Test Drive novo Valtra A850R

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Cultivar

Cultivar Máquinas • Edição Nº 212 • Ano XVIII - Dezembro 2020 / Janeiro 2021 • ISSN - 1676-0158

Destaques

Índice 04 Rodando por aí 05 Mundo Máquinas 08 Pulverizadores

Higienização de pulverizadores: luxo ou necessidade?

12 Semeadoras

Manutenções e regulagens para semeadoras de algodão

15 Pneus

Custo de recapagem de pneus para frota de caminhões canavieiros

18 Capa

Confira o Test Drive com o trator Valtra A850R da Série A2R

26 Pulverização

Qual a diferença entre adjuvantes e aditivos na pulverização

30 Tratores

Como dimensionar corretamente sua frota de tratores e implementos

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34 Aviação Agrícola

Como será o futuro da aviação agrícola com a chegada dos drones

38 Tecnologia

Avaliação de ferramentas de sensoriamento remoto na agricultura

Charles Echer

Nossa capa

41 Agricultura de Precisão Diferentes tipos de pilotos automáticos para máquinas agrícolas

44 Manutenção

Porque é importante investir na manutenção de máquinas agrícolas

Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Direção Newton Peter

• Editor Gilvan Quevedo • Redação Rocheli Wachholz Cassiane Fonseca • Revisão Aline Partzsch de Almeida • Design Gráfico Cristiano Ceia

www.revistacultivar.com.br

Assinatura anual (11 edições*): R$ 269,90 www.revistacultivar.com.br cultivar@revistacultivar.com.br (*10 edições mensais + 1 conjunta Dez/Jan) Números atrasados: R$ 22,00 CNPJ : 02783227/0001-86 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Insc. Est. 093/0309480 € 130,00

• Coordenador Comercial Charles Echer • Vendas Sedeli Feijó José Geraldo Caetano

• Coordenação Circulação Simone Lopes

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• Assinaturas Natália Rodrigues • Expedição Edson Krause • Impressão: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

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Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contatos@revistacultivar.com.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


RODANDO POR AÍ Kuhn adquire a empresa Khor

O Grupo Kuhn anuncia, por sua afiliada Kuhn-Montana Indústria de Máquinas S.A, a assinatura de um acordo voltado para a compra da totalidade das ações da empresa Khor Industrial Ltda., localizada em Tuparendi (RS). O fechamento do negócio está previsto para ocorrer no início de 2021 e está sujeito ao cumprimento de várias condições pelos atuais proprietários. Fundada em 2007, a Khor se estabeleceu como um fabricante líder de carretas graneleiras, escarificadores e outros implementos no Brasil. A oferta de produtos Khor é adaptada às necessidades dos produtores brasileiros e vai complementar a Kuhn.

Máquinas para fruticultura

José Tonon Júnior

Novo diretor de Marketing

A OrionTecnologias e Sistemas anunciou JoséTonon Júnior como novo diretor de Marketing.Tonon é engenheiro agrônomo pela Universidade Estadual de Londrina, com pós-graduação nas áreas de Fitossanidade e Marketing e assume a nova função após um ciclo de 28 anos no Grupo Jacto, nas áreas de serviços agronômicos, desenvolvimento de produtos, comunicação e marketing. Na Orion, terá o desafio de intensificar as ações da empresa para um melhor posicionamento da marca e dos produtos. “A necessidade de levarmos a melhor informação de maneira rápida e eficaz é algo desafiador para praticamente todos os setores, e no agro não é diferente. Será um prazer aliar a experiência adquirida no setor com a Orion, que vem desenvolvendo um grande trabalho e está em busca de novos mercados”, avalia Tonon.

As exportações brasileiras de frutas cresceram 3,6% no acumulado de 2020 até outubro, quando comparadas aos embarques no mesmo período do ano passado. O principal destino é a União Europeia, responsável pela compra de 70% deste volume. Para auxiliar os agricultores neste desafio, a indústria de máquinas agrícolas tem se movimentado para oferecer soluções que reúnam eficiência e baixo custo operacional. “Tratores estreitos, mais popularmente conhecidos como fruteiros, já existem no mercado brasileiro há mais de 50 anos. Porém, os níveis de conforto, tecnologia e de redução no consumo de combustível encontrados nas máquinas de hoje é algo sem precedentes”, explica o diretor de Vendas da Valtra no Brasil, Alexandre Assis. “Um bom exemplo é a linha A3F da Valtra, com opções que vão de 69 a 99 cavalos de potência, cabine equipada de fábrica e um conjunto de transmissão e motor que garante um consumo de combustível 12% menor”, afirma.

Aponte a câmera do seu celular para o QRCode e leia o artigo completo assinado por Alexandre Assis.

Plataforma ID Agro

Alexandre Assis

O Instituto CNA apresentou os benefícios e as funcionalidades da plataforma de Registro de Máquinas Agrícolas (ID Agro) às federações estaduais de agricultura e pecuária e aos sindicatos de produtores rurais. A ferramenta foi lançada em novembro deste ano pela CNA e pelo Mapa. “O ID Agro irá trazer mais segurança para o produtor, tanto para acessar o crédito rural, contratação de seguro, quanto para inibir roubos e furtos dos equipamentos e sem qualquer ônus ao produtor”, afirmou Mônika Bergamaschi, secretária executiva do Instituto CNA. A plataforma foi desenvolvida para registrar, inicialmente, todas as máquinas agrícolas que saem das concessionárias e atende à lei 13.154/2015, que alterou o Código de Trânsito Brasileiro e passou a exigir o registro de propriedade de tratores e demais aparelhos automotores destinados a puxar ou a arrastar maquinário agrícola ou a executar trabalhos agrícolas.

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MUNDO MÁQUINAS

Valtra lança tratores de 145cv

Com o objetivo de aumentar sua gama de produtos de média potência voltados aos produtores de grãos, arroz e cana-de-açúcar, a Valtra apresenta os novos tratores A144 e A144 HiTech, de 145cv. “Essas duas novas linhas chegam ao mercado para atender uma demanda vinda dos agricultores, a quem os nossos desenvolvedores estão sempre ouvindo. Com estes lançamentos, nosso objetivo é oferecer maior produtividade e rentabilidade ao agricultor, com máquinas confiáveis e econômicas, tanto no consumo de combustível quanto em manutenção. O agricultor que investir em um A144 ou em um A144 HiTech vai poder aproveitar cada vez mais as janelas de plantio”, explica o diretor de Vendas da Valtra, Alexandre Assis. As duas novas máquinas são equipadas com motor AGCO Power de quatro cilindros e com reversor eletro-hidráulico

Power Shuttle, que permite que a direção de condução seja alterada apenas com o uso de uma alavanca, sem necessidade de acionamento da embreagem, com a transição de forma suave, rápida e segura. Em termos de custo-benefício, o trator A144 garante economia de até 10% de litros de combustível por hectare com o motor AGCO Power e com a transmissão 12x12, além de ganho de 10% em rendimentos operacionais e a redução da emissão de CO². O A144 HiTech, por sua vez, possui transmissão Power Shift 16x16, que ajuda a reduzir em até 20% o desgaste das peças do trator. O modelo ainda conta com o sistema de piloto automático Valtra Guide by Trimble e três opções de tomada de força (540rpm, 540rpm econômica e 1.000rpm), aumentando a sua versatilidade e o desempenho.

Tecnologias nas aplicações do campo Em constante movimento, o agronegócio procura cada vez mais eficiência, rapidez e sustentabilidade. Para lidar com os desafios do campo, o produtor rural pode contar com o motor FPT N67. Com injeção eletrônica Common Rail e sistema de pós-tratamento I-EGR (Recirculação Interna de Gases de Escape), o motor assegura alta produtividade para tratores, colheitadeiras e pulverizadores, fornecendo energia para praticamente todas as fases da produção – seja no plantio, no cultivo ou na colheita. Um a cada quatro tratores e duas colheitadeiras comercializados no Brasil é movido pela FPT Industrial, líder em powertrain com soluções Multi-Power e mais de 150 anos em inovação. No segmento off-road, o motor FPT N67 está disponível com injeção mecânica ou eletrônica e em uma variedades de arquiteturas estruturais e não estruturais, prontas para atender às necessidades específicas de cada aplicação. As diversas versões são equipadas com turbocompressores de Geometria Fixa (FGT) ou Wastegate (WG), que otimizam a curva de potência, mesmo em regimes de menor rotação, entregando máximo desempenho em condições adversas, resultando em controle do operador e performance da máquina, além de gerenciar o uso do combustível de forma eficiente.

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Nova série de tratores MF 7300 Dyna-3 Seguro agrícola bate recorde em 2020 A área agrícola segurada no País alcançou o recorde de 13,7 milhões em 2020, um aumento de aproximadamente 98% em relação ao ano anterior e que representa em torno de 20% da área total agrícola. Neste ano, o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) aplicou R$ 880 milhões, o dobro do valor executado em 2019. Foram beneficiados aproximadamente 105 mil produtores rurais (193 mil apólices). A importância segurada total foi de R$ 45,7 bilhões, o maior valor desde o início do programa em 2005. A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, destaca a importância dos resultados. “O seguro rural está se tornando um dos pilares da política agrícola no País. Conseguimos fortalecer o PSR e dar um salto importante na área segurada. O desafio agora é dar previsibilidade ao seguro rural e ampliar essa cobertura para mais regiões e atividades agropecuárias.” As operações de pecuária tiveram um crescimento de 400%; café, 217%; e cana-de-açúcar, 42%.

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A Massey Ferguson apresenta ao mercado a nova série de tratores MF 7300 Dyna-3, em substituição à série MF 7200, para agricultores que possuem a necessidade de um equipamento com potência entre 160cv e 180cv. A nova linha garante até 9% a mais de eficiência operacional e proporciona economia de 11% em combustível, um dos insumos com maior custo na agricultura brasileira. “Com resultados tão espetaculares desta safra, o MF 7300 Dyna-3 chega para somar às lavouras de todo o País e aos esforços de produtores rurais que não têm deixado a agricultura parar. A robustez do equipamento confere durabilidade e, por consequência, um ótimo investimento que o agricultor faz em sua propriedade”, afirma o diretor

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de Vendas da Massey Ferguson, Eduardo Nunes. A nova linha será oferecida em dois modelos, MF 7316 (160cv) e MF 7318 (180cv), com motor AGCO Power de quatro cilindros, de grande volume com 4.9 litros para suportar as altas demandas no campo. Sua transmissão 18x18 Power Shift possibilita uma troca automática de marchas e em carga, e o reversor eletro-hidráulico Power Shuttle permite a reversão até 2km/h, proporcionando grande eficiência operacional. O piloto automático é opcional de fábrica para auxílio nas operações. Já o levante hidráulico tem capacidade de oito mil quilos. E a cabine oferece ergonomia e conforto ao operador durante a jornada de trabalho, com alavancas e botões em boas posições, além da ampla visibilidade.


Koppert adquire Geocom

Nova ferramenta de conectividade A Raven Industries, Inc. anunciou o lançamento do Virtual Thumb Drive (VTD), a ferramenta mais recente no conjunto de produtos de computador de campo CRx da Raven Applied Technology. A importante adição do VTD às operações agrícolas é habilitada através da plataforma de serviços e logística Slingshot. Disponível para pedidos na Rússia, Europa e América Latina, esta solução traz maior confiabilidade na transferência de dados sem fio nas operações agrícolas. O software conecta o escritório de forma contínua e rápida aos computadores de campo CRx da Raven: CR7 e CR12. A introdução do VTD neste conjunto de produtos garante que os operadores tenham as informações de que precisam para concluir seu trabalho com confiança, oferecendo flexibi-

lidade para enviar trabalhos, atualizar informações e receber o status do trabalho para tomar decisões assertivas nas operações agrícolas. “O compromisso da Raven em trazer soluções agrícolas para o mercado em uma escala global é atribuído a colocarmos serviço em primeiro lugar”, disse Frank Dorenkamp, diretor de Negócios Internacionais da Raven Applied Technology. A plataforma Slingshot oferece: capacidade de acessar informações de cobertura e orientação entre várias máquinas no mesmo trabalho; operação da máquina, dados de tempo ocioso e de trânsito, acessíveis 24 horas por dia, sete dias por semana; e visibilidade completa de onde os equipamentos e ativos estão localizados e quais tarefas eles estão completando.

Com o objetivo de oferecer uma experiência completa ao produtor rural brasileiro, a Koppert Biological Systems acaba de adquirir a Geocom, com sede em Lençóis Paulista (SP). Atuando na área de tecnologia na agricultura desde 2013, a empresa é pioneira em geoprocessamento de imagens e no desenvolvimento de tecnologia exclusiva para aplicação de agentes biológicos via drones no Brasil. Desde sua chegada ao País, em 2011, essa é a sexta aquisição realizada pela Koppert. “Nosso objetivo é expandir o campo de atuação, para poder oferecer o melhor a nossos clientes e parceiros. Agora, além de insumos biológicos, também teremos tecnologia de monitoramento e aplicação”, destaca o diretor comercial da Koppert do Brasil, Gustavo Herrmann. Para o diretor industrial da Koppert do Brasil, Danilo Pedrazzoli, trata-se de uma decisão estratégica. “Percebemos a necessidade de complementar a qualidade e a eficiência de nossos produtos com uma aplicação mais especializada, para garantir o desempenho máximo dos biodefensivos no campo. Já tínhamos uma parceria com a Geocom e, conhecendo a qualidade de seus equipamentos e serviços, optamos pela aquisição.”

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PULVERIZADORES

Luxo ou necessida A higienização de pulverizadores é uma prática que nem sempre recebe a atenção merecida. Guardar uma máquina livre de resíduos, além de aumentar a vida útil do equipamento garante maior segurança nas aplicações subsequentes, minimizando as chances de contaminação de operadores e do ambiente

A

produção de alimentos em grande escala, como é praticada no Brasil, enfrenta riscos de ordem climática, limitações relacionadas com os solos e a nutrição das plantas, assim como sofre danos dos chamados fatores bióticos (plantas daninhas, pragas e doenças), que limitam a capacidade produtiva das plantas cultivadas. As práticas de manejo adotadas para cada cultura, incluindo a proteção fitossanitária, buscam proporcionar condições para que as plantas cultivadas expressem o seu potencial produtivo, dentro de uma perspectiva de máximo retorno econômico. Ao longo dos anos observou-se uma evolução dos sistemas produtivos agrícolas, buscando obter uma sustentabilidade tanto econômica quanto ambiental e social, que pode ser traduzida em três palavras: sistema plantio direto. Este sistema de manejo do solo e das culturas preconiza manter a superfície cultivada sempre coberta com plantas verdes e/ou com resíduos vegetais, de modo a proteger o solo e a promover maior ciclagem de nutrientes, o que gera importantes ganhos do ponto de vista ambiental e da fertilidade do solo. Por outro lado, no sistema plantio direto, ao não haver um revolvimento significativo de solo, ocorre uma mudança de ambiente que favorece o desenvolvimento de determinadas espécies de plantas daninhas, cujo controle passa a depender mais de herbicidas do que no passado. Essa maior dependência do controle químico, aliada à falta de observância de critérios técnicos no uso dos mesmos, ocasionou o desenvolvimento de resistência de plantas daninhas contra alguns

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dos herbicidas mais utilizados no campo. Diante da escassez de novos mecanismos de ação de herbicidas para enfrentar a resistência de plantas daninhas, um dos avanços tecnológicos mais recentes na agricultura vem sendo o desenvolvimento de plantas cultivadas tolerantes a determinados herbicidas, no caso da soja, notadamente ao 2,4-D e ao dicamba. Cultivares de soja convencionais (não tolerantes ao dicamba) apresentam elevada sensibilidade ao mesmo, até em subdoses abaixo de 5% da dose de bula. Essa sensibilidade se manifesta na forma de alterações morfológicas e fisiológicas das plantas de soja, que se refletem em redução na estatura das plantas, dano ao rendimento de grãos e redução do potencial germinativo e do vigor das sementes. Essas constatações, já publicadas por muitos autores em diversos países do mundo, indicam que durante as aplicações desses herbicidas os usuários deverão se comprometer com a adoção das boas práticas de aplicação, evitando ao máximo a contaminação de áreas com plantas suscetíveis, fora das áreas-alvo. Além de cuidados rigoro-


ade? sos com o tamanho das gotas, a pressão de pulverização, a velocidade do pulverizador, a temperatura e a umidade relativa do ar, a velocidade e a direção dos ventos, resta um compromisso com a necessidade da criteriosa higienização dos pulverizadores utilizados para aplicar herbicidas como dicamba e 2,4-D, seja após aplicações para o manejo de plantas daninhas em pré-semeadura, seja após as aplicações de herbicidas em pós-emergência sobre cultivares resistentes ao dicamba. Essa conduta não deveria ser novidade, uma vez que muitos resíduos de produtos fitossanitários mantidos no interior de componentes dos pulverizadores, como tanque, filtros, bomba, comandos, válvulas e tubulações, podem afetar negativamente culturas que venham a ser pulverizadas em momentos posteriores.

HIGIENIZAÇÃO DE PULVERIZADORES

Ainda, a falta de higienização dos pulverizadores após aplicar misturas de produtos em tanque pode ocasionar a formação de depósitos (verdadeiras crostas) junto aos componentes ativos dos pulverizadores, que podem até mesmo inviabilizar o seu uso futuro sem uma rigorosa “faxina”.

Walter Boller

Metade dos pulverizadores inspecionados apresentou problemas nas mangueiras

Sintoma de injúria típico de resíduos do herbicida dicamba em soja sensível

Dessa forma, independentemente dos produtos aplicados, mas especialmente no caso dos herbicidas à base de 2,4-D, quincloraque e de dicamba, as máquinas aplicadoras jamais deveriam ser estacionadas sem ao menos um mínimo de limpeza. Caso nos dias seguintes venham a ser aplicados os mesmos produtos, a ação recomendada é, ao final da última pulverização de uma jornada de trabalho, abastecer o tanque ao menos até a metade com água, ligar a bomba e promover a circulação do líquido. Em um local adequado (de preferência na lavoura onde estava

operando), abrir as válvulas que conduzem o líquido até as barras do pulverizador e com isso reduzir drasticamente a concentração de produtos ativos nos resíduos que permanecerão no interior das tubulações e demais componentes dos pulverizadores. A máquina deverá repousar (over night) com o tanque abastecido com água, ao menos até a metade da sua capacidade (de preferência cheio). A adoção desses procedimentos simples proporciona a redução de ocorrências como entupimentos de filtros e de pontas de pulverização, assim como o “encrostamento” das paredes de componentes

Kuhn

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Fotos Arquivo

Filtros de linha e sucção com sujeira ou danificados Entupimentos de filtros de pulverizadores com resíduos de produtos aplicados sem uma rigorosa higienização da máquina após o uso

das máquinas aplicadoras. De outro lado, após o término das aplicações de herbicidas como 2,4D e dicamba, quando o pulverizador será utilizado para aplicar outros produtos, especialmente sobre cultivares de soja não tolerante a esses herbicidas, deve-se proceder a uma higienização mais criteriosa, que pode ser resumida em tríplice lavagem. Para esse procedimento, a primeira lavagem segue os mesmos procedimentos indicados anteriormente,

sendo importante movimentar a máquina em ziguezague e na sequência promover a sua completa drenagem após essa primeira lavagem. Para a segunda lavagem, indica-se o uso de produtos especialmente desenvolvidos para limpeza de pulverizadores (existem diversos produtos comerciais) junto à água de limpeza. Novamente se recomenda ligar o sistema de pulverização, promovendo a circulação do líquido, durante 20 a 30 minutos, movimentando a máquina em ziguezague. Se possível, manter esse líquido (água + produto para limpeza de pulverizador) no interior do tanque durante uma noite e no dia seguinte ligar a máquina e abrir as saídas para as barras e no final drenar os compartimentos como tanque e filtros. Em seguida, indica-se retirar todos os filtros, bicos e pontas de pulverização, que devem ser limpos em separado, também utilizando o mesmo produto anterior. Para finalizar a tríplice lavagem, encher o tanque com água limpa, promover a circulação do líquido de enxágue por 20 a 30 minutos movimentando a máquina em ziguezague e após isso abrir as saídas para as barras (que ainda se encontram sem os filtros e as pontas de pulverização). A tríplice lavagem do pulverizador

deve ser complementada por uma lavagem externa, de modo especial do tanque, das barras, rodados e outros componentes que possam ter sido contaminados com o herbicida durante o uso da máquina. Para finalizar os procedimentos da tríplice lavagem, montar os diversos filtros, livres de resíduos, e as pontas de pulverização que serão utilizadas para as aplicações seguintes. Aparentemente essas recomendações se traduzem por excesso de zelo, entretanto em experimentos conduzidos junto à Universidade de Passo Fundo (RS), os autores desse texto observaram sintomas de injúrias visuais e danos ao rendimento de grãos em soja sensível aos herbicidas 2,4-d e dicamba, quando não se praticou a tríplice lavagem, seguindo os procedimentos acima.

REAÇÃO DE FENTON

Novas alternativas que vêm sendo estudadas e que simplificam bastante esses procedimentos são sistemas de desativação de resíduos baseados em uma reação química conhecida como reação de Fenton. Nesse caso, na primeira água de lavagem do pulverizador é adicionado um dos componentes do processo de Fenton e liga-se a circulação da calda. Após Fotos Walter Boller

Aspecto de uma faixa de plantas de soja onde foi realizada uma pulverização sem a devida higienização da máquina após aplicar o herbicida dicamba

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Fotos Arquivo

Área de limpeza construída observando todas as orientações (esquerda) e operação sendo realizada em área imprópria (direita)

cinco minutos de agitação, adiciona-se o segundo componente dessa reação e mantém-se a circulação ativa por mais 20 minutos. Passados esses 20 minutos, abrem-se as saídas de calda para as barras, em um local apropriado, durante um tempo mínimo de dez minutos, e aí drenam-se o tanque e os filtros. A próxima etapa é uma lavagem para enxágue, que pode ser feita abastecendo o tanque com água até a metade da sua capacidade. Um cuidado importante com esse processo de Fenton é que todas as superfícies contaminadas com resíduos de herbicidas necessitam entrar em contato com a calda “gerada” na primeira lavagem e também com a água de enxágue. Para auxiliar no processo de limpeza de tanques de pulverizadores, há a possibilidade de se utilizar alguns dispositivos que podem ser instalados no interior desses tanques. Um exemplo disso é um bico especial, na forma de um globo perfurado, conhecido como “Bico Spray Ball”, que ao ser acionado gera o efeito de um chuveiro invertido (de baixo para cima, para frente, para trás e para os lados) e com isso facilita o contato da água de lavagem com toda a superfície interna do tanque do pulverizador. Assim, a título de conclusão, cabe

considerar que as práticas aqui descritas já não podem mais ser consideradas um luxo, mas sim uma necessidade e deveriam estar incorporadas à cultura dos agricultores, independentemente do tipo de produto que está sendo pulverizado. Guardar uma máquina aplicadora livre de resíduos sempre vai contribuir de uma forma ou de outra para uma maior vida útil desse equipamento, reduzir perdas de tempo no mo-

mento em que se iniciam novas aplicações de defensivos, além de minimizar possíveis problemas de injúrias às plantas cultivadas, quando existe a presença de resíduos de pulverizações anteriores no interior dos com.M ponentes do pulverizador. Walter Boller PPGEA/UFSM Mauro Antonio Rizzardi , PPGAgro/UPF

Limpeza do pulverizador em área inadequada

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SEMEADORAS

Semeadura do algodão O plantio da cultura do algodão exige agilidade por conta das janelas curtas e o clima geralmente chuvoso. Por isso, manutenções e regulagens em dia são fundamentais para garantir que todos os sistemas da semeadora trabalhem perfeitamente

P

ara atingir grandes produtividades na cultura do algodão, vários pontos precisam ser observados, entre eles estão clima, relevo, fertilidade, janela de plantio (safra ou safrinha), condições e quantidade de máquinas para a entrada e reentrada de tratos culturais e aplicação de defensivos, entre outros. A população média do algodão está entre oito e 12 plantas por metro (espaçamento de 76cm a 90cm) e a singularidade (espaçamentos aceitáveis) entre as sementes é fundamental, evitando assim plantas duplas e espaços vazios. O espaçamento entre linhas também é de suma importância, já que as colhedoras de algodão têm suas unidades determinadas e não conseguem colher linhas fora do padrão pré-configurado nas máquinas. A velocidade de plantio tem muita influência na qualidade dos espaçamentos, os melhores resultados estão entre 5km/h e 7km/h, sempre trabalhando bem com as pressões do sistema de

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vácuo, de acordo com o disco e o formato da semente. No caso do algodão, como as sementes têm diminuindo de tamanho ao longo do tempo, a boa escolha do disco e a regulagem do vácuo são fundamentais. Há algumas inovações no mercado que estão permitindo aumentar a velocidade de plantio, prometendo garantir a qualidade da singularidade em semeadoras, como alterações nos ângulos dos depósitos de sementes, dosadores elétricos com menor gasto energético, novos modelos de ejetoras, raspadores


Fendt

nos discos e mecanismo dosador com escovas para levar a semente até o sulco de plantio. Porém, isso ainda é novo no mercado brasileiro, e a tropicalização desses modelos de semeadoras está sendo feita para obtermos os resultados que são prometidos pelos fabricantes. Para plantio em cima de palhada ou cobertura verde, o correto é que ela esteja bem seca, dessecada com 45 a 60 dias de antecedência. Como isso nem sempre pode ser realizado, um ajuste que pode ser fei-

to é trabalhar com muita pressão no disco de corte, trabalhar com discos de corte maiores (se a opção for possível na semeadora) e trabalhar com as opções de discos corrugados ou turbo, para que esses consigam “abrir” as linhas onde a semente será colocada. Há muita dificuldade de trabalhar com haste “botinha” em área de muita palhada, mesmo trabalhando cruzado. Com palhada ainda verde, a dificuldade é ainda maior, a melhor maneira seria passar o rolo-faca, para conse-

guir deitar a cobertura e cortar o material, facilitando assim a deposição da semente no sulco de plantio sem deixar a semente muito profunda. A atenção tem que ser redobrada com a profundidade das sementes. Como no período do plantio o solo estará sempre muito úmido, a correta regulagem da pressão do disco de corte, em cima da palhada da soja ou de alguma cobertura, é fundamental. O ideal é que a semente fique na profundidade de 3cm a 4cm, acima disso pode gerar um desgaste na planta, já que terá que gastar muita energia para romper o solo e emitir o cotilédone. Abaixo disso, pode acontecer de a planta sofrer com temperatura, excesso de água e, em alguns casos, sofrer com a aplicação dos pré-emergentes. Pensando em profundidade de semente, as semeadoras com disco de corte pneumático e com pressões ajustáveis linha a linha têm feito um excelente trabalho. Este será o futuro, principalmente para semeadoras sem adubo na linha, devido à diferença de peso em todo o chassis do equipamento. Outra opção é trabalhar com equipamentos com maiores articulações, para que assim ela consiga copiar da melhor forma possível o terreno. Sabemos também que isso pode aumentar os custos devido à manutenção, mas a eficiência é, sem sombra de dúvidas, muito superior.

USO DE GRAFITE E TALCO

A quantidade de grafite para uma melhor distribuição, segundo experiências realizadas pelo Grupo Scheffer, é de 150g para cada 100kg de semente em semeadoras a vácuo. No caso de semeadoras com dosador de sementes com escova, pelo motivo de terem velocidade elevada e secar a umidade da escova transportadora de semente, o indicado é utilizar 150g de grafite para 100kg de semente juntamente e 250g de talco para 100kg de semente. Nesse caso, o talco é necessário para a limpeza e para baixar a umidade das cerdas da escova transportadoras, além de ajudar no sistema de distribuição de sementes.

PRODUTOS BIOLÓGICOS NO PLANTIO

A aplicação de produtos biológicos no

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Fotos Thiago Martins Machado

Os melhores resultados estão no plantio com velocidade entre 5km/h e 7km/h

sulco de plantio, como Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, tem obtido ótimos resultados na proteção da plântula nos primeiros dias após a emergência e de toda a biologia do solo, contribuindo para a redução da necessidade de produtos químicos. A semeadora para aplicação de produtos biológicos tem um tanque auxiliar com agitador, com um sistema de bomba de pistão que aplica em média 50 litros/ha, e filtros no sistema que necessitam de cuidados com a limpeza diária para evitar obstrução dos bicos.

MANUTENÇÃO E AJUSTES

Após cada safra é necessário verificar o desgaste das ponteiras das hastes de abertura de sulco (botinha) ou se a semeadora possuir discos que devam ser substituídos, conforme especificações do fabricante da semeadora. Nos tubos e mangueiras do vácuo de semeadoras pneumáticas sempre devem

ser checadas as vedações de todos os sistemas, inclusive as borrachas da tampa do carrinho de sementes, e verificar se essa, mesmo com a troca da borracha, não possui folga. Muitas vezes é preciso travar essa tampa em alguns modelos de semeadoras, com uma trava na parte lateral, para evitar que com o desgaste natural dos anos e o balanço da operação o vácuo não se perca. Isso tem que ser feito linha a linha. Outro problema que pode ocorrer é em relação à leitura dos sensores nos tubos condutores de semente. Se não houver a limpeza do duto, checagem dos cabos e o cuidado operacional nas cabeceiras, principalmente no algodão, onde o solo está com elevada umidade, ele acaba enviando mensagens erradas para o sistema. Por isso, é essencial realizar uma limpeza com escova nos tubos de semente. A parte de desligamento automático das linhas deve ser revisada ou pelo menos limpa no fim de cada safra, para evitar problemas no decorrer da operação. Outro cuidado que se deve ter é com a configuração correta dos ajustes nos monitores. Muitos são os erros cometidos neste ponto, pois ali estão todas as informações e os ajustes de espaçamento, velo-

Monitores de linha são fundamentais para garantir um estande perfeito

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cidade, população, limites, tamanho físico do trator e semeadora.

INTERVALOS DE PLANTIO

A maioria dos cotonicultores tem que plantar a soja com solo ainda com pouca umidade para conseguir fechar a janela de plantio de algodão e isso pode gerar risco de falta de chuva durante o desenvolvimento vegetativo da cultura, dependendo do ciclo de cada variedade. O período de plantio de algodão (safrinha), na maioria das regiões, é geralmente em janeiro e fevereiro, época de intensas chuvas. Neste período, muitas vezes o solo está saturado de água ou, na melhor das condições, em capacidade de campo, obrigando os produtores a serem mais eficientes com relação a paradas para abastecimento, manutenção mecânica, troca de turno, evitando que a máquina fique parada no campo. Por isso é necessário estar sempre atento às corretas manutenções, para evitar perdas de produtividade, já que o plantio muitas vezes é realizado fora do intervalo ideal e exige agili.M dade na operação. Thiago Martins Machado, UFMT Feliph Lorenzzi Pardins, Scheffer

Para ajudar na qualidade do plantio, todas as manutenções periódicas devem estar em dia


PNEUS

Custo de recapar

O custo com pneus de caminhões canavieiros pode ser bastante alto, dependendo das condições das vias por onde trafegam entre a lavoura e a usina. Por isso, saber exatamente o custo de cada recapagem ajuda a diminuir as despesas com este item que impacta bastante nos gastos da operação

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dos com os reparos a serem realizados e, principalmente, com os custos indiretos que estão associados. Nesse contexto, é importante também considerar o gerenciamento na utilização dos equipamentos, quanto ao tipo de pavimentação de estradas, a fim de aumentar a vida útil e reduzir os custos com reparo e manuten-

Arquivo

Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar destinada às usinas geradoras de açúcar, álcool e cogeração de energia elétrica. O sistema de transporte desta matéria-prima faz uso de equipamentos como caminhões com reboques (treminhão) e cavalos mecânicos com semirreboques (rodotrem), a fim de transportar a cana colhida do campo até a usina, de forma contínua. A utilização dos equipamentos de transporte pelas usinas requer um prévio planejamento para que o funcionamento ocorra de forma plena, sem imprevistos, como quebras e paradas inesperadas, que causam atraso na programação de moagem da usina, bem como por gerar custos eleva-

ção dos pneus recapados. Dentre os custos gerados pelos equipamentos de transporte de cana-de-açúcar, o com reparo e manutenção dos pneus recapados é um dos custos representativos e que deve ser considerado. Entretanto, este gasto poderá ser reduzido quando for elevada a vida útil dos pneus recapados, caso os equipamentos trafeguem em pavimentação com boas condições. Nesse sentido, Banchi et al. (2006a) mencionam que as condições da pavimentação das estradas têm forte influência na vida útil dos pneus, pois quanto menor a qualidade do pavimento, maior será o desgaste do pneu. A vida útil do pneu varia conforme a pavimentação da estrada. Digamos que a vida útil do pneu seja 100% em um local com pavimentação de concreto. Quando este mesmo pneu trafega em estradas de cascalho e areia sem pavimentação, a vida útil fica em apenas 50%. Quando em cascalho e areia em boas condições, 64%; 2/3 pavimentada e 1/3 de cascalho e areia, 72%; e bem pavimentada, 90%. Quanto ao aspecto econômico, segundo Banchi et al. (2006b), a renovação de pneus corresponde entre 20% e 25% do valor inicial de um pneu novo e tem duração média de 80%, quando em relação ao pneu novo. Além disso, de acordo com

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Figura 1 - Custo operacional de produção e variação relativa do custo operacional de produção em função do número de recapagens de pneus do conjunto caminhão bitruck com reboques

Figura 2 - Custo operacional de produção e variação relativa do custo operacional de produção em função do número de recapagens de pneus do conjunto cavalo mecânico com semirreboques

Vinhedo antes da poda de inverno

Banchi et al. (2006c), em uma frota os pneus são componentes de grande importância, devido ao alto custo e à relação com a segurança do operador/motorista. Entretanto, a maior despesa operacional em uma frota é referente ao custo com combustível, com reparo e manutenção e, ao final, o custo com pneus. Isso quando a empresa tem um gerenciamento adequado dos pneus. Caso contrário, os pneus podem ser a segunda ou até mesmo a primeira maior despesa operacional de uma frota. Portanto, devido ao número de recapagens de pneus ter uma relação sistêmica com o desempenho operacional e econômico dos equipamentos do sistema de transporte de cana-de-açúcar, abordaremos a seguir sua influência (impacto) no custo operacional de produção dos equipamentos. Para a elaboração deste trabalho foi adotada a metodologia da modelagem computacional, ao utilizar o modelo computacional denominado TransporteCana, desenvolvido e validado em planilha eletrônica, do Excel. A modelagem computacional é adotada para a gestão de equipamentos agrícolas porque tem se mostrado viável, por ser uma ferramenta que simplifica o desenvolvimento de uma ideia proposta, a fim de representar estruturas e desenvolver cenários (situações), sem que seja necessário realizar a proposta do trabalho nas condições práticas, a campo, que seria mais difícil de ser realizada, devido aos vários meios de execução necessários (pessoas, instrumentos e equipamentos rodoviário/agrícola.

Equipamentos do sistema de transporte de cana-de-açúcar

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CALCULANDO OS CUSTOS DE RECAPAGEM

O TransporteCana considera as características básicas do sistema de transporte de cana-de-açúcar das usinas do Brasil. O modelo tem seu funcionamento básico por meio das características da cultura, do clima, técnicas gerenciais/operacionais do transporte. Para os equipamentos, foram considerados conjunto caminhão bitruck com reboques (treminhão) e conjunto cavalo mecânico com semirreboques (rodotrem). O caminhão bitruck e o cavalo mecânico são com potência nominal no motor de 500cv e valor de aquisição estimado em R$ 715.000,00 e R$ 595.000,00, respectivamente. O conjunto caminhão bitruck com reboques é formado pelo caminhão com capacidade de carga de 20t e por três reboques com capacidade de 18t cada, sendo o valor de compra do reboque de R$ 85.000,00, cada. O conjunto cavalo mecânico com semirreboques é formado pelo cavalo mecânico e por dois semirreboques com capacidade de 35t cada, sendo o valor de compra do semirreboque de R$ 190.000,00, cada. O conjunto caminhão bitruck com reboques tem 36 rodas, enquanto que o conjunto cavalo mecânico com semirreboques possui 34 rodas. Para o TransporteCana gerar os resultados simulados foi considerada uma usina padrão, com seu sistema de transporte de cana-de-açúcar, que considera os equipamentos: conjunto caminhão bitruck com reboques e conjunto cavalo mecânico com


semirreboques. Os equipamentos transportaram a matéria-prima com velocidade média de trabalho de 40km/h, a um raio médio da distância entre a usina e o talhão de 30km e com uma eficiência de disponibilidade de 70%. Com os resultados simulados pelo modelo, foi elaborado um cenário, como apresentam as Figuras 1 e 2. Na Figura 1 é apresentado o custo operacional de produção e variação relativa do custo operacional de produção em função do número de recapagens de pneus do conjunto caminhão bitruck com reboques. O custo na primeira recapagem foi de 7,57 R$/t, na segunda foi de 7,79 R$/t, com um aumento na variação relativa de 2,84%. Na terceira recapagem, o custo foi de 8,00 R$/t, com um acréscimo de 5,69%. Na quarta recapagem, o custo foi de 8,22 R$/t, com um aumento de 8,53%. Na quinta recapagem, o custo foi de 8,43 R$/t, com um acréscimo de 11,38%. A Figura 2 apresenta o custo operacional de produção e variação relativa do custo operacional de produção em função do número de recapagens de pneus do conjunto cavalo mecânico com semirreboques. Na primeira recapagem, o custo foi de 7,30 R$/t, na segunda foi de 7,51 R$/t, com um aumento na variação relativa de 2,92%. Na terceira recapagem, o custo foi de 7,73 R$/t, com um acrés-

Fotos Arquivo

cimo de 5,85%. Na quarta recapagem, o custo foi de 7,94 R$/t, com um aumento de 8,77%. Na quinta recapagem, o custo foi de 8,15 R$/t, com um acréscimo de 11,70%. Como se observa nas Figuras 1 e 2, quando o número de recapagens de pneus passa de três, o custo operacional de produção dos conjuntos tem um crescimento expressivo. Nesse contexto, Banchi et al. (2013), ao realizarem um estudo de gerenciamento técnico com pneus rodoviários de equipamentos canavieiros, determinaram que a viabilidade de reforma dos pneus foi de três recapagens, devido ao maior custo acumulado alcançado e pela menor vida útil em quilômetros do pneu. Nesse sentido, segundo Engenharias (2015), no pneu é

possível ocorrer entre duas e três recapagens, sendo a quantidade total de recapagens variável conforme for a utilização dos pneus. Contudo, é recomendável realizar até duas recapagens e não exceder três recapagens de pneus, a fim de não reduzir a vida útil dos pneus recapados e, principalmente, não elevar expressivamente (impactar) o custo operacional de produção do conjunto de transporte de ca.M na-de-açúcar. Neisvaldo Barbosa dos Santos UFPI Leonardo de Almeida Monteiro UFC Carlos Alessandro Chioderoli UFTM


CAPA

Aponte a câmera do seu celular e assista ao vídeo do test drive

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Valtra A850R

Charles Echer

Com 89cv de potência, o A850R é o novo modelo cabinado da Série A2R da Valtra, um trator de médio porte que se destaca pela versatilidade que as diferentes operações desta faixa de potência exigem

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esmo neste período de pandemia, com as jornadas de trabalho reduzidas e muitos profissionais trabalhando em home office, as empresas estão apresentando novidades nas suas linhas de máquinas para a agricultura. Com uma crise de abastecimento de matéria-prima, os dirigentes têm usado criatividade para lançar novos produtos que se agregam à oferta das marcas. Para conhecer um destes lançamentos, a Revista Cultivar Máquinas deslocou a sua equipe para a cidade de Campinas, São Paulo, para conhecer o trator da marca Valtra, modelo A850R, de 89cv. A linha de tratores da Valtra no País é formada por nove séries e 40 modelos, que vão desde pequenos

tratores fruteiros iniciando em 69cv, até os tratores de grande porte da Série S4, com o maior modelo chagando a 375cv. A série à qual que faz parte o modelo testado é a A2R, que tem quatro modelos: A800R, de 80cv; A850R, de 89cv; A950R, de 99cv, e A990R, de 105cv. O modelo A800R é disponível aos clientes para aquisição pelo programa Mais Alimentos. A série A2R é oferecida ao mercado desde 2019, com os modelos plataformados, e desde o último mês de novembro foi lançada na versão cabinada e apresentada à rede de concessionários. O modelo A850R sucedeu na oferta ao trator modelo A750, que foi muito popular, principalmente entre os pequenos e médios produtores. Embora não seja a série de entrada, pela potência de motor e por ser equipado com

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MOTOR

O motor que equipa este modelo é o 33CwC3, da marca AGCO Power, de três cilindros, volume deslocado de 3.300cm3 e equipado com turbocompressor e intercooler. Na série anterior que a A2R sucedeu, o sistema de injeção de combustível era mecânico e agora a injeção é eletrônica, comandada por uma unidade central posicionada sob o capô dianteiro, em cima do sistema de filtragem do ar. Com esta configuração a potência máxima obtida no motor é de 89cv (65kW) a 2.000rpm pela norma SAE J1995. O torque máximo ocorre a 1.500rpm e alcança 330Nm (33,6kgf.m). Com esta novidade no sistema de injeção, o usuário ganhará em redução do nível de emissões, mais disponibilidade de torque, proporcionado pelo ajuste instantâneo da quantidade, e momento de injeção, proporcionado pelos sensores distribuídos no motor, mas também uma maior proteção, pois se ocorrer alguma falha, o trator entrará em modo de segurança antes que ocorra um dano maior. Ao abrir o capô basculante, que, por sinal, tem ótimo ângulo de abertura, se notam cinco radiadores. O primeiro, do sistema de arrefecimento à água do motor; o segundo, do intercooler; o terceiro, do condicionador de ar; o quarto, do combustível, e o quinto, do óleo do sistema hidráulico.

TRANSMISSÃO

O motor é eletrônico AGCO Power de três cilindros com turbo intercooler

O sistema de controle remoto possui vazão de 40L/ min com duas ou três válvulas de dupla ação

cabine, é um trator de porte médio, multitarefa dirigido ao produtor de médio porte, desde a fruticultura, a pecuária, a horticultura, entre outras atividades que necessitem de um trator desta abrangente faixa de potência. Afinal, o mercado brasileiro oferece muito estes modelos que possuem potência próxima a 100cv.

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O sistema de transmissão deste modelo pode servir a quatro opções do cliente. Primeiramente, a transmissão da versão standard sincronizada com oito velocidades à frente e quatro à ré, a segunda alternativa é uma caixa com 12 velocidades à frente e oito à ré que usa um multiplicador de velocidades, a terceira adiciona um super-redutor “creeper” e proporciona 16 marchas à frente e oito à ré, e como versão mais avançada, a que possui um reversor mecânico sincronizado, dando 12 velocidades à frente e 12 à ré. Como a versão de transmissão presente no modelo que testamos era dotada de super-redutor “creeper” com 16 marchas à frente e oito à ré foi possível encontrar cinco marchas na faixa de 6km/h a 10km/h, mais recomendada para os trabalhos de campo e preparação do solo. Para nós, que conhecemos o princípio tradicional utilizado pela Valtra de utilizar o mesmo óleo de transmissão para o acionamento hidráulico, foi uma surpresa positiva saber que o óleo da transmissão EP SAE 90 é exclusivo dela e que no sistema hidráulico se utiliza o óleo ISO VG 68, específico para sistemas hidráulicos. Também é interessante mencionar que as bombas hidráulicas são externas, localizadas no lado direito do motor, o que evita a necessidade de desmontagem do trator para as manutenções deste sistema. A tomada de potência (TDP) tem rotação standard de 540rpm, mas como alternativas o cliente pode solicitar que o trator venha com a opção 540/540E ou 540/1.000. Em um trator deste porte e faixa de potência é muito impor-


tante a opção de 540 econômica, pois em trabalhos leves, como a pulverização, esta será a mais recomendada. O sistema hidráulico de três pontos utiliza dois robustos pistões externos e possibilita uma capacidade de elevação de 2.600kgf. O acionamento é feito por meio de uma única alavanca. O controle de velocidade de descida do implemento é feito por meio de uma alavanca situada atrás do assento do operador. A barra de tração é do tipo oscilante, com regulagem de altura de engate. O sistema de controle remoto é do tipo Independente e utiliza uma bomba de engrenagem, gerando vazão máxima de 40 litros por minuto com fluxo constante. A pressão máxima do sistema é de 180kgf/cm2. Todos os modelos da série podem vir equipados com uma a três válvulas, de acordo com a necessidade do cliente.

ESTRUTURA

O projeto básico deste trator é finlandês, com algumas características que diferem dos demais. Ao iniciar a apreciação visual do trator nota-se que o suporte dianteiro é uma peça única que à frente serve como suporte dos pesos dianteiros e se estende como suporte do eixo dianteiro até unir-se à parte dianteira do motor. Toda esta peça pesa 230kg e a ela, para a lastragem da parte dianteira, podem somar-se mais quatro peças de 37,5kg cada. O eixo dianteiro motriz da marca ZF tem posicionamento central, mas mantém um bom espaço de vão livre. O depósito de combustível é estrutural, envolvendo a árvore cardânica de acionamento da tração dianteira auxiliar e pode receber um volume de até 79 litros de óleo Diesel, podendo ser expandido até 104 litros com um depósito auxiliar.

à cabine se faz por meio de uma escada de três degraus, com superfície metálica corrugada antiderrapante. A única porta de entrada é a do lado esquerdo e no lado direito o vidro é colado sobre a estrutura da cabine. A saída de emergência é pela janela traseira. Uma vez sentado no assento do operador, nota-se um bom posicionamento dos controles, seja por pedais, alavancas ou interruptores. À frente, um painel com tacômetro, termômetro, medidor de combustível e um painel digital com informações da rotação do motor e do consumo instantâneo de combustível, um horímetro e, quando a TDP estiver acionada, a indicação da sua velocidade angular. Um pouco estranha a posição do acelerador manual, com uma alavanca grande posicionada na lateral do painel, com movimentação para cima acelerando e para baixo a marcha lenta. A regulagem da posição da coluna do volante é feita por um pedal situado

Fotos Charles Echer

Acesso às bombas hidráulicas é facilitado

ERGONOMIA E POSTO DE OPERAÇÃO

Quanto ao posto de operação desta versão cabinada, algumas considerações podem ser interessantes para a análise do projeto. O acesso à porta de entrada

O operador pode fixar uma rotação-alvo que ele deseje utilizar, para o trajeto ou para as manobras

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Fotos Charles Echer

São quatro tipos de transmissão disponíveis: 8Fx4R, 12Fx8R com redutor, 16Fx8R e 12Fx12F com reversor mecânico

O posto do operador pode ser acessado por porta ampla e escadas antiderrapantes

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entre o pedal de acionamento da embreagem e o do freio duplo. No lado direito de todos estes pedais está o acionamento pelo pé do acelerador do regime de rotações do motor. O sistema de controle e escolha de marchas se baseia em duas alavancas colocadas à direita do assento do operador, uma de regime, onde temos as posições de L, H e R, correspondendo ao sistema de baixa, alta e marcha à ré, respectivamente, e a alavanca de marchas com quatro posições, correspondendo 1, 2, 3 e 4. Ainda no lado direito as duas alavancas do sistema de controle remoto, a alavanca única do controle do sistema hidráulico de três pontos, a alavanca acionadora da TDP e a de escolha do regime de rotações, que neste caso selecionava o modo da TDP normal de 540rpm e econômica, 540 E. No lado esquerdo do operador a alavanca do freio de estacionamento e do super-redutor creeper. É interessante que para formar o sistema de uma transmissão de 16 velocidades sobre uma de 12 marchas, o creeper somente atua no grupo de baixa, L. Todo o controle do direcionamento do ar-condicionado e a seleção do seu funcionamento é colocado no teto da cabine. Na parte da frente do operador há três direcionadores de ar e na lateral direita do teto os controles de funcionamento. Na parte traseira uma janela com boa abertura também serve como saída de emergência. Na sua moldura há uma entrada de cabos e chicote de até três polegadas, para a comunicação lógica com equipamentos acoplados. Nota-se um cuidado especial no piso da cabine, protegido por um tapete de borracha com rodapés que impedem que ele se levante, protegendo contra a entrada de sujeira. Na lateral direita, pela parte externa, o projeto contemplou a colocação de uma caixa plástica de proteção à bateria e uma pequena caixa de ferramentas. Como medidas de proteção ao operador o fabricante ofe-


O posto de operador é confortável, possui direção escamoteável e a cabine é ampla e com ótima visualização

rece, entre outros dispositivos, um protetor da TDP do tipo escudo de série. Para colocar o trator em funcionamento há dois dispositivos para segurança e acionamento inadvertido, sendo necessário colocar pelo menos uma das alavancas do câmbio em neutro e pisar na embreagem, que é uma característica da marca.

VÁRIAS HORAS DE TESTE

O teste que fizemos com o trator Valtra, modelo A850R foi nos moldes tradicionais, com muito trabalho de campo e oportunidade de testar as mais diferentes situações. Havia muito tempo e área à disposição e um implemento bem

adequado ao trator. Utilizamos uma grade em V da marca Piccin, modelo GAPCR, com duas seções de oito discos cada, com aproximadamente 2.200mm

de largura útil de trabalho. Durante o teste fomos auxiliados e acompanhados pelo Flávio Pinotti Pastori, que é coordenador de Marketing do Produto, Tratores & Implementos Frontais da Valtra, que em primeiro lugar nos explicou uma funcionalidade muito importante, disponível neste modelo, que é a possibilidade de estabelecer uma memória de rotação. O usuário durante o trabalho pode fixar uma rotação-alvo que ele deseje utilizar, para o trajeto ou para as manobras. Se ele optar por utilizar no trajeto, como é mais comum, poderá retornar à rotação predeterminada somente com um toque em um interruptor. Para fixar a rotação, basta acelerar o trator até a rotação desejada e clicar no interruptor por três segundos que a memória se ativará. Durante o trabalho o usuário perceberá a utilidade deste dispositivo, pois não precisa buscar a rotação desejada no acelerador de pé ou de mão. Mas se durante o uso o opera-

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dor desejar usar o acelerador, este continuará disponível. Durante o teste fizemos passadas consecutivas em um terreno bruto constituído de vegetação mista, com predominância em gramínea tipo braquiária, alternando marchas e rotações. Utilizamos como base a velocidade de 7,2km/h, em 3ª marcha reduzida a 2.000rpm, em que verificamos consumos instantâneos de 8,5 a nove litros por hora, mas também fizemos parte do teste utilizando a 4ª marcha reduzida e também a 1ª marcha do sistema de alta. Concluímos que pelo conforto, consumo de combustível, nível de patinamento das rodas

e estabilidade do conjunto a 3ª marcha do sistema de baixa foi a que melhor se comportou. Pudemos trabalhar uma boa parte da manhã e da tarde avaliando vários pontos do trator que nos interessavam testar. No que se refere ao posto do operador, embora o assento tivesse amortecimento mecânico era possível notar um bom ajuste de posição e proximidade com o volante, de forma a proporcionar bastante conforto. As condições climáticas dentro da cabine eram bastante boas, graças ao excelente condicionador de ar e à adequação da po-

.M

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gares para objetos pessoais, tão úteis para os nossos hábitos atuais de uso de telefones móveis, óculos etc. No interior da cabine o ruído é bastante minimizado, mesmo em uma operação pesada como a gradagem sobre solo firme. Quanto ao motor que já conhecíamos de outros testes, confirmamos a sua capacidade em transmitir torque

e manter a rotação escolhida. Já que o motor agora tem injeção eletrônica, é notável a inexistência de fumaça antes verificada nos motores com injeção mecânica. Este é um dos ganhos obtidos .M por esta nova tecnologia. José Fernando Schlosser, Laboratório de Agrotecnologia Núcleo de Ensaios de Máquinas Agrícolas - UFSM

Teste no campo e no meio da cidade grande O

local dos testes foi o Centro Experimental Central (CEC) do Instituto Agronômico de Campinas, conhecido como Fazenda Santa Elisa. É uma fazenda de quase 700 hectares, muito próxima do centro da cidade de Campinas, onde são desenvolvidas as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação do tradicional Instituto Agronômico que, por sua vez, mantém uma parceria com o fabricante de tratores. Devido à pandemia, o trabalho presencial atualmente é muito reduzido no local, no entanto se nota uma estrutura imensa formada por muitos prédios utilizados na pesquisa científica e tecnológica, principalmente em áreas estratégicas da produção agrícola do estado de São Paulo, como cafeicultura, horticultura, grãos e fibras. Mais além de um simples local de pesquisa, a Fazenda Santa Elisa é uma enorme reserva ambiental, com árvores de grande porte e uma variedade enorme de vegetação. Não poderíamos ter oportunidade melhor de passar um dia de testes com mecanização agrícola. Fotos Charles Echer

sição das saídas de ar. Quanto à visibilidade, notaram-se a amplitude do vidro dianteiro e a boa posição das colunas para melhorar a amplitude e acompanhar possíveis obstáculos no terreno. O volante de pequeno diâmetro e três raios facilita a visualização do painel de instrumentos. Mesmo se tratando de um trator de porte pequeno-médio, o projeto contempla vários lu-

O teste foi realizado na Fazenda Santa Elisa, do IAC, com o apoio do coordenador de Marketing do Produto, Flávio Pinotti Pastori

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Unesp Botucatu

PULVERIZADORES

Adjuvantes ou aditivos? No Brasil ainda não existe uma certificação funcional dos adjuvantes que auxilie os agricultores na seleção de produtos, certificando que de fato cumpram com os objetivos requeridos

H

á uma confusão conceitual em relação aos termos adjuvante e aditivo. Esta confusão em parte foi gerada pela própria legislação pertinente ao tema. Segundo a legislação brasileira, no Artigo 1º do Decreto n° 4.074, de 4 de janeiro de 2002, que regulamenta a Lei n° 7.802, de 11 de julho de 1989, entende-se por adjuvante “produto utilizado em mistura com produtos formu-

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lados para melhorar a sua aplicação” e aditivo como “substância ou produto adicionado aos agroquímicos, componentes e afins, para melhorar sua ação, função, durabilidade, estabilidade e detecção ou para facilitar o processo de produção”. Portanto, segundo a legislação, de maneira resumida, adjuvantes são produtos que são adicionados à calda de pulverização e aditivos são compostos já presentes na formulação dos agro-

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químicos. Entretanto, o mercado consumidor, a indústria e a academia utilizam o termo "adjuvante" de maneira mais generalizada, englobando tanto os componentes de uma formulação como os produtos formulados para mistura em tanque, pois muitas vezes trata-se dos mesmos componentes químicos. Pesquisas realizadas no Brasil e em outros países já constataram que os adjuvantes modificam as propriedades físicas e químicas das caldas de pulverização e, consequentemente, a formação e distribuição das gotas pelas pontas de pulverização, além de proporcionarem interações com os diferentes alvos. O professor Rone B. de Oliveira, em sua tese de doutorado (2011) intitulada de “Caracterização funcional de adjuvantes agrícolas”, já apontava, desde o projeto (2008), que para muitos adjuvantes existia defasagem entre o que está descrito na especificação técnica (rótulo) ou no posicionamento dos fabricantes com relação aos reais benefícios observados na prática. Considera-


era a necessidade da certificação quanto à funcionalidade. O GT da Aenda foi bastante atuante, promovendo várias reuniões, inclusive com órgãos reguladores, como Anvisa, Ibama e Mapa. Na época ainda havia o processo de registro de adjuvantes junto ao Mapa, que eram divididos de maneira simplificada e inadequada em duas grandes classes: óleos e espalhantes adesivos. Por outro lado, a realidade do campo era completamente diferente. Nessa época, o mercado de produtos não registrados no Mapa ou posicionados como "fertilizantes foliares" estava em grande expansão. O GT da Aenda congregava representantes das indústrias que formulavam ou comercializavam adjuvantes (são exemplos Inquima, De Sangosse e Helena), além de fabricantes de componentes de formulação, como Oxiteno, Croda e Akzo Nobel (hoje Nouryon). O grupo contou também com o apoio de pesquisadores representantes de diversas instituições públicas e privadas, muitos dos quais já atuavam com pesquisa em adjuvantes, em sua maioria com foco nas funcionalidades (são exemplos a Unesp, a Uenp e o IAC). Após 2014, o GT da Aenda perdeu força, principalmente com a sinalização do Mapa de que havia o interesse em abolir a necessidade de registro. Em 2016, dada a percepção de demandas Unesp Botucatu

ções posicionadas nesta tese alertavam que a classificação usada à época pelo Mapa para registro dos adjuvantes, classificando os produtos como "espalhantes", "espalhantes-adesivos" e "adjuvantes”, não contemplava as funções reais destes produtos. Desta forma, a própria legislação abria caminho para confusões quanto às informações dos rótulos, bulas ou do próprio posicionamento dos produtos por parte dos fabricantes e usuários. Algumas funcionalidades dos adjuvantes podem ser comprovadas de maneira rápida e direta com ensaios de laboratório, como é o caso de medidas de espectro de gotas, viscosidade, densidade da calda, tensão superficial, potencial de redução de deriva em túnel de vento, entre outros, realizadas rotineiramente há mais de três décadas em universidades e institutos de pesquisas no Brasil. Por esta razão, entende-se que já existem caminhos para processos de avaliação simples e diretos, que podem contribuir para uma classificação funcional dos adjuvantes, permitindo a certificação imediata de uma grande quantidade de produtos que já são comercializados. Entretanto, é adequado que o potencial de uso destas análises seja debatido e aprofundado. A avaliação das diferenças entre adjuvantes ainda requer melhor discussão para a definição de padrões e limites, permitindo que os resultados sejam comparáveis entre si. Assim, um processo de certificação se tornará um ótimo aliado na oferta de produtos com qualidade atestada, valorizando-os e assegurando aos usuários os benefícios propostos da tecnologia e, ainda, orientando a indústria a posicionar adequadamente os produtos com base em suas características e funções.

CERTIFICAÇÃO FUNCIONAL DE ADJUVANTES NO BRASIL

Adjuvantes são produtos utilizados em mistura com produtos formulados para melhorar a sua aplicação

Unesp Botucatu

Entre 2012 e 2014 a Aenda (Associação Brasileira de Defensivos Pós-Patente) sediou um grupo de trabalho (GT) para avaliar a regulamentação de adjuvantes, cujo principal foco era discutir a funcionalidade desses produtos e as maneiras com que essas funcionalidades poderiam ser integradas na regulamentação. Uma das discussões recorrentes nesse grupo de trabalho

Aditivos são substâncias ou produtos adicionados aos agroquímicos, componentes e afins, para melhorar sua ação, função, durabilidade, estabilidade e detecção

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Avaliação de tensão superficial e ângulo de contato de gotas com adjuvantes

Marcelo Costa Ferreira

A taxa de fertilizantes deve sempre ser planejada

Detalhe da cobertura sobre folha de soja

do setor dedicado aos adjuvantes, foi organizado o I Workshop sobre Adjuvantes (WSA) em Caldas Fitossanitárias na Unesp de Jaboticabal, onde houve discussões sobre a regulamentação, com solicitações de interlocução junto ao Mapa. No ano seguinte, entretanto, a desregulamentação ocorreu de fato e os adjuvantes deixaram de fazer parte da lei dos agrotóxicos (DL 4074/2002), passando ao entendimento de “produto de venda livre”. Na edição seguinte do WSA (2018) na Unesp de Jaboticabal, com presença de representantes do Mapa, houve nova discussão sobre os rumos da regulamentação dos adjuvantes, ficando claro o posicionamento do Mapa de que o caminho sugerido seria o da autorregulação do mercado. Durante esta reunião (em 2018), o tema da certificação passou a ser discutido mais a fundo entre pesquisadores representantes de universidades (Unesp, Uenp e UFU) e da indústria (Oxiteno e Aenda), visando fomentar a criação de um novo grupo de trabalho, agora com o objetivo mais focado em um processo de certificação, já considerando o cenário onde o registro dos adjuvantes havia sido abolido pelo Mapa. Uma das ideias consideradas por este grupo era de que a certificação seria o melhor caminho para a autorregulação sugerida pelo Mapa. A partir desta reunião em 2018, o grupo de pesquisadores fez algumas reuniões para tratar do assunto, e uma das ações sugeridas foi uma visita à CPDA (The Council

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of Producers & Distributors of Agrotechnology), entidade nos Estados Unidos que congrega fabricantes de adjuvantes e que desenvolve um programa bem estruturado de classificação e certificação de adjuvantes baseado em funcionalidades. Com o apoio da Oxiteno, o professor Ulisses R. Antuniassi (Unesp/Botucatu) participou de um evento da CPDA em abril de 2019, tendo a oportunidade de conhecer o histórico da evolução da certificação de adjuvantes nos Estados Unidos e ter acesso aos procedimentos utilizados pela entidade para a certificação dos adjuvantes. Paralelamente, ao longo de 2019 houve outros desdobramentos das ações desse novo grupo de trabalho. O principal deles foi o contato inicial feito pelo professor Marcelo C. Ferreira (Unesp/Jaboticabal) com representantes da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), para verificar se a entidade poderia colaborar nas discussões desse processo de certificação e dar encaminhamentos a um GT formal junto à ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) que efetivamente poderia conduzir o processo de produção e publicação de uma norma das funcionalidades e do uso de adjuvantes. Porém, este processo não alcançou ainda grande evolução. A partir de agosto de 2020, o grupo de professores e pesquisadores se reuniu virtualmente e iniciou uma discussão mais profunda e ampla do tema, englobando

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representantes da Unesp, da Uenp, da UFU e do IAC. A temática das discussões tem sido, desde então, a definição de critérios, normas e a necessidade de prover ao mercado um programa de certificação padronizado, nos moldes de um Conselho (como o CPDA), que possa incluir representantes da indústria de adjuvantes, entidades do setor e da academia, focado em uma representação multi-institucional que possa ampliar o alcance e os benefícios ao agronegócio brasileiro. Uma das etapas importantes desse processo será a mobilização da indústria com interesse no setor de adjuvantes (formuladores de adjuvantes e fabricantes de suprimentos), para que sejam parte atuante neste programa de certificação. O objetivo é tornar o setor mais transparente, estável e qualitativo, fornecendo produtos de origem e qualidade avaliadas e atestadas, para que possam ser utilizados com segurança na agricultura. Assim, o uso dos adjuvantes, que apresentam contribuições importantes à aplicação de produtos fitossanitários, poderá assumir uma etapa mais sustentável e justa comercialmente, com conhecimento técnico atestado por laboratórios consolidados, presentes em diversas instituições e regiões do País, buscando uma certificação de alcance nacional. Um fato importante desta proposta é que laboratórios dedicados à certificação já existem (representados por instituições públicas e privadas) e são atualmente aces-


sados tanto pela indústria quanto pelos distribuidores e consumidores dos adjuvantes para a realização de pesquisas ligadas à sua caracterização funcional. Ou seja, o processo de certificação já tem a sua base tecnológica, faltando apenas sua padronização e formalização. O trabalho de organização e textualização proposto por esse grupo de trabalho iniciado em 2018 chega como demanda de um segmento que pretende amadurecer, se aprimorar e se consolidar como parceiro do setor produtivo junto ao agronegócio nacional.

tes, certificando que de fato cumpram com os objetivos requeridos. Esta certificação auxiliará no bom desenvolvimento do mercado de adjuvantes, sem impor entraves burocráticos, podendo inclusive tornar-se referência mundial no setor. O país já dispõe de laboratórios e metodologias para determinação de características intrínsecas dos adjuvantes, sendo que parte dessas metodologias já é abordada em normas técnicas. Este conhecimento acadêmico pode oferecer ao setor agrícola informações importantes para que o uso correto de adjuvantes continue contribuindo com qualidade e segurança das aplicações. Tais informações também podem orientar pesquisas para o desenvolvimento de produtos novos, com foco na solução de problemas específicos. Ações multi-institucionais são importantes a partir de agora. Para que um processo de certificação tenha o alcance nacional necessário, visando atender à diversidade de mercados e de aspectos regionais do agronegócio brasileiro, sugere-se a criação de um conselho que congregue representantes dos fabricantes, canais de comercialização e consumidores, fomentado pela pesquisa científica já existente e disponibilizada pela academia no Brasil. Sobretudo, é fundamental que a indústria com interesse no mercado de adjuvantes se organize para alavancar e participar ativamente dessas ações, de forma que tenhamos a desejada, contributiva e necessária autorregulação do mercado de ad.M juvantes no Brasil.

CERTIFICAÇÃO DE ADJUVANTES: A EXPERIÊNCIA NO MUNDO

João Paulo Arantes Rodrigues da Cunha, UFU Marcelo da Costa Ferreira, Unesp Jaboticabal Marco Antonio Gandolfo Rone Batista de Oliveira, Uenp Ulisses Rocha Antuniassi, Unesp Botucatu Unesp Botucatu

No mundo todo a regulamentação da comercialização e/ou a certificação de funcionalidades dos adjuvantes é algo bastante diversificado. Vários exemplos podem ajudar a entender o cenário internacional e mostrar como a temática é relevante e necessária atualmente. Nos Estados Unidos, conforme citado anteriormente, há uma certificação voluntária, coordenada pelo CPDA, que é um conselho que congrega representantes da indústria. É o CPDA que estabelece os padrões mínimos que devem ser seguidos para receber um selo de certificação. As ações deste conselho nortearam historicamente a evolução de metodologias e normas técnicas para ensaios de adjuvantes nos Estados Unidos, atuando de maneira coordenada com a ASTM (American Society for Testing Materials), entidade que desenvolve e publica as normas técnicas. No Chile, os adjuvantes precisam estar registrados no órgão competente, seguindo exigências muito semelhantes aos produtos fitossanitários. O país tem um dos sistemas mais exigentes da América Latina para registro de produtos. Na página do Ministério da Agricultura chileno há uma lista de adjuvantes disponíveis, com o ingrediente ativo de cada formulação, bem como o objetivo e/ ou função de cada produto, o que auxilia a seleção. Na Argentina o sistema é semelhante ao chileno. Os adjuvantes devem ser aprovados pelo Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar, passando por estudos toxicológicos, caracterização físico-química e ensaios de eficiência. Além disso, há a necessidade de inscrição por Estado da Federação. No Uruguai, os produtos também precisam de registro, mas o país está buscando uma forma de classificar e ensaiá-los de forma diferente dos fitossanitários e, portanto, mais adequada ao propósito destes produtos. Em outras palavras, o Uruguai também está preocupado com o tema no sentido de melhorar o uso dos adjuvantes a campo. Na Europa não há uma legislação que harmoniza as regras para a autorização de adjuvantes, havendo diferenciação entre os países. Contudo, a maioria dos Estados-Membros da Comunidade Europeia concorda que é necessária uma abordagem harmonizada, uma vez que os adjuvantes são efetivamente participantes do processo de proteção dos cultivos (European Commission, 2020).

NECESSIDADE MULTI-INSTITUCIONAL

Considerando este contexto, fica claro que o Brasil precisa de um mecanismo que auxilie os agricultores na seleção de adjuvan-

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TRATORES

Na medida exata A compatibilidade entre disponibilidade e necessidade de máquinas em uma propriedade implica custos, desde a aquisição até os de sua utilização. Por isso, uma boa seleção dos tratores e implementos pode garantir menores custos fixos e variáveis ao longo dos anos

N

o Brasil, existe hoje uma disponibilidade muito grande de tratores, colhedoras e demais máquinas e implementos agrícolas capazes de atender a todas as atividades demandadas pela agropecuária, incluindo a parte de produção de grãos, forrageiras, florestal, hortifrutigranjeiros, pecuária intensiva e extensiva etc. Como exemplo, somente em termos de tratores, há atualmente em torno de 20 marcas ou empresas que fabricam e ou revendem aproximadamente 280 modelos de tratores com potência variando de 20cv a 600cv. Em relação às colhedoras de grãos, há menor número de fabricantes, porém há pelo menos 35 modelos dessas máquinas sendo vendidas no Brasil, com potência variando entre 150cv e 700cv. Da mesma forma, pode-se citar fabricantes de outras máquinas e implementos agrícolas desde arados, grades, escarificadores, enxadas rotativas, pulverizadores, carretas graneleiras, distribuidores de sólidos, semeadoras, plantadoras, avião agrícola, colhedoras de cana-de-açúcar, algodão, café, tubérculos, forragens, dentre outras. Independentemente do processo agrícola a que se destina a propriedade e do tipo de agricultura praticada, familiar ou de escala, o trator ainda é a máquina mais utilizada. Assim, a primeira necessidade visa escolher, selecionar e adequar os conjuntos mecanizados (por exemplo: trator mais semeadora-adubadora) em termos de compatibilização mecânica, de potência e de capacidade de campo efetiva. A compatibilização mecânica se refe-

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re sobre a possibilidade ou não de acoplamento e/ou acionamento entre um conjunto trator + implemento, sendo esta muito fácil de ser obtida e já é de domínio da maioria dos agricultores. Como exemplos práticos de compatibilização mecânica podemos citar um conjunto trator mais arado de discos, montado, de categoria II, o qual não é possível acoplar em trator que possua sistema hidráulico de três pontos de categoria I. Outros exemplos seriam uma semeadora-adubadora de arrasto, acoplada à barra de tração (BT), ou uma ensiladora montada, que possui acionamento da bica de descarga e do defletor de saída por pistões hidráulicos, não podem operar com trator que não possua sistema hidráulico de acionamento remoto (válvulas de controle remoto – VCR). Há também, mais recentemente, a incompatibilidade tecnológica, ou seja, a ausência de componentes mecânicos ou eletrônicos que dificulta e ou impede a “comunicação”, por exemplo, entre o trator e a máquina. A compatibilização trator-implemento em termos de potência é o ajuste entre o esforço exigido pelo implemento na Tomada de Potência (TDP) ou entre a força de tração na BT e a velocidade de deslocamento com a disponibilidade de potência do motor, considerando as perdas envolvidas nos dois processos. Se for utilizada a TDP do trator, a perda de potência se situa na média de 15%, em relação ao motor operando na sua rotação máxima, o que não é recomendado pelos fabricantes e que não deveria ocorrer na prática. A rotação de trabalho da TDP dos tra-

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Charles Echer

tores situa-se em torno de 90% da máxima para a TDP540 Normal e por volta de 70% na TDP540 Econômica. Assim, se for utilizada a TDP540 Normal de um trator de 100cv para acionamento de uma bomba de irrigação ou de um gerador de eletricidade, por exemplo, a potência máxima disponibilizada para o acionamento seria de 77cv (100cv x 0,85 x 0,9 = 77cv). Caso fosse utilizada a TDP540 Econômica, a disponibilidade seria ainda menor, em torno de 60cv (100cv x 0,85 x 0,6) na TDP. Caso o trator, além de fornecer potência para acionamento da TDP, ainda tenha que exercer força de tração, como, por exemplo, acionar a bomba de pistões e a turbina de um atomizador fruteiro, com capacidade de dois mil litros, deve ser feita a soma das exigências de potência (BT e TDP) do mesmo para compatibilizar com a potência do motor do trator. A compatibilização por exigência de potência na BT ou na TDP é ensinada nas melhores Universidades do Brasil, mas sabe-se que mesmo muitos profissionais da área não possuem conhecimento nem ferramentas para realizar este dimensionamento, que depende do trator, da máquina, do solo, do terreno etc. Em geral, os agricultores se baseiam em informações de catálogos dos fabricantes de máquinas ou mesmo de exemplos de conjuntos mecanizados já utilizados por vizinhos. Por isso, é de suma importância que os fabricantes de máquinas e implementos tenham especificações claras e confiáveis sobre esse assunto nos catálogos de venda dos seus produtos. Da mesma forma, os conjuntos mecanizados devem ser compatíveis em termos de capacidade de campo efetiva (CCE) para atender a quantidade de hectares a serem trabalhados em determinado tempo disponível (TD). É a compatibilização mais complicada no planejamento agropecuário. Isso porque é muito difícil prever, com razoável grau de acerto, o tempo disponível para realizar operações agrícolas no campo. Embora se utilizem modelos matemáticos baseados em dados climáticos de longa duração, nem sempre o clima, em especial o regime de chuvas, segue a tendência normal estimada. Assim, em muitos planejamentos são utilizados valores de tempo disponível médios ou até baixos, o que

pode implicar superdimensionamento do parque de máquinas da propriedade. Se o planejador ou agricultor considerar valores de tempo disponível súper ou subestimados, implica possuir um parque de máquinas maior do que o necessário ou poderão faltar conjuntos mecanizados para cumprir as tarefas previstas. Para amenizar essa situação de não saber exatamente como vai se comportar o clima, há alternativas para contornar ou pelo menos amenizar o problema, como utilização de variedades de culturas com diferentes ciclos e mesmo culturas diferentes no ano agrícola. Assim, em caso de falta ou excesso de chuva, pode-se utilizar variedades com ciclo mais precoce ou mais tardio ou trocar a cultura inicialmente prevista. No entanto, caso o agricultor já tenha efetuado a compra das sementes de uma determinada variedade de uma cultura, essa alternativa já não é aplicável. A falta de pontualidade em relação à época da semeadura e/ou plantio de determinada cultura afeta, consequentemente, as demais operações, desde os tratos culturais até a colheita. Além de interferir nas questões legais de seguro agrícola (semeadura fora da época recomendada pelo zoneamento agrícola da região), em geral afeta negativamente a produtividade. Assim, conseguir realizar, no período adequado e recomendado, todas as operações mecanizadas para implantação e condução de uma determinada cultura, passa pelo correto dimensionamento do parque de máquinas e no planejamento operacional, que é extremamente dependente dos dias disponíveis para trabalho no campo. A compatibilidade entre disponibilidade e necessidade de máquinas em uma propriedade implica custos, desde a aquisição até os de sua utilização. Um parque com muitas máquinas, com baixa utilização, implica altos custos fixos. Um parque com pouca disponibilidade de máquinas pode não atender às tarefas planejadas no período exigido e recomendado. Assim, outro dado fundamental nas propriedades é saber qual o custo horário de utilização (R$/h) da maquinaria. Um trator ou qualquer outra máquina ou implemento agrícola, quanto mais horas for uti-

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Composição do custo horário (em percentual) de um conjunto trator-semeadora, para uma propriedade que opera com sistema plantio direto, com área estimada de 600 hectares por ano (considerando safras de inverno e de verão)

tenção de um abrigo para as máquinas (custo fixo) tem relação direta com depreciação (custo fixo) e com reparos e peças (custos variáveis). Há máquinas para as quais é muito recomendado que seja pago seguro, como trator, colheitadeiras, distribuidores e pulverizadores autopropelidos e semeadoras, em especial pela possibilidade de ocorrência de incêndios ou de acidentes.

EXEMPLO PRÁTICO

ca ou tecnologicamente, ou seja, embora ainda esteja em perfeitas condições de trabalhabilidade, fatores mais modernos de tecnologia impedem ou, no mínimo, restringem o seu uso. Há uma estreita relação entre custos fixos e variáveis e mesmo entre os custos fixos e entre os custos variáveis. Por exemplo, se o produtor atentar para realizar corretamente a manutenção programada de sua máquina (custo variável), isso provavelmente se refletirá em menor gasto com combustível e com reparos e peças (também custos variáveis). Da mesma forma, irá implicar maior vida útil da máquina (mais anos de uso ou mais horas de uso nos anos) e menor depreciação (custo fixo). Uma mão de obra qualificada, mesmo com custo pouco mais elevado, pode reduzir custos variáveis como depreciação, combustível e reparos e peças, além de propiciar mais trabalho – mais área semeada, colhida, pulverizada por hora de trabalho. O custo de construção e manu-

Fotos Renato Levien

lizado por ano, em geral menor é seu custo operacional e menor é a chance de se tornar obsoleto com baixo número de horas trabalhadas. Atualmente existem no mercado diversos programas computacionais para cálculo do custo operacional de máquinas. Os custos fixos envolvem depreciação, juros, seguro, abrigo e mão de obra. Os custos variáveis englobam gastos com combustível, reparos e peças e manutenção programada, como troca de óleos lubrificantes, de filtros de ar e de óleo, graxa, aditivos etc. Somando-se os custos fixos e variáveis (R$) e dividindo-se este valor pelo total de horas planejadas na vida útil da máquina (h), resulta o custo horário (CH) de utilização (R$/h). A vida útil de uma máquina é obtida multiplicando-se o número de anos de uso planejados pelo número de horas trabalhadas por ano. Importante considerar no planejamento o tempo em que a máquina poderá se tornar obsoleta, mecâni-

Fazendo-se, como exemplo, um cálculo de custo horário de utilização (CH) de um trator 4x2 com TDA, com cabine, potência de 80cv, com valor de aquisição de R$ 225.000,00 (novo) e prevendo-se uma vida útil de 15 anos e utilização de 600 horas por ano (agricultura familiar, lavoura com grãos em plantio direto), teremos os seguintes valores (em R$/h) por rubrica de custos fixos: Depreciação: 18,00; Juro: 14,00; Seguro: 8,00; Abrigo: 8,00 e Mão de obra: 16,00 (considerando pagamento de salário mensal de R$ 2.000,00 e mais os acréscimos legais de férias, 13º etc.). A soma dos CH fixos daria R$ 64,00. Os custos variáveis, também em R$/h, seriam: Combustível: 32,00; Reparos e Peças: 16,00 e Manutenção Programada: 4,00. A soma dos CH variáveis daria R$ 52,00. O total do custo de utilização do referido trator seria de R$ 116,00 por hora. Se convenientemente estimada a vida útil do trator (15 anos de uso e 600 horas de uso no ano), com o valor calculado de CH se consegue pagar os custos de utilização. Se for contabilizado o total

Incompatibilidade trator-implemento: exigência de potência da semeadora maior do que o potencial de tração do trator

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Fotos Renato Levien

Obsolescência em máquinas agrícolas: nos detalhes trator com apenas uma válvula de controle remoto (VCR) e a ensiladora necessitando de duas saídas dos valores calculados para Depreciação e somados com o valor obtido com sua venda após os 15 anos de uso, o montante deveria ser o suficiente para adquirir outro modelo de trator novo, semelhante. Às vezes esse cálculo não “fecha” devido a novas tecnologias adicionadas ao trator, mesmo tendo a mesma potência que foi considerada no exemplo (80cv). Se esse trator operar com uma semeadora-adubadora de precisão com seis linhas, espaçadas em 50cm, com valor de aquisição nova de R$ 100.000,00 e previsão para uso por 15 anos e 100 horas por ano, o CH de utilização (em R$/h) desta máquina seria: Depreciação: 50,00; Juro: 22,00; Seguro: 15,00; Abrigo: 10,00 e Reparos e Peças: 33,00. Assim, daria um CH de R$ 130,00 por hora. Supondo que o conjunto trator-semeadora tenha uma capacidade de campo efetiva de 1,3ha/h (seis linhas espaçadas em 0,5m; velocidade média de 5km/h e eficiência operacional de campo de 86%), o custo para semear um hectare com o conjunto trator-semeadora especificado seria de R$ 190,00 (R$ 116,00/h do trator mais R$ 130,00/h da semeadora dividido por 1,3ha/h). Muitos agricultores entendem que vários desses itens que compõem o custo horário de utilização não são levados em consideração, que somente há gasto com mão de obra, combustível e manutenção programada. Mas quando vão pagar um serviço mecanizado terceirizado, notam que os valores cobrados, além dos calculados anteriormente, são maiores, pois é embutido um valor de lucro pelo proprietário da mesma. Cálculos semelhantes podem ser feitos para estimar o custo horário de utilização de máquinas usadas. Porém deve-se atentar ao fato de que, dependendo do tempo de utilização, não serão mais contabilizados a Depreciação nem o Seguro. No entanto, pode-se ter maiores valores relativos a custos com Combustível, Reparos e Peças e com Manutenção Programada, em função do tempo de uso. Assim, nem sempre o CH de um trator usado é menor do que de um novo. Constatou-se, nos exemplos apresentados, que o custo hora do trator é maior do que o da semeadora, mesmo esta última custando menos da metade do valor do trator. Isso se deve à reduzida vida útil considerada para a semeadora (15 anos e 100h por ano). No caso considerado, para a agricultura familiar, nem sempre são atingidos esses valores de horas de vida útil do trator e da semeadora, quando se emprega o plantio direto para culturas de grãos. Em alguns casos, fica evidente que seria muito mais econômico ao produtor contratar serviço mecanizado para as suas lavouras,

devido à pequena área cultivada e, por isso, à baixa utilização de maquinário. No entanto, nem sempre o agricultor poderá contar com o serviço terceirizado na hora que precisar, por um preço justo e também com a qualidade necessária. Assim, mesmo custando mais caro, prefere adquirir sua própria mecanização e não ficar dependente de terceiros, em especial para as operações agrícolas mais importantes e fundamentais, como semeadura, tratos culturais e colheita, no caso de culturas produtoras de grãos. Em propriedades menores, da agricultura familiar, é comum a baixa quantidade de horas trabalhadas com a maquinaria existente, em relação às médias e às grandes. Uma das variáveis que reduzem um pouco o CH de utilização é que, nesse tipo de propriedade, as máquinas são utilizadas por muito mais anos, compensando, em parte, o baixo número de horas de uso no ano. No entanto, deve-se considerar que, recentemente, houve uma mudança muito rápida de tecnologias incorporadas às máquinas e pode ocorrer a obsolescência dos bens. A solução é a venda desse usado. Mas ficam as perguntas: vender por quanto? O mercado de usados vai absorver essa maquinaria até quando? Às vezes, o valor do CH de uma máquina, por exemplo um pulverizador de barras autopropelido, é, aparentemente, bastante elevado (R$ 410,00/h). Mas se for dividir o CH pela área trabalhada por hora (22ha/h), tem-se um custo de R$ 19,00 por hectare aplicado. Assim, é sempre melhor expressar o custo de utilização das máquinas por hectare trabalhado. Nos últimos anos percebeu-se que houve uma mudança na composição percentual dos itens que compõem o custo horário de utilização, em que a rubrica Combustível (logicamente nas máquinas com motor) tem sido bem superior às demais. Também há rápida e alta depreciação dos bens nos primeiros dois anos de uso (ao redor de 30% do valor do novo). A partir do terceiro ano, há uma redução gradual e constante do valor da máquina, em torno de 5% a 8% a.a, até atingir ponto de venda ou de sucata. Concluindo, vemos que uma boa seleção, o adequado dimensionamento e uma eficiente utilização das máquinas agrícolas interferem atualmente de forma muito impactante na condução e no custo dos empreendimentos agropecuários e, .M por consequência, na sua lucratividade financeira. Renato Levien e Michael Mazurana, Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da UFRGS

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AVIAÇÃO AGRÍCOLA

Rota promissora A aviação agrícola, além de ganhar novos aliados, como drones, está ampliando o número de usuários e também popularizando aeronaves com maiores capacidades operacionais, por atender mais áreas em menos tempo

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m um futuro breve a aviação agrícola, com certeza, estará sendo realizada com operações integradas. Utilizando-se aeronaves, sejam elas de asa fixa ou rotativa, associadas a outras modalidades de aplicação (aérea e terrestre), tais como a utilização de drones que começam a despertar grande interesse por parte de produtores, será uma realidade. Em áreas de difícil acesso, em determinados nichos de atuação, em locais pontuais de controle, a utilização destas máquinas representará uma importante ferramenta ao produtor rural, resultando em melhor controle fitossanitário com maior especificidade. O emprego destas aeronaves (drones) será ampliado em número e capacidade operacional. Adotando-se eletrônicas embarcadas, proporcionando operações de aplicações em diferentes horários, seja durante o dia ou mesmo à noite, responderão por fatores que contribuirão de maneira significativa para ampliação e maior segurança na aplicação dos produtos fitossanitários. A tendência também de adoção de aeronaves de maior ca-

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Outubro 2020 Dezembro 2020• www.revistacultivar.com.br / Janeiro 2021 • www.revistacultivar.com.br

pacidade de carga, com maior velocidade e maior faixa de trabalho, será no Brasil, algo que num curto espaço de tempo estaremos vivenciando, como o que já ocorre, por exemplo, nos EUA, onde 80% da frota operacional é caracterizada por aviões de grande porte, com maior capacidade de carga, maior faixa de trabalho e velocidade de deslocamento, resultando, consequentemente, em um maior rendimento operacional encontrado nas denominadas “aeronaves turbo”. Entretanto, o emprego nas operações das aeronaves de pistão, que atualmente ainda representa o maior percentual da frota brasileira, será num futuro, direcionada para as áreas de menor tamanho, influenciada diretamente pela competição com as aeronaves de maior rendimento operacional, e que deverão atender às maiores áreas. Considerando o número destas aeronaves existentes no País, essa passagem será gradual, o que permitirá ainda observar seu uso nas grandes áreas. Objetivando proporcionar maior dinamismo às empresas, redução de custos e utilizando a equipe técnica existente, diversos empresários, aproveitando a sua estrutura operacional, têm adqui-


rios eletrônicos para serem instalados nas aeronaves, garantindo uma aplicação mais segura, mais precisa, ao menor custo. Equipamentos de abertura e fechamento automático em pontos previamente plotados, ampliando a precisão na distribuição nos pontos desejados, determinando de forma automática a interrupção na aplicação em áreas de segurança/restritas, têm tido um forte crescimento.

NOVAS TECNOLOGIAS

rido aeronaves com maior desempenho, o que tem refletido no aumento da área trabalhada com a aviação agrícola. Isso pode ser verificado na Figura 1, onde se observa que nos últimos dez anos houve um crescimento significativo na frota brasileira de aeronaves, com cerca de 57,6%, sendo que, dentre elas, 19% adotam o querosene (empregado nas aeronaves turbo), 35% álcool e 46% utilizam a gasolina como combustível, concentrando, em sua maioria, nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste. Do ponto de vista da tecnologia da aplicação, temos verificado também uma evolução muito rápida nos últimos anos e um aprimoramento no fornecimento por parte do empresariado fabricante de equipamentos, de melhoria nos acessó-

Wellington de Carvalho

Charles Echer

Outras tecnologias já disponíveis, mas de custo ainda elevado, associadas aos sistemas de DGPS incorporando funções que permitem em tempo real (o que será algo bastante comum) o acompanhamento destas aeronaves e seus equipamentos de aplicação a distância, possibilitarão ao produtor, ou ao técnico responsável, fazer o monitoramento e trocar informações com ações imediatas e pontuais durante o processo de aplicação, resultando numa maior segurança na condução destas aeronaves e nos trabalhos realizados. A instalação de sensores de identificação instantânea em aplicações controladas, quer de produtos líquidos e/ ou sólidos, em conjunto com outros parâmetros, como a verificação das condições meteorológicas, risco de deriva, in-

dicação de tamanho de gota nas diferentes taxas de aplicação, estará presente na maioria das aeronaves. No que tange à formação profissional, tem havido também um crescimento na procura de aperfeiçoamento profissional, visando mão de obra mais qualificada na área de tecnologia de aplicação aérea. Objetivando absorver estas novas tecnologias, recentemente o Ministério da Aeronáutica elaborou uma nova grade curricular dos cursos de formação de pilotos agrícolas, onde foram inseridos e/ou aperfeiçoados temas relacionados a legislação ambiental, produtos e técnicas de aplicação e cuidados ambientais. Do ponto de vista da sociedade, teremos também uma mudança de paradigmas, com a maior exposição da aviação agrícola, haverá maior esclarecimento sobre o uso desta técnica, situação diferente do que vem acontecendo em algumas regiões do País, onde muitas das demandas contrárias ao uso destas máquinas têm sido pautadas por argumentos com cunhos ideológicos e não técnicos. Com a expansão das novas ferramentas de mídia cada vez mais presente, serão possíveis o acompanhamento e a verificação das aplicações aéreas e terrestres realizadas adotando critérios técnicos. As perspectivas mundiais de crescimento da agricultura brasileira indicam

Bateria de drones utilizados nas pulverizações aéreas

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Fotos Wellington de Carvalho

Uso de aeronaves no combate a incêndios

que haverá uma necessidade cada vez maior de profissionais com conhecimentos técnicos, quer das máquinas aplicadoras, quer sobre os produtos fitossanitários utilizados, e a nova geração destes produtos tem se caracterizado por serem cada vez mais concentrados, mais técnicos, mais seletivos, menos agressivos, o que exigirá a adoção de tecnologias que permitam explorar todo o potencial destes produtos, o que exigirá mais cuidados na aplicação e cumprimento das boas práticas agrícolas. Somadas a isso, as ações regulatórias deverão ser mais participativas, menos impositivas e haverá uma integração de aprimoramento legal na utilização destas tecnologias.

A AVIAÇÃO AGRÍCOLA NO AGRONEGÓCIO

Cada vez mais a aviação agrícola tem se consolidado com o crescimento no agronegócio. A aviação agrícola nos últimos anos tem ampliado sua participação e importância no desenvolvimento na produção e na produtividade de diversas culturas, em especial nas culturas de soja, milho, cana-de-açúcar, algodão, arroz, ci-

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tricultura e silvicultura, representando culturas importantes e estratégicas desenvolvidas no Brasil. O crescimento não só da frota, mas da busca da qualidade operacional na adoção de boas práticas agrícolas, tem sido uma constante entre os operadores, que têm buscado informações sobre técnicas e equipamentos e a adoção de sistemas que permitam uma melhor qualidade na aplicação. Exemplo disso, o Programa de Certificação Aeroagrícola Sustentável (Programa–CAS), desenvolvido em parceria com três universidades, envolvendo professores/pesquisadores de renome no cenário nacional na área de tecnologia de aplicação, com o apoio de diversos órgãos (indústria, representações de classe, produtores), tem tido uma aceitação favorável por parte dos usuários que buscam qualidade e sustentabilidade nas suas produções, com objetivo de aumentar a responsabilidade ambiental nas aplicações através do controle dos fatores que levam a uma pulverização eficaz e segura de defensivos. Isto pode ser observado no segmento da cana-de-açúcar, uma área importante estratégica na matriz energética, extremamente competitiva, em que se buscam qualidade, eficiência, redução de custos, preservação ambiental nos diferente processos de produção, que tem exigido que as empresas prestadoras de serviços adotem boas práticas agrícolas na aplicação dos produtos em suas áreas, refletindo a credibilidade atribuída aos participantes do programa. O programa CAS possui basicamente três pilares de sustentação: 1) gestão da informação; 2) a contínua e pontual verificação das condições meteorológicas durante todo o processo de pulverização/aplicação e 3) a adoção e a colocação em prática de técnicas para a redução da deriva (TRD). Nela, as empresas e aeronaves participantes do programa recebem periodicamente uma inspeção para o cumprimento destas ações e são identificadas com um selo. No ano de 2020, duas áreas de atu-

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ação da aviação agrícola se destacaram e foram amplamente divulgadas na mídia. Uma foi o efetivo uso de aeronaves no combate aos incêndios florestais em diferentes localidades do País, principalmente na regiões do Centro-Oeste, em grandes reservas biológicas e em áreas urbanas, contribuindo com as brigadas de solo de forma participativa e eficaz. Essa projeção possibilitou que muitos que desconheciam as ações e a amplitude de atuação da aviação agrícola pudessem ter uma ideia melhor sobre esta atividade. Outro destaque foi o uso de aeronaves em alguns países da América do Sul, principalmente na Argentina e em algumas regiões do Brasil (MT e RS), no controle da praga do gafanhoto, que neste ano de 2020 ocorreu com grande intensidade. O gafanhoto se caracteriza por ser uma praga extremamente destruidora das plantações, destacando sua a capacidade de consumir o equivalente ao seu próprio peso/dia, proporcionando consideráveis prejuízos às lavouras. Relacionados ao controle de vetores, em alguns países, tal como ocorre nos EUA, é comum estados e prefeituras contratarem empresas de aviação agrícola para frequentemente realizar aplicações controladas sobre cidades, uma prática que contribui para a redução de doenças (sem que haja contaminações). Entretanto, apesar de já existirem produtos biológicos disponíveis de alta eficiência de controle e produtos químicos de baixo impacto, similares aos utilizados nas pulverizações rotineiras terrestres nos grandes centros, ainda há uma barreira que tem impedido que estas operações possam ser desenvolvidas no Brasil.

Wellington Pereira Alencar de Carvalho


Frota de aeronaves no Brasil

colas destacando rapidez, eficiência, qualidade das pulverizações, a não compactação do solo e o amassamento das lavouras provocados pelos equipamentos terrestres. Na aplicação terrestre, os índices de perdas variam entre 2% e 5%, dependendo das condições de solo, do desenvolvimento da cultura, do tipo de equipamento terrestre utilizado, do tipo de rodado, da distância de passagem das máquinas aplicadoras, da disponibilidade operacional de rendimento de trabalho x momento da aplicação e da transmissão de pragas e doenças (contato da máquina na planta, transferindo de um ponto ao outro na lavoura). Estes fatores tornam a aplicação aérea extremamente competitiva, com custos reduzidos, proporcio.M nando aumento de lucratividade ao produtor. Wellington Pereira Alencar de Carvalho, Ufla

Desafios da aviação agrícola

N

A aviação agrícola é regida por normas bastante rigorosas nos âmbitos federal, estadual e municipal. Entre estas normas, se destacam as normativas do Mapa/Anac. Estes órgãos realizam constantemente inspeções dos relatórios, das aeronaves, das operações e determinam que os dados, além de serem armazenados nas empresas para efeito de conferência e fiscalização periódica, devem ser enviados obrigatoriamente como parte do relatório de atividades sob a responsabilidade de profissionais engenheiros e técnicos que executaram as operações. A empresa de aviação agrícola, no seu organograma, é constituída por um engenheiro agrônomo (responsável técnico da empresa, denominado de coordenador de aviação agrícola); por um técnico agropecuário com a formação de executor em aviação agrícola e que acompanha as operações em campo, proporcionando um “suporte aos pilotos sobre o que está ocorrendo nas deposições” (por lei, para cada aeronave em operação deverá sempre haver um técnico na área); o piloto agrícola (o profissional piloto obrigatoriamente deverá possuir o curso de especialização para operações aeroagrícolas), e os colaboradores administrativos. Para esta qualificação, são oferecidos cursos para coordenadores, executores e pilotos agrícolas, que são realizados sob a delegação de competência e supervisão/inspeção expedida pelo Mapa e a Anac, com enfoque na gestão das empresas e operações, conhecimento e cuidados com os produtos fitossanitários, equipamentos, boas práticas agrícolas, o ambiente e a legislação específica agrícola, aeronáutica e ambiental. No aspecto econômico, trabalhos e resultados obtidos por diferentes pesquisadores relacionados ao uso de aeronaves agrí-

este contexto de previsões de necessidade de aumento de produção e produtividade, no fornecimento na cadeia alimentar humana e animal, as perspectivas de uma agricultura tecnificada, econômica e sustentável será o foco a ser conquistado, e os desafios exigirão determinação e comprometimento na preservação ambiental, cenário onde a aviação agrícola tem se consolidado. • É mais que provado que a aviação agrícola é uma ferramenta importante na produção agrícola, com aplicações seguras e eficientes. • Temos desafios ainda a enfrentar, entre eles a necessidade de reduzir a burocracia administrativa. • Reduzir sombreamento de legislações nos âmbitos federal, estadual e municipal. • Necessidade de mais valorização aos serviços prestados. • Divulgação ao produtor e à sociedade geral dos benefícios da aviação agrícola, destacando que a atividade é uma aliada da produção e do ambiente. • Ampliação e fortalecimento da formação profissional dos técnicos envolvidos e a disponibilização e cessão de aeronaves duplo comando e/ou simuladores às escolas de formação de pilotos. • Criação de incentivos fiscais à atividade da aviação agrícola, redução de cargas tributárias a aeronaves e equipamentos. • Maior interação entre os fabricantes, assistência técnica à comunidade da aviação agrícola – empresários, pilotos e técnicos. • Aprimoramento nas bulas de produtos envolvendo a aplicação aérea. • Reconhecimento do uso no Brasil da aviação para o controle de vetores na saúde pública e a liberação do emprego de retardantes biodegradáveis no combate a incêndios florestais.

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TECNOLOGIA

Sensoriamento d

Avaliação de ferramentas do controle estatístico de qualidade mostra a qualidade de leitura de diferentes métodos de sensoriamento remoto na agricultura

O

Amazone

Sensoriamento Remoto (SR) tem se mostrado uma importante ferramenta para o setor agropecuário, tendo grande aplicação em todo o ciclo produtivo. Capaz de obter informações da vegetação sem o contato direto entre o sensor e o alvo, essa ciência auxilia o produtor rural no monitoramento da lavoura e facilita o processo de tomada de decisão em campo. São inúmeros os empregos do SR no campo, em especial dos índices de vegetação (IV), índices esses resultantes de equações matemáticas calculadas com base na resposta da planta em diferentes comprimentos de onda. Na pecuária, os índices de vegetação têm contribuído para a estimativa de biomassa forrageira e consequentemente a definição da taxa de lotação animal. Estes fatores são fundamentais para atingir bom manejo das pastagens, de modo a evitar a degradação. Na agricultura, índices de vegetação como o NDVI (Índice de Vegetação da Diferença Normalizada) permitem identificar alterações na cultura em decorrência de deficiências nutricionais, doenças e ataque de pragas. Além disso, são fundamentais para estimativas de produtivida-

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de, dado importante para o planejamento e destinação da safra. Os sensores utilizados para estes fins podem se encontrar em três níveis de coleta, sendo eles: orbital (satélite), aéreo (drones, aviões) e terrestre. O fator atribuído a sua escolha é a necessidade do produtor, uma vez que estes sensores apresentam respostas distintas intrínsecas às suas características – resoluções - e à disponibilidade de recursos. Ademais, as condições da área, como, por exemplo, a extensão, e da cultura, como a duração das etapas fenológicas e do ciclo, são essenciais para a determinação do sensor a ser utilizado.

FERRAMENTAS

Para aferir a qualidade dos dados coletados e gerados por meio do Sensoriamento Remoto, uma ferramenta de grande aplicação nos processos industriais tem ganhado notoriedade, o controle estatístico de qualidade (CEQ), com destaque para o Controle Estatístico de Processo (CEP). O CEP está inserido no CEQ e baseia-se na busca por melhor qualidade do produto a partir da redu-


e qualidade ção da variabilidade do processo e identificação de pontos fora de controle. No sensoriamento remoto o contraste nos dados, decorrentes de variabilidade espacial e/ou temporal, é uma condição desejada, uma vez que permite identificar com maior facilidade os padrões na lavoura, para assim manejá-los. Um exemplo ocorre com a aplicação de nitrogênio a taxa variada por meio da utilização de sensores terrestres acoplados a tratores. Diante disso, a principal função do CEP no SR não é a redução da variabilidade, mas a identificação de pontos fora de controle e suas causas. No meio agrícola, estes pontos são aqueles observados fora dos limites de controle, acima ou abaixo da média em três vezes o desvio padrão. Podem ser decorrentes da presença de nuvens na cena, sombra, entre outros fatores e tem impacto direto sobre os resultados de índices de

vegetação. Neste contexto, serão abordadas neste artigo a qualidade de leitura dos índices de vegetação e suas aplicações.

QUALIDADE DE LEITURA

O sensoriamento remoto é um método não destrutivo e que tem rápida resposta. Durante as safras, a utilização do SR torna-se útil na identificação de áreas com alto nível de detalhamento, o que permite observar diferenças de produtividade durante o ciclo das culturas. Tal análise pode ser realizada a partir da utilização de índices de vegetação (IV), que são simples, eficazes e servem para avaliar o comportamento da cobertura vegetal e aparatos biofísicos da cultura. Estes índices transformam bandas espectrais em uma única variável, o que faz diminuir o efeito de condições que afetam a qualidade da leitura no sensoriamento remo-

to, como solo, topografia e ângulo de visão na resposta espectral da planta. No que diz respeito aos índices de vegetação, dentre os inúmeros utilizados, o NDVI é o mais difundido e amplamente aplicado no monitoramento agrícola, pois mostrou ter boa resposta com diversos parâmetros biofísicos das plantas. O perfil temporal do NDVI o caracteriza como boa ferramenta para detectar e avaliar atividades fenológicas, estádios de desenvolvimento da cultura, mudanças fisiológicas nas folhas e períodos de senescência. Vários estudos demonstram resultados satisfatórios utilizando o NDVI. Foi encontrada alta correlação com o teor de nitrogênio foliar, altura da planta e o número de ramos por planta de algodão (Souza et al., 2017), produtividade de trigo (Marti et al., 2007) e milho (Shanahan et al., 2001; Oliveira et al., 2019). No entanto, apesar do grande sucesso de sua aplicação em estudos de vegetação, quando a cultura apresenta elevada biomassa, o NDVI oferece limitações na qualidade de leitura, apresentando grande Fotos Franciele Carneiro

Drone utilizado para captação aérea

Coleta do sensoriamento remoto terrestre

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Figura 1 - Aplicações dos três níveis de coleta do sensoriamento remoto na agricultura, sendo eles: orbital, aéreo e terrestre. Fonte: Shimabukuro, Maeda, Formaggio (2009)

Determinação do índice de vegetação

tendência à saturação (Gitelson, 2019). O que indica a saturação na maioria dos índices de vegetação é a relação da reflectância do vermelho/infravermelho próximo. Uma alternativa para trabalhar com culturas que tenham elevada biomassa é a utilização de índices de vegetação derivados da região da borda do vermelho (RedEdge), pois são mais sensíveis à absorção de clorofila, superando o efeito da saturação. Tal fato foi comprovado por Taskos et al. (2015), que ao compararem índices de vegetação que usam a banda do RedEdge, verificaram que o NDRE (Normalized Difference Red-Edge Index) apresentou maior resistência à saturação do que o NDVI. Outros fatores a destacar ao uso do NDVI são as interferências atmosféricas e a largura da banda (tanto no vermelho como no infravermelho próximo), que vai variar conforme cada tipo de sensor. A resolução espacial do sensor é outro aspecto que deve ser levado em consideração, pois esta variável influencia de forma significativa a composição do pixel, podendo favorecer a mistura espectral, ou seja, quando um pixel é formado por mais de um alvo, condição indesejada. A determinação do índice de vegetação vai depender do tipo de informação que o produtor quer adquirir com o sensoriamen-

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to remoto. Logo, alguns índices são sugeridos, por exemplo, para acompanhar processos fotoquímicos relacionados à atividade fotossintética, para isso os índices são utilizados, para estimar o conteúdo de pigmentação da folha (clorofila) ou o uso da eficiência da luz (Daughtry et al., 2000; Brito et al., 2011), e outros para determinar o índice de área foliar - IAF (Shiratsuchi et al., 2014). Por fim, o ideal é que busquem testar os diferentes índices de vegetação para identificar e validar qual possui maior correlação com os parâmetros biofísicos de interesse.

APLICAÇÕES DOS TRÊS NÍVEIS DE COLETAS

Desta maneira, a partir desses conhecimentos pesquisas vêm sendo conduzidas com base na resposta espectral de cada cultura buscando estimar os parâmetros agronômicos. Em que, para a obtenção dessas informações, como foi mostrado acima, o sensoriamento remoto pode ser feito por meio de três níveis de coleta (Figura 1), tendo como finalidade apresentar ao produtor respostas sobre a sanidade física da sua área de produção, possibilitando tomar decisões conforme a suas necessidades. Devido a cada uma dessas plataformas possuir metodologias diferentes para aquisição dos seus dados, a qualidade da leitura estará relacionada ao objetivo que se deseja cumprir com a execução da sua atividade. Com isso, por meio da ferramenta CEP é possível monitorar todo o ciclo de desenvolvimento da cultura ou processo, fornecendo informações para um diagnóstico mais eficaz na prevenção e detecção de falhas em processos avaliados. Nesse intuito, utilizando as cartas de controle, Carneiro (2018) avaliou a quali-

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dade de leitura de plataformas terrestres (sensores GreenSeeker e OptRX), ao longo do processo dos estádios de desenvolvimento das culturas do amendoim e da soja, encontrando correlação entre os índices de vegetação (NDVI, NDRE e IRVI - Inverse Ratio Vegetation Index) e as características biofísicas das plantas, identificando a melhor época da coleta de dados com esses sensores, bem como o índice que apresentou melhor resposta na leitura para as respectivas culturas. Já Costa (2019), por meio do sensoriamento remoto proximal, foi monitorando os parâmetros biofísicos e sanitários da cultura do café, tendo como foco verificar as diferenças entre áreas tratadas (bioativador) e não tratadas, entretanto não conseguiu encontrar resultados que exprimissem tal objetivo, uma vez que não se teve correlação entre os índices utilizados na análise nem variações das cartas de controle que representassem tal efeito. Quanto aos níveis orbital e aéreo o que se destaca é o uso de câmeras com resolução multiespectral e/ou hiperespectral, que captam diferentes comprimentos de ondas. Desta maneira, Santos (2019) observou a qualidade de leitura entre esses dois níveis de coleta para a estimativa de maturação do amendoim, obteve respostas similares. Contudo, por meio do controle estatístico de qualidade, de acordo com o mesmo, foi possível identificar falhas como a presença de nuvens, afetando principalmente as imagens captadas pelos drones, onde houve redução da quantidade de parcelas. Diante do exposto, o uso de ferramentas do controle estatístico de qualidade mostra-se como análises estatísticas promissoras e úteis para tomadas de decisão na melhoria da gestação da qualidade na coleta de informações por meio dos sensores remotos, bem como a redução das falhas come.M tidas durante o seu processo. Franciele Morlin Carneiro, Universidade de Auburn, Auburn-AL, USA Armando Lopes de Brito Filho, Samira Luns Hatum de Almeida, Jarlyson Brunno Costa Souza e Rouverson Pereira da Silva, Lamma, FCAV/Unesp Jaboticabal


AGRICULTURA DE PRECISÃO

No caminho certo Os sistemas de direcionamento automático nas lavouras estão evoluindo a cada safra, passando de equipamentos simples que auxiliavam visualmente o operador até a possibilidade de completa autonomia das máquinas

É

cada vez mais comum vermos notícias sobre veículos autônomos capazes de cuidar de todas as operações da lavoura com tratores, drones para pulverização, semeadoras e colhedoras que trabalham sem a interferência humana. Mas é importante entendermos onde estamos e como chegamos até aqui. Há muita complexidade tecnológica envolvida, mas mesmo assim é possível uma abordagem simples e sucinta. Todo avanço é resultado de uma série de acontecimentos de evolução gradativa que trazem novas oportunidades para novos avanços. Assim, entendendo os conceitos envolvidos nos passos desse processo podemos compreender todo o curso de evolução da tecnologia.

BARRAS DE LUZES E GEORREFERENCIAMENTO

No início da década de 1990, com a liberação do uso do GPS (sistema de posicionamento global norte-americano), surgiram nos EUA os primeiros sistemas de direcionamento via GNSS (sistemas de navegação global por satélites). Com o uso das barras de luzes na aviação agrícola e florestal substituíram-se os “bandeirinhas”, que eram os funcionários de campo que sinalizavam a linha a ser seguida pelo piloto. Obviamente era uma atividade insalubre, de risco e com exatidão limitada. Tamanho foi o impacto na aviação agrícola que as barras de luzes em poucos anos já estavam sendo largamente usadas em máquinas e operações agrícolas em solo, principalmente aquelas com maior dificuldade na delimitação das linhas de percurso, como é o caso da aplicação

de sólidos a lanço e pulverização. As barras de luzes, como o próprio nome já diz, inicialmente eram formadas por painel com uma fileira de LEDs que sinalizavam ao operador se a máquina estaria na posição correta da linha de operação, acendendo os LEDs para a esquerda ou direita e indicando ao operador o desalinhamento. A interface evoluiu para tela, que mostra ao operador a faixa do percurso, especialmente mais eficaz em operações em curvas. O caminho é traçado com base na primeira passada, gerando infinitas passadas paralelas de largura delimitada pelo operador.

PRINCÍPIOS DO DIRECIONAMENTO AUTOMÁTICO EM TRATORES

A partir da evolução das barras de luzes surgiram os primeiros tratores com direção automática, que mantém o trator alinhado aos percursos estabelecidos para as passadas paralelas, baseado na mesma tecnologia das barras de luzes. Ainda é necessário realizar os desvios de obstáculos e manobras de cabeceira, mas o operador fica livre de manter o trator alinhado durante as passadas, reduzindo a fadiga e aumentando a qualidade do paralelismo das operações. Para isso são necessários sinais de posicionamento, que na grande maioria dos casos são dados exclusivamente por GNSS, que são processados para comandar o esterçamento do rodado e assim manter o trator alinhado ao percurso estabelecido. Assim, os sistemas de direção automática de tratores e demais veículos Charles Echer

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Fotos Daniel Masnello

Figura 1 - Definição de um primeiro percurso reto com base na demarcação dos pontos A e B. Os demais são então gerados automaticamente e o operador os segue. (Fonte: Folheto Raven)

Detalhes de um piloto automático instalado no próprio volante do trator

agrícolas consistem de um receptor GNSS, uma unidade processadora de dados (computador), um sensor inercial para compensação da inclinação do trator e sinalização de mudanças bruscas no direcionamento, um sensor de ângulo de esterçamento no rodado esterçante e um atuador no sistema de direção. As diferenças na qualidade desse sistema de direcionamento são basicamente provenientes dos receptores GNSS e dos atuadores de direção. Mas também deve-se considerar a existência ou não de alguns dos demais componentes, especialmente sensor inercial e de ângulo de esterçamento. A atuação pode ser diretamente no esterçamento ou no volante. As válvulas eletro-hidráulicas e, mais recentemente, os atuadores elétricos acoplados ao sistema de direção, são mais acurados e eficientes em comparação aos atuadores de volante ou diretamente na coluna da direção. Estes são sujeitos às folgas do conjunto e requerem maior tempo de resposta para as correções de direcionamento. No entanto, são mais baratos e podem ser acoplados a veículos que não foram projetados com sistema de direcionamento automático, sendo recomendados para operações que não exijam elevada exatidão, como aplicações de insumos a lanço, por exemplo. As especificações do receptor GNSS definem a exatidão possível de ser atingida pelo sistema. Essas especificações definem a faixa de valor a ser pago, que certamente é mais alto quanto maior for a acurácia desejada. Esse incremento na acurácia deve ser acompanhado pelo atuador de direção, uma vez que atuadores de volante não representam ganhos proporcionais à melhoria do posicionamento proporcionado por receptores GNSS mais exatos.

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CONTROLANDO OPERAÇÕES

Um aspecto importante para os sistemas de direcionamento automático, especialmente em tratores, é o alinhamento entre este e a máquina ou implemento a ser tracionado ou montado. Em trajetos curvos ou com inclinação lateral ocorre o desalinhamento, especialmente em equipamentos de arrasto, interferindo no percurso desejado. Existem no mercado soluções que minimizam este problema, algumas com atuadores no equipamento, denominados de sistemas ativos, e outras sem atuadores, ou sistemas passivos. Nos sistemas passivos o alinhamento do equipamento rebocado é priorizado na rota, calculando o percurso do trator para compensar os desvios deste, sem a necessidade de atuadores para governar a orientação do equipamento que executa a operação. Contudo, isso faz com que o trator e o equipamento estabeleçam caminhos diferentes, não podendo ser utilizados em casos de controle de tráfego. O equipamento obedece aos percursos, mas o trator não, o que causa tráfego em locais indesejados e danos às culturas em operações de tratos culturais. Os sistemas ativos consistem de atuadores para corrigir os desvios do equipamento e permitir que ele e o trator sigam o mesmo trajeto. Dependendo do tipo de máquina e de acoplamento, esse atuador pode ser hidráulico (pistão), realizando a movimentação lateral da barra de engate em relação ao trator ou mesmo deslocamento transversal em acoplamento ao engate de três pontos. Para equipamentos de preparo de solo é utilizado um ou mais discos lisos de ancoragem, que servem como referência ao alinhamento e atuadores hidráulicos como os anteriores. No caso de equipamentos com rodado (carretas, semeadoras, plan-

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tadoras, adubadoras, pulverizadores), podem ser utilizados atuadores hidráulicos para esterçamento diretamente no seu rodado. A maioria destas soluções, tanto de sistemas passivos como ativos, requer duas antenas GNSS, uma para o equipamento e outra para o trator.

EVOLUÇÃO NA AUTOMAÇÃO DOS VEÍCULOS AGRÍCOLAS

Até meados dos anos 2000 chegou-se aos equipamentos capazes de seguir percursos predefinidos e manter o alinhamento, mas ainda dependentes do operador. Paralelamente já se trabalhava com a perspectiva de tê-los autônomos. Para isso é necessário contar, dentre outros, com a habilidade de execução autônoma das manobras, o que não é trivial. Alguns itens importantes para se automatizar essa etapa são os comandos de cabine para a saída e reentrada do conjunto na lavoura. Essa automação aconteceu ainda na década de 1990, especialmente na Europa, onde as lavouras são predominantemente menores e as manobras mais demandadas. Tratam-se aqui dos comandos de erguer e desligar o acionamento da máquina acoplada ao trator, com ajustes de velocidade, rotação e algo mais, e logo após a manobra, refazer esse processo em ordem inversa para reentrar na lavoura executando a operação. O outro processo é exatamente o percurso de manobra, que pode ser de diversos formatos, mas todos requerem espaço e tempo para a sua execução. Mas como os percursos já estão definidos, o retorno não


precisa obrigatoriamente acontecer na passada seguinte, permitindo otimizações nesse sentido. Da mesma forma, já vêm sendo largamente adotados planejamentos de rotas mais eficientes em alguns tipos de lavouras. Esse planejamento é feito a partir de dados topográficos das lavouras e com otimização do uso dos espaços e das máquinas. Com o arquivo dessas rotas o veículo opera de forma ainda mais independente do operador. De forma contínua e com certa velocidade, avança-se para os veículos efetivamente autônomos. Boa parte da tecnologia aqui aplicada tem como base a automação dos veículos rodoviários. Nesses, a programação da tomada de decisão é basicamente dividida em três camadas de processamento: camada controladora, responsável pelos comandos básicos, frear, acelerar, esterçar; camada sequenciadora, responsável por criar a sequência das ações a serem realizadas, por exemplo a sequência de etapas da saída, manobra de cabeceira e reentrada na lavoura; e camada deliberadora, em que é lida a rota predefinida e calculados eventuais desvios de rota por obstáculos, sempre verificando se a rota principal está sendo cumprida. Este tipo de processamento é baseado em inteligência artificial, que possibilita a entrada de dados de diversas fontes diferentes e busca a saída mais eficiente possível. Assim, é capaz de melhorar as tomadas de decisão do veículo conforme mais é utilizado, por processos de aprendizado de máquina. Paralelamente, os sistemas de injeção eletrônica nos motores e câmbio automático trouxeram a possibilidade de controlar a velocidade e a potência dos veículos. Somado a isso têm-se dados de múltiplos sensores espalhados pelas máquinas para informar o sistema e aumentar a eficiência das operações. É possível, por exemplo, variar a velocidade de colhedoras de cereais com base no volume de biomassa ou produtividade da cultura de modo que a mesma sempre trabalhe com a melhor taxa de alimentação para a máxima eficiência e com perda de grãos limitada.

DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Tudo indica que o mercado esteja caminhando para a automação plena em sistemas agrícolas mecanizados nas próximas décadas. Para isso, as tecnologias ainda precisam evoluir para que o operador não seja mais necessário, passará a ser um gestor. Porém, gradativamente todo o sistema produtivo terá as ações realizadas pelas máquinas, sem a necessidade de supervisão humana. Os ambientes com condições controladas, como cultivos protegidos, por exemplo, serão os primeiros a apresentar soluções comerciais viáveis de veículos totalmente autônomos. Os caminhos a serem percorridos são definidos pela estrutura espacial dos cultivos, o que facilita o controle dos equipamentos e de suas ações no espaço. Além disso, a disponibilidade de dados ambientais precisos também pode auxiliar na tomada de decisão dos robôs. A integração entre as máquinas, de um sistema mecanizado, no campo, já é perseguida, e quando plenamente implementada fará com que as ações de uma máquina em operação influenciem diretamente as demais. Em colheita de grãos ou de cana, por

Figura 2 - Componentes de um sistema de direção automática de controle eletrohidráulico: receptor GNSS (a); computador (b); sensor inercial (c); válvula atuadora eletro-hidráulica da direção (d); sensor de angulação do esterçamento (e)

Figura 3 - Equipamento de arrasto sem sistema de direção automática (a) e com sistema de direção automática e antena de GNSS independente, indicada pela seta, da mesma forma que sobre o trator (b)

exemplo, o fluxo dos transbordos poderá ser contínuo e comandado por sinais emitidos pelas colhedoras. Para isso é necessária a conectividade entre as máquinas, com padronização de formatos entre diferentes fabricantes. Especificamente, entre o trator e o equipamento acoplado já existe um pacote normativo desde a década de 1990, com a norma ISO 11783 (Isobus), a qual ainda não é de uso limitado no Brasil. Existe também uma discussão acerca da redução do porte dos equipamentos, os quais trabalhariam de maneira coordenada e com maior agilidade e acurácia em comparação com equipamentos grandes que dominam hoje o mercado. Esta tendência já pode ser visualizada em operações de coleta de dados e mesmo de pulverização utilizando drones. Estes já são autônomos, mas a partir de percursos programados, e apesar de ser uma tecnologia relativamente nova, está se popularizando rapidamente. A maior limitação para a adoção ampla desses equipamentos na agricultura ainda são os custos, com a baixa lucratividade e na maioria das vezes os usos sazonais dos equipamentos. Com isso, o processo de desenvolvimento dessas tecnologias deve levar em conta principalmente as demandas de cada tipo de lavoura, o per.M fil dos usuários e as realidades regionais. Orlando Daniel Masnello e José Paulo Molin, USP/Esalq Figura 4 - Ilustração de comunicação entre máquinas e gestão de dados em fazendas

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MANUTENÇÃO

Esperar quebrar? Investir na manutenção e na operação é o caminho para uma vida longa do maquinário e sem surpresas de quebras e atropelos na hora de executar os serviços tão necessários

“C

omo pode? Tinha que quebrar justamente agora que estamos nesse atropelo danado?” É bem assim, as máquinas agrícolas quebram ou deixam de funcionar corretamente sempre no momento em que mais se necessita de seu uso: verdade? Sim, a mais pura verdade. E quem é do campo sabe muito disso. É importante destacar que a utilização do maquinário agrícola, na maior parte dos casos, é sazonal, havendo um período de parada. E por paradoxal que pareça, esse tempo parado é que acelera a deterioração de alguns componentes, fazendo com que no uso subsequente haja a ruptura ou o mau funcionamento. Claro que poderia ser aproveitado o período parado para fazer as revisões. Fato que às vezes ocorre, mas nem sempre.

MANUTENÇÃO E OPERAÇÃO

Charles Echer

A ruptura de componentes ou o mau funcionamento de um conjunto mecânico está relacionada a vários fatores, mas pode-

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mos agrupar as causas em dois tópicos: manutenção e operação. Quando manutenção e operação correm bem e lado a lado, as quebras desaparecem ou se reduzem quase a zero. Portanto, operadores bem treinados e cônscios de suas responsabilidade, uma equipe de manutenção qualificada e local com ferramental adequado são a solução para que não ocorram as quebras nos momentos de maior necessidade. O que mais quebra por falta de manutenção? Eixos, buchas e mancais, rolamentos, engrenagens, cruzetas e acoplamentos, molas e hastes ou alavancas. O que deixa de funcionar por falta de manutenção? Motores, sistema hidráulico, sistema de combustível, lubrificação, componentes destinados ao controle de temperatura, sistemas de frenagens. Manutenção permanente e com planejamento adequado à realidade local é a solução. Planejar a manutenção nos momentos propícios e executá-la de forma correta, eis o que deve ser fei-


to para se evitar quebras e mau funcionamento. Parece simples, mas diante da nossa realidade atual é algo bastante complexo de ser implantado nas propriedades rurais. A seguir enumeramos alguns fatores que obstaculizam tal aplicação. Aspectos históricos e culturais Com raras exceções, não há nesse imenso agro brasileiro um passado que mostre a realização de manutenção de máquinas agrícolas nas propriedades. Todos que convivem no campo já ouviram essa frase: “aqui isso nunca foi feito.” E a situação vai passando de pai para filho e por gerações. Não é muito fácil romper com essa tendência de repetir o passado, bem como a resistência a novos procedimentos e métodos no dia a dia das atividades rurais, portanto também é cultural.

QUALIFICAÇÃO DA MÃO DE OBRA

O trabalhador rural ainda carece de formação profissional para exercitar seu trabalho com eficácia. Aliás esse é um problema homérico que atinge todos os setores da produção. Tanto que pessoas que trabalham na manutenção de máquinas agrícolas sempre são solicitadas nas propriedades rurais. Assim como há também muita queixa dos proprietários sobre a qualidade dos serviços de manutenção, mesmo quando terceirizados. Essa é uma realidade que necessita urgentemente ser corrigida, pois na formação técnica de nível médio, em algumas atividades já há saturação da mão de obra, mas o que há carência é na formação profissionalizante, qual seja, quem de fato executa os serviços de manutenção. Demonstrando claramente: aquele que entra embaixo do trator para sacar o tampão do óleo do cárter, que vai retirar e instalar os filtros, que vai substituir o terminal esférico do braço da direção... É esse profissional que falta, e cada vez mais escasseia na realidade atual desse universo virtual que vive nossa juventude.

POR ÚLTIMO OS ASPECTOS FINANCEIROS

“Manutenção tem custos? Então, deixamos assim até onde vai funcionando. Quando aparecer o problema, aí se vai ver o que

Fotos Arquivo

O produtor deve entender que manutenção não é perda de tempo nem de dinheiro

Exemplos de falta de manutenções simples, mas que podem causar problemas

é possível fazer.” Eis um comportamento ainda bastante predominante. Vejamos um exemplo prático que engloba os três fatores citados acima: no sistema de direção dos tratores há um componente identificado como “braço axial da direção” ou também “haste com terminal esférico”, ou simplesmente “pivô da direção”. É um dispositivo de acoplamento junto ao terminal da barra da direção com uma junta esférica alojada numa cavidade correspondente, que tem como função possibilitar a mobilidade do comando da direção junto ao suporte da ponta do eixo. Pois bem, essa junta esférica metálica (pivô) possui lubrificação com graxa que vem blindada de fábrica e com uma coifa de borracha para proteger das impurezas. Esse material de borracha com o tempo resseca e apresenta trincas, por onde penetram poeira e material abrasivo, que aderem à graxa formando assim verdadeiro esmeril no material metálico da articulação. O que fazer? Assim que observar pequenas trincas na coifa, solicitar sua substituição. Qual valor dessa coifa? Aproximadamente R$ 20,00 (o quê? Isso mesmo). E para fazer o serviço? Agora é o problema, pois é necessário parar a

máquina e dispor de ferramentas e pessoal treinado. Necessita um sacador especial para não danificar o braço axial, pois o “velho estilo da marreta” não vai funcionar ou vai deixar algum dano, e também necessita que se faça a correção adequada da convergência da geometria ao reinstalar o braço axial com a nova coifa. “Tudo isso? Então vai tocando que a hora que der no jeito é que vamos fazer. Está funcionando? Mete bronca e não para.” E o esmeril continua atuando e a folga começa a aparecer. Quando o operador é competente e observa, deve relatar na inspeção diária. Aí o serviço não é mais só a coifa de borracha; agora já é necessário trocar o braço axial completo, a um custo bem mais elevado. Como o trator não pode parar, continua-se por mais um tempo. Quanto? Até que nem se lembre mais. Parou na entressafra, entrou umidade, e depois volta a trabalhar. A Aldivio Strasser, folga agora já maior, chega a ser umas féStrasser Agrícola rias, na linguagem de oficina. O que vem na sequência: folga em buchas e mancais do suporte da ponta de eixo, e daí para os rolamentos de rodas é um passo. E se for com tração no eixo dianteiro, até as cruzetas entram em jogo. Folgas, desgastes, até que no dia de mais necessidade quebra tudo: cruzeta, rolamentos, pinos e braço

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Charles Echer

O operador ideal é aquele que está sempre atento às manutenções necessárias

axial. Máquina parada, serviço por fazer, atropelo na oficina e o proprietário ou capataz desesperado. Voltamos lá no início, qual era o valor da coifa de borracha? “É de cair todos os butiás do bolso”, como diz o gaúcho. Ou seja, é de não acreditar que isso chegou ao ponto que chegou. Apenas um exemplo, mas existem tantos outros. Manutenção! Quem faz manutenção? Talvez alguns façam, talvez algum dia todos façam. Assim esperamos e almejamos esse futuro o mais rápido possível, pois todos ganham. E a operação? Pode ser causa de quebra ou mau funcionamento? No linguajar operacional: “a pecinha atrás da direção” pode ser sim um dos fatores que contribuem. O operador é o principal agente para os cuidados da máquina, e ao mesmo tempo também pode ser o principal destruidor da máquina. O comportamento e o manuseio dos comandos por parte do operador são determinantes para manter a máquina em pleno funcionamento. Será? Um operador despreparado ou mal-intencionado pode quebrar uma ponta de eixo ou uma engrenagem da caixa ou diferencial no arrancar o deslocamento de um trator, por mais mecanismos de segurança e proteção que haja. Assim como na utilização dos diversos implementos durante a execução dos serviços. Ao tracionar implementos, se o operador não mantiver atenção constante, poderá haver trancos violentos que podem levar a rupturas e quebras de componentes. Repetimos o que em outras oportunidades já destacamos: todo o operador deve possuir conhecimento de como funciona a máquina e seus diversos conjuntos mecânicos, bem como do implemento que está acoplado ao trator, pois é a partir desse conhecimento que é possível racionalizar o uso adequado da máqui-

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Dezembro 2020 / Janeiro 2021 • www.revistacultivar.com.br

na. Caso contrário, o operador apenas irá decorar alguns procedimentos e não saberá agir e decidir diante de situações diferenciadas. Treinar e qualificar constantemente as equipes de operação e reforçar diariamente a importância de um comportamento ético correto e seguro na operação. Algumas atitudes operacionais que podem ser adotadas pelos operadores e que certamente irão acarretar danos, estão relacionadas aos comandos que são executados de forma brusca ou aos solavancos. Quando se opera uma máquina de grande capacidade de força, também os comandos possibilitam mudanças na distribuição e aplicação dessas forças, e se não forem tomados alguns cuidados, as quebras e o mau funcionamento logo aparecerão. Como exemplos, ao levantar o giro do motor excessivamente no momento de soltar a embreagem irá causar um impacto violento em toda a transmissão, podendo até quebrar uma engrenagem ou um eixo. Ou, ao realizar um comando do hidráulico, se for executado de forma repetitiva e bruscamente, jogando o comando num vai-e-vem proposital para sacudir todo o equipamento, assim pinos, mancais e hastes do pistão hidráulico estarão expostos a rupturas. E ainda, nas máquinas com transmissão automática forçar paradas bruscas com uso abusivo dos dispositivos de segurança, e manter o giro do motor acima do recomendado. Eis alguns procedimentos operacionais ainda possíveis de constatar-se por parte de alguns operadores e que levam a quebras e mau funcionamento.

INVESTIR EM MANUTENÇÃO

Investir na manutenção e na operação é o caminho para uma vida longa do maquinário e sem surpresas de quebras e atropelos na hora de executar os serviços tão necessários que a máquina possibilita, e assim usufruir dos lucros indispensáveis para o agronegócio. Vivemos um momento de prodigioso desenvolvimento tecnológico, mas, ao mesmo tempo, ainda carecemos de recursos humanos qualificados para fazer frente às novas tecnologias. O mundo virtual e a IoT (internet das coisas) estão marcando forte presença no maquinário agrícola, mas não basta apenas dominar o virtual, pois o universo rural é uma realidade bastante complexa e que exige conhecimentos técnicos operacionais muito além do virtual. Máquinas agrícolas trabalham com grandes capacidades de forças, muitos HPs de potência e esforços torcionais para transmissão dessas forças, o que exige muita atenção e pleno domínio do operador. Deve-se manter vigilância permanente, pois qualquer descuido virtual causará estragos violentos. A distância entre o virtual e o real, apesar de tênue, nesse caso, pode ter um significado perigoso. Um simples toque inadequado no monitor touchscreen ou um deslocamento exagerado no joystick é o sufi.M ciente para desencadear rupturas significativas.

Joel Sebastião Alves, Instrutor de Operação e Manutenção de Máquinas e Implementos Agrícolas e Rodoviários




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