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Pulverizadores

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Chumbo grosso

A aplicação de inseticidas com gotas mais grossas aumenta a eficácia e a segurança no controle da broca-do-café

Aaplicação de produtos fitossanitários para o manejo da broca-do-café é um enorme desafio a agricultores e consultores. Isso ocorre porque a praga é um alvo difícil de ser alcançado após penetrar no fruto. O manejo para evitar sua ocorrência se associa com o custo dos produtos químicos ou biológicos e com a produtividade esperada no ano seguinte.

As aplicações de inseticidas para controle da broca, geralmente, têm sido realizadas com uso de gotas finas, tradicionalmente empregadas na cafeicultura. O agricultor é resistente ao uso de gotas grossas e muitos consultores não têm segurança para recomendar tais gotas, pois ficam inseguros com a porcentagem de cobertura e a densidade de gotas (Tabela 1).

O tamanho da gota se relaciona com a eficácia biológica de controle e interage com as variáveis psicrométricas, como temperatura, umidade relativa do ar, velocidade e direção do vento. Essa interação se reflete em uma aplicação eficiente, quando as gotas produzidas alcançam o alvo biológico, e ineficiente, quando são evaporadas ou desviadas.

Na etapa de seleção das gotas, para manejar o alvo, o técnico de campo deve considerar a segurança do ambiente, dos operadores, dos consumidores e a sustentabilidade técnico-financeira da operação.

No tratamento fitossanitário, o tamanho da gota não deve ser determinado previamente à aplicação. A seleção da gota é muito influenciada pelo volume de calda e pelos fatores meteorológicos que ocorrem simultaneamente à aplicação, por isso, pouco antes do início da aplicação deve-

Tabela 1 - Classes de tamanho de gota Classes

Muito fina Fina Média Grossa Muito grossa Extremamente grossa Diâmetro da Mediana Volumétrica – DMV(μm) < 100 100-175 175-250 250-375 375-400 > 400

-se adequar o tamanho das gotas a estas condições. Contudo, o alvo é uma das inúmeras variáveis a serem consideradas neste momento, e de nada adianta utilizar uma gota teoricamente correta se posteriormente a eficácia não for comprovada e a inadequação do tamanho da gota resultar em prejuízos técnicos e econômicos, principalmente em decorrência da evaporação e deriva.

Nesse sentido, o Grupo de Investigação em Mecanização Agrícola (Grima) tem conduzido pesquisas no Laboratório de Máquinas e Mecanização (Lamm) da Universidade Federal de Uberlândia, campus Monte Carmelo, com o propósito de apresentar resultados de pesquisa, aplicados às condições na região cafeicultora do Cerrado mineiro. Os resultados têm auxiliado produtores, técnicos e consultores na tomada de decisão, em relação ao tamanho de gotas, na pulverização agrícola, para manejo da broca.

Uma pesquisa foi conduzida, no município de Estrela do Sul, em Minas Gerais, com o objetivo de avaliar a eficácia de controle da broca-do-café, a partir do uso de gotas muito finas, finas e grossas e com diferentes taxas de aplicação (Tabela 2).

TESTES NO CAFEZAL

A área experimental era formada por plantas de café cultivar Topázio, com sete anos de implantação no espaçamento de 3,8m x 0,7m, totalizando 3.760 plantas por hectare. As parcelas foram constituídas por 57 plantas (40m), sendo as 25 centrais consideradas úteis e as 16 de cada extremidade, como bordadura. As parcelas estavam distanciadas entre si, 40 metros na linha e sete metros entre linhas, com o objetivo de reduzir efeitos de deriva e contaminação entre os tratamentos.

As condições meteorológicas foram monitoradas durante as aplicações com auxílio de um termo-higroanemômetro digital portátil, marca Instrutherm, modelo AD-250. A temperatura variou entre 25°C e 31°C, umidade relativa entre 60% e 67% e velocidade do vento entre 3km h-1 e 7km h-1.

As aplicações foram realizadas com auxílio de um pulverizador hidropneumático, marca Montana, modelo Arbo 360, com seis porta-bicos em cada barra, tanque com capacidade de 300L, bomba hidráulica do tipo membrana com vazão de 40L/min e ventilador com 615mm de diâmetro de nove pás com ângulo fixo.

O equipamento foi montado no sistema de levante hidráulico do trator com o centro do ventilador a 1.070mm de altura em relação ao nível do solo. Após as aplicações, com pontas hidráulicas, colocou-se um kit eletrostático composto por seis bicos, desenvolvido e comercializado pela empresa Sistema de Pulverização Eletrostático (SPE) (Porto Alegre, Rio Grande do Sul). A fim de reduzir a influência do sentido de rotação do ventilador, devido à posição das pás, utilizou-se apenas a barra do lado direito, padronizando o direcionamento do ar. O acionamento do pulverizador ocorreu por um trator, marca Massey Ferguson, modelo 275, com tração 4x2, potência nominal de 55,16kW.

O monitoramento da broca-do-café indicou que no dia anterior às aplicações havia 6,7% de infestação. A eficácia de controle foi determinada pela contagem de frutos brocados. Assim, colheu-se ao acaso um litro de fruto por parcela em cada amostragem. Desse montante, foram aleatoriamente selecionados e cortados 500 frutos para determinar a porcentagem de danos causados pela broca-do-café. Este procedimento foi realizado aos 20 e aos 40 dias após a aplicação (DAA) (Tabelas 3 e 4).

Nas avaliações de eficácia biológica de controle aos 20 e aos 40 DAA, o uso de gotas grossas proporcionou melhores resultados. Além disso, é uma aplicação mais segura para o operador, áreas vizinhas, inimigos naturais e para o ambiente. Não se pretende recomendar o uso de gotas grossas para todas as situações, mas sim demonstrar que seu uso pode ser tão eficaz quanto o uso de gotas finas ou muito finas, dependendo da técnica de aplicação adotada para o manejo da broca-do-café.

A importância do tamanho das gotas neste trabalho também foi destacada em função dos resultados indicarem que o volume de calda não influenciou na eficácia de controle, ou seja, mesmo para um volume incomum como 200L/ha, para esta praga, as gotas grossas proporcionaram maior controle.

As gotas finas também são uma opção, mas neste caso a configuração do ventilador, as condições meteorológicas, a densidade foliar e a retenção foliar do produto favoreceram a ponta que produzia gotas grossas.

Destacamos que no portfólio das empresas há inúmeras pontas hidráulicas que permitem a obtenção de gotas grossas, podendo e ser uma excelente opção, mesmo em condições meteorológicas consideradas inadequadas. É fundamental que o produtor/ consultor conheça as opções presentes nos catálogos para buscar maior eficiência e eficácia das aplicações. .M

Cleyton Batista de Alvarenga, Paula Cristina Natalino Rinaldi, Renan Zampiroli e Matheus Vilhena Parenti, UFU, Monte Carmelo

Tabela 2 - Descrição dos tratamentos e características operacionais Volume de calda (L ha-1) 400 400 200 200 200 Ponta de pulverização TVI-80-0075 JA-01 JA-01 TVI-80-0075 SPE2 Pressão de trabalho (kPa) 931 1.034 414 517 861 Tamanho de gota* Grossa Fina Fina Grossa Muito fina

Tabela 3 - Eficácia biológica de controle (%) da broca-do-café em função de diferentes tamanhos de gota e volume de calda, 20 DAA

Tabela 4 - Eficácia biológica de controle (%) da broca-do-café em função de diferentes tamanhos de gota e volume de calda, 40 DAA

Gota

Grossa Fina Muito fina CV (%)

Volume de calda (L ha-1) 200 69,0α 59,4α 400 76,0α 67,0α 57,0α 14,7 Média

72,5A 63,2B Gota

Grossa Fina Muito fina CV (%)

Volume de calda (L ha-1) 200 64,9β 51,0α 400 69,6β 59,0α 50,0α 11,1 Média

*Informação do fabricante. Médias seguidas por letras iguais, maiúsculas na coluna e gregas em relação ao adicional, não diferem entre si pelos testes F e Dunnett, respectivamente (p> 0,05).

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