Comparativo de tratores 105cv a 115cv

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Cultivar

Cultivar Máquinas • Edição Nº 201 • Ano XVII - Novembro 2019 • ISSN - 1676-0158

Índice

Destaques

04 Rodando por aí 08 Mundo Máquinas 14 Pulverização Desafios da aplicação aérea

19 Empresas

Inoculação no sulco em lavouras de arroz

20 Tratores

Como avaliar e realizar manutenção de sistemas hidráulicos

24 Manutenção

Uso de imagens termais para avaliar problemas em máquinas

29 Pulverização

Desafios do emprego da NR 31 em aplicações de defensivos

32 Capa

Montagem Cristiano Ceia

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Comparativo de tratores com motorização entre 105cv e 115cv

Nossa capa

42 Semeadoras Benefícios do uso de grafite no plantio

46 Pulverização

Como evitar a deriva, um dos maiores problemas na pulverização

50 Tratores

Entenda a diferença entre torque e potência de motores

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Direção Newton Peter

• Editor Gilvan Quevedo • Redação Rocheli Wachholz Karine Gobbi Cassiane Fonseca • Revisão Aline Partzsch de Almeida • Design Gráfico Cristiano Ceia

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Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br (*10 edições mensais + 1 conjunta Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 CNPJ : 02783227/0001-86 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Insc. Est. 093/0309480 € 130,00

• Coordenador Comercial Charles Echer • Vendas Sedeli Feijó Miriam Portugal

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Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contatos@revistacultivar.com.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


RODANDO POR AÍ Agricultura de precisão

A Yara lançou a ferramenta de agricultura de precisão Atfarm, que possibilita aos agricultores monitorarem suas culturas para programar o uso de fertilizantes de maneira mais assertiva. Através do aplicativo, ele pode monitorar seus talhões de qualquer lugar e checar os mapas de aplicação de fertilizantes criados. “Cada vez mais a agricultura digital revoluciona o setor, gerando benefícios para os agricultores e para a sociedade em geral. A era da agricultura 4.0 permite vantagens, como criar valor agregado ao produto, reduzir custos operacionais e agilizar a produção”, esclareceu o líder do Yara Digital Labs Brasil, Luis Moreira. O Atfarm combina imagens e dados obtidos por satélites para identificar áreas do talhão que estão se comportando de maneira inesperada e programar antecipadamente a próxima inspeção. Os mapas de aplicação para adubação em taxa variável podem ser criados em poucos cliques e exportados para o maquinário, além de visualizados no aplicativo para smartphones de qualquer lugar.

Agritechnica

A Hexagon esteve presente, pelo terceiro ano consecutivo, na Agritechnica 2019. A maior feira mundial de máquinas agrícolas ocorreu entre os dias 10 e 16 de novembro no Parque de Exposições de Hannover, na Alemanha. “A Agritechnica é uma grande vitrine para empresas globais de tecnologia agrícola e um ponto de encontro para debatermos o futuro da agricultura”, afirmou o presidente da divisão agrícola, Bernardo de Castro. A Hexagon aproveitou a Agritechnica para fazer o pré-lançamento do display AgrOn Ti7 com a comunicação Isobus. Trata-se de um padrão de comunicação que soluciona a incompatibilidade entre tratores, implementos e computadores, independentemente de marca ou modelo. Segundo Bernardo, o objetivo é garantir a sincronia entre todas as soluções tecnológicas, tornando os processos mais eficientes.

Garantia

As peças genuínas para os equipamentos Case e New Holland Construction, marcas da CNH Industrial, dispõem de 12 meses de garantia quando adquiridas e instaladas nas oficinas das concessionárias da rede credenciada. Agora, quando adquiridas diretamente no balcão da rede de concessionárias das marcas, as peças genuínas passam a ter seis meses de garantia, um aumento de três meses no período total de cobertura. “Esta é uma forma que encontramos de comprovar aos nossos clientes a nossa total confiança no portfólio de peças genuínas e, também, na excelência dos serviços prestados pelos especialistas nas oficinas da rede de concessionárias”, destacou a responsável de Marketing e Comunicação em Aftermarket Solutions América do Sul, Regina Barbosa.

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Uruguai

Ampliando a atuação nos principais mercados da América do Sul, a FPT Industrial, marca de motores, eixos, transmissões e geradores de energia da CNH Industrial, nomeou a Corporación de Maquinaria S/A (Comasa) como Distribuidor Master no Uruguai. Tradicional representante Case Construcion Equipment e New Holland Agriculture, marcas que também pertencem à CNH Industrial, a empresa passa a disponibilizar aos segmentos on-road, off-road, marítimo e de geração de energia, assistência técnica, reposição de peças genuínas e serviços especializados, garantindo a qualidade e o desempenho dos motores FPT Industrial. “A FPT Industrial é uma marca em constante crescimento. É fundamental estender a Rede de Distribuidores para atingir cada vez mais clientes. Temos uma grande oferta de produtos para diferentes aplicações de bens de capital”, ressaltou o Presidente da FPT Industrial para a América do Sul, Marco Rangel.

Diretor jurídico

A AGCO, fabricante e distribuidora mundial de equipamentos agrícolas, comunicou a contratação de Bruno Oliveira como diretor jurídico para a América do Sul. Oliveira será responsável por gerir os aspectos legais dos negócios da empresa e dar suporte às estratégias e entregas na região. O executivo é formado em Direito pela Uniceuma, com pós-graduação em Direito Contratual pela PUC-SP e MBA em Direito Civil pela FGV. Oliveira também possui formações complementares, como o curso de Estratégia, Operações e Liderança pelo Boston College. Entre 2010 e 2019, atuou na Whirpool S/A Embraco Compressores como diretor jurídico global e, anteriormente, na Alcoa Minerals of Jamaica como orientador jurídico e na Alcoa Brasil como conselheiro sênior.

Plano estratégico

Raven Industries recentemente anunciou detalhes do seu plano estratégico, o qual inclui o avanço em duas plataformas de crescimento: Raven Autonomy e Raven Composites. “O investimento da Raven em autonomia para a agricultura é uma continuação de nossa estratégia de fornecer tecnologia líder de mercado que ajude os agricultores a serem mais eficientes, para aumentar a produtividade e reduzir o custo de produção”, disse o diretor de Operações para América Latina, Jeff Rohlena. A Raven Autonomy é uma plataforma estratégica de crescimento que impulsionará a Divisão de Tecnologia Aplicada a produzir soluções agrícolas autônomas, enquanto a Raven Composites expandirá sua Divisão de Filmes de Engenharia para se tornar líder do setor no mercado de compósitos reforçados.

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MUNDO MÁQUINAS

Agricultura de precisão leva soluções ao algodão do Mato Grosso “Aqui é o local para você alinhar e encontrar as soluções para os nossos desafios.” Palavras do presidente da Associação Mato-Grossense do Algodão (Ampa) e do Instituto Mato-Grossense do Algodão, Alexandre Pedro Schenkel, na visita à Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP), no dia 31 de outubro, para conhecer os resultados da parceria em Agricultura de Precisão. Com uma produção anual de 1,7 milhão de toneladas em uma área de 1,1 milhão de hectares, Mato Grosso produz dois terços do algodão brasileiro, a maior parte para exportação. Os resultados do projeto de Agricultura de Precisão, liderados pela Embrapa, envolvem a obtenção de parâme-

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tros agronômicos para subsidiar a aplicação de sementes e fertilizantes a taxa variável, além do mapeamento de áreas com sintomas de ataques de fitonematoides e sua correlação com atributos do solo e a produtividade do algodoeiro. A parceria contempla, também, a análise semiautomática de dados georreferenciados para o auxílio à tomada de decisão. Na data, a discussão sobre outras tecnologias incluiu uma visita aos laboratórios de Óptica e Fotônica, Ressonância Magnética Nuclear e ao Laboratório Nacional de Nanotecnologia para o Agronegócio (LNNA), onde pesquisadores e empresas apresentaram soluções já no mercado ou em desenvolvimento.

Drone gigante Para complementar as novidades da John Deere na Agritechnica, o outro destaque é o VoloDrone, um drone gigante, desenvolvido em parceria com a empresa Volocopter. O produto tem um diâmetro de 9,2m e é alimentado por 18 rotores. Possui acionamento elétrico com baterias substituíveis de íons de lítio - uma carga permite um voo de até 30 minutos, e ele pode ser operado remota e automaticamente, em uma rota pré-programada. O VoloDrone está equipado com um sistema flexível de conexão de carga de até 200kg – o que significa que a estrutura aceita diferentes dispositivos. Para proteção das culturas, o drone é equipado com dois tanques, uma bomba e uma barra de pulverização. Os voos podem ser realizados em baixas alturas em uma cobertura de até 6ha/h. As empresas veem potencial para o uso na agricultura, com aplicações que variam de topografia difícil a maior eficiência no uso de agentes de proteção de culturas. Testes de voo e aplicação serão realizados durante a próxima safra.


Transformação digital Durante a 21ª Futurecom, a CNH Industrial participou de painéis e debates e apresentou, no estande do ConectarAGRO, algumas de suas soluções, como o trator Puma 140, da Case IH. O evento ocorreu em São Paulo, no final de outubro. Paulo Maximo, diretor de Desenvolvimento de Rede da New Holland Agriculture para a América do Sul, uma das marcas agrícolas da CNH Industrial, participou do painel “Digitalização dentro e fora das porteiras: abrindo caminhos para a Agricultura 4.0”. Gregory Riordan, diretor de Tecnologias Digitais da CNH Industrial para a América do Sul, participou do painel “Desafios da Conectividade e Infraestrutura para Soluções IoT”. Segundo Riordan, inovar faz parte da cultura empresarial do grupo. “Somos vanguarda nas áreas de gestão e tecnologia, desenvolvemos projetos pioneiros para nossos segmentos de atuação, sempre com foco em produtividade, eficiência e sustentabilidade”, completou.

ConectarAGRO será associação em prol da conectividade do campo brasileiro A solução de conectividade aberta, promovida pelo ConectarAGRO, vem colaborando diretamente para levar internet aos campos agrícolas brasileiros. Com mais de 1,6 milhão de hectares conectados, a iniciativa agora evolui e está prestes a se tornar uma associação, formada por AGCO, Climate FieldView, CNH Industrial, Jacto, Nokia, Solinftec, TIM e Trimble. A novidade foi anunciada na Futurecom, que ocorreu no final de outubro, em São Paulo (SP). A iniciativa - que nasceu na Futurecom do ano passado e foi lançada em abril na Agrishow - dará o seu próximo passo com o “nascimento” de uma associação civil sem fins lucrativos. Sem negociar nenhum produto, seu

objetivo será levar o acesso à internet no campo e fomentar políticas públicas de conectividade para o setor, além de favorecer o surgimento de novas soluções para o agronegócio por meio das AgTechs que surgem nesse ecossistema. O ConectarAGRO promove não apenas a conexão de máquinas, mas também a de pessoas. Com a solução promovida, independentemente do segmento em que atua, o produtor rural pode usufruir, de forma completa, dos recursos disponíveis hoje de agricultura de precisão, digital e automação, além de ter acesso a uma infinidade de novos produtos e serviços habilitados com a disponibilidade da conectividade. Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br

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Netafim/Amanco desenvolve sistema de irrigação com “cérebro”

No setor de irrigação, a multinacional israelense Netafim/ Amanco entrou de vez no mercado de agricultura digital ao trazer para o Brasil o sistema de irrigação com cérebro, capaz de oferecer recomendações ao produtor com base em bancos de dados e modelos de cultivos dinâmicos. O software NetBeat atualiza soluções de automatização e controle de irrigação. “Em uma única tela o agricultor tem acesso às informações de clima, previsão do tempo, condições de solo e plantas, programas de irrigação em execução, calendário de atividades, recomendações técnicas e pode programar qualquer processo de irrigação ou nutrirrigação em apenas alguns passos”, explicou o gerente de Di10

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gital Farming da Netafim/Amanco, Bruno Toniello. Essas funcionalidades são possíveis graças a sensores que captam as informações em tempo real, que são processadas e analisadas para oferecer recomendações, além de automatizadores que permitem controlar tudo através do programa instalado em desktops, smatphones ou tablets. “O NetBeat foi desenvolvido para trazer mais comodidade, mas não só, o objetivo é que o agricultor possa ter – baseado em dados e inteligência artificial – maior assertividade nas tomadas de decisão, gerando mais rentabilidade, produtividade e melhor gestão dos recursos disponíveis”, destacou Toniello.

LS Tractor em Minas Gerais A LS Tractor, a fabricante sul-coreana de tratores, abre mais uma nova concessionária. Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, será a sede da Asap, com atuação em 132 municípios da região central de Minas Gerais. Segundo o sócio e diretor comercial do Grupo Asap, João Victor Durão, a base comercial será focada no atendimento de produtores da pecuária de leite e do café. “A expectativa é atingir a marca de dois mil tratores em até cinco anos”, assinalou Durão. Para o vice-presidente da LS Mtron Brasil, André Rorato, a abertura de mais uma concessionária só confirma o crescente interesse pela marca. “Já somos a quinta empresa no ranking de fabricantes e, com os novos produtos, vamos nos consolidar cada vez mais. Tenho certeza que a Asap vem para acrescentar mais força de vendas no mercado mineiro”, afirmou Rorato.


Precision Planting aposta no retrofit de plantadeiras Após quatro anos de atuação no Brasil, a Precision Planting aposta na melhoria do processo de plantio para alavancar a produtividade das lavouras brasileiras. A empresa chama a atenção para a identificação de problemas logo no início do plantio, para um resultado melhor no final do cultivo. “No plantio, a execução eficiente da plantadeira é fundamental para que a semente, ao entrar em contato com o solo, seja capaz de aproveitar os recursos disponíveis da melhor forma para uma germinação plena e posterior emergência da planta”, explicou o gerente de Marketing da Precision Planting no Brasil, Giancarlo Rocco. Neste contexto, além do de-

senvolvimento de novos produtos, a marca oferece atendimento técnico especializado que auxilia produtores. “O produtor costuma investir em uma boa plantadeira, no entanto quando entende que pode ampliar o seu potencial produtivo com os sensores e atuadores da Precision Planting e consegue verificar um significativo ganho de produtividade, uma consequente lucratividade, ele faz o retrofit do seu equipamento”, explicou Rocco. Em 2015, a Precision Planting anunciou o seu primeiro portfólio de produtos disponível aos produtores rurais brasileiros. De lá para cá, a empresa trabalha com o foco no atendimento às particularidades do plantio de cada agricultor.

Irrigação no Mato Grosso

Estratégias para um estudo que dará suporte às ações de desenvolvimento sustentável da agricultura irrigada no Mato Grosso foram discutidas durante encontro técnico, em Cuiabá. Organizado pela Associação dos Produtores de Feijão, Trigo e Irrigantes de Mato Grosso (Aprofir), o evento reuniu cerca de 60 pessoas. Everardo Mantovani e Marcos Heil Costa, do Departamento de Engenharia Agrícola da UFV (DEA/UFV), foram os palestrantes. O secretário-executivo da Aprofir, Afrânio César Migliari, acredita que os estudos irão começar em breve. “No dia seguinte ao evento, já tivemos nova reunião com representantes da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema-MT). O objetivo é fazer o trabalho a três mãos, entre Aprofir, universidade e Sema”, revelou Migliari. Alei Fernandes, diretor do grupo Irrigar, revenda da Valley no Mato Grosso, destacou a importância do estudo para o crescimento do setor. “Saberemos as potencialidades e disponibilidades de água superficial e subterrânea para crescer e expandir o setor de irrigação no Mato Grosso com responsabilidade”, ressaltou Fernandes.

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Trator autônomo da John Deere é destaque na Agritechnica A John Deere levou para a Agritechnica, em Hannover, na Alemanha, várias novidades ligadas à agricultura de precisão, no espaço denominado Zona Tecnológica do Futuro. Nove desenvolvimentos de produtos diferentes e projetos de pesquisa nas áreas de eletrificação, autonomia por meio da automação e inteligência artificial mostram como a agricultura poderia funcionar de maneira ainda mais sustentável e produtiva no futuro. O trator elétrico autônomo, uma das atrações da marca na feira, é um novo conceito da John Deere, que possui uma unidade de acionamento elétrico compacta com acessório integrado. O trator tem uma potência total de 500kW e pode ser

equipado com rodas ou esteiras. O lastro flexível de cinco a 15 toneladas é possível, dependendo da aplicação, para ajudar a reduzir a compactação do solo. Graças ao acionamento elétrico, não

há emissões de poluentes durante a operação e os níveis de ruído são extremamente baixos. Outras vantagens prometidas pela John Deere são resistência e baixos custos de manutenção.

Mahindra levará concessionários à Índia em 2020 Com o objetivo de alinhar estratégias para 2020, a Mahindra reuniu recentemente, em Mogi das Cruzes (SP), os principais líderes das suas 28 concessionárias autorizadas. Na pauta, planejamento comercial, programa

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de incentivo de vendas, próximos passos da companhia global, novos caminhos de comunicação e marketing para 2020, apresentação do novo site, além de projetos de nacionalização de produtos em desenvolvimento. O di-

retor-geral, Jak Torretta Jr, agradeceu a presença unânime da rede e ressaltou a importância do trabalho de cada concessionário para o crescimento da Mahindra no território nacional. Antes do encerramento, foi anunciado que a Rede Mahindra Brasil ganhou uma viagem para conhecer a fábrica na Índia. A experiência de conhecer o Mundo Mahindra irá facilitar o entendimento do DNA da marca. A viagem está marcada para fevereiro de 2020.


Jacto Talks é evento pioneiro com influenciadores digitais A empresa Jacto realizou no final de outubro evento com influenciadores digitais e jornalistas para compartilhar conhecimentos e aprender com os diferentes ecossistemas. O “Jacto Talks” foi uma ação pioneira realizada pela empresa, que reuniu na sua sede, em Pompeia (SP), alguns dos principais influenciadores digitais ligados ao agronegócio, além de jornalistas especializados. Durante dois dias, os participantes conheceram a fábri-

ca da Jacto, a Fundação ShunJi Nishimura e também participaram de um bate-papo com profissionais da empresa, onde foram discutidos temas como Futuro da Agricultura e Digitalização; Tecnologias Voltadas à Produtividade e Investimentos em Educação. Um dos grandes desafios atuais enfrentados pelas empresas é fazer com que as tecnologias existentes nas máquinas sejam plenamente aplicadas pelo produtor em sua lavoura, motivo que incen-

tivou a Jacto a buscar uma aproximação de produtores, que também são influenciadores digitais, como forma de ampliar a divulgação das tecnologias existentes. O Jacto Talks buscou aproximar a empresa dos produtores e profissionais que compartilham seu dia a dia nas diferentes plataformas digitais e a expectativa é que a experiência seja ampliada com a participação de especialistas e pesquisadores voltados ao agronegócio.

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PULVERIZAÇÃO

No alvo? Charles Echer

A aviação agrícola já é responsável por um grande percentual das aplicações de produtos químicos em diversas culturas e os valores crescem a cada ano. Como principais vantagens se destacam a uniformidade das aplicações e também a faixa efetiva de deposição. Ainda assim é preciso verificar constantemente se o objetivo está sendo atingido de forma eficiente

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aviação agrícola no Brasil é responsável por um percentual grande das aplicações em pelo menos oito culturas, como por exemplo soja, milho, algodão e citrus. Para a cultura da soja, cerca de 25% das aplicações são feitas por via aérea (Antuniassi, 2015). Dentre os aspectos mais importantes nas aplicações aéreas destacam-se a uniformidade e a largura da faixa efetiva de deposição (FD). A falta de uniformidade, bem como faixas de deposição muito largas ou estreitas, gera grande variação da dose dos produtos aplicados no campo, que degrada a qualidade da aplicação e gera perdas. Por exemplo, a falta de uniformidade no controle de pragas como o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) ou doenças como a ferrugem-asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi) pode comprometer o controle e gerar enormes prejuízos, pois o ciclo de reprodução ou propagação na cultura é muito rápido. Em alguns casos, a falta de uniformidade na faixa de deposição efetiva é grande o suficiente para resultar em falhas aparentes na lavoura. O operador também deverá estar atento no sentido de voo, pois caso haja uma distribuição assimétrica dos depósi-


tos na faixa efetiva (curva irregular), a escolha do procedimento operacional deve ser feita entre o vai e vem (“back-and-forth ou back-to-back”) ou carrossel (racetrack) (Figura 1). A Figura 2 ilustra um exemplo em que a aeronave apresentava maior depósito de calda sob a asa esquerda. Neste caso, para uma faixa efetiva de deposição de 15m, o CV no sentido carrossel seria de 22% e para o sentido vai e vem, 27%. Nesse caso, ajustes devem ser feitos, como na disposição e regulagem dos dispositivos geradores de gotas, para que o CV seja reduzido abaixo de 20%. Em geral, a uniformidade das aplicações aéreas é medida pelo coeficiente de variação (CV, %) (Parkin; Wyatt, 1982), e deve ser menor do que 20%. A Asabe (American Society of Agricultural and Biological Engineers) possui uma norma para avaliar o padrão de deposição e calibração de equipamentos de aplicação aérea (Asae S386.2, 2018). Segundo essa norma, os métodos que podem ser utilizados para essas avaliações são aqueles com base na análise do depósito de gotas em papéis hidrosensíveis e lâminas de vidro, ou pela avaliação do depósito sobre fios. A norma ainda informa que devem ser anotadas as condições meteorológicas e de voo, como altura, direção do voo e do vento. Os maiores limitantes para o uso dos dois primeiros métodos referem-se à dificuldade de posicionamento da linha de coletores conforme o sentido do vento, que deve ser de proa, e a posterior análise individual de cada coletor. Por outro lado, sistemas que utilizam fios são semiautomáticos e permitem agilidade no processo. Nos Estados Unidos tais sistemas são usados desde a década de 1980, mas no Brasil sua utilização iniciou-se apenas no ano de 2017, o que explica a deficiência de informações sobre as aplicações aéreas brasileiras. Neste sentido, é importante avaliar as características de aplicações aéreas feitas no Brasil, como largura e uni-

Figura 1 - (A) Procedimento operacional “vai e vem”, no qual a deposição das asas esquerda e direita se sobrepõe. (B) Sentido de aplicação carrossel, no qual a deposição é feita em um mesmo sentido, portanto, a deposição da asa esquerda será sobre a da asa esquerda ou direita sobre a direita. Os números indicam a ordem em que cada aplicação é feita e as setas indicam o sentido de deslocamento da aeronave

Figura 2 - Faixa de deposição total, indicada pela imagem verde no gráfico. A linha tracejada indica a largura da faixa efetiva. Neste caso, houve maior deposição das gotas sob a asa esquerda da aeronave, indicado pela seta azul. (Fonte: AgroEfetiva, 2018)

Figura 3 - Sistema de coleta de dados para a Inspeção da Faixa de Deposição (IFD). (Fonte: AgroEfetiva, 2019)

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Figura 4 - Regiões brasileiras onde as Inspeções da Faixa de Deposição foram realizadas. Os 2 indicam que houve maior número de aeronaves avaliadas naquela região círculosFigura maiores

Figura 5 - Percentual de aeronaves com faixas uniformes e desuniformes, com indicação dos problemas encontrados

formidade da faixa de deposição, e disposição dos atomizadores e bicos na barra. Uma forma prática de fazer isso é através do sistema IFD (Inspeção da Faixa de Deposição).

e vem (back-to-back) e carrossel. As características das faixas de deposição são analisadas in loco, e quando necessário são feitas sugestões para a melhoria da deposição e otimização da faixa útil da aeronave, e a análise refeita a título de validação das sugestões propostas. As faixas são consideradas adequadas quando o CV é menor do que 20% e não apresentam falhas ou acúmulo de depósito na FD.

COMO AVALIAR A FAIXA DE DEPOSIÇÃO EFETIVA E A UNIFORMIDADE DAS APLICAÇÕES?

Esses parâmetros podem ser avaliados utilizando um método novo no País. Tal método utiliza espectrofotometria de fio e é denominado de IFD – Inspeção da Faixa de Deposição. A metodologia tem base na norma Asae S386.2 (2018) e é utilizada nas clínicas de aeronaves realizadas no programa de aprimoramento e treinamento em aplicações aéreas “Operation S.A.F.E. (Self-regulating Application and Flight Efficiency)”, nos EUA. Para a coleta de dados (Figura 3) a aeronave sobrevoava um fio de poliéster de 46m de comprimento, aplicando água e corante, com vento de proa, conforme indicação da norma citada, sendo o fio recolhido a cada voo. O fio geralmente é posicionado a 0,5m de altura, com auxílio de dois tripés, sendo que em um fica um carretel com fio novo (protegido em um recipiente) e no outro o fio é preso em um carretel de metal para o recolhimento. Durante cada passagem da aeronave são registradas a altura, utilizando uma régua graduada e uma mira holográfica, a velocidade do voo, a direção do vento, do voo e as condições meteorológicas. Ao todo são realizados três voos sobre o centro do fio por configuração da aeronave. Depois de um minuto da aplicação, cada fio é recolhido e as três repetições analisadas em um espectrofotômetro de fio. Com isso, o próprio software calcula o Coeficiente de Variação (CV) para várias larguras de faixa de deposição, menores e maiores do que a faixa praticada, a qual é informada pela equipe técnica responsável pela aeronave. O processo termina com a indicação da melhor largura da FD em função da uniformidade indicada pelo CV para os sentidos vai

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LOCAIS E AERONAVES AVALIADAS NAS PESQUISAS

Foram realizadas 36 análises da faixa efetiva de deposição (FD) em 24 aeronaves em quatro estados brasileiros, durante os anos de 2017 e 2018, em eventos denominados “clínicas de aeronaves” (Figura 4). Algumas aeronaves foram avaliadas com mais de uma configuração do sistema de pulverização (configurações das barras com pontas hidráulicas e atomizadores rotativos), o que resultou no maior número de análises comparado ao número de aviões. Desta forma, foram avaliadas três aeronaves em Goiás (três análises), duas em Mato Grosso do Sul (três análises), 12 em Mato Grosso (16 análises) e sete em São Paulo (14 análises). Destas análises, cinco foram feitas em três aeronaves 188 Ag Truck (Cessna, Wichita, KA, EUA), 14 em dez aeronaves AirTractor, modelos 401B, 402B, 502B e 802A (Air Tractor Inc., Olney, TX, EUA), e 17 configurações de 11 aviões EMB Ipanema, modelos 201A, 202A e 203A (Embraer, Botucatu, SP). De posse de todas as informações, foi feita uma análise exploratória dos dados e distribuição de frequência para alguns parâmetros. Para apresentação dos resultados neste trabalho foram utilizadas as médias do CV.

COMO ESTÃO AS APLICAÇÕES AÉREAS NO BRASIL

O principal problema observado nas faixas de deposição (FD)


Figura 6 - (A) Largura da faixa de deposição (m). (B) Ganho em faixa de deposição (%). (C) coeficiente de variação (%), antes e após as Inspeções das Faixas de Deposição® (IFD). A “faixa esperada” refere-se àquelas que eram praticadas antes das análises

foi o acúmulo ou falha no depósito de gotas sob a fuselagem da aeronave, observado em 31% dos casos (Figura 5). Este problema ocorre em função do vórtice criado pela hélice, sendo que quando não há posicionamento adequado dos bicos, pode haver deposição desuniforme. Apenas em 24% das avaliações iniciais das aeronaves foram obtidas faixas uniformes, com CV me-

nor do que 20% e sem falhas ou acúmulo de depósito. A menor média de largura de faixa praticada foi para a aeronave 188 AgTruck, com 16,8m, seguido por aquela obtida para os EMB Ipanema 201A, 202A e 203A, com 19,3m, e AirTractor 401B, 402B e 502B e802A, 28,5m (Figura 6A). Estes valores referem-se às médias praticadas nas aplicações para cada mar-


ca de aeronave (em alguns casos representadas por diversos modelos) antes da realização do IFD, segundo as respostas fornecidas pela equipe técnica das aplicações. Após as análises e os ajustes propostos, a média no ganho em largura de faixa considerando todas as marcas avaliadas foi de 5,8% (Figura 6B). Outra vantagem importante foi a redução do CV das aplicações, que após as análises ficou próximo a 16,5% entre os modelos de aeronaves (Figura 6C). Em média, o ganho em uniformidade com base no CV foi de 17,5%, após os ajustes propostos pelas análises do IFD. Parkin e Wyatt (1982) demonstraram que os prejuízos na produtividade são maiores do que os ganhos em economia operacional na medida que o CV aumenta além do recomendado para as aplicações. O CV pode chegar a valores abaixo de 15% e em alguns casos a 10%, sendo que quanto mais baixo, melhor. Para isto, ajustes e validações precisam ser feitos até a obtenção do valor desejado. Ainda foi avaliada a altura de voo, que para as

aeronaves AirTractor foi, em média, 4,8m maior do que para as aeronaves Ipanema e AgTruck, ambas com média de 3,5m. As aeronaves AirTractor possuíam maior número de bicos (36 a 67) e atomizadores (dez a 12), comparadas às aeronaves Ipanema, equipadas com 30 a 44 bicos hidráulicos e seis a dez atomizadores, e AgTruck, com 22 a 34 bicos hidráulicos e oito atomizadores. Com relação à velocidade de voo, em média as aeronaves AirTractor voavam a 229km/h, Ipanema a 191km/h e AgTruck a 189km/h. Este cenário ocorre porque as aeronaves AirTractor possuem em média maior envergadura das asas, além de que a maior parte delas (93%) eram turboélice, enquanto as aeronaves da Embraer e Cessna possuíam motor a pistão. Essas informações auxiliam em tomadas de decisão feitas nas atividades diárias no campo.

CONCLUSÕES E PRÓXIMOS PASSOS

dade, permitem adotar estratégias para a escolha e ajustes de bicos hidráulicos e atomizadores rotativos, adjuvantes, bem como planejar a eficiência operacional e práticas que aumentem a qualidade e a segurança das aplicações. O IFD se mostrou um método prático para avaliar a largura e a uniformidade das aplicações. Os resultados possibilitaram um aumento médio na FD de 5,8%, bem como maior uniformidade, com uma redução dos valores médios de CV para cerca de 16,5%. Como benefícios, estes ganhos em desempenho (maior FD) e qualidade (menor CV) proporcionam maior eficiência, menores custos e maior segu.M rança nas aplicações. Fernando K. Carvalho Rodolfo G. Chechetto Alisson A. B. Mota, AgroEfetiva Ulisses R. Antuniassi, FCA / Unesp

As características observadas, como altura de voo, número de bicos e veloci-

Trabalho premiado em Tecnologia de Aplicação

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ste trabalho também foi premiado em primeiro lugar entre outros 110 inscritos durante o IX Sintag (Simpósio Internacional de Tecnologia de Aplicação), em Campo Grande, MS, em setembro de 2019. Houve um aumento de mais de 50% na demanda por avaliações (IFD) entre os anos de 2018 e 2019. Principalmente devido ao reconhecimento do setor aeroagrícola, de agricultores e da indústria de defensivos agríco-

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las e fabricantes de aeronaves pela importância do trabalho para a qualidade e sustentabilidade das aplicações aéreas. As avaliações são realizadas pela equipe da AgroEfetiva, junto com Fepaf (Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais) e a FCA-Unesp (Faculdade de Ciências Agronômicas – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”), de Botucatu (SP).


Orion

EMPRESAS

Resultado positivo A tecnologia de inoculação diretamente no sulco do plantio chega às culturas de terras baixas e já produz resultados positivos também no arroz irrigado

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Fotos Orion

inoculação aplicada diretamente no sulco do plantio já é uma realidade nas culturas de soja e milho na Serra, no Planalto e no Cerrado do Brasil, com mais de quatro milhões de hectares adotando esse manejo! A partir de 2004, pesquisas são feitas nas principais instituições, mas o alerta definitivo veio da Embrapa Soja em seu fôlder Técnico 02/ 2014, confirmando em seus testes com rigor científico, o aumento de produtividade acima de 15% quando se adotaram dois produtos biológicos, processo conhecido como coinoculação, respectivamente Bradyrizobium com Azospirillum na soja e no feijão registrando de 300kg/ ha a 450kg/ha. Os resultados animadores foram publicados e apresentados em palestras nos eventos do gênero. A partir de então os produtores passaram a buscar informações e saber como fazer, onde tem, quem já faz, resultando num crescimento de adoção na ordem de 40% ao ano. Essa iniciativa chegou também ao Sul do Brasil, através do produtor Luis Aguiar, de Santa Vitória do Palmar, que adquiriu a tecnologia de aplicação diretamente no sulco do plantio, com apoio e motivação da Embrapa Clima Temperado, através do seu núcleo de pesquisa nas Terras Baixas. Na safra da soja de 2018/2019 aplicou a recomendação que recebeu em dosagem e concentração, obtendo resultados surpreendentes de 1.500kg/ha incrementais. A empresa Orion Tecnologia e Sistemas Agrícolas foi quem atendeu o senhor Aguiar com o fornecimento do equipamento de aplicação no sulco, sua instalação e com as recomendações operacionais pas-

sadas diretamente pelos técnicos da fábrica. Em paralelo à iniciativa pioneira do produtor, a Embrapa Terras Baixas vem realizando, há mais de cinco anos, experimentos em seus campos com uso de bactérias fixadoras de nitrogênio na soja de terras baixas, e uso de agentes promotores de crescimento principalmente no arroz. Os resultados são animadores e estão sendo confirmados ganhos de produtividade também em gramíneas. As pesquisas são conduzidas pela pesquisadora Maria Laura Turino Mattos, que teve a colaboração da engenheira agrônoma Kassia Luzia T. Cocco nos seus estudos para doutorado, atualmente consultora agronômica da Orion. A Orion e a Embrapa firmaram contrato de mútua transferência de tecnologia, já publicado no Diário Oficial da União, com a finalidade de validar a tecnologia Orion para aplicação diretamente no sulco do plantio do arroz inundado, e confirmar os resultados na cultura de soja. Essa parceria está triangulada com a Polisul, revenda Valtra de Pelotas e região que cederá os equipamentos para receber a tecnologia Orion. Os experimentos em nível comercial na soja e no arroz estão sendo implementados nas fazendas do produtor Aguiar, na Estação Experimental da Embrapa e na propriedade do produtor Niveo de Bona, da concessionária Polisul. Os resultados serão divulgados na Abertura Oficial da Colheita do Arroz e em eventos do setor na região. Acreditamos que essa tecnologia de inoculação no sulco de plantio, que possibilita inclusive a redução do uso de ni-

trogênio químico, poderá ser a grande redenção da cultura do arroz inundado cuja viabilidade está ameaçada pela estagnação da produtividade, pelos preços pressionados e pelo aumento dos custos de produ.M ção, principalmente de fertilizantes. Arci Mendes Ricardo Rodrigue da Cunha Kássia Cocco, Orion Tecnologia e Sistemas Agrícolas Ltda Novembro 2019 • www.revistacultivar.com.br

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TRATORES

Hidráulico protegido Os comandos hidráulicos evoluem constantemente. No entanto, a única garantia de um funcionamento pleno e prolongado é manter a manutenção em dia, tomando cuidados básicos com os óleos utilizados no sistema

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Charles Echer

proprietário, agricultor autêntico e bastante indignado, foi logo lascando: “Escuta aqui, tchê, nessa sua palestra nós vamos ver alguma coisa de hidráulico e óleo da caixa?”. E a resposta também saiu de talagaço: “Olha, seu..., se não íamos ver, agora vamos. Vamos discutir todas as dúvidas e buscar a melhor solução”. Ao que o agricultor retrucou: “Então tá bueno”. E, ainda em dúvida, levantou as sobrancelhas e com a voz baixa comentou com quem estava ao seu lado: “Quero só ver”. O uso e a aplicação da força hidráulica estão cada vez mais presentes no maquinário agrícola, uma realidade visível em todo o meio rural, onde a força braçal do ser humano retira-se de cena para dar lugar a hastes, cilindros, alavancas e motores hidráulicos, que através de movimentos lineares e rotativos, multiplicam forças e executam serviços com mais rapidez e agilidade e menos pessoas envolvidas. Tarefas como transportar, levantar, girar, transpor obstáculos, que antes envolviam cinco ou mais pessoas e levavam uma manhã inteira, hoje são executadas por uma ou duas pessoas em poucos minutos. Assim também no preparo do solo, plantio e colheita os implementos todos contam com a força do sistema hidráulico. Os sistemas hidráulicos são recursos bastante simples e eficientes, fazendo com que, em muitos casos, sejam esquecidos que necessitam de manutenção e cuidados operacionais. Operação e manutenção andam lado a lado nos diversos serviços e tarefas do dia a dia na propriedade rural. O preparo e a capacidade técnica operacional dos operadores devem ser a base para o correto desempe-

nho do maquinário. É o operador que está o maior tempo junto à máquina, é como se fosse uma extensão de seus braços e pernas. O domínio dos comandos e controles passa a ser algo tão natural que acaba levando ao automatismo, o que pode acarretar riscos e danos. Por isso, o operador deve estar em permanente estado de alerta e executar os comandos sempre de maneira atenta com domínio de tudo o que acontece em sua volta e se de fato houve o resultado esperado da ação do comando executado. Os comandos hidráulicos evoluíram bastante, desde as alavancas e hastes metálicas, que atuavam diretamente nas válvulas de controle, até os comandos a distância através controladores remotos, passando por comandos eletro-hidráulicos e controles tipo joystick e central de controle manifolds. Há na hidráulica uma evolução bastante significativa, porém o resultado é sempre aplicação e multiplicação de forças. Se compararmos um operador manuseando uma alavanca onde o comando atuava diretamente na válvula, fazendo ele perceber o deslocamento e a passagem do óleo sob pressão, com os procedimentos de comando atuais, onde ele movimenta um leve joystick em uma cabine climatizada e acústica e não tem a mesma percepção do deslocamento do óleo, há bastante diferença na percepção do esforço do conjunto. Porém o sistema hidráulico está presente e até com pressão mais elevada, e portanto com maior multiplicação de forças e resultados, ou estragos, se os cuidados e a atenção não se fizerem presentes. Melhorou muito em conforto, facilida-

O óleo lubrificante é um dos principais itens que devem ser observados na manutenção preventiva

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Fotos Charles Echer

Se não houver uma manutenção preditiva, os problemas podem ocorrer justamente no momento em que o conjunto estiver operando

A qualidade de mangueiras e terminais evoluiu bastante, o que garante maior vida útil ao conjunto

des, rapidez e resultados, mas também requer muito mais agilidade e capacidade de percepção do operador. Já presenciei casos de acidentes graves com máquinas que tombaram ou colidiram com obstáculos, onde o operador relata que não viu nem percebeu os riscos por estar em uma posição confortável e distraída. Vigilância permanente, muita orientação e trabalho em equipe, e apoio dos setores gerencial e operacional.

execução do serviço de troca desse fluido. Talvez pelo custo ou por desconhecimento da importância da substituição, pois muitas vezes a aparência do óleo não demonstra necessidade da troca. Mas é um dos serviços que em vários momentos já presenciamos a não observância, pois o aspecto visual do óleo engana muito, embora sua aparência possa ser boa, na verdade ele já não apresenta as mesmas características físico-químicas necessárias para o desempenho correto para o qual foi projetado. E, sendo assim, o resultado da aplicação da força hidráulica não será mais o mesmo, além da perda de rendimento, acarretará outros problemas junto às válvulas do sistema e, principalmente, nas centrais de controle tipo manifolds. Portanto, não vale a pena postergar a troca do fluido hidráulico, mesmo tento um custo relativamente elevado. Os custos decorrentes, pela não substituição, serão maiores, sem dúvida. Outro item importante a se destacar é a observância de seguir as especificações recomendadas pelo fabricante e não misturar óleos diferentes. Aqui há um problema homérico no meio rural, pois os implementos acoplados ao trator, em muitos casos, trabalham com óleos de diferentes especificações, porém utilizam o sistema hidráulico do trator. É fácil perceber quanta mistura de óleo acontece “campo afora” nessa imensidão de máquinas, implementos e serviços a serem feitos. A imensa maioria dos implementos utiliza uma das três seguintes especificações da ISO VG, que é uma norma internacional para grau de viscosidade de óleo hidráulico, sendo que os implementos mais antigos usavam o conhecido “68”, depois era o “46” e atualmente o “32”, todos pela norma ISO. Porém, os fabricantes de tratores nem sempre adotam tal norma, mas há uma tabela de equivalência, que nem sempre é observada. E aí vem problemas de operação e de manutenção. E quando o óleo do trator é de especificação diferente do implemento? Exemplo, o trator utiliza o “68” e o implemento foi dimensionado para o “46”. Boa parte dos operadores diria para usar assim mesmo que não haverá problema. Será? Pode até não dar problema imediato, mas logo, logo a manutenção terá serviços de consertos, além do implemento não ter o correto desempenho.

MANUTENÇÃO

E a manutenção? Vamos levando do jeito que está até quanto aguentar? A manutenção de sistemas hidráulicos é bastante simples quando comparada com outros conjuntos mecânicos. Claro, manutenção preventiva, pois a corretiva é outro enfoque, mais dispendiosa e requer ferramental e equipes de trabalho especializadas. A seguir, vamos abordar alguns itens da manutenção preventiva dos conjuntos hidráulicos.

FILTROS

A substituição dos elementos filtrantes deve ser executada dentro dos períodos recomendados pelo fabricante da máquina ou dependendo das condições de trabalho, antecipar a troca, mas nunca postergar. É importante destacar a observância das especificações da capacidade de filtragem dos elementos, pois se tal capacidade não estiver de acordo, poderá comprometer todo o sistema ou simplesmente não acontecer o processo de filtragem, ocasionando danos aos componentes do sistema. Normalmente o serviço de troca de filtros hidráulicos está inserido em conjunto com outros serviços da preventiva, podendo variar o número de horas recomendado, situando-se entre 300 e mil horas de funcionamento, dependendo da marca ou do modelo do equipamento, ou no máximo um ano de uso. Nos climas frios e úmidos o período deve ser abreviado.

ÓLEO HIDRÁULICO

É aqui que reside um dos itens principais da manutenção preventiva, e por paradoxal que pareça é o mais negligenciado na

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tes. O certo é que se não realizado, o problema de rompimento das mangueiras ou conexões ocorrerá quando o sistema estiver executando serviços, e aí os estragos serão maiores, inclusive com riscos de acidentes, além do atraso na execução, os custos para a manutenção corretiva, que são maiores. Manutenção preventiva em dia e operadores treinados, eis o rumo a seguir, ou teremos problemas permanentes no trator e seus conjuntos mecânicos, inclusive caixa e hidráulico. Fatos concretos de bom planejamento da manutenção já são possíveis de serem observados em algumas proprieda.M des rurais e estamos caminhando nesse sentido. Joel Sebastião Alves Instrutor de Operação e Manutenção de Máquinas e Implementos Agrícolas e Rodoviários

A parte exposta do sistema hidráulico também sofre os efeitos causados por poeira, barro e chuva, que podem acelerar o desgaste

Mas, qual seria a solução? No momento de aquisição do implemento verificar se está de acordo com o trator. Claro, bem sabemos que não é esta a nossa realidade. Vários são os tipos de implementos e portanto com diferentes especificações de óleo, bem como os tratores nas propriedades também são diversificados. Temos um longo caminho para solucionar essas nuances do fluido hidráulico nos implementos agrícolas. Talvez uma das soluções seria o implemento possuir sistema exclusivo e com reservatório próprio, fato que já ocorre em implementos de maiores proporções, onde utiliza a barra de tração e a tomada de força do trator e não o hidráulico.

MANGUEIRAS E CONEXÕES

Mangueiras e conexões são componentes que normalmente apresentam-se expostos e portanto sofrem a ação das mudanças climáticas e dos diversos tipos de serviços onde há presença de poeiras e produtos abrasivos e corrosivos utilizados no meio rural. Sendo assim, deve-se verificar periodicamente as condições físicas das mangueiras, principalmente quanto à presença de rupturas e trincas no material flexível, bem com a presença de vazamentos junto às conexões. Diante de quaisquer desses fatos deve ser providenciada a substituição, visto que não há um período predeterminado para troca, então as equipes de operação e manutenção é que devem inspecionar frequentemente tais componen-

Como garantir uma manutenção em dia?

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reinamento e qualificação aliada a ética profissional. Como aplicar nas rotinas rurais? Não existe uma fórmula pronta, pois as peculiaridades se modificam conforme cada realidade, mas podemos traçar um fio condutor de orientações básicas para operadores. Enumeramos alguns: • Mostrar e identificar aos operadores os diversos conjuntos estruturais e seus funcionamentos na máquina. Quanto mais o operador conhecer a estrutura e funcionamento, mais saberá tirar rendimento e reconhecer os limites da máquina. • Treinar os operadores para que executem a inspeção diária da máquina dentro do recomendado pelo fabricante e/ou pelas equipes de manutenção, pois uma inspeção feita corretamente antes de iniciar a jornada diária evita muitas panes e problemas ao longo do dia e a conseqüente perda de rendimento. Fazer a inspeção e tomar as medidas necessárias para a solução de problemas detectados. • Orientar permanentemente as equipes para a importância de um comportamento ético e profissional adequado ao exercício das tarefas. Esse aspecto destacamos com bastante ênfase na nossa realidade atual, pois nossa sociedade está passando por uma crise desses valores. Quem lida com máquinas, se não dispuser desses comportamentos, transforma-se em uma ameaça para todos a sua volta. Além, é claro, de ser um destruidor do equipamento – um “esmerilhador” de máquina.

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MANUTENÇÃO

Imagens termais A termografia é ferramenta versátil e muito útil para a manutenção preditiva em máquinas. Ao detectar e apresentar diferentes níveis de calor nos componentes de máquinas agrícolas, a ferramenta possibilita identificar problemas imperceptíveis com outras abordagens

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s objetos emitem radiação em determinadas faixas do espectro para as quais o olho humano não é sensível, mas para captar muitas dessas há sensores versáteis e acessíveis. Dentre estas faixas está aquela denominada termal, através da qual é possível inferir sobre a temperatura. As faixas de comprimento de onda do termal correspondem à região do infravermelho, ou seja, uma parte do espectro em que as frequências estão abaixo daquela última visível, a vermelha. Dessa forma, quando nos aproximamos de objetos com temperaturas distintas nossos olhos não permitem a diferenciação, é necessário o sentido do tato para perceber. A termografia é a técnica através da qual se obtém imagens da temperatura de objetos sem entrar em contato com eles, a distância e de modo seguro, constituindo-se em uma das ferramentas do sensoriamento remoto. Mas o que é temperatura? De forma simples ela pode ser descrita como uma medida da energia térmica contida em um objeto ou simplesmente a quantidade de calor. Calor é definido como uma forma de energia oriunda da movimentação das moléculas em objetos. Ao aquecer uma barra de ferro, ou seja, ao fornecer energia na forma de calor, a mesma permanece com a mesma coloração ainda que sintamos a distância a irradiação de calor por ela. Na medida em que a temperatura é elevada, a barra passa a apresentar coloração avermelhada, amarelada e finalmen-

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te branca-azulada intensa. Quanto mais calor, mais radiação térmica é emitida e em frequências maiores, passando a ser perceptível aos nossos olhos por já estar em frequências na faixa do espectro conhecida como visível. É evidente que nesses patamares as temperaturas são extremas e, por isso, precisamos mensurar em patamares bastante inferiores. Os materiais podem ter composição que favore-

ce emissão ou reflexão de energia térmica, sendo que bons emissores apresentam baixa reflexão e vice-versa. Na prática, isso significa que na obtenção de imagens que visam caracterizar a temperatura é necessário levar em consideração que parte do que o sensor mensura é a reflexão da radiação térmica e que isso deve ser levado em consideração na obtenção e interpretação das imagens. A parcela que interessa é usualmente a emitância, portanto, embora as câmeras utilizadas para obter imagens termais guardem muita semelhança com aquelas utilizadas para obter fotografias, sua correta operação requer algum conhecimento sobre o comportamento termal dos objetos. Os sensores para obtenção de imagens termais oscilam desde equipamentos com especificação mais baixa que não requerem sistemas auxiliares para controle de temperatura do sensor, até os mais simples que a cada dia se tornam mais capazes de obter imagens com boa resolução, sensibilidade e frequência de leitura.

USO DAS IMAGENS TERMAIS

Imagens termais permitem identificar pontos de temperaturas extremas, regiões com temperaturas oscilando e o modo como o calor se distribui em nível de detalhe nos objetos. Este tipo de informação pode ser útil a muitos propósitos, havendo desde aplicações para o monitoramento de perdas de calor em ambien-

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Fotos Fluke

tes aquecidos, passando pelo diagnóstico de inflamações em animais na área veterinária, identificação de focos de queimada quando os sensores estão a bordo de satélites ou mesmo estresse hídrico em plantas para ambientes irrigados ou em sequeiro. Na indústria, o uso da técnica é comum no monitoramento da condição de operação de diversos equipamentos. Em painéis elétricos as imagens servem à identificação de componentes com problemas e que podem já ter sido danificados, como é o caso de fusíveis que se romperam e passam a apresentar temperatura baixa, e aqueles que estão em vias de falhar, geralmente com temperaturas maiores. Problemas como sobrecargas ou de contato inadequado nas conexões de condutores elétricos são também facilmente identificados através de imagens termais. Em motores elétricos a técnica permite identificar a ocorrência de temperaturas acima das especificadas para o funcionamento e, se for o caso, averiguar qual parte do motor apresenta indícios de problemas. A ocorrência de pontos quentes em determinadas regiões da carcaça do motor pode indicar sobrecargas em seu uso ou mesmo falhas na dissipação do calor. Mancais também podem ser facilmente avaliados de forma segura, sem contato. Ao apresentarem problemas por falta de lubrificação ou desgaste a temperatura desses componentes se eleva e a detecção com câmeras termais fica facilitada.

Exemplos de aplicação da termografia na indústria, na esquerda imagens obtidas com câmeras convencionais e à direita com câmeras termográficas: tons azuis e verdes representam menores temperaturas, e vermelho a branco as maiores. Na imagem superior, painel elétrico apresentando fusível central com superaquecimento; no centro, mancal com temperatura elevada e nas imagens inferiores, o motor apresenta temperatura bastante inferior ao motorredutor, indicando um problema neste último. Fonte: Fluke®

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MANUTENÇÃO PREDITIVA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Dentre as diversas aplicações possíveis para a termografia no meio agrícola, aquela voltada à manutenção de máquinas agrícolas é promissora. As manutenções realizadas em máquinas agrícolas podem ser enquadradas em ao menos três categorias: preventiva, corretiva e preditiva. As manutenções preventivas são aquelas realizadas em função de um calendário preestabelecido, usualmente embasado em número de horas de operação, para a realização de diversas atividades de manutenção desde inspeção, reapertos e lubrificação até a troca de componentes. É uma estratégia de manutenção embasada, portanto, em dados de projeto que prevê uma durabilidade mé-


dia para componentes e desse modo atua-se independentemente do desgaste ou quebra. A manutenção corretiva é realizada nas ocasiões em que, por falta da preventiva ou por algum fator inesperado, ocorre a interrupção do funcionamento do equipamento ou o mesmo ocorre apenas de modo parcial, levando à redução pronunciada do desempenho. Usualmente esse tipo de manutenção leva a paradas maiores, podendo gerar gastos expressivos tanto diretos como indiretos. A manutenção preditiva pode ser entendida como aquela que é realizada quando se identifica, através de procedimentos bem definidos, o momento em que é necessária a realização de alguma atividade de manutenção. Se bem conduzida é mais econômica que as demais e permite uma maior disponibilidade dos equipamentos, pois oferece alguma flexibilidade para a realização de paradas em momentos em que as máquinas não são utilizadas. Ela é embasada, portanto, na coleta de informações através de instrumentos e a comparação dessas informações com valores de referência, indicati-

vos de desgaste ou quebra iminente. O exemplo mais comum nas máquinas agrícolas é o monitoramen-

to da qualidade do óleo lubrificante do motor. Através de amostragens periódicas e análises para determinação de diversos compostos químicos e presença de impurezas é possível determinar se é chegado o momento de realizar a troca e mesmo o estado de desgaste do motor. Ao permitir a identificação de um dos sinais que as máquinas usualmente apresentam quando o seu funcionamento não é adequado, ou seja, a elevação da temperatura, a termografia auxilia na realização de manutenções preditivas. Quando do uso para identificar problemas em máquinas, o que se buscam são pontos com diferenças grandes de temperatura. Em muitas situações, principalmente

Aplicações das imagens Diversas aplicações da utilização de imagens termais no universo dos sistemas mecanizados podem ser vislumbradas, como: • Eficiência dos sistemas de arrefecimento: trocadores de calor, ventoinhas, identificação de vazamentos e pontos de restrição ao fluxo e mesmo entupimento; • Pontos de restrição ou pressão excessiva em mangueiras de óleo; • Nos circuitos elétricos, falhas em conexões, superaquecimento de componentes, deficiência em trocadores de calor; • Falta de lubrificação ou desgaste pronunciado em mancais, rolamentos, cabos, correntes, árvores; • Desalinhamento entre árvores e eixos: polias, correias; • Conforto do operador: pontos com excesso de calor no posto de operação, fluxo e temperatura do ar-condicionado; • Riscos de incêndio em colhedoras na colheita de grãos e fibras em período seco.

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Leandro M. Gimenez, Esalq

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Fotos Leandro M. Gimenez

em campo, quando a temperatura do ambiente pode mudar e quando há exposição à radiação solar, é necessário utilizar uma abordagem de comparação. Assim, em uma máquina que apresente diversos mancais realizam-se mensurações em todos para averiguar a ocorrência da diferença entre eles e da diferença entre a temperatura do mancal e a dos componentes imediatamente ao redor. Muitos dos problemas podem ser identificados dessa forma, sem necessariamente atentar para o valor absoluto da temperatura. Outras vezes há valores de referência bem definidos, como é o caso da temperatura de operação de óleo, motores a combustão, bombas e outros componentes. Na Figura 3 são apresentadas algumas imagens termais obtidas de tratores. Além da própria manutenção preditiva das máquinas, a termografia pode ser empregada para assegurar o uso adequado de alguns insumos cuja aplicação se dá através das máquinas. Por exemplo a temperatura da calda armazenada em reservatórios de pulverizadores de barras ou acoplada em semeadoras ou mesmo das sementes e mudas pode ser obtida. Muitos produtos biológicos não podem ter sua temperatura oscilando além de certos limites. Este tipo de aplicação é mais simples pois há valores limites preestabelecidos. Diversos equipamentos estão disponíveis para a realização de termografia em máquinas, havendo aqueles para inspeções rápidas, que podem inclusive ser acoplados em smartphones até câmeras para análises mais detalhadas de componentes. Uma câmera termal capaz de atender uma ampla gama de aplicações tem custo ao redor de R$ 5.000,00, valor que pode ser bem inferior ao oriundo da quebra de algum componente por erros na manutenção. Em nosso grupo temos buscado desenvolver estratégias para o uso da termografia, a técnica apresenta grande potencial na área de máquinas agrícolas sendo, entretanto, sugerida a realização de treinamentos dos responsáveis pela atividade. .M

Exemplos de uso da termografia em tratores agrícolas. Em A, trator sem plataforma em vista lateral no lado esquerdo, no direito detalhe da temperatura elevada na porção que fica entre as pernas do operador. Em B, vista a partir da posição de operação em trator com cabine nas condições em que o ar-condicionado estava em funcionamento à esquerda, e quando o mesmo foi desligado. Em C são apresentados componentes do motor que estava em funcionamento, na esquerda bicos injetores e à direita bomba injetora. Em D são apresentados o eixo da TDP, demonstrando a distribuição de calor de forma distinta e na direita uma bomba injetora, que também tem temperatura distinta em suas extremidades. À esquerda é apresentado um trocador de calor que possuía algumas obstruções ao fluxo de ar da ventoinha e na direita uma tomada do sistema hidráulico. Fonte: Própria/Autor


PULVERIZAÇÃO

Atenção na aplicação

Charles Echer

Pesquisa mostra que o nível de conhecimento dos operadores para a aplicação de defensivos agrícolas não é adequado e que há desconhecimento de noções básicas relacionadas ao uso destes insumos e à segurança operacional, fazendo com que um grande número de propriedades rurais esteja em desacordo com a NR 31

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Norma Regulamentadora 31 (NR 31) se aplica a quaisquer atividades da agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura, com o objetivo de verificar as formas de relações de trabalho e emprego, bem como o local de realização das atividades. A exposição do trabalhador aos riscos à sua saúde pelo desempenho do trabalho também está relacionada às NRs 9, 15 e 17. É importante destacar que há diversas formas de alertar os trabalhadores rurais dos riscos relacionados às atividades que desempenham, onde a melhor e mais eficaz está relacionada ao treinamento e/ou capacitação dos trabalhadores. No que diz respeito à aplicação de agroquímicos e afins, a regulamentação estabelece duas classes: os trabalhadores expostos diretamente e os expostos indiretamente. Os que sofrem exposição direta são os trabalhadores responsáveis pelo preparo de calda ou os operadores de máquinas destinadas à aplicação de agroquímicos. Já os trabalhadores com exposição indireta podem ser considerados aqueles que desenvolvem

suas atividades em ambientes onde se armazenam estes produtos, envolvendo-se em ao menos uma das etapas, onde podemos citar como exemplo, a pessoa responsável pelo controle do estoque previamente à sua comercialização. Conforme descrito na NR 31, o treinamento das pessoas envolvidas deve ser realizado aos trabalhadores expostos diretamente em atividade formal, com carga horária de 20 horas, sendo um máximo de oito horas por dia, e estas realizadas obrigatoriamente durante o expediente de trabalho. O curso para o treinamento dos trabalhadores deve conter informações sobre sinais de intoxicação, identificação de rótulos, sinais e símbolos, medidas de higiene, formas de exposição das pessoas aos produtos, noções de primeiros socorros e uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Os empregadores têm por obrigação fornecer, exigir a utilização e descontaminar os EPIs após a utilização pelos trabalhadores. Como forma da garantia do fornecimento dos EPIs, o empregador deve armazenar os recibos de entrega assinados

pelo trabalhador, em que devem ser especificadas as características do equipamento fornecido e a data de entrega. Além disso, outra questão importante está relacionada ao armazenamento dos agroquímicos e à eliminação dos resíduos (limpeza do equipamento), após o uso. Para o armazenamento dos produtos deve ser construída uma edificação sólida, de preferência em alvenaria, com acesso restrito somente aos trabalhadores que receberam treinamento, que seja provida de ventilação, identificada com símbolos de advertência, situadas a mais de 30 metros das habitações e que seja possível sua limpeza e descontaminação. Desta forma, com o objetivo de realizar um levantamento sobre o atendimento da NR 31, no que diz respeito ao manejo e à aplicação de agroquímicos, integrantes do Laboratório de Agrotecnologia (Agrotec), do Núcleo de Ensaios de Máquinas Agrícolas (Nema), da Universidade Federal de Santa Maria, realizou uma pesquisa. Este levantamento se deu pela utilização de um questionário elaborado para avaliar o conheci-

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Jacto

Levantamento mostrou que 85,7% dos operadores entrevistados utilizam o EPI

mento dos operadores, onde a aplicação do mesmo foi realizada juntamente a 56 trabalhadores rurais que desempenham a atividade de pulverização. A abrangência desta pesquisa se deu em nove municípios das regiões da Fronteira Oeste e Central do estado do Rio Grande do Sul, contemplando uma área cultivada de, aproximadamente, 21.500 hectares. Ao serem questionados sobre itens da NR 31, pode-se constatar que em 62,5% dos casos, os operadores receberam orientação sobre a aplicação de agroquímicos e, em 55,4%, também receberam informações sobre o armazenamento dos produtos utilizados (Figura 1). Foi constatado que 40% dos operadores que receberam orientações, realizaram o curso de acordo com o período de duração mínima, onde destaca-se o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) com, aproximadamente, 41%, de cursos ministrados para estes trabalhadores. Resultados interessantes foram obtidos por pesquisadores do Agrotec ao avaliarem o nível de conhecimento dos operadores no que diz respeito à aplicação, ao manuseio e ao armazenamento dos agroquímicos. Estes puderam constatar que os entrevistados, os quais não haviam realizado curso sobre aplicação segura de agroquímicos, tiveram 46% de acerto nos questionamentos realizados pelos pesquisadores. No entanto, aqueles que realizaram cursos com duração inferior a 20 horas/aula, acertaram 50% do questionário, e operadores que participaram de cursos e treinamentos, com período igual ou superior a 20 horas/aula, atingiram 75% de acertos. É importante salientar que, após analisar as respostas obtidas pela aplicação deste questionário, pode-se afirmar que mesmo os operadores que realizaram treinamentos sobre aplicação segura de agroquímicos não souberam responder corretamente todas as questões que compuseram a pesquisa a qual reunia perguntas sobre a norma. No que se refere ao conhecimento das formas de exposição direta e indireta de agroquímicos, dos sintomas de intoxicação e medidas de primeiros socorros, foi relatado que 60,7% dos entrevistados possuem conhecimento destes itens e como deve ser realizado o procedimento, caso sejam intoxicados. Ao levantarem-se informações sobre os equipamentos de proteção individual, constatou-se que 85,7% dos operadores utilizam

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o EPI, destes, 82,1% são fornecidos pelo proprietário; porém, somente 66,1% receberam orientações sobre o uso do mesmo, o que se torna um problema, principalmente no que se refere ao procedimento de vesti-lo e retirá-lo, bem como a forma adequada de descontaminação do EPI. Considerando ainda a questão de descontaminação dos EPIs, foi observado que dos 77,5% dos casos em que os mesmos são descontaminados, em 44,7% das ocorrências são os próprios operadores que realizam a descontaminação, ou seja, em desacordo com as premissas descritas na NR 31, onde descreve que o empregador é o responsável pela descontaminação do EPI. No que diz respeito ao manejo de agroquímicos, seguindo a descrição da NR 31, é vedado o manejo deste tipo de produto por menores de 18 e maiores de 60 anos, assim como mulheres em estado de gravidez. Sendo assim, foi constatado que em 100% dos casos não havia menores de 18 anos desempenhando atividades relacionadas ao manejo ou aplicação de agroquímicos, porém em 7,1% dos acontecimentos o manejo e as aplicações eram desempenhados por pessoas maiores de 60 anos. Quando realizada a aplicação de produtos químicos em uma área agrícola, há necessidade de se respeitar o período de reentrada, o qual vai depender do produto pulverizado, porém em 8,9% dos casos, foi apurado que, durante a pulverização, há pessoas que ingressam na área, e somente em 5,4% dos feitos respeita-se o período de reentrada e que na maioria dos relatos, as reentradas se davam aos dois e quatro dias após a aplicação (21,4% cada). Ao final das pulverizações é necessário que os equipamentos de aplicação sejam lavados e descontaminados, sendo que este procedimento deve ser realizado em local que possibilite o destino adequado dos resíduos. Da pesquisa pode-se observar que em 94,6% das circunstâncias os pulverizadores são lavados, no entanto, somente em 37,7% utilizam algum tipo de produto para descontaminação e, destes, apenas 25% utilizam produtos agrícolas específicos (neutralizadores). A média de lavagem observada foi de 5,6 vezes ao ano, sendo que, em 7,1% dos relatos, estas são realizadas no reservatório de água destinada à irrigação das culturas (açude), 12,5% efetuadas na própria área tratada e 75% são executadas na sede da propriedade. Cabe ressaltar que em nenhuma propriedade visitada, havia um local apropriado para lavagem dos pulverizadores agrícolas e destino adequado dos resíduos remanescentes das aplicações, o que se torna um grave problema ambiental, principalmente relacionado à possível contaminação do lençol freático. Salienta-se, ainda, que em 48,2% dos casos, a fonte de água para preparo da calda tem origem em poço tubular profundo (artesiano ou semiartesiano), o que pode ser um problema para a qualidade da aplicação se a concentração de monóxido de cálcio for elevada, podendo reduzir a eficácia do produto utilizado pela possível ocorrência de reações químicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a análise dos conhecimentos adquiridos pela pesquisa, pode-se concluir que o nível de conhecimento dos operadores não é adequado para esta importante tarefa. Há demonstração clara de desconhecimento das noções básicas relaciona-


Figura 1 – Avaliação dos itens relacionados à Norma Regulamentadora NR - 31 Utiliza algum produto para lavagem? Realiza a lavagem do pulverizador?

62,3%

37,7%

5,4%

94,6%

Durante a aplicação alguma pessoa entra na área tratada?

91,1%

8,9%

Manejo de agroquímicos por maiores de 60 anos?

92,9%

7,1%

100,0%

Manejo de agroquímicos por menores de 18 anos? 22,4%

Após o uso do EPI o mesmo é descontaminado?

33,9%

Recebeu orientação sobre o uso do EPI?

66,1%

17,9%

O mesmo é disponibilizado pelo proprietário? Utiliza equipamentos de proteção individual?

77,6% 82,1%

14,3%

85,7%

Conhece os sintomas de intoxicação e primeiros socorros?

39,3%

60,7%

Conhece as formas de exposição direta e indireta aos agroquímicos?

39,3%

60,7%

44,6%

Recebeu orientação para armazenar agroquímicos?

55,4%

37,5%

Recebeu orientação para aplicar agroquímicos? 0%

20%

62,5% 40%

60%

80% Não

das ao uso destes insumos agrícolas e à segurança operacional. Apesar dos avanços tecnológicos obtidos no setor primário, ainda há falta da difusão do conhecimento no que se refere à aplicação de defensivos

agrícolas, uma vez que muitos operadores ainda executam atividade de aplicação de produtos químicos sem o treinamento formal, resultando em um elevado percentual de propriedades rurais em desa.M cordo com a NR 31.

100% Sim

Alfran Tellechea Martini, José Fernando Schlosser, Marcelo Silveira de Farias e Gilvan Moisés Bertollo, Nema – UFSM


CAPA

A escolha dos 105cv aos 115cv Comparamos as características construtivas dos sete modelos de tratores com motorização entre 105cv e 115cv comercializados no Brasil, faixa de potência cada vez mais procurada pelos produtores rurais

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D

evido à grande atenção que os leitores da Revista Cultivar Máquinas dão aos comparativos que foram feitos ao longo da história da revista, decidimos comparar tratores de uma das faixas de potência mais vendidas no nosso País. Como critério de escolha dos modelos decidimos pela potência máxima declarada pelo fabricante, corrigida para o padrão ISO. Para tentar obter um enquadramento justo e adequado ao mercado atual, tomamos toda a oferta nacional de tratores deste ano e a dividimos em categorias, levando em conta a potência informada pelo fabricante, corrigido o valor para a norma ISO TR 14396. Para tentar enquadrar melhor as classes e comparar modelos que efeti-

vamente competem entre si pelo mercado, consideramos a variação de potência limitando os tratores em agrupamentos que consideram uma dispersão de até 20% entre a menor e a maior potência corrigida e a capacidade de tracionar um número igual de linhas de semeadura, levando em conta um valor de referência de consumo de potência de 14cv por linha. Aplicando-se este critério obteve-se uma categoria uniforme com potência de motor entre 105cv e 112cv, composta pelos modelos: Budny BDY10540 e LS Tractor Plus 100 (105cv); New Holland 7630 (110cv); John Deere 6115J, MF 6711 Valtra A114 (111cv) e Landini Landforce 120 (112cv). A potência apresentada entre parêntesis já é a corrigida para a norma de referên-

cia, podendo ser diferente daquela divulgada nos materiais comerciais, os quais podem utilizar como referência outras normas, de acordo com a opção dos fabricantes e seus fornecedores de motores. Para o enquadramento nesta classe, as diferenças de potências corrigidas apresentaram variação de 9% a 13%, entre a maior e a menor potência de motor. Todos os modelos enquadrados estão dimensionados para tracionar oito linhas de semeadura, pelo referencial utilizado. Os valores de potência foram retirados do Anuário de Tratores 2019 da Revista Cultivar Máquinas, que é um compilado das informações comerciais dos modelos fabricados e comercializados no Brasil e revisado pelos próprios fabricantes.

O John Deere 6115J tem motor de 4 cilindros e 111cv Landini

Os motores que equipam os modelos escolhidos são o MWM modelo TD 229-4 do Budny BDY-10540, o Perkins modelo 1104D-44TA do LS Plus 100, o FPT modelo NEF MAR-1 do New Holland 7630, que é o mesmo de Landini Landforce 120, porém com tratamento de emissões, o John Deere modelo Power Tech 4045 PTE do John Deere 6115J e o AGCO Power modelo MD 44CW3, que equipa os modelos MF 6711 e Valtra A114. Todos estes modelos avaliados possuem motor de quatro cilindros. Os valores de potência corrigida vão dos 105cv (Budny BDY10540, LS Tractor Plus 100), 110cv (NH 7630), 111cv (John Deere 6115J, MF 6711 e Valtra A114) aos 112cv (Landini Landforce 120). Reiteramos que estes valores são os divulgados pelos fabricantes, com exceção do Budny que não explicita norma de divulgação do resultado, porém o fabricante do motor (MWM) divulga que a sua referência é a norma ISO TR 14396. Infelizmente, o fabricante Budny não divulga o valor de torque. Para muitos especialistas este valor é, inclusive, mais importante que o próprio valor de potência, pois em operações pesadas o torque do motor é decisivo em uma comparação. No entanto, o fabricante de motores MWM divulga que os seus motores da série 229229-4T, com 3,92 litros e quatro cilindros, apresentam potência de 102,9cv a 2.400rpm e torque de 373Nm a 1.500rpm. O motor MWM do Budny de quatro cilindros apresenta volume deslocado de 3.922cm3, o LS Tractor Plus 100, o MF 6711 e o Valtra A114 possuem 4.400cm3, os motores FPT que equipam o

John Deere

Quando o motor define a compra

Landini Landforce 120 tem motor FTP de 112cv

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New Holland

lação entre o volume deslocado pelo motor e a potência corrigida, os melhores valores, portanto numericamente menores, são de 37,4cm3/cv para o motor MWM do Budny BDY-10540, 39,6cm3/cv para os modelos Massey Ferguson MF 6711 e Valtra A114, 40,5cm3/cv para o John Deere 6115J, 40cm3/cv para o Landini Landforce 120, 40,8cm3/cv para o New Holland 7630 e 41,9cm3/cv para o LS Tractor Plus 100. Esta análise de eficiência na produção de potência significa apenas que do motor está sendo obtida mais potência em relação ao número de cilindros e ao volume deslocado, não sendo avaliado se o motor está próximo ao seu limite mecânico de resistência ou não.

O New Holland 7630 tem motor com 110cv de potência Valtra

New Holland 7630 e o Landini Landforce 120 possuem 4.485cm3 e o John Deere 6115J tem 4.500cm3. Todos os motores desta classe utilizam turbo compressor. A injeção eletrônica de combustível como equipamento standard está presente no John Deere 6115J, no Massey Ferguson MF 6711 e no Valtra A114. Quando se analisam parâmetros de eficiência de motores, se verifica que quanto à relação potência por cilindro os valores são bem próximos - Budny BDY-10540 e LS Tractor Plus 100 com 26,3cv/cilindro, New Holland 7630 com 27,5cv/cilindro, John Deere 6115J, Massey Ferguson MF 6711 e Valtra A114 com 27,8cv/cilindro e Landini Landforce 120 com 28cv/cilindro. Quando a comparação é feita pela re-

O Valtra A114 tem motor AGCO Power de 110cv de potência

Tabela 1 - Resumo das principais especificações técnicas dos motores dos sete modelos de tratores comparados Marca/Modelo Especificações

Budny

John Deere

Landini

técnicas

BDY10540

6115J

Marca

MWM

Motor

Desempenho Índices

LS Tractor Massey Ferguson New Holland

Valtra

Landforce 120

Plus 100

MF 6711

7630

A114

John Deere

FPT

Perkins

AGCO Power

FPT

AGCO Power

Modelo

TD 229-4

4045 PTE

NEF 4

1104D

44CW3

NEF MAR1

44CW3

Cilindros

4

4

4

4

4

4

4

Volume deslocado

3922

4500

4485

4400

4400

4485

4400

Potência informada

105

115

112

105

115

110

115

Potência corrigida

105

111

112

105

111

110

111

Torque

-

430

525

416

417

528

432

Relação cv/cilindro

26,3

27,8

28,0

26,3

27,8

27,5

27,8

Relação cm /cv

37,4

40,5

40,0

41,9

39,6

40,8

39,6

3

Tabela 2 - Resumo das principais especificações técnicas dos sistemas de transmissão dos sete modelos de tratores comparados

Marca/Modelo Especificações técnicas Embreagem

Transmissão

Opcionais

34

Budny

John Deere

Landini

LS Tractor

BDY10540

6115J

Landforce 120

Plus 100

Massey Ferguson New Holland MF 6711

7630

A114

Acion.

Mecânico

Hidráulico

Mecânico

Mecânico

Mecânico

Mecânico

Eletro-hidráulico

Tipo

Dupla

Multidisco em

Monodisco

-

Monodisco

-

Multidisco em

a seco

Valtra

a seco

banho de óleo

a seco

Nome

-

SyncroPlus

-

Synchro Shuttle

Syncromesch

-

banho de óleo Syncromesch

Tipo

Engrenagens

Totalmente

Sincronizada

Sincronizada

Sincronizada

-

Sincronizada

deslizantes

sincronizada

Marchas

10x2

12x4

16x16

12x12

12x12

8x2

12x12

Reversor

-

-

Mecânico

Mecânico

Mecânico

-

Mecânico

Redutor

Não

Sim

Não

Sim

Sim

Sim

Sim

Marchas

-

-

-

24x24

24x24

24x6

-

Reversor

-

-

-

-

Eletro-hidráulico

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Eletro-hidráulico Eletro-hidráulico


LS Tractor Massey Ferguson

O tipo de embreagem varia entre os modelos comparados. Os tratores John Deere 6115J e Valtra A114 usam embreagem multidiscos embebidos em óleo. O conjunto funciona dentro do óleo da transmissão, por isso é mais suave o acionamento e tem maior vida útil. Já os modelos MF 6711 e Landforce 120 possuem disco simples a seco, isto é, apenas um disco em contato direto com o platô e o volante do motor, dentro da capa seca. A informação do tipo não está disponível para os modelos da LS nem da New Holland. A embreagem do modelo BDY 10540 é dupla, também conhecida como de duplo estágio a seco, ou seja, um disco serve à embreagem e outro à TDP. Quanto ao acionamento, a grande maioria é mecânico, apenas o trator 6115J possui acionamento hidráulico, embreagem PermaClutch, e o modelo da Valtra é eletro-hidráulico, chamado de HiShift. Quanto ao diâmetro e ao material do disco de embreagem, existem poucas informações. Os modelos Plus 100 da LS Tractor e Landforce 120 da Landini possuem 330mm de diâmetro e o modelo 7630 da New Holland, 356mm. Os materiais variam: orgânico na versão standard do Plus 100 e cerametálico como opcional; orgânico ou cerametálico no trator 7630; e de metal sinterizado no trator 6115J da John Deere. Ao analisar as transmissões utilizadas pelos tratores em comparação, com exceção do modelo BDY 10540, que possui a transmissão de engrenagens deslizantes, conhecida como caixa seca, os demais modelos contam com transmissões sincronizadas. Algumas marcas atribuem nomes comerciais às transmissões: Synchro Shuttle da LS, SyncroPlus da John Deere, Syncromesch da Massey Ferguson e da Valtra. Todas as transmissões são mecânicas, porém no tipo sincronizada as marchas podem ser selecionadas com o trator em movimento, já que anéis sincronizadores acertam a velocidade angular das engrenagens a serem acopladas. Já na caixa seca, de engenharia mais simples, contudo bastante eficiente, a marcha é selecionada antes do início do trabalho, sendo necessária a parada do trator para que se efetue a troca de marchas. O número de marchas varia entre os modelos, porém três tratores (LS Plus 100, MF 6711 e A114) são disponibilizados com 12 marchas à frente e 12 à ré. Estes modelos têm o que chamamos de reversor ou inversor mecânico, que proporciona o mesmo número de marchas à frente e à ré, o que parece ser uma tendência atual. O modelo Landforce 120 da Landini também conta com reversor, porém com 16 marchas à frente e 16 à ré. Ainda, sobre o número de marchas, o trator da Budny possui dez marchas à frente e duas à ré, porém conta com opção de aumentar para 20 marchas à frente e quatro à ré. O modelo 7630 da New Holland conta com oito marchas à frente e duas à ré, também com opção de aumentar para 16x4 com o uso da transmissão Dualpower, que são marchas sincronizadas independentes do pedal da embreagem,

John Deere

Escolhendo pela transmissão

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New Holland

mas sim de um botão. O modelo 6115J possui 12 marchas à frente e quatro à ré, totalmente sincronizadas. Como opcional, o fabricante dispõe de uma transmissão hidrostática, chamada de PowrQuad, com 16x16. Neste tipo de transmissão, é

possível trocar de marchas sem a necessidade de parar o trator ou acionar o pedal da embreagem, devido às embreagens formadas por vários discos, que se unem quando chega óleo sob pressão. A forma de acionamento do reversor

destes tratores parece ser consenso entre os fabricantes. Todos possuem acionamento mecânico, ou seja, por meio de uma alavanca, geralmente posicionada do lado esquerdo do painel do trator. Como opcional, em quase todos os modelos, exceto no trator da Landini, este acionamento passa a ser eletro-hidráulico, que dispensa o uso de embreagem. Além do reversor ou inversor, como opcional, quase todos os fabricantes disponibilizam em seus modelos o chamado redutor ou super-redutor ou creeper. É um sistema que amplia o número de marchas do trator, mais pares de engrenagens, que faz com que o mesmo se desloque em velocidades muito baixas, inferiores a 1km/h. Em alguns casos, como na horticultura e fruticultura, este dispositivo é de grande utilidade.

Sistema hidráulico para todos os serviços O sistema hidráulico em um trator refere-se ao sistema de transmissão de força e movimento através de um fluido, na prática óleo (fluido quase incompressível). O princípio físico baseia-se na transmissão de energia proveniente do motor de combustão, de uma bomba hidráulica para um ou mais atuadores de acionamento (cilindros, motores). Nos tratores, existem duas formas construtivas básicas de fornecer aos atuadores a energia hidráulica, o chamado centro aberto ou centro fechado. É impressionante a pouca informação oferecida pelos fabricantes brasileiros em seus materiais de divulgação em relação ao que se divulga na Europa. É muito estranho encontrar a informação resumida a uma folha de especificações sem identificar os detalhes de um modelo, apenas fornecendo informações excessivamente comerciais e pouco técnicas. Mesmo com estas dificuldades, se verifica que os tratores em análise têm muitas semelhanças em seu sistema hidráulico. Quanto à forma construtiva, se centro aberto ou fechado, verifica-se que todos os tratores comparados têm circuito hidráulico de centro aberto e apenas um modelo, o John Deere 6115 J, oferece o centro fechado como opcional, enquanto o modelo da Budny não menciona nada quanto a este aspecto. A vazão do sistema varia de um mínimo de 49 litros por minuto ao máximo de 100 litros por minuto (como opcional no modelo John Deere 6115J). A informação não está disponível para o modelo da Budny. A pressão máxima mantém um comportamento geral semelhante entre os modelos comparados, ao redor de 195 bar a

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Sistema hidráulico do Valtra A114

Valtra


Tabela 3 - Resumo das principais especificações técnicas dos sistemas hidráulicos dos sete modelos de tratores comparados Marca/Modelo Especificações

Marca

Budny

LS Tractor

Técnicas

Modelo

BDY10540

Plus 100

Tipo

CA

Q (L/min)

-

61,6

-

190

Circuito hidráulico

P (bar) Capacidade

New Holland John Deere Massey Ferguson

22

Categoria

II

Landini

A114

Landforce 120

57 (98 opc.)

57 (98 opc.)

66

200

200

200

-

II (**)

II

3800 (***)

4950

6115J

MF 6711

CA (CC opc)

CA

49 (80 opc.) 65 (100 opc.) -

Transmissão Transmissão

cárter (L)

Valtra

7630

-

55

Capacidade

2500

3600

3030

elevação nas

(3800opc.)

(3800opc)

(4800opc)

III

Capacidade

pontos

elevação a 610

4500

4260

-

-

rótulas kg (*) Elevador três

4950

1840

-

-

(2910opc)

mm kg Comando externo Controle Serviços

Posição, profundidade, misto Posição, profun-

Posição, profundidade, misto

Nº VCRs

2

Tipo

Hidrostática

2 (3opc.)

-

24,2

35

e controle transporte 2 (3opc.)

2 (3opc.)

didade, misto 3

externos Vazão (L/min)

29

1,4

200 bar, estando esta informação indisponível para os modelos da New Holland e da Landini. Todos os modelos comparados possuem direção hidrostática. Somente o trator Budny modelo BDY 10540 informa claramente que possui um depósito de óleo independente para o circuito de direção, com 1,4 litro de capacidade. O restante dos fabricantes não informa sobre este aspecto, presumindo-se que todos usem o óleo da transmissão no circuito de direção. A maioria dos fabricantes usa uma bomba independente para alimentar o circuito de direção. O fluxo desta bomba é semelhante para todos os tratores que a especificam variando de 24 litros por minuto do LS Tractor Plus 100 a 35 litros por minuto no NH 7630. Esta informação não é disponibilizada para os modelos da Budny, John Deere, Massey Ferguson e Valtra. Com relação ao elevador hidráulico, deve-se reivindicar aos fabricantes que ofereçam em suas informações como a capacidade de elevação foi calculada. Não é válido informar um valor se não for esclarecido como essa medida foi realizada: se a massa utilizada para a medida foi colocada na rótula ou a 610mm da rótula ou se o número corresponde a um setor da circunferência de elevação ou pelo contrário, aconteceu durante todo o percurso. Vale ressaltar que os modelos New Holland 7630 e Valtra A114 oferecem os valores para a capacidade de levantamento na rótula e 610mm. A John Deere menciona a capacidade de

Cárter

Cárter

transmissão

transmissão

New Holland

Volume (L)

John Deere

Direção

Sistemas hidráulicos do John Deere 6115J (acima), New Holland 7630 (centro) e Landini Landforce 120 (abaixo) Landini

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elevação de acordo com a NBR 13145, embora, na realidade, essa norma tenha sido cancelada e substituída pela NBR ISO 789-2, de 2014. Em resumo, tentar comparar as capacidades de elevação sem saber como elas foram medidas é uma tarefa inútil, porque não seria justo, principalmente com aqueles fabricantes que detalham a metodologia utilizada. Como informação geral, as capacidades de levante no sistema hidráulico de três pontos na rótula varia de 2.500kg no modelo da Budny a 4.950kg nos modelos da Massey Ferguson e da Valtra com motor de quatro cilindros. Há um denominador comum nos elevadores, pois todos eles são da categoria II, exceto o modelo da LS, que é da categoria III. Outro ponto em comum, estranho para os dias atuais, é que nenhum

modelo possui engate rápido nos braços horizontais. Destaca-se que apenas a John Deere oferece a opção de adquirir o trator sem elevador traseiro, com opção, se for do interesse do cliente de montá-lo mais tarde, na concessionária autorizada. O controle do elevador tem as funções usuais: posição, profundidade e mista. E apenas os modelos do grupo AGCO, o Massey Ferguson 6711 e o Valtra A114 oferecem controle externo a partir da aba do para-lamas traseiro direito. Quanto às válvulas de controle remoto (VCRs) para serviços externos há muita semelhança entre todos os modelos comparados. Todos oferecem duas ou três saídas de ação dupla, com controle mecânico das válvulas.

Posto de operação Cabine do trator John Deere 6115J

John Deere

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A disposição correta e o dimensionamento dos componentes do posto de operação dos tratores agrícolas têm se mostrado itens importantes para melhorar a qualidade ergonômica e o conforto oferecidos para o operador, diminuindo a ocorrência de acidentes e de doenças ocupacionais, além de aumentar a produtividade no trabalho. Quanto ao posto de operação e o que ele oferece de conforto ao operador, os modelos confrontados, em sua maioria, são do tipo plataformado com opcional de cabine, entretanto, o modelo 7630 da New Holland é o único que apresenta posto de operação do tipo semiplataformado. Portanto, também, difere dos demais quanto à posição das alavancas de marcha e de grupos, as quais se localizam entre as pernas do operador. Vale ressaltar que para os modelos 7630 e BDY 10540 a cabine não é um opcional oferecido pelos fabricantes dos tratores. Os modelos pertencentes ao grupo AGCO (MF 6711 e Valtra A114) apresentam semelhanças na constituição dos postos de operação. Quando cabinados, os principais comandos encontram-se dispostos ao lado direito do operador, diferindo dos modelos do tipo plataformado quanto à

posição da alavanca de grupos, que passa a se situar à esquerda do operador, mesmo local escolhido pela LS Tractor no modelo Plus 100. Outra mudança que ocorre dos modelos cabinados para os plataformados do grupo AGCO é a posição do acelerador de mão, que passa do para-lama direito para o painel, ao lado direito da coluna de direção, assim como no modelo 7630 da New Holland. O acelerador de mão posicionado no para-lama direito está presente nos modelos Budny BDY 10540, John Deere 6115J, Landini Landforce 120 e LS Plus 100. Objetivando maior conforto, segurança e produtividade durante a jornada de trabalho, os fabricantes dos modelos A114, MF 6711, Landforce 120 e Plus 100 apresentam acionamentos eletro-hidráulico para a tração dianteira auxiliar (TDA) e bloqueio do diferencial. Já os modelos 7630 e 6115J apresentam o acionamento eletro-hidráulico somente para a TDA, sendo o bloqueio do diferencial realizado através de acionamento mecânico por meio de pedal. O modelo BDY 10540 é o único dos tratores analisados que apresenta os acionamentos da TDA e do bloqueio do diferencial mecânico, através de alavanca e pedal, respectivamente.


Ademais, o acionamento eletro-hidráulico se faz presente na tomada de potência (TDP) dos modelos A114, MF 6711, 6115J, Plus 100 e Landforce 120. Os modelos BDY 10540 e 7630 apresentam TDP de acionamento mecânico por meio de alavanca, as quais se localizam, respectivamente, do lado direito e esquerdo do posto do operador. Além de que, a maioria dos modelos apresentam TDP com velocidade angular de 540rpm e 1.000rpm, e alguns modelos como o MF 6711 e A114 podem apresentar TDP econômica. A TDP econômica caracteriza-se pelo seu acionamento a um regime de rotação menor no motor do trator, acarretando redução do consumo de combustível. Outro ponto a ser destacado é a posição de comando do sistema de levante hidráulico. Todos os modelos apresentam os comandos dispostos do lado direito do posto do operador, na forma de alavancas para os modelos BDY 10540, Landforce 120, Plus 100, 7630 e na forma de controles eletro-hidráulicos para os modelos 6115J, MF 6711 e A114. O mesmo ocorre para as válvulas de controle remoto (VCR), acionadas por meio de alavancas e dispostas no lado direito do posto do operador em todos os modelos dos tratores comparados. O freio de estacionamento da maioria dos modelos analisados é do tipo in-

Landini

New Holland

Posto do operador do Landini Ladforce 120

dependente e encontra-se posicionado ao lado esquerdo do posto do operador. Nos modelos BDY 10540 e 7630, o freio de estacionamento está relacionado aos freios do trator, e são acionados por meio de alavancas e pressionando os pedais do freio. No BDY 10540 a alavanca está posicionada abaixo do volante e no 7630 está próxima à alavanca de grupos. Para desarmar o freio de estacionamento deve-se somente apertar os pedais e retornar à posição da alavanca. Já o freio de estacionamento do 6115J está ligado à alavanca do reversor do trator. Todos os modelos apresentam painel simples, de boa visibilidade, apresentando tacômetro, horímetro, sinais luminosos que servem para indicar o acionamento de luzes e do freio estacionário, pressão de óleo, temperatura, TDP em funcionamento, pisca-alerta, acionamento da tração dianteira, bloqueio do diferencial,

Posto de comando do New Holland 7630

entre outras funções. O lado para subida e descida dos operadores é o esquerdo, fortemente evidenciado nos modelos, embora o modelo BDY 10540 apresente escadas de acesso em ambos os lados. É evidente que cada modelo de trator apresenta as suas particularidades, porém, de maneira geral, pode-se salientar a preocupação dos projetistas em oferecer amplo espaço, confortável e ampla área de visão para os operadores e usuários dos seus produtos.

Tecnologia embarcada para todos os gostos O fabricante John Deere disponibiliza como opcional para o modelo 6115J o piloto automático ATU 200, com nível de precisão padrão de ± 23cm ou ± 3cm, ambos com a utilização da antena StarfireTM e repetibilidade por até nove meses consecutivos. Já com os monitores Greenstar™ GS2 1800 (com uma tela de 18cm) e GS3 2630 (com tela de 26cm) fornecem monitoramento completo da máquina e gerenciamento da operação, tendo como funcionalidades gerenciamento de piloto automático AutotracTM, controle de seção, taxa variável, dentre outras diversas funcionalidades. Pode ser equipado com o monitor MPA 2500, controlando até 30 linhas de semente e fertilizante, gerenciando velocidade, produtividade e área trabalhada. Já o software

Surface Water PROTM permite traçar curvas de nível, terraços, taipas, canais e represas através do piloto automático do trator, sem uso de lasers, teodolitos ou marcações manuais. O LS Tech Unit Control é o sistema de proteção de motores e monitoramento de máquinas em campo da empresa LS Tractor, e foi matéria de capa da Revista Cultivar na edição de abril de 2018. Desenvolvido em parceria com a empresa Argentina Colven, disponibiliza como opcional ao trator Plus 100 o sistema de proteção de motores Vigia e o sistema de Telemetria Gestya. A LS Tractor está na vanguarda com a oferta de um produto que não é engessado, ou seja, é possível adquirir um trator da LS Tractor com o Vigia e Gestya, ou apenas a tecnologia para ser insta-

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John Deere

Massey Ferguson

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tura de precisão, desde a parte de fertilização conforme a necessidade de cada área, até mesmo projetando linhas de tráfego, para aumentar a produtividade e diminuir a compactação. Mas todas estas soluções não teriam relevância e funcionalidade sem o Auto-Guide™ 3000, que é o sistema de orientação e direção do grupo (piloto automático), através de sinais de satélite ou torres de transmissão RTK, podendo chegar a 2,5cm de precisão. Está disponível para instalação desde a fábrica ou pós-venda nas concessionárias. O PLMTM (Precision Land Management) é a denominação das soluções em agricultura de precisão da New Holland, sendo disponibilizado ao modelo 7630 o piloto elétrico EZ-Steer e o monitor com GPS integrado e barra de luzes EZ Guide-250. O monitor é compatível com DGPS gratuito e possui as funções de mapeamento de bordaduras, pontos, linhas, forma livre e áreas. Já o piloto elétrico possui a tecnologia de compensação de terreno T3™ que corrige continuamente o giro, a inclinação e a mudança de direção, New Holland

lada em colhedoras, caminhões e demais equipamentos existentes na propriedade, podendo fazer a gestão de todos no mesmo sistema. Tem como principais diferenciais o monitoramento e o registro de dados de pequenos tratores, geralmente com motores com injeção mecânica, em igual paridade aos sistemas modernos de injeção eletrônica. Isto permite um histórico de trabalho do trator, além da possibilidade de o gestor da frota monitorar a localização, os parâmetros da máquina e da condução em tempo real. Os tratores Massey Ferguson MF6711 e Valtra A114, contam com o sistema AgCommand®, que é um software de telemetria, utilizando sinal de telefonia celular GPRS, focado nas máquinas, permitindo saber quando sua máquina precisa de manutenção ou está se aproximando de um intervalo de revisão próximo. Além disso, é possível identificar com rapidez e começar a tratar de problemas de funcionamento logo que acontecerem. Já o Fuse® é um sistema que engloba todas as operações da propriedade rural, gerenciando máquinas (com dados do AgCommand®) destas empresas e de terceiros. Apresenta soluções para gerenciar dados agronômicos, sincronizar todo o ciclo da safra (semeadura, tratamentos fitossanitários, colheita), além de soluções de armazenagem (secagem de produto, monitoramento etc). Lançado na Agrishow 2019, o novo projeto do grupo AGCO denominado Farm Solutions, é um serviço oferecido a partir das concessionárias, destinado a transformar dados relacionados às máquinas agrícolas em informações para manejar lavouras e tornar o processo mais rentável e produtivo. Permite aplicar os principais conceitos de agricul-

usando sensores de inércia de estado sólido de três eixos para fornecer uma posição correta sobre o solo. Outros itens de tecnologia a destacar são o acionamento do sistema de levante e TDP no para-lama do Valtra A114, assim como o Vision Hoof, que é o teto de vidro desenvolvido para facilitar as operações com implementos frontais; memória de rotação do motor para retomar o trabalho depois manobras de cabeceira; integração motor e transmissão; modos de segurança para motores eletrônicos e limitador de rotação; recuperador de óleo das VCRs e visor do nível do óleo de transmissão, sem varetas. No Massey Ferguson MF6711 é interessante destacar a memória de rotação do motor para retomar o trabalho depois de manobras de cabeceira; integração motor-transmissão; modos de segurança para motores eletrônicos e limitador de rotação; recuperador de óleo das VCRs e visor do nível do óleo de transmissão, sem varetas. No trator John Deere 6115J também são notáveis o kit de retorno livre para semeadoras a vácuo; a cabine de série; utiliza chassi com coxins de borracha, absorvendo vibrações e minimizando ruídos.


Dimensões e capacidades O trator mais leve deste comparativo é o da LS Tractor, modelo Plus 100 com 3.140kg, na versão plataformada, considerando o peso de embarque. Já o trator mais pesado é o modelo 7630 da New Holland, com 5.900kg, e este mesmo trator possui a maior capacidade de peso máximo permitido, com 6.600kg. A capacidade do depósito de combustível é um dos fatores que interferem no rendimento operacional do trator, entre os modelos comparados o 6115J, da John Deere, apresentou a maior capacidade, com 240 litros, entretanto, o modelo que apresentou menor volume é o trator do fabricante Budny, modelo BDY 10450, com 160 litros. Com relação às dimensões dos tratores, a distância entre eixos variou entre o mínimo de 2.375mm e o máximo de 2.540mm, respectivamente, para o Plus 100 e o Landforce 120. Entretanto, nem todas as marcas disponibilizam estas informações. O vão livre é a distância do

nível do solo até a parte mais baixa do trator, e, novamente, os mesmos modelos apresentaram os valores limites. O primeiro modelo possui o valor mínimo mais baixo do comparativo, 465mm, e o segundo modelo possui o maior valor, 507mm. A bitola pode ser ajustada para as diferentes necessidades, variando entre os modelos, onde o mínimo encontrado no eixo dianteiro é de 1.651mm no Plus 100. No eixo dianteiro os valores máximos encontrados são dos modelos MF 6711 e A114, com 2.004mm. Este último modelo também possui o valor máximo de bitola traseira, com 2.582mm. O raio de giro é um dos fatores que interferem na capacidade de realizar manobras em um espaço pequeno, melhorando o rendimento operacional. Quanto menor for o raio de giro, mais rápidas serão as manobras, e, neste caso, o trator Plus 100 possui os menores valores entre os tratores comparados, que é de

3.500mm, e o modelo MF 6711 apresenta o maior valor, de 4.300mm. O modelo MF 6711 é o trator mais estreito e curto, com 1.925mm e 4.305mm. O trator que é mais largo e comprido é o Landforce 120, com 2.104mm e 4.790mm, respectivamente. Ao comprimento deste último trator são considerados inclusos os contrapesos. Dependendo das atividades que são realizadas com o trator, necessitam-se de máquinas altas ou baixas. Este último é o caso do trator 7630, da New Holland, que possui menor altura entre os modelos comparados, que é de 2.545mm. Entretanto, o trator mais alto é o BDY 10450, com 2.950mm, .M valor este considerando até o toldo. José Fernando Schlosser, Heliodoro Catalán, Marcelo Silveira de Farias, Rovian Bertinatto, Daniela Herzog e Jaqueline Ottonelli, Laboratório de Agrotecnologia/Nema/UFSM

Tabela 4 - Resumo das principais especificações técnicas das dimensões e capacidades dos sete modelos de tratores comparados Marca

Budny

John Deere

Landini

LS Tractor

Modelo

BDY10540

6115J

Landforce 120

Plus 100

MF 6711*

7630

A114

Altura total (mm)

2950¹

2672

2820

2753

2777

2545

2777

Bitola máx. (diant/tras) (mm)

-

-

-

1818/1851

2004/2044

1640/1760

2004/2582

4

Massey Ferguson New Holland

Valtra

Bitola mín. (diant/tras) (mm)

-

-

-

1709/1651

1468/1544

-

1604/1560

Comprimento total (mm)

4458

4567 ³

47905

4585

4305

4330

4758

Distância entre eixos (mm)

-

2400

2540

2375

2500

-

2500

Largura (mm)

2064

-

2104

6

1976

1925

-

2100

Raio de giro (mm)

-

-

-

3500

4300

-

-

Vão livre (mm)

-

-

465

507

483

-

483

Peso (kg)

3940 (plat)²

-

4291 (plat)

3140 (plat)7

-

5900

-

4421 (cab)

3606 (cab)

4856 (plat)

55008

60509

6600

605010

170

200 (plat)

180

170

4210 (cab)² Peso máximo (kg)

-

6300

7

4986 (cab) Tanque (L)

160

240

180

190 (cab) Altura com capota 2Pesos sem lastro metálico, considerando os fatores tanque cheio e um operador de 80 kg a bordo. Contrapesos dianteiros de fábrica: 4 x 22 kg = 88 kg. Contrapesos dianteiros opcionais: 8 x 22 kg. Contrapesos traseiros opcionais: 2 x 45 kg. 3Comprimento máximo (com pesos) 4Altura à cabine 5Comprimento total com contrapesos 6Largura total sem pneus 7Peso de embarque 8Peso em ordem de marcha com lastro 9Peso máximo com lastro 10Peso máximo permitido. *Dimensões se aplicam aos modelos cabinados 1

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SEMEADORAS

Bem distribuídas O tratamento de sementes, inclusive o realizado na propriedade, tem sido alternativa importante para combater as pragas iniciais na implantação da lavoura. Assim, o uso de lubrificantes sólidos, como o grafite, se faz necessário para evitar danos nas sementes no momento da implantação das culturas, mas exige cuidado pois o seu uso pode comprometer a qualidade de distribuição

A

população desejada. Os efeitos da má distribuição longitudinal das plantas refletem em menor eficiência no aproveitamento dos recursos disponíveis, como água, nutrientes e luz. O acúmulo de plantas pode provocar o desenvolvimento de vegetais de maior porte, dificultando o controle de doenças de baixeiro, plantas com menor índice de ramificação, produção individual reduzida, menor diâmetro de caule, problemas com enraizamento e, portanto, maior propensão ao Julio Pereira

Arquivo

plantabilidade tem grande importância no sistema agrícola, baseada na correta distribuição de sementes no sulco de semeadura, mantendo a uniformidade da distância entre elas, com a profundidade de deposição da semente recomendada e na

Alguns métodos de tratamento não são muito indicados

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Sementes com adição de grafite após o tratamento (esq.) e com grafite adicionado junto ao tratamento (dir.)

acamamento. Já a falha nos espaçamentos entre sementes pode facilitar o desenvolvimento de plantas daninhas. A tecnologia tem sido uma grande aliada da agricultura, na qual permite uma maior precisão, diminuindo substancialmente os erros causados na operação. Os dosadores de sementes mecânicos de disco perfurado e o dosador pneumático são os mais comuns e mais utilizados pelos produtores brasileiros. Geralmente, os dosadores de precisão mecânicos possuem a forma de discos alveolados, os quais são dispostos no fundo do reservatório de sementes, que, ao girar, alojam e transportam as sementes até a abertura de saída, liberando-as para o sulco de plantio. A qualidade do plantio está ligada intimamente com a qualidade da semente. Com o objetivo de proteção da semente e para um bom desenvolvimento inicial da planta, é realizado o tratamento de sementes no qual são aplicados revestimentos de produtos fitossanitários, como fun-


Charles Echer

gicidas e inseticidas em torno destas antes do plantio. O tratamento de semente envolve processos e produtos químicos e/ou biológicos, visando garantir a sanidade nos estádios iniciais de desenvolvimento da lavoura. O tratamento de sementes pode ser realizado de diferentes maneiras em função do volume de sementes, podendo ser na propriedade (on farm) ou tratamento de sementes industrial (TSI). O tratamento on farm foi muito difundido no Brasil e um dos primeiros equipamentos, que é utilizado até hoje, foi um tambor giratório com eixo excêntrico que proporciona rotação e movimentação das sementes e produtos. O tratamento de sementes com produtos químicos tem o objetivo de combater pragas de solo. Devido ao tratamento de sementes, ocorre a alteração da rugosidade da superfície das sementes, aumentando o ângulo de repouso e consequentemente o atrito da semente, dificultando sua movimentação no depósito e no sistema dosador, comprometendo a qualidade de distribuição ao longo do sulco de plantio. Esse problema tem maior incidência no método de tratamento on farm. Em sementes com tratamento TSI o coeficiente de atrito é menor, pois nesse método são adicionados outros tipos de produtos, que aumentam a fixação do produto químico na semente e diminuem o coeficiente de atrito das sementes. O atrito pode causar dano mecânico nas sementes, ocasionando a diminuição da germinação, levando a um plantio irregular, caracterizado pela presença de espa-

çamentos falhos e duplos. O dano mecânico pode ocasionar a morte da semente (no caso de um impacto muito forte), podendo gerar rachaduras no tegumento, facilitando o acesso de micro-organismos patogênicos, inviabilizando-a. Caso ocorra a germinação e a planta emerja, ela ficará mais fraca, portanto, terá um menor desenvolvimento e estará mais suscetível, podendo morrer, diminuindo a densidade de plantas no estande. Problemas de escoamento e atrito da semente podem ser diminuídos com a adição de lubrificante sólido, sendo o grafite o mais utilizado, por ser inerte e minimizar o coeficiente de atrito entre as sementes e no mecanismo dosador. A adição de grafite nas sementes possibilita maior fluidez das sementes na caixa da semeadora, auxilia na acomodação da semente no disco de plantio (em semeadoras com sistema dosador mecânico) e diminui a incidência de danos mecânicos nas sementes, melhorando exponencialmente a plantabilidade. O uso de grafite nas sementes é essencial, mas tanto a falta quanto o excesso de grafite podem ser prejudiciais, comprometendo a qualidade de distribuição de sementes. A dose indicada de grafite é de 2g a 4g de grafite por quilo de sementes chatas e de 4g a 5g de grafite por quilo de sementes redondas. Após o tratamento das sementes com o inseticida, espera-se a secagem das sementes e adiciona-se a quantidade de grafite necessária. Quando se fala em tratamento de sementes on farm,

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Dosador de sementes tipo ramp flow

RESULTADOS DE CAMPO

Os resultados da análise de variância e do teste de média foram significativos ao nível de 5% de probabilidade para os tratamentos propostos.

Fotos Divulgação

um dos grandes entraves encontrados é a correta homogeneização do grafite nas sementes. A adição do grafite junto com o tratamento de sementes é uma prática comumente encontrada para homogeneizar o grafite nas sementes, com a finalidade de otimizar a operação, porém não é uma prática indicada. Com base no que foi apontado, fica a seguinte pergunta: essa prática utilizada, de adicionar o grafite junto ao tratamento no sistema on farm, pode de alguma forma comprometer a distribuição longitudinal das sementes ao longo do sulco de plantio? Para tentar esclarecer esta questão, pesquisadores do Grupo de Plantio Direto (GPD) da FCA Unesp de Botucatu realizaram um trabalho no laboratório de agricultura de precisão do Núcleo de Ensaios de Máquinas e Pneus agrícolas (Nempa), com o objetivo de analisar cientificamente se o grafite junto ao tratamento de sementes on farm pode de alguma forma comprometer a distribuição longitudinal das sementes. Para esse experimento foi utilizada uma esteira simuladora de plantio com sistema de dosagem mecânica e

velocidade constante de 4km/h. Utilizaram-se duas tecnologias de dosador de sementes, sendo o sistema convencional mais conhecido como “Pipoqueira” com disco de 9mm com 90 furos e anel rebaixado de 1mm convencional e o dosador de sementes Titanium com a tecnologia de disco Ramp Flow de 9mm, com 90 furos e anel com 1mm de rebaixo da empresa J. Assy Agrícola. A densidade de semeadura adotada para esse trabalho foi de 14,8 sementes de soja por metro. A peneira da semente de soja utilizada foi a P-3 de acordo com a embalagem. O trabalho avaliou dois dosadores e dois tratamentos de grafite (adicionado no momento do TS e após a secagem da semente). Os produtos utilizados no TS On farm foram 30ml de Cruiser 350 FS, 30ml de Vitavax + Tiram e 15ml de Biomax (dose remendada para 10kg de sementes). O ponto que se difere o tratamento 1 para o tratamento 2 é o momento da adição do grafite. Sendo que no tratamento 1, a dose de grafite foi adicionada no momento do TS e no tratamento 2 o grafite foi adicionado após a total secagem da semente. Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado (DIC) durante o experimento. Para a avaliação da distribuição longitudinal das sementes foram coletadas quatro repetições de 250 espaçamentos entre sementes para cada tratamento (semente com grafite adicionado junto ao tratamento e após o tratamento) e para cada dosador (Convencional e Titanium). Para análise da diferenciação entre os tratamentos foi utilizado o teste de Tukey a 5% de probabilidade e para os índices de aceitável (0,5Xref.<Xi<1,5Xref.), duplos (≤0,5∙Xref.) e falhos (≥1,5∙Xref.). Foi utilizada a metodologia de Kurachi, (1989) e a estatística descritiva.

No disco ramp flow o grafite adicionado após o tratamento de sementes proporcionou 90,25% de espaçamentos aceitáveis

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Charles Echer

de sementes Titanium apresentou o índice de espaçamento aceitável de 79%, 12,5% de sementes falhas e 8,5% de sementes duplas. A adição do grafite após o tratamento proporcionou resultados melhores, sendo 90,25% de espaçamentos aceitáveis, 6,25% de espaçamentos falhos e 3,5% de espaçamentos duplos. Com base nos resultados obtidos podemos concluir que a adição do grafite após o tratamento da semente promoveu ganho significativo em ambas as tecnologias de dosadores de sementes, melhorando a distribuição longitudinal das sementes. Os tratamentos com o dosador Titanium apresentaram a maior quantidade de espaçamentos aceitáveis. O grafite quando adicionado junto ao tratamento de sementes do tipo on farm afeta de forma negativa a qualidade de distribuição de sementes, independendo da tecnologia de .M distribuição de sementes.

A adição do grafite durante o e maior índice de sementes falhas processo de tratamento de semen- quando comparado com a adição de te afetou diretamente a qualidade grafite após o tratamento. de distribuição, sendo que para a A tecnologia de dosador Titanium tecnologia do dosador Titanium os apresentou menor coeficiente de varesultados foram mais expressivos. riação quando comparada com o doPara o dosador convencional a sador do tipo convencional e os readição do grafite durante o trata- sultados expressivamente melhores Júlio César Santos Pereira, mento de sementes proporcionou quando comparados com o sistema Paulo Roberto Arbex Silva e um resultado de 67,25% dos espa- do dosador convencional. Nayara Francieli Parizotto, çamentos aceitáveis, se diferindo esA adição de grafite durante o traUnesp Botucatu-SP tatisticamente dos resultados apre- tamento de sementes no dosador sentados com a adição do grafite após o tratamento, sendo 81,5% de Tratamentos % de espaçamentos aceitáveis espaçamentos aceitáveis. Dosador Convencional Dosador Titanium O dosador Titanium com a tecAdição de grafite durante o tratamento 67,25 a 79,00 a nologia de disco Ramp Flow expresAdição do grafite após o tratamento 81,50 b 90,25 b sou resultados bem distintos. A adiC.V (%) 3,21 1,72 ção de grafite durante o tratamento DMS 3,29 2,52 de semente proporcionou o resultado de 79% de espaçamentos aceitáveis e a adição de Dosador de sementes Convencional C grafite após o tratamento Tratamentos Espaçamento D.P C.V Índice de aceitável de sementes proporcionou Médio (cm) (%) Falha Aceitável Duplo 90,25% de espaçamentos Adição de grafite durante o tratamento 7,29 3,97 55 17,25 67,25 15,5 aceitáveis. Adição do grafite após o tratamento 7,01 3,77 54 7,5 81,25 11,25 A tecnologia do dosador de sementes do tipo conDosador de sementes Titanium vencional proporcionou C um alto coeficiente de vaTratamentos Espaçamento D.P C.V Índice de aceitável riação. A adição de grafite Médio (cm) (%) Falha Aceitável Duplo durante o tratamento exAdição de grafite durante o tratamento 7,26 2,75 38 12,5 79 8,5 pressou menor índice de Adição do grafite após o tratamento 6,99 2,35 33 6,25 90,25 3,5 espaçamentos aceitáveis

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PULVERIZAÇÃO

Importante aliada

A aplicação de produtos químicos exige atenção especial para que a produtividade das lavouras seja maximizada e prejuízos sejam evitados. No entanto, esta operação demanda uma série de cuidados para reduzir os riscos, dentre os quais a deriva e a contaminação representam as maiores preocupações

A

s pulverizações de agroquímicos em cultivos agrícolas são realizadas para evitar que agentes causadores de danos como ervas daninhas, insetos e doenças se instalem no local e reduzam o potencial produtivo da cultura. Estas ações permitem que a lavoura se estabeleça com o má-

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ximo potencial competitivo por água, luz e nutrientes, maximizando sua produtividade. Cuidados específicos são necessários nos momentos de manuseio e de aplicação dos agroquímicos. Para o manuseio adequado é essencial que o aplicador siga todas as instruções de

segurança presentes na bula do produto. Ela contém as informações das precauções para proteção da saúde do usuário, além de indicações de primeiros socorros nos casos de intoxicação. Já a aplicação demanda cuidados para reduzir os riscos de contaminação do ambiente, do aplicador, do alimento e de


Fotos Instituto Dashen

matérias-primas. Dentre os riscos ambientais no momento da aplicação, a deriva representa uma das maiores preocupações, pois além de levar o produto para um local indesejado, reduz a quantidade de produto distribuído no alvo, podendo, assim, reduzir a eficiência de controle. O conhecimento dos fatores de segurança e qualidade que envolvem a pulverização de agroquímicos é um desafio para os profissionais envolvidos no processo. Apesar das dificuldades e incertezas diminuírem com a evolução da tecnologia de aplicação, com a melhoria das máquinas aplicadoras e com o desenvolvimento de pontas de pulverização mais seguras, evitar todas as perdas nas pulverizações ainda é um desafio.

Pressão alta e gotas finas (esq.) e baixa pressão e gotas grossas (dir.)

DERIVA

A deriva como um dos principais fatores de perda e de contaminação ambiental pode ser definida pelo movimento do produto para áreas indesejadas e pode ser ocasionada por diversos fatores. Entre eles a aplicação em condições meteorológicas inadequadas como temperatura elevada, baixa umidade relativa e ventos ausentes ou muito intensos são de elevada importância. Pontas de pulverização mal selecionadas também podem elevar a deriva, pincipalmente quando utilizadas aquelas que produzem espectro de gotas muito finas. Somam-se a isso, as aplicações realizadas com pressão operacional superior ao limite recomendado para uma de-

Diferentes modelos de pontas de pulverização Jacto

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Fotos Instituto Dashen

verização, ajudam na minimização dos prejuízos econômicos devido às perdas e à contaminação de áreas vizinhas. Vale muito também a experiência do aplicador, observando a existência de neblina flutuante ou de gotas dispersas da área tratada para outros locais. Esta ocorrência pode indicar o risco de deriva e sugerir a paralisação da atividade. Caso a continuidade da aplicação seja necessária, a ponta de pulverização deverá ser substituída por um modelo mais adequado.

ESCOLHA DA PONTA DE PULVERIZAÇÃO E DA CLASSE DE GOTAS

Diferentes modelos de termo-higroanemômetros portáteis

Pulverização com gotas grossas (A), gotas médias (B) e gotas finas (C)

terminada ponta de pulverização, pois eleva a formação de gotas muito finas durante a micronização do jato.

MONITORAMENTO DE CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS

As condições meteorológicas no momento da aplicação influenciam de maneira direta a segurança da operação, uma vez que as gotas produzidas, ao saírem da ponta de pulverização, percorrem um trajeto no ambiente antes de chegar ao alvo. Condições extremas de temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento prejudicam a chegada destas gotas. Quando este prejuízo ocorre, o agroquímico pode ter se perdido no percurso, não alcançando o alvo. Esta perda pode ocorrer pela evaporação devido à temperatura alta e à umidade baixa ou por arrastamento da gota para outras áreas por ação de vento intenso. A ausência de vento também favorece a perda devido à flutuação da gota pela ação convectiva do calor, evitando que a gota se deposite na área tratada. Embora o monitoramento ambiental não seja realizado na totalidade das aplicações, evitá-las nos períodos de muito calor e ventos mais intensos reduz as perdas. Da mesma forma que adotar pontas de pulverização com espectro de gotas maiores quanto mais agressivo for o ambiente, contribuiria muito com a minimização da deriva e da evaporação. Os dispositivos que fazem o monitoramento simultâneo de temperatura, umidade do ar e velocidade do vento são conhecidos como termo-higroanemômetros. Quando utilizados para selecionar os momentos mais apropriados na pul-

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A seleção das pontas de pulverização adequadas é o primeiro passo na redução dos riscos de deriva, sendo a densidade foliar e as condições ambientais fatores determinantes neste processo. O desenvolvimento de uma cultura ocasiona o aumento de sua massa vegetal, principalmente quando atinge seu estádio fenológico reprodutivo, deixando as partes baixas da cultura menos expostas. Isto dificulta a chegada dos agroquímicos nestes locais, se tornando um ambiente propício para o desenvolvimento de pragas e doenças. Uma técnica correta na seleção de pontas de pulverização deveria prever a redução da classe de gotas à medida que a cultura se desenvolve e o seu aumento à medida que o ambiente se torna mais inóspito, não sendo, portanto, possível a obtenção da melhor qualidade com apenas um modelo de ponta de pulverização ao longo da safra.

CONDICIONAMENTO DO PULVERIZADOR

Também vale lembrar a importância da calibração do pulverizador. Além de ser um equipamento de custo elevado, que pode aplicar grandes quantidades de agroquímicos, ele determina a homogeneidade da distribuição do produto na área tratada, sendo necessária sua manutenção, calibração e configuração. Programas de Inspeção Periódica de Pulverizadores realizados no Brasil identificam falhas de distribuição do produto em mais de 70% dos pulverizadores. Aproximadamente a metade destes com erros de subdosagem, aplicando menor quantidade de agroquímico que a necessária e a outra parte com sobredosagem, elevando os custos em desperdícios e os riscos de fitointoxicação. Da mesma forma, estima-se que um a cada dois pulverizadores apresentem pontas de pulverização com erros de vazão, seja por entupimento ou por desgaste. Nestes casos deve-se realizar a avaliação periódica para correto ajuste do equipamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O agronegócio brasileiro disponibiliza centenas de modelos de pontas de pulverização com diferentes classes de gotas, tipos de jatos e vazões, que permitem ajustes de taxa


Condições meteorológicas adequadas para pulverização de aplicação, velocidade de deslocamento e potencial de perdas para qualquer demanda. Dispõe também de diferentes categorias de equipamentos para atender com eficiência qualquer tamanho de propriedade, a fim de que o controle dos agentes de danos seja realizado em tempo adequado. Somado a isso, enormes investimentos no desenvolvimento de equipamentos e acessórios para registro e monitoramento permanente da operação são feitos pela indústria, o que permite intervenção imediata segundo a demanda de tecnologia local. No entanto, apesar de tantas condições favoráveis, a aplicação de agroquímicos de forma responsável e eficiente depende de ações humanas, que nem sempre são adotadas com o objetivo de maximizar a eficiência de controle com a menor contaminação ambiental. Estes equívocos são pouco frequentes, e por esta razão, tanto ações indenizatórias por injúria acidental quanto contaminação humana são raras no Brasil. Ainda assim, considerando a importância do agronegócio brasileiro e o potencial de acerto do contingente técnico disponível, constata-se a possibilidade de melhoria nas operações, destacando as opções de treinamento, desenvolvimento de produtos e técnicas de aplicação e a responsabilidade do produtor no uso dos recursos para uma produção sustentável, preservando o orgulho e a seriedade no abastecimento nutricional e de matérias-primas de qualidade para muitos .M países do globo.

E

mbora existam informações sobre condições ambientais mais seguras para as aplicações de agroquímicos, condicionadas à técnica e a cada produto de forma específica, a chegada destas informações aos usuários ainda não ocorre a tempo de eliminar os riscos, sendo essencial sua difusão de forma ampla. A diversidade ambiental do Brasil, dada a extensão de seu território, sugere monitoramento para caracterização dos riscos segundo o local a ser tratado. Regiões cujas condições meteorológicas são mais agressivas pela alta temperatura e baixa umidade relativa elevam o potencial de perdas das gotas, podendo evaporá-las por completo, principalmente em se tratando de gotas pequenas. Por outro lado, a ocorrência de condições meteorológicas adequadas e simultâneas é rara, uma vez que se trata de um país tropical. Sendo assim, a adoção de técnicas diferenciadas para cada condição ambiental é fundamental para elevar a qualidade e a segurança das pulverizações. O principal elemento para a seleção da técnica adequada é a escolha da ponta de pulverização. Kuhn

Controlar a pressão é fundamental na aplicação de defensivos

Ulisses Delvaz Gandolfo, Instituto Dashen Marco Antonio Gandolfo, Universidade Estadual do Norte do Paraná

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TRATORES

Potência torque

X

Quando o assunto é potência e torque de motores quase sempre várias dúvidas ficam sem respostas. Você sabe como se obtém a potência e o torque em um motor, o que são e para que servem?

O

s usuários de tratores frequentemente fazem uma pergunta: o que é mais importante, que um motor produza muito torque ou que apresente uma alta potência máxima? A resposta deve ser fornecida analisando o ambiente operacional do trator agrícola. Se um agricultor for tracionar um escarificador de sete hastes em um solo argiloso, certamente precisará de “uma grande força” que supere a oposição do solo. A força necessária para este trabalho vem do motor do trator, caracterizado por suas curvas de torque e potência. É necessário compreender os conceitos, para podermos ser críticos quando da escolha de máquinas.

TORQUE E POTÊNCIA

Fendt

Enzo Ferrari, fundador da Escuderia Fer-

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rari, costumava usar expressões que já são famosas entre os entusiastas do automobilismo. Algumas dessas expressões eram “A potência vende carros, o torque vence corridas” (Horsepower sells cars, torque wins races) ou, também, “A potência é a rapidez com que você atinge a parede. O torque é o quanto de distância você move a parede” (Horsepower is how fast you hit the

wall. Torque is how far you move that wall).

O QUE É O MOMENTO, TORQUE OU “FORÇA DE GIRO”?

A força equivale, para o movimento retilíneo, o mesmo que o torque para o movimento rotativo. Se a força é o que se necessita para arrastar um bloco de pedra pelo chão, o torque é o que se necessita para mover uma roda d’água. A diferença deve ser entendida para se compreender o conceito. Se, no primeiro caso, apenas a força “muscular” é necessária, no segundo, é muito importante a distância em que é aplicada esta força em relação ao eixo de rotação.


O momento de força (torque) é uma quantidade vetorial (obtida como um produto, entre o vetor da força e o vetor de posição do ponto de aplicação da força). No caso de um motor, o valor do torque indica quanto de força o motor é capaz de girar ou quanto de força pode ser retirado a partir desse giro. No caso do motor de combustão interna de um trator, os movimentos retilíneos dos pistões são transformados pelo virabrequim em movimento rotativo, originando o torque no motor que será transmitido para a transmissão de potência. O torque é, portanto, o resultado do produto da força centrífuga pelo raio do volante. Sua unidade, no Sistema Internacional de Unidades de Medida (SI), é o Newton * metro (Nm).

O QUE É A POTÊNCIA?

A potência mede a capacidade de executar um trabalho em um determinado período de tempo. Imaginemos que temos que fazer o seguinte trabalho: levantar dez sacos de soja a um caminhão. Você pode optar por levantar os dez sacos de uma só vez (isso exige muita força, mas talvez alguém muito forte possa fazê-lo) ou fazer o serviço carregando um saco por vez (é necessário muito menos força). Vamos, também, imaginar que o tempo seja o mesmo em todas as viagens. Por exemplo, no caso de uma viagem, leva um minuto, mas em dez viagens, levam dez minutos. O resultado do trabalho realizado é o mesmo, mas o tempo gasto foi diferente.

O que é melhor no trator: torque ou potência?

A

o analisar o motor de um trator é comum verificar que os fabricantes costumam apresentar os valores de torque e potência e o ponto onde são conseguidos. Focando no motor (mais tarde faremos isso no trator e a “coisa muda”), podemos nos perguntar se é melhor ter muito torque ou muita potência. A realidade é que ambas as magnitudes estão relacionadas, pois potência é o torque multiplicado pela velocidade angular. Quanto maior a velocidade angular (as rotações), maior será a potência. Essa relação é mantida até que o mecanismo atinja a velocidade máxima para a qual foi projetado. Imaginemos um motor que fornece um torque de 600Nm a 2.000rpm (209rad/s). A potência gerada é: P = 600 x 209 = 125.400W = 125kW (170cv). O exemplo da bicicleta pode ser interessante para ilustrar esses conceitos, porque é algo muito visual. Um ciclista forte pode subir uma ladeira íngreme dando poucas pedaladas, já um ciclista menos forte terá necessariamente que definir outra marcha (relação de transmissão) para poder subir, mesmo que esteja pedalando mais. No final, o alcance do objetivo também depende de preferências, há ciclistas que preferem dar muito giro nos pedais, com pouco esforço, e outros que preferem menos ritmo com muito avanço para cada pedalada. O resultado pode ser o mesmo. Você pode subir a ladeira dando 30 ou 45 pedaladas por minuto, porque na equação P = M * ω, a velocidade angular (ω) não é a mesma, nem o torque (M), mas o produto (potência) é o mesmo.

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Figura 1 - Curvas de desempenho trator da marca Case modelo Puma 130

No caso de um motor, o conceito é o mesmo: quanto mais potência desenvolvida por um motor, menos tempo é necessário para executar um determinado trabalho. A unidade de potência no SI é o Watt (W), embora, como nos motores, seja uma unidade muito pequena, o quiloWatt (kW = 1.000W) é normalmente utilizado. No mundo agrícola, e apesar de não ser uma unidade do SI, o cavalo a vapor (CV) (735,45W) é adotado (o cavalo a vapor “inglês” é um pouco diferente, HorsePower (HP) = 745W e por recomendação do próprio sistema internacional não deve ser utilizado). Seguindo com o exemplo anterior, aquele que levava os sacos de soja ao caminhão, suponhamos agora que, para levantar os dez sacos de uma vez, você precise de dez segundos. Mas para fazer isso, saco por saco, você ainda usa um segundo por viagem. O produto agora é 10 por 1, o mesmo que 1 por 10. Ou seja, exatamente o mesmo tempo e o mesmo trabalho, o que é a mesma coisa: não importa como obter potência, ela pode ser alcançada por força ou por velocidade, ou seja, mais ou menos tempo.

COMPARANDO CURVAS DE MOTOR

Figura 2 - Curvas de desempenho de um “motor elástico”, referente a ensaio em dinamômetro do trator da marca New Holland, modelo T4.95F

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A pressão efetiva média dos gases na cabeça do pistão é o que realmente causa o torque. A pressão, por sua vez, é definida pela massa da mistura de combustível que se expande durante o processo de combustão. O controle sobre a mistura entre ar e combustível, no final, significa torque, e é dada pelo acelerador do trator, pois é ele quem regula a quantidade de combustível que entra no motor. O habitual é que o usuário fale de potência, “que potência possui esse trator?”, ou até mesmo alguns olharão para o torque, “este trator dá 600Nm”. Mas é conveniente refinar a discussão um pouco mais. Os números devem ser deixados um pouco de lado, para fazer um julgamento qualitativo e menos quantitativo. Podemos fazer isto analisando as curvas de desempenho representadas na Figura 1, correspondentes ao trator da marca Case modelo Puma 130, produzido e comercializado na Europa, e apresentadas no relatório de ensaio oficial número 3.210 na estação de ensaio Imamoter, e número de aprovação 2/2 644 na OECD. No gráfico de eixos ortogonais, no eixo horizontal (x) estão representadas as rotações por minuto (rpm) ou a velocidade angular do motor; no eixo vertical (y) do lado direito, o torque é representado (Torque em Nm). A curva de torque do motor tem um máximo em médias rota-


ções e diminui à medida que aumenta o regime de rotações. Nesta curva de torque se observa uma parte muito plana (linear), entre 1.000rpm e 1.700rpm. Um torque horizontal implica uma potência na forma de uma linha inclinada, ou seja, uma potência crescente. A potência, representada no eixo vertical (y) esquerdo (P.t.o. Power em kW) cresce com o regime de rotações, atingindo o máximo, depois permanece um pouco plana (platô) e, posteriormente, cai drasticamente. O ponto de máximo torque aparece em médias rotações, caindo nas rotações correspondentes à máxima potência. Portanto, a partir do torque máximo, a curva de torque começa a diminuir, mas a curva de potência continua a subir. As rotações ideais para o trabalho de campo situam-se acima da rotação de torque máximo, a fim de fornecer uma certa reserva de torque para o motor, e abaixo da rotação em que se obtém potência máxima para diminuir o consumo de combustível e reduzir as emissões de poluentes. Nas proximidades do corte da injeção, limites máximos de injeção de combustível, onde se apresentam as máximas potências, os valores de torque desmoronam, e nem mesmo o aumento das rotações é capaz de compensar esse produto, a curva de potência também cai. A partir daqui, é inútil querer acelerar o motor, porque teremos menos potência e o risco de quebra do motor será elevado. No caso de um trator agrícola, as curvas mais interessantes são aquelas com valores altos e planos de torque. É um motor com o qual não será necessário usar continuamente a mudança de marchas na transmissão. A potência chega linearmente, de maneira pouco brusca. Na Figura 2 se apresentam curvas de desempenho de um “motor elástico”. A figura se refere ao ensaio em dina-

Comparando um trator com um automóvel

É

interessante comparar dois veículos tão diferentes, como um trator e um carro. Escolhemos dois modelos bem conhecidos no Brasil. Especificamente, escolhemos um trator e um carro com a mesma potência, porém com usos muito diferentes. (Veja na tabela)

Potência máxima (CV) / rpm

LS Tractor Plus 100

Hyundai HB20

105 / 2.200

105 / 6.000

Volume do motor (cm )

4.400

1.000

Combustível / cilindros

Diesel, 4

Flex, 3

Torque máximo (Nm) / rpm

416 / 1400

135 / 1550

Transmissão

Sincronizada, 12 velocidades

Automática, 6 velocidades

3

Velocidade máxima (km/h)

36,8

182

Peso máximo admissível (kgf)

5.500

1.503

Distância entre eixos (mm)

2.375

2.500

Tanque de combustível (L)

170

50

Pneus

12.4-24 e 18.4-30

175/70R14

Embora a potência seja a mesma, há diferenças notáveis. No trator a potência máxima se consegue a 2.200 rpm e no automóvel a 6.000 rpm, com um motor de volume deslocado quatro vezes maior. A velocidade máxima que se consegue com o automóvel é cinco vezes mais do se consegue com o trator e, por isto, o motor do trator apresenta torque três vezes maior que o do automóvel a uma rotação semelhante. Embora a distância entre eixos seja quase a mesma, a diferença de peso de um trator lastrado para o trabalho pesado é muito superior ao do carro com cinco passageiros e suas bagagens.

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mômetro do trator da marca New Holland, modelo T4.95F, comercializado na Europa. É conveniente esclarecer que, quando um motor é testado em um dinamômetro, o que é obtido (medido) é a curva de torque, e a potência é calculada a partir do torque medido e da rotação imposta ao motor pelo acelerador (produto do torque pelas rotações). É importante conhecer este conceito e, além disso, reforçar que o uso otimizado de combustível (consumo específico) é alcançado em torno do regime de torque máximo.

NO TRATOR

Depois de analisarmos as curvas de torque e potência obtidas por um motor, agora é a hora de verificar o que acontece com essas magnitudes no trator, pois é no conjunto que os conceitos variam. A potência se mantém constante desde o virabrequim até os semieixos do trator. É sempre a mesma (ou quase, porque pode haver, de fato, pequenas perdas por atrito). No valor de torque, ao contrário, a quantidade é uma função de onde é medida. Cada vez que duas engrenagens de tamanho diferentes se encontram, o valor do torque é diferente. Pode-se dizer que o que realmente importa é o torque que chega às rodas e não aquele que chega ao volante do motor. De acordo com essa declaração, poderíamos pensar em um caso extremo, um trator poderia ter um motor muito pequeno e através do desenvolvimento da transmissão poderíamos ir ampliando o torque até chegar a um valor aceitável, para aplicar a um equipamento agrícola. Além disso, há outro fator a se considerar, o tempo. O trabalho agrícola precisa ser feito em um tempo certo e com o trator equipado com um motor tão pequeno, necessitaríamos tempos excessivos, pois a potência caracteriza-se pela capacidade de realizar um trabalho em um determinado tempo (P = W / t). No projeto do trator agrícola o que importa é o torque. Quando um engenheiro projeta um eixo, uma engrenagem e, finalmente, um trator, o que ele sempre pensa é no torque. A potência pouco importa. Um eixo é projetado para transmitir um torque exigido, de modo que o torque máximo permitido não seja excedido (com seu fator de segurança).

NA TRANSMISSÃO O TORQUE SEGUE SUBINDO

Na cadeia cinemática do trator, formada pela caixa de câmbio, diferencial e redução final, o torque sempre aumenta, com a respectiva e proporcional redução de velocidade de deslocamento. Entre os pares de engrenagens da transmissão a velocidade angular é reduzida e o torque aumenta até chegar no semieixo onde está colocada a roda do trator. A cada relação de transmissão escolhida (marcha e grupo selecionado), o movimento se altera. A taxa de transmissão total, em um trator, é o produto de todas as taxas de transmissão até os semieixos. Nos tratores é comum encontrar relações de transmissão que

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vão de 15:1 até 3.000:1, isto é, um trator com rodas de diâmetro de 38 polegadas, ou um raio de aproximadamente 80cm, pode deslocar-se com o motor a uma rotação de 2.100rpm, e velocidades de deslocamento de 0,2km/h até 40km/h. Em um motor que tenha um torque médio de 350Nm na rotação de 2.100rpm, rotação de potência máxima, terá aproximadamente 77kW ou 103cv. Por esta razão é que as dimensões dos eixos das transmissões vão aumentando à medida que o torque vai sendo ampliado. Analisando uma transmissão, vemos que o eixo de entrada, que se liga ao disco de embreagem, é de diâmetro muito pequeno em comparação com o eixo onde se fixa a roda traseira do trator, por exemplo. Todo este torque, ao final, será convertido em força horizontal na zona de interação da roda com o solo. As rodas com seus pneus dotados de agarradeiras serão as responsáveis por aplicar esta força linear e conseguir a aderência (à custa de peso), que possibilitará que o trator tracione os implementos e as máquinas.

CONCLUINDO

A moral da história que descrevemos neste artigo é que o motor oferece um torque ao virabrequim e que ao longo da transmissão ele vai variando (aumentando). Também, se deve deixar claro que ainda que haja esta grande variação do torque, com a marcha selecionada, a potência não varia ao longo da cadeia cinemática, formada pela transmissão do trator. Além disso, é importante mencionar que os novos projetos de motores de tratores sempre buscam melhorar a curva de torque, resolvendo problemas em zonas importantes para o trabalho com máquinas agrícolas. Isto é feito com melhoria nos processos de admissão de ar e injeção de combustível, projeto de comando de válvulas e modernamente nas configurações de ma.M pas de injeção de sistemas eletrônicos. Heliodoro Francisco Catalán José Fernando Schlosser Daniela Herzog Laboratório de Agrotecnologia – Nema - UFSM




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