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Semeadoras
Investimento na dose certa
Conhecer a semeadora e em especial os dosadores de sementes e fertilizantes e fazer os ajustes e as regulagens necessários são fatores importantes para uma semeadura bem-sucedida e, consequentemente, aumentar as chances de ter uma lavoura com maior potencial de produção
Aagricultura brasileira, em especial a atividade agrícola que envolve as grandes culturas, é constituída por diversas etapas. É quase unanimidade entre os produtores rurais e profissionais do setor que a operação de semeadura é aquela que merece maior atenção devido à importância e à necessidade de ser bem executada. É nesta operação que depositamos no solo, além de semente e insumos, a esperança de uma boa safra.
Dada essa importância, a indústria vem ao longo dos anos aprimorando suas máquinas e implementos agrícolas para que possam oferecer aos produtores rurais diversas possibilidades para realizarem tal operação. Ao longo desta história, o princípio utilizado para semear com a máquina não alterou, no entanto avançamos muito na oferta de novas tecnologias. Evoluímos do sistema de semeadura convencional para o sistema plantio direto, o que demandou melhorias e ajustes nas máquinas. Hoje, com o avanço tecnológico, vivemos o momento digital com uso da agricultura de precisão, agricultura 4.0, dentre outros conceitos que envolvem tecnologias avançadas.
Destacamos neste artigo apenas dois dos componentes da semeadora, os dosadores de sementes e de fertilizantes. Alguns deles estão disponíveis no mercado há pouco tempo, dotados de alta tecnologia, já outros, mais simples, equipam semeadoras há vários anos e demonstram bons resultados que merecem ser abordados. Com o avanço da tecnologia e a busca por melhores resultados, alguns dosadores acabaram perdendo espaço neste mercado bastante concorrido e não serão abordados neste artigo, mas reiteramos que deixaram sua participação na história da mecanização e podem ser encontrados na literatura.
DOSADORES DE SEMENTES GRAÚDAS
DOSADORES MECÂNICOS
O dosador de disco horizontal alveolado é o principal sistema que equipa a maior parte das semeadoras em operação no Brasil. Seu funcionamento envolve um movimento circular de um disco, o qual possui aberturas para deposição das sementes, geralmente individualizadas. O alvéolo do disco, ao girar, passa por uma abertura que dá acesso ao sistema condutor que leva as sementes selecionadas até os sulcadores para então serem depositadas no sulco. Para retirar o excesso de sementes sobre o disco, o mecanismo possui raspadores ou escovas e um sistema de ejeção para forçar a saída das sementes dos orifícios, através de rosetas propulsoras.
Em relação a esses mecanismos, estão disponíveis no merca-
Fendt
Investimento na dose certa
do soluções inovadoras através da utilização de organizadores flexíveis, que reduzem os danos às sementes e também possíveis falhas, o que evita perdas e aumenta a precisão na distribuição de sementes, mesmo com velocidades acima das usuais para esse grupo de dosador.
As regulagens desse tipo de dosador se iniciam com a correta seleção do disco alveolado e, quando for o caso, do seu respectivo anel de compensação. Deve-se selecionar sempre o disco que melhor se adapta ao tamanho e ao formato das sementes, procurando escolher aquele que possibilite uma folga de 1mm em torno das maiores sementes de um lote, em todas as direções. Entretanto, os alvéolos não deverão ser excessivamente folgados ao ponto de permitir o alojamento de mais de uma semente.
Dependendo do formato e das dimensões das sementes, pode ser necessário utilizar um anel de compensação junto ao disco dosador. Por exemplo, para sementes de milho que sejam classificadas como “achatadas” utilizam-se anéis lisos, com espessura de 3mm ou 4mm, sempre visando obter uma espessura total capaz de completar o espaço destinado ao disco mais anel. Já, se as sementes de milho forem arredondadas, o anel deverá ser rebaixado ou com sulco, para evitar danos às sementes pelo mecanismo raspador que retira o excesso de sementes sobre o disco. No caso da soja, dependendo do diâmetro das sementes, poderão ser utilizados anéis de compensação ou não.
Para facilitar o deslizamento da semente sobre o disco e no próprio orifício, é aconselhado o uso de grafite junto com as sementes. A quantidade de grafite varia de acordo com o tamanho da semente. Sementes maiores ou arredondadas demandam uma maior quantidade. Em média, têm-se utilizado de 2g a 4g de grafite por kg de sementes achatadas e de 5g a 6g de grafite por kg de sementes arredondadas.
A regulagem da população de sementes distribuídas pelos dosadores de disco horizontal ocorre através da velocidade angular do disco, alterada no sistema de transmissão, se o movimento tiver origem no pneu da semeadora, pelo fluxo de óleo se o acionamento for por motores hidráulicos ou ainda através do acionamento por motores elétricos.
Para facilitar esta regulagem, as semeadoras disponibilizam, junto ao sistema de transmissão, tabelas com os valores aproximados de sementes distribuídas por metro ou por hectare, em cada opção de relação de transmissão. Contudo, ressalta-se que esses valores são aproximados e devem servir apenas como referência para início da regulagem, devido às variações que podem ocorrer (pressão do pneu, deslizamento da roda motriz em relação ao tipo de solo e cobertura), devendo a conferência final da regulagem ocorrer na área a ser semeada, para melhor refletir as interferências reais de campo.
Também são exemplos de dosadores mecânicos, porém com pouca abrangência de mercado, os dedos prensores, sistema de correias e de disco inclinado.
John deere
Dosador disco horizontal alveolado
À esquerda caixa dosadora de sementes de fluxo contínuo, do tipo rotor acanalado, rotor com dentes retos 1) abertura de entrada das sementes; 2) obturador; 3) rotor acanalado; 4) placa de ajuste; 5) alavanca de regulagem da placa de ajuste. No centro e à direita, rotor com dentes helicoidais
DOSADORES PNEUMÁTICOS
Caracterizado por um disco com orifícios de diâmetro menor que o das sementes a serem dosadas, posicionado na vertical ou inclinado, ele apresenta boa qualidade de semeadura, pois mantém maior uniformidade no espaçamento horizontal das sementes e reduz a quantidade de sementes duplas ou falhas, quando comparado aos dosadores mecânicos.
O mecanismo que abriga o disco de sementes está posicionado acima do sulcador da semeadora. Em um dos seus lados situa-se o reservatório de sementes e do lado oposto, a pressão do ar negativa (vácuo) que proporciona a adesão das sementes ao disco por uma corrente de ar que a puxa contra o orifício, ou positiva, onde a semente é empurrada pela corrente de ar contra o orifício de saída, obstruindo a passagem do ar. A regulagem da pressão do ar é importante, pois pode afetar a ocorrência de sementes duplas e de falhas, principalmente em condição operacional que resulte em excessiva vibração da máquina.
Conforme a semeadora se desloca sobre a lavoura, o disco gira mantendo as sementes presas nos orifícios e em determinado momento, a pressão do ar é elimina-
da do mecanismo, fazendo com que as sementes fiquem livres e desçam por gravidade pelo tubo condutor até o sulco. O sistema apresenta também um organizador de sementes, que tem a função de eliminar a possível aderência de duas ou mais sementes no mesmo orifício. Alguns modelos de dosadores possuem regulagem desse organizador, em função do tamanho e do formato das sementes, enquanto que para outros, essa regulagem não é necessária, pois o conjunto disco e regulador se adapta aos variados tamanhos e formatos das sementes da cultura a ser semeada.
A regulagem da densidade de semeadura ocorre pela alteração da velocidade do disco, que pode ser de acionamento mecânico, elétrico ou hidráulico. Estes dois últimos permitem alterar a velocidade dos discos em relação à da semeadora, possibilitando taxa variada de sementes.
DOSADORES DE SEMENTES MIÚDAS
Os dosadores de sementes de fluxo contínuo caracterizam-se por agrupar várias sementes ao mesmo tempo para serem conduzidas ao solo. Devido ao tamanho reduzido da semente e da grande densidade necessária por área, o fluxo das sementes é constante e volumétrico. Por esse fluxo ser contínuo, as semeadoras utilizam esses dosadores na base inferior do reservatório de sementes. São exemplos de culturas dosadas por esses mecanismos: trigo, arroz, aveia, centeio, cevada, azevém e triticale.
O principal e mais utilizado dosador de fluxo contínuo é o rotor acanalado. É caracterizado por um eixo situado na base do reservatório, com canaletas que armazenam as sementes quando estão em contato com as mesmas e ao movimento do eixo, são liberadas e descem por gravidade pelos tubos condutores para serem depositadas no sulco de semeadura. O rotor se encontra associado a um obturador, que lhe serve de mancal e pode ter as canaletas retas ou helicoidais. No caso de canaletas retas, as sementes são selecionadas em punhados e isso pode comprometer a uniformidade da distribuição. Por esse motivo, a maioria dos rotores acanalados é helicoidal, o que permite o desprendimento gradual das sementes do rotor.
A regulagem desses dosadores é realizada pela rotação do eixo, que pode ser acionado pelo movimento do pneu ou motores hidráulicos. Outra regulagem é pela área de contato do rotor com as sementes, através de uma rosca na extremidade do eixo que aumenta ou diminui a exposição do rotor no interior da caixa dosadora. Para facilitar esse ajuste, as semeadoras disponibilizam uma régua graduada junto a essa rosca de regulagem para auxiliar no ajuste da densidade (ajuste fino).
Este sistema dosador é provido de uma “placa de ajuste”, que envolve parcialmente a região inferior do rotor, por onde as sementes dosadas passam. A folga entre essa placa e o rotor deve ser ajustada visando evitar danos às sementes quando maiores e, por outro lado, evitar o “vazamento” de sementes menores sem que o rotor esteja em movimento. Ainda, esse ajuste tem relação com outra particularidade das sementes, que é a presença de aristas (caso de algumas culturas como da aveia). Nesse caso, para sementes com aristas, deve-se posicionar a placa mais afastada do rotor, sob pena de dificultar a distribuição das sementes.
Mais recente no mercado, o sistema dosador de sementes de fluxo contínuo pneumático proporciona dosar as sementes miúdas com auxílio de pressão positiva do ar. A crescente busca pelo aumento da eficiência operacional tem feito com que alguns fabricantes de semeadoras disponibilizem um único reservatório para sementes e outro para fertilizantes, localizado no centro da máquina, de forma a agilizar o reabastecimento.
Para a dosagem destas sementes, as semeadoras utilizam um único dosador, localizado na base do reservatório, onde os produtos que passam por ele são direcionados a uma tubulação com fluxo de ar positivo, gerado por uma turbina, até uma central de distribuição (espécie de prato), que organiza o fluxo de sementes para cada linha, por meio de um tubo condutor, acoplado a uma das saídas. As sementes são forçadas pelo fluxo do ar positivo e são direcionadas pelos tubos condutores até os sulcadores, para serem acomodadas nos sulcos de semeadura.
A regulagem da densidade de semeadura é realizada pelo dosador junto ao reservatório central, pois a função do ar é de apenas conduzir as sementes. Já a função da central de distribuição é repartir de forma homogênea entre as linhas a quantidade determinada por esse dosador. Para isso, sua velocidade pode ser ajustada pela transmissão da semeadora ou fluxo de óleo, no caso de motores hidráulicos, permitindo, neste caso, taxa variável de distribuição das sementes e fertilizantes.
Alguns modelos de semeadoras disponíveis no mercado permitem a dosagem de
Dosador elétrico AirVac para altas populações de sementes
sementes miúdas através dos dosadores de disco horizontal, aproveitando a mesma estrutura do dosador das sementes graúdas, bastando a substituição do disco alveolado por um que corresponda ao tipo de semente da cultura a ser semeada, e neste caso, devido ao tamanho e à densidade das sementes, pode agrupar várias dentro do mesmo orifício.
Nesse caso, o dosador alveolado é substituído por um disco raiado, sendo que cada dosador alimenta duas fileiras de sementes, ou seja, dois condutores e dois sulcadores. Esse artifício possibilita converter uma semeadora de precisão ou de sementes graúdas em uma semeadora de fluxo contínuo ou de sementes miúdas, o que contribui para uma interessante redução de custos.
DOSADORES DE FERTILIZANTES
As semeadoras-adubadoras possuem um depósito específico para os fertilizantes, tendo eles o formato cônico ou trapezoidal para o fertilizante escoar por gravidade até o sistema dosador. Existem diversos modelos de dosadores de fertilizantes, porém o mais utilizado é o modelo rosca sem fim, que apresenta um eixo em seu interior, com a função de movimentar um helicoide (rosca sem fim), que transporta o fertilizante até uma saída em posição inferior.
A dosagem do fertilizante se dá pela rotação do helicoide e pelo seu passo. Para isso, as semeadoras oferecem além de opções de helicoide, sistema de transmissão para alterar a velocidade, que pode ser mecânico ou hidráulico.
Entretanto, apesar de ser o mais utilizado no campo, na atualidade, esse tipo de dosador apresenta algumas limitações, sendo basicamente no que diz respeito às oscilações (pulsações) longitudinais da dose de fertilizante distribuída, que tende a aumentar com o aumento do passo da rosca sem fim e com a redução da dose. Então, é indispensável utilizar passo de rosca menor quando os espaçamentos entre as fileiras são menores (menor quantidade de fertilizante por metro), devendo as roscas com passos maiores serem reservadas para as doses mais elevadas e/ou maiores espaçamentos entre as linhas de semeadura.
Outra limitação nos dosadores de rosca sem fim tradicionais é que o desnivelamento do terreno em que a máquina opera interfere significativamente na dose de fertilizante distribuída, podendo aumentá-la ou reduzi-la, dependendo da posição e do sentido de giro do dosador na máquina. Em terrenos que apresentam relevo ondulado, isso implica desuniformidade na dose de fertilizante entre duas passadas consecutivas de uma semeadora, quando o percurso no campo é alternado (vai e vem).
Para minimizar esses efeitos das pulsações e da sensibilidade ao desnível do terreno, foram desenvolvidas diversas inovações nos dosadores de rosca sem fim. Um dos mais representativos é o sistema que, ao invés de liberar o fertilizante na posição inferior, utiliza uma espécie de barragem que mantém a rosca e uma câmara de amortecimento sempre cheias de fertilizante, e a sua passagem ao tubo condutor se dá por transbordo e não por gravidade.
Outras alterações compreendem: a utilização de uma câmara de amortecimento e de uma espécie de rotor entre o final do helicoide e a saída (inferior) do fertilizante; a alteração do formato da saída inferior do fertilizante, de modo que o helicoide tem de se deslocar durante um tempo maior até que todo o fertilizante contido entre duas espiras passe pela saída; um mecanismo dosador de dupla rosca sem fim, onde no momento que uma das roscas exerce a máxima descarga, a outra está propiciando a mínima descarga, e vice-versa.
Charles Echer
Exemplo de dosador de fertilizante com taxa variável
Outro modelo de dosador de fertilizante, encontrado em alguns modelos disponíveis no mercado, é o rotor de pulso zero (Figura 4). É um dosador constituído por uma câmara, dentro da qual gira um rotor com células ou alvéolos, à semelhança do dosador de sementes por rotor acanalado helicoidal. O diferencial deste dosador refere-se à ausência de pulsações proporcionadas pela disposição helicoidal das células em torno do rotor, cujo eixo é posicionado transversalmente ao sentido de deslocamento da máquina.
O sistema pneumático de dosagem mencionado nesse artigo para dosagem de sementes miúdas também pode ser utilizado para a dosagem de fertilizantes. Este sistema está em crescimento, com forte tendência de dominar o mercado das semeadoras-adubadoras. Com isso, os demais modelos de dosadores mecânicos, como o rotor vertical impulsor, os rotores dentados e os rotores acanalados, estão perdendo mercado, devido à menor homogeneidade na dosagem de fertilizantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dito por muitos que o sucesso de uma safra depende de uma boa semeadura, buscar no mercado o melhor dosador, que atenda às necessidades para promover uma boa qualidade nesta operação, é fundamental para o sucesso da implantação das culturas. Neste sentido, conhecer a semeadora e em especial os dosadores de sementes e fertilizantes e fazer os ajustes e as regulagens necessários são fatores importantes para uma semeadura bem-sucedida. Além disso, a atualização e a troca de equipamentos requerem conhecimento para ser realizadas de forma racional e econômica, tendo em vista que o custo é elevado, mas ao mesmo tempo o retorno oferecido com o uso das tecnologias adequadas para cada situação pode aumentar os rendimentos. .M
Gilvan Moisés Bertollo e Alison de Meira Ramos , UTFPR, Campus Santa Helena José Fernando Schlosser, Walter Boller e Rovian Bertinatto, Laboratório de Agrotecnologia – UFSM