultos com as armadilhas, é necessário o exame minucioso das plantas, principalmente na fase reprodutiva das culturas de inverno. A verificação de lagartas deve ser feita em folhas, caules, com especial atenção às estruturas reprodutivas das culturas de inverno, como flores e grãos. As estruturas reprodutivas são as mais atrativas para as lagartas de Helicoverpa, pois possuem a capacidade de degradar as proteínas presentes. O monitoramento durante o outono/ inverno/primavera deve ser feito em parceria entre universidades, cooperativas, distribuidores de insumos e produtores, com uma
28
Legumes de feijão danificados por Helicoverpa armigera. Santiago (RS), 2014
distribuição de armadilhas, buscando abranger a maior área possível. O LabMIP/UFSM dispõe do laboratório e de pessoas qualificadas para a dissecação da genitália e identificação das mariposas capturadas nestas armadilhas e confirmação da espécie.
Manejo nas culturas de outono/inverno/primavera
No final da safra de verão 2013/14 e durante o outono, a ocorrência de H. armigera se manteve na soja e foi verificada em feijão, girassol, nabo e aveia em diferentes localidades do Rio Grande do Sul. Esta sequência e a diversidade de plantas hospedeiras permitiram a permanência da praga nas áreas e as condições para completar ou desenvolver novas gerações. Nesse cenário, as culturas de outono (feijão e girassol safrinha) e as plantas de cobertura são os hospedeiros intermediários na região Sul
Vistoria em plantas de nabo, Santa Maria, Rio Grande do Sul, junho de 2014
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
do Brasil, uma vez que o controle de pragas cessa nas culturas e nas plantas de cobertura o nível de investimento praticado não permite combater pragas. Apesar das ocorrências de Helicoverpa em várias espécies vegetais e dos prejuízos, há um aspecto muito positivo, que foi a retomada da busca de informações por técnicos e produtores e a adequação do conhecimento do exterior e de outras regiões, aos cultivos do Sul do Brasil. Também esse novo problema desencadeou a retomada da discussão do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e o correto monitoramento, identificação, a quantificação da praga, além do estabelecimento dos níveis de dano econômico e de controle de Helicoverpa. Entre os aspectos mais positivos, dentre tantos problemas e elevação de custo de controle, a ocorrência de Helicoverpa permitiu a retomada do uso do controle biológico, com inseticidas à base de Bacillus thuringiensis e de baculoviroses, que foram eficazes para redução da população da praga. Por fim, para o manejo de Helicoverpa armigera, nos próximos cultivos é preciso levar em conta vários aspectos, pois há um grande número de hospedeiros, a lagarta está estabelecida e tem capacidade de sobreviver na estação fria. Com este cenário o manejo da praga necessita uma visão muito além da lavoura, portanto, deve abranger municípios ou regiões mais amplas, por um tempo muito C maior que uma única safra ou cultivo. Jonas André Arnemann, Jerson Vanderlei Carús Guedes, Regis Felipe Stacke, Adriano Arrué Melo, Clérison Régis Perini e Luis Eduardo Curioletti, UFSM
Informe empresarial
Interação positiva
Fotos Kimberlit Agrociências
Por interagirem com a nutrição de plantas, aminoácidos utilizados na agricultura têm potencial para proporcionar aumento da eficiência em absorção, transporte e assimilação de nutrientes
A
constante busca por novas tecnologias voltadas para a agricultura moderna, através da análise dos problemas dos produtores com respostas baseadas em pesquisas, tem por objetivo a obtenção de diferentes práticas e substâncias para melhorar a eficiência da produção agrícola. Sabe-se que o desenvolvimento das culturas é controlado por fatores ecofisiológicos, genéticos e tratos culturais, culminando em respostas fisiológicas e/ou hormonais por parte das plantas. Com isso, o uso de aminoácidos, ligados ou não à aplicação de nutrientes, tem se intensificado em sistemas de produção de grãos, obtendo ótimos resultados nas lavouras. A utilização dessas substâncias aumenta de importância à medida que o potencial genético das culturas é elevado e os fatores limitantes ligados à nutrição mineral das plantas são mínimos. Nestas áreas, o produtor busca o ajuste fino de suas práticas objetivando a obtenção de picos
30
produtivos e a melhoria da qualidade do produto final. Segundo a literatura, os aminoácidos são ácidos orgânicos que possuem em sua molécula um carbono central, geralmente assimétrico, ligado a um grupamento carboxila, um grupamento amina e um átomo de hidrogênio. Além destas três estruturas, os aminoácidos apresentam um radical genericamente conhecido como “R”, que os diferencia. Sua principal função é como constituintes de proteínas, bem como precursores de inúmeras substâncias reguladoras do metabolismo vegetal, além de funcionar como ativadores de metabolismos fisiológicos. Os aminoácidos, dentre outras funções, têm interação com a nutrição de plantas, aumentando a eficiência em absorção, transporte e assimilação dos nutrientes. A quelação de cátions com aminoácidos gera moléculas sem cargas, reduzindo o efeito das forças de atração e repulsão da cutícula da folha, elevando
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
a velocidade de absorção dos nutrientes. Além disso, estes quelatos formados por cátions + aminoácidos aumentam a capacidade de circulação de nutrientes pelas membranas, culminando em um importante componente da nutrição das plantas, a translocação de nutrientes pouco móveis pelos vasos do floema. Existem aproximadamente 20 aminoácidos essenciais nas plantas, possuindo concentrações e funções distintas. Por exemplo, o triptofano, precursor do mais importante hormônio de crescimento radicular e da parte aérea das plantas, a auxina. Ou a metionina, precursora do etileno, responsável pela maturação dos frutos. Outros aminoácidos como a tirosina e a fenilanina são os precursores dos compostos fenólicos envolvidos na defesa das plantas e na síntese de lignina, que aumenta a resistência ao acamamento das plantas. A glicina é precursora da síntese de clorofila, além de agir nos mecanismos de defesa das
culturas. Focada no desenvolvimento inicial, a valina afeta diretamente a germinação das sementes e a arginina age sobre o desenvolvimento radicular e eleva a solubilidade e absorção de nutrientes, sendo ainda o principal aminoácido de translocação no floema. Na literatura, tem-se citado inúmeros benefícios quanto ao uso de aminoácidos. É possível citar a potencialização da síntese de proteínas, de compostos intermediários dos hormônios vegetais e do efeito quelatizante de nutrientes ou agroquímicos. Contudo, as melhores respostas dos aminoácidos têm sido em situações de estresses bióticos, como relacionados ao ataque de pragas e doenças, e abióticos, como desordens nutricionais, climáticas, deficiências hídricas ou estresses relacionados à aplicação de defensivos, em especial herbicidas, conferindo aos aminoácidos o título de agentes antiestressantes. Na foto abaixo a recuperação de uma soja transgênica com sintomas de fitotoxidez, chamados de “yellow flashing”, causados pelo herbicida glifosato. Menos de uma semana após a pulverização com Exion Max (fertilizante foliar com micronutrientes à base de cloretos e potencializado com aminoácidos), as plantas se mostravam totalmente recuperadas desta injúria. O uso de aminoácidos, de forma isolada ou em combinação com outros produtos, vem obtendo consistência nos resultados, com ganhos expressivos em diversas culturas, dando confiança a técnicos quanto à recomendação desta prática. Com base nestes resultados, a Kimberlit Agrociências estudou as principais técnicas de obtenção de aminoácidos, aliando tecnologia de ponta ao
Figura 1 - Produtividade de soja (sacas por hectare) em função da aplicação do programa nutricional foliar Kimberlit. Fundação Chapadão, Chapadão do Sul/MS, safra 2013/2014
conhecimento fisiológico das principais culturas agrícolas. O resultado é a linha de fertilizantes foliares Exion, que contém nutrientes à base de cloretos (que conferem alta solubilidade) potencializados com aminoácidos de excelente procedência, buscando melhor atender às necessidades das culturas. Quando utilizados no tratamento de sementes, os benefícios alcançados com o uso de aminoácidos estão associados à melhora do enraizamento, que tem como resultado plantas mais vigorosas e uniformes. Já com a aplicação via folha, os benefícios se estendem desde odesenvolvimento vegetativo até o enchimento de grãos, culminando no aumento da produtividade, como pode ser observado na
Figura 1. Além disso, o sinergismo entre a aplicação de nutrientes com aminoácidos agrega a esta prática os benefícios da melhor nutrição mineral das plantas. Portanto, o manejo nutricional através da utilização de fertilizantes foliares potencializados com aminoácidos funciona como uma ferramenta de suplementação nutricional às culturas, permitindo que expressem seu máximo potencial produtivo, aumentando a taxa C de retorno ao produtor. Juscelio Ramos de Souza e Bruno Neves Ribeiro, Kimberlit Agrociências Gustavo Spadotti A. Castro, Embrapa Amapá
Redução da fitotoxidez por glifosato pela aplicação de aminoácidos
www.revistacultivar.com.br • Julho 2014
31
Informe empresarial
Associação eficaz
Fotos Sprytec
Fertilizante formulado especialmente para uso via foliar associado ao glifosato tem apresentado efeitos positivos no suprimento de manganês em manejo de soja RR
C
om o advento das plantas transgênicas, o glifosato passou a ser uma opção para o manejo seletivo de plantas daninhas na soja Roundup Ready ou RR. Embora o glifosato seja eficiente no manejo de plantas daninhas, existem relatos de diferentes efeitos fisiológicos induzidos por esse herbicida. O herbicida pode ser exsudado na rizosfera das plantas-alvo e ser, pelo menos em parte, absorvido pela planta não alvo cultivada na mesma área, havendo a possibilidade de prejuízo no crescimento e na produtividade. Ainda dentre os efeitos provocados pelo glifosato em plantas não alvo, tem sido relatada a diminuição na absorção e transporte de manganês. Há alguns processos de interferência relatados e possivelmente um deles seja a formação de complexo pouco solúvel e móvel entre glifosato e íons catiônicos podendo influenciar os mecanismos de absorção. Esse herbicida apresenta características
químicas como alta afinidade pelos cátions bivalentes Mn2+, Ca2+ e Mg2+ que lhe confere capacidade de reação com íons, como, por exemplo, o manganês, os quais podem imobilizá-lo, por meio da formação de complexos estáveis, reduzindo ou bloqueando a atividade do glifosato nas plantas, diminuindo assim sua eficiência. Além disso, o acúmulo de glifosato nas raízes pode resultar na formação de um complexo imóvel de Fe, Zn e Mn com o herbicida limitando dessa maneira o transporte desses nutrientes. Há relatos que as plantas de soja RR são menos eficientes na absorção, na translocação e no acúmulo de Fe, Zn e Mn que as plantas convencionais, além de reduzir a população de bactérias redutoras e aumentar a população de bactérias oxidantes de manganês, diminuindo sua disponibilidade às plantas. Estas pesquisas relatam que as cultivares de soja resistentes ao glifosato (RR) não acumulam Mn da mesma maneira que as
A qualidade da calda de pulverização favorece o controle de plantas daninhas e reduz o custo do manejo
32
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
convencionais e que respondem positivamente à aplicação de Mn em ambientes altamente produtivos, com incremento médio de 10% no rendimento. Assim, a adição de manganês suplementar via foliar associado ao glifosato pode corrigir ou evitar a sua deficiência e resultar em maiores produtividades. Mas isso depende da fonte do nutriente. Diversas formulações são utilizadas para esse fim, porém, a maioria apresenta antagonismo com o glifosato, especialmente com relação à solubilidade, compatibilidade e eficácia agronômica. Em geral, as fontes comuns (sais) não evitam o estresse nutricional temporário, que frequentemente reduz a produtividade e aumenta o custo do manejo. Por outro lado, o produtor tem a sua disposição o Ultra Plus Mn Fosfito, que é um fertilizante formulado especialmente para uso via foliar e que oferece maior segurança em relação aos fertilizantes comuns. É uma formulação
Folhas amareladas, sintoma característico de deficiência de manganês
Tabela 1 - Valores de pH, condutividade elétrica, fitotoxicidade e eficiência obtidos no experimento. Campo Mourão (PR) – 2011/12
Comparativo de deficiência de Mn em soja RR em dois tratamentos distintos
equilibrada que contém nutrientes minerais de alta solubilidade e absorção, aminoácidos, fosfito e aditivos especiais. Com isso, todos esses nutrientes são totalmente aproveitados pelas plantas, uniformizando o estande, aumentando a área foliar e o sistema radicular, favorecendo o florescimento e a frutificação, com aumento da resistência às condições adversas, melhorando significativamente a sanidade da cultura. O produto é compatível com a grande maioria dos defensivos, sendo recomendada sua associação com glifosato no manejo de plantas daninhas. É eficiente em baixa dose, melhora a qualidade da calda de pulverização, favorece o controle de plantas daninhas, reduz o custo do manejo (aplicação única) e evita a deficiência de manganês induzida pelo herbicida, além de aumentar a sanidade das plantas (fosfito). É a única formulação no mercado com essas características. Portanto, dentro deste contexto, diversos trabalhos desenvolvidos em soja RR nas diferentes regiões do Brasil mostraram efeitos positivos relacionados à aplicação de glifosato associado ao produto. Experimento conduzido na região de Campo Mourão (PR) com o Ultra Plus Mn Fosfito em aplicação única, associado a quatro formulações de glifosato, mostrou-se altamente eficiente (Tabelas 1 e 2). Dessa maneira, observa-se que o Ultra Plus Mn Fosfito foi compatível com as quatro
Tratamentos Testemunha sem capina (água) Roundup Ready Roundup Ready + MnSO4 Roundup Ready + Ultra Plus Mn Roundup WG Roundup WG + Ultra Plus Mn Roundup Original Roundup Original + Ultra Plus Mn Roundup Transorb Roundup Transorb + Ultra Plus Mn Valor de F C.V. (5%) D.M.S. (5%)
pH da1 Calda 7,4 6,5 7,3 3,9 6,4 3,7 6,7 3,9 6,2 3,8
Condutividade2 (µs/cm) Fitotoxicidade 15 DAA 1,0 16 1,0 94 1,0 127 1,0 368 1,0 78 1,0 379 1,0 91 1,0 391 1,0 82 1,0 386
Eficiência (%)15 DAA 0,00 b 76,95 a 72,18 a 87,35 a 79,25 a 85,32 a 80,21 a 88,35 a 81,34 a 89,38 a 18,21* 7,76 21,34
1 Potencial hidrogeniônico; 2 Microhons por centímetro. Tratamentos com letras iguais na coluna apresentam resultados semelhantes.
Tabela 2 - Número de vagem por planta, número de grãos por vagem, peso de mil grãos e produtividade obtidos no experimento. Campo Mourão (PR) - 2011/12 Tratamentos Número de vagem por planta Número de grãos por vagem Peso 1000 grãos (g) Produtividade (Sacas ha-1) 104,2 b 38,4 b Testemunha sem capina (água) 72,1 a 2,6 a 122,4 a 58,3 a Roundup Ready 74,9 a 2,7 a 118,7 a 55,8 a Roundup Ready + MnSO4 72,2 a 2,7 a 127,2 a 63,2 a Roundup Ready + Ultra Plus Mn 76,1 a 2,8 a 123,9 a 58,4 a Roundup WG 72,5 a 2,6 a 128,1 a 66,6 a Roundup WG + Ultra Plus Mn 75,4 a 2,8 a 124,4 a 59,0 a Roundup Original 71,3 a 2,8 a 128,6 a 66,9 a Roundup Original + Ultra Plus Mn 74,8 a 2,6 a 125,3 a 60,0 a Roundup Transorb 72,3 a 2,7 a 129,1 a 67,8 a Roundup Transorb + Ultra Plus Mn 76,4 a 2,7 a 7,4* 9,74* Valor de F 2,1ns 1,9ns 5,9 7,3 C.V. (5%) 7,3 5,8 11,2 12,3 D.M.S. (5%) 4,9 0,7 Médias na mesma coluna, seguidas por letras iguais, não diferem entre si.
formulações de glifosato, sem causar fitotoxicidade às plantas de soja, além de melhorar a qualidade da calda e da aplicação. O controle na aplicação isolada foi de 73,3%, e associado ao Ultra Plus Mn Fosfito foi de 80,5%. A aplicação conjunta evitou a deficiência de manganês. O custo médio dos tratamentos sem Ultra Plus Mn Fosfito foi de 0,7 saca e
dos tratamentos com Ultra Plus Mn Fosfito foi de 1,1 saca por hectare. Portanto, para cada 0,4 saca investida em Ultra Plus Mn Fosfito, o retorno econômico líquido foi de 6,8 sacas C por hectare, em média. Julio Roberto Fagliari, Spraytec
Experimento conduzido em Campo Mourão, no Paraná, avaliou graus de deficiência de Mn em soja RR
www.revistacultivar.com.br • Julho 2014
33
Empresas
Clube da Soja
Evento reúne 400 dos principais sojicultores do Brasil para discutir os desafios e as oportunidades na próxima safra e também para comemorar os 40 anos da FMC no Brasil Fotos Tiago Lima
formulações continuam sendo uma tendência na empresa, acompanhada de aquisição e licenciamento de ativos, pesquisa e desenvolvimento de biológicos, modelo de negócios para soluções agrícolas, margens e crescimento sustentável, investimento em tecnologia e expertise em R&D com colaboradores capacitados, inovação e flexibilidade de produção que, juntos, mantêm a empresa sempre na vanguarda.
RUGBY
A
cada safra, os produtores de soja se deparam com diversas dúvidas e desafios, como instabilidade climática, preços de insumos, novas pragas e doenças, obstáculos logísticos para escoar a produção e, em anos de eleições, incertezas sobre os rumos da economia e da política. Em todos estes casos o planejamento é um aliado para evitar contratempos e surpresas desagradáveis durante o cultivo e após a colheita. Com o intuito de antecipar os desafios da próxima safra, 400 dos maiores produtores de soja do Brasil estiveram reunidos no Clube da Soja, promovido pela FMC Agricultural Solutions, com o apoio da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja) e Case IH, no final de maio em Florianópolis. Três painéis nortearam o evento e os debates abordaram a agenda institucional da soja, desafios e oportunidades da oleaginosa do Brasil e as perspectivas econômicas para o próximo governo, com a participação de convidados influentes no agronegócio, como o ministro da Agricultura, Neri Geller; o deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Agricultura, Luiz Carlos Heinze, e o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Mas os debates não serviram apenas para discussão de ideias; das palestras e discussões sobre o tema “A agenda institucional da soja” surgiu um documento denominado Carta da Soja, com 23 reivindicações dos produtores de grãos, que vão desde a desburocratização dos processos de acesso ao crédito rural até
36
questões jurídicas como o Código Florestal. O conteúdo deste documento está sendo preparado para ser enviado aos candidatos à presidência da República e representantes do setor agrícola no congresso nacional. O evento teve também caráter celebrativo aos 40 anos da FMC no Brasil, com o tema “Nossa Cultura é nossa Paixão”. Durante palestra de abertura do evento, o presidente da FMC Corporation América Latina, Antonio Carlos Zem, falou sobre os desafios superados na safra anterior e os esperados para a próxima safra. Zem valorizou o trabalho dos produtores e destacou a importância da escolha correta nas próximas eleições, buscando alguém que esteja alinhado com o setor agrícola e que valorize o trabalho no campo. “Precisamos eleger as pessoas certas para o agronegócio ganhar ainda mais representatividade no setor”, destacou. Uma das palavras mais citadas para relatar a trajetória da FMC no Brasil foi “inovação”. O diretor geral Brasil da FMC, Walter Costa, lembrou que a soja já é o principal cultivo da companhia e destacou os investimentos que a empresa tem feito no decorrer destes 40 anos no Brasil e os lançamentos de produtos. O diretor de Marketing, Marcio Farah, anunciou a entrada da FMC no desenvolvimento de uma nova plataforma de biológicos e químicos com o uso balanceado desses produtos no manejo nas lavouras. “Esse equilíbrio de químicos e biológicos vai trazer um novo conceito para o setor”, explica. Para Farah, as novas
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
O evento também foi marcado pelo lançamento do Rugby 200 CS para uso em soja. Este nematicida/inseticida promove a proteção do sistema radicular da planta, complementando o portfólio da cultura com a solução tecnológica para tratamento de sementes e controle de insetos sugadores e mastigadores, o inseticida Rocks. Para o diretor comercial da FMC, Carlos Baptista, essa nova proposta de manejo que a FMC traz para o produtor rural vai além do produto em si. “É uma solução combinada, entre o produto Rugby 200 CS, altamente eficaz, e o sistema de aplicação, o PulverEasy.” O sistema é um aplicador especialmente desenvolvido para trazer precisão e uso em larga escala no campo. “Ele permite que o produtor obtenha o controle dos nematoides no campo muito superior aos métodos químicos disponíveis até o momento. Estão em condução 70 áreas de soja tratadas com o Rugby e o PulverEasy, destas, 40 já foram colhidas e o incremento de produtividade é altíssimo por hectare em relação a áreas não tratadas”, destaca C Baptista.
Zem lembrou os desafios enfrentados pelos produtores de soja na safra anterior
Doenças
Diagnóstico correto Rudimar Mafacioli
Soja, milho, feijão, algodão, cana-de-açúcar e girassol estão entre as culturas anuais atacadas por fitonematoides, organismos microscópicos que habitam o solo e provocam severos danos às plantas. Para realizar seu manejo adequado é essencial a identificação das espécies presentes na área, de modo que as medidas adotadas sirvam para prevenir e não para agravar os prejuízos
F
itonematoides são organismos vermiformes e microscópicos que habitam o solo e retiram os nutrientes necessários para o desenvolvimento e reprodução das células dos vegetais, geralmente das raízes, causando danos severos nas
plantas hospedeiras. As principais espécies associadas às culturas anuais no Brasil são os nematoides das galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica), o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus e P. zeae), o nematoide de cisto da soja (Heterodera glyci-
nes) e o nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis), que ocorrem frequentemente associados a culturas como soja, milho, feijão, algodão, cana-de-açúcar, girassol, entre outras. No entanto, nas últimas safras, o nematoide que tem causado maiores problemas, especialmente em lavouras da região Centro-Oeste do País, é o P. brachyurus. Os sintomas observados na parte aérea das plantas atacadas são praticamente os mesmos para todas as espécies citadas e consistem em reboleiras de plantas com tamanho reduzido e com amarelecimento. São frequentemente confundidos com outros agentes abióticos ou bióticos, como deficiência nutricional e patógenos de sistema radicular. Nas raízes das plantas atacadas observam-se sintomas específicos de cada espécie. Os nematoides das galhas, por exemplo, provocam o engrossamento das raízes na forma de nódulos ou tumores. Nas raízes com nematoides de cistos é possível observar, com auxílio de uma lupa de bolso, a presença de fêmeas na forma de limão, com coloração variando de branco leitoso até marrom escuro. Já os nematoides de lesões não são facilmente diagnosticados no campo, e talvez este seja um dos motivos pelo
38
Divulgação
Rudimar Mafacioli
qual a ocorrência desta espécie tem passado despercebida. Um dos agravantes dos problemas de nematoides no Brasil tem sido a ocorrência de populações mistas, ou seja, composta por duas ou mais espécies. Em geral, nestes casos, o efeito sobre a cultura tende a ser aditivo e, além disso, esse tipo de infestação dificulta o controle dos fitoparasitos. Outro problema comum que contribui para o manejo incorreto de fitonematoides é o erro na diagnose. O produtor não deve confiar na análise visual realizada no campo, isto porque apesar de algumas espécies serem facilmente diagnosticadas pelo sintoma apresentado na planta, como os nematoides das galhas, outras podem estar presentes e não serem notadas. Por exemplo, quando nematoide das galhas ocorre associado ao das lesões radiculares, o produtor consegue observar com clareza apenas os sintomas do primeiro e, neste caso, a escolha das estratégias de manejo, poderá permitir o aumento da população de Pratylenchus. Somente com a análise laboratorial é possível saber quais os nematoides presentes na área, e isto reduzirá as chances de erros na escolha da estratégia, principalmente quando a opção de controle é a rotação de culturas, o uso de adubos verdes e de variedades resistentes. O manejo destes patógenos é bastante complexo e medidas isoladas não surtem efeito satisfatório. O primeiro método indicado é a escolha de áreas indenes, porém, é quase impossível encontrar no Brasil áreas agrícolas onde não ocorra pelo menos uma das espécies de grande importância. Ainda assim, é importante que o produtor tome alguns cuidados básicos para evitar a entrada de diferentes espécies ou raças de nematoides, como aquisição de sementes de boa qualidade, realização de limpeza periódica de máquinas e implementos, principalmente quando estes vêm de outras áreas, cuidados com os tratos culturais, entre outros. No caso da ocorrência em reboleiras, recomenda-se que esta seja isolada e trabalhada separadamente do restante da área, especialmente nas grandes propriedades, o que pode reduzir o custo com o manejo e tornar possível o uso de algumas práticas para redução do nematoide. Uma importante ferramenta para o controle é o uso de cultivares resistentes, por tratar-se de um método seguro e barato. Algumas cultivares, principalmente de soja, milho e algodão, apresentam resistência aos nematoides das galhas, porém, dois fatores precisam ser considerados na escolha dessa opção. O
Claudia lembra a importância do diagnóstico correto de nematoides para não comprometer investimento Nas raízes das plantas atacadas se observam sintomas específicos de cada espécie de nematoide
primeiro é que o uso contínuo de determinado genótipo pode promover o surgimento de populações capazes de quebrar a resistência da cultivar, devido à variabilidade genética do patógeno. O segundo fator é a ocorrência de populações mistas de fitonematoides na mesma área, já que a maioria dos genótipos apresenta resistência monoespecífica. Desta forma, aliada à escolha de cultivares resistentes, é muito importante que o produtor adote outras estratégias de manejo. A rotação de culturas é uma das principais práticas para a redução populacional desses parasitos, com benefícios incontestáveis. No entanto, para a seleção das plantas que irão compor o esquema de rotação, são de extrema importância a identificação e a quantificação das espécies de nematoides presentes na área. Só após o resultado desta análise o produtor poderá fazer a escolha das plantas a serem introduzidas na área. Este alerta, apesar de importante para todos os nematoides, vale principalmente para o nematoide das lesões radiculares, visto que espécies amplamente utilizadas em rotação nas áreas onde ocorrem nematoides das galhas e de cistos são suscetíveis ao nematoide das lesões, como milho, sorgo, braquiária e outras gramíneas forrageiras. Assim, tem sido recomendada a rotação com crotalária (Crotalaria spectabilis), que apresenta efeito antagônico aos diferentes nematoides que parasitam as principais culturas anuais. Outras plantas têm sido indicadas para a rotação em áreas com Pratylenchus, contudo, é necessário cuidado na escolha de espécies e/ou variedades, visto que pesquisas para o manejo deste nematoide ainda estão em andamento.
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
Outra prática que tem surtido bons resultados é o tratamento de sementes com produtos nematicidas. Dentre as principais vantagens deste método destacam-se o baixo custo gerado com a operação e a proteção da planta na fase inicial de desenvolvimento, sendo este o estágio em que as mesmas estão mais suscetíveis, pois os nematoides têm preferência por raízes jovens e é nesta fase que se define o potencial produtivo da cultura. O tratamento não deve visar apenas à proteção contra nematoides, mas também ter como alvo doenças causadas por fungos e bactérias, além de insetos. Dentre os princípios ativos para o tratamento de sementes visando ao controle de nematoides em culturas anuais, como soja e algodão, destaca-se a abamectina, cujos resultados são bastante promissores. Para o futuro, algumas estratégias vêm sendo pesquisadas, como o uso de indutores de resistência e estimulantes vegetais. Apesar dos resultados recentes, pesquisas em condições controladas mostram que tais substâncias também auxiliam no manejo de fitonematoides. Vale salientar que esses produtos não têm efeito nematicida, mas podem aumentar o vigor vegetativo da planta e a sua capacidade de suportar condições de estresse ambiental ou ainda ativar algum mecanismo de resistência do vegetal aos nematoides. Erradicar os nematoides presentes nas áreas agrícolas é impossível, por isso, é preciso conhecer e avaliar o custo/benefício de cada estratégia de manejo, a fim de traçar um programa de manejo integrado de nematoides. Lembrando que o investimento na adoção das práticas para o manejo será em vão caso o diagnóstico não seja correto. C Claudia Regina Dias Arieira, Univ. Estadual de Maringá
Coluna ANPII
Agricultura moderna De modo dinâmico a agricultura brasileira tem evoluído e se modernizado em ritmo acelerado. E como uma das inovações importantes neste processo a Fixação Biológica de Nitrogênio também se transforma para acompanhar esta evolução
Q
ue a agricultura mundial e, em especial, a brasileira passou por drástica modernização, não há a menor dúvida. Basta comparar as práticas agrícolas, os equipamentos, a qualidade e a variedade dos insumos e as produtividades hoje alcançadas com o que havia há 30 anos para que se perceba muito claramente as enormes mudanças no agronegócio brasileiro. E, dentro deste contexto, o agricultor teve também que se modernizar, não só adotando os novos materiais genéticos, os novos insumos, as novas máquinas, mas, também, em termos de gestão, que passou a ser muito mais técnica que intuitiva, mais racional
a aplicação. Mas a evolução da agricultura é uma constante e a operacionalização da semeadura passou a ser uma das maiores preocupações do agricultor. Com as janelas de plantio cada vez menores e grandes áreas a serem semeadas em um curto espaço de tempo, a prática da mistura dos inoculantes com as sementes passou a ser cada vez mais difícil de ser implementada. Mas, mais uma vez, a indústria de inoculantes e a pesquisa, desta vez com a participação de indústrias de equipamentos, responderam ao chamado e desenvolveram novas técnicas de aplicação de inoculante. A aplicação no sulco, o uso de equipamentos
que se venha a alcançar tempos maiores de viabilidade dos inoculantes aplicados com antecedência ao plantio. De qualquer forma, sem sombra de dúvida o inoculante se constitui em uma tecnologia moderna, atual, que acompanhou a evolução da agricultura e fornece todo o nitrogênio necessário para as mais elevadas produtividades. Entretanto, como em toda a atividade humana, há pessoas que custam um pouco mais a se atualizar e ainda permanecem com conceitos ultrapassados, encarando a prática da inoculação como uma técnica antiquada e desconectada da agricultura atual. É importante
O agricultor buscava maior facilidade de uso dos inoculantes e a indústria respondeu com o desenvolvimento de inoculantes líquidos que emocional. Dentro deste contexto a inoculação das leguminosas e mais recentemente das gramíneas também teve que acompanhar as mudanças do cenário agrícola. Com o advento de novas cultivares de soja, mais produtivas e necessitando de mais nitrogênio, foi preciso aumentar o número de bactérias por grama ou mililitro de produto. E isto a indústria de inoculante fez de forma brilhante, pois os inoculantes comercializados no Brasil aumentaram sua concentração em 50 vezes nos últimos 30 anos. Isto é um dos pontos claramente demonstrativos da modernização dos inoculantes, acompanhando a evolução da agricultura como um todo. Entretanto, as inovações não pararam por aí. O agricultor buscava maior facilidade de uso dos inoculantes e a indústria respondeu com o desenvolvimento de inoculantes líquidos. Quando passou a se usar mais produtos sobre a semente, foi necessário diminuir o volume de inoculante e, de 200ml a 250ml ou grama por saca de sementes, o inoculante mais concentrado permitiu que se usasse apenas 100ml ou grama por saca, facilitando
40
que inoculam no momento de despejar as sementes na caixa da semeadeira e outras técnicas que estão em desenvolvimento mostram de forma inquestionável que a indústria de inoculantes apresenta o mesmo ritmo de inovação que a agricultura. O uso de inoculante em sementes pré-tratadas, com as bactérias se mantendo vivas por dois ou três meses sobre a semente, é uma das grandes promessas do setor. Intensas pesquisas estão sendo desenvolvidas pelas empresas produtoras de inoculantes e pelas sementeiras para se ter sementes que cheguem ao agricultor com maior número de insumos possível, fazendo que ao agricultor baste somente colocar as sementes na semeadeira sem nenhuma operação a mais. Embora o grande avanço destas pesquisas, ainda não se chegou ao ponto de podermos usá-la com o mesmo sucesso em fixação de N do que as sementes inoculadas no momento do plantio. A pesquisa tem demonstrado que os efeitos do inoculante aplicado em pré-plantio, por períodos muito longos, ainda não alcançam o mesmo patamar do que quando é aplicado na semente ou no sulco no momento do plantio. Entretanto, isto é uma questão de tempo para
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
que em toda a cadeia da soja e feijão, todos os que trabalham na cultura se atualizem nos modernos conceitos da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), nos trabalhos de pesquisa científica e informações confiáveis de lavoura que mostram, de forma insofismável, que o inoculante é capaz de fornecer todo o nitrogênio necessário para produtividades acima de 100 sacas/ha. Estes são dados atuais, de instituições científicas das mais renomadas do mundo, gerados por pesquisadores que trabalham e entendem de FBN. Desta forma, o agricultor brasileiro, sempre em dia com o que há de mais moderno no mundo, pode ficar tranquilo que, quando usar inoculante em sua lavoura, estará utilizando o que há mais atualizado em termos de tecnologia agrícola. A ANPII, através de suas empresas filiadas, trabalha fortemente para sempre manter um elevado padrão de qualidade e de atualização nos inoculantes colocados à disposição dos C agricultores brasileiros. Solon de Araujo Consultor da ANPII
Coluna Agronegócios
O
Uma lição não aprendida
cultivo de cacau no Brasil começou no final do século 18, para diversificar a economia da colônia brasileira, fortemente dependente das exportações de açúcar. A primeira plantação de cacau em Ilhéus foi realizada em 1820, as exportações começaram em 1835 e, desde esta data, a sua importância econômica para o estado da Bahia e para o Brasil expandiu-se de forma contínua, até muito recentemente. Na primeira metade do século 20, o cacau era o produto de exportação mais importante da Bahia e foi a principal fonte financeira de apoio ao desenvolvimento do estado. Historicamente cultivados em fazendas consideradas grandes propriedades para o tipo de operação, o cacau constituía o fundamento econômico de uma grande região no sul da Bahia, com o eixo Itabuna - Ilhéus, sendo o mais representativo de riqueza e progresso derivado de seu cultivo. Apesar do papel na economia regional, a lavoura de cacau, seus produtores e o próprio produto sofriam com
promoveu forte impulso na produção de cacau na Bahia, atingindo em 1985 cerca de 400 mil toneladas. Infelizmente, este ciclo virtuoso foi abruptamente interrompido em 1989 com o ingresso na região da doença vassoura de bruxa, causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, deflagrando a maior crise de sua história. Cerca de dez anos após a entrada da doença, a Bahia alcançou a mais baixa produção de cacau das últimas décadas, de 100 mil toneladas (75% a menos que no ano do ingresso da doença). A crise teve não apenas consequências econômicas, como a perda do mercado de exportação e a necessidade de importação de cacau para manter ativa agroindústria associada. A queda na produção levou à falência a maioria dos produtores, sem condições financeiras de enfrentar o custo de controlar uma doença tão grave. Sem sua principal fonte de renda, a população da região empobreceu de forma
potencial de devastação da lavoura cacaueira ainda mais intenso do que a vassoura-debruxa. A monilíase foi registrada há muito tempo em países perto da fronteira noroeste do Brasil, sinal de risco iminente de que possa ingressar e estabelecer-se no País. Os cientistas do Cepec não se limitaram a advertir, mas elaboraram uma proposta tecnicamente fundamentada para preparar o Brasil na eventualidade, tida como quase inevitável, no médio ou longo prazo, de ingresso da monilíase. Sua proposta científica prevê diversos estudos sobre o fungo, como biologia, ecologia, epidemiologia, controle biológico e resistência genética. Estes estudos devem, imperiosamente, ser realizados em países onde o fungo já é amplamente distribuído. No entanto, as dificuldades enfrentadas ao longo dos últimos anos para aprovar e implantar a proposta de preparo do país para o ingresso da monilíase mostram que a lição da vassoura-debruxa, que ingressou no sul da Bahia sem uma preparação adequada da cadeia produtiva para
Em vez de incentivo e apoio, os cientistas encontram barreiras e dificuldades que estão atrasando seus estudos no exterior, cuja urgência é cada vez mais imperativa a volatilidade da produção, dos preços e da demanda internacional, porém, aprenderam a conviver, sem que a continuidade da produção fosse ameaçada. Assim mesmo, para apoiar uma cultura de importância vital em momentos de crise aguda, foi criado o Instituto do Cacau (1931) e, mais tarde (1957), a Comissão de Planejamento Executivo da Lavoura Cacaueira (Ceplac), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec), da Ceplac, começou suas operações em 1964. Conforme observado na Figura 1, sua criação
abrupta e intensa. Em decorrência, a outrora próspera região cacaueira foi assolada por problemas sociais ocasionados pela miséria, que causaram inúmeras convulsões de proporções preocupantes. Depois de 25 anos da introdução da praga, lastreada em uma nova estrutura fundiária e organização produtiva, e no curso de um novo ciclo tecnológico capitaneado pelo Cepec, a produção de cacau gradualmente ensaia uma recuperação firme e sustentável. Mas, os pesquisadores do Cepec lançam um brado de alerta: a monilíase do cacaueiro, causada pelo fungo Moniliophthora roreri, tem
Figura 1 - Produção de cacau na Bahia
enfrentá-la, não foi aprendida. O ingresso da monilíase significará um desastre de proporções ainda maiores que a vassoura-de-bruxa, e com maior impacto social, uma vez que, atualmente, a maioria dos produtores de cacau é de agricultores familiares e assentados da reforma agrária, com ainda menos condições que os proprietários anteriores, para suportar uma catástrofe financeira. Em vez de incentivo e apoio, os cientistas encontram barreiras e dificuldades que estão atrasando seus estudos no exterior, cuja urgência é cada vez mais imperativa. É preciso aprender com a vassoura-debruxa, não repetindo erros do passado. Apelase para que ações imediatas sejam tomadas pelo Governo Federal, preparando o Brasil para uma eventual introdução da monilíase, que se configura inevitável. Certamente, o custo de prevenção e de estar preparado para o caso de esta doença ser introduzida, será muito menor que o custo de uma nova e profunda crise na lavoura de cacau. C
Décio Luiz Gazzoni
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
www.revistacultivar.com.br • Julho 2014
41
Coluna Mercado Agrícola
Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br
Copa segura agronegócio no Brasil
O mercado brasileiro dos principais produtos agrícolas sente os efeitos negativos da Copa do Mundo de futebol, com expedientes mais curtos. Em dias de jogos do Brasil há feriado de meio período e sempre na parte da tarde, o que coincide com o movimento dos negócios que normalmente fluem mais à tarde devido à Bolsa de Chicago operar neste período. Somado a isso, os produtores que ainda têm soja para negociar ou aqueles que possuem milho safrinha em colheita (ou que estão colhendo algodão) têm segurado o produto à espera que depois da Copa venham as eleições, com apelo positivo ao dólar, e isso traga ajustes nos valores praticados internamente. Fatos possíveis de ocorrer, porque os produtores estão capitalizados e podem segurar parte do que têm em mãos ou que estão colhendo para vender posteriormente. Muitos apostaram na armazenagem própria, como silos bolsas em milho (batizados por muitos como silos bags) e que lhes dão um prazo maior para negociar. O cenário em junho era de Copa e de negócios escassos, com os indicativos de Chicago não trazendo apoio positivo. O clima favorecia as lavouras americanas e, de outro lado, os grandes compradores permaneciam sem atuar porque não queriam carregar estoques. A Copa, que para uma parte dos organizadores e do governo viria para melhorar o desempenho da economia brasileira, ao setor agrícola serviu para estagnar. Tudo aponta que haverá grandes prejuízos, porque parte do setor irá empurrar as negociações para o futuro. Muitas máquinas não serão negociadas devido à insegurança econômica no país e o setor todo “empurrará com a barriga” para negociar à frente. Os fundamentos do agronegócio continuam bastante favoráveis, porque tanto interna como externamente o mundo não “parou de comer”. O que se vê de notícias externas são mais aspectos positivos do que se comentava nos meses anteriores. Se não houvesse Copa no Brasil, talvez o setor estivesse movimentando mais, exportando mais e trazendo mais divisas. Mesmo assim, os fundamentos seguem positivos e o País caminha para uma nova e boa safra de grãos. MILHO
Safrinha colhendo em bom ritmo
O clima foi favorável às lavouras, principalmente às plantadas tardiamente, o que deu boas condições de desenvolvimento das áreas, mesmo para as que tenham sido plantadas com tecnologia baixa e que devem ter produtividade de média a boa. Desta forma, a safra que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta como cheia deverá fechar pouco acima de 41 milhões de toneladas (talvez 42 milhões de toneladas). É preciso lembrar que neste ano há forte queda de área plantada e que a tecnologia utilizada foi menor. O clima foi parecido com o do ano passado, que também registrou chuvas longas e desta forma não há por que esperar por recorde de colheita da safrinha como vem sendo apregoado por alguns e pelo governo (como mostrou o último relatório da Conab de 45,7 milhões de toneladas frente a 46,9 milhões do ano passado e que manteve a área plantada nacional sem alteração). Contudo, Mato Grosso, maior estado produtor, nos dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), teve queda de 700 mil hectares e está com três milhões plantados. Desta forma, há grandes divergências. No Paraná, a queda de plantio também é forte (na faixa dos 400 mil hectares em favor de feijão, soja e trigo). Com esse cenário não há como apontar safra cheia. O mercado manteve marcha lenta, porque os compradores sabem que há milho chegando e produtores esperando que o quadro melhore, segurando as ofertas. A tendência é de calmaria para estas próximas semanas e pouco espaço para mudanças nas cotações.
porque não havia ofertas e a queda ocorrida foi menor. Com poucos vendedores, a boa notícia é que em julho entra em vigor a lei que determina a mistura de 6% de biodiesel no diesel, frente aos 5% em vigor anteriormente. Essa medida tende a aumentar em 20% a demanda de biodiesel, sendo que de agora em diante o óleo de soja deverá ser o produto que irá dominar o crescimento, já que os demais produtos usados, como resíduos gordurosos de frigoríficos e outros óleos vegetais, não conseguirão atender à demanda porque não terão novas ofertas. Isso estimulará a demanda de soja para esmagamento interno para se usar o óleo e tende a trazer um descasamento das cotações internas frente às externas. Nestes primeiros dois meses de safra colhida, os embarques de soja cresceram de maneira forte. Os níveis de soja em grão acumulados até maio já estavam em 25 milhões de toneladas, restando pouco para o mercado nacional e também para novos negócios, o que servirá de apelo contra queda interna. A safra nova continua distante dos interesses dos vendedores e tudo indica que nestes próximos dias não haverá grandes avanços para estimular as negociações. Será uma fase de calmaria. feijão
Oferta de baixa qualidade segura mercado
O mercado do feijão mostrou os meses de maio e junho com ofertas acima da demanda e cotações em queda. Mas o fator principal foi a baixa qualidade do produto ofertado, que serviu de apelo negativo para as cotações. O ponto crucial para os produtores que plantaram grandes áreas de feijão safrinha no lugar do milho foi pecar no controle de pragas e doenças, porque acreditavam que soja seria uma cultura fácil e que na realidade se tornou difícil, Calmaria e poucos vendedores O mercado da soja disponível seguiu com indica- porque é rápida e não permite descuido. Houve muita tivos quase estabilizados, mostrando apelo negativo em doença, muita praga prejudicando a qualidade e produtiChicago, mas no Brasil poucos fechamentos se deram vidade. Para piorar o quadro ocorreram problemas graves
com o clima, principalmente no Paraná, onde choveu mais que o previsto, houve temperaturas baixas na fase de florescimento com impactos negativos. O mercado segue com boa demanda para feijão de alta qualidade e permanecerá firme para este tipo de produto. Mas continua com ofertas de produto comercial e inferior frágil. Tende a se manter assim por mais algumas semanas, depois, o mercado pode se recuperar novamente e trazer avanços nas cotações à frente. Antes mesmo de fechar o ano haverá nova alta e indicativos firmes. Lembrando que o consumidor quer feijão de alta qualidade. arroz Estoques menores que o previsto e demanda em alta Os novos números dos estoques iniciais, divulgados pela Conab, serviram para corrigir uma distorção que vinha de anos anteriores em relação a estoques altos, que na realidade não existiam. Assim, o governo realizou levantamento e percebeu que tinha pouco mais de 496 mil toneladas de arroz nas mãos privadas em fevereiro e outro volume próximo a este nos estoques públicos. Então, abriu o ano comercial com pouco mais de um milhão de toneladas e, junto a isso, corrigiu a safra para baixo devido à queda na produtividade gaúcha. Cenário que deixou o mercado mais ajustado, mas o governo esqueceu apenas de corrigir o consumo para cima, porque no ano passado a Conab apontou que foram consumidos 12,6 milhões de toneladas e, agora, com a população endividada e comendo mais alimentos básicos, apontou o consumo em 12 milhões de toneladas. Tudo indica que esse número de demanda alcançará 13 milhões de toneladas. O mercado seguia firme e mantendo as cotações levemente pressionadas para cima, sendo que no período da Copa o ritmo dos negócios diminuiu e atrapalhou novos avanços, que devem ser observados à frente.
CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo brasileiro observa o plantio crescer forte nos estados do Sul e caminha para uma safra de sete milhões de toneladas. Cenário que deve servir de alerta para os produtores, que preparam-se para negociar o grão escalonadamente, porque os moinhos estão acostumados a comprar “das mãos para a boca” e não formam estoques. Para que as cotações não recuem muito, não é recomendado forçar venda de agosto em diante quando começarem as colheitas, com a oferta devendo se concentrar entre setembro e outubro. O Brasil vai consumir mais de 11 milhões de toneladas (talvez 12 milhões de toneladas) e somente este fator já seria suficiente para garantir boas cotações aos produtores. algodãO - Os produtores estão colhendo a safra na Bahia e as primeiras lavouras em Mato Grosso, onde está localizada a maior parte das áreas ligadas à safrinha e que terão colheitas à frente. Desta forma, a oferta cresce e agora os produtores precisam manter a calma para negociar e aproveitar os bons momentos para fazer média. Parte já está negociada e será entregue nas próximas semanas. Mas a demanda nacional será escalonada e tem que ser controlada pelos produtores, como estão fazendo os pecuaristas com o boi, vendendo somente quando as cotações lhes interessam. china - Os produtores dos grãos apontam que neste ano o país sofre com
42
Julho 2014 • www.revistacultivar.com.br
problemas climáticos, mas até agora o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) não mostrou alterações no quadro de produção da China. Contudo, o que se vê no país asiático são compras acima das projeções, a economia andando melhor que as expectativas e com apelo positivo para os países que exportam para este destino. Com indicativos de que os chineses devem comprar mais de 71 milhões de toneladas de soja neste ano comercial, sendo que o USDA tem apontado que serão 69 milhões de toneladas enquanto o consumo local segue a todo vapor e tudo indica que irão importar mais do que está programado. Os chineses estão em um ano em que irão importar quase todos os tipos de grãos como arroz, soja, milho, algodão, todos em ritmo crescente para atender às necessidades que surgem a cada dia que passa em volumes maiores. mercosul - A safra da região, principalmente da Argentina, sofreu com chuvas em excesso, sendo que a soja enfrenta uma das piores qualidades em mais de 20 anos. A proteína da soja portenha está ficando na faixa dos 37%, frente a níveis que tradicionalmente passam com facilidade dos 42% e alcançam 44%. Com esse cenário, diminui a aceitação do produto argentino. A colheita do milho seguia com grande atraso e prejuízos causados pela chuva, o que resulta em problemas para cobrir vendas e embarques em junho e julho.